qualidade do leite
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UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM HIGIENE E INSPEÇÃO DE PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL QUALIDADE DO LEITE Thalyta Marcílio Florianópolis, agosto de 2008 1 THALYTA MARCÍLIO Aluna do curso de Especialização em Higiene e Inspeção de Produtos de Origem Animal (HIPOA) QUALIDADE DO LEITE Trabalho monográfico de conclusão de curso de Especialização em Higiene e Inspeção de Produtos de Origem Animal (TCC), apresentado a UCB como requisito parcial para obtenção do título de Especialista, sob a orientação da professora Lídia Cristina Almeida Picinin Florianópolis, setembro de 2008 2 11 QUALIDADE DO LEITE Elaborado por Thalyta Marcílio Aluno do HIPOA Foi analisado e aprovado com grau:............................................... Florianópolis, _____ de _______________ de 2008 _______________________________________ Membro ______________________________________ Membro ______________________________________ Professora Orientadora Presidente Florianópolis, agosto de 2008 12 Dedico este trabalho a todas as pessoas que acreditaram no meu potencial e que tiveram de alguma conquista. forma participação nesta 13 Agradecimentos Agradeço aos meus familiares por me apoiarem e incentivarem sempre os meus estudos; A minha orientadora professora Lídia Cristina Almeida Picinin; E a todas as pessoas que direta ou indiretamente colaboraram para a execução deste trabalho. 14 RESUMO O presente trabalho pretendeu avaliar a qualidade da água e do leite cru resfriado de propriedades rurais do município de Urupema/SC e, observou, até que ponto as orientações técnicas influenciaram na qualidade da matéria-prima produzida. Participaram, voluntariamente, do projeto 20 produtores de leite da cidade. Realizaram-se análises do leite antes e após o treinamento, sendo uma amostra por propriedade participante. Assim como o leite, também foram coletadas e analisadas amostras de água por propriedade leiteira antes do treinamento, sendo repetida coleta apenas em uma propriedade, com intuito de avaliar o tratamento alternativo da água em teste, que visava minimizar a contaminação da mesma. Após a aplicação do tratamento sugerido, obteve-se água dentro dos padrões microbiológicos aceitáveis, considerando o método proposto eficaz. Somado a isso, com o objetivo de caracterizar cada propriedade foi aplicado questionário, onde se constatou que a maior parte era composta por pequenos produtores e que houve forte discrepância entre os resultados obtidos nas análises microbiológicas da água e a concepção dos participantes sobre a qualidade da mesma. Não foi possível detectar diferença estatística significativa na qualidade do leite antes e após o treinamento, entretanto, isso não significa que as orientações não influeciaram na qualidade da matériaprima produzida. Esse resultado encontrado reforça que as orientações devem ser realizadas de uma forma contínua e freqüente, pois observou-se uma tendência de melhoria dos resultados. Há necessidade de maior tempo para que as alterações desejáveis sejam detectadas. Em alguns casos isolados, alguns produtores se destacaram, principalmente, quando aderiram às orientações na rotina da sua propriedade. Sendo assim, a orientação técnica pode ser uma alternativa para a melhoria da qualidade do leite, entretanto, deve ser um trabalho contínuo, onde o tempo para adoção das boas práticas é um fator primordial. 15 ABSTRACT This work pretended access the quality from the water and from the milk raw refrigerator as of assets agrestic from the citty as of Urupema/SC and observed to which extend the beacons know-how affect at the brand from the essence produces. Participate, voluntarily, from the work 20 producers as of milk from the citty. They performed in case that coverages from the milk heretofore and after the one train, a merchandise by property attendee. As well as the milk, were also get and evaluated a gas sample water by property dairymaid in time for train and on merely a attained in case that the one vest and the analysis after the one he repairs of the information, along intuitive of appraising um handling alternative from the water suggested to the producers, than it is to aim at minimise the one contaminated from the same. After the application from the handling suggested , it got a water into the norms microbiology you accepted. Along intuitive of characterising each property he went diligent query, where in case that I find that than it is to the larger part is built up from by small producers and that there are brawny discrepancy among the effects obtained at the coverages microbiology from the water and the conception of the attendees above the brand from the same.Was not detect difference statistic accepted at the quality milk heretofore and after the one train , in the mean time, that doesn't mean as the beacons did not affect at the brand from the milk produces. That effect encountered hardened as the beacons must be paid-up from a he forms continuous and aways. There are must by one determined amount of time for it to the alterations they may be paid-up. In certain cases bleak, a few producers in case that emphasised , chiefly as you adhere to the beacons at the routine of its property. Such being the case , the beacon know-how can be an alternative for the improvement from the air quality milk powder Santa Catarina, in the mean time, must be work persistent , where the time that's a suit as of ample relevance. 16 SUMÁRIO RESUMO..............................................................................................................................v ABSTRACT.........................................................................................................................vi LISTA DE TABELAS.........................................................................................................ix LISTA DE FIGURAS..........................................................................................................x 1. INTRODUÇÃO..............................................................................................................11 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA......................................................................................12 3. METODOLOGIA..........................................................................................................14 3.1. ANÁLISES DA ÁGUA....................................................................................14 3.1.1. Análises microbiológicas da água......................................................14 3.1.2. Análise físico-química da água...........................................................14 3.2. ANÁLISE DO LEITE CRU RESFRIADO.......................................................16 3.2.1. Análises físico-químicas do leite cru resfriado...................................17 3.2.2. Análises microbiológicas do leite cru resfriado..................................18 3.2.3. Pesquisa de resíduos de inibidores e/ou conservantes no leite cru resfriado........................................................................................................19 3.3. ELABORAÇÃO E APLICAÇÃO DOS TREINAMENTOS...........................20 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO...................................................................................21 4.1. ASPECTOS GERAIS........................................................................................21 4.2. ANÁLISES DO LEITE ANTES DO TREINAMENTO..................................22 4.2.1. Análises microbiológicas do leite antes do treinamento....................23 4.2.2. Contagem de células somáticas (CCS) e detecção de inibidores no leite...............................................................................................................27 4.2.3. Análises físico-químicas do leite antes do treinamento......................31 4.3. QUALIDADE DA ÁGUA................................................................................36 4.4. TREINAMENTO..............................................................................................39 17 4.5. AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS APÓS REALIZAÇÃO DO TREINAMENTO.....................................................................................................39 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................50 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................................52 ANEXOS...........................................................................................................................56 18 LISTA DE TABELAS TABELA 1 - Relação entre o resultado do CMT e CCS ....................................................28 TABELA 2 - Relação entre CCS com a porcentagem de quartos infectados associado aos prejuízos na produção ..........................................................................................................29 TABELA 3 - Resultado da análise estatística descritiva dos parâmetros físico-químicos estudados antes do treinamento ...........................................................................................31 TABELA 4 - Resultado da análise estatística descritiva dos parâmetros físico-químicos estudados após o treinamento ..............................................................................................41 19 LISTAS DE FIGURAS FIGURA 1 – Fitas utilizadas para dosagem de pH das amostras de água ..........................14 FIGURA 2 - Espectrômetro de Absorção Atômica Perkin Elmer modelo AAnalyst 100, utilizado para pesquisa de metais pesados (substâncias inorgânicas) .................................15 FIGURA 3 – Carrossel com as lâmpadas monoelementares do Espectrômetro de Absorção Atômica Perkin Elmer modelo AAnalyst 100 .....................................................................16 FIGURA 4 - Butirômetro de Gerber, utilizado para determinação do teor percentual de gordura no leite.....................................................................................................................17 FIGURA 5 – Termolactodensímetro, utilizado para determinação de densidade a 15ºC do leite ......................................................................................................................................17 FIGURA 6 - Disco de Ackermann, utilizado para determinação de EST do leite ..............18 FIGURA 7 - Crescimento de microrganismos aeróbios mesófilos em ágar padrão (PCA).18 FIGURA 8 - Ágar seco coberto com fibra absorvente Rida Count®, utilizado para avaliar presença de E. Coli, Salmonella sp. e S. aureus, respectivamente.......................................19 FIGURA 9 - Kit comercial Delvotest® SP- NT utilizado para pesquisa de resíduos de antibiótico no leite ...............................................................................................................19 FIGURA 10 - Realização do treinamento com os produtores de leite de Urupema/SC......20 FIGURA 11 – Produção diária de leite, em litros/ dia, de cada produtor participante do projeto ..................................................................................................................................21 FIGURA 12 – Representação dos produtores que possuem ordenhadeira mecânica x manual, do município de Urupema/SC ...............................................................................22 FIGURA 13 – Relação entre CCS e Staphylococcus aureus nas amostras analisadas de leite cru refrigerado nas propriedades rurais do município de Urupema/SC ......................26 FIGURA 14 – Relação entre número de amostras e resultados obtidos para CCS/mL em leite cru refrigerado no município de Urupema/SC.............................................................27 FIGURA 15 – Balde de fertilizante utilizado para armazenamento do leite cru resfriado no tanque de imersão de