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ISSN 2179-4413
Volume 3 / Número 4 / Out/Dez – 2012
IMPACTOS AMBIENTAIS E SOCIOECONÔMICOS DE UMA MINERADORA E SEUS
EFEITOS NO MUNICÍPIO DE POCINHOS-PB
ENVIRONMENTAL IMPACTS AND SOCIOECONOMIC A MINING AND ITS EFFECTS
IN THE MUNICIPALITY OF POCINHOS-PB
Ana Flávia Alves de LIMA1, Helder Neves de ALBUQUERQUE2
1. Especialização em Desenvolvimento e Meio Ambiente. E-mail: [email protected]
2. Biólogo. Orientador FURNE. E-mail: [email protected]
RESUMO: As atividades realizadas durante a lavra de granito em uma pedreira são de grande
importância para o desenvolvimento social e econômico de uma região, porém são sérios agravantes
do desequilíbrio ambiental, por não haver limites de uso dos recursos naturais. O objetivo desse
trabalho foi de avaliar os impactos ambientais causados por uma pedreira localizada no Município
de Pocinhos-PB, como também detectar os conflitos gerados a comunidade do entorno, devido aos
ruídos, explosões e vibrações. Além de apresentar os impactos positivos e negativos, utilizando a
metodologia de listagem check-list, que consiste na identificação e enumeração sistemática dos
fatores ambientais relevantes a partir das ações impactantes advindas com a implementação da
mineradora. Para o levantamento de dados, foram realizadas visitas a campo com descrição e
registro fotográfico, além de entrevistas com moradores do entorno, especialmente aqueles que
residem nas proximidades do empreendimento, inclusive funcionários. O qual permitiu a
observação de 26 impactos negativos e 07 positivos. Após os levantamentos, seguidos de uma
análise sistêmica da mineradora, esse estudo possibilitará propor possíveis ações mitigadoras que
resultem em melhorias nas dimensões social, econômica e ambiental.
Palavras-chave: Extração de Brita, Desequilíbrio Ambiental, Impacto Socioeconômico.
ABSTRACT: Activities performed during the mining of granite in a quarry are of great importance
to the social and economic development of a region, but they are aggravating the serious
environmental imbalance, as there is no limit to the use of natural resources. The main objective of
this study was to assess the environmental impacts caused by a quarry located in the Municipality of
Pocinhos-PB, as well as detect the conflicts generated by the surrounding community due to noise,
vibrations and explosions. In addition to presenting the positive and negative, using the check-list.
Who allowed the observation of 26 positive and 07 negative. After the survey, followed by a
systemic analysis of mining, this study will allow to propose possible mitigating actions that result
in improvements in social, economic and environmental.
Keywords: Extraction of Gravel, Environmental Imbalance, Economic Impact.
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LIMA, A. F. A; ALBUQUERQUE, H. N. Impactos ambientais e socioeconômicos de uma mineradora e seus efeitos no
município de Pocinhos-PB. Revista Brasileira de Informações Científicas. v. 3, n. 4, p. 66-79. 2012. ISSN 2179-4413
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Volume 3 / Número 4 / Out/Dez – 2012
1 INTRODUÇÃO
A mineração é uma das formas de uso e ocupação do solo e traz uma série de implicações
tais como: procedimentos técnico-administrativos preliminares, prospecção, pesquisa mineral,
implantação de infra-estrutura, lavra, exploração, beneficiamento ou tratamento de minérios,
transportes internos e externos de minérios e rejeitos, recuperação e reabilitação de áreas mineradas,
desativação, paralisação e abandono de jazidas. Mais amplamente e considerando a sua importância
social e econômica a mineração depende das situações históricas das solicitações de mercado,
realizando um papel de fornecedora e consumidora, que lhe confere um potencial de transformação
do meio ambiente (PEREIRA, 2004 apud BITAR, 1990).
As alterações socioambientais decorrentes da mineração não são poucas, são bastante
significativas, tanto no interior da mina como em seu entorno, afetando a comunidade. Há
necessidade de adequação de alguns procedimentos que atenuem os impactos desta natureza.
