Ano 1 - n° 3
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Ano 1 - n° 3
Informativo DAKSHINA SETEMBRO 2007, ANO I, NÚMERO 3 A Tradição Antiga dos Vedas Profa. Glória Arieira Além do marco do Império Romano, muito além do aparecimento de Cristo, da próspera Civilização Egípcia e até mesmo da Mesopotâmia, havia já na Índia uma sofisticada civilização no vale do rio Sarasvati, hoje reconhecidamente com muito mais de 7000 anos. Era a cultura védica chamada Sanaatana Dharma. Um estilo de vida atemporal no qual a verdade eterna é o maior valor e a dedicação ao conhecimento desta verdade é priorizada. O estilo de vida é chamado Yoga, o conhecimento é passado de mestres a discípulos em diálogos chamados Upanishads. Esta verdade é livre do tempo e do espaço, palavras não podem defini-la. Seu ensinamento é através de palavras que a indicam e a seguir são negadas – manasaa eva anudrastvyam. Somente com a mente pode ser percebido. Yam manasaa na manute. É aquilo que a mente não pode pensar. É aquilo que é buscado por todos; e que deve ser compreendido como já alcançado! Este método vem sendo mantido numa linhagem sem interrupção de mestre-discípulo. O ser humano é o constante buscador de sua excelência. Sentindo-se constantemente inadequado, procura superar a si mesmo, ir além de sua experienciada limitação. É a busca denominada espiritual. A busca de superioridade é psicológica à medida que vislumbra-se uma vantagem em relação aos outros, um julgar-se melhor do que os outros, devido à consciência de limitação que é forte, dilacerante. Aparecem problemas para si mesmo na tentativa de se perceber superior, pois a inferioridade, a limitação, é evidente, ainda que muitas vezes não consciente. Criase então um excesso de opinião pessoal, um medo das diferenças, uma necessidade de criticar o outro e diferenciar-se. O foco na excelência não vê tanto o outro mas a si mesmo. De que maneira pode-se exceder a si mesmo, suas evidentes limitações, alcançando uma totalidade que ultrapassa a sensação de limitação – uma experiência de si mesmo, em si mesmo, de paz e plenitude, no silêncio pleno, onde descobre-se não separado do Universo. As limitações são percebidas como naturais ao mundo dual, pode-se crescer além delas, ou talvez isto não seja de imediato possível, mas a excelência é descoberta em si mesmo, o que possibilita uma acomodação do outro e do mundo, exatamente como são. Esta busca de excelência é o libertar-se da aparente limitação, é moksha, como nos apresenta os Vedas, a rica tradição que nos diz que esse libertar-se é possível ainda em vida. O estilo de vida para tornar possível esta excelência envolve um tornar-se consciente de bhaya-krodha-raaga, o medo a raiva e o apego. O libertar-se é para aquele que compreende clara e profundamente essas três expressões automáticas da mente e do corpo. Naturais pois são a expressão do que a ciência védica de saúde chama de vaata, pitta, kapha em nosso corpo. Para aquele que se dá ao trabalho de perceber essas expressões e suas causas em si mesmo e portanto ter um comando possível sobre sua expressão, o libertar-se é possível pois este significa não uma negação de raaga-bhayakrodha mas o viver harmônico livre de suas garras aprisionantes. Senhor Krisna e Arjuna viitaragabhayakrodhah sthitadhiirmunirucyate. Aquele que é livre de apego, medo e raiva e capaz de reflexão é firme no conhecimento do Ser, assim é falado. Bhagavadgita II, 56 Yoga é um estilo de vida, com a prática de asanas, pranayama, concentração, meditação, estudo do Ser que é absoluto e idêntico ao Criador e contemplação. Parte fundamental disto é o estar consciente das ações realizadas, dos acontecimentos diários, que vêm sem nosso desejo ou busca, e a atitude que mantemos nestas várias situações. E através desta atenção, ou melhor, desta disposição para estar atento, consciente, descobrir que cada um de nós faz parte deste todo que chamamos o Universo. Um estilo de vida falado em detalhes e a oportunidade do autoconhecimento fazem parte do Sanaatana Dharma, uma tradição especial disponível para todo aquele que a valoriza e deseja. Artigo extraído do site www.vidyamandir.org.br No próximo número: Samadhi Manipura Chakra Durga Mataji DAKSHINA Página 2 Yoga Kuruntha “quando