propriedade leiteira............................................................................30 20 FIGURA 16 – Dados obtidos na análise de acidez titulável conforme a amostra analisada...............................................................................................................................32 FIGURA 17 - Instalação do clorador artesanal de água na propriedade escolhida..............42 FIGURA 18 - Kit utilizado para dosagem de cloro e pH da água da propriedade piloto....43 FIGURA 19 – Pastilhas de cloro utilizadas para o experimento do clorador artesanal para o tratamento de água dos produtores de leite de Urupema......................................................44 FIGURA 20 – Condições e acesso precário às caixas d’água..............................................45 FIGURA 21 - Ilustração da instalação do clorador artesanal de água e o processo de tratamento.............................................................................................................................46 FIGURA 22 – Variações das dosagens (médias das dosagens diárias) realizadas no período de monitoramento do clorador artesanal de água.................................................................47 21 1.INTRODUÇÃO A cada dia que passa o consumidor torna-se mais exigente. Atualmente, são muitos os requisitos que as indústrias precisam atender para comercializar os seus produtos no mercado interno e externo. Nesse contexto, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), publica no Diário Oficial da União, de 18 de setembro de 2002, a Instrução Normativa n.51 (IN 51) que regulamenta o padrão de identidade e qualidade do leite, incluindo manejo de ordenha, resfriamento na propriedade, transporte a granel, parâmetros físico-químicos, microbiológicos e contagem de células somáticas (CCS). Por esse motivo, a adoção conjunta de treinamentos, conscientização e capacitação dos produtores, desde manejo de ordenha até a influência da qualidade da água na produção, torna-se essencial para alcançar a melhoria da qualidade do leite no país e até mesmo visando seu destaque no mercado mundial. Um tema recente e muito discutido é a bonificação dos produtores pela qualidade da matéria-prima fornecida, sendo essa uma importante, senão indispensável, ferramenta para melhoria da qualidade do leite no Brasil. Em Santa Catarina, ainda são muitos laticínios que pagam o produtor somente pelo litro de leite produzido, porém, surgem algumas discussões se essa seria a melhor forma de pagamento, já que há uma grande diferença entre a qualidade da matéria-prima nas propriedades. Esse estudo teve por objetivo a avaliação do leite cru resfriado e da água de 20 propriedades leiteiras do município de Urupema/SC, bem como uma avaliação do grau de informação dos produtores sobre a qualidade da água utilizada. Acrescido a isso, o repasse de informações para os produtores, através da realização de treinamentos baseados nas necessidades identificadas pelos resultados laboratoriais. Trabalhos como este demonstram a grande importância e impacto da informação na melhoria da qualidade da água e do leite nas propriedades leiteiras, especialmente, quando se leva em consideração as legislações em vigor. Atualmente, há necessidade de um diagnóstico preciso da atual situação dos produtores frente aos parâmetros legais exigidos, bem como, treinamentos, qualificação e conscientização dos mesmos, pois assim, poderão se enquadrar aos novos critérios de qualidade e obterão mais lucro e sucesso na atividade, frente ao futuro critério de pagamento por qualidade. 22 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA O leite é uma mistura complexa, composto por várias substâncias, como água, proteínas, gorduras, carboidratos, minerais e vitaminas, constituindo-se um alimento humano bastante próximo à perfeição (PELCZAR et al., 1996). Segundo Bortoli (2005), é uma alternativa de fonte protéica acessível à população de baixa renda, que geralmente é carente em proteína de origem animal, comprovando a importância sócio-econômica deste alimento. Conforme Tronco (2003), o leite tem sido utilizado na alimentação humano por oferecer uma equilibrada composição de nutrientes que resulta em elevado valor biológico, sendo considerado um dos alimentos mais completos. Por isso, é extremamente importante apresentar-se com qualidade (FONSECA, 2000). Durante as últimas décadas o Brasil apresentou um aumento relevante na produção do leite, porém, a qualidade deste produto não acompanhou tal crescimento (ANUALPEC, 2005). No Brasil, o leite “in natura” apresenta baixa qualidade, sendo que este fator está relacionado com práticas de produção, manuseio na ordenha, influência das estações do ano, localização geográfica e temperatura de conservação que contribuem para o desenvolvimento de microrganismos contaminantes (SILVEIRA, 1997). Aspectos relacionados ao ordenhador como a higiene pessoal e treinamento (DIAS FILHO,1997) e, ainda, o uso comunitário de tanques de expansão (MESQUITA et al., 2002) influenciam significativamente a qualidade do leite. Altos níveis de bactérias têm efeito negativo sobre a qualidade do leite, especialmente, no que concerne ao sabor, vida de prateleira e segurança alimentar do consumidor (GUIMARAES et al., 2006). Mastite ou mamite é uma inflamação da glândula mamária, sendo considerada uma reação, do tecido que segrega o leite, a uma agressão ou ferimento, tendo esta reação inflamatória o objetivo de neutralizar ou eliminar os agentes causadores da agressão ao tecido (SHULTZ, 1983). A mastite é uma doença que atinge muitos rebanhos leiteiros no Brasil e é responsável por algumas alterações na composição do leite, além disso, traz prejuízos aos produtores dessa atividade. Segundo Brito e Charles (1995), a interferência da mastite sobre a qualidade do leite se deve, principalmente, à redução dos teores de lactose, gordura e caseína. A contagem de células somáticas (CCS) trata-se de um excelente indicador da saúde da glândula mamária e da qualidade do leite, sendo a análise de leite do tanque uma ferramenta útil para avaliar a qualidade do leite e monitorar a saúde da glândula 23 mamária em nível de rebanho, além de ser utilizada como parâmetro de qualidade para pagamento do leite (SANTOS, 2005). De acordo com Santos (2002), rebanhos com maior CCS no leite apresentam maior risco de ocorrência de resíduos de antibióticos, pois à medida que há aumento da CCS do rebanho, significa maior incidência de mastite subclínica. A presença de pequenas quantidades dessas substâncias no leite acarreta sérios prejuízos ao consumidor, e para a indústria, tornando-se difícil o aproveitamento da matéria-prima com resíduos de antibióticos porque essas substâncias atuam diminuindo ou inibindo a atividade das bactérias responsáveis pelas diversas fermentações desejadas nos diferentes produtos lácteos, como iogurte e queijo (VILELA, 1984). Outro fator que pode alterar diretamente a qualidade do leite é a qualidade da água, visto que essa é utilizada para higienizar equipamentos, úbere, mãos do ordenhador, bem como instalações. Segundo Pardi et al. (2001), a água em condições ideais deixa de ser fonte de contaminação e evita outros efeitos danosos aos produtos ou mesmo às pessoas. Muitos trabalhos mostram que o tratamento da água melhora drasticamente a qualidade microbiológica da mesma. Conforme Gonzalez et al. (1982), a ausência de tratamento da água favorece alto nível de contaminação encontrado na água. Além da qualidade microbiológica, os padrões físico-químicos devem ser analisados e mantidos dentro dos padrões, visto que esse pode comprometer a eficiência de todos os processos de higienização envolvidos na atividade leiteira. Outro aspecto a ser levado em consideração é o tempo de armazenamento da matéria-prima na propriedade, antes do processo de industrialização. O armazenamento do leite cru nas propriedades por períodos maiores que 24 horas, com finalidade de acumular maior volume, contribui para perda de sua qualidade (HARTMANN, 2005). Para melhorar a qualidade do leite no Brasil, a alternativa que pode ser utilizada é a qualificação da mão-de-obra, onde a informação chega até o produtor e pode ser aplicada em sua rotina. Spacey (2003) sugere que o treinamento é a melhor estratégia para se diminuir a resistência. Porém, um treinamento com tempo suficiente e de forma intensiva para que todas as dúvidas e ansiedades sejam eliminadas. 24 3. METODOLOGIA 3.1. ANÁLISES DA ÁGUA As análises de água foram realizadas parte no Núcleo de Tecnologia de Alimentos (NUTA), e parte no Laboratório de Solos, ambos do Centro de Ciências Agroveterinárias (CAV), da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), em Lages/SC. No NUTA, procederam-se os exames microbiológicos e verificação do potencial hidrogeniônico (pH) das amostras de água. No Laboratório de Solos foram realizadas as dosagens de zinco, cobre e cálcio. 3.1.1. Análises microbiológicas da água Para avaliação microbiológica da água realizou-se a pesquisa de coliformes a 35ºC (coliformes totais) e coliformes a 45ºC (coliformes fecais ou termotolerantes) através da técnica de tubos múltiplos, segundo a metodologia oficial (BRASIL, 2003). 3.1.2. Análise físico-química da água Para o exame físico-químico da água foi verificado o pH, utilizando-se prova colorimétrica por meio de papel indicador de pH da marca Merck® (Figura 1), conforme orientações do fabricante. FIGURA 1 – Fitas utilizadas para dosagem de pH das amostras de água. Foi realizada ainda, a pesquisa de zinco e cobre com o objetivo de verificar provável contaminação da água por defensivos agrícolas, afinal a região do município de 25 Urupema é grande produtora de maçã e batata, sendo a maior parte dos defensivos utilizados nessa atividade, produtos do grupo dos organofosforados, benzimidazóis, dicarboximida e imidazóis, que possuem em sua composição metais pesados (substâncias inorgânicas), como: arsênio, zinco, cádmio, chumbo, manganês, mercúrio e outros. Para tal análise utilizou-se o Espectrômetro de Absorção Atômica Perkin Elmer modelo AAnalyst 100 com corretor de fundo com lâmpada de arco de deutério (Figura 2) e lâmpadas monoelementares de cátodo oco de zinco e cobre (Figura 3). FIGURA 2 - Espectrômetro de Absorção Atômica Perkin Elmer modelo AAnalyst 100, utilizado para pesquisa de metais pesados (substâncias inorgânicas). 26 FIGURA 3 – Carrossel com as lâmpadas monoelementares do Espectrômetro de Absorção Atômica Perkin Elmer modelo AAnalyst 100. Utilizando o mesmo equipamento foram realizadas dosagens de cálcio com intuito de avaliar a dureza da água. O resultado dos metais foi fornecido em partes por milhão (ppm), e como a dureza da água é medida através da concentração de carbonato de cálcio fez-se uma correlação matemática entre o peso molecular do cálcio e do carbonato de cálcio. Para tal correção foi utilizada a fórmula abaixo: 1 Mol de CaCO3 = 100g 1 Mol de Ca = 40 g 100g (CaCO3) --- 40 g (Ca) X --- Y.10-3 Onde: X = quantidade correspondente de carbonato de cálcio (valor que se procura) Y = concentração de cálcio em ppm lida pelo espectrômetro 3.2. ANÁLISE DO LEITE CRU RESFRIADO Todas as análises foram realizadas no NUTA do CAV/UDESC, em Lages/SC. 27 3.2.1. Análises físico-químicas do leite cru resfriado Foram realizadas as análises físico-químicas, conforme metodologia oficial (BRASIL, 1981), sendo: determinação do percentual de gordura usando butirômetro de Gerber (Figura 4), determinação da porcentagem de proteína conforme o método de Pyne, verificação da densidade a 15oC, utilizando-se termolactodensímetro (Figura 5), averiguação do Extrato Seco Total (EST), com Disco de Ackermann (Figura 6) e Extrato Seco Desengordurado (ESD), através de cálculos matemáticos. Além dessas análises, se realizou a prova do álcool-alizarol a 72%, com intuito de avaliar o grau de acidez das amostras (prova colorimétrica) e determinação da acidez titulável (em graus Dornic). FIGURA 4 - Butirômetro de Gerber, utilizado para determinação do teor percentual de gordura no leite. FIGURA 5 – Termolactodensímetro, utilizado para determinação de densidade a 15ºC do leite. 