correio braziliense
Transcrição
correio braziliense
Clipping de de Educação Brasília, 29 de agosto de 2016 Valor Econômico 29/08/16 EMPRESAS MEC analisa opções de crédito a 'Fies Turbo' Por Beth Koike | De São Paulo O Ministério da Educação (MEC) e as instituições de ensino superior estão debruçados sobre as fontes de crédito privado possíveis para a viabilização do "Fies Turbo" - nova modalidade do financiamento estudantil prometida para ser lançada em janeiro. Segundo o Valor apurou, entre as opções analisadas estão o uso dos recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) ou a contratação de um empréstimo consignado para amortização do financiamento estudantil, além da criação de Letras de Crédito Estudantil (LCE) e redução de compulsório para os bancos que concederem o crédito universitário. Hoje praticamente não existe financiamento estudantil bancário no país, porque o Fies é um produto com muito subsídio do governo. Uma outra possibilidade em estudo é atrelar o Fies ao Imposto de Renda (IR) do estudante beneficiado pelo programa. Esse formato é inspirado num modelo de crédito universitário da Austrália, em que o valor pago pelo aluno, após a conclusão do curso, é calculado sobre um percentual do seu salário e não uma parcela fixa como acontece com o financiamento brasileiro. O grande entrave para colocar em prática o "Fies Turbo" é a taxa de inadimplência esperada para o financiamento estudantil. Economistas do governo e do setor privado estimam algo na casa dos 27%, mas esse é um percentual ainda preliminar, pontua uma fonte do setor. A dificuldade em mensurar a taxa de inadimplência deve-se ao fato de não haver um histórico de amortizações de contratos de Fies. A expansão do programa começou em 2010 e os cursos de graduação têm duração de quatro anos - com isso a maior parte dos estudantes ainda não está pagando o financiamento. Lembrando que há um período de carência de 18 meses após a conclusão do curso e a dívida pode ser quitada em até 12 anos. A taxa de inadimplência estimada em 27% é baseada nos números da Controladoria Geral da União (CGU) de janeiro deste ano. Dos contratos em fase de quitação, 23,6% estavam com atraso de mais de 360 dias. Em julho, o ministro da Educação, José Mendonça Filho, informou que está trabalhando a quatro mãos com o setor privado num modelo de financiamento estudantil com recursos públicos e privados a fim de tornar o programa sustentável. Atualmente, o Fies usa exclusivamente recursos públicos. Neste ano, o orçamento do programa é de R$ 18,7 bilhões e há cerca de 2 milhões de alunos beneficiados pelo programa. Em paralelo, o Senado analisa 34 propostas parlamentares para mudar o Fies. Há desde sugestões que incham ainda mais o programa como, por exemplo, estender o financiamento à educação básica, e outras medidas semelhantes às propostas do 'Fies Turbo' como a alocação dos recursos do FGTS para amortizar a dívida do crédito estudantil. O GLOBO 29/08/16 SOCIEDADE ANTÔNIO GOIS Mente e corpo Estudo mostra que hábitos pouco saudáveis de alunos brasileiros impactam no desempenho em sala de aula Se quisermos melhorar o desempenho acadêmico de nossos alunos, não basta olhar apenas para o que acontece em sala de aula. Além das características dos pais como renda e escolaridade, hoje já temos prova de algo que sempre foi evidente: hábitos de saúde dos estudantes também têm alta correlação com o seu desempenho acadêmico. Na sexta-feira passada, o IBGE divulgou a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar. Ela mostrou que 56% dos estudantes do 9o ano do ensino fundamental já haviam consumido bebidas alcoólicas, 18% já haviam experimentado cigarro, e apenas 34% poderiam ser considerados fisicamente ativos (tendo acumulado 300 minutos ou mais de atividades físicas por semana). A pesquisa do IBGE, referente ao ano de 2015, não correlaciona esses e outros hábitos ao desempenho escolar, mas um estudo feito pelos pesquisadores Aléssio de Almeida e Ignácio Júnior (da Universidade Federal da Paraíba) realiza justamente este exercício, com base nos resultados da mesma pesquisa do IBGE, mas para o ano de 2012. O trabalho foi publicado neste ano na Revista Brasileira de Economia, da FGV, e mostra que a exposição a fatores de risco como o excesso de peso e o consumo de cigarro e bebida alcoólica se relaciona de forma direta com o atraso escolar (alunos com idade superior a considerada adequada no 9o ano do ensino fundamental). Os autores mostram que esse efeito é mais perverso para alunos de famílias mais pobres e de pais menos escolarizados. O trabalho mostra apenas que há uma correlação entre esses fatores, mas cita vários estudos internacionais que vão além e mostram que há uma causalidade entre esses hábitos e o pior desempenho na escola, com explicações de por que isso acontece. Os autores concluem que é importante pensar em “políticas públicas que promovam a prevenção desses fatores de risco desde a infância, pois as consequências dessas exposições podem gerar desdobramentos não apenas na saúde, mas também no componente educacional do capital humano”. Como sempre, a escola aqui é parte da solução e também do problema. Há muito a ser feito dentro dos colégios para estimular hábitos saudáveis. É o caso da prática de esporte e da proibição de venda de guloseimas, refrigerantes e comidas gordurosas. Mas esta não pode ser uma tarefa apenas de professores e gestores. É um desafio para toda a sociedade, que envolve também as famílias e políticas públicas de diversas áreas. A pesquisa do IBGE traz também muitas informações relevantes sobre o contexto escolar. Uma boa notícia é que, entre 2012 e 2015, houve uma queda significativa (de 35% para 25%) no número de estudantes do 9oano do ensino fundamental cujas mães não haviam completado o ensino fundamental. Como sabemos que a escolaridade dos pais é um forte fator a influenciar o desempenho dos alunos, esta é uma ótima notícia, pois facilita a tarefa das escolas de melhorar a qualidade do ensino. Mas há também dados na pesquisa que deveriam indignar qualquer cidadão preocupado com a educação neste país: quase metade (43%) dos alunos do 9o ano estudam em escolas onde não há sabão para limpeza das mãos nos banheiros. Exigimos uma educação condizente com os desafios do século 21, mas não podemos esquecer que ainda temos problemas do século 19 para serem resolvidos. FOLHA DE SÃO PAULO 29/08/16 EDITORIAL Ineficiência municipal Ao cotejar os recursos disponíveis e os resultados obtidos nas áreas de educação, saúde e saneamento básico, o Ranking de Eficiência dos Municípios Folha (REM-F), lançado neste domingo (28), joga luz sobre a precariedade da maioria dessas administrações. Dentre 5.281 prefeituras avaliadas (95% do total existente no país), nada menos que 3.991 mostram aproveitamento insatisfatório das verbas que obtêm por meio de arrecadação própria e transferências dos Estados e da União. A má qualidade dos serviços prestados não passa despercebida pela população. No caso mais problemático, o atendimento em saúde é avaliado como ruim ou péssimo por 52% dos brasileiros, segundo pesquisa Datafolha; em saneamento (44%) e ensino (41%), as taxas de reprovação superam com folga as de aprovação. Os números são particularmente relevantes porque é aos governos locais que cabe responder de maneira mais direta às demandas das comunidades. De acordo com essa lógica, a fatia da receita tributária nacional destinada às cidades passou por expansão substantiva nas últimas décadas. Tal estratégia, correta em princípio, acabou por introduzir distorções que fomentaram a ineficiência. Regras permissivas para a repartição dos crescentes repasses da União levaram à criação desenfreada de prefeituras, cuja quantidade mal chegava a 4.000 no início dos anos 1980 –são hoje 5.569. Em consequência, proliferaram pelo país municípios de pequeno porte, custo elevado e arrecadação irrisória. Dos pesquisados pelo REMF, cerca de 70% tem mais de 80% de suas despesas cobertas por recursos estaduais ou federais. Somem-se a isso os dispositivos constitucionais que vinculam parcelas fixas da receita aos desembolsos em saúde e educação, que tiram dos gestores a obrigação de fazer mais com menos. Ao longo de dez anos, o quadro de pessoal das prefeituras aumentou em formidáveis 53%, para 6,3 milhões de funcionários. No período, a parcela do Imposto de Renda e do Imposto sobre Produtos Industrializados a elas direcionada subiu de 22,5% para 24,5%. Exauriu-se, entretanto, a política de ampliação contínua das despesas públicas praticada desde o restabelecimento da democracia. A perda do dinamismo econômico e a escalada do endividamento agora impõem restrições a todo o setor público nacional. As reformas da gestão governamental levarão tempo e dependerão de negociações complexas. Até lá, a melhor ferramenta à disposição dos eleitores é a divulgação transparente dos vícios e virtudes das administrações. FOLHA DE SÃO PAULO 29/08/16 MERCADO Novo teto elevaria gasto com saúde, diz Fazenda EDUARDO CUCOLO DE BRASÍLIA A proposta do governo de limitar o aumento dos gastos à inflação e alterar o cálculo que determina os repasses obrigatórios para saúde e educação levaram à divulgação de vários estudos, nos últimos dias, mostrando perdas e ganhos para as duas áreas com base em cenários retrospectivos e hipóteses futuras. A proposta enfrenta resistência de setores que temem que as duas áreas percam recursos com as mudanças. Dois trabalhos, do Ministério da Fazenda e da consultoria de Orçamento da Câmara dos Deputados, porém, mostram que os investimentos em saúde e educação vão depender mais da recuperação da economia e da arrecadação e menos do indicador escolhido para fixar o repasse mínimo para as duas áreas. O Ministério da Fazenda calcula que o piso da saúde estaria R$ 15 bilhões acima do valor previsto para 2016 (+4,3%) se tivesse sido corrigido pela inflação entre 2013 e 2016. Se o indicador escolhido fosse a variação do PIB, o valor seria R$ 28 bilhões maior (+8%). Atualmente, a Constituição fixa um gasto mínimo de 13,2% da receita corrente líquida da União para o setor, percentual que irá subir gradualmente até 15% em 2020. Como a receita caiu por causa da crise econômica, o piso do setor encolheu. A proposta apresentada pelo governo e que tramita na Câmara altera o cálculo dos repasses mínimos para saúde e educação, que deverão ser corrigidos pela inflação a partir de 2017. A consultoria de Orçamento da Câmara estima que a queda da receita neste ano vai reduzir o piso de cerca de R$ 100 bilhões em 2015 para R$ 84,5 bilhões em 2016. Para a Fazenda, os dados mostram que a regra atual (vinculação à receita) nem sempre gera um piso mais alto e "não protege os setores em momentos de crise". A regra tampouco é eficiente, na avaliação do governo, pois a receita total só é conhecida ao final do ano, o que faz com que os recursos sejam liberados às pressas, para cumprir a regra, sem que a despesa seja planejada. A Fazenda afirma ainda que a proposta não impede que o gasto seja superior ao repasse mínimo, como ocorreu nos últimos anos nas duas áreas. Em 2016, o governo estima gastar R$ 63,7 bilhões com educação e R$ 108,6 bilhões com saúde. Os valores mínimos são de R$ 48,1 bilhões e R$ 91,7 bilhões, respectivamente. A consultoria da Câmara estima que o piso da educação ficará R$ 5 bilhões menor por ano entre 2018 e 2025 se vingar a proposta do governo. Para a saúde, a diferença é de R$ 35 bilhões, principalmente por causa da perda de receita de 2016, ano base para aplicação da nova regra. Os técnicos da Câmara criticam ainda a duração máxima da regra, 20 anos: "Parece excessiva, especialmente se o país voltar a crescer", e vai ampliar essas diferenças. O ESTADO DE S. PAULO 29/08/16 METRÓPOLE Universidades do exterior recebem mais brasileiros O número de estudantes brasileiros aprovados em universidades americanas aumentou 34,8% em 2015. Em busca de experiência internacional, melhores oportunidades de trabalho e preocupados com a situação das universidades públicas brasileiras, alunos de escolas particulares começam a se preparar já no ensino fundamental para conquistar uma vaga em uma instituição no exterior. É o caso de Luca Catena, de 17 anos, do colégio Bandeirantes, na Vila Mariana, zona sul de São Paulo. Já no 9.0 ano do ensino fundamental, ele sabia que queria estudar fora do Brasil e começou a se preparar já que, além de boas notas, a maioria das universidades no exterior também avalia as atividades extracurriculares dos candidatos. "Comecei a dar aulas de inglês para alunos de escolas públicas, em um projeto voluntário da minha escola. Fiquei um pouco resistente no começo, mas adorei. Hoje, é o que mais gosto de fazer fora da escola", disse Catena. Ele ainda não tem certeza sobre qual curso fazer - a área de comunicação é a que mais o atrai -, mas sabe que quer estudar em Harvard, na Universidade de Nova York ou na Universidade de Chicago. José Olavo de Amorim, coordenador de assuntos internacionais do Bandeirantes, disse que os alunos cada vez mais cedo procuram orientação para ingressar em universidades no exterior. O que, segundo ele, garante mais chances na aprovação. "Exige um preparo acadêmico, psicológico e financeiro. Estudar fora não é romântico como pode parecer. O aluno precisa responder por que ele é interessante para aquela universidade em que quer estudar." Em 2012, o Bandeirantes teve dez alunos aprovados em universidades do exterior. Neste ano, foram 31 aprovados. Segundo Amorim, a maior parte dos alunos que vai estudar fora do País faz cursos na área de engenharia, comunicação e business. "A gente orienta que para outras áreas, como as de saúde e direito, não é tão fácil a validação do diploma depois." Na Escola Internacional de Alphaville, em Barueri, também houve aumento. Em 2014, cinco alunos foram aprovados em universidades estrangeiras e, neste ano, foram 14. Marilda Bardal, coordenadora de relações internacionais, disse que a escola oferece aos alunos revisão para os vestibulares nacionais e curso preparatório para o Scholastic Aptitude Test (SAT), um dos principais exames usados por universidades americanas para escolher candidatos, e exames de proficiência do inglês. "Oferecemos atividades extracurriculares para que tenham um aprendizado humano e desenvolvam outras habilidades." Dados. Segundo levantamento da empresa Apply Brasil, que auxilia brasileiros na inscrição para universidades americanas, em 2014, 5.094 brasileiros foram aprovados. Em 2015, foram 6.874. Para Mateus Benarrós, fundador da empresa, o aumento se deve principalmente ao melhor conhecimento dos alunos do processo de inscrição. "Mas a situação das universidades brasileiras, com cada vez menos investimento, e a sensação de insegurança financeira no País também influencia", diz Benarrós, que estudou na Universidade de Yale. Ele explica que o processo de admissão nas universidades americanas leva em consideração três quesitos: as notas no SAT (que não é obrigatório), o application (onde o aluno apresenta o histórico escolar, as atividades 29/08/16 extracurriculares que já fez e conta sobre sua vida e objetivos) e os documentos financeiros. Segundo Benarrós, o aluno também deve ficar atento às bolsas, já que as universidades oferecem oportunidades. O custo médio para estudar nas instituições mais prestigiadas, como Harvard, Yale, Princeton e Columbia, é de até US$ 75 mil ao ano. Em outras, a média é de US$ 40 mil ao ano. Alemão. No colégio Porto Seguro, no Morumbi, que tem currículo em inglês e alemão, também houve aumento de alunos que vão estudar fora, sobretudo, na Alemanha. Em 2014, o colégio teve 24 aprovados em universidades do exterior e, neste ano, 97. Celina Cattini, diretora do colégio, contou que o processo de seleção das universidades alemãs é parecido com o das americanas, com a avaliação de experiências extracurriculares. CORREIO BRAZILIENSE 29/08/16 ECONOMIA TRABALHO » 232 mil servidores podem se aposentar Dados do Planejamento mostram que 37% dos atuais funcionários públicos da ativa terão idade para deixar as funções até 2020. Outros 105 mil, que já poderiam ter ido para casa, tendem a requerer o benefício se o abono de permanência acabar » VERA BATISTA O serviço público federal poderá sofrer um grande enxugamento até 2020, caso se confirme o prognóstico do Ministério do Planejamento. Dos atuais 632 mil servidores da ativa, 232 mil estarão em condições de se aposentar. O quadro se agravará se outros 105 mil que já poderiam ter encerrado a carreira, mas ainda não o fizeram, decidirem vestir o pijama. Esse grupo só continua trabalhando porque recebe o abono de permanência (devolução dos 11% referentes à contribuição previdenciária), benefício que custa R$ 1,2 bilhão por ano e o Executivo quer acabar dentro da sua proposta de ajuste fiscal. A movimentação pela aposentadoria é grande na Esplanada dos Ministérios. Muitos servidores que estão atingindo os requisitos para deixar a ativa estão preocupados com o projeto de reforma da Previdência, que deve unificar os sistemas público e privado. O pensamento dominante é de que é melhor garantir agora todos os benefícios, sobretudo o salário integral, do que correr o risco de perder alguma coisa. Essa visão prevalece mesmo com a lei garantindo que, no caso do funcionalismo contratado até o início de 2013, a aposentadoria integral é irrevogável. Segundo o Planejamento, os 232 mil funcionários que poderão se aposentar nos próximos quatro anos estão concentrados nos ministérios da Saúde e da Fazenda e no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), áreas sensíveis da administração. O ministério, porém, não sabe dizer qual seria o impacto financeiro se todos optassem por migrar para a folha de inativos. Isso mostra o quanto o órgão está despreparado para lidar com um tema tão sensível, que pode afetar, seriamente, a prestação de serviços básicos à população. 