À conversa com Elisabete Caramelo
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À conversa com Elisabete Caramelo
Nesta edição salientamos: ▶ À conversa com Elisabete Caramelo ▶ Prémio Citomed Imunologia ▶ Prémio Crioestaminal de Biomedicina ▶ Exposição Itinerante – “Laboratório de Imagens” ▶ Programa na TV: Geração Cientista À conversa com Elisabete Caramelo Em primeiro lugar, é necessário estimular esse gosto pela comunicação, e, apesar de não ser uma questão geracional (não é por ser mais nova que comunica melhor) ajuda muito o facto de se ter crescido com a chamada globalização e a ideia de que tudo pode ser “visto”, perscrutado e revelado, ao contrário de algum secretismo de outros tempos. Mesmo assim, todos precisam de saber como fazê-lo, do ponto de vista técnico e até relacional. Directora do Serviço de Comunicação da Fundação Calouste Gulbenkian Entrevista de Vítor Faustino Por ocasião do encontro “Comunicar Ciência em Portugal”, que se realizou em Oeiras a 3 de Junho, foi apresentado o Guia “Comunicar Ciência”, patrocinado pela Fundação para Ciência e a Tecnologia, POCI e FEDER, com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian e da Associação Viver a Ciência. Participaram na elaboração deste “guia prático para investigadores” Monica Bettencourt, Frank Burnet, Ana Moutinho, Malcom Love, Cláudia Magalhães, Helen Pilcher, Sofia Araújo, Ana Coutinho e Elisabete Caramelo. Foi precisamente com Elisabete Caramelo que conversámos a propósito deste guia, das motivações para comunicar ciência e do estado da arte. VaC – Diz-se que a nova geração de cientistas se movimenta na sociedade globalizada como “peixe na água”. Continua no entanto, a precisar de ser “guiada” no processo de comunicação com o grande público? EC – Um dos erros frequentes do contacto com os media é o de se considerar que toda a gente pode fazê-lo. Nesta perspectiva, os meios de comunicação seriam “livros abertos” ao entendimento de todos; ora, a realidade prova o contrário e é preciso conhecer o jornalismo, os jornalistas e os media para se atingir um nível de comunicação eficiente.i 1 Primeiro Encontro “Comunicar Ciência em Portugal” definida, persistente e continuada e que só pode ser feito se os cientistas se empenharem também como cidadãos. Há, sem dúvida, uma responsabilidade social associada que não pode ser esquecida. Este guia é uma boa ajuda para começar a descobrir algumas formas de chegar ao contacto com os meios de comunicação. VaC - Qual o principal obstáculo para “comunicar ciência”? A lógica algo redutora dos media ou o défice generalizado de cultura científica? Ou a arrogância de alguns especialistas? VaC - Somos os “piores do mundo” na matéria ou Portugal já é um país “normal” a comunicar ciência? EC - Muitas vezes, o grande obstáculo é a falta de uma ideia do que se quer comunicar. A não ser em situações de crise, a ciência fica sempre atrás da política, da economia, do fait-divers ou do futebol, no alinhamento das notícias. O agendamento dos media raramente escolhe a ciência para primeira página mas, por vezes, isso acontece quando se trata de descobertas importantes que têm alguma implicação no quotidiano das pessoas. Podemos dizer que a ciência ainda não entrou na rotina habitual dos acontecimentos, numa redacção os jornalistas raramente vão à procura de uma notícia relacionada com a investigação científica ou procuram um comentário científico sobre matérias polémicas. Os media audiovisuais (os de grande público) têm secções constituídas para a política, economia e desporto e o resto entra numa enorme secção intitulada sociedade. Daí que seja muito importante ter uma ideia do que se quer comunicar já que é muito mais difícil “entrar” nas agendas mediáticas e, sobretudo, é necessário fornecer ao jornalista as explicações mais claras, de modo a “cativá-lo” para a reportagem. EC - Acho que