Amanda Corral
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Amanda Corral
UNIVERSIDADE NILTON LINS – UNILTON LINS INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA – INPA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AQUICULTURA USO DO ÓLEO ESSENCIAL DE Piper aduncum NA RAÇÃO PARA O CONTROLE DE NEMATÓIDES DE PIRARUCU (Arapaima gigas, SCHINZ, 1822) AMANDA CURIEL TRENTIN CORRAL Manaus – Amazonas Março, 2014 AMANDA CURIEL TRENTIN CORRAL USO DO ÓLEO ESSENCIAL DE Piper aduncum NA RAÇÃO PARA O CONTROLE DE NEMATÓIDES DE PIRARUCU (Arapaima gigas, SCHINZ, 1822) ORIENTADORA: DRA. ELIZABETH GUSMÃO AFFONSO Dissertação apresentada Uninversidade Nilton Lins a em ampla associação com o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia como parte dos requisitos para obtenção do Título de Mestre em Aquicultura. Manaus – Amazonas Março, 2014 Corral, Amanda Curiel Trentin Uso do óleo essencial de Piper aduncum na ração para o controle de nematóides de pirarucu (Arapaima gigas, Schinz, 1822). Dissertação (mestrado) – UniNilton Lins/INPA, Manaus, 2014. Orientador: Gusmão Affonso, Elizabeth Área de concentração: Aquicultura 1. Arapaima gigas. 2. Sanidade. 3. Fitorerápico. Sinopse: Avaliou-se a eficácia do óleo essencial de Piper aduncum, administrado na ração, no controle de nematódes de pirarucu (Arapaima gigas) e seus efeitos nas respostas fisiológicas dos peixes. Palavras-chave: Fitoterápico, nematoide, palatabilidade, perfil fisiológico, pirarucu. Dedico esta conquista a minha família, que sempre me apoiou e me deu forças para lutar. AGRADECIMENTOS A FAPEAM pela bolsa de estudos concedida pelo POSGRAD N° 028/2012 durante o período de realização do mestrado. A Universidade Nilton Lins e ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia pela oportunidade de cursar a Pós-graduação em Aquicultura, pela estrutura e pelos professores. A Dra. Elizabeth Gusmão Affonso pela orientação e pela oportunidade de desenvolvimento deste trabalho. A Embrapa Ocidental em nome do Dr. Célio pelo auxilio e orientação na coleta e secagem, e pela disponibilização da estrutura e do material vegetal. A Estação Experimental de Silvicultura Tropical, em nome do Dr. Antenor, por disponibilizar a usina para a realização das extrações do óleo. Ao laboratório de fitoquímica do INPA, em nome da Dra. Ana Cristina Pinto e Karla Lagos, pela auxilio nas análises do óleo. A Coordenação de Tecnologia e Inovação (COTI) e ao Laboratório de Fisiologia Aplicada à Piscicultura (LAFAP) do INPA. A Ione Castro, secretária do PPG-AQUI, pela dedicação e auxilio prestado. Aos membros da banca da aula de qualificação Dra. Edisandra Chagas (EMBRAPA-AM), Dr. José Celso (INPA), Dra Cleusa Suzana (UNINILTON LINS) e plano de dissertação, Dr. Marcos Tavares (EMBRAPA-PA), Dr. Mauricio Laterça (UFSC) e Dr. Gilberto Pavanelli (UEM) pelo auxilio e sugestões. As minhas “co-orientadoras informais” Sanny Maria de Andrade Porto e Marieta do Nascimento Queiroz pelas orientações. Aos colegas César Oishi, Elenice Martins Brasil, Renata Silva, Jaqueline Inês Alves de Andrade, Marieta do Nascimento Queiroz, Tamara Morais, Andressa Marinho, Bento Monteiro Siqueira, Sanny Maria, Jeffson Nobre, Andreza Batista Lopes, Paula Corrêa, Jandiara Kelly, Carlos Eduardo de Freitas e Francisco da Chagas Figueira de Brito Filho pela colaboração durante as análises. A Luciana Curiel Trentin Corral, Luiz Henrique Suarez Lopez e Gabriel Henrique de Oliveira Suarez pela ajuda durante o experimento. Aos colegas da turma PPG-AQUI 2012, pelo companheirismo, e pelos momentos de alegria e descontração, Andreza Batista Lopes, Jeffson Nobre Pereira, Tomás Igo Muñoz Sanches, Daniel Bernardes da Silva, Elen Carla dos Santos, Jean Felipe de Abreu, Diogo Campos e Paulo César de Sena Costa. A Maria Inês Pereira, Suzana Kawashima, Ana Socorro, Marcos Makiyama, Dona Fatinha, Sr Joaquim, Atílio Storti-Filho, Sr. Fininho, Sr. Roberto, Gabriel, Valdelira Lia Fernandes e Daniel pela prontidão em ajudar em todos os momentos. A minha família que acreditou e confiou em mim, sempre me apoiando e encorajando para que eu pudesse passar por mais esta etapa. RESUMO Este estudo avaliou a eficácia do óleo essencial de Piper aduncum no controle de nematóides de juvenis de pirarucus. Para isso, foram realizados testes de palatabilidade e de eficácia da planta administrada na ração comercial com 45% de proteína bruta. No teste de palatabilidade foi avaliada a capacidade palatável das concentrações de óleo na ração: 0, 32, 48, 64 e 80 ml/kg, durante 7 e 15 dias de alimentação, sendo estas administradas pela manhã, e a ração sem medicamento à tarde. Foram utilizados 60 peixes (25,4±3,5 g), em uma densidade de estocagem de 4 peixes/cone, com fluxo contínuo de água. Não houve diferença significativa (p>0,05) entre os tratamentos com 32, 48 e 64 ml/kg e o controle (sem medicamento) em 7 e 15 dias. Entretanto, em 80 ml/kg, apresentou a menor taxa de ingestão da ração, 65% e 61% em 7 e 15 dias respectivamente, e uma diferença significativa (p<0,05) em relação ao controle. A mortalidade foi maior nos peixes do controle (16,7%), seguidas por 32 e 80 ml/kg com 8,3% e 25% em 7 e 15 dias respectivamente. Para a ração sem medicamento, administrada à tarde, não houve diferença significativa (p>0,05) entre os peixes dos tratamentos e o controle. Com estes resultados, foram definidas as concentrações do óleo essencial de P. aduncum para o teste de eficácia (0, 32, 48, 56, 64 ml/kg), em 7 e 15 dias, sendo avaliados os parâmetros sanguíneos e os índices parasitários dos juvenis de pirarucus, após os tratamentos. Foram utilizados 135 animais (52±3,2g), em uma densidade de 9 peixes/tanque, em sistema de fluxo contínuo de água. Dos parâmetros sanguíneos analisadas, somente os valores de hematócrito (Ht), volume cospuscular médio (VCM) e hemoglobina corpuscular média (HCM) apresentaram diferenças significativas (p<0,05) em 7 dias de tratamento, e, em 15 dias, os valores de proteínas totais apresentaram diferenças significativas (p<0,05) entre os tratamentos e o controle. Os índices parasitários mostraram prevalência de 100% de nematóides em todas as concentrações e períodos testados. Em 7 e 15 dias, a intensidade média, a abundância média e a intensidade de parasitos apresentaram diminuição de acordo com a concentração do óleo, e, em 15 dias, estes índices foram significativamente menores (p<0,05) entre os tratamentos e o controle, sendo 64 ml/kg a concentração de óleo que apresentou maior redução da carga parasitária. Nos testes de eficácia, em 7 e 15 dias de tratamento, não foram observadas mortalidades de peixes. Em 7 dias não houve diferença significativa (p>0.05) entre os tratamentos (32, 48, 56, 64 ml/kg) e o controle, sendo observada uma baixa eficácia da P. aduncum contra os nematóides. Entretanto, em 15 dias, embora sem diferenças entre os tratamentos com óleo, estes foram significativamente diferentes (p<0,05) em relação ao controle, no qual 64 ml/kg promoveu 76,21% de eficácia. Assim, os resultados indicam que o óleo essencial de P. aduncum apresenta potencial anti-helmíntico, de acordo com a concentração e o tempo de exposição, contra nematóides de pirarucu, sem prejuízo à homeostase dos peixes. ABSTRACT This study evaluated the efficacy of Piper aduncum essential oil in control of nematodes parasitising juvenile pirarucus. For this, palatability and efficacy tests were performed with plant given on the commercial ration with 45 % crude protein. In the palatability test was evaluated palatable capacity of the oil concentrations: 0, 32, 48, 64 and 80 ml/kg for 7 and 15 days of feeding, which was administered in the morning, and in the afternoon feed without drug. 60 fish (25.4 ± 3.5 g) were used at a stocking density of 4 fish/cone, with a continuous flow of water. There was no significant difference (p > 0.05) between treatments with 32, 48 and 64 ml/kg and the control (no drug) at 7 and 15 days. However, at 80 ml/kg, had the lowest rate of feed intake, 65% and 61% at 7 and 15 days respectively, and a significant difference (p < 0.05) compared to control. Mortality was higher in the control fish ( 16.7% ) , followed by 32 and 80 ml/kg with 8.3% and 25% at 7 and 15 days respectively. To diet without medication, administered in the afternoon, there was no significant difference (p > 0.05) between treatments and control. With these results, the concentrations of P. aduncum essential oil to efficacy test were defined (0, 32, 48, 56, 64 ml/kg), 7 and 15 days, being evaluated blood parameters and parasitic indices of juvenile pirarucus after treatments. 135 animals (52 ± 3.2 g) were used at a density of 9 fish/tank for continuous water flow system. In blood parameters analyzed, only the values of hematocrit ( Ht ) , mean cospuscular volume (MCV ) and mean corpuscular hemoglobin (MCH ) showed significant differences (p < 0.05) after 7 days of treatment, and in 15 days, values of total proteins showed significant differences ( p < 0.05 ) between treatments and control.The parasite indexes showed 100 % prevalence of nematodes in all concentrations and times tested. In 7 and 15 days, the mean intensity, mean abundance and intensity of parasites showed decreased according to the concentration of oil, and, in 15 days, these ratios were significantly lower (p < 0.05) between control and treatment, 64 ml/kg averaged concentration of oil, which exhibited a greater reduction in parasite load. In efficacy trials, at 7 and 15 days of treatment were not observed fish mortalities. In 7 days, no significant difference (p > 0.05), between treatments (32, 48, 56, 64 ml/kg) and the control and low efficacy of P. aduncum against nematodes was observed. However, at 15 days, although no differences among treatments with oil, these were significantly different (p < 0.05) compared to the control, where 64 ml/kg promoted 76.21% efficiency. Thus, the results indicate that the P. aduncum essential oil has potential anthelmintic, according to the concentration and exposure time, against pirarucu nematodes, without prejudice to the homeostasis of the fish. LISTA DE FIGURAS Figura 1: Folhas de Piper aduncum. (Queiroz, 2012) .....................................................8 Figura 2. Variação da taxa de ingestão da ração medicada (%) com diferentes concentrações de óleo de Piper aduncum para Arapaima gigas, durante 15 dias de teste de palatabilidade..............................................................................................................24 Figura 3: Taxa de mortalidade, em porcentagem, de Arapaima gigas tratados com ração medicada em diferentes concentrações de óleo de Piper aduncum, durante os 7 e 15 dias de teste de palatabilidade....................................................................................25 Figura 4. Visão geral da superfície externa do intestino de pirarucu com grande número de larvas de nematóides...................................................................................................30 LISTA DE TABELAS Tabela 1. Composição química do óleo essencial de Piper aduncum..............................9 Tabela 2. Estudos sobre a Piper aduncum......................................................................10 Tabela 3. Variáveis físicas e químicas da água das unidades experimentais com Arapaima gigas, antes dos experimentos (aclimatação) e após alimentação com e sem ração medicada com: 0 (controle); 32; 48; 56 e 80 ml/kg do óleo essencial de Piper aduncum, por 7 e 15 dias, no teste de palatabilidade. Condutividade Elétrica (CE); gás carbônico (CO2); alcalinidade (AL); dureza (D) e amônia total (AT). Média ± desvio padrão..............................................................................................................................21 Tabela 4: Variáveis físicas e químicas da água das unidades experimentais com Arapaima gigas alimentados com e sem ração medicada contendo: 0 (controle); 32; 48; 56 e 64 ml/kg d óleo de P. aduncum por 7 e 15 dias no teste de eficácia. Condutividade Elétrica (CE); gás carbônico (CO2); alcalinidade (mg/L CaCo3); dureza (mg/L CaCo3) e amônia total (AT). Média ± desvio padrão......................................................................22 Tabela 5: Taxa de ingestão da ração nas unidades experimentais com Arapaima gigas alimentado com ração medicada com diferentes concentrações de óleo essencial de Piper aduncum (32; 48; 64 e 80 ml/kg) e o controle (sem medicamento), em 7 e 15 dias. Porcentagem da ingestão de ração medicada, ofertada de