Ecologia da paisagem e cenários para conservação da avifauna na
Transcrição
Ecologia da paisagem e cenários para conservação da avifauna na
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DEPARTMENTO DE ECOLOGIA CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA Ecologia da paisagem e cenários para conservação da avifauna na região do Parque Nacional das Emas, GO. MARCELO GONÇALVES DE LIMA Orientador: Prof. Roberto Brandão Cavalcanti, PhD Tese apresentada junto ao Curso de pós-graduação em Ecologia como um dos requisitos para a obtenção do título de Doutor em Ecologia Brasília-DF 2003 Trabalho realizado junto ao Departamento de Ecologia do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Brasília, sob orientação do Prof. Roberto Brandão Cavalcanti, como requisito parcial para a obtenção do grau de Doutor no curso de Pós-Graduação em Ecologia da Universidade de Brasília. Data de defesa: 30 de outubro de 2003 Aprovado por: Banca examinadora: Prof. Roberto Brandão Cavalcanti, Ph.D (Orientador) Prof. Jean Paul Metzger, Ph.D (Membro da banca examinadora) Dr. Ricardo Bonfim Machado (Membro da banca examinadora) Prof. Cláudio Pádua-Valadares (Membro da banca examinadora) Prof. Dr. Jader Marinho-Filho (Membro da banca examinadora) Prof. Guarino Rinaldi Colli (Membro da banca examinadora, suplente) Dr. Mario Barroso Ramos-Neto (Membro da banca examinadora, suplente) A meus pais, Vilneyde e Clausius, e minha irmã Simone que sempre me apoiaram. A Bruno, primo, cunhado e acima de tudo irmão. A Diogo e Cecília pela oportunidade de me manter jovem. E a Bárbara, companheira desta e de outras vidas. Aos amigos in memoriam que estão comigo no coração e em espírito: Eugênio da Costa e Silva Marcelo Bagno "Interesting" Spock "Sounds like a plan" MacKenzie Calhoun "E se estiver tudo errado??" Mafalda Índice Resumo...........................................................................................................................i Abstract........................................................................................................................iii Prefácio Cerrado: bioma esquecido............................................................................v Capítulo 1. Distribuição da Avifauna em paisagens do cerrado. Introdução.......................................................................................................................1 Métodos..........................................................................................................................4 Área de estudo....................................................................................................4 Desenho experimental........................................................................................5 Censo..................................................................................................................5 Análise................................................................................................................6 Padrão da comunidade............................................................................6 Análise de Variância - ANOVA.............................................................7 Ordenação...............................................................................................7 Resultados......................................................................................................................7 Padrão da comunidade........................................................................................8 ANOVA..............................................................................................................8 Ordenação...........................................................................................................9 Discussão......................................................................................................................11 Conclusões....................................................................................................................21 Bibliografia...................................................................................................................23 Anexo 1 Tabelas...........................................................................................................28 Anexo 2 Figuras...........................................................................................................37 Capítulo 2. Fragmentação, conectividade e a abundância de aves na região do Parque Nacional das Emas. Introdução.....................................................................................................................50 Métodos........................................................................................................................52 Análise da paisagem.........................................................................................53 Análise de habitat na paisagem........................................................................54 Resultados....................................................................................................................55 Análise da paisagem.........................................................................................56 Análise multivariada do habitat e abundância..................................................56 Discussão e Conclusão.................................................................................................59 Bibliografia...................................................................................................................62 Anexo 1 Tabelas...........................................................................................................64 Anexo 2 Figuras...........................................................................................................70 Capítulo 3 Valor de Conservação da Região do Parque Nacional das Emas para a avifauna do Cerrado. Introdução.....................................................................................................................81 Métodos........................................................................................................................83 Resultados....................................................................................................................85 Equações logísticas de probabilidade...............................................................85 Mapas de HS e índices de paisagem.................................................................86 Mapa de Valor de Conservação........................................................................88 Discussão......................................................................................................................88 Conclusão.....................................................................................................................92 Bibliografia...................................................................................................................94 Anexo 1 Tabelas...........................................................................................................98 Anexo 2 Figuras.........................................................................................................100 Conclusões gerais......................................................................................................114 Agradecimentos Às pessoas Agradecer, depois de tanto trabalho e com tantas pessoas envolvidas, é difícil, porque você não lembra de todas e acaba por esquecer alguém. Então, peço desculpas antecipadamente a quem esqueci. Mas vamos lá com a extensa lista. A meus pais, Vilneyde e Clausius por todo apoio nesta longuíssima vida de aprendizado acadêmico (põe longa nisso). Toda a paciência e toda a estrutura que me deram para completar mais este trabalho. À minha irmã Simone e ao irmão Bruno que seguraram a barra nas horas mais difíceis que tive nestes últimos anos e pelos momentos de discussão sobre temas variados que sempre ajudaram a descontrair. E, desculpa aí, alguém tinha que terminar primeiro.. A minha companheira Bárbara, pela ajuda e paciência. E principalmente pelos momentos de ternura que compartilhamos nestes três anos. Ao Diogo e à Cecília também agradeço os momentos de descontração e a alegria de vê- los crescer e arengar comigo. À extensão familiar dos Saraiva, agradeço toda a vibração que me passam. São parte deste trabalho também. Agradeço imensamente ao Roberto a chance de trabalhar com ele, um dos responsáveis pela esta minha vida acadêmica, e também por toda a ajuda que me deu para fazer o trabalho de campo. Espero que você não tenha queimado um cartucho a toa ! Ao Pacheco agradeço a paciência e as ótimas idéias e soluções aos problemas da tese. Aos professores Hay, Guarino, Jean Paul e Raimundinho obrigado pela ajuda e sugestões. Durante o trabalho de campo, duas pessoas se sobressaíram como companheiros. O Leandro Baumgarten esteve presente em quase todos os momentos e foi companhia inestimável. Agradeço muito a ajuda dele, principalmente, nos momentos difíceis de trabalhar em condições adversas no Parque Nacional das Emas. A outra pessoa é a Paula Hannah, ou pesquisadora Havana, que, junto com o pesquisador Baumgarten e eu, formou uma trinca de muita diversão, conversa e trabalho juntos. Muito obrigado a vocês dois. O Mario Barroso abriu a sua casa para mim e foi companheiro dos altos e baixos momentos. Muito obrigado Mario. E também agradeço à Cynthia e às crianças. Os "filhos" do Mário Barroso também foram ótima companhia, tanto no campo quanto em Mineiros: Renaton, Nasdaq e Demers. Falou povo. Ainda no campo gostaria de agradecer ao Iubatã e suas Elaenias, ao Marquinhos Roca Lima, ao Roberto Roberval e à Keiko pela ajuda no campo. Durante o trabalho de campo, pude dividir o "alojamento de múltiplo uso" com muitas pessoas legais. A Fabiana foi ótima e animada moradora de lá. Valeu capa gato! A equipe de tamanduás era enorme e a convivência muito boa: Fernanda, Guilherme, Pablo, Andréa e demais. No lado predador da estória, estão os amigos "Coronel" Leandro Silveira e Anah Jacomo. Muito obrigado a vocês pela ajuda, conselhos e churrascos!! Bigata e Marcolino, comandantes do baixo clero da tropa, propiciaram divertidos momentos. Não vou conseguir lembrar de todos que passaram no projeto, mas mando um forte abraço a Cláudia "Mulher Maravilha", Samuel, "Edmundo" entre outros. Na sede do PNE, o Farias, Cátia, e Anas e o Edmar Goiano, Adriana, Gabriela, Graziela e neném. É muito importante agradecer aos proprietários das fazendas que "invadi". Eduardo Peixoto, Edo Peixoto, Robertinho Garcia, Nadir Garcia, Paulo Garcia, Maria Amélia Garcia. Chapadão do Céu foi muito receptiva, me acolhendo de braços abertos. Lá deixei muitos conhecidos e arrisco dizer alguns amigos. O Ronaldo da Mecânica Chapadão do Céu, que obviamente adorava meu Niva, mas também foi amigo e competente no trabalho. O Cláudio e Mara do Supermercado Corbari, onde comprei e vendi muito gado tomando um chimarrão sempre novo. Na Pousada Santa Amélia, agradeço à Nadir pela recepção e amizade e à Marineide pela companhia. O Eduardo e a Maggy me ajudara muito no trabalho. Na UnB, são uns tantos também a agradecer. Agradeço aos colegas da Ecologia e da Pequi pelas conversas e festas: Bia, Alemão, Andrei, Dayani, Marina, Marcelo Van Dami, Xandão, Daniel, André Lima, Mariana, Thuca, Mozzer, Dani, entre tantos outros. Agradeço também ao Chicão e ao Lindomar pela ajuda e companhia no Lab. de Biologia Teórica. Ao Mestre Waldenor, agradeço por incentivar o nosso trabalho no lab. O povo da secretária da Ecologia, Fabiana, Herbert, Hugo e também à amiga Nara da Biologia Animal, muito obrigado pela a ajuda. Na CI, agradeço muito ao Paulo Gustavo por toda força que ele deu ao meu trabalho bem como ao "staff" da CI BR: Reinaldo, Mônica, Érika, Teti, Eduardo, Luis Paulo, Ivonilde, Carlinhos, Alexandre, Mariza e Claudia. Agradeço à Tracy van Holt pelo emp réstimo do equipamento, que foi muito importante para desenvolver o trabalho. Às Instituições Recebi inúmeros apoios financeiros e agradeço muito a todas. Durante o doutorado, recebi uma bolsa do Conselho Nacional de Pesquisa – CNPq. Este trabalho não teria sido feito sem a ajuda da Conservation International do Brasil. Via CI, consegui o apoio da Anhauseur-Bush (agradecimentos especiais a Julie Scardine). Agradeço o apoio financeiro da WWF-Brasil. Recebi apoio também da PEQUI – Pesquisa e Conservação do Cerrado. O Projeto Águia Cinzenta gentilmente emprestou uma L 200 na fase final de campo. À Fundação Emas pelo apoio. À Oréades pela ajuda inestimável. Esta tese não teria sido realizada sem o apoio financeiro da FUNGLAP (Fundação Gonçalves de Lima de Amparo a Pesquisa). Ao material permanente Nós esquecemos muito a importância deste. Vale agradecer! Ao Lada Niva, companheiro de 6 anos de campo. Ao lap top Toshiba que agüentou uma pauleira. RESUMO O cerrado é um dos "hotspots" de biodiversidade global, áreas de biodiversidade extremamente alta e também severamente transformadas pela ação humana. Originalmente ocupando 22% do território brasileiro, ou cerca de 2 milhões de km2 , a extensão atual da vegetação original do bioma é de aproximadamente 20%, com 6% em áreas protegidas. O bioma cerrado possui tanto ambientes abertos, como campos e savanas, como também matas secas e matas-de-galeria. Muitas espécies ocorrem através de uma amplitude de habitats e ecótonos, sugerindo que elas podem se adaptar a transformações, em nível da paisagem, resultantes da ocupação humana. O objetivo desta tese foi analisar as relações entre a ocorrência de espécies avifauna e as características da paisagem na região do Parque Nacional das Emas, e para propor modelos de planejamento de conservação, para a manutenção da diversidade de espécies em uma matriz de paisagem agrícola. Os dados da avifauna foram coletados em doze áreas, seis dentro do Parque e seis dentro de fazendas na região, que foram subdivididos em dois tipos: cerrado adjacente à mata-de-galeria e cerrado isolado. Cada área foi amostrada nove vezes entre julho-setembro de 2002 e janeiro- março de 2003. Foram usados transectos com 500 m de comprimento e 50 m de largura. Dados da paisagem foram obtidos de duas imagens Landsat 7 ETM, adquiridas em 2002, e classificadas usando procedimentos não supervisionados e o conhecimento do observador sobre a região. Observamos 961 indivíduos de 63 espécies. Não foi encontrada nenhuma associação significativa entre a composição total de espécies e as áreas amostrais, com relação ao local dentro ou fora do parque ou em matas-de-galeria na vizinhança. Uma análise sem as espécies dependentes de formações florestais, entretanto, mostrou relações significativas entre as áreas e as espécies, sugerindo que a presença de matasde-galeria influencia a abundância de espécies de ambientes abertos. Uma área de 1,5 milhões de hectares com o Parque como núcleo apresentou 40% de cobertura vegetal natural, sendo 14,7% de campo aberto, 16,5% de cerrado, e 7,9% de formações florestais. O Parque é por si só 8,9% da região, e suas áreas naturais correspondem a 22,9% do total da paisagem estudada. Nós testamos a associação entre a composição da comunidade de aves e cinco índices de paisagem nas áreas amo strais: número de manchas, contágio, agregação, divisão e a diversidade de Shannon. Foi encontrada uma associação significativa entre a comunidade de aves e as paisagens. Os índices de contágio e diversidade explicaram a maior parte da variância. Estes são indicadores de densidade de borda na paisagem e da média de tamanho de manchas ponderado por área. Classificamos a paisagem em termos de valor de conservação para cinco espécies endêmicas do cerrado: Saltator atricollis, Neothraupis fasciata, Melanopareia torquata, Cypsnagra hirundinacea e Cyanocorax cristatellus. Esta análise combinou as abundâncias registradas em cada sítio com a composição da paisagem da área. Apesar de não haver muita consistência entre os mapas de valor de conservação regionais para todas as espécies, a classe de habitat cerrado proporcionou, no geral, o melhor preditor de adequação para conservação. Adicionalmente, áreas ao longo de cursos d'água também tiveram valores de conservação consistentemente altos, corroborando com a idéia do uso e expansão dos regulamentos dentro do Código Florestal, que protegem as matas-de-galeria e habitats ripários, como ferramentas para a conservação. ABSTRACT The cerrado is one of the global biodiversity hotspots, areas of extremely high biodiversity and also largely transformed by human action. Originally occupying over 22% of Brazil´s territory or circa 2 million sq. km, the extent of natural vegetation in the biome is approximately 20%, with 6% in protected areas. The cerrado biome comprises both open habitats such as grasslands and savannas as well as dry forests and gallery forests. Many species occur across a range of habitats and ecotones, suggesting that they may be able to adapt to landscape scale transformations resulting from human occupation. The objective of this thesis was to analyze the relations between avian species occurences and the landscape characteristics in the region of Emas National Park, and to propose models of conservation planning for maintenance of species diversity in an agricultural landscape matrix. Avian data was collected at twelve cerrado sites, six within the Park and six in farms outside, which were further subdivided into two types: cerrado adjoining gallery forest and isolated cerrado. Each site was surveyed nine times between julyseptember 2002 and january- march 2003. I used 500 m transects with 25m on each side. Landscape data was obtained from four Landsat 7 satellite images acquired in 2002 and classified using automated procedures and the observer´s knowledge of the area. We recorded 961 individuals of 63 bird species. There was no significant association between total species composition and sites with respect to location inside or outside the park or neighboring gallery forest. An analysis without forest- dependent birds however showed significant associations between sites and species, suggesting that the presence of gallery forests influences the abundance of species of open habitats. A 1.5 million hectare area with the Park at the core had approximately 40% in natural vegetation cover, of which 14.7% are grasslands, 16.5% in cerrado, and 7.9% forests. The Park itself is 8.9% of the region and its natural areas 22.9% of the class total. We tested the association between avian community composition and five landscape indices around the study sites: number of cerrado fragments, contagion, aggregation, division, and Shannon´s diversity. There was significant association between bird communities and landscapes. Contagion and division indices explained a large part of the variance. These are indicators of edge density in the landscape and area-weighted mean patch size. We classified the landscape in terms of conservation value for five endemic species: Saltator atricollis, Neothraupis fasciata, Melanopareia torquata, Cypsnagra hirundinacea and Cyanocorax cristatellus. This analysis combined abundances recorded at each site with the landscape composition of the area. Although there was little consistency between the regional conservation value maps for all