ainda temos um caminho a percorrer. A ciência pode vir a ser um tema da “moda” e temos já alguns indicadores que nos demonstram que isso pode acontecer. Se nos lembrarmos que há dez anos poucos faziam notícias sobre a área da justiça...Espero que os cientistas se preparem para comunicar eficaz e atempadamente, ao contrário do que fizeram os tribunais. VaC - A Fundação Calouste Gulbenkian patrocinou este Guia e acarinhou os Encontros “Comunicar Ciência”. Que teremos a esperar da Fundação, no médio prazo, nesta área? EC - A Fundação Gulbenkian tem a Ciência como uma das suas áreas estatutárias e desenvolve, desde a sua criação, variadíssimos programas e concede apoios ao longo do ano. Esta foi mais uma iniciativa que a Fundação apoiou, na convicção de que contribuirá para tornar a ciência mais visível e relevante na vida das pessoas. O século XXI é, sem dúvida, um século em que a actividade científica está presente transversalmente em todas as grandes problemáticas e interrogações. Hoje, precisamos da ciência para compreendermos melhor a complexidade da sociedade em que vivemos. Mas precisamos também de saber comunicar numa era dominada pela informação (o que não é visível não existe), e potenciar todas as iniciativas que nos ajudem a interpretar melhor a contemporaneidade. Neste sentido, a Fundação Gulbenkian não deixará de apoiar acções e ideias que ajudem a concretizar estes objectivos e contribuam para ajudar à formação de um espírito crítico e de aumento do conhecimento. VaC – Jornalistas, público, financiadores. A todos eles o cientista deve aparecer “atraente”, parece ser uma das preocupações do Guia. É preciso fazer concessões ao rigor? © Marta Menezes EC - Um dos conselhos do guia é precisamente o do rigor e o da exigência. Um cientista não tem de desvirtuar aquilo que faz para ser ouvido pelos meios de comunicação, tem é de aprender a falar para pessoas que não conhecem o seu universo. E isto é uma questão de comunicação. O rigor não é inimigo da clareza de ideias e de conceitos, nem das explicações mais sintéticas. É muito importante que os cientistas entendam a função dos media e vice-versa, tendo sempre presente que o público vive rodeado de informação, a toda a hora. Despertar a atenção para a ciência é um trabalho que tem de ser feito com uma estratégia nmi * Elisabete Caramelo é actualmente Directora do Serviço de Comunicação da Fundação Calouste Gulbenkian. Anteriormente foi consultora de imprensa da Presidência da República, tendo ainda trabalhado como jornalista e professora na área da comunicação. 2 ► Guia para Comunicar Ciência ► Prémios Citomed “Comunicar Ciência - um guia prático para investigadores” é isso mesmo: um manual destinado a guiar o profissional da ciência nos meandros do hiper-activo mundo da comunicação. Procura responder a questões aparentemente tão triviais como o que fazer quando o telefone toca e do lado de lá alguém se identifica como jornalista. Como lidar com um mau entrevistador? O que é a comunicação de risco? A associação Viver a Ciência (VaC) e a Citomed atribuíram o terceiro “Prémio Citomed apoio à participação em de conferências cientícas internacionais” a Santiago Zelenay, do Instituto Gulbenkian de Ciência. O prémio, no valor de 1000 euros, permitiu ao cientista expor os resultados da sua investigação no congresso “Tolerance, Regulation”, Autoimmunity and Immune em Breckenridge no Colorado (EUA), em Março de 2006. Esta linha de prémios de apoio à participação em congressos científicos não vai ser renovada em 2007. Não é só a relação problemática entre os cientistas e a imprensa que é abordada neste Guia – e que já tinha sido “escalpelizada” em “Como falar com jornalistas sem ficar à beira de um ataque de nervos”, de António Granado e José Vítor Malheiros (Gradiva, 2001). Também a comunicação com o grande público ou com os financiadores são preocupação