29/08/16 Corte bem-vindo A meta do governo, com a extinção do abono de permanência, é economizar R$ 7 bilhões até 2020, conforme previsto na Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 139/ 15, que trata do assunto. Muitos dizem que a economia com o fim desse benefício será pequena diante do estrago no funcionamento da máquina pública, uma vez que os servidores que o recebem ocupam cargos estratégicos. A equipe econômica, porém, acredita que todo corte de despesa é bem-vindo. Pelos cálculos do Planejamento, a folha de pessoal custou, no ano passado, R$ 255,3 bilhões, dos quais R$ 151,7 bilhões com salários para funcionários da ativa, R$ 66,2 bilhões com aposentadorias e R$ 37,3 bilhões com pensões. Até 2019, porém, a despesa com os servidores aumentará substancialmente, pois, com os reajustes combinados com o governo e aprovados pelo Congresso, os gastos terão incremento de pelo menos R$ 100 bilhões. O governo garante que tudo está previsto no Orçamento e que, depois da aprovação da PEC que limita o aumento de gastos à inflação do ano anterior, colocará um importante freio nas despesas com o funcionalismo. Os analistas de mercado, porém, duvidam disso e temem que as corporações mantenham o poder de pressão para garantir ganhos reais, incompatíveis com a realidade em que o país vive, de restrição fiscal e elevado índice de desemprego. Na avaliação da equipe econômica, a aposentadoria em massa permitirá ao governo redimensionar o tamanho do Estado, hoje, muito inchado. Tanto é assim, destacam técnicos subordinados ao ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que não há previsão de concursos públicos. “Vamos segurar as seleções até quando for possível”, diz um dos auxiliares do ministro. “A torneira dos concursos só será aberta quando for extremamente necessário”, emenda. Para o economista Carlos Eduardo de Freitas, ex-diretor do Banco Central, o ajuste fiscal proposto é bom, mas deve ser mais efetivo, especialmente no que se refere ao funcionalismo público. “Todos precisam dar sua cota de sacrifício”, afirma. Ele não acredita, porém, em aposentadoria em massa no serviço público, pois os servidores sabem que estão jovens demais para vestirem o pijama e têm muito a contribuir para o país. “O que temos que ver hoje no funcionalismo público é disciplina e produtividade”, ressalta Freitas. Na avaliação dele, quem não cumprir com o dever deve ser dispensado. “Há instrumentos para colocar quem não faz nada em disponibilidade, como remuneração proporcional ao tempo de serviço”, acrescenta. Infelizmente, os servidores ainda não são regidos pela meritocracia. Sem concursos Em 1995, no governo Fernando Henrique Cardoso, havia 1,1 milhão de servidores. Sete anos depois, 200 mil cargos haviam sido cortados por meio de privatizações e demissões, além do movimento natural de aposentadorias e mortes. O quadro caiu para 900 mil funcionários. Em 2010, com Lula, o Brasil retornou a 1,1 milhão de servidores. O quadro aumentou, especialmente, nas carreiras típica de Estado, que ganham mais. Para 2015, a previsão inicial, não concretizada, era de que mais de 60 mil vagas seriam preenchidas por concurso público. Em 2016, os certames também foram cortados do Orçamento. 29/08/16 CORREIO BRAZILIENSE 29/08/16 ECONOMIA Reforma atingirá inativos Os atuais e futuros aposentados do setor público poderão ser atingidos pela reforma da Previdência. Segundo o projeto que está sendo finalizado pela Casa Civil e pelo Ministério da Fazenda, a ideia é acabar com a paridade de reajustes entre ativos e inativos. Hoje, quando uma determinada carreira tem aumento de salário e recebe benefício extra, aqueles que exerceram as mesmas funções mas já estão em casa também são beneficiados. Para o governo, isso é injusto. Na avaliação do governo, os aposentados e pensionistas do setor público devem receber, no máximo, a correção da inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), usado como referência nas negociações salariais de trabalhadores da iniciativa privada. Técnicos da Casa Civil mostram, por meio de tabelas, que, nos últimos anos, sobretudo nos dois governos Lula, os inativos foram beneficiados com aumentos espetaculares dados aos servidores da ativa. Essa distorção está prevista na recente negociação salarial com servidores da Receita Federal, que, além de reajuste de 27,9%, terá direito a um bônus de eficiência, ou seja, uma parcela do que recuperarem de impostos não pagos. As vantagens serão estendidas aos aposentados e pensionistas do órgão. Pelos cálculos do Ministério do Planejamento, dos 30.667 servidores registrados como auditores fiscais, 20.383 (67%) são aposentados ou pensionistas. Dos 13.778 analistas tributários, 6.612 (48%) são inativos. “É inacreditável que isso ainda aconteça”, diz um auxiliar do ministro Eliseu Padilha. Questão de Justiça Para técnicos do governo, mesmo que o fim da paridade entre ativos e inativos tenha impacto pequeno nas contas públicas num primeiro momento, ao longo do tempo a economia será grande. “O mais importante será corrigir distorções. Não é justo que aqueles que já se aposentaram ou recebem pensões tenham os mesmos benefícios de quem continua trabalhando. Isso não acontece com a maioria dos trabalhadores, que sequer têm estabilidade de emprego”, afirma um dos responsáveis pela reforma da Previdência. “Estamos falando de justiça”, assinala. Segundo o especialista em contas públicas José Matias-Pereira, professor da Universidade de Brasília (UnB), o momento exige sacrifícios de todos para que o país possa fazer o ajuste fiscal e voltar a crescer. Ele acredita que, à medida que a economia retomar o fôlego, todos sairão ganhando. Na visão dele, as pessoas precisam entender que chegou a hora de se redimensionar o governo. “É importante que se tenha compreensão do tamanho do Estado que a sociedade brasileira quer. Tem que prevalecer o bom senso”, assinala. Essa mesma avaliação é feita por Washington Barbosa, coordenador dos cursos jurídicos do Instituto Brasileiro do Mercado de Capitais (Ibmec). Ele acredita, porém, que, ao longo do tempo, o governo voltará a reabrir os concursos públicos, para que as vagas deixadas pelos aposentados sejam preenchidas. “Será uma questão de lógica”, diz. Mas que ninguém espere uma enxurrada de cargos. Agência Brasil http://agenciabrasil.ebc.com.br/ 27/08/2016 Pré-selecionados no Fies têm até amanhã para se inscrever em vagas remanescentes Andreia Verdélio – Repórter da Agência Brasil As inscrições para as vagas remanescentes da edição deste segundo semestre do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) termina amanhã (28). O prazo vale para estudantes graduados e não-graduados que tenham sido pré–selecionados no processo regular e não tenham firmado o contrato de financiamento pelo Fies. Os prazos de inscrição vão até 2 dezembro e variam de acordo com a condição do estudante. Confira abaixo: >De 22 a 28 de agosto — Estudante não graduado, pré– selecionado no processo seletivo regular do Fies 2º/2016 e que não tenha firmado contrato de financiamento; >De 26 a 28 de agosto — Estudante graduado, pré– selecionado no processo seletivo regular do Fies 2º/2016 e que não tenha firmado o contrato de financiamento; >De 29 de agosto a 5 de setembro — Estudante não graduado e que ainda não está matriculado; >De 2 a 5 de setembro — Estudante graduado e que ainda não está matriculado; >De 29 de agosto a 2 de dezembro — Estudante não graduado e que já está matriculado; >De 2 de setembro a 2 de dezembro — Estudante graduado e que já está matriculado. Segundo o Ministério da Educação, a iniciativa de oferecer as vagas remanescentes é inédita e visa a preencher 28 mil vagas que não foram ocupadas no processo regular. A inscrição é gratuita e feita exclusivamente pela internet, na página do FiesSeleção. Em seguida, o estudante deve acessar o Sistema Informatizado do Fies e concluir sua inscrição em dois dias úteis subsequentes. Podem concorrer às vagas remanescentes os estudantes que tenham feito o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) a partir de 2010, com média geral mínima de 450 pontos e nota na redação que não seja zero. É necessário comprovar ainda renda familiar mensal bruta de até três salários mínimos. O Fies é o programa do Ministério da Educação que financia cursos superiores em instituições privadas com avaliação positiva no Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes). No total, nesta edição, foram ofertadas 75 mil vagas. O programa oferece financiamento a uma taxa efetiva de juros de 6,5% ao ano. O percentual do custeio é definido de acordo com o comprometimento da renda familiar mensal bruta per capita do estudante. Edição: Denise Griesinger 29/08/16 IDEIAS O ensino na universidade pública deve ser pago? Um projeto no Senado propõe a cobrança de mensalidades no ensino superior, em escolas estatais, para jovens ricos ou de classe média. É hora de discutir essa questão de forma realista Gabriela Varella Na última década, o diploma universitário deixou de ser privilégio dos mais ricos. Com programas como ProUni e Fies, nos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, alunos das classes C e D tiveram bolsas de estudo ou financiamento barato para ingressar em faculdades particulares. Mas com a crise econômica nos últimos anos do governo Dilma e a inadimplência de estudantes, as fontes de financiamento público ao ensino secaram. Mendonça Filho, ministro da Educação do governo interino de Michel Temer, afirma que o Fies, programa de crédito educativo, está à beira de um colapso. Em escolas públicas, o discurso é parecido. A Universidade de São Paulo, a melhor do país, estima encerrar o ano com déficit de R$ 625 milhões. Uma saída para aliviar a crise na Educação seria cobrar mensalidade nas universidades públicas, como ocorre em países da Europa e no Japão. Pelo menos de alunos ricos ou de classe média. O "fim da gratuidade do ensino superior" fez parte de rascunhos do programa de governo proposto pelo PMDB para a chapa Dilma/Temer, em 2010. O Senado discute o Projeto de Lei 782/2015, que propõe a cobrança de mensalidade de alunos com renda familiar superior a 30 salários mínimos — cerca de R$ 26.400 por domicílio. "A maior parte das vagas nas instituições públicas é ocupada por estudantes que poderiam pagar seus cursos nas universidades privadas", diz Marcelo Crivella (PRB-RJ), senador e candidato à prefeitura do Rio de Janeiro, autor do projeto. "Isso impede, indiretamente, que as vagas sejam oferecidas a estudantes carentes." Cobrar de alguns pelo ensino público é polêmico por entrar em conflito com o Artigo 206 da Constituição, que garante a gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais. "A proposta é inconstitucional", afirma o jurista Dalmo de Abreu Dallari. Além da questão legal, a cobrança de mensalidade de estudantes mais ricos teria dificuldades de implantação. A regra pode esbarrar na imprecisão de critérios para identificar quem deve ou não deve pagar. Um estudante que more sozinho é obrigado a considerar como sua a renda doméstica de seus pais? Fraudes na concessão de benefícios, observadas hoje nas cotas raciais, poderiam se tornar mais frequentes. A cobrança de mensalidade tornaria as faculdades públicas concorrentes das universidades privadas. Se for para pagar, o aluno pode preferir a particular. Líderes políticos jovens, Carina Vitral — presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) e candidata pelo PCdoB à prefeitura de Santos - e Joel Pinheiro - gestor de redes sociais do Partido Novo têm opiniões distintas sobre a gratuidade do ensino público. "Alunos de renda mais baixa pagam a mensalidade do ensino privado e ajudam a pagar, com seus impostos, o ensino público", diz Joel. "Além de promover injustiça social, o ensino público gratuito cria um desequilíbrio financeiro muito sério na administração pública." Carina discorda. "Graças às cotas, as universidades federais já têm 50% de estudantes de baixa renda, saídos de escolas públicas." Os dois discutiram a educação superior, entre outros temas, no evento Debates e Provocações, promovido por ÉPOCA em parceria com a universidade Faap. A seguir, seus principais argumentos contra e a favor da cobrança de mensalidade nas universidades públicas. Com Beatriz Morrone 29/08/16 IDEIAS SIM - Joel Pinheiro, é economista e gestor de redes sociais do Partido Novo O ensino gratuito aumenta a desigualdade social e mantém o desequilíbrio financeiro das universidades públicas Gabriela Varela ÉPOCA - Por que o senhor defende o pagamento de mensalidade em universidades públicas? Joel Pinheiro - As faculdades públicas têm estudantes com uma renda familiar muito mais alta do que os estudantes das faculdades particulares. Os alunos de renda mais baixa pagam a mensalidade do ensino privado e ajudam a pagar, com seus impostos, o ensino público. Além de promover injustiça social, o ensino público gratuito cria um desequilíbrio financeiro muito sério na administração pública. Instituições como a Universidade de São Paulo (USP) estão quebradas. ÉPOCA - Quanto o aluno da universidade pública deveria pagar? Pinheiro - O aluno poderia pagar, à universidade pública, a mesma mensalidade que ele pagava ao colégio privado em que estudou. Quem puder, deve pagar, mas quem não puder não perde a vaga. ÉPOCA - O que seria feito com esse dinheiro? ÉPOCA - Como promover a excelência no ensino público? Pinheiro - Esse apoio financeiro permitiria às universidades investir em projetos, como parcerias com empresas. As melhores universidades do mundo têm investimento privado. Está mais do que na hora de ter essa modernização do ensino. Pinheiro - Prefeituras como a de Sobral, no Ceará, implementaram mecanismos nas escolas públicas para medir resultados e premiar os mais bem-sucedidos. E virtuoso recompensar o planejamento prévio, a autonomia para diretores, a participação dos pais, além de replicar as experiências de sucesso. Não é com manifestações contra a Guerra do Iraque, como o movimento estudantil fazia e acredito que faz até hoje, que vamos resolver o problema. Nem com o fechamento de salas de aula como a principal medida. ÉPOCA - As universidades gratuitas são internacionalmente reconhecidas como as melhores do país. Buscar lucro pode comprometer o foco na pesquisa e no ensino? Pinheiro - Apesar de toda a virulência do movimento estudantil, o que nós vemos é a decadência da qualidade do ensino público. Perdemos pesquisadores para o resto do mundo. É o caso da (neurocientista) Suzana Herculano Houzel, que disse que há meritocracia zero na USP e que a burocracia impede a compra de material de pesquisa. Estamos perdendo cérebros, nosso capital humano. Você tem faculdades que, às vezes, em nome da militância estudantil, parecem mais preocupadas em fazer política social do que em buscar a excelência. ÉPOCA - Devemos fechar escolas? Pinheiro - Defendo que a escola tenha um número adequado para atender a população. Se a população de crianças diminuiu, é claro que o número de escolas tem de se adaptar. Temos de olhar para os resultados, para o que dá certo, para o que ensina melhor. Temos de usar os recursos de forma mais eficiente, tentar que cada real arrecadado pelo estado gere o máximo de impacto, nos lugares mais necessários. Hoje, o ensino superior gratuito não permite isso. 29/08/16 IDEIAS NÃO – Carina Vitral, é presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) e candidata à prefeitura de Santos pelo PCdoB Em vez de ensino público pago, devemos apoiar as cotas: graças a elas, os alunos pobres conseguiram acesso ao ensino superior gratuito Gabriela Varela ÉPOCA – Por que é contra a cobrança de mensalidade em universidades públicas? Carina Vitral - Defendo oportunidades iguais para todos. Durante a década de 1990, a geração da União Nacional dos Estudantes (UNE) tinha de protestar, na porta das universidades públicas, contra o risco de privatização. Fazíamos uma política claramente de oposição. As universidades privadas eram poucas. Não havia uma em cada esquina, como hoje. Hoje, somente 25% dos jovens estudam em universidades públicas e 75% estão nas privadas. ÉPOCA - Qual o problema de cobrar mensalidade das famílias mais ricas? Carina - A defesa do pagamento de mensalidade em universidades públicas só acontece em instituições que ainda não têm uma política de cotas, como a USP. Graças às cotas, as universidades federais já têm 50% de estudantes de baixa renda, saídos de escolas públicas. Portanto, acredito que é o caso de defender as cotas, em vez de ensino pago. ÉPOCA - Como o movimento estudantil busca democratizar o ensino? Carina - O governo Lula teve um papel fundamental para expandir o acesso ao ensino. Nós nos sentamos com o ministro da Educação, primeiro Tarso Genro e depois (Fernando) Haddad, para complementar a ampliação da universidade pública. Era importante ter bolsas em universidades privadas para quem não tem oportunidade de pagar. ÉPOCA - Como a senhora avalia o conceito de voucher educacional, bastante difundido no Chile e que influenciou o programa ProUni, do governo Lula? Carina - Em vez de fazer escolas públicas, o governo do Chile dá aos estudantes um voucher, para ele contratar uma escola privada. No Chile, os estudantes foram para as ruas exatamente para acabar com esse modelo e exigir a universidade pública. Não há gratuidade no ensino porque a Constituição é a mesma desde (o governo militar do ditador Augusto) Pinochet. Tanto que a esquerda de lá defende uma nova Constituição que estabeleça a universidade pública, gratuita, de qualidade. ÉPOCA - As frequentes paralisações das aulas não afastam os estudantes do movimento estudantil? Carina - Estudantes vão, no meio da greve, defender o direito de ter aula. Quando os estudantes secundaristas ocupavam escolas para defender o ensino público, uma causa justa, estudantes de direita, muitas vezes de fora da escola, apareciam com pedras e paus, em nome do "direito das outras pessoas de ter aula". Ora, será que isso é bom para o movimento estudantil? É claro que o movimento estudantil tem a pauta da educação no centro. O movimento estudantil foi tão sagaz que convenceu a sociedade brasileira de que a escola pública é importante. Querem fechar a escola pública para empurrar a classe média para a escola privada. Pasmem, mas a maior parte das faculdades e colégios particulares não tem tanta qualidade quanto as escolas públicas. Portanto, não é esse modelo que queremos construir para o país. 31/08/16 ECOMONIA & NEGÓCIOS De olho no social Governo lança linha de crédito para estimular usuários do Bolsa Família e do Minha Casa, Minha Vida a empreender FUTURO O Bolsa Família atende atualmente 56 milhões de pessoas. Metade deve