manhã - 9:00 h (manhã) e sem medicamento, ofertada de tarde – 16:00 h (tarde). Média ± desvio padrão..............................................................................................................................24 Tabela 6: Parâmetros sanguíneos de peixes nativos de cultivo expostos a diferentes produtos. [Hb] = Concentração de hemoglobina (g/dl); Ht =hematócrito (%); VCM= Volume corpuscular médio (fL); HCM= Hemoglobina corpuscular média (pg); CHCM =Concentração de hemoglobina corpuscular média (g/dL); GL = Glicose plasmática (mg/dl); PT =Proteínas plasmáticas totais (g/dL); COL = Colesterol plasmático total (mg/L); Eficácia (%).................27 Tabela 7. Parâmetros sanguíneos de Arapaima gigas, alimentados por 7 e 15 dias com ração medicada contendo diferentes concentrações do óleo de Piper aduncum. Hematócrito (Ht), Número de eritrócitos (RBC), Hemoglobina (Hb), Volume corpuscular média (VCM), Hemoglobina corpuscular média (HCM), Concentração de hemoglobina corpuscular (CHCM), glicose (Gl), proteína total (PT) e colesterol (Col). Média ± desvio padrão, N=9...........................................................................................28 Tabela 8. Prevalência (P%), Intensidade média (IM) ± desvio padrão, Abundância média (AM) ± desvio padrão e Intensidade (I) de parasitos em Arapaima gigas do grupo controle e após 7 e 15 dias de tratamento com diferentes concentrações do óleo essencial de P. aduncum..................................................................................................31 Tabela 9. Eficácia (%) do tratamento com óleo de P. aduncum administrado na nação e o controle (sem o óleo) de nematóides de Arapaima gigas.............................................34 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO.............................................................................................................1 1.1. Sanidade na Aquicultura........................................................................................1 1.2. O pirarucu, Arapaima gigas...................................................................................2 1.3. Parasitismo por nematóides....................................................................................4 1.4. Uso da fitoterapia na aquicultura...........................................................................5 1.5. Piper aduncum, no controle de parasitos...............................................................8 1.6. Avaliação dos efeitos tóxicos de fármacos e seus indicadores.............................12 1.7. Administrando o fármaco.....................................................................................13 2. OBJETIVO...................................................................................................................14 2.1. Geral.....................................................................................................................14 2.2. Específicos............................................................................................................14 3. MATERIAL E MÉTODOS.........................................................................................15 3.1. Obtenção, condicionamento alimentar e aclimatação dos peixes........................15 3.2. Coleta e extração do óleo de P. aduncum.............................................................15 3.3. Preparo e adiminstração da ração medicada.........................................................16 3.4.Teste de palatabilidade...........................................................................................17 3.5. Teste de eficácia....................................................................................................17 3.6. Coleta de sangue e determinação dos parâmetros sanguíneos..............................18 3.7. Análises parasitológicas e de eficácia do tratamento............................................18 3.8. Monitoramento da qualidade da água...................................................................19 3.9. Análises estatísticas..............................................................................................19 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO.................................................................................19 4.1. Qualidade de água.................................................................................................19 4.2. Palatabilidade das rações medicadas....................................................................22 4.3. Efeitos do óleo P. aduncum na fisiologia de pirarucus.........................................25 4.4. Eficácia do óleo essencial de P. aduncum............................................................30 5. CONCLUSÃO..............................................................................................................36 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................37 1 1. INTRODUÇÃO 1.1. Sanidade na Aquicultura Brasileira Nos últimos anos, a aquicultura brasileira vem se destacando no cenário internacional, ocupando o 12º lugar na produção mundial (FAO, 2013). Apesar disso, o Brasil ainda não está preparado para enfrentar os problemas sanitários que, cada vez mais, são frequentes nas pisciculturas de todas as regiões do país. Com raras exceções, não existem laboratórios certificados para realizar um diagnóstico rápido e recomendações para o controle das enfermidades, principalmente nas regiões mais distantes do país (Campos, 2011). Há mais de 20 anos já eram descritas infestações por nematóides em criações de Pseudoplatystoma carruscans (Spix &. Agassiz, 1829) e hiperparasitose por cestoides em pimelodídeos de diferentes regiões do Brasil (Rego et al. 1989). Um surto epizoótico que abalou criadores de camarão no sul e sudeste do Brasil, em 2004, e no nordeste, em 2005, foi o Vírus da Síndrome da Mancha Branca (WSSV, white spot syndrome virus), colocando em alerta o setor produtivo da carcinicultura nacional (Buchelli, 2005; Filho, 2005; Gesteira, 2006). Esse vírus, que ataca o sistema imune, dizimou as criações de camarões, gerando prejuízos econômicos, sociais e ambientais (Seiffert e Costa, 2005; Costa, 2008). Após seis anos do aparecimento desta doença no estado de Santa Catarina, verificou-se a diminuição do número de fazendas produtoras de camarão, em consequência de falhas na aplicação de medidas sanitárias e, ainda hoje, a doença da mancha branca continua impactando a carcinicultura nesse estado (Costa, 2012). Infecções por Aeromonas hydrophila (Schubert, 1974) são comuns em fazendas de peixes nativos, assim como infestações causadas pelo parasito Ichthyophthirius multifiliis (Fouquet, 1876) em fazendas especializadas em recria e engorda de tambaqui (Colossoma macropomum Cuvier, 1818). Em 2009, foi identificado, em cultivos de Pseudoplatystoma fasciatum (Linnaeus, 1766) x Rhamdia sebae (Cuvier, 1829), o primeiro surto causado pela bactéria Streptococcus agalactiae (Lehmann & Neumann 1896) (Figueiredo et al. 2010). Em exemplares de pirarucu, Arapaima gigas (Schinz, 1822), obtidos no estado do Mato Grosso, foram identificados Trichodina sp. e monogenóides em raspados da pele (Araújo et al. 2006); nematóides na vesícula gasosa e no estômago, e acantocéfalos no intestino (Santos et al. 2008). Na região Norte, tem sido cada vez mais comum à presença de diferentes espécies de parasitas em peixes de cultivo. Durante a necropsia de juvenis de pirarucu, 2 criados no município de Manacapuru, AM, foram identificados nematóides intestinais, Camallanus tridentatus (Drasche, 1884) (Araujo et al. 2009). Alta infestação por Acanthocephala Neoechinorhynchus buttnerae Golvan, 1956 causou a morte de 100% dos tambaquis criados numa represa no município de Rio Preto da Eva, AM, provavelmente em consequência da falta de avaliação prévia das condições sanitárias dos peixes e da quarentena, além de problemas nas barragens (Malta et al. 2001). Em juvenis de tambaqui, criados em sistema de tanques redes no lago Paru, em Manacapuru, AM, foram identificadas quatro espécies de monogenóideos, do maior para menor índice parasitológico, Anacanthorus spathulatus Kritsky, Thatcher & Kayton, 1979, encontrada na pele e brânquias, Notozothecium janauachensis BelmontJégu, Domingues & Martins 2004, nas fossas nasais e brânquias; Mymarothecium boegeri Cohen & Kohn 2005, em filamentos branquiais, e Linguadactyloides brinkmanni Thatcher & Kritsky, 1983 nas brânquias dos peixes (Morais et al. 2009). Problemas sanitários relacionados à criação de pirarucu, principalmente nos primeiros estágios de vida, ocasionando grandes perdas de alevinos, têm sido também, um dos grandes desafios da pesquisa que visa o desenvolvimento de novas tecnologias para a criação desta espécie em cativeiro (Ono, 2011). Andrade et al. (2009) encontraram 100% de prevalência de Dawestrema cycloancistrium Price & Nowlin, 1967 nos raspados de pele e brânquias. Araújo et al. (2009a) observaram a presença de Dawestrema cycloancistrioides Kritsky, Boeger & Thatcher, 1985, D. cycloancistrium, Trichodina sp., Ichthyobodo sp. (Protozoa), Camallanus tridentatus, Terranova serrata (Drasche, 1884), Goezia spinulosa (Diesing, 1939) (Nematoda), sendo as três primeiras com maior intensidade parasitária e 96% de prevalência. Andrade-Porto et al. (2011) registraram pela primeira vez larvas do nematoda Hysterothylacium sp. em juvenis de pirarucu de cultivo, esse parasita pertence a familia Anisakidae e possui potencial zoonótico. Os nematodas apresentaram uma prevalencia de 98% e encontravam-se fixados e livres no lúmen intestinal e cecos pilórios. 1.2. O piracucu, Arapaima gigas O pirarucu (Osteoglossiforme, Arapaimidae), é uma espécie endêmica da região amazônica, com distribuição, no Brasil, nas bacias Amazônica e Araguaia-Tocantins, Equador, Peru, Bolívia, Venezuela, Colômbia e Guianas. É considerado o maior peixe 3 de escamas de água doce do mundo, podendo medir até 3 m de comprimento e pesar 200 kg (Santos et al. 2008). Uma característica evolutiva interessante desta espécie é sua respiração aérea obrigatória, por meio da bexiga natatória altamente vascularizada como órgão acessório. Possui comportamento gregário e não realiza migrações reprodutivas, sendo uma espécie considerada monogâmica, que constrói ninhos e protege a prole. (Bard e Imbira, 1986; Santos et al. 2008; Monteiro et al. 2010). Possui hábito carnívoro, porém, sua preferência alimentar muda de acordo com seus estágios de desenvolvimento, alimentando-se de crustáceos e moluscos na fase inicial e, a partir do primeiro ano de vida, os peixes passam a fazer parte da sua dieta, sendo este o item mais importante da sua alimentação (Oliveira et al. 2005). Devido ao grande potencial para criação em cativeiro, tais como: rápido crescimento, tolerância ao adensamento, carne branca de alta qualidade e sem espinhas intramusculares, rendimento de filé superior a 45% e alto valor no mercado, o pirarucu tem sido a espécie cujos investimentos têm se intensificado nos últimos anos. Exemplos como o Projeto Estruturante do Pirarucu da Amazônia I e II (SEBRAE), o plano Safra, entre vários outros financiados com recursos do Ministério da Pesca e Aquicultura, Embrapa e FAPs. Algumas barreiras ainda impedem a expansão na criação do pirarucu, que teve uma produção de 1.137,1 t no ano de 2011 (MPA, 2013). Entre elas, a limitada oferta de alevinos, que ainda são provenientes de desovas naturais, cuja falta de conhecimento sobre o manejo da prole resulta na baixa sobrevivência (10 a 20%) (Ono, 2011). Segundo Castillo (2012), outro desafio para aumentar produtividade dessa espécie está relacionado à nutrição, pois ainda são poucas as informações sobre suas exigências nutricionais, o que encarece a criação, já que a alimentação representa 50 a 80% dos custos da produção. O manejo alimentar do pirarucu, na fase inicial do seu desenvolvimento, é fundamental para sua sobrevivência, além de ser responsável pelo alto índice da fauna parasitária observada. Nessa fase, os peixes são alimentados com plânctons, hospedeiros intermediários de alguns parasitos, que podem causar elevadas taxas de mortalidade dos animais, causadas, principalmente, por monogenóideos, tricodinas, acantocéfalos, e nematóides (Olmos, 2003; Gomes et al. 2007), sendo este último objeto do presente estudo. Segundo Olmos (2003) e Gomes et al. (2007), o hábito alimentar é decisivo para a composição da fauna parasitária, principalmente para os endoparasitos. 