28 FIGURA 6 - Disco de Ackermann, utilizado para determinação de EST do leite. Para determinar o ESD, foi utilizada a seguinte fórmula: EST - % G = ESD Onde, %G é igual ao teor de gordura em porcentagem encontrado no leite. 3.2.2. Análises microbiológicas do leite cru resfriado Para avaliação microbiológica realizou-se contagem padrão em placas (CPP) para microrganismos aeróbios mesófilos (Figura 7), segundo Brasil (1981). Utilizou-se ágar seco coberto com fibra absorvente Rida Count®, para pesquisa de Salmonella sp., Sthaphylococcus aureus e Escherichia coli, como ilustra a Figura 8, conforme recomendação do fabricante. FIGURA 7 - Crescimento de microrganismos aeróbios mesófilos em ágar padrão (PCA). 29 FIGURA 8 - Ágar seco coberto com fibra absorvente Rida Count®, utilizado para avaliar presença de E. Coli, Salmonella sp. e S. aureus, respectivamente. Além das análises descritas anteriormente, realizou-se o teste da redutase utilizando-se o corante resarzurina, segundo Tronco (2003). 3.2.3. Pesquisa de resíduos de inibidores e/ou conservantes no leite cru resfriado No presente trabalho foi realizado pesquisa de resíduos de inibidores e/ou conservantes por se tratar de um problema grave de saúde pública, e ainda, pelo fato de comprometer a produção de derivados lácteos, causando assim prejuízo econômico para os laticínios. Duas metodologias foram aplicadas para verificação de resíduos de inibidores: teste do cloreto de 2,3,5 trifeniltetrazolium (TTC), proposta por Tronco (2003) e o kit comercial Delvotest® (Figura 9), seguindo as orientações do fabricante (Cap Lab Indústria e Comércio Ltda). FIGURA 9 - Kit comercial Delvotest® SP- NT utilizado para pesquisa de resíduos de antibiótico no leite. 30 3.3. ELABORAÇÃO E APLICAÇÃO DOS TREINAMENTOS Para cada propriedade, frente aos resultados laboratoriais obtidos organizou-se um treinamento específico por propriedade, além do encaminhamento em mãos dos laudos das análises (ANEXO A), sendo também produzido e entregue durante o treinamento, material complementar para cada produtor com orientações básicas e fotos ilustrativas sobre manejo de ordenha, alguns pontos básicos para se ter sucesso na atividade leiteira, características para ser um bom ordenhador e, como fazer para produzir um leite com mais qualidade. Foi distribuído ainda, um material que reuniu alguns nomes comerciais de medicamentos veterinários utilizados na produção leiteira e seus respectivos períodos de carência, visando auxílio na prevenção de resíduos de inibidores no leite (ANEXO B). A orientação técnica foi realizada na residência (propriedade) de cada participante voluntário do projeto. Primeiramente, sendo apresentado e explicado todo o material produzido e fornecido para todos os produtores. Posteriormente, o laudo das análises foi discutido e, ainda, foram comentados os objetivos de cada análise com o respectivo resultado, desta forma, foram indicadas propostas para algumas correções e modificações que poderiam ser inseridas na propriedade (Figura 10). No laudo entregue aos produtores havia informações das análises do leite e, também, da água. FIGURA 10 - Realização do treinamento com os produtores de leite de Urupema/SC. Para finalizar, foi acompanhada a ordenha dos produtores, realizando-se um “Check List” para avaliação das práticas de produção, com informações a respeito do ambiente, procedimentos, higiene, instalações, armazenamento, transporte e outros (ANEXO C). Para facilitar o diagnóstico de situação e orientações práticas e diretas aos produtores. 31 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1. ASPECTOS GERAIS Dados da EPAGRI (2000) informam que no município de Urupema/SC, há 156 produtores de leite, porém, segundo informações dos técnicos do município, Urupema possui cerca de 20 produtores entregando leite atualmente para a indústria. Um aspecto a ser salientado é que muitas propriedades possuem animais especializados para atividade leiteira, entretanto, alguns desses produzem leite somente para o consumo próprio, outros fabricam queijos e, ainda, há grande parcela de produtores sazonais, ou seja, produzem leite nas épocas mais favoráveis à atividade (primavera e verão), onde há abundância de pastagem. A média geral da produção de leite dos 20 produtores participantes do projeto ficou em 48 litros por dia, onde o desvio padrão (dp) foi de 43 e o coeficiente de variação (CV) de 90,6%. Portanto, há grande variabilidade no volume de produção nas diferentes propriedades, na qual se encontrou propriedades com produção desde 15 até 200 litros de leite por dia. No entanto, mesmo com tamanha variação a maior parte dos produtores é de pequeno porte. A Figura 11 ilustra a produção de leite, em litros/dia, de cada produtor participante do projeto. 200 180 160 140 120 100 80 60 40 20 0 P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12 P13 P14 P15 P16 P17 P18 P19 P20 FIGURA 11 – Produção diária de leite, em litros/ dia, de cada produtor participante do projeto. 32 Na cidade de Urupema, há um tanque de expansão comunitário, que atende à produção de oito produtores (40%), e esse se localiza na comunidade da Bossoroca, sendo que as demais propriedades (60%) possuem tanque de imersão, em seus próprios estabelecimentos, para a realização do resfriamento da matéria-prima. Apenas 10% das propriedades possuem ordenhadeira mecânica, confirmando que o município é composto por pequenos produtores e com baixa tecnificação na produção. O gráfico a seguir representa a proporção entre propriedades com ordenhadeira mecânica e manual (Figura 12). Ordenha manual 90% Ordenha mecânica 10% FIGURA 12 – Representação dos produtores que possuem ordenhadeira mecânica x manual, do município de Urupema/SC. 4.2. ANÁLISES DO LEITE ANTES DO TREINAMENTO Na primeira coleta do leite em cada propriedade rural, foi mensurada a temperatura da matéria-prima, encontrando assim, em sete propriedades (35%) temperatura acima do que é permitido pela legislação (IN 51), entretanto, em todos os estabelecimentos, a ordenha tinha sido efetuada a menos de três horas, não significando estar em desacordo com a legislação, pois o leite precisa atingir a temperatura máxima legal em até três horas após a ordenha, sendo a temperatura do leite na propriedade rural ou mesmo em tanque comunitário até 7oC. Dá-se tanta importância à temperatura, pois a mesma interfere 33 diretamente nos resultados de contagem bacteriana, já que o tempo favorece a multiplicação destes microrganismos. 4.2.1. Análises microbiológicas do leite antes do treinamento Quanto à contagem padrão em placas (CPP), a média para crescimento de unidades formadoras de colônias de microrganismos aeróbios mesófilos encontrada foi de 4,0 Log10 UFC/mL (466.840 UFC/mL), com dp de 1,78 e coeficiente de variação (CV) de 44,5%, sendo a contagem mínima obtida de zero e a máxima de 6,58 Log10 UFC/mL. Quatro amostras (20%) apresentaram valores acima do que era permitido pela legislação, em que até julho de 2008 nas regiões sul, sudeste e centro-oeste o valor máximo aceitável é 1.000.000 células por mililitro. Quando avaliamos o padrão a partir de julho de 2008 (750.000 UFC/mL), 25% das propriedades apresentam valores acima do que é preconizado pela legislação. Para se avaliar a qualidade higiênica dos alimentos utiliza-se a contagem padrão em placas realizada para verificar números de bactérias aeróbicas mesófilas (SILVA et al., 1997). Segundo Tavares (1996), o leite é um dos alimentos mais susceptíveis a sofrer alterações físico-químicas e deterioração por microrganismos oriundos de diferentes fontes. Nas amostras onde houve baixo crescimento bacteriano ou até mesmo ausência, detectou-se a presença de resíduos de inibidores e/ou conservantes, o que justifica e confirma tais valores. Além disso, outro fator a ser levado em consideração é o intervalo de tempo entre a ordenha e a coleta, visto que em todas as propriedades não havia se completado as três horas de refrigeração após a ordenha. Em geral, a CPP observada no presente trabalho foi contrária às hipóteses iniciais do projeto, pois se esperava encontrar altas contagens, devido à falta de informação e capacitação da mão-de-obra nesse tipo de atividade na região. Entretanto, houve muita influência nos resultados obtidos por diversas razões, tais como: baixas temperaturas climáticas na região devido à própria estação do ano (inverno e início da primavera, apresentando durante o período temperatura ambiente média de 11,9oC, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia); tempo de coleta do leite pós-ordenha, devido à ação de inibidores naturais do leite que atuam até 4 a 6 horas pós-ordenha, assim como o curto tempo de armazenamento não permitindo a proliferação bacteriana do leite observada após 34 48 horas (quando o mesmo é coletado e transportado para a indústria de laticínios no período preconizado pela legislação). Segundo dados da prefeitura, Urupema é uma cidade de clima frio, onde as médias mensais ficam em torno de 14oC. A baixa temperatura é um fator essencial para produzir um leite de qualidade, pois controla o crescimento de bactérias mesófilas, que quando presentes em grande escala alteram a composição e desestabilizam termicamente esse produto. Não foi realizada a pesquisa de psicrotróficos, no entanto, no presente trabalho acredita-se que seriam encontrados números consideráveis destes microrganismos nas amostras trabalhadas já que crescem em temperaturas mais baixas e estão ligados às questões de higienização, água e superfícies frias. Segundo Santos (2007), dos microrganismos contaminantes do leite, o grupo dos psicrotróficos, possui grande importância na qualidade do leite devido ao processo de resfriamento do produto. Após 48 horas de refrigeração, há um predomínio dessas bactérias, sendo assim ocorre intensa produção de proteases, lípases que degradam a proteína (principalmente a caseína, por ser mais sensível à ação enzimática) e a gordura do leite, respectivamente. Outro ponto que altera diretamente a qualidade microbiológica do leite é o tempo de armazenamento antes do tratamento térmico. Em todas as propriedades de leite do município de Urupema o transporte até a indústria era realizado em torno de 72 horas após a ordenha, ou seja, a cada três dias o caminhão que transportava o leite passava para fazer o recolhimento da matéria-prima e encaminhá-la até a indústria, onde sofreria o processo de industrialização, tempo esse que não atende ao padrão legal atual da IN 51 (máximo 48 horas). Na pesquisa de Salmonella sp., em 100% das amostras não detectou-se sua presença, sendo esse um resultado satisfatório e de grande importância, já que a Salmonella sp. é responsável por muitos quadros de gastrenterites de origem alimentar. A Salmonella sp. é uma bactéria de origem entérica responsável por graves surtos de infecções alimentares, sendo que os produtos de origem animal são os principais veículos transmissores deste patógeno (GIOMBELLI, 2000). Na análise executada para Escherichia coli , 70% das amostras apresentaram-se positivas para o agente, o que significa que as condições higiênicas na maior parte das 35 propriedades deixam a desejar, além da qualidade da água influir diretamente nesse resultado, através dos níveis de contaminação observados. Como a Escherichia coli é um agente banal e fácil de ser encontrado no ambiente, no animal e no homem, já que pertence à flora intestinal de ambos, esta pesquisa se torna de suma importância na avaliação das condições higiênicas de produção, indicando a importância da adoção das boas práticas. Frequentemente ocorre contaminação cruzada do ordenhador para o leite, devido aos hábitos de higiene deficientes, más condições de limpeza do úbere, da sala de ordenha, dos equipamentos e, principalmente, através da utilização de