Dentre as atividades econômicas praticadas que provocam danos à natureza, tem-se a
mineração. De acordo com Gomes (2003) a imagem da mineração como atividade agressiva ao
meio ambiente e aos interesses do desenvolvimento sustentado tem suas raízes na intensa demanda
pelos bens minerais que vigorou no passado, associada à falta, tanto de soluções tecnológicas
adequadas, quanto à prioridade para a conservação ambiental na agenda dos governos.
A mineração é um dos setores básicos da economia do país, contribuindo de forma
decisiva para o bem estar e a melhoria da qualidade de vida das presentes e futuras gerações, sendo
fundamental para o desenvolvimento de uma sociedade equânime, desde que seja operada com
responsabilidade social, estando sempre presentes os preceitos do desenvolvimento sustentável
(FARIAS, 2002).
A indústria de mineração de granitos é uma das mais promissoras áreas de negócios no
ramo da mineração. Portanto, apresenta um crescimento médio na produção mundial estimado em
6% ao ano, nas últimas décadas. Com uma movimentação de US$ 6 bilhões ao ano, no mercado
internacional (ALVES e CAETANO, 2010).
No Brasil, a mineração, de um modo geral, está submetida a um conjunto de
regulamentações, onde os três níveis de poder estatal possuem atribuições com relação à mineração
e o meio ambiente.
Segundo dados fornecidos pelo CETEM/MCT (2002), o estado da Paraíba possui uma área
de 56.372 Km2 e seu subsolo é constituído por rochas portadoras de minerais de notável
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município de Pocinhos-PB. Revista Brasileira de Informações Científicas. v. 3, n. 4, p. 66-79. 2012. ISSN 2179-4413
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importância econômica e social, entre os quais estão bentonita, mineral, areia, calcário, brita,
feldspato, vermiculita, zirconita, ilmenita, tantalita, ouro, gemas, ornamentais e de revestimento,
granito, entre outras.
As atividades realizadas durante a lavra de granito em uma pedreira são de grande
importância para o desenvolvimento social e econômico de uma região, porém são sérios agravantes
do desequilíbrio ambiental, por não haver limites de uso dos recursos naturais. Esses danos,
segundo (BRANDT, 1998), muitas vezes são irreversíveis.
Devido aos efeitos negativos, a mineração deve ser fiscalizada rigorosamente em todas as
suas fases. O Estado tem se mostrado ineficiente, considerando o poder econômico e político que as
empresas mineradoras atualmente detêm.
Segundo GOMES (2003) o poder público através dos órgãos ambientais competentes,
federal e estadual, tem condições de atuar com rigor, exigindo das atividades de mineração, práticas
que reduzam os impactos sobre o meio ambiente.
Com isso, este estudo pretendeu avaliar os impactos decorrentes da lavra de granito em
uma mineradora no município de Pocinhos–PB que afetam a qualidade de vida da população
residente no entorno, bem como o comprometimento dos recursos naturais lá existentes.
2 MATERIAL E MÉTODOS
2.1 Caracterização da Área
Pocinhos é um município paraibano, localizado na Região Metropolitana de Campina
Grande, está localizado na microrregião do Curimataú Ocidental e na mesorregião do Agreste
(Figura 01), a uma altitude de 646 m, inserida nas coordenadas de altitude: -7.0766º e longitude: 36.06º, com área: 630 km², fazendo limites com Campina Grande, Soledade, Barra de Santa Rosa,
Olivedos, Puxinanã, Montadas, Areial, Remígio, Esperança, Algodão de Jandaíra e Boa Vista.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010), Pocinhos
possui uma população de 17.032 habitantes, com densidade demográfica de 27,12 hab/ km².
A pesquisa foi realizada através de um estudo de caso em uma pedreira, situada na
microrregião de Pocinhos, na mesorregião do agreste paraibano, apresentando uma área de 630 Km²
e com uma população total de 17.032 habitantes. A identificação e descrição das atividades que
causam os impactos foram relacionadas à prática da lavra de granito na região em estudo.