species, the cerrado habitat class provided the best predictor of conservation adequacy overall. Additionally, areas along watercourses have consistently high conservation values, supporting the use and expansion of the existing Forestry Code regulations that protect gallery forests and riparian habitats as conservation tools. PREFÁCIO Cerrado: Bioma esquecido. * Marginalizado à condição de "primo pobre" das exuberantes florestas neotropicais, o Cerrado brasileiro, aos poucos, vai ocupando a agenda de ambientalistas, como na ocasião da audiência pública no Senado Federal ocorrida em maio último sobre a nova proposta de Código Florestal apresentada pelo Deputado Micheletto (PMDB-PR). Um ruidoso grupo de estudantes da Universidade de Brasília, convocado pelos centros acadêmicos de Biologia e Engenharia Florestal e armado de balões verdes e muita motivação, mostrou sua preocupação com a proposta de um código florestal ruralista. Em especial, os estudantes se manifestaram contra a destruição do cerrado, que é o bioma brasileiro mais ameaçado no momento. De acordo com artigo "Conserving biodiversity hotspots" (Nature, 24 de fevereiro, 2000) a área original com vegetação primária ocupada pelo Cerrado era de 1.783.200 km2 . Hoje restam cerca de 356.630 km2 , ou seja, apenas 20% da cobertura primária original! Infelizmente, esta é uma das razões que colocam o Cerrado como uma área prioritária ou "hotspot" para conservação. A outra razão decorre da sua imensa biodiversidade e grande quantidade de espécies endêmicas, aque las que só ocorrem neste bioma. Em termos nacionais, o Cerrado é o segundo no "ranking" em número de espécies, perdendo só para a Amazônia. Se comparado às outras savanas no mundo, o Cerrado ocupa a liderança em termos de biodiversidade. Estima-se, por exemplo, que existam mais de 800 espécies de aves no bioma, e que das 10.000 espécies de plantas, cerca de 4.000 sejam endêmicas. A realidade é que o Cerrado, como "hotspot" de conservação, apresenta uma grande concentração de espécies endêmicas que estão correndo o risco de serem extintas devido à excepcional perda de habitat. Apesar da ocupação do Cerrado começar no século XVIII com a exploração de ouro e pedras preciosas, o uso e destruição da cobertura vegetal primária inicia-se com a construção da nova capital nos anos 50 e com o incentivo agrícola aliado às novas técnicas e mecanização do cultivo que permitiram a substituição dos campos cerrados por uma paisagem de monoculturas, principalmente de soja. Entre os anos 60 e 80 o Cerrado é considerado não só como uma fronteira agrícola, mas também como uma alternativa ao desmatamento da Amazônia.. Outrora visto como pobre em nutrientes e de difícil manejo, novas técnicas agrícolas, desenvolvidas principalmente pela Embrapa, permitiram a utilização dos solos para plantio de grão. Com o objetivo de alcançar uma produção competitiva com o mercado internacional e visando principalmente o aumento das exportações, o uso do que resta do cerrado é hoje defendido não só pelo segmento ruralista, mas também, por vários órgãos do Governo Federal. O uso do Cerrado para pecuária extensiva também contribuiu em muito para a degradação do bioma. A prática mais comum é a de queima e corte das áreas para criação de pastos. A queima aos poucos vai esgotando o solo e as árvores restantes são deixadas apenas para oferecer sombra ao gado. A substituição da cobertura original por campos agropecuários leva não só à destruição do ambiente e à extinção local de espécies, mas, também, dá início ao processo de fragmentação. É possível ve r a olho nu, manchas de matas secas ou cerrados propriamente ditos espalhados dentro de uma paisagem repleta de plantações ou pastos. Da mesma forma, na proximidade dos centros urbanos, fragmentos de mata encontram-se imersos em um mar de condomínios habitacionais. O arcaico Código Florestal brasileiro de 1967, ao determinar as áreas mínimas de proteção permanente (APP), não levou em consideração a manutenção dos processos ecológicos e permitiu o estabelecimento das áreas sem um planejamento prévio. A conectividade ou permeabilidade natural das áreas protegidas não foi respeitada e criaram-se verdadeiras ilhas isoladas de vegetação nativas inseridas em áreas alteradas. Muitas espécies, por serem incapazes de circular em ambientes antropizados, ficam restritas às áreas naturais. As populações isoladas podem sofrer um processo de depressão endogâmica, no qual genes deletérios sobressaem devido à reprodução intrapopulacional. A saída para evitar os problemas decorrentes da fragmentação é manter o máximo da integridade, conectividade e representatividade dos ambientes naturais. A manutenção de corredores de biodiversidade ligados a grandes mosaicos de áreas protegidas pode ser uma solução, desde que envolvam estudos de fluxo de fauna e levantamentos de biodiversidade. Infelizmente, muitas propostas de criação de corredores ou de áreas de proteção ambiental não saem do papel timbrado, não passam de propaganda política ou simplesmente não possuem nenhum embasamento científico. É notável que durante a semana do meio ambiente ou dia da árvore inúmeras iniciativas próambientais sejam anunciadas e implementadas a toque de caixa. O resultado é que os processos de criação de áreas de proteção, como a consulta à população local e os estudos de fauna e flora, são atropelados. As conseqüências são desastrosas e custosas ao poder público, a exemplo de desapropriações milionárias e da remoção de comunidades tradicionais. A nova fronteira agrícola no sul do Piauí e do Maranhão e a leste do Estado do Tocantins se desenvolve exatamente na maior área de cerrado ainda intacto no país, ou seja, naqueles 20 % restantes. O desafio agora é evitar a destruição a que foram sujeitas outras regiões de ocorrência de cerrado. As possibilidades de manutenção da integridade do ambiente são enormes, porém, a resistência é grande. Enquanto existe uma grande campanha mundial para a preservação de 80% da propriedade em regiões amazônicas, como áreas de proteção ambiental, a porcentagem defendida no código ruralista varia entre 20 a 30 % nas propriedades com cerrado. Até na Constituição brasileira o cerrado se encontra em desvantagem, já que apenas as florestas amazônicas, a Mata Atlântica e o Pantanal são considerados patrimônio Nacional. Diante disto, é fundamental que outros segmentos da sociedade civil, em especial os de Brasília e da região do domínio Cerrado, se unam aos protestos dos estudantes da Biologia e da Engenharia Florestal pela defesa do nosso cerrado e de suas riquezas de fauna, flora e especialmente dos seus mananciais hídricos, haja vista que várias bacias hidrográficas nacionais nascem dentro da região. A Universidade de Brasília, pela sua localização estratégica e raízes históricas fincadas no Planalto Central, precisa participar ativamente da defesa do cerrado, em especial no seu papel de construção do conhecimento científico sobre a região. Marcelo Gonçalves de Lima é doutorando em Ecologia pela Universidade de Brasília. Também é coordenador da ONG Pequi - Pesquisa e Conservação do Cerrado e Pesquisador Associado da Conservation International do Brasil. * (artigo publicado na UnB Revista, volume 1, número 3, 2001) Capítulo 1. Distribuição da Avifauna em paisagens do cerrado INTRODUÇÃO O bioma Cerrado ocupa cerca de 2 milhões de km2 ou 22 % do território brasileiro (WWF-PROCER, 1995). Compreende o Brasil Central assim como o nordeste do Paraguai e o leste da Bolívia (Silva, 1995). É a maior formação savânica do mundo, onde campos abertos predominam em um mosaico de vegetação semidecídua, variando do ralo ao fechado, sendo considerado uma vegetação clímax que se estabeleceu em um solo pobre em nutrientes (Eiten, 1972; Silva, 1995). É atravessado por matas-de-galeria caracterizadas como faixas de vegetação mesofítica associada a cursos d’água (Redford e Fonseca, 1986). Manchas de mata seca (florestas deciduais estacionais ou caducifólias) também são encontradas, normalmente associadas a depressões e solos mesotróficos (Silva, 1995; Silva e Bates, 2002). O Cerrado é considerado um “hotspot”, uma área de extrema importância para conservação por possuir uma alta concentração de espécies endêmicas e, ao mesmo tempo, uma perda muito grande de hábitat (Myers et al, 2000). Pesquisas recentes, encontraram cerca de 4.400 plantas endêmicas, sendo 400 espécies vasculares. O número de plantas vasculares pode atingir 10.000, de acordo com estimativas (Ratter et al., 1997; Ratter com. pess). A ocupação humana tem sido muito intensa, e devido a isto, estima-se que apenas 20% ou 356.630 km2 da área original do Cerrado ainda estejam intactas e que apenas 6,2% a 9% estejam dentro de alguma área protegida (Cavalcanti, 1999; Myers et al. 2000). Desde a década de 30 do século passado, o bioma tem sido “transformado" por atividades agropecuárias. A partir dos anos 70, entretanto, as atividades se intensificaram por causa dos incentivos e subsídios do Governo Federal 1 brasileiro (Ratter et al., 1997). Devido principalmente à topografia plana e à recente modernização da prática agrícola, que a tornou mais compatível ao solo e clima do Cerrado, a paisagem tem sido modificada radicalmente de campos naturais em extensas plantações de soja, milho, algodão, girassol e pastos (WWF-PROCER, 1995). De forma nem sempre gradual, as fitofisionomias naturais têm sido reduzidas a fragmentos onde a expressiva biodiversidade do Cerrado está sendo confinada. A fragmentação causa a ruptura da dinâmica do ecossistema (Lovejoy et al., 1986; Laurance e Gascon, 1997; Laurance et al., 1998; Gascon et al., 2000; Bierragaard et al., 2001; Laurance et al., 2002; Gascon et al., 2003) e muda as variáveis microclimáticas entre a borda da floresta e a matriz que foi recém criada, assim como dentro do próprio fragmento ou remanescente. Efeito de borda tem sido registrado a mais de 200 metros a partir da borda e irá alterar o padrão de distribuição tanto da fauna quanto da flora (Lovejoy et al, 1986; Brown e Hutchinson, 1997; Didham, 1997; Ferreira e Laurance, 1997; Kapos, 1989; Kapos et al., 1997; Tocher et al., 1997; Carvalho e Vasconcelos, 1999; de Lima e Gascon, 1999; Laurance e Laurance, 1999; Machado, 2000; Laurance et al., 2001; Gascon, 2003). Considerando que um mosaico de fitofisionomias forma naturalmente o Cerrado (Ratter et al., 1997; Silva e Bates, 2002), o re-estabelecimento da conectividade em uma paisagem fragmentada enfrenta uma pergunta difícil: quais hábitats ou fitofisionomias deveriam ser preservados ou restaurados para manter a biodiversidade? Pesquisas indicam que a maior diversidade de mamíferos nãovoadores, aves, e plantas vasculares é encontrada nas formações florestais (Redford e Fonseca, 1986; Silva, 1995; Ratter et al., 1997; Silva e Bates, 2002). Mas a contribuição de áreas abertas do Cerrado para aumentar a biodiversidade não deve ser subestimada. Também não deven ser consideradas inóspitas pois são encontradas 2 espécies dependentes ou semidependentes de floresta circulando nestas áreas, que formam uma "matriz" ao redor das áreas florestais (obs. pess; Machado, 2000). A questão central é que áreas florestais como matas-de-galeria e matas-seca, em conjunto com as áreas abertas adjacentes, agregam uma diversidade de espécies bastante elevada. Sendo assim, tanto os ambientes mais abertos e os florestais devem ser considerados como elementos importantes para a conservação, e, em especial, na manutenção da conectividade na paisagem, sejam como corredores de dispersão (matas-de-galeria mais as áreas de cerrado adjacente) ou “stepping-stone” (áreas isoladas de cerrado, matas-seca ou remanescentes de mata-de-galeria) (Machado, 2000; Marini, 2001). O Código Florestal brasileiro (originalmente a lei 4.771 de 15 de setembro de 1967 e modificada aposteriori por vários instrumentos legais) dita que uma certa largura de vegetação, chamada de Área de Preservação Permanente, APP, ao longo de cursos d’água, deve ser preservada. Infelizmente, a motivação da Lei é a proteção do curso d’água em si e não a fitofisionomia, desprezando-se a largura total da mata-degaleria. Usando uma outra figura de conservação também prevista no Código Florestal brasileiro, a Reserva Legal (RL), onde pelo menos 20% de uma propriedade rural deve ser preservada como área natural, seria possivel alargar as APPs, com estas reservas, protegendo também ambientes adjacentes. As RLs também poderiam ser desenhadas na paisagem para servirem de “stepping-stones” ou "trampolins ecológicos" dentro da matriz antropizada. Quando se definem estratégias de conservação, é sempre necessário pensar ao nível de espécie. Animais de diferentes táxons possuem percepções distintas do seu hábitat e dos hábitats vizinhos. Alguns podem ser bastante sensíveis à mudança do hábitat e outros podem ser mais generalistas com uma distribuição ampla, não só local 3 mas também continental e, às vezes, global. No Cerrado, algumas espécies podem ficar restritas a formações florestais, enquanto outras estão acostumadas a áreas abertas como o campo limpo, campo sujo e cerrado sensu strictu. Cerca de 840 espécies de aves são encontradas no domínio do Cerrado. Destas, 9,3% são migratórias e 3,8% são endêmicas. Silva (1995) classificou as 759 espécies residentes como típicas de áreas abertas (27,4%), de áreas abertas e áreas florestais (20,8%), e o resto, como sendo dependente de formações florestais. Espécies de áreas abertas têm diferentes reações à matrizes antropizadas (Tubelis e Cavalcanti, 2000) e espécies dependentes de áreas florestais parecem não ser sensíveis ao tamanho de área,mas sim à presença de mata-de-galeria (Marini, 2001). O objetivo deste trabalho é testar a hipótese de que a integridade da paisagem e a conectividade entre manchas de cerrado e mata de galeria afetam a presença e a abundância das espécies de aves na região do Parque Nacional das Emas. Específicamente, testamos as seguintes variáveis: - Não existem diferenças na presença e abundância de aves entre áreas de cerrado ligadas às matas de galeria e as áreas de cerrado distantes das matas. - Não existem diferenças na presença e abundância de aves entre áreas de cerrado no interior do Parque e áreas de cerrado na matriz alterada do entorno. MÉTODOS Área de estudo A nossa área de estudo está localizada no sudoeste do Estado de Goiás, Brasil, próxima aos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul (fig. 1). As áreas de estudo foram escolhidas dentro do Parque Nacional das Emas (PNE) e nas fazendas vizinhas ou próximas (fig. 2). O clima da região é ameno, sofrendo influências de massas de ar frias vindas do sul, e pela sua altitude superior a 700m na chapada. O 4 periodo de seca dura cerca de três meses, de junho a agosto. A temperatura média no PNE é de 15 graus, com forte amplitude térmica de cerca de 22 graus em média (Ramos-Neto, 2000). A região compreende uma extensa área de chapada e drenagens importantes na região como a do rio Sucuriú, do rio Jacuba e do rio Formoso e das cabecaeiras do Araguaia. O PNE foi estabelecido em 1961 e era parte de uma extensa fazenda. Possui mais de 132.000 ha, sendo a maior parte de campo limpo e campo sujo (~ 90%) . Fora do PNE, existe uma predominância de agricultura a oeste e pecuária a leste. Nas áreas amostrais fora do PNE, a atividade dominante é de pecuária. Desenho experimental Doze áreas de estudo foram selecionadas utilizando-se imagens Landsat 5 TM de 2000 e visitas in loco. Seis áreas próximas a mata-de-galeria e seis isoladas foram escolhidas. Três de cada “tipo" (ligado ou isolado) estavam dentro do PNE e três fora, em áreas vicinais (Fig. 2). As áreas ligadas dentro do Parque foram chamdas de LIP, isoladas de ISP. No entorno do PNE as áreas isoladas foram denominadas de LIE e as isoladas de ISE. Censo Antes de começar a coleta de dados, censos ad lib foram realizados, que, junto com um período de captura com redes de neblina, ajudou ao autor calibrar o método de censo e se familiarizar com as aves. Estes censos iniciais foram realizados entre agosto e outubro de 2001 e a captura com redes de neblina entre janeiro e fevereiro de 2002. O método de transecto fixo foi usado para realizar os censos nas áreas de estudo entre julho e setembro de 2002 e janeiro e março de 2003. Cada área tinha um transecto de 500 m de comprimento delimitado com fitas de marcação. Três dos 5 transectos eram trilhas de carro que raramente eram usadas. Apenas uma pessoa, M. G. de Lima realizou os censos. O observador considerou todos os indivíduos de todas as espécies que estavam empoleirados dentro de uma área imaginária de 25 m para cada lado do transecto, totalizando então 25.000 m2 de área amostral em cada área de estudo. Cada censo tinha uma hora de duração e dois transectos, eram cobertos a cada manhã, sendo o primeiro meia hora depois do nascer do sol e o segundo cerca de duas horas e meia após. Houve o cuidado de se alternar os censos de forma que todas as áreas foram amostradas em ambos os horários de forma igual. Os censos não eram realizados caso estivesse chovendo ou com ventos fortes. No caso de haver dúvida na identificação, utilizou-se de “playback” para atrair o indivíduo e /ou usou-se uma filmadora para filmá- lo e realizar posterior identificação. Nove censos foram realizados por área, totalizando 108 censos durante o estudo. A densidade para cada espécie foi calculada pela divisão da média de observações nos transectos e pela área amostral. Análise Padrão da comunidade Realizamos uma análise de co-ocorrência usando o pacote EcoSim v.7 (Gotelli e Entsminger, 2001) para testar a existência de padrões não randômicos na distribuição das espécies ou uma “checkboard distribution”, o que significaria uma organização determinística da comunidade. O módulo de co-ocorrência do EcoSim compara os dados de presença ou ausência com uma distribuição randômica gerado por série de Monte Carlo (Gotelli e Graves, 1996). Foram realizadas três análises: toda a comunidade observada; apenas espécies semidependentes e independentes de formações florestais (Silva, 1995); apenas espécies independentes de formações florestais. Espécies com menos de duas observações foram retiradas da análise assim 6 como Zenaida auriculata que seria um "outlier" já que apresentou um número de observações anormal em um dos censos. Neste sentido foram usadas 52 espécies no total, sendo 46 consideradas semidependentes e independentes de formações florestais e 32 independentes de formações florestais. Análise de Variância – ANOVA Para examinar se existia diferença da abundância entre os tratamentos, usamos uma análise de variância –ANOVA- de dois critérios com o pacote estatístico Statística ’99 (Statistica, 1999). Testamos a variância entre os tipos (isolados ou ligados) e entre os locais (PNE e vizinhança). Ordenação Usamos o programa PC-Ord (McCune e Mefford, 1999) para realizar uma Análise de Correspondência (DCA) (Jongman et al., 1995; McGarigal et al., 2000) e visualizar possíveis agrupamentos da avifauna observada. Espécies com menos de duas observações foram retiradas da análise, bem como Zenaida auriculta. Análises então foram feitas, 1) com todas as espécies (n=52), independente de preferência de hábitat, 2) com espécies semidependentes e independentes de formação florestal (n=46) e 3) com apenas as espécies ditas independentes de formações florestais (n=32). Espécies raras foram “downweighted” e os eixos rescalonados. RESULTADOS Durante os 108 censos, 961 indivíduos de 63 espécies e 27 famílias foram observados (Tab. 1). Destas, 39 espécies (62%) são consideradas como não dependentes de formações florestais, 15 (24%) ocorrem tanto em ambientes abertos quanto florestais e nove (14%) são encontradas principalmente em formações florestais (matas-de-galeria, cerradão e matas-secas). Sete das espécies observadas são consideradas endêmicas: Amazona xanthops; Antilophia galeata; Charitospiza 7 eucosoma; Cyanocorax cristatleus; Melanopareia torquata; Neothraupis fasciata e Saltator atricollis. Apenas A. galeata é considerada dependente de formações florestais (Silva, 1995). Padrão de comunidade A análise de co-ocorrência usando o EcoSim não rejeitou a hipótese de não aleatoriedade da distribuição (ptodos=0,60; psemi&indep.