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BIBLIOGRAFIA
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Sumário
Eixo Temático: “A Busca da Felicidade” ......................................................................................................... 6
Felicidade e infelicidade relativas (O Livro dos Espíritos – questões 920 e 921) ...................................... 7
A felicidade não é deste mundo (O Evangelho Segundo O Espiritismo – cap. IV, item 20)........................ 7
A Beneficência(O Evangelho segundo o Espiritismo – cap XIII, item 12).................................................... 8
O Céu(O céu e o inferno – 1ª parte, cap III, itens 6 e 7)................................................................................. 9
A carne é fraca(O Céu e O Inferno – primeira parte, cap. VII) .................................................................... 10
A vida futura(Obras Póstumas, primeira parte).......................................................................................... 12
Resignação da adversidade(Léon Denis – livro: Depois da Morte, cap. 50) .............................................. 15
Os problemas da existência(Léon Denis – livro: O Porquê da Vida, cap. II) .............................................. 16
Ética da Felicidade(Vianna de Carvalho, in “Espiritismo e Vida” – Cap 29) .............................................. 17
A Nova Sociedade do Futuro(Vianna de Carvalho, in “Espiritismo e Vida” – Cap 10).............................. 19
Buscando a felicidade(Emmanuel, psicografia de Chico Xavier – livro: Inspiração)................................ 22
Quando há luz(Emmanuel, psicografia de Chico Xavier – do livro: “Fonte Viva”, cap. 74) ...................... 22
No futuro(Emmanuel, psicografia de Chico Xavier – do livro: “Pão Nosso”, cap. 41) .............................. 24
O tesouro enferrujado(Emmanuel, psicografia de Chico Xavier – do livro: “Caminho, Verdade e Vida”,
cap. 24) ........................................................................................................................................................... 24
Porta estreita(Emmanuel, psicografia de Chico Xavier – do livro: “Vinha de Luz”, cap. 20) ................... 25
Reencontro(André Luiz, psicografia de Chico Xavier – do livro: “Libertação”, trecho do cap. XX) ......... 26
Filhos, Muito Obrigado(Bezerra de Menezes, psicografia de Chico Xavier – do livro “Doutrina e Vida”)
......................................................................................................................................................................... 27
Pureza em branco(Humberto de Campos, psicografia de Chico Xavier – do livro “Contos Desta e Doutra
Vida”, cap. 22)................................................................................................................................................. 28
O Guia(Humberto de Campos, psicografia de Chico Xavier – do livro “Estante da Vida”, cap. 14) ......... 30
Felicidade(Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Franco – do livro “Estudos Espíritas”, cap. 17) .. 32
Amor e Felicidade(Joanna de Ângelis, in “Garimpo de Amor” – Cap 29)................................................... 35
Impulsos e Vontade(Joanna de Angelis, in “Rumos Libertadores” – Cap. 23)........................................... 37
Vivência da Felicidade(Joanna de Angelis, in “Atitudes Renovadas” – Cap 19) ........................................ 38
Viver com Simplicidade(Joanna de Angelis, in “Atitudes Renovadas” – Cap 23) ...................................... 41
Atitudes(Victor Hugo, psicografia de Divaldo Franco – do livro “Calvário de libertação”) ..................... 42
Vivendo com Jesus(Amélia Rodrigues, psicografia de Divaldo Franco – do livro “Vivendo com Jesus”) 44
Não se deixe seduzir(Francisco de Paulo Vítor, psicografia de Raul Teixeira, na Sociedade Espírita
Renovação, Curitiba/PR) ............................................................................................................................... 46
Valoriza a tua vida(José Grosso, psicografia de Raul Teixeira, na Sociedade Espírita Fraternidade,
Niterói/RJ) ...................................................................................................................................................... 48
Eixo Temático: “Missão dos espíritas: Exercício da caridade” ................................................................... 50
Conclusão VIII(O Livro dos Espíritos – Conclusão) ..................................................................................... 52
Caridade e amor ao próximo(O Livro dos Espíritos – questão 886, comentário de Kardec) .................. 53
Advento do Espírito de Verdade(livro: “O Evangelho Segundo O Espiritismo” – cap. VI, item 8)........... 53
O sacrifício mais agradável a Deus(livro: “O Evangelho Segundo O Espiritismo” – cap. X, itens 7 e 8) .. 53
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A caridade material e a caridade moral(livro: “O Evangelho Segundo O Espiritismo” – cap. XIII, item 9)
......................................................................................................................................................................... 54
A beneficência(livro: “O Evangelho Segundo O Espiritismo” – cap. XIII, item 11) ................................... 54
Caracteres da perfeição(livro: “O Evangelho Segundo O Espiritismo” – cap. XVII, item 2) ..................... 55
Os bons espíritas(livro: “O Evangelho Segundo O Espiritismo” – cap. XVII, item 4) ................................ 56
O dever(livro: “O Evangelho Segundo O Espiritismo” – cap. XVII, item 7) ................................................ 57
Necessidade de caridade, segundo Paulo(livro: “O Evangelho Segundo O Espiritismo” – cap. XV, itens 8
e 9) .................................................................................................................................................................. 57
Fora da caridade não há salvação(livro: “O Evangelho Segundo O Espiritismo” – cap. XV, item 10) ..... 58
Missão dos espíritas(livro: “O Evangelho Segundo O Espiritismo” – cap. XX, item 4) ............................. 58
Não vim trazer a paz, mas a divisão(livro: “O Evangelho Segundo O Espiritismo” – cap. XXIII, do item 9
ao 18) .............................................................................................................................................................. 60
O egoísmo e o orgulho, suas, causas, seus efeitos e os meios de destruí-los (livro: “Obras Póstumas” –
primeira parte)............................................................................................................................................... 62
Liberdade, igualdade, fraternidade(livro: “Obras Póstumas” – primeira parte) ...................................... 65
Fora da caridade não há salvação(livro: “Obras Póstumas” – segunda parte) ......................................... 67
Terceiro discurso de Allan Kardec(livro: “Viagem Espírita em 1862”) ..................................................... 67
Estudo sobre o Terceiro discurso de viagem espírita em 1862(Apostila do Centro Espírita Manoel
Felipe Santiago, em www. Cemfs.com.br).................................................................................................... 76
A fé; A esperança; A caridade(Revista Espírita, fevereiro de 1862) .......................................................... 82
A Caridade(Léon Denis – livro: “Depois da Morte”, cap. 47) ...................................................................... 84
O Amor(Léon Denis – livro: “Depois da Morte”, Terceira Parte – cap. 49)................................................ 89
Entendamo-nos(Emmanuel, psicografia de Chico Xavier – do livro: “Fonte Viva”, cap. 122) ................. 91
O Justo Remédio(Emmanuel, psicografia de Chico Xavier – do livro: “Fonte Viva”, cap. 138) ................ 91
Cooperemos Fielmente(Emmanuel, psicografia de Chico Xavier – do livro: “Vinha de Luz”, cap. 48) ... 92
Não só(Emmanuel, psicografia de Chico Xavier – do livro: “Vinha de Luz”, cap. 116) ............................. 92
A plataforma do Mestre(Emmanuel, psicografia de Chico Xavier – do livro: “Vinha de Luz”, cap. 174) 93
Bens Externos(Emmanuel, psicografia de Chico Xavier – do livro: “Caminho, Verdade e Vida”, cap. 165)
......................................................................................................................................................................... 93
O Novo Mandamento(Emmanuel, psicografia de Chico Xavier – do livro: “Caminho, Verdade e Vida”,
cap. 179) ......................................................................................................................................................... 94
Com caridade(Emmanuel, psicografia de Chico Xavier – do livro: “Pão Nosso”, cap. 31)........................ 94
Com ardente amor(Emmanuel, psicografia de Chico Xavier – do livro: “Pão Nosso”, cap. 99) ............... 95
Donativo do coração(Emmanuel, psicografia de Chico Xavier – do livro: “Alma e coração”, cap. 5) ...... 96
Dar(Emmanuel, psicografia de Chico Xavier – do livro: “Alma e coração”, cap. 6) ................................... 96
Sementes divinas(Emmanuel, psicografia de Chico Xavier – do livro: “Alma e coração”, cap. 6).......... 97
A lenda da caridade(Meimei, psicografia de Chico Xavier – do livro: “Seara de Fé”, cap. 78) ................. 98
Toque de luz(Meimei, psicografia de Chico Xavier – do livro: Deus Aguarda) ......................................... 98
Na exaltação do amor(André Luiz, psicografia de Chico Xavier – do livro: “Espírito da Verdade”, cap.
78) ................................................................................................................................................................... 99
História de um pão(Humberto de Campos, psicografia de Chico Xavier – do livro: “Espírito da
Verdade”, cap. 81) ........................................................................................................................................ 101
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Os novos samaritanos(Eurípedes Barsanulfo, psicografia de Chico Xavier – do livro: “Espírito da
Verdade”, cap. 86) ........................................................................................................................................ 102
Amor e caridade(Bezerra de Menezes, psicografia de Chico Xavier – do livro: “Bezerra, Chico e Você”)
....................................................................................................................................................................... 103
Caridade(Thereza, psicografia de Chico Xavier – livro: “Caridade”) ....................................................... 103
O anjo solitário(Humberto de Campos, psicografia de Chico Xavier – do livro: “Estante da Vida”, cap.
34) ................................................................................................................................................................. 104
Sublime ação(Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Franco – livro: “Diretrizes para o Êxito”, cap. 3)
....................................................................................................................................................................... 105
Janelas da alma(Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Franco – livro: “Momentos de Felicidade”)
....................................................................................................................................................................... 108
Aplicações do Conhecimento Espírita(Vianna de Carvalho, in “Espiritismo e Vida” – Cap 7) ............... 109
Coragem e Responsabilidade(Vianna de Carvalho, in “Espiritismo e Vida” – Cap 30)........................... 110
Os Espíritas Verdadeiros(Vianna de Carvalho, in “Espiritismo e Vida” – Cap 6) .................................... 112
Sacrifício e Amor(Joanna de Angelis, in “Libertação pelo Amor” – Cap 8) .............................................. 114
Indulgência(Joanna de Angelis, in “Libertação pelo Amor” – Cap 16) ..................................................... 116
Exercício da Compaixão(Joanna de Angelis, in “Libertação pelo Amor” – Cap 26) ................................ 118
Amor e Progresso(Joanna de Angelis, in “Garimpo de Amor” – Cap 13) ................................................. 120
Dar e dar-se(Joanna de Angelis, in “Rumos Libertadores” – Cap 34) ...................................................... 122
Luz da caridade(Joanna de Angelis, in “Rumos Libertadores” – Cap 35) ................................................ 122
Alma da caridade(Joanna de Angelis, in “Rumos Libertadores” – Cap 36) ............................................. 123
Em respeito à caridade(Joanna de Angelis, in “Jesus e Vida” – Pag 121) ................................................ 124
Teu óbolo(Joanna de Ângelis, in “Alegria de Viver” – cap 12) .................................................................. 126
O Vencedor(Amélia Rodrigues, psicografia de Divaldo Franco – livro: “O Vencedor”).......................... 127
A transcendente sinfonia do amor(Amélia Rodrigues, psicografia de Divaldo Franco – livro: “Dias
Venturosos”)................................................................................................................................................. 128
O segredo da vida(Vinícius – livro: “Na Seara do Mestre”)....................................................................... 130
Eixo Temático: “protagonismo na caridade” ............................................................................................. 132
O Livro dos Espíritos – questões 642, 646, 888, 1019 .............................................................................. 134
O óbolo da viúva(livro: “O Evangelho Segundo O Espiritismo” – cap. XIII, itens 5 e 6) ......................... 135
Parábola dos Talentos(livro: “O Evangelho Segundo O Espiritismo” – cap. XVI, item 6) ....................... 136
Código penal da vida futura(livro: “O Céu e O Inferno” – Primeira parte, cap. VII) ................................ 137
As Aristocracias(livro: “Obras Póstumas” – primeira parte) ................................................................... 138
Diferentes maneiras de fazer a caridade(Dissertações Espíritas – Revista Espírita de outubro de 1861 )
....................................................................................................................................................................... 141
Sucídio impedido pelo Espiritismo(Revista Espírita, novembro de 1864) ............................................. 142
Abri-me! – apelo de Cárita(Revista Espírita, dezembro de 1865) ........................................................... 144
Esmola(Emmanuel, psicografia de Chico Xavier, do livro: “Fonte Viva” – cap. 60) ................................ 145
Fermento espiritual(Emmanuel, psicografia de Chico Xavier, do livro: “Fonte Viva” – cap. 76)........... 146
Esforço e Oração(Emmanuel, psicografia de Chico Xavier, do livro: “Caminho, Verdade e Vida” – cap. 6)
....................................................................................................................................................................... 146
Mocidade(Emmanuel, psicografia de Chico Xavier, do livro: “Caminho, Verdade e Vida” – cap. 151) . 147
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Que fazemos do Mestre?(Emmanuel, psicografia de Chico Xavier, do livro: “Vinha de Luz” – cap. 100)
....................................................................................................................................................................... 148
O verbo é criador(Emmanuel, psicografia de Chico Xavier, do livro: “Pão Vinha de Luz” – cap. 73) .... 148
A marcha(Emmanuel, psicografia de Chico Xavier, do livro: “Pão Nosso” – cap. 20) ............................. 149
Trabalhemos também(Emmanuel, psicografia de Chico Xavier, do livro: “Pão Nosso” – cap. 33) ....... 150
Cristão sem Cristo(Emmanuel, psicografia de Chico Xavier, do livro: “Livro da Esperança” – cap. 14) 150
Exercício do Bem(Emmanuel, psicografia de Chico Xavier, do livro: “Livro da Esperança” – cap. 37) 151
Evangelho em ação(Emmanuel, psicografia de Chico Xavier, do livro: “Doutrina de Luz”) .................. 152
Onde estiveres(André Luiz, psicografia de Chico Xavier, do livro: “Confia e Serve”)............................. 154
Hábitos infelizes(André Luiz, psicografia de Chico Xavier, do livro: “Sinal Verde”) .............................. 154
Migalha do amor(Meimei, psicografia de Chico Xavier, do livro: “Sentinelas da Alma”) ....................... 155
Campo afetivo(Meimei, psicografia de Chico Xavier – do livro: Deus Aguarda) ..................................... 155
Aula de compaixão(Meimei, psicografia de Chico Xavier – do livro: Deus Aguarda) ............................. 156
Deus aguarda(Meimei, psicografia de Chico Xavier – do livro: Deus Aguarda) ...................................... 156
Colaboração(Meimei, psicografia de Chico Xavier – do livro: Deus Aguarda) ........................................ 157
O segredo da juventude(Humberto de Campos, psicografia de Chico Xavier, do livro: “Contos Desta e
Doutra Vida” – cap. 44) ................................................................................................................................ 158
Oração do jovem(Néio Lúcio, psicografia de Chico Xavier, do livro: “Alvorada Cristã” – cap. 50) ........ 160
Juventude e Jesus(Ivan de Albuquerque, psicografia de Raul Teixeira, do livro: “Cânticos da
juventude”) ................................................................................................................................................... 160
Juventude e Gentileza(Ivan de Albuquerque, psicografia de Raul Teixeira, do livro: “Cânticos da
Juventude”) ................................................................................................................................................... 161
Sublime Ação(Joanna de Angelis, in “Libertação pelo Amor” – Cap 17) .................................................. 163
Sublime Ação(Joanna de Angelis, in “Diretrizes para o Êxito” – Cap 3)................................................... 165
Ouvir com o Coração(Joanna de Angelis, in “Diretrizes para o Êxito” – Cap 12) .................................... 166
Afetividade(Joanna de Angelis, in “Diretrizes para o Êxito” – Cap 26) .................................................... 168
Caridade e alento(Joanna de Angelis, in “Rumos Libertadores” – Cap 37) ............................................. 169
Perdoarás...(Joanna de Angelis, in “Rumos Libertadores” – Cap 24) ....................................................... 170
Mensagem aos jovens(Joanna de Ângelis, psicografia Divaldo Franco – no site www.fepiau.org.br) .. 171
Aos jovens espíritas(Yvonne Pereira, do livro: “À Luz do Consolador”) ................................................. 172
Protagonismo juvenil espírita – fundamentação (Federação Espírita Brasileira (FEB), do documento
“Diretrizes para Ações da Juventude Espírita no Brasil”)......................................................................... 177
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Eixo Temático: “A Busca da Felicidade”
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Felicidade e infelicidade relativas (O Livro dos Espíritos – questões 920 e 921)
A felicidade não é deste mundo (O Evangelho Segundo O Espiritismo – cap. IV, item 20)
A Beneficência (O Evangelho segundo o Espiritismo – cap XIII, item 12)
O Céu (O céu e o inferno – 1ª parte, cap III, itens 6 e 7)
A carne é fraca (O Céu e O Inferno – primeira parte, cap. VII)
A vida futura (Obras Póstumas, primeira parte)
Resignação da adversidade (Léon Denis – livro: Depois da Morte, cap. 50)
Os problemas da existência (Léon Denis – livro: O Porquê da Vida, cap. II)
Ética da Felicidade (Vianna de Carvalho, in “Espiritismo e Vida” – Cap 29)
A Nova Sociedade do Futuro (Vianna de Carvalho, in “Espiritismo e Vida” – Cap 10)
Buscando a felicidade (Emmanuel, psicografia de Chico Xavier – livro: Inspiração)
Quando há luz (Emmanuel, psicografia de Chico Xavier – do livro: “Fonte Viva”, cap. 74)
No futuro (Emmanuel, psicografia de Chico Xavier – do livro: “Pão Nosso”, cap. 41)
O tesouro enferrujado (Emmanuel, psicografia de Chico Xavier – do livro: “Caminho, Verdade
e Vida”, cap. 24)
Porta estreita (Emmanuel, psicografia de Chico Xavier – do livro: “Vinha de Luz”, cap. 20)
Reencontro (André Luiz, psicografia de Chico Xavier – do livro: “Libertação”, trecho do cap.
XX)
Filhos, Muito Obrigado (Bezerra de Menezes, psicografia de Chico Xavier – do livro “Doutrina
e Vida”)
Pureza em branco (Humberto de Campos, psicografia de Chico Xavier – do livro “Contos Desta e Doutra Vida”, cap. 22)
O Guia (Humberto de Campos, psicografia de Chico Xavier – do livro “Estante da Vida”, cap.
14)
Felicidade (Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Franco – do livro “Estudos Espíritas”,
cap. 17)
Amor e Felicidade (Joanna de Ângelis, in “Garimpo de Amor” – Cap 29)
Impulsos e Vontade (Joanna de Angelis, in “Rumos Libertadores” – Cap. 23)
Vivência da Felicidade (Joanna de Angelis, in “Atitudes Renovadas” – Cap 19)
Viver com Simplicidade (Joanna de Angelis, in “Atitudes Renovadas” – Cap 23)
Atitudes (Victor Hugo, psicografia de Divaldo Franco – do livro “Calvário de libertação”)
Vivendo com Jesus (Amélia Rodrigues, psicografia de Divaldo Franco – do livro “Vivendo com
Jesus”)
Não se deixe seduzir (Francisco de Paulo Vítor, psicografia de Raul Teixeira, na Sociedade Espírita Renovação, Curitiba/PR)
Valoriza a tua vida (José Grosso, psicografia de Raul Teixeira, na Sociedade Espírita Fraternidade, Niterói/RJ)
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Felicidade e infelicidade relativas
(O Livro dos Espíritos – questões 920 e 921)
920.
Pode o homem gozar de completa felicidade na Terra?
“Não, por isso que a vida lhe foi dada como prova ou expiação. Dele, porém, depende a suavização de seus males e o ser tão feliz quanto possível na Terra.”
921.
Concebe-se que o homem será feliz na Terra, quando a Humanidade estiver transformada.
Mas, enquanto isso se não verifica, poderá conseguir uma felicidade relativa?
“O homem é quase sempre o obreiro da sua própria infelicidade. Praticando a lei de Deus, a
muitos males se forrará e proporcionará a si mesmo felicidade tão grande quanto o comporte a
sua existência grosseira.”
Aquele que se acha bem compenetrado de seu destino futuro não vê na vida corporal mais do
que uma estação temporária, uma como parada momentânea em péssima hospedaria. Facilmente
se consola de alguns aborrecimentos passageiros de uma viagem que o levará a tanto melhor posição, quanto melhor tenha cuidado dos preparativos para empreendê-la.
Já nesta vida somos punidos pelas infrações, que cometemos, das leis que regem a existência
corpórea, sofrendo os males consequentes dessas mesmas infrações e dos nossos próprios excessos. Se, gradativamente, remontarmos à origem do que chamamos as nossas desgraças terrenas,
veremos que, na maioria dos casos, elas são a consequência de um primeiro afastamento nosso
do caminho reto. Desviando-nos deste, enveredamos por outro, mau, e, de consequência em consequência, caímos na desgraça.
A felicidade não é deste mundo
(O Evangelho Segundo O Espiritismo – cap. IV, item 20)
Não sou feliz! A felicidade não foi feita para mim! Exclama geralmente o homem em todas as
posições sociais. Isso, meus caros filhos, prova, melhor do que todos os raciocínios possíveis, a
verdade desta máxima do Eclesiastes: “A felicidade não é deste mundo.” Com efeito, nem a riqueza, nem o poder, nem mesmo a florida juventude são condições essenciais à felicidade. Digo mais:
nem mesmo reunidas essas três condições tão desejadas, porquanto incessantemente se ouvem,
no seio das classes mais privilegiadas, pessoas de todas as idades se queixarem amargamente da
situação em que se encontram.
Diante de tal fato, é inconcebível que as classes laboriosas e militantes invejem com tanta ânsia a posição das que parecem favorecidas da fortuna. Neste mundo, por mais que faça, cada um
tem a sua parte de labor e de miséria, sua cota de sofrimentos e de decepções, donde facilmente
se chega à conclusão de que a Terra é lugar de provas e de expiações. Diante de tal fato, é inconcebível que as classes laboriosas e militantes invejem com tanta ânsia a posição das que parecem
favorecidas da fortuna. Neste mundo, por mais que faça, cada um tem a sua parte de labor e de
miséria, sua cota de sofrimentos e de decepções, donde facilmente se chega à conclusão de que a
Terra é lugar de provas e de expiações.
Assim, pois, os que pregam que ela é a única morada do homem e que somente nela e numa
só existência é que lhe cumpre alcançar o mais alto grau das felicidades que a sua natureza comporta, iludem-se e enganam os que os escutam, visto que demonstrado está, por experiência arqui-secular, que só excepcionalmente este globo apresenta as condições necessárias à completa
felicidade do indivíduo.
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Em tese geral pode afirmar-se que a felicidade é uma utopia a cuja conquista as gerações se
lançam sucessivamente, sem jamais lograrem alcançá-la. Se o homem ajuizado é uma raridade
neste mundo, o homem absolutamente feliz jamais foi encontrado.
O em que consiste a felicidade na Terra é coisa tão efêmera para aquele que não tem a guiá-lo
a ponderação, que, por um ano, um mês, uma semana de satisfação completa, todo o resto da
existência é uma série de amarguras e decepções. E notai, meus caros filhos, que falo dos venturosos da Terra, dos que são invejados pela multidão.
Conseguintemente, se à morada terrena são peculiares as provas e a expiação, forçoso é se
admita que, algures, moradas há mais favorecidas, onde o Espírito, conquanto aprisionado ainda
numa carne material, possui em toda a plenitude os gozos inerentes à vida humana. Tal a razão
por que Deus semeou, no vosso turbilhão, esses belos planetas superiores para os quais os vossos
esforços e as vossas tendências vos farão gravitar um dia, quando vos achardes suficientemente
purificados e aperfeiçoados.
Todavia, não deduzais das minhas palavras que a Terra esteja destinada para sempre a ser uma
penitenciária. Não, certamente! Dos progressos já realizados, podeis facilmente deduzir os progressos futuros e, dos melhoramentos sociais conseguidos, novos e mais fecundos melhoramentos. Essa a tarefa imensa cuja execução cabe à nova doutrina que os Espíritos vos revelaram.
Assim, pois, meus queridos filhos, que uma santa emulação vos anime e que cada um de vós se
despoje do homem velho. Deveis todos consagrar-vos à propagação desse Espiritismo que já deu
começo à vossa própria regeneração. Corre-vos o dever de fazer que os vossos irmãos participem
dos raios da sagrada luz. Mãos, portanto, à obra, meus muito queridos filhos! Que nesta reunião
solene todos os vossos corações aspirem a esse grandioso objetivo de preparar para as gerações
porvindouras um mundo onde já não seja vã a palavra felicidade.
François--Nicolas-Madeleine, cardeal Morlot. (Paris, 1863.)
A Beneficência
(O Evangelho segundo o Espiritismo – cap XIII, item 12)
12. Sede bons e caridosos: essa a chave dos céus, chave que tendes em vossas mãos. Toda
a eterna felicidade se contém neste preceito: “Amai-vos uns aos outros.” Não pode a alma elevarse às altas regiões espirituais, senão pelo devotamento ao próximo; somente nos arroubos da caridade encontra ela ventura e consolação. Sede bons, amparai os vossos irmãos, deixai de lado a
horrenda chaga do egoísmo. Cumprido esse dever, abrir-se-vos-á o caminho da felicidade eterna.
Ao demais, qual dentre vós ainda não sentiu o coração pulsar de júbilo, de íntima alegria, à narrativa de um ato de bela dedicação, de uma obra verdadeiramente caridosa? Se unicamente buscásseis a volúpia que uma ação boa proporciona, conservar-vos-íeis sempre na senda do progresso
espiritual. Não vos faltam os exemplos; rara é apenas a boa vontade. Notai que a vossa história
guarda piedosa lembrança de uma multidão de homens de bem.
Não vos disse Jesus tudo o que concerne às virtudes da caridade e do amor? Por que desprezar os seus ensinamentos divinos? Por que fechar o ouvido às suas divinas palavras, o coração
a todos os seus bondosos preceitos? Quisera eu que dispensassem mais interesse, mais fé às leituras evangélicas. Desprezam, porém, esse livro, consideram-no repositório de palavras ocas, uma
carta fechada; deixam no esquecimento esse código admirável. Vossos males provêm todos do
abandono voluntário a que votais esse resumo das leis divinas. Lede-lhe as páginas cintilantes do
devotamento de Jesus, e meditai-as.
Homens fortes, armai-vos; homens fracos, fazei da vossa brandura, da vossa fé, as vossas
armas. Sede mais persuasivos, mais constantes na propagação da vossa nova doutrina. Apenas encorajamento é o que vos vimos dar; apenas para vos estimularmos o zelo e as virtudes é que Deus
permite nos manifestemos a vós outros. Mas, se cada um o quisesse, bastaria a sua própria vonta-
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de e a ajuda de Deus; as manifestações espíritas unicamente se produzem para os de olhos fechados e corações indóceis.
A caridade é a virtude fundamental sobre que há de repousar todo o edifício das virtudes
terrenas. Sem ela não existem as outras. Sem a caridade não há esperar melhor sorte, não há interesse moral que nos guie; sem a caridade não há fé, pois a fé não é mais do que pura luminosidade
que torna brilhante uma alma caridosa.
A caridade é, em todos os mundos, a eterna âncora de salvação; é a mais pura emanação
do próprio Criador; é a sua própria virtude, dada por ele à criatura. Como desprezar essa bondade
suprema? Qual o coração, disso ciente, bastante perverso para recalcar em si e expulsar esse sentimento todo divino? Qual o filho bastante mau para se rebelar contra essa doce carícia: a caridade?
Não ouso falar do que fiz, porque também os Espíritos têm o pudor de suas obras; considero, porém, a que iniciei como uma das que mais hão de contribuir para o alívio dos vossos semelhantes. Vejo com frequência os Espíritos a pedirem lhes seja dado, por missão, continuar a minha
tarefa. Vejo-os, minhas bondosas e queridas irmãs, no piedoso e divino ministério; vejo-os praticando a virtude que vos recomendo, com todo o júbilo que deriva de uma existência de dedicação
e sacrifícios. Imensa dita é a minha, por ver quanto lhes honra o caráter, quão estimada e protegida é a missão que desempenham. Homens de bem, de boa e firme vontade, uni-vos para continuar amplamente a obra de propagação da caridade; no exercício mesmo dessa virtude, encontrareis
a vossa recompensa; não há alegria espiritual que ela não proporcione já na vida presente. Sede
unidos, amai-vos uns aos outros, segundo os preceitos do Cristo.
Assim seja. – S. Vicente de Paulo. (Paris, 1858.)
O Céu
(O céu e o inferno – 1ª parte, cap III, itens 6 e 7)
6. Os Espíritos são criados simples e ignorantes, mas dotados de aptidões para tudo conhecerem e para progredirem, em virtude do seu livre-arbítrio. Pelo progresso adquirem novos conhecimentos, novas faculdades, novas percepções e, conseguintemente, novos gozos desconhecidos dos Espíritos inferiores; eles veem, ouvem, sentem e compreendem o que os Espíritos atrasados não podem ver, sentir, ouvir ou compreender.
A felicidade está na razão direta do progresso realizado, de sorte que, de dois Espíritos, um
pode não ser tão feliz quanto outro, unicamente por não possuir o mesmo adiantamento intelectual e moral, sem que por isso precisem estar, cada qual, em lugar distinto. Ainda que juntos, pode
um estar em trevas, enquanto que tudo resplandece para o outro, tal como um cego e um vidente
que se dão as mãos: este percebe a luz da qual aquele não recebe a mínima impressão.
Sendo a felicidade dos Espíritos inerente às suas qualidades, haurem-na eles em toda parte
em que se encontram, seja à superfície da Terra, no meio dos encarnados, ou no Espaço.
Uma comparação vulgar fará compreender melhor esta situação. Se se encontrarem em
um concerto dois homens, um, bom músico, de ouvido educado, e outro, desconhecedor da música, de sentido auditivo pouco delicado, o primeiro experimentará sensação de felicidade, enquanto o segundo permanecerá insensível, porque um compreende e percebe o que nenhuma impressão produz no outro. Assim sucede quanto a todos os gozos dos Espíritos, que estão na razão da
sua sensibilidade.
O mundo espiritual tem esplendores por toda parte, harmonias e sensações que os Espíritos
inferiores, submetidos à influência da matéria, não entreveem sequer, e que somente são acessíveis aos Espíritos purificados.
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7. O progresso nos Espíritos é o fruto do próprio trabalho; mas, como são livres, trabalham
no seu adiantamento com maior ou menor atividade, com mais ou menos negligência, segundo
sua vontade, acelerando ou retardando o progresso e, por conseguinte, a própria felicidade.
Enquanto uns avançam rapidamente, entorpecem-se outros, quais poltrões, nas fileiras inferiores. São eles, pois, os próprios autores da sua situação, feliz ou desgraçada, conforme esta
frase do Cristo: — A cada um segundo as suas obras.
Todo Espírito que se atrasa não pode queixar-se senão de si mesmo, assim como o que se
adianta tem o mérito exclusivo do seu esforço, dando por isso maior apreço à felicidade conquistada.
A suprema felicidade só é compartilhada pelos Espíritos perfeitos, ou, por outra, pelos puros Espíritos, que não a conseguem senão depois de haverem progredido em inteligência e moralidade.
O progresso intelectual e o progresso moral raramente marcham juntos, mas o que o Espírito não consegue em dado tempo, alcança em outro, de modo que os dois progressos acabam por
atingir o mesmo nível.
Eis por que se veem muitas vezes homens inteligentes e instruídos pouco adiantados moralmente, e vice-versa.
A carne é fraca
(O Céu e O Inferno – primeira parte, cap. VII)
Há tendências viciosas que são evidentemente próprias do Espírito, porque se apegam mais ao
moral do que ao físico; outras, parecem antes dependentes do organismo, e, por esse motivo,
menos responsáveis são julgados os que as possuem: consideram-se como tais as disposições à cólera, à preguiça, à sensualidade, etc. Há tendências viciosas que são evidentemente próprias do
Espírito, porque se apegam mais ao moral do que ao físico; outras, parecem antes dependentes do
organismo, e, por esse motivo, menos responsáveis são julgados os que as possuem: consideramse como tais as disposições à cólera, à preguiça, à sensualidade, etc.
Hoje, está plenamente reconhecido pelos filósofos espiritualistas que os órgãos cerebrais correspondentes a diversas aptidões devem o seu desenvolvimento à atividade do Espírito. Assim, esse desenvolvimento é um efeito e não uma causa. Um homem não é músico porque tenha a bossa
da música, mas possui essa tendência porque o seu Espírito é musical. Se a atividade do Espírito
reage sobre o cérebro, deve também reagir sobre as outras partes do organismo.
O Espírito é, deste modo, o artista do próprio corpo, por ele talhado, por assim dizer, à feição
das suas necessidades e à manifestação das suas tendências.
Desta forma a perfeição corporal das raças adiantadas deixa de ser produto de criações distintas para ser o resultado do trabalho espiritual, que aperfeiçoa o invólucro material à medida que
as faculdades aumentam.
Por uma consequência natural deste princípio, as disposições morais do Espírito devem modificar as qualidades do sangue, dar-lhe maior ou menor atividade, provocar uma secreção mais ou
menos abundante de bílis ou de quaisquer outros fluidos. É assim, por exemplo, que ao glutão enche-se-lhe a boca de saliva diante dum prato apetitoso.
Certo é que a iguaria não pode excitar o órgão do paladar, uma vez que com ele não tem contato; é, pois, o Espírito, cuja sensibilidade é despertada, que atua sobre aquele órgão pelo pensamento, enquanto que outra pessoa permanecerá indiferente à vista do mesmo acepipe. É ainda
por este motivo que a pessoa sensível facilmente verte lágrimas.
Não é, porém, a abundância destas que dá sensibilidade ao Espírito, mas precisamente a sensibilidade deste que provoca a secreção abundante das lágrimas. Sob o império da sensibilidade, o
organismo condiciona-se1 à disposição normal do Espírito, do mesmo modo por que se condiciona
à disposição do Espírito glutão.
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Seguindo esta ordem de ideias, compreende-se que um Espírito irascível deve encaminhar-se
para estimular um temperamento bilioso, do que resulta não ser um homem colérico por bilioso,
mas bilioso por colérico. O mesmo se dá em relação a todas as outras disposições instintivas: um
Espírito indolente e fraco deixará o organismo em estado de atonia relativo ao seu caráter, ao passo que, ativo e enérgico, dará ao sangue como aos nervos qualidades perfeitamente opostas. A
ação do Espírito sobre o físico é tão evidente que não raro vemos graves desordens orgânicas sobrevirem a violentas comoções morais. Seguindo esta ordem de ideias, compreende-se que um
Espírito irascível deve encaminhar-se para estimular um temperamento bilioso, do que resulta não
ser um homem colérico por bilioso, mas bilioso por colérico. O mesmo se dá em relação a todas as
outras disposições instintivas: um Espírito indolente e fraco deixará o organismo em estado de
atonia relativo ao seu caráter, ao passo que, ativo e enérgico, dará ao sangue como aos nervos
qualidades perfeitamente opostas. A ação do Espírito sobre o físico é tão evidente que não raro
vemos graves desordens orgânicas sobrevirem a violentas comoções morais.
A expressão vulgar: — A emoção transtornou-lhe o sangue — não é tão destituída de sentido
quanto se poderia supor. Ora, que poderia transtornar o sangue senão as disposições morais do
Espírito?
Pode admitir-se, por conseguinte, ao menos em parte, que o temperamento é determinado
pela natureza do Espírito, que é causa e não efeito.
E nós dizemos em parte, porque há casos em que o físico influi evidentemente sobre o moral,
tais como quando um estado mórbido ou anormal é determinado por causa externa, acidental, independente do Espírito, como sejam a temperatura, o clima, os defeitos físicos congênitos, uma
doença passageira, etc.
O moral do Espírito pode, nesses casos, ser afetado em suas manifestações pelo estado patológico, sem que a sua natureza intrínseca seja modificada. Escusar-se de seus erros por fraqueza
da carne não passa de sofisma para escapar a responsabilidades.
A carne só é fraca porque o Espírito é fraco, o que inverte a questão deixando àquele a responsabilidade de todos os seus atos. A carne, destituída de pensamento e vontade, não pode prevalecer jamais sobre o Espírito, que é o ser pensante e de vontade própria.
O Espírito é quem dá à carne as qualidades correspondentes ao seu instinto, tal como o artista
que imprime à obra material o cunho do seu gênio. Libertado dos instintos da bestialidade, elabora um corpo que não é mais um tirano de sua aspiração, para espiritualidade do seu ser, e é quando o homem passa a comer para viver e não mais vive para comer. A carne só é fraca porque o Espírito é fraco, o que inverte a questão deixando àquele a responsabilidade de todos os seus atos. A
carne, destituída de pensamento e vontade, não pode prevalecer jamais sobre o Espírito, que é o
ser pensante e de vontade própria.
A responsabilidade moral dos atos da vida fica, portanto, intacta; mas a razão nos diz que as
consequências dessa responsabilidade devem ser proporcionais ao desenvolvimento intelectual
do Espírito. Assim, quanto mais esclarecido for este, menos desculpável se torna, uma vez que
com a inteligência e o senso moral nascem as noções do bem e do mal, do justo e do injusto.
Esta lei explica o insucesso da Medicina em certos casos. Desde que o temperamento é um
efeito e não uma causa, todo o esforço para modificá-lo se nulifica ante as disposições morais do
Espírito, opondo-lhe uma resistência inconsciente que neutraliza a ação terapêutica. Por conseguinte, sobre a causa primordial é que se deve atuar.
Dai, se puderdes, coragem ao poltrão, e vereis para logo cessados os efeitos fisiológicos do
medo. Isto prova ainda uma vez a necessidade, para a arte de curar, de levar conta a influência espiritual sobre os organismos.
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A vida futura
(Obras Póstumas, primeira parte)
A vida futura já deixou de ser um problema. É um fato apurado pela razão e pela demonstração para a quase totalidade dos homens, porquanto os que a negam formam ínfima minoria, sem
embargo do ruído que tentam fazer. Não é, pois, a sua realidade o que nos propomos demonstrar
aqui. Fora repetir-nos, sem acrescentarmos coisa alguma à convicção geral. Admitido que está o
princípio, como primícias, o a que nos propomos é examinar-lhe a influência sobre a ordem social
e a moralização, segundo a maneira por que é encarada.
As consequências do princípio contrário, isto é, do nadismo, já são por demais conhecidas e
bastante compreendidas, para que se torne necessário desenvolvê-las de novo. Apenas diremos
que, se estivesse demonstrada a inexistência da vida futura, nenhum outro fim teria a vida presente, senão o da manutenção de um corpo que, ama nhã, dentro de uma hora, poderá deixar de
existir, ficando tudo, nesse caso, inteiramente acabado. A consequência lógica de semelhante
condição para a Humanidade seria concentrarem-se todos os pensamentos na incrementação dos
gozos materiais, sem atenção aos prejuízos de outrem. Por que, então, haveria alguém de suportar privações, de impor-se sacrifícios? Por que haveria de constranger-se para se melhorar, para se
corrigir de defeitos? Seria também a absoluta inutilidade do remorso, do arrependimento, uma
vez que nada se deveria esperar. Seria, afinal, a consagração do egoísmo e da máxima: O mundo
pertence aos mais fortes e aos mais espertos. Sem a vida futura, a moral não passa de mero constrangimento, de um código convencional, arbitrariamente imposto; nenhuma raiz teria ela no coração. Uma sociedade fundada em tal crença só teria por elo, a prender-lhe os membros, a força e
bem depressa cairia em dissolução.
Não se objete que, entre os negadores da vida futura, há pessoas honestas, incapazes de cientemente causar dano a quem quer que seja e suscetíveis dos maiores devotamentos. Digamos, antes de tudo, que, entre muitos incrédulos, a negação do porvir é mais fanfarronada, jactância, orgulho de passarem por espíritos fortes, do que resultado de uma convicção absoluta. No foro íntimo de suas consciências, há uma dúvida a importuná-los, pelo que procuram eles atordoar-se.
Não é, porém, sem dissimulação que pronunciam o terrível nada, que os priva do fruto de todos os
trabalhos da inteligência e despedaça para sempre as mais caras afeições. Muitos dos que mais
forte deblateram são os primeiros a tremer ante a ideia do desconhecido; por isso mesmo, quando se lhes aproxima o momento fatal de entrarem nesse desconhecido, em poucos são os que
adormecem, no derradeiro sono, na firme persuasão de que não despertarão algures, visto que a
Natureza jamais abdica dos seus direitos.
Afirmamos, pois, que, na maioria dos incrédulos, a incredulidade muito relativa, isto é, que,
não lhes estando satisfeita a razão, nem com os dogmas, nem com as crenças religiosas, e nada
tendo encontrado, em parte alguma, com que enchessem o vazio que se lhes fizera no íntimo, eles
concluíram que nada há e edificaram sistemas com que justificassem a negação. Não são, conseguintemente, incrédulos, senão por falta de coisa melhor. Os absolutamente incrédulos são raríssimos, se é que existem.
Uma latente e inconsciente intuição do futuro é, portanto, capaz de deter grande número deles no declive do mal e uma imensidade de atos se poderiam citar, mesmo da parte dos mais endurecidos, testificantes da existência desse sentimento secreto que os domina, a seu mau grado.
Cumpre também dizer que, seja qual for o grau da incredulidade, o respeito humano é o que
torna reservadas as pessoas de certa condição social. A posição que ocupam os obriga a uma linha
de proceder muito discreta; temem acima de tudo a desconsideração e o desdém que, fazendo-os
perder, por decaírem da categoria em que se encontram, as atenções do mundo, os privariam dos
gozos de que desfrutam; se carecem de um fundo de virtudes, pelo menos têm destas o verniz.
Mas, aos que nenhuma razão se apresenta para se preocuparem com a opinião dos outros, aos
que zombam do “que dirão”, e não há contestar que esses formam a maioria, que freio se pode
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impor ao transbordamento das paixões brutais e dos apetites grosseiros? Em que base assentar a
teoria do bem e do mal, a necessidade de eles reformarem seus maus pendores, o dever de respeitarem o que pertence aos outros, quando eles próprios nada possuem? Qual pode ser o estímulo à honradez, para criaturas a quem se haja persuadido que não passam de simples animais? A
lei, respondem, aí está para contê-los; mas, a lei não é um código de moral que toque o coração; é
uma força cuja ação eles suportam e que iludem, se o podem. Se lhe caem sob o guante, isso é por
eles tido como resultado de má sorte ou de inabilidade, a que tratam de remediar na primeira
ocasião.
Os que pretendem que os incrédulos têm mais mérito em fazer o bem, por não esperarem nenhuma recompensa numa vida futura, em que não creem, se valem de um sofisma igualmente mal
fundado. Também os crentes dizem que é pouco meritório o bem praticado com vistas em vantagens que possam colher. Vão mesmo mais longe, porquanto se acham persuadidos de que o mérito pode ser completamente anulado, tal o móvel que determine a ação. A perspectiva da vida futura não exclui o desinteresse nas boas obras, porque a ventura que elas proporcionam está, antes
de tudo, subordinada ao grau de adiantamento moral do indivíduo. Ora, os orgulhosos e os ambiciosos se contam entre os menos aquinhoados. Mas, os incrédulos que praticam o bem são tão
desinteressados como o pretendem? Será que, nada esperando do outro mundo também deste
nada esperem? O amor-próprio não tem no caso a sua parte? Serão eles insensíveis aos aplausos
dos homens? Se tal acontecesse, estariam num grau de perfeição rara e Os que pretendem que os
incrédulos têm mais mérito em fazer o bem, por não esperarem nenhuma recompensa numa vida
futura, em que não creem, se valem de um sofisma igualmente mal fundado. Também os crentes
dizem que é pouco meritório o bem praticado com vistas em vantagens que possam colher. Vão
mesmo mais longe, porquanto se acham persuadidos de que o mérito pode ser completamente
anulado, tal o móvel que determine a ação. A perspectiva da vida futura não exclui o desinteresse
nas boas obras, porque a ventura que elas proporcionam está, antes de tudo, subordinada ao grau
de adiantamento moral do indivíduo. Ora, os orgulhosos e os ambiciosos se contam entre os menos aquinhoados. Mas, os incrédulos que praticam o bem são tão desinteressados como o pretendem? Será que, nada esperando do outro mundo também deste nada esperem? O amor-próprio
não tem no caso a sua parte? Serão eles insensíveis aos aplausos dos homens? Se tal acontecesse,
estariam num grau de perfeição rara e não cremos haja muitos que a tanto sejam induzidos unicamente pelo culto da matéria.
Objeção mais séria é esta: Se a crença na vida futura é um elemento moralizador, como é que
aqueles a quem se prega isso desde que vêm ao mundo são igualmente tão maus?
Primeiramente, quem nos diz que sem isso não seriam piores? Não há duvidar, desde que se
considerem os resultados inevitáveis da popularização do nadismo. Não se comprova, ao contrário, observando-se as diferentes graduações da Humanidade, desde a selvajaria até a civilização,
que o progresso, intelectual e moral vão à frente, produzindo o abrandamento dos costumes e
uma concepção mais racional da vida futura? Essa concepção, no entanto, por muito imperfeita,
ainda não pode exercer a influência que necessariamente terá, à medida que for mais bem compreendida e que se adquiram noções mais exatas sobre o futuro que nos está reservado.