água contaminada. A água tem inúmeras finalidades dentro de uma propriedade leiteira, entre elas: higienização dos tetos, das mãos do ordenhador e de todos os equipamentos e utensílios utilizados na ordenha e, por esse motivo, deve ser de ótima qualidade, isto é, potável e, portanto, isenta de microrganismos que possam alterar a composição desse produto. Conforme Siqueira (1995), a presença de bactérias em número elevado indica limpeza e desinfecção incorretas das superfícies, higiene insuficiente na produção e condições inadequadas de tempo e temperatura durante a produção ou conservação do leite. Conforme Fonseca e Santos (2002), altos índices de Escherichia coli podem ser indicativos de falta de higiene na ordenha, principalmente, na limpeza e desinfecção dos tetos ou mesmo alta incidência de mastite ambiental no rebanho, assim como problemas na higienização dos equipamentos de ordenha. Foi pesquisada, também, a presença de Staphylococcus aureus nas amostras, já que ele é um dos principais agentes causadores de mastites. Sua presença no leite também pode ser oriunda de contaminação secundária, já que pode ser encontrado na cavidade nasal, bucal (saliva), trato digestório e pele do homem. Outro correlato da presença dessa bactéria é o fato dela produzir toxinas termoestáveis, que não são eliminadas no processo de tratamento térmico realizado na indústria (pasteurização ou Ultra Alta Temperatura – UAT), trazendo desta forma danos à saúde humana, como por exemplo, intoxicações alimentares. Os resultados encontrados para tal pesquisa foram que em 15 amostras (75%) a bactéria se fez presente. Através desse resultado, foi possível concluir que novamente as condições higiênico-sanitárias são precárias, além do manejo de ordenha e manejo dos animais possuírem deficiências. Segundo Stamford et al. (2006), o leite é um alimento passível de contaminação por diferentes microrganismos patogênicos e suas toxinas, como Staphylococcus aureus, que é um dos agentes mais comuns, responsáveis por surtos de intoxicação alimentar. O gráfico abaixo ilustra a relação entre CCS e Staphylococcus 36 aureus (Figura 13), procurando correlacionar a mastite com a presença desse microrganismo no leite. 1800 1600 1400 1200 1000 800 600 400 200 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 CCS 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 S. aureus* * As análises que tiveram resultado incontável para S. aureus foram representadas no gráfico por um número simbólico que foi 1.700 UFC/mL FIGURA 13 – Relação entre CCS e Staphylococcus aureus nas amostras analisadas de leite cru refrigerado nas propriedades rurais do município de Urupema/SC. A partir do gráfico anterior, observa-se que há forte correlação entre Staphylococcus aureus e altas CCS, estando em acordo com os dados de literatura citados, por Zafalon (2008), que afirma que o Staphylococcus aureus é o principal patógeno da mastite bovina e seus principais sítios de localização nos animais parecem ser os quartos infectados. De acordo com Ferreira (2006), o ambiente parece ter influência sobre o aparecimento de novos casos de mastite e foi verificada uma freqüência superior de isolamento do agente com o elevado índice pluviométrico. Outro aspecto de grande relevância é a questão de manejo e higiene da ordenha, dos equipamentos e do ambiente, visto que o Staphylococcus aureus é uma bactéria banal, encontrada facilmente em locais onde os princípios de boas práticas de fabricação não são aplicados. Quanto aos resultados da prova de redutase, estes ficaram entre ruim e regular, e obteve-se apenas um resultado bom, o que caracteriza um nível significativo de 37 contaminação no leite. Na amostra em que o resultado foi bom, foi detectada a presença de resíduos de antibióticos, através do Delvotest®, justificando tal resultado. Em uma amostra onde o resultado foi ruim e em outras duas regular para o teste da redutase foram encontrados resíduos de substâncias inibidoras, que não eram antibióticos, sendo assim, o resultado do teste mascarado (subestimado) pela presença das mesmas. 4.2.2. Contagem de células somáticas (CCS) e detecção de inibidores no leite Na avaliação do CCS a média obtida para todas as amostras de leite analisadas ficou em 5,42 Log10 células por mL (425.778 célula/ mL), onde o dp foi de 0,43 e o CV de 7,91%. A maior contagem foi de 6,22 e a menor de 4,90 Log10 células por mL (80.000 e 1.650.000, respectivamente). Duas amostras (10%) apresentaram valores acima do permitido, onde até julho de 2008 nas regiões sul, sudeste e centro-oeste o valor máximo aceitável é 1.000.000 células por mililitro. Quando comparadas com os parâmetros exigidos a partir de julho de 2008 (750.000 células/mL), 20% das amostras se apresentam em desacordo. A figura abaixo representa os resultados das amostras obtidos para CCS (Figura 14). 100.000 a 750.000 CCS/mL 50% ≤100.000 CCS/mL 28% 750.000 a 1.000.000 CCS/mL 11% ≥1.000.000 CCS/mL 750.000 a 1.000.000 CCS/mL ≥1.000.000 CCS/mL 11% 100.000 a 750.000 CCS/mL ≤100.000 CCS/mL FIGURA 14 – Relação entre número de amostras e resultados obtidos para CCS/mL em leite cru refrigerado no município de Urupema/SC. 38 Outra questão a ser levada em consideração é a incerteza de quais e de quantos animais foram determinados nas contagens de células somáticas obtidas, visto que o produtor armazena o leite em tarros e a amostra coletada pode não ser representativa de todo o rebanho de sua propriedade, pois pode conter leite de parte de seus animais. Essa situação ocorre tanto nos produtores que possuem tanque de imersão, como os que utilizam o tanque de expansão comunitário, pois o transporte até o posto de resfriamento também é realizado em tarros, local este onde as amostras foram coletadas, para se obter dados dos produtores individualmente. Para fazer o diagnóstico a campo de mastite subclínica pode-se utilizar o “California Mastitis Test” (CMT), kit comercial, também conhecido como teste da “raquete”, sendo o ideal realizar o teste de forma individual, ou seja, de animal por animal, sendo inclusive, realizado de teto por teto de cada animal. Por outro lado, um teste muito utilizado para fazer a contagem de células somáticas, é o Somaticell® (sendo esse kit comercial utilizado no presente trabalho), ou mesmo, a contagem eletrônica de células somáticas. Uma opção para o produtor acompanhar o estado de saúde da glândula mamária do seu rebanho leiteiro é incluir na rotina de ordenha o teste da raquete, que é um teste fácil, de baixo custo e rápido para se realizar. A tabela abaixo (Tabela 1) relaciona o resultado encontrado no CMT e a provável CCS. TABELA 1 - Relação entre o resultado do CMT e CCS ESCORE VISCOSIDADE CCS/Ml 0 Ausente 100.000 Traços Leve 300.000 1 Leve-moderado 900.000 2 Moderado 2.700.000 3 Intenso 8.100.000 Fonte: Winning the fight against mastitis (PHILPOT e NICKERSON, 2000) Alguns trabalhos quantificam as perdas que os produtores podem ter com animais portadores de mastite subclínica. Correlacionando os dados da Tabela 2 com um exemplo prático: se um produtor produz 100 litros de leite por dia e a CCS do leite do tanque ficar entre 1.000.000 células somáticas por mL, significa que ele está deixando de ganhar 18 litros de leite por dia (18%), sendo assim, ao longo de um mês ele deixará de ganhar 540 39 litros de leite, ou melhor, 270 reais, estando o litro do leite em média 50 centavos de real. Com tais cálculos fica mais fácil de convencer um produtor a descartar um animal problema e atender às orientações técnicas. TABELA 2 - Relação entre CCS com a porcentagem de quartos infectados associado aos prejuízos na produção. CCS no Tanque % de Quartos % de Perdas de (x 1.000/mL) Infectados Produção 200 6 0 500 12 6 1.000 32 18 1.500 48 29 Fonte: National Mastitis Council (MADISON, 1996) No exame realizado para detecção de resíduos de inibidores e/ou conservantes (TTC), quatro amostras (20%) apresentaram-se positivas, significando a presença de tais substâncias indesejáveis. Para verificação se os inibidores seriam resíduos de antimicrobianos, por suspeita de não se respeitar o período de carência dos tratamentos veterinários, foi efetuada a pesquisa de resíduos de antibióticos (Delvotest®), onde apenas duas (10%) dessas amostras apresentaram-se positivas. Com isso, as amostras de leite de duas propriedades continham resíduos de antibióticos e das demais substâncias inibidoras do crescimento microbiano que não foram determinadas, podendo ser levantada a hipótese de presença de inibidores naturais sintetizados pela glândula mamária, já que em todas as amostras o leite possuía um intervalo curto entre a ordenha e a coleta (menos de três horas). Numa propriedade suspeitou-se da contaminação do leite com resíduos de fertilizantes, já que usavam o galão de fertilizante para armazenar o leite dentro do tanque de imersão (Figura 15). 40 FIGURA 15 – Balde de fertilizante utilizado para armazenamento do leite cru resfriado no tanque de imersão de propriedade leiteira. Em muitas propriedades visitadas foi possível perceber a utilização de embalagens (recipientes) inapropriadas ao armazenamento do leite, onde se observou baldes de: polpa de fruta (contendo conservantes), azeitona em conserva, sucos concentrados, creme de leite e até de fertilizantes (como demonstrado anteriormente). Em alguns casos, a própria empresa que industrializava o leite dessas propriedades, fornecia esses galões/baldes (geralmente de polpa de fruta) para armazenamento do produto nos tanques de imersão, conforme informações colhidas durante a realização do trabalho. Muitos galões continham em seus rótulos os seguintes dizeres: “não reutilizar”, “não reutilizar para armazenar alimentos”, ou ainda, “produto de uso exclusivamente industrial”, com isso, foram levantadas questões, sobre até que ponto essas embalagens poderiam alterar/modificar a composição do leite, porém, para tal resposta caberiam mais estudos e pesquisas específicas para investigar tais suspeitas. A presença de resíduos de antibióticos no leite é um sério problema de saúde pública, visto que estes podem trazer graves danos à saúde do consumidor. O grupo mais exposto às complicações devido à presença de tais resíduos no leite são os imunocomprometidos, crianças, idosos e enfermos, além daqueles indivíduos com 41 hipersensibilidade a determinados princípios ativos que podem desenvolver reação anafilática e até mesmo levando à morte. Segundo Fonseca e Santos (2000), além das reações alérgicas, os antibióticos podem causar desequilíbrio da flora intestinal, resistência bacteriana, efeitos tóxicos e, em alguns casos, podem ser carcinogênicos ou mutagênicos. Os riscos à saúde impostos pela presença de resíduos de antibióticos nos alimentos podem ser classificados em três categorias: farmacológicos e toxicológicos; microbiológicos (favorecimento de microrganismos patogênicos na flora intestinal); e riscos imunopatológicos, como alergias (HARDING, 1993). Em Urupema o manejo de ordenha observado nas propriedades é muito deficiente. Em todas as propriedades visitadas, nenhuma delas (100%) realizava pré-dipping e/ou pósdipping, sendo que em muitos casos os trabalhadores desconheciam a existência do procedimento e, também, sua importância. Outro fato a ser levado em consideração é que no município muitos produtores não apartam as crias, criando juntos terneiros e vacas, esse procedimento foi justificado por muitos produtores por não possuírem animais especializados para atividade leiteira, sendo muitos deles mestiços. Práticas como período seco e inseminação artificial são pouco utilizadas nas propriedades do município, limitando assim o desenvolvimento da atividade na região. 