=0,47; pindep .=0,62). ANOVA Onze espécies apresentaram diferenças significativas em suas médias, de acordo com a ANOVA de dois critérios. 6 espécies apresentaram diferenças entre os “locais” PNE e Fazendas; 4 entre o “tipo” Ligado ou Isolado e 2 espécies apresentaram diferenças tanto entre local quanto entre tipos. - Casiornis rufa, Elaenia cristata e Ramphastos toco apresentaram uma maior média de observações nas Fazendas do que nas áreas dentro do PNE (p<0,011; p<0,007; p<0,0154; respectivamente). (Fig. 3, 4 e 5). - Colibri serrirostris também apresentou uma diferença significativa entre os locais, porém com mais observações dentro do PNE (p<0,003) (Fig. 6). - Xolmis velata apresentou uma diferença significativa entre os locais, sendo mais observado dentro do PNE (p<0,003) (Fig. 7). - Camptostoma obsoletum, Formicivora rufa e Volatina jacarina tiveram uma média significativamente maior de avistamentos nas áreas ligadas a mata-de-galeria (p<0,0234; p<0,0030; p<0,0024 respectivamente) (Fig. 8, 9 e 10). - Neothraupis fasciata apresentou uma média maior de avistamentos em áreas isoladas (p<0,0009)(Fig. 11). - Hemitraupis guira e Mimus saturninus somente foram observados nas Fazendas e em áreas ligadas à mata-de-galeria (p<0,0491) (Fig. 12, 13, 14 e 15). 8 Ordenação A DCA com todas as espécies (n=52) não mostrou, visualmente, nenhuma distinção entre as áreas amostrais ligadas à mata-de-galeria, isoladas, dentro do Parque, ou nas Fazendas (Fig. 14). Os autovalores para o primeiro e segundo eixos foram 0,55 e 0,33 respectivamente. O Eixo 1 (tab. 3) esteve mais fortemente relacionado às espécies dependentes de cerrado como Amazonas aestiva, Rynchotus rufescens, Gnorimopsar chopi e Aratinga aurea. Tanto Parula pitiayumi, uma espécie dependente de floresta, quanto Colibri serrirostris, semidependente de formações florestais, também aparecem fortemente relacionadas a este eixo, provavelmente pelo fato de que alguns trechos do transecto LIP2 estavam em contato em alguns trechos com a mata-de-galeria do rio Cupins. As espécies acima, com exceção de A. xanthops, possuem correlação significativa com o Eixo 1 (r>0,576, p<0,05). O Eixo 2 está fortemente associado às espécies dependentes de formações florestais Hemitraupis guira, Pteroglossus castanotis, Coryphospingus cuculatus (significativamente correlacionadas; r>0,576, p<0,05) e Cassiornis rufa. A área LIE2 estava associada à mata-de-galeria em ambos os lados, e apenas lá é que se registrou P. castanotis e H. guira. ISE 2 e ISE 3 estão próximas uma da outra e próximas também de LIE 2. A composição de espécies destas áreas isoladas parece ser bem semelhante e ambas têm um gradiente de vegetação indo do aberto ao mais fechado. No encontro dos eixos, é possível notar uma concentração de diferentes tipos de áreas amostradas. Neste canto do gráfico, há uma concentração de espécies de cerrado, apesar de nenhuma ser significativamente correlacionada a qualquer um dos eixos. As espécies independentes de formações florestais Mimus saturninus e Syrigma sibilitrix, assim como as espécies semi- independentes Megarynchis pintagua e Traupis sayaca têm os menores valores no Eixo 2, enquanto que as espécies 9 independentes Cathartes aurea e Tachycineta leucorrhoa têm os menores valores no Eixo 1. Nossa análise só com espécies semidependentes e independentes gerou uma ordenação onde é possível notar uma separação das áreas isoladas e ligadas (fig. 15). O Eixo 1 (tab. 4) é significativamente correlacionado às espécies independentes de formações florestais R. rufescens, G. chopi, e A. xanthops e para uma espécie semidependente, a C. serrirostris (r>0,576; p<0,05). Os escores de Guira guira e Polioptila dumicola também relacionaram estas espécies a este eixo. Nenhuma espécie esteve significativamente correlacionada ao Eixo 2, mas os escores de Ara ararauna, Ara nobilis, Dacnis cayana e Syrigma sibilatrix relacionaram- nas a este eixo todas espécies semidependentes de formações florestais. Cathartes aurea e Cyclahris gujanensis tiveram os escores mais baixos para o Eixo 1 e Tachycineta leucorrhoa, Cariama cristata, Cathartes burrovianus (com p<0,05) e Thraupis sayaca tiveram os escores mais baixos para o Eixo 2. Finalmente, a terceira ordenação mostra um gradiente que separa as áreas amostrais isoladas das ligadas à mata-de-galeria (fig. 16). No Eixo 1 (tab. 5), R. rufescens, G. chopi, C. obsoletum e A. xanthops são significativamente correlacionadas (r>0,576, p<0,05) e Guira guira e Pyrocephalus rubinus também apresentaram altos escores para este eixo. Elaenia cristata é significativamente correlacionada ao Eixo 2 (r>0,576, p<0,05) e Lepicolaptes angustirostris, Mimus saturninus, Cyanocorax cristatelus e Saltator atricollis também apresentaram altos escores para este eixo. Por outro lado, Cathartes aurea, Tachycineta leucorrhoa, Cariama cristata e Cathartes burrovianus apresentaram os escores mais baixos para o Eixo 1 e Colaptes campestris (r>0.576, p<0,05), Syrigma sibilitrix e Xolmis velata os mais baixos para o Eixo 2. As áreas amostrais mais isoladas são mais associadas às 10 espécies de áreas abertas C. burrovianus, Cariama cristata, Colaptes campestris e Xolmis velata. Duas áreas isoladas, ISE 2 e ISE 3, como mencionado acima, são próximas uma da outra e têm um gradiente que vai do aberto ao fechado. Ambas as áreas são usadas por gado para descansar na sombra, o que formou grandes bolsões de pasto dentro das manchas. Ao mesmo tempo, na porção mais leste das áreas, existe uma vegetação mais densa que se comunicava com uma mata-de-galeria antes de serem isoladas. A estas áreas estavam relacionadas espécies que preferem cerrado mais denso ou arbustivo, como Elaenia cristata, L. angustirostris, M. saturninus e C. cristatellus. Esta ordenação também separa algumas das áreas do PNE das áreas da vizinhança. Existe preferência de R. rufescens, G. chopi, A. xanthops e C. obsoletum, que foram significativamente correlacionadas ao Eixo 1, assim como de G. guira e P. rubinus às áreas do PNE. As espécies "generalistas", ao contrário, têm preferência pelas áreas da vizinhança. As espécies relacionadas ao Eixo 2, apesar de se apresentarem maior abundância nas áreas de vizinhança, foram encontradas em áreas mais heterogêneas como ISE 2 e ISE 3, e também LIE 2 e LIE 3. DISCUSSÃO A análise de co-ocorrência mostrou que as manchas não são escolhidas de forma seletiva por nenhuma espécie em particular ou nenhum grupo de hábitat específico. Uma distribuição de tipo "checkboard" (tabuleiro de xadrez), como descrita por Diamond (1975 apud Manly, 1995), mostraria que existe algum tipo de exclusão competitiva ou uma agregação de espécies. Exclusão competitiva surgiria de alguma competição por um recurso, como alimento ou hábitat. Possivelmente não existe uma competição por recursos, já que em todos os nossos modelos a distribuição das espécies não foi significativamente diferente de um modelo de Monte Carlo. Dentro do PNE, a paisagem ainda se encontra basicamente como era a 30-40 anos 11 atrás, estando, portanto, os processos ecológicos ainda in natura. A paisagem alterada, por sua vez, parece ainda ter um número suficiente de manchas de hábitat natural para comportar a comunidade observada, mesmo tendo sofrido uma ruptura. Onze espécies apresentaram diferenças significativas nas médias de abundância nas áreas amostrais, de acordo com as ANOVA de dois critérios realizadas com a comunidade observada. As espécies com diferenças nas médias de abundância nas áreas de vizinhança tinham preferências distintas de hábitat. Casiornis rufa é uma espécie razoavelmente comum no médio estrato de matas-de-galeria e matas secas e também em cerrado mais densos, sendo geralmente vista aos pares. Ramphastos toco é semidependente de formações florestais, vista tanto em cerrados fechados, matas-de-galeria e matas secas quanto atravessando áreas abertas, inclusive áreas urbanas. Elaenia cristata é associada a cerrado sensu strictu e savanas abertas com arbustos espalhados. Colibri serrirostris, uma espécie semidependente, foi vista com mais freqüência dentro do PNE, em particular em LIP 2, onde ao menos dois indivíduos eram sempre avistados no mesmo lugar em todos os censos, mostrando um comportamento bem territorialista. Xolmis velata tem ampla distribuição, independente de formação florestais, sendo razoavelmente comum em áreas semiabertas com arbustos e árvores espalhados (Ridgley e Tudor, 1994; Sick, 1984) e é uma espécie migratória vista com facilidade ao longo das estradas dentro do PNE. Estranhamente, apesar de ser comum fora do PNE, somente foi vista nas áreas dentro do Parque (de Lima, obs.pess) Espécies com uma média significativamente maior de avistamentos em áreas ligadas à mata-de-galeria, independente da localidade, foram todas, espécies independentes de formações florestais. Camptostoma obsoletum ocorre da Costa Rica à Argentina e tem ampla distribuição no Brasil, sendo observada em campos sujos, 12 cerrados abertos, jardins e clareiras, em bordas florestais e na Amazônia no dossel de várzeas. Formicivora rufa é encontrada em áreas abertas e arbustivas, matas-degaleria e matas-secas, às vezes perto d'água. É bem territorial e vocaliza prontamente ao ser aproximada. Normalmente é vista em casais. Volatina jacarina é uma espécie típica de áreas abertas, sendo vista não somente em ambientes naturais como também em áreas alteradas, como paisagens agrícolas (Sick, 1984). Esta espécie foi mais vista em duas áreas ligadas à mata-de-galeria, mas com forte influência de áreas alteradas perto. O transecto em LIP 3 situa-se ao longo de uma trilha que acompanha um antigo aceiro, que, por sua vez, segue a fronteira leste do PNE, uma cerca de arame, que separa o Parque de uma plantação de milho. A área da cerca é dominada por braqueária que invade o PNE em vários trechos. O transecto em LIE 3 acompanha uma velha estrada dentro da Fazenda Prata, e segue ao longo de um campo em vários trechos, que por sua vez bordeia o campo úmido do rio Prata. A influência das áreas abertas ou alteradas próximas pode explicar a presença de S. plumbea nestas áreas ligadas à mata-de-galeria. Por último, Neotraupis fasciata, uma espécie presente na lista de espécies ameaçadas da IUCN (www.redlist.org) é também independente de formações florestais. Apesar de ter sido observada na maioria das áreas, ela foi vista principalmente nas áreas isoladas ISP 3 e ISE 1. Finalmente, Hemitraupis guira e Mimus saturninus foram somente observadas em áreas ligadas na vizinhança. H. guira é uma espécie dependente de formações florestais e encontrada com facilidade na borda de florestas úmidas, matasde-galeria e matas secas. No nosso estudo, entretanto, só foi observada em uma área, LIE 2, na qual a mancha de cerrado é cercada nos dois lados por matas-de-galeria distintas. M. saturninus é uma espécie independente de formações florestais, comum 13 em áreas semiabertas e também em lugares com habitações, mas, ausente em áreas sem árvores e também de áreas de florestais (Ridgeley e Tudor, 1989). Esta espécie foi observada apenas na área LIE 3. Na área deste transecto, como descrito antes, existe um amplo cerrado aberto aliado à um campo úmido. Nenhum padrão óbvio pôde ser notado com os resultados da ANOVA, apesar de que cerca de 21% das espécies analisadas mostraram diferenças significativas na média das observações, mas nenhuma apresentou diferenças na preferência de hábitat. A presença de algumas espécies em apenas uma área foi a única surpresa e nenhuma explicação pode ser oferecida a não ser a própria limitação da área estudada durante o período de amostragem. Mimus saturninus, por exemplo, foi vista em outras áreas, dentro do PNE inclusive. Uma análise com os dados existentes mostra que a maioria das espécies não exibe uma preferência por áreas ligadas, isoladas, dentro ou fora do Parque, o que poderia indicar que a ruptura da paisagem na região não está afetando a distribuição geral das espécies. Isto leva à questão de até que ponto hábitats naturais são percebidos pela avifauna estudada como áreas estruturalmente diferentes e se esta mesma comunidade os diferencia (os hábitats naturais) das áreas alteradas e fragmentadas. A análise multivariada talvez possa ajudar a responder essa questão. A DCA realizada com 52 espécies não separou as áreas, ou seja, as aves não apresentaram preferências quanto às mesmas. Algumas das áreas de estudo mostraram agregação, como ISE 2, ISE 3 e LIE 2. Conforme já foi dito acima, as duas primeiras são próximas uma da outra e parecidas em termos de heterogeneidade de hábitat, tendo compartilhado o mesmo riacho antes de serem isoladas. A última área é próxima delas e as duas matas-de-galeria que fazem contato com a mancha de cerrado são parte do mesmo sistema que a mata-de-galeria próxima a ISE 2 e ISE 3, fazendo, portanto, 14 parte do mesmo sistema que desemboca no rio Formoso. A ocupação também é similar, já que todas essas áreas pertenciam à mesma fazenda que foi desmembrada entre os filhos do proprietário original, o Sr. Alberto Garcia (que, por sua vez, doou as terras que vieram a se tornar o PNE). Configuração e localização espaciais, junto com o histórico de ocupação e a dinâmica do ecossistema, poderiam levar a esta similaridade da comunidade local. A separação da área LIP 2 das demais ocorreu em função da presença exclusiva de R. rufescens e P. pitiayumi e à alta incidência de C. serrirostris. Tanto R. rufescens quanto C. serrirostris foram vistos regularmente nos mesmos locais dentro desta área, sendo provavelmente os mesmos indivíduos. As outras áreas ficaram agregadas em direção ao vértice do gráfico com os menores valores dos eixos 1 e 2, independentemente do tratamento. A DCA com espécies semidependentes e independentes de formações florestais revela uma nova tendência onde as áreas ligadas e isoladas ficam menos agregadas que a DCA com 52 espécies. As áreas ligadas à mata-de-galeria tendem a ter um valor maior em ambos os eixos. O eixo 1, por sua vez, está relacionado a espécies independentes de formações florestais (Tab. 1), o que mostra uma relação destas espécies de cerrado com as matas-de-galeria. A DCA com apenas espécies independentes de formações florestais separa ainda mais as áreas isoladas das ligadas. Possivelmente, a separação mais interessante seja a correlação das áreas isoladas a espécies mais generalistas em termos de hábitat ou mais relacionadas a áreas abertas como Cariama cristata, Cathartes burrovianus, Colaptes campestris e Xolmis velata, que têm uma correlação negativa tanto com o Eixo 1 quanto com o Eixo 2. Por outro lado, espécies mais relacionadas a cerrados mais fechados como R. rufescens e C. obsoletum, e à espécie endêmica do cerrado, 15 Amazona xanthops, estão correlacionadas positivamente ao Eixo 1. C. obsoletum e A. xanthops são consideradas por Bagno e Marinho Filho (2001) como sendo espécies de semidependentes do cerrado por serem vistos na borda de mata-de-galeria, o que corrobora a preferência destes pelas áreas ligadas. A dinâmica ecológica da distribuição espacial da avifauna do Cerrado é única para este ecossistema. Em outras palavras, a história evolucionária do cerrado implica na existência de um mosaico de fitofisionomias onde as "bordas" entre áreas abertas (e.g. campo aberto e campo úmido) e cerrado ou áreas florestais não têm os chamados efeitos de borda da forma abrupta como é observado em florestas tropicais úmidas quando sofre da ação antrópica. Os chamados por alguns de "fragmentos naturais" de cerrado são na verdade manchas dentro de uma paisagem heterogênea. Diferentemente de florestas tropicais úmidas, onde a existência de dossel fechado é a regra, o Cerrado é, em sua maioria, composto por áreas abertas. O Parque Nacional das Emas, por exemplo, possui cerca de 90% na forma de campos abertos com apenas 2,5% de áreas florestais. Sendo assim, até espécies que são dependentes de formações florestais, sejam grandes mamíferos como onças pintadas ou pequenas aves como a Antilophia galeata, terão que, ocasionalmente, atravessar áreas abertas ou tê- las como parte de suas áreas de vida (Silveira, com. pess). O contrário também pode ser verdadeiro com espécies de áreas abertas também entrando em matas-de-galeria, matas secas ou cerradões. As espécies de Cerrado, portanto, provavelmente são mais resilientes às mudanças nas fitofisionomias e tal peculiaridade torna várias delas menos suscetíveis às alterações antropicamente induzidas na paisagem. O nosso estudo, por exemplo, mostrou que para a comunidade analisada, os recursos como alimento e abrigo não forçaram a exclusão competitiva depois da alteração na paisagem, , e que as espécies "compartilham" igualmente as manchas da mesma 16 maneira como elas as perceberiam em uma paisagem natural intacta. Uma das razões é a existência de inúmeras manchas espalhadas dentro das propriedades rurais e a capacidade das espécies de atravessar as áreas de cultivo, em alguns casos, ou seguir as matas-de-galeria ainda preservadas. A questão é que alguns cultivos podem se assemelhar estruturalmente às áreas naturais e os pastos terão "ilhotas" de vegetação para abrigar o gado, que podem servir como "stepping-stones" entre áreas preservadas. Algumas espécies, entretanto, mostraram preferências por certas áreas e podem ser mais sensíveis a mudanças na paisagem. Hemitraupis guira, por exemplo, é uma espécie dependente de formações florestais e só foi vista durante o estudo em uma área, a LIE2, que é ligada a matas-de-galeria em ambos os lados. A maioria das espécies dependentes (incluindo uma fêmea ou imaturo de Antilophia galeata, que foi excluída da análise) foi vista nesta área, sugerindo que a mesma é estruturalmente atraente para este grupo. Camptostoma obsoletum teve a maior média de observações em áreas ligadas embora seja considerado por Silva (1995) como uma espécie independente de formações florestais, apesar de usar a borda de matas, forrageando dentro destas, além de ser comum em áreas urbanas onde há a presença de árvores. Em áreas inóspitas, sem abrigo e muito abertas, esta espécie não se dá bem. Formicivora rufa foi outra espécie que mostrou preferência por áreas ligadas mesmo sendo, como a espécie acima, considerada uma espécie independente de formações florestais. Ela é conhecida, entretanto, por visitar matas-de-galeria e de ser associada à água. É claro, então, que algumas espécies apreciam paisagens heterogêneas com o melhor dos dois "mundos", de áreas abertas e de dosséis fechados. 