4 1.3. Parasitismo por nematóides Os nematóides são metazoários, triploblásticos, pseudocelomados com sistema digestivo com boca e ânus. São dióicos, e, em alguns, há nítido dimorfismo sexual; não possuem sangue, sistema circulatório nem sistema respiratório (Hickman et al. 2004). A fertilização dos nematóides é interna e, assim como os artrópodes, realizam mudas periodicamente. Há quatro estágios larvais, antes da fase adulta, no caso de nematóides de peixes a primeira fase larval pode ser temporariamente livre na água. Microcrustáceos (geralmente um copépoda) são necessários como hospedeiro intermediário, pois os copépodas ingerem o primeiro estágio larval, natante, que se desenvolve para a terceira ou quarta etapa no crustáceo. Os peixes se infectam quando ingerem estes copepodes contendo o terceiro ou quarto estágio larval. Algumas espécies de nematóides, como o Terranova serrata parasito de pirarucu, requerem dois hospedeiros intermediários para completar o ciclo. O primeiro deles é um microcrustáceo e o segundo um pequeno peixe. Em tais casos, as larvas não amadurecem no primeiro peixe, mas podem penetrar seus tecidos, onde eles esperam para se desenvolver no peixe que predar seu hospedeiro (Thatcher, 2006). Peixe da Amazônia, geralmente, têm numerosas larvas de nematóides encistadas em seus tecidos (especialmente no mesentério) (Pananelli et al. 2013). Algumas delas representam espécies de Contracaecum, Multicaecum, Terranova, Dujardinascaris e Eustrongylides que também podem utilizar aves e crocodilianos como hospedeiro intermediário (Thatcher, 2006). As primeiras descrições de nematóides parasitando peixes de água doce no Brasil datam de 1839 e incluíam G. spinulosa e Gnathostoma gracile (Diesing, 1838) coletados em pirarucu. Na literatura são descritas as seguintes espécies de nematóides de pirarucu: G. spinulosa (Diesing, 1939); Philometra senticosa (Baylis, 1927); Terranova serrata (Drasche, 1884); Camallanus tridentatus (Drasche, 1884); Gnathostoma gracile (Diesing, 1838); Rumai rumai Travassos, 1960; Capillostrongyloides arapaimae Santos, Moravec, Venturieri, 2008; Hysterothylacium sp. Ward & Magath, 1917 (Santos, Moravec, Venturieri, 2008); Eutrongyides sp. Jãgerskiold, 1909 (Luque et al. 2011). A importância dos nematóides como patógenos de peixes tem aumentado com o crescimento da piscicultura, podendo causar perdas econômicas significativas. Eles podem afetar a fisiologia e o comportamento dos peixes, retardar o crescimento e a 5 maturação sexual e também tornar os animais mais susceptíveis a poluentes, já que alteram seu sistema imunológico (Pavanelli et al. 2013). Espécies como Camallanus sp. podem causar obstrução intestinal em animais de pequeno porte e afetar sua taxa de crescimento, ocasionando reação inflamatória local e anemia pela perda de sangue. Os nematóides com espinhos cuticulares invadem a mucosa intestinal, e alguns colocam toda ou a maior parte do corpo dentro da parede do intestino do hospedeiro, causando graves inflamações, como G. spinulosa, um ascarioide (Thatcher, 2006). Segundo Freitas e Lent (1946), a mortalidade de larvas e juvenis de Astronottus ocellatus Agassiz, 1831 e A. gigas infectados por G. spinulosa, numa estação de piscicultura no estado do Ceará, foi a responsável pelo fracasso da criação. Além disso, as perdas econômicas também foram causadas pela presença de larvas de nematóides que podem ser vistas a olho nu, tornando a produção não comercializável. Essa mesma espécie foi observada parasitando pirarucus adultos que, embora não tenham sido verificados sinais clínicos do parasitismo, apresentaram várias lesões ulcerativas no estômago, com a presença de grande número de nematóides adultos (Pavanelli et al. 2013). Vários produtos para o controle de parasitas de peixes em sistemas de cultivo têm sido citados na literatura, tais como formalina, cloreto de sódio, verde malaquita, eritromicina, flumequina, oxitetraciclina, florfenicol, cloranfenicol, ácido acético, iodo, permanganato de potássio, sulfato de cobre, praziquantel, paration, levamisol, febendazole, sulfato de cobre, entre outros (Parra et al. 1997; Affonso et al. 2002; Tavares-Dias et al. 2002; Araújo et al. 2004; Andrade et al. 2005; Gieseker et al. 2006; Sanches et al. 2007; Silva, 2007; Cruz et al. 2008; Pavanelli et al. 2008; Maciel, 2009; Carraschi et al. 2011; Chagas et al. 2012). Entretanto, a maioria desses produtos pode ser tóxico para o animal ou para o ser humano, bem como causar sérios riscos ao ambiente. Assim, produtos a partir de plantas medicinais têm sido uma alternativa prática, econômica e eficaz que, cada vez mais, vêm ganhando destaque na aquicultura mundial. 1.4. Uso da fitoterapia na aquicultura No final da década de 70, a Organização Mundial da Saúde (OMS) criou o “Programa de Medicina Tradicional” para promover a saúde mundial, incentivando a 6 cultura popular e os conhecimentos sobre plantas medicinais. Em 2006, no Brasil, foi criado o “Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápico”, promovendo o uso sustentável da biodiversidade para o desenvolvimento da cadeia produtiva e da indústria nacional (MMA, 2006), já que a ocorrência de fármacos residuais no meio ambiente pode apresentar efeitos adversos em organismos aquáticos e terrestres. Diversos produtos fitoterápicos vêm sendo testados para o controle e prevenção de doenças na aquicultura. Segundo a ANVISA (2014), são considerados medicamentos fitoterápicos aqueles obtidos com emprego exclusivo de matérias-primas ativas vegetais. Não se considera medicamento fitoterápico aquele que inclui, na sua composição, substâncias ativas isoladas, sintéticas ou naturais, nem as associações dessas com extratos vegetais. Sendo o Brasil detentor da maior floresta tropical do mundo, com a maior biodiversidade de plantas do planeta, aproveitar esse potencial para produzir fitoterápicos, capazes de controlar as doenças, tem sido estimulado nos diferentes setores da produção animal. Vale et al. (2006) utilizaram o extrato bruto de Jatropha gossypiifolia Linnaeus, 1753, na cicatrização de hemorragias gástricas em ratos. Segundo Acergo (2005), para tratamento de doenças do gado leiteiro, vem sendo usada Araucaria augustifolia Kuntze, 1898, no controle do carrapato e do berne; como bactericidas na desinfecção da sala de ordenha Baccharis trimera e Casearia sylvestris; como cicatrizantes e anti-inflamatórias Plantago major, Symphytunn officinale, Arctium lappa, Leonorus Sibiricus e Calendula officinaIis. Henrique et al. (2010) testaram Matricaria camomila na ração para codornas, e verificaram que, durante a fase de postura, não houve diferença nos parâmetros de desempenho, comportamento e fisiologia dos animais. A bananeira (Musa spp. Linnaeus, 1753) usada para caprinos, bovinos, camundongos como anti-helmíntico (Escosteguy, 2000; Braga et al. 2001; Amorim, 1987) e para cães como remédio para sarna (Lans e Browm, 1998). Diversos estudos na literatura têm demonstrado a eficácia dos fitoterápicos no controle das enfermidades em peixes. O extrato aquoso da amendoeira, Terminalia catappa Linnaeus, 1753, na concentração de 200 ppm, reduziu a infecção por fungos nos ovos de tilápias do nilo (Oreochromis niloticus Linnaeus, 1758) e, em 800 ppm, eliminou Trichodina sp. em juvenis desta espécie, após dois dias de tratamento (Chitmanat et al. 2005). O alho (Allium sativum Linnaeus,1756) é outra planta que vem sendo utilizada no tratamento de peixes contra bactérias, fungos, protozoários e vírus, além de ser de fácil obtenção. Essas propriedades do alho se devem a alicina, que 7 também é responsável pelo odor característico da planta, sendo usada, preferencialmente, crua, pois altas temperaturas desnaturam esta substância (Tavechio et al. 2009). O aumento da resistência à infecção bacteriana por Pseudomonas fluorenscens (Migula, 1895), em 91,3%, foi verificado quando adicionado 3% de alho/kg de ração, durante três meses em tilápias do nilo (Diab et al. 2008). Martins et al. (2002) verificaram a redução de 95% da infecção por monogenóides (Anacanthorus penilabiatus Boeger, Husak & Martins, 1995) em pacu (Piaractus mesopotamicus Holmberg, 1887), usando 2,0 g/kg de alho na ração, por 45 dias. O efeito do extrato metanólico de sementes de Piper guineense Schumach,1827, sobre parasitas monogenóides de Carassius auratus Linnaeus, 1758, foi testado por Ekanem et al. (2004). Cruz, (2005), utilizando extrato aquoso de nim (Azadirachta indica), obteve o controle de 89% de Anacanthorus penilabiatus em pacu. Segundo Tavechio et al. (2009), outras plantas que vêm sendo utilizadas, experimentalmente, como fitoterápicas na piscicultura são: goiaba (Psidium guajava Linnaeus, 1758), viscobranco (Viscum álbum) e urtiga (Urtica dioica Linnaeus, 1758). Liu et al. (2010) descreveram o uso do extrato de sementes da Semen pharbitidis contra Dactylogyrus intermedius Weger, 1910, em C. auratus e Wu et al. (2010) testaram o potencial antihelmíntico de Radix Bupleuri chinensis contra Dactylogyrus intermedius em C. auratus. O goji (Lycium sp.) é utilizado como imunoestimulante e confere resistência à Edwardsiella tarda Ewing, 1965 em tilápias do nilo. O ginseng (Eleutherococcus senticosus) também aumenta a resistência à E. tarda e Vibrio anguillarum Pacini, 1854 em linguados. O alecrim (Rosmarinus officinalis), no tratamento de tilápias, serve como imunoestimulante e bacteriostático. O capim bermuda (Cynodon dactylon Linnaeus, 1753) tem atividade viricida usado no tratamento do vírus da mancha branca, em camarões (Penaeus monodon Fabricius, 1798) (Figueiredo et al. 2011). Considerando o potencial das espécies medicinais brasileiras, os estudos fitoterápicos ainda são incipientes e, portanto, são um campo vasto para pesquisas sobre o uso destes no controle de doenças nas pisciculturas de todo o país. Com este objetivo, grupos de pesquisas do INPA e da Universidade Nilton Lins vêm desenvolvendo estudos relacionados à fitoterapia em peixes. Dentre eles, o uso de cipó-alho (Adenocalymna alliacea) na ração e o extrato aquoso de mastruz (Chenopodium Ambrosioides Linnaeus, 1753) para o controle de monogenóides de tambaqui (Viana, 8 2012; Monteiro, 2012), o extrato de Piper aduncum no controle de monogenóides de pirarucu (Queiroz, 2012) e de A. hydrophila em tambaqui (Brasil, 2013) 1.5. Piper aduncum no controle de parasitos Piper aduncum, que pertence à família Piperaceae, é originária do Peru, com ampla distribuição nos trópicos americanos, se estendendo por toda América do Sul, sul do México, Caribe e Polinésia. É popularmente conhecida como pimenta-de-macaco, matico, erva de soldado, pimenta-longa, pimenta-de-fruto-ganchoso, aperta-ruão, tapaburaco, e jaguarandi (Yuhncker, 1975; Maia et al. 2001). Esta piperácea é um arbusto, considerada “erva daninha” por ocupar, rapidamente, áreas desflorestadas, medindo entre 1 e 8 metros (Figura 1). Possui caule delgado e ereto, de coloração amarelada com protuberâncias e nós no caule, de onde saem os galhos. As folhas são pecioladas, simples e alternadas, medindo de 12 a 22 cm, apresentando uma textura áspera com nervuras. A inflorescência é uma espiga floral que nasce de forma oposta às folhas e medem de 6 a 16 cm de comprimento (Ribeiro e Bendo, 1999). Figura 1. Folhas de Piper aduncum. (Queiroz, 2012) Diversos trabalhos já foram realizados para avaliar o rendimento do óleo essencial da P. aduncum que, de acordo com os resultados obtidos, podem variar de 0,25 a 4% (Maia et al. 2000; Martínez et al. 2003; Rali et al. 2007; Gaia et al. 2010; Brazão, 2012; 9 Potzernheim et al. 2012; Silva et al. 2013). Estas variações nas extrações de óleo da P. aduncum indicam que este depende do local de coleta, da idade da planta e do período de colheita (Pimentel et al. 1998; Silva e Oliveira 2000; Bergo et al. 2005). Vários metabólitos secundários já foram identificados na sua composição (Tabela 1), porém, o óleo essencial fenilpropanóide dilapiol é o composto majoritário da planta, podendo variar de 58 a 88,4%, (Smith e Kassim, 1979; Gottied et al. 1981; Fazolin et al. 2005). As concentrações dos metabólitos secundários das plantas sofrem variações qualitativas e quantitativas decorrentes de fatores bióticos e abióticos, tais como, temperatura, sazonalidade, ciclo circadiano, disponibilidade de água, qualidade do solo, poluição atmosférica, lesões, ataques por insetos, entre outros (Gobbo-Neto e Lopes, 2007). Em geral, boa parte das propriedades farmacêuticas descritas para plantas medicinais são creditadas aos óleos essenciais, os quais podem ser