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município de Pocinhos-PB. Revista Brasileira de Informações Científicas. v. 3, n. 4, p. 66-79. 2012. ISSN 2179-4413
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Figura 1. Localização do Município de Pocinhos, destaque em azul
Fonte: mapas/IBGE, 2010.
A pesquisa foi realizada através de um estudo de caso em uma pedreira, situada na
microrregião de Pocinhos, na mesorregião do agreste paraibano, apresentando uma área de 630 Km²
e com uma população total de 17.032 habitantes. A identificação e descrição das atividades que
causam os impactos foram relacionadas à prática da lavra de granito na região em estudo.
A análise descritiva dos impactos negativos e positivos foi feita com utilização do método
Check-list, que consiste, segundo Silva (1999), no vislumbramento e na listagem de conseqüências
(impactos ambientais), quando se considera o potencial transformador do ambiente físico biótico e
antrópico, de causas (atividades impactantes) conhecidas.
2.2 Métodos de lavras
Comumente o método de lavra é designado como sendo a técnica de extração do material.
Isso define a importância de sua seleção, já que todo o projeto é elaborado em torno da técnica
utilizada para lavrar o depósito. Durante o estudo de viabilidade econômica é fundamental a escolha
do método de lavra. Na fase de planejamento é importante que leve em consideração os critérios
sociais, ambientais, geológicos e geográficos (MACÊDO et al, 2001).
Relativamente, quanto ao modo de escavação existem dois tipos principais: minas
subterrâneas e minas a céu aberto. Mas neste contexto, trata-se apenas de minas de céu aberto que é
o principal objeto de estudo, como pode ser observado na Figura 02.
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Figura 2: Aérea da mineradora de Pocinhos-PB, a céu aberto
Fonte: Google Earth, 2012.
Na observação da Figura 2 e Figura 03, constata-se que a geologia da área foi bruscamente
afetada, tornando o solo irreversível. Percebe-se que o solo é alterado de forma drástica após a
retirada da vegetação para a abertura da cava. Na Figura 3, visualiza-se as partículas sólidas e finas
que se desprendem dos desmontes de rochas, sem contar com os explosivos, alterando a qualidade
do ar e afetando as características da vegetação e a saúde da comunidade do entorno, conforme
Figura 04. As figuras nº 3 e 4 visualizam os transtornos da vizinhança, tendo suas casas deformadas
com rachaduras e acomodações do solo, devido as vibrações causadas pelas explosões. Além disso,
existe mais um fator preocupante, que são os lançamentos de fragmentos de rochas de tamanho
significativo em direção as moradias.
Figura 3: Impactos socioambientais, causados pela atividade de Mineração, 2011.
Foto: Lima, 2011.
Figura 4: Impactos na vegetação com partículas oriundas dos desmontes de rochas
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Foto: Lima, 2011
2.3 Identificação dos impactos na comunidade do entorno
A pesquisa realizada no entorno da pedreira, além das análises dos impactos econômicos e
ambientais, foi feito uma coleta de dados através de entrevistas semi-estruturadas com o público de
aproximadamente de 60 pessoas, incluindo crianças e adultos, como também o registro de fotos no
momento da explosão, para presenciar e sentir o impacto como fator prepoderante na mudança da
rotina diária dos moradores do entorno e o transtorno emocional e comportamental, revelado através
de seus depoimentos, demonstrando as perdas materiais e a desestruturação dos modos de vida e as
perdas não materiais.
De acordo com Rovere (1992), os métodos check-lists são relações padronizadas de fatores
ambientais a partir das quais identificam-se os impactos provocados por um projeto ou
empreendimento específico. Existem hoje, segundo o autor, diversas listas padronizadas por tipo de
projetos (projetos hídricos, autoestradas, etc.) além de listas computadorizadas como o programa
Meres, do Departamento de Energia dos Estados Unidos, que computa a emissão de poluentes a
partir de especificações sobre a natureza e o tamanho do projeto.