17 A DCA oferece evidência desta tendência quando as análises com espécies semidependentes e independentes e só com independentes separam as áreas ligadas às áreas isoladas. Preferência por estas é, sem dúvida, de espécies generalistas, carniceiros como Cathartes aurea, oportunistas de hábitat como Cariama cristata, que é vista freqüentemente nos campos agrícolas, ou migrantes como Tachycineta leucorrhoa. A hipótese nula de que não existe nenhuma preferência de hábitat para espécies de cerrado foi refutada pelo resultado da ordenação, e para algumas espécies, na ANOVA. Baseados na informação discutida acima, podemos, então, pensar em uma estratégia de conservação para a avifauna neste "hotspot". A maioria dos trabalhos sobre fragmentação e suas conseqüências para a biodiversidade têm sido feitas em ecossistemas onde mudanças abruptas na paisagem devidas à ação antrópica são drásticas, visualmente notadas e também bastante mensuráveis, especialmente em florestas tropicais úmidas. Essas pesquisas têm mostrado que os efeitos deletérios destas mudanças são quase imediatos na dinâmica ecológica da floresta, como, por exemplo, efeitos de borda que alteram a umidade, a entrada e a exposição à luz e alteração na composição de espécies com uma invasão de espécies exóticas, extinções locais, entre outros efeitos. Florestas tropicais não são de forma alguma carpetes verdes, uniformes em composição florística ou faunística e ou em estrutura de hábitat; contudo, isto visto de cima, em um nível macro, quase não é percebido. O Cerrado, por outro lado, é composto por várias fitofisionomias que formam naturalmente um mosaico ou uma "colcha de retalhos", com bordas diferenciadas existentes há centenas de anos ou que foram se formando gradativamente. Alguns animais que vivem em fitofisionomias abertas como campo úmido, campo limpo e campo sujo, e mesmo em cerrado sensu strictu, aparentemente não percebem áreas alteradas como 18 inóspitas. Ema (Rhea americana), Veado-Mateiro (Mazama americana), o Cachorrodo-mato (Cerdocyon thous) e o Tamanduá Bandeira (Mymercophaga tridactyla), por exemplo, são comumente vistos nas áreas agrícolas e pastos (obs. pess). É óbvio, entretanto, que isto não significa que este tipo de uso do solo é um substituto das áreas naturais, mas, infelizmente, esta paisagem alterada é a realidade no bioma, em especial na parte centro sul do país onde a atividade agropastoril é a atividade econômica permanente há décadas. Dependendo da atividade em uma propriedade rural, duas paisagens podem ser "criadas". Se a agricultura é o uso de solo escolhido, uma paisagem simplificada é criada com poucas árvores presentes em um mar de milho, soja, girassol, algodão, entre outros cultivos. No caso do uso da terra para pecuária, é comum serem deixadas pequenas manchas ou ilhotas de árvores para oferecer sombra e refúgio para o gado. Em ambos os casos, e para qualquer propriedade rural, o Código Florestal brasileiro, editado em 1965, prevê que 20% da vegetação de cerrado e 35% no caso das savanas amazônicas devem ser preservados na forma de uma Reserva Legal. Em muitos casos, menos ou nada do que é exigido é preservado. A RL também pode ser pulverizada na paisagem ou restrita a uma grande mancha sem nenhuma conectividade estrutural com outra área natural. Também é previsto no Código Florestal que uma faixa de vegetação deve ser mantida ao longo de cursos d'água para a sua proteção. Apesar de ter sido alterada e reeditada várias vezes em forma de Medida Provisória e de serem consideradas uma das mais modernas da atualidade no contexto global, o Código Florestal não tem como objetivo a manutenção de processos ecológicos como, por exemplo, o fluxo gênico. Uma das estratégias para a manutenção ou reestabelecimento das conexões estruturais da paisagem que fossem funcionais para a avifauna do cerrado seria a 19 união das áreas de Reserva Legal às de Área de Preservação Permanente. Marini (2001) por exemplo, sugere que espécies do cerrado dependentes de formações florestais estão associadas ao que ele chama de florestas inundadas (e.g matas-degaleria) e Machado (2000) discute que é importante a associação da mata-de-galeria e o cerrado para aumentar a diversidade da avifauna. O trabalho de Tubelis e Cavalcanti (2000) constata que a estrutura de hábitat aumenta do campo-úmido à mata-de- galeria, de modo que a vantagem da estratégia acima é que ela irá beneficiar uma gama de espécies de aves, dependentes, semidependentes ou independentes de formações florestais, aumentando a heterogeneidade de hábitat e conseqüentemente a diversidade da avifauna. Como elementos lineares, estes corredores de vegetação irão também aumentar a conectividade, se usados como uma rede de ligações entre as áreas naturais, como Unidades de Conservação, RL e APPs (de Lima e Gascon, 1999). Esta estratégia também é um atrativo para os proprietários rurais, já que as Reservas Legais podem ser usadas para empreendimentos que sejam sustentáveis. A outra estratégia é o uso das manchas como "stepping-stones". Isto seria bastante útil em áreas com poucos ou nenhum cursos d'água como é o caso do oeste do PNE (Fig. 2) ou em áreas de pecuária. O aumento da vegetação natural irá aumentar a permeabilidade da paisagem para aves que dependem de vegetação natural para proteção, alimentação e mesmo reprodução. Essas estratégias poderiam ser realizadas em conjunto com a cobrança de proprietários que possuem um passivo ecológico, ou seja, que devem áreas de Reserva Legal. A restauração de hábitats naturais poderia ser uma alternativa planejada para a implementação deste passivo, desenhando a paisagem com o intuito de aumentar a permeabilidade e recuperar os processos ecológicos perdidos. 20 Estas duas estratégias teriam uma aplicação não só para a conservação da avifauna do cerrado mas também para outros táxons. Neste caso específico, o uso da terra já foi estabelecido há muito, e é necessário restaurar as ligações. O grande desafio é aplicar este modelo para diversas áreas, adaptando-o às diversas circunstâncias regionais. Como uma estratégia, ela se encaixa bem dentro do conceito de corredor biológico do Projeto Corredor Cerrado Pantanal. Entre as áreas núcleo do corredor, entre elas o Parque Nacional das Emas, o que antes era cerrado pristino agora é dominado por campos agrícolas e fazendas de gado. Entretanto, por boa sorte, algumas áreas foram protegidas como unidades de conservação e devem ser reconectadas de alguma forma. Esta região também possui uma série de cursos d'água que podem ser usados como corredores, usando-se a primeira estratégia mencionada acima, alargando as matas-de-galeria com os cerrados adjacentes. Nas áreas sem cursos d'água ou com pastos, a utilização de "stepping-stones" que poderiam ser as manchas existentes ou a criação de novas, seria a estratégia ideal. CONCLUSÕES - A comunidade estudada é distribuída randomicamente nas manchas de cerrado analisadas, que estejam dentro ou fora do Parque Nacional das Emas, sejam isoladas ou ligadas. - As espécies que mostraram alguma preferência de hábitat na análise de variância não fugiram da sua preferência habitual; - Espécies que são semidependentes ou independentes de formações florestais (matas-de-galeria) mostraram, de acordo com a ordenação canônica DCA, preferência por áreas ligadas ou hábitats mais densos. Por outro lado espécies com hábitos mais generalistas foram mais observadas em áreas isoladas e mais abertas. 21 - Devido à história evolucionária da paisagem do Cerrado, as espécies de aves presentes são mais adaptadas a áreas abertas do que as espécies de florestas tropicais úmidas. Áreas alteradas, como agricultura e pastos, podem mimicar a estrutura de hábitats naturais, o que pode facilitar o movimento da fauna naqueles. - A avifauna semidependente ou independente de formações florestais não percebe a fragmentação como as espécies dependentes. - O cerrado s.s deve ser deixado adjacente às matas-de-galeria para aumentar a heterogeneidade de hábitat e a conectividade entre as áreas preservadas. - As áreas de cerrado deveriam ser restauradas na paisagem para servirem de corredores de conectividade e aumentar a permeabilidade da matriz antrópica. - Projetos de conservação no Cerrado poderiam as estratégias sugeridas neste trabalho ao planejar ações futuras. - Em áreas pristinas a serem utilizadas para atividades agropecuárias no futuro, estas estratégias podem servir de orientação pelas instâncias governamentais e empreendedores privados para fazer um desenho da paisagem a priori, de forma a manter o máximo de conectividade possível e preservando os processos ecológicos. 22 BIBLIOGRAFIA Bagno, M. A e Marinho Filho, J. 2001. A avifauna do Distrito Federal: uso dos ambientes abertos e florestais e ameaças. In: Cerrado: Matas de galeria, conservação e recuperação ed.Planaltina : EMBRAPA CERRADOS. Brasilia, DF. Bennet, A. F. 1990. Hábitat corridors and the conservation of small mammals in a fragmented forest environment. Landscape Ecology 4:109-122. Bierrgaard, R. O. B., T. E. Lovejoy, C. Gascon, R. Mesquita, E. O. Wilson and E. Salati. Lessons from Amazonia: the ecology and conservation of a fragmented forest. Brown, Jr., K. S. and R. W. Hatchings. 1997. Disturbance, fragmentation, and the dynamics of diversity in a Amazonian Forest Butterflies. Pages 91-110 in W. F. Laurance and R. O. Bierrgaard, editors. Tropical Forest Remnants: Ecology, management, and conservation of fragmented communities. University of Chicago Press, Chicago. Carvalho, K. S. and H. L. Vasconcelos. 1999. Forest fragmentation in Central Amazonia and its effects on litter-dwelling ants. Biological Conservation 91:151-157. Cavalcanti, R. B. 1999. Bird species richness and conservation in the cerrado region of Central Brazil. Studies in Avian Biology 19: 244-249. de Lima, M. G. and C. Gascon. 1999. The conservation value of linear forest fragments in Central Amazonia. Biological Conservation 91: 241-247. Didham, R. K. 1997. The influence of edge effects and forest fragmentation on leaflitter invertebrates in Central Amazonia. Pages 55-70 in W. F. Laurance and R. O. Bierrgaard, editors, Tropical forest remnants: ecology, management, and conservation of fragmented communities. University of Chicago Press, 23 Chicago. Eiten, G. 1972. The cerrado vegetation of Brazil. Botanical Review 38:201-292. Ferreira, L. V. and W. F. Laurance. 1997. Effects of forest fragmentation on mortality and damage of selected trees in Central Amazonia. Conservation Biology 11: 797-801. Gascon, C., G. B. Williamson and G. A. B. da Fonseca. 2000. Ecology – receding forest edge and vanishing reserves. Science 288: 1356-1358. Gascon. C., W. F. Laurance and T. E. Lovejoy. 2003. Forest Fragmentation and Biodiversity in Central Amazonia. Pages 33-48 in G. A. Bradshaw and P. A. Marquet, editors. How Landscapes Change. Ecological studies 162. Springer, Berlin Heidelberg New York, Gotelli, N. J. and G. L. Entsminger. 2001. EcoSim: Null models software for ecology. Version 7.0. Acquired Intelligence Inc. 7 Kesey-Bear. http://homepages.together.net/~gentsmin/ecosim.htm Gotelli, N. J. and G. R. Graves. 1996. Null models in ecology. Smithsonian Institution Press. Washington, DC. Jongman, R. H. G., C. J. F. ter Braak and O. F. R. van Tongreen. 1995. Data analysis in community and landscape ecology. Cambridge University Press. Cambridge. United Kingdom. Kapos, V. 1989. Effects of isolation on the water status of forest patches in the Brazilian Amazon. Journal of Tropical Ecology 5: 173-185. Kapos, V., E. Wandelli, J. L. Camargo and G. Ganade. 1997. Edge related changes in environment and plant responses due to forest fragmentation in Central Amazonia. Pages 33-54, in W. F. Laurance and R. O. Bierrgaard, editors, Tropical forest remnants: ecology, management, and conservation of 24 fragmented communities. University of Chicago Press, Chicago. Laurance, W. F. and C. Gascon. 1997. How to creatively fragment a landscape. Conservation Biology 11: 577-579. Laurance, S. G. and W. F. Laurance. 1999. Tropical corridors: use of linear rainforest remnants by arboreal mammals. Biological Conservation 91: 231-239. Laurance, W. F., T. E. Lovejoy, H. L. Vasconcelos, E. M. Bruna, R. K. Didham, P. C. Stouffer, C. Gascon, R. O. Bierrgaard, S. G. Laurance and E. Sampaio. 2002. Ecosystem decay of Amazonian forest fragments: A 22- year investigation. Conservation Biology 16:605-618. Lovejoy, T. E., R.O. Bierrgaard Jr., A. B. Rylands, J. R. Malcolm, C. E. Quintela, L. H. Harper, K. S. Brown, Jr., A. H. Powell, G. V. N. Powell, H. O. R. Shubert, M. B. Hays. 1986. Edge effects and other effects of isolation on amazon forest fragments. Pages 257-285, in M. E. Soulé, editor. Conservation Biology: the science of scarcity and diversity. Sinauer Associates. Sunderland, Massachusetts. Machado, R. B. 2000. A fragmentação do Cerrado e a avifauna na região de Brasília-DF. PhD. thesis. Universidade de Brasília, Brasilia, Brazil. Manly, B. F. J. 1995. A note on the analysis of species co-occurrences. Ecology 76: 1109-1115. Marini, M, Â. 2001. Effects of forest fragmentation on birds of the cerrado region, Brazil. Bird Conservation International 11: 13-25. McCune, B. and J. Mefford. 1999. PC-ORD. Multivariate analysis of ecological data. Version 4.0. MjM Software. Gleneden Beach, Oregon. McGarigal, K.; S. Cushman and S. Stafford. 2000. Multivariate statistics for wildlife and ecology research. Springer. New York. 25 Myers, N., R. A. Mittermeier, C. Mittermeier, G. A. B. da Fonseca and J. Kents. 2000. Biodiversity hotspots for conservation priorities. Nature 403. Ramos-Neto, M. B. 2000. O Parque Nacional das Emas e o Fogo: Implicações para a Conservação Biológica. Tese apresentada no Programa de Pós Graduação em Ecologia, Universidade de São Paulo. Ratter, J. A., J. F. Ribeiro and S. Bridgewater. 1997. The Brazilian cerrado vegetation and threats to its biodiversity. Annals of Botany 80: 223-230. Redford, K. H. and G. A. B. da Fonseca. 1986. The role of gallery forests in the zoogeography of the Cerrado’s non-volant mammalian fauna. Biotropica 18: 126-135. Ridgeley, R. S. and G. Tudor. 1989. The birds of South America, vol. 1. University of Texas Press, Austin. Ridgeley, R. S. and G. Tudor. 1994. The birds of South America, vol. 2. Oxford University Press, Oxford, United Kingdom. Sick, H. 1984. Ornitologia brasileira, uma introdução. Editora Universidade de Brasília, Brasília, DF. Silva, J. M. C. 1995. Birds of the Cerrado Region, South America. Steenstrupia 21: 69-92. Silva, J. M. C. And J. M. Bates. 2002. Biogeographic patterns and conservation in the South American Cerrado: a tropical savanna hotspot. BioScience 52: 225233. Tocher, M. D., C. Gascon and B. L. Zimmerman. 1997. Fragmentation effects on central Amazonian frog community: a ten year study. Pages 124-137 in W. F. Laurance and R.O. Bierregaard, editors. Tropical forest remnants: ecology, management, and conservation of fragmented communities. University of 26 Chicago Press, Chicago. Tubelis, D. P, and R. B. Cavalcanti. 2000. A comparison of bird communities in natural and disturbed non-wetland open hábitats in the Cerrado’s central region, Brazil. Bird Conservation International 10:331-350. WWF/PROCERR. 1995. Bit by bit the Cerrado loses space (Cerrado-impact of the settlement process). WWF-Fundo Mundial para a Natureza, Braslia, Brazil. 27 Tabelas 28 Tabela 1. Espécies observadas durante os 108 censos. Ardeidae Mimidae Syrigma sibiliatrix Mimus saturninus Cariamidae Muscicapidae Cariama cristata Polioptila dumicola Cathartidae Picidae Cathartes aurea Campephilus melanoleucos Cathartes burrovianus Colaptes campestris Coragyps atratus Colaptes melanoclorus Columbidae Dryocopus lineatus Columba picazuro Pipridae Zenaida auriculata Antilophia galeata Corvidae Psittacidae Cyanocorax cristatellus Amazona aestiva Cracidae Amazona xanthops Penelope superciliaris Ara ararauna Cuculidae Ara nobilis Guira guira Aratinga aurea Dendrocolaptidae Rhamphastidae Lepidocolaptes angustirostris Pteroglossus castanotis Sittasomus griseicapillus Rhamphastos toco Emberizidae Rhinocryptidae Cypsnagra hirundacea Melanopareia torquata Dacnis cayana Throchilidae Hemithraupis guira Chlorostilbon aureoventris Neothraupis fasciata Colibri serrirostris Thraupis suyaca Tinamidae Parula pitiayumi Rhynchotus rufescens Coryphospingus cucullatus Crypturellus parvisrostris Saltator atricollis Tyrannidae Charitospiza eucosoma Camptostoma obsoletum Emberizoides herbicola Casiornis rufa 29 Sporophila bouvreuil Elaenia chiriquensis Sporophila plumbea Elaenia cristata Volatina jacarina Elaenia flavogaster Falconidae Gubernetes yetapa Falco femoralis Megarhynchus pitangua Milvago chimachima Myiophobus fasciatus Polyburus plancus Pitangus sulphuratus Formicaridae Pyrocephalus rubinus Formicivora rufa Xolmis cinerea Hirundinidae Xolmis velata Tachycineta leucorrhoa Vireonidae Icteridae Cyclarhis gujanensis Gnorimopsar chopi 30 Tabela 2. Local de maior média de avistamentos e resultado da ANOVA de dois critérios. Espécies/Avistamentos Cassiornis rufa Elaenia cristata Ramphastos toco Colibri serrirostris Xolmis velata Camptostoma obsoletum Formicivora Volatina jacarina Neothraupis fasciata Hemitraupis guira Mimus saturninus Local de maior média de avistamento Fazendas Fazendas Fazendas PNE PNE Áreas ligadas à mata-de-galeria Áreas ligadas à mata-de-galeria Áreas ligadas à mata-de-galeria Áreas isoladas Áreas ligadas e nas fazendas Áreas ligadas e nas fazendas valor de p 0,011 0,008 0,015 0,004 0,003 0,023 0,003 0,002 0,001 0,049 0,049 31 Tabela 3. Correlação Pearson (r) dos eixos da ordenação DCA para espeçies dependentes, semidependentes e independentes de formações florestais. Espécie/ Eixo r r-sq 1 r r-sq 2 -0.582 0.339 -0.047 0.002 0.268 0.072 -0.035 0.001 Ara ararauna -0.152 0.023 -0.364 0.132 Ara nobilis -0.047 0.002 -0.123 0.015 0.607 0.368 -0.658 0.433 Camptostoma obsoletum -0.101 0.010 -0.019 0.000 Cariama cristata -0.427 0.182 -0.103 0.011 Cassiornis_rufa 0.191 0.036 0.877 0.769 Cathartes aurea -0.460 0.211 -0.105 0.011 Cathartes burrovianus -0.272 0.074 -0.176 0.031 Chlorostilbon aureoventris -0.168 0.028 -0.294 0.087 Colaptes campestris -0.342 0.117 -0.319 0.102 Colibri serrirostris 0.807 0.651 -0.180 0.032 Columba picazuro -0.178 0.032 0.102 0.010 Coragyps atratus -0.291 0.084 -0.168 0.028 Corysphospingus cuculatus 0.075 0.006 0.655 0.429 Crypturellus parvirostris 0.135 0.018 0.130 0.017 Cyanocorax cristatellus -0.325 0.106 0.282 0.080 Cyclarhis gujanensis -0.070 0.005 0.663 0.440 Cypsnagara hirundinacea -0.090 0.008 -0.550 0.302 Dacnis cayana 0.136 0.019 0.575 0.330 Dryocopus lineatus 0.012 0.000 -0.404 0.163 Elaenia .chiriquensis -0.038 0.001 -0.417 0.174 Elaenia cristata 0.092 0.009 0.474 0.225 Elaenia flavogaster 0.376 0.142 0.369 0.136 Falco femoralis -0.340 0.115 -0.229 0.053 Formicivora rufa 0.251 0.063 -0.225 0.051 Gnorimopsar chopi 0.860 0.739 -0.149 0.022 -0.263 0.069 0.031 0.001 0.136 0.019 0.575 0.330 -0.026 0.001 0.124 0.015 Megarhynchus pitangua 0.205 0.042 -0.333 0.111 Melanopareia torquata -0.103 0.011 -0.205 0.042 Amazona aestiva Amazona xanthops Aratinga aurea Guira guira Hemithraupis guira Lepidocolaptes angustirostris 32 0.205 0.042 -0.333 0.111 Mivalgo chimachima -0.167 0.028 -0.439 0.192 Neothraupis fasciata -0.304 0.092 -0.384 0.147 Paru la pitiayumi 0.830 0.688 -0.104 0.011 Penélope superciliaris 0.145 0.021 -0.126 0.016 Pitangus sulphuratus -0.043 0.002 -0.224 0.050 Polioptila duminicula -0.263 0.069 0.031 0.001 Polyburus plancus -0.366 0.134 -0.222 0.049 Pteroglossus castanotis 0.136 0.019 0.575 0.330 Pyrocephalus rubinus -0.263 0.069 0.031 0.001 Rhamphastos toco -0.031 0.001 0.828 0.686 Rynchotus rufescens 0.830 0.688 -0.104 0.011 Saltator atricollis 0.194 0.038 -0.419 0.176 Sporophila plumbea 0.096 0.009 -0.315 0.099 Syrigma sibilatrix -0.038 0.001 -0.446 0.199 Tachycineta leucorrhoa -0.444 0.197 -0.098 0.010 Thraupis sayaca 0.086 0.007 -0.221 0.049 Volatina jacarina -0.072 0.005 -0.303 0.092 Xolmis velata -0.075 0.006 -0.265 0.070 Mimus saturninus Obs:marcado em amarelo estão as espécies correlacionadas significativamente a um eixo(r>0.576; p<0.05) 33 Table 4. Correlação Pearson (r) dos eixos da ordenação DCA para espeçies semidependentes e independentes de formações florestais (n=47). Espécie/ Eixos r r-sq 1 r r-sq 2 Amazona xanthops 0.785 0.616 0.060 0.004 Ara ararauna 0.104 0.011 0.527 0.278 -0.034 0.001 0.467 0.218 Aratinga aurea 0.557 0.311 -0.105 0.011 Camptostoma obsoletum 0.504 0.254 0.396 0.157 Cariama cristata -0.326 0.106 -0.628 0.394 Cathartes aurea -0.444 0.197 -0.341 0.116 Cathartes burrovianus -0.142 0.020 -0.611 0.374 Chlorostilbon aureoventris -0.024 0.001 -0.103 0.011 Colaptes campestres -0.142 0.020 -0.475 0.226 Colibri serrirostris 0.722 0.522 -0.262 0.068 Columba picazuro -0.296 0.087 -0.497 0.247 Coragyps atratus 0.187 0.035 -0.342 0.117 Corysphospingus cuculatus -0.283 0.080 0.265 0.070 Crypturellus parvirostris -0.016 0.000 0.560 0.314 Cyanocorax cristatellus -0.610 0.373 0.250 0.062 Cyclarhis gujanensis -0.431 0.186 0.350 0.122 Cypsnagra hirundinacea -0.065 0.004 -0.588 0.345 Dacnis cayana -0.076 0.006 0.312 0.097 Dryocopus lineatus 0.006 0.000 -0.238 0.056 Elaenia chiriquensis 0.009 0.000 0.417 0.174 -0.320 0.103 0.325 0.106 0.075 0.006 0.151 0.023 Falco femoralis -0.372 0.138 -0.088 0.008 Formicivora rufa 0.141 0.020 0.435 0.189 Gnorimopsar chopi 0.746 0.557 -0.080 0.006 Guira guira 0.410 0.168 0.130 0.017 -0.086 0.007 -0.092 0.009 Megarhyncus pitangua 0.130 0.017 0.059 0.003 Melanopareia torquato -0.040 0.002 -0.476 0.226 Mimus saturninus 0.130 0.017 0.059 0.003 Mivalgo chimachima 0.380 0.144 0.153 0.023 Neothraupis fasciata -0.167 0.028 -0.718 0.516 Ara nobilis Elaenia cristata Elaenia flavogaster Lepidocolaptes angustirostris 34 Pitangus sulphuratus 0.401 0.161 0.140 0.020 Polioptila dumicola 0.410 0.168 0.130 0.017 Polyburus plancus -0.227 0.052 -0.444 0.198 0.410 0.168 0.130 0.017 -0.359 0.129 0.505 0.255 Rynchotus crypturellus 0.726 0.527 -0.088 0.008 Saltator atricollis 0.118 0.014 -0.126 0.016 Sporophila plúmbea -0.050 0.002 0.295 0.087 Syrigma sibilitrix -0.013 0.000 0.375 0.141 Tachycineta leucorrohoa -0.348 0.121 -0.625 0.391 Thraupis sayaca 0.052 0.003 -0.336 0.113 Volatina jacarina 0.378 0.143 0.499 0.249 -0.028 0.001 -0.350 0.122 Pyrocephalus rubinus Rhamphastos toco Xolmis velata Obs:marcado em amarelo estão as espécies correlacionadas significativamente a um eixo(r>0.576; p<0.05) 35 Table 5. Correlação Pearson (r) dos eixos da ordenação DCA para espeçies independentes de formações florestais (n=32) Espécie/Axis r r-sq 1r r-sq 2 Amazona xanthops 0.749 0.562 -0.130 0.017 Aratinga aurea 0.428 0.183 -0.177 0.031 Camptostoma obsoletum 0.617 0.381 -0.110 0.012 Cariama cristata -0.523 0.274 -0.107 0.011 Cathartes aura -0.537 0.288 -0.233 0.054 Cathartes burrovianus -0.351 0.124 -0.224 0.050 Colaptes campestres -0.317 0.100 -0.596 0.355 Coragyps atratus 0.074 0.005 -0.102 0.010 Crypturellus parvirostris 0.216 0.047 0.083 0.007 Cyanocorax cristatellus -0.504 0.254 0.341 0.116 Cypsnagra hirundinacea -0.371 0.138 -0.403 0.162 0.064 0.004 -0.409 0.167 Elaenia cristata -0.042 0.002 0.760 0.578 Falco femoralis -0.391 0.153 -0.168 0.028 Formicivora rufa 0.335 0.112 0.102 0.010 Gnorimopsar chopi 0.651 0.424 0.018 0.000 Guira guira 0.442 0.195 -0.145 0.021 Lepidocolaptes angustirostris -0.206 0.043 0.263 0.069 Melanopareia torquato -0.214 0.046 -0.080 0.006 Mimus saturninus 0.207 0.043 0.196 0.038 Mivalgo chimachima 0.380 0.144 -0.426 0.182 -0.509 0.259 -0.439 0.193 0.482 0.232 0.038 0.001 -0.379 0.144 -0.191 0.037 Pyrocephalus rubinus 0.442 0.195 -0.145 0.021 Rynchotus rufescens 0.621 0.386 -0.009 0.000 Saltator atricollis 0.089 0.008 0.134 0.018 Sporophila plúmbea 0.091 0.008 0.056 0.003 Syrigma sibilitrix 0.011 0.000 -0.423 0.179 -0.541 0.293 -0.108 0.012 0.534 0.285 -0.252 0.064 -0.159 0.025 -0.531 0.282 Elaenia chiriquensis Neotraupis fasciata Pitangus sulphuratus Polyburus plancus Tachycineta leucorrohoa Volatina jacarina Xolmis velata Obs:marcado em amarelo estão as espécies correlacionadas significativamente a um eixo(r>0.576; p<0.05) 36 Figuras 37 N W E S Figura 1. Localização do Parque Nacional das Emas. Imagem Landsat 7, 2002, bandas 5(R), 4(G), e 3(B). 38 N W E S Figura 2. Localização das áreas amostrais dentro do Parque Nacional das Emas (PNE) e no entorno. LIP= Área ligada à mata-de-galeria dentro do PNE; ISP= Área isolada dentro do PNE; LIE= Área ligada à mata-de-galeria em fazenda no entorno; ISE= Área isolada em fazenda no entorno. Imagem Landsat 7 ETM, 2002, bandas 5 (R), 4(G) e 3 (B). 39 3.5 3.0 2.5 Avistamentos 2.0 1.5 1.0 0.5 0.0 -0.5 C. rufa C. rufa LOCAL: PNE LOCAL: Fazendas Max Min 75% 25% Median Figura 3. Resultado da ANOVA de fatores de Casiornis rufa. 5.5 4.5 Avistamentos 3.5 2.5 1.5 0.5 -0.5 E. cristata E. cristata LOCAL: PNE LOCAL: Fazendas Max Min 75% 25% Median Figura 4. Resultado da ANOVA de dois fatores de Elaenia cristata. 40 4.5 3.5 Avistamentos 2.5 1.5 0.5 -0.5 Ramphastos toco LOCAL: PNE Ramphastos toco LOCAL: Fazendas Max Min 75% 25% Median Figura 5. Resultado da ANOVA de dois fatores de Ramphastos toco. 4.5 3.5 Avistamento 2.5 1.5 0.5 -0.5 C. serrirostris LOCAL: PNE C. serrirostris LOCAL: Fazendas Max Min 75% 25% Median Figura 6. Resultado da ANOVA de dois fatores de Colibri serrirostris. 41 2.2 1.8 Avistamentos 1.4 1.0 0.6 0.2 -0.2 Xolmis velata Xolmis velata LOCAL: PNE LOCAL: Entorno Max Min 75% 25% Median Figura 7. Resultado da ANOVA de dois fatores de Xolmis velata. 4.5 3.5 Avistamentos 2.5 1.5 0.5 -0.5 C. obsoletum C. obsoletum TIPO: Ligada TIPO: Isolada Max Min 75% 25% Median Figura 8. Resultado da ANOVA de dois fatores de Camptostoma obsoletum. 42 4.5 3.5 Avistamentos 2.5 1.5 0.5 -0.5 Formicivora rufa Formicivora rufa TIPO: Ligado TIPO: Isolado Max Min 75% 25% Median Figura 9. Resultado da ANOVA de dois fatores de Formicivora rufa. 8 7 6 Avistamentos 5 4 3 2 1 Max Min 0 -1 Volatina jacarina Volatina jacarina TIPO: Ligado TIPO: Isolado 75% 25% Median Figura 10. Resultado da ANOVA de dois fatores de Volatina jacarina. 43 12 10 8 Avistamentos 6 4 2 0 Max Min N. Fasciata N. Fasciata 75% 25% TIPO: Liagdo TIPO: Isolado Median -2 Figura 11. Resultado da ANOVA de dois fatores de Neothraupis fasciata. 2.2 1.8 Avistamentos 1.4 1.0 0.6 0.2 -0.2 H. guira H. guira LOCAL: PNE LOCAL: Fazendas Max Min 75% 25% Median Figura 12a. Resultado da ANOVA de dois fatores de Hemithraupis guira (Local). 44 2.2 1.8 Avistamentos 1.4 1.0 0.6 0.2 Max Min -0.2 H. guira H. guira TIPO: Ligado TIPO: Isolado 75% 25% Median Figura 12b. Resultado da ANOVA de dois fatores de Hemithraupis guira (Tipo). 4.5 3.5 Avistamentos 2.5 1.5 0.5 Max Min -0.5 M. saturninus M. saturninus LOCAL: PNE LOCAL: Fazendas 75% 25% Median Figura 13a. Resultado da ANOVA de dois fatores de Mimus saturninus (local). 45 4.5 3.5 Avistamentos 2.5 1.5 0.5 Max Min M. saturninus M. saturninus 75% 25% TIPO: Ligado TIPO: Isolado Median -0.5 Figura 13b. Resultado da ANOVA de dois fatores de Mimus saturninus (Tipo). 46 LIE2 Hemitraupis guira Pteroglossus castonotis Coryphospingus cuculatus Cassiornis rufa E i x o 2 ISE3 ISE2 LIE1 ISP1 LIP2 ISE1 ISP2 ISP3 LIP1 LIP3 LIE3 Eixo 1 Amazona xanthops Rynchotus rufescens Gnorimpsar chopi Aratinga aurea Figura 14. DCA feito com espécies dependentes, semidependentes e independentes de formações florestais (n=52). 47 Ara ararauna Ara noilis Dacnis cayana Syrigma sibilitrix LIP3 ISE3 LIE2 LIP1 ISE2 LIE1 LIE3 E i x o 2 LIP2 ISP1 ISP3 ISP2 Tachycineta leucorrhoa Cariama cristata Cathartes burrovianus ISE1 Cathartes aurea Cyclahris gujanensis Eixo 1 Rynchotus rufescens* Gnorimpsar chopi* Amazona xanthops* Guira guira Polioptila duminicola * p<0,05 Figura 15. DCA feito com espécies semidependentes e independentes de formações florestais (n=46). 48 Elaenia cristata* Lepidocolaptes angustirostris Mimus saturninus Cyanocorax cristatelus Saltator atricollis ISE3 ISE2 LIE3 E i x o 2 LIE2 LIP2 ISP1 ISE1 LIE1 ISP3 LIP3 LIP1 Colaptes campestris* Syrigma sibilitrix Xolmis velata ISP2 Cathartes aurea Tachycineta leucorrhoa Cariama cristata Cathartes burrovianus Eixo 1 Rynchotus rufescens* Gnorimpsar chopi* Camptostoma obsoletum* Amazona xanthops* Guira guira Pyracephalus rubinus *p<0,05 Figura 16. DCA somente com espécies independentes de formações florestais (n=32). 49 Capítulo 2. Fragmentação, conectividade e a abundância de aves na região do Parque Nacional das Emas. INTRODUÇÃO A extensão original do bioma Cerrado era de 1.783.200 km2 . Infelizmente, calcula-se que apenas 20% ou 356.830 km2 ainda restam (Myers et al, 20020). Crítico para esta questão foi o desenvolvimento de novas técnicas agrícolas, o que permitiu a plantação de uma variedade de cultivares em especial grãos. O terreno plano facilitou o emprego de maquinário agrícola, cada vez mais adaptado à região, e, em função disso, as colheitas quebram recordes anualmente. Mesmo assim, novas áreas de cerrado são constantemente abertas para novos plantios e para pasto. O Cerrado também é considerado como uma alternativa para não desmatar a floresta Amazônica, apesar de ser considerado um hotspot de espécies endêmicas (Myers et al, 2000). Apesar de todas a sua diversidade, perdendo apenas para Amazônia em número de espécies em território brasileiro, apenas 6% do que resta são protegidos e a maioria das propriedades rurais não têm os 20% de Reserva Legal, área natural a ser preservada, como demanda o Código Florestal brasileiro. O impacto da agricultura e da prática da pecuária pode ser visto a olho nu quando se viaja pelas áreas centrais do Brasil. Manchas de hábitat natural são dispersas na paisagem e a conectividade que permitia a movimentação da fauna e a dispersão de sementes foi rompida. Outra figura de lei do Código Florestal que foi editada em 1965, a Área de Preservação Permanente, APP, que exige a manutenção de uma faixa de vegetação ao longo dos cursos d'água para proteção dos mesmos, nunca foi usada para manter a conectividade da paisagem como poderia ser feito através de um pré-desenho da organização espacial das áreas modificadas antropicamente (Laurance e Gascon, 1997; de Lima e 50 Gascon, 1999; de Lima, 2003). Muito pelo contrário, o que se vê são manchas de cerrado de tamanhos diferentes pulverizadas na paisagem. A ausência de conectividade afeta a biota, em especial a vida animal, em várias formas. Recursos podem diminuir rapidamente em manchas pequenas e a matriz pode ser inóspita para várias espécies impedindo que elas saiam das manchas (Simberloff e Cox, 1987; Bennet, 1990; Simberloff et al, 1991; Hobbs, 1992; Lindenmayer e Nix, 1993; 1994; Bennet, 1999). Isolamento de (meta) populações pode levar à depressão endogâmica, que irá por em risco a sobrevivência da espécie (Hanski e Simberloff, 1997; Hanski, 1999). Algumas espécies de cerrado como a Ema (Rhea americana) e o Cachorro-do- mato (Cerdocyon thous) podem movimentar-se e viver em áreas perturbadas e são vistos com freqüência nas áreas agrícolas, não só se alimentando como também reproduzindo nestas áreas. Outras espécies, entretanto, são mais sensíveis à degradação do hábitat natural ou são mais especialistas em certos hábitats, como, por exemplo, o Soldadinho (Antilophia galeata) ou a Onça-pintada (Panthera onca), que são mais dependentes do cerrado (Marini, 2001; Silveira, com.pess). O Cerrado, porém, não é, de forma alguma, um ambiente homogêneo. Ele varia de campos limpos extensos a matas fechadas (Ratter et al. 1997), sendo bastante comum manchas de vegetação mais densa isoladas em área aberta, o que pode limitar populações a estas áreas. Mesmo existindo um isolamento espacial destas manchas naturais, ainda é possível que a matriz seja permeável e que haja movimentação entre as manchas. Aves, em especial, irão atravessar grandes extensões de áreas abertas com a exceção de espécies muito dependentes de formações florestais (Marini, 2001). Como este gr upo percebe o hábitat natural e o alterado antropicamente é uma informação vital para propósitos conservacionistas e para o desenho da paisagem com o intuito de manter a máxima conectividade possível (de Lima et al. 2003). 51 O Parque Nacional das Emas, PNE, tem sido considerado por muitos como uma ilha de cerrado no meio de uma área de agricultura. Uma análise, em macro escala, nunca foi feita com o intuito de saber o quanto esta unidade de conservação está realmente isolada e como isto afeta a vida animal dentro e fora da mesma. Este trabalho faz uma análise do estado de conectividade e fragmentação do cerrado adjacente ao Parque e também associa a abundância de aves do Cerrado a diferentes estruturas da paisagem na área de estudo, em especial à preferência por manchas de cerrado adjacentes à matas-de-galeria, que juntas irão funcionar como corredores de fauna. Nós consideramos quais seriam as melhores opções para conservação da avifauna do Cerrado, em especial as endêmicas, para sugerir uma estratégia para o Projeto Corredor Cerrado Pantanal, um projeto multi-organizacional liderado pela Conservation International, que tem como propósito a manutenção e religação da conectividade entre estes dois biomas brasileiros. O objetivo deste trabalho é testar a existência de correlações entre elementos da estrutura da paisagem e a abundância de aves na região do Parque Nacional das Emas. MÉTODOS A análise da paisagem foi feita na região do Parque Nacional das Emas, PNE, localizado a sudoeste do Estado de Goiás, Brasil (Fig. 1) O PNE tem cerca de 132.000 ha e é composto basicamente de campo limpo e campo sujo com manchas de cerrado s.s, matas-secas e matas-de-galeria. Agricultura e pecuária dominam as áreas adjacentes ao PNE, sendo plantados na maioria das vezes soja, milho, algodão e girassol. Apesar da região ser ocupada desde o século 20, o uso da terra só se intensificou no final dos anos 60 e início dos 70. Para o leste do PNE existe uma mistura de agricultura e pecuária extensiva, e para o oeste a agricultura domina. Dois 52 rios cruzam o PNE e riachos se juntam a eles, fluindo em direção à bacia do Paraná. Ao longo dos rios, manchas de matas-de-galeria são encontradas e algumas propriedades possuem condomínios de Reserva Legal, alargando o corredor natural. Três áreas que ainda possuem grandes áreas naturais estão próximas ao PNE e têm sido de interesse ao Projeto Corredor Cerrado Pantanal. Treze quilômetros à oeste está o Parque Estadual do Taquari, PET, no Estado do Mato Grosso do Sul. Possui cerca de 33.800 ha dominados por cerrado denso, mata-seca e matas-de-galeria em um terreno acidentado. Ainda está em processo de estabelecimento, com pendências fundiárias. Para o noroeste está a região do Zeca Novato (ZN) a aproximadamente 22 km. Nesta região existe interesse na criação de uma Reserva de Vida Silvestre, em áreas ainda pristinas de cerrado mesclado com áreas já usadas para fins agropecuários. Na região há também um acampamento do Movimento dos Sem Terra, MST. Finalmente a 10 km a leste do PNE está a região da Panela com cerca de 44.000 ha de muitas reservas legais onde existe a idéia de criar-se um mosaico de Unidade de Conservação em especial de Reservas Privadas de Patrimônio Natural. Análise da Paisagem Um polígono de 1.491.519,69 ha foi cortado de um mosaico de quatro imagens Landsat 7 ETM 2002 da região que compreende o Projeto Corredor Cerrado Pantanal. A área do polígono tem o PNE como centro e todas as áreas de interesse mencionadas acima além das áreas amostrais do trabalho de de Lima et al. (2003). A imagem foi classificada com o programa Erdas Imagine 8.4 usando-se uma classificação isodata não supervisionada com as bandas vermelho (3), infravermelho próximo (4) e infravermelho médio (5). Um filtro estatístico de mediana 7x7 foi usado e as áreas como menos de 4 pixels (900 m2 ) foram reclassificadas. A validação de campo foi feita a partir do trabalho de Batalha (2001) e idas ao campo por parte da 53 Oréades, Núcleo de Geoprocessamento, em Mineiros, Goiás. A imagem classificada foi vetorizada e uma pós classificação manual foi realizada usando o programa ArcView Gis 3.2 baseado no conhecimento da área do pesquisador principal. Oito classes de uso da terra/classes de cobertura vegetal foram usados: Pasto; Formações florestais (e.g. mata-de-galeria e mata seca); Cerrado s.s; Campo aberto (e.g. campo úmido, campo limpo e campo sujo); Agricultura; Áres urbanas; não classificadas; sem classificação (Fig. 2). A imagen final foi transformada em uma imagem do tipo grade (arquivo .grid ) e analisada no programa Fragstat 3.3 (McGarigal e Marks, 1995). Para analisar a paisagem total em termos de uso da terra e cobertura, usamos o índice de contágio ao nivel de classe "Aggregation Index" (AI) (McGarigal e Marks, 1995). As métricas de contágio em geral medem a tendência dos tipos de manchas serem espacialmente agregados ou estarem em uma distribuição contagiosa ("contagious") e distingue padrões da paisagem que estão agregados ou dissecados (McGarigal & Marks, 1995; Turner et al, 2001). Análise de hábitat na paisagem Para ana lisar a relação da estrutura de hábitat em nível da paisagem e a abundância de aves do Cerrado em 12 áreas amostrais usadas em de Lima (2003) (Fig. 3)., nós cortamos da imagen classificada quatro polígonos circulares com os seguintes diâmetros (em metros): 500, 1.000, 5.000 e 10.000, tendo como centro do polígono o meio do transecto usado no estudo acima mencionado Cada polígono foi analisado com o programa Fragstat 3.3 (McGarigal e Marks, 1995) para calcular os seguintes índices em nivel da paisagem: Número de manchas (NP); Contágio (CONTAGIO);. Índice de Agregação (AI), Índice de Divisão da Paisagem (DIVISION) e Índice de Diversidade de Shannon (SHDI). escolhidos por eliminação dos demais possíveis Estes índices foram por provocarem a 54 multicolineariedade, que causavam erros na interpretação dos resultados (McGarigal et al. 2000). Para testar a independência espacial dos dados de paisagem foi feito um teste de Mantel. A hipótese nula do teste é de que não existe relação entre duas matrizes simétricas (McCune e Grace, 2002). Neste estudo montamos uma matriz de distância calculada através das coordenadas UTM dos polígonos (Tab. 1) e para cada classe de tamanho de polígonos (500, 1.000, 5.000 e 10.000m de diâmetro), montamos outra matriz (Tab. 2, 3, 4 e 5). A análise foi feita com o programa PC-Ord 4.10 (McCune e Mefford, 1999) combinando a matriz de distância com as matrizes de variáveis explicativas. As matrizes dos polígonos independentes foram usadas para relacionar os índices de paisagem com a abundância das aves do trabalho de de Lima (2003). Neste trabalho as aves foram divididas em três grupos seguindo Silva (1995):espécies dependentes, semidependentes e independentes de formações florestais (n=52); espécies semidependentes e independentes de formações florestais (n=46); e apenas espécies independentes de formações florestais (n=32). Uma Análise de Correspondância Canônica (ACC) usando o programa PC-ORD 4.10 (McCune e Mefford, 1999) foi feita para testar a estrutura da comunidade com as variáveis da paisagem (Jongman et al. 1995; McGarigal et al. 2000). O ajuste usado foi o padrão do programa e uma simulação de Monte Carlo foi rodada com usando o horário do computador como "seed number". Para comparar a quantidade de cobertura de uso de solo por classe, foram separadas os "shapes" de cada um e apresentado em forma de figura. A quantidade de cobertura pode ser relevante para a dispersão das espécies. 