se interessar pela nova medida por Raul Montenegro Desde os 12 anos, a carioca Rosana Batista Damasceno trabalhou numa fábrica de bolsas. Filha de mãe solteira, ela precisava ajudar nas finanças da casa, muito pobre. Depois de casada, continuou no aperto. Rosana e seu marido estavam com dificuldade de criar a nova família quando ela tomou uma decisão que mudaria sua vida para sempre. Abriu uma loja vendendo doces, salgados e refrigerantes num puxadinho erguido em frente à própria residência, no Morro da Providência, zona portuária do Rio de Janeiro (RJ). Hoje, 18 anos depois, o pequeno estabelecimento prosperou e ampliou o cardápio, servindo pratos mais elaborados, como a especialidade da casa: lasanha de jabá com massa de jerimum. Rosana ainda possui a vendinha, mas também alugou um bar no centro da cidade e complementa a renda com uma barraca de rua. “Tive muita dificuldade quando comecei”, diz a comerciante, hoje com 45 anos. “Como eu não tinha dinheiro para comprar freezer, precisei usar a geladeira de casa mesmo.” Um projeto que deve ser lançado em outubro poderá facilitar a vida de mais de 25 milhões de pequenos empreendedores que passam pelas dificuldades iguais às de Rosana. Trata-se de uma linha de crédito para beneficiários do Bolsa Família e do Minha Casa, Minha Vida, que o presidente Michel Temer quer ver lançado depois de sacramentado o impeachment de Dilma Rousseff e realizadas as eleições municipais. Com a medida, a nova administração pretende avançar num campo até então dominado pelas gestões petistas, que sempre acusaram os adversários de ignorarem os programas sociais. “Com certeza ia ser bem mais fácil crescer caso eu tivesse recebido um dinheiro no início”, afirma a comerciante. “Minha também filha quer abrir o negócio dela também, vou estimular.” calcula o governo. No caso do Minha Casa, Minha Vida, terão direito à linha de crédito somente os beneficiários que mantêm os pagamentos em dia na chamada faixa 1 (renda familiar de até R$ 1,8 mil por mês). Nessa categoria, já foram entregues residências para mais de 4 milhões desde 2009, quando o programa foi criado. O objetivo é que pessoas de baixa renda usem o dinheiro concedido via empréstimo para comprar os materiais necessários para abrir o próprio negócio. “É microcrédito para compra de equipamentos de trabalho”, diz o ministro do Desenvolvimento Social, Osmar Terra. “Não vai ser para comprar geladeira, mas sim equipamento de jardinagem, carrinho de pipoca, máquina de costura.” O programa, que inicialmente custará R$ 500 milhões aos cofres públicos, dará empréstimos de R$ 10 mil para beneficiários das duas principais vitrines do assistencialismo federal. O Bolsa Família atende atualmente 56 milhões de pessoas e metade deve se interessar pela nova medida, “O Bolsa Família não pode ser objetivo de vida de ninguém. A única maneira de criar portas de saída é estimulando a produtividade” Osmar Terra, ministro do Desenvolvimento Social Cursos de capacitação O objetivo do governo é que o 31/08/16 pacote de bondades sirva como porta de saída do Bolsa Família, possibilitando a emancipação dos beneficiários do programa. Por outro lado, deve fornecer lastro político para obter apoio dos mais pobres depois das medidas de ajuste fiscal, previstas para breve. O projeto estimulará prefeituras a alcançar metas de emprego e renda através de prêmios em dinheiro. Inicialmente, estes estão avaliados entre R$ 100 mil e 3 milhões, dependendo dos resultados obtidos e do tamanho da cidade. Por conta disso, o lançamento prático do plano está previsto para depois de outubro, visando pegar os eleitos nos pleitos municipais. A capacitação dos novos empreendedores nas linhas de crédito, tanto do Bolsa Família quanto do Minha Casa, Minha Vida, será feita por agentes locais do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) em 3.197 cidades. “Daremos cursos de habilidades”, afirma Guilherme Afif Domingos, presidente do Sebrae. “Como, por exemplo, cursos de chaveiro e eletricista.” O maior medo do governo é que os beneficiários rejeitem o programa com medo de perder o Bolsa Família. Para evitar esse efeito colateral, estuda manter o repasse por um ou dois anos, garantindo a volta automática do recurso em caso de falência ou demissão. “Hoje não há estímulo para deixar o Bolsa Família, o programa não pode ser objetivo de vida de ninguém”, diz o ministro Osmar Terra. “A única maneira de criar portas de saída é estimulando a produtividade.” Para analistas do mercado, no entanto, o projeto poderia vir acompanhado de outras medidas que reformulassem o deficitário sistema de crédito brasileiro. Um relatório divulgado pelo Banco Central na quinta-feira 25 mostrou, por exemplo, que o crédito total do sistema financeiro está caindo, puxado principalmente pelo declínio do crédito a pessoas jurídicas, ou seja, das empresas. “As altas taxas geram muita inadimplência”, afirma Roberto Troster, ex-economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e da Universidade de São Paulo (USP). “Infelizmente, o buraco é mais embaixo.” Foto: Guga Matos/ JC Imagem O GLOBO 28/08/16 O PAÍS Novas concessões à vista Ao assumir em definitivo, Temer repassará à iniciativa privada controle de hospitais, creches e presídios -BRASÍLIA- Assim que for encerrado o capítulo do impeachment, o presidente interino, Michel Temer, terá de tomar medidas para acabar com a sensação de governo provisório e dar continuidade à construção de estabilidade e credibilidade para os próximos dois anos. Para dar a feição que seu governo quer ter, além dos já anunciados teto para gastos públicos e reforma da Previdência, Temer terá mais uma prioridade: a abertura para o capital privado em todos os setores possíveis, fugindo do formato tradicional de fazer concessões apenas na área de infraestrutura. Entre as medidas que devem ser anunciadas após a viagem que Temer fará à China, para a reunião do G20, estão um programa de concessões em parceria com os estados, voltado para áreas essenciais como hospitais, creches, presídios e saneamento. O modelo já é adotado por estados como Goiás e municípios como Belo Horizonte para instituições de ensino. — Vamos acabar com o conteúdo nacional exacerbado, que só traz superfaturamento. Só vamos manter aquilo em que formos competitivos. Ao invés de generalizado, será setorizado. Temos que mudar a visão do investimento público, ampliando ao máximo as concessões. Faremos PPPs (parcerias público-privadas) para esgoto, penitenciárias, hospitais e creches, comprando vagas para as crianças. É mais racional do ponto de vista do gasto público — disse um auxiliar de Temer envolvido nos programas. Sem dinheiro para investir e com os orçamentos comprometidos com despesas de pessoal e custeio, os estados receberão uma garantia da União, por meio de seus ativos, para fechar os contratos. O governo estuda usar os Fundos de Participação dos Estados e Municípios como uma segunda garantia para as PPPs darem certo. O governo decidiu que não fará grandes pacotes de medidas. Prefere ir anunciando aos poucos as novidades. Para evitar a acusações de que está neglicenciando a área social, que esteve no centro das gestões petistas, Temer instituirá um prêmio para prefeitos com melhor desempenho em projetos no setor. Em 14 de setembro, Temer lançará um programa voltado às quatro milhões de crianças de 0 a 4 anos do Bolsa Família. Elas passarão a ter acompanhamento multidisciplinar semanal nos primeiros mil dias de vida, e quinzenal a partir desta idade. 600 MIL FAMÍLIAS DESCREDENCIADAS Paralelamente, o Ministério do Desenvolvimento Social fará um pente-fino no cadastro do Bolsa Família. No último mês, 600 mil famílias foram descredenciadas por não mais atender aos requisitos do programa. Ao todo, 14 milhões de famílias integram o cadastro do programa. Depois das eleições, Temer lançará, em parceria com as prefeituras, um programa de inclusão produtiva dos beneficiários do programa, como estímulo para deixar de receber o Bolsa Família. Os beneficiários terão linhas de crédito subsidiadas para comprar material de trabalho, como máquinas de costura, de jardinagem e mecânica, entre outros. Os prefeitos que mais incluírem esta mão de obra receberão anualmente um prêmio em dinheiro para projetos em sua cidade. O governo dará um a dois anos de carência para o beneficiário manter o dinheiro do programa, somado a seus rendimentos do emprego. — O Bolsa-Família é uma das maiores causas da informalidade. A pessoa não quer perder o benefício, então deixa de assinar a carteira de trabalho. Vamos garantir os dois rendimentos e manter o número dos cartões. Caso a pessoa perca o emprego, ela retorna para o programa. É uma segurança e um estímulo — disse o ministro do Desenvolvimento Social, Osmar Terra. O GLOBO 28/08/16 O PAÍS ENTREVISTA / Moreira Franco No pós-impeachment, ‘Temer será presidente muito mais firme’ Um dos auxiliares mais próximos de Temer, Moreira Franco diz que o pós-impeachment será um período “eletrizante” e de intenso debate para aprovar reformas. Ele assegura que Temer não recuará da agenda econômica e admite que foi um erro apoiar reajustes do funcionalismo, porque a sociedade não gostou. O governo vai ceder a pressões no Congresso na PEC do teto para os gastos públicos? É da essência da vida democrática você negociar. Temos que praticar isso. O Executivo tem que conversar com o Congresso. Cada um vai ter que assumir suas responsabilidades. A proposta está lá, e o governo acha que tem que ser aquilo. Agora, vamos conversar, e isso não significa você abrir mão da possibilidade de resolver o problema econômico. As autoridades da equipe econômica sabem o limite (até onde ceder) porque isso é uma questão aritmética. Não é uma questão ideológica. A equipe econômica pode criar alguma exceção nas áreas de Saúde e Educação? Temos que ter cautela, prudência, a firmeza de trabalhar com o fato. Dr. Ulysses (Guimarães, expresidente da Câmara dos Deputados) disse que, na política, o fato era tão importante que devia ser tratado de Excelência. Na economia, o fato é muito mais importante do que na política porque é ele que determina rumos e circunstâncias e as alternativas. A solução proposta pela Fazenda é uma solução extremamente criativa. Com medidas complementares, ela vai nos abrir a possibilidade de buscar o equilíbrio fiscal sem açodamento, construindo o encontro da receita com a despesa. que contribuiu para a disparada da inflação nos anos 80). Isso mexeu com todo o sistema de controle da receita do gasto. Na época, certamente as inquietações e dúvidas existiram. Com a proposta do teto, estamos começando a percorrer uma trilha para termos um Orçamento que não seja ficção. Se tivermos determinação e coragem para enfrentar todas essas inquietações, estaremos vivendo um momento tão importante quanto aquele. Como convencer o Legislativo a aprovar uma medida que limitará despesas, inclusive sociais? Há margem de manobra na PEC para negociação com o Congresso? A PEC vai dar ao Congresso Nacional um papel que ele nunca teve e para o qual ele vai ter que se preparar, que é a elaboração de um Orçamento totalmente impositivo. Ele vai ter que fazer escolhas. Isso exige não só conhecimento, mas sobretudo responsabilidade econômica e social. O Congresso está pronto para isso? Acho. A maior mudança que se fez na economia brasileira nos últimos anos foi através de um projeto de lei que acabou com a conta movimento (mecanismo pelo qual o Banco do Brasil podia na prática emitir moeda, O professor Mário Henrique Simonsen (ex-ministro da Fazenda) dizia que economia é confiança, 80% da solução de um problema econômico são consequência da confiança. Esse é o maior problema. Não se constrói uma economia de confiabilidade com base na mentira, na fraude, na enganação. O que se quer é exatamente acabar com essa prática no trato da elaboração e execução orçamentária. Já somos uma sociedade madura. Não dá mais para ficar nas futricas do Salão Verde da Câmara. Chegou a hora de cada um assumir sua responsabilidade. Se não encontrarmos o equilíbrio fiscal, não há solução. 28/08/16 O governo Temer tem pouco tempo para fazer reformas. Vocês podem garantir que o presidente Temer não vai recuar. Haverá negociação, busca para um compartilhamento da responsabilidade. Diante da crise, ele tem consciência de que o papel dele como presidente é deixar o país em um novo rumo econômico. O horizonte eleitoral não passa no vídeo do presidente Temer e nem deveria. As medidas que têm que ser tomadas serão tomadas e serão tomadas antes das eleições, seja neste ano, seja em 2018. aumentos para o funcionalismo. A frase é do próprio presidente Temer: "Não temos compromisso com o erro". Quando uma decisão for considerada equivocada, ele assume, como já assumiu. Ele não tem medo disso. A cultura da política brasileira tem horror da desculpa. As pessoas acham que pedir desculpa é fraqueza. E nós achamos que, na democracia, pedir desculpa é uma demonstração de coragem força e integridade. Então o governo errou nessa estratégia e agora está contra os reajustes no Senado? Dois anos são suficientes? Dois anos é tempo suficiente para você definir e lastrear o rumo a ser seguido. Há coisas que precisam ser aprovadas, como o teto, e ao mesmo tempo é preciso aprovar um sistema previdenciário que seja viável. O Rio e outros estados já enfrentam dificuldades para pagar aposentados. Também não podemos nos negar a ter uma legislação trabalhista que preserve o emprego, o negociado sobre o legislado. O senhor falou do ajuste fiscal, mas o governo apoiou Errou, e mudamos rápido. As pessoas não estão gostando (dos reajustes). Algumas carreiras do setor público precisam ser revistas. Na sociedade, as relações econômicas e financeiras foram desindexadas, a partir da consciência criada pela experiência traumática da hiperinflação. Mas, no setor público, elas continuam indexadas. Isso é uma injustiça profunda com o cidadão, com a sociedade brasileira. O que muda no governo com o desfecho do impeachment da presidente afastada? Temer terá mais autoridade. Passa a ser presidente da República, e não interino. Como presidente, ele vai ser muito mais firme na busca, no empenho, na determinação para aprovar as medidas que nos levem o mais rápido possível ao equilíbrio fiscal. Não é uma tarefa fácil e nem elétrica, mas é eletrizante porque vamos ter um debate político muito intenso. Haverá ministerial? uma reforma O presidente está muito satisfeito com o rumo da prosa. Acabou essa coisa de fazer mudanças em função de apoio parlamentar porque há legitimidade nas propostas que estão sendo feitas. Elas versam sobre a crise econômica (...). A questão é econômica. Não é um jogo político. Mas já se observa um fogo amigo, especialmente em relação ao ministro Meirelles. Isso é fruto desse ambiente de intriga e futrica de corredor, muito babado. Isso não pode ser levado em consideração. O GLOBO 28/08/16 SOCIEDADE Vítimas da exclusão nas escolas Páginas em branco em um caderno talvez lembrem a alegria de um novo começo em algum canto por aí. Mas, no caso de Aline Alves, as pautas limpas no material escolar de Yasmin, de 6 anos, minaram dia após dia a esperança de ver a filha autista desenvolver sua capacidade de aprendizado. A ausência das primeiras lições nas folhas de Miguel, de 7 anos, diagnosticado com síndrome de Asperger, também foi o estalar de dedos que despertou a mãe Ana Kelly Oliveira para uma realidade triste: a falta de inclusão das crianças com algum tipo de deficiência nas escolas do país. — Não tem nada no livro, no caderno, do jeito que vai volta dentro da bolsa. Nem no lápis ela pega. Pode ser que não consiga? Sim. Mas se ela não for estimulada, não conseguirá mesmo. Eu vejo que ela tem condições de aprender. É muita tristeza, me sinto incapaz — conta Aline enquanto seca algumas lágrimas. O isolamento de Yasmin na classe da Escola Municipal Professor Firmo Costa, em Bangu, compõe um drama que piora a cada palavra narrada pela mãe. Aline deixou de trabalhar fora para se dedicar aos cuidados da filha, que não fala. E mesmo quando Yasmin está na escola, a mãe precisa ficar alerta. — Se ela fizer alguma necessidade na fralda, eles me ligam para ir lá trocar. Se eu não for, ela fica molhada. Eu fico pensando: será que isso é normal? Esses dias estava no banco e fui às pressas de mototáxi para trocá-la, quando cheguei ela estava toda encharcada sentada na carteira. Nem a fralda tiraram — conta Aline. LEGISLAÇÃO DESCUMPRIDA Casos como o de Yasmin se multiplicam pelo país. A inclusão feita aos trancos e barrancos resulta em um índice irrisório de alunos com deficiência nas salas de aula. Uma pesquisa inédita feita pelo Instituto Unibanco, com dados do Censo Escolar 2015, revelou que no primeiro segmento do ensino fundamental os estudantes com necessidades especiais correspondem a apenas 2,9% dos alunos, e o índice cai para 1,8% no segundo segmento da mesma etapa. A evasão desses estudantes ao longo da trajetória estudantil faz com que, quando cheguem no ensino médio, correspondam a apenas 0,8% das cerca de oito milhões de matrículas desta etapa. — Não é um problema dos alunos não quererem continuar na escola, é um problema de só algumas escolas conseguirem acolher. O Brasil tem uma agenda explícita de escola inclusiva, mas o esforço e o resultado estão muito aquém do que necessitamos. Avançamos no campo regulatório e falhamos no ponto de vista de tornar essa inclusão efetiva — comenta Ricardo Henriques, superintendente executivo do Instituto Unibanco. Em janeiro deste ano, entrou em vigor em todo país a Lei Brasileira de Inclusão (LBI), que, entre diversos direitos, assegura a oferta de sistema educacional inclusivo e fornecimento de profissionais de apoio para esses alunos. No município do Rio, as barreiras 28/08/16 frequentes no caminho dessas famílias chamaram a atenção do Ministério Público (MP). Para fazer valer, além da LBI, uma lei municipal de 2013 que criou o cargo de agente de apoio à educação especial e instituiu três mil vagas para a função em toda a rede municipal de educação, o MP moveu uma ação civil pública contra a prefeitura exigindo o preenchimento das 150 vagas de agente disponibilizadas em concurso público realizado em 2014. Nos termos da lei, os agentes de apoio ocupariam as salas de aula para auxiliar