Para a coleta dos depoimentos dos moradores do entorno, os dados qualitativos receberam o
tratamento metodológico da análise de conteúdo de Bardin (2002), a qual possibilita a análise
temática ou categorial que baseia-se em operações de desmembramento do texto em unidades, ou
seja, descobrir os diferentes núcleos de sentido que constituem a comunicação, e posteriormente,
realizar o seu reagrupamento em classes ou categorias.
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3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados relativos à avaliação dos impactos ambientais das atividades que são
empregadas na prática da lavra de granito no município de Pocinhos- PB estão dispostos na forma
de uma listagem (check-list), no qual foram descritos os impactos positivos e negativos gerados por
esse empreendimento.
Os impactos sociais resultantes da operação de uma mineradora podem afetar desde a
qualidade de vida dos moradores do entorno, uma vez que estes terão que se adaptar às condições
ambientais impostas pelo funcionamento da empresa, tais como ruídos, emissões de poeira, abalos
sísmicos, transtornos diversos, chegando até mesmo a afetar a sua saúde, pois mobilizam os
processos adaptativos de convívio com estresse diário, que, por sua vez, poderão acarretar
transtornos mentais, tais como, ansiedade, depressão, síndromes de pânico, desencadeando na
somatização destes transtornos no corpo, provocando outros tipos de doenças.
A obrigatoriedade desta comunidade em conviver com estes fatores, condicionada pelo
nível de renda como fator impeditivo de deslocar-se para outros locais melhores, torna a qualidade
de vida destes moradores precária, demonstrando a condição de vida destes margeando a linha da
pobreza, situação a qual as populações de pequenos centros urbanos, especialmente as rurais estão
submetidas.
Esses sofrimentos expressados pelos moradores da comunidade, ligados à cultura,
expressados pela fala dos adultos quando revelam seus sentimentos, por não quererem se desfazer
de suas casas, pelo valor afetivo e o vínculo de suas raízes sentimentais com os seus antepassados,
sendo esses, recompensados materialmente, mas, descompensados psicologicamente pelo
sentimento de perdas afetivas. Principalmente as crianças, que se manifestam dentro das suas
ludicidades, quando denunciam suas sensações de abandono. Essas crianças são afetadas pelo medo
até no momento de concentração dentro da sala de aula, quando são tomadas de súbito, provocado
pelo barulho da explosão e sendo levada a desconcentração de suas atividades escolares.
Segundo Piaget et al (1966), muitos medos adultos começam na infância. Alguns medos
devem ser enfrentados e tratados, pois irão interferir com a vida diária de uma criança e outros
medos devem ser enfrentados e tratados, causando algumas reações como falta de ar, respiração
rápida, coração disparado, aperto no peito, nó na garganta, problemas no estomago, tonturas,
agitação, tremores, sensação de formigueiro.
Portanto, há uma preocupação quanto aos depoimentos dos moradores do entorno da
pedreira, principalmente com as falas das crianças, que nos deixa a questionar sobre os relatos dos
medos e ansiedades e o que esses poderão vir causar no equilíbrio emocional das mesmas, pelo
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resto de suas vidas, afetando todo o desempenho destas como integrantes de famílias que virão a
constituir em breve ou mesmo de profissionais inseridos no mercado de trabalho.
2.4 Depoimentos da comunidade do entorno da pedreira.
Durante as entrevistas com os adultos moradores da vizinhança da mineradora e com as
crianças, durante o intervalo de suas aulas, na escola da comunidade, podem-se perceber os efeitos
da existência e do funcionamento do empreendimento sobre o cotidiano destes.
Os depoimentos das onze crianças e dez adultos entrevistados, após o consentimento destes
e das professoras, foram enumerados e listados, transcritos tal qual foram falados, na tabela abaixo,
a qual contém a classificação de gênero (no caso das crianças) e as suas idades.
2.4.1 Depoimento das crianças:
Depoimentos
“Eu não sou a favor em abrir o buraco, porque vai só beneficiar o
dono, e o buraco cada vez mais, vai crescendo, não tem jeito de
conserto”.