extraídos de diferentes formas, tais como hidrodestilação, destilação a vapor, CO2 supercrítico, ou com a utilização de solventes orgânicos ou gorduras. Além da sua importância como medicamento, os óleos essenciais são amplamente difundidos na fabricação de cosméticos e perfumes. Tabela 1. Composição química do óleo essencial de Piper aduncum. COMPOSIÇÃO QUÍMICA Dilapiol, monoterpenos e sesquiterpenos Dilapiol, ácido p-hidroxibenzóico prenilado, miristicina e sesquiterpenos Dihochalconas Monoterpenos, sesquiterpenos, cromenos, ácido benzoico, flavonoides e diidrochaclona Ácido 2.2 – dimetil-2H-leromeno-6-carboxílico e 3(3’.7’-dimetil-2’.6’-octadienil)-4-metoxibenzóico 2’.6’- Dihidroxi-4’-metoxichalcona Dilapiol Derivado de ácido benzoico Dilapiol e o derivado do ácido benzoico prenilado metil 4-hidroxi-3-(3’-metil-2’-butenil) benzoato Dilapiol, safrol e sarisan REFERÊNCIA Gottlieb et al. 1981 Orjala et al. 1993a Orjala et al. 1993a Burke e Nair, 1986; Orjala et al. 1993a; Baldoqui et al. 1999 Torres-Santos et al.1999a Maia et al. 2001; Pino et al. 2004 Lago et al.2004 Oliveira et al. 2005 Estrela et al.2006 Na literatura são descritos inúmeros estudos sobre a ação dos diferentes compostos de P. aduncum realizados no Brasil e em outros lugares do mundo (Tabela 2). O óleo essencial tem grande eficácia no controle de pragas e microrganismo, sendo 10 importante para a agricultura, devido suas características inseticidas, fungicidas, bactericida, acaricida, moluscicida e parasiticida (Fazolin 2005; Estrela 2006; Rapado 2007; Silva 2008). Em humanos, esse óleo tem sido utilizado no tratamento de úlceras crônicas, diurético, antiblenorrágico, carminativo, excitante digestivo, males do fígado, combate a erisipela, controle da atividade antibacteriana de Streptococcus mutans e Streptococcus sanguis causadoras de cáries dentárias e de formas epimastigotas de Trypanosoma cruzy (Lorenzi e Matos 2002; Passerini 2008; Souza et al. 2008; Magalhães 2010). Na medicina veterinária, Silva (2008) verificou que o extrato hexânico de folhas de P. aduncum induziu mais de 50% de mortalidade de larvas de Rhipicephalus microplius em 10, 15 e 20 mg/ml do extrato por 24 h, com 75% de eficácia na maior concentração. Segundo Queiroz (2012), 80 ml/L do extrato aquoso de P. aduncum foi 80% eficaz no tratamento de monogenóideos de A. gigas, durante banhos longos (24 h), sem comprometer sua homeostase fisiológica. Brasil (2013) verificou que o extrato hidroalcoólico dessa planta, a partir de 5 µg/mL, é bacteriostático para A. hydrophila, e as concentrações abaixo de 80 µg/mL apresentam baixa toxicidade e não comprometeram o equilíbrio homeostático do tambaqui. Tabela 2. Estudos sobre a Piper aduncum. ÁREA DE ESTUDO Adstringente, Hemostática e Antimicrobiana Antimicrobiana, moluscicida Antimicrobiana, citotóxica e fitoquímico Antimicrobiana e citotóxica Antimicrobiana, citotóxica e fitoquímico Antimicrobiana e citotóxica Inseticida COMPOSTO Óleo essencial LOCAL ND REFERÊNCIA Costa, 1935 Preniladas derivadas de ácido Papua Nova Guiné benzoico Aduncamida Papua Nova Guiné Orjala et al. 1993a Orjala et al. 1993b Cromonas preniladas Papua Nova Guiné Extrato de éter de petróleo Papua Nova Guiné Orjala et al. 1993c Orjala et al. 1993d Dihydrochalcones Papua Nova Guiné Orjala et al. 1994 Extrato etanólico e dilapiol Costa Rica Antimicrobiana Extrato alcoólico Guatemala Antimicrobiana Extrato Honduras Bernard et al. 1995 Caceres et al. 1995 Lentz et al. 1998 11 2',6'-dihydroxy-4'Methoxychalcone 2',6'-dihydroxy-4'Methoxychalcone Extrato metanólico RJ – Brasil Óleo essencial Indonésia Óleo essencial Flavonóides Cuba SP – Brasil Extrato metanólico Malasia Fitoquímico Antimicrobiano, análise circadiana Fitoquímico Óleo essencial Cromonas preniladas Panamá e Bolívia SP – Brasil Óleo essencial MG – Brasil Antimicrobiana Extrato etanólico Perú Antimicrobiana Antimicrobiana Inseticida Extrato metanólico Óleo essencial Óleo essencial MG – Brasil SP – Brasil AC – Brasil Moluscicida Alelopatia Extrato Extrato aquoso AM – Brasil DF – Brasil Antiprotozoária Óleo essencial Cuba Inseticida Acaricida Óleo essencial Extratos hexânico, etanólico, etil acetato e óleo essencial Extrato etanólico Malásia AM – Brasil Ácido benzoico Extrato hexânico Óleo essencial Óleo essencial Bolívia SP – Brasil CE – Brasil RS – Brasil Extrato aquoso Extrato hidroalcoólico Óleo essencial Planta AM – Brasil AM- Brasil ND Cuba Extrato hidroalcoólico Hidrolato Extrato etanólico Peru AM – Brasil Perú Antiprotozoária Antiprotozoária Antiviral e Citotóxica Antimicrobiana e fitoquímico Fitoquímico Antimicrobiana e fitoquímico Inseticida Antiprotozoária: Antimalarial Antiparasitária Antimicrobiana Inseticida Acaricida e fitoquímico Antiparasitário Antimicrobiano Inseticida Farmacobotânica Farmacologia Antiparasitário Farmacologia RJ – Brasil Indonésia Perú Torres-Santos et al. 1999a Torres-Santos et al. 1999b Devehat et al. 2002 Jamal e Praptiwi, 2003 Pino et al. 2004 Lago et al. 2004 Hidayatulfathi et al.2004 Vila et al. 2005 Morandim et al. 2005 Mesquita et al. 2005 Kloucek et al.2005 Braga et al. 2007 Duarte et al. 2007 Fazolin et al. 2007 Rapado, 2007 Lustosa et al. 2007 Sariego et al.2008 Misni et al. 2009 Silva et al.2009 Valadeau et al.2009 Flores et al, 2009 Lago et al.2009 Costa et al.2010 Ferraz et al.2010 Queiroz, 2012 Brasil, 2013 Araujo et al.2012 Orlando et al.2012 Zaa et al.2012 Corral, 2013 Arroyo et al.2013 ND – não descrito Em geral, o uso de medicamentos fitoterápicos no controle de doenças exige precaução, pois, devido à presença de vários compostos na planta, o efeito de mais de um princípio ativo, agindo sinergicamente, potencializa suas ações terapêuticas ou 12 reações adversas. Portanto, os fitoterápicos devem ser avaliados, não somente sob o ponto de vista de sua eficácia no tratamento de uma doença, mas sob os seus efeitos adversos que podem causar sérios danos no organismo ou até a sua morte. No trabalho de Queiroz (2012), a morte por asfixia, de exemplares de pirarucu, foi observada na maior concentração do extrato de P. aduncum (100 ml/L), o que foi justificada pela presença de alcalóides, cujo efeito anestésico, provavelmente, impediu os peixes de subirem à superfície para respirar. 1.6. Avaliação dos efeitos tóxicos de fármacos e seus indicadores A avaliação da toxicidade de um fármaco em organismos não-alvo, como o peixe, é tão importante quanto a sua eficácia no controle de patógenos, o qual pode ser estimada e monitorada por testes conduzidos em laboratório (USEPA 2002; Grisolia 2005). Em geral, durante esses testes, são avaliadas a sobrevivência ou a mortalidade dos organismos, além das alterações comportamentais, hematológicas, histológicas, parasitológicas ou genotóxicas (Chagas et al. 2006, Pavanelli et al. 2008; Affonso et al. 2009; Andrade et al. 2009; Maciel, 2009; Silva et al. 2009; Schalch, et al. 2009; França et al. 2011; Tavares-Dias et al. 2011; Queiroz, 2012; Brasil, 2013). Os parâmetros sanguíneos têm fornecido uma importante contribuição para avaliar o bem-estar do animal durante os bioensaios laboratoriais (Schreck, 2000; Urbinati e Carneiro, 2004; Maciel, 2009; Figueiredo, 2011; Santos et al. 2011, Queiroz, 2012; Viana, 2012). Esses parâmetros podem indicar efeitos adversos na homeostase fisiológica do animal como uma resposta ao estresse, contribuindo para uma melhor interpretação dos resultados. Em situação de estresse, o organismo pode apresentar três respostas: primária (sistema endócrino), secundária (alteração tecidual) e terciária (efeitos duradouros) (Wedmayer, 1996). Nas respostas primárias ocorre a liberação de hormônios de estresse, catecolaminas (adrenalina e noradrenalina) e cortisol na corrente sanguínea. Estes vão desencadear as respostas secundárias, onde ocorrem mudanças fisiológicas, bioquímicas e estruturais. Sob estresse crônico, as respostas terciárias comprometem o crescimento, as taxas de fecundidade, o comportamento e a resistência imunológica, podendo causar até a morte do animal (Wedemeyer, 1996; Barton, 2002). O estresse por infecções parasitárias, como a doença renal causada pela bactéria Renibacterium salmoninarum, aumentou os níveis de cortisol plasmático e de lactato e reduziu os níveis de glicose plasmática no salmão (Schreck, 2000). Araújo et al. 13 (2009a) verificaram que o parasitismo causou aumento nas concentrações de glicose, hemoglobina, concentração de hemoglobina corpuscular média (CHCM), número de leucócitos e linfócitos, e redução nos níveis plasmáticos de proteínas totais e cloreto. Sitja-Bobadilla e Pellitero-Alvarez (2009), testando métodos de transmissão de Sparicotyle chrysophrii Van Beneden et Hesse, 1863 em Sparus aurata Linnaeus, 1758, observaram variações nos níveis de anemia, de acordo com o grau da infestação. Maciel (2009) observou um aumento significativo nas concentrações de glicose de tambaquis expostos a diferentes concentrações de praziquantel. Estudos relacionados à toxicidade do peróxido de hidrogênio (H2O2), aplicado na forma de banhos, demonstraram aumento significativo na concentração de glicose plasmática de tambaqui, em todas as concentrações do fármaco, em relação aos valores basais (antes do experimento), retornando a estes após 24 h de recuperação (Affonso et al. 2009). O teste de toxicidade aguda do extrato de P. aduncum, na forma de banho por 24 h, para pirarucus infectados com monogenóideos, não demonstrou alteração nos valores dos parâmetros sanguíneos, comparados ao grupo controle, indicando que as concentrações testadas foram de baixa toxicidade (Queiroz, 2012). 1.7. Administração do fármaco O método mais comum para administrar um fármaco em peixes é na forma de banho. Este tem a vantagem da simplicidade e indicado para medicamentos que devem possuir características hidrossolúveis, nos quais não é possível a utilização de óleos essenciais. Sua aplicação é recomendada quando o número de animais a ser tratado é pequeno e a captura é simples (ex. aquariofilia, quarentena). Entretanto, nos viveiros onde os peixes são criados, esta forma de aplicação não é possível, pois gera muito efluente que pode causar impacto ambiental, grande desperdício do fármaco, o que eleva o custo da aplicação, entre outros (Treves-Brown, 2000). Uma alternativa para administrar os fármacos em peixes é o tratamento oral, que pode ser utilizado pela adição das bases farmacológicas à ração. A via oral causa menos desperdício que os banhos, e, por isso, é sempre adotada nas pisciculturas A desvantagem desse método refere-se às doenças que causam inapetência ou anorexia nos peixes, levando a menor ingestão ou mesmo a não ingestão da ração medicada. Além disso, a ingestão do alimento pode ser prejudicada, caso o fármaco altere o sabor da ração, sendo esta evitada pelo animal. Assim, para assegurar a eficácia de um novo fármaco testado, é importante avaliar sua aceitação pelo animal. Isso é possível 14 por meio de testes de palatabilidade, no qual são avaliados a concentração e o período de aceitação dos animais ao fármaco (Lima,.2004; Shalaby et al.2006; Yamamoto et al. 2011; Ishimaru et al. 2013) Diversos fármacos vêm sendo incorporados à ração para o tratamento de doenças em peixes. Martins et al. (2002), utilizaram 2 g/kg de Allium sativum, por 45 dias em P. mesopotamicus, e obtiveram 95% de eficácia. John et al. (2007), misturando alho e cominho preto a 3% na ração de tilápias, por 90 dias, observaram aumento na resistência dos peixes à infecção bacteriana por Pseudomonas spp. Diab et al. (2008), usando 3% de alho na ração, por 3 meses, observaram o aumento da resistência da tilápia à bactéria Pseudomonas fluorenscens em 91,3%. Willians (2009), testando antiparasitários para Seriola lalandi Valenciennes, 1833, obteve 82,9% de eficácia com 0,05 g/kg de febendazol, por 6 dias, e 70,8% com 0,075 g/kg, em 3 dias e, com 0,1 g/kg, alcançou 92,3% de eficácia. Este mesmo autor, testando oxfendazol, obteve eficácia de 87,4% com 0,05 g/kg, em 6 dias, e 78,9% com 0,075 g/kg, e a eficácia de 77,2% com concentrações de 0,1 g/kg e 0,15 g/kg, em 3 dias. Boijink et al. (2011), testando 45 g/kg de Adenocalymna aliacea para tratamento em tambaquis, por 45 dias, observaram eficácia de 63%. Viana (2012), testando cipó-alho no tratamento de tambaquis, obteve eficácia de 78,2% em 50 g/kg, por 30 dias. Desenvolver novas tecnologias, que possam evitar problemas sanitários nos peixes cultivados, ou prevenir a presença de patógenos, tem sido um dos objetivos das pesquisas nesta área. Assim, com este trabalho, pretende-se contribuir com os estudos sobre a saúde dos peixes de cultivo, fortalecendo os conhecimentos sobre o uso de fitoterápicos, como o óleo essencial de P. aduncum, na aquicultura, particularmente para espécies nativas como o pirarucu. 