4.2.3. Análises físico-químicas do leite antes do treinamento Os dados das análises das amostras do leite foram tabuladas e estudadas, sendo realizada uma análise estatística descritiva, conforme a tabela abaixo: TABELA 3 - Resultado da análise estatística descritiva dos parâmetros físico-químicos estudados antes do treinamento. Desvio Coeficiente de Padrão Variação (%) 1,032 0,002 Gordura (%) 2,88 Proteína (%) Parâmetro Média Máximo Mínimo Densidade (g/ml) 0,19 1,035 1,029 0,90 31,25 4,20 0,50 3,44 0,41 11,91 4,36 2,40 EST (g/100g) 11,68 0,96 8,21 12,68 9,65 ESD (g/100g) 8,82 0,36 4,08 9,48 8,23 Acidez (ºD) 20 3 13 25 17 42 Para a verificação da acidez, nas amostras de leite, realizou-se a prova do álcool alizarol 72º GL que tem por objetivo avaliar a resistência térmica do leite, onde se encontraram 20% das amostras alcalinas, 20% das amostras normais, 40% levemente ácidas e 20% ácidas. Para acidez titulável, a média obtida foi de 20ºD com dp de 3ºD e CV de 13%. Sendo assim, 60% das amostras estavam acima do valor ideal (14 a 18º D), sendo o valor mínimo obtido de 17 e o máximo de 25ºD. O gráfico abaixo relaciona os resultados encontrados conforme a amostra analisada (Figura 16). 30 25 20 15 10 5 0 P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12 P13 P14 P15 P16 P17 P18 P19 P20 FIGURA 16 – Dados obtidos na análise de acidez titulável conforme a amostra analisada. As amostras que se apresentaram alcalinas no teste do alizarol tinham sua titulação dentro do parâmetro normal (quando se esperava a acidez titulável abaixo de 14ºD para sua confirmação). A explicação para tal fato, parte do preceito que mesmo com a presença de inibidores houve crescimento microbiano (provavelmente por resistência bacteriana ou até mesmo baixa concentração de inibidores) e, com isso, as poucas bactérias existentes iniciaram o processo de acidificação dessas amostras. Ou ainda a explicação para esses resultados pode ser a presença da Síndrome do Leite Anormal (SILA), que segundo Ponce e Hernandez (2001), para se estabelecer um caso desse, a prova do álcool deve ser positiva e a acidez titulável deve ser menor do que 13ºD, ou pH deve ser elevado. 43 Em duas amostras, os resultados de acidez titulável encontraram-se dentro do limite normal (14 a 18ºD), entretanto, para a prova do álcool alizarol essas amostras apresentavam resultado vermelho-tijolo com coagulação (levemente ácidas), sendo levantada para tal situação a suspeita de Leite Instável Não Ácido (LINA). Segundo ZANELA (2004), o LINA caracteriza-se por apresentar instabilidade (precipitação) ao teste do álcool alizarol sem haver titulação acima de 18ºD. Tal fato traz muitos prejuízos para todos que fazem parte da cadeia produtiva do leite, pois na maioria das vezes esse leite é descartado ou é subvalorizado pela indústria. Atualmente não estão bem esclarecidas as causas do LINA. Na verificação da densidade uma amostra (5%) apresentou valor acima do que é exigido pela legislação (1,028 a 1,034 g/cm3) e a média para essa característica foi de 1,032 g/ cm3, com dp de 0,02 e CV de 0,19%. O valor mínimo encontrado para densidade foi de 1,029 e o máximo de 1,035g/cm3. A determinação deste parâmetro serve para controlar indícios de fraudes no leite, no que se refere ao desnate prévio ou adição de água (TRONCO, 2003). No entanto, quando há concomitantemente essas duas fraudes, essa análise pode se encontrar aparentemente normal, não devendo, portanto, ser analisada isoladamente, devendo ser complementada por outras análises, como por exemplo, a crioscopia e o percentual de gordura. Analisando o percentual de gordura das amostras verificou-se que cinco amostras se apresentaram abaixo do padrão (25%), no entanto, a média geral obtida foi de 2,9%, com o dp de 0,9 e o CV de 31%. O menor valor encontrado foi de 0,5% e o maior de 4,2%. O baixo valor de gordura pode indicar fraude por desnate, adição de água e/ou outros solventes, ou mesmo, a presença de alta contagem de microrganismos psicrotróficos que são responsáveis por lipólise e proteólise quando presentes em grande quantidade e em condições favoráveis. Os microrganismos psicrotróficos contaminam o leite por falta de hábitos de higiene, com isso, o quadro se agrava em temperaturas ideais para sua multiplicação (temperatura ideal 20ºC, porém, conseguem se multiplicar em temperaturas de refrigeração até 7ºC). Como no presente trabalho não se avaliou microrganismos psicrotróficos, torna-se difícil afirmar que o baixo teor de gordura esteja relacionado à sua presença. Por outro lado, outro fator que altera a composição do leite, principalmente, o percentual de gordura é a nutrição dos animais, que no caso do município de Urupema é 44 muito precária, principalmente, na estação do ano em que as coletas foram realizadas (inverno e início da primavera). Foi observado com auxílio do questionário e do “chek list” aplicado algumas deficiências no manejo propriamente dito. Em muitos casos, os produtores não faziam silagem para fornecer como suplementação alimentar aos animais nas épocas de maior escassez de pastagem, além disso, em inúmeras situações os animais pastejavam em terrenos onde a vegetação era rasteira e não havia disponibilidade de alimentos, além da superlotação dos animais nos terrenos. Em 100% das propriedades o fornecimento de concentrado era feito apenas durante a ordenha. Foi detectado ainda que em alguns casos os animais localizavam-se em terrenos onde não havia fonte de água, sendo isso um problema, já que a ingestão de água estimula o consumo de alimentos (pastagem), assim como auxilia na produção de leite. A genética é um ponto fundamental quando se trata de composição do leite. Animais da raça Jersey produzem um leite mais rico em sólidos, porém, num volume muito menor quando comparados aos animais da raça Holandesa, sendo que esses produzem grandes volumes, mas com uma composição inferior aos anteriores. Em 66,7% das propriedades visitadas, pelo menos um animal era da raça Jersey, com isso, os valores para gordura deveriam se apresentar numa escala maior do que as encontradas no presente trabalho, no entanto, há o entrave nutricional e, paralelamente, as prováveis ocorrências de fraudes. Em reuniões realizadas pelo laticínio (que industrializava o leite dos produtores de Urupema) com os produtores, orientações sobre melhoramento de pastagem foram repassadas. A gordura é um elemento muito variável na composição do leite, visto que é influenciada pela nutrição dos animais, pela genética e mesmo pela própria condição higiênico-sanitária do produto. Porém, este é o componente do leite que mais interessa ao laticínio devido ao seu valor e influencia no rendimento industrial, especialmente, na produção de derivados lácteos, e, também, ao produtor, quando este recebe bonificação pelo teor de gordura presente no seu leite, nos programas de pagamento por qualidade. Foi informado pelo laticínio comprador do leite dos produtores de Urupema, que a indústria bonificaria os produtores pela qualidade do leite produzido em curto espaço de tempo, sendo essa informação de suma importância para incentivo da produção de matéria-prima de melhor qualidade e que valoriza e enfatiza o trabalho realizado na região. 45 Em uma amostra (5%) encontrou-se o teor de proteína abaixo do padrão. A média geral obtida foi de 3,4%, com dp de 0,5 e CV de 14%. O valor máximo detectado foi de 4,4% e o mínimo de 2,4%. Os teores de proteína podem ser influenciados pela presença de mastite, já que essa altera a composição do leite, inclusive os níveis de proteína sérica. Quando um animal é portador de mastite (tanto clínica como subclínica) há um acréscimo no teor de proteína total, e as análises realizadas não distinguem qual o tipo de proteína que se faz presente na amostra, podendo esta ser de origem láctea ou plasmática. Nos casos de mastite, ocorre um aumento nas proteínas do soro sanguíneo, já que há lesão na unidade filtradora (alvéolo mamário) e essas proteínas passam para o leite. Ainda, nesse contexto, as imunoglobulinas (que são proteínas), também chegam até a glândula mamária com o objetivo de combater a infecção existente e acabam por fazer parte da composição do leite, bem como as próprias células de descamação do epitélio glandular. Outros fatores que podem afetar a porção protéica do leite são: nutrição, genética, fase da lactação, idade do animal, número de ordenha por dia, temperatura ambiental, assim como, a presença de microrganismos psicrotróficos que são microrganismos proteolíticos, diminuindo o percentual de proteína no leite, consequentemente. No caso presente trabalho, os altos valores encontrados para proteína são discutíveis, já que fatores nutricionais, assim como condições higiênico-sanitárias são insatisfatórias. Entretanto, casos de mastite clínica e subclínica podem justificar tais resultados, assim como a genética dos animais, em que há uma tendência em criar gado Jersey na região, já que possuem um porte menor e, consequentemente, ingerem menos alimentos, visto que a questão da nutrição é um ponto delicado no município. No presente trabalho, fez-se ainda a avaliação do extrato seco total (EST) e do extrato seco desengordurado (ESD). O EST nada mais é que a porção sólida do leite (matéria-seca), assim, engloba gordura, proteínas, minerais, vitaminas e outros. Na verificação do EST observou-se que três amostras (15%) estavam abaixo dos valores legais, o que é responsável pela queda do rendimento industrial. A média encontrada para este parâmetro foi de 11,7 %, com dp de 1,0 e CV de 8,0%, sendo o valor máximo obtido de 12,9% e o menor de 9,7%. A grande importância em quantificar o EST se deve ao fato de ser a fração do leite utilizada para fazer produtos desidratados, como leite em pó, além de outros produtos lácteos. Para a indústria essa característica é muito valorizada já que se correlaciona diretamente com o rendimento industrial, e, consequentemente, os lucros da 46 empresa. Esse grande número de amostras abaixo do padrão pode ser justificado através da nutrição dos animais, visto que essa é a principal variável da composição do leite, principalmente, quando se trata de sólidos totais. Como já foi citado anteriormente, nas propriedades leiteiras do município de Urupema se encontram inúmeros problemas de ordem nutricional nos animais. Com relação ao ESD, fração sólida do leite sem a porção lipídica, duas amostras (10%) analisadas estavam fora do padrão e a média obtida foi de 8,8%, com dp de 0,4 e CV de 4%, sendo o menor valor para ESD encontrado de 8,2% e o maior de 9,5%. Segundo Picinin et al.(2001), a determinação do EST e ESD é importante para avaliar a composição do leite e sua integridade, permitindo estimativas quanto ao rendimento na indústria de produtos derivados do leite, além de favorecer sua classificação. 4.3. QUALIDADE DA ÁGUA A partir de dados obtidos através dos questionários percebeu-se que 15% dos produtores captavam água de fontes sem qualquer proteção (conhecidos popularmente por “olho d’água”). O restante, 85% dos participantes obtinham a água de fontes “protegidas”, que na realidade, se tratava de uma proteção física contra fatores ambientais (chuva, animais, erosão, entre outros), realizado com tubulações de concreto, respeitando o fluxo da água e evitando desta forma, maior impacto ambiental. Segundo a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural (EPAGRI, 2004), as vantagens da utilização da fonte “protegida” são: maior aproveitamento do manancial de água, baixo custo de construção, dispensa limpeza periódica da fonte, diminuição da turbidez da água, evita acesso dos animais à fonte, diminui a possibilidade de contaminação da fonte e melhora as características físico-químicas da água. O município está inserido no projeto microbacias da EPAGRI e uma das ações desse projeto foi a instalação destas fontes “protegidas”, porém, ao contrário do que muitos produtores pensam, isso não é suficiente para a prevenção da poluição hídrica da região, pois atua somente como uma barreira física. Além desta questão, outra informação obtida nos questionários aplicados, foi que em 100% das propriedades não se realizava qualquer sistema de tratamento de água e, em muitos casos, as pessoas tinham aversão ao processo de cloração, principalmente, por questões sensoriais (sabor e odor da água). 