55 RESULTADOS Análise da paisagem Nossa análise mostrou que cerca de 60,5% da área estudada é ocupada por áreas alteradas e que 39,9% são ainda áreas naturais sendo 16,5% de cerrado, 7,9% de formações florestais e 14,7% de campo aberto. O Parque Nacional das Emas contribui com 22,7% destas áreas naturais e 8,9% da paisagem total. Perto de 55% de todas as áreas abertas estão protegidas dentro do PNE (Tab. 6). A parte oeste do Parque em direção à Parque Estadual do Taquari e a região do Zeca Novato é dominada por agricultura (soja, algodão, milho ou girassol) e possui pouca área natural. Uma estrada e uma ferrovia cortam esta área (Ramos-Neto e Vietas, 1998). A parte leste do Parque tem várias fazendas de gado e ainda áreas naturais. Dentro do pasto, manchas de cerrado são observadas e foram deixadas como refúgio para o gado. Ao longo do rio Jacuba várias reservas legais foram averbadas e estabelecidas e formaram um condomínio de reservas, alargando o corredor de vegetação ao longo do rio, com áreas de mata-de-galeria, campos e cerrado. Este corredor sai do PNE e está bastante perto da região da Panela. O índice de contágio indicou que as classes estão agregadas (Tab. 7). Isto é provavelmente devido a dois aspectos da paisagem: 1) falta de áreas naturais preservadas como Reservas Legais e Áreas de Preservação Permanente; 2) topografia: onde a paisagem é mais plana encontra-se mais agricultura e onde ela é mais acidentada, existe uma concentração pastos. Analise multivariada do hábitat e abundância A hipóstese nula do teste de Mantel foi rejeitada em dois casos: polígonos de 5.000 m e 10.000 m (Tab. 8). A CCA foi feita então com as matrizes de variáveis da 56 paisagem extraídas dos polígonos de 500 m e 1.000 m e com as matrizes de abundância. Nenhuma das seis análises rejeitou a H0 na randomização de Monte Carlo, portanto não havia relação entre as matrizes. Cada análise tem uma tabela de regressão múltipla que mostram a relação das variáveis de paisagem aos eixos. As linhas nas figuras mostram a relação da variável ambiental com a comunidade observada nas áreas amostrais. Quanto maior a linha, maior a relação. As coordenadas das linhas também são apresentadas em tabelas no anexo Polígono de 500 m - Espécies independentes de formações florestais (n=32) A correlação intra-amostragem (Tab. 9) indica que o eixo 1 é um gradiente de diversidade (SHDI) e o eixo 2 é um gradiente de agregacão (AI), contágio (CONTAG) e divisão (DIVISION). A relações das variáveis ambientais com a comunidade podem ser vistas no figura 4. Quatro áreas ligadas (LIE1, LIE3, LIP1 e LIP2) estão mais relacionados positivamente ao eixo1 entqaunto que todas as áreas isoladas e as ligadas LIP1 e LIE2, estão relacionadas negativamente à este eixo. Ao eixo 2 estão correlacionadas positivamente todas as áreas ligadas e as áreas isoladas ISE2, ISE3 e ISP1 e negativamente as áreas isoladas ISP1, ISP2, ISP3 e ISE1, e a ligada LIE1 (Fig. 4). - Espécies semidependentes e independentes de formações florestais (n=46) A correlação intra-amostragem (Tab. 10) indica que o eixo 1 é um gradiente de diversidade (SHDI) e de divisão (DIVISION) e o eixo 2 de agregação (AI) e contágio (CONTAG). O gráfico mostra quatro áreas ligadas (LIE1, LIE3, LIP2 e LIP2) mais relacionadas positivamente ao eixo1. As áreas isoladas e as ligadas LIP1 e LIE2 estão 57 relacionadas negativamente a este eixo. Ao eixo 2 estão correlacionadas positivamente as áreas ligadas LIP1, LIP2, LIP3, LIE2 e LIE3 e as áreas isoladas ISE2 e ISE3, e negativamente, as áreas isoladas ISP1, ISP2, ISP3 e ISE1 e a área ligada LIE1 (Fig. 5). - Espécies dependentes, semidependentes e independentes a formações florestais (n=52). A correlação intra-amostragem (Tab. 11) indica que o eixo 1 é um gradiente de diversidade (SHDI), de divisão (DIVISION) e de agregação (AI) e o eixo 2 um gradiente também de agregação (AI). No eixo 1 estão correlacionadas positivamente as áreas ligadas LIP2, LIP3, LIE1, LIE3 e as isoladas ISE1 e ISP3. Negativamente estão correlacionadas as áreas isoladas ISP1, ISP2, ISE2 e ISE3 e as ligadas LIP1 e LIE2. Ao eixo2 têm correlação positiva, as áreas isoladas ISE2 e ISE3 e a ligada LIE2 e negativa as isoladas ISP1 e ISP2 e a ligada LIP1 (Fig. 6). Polígono de 1.000 m - Espécies independentes de formações florestais (n=32) A correlação intra-amostragem (Tab. 12) indica que o eixo1 é um gradiente de número de manchas (NP), diversidade (SHDI) e divisão (DIVISION) e o eixo dois um gradiente moderado de agregação (AI). Ao eixo 1 estão correlacionadas positivamente as áreas ligadas LIP2, LIP3, LIE1, LIE2 e LIE3 e as áreas isoladas ISE2 e ISE3, e negativamente, a área ligada LIP1 e as isoladas ISE1, ISP1, ISP2 e ISP3. Ao eixo2 estão correlacionadas as áreas ligadas LIP1, LIP2, LIP3 e as isoladas ISE1, e ISE3. Correlacionadas negativamente ao eixo2 estão as áreas ligadas LIE1 e LIE2 e as isoladas ISP1, ISP2, ISP3 e ISE2 (Fig. 7). - Espécies semidependentes e independentes de formações florestais (n=46). 58 A correlação intra-amostragem (Tab. 13) indica que o eixo1 é um gradiente de número de manchas (NP), diversidade (SHDI) e divisão (DIVISION). Não existem grandes correlações das métricas ao eixo2. Ao eixo 1 estão correlacionados positivamente as áreas ligadas LIP2, LIP3, LIE1, LIE2 e LIE3 e as áreas isoladas ISE2 e ISE3, e negativamente, a área ligada LIP1 e as isoladas ISE1, ISP1, ISP2 e ISP3. Ao eixo2 estão correlacionadas postivamente as áreas ligadas LIP1, LIP2, LIP3 e à isolada ISE3. Correlacionadas negativamente ao eixo2 estão as áreas ligadas LIE1 e LIE2 e as isoladas ISP1, ISP2, ISP3 e ISE2 (Fig. 8). - Espécies dependentes, semidependentes e independentes de formações A correlação intra-amostragem (Tab. 14) indica que o eixo1 é um gradiente de número de manchas (NP), diversidade (SHDI) e divisão (DIVISION). Não existem grandes correlações significativas das métricas ao eixo2. Ao eixo 1 estão correlacionadas positivamente as áreas ligadas LIP3, LIE1, LIE2 e LIE3 e as áreas isoladas ISE2 e ISE3, e negativamente, a áreas ligadas LIP1 e LIP2 e as isoladas ISE1, ISP1, ISP2 e ISP3. Ao eixo2 estão correlacionadas postivamente as áreas ligadas LIP1, LIP2, LIP3 e a isolada ISE3. Correlacionadas negativamente ao eixo2 estão as áreas ligadas LIE1 e LIE2 e as isoladas ISP1, ISP2, ISP3 e ISE2 (Fig. 9). DISCUSSÃO E CONCLUSÕES A paisagem foi praticamente toda alterada por ação antrópica, tendo mais de 60% da área ocupada por agricultura e pecuária. Sítios urbanos não ocupam muitas áreas mas as outras áreas alteradas são bastante inóspitas para muitas espécies dependentes de cobertura vegetal mais densa e dossel mais fechado como matas-degaleria, matas-secas e cerradões. De acordo com a teoria de percolação aplicada à paisagem, o limiar em que uma classe de cobertura irá atravessar de ponta a ponta da paisagem seria de 59% de ocupação da mesma, para paisagens geradas randômicas 59 (pc= 0,59) (Metzger e Decámps, 1998). A soma das áreas naturais é menos de 40%. Sendo assim, espécies mais dependentes de áreas contíguas e mais densas poderão ter dificuldade em atravessar a paisagem, caso esta se comporte como uma paisagem randômica (Fig. 10). A presença do Parque Nacional das Emas é essencial para impedir o processo de ruptura da paisagem. As áreas de campo, apesar de serem apenas uma pequena parte da área analisada ocupando 9% do total, estão na maioria dentro do PNE e representam 55% do total de campo no polígono do estudo. Estas áreas são consideradas pelos fazendeiros como sendo a parte mais valiosa pelo terreno plano que facilita o trabalho das máquinas. Entretanto, muitas espécies de aves e outros táxons, não percebem os campos agrícolas ou pastos como hábitats inóspitos por possuírem aspectos estruturais semelhantes a campos abertos. Trabalho recente com aves do Cerrado na região corrobora com este argumento (de Lima, 2003) e observações in loco mostram que algumas espécies atravessam as áreas alteradas e as usam para inclusive reprodução. Estas áreas, entretanto, podem agir como sumidouros para as populações locais e foram classificadas como inóspitas por alguns (Simberloff e Cox, 1987; Tubelis e Cavalcanti, 2000). A atividade de máquinas agrícolas também pode apresentar efeitos deletérios assim como o pisoteamento do gado em pastos, fora a própria destruição dos recursos para estas bestas. A caça também é um sério problema na região. A nossa análise com dados de estrutura de hábitat e abundância de aves confirma os resultados de de Lima (2003) onde foi observado que a comunidade estudada prefere a heterogeneidade do hábitat como a encontrada na manutenção das áreas de cerrado ao lado das matas-de-galeria, ao contrário do que é visto em manchas isoladas, com uma estrutura de classe menos diversa. Sendo assim, o restabelecimento da conectividade e a proteção futura de áreas é uma prioridade na 60 região e tem que ser planejada, levando-se em conta todas as ferramentas e estratégias possíveis. Duas estratégias podem ser consideradas dependendo do tipo de atividade estive r sendo realizado na propriedade. Para o oeste e noroeste do PNE a agricultura domina e existem poucos cursos d'água, principalmente a oeste. Existe também a inexistência quase total de Reservas Legais. Uma alternativa para o restabelecimento da conectividade na região é o uso de "stepping-stones", pedras de caminhar, formando caminhos por onde a aves podem se mover entre áreas naturais como o Parque Estadual do Taquari e a região do Zeca Novato, com refúgios no meio, que podem servir para pousar, descansar ou mesmo reproduzir com segurança. Na parte leste do PNE, a atividade dominante é a de criação de gado extensiva e muitos cursos d'água estão presentes. Apesar de muitas áreas para Reserva Legal não terem ainda sido averbadas, umas tantas já o foram e várias formaram um condomínio de reservas ao longo do rio Jacuba. Em outras áreas o mesmo pode ser feito. A futura Reserva de Vida Silvestre da Panela é beneficiada pelo corredor de vegetação que foi formado ao longo do rio Jacuba que cruza o PNE. Apesar do cenário ser preocupante ainda é possível colocar estas estratégias em prática para mitigar o efeito da alteração antrópica na região. Estas estratégias podem inclusive ser aproveitadas no Projeto Corredor Cerrado Pantanal, envolvendo a população local, tomadores de decisão e os representantes dos diferentes níveis de governo para restaurar ou manter o que existe de conectividade entre os dois biomas. 61 BIBLIOGRAFIA Batalha, M. A. 2001. Caracterização estrutural da cominidade vegetal no trecho Coxim-Mineiros (Projeto Corredor Cerrado Pantanal) e sua associação a descritores remotos. Relatório apresentado a Conservation International do Brasil. Bennet, A. F. 1990. Hábitat corridors and the conservation of small mammals in a fragmented forest environment. Landscape Ecology 4:109-122. de Lima, M. G. 2003. Ecologia da paisagem e cenários para a conservação da aviifauna na região do Parque Nacional das Emas. GO. Tese de doutorado, Programa de Pós Graduação em Ecologia, Departamento de Ecolgogia, Instituto de Biologia, Universidade de Brasília. de Lima, M. G. and C. Gascon. 1999. The conservation value of linear forest fragments in Central Amazonia. Biological Conservation 91: 241-247. Hanski, I. A. and D. Simberloff. 1997. The metapopulation approach, its history, conceptual domain, and application to conservation. Pages 1-26 in I. A. Hanski and M. E. Gilpin, editors. Metapopulation Biology: ecology, genetics, and evolution. Academic Press, San Diego. Hobbs, R. J. 1992. The role of corridors in conservation: solution or bandwagon: Trends in Ecology and Evolution 7: 173-185. Jongman, R. H. G., C. J. F. ter Braak and O. F. R. van Tongreen. 1995. Data analysis in community and landscape ecology. Cambridge University Press. Cambridge. United Kingdom. Laurance, W. F. and C. Gascon. 1997. How to creatively fragment a landscape. Conservation Biology 11: 577-579. Lindenmayer, D. B. and H. A. Nix. 1993. Ecological principles for the design of wildlife corridors. Conservation Biology 12: 460-464. 62 Marini, M, Â. 2001. Effects of forest fragmentation on birds of the cerrado region, Brazil. Bird Conservation International 11: 13-25. McCune, B. e J. Mefford. 1999. PC-ORD. Multivariate analysis of ecologic al data. Version 4.0. MjM Software. Gleneden Beach, Oregon McCune, B. e Grace J. 2002. Analysis of ecological communities. MjM Software Design. McGarigal, K., and B.J. Marks. 1995. FRAGSTATS: spatial pattern analysis program for quantifying landscape structure. Gen. Tech. Report PNW-GTR-351, USDA Forest Service, Pacific Northwest Research Station, Portland, OR McGarigal, K., S. Cushman e Stafford. 2000. Multivariate statistics for wildlife and ecology research. Springer Verlag. Metzger, J. P e Décamps. 1997. The structural connectivity threshold: an hypothesis in conservation biology at the landscape scale. Landscape Ecology 18(1): 1-12. Myers, N., R. A. Mittermeier, C. Mittermeier, G. A. B. da Fonseca and J. Kents. 2000. Biodiversity hotspots for conservation priorities. Nature 403. Ramos-Neto, MB & Vieitas, C.F. (1998) Estudo da Circulação de Fauna no Entorno do Parque Nacional das Emas - GO. Relatório Técnico. Licenciamento FERRONORTE, IBAMA, Tetraplan, SP. Ratter, J. A., J. F. Ribeiro and S. Bridgewater. 1997. The Brazilian cerrado vegetation and threats to its biodiversity. Annals of Botany 80: 223-230. Simberloff, D. and J. Cox. 1987. Consequences and costs of conservation corridors. Conservatio n Biology 1: 63-71. Tubelis, D. P, and R. B. Cavalcanti. 2000. A comparison of bird communities in natural and disturbed non-wetland open hábitats in the Cerrado’s central region, Brazil. Bird Conservation International 10:331-350. 63 Tabelas 64 Tabela 1. Matriz de distância em metros entre as áreas amostrais. LIP1 LIP1 ISP1 LIP2 ISP1 LIP2 ISP2 ISP3 LIE1 LIE2 LIE3 ISE3 1695.71 0.00 12884.00 14355.00 13478.89 10295.01 9382.43 17998.19 38663.02 32835.90 41903.44 33281.89 11183.33 12884.00 0.00 1526.14 26348.65 21828.25 14593.56 27717.36 50049.45 44096.88 50949.16 44840.46 0.00 27765.94 23111.87 15506.10 28768.10 51218.63 45259.28 51811.17 46042.44 15169.30 13478.89 26348.65 27765.94 0.00 6577.84 16254.12 11889.69 26330.81 20904.94 32596.56 20891.02 9900.82 8345.94 28487.43 22608.23 31896.03 23162.27 0.00 13421.94 36159.28 30200.91 36357.00 31178.72 ISE1 18385.98 17998.19 27717.36 28768.10 11889.69 8345.94 13421.94 0.00 22799.44 16866.02 23919.81 17992.03 39669.98 38663.02 50049.45 51218.63 26330.81 28487.43 36159.28 22799.44 ISE2 33788.52 32835.90 44096.88 45259.28 20904.94 22608.23 30200.91 16866.02 LIE3 ISE2 8294.20 18385.98 39669.98 33788.52 33467.18 34333.44 ISP3 11183.15 10295.01 21828.25 23111.87 6577.84 0.00 LIE1 8294.20 9382.43 14593.56 15506.10 16254.12 9900.82 LIE2 ISE1 1695.71 11183.33 12618.10 15169.30 11183.15 ISP2 12618.10 14355.00 1526.14 LIP3 LIP3 0.00 0.00 5965.28 12495.01 5444.82 5965.28 0.00 14350.66 1999.69 33467.18 41903.44 50949.16 51811.17 32596.56 31896.03 36357.00 23919.81 12495.01 14350.66 ISE3 34333.44 33281.89 44840.46 46042.44 20891.02 23162.27 31178.72 17992.03 0.00 15909.25 5444.82 1999.69 15909.25 65 0.00 Tabela 2 .Métricas de paisagem dos polígonos de 500 m Áreas*/Métricas NP CONTAG DIVISION SHDI AI LIP1 3 56.45 0.40 0.57 ISP1 2 58.51 0.35 0.54 LIP2 5 56.77 0.54 0.90 ISP2 2 59.62 0.34 0.52 LIP3 3 56.86 0.55 0.91 ISP3 2 46.81 0.49 0.68 LIE1 3 47.51 0.66 1.09 ISE1 5 46.93 0.61 0.68 LIE2 2 57.46 0.38 0.57 ISE2 8 75.57 0.17 0.31 LIE3 3 64.98 0.40 0.73 ISE3 3 92.21 0.03 0.09 99.66 99.58 99.51 99.53 99.72 99.27 99.30 99.30 99.83 99.70 99.64 99.83 * para descrição das áreas vide de Lima (2003) Tabela 3. Métricas de paisagem dos polígonos de 1.000 m Áreas*/Métricas NP CONTAG DIVISION SHDI AI LIP1 3 56.91 0.53 0.56 ISP1 2 75.73 0.17 0.31 LIP2 3 51.96 0.60 1.00 IPS2 2 83.48 0.10 0.21 LIP3 3 52.60 0.60 1.00 ISP3 2 72.84 0.20 0.35 LIE1 7 53.54 0.72 1.20 ISE 2 59.72 0.34 0.52 LIE2 5 57.06 0.54 0.90 ISE2 5 48.35 0.65 1.05 LIE3 3 54.42 0.58 0.96 ISE3 4 51.09 0.65 1.02 99.45 99.58 99.44 99.75 99.60 99.64 98.83 99.43 99.47 98.81 99.68 99.32 * para descrição das áreas vide de Lima (2003) Tabela 4. Métricas de paisagem dos polígonos de 5.000 m Áreas*/Métricas NP CONTAG DIVISION SHDI AI LIP1 6 85.5508 0.1267 0.2632 98.9792 ISP1 8 81.9788 0.3682 0.3305 98.7535 LIP2 6 74.0974 0.394 0.4956 98.7353 ISP2 8 81.654 0.1933 0.3598 99.3495 LIP3 9 50.6958 0.7573 1.2897 99.1124 ISP3 2 97.1415 0.0109 0.034 99.8767 LIE1 9 66.7154 0.6489 0.8219 98.234 ISE1 8 70.154 0.5213 0.7766 99.3665 LIE2 20 56.2689 0.8144 1.2443 97.4117 ISE2 22 69.9222 0.47 0.843 97.9427 LIE3 16 50.6725 0.7253 1.2493 98.247 ISE3 51 48.5113 0.8881 1.4338 96.2211 * para descrição das áreas vide de Lima (2003) 66 Tabela 5. Métricas de paisagem dos polígonos de 10.000 m Áreas*/Métricas NP CONTAG DIVISION SHDI AI LIP1 10 90.1122 0.0739 0.1657 98.9017 ISP1 12 90.3461 0.0697 0.1587 98.8314 LIP2 15 81.9934 0.1955 0.4208 98.5628 ISP2 19 76.0074 0.3036 0.578 98.4676 LIP3 24 52.7603 0.8234 1.1813 97.9776 ISP3 13 70.1683 0.4167 0.7755 99.3192 LIE1 30 61.8004 0.7518 0.9207 97.5121 ISE1 14 72.3204 0.6784 0.6963 98.8563 LIE2 47 54.4709 0.8709 1.2443 95.9672 ISE2 78 63.7192 0.8125 1.0559 95.3079 LIE3 37 60.4894 0.7124 0.9574 97.6027 ISE3 100 60.8452 0.8177 1.1338 94.7801 * para descrição das áreas vide de Lima (2003) Tabela 6. Área total e sem o Parque Nacional das Emas. Tipo Cerrado Floresta Pecuária Agricultura Campo não classificado sem classe Urbano Totat Cobertura (ha) 246.658,59 119.284,02 315.585,27 586.996,56 218.855,97 1.013,49 2.649,06 476,73 1,491,519.69 % da área 16.53 7.99 21.15 39.35 14.67 0.07 0.18 0.03 100 Cobertura s/PNE 237,118.23 115,922.79 315,585.27 586,996.56 99,021.96 1,013.49 2,649.06 476.73 1,358,784.09 % da área s/PNE 17.45 8.53 23.23 43.20 7.29 0.07 0.19 0.04 100 Tabela 7. Índice de contágio de agregação Tipo Cerrado Mat Pecuária Agricultura Campo não classificado sem classe Urbano Índices de Aggregation 96.2395 94.3957 97.683 99.0394 97.6677 94.89 92.2784 97.4732 67 Tabela. 