2. OBJETIVOS 2.1. Geral Avaliar o efeito do óleo essencial de Piper aduncum na ração para o tratamento de endoparasitos nematóides de pirarucu, Arapaima gigas. 2.2. Específicos 1. Avaliar a palatabilidade das rações com óleo essencial; 2. Determinar o efeito das diferentes concentrações do óleo nas respostas fisiológicas dos pirarucus infectados com nematoides: e 15 3. Avaliar a eficácia do tratamento, via oral, para o controle dos nematóides. 3. MATERIAL E MÉTODOS 3.1. Obtenção, condicionamento alimentar e aclimata ção dos peixes. Os juvenis de pirarucu (5,8±0,7g) foram obtidos de uma piscicultura local e transportados para a Estação Experimental de Piscicultura da Coordenação de Tecnologia e Inovação (COTI) do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) em Manaus, AM, onde foram mantidos em tanques de 2000 L, com renovação constante de água de poço artesiano. Foi realizada uma avaliação nos exemplares de pirarucu adquiridos para detectar a presença de nematoides. O condicionamento alimentar dos alevinos foi realizado durante 15 dias. Nos sete primeiros dias, foram alimentados com 2000 ml de plâncton, misturados com ração comercial com 45% de proteína bruta (PB), em pó, em intervalos de duas horas. Após isso, o plâncton foi substituído por 200 ml de água e acrescentado mais ração na alimentação. Após 15 dias, os peixes passaram a se alimentar apenas com a ração em pó e, gradativamente, o tamanho dos grânulos foi aumentado, até a ingestão da ração com 4 mm. Durante o período de aclimatação, os peixes foram alimentados ad libitum, duas vezes ao dia, com ração extrusada comercial para peixes carnívoros (45% PB) de 4 mm, até atingirem 25,4 ± 3,5 g e 14,2 ± 0,7 cm. Como prevenção contra fungos e bactérias, a cada dois dias, eram aplicados 8 g/L de sal agropecuário na água dos tanques. Vinte e quatro horas antes do início dos experimentos, os peixes passaram por privação alimentar para o esvaziamento gastrointestinal e os banhos terapêuticos foram interrompidos. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Uso Animal (CEUA) do INPA, protocolo 023/2013. 3.2. Coleta e extração do óleo essencial de P. aduncum As folhas de P. aduncum foram coletadas na Embrapa Ocidental, Rodovia AM 010 Km 29, onde permaneceram por sete dias sobre uma lona para secagem e, em seguida, transportadas ao INPA. Para a retirada da umidade, estas permaneceram em estufas de circulação contínua de ar, a 45°C, por 48 h, e, quando secas, foram 16 armazenadas em sacos de ráfia e mantidas em sala climatizada (20°C) até a extração do óleo essencial. Para a extração do óleo essencial, foi utilizado o método padrão de arraste por vapor d’água. Para isso, as folhas foram trituradas em um triturador (modelo DPM-4 marca Nogueira) na Estação Experimental de Silvicultura Tropical (EEST) do INPA, localizada na BR 174 Km 43. A hidrodestilação do material foi realizada em usina de escala semi-industrial com capacidade para 20 kg, abastecida por um gerador de vapor modelo MGV 70 (70 kg/h) da Maritec, a uma pressão de 4 kgf/cm², e o vapor de água injetado numa pressão de 0,5 kgf/cm². Nesse sistema, o óleo das folhas foi arrastado e o vapor passou por um condensador. O hidrolato (material com a maior parte da água) foi desviado para um recipiente coletor e o óleo foi armazenado no separador. A cada 60 minutos, retirou-se o óleo do condensador para verificar a eficiência da extração. Foram realizadas três usinagens, com duração de cinco horas cada, sendo extraídos, de cada 8,0 kg de matéria seca, cerca de 250 ml de óleo, resultando em um alto rendimento de extração do óleo de 3,12%. O óleo coletado foi filtrado em algodão hidrófilo e armazenado sob-refrigeração. A retirada total da água foi feita com sulfato de sódio anidro (2 g/50 ml de óleo), utilizando funil de separação e posterior filtragem com papel filtro para separar o sal do óleo essencial. Foram calculados a umidade do material e o rendimento de óleo de acordo com o peso total de matéria seca/total de óleo coletado. Para garantir a qualidade das três extrações isoladas, foi feito um teste de cromatografia de camada delgada para verificar a composição dos óleos obtidos, de acordo com Collins e Braga (1997). Após isso, as amostras de óleo foram armazenadas em uma garrafa de vidro âmbar sob-refrigeração. 3.3. Preparo e administração da ração medicada Cada concentração de óleo testada (32, 48, 64 e 80 ml/kg) foi calculada a partir da biomassa total dos peixes. O óleo essencial foi diluído em álcool de cereais 1:7,5 (óleo:álcool) e pulverizado, uniformemente, sobre os pellets de ração comercial extrusada para peixes carnívoros (45% PB), utilizando frascos pulverizadores de gatilho. Seguindo a metodologia sugerida por Williams (2009), as rações foram preparadas no dia anterior e secas no período da noite. Para a ração controle, realizou-se o mesmo procedimento, mas sem adição do óleo essencial. 17 As rações medicadas (com diferentes concentrações de óleo essencial) e o controle (sem o óleo essencial) foram administrados por 7 e 15 dias. Os peixes receberam a ração medicada uma vez ao dia, pela manhã (9:00 h), sendo ofertada a ração sem medicamento no período da tarde (16:00 h). A quantidade de ração ofertada, em cada unidade experimental, foi definida com relação à biomassa presente, determinada com base nos valores da biometria inicial. Dos 5% de seu peso vivo (PV), consumidos diariamente de ração pelo pirarucu, foram preparados 2% do PV em ração medicada. Este preparo, em menor quantidade de ração medicada, garantiu que todos os peixes, durante o arraçoamento matinal, pudessem consumir essa ração. 3.4. Teste de palatabilidade Para o teste de palatabilidade, foram utilizados 60 peixes (25,4±3,5 g), distribuídos em cones de 60 L, na densidade de estocagem de 4 peixes/cone, com fluxo de água contínuo, segundo Viana (2012), durante 7 e 15 dias. O delineamento experimental foi constituído por quatro concentrações do óleo essencial: 32, 48, 64 e 80 ml/kg de ração, seguindo a metodologia de Queiroz (2012) e o controle (sem o óleo), em triplicatas. Durante a alimentação, foi observada a palatabilidade por meio da aceitação/ingestão da ração em todas as concentrações e registrada a quantidade de ração ofertada por unidade experimental. A taxa de ingestão (porcentagem de ração ingerida) foi calculada segundo Barros et al. (1998): Taxa de ingestão (%) = ração ingerida x 100 / ração administrada. 3.5. Teste de eficácia Foram utilizados 135 juvenis de pirarucu, pesando 52±3,2g, os quais foram distribuídos em tanques de polietileno (unidades experimentais) de 310 L cada, em uma densidade de 9 peixes/unidade experimental, em um sistema de fluxo contínuo de água (taxa de renovação de 175 ml/min). O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, constituído por quatro tratamentos com ração medicada com óleo essencial, a partir dos resultados de palatabilidade: 32, 48, 56 e 64 ml/kg de ração e o controle (sem óleo essencial), em triplicatas. Os peixes foram alimentados com as rações medicadas, exceto o grupo controle, por um período de 7 e 15 dias. 18 Ao final de cada período, três peixes de cada unidade experimental, foram amostrados para determinação dos parâmetros sanguíneos (item 3.7), e posterior análise parasitológica (item 3.7) Durante todo o período experimental, foram realizados os procedimentos de manejo de rotina, como: limpeza dos tanques e monitoramento da qualidade da água (item 3.8). 3.6. Coleta de sangue e determinação dos parâmetros sanguíneos O sangue foi coletado por punção da veia caudal, utilizando seringas de 3 ml rinsadas com EDTA (ácido etilenodiaminotetraacético) 10%, e as amostras armazenadas em tubos de eppendorf de 2 ml, sob refrigeração a 4°C. A partir do sangue total, foram analisados: hematócrito (Ht%), pelo método de microhematócrito; contagem de eritrócitos (RBC-eritrócitos/µL), utilizando a câmara de Neubauer® em solução de Natt e Herrick (1952), concentração de hemoglobina ([Hb]g/dl) pelo método da cianometahemoglobina. Os índices hematimétricos: volume corpuscular médio (VCM fL), concentração de hemoglobina corpuscular média (CHCM%) e hemoglobina corpuscular média (HCM pg) foram calculados a partir dos valores de Ht, RBC e [Hb], segundo Wintrobe, (1934). Posteriormente, as amostras de sangue foram centrifugadas para separar o plasma, que foi utilizado para as análises de glicose (mg/dL) pelo método enzimáticocolorimétrico da glicose oxidase, colesterol, pelo método colorimétrico e proteínas totais (PPT – g/dL), pelo método de biureto. Essas análises foram realizadas em espectrofotômetro UV/Visível (BIOPLUS 2000). 3.7. Análises parasitológicas e de eficácia do tratamento As análises parasitológicas foram realizadas antes e após os tratamentos. Em cada unidade experimental, três peixes, randomicamente selecionados, foram eutanásiados por concussão cerebral, seguido de perfuração craniana para retirada de material biológico. Os órgãos internos (intestino e estômago) foram removidos, colocados em coletores universais e fixados com formalina 10% (Moravec, 1998; Jerônimo et al. 2012). Após a fixação, foi feita a contagem total dos parasitos para estimar a carga parasitária, utilizando estereomicroscópio (Zeiss®). 19 Os índices parasitários foram calculados de acordo com Bush et al. (1997): a) Prevalência = N° de hospedeiros infectados / N° total de peixes x 100; b) Intensidade = valor mínimo e máximo de parasitos encontrados; c) Intensidade média = N° de parasitos / N° de hospedeiros infectados e; d) Abundância média = N° de parasitos / N° total de hospedeiros infectados ou não. Segundo Martins et al. (2001) e Onaka et al. (2003) foram calculadas para os tratamentos a eficácia = N° de parasitos do grupo controle - N° de parasitos após o tratamento / n° de parasitos do grupo controle x 100. 3.8. Monitoramento da qualidade da água Foram monitoradas as variáveis físicas e químicas da água dos tanques durante todo o período experimental. Diariamente, às 8:00 horas, foram determinados: oxigênio dissolvido (OD – mg/L), temperatura (T - ºC) e condutividade elétrica (CE - µ.S/cm) por meio de um oxímetro digital da marca YSI modelo 85 e o potencial hidrogeniônico (pH), utilizando um pHmetro digital da marca YSI modelo 60. No início e no final dos experimentos, foram coletadas amostras de água em garrafas de 1 L e armazenadas sob refrigeração para as análises colorimétricas: concentração de amônia total (NH3 + NH4+) determinada segundo Verdouw et al. (1978), nitrito (NO2 - mg/L), gás carbônico (CO2 - mg/L), dureza (mg de CaCO3/L) e alcalinidade (mg de CaCO3/L) segundo Boyd e Tucker (1992). 3.9. Análises estatísticas O teste de palatabilidade, os parâmetros sanguíneos dos juvenis de pirarucu, os índices parasitológicos, assim como as análises das variáveis físicas e químicas da água foram comparados mediante análise de variância (ANOVA) de dois fatores (tempo de exposição e concentrações), seguido pelo teste de Tukey, quando as diferenças foram significativas a 5% de probabilidade, utilizando o programa Statsoft Statistica 6.0®. 