"Eu tenho medo, estremece e também eu vi um assobio e a pedra
passou voando”
"Eu vi uma pedra grande que caiu perto da porteira do outro lado da
pista”
"Eu queria morar em outro lugar".
"Eu queria morar em outro canto, sossegado, onde só os
passarinhos cantasse.
“A explosão derrubou o terraço da casa do meu colega”.
“Eu tenho medo, me escondo debaixo da cama, porque a pedra
pode cair na casa”.
"Eu penso que quando explode, a pedra vai cair na casa".
“Eu tenho medo, penso que vai quebrar a planta da minha mãe".
“Tenho muito medo na hora da explosão, me agarro com minha
mãe"
" A casa rachou e caiu terra, aí vendeu ao dono da pedreira."
Sexo / Idade
masculino, 7 anos
masculino, 6 anos
masculino, 5 anos
feminino, 5 anos
feminino, 7 anos
masculino, 5 anos
masculino, 4 anos
masculino, 6 anos
feminino, 4 anos
feminino, 6 anos
masculino 5 anos
Todas as falas demonstram os transtornos que acometem as crianças que, tanto vivenciam,
elas próprias, algumas situações advindas do funcionamento da mineradora, como também, repetem
os discursos e temores de seus pais e de seus vizinhos e se apropriam destes como se também
fossem seus. Os depoimentos são os mais comoventes, pois é evidente que as crianças, que
deveriam ter o mínimo de preocupações, para poderem usufruir de uma infância saudável e
crescerem sem transtornos, são obrigadas a conviver e vivenciar fatos como estes, provocados por
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um empreendimento que deveria priorizar a responsabilidade social, ou seja, a manutenção da vida
dos participantes do entorno, que são atingidos por todos os efeitos provenientes de suas operações
e, mesmo que não consumam os seus produtos, poderão ser os clientes internos ou seus
funcionários, o que é o caso de muitos que ali residem.
2.4.2 Depoimento dos adultos
Depoimentos
“Os alunos quando escutam a explosão, param as atividades, e ficam
em silencio, espantados, tira toda a concentração”.
“A explosão acontece varias vezes ao dia, não tem só um horário
não”.
“Foi vendida uma casa que caiu uma parte, venderam ao dono da
pedreira, o pessoal sentira muito porque a casa tinha um valor
estimativo (sic) pertenceu aos avôs, tinham muita recordação”.
“Em uma das explosões, uma pedra bateu na caixa d'água, rachou e
caíram pedaços do reboco.”
“Uma pedra caiu no tanque, a força foi tão grande, que espatifou toda
a pedra”.
“Sempre que nós estamos sentados aqui na sala, quando começa a
explosão, parece um terremoto estremece todo o chão e os móveis da
casa”.
“O chão da minha sala está afundando, eu fui falar com o dono da
pedreira ele falou que não era a pedreira, o problema é da minha casa
que está em cima de um formigueiro.”
“A intensidade do abalo está cada vez mais piorando, eu não quero
sair daqui, moro aqui a 40 anos tenho muita recordação”.
“Aqui já veio IBAMA, SUDEMA EXÉRCITO, e nada resolve”
“O Comandante do exercito veio na minha casa, viu que estava toda
rachada, ficou revoltado disse que ia resolver, depois fui em Campina
falar com ele, e aí já estava todo diferente dizendo que a rachadura
poderia ser por outros motivos, e aí a quem recorrer?”
“Minha casa eu conserto todo ano”.
Papel social
Professora da escola
Professora da escola
Moradora do entorno
Moradora do entorno
Moradora do entorno
Moradora do entorno
Moradora do entorno
Moradora do entorno
Moradora do entorno
Moradora do entorno
Moradora do entorno
Dentre os dez adultos que foram entrevistados, o perfil predominante dos depoimentos dos
moradores é o de sensação de abandono, tanto pelos poderes públicos como pela própria empresa,
que não zela pela integridade física e mental dos moradores vizinhos tampouco de seus bens. Outro
fator preponderante é que muitos dos esposos, os quais estavam trabalhando no momento das
entrevistas, são funcionários da mineradora e este fato reforça o temos dos moradores em fazer
reclamações, pois podem correr o risco de perda dos empregos. As falas são todas de mulheres, pois
elas encontravam-se em casa e estavam cuidando dos filhos. Foi relatado que poucas mulheres
trabalham na empresa. Os sentimentos de perda e de impunidade foram freqüentes nos discursos.