8. Resultados distância. Polígono (m) r 500 0,11 1.000 0,06 5.000 0,36 10.000 0,47 do Teste de Mantel. H0: não existe relação entre as matrices de p (Assimptótica) 0,43 0,06 <0,01 <0,01 p (Monte Carlo) 0,22 0,31 0,01 < 0,01 Tabela 9.Correlações intra-amostragem para as variáveis extraídas de polígonos com 500 m e a abundância de espécies independentes de formações florestais Variáveis/Eixos Eixo 1 Eixo 2 NP 0.061 0.284 CONTAG -0.236 0.866 DIVISION 0.541 -0.721 SHDI 0.833 -0.451 AI -0.135 0.908 Tabela 10.Correlações intra-amostragem para as variáveis extraídas de polígonos com 500 m e a abundância de espécies semidependentes e independentes de formações florestais Variáveis/Eixos Eixo 1 Eixo 2 NP 0,004 0,322 CONTAG -0,400 0,751 DIVISION 0,675 -0,560 SHDI 0,890 -0,244 AI 0,363 0,850 68 Tabela 11.Correlações intra-amostragem para as variáveis extraídas de polígonos com 500 m e a abundância de espécies dependendtes, semidependentes e independentes de formações florestais Variáveis/Eixos Eixo 1 Eixo 2 NP 0,010 0,251 CONTAG -0,547 0,495 DIVISION 0,771 -0,240 SHDI 0,867 0,107 AI -0,671 0,679 Tabela 12.Correlações intra-amostragem para as variáveis extraídas de polígonos com 1.000 m e a abundância de espécies independentes de formações florestais Variáveis/Eixos Eixo 1 Eixo 2 NP 0,913 -0,343 CONTAG -0,671 -0,476 DIVISION 0,868 0,332 SHDI 0,910 0,329 AI -0,618 0,503 Tabela 13 .Correlações intra-amostragem para as variáveis extraídas de polígonos com 1.000 m e a abundância de espécies semidependentes e independentes de formações florestais Variáveis/Eixos Eixo 1 Eixo 2 NP 0,944 -0,297 CONTAG -0,655 -0,466 DIVISION 0,847 0,376 SHDI 0,883 0,375 AI -0,644 0,460 Tabela 14. Correlações intra-amostragem para as variáveis extraídas de polígonos com 1.000 m e a abundância de espécies dependetnes, semidepentes e independentes de formações florestais Variáveis/Eixos Eixo 1 Eixo 2 NP 0,833 -0,143 CONTAG -0,614 -0,505 DIVISION 0,739 0,468 SHDI 0,790 0,461 AI -0,460 0,258 69 Figuras 70 N W E S Figura 1. Localização do Parque Nacional das Emas. Imagem Landsat 7, 2002, bandas 5(R), 4(G), e 3(B). 71 72 N W E S Figura 3. Polígonos de 500, 1.000, 5.000 e 10.000 m de diâmetro, cortados nas áreas amostrais usadas em M. G. de Lima (2003). 73 Figura 4. Diagrama da ACC com dados de polígonos de 500 m e espécies independentes de formações florestais. 74 Figura 5. Diagrama da ACC com dados de polígonos de 500 m e espécies semidependentes e independentes de formações florestais. 75 Figura 6. Diagrama da ACC com dados de polígonos de 500 m e espécies dependentes, semidependentes e independentes de formações florestais. 76 Figura 7. Diagrama da ACC com dados de polígonos de 1.000 m e espécies independentes de formações florestais. 77 Figura 8. Diagrama da ACC com dados de polígonos de 1.000 m e espécies semidependentes e independentes de formações florestais. 78 Figura 9 Diagrama da ACC com dados de polígonos de 1.000 m e espécies dependentes, semidependentes e independentes de formações florestais. 79 a- b- c- d- e- f- Figura 10. Porcentagem de ocupação na paisagem para cada cobertura: a-Áreas naturais (p=39.2); b-Formações florestais(p=7.99); c-Cerrado (p=16.53); d-Campos (p=14.67); e-Agricultura (p= 39.35 ); f- pecuária (p=21.15). 80 Capítulo 3. Valor de Conservação da Região do Parque Nacional das Emas para a avifauna do Cerrado. INTRODUÇÃO O Cerrado brasileiro tem sido a principal fronteira agrícola desde a década de 70 (WWF, 1995; Ratter et al., 1997). Novas técnicas agrícolas, aliadas ao relevo suave dos campos abertos e cerrados, além da presença de muitos cursos d'água, ajudaram a implementação de mega plantações de grãos, algodão, girassol e outros cultivos. A prática da pecuária extensiva também é incentivada e facilitada pela fácil derrubada de árvores, principalmente com o uso de correntões, e apenas algumas párvores são deixadas para dar sombra aos animais. A resultante é que apenas ou menos de 20% do bioma, ou 356.830 km2 dos 1.783.200 km2 originais, ainda restam (Myers et al., 2000). Uma das principais preocupações para se conservar o cerrado é a manutenção da conectividade entre as áreas naturais que ainda se mantêm intactas. Com uma pequena porção protegida como unidade de conservação, seja federal, estadual ou municipal, é preciso contar, principalmente, com outros tipos de figuras de conservação, como as Reservas Legais (RL) e as Áreas de Preservação Permanentes (APP), ambas definidas no Código Florestal brasileiro Além disso, é preciso inserir os diversos atores na implementação de unidades de conservação, inclusive usar dos diversos tipos de UCs previstas no Sistema Nacional de Unidade de Conservação para criar mosaicos de áreas protegidas. A elaboração de estratégias de conservação requer a união de dados geográficos (mapas, imagens de satélite, localização de espécies em coordenadas) com dados biológicos para, com isso, realizar modelagens para produzir diretrizes de 81 transformação da paisagem, com fins conservacionistas, com base em estudos ecológicos e não somente em divisões geopolíticas (Akçakaya et al., 1995; Opdam et al., 2002; Margules et al. 2002; Lindenmeyer et al., 2003). Afinal, fauna e flora não fazem distinção de barreiras políticas, e sim de barreiras geográficas e biológicas. Ferramentas para unificar a paisagem com aspectos biológicos existem há algum tempo, através de modelos espacialmente explícitos (Farina, 1998; Largura, 2000; Machado, 2000; Turner et al. 2001). Muitos destes modelos simulam paisagens e dados biológicos para testar diversos processos ecológicos. Estes modelos são importantes para melhorar a precisão de modelos realísticos, porém são de pouca utilidade para se definir estratégias de conservação que realmente possam ser aplicadas. O programa RAMAS Multispecies Assessment, que une dois programas, o RAMAS GIS e o RAMAS Metapop, permite a modelagem de paisagens através de mapas de adequação de habitat criados através de um SIG e modelos metapopulacionais (para exemplos vide: Akçakaya et al. 1995; Akçakaya e Bauer, 1996; Akçakaya e Atwood, 1997; Root, 1998; Drechsler et al 1999; Brook et al., 2000; Kindvall, 2000; Broadfoot et al., 2001; Cox e Engstrom, 2001; Milner-Gulland e Akçakaya, 2001; Regan, et al. 2001; Inchausti e Weimerskirch, 2002; Root, 2002; Sawchick et al. 2002; Wielgus, 2002; Funk e Mills, 2003; Root et al., 2003). O produto final é um Mapa de Valor de Conservação (Fig. 1). Alternativamente, ao invés de usar parâmetros metapopulacionais, este programa permite que o risco de extinção seja derivado de uma ordenação em nível de ameaça das espécies, a partir de uma lista de ameaça ou mesmo de observações empíricas. Neste caso, a contribuição das populações ao risco de extinção total é consideradao a mesma. 82 Usando os dados biológicos e variáveis ambientais extraídas da classificação feita por de Lima (2003), geramos mapas com valor de adequação para cinco espécies endêmicas do Cerrado: Cypsnagra hirundinacea; Cyanocorax cristatellus; Melanopareia torquata; Neothraupis fasciata e Saltator atricollis. Estas espécies são consideradas independentes de formações florestais Silva (1995); Neotraupis fasciata está na lista vermelha de espécies ameaçadas da IUCN (www.redlist.org) na categoria "Lower Risk/Near threatened". O nosso objetivo foi comparar os mapas de adequação para indicar áreas de maior valor de conservação na região do Parque Nacional das Emas e se alguma espécie poderia servir como uma "indicadora" da presença das demais, um tipo de espécie "focal" (ver Armstrong e Caro, 2002). MÉTODOS A partir de um mosaico composto por quatro imagens Landsat 7 ETM de 2002, recortamos um polígono de 1.491.141 ha, com o Parque Nacional das Emas (PNE) como área central (Fig. 2). Esta imagem foi classificada em oito classes de forma não supervisionada com o programa Erdas (Tab.1). A imagem classificada foi conferida com base no trabalho de Batalha (2001) e na experiência de campo da equipe da Oréades, Núcleo de Geoprocessamento em Mineiros, Goiás, sendo melhorada com o programa Arcinfo. A imagem final contou com 5.040 polígonos. Usando a imagem classificada como base, um “grid” foi construído onde cada “pixel”, ou seja, o menor polígono, corresponde a 40,20 ha. Um total de 37.168 “pixels” foram cortados na imagem, cada um com a seguinte informação sobre o respectivo uso de solo: pasto, agricultura, cerrado, campo aberto, mata, urbano, sem dados e sombra. As áreas de amostragem foram localizadas dentro desta nova imagem. Os “pixels” que interseccionaram o polígono de 250 m de diâmetro 83 referente ao comprimento do transecto usado no estudo de del Lima (2003) foram cortados, e os valores de cobertura anotados. Quando o caso, foi calculada a média dos valores encontrados de acordo com o número de “pixels” necessários para cobrir toda a área do polígono. Foram escolhidas cinco espécies de aves endêmicas do cerrado para fazer um mapa de valor de conservação (MVC). As espécies foram: Saltator atricollis, Neothraupis fasciata, Melanopareia torquata, Cypsnagra hirundinacea e Cyanocorax cristatellus. Junto com as variá veis de paisagem, foi construída uma matriz de presença ou ausência para cada espécie. Com estas matrizes, modelamos regressões logísticas que resultaram em equações de regressão para cada espécie, seguindo o seguinte modelo: logit(p)= b0 +b1 x1 +b2 x2 +…..+bn xn eq. 1 O “grid” original formado pelo arquivo “shape” (arquivo .shp), uma imagem vetorial, foi subdividido em mapas de cobertura distintas (pecuária, mata, cerrado, campo aberto e agricultura) pela separação das suas tabelas de valores (arquivo .dbf). Estes mapas de uso de solo foram importados pelo programa RAMAS GIS (Akçakaya, 2002), onde também usamos as equações logísticas para montarmos funções de adequação de habitat ou HS (“habitat suitablility”). Neste sentido, os mapas de uso de solo são unidos de acordo com a função logística, gerando um único mapa cujos “pixels” possuem valores de HS de acordo com a área de cada uso de solo. Para tanto, as equações foram transformadas em “probabilidades” através da igualdade: logit(p)=ln(p/(1-p)) eq. 2 sendo, então: Valor de adeequação=HS=p=1/(exp(-logit(p))+1) eq. 3 84 No modelo também é incluído o limiar de adequação da espécie, ou seja, o limiar do valor de HS em que uma espécie pode reproduzir sem, no entanto, inviabilizar a dispersão para as outras manchas com valor inferior. Também é definido o número mínimo de “pixels” para se considerar uma mancha como viável para a espécie analisada. Na simulação realizada para todas as espécies, considerou-se que o limiar de adequação fosse igual a 0,99 e que a distância ao vizinho fosse de 2 (i.e., 2 x 0,634km=1,264km). Números inferiores a esse geraram muitas manchas e impossibilitaram a análise com o programa por limitação do mesmo (no máximo 500 manchas podem ser analisadas). Os resultados foram salvos e importados para o programa RAMAS Multispecies Assessment (Root, 2002), onde foi gerado um mapa de Valor de Conservação (MVC) levando-se em conta todas as cinco espécies estudadas. Para cada espécie foi determinado um fator de risco, que estabelecemos de acordo com um critério de categoria de vulnerabilidade, estimada através de informações da Lista Vermelha da IUCN e observações de campo de de Lima (2003)(Tab. 2). Três mapas foram confeccionados para comparação da importância relativa das espécies, sendo um com todas as cinco espécies, um sem M. torquata, e um sem N. fasciata. Os Mapas de Valores de Conservação (MVC) foram exportados em arquivo ASCII/ArcView sendo transformado em arquivo ".grid" e reclassificados em classe com números inteiros para cálculo de freqüência. RESULTADOS Equações logísticas de probabilidade As equações logísticas de probabilidade usadas no modelo foram construídas através da transformação das equações de regressão logística em equações logísticas 85 de probabilidade (Tab. 2). Apenas duas espécies, Cypsnagra hirundinacea e Neothraupis fasciata, apresentaram regressões significativas. Para fins de simulação, entretanto, foram usadas as regressões de todas as cinco espécies. Mapas de HS e índices da paisagem As modelagens explicitaram as diferenças em adequação dos habitats para as espécies modeladas. Melanopareia torquata (nmanchas=227) apresentou a freqüência mais baixa para um HS alto (0,94-1,00), com apenas 4,28 % dos “pixels” com este valor(npixels=1.590) (Fig. 3). A maior freqüência ficou com o intervalo de “pixels” com um valor de HS baixo (0,00-0,07), com 46,72% (npixels=17.365). O HS total foi de 11.676,34. A média das manchas foi de 1,5 km2 , ocupando 2,33% da paisagem total, (Fig. 4) e a média da dimensão fractal foi de 0,608 (Fig. 5). A equação probabilística de Melanopareia torquata (Tab. 3) mostra que pixels somente com área de pasto apresentam baixos valores de HS, representando 22,9% destes valores (npixels=3.971). Por sua vez, áreas dominadas por mata possuem alto valor de conservação, mas são muito pouco freqüentes na paisagem, com 16,3% (npixels=259). Mesmo assim, é um resultado que surpreende já que esta espécie é típica de cerrados mais abertos, o que corresponderia aos valores intermediários de VC, entre 0,52 e 0,62 que onde estão as áreas dominadas por campo aberto e agricultura (Fig. 6) O HS de Saltator atricollis (nmanchas= 355) também teve a sua maior freqüência de “pixels” com baixíssimo valor: 50,01% na faixa de 0,00-0,07 (npixels=18.588) e um total de 75,73 na fa ixa de 0,00-0,22 (npixels=28.147) (Fig. 7). No intervalo de maior HS (0,94-1,00), apenas 9,15 % das “pixels” estiveram nesta faixa (npixels=3401). A média 86 das manchas foi de 3,1 km2 , ocupando 7,32% da paisagem total (Fig. 8), e a média da dimensão fractal foi de 0,827 (Fig. 9). O mapa de HS de Saltator atricollis tem uma grande freqüência de áreas com pasto na faixa de baixos valores de adequação de habitat. As melhores áreas para esta espécie seriam as áreas com predominância de cerrado. Pixels ocupados totalmente por cerrado representam 42,1% nesta faixa de HS (Fig. 10). O mapa de HS para Cypsnagra hirundinacea (nmanchas=430) teve uma alta freqüência de “pixels” com HS baixo, 75,80% para a faixa de 0,00-0,07 (npixels=28.173) e 83,20% no intervalo de 0,00-0,14 (npixels=30.962). O intervalo maior de HS (0,94-1,00) teve uma freqüência de 15,30 (npixels=5.688) (Fig. 11). A média das manchas foi de 5,2km2 , ocupando 14,92% da paisagem total (Fig. 12), e a média da dimensão fractal foi de 0,916 (Fig. 13). O MHS de Cypsnagra hirundinacea é dominada por áreas de baixo valor de conservação que se caracterizam por áreas com dominância de agricultura, pasto e campo aberto. Pixels com somente uma destas coberturas representam 52,6% nesta faixa de HS. As melhores áreas são aquelas com mais cerrado e mata; no entanto, a freqüência destas áreas é baixa no mapa (Fig. 14). Cyanocorax cristatellus (nmanchas=226) apresentou uma freqüência menor na faixa de baixo HS, com 32,94 manchas entre 0,00 e 0,07(npixels=12.242). Na faixa de mediana de HS entre 0,29 e 0,50, a freqüência de manchas foi de 20,27% (npixels=7.907) . Entre 0,94 e 1,00 a freqüência foi de 30,91% (npixels=11.489) (Fig. 15). A média das manchas foi de 19km2 , ocupando 28,99% da paisagem total (Fig. 16), e a média da dimensão fractal foi de 1,140 (Fig. 17). O MHS de Cyanocorax cristatellus possui muitas áreas de agricultura que se caracterizam por serem de baixo HS. As áreas dominadas por cerrado são bem 87 representativas e são as que possuem maior valor de adequação para esta espécie (Fig. 18). A espécie com o maior freqüência de HS na faixa ótima foi Neothraupis fasciata (nmanchas=169), com 43,92% dos pixels neste intervalo (npixels=16.324). Na faixa mais baixa, entre 0,00 e 0,07, 41,19% dos pixels estiveram neste intervalo (npixels=15.309) (Fig. 19). A média das manchas foi de 35 km2 , ocupando 39,97% da paisagem total (Fig. 20) e a média da dimensão fractal foi de 0,778 (Fig. 21) As piores áreas para Neotraupis fasciata são aquelas com dominância de mata e pasto. As áreas com melhor HS para esta espécie seriam aquelas com mais agricultura e cerrado (Fig. 22). Mapa de Valor de Conservação A Fig. 23 mostra o valor de conservação para a área de estudo com todas as espécies. A maior freqüência foi de uma faixa intermediária de VC, entre 0,425 e 0,531. Este foi o valor da área de agricultura. O Parque Nacional das Emas ficou, em sua maioria, em uma faixa superior, entre 0,531 e 0.637. O maior VC foi dado a locais com grande concentração de Cerrado s.s. Neste, pelo menos três áreas se destacam: as margens do rio Jacuba, a região da Panela e a região do Zeca Novato. O Parque Estadual do Taquari apresentou baixo VC (entre 0,00 e 0,106), provavelmente por ser composto, em sua maioria, por uma fitofisionomia florestal. DISCUSSÃO A metodologia usada foi eficiente para gerar Mapas de Adequação de Habitat (MAH) para as cinco espécies do cerrado e um Mapa de Valor de Conservação (MVC). Esses, mostraram detalhes de preferência de habitat das espécies e mapearam as possíveis áreas relevantes para preservação na região do Parque Nacional das Emas, região núcleo do Projeto Corredor Cerrado Pantanal. Variando os valores da 88 equação probabilística de cada espécie, foi possível tirar mais informações sobre a probabilidade de presença destas, nos Mapas de Adequação de Habitat. Na maioria dos casos, o máximo de Adequação de Habitat (AH) foram dos "pixels" dominados por uso de solo que ocorreram em baixa freqüência, ou seja, as áreas naturais, em especial o cerrado. Na faixa extrema de baixa AH, ficaram principalmente as regiões de pasto e agricultura. As exceções foram Melanopareia torquata e Neotraupis fasciata, que apresentaram o uso de solo “Agricultura” na região de médio a alto AH. Todos os pixels com somente “Agricultura” no MAH de N. fasciata ficaram na faixa de adequação ótima, ou seja, 49,5 % dos "pixels" presentes, ou cerca de 324.977 ha. O Mapa de Valor de Conservação reflete a adequação de habitat assinalada pelas equações probabilísticas espécie específica que, por sua vez, refletem a relação das espécies com as variáveis de paisagem, extraídas pela regressão logística a partir de presença ou ausência nas área amostrais do trabalho de de Lima (2003). O alto AH de N. fasciata em áreas de agricultura, por exemplo, ocorre em virtude da presença desta espécie em áreas amostrais com bastante agricultura perto dos transectos de amostragens. Junto com os dados de M. torquata, que também teve altos AH para a classe agricultura, o MVC mostra que estas áreas possuem um Valor de Conservação (VC) mediano. Quando refazemos o MVC sem uma destas espécies ou sem as duas, a influência das mesmas para o valor de conservação fica bem clara. Por outro lado, o baixo VC de áreas com a classe pasto é uma conseqüência do trabalho de de Lima et al. (2003a) ter sido feito em uma região praticamente desprovida desta prática. Neste sentido, é preciso estratificar bem as áreas amostrais para incluir todas as variáveis possíveis em futuros modelos. 