47 A partir das entrevistas realizadas, constatou-se que 100% das propriedades afirmavam realizar a higienização do reservatório de água pelo menos uma vez ao ano. Da mesma forma, com relação à fonte de água, obteve-se a informação de que 100% delas se localizavam na parte mais alta do terreno e que nunca foram realizadas análises laboratoriais da água, sendo que em 10 propriedades (50%) já se pôde observar turvação na água. Com relação à opinião dos proprietários em relação à qualidade da água de sua propriedade, 100% das respostas foi classificada como “boa”, entretanto, a partir dos resultados microbiológicos encontrados no presente trabalho, tal afirmação se torna falsa, pois nenhuma das propriedades apresentou água considerada como “potável”. Os resultados obtidos para as amostras de água não foram animadores, pois em todas elas (100%) houve algum nível de contaminação tanto por coliformes a 35ºC (coliformes totais) quanto por coliformes a 45ºC (coliformes fecais ou termotolerantes). A justificativa encontrada para tal fato está justamente na falta de saneamento básico no município, onde tanto na área urbana como rural não se realizava tratamento do esgoto das residências, o que resulta em contaminação de rios e até mesmo do lençol freático, que no caso de Urupema, é consideravelmente superficial. Uma dificuldade que surgiu no decorrer do projeto foi justamente o repasse do resultado das análises microbiológicas da água aos produtores, pois os que possuíam a fonte “protegida” não entendiam, ou melhor, não aceitavam a contaminação apresentada nos resultados laboratoriais, das fontes de água que chegavam até suas casas (propriedades). No presente trabalho pôde-se perceber que após a entrega dos laudos das análises de água e leite, houve uma grande movimentação na cidade, tanto da população, quanto de órgãos públicos em relação a este assunto, especialmente. A Secretaria da Saúde juntamente com a Secretaria da Agricultura e a EPAGRI iniciaram um trabalho mais efetivo nas comunidades do interior do município, onde foram realizadas palestras sobre a importância do saneamento básico, importância do tratamento de água, distribuição de hipoclorito de sódio líquido para realizar o tratamento da água nas caixas d’água e reservatórios, informações sobre como e por que efetuar a limpeza das caixas d’água periodicamente e outros assuntos relacionados ao resultado apresentado. Esse foi um ponto motivador do trabalho, pois se a população não tivesse o conhecimento de tais dados (da 48 contaminação da água) e não sofresse um alerta da situação, provavelmente, as autoridades não buscariam soluções para o problema. Além da preocupação com a atividade leiteira, a questão de saúde pública e de meio ambiente foram itens trabalhados durante a execução do trabalho. Nesse contexto, todas as partes envolvidas adquiriram algum tipo de aprendizado: o produtor por esclarecer suas dúvidas e captar novas informações; as autoridades do município, pois pouparam trabalho, já que o projeto estava reforçando os assuntos e temas que foram e ainda seriam trabalhados; e, a acadêmica por fazer levantamento dessas informações, assim como, da realização de todo o trabalho. As principais fontes de contaminação dos recursos hídricos são: esgotos de cidades sem tratamento que são lançados em rios e lagos; aterros sanitários que afetam os lençóis freáticos, os defensivos agrícolas que escoam com a chuva sendo arrastados para os rios e lagos, os garimpos que lançam produtos químicos, como o mercúrio, em rios e córregos e as indústrias que utilizam os rios como carreadores de seus resíduos tóxicos (EMPRAPA, 1994). Realizaram-se, concomitantemente, análises de cobre e zinco com intuito de verificar contaminação da água por agrotóxicos, visto que, em muitas propriedades a fonte de água estava inserida, ou ainda, passava por pomares ou plantações de batatas. Entretanto, nesse levantamento não foi possível a realização de outras análises de suma importância como a detecção de chumbo, mercúrio, cádmio, arsênio, alumínio e bário, que são também, componentes muito presentes nesse tipo de produto. Em todas as amostras de água estudadas foi detectado ausência de zinco e cobre, mas isso não significa que não haja contaminação por metais pesados (substâncias inorgânicas), visto que, outros elementos também importantes não foram pesquisados. Segundo a Portaria 1.469 da ANVISA de 2004, os valores máximos permitidos para tais substâncias é 5 mg/L para o zinco e 2 mg/L para o cobre. Quanto ao pH a mesma norma recomenda que seja mantido entre 6,0 a 9,5. Nas análises realizadas a média do pH para as amostra foi de 6,0, estando esta característica dentro dos padrões exigidos legalmente. A dureza da água também foi avaliada através de uma relação entre o peso molecular do cálcio, porém o máximo de carbonato de cálcio encontrado foi de 10 mg/L, sendo que o valor máximo permitido para esse parâmetro é de 500 mg/L. Segundo Cerqueira et.al. (2007), a dureza da água é caracterizada pela sua capacidade de neutralizar -precipitar sabões. Desta forma o custo de produção aumenta, já que a utilização de detergente em maior quantidade, assim como 49 freqüência se faz necessário. De acordo com dados de Ruzante e Fonseca (2001), a determinação do pH da é um dos testes mais importantes e freqüentes utilizados na avaliação da qualidade físico-química da água. Águas ácidas são corrosivas e neutralizam detergentes alcalinos, dificultando o estabelecimento do pH ideal para a limpeza e remoção dos sólidos. Já as alcalinas aumentam a formação de precipitados e são capazes de neutralizar detergentes ácidos. Ambas exigem maior concentração de detergente. 4.4. TREINAMENTO Durante o treinamento percebeu-se que alguns produtores tinham interesse nas informações trazidas, entretanto uma pequena parcela mostrava indiferença pelo trabalho executado. Muitas dúvidas surgiram no decorrer do treinamento. Uma grande vantagem observada foi o fato de ser uma atividade informal e individual, pois desta forma os produtores acabaram tendo uma participação muito maior do que a esperada e consequentemente um aproveitamento melhor. 4.5. AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS APÓS REALIZAÇÃO DO TREINAMENTO Após o treinamento realizou-se nova coleta de leite em cada propriedade leiteira, com o intuito de verificar se houveram modificações na qualidade do leite após as orientações técnicas e treinamento realizados. Entretanto, o intervalo de tempo entre o treinamento e a nova coleta, foi relativamente curto, portanto, o presente trabalho avaliou as melhorias que ocorreram somente em curto prazo, ficando as questões sabidamente mais demoradas, como CCS e qualidade da água para avaliação posterior, salientando a importância de se dar continuidade a esse tipo de trabalho e fazer do treinamento uma constante. No presente trabalho, foi possível verificar mudanças, sendo algumas mais importantes. Não detectar mudanças em determinados casos, não significou que os participantes não fizeram ajustes em sua rotina, porém, dificuldades como o curto período de tempo para se adequarem e adaptarem, assim como o grande volume de informação repassada e, naturalmente, receio do desconhecido (resistência à mudança), influenciou consideravelmente nos resultados, especialmente pelo fato das mudanças observadas serem dependentes de fatores pessoais. Vale lembrar, que alguns produtores não mudaram os 50 procedimentos em sua propriedade, justamente por questões de crenças, costumes, e, principalmente, por acreditarem que a forma que fazem é a correta, apresentando bastante resistência às mudanças. Quando se trata da qualidade do leite, algumas características podem ser alteradas num curto período de tempo, como por exemplo, a CPP, que depende, principalmente, de hábitos de higiene no processo de ordenha (boas práticas), e outras, que só poderão ser solucionadas e/ou modificadas em longo prazo, como significativas modificações na produção e manejo dos animais, fatores ligados à genética, nutrição e condição sanitária do rebanho, como é o caso da CCS. Dos parâmetros que podem ser alterados em curto prazo (acidez, CPP, pesquisa de E. coli e S .aureus) quase 60% das propriedades tiveram uma melhoria considerável, consequentemente, os resultados de testes como o alizarol, acidez titulável e teste da redutase também foram alterados. Em contrapartida, quando se avaliam as características que necessitam de mais tempo para serem modificadas (pesquisa de inibidores e/ou conservantes e CCS), apenas 8% das propriedades tiveram mudanças benéficas, mas que confirma a validade do trabalho e mostra melhorias iniciais mesmo em curto espaço de tempo. Outra questão importante foi o fato da coleta das amostras terem sido realizadas em tarros (latões), pois a amostra coletada, não avalia necessariamente a condição do rebanho como um todo, pois um tarro pode conter leite de alguns animais do rebanho. As características físico-químicas tiveram, conforme o esperado, mudanças pouco significativas, e, também, é muito importante salientar que esses parâmetros podem ser alterados por diversos fatores como, genética, idade do animal, fase de lactação e nutrição, que, aliás, essa última variável foi extremamente determinante no projeto, visto que as coletas e análises foram realizadas no período do inverno, onde há muita escassez de pastagem na região. Porém, é indispensável levantar a questão de contaminação, já que quanto maior a presença de microrganismos deteriorantes no leite, mais alterações na composição físico-química ocorrerão, podendo-se trabalhar fortemente a questão de temperatura de armazenamento e tempo de coleta dos caminhões transportadores até o encaminhamento à indústria. Outro fator que pode alterar a composição físico-química do leite são as fraudes realizadas por muitos produtores de leite. Na atualidade a fraude mais comumente encontrada é a adição de água, que no presente trabalho, não foi possível detectar, já que 51 não foi realizada a análise de crioscopia das amostras, com isso, não se pode afirmar se os produtores do município praticam esse tipo de fraude, sem uma análise de precisão (havendo somente a suspeita, quando da realização das demais análises). Outras substâncias podem ser adicionadas ao leite, caracterizando fraude, como adição de formalina, amido, peróxido de hidrogênio, hidróxido de sódio, que, aliás, esses dois últimos ganharam espaço na mídia recentemente, devido a casos descobertos nos últimos meses em cooperativas brasileiras. No entanto, no presente trabalho não foi pesquisada a presença específica de tais substâncias, mas somente a pesquisa genérica de substâncias inibidoras como um todo, na qual pode-se observar que é um fator relevante. A tabela a seguir demonstra os resultados das análises físico-químicas realizadas no leite cru resfriado após o treinamento. TABELA 4 - Resultado da análise estatística descritiva dos parâmetros físico-químicos estudados após o treinamento. Desvio Coeficiente de Padrão Variação 1,031 0,001 Gordura (%) 3,04 Proteína (%) Parâmetro Média Máximo Mínimo Densidade (g/ml) 0,129 1,033 1,028 0,67 22,03 4,10 2,10 3,35 0,28 8,50 4,00 3,00 EST (g/100g) 11,85 0,82 6,98 13,40 10,09 ESD (g/100g) 8,84 0,52 5,88 10,23 7,89 Acidez (ºD) 20,00 1,19 0,06 23,00 19,00 Não foram processadas novas análises da água, pois como todas as propriedades participantes do projeto apresentaram água fora do padrão antes do treinamento, não tendo tido tempo para correção do problema no período de intervalo entre as análises, não houve necessidade de repetição, pois os resultados seriam os mesmos. No entanto, em uma única propriedade, foi realizado um teste piloto de instalação de clorador artesanal para tratamento da água, sendo, portanto, a única propriedade com coleta de amostra realizada pós-treinamento, com intuito de avaliar a eficiência da solução proposta. No exame realizado após o tratamento da água, verificou-se a inexistência de crescimento de coliformes totais, assim como os fecais, provando que o tratamento testado foi eficiente. 