nas atividades aplicadas pelo professor, além de estimular o desenvolvimento dos alunos, cuidar da higiene e da alimentação dos estudantes. Tentar uma vaga de agente de apoio foi justamente a saída encontrada por Ana Kelly Oliveira para ocupar um dos hiatos presentes na educação de crianças como seu filho Miguel, diagnosticado com síndrome de Asperger. A conta era simples: além de conseguir um trabalho, ela poderia ter a sorte de ser alocada em uma escola onde seu filho também estudasse. Ana foi aprovada na seleção, mas sua colocação na prova não permitiu que ela fosse chamada. — Eu queria ser a mediadora dele, ou trabalhar na mesma escola que ele estudasse. Esse ano as coisas melhoraram, porque a professora dele já tinha experiência. Quando o ambiente é propício e acolhedor para a criança, ela começa a fluir. Só que tem que ter uma professora assim. Esse ano eu dei sorte, mas e no próximo? — questiona. — Por isso é importante a figura do agente de apoio, que está ali para fazer esse trabalho. "ELE NÃO TEM NENHUM ATAQUE, NÉ?" Depois de peregrinar por escolas (públicas e particulares) em busca de ensino adequado para o filho, Ana Kelly chegou à conclusão de que a educação no Brasil está longe de ser inclusiva. — Ele tem ótimas notas, o problema é a interação social. A professora achava que o Miguel tinha que ficar sentado as quatro horas que nem as outras crianças. Mas ele tem os momentos dele. Eu o transferi da escola particular e o coloquei na municipal, onde havia educação especial. Quando matriculei, a professora me perguntou: "Ele não tem nenhum ataque né?" Se até em uma escola com educação especial tem uma professora que não sabe o mínimo, imagina nas outras. Ele voltava com o caderno em branco da escola. A maioria das mães da educação especial é muito sofrida e calejada — opina Ana. Embora a Prefeitura do Rio tenha atendido à determinação do MP e preenchido as 150 vagas do concurso, o órgão abriu novo inquérito civil público para apurar a falta desses agentes nas escolas. De acordo com o MP, o procedimento foi instaurado porque "ainda há uma grande demanda por mediadores" A afirmação se confirma quando confrontada com alguns dados entregues ao MP pela administração municipal. Segundo a prefeitura, para atender aos 13 mil alunos que têm algum tipo de deficiência, havia, até o início do mês, 85 agentes em atividade (os demais ainda em processo de nomeação) e cerca de 700 estagiários (em 2015 eram 2.042). Mesmo em número maior que os agentes, os estagiários não são capazes de suprir a demanda. Nas salas de Yasmin e Miguel, por exemplo, não há estagiários para auxiliar os professores. Já Ana Beatriz, de 7 anos, que tem paralisia cerebral, conta com uma estagiária em sala. Mas sua mãe, Simone Barbosa, precisa se revezar com ela porque o turno de aula é maior que o de estágio. — Falam desse negócio de inclusão, mas eles não estão incluindo nada. Sempre estou na escola à disposição para ajudar. Chego às 7h30m e fico até 8h para esperar a estagiária chegar, depois volto às 11h para rendê-la — critica Simone. — A professora não inclui minha filha, não chega nem perto. A paralisia cerebral afetou somente a parte motora, então ela entende tudo, só precisa de mais explicação. É muito triste. É como se ela estivesse ali morta. A falta de acesso não fica só no conteúdo. Estudando no terceiro andar de uma escola sem rampas, Ana Beatriz precisa ser carregada pela mãe até a sala de aula. O mesmo acontece quando a menina quer ir ao banheiro, inadequado a deficientes. 28/08/16 De acordo com a prefeitura, os alunos da educação especial recebem o atendimento educacional especializado (AEE), realizado nas salas de recursos multifuncionais. O serviço "tem a função de identificar e elaborar recursos de acessibilidade desses estudantes, eliminando barreiras e favorecendo o processo de inclusão"! Segundo a Secretaria de Educação, todos os professores do AEE recebem formação continuada. Embora todos os alunos citados na matéria recebam atendimento da sala de recursos, em geral, uma vez por semana, profissionais da área indicam que a falta de um serviço diário pode acabar anulando esse trabalho. — Faz muita falta a inclusão diária. A sala de recursos é melhor que nada, mas no dia a dia a criança tem necessidade de ter uma escola que a estimule, caso contrário é um trabalho perdido. Quando a criança vê que o amiguinho está fazendo uma atividade e ela não, se sente excluída, isso é muito prejudicial — explica a fonoaudióloga Danielle Damasceno, que trabalha com inclusão de crianças com deficiência. O GLOBO 28/08/16 SOCIEDADE Entrevista / Michel Maffesoli ‘Novas gerações rejeitam antigo poder educacional’ Um tempo em que a emoção se torna mais importante do que a economia. Esta é a marca da pósmodernidade, definida pelo sociólogo francês Michel Maffesoli no livro "Homo eroticus" (Forense Universitária, 2014). E a educação acompanha essa mudança. É sobre a nova relação entre professor e aluno que o pensador falará no encontro Educação 360. Realizado pelos jornais O GLOBO e "Extra" em parceria com o Sesc e a Prefeitura do Rio e com apoio da TV Globo e do Canal Futura, o evento acontecerá nos dias 23 e 24 de setembro, na Escola Sesc de Ensino Médio, em Jacarepaguá. Nesta entrevista, Maffesoli explica que a mudança de paradigma da sociedade, antes calcada na racionalidade e hoje baseada nas emoções humanas, impõe a necessidade de reformulação da escola. • Quem é o "homo eroticus"? A assim chamada modernidade, ou os tempos modernos, que começa no século XVII e termina em meados do século XX, foi dominada por uma concepção estritamente racionalista, científica, o que deu prevalência à economia e assegurou o triunfo do chamado "homo economicus". Considero que aquela época está chegando ao fim e que entramos no que se pode chamar de pós-modernidade. A figura emblemática do que está em formação é o "homo eroticus"! Tratase do retorno das emoções, do desejo em vez da necessidade, de se preocupar com a qualidade de vida individual e social. Obviamente, essa mudança de paradigma terá consequências na educação, como em todas as instituições sociais. • Você já disse que a escola acabou. O que vai substituí-la? A essência da educação moderna — segundo sua etimologia,"educare" quer dizer conduzir para fora, trazer à tona — trata-se de levar a criança da barbárie à civilidade, da animalidade à humanidade. O livro de Jean-Jacques Rousseau ("Emile") é o protótipo desta filosofia educacional. E é sobre ele que a instituição escola tem se apoiado ao longo da modernidade. Mas o momento desta filosofia passou, devido ao desenvolvimento tecnológico. Internet e Wikipedia, redes sociais e fóruns de discussão, blogs, Twitter etc., tudo isso nos obriga a uma outra concepção da socialização da criança, não com base em uma imposição vertical, mas sobre um suporte horizontal. • Para pensar no que substituirá a escola, olhamos para o passado ou para o futuro? O que substituirá a escola vertical é o estabelecimento de um sistema baseado em pequenos grupos. Já havia falado sobre o "Tempo das tribos", tribos baseadas no intercâmbio, no processo geral de participação. Essa perspectiva de troca que acontece na internet já ocorreu no passado. E, ao mesmo tempo, é algo que vai constituir o futuro. É um "enraizamento dinâmico", isto é, nos apoiarmos em fatos passados para pensar uma socialização focada no futuro. Lembro minha definição da pósmodernidade: "sinergia do antigo com o desenvolvimento tecnológico". Ou seja, internet e as tribos. • O senhor afirma que o sistema educacional está apodrecido e propõe o conceito de "iniciação" tema de sua palestra no Educação 360. A iniciação é o novo modelo de ensinar? Na verdade, a socialização das novas gerações é o problema geral de qualquer espécie animal. Como integrar a energia jovem sem castrála? A educação como mencionei é uma dessas formas de socialização, aquela que dominou a modernidade. A iniciação poderia ser uma forma alternativa, que se via nas sociedades primitivas e que está renascendo atualmente. É neste sentido que eu desenvolvi a ideia de tribos urbanas como um modelo alternativo às instituições sociais construídas ao longo do século XIX. 28/08/16 • Na iniciação, quais são os papeis do professor e do aluno? Na iniciação, há um processo de interação entre o professor e o aluno. Talvez devêssemos dizer entre professor e alunos, porque, na verdade, o que está em jogo é o retorno do ideal da comunidade. Proponho a seguinte distinção: no modelo educacional, o professor tinha um poder que se impunha de cima; ele deve ter uma autoridade, e isso, no seu sentido etimológico (autoritas), é aquele que faz crescer. As novas gerações, pelo menos o que se observa na Europa, rejeitam esse antigo poder educacional e têm um verdadeiro apetite por autoridade iniciática. • Por que, em sua opinião, o Brasil é um laboratório da pósmodernidade? A Europa foi o laboratório de modernidade por causa de características essenciais que constituíram essa época: o individualismo, o racionalismo, o liberalismo. Parece-me que o Brasil é, ao contrário, o laboratório da pós- modernidade, enfatizando a importância da comunidade, o papel dos afetos e emoções, o foco no presente. Podemos falar, no que diz respeito à pós-modernidade e ao Brasil, em filosofia progressista, aquilo que chamei de enraizamento dinâmico. Ou seja, estar atento a estas raízes antropológicas que dão força inegável em direção ao futuro. O Brasil nunca garantiu uma educação de qualidade para todas as suas crianças. Nosso desafio na iniciação é maior do que o de países com sistemas educacionais estruturados? Temos que admitir que, em geral, as instituições sociais, depois de terem funcionado muito bem, podem se saturar. E isso de forma mundial. As fronteiras nunca conseguem parar grandes mudanças sociais, especialmente hoje, tendo em conta o desenvolvimento tecnológico e o processo de contágio epidêmico que esta tecnologia provoca. Acredito que todas as instituições de ensino, em qualquer país, vão ser atingidas pelo desejo de iniciação que vem de baixo, isto é, de gerações mais jovens. FOLHA DE SÃO PAULO 28/08/16 MERCADO 'Empreendedorismo por necessidade' freia inovação A recessão contribuiu para um boom na criação de empresas muito pequenas por parte de trabalhadores que perderam seus empregos. Essa tendência tem evitado o aumento do emprego informal. Mas o fato de a maioria dos novos empreendimentos se concentrar em atividades pouco sofisticadas pode prejudicar a eficiência da economia brasileira no futuro. A fatia da população ocupada que trabalha por conta própria aumentou de 22,9% entre abril e junho de 2014 –quando a atual recessão teve início– para 25,2% no segundo trimestre deste ano, segundo dados do IBGE. No mesmo período, o percentual da população ocupada atuando sem carteira assinada ficou praticamente estável, em torno de 11%. Isso tem ocorrido porque milhares de profissionais que perderam seus empregos decidiram montar um negócio próprio, em uma tendência chamada "empreendedorismo por necessidade". O incentivo para esse processo vem de uma legislação aprovada em 2009 que estabeleceu a figura do microempreendedor individual. "Muitos profissionais que viram microempreendedores já têm um plano de negócios na cabeça. A legislação evita que eles desenvolvam isso na informalidade", afirma Guilherme Afif Domingos, presidente do Sebrae. A categoria dos MEIs engloba empresas com, no máximo, um empregado –que receba o piso da categoria ou um salário mínimo– e R$ 60 mil de faturamento anual. Os empreendimentos que se enquadram nessas características pagam R$ 50 de encargos ao mês (entre contribuição previdenciária e tributos). Segundo dados exclusivos da Serasa Experian, oito em cada dez do pouco mais de 1 milhão de empresas que surgiram no país no primeiro semestre de 2016 são MEIs. Entre os 20 ramos de atividade que concentram 80% dos novos negócios, 16 são de baixo valor agregado, termo usado para designar setores que contribuem pouco para o aumento da inovação e da eficiência da economia. É o caso de segmentos como serviços de alimentação e de embelezamento pessoal. "A vasta maioria dos novos negócios se concentra em ramos com produtividade muito baixa", afirma Luiz Rabi, economista da Serasa. Esse é o lado negativo da 28/08/16 tendência de expansão desses empreendimentos. Um dos problemas graves que a economia brasileira já enfrentava antes do início da recessão era a expansão lenta de sua eficiência, ou seja, da capacidade de produzir mais com menos recursos. A crise agravou isso. Serviços pouco sofisticados, com baixo uso de tecnologia e potencial de inovação, dificilmente contribuirão para reverter esse processo e podem, ao contrário, agravá-lo. Segundo o economista Bernard Appy, para que isso não ocorra, é necessário criar incentivos a fim de que os pequenos empreendedores com maior potencial de inovação invistam para crescer. Esse ímpeto, ressalta ele, é freado porque há um salto grande nos custos para manter uma empresa no Brasil conforme seu faturamento cresce. "O risco é que esses novos MEIs não evoluam", diz ele, que é diretor do Centro de Cidadania Fiscal. A recessão também dificulta a expansão dos negócios e tem gerado o efeito contrário. De acordo com Afif, do Sebrae, há casos de microempresas virando MEIs. Isso ajuda a explicar o encolhimento na quantidade de empregadores no país, que caiu de 4,4% do total da população ocupada no terceiro trimestre de 2015 para 4,1% entre abril e junho deste ano. 28/08/16 FOLHA DE SÃO PAULO 28/08/16 MERCADO Incentivo fiscal é insuficiente para fomentar negócios, diz economista ÉRICA FRAGA DE SÃO PAULO Depois de 20 anos de carreira na área de auditoria de empresas, o executivo Leonardo Potengy, 42, foi demitido em outubro de 2014. Durante um ano, tentou, sem sucesso, conseguir outro trabalho e acabou empurrado para o "empreendedorismo por necessidade". "Comecei a fazer uma combinação de bolo com pudim que fez sucesso entre amigos e acabei transformando isso em negócio", conta ele, que montou a Flancake. Mas o empreendimento não tem gerado bom retorno. "O faturamento de maio foi a metade do de abril, que já tinha sido a metade do de março", afirma ele, que voltou a procurar emprego. A proliferação de microempreendedores em ramos muito parecidos é, segundo Potengy, um freio ao negócio. Outro problema, segundo ele, é a cultura limitada de empreendedorismo no país. "O ensino no Brasil prepara os alunos para serem bons funcionários, e não empreendedores. Se isso fosse diferente, talvez os pequenos negócios fossem mais produtivos." Para o economista Rudi Rocha, da UFRJ, incentivos tributários não são suficientes para estimular o empreendedorismo. Rocha fez uma pesquisa com dois outros economistas sobre os efeitos da legislação que criou os MEIs, analisando dados até 2012, antes do início da recessão. Eles concluíram que o programa teve algum efeito na atração de trabalhadores informais para a formalidade, mas não foi capaz de induzir o novo empreendedorismo. "O programa é positivo por facilitar a contribuição previdenciária. Mas, para fomentar o empreendedorismo, são necessárias outras políticas." Para especialistas, políticas educacionais específicas e incentivos à inovação são necessários para estimular empreendedorismo. FOLHA DE SÃO PAULO 28/08/16 COTIDIANO Temer suspende ação contra analfabetismo ANGELA PINHO DE SÃO PAULO Com uma das piores taxas de analfabetismo da América do Sul e sem cumprir compromissos internacionais na área, o Brasil interrompeu o programa federal que ensina jovens e adultos a ler e escrever. Ao todo, 13 milhões no país não sabem decifrar nem um bilhete simples, o equivalente a 8,3% da população com 15 anos ou mais. Esse contingente era alvo do Brasil Alfabetizado, executado por Estados e municípios com verba do governo federal. O Ministério da Educação afirma que o programa está em execução, mas prefeituras e governos estaduais relatam um bloqueio no sistema da pasta que impede o cadastro de alunos -o que inviabiliza o início de novas turmas. A interrupção do programa foi confirmada pelo ministério a uma cidadã que o questionou sobre o tema por meio da Lei de Acesso à Informação. "Até o momento não há previsão de reabertura do Sistema Brasil Alfabetizado para ativação de novas turmas", respondeu, em junho, a pasta chefiada pelo ministro Mendonça Filho (DEM). Atualmente, só os alunos cadastrados antes desse bloqueio do sistema estão frequentando as aulas. De acordo com o ministério, são 168 mil no atual ciclo, iniciado em outubro do ano passado. O número explicita o encolhimento do programa. Relatórios da pasta mostram que, até 2013 (dados mais recentes), eram ao menos 1 milhão de atendidos ao ano. a situação do Brasil Alfabetizado. Sete dos nove Estados da região responderam, e relataram, no mínimo, expressiva queda de atendimento desde o bloqueio do programa e, nos piores casos, o fim dos cursos de alfabetização. "Começamos a inserir os nomes dos alunos em maio, mas, no início de junho, o MEC avisou que o sistema tinha sido fechado", diz Tereza Neuma, diretora de políticas de Educação de Alagoas. Alagoas tem a maior taxa de analfabetismo do país "As aulas começariam em setembro, mas suspendemos o processo após o bloqueio, em junho", afirma Janyze Feitosa, gestora local do programa em Pernambuco. NORDESTE A Folha indagou a todos os governos do Nordeste, onde estão 54% dos analfabetos do país, sobre "Em 2016, devido à suspensão do Programa Brasil Alfabetizado pelo MEC, as atividades letivas ainda não tiveram inicio", disse a 28/08/16 secretaria de Educação do Ceará. Os governos de Piauí, Rio Grande do Norte e Bahia também relataram redução e descontinuidades dessa ação. Criado em 2003, o programa é elogiado pela dimensão e capilaridade, mas é criticado por seu índice de eficácia. Documento deste ano feito por um grupo que incluiu o Ministério da Educação aponta uma taxa de alfabetização de 47% a 56% dos alunos. "É uma política grande, mas demonstrou dificuldade de fazer com que o aluno voltasse a estudar", diz Roberto Catelli, um dos autores do texto e coordenador de Educação de Jovens e Adultos da ONG Ação Educativa. A pouca integração com a EJA (antigo supletivo) é uma das explicações para resultados negativos do programa, ao lado da baixa