trabalhamos as principais articulações do corpo, desbloqueamos a passagem de energia pelos chakras secundários (articulações)” Paulo Murilo Rosas Yoga Kuruntha, ou Yoga das Marionetes, é uma técnica de Yoga, utilizada principalmente no sul da Índia, que visa aquecimento do corpo antes das práticas de asanas. Consiste de movimentos feitos com a ajuda de cordas, argolas e o apoio da parede. São de grande ajuda para o alongamento da musculatura e aumento da flexibilidade corporal, do tônus e de massa muscular. Além disto, o trabalho com as cordas - como todo trabalho no Yoga -, traz um maior conhecimento do próprio corpo e da postura ao praticante. Sendo assim podemos dizer que o Kuruntha é um instrumento de reeducação corporal tanto para pessoas sadias, de todas as idades, como também para pessoas que apresentam algum tipo de dificuldade devido a problemas físicos, como problemas de coluna. Na atualidade, o Yoga Kuruntha é difundido por B.K.S. Iyengar, grande mestre de Hatha Yoga. Guruji Iyengar O Dakshina Tantra e o Yoga Kuruntha Costumo dizer que ‘a visão por trás da prática é o que faz a diferença’ , quando justifico a utilização do Yoga Kuruntha na metodologia de ensino do Dakshina Tantra, que neste caso é ‘equilíbrio’. Quando trabalhamos as principais articulações do corpo, estamos desbloqueando a passagem de energia pelos chakras secundários (articulações) e assim possibilitando o correto fluxo energético nos chakras principais. Ao trabalharmos a lateralidade estaremos energizando o lado direito (energia masculina) e o lado esquerdo (energia feminina) e consequentemente equilibrando as características masculinas e femininas da personalidade. Ou seja, trabalhando o físico, estaremos equilibrando o nível energético e a psique do indivíduo. Concluindo, muito mais do que uma simples ação corporal visando aquecimento e flexibilidade, o Yoga Kuruntha na prática tântrica ganha o status de auxiliar em mudanças físicas, psicológicas e energéticas, possibilitando vivenciar e ultrapassar aspectos psicológicos que bloqueiam o florescer da personalidade que está a caminho do equilíbrio. Algumas posturas Prática com cordas Prática nas argolas inferiores Prática nas argolas superiores Advertência: estes exercícios só deverão ser praticad os com a assistência de um professor experimentado. Arte: Sebastião Rodrigues DAKSHINA Página 3 Svadhisthana Chakra “o svadhisthana chakra corretamente energizado desenvolve na pessoa um bom Svadhisthana significa: Suporte do Sopro da Vida, também denominado Centro Sexual. Está relacionado com o nível instintivo. Chakra localizado na raiz dos órgãos sexuais. No Sthula Shariram (corpo grosso), corresponde ao plexo nervoso Sacro e às glândulas endócrinas sexuais. potencial criativo e vitalidade física” As glândulas sexuais também são chamadas Reprodutoras. Os hormônios secretados por elas são: androgênicos, estrogênicos e progestina. São estas glândulas que ocasionam Paulo Murilo Rosas as diferenças morfológicas e psíquicas que distinguem o macho da fêmea. O Tattva (elemento) deste Chakra é Apah (água), representado pelo círculo de cor branca na mandala. Representa também o líquido seminal, a criatividade no sentido material, a possessividade e a atividade física. É um elemento poderoso que precisa ser canalizado para poder ser bem aproveitado. Não deve ser contido pois, neste caso, sua reação será incontrolável. É como o curso da água que, se não encontrar resistência, flui livremente sem esforço. Havendo resistência, o pequeno curso de água se transforma numa represa que, com o aumento do volume e da pressão, se transforma numa força agressiva e destruidora. Em termos psicológicos, significa que a resistência aos sentimentos e o medo de não compartilhá-los transformam o seu poder numa força ameaçadora dentro de nós. Mandala do Svadhisthana O Svadhisthana é representado por uma flor de Lótus de 6 pétalas de tom vermelho forte, um círculo de cor branca (água) e a Lua em quarto crescente (água). Mandala do svadhisthana Aspectos psicológicos Este centro tem relação com o valor, a coragem, a energia da vida e, por conseguinte, a consciência do mundo como lugar de luta e objeto de conquista. sui um bom potencial criativo (sentido material) e vitalidade