Haverá portos seguros?

Transcrição

Haverá portos seguros?
ID: 37496067
16-09-2011
Tiragem: 17700
Pág: 39
País: Portugal
Cores: Preto e Branco
Period.: Semanal
Área: 27,23 x 11,67 cm²
Âmbito: Economia, Negócios e.
Corte: 1 de 1
ALEXANDRE MOTA
Diretor Executivo Golden Broker
Haverá portos seguros?
Num contexto de incerteza sobre a
fiabilidade do papel moeda é difícil definir o
que é um porto seguro.
O mundo está bipolarizado numa luta
entre credores e devedores. As divisas dos
países credores (alguns deles são a China,
Japão e a Suíça) tendem a beneficiar deste
contexto, mas todas elas (CNY, JPY e CHF)
são manipuladas pelos respetivos bancos
centrais, conforme se viu em agosto no caso
do banco central suíço e banco do Japão.
Estamos muito céticos sobre a capacidade
de intervenção dos bancos centrais japonês e
suíço, a não ser que os fundamentos mudem
e haja um interesse concertado em ajustar as
taxas de câmbio. Nesse sentido, pensamos
que vender CHF e JPY é acreditar que os
bancos centrais vão ganhar e o mercado está
profundamente errado. Na nossa opinião,
não está. O mercado pode ter exagerado a
subida de CHF e JPY, mas fê-lo em parte
porque não consegue comprar livremente
CNY (o grande fator de distorção).
Sem condições para um acordo do
tipo “hotel plaza” no qual se decidiu, em
1985, que o dólar deveria cair, vivemos
num mundo em que a franja de interesses
mútuos é muito diminuta. Por exemplo, a
China não tem interesse em deixar subir a
sua moeda (como todos querem) porque
perderia capacidade exportadora e porque
isso significaria uma queda brutal dos seus
principais ativos (denominados em dólares).
Com o CNY artificialmente desvalorizado,
o mundo procura outros activos credíveis
(os dos países credores). E procura sem
expetativa de grande ganho, apenas como
proteção.
Adicionalmente, o apelo que o JPY e
CHF têm como divisas do lado curto do
“carry trade” deixa de fazer sentido quando
as divisas tradicionalmente longas no “carry”
têm taxas de curto prazo semelhantes.
Com exceção ao dólar australiano, não há
nenhum apelo ao “carry trade” através de
crosses majors (EUR, GBP, CAD, USD
contra JPY ou CHF)
Então… que posições longas em Forex?
Embora não acreditemos no sucesso
das intervenções esporádicas e contra
os fundamentos, elas são um elemento
perturbador e distorcem a linha de
raciocínio. Se, por um lado, nos parece
claro que é lógico deter divisas de países que
têm superavits de conta corrente, por outro
lado, não é fácil enfrentar uma intervenção.
Então… que posições longas em Forex?
O nosso posicionamento macro privilegia
o ouro e a prata como divisas alternativas
ao papel-moeda porque são ativos que os
bancos centrais não podem manipular
através do aumento da oferta de moeda
e porque as taxas de juro praticadas pela
moeda fiduciária se mantêm muito baixas.
No caso do ouro, a queda recente, em
parte motivada por um (fugaz ou não)
otimismo bolsista e também pelo aumento
das margens das bolsas, afigura-se como
uma oportunidade de compra.
Consideramos que o ouro pode beneficiar
de ambos os cenários (otimista e pessimista):
um regresso do otimismo porque esse só se
afigura possível se houver mais impressão
monetária; um acelerar do pessimismo
porque funciona como um refúgio.
Bons investimentos!