Cidades globais e megacidades: uma distinção necessária

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Cidades globais e megacidades: uma distinção necessária
Cidades globais e megacidades: uma distinção necessária
Cosme Freire Marins
Em uma de suas obras, Eustáquio Sene (2003) comenta a concepção de Milton
Santos de que não há um espaço global, e sim espaços da globalização, ligados por
redes. Assim, Santos defende a proposta de que a globalização seja abordada na
perspectiva de uma geografia das redes, na qual as cidades globais são os pontos de
interconexão mais importantes da rede de fluxos da globalização.
Face a essa afirmação, torna-se necessário distinguir conceitualmente cidades
globais de megacidades. Enquanto as primeiras dizem respeito a uma definição que se
baseia em critérios qualitativos, as últimas se referem a aglomerações com mais de dez
milhões de habitantes, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU),
correspondendo a dados quantitativos. Uma cidade é considerada global pelo papel de
comando que desempenha na rede urbana mundial, geralmente concentrando as sedes
de importantes empresas e conectada com os fluxos financeiros globalizados.
Como exemplo de uma cidade global, Sene citou Zurique, na Suíça, que em 2000
tinha 955 mil habitantes, com poucas pessoas marginalizadas, e com alta densidade de
objetos técnicos. Já a cidade de Dacca, em Bangladesh, no mesmo ano tinha 10,2
milhões de pessoas, porém devido à sua reduzida importância em termos de serviços
globais e à carência de objetos técnicos (comerciais, financeiros, turísticos etc.), é uma
megacidade, mas não é uma cidade global. Completando o quadro, uma parcela
significativa de sua população está marginalizada dos fluxos globais.
Assim, ao contrário do que alguns autores afirmam, as cidades globais são as
responsáveis pela articulação da economia global, pela ligação das redes informacionais
e pela concentração do poder mundial, e não as megacidades. No entanto, há que se
evidenciar a coincidência de algumas das maiores megacidades do mundo também
serem cidades globais. Esse é o caso, por exemplo, de Nova York e Tóquio (duas das
quatro mais importantes cidades globais), além de Los Angeles, Cidade do México, São
Paulo, Osaka, Jacarta, Xangai, Pequim e Buenos Aires. Contudo, as outras duas maiores
cidades globais (Londres e Paris), não são megacidades conforme critério estabelecido
pela ONU, pois têm menos de 10 milhões de habitantes.
Referência:
SENE, Eustáquio de. Globalização e espaço geográfico. São Paulo: Contexto, 2003.
p.135-136.