qualificação de educadores. O sistema de gestão também chegou a ter uma interrupção pontual em janeiro. Os problemas deixam o Brasil ainda mais atrasado no compromisso assumido em conferência mundial, em 2000, de chegar a 2015 com uma taxa de analfabetismo de 6,7%. No atual ritmo, só chegara à meta em 2022. FOLHA DE SÃO PAULO 28/08/16 COTIDIANO Alagoas tem dila de analfabetos fora de programa suspenso WAGNER MELO COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM MACEIÓ Todos os dias, os servidores alojados em uma sala de um prédio anexo à Secretaria Municipal de Educação de Maceió dão a mesma resposta: o Programa Brasil Alfabetizado está suspenso na capital alagoana por tempo indeterminado e não estão sendo feitas novas matrículas. "Muita gente ainda nos procura. Uns para saber se há vagas, outros para saber quando vai voltar", conta a coordenadora local do programa, Maria de Lourdes Nunes. A paralisação é nacional, pois a gestão Temer suspendeu o programa que combate o analfabetismo. O Estado tem a maior taxa de analfabetismo do país. De cada 100 pessoas com 15 anos ou mais de idade, 22 não sabem ler e escrever. Na capital Maceió, 66 mil estão nessa situação, aponta pesquisa realizada pelo International Policy Center for Inclusive Growth, em parceria com o PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) e a Secretaria Municipal de Educação. Isso representava 8,3% da população jovem e adulta. O Estado também tem turmas do programa, mas só irá iniciar no mês que vem as aulas previstas para julho, com número de alunos bem menor do que o esperado. A meta era de 17 mil, mas só 2.000 serão atendidos. "O atraso é ruim porque desestimula. Quanto maior o tempo entre a inscrição e o curso, maior a probabilidade de o aluno desistir", diz Tereza Neuma, supervisora de programas da Secretaria Estadual de Educação. estudar, era muito ruim. Mas, graças a Deus, a minha sobrinha me ajudava com as lições de casa deles", conta. Hoje, a dificuldade se repete com os estudos da neta de quatro anos. A nora assume a função que a avó gostaria de desempenhar. Tota teve negado o direito à alfabetização. Aos 5 anos, perdeu a mãe e, aos 10, o pai. Foi morar com uma tia, que não queria que ela estudasse para dar conta dos afazeres domésticos. "Às vezes, ia escondida para a aula e, quando voltava, levava uma surra de pôr sal nas costas." RESIGNAÇÃO A dificuldade de manter adultos em cursos de alfabetização é citada por diversos gestores públicos e especialistas na área. Muitos desistem ou nem procuram as aulas. Esse segundo caso é o da diarista Maria Cícera dos Santos Silva, moradora de Maceió. Aos 53 anos, "Tota", como é conhecida, escreve apenas o próprio nome. "Minha filha escrevia num papel, e fui copiando até aprender". Casada, com três filhos e o mesmo número de netos, a diarista diz se ressentir de não ter participado da educação formal dos filhos. "Quando eles começaram a Familiares a ajudam com tarefas do dia a dia, como seguir uma receita médica. Para outras, como pegar o transporte para ir trabalhar, ela improvisa. "Não erro, já decorei a cor dos ônibus", diz. O desejo de estudar perdeu-se com os anos. "O tempo vai passando, a gente casa, tem filhos...", diz ela. A resignação é uma característica comum entre adultos como ela, que não tiveram acesso à educação formal, diz Rita de Cássia Lima Alves, da Comissão Nacional de Alfabetização e Educação de Jovens e Adultos. "São pessoas que lutam pela educação dos seus filhos, mas não pela própria." FOLHA DE SÃO PAULO 28/08/16 COTIDIANO ANÁLISE Proposta para sociologia tem metas objetivas e pouco jargão ROGÉRIO ORTEGA COLABORAÇÃO PARA A FOLHA Os trechos dedicados à sociologia no projeto da BNCC (Base Nacional Comum Curricular), divulgado pelo governo federal em maio, exibem de saída duas virtudes: objetividade na definição das metas para a disciplina no ensino médio brasileiro e uso restrito do "academês", o jargão tão presente em capítulos do documento como os dedicados ao ensino de arte. Desde a sanção da lei 11.684, de 2008, que alterou a Lei de Diretrizes e Bases de 1996, sociologia e filosofia são disciplinas obrigatórias em todas as séries do ensino médio no país. Talvez seja o caso de perguntar por que o mesmo tratamento não é dispensado, por exemplo, à economia -tão capaz de, passe o clichê, "estimular o pensamento crítico" quanto as outras. do projeto da BNCC, na página 164. Seja como for, já que a sociologia faz parte do currículo, é bom que o documento do governo diga claramente do que trata a matéria e o que se espera que os alunos da 1ª à 3ª série do antigo segundo grau aprendam -em uma linguagem que os professores de todo o país possam compreender. A disciplina, prossegue o documento, "responde a duas ordens distintas de missão no ensino médio: de um lado, a de compartilhar teorias e conceitos consagrados pelas comunidades científicas dessas três tradições e, de outro, a de contribuir para estimular os estudantes a desenvolverem valores e atitudes compatíveis com a democracia, ao ensiná-los a estranhar e a desnaturalizar o senso comum". O projeto da BNCC se desincumbe bem dessa tarefa desde os parágrafos iniciais (embora, aqui e ali, não escape de termos à beira do lugar-comum, como "problematizar"). "A presença da sociologia no ensino médio corresponde ao ensino compartilhado das tradições que compõem as ciências sociais, isto é, antropologia, ciência política e sociologia", diz o texto Mais adiante, o texto insiste na valorização do potencial da sociologia para "funcionar como ponte entre a vida escolar e a vida fora da escola e a sua condição de ciência voltada para a reflexão da vida em coletividade" (pág. 165). Pede que se considerem os conhecimentos que os estudantes 28/08/16 trazem do ensino fundamental, em matérias como história e geografia, e define sete tipos de competência que eles devem dominar ao final do curso -entre elas, "localizar indivíduos e grupos na estrutura social" e "formular perguntas sociológicas capazes de orientar a realização de pesquisas sobre aspectos da realidade brasileira e mundial" (pág. 634). Por fim, os objetivos do curso estão organizados em três unidades curriculares, para permitir, segundo a BNCC, "uma progressão dos conhecimentos em sociologia que vá do mais simples ao mais complexo, do concreto ao abstrato" -o que parece não só correto como natural (além de contrastar com a "ordem cronológica inversa" que o documento propõe no ensino de literatura, com autores contemporâneos no começo do ensino médio e seiscentistas no final). À semelhança do que ocorre com outras matérias, a BNCC não obriga à leitura de nenhum autor específico -nem mesmo "pais" da sociologia como disciplina acadêmica independente, como o francês Émile Durkheim (1858- 1917). O documento vê os autores clássicos como "possível recurso didático", mas afirma que a principal tarefa da sociologia é abrir espaço para que os alunos "formulem novas perguntas à realidade em que vivem". Há, claro, o risco de que na sala de aula isso se converta em três anos de debates, com vago cheiro de sociologia, sobre "temas polêmicos" –mas, a rigor, nenhuma base curricular teria o poder de evitar aulas ruins. Uma característica discutível do projeto é apresentar como fechadas ideias que estão, muitas vezes, sujeitas a intenso debate por exemplo, "identificar a concepção de gênero como construção social", que aparece na primeira das três unidades curriculares. Esperamos que na prática as aulas sejam tão abertas a discussões quanto possível –e confiamos na capacidade dos alunos, que afinal não são uma "tabula rasa", de "problematizar" o que for necessário. FOLHA DE SÃO PAULO 28/08/16 COTIDIANO Alunas da USP improvisam creche em corredor de moradia estudantil ESTÊVÃO BERTONI DE SÃO PAULO Atrás do cercadinho, duas crianças começam a chorar, mas logo param. Uma terceira surge nos braços da mãe e se junta à dupla. Os pequenos zanzam pelo chão e compartilham brinquedos sob os olhares de Celma, espécie de supervisora daquela turma. voluntária, segundo a instituição. trabalha dentro da USP. Por isso, as mães sem vaga se desdobram para estudar, trabalhar e cuidar dos filhos. No bloco A do Crusp, e apenas nele, os 12 apartamentos térreos são destinados às mães. Elas não precisam dividir com outros estudantes o espaço de dois quartos, como acontece nos outros alojamentos (com três quartos). Toda tarde, de segunda a sexta, a criançada se reúne para brincar em frente ao alojamento de Celma Reis da Silva, 30. Ela é mãe de Caio, 1, e aluna do quinto ano de geociências e educação ambiental. No fundo de um corredor do bloco A do Crusp (a moradia estudantil da USP, na zona oeste), num cantinho com paredes tomadas por desenhos infantis, funciona desde janeiro uma creche improvisada por mães estudantes. Frida, Gaia, Maju, José, Isa. Às vezes, Eros, quando a mãe tem de revolver problemas fora do campus. Ao menos sete filhos de mães da graduação e da pós passam por ali. Elas não podem colocar os filhos nas creches da universidade porque as vagas não são mais abertas desde 2015 –foram cortadas 141. A medida se deve à redução no quadro de servidores devido ao plano de demissão "A gente tem esse universo de ajuda aqui. Se você precisa de fralda, de remédio, alguma mãe vai te ajudar", conta Stella Theodoro, 34, que se formou em letras no ano passado, ainda grávida de Frida, 1, e agora cursa licenciatura e No entanto, segundo estimativa dos moradores, vivem ali outras 60 mães. Cerca de 25, segundo Stella, estão sem creche na USP para os filhos. No começo, ela chegou a assistir aula com a filha –foi aprovada com nota 7,8. "Brinquei que a nota era coletiva. Um me emprestava a caneta, o outro, o papel", lembra. Mas nem todos os professores aceitam crianças na sala. Por isso, conta ter sido reprovada em duas disciplinas. 28/08/16 "No início, a gente se sente culpada, mas não é isso. Nós, universitárias, temos o direito de ser mãe." Stella deixa Frida com Celma à tarde. À noite, tenta se virar: ou a deixa com um amigo que é pai e mora no bloco ou pede ajuda para outras amigas. "A gente não consegue ter uma rotina. Só vou conseguir estudar depois que a Frida dormiu, à meianoite", diz. Celma, que estuda à noite, também recorre a uma amiga para conseguir ir às aulas. Mesmo assim já se encrencou no curso: não pôde fazer a disciplina de técnicas de campo – que lhe exigiria passar cinco dias num parque no sul do Estado– por não ter como levar o filho nem com quem deixá-lo. Sem as aulas, sua formatura será adiada. A estudante conta já ter se acostumado a cuidar de tantas crianças. Para fazer comida para os meninos, tem ajuda de algumas mães. Outra mãe que recorre a Celma é Roseleine Bonini, 42, mestranda em letras, para quem a rotina já foi mais fácil na graduação. Mãe de três, ela estudou com as duas primeiras filhas, de 12 e 8 anos, na creche da USP. Hoje, o menor, Eros, 1, está sem vaga. "Deixei o trabalho em março para cuidar dele", diz. Eros fica com Celma quando ela precisa levar a do meio para a escola fora da Cidade Universitária. Como nem sempre consegue fazer isso, a filha pode repetir por falta. Doutoranda em engenharia de materiais e cruspiana, a colombiana Margarita Bobadilla, 30, mantém a filha Sofia, 3, na creche da USP, mas mesmo assim se engajou na luta das outras mães. "Graças à creche, hoje a minha filha tem um pai doutor e uma mãe doutoranda." Com base em dados repassados pela universidade, ela elaborou com colegas um estudo que concluiu: em 2015 e 2016, a instituição já aumentou o gasto com auxílio-creche para funcionários e professores em R$ 1,2 milhão. Em 2015, segundo a pesquisa, a USP gastou em custeio das creches R$ 1,8 milhão, o equivalente a 0,04% do orçamento da instituição, valor pouco representativo para ser economizado, segundo ela. O caso foi levado ao Ministério Público e está sendo investigado em inquérito civil. Segundo o advogado da associação de moradores do Crusp, Augusto Pessin, que tentou obrigar a USP a aceitar mais crianças nas creches (o pedido foi negado pela Justiça), o corte é o "retrocesso de um direito fundamental e uma covardia com as mães". FOLHA DE SÃO PAULO 28/08/16 COTIDIANO OUTRO LADO Não há previsão de contratações, diz universidade Segundo a USP, não há previsão de abertura de um novo processo seletivo para a contratação de funcionários para as creches da instituição. Na época do corte de 114 vagas, no ano passado, a universidade afirmou que um "quadro defasado de funcionários" e a adesão dos servidores em "número acima do esperado" ao programa de demissão voluntária levaram à adoção da medida, para "não comprometer os serviços prestados". A instituição possui, ao todo, cinco creches no Estado. Duas no campus Butantã, na zona oeste da capital paulista, uma na Faculdade de Saúde Pública, na região central de São Paulo, e outras duas em Ribeirão Preto e em São Carlos, no interior do Estado. Em 2015, 402 filhos de estudantes, professores e funcionários, de quatro meses a seis anos de idade, estavam matriculados nas creches da USP. Neste ano, são 324 crianças, segundo dados da Superintendência de Assistência Social da universidade. Os estudantes, porém, contestam a explicação dada pela USP para os cortes. Segundo estudo feito pela colombiana Margarita Bobadilla, 30, que cursa doutorado em engenharia na Poli, a universidade tem capacidade, hoje, para atender cerca de 600 crianças. Bobadilla mora no Crusp e mantém a filha Sofia, 3, na creche da instituição. De acordo com a estudante, como os gastos se mantiveram no mesmo patamar dos anos anteriores (cerca de R$ 26 milhões para pagar funcionários e manter a estrutura dos prédios), as vagas ociosas representam um "desperdício de recurso público que poderia ser evitado". A pesquisa também mostra que os gastos da USP com auxíliocreche irão quase triplicar neste ano em relação ao ano passado e que deverão superar o valor do custeio das creches. A assessoria da USP informou, em nota, que não conseguiu verificar os dados utilizados nesse estudo. As alunas dizem que usaram informações repassadas pela própria instituição e divulgadas no portal da universidade. Sobre o número de mães que vivem atualmente na moradia estudantil do campus Butantã, estimado em 72 pelos estudantes, a universidade diz que são apenas 31. O ESTADO DE S. PAULO 28/08/16 » MECflix. O programa "Hora do Enem", do Ministério da Educação, não deve ser renovado para 2017. Com baixo índice de participação, a plataforma online com vídeos, simulados e planos de estudos para a prova não vingou. » Ninguém viu. Inicialmente pensada para 2,2 milhões de estudantes, até agora apenas metade deles participou. COLUNA DO ESTADÃO O ESTADO DE S. PAULO 28/08/16 POLÍTICA Temer prepara mudanças em vitrines sociais do PT Passado o processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff e confirmado o seu afastamento definitivo, o presidente em exercício Michel Temer prepara uma revisão na área social, com mudanças em programas petistas, a retomada da reforma agrária e a implementação de iniciativas de impacto eleitoral. O objetivo do novo governo é desconstruir o discurso de que a gestão peemedebista representaria um retrocesso, além de se aproximar das camadas mais pobres, que formaram a principal base de apoio às gestões Dilma e Luiz Inácio Lula da Silva. A proposta é "repaginar" pelo menos cinco programas considerados bandeiras do PT Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, Ciência sem Fronteiras, Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) e Transposição do São Francisco - e lançar outros dois um destinado a atender crianças da primeira infância e outro de reforma de casas populares, com recursos federais. Após as eleições municipais, Temer deve lançar um plano de inclusão produtiva, que pretende dar uma nova cara ao Bolsa Família. Depois de anunciar um reajuste de 12,5% no valor do benefício, o Planalto quer combater a informalidade no mercado de trabalho verificada entre os atendidos pelo programa - cerca de 14 milhões de famílias. A ideia é estimular que tenham carteira de trabalho assinada, garantindo o recebimento do benefício por um a dois anos mesmo depois de empregados. "Não tem nenhum retrocesso na agenda social, só temos uma visão diferente: o governo anterior tinha uma visão mais assistencialista, enquanto nós achamos que as pessoas não precisam se conformar com o benefício", disse ao Estado o ministro do Desenvolvimento Social e Agrário, Osmar Terra. "Da maneira como está, ninguém sai do Bolsa Família, só entra." O governo estuda ainda organizar pequenas incubadoras de startups para jovens beneficiados e parcerias com gigantes do setor de informática a fim de estimular o empreendedorismo. Prefeitos cujos municípios registrem a maior proporção de famílias emancipadas receberão diploma das mãos de Temer, fortalecendo o discurso de combate à pobreza, e serão premiados - o valor deve ficar entre R$ 100 mil e R$ 3 milhões, segundo Terra. O roteiro para os primeiros meses do governo efetivo de Temer inclui o lançamento do Criança Feliz, projeto que prevê o acompanhamento de crianças de até 3 anos que são filhas de beneficiários do Bolsa Família. "Os programas de desenvolvimento (social) serão mantidos e majorados. O governo busca normalizar e pacificar o País", disse o ministro-chefe da Casa Civil Eliseu Padilha. O Estado apurou que Temer deverá anunciar no próximo mês uma nova política de reforma agrária, conferindo aos beneficiados o título de domínio da propriedade e retirando de movimentos sociais, como o MST, o papel de selecionar as famílias. O Planalto também pretende corrigir distorções apontadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU), que identificou até casos de servidores públicos beneficiados com a distribuição de terras. No dia 9 deste mês, Temer lançou um programa de revitalização de R$ 1,2 bilhão da Bacia do Rio São Francisco intitulado "Novo Chico", que inclui recuperação de áreas, controle de processos erosivos e a implementação de técnicas de irrigação mais modernas. A 28/08/16 transposição e a recuperação do rio foram uma das principais bandeiras da campanha à reeleição de Dilma, impulsionando seu desempenho no Nordeste - depois de muitos atrasos, a obra só deverá ficar pronta em 2017. Educação. Outra marca de Dilma que será alterada é o Pronatec, que deverá oferecer cursos mais voltados para a realidade de cada município. Até aqui uma das mudanças mais drásticas implementadas pelo governo Temer se deu no Ciência sem Fronteiras, considerado um dos "xodós" da petista. O programa será reformulado, com o fim das bolsas para graduação, e dará prioridade a jovens pobres do ensino médio matriculados em escolas públicas. "Eles estão destruindo esses programas e reduzindo recursos para a educação", criticou o exministro Miguel Rossetto, um dos auxiliares mais próximos de Dilma. Na avaliação do cientista político David Fleischer, da Universidade de Brasília (UnB), Temer buscará o lançamento de marcas próprias, sem acabar com programas bem-sucedidos. "Ninguém em sã consciência política vai eliminar esses programas, até mesmo o Congresso aprovou a continuação do Mais Médicos", disse o cientista político. Na quarta-feira passada, o Senado prorrogou por três anos a atuação de profissionais brasileiros e estrangeiros no programa. 