Por muito sólida que seja a crença na imortalidade, o homem não se preocupa com a sua alma,
senão de um ponto de vista místico. A vida futura, definida com extrema falta de clareza, só muito
vagamente o impressiona; não passa de um objetivo que se perde muito ao longe e não um meio,
porque a sorte lhe está irrevogavelmente assinada e em parte alguma lhe apresentam como progressiva, donde se conclui que aquilo que formos, ao sair daqui, sê-lo-emos por toda a eternidade.
Aliás, o quadro que traçam da vida futura, as condições determinantes da felicidade ou da desventura que lá se experimentam, longe estão, sobretudo num século de exame, como o nosso, de satisfazer completamente à razão. Acresce que ela não se prende muito diretamente à vida terres-
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tre, nenhuma solidariedade havendo entre as duas, mas, antes, um abismo, de maneira que aquele que se preocupa principalmente com uma das duas quase sempre perde a outra de vista.
Sob o império da fé cega, essa crença abstrata bastara às inspirações dos homens que, então,
se deixavam conduzir. Hoje, porém, sob o reinado do livre-exame, eles querem conduzir-se por si
mesmos, ver com seus próprios olhos e compreender. Aquelas vagas noções da vida futura já não
estão à altura das novas ideias e já não correspondem às necessidades que o progresso criou. Com
o desenvolvimento das ideias, tudo tem que progredir em torno do homem, porque tudo se liga,
tudo é solidário em a Natureza: ciências, crenças, cultos, legislações, meios de ação. O movimento
para a frente é irresistível, porque é lei da existência dos seres. O que quer que fique para trás,
abaixo do nível social, é posto de lado, como vestuário que se tornou imprestável e, finalmente,
arrastado pela onda que se avoluma.
O mesmo acontece com as ideias pueris sobre a vida futura, com que os nossos pais se contentavam; persistir hoje em impô-las seria propagar a incredulidade. Para que a opinião geral a aceite
e para que ela exerça sua ação moralizadora, a vida futura tem que ser apresentada sob o aspecto
de coisa positiva, de certo modo tangível e capaz de suportar qualquer exame, satisfazendo à razão, sem nada deixar na sombra. No momento em que a precariedade das noções sobre o porvir
abria a porta à dúvida e à incredulidade, novos meios de investigação foram conferidos ao homem, para penetrar esse mistério e fazer-lhe compreender a vida futura na sua realidade, em seu
positivismo, nas suas relações íntimas com a vida corpórea.
Por que, em geral, se cuida tão pouco da vida futura? Trata-se, no entanto, de uma atualidade,
pois que todos os dias milhares de homens partem para esse destino desconhecido. Tendo cada
um de nós de partir por sua vez e podendo a hora da partida soar de um momento para outro, parece natural que todos se preocupem com o que sucederá. Por que não se dá isso? Precisamente
porque é desconhecido o destino e porque, até ao presente, ninguém tinha meio de conhecê-lo. A
Ciência, inexorável, o desalojou dos lugares onde o tinham limitado. Está ele perto? Está longe?
Acha-se perdido no infinito? As filosofias de antanho nada respondem, porque nada sabem a respeito. Diz-se então: “Será o que for.” Indiferença.
Ensinam-nos que seremos felizes ou infelizes, conforme houvermos vivido bem ou mal. Mas,
isso é tão vago! Em que consistem essa felicidade e essa infelicidade? O quadro que de uma e outra nos traçam tão em desacordo está com a ideia que fazemos da justiça de Deus, tão cheio de
contradições, de inconsequências, de impossibilidades radicais, que involuntariamente a dúvida se
apresenta, senão a incredulidade absoluta. Ao demais, pondera-se que os que se enganaram com
relação aos lugares indicados para moradas futuras também podem ter sido induzidos em erro,
quanto às condições que estatuem para a felicidade e para o sofrimento. Aliás, como seremos
nesse outro mundo? Seremos seres concretos ou abstratos? Teremos uma forma ou uma aparência? Se nada de material tivermos, como poderemos experimentar sofrimentos materiais? Se os
ditosos nada tiverem que fazer, a ociosidade perpétua, em vez de uma recompensa, será um suplício, a menos que se admita o Nirvana do budismo, que não é mais desejável do que aquela ociosidade.
O homem não se preocupará com a vida futura, senão quando vir nela um fim claro e positivamente definido, uma situação lógica, em correspondência com todas as suas aspirações, que resolva todas as dificuldades do presente e em que não se lhe depare coisa alguma que a razão não
possa admitir. Se ele se preocupa com o dia seguinte, é porque a vida do dia seguinte se liga intimamente à vida do dia anterior; uma e outra são solidárias; ele sabe que do que fizer hoje depende a sua posição amanhã e que do que fizer amanhã dependerá a sua posição no dia imediato e
assim por diante.
Tal tem de ser para ele a vida futura, quando esta não mais se achar perdida nas nebulosidades
da abstração e for uma atualidade palpável, complemento necessário da vida presente, uma das
fases da vida geral, como os dias são fases da vida corporal. Quando vir o presente reagir sobre o
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futuro, pela força das coisas, e, sobretudo, quando compreender a reação do futuro sobre o presente; quando, em suma, verificar que o passado, o presente e o futuro se encadeiam por inflexível necessidade, como o ontem, o hoje e o amanhã na vida atual, oh! Então suas ideias mudarão
completamente, porque ele verá na vida futura não só um fim, como também um meio; não um
efeito distante, mas atual. Então, igualmente, essa crença exercerá sem dúvida, e por uma consequência toda natural, ação preponderante sobre o estado social e sobre a moralização da Humanidade.
Tal o ponto de vista donde o Espiritismo nos faz considerar a vida futura.
Resignação da adversidade
(Léon Denis – livro: Depois da Morte, cap. 50)
Para apreciar os bens e os males da existência, para saber em que consiste a verdadeira desgraça, em que consiste a felicidade, é necessário nos elevarmos acima do círculo acanhado da vida
terrena. O conhecimento do futuro e da sorte que nos aguarda permite medir as consequências
dos nossos atos e sua influência sobre os tempos vindouros.
Observada sob este ponto de vista, a desgraça, para o ser humano, já não é mais o sofrimento,
a perda dos entes que lhe são caros, as privações, a miséria; a desgraça será então tudo o que
manchar, tudo o que aniquilar o adiantamento, tudo o que lhe for um obstáculo. A desgraça, para
aquele que só observar os tempos presentes, pode ser a pobreza, as enfermidades, a moléstia. Para o Espírito que paira no alto, ela será o amor do prazer, o orgulho, a vida inútil e culposa. Não se
pode julgar uma coisa sem se ver tudo o que dela decorre, e eis por que ninguém pode compreender a vida sem conhecer o seu alvo e as leis morais. As provações, purificando a alma, preparam
sua ascensão e felicidade; no entanto, as alegrias deste mundo, as riquezas, as paixões entibiamna e atiram-na para uma outra vida de amargas decepções. Assim, aquele que é oprimido pela adversidade pode esperar e erguer um olhar confiante para o céu; desde que resgata a sua dívida,
conquista a liberdade; porém, esse que se compraz na sensualidade constrói a sua própria prisão,
acumula novas responsabilidades que pesarão extraordinariamente sobre as suas vidas futuras.
A dor, sob suas múltiplas formas, é o remédio supremo para as imperfeições, para as enfermidades da alma. Sem ela não é possível a cura. Assim como as moléstias orgânicas são muitas vezes
resultantes dos nossos excessos, assim também as provas morais que nos atingem são consequentes das nossas faltas passadas. Cedo ou tarde, essas faltas recairão sobre nós com suas deduções
lógicas. É a lei de justiça, de equilíbrio moral. Saibamos aceitar os seus efeitos como se fossem remédios amargos, operações dolorosas que devem restituir a saúde, a agilidade ao nosso corpo.
Embora sejamos acabrunhados pelos desgostos, pelas humilhações e pela ruína, devemos sempre
suportá-los com paciência. O lavrador rasga o seio da terra para daí fazer brotar a messe dourada.
Assim a nossa alma, depois de desbastada, também se tornará exuberante em frutos morais.
Pela ação da dor, larga tudo o que é impuro e mau, todos os apetites grosseiros, vícios e paixões, tudo o que vem da terra e deve para ela voltar. A adversidade é uma grande escola, um
campo fértil em transformações. Sob seu influxo, as paixões más convertem-se pouco a pouco em
paixões generosas, em amor do bem. Nada fica perdido. Mas, essa transformação é lenta e dificultosa, pois só pode ser operada pelo sofrimento, pela luta constante contra o mal, pelo nosso próprio sacrifício. Graças a estes, a alma adquire a experiência e a sabedoria. Os seus frutos verdes e
amargos convertem-se, sob a ação regeneradora da prova, sob os raios do Sol divino, em frutos
doces, aromáticos, amadurecidos, que devem ser colhidos em mundos superiores.
Livres em nossas ações, isentos de males, de cuidados, deixar-nos-íamos impulsionar pelo sopro das paixões, deixar-nos-íamos arrebatar pelo temperamento. Longe de trabalharmos pela nossa melhoria, nada mais faríamos do que amontoar faltas novas sobreas faltas passadas; no entanto, comprimidos pelo sofrimento, em existências humildes, habituamo-nos à paciência, ao raciocínio, adquirimos essa calma de pensamento indispensável àquele que quiser ouvir a voz da razão.
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É no crisol da dor que se depuram as grandes almas. Às vezes, sob nossa vista, anjos de bondade vêm tragar o cálice de amargura, como exemplificação aos que são assustados pelos tormentos
da paixão. A prova é uma reparação necessária, aceita com conhecimento de causa por muitos
dentre nós. Oxalá assim pensemos nos momentos de desânimo, e que o espetáculo dos males suportados com essas grandes resignações nos dê a força de conservarmo-nos fiéis aos nossos próprios compromissos, às resoluções viris que tomamos antes de encarnar.
Os problemas da existência
(Léon Denis – livro: O Porquê da Vida, cap. II)
O que importa saber antes de tudo é o que somos, de onde viemos, para onde vamos, quais
são os nossos destinos. As ideias que fazemos do Universo e suas leis, do papel que cada um de
nós deve exercer sobre este vasto teatro, tudo isso é de uma importância capital. É de conformidade com elas que dirigimos os nossos atos. É consultando-as que fixamos um alvo à nossa vida, e
para ele caminhamos. Eis a base, o verdadeiro incentivo de toda a civilização. Conforme for o ideal, assim é o homem. Para as coletividades, da mesma forma que para o indivíduo, a concepção do
mundo e da vida é que determina os deveres; mostra o caminho a seguir, as resoluções a adotar.
Mas, já o dissemos, a dificuldade de resolver esses problemas faz muitas vezes rejeitá-los. A
opinião do maior número é vacilante, indecisa; os atos, os caracteres se ressentem. Nisso consiste
o mal da época, a causa da perturbação que pesa sobre todos. Há o instinto do progresso; quer-se
caminhar, mas para onde ir? Ninguém pensa nisso suficientemente. O homem ignorante dos seus
destinos é semelhante ao viajante que percorre maquinalmente a sua rota, sem conhecer o ponto
de partida nem o ponto de chegada, e mesmo sem saber qual o motivo da sua viagem; do que resulta, sem dúvida, o estar sempre disposto a parar diante do menor obstáculo e a perder o tempo
sem cuidar do alvo que deve atingir.
O vácuo e a obscuridade das doutrinas religiosas, os abusos que elas engendraram, lançam
muitos espíritos no materialismo. Ficam dispostos a acreditar que tudo acaba com a morte, que o
destino do homem é o de desaparecer no vácuo.
Demonstraremos mais adiante como esse modo de ver está em oposição flagrante à experiência e à razão. Digamos desde já que isso é contrário a toda a noção de justiça e progresso.
Se a vida está circunscrita entre o berço e a tumba, se as perspectivas da imortalidade não vêm
esclarecer a nossa existência, o homem não tem outra lei que não seja a dos seus instintos, dos
seus apetites, dos seus gozos. Pouco importa que ame o bem, a equidade. Se nada mais faz que
aparecer e desaparecer neste mundo; se leva consigo para o olvido as suas esperanças e afeições,
ele sofrerá tanto quanto mais puras e elevadas forem suas aspirações; amando a justiça, como
soldado do direito, acreditar-se-á condenado a jamais ver a sua realização; apaixonado pelo progresso, sensível aos males dos seus semelhantes, imagina que se extinguirá antes de ver triunfar
seus princípios.
Com a perspectiva do nada, quanto mais praticardes a abnegação e a justiça, tanto mais vossa
vida será fértil em amargores e decepções. O egoísmo bem compreendido seria então a suprema
sabedoria; a existência perderia toda a sua grandeza e dignidade. As mais nobres faculdades, as
mais generosas tendências do espírito humano acabariam por fenecer, por extinguir-se completamente.
A negação da vida futura também suprime toda a sanção moral. Assim, todo ato bom ou mau,
criminoso ou sublime, termina com os mesmos resultados. Não há compensação às existências
miseráveis, à obscuridade, à opressão, à dor; não há mais consolação nas provas, esperança para
os aflitos. Nenhuma diferença existe, no futuro, entre o egoísta que viveu para si só, e muitas vezes à custa dos seus semelhantes, e o mártir ou o apóstolo que sofreu, sucumbiu no combate pela
emancipação e pelo progresso da raça humana. A mesma obscuridade os encobrirá.
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Se tudo acaba com a morte, o ser não tem nenhum motivo para constranger-se, para comprimir seus instintos, seus gostos. Fora das leis sociais, nada pode detê-lo! O bem e o mal, o justo e o
injusto se confundem igualmente, se esvaem no nada. E o suicídio será sempre um meio de escapar aos rigores das leis humanas.
A crença em o nada, ao mesmo tempo em que arruína toda a sanção moral, deixa de resolver o
problema da desigualdade das existências na parte que toca à diversidade das faculdades, das aptidões, das situações, dos méritos. Com efeito, qual o motivo por que uns possuem todos os dons
do espírito e do coração, favores da fortuna, quando muitos outros só tiveram em partilha pobreza intelectual, vícios e misérias? Por que na mesma família, parentes, irmãos, nascidos da mesma
carne e do mesmo sangue diferem essencialmente sobre tantos pontos de vista? Estas questões
são insolúveis para os materialistas, da mesma forma que para muitos crentes; entretanto, vamos
examiná-las sumariamente à luz da razão.
Ética da Felicidade
(Vianna de Carvalho, in “Espiritismo e Vida” – Cap 29)
No seu tratado de Ética a Nicómano, seu filho, Aristóteles afirma que o ser humano foi galardoado por três tipos de bênçãos da vida: as que vêm de fora, as do corpo e as da alma.
Vinte e um séculos quase depois das suas profundas reflexões que serviram de base para a
construção da ética ocidental, Arthur Schopenhauer, analisando os valores da vida, mantém as
três divisões, porém sob aspecto algo diversificado, como seja: a personalidade, a propriedade e a
posição.
Na sua análise, o ilustre filósofo alemão conceitua a personalidade como aquilo que o ser
humano é, incluindo a saúde, a educação, o temperamento, as suas conquistas intelectuais, sociais, os tesouros de ordem moral de que se exorna, adquirindo a individualidade, aquilo que permanece, embora se alterem as circunstâncias existenciais.
A personalidade desenvolve-se no ser humano cada vez mais graças aos recursos da vontade e da aplicação do esforço interior para qualificar-se, autorrealizando-se e fruindo bem-estar em
razão das conquistas que incorpora à própria conduta.
A propriedade constitui o fruto das aquisições externas que se consegue amealhar em decorrência das necessidades aparentes para o triunfo material.
Nada obstante, o acúmulo de bens e de tesouros vários, embora proporcione conforto e
destaque na comunidade, não consegue impedir o surgimento dos conflitos geradores do tédio e
da dor, na sua opinião, grandes adversários da felicidade.
O que se possui é externo e passa de mãos, transferindo-se de um para outro possuidor,
normalmente deixando uma certa frustração naquele que detinha a posse. Isto porque, o que se
possui não satisfaz plenamente, induzindo a ambições descabidas e tormentosas, em forma de sede insaciável de querer-se mais.
Na atualidade, os jogos das bolsas de valores e os seus pregões, as variações do câmbio e
as alterações do mercado, as disputas empresariais e a oscilação dos preços das ações geram ansiedade e medo, normalmente afligindo os endinheirados e possuidores de grandes empreendimentos. Por um momento encontram-se no topo da fortuna, e, logo depois, trocam de lugar, em
decorrência das mudanças impostas pelos interesses e pressões nacionais e internacionais...
Sob outro aspecto, a facilidade para desfrutarem o prazer até a exaustão e a luxúria até o
entorpecimento das sensações abre espaços emocionais para o desinteresse pela vida que se
transforma em vazio existencial.
As incertezas a respeito da preservação dos recursos acumulados induzem a comportamentos alienantes, quais a desconfiança nos relacionamentos, a dificuldade para as resoluções
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afetivas e a perda da identidade, passando a crer que as demais pessoas são incapazes de devotarlhes amor, pelo contrário, antes mantendo interesses subalternos voltados para as suas posses...
Certamente, seguindo a linha de pensamento do filósofo de Dantzig, um mendigo saudável
é muito mais feliz do que um monarca poderoso e enfermo...
De alguma forma, esse jogo de interesses, para Schopenhauer, proporciona uma visão especial a respeito da vida que se transforma num teatro, no qual as criaturas se convertem em atores desempenhando papéis transitórios, todos, no entanto, iguais na sua essência;
Esse comportamento induz a uma desvalorização do subjetivo em relação ao objetivo, no
qual se colocam os interesses existenciais, sem que se deem conta aqueles que assim procedem,
da relatividade desses últimos, que se fixam na insegurança emocional dos seus proprietários que
se lhes imantam, deixando de experienciar outros extraordinários significados que a vida oferece a
todos quantos com eles se identificam.
A posição diz respeito à maneira como cada pessoa se coloca em relação à consideração
que espera receber dos outros, no grupo social onde se movimenta, sempre preocupado com a
opinião externa em torno de si, defluente da honorabilidade como é tratado e da respeitabilidade
que goza ou não a sua fama.
Filha da insensatez presunçosa, a posição torna-se uma ambição desregrada para cultivarse e preservar-se a imagem, a aparência exclusivamente.
Atormentam-se essas criaturas que assim se comportam, sofrendo enquanto não alcançam
os patamares das situações de relevo, e, mesmo quando os conseguem, ainda permanecem sob os
camartelos da angústia, chegando à promoção de escândalos de modo a serem motivo de comentários, permanecendo no topo das opiniões divergentes na mídia terrestre.
Gostariam de estar sempre bem vistas, de receberem a bajulação dourada e mentirosa, de
chamarem a atenção, embora no íntimo reconheçam que todo esse teatro não passa de uma comédia ridícula e cansativa.
São-lhes de alta magnitude essas situações que as evidenciam, destacando-as na comunidade humana, inflando-as de orgulho vazio, porque responsáveis pela exteriorização, lutando
sempre para disfarçarem os conflitos nos quais se debatem.
A honra, ou aquilo que consideram como tal, deve ser conquistada, impondo superioridade
e proporcionando comportamentos, às vezes, esdrúxulos, pela preocupação incessante de parecerem ante a impossibilidade de serem realmente honoráveis.
Esse tipo de valor, que deflui das conquistas ético-morais equivocadas, nessa luta vã em
que se procura aparentar felicidade sem a harmonia de ser ditoso, proporciona a postura mentirosa em decorrência da qual firmam-se conchavos indignos, elaboram-se leis inqualificáveis, negociam-se situações calamitosas, de maneira que fiquem escamoteados os crimes e os deslizes morais
e comportamentais, enquanto a máscara da farsa mantém-se afivelada à face do indivíduo.
A presunção também se destaca nessa circunstância, intoxicando o seu portador com os
vapores que levam às fantasias da superioridade que se atribuem, da existência excepcional que
desfrutam, do status que fruem...
Trata-se de glórias assentadas na neblina da ilusão que o sol da realidade dilui, deixando
suas vítimas desnudas enfrentando a própria consciência.
Felizmente, Schopenhauer destaca o primeiro requisito como fundamental para a construção da ética da felicidade, que seriam as aquisições internas da personalidade, as que dignificam e
tranquilizam o indivíduo, proporcionando-lhe contínuo bem-estar.
A visão espírita em torno da ética para a conquista da felicidade ilumina o conceito de
Aistóteles, no que diz respeito às dádivas da alma, em razão da sua imortalidade, assim como
completa a classificação de Schopenhauer ao acrescentar a reencarnação, em cujas vivências múltiplas são adquiridos os preciosos tesouros da sabedoria e da iluminação interior.
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Através dessas inúmeras experiências evolutivas o Espírito desenvolve os atributos divinos
que lhe são inerentes, libertando-se das constrições impostas pelas fases primeiras por onde transitou e desvelando o sol da eterna primavera – felicidade ! – cada vez mais pujante.
Na retaguarda ficam as conquistas de fora – propriedades – por ultrapassadas, logo esquecidas as externa – do corpo, a posição – destituídas de sentido ético, porquanto no curso dos sucessivos renascimentos, o príncipe retorna como pajem, o escravo volve na condição de senhor, o
mandatário ressurge em submissão, vivenciando-se personificações múltiplas, cujas contribuições
produzem a individualidade real, que é o Espírito em si mesmo.
A ética espírita para a felicidade encontra-se estatuída nas lições incomparáveis do amor
que, sem relutância, é o instrumento mais eficaz para a conquista do universo de si mesmo, em
razão da harmonia interna que proporciona e da alegria perene de viver no corpo ou fora dele,
sempre, porém, na vida, já que se é imortal.
A Nova Sociedade do Futuro
(Vianna de Carvalho, in “Espiritismo e Vida” – Cap 10)
Incontestavelmente, as inabordáveis conquistas do conhecimento hodierno, especialmente
através da Ciência e da Tecnologia, alçaram o homem e a mulher a um patamar de grandeza antes
jamais imaginado.
As viagens espaciais, as comunicações virtuais, a identificação da vida micro e macrocósmica, os avanços nas diversas áreas, notadamente na Medicina e na Engenharia, na Embriogenia e na
Genética, na Física e na Química, entre outras, demonstram que se vive o período das luzes da inteligência, enquanto uma grande noite se abate sobre os valores morais do indivíduo e da sociedade em geral.
Nunca houve tanta dor e impotência humana em relação às penosas circunstâncias existenciais, quanto nestes tormentosos dias de beleza e de aflição, de cultura e de agressividade, de
decantadas liberdades democráticas e espezinhamento dos direitos do cidadão...
Revoluções intestinas devoram as infelizes nações da África, que agoniza, vitimada pelas
antigas calamidades epidêmicas adicionadas à AIDS, devoradora implacável de milhões de existências humanas, espalhando-se por outros países, cujos governos demonstram impotência para deter a onda de sequestros, de homicídios seriais, de crimes contra o patrimônio e contra o indivíduo, revoltas contínuas e terrorismo, tanto internacional como nacional, insegurança e ressentimentos...demonstram quão grave é a hora que se vive na Terra.
Concomitantemente, em fugas espetaculares do medo e da ansiedade, as multidões alucinadas atiram-se no desbordar das paixões sensuais e devastadoras do sexo, do alcoolismo, do tabagismo, da drogadição, tornando a existência um palco de exibição dos seus tormentos disfarçados de risos e embriaguez dos sentidos, como se a vida pudesse permanecer reduzida ao tóxico
das momentâneas ilusões !
Em consequência, aumentam, assustadoramente, os transtornos de conduta, avolumam-se
a depressão da afetividade bipolar, a síndrome do pânico, as doenças degenerativas, as cardiopatias, o câncer, culminando em loucura e suicídio...
Enquanto isso ocorre, as contínuas ameaças de pandemias assustam os cientistas e a Organização Mundial de Saúde, que não cessam de advertir os governos a respeito da moderna Influenza das Aves, quase impossível de ser detida, a ebola e outras mais...
O próprio planeta estertora em tsunamis, terremotos contínuos, erupções vulcânicas, prenúncios de contaminação e aquecimento atmosférico, resultando em degelo das neves eternas
em toda parte, da Groenlândia e dos polos, com o consequente aumento de volume dos oceanos,
que devorarão as cidades litorâneas, a poluição dos mares, rios e lagos, o desmatamento desordenado e perverso, produzindo a absorção das reservas de água potável, também resultante do
desperdício e do mau uso do precioso líquido, o desaparecimento de centenas de espécies ani-
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mais e vegetais em todo lugar, na sua maioria efeito da incúria humana e do despotismo de alguns
governos alucinados e de milhões de criaturas insensatas que perderam o endereço de si mesmas,
enquanto negando a existência de Deus...
Dir-se-á que algumas das calamidades sísmicas sempre estiveram presentes na estrutura
do planeta, o que é verdade, não, porém, em ameaça devastadora à vida que se manisfesta em
toda a parte, povoando-o sistemática e continuamente, de forma que se torna destruída com rapidez, produzindo terríveis danos emocionais e psíquicos para toda a Humanidade.
De igual maneira, há quem se refira às terríveis pandemias do passado que foram vencidas
pela Ciência, não devendo causar espanto as que atualmente são identificadas.
Desejamos referir-nos à impotência humana, presunçosa, que se propõe tornar a vida feliz
e não conseguiu evitar o surgimento de novos males que açoitam a sociedade.
As religiões, na sua quase totalidade, lutando pelo proselitismo e pelos benefícios disso decorrentes, têm-se esquecido do ser humano – sua meta, seu fanal1 – para preocupar-se com estatísticas retumbantes e lucros injustificáveis, permanecendo indiferentes aos acontecimentos graves que assinalam estes terríveis dias do Senhor !
Há uma quase generalizada indiferença ante as ocorrências perturbadoras que impactam
por um momento, para logo serem substituídas por outras notícias mais aparvalhantes, gerando
uma certa acomodação, parecendo demonstrar a impossibilidade de alterar-se a paisagem de angústia e desespero que toma conta da Terra em agonia...
O Espiritismo, porém, chegou em momento próprio para convidar os Espíritos encarnados
e desencarnados a reflexões graves a respeito dos compromissos que todos assumiram com as Divinas Leis, a respeito dos valores éticos que devem permanecer governando os destinos.
As informações iluminativas, trazidas em linguagem clara, nos seus conteúdos insofismáveis, têm por finalidade despertar as consciências a orientar os sentimentos na direção do Bem e
da Verdade, de modo que se possam mobilizar com denodo, a fim de modificar as lamentáveis
ocorrências ameaçadoras.
As comunicações espirituais, produzidas nas mais diversas partes do orbe, são unânimes
em assinalar este momento de transição, conclamando ao despertamento para a responsabilidade
de todos, no que diz respeito à Nova Era que será instaurada após a grande transição que se opera.
Não é, pois, de estranhar-se a soma dos acontecimentos afligentes, desde que Jesus a eles
se referiu com clareza meridiana, considerando o primarismo moral e emocional no qual preferem
manter-se os indivíduos da imensa mole humana.
Após haverem chegado ao Orbe os missionários do amor e da compaixão, do dever e da
caridade, do conhecimento e da beleza, do pensamento e da fé, tentando orientar as mentes no
rumo da imortalidade inevitável, após Ele próprio haver estado entre nós, outra alternativa não
existe exceto o chamamento pela dor, de forma a facultar a compreensão compulsória dos deveres de todos em relação ao Excelso Amor.
Como ninguém pode deter a marcha do progresso, que é inestancável, todos aqueles que
se lhe constituem obstáculo ou motivo de escândalo, pedras de tropeços, após advertidos inúmeras vezes, serão transferidos compulsoriamente para esferas mais primitivas de evolução, nas
quais recomeçarão o processo iluminativo sob os acúleos pungentes da aflição.
Conforme ocorreu na Terra, nos seus primórdios do processo evolutivo, quando recebeu a
grande legião de emigrados espirituais de outra dimensão, verdadeiros Luciferes das narrações bíblicas por sua teimosa resistência aos Códigos Divinos, também chega o momento em que os rebeldes terrestres seguirão a novos planetas, onde projetarão o conhecimento de que são portadores, a braços com as feridas morais que conduzirão no íntimo, até a cicatrização que se dará, credenciando-os ao retorno à pátria de origem, de onde se afastaram por um expressivo período.
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Simultaneamente, a fim de tornarem estes dias menos dolorosos, pois que se assim prosseguirem, afirmam as Escrituras (Marcos XIII – O sermão profético de Jesus), não se poderia suportá-los, descem às sombras terrestres novas legiões de emigrantes espirituais, que deverão promover os sentimentos morais, a par dos avanços da cultura, das ciências, das artes, da tecnologia já
existentes e por conseguir-se, construindo uma nova sociedade mais benigna e justa.
Neste grave trânsito de mundo de provas e de expiações para mundo de regeneração, a felicidade também vem desenhando perspectivas de esperança e de paz, aquinhoando os Espíritos
fiéis com bem-estar, saúde e resistência para superar as investidas do mal que ainda teima em
permanecer nas paisagens íntimas, tanto quanto aquelas que procedem de outrem, do mundo exterior...
A soberba do ser humano, porém, é-lhe também adversário cruel, porque, mantendo-o na
ignorância a respeito dos elevados deveres que lhe cumpre desempenhar, impede-o de desenvolver-se espiritualmente, avançando pela senda do progresso conforme seria de desejar, de modo
que atingisse os níveis de lucidez que o capacitariam à legítima compreensão da finalidade existencial na Terra.
Bloqueando-se pelo orgulho desmedido, mergulhado na vã loucura do materialismo, ele
pensa poder a tudo explicar através das suas concepções ousadas, mas pobres de significado,
atravessando as horas do rio do tempo na frágil embarcação da ignorância da realidade.
Quando se lhe acerca o fenômeno biológico da morte, seja pela idade avançada ou através
de enfermidades desgastantes, ou mesmo por tragédias não desejadas, não mais dispõe de oportunidade para refazer o caminho, para instalar novos conceitos no imo e renovar-se mediante a
elevação espiritual que lhe diz respeito.
Eis por que as profundas e incomparáveis lições do Evangelho de Jesus constituem, ainda
hoje, e especialmente nestes dias, a mais avançada proposta psicoterapêutica preventiva e curadora de que se tem notícia para os males da psique, os tormentos da emoção, os desgastes do
corpo, oferecendo os recursos hábeis para o encontro da razão de existir, dos motivos próprios
para lutar e dos instrumentos específicos para aplicação imediata nas circunstâncias que se defrontem...
Emergem de suas páginas os ensinamentos notáveis da compaixão e da misericórdia, do
amor e do perdão, da disciplina e da ordem, do dever e da responsabilidade, trabalhando os materiais que constituem os alicerces do inconsciente à aceitação de novos elementos com os quais serão construídos os pilotis da atualidade consciente.
Jesus, na sua linguagem figurativa, refere-se à Nova Jerusalém, àquela de natureza eterna
que um dia albergará toda a sociedade terrestre, na Pátria além do corpo, mas oferecendo também a perspectiva em favor de uma existência feliz na trajetória orgânica, na condição de degrau
de ascenção por onde todos os Espíritos alcançarão os patamares elevados da Imortalidade.
Já se encontram, pois, na Terra, incontáveis preparadores da nova sociedade do futuro,
envergando a vestimenta carnal, despertando atenção para a sua capacidade de compreensão da
vida e de comportamento ora infantil, impondo a necessidade de uma nova pscicopedagogia para
os conduzir, despertando o interesse e a atenção dos mais renitentes negadores do Espírito, de
modo que, de imediato, haja lugar para a instalação do Reino de Deus nas mentes e nos corações
afervorados à verdade.
Nos cataclismas que vergastam a Natureza e a sociedade terrestre, apresentam-se igualmente as bênçãos da renovação moral do planeta e dos seus habitantes, que se deverão utilizar
dos inestimáveis produtos da inteligência ao seu alcance, para tornar a vida mais exequível e mais
digna entre todas as criaturas: vegetais, animais e humanas.
A grandeza deste momento está na dicotomia da destruição do mal e da construção do
bem, nas ocorrências calamitosas e edificantes, das quais resultará o amanhecer da Era de paz e
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de felicidade relativas que serão convites estimulantes para a conquista da plenitude sem jaça e
de sabor eterno ao alcance de quem a desejar.
Buscando a felicidade
(Emmanuel, psicografia de Chico Xavier – livro: Inspiração)
A felicidade que pode realmente não existir na Terra, enquanto a Terra padecer a dolorosa influenciação de um só gemido de sofrimento, pode existir na alma humana, quando a criatura
compreender que a felicidade verdadeira é sempre aquela que conseguimos criar para a felicidade
do próximo.
O primeiro passo, porém, para a aquisição de semelhante riqueza é o nosso entendimento das
leis que nos regem, para que o egoísmo e a ambição não nos assaltem a vida.
O negociante que armazena toneladas de arroz, com o propósito de lucro fácil, não poderá ingeri-lo, senão na quantidade de algumas gramas por refeição.
O dono da fábrica de tecidos, interessado em reter o agasalho devido a milhões, não vestirá
senão um costume exclusivo para resguardar-se contra a intempérie.
E o proprietário de extensas vilas, que delibera locupletar-se com o suor dos próprios irmãos,
não poderá habitar senão uma casa só e ocupar, dentro dela, um só aposento para o seu próprio
repouso.
Tudo na existência está subordinado a princípios que não podemos desrespeitar sem dano para nós mesmos, e, por esse motivo, a felicidade pura e simples é aquela que sabe retirar da vida os
seus dons preciosos sem qualquer insulto ao direito ou à necessidade dos semelhantes.
Assim, pois, tudo aquilo que amontoamos, no mundo, em torno de nós, a pretexto de desfrutar privilégios e favores com prejuízo dos outros, redunda sempre em perigosa ilusão a envenenarnos o espírito.
Felicidade é como qualquer recurso que só adquire valor quando em circulação em benefício
de todos.
Em razão disso, saibamos dar do que somos e a distribuir daquilo que retemos, em favor dos
que nos partilham a marcha, porque somente a felicidade que se divide é aquela que realmente se
multiplica para ser nossa alegria e nossa luz, aqui e além, hoje e sempre.
Quando há luz
(Emmanuel, psicografia de Chico Xavier – do livro: “Fonte Viva”, cap. 74)
“O amor do Cristo nos constrange” – Paulo ( II Coríntios, V:XIV)
Quando Jesus encontra santuário no coração de um homem, modifica-se-lhe a marcha inteiramente.
Não há mais lugar dentro dele para a adoração improdutiva, para a crença sem obras, para a
fé inoperante.
Algo de indefinível na terrestre linguagem transtorna-lhe o espírito.
Categoriza-o a massa comum por desajustado, entretanto, o aprendiz do Evangelho, chegando a essa condição, sabe que o Trabalhador Divino como que lhe ocupa as profundidades do ser.
Renova-se-lhe toda a conceituação da existência.
O que ontem era prazer, hoje é ídolo quebrado.
O que representava meta a atingir, é roteiro errado que ele deixa ao abandono.
Torna-se criatura fácil de contentar, mas muito difícil de agradar.
A voz do Mestre, persuasiva e doce, exorta-o a servir sem descanso.
Converte-se-lhe a alma num estuário maravilhoso, onde os padecimentos vão ter, buscando
arrimo, e por isso sofre a constante pressão das dores alheias.
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A própria vida física afigura-se-lhe um madeiro, em que o Mestre se aflige. É-lhe o corpo a
cruz viva em que o Senhor se agita crucificado.
O único refúgio em que repousa é o trabalho perseverante no bem geral.
Insatisfeito, embora resignado; firme na fé, não obstante angustiado; servindo a todos, mas
sozinho em si mesmo, segue, estrada a fora, impelido por ocultos e indescritíveis aguilhões...
Esse é o tipo de aprendiz que o amor do Cristo constrange, na feliz expressão de Paulo.
Vergasta-o a luz celeste por dentro até que abandone as zonas inferiores em definitivo.
Para o mundo, será inadaptado e louco.
Para Jesus, é o vaso das bênçãos.
A flor é uma linda promessa, onde se encontre.
O fruto maduro, porém, é alimento para Hoje.
Felizes daqueles que espalham a esperança, mas bem-aventurados sejam os seguidores do
Cristo que suam e padecem, dia a dia, para que seus irmãos se reconfortem e se alimentem no
Senhor!
Quando Jesus encontra santuário no coração de um homem, modifica-se-lhe a marcha inteiramente.
Não há mais lugar dentro dele para a adoração improdutiva, para a crença sem obras, para a
fé inoperante.
Algo de indefinível na terrestre linguagem transtorna-lhe o espírito.
Categoriza-o a massa comum por desajustado, entretanto, o aprendiz do Evangelho, chegando a essa condição, sabe que o Trabalhador Divino como que lhe ocupa as profundidades do ser.
Renova-se-lhe toda a conceituação da existência.
O que ontem era prazer, hoje é ídolo quebrado.
O que representava meta a atingir, é roteiro errado que ele deixa ao abandono.
Torna-se criatura fácil de contentar, mas muito difícil de agradar.
A voz do Mestre, persuasiva e doce, exorta-o a servir sem descanso.
Converte-se-lhe a alma num estuário maravilhoso, onde os padecimentos vão ter, buscando
arrimo, e por isso sofre a constante pressão das dores alheias.
A própria vida física afigura-se-lhe um madeiro, em que o Mestre se aflige. É-lhe o corpo a
cruz viva em que o Senhor se agita crucificado.
O único refúgio em que repousa é o trabalho perseverante no bem geral.
Insatisfeito, embora resignado; firme na fé, não obstante angustiado; servindo a todos, mas
sozinho em si mesmo, segue, estrada a fora, impelido por ocultos e indescritíveis aguilhões...
Esse é o tipo de aprendiz que o amor do Cristo constrange, na feliz expressão de Paulo.
Vergasta-o a luz celeste por dentro até que abandone as zonas inferiores em definitivo.
Para o mundo, será inadaptado e louco.
Para Jesus, é o vaso das bênçãos.
A flor é uma linda promessa, onde se encontre.
O fruto maduro, porém, é alimento para Hoje.
Felizes daqueles que espalham a esperança, mas bem-aventurados sejam os seguidores do
Cristo que suam e padecem, dia a dia, para que seus irmãos se reconfortem e se alimentem no
Senhor!
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No futuro
(Emmanuel, psicografia de Chico Xavier – do livro: “Pão Nosso”, cap. 41)
“E não mais ensinará cada um a seu próximo, nem cada um a seu irmão, dizendo: – Conhece o Senhor! porque todos me conhecerão, desde o menor deles até ao maior.” – Paulo. (Hebreus, VIII:11)
Quando o homem gravar na própria alma
Os parágrafos luminosos da Divina Lei,
O companheiro não repreenderá o companheiro,
O irmão não denunciará outro irmão.
O cárcere cerrará suas portas,
Os tribunais quedarão em silêncio.
Canhões serão convertidos em arados,
Homens de armas volverão à sementeira do solo.
O ódio será expulso do mundo,
As baionetas repousarão,
As máquinas não vomitarão chamas para o incêndio e para a morte,
Mas cuidarão pacificamente do progresso planetário.
A justiça será ultrapassada pelo amor.
Os filhos da fé não somente serão justos,
Mas bons, profundamente bons.
A prece constituir-se-á de alegria e louvor
E as casas de oração estarão consagradas ao trabalho sublime da fraternidade suprema.
A pregação da Lei
Viverá nos atos e pensamentos de todos,
Porque o Cordeiro de Deus
Terá transformado o coração de cada homem
Em tabernáculo de luz eterna,
Em que o seu Reino Divino
Resplandecerá para sempre.
O tesouro enferrujado
(Emmanuel, psicografia de Chico Xavier – do livro: “Caminho, Verdade e
Vida”, cap. 24)
“O vosso ouro e a vossa prata se enferrujaram.” (TIAGO, 5:3.)
Os sentimentos do homem, nas suas próprias ideias apaixonadas, se dirigidos para o bem, produziriam sempre, em consequência, os mais substanciosos frutos para a obra de Deus. Em quase
toda parte, porém, desenvolvem-se ao contrário, impedindo a concretização dos propósitos divinos, com respeito à redenção das criaturas.
De modo geral, vemos o amor interpretado tão-somente à conta de emoção transitória dos
sentidos materiais, a beneficência produzindo perturbação entre dezenas de pessoas para atender
a três ou quatro doentes, a fé organizando guerras sectárias, o zelo sagrado da existência criando
egoísmo fulminante. Aqui, o perdão fala de dificuldades para expressar-se; ali, a humildade pede a
admiração dos outros.
Todos os sentimentos que nos foram conferidos por Deus são sagrados.
Constituem o ouro e a prata de nossa herança, mas como assevera o apóstolo, deixamos que
as dádivas se enferrujassem, no transcurso do tempo.
Faz-se necessário trabalhemos, afanosamente, por eliminar a “ferrugem” que nos atacou os
tesouros do espírito. Para isso, é indispensável compreendamos no Evangelho a história da renún-
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cia perfeita e do perdão sem obstáculos, a fim de que estejamos caminhando, verdadeiramente,
ao encontro do Cristo.
Porta estreita
(Emmanuel, psicografia de Chico Xavier – do livro: “Vinha de Luz”, cap.
20)
“Porfiai por entrar pela porta estreita, porque eu vos digo que muitos procurarão entrar, e não
poderão.” – Jesus (Lucas, XIII:24)
Antes da reencarnação necessária ao progresso, a alma estima na “porta estreita” a sua
oportunidade gloriosa nos círculos carnais.
Reconhece a necessidade do sofrimento purificador. Anseia pelo sacrifício que redime. Exalta
o obstáculo que ensina. Compreende a dificuldade que enriquece a mente e não pede outra coisa que não seja a lição, nem espera senão a luz do entendimento que a elevará nos caminhos infinitos da vida.
Obtém o vaso frágil de carne, em que se mergulha para o serviço de retificação e aperfeiçoamento.
Reconquistando, porém, a oportunidade da existência terrestre, volta a procurar as “portas
largas” por onde transitam as multidões.
Fugindo à dificuldade, empenha-se pelo menor esforço.
Temendo o sacrifício, exige a vantagem pessoal. Longe de servir aos semelhantes, reclama os
serviços dos outros para si.
E, no sono doentio do passado, atravessa os campos de evolução, sem algo realizar de útil,
menosprezando os compromissos assumidos.
Em geral, quase todos os homens somente acordam quando a enfermidade lhes requisita o
corpo às transformações da morte.
“Ah! se fosse possível voltar!...” - pensam todos.
Com que aflição acariciam o desejo de tornar a viver no mundo, a fim de aprenderem a humildade, a paciência e a fé!... Com que transporte de júbilo se devotariam então à felicidade dos
outros!...
Mas... É tarde. Rogaram a “porta estreita” e receberam-na, entretanto, recuaram no instante
do serviço justo. E porque se acomodaram muito bem nas “portas largas”, volvem a integrar as
fileiras ansiosas daqueles que procuram entrar, de novo, e não conseguem.
Antes da reencarnação necessária ao progresso, a alma estima na “porta estreita” a sua
oportunidade gloriosa nos círculos carnais.
Reconhece a necessidade do sofrimento purificador. Anseia pelo sacrifício que redime. Exalta
o obstáculo que ensina. Compreende a dificuldade que enriquece a mente e não pede outra coisa que não seja a lição, nem espera senão a luz do entendimento que a elevará nos caminhos infinitos da vida.
Obtém o vaso frágil de carne, em que se mergulha para o serviço de retificação e aperfeiçoamento.
Reconquistando, porém, a oportunidade da existência terrestre, volta a procurar as “portas
largas” por onde transitam as multidões.
Fugindo à dificuldade, empenha-se pelo menor esforço.
Temendo o sacrifício, exige a vantagem pessoal. Longe de servir aos semelhantes, reclama os
serviços dos outros para si.
E, no sono doentio do passado, atravessa os campos de evolução, sem algo realizar de útil,
menosprezando os compromissos assumidos.
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Em geral, quase todos os homens somente acordam quando a enfermidade lhes requisita o
corpo às transformações da morte.
“Ah! se fosse possível voltar!...” - pensam todos.
Com que aflição acariciam o desejo de tornar a viver no mundo, a fim de aprenderem a humildade, a paciência e a fé!... Com que transporte de júbilo se devotariam então à felicidade dos
outros!...
Mas... É tarde. Rogaram a “porta estreita” e receberam-na, entretanto, recuaram no instante
do serviço justo. E porque se acomodaram muito bem nas “portas largas”, volvem a integrar as
fileiras ansiosas daqueles que procuram entrar, de novo, e não conseguem.