deste manual, cheio de dicas. Os autores compreendem bem o método científico e procuram responder aos “porquês” que as suas sugestões implicitamente levantam. O Guia divide-se em “Manual Prático” e “Manual Teórico”. Este último procura responder a uma questão fundadora: porquê comunicar? Porque nunca se sabe quando alguém diz do lado de lá da linha telefónica: “bom dia, sou jornalista e gostava de lhe fazer umas perguntas”. Um novo prémio – o Prémio Citomed de Investigação em Imunologia -, no valor de 5000 euros, foi organizado pela VaC, em conjunto com a Citomed e a Sociedade Portuguesa de Imunologia. O prémio foi atribuido em Outubro a Leonor Sarmento, investigadora do Instituto Gulbenkian de Ciência, durante o congresso anual da Sociedade Portuguesa de Imunologia que decorreu em Braga. O prémio distinguiu a publicação do artigo "Notch1 modulates timing of G1-S progression by inducing SKP2 transcription and p27Kip1 degradation", no Journal of Experimental Medicine em 2005. Será lançado também, no início de 2007, o website de apoio – www.comunicar-ciencia.org – onde estarão acessíveis algumas ferramentas para apoio à comunicação de ciência: base de dados de investigadores, media e comunicadores de ciência, intitulada “Ciência & Media”; roteiro científico para eventos científicos-culturais; e exemplos de sucesso de comunicação de ciência. Satisfeita com a parceria estabelecida com a VaC, a Citomed mostrou interesse em expandir os seus apoios em 2007. Pedidos do Guia para: Mais informação brevemente [email protected] 3 ► Prémio Crioestaminal de Investigação ► Cientistas convidados pela Viver a em Biomedicina Ciência no Visionarium A Associação Viver a Ciência atribuiu, em Novembro, o segundo Prémio Crioestaminal em Investigação Biomédica ao jovem cientista Hélder Maiato, líder de um grupo de investigação no Instituto de Biologia Celular e Molecular do Porto (IBMC). O prémio no valor de 20.000 euros irá contribuir para a criação de um laboratório de ponta de biologia celular, que se espera vir a ser uma referência europeia nesta área, atraindo investigadores de toda a parte a virem realizar as suas experiências em Portugal. O projecto vencedor combina técnicas inovadoras de microscopia de alta resolução e microcirurgia laser em células vivas, a fim de compreender a divisão celular. Este processo é fundamental para o normal desenvolvimento humano, mas pode também estar na base do aparecimento de tumores. Desta forma, e como referiu Hélder Maiato, “perceber como se dividem as células contribuirá decisivamente para uma melhor compreensão das origens do cancro e como este poderá vir a ser tratado”. Luís Miguel Diogo - Instituto Superior Técnico Oito jovens cientistas portugueses participaram na Semana do Jovem Cientista, uma iniciativa organizada pela VaC e pelo Visionarium – Centro de Ciência Europarque, em Maio 2006, que porporcionou aos estudantes do concelho de Sta. Maria da Feira o contacto directo com cientistas, esclarecendo dúvidas sobre Ciência e sobre a carreira de investigador. Em breve será divulgado o concurso ao Prémio Criostaminal 2007 Mais informação em www.viveraciencia.org ► Viver a Ciência já tem certificação para beneficiar do Mecenato Científico A Viver a Ciência solicitou à Fundação para a Ciência e Tecnologia, em Novembro de 2005, uma acreditação para beneficiar da Lei do Mecenato Científico. A 21 de Setembro de 2006, foi-lhe concedida essa acreditação por despacho publicado no Diário da República 2ª série nº 187 (despacho nº 19323/2006). Quer isto dizer que, a partir de agora, é mais fácil apoiar a ciência através da Associação. Se estiver interessado em ser mecenas de ciência, contacte-nos! Actividades da Semana do Jovem Cientista no Visionarium 4 ► “Laboratório de Imagens”: Fotografia ► Postais “Laboratório de Imagens” científica em exposição itinerante A Viver a Ciência tem