28/08/16 O ESTADO DE S. PAULO 28/08/16 METRÓPOLE Ciência em crise teme novo corte em 2017 Orçamento será dividido com o setor de Comunicações, após fusão das pastas Orçamentos cortados pela metade. Bolsas estagnadas. Editais cancelados. Instituições de pesquisa sem dinheiro para pagar serviços básicos de limpeza e segurança. Risco de desabastecimento de radiofármacos, essenciais para o diagnóstico do câncer. Um supercomputador novinho em folha, desligado para economizar na conta de luz. Essa é a realidade da ciência brasileira, que vive a maior crise financeira de sua história, e contempla o risco de um ano ainda pior em 2017. O orçamento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) para este ano já é 50% menor do que em 2010, em valores corrigidos pela inflação, e a proposta do governo, segundo o Estado apurou, é manter esse orçamento congelado para o ano que vem, apesar da fusão com o Ministério das Comunicações. "Se isso for aprovado, pode esquecer; acabou ciência e tecnologia no Brasil", diz o presidente da Academia Brasileira de Ciências, Luiz Davidovich. O orçamento atual do MCTI é de R$ 4,6 bilhões, mas cerca de R$ 500 milhões estão contingenciados. O que a pasta pode gastar, portanto, são R$ 4,1 bilhões. Em valores corrigidos, esse limite é 27% menor do que em 2006 e 52% menor do que em 2010; enquanto que o número de pesquisadores no País dobrou nos últimos dez anos. Em maio deste ano, o MCTI foi fundido com o Ministério das Comunicações (dando origem ao MCTIC), mas cada pasta manteve seu orçamento. A proposta agora, para 2017, é unificar as contas dos dois setores. "Ano que vem é R$ 4,1 bilhões para todo mundo", disse ao Estado o ministro Gilberto Kassab, no início do mês. "O que já era irrisório vai ficar ainda menor. É um absurdo; estamos andando para trás", diz a presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, Helena Nader. Países mais desenvolvidos, segundo ela, estão fazendo exatamente o oposto: investindo mais em ciência e tecnologia para sair da crise. Kassab disse que a comunidade científica está "coberta de razão", e está empenhado em elevar a proposta orçamentária da pasta para 2017. "É evidente que a crise existe e todos perderam; mas ninguém perdeu tanto (quanto a Ciência e Tecnologia). Estamos trabalhando para corrigir essa defasagem." Os valores finais do Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA 2017) serão apresentados na quarta-feira pelo Ministério do Planejamento. "Esse discurso de que não tem dinheiro para ciência e tecnologia é ridículo. O que falta é uma definição política clara no sentido de priorizar setores", afirma Davidovich. Impactos. No Laboratório Nacional de Luz Síncrotron, em Campinas (SP), algumas linhas de luz mais antigas foram desativadas, e parte dos equipamentos do acelerador de partículas está sendo desligada nos fins de semana para economizar energia. "Assumimos riscos calculados para passar por essa fase difícil", disse o diretor Antonio José Roque da Silva. No caso do Sirius, o novo acelerador que está em construção, o orçamento deste ano foi reduzido de uma proposta inicial de R$ 275 milhões para R$ 182 milhões. Segundo Silva, a não recomposição do orçamento do MCTIC será "catastrófica" para a ciência brasileira. No Laboratório Nacional de Computação Científica, em Petrópolis (RJ), o recém-adquirido supercomputador Santos Dumont, de R$ 60 milhões, teve de ser desligado em junho, por falta de recursos para pagar a conta de luz. Em julho, o MCTIC aprovou uma verba emergencial de R$ 4,6 milhões, e a máquina foi religada. "Garantimos as operações até dezembro", disse o diretor Augusto Gadelha. O ESTADO DE S. PAULO 28/08/16 METRÓPOLE CNPq está ‘à míngua’, sem verbas para fomento Quase todo o orçamento da agência está comprometido com bolsas, que ainda assim sofreram cortes O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), principal agência de fomento à ciência do governo federal, está "à míngua", segundo o presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Luiz Davidovich. Praticamente todo o orçamento da entidade – atrelado ao orçamento do MCTIC – está comprometido com o pagamento de bolsas, restando quase nada para investimento em pesquisa. Dos R$ 594 milhões executados pelo CNPq no primeiro semestre deste ano, 98,5% foram para bolsas e apenas 1,5% para fomento. E ainda assim a agência suspendeu a concessão de bolsas de pós-graduação no exterior e cortou 20% das bolsas de iniciação científica previstas para os próximos dois anos. O orçamento total disponível para este ano, de R$ 1,03 bilhão, é 45% menor do que em 2006 e 63% menor do que em 2010, em valores corrigidos e excluindo o programa Ciência sem Fronteiras, segundo dados solicitados pelo Estado. "O CNPq perdeu totalmente a liberdade de pensar. O sistema todo tem de correr atrás todos os meses para pagar bolsas", disse o presidente da agência, Hernan Chaimovich, durante palestra na reunião anual da SBPC, em Porto Seguro (BA), em julho. "Não há uma política consistente de investimento em ciência e tecnologia neste país." Procurado agora, ele preferiu não dar entrevista. Queda. Em 2015, o valor investido em fomento pelo CNPq já havia caído 46% em relação a 2014, e 80% em relação a 2010, em valores corrigidos. A agência tem um saldo a pagar de R$ 230 milhões, referente a dezenas de editais contratados desde 2010. Outros foram cancelados ou estão atrasados. O ESTADO DE S. PAULO 28/08/16 METRÓPOLE Fundo nacional para a ciência pode ser reduzido pela metade Novo contingenciamento do FNDCT impediria a Finep de assumir novos compromissos; dívida atual já chega a R$ 2 bi O orçamento do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), que já foi reduzido em 50% para este ano, pode cair pela metade novamente em 2017, eliminando a capacidade da Finep – empresa pública que administra o fundo – de fazer novos investimentos em pesquisa no País. O limite de empenho previsto para o FNDCT no Projeto de Lei Orçamentária Anual 2017, segundo a Finep, é de R$ 982 milhões, comparado a R$ 1,9 bilhão neste ano e R$ 4 bilhões, em 2015, em valores corrigidos. Isso, apesar de a arrecadação anual do FNDCT permanecer constante, na casa dos R$ 3,7 bilhões, e de a Finep ter restos a pagar da ordem de R$ 2 bilhões, referente a editais já contratados nos últimos anos. O orçamento atual "não dá nem para cobrir os restos a pagar dos anos anteriores", disse o presidente da Finep, Wanderley de Souza, em palestra na reunião anual da SBPC, em julho, em Porto Seguro (BA). "Permite continuar o que estamos fazendo, mas não lançar coisas novas." Procurado novamente para esta reportagem, Souza preferiu não dar entrevista. "O orçamento de 2016 e a proposta orçamentária para 2017 não são suficientes para fazer frente aos compromissos já assumidos", informou a assessoria de comunicação da Finep. "No entanto, o presidente (Wanderley de Souza) está otimista quanto às ações do ministro Kassab no sentido de ampliar o orçamento." Desvio. O FNDCT é abastecido anualmente com recursos oriundos de vários setores da indústria – por exemplo, de impostos sobre a exploração de recursos hídricos e minerais –, e seus recursos deveriam, por lei, ser investidos integralmente em ciência e tecnologia. Mas não é o que acontece. Nos últimos anos, os recursos do FNDCT foram sistematicamente contingenciados para manutenção do superávit primário. "Estão coletando impostos para uma finalidade e aplicando em outra", diz o presidente da Academia Brasileira de Ciências, Luiz Davidovich. "É um tipo de pedalada. Tenho até dúvidas sobre a legalidade disso." Várias entidades da comunidade científica acadêmica e empresarial enviaram uma carta conjunta ao Congresso Nacional na semana passada, solicitando que o fundo não seja mais contingenciado. "É fundamental que o orçamento do FNDCT para 2017 permita a utilização plena dos recursos que serão arrecadados, de modo a se reverter o grave quadro atual", diz o documento. CORREIO BRAZILIENSE 28/08/16 OPINIÃO Um agosto de passagem JOSÉ FLÁVIO SOMBRA SARAIVA Professor titular da Universidade de Brasília e pesquisador 1 do CNPq O mês caminha para sua declinação. A tradição brasileira ainda carrega o sentimento de tragédia ao lembrar momentos difíceis para o país nos tais meses de agosto. Há várias origens desse incômodo nacional, particularmente no teatro político. Uma das imagens de agouro do oitavo mês do ano advém de tensão societária: a ausência do líder e a discussão eterna acerca da modernidade à brasileira. Refiro-me a Getúlio Vargas. Em 24 de agosto de 1954, imolava-se o pai dos trabalhadores brasileiros. O suicídio do formador moderno do Brasil marcaria outros fatos políticos e mortes na história republicana. Getúlio Vargas, no poder desde a República Velha, mas particularmente poderoso a partir da Revolução de 1930, ainda parece vivo em muitas mentes brasileiras. A ideia do agouro advém daquele Brasil sem pai em um agosto triste. Era o destino do Brasil a chorar a morte do pai dos pobres. São 62 anos de agouros, nesses dias, a lembrar o caso de Getúlio. No ano de 2016, no entanto, os brasileiros não querem saber de agouros. Romperam a paternidade. Romperam a política velha e a forma de receber o mundo que veio ao Brasil no agosto desse ano. Animados com os seus agostos, em três semanas olímpicas, acompanharam estádios e quadras de jogos, ginásios de natação e todo esporte praticado no mundo. Depois de uma propaganda da impressa internacional contra o Rio de Janeiro e da capacidade logística do Brasil para realizar os jogos olímpicos mundiais, o Brasil fez bonito. Da abertura dos jogos coletivos à belíssima clausura no Maracanã, vencemos os agouros dos agostos. As celebrações da cultura brasileira foram expostas com qualidade artística na entrada e na saída da festa olímpica. Elevaram, com forró e samba, a boa pedagogia das cores e das peles da nossa gente, de toda cor, no Brasil bonito da diversidade. Insinuaram no mundo que haveria terrorismos nas canchas. Verbalizaram que a falta de educação do nosso povo é atávica. Tudo de ruim poderia ocorrer no inferno de Dante, no agouro de agosto. Ao contrário, a primeira festa olímpica mundial em território da América do Sul foi sucesso e ajudou a refletir com mais humor a onda negativa dos meses anteriores. As olimpíadas foram lugar para um momento de felicidade, a plasmar a idéia de que as competições justas e as regras iguais devem ser distribuídas a todos. Sem privilégios. Isso é também uma disciplina citadina advinda do esporte para a vida nossa de todos os dias. A grande fofoca e o crime de violência impetrado nas olimpíadas advieram não por brasileiros, mas por atletas norte-americanos, riquinhos e tratando o trabalhador de um posto de gasolina como um lixo. Isso sim, muito feio. Excelentes as punições que já estão em curso a esses meliantes. Assistiremos, nesses dias de fim agosto, no Congresso Nacional, uma passagem importante no país. Teremos a oportunidade de acompanhar a conclusão do processo do impeachment, em quadra nacional difícil. Em 2022 chegaremos aos 200 anos do Brasil independente, mas não sabemos se a normalidade econômica necessária à criação de riqueza e do bem-estar, sem roubos, estará ainda normalizada. Espero que seja este agosto de passagem feliz. Nada de agouro. Desejo alegria para a racionalidade universitária do centro do Brasil. Que seja reitor aquele que vem dos exemplos do reitor Lauro Morhy, um renovador da UnB. Aqui nos câmpus, movem-se os candidatos para a consulta inicial de escolha dos nomes para o reitorado, a serem enviados esses nomes ao Ministério da Educação para decisão final. Desejaria concluir com um comentário de colega da UnB nesses últimos dias de agosto alegre. Lembra o professor que nos últimos quatro anos o ambiente da UnB voltou a ser acadêmico e mais 28/08/16 propício ao desenvolvimento do que constitui o foco principal das atividades de uma universidade de pesquisa, como foi concebida em sua origem: uma universidade para ser destaque no mundo da ciência, da tecnologia e da reflexão. Aprendemos com Morhy: ligar e harmonizar a produção da ciência com a modernidade institucional que se deseja. Ir ao mundo é a obrigação. Afinal, as universidades nasceram antes dos estados nacionais. Seguir essas linhas de independência política e trabalhar pelo Brasil seria uma boa notícia para o agosto alegre. CORREIO BRAZILIENSE 28/08/16 CIDADES - MARCAS & NEGÓCIOS COLÉGIO SERIÖS Proposta pedagógica inovadora alguém consciente no mundo, na sociedade, cuide de si, cuide do outro e tenha empatia pelas questões das outras pessoas.” Localizado na Asa Sul, o Colégio Seriös completa quatro anos investindo em uma proposta que forma, acima de tudo, um cidadão Há quatro anos, o Colégio Seriös tem mostrado excelência na área pedagógica. Localizada na Asa Sul, a instituição de ensino tem o propósito de trazer para Brasília uma educação focada na exposição de conteúdos e, sobretudo, na formação de um cidadão integral nos valores éticos. O foco é fazer com que o estudante tenha habilidade e competência no mundo corporativo que o mercado de trabalho exige no século 21. Com a atenção voltada para o caráter do aluno, o Colégio Seriös não somente educa para prepará-lo a ter sucesso na área financeira, mas também conquistar êxito na vida pessoal. A diretora-geral do colégio, Kedma Villar, acredita que, por meio dessa formação, o indivíduo é moldado a se tornar um adulto com habilidades de colaboração, poder de argumentação e crítico. “Que seja também um indivíduo criativo e inovador. Hoje, a criatividade no mercado é a capacidade de saber resolver problemas. E que seja Em termos de estrutura física, a instituição conta com espaços chamados de ‘salas ambientes’. Nesses locais compartilhados, é estimulada a aprendizagem de acordo com a identidade visual dos alunos. Eles percorrem vários ambientes ao longo do dia, não ficam só na própria sala. “Temos a sala de música, que é muito bem equipada com diversos instrumentos musicais, mas que tem também bibliografias voltadas para o assunto e uma mobília adequada. Há um estúdio de gravação para que o que está sendo composto pelos alunos possa ser registrado e divulgado pela internet”, explica Kedma. Além disso, há uma sala de gastronomia extremamente diferenciada. Ela é totalmente desenvolvida para práticas culinárias e, enquanto a professora manipula alimentos, uma câmera transmite a imagem para que os estudantes possam acompanhar o passo a passo. Ela é adequada para todas as faixas etárias em que o Colégio Seriös atua. Ações solidárias Apesar da crise financeira, a escola está mais otimista para 2017. “Nós temos passado por essa crise de uma forma tranquila porque procuramos usar conscientemente os recursos que a escola dispõe. Criamos bastante, inovamos em soluções que melhoraram nosso serviço” analisa a diretora. O Seriös também procura incluir os alunos em projetos sociais. “Formamos um cidadão que esteja pronto para transformar a realidade de alguém. Fazemos ações solidárias para exercitar e se colocar no lugar do outro. Temos visto o quanto o nosso aluno fica tocado quando ajuda alguém”, destaca. Um dos projetos é o de Prevenção da Cegueira em Crianças Carentes do DF. Os alunos da educação infantil e do fundamental I, arrecadaram 57kg de lacres de refrigerantes, que foram doados aos representantes do Rotary Club. A entrega dos lacres ocorreu em 11 de maio. Eles serão revendidos para uma comunidade de artesãs do Riacho Fundo e, com o dinheiro, o Rotary Club comprará cerca de 30 óculos para crianças carentes do DF. “Eles vivenciam na prática o que é ajudar uma outra pessoa, e veem o quanto isso é importante para quem está recebendo”, exalta. O Colégio Seriös acredita em uma educação que está em constante mudança. Para a equipe, todo o processo pedagógico deve ser revisto constantemente. “A cada mês e cada ano, promovemos várias mudanças. A escola está muito antenada ao que está acontecendo no mundo, e isso é aprimorado a todo instante. No próximo ano, queremos fortalecer o espaço de criação e criatividade, no qual disporemos de produtos de primeira qualidade, aglutinando algumas disciplinas em laboratórios e aprimorando algumas mais práticas”, destaca. CORREIO BRAZILIENSE 28/08/16 CIDADES - MARCAS & NEGÓCIOS Projeto Especial Ajudamos a Escolher a Escola do Seu Filho A educação de qualidade é direito fundamental de toda criança. Nessa tarefa, Estado, família e escola dividem responsabilidades. Cabe aos pais fazerem uma pesquisa atenta e criteriosa sobre a instituição de ensino em que pretendem matricular os filhos. É uma escolha importante, que garantirá que eles tenham acesso a uma educação completa, que os preparem para o mercado de trabalho e para serem cidadãos felizes e conscientes. O Correio Braziliense valoriza a importância da educação básica na formação do cidadão, por isso o assunto está sempre inserido em sua pauta diária e também na programação de projetos especiais. Para abordar o tema de forma segmentada e aprofundada, o jornal traz mais uma vez o especial Escolha a escola do seu filho. Guia O projeto conta com o tradicional suplemento especial no Correio Braziliense. Impresso em papel especial, é um completo e verdadeiro guia que há mais de 10 anos auxilia os pais no processo de escolha das instituições de ensino para os