Reencontro
(André Luiz, psicografia de Chico Xavier – do livro: “Libertação”, trecho do
cap. XX)
(...) Todos os companheiros incorporados à nossa missão destes dias – avisava Gübio, paternal
– desde que se mantenham perseverantes no propósito de autorestauração. Seguem ao nosso lado, com acesso aos círculos de trabalho condigno, onde estudantes do bem e da luz lhes acolherão, com simpatia, as aspirações de vida superior. Espero, contudo, que não aguardem milagres na
esfera próxima. O trabalho de reajustamento próprio é artigo de lei irrevogável, em todos os ângulos do Universo. Ninguém suplique protecionismo a que não fez jus, nem flores de mel às sementes amargar que semeou em outro tempo. Somos livros vivos de quanto pensamos e praticamos e
os olhos cristalinos da Justiça Divina nos leem, em toda parte. Se há um ministério humano, na
Crosta da Terra, determinando sobre as vidas inferiores da gleba planetária, temos, em nossas linhas de ação, o ministério dos anjos, dominando em nossos caminhos evolutivos. Ninguém trai os
princípios estabelecidos. Possuímos agora o que ajuntamos no dia de ontem e possuiremos amanhã o que estejamos buscando no dia de hoje. E como emendar é sempre mais difícil que fazer,
não podemos contar com o favoritismo, na obra laboriosa do aprimoramento individual, nem provocar solução pacífica e imediata para problemas que gastamos longos anos a entretecer. A prece
ajuda, a esperança balsamiza, a fé sustenta, o entusiasmo revigora, o ideal ilumina, mas o esforço
próprio na direção do bem é a alma da realização esperada. Em razão disso, ainda aqui, a bênção
do minuto, a dádiva da hora e o tesouro das oportunidades de cada dia hão de ser convenientemente aproveitados se pretendemos santificadora ascensão. Felicidade, paz, alegria, não se improvisam. Representam conquistas da alma no serviço incessante de renovar-se para a execução
dos Desígnios Divinos. Felizmente, desde agora estamos abrigados no santuário da boa vontade e,
ainda neste instante, cabe-nos não esquecer a promessa evangélica: “quem perseverar até ao fim,
será salvo”. A Graça Celestial, sem dúvida, é um sol permanente e sublime. Urge, porém, a criação
de possibilidades superiores em nós, para fixar-lhe os raios e recebê-los. (...)
Evidenciando manifesta preocupação no olhar muito lúcido, o nosso orientador prosseguiu esclarecendo que Gregório, ciente das novidades havidas no drama de Margarida e informado acerca da renovação de muitos companheiros e colaboradores dele, agora francamente inclinados ao
bem, entediados da ignorância e do ódio, da perversidade e da insensatez, se revoltara contra ele
Gúbio, dispondo-se a buscá-lo para um ajuste de que se julgava credor. Explicou, emocionado, que
num duelo espiritual, como aquele a esboçar-se, esperava de todos nós o auxílio eficiente da prece e das emissões mentais de amor puro. Não deveríamos receber os doestos e insultos de Gregório por ofensas pessoais, nem levar suas atitudes à conta de maldade ou grosseria. Competia-nos
observar-lhe nos gesto de incompreensão a dor que se lhe cristalizara no Espírito oprimido e inconformado, vendo-lhe nas palavras, não a maldade deliberada, mas, sim, a eclosão de uma revolta doentia e infeliz que não poderia prejudicar e ferir senão a ele próprio. O pensamento é uma
força vigorosa, comandando os mínimos impulsos da alma e, se nos entregássemos à reação espi-
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ritual, armada de ódio ou desarmonia, pactuaríamos com a violência, impedindo, não só a manifestação providencial de Matilde, a benfeitora, mas também a renovação de Gregório, que guardava a inteligência centralizada no mal. Emissões de mágoa ou revide colocar-nos-iam em trabalho
contraproducente. As vibrações de amor fraternal, quais as que o Cristo nos legou, são as verdadeiras energias dissolventes da vingança, da perseguição, da indisciplina, da vaidade e do egoísmo
que atormentam a experiência humana. Além disso, tornou o Instrutor bondoso, cumpria-nos
considerar que aquela mente transviada do trilho divino se caracterizava muito mais pela moléstia
do orgulho ferido e impenitente, que pela perversidade. Gregório era tão somente um infeliz,
quanto nós mesmos em passado próximo ou remoto, acicatado por rebeliões e remorsos interiores a lhe desajustarem os sentimentos. Merecia, por isso mesmo, nossa dedicação carinhosa e
confortadora, ainda mesmo que nos visitasse com aparências de celerado ou de louco. Nossa conduta, aliás, nada apresentava de surpreendente, em semelhante capítulo, porque não fora para
ensinar-nos outras lições que o Cristo trabalhara em benefício de todos e padecera na cruz, sem
ninguém.
Filhos, Muito Obrigado
(Bezerra de Menezes, psicografia de Chico Xavier – do livro “Doutrina e
Vida”)
Filhos, o Senhor nos abençoe e nos ilumine sempre.
O pequenino servidor vos compartilha o banquete de amor, tentando agradecer.
As palavras desaparecem ante as grandes emoções que nos tomam de improviso, como que a
imobilizar-nos os sentidos, que se fazem ineptos para qualquer manifestação.
*
Podemos, desse modo, unicamente, dizer-vos:
Deus vos recompense.
*
Achamo-nos todos na jornada para diante, compreendendo que a meta por atingir nos acena,
ainda, muito longe.
Estas palavras muito longe, porém, não significam dificuldade ou aflição, porque os caminhos
se nos enfeitam agora em palmas de esperança e caridade, auxiliando-nos a seguir.
*
Obrigado, meus filhos, pela ternura de vossas lembranças.
Muito obrigado pelas mães que receberam filhos de nossa confiança e de nosso carinho,
aguardando quase que exclusivamente em vosso amor o dom de sobreviver, nas provas terrestres
e que, em nome de Jesus, adornais de estímulos santos, de modo a se reconhecerem sob a cobertura da Providencia Divina;
Muito obrigado pelos pais que a luta do dia a dia cansou no trabalho e que encontram, como
sempre, em vossa abnegação, a certeza da proteção de Deus;
Muito obrigado por aqueles irmãos que a fadiga orgânica situou nas ultimas linhas da resistência e que vos recolhem a dedicação e a fraternidade por relíquias da alma na viagem da libertação
talvez muito em breve;
Muito obrigado pelas criaturas irmãs em necessidade que se vos aproximam da mesa de assistência e carinho, a fim de receberem o pão da solidariedade, adquirindo em vosso gesto a convicção de que nunca estiveram sozinhas no esforço de superação das próprias dificuldades;
Muito obrigado pelos doentes que vos procuram buscando o remédio da esperança e da paz e
que vos recebem as mãos por estrelas de benção a lhes clarearem a estrada para refazimento das
próprias forças;
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Muito obrigado pelos jovens tristes que vos contemplam a atividade, buscando a diretriz pela
qual suspiram, a fim de que a caminhada no mundo se lhes faça menos árdua, no rumo de uma vida melhor, jovens que começaram a existência à maneira de seres torturados pela sede de afeto e
que, na ânsia de encontrar a fonte da verdade do bem, oscilavam entre as requisições da luz e a
influência das trevas;
Muito obrigado pelas crianças que trazeis de novo da amargura para a alegria, orvalhando-lhes
os corações com a benção de vossa fé trazida em serviço a todos os que caminham nas trilhas da
evolução, varando empeços maiores que os nossos;
E muito obrigado por aqueles outros pequeninos que ainda não nasceram, mas que esperam
amor e proteção a fim de abordarem o campo da Terra para a execução das tarefas edificantes
que lhes dirão respeito no dia de amanhã e que, embora sem voz ainda para expressar-vos reconhecimento, pedem a Deus por vossa felicidade porque conseguistes livrá-los do aborto e lhes
amparastes as mãezinhas, tantas vezes, agoniadas e sofredoras, em prece constante para que não
venham a perdê-los em razão das necessidades e provações que lhes sitiam a vida.
*
Obrigado, sim, por tudo quanto dais e por tudo quanto derdes, porque é dando que recebemos.
*
Obrigado, porque acreditastes na caridade e aceitastes a obrigação de fazer o bem.
*
As migalhas diminutas que distribuirdes são bênçãos eternas, são luzes que se vos resplenderão nos caminhos de hoje e do futuro indicando-vos a verdadeira felicidade.
*
Não temos hoje outras palavras senão estas: muito obrigado.
*
Agradecemos por todos, principalmente por todos aqueles que a luta humana transitoriamente emudeceu na prova que atravessam.
Eles e nós todos nos regozijamos com a vossa lembrança e repetimos a vós todos:
-Filhos do coração que Deus vos abençoe.
Pureza em branco
(Humberto de Campos, psicografia de Chico Xavier – do livro “Contos
Desta e Doutra Vida”, cap. 22)
Quando Anésio Fraga deixou o corpo físico, ele, que fora sempre considerado puro entre os
homens, atingiu a Fronteira do Mundo Espiritual à semelhança de um lírio, tal a brancura de sua
bela vestimenta.
Pretendia viver nas Esferas Superiores, respirar o clima dos anjos, alçar-se às estrelas e comungar a presença do Cristo - explicou ao agente espiritual que o ao policiamento da passagem para
os excelsos Planos da Espiritualidade.
O zeloso funcionário, contudo, embora demonstrasse profundo para com a sua apresentação,
submeteu-o a longo teste, findo o qual, não obstante desapontado, explicou que lhe não seria
possível avançar.
Faltavam-lhe requisitos para maior ascensão.
- Eu? Eu? - gaguejou Anésio, aflito. - Como pode ser isso?
Fui na Terra um homem que observou todas as regras do Santo Caminho.
- Apesar de tudo. - falou o fiscal, reticencioso.
- Não me conformo, não me conformo! - reclamou o candidato à glória divina.
E sacando do bolso uma lista, exclamou agastado:
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- Pensando na hipótese de alguma desconsideração, resumi em dez itens o meu procedimento
irrepreensível no mundo.
E leu para o benfeitor calmo e atento:
- Respeitei todas as religiões.
- Cultivei o dom da prece.
- Acreditei no poder da caridade.
- Nunca aborreci os meus semelhantes.
- Confiei sempre no melhor.
- Calei toda palavra ofensiva ou desrespeitosa.
- Calculei todos os meus passos.
- Jamais procurei os defeitos do próximo.
- Evitei o contato com todas as pessoas viciadas.
- Vivi em minha casa preocupado em não ser percalço na estrada alheia.
O mordomo da Grande Porta, no entanto, sorriu e comentou:
- Fraga, você leu as afirmações, esquecendo as demonstrações.
- Como assim?
O amigo paciente apanhou a ficha e esclareceu que o Plano Espiritual possuía também apontamentos para confronto e solicitou-lhe a releitura da lista.
E seguiu-se curioso diálogo entre os dois.
Principiou Anésio:
- Respeitei todas as religiões.
E o examinador acentuou, conferindo as anotações:
- Mas não serviu a nenhuma.
- Cultivei o dom da prece.
- Somente em seu próprio favor.
- Acreditei no poder da caridade.
- Todavia, não a praticou.
- Nunca aborreci os meus semelhantes.
- Entretanto, não auxiliou a quem quer que fosse.
- Confiei sempre no melhor.
- Mas apenas em seu benefício.
- Calei toda palavra ofensiva ou desrespeitosa.
- Não se lembrou, porém, de falar aquelas que pudessem amparar os necessitados consolo e
esperança.
- Calculei todos os meus passos.
- Para não ser molestado.
- Jamais procurei os defeitos do próximo.
- Contudo, não lhe aproveitou os bons exemplos.
- Evitei o contato com todas as pessoas viciadas.
- Atendendo ao comodismo.
- Vivi em minha casa preocupado em não ser percalço na estrada alheia.
- Simplesmente para não ser chamado a tarefa de auxílio.
Anésio, desencantado, silenciou, mas o benfeitor esclareceu, sem afetação:
- Meu amigo, meu amigo! Não basta fugir ao mal. É preciso fazer o bem.
Você movimenta-se em branco, veste-se em branco, calça em branco e brilha em branco, mas
a existência na Terra passou igualmente em branco. Volte e viva!
Angustiado, Anésio perdeu o próprio equilíbrio e rolou da Altura na direção da Terra.
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O Guia
(Humberto de Campos, psicografia de Chico Xavier – do livro “Estante da
Vida”, cap. 14)
Necessitando melhorar conhecimentos de orientação, acompanhei um dia de serviço do guardião Aurelino Piva, Espírito amigo que desempenha a função de guia comum da senhora Sinésia
Camerino, dama culta e distinta, domiciliada em elegante setor do mundo paulista.
Cabia-me aprender como ajudar alguém, individualmente, na posição de desencarnado. Auxiliar em esforço anônimo, exercer o amor silencioso e desconhecido.
Cheguei cedo à residência, cujo pequeno jardim a primavera aformoseada. Quatro horas da
manhã, justamente quando Aurelino preparava as forças de sua protegida para o dia nascente.
Trabalho de humildade e devotamento.
Na véspera, dona Sinésia não estivera tão sóbria ao jantar. Excedera-se em quitutes e licores,
mas o amigo espiritual erguia-se em piedosa sentinela e, antes que a senhora reabrisse os olhos
no corpo, aplicava-lhe passes de reajuste.
- É preciso que nossa irmã desperte tão hígida quanto possível – explicou-me.
E sorrindo: “Um dia tranquilo no corpo físico é uma bênção que devemos enriquecer de harmonia e esperança.”
Depois de complicada operação magnética, observei que a tutelada se dispunha a movimentar-se, e esperei.
Seis horas da manhã.
Aurelino formulou uma prece, rogando ao Senhor lhe abençoasse a nova oportunidade de trabalho e tive a ideia de tornar a escutar-lhe as palavras confortadoras: “um dia tranquilo no corpo
físico é uma bênção...”
A senhora acordou e o benfeitor espiritual postou-se ao lado dela, à feição de pai amoroso, falando-lhe dos recursos imensos da vida que estuavam lá fora, como a buscar-lhe o coração para o
serviço com alegria. Dona Sinésia ouvia em pensamento e, qual se dialogasse consigo mesma, recusava a mensagem de otimismo e respondeu às benéficas sugestões, resmungando: “dia aborrecido, tempo sem graça...” Nisso, dois meninos altercaram, lá dentro, com a empregada. Bate-boca
em família. Dona Sinésia não se mexeu. Sabia que os dois filhos manhosos nada queriam com estudo, nem suportavam qualquer disciplina, mas não deu bola. Aurelino, porém, correu à copa e eu
o acompanhei.
O amigo desencarnado apaziguou as crianças e acalmou a servidora da casa, à custa de apelos
edificantes. Ajudou os pequenos a encontrarem os cadernos de exercícios escolares que haviam
perdido e acompanhou-os até o ônibus. A senhora acordou e o benfeitor espiritual postou-se ao
lado dela, à feição de pai amoroso, falando-lhe dos recursos imensos da vida que estuavam lá fora,
como a buscar-lhe o coração para o serviço com alegria. Dona Sinésia ouvia em pensamento e,
qual se dialogasse consigo mesma, recusava a mensagem de otimismo e respondeu às benéficas
sugestões, resmungando: “dia aborrecido, tempo sem graça...” Nisso, dois meninos altercaram, lá
dentro, com a empregada. Bate-boca em família. Dona Sinésia não se mexeu. Sabia que os dois filhos manhosos nada queriam com estudo, nem suportavam qualquer disciplina, mas não deu bola.
Aurelino, porém, correu à copa e eu o acompanhei.
O amigo desencarnado apaziguou as crianças e acalmou a servidora da casa, à custa de apelos
edificantes. Ajudou os pequenos a encontrarem os cadernos de exercícios escolares que haviam
perdido e acompanhou-os até o ônibus.
De volta ao interior doméstico, chegou a vez de se amparar o esposo de Dona Sinésia, que deixara o quarto sob grande acesso de tosse. Bronquite velha. Um guardião espiritual, ligado a ele,
auxiliava-o, presto; no entanto, Aureliano pensou na tranquilidade de sua protegida e entregou-se
à tarefa de colaboração socorrista. Passes, insuflações.
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O chefe da família estava nervoso, abatido. Aurelino não repousou enquanto não lhe viu o espírito asserenado, diante da empregada, a quem auxiliou de novo, a fim de que o café com leite
fosse servido com carinho e limpeza. Logo após, demandou o grande aposento, em que iniciáramos a tarefa, rogando a Dona Sinésia viesse à copa abençoar o marido com um sorriso de confiança. A dama escutou o convite suplicante, através da intuição, mas ficou absolutamente parada sob
os lençóis, e, ouvindo o esposo a pigarrear, na saída, comentou intimamente: “não vou com asma,
estou farta”.
Sete horas. Aurelino estugou o passe a fim de sustentar o senhor Camerino, na travessia da
rua. Explicou-me que Dona Sinésia precisava de paz e, em razão disso, devia ajudar-lhe o marido
com as melhores possibilidades de que dispunha. E, atencioso, deu a ele, na espera da condução,
ideias de tolerância e caridade, bom ânimo e fé viva para compreender as suas dificuldades de
contador na firma a que se vincula.
Regressamos a casa. Dona Sinésia em descanso. Oito horas, quando se levantou.
Aurelino sugeriu-lhe o desejo de tomar água pura e informou-me de que se esmerava em defendê-la contra intoxicações. Magnetizou o líquido simples, dotando-o de qualidades terapêuticas
especiais e... Continuaram serviços e preocupações.
Trabalho de proteção para Dona Sinésia, em múltiplas circunstâncias pequeninas suscetíveis de
gerar grandes males; apoio à empregada de Dona Sinésia, para que não falhassem minudências na
harmonia do lar; remoção de obstáculos a fim de que contratempos não viessem perturbar a calma de Dona Sinésia; socorro incessante às crianças de Dona Sinésia, ao retornarem da escola; cooperação indireta para que Dona Sinésia escolhesse os pratos capazes de lhe assegurarem a necessária euforia orgânica; inspirações adequadas de modo a que Dona Sinésia encontrasse boas
leituras; amparo constante ao senhor Camerino, tanto quanto possível, a fim de que Dona Sinésia
não se afligisse...
Enfim, Dona Sinésia, sem a obrigação de ser agradecida, já que não identificava os benefícios
contínuos que recebia, teve um dia admirável, enquanto Aurelino e eu estávamos realmente estafados, não obstante a nossa condição de Espíritos sem corpo físico.
À noite, porém, justamente quando Aurelino se sentou ao meu lado para dois dedos de prosa,
Dona Sinésia, desatenta, feriu o polegar da mão esquerda com a agulha que manejava para enfeitar um vestido.
Bastou isso e a senhora desmandou-se aos gritos:
- Oh! Meu Deus! Meu Deus!... Ninguém me ajuda! Vivo sozinha, desamparada!... Não há mulher mais infeliz do que eu!...
Positivamente assombrado, espiei Aurelino, que se mantinha imperturbável, e observei: À noite, porém, justamente quando Aurelino se sentou ao meu lado para dois dedos de prosa, Dona Sinésia, desatenta, feriu o polegar da mão esquerda com a agulha que manejava para enfeitar um
vestido.
Bastou isso e a senhora desmandou-se aos gritos: “Oh! Meu Deus! Meu Deus!... Ninguém me
ajuda! Vivo sozinha, desamparada!... Não há mulher mais infeliz do que eu!...”
Positivamente assombrado, espiei Aurelino, que se mantinha imperturbável, e observei: “Que
reação é esta, meu amigo? Dona Sinésia recolheu socorro e bênçãos durante o dia inteiro!... Como
justificar este ataque de cólera por picadela sem importância nenhuma?!...”
Aurelino, entretanto, sorriu e falou paciente: “Acalme-se, meu caro. Auxiliemos nossa irmã a
reequilibrar-se. Esta irritação não há de ser nada. Ela também, mais tarde, vai desencarnar como
nós, e será guia...”
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Felicidade
(Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Franco – do livro “Estudos
Espíritas”, cap. 17)
Escolas Antigas - Desde a mais recuada antiguidade o homem sentiu necessidade imperiosa
quão inadiável de vencer a dor e as vicissitudes, libertando-se da angústia e superando o medo da
morte. Sustentado nos primeiros tentames pela inspiração espiritual buscou na intimidade dos
santuários a elucidação de vários dos enigmas que o afligiam, para diminuir a crueza das perspectivas de sombra e morte a que se via constrangido considerar. No entanto, com o nascimento das
primeiras escolas de pensamento, que buscavam, através dos seus insignes mestres, a elucidação
dos tormentosos mistérios a respeito da vida, perlustrou roteiros diversos, ora em ansiedade, ora
em lassidão, padronizando por meio de regras fixas uma conceituação filosófica de tal modo eficaz
que o libertasse do medo, fazendo-o tranquilo.
Sem remontarmos à Antiguidade Oriental estabeleceu-se, a princípio, na Grécia, que a felicidade se nutre do belo, por meio do gozo que decorre da cultura do espírito.
Enquanto viveu, Epicuro procurou demonstrar que a sabedoria é verdadeiramente a chave da
felicidade, mediante a qual o homem desenvolve as inatas aptidões da beleza, fruindo a satisfação
de atender as mais fortes exigências do ser.
Pugnavam os epicuristas pela elevação de propósitos, demonstrando que as sensações devem
ceder lugar às emoções de ordem superior, a fim de que o homem se vitaliza com as legítimas expressões do belo, consequentes aos exercícios da virtude por meio da qual há uma superior transferência dos desejos carnais para as alegrias espirituais.
Posteriormente o ideal epicurista, também chamado hedonista, sofreu violenta transformação,
passando essa Escola a representar um conceito deprimente, por expressar gozo, posse, prazer
sensual. Fixaram os descendentes do filósofo de Samos - que elaborara o seu pensamento nas lições de Demócrito oferecendo-lhe vitalidade moral - , o epicurismo nas lutas pela propriedade,
ensinando que o homem somente experimenta felicidade quando pode gozar, seja através do sexo desgovernado ou mediante o estômago saciado. Fomentaram a máxima: possuir para gozar, ter
para sobreviver, esquecidos de que a posse possui o seu possuidor, não poucas vezes, atormentando-o, por fazê-lo escravo do que tem.
Antes do pensamento epicurista, Diógenes, cognominado o Cínico, graças à sua forma de encarar e viver a vida, estabelecia que o homem deve desdenhar todas as leis, exceto as da Natureza,
vivendo de acordo com a própria consciência e com total desprezo pelas convenções humanas e
sociais. Era um retorno às manifestações naturais da vida, em harmonia com o direito de liberdade
em toda a sua plenitude. Pela forma como conceituava a Filosofia, incorporando-a à prática diária,
foi tido por excêntrico.
Desdenhando os bens transitórios passou a habitar um tonel. E como visse oportunamente um
jovem a sorver água cristalina que tomava de uma fonte com as mãos em concha, despedaçou a
escudela de que se servia por considerá-la inútil e supérflua, passando a fazer como acabava de
descobrir... Desconsiderou, em Corinto, o convite que lhe fora feito por Alexandre Magno, desprezando a honra de governar o mundo ao seu lado e admoestando-o por tomar-lhe o que chamava
"o meu sol".
Fundamentada no amor à Natureza e suas leis, a doutrina cínica considerava a desnecessidade
do supérfluo e a perfeita integração do homem na vida, pois que nada possuindo não podia temer
a perda de coisa alguma, desenvolvendo o sentido ético do "respeito à vida". Os continuadores
exaltados, porém, transformaram-na em uma reação contra as regras da vida, semeando o desdém ou proclamando uma liberdade excessiva, a degenerar-se em libertinagem.
Toda vez que o direito precede ao dever esse desequilibra-se pela ausência de bases que lhe
sustentem os interesses, pois que, somente pode usufruir quem haja retamente exercido o compromisso que a vida lhe impõe.
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A liberdade é o direito inato, mas desde quando perturba o direito alheio faz-se prejuízo da
comunidade em que se exterioriza.
Enquanto o homem não adquire o legítimo amadurecimento espiritual que o faz espírito adulto, não pode viver em regime de liberdade total, por faltar-lhe responsabilidade.
Contemporaneamente, floresceu o pensamento estoico, cujos fundamentos estão acima da
condição da posse ou da ausência dela, mas da realidade do ser, do tornar-se. Zenão de Cício, seu
preconizador, expunha, vigoroso, quanto à necessidade de se banirem da vida as expressões da
afetividade e da emotividade, que, segundo lhe parecia, causavam apego e produziam dor. Desejando libertar o homem de qualquer retentiva na retaguarda, predispunha-o para enfrentar as vicissitudes e os sofrimentos com serenidade, libertando-o de toda constrição capaz de o infelicitar.
Ensinava que o essencial na vida é a própria vitalidade interna, o encontro com o eu, tangenciando-o para a suprema forma das atitudes de natureza subjetiva. "O homem são os seus valores íntimos", lecionava, desejoso de fazer que o conceito fecundasse na alma humana. No entanto, pelo
impositivo de reação aos elementos constitutivos o afeto e da emoção, não conseguiu oferecer a
segurança básica para a felicidade, por tornar o homem inautêntico, transformado em máquina
insensível ao amor, à beleza, ao sofrimento...
À mesma época, viveu Sócrates, considerado o pai da ciência moral, que a exemplificou em si
mesmo, em caráter apostolar. Criticando e satirizando os falsos conceitos estabeleceu as regras da
virtude, aplicando-as na própria vida. A sua dialética a expressar-se, não raro de forma irônica,
combatia os males que os homens fomentam para gozarem de benefícios imediatos, objetivando
com essa atitude de reta conduta o bem geral, a felicidade comunitária.
Diante dos juízes que o examinavam sob pretexto falso, manteve serenidade superior, sendo
um precursor do pensamento cristão, relevantes como eram suas preciosas lições.
E diante da morte que lhe foi imposta, através da cicuta que sorveu, conservou absoluta serenidade, conforme se constata pouco antes dela pelo célebre diálogo mantido com Críton, seu jovem e nobre discípulo, que o visitara no cárcere. "O homem não são as suas roupas, o seu invólucro, mas o seu espírito"- afirmou, integérrimo, preferindo o cárcere e a morte à desonra, ele que
devia ensinar conduta reta e consciência tranquila. O seu legado ético é de relevante valor moral e
espiritual, rescendendo o sutil aroma da sua filosofia de vida no idealismo que Platão apresenta
nos memoráveis Diálogos, que refletem sempre a grandeza do mestre, verdadeiro pioneiro das
ideias cristãs e espíritas.
Conceituação Moderna - Abandonando o empirismo através dos tempos, o pensamento atingiu o período tecnológico, estabelecendo a chamada "sociedade de consumo" e fomentando entre
as nações a divisão dos países segundo o desenvolvimento, subdesenvolvimento e o terceiro
mundo. Resultado de diversas guerras calamitosas e destruidoras o espírito hodierno experimentou vicissitudes jamais imaginadas, derrapando pelos resvaladouros do pessimismo e do imediatismo, em busca de soluções apresentadas para os velhos e magnos problemas da vida, sem encontrar a fórmula correta para atingir a felicidade.
As lutas de classes e o despotismo do poder, incrementados pelas paixões da posse, estabeleceram as regras da usurpação, gerando a miséria social em escala sem precedentes, graças ao
desmedido conforto de alguns poucos com absoluta indiferença ante o abandono das coletividades espoliadas. O homem moderno, no entanto, parece ter-se perdido a si mesmo, conquanto as
luzes clarificantes do pensamento cristão insistindo teimosamente para romperem a treva do
dogmatismo e da insatisfação filosófica. O século XIX, herdando as valiosas lições de liberdade e
justiça dos pensadores e paladinos do último quartel da centúria anterior, encarregou-se de zombar da fé, e o ceticismo apoderou-se das consciências que foram arrojadas na direção do futuro
sem paz e em desesperança, na busca dos roteiros libertadores.
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Depois da Segunda Guerra Mundial o existencialismo reconduziu o homem à caverna, fazendoo mergulhar nos subterrâneos das grandes metrópoles e ali entregando-se à fuga da consciência e
da razão pelo prazer, numa atitude de desconsideração pela vida, alucinado pelo gozo imediato.
Da aberração pura e simples a desequilíbrio cada vez mais grave, renovando-se os painéis de
paixões exacerbadas, a juventude desgovernou-se e a filosofia da "flor e do amor" assumiu proporções alarmantes, na atualidade, conclamando os homens éticos e pugnadores da ciência da
alma a atitudes de urgente e severa observação, para procederem à elaboração de novos conceitos filosóficos capazes de estancarem a onda de sexo, erotismo e degradação que de tudo e todos
se apodera. Todo o velho sistema de Diógenes, condimentado pelo superluxo e supremo desinteresse pela vida, eclodiu nas últimas manifestações filosóficas, transformando os alucinógenos e
barbitúricos em apetecidos manjares para as fugas espetaculares à realidade e mergulho do nada,
do qual despertam mais apáticos, amargos e inditosos.
Sem qualquer fundamento ético, abandonando a afirmação otimista da vida, o homem moderno atravessa e vive poderosa crise filosófica que o aparvalha ante os prognósticos deprimentes
sobre o futuro.
Os fantasmas da guerra e os fluidos dos preconceitos de várias ordens, mantidos multissecularmente a exsudarem miasmas venenosos, surpreendem a atual sociedade, gerando anarquia e
violência sob os estímulos de paixões desregradas, levadas à máxima exteriorização. O homem recorda a vida tribal e procura fugir das regras estabelecidas, por desvitalizadas, buscando criar comunidades para o prazer com comunhão com a Natureza.
Atormentado, porém, pelo desequilíbrio interior, infesta o ideal de liberdade com a virulência
dos instintos em descontrole, obliterando as fontes do discernimento, com que engendra argutos
programas de alucinação e morte, sem lobrigar o cobiçado aniquilamento, o róseo fim de sonho e
esquecimento...
Felicidade e Jesus - Estabelecendo, conforme o Eclesiastes, que a verdadeira "felicidade não é
deste mundo", Jesus preconizou que o homem deve viver no mundo sem pertencer a ele, facultando-lhe o autodescobrimento para superar o instinto e sublimá-lo com as conquistas da razão, a
fim de planar nas asas da angelitude. Não é feliz o homem em possuir ou deixar de possuir, mas
pela forma como possui ou como encara a falta de posse. O homem é mordomo, usufrutuário dos
talentos de que se encontra temporariamente investido na condição de donatário, mas dos quais
prestará contas. O ter ou deixar de ter é consequência natural de como usou ontem a posse e de
como usará hoje os patrimônios da vida, que sempre pertencem à própria vida, representando
Nosso Pai Excelso e Criador.
Situando no "amar ao próximo como a si mesmo" a pedra fundamental da felicidade, o Cristo
condiciona a existência humana ao supremo esforço do labor do bem em todas as direções e latitudes da vida, dirigido a tudo e todos, e elucida que cada um possui o que doa. A felicidade é o
bem que alguém proporciona ao seu próximo. O eu se anula, então, para que nasça a comunidade
equilibrada, harmônica e feliz. A alegria de fazer feliz é a felicidade em forma de alegria.
Construída nas bases da renúncia e da abnegação a felicidade não é imediata, fugaz, arrebatadora e transitória. Caracteriza-se pela produtividade através do tempo e é mediata, vazada na elaboração das fontes vitais da paz de todos, a começar de hoje e não terminar nunca. Por isso não é
"deste mundo".
Vivendo as dores e necessidades do povo, Jesus padronizou a busca da felicidade no amor por
ser a única fonte inexaurível, capaz de sustentar toda aflição e vencê-la, paulatinamente. E amando, imolou-se num ideal de suprema felicidade.
Espiritismo e Felicidade - Concisa e vigorosamente fundamentada no Cristianismo, a Doutrina
Espírita apresenta a felicidade e a desgraça como sendo a consequência das atitudes que o homem assume na rota evolutiva pelo cadinho das incessantes reencarnações.
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O espírito é a soma das suas vidas pregressas.
Quanto haja produzido reaparece-lhe como título de paz ou promissória de resgate, propondo,
o homem mesmo, as diretrizes e as aquisições do caminho a palmilhar. Quanto hoje falta, amanhã
será completado. O excesso, hoje em desperdício, é ausência na escassez do futuro. Todo o bem
que se pode produzir é felicidade que se armazena.
A filosofia da felicidade à luz do Espiritismo se compõe da correta atitude atual do homem em
relação à vida, a si mesmo e ao próximo, estatuindo vigorosos lances que ele mesmo percorrerá
no futuro. As dores, as ansiedades e as limitações são exercício de morigeração a seu próprio benefício, transferindo ou aproximando o momento da libertação dos males que o afligem.
A consciência da responsabilidade oferece ao homem a filosofia ideal do dever e do amor.
Respeito à vida com perfeita integração no espírito da vida - eis a rota a palmilhar.
Serviço como norma de elevação e renúncia em expressão de paz interior.
Servindo, o homem adquire superioridade, e, doando-se, conquista liberdade e paz.
Nem posse excessiva nem necessidade escravizante.
Nem poder escravocata nem a indiferença malsinante.
O amor e a caridade como elevadas expressões do sentimento e da inteligência, conduzindo as
aspirações do espírito, que tem existência eterna, indestrutível, sobrevivendo à morte e continuando a viver, retornando à carne e prosseguindo em escala ascensional, na busca ininterrupta da
integração no concerto sublime do Cosmo, livre de toda dor e toda angústia da sombra e da roda
das reencarnações inferiores, feliz, enfim!
Amor e Felicidade
(Joanna de Ângelis, in “Garimpo de Amor” – Cap 29)
O amor é
um privilégio que deve ser conseguido com esforço e dedicação.
Para onde se dirija o olhar percuciente e a atenção se fixe, perceberão a presença do amor,
mesmo que sem denominação convencional.
O amor esplende em a Natureza, convidando à reflexão e ao trabalho como recursos preciosos de elevação e felicidade.
Os percalços existenciais, os desafios e sofrimentos são consequências do não-amor, que
geraram, no passado da criatura em processo de evolução, esses efeitos perturbadores, por meio
dos quais se pode recuperar, volvendo ao equilíbrio e dando prosseguimento aos compromissos
dignificadores.
Quem ama estua de felicidade. Porque se encontra pleno de ternura e de compaixão, de
fraternidade e de perdão.
Não espera fruir de imediato quaisquer resultados, apenas se coloca em posição de oferecer e de ajudar os outros no seu desempenho moral.
Enquanto se espera receber, trabalhando o programa evolutivo na base do auxílio que deve proceder de outrem, permanece-se em infância psicológica, em dependência lamentável.
Um coração rico de alegria de viver e uma estação mental que irradia beleza e paz, são as
mais elevadas expressões do amor embutido no ser que se autoconquistou e expande-se na direção das demais criaturas.
O amor é um privilégio que deve ser conseguido com esforço e dedicação, porquanto a sua
é uma resposta de incomparável bem-estar e de satisfação íntima incomum.
Somente pode entender-lhe todo o poder e sentir-lhe toda a grandeza aquele que se permitiu impregnar pela sua essência.
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As pessoas lutam pela aquisição de coisas, pelas projeções sociais, pelo poder temporal,
pela beleza física, pelas situações invejáveis, pensando que encontrarão a felicidade nesse ufanismo hedonista, para logo despertarem vazias de sentimentos, tediosas e amarguradas, solitárias e
sofridas.
Os valores realmente positivos são aqueles que não pesam nem ocupam espaços materiais,
mas que se restringem às dimensões emocionais livres de posse e de paixão.
São eles que trabalham em favor da felicidade real do indivíduo, porque nunca se perdem,
jamais são roubados ou sofrem envelhecimento. Sempre atuais, são grandiosos, porque iluminam
a vida
Indague-se às pessoas que usam os favores existenciais, os que desfrutam dos bens terrenos, da alucinação do sexo, que têm atendidos os desejos de todo tipo, se estão felizes, e responderão que se encontram cansadas, entediadas, ansiosas por novas formas de prazeres.
O jogo dos interesses imediatistas que trabalham em favor do egoísmo e da vaidade, somente oferece desencanto, porque conduz a novas formulações de ansiedade e de desespero.
Quem nada tem atormenta-se pela falta, encarcerando-se na ambição da posse.
Quem muito tem inquieta-se pela abundância, aprisionando-se no medo da perda dos haveres. Outrossim, aflige-se para atingir o topo entre aqueles que lhe compartem as posições da
fortuna, destacados nas revistas especializadas e Invejados pela sociedade sofredora.
São os felizes na aparência e infelizes na realidade.
Se alguns tivessem coragem trocariam a situação de quase-miséria pela conquista da paz,
amando. No entanto, preferem a amargura da situação desditosa, ambicionando o que talvez
nunca venham a possuir.
Os outros, aqueles que possuem muito, se tivessem valor moral e força espiritual, permutariam, conforme às vezes pensam, a abundância vazia pela lealdade do amor de alguém, da confiança irrestrita em outrem, do apoio emocional em algum coração desinteressado dos seus tesouros.
Só o amor consegue milagres desta natureza: enriquecer o pobre de dinheiro com alegria
de viver e empobrecer o rico de moedas, tornando-o feliz com a paz de ser livre da prisão tormentosa.
Certamente essa é uma tarefa muito difícil de ser realizada, especialmente tendo-se em
vista a cultura do poder terreno, da apresentação bem-cuidada de fora, das possibilidades de
mando e de destaque que tanto deslumbram e desequilibram. Mas não é impossível, porque não
são poucos também aqueles que renunciaram a tudo ter, a fim de cada qual tornar-se uma pessoa
integral.
Quando Francisco de Assis saiu a pregar a humildade, a renúncia, o amor, foram muitos os
nobres, os ricos, os poderosos que abandonaram tudo e se lhe renderam emocionados, seguindolhe as pegadas por dedicação a Jesus e ao Seu Evangelho.
Clara, fascinada pelo verbo cândido do Pobrezinho de Assis, deixou o mundo de mentiras
onde vivia e partiu na sua direção, pouco antes do matrimônio com um rico negociante, para vincular-se à Dama pobreza.
Outros há, como Léon Tolstoi, que abdicou da fortuna para dar oportunidade aos seus irmãos camponeses que estorcegavam na miséria.
Luísa de Marillac, igualmente comovida com os exemplos de São Vicente de Paulo, libertou-se da abundância, para poder melhor servir a miséria, tocada profundamente pela palavra do
apóstolo que apresentava Jesus nos seus atos.
Ainda hoje há muitos indivíduos que compreenderam ser a felicidade algo conquistável por
meio do amor empenham-se pelo entregar-se-lhe totalmente.
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Conveniente não confundir prazer e felicidade, gozo e plenitude.
Há prazeres saudáveis e singelos que abrem espaços para os gozos espirituais, pórtico de
entrada da futura plenitude que se experimentará,
Os pequenos prazeres que não afadigam, que não perturbam, que somente propiciam
bem-estar a quem os busca, como também aos outros, são os sinais da posterior felicidade que
tomará conta do ser em caráter de totalidade.
Tudo, porém, sob a égide do amor.
Impulsos e Vontade
(Joanna de Angelis, in “Rumos Libertadores” – Cap. 23)
Estudo: ESE, Cap IX –
Item 10
O homem é o que programa e acalenta mentalmente.
Das inexauríveis fontes do pensamento que filtra as aspirações do Espírito encarnado,
transformando-as em ideias, promanam as sombras e as luzes que promovem a angústia e a dor a
que todos se entregam.
A cada um compete o indeclinável dever de renovar para melhor a própria vida, envidando
esforços exaustivos na consecução do empreendimento em prol da felicidade.
Nesse sentido, porém, é ingente examinar o que constitui ou não felicidade, quais as suas
metas, suas concessões e desaires...
O homem que vem, com o auxílio da tecnologia, modificando a face do planeta que lhe é
berço e em que habita, não tem sabido valorizar os mesmos recursos em favor das profundas
transformações das paisagens intimas, que se encontram sombreadas de angustias, quando não
assoladas pela desesperação.
Isto, por conceituar a felicidade como sendo o prazer dos sentidos, que usufrui não raro
até a exaustão, através do abuso em que demora no desgoverno das sensações. Os que voam em
busca das emoções superiores constituem exceção à generalidade e passam quase sempre na comunidade como sendo personalidades estranhas, singulares ou visionárias...
Acoimado pela desordenada sofreguidão do utilitarismo, embriaga-se desde cedo nos vapores entorpecentes dos gozos físicos e, não obstante os apelos para a beleza, o crescimento vertical, detém-se, enlouquecido, na horizontal do imediatismo.
Pergunta-se por que o avanço moral não corresponde ao crescimento intelecto-tecnológico
e inquire-se qual a razão dos numerosos desequilíbrios que imperam na atualidade.
As causas matrizes se encontram no Espírito ainda vinculado às expressões grotescas das
formas primárias, pelas quais vem transitando na larga romagem para a luz.
Incontável número de seres procede das regiões dolorosas e purgativas do planeta, que
experimenta mudanças de psicosfera, dentro da programática evolutiva a que estão sujeitos mundos e homens, experimentando a assepsia dos núcleos inditosos que agasalhavam as hordas de
bárbaros do passado, temporariamente ali retidos, a fim de que não obstaculizassem o desenvolvimento no lar...
Recebendo a ensancha liberativa, apresentam-se ao crescimento espiritual, trazendo insculpidas nos recessos do psiquismo as condições que os tipificam, apesar da aparência harmoniosa
e da estética decorrente das leis genéticas. Sôfregos e inquietos, anseiam por repetir as comunidades chãs, entre as necessidades primárias de que se desobrigam por instinto, utilizando as aquisições da cultura científica e filosófica tão somente para a auto-satisfação.
Como é mais fácil a conquista tecnicista, que não impõe os supremos sacrifícios da renúncia e do incessante burilamento, realizam no campo externo o que lhes imporia inauditos esforços
no reduto interior...
São horas, porém, de transição esperada.
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Embora o ensurdecer estonteante da voragem que os combure nas manifestações meramente sensoriais, os que assim vivem, caem, por exaustão, em melancolia, frustrados e insaciáveis, dando início às experiências elevadas sob o acoimar dos sofrimentos que irrompem graves,
de longo porte.
Raramente, porém, o empreendimento novo da fé e dos valores morais logra êxito num
tentame ou se consubstancia numa única etapa reencarnatória. Quando lucila a necessidade de
fundo espiritual, transcendente, gastas já se encontram as forças, desorganizados os centros de
comando da vontade, dificultando, por ausência de disciplina, a consecução dos dispositivos superiores. Os lampejos das necessidades positivas se fixam, gerando matrizes no psicossoma que assinalará as futuras reencarnações com disposições novas, em tentativas que os induzirão ao avanço.
Ninguém que esteja fadado à dor.
Sofrimento é opção de quem se rebela contra o dever, preferindo estagiar nos patamares
sombrios da ascenção.
Um pouco de reflexão basta para que se percebam as altas finalidades da vida, a manifestar-se em tudo.
As leis do equilíbrio universal, as disposições do progresso irrecusável, o finalismo impelente para a perfeição constituem motivações, apelos veementes que ninguém pode ignorar.
A razão ínsita no homem, atributo que foi conquistado no suceder dos milênios multifários,
deve ser aplicada na conquista dos valores eternos, antes que malbaratada nos torpes anelos da
acomodação, parasitismo que expressa atrofia da própria capacidade de crescer.
A interação da vida, que se alonga sem mecanismos de parada, dentro e fora da organização somática, conduz, irrefragavelmente, hoje ou depois, ao colimar das metas superiores a que
todos nos destinamos.
Cultivar aspirações superiores e anelá-las com veemência, libertando-se dos condicionamentos transatos e do atavismo dos instintos primeiros, com largas experiências pela trilha da razão, é dever imediato a benefício da felicidade.
Refrear os impulsos grotescos, bloquear tendências tormentosas e sandices mediante os
exercícios das disciplinas morais relevantes, constitui metodologia para a aplicação imediata de
resultado salutar.
Asseverava Jo, com atualidade contundente, conforme se lê no capítulo 22 e versículo 28:
“Determinando tu algum negócio, ser-te-á firme, e a luz brilhará em teu caminho.”
O que o homem anelar, a penates logrará, porquanto o que se inicia nas telas do pensamento, exterioriza-se pelas engrenagens da vontade, consubstanciando-se através da ação.
Quando o homem comanda os impulsos, dando direção correta às aspirações, a vida lhe
responde em poemas de paz e êxito às tentativas de crescimento.
Vivência da Felicidade
(Joanna de Angelis, in “Atitudes Renovadas” – Cap 19)
Normalmente a felicidade é considerada como falta de sofrimento, ausência de problemas
e de preocupações. O conceito, no entanto, é cediço, destituído de legitimidade, porque se pode
experienciar bem-estar, felicidade, portanto, em situações de dor, assim como diante de problemas e de desafios.
A felicidade é um estado emocional, no qual as questões externas, mesmo quando negativas, não conseguem modificar o sentimento de harmonia.
Da mesma forma, acontecimentos e circunstâncias perturbadores são incapazes de alterarlhe a magnitude, porque podem ser administrados e conduzidos a resultados edificantes.
Sempre se considera a infelicidade como a má sorte, a debilidade orgânica, a presença de
enfermidades, os problemas financeiros e emocionais, a solidão e a insegurança, deixando transparecer que a felicidade seria o oposto.
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Nada obstante, podemos considerar a felicidade como resultado de pensamentos corretos,
de atos honestos e de sentimentos enobrecidos.
Caso as ocorrências não sejam benéficas, propiciando prazer e poder, isso, de maneira alguma pode ser considerado como desgraça ou desar, dependendo, naturalmente, da maneira como sejam encaradas.
Invariavelmente, a situação deplorável de hoje, se bem administrada, transforma-se em
dádiva de engrandecimento interior e de compreensão dos acontecimentos existenciais, mais tarde, favorecendo a conquista da felicidade.