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3.1. Identificação dos Impactos Ambientais pelo Método da Listagem de Controle (“CheckList”)
Foi possível listar 26 impactos ambientais para o empreendimento de lavra de granito no
município de Pocinhos-PB que, a seguir, são listados separando-os em positivos e negativos
3.1.1 Impactos Positivos
1. Geração de emprego e aumento da renda da população residente no entorno;
2. Otimização da economia local, através do comércio, devido à aquisição de fatores de
produção;
3. Possibilidade de aproveitamento dos blocos pequenos resultantes da lavra para a
construção de “barramentos” de pedras;
4. Possibilidade de aproveitamento industrial dos resíduos, para reintrodução no processo
produtivo, como matéria-prima, para a fabricação de outros produtos;
5. Emprego imediato pela construção civil, na forma de alicerce;
6. Contribui para o bem estar e a melhoria da qualidade de vida;
7. Aumento da oferta de paralelepípedo e brita, com repercuções positivas para a
sociedade em geral, mediante o seu uso para como pavimentação de ruas e para a construção civil,
com a conseqüente melhoria da qualidade de vida.
3.1.2
Impactos Negativos
1.
Depreciação da qualidade do ar, devido ao lançamento de gases provenientes dos
motores e de partículas sólidas e finas, em virtude da utilização de maquinarias em diferentes
operações;
2.
Aumento da concentração de partículas em suspensão (turbidez) no curso d’água, em
virtude do surgimento de fenômenos erosivos, decorrentes da exposição do solo às intempéries;
3.
Contaminação do curso d’água, inclusive subterrânea, causada pelos resíduos (óleos,
graxas, lubrificantes) provenientes de maquinarias utilizadas nos diferentes tipos de operações.
4.
Aumento da concentração de partículas em suspensão (turbidez) no curso d’água,
devido ao atrito do material mineral com o corpo líquido, durante o processo de extração de granito;
5.
Depreciação da qualidade física, química e biológica da água superficial, pelo
lançamento de efluentes advindos do esgoto sanitário;
6.
Afloramento do aqüífero subterrâneo no local da cava;
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Diminuição da infiltração de água no solo, devido à capacidade ocasionada pelo uso
de máquinas pesadas e à compactação ocasionada pelo uso de máquinas pesadas e a
impermeabilização promovida pela instalação da infra-estrutura do empreendimento;
8.
Desregularização da vazão dos cursos d’água devido a erradicação da cobertura
vegetal e da compactação do solo;
9.
Poluição sonora gerada pelos desmontes de rochas;
10.
Subsidência do terreno devido aos constantes abalos gerados durante as explosões
das rochas;
11.
Alterações ambientais diversas da fauna e flora, causando perda de diversidade
genética e comprometimento da existência de algumas espécies endêmicas;
12.
Geração de áreas degradadas causadas após a abertura de cavas provocando
modificações geológicas bruscas em sua área;
13.
Grandes áreas de desmatamento, prejudicando a flora e fauna da região;
14.
Diminuição crescente de jazidas devido ao uso incessante desses recursos naturais,
sabendo que os mesmos apresentam limite de carga por ser um bem finito;
15.
Poluição visual é o primeiro efeito visível da mineração ao meio ambiente, onde são
vistas as aberturas das crateras, paredões e áreas devastadas que consequentemente tornam essas
terras improdutivas para as futuras gerações.
16.
Conflitos de uso do solo por falta de planejamento das operações de lavra e de
beneficiamento de acordo com as disposições legais que regulam o uso e ocupação do solo na
região;
17.