filhos, com conteúdo de qualidade e informações úteis para orientar essa decisão. Nesta edição, o projeto terá o alcance ampliado, com inclusão da plataforma web de maneira diferenciada, por meio de um especial digital no site correiobraziliense.com.br. O especial digital é um novo formato, moderno e prático, de oferecer conteúdo no ambiente digital. De forma responsiva, ou seja, adequada para qualquer tamanho de tela e dispositivo móvel, a página apresentará o conteúdo do impresso adaptado à plataforma web (linguagem, formato e narrativa), com os recursos que ela permite: infográficos interativos, links para outros conteúdos, vídeos, enquetes, entre outros, tornando a leitura ainda mais atrativa. Conheça as possibilidades de anunciar nesse projeto relevante, já conhecido e aguardado pelo brasiliense. Solicite a proposta ao Departamento C o m e r c i a l : [email protected] ou 3214-1339. CORREIO BRAZILIENSE 28/08/16 TRABALHO FORMAÇÃO » Quer estudar no exterior? Brasília recebe duas feiras com representantes de universidades estrangeiras. Eventos trarão orientações para escolher uma faculdade e chance de se candidatar a programas de graduação, pós-graduação e cursos de idiomas Ana Paula sonha fazer mestrado nos EUA, na Alemanha, em Portugal, na Austrália ou na Inglaterra Os interessados em internacionalizar o currículo ganharão uma mãozinha gratuita para entender como funcionam os sistemas de ensino, os processos de seleção, os cursos e o modelo de vida universitária em países que concentram instituições de ponta. Nesta semana, Brasília recebe um evento promovido pela Quacquarelli Symonds (QS), organização que se tornou referência em rankings de universidades e informações sobre o ensino superior mundialmente. Já em 24 de setembro, a capital federal sedia a EducationUSA, maior feira de universidades americanas no Brasil. Além de terem acesso a dicas e informações úteis sobre processos seletivos e faculdades, os participantes poderão se candidatar a vagas durante as mostras. Em ambos os casos, os participantes assistirão a palestras e poderão conversar diretamente com representantes das universidades e tirar dúvidas. A 4ª QS World Grad School Tour em Brasília, voltada a interessados em cursar pós-graduação no exterior, reunirá representantes da Hult International Business School, da Tandon School of Engineering da Universidade de Nova York (NYU), nos Estados Unidos; da Saint Mary’s University, no Reino Unido; da Tias Business School, na Holanda; da Toulouse Business School, na França; e da Universidade Concórdia, no Canadá. No Brasil, a feira chegará ao Rio de Janeiro amanhã (29); passará por Brasília na quarta-feira (31); será montada em Salvador em 3 de setembro e, em São Paulo, em 5 de setembro. Durante o encontro, os presentes podem se candidatar a especializações, MBAs, mestrados e doutorados em inglês com bolsas oferecidas pela QS. Para Leonardo Andrade, diretor da Quacquarelli Symonds na América Latina, a feira é uma boa oportunidade para quem quer fazer pós-graduação fora. “O contato direto com as universidades é um diferencial importante. Nem todas as informações estão disponíveis na internet, e os representantes são preparados para atender estudantes estrangeiros porque viajam o mundo inteiro”, observa. Além disso, o evento promoverá uma oficina de currículos para orientar os candidatos. “Como o processo de admissão não é apenas uma prova, ter um bom documento de apresentação é imprescindível para conseguir uma vaga”, afirma. A estudante do 9º semestre de ciências biológicas da Universidade de Brasília (UnB) Ana Paula Borges, 22 anos, aproveitará a chance para conhecer instituições. “Pensei em várias universidades, mas há algumas para as quais não vale a pena me inscrever porque não oferecem programas sobre o meu tema de interesse. É preciso ter um foco”, afirma ela, que deseja fazer mestrado na área de conservação e comportamento animal. A jovem nunca participou de feiras de educação internacional, mas está com boa expectativa. “Assim, terei uma ideia de como as faculdades realmente funcionam, além de fazer contato com recrutadores internacionais. Vou passar por várias experiências diferentes lá fora, e esse tipo de contato me fará viajar mais preparada”, percebe. A futura bióloga acredita que a experiência internacional adicionará muito ao currículo de pesquisadora. “Quando você estuda fora, sua pesquisa passa a ter alcance global. É possível conhecer estudos do mundo todo e ganhar uma visão mais holística de todos os aspectos que englobam seu 28/08/16 campo de estudo”, conta ela que não terá problemas com o idioma, pois fala inglês. Terra do Tio Sam A feira EducationUSA leva o mesmo nome da fonte oficial do governo dos Estados Unidos para promover estudos no país, que também tem sede em Brasília, e chega à quinta edição no Distrito Federal. O evento integra um circuito que passa por mais de 10 países e promove uma programação voltada para quem deseja fazer graduação, completa ou parcial, pós-graduação, curso de inglês intensivo ou cursos de extensão por lá. A feira contará ainda com a presença de representantes das empresas que realizam os testes de proficiência em inglês que são pré-requisito em muitas universidades: o Toefl (Teste de Inglês como Língua Estrangeira) e o Ielts (Sistema Internacional de Teste da Língua Inglesa). Participarão do encontro as universidades do Estado da Califórnia, de Miami, do Alabama, do Estado do Oregon, da Carolina do Norte, do Sul da Flórida, da Flórida, de Delaware, de New Haven, do Colorado em Boulder, Pública de Nova York, George Washington, Dallas Baptist, Full Sail, Pace, at Buffalo, Temple, Internacional de Arte e Design de Miami; além da Bellevue College, da Colby College, da Columbia College e da Minerva Schools at KGI. Segundo Guilherme Medeiros, coordenador da EducationUSA em Brasília, as universidades americanas se interessam muito por estudantes brasileiros. “Além de serem bemsucedidos no sistema educacional norte-americano, a diversidade do povo brasileiro é importante para tornar os cursos mais interessantes”, conta. Não perca QS World Grad School Tour A feira será em 31 de agosto, das 14h30 às 20h, no Centro Empresarial Brasil 21 (Sces), Quadra 6). As inscrições são gratuitas e podem ser feitas pelo site goo.gl/bTtQSR. EducationUSA O evento está marcado para 24 de setembro, das 11h às 15h, também no Centro Empresarial Brasil 21. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas pelo site www.educationusa.org.br. Experiência rica Tarcísio Pinhate, 24 anos, é aluno de mestrado em gestão ambiental da Universidade de Auckland, na Nova Zelândia. Segundo ele, morar fora tem muitos aspectos positivos. “Ter uma vivência internacional é um desafio que desenvolve os conhecimentos com o idioma, a maturidade, as habilidades de liderança (principalmente se você conseguir trabalhar), de saber lidar com diferenças culturais e de saber se virar sozinho em um lugar que você não conhece”, conta o graduado em relações internacionais pela UnB, que está no país desde fevereiro de 2015. Segundo Tarcísio, quem deseja estudar fora deve investir em preparação. “É importante estar sempre informado sobre bolsas de estudo — várias embaixadas anunciam oportunidades em páginas do Facebook, por exemplo — e escolher bem o local em que você quer estudar. Feiras internacionais proporcionam muito desse contato necessário.” O GLOBO 27/08/16 RIO Ensino dilapidado As letras "r", "o" e "v" que faltam para completar o letreiro com o nome de Luiz Carlos da Vila, um dos mais festejados sambistas brasileiros, morto em outubro de 2008, aos 59 anos, foram escritas a tinta pelos próprios alunos, depois de parte da estrutura metálica ter sido roubada. É um detalhe na fachada da construção, mas pode resumir a situação do colégio estadual que homenageia o compositor. Inaugurada em 2009, no número 1.184 da Avenida Dom Hélder Câmara, em Manguinhos, a unidade — que devido à crise do estado não conta, desde o início do ano, com os policiais que faziam sua segurança — virou alvo de vândalos, ladrões, traficantes e usuários de drogas. Nos últimos três meses, seguidos roubos deixaram parte da escola às escuras, depois que foram arrancados fios e destruída a instalação elétrica. Televisores, mesas, lâmpadas, cadeiras, portas, janelas inteiras e vidros também foram levados pelos ladrões. Um moderno quadro-negro interativo desapareceu. Assim como as últimas três bombas d"água compradas pelo colégio, levando a uma crônica falta de água. Até as panelas da cozinha sumiram. O mesmo aconteceu com os cabos de conexão à internet. O Colégio Estadual Compositor Luiz Carlos da Vila, numa região onde há as comunidades de Manguinhos e do Jacarezinho, não é uma escola qualquer. Ele foi construído numa área pobre da Zona Norte para ser um modelo de ensino. Não apenas educacional, mas na estrutura: tem salas de informática, laboratório de química e física, biblioteca, um amplo auditório, ginásio esportivo (com quadra de basquete, futebol, vôlei, vestiários e um ambiente para aulas de judô e outras artes marciais), refeitório com mais de 50 lugares e cozinha moderna. O xodó é uma piscina com dimensões olímpicas, agora sem uso e abandonada nos fundos de um terreno de cerca de oito mil metros quadrados. — Não sabemos exatamente o que está acontecendo. A situação da escola é dramática. Praticamente todos os dias, o colégio tem algum registro de roubo. E já informamos todo mundo: Secretaria estadual de Educação, Ministério 27/08/16 Público estadual, polícia e Assembleia Legislativa, para onde encaminhamos ofícios — afirma um professor, preferindo não ser identificado. "HÁ DIAS EM QUE É IMPOSSÍVEL OUVIR O PROFESSOR" Marcas dos saques podem ser vistas em todos os andares. No segundo andar, alunos estão expostos ao tempo porque as janelas foram todas arrancadas de sete das 15 salas, que contam com climatização de potentes aparelhos de ar-condicionado. — Há dias em que é impossível ouvir o professor. O ambiente já era barulhento, porque minha sala fica próximo à Avenida Dom Hélder Câmara. Agora, sem janelas, piorou. Às vezes, até a chuva impede que a gente tenha aulas normalmente — diz um dos estudantes. Sem estrutura, a Luiz Carlos da Vila passou a conviver com uma situação até então inimaginável para os professores. Quando a escola foi inaugurada há sete anos, pais brigaram para matricular seus filhos no local. Agora, existe evasão de alunos. Dos mais de 1.400 estudantes do início, apenas 800 permanecem. — A melhor solução é o estado contratar uma vigilância patrimonial. É o que defendo — afirma um outro professor. O exemplo vem de unidades educacionais e de saúde ao lado da escola, localizada numa grande área de lazer. No terreno onde a Luiz Carlos da Vila está instalada, há cinemas, a Biblioteca Parque de Manquinhos, uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), uma moderna pista de skate e uma unidade de atendimento psicossocial. Todas as construções têm vigilantes. — Estamos há seis anos aqui e nunca registramos qualquer caso de roubo ou furto — diz um funcionário da Biblioteca Parque de Manguinhos. A situação da escola tem mobilizado moradores, associações comunitárias, pais, professores e entidades de classe. No mês passado, funcionários da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) — que fica próximo — organizaram um abraço à Luiz Carlos da Vila. O grupo também acionou o Ministério Público estadual: um ofício foi encaminhado ao procurador-geral do estado, Marfan Martins Vieira. No documento enviado ao MP, a comunidade diz esperar uma ação dos promotores. Após frisar que a educação é importante para "transformar a realidade da vida dessas comunidades", o texto afirma: "As depredações sofridas pela escola afetam negativamente não apenas os professores e alunos da instituição, que tem seu funcionamento prejudicado, mas também todos que moram e trabalham em Manguinhos e Jacarezinho, pois frustam as nossas expectativas em uma aposta na educação como elemento para o desenvolvimento destes territórios". O Sindicado Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe) informou que enviou um dossiê sobre a situação da escola, incluindo fotografias, para o governo do estado, deputados estaduais e para o MP. — Estamos há meses 27/08/16 cobrando uma providência urgente das autoridades. É uma situação lamentável. Revela como o governo tem tratado a situação da educação no estado — afirma Dorotéa Frota Santana, coordenadora-geral do Sepe. Segundo ela, o abandono da piscina não atrapalha só as aulas de natação e o lazer da comunidade. — Ela (a piscina) virou foco de dengue. A escola vive uma situação de caos e abandono. SECRETARIA DIZ QUE TEM PROJETO DE MELHORIAS O deputado Comte Bittencourt (PPS), presidente da Comissão de Educação da Alerj, que também foi procurado, revelou ontem que pretende convidar outros parlamentares para visitarem à escola. — Infelizmente, foi uma decisão da Secretaria estadual de Educação retirar vigilantes e funcionários das portarias das escolas estaduais. Já fiz alertas ao estado — afirmou. Em nota, a Secretaria estadual de Educação informou que "a escola está dentro do projeto de melhorias em desenvolvimento do programa Caminho Melhor Jovem". Segundo a pasta, essas melhorias estão sendo detalhadas com a Empresa de Obras Públicas (Emop), para ser implantadas fora do período letivo. O texto diz que, "inclusive, está previsto o aumento da altura dos muros, que atualmente favorecem o ingresso de usuários de drogas, pois existe um ponto de consumo próximo". O órgão lembrou ainda que a Secretaria de Segurança já foi informada da situação. Já a 2ª Promotoria de Justiça da Tutela Coletiva da Educação informou ontem que, assim que tomou conhecimento dos problemas do colégio, cobrou explicações da Secretaria de Educação. Perguntou, por exemplo, se o órgão sabia dos furtos e do vandalismo, se havia entrado em contato com a polícia e se já adotara as medidas necessárias. O ofício é do dia 12. O MP disse que ainda aguarda uma resposta. O GLOBO 27/08/16 SOCIEDADE Hábitos de adolescente A Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), divulgada ontem pelo IBGE, traz dados alarmantes sobre os hábitos dos adolescentes brasileiros. O trabalho, referente ao ano de 2015, foi realizado com estudantes concluintes do 9° ano em escolas públicas e privadas de todo o país, a maioria entre 13 e 15 anos. Os resultados mostram que o percentual de jovens que já experimentaram bebidas alcoólicas subiu de 50,3%, em 2012, para 55,5% em 2015; já a taxa dos que usaram drogas ilícitas aumentou de 7,3% para 9% no mesmo período. Também subiu o número dos que relataram a prática de sexo sem preservativos, de 24,7% para 33,8%. já tendo experimentado álcool, contra 54,8% dos garotos. Em termos regionais, a questão é mais preocupante no Sul, onde 65,9% dos entrevistados relatam já terem bebido. A forma mais comum de se conseguir bebidas são as festas, apontadas por 43,8% dos adolescentes que já consumiram álcool, mas 17,8% deles revelaram ter conseguido bebidas com amigos; 14,4% comparam em mercado, loja ou bar; e 9,4% conseguiram a bebida com alguém da própria família. — É na adolescência que se estabelecem hábitos que serão levados pela vida adulta — disse Marco Andreazzi, gerente da pesquisa, ressaltando a importância de políticas de prevenção de doenças para esta faixa etária. — No Brasil, 72% dos óbitos são provocados por doenças crônicas, e elas estão diretamente relacionadas a hábitos não saudáveis. Entre as drogas ilícitas, 4,2% dos entrevistados revelaram ter feito uso nos 30 dias que antecederam a pesquisa — um indício que eles fazem uso regular das substâncias, num percentual maior entre os meninos (4,7%) que as garotas (3,7%). O estudo questionou o uso específico da maconha, e 4,1% dos estudantes revelaram terem fumado nos últimos 30 dias antes do preenchimento do questionário. — Temos um problema grave com a bebida alcoólica, com mais da metade da população pesquisada já tendo experimentado — afirmou Andreazzi. Pela legislação brasileira, a venda e o consumo de bebidas alcoólicas são proibidos para menores de 18 anos, mas os números mostram que a prática é bastante difundida. O problema é levemente mais grave entre as meninas, com 56,1% delas Para Cheila Marina de Lima, consultora técnica do Ministério da Saúde, uma das saídas poderia ser a maior regulamentação da propaganda de bebidas alcoólicas. Pela legislação atual, apenas bebidas com grau alcoólico acima de 13 graus Gay Lussac, como vodca e uísque, são proibidas de veicular publicidade entre 6h e 21h. — Um dos grandes desafios do país é como trabalhar para regulamentar a propaganda de bebidas — disse Cheila. A preocupação é válida. De acordo com Luciana Rodrigues Silva, presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria, o efeito do álcool e das drogas nos adolescentes é mais danoso que nos adultos, pois o organismo deles ainda está em formação. E quanto mais cedo o jovem começa a consumir, pior será o dano no futuro, com maiores riscos de desenvolvimento de doenças hepáticas e alterações psiquiátricas, entre outros problemas graves. — Eu acho que hoje existe uma per-missividade maior que há alguns anos — avalia Luciana. — O álcool é uma droga considerada permitida pela sociedade, e muitas vezes os adolescentes presenciam o consumo excessivo pelos próprios pais dentro de casa. PROTEÇÃO PRIMEIRA VEZ SÓ NA Em relação ao sexo, a taxa de jovens que já tiveram relações sexuais caiu ligeiramente nos últimos três anos, de 28,7% em 2012 para 27,5% em 2015. Mas o uso da camisinha despencou quase dez pontos percentuais, de 75,3% para 66,2%, segundo a pesquisa. 