O asceta, o mártir, o idealista, quanto mais enfrentam dificuldades melhor sentem-se,
agradecendo à vida as aflições que os elevam, que os ajudam a concretizar os objetivos que abraçam e os santificam. No entanto, para o indivíduo comum, as sensações bem-atendidas, o conforto, a conquista de valores amoedados, o experimentar de prazeres contínuos são fenômenos que
se convertem em expressões de felicidade...
Certamente, uma situação, a primeira postura, tem que ver com as emoções superiores da
alma, enquanto que a outra diz respeito às sensações dos sentidos físicos de efêmera duração.
A felicidade, portanto, desse modo, não está adstrita a determinados padrões, de maneira
que seja a mesma para todos os indivíduos.
Estando as pessoas em estágio com diferentes níveis de consciência e de conhecimento, as
suas aspirações diversificam-se, apresentando-se em tonalidades muito especiais, representativas
de cada qual. Desse modo, o conceito de felicidade na vivência normal e comum é muito diferente, em relação aos seres humanos, apresentando-se com características próprias, referentes ao estágio e qualidade da emoção de cada um.
O véu que oculta o discernimento da felicidade real é colocado pelo ego, na sua feição
imediatista, vinculado aos interesses pessoais e movimentando-se somente em torno deles, o que
não corresponde à realidade dos valores que tipificam o estado de harmonia real, de plenitude. É
provável que a felicidade para muitos não seja mais do que algumas alegrias derivadas das ambições que se fizeram palpáveis, após algum esforço para consegui-las. Para outros, podem ser as
satisfações hedonistas, em que o gozo foi transformado em finalidade primordial da existência,
embora fugidio e cansativo.
A felicidade, porém, não se afirma como o trânsito fácil pelos altibaixos da experiência carnal, tornando-se necessário que sejam eliminados os tóxicos mentais e a ignorância em torno das
leis de solidariedade e de compaixão, que devem ser vivenciadas no íntimo, de forma a melhor
compreender-se o sentido psicológico do existir.
O discernimento a respeito dos significados da existência terrestre proporciona uma visão
ampla e sem falhas da felicidade em toda a sua magnitude, por facultar a compreensão das ocorrências durante a vilegiatura humana.
É provável que uma calúnia e uma inimizade que aparecem inesperadamente tisnem o estado de paz de alguém, atirando-o ao desespero, ao desejo de desforço, à demonstração de inocência...Esse momentâneo adversário que gera revolta e estimula os sentimentos de vingança,
inspira animosidade, passando a ser detestado. No entanto, em seu comportamento normal, é
gentil com outras pessoas, granjeando simpatia e afeição, confirmando que a óptica pela qual é
observado tem desvios de apresentação conforme cada observador.
Entender a situação de outrem, suas dificuldades emocionais e seus problemas de relacionamento, especialmente em relação a si mesmo, constitui um modelo de autopreservação de decepções e de conflitos na área do comportamento social.
Não se pode esperar que todas as criaturas reajam da mesma forma nos relacionamentos
humanos, elegendo uns amigos em detrimento de outros, o que produz aceitação e rejeição.
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Quando se tem a capacidade de desculpar, não se perturbando ante os acontecimentos
desagradáveis do processo de convivência com os demais, triha-se com segurança o roteiro que
leva à harmonia, que predispõe à felicidade.
Uma das razões dominantes para a presença da infelicidade é a ambição desmedida, que
confunde o ter com o ser, o poder com o realizar-se.
A educação social na Terra, infelizmente, ainda tem a predominância pela exaltação do
mais forte, pelo triunfo do mais rico ou mais belo, pela coragem do mais hábil na arte de projetar
a imagem, estabelecendo a felicidade como a glória externa, o brilho fácil nas rodas socioeconômicas dominantes...
Como efeito, quando não se conseguem esses padrões de falsa felicidade, pensa-se em
desdita, em fracasso.
Não é raro encontrar-se pessoas ricas e que alcançaram o topo, invejadas e copiadas, cercadas de fãs ardorosos e perseguidas pelo noticiário da frivolidade, que lamentam interiormente a
fama e o alto escalão em que se deparam nos círculos em que se movimentam.
Esse triunfo constitui-lhes verdadeiro suplício, enquanto um incontável número que se encontra no anonimato ama a existência e com ela se compraz, muitas vezes enfrentando carências
e dificuldades.
A verdadeira educação deve ter como meta formar cidadãos, criar condições dignificadoras
para o indivíduo, fortalecimento dos valores ético-morais, porque os padrões exteriores mudam
de situação a cada momento, enquanto os de natureza íntima permanecem como diretrizes de
sabedoria geradora de paz interior.
Em geral, o sofrimento apresenta-se em todos os setores humanos como desdita ou infortúnio.
Considerando-se, porém, que é inevitável, que sempre surgirá momento em que se apresentará, em razão da circunstância em que o Espírito evolui, ainda apegado aos débitos de ontem
como às intercorrências desequilibradoras de hoje, o recurso precioso para o enfrentamento é a
constatação da sua transitoriedade, em face da maneira como deve ser encarado, dando-lhe qualidades positivas de aperfeiçoamento moral. De metodologia que leva à autorreflexão, ao aprimoramento interior.
A felicidade, desse modo, não é a falta de sofrimento...
Pode-se ser feliz, embora com algum sofrimento, que não descaracteriza o bem-estar e a
alegria de viver propiciadores do estado pleno.
A felicidade real tem muito a ver com a felicidade que produz em torno, com aquela que
diz respeito aos outros.
A chave para ser viabilizada está no amor a si mesmo e ao próximo, nessa deferência que
deve ser dedicada ao esforço de autoaprimoramento, de elevação de qualidades morais, de significados emocionados, tendo em vista as demais criaturas. Quem apenas se ama, sem tempo de
ampliar o círculo da afetividade com os outros, sofre de miopia moral e, no seu egotismo, perde o
sentido existencial.
Somente quando se ama aos demais caminhantes da estrada da evolução, é que se desenvolvem os sentimentos de nobreza, especialmente os de compaixão, de misericórdia, de solidariedade e caridade no seu sentido mais elevado.
Nesse amor que se expande, absorvem-se a harmonia e a certeza de que após a transição
do corpo pelo fenômeno da morte biológica, haverá o despertamento do Espírito em forma de
consciência livre de culpa, em estado de real felicidade.
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Viver com Simplicidade
(Joanna de Angelis, in “Atitudes Renovadas” – Cap 23)
Uma existência trabalhada na simplicidade culmina em plenitude de sentimentos e objetivos espirituais. Criado simples e ignorante, o Espírito desenvolve as potencialidades divinas nele
adormecidas, etapa a etapa, alcançando os nobres patamares da auto realização, modificando a
estrutura que se transforma em energia sublime sem as marcas perturbadoras defluentes do processo evolutivo.
Conseguir-se manter a simplicidade de coração, o que equivale significar, dos sentimentos,
é conquista valiosa que impulsiona à liberdade e à paz.
O apego às complexidades da vida material encarcera o ser nas masmorras das coisas inútes a que se atribui significados que realmente não possuem.
A simplicidade é característica expressiva daquele que encontrou o valioso tesouro da alegria de viver sem impedimentos de qualquer natureza. Isto porque conseguiu vivenciar a renúncia
sem os constrangimentos impostos por decisões alheias ou assinaladas por conflitos desesperadores.
O ser humano não necessita dos petrechos múltiplos a que se imanta, vitimado por ambições desenfreadas e desejos descontrolados.
Insatisfeito com o que tem e com as formas como se expressa, afeiçoa-se à aparência frívola que proporciona status, embora ao preço do sofrimento decorrente da insatisfação pessoal,
das renovadas ambições, porque sempre descontente com o já conseguido...
Uma vida simples abre espaço para reflexões e amadurecimento psicológico que proporcionam paz.
Noutra condição, as falsas necessidades atrelam a mente ao desejo de estar em toda parte
ao mesmo tempo, de fruir tudo em largas porções, como se isso fora possível... E porque não o
consegue, aflige-se, aquele que assim se comporta, em demasia, e desencanta-se com o de que
dispõe, com as dádivas abençoadas da existência que já não satisfazem a ganância do ter e do poder...
Quando se adota a simplicidade o verbo torna-se gentil, edificante, porque não se encarrega de ferir ou de malsinar os outros mediante os graves descalabros da maledicência e da calúnia,
Evita interferir nos comportamentos com opiniões não solicitadas, mantendo-se sóbrio e fraternal
em todas as circuntâncias.
A sua aplicação é saudável, porque comedida e portadora de objetivos edificantes.
O excesso de palavras irrefletidas sempre acende o fogaréu dos sentimentos perversos,
que se transformam em chamas de cólera e de agressividade.
A simplicidade abre as portas das amizades legítimas por propiciar lealdade e alegria de
convivência fraternal.
Todos os indivíduos que descobriram os objetivos relevantes da existência humana, compreenderam que somente através da simplicidade conseguiriam atingir as metas a que se propuseram. Como consequência empenharam-se na tarefa de vencer as más inclinações, superando as
tendências agressivas e as exigências exorbitantes do ego enfermiço.
À medida que se aproximavam do ápice dos empreendimentos, mais compreendiam a
própria pequenez ante a grandiosidade do Cosmo e da Vida, tornando-se cooperadores do Bem
em todas as suas expressões.
A existência de muitas pessoas é fruída com excessos e dificuldades que se derivam das
coisas desnecessárias a que se atam.
Torna-se indispensável trabalhar os fatores da simplicidade, a fim de que a vida se torne
agradável e plena, sem angústias nem medos...
Quando se sugere renúncia na existência terrena, logo se pensa em sacrifícios e austeridades que atormentam.
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Crê-se, equivocadamente, que todos aqueles que optaram por uma vida simples tiveram
que realizar grandes esforços e submeteram-se a tormentos interiores múltiplos.
A proposta da renúncia, porém, se direciona ao abandono dos excessos de toda natureza, e
tudo quanto sendo secundário passa a ter um valor exorbitante, porque somente possui o significado que lhe é atribuído e a posse egotista que o retém no painel mental e emocional do seu possuidor.
Muitos indivíduos atormentam-se e queixam-se por ocorrências desagradáveis, as nonadas
do quotidiano, vitalizando as lembranças infelizes que são filhas diletas do ego ferido e dos caprichos do orgulho.
Os acontecimentos passados já não existem, senão na memória que os mantém vivos, devendo ser desconsiderados, porque inexistentes, envoltos, no entanto, em gratidão pelos ensinamentos que proporcionam e deverão ser aplicados para que se lhes evite a repetição danosa.
De igual maneira, não vale a pena a fixação pelo que irá acontecer no futuro, porquanto
também isso ainda não existe.
Assim considerando, o passado não pode ser recuperado, conservando-se-lhe os miasmas
e os efeitos inquietadores...
Igualmente, a ansiedade pelo futuro, a preocupação exacerbada não têm sentido lógico,
porque se trata de expectativas que raramente acontecem conforme os fenômenos de perturbação que dão lugar por antecipação.
Não se torna necessária uma existência asceta, decorrente do abandono do mundo, na
qual a carência se transforma em desrespeito pelos tesouros de amor com que o Pai abençoa os
filhos terrestres.
A adoção da miséria espontânea, em nome da renúncia, faz que o indivíduo se torne inútil
na sociedade, transformando-se-lhe num peso a ser carregado.
O uso dos recursos que se encontram ao alcance representa utilização saudável para auxiliar o progresso individual, assim como o do grupo social.
A simplicidade que se estrutura na renúncia natural de todo e qualquer excesso, por ser
desnecessário, liberta o Espírito das fixações e temores das perdas.
Inevitavelmente, quando ocorre a desencarnação, à semelhança do fenômeno do renascimento no corpo físico, quando se chega sem nada, em total nudez, também se dá o despojar-se de
tudo e do próprio corpo...
A criatura humana pode ser considerada conforme os seus apegos e renúncias.
Um homem santo, que vivia em total simplicidade, havendo ganhado diversas moedas de
ouro, desconsiderando-as, deixou-as no lugar onde se encontrava e seguiu adiante.
Posteriormente, quando malfeitores se informaram da valiosa doação que fora feita ao
modesto andarilho, agrediram-no e ameaçaram-lhe a vida, tendo-a poupado, porque lhes explicou
que as moedas se encontravam onde ele estivera fazia pouco...
Como não as necessitasse, evitou conduzi-las, desse modo, mantendo-se simples e livre.
Bem-aventurados, disse Jesus, os puros e os simples de coração.
A simplicidade é etapa evolutiva que se deve alcançar, treinando-se renúncia e abnegação.
A felicidade, na Terra, independe do que se tem, mas se constitui de tudo aquilo que se
cultiva interiormente em amor e simplicidade.
Atitudes
(Victor Hugo, psicografia de Divaldo Franco – do livro “Calvário de
libertação”)
Atitude, aliás, desculpista, em que se estribam os frívolos e irresponsáveis: a da mudança de
comportamento mediante a conquista deste ou daquele capricho. Aludem que lhes falta o estímu-
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lo adequado para uma conduta sadia, de responsabilidade, escusando-se por meio da acusação de
que o mundo lhes é hostil ou de que não são compreendidos.
Certamente que a hostilidade não é da sociedade para com eles, porquanto, deslocando-se do
modus operandi comportamental a que todos se impõem, são eles os que hostilizam o chamado
status quo, rebelando-se. Têm o direito de fazê-lo e fazem, não, porém, se devem propiciar a curiosa fuga psicológica no arrimo de que a marcha dos acontecimentos deveria mudar a rota, a fim
de os seguir...
Outrossim, a compreensão que insistem por merecer, resulta de um enfoque falso da realidade.
O homem, colocado no contexto social, se o descobre deficiente ou incompleto, tem o dever
de compreender a situação, empenhando-se por modificar-lhe as estruturas, a expensas de esforços e atitudes realmente válidos, com que motivará outros a segui-lo. O homem, colocado no contexto social, se o descobre deficiente ou incompleto, tem o dever de compreender a situação, empenhando-se por modificar-lhe as estruturas, a expensas de esforços e atitudes realmente válidos,
com que motivará outros a segui-lo. O homem, colocado no contexto social, se o descobre deficiente ou incompleto, tem o dever de compreender a situação, empenhando-se por modificar-lhe
as estruturas, a expensas de esforços e atitudes realmente válidos, com que motivará outros a segui-lo. O homem, colocado no contexto social, se o descobre deficiente ou incompleto, tem o dever de compreender a situação, empenhando-se por modificar-lhe as estruturas, a expensas de esforços e atitudes realmente válidos, com que motivará outros a segui-lo.
Eis porque os que vivem na comodidade e na fuga aos compromissos relevantes não merecem
maior respeito, antes piedade, e, quando não, a indiferença. O mesmo sucede em relação aos precipitados que se utilizam da violência e do crime, apoiando-se em falsos conceitos para a mudança
da vigente ordem social - a qual se faz presente em qualquer tempo, desde que o homem, por instinto, é um agressivo, pela razão, um experimentador de mecanismos novos, esquecido de que a
máquina da destruição enfurece os que lhe padecem o espezinhar e respondem através da repressão violenta, até que o ódio combura, na mesma fornalha, os contendores, ambos celerados
em desenfreada alucinação egoísta.
Metodologia eficaz para as mudanças que sempre se pretende, en passant, a própria transformação moral do indivíduo, influenciando o seu meio social, adquirindo valores éticos-culturaisprofissionais com que interfira positivamente no comportamento da comunidade, armando-se de
experiência para os graves cometimentos que a vida lhe concederá, quando chamado ao exercício
das posições que ora combate, não se deixando anestesiar quando lá se encontre, ou sucumbir
sob a títere dominação dos grupos chamados de "primeira linha"... Metodologia eficaz para as
mudanças que sempre se pretende, en passant, a própria transformação moral do indivíduo, influenciando o seu meio social, adquirindo valores éticos-culturais-profissionais com que interfira
positivamente no comportamento da comunidade, armando-se de experiência para os graves cometimentos que a vida lhe concederá, quando chamado ao exercício das posições que ora combate, não se deixando anestesiar quando lá se encontre, ou sucumbir sob a títere dominação dos
grupos chamados de "primeira linha"...
O problema da Humanidade, antes que. socioeconômico é sócio moral. O homem, deslocado
de um meio social corrupto ou primário, necessita de educação para adquirir hábitos que o capacitem a uma vida consentânea com o ambiente onde será colocado a viver. Mesmo quando o índice
monetário per capita é de alto nível, observam-se os calamitosos resultados morais, se lhe faltam
os valores espirituais imprescindíveis para um padrão médio de vida em clima de felicidade e de
paz.
Observe-se, por exemplo, ó alto índice de suicídios nos modernos países de elevado nível económico, gerador de frustrações e inutilidade nos seus membros.
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É óbvio que os fatores criminológicos das favelas insalubres, dos bairros da miséria, dos amontoados grupais, nos guetos da vergonha mais facilmente proliferam na revolta, na agressividade,
quando as condições de sobrevivência infra-humana reduzem os seres a coisas sem valor, desrespeitados na sua integridade de criaturas de Deus...
Os promotores da miséria e os seus fomentadores, os que mantêm o comércio da ilicitude, os
pugnadores dos explorados "direitos humanos" que se nutrem da humana carne das vítimas dos
seus establishments não se furtarão à amargura e ao açodar da consciência em acrimoniosas acusações, embora se escudem na aparência de poderosos e de gozadores.
O olhar das criancinhas misérrimas e esfaimadas, a viuvez decorrente da tuberculose e da escassez de pão, a farta multidão dos desempregados e a dor dos mutilados do corpo, da mente e da
alma compõem uma patética que lhes cantará aos ouvidos da alma torpe a litania lamentosa e
acusadora da traição que praticam contra Deus, o próximo, a humanidade e eles próprios... O
olhar das criancinhas misérrimas e esfaimadas, a viuvez decorrente da tuberculose e da escassez
de pão, a farta multidão dos desempregados e a dor dos mutilados do corpo, da mente e da alma
compõem uma patética que lhes cantará aos ouvidos da alma torpe a litania lamentosa e acusadora da traição que praticam contra Deus, o próximo, a humanidade e eles próprios...
Por isso, a importância do homem-espiritual, do homem-ético forjado no Cristo, cuja mensagem, sempre atual e revolucionária, prossegue um desafio gritante aos ouvidos moucos dos utilitaristas e hedonistas gananciosos, esperando por ser atendida.
Claro está que, a breve digressão, objetiva desjustificar as escusas e promessas em que se estribam os fátuos como os levianos, a fim de manterem a conduta irregular.
Vivendo com Jesus
(Amélia Rodrigues, psicografia de Divaldo Franco – do livro “Vivendo com
Jesus”)
A Sua voz despertara-lhes a dignidade ultrajada, que fora esmagada pelos poderosos do mundo de tal forma que desaparecera completamente, anulando-lhes o sentido existencial, a sua realidade humana. Haviam-nO ouvido na montanha fronteiriça ao mar da Galileia, e o Seu verbo penetrara-lhes os refolhos do ser, como jamais alguma coisa houvesse logrado um resultado semelhante. A Sua mensagem impregnara-os de doçura, e o Seu porte altivo e nobre deslumbrara-os,
porquanto permitia que todos com Ele se identificassem, pois, o que Ele falava ultrapassava tudo
quanto antes pensavam, e nunca mais seriam os mesmos.
Nas tardes formosas em Cafarnaum, quando a Natureza suspirava o hálito gentil do crepúsculo, na barca de Simão ou na praça do mercado, Ele aparecia e enunciava ditos que nunca foram
pronunciados anteriormente. A Sua voz era calma e doce, porém penetrante como um bálsamo
delicado, não permitindo que pessoa alguma permanecesse indiferente. As lições, sempre profundas, iam ao encontro direto da Realidade Imortal, sendo que as recomendações psicoterapêuticas
de Jesus tinham procedência, porque todas as aflições procedem do ser interior, dos seus atos,
devendo-se recompor as paisagens morais a fim de que os males não voltem a povoar o mundo
íntimo, dando lugar a danos maiores do que os anteriores.
A palavra do incomparável Rabi permanece como o único roteiro de segurança para os caminhantes terrestres que se perderam no orgulho, no egoísmo, na insensatez, nas estradas do prazer
utópico e alucinante, gerando os tormentos.
A necessidade de não voltar aos comportamentos anteriores é o primeiro passo para a recuperação do bem-estar, e quando ainda se encontre sob as chuvas das consequências dos erros anteriores, a mudança de pensamento e de atitude para o Bem logo proporciona alteração emocional
que irá contribuir eficazmente para a alegria de viver e a paz. Lamentavelmente vive-se o primado
da ilusão, da busca das sensações em clima de renovação incessante, dos prazeres que levam à
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exaustão, embora o conhecimento que se encontra em abundância em toda parte, convidando a
reflexões profundas a respeito do significado existencial, dos objetivos terrestres.
A ilusão campeia assustadoramente, o seu ópio, que fascina, entorpece os sentimentos e anestesia o discernimento, mantendo as suas vítimas em estado de confusão e ansiedade.
Embora haja o progresso da Ciência e da Tecnologia, tal avanço está distante dos sentimentos
morais e dos compromissos espirituais.
Ainda hoje, vinte séculos transcorridos da vinda de Jesus, da mesma maneira que naquela época, vários habitantes da Terra exigem fenômenos espetaculares, curas fantásticas, surpreendentes
acontecimentos, sem a consequente responsabilidade de aplicar os seus ensinamentos na conduta
real, de maneira a integrar-se nos elevados postulados da Verdade e do Bem. Esquece-se, portanto, que Ele não veio para curas físicas e fenômenos impactantes, mas sim promover a transformação moral do indivíduo, convidando-o para a ética e o estudo da Vida, para o amor e o conhecimento, para o autoaperfeiçoamento e a prática da caridade.
As modernas Betsaidas, assinaladas pelos paralíticos da alma, ao mesmo tempo que fornecem
ao Planeta apóstolos como Pedro, André e Filipe, também promovem templos ao paganismo do
prazer, olvidando-se da mensagem dEle.
Aquele Homem especial rompia todos os limites impostos pela prepotência e abuso do poder.
A Sua presença agitava as massas ansiosas e inquietava os governantes injustos e exploradores.
A Sua voz cantava o hino das bem-aventuranças, convocando as vidas à abnegação, ao dever, à
pureza dos sentimentos. Ele era uma aragem perfumada e balsâmica na ardência dos desesperos
que dominavam as existências a se estiolarem nas enfermidades, nas provações inomináveis que
cada um daqueles indivíduos provocou para si mesmo.
Com a palavra sublime, Ele renovava o solo dos corações e tocava a todos nas fibras mais íntimas, e todos fascinavam-se com o Seu comando, deixando-se arrastar pelo seu verbo flamívomo e
incorruptível.
O Seu verbo quente e gentil traçava normativas de vida e de renovação, proporcionando dignidade de recuperação dos valores morais perdidos.
Não eram as aquisições externas que importavam, mas as incomparáveis aquisições do Espírito, que o acompanhariam indefinidamente, o que proporcionava um sentido existencial de alta
significação.
Usando o valioso recurso das parábolas, ensinava a multidão a ver na escuridão, a escutar na
balbúrdia, a viver no opróbrio, porém, dele saindo de imediato.
Aqueles dias, de alguma forma assemelham-se a estes dias da sociedade iluminada pelo conhecimento e atormentada nos sentimentos, cambaleante e exausta do prazer ilusório, anelando
pela paz e pela real significação existencial.
Tomando da palavra e iluminando-a com a Verdade, respondeu ao ouvinte que Lhe perguntara
porque são poucos os que se salvam. (Lucas, 13: 22 a 27)
"Porfiai por entrar pela porta estreita; porque vos digo que muitos procurarão entrar e não
poderão."
O Mestre jamais desdenhou desafios e dificuldades, demonstrando que toda ascensão exige
sacrifício e que a libertação das heranças infelizes é trabalho contínuo de longo curso, dependendo o resultado do esforço pessoal de cada um.
(...) Jesus seguia a Jerusalém e narrou inúmeras parábolas, de tal forma que as Suas lições
permaneceram envoltas no tecido da palavra, porém, com todo o vigor da Sua personalidade invulgar, convidando à plenitude.
Ele oferecia a cura da alma para sempre, e todos optavam pela recuperação do corpo, mesmo
que sofrendo o retorno das enfermidades dilaceradoras cujas causas encontravam-se no ser profundo.
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Ele amava e sacrificava-se, ensinando a libertação do mal através da transformação moral; no
entanto, os que O buscavam prosseguiam na luta para manter-se na ilusão tormentosa do cotidiano.
Ele era a luz que podia anular a treva interior da ignorância, porém, as massas infelizes sedentas de prazer, beneficiavam-se um pouco e logo atiravam-se nos calabouços da demorada prisão
em que se compraziam, povoada de crimes.
Ele propunha a paz, e quase todos esperavam a guerra contra os outros, olvidando os inimigos
reais que se encontram no seu mundo íntimo.
Apesar disso, Ele prosseguiu estoico e perseverante até o momento da morte infamante, procurando aplacar as tempestades dos corações...
(...) E voltou, aureolado de ternura e carinho, confirmando o Seu amor por todos aqueles que
são colhidos pelas tormentas internas, no mar proceloso das reencarnações purificadoras.
Não se deixe seduzir
(Francisco de Paulo Vítor, psicografia de Raul Teixeira, na Sociedade
Espírita Renovação, Curitiba/PR)
“Tende cuidado para que alguém não vos seduza…” Jesus (Mt.24:4)
Nas paragens do mundo é muito comum que grande número de almas se permite conduzir por veredas sombrias, por se deixar seduzir em diversas ocasiões, por motivações variadas.
Na Terra, o fascínio tem componentes estranhos, capazes de obnubilar o discernimento daqueles
que são apanhados nas teias viscosas de perigosas seduções. Muito importante, assim, é o ensinamento do Celeste Amigo para os caminhantes terrestres, a fim de não se deixarem cegar por
elas.
Tende cuidado para que alguém não vos seduza…
No planeta facilmente encontramos imenso contingente de criaturas hebetado, ou excitado, ou,
ainda, profundamente confuso, seguindo rotas perturbadoras, escuras, levado pelas determinações do encantamento malsão.
São muitos os que têm sorriso fácil, conversa agradável e gestos festivos, mas que são grandemente perigosos, semelhantes a serpentes coloridas, brilhantes e enormemente venenosas. Dessa
forma, conseguem nublar a lucidez diminuta dos inexperientes, levando-os a situações desafortunadas.
Movidos pelas infelizes seduções, muita gente abandona o trabalho do bem, descura da ação renovadora, negligencia quanto aos deveres domésticos, menosprezam o cultivo da fé libertadora.
Outros, sob as mesmas pressões, adentram pantanais viciosos, relaxam os cuidados para com a
existência e deixam fanar oportunidades luminosas.
Tenha cuidado com tais caracteres capazes de levarem-no à perda, às derrotas morais, ao declínio
da saúde e da alegria de viver.
Aprenda a verificar ao seu redor aqueles que costumam esvaziar seus melhores momentos, os sedutores que estão sempre posicionados para promover a cizânia, fazendo com que você fique mal,
sempre armado contra tudo e contra todos, atirando fel sobre as suas abençoadas horas no mundo.
Muitos tentarão seduzi-lo para que gaste todo o seu tempo com lazeres, com folguedos e aventuras, que o farão profundamente frustrado, imensamente inditoso por negligenciar com as oportunidades que a existência lhe brinda.
Tenha cuidado para que alguém não o seduza.
Ao longo do seu caminho terreno, você encontrará diversos companheiros com grande poder de
sedução. Ao verem-no compenetrado, operoso no bem e feliz, honesto com seus deveres e fiel ao
Cristo, tudo arquitetarão objetivando impulsioná-lo para escusos descaminhos, onde você só encontrará arrependimento e dor pela malversação do tempo.
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Veja se consegue manter-se na linha defensiva, apoiando-se nos ensinos renovadores do Mestre,
vigilante e atencioso perante a venturosa existência humana, que lhe foi facultada para progredir
pelo trabalho e pelo amor.
Você está no mundo para superar-se a si mesmo, e se tiver que se deixar levar por algum encantamento, escolha aquele que o chama ao discernimento e ao bom senso, à atividade nobre e ao
respeito às leis celestes. E esse encantamento de intensa lucidez, conducente à harmonia, é exercido por Jesus e por seus prepostos. Fora disso, tenha cuidado e refugie-se na oração e na vigilância para que se estabeleça a sua frente a estrada definida e clara da sua própria redenção, que lhe
permitirá avançar nos passos do Cristo Excelso.
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Valoriza a tua vida
(José Grosso, psicografia de Raul Teixeira, na Sociedade Espírita
Fraternidade, Niterói/RJ)
Ainda que sejam duras as tuas lutas,
Por mais enfrentes medonhos embates,
Se dor e mágoas em ti fazem permutas,
Digo-te, mesmo assim, nunca me mates.
Mesmo que a noite seja duradoura
E assombros morais sirvam de arremates,
Não creias nunca em força que agoura
Pelos passos terrenos. Não te mates.
Se a enfermidade minar-te esperanças,
Da frustração cruenta te precates.
Se na batalha aguda tu te cansas,
Busca ser resistente e não te mates.
Nos dias em que a fria depressão
Mostrar-te a vida em escuros contrastes,
Socorre-te, depressa, na oração.
Acha apoio em Jesus e não te mates.
Se vives pelo mundo amarga sorte
Porque o pretérito te impõe resgates,
Procura o amigo, a fé, busca ser forte
Co’ apoio médico, mas não te mates.
Em Deus terás arrimo e resistência
Por meio das lições de augustos vates,
Que nos sugerem paz, nunca a violência.
Usa o reforço deles, não te mates.
Tua vida é bênção de ingente beleza,
Seja qual for tua posição no mundo,
Se és rico ou se te moves na pobreza,
Gozas do amor de Deus, claro e fecundo.
Toda a deficiência ou dificuldade
Que te alcançam nas humanas estradas,
Falam-te da vulnerabilidade
Moral vivida em velhas caminhadas.
Nas propostas de Deus a vida é luz
A alcançar-te nas sombras da loucura
Para que, sob o amparo de Jesus,
Não mais cultives nova desventura.
Preserva o corpo carnal que te ajuda
A conquistar do mundo o bem maior.
Pois, passo a passo, a vida inteira muda
E matar-se é escolher sempre o pior.
Mergulha no trabalho a própria mente,
Dedica-te ao bem sempre, sem cansaço,
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E o bem, por ti, salvará tanta gente
Que haverá sempre luz junto ao teu passo.
Busca a alegria em servir vida afora,
Tendo no coração fraternidade.
Não te mates porque há quem implora
A ação feliz, o afago e a caridade.
Valoriza tua vida e olha pr’o céu
E exora força a Deus para tua luta.
Jamais penses que a lida segue ao léu,
Se falas ao Senhor, Ele te escuta.
José Grosso – Mensagem psicografada por Raul Teixeira, em 9 de julho de 2007, na Socied ade Espírita Fraternidade, em Niterói, RJ
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Eixo Temático: “Missão dos espíritas: Exercício da caridade”
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Conclusão VIII (O Livro dos Espíritos – Conclusão)
Caridade e amor ao próximo (O Livro dos Espíritos – questão 886, comentário de Kardec)
Advento do Espírito de Verdade (livro: “O Evangelho Segundo O Espiritismo” – cap. VI, item 8)
O sacrifício mais agradável a Deus (livro: “O Evangelho Segundo O Espiritismo” – cap. X, itens
7 e 8)
A caridade material e a caridade moral (livro: “O Evangelho Segundo O Espiritismo” – cap.
XIII, item 9)
A beneficência (livro: “O Evangelho Segundo O Espiritismo” – cap. XIII, item 11)
Caracteres da perfeição (livro: “O Evangelho Segundo O Espiritismo” – cap. XVII, item 2)
Os bons espíritas (livro: “O Evangelho Segundo O Espiritismo” – cap. XVII, item 4)
O dever (livro: “O Evangelho Segundo O Espiritismo” – cap. XVII, item 7)
Necessidade de caridade, segundo Paulo (livro: “O Evangelho Segundo O Espiritismo” – cap.
XV, itens 8 e 9)
Fora da caridade não há salvação (livro: “O Evangelho Segundo O Espiritismo” – cap. XV, item
10)
Missão dos espíritas (livro: “O Evangelho Segundo O Espiritismo” – cap. XX, item 4)
Não vim trazer a paz, mas a divisão (livro: “O Evangelho Segundo O Espiritismo” – cap. XXIII,
do item 9 ao 18)
O egoísmo e o orgulho, suas, causas, seus efeitos e os meios de destruí-los (livro: “Obras Póstumas” – primeira parte)
Liberdade, igualdade, fraternidade (livro: “Obras Póstumas” – primeira parte)
Fora da caridade não há salvação (livro: “Obras Póstumas” – segunda parte)
Terceiro discurso de Allan Kardec (livro: “Viagem Espírita em 1862”)
Estudo sobre o Terceiro discurso de viagem espírita em 1862 (Apostila do Centro Espírita Manoel Felipe Santiago, em www. Cemfs.com.br)
A Caridade, segundo São Vicente de Paulo (Revista Espírita, agosto de 1858) – ver justificativa
do tema no Plano de Estudos
A fé; A esperança; A caridade (Revista Espírita, fevereiro de 1862)
Caridade (Léon Denis – livro: “Depois da Morte”, cap. 47)
O Amor (Léon Denis – livro: “Depois da Morte”, Terceira Parte – cap. 49)
Entendamo-nos (Emmanuel, psicografia de Chico Xavier – do livro: “Fonte Viva”, cap. 122)
O Justo Remédio (Emmanuel, psicografia de Chico Xavier – do livro: “Fonte Viva”, cap. 138)
Cooperemos Fielmente (Emmanuel, psicografia de Chico Xavier – do livro: “Vinha de Luz”,
cap. 48)
Não só (Emmanuel, psicografia de Chico Xavier – do livro: “Vinha de Luz”, cap. 116)
A plataforma do Mestre (Emmanuel, psicografia de Chico Xavier – do livro: “Vinha de Luz”,
cap. 174)
Bens Externos (Emmanuel, psicografia de Chico Xavier – do livro: “Caminho, Verdade e Vida”,
cap. 165)
O Novo Mandamento (Emmanuel, psicografia de Chico Xavier – do livro: “Caminho, Verdade
e Vida”, cap. 179)
Com caridade (Emmanuel, psicografia de Chico Xavier – do livro: “Pão Nosso”, cap. 31)
Com ardente amor (Emmanuel, psicografia de Chico Xavier – do livro: “Pão Nosso”, cap. 99)
Donativo do coração (Emmanuel, psicografia de Chico Xavier – do livro: “Alma e coração”,
cap. 5)
Dar (Emmanuel, psicografia de Chico Xavier – do livro: “Alma e coração”, cap. 6)
Sementes divinas (Emmanuel, psicografia de Chico Xavier – do livro: “Alma e coração”, cap.
6)
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A lenda da caridade (Meimei, psicografia de Chico Xavier – do livro: “Seara de Fé”, cap. 78)
Toque de luz (Meimei, psicografia de Chico Xavier – do livro: Deus Aguarda)
Na exaltação do amor (André Luiz, psicografia de Chico Xavier – do livro: “Espírito da Verdade”, cap. 78)
História de um pão (Humberto de Campos, psicografia de Chico Xavier – do livro: “Espírito da
Verdade”, cap. 81)
Os novos samaritanos (Eurípedes Barsanulfo, psicografia de Chico Xavier – do livro: “Espírito
da Verdade”, cap. 86)
Amor e caridade (Bezerra de Menezes, psicografia de Chico Xavier – do livro: “Bezerra, Chico
e Você”)
Caridade (Thereza, psicografia de Chico Xavier – livro: “Caridade”)
O anjo solitário (Humberto de Campos, psicografia de Chico Xavier – do livro: “Estante da Vida”, cap. 34)
Sublime ação (Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Franco – livro: “Diretrizes para o Êxito”, cap. 3)
Janelas da alma (Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Franco – livro: “Momentos de Felicidade”)
Aplicações do Conhecimento Espírita (Vianna de Carvalho, in “Espiritismo e Vida” – Cap 7)
Coragem e Responsabilidade (Vianna de Carvalho, in “Espiritismo e Vida” – Cap 30)
Os Espíritas Verdadeiros (Vianna de Carvalho, in “Espiritismo e Vida” – Cap 6)
Sacrifício e Amor (Joanna de Angelis, in “Libertação pelo Amor” – Cap 8)
Indulgência (Joanna de Angelis, in “Libertação pelo Amor” – Cap 16)
Exercício da Compaixão (Joanna de Angelis, in “Libertação pelo Amor” – Cap 26)
Amor e Progresso (Joanna de Angelis, in “Garimpo de Amor” – Cap 13)
Dar e dar-se (Joanna de Angelis, in “Rumos Libertadores” – Cap 34)
Luz da caridade (Joanna de Angelis, in “Rumos Libertadores” – Cap 35)
Alma da caridade (Joanna de Angelis, in “Rumos Libertadores” – Cap 36)
Em respeito à caridade (Joanna de Angelis, in “Jesus e Vida” – Pag 121)
Teu óbolo (Joanna de Ângelis, in “Alegria de Viver” – cap 12)
O Vencedor (Amélia Rodrigues, psicografia de Divaldo Franco – livro: “O Vencedor”)
A transcendente sinfonia do amor (Amélia Rodrigues, psicografia de Divaldo Franco – livro:
“Dias Venturosos”)
O segredo da vida (Vinícius – livro: “Na Seara do Mestre”)
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Conclusão VIII
(O Livro dos Espíritos – Conclusão)
Perguntam algumas pessoas: Ensinam os Espíritos qualquer moral nova, qualquer coisa superior
ao que disse o Cristo? Se a moral deles não é senão a do Evangelho, de que serve o Espiritismo?
Este raciocínio se assemelha notavelmente ao do califa Omar, com relação à biblioteca de Alexandria: "Se ela não contém, dizia ele, mais do que o que está no Alcorão, é inútil. Logo deve ser
queimada. Se contém coisa diversa, é nociva. Logo, também deve ser queimada." Não, o Espiritismo não traz moral diferente da de Jesus. Mas, perguntamos, por nossa vez: Antes que viesse o
Cristo, não tinham os homens a lei dada por Deus a Moisés? A doutrina do Cristo não se acha contida no Decálogo? Dir-se-á, por isso, que a moral de Jesus era inútil? Perguntaremos, ainda, aos
que negam utilidade à moral espírita: Por que tão pouco praticada é a do Cristo? E por que, exatamente os que com justiça lhe proclamam a sublimidade, são os primeiros a violar- -lhe o preceito capital: o da caridade universal? Os Espíritos vêm não só confirmá-la, mas também mostrar-nos
a sua utilidade prática. Tornam inteligíveis e patentes verdades que haviam sido ensinadas sob a
forma alegórica. E, justamente com a moral, trazem-nos a definição dos mais abstratos problemas
da psicologia.
Jesus veio mostrar aos homens o caminho do verdadeiro bem. Por que, tendo-o enviado para
fazer lembrada sua lei que estava esquecida, não havia Deus de enviar hoje os Espíritos, a fim de a
lembrarem novamente aos homens, e com maior precisão, quando eles a olvidam, para tudo sacrificar ao orgulho e à cobiça? Quem ousaria pôr limites ao poder de Deus e traçar-Lhe normas?
Quem nos diz que, como o afirmam os Espíritos, não estão chegando os tempos preditos e que
não chegamos aos em que verdades mal compreendidas, ou falsamente interpretadas, devam ser
ostensivamente reveladas ao gênero humano, para lhe apressar o adiantamento? Não haverá alguma coisa de providencial nessas manifestações que se produzem simultaneamente em todos os
pontos do globo? Não é um único homem, um profeta quem nos vem advertir. A luz surge por toda parte. É todo um mundo novo que se desdobra às nossas vistas. Assim como a invenção do microscópio nos revelou o mundo dos infinitamente pequenos, de que não suspeitávamos; assim
como o telescópio nos revelou milhões de mundos de cuja existência também não suspeitávamos,
as comunicações espíritas nos revelam o mundo invisível que nos cerca, nos acotovela constantemente e que, à nossa revelia, toma parte em tudo o que fazemos.
Decorrido que seja mais algum tempo, a existência desse mundo, que nos espera, se tornará tão
incontestável como a do mundo microscópico e dos globos disseminados pelo espaço. Nada, então, valerá o nos terem feito conhecer um mundo todo; o nos haverem iniciado nos mistérios da
vida de além-túmulo? É exato que essas descobertas, se se lhes pode dar este nome, contrariam
algum tanto certas ideias aceitas. Mas, não é real que todas as grandes descobertas científicas hão
igualmente modificado, subvertido até, as mais correntes ideias? E o nosso amor-próprio não teve
que se curvar diante da evidência? O mesmo acontecerá com relação ao Espiritismo, que, em breve, gozará do direito de cidade entre os conhecimentos humanos.
As comunicações com os seres de além-túmulo deram em resultado fazer-nos compreender a
vida futura, fazer-nos vê-la, iniciar-nos no conhecimento das penas e gozos que nos estão reservados, de acordo com os nossos méritos e, desse modo, encaminhar para o espiritualismo os que no
homem somente viam a matéria, a máquina organizada. Razão, portanto, tivemos para dizer que o
Espiritismo, com os fatos, matou o materialismo. Fosse este único resultado por ele produzido e já
muita gratidão lhe deveria a ordem social. Ele, porém, faz mais: mostra os inevitáveis efeitos do
mal e, conseguintemente, a necessidade do bem. Muito maior do que se pensa é, e cresce todos
os dias, o número daqueles em que ele há melhorado os sentimentos, neutralizado as más tendências e desviado do mal. É que para esses o futuro deixou de ser coisa imprecisa, simples esperança, por se haver tornado uma verdade que se compreende e explica, quando se veem e ouvem
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os que partiram lamentar-se ou felicitar-se pelo que fizeram na Terra. Quem disso é testemunha
entra a refletir e sente a necessidade de a si mesmo se conhecer, julgar e emendar.
Caridade e amor ao próximo
(O Livro dos Espíritos – questão 886, comentário de Kardec)
886. Qual o verdadeiro sentido da palavra caridade, como a entendia Jesus?
“Benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros, perdão das
ofensas.”
O amor e a caridade são o complemento da lei de justiça, pois amar o próximo é fazer-lhe
todo o bem que nos seja possível e que desejáramos nos fosse feito. Tal o sentido destas palavras
de Jesus: Amai-vos uns aos outros como irmãos.
A caridade, segundo Jesus, não se restringe à esmola, abrange todas as relações em que
nos achamos com os nossos semelhantes, sejam eles nossos inferiores, nossos iguais, ou nossos
superiores. Ela nos prescreve a indulgência, porque de indulgência precisamos nós mesmos, e nos
proíbe que humilhemos os desafortunados, contrariamente ao que se costuma fazer. Apresentese uma pessoa rica e todas as atenções e deferências lhe são dispensadas. Se for pobre, toda gente como que entende que não precisa preocupar-se com ela. No entanto, quanto mais lastimosa
seja a sua posição, tanto maior cuidado devemos pôr em lhe não aumentarmos o infortúnio pela
humilhação. O homem verdadeiramente bom procura elevar, aos seus próprios olhos, aquele que
lhe é inferior, diminuindo a distância que os separa.
Advento do Espírito de Verdade
(livro: “O Evangelho Segundo O Espiritismo” – cap. VI, item 8)
8. Deus consola os humildes e dá força aos aflitos que lha pedem. Seu poder cobre a Terra
e, por toda a parte, junto de cada lágrima colocou ele um bálsamo que consola. A abnegação e o
devotamento são uma prece contínua e encerram um ensinamento profundo. A sabedoria humana reside nessas duas palavras. Possam todos os Espíritos sofredores compreender essa verdade,
em vez de clamarem contra suas dores, contra os sofrimentos morais que neste mundo vos cabem
em partilha. Tomai, pois, por divisa estas duas palavras: devotamento e abnegação, e sereis fortes,
porque elas resumem todos os deveres que a caridade e a humildade vos impõem. O sentimento
do dever cumprido vos dará repouso ao espírito e resignação. O coração bate então melhor, a alma se asserena e o corpo se forra aos desfalecimentos, por isso que o corpo tanto menos forte se
sente, quanto mais profundamente golpeado é o espírito. – O Espírito de Verdade. (Havre, 1863.)
O sacrifício mais agradável a Deus
(livro: “O Evangelho Segundo O Espiritismo” – cap. X, itens 7 e 8)
Se, portanto, quando fordes depor vossa oferenda no altar, vos lembrardes de que o vosso irmão tem qualquer coisa contra vós, - deixai a vossa dádiva junto ao altar e ide, antes, reconciliarvos com o vosso irmão; depois, então, voltai a oferecê-la. - (S. MATEUS, cap. V, vv. 23 e 24.)