89 De modo geral, não foi possível eleger uma espécie focal, ou seja uma espécie que represente de forma satisfatória os interesses do conjunto das espécies estudadas. Entretanto, é possível eleger um habitat focal: independente da presença ou ausência de M. torquata e N. fasciata, as áreas de cerrado aparecem com o maior VC em todos os mapas. O MVC corrobora, então, com algumas propostas para a região. Em primeiro lugar, a criação de novas unidades de conservação na região do Zeca Novato e na região da Panela (Fig. 24). Estas regiões ainda possuem áreas de cerrado preservado. Em casos, como da região da Panela, várias das áreas preservadas fazem parte da Reserva Legal das propriedades, inclusive várias já estão averbadas. Não existe justificativa, portanto, para a desapropriação das terras averbadas como Reservas Legais, mas sim a transformação das áreas em Unidades de Conservação de proteção integral ou de uso sustentável. No caso de uma unidade de proteção integral, o ideal seria a criação de um Refúgio de Vida Silvestre (RVS). As RVS têm como objetivo permitir a existência e a reprodução de populações naturais, residentes ou migratórias, podendo ser constituídas, como é o caso, por propriedades particulares. Tanto a visitação quanto a pesquisa científica podém ser realizadas dentro de RVS, desde que autorizadas. Em caso de criação de uma unidade de uso sustentável, poderia ser criada uma Reserva Particular de Patrimônio Natural, onde a propriedade privada tem como objetivo a preservação da diversidade biológica, sendo permitida a visitação turística e a pesquisa científica. Em ambos os casos, há necessidade de se realizar um plano de manejo. As mesmas considerações podem ser aplicadas à região do Zeca Novato, sendo que, em ambos os casos, também seria necessária a desapropriação de algumas áreas para manter a permeabilidade da paisagem (Metzger e Décamps, 1997; de 90 Lima, 2003). A área da Panela deverá ser conectada ao Parque Nacional das Emas, que é considerado uma das áreas núcleo do Projeto Corredor Cerrado Pantanal, através da grande área de cerrado ao longo do Rio Jacuba, formado principalmente por um condomínio de Reservas Legais. Este elemento de conectividade ao longo do curso d’água aparece com um relevante valor de conservação para as aves de cerrado. A associação à mata-de-galeria do Rio Jacuba auxilia no aumento da heterogeneidade deste corredor, o que beneficia tanto espécies de mata quanto as de cerrado (de Lima, 2003). A conexão do PNE com a região do Zeca Novato poderia seguir uma estratégia similar, apesar de não existir nenhum grande curso d’água saindo do Parque naquela direção. Entretanto, alguns cursos d’água estão próximos e poderiam servir de elementos de conectividade. Na MVC, estes cursos não aparecem claramente. já que a modelagem foi feita para espécies do cerrado e não de mata, embora algumas áreas com alto VC os estejam margeando. Neste caso, seria interessante analisar a possibilidade de se aumentar as áreas de cerrado ao longo destes rios, recuperando Áreas de Preservação Permanente, além da implementação de Reservas Legais junto aos rios, em propriedades onde as mesmas não existem (Laurance e Gascon, 1997; de Lima e Gascon, 1999; de Lima, 2003). A estratégia para o sudoeste do PNE em direção à região de Costa Rica, MS, também se faz acompanhando os cursos d’água. As áreas com alto VC acompanham estes cursos, como é possível ver na imagem Landsat (Fig. 2). Esta é uma área de grande interesse para conservação para o Projeto Corredor Cerrado Pantanal, já que os cursos d’água do Município de Costa Rica correm em direção ao Taquari,funcionando como elementos naturais de conectividade. 91 Infelizmente, o oeste do PNE está desprovido de cursos d’água e de Reservas Legais. A estratégia, neste caso, seria aumentar a permeabilidade através da criação de uma série de reservas para servir de refúgio e de corredores de vegetação ao longo das estradas de acesso para melhorar a conectividade destes refúgios, ou “steppingstones”, como são conhecidos (Bennet, 2000). Como a região possui diferentes realidades tanto na escala macro quanto na micro, a estratégia adotada deve ter, como resultado final, o aumento da permeabilidade da paisagem para os diferentes organismos envolvidos. O conceito básico a ser seguido é o da teoria da percolação onde existe um limiar onde, no caso de uma paisagem, abaixo dele a conectividade está restrita assim como o movimento de organismos (Stauffer, 1985, Metzger e Décamps, 1997; Farina, 1998; Turner et al., 2001). O ideal é ter um conjunto de áreas naturais de diferentes fitofisionomias (e.g. um mosaico) para aumentar tanto a heterogeneidade espacial da paisagem como também a possibilidade de percolação dos organismos pela mesma. De Lima (2003) analisou a paisagem utilizada neste estudo e mostrou que 60,5% é ocupada por áreas alteradas, o que significa que o limiar de percolação (pc=0,59) para paisagens randômicas foi ultrapassado. É possivel que as espécies mais dependentes de áreas naturais possam estar isoladas nesta paisagem natural. O trabalho acima também mostra que as classes de ocupação de solo estão agregadas e não distribuídas pela paisagem, o que também dificulta a movimentação de animais e dispersão de plantas. Existe, portanto, uma grande necessidade de conectar estas áreas isoladas através de corredores e “stepping stones”. CONCLUSÕES - A união de dados geográficos através de geoprocessamento com dados biológicos é um passo importante para a elaboração de estratégias para a conservação; 92 - As áreas ao longo de cursos d'água possuem um valor de conservação muito alto e podem servir de corredores de dispersão para uma variedade de espécies; - Blocos de áreas conservadas com alto valor de conservação devem não apenas ser preservados em alguma classe de unidade de conservação, como também manter elementos de conectividade com outras áreas preservadas, podendo ser corredores de dispersão ou "stepping-stones"; - Em áreas muito alteradas, a idéia de preservação de habitats focais com alto valor de conservação, ao invés de espécies focais, pode ser uma melhor estratégia para a conservação de uma faixa grande de espécies. 93 BIBLIOGRAFIA Akçakaya, H. R., M. A. McCarthy e J. Pearce. 1995. Linking landscape data with population viability analysis: management options for the helmeted honeyeater. Biological Conservation 73: 169-176. Akçakaya, H. R. e B. Bauer. 1996. Effects of population subdivision and catastrophes on the persistence of a land snail metapopulation. Oecologia 105: 475-783. Akçakaya, H. R. e J. L. Atwood. 1997. A habitat-based metapopulation model of the California Gnatcatcher. Conservation Biology 11:422-434. Akçakaya 2002. H. R. RAMAS GIS: Linking spatial datra with population viability analysis (version 4). Apllied Biomathematics, Setauket, New York. Armstrong, D e Caro, T. M. 2002. Focal and surrogate species: getting the language right. Conservation Biology 16(2): 285-287. Batalha, M. A. 2001. Caracterização estrutural da cominidade vegetal no trecho Coxim-Mineiros (Projeto Corredor Cerrado Pantanal) e sua associação a descritores remotos. Relatório apresentado a Conservation Internationa l do Brasil. Bennet, A. F. 2000. Linkages in the landscape: The role of corridors and connectivity in wildlife conservation. IUCN, Gland, Switzerland and Cambridge, UK. Broadfoot, J. D., R. C. Rosatte e D. T. O'Leary. 2001. Raccoon and skunk population models for urban disease control planning in Ontario, Canada. Ecological Applications 11: 295-303. Brook, B. W., J. J. O'Grady, A. P. Chapman, M. A. Burgman, H. R. Akçakaya e R. Frankham. 2000. Predictive accuracy of population viability analysis in conservation biology. Nature 404: 385-387. Cox, J. e R. T. Engstrom. 2001. Influence of the spatial pattern of conserved lands on the persistence of a large population of red-cockaded woodpeckers. Biological 94 Conservation 100:137-150. de Lima, M. G. and C. Gascon. 1999. The conservation value of linear forest fragments in Central Amazonia. Biological Conservation 91: 241-247. de Lima, M. G de Lima, M. G. 2003. Ecologia da paisagem e cenários para a conservação da aviifauna na região do Parque Nacional das Emas. GO. Tese de doutorado, Programa de Pós Graduação em Ecologia, Departamento de Ecolgogia, Instituto de Biologia, Universidade de Brasília. Drechsler, M., B. B. Lamont, M. A. Burgman, H. R. Akçakaya, Witkowski, E. T. F., Supriyadi. 1999. Modelling the persistence of an apparently immortal Banksia species after fire and land clearing. Biological Conservation 88: 249-259. Farina, A. 1998. Principles and methods in landscape ecology. Chapman & Hall ltda. Cambridge, Reino Unido. Funk, W. C. e L. S. Mills. 2003. Potential causes of population declines in forest fragmentation in an Amazonian frog. Biological Conservation 111:205-214. Inchausti, P. e H. Weimerskirch. 2002. Dispersal and metapopulation dynamics of an oceanic seabird, the wandering albatros and its consequences for its response to long- line fisheries. Journal of Animal Ecology 71:765-770. Kindvall, O. 2000. Comparative precision of three spatially realistic simulation models of metapopulation dynamics. Ecological Bulletins 48:101-110. Largura, L. A. R. 2000. Autômato celular probabilístico para modelagem expacialmente explícita de metapopulações. Dissertação de Mestrado em Ciência da Computação. Universidade de Brasília. Laurance, W. F. e C. Gascon. 1997. How to creatively fragment a landscape. Conservation Biology 11: 577-579. Lindenmayer, D. B., S. McIntyre e J. Fischer. 2003. Birds in eucalypt and pine 95 forests: landscape alteration and its implications for research models of faunal habitat use. Biolgogical Conservation 110: 45-53. Machado, R. B. 2000. A fragmentação do Cerrado e a avifauna na região de Brasília-DF. PhD. thesis. Universidade de Brasília, Brasília, Brazil. Margules, C. R., R. L. Pressey e P. H. Williams. 2002. Representing biodiversity: data and procedures for indentifying priority areas for conservation. Journal of Bioscience 27(4)(2): 309-326. Metzger, J. P e Décamps. 1997. The structural connectivity threshold: an hypothesis in conservation biology at the landscape scale. Landscape Ecology 18(1): 1-12. Milner-Gulland, E. J. e H. R. Akçakaya. 2001. Sustainability indices for exploited populations under uncertainty. TREE 16:686-692. Myers, N., R. A. Mittermeier, C. Mittermeier, G. A. B. da Fonseca and J. Kents. 2000. Biodiversity hotspots for conservation priorities. Nature 403. Opdam, P., R. Foppen e C. Vos. 2002. Bridging the gap between ecology and spatial planning in landscape ecology. Landscape Ecology 16:767-779. Ratter, J. A., J. F. Ribeiro and S. Bridgewater. 1997. The Brazilian cerrado vegetation and threats to its biodiversity. Annals of Botany 80: 223-230. Regan, T. J., H. M. Regan, K. Bonham, R. J. Taylor e M. A Burgman. 2001. Modelling the impact of timber harvesting on a rare carnivorous land snail (Tasmaphena lamproides) in northwest Tasmania, Australia. Ecological Modeling 139:253-264. Root, K. V. 1998. Evaluating the effects of habitat quality, connectivity and catastrophes on a threatened species. Ecological Applications 8: 854-865. Root, K. V. 2002. RAMAS Multispecies Assessment: Estimating Multispecies Conservation Values across the landscape (Version 1.0). Applied Biomathmatics, 96 Setauket, New York. Root, K. V., H. R. Akçakaya e L. Ginzburg. 2003. A multispecies approach to ecological valuation and conservation. Conservation Biology 17(1):196-206. Sawchick, J., M. Dufrene, P. Lebrun, N. Schtickzelle e M. Baguerre. 2002. Metapopulation dynamics of the bog fritillary buterfly: modelling the effect of habitat fragmentation. Acta Oecologica 23: 287-296. Silva, J. M. C. 1995. Birds of the Cerrado Region, South America. Steenstrupia 21: 69-92 Stauffer, D. 1985. Introduction to percolation theory. Taylor & Francis, London. Turner, M. G., R. H. Gardner e R. V. O'Neill. 2001. Landscape ecology in theory and practice. Pattern and process. Springer-Verlag, Nova Iorque, EUA. Wielgus, R. B. 2002. Minimum viable population and reserve sizes for naturally regulated grizzly bears in British Columbia. Biological Conservation. 106: 381388. WWF/PRÓCERR. 1995. Bit by bit the Cerrado loses space (Cerrado-impact of the settlement process). WWF-Fundo Mundial para a Natureza, Brasília, Brazil. 97 Tabelas 98 Tabela 1. Identificadores das classes usadas na classificação da imagem Landsat 7 ETM, 2002. identificador Classe 1 pecuária 2 formação florestal 3 cerrado s.s 4 campo 8 agricultura 10 sombra 11 urbano 0 não identificado Tabela 2. Status das espécies estudadas e o valor normalizado usado no modelo. Espécie Risco Valor normalizado Valor normalizado sem N. fasciata ou M.torquata Neothraupis fasciata 3 1 ---------------------Cyanocorax cristatellus 2 0,6667 1 Saltator atricollis 2 0,6667 1 Melanopareia torquata 2 0,6667 Cypsnagra 1 0,3333 0,5 hirundinacea Tabela 3. Equações logísticas de probabilidade usadas no modelo. Espécie Equação Neothraupis fasciata Cyanocorax cristatellus Saltator atricollis Melanopareia torquata Cypsnagra hirundinacea 1/(exp(-0.404091-1.209675*[agri]-0.03443*[campo]-0.109345*[cerrado]+0.07478*[mata]+1.87189*[pasto])+1) 1/(exp(-0.114643+0.35251*[agri]-0.017768*[campo]-1.3581*[cerrado]+0.01055*[mata]+0.01973*[pasto])+1) 1/(exp(-19.30057+0.51284*[agri]+0.50859*[campo]+0.27503*[cerrado]+0.6562*[mata]+71.8047*[pasto])+1) 1/(exp(49.8229-1.250787*[agri]-1.241854*[campo]-1.21218*[cerrado]-1.42216*[mata]+69.4724*[pasto])+1) 1/(exp(-3684.11+93.1168*[agri]+91.7028*[campo]+90.0471*[cerrado]+91.3425*[mata]+166.492*[pasto])+1) 99 Figuras 100 Figura 1. Diagrama de funcionamento do programa RAMAS Multispecies Assessment. 101 N W E S Figura 2. Localização do Parque Nacional das Emas. Imagem Landsat 7, 2002, bandas 5(R), 4(G), e 3(B). 102 Figura. 3. Histograma da freqüência do valor de adequação para o mapa de HS gerado para Melanopareia torquata. Figura 4. Gráfico da freqüência de número de células por manchas no mapa de HS gerado para Melanopareia torquata. 103 Figura 5. Gráfico da dimensão fractal por manchas do mapa de HS gerado para Melanpareia torquata. Figura 6. Mapa de HS gerado para Melanopareia torquata 104 Figura 7. Histograma da freqüência do valor de adequação para o mapa de HS gerado para Saltator atricollis. Figura 8. Histograma da freqüência do valor de adequação para o mapa de HS gerado para Saltator atricollis. 105 Figura 9. Gráfico da dimensão fractal por manchas do mapa de HS gerado para Saltator atricollis. Figura 10. Mapa de HS gerado para Saltator atricollis 106 Figura 11. Histograma da freqüência do valor de adequação para o mapa de HS gerado para Cypsnagra hirundinacea. Figura 12. Histograma da freqüência do valor de adequação para o mapa de HS gerado para Cypsnagra hirundinacea. 107 Figura 13. Gráfico da dimensão fractal por manchas do mapa de HS gerado para Cypsnagra hirundinacea. Figura 14. Mapa de HS gerado para Cypsnagra hirundinacea. 108 Figura 15. Histograma da freqüência do valor de adequação para o mapa de HS gerado para Cyanocorax criatatellus. Figura 16. Histograma da freqüência do valor de adequação para o mapa de HS gerado para Cyanocorax cristatellus. 109 Figura 17. Gráfico da dimensão fractal por manchas do mapa de HS gerado para Cyanocorax cristatellus. Figura 18. Mapa de HS gerado para Cynocaorax cristatellus. 110 Figura 19. Histograma da freqüência do valor de adequação para o mapa de HS gerado para Neothraupis fasciata. Figura 20. Histograma da freqüência do valor de adequação para o mapa de HS gerado para Neothraupis fasciata. 111 Figura 21. Gráfico da dimensão fractal por manchas do mapa de HS gerado para Neothraupis fasciata. Figura 22. Mapa de HS gerado para Neothraupis fasciata. 112 Figura 23. Mapa de Valor de Conservação (MCV) para as espécies endêmicas do cerrado Cyanocorax cristatellus, Cypsnagra hirundinacea, Melanopareia torquata, Neothraupis fasciata e Saltator atricollis. A região nuclear é o Parque Nacional das Emas, e ao redor estão o Parque Estadual do Taquari, a região do Zeca Novato e a região da Panela. 113 CONCLUSÕES GERAIS O estudo sobre a distribuição das aves na região do Parque Nacional das Emas mostrou que não existe um padrão na comunidade ao não rejeitarmos a hipótese de não aleatoriedade na distribuição das espécies estudadas. Provavelmente não existe exclusão competitiva por recursos, pelo menos ainda, haja vista que as áreas naturais nas fazendas ainda são poucas e muitas são usadas para abrigar gado ou extrair madeira. As onze espécies que mostraram diferenças significativas nas médias de avistamento entre algum dos tratamentos (Cassiornis rufa, Ramphastos toco, Elaenia cristata, Collibri serrirostris, Hemitraupis guira, Neothraupis fasciata, Volatina jacarina, Formicivora rufa, Camptostoma obsoletum, Mimus saturninus, Xomis velata) não fugiram do esperado em termos de preferência de habitat. A análise multivariada revelou que espécies semidependentes e independentes de formações florestais menos habitat generalistas, foram observadas mais em áreas mais densas em termos de vegetação e também em áreas ligadas à mata-de-galeria. As espécies mais generalistas por sua vez, foram mais observadas em áreas isoladas ou mais simples em termos de estrutura de habitat. É possível que, apesar de habituada a espaços abertos, a avifauna semidependente e independente, exija maior heterogeneidade espacial nas manchas que ocupe, preferindo as áreas ligadas à mata-de-galeria, com exceção de espécies mais generalistas como Cariama cristata e Cathartes aurea. Neste sentido, a estratégia para conservação das espécies que usam o cerrado sensu strictu seria de manutenção das áreas adjacentes às matas-de-galeria. Isto favoreceria não só as espécies de cerrado strictu sensus, mas também as de campo aberto e úmido, e as da própria mata, já que se aumentaria a heterogeneidade espacial das faixas de 114 vegetação. Estas faixas inclusive, poderiam funcionar como corredores de dispersão para vários táxons. A análise feita com as métricas de paisagem, contágio, diversidade, divisão, número de manchas e agregação, mostrou que as áreas próximas às matas-de-galeria realmente são estruturalmente mais complexas que as áreas isoladas, corroborando com a idéia de que espécies menos generalistas preferem estas áreas. Entretanto a análise da paisagem como um todo, mostra que as classes de cobertura de solo estão bastante agregadas. A oeste do Parque Nacional das Emas, predomina a agricultura em áreas com poucos cursos d'água e quase nenhuma Reserva Legal alocada, enquanto que a leste, a prática de pecuária extensiva é a regra, e existem vário rios com mata-de-galeria e áreas de cerrado adjacente. Sendo assim, é preciso pensar em estratégias diferentes de acordo com o uso da terra, presença de rios, manchas naturais e etc. As manchas de cerrado, podem ser usadas como "stepping-stones", aumentando a permeabilidade da região, enquanto que áreas com cursos d'água podem servir como corredores de dispersão. Os dados biológicos e os dados de estrutura de habitat podem (e devem) ser usados para traçar uma estratégia de conservação para a região, inclusive para o Projeto Corredor Cerrado Pantanal. Com a ajuda do programa RAMAS Multispecies Assessment, elaboramos um mapa de valor de conservação para cinco espécies endêmicas do cerrado e independentes de formações florestais: Cyanocorax cristatellus, Cypsnagra hirundinacea, Melanopareia torquata, Neotraupis fasciata e Saltator atricollis. O Mapa de Valor de Conservação confirmou os resultados anteriores mostrando a importância das áreas ao longo de cursos d'água. Também mostrou a importância dos grandes blocos de vegetação que em alguns casos podem ser 115 conectados pelas faixas de vegetação ao longo dos rios, ou seja, corredores de dispersão, ou, em último caso, por um conjunto de "stepping-stones" ora existentes ora recuperados. Este mapa de valor de conservação foi feito apenas com espécies de cerrado e não de formações florestais, sendo por isso que estas ficaram com baixo valor. O ideal será juntar informações para construir um mapa que apresente um conjunto de habitats focais que ajudem a conservar uma gama de espécies. . 116