52 O clorador artesanal de água foi um equipamento desenvolvido durante o projeto com o intuito de solucionar a contaminação da água nas diversas propriedades visitadas. Este equipamento foi instalado numa propriedade escolhida conforme o perfil do produtor, avaliando a disponibilidade de tempo, dedicação e cuidados que esse representaria ter. O objetivo da instalação do clorador foi verificar a funcionalidade do equipamento, além disso, o acompanhamento diário e constante da dosagem de cloro e pH (Figura 17). FIGURA 17 - Instalação do clorador artesanal de água na propriedade escolhida. O monitoramento do clorador artesanal foi realizado pelo produtor escolhido, conforme o perfil avaliado, para o experimento, sendo que o equipamento foi instalado em sua propriedade. Para essa propriedade foram disponibilizadas pastilhas de cloro orgânico para o consumo de água, o clorador artesanal, o kit para dosagem de pH e cloro e uma planilha para realização de anotações diárias para posterior elaboração de um resumo de atividades e observações (ANEXO D). A verificação de cloro e pH foi feita, em média sete vezes ao dia (conforme a disponibilidade do produtor) por duas semanas consecutivas, com kit de dosagem de cloro e pH hth® teste kit pH e cloro, segundo recomendações do fabricante (Figura 18). 53 FIGURA 18 - Kit utilizado para dosagem de cloro e pH da água da propriedade piloto. As recomendações e cuidados quanto à dosagem desses parâmetros foram repassadas ao dono da propriedade (numa demonstração prática). No mercado existem algumas pastilhas para tratamento de água de piscina que podem ser utilizadas para o tratamento da água para o consumo humano, porém, há algumas que contêm substâncias nocivas e, portanto, não podem ser utilizadas. As pastilhas recomendadas para tratamento de água de consumo são as pastilhas compostas de hipoclorito de sódio somente, ou ainda, pastilhas de dicloro-s-triazinetrione de sódio, esta última a escolhida para o trabalho e utilizada no teste piloto do clorador artesanal. Neste experimento foram utilizadas pastilhas, onde cada frasco continha 25 unidades, sendo que cada uma serviria para tratar 500 litros de água (Figura 19). 54 FIGURA 19 – Pastilhas de cloro utilizadas para o experimento do clorador artesanal para o tratamento de água dos produtores de leite de Urupema. Na experiência realizada com o clorador artesanal, este se mostrou eficiente para o tratamento da água, porém, o modelo desenvolvido serve apenas de veículo para a pastilha de cloro. Quando se coloca a pastilha no interior do clorador, esta dissolve rapidamente e é encaminhada diluida para a caixa d’água, onde ocorre o tratamento efetivamente. Antes de observar o comportamento do clorador, a perspectiva que se tinha era que a pastilha dissolver-se-ia lentamente, liberando de uma forma lenta, homogênea e gradual, pequenas quantidades de cloro, mas as hipóteses não foram confirmadas. A opção por montar um equipamento que fosse barato, prático e funcional, surgiu com o desenvolvimento do projeto e das situações observadas a campo. Em muitos casos foram detectadas condições precárias de manutenção da caixa d’água, acesso difícil e até mesmo perigoso. A figura 20 caracteriza tal situação. 55 FIGURA 20 – Condições e acesso precário às caixas d’água. Em dois pontos foram coletadas amostras para análise de pH e cloro da água: o primeiro localizava-se logo após a passagem da água pelo clorador e, o segundo ponto estava após a caixa d’água. Conforme os dias se passavam, foi observado que em muitas dosagens não se conseguia leitura para o cloro, na torneira logo após o clorador, já que a pastilha se dissolvia rapidamente e era encaminhada diretamente ao o reservatório de água, conseguindo leitura somente nos primeiros minutos após a adição da mesma. Entretanto, no segundo ponto, após o reservatório, sempre se conseguia leitura e esta variava conforme a quantidade de pastilhas colocadas no clorador e o tempo entre a introdução da pastilha, ou das pastilhas e a dosagem dos parâmetros. Quando se percebeu que após o equipamento (torneira logo após o clorador) não estava ocorrendo o tratamento da água (não se conseguia leitura), este ponto não foi mais examinado. Abaixo a figura ilustra como foi instalado o clorador e explica o comportamento do processo de tratamento da água no experimento piloto (Figura 21). 56 FIGURA 21 - Ilustração da instalação do clorador artesanal de água e o processo de tratamento. O modelo desenvolvido foi acompanhado por quatorze dias consecutivos, onde se dosava o cloro e pH, em média, sete vezes ao dia. Os níveis de cloro livre total aceitáveis para água de consumo humano são entre 1 e 3 ppm (parte por milhão), porém o cloro residual livre deve ficar em torno de 0,5 ppm, sendo obrigatória a manutenção de no mínimo 0,2 ppm e o pH entre 6,0 e 9,5 para o pH (BRASIL, 2004). Sendo assim, conseguiu-se manter as concentrações para tais parâmetros com o clorador artesanal de água, conforme o que é exigido pela legislação. Em seguida, o gráfico (Figura 22) representa a média diária das dosagens de cloro, pH realizadas e número de pastilhas adicionadas por dia nesses 14 dias. 57 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 4/10 5/10 6/10 7/10 Número de pastilhas 8/10 9/10 10/10 11/10 Média diária da dosagem do pH 12/10 13/10 14/10 15/10 16/10 17/10 Média diária da concentração do cloro FIGURA 22 – Variações das dosagens (médias das dosagens diárias) realizadas no período de monitoramento do clorador artesanal de água. A média geral ficou acima do limite ideal (1 a 3ppm de cloro), justamente pelo desconhecimento do funcionamento do aparelho. Entretanto, com o passar dos dias, foi estudado o comportamento do clorador e se concluiu que a melhor maneira para manter a concentração de cloro em torno de 1 ppm seria fazendo acompanhamentos periódicos da concentração desse e cada vez que a concentração baixasse de 1 ppm estaria no momento de adicionar nova pastilha. O consumo de cloro varia conforme a quantidade de matéria orgânica e a vazão de água pelo equipamento. Para diminuir o consumo de pastilha a solução foi instalar uma peneira (confeccionada com tela de nylon de malha fina) no ponto de captação de água, que no caso da propriedade selecionada já se encontrava instalada. Uma questão importante para diminuir o consumo de cloro é através a higienização periódica da caixa d’água, onde se remove resíduos e impurezas, permitindo que o cloro fique ativo por um período mais prolongado. Na propriedade onde se instalou o equipamento, o reservatório era para 500 litros de água e as pastilhas utilizadas para o tratamento eram exatamente para essa quantidade (1 58 pastilha para 500 litros de água). Entretanto, como se desconhecia o comportamento do modelo proposto foi se introduzindo pastilhas de forma indiscriminada e dosando periodicamente, pois o entendimento inicial era que enquanto as pastilhas estivessem no interior do clorador, a água estaria sendo tratada e sempre que verificasse a ausência delas, mais uma deveria ser inserida. Conforme os resultados iam sendo analisados, foi verificado que a ausência das pastilhas no clorador não significava que a água não estava sendo tratada, ao contrário do que se pensou inicialmente. A água estava sendo tratada e estava com concentração muito acima do que se pretendia (água hiperclorada), com isso, suspendeu-se a adição das pastilhas por quatro dias e continuou-se dosando o cloro e o pH, ficando a recomendação ao produtor que quando a concentração de cloro estivesse abaixo de 1 ppm deveria ser inserida nova pastilha no clorador. A conclusão que se chegou, é que nessa propriedade haveria a necessidade de adicionar uma pastilha a cada três ou quatro dias, porém com variações desse intervalo conforme o consumo de água e a quantidade de matéria orgânica presente na mesma. Após o tratamento da água foi realizada nova coleta para análise microbiológica e o resultado que se encontrou foi ausência de crescimento de coliformes de qualquer natureza, confirmando a eficiência do tratamento e da funcionalidade do clorador. Para concluir, o tratamento da água era realizado no interior da caixa d’água, com isso a inexistência de pastilha no clorador não significa que a água não estava tratada, pois com a passagem de água pelo equipamento ocorria a diluição da pastilha de cloro e essa era carreada até o reservatório, permanecendo ativa e a água presente devidamente tratada, sendo assim se conseguia leitura no ponto posterior à caixa d’água. Além do entrave entre “tempo e mudanças” outro fato que deve ser salientado, não somente nesse trabalho, mas em qualquer projeto que se relacione com o ser humano, é que a quebra de paradigma é algo muito delicado a se fazer, pois as pessoas têm receio de mudar e possuem medo do desconhecido. Segundo Chiavenato (1998), para que qualquer mudança seja dinamizada, é necessário que exista um ambiente psicológico propício, uma cultura organizacional adequada, um estímulo individual e grupal para a melhoria e para a excelência. Às vezes, as pessoas têm que ver para acreditar, e como alguns produtores seguiram as recomendações fornecidas os resultados dos laudos modificaram e melhoraram, desta forma, o fato do município ser pequeno e pouco populoso acaba 59 beneficiando o trabalho, já que as boas informações foram difundidas em alta velocidade por toda comunidade, incentivando os mais resistentes a aderirem às novas idéias, por valer a pena o resultado obtido, junto com o incentivo por parte da indústria de se bonificar pela qualidade. Um agravante da mudança é a idade e a cultura das pessoas que participaram desse projeto, pois sempre executaram essa atividade da mesma forma ao longo das sucessivas gerações. Wood (1995) classificou as situações capazes de provocar mudanças em três categorias, sendo: crises e problemas; novas oportunidades e novas diretrizes (adaptação a novas leis e estratégia). Por outro lado, o fato de se realizar um treinamento, acaba proporcionando o diálogo onde ambas as partes têm possibilidades de defender sua linha de raciocínio, permitindo que surjam dúvidas, onde essas possam ser esclarecidas, além de desmitificar algumas informações errôneas. Sendo assim, a troca de informações faz com que a pessoa que está sendo orientada perca parte das inseguranças que as aflija. Durante o trabalho, em momento algum foram impostas mudanças, mas, frequentemente, lembrava-se que o objetivo do trabalho era auxiliar os produtores a obterem sucesso na atividade, o que fez com que muitos deles confiassem no trabalho e acreditassem nas informações que lhes foram repassadas. Um ponto positivo e motivador do trabalho foi a aceitabilidade dos produtores pelo trabalho oferecido durante a execução do projeto. Houve também interesse de inclusão de outros produtores de municípios vizinhos, e, mesmo de produtores que reiniciaram a atividade devido às melhores condições climáticas (produtores sazonais). Ainda, o trabalho refletiu em algumas mudanças por parte da indústria, como a divulgação aos produtores de previsões de bonificação por qualidade da matéria-prima produzida, assim como o remanejamento do intervalo de transporte (coleta) do leite. Apesar dos resultados obtidos não apresentarem diferença estatística significativa, através do teste t de Student, comparando as médias antes e após o treinamento, foi possível verificar que trabalhos como esse, são de suma importância para a qualidade do leite no Brasil. Porém, vale lembrar, que as mudanças ocorrem através de trabalho contínuo e precisam de tempo para serem identificadas e tornarem-se relevantes. 