Plano de Recuperação de Áreas Degradadas Estaleiro Jurong

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Plano de Recuperação de Áreas Degradadas Estaleiro Jurong
Plano de Recuperação de Áreas Degradadas
Estaleiro Jurong Aracruz, Aldeia indígena de Caieiras Velhas, Aracruz-ES.
Marcelo Simonelli1; André de Souza Amado Alves2; Júlio Cesar Dalla Passos3; Antonio C. P. Moreira4
1Graduado em Ciências Biológicas e Mestre em Botânica ([email protected]); 2Graduado Ciências
Biológicas ([email protected]); 3Graduado Ciências Biológicas ([email protected]); 4Tec. Agrícola
([email protected])
Apresentado no II Congresso Brasileiro de Reflorestamento Ambiental – 23 a 26 de outubro de
2012 – SESC Centro de Turismo de Guarapari, Guarapari – ES.
Resumo -O objetivo do presente trabalho consistiu em recuperar uma área degradada dentro da Aldeia indígena de
Caieiras Velhas, localizada no município de Aracruz-ES nas coordenadas UTM (WGS84) 379.000 E/ 7.797.000 N, em
função do licenciamento ambiental para a implantação doEstaleiro Jurong Aracruz neste município. Durante 12 meses o
projeto foi implantado eatualmente encontra-se em fase de manutenção. Neste período foi realizada a preparação do
solo, abertura e marcação de berços, adubação e correção do solo, isolamento da área por meio de cercas, além do
plantio de 80.000 (oitenta mil) mudas de espécies nativas em uma área de 56,98 ha. As mudas de espécies nativas foram
plantadas seguindo-se o espaçamento de 2m entre mudas e 3m entre linhas destacando-se o formato de quincôncio.
Nenhuma espécie implantada superou o número de 20%, exceto a Schinusterebinthifolius(Aroeira), com o intuito de
fornecer uma fonte de renda alternativa para as famílias da comunidade indígena local.
Palavras-chave: espécies nativas, reflorestamento, mata atlântica, monitoramento.
Introdução
O Brasil é o país que abriga a flora mais rica do planeta, devido a sua extensão territorial, juntamente a sua
diversidade edáfica, climática e geomorfológica, gerando diversos tipos vegetacionais (RAPINI et al., 2009). O
Domínio Mata Atlântica abrange 17 estados brasileiros, do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul e 3.411
municípios (PROCHNOW, 2010), sendo reconhecidas 15.782 espécies (STEHMANN et al., 2009).
Dentre as florestas tropicais, a Mata Atlântica é uma das mais ameaçadas do mundo (SIMONELLI, 2010). Nestas
florestas, a eliminação de hábitats naturais tem resultado na redução da biodiversidade (RAPINI et al., 2009), levando a
estimativas preocupantes, como a possibilidade de metade das espécies da flora brasileira estarem ameaçadas de
extinção (PITMAN & JORGENSEN, 2002),visto que os remanescentes florestais estão altamente fragmentados em
uma matriz que certamente não sustentará à sobrevivência deles em longo prazo (GALINDO-LEAL et al, 2005).
Ainda assim, mesmo áreas que sofreram muitas perturbações podem se regenerar por meio do processo de sucessão
ecológica, que consiste da gradual estabilização de espécies pioneiras após a interrupção das atividades antrópicas e/ou
naturais (REIS et al., 1999; TONHASCA-JUNIOR, 2005),
Neste momento, embora a prioridade absoluta deva ser o estancamento do processo de desmatamento e de
degradação dos remanescentes, é igualmente urgente o desenvolvimento de ações voltadas à ampliação de tais
remanescentes, ao estabelecimento da conectividade entre eles e à recuperação de áreas degradadas (LINO
&BECHARA, 2002). Assim, a recuperação de áreas degradadas é uma necessidade ambiental que tem urgência de
pesquisa em varias áreas e precisa de ações conjuntas entre os diversos setores da sociedade (SILVA, 2002).
O presente trabalho teve como objetivo executar um plano de recuperação de áreas degradadas (PRAD) na área de
uma aldeia indígena tupiniquim do município de Aracruz, ES, como forma de compensação ambiental, em decorrência
da instalação do empreendimento Estaleiro Jurong Aracruz Ltda.
Material e Métodos
Para melhor planejamento das atividades, os pontos que sofreram intervenções foram divididos em duas áreas
adjacentes totalizando 56,98 ha. As áreas foram isoladas com a construção de cercas confeccionadas com mourões de
eucalipto tratado e arame farpado.As atividades foram planejadas com base no Pacto Pela Restauração da Mata
Atlântica(2009), instrução de serviço IDAF Nº 027 – N de 12 de setembro de 2007.