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1. Qualidade de água 20 O acompanhamento das variáveis físicas e químicas da água das unidades experimentais é realizado para assegurar a qualidade dos bioensaios, frente a fatores exógenos que podem interferir nos resultados dos experimentos (Atta-ur-Rahman et al. 2001) Os resultados obtidos nas variáveis físicas e químicas da água das unidades experimentais, no teste de palatabilidade e de eficácia, estão representados nas Tabelas 3 e 4. Não foram verificadas diferenças significativas (p>0,05) em nenhuma das variáveis analisadas nos experimentos, sejam elas comparadas entre as concentrações, no mesmo período, ou entre os períodos (aclimatação = 0, 7 e 15 dias). A alta taxa de renovação (175 ml/min) do fluxo contínuo de água e a limpeza de manutenção, nas unidades experimentais, foram responsáveis pela estabilidade dos valores nas variáveis analisadas em todos os tratamentos. Comparando com os valores de qualidade da água descritos para peixes tropicais (Kubitza 2003), alguns valores, como, por exemplo, pH, estão abaixo dos considerados adequados. Classificadas como águas pretas (ex. Rio Negro), brancas (ex. rio Solimões) e claras (ex. rio Tapajós), o pH destes rios variam de 3,8-4,9; 6,2 -7,2 e 4,5 – 7,8 respectivamente (Sioli 1992). Portanto, estão dentro das variações naturais que a espécie tolera no seu ambiente natural (Ono 2011). Por ser um peixe de respiração aérea obrigatória, o pirarucu não depende dos níveis de oxigênio da água, entretanto, quando estes diminuem, podem afetar outras variáveis químicas da água como, por exemplo, o CO2, cujos valores, neste estudo, estiveram sempre constantes e sem prejuízo ao animal. Os índices mínimos e máximos de alcalinidade e dureza foram respectivamente 1,83 e 2,84 CaCO3/L e 1,00 e 1,91 CaCO3/L, corroborando os valores de pH que variaram entre 4,01 e 4,44. Nas análises colorimétricas, foram detectados baixos níveis de nitrito e de amônia total, provavelmente em função da renovação contínua da água e da limpeza diária dos tanques. Os valores médios de temperatura (26,62 e 28,3oC), determinados em todos os experimentos, estão dentro da zona de conforto para o cultivo das espécies tropicais, que oscilam entre 26 e 30 oC. 21 Tabela 3. Variáveis físicas e químicas da água das unidades experimentais com Arapaima gigas, antes dos experimentos (aclimatação) e após alimentação com e sem ração medicada com: 0 (controle); 32; 48; 56 e 80 ml/kg do óleo essencial de Piper aduncum, por 7 e 15 dias, no teste de palatabilidade. Condutividade Elétrica (CE); gás carbônico (CO2); alcalinidade (AL); dureza (D) e amônia total (AT). Média ± desvio padrão. Variáveis pH O2 (mg/L) CE (µS/cm) Temperatura (°C) CO2 (mg/L) AL (mg/ L CaCo3) DT (mg/ L CaCo3) AT (mg/L) Nitrito (mg/L) pH O2 (mg/L) CE (µS/cm) Temperatura (°C) CO2 (mg/L) AL (mg/ L CaCo3) DT (mg/ L CaCo3) AT (mg/L) Nitrito (mg/L) Aclimatação 4,47 ± 0,07 5,47 ± 0,22 28,9 ± 0,81 27,63 ± 0,57 5,0 ± 0,0 0,55 ± 0 2,5 ± 0 0,35 ± 0,01 0,008 ± 0,004 Controle 4,42 ± 0,11 5,48 ± 0,16 28,85 ± 0,51 28, 04 ± 0,31 8,33 ± 2,89 0,64 ± 0,16 2,17 ± 0,29 0,42 ± 0,02 0,003 ± 0,004 4,42 ± 0,02 5,35 ± 0,05 28,61 ± 0,23 27,91± 0,02 10 ± 0,0 1,28 ± 0,42 2,17 ± 0,38 0,40 ± 0,07 0,006 ± 0,003 Ração com óleo de Piper aduncum (7 dias) 32 (ml/kg) 48 (ml/kg) 64 (ml/kg) 80 (ml/kg) 4,41 ± 0,09 4,41 ± 0,10 4,39 ± 0,10 4,46 ± 0,27 5,38 ± 0,28 5,33 ± 0,30 5,44 ± 0,17 5,44 ± 0,20 29,11 ± 0,63 29,08 ± 0,46 29,02 ± 0,38 29,01 ± 0,53 28,05 ± 0,30 28,04 ± 0,31 28,05 ± 0,33 28,01 ± 0,28 8,33 ± 2,89 10 ± 0,0 8,33 ± 2,89 8,33 ± 2,89 0,83 ± 0,28 0,92 ± 0,32 0,73 ± 0,16 0,92 ±0,32 2,09 ± 0,52 2,17 ± 0,29 2,25 ± 0,25 2,09 ± 0,52 0,39 ± 0,03 0,39 ± 0,05 0,40 ± 0,01 0,39 ± 0,05 0,002 ± 0,001 0,001 ± 0,001 0,001 ± 0,001 0,001 ± 0,0 Ração com óleo de Piper aduncum (15 dias) 4,41 ± 0,02 4,40 ± 0,02 4,41 ± 0,04 4,44 ± 0,05 5,35 ± 0,10 5,31 ± 0,05 5,30 ± 0,06 5,33 ± 0,05 28,78 ± 0,09 28,73 ± 0,23 28,66 ± 0,15 28,63 ± 0,27 27,92 ± 0,07 27,90 ± 0,02 27,92 ± 0,05 27,88 ± 0,05 10 ± 0,0 10 ± 0,0 10 ± 0,0 10 ± 0,0 0,92 ± 0,32 0,92 ± 0,42 1,01 ± 0,57 1,01 ± 0,16 1,84 ± 0,52 2,00 ± 0,25 2,00 ± 0,0 1,75 ± 0,25 0,41 ± 0,07 0,35 ± 0,02 0,37 ± 0,01 0,40 ± 0,05 0,004 ± 0,0 0,004 ± 0,0 0,004 ± 0,0 0,004 ± 0, 001 22 Tabela 4: Variáveis físicas e químicas da água das unidades experimentais com Arapaima gigas alimentados com e sem ração medicada contendo: 0 (controle); 32; 48; 56 e 64 ml/kg d óleo de P. aduncum por 7 e 15 dias no teste de eficácia. Condutividade Elétrica (CE); gás carbônico (CO2); alcalinidade (mg/L CaCo3); dureza (mg/L CaCo3) e amônia total (AT). Média ± desvio padrão. Variáveis Controle 4,44 ± 0,14 pH 6,53 ± 0,44 O2 (mg/L) 25,45 ± 0,8 CE (µS/cm) 27,5 ± 0,85 T (°C) 10± 0,0 CO2 (mg/L) Alcalinidade 2,84 ± 0,42 1,25 ± 0 Dureza 0,03 ± 0,0 AT (mg/L) Nitrito (mg/L) 0,00 ± 0,00 pH O2 (mg/L) CE (µS/cm) T (°C) CO2 (mg/L) Alcalinidade Dureza AT (mg/L) Nitrito (mg/L) 4,43 ± 0,13 6,49 ± 0,49 25,3 ± 0,81 27,6 ± 0,86 10± 0,0 2,10 ± 0,79 1,7 ± 0,43 0,04 ± 0,00 0,00 ± 0,00 Ração com óleo de Piper aduncum (7 dias) 32 (ml/kg) 48 (ml/kg) 58 (ml/kg) 64 (ml/kg) 4,01 ±0,81 4,44 ± 0,13 4,35 ± 4,8 4,43 ± 0,11 6,51 ± 0,64 6,43 ± 0,48 6,50 ± 0,76 6,49 ± 0,45 26,01 ± 0,03 25,8 ± 0,64 25,7 ± 0,79 25,9 ± 0,97 26,62 ± 2,96 27,7 ± 0,92 27,4 ± 1,09 27,4 ± 0,86 10± 0,0 10± 0,0 10± 0,0 10± 0,0 2,65 ± 0,15 2,75 ± 0 2,56 ± 0,15 2,47 ± 0,27 1,00 ± 0,25 1,03 ± 0,2 1,16 ± 0,5 1,08 ± 0,1 0,04 ± 0,0 0,02 ± 0,0 0,06 ± 0,01 0,05 ± 0,02 0,00 ± 0,00 0,00 ± 0,00 0,00 ± 0,00 0,00 ± 0,00 Ração com óleo de Piper aduncum (15 dias) 4,44 ± 0,55 4,4 ± 0,13 4,39 ± 0,45 4,44 ± 0,13 6,55 ± 0,49 6,52 ± 0,43 6,44 ± 0,55 6,40 ± 0,47 24,83 ± 1,42 25,97 ± 0,8 25,8 ± 0,93 25,87 ± 1,06 27,50 ± 1,29 27,7 ± 0,84 27,6 ± 0,98 27,7 ± 0,98 10± 0,0 10± 0,0 10± 0,0 10± 0,0 2,29 ± 0,31 2,29 ± 0,15 1,83 ± 0,42 1,74 ± 0,15 1,8 ± 0,14 1,5 ± 0,25 1,91 ± 0,14 1,50 ± 0,25 0,04 ±0,00 0,04 ± 0,00 0,04 ± 0,00 0,057 ± 0,01 0,00 ± 0,00 0,00 ± 0,00 0,00 ± 0,00 0,00 ± 0,00 4.2. Palatabilidade das rações medicadas Em estudos de bioensaios com rações medicadas, é comum avaliar apenas a palatabilidade aparente, sem a preocupação de verificar se esta continua atrato-palatável e por quanto tempo pode ser administrada sem alterar a ingestão dos peixes (Willians 2009; Boijink et al. 2011; Viana 2012). No presente estudo, os valores da taxa de ingestão da ração medicada estão representados na Tabela 5 e na Figura 2. Não foram verificadas diferenças significativas (p>0,05) na ingestão da ração no período da tarde (ração sem medicamento), analisadas em 7 e 15 dias de experimento. Entretanto, na ingestão da ração administrada durante a manhã (ração com medicamento), diferenças significativas (p<0,05) foram observadas na maior concentração (80 ml/kg), em 7 e 15 dias de experimento. 23 Tabela 5: Taxa de ingestão do Arapaima gigas alimentados com ração medicada com diferentes concentrações de óleo essencial de Piper aduncum (32; 48; 64 e 80 ml/kg) e o controle (sem medicamento), em 7 e 15 dias. Porcentagem da ingestão de ração medicada, ofertada de manhã - 9:00 h (manhã) e sem medicamento, ofertada de tarde – 16:00 h (tarde). Média ± desvio padrão. Ingestão (%) das rações com óleo de Piper aduncum (7 dias) Controle 32 (ml/kg) 48 (ml/kg) 64 (ml/kg) 80 (ml/kg) 95,95 ± 2,83a 94,38 ± 7,89a 88,33 ± 5,69a 86,42 ± 9,13a 64,28 ± 6,73b Manhã 94,28 ± 5,17 92,38 ± 2,21 92,38 ± 3,71 89,52 ± 9,71 Tarde (%) 95,23 ± 1,38 Ingestão (%) das rações com óleo de Piper aduncum (15 dias) 87,67 ± 4,71a 82,11± 5,06a 78, 3 ± 6,4a 60,11 ± 6,22b Manhã (%) 92,22 ± 2,06a 89,55 ± 2,47 87,89 ± 3,59 87,3± 1,4 85,55 ± 5,94 Tarde (%) 96,44 ± 2,18 Letras diferentes na mesma linha indicam médias significativamente diferentes dentro do mesmo tempo de exposição (p<0,05). Período Figura 2. Variação da taxa de ingestão da ração medicada (%) com diferentes concentrações de óleo essencial de Piper aduncum para Arapaima gigas, durante 15 dias de teste de palatabilidade. Na maior concentração (80 ml/kg), a taxa de ingestão da ração medicada foi inferior a 60% nos dois períodos (7 e 15 dias). Foi possível observar, ainda, nessa concentração, alterações comportamentais, tais como agitação e rejeição aos pellets medicados, logo após a oferta da ração. Tal comportamento não foi observado no período da tarde, quando era ofertada a ração sem medicamento, porém, os animais se aproximavam mais vagarosamente dos pellets, o que não interferiu na taxa de ingestão no período da tarde. Esse comportamento não foi verificado nas demais concentrações, 24 portanto, os resultados indicam a baixa palatabilidade das rações com 80 ml/kg de P. aduncum. A taxa de mortalidade dos pirarucus, durante o teste de palatabilidade, está representada na Figura 3. Em 7 dias de teste, os peixes do controle (0 ml/kg) apresentaram maior mortalidade (16,7%), seguidos por aqueles com 32 e 80 ml/kg, ambos com 8,3%; sem mortalidade em 48 e 64 ml/kg. Em 15 dias, a taxa de mortalidade foi 25% para o controle e para 32 e 80 ml/kg, 8,3% em 48 mg/kg e sem mortalidade em 64 ml/kg. Figura 3: Taxa de mortalidade, em porcentagem, de Arapaima gigas tratados com ração medicada em diferentes concentrações de óleo essencial de Piper aduncum, durante os 7 e 15 dias de teste de palatabilidade. Schreck e Moffitt (1987), realizando tratamento com antibiótico, verificaram que as rações medicadas com 10 e 12 μg/mg de eritromicina tiveram sua palatabilidade reduzida para Oncorhynchus tshawytscha Walbaum, 1792. De acordo com os autores, os peixes levavam mais tempo para ingerir os pelletes, aumentando a taxa de ejeção com o aumento das concentrações do antibiótico, e a taxa de ingestão diminuiu quanto maior a concentração. Hustvedt et al. (1991) observaram redução de 17% na ingestão da ração medicada com ácido oxolínico, e 61% na ração medicada com oxitetraciclina comparados ao grupo controle. Segundo Prak et al. (1994), a adição de sarafloxacinHCl também causou uma diminuição da palatabilidade das rações medicadas para Penaeus vannamei Boone, 1931. De acordo com Mohney et al. (1997), houve uma 25 sensível redução no consumo de dieta medicada por camarões Litopenaeus. Lima (2004), usando dietas formuladas com diferentes doses de oxitetraciclina (4, 8, 12, 16, 20 μg.g-1), aplicadas no tratamento, verificou que houve redução da palatabilidade nas dosagens testadas, contudo, foi observada uma sensível relação inversa entre o consumo e a dosagem de oxitetraciclina no alimento, concluindo que a adição de antibiótico à ração influenciou a palatabilidade. Assim, os resultados obtidos no presente estudo confirmam a importância dos testes prévios de palatabilidade da ração medicada com a espécie-alvo. Para os testes de eficácia, as rações medicadas com óleo essencial de P. aduncum podem ser aplicadas com até 64 ml/kg, uma vez que não difere significativamente (p>0,05) destas com a taxa de ingestão dos peixes do controle (sem medicação) e obteve 100% de sobrevivências dos peixes em 7 e 15 dias de experimento. 4.3. Efeitos do óleo essencial de P. aduncum na fisiologia de pirarucus Os parâmetros fisiológicos vêm se tornando cada vez mais frequente nos estudos sobre os efeitos tóxicos de medicamentos em organismos aquáticos, principalmente em peixes de interesse para a aquicultura (Tabela 6) (Tavares-Dias et al. 2002b; Araújo et al. 2004; Farah et al. 2006; Chagas et al. 2006; Winkaler et al. 2007; Affonso et al. 2009; Maciel, 2009; Bicudo 2010; Kavitha et al. 2011; Figueiredo 2011; Tavares-Dias et al. 2011; Monteiro 2012; Queiroz 2012; Viana 2012; Brasil 2013). Isso porque, sob condições de estresse, o animal pode sofrer adaptações fisiológicas para manter o seu equilíbrio homeostático (Bardon 2002). No presente estudo, os resultados destes parâmetros, obtidos para os peixes alimentados com e sem inclusão de óleo essencial de P. aduncum na ração, por 7 e 15 dias, estão representados na tabela 7. Foram observadas alterações nos valores de Ht, VCM, HCM com 7 dias e, alteração nos valores de proteínas totais dos pirarucus após 15 dias de tratamento. 