ainda colecção de postais “Laboratório de Imagens” que podem ser adquiridas através de donativo à Associação. Cada colecção contêm 35 postais (34 imagens + foto índice) legendados e está disponível em embalagem branca, preta ou cinza. A exposição “Laboratório de Imagens”, organizada pela Viver a Ciência, que esteve patente no Centro Cultural de Belém (CCB) em Fevereiro de 2006, está em itinerância pelo país. De Maio a Setembro, esteve no Museu de Angra do Heroísmo, onde foi visitada por cerca de 1000 visitantes, entre os quais muitos alunos de escolas da região. Desta visita aos Açores, surgiu uma colaboração com Instituto Açoriano da Cultura, que incluirá na sua publicação anual um texto de divulgação científica da responsabilidade da Viver a Ciência. O valor com portes incluídos é de 5 euros para associados e 7 euros para não associados. Instruções para encomendas em: http://www.viveraciencia.org/public/files/NatalPostaisExpoLabImagens-AVaC.pdf “Laboratório de Imagens” em Olhão Em Julho e Agosto, as imagens estiveram patentes ao público em Olhão, no âmbito da Feira de Parques Naturais. De Outubro a Novembro, estiveram no Instituto de Medicina Molecular da Faculdade de Medicina de Lisboa, fotografias e filmes de investigadores desta instituição e onde foi também possível mostrar aos visitantes, alguns dos modelos biológicos (mosca, mosquito e galinha) utilizados nos seus trabalhos. Recentemente, algumas das imagens “Laboratório de Imagens” foram integradas na exposição “A Fundação Gulbenkian ao Serviço da Saúde”, na sede da Fundação em Lisboa, num painel expositivo sobre a evolução das técnicas de microscopia. ► Na TV: Geração Cientista Inspirado pela publicação “Profissão: Cientista – retratos de uma geração em trânsito” surge agora o programa de televisão “Geração Cientista”, exibido aos sábados às 19h30, na no Canal 2: da RTP. Produzido pela Companhia de Ideias, o programa, com estreia em 2 de Dezembro, traz a público as biografias de jovens investigadores portugueses. Quem são? Como nasceram para a Ciência? O que investigam? Perguntas que poderão aproximar o público da comunidade científica e da investigação feita por portugueses. A fotografia “Zonas de Nebulosa” de Filipe da Veiga Ventura Alvez, foi a preferida pelo público, tanto em Angra como em Olhão. Outras informações em http://www.viveraciencia.org/public/Sections.asp?s ection_id=12&FormSections_Page=2 5 . ► Protocolo com o ISLA – Instituto Superior de Línguas e Administração, Lisboa A Viver a Ciência e o ISLA celebraram um protocolo de colaboração que beneficia os nossos associados e seus familiares em descontos nas propinas mensais em qualquer curso ministrado por este instituto. Basta para tal solicitar-nos uma declaração comprovativa de membro Viver a Ciência. Veja os benefícios em www.viveraciencia.org. ► Taxa de inscrição em concursos Informamos os nossos associados que estão isentos da taxa de inscrição em concursos e prémios organizados pela Viver a Ciência. Esta taxa será aplicada à submissão de candidaturas no âmbito de algumas iniciativas organizadas pela Viver a Ciência e tem como finalidade contribuir para o suporte de despesas relacionadas com a organização das mesmas. ► Donativo A Citomed continuará a apoiar a Viver a Ciência através da campanha “um euro por cada produto vendido” promovida pela empresa. Ser Associado da Viver a Ciência Instituições Públicas ou privadas não empresariais € 500 ESPAÇO RESERVADO AOS ASSOCIADOS Empresas Pequenas (vol. neg. até €7.000.000) - € 500 Médias (vol. neg. até €40.000.000) - € 5.000 Grandes (vol. neg. sup. €40.000.000) - € 10.000 CONTACTE-NOS PARA A PUBLICAÇÃO DE INFORMAÇÕES EM: E-MAIL: info@viveraciência.org TEL: 217 999 513 Individuais Estudantes € 30 Outros € 60 Boletim de adesão em www.viveraciencia.org Edifício Egas Moniz Av. 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