física; possui também o domínio sobre as paixões e o egoísmo. A pessoa que o tem corretamente energizado desenvolve o poder de reação ante todos os obstáculos e a necessidade de exercer um domínio ativo, dinâmico e possessivo sobre as pessoas e coisas. Ela pos- O indivíduo que o tem mal energizado se mostra apático, sem energia, lento, não consegue realizar seus planos; manifesta uma certa vergonha ou até aversão sexual (hipoenergização). Quando o indivíduo possui algum bloqueio nesta região desenvolve uma personalidade agressiva, necessidade de ação violenta, de destruir (autodestruição), erotismo excessivo e fantasioso, desejo sexual indiscriminado. Tende a fazer coisas em excesso, fala muito, etc (hiperenergizado). No amor vive o impulso sexual e a necessidade de viver um domínio sobre o ser amado. SETEMBRO 2007, Página 4 Pranayama O termo Pranayama é composto das palavras Prana, que significa a força vital, vitalidade presente em todos os seres vivos, e Ayama, expansão, intensidade, disciplina e controle. Então, Pranayama é a disciplina da respiração para a harmonia do Prana. O Prana circula, no corpo humano, através de finos e sutis canais de energia chamados nadis, dentre as quais destacamse Ida, Pingala e Sushumna. É importante enfatizar que para que os exercícios de Pranayama sejam eficientes, isto é, corrijam ou transfiram o fluxo da energia vital de um chakra para outro, é necessário que o Prana circule de maneira livre pelas nadis. Daí a importância das asanas (exercícios, posturas) e mudras (gestos) na pre- ANO I, NÚMERO 3 Paulo Murilo Rosas paração para a prática plena e consciente do Pranayama. Estas práticas preparatórias não só fortalecerão a musculatura envolvida neste processo mas também desimpedirão os canais de energia. Uma das primeiras conseqüências da prática de Pranayama no nosso corpo físico é a melhora do funcionamento do sistema respiratório e, consequentemente, a melhora da circulação sanguínea. Os processos digestivos e de eliminação são altamente beneficiados, reduzindo o acúmulo de toxinas, tornando o corpo mais saudável. No nível emocional e mental, observamos, após curto tempo de prática, a facilidade para expressar sentimentos, emoções e idéias de forma clara; nossa mente se aquieta. Podemos afirmar que respirar corretamente e conscientemente nos leva a uma vida mais saudável tanto fisicamente quanto nos níveis emocional, psicológico e espiritual. E estas são as condições para o verdadeiro equilíbrio da personalidade. Sri Hanuman O Deus do Pranayama “O objetivo inicial da meditação é tornar-se consciente e familiarizar-se com a vida. O objetivo final é alcançar a fonte de vida e consciência.” Sri nisargadatta maharaj Professor Paulo Murilo responde Professor, já por duas vezes nas minhas práticas no Kailasa me senti mal, isto é, era como se, de repente, ficasse emocionalmente instável; senti raiva, tristeza, tive vontade de chorar. Fiquei confuso e inibido, principalmente por ser homem, e me retirei da sala com uma desculpa qualquer. Há alguma explicação para estas sensações? F.R. O que aconteceu contigo, F. , foi uma catarse, muito comum e natural, tanto para mulheres quanto para homens, durante uma prática tântrica. Tu poderias estar numa fase mais sensível e a asana que praticavas, ou o conjunto delas — a série, trouxe à tona emoções reprimidas. Provavelmente com a continuação da prática estas sensações que te incomodaram teriam sido reduzidas ou desaparecido. De qualquer forma, não te preocupes com estas reações que inclusive são excelentes indicativos dos Chakras que estão sendo efetivamente trabalhados. Informes sempre a teu professor(a) sobre tuas sensações, emoções, positivas ou negativas, durante a aula para que ele possa orientar melhor a tua série, isto é, continuar o exercício, alterá-lo ou descontinuá-lo. Por último, F. , homens também se emocionam, choram, e ficam tristes. Não te inibas ! Excelente pergunta, F., e muito obrigado. Este Informativo também está disponível on-line no site do Kailasa Envie suas dúvidas sobre o Dakshina Tantra para o Prof. Paulo Murilo através do e-mail [email protected] Kailasa Filosofia Yoga Terapias Travessa Angrense 14, sala 304 Copacabana, RJ tel.: (21) 2549-1707 Www.tantrayoga.com.br