26 Tabela 6. Parâmetros sanguíneos de peixes nativos de cultivo expostos a diferentes produtos. [Hb] = Concentração de hemoglobina (g/dl); Ht =hematócrito (%); VCM= Volume corpuscular médio (fL); HCM= Hemoglobina corpuscular média (pg); CHCM =Concentração de hemoglobina corpuscular média (g/dL); GL = Glicose plasmática (mg/dl); PT =Proteínas plasmáticas totais (g/dL); COL = Colesterol plasmático total (mg/L); Eficácia (%). Espécie Produto Concentração Tempo [Hb] 1 dia 7,4 27,7 146,6 - 26,7 96,5 -- - 78,76 0,001g/L 1 dia 8,1 31,0 153,0 - 26,2 107,8 - - 58,21 0,001g/L 8 dias 8,4 30,4 156,2 - 27,6 142,0 - - - 0,001g/L 15 dias 6,5 25,5 124,2 - 25,7 92,7 - - - 0,0005g/L Piaractus mesopotamicus Sulfato de cobre (CuSO4) Ht VCM HCM CHCM GL PT COL Eficácia Referências Tavares-Dias et al., 2002b Colossoma macropomum Formalina 0,2g/L 30 min - - - - - 89,57 - - - Araújo et al., 2004 Colossoma macropomum Mebendazol 0,3g/L 120 min 11,01 33,1 154,85 45,12 29,66 73,13 - - - Chagas et al., 2006 Colossoma macropomum Praziquantel 0,0125g/L 24 h 8,9 27 198,0 63,0 34,0 63,0 2,8 - 61,8 Sado e bicudo, 2010 Piaractus mesopotamicus Levamisol 0,1g/kg 30 dias 8,93 - - - 26,8 84,1 - - - Colossoma macropomum Sulfato de cobre (CuSO4) 0,004g/L 48h 6,7 20,1 351,3 - 34,2 37,2 1,4 255,8 100 0,008g/L 48h 7,2 23,8 351,2 - 30,9 38,1 1,8 - 100 8,0 22,67 149,47 52,33 35,25 43,25 2,22 57,12 38,7 9,44 24,78 149,44 57,03 37,86 54,42 2,4 76,35 66,4 8,72 24,56 145,43 57,69 35,31 39,56 2,38 66,81 78,2 9,9 33,0 181,8 54,6 30,2 86,9 1,59 - 58,4 10,1 33,8 208,3 61,4 30,6 88,7 1,72 - 100 60 min 6,88 24,2 144,3 40,8 28,6 59,5 2,17 67,5 46,8 24 h 8,21 28,2 149,2 43,2 29,7 94,2 2,76 29,8 54,4 30 g/kg Colossoma macropomum Cipó-alho (A. alliacea) Arapaima gigas Pimenta de macaco Piper aduncum Colossoma macropomum Mastruz (Chenopodium 40 g/kg 30 dias 50g/kg ambrosioides) 60 ml/L 80 ml/L 3,9 ml/L 24 horas Bicudo, 2010 Tavares-Dias et al., 2011 Viana, 2012 Queiroz, 2012 Monteiro, 2012 27 Tabela 7. Parâmetros sanguíneos de Arapaima gigas, alimentados por 7 e 15 dias com ração medicada contendo diferentes concentrações de óleo essencial de Piper aduncum. Hematócrito (Ht), Número de eritrócitos (RBC), Hemoglobina (Hb), Volume corpuscular média (VCM), Hemoglobina corpuscular média (HCM), Concentração de hemoglobina corpuscular (CHCM), glicose (Gl), proteína total (PT) e colesterol (Col). Média ± desvio padrão, N=9. Parâmetros Ht (%) RBC (erit./uL) Hb (g/dl) VCM (fL) HCM (pg) CHCM (g/dL) Gl (mg/dl) PT (g/dL) Col (mg/L) Controle 24,33 ± 6,24b 1,46 ± 0,31 9,98 ± 1,83 170,6 ± 47,8ab 69,9 ± 15,4ab 42,33 ± 9,07 37,61 ± 3,03 1,45 ± 0,53 52,17 ± 17,91 Ht (%) RBC (erit./uL) Hb (g/dl) VCM (fL) HCM (pg) CHCM (g/dL) Gl (mg/dl) PT (g/dL) Col (mg/L) 31,22 ± 5,23 1,91 ± 0,25 12,15 ± 1,52 164,4 ± 31,47 63,83 ± 7,52 39,30 ± 3,12 37,22 ± 5,77 1,60 ± 0,30 a 56,55 ± 11,81 Ração com óleo de Piper aduncum (7 dias) 32 (ml/kg) 48 (ml/kg) 56 (ml/kg) 64 (ml/kg) 26,83 ± 6.22ab 25,61 ± 5,94ab 30,89 ± 3,12a 28,88 ± 1,31a 1,33 ± 0,29 1,63 ± 0,13 1,52 ± 0,25 1,50 ± 0,15 11,60 ± 2,16 9,96 ± 3,22 11,63 ± 2,85 12,58 ± 1,66 208,42 ± 65,7a 159,18 ± 43,6b 206,7 ± 31,6a 193,9 ± 14,4ab 89,85 ± 22,62b 62,55 ± 22,87a 77,8 ± 22,3ab 85,49 ± 20,5ab 43,91 ± 4,56 38,82 ± 8,29 37,35 ± 7,39 43,83 ± 7,88 36,28 ± 6,38 39,11 ± 2,86 38,78 ± 6,92 38,63 ± 2,26 1,60 ± 0,44 1,31 ± 0,50 1,37 ± 0,43 1,49 ± 0,24 60,42 ± 14,84 52,45 ± 17,93 55,04 ± 12,8 51,33 ± 5,45 Ração com óleo de Piper aduncum (15 dias) 29,63 ± 4,21 25,02 ± 4,75 27,35 ± 5,93 28,00 ± 9,08 1,61 ± 0,15 1,45 ± 0,13 1,59 ± 0,20 1,80 ± 0,16 11,44 ± 0,93 10,24 ± 1,93 11,26 ± 1,92 11,59 ± 2,45 185,8 ± 40,05 180,35 ± 18,6 171,7 ± 32, 163,4 ± 33,4 71,29 ± 9,68 70,82 ± 12,06 70,88 ± 10,47 64,57 ± 12,80 39,18 ± 5,83 44,55 ± 4,39 41,80 ± 3,54 43,22 ± 7,84 41,50 ± 3,03 37,78 ± 3,53 41,08 ± 6,16 37,35 ± 6,51 1,58 ± 0,09 ab 1,53 ± 0,28 ab 1,30 ± 0,30 a 1,18 ± 0,37 b 49,11 ± 14,66 57,01 ± 10,76 59,90 ± 13,77 52,26 ± 12,38 Letras diferentes, na mesma linha, indicam médias significativamente diferentes (p< 0,05) entre o controle e os tratamentos, dentro do mesmo tempo de exposição. 28 Segundo Fujimoto et al. (2009), a presença de parasitas nos peixes pode causar alterações nos valores hematológicos. Tavares-Dias et al. (2002) compararam espécimes de tilápias parasitadas e não parasitadas e observaram que a [Hb], o Ht e a CHCM dos peixes infectados foram significativamente (p<0,01) menores que os observados no grupo controle, sugerindo que o parasitismo provocou anemia nos peixes parasitados. De acordo com Tavares-Dias e Moraes (2004), a exposição aos agentes patogênicos pode gerar respostas fisiológicas semelhantes àquelas que ocorrem na presença de outros agentes estressores e assim deprimir respostas de defesa nos hospedeiros. Azevedo et al. (2006) observaram que o baixo nível de parasitismo não é capaz de causar alterações hematológicas. No presente estudo, as alterações nos valores de hematócrito nas maiores concentrações de P. aduncum, após 15 dias em relação ao controle, podem ter ocorrido devido, provavelmente, à entrada de água nos eritrócitos, causando hemodiluição dos eritrócitos, como verificada pelos valores de VCM (Tavares-Dias et al. 2002b). Segundo Queiroz (2012), as diferentes concentrações do extrato aquoso de P. aduncum, em juvenis de pirarucus, induziram a diminuição nos valores de Ht em relação ao controle, causadas pela diminuição do número e não no tamanho dos eritrócitos. Para o número de eritrócitos de pirarucus infectados por nematóides, nos diferentes tempos (7 e 15 dias) e concentrações (0, 32, 48, 56, 64 mg/kg) de óleo essencial de P. aduncum, sugere-se que: 1) o efeito da ração medicada é de baixa toxicidade e 2) esta não alterou a capacidade de transporte do sangue. Esses são corroborados com os resultados obtidos nas concentrações de hemoglobina e de HCM. Na literatura, outro importante parâmetro indicador de estresse é a glicose, que demonstra diferentes respostas em decorrência do tipo de estímulo, do tempo de administração, da idade e da espécie de peixe estudada (Hori et al. 2008; Maciel, 2009; Winkaler et al. 2007; Kavitha et al. 2011; Rosa et al. 2012). Em geral, sob condições de estresse, é comum ocorrer hiperglicemia nos peixes, visto que estes necessitam de mais energia para manter sua homeostase fisiológica. Estudos realizados sob efeito da formalina (Araujo et al. 2004), do praziquantel (Maciel, 2009) e do mebendazol (Chagas et al. 2006) em tambaquis, e levamisol para pacu (Sado e Bicudo, 2010), demonstraram níveis elevados de glicose no plasma. Para Rosas et al. (2010), os valores de glicose não foram diferentes significativamente em pirarucus tratados com óleo de alfavaca, óleo de cipó-alho e óleo de alho, mostrando que esta espécie é tolerante a rações suplementadas com estes óleos essenciais. Nesse estudo, os níveis de glicose não 29 foram alterados entre os diferentes tratamentos com P. aduncum, o tempo (7 e 15 dias) de alimentação com o medicamento (7 e 15 dias) e nem com a infecção pelo parasita. Esses resultados corroboram aqueles obtidos por Queiroz (2012) para pirarucus infectados por monogenóideos e expostos ao banho de P. aduncum, onde não houve alterações nos valores de glicose. Outro parâmetro que contribui com a avaliação do estado de saúde dos peixes são as proteínas totais plasmáticas (Zhou et al. 2009). Essas estão relacionadas às inúmeras proteínas no sangue, entretanto, cerca de 40 a 60% é constiuida de albumina. Muitas delas podem ser afetadas por processos patológicos, por isso são importantes indicadores para várias doenças. Em geral, os valores de proteínas totais, neste estudo, estão abaixo daqueles descritos para esta mesma espécie por Souza (2007), Castillo (2012) e Silva, (2013), mas corroboram com Queiroz (2012), cujos exemplares de pirarucus também estavam parasitados. Essa diminuição pode se uma conseqüência do grande número de parasitos presentes na cavidade externa do estômago e do intestino (item 4.4), que, segundo a literatura, causa alterações teciduais na região, disponibilizando, na corrente sanguínea, fragmentos do tecido, devido ao aumento da permeabilidade dos capilares. Além da ação infecciosa causada pelo parasito, as diferentes concentrações de óleo essencial de P. aduncum acentuaram a diminuição nos níveis de proteínas totais plasmáticas de pirarucus neste estudo (Tabela 7). A hipoproteinemia tem sido observada em estudos sob efeito de quiomio e fitoteráficos em peixes (Inoue et al. 2005; Sudová et al. 2008). O colesterol tem sido determinado em estudos sob o efeito de diferentes agentes estressores em peixes. Esse faz parte da composição nas membranas celulares, além de ser precursor de hormônios esteróides e dos ácidos biliares. A alteração no colesterol está relacionada com o metabolismo do fígado (Sifa et al. 2000). Para os valores de colesterol plasmático no presente estudo, não foram observadas diferenças significativas (p>0.05) entre os tratamentos e o controle, porém, estes estão abaixo daqueles descritos para esta espécie por Souza (2007), Castillo (2012) e Silva (2013). Além da ação contra patógenos, P. aduncum tem sido citada na literatura por seu efeito anestésico, devido à presença de alcalóides que atuam no sistema nervoso central dos animais (Lorenzi e Matos 2002). Queiroz (2012), testando o efeito de P. aduncum em juvenis de pirarucu, observou a diminuição nos movimentos dos peixes, e, em alguns exemplares, impediu a subida à superfície para respirar, o que resultou na morte 30 por asfixia. Para Honczark e Inoue (2009) o uso de anestésicos em pirarucus, que utilizam, obrigatoriamente, a respiração aérea, pode causar a morte dos animais por asfixia. Diferente dos resultados descritos por Queiroz (2012), no presente estudo, o tratamento oral com o óleo essencial de P. aduncum não causou letargia nos peixes, entretanto, foi observada, durante o arraçoamento com ração medicada, agitação dos animais, o que pode ser explicado pelo efeito termogênico da piperina presente nas piperáceas (Estrela et al. 2006; Dewick, 2009). Pelo exposto, pode-se sugerir que, tanto a forma de administrar, como usar partes da planta, podem atuar no comportamento e/ou na fisiologia do animal teste, sendo esta uma informação importante para a aplicação farmacológica desta planta em espécies com adaptações morfológicas para respirar, como o pirarucu. 4.4. Eficácia do óleo essencial de P. aduncum A análise parasitológica realizada antes do experimento revelou uma prevalência de 100% de larvas de nematóides no trato digetório e uma intensidade de 2 a 615. Após o tratamento com P. aduncum, foi registrada a presença de larvas de nematóides em todos os peixes analisados, prevalência de 100%, nos dois períodos experimentais (7 e 15 dias). As larvas foram registradas na cavidade externa do estômago e no intestino dos peixes (figuras 4). A intensidade parasitária por peixe, avaliada em 7 e 15 dias, variou de 5 a 949 e 9 a 1221 respectivamente. Os índices parasitários durante os dois períodos experimentais estão descritos na tabela 8. Figura 4. Visão geral da superfície externa do intestino de pirarucu com grande número de larvas de nematóides. 31 A prevalência parasitária nas cinco concentrações (0, 32, 48, 56 e 64 ml/kg), nos dois períodos de tratamento (7 e 15 dias), foi de 100%. Os resultados da atividade antiparasitária do óleo essencial de P. aduncum, em 7 e 15 dias, estão representados na tabela 8. Durante os testes de eficácia (7 e 15 dias), não foram observadas mortalidade de peixes. Os índices de intensidade média, abundância média e intensidade de parasitos não apresentaram diferenças significativas (p>0,05) entre os tratamentos (32, 48, 56, 64 ml/kg) durante os 7 dias, porém, todos apresentaram diferença significativa (p<0,05) em relação ao controle. Em 15 dias, esses índices apresentaram diferenças significativas (p<0,05) entre as diferentes concentrações de P. aduncum e o controle. Diferença significativa (p<0,05) também foi observada entre os tratamentos com 32, 48, 56 ml/kg e o tratamento com 64 ml/kg. Tabela 8. Prevalência (P%), Intensidade média (IM) ± desvio padrão, Abundância média (AM) ± desvio padrão e Intensidade (I) de parasitos em Arapaima gigas do grupo controle e após 7 e 15 dias de tratamento com diferentes concentrações de óleo essencial de P. aduncum. Concentrações (ml/kg) 0 32 48 56 64 P(%) 100 100 100 100 100 0 32 48 56 64 100 100 100 100 100 7 Dias IM AM a 536,22±19,66 536,22±19,66a 519,67±26,65b 519,67±26,65b 498,44±23,4b 498,44±23,46b 456,44±22,79b 456,44±22,79b 450,67±23,55b 450,67±23,55b 15 Dias a 567±36,05 567±36,05a 401,67±20,63b 401,67±20,63b 338,67±18,10b 338,67±18,10b 260,11±18,00b 260,11±18,00b 134,89±10,43c 134,89±10,43c I 20-702a 5-949b 112-856b 100-760b 11-798b 9-1221a 20-600b 124-708b 9-603b 9-288c Letras diferentes, na mesma coluna, indicam médias significativamente diferentes (p<0,05) entre o controle e os tratamentos dentro do mesmo tempo de exposição. Em geral, no ambiente de cultivo a manifestação de uma doença nos peixes pode estar relacionada às práticas de manejo incorretas, como altas densidades de estocagem, má nutrição, qualidade da água inadequada, além de fatores genéticos (Pavanelli et al. 2013). Para o pirarucu, tem sido verificado que os fatores que causam doenças estão relacionados ao manejo inadequado dos alevinos, principalmente quando são retirados do cuidado parental, o período de transição alimentar (alimento vivo x ração) e a qualidade da água do ambiente (Araújo et al. 2009a; Araújo et al. 2009b; Ono 2011; Queiroz 2012). 