60 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Por meio do presente trabalho foi possível perceber que a qualidade microbiológica do leite produzido no município de Urupema/SC superou as expectativas iniciais, apresentando 75% das propriedades dentro do padrão (antes do treinamento) previsto até julho de 2008 pela IN 51. Entretanto, esses valores correspondem à contaminação inicial da matéria-prima, pois em todas as propriedades as três horas de refrigeração não tinham se completado. A partir de orientações técnicas e treinamento individual e personalizado, não foi possível observar mudanças significativas estatisticamente. Porém, em alguns casos isolados, alguns produtores se destacaram, principalmente quando aderiram às orientações na rotina da sua propriedade, chegando a apresentar melhorias da ordem de até 55% em determinados parâmetros como por exemplo contagem padrão em placas. A qualidade da água nas propriedades leiteiras do município de Urupema pode ser considerada como um ponto de forte impacto na qualidade do leite, visto que, em todas as amostras coletadas (100%) houve algum nível de contaminação microbiológica, não se adequando aos padrões de potabilidade necessários para água de consumo e uso na atividade leiteira. Cloradores artesanais de baixo custo, desde que bem planejados e manejados, são eficientes na melhoria da qualidade microbiológica da água, sendo uma alternativa viável e de grande relevância para melhoria da qualidade do leite e, até mesmo, ambiental e com impactos benéficos na saúde humana e animal. A partir da aplicação do questionário e observação da rotina das propriedades leiteiras do município de Urupema, constatou-se que tanto no manejo de ordenha, como no próprio manejo dos animais há muitas deficiências, sendo a grande maioria por falta de informação por parte do produtor. Com base no questionário aplicado e entrevista realizada com os produtores rurais, observou-se forte discrepância entre a opinião pessoal destes e a real qualidade da água demonstrada pelas análises laboratoriais realizadas. A orientação técnica e treinamento em boas práticas com os produtores rurais influenciam diretamente na qualidade do leite e da água, salientando, que essa ação deve ser constante, progressiva e personalizada, para que se adeque à realidade de cada propriedade, tendo resultados mais rápidos, motivadores e palpáveis. 61 A informação e capacitação do produtor rural é um ponto fundamental para a melhoria da qualidade do leite e da água no Brasil, interferindo diretamente na Saúde Pública. 62 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANUALPEC, 2005. Anuário da pecuária brasileira – FNP Consultoria & Comércio. NEHMI, J. M. D.; NEHMI FILHO, V.; FERRAZ, J. V. (Coord.). São Paulo: Argros, 2005. 412p. BORTOLI, A., et al. 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São Paulo: Atlas, 1995. 260p. 66 ANEXOS 67 ANEXO A – Modelo do laudo fornecido para os produtores UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIA AGROVETERINÁRIAS – CAV/UDESC NÚCLEO DE TECNOLOGIA DE ALIMENTOS (NUTA) LAUDO DE ANÁLISE Nome do produtor: : Código de coleta: Comunidade: Município/UF: Urupema/SC Contatos: Responsáveis pela coleta: Thalyta Marcílio Data coleta: Histórico: A coleta e análises foram realizadas para a execução do projeto de pesquisa “Importância da informação e conscientização na melhoria da qualidade da água e do leite de propriedades rurais do município de Urupema/SC” e projeto de extensão “Qualidade da água e produtos de origem animal do interior de Santa Catarina”. RESULTADOS DAS ANÁLISES LABORATORIAIS • LEITE Local de coleta: tanque de imersão ou expansão CARACTERÍSTICA Temperatura (oC) CBT (UFC/mL) Salmonella spp. (UFC/mL) Staphylococcus aureus (UFC/mL) Escherichia coli (NMP/g) CCS (CCS/mL) TTC Antibiótico Densidade (g/cm3) Gordura (%) Proteína (%) EST (%) ESD (%) Alizarol Acidez (oD) Redutase (resarzurina) – 1 hora PRODUTOR PADRÃO* <7 < 1.000.000 (jul/08: < 750.000) Ausência < 1.000.000 (jul/08: < 750.000) Negativo Negativo 1,028 - 1,034 > 3,0 > 2,9 > 11,4 > 8,4 Vermelho s/ coagulação 14 a 18 Excelente a regular * Instrução Normativa n.51/2002 (MAPA) - Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade de Leite Cru Resfriado * Intrução Normativa n.68/2003 (MAPA) - Métodos Analíticos Oficiais Físico-Químicos, para Controle de Leite de Produtos Lácteos *Portaria 001/1981- Métodos Analíticos Oficiais para o Controle de Produtos de Origem Animal • ÁGUA Local de coleta: Água da torneira utilizada para higienização dos equipamentos de ordenha CARACTERÍSTICA pH Coliformes (35°C) - NMP/100 mL Coliformes (45°C) - NMP/100 mL Zn Cu Mg Ca PRODUTOR PADRÃO* 6,0 – 9,5 Ausência em 100mL Ausência em 100 mL ≤ 5 mg/L ≤ 2 mg/L * Portaria n.518/2004 (MS) – Controle e Vigilância da Qualidade de Água para o Consumo Humano e seu Padrão de Potabilidade * Instrução normativa n. 62/2003 (MAPA) – Métodos Analíticos Oficiais para Análises Microbiológicas para Controle de Produtos de Origem Animal e Água Lages, 02 de outubro de 2007 _________________________________________ Profa. Lídia Cristina Almeida Picinin Inspeção e Tecnologia de Produtos de Origem Animal Núcleo de Tecnologia de Alimentos – NUTA ______________________________________ Profa. Cristiane Pelizzaro Batalha Coordenadora do Núcleo de Tecnologia de Alimentos Núcleo de Tecnologia de Alimentos – NUTA Av. Luiz de Camões, 2090 Bairro Conta Dinheiro Fone: (49) 2101-9100 - Fax: (49) 2101-9122 Lages - Santa Catarina - CEP 88.520-000 68 ANEXO B – Material produzido e distribuído aos produtores SEIS PONTOS PARA SE OBTER SUCESSO NA ATIVIDADE LEITEIRA 1. Nutrição adequada 3. Genética 2. Manejo adequado 4. Qualidade da água Centro de Ciências Agroveterinárias 5. Sanidade do rebanho 6. Qualificação do produtor Produzido por Thalyta Marcílio ([email protected]) PARA PRODUZIR UM LEITE DE QUALIDADE DEVEMOS: 2. Limpeza dos equipamentos 1. Resfriar o leite 3. Controle de mastite NUNCA ESQUECA DOS HÁBITOS DE HIGIENE! Centro de Ciências Agroveterinárias Produzido por Thalyta Marcílio ([email protected]) 69 ANEXO B – Material produzido e distribuído aos produtores CARACTERÍSTICAS PARA SER UM BOM ORDENHADOR 1. Ter bons hábitos de higiene 4. Lavar as mãos durante a ordenha 3. Ser atencioso, não bater nos animais 5. Quando necessário buscar assistência 2. Realizar a mesma rotina em todas as ordenhas Centro de Ciências Agroveterinárias Produzido por Thalyta Marcílio ([email protected]) PASSO A PASSO PARA REALIZAR UMA ORDENHA DE QUALIDADE 2 1 3 7 4 6 5 Centro de Ciências Agroveterinárias Produzido por Thalyta Marcílio ([email protected]) 70 ANEXO B – Material produzido e distribuído aos produtores PERÍODO DE CARENCIA DOS PRODUTOS VETERINÁRIOS PRODUTO CARÊNCIA PRODUTO CARÊNCIA PRODUTO CARÊNCIA ADE Tec 30 dias Dectomax 30 dias Ivomec 30 dias Agemoxi 03 dias Dexium 01 dia Ivermic 30 dias Agrovet Plus 03 dias Diantel 30 dias Landic 04 dias Agrovet OS 03 dias Diaseg 03 dias Lico-spectin 03 dias Agrovet 5000000 03 dias Diuzon 03 dias Mamizin VS 45 dias Agroplus 03 dias Diclofenaco 03 dias Mamizin bisnaga 03 dias Albendathor 10% 02 dias Duplatic 01 ordenha Mamizin injetável 03 dias Amipur 01 dia Ectic 01 ordenha Mastenzin bisnaga Sem carência Amoclox VS 30 dias Ectoplus 01 ordenha Mastifin VS 30 dias Anamastete S 30 dias Elantrin 03 ordenhas Matifin 04 dias Antidiarreico Valle 04 dias Enrotec 03 dias Mastijet fort 03 dias Enemast 05 dias Mastiplus bisnaga 03 dias Eprinex Sem carência Megamectin 30 dias Equipalazone 40 dias Megamectin 3,5 120 dias Estreptomax 03 dias Mitraz 01 dia Fencare 03 dias Naquasone 03 dias Azium 01 dia Bactrosina 03 dias Baimec 30 dias Baytril 03 dias Biomectina 30 dias Bioxel Sem carência Bisolvomycina Butox pour-on Butox bnho Bovigan VS 05 dias 01 ordenha 01 ordenha 45 dias Bovigan 03 dias Bovitras 03 dias Bravecilin 17 dias Cefavet 04 dias Cefa – dry 42 dias Cefa-lak 04 dias Cepravin 52 dias Citec 01 dia Ciprodez 03 dias Clamoxil 03 dias Cyanamicina 05 dias Coxulid Plus Colosso 03 dias 03 dias Pulmodrazin 05 dias Ricobendazole 03 dias Rilexine Ripercol 04 dias 01 dia Roflin 04 dias Shotapen 05 dias Solutetra 05 dias Solutetra 1g 03 dias Solutetra 2g 03 dias Streptomic 05 dias Sulfamicina 05 dias Corta curso 05 dias Centro de Ciências Agroveterinárias Flucortan 01 dia Neguvon 01 ordenha Flumast 04 dias Newmast 04 dias Fortgal 01 dia Norflagen 03 dias Ganadol 05 dias Nuflor 04 dias Ganaseg 03 dias Ourotetra LA 05 dias Ganaseg Plus 03 dias Gasel 03 dias Gentaf 04 dias Gentocin Bisnaga 04 dias Gentocin injetável 04 dias Gentrin infusão 01 dia Gentrin injetável NÃO USAR Ginovet 05 dias Hertabiótico 17 dias Iflox 03 dias Imizol 30 dias Indigest 02 dias Ivomec gold 120 dias Tac plus Orbenin 42 dias Oxivet LA NÃO USAR Oxitetraciclina NÃO USAR Pathozone 04 dias Panacur 03 dias Pencivet PPU NÃO USAR Penjet P 05 dias Penjet Plus 05 dias Pentacilin 03 dias Pentakel 04 dias Pirofort 03 dias Predef 01 dia Proverme 01 dia 01 dia Tylan 50 03 dias Terraflan 05 dias Tylan 200 03 dias Terramicina LA NÃO USAR Uberlac 04 dias Tetradelta 04 dias Vetflogin 03 dias Toricina 100 03 dias Vetmast 04 dias Tormicina LA 05 dias Vetmast VS 30 dias Trexin 03 dias Virbamac 30 dias Triatox 01 dia Voren 02 dias 03 dias Zelotril 03 dias Trissulfin 05 dias Zelotril Plus 03 dias Tyladen 03 dias Ivome pour-on 30 dias Tribrissen Produzido por (Thalyta Marcílio ([email protected]) 71 ANEXO C – Check List realizado nas propriedades CHECK LIST PARA PRODUTORES DE LEITE PRODUTOR:___________________________________ ITEM C A. LOCAL DE ORDENHA 1 Limpeza Piso/ paredes 2 Cobertura 3 Outros animais (gato, cão) 4 Medicação, produtos tóxicos na sala de ordenha 5 Organização 6 Higiene dos equipamentos de ordenha 7 Iluminação 8 Controle de pragas Equipamentos e utensílios B. PROCEDIMENTO DE ORDENHA 1 Lavagem dos tetos com água corrente (opcional) 2 Secar com papel toalha 3 Teste caneca fundo preto 4 CMT 5 Retira os primeiros jatos (qual descarte?) 6 Pré – dipping (o que usam e qual a concentração) 7 Pós – dipping (o que usam e qual a concentração) 8 Alimentação após a ordenha 9 Ordem de ordenha (animais com mastite e/ou em tratamento) 10 Horários B. ORDENHADOR 1 Unhas 2 Ferimentos nas mãos 3 Higienização das mãos 4 Roupas e botas limpas 5 Cabelo cortado, amarrados 6 Comer 7 Fumar 8 Cuspir C. ARMAZENAMENTO 1 Higiene do tanque de expansão 2 Higiene do tanque de imersão 3 Água do tanque de imersão (limpa) 4 Congelamento da água do tanque de imersão 5 Armazenamento Resfria T. imersão do (7ºC) T. Expansão (4ºC) N.C N.A Data:____/_____/____ Observações 72 Protegidos contra contaminação (tampa)/ misturador automático 6 Localização do resfriador 7 Recipientes Atóxicos Permitam higienização Embalagem que deixem resíduos D. TRANSPORTE 1 Mangueira do caminhão vai até o resfriador 2 Higiene da mangueira do caminhão 3 Condições da mangueira do caminhão 4 Alizarol 5 Homogeneização antes da coleta 6 Forma de coleta das amostras 7 Identificação das amostras 8 Caminhão possui meios de controle de temperatura E. ANIMAIS 1 Condição corporal 2 Raça 3 Vermífugo 4 Vacinas 5 Alguma lesão ou patologia aparente/ medicação F. OUTROS 1 2 Tratamento da água Qual o produto utilizado para o tratamento da água 3 Qual a concentração desse produto 4 Proteção contra contaminação da água 5 Local de descarte do leite impróprio ao consumo Resultado + concentração do reagente 73 ANEXO D – Resumo das atividades diárias realizadas com o clorador. DATA OBSERVACÕES PASTILHAS ADICIONADAS 04/10/2007 01 Adição de 1 pastilha e dosagem 05/10/2007 02 Adição de 2 pastilhas e dosagem 06/10/2007 Como a concentração estava alta não se adicionou 07/10/2007 01 Adição de 1 pastilha e dosagem 08/10/2007 03 Quantidade suficiente para tratar 1.500 L de água 09/10/2007 00 Suspensão da adição de pastilha e dosagem 10/10/2007 00 Dosagem 11/10/2007 00 Dosagem 12/10/2007 00 Dosagem 13/10/2007 01 Adição de 1 pastilha e dosagem 14/10/2007 00 Como a concentração estava alta não se adicionou 15/10/2007 01 Adição de 1 pastilha e dosagem 16/10/2007 00 Como a concentração estava alta não se adicionou 17/10/2007 00 A concentração começou a diminuir, porém ainda estava alta