As áreas recuperadas estão alocadas dentro das terras indígenas Tupiniquins, sendo as atividades autorizadas pela
Fundação Nacional do Índio - FUNAI, órgão competente para a proteção dos interesses e do patrimônio indígena.
As áreas recuperadas eram parcialmente ocupadas por plantio de eucalipto, em sua maior parte cortado. A maior
parte da área é ocupada por gramíneas invasoras, como braquiária (Brachiaria spp.) e capim-colonião
(Panicummaximum).
Para a seleção das espécies foi feita um estudo de caracterização florística e fitofisionômica composta por dados
primários e secundários da região a fim de melhor relacionar as espécies com seus devidos habitas. Assim para a
escolha das mudas nesse projeto, foi levada em consideração a INSTRUÇÃO NORMATIVA IEMA Nº17 DE 06 DE
DEZEMBRO DE 2006, que orienta a introdução de mais de 30 espécies nativas, dando preferencia para as espécies
mais ameaçadas.
Também foi levada em consideração a lista de espécies úteis citadas pelo estudo desenvolvido por ANAÍ (2010)
visado a produção de madeira e outros recursos não florestais que poderão ser utilizados em futuros projetos
sustentáveis que poderão ser desenvolvidos pelas comunidades indígenas na região.
Nenhuma espécie ultrapassou o limite máximo de 20% do número total de mudas plantadas. Neste sentido, no
presente caso, abre-se uma exceção para Schinusterebinthifolius (aroeira) espécie útil de grande importância econômica,
pois seus frutos podem ser recolhidos e comercializados pelas comunidades indígenas locais conforme recomendado
por ANAÍ (2010).
Para o plantio das espécies nativas foi utilizado o espaçamento de 2 metros entre mudas e 3 metros entre linhas,
atentando-se para o formato de quincôncioformado pela abertura dos berços. As linhas foram divididas por mudas de
crescimento rápido (pioneiras) e mudas de crescimento lento (não pioneiras), sendo assim, cada linha foi composta por
várias espécies pertencentes ao seu grupo ecológico específico (P ou NP). Os berços foram abertos com o auxílio de
enxadões e moto coveadeirascontemplanto ao todo80 mil berços e 80 mil mudas plantadas. As mudas foram plantadas
com o auxílio de plantadeiras e com a inclusão de hidrogel nos berços.
Para a calagem da área total foi utilizado 100 gramas/m2 de calcário dolomítico aplicado a lanço, distribuído
uniformemente na superfície do solo aproximadamente 45 dias antes do plantio.
Para a adubação na cova foram aplicados 40 gramas de calcário dolomítico, 200 gramas do adubo formulado 04-3010 e 15 gramas de FTE BR 08 em pó. Após o coroamento das mudas, cerca de cento e vinte dias após o plantio, foram
aplicados 30 gramas/planta de sulfato de amônio.
Após o plantio iniciou-se a irrigação das mudas, levando-se em consideração os períodos de estiagem superiores a dez
dias.
Resultados e Discussões
Em relaçãoao bom desenvolvimento das mudas até o momento, atribuímos àcorreta utilização dosinsumos (adubos)
recomendados, de acordo com as análises de soloe suas quantidades. O auxílio de máquinas plantadeiras e a utilização
do hidrogelnos berços foram fatores primordiais para que o plantio tenha atingido um alto índice de mudas fortes e
saudáveis. O plantio foi realizado no início da estação chuvosa, o que propiciou uma redução da necessidade de
irrigação artificial.
Após seis meses do plantio foram constatadasmudas que variavam de 1,50a mais de 2 metros de altura, com DAP
(diâmetro à altura do peito)atingindo aproximadamente 10 cm.
Dentreas espécies com maior sucesso de crescimento destacaram-se:Aroeira (Schinusterebentifolius), Angico
Cangalha (Mimisaartemisiana), Boleira (joannesia princeps), Fedegoso (Senna macanthera) Feijão-do-mato
(Sesbâniavirgata), Jurubeba-com-espinho (Solanumvariabile) e Pau Viola (Citharexylummyrianthum).
A escolha da área também influenciou no sucesso do plantio, devido àocupação anterior por plantio de eucalipto,
onde existe grande reposição de matéria orgânica no solo se comparado a culturas como café, milho, cana-de-açúcar ou
pastagens.
Conclusões
O sucesso da implantação do projeto se deu devido à baixa taxa de mortandade (menos de 15%) e ao bom
desenvolvimento das mudasdemonstrada até o presente momento. Além disso,a participação da comunidade indígena
local propiciou a melhoria de toda a rotina da Aldeia, que se favoreceu com a oportunidade de empregos e que
futuramente poderá explorar, com fonte de renda alternativa, a coleta da Aroeira (Schinusterebinthifolius).
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