32 Estes fatores ainda são motivo de vários estudos, entretanto, os resultados das pesquisas ainda não são conclusivos para que se desenvolvam técnicas que minimizem os problemas sanitários enfrentados pela espécie nos primeiros estágios de desenvolvimento. A elevada intensidade de parasitas nesse estudo é um bom exemplo da atual situação que a maioria dos produtores enfrenta e que levam a grandes perdas dos animais. Além disso, a variação no número de parasitos (2 – 615) encontrados por peixe, antes do tratamento, pode estar relacionada a uma característica específica do organismo animal, já que estes eram da mesma prole e estavam sob as mesmas condições ambientais. Os nematóides são parasitos comuns em peixes de água doce, que podem servir de hospedeiro definitivo ou intermediário (Williams e Jones 1994). Quando adultos, os nematóides habitam, preferencialmente, o tubo digestivo, entretanto, as formas larvais podem ser encontradas na musculatura e na cavidade mesentérica, muitas vezes encistadas (Pavanelli et al. 2013). A capacidade dos nematóides de se instalar na cavidade mesentérica no corpo do hospedeiro foi observada neste estudo, cujas larvas estavam localizadas na camada exterior do estômago e do intestino dos pirarucus. Gomes (2007) verificou a presença de nematóides no intestino, nos cecos pilóricos e nas brânquias de pirarucus. Andrade-Porto et al. (2011) registraram nematóides de pirarucu no lumem intestinal e nos cecos pilóricos. Quando em grandes quantidades, os nematóides se fixam em determinado local do estômago e do intestino do hospedeiro, causando lesões crônicas e, consequentemente perfurações (Kent et al. 2002). Em salmonídeos, Philonema spp foram observados, na maioria dos casos, aderidos na cavidade visceral e mesentérica (Nagasaw, 1985; Garnick e Margolis 1990). Na literatura são descritos efeitos devastadores de infecções por nematóides. Molnár et al. (1993) relatou a morte de enguias no lago Balaton, Hungria, devido a A. crassus. Moravec e Gut (1982) e Moravec et al. (1984) relataram a mortalidade de peixes ornamentais devido à infecção com Pseudocapillaria brevispicula Linstow, 1873 e Capillaria pterophylli Heinze, 1933. Freitas e Lents (1946) citam a presença de nematóides em alevinos de apaiarís e pirarucus no Posto de Piscicultura, estado do Ceará, sugerindo que este parasito seria responsável pelo insucesso na criação destas espécies. Segundo Gomes (2007), os parasitos coexistem com os pirarucus tanto no ambiente natural como no ambiente de cultivo. Esse autor, estudando a comunidade de parasitos do A. gigas na Reserva de Desenvolvimento Sustentável de Mamirauá – AM, 33 encontrou uma intensidade de 1 a 116 nematóides em peixes com aproximadamente um metro. Santos et al. (2008), estudando os helmintos parasitos de pirarucu no rio Araguaia, no estado do Mato Grosso, relataram uma intensidade de 41 a 198 parasitos. Neste estudo, os valores de intensidade foram elevados (5 a 1121 parasitos/peixe) ao comparar com aqueles descritos por Araújo et al. (2009a), que encontraram uma intensidade de 2 a 10 parasitos por peixe infectado e com o mesmo tamanho, aproximadamente 17 cm, dos exemplares utilizados no presente trabalho. Outro exemplo de abundância parasitária no pirarucu foi descrito por AndradePorto et al. (2011) quando foram coletadas 590 larvas de Hysterothylacium sp. no intestino, no estômago e nos cecos pilóricos de pirarucus. A intensidade média foi de 6,02, variando de 1 a 40 larvas por hospedeiro, e a abundância média foi de 5,9 em peixes com aproximadamente 14,5 cm. Além da possível ação do fitoterápico sobre os nematóides, a capacidade de defesa do organismo animal também contribui, em uma menor proporção, para a eliminação deste parasito. De acordo com a literatura, os nematóides estimulam a produção de anticorpos específicos nos hospedeiros e a migração das larvas para a cavidade mesentérica e tecido dos peixes pode causar alterações no sistema imune do animal e, consequentemente, a eliminação ou a morte do parasito (Molnár et al. 2006). Em enguias europeias foi observada a produção de anticorpos específicos contra Anguillicoloides crassus (Buchmann et al., 1991; Höglund e Pilström, 1994; Békési et al. 1997; Nielsen e Buchmann, 1997; Knopf et al. 2000). Dois tipos principais de antígenos são, geralmente, reconhecidos nas infecções por nematóides, a excreção e secreção solúvel (E/S). Os antígenos somáticos estão associados com superfícies no exterior dos parasitos, geralmente as reações celulares desempenham um papel importante na proteção do hospedeiro contra nematóides. Segundo Coscia e Oreste, (1998), teleósteos da Antártida produzem anticorpos específicos contra Contracaecum osculatum Rudolphi, 1908. Na tabela 9 estão representados os valores do cálculo de eficácia (%) do óleo essencial da P. aduncum contra os nematóides, após 7 e 15 dias de tratamento. Foram calculadas a eficácia de cada tratamento, de acordo com Martins et al. (2001) e Onaka et al. (2003). Nos dois períodos experimentais, não foi registrada mortalidade dos peixes. Após 7 dias de experimento, não houve diferença estatística (p>0,05) entre os tratamentos, exceto na maior concentração (64 ml/kg), e entre estes com o grupo controle e verificou-se a baixa eficácia da P. aduncum contra os nematóides, inclusive 34 na maior concentração (Figura 7). Em 15 dias, os tratamentos foram significativamente diferentes (p<0,05) em relação ao grupo controle e houve diferença na maior concentração (64 ml/L) que promoveu 76,21% de eficácia. Tabela 9. Porcentagem de Eficácia (%) do óleo essencial de P. aduncum administrado na ração e o controle (sem o óleo essencial) contra nematóides de Arapaima gigas em 7 e 15 dias de experimento. Tratamento (ml/kg) Controle 32 48 56 64 Eficácia (%) 7 dias 15 dias 0 0 3,08 29,15 7,04 40,27 14,87 54,12 15,95 76,21 Para ser considerado um fármaco anti-helmíntico, uma droga precisa atuar na cutícula do verme, podendo causar alterações nas atividades neuromusculares do parasito ou lesar a cutícula. Essa ação pode resultar na digestão parcial do verme ou sua eliminação através dos mecanismos imunológicos do hospedeiro (Molnár et al. 2006). Entretanto, nenhum composto antiparasitário é eficaz contra todos os estádios de desenvolvimento dos parasitas (Atta-ur-Rahman et al. 2005). Substâncias presentes nas piperáceas interferem no metabolismo energético das células, no ciclo de Krebs, ocasionando uma diminuição do armazenamento de energia, do metabolismo de glicose e da respiração celular (Oliveira et al. 1963; Oliveira et al. 2003). Segundo Rafael (2008), o uso de dilapiol em larvas de Aedes aegypti causou alterações cromossômicas. Bano et al. (1991) descrevem que a piperina, composto presente na família Piperaceae, promove uma rápida absorção de nutrientes no trato gastrointestinal, devido seu caráter lipofílico (afinidade com o tecido adiposo), podendo interagir com os componentes lipídicos da membrana da célula intestinal, facilitando a permeabilidade e a entrada de nutrientes. O que facilitou a permeabilidade do óleo, permitando, assim, uma maior absorção do medicamento. Fazendo com que estes metabólitos secundários encontrados no óleo essencial entressem em contato com a cutícula dos nematóides. O potencial de ação de alguns quimioterápicos anti-helmínticos sobre os parasitos tem sido descrito na literatura: benzimidazóis (mebendazol, tiabendazol e o albendazol) são agentes de amplo espectro, que interferem na captação de glicose 35 dependente de microtúbulos, impedindo a função microtubular dos helmintos. O praziquantel atua na homeostasia do cálcio nas células dos helmintos, o que provoca uma contração muscular, paralisia e morte dos parasitos. A piperazina e a ivermectina atuam como agentes inibidores de neurotransmissores sobre os canais de cloreto no músculo do nematóide, que, depois de paralisados, são expelidos ainda vivos dos hospedeiros. O pirantel e o levamisol atuam na despolarização neuromuscular dos helmintos, causando espasmos e paralisia. (Rang, 2001; Fuches, 2004; Constanzo, 2004; Craig e Stitzel, 2005; Gilmam, 2005; Katung, 2006; Golan 2009). Na literatura são descritos diversos produtos de origem vegetal incorporados na dieta para tratar patógenos em peixes, entre eles os nematóides (Amorim, 1987; Escosteguy, 2000; Braga et al., 2001; Chitmanat et al. 2005; Diab et al. 2008; Tavechio et al. 2009). A P. aduncum, apesar da vasta literatura acerca de seus efeitos farmacológicos, não tem sido citada para controle de nematóides em peixes. Entretanto, essa espécie já foi utilizada no controle de Meloidogyne incógnita Kofoid & White, 1919, um fitonematóide de tomateiro (Silva et al., 2006). A concentração de 80 ml/L do extrato aquoso de P. aduncum foi eficaz no tratamento de D. cycloancistrium e D. cycloancistrioides, ectoparasitas do pirarucu (Queiroz, 2012). Em geral, as parasitoses na piscicultura têm sido tratadas com produtos químicos compostos, entre eles, destacam-se: eritromicina, flumequina, oxitetraciclina, florafenicol, cloranfenicol, praziquantel, levamisol, entre outros (Parra et al., 1997; Pavanelli et al., 2008; Carraschi et al., 2011). Entretanto, pelas vantagens conferidas aos fitoterápicos, as pesquisas vêm avançando para que estes se tornem acessíveis ao produtor. Exemplos de resultados satisfatórios com diferentes fitoterápicos no controle parasitário de peixes são descritos na literatura. Martins et al. (2002) testaram, em juvenis de tilápias do Nilo, 2 g/kg de alho (A. sativum) na ração, por 45 dias, e observaram redução em 95% da infestação por monogenóides de pacus. Chitmanat et al. (2005) realizaram experimentos utilizando o extrato do alho em banhos, por dois dias, com a concentração de 0,8 g/L, e obtiveram 100% de eficácia no controle de Trichodina spp. Magalhães (2010) testou cipó-alho na concentração de 40 g/L em banhos de 60 minutos em tambaquis, e obteve média de 4,7 monogenóides vivos e 92,2 mortos. Boijink et al. (2011) obtiveram 63% de eficácia, adicionando 45 g/kg de cipó-alho na ração para tambaqui, por 45 dias, no tratamento de monogenóides. Abd El-Galil e Aboelhadid (2012) verificaram que banhos com 3 ppt. do óleo de alho, durante 1 h, e 300 mg.L-1 de dentes de alho recém esmagados em banhos, por tempo indeterminado, 36 impediram a infecção por tricodinídeos e monogenóideos em O. niloticus. Fujimoto et al. (2012) testaram sementes de abóbora em Astyanax zonatus e obtiveram 95,26% e 92,48% de eficácia no controle de nematóides no intestino e no estômago dos peixes e, para aqueles alimentados com sementes de mamão, a eficácia foi de 72% no controle de monogenóides. De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), Portaria n° 48, de 12/05/1997, através de sua Secretaria da Defesa Agropecuária, o registro de produtos antiparasitários para mamíferos domésticos só é possível se sua eficácia estiver acima de 90%. Entretanto, não existe uma legislação que defina a eficácia de um medicamento para peixes e outros organismos aquáticos. Segundo Onaka et al. (2003) isso pode gerar um prejuízo na avaliação destes produtos para peixes, pois o objetivo dos tratamentos é o controle dos parasitos, de maneira significativa, e não, necessariamente, sua eliminação acima de 90%. Em geral, estudos sobre eficácia de diferentes produtos vegetais têm mostrado a relação destes com a espécie testada, o tempo de exposição ao fármaco e sua forma de administração. Portanto, a eficácia de P. aduncum, aplicado, via oral na alimentação, pode representar um importante anti-helmíntico dessa e de outras espécies, mas devem ser observadas as recomendações acima quanto à forma, período, e concentração aplicada no animal. 5. CONCLUSÃO Com os resultados obtidos, pode-se concluir que, nas concentrações testadas, o óleo essencial de P. aduncum, no controle de nematóides, é de baixa toxicidade, garantindo o bem estar do animal, evidenciado pelo equilíbrio fisiológico dos juvenis de pirarucus. Foi constatado o potencial anti-helmíntico desse óleo, principalmente na maior concentração (64 ml/kg) e tempo de exposição (15 dias) testados, cuja porcentagem foi de 76,21% no controle de nematóides nos peixes. Supõe-se que, concentrações acima de 64 ml/kg poderiam gerar melhores resultados, o que recomenda-se futuros estudos com adição de ingredientes que possam tornar a ração medicada mais palatével. 37 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Abd El-Galil, M.A.A. and Aboelhadid, S.M. (2012): Trials for control of trichodinosis and Gyrodactylosis in hatchery reared Oreochromis niloticus fries by using Garlic. Veterinary Parasitology 185:57– 63. Abreu, O. e J.A. Pino. 2008. Leaf Oil Composition of Piper aduncum subsp. Ossanum (C. CD.) Saralegui. Nat. Prod.Commun, 3: 271-273. Acergo, M. S. C. 2005. Plantas medicinais no controle de doenças do gado leiteiro. Associação Rio-grandense de empreendimentos de assistência técnica e extensão rural (EMATER/RS) 11 pp. Affonso, E.G.; Barros, F. P.; Brasil, E.M; Tavares-Dias, M; Ono, E.A. 2009. Indicadores fisiológicos de estresse em peixes expostos ao peróxido de hidrogênio (H2O2). In: Tavares-Dias, M. Manejo e Sanidade de Peixes de Cultivo. p. 346- 360. 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