Depreciação de imóveis circunvizinhos através das vibrações do terreno advindas da
sísmica e ultralançamento de fragmentos logo após as detonações de explosivos, além de quebra e
deslocamento das rochas;
18.
Conflitos sociais pela falta de um relacionamento com a comunidade através de
consultorias e serviços de inspeção e check-ups dos estragos causados as suas residências;
19.
Transtorno ao tráfego urbano devido a emissão de poeira, ultralançamento de
fragmentos e frequente deterioração do sistema viário da região;
20.
Ocupação urbana desordenada nos arredores da pedreira, acarretada pela falta de
planejamento urbano vindo a estimular os conflitos sociais.
21.
Falta de aplicação de procedimentos pré-operacionais de pesquisa para avaliação da
jazida.
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Doenças provocadas pela poluição sonora e do ar, comprometendo a saúde
ocupacional dos funcionários como também a saúde da comunidade que vive do entorno da
pedreira.
23.
Risco de acidentes pela falta de treinamento dos operadores veiculados a atividade de
desmonte;
24.
Possibilidade de ocorrência de acidentes automobilísticos, por causa da queda da
brita ou do paralelepípedo durante o transporte para as fontes de consumo;
25.
Aumento da possibilidade de ocorrer acidentes nos ambientes onde houve
instabilidade do solo, por ocasião da concentração de operações para a extração do granito;
26.
Diminuição da oferta de granito em virtude da desativação do empreendimento,
repercutindo negativamente na sociedade.
4 CONCLUSÕES
A maioria dos impactos ambientais gerados pela exploração de granito no município de
Pocinhos-PB é de caráter negativo, como demonstrado pelo “check-list”. Os impactos verificados
como negativos são, na maior parte, considerados irreversíveis.
A mineração e o meio ambiente não se combinam desde que se observem os princípios do
desenvolvimento sustentável, se utilizando dos necessários instrumentos da gestão ambiental dos
diversos empreendimentos dessa atividade, no sentido de obter um melhor aproveitamento dos
recursos minerais, reduzindo os impactos negativos.
Foram constatadas as principais alterações ambientais no local e no entorno da pedreira
tais como: desmatamento, decapeamento do solo, desmonte do corpo rochoso, ruídos, vibrações e
poeiras das explosões.
Quanto aos conflitos da comunidade do entorno da mineradora em Pocinhos-PB são bem
perceptíveis. No qual, tem-se percebido durante a pesquisa, que as participações dos donos são
quase inexistentes, os empresários passam vista grossa aos problemas sociais afetados pela
mineradora como: ruídos, lançamentos de detritos e vibrações. Os danos a comunidade são
alarmantes, prejuízos que a mineradora não cobre, em depoimento de moradores, ficou claro que os
donos do empreendimento não dão importância ao clamor da comunidade. Portanto, a solução para
os moradores seria vender suas casas. Mas, a resistência em desfazer de seus patrimônios é grande
devido ao valor sentimental de cada cantinho daquele.
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LIMA, A. F. A; ALBUQUERQUE, H. N. Impactos ambientais e socioeconômicos de uma mineradora e seus efeitos no
município de Pocinhos-PB. Revista Brasileira de Informações Científicas. v. 3, n. 4, p. 66-79. 2012. ISSN 2179-4413
ISSN 2179-4413
Volume 3 / Número 4 / Out/Dez – 2012
Para atenuar esses conflitos, é necessário tomar uma série de providências como:
implementar medidas de proteção e combate à poeira; melhorar sinalização na mina e entorno
visando segurança, devidos os lançamentos de fragmentos de rochas; é importante informar também
a freqüência e horários das explosões à população das proximidades.
Os resultados mostraram que o referido estudo pode servir de base para outras pesquisas,
como uma caracterização local no que diz respeito à exploração mineral.
Sugere-se a realização do Plano Estratégico de Uso e Ocupação do Solo, baseado em
análise ambiental. Com base no levantamento dos diversos impactos ambientais gerados pela
prática da lavra de granito, poderá ser feito uma avaliação futura de desempenho ambiental da
empresa e implementação de um sistema de gestão ambiental.
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