27/08/16 — O que eu ouço muito no consultório é que eles usam o preservativo na primeira vez, mas depois deixam de usar, dizem que já conhecem o parceiro ou parceira. E também existe o sentimento de invulnerabilidade, característico dessa fase — avalia o médico Maurício de Souza Lima, especialista em hebiatria (tratamento de adolescentes). — Essa geração não viu a imagem de pessoas morrendo com Aids, como o Cazuza. Eles acham que se forem contaminados, o problema é resolvido tomando remédio, o que não é verdade. Nesta terceira edição da PeNSE, o IBGE apurou pela primeira vez o número de estudantes que já foram forçados a ter relações sexuais, e 4% deles relataram já terem sido vítimas. E, desses, 31,6% indicaram o abuso por algum membro da família (pai, padrasto, mãe, madrasta ou outros parentes), 26,6% o namorado (a) ou ex-namorado (a) e 21,8%, um amigo (a). Os adolescentes também estão mais ativos: a taxa dos que praticam exercícios regularmente aumentou de 30,1% em 2012 para 34,4% no ano passado. O gerente da pesquisa, Marco Andreazzi, ressalta que a alta pode ter sido afetada por uma alteração metodológica entre os dois estudos, mas um outro indicador, o de número de aulas de Educação Física, também apresentou melhoras. Em 2012, apenas 27,3% dos estudantes relataram ter duas ou mais aulas semanais por semana, percentual que subiu para 48,4%. — O indicador é composto por uma série de informações coletadas dos estudantes, que nos permitem estimar se eles realizam mais de 300 minutos de atividades físicas por semana — explicou Andreazzi. O que chama atenção neste indicador é a situação do Rio de Janeiro, município nas últimas posições do ranking nacional, apesar de a cidade ter sediado a Olimpíada este ano — o estado só está à frente de Pará, Acre e Ceará. E apenas 19,2% dos estudantes fluminenses disseram ter aulas de Educação Física por dois ou mais dias por semana. Outro dado de destaque foi a redução drástica no percentual de adolescentes que relatou assistir a duas ou mais horas de televisão por dia. Em 2012, 78% dos pesquisados disseram ter esse hábito, mas no ano passado a taxa caiu para 59,1%. Uma das possíveis explicações para o fenômeno foi a substituição da TV por outros dispositivos. "Estudos mostram que o tempo gasto com a televisão diminuiu na última década, mas a redução é compensada pelo tempo gasto com outros dispositivos de tela, como smartphones, tablets, PCs e computadores" aponta a pesquisa. Como resultado da baixa atividade física, conjugada com maus hábitos ali-mentares, 23,7% dos adolescentes estão com sobrepeso, sendo 7,8% obesos. O índice é bem menor do que a média da população adulta do país, que tem taxa de 52,5% das pessoas acima do peso ideal. Mas ainda assim preocupa. — O problema da obesidade infantil e na adolescência é muito sério. Estamos vendo nos consultórios pessoas muito jovens desenvolvendo doenças crônicas, como diabetes e pressão alta — diz Celise Meneses, do Comitê de Adolescência da Sociedade de Pediatria do Estado do Rio de Janeiro. 27/08/16 O ESTADO DE S. PAULO 27/08/16 POLÍTICA Russomanno é citado por alvo de máfia da merenda Em troca de mensagem interceptada na Operação Alba Branca, ex-presidente de cooperativa fala em ‘parceria’ com deputado O deputado Celso Russomanno (PRB), candidato à Prefeitura de São Paulo, é citado em relatório da Polícia Civil no inquérito da Operação Alba Branca – investigação sobre fraudes em licitações de merenda escolar. A citação é feita por dois alvos da apuração em troca de mensagens interceptada em julho de 2015. O deputado não é alvo da investigação – ele detém foro privilegiado perante o Supremo Tribunal Federal –, nem a ele é imputado ato ilícito. Na conversa interceptada pela polícia, o expresidente da Coaf (Cooperativa Orgânica Agrícola Familiar), Cássio Chebabi, e César Augusto Lopes Bertholino, exrepresentante e vendedor da cooperativa, tratam o candidato do PRB como “novo parceiro”. “Tô indo lá pro Mané, vamos jantar com Celso Russomanno. Eu e o Marcel. Marcamos às 9 horas”, escreveu Bertholino. Em resposta, Chebabi afirma que o deputado federal é “novo parceiro” e que “tá forte pra prefeito”. Bertholino afirma, ainda, que Russomanno “vai dar duas secretarias” para Leonel Júlio, exdeputado e pai de Marcel Julio, apontado pelos investigadores como um dos mentores do esquema de desvios. “Já tá acordado”, afirma o expresidente da cooperativa agrícola. A polícia diz “ficar claro que Chebabi e Bertholino esperam algum benefício com esta aproximação”. Segundo os investigadores, os dois suspeitos de integrar a máfia da merenda “demonstram claramente acreditar que o caminho mais fácil para a consecução de contratos com órgãos públicos é a aproximação com pessoas que detêm poder de mando nos órgãos públicos visados”. Russomanno nega conhecer os dois. Chebabi fechou acordo de delação premiada com o Ministério Público Estadual, já homologado pela Justiça. Em depoimento, ele admitiu as fraudes em licitações para fornecimento de suco de laranja. Marcel Júlio também fez acordo para colaborar com as investigações. Investigação. A Operação Alba Branca investiga esquema de desvios em contratos de merenda de 35 prefeituras e que mirava também contratos da Secretaria de Educação do governo estadual. O relatório que menciona o nome de Russomanno foi produzido pela Polícia Civil em janeiro, a partir da análise de mensagens pelo celular dos dois investigados. Em junho, o caso passou a ser investigado pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal. A transferência ocorreu pois quase todo os recurso desviados seriam proveniente do governo federal, sendo uma pequena parte das prefeituras. A investigação aponta para o suposto envolvimento do presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, deputado Fernando Capez (PSDB). Ele teria sido contemplado com propina de cerca de R$ 400 mil para sua campanha em 2014. Capez nega ligação com o grupo e abriu mão espontaneamente do seu sigilo bancário e fiscal. Segundo a polícia, a base da organização ficava no município de Bebedouro, interior do Estado. Na cidade funcionava a Coaf, cooperativa de agricultura familiar que possuía contrato com as administrações municipais. As prefeituras compravam produtos da Coaf para cumprir a obrigação, prevista em !ei, de gastar 30% das verbas recebidas do Fundo Nacional para o Desenvolvimento da Educação (FNDE) com cooperativas. O ESTADO DE S. PAULO 27/08/16 POLÍTICA Candidato do PRB diz não conhecer suspeitos de fraude Questionado pelo Estado sobre a citação, o candidato disse não conhecer e nunca ter se encontrou com Bertholino e Chebabi. Russomanno afirmou ainda que vai oficiar o Ministério Público pedindo “apuração irrestrita dos fatos”, disse. “Vou oficiar o Ministério Público pedindo apuração irrestrita dos fatos. Estou colocando à disposição do jornal e das autoridades o meu sigilo telefônico, fiscal e financeiro para apuração incondicional desta suposta conversa telefônica. Não conheço estes cidadãos, nunca tive contato com eles, nunca encontreios pessoalmente. Vou interpelá-los judicialmente para que façam prova de que mantiveram algum contato comigo. A quem interessa envolver o meu nome nesse monte de mentira? Faço questão de ir a fundo nessa investigação para saber a mando de quem, ou de qual partido estão tentando sujar o meu nome”, afirmou o candidato, em nota. CORREIO BRAZILIENSE 27/08/16 CIDADES UNB » Candidatos à Reitoria prontos para as urnas O último debate antes das eleições para a Reitoria e a Vice-Reitoria ocorreu ontem no Câmpus Darcy Ribeiro ANA VIRIATO Especial para o Correio A corrida pela Reitoria e pela Vice-reitoria da Universidade de Brasília (UnB) chega aos episódios finais. O último debate entre os candidatos ocorreu ontem no Câmpus Darcy Ribeiro, na Asa Norte. Em pauta, diretivas relacionadas à gestão de verbas, aos projetos educacionais em vigência, à reformulação dos espaços de estudo e às condições de trabalho de técnico-administrativos. A disputa será encerrada em consulta pública prevista para 30 e 31 de agosto. Os concorrentes para o próximo quadriênio são: Denise Bomtempo e José Sánchez (Chapa 93); Márcia Abrahão e Enrique Huelva (Chapa 94); e Ivan Camargo e Sônia Báo (Chapa 95).Idealizado pela Comissão Organizadora da Consulta (COC) e mediado pelo jornalista Beto Almeida, o evento promoveu a reapresentação de projetos de campanha, o direcionamento de questionamentos entre opositores e a resposta às perguntas da plateia e das três entidades integrantes da instituição — Associação dos Docentes da Universidade de Brasília (ADUnB), Diretório Nacional dos Estudantes (DCE) e Sindicato dos Trabalhadores da Universidade de Brasília (Sintfub). Entre os temas polêmicos, ganharam destaque propostas de incentivo aos discentes de iniciação científica e de valorização dos técnicoadministrativos do centro universitário. Em referência à primeira discussão, Denise Bomtempo explicou que, durante o exercício do Decanato, entre 2008 e 2012, criou resoluções para aperfeiçoar os moldes de pesquisa na UnB. Para o mandato de 2016-2020, ela prometeu “viabilizar infraestrutura, meios e verbas para enriquecer as experiências educativas dos estudantes”. Sônia Báo garantiu que criará condições de apoio e estímulo aos alunos, pois “só esse tipo de projeto pode manter a eficácia acadêmica”. Márcia Abrahão defendeu que, por ter iniciado a jornada estudantil em programas de científicos, reconhece a importância dessa vertente. Propôs, então, a criação de um Decanato destinado à pesquisa e à inovação. “A formação é ampla e precisamos investir em todas as variáveis”, disse. Programe-se A consulta pública para a eleição do reitor e do vice-reitor da Universidade de Brasília (UnB) ocorrerá em 30 e 31 de agosto. Caso nenhuma chapa atinja 51% da proporção dos votos, haverá segundo turno, previsto para 13 e 14 de setembro. Apenas docentes, discentes e técnico-administrativos podem participar. Ao dirigirem-se às urnas, todos devem portar quaisquer documentos comprobatórios de vínculo com a instituição. Os pontos de votação estarão espalhados em todos os câmpus da instituição de ensino superior. CORREIO BRAZILIENSE 27/08/16 CIDADES EDUCAÇÃO » Expostos ao bullying e à droga Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (Pense) 2015 mostra que parte dos estudantes brasilienses do 9º ano do ensino fundamental admite a prática de constrangimentos, a experimentação da maconha e até abusos sofridos por familiares LUIZ CALCAGNO Maria Cecília, 14 anos, mudou de escola depois de sofrer bullying: apoio da mãe, Maria Inês, e melhora de rendimento escolar Depois de sofrer bullying, Maria Cecília Nunes Gobbo, 14 anos, mudou de escola. Aluna do 9º ano do ensino fundamental de uma escola privada, ela conseguiu elevar o rendimento ao evitar as agressões. Hoje, ela está entre os primeiros da turma. O cenário vivido pela adolescente ilustra bem os resultados obtidos na Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (Pense) 2015 do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE). Um dos dados mostrou que, em colégios particulares do DF, 25,1% admitiram humilhar ou constranger sistematicamente os colegas (veja quadro). O número é maior do que a média nacional, de 19,8%. Para especialistas, a estatística é alarmante, pois, se vários de estudantes admitem abertamente a prática, significa que não compreendem a gravidade do ato. A mãe de Maria Cecília, Maria Inês Nunes Gobbo, 46, acompanha de perto a rotina da filha e agiu rápido quando soube dos problemas na instituição anterior. “Eu cobro prova, boletim e sempre pergunto pelas tarefas. Fora da escola, sempre levo e busco. Quando vai para a casa de uma colega, eu converso com a mãe e mando mensagens”, conta. “Com relação a mim, a minha mãe não teve problemas, pois eu nunca pratiquei o bullying. Desde nova, os meus pais sempre me alertaram sobre esse tipo de situação”, completa a filha. Em outro caso, as gêmeas Júlia e Lorena Gurgel Rodrigues, 13, saíram da escola particular para a pública. Lá, elas se depararam com uma realidade desconhecida, de colegas do 9º ano que dividem o tempo entre o estudo e os filhos. É outro cenário que corrobora com o levantamento do IBGE. Segundo a pesquisa, dos alunos do 9º ano que tiveram relações sexuais, 40,5% não usaram camisinha na primeira relação. Depois do preservativo, o meio contraceptivo mais usado é o anticoncepcional, com 69,3%. Álcool e drogas Especializada nos ensinos fundamental e médio, a pesquisadora da Universidade Católica de Brasília (UCB) Leda Gonçalves comenta os números apresentados. Sobre o bullying, ela explicou que a facilidade em admitir a prática é motivo de alerta. “É um constrangimento, uma humilhação. Como se sentem à vontade para dizer? Se não mudam essa prática, que sociedade estamos formando?”, questiona. Ela alerta que o dever de transformar o comportamento é dos pais, da escola e da mídia. O mesmo vale para o uso do preservativo. “É responsabilidade de todos educarem os jovens para a vida sexual. O efeito de não usar camisinha é o risco de doença sexualmente transmissível e a gravidez na adolescência, que impacta a vida da mãe e da criança”, destaca. Chama a atenção, ainda, os dados sobre o uso de cigarro, álcool e drogas ilícitas. Um total de 23,7% dos estudantes afirmam terem fumado. A porcentagem é maior na rede pública. A quantidade dos que admitem terem bebido é ainda maior: 59,8%. Desses, 61,1% são de estabelecimentos de ensino do governo. Além disso, 17,8% dos que frequentam o 9º ano no DF admitem ter usado drogas proibidas, sendo 43% matriculados em instituições privadas. A maconha é a droga mais 27/08/16 popular —44% admitem terem usado pelo menos uma vez. Embora considerada baixa, preocupa, ainda, a taxa de estudantes que admitem terem usado crack: 0,8% do total. Desses, 1,3% é do sexo masculino e 1% de colégio público. Abusos O IBGE incluiu no Pense 2015 o número de estudantes do 9º ano que tiveram relação sexual forçada. No DF, 3,6% sofreram abusos. A porcentagem é mais alta entre meninas — 3,7% — e nas escolas privadas (4,2%). Os maiores agressores são familiares que não o pai e a mãe, seguidos por namorados ou ex-namorados. Especialista em política educacional, a professora aposentada da Universidade de Brasília (UnB) Stella Maris Bortoni destaca que os números são um guia para orientar o governo nas políticas públicas e alertar os pais. Ela alerta que é preciso entender a relação dos riscos que o adolescente sofre com o tipo de lar onde vive, com a região em que reside e com a condição financeira da família. “Os dados trazem mais perguntas e exigem estudos. Chegam em boa hora para mostrar à sociedade brasileira quais são os problemas a que estão submetidos os nossos jovens. Como país, estamos atrás em testes internacionais de intelectualidade para estudantes, e os adolescentes, sujeitos a mazelas que afetam diretamente o desenvolvimento. Os problemas são graves e extensos”, alerta. O subsecretário de Planejamento, Acompanhamento e Avaliação da Secretaria de Educação, Fábio Pereira de Sousa, afirma que o governo está atento. “É uma pesquisa importante para dirigir políticas públicas e ver onde precisamos corrigir as nossas falhas. Temos melhorado as nossas condições. Os dados são melhores que do restante do país em sua grande maioria. Fizemos convênios com a Secretaria de Segurança Pública para oferecer cursos e palestras e mostrar os riscos das drogas, por exemplo, e com a Secretaria de Saúde, para capacitar os nossos professores. Lembrando que as nossas escolas atendem a uma população diversa, o que não é o caso da rede privada. Além disso, trabalhamos para reformar e revitalizar as 681 escolas do DF”, garante. Em destaque Confira os principais dados da Pense do IBGE Estudantes que admitiram praticar bullying em escolas com políticas e proibições sobre a prática Total: 23,7% Alunos que se sentiram humilhados por provocações de colegas nos 30 dias anteriores à pesquisa Total: 6,7% Em escolas públicas: 6,9% Do sexo masculino: 7,3% Estudantes que caçoaram, zombaram ou intimidaram um colega até magoá-lo nos 30 dias anteriores à pesquisa Do sexo masculino: 29,7% De escolas particulares: 25,1% Alunos que experimentaram cigarro Total: 23,7% Do sexo masculino: 26,8% De escolas públicas: 52,2% Desses, 25,5% compraram o próprio cigarro; 22,1% tiveram acesso de outro modo; 16,8% pediram a alguém; e 13,5% pegaram escondido Estudantes que experimentaram bebida alcoólica Total: 59,8% De escolas públicas: 61,1% Desses, 43,1% beberam em uma festa; 16,2%, com amigos; e 16% compraram em um ou mercado Alunos que experimentaram drogas ilícitas Total: 17,8% Maconha: 44% Em escolas particulares: 43,3% Crack nos 30 dias anteriores à pesquisa: 0,8% Do sexo masculino: 1,3% De escolas públicas: 1% Estudantes que tiveram relações sexuais Total: 23,2% Que não usaram camisinha na relação: 40,5% Número de parceiros para quem iniciou a vida sexual De 2 a 3 pessoas: 35,6% 1 pessoa: 35,4% De 6 ou mais: 15,8% 27/08/16 Método contraceptivo mais usado depois da camisinha foi a pílula anticoncepcional: 69,3% Estudantes que tiveram relação sexual forçada Total: 3,6% Do sexo feminino: 3,7% De escolas privadas: 4,2% Por namorado ou ex: 18,5% Por amigo: 17,7% Por pai, mãe ou padrasto: 15,9% Por outros familiares: 25,2% Por desconhecidos: 8,3% Localização das escolas do DF Em área de risco: 30.598 estudantes Desses, 80,9%, são de escolas públicas; e 67,4%, de escolas privadas CORREIO BRAZILIENSE 27/08/16 CIDADES FACULDADE DARWIN Na justiça por DIploma O Ministério Público Federal (MPF) recorreu à Justiça para garantir o diploma de 324 estudantes que concluíram os cursos de marketing, rede de computadores e gestão pública na Faculdade de Tecnologia Equipe Darwin (FTED), em Águas Claras, mas não receberam os diplomas. Durante as investigações, iniciadas em 2011, ficou comprovado que o curso ainda estava em processo de reconhecimento pelo MEC, o que o impossibilitava de emitir o diploma. A ação traz, ainda, informações acerca de deficiências e irregularidades identificadas pelo MEC em vistorias e inspeções feitas na instituição, como parte do processo de reconhecimento. A procuradora cita, por exemplo, um relatório, elaborado no fim de 2011 pelo Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), que descreve a existência de “um perfil precário ou muito precário de qualidade”. O principal pedido apresentado pelo MPF na ação é para que Justiça obrigue a União a fazer o reconhecimento excepcional dos três cursos. Caso a regularidade não seja comprovada, e, consequentemente o reconhecimento se torne inviável, o MPF pede que a faculdade seja condenada a indenizar os ex-alunos. Nessa hipótese, o pedido é para que a instituição restitua a título de danos materiais todo o valor pago pelas mensalidades e taxas, além de pagar uma indenização por danos morais equivalente ao dobro do total dos prejuízos materiais sofridos por cada estudante.