Quando diz: "Ide reconciliar-vos com o vosso irmão, antes de depordes a vossa oferenda no altar", Jesus ensina que o sacrifício mais agradável ao Senhor é o que o homem faça do seu próprio
ressentimento; que, antes de se apresentar para ser por ele perdoado, precisa o homem haver
perdoado e reparado o agravo que tenha feito a algum de seus irmãos. Só então a sua oferenda
será bem aceita, porque virá de um coração expungido de todo e qualquer pensamento mau. Ele
materializou o preceito, porque os judeus ofereciam sacrifícios materiais; cumpria--lhe conformar
suas palavras aos usos ainda em voga. O cristão não oferece dons materiais, pois que espiritualizou o sacrifício. Com isso, porém, o preceito ainda mais força ganha. Ele oferece sua alma a Deus e
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essa alma tem de ser purificada. Entrando no templo do Senhor, deve ele deixar fora todo sentimento de ódio e de animosidade, todo mau pensamento contra seu irmão. Só então os anjos levarão sua prece aos pés do Eterno. Eis aí o que ensina Jesus por estas palavras: "Deixai a vossa oferenda junto do altar e ide primeiro reconciliar-vos com o vosso irmão, se quiserdes ser agradável
ao Senhor."
A caridade material e a caridade moral
(livro: “O Evangelho Segundo O Espiritismo” – cap. XIII, item 9)
9. “Amemo-nos uns aos outros e façamos aos outros o que quereríamos nos fizessem
eles.” Toda a religião, toda a moral se acham encerradas nestes dois preceitos. Se fossem observados nesse mundo, todos seríeis felizes: não mais aí ódios, nem ressentimentos. Direi ainda: não
mais pobreza, porquanto, do supérfluo da mesa de cada rico, muitos pobres se alimentariam e
não mais veríeis, nos quarteirões sombrios onde habitei durante a minha última encarnação, pobres mulheres arrastando consigo miseráveis crianças a quem tudo faltava.
Ricos! pensai nisto um pouco. Auxiliai os infelizes o melhor que puderdes. Dai, para que
Deus, um dia, vos retribua o bem que houverdes feito, para que tenhais, ao sairdes do vosso invólucro terreno, um cortejo de Espíritos agradecidos, a receber-vos no limiar de um mundo mais ditoso.
Se pudésseis saber da alegria que experimentei ao encontrar no Além aqueles a quem, na
minha última existência, me fora dado servir!...
Amai, portanto, o vosso próximo; amai-o como a vós mesmos, pois já sabeis, agora, que,
repelindo um desgraçado, estareis, quiçá, afastando de vós um irmão, um pai, um amigo vosso de
outrora. Se assim for, de que desespero não vos sentireis presa, ao reconhecê-lo no mundo dos
Espíritos!
Desejo compreendais bem o que seja a caridade moral, que todos podem praticar, que nada custa, materialmente falando, porém, que é a mais difícil de exercer-se.
A caridade moral consiste em se suportarem umas às outras as criaturas e é o que menos
fazeis nesse mundo inferior, onde vos achais, por agora, encarnados. Grande mérito há, crede-me,
em um homem saber calar-se, deixando fale outro mais tolo do que ele. É um gênero de caridade
isso. Saber ser surdo quando uma palavra zombeteira se escapa de uma boca habituada a escarnecer; não ver o sorriso de desdém com que vos recebem pessoas que, muitas vezes erradamente, se supõem acima de vós, quando na vida espírita, a única real, estão, não raro, muito abaixo,
constitui merecimento, não do ponto de vista da humildade, mas do da caridade, porquanto não
dar atenção ao mau proceder de outrem é caridade moral.
Essa caridade, no entanto, não deve obstar à outra. Tende, porém, cuidado, principalmente
em não tratar com desprezo o vosso semelhante. Lembrai-vos de tudo o que já vos tenho dito:
Tende presente sempre que, repelindo um pobre, talvez repilais um Espírito que vos foi caro e
que, no momento, se encontra em posição inferior à vossa. Encontrei aqui um dos pobres da Terra, a quem, por felicidade, eu pudera auxiliar algumas vezes, e ao qual, a meu turno, tenho agora
de implorar auxílio.
Lembrai-vos de que Jesus disse que todos somos irmãos e pensai sempre nisso, antes de
repelirdes o leproso ou o mendigo. Adeus: pensai nos que sofrem e orai. – Irmã Rosália. (Paris,
1860.)
A beneficência
(livro: “O Evangelho Segundo O Espiritismo” – cap. XIII, item 11)
11. A beneficência, meus amigos, dar-vos-á nesse mundo os mais puros e suaves deleites,
as alegrias do coração, que nem o remorso, nem a indiferença perturbam. Oh! Pudésseis compreender tudo o que de grande e de agradável encerra a generosidade das almas belas, sentimento
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que faz olhe a criatura as outras como olha a si mesma, e se dispa, jubilosa, para vestir o seu irmão! Pudésseis, meus amigos, ter por única ocupação tornar felizes os outros! Quais as festas
mundanas que podereis comparar às que celebrais quando, como representantes da Divindade,
levais a alegria a essas famílias que da vida apenas conhecem as vicissitudes e as amarguras,
quando vedes nelas os semblantes macerados refulgirem subitamente de esperança, porque, faltos de pão, os desgraçados ouviam seus filhinhos, ignorantes de que viver é sofrer, gritando repetidamente, a chorar, estas palavras, que, como agudo punhal, se lhes enterravam nos corações
maternos: “Estou com fome!...” Oh! Compreendei quão deliciosas são as impressões que recebe
aquele que vê renascer a alegria onde, um momento antes, só havia desespero! Compreendei as
obrigações que tendes para com os vossos irmãos! Ide, ide ao encontro do infortúnio; ide em socorro, sobretudo, das misérias ocultas, por serem as mais dolorosas! Ide, meus bem-amados, e
tende em mente estas palavras do Salvador: “Quando vestirdes a um destes pequeninos, lembraivos de que é a mim que o fazeis!”
Caridade! Sublime palavra que sintetiza todas as virtudes, és tu que hás de conduzir os povos à felicidade. Praticando-te, criarão eles para si infinitos gozos no futuro e, enquanto se acharem exilados na Terra, tu lhes serás a consolação, o prelibar das alegrias de que fruirão mais tarde,
quando se encontrarem reunidos no seio do Deus de amor. Foste tu, virtude divina, que me proporcionaste os únicos momentos de satisfação de que gozei na Terra. Que os meus irmãos encarnados creiam na palavra do amigo que lhes fala, dizendo-lhes: É na caridade que deveis procurar a
paz do coração, o contentamento da alma, o remédio para as aflições da vida. Oh! quando estiverdes a ponto de acusar a Deus, lançai um olhar para baixo de vós; vede que de misérias a aliviar,
que de pobres crianças sem família, que de velhos sem qualquer mão amiga que os ampare e lhes
feche os olhos quando a morte os reclame! Quanto bem a fazer! Oh! não vos queixeis; ao contrário, agradecei a Deus e prodigalizai a mancheias a vossa simpatia, o vosso amor, o vosso dinheiro
por todos os que, deserdados dos bens desse mundo, enlanguescem na dor e no insulamento! Colhereis nesse mundo bem doces alegrias e, mais tarde... só Deus o sabe!... – Adolfo, bispo de Argel.
(Bordéus, 1861.)
Caracteres da perfeição
(livro: “O Evangelho Segundo O Espiritismo” – cap. XVII, item 2)
2. Pois que Deus possui a perfeição infinita em todas as coisas, esta proposição: “Sede perfeitos, como perfeito é o vosso Pai celestial”, tomada ao pé da letra, pressuporia a possibilidade de
atingir-se a perfeição absoluta. Se à criatura fosse dado ser tão perfeita quanto o Criador, tornarse-ia ela igual a este, o que é inadmissível. Mas, os homens a quem Jesus falava não compreenderiam essa nuança, pelo que ele se limitou a lhes apresentar um modelo e a dizer-lhes que se esforçassem pelo alcançar.
Aquelas palavras, portanto, devem entender-se no sentido da perfeição relativa, a de que a
Humanidade é suscetível e que mais a aproxima da Divindade. Em que consiste essa perfeição? Jesus o diz: “Em amarmos os nossos inimigos, em fazermos o bem aos que nos odeiam, em orarmos
pelos que nos perseguem.” Mostra ele desse modo que a essência da perfeição é a caridade na
sua mais ampla acepção, porque implica a prática de todas as outras virtudes.
Com efeito, se se observam os resultados de todos os vícios e, mesmo, dos simples defeitos, reconhecer-se-á nenhum haver que não altere mais ou menos o sentimento da caridade, porque todos têm seu princípio no egoísmo e no orgulho, que lhes são a negação; e isso porque tudo
o que sobreexcita o sentimento da personalidade destrói, ou, pelo menos, enfraquece os elementos da verdadeira caridade, que são: a benevolência, a indulgência, a abnegação e o devotamento.
Não podendo o amor do próximo, levado até ao amor dos inimigos, aliar-se a nenhum defeito contrário à caridade, aquele amor é sempre, portanto, indício de maior ou menor superioridade moral, donde decorre que o grau da perfeição está na razão direta da sua extensão. Foi por isso que
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Jesus, depois de haver dado a seus discípulos as regras da caridade, no que tem de mais sublime,
lhes disse: “Sede perfeitos, como perfeito é vosso Pai celestial.”
Os bons espíritas
(livro: “O Evangelho Segundo O Espiritismo” – cap. XVII, item 4)
4. Bem compreendido, mas sobretudo bem sentido, o Espiritismo leva aos resultados acima expostos, que caracterizam o verdadeiro espírita, como o cristão verdadeiro, pois que um o
mesmo é que outro. O Espiritismo não institui nenhuma nova moral; apenas facilita aos homens a
inteligência e a prática da do Cristo, facultando fé inabalável e esclarecida aos que duvidam ou vacilam.
Muitos, entretanto, dos que acreditam nos fatos das manifestações não lhes apreendem as
consequências, nem o alcance moral, ou, se os apreendem, não os aplicam a si mesmos. A que
atribuir isso? A alguma falta de clareza da Doutrina? Não, pois que ela não contém alegorias nem
figuras que possam dar lugar a falsas interpretações. A clareza é da sua essência mesma e é donde
lhe vem toda a força, porque a faz ir direito à inteligência. Nada tem de misteriosa e seus iniciados
não se acham de posse de qualquer segredo, oculto ao vulgo.
Será então necessária, para compreendê-la, uma inteligência fora do comum? Não, tanto
que há homens de notória capacidade que não a compreendem, ao passo que inteligências vulgares, moços mesmo, apenas saídos da adolescência, lhes apreendem, com admirável precisão, os
mais delicados matizes. Provém isso de que a parte por assim dizer material da ciência somente
requer olhos que observem, enquanto a parte essencial exige um certo grau de sensibilidade, a
que se pode chamar maturidade do senso moral, maturidade que independe da idade e do grau
de instrução, porque é peculiar ao desenvolvimento, em sentido especial, do Espírito encarnado.
Nalguns, ainda muito tenazes são os laços da matéria para permitirem que o Espírito se
desprenda das coisas da Terra; a névoa que os envolve tira-lhes a visão do infinito, donde resulta
não romperem facilmente com os seus pendores, nem com seus hábitos, não percebendo haja
qualquer coisa melhor do que aquilo de que são dotados. Têm a crença nos Espíritos como um
simples fato, mas que nada ou bem pouco lhes modifica as tendências instintivas. Numa palavra:
não divisam mais do que um raio de luz, insuficiente a guiá-los e a lhes facultar uma vigorosa aspiração, capaz de lhes sobrepujar as inclinações. Atêm-se mais aos fenômenos do que à moral, que
se lhes afigura cediça e monótona. Pedem aos Espíritos que incessantemente os iniciem em novos
mistérios, sem procurar saber se já se tornaram dignos de penetrar os arcanos do Criador. Esses
são os espíritas imperfeitos, alguns dos quais ficam a meio caminho ou se afastam de seus irmãos
em crença, porque recuam ante a obrigação de se reformarem, ou então guardam as suas simpatias para os que lhes compartilham das fraquezas ou das prevenções. Contudo, a aceitação do
princípio da doutrina é um primeiro passo que lhes tornará mais fácil o segundo, noutra existência.
Aquele que pode ser, com razão, qualificado de espírita verdadeiro e sincero, se acha em
grau superior de adiantamento moral. O Espírito, que nele domina de modo mais completo a matéria, dá-lhe uma percepção mais clara do futuro; os princípios da Doutrina lhe fazem vibrar fibras
que nos outros se conservam inertes. Em suma: é tocado no coração, pelo que inabalável se lhe
torna a fé. Um é qual músico que alguns acordes bastam para comover, ao passo que outro apenas ouve sons. Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços
que emprega para domar suas inclinações más. Enquanto um se contenta com o seu horizonte limitado, outro, que apreende alguma coisa de melhor, se esforça por desligar-se dele e sempre o
consegue, se tem firme a vontade.
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O dever
(livro: “O Evangelho Segundo O Espiritismo” – cap. XVII, item 7)
7. O dever é a obrigação moral da criatura para consigo mesma, primeiro, e, em seguida,
para com os outros. O dever é a lei da vida. Com ele deparamos nas mais ínfimas particularidades,
como nos atos mais elevados. Quero aqui falar apenas do dever moral e não do dever que as profissões impõem.
Na ordem dos sentimentos, o dever é muito difícil de cumprir-se, por se achar em antagonismo com as atrações do interesse e do coração. Não têm testemunhas as suas vitórias e não estão sujeitas à repressão suas derrotas. O dever íntimo do homem fica entregue ao seu livrearbítrio. O aguilhão da consciência, guardião da probidade interior, o adverte e sustenta; mas,
muitas vezes, mostra-se impotente diante dos sofismas da paixão. Fielmente observado, o dever
do coração eleva o homem; como determiná-lo, porém, com exatidão? Onde começa ele? onde
termina? O dever principia, para cada um de vós, exatamente no ponto em que ameaçais a felicidade ou a tranqüilidade do vosso próximo; acaba no limite que não desejais ninguém transponha
com relação a vós.
Deus criou todos os homens iguais para a dor. Pequenos ou grandes, ignorantes ou instruídos, sofrem todos pelas mesmas causas, a fim de que cada um julgue em sã consciência o mal que
pode fazer. Com relação ao bem, infinitamente vário nas suas expressões, não é o mesmo o critério. A igualdade em face da dor é uma sublime providência de Deus, que quer que todos os seus filhos, instruídos pela experiência comum, não pratiquem o mal, alegando ignorância de seus efeitos.
O dever é o resumo prático de todas as especulações morais; é uma bravura da alma que
enfrenta as angústias da luta; é austero e brando; pronto a dobrar-se às mais diversas complicações, conserva-se inflexível diante das suas tentações. O homem que cumpre o seu dever ama a
Deus mais do que as criaturas e ama as criaturas mais do que a si mesmo. É a um tempo juiz e escravo em causa própria.
O dever é o mais belo laurel da razão; descende desta como de sua mãe o filho. O homem
tem de amar o dever, não porque preserve de males a vida, males aos quais a Humanidade não
pode subtrair-se, mas porque confere à alma o vigor necessário ao seu desenvolvimento.
O dever cresce e irradia sob mais elevada forma, em cada um dos estágios superiores da
Humanidade. Jamais cessa a obrigação moral da criatura para com Deus. Tem esta de refletir as
virtudes do Eterno, que não aceita esboços imperfeitos, porque quer que a beleza da sua obra
resplandeça a seus próprios olhos. – Lázaro. (Paris, 1863.)
Necessidade de caridade, segundo Paulo
(livro: “O Evangelho Segundo O Espiritismo” – cap. XV, itens 8 e 9)
Ainda quando eu falasse todas as línguas dos homens e a língua dos próprios anjos, se eu não tiver caridade, serei como o bronze que soa e um címbalo que retine; -ainda quando tivesse o dom
de profecia, que penetrasse todos os mistérios, e tivesse perfeita ciência de todas as coisas; ainda
quando tivesse a fé possível, até o ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, nada
sou. - E, quando houver distribuído os meus bens para alimentar os pobres e houvesse entregado
meu corpo para ser queimado, se não tivesse caridade, tudo isso de nada me serviria.
A caridade é paciente; é branda e benfazeja; a caridade não é invejosa; não é temerária, nem
precipitada; não se enche de orgulho; - não é desdenhosa; não cuida de seus interesses; não se
agasta, nem se azeda com coisa alguma; não suspeita mal; não se rejubila com a injustiça, mas se
rejubila com a verdade; tudo suporta, tudo crê, tudo espera, tudo sofre.
Agora, estas três virtudes: a fé, a esperança e a caridade permanecem; mas, dentre elas, a mais
excelente é a caridade (S. PAULO, 1ª Epístola aos Coríntios, cap. XIII, vv. 1 a 7 e 13.)
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De tal modo compreendeu S. Paulo essa grande verdade, que disse: Quando mesmo eu tivesse a
linguagem dos anjos; quando tivesse o dom de profecia, que penetrasse todos os mistérios; quando tivesse toda a fé possível, até ao ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, nada
sou. Dentre estas três virtudes: a fé, a esperança e a caridade, a mais excelente é a caridade. Coloca assim, sem equívoco, a caridade acima até da fé. É que a caridade está ao alcance de toda gente: do ignorante, como do sábio, do rico, como do pobre, e independe de qualquer crença particular.
Faz mais: define a verdadeira caridade, mostra-a não só na beneficência, como também no conjunto de todas as qualidades do coração, na bondade e na benevolência para com o próximo.
Fora da caridade não há salvação
(livro: “O Evangelho Segundo O Espiritismo” – cap. XV, item 10)
Meus filhos, na máxima: Fora da caridade não há salvação, estão encerrados os destinos dos
homens, na Terra e no céu; na Terra, porque à sombra desse estandarte eles viverão em paz; no
céu, porque os que a houverem praticado acharão graças diante do Senhor. Essa divisa é o facho
celeste, a luminosa coluna que guia o homem no deserto da vida, encaminhando-o para a Terra da
Promissão. Ela brilha no céu, como auréola santa, na fronte dos eleitos, e, na Terra, se acha gravada no coração daqueles a quem Jesus dirá: Passai à direita, benditos de meu Pai. Reconhecê-loseis pelo perfume de caridade que espalham em torno de si Nada exprime com mais exatidão o
pensamento de Jesus, nada resume tão bem os deveres do homem, como essa máxima de ordem
divina. Não poderia o Espiritismo provar melhor a sua origem, do que apresentando-a como regra,
por isso que é um reflexo do mais puro Cristianismo. Levando-a por guia, nunca o homem se
transviará. Dedicai-vos, assim, meus amigos, a perscrutar-lhe o sentido profundo e as consequências, a descobrir-lhe, por vós mesmos, todas as aplicações. Submetei todas as vossas ações ao governo da caridade e a consciência vos responderá. Não só ela evitará que pratiqueis o mal, como
também fará que pratiqueis o bem, porquanto uma virtude negativa não basta: é necessária uma
virtude ativa.
Para fazer-se o bem, mister sempre se torna a ação da vontade; para se não praticar o mal, basta as mais das vezes a inércia e a despreocupação.
Meus amigos, agradecei a Deus o haver permitido que pudésseis gozar a luz do Espiritismo. Não
é que somente os que a possuem hajam de ser salvos; é que, ajudando-vos a compreender os ensinos do Cristo, ela vos faz melhores cristãos. Esforçai-vos, pois, para que os vossos irmãos, observando-vos, sejam induzidos a reconhecer que verdadeiro espírita e verdadeiro cristão são uma só
e a mesma coisa, dado que todos quantos praticam a caridade são discípulos de Jesus, sem embargo da seita a que pertençam.
Paulo, o apóstolo. (Paris, 1860.) – livro: O Evangelho Segundo O Espiritismo, cap. XV, item 10.
Missão dos espíritas
(livro: “O Evangelho Segundo O Espiritismo” – cap. XX, item 4)
4. Não escutais já o ruído da tempestade que há de arrebatar o velho mundo e abismar no
nada o conjunto das iniquidades terrenas? Ah! bendizei o Senhor, vós que haveis posto a vossa fé
na sua soberana justiça e que, novos apóstolos da crença revelada pelas proféticas vozes superiores, ides pregar o novo dogma da reencarnação e da elevação dos Espíritos, conforme tenham
cumprido, bem ou mal, suas missões e suportado suas provas terrestres.
Não mais vos assusteis! As línguas de fogo estão sobre as vossas cabeças. Ó verdadeiros
adeptos do Espiritismo!... sois os escolhidos de Deus! Ide e pregai a palavra divina. É chegada a hora em que deveis sacrificar à sua propagação os vossos hábitos, os vossos trabalhos, as vossas
ocupações fúteis. Ide e pregai. Convosco estão os Espíritos elevados. Certamente falareis a criatu-
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ras que não quererão escutar a voz de Deus, porque essa voz as exorta incessantemente à abnegação. Pregareis o desinteresse aos avaros, a abstinência aos dissolutos, a mansidão aos tiranos
domésticos, como aos déspotas! Palavras perdidas, eu o sei; mas não importa. Faz-se mister regueis com os vossos suores o terreno onde tendes de semear, porquanto ele não frutificará e não
produzirá senão sob os reiterados golpes da enxada e da charrua evangélicas. Ide e pregai!
Ó todos vós, homens de boa-fé, conscientes da vossa inferioridade em face dos mundos
disseminados pelo Infinito!... lançai-vos em cruzada contra a injustiça e a iniquidade. Ide e proscrevei esse culto do bezerro de ouro, que cada dia mais se alastra. Ide, Deus vos guia! Homens
simples e ignorantes, vossas línguas se soltarão e falareis como nenhum orador fala. Ide e pregai,
que as populações atentas recolherão ditosas as vossas palavras de consolação, de fraternidade,
de esperança e de paz.
Que importam as emboscadas que vos armem pelo caminho! Somente lobos caem em armadilhas para lobos, porquanto o pastor saberá defender suas ovelhas das fogueiras imoladoras.
Ide, homens, que, grandes diante de Deus, mais ditosos do que Tomé, credes sem fazerdes
questão de ver e aceitais os fatos da mediunidade, mesmo quando não tenhais conseguido obtêlos por vós mesmos; ide, o Espírito de Deus vos conduz.
Marcha, pois, avante, falange imponente pela tua fé! Diante de ti os grandes batalhões dos
incrédulos se dissiparão, como a bruma da manhã aos primeiros raios-do-Sol nascente.
A fé é a virtude que desloca montanhas, disse Jesus. Todavia, mais pesados do que as maiores montanhas, jazem depositados nos corações dos homens a impureza e todos os vícios que
derivam da impureza. Parti, então, cheios de coragem, para removerdes essa montanha de iniquidades que as futuras gerações só deverão conhecer como lenda, do mesmo modo que vós, que só
muito imperfeitamente conheceis os tempos que antecederam a civilização pagã.
Sim, em todos os pontos do Globo vão produzir-se as subversões morais e filosóficas; aproxima-se a hora em que a luz divina se espargirá sobre os dois mundos.
Ide, pois, e levai a palavra divina: aos grandes que a desprezarão, aos eruditos que exigirão
provas, aos pequenos e simples que a aceitarão; porque, principalmente entre os mártires do trabalho, desta provação terrena, encontrareis fervor e fé. Ide; estes receberão, com hinos de gratidão e louvores a Deus, a santa consolação que lhes levareis, e baixarão a fronte, rendendo-lhe
graças pelas aflições que a Terra lhes destina.
Arme-se a vossa falange de decisão e coragem! Mãos à obra! o arado está pronto; a terra
espera; arai!
Ide e agradecei a Deus a gloriosa tarefa que Ele vos confiou; mas, atenção! entre os chamados para o Espiritismo muitos se transviaram; reparai, pois, vosso caminho
e segui a verdade.
Pergunta. – Se, entre os chamados para o Espiritismo, muitos se transviaram, quais os sinais pelos quais reconheceremos os que se acham no bom caminho?
Resposta. – Reconhecê-los-eis pelos princípios da verdadeira caridade que eles ensinarão e
praticarão. Reconhecê-los-eis pelo número de aflitos a que levem consolo; reconhecê-los-eis pelo
seu amor ao próximo, pela sua abnegação, pelo seu desinteresse pessoal; reconhecê-los-eis, finalmente, pelo triunfo de seus princípios, porque Deus quer o triunfo de Sua lei; os que seguem
Sua lei, esses são os escolhidos e Ele lhes dará a vitória; mas Ele destruirá aqueles que falseiam o
espírito dessa lei e fazem dela degrau para contentar sua vaidade e sua ambição. – Erasto, anjoda-guarda do médium. (Paris, 1863.)
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Não vim trazer a paz, mas a divisão
(livro: “O Evangelho Segundo O Espiritismo” – cap. XXIII, do item 9 ao 18)
Não penseis que eu tenha vindo trazer paz à Terra; não vim trazer a paz, mas a espada; – porquanto vim separar de seu pai o filho, de sua mãe a filha, de sua sogra a nora; – e o homem terá
por inimigos os de sua própria casa. (S. MATEUS, 10:34 a 36.)
Vim para lançar fogo à Terra; e que é o que desejo senão que ele se acenda? – Tenho de ser batizado com um batismo e quanto me sinto desejoso de que ele se cumpra!
Julgais que eu tenha vindo trazer paz à Terra? Não, eu vos afirmo; ao contrário, vim trazer a divisão; – pois, doravante, se se acharem numa casa cinco pessoas, estarão elas divididas umas contra as outras: três contra duas e duas contra três. – O pai estará em divisão com o filho e o filho
com o pai, a mãe com a filha e a filha com a mãe, a sogra com a nora e a nora com a sogra. (S. LUCAS, 12:49 a 53.)
Será mesmo possível que Jesus, a personificação da doçura e da bondade, Jesus, que não cessou
de pregar o amor do próximo, haja dito: “Não vim trazer a paz, mas a espada; vim separar do pai o
filho, do esposo a esposa; vim lançar fogo à Terra e tenho pressa de que ele se acenda”? Não estarão essas palavras em contradição flagrante com os seus ensinos? Não haverá blasfêmia em lhe
atribuírem a linguagem de um conquistador sanguinário e devastador? Não, não há blasfêmia,
nem contradição nessas palavras, pois foi mesmo ele quem as pronunciou, e elas dão testemunho
da sua alta sabedoria. Apenas, um pouco equívoca, a forma não lhe exprime com exatidão o pensamento, o que deu lugar a que se enganassem relativamente ao verdadeiro sentido delas. Tomadas à letra, tenderiam a transformar a sua missão, toda de paz, noutra de perturbação e discórdia,
consequência absurda, que o bom-senso repele, porquanto Jesus não podia desmentir-se. (Cap.
XIV, nº 6.) Será mesmo possível que Jesus, a personificação da doçura e da bondade, Jesus, que
não cessou de pregar o amor do próximo, haja dito: “Não vim trazer a paz, mas a espada; vim separar do pai o filho, do esposo a esposa; vim lançar fogo à Terra e tenho pressa de que ele se
acenda”? Não estarão essas palavras em contradição flagrante com os seus ensinos? Não haverá
blasfêmia em lhe atribuírem a linguagem de um conquistador sanguinário e devastador? Não, não
há blasfêmia, nem contradição nessas palavras, pois foi mesmo ele quem as pronunciou, e elas
dão testemunho da sua alta sabedoria. Apenas, um pouco equívoca, a forma não lhe exprime com
exatidão o pensamento, o que deu lugar a que se enganassem relativamente ao verdadeiro sentido delas. Tomadas à letra, tenderiam a transformar a sua missão, toda de paz, noutra de perturbação e discórdia, consequência absurda, que o bom-senso repele, porquanto Jesus não podia
desmentir-se. (Cap. XIV, nº 6.)
Toda ideia nova forçosamente encontra oposição e nenhuma há que se implante sem lutas. Ora,
nesses casos, a resistência é sempre proporcional à importância dos resultados previstos, porque,
quanto maior ela é, tanto mais numerosos são os interesses que fere. Se for notoriamente falsa,
se a julgam isenta de consequências, ninguém se alarma; deixam-na todos passar, certos de que
lhe falta vitalidade.
Se, porém, é verdadeira, se assenta em sólida base, se lhe preveem futuro, um secreto pressentimento adverte os seus antagonistas de que constitui um perigo para eles e para a ordem de coisas em cuja manutenção se empenham. Atiram-se, então, contra ela e contra os seus adeptos.
Assim, pois, a medida da importância e dos resultados de uma ideia nova se encontra na emoção que o seu aparecimento causa, na violência da oposição que provoca, bem como no grau e na
persistência da ira de seus adversários.
Jesus vinha proclamar uma doutrina que solaparia pela base os abusos de que viviam os fariseus, os escribas e os sacerdotes do seu tempo. Imolaram-no, portanto, certos de que, matando o
homem, matariam a ideia. Esta, porém, sobreviveu, porque era verdadeira; engrandeceu-se, porque correspondia aos desígnios de Deus e, nascida num pequeno e obscuro burgo da Judéia, foi
plantar o seu estandarte na capital mesma do mundo pagão, à face dos seus mais encarniçados
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inimigos, daqueles que mais porfiavam em combatê-la, porque subvertia crenças seculares a que
eles se apegavam muito mais por interesse do que por convicção. Lutas das mais terríveis esperavam aí pelos seus apóstolos; foram inumeráveis as vítimas; a ideia, no entanto, avolumou-se sempre e triunfou, porque, como verdade, sobrelevavam as que a precederam.
É de notar-se que o Cristianismo surgiu quando o Paganismo já entrara em declínio e se debatia
contra as luzes da razão. Ainda era praticado pro forma; a crença, porém, desaparecera; apenas o
interesse pessoal o sustentava. Ora, é tenaz o interesse; jamais cede à evidência; irrita-se tanto
mais quanto mais peremptórios e demonstrativos de seu erro são os argumentos que se lhe
opõem. Sabe ele muito bem que está errado, mas isso não o abala, porquanto a verdadeira fé não
lhe está na alma. O que mais teme é a luz, que dá vista aos cegos. É-lhe proveitoso o erro; ele se
lhe agarra e o defende.
Sócrates, também, não ensinara uma doutrina até certo ponto análoga à do Cristo? Por que não
prevaleceu naquela época a sua doutrina, no seio de um dos povos mais inteligentes da Terra? É
que ainda não chegara o tempo. Ele semeou numa terra não lavrada; o Paganismo ainda se não
achava gasto. O Cristo recebeu em propício tempo a sua missão. Muito faltava, é certo, para que
todos os homens da sua época estivessem à altura das ideias cristãs, mas havia entre eles uma aptidão mais geral para as assimilar, pois que já se começava a sentir o vazio que as crenças vulgares
deixavam na alma. Sócrates e Platão haviam aberto o caminho e predisposto os espíritos. (Veja-se,
na “Introdução”, o § IV: Sócrates e Platão, precursores da ideia cristã e do Espiritismo.)
Infelizmente, os adeptos da nova doutrina não se entenderam quanto à interpretação das palavras do Mestre, veladas, as mais das vezes, pela alegoria e pelas figuras da linguagem. Daí o nascerem, sem demora, numerosas seitas, pretendendo todas possuir, exclusivamente, a verdade e o
não bastarem dezoito séculos para pô-las de acordo. Olvidando o mais importante dos preceitos
divinos, o que Jesus colocou por pedra angular do seu edifício e como condição expressa da salvação: a caridade, a fraternidade e o amor do próximo, aquelas seitas lançaram anátema umas sobre
as outras, e umas contra as outras se atiraram, as mais fortes esmagando as mais fracas, afogando-as em sangue, aniquilando-as nas torturas e nas chamas das fogueiras. Vencedores do Paganismo, os cristãos, de perseguidos que eram, fizeram-se perseguidores. A ferro e fogo foi que se
puseram a plantar a cruz do Cordeiro sem mácula nos dois mundos. É fato constante que as guerras de religião foram as mais cruéis, mais vítimas causaram do que as guerras políticas; em nenhumas outras se praticaram tantos atos de atrocidade e de barbárie.
Cabe a culpa à doutrina do Cristo? Não, decerto que
ela formalmente condena toda violência. Disse ele alguma vez a seus discípulos: Ide, matai, massacrai, queimai os que não crerem como
vós? Não; o que, ao contrário, lhes disse, foi: Todos os homens são irmãos e Deus é soberanamente misericordioso; amai o vosso próximo; amai os vossos inimigos; fazei o bem aos que vos persigam. Disse-lhes, outrossim: Quem matar com a espada pela espada perecerá. A responsabilidade,
portanto, não pertence à doutrina de Jesus, mas aos que a interpretaram falsamente e a transformaram em instrumento próprio a lhes satisfazer as paixões; pertence aos que desprezaram estas palavras: “Meu reino não é deste mundo.”
Em sua profunda sabedoria, ele tinha a previdência do que aconteceria. Mas, essas coisas eram
inevitáveis, porque inerentes à inferioridade da natureza humana, que não podia transformar-se
repentinamente. Cumpria que o Cristianismo passasse por essa longa e cruel prova de dezoito séculos, para mostrar toda a sua força, visto que, malgrado a todo o mal cometido em seu nome, ele
saiu dela puro. Jamais esteve em causa. As invectivas sempre recaíram sobre os que dele abusaram. A cada ato de intolerância, sempre se disse: Se o Cristianismo fosse mais bem compreendido
e mais bem praticado, isso não se daria.
O Espiritismo vem realizar, na época prevista, as promessas do Cristo. Entretanto, não o pode
fazer sem destruir os abusos. Como Jesus, ele topa com o orgulho, o egoísmo, a ambição, a cupidez, o fanatismo cego, os quais, levados às suas últimas trincheiras, tentam barrar-lhe o caminho e
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lhe suscitam entraves e perseguições. Também ele, portanto, tem de combater; mas, o tempo das
lutas e das perseguições sanguinolentas passou; são todas de ordem moral as que terá de sofrer e
próximo lhes está o termo. As primeras duraram séculos; estas durarão apenas alguns anos, porque a luz, em vez de partir de um único foco, irrompe de todos os pontos do Globo e abrirá mais
de pronto os olhos aos cegos.
Essas palavras de Jesus devem, pois, entender-se com referência às cóleras que a sua doutrina
provocaria, aos conflitos momentâneos a que ia dar causa, às lutas que teria de sustentar antes de
se firmar, como aconteceu aos hebreus antes de entrarem na Terra Prometida, e não como decorrentes de um desígnio premeditado de sua parte de semear a desordem e a confusão. O mal viria
dos homens e não dele, que era como o médico que se apresenta para curar, mas cujos remédios
provocam uma crise salutar, atacando os maus humores do doente.
O egoísmo e o orgulho, suas, causas, seus efeitos e os meios de destruí-los
(livro: “Obras Póstumas” – primeira parte)
É bem sabido que a maior parte das misérias da vida tem origem no egoísmo dos homens. Desde que cada um pensa em si antes de pensar nos outros e cogita antes de tudo de satisfazer aos
seus desejos, cada um naturalmente cuida de proporcionar a si mesmo essa satisfação, a todo custo, e sacrifica sem escrúpulo os interesses alheios, assim nas mais insignificantes coisas, como nas
maiores, tanto de ordem moral, quanto de ordem material. Daí todos os antagonismos sociais, todas as lutas, todos os conflitos e todas as misérias, visto que cada um só trata de despojar o seu
próximo.
O egoísmo, por sua vez, se origina do orgulho. A exaltação da personalidade leva o homem a
considerar-se acima dos outros.
Julgando-se com direitos superiores, melindra-se com o que quer que, a seu ver, constitua ofensa a seus direitos. A importância que, por orgulho, atribui à sua pessoa, naturalmente o torna egoísta.
O egoísmo e o orgulho nascem de um sentimento natural: o instinto de conservação. Todos os
instintos têm sua razão de ser e sua utilidade, porquanto Deus nada pode ter feito inútil. Ele não
criou o mal; o homem é quem o produz, abusando dos dons de Deus, em virtude do seu livrearbítrio. Contido em justos limites, aquele sentimento é bom em si mesmo. A exageração é o que
o torna mau e pernicioso. O mesmo acontece com todas as paixões que o homem frequentemente desvia do seu objetivo providencial. Ele não foi criado egoísta, nem orgulhoso por Deus, que o
criou simples e ignorante; o homem é que se fez egoísta e orgulhoso, exagerando o instinto que
Deus lhe outorgou para sua conservação.
Não podem os homens ser felizes, se não viverem em paz, isto é, se não os animar um sentimento de benevolência, de indulgência e de condescendência recíprocas; numa palavra: enquanto
procurarem esmagar-se uns aos outros. A caridade e a fraternidade resumem todas as condições e
todos os deveres sociais; uma e outra, porém, pressupõem a abnegação. Ora, a abnegação é incompatível com o egoísmo e o orgulho; logo, com esses vícios, não é possível a verdadeira fraternidade, nem, por conseguinte, igualdade, nem liberdade, dado que o egoísta e o orgulhoso querem tudo para si.
Eles serão sempre os vermes roedores de todas as instituições progressistas; enquanto dominarem, ruirão aos seus golpes os mais generosos sistemas sociais, os mais sabiamente combinados. É
belo, sem dúvida, proclamar-se o reinado da fraternidade, mas, para que fazê-lo, se uma causa
destrutiva existe? Ë edificar em terreno movediço; o mesmo fora decretar a saúde numa região
malsã. Em tal região, para que os homens passem bem, não bastará se mandem médicos, pois que
estes morrerão como os outros; insta destruir as causas da insalubridade. Para que os homens vivam na Terra como irmãos, não basta se lhes deem lições de moral; importa destruir as causas de
antagonismo, atacar a raiz do mal: o orgulho e o egoísmo.
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Essa a chaga sobre a qual deve concentrar-se toda a atenção dos que desejem seriamente o
bem da Humanidade. Enquanto subsistir semelhante obstáculo, eles verão paralisados todos os
seus esforços, não só por uma resistência de inércia, como também por uma força ativa que trabalhará incessantemente no sentido de destruir a obra que empreendam, por isso que toda ideia
grande, generosa e emancipadora, arruína as pretensões pessoais.
Impossível, dir-se-á, destruir o orgulho e o egoísmo, porque são vícios inerentes à espécie humana. Se fosse assim, houvéramos de desesperar de. todo progresso moral; entretanto, desde
que se considere o homem nas diferentes épocas transcorridas, não há negar que evidente progresso se efetuou. Ora, se ele progrediu, ainda naturalmente progredirá. Por outro lado, não se
encontrará homem nenhum sem orgulho, nem egoísmo? Não se veem, ao contrário, criaturas de
índole generosa, em quem parecem inatos os sentimentos do amor ao próximo, da humildade, do
devotamento e da abnegação?
O número delas, positivamente, é maior do que o dos egoístas; se assim não fosse, não seriam
estes últimos os fautores da lei. Há muito mais criaturas dessas do que se pensa e, se parecem tão
pouco numerosas, é porque o orgulho se põe em evidência, ao passo que a virtude modesta se
conserva na obscuridade.
Se, portanto, o orgulho e o egoísmo se contassem entre as condições necessárias da Humanidade, como a da alimentação para sustento da vida, não haveria exceções. O ponto essencial, pois, é
conseguir que a exceção passe a constituir regra; para isso, trata-se, antes de tudo, de destruir as
causas que produzem e entretêm o mal.
Dessas causas, a principal reside evidentemente na ideia falsa que o homem faz da sua natureza, do seu passado e do seu futuro. Por não saber donde vem, ele se crê mais do que é; e não sabendo para onde vai, concentra na vida terrena todo o seu pensar; acha-a tão agradável, quanto
possível; anseia por todas as satisfações, por todos os gozos; essa a razão por que atropela sem
escrúpulo o seu semelhante, se este lhe opõe alguma dificuldade. Mas, para isso, é preciso que ele
predomine; a igualdade daria, a outros, direitos que ele só quer para si; a fraternidade lhe imporia
sacrifícios em detrimento do seu bem-estar; a liberdade também ele só a quer para si e somente a
concede aos outros quando não lhe fira de modo algum as prerrogativas. Alimentando todos as
mesmas pretensões, têm resultado os perpétuos conflitos que os levam a pagar bem caro os raros
gozos que logram obter.
Identifique-se o homem cem a vida futura e completamente mudará a sua maneira de ver, como a do indivíduo que apenas por poucas horas haja de permanecer numa habitação má e que
sabe que, ao sair, terá outra, magnífica, para o resto de seus dias.
A importância da vida presente, tão triste, tão curta, tão efêmera, se apaga, para ele, ante o esplendor do futuro infinito que se lhe desdobra às vistas. A consequência natural e lógica dessa certeza é sacrificar o homem um presente fugidio a um porvir duradouro, ao passo que antes ele tudo sacrificava ao presente. Tomando por objetivo a vida futura, pouco lhe importa estar um pouco
mais ou um pouco menos nesta outra; os interesses mundanos passam a ser o acessório, em vez
de ser o principal; ele trabalha no presente com o fito de assegurar a sua posição no futuro, tanto
mais quando sabe em que condições poderá ser feliz.
Pelo que toca aos interesses terrenos, podem os humanos criar-lhe obstáculos: ele tem que os
afastar e se torna egoísta pela força mesma das coisas. Se lançar os olhos para o alto, para uma felicidade a que ninguém pode obstar, interesse nenhum se lhe deparará em oprimir a quem quer
que seja e o egoísmo se lhe torna carente de objeto. Todavia, restará o estimulante do orgulho.
A causa do orgulho está na crença, em que o homem se firma, da sua superioridade individual.
Ainda ai se faz sentir a influência da concentração dos pensamentos sobre a vida corpórea. Naquele que nada vê adiante de si, atrás de si, nem acima de si, o sentimento da personalidade sobrepuja e o orgulho fica sem contrapeso.
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A vincredulidade não só carece de meios para combater o orgulho, como o estimula e lhe dá razão, negando a existência de um poder superior à Humanidade. O incrédulo apenas crê em si
mesmo; é, pois, natural que tenha orgulho. Enquanto que, nos golpes que o atingem, unicamente
vê uma obra do acaso e se ergue para combatê-la, aquele que tem fé percebe a mão de Deus e se
submete. Crer em Deus e na vida futura é, conseguintemente, a primeira condição para moderar o
orgulho; porém, não basta. Juntamente com o futuro, é necessário ver o passado, para fazer ideia
exata do presente.
Para que o orgulhoso deixe de crer na sua superioridade, cumpre se lhe prove que ele não é
mais do que os outros e que estes são tanto quanto ele; que a igualdade é um fato e não apenas
uma bela teoria filosófica; que estas verdades ressaltam da preexistência da alma e da reencarnação.
Sem a preexistência da alma, o homem é induzido a acreditar que Deus, dado creia em Deus,
lhe conferiu vantagens excepcionais; quando não crê em Deus, rende graças ao acaso e ao seu
próprio mérito. Iniciando-o na vida anterior da alma, a preexistência lhe ensina a distinguir, da vida corporal, transitória, a vida espiritual, infinita; ele fica sabendo que as almas saem todas iguais
das mãos do Criador; que todas têm o mesmo ponto de partida e a mesma finalidade, que todas
hão de alcançar, em mais ou menos tempo, conforme os esforços que empreguem; que ele próprio não chegou a ser o que é, senão depois de haver, por longo tempo e penosamente, vegetado,
como os outros, nos degraus inferiores da evolução; que, entre os mais atrasados e os mais adiantados, não há senão uma questão de tempo; que as vantagens do nascimento são puramente corpóreas e independem do Espírito; que o simples proletário pode, noutra existência, nascer num
trono e o maior potentado renascer proletário.
Se levar em conta unicamente a vida planetária, ele vê apenas as desigualdades sociais do momento, que são as que o impressionam; se, porém, deitar os olhos sobre o conjunto da vida do Espírito, sobre o passado e o futuro, desde o ponto de partida até o de chegada, aquelas desigualdades somem e ele reconhece que Deus nenhuma vantagem concedeu a qualquer de seus filhos em
prejuízo dos outros; que deu parte igual a todos e não aplanou o caminho mais para uns do que
para outros; que o que se apresenta menos adiantado do que ele na Terra pode tomar-lhe a dianteira, se trabalhar mais do que ele por aperfeiçoar-se; reconhecerá, finalmente, que, nenhum chegando ao termo senão por seus esforços, o princípio da igualdade é um princípio de justiça e uma
lei da Natureza, perante a qual cai o orgulho do privilégio.
Provando que os Espíritos podem renascer em diferentes condições sociais, quer por expiação,
quer por provação, a reencarnação ensina que, naquele a quem tratamos com desdém, pode estar
um que foi nosso superior ou nosso igual noutra existência, um. amigo ou um parente. Se o soubesse, o que com ele se defronta o trataria com atenções, mas, nesse caso, nenhum mérito teria;
por outro lado, se soubesse que o seu amigo atual foi seu inimigo, seu servo ou seu escravo, sem
dúvida o repeliria. Ora, não quis Deus que fosse assim, pelo que lançou um véu sobre o passado.
Deste modo, o homem é levado a ver, em todos, irmãos seus e seus iguais, donde uma base natural para a fraternidade; sabendo que pode ser tratado como haja tratado os outros, a caridade se
lhe torna um dever e uma necessidade fundados na própria Natureza.
Jesus assentou o princípio da caridade, da igualdade e da fraternidade, fazendo dele uma condição expressa para a salvação; mas, estava reservado à terceira manifestação da vontade de Deus,
ao Espiritismo, pelo conhecimento que faculta da vida espiritual, pelos novos horizontes que desvenda e pelas leis que revela, sancionar esse princípio, provando que ele não encerra uma simples
doutrina moral, mas uma lei da Natureza que o homem tem o máximo interesse em praticar. Ora,
ele a praticará desde que, deixando de encarar o presente como o começo e o flui, compreenda a
solidariedade que existe entre o presente, o passado e o futuro. No campo imenso do infinito, que
o Espiritismo lhe faz entrever, anula-se a sua importância capital e ele percebe que, por si só, nada
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vale e nada é; que todos têm necessidade uns dos outros e que uns não são mais do que os outros: duplo golpe, no seu egoísmo e no seu orgulho.
Mas, para isso, é-lhe necessária a fé, sem a qual permanecerá na rotina do presente, não a fé
cega, que foge à luz, restringe as ideias e, em consequência, alimenta o egoísmo. É-lhe necessária
a fé inteligente, racional, que procura a claridade e não as trevas, que ousadamente rasga o véu
dos mistérios e alarga o horizonte. Essa fé, elemento básico de todo progresso, é que o Espiritismo
lhe proporciona, fé robusta, porque assente na experiência e nos fatos, porque lhe fornece provas
palpáveis da imortalidade da sua alma, lhe mostra donde ele vem, para onde vai e por que está na
Terra e, finalmente, lhe firma as ideias, ainda incertas, sobre o seu. passado e sobre o seu futuro.
Liberdade, igualdade, fraternidade
(livro: “Obras Póstumas” – primeira parte)
Liberdade, igualdade, fraternidade. Estas três palavras constituem, por si sós, o programa de toda uma ordem social que realizaria o mais absoluto progresso da Humanidade, se os princípios
que elas exprimem pudessem receber integral aplicação. Vejamos quais os obstáculos que, no estado atual da sociedade, se lhes opõem e, ao lado do mal, procuremos o remédio.
A fraternidade, na rigorosa acepção do termo, resume todos os deveres dos homens, uns para
com os outros. Significa: devotamento, abnegação, tolerância, benevolência, indulgência. É, por
excelência, a caridade evangélica e a aplicação da máxima: “Proceder para com os outros, como
quereríamos que os outros procedessem para conosco.” O oposto do egoísmo. A fraternidade diz:
“Um por todos e todos por um.” O egoísmo diz: “Cada um por si.” Sendo estas duas qualidades a
negação uma da outra, tão impossível é que um egoísta proceda fraternalmente para com os seus
semelhantes, quanto a um avarento ser generoso, quanto a um indivíduo de pequena estatura
atingir a de um outro alto. Ora, sendo o egoísmo a chaga dominante da sociedade, enquanto ele
reinar soberanamente, impossível será o reinado da fraternidade verdadeira. Cada um a quererá
em seu proveito; não quererá, porém, praticá-la em proveito dos outros, ou, se o fizer, será depois
de se certificar de que não perderá coisa alguma.
Considerada do ponto de vista da sua importância para a realização da felicidade social, a fraternidade está na primeira linha: é a base. Sem ela, não poderiam existir a igualdade, nem a liberdade séria. A igualdade decorre da fraternidade e a liberdade é consequência das duas outras.
Com efeito, suponhamos uma sociedade de homens bastante desinteressados, bastante bons e
benévolos para viverem fraternalmente, sem haver entre eles nem privilégios, nem direitos excepcionais, pois de outro modo não haveria fraternidade. Tratar a alguém de irmão é tratá-lo de
igual para igual; é querer quem assim o trate, para ele, o que para si próprio quereria. Num povo
de irmãos, a igualdade será a consequência de seus sentimentos, da maneira de procederem, e se
estabelecerá pela força mesma das coisas. Qual, porém, o inimigo da igualdade? O orgulho, que
faz queira o homem ter em toda parte a primazia e o domínio, que vive de privilégios e exceções,
poderá suportar a igualdade social, mas não a fundará nunca e na primeira ocasião a desmantelará. Ora, sendo também o orgulho uma das chagas da sociedade, enquanto não for banido, oporá
obstáculo à verdadeira igualdade.
A liberdade, dissemo-lo, é filha da fraternidade e da igualdade. Falamos da liberdade legal e não
da liberdade natural, que, de direito, é imprescritível para toda criatura humana, desde o selvagem até o civilizado. Os homens que vivam como irmãos, com direitos iguais, animados do sentimento de benevolência recíproca, praticarão entre si a justiça, não procurarão causar danos uns
aos outros e nada, por conseguinte, terão que temer uns dos outros. A liberdade nenhum perigo
oferecerá, porque ninguém pensará em abusar dela em prejuízo de seus semelhantes. Mas, como
poderiam o egoísmo, que tudo quer para si, e o orgulho, que incessantemente quer dominar, dar
a mão à liberdade que os destronaria? O egoísmo e o orgulho são, pois, os inimigos da liberdade,
como o são da igualdade e da fraternidade.
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A liberdade pressupõe confiança mútua. Ora, não pode haver confiança entre pessoas dominadas pelo sentimento exclusivista da personalidade. Não podendo cada uma satisfazer- se a si própria senão à custa de outrem, todas estarão constantemente em guarda umas contra as outras.
Sempre receosas de perderem o a que chamam seus direitos, a dominação constitui a condição
mesma da existência de todas, pelo que armarão continuamente ciladas à liberdade e a coarctarão
quanto puderem.
Aqueles três princípios são, pois, conforme acima dissemos, solidários entre si e se prestam mútuo apoio; sem a reunião deles o edifício social não estaria completo. O da fraternidade não pode
ser praticado em toda a pureza, com exclusão dos dois outros, porquanto, sem a igualdade e a liberdade, não há verdadeira fraternidade. A liberdade sem a fraternidade é rédea solta a todas as
más paixões, que desde então ficam sem freio; com a fraternidade, o homem nenhum mau uso faz
da sua liberdade: é a ordem; sem a fraternidade, usa da liberdade para dar curso a todas as suas
torpezas: é a anarquia, a licença. Por isso é que as nações mais livres se veem obrigadas a criar restrições à liberdade. A igualdade, sem a fraternidade, conduz aos mesmos resultados, visto que a
igualdade reclama a liberdade; sob o pretexto de igualdade, o pequeno rebaixa o grande, para lhe
tomar o lugar, e se torna tirano por sua vez; tudo se reduz a um deslocamento de despotismo.
Seguir-se-á daí que, enquanto os homens não se acharem imbuídos do sentimento de fraternidade, será necessário tê-los em servidão? Dar-se-á sejam inaptas as instituições fundadas sobre os
princípios de igualdade e de liberdade? Semelhante opinião fora mais que errônea; seria absurda.
Ninguém espera que uma criança se ache com o seu crescimento completo para lhe ensinar a andar. Quem, ao demais, os tem sob tutela? Serão homens de ideias elevadas e generosas, guiados
pelo amor do progresso? Serão homens que se aproveitem da submissão dos seus inferiores para
lhes desenvolver o senso moral e elevá-los pouco a pouco à condição de homens livres? Não; são,
em sua maioria, homens ciosos do seu poder, a cuja ambição e cupidez outros homens servem de
instrumentos mais inteligentes do que animais e que, então, em vez de emancipá-los, os conservam, por todo o tempo que for possível, subjugados e na ignorância.
Mas, esta ordem de coisas muda de si mesma, pelo poder irresistível do progresso. A reação é
não raro violenta e tanto mais terrível, enquanto o sentimento da fraternidade, imprudentemente
sufocado, não logra interpor o seu poder moderador; a luta se empenha entre os que querem tomar e os que querem reter; daí um conflito que se prolonga às vezes por séculos. Afinal, um equilíbrio fictício se estabelece; há qualquer coisa de melhor. Sente-se, porém, que as bases sociais
não estão sólidas; a cada passo o solo treme, por isso que ainda não reinam a liberdade e a igualdade, sob a égide da fraternidade, porque o orgulho e o egoísmo continuam empenhados em fazer se malogrem os esforços dos homens de bem.
Todos vós que sonhais com essa idade de ouro para a Humanidade trabalhai, antes de tudo, na
construção da base do edifício, sem pensardes em lhe colocar a cúpula; ponde-lhe nas primeiras
fiadas a fraternidade na sua mais pura acepção. Mas, para isso, não basta decretá-la e inscrevê-la
numa bandeira; faz-se mister que ela esteja no coração dos homens e não se muda o coração dos
homens por meio de ordenações. Do mesmo modo que para fazer que um campo frutifique, é necessário se lhe arranquem os pedrouços e os tocos, aqui também é preciso trabalhar sem descanso por extirpar o vírus do orgulho e do egoísmo, pois que aí se encontra a causa de todo o mal, o
obstáculo real ao reinado do bem. Eliminai das leis, das instituições, das religiões, da educação até
os últimos vestígios dos tempos de barbárie e de privilégios, bem como todas as causas que alimentam e desenvolvem esses eternos obstáculos ao verdadeiro progresso, os quais, por assim dizer, bebemos com o leite e aspiramos por todos os poros na atmosfera social. Somente então os
homens compreenderão os deveres e os benefícios da fraternidade e também se firmarão por si
mesmos, sem abalos, nem perigos, os princípios complementares, os da igualdade e da liberdade.
Será possível a destruição do orgulho e do egoísmo? Responderemos alto e terminantemente:
SIM. Do contrário, forçoso seria determinar um ponto de parada ao progresso da Humanidade.
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Que o homem cresce em inteligência, é fato incontestável; terá ele chegado ao ponto culminante,
além do qual não possa ir? Quem ousaria sustentar tão absurda tese? Progride ele em moralidade? Para responder a esta questão, basta se comparem as épocas de um mesmo país. Por que teria ele atingido o limite do progresso moral e não o do progresso intelectual? Sua aspiração por
uma melhor ordem de coisas é indício da possibilidade de alcançá-la. Aos que são progressistas
cabe acelerar esse movimento por meio do estudo e da utilização dos meios mais eficientes.
Fora da caridade não há salvação
(livro: “Obras Póstumas” – segunda parte)
Estes princípios, para mim, não existem apenas em teoria, pois que os ponho em prática; faço
tanto bem quanto o permite a minha posição; presto serviços quando posso; os pobres nunca foram repelidos de minha porta, ou tratados com dureza; foram recebidos sempre, a qualquer hora,
com a mesma benevolência; jamais me queixei dos passos que hei dado para fazer um benefício;
pais de família têm saído da prisão, graças aos meus esforços. Certamente, não me cabe inventariar o bem que já pude fazer; mas, do momento em que parecem esquecer tudo, é-me lícito, creio,
trazer à lembrança que a minha consciência me diz que nunca fiz mal a ninguém, que hei praticado todo o bem que esteve ao meu alcance, e isto, repito-o, sem me preocupar com a opinião de
quem quer que seja.
A esse respeito trago tranquila a consciência; e a ingratidão com que me hajam pago em mais
de uma ocasião não constituirá motivo para que eu deixe de praticá-lo. A ingratidão é uma das
imperfeições da Humanidade e, como nenhum de nós está isento de censuras, é preciso desculpar
os outros, para que nos desculpem, de sorte a podermos dizer como Jesus-Cristo: “atire a primeira
pedra aquele que estiver sem pecado”. Continuarei, pois, a fazer todo o bem que me seja possível,
mesmo aos meus inimigos, porquanto o ódio não me cega. Sempre lhes estenderei as mãos, para
tirá-los de um precipício, se se oferecer oportunidade.
Eis como entendo a caridade cristã. Compreendo uma religião que nos prescreve retribuamos o
mal com o bem e, com mais forte razão, que retribuamos o bem com o bem. Nunca, entretanto,
compreenderia a que nos prescrevesse que paguemos o mal com o mal.
(Pensamentos íntimos de Allan Kardec num documento achado entre os seus papéis)
Terceiro discurso de Allan Kardec
(livro: “Viagem Espírita em 1862”)
Quando consideramos o estado atual da sociedade, somos tentados a olhar sua transformação
como um milagre. Pois bem! É um milagre que o Espiritismo pode e deve realizar, porque está nos
desígnios de Deus, mediante a palavra de ordem: Fora da caridade não há salvação. Que a sociedade tome esta máxima por divisa e a ela conforme sua conduta, em lugar daquela que está na
ordem do dia: A caridade bem ordenada começa por si, e tudo se modificará. Toda a questão consiste em fazê-la aceita. Bem sabeis, senhores, que a palavra caridade tem uma acepção muito ampla. Há caridade em pensamentos, em palavras, em ações; não consiste apenas na esmola. Alguém
é caridoso em pensamentos sendo indulgente para com as faltas do próximo; caridoso em palavras, nada dizendo que possa prejudicar a outrem; caridoso em ações quando assiste o próximo na
medida de suas forças. O pobre, que partilha seu naco de pão com outro mais pobre que ele, é
mais caridoso e tem mais mérito aos olhos de Deus do que aquele que dá do supérfluo, sem de
nada se privar. Quem quer que alimente contra o próximo sentimentos de ódio, de animosidade,
de inveja, de rancor, falta com a caridade. A caridade é a antítese do egoísmo; a primeira é a abnegação da personalidade, o segundo é a exaltação da personalidade. Uma diz: Para vós em III
primeiro lugar, para mim depois; e o outro: Para mim antes, para vós se sobrar. A primeira está
toda inteira nestas palavras do Cristo: "Fazei aos outros o que quereríeis que vos fizessem." Numa
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palavra, aplica-se sem exceção a todas as relações sociais. Haveremos de convir que, se todos os
membros de uma sociedade agissem de conformidade com esse princípio, haveria menos decepções na vida. Desde que dois homens estejam juntos, contraem, por isto mesmo, deveres recíprocos; se quiserem viver em paz, serão obrigados a se fazerem mútuas concessões. Esses deveres
aumentam com o número dos indivíduos; as aglomerações formam um todo coletivo que também
tem suas obrigações respectivas. Tendes, pois, além das relações de indivíduo a indivíduo, as de
cidade a cidade, de país a país. Essas relações podem ter dois móveis que são a negação um do outro: o egoísmo e a caridade, pois que há também egoísmo nacional. Com o egoísmo, prevalece o
interesse pessoal, cada um vive para si, vendo no semelhante apenas um antagonista, uni rival que
pode concorrer conosco, que podemos explorar ou que pode nos explorar; aquele que fará o possível para chegar antes de nós: a vitória é do mais esperto e a sociedade - coisa triste de dizer,
muitas vezes consagra essa vitória, o que faz com que ela se divida em duas classes principais: os
exploradores e os explorados. Disso resulta um antagonismo perpétuo, que faz da vida um tormento, um verdadeiro inferno. Substituí o egoísmo pela caridade e tudo se modificará; ninguém
procurará fazer o mal ao seu vizinho; os ódios e os ciúmes se extinguirão por falta de combustível,
e os homens viverão em paz, ajudando-se mutuamente em vez de se dilacerarem. Se a caridade
substituir o egoísmo, todas as instituições sociais serão fundadas sobre o princípio da solidariedade e da reciprocidade; o forte protegerá o fraco, em vez de o explorar.
E um belo sonho, dirão; infelizmente não passa de um sonho; o homem é egoísta por natureza,
por necessidade e o será sempre. Se assim fosse, o que seria muito triste, é o caso de se perguntar
com que objetivo o Cristo veio até nós pregar a caridade aos homens; equivaleria a pregar aos
animais. Examinemos, contudo, a questão. Há progresso do selvagem ao homem civilizado? Não
se procura, diariamente, abrandar os costumes dos selvagens? Mas, com que finalidade, se o homem é incorrigível? Estranha bizarria! Esperais corrigir selvagens e pensais que o homem civilizado
não pode melhorar-se! Se o homem civilizado tivesse a pretensão de haver atingido o último limite do progresso acessível à espécie humana, bastaria comparar os costumes, o caráter, a legislação, as instituições sociais de hoje com as de outrora. E, no entanto, os homens de outrora, também eles, acreditavam ter alcançado o último degrau. Que teria respondido um grão-senhor do
tempo de Luís XIV se lhe tivessem dito que poderia dispor de uma ordem de coisas melhor, mais
equitativa, mais humana do que a então vigente? Que esse regime mais equitativo seria a abolição
dos privilégios de castas e a igualdade do grande e do pequeno diante da lei? O audacioso que assim falasse talvez pagasse caro sua temeridade.
Embora o homem tenha progredido do ponto de vista moral, deve-se convir que esse progresso
se realizou principalmente no sentido intelectual. Por quê? Eis ainda um desses problemas que só
ao Espiritismo estava dado explicar, mostrando-nos que a moral e a inteligência raramente caminham lado a lado; enquanto o homem dá alguns passos num deles, se retarda no outro. Mais tarde, porém, torna a ganhar o terreno que havia perdido, e as duas forças acabam por se equilibrar
nas encarnações sucessivas. O homem chegou a um período em que as ciências, as artes e a indústria atingiram um limite até hoje desconhecido; se os gozos que delas tira satisfazem à vida material, deixam um vazio na alma; o homem aspira a algo melhor: sonha com melhores instituições;
quer a vida, a felicidade, a igualdade, a justiça para todos. Mas, como atingir tudo isso com os vícios da sociedade e, sobretudo, com o egoísmo? O homem sente, pois, a necessidade do bem para ser feliz; compreende que só o reino do bem pode dar a felicidade a que tanto aspira. Esse reinado ele o pressente, porquanto, instintivamente, tem fé na justiça de Deus e uma voz secreta lhe
diz que uma nova era vai iniciar-se. Como se dará isto? Uma vez que o reino do bem é incompatível com o egoísmo, é preciso que o egoísmo seja destruído. Ora, quem o pode destruir? A predominância do sentimento do amor, que leva os homens a se tratarem como irmãos e não como
inimigos. A caridade é a base, a pedra angular de todo o edifício social; sem ela o homem só construirá sobre a areia. Que os esforços e, sobretudo, os exemplos de todos os homens de bem con-
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corram, pois, para propagá-la; que não se desencorajem se virem uma recrudescência das más
paixões. Elas são os inimigos do bem e, vendo o seu avanço, investem contra ele; mas Deus permitiu que, por seus próprios excessos, elas se destruíssem. O paroxismo de um mal é sempre o sinal
de que chega ao seu fim.
Acabo de dizer que sem a caridade o homem não constrói senão sobre a areia. Um exemplo nos
fará compreender melhor.
Alguns homens bem-intencionados, tocados pelos sofrimentos de uma parte de seus semelhantes, julgaram encontrar o remédio para o mal em certos sistemas de reforma social. Com pequenas diferenças, o princípio é mais ou menos o mesmo em todos eles, seja qual for o nome que se
lhes dê. Vida comunitária por ser a menos onerosa; comunidade de bens, para que todos tenham
sua parte; participação de todos para a obra comum; nada de grandes riquezas, mas, também, nada de miséria. Isto era muito sedutor para quem, nada tendo, já via a bolsa do rico entrar no fundo
social, sem calcular que a totalidade das riquezas, postas em comum, criaria uma miséria geral, em
vez de uma miséria parcial; que a igualdade hoje estabelecida seria rompida amanhã pela mobilidade da população e pela diferença entre as aptidões; que a igualdade permanente dos bens supõe a igualdade de capacidades e de trabalho. Mas, não é esta a questão; não entra em minhas
cogitações examinar o lado positivo e negativo desses sistemas. Faço abstração das impossibilidades que acabo de citar e me proponho considerá-los de um outro ponto de vista que, parece-me,
ainda não preocupou a ninguém e que se relaciona com o nosso assunto.
Os autores, fundadores ou promotores de todos esses sistemas, sem exceção, não tiveram em
mira senão a organização da vida material de uma maneira proveitosa a todos. O objetivo é louvável, sem dúvida. Resta saber se, nesse edifício, não falta a única base que poderia consolidá-lo,
admitindo-se que fosse praticável.
A comunidade é a abnegação mais completa da personalidade. Cada um devendo dar de si pessoalmente, ela requer o mais absoluto devotamento. Ora, o móvel da abnegação e do devotamento é a caridade, isto é, o amor ao próximo. Mas reconhecemos que o fundamento da caridade é a
crença; que a falta de crença conduz ao materialismo e o materialismo leva ao egoísmo. Um sistema que, por sua natureza e para sua estabilidade, requer virtudes morais no mais supremo grau,
deve tomar seu ponto de partida no elemento espiritual. Pois bem! já que o lado material é o seu
objetivo exclusivo, não só o elemento espiritual não é levado em consideração, como vários sistemas são fundados sobre uma doutrina materialista altamente confessada, ou sobre o panteísmo,
espécie de materialismo disfarçado, verdadeiro adorno do belo nome de fraternidade. Mas a fraternidade, assim como a caridade, não se impõe nem se decreta; é preciso que esteja no coração e
não será um sistema que a fará nascer, se lá ela não estiver; caso contrário o sistema ruirá e dará
lugar à anarquia.
A experiência aí está para provar que não se sufocam nem as ambições, nem a cupidez. Antes
de fazer a coisa para os homens, é preciso formar os homens para a coisa, como se formam operários, antes de lhes confiar um trabalho. Antes de construir, é preciso assegurar-se da solidez dos
materiais. Aqui os materiais sólidos são os homens de coração, de devotamento e de abnegação.
O egoísmo, o amor e a fraternidade são, como já dissemos, palavras vãs; como, então, sob o império do egoísmo, fundar um sistema que requeira a abnegação num grau tanto maior quanto tem,
por princípio essencial, a solidariedade de todos para com cada um e de cada um para com todos?
Alguns deixaram o torrão natal para ir fundar, a distância, colônias sob o regime da fraternidade;
quiseram fugir do egoísmo que os esmagava, mas o egoísmo os seguiu e lá, onde se acham, encontraram exploradores e explorados, pois lhes falta a caridade. Imaginaram que fosse suficiente
conduzir o maior número possível de criaturas, sem pensar que, ao mesmo tempo, levavam os
vermes roedores de sua instituição, arruinada tão mais rapidamente porque não tinham em si
nem força moral, nem força material suficientes.
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O que lhes faltava não eram braços numerosos, mas corações sólidos. Infelizmente, muitos não
os seguiram, porquanto, nada tendo feito alhures, julgaram estar liberados de certas obrigações
pessoais. Viram apenas um alvo sedutor, sem perceberem a espinhosa rota para o alcançar. Decepcionados em suas esperanças, reconhecendo que, antes de gozar, era preciso trabalhar muito,
sacrificar muito e sofrer bastante, tiveram por perspectiva o desânimo e o desespero. Sabeis o que
sucedeu à maioria. Seu erro é terem querido construir um edifício começando pelo teto, antes de
ter assentado fundamentos sólidos. Estudai a História e a causa da
queda dos Estados mais florescentes e por toda parte vereis a mão do egoísmo, da cupidez e da
ambição.
Sem a caridade, não há instituição humana estável; e não pode haver caridade nem fraternidade
possíveis, na verdadeira acepção da palavra, sem a crença. Aplicai-vos, pois a desenvolver esses
sentimentos que, engrandecendo-se, destruirão o egoísmo que vos mata. Quando a caridade tiver
penetrado as massas, quando se tiver transformado na fé, na religião da maioria, então vossas instituições se tornarão melhores pela força mesma das coisas; os abusos, oriundos do personalismo,
desaparecerão. Ensinai, pois, a caridade e, sobretudo, pregai pelo exemplo: é a âncora de salvação
da sociedade. Só ela pode realizar o reino do bem na Terra, que é o reino de Deus; sem ela, o que
quer que façais, só criareis utopias, das quais só vos resultarão decepções. desespero. Sabeis o
que sucedeu à maioria. Seu erro é terem querido construir um edifício começando pelo teto, antes
de ter assentado fundamentos sólidos. Estudai a História e a causa da queda dos Estados mais florescentes e por toda parte vereis a mão do egoísmo, da cupidez e da ambição. Sem a caridade,
não há instituição humana estável; e não pode haver caridade nem fraternidade possíveis, na verdadeira acepção da palavra, sem a crença. Aplicai-vos, pois a desenvolver esses sentimentos que,
engrandecendo-se, destruirão o egoísmo que vos mata.
Se o Espiritismo é uma verdade, se deve regenerar o mundo, é porque tem por base a caridade.
Ele não vem derrubar os cultos nem estabelecer um novo; proclama e prova verdades comuns a
todos, base de todas as religiões, sem se preocupar com detalhes. Não vem destruir senão uma
coisa: o materialismo, que é a negação de toda religião; não vem pôr abaixo senão um templo: o
do egoísmo e do orgulho; mas vem dar uma sanção prática a estas palavras do Cristo, que são toda a sua lei: "Amai ao vosso próximo como a vós mesmos." Não vos admireis, pois, de que ele tenha por adversários os adoradores do bezerro de ouro, cujos altares vem destruir. Tem naturalmente contra si os que acham sua moral incômoda, os que de bom grado teriam pactuado com os
Espíritos e suas manifestações, se estes condescendessem em distraí-los; se não tivesse vindo rebaixar-lhes o orgulho, pregar-lhes a abnegação, o desinteresse e a humildade. Deixai-os dizer e fazer; as coisas não deixarão de seguir sua marcha, porque estão nos desígnios de Deus.
Por sua poderosa revelação, o Espiritismo vem, pois, apressar a reforma social. Por certo seus
adversários rirão dessa pretensão e, contudo, ela nada tem de presunçosa. Demonstramos que a
incredulidade, a simples dúvida em relação ao futuro, leva o homem a se concentrar na vida presente, o que muito naturalmente desenvolve o sentimento do egoísmo. O único remédio para o
mal é concentrar a atenção sobre um outro ponto e confundi-lo, por assim dizer, a fim de que modifique seus hábitos.
Provando de maneira patente a existência do mundo invisível, o Espiritismo leva, forçosamente,
a uma ordem de ideias bem diversa, porque alarga o horizonte moral limitado à Terra. A importância da vida corporal diminui à medida que cresce a da vida espiritual; colocando-nos naturalmente num outro ponto de vista, o que nos parecia uma montanha não se nos afigura maior do
que um grão de areia. As vaidades, as ambições terrenas tornam-se puerilidades, brinquedos infantis em presença do futuro grandioso que nos aguarda. Prendendo-nos menos às coisas terrenas, menos nos satisfaremos a expensas dos outros, donde uma diminuição no sentimento do
egoísmo.
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O Espiritismo não se limita a provar o mundo invisível. Pelos exemplos que desdobra aos nossos
olhos, ele no-lo mostra em sua realidade e não tal como a imaginação o havia feito conceber; ele
no-lo revela povoado de seres felizes ou infelizes, mas prova que só a caridade, a soberana lei do
Cristo, pode assegurar, a felicidade. Por outro lado, vemos a sociedade terrestre dilacerar-se mutuamente sob o império do egoísmo, ao passo que viveria feliz e pacífica sob o domínio da caridade. Com a caridade tudo é, pois, benefício para o homem: felicidade neste mundo e no outro. Não
se trata mais, conforme a expressão de um materialista, de um sacrifício de tolos, mas, segundo a
expressão do Cristo, de um dinheiro aplicado ao cêntuplo. Com o
Espiritismo o homem compreende que tem tudo a ganhar se fizer o bem, e tudo a perder se
praticar o mal. Ora, entre a certeza - eu não direi a chance - de perder ou ganhar, a escolha não
pode ser duvidosa. Assim, a propagação da ideia espírita tende, necessariamente, a tornar melhores os homens uns para com os outros. O que ele faz hoje sobre os indivíduos, fará amanhã, em
relação às massas, quando estiver divulgado de maneira geral. Tratemos, pois, de propagá-lo no
interesse de todos.
Prevejo uma objeção que, segundo essas ideias, pode ser levantada: a de que a prática do bem
seria um cálculo interesseiro. A isso respondo que a Igreja, prometendo as alegrias do céu ou
ameaçando com as chamas do inferno, conduz ela própria os homens pela esperança e pelo temor; que o próprio Cristo afirmou que o que se der neste mundo será devolvido centuplicado. Realmente, haverá maior mérito em fazer-se o bem espontaneamente, sem pensar em suas consequências; mas, nem todos os homens já chegaram a esse estágio, e mais vale praticar o bem com
esse estimulante do que não o praticar absolutamente.
Dizem que as pessoas que fazem o bem sem desígnio premeditado e, a bem dizer, sem se darem conta do fato, não têm mérito algum, desde que não se esforçaram por fazê-lo. E um erro. O
homem não chega a nada sem esforço. Aquele que o faz espontaneamente nesta existência, teve
de lutar na precedente, e o bem acabou por se identificar com ele; daí por que tudo lhe parece natural; o bem está neles como em outras pessoas estão as ideias, que, também elas, tiveram sua
fonte num trabalho anterior. E ainda um dos problemas que o Espiritismo vem resolver. Os homens de bem tiveram também o mérito da luta; para eles a vitória já está alcançada; os outros
ainda têm que conquistá-la. Eis por que, como as crianças, precisam de um estimulante, isto é, de
uma meta a alcançar, ou, se o quiserdes, de um prêmio a conquistar. Uma outra objeção mais séria é esta: se o Espiritismo produz todos esses resultados, os espíritas devem ser os primeiros a se
aproveitarem deles. A abnegação, o devotamento, o desinteresse, a indulgência para com os outros, a abstenção absoluta de toda palavra ou de todo ato que possa prejudicar o próximo; numa
palavra, a caridade em sua mais pura acepção deve ser a regra invariável de sua conduta. Não devem conhecer nem o orgulho, nem o ciúme, nem a inveja, nem o rancor, nem as tolas vaidades,
nem as pueris susceptibilidades do amor-próprio; devem fazer o bem pelo bem, com modéstia e
sem ostentação, praticando esta máxima do Cristo: "Que a vossa mão esquerda não saiba o que
dá a vossa mão direita", a fim de que não se lhes aplique estes versos de Racine: Um benefício lançado em rosto vale sempre por uma ofensa.
Enfim, a mais perfeita harmonia deve reinar entre eles. Por que, então, se citam exemplos que
parecem contradizer a eficácia dessas belas máximas?
No início das manifestações espíritas, muitos as aceitaram sem lhes prever as consequências; a
maior parte nelas não viu senão efeitos mais ou menos curiosos; mas quando daí saiu uma moral
severa, deveres rigorosos a cumprir, muitos se sentiram sem forças para praticá-la e a ela se conformarem. Faltou-lhes coragem, devotamento, abnegação, humildade; em tais indivíduos a natureza corporal prevaleceu sobre a espiritual. Acreditaram, mas recuaram diante da execução. Não
havia pois, na origem, senão espíritas, isto é, crentes; a filosofia e a moral abriram a essa ciência
um horizonte novo, criando os espíritas praticantes; uns ficaram na retaguarda, os outros seguiram em frente.
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Quanto mais a moral se sublimou, tanto mais realçou as imperfeições dos que não quiseram segui-la, assim como uma luz brilhante faz ressaltar as sombras; era um espelho: alguns não quiseram nele se olhar, ou, crendo nele se reconhecerem, preferiam atirar a pedra a quem lho mostrasse. Tal é ainda a causa de certas animosidades; mas, sinto-me feliz em dizer: são exceções, pequenas sombras sobre um quadro imenso, incapazes de alterar o seu brilho. Pertencem em grande
parte ao que poderíamos chamar de espíritas da primeira formação. Quanto aos que se formaram
depois e se formam diariamente, a grande maioria aceitou a Doutrina precisamente por causa de
sua moral e de sua filosofia. Eis por que se esforçam em praticá-la.
Pretender que todos devessem tornar-se perfeitos, seria desconhecer a natureza da Humanidade; mas, ainda que não se tivessem despojado senão de algumas partes do homem velho, seria
sempre um progresso, que deve ser levado em conta. São indesculpáveis aos olhos de Deus apenas aqueles que, estando devidamente esclarecidos, não o aproveitaram como deveriam. A estes,
certamente, será pedida uma conta severa, da qual sofrerão as consequências já aqui na Terra,
como temos visto numerosos exemplos. Mas, ao lado destes, em muitos outros se operou uma
verdadeira metamorfose. Encontraram na crença espírita a força de vencer as más inclinações
desde muito tempo arraigadas, de romper com velhos hábitos, de calar ressentimentos e inimizades, de tornar menores as distâncias sociais. Pedem milagres ao Espiritismo: eis os que ele produz.
Assim, pela força das coisas, o Espiritismo terá por consequência inevitável a melhoria moral;
esta melhoria conduzirá à prática da caridade, e da caridade nascerá o sentimento da fraternidade. Quando os homens estiverem imbuídos dessas ideias, a elas conformarão suas instituições, e
será assim que realizarão, naturalmente e sem abalos, todas as reformas desejáveis. E a base sobre a qual assentarão o edifício do futuro.
Essa transformação é inevitável, porque está conforme à lei do progresso; mas, se apenas seguir
a marcha natural das coisas, sua realização poderá ainda demorar muito. Se acreditarmos na revelação dos Espíritos, está nos desígnios de Deus ativá-la e estamos nos tempos preditos para isso. A
concordância das comunicações a esse respeito é um fato digno de nota; de todos os lados é dito
que nos aproximamos da era nova e que grandes coisas irão cumprir-se. Todavia, seria um erro
acreditar que o mundo está ameaçado por um cataclismo material. Examinando as palavras do
Cristo, é evidente que nesta, como em muitas outras circunstâncias, ele falou de maneira alegórica. A renovação da Humanidade, o reino do bem sucedendo ao reino do mal são coisas bastante
notáveis que podem realizar-se sem que haja necessidade de englobar o mundo num naufrágio
universal, nem fazer que apareçam fenômenos extraordinários, nem derrogar as leis naturais. É
sempre neste sentido que os Espíritos se têm exprimido.
Tendo a Terra alcançado o tempo marcado para se tornar uma morada feliz, elevando-se assim
na hierarquia dos mundos, basta a Deus não mais permitir aos Espíritos imperfeitos que aqui se
reencarnem; que daqui afaste os que, por orgulho, incredulidade e maus instintos constituem obstáculo ao progresso e perturbam a boa harmonia, como procedeis vós mesmos numa assembleia
em que necessitais ter paz e tranquilidade e da qual afastais aqueles que a ela possam trazer desordem; como se expulsa de um país os malfeitores, que são degredados em regiões longínquas;
que na raça, ou melhor, para nos servirmos das palavras do Cristo, na geração dos Espíritos enviados em expiação à Terra, desapareçam os que se mantiveram incorrigíveis, a fim de serem substituídos por uma geração de Espíritos mais adiantados. Para isto, basta uma geração de homens e a
vontade de Deus, que pode, mediante acontecimentos inesperados, não obstante muito naturais,
ativar sua partida daqui. Se, pois, como foi dito, a maior parte das crianças que hoje nascem pertencem à nova geração de Espíritos melhores, e cada dia partindo as piores para não mais voltarem, é evidente que, em dado tempo, haverá uma renovação completa. O que acontecerá com os
Espíritos exilados? Irão para mundos inferiores, onde expiarão o seu endurecimento por longos
séculos de provas terríveis, pois que também eles são anjos rebeldes que menosprezaram o poder
de Deus e se revoltaram contra suas leis, que o Cristo lhes viera recordar.
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Seja como for, nada se faz bruscamente em a Natureza. A velha levedura deixará ainda, durante
algum tempo, traços que se apagarão pouco a pouco. Quando os Espíritos nos dizem, e o fazem
por toda parte, que nos aproximamos desse momento, não creiais que sejamos testemunhas de
uma transformação visível; querem significar que estamos no momento da transição; que assistimos à partida dos antigos e à chegada dos novos, que virão fundar uma nova ordem de coisas, isto
é, o reino da justiça e da caridade, que é o verdadeiro reino de Deus, predito pelos profetas, e cujas vias o Espiritismo vem preparar.
Como vedes, senhores, já estamos bem longe das mesas girantes e, contudo, apenas alguns
anos nos separam desse berço do Espiritismo! Quem quer que tivesse sido bastante audacioso então para predizer o que hoje ele é, teria passado por insensato aos olhos dos próprios adeptos.
Vendo uma pequena semente, quem poderia compreender, se não a tivesse visto, que dali sairia
uma árvore imensa? Vendo a criança nascida no estábulo de uma pobre aldeia da Judéia, quem
poderia imaginar que, sem fausto e sem poder mundano, sua simples voz abalaria o mundo, assistido somente por alguns pescadores ignorantes e pobres como Ele? Dá-se o mesmo com o Espiritismo que, saído de um humilde e vulgar fenômeno, já estende raízes em todas as direções, cujos
ramos em breve albergarão a Terra inteira. E que as coisas vão depressa, quando Deus o quer; e
quem não veria aí o dedo de Deus, considerando-se que nada acontece sem a sua vontade?
Vendo a marcha irresistível das coisas, podeis dizer também, como outrora os cruzados, marchando para a conquista da Terra Santa: Deus o quer! mas, com esta diferença: eles marchavam
com o ferro e o fogo na mão, ao passo que não tendes por arma senão a caridade que, em vez de
provocar ferimentos mortais, derrama um bálsamo salutar sobre os corações doloridos. E, com esta arma pacífica, que brilha aos olhos como um raio divino, e não como um ferro assassino, que
semeia a esperança, e não o temor, tereis, dentro de alguns anos, levado ao E com a caridade por
guia que o Espiritismo caminha para a conquista do mundo.
É uma quimera, um sonho fantástico o quadro que vos tracei? Não! a razão, a lógica, a experiência, tudo diz que é uma realidade.
Espíritas! Sois os pioneiros dessa grande obra; tornai-vos dignos da gloriosa missão, cujos primeiros frutos já recolheis. Pregai por palavras, mas, sobretudo, pregai pelo exemplo; fazei que, em
se vos vendo, não possam dizer que as máximas que ensinais são palavras vãs em vossa boca. A
exemplo dos apóstolos, fazei milagres, pois Deus vos concedeu o dom. Não milagres para ferir os
sentidos, mas milagres de caridade e de amor. Sede bons para com os vossos irmãos, sede bons
para com todo mundo, sede bons para com os vossos inimigos! A exemplo dos apóstolos, expulsai
os demônios, já que tendes poder para tanto, pois eles pululam em torno de vós: são os demônios
do orgulho, da ambição, da inveja, do ciúme, da cupidez, da sensualidade, que insuflam todas as
más paixões e semeiam por entre vós os pomos da discórdia. Expulsai-os de vossos corações, a fim
de que tenhais a força necessária para expulsá-los dos corações alheios. Fazei esses milagres e
Deus vos abençoará e as gerações futuras vos bendirão, como as de agora abençoam os primeiros
cristãos, muitos dos quais revivem entre vós para assistir e concorrer ao coroamento da obra do
Cristo. Fazei esses milagres e vossos nomes serão inscritos gloriosamente nos anais do Espiritismo.
Não ofusqueis esse brilho por sentimentos e atos indignos de verdadeiros espíritas, de espíritas
cristãos. Despojai-vos, o quanto antes, de tudo quanto possa ainda restar em vós do velho levedo.
Considerai que de um momento para outro, amanhã talvez, o anjo da morte pode vir bater à vossa
porta e vos dizer: Deus te chama para que lhe prestes conta do que fizeste de sua palavra, da palavra de seu Filho, que Ele fez repetir pelos bons Espíritos. Ficai, pois, sempre prontos para partir e
não façais como o viajor imprudente que é pego desprevenido. Fazei vossas provisões com antecipação, isto é, provisões de boas obras e de bons sentimentos, porquanto, infeliz daquele que o
momento fatal surpreende com ódio, inveja ou ciúme no coração; terão por escolta os maus Espíritos, que se rejubilarão com as desgraças que o esperam, porque essas desgraças seriam a sua
obra. E sabeis, espíritas, quais são essas desgraças: os próprios que as sofrem vêm até vós para
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descrever os seus sofrimentos. Aos que, ao contrário, se apresentarem puros, os bons Espíritos virão estender a mão, dizendo-lhes: Irmãos, sede bem-vindos às celestes moradas, onde vos esperam cânticos de alegria!
Vossos adversários poderão rir de vossas crenças nos Espíritos e em suas manifestações, mas
não rirão das qualidades que dão essas crenças; não rirão quando virem inimigos se perdoando,
em vez de se odiarem, a paz renascer entre parentes que se dividiam, o incrédulo de outrora fazendo preces, o homem violento e colérico mostrando-se brando e pacífico, o debochado se transformando em bom pai de família, o orgulhoso que se tornou humilde, o egoísta praticando a caridade; não rirão quando perceberem que já não têm a temer a vingança de seus inimigos que se
tornaram espíritas; o rico não rirá quando verificar que o pobre não mais invejará sua fortuna e o
pobre bendirá o rico que se tornou mais humano e mais generoso, em vez de ter ciúme dele; os
chefes não rirão mais de seus subordinados e não os molestarão mais quando constatarem que se
fizeram mais escrupulosos e mais conscienciosos no cumprimento de seus deveres. Enfim, os patrões encorajarão seus servidores e administradores, quando os virem, sob o império da fé espírita, mais fiéis, mais devotados e mais sinceros. Todos dirão que o Espiritismo é bom para alguma
coisa, mesmo que seja apenas para salvaguardar seus interesses pessoais: tanto pior para os que
não quiserem ver mais além. Sob o império dessa mesma fé, o militar é mais disciplinado, mais
humano, mais fácil de ser conduzido; tem o sentimento do dever e obedece mais pela razão do
que pelo temor. E o que constatam todos os chefes imbuídos desses princípios, e eles são numerosos. Por isso se empenham para que nenhum entrave se oponha à propagação dessas ideias entre os seus subordinados.
Eis, senhores que rides, o que produz o Espiritismo, esta utopia do século dezenove,
parcialmente ainda, é verdade, mas cuja influência já se reconhece e logo compreenderão que
têm tudo a ganhar com a sua promulgação; que sua influência é uma garantia de segurança para
as relações sociais, por ser o mais poderoso freio às más paixões, às efervescências desordenadas,
mostrando o laço de amor e de fraternidade que deve unir o grande ao pequeno e o pequeno ao
grande. Fazei, pois, por vosso exemplo que logo se possa dizer: Praza a Deus que todos os homens
sejam espíritas de coração!
Caros irmãos espíritas, venho mostrar-vos a rota, fazer-vos ver o objetivo. Possam minhas palavras, por mais fracas que sejam, permitir que compreendais a sua grandeza! Mas outros virão depois de mim, que vo-la mostrarão também, e cuja voz, mais poderosa que a minha, terá para as
nações o estrondo retumbante da trombeta. Sim, meus irmãos, Espíritos, mensageiros de Deus
para estabelecer o seu reino na Terra, logo surgirão entre vós e os conhecereis por sua sabedoria e
pela autoridade de sua linguagem. À sua voz, os incrédulos e os ímpios serão tomados de admiração e de estupor, e curvarão a cabeça, pois não ousarão tratá-los de loucos. Meus irmãos, não vos
posso revelar ainda tudo quanto vos prepara o futuro! Mas, aproxima-se o tempo em que todos
os mistérios serão desvendados, para confundir os maus e glorificar os justos.
Enquanto ainda é tempo, revesti-vos, pois, da túnica branca: sufocai todas as discórdias, pois
que as discórdias pertencem ao reino do mal, que vai ter fim. Que vos possais confundir todos
numa mesma família e vos dar, do fundo do coração e sem pensamento premeditado, o nome de
irmãos. Se, entre vós, houver dissidências, causas de antagonismo; se os grupos, que devem todos
marchar para um objetivo comum, estiverem divididos, eu o lamento, sem me preocupar com as
causas, sem examinar quem cometeu os primeiros erros e me coloco, sem vacilar, do lado daquele
que tiver mais caridade, isto é, mais abnegação e verdadeira humildade, pois aquele a quem falta
a caridade está sempre em erro, ainda que coberto de algum tipo de razão, porquanto Deus maldiz a quem diz a seu irmão: Raca. Os grupos são indivíduos coletivos que devem viver em paz, como os indivíduos, se, realmente, são espíritas; são os batalhões da grande falange. Ora, em que se
tornaria uma falange, cujos batalhões se dividissem? Os que vissem os outros com olhos ciumentos provariam, só por isso, que estão sob má influência, desde que o Espírito do bem não pode
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produzir o mal. Como bem o sabeis, reconhece-se a árvore pelos seus frutos. Ora, o fruto do orgulho, da inveja e do ciúme é um fruto envenenado que mata quem dele se nutre.
O que digo das dissidências entre os grupos, digo-o igualmente para as que pudessem existir entre os indivíduos. Em semelhante circunstância, a opinião de pessoas imparciais é sempre favorável àquele que dá provas de maior grandeza e generosidade. Aqui na Terra, onde ninguém é infalível, a indulgência recíproca é uma consequência do princípio de caridade que nos leva a agir para
com os outros como gostaríamos que os outros agissem para conosco. Ora, sem indulgência não
há caridade, sem caridade não há verdadeiro espírita. A moderação é um dos sinais característicos
desse sentimento, como a acrimônia, como o rancor é a sua negação; com acrimônia e espírito
vingativo estragam-se as melhores causas, mas com moderação sempre agimos dentro dos preceitos do bom direito. Se, pois, eu tivesse de opinar em uma divergência, eu me preocuparia menos
com a causa e mais com a consequência. A causa, sobretudo em querelas de palavras, pode ser o
resultado de um primeiro movimento, de que nem sempre se é senhor; a conduta ulterior dos
dois adversários é o resultado da reflexão: eles agem de sangue-frio e é então que se forja o verdadeiro caráter normal de cada um. Uma cabeça ruim e um bom coração muitas vezes caminham
juntos, mas rancor e bom coração são incompatíveis. Minha medida de apreciação seria, pois, a
caridade, isto é, eu observaria aquele que falasse menos mal de seu adversário, que fosse mais
moderado em suas recriminações. E com esta medida que Deus nos julgará, pois que Ele será indulgente para quem tiver sido indulgente e inflexível para quem tiver sido inflexível.
O caminho traçado pela caridade é claro, infalível e sem equívocos. Poder-se-ia defini-lo assim:
"Sentimento de benevolência, de justiça e de indulgência para com o próximo, baseado no que
quereríamos que o próximo nos fizesse." Tomando-a por guia, podemos estar certos de não nos
afastar do reto caminho, daquele que conduz a Deus; quem quer que deseje, de maneira sincera e
séria, trabalhar por sua própria melhoria, deve analisar a caridade em seus mais minuciosos detalhes e por ela conformar sua conduta, pois ela se aplica a todas as circunstâncias da vida, pequenas ou grandes. Quando estivermos em dúvida sobre que partido tomar, no interesse alheio, basta
que interroguemos a caridade e ela responderá sempre de maneira justa. Infelizmente escutamos,
na maioria das vezes, a voz do egoísmo.
Sondai, pois, os refolhos de vossa alma, para arrancardes dela os últimos vestígios das más paixões, se ainda restarem; e se experimentardes algum ressentimento contra alguém, apressai-vos
em abafá-lo e dizei: Irmão, esqueçamos o passado; os maus Espíritos nos haviam separado: que os
bons nos reúnam! Se ele recusar a mão que lhe estendeis, oh! Então o lamentai, pois Deus, por
sua vez, lhe dirá: Por que pedes perdão, tu que não perdoaste? Cuidai, pois, para que se não vos
possa aplicar estes dizeres fatais: E tarde demais!
Tais são, caros irmãos espíritas, os conselhos que tenho a vos dar. A confiança que houvestes
por bem me conceder é uma garantia de que eles produzirão bons frutos. Os bons Espíritos que
vos assistem vos dizem todos os dias as mesmas coisas, mas julguei um dever apresentá-las em
conjunto, para melhor ressaltar as suas consequências. Venho, pois, em nome deles, lembrar-vos
a prática da grande lei de amor e de fraternidade que em breve deverá reger o mundo e nele fazer
reinarem a paz e a concórdia, sob o estandarte da caridade para com todos, sem acepção de seitas, de castas, nem de cores.
Com este estandarte, o Espiritismo será o traço de união que aproximará os homens divididos
pelas crenças e pelos preconceitos mundanos; ele derrubará as mais fortes barreiras que separam
os povos: o antagonismo nacional. À sombra dessa bandeira, que será o seu ponto de concentração, os homens se habituarão a ver irmãos naqueles que só viam como inimigos. Daqui até lá ainda haverá lutas, porque o mal não abandona facilmente sua presa, e os interesses materiais são
tenazes. Sem dúvida não vereis com os olhos do corpo a realização dessa obra, para a qual concorreis, embora esse momento não esteja muito distante; ademais, os primeiros anos do século próximo devem assinalar essa era nova, cujo fim deste prepara seus caminhos. Mas gozareis, com os
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olhos do Espírito, o bem que tiverdes feito, como os mártires do Cristianismo rejubilaram-se vendo os frutos produzidos pelo sangue que derramaram. Coragem, pois, e perseverança. Não vos insurjais contra os obstáculos: um campo não se torna fértil sem suor. Assim como um pai, mesmo
na velhice, constrói uma casa para seus filhos, crede que construís, para as gerações futuras, um
templo à fraternidade universal, no qual as únicas vítimas imoladas serão o egoísmo, o orgulho e
todas as paixões más que ensanguentaram a Humanidade.
Estudo sobre o Terceiro discurso de viagem espírita em 1862
(Apostila do Centro Espírita Manoel Felipe Santiago, em www.
Cemfs.com.br)
CARIDADE: REFORMA DO MUNDO
O presente estudo refere-se ao Terceiro Discurso de Kardec aos espíritas de Lyon e Bordeaux.
Esse discurso foi destacado da obra Viagem Espírita em 1862, publicada pela FEB em 2005, por
tratar da reforma moral da humanidade. Uma vez que sonhamos com um mundo melhor e mais
feliz, com menos decepções e sofrimentos, acreditamos que esse tema seja de grande importância.
Kardec começa seu discurso dizendo que quem observasse a sociedade de 1862, seria tentado a
ver a sua transformação em todos os níveis como um milagre. Diz ainda que esse milagre pode e
deve ser feito com a ajuda do Espiritismo, por meio da máxima: “Fora da caridade não há salvação!” Se todos tomassem essa máxima por divisa e transformassem sua conduta de acordo com
ela, tudo se modificaria.
EGOÍSMO X CARIDADE
Esse discurso pode parecer demagógico e sem sentido, se não atentarmos para a gravidade da
situação moral da humanidade e para a real acepção da palavra “caridade”. Kardec, para isso, coloca em foco o que é uma sociedade regida pelo egoísmo e o que é uma sociedade regida pela caridade verdadeira. Assim, poderemos associar a nossa vida individual e social com uma dessas realidades e ter em mente o problema para o qual a caridade é a única solução.
Uma sociedade egoísta, segundo Kardec em Viagem espírita em 1862:
Com o egoísmo, prevalece o interesse pessoal, cada um vive para si, vendo no semelhante apenas um antagonista, um rival que pode concorrer conosco, que podemos explorar ou que pode nos
explorar; aquele que fará o possível para chegar antes de nós: a vitória é do mais esperto e a sociedade - coisa triste de dizer, muitas vezes consagra essa vitória, o que faz com que ela se divida em
duas classes principais: os exploradores e os explorados. Disso resulta um antagonismo perpétuo,
que faz da vida um tormento, um verdadeiro inferno.(pág. 80)
E uma sociedade baseada na caridade, segundo Kardec:
Substituí o egoísmo pela caridade e tudo se modificará; ninguém procurará fazer o mal ao seu
vizinho; os ódios e os ciúmes se extinguirão por falta de combustível, e os homens viverão em paz,
ajudando-se mutuamente em vez de se dilacerarem. Se a caridade substituir o egoísmo, todas as
instituições sociais serão fundadas sobre o princípio da solidariedade e da reciprocidade; o forte
protegerá o fraco, em vez de o explorar. (pág. 80)
Mas o que é a caridade verdadeira, capaz de realizar essa transição da mentalidade egoísta para
a mentalidade cristã, que tem como pilar o amor? Temos visto, em nosso mundo material, em que
a forma costuma ter mais valor que a essência, a caridade sendo entendida e vivida como movimento exterior de assistencialismo, em que raramente o coração e alma tomam parte. Mas para
Kardec, a palavra caridade “tem uma acepção muito ampla”:
Há caridade em pensamentos, em palavras, em ações; não consiste apenas na esmola. Alguém é
caridoso em pensamentos sendo indulgente para com as faltas do próximo; caridoso em palavras,
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nada dizendo que possa prejudicar a outrem; caridoso em ações quando assiste o próximo na medida de suas forças.(pág. 79)
Ainda sobre o que é a verdadeira caridade:
Quem quer que alimente contra o próximo sentimentos de ódio, de animosidade, de inveja, de
rancor, falta com a caridade. A caridade é a antítese do egoísmo; a primeira é a abnegação da personalidade, o segundo é a exaltação da personalidade. Uma diz: Para vós em primeiro lugar, para
mim depois; e o outro: Para mim antes, para vós se sobrar. A primeira está toda nestas palavras do
Cristo: “Fazei aos outros o que quereríeis que vos fizessem.” (...) Haveremos de convir que, se todos
os membros de uma sociedade agissem de conformidade com esse princípio, haveria menos decepções na vida. (pág. 79)
Assim, para Kardec, caridade não se limita a ações exteriores de assistência mas, principalmente, à transformação da alma em atitudes, pensamentos, sentimentos e palavras, visando o bem do
outro, antes do nosso próprio bem.
O QUE É CARIDADE? EXEMPLOS: APLICAÇÕES PRÁTICAS DE CARIDADE
Temos a seguir, alguns trechos da obra Viagem espírita em 1862 que demonstram a visão kardequiana sobre a verdadeira caridade, que é a que devemos sinceramente buscar compreender e
aplicar em nossas vidas.
No trecho a seguir, Kardec comenta qual seria seu posicionamento em uma situação de divergência de opiniões.
Enquanto ainda é tempo, revesti-vos, pois, da túnica branca: sufocai todas as discórdias, pois
que as discórdias pertencem ao reino do mal, que vai ter fim. Que vos possais confundir todos numa mesma família e vos dar, do fundo do coração e sem pensamento premeditado, o nome de irmãos. Se, entre vós, houver dissidências, causas de antagonismo; se os grupos, que devem todos
marchar para um objetivo comum, estiverem divididos, eu o lamento, sem me preocupar com as
causas, sem examinar quem cometeu os primeiros erros e me coloco, sem vacilar, do lado daquele
que tiver mais caridade, isto é, mais abnegação e verdadeira humildade, pois aquele a quem falta
a caridade está sempre em erro, ainda que coberto de algum tipo de razão, porquanto Deus
maldiz a quem diz a seu irmão: Raca.(pág. 101 e 102)
Para Kardec, a verdadeira razão está com aquele que ama e não com quem aparenta ter uma
postura correta, baseada em argumentos lógicos, mas desacompanhados de caridade. Nos versos
de Racine, “Um benefício lançado em rosto vale sempre por uma ofensa” (pág. 91). Ainda sobre
essa situação, Kardec coloca que, em situações de divergência, a primeira postura dos adversários
pode ser resultado de um movimento do qual nem sempre se tem consciência, mas a conduta
posterior é resultado da reflexão e forja o verdadeiro caráter do homem, ou seja, demonstra qual
a opção feita, pela caridade ou pelo egoísmo. A medida de apreciação de Kardec, (não há essa vírgula!) seria a favor daquele que falasse menos mal do adversário, que fosse mais moderado em
suas recriminações.
Outra maneira de expressão da caridade é a capacidade de perdoar. O perdão real não é aquele
que se manifesta em palavras, mantendo o sentimento de mágoa no coração. Para atendermos,
pois, a esse chamado da caridade, é preciso que nosso coração esteja sob constante vigilância.
Estando, pois, admitido que não se pode ser bom espírita com sentimentos de rancor no coração, eu me orgulho de contar apenas com amigos entre esses últimos, pois que, se eu tiver defeitos, eles saberão desculpá-los. (pág. 54)
E ainda:
Imperdoável! Concebeis esta palavra nos lábios de pessoas que se dizem espíritas? Tal palavra
deveria ser riscada do vocabulário do Espiritismo. (pág. 61)
Kardec não quis dizer que quem ainda não consegue perdoar não é espírita, mas que todos que
querem ser bons espíritas-cristãos, que intencionam ser substancialmente transformados pelo
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Consolador Prometido, devem se esforçar para conhecer o próprio coração e extirpar dele os
maus sentimentos, como o rancor e a mágoa.
O Codificador chama a atenção ainda para o sentimento de caridade nos grupos espíritas. Ele
observa, com a profundidade da alma experiente e elevada, a realidade íntima dos integrantes
mais que as aparências.
Segundo ele, as reuniões compostas exclusivamente de verdadeiros e sinceros espíritas:
(...)daqueles nos quais fala o coração, também apresentam um aspecto muito especial; todas as
fisionomias refletem franqueza e cordialidade; nós nos sentimos à vontade nesses ambientes simpáticos, verdadeiros templos da fraternidade. Tanto quanto os homens, os Espíritos aí se comprazem, mostram-se mais expansivos e transmitem suas instruções íntimas. (pág. 36)
Não ocorre o mesmo nas reuniões onde há divergência de sentimentos:
Naquelas, ao contrário, em que há divergência de sentimentos, onde as intenções não são inteiramente puras, em que se nota o sorriso sardônico e desdenhoso em certos lábios, onde se sente o
sopro da malquerença e do orgulho, em que se teme a cada instante pisar o pé da vaidade ferida,
há sempre mal-estar, constrangimento e desconfiança. Em tais ambientes os próprios Espíritos são
mais reservados e os médiuns muitas vezes paralisados pela influência dos maus fluidos, que pesam sobre eles como um manto de gelo.(pág. 36)
OBJEÇÕES À POSSIBILIDADE DE O MUNDO SER TRANSFORMADO PELA CARIDADE
UTOPIA
Podemos pensar que essa mudança seja impossível, uma utopia. Perdoar e não se ter sentimentos divergentes seria algo inatingível para o homem inserido no atual estágio evolutivo da Terra,
ao que Allan Kardec responde: “Se assim fosse, o que seria muito triste, é o caso de se perguntar
com que objetivo o Cristo veio até nós pregar a caridade aos homens; equivaleria a pregar aos
animais.” (pág. 80)
Essa aparente renitência do homem no egoísmo ocorre porque o desenvolvimento da razão e
da moralidade não caminham lado a lado. Enquanto progredimos em um deles, negligenciamos o
outro. Atualmente, observamos uma grande tendência em valorizar o desenvolvimento racional.
Embora ele tenha trazido significativo progresso material, fez-se acompanhado de prejuízos morais. Com o tempo, por meio das encarnações e do esforço, o homem retomará o equilíbrio dessas
forças.
O homem chegou a um período em que as ciências, as artes e a indústria atingiram um limite
até hoje desconhecido; se os gozos que delas tira satisfazem à vida material, deixam um vazio na
alma; o homem aspira a algo melhor: sonha com melhores instituições; quer a vida, a felicidade, a
igualdade, a justiça para todos. (pág. 82)
CÁLCULO INTERESSEIRO
Sobre a reforma moral do mundo através da caridade, outra objeção pode surgir: a prática do
bem seria um cálculo interesseiro. A isso Kardec responde: “Realmente, haverá maior mérito em
fazer-se o bem espontaneamente, sem pensar em suas consequências; mas, nem todos os homens já chegaram a esse estágio, e mais vale praticar o bem com esse estimulante do que não o
praticar absolutamente.” (pág. 89)
Os espíritas não praticam
Uma terceira objeção que pode ser feita é a de que os espíritas deveriam compreendê-la com
maior fidelidade e dar o testemunho de sua eficácia na reforma dos homens, o que não o fazem. A
isso, Kardec esclarece que:
No início das manifestações muitos as aceitaram sem lhes prever as consequências (...); mas
quando daí saiu uma moral severa, deveres rigorosos a cumprir, muitos se sentiram sem forças para praticá-la e a ela se conformarem. Faltou-lhes coragem, devotamento, abnegação, humildade;
em tais indivíduos a natureza corporal prevaleceu sobre a espiritual. Acreditaram, mas recuaram
diante da execução. (pág. 91)
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Assim, no início, havia espíritas que apenas acreditavam no Espiritismo; e posteriormente surgiram aqueles que podemos denominar espíritas praticantes, nos quais a filosofia e a moral realizaram transformações efetivas.
COMO SE FARÁ ISTO?
SENTIMENTOS DE AMOR E CRENÇA
É fato que a caridade tem poder para transformar desde o íntimo dos homens até a mais ampla
estrutura social. Se isso não é utopia; se sua prática, mesmo por interesse, é benéfica; e se os verdadeiros espíritas estão habilitados a provar por meio de atitudes a possibilidade da transformação humana, como se dará essa mudança? Estamos diante de um problema, referente a uma
mentalidade pautada no egoísmo, e de um futuro da Humanidade, no qual a caridade estará na
base de tudo e de todos. Qual será o caminho que devemos percorrer para chegar a esse futuro?
Como se dará isto? Uma vez que o reino do bem é incompatível com o egoísmo, é preciso que o
egoísmo seja destruído. Ora, quem o pode destruir? A predominância do sentimento do amor, que
leva os homens a se tratarem como irmãos e não como inimigos. A caridade é a base, a pedra angular de todo o edifício social; sem ela o homem só construirá sobre a areia. (pág. 82)
Não será, portanto, o conhecimento espiritual apresentado pelo Espiritismo em si que nos
transformará, mas os sentimentos de amor que esse conhecimento gerar em nós, em detrimento
do egoísmo que trazemos conosco.
Há ainda outra questão. O que nos impulsionará na busca por esses sentimentos? Kardec isso
esclarece no seguinte trecho:
Sem a caridade, não há instituição humana estável; e não pode haver caridade nem fraternidade
possíveis, na verdadeira acepção da palavra, sem a crença. Aplicai-vos, pois a desenvolver esses
sentimentos que, engrandecendo-se, destruirão o egoísmo que vos mata. (pág. 86)
Assim, segundo Kardec, não é possível ser realmente caridoso sem crer, sem ter fé. Enquanto,
nossa compreensão de caridade estiver separada da crença em Deus e da vida espiritual eterna,
ainda precisaremos caminhar para completar tal entendimento.
CRENÇA NA VIDA FUTURA - SENTIDO PARA SER CARIDOSO
Demonstramos que a incredulidade, a simples dúvida em relação ao futuro, leva o homem a se
concentrar na vida presente, o que muito naturalmente desenvolve o sentimento do egoísmo.
(pág. 88)
Ao contrário, se o homem concentra suas esperanças em uma vida maior, eterna, regida por leis
que lhe trarão felicidade, mais buscará adequar-se aos valores dessa vida superior, daí um sentido
de se esforçar para viver a caridade.
- FÉ RELIGIOSA – DEUS COMO REFERENCIAL DE CARIDADE E AUTOCONHECIMENTO
O Espiritismo oferece tanto aos incrédulos explicações racionais que os fazem retomar a fé que
perderam, quanto aos religiosos reafirmações daquilo em que já creem. Mais do que explicações
racionais, aquele que se dedica ao estudo moral da Doutrina Espírita, encontrará fortes razões para confiar seu coração a Deus, fonte de todo o amor, único capaz de ensinar aos Seus filhos o que
é a verdadeira caridade.
A verdadeira fé se conjuga à humildade; aquele que a possui deposita mais confiança em Deus
do que em si próprio, por saber que, simples instrumento da vontade divina, nada pode sem Deus.
Por essa razão é que os bons Espíritos lhe vêm em auxílio. (Evangelho Segundo o Espiritismo, cap.
19, item 4).
Se vemos a Doutrina Espírita gerando poucos resultados de transformação naqueles que a professam, isso se deve à nossa dificuldade de reconhecer as próprias limitações, e de nos entregar
Àquele que pode nos proteger. Quando os espíritos dizem que nada podemos sem Deus, é porque
qualquer realização espiritual que busquemos precisa que ser baseada em total entrega de nossas
vidas às Mãos Divinas, únicas capazes de nos moldar para o bem.
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Quando buscamos reformas espirituais, sem o sentimento de religiosidade como base, agimos
como construtores imprevidentes iniciando a reforma da casa pelo telhado. Assim seremos incapazes de produzir frutos de amor para nós e para os outros, como a figueira que secou condenada
por Jesus. Segundo os espíritos, em O Evangelho segundo o Espiritismo, ela simboliza:
(…) todos aqueles que, tendo meios de ser úteis, não o são; todas as utopias, todos os sistemas
ocos, todas as doutrinas carentes de base sólida. O que as mais das vezes falta é a verdadeira fé, a
fé produtiva, a fé que abala as fibras do coração, a fé, numa palavra, que transporta montanhas. (Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. 19, item 9)
Nesse capítulo, os espíritos nos dizem que a fé é “mãe de todas as virtudes que conduzem a
Deus” (Evangelho Segundo o Espiritismo, cap.19, item 11) e ainda: “Inspiração divina, a fé desperta
todos os instintos nobres que encaminham o homem para o bem. É a base da regeneração.”
(Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. 19, item 11).
Muitos acreditam que Madre Teresa de Calcutá foi alguém que valorizou a caridade em seu aspecto estritamente material. Entretanto, vem dela o alerta da seguinte forma: "A oração faz-nos
ter um coração puro. E um coração puro é capaz de ver a Deus. Se descobrirmos Deus, seremos
capazes de amar, de amar não com palavras, mas com obras". E ainda:
Amem-se uns aos outros, como Jesus ama a cada um de vocês. Não tenho nada que acrescentar
à mensagem que Jesus nos transmitiu. Para poder amar, é preciso ter um coração puro e é preciso
rezar. O fruto da oração é o aprofundamento da fé. O fruto da fé é o amor. E o fruto do amor é o
serviço ao próximo. Isso nos conduz à paz. (Tudo Começa com a Prece, Editora Teosófica, Madre
Teresa de Calcutá)
Não estamos nos referindo a uma fé sem obras, mas a atitudes de mais valor por serem baseadas no sentimento do amor Divino. Para compreendermos melhor como o sentimento vivo em
nós do amor de Deus pode gerar caridade real, leiamos a “Parábola do Devedor Implacável” contada por Jesus no Evangelho de Mateus, capítulo 18, versículos 23 a 35:
Por isso, o Reino dos Céus é semelhante a um homem rei que quis ajustar contas com os seus
servos. Ao começar a ajustar as contas, foi trazido a ele um devedor de dez mil talento. Não tendo
ele com que pagar, o senhor ordenou que fossem vendidos ele, a mulher, as crianças, e tudo quanto tinha, para que fosse pago. Então, prosternando-se, o servo o reverenciava, dizendo: Sê longânime para comigo, e tudo te pagarei. O senhor daquele servo, compadecendo-se, liberou-o e perdoou-lhe a dívida. Saindo, porém, aquele servo, encontrou um de seus conservos, que lhe devia
cem denários e, agarrando-o, o estrangulava, dizendo: Paga, se algo me deves. Assim, prosternando-se, o seu conservo rogava-lhe, dizendo: Sê longânime para comigo, e te pagarei. Ele, porém,
não queria; mas saiu e lançou-o na prisão, até que pagasse o que estava devendo. Vendo, pois os
seus conservos o que acontecera, entristeceram-se muito, e vieram relatar ao seu senhor tudo o
que acontecera. Então, o seu senhor, convocando-o, disse-lhe: Servo mau, perdoei-te toda aquela
dívida, quando me rogaste. Não devias tu, igualmente, ter misericórdia do teu conservo, como eu
também tive misericórdia de ti? E, irando-se, o seu senhor o entregou aos carcereiros até que pagasse tudo o que estava devendo. Assim vos fará meu Pai que está nos céus, se não perdoardes, de
coração, cada um ao seu irmão. (O Novo Testamento, Tradução de Haroldo Dutra Dias)
Nessa parábola, vemos que o servo apesar de ser perdoado, não sentiu esse perdão. Assim,
condenou aquele que lhe devia muito menos. Nos coloquemos no lugar do devedor: por não sermos perfeitos, somos perdoados a todo momento por Deus. Quanto maiores as nossas imperfeições, maior é o perdão de Deus para conosco, sem mencionarmos o nosso passado reencarnatório. Mas se não nos sentimos devedores de um Pai que nos ama incondicionalmente, teremos facilidade em julgar, condenar, maldizer e deixar de fazer o bem ao nosso próximo.
Imaginemos que, em algum momento, nos sintamos enormes devedores da Bondade Divina e
que Deus, por nos amar incondicionalmente, não nos condena, mas nos oferece sempre a oportunidade da renovação. Nesse caso, será mais difícil olharmos para os outros com condenação, uma
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vez que nos sentiremos devedores perdoados. Assim, se não temos esse relacionamento de fé
com nosso Pai, não compreenderem os compreendermos o Amor Incondicional e não sentiremos
isso pelos outros. Por outro lado, se nos sentirmos amados, mesmo cheios de defeitos, teremos
mais compreensão e tolerância para oferecer a todos. Por isso, a fé é a base de qualquer transformação moral que queiramos realizar em nós, afinal ela remove montanhas (Evangelho Segundo
o Espiritismo, cap. 19, item 2):
As montanhas que a fé desloca são as dificuldades, as resistências, a má-vontade, (...). Os preconceitos da rotina, o interesse material, o egoísmo, a cegueira do fanatismo e as paixões orgulhosas são outras tantas montanhas que barram o caminho a quem trabalha pelo progresso da Humanidade. A fé robusta dá a perseverança, a energia e os recursos que fazem se vençam os obstáculos, assim nas pequenas coisas, que nas grandes. (Evangelho Segundo o Espiritismo, 19, item 2).
É movido pela fé ardente que o espírita sincero transformará sua vida e, por consequência, o
seu entorno (Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. 19, item 11):
O homem de bem que, crente em seu futuro celeste, deseja encher de belas e nobres ações a sua
existência, haure na sua fé, na certeza da felicidade que o espera, a força necessária, e ainda aí se
operam milagres de caridade, de devotamento e de abnegação. Enfim, com a fé, não há maus
pendores que se não chegue a vencer.
Em outra passagem, no Evangelho de Mateus, capítulo 18, versículos 1 a 5, Jesus afirma que para entrar no Reino dos Céus precisamos nos fazer como crianças. Ele diz ainda: “Aquele, portanto,
que se humilhar e se tornar pequeno como esta criança será o maior no reino dos céus” (Mt, 18:
4). Nesse trecho, Jesus ressalta não só a importância da pureza no caminho espiritual, mas também a da humildade. A criança pequena é dependente dos pais. Para tudo precisa de suas orientações. Uma vez que somos apenas crianças na aquisição das virtudes cristãs, é preciso nos reconhecermos dependentes de nosso Mestre Jesus, Caminho, Verdade e Vida, para que Ele nos oriente e
ensine a amar verdadeiramente. É assim, acreditamos, que as crenças no Espiritismo poderão
transformar substancialmente nossas vidas. Não serão crenças puramente intelectuais, mas sim
aquelas que aumentarão nossa fé e entrega a Deus e às Suas Leis, que por fim, serão gravadas a
caracteres de luz em nossos corações.
A TRANSFORMAÇÃO REALIZADA
E para terminar, o convite de Kardec, o grande apóstolo da fé:
Vossos adversários poderão rir de vossas crenças nos Espíritos e em suas manifestações, mas
não rirão das qualidades que dão essas crenças; não rirão quando virem inimigos se perdoando,
em vez de se odiarem, a paz renascer entre parentes que se dividiam, o incrédulo de outrora fazendo preces, o homem violento e colérico mostrando-se brando e pacífico, o debochado se transformando em bom pai de família, o orgulhoso que se tornou humilde, o egoísta praticando a caridade; não rirão quando perceberem que já não têm a temer a vingança de seus inimigos que se
tornaram espíritas; o rico não rirá quando verificar que o pobre não mais invejará sua fortuna e o
pobre bendirá o rico que se tornou mais humano e mais generoso, em vez de ter ciúme dele; os
chefes não rirão mais de seus subordinados e não os molestarão mais quando constatarem que se
fizeram mais escrupulosos e mais conscienciosos no cumprimento de seus deveres. Enfim, os patrões encorajarão seus servidores e administradores, quando os virem, sob o império da fé espírita,
mais fiéis, mais devotados e mais sinceros. (pág. 98)
Espíritas! Sois os pioneiros dessa grande obra; tornai-vos dignos da gloriosa missão, cujos primeiros frutos já recolheis. Pregai por palavras, mas, sobretudo, pregai pelo exemplo; fazei que, em
se vos vendo, não possam dizer que as máximas que ensinais são palavras vãs em vossa boca. A
exemplo dos apóstolos, fazei milagres, pois Deus vos concedeu o dom. Não milagres para ferir os
sentidos, mas milagres de caridade e de amor. Sede bons para com os vossos irmãos, sede bons
para com todo mundo, sede bons para com os vossos inimigos! A exemplo dos apóstolos, expulsai
os demônios, já que tendes poder para tanto, pois eles pululam em torno de vós: são os demônios
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do orgulho, da ambição, da inveja, do ciúme, da cupidez, da sensualidade, que insuflam todas as
más paixões e semeiam por entre vós os pomos da discórdia. Expulsai-os de vossos corações, a fim
de que tenhais a força necessária para expulsá-los dos corações alheios. Fazei esses milagres e
Deus vos abençoará e as gerações futuras vos bendirão, como as de agora abençoam os primeiros
cristãos, muitos dos quais revivem entre vós para assistir e concorrer ao coroamento da obra do
Cristo. Fazei esses milagres e vossos nomes serão inscritos gloriosamente nos anais do Espiritismo.
Não ofusqueis esse brilho por sentimentos e atos indignos de verdadeiros espíritas, de espíritas
cristãos. Despojai-vos, o quanto antes, de tudo quanto possa ainda restar em vós do velho levedo.
(pág. 96)
Apostila do Centro Espírita Manoel Felipe Santiago, em www. Cemfs.com.br .
A fé; A esperança; A caridade
(Revista Espírita, fevereiro de 1862)
(Bordeaux - médium: Sra. Cazemajoux)
A FÉ
Sou a irmã mais velha da Esperança e da Caridade. Chamo-me Fé.
Sou grande e forte. Aquele que me possui não teme o ferro nem o fogo, pois ele é à prova
de todos os sofrimentos físicos e morais. Irradio sobre vós com um facho cujos jatos brilhantes se
refletem no fundo dos vossos corações e vos comunico a força e a vida. Entre vós, dizem que
transporto montanhas, mas eu vos digo: venho erguer o mundo, porque o Espiritismo é a alavanca
que me deve ajudar. Uni-vos a mim. Eu venho convidar-vos. Eu sou a Fé.
Eu sou a Fé! Moro com a Esperança, a Caridade e o Amor, no mundo dos Espíritos Puros.
Muitas vezes deixei as regiões etéreas e vim à Terra para vos regenerar, dando-vos a vida do Espírito. Mas, fora os mártires dos primeiros tempos do Cristianismo e alguns fervorosos sacrifícios de
tempos em tempos, ao progresso da Ciência, das letras, da indústria e da liberdade, não encontrei
entre os homens senão indiferença e frieza, e tristemente retomei o meu voo para o Céu. Julgaisme em vosso meio, mas vos enganais, porque a Fé sem obras é um simulacro de Fé. A verdadeira
Fé é vida e ação.
Antes da revelação do Espiritismo a vida era estéril; era uma árvore ressequida pelos raios
e que nenhum fruto produzia. Reconhecem-me por meus atos: eu ilumino as inteligências; aqueço
e fortaleço os corações; afasto para bem longe as influências enganadoras e vos conduzo para
Deus pela perfeição do espírito e do coração. Vinde colocar-vos sob minha bandeira. Eu sou poderosa e forte. Eu sou a Fé.
Sou a Fé, e o meu reino começa entre os homens, reino pacífico que os tornará felizes no
presente e na eternidade. A aurora do meu aparecimento entre vós é pura e serena; seu sol será
resplendente e seu ocaso virá docemente embalar a Humanidade nos braços de eternas felicidades. Espiritismo! Derrama sobre os homens o teu batismo regenerador. Eu lhes faço um apelo supremo. Eu sou a Fé.
GEORGES, bispo de Périgueux
A ESPERANÇA
Meu nome é Esperança. Sorrio à vossa entrada na vida; sigo-vos passo a passo e não vos
deixo senão nos mundos onde para vós se realizam as promessas de felicidade, incessantemente
murmuradas aos vossos ouvidos. Sou vossa fiel amiga. Não repilais minhas inspirações. Eu sou a
Esperança.
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Sou eu que canto através do rouxinol e que solto, aos ecos das florestas, essas notas lamentosas e cadenciadas que vos fazem sonhar com o Céu. Sou eu que inspiro à andorinha o desejo de aquecer os seus amores ao abrigo de vossas moradas; que brinco na brisa ligeira que acaricia
os vossos cabelos; que espalho aos vossos pés o suave perfume das flores dos vossos canteiros, e
quase não pensais nesta amiga tão devotada! Não a repilais: é a Esperança!
Tomo todas as formas para me aproximar de vós: Sou a estrela que brilha no azul; o quente
raio de sol que vos vivifica; embalo as vossas noites com sonhos ridentes; expulso para longe as
negras preocupações e os pensamentos sombrios; guio vossos passos para o caminho da virtude;
acompanho-vos nas visitas aos pobres, aos aflitos, aos moribundos, e vos inspiro palavras afetuosas e consoladoras. Não me repilais. Eu sou a Esperança.
Eu sou a Esperança! Sou eu que, no inverno, faço crescer na casca dos carvalhos o musgo
espesso com que os passarinhos fazem seus ninhos; sou eu que, na primavera, coroo a macieira e
a amendoeira de flores rosas e brancas e as espalho sobre a Terra como um tapete celeste, que
faz aspirar a mundos felizes. Estou convosco principalmente quando sois pobres e sofredores, e
minha voz ressoa incessantemente aos vossos ouvidos. Não me repilais. Eu sou a Esperança.
Não me repilais, porque o anjo do desespero me faz uma guerra cruel e se esgota em vãos
esforços para junto de vós tomar o meu lugar. Nem sempre sou a mais forte, e quando ele consegue me afastar vos envolve com suas asas fúnebres; desvia os vossos pensamentos de Deus e vos
conduz ao suicídio. Uni-vos a mim para afastar sua funesta influência, e deixai-vos embalar docemente em meus braços, porque eu sou a Esperança.
FELÍCIA, filha da médium.
A CARIDADE
Eu sou a Caridade, sim, a verdadeira Caridade. Em nada me pareço com a caridade cujas
práticas seguis. Aquela que entre vós usurpou o meu nome é fantasista, caprichosa, exclusiva, orgulhosa. Venho premunir-vos contra os defeitos que, aos olhos de Deus, empanam o mérito e o
brilho de suas boas ações. Sede dóceis às lições que o Espírito de Verdade vos dá por minha voz.
Segui-me, meus fiéis: eu sou a Caridade.
Segui-me. Conheço todos os infortúnios, todas as dores, todos os sofrimentos, todas as
aflições que assediam a Humanidade. Sou a mãe dos órfãos, a filha dos velhos, a protetora e suporte das viúvas. Curo as chagas infectas; trato de todos os doentes; visto, alimento e abrigo os
que nada têm; subo aos mais humildes tugúrios e às mais miseráveis mansardas; bato à porta dos
ricos e poderosos porque onde quer que exista uma criatura humana, há, sob a máscara da felicidade, dores amargas e cruciantes. Oh! Como é grande minha tarefa! Não poderei cumpri-la se não
vierdes em meu auxílio. Vinde a mim: eu sou a Caridade.
Não tenho preferência por ninguém. Jamais digo aos que de mim necessitam: “Tenho os
meus pobres; procurai alhures.” Oh! falsa caridade, quanto mal fazes! Amigos, nós nos devemos a
todos. Crede-me. Não recuseis assistência a ninguém. Socorrei-vos uns aos outros com bastante
desinteresse para não exigirdes reconhecimento da parte dos que tiverdes socorrido. A paz do coração e da consciência é a suave recompensa de minhas obras: eu sou a verdadeira Caridade.
Ninguém sabe na Terra o número e a natureza de meus benefícios.
Só a falsa caridade fere e humilha aqueles a quem beneficia. Evitai esse funesto desvio. As
ações desse gênero não têm mérito perante Deus e atraem a sua cólera. Só ele deve saber e conhecer os generosos impulsos de vossos corações, quando vos tornais os dispensadores de seus
benefícios. Guardai-vos, pois, amigos, de dar publicidade à prática da assistência mútua; não mais
lhe deis o nome de esmola; crede em mim: eu sou a Caridade.
Tenho tantos infortúnios a aliviar que por vezes tenho os seios e as mãos vazios. Venho dizer-vos que espero em vós. O Espiritismo tem como divisa Amor e Caridade, e todos os verdadei-
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ros espíritas quererão, no futuro, conformar-se a esse sublime preceito ensinado pelo Cristo há
dezoito séculos. Segui-me, pois, irmãos, e eu vos conduzirei ao Reino de Deus, nosso pai. Eu sou a
Caridade.
ADOLFO, bispo de Argel.
A Caridade
(Léon Denis – livro: “Depois da Morte”, cap. 47)
Ao encontro das religiões exclusivistas, que tomaram por preceito: Fora da Igreja não há salvação, como se, pelo seu ponto de vista puramente humano, pudessem decidir da sorte dos seres na
vida futura, Allan Kardec colocou as seguintes palavras no frontispício das suas obras: Fora da caridade não há salvação. Efetivamente, os Espíritos ensinam-nos que a caridade é a virtude por excelência e que só ela nos dá a chave dos destinos elevados.
“É necessário amar os homens”, assim repetem eles as palavras em que o Cristo havia condensado todos os mandamentos da lei moisaica.
Mas, objetam, os homens não se amam. Muita maldade aninha-se neles, e a caridade é bem difícil de praticar a seu favor.
Se assim os julgamos, não será porque nos é mais agradável considerar unicamente o lado mau
de seu caráter, de seus defeitos, paixões e fraquezas, esquecendo, muitas vezes, que disso também não estamos isentos, e que, se eles têm necessidade da nossa caridade, nós não precisamos
menos da sua indulgência?
Entretanto, não é só o mal que reina no mundo. Há no homem também boas qualidades e virtudes, mas há, sobretudo, sofrimentos. Se desejarmos ser caritativos, como devemos sê-lo em
nosso próprio interesse e no da ordem social, não deveremos inclinar-nos a apreciações sobre os
nossos semelhantes, à maledicência, à difamação; não deveremos ver no homem mais que um
companheiro de provas ou um irmão na luta pela vida, Vejamos os males que ele sofre em todas
as classes da sociedade. Quem não oculta um queixume, um desgosto no fundo da própria alma;
quem não suporta o peso das mágoas, das amarguras? Se nos colocássemos neste ponto de vista
para considerar o próximo, em breve nossa malquerença transformar-se-ia em simpatia.
Ouvem-se, por exemplo, muitas vezes, recriminações contra a grosseria e as paixões brutais das
classes operárias, contra a avidez e as reivindicações de certos homens do povo. Reflete-se então
maduramente sobre a triste educação recebida, sobre os maus exemplos que os rodearam desde
a infância? A carestia da vida, as necessidades imperiosas de cada dia impõem-lhes uma tarefa pesada e absorvente. Nenhum descanso, nenhum tempo existe para esclarecer-lhes a inteligência.
São-lhes desconhecidas as doçuras do estudo, os gozos da arte. Que sabem eles sobre as leis morais, sobre o seu próprio destino, sobre o mecanismo do Universo? Poucos raios consoladores se
projetam nessas trevas. Para esses, a luta terrível contra a necessidade é de todos os instantes. A
crise, a enfermidade e a negra miséria os ameaçam, os inquietam sem cessar. Qual o caráter que
não se exasperaria no meio de tantos males? Para suportá-los com resignação é preciso um verdadeiro estoicismo, uma força dalma tanto mais extraordinária quanto mais instintiva for. Em vez
de atirar pedras contra esses infortunados, empenhemo-nos em aliviar seus males; em enxugar
suas lágrimas, em trabalhar com ardor para que neste mundo se faça uma distribuição mais eqüitativa dos bens materiais e dos tesouros do pensamento. Ainda não se conhece suficientemente o
valor que podem ter sobre esses infelizes uma palavra animadora, um sinal de interesse, um cordial aperto de mão. Os vícios do pobre desgostam-nos e, entretanto, que desculpa ele não merece
por causa da sua miséria! Mas, em vez de desculpá-los, fazemos por Ignorar suas virtudes, que são
muito mais admiráveis pelo simples fato de surgirem do lodaçal.
Quantas dedicações obscuras entre esses pobres! Quantas lutas heróicas e perseverantes contra a adversidade! Meditemos sobre as inumeráveis famílias que medram sem apoio, sem socorro;
pensemos em tantas crianças privadas do necessário, em todas essas criaturas que tiritam de frio
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e fome dentro de úmidos e sombrios albergues ou nas mansardas desoladas. Quantos encargos
para a mulher do povo, para a mãe de família em tais condições, assim que o inverno cobre a terra, quando a lareira está sem fogo, a mesa sem alimentos e o leito gelado, com farrapos substituindo o cobertor vendido ou hipotecado em troca de um bocado de pão! Seu sacrifício não será
de todos os momentos? E, no entanto, seu pobre coração comove-se à vista das dores do próximo! Não deveria o ocioso opulento envergonhar-se de ostentar riquezas no meio de tantos sofrimentos? Que responsabilidade esmagadora para ele, se, no seio da sua abundância, esquece esses
a quem oprime!
Sem dúvida, muitas coisas repugnantes, muitas imundícies misturam-se às cenas da vida dessas
criaturas. Queixumes e blasfêmias, embriaguez e alcovitice, crianças desapiedadas e pais cruéis,
todas essas deformidades aí se confundem; mas, ainda assim, sob esse exterior repelente, é sempre a alma humana que sofre, a alma nossa irmã, cada vez mais digna de interesse e de afeição.
Arrancá-la desse pântano lodoso, reaquecê-la, esclarecê-la, fazendo-a subir de degrau em degrau a escada da reabilitação, eis a grande tarefa! Tudo se purifica ao fogo da caridade. Era esse
logo que abrasava o Cristo, Vicente de Paulo, Fénelon e muitos outros. Era no seu Imenso amor
pelos fracos e desamparados que também se encontrava a origem da sua abnegação sublime.
Sucede o mesmo com todos os que têm a faculdade de muito amar e de muito sofrer. Para eles,
a dor é como que uma iniciação na arte de consolar e aliviar os outros. Sabem elevar-se acima dos
seus próprios males para só verem os de seus semelhantes e para procurar remediá-los. Daí, os
grandes exemplos dessas almas eminentes que, assediadas por tormentos, por agonia dolorosa,
encontram ainda os meios de curar as feridas dos que se deixam vencer no combate da vida.
A caridade, porém, tem outras formas pelas quais se exerce, independente da solicitude pelos
desgraçados. A caridade material ou a beneficência podem aplicar-se a certo número dos nossos
semelhantes, sob a forma de socorro, apoio e animação. A caridade moral deve abranger todos os
que participam da nossa existência neste mundo. Não mais consiste em esmolas, porém, sim, numa benevolência que deve envolver todos os homens, desde o mais bem dotado em virtude até o
mais criminoso, e bem assim regular as nossas relações com eles.
A verdadeira caridade é paciente e indulgente. Não se ofende nem desdenha pessoa alguma; é
tolerante e, mesmo procurando dissuadir, o faz sempre com doçura, sem maltratar, sem atacar
idéias enraizadas.
Esta virtude, porém, é rara. Um certo fundo de egoísmo leva-nos, muitas vezes, a observar, a
criticar os defeitos do próximo, sem primeiro repararmos nos nossos próprios. Existindo em nós
tanta podridão, empregamos ainda a nossa sagacidade em fazer sobressair as qualidades ruins dos
nossos semelhantes. Por Isso não há verdadeira superioridade moral, sem caridade e modéstia.
Não temos o direito de condenar nos outros as faltas a que nós mesmos estamos expostos; e, embora a elevação moral já nos tenha isentado dessas fraquezas, devemos lembrar-nos de que tempo houve quando nos debatíamos contra a paixão e o vicio.
Há poucos homens que não tenham maus hábitos a corrigir, Impulsos caprichosos a modificar.
Lembremo-nos de que seremos julgados com a mesma medida de que nos servirmos para com os
nossos semelhantes. As opiniões que formamos sobre eles são quase sempre reflexo da nossa
própria natureza. Sejamos mais prontos a escusar do que a censurar. Muitas vezes nos arrependemos de um julgamento precipitado. Evitemos, portanto, qualquer apreciação pelo lado mau.
Nada é mais funesto para o futuro da alma do que as más intenções, do que essa maledicência
Incessante que alimenta a maior parte das conversas. O eco das nossas palavras repercute na vida
futura, a atmosfera dos nossos pensamentos malignos forma uma espécie de nuvem em que o Espírito é envolvido e obumbrado. Abstenhamo-nos dessas criticas, dessas apreciações dolosas, dessas palavras zombeteiras que envenenam o futuro. Acautelemo-nos da maledicência como de
uma peste; retenhamos em nossos lábios qualquer palavra mordaz que esteja prestes a ser proferida, porque de tudo Isso depende a nossa felicidade.
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O homem caridoso faz o bem ocultamente; e, enquanto este encobre as suas boas ações, o vaidoso proclama o pouco que faz. “Que a mão esquerda ignore o que faz a direita”, disse Jesus. “Aquele que fizer o bem com ostentação já recebeu a sua recompensa.”
Beneficiar ocultamente, ser Indiferente aos louvores humanos, é mostrar uma verdadeira elevação de caráter, é colocar-se acima dos julgamentos de um mundo transitório e procurar a justificação dos seus atos na vida que não acaba.
Nessas condições, a ingratidão e a Injustiça não podem atingir aquele que fora caritativo. Ele faz
o bem porque é do seu dever e sem esperar nenhuma recompensa. Não procura auferir vantagens; deixa à lei o cuidado de fazer decorrer as conseqüências dos seus atos, ou, antes, nem pensa
nisso. É generoso sem cálculo. Para tornar-se agradável aos outros, sabe privar-se do que lhe é necessário, plenamente convencido de que não terá nenhum mérito dispondo do que for supérfluo.
Eis por que o óbolo do pobre, o denário da viúva, o pedaço de pão que o proletário divide com
seu companheiro de infortúnio têm mais valor que as larguezas do rico. Há mil maneiras de nos
tornarmos úteIS, de irmos em socorro dos nossos irmãos. O pobre, em sua parcimônia, pode ainda
ir em auxílio de outro mais necessitado do que ele. Nem sempre o ouro seca todas as lágrimas ou
cura todas as feridas. Há males sobre os quais uma amizade sincera, uma ardente simpatia ou uma
afeição operam melhor que todas as riquezas.
Sejamos generosos com esses que têm sucumbido na luta das paixões e foram desviados para o
mal, sejamos liberais com os pecadores, com os criminosos e endurecidos. Porventura sabemos
quais as fases cruéis por que eles passaram, quais os sofrimentos que suportaram antes de falir?
Teriam essas almas o conhecimento das leis superiores como sustentáculo na hora do perigo? Ignorantes, irresolutas, agitadas pelo sopro da desgraça, poderiam elas resistir e vencer? Lembremo-nos de que a responsabilidade é proporcional ao saber e que muito será pedido àquele que já
possui o conhecimento da verdade. Sejamos piedosos para com os que são pequenos, débeis ou
aflitos, para com esses a quem sangram as feridas da alma ou do corpo. Procuremos os ambientes
onde as dores fervilham, os corações se partem, onde as existências se esterilizam no desespero e
no esquecimento. Desçamos aos abismos da miséria, a fim de levar consolações animadoras, palavras que reconfortem, exortações que vivifiquem, a fim de fazer luzir a esperança, esse sol dos infelizes. Esforcemo-nos por arrancar daí alguma vítima, por purificá-la, salvá-la do mal, abrir-lhe
uma via honrosa. Só pelo devotamento e pela afeição encurtaremos as distâncias e preveniremos
os cataclismos sociais, extinguindo o ódio que transborda do coração dos deserdados.
Tudo o que fizermos pelos nossos irmãos gravar-se-áno grande livro fluidico, cuj as páginas se
expandem através do espaço, páginas luminosas onde se inscrevem nossos atos, nossos sentimentos, nossos pensamentos. E esses créditos ser-nos-ão regiamente pagos nas existências futuras.
Nada fica perdido ou esquecido. Os laços que unem as almas na extensão dos tempos são tecidos com os benefícios do passado. A sabedoria eterna tudo dispôs para bem das criaturas. As boas
obras realizadas neste mundo tornam-se, para aquele que as produziu, fonte de infinitos gozos no
futuro.
A perfeição do homem resume-se a duas palavras:
Caridade e Verdade. A caridade é a virtude por excelência, pois sua essência é divina. Irradia sobre os mundos, reanima as almas como um olhar, como um sorriso do Eterno. Ela se avantaja a
tudo, ao sábio e ao próprio gênio, porque nestes ainda há alguma coisa de orgulho, e às vezes são
contestados ou mesmo desprezados. A caridade, porém, sempre doce e benevolente, reanima os
corações mais endurecidos e desarma os Espíritos mais perversos, inundando-os com o amor.
Ao encontro das religiões exclusivistas, que tomaram por preceito: Fora da Igreja não há salvação, como se, pelo seu ponto de vista puramente humano, pudessem decidir da sorte dos seres na
vida futura, Allan Kardec colocou as seguintes palavras no frontispício das suas obras: Fora da caridade não há salvação. Efetivamente, os Espíritos ensinam-nos que a caridade é a virtude por excelência e que só ela nos dá a chave dos destinos elevados.
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“É necessário amar os homens”, assim repetem eles as palavras em que o Cristo havia condensado todos os mandamentos da lei moisaica.
Mas, objetam, os homens não se amam. Muita maldade aninha-se neles, e a caridade é bem difícil de praticar a seu favor.
Se assim os julgamos, não será porque nos é mais agradável considerar unicamente o lado mau
de seu caráter, de seus defeitos, paixões e fraquezas, esquecendo, muitas vezes, que disso também não estamos isentos, e que, se eles têm necessidade da nossa caridade, nós não precisamos
menos da sua indulgência?
Entretanto, não é só o mal que reina no mundo. Há no homem também boas qualidades e virtudes, mas há, sobretudo, sofrimentos. Se desejarmos ser caritativos, como devemos sê-lo em
nosso próprio interesse e no da ordem social, não deveremos inclinar-nos a apreciações sobre os
nossos semelhantes, à maledicência, à difamação; não deveremos ver no homem mais que um
companheiro de provas ou um irmão na luta pela vida, Vejamos os males que ele sofre em todas
as classes da sociedade. Quem não oculta um queixume, um desgosto no fundo da própria alma;
quem não suporta o peso das mágoas, das amarguras? Se nos colocássemos neste ponto de vista
para considerar o próximo, em breve nossa malquerença transformar-se-ia em simpatia.
Ouvem-se, por exemplo, muitas vezes, recriminações contra a grosseria e as paixões brutais das
classes operárias, contra a avidez e as reivindicações de certos homens do povo. Reflete-se então
maduramente sobre a triste educação recebida, sobre os maus exemplos que os rodearam desde
a infância? A carestia da vida, as necessidades imperiosas de cada dia impõem-lhes uma tarefa pesada e absorvente. Nenhum descanso, nenhum tempo existe para esclarecer-lhes a inteligência.
São-lhes desconhecidas as doçuras do estudo, os gozos da arte. Que sabem eles sobre as leis morais, sobre o seu próprio destino, sobre o mecanismo do Universo? Poucos raios consoladores se
projetam nessas trevas. Para esses, a luta terrível contra a necessidade é de todos os instantes. A
crise, a enfermidade e a negra miséria os ameaçam, os inquietam sem cessar. Qual o caráter que
não se exasperaria no meio de tantos males? Para suportá-los com resignação é preciso um verdadeiro estoicismo, uma força dalma tanto mais extraordinária quanto mais instintiva for. Em vez
de atirar pedras contra esses infortunados, empenhemo-nos em aliviar seus males; em enxugar
suas lágrimas, em trabalhar com ardor para que neste mundo se faça uma distribuição mais equitativa dos bens materiais e dos tesouros do pensamento. Ainda não se conhece suficientemente o
valor que podem ter sobre esses infelizes uma palavra animadora, um sinal de interesse, um cordial aperto de mão. Os vícios do pobre desgostam-nos e, entretanto, que desculpa ele não merece
por causa da sua miséria! Mas, em vez de desculpá-los, fazemos por Ignorar suas virtudes, que são
muito mais admiráveis pelo simples fato de surgirem do lodaçal.
Quantas dedicações obscuras entre esses pobres! Quantas lutas heroicas e perseverantes contra a adversidade! Meditemos sobre as inumeráveis famílias que medram sem apoio, sem socorro;
pensemos em tantas crianças privadas do necessário, em todas essas criaturas que tiritam de frio
e fome dentro de úmidos e sombrios albergues ou nas mansardas desoladas. Quantos encargos
para a mulher do povo, para a mãe de família em tais condições, assim que o inverno cobre a terra, quando a lareira está sem fogo, a mesa sem alimentos e o leito gelado, com farrapos substituindo o cobertor vendido ou hipotecado em troca de um bocado de pão! Seu sacrifício não será
de todos os momentos? E, no entanto, seu pobre coração comove-se à vista das dores do próximo! Não deveria o ocioso opulento envergonhar-se de ostentar riquezas no meio de tantos sofrimentos? Que responsabilidade esmagadora para ele, se, no seio da sua abundância, esquece esses
a quem oprime!
Sem dúvida, muitas coisas repugnantes, muitas imundícies misturam-se às cenas da vida dessas
criaturas. Queixumes e blasfêmias, embriaguez e alcovitice, crianças desapiedadas e pais cruéis,
todas essas deformidades aí se confundem; mas, ainda assim, sob esse exterior repelente, é sempre a alma humana que sofre, a alma nossa irmã, cada vez mais digna de interesse e de afeição.
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Arrancá-la desse pântano lodoso, reaquecê-la, esclarecê-la, fazendo-a subir de degrau em degrau a escada da reabilitação, eis a grande tarefa! Tudo se purifica ao fogo da caridade. Era esse
logo que abrasava o Cristo, Vicente de Paulo, Fénelon e muitos outros. Era no seu Imenso amor
pelos fracos e desamparados que também se encontrava a origem da sua abnegação sublime.
Sucede o mesmo com todos os que têm a faculdade de muito amar e de muito sofrer. Para eles,
a dor é como que uma iniciação na arte de consolar e aliviar os outros. Sabem elevar-se acima dos
seus próprios males para só verem os de seus semelhantes e para procurar remediá-los. Daí, os
grandes exemplos dessas almas eminentes que, assediadas por tormentos, por agonia dolorosa,
encontram ainda os meios de curar as feridas dos que se deixam vencer no combate da vida.
A caridade, porém, tem outras formas pelas quais se exerce, independente da solicitude pelos
desgraçados. A caridade material ou a beneficência podem aplicar-se a certo número dos nossos
semelhantes, sob a forma de socorro, apoio e animação. A caridade moral deve abranger todos os
que participam da nossa existência neste mundo. Não mais consiste em esmolas, porém, sim, numa benevolência que deve envolver todos os homens, desde o mais bem dotado em virtude até o
mais criminoso, e bem assim regular as nossas relações com eles.
A verdadeira caridade é paciente e indulgente. Não se ofende nem desdenha pessoa alguma; é
tolerante e, mesmo procurando dissuadir, o faz sempre com doçura, sem maltratar, sem atacar
idéias enraizadas.
Esta virtude, porém, é rara. Um certo fundo de egoísmo leva-nos, muitas vezes, a observar, a
criticar os defeitos do próximo, sem primeiro repararmos nos nossos próprios. Existindo em nós
tanta podridão, empregamos ainda a nossa sagacidade em fazer sobressair as qualidades ruins dos
nossos semelhantes. Por Isso não há verdadeira superioridade moral, sem caridade e modéstia.
Não temos o direito de condenar nos outros as faltas a que nós mesmos estamos expostos; e, embora a elevação moral já nos tenha isentado dessas fraquezas, devemos lembrar-nos de que tempo houve quando nos debatíamos contra a paixão e o vicio.
Há poucos homens que não tenham maus hábitos a corrigir, Impulsos caprichosos a modificar.
Lembremo-nos de que seremos julgados com a mesma medida de que nos servirmos para com os
nossos semelhantes. As opiniões que formamos sobre eles são quase sempre reflexo da nossa
própria natureza. Sejamos mais prontos a escusar do que a censurar. Muitas vezes nos arrependemos de um julgamento precipitado. Evitemos, portanto, qualquer apreciação pelo lado mau.
Nada é mais funesto para o futuro da alma do que as más intenções, do que essa maledicência
Incessante que alimenta a maior parte das conversas. O eco das nossas palavras repercute na vida
futura, a atmosfera dos nossos pensamentos malignos forma uma espécie de nuvem em que o Espírito é envolvido e obumbrado. Abstenhamo-nos dessas criticas, dessas apreciações dolosas, dessas palavras zombeteiras que envenenam o futuro. Acautelemo-nos da maledicência como de
uma peste; retenhamos em nossos lábios qualquer palavra mordaz que esteja prestes a ser proferida, porque de tudo Isso depende a nossa felicidade.
O homem caridoso faz o bem ocultamente; e, enquanto este encobre as suas boas ações, o vaidoso proclama o pouco que faz. “Que a mão esquerda ignore o que faz a direita”, disse Jesus. “Aquele que fizer o bem com ostentação já recebeu a sua recompensa.”
Beneficiar ocultamente, ser Indiferente aos louvores humanos, é mostrar uma verdadeira elevação de caráter, é colocar-se acima dos julgamentos de um mundo transitório e procurar a justificação dos seus atos na vida que não acaba.
Nessas condições, a ingratidão e a Injustiça não podem atingir aquele que fora caritativo. Ele faz
o bem porque é do seu dever e sem esperar nenhuma recompensa. Não procura auferir vantagens; deixa à lei o cuidado de fazer decorrer as conseqüências dos seus atos, ou, antes, nem pensa
nisso. É generoso sem cálculo. Para tornar-se agradável aos outros, sabe privar-se do que lhe é necessário, plenamente convencido de que não terá nenhum mérito dispondo do que for supérfluo.
Eis por que o óbolo do pobre, o denário da viúva, o pedaço de pão que o proletário divide com
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seu companheiro de infortúnio têm mais valor que as larguezas do rico. Há mil maneiras de nos
tornarmos úteis, de irmos em socorro dos nossos irmãos. O pobre, em sua parcimônia, pode ainda
ir ao auxílio de outro mais necessitado do que ele. Nem sempre o ouro seca todas as lágrimas ou
cura todas as feridas. Há males sobre os quais uma amizade sincera, uma ardente simpatia ou uma
afeição operam melhor que todas as riquezas.
Sejamos generosos com esses que têm sucumbido na luta das paixões e foram desviados para o
mal, sejamos liberais com os pecadores, com os criminosos e endurecidos. Porventura sabemos
quais as fases cruéis por que eles passaram, quais os sofrimentos que suportaram antes de falir?
Teriam essas almas o conhecimento das leis superiores como sustentáculo na hora do perigo? Ignorantes, irresolutas, agitadas pelo sopro da desgraça, poderiam elas resistir e vencer? Lembremo-nos de que a responsabilidade é proporcional ao saber e que muito será pedido àquele que já
possui o conhecimento da verdade. Sejamos piedosos para com os que são pequenos, débeis ou
aflitos, para com esses a quem sangram as feridas da alma ou do corpo. Procuremos os ambientes
onde as dores fervilham, os corações se partem, onde as existências se esterilizam no desespero e
no esquecimento. Desçamos aos abismos da miséria, a fim de levar consolações animadoras, palavras que reconfortem, exortações que vivifiquem, a fim de fazer luzir a esperança, esse sol dos infelizes. Esforcemo-nos por arrancar daí alguma vítima, por purificá-la, salvá-la do mal, abrir-lhe
uma via honrosa. Só pelo devotamento e pela afeição encurtaremos as distâncias e preveniremos
os cataclismos sociais, extinguindo o ódio que transborda do coração dos deserdados.
Tudo o que fizermos pelos nossos irmãos gravar-se-áno grande livro fluidico, cuj as páginas se
expandem através do espaço, páginas luminosas onde se inscrevem nossos atos, nossos sentimentos, nossos pensamentos. E esses créditos ser-nos-ão regiamente pagos nas existências futuras.
Nada fica perdido ou esquecido. Os laços que unem as almas na extensão dos tempos são tecidos com os benefícios do passado. A sabedoria eterna tudo dispôs para bem das criaturas. As boas
obras realizadas neste mundo tornam-se, para aquele que as produziu, fonte de infinitos gozos no
futuro.
A perfeição do homem resume-se a duas palavras:
Caridade e Verdade. A caridade é a virtude por excelência, pois sua essência é divina. Irradia sobre os mundos, reanima as almas como um olhar, como um sorriso do Eterno. Ela se avantaja a
tudo, ao sábio e ao próprio gênio, porque nestes ainda há alguma coisa de orgulho, e às vezes são
contestados ou mesmo desprezados. A caridade, porém, sempre doce e benevolente, reanima os
corações mais endurecidos e desarma os Espíritos mais perversos, inundando-os com o amor.
O Amor
(Léon Denis – livro: “Depois da Morte”, Terceira Parte – cap. 49)
O amor é a celeste atração das almas e dos mundos, a potência divina que liga os Universos, governa-os e fecunda; o amor é o olhar de Deus!
Não se designe com tal nome a ardente paixão que atiça os desejos carnais. Esta não passa de
uma imagem, de um grosseiro simulacro do amor. O amor é o sentimento superior em que se
fundem e se harmonizam todas as qualidades do coração; é o coroamento das virtudes humanas,
da doçura, da caridade, da bondade; é a manifestação na alma de uma força que nos eleva acima
da matéria, até alturas divinas, unindo todos os seres e despertando em nós a felicidade íntima,
que se afasta extraordinariamente de todas as volúpias terrestres.
Amar é sentir-se viver em todos e por todos, é consagrar-se ao sacrifício, até à morte, em benefício de uma causa ou de um ser. Se quiserdes saber o que é amar, considerai os grandes vultos da
Humanidade e, acima de todos, o Cristo, o amor encarnado, o Cristo, para quem o amor era toda a
moral e toda a religião. Não disse ele: “Amai os vossos inimigos”?
Por essas palavras, o Cristo não exige da nossa parte uma afeição que nos seja impossível, mas
sim a ausência de todo ódio, de todo desejo de vingança, uma disposição sincera para ajudar nos
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momentos precisos aqueles que nos atribulam, estendendo-lhes um pouco de auxílio.
Uma espécie de misantropia, de lassidão moral por vezes afasta do resto da Humanidade os
bons Espíritos. Énecessário reagir contra essa tendência para o insulamento; devemos considerar
tudo o que há de grande e belo no ser humano, devemos recordar-nos de todos os sinais de afeto,
de todos os atos benévolos de que temos sido objeto. Que poderá ser o homem separado dos
seus semelhantes, privado da família e da pátria? Um ente inútil e desgraçado. Suas faculdades estiolam-se, suas forças se enfraquecem, a tristeza Invade-o. Não se pode progredir isoladamente. É
Imprescindível viver com os outros homens, ver neles companheiros necessários, O bom humor
constitui a saúde da alma. Deixemos o nosso coração abrir-se às impressões sãs e fortes. Amemos
para sermos amados!
Se nossa simpatia deve abranger a todos os que nos rodelam, seres e coisas, a tudo o que nos
ajuda a viver e mesmo a todos os membros desconhecidos da grande família humana, que amor
profundo, inalterável, não devemos aos nossos genitores: ao pai, cuj a solicitude manteve a nossa
infância, que por muito tempo trabalhou em aplanar a rude vereda da nossa vida; à mãe, que nos
acalentou e nos reaqueceu em seu seio, que velou com ansiedade os nossos primeiros passos e as
nossas primeiras dores! Com que carinhosa dedicação não deveremos rodear-lhes a velhice, reconhecer-lhes o afeto e os cuidados assíduos!
A pátria também devemos o nosso concurso e o nosso sacrifício. Ela recolhe e transmite a herança de numerosas gerações que trabalharam e sofreram para edificar uma civilização de que recebemos os benefícios ao nascer. Como guarda dos tesouros intelectuais acumulados pelas idades, ela vela pela sua conservação, pelo seu desenvolvimento; e, como mãe generosa, os distribui
por todos os seus filhos. Esse património sagrado, ciências e artes, leis, instituições, ordem e liberdade, todo esse acervo produzido pelo pensamento e pelas mãos dos homens, tudo o que constitui a riqueza, a grandeza, o gênio da nação, é compartilhado por todos. Saibamos cumprir os nossos deveres para com a pátria na medida das vantagens que auferimoa. Sem ela, sem essa civilização que ela nos lega, não seríamos mais que selvagens.
Veneremos a memória desses que têm contribuído com suas vigílias e com seus esforços para
reunir e aumentar essa herança; veneremos a memória dos heróis que têm defendido a pátria nas
ocasiões criticas, de todos esses que têm, até à hora da morte, proclamado a verdade, servido à
justiça, e que nos transmitiram, tingidas pelo seu sangue, as liberdades, os progressos que agora
gozamos.*
O amor, profundo como o mar, infinito como o céu, abraça todas as criaturas. Deus é o seu foco.
Assim como o Sol se projeta, sem exclusões, sobre todas as coisas e reaquece a natureza inteira,
assim também o amor divino vivifica todas as almas; seus raios, penetrando através das trevas do
nosso egoísmo, vão iluminar com trêmulos clarões os recônditos de cada coração humano. Todos
os seres foram criados para amar. As partículas da sua moral, os germes do bem que em si repousam, fecundados pelo foco supremo, expandir-se-ão algum dia, florescerão até que todos sejam
reunidos numa única comunhão do amor, numa só fraternidade universal.
Quem quer que sejais, vós que ledes estas páginas, sabei que nos encontraremos algum dia,
quer neste mundo, nas existências vindouras, quer em esfera mais elevada ou na imensidade dos
espaços; sabei que somos destinados a nos influenciarmos no sentido do bem, a nos ajudarmos na
ascensão comum. Filhos de Deus, membros da grande família dos Espíritos, marcados na fronte
com o sinal da imortalidade, todos somos irmãos e estamos destinados a conhecermo-nos, a unirmo-nos na santa harmonia das leis e das coisas, longe das paixões e das grandezas ilusórias da
Terra. Enquanto esperamos esse dia, que meu pensamento se estenda sobre vós como testemunho de terna simpatia; que ele vos ampare nas dúvidas, vos console nas dores, vos conforte nos
desfalecimentos, e que se junte ao vosso próprio pensamento para pedir ao Pai comum que nos
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auxilie a conquistar um futuro melhor.
Entendamo-nos
(Emmanuel, psicografia de Chico Xavier – do livro: “Fonte Viva”, cap. 122)
"Mas, sobretudo, tende ardente caridade uns para com os outros." Pedro (I Pedro, 4:8)
Não existem tarefas maiores ou menores. Todas são importantes em significação.
Um homem será respeitado pelas leis que implanta, outro será admirado pelos feitos que realiza. Mas o legislador e o herói não alcançariam a evidência em que se destacam, sem o trabalho
humilde do lavrador que semeia o campo e sem o esforço apagado do varredor que contribui
para a higiene da via pública.
Não te isoles, pois, no orgulho com que te presumes superior aos demais.
A comunidade é um conjunto de serviço, gerando a riqueza da experiência. E não podemos
esquecer que a harmonia dessa máquina viva depende de nós.
Quando pudermos distribuir o estímulo do nosso entendimento e de nossa colaboração com
todos, respeitando a importância do nosso trabalho e a excelência do serviço dos outros, ren ovar-se-á a face da Terra, no rumo da felicidade perfeita.
Para isso, porém, é necessário nos devotemos à assistência recíproca, com ardente amor fraterno.
Amemos a nossa posição na ordem social, por mais singela ou rudimentar, emprestando ao
bem, ao progresso e à educação as nossas melhores forças.
Seremos compreendidos na medida de nossa compreensão.
Vejamos nosso próximo, no esforço que despende, e o próximo identificar-nos-á nas tarefas a
que nos dedicamos.
Estendamos nossos braços aos seres que nos cercam e eles nos responderão com o melhor
que possuem.
O capital mais precioso da vida é o da boa-vontade. Ponhamo-lo em movimento e a nossa
existência estará enriquecida de bênçãos e alegrias, hoje e sempre, onde estivermos.
O Justo Remédio
(Emmanuel, psicografia de Chico Xavier – do livro: “Fonte Viva”, cap. 138)
"Quanto, porém, à caridade fraternal, não necessitais que vos escreva, porque já vós mesmos
estais instruídos por Deus que vos ameis uns aos outros." Paulo (I Tessalonicenses, 4:9)
Em sua missão de Consolador, recebe o Espiritismo milhares de consultas partidas de almas
ansiosas, que imploram socorro e solução para diversos problemas.
Aqui, é um pai que não compreende e confia-se a sistemas cruéis de educação.
Ali, é um filho rebelde e ingrato, que foge à beleza do entendimento.
Acolá, é um amigo fascinado pelas aparências do mundo e que abandona os compromissos
com o ideal superior.
Além, é um irmão que se nega ao concurso fraterno.
Noutra parte, é o cônjuge que deserta do lar.
Mais adiante, é o chefe de serviço, insensível e contundente.
Contudo, o remédio para a extinção desses velhos enigmas das relações humanas está indicado, há séculos, nos ensinamentos da Boa Nova.
A caridade fraternal é a chave de todas as portas para a boa compreensão.
O discípulo do Evangelho é alguém que foi admitido à presença do Divino Mestre para servir.
A recompensa de semelhante trabalhador, efetivamente, não pode ser aguardada no imediatismo da Terra.
Como colocar o fruto na fronde verde da plantinha nascente?
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Como arrancar a obra-prima do mármore com o primeiro golpe do cinzel?
Quem realmente ama, em nome de Jesus, está semeando para a colheita na Eternidade.
Não procuremos orientação com os outros para assuntos claramente solucionáveis por nosso
esforço.
Sabemos que não adianta desesperar ou amaldiçoar...
Cada espírito possui o roteiro que lhe é próprio.
Saibamos caminhar, portanto, na senda que a vida nos oferece, sob a luz da caridade fraternal, hoje e sempre.
Cooperemos Fielmente
(Emmanuel, psicografia de Chico Xavier – do livro: “Vinha de Luz”, cap.
48)
"Pois somos cooperadores de Deus." - Paulo. (I CORÍNTIOS, 3:9.)
O Pai é o Supremo Criador da Vida, mas o homem pode ser fiel cooperador dEle.
Deus visita a criatura pela própria criatura.
Almas cerradas sobre si mesmas declarar-se-ão incapazes de serviços nobres; afirmar-se-ão
empobrecidas ou incompetentes.
Há companheiros que atingem o disparate de se proclamarem tão pecadores e tão maus que
se sentem inabilitados a qualquer espécie de concurso sadio na obra cristã, como se os devedores e os ignorantes não necessitassem trabalhar na própria melhoria.
As portas da colaboração com o divino amor, porém, permanecem constantemente abertas e
qualquer homem de mediana razão pode identificar a chamada para o serviço divino.
Cultivemos o bem, eliminando o mal.
Façamos luz onde a treva domine.
Conduzamos harmonia às zonas em discórdia.
Ajudemos a ignorância com o esclarecimento fraterno.
Seja o amor ao próximo nossa base essencial em toda construção no caminho evolutivo.
Até agora, temos sido pesados à economia da vida.
Filhos perdulários, ante o Orçamento Divino, temos despendido preciosas energias em numerosas existências, desviando-as para o terreno escuro das retificações difíceis ou do cárcere expiatório.
Ao que nos parece, portanto, segundo os conhecimentos que possuímos, por “acréscimo de
misericórdia”, já é tempo de cooperarmos fielmente com Deus, no desempenho de nossa tarefa
humilde.
Não só
(Emmanuel, psicografia de Chico Xavier – do livro: “Vinha de Luz”, cap.
116)
"E peço isto: que a vossa caridade abunde mais e mais em ciência e em todo o conhecimento." Filipenses, 1:9
A caridade é, invariavelmente, sublime nas menores manifestações, todavia, inúmeras
pessoas muitas vezes procuram limitá-la, ocultando-lhe o espírito divino.
Muitos aprendizes creem que praticá-la é apenas oferecer dádivas materiais aos necessitados de pão e teto.
Caridade, porém, representa muito mais que isso para os verdadeiros discípulos do Evangelho.
Em sua carta aos filipenses, oferece Paulo valiosa assertiva, com referência ao assunto.
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Indispensável é que a caridade do cristão fiel abunde em conhecimento elevado.
Certo benfeitor distribuirá muito pão, mas se permanece deliberadamente nas sombras da
ignorância, do sectarismo ou da autoadoração não estará faltando com o dever de assistência caridosa a si mesmo?
Espalhar o bem não é somente transmitir facilidades de natureza material. Muitas máquinas, nos tempos modernos, distribuem energia e poder, automaticamente.
Caridade essencial é intensificar o bem, sob todas as formas respeitáveis, sem olvidarmos o
imperativo de autossublimação para que outros se renovem para a vida superior, compreendendo
que é indispensável conjugar, no mesmo ritmo, os verbos dar e saber.
Muitos crentes preferem apenas dar e outros se circunscrevem simplesmente em saber; as
atividades de todos os benfeitores dessa espécie são úteis, mas incompletas.
Ambas as classes podem sofrer presunção venenosa.
Bondade e conhecimento, pão e luz, amparo e iluminação, sentimento e consciência são
arcos divinos que integram os círculos perfeitos da caridade.
Não só receber e dar, mas também ensinar e aprender.
A plataforma do Mestre
(Emmanuel, psicografia de Chico Xavier – do livro: “Vinha de Luz”, cap.
174)
"Ele salvará seu povo dos pecados deles." - (Mateus, 1:21.)
Em verdade, há dois mil anos, o povo acreditava que Jesus seria um comandante revolucionário, como tantos outros, a desvelar-se por reivindicações políticas, à custa da morte, do suor e
das lágrimas de muita gente.
Ainda hoje, vemos grupos compactos de homens indisciplinados que, administrando ou obedecendo, se reportam ao Cristo, interpretando-o qual se fora patrono de rebeliões individuais,
sedento de guerra civil.
Entretanto, do Evangelho não transparece qualquer programa nesse sentido.
Que Jesus é o Divino Governador do Planeta não podemos duvidar. O que fará Ele do mundo
redimido ainda não sabemos, porque ao soldado humílimo são defesos os planos do General.
A Boa Nova, todavia, é muito clara, quanto à primeira plataforma do Mestre dos mestres. Ele
não apresentava títulos de reformador dos hábitos políticos, viciados pelas más inclinações de
governadores e governados de todos os tempos.
Anunciou-nos a celeste revelação que Ele viria salvar-nos de nossos próprios pecados, libertarnos da cadeia de nossos próprios erros, afastando-nos do egoísmo e do orgulho que ainda legislam para o nosso mundo consciencial.
Achamo-nos, até hoje, em simples fase de começo de apostolado evangélico - Cristo libertando o homem das chagas de si mesmo, para que o homem limpo consiga purificar o mundo.
O reino individual que puder aceitar o serviço liberatório do Salvador encontrará a vida nova.
Bens Externos
(Emmanuel, psicografia de Chico Xavier – do livro: “Caminho, Verdade e
Vida”, cap. 165)
"A vida de um homem não consiste na abundância das coisas que possui." - Jesus. (LUCAS,
12:15.)
"A vida de um homem não consiste na abundância das coisas que possui."
A palavra do Mestre está cheia de oportunidade para quaisquer círculos de atividade humana,
em todos os tempos.
Um homem poderá reter vasta porção de dinheiro. Porém, que fará dele?
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Poderá exercer extensa autoridade. Entretanto, como se comportará dentro dela?
Poderá dispor de muitas propriedades. Todavia, de que modo utiliza os patrimônios provisórios?
Terá muitos projetos elevados. Quantos edificou?
Poderá guardar inúmeros ideais de perfeição. Mas estará atendendo aos nobres princípios de
que é portador?
Terá escrito milhares de páginas. Qual a substância de sua obra?
Contará muitos anos de existência no corpo. No entanto, que fez do tempo?
Poderá contar com numerosos amigos. Como se conduz perante as afeições que o cercam?
Nossa vida não consiste da riqueza numérica de coisas e graças, aquisições nominais e títulos
exteriores. Nossa paz e felicidade dependem do uso que fizermos, onde nos encontramos hoje,
aqui e agora, das oportunidades e dons, situações e favores, recebidos do Altíssimo.
Não procures amontoar levianamente o que deténs por empréstimo. Mobiliza, com critério, os
recursos depositados em tuas mãos.
O Senhor não te identificará pelos tesouros que ajuntaste, pelas bênçãos que retiveste, pelos
anos que viveste no corpo físico. Reconhecer-te-á pelo emprego dos teus dons, pelo valor de tuas
realizações e pelas obras que deixaste, em torno dos próprios pés.
O Novo Mandamento
(Emmanuel, psicografia de Chico Xavier – do livro: “Caminho, Verdade e
Vida”, cap. 179)
"Um novo mandamento vos dou: que vos ameia uns aos outros, como eu vos amei." - Jesus. (João,
13: 34.)
A leitura despercebida do texto induziria o leitor a sentir nessas palavras do Mestre absoluta
identidade com o seu ensinamento relativo à regra áurea
Entretanto, é preciso salientar a diferença.
O "ama a teu próximo como a ti mesmo" é diverso do "que vos ameis uns aos outros como eu
vos amei".
O primeiro institui um dever, em cuja execução não é razoável que o homem cogite da compreensão alheia. O aprendiz amará o próximo como a si mesmo.
Jesus, porém, engrandeceu a fórmula, criando o novo mandamento na comunidade cristã. O
Mestre refere-se a isso na derradeira reunião com os amigos queridos, na intimidade dos corações.
A recomendação "que vos ameis uns aos outros como eu vos amei" assegura o regime da verdadeira solidariedade entre os discípulos, garante a confiança fraternal e a certeza do entendimento recíproco.
Em todas as relações comuns, o cristão amará o próximo como a si mesmo, reconhecendo, contudo, que no lar de sua fé conta com irmãos que se amparam efetivamente uns aos outros.
Esse é o novo mandamento que estabeleceu a intimidade legítima entre os que se entregaram
ao Cristo, significando que, em seus ambientes de trabalho, há quem se sacrifique e quem compreenda o sacrifício, quem ame e se sinta amado, quem faz o bem e quem saiba agradecer.
Em qualquer círculo do Evangelho, onde essa característica não assinala as manifestações dos
companheiros entre si, os argumentos da Boa Nova podem haver atingido os cérebros indagadores, mas ainda não penetraram o santuário dos corações.
Com caridade
(Emmanuel, psicografia de Chico Xavier – do livro: “Pão Nosso”, cap. 31)
Todas as vossas coisas sejam feitas com caridade. Paulo, I Coríntios - 16:14)
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Ainda existe muita gente que não entende outra caridade, além daquela que se veste de trajes
humildes aos sábados ou domingos para repartir algum pão com os desfavorecidos da sorte, que
aguardam calamidades públicas para manifestar-se ou que lança apelos comovedores nos cartazes
da imprensa.
Não podemos discutir as intenções louváveis desse ou daquele grupo de pessoas; contudo, cabe-nos reconhecer que o Dom sublime é de sublime extensão.
Paulo indica que a caridade, expressando amor cristão, deve abranger todas as manifestações
de nossa vida.
Estender a mão e distribuir reconforto é iniciar a execução da virtude excelsa. Todas as potências do espírito, no entanto, devem ajustar-se ao preceito divino, porque há caridade em falar e
ouvir, impedir e favorecer, esquecer e recordar. Tempo virá em que a boca, os ouvidos e os pés
serão aliados das mãos fraternas, nos serviços do bem supremo.
Cada pessoa, como cada coisa, necessita da contribuição da bondade, de modo particular. Homens que dirigem ou que obedecem reclamam-lhe o concurso santo, a fim de que sejam esclarecidos no departamento da casa de DEUS, em que se encontram. Sem amor sublimado, haverá
sempre obscuridade, gerando complicações. Desempenha tuas mínimas tarefas com caridade,
desde agora. Senão encontras retribuição espiritual no domínio do entendimento no sentido imediato, sabes que o Pai acompanha todos os filhos devotadamente.
Há pedras e espinheiros? Fixa-te em Jesus e passa.
Com ardente amor
(Emmanuel, psicografia de Chico Xavier – do livro: “Pão Nosso”, cap. 99)
“Mas, sobretudo, tende ardente caridade uns para com os outros.” – Pedro (1ª Epístola de Pedro, 4:8.)
Não basta a virtude apregoada em favor do estabelecimento do Reino Divino entre as criaturas.
Problema excessivamente debatido – solução mais demorada...
Ouçamos, individualmente, o aviso apostólico e enchamo-nos de ardente caridade, uns para
com os outros.
Bem falar, ensinar com acerto e crer sinceramente são fases primárias do serviço.
Imprescindível trabalhar, fazer e sentir com o Cristo.
Fraternidade simplesmente aconselhada a outrem constrói fachadas brilhantes que a experiência pode consumir num minuto.
Urge alcançarmos a substância, a essência...
Sejamos compreensivos para com os ignorantes, vigilantes para com os transviados na maldade e nas trevas, pacientes para com os enfermiços, serenos para com os irritados e, sobretudo,
manifestemos a bondade para com todos aqueles que o Mestre nos confiou para os ensinamentos de cada dia.
Raciocínio pronto, habilitado a agir com desenvoltura na Terra, pode constituir patrimônio valioso; entretanto, se lhe falta coração para sentir os problemas, conduzi-los e resolvê-los, no
bem comum, é suscetível de converter-se facilmente em máquina de calcular.
Não nos detenhamos na piedade teórica.
Busquemos o amor fraterno, espontâneo, ardente e puro.
A caridade celeste não somente espalha benefícios. Irradia também a divina luz.
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Donativo do coração
(Emmanuel, psicografia de Chico Xavier – do livro: “Alma e coração”, cap.
5)
Todos possuímos algo para dar, seja dinheiro que alivie a penúria, instrução que desterre a
ignorância, auxilio que remova a dificuldade ou remédio que afaste a doença.
Existe, porém, uma dúvida que todos podemos compartilhar, indistintamente, com absoluta vantagem para quem recebe e sem a mínima perda para quem dá.
Referimo-nos a benção da coragem.
Quantos terão caído de altos degraus do bem, no ápice da resistência ao mal, por lhes faltar calor humano, através de uma frase afetuosa e compreensiva? Quantos terão desertado de
suas tarefas enobrecedoras, com evidente prejuízo para a comunidade, precisamente na véspera
de vitorioso remate, unicamente por lhes haver faltado alguém que lhes suplementasse as forças
morais periclitantes com o socorro de um gesto amigo? E quantos outros tombam diariamente na
frustração ou na enfermidade, tão só porque não encontram senão azedume e pessimismo na palavra daqueles de quem estão intimados à convivência?
Não te armes apenas de recursos materiais para combater o infortúnio.
Aprovisiona-te de fé viva e esperança, compreensão e otimismo, para que teu verbo
se faça lume salvador, capaz de reacender a confiança de tantos companheiros da Humanidade,
que trazem o coração no peito, à feição de lâmpara morta.
Não deixes para amanhã o momento de encorajar os irmãos do caminho no serviço do
bem.
Faze isso hoje mesmo. Estende-lhes a alma no apelo ao bem e fala-lhes da própria imortalidade, no tesouro inexaurível do tempo e dos recursos ilimitados do Universo. Induze-os a reconhecer as energias infinitas de que são portadores e auxilia-os a descobrir a divina herança de vida
eterna que lhes palpita no imo do espírito, ainda mesmo quando estirados nas piores experiências.
Seja tua palavra clarão que ampare, chama que aqueça apoio que escore e bálsamo que
restaure.
Sempre que te disponha a sair de ti mesmo para o labor da beneficência, não olvides o donativo da coragem! Ajuda ao próximo por todos os meios corretos ao teu alcance, mas, acima de
tudo, ajuda ao companheiro de qualquer condição ou de qualquer procedência, a sentir-se positivamente nosso irmão, tão necessitado quanto nós da paciência e do socorro de Deus.
Dar
(Emmanuel, psicografia de Chico Xavier – do livro: “Alma e coração”, cap.
6)
As maiores transformações de nossa vida surgem, quase sempre das doações que fizermos.
Dar, na essência, significa abrir caminhos, fundamentar oportunidades multiplicar relações.
Muitos acreditam ainda que o ato de auxiliar procede exclusivamente daqueles que se garantem sobre poderes amoedados. Em verdade, ninguém subestime o bem que o dinheiro doado
ou emprestado consegue fazer; entretanto não se infira daí que a doação seja privilégio dos irmãos transitoriamente chamados à mordomia da finança terrestre.
Todos, podemos oferecer consolação, entusiasmo, gentileza, encorajamento.
Às vezes, basta um sorriso para varrer a solidão. Uma frase de solidariedade é capaz de estabelecer vida nova no espírito em que o sofrimento crestou a esperança.
A rigor, todas as virtudes têm a sua raiz no ato de dar. Beneficência, doação de recursos
próprios. Paciência, doação de tranqüilidade interior. Tolerância, doação de entendimento. Sacrifício, doação de si mesmo.
97
Toda dádiva colocada em circulação volta infalivelmente ao doador, suplementada de valores sempre maiores.
Quem deseje imprimir mais rendimento e progresso em suas tarefas e obrigações, procure
ampliar os seus dispositivos de auxilio aos outros e observará sem delonga os resultados felizes de
semelhante cometimento. Isso ocorre porque em todo o Universo as Leis Divinas se baseiam em
amor ― no que, no fundo, é a onipresença de Deus em doações eternas.
Em qualquer soma de prosperidade e paz, realização e plenitude, o serviço ao próximo é a
parcela mais importante, a única aliás, suscetível de sustentar as outras atividades que compõem
a estrutura do êxito.
Dá do que possas e tenhas, do que sejas e representes, na convicção de que a tua dádiva é
investimento na organização crediária da vida, afiançando os saques de recursos e forças dos
quais necessites para o caminho.
“Dá e dar-se-te-á” ― ensinou-nos o Cristo de Deus.
Unicamente pela benção de dar é que a vida de cada um de nós se transformará numa
benção.
Sementes divinas
(Emmanuel, psicografia de Chico Xavier – do livro: “Alma e coração”, cap.
6)
Quando se te fale acerca do muito para liquidar as necessidades humanas,
não menoscabes o pouco que sejas capaz de fazer, em auxílio ao próximo, repartindo o coração
em pedaços de entendimento e de amor.
O prato do socorro fraterno não resolve o problema da fome; no entanto, pode ser hoje a
benção que reerguerá as energias de alguém, à beira da inanição, afim de que o trabalho amanhã
lhe retire os passos do nevoeiro de desencanto e aflição.
A peça de roupa ao companheiro em andrajos não resolve o problema da nudez, mas pode
ser hoje o apoio substancial em benefício de alguém que o frei vergasta e que amanhã se converterá em fonte viva de amparo aos desabrigados da Terra.
O livro nobilitante colocado nas mãos do amigo em dificuldade, não resolve o problema da
ignorância; todavia, pode ser hoje a luz providencial para alguém que as sombras envolvem e que
amanhã se fará núcleo irradiante de idéias renovadoras para milhares de criaturas sedentas de
orientação e de paz.
Os minutos rápidos de conversação esclarecedora que dispenses ao companheiro enredado nas teias da influência nociva, não resolve o problema da obsessão; no entanto, pode ser hoje a
escora salvadora para alguém que a perturbação ameaça e que amanhã se transformará em coluna viva de educação espiritual, redimindo os sofredores do mundo.
Não menosprezes a migalha de cooperação com que possas incentivar a sustentação das
boas obras.
Recorda o óbulo da viúva, destacado por Jesus como sendo a dádiva mais rica aos serviços
da fé, pelo sacrifício que a oferenda representava. Não apenas isso.
Rememoremos o dia em que o Senhor, abençoando cinco pães e dois peixes, alimentou extensa multidão de famintos.
Em verdade, quaisquer migalhas conosco ou simplesmente por nós, serão sempre migalhas, mas se levadas ao serviço do bem, com Jesus, serão sementes divinas de paz e alegria, instrução e progresso, beneficência e prosperidades no mundo inteiro.
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A lenda da caridade
(Meimei, psicografia de Chico Xavier – do livro: “Seara de Fé”, cap. 78)
Diz interessante lenda do Plano Espiritual que, a princípio, no mundo se espalham milhares de
grupos humanos, nas extensas povoações da Terra.
O Senhor endereçava incessantes mensagens de paz e bondade às criaturas, entretanto, a maioria de desgarrou no egoísmo e no orgulho.
A crueldade agravava-se, o ódio explodia...
Diligenciando solução ao problema, o Celeste Amigo chamou o Anjo Justiça que entrou, em
campo e, de imediato, inventou o sofrimento.
Os culpados passaram a resgatar, os próprios delitos, a preço de enormes padecimentos.
O Senhor aprovou os métodos da Justiça que reconheceu indispensáveis ao equilíbrio da Lei, no
entanto, desejava encontrar um caminho menos espinhoso para a transformação dos espíritos sediados na Terra, já que a dor deixava comumente um rescaldo de angústia a gerar novos e pesados conflitos.
O Divino Companheiro solicitou concurso ao Anjo Verdade que estabeleceu, para logo, os princípios da advertência.
Tribunas foram erguidas, por toda parte, e os estudiosos do relacionamento humano começaram a pregar sobre os efeitos doma ledo bem, compelindo os ouvintes à aceitação da realidade.
Ainda assim, conquanto a excelência das lições propagadas repontavam dúvidas em torno dos
ensinamentos de virtude, suscitando atrasos altamente prejudiciais aos mecanismos da elevação
espiritual.
O Senhor apoiou a execução dos planos ideados pelo Anjo da Verdade, observando que as multidões terrestres não deveriam viver ignorando o próprio destino.
No entanto, a compadecer-se dos homens que necessitavam reforma íntima sem saberem disso, solicitou cooperação do Anjo do Amor, à busca de algum recurso que facilitasse a jornada dos
seus tutelados para os Cimos da Vida.
O novo emissário criou a caridade e iniciou-se profunda transubstanciação de valores.
Nem todas as criaturas lhe admitiam o convite e permaneciam, na retaguarda, matriculados nas
tarefas da Justiça e da Verdade, das quais hauriam a mudança benemérita, em mais longo prazo,
mas todas aquelas criaturas que lhe atenderam as petições, passaram a ver e auxiliar doentes p
obsessos, paralíticos e mutilados, cegos e infelizes, os largados à rua e os sem ninguém.
O contato recíproco gerou precioso câmbio espiritual.
Quantos conduziam alimento e agasalho, carinho e remédio para os companheiros infortunados
recebiam deles, em troca, os dons da paciência e da compreensão, da tolerância e da humildade e,
sem maiores obstáculos, descobriram a estrada para a convivência com os Céus.
O Senhor louvou a caridade, nela reconhecendo o mais importante processo de orientação e
sublimação, a benefício de quantos usufruem a escola da Terra.
Desde então, funcionam, no mundo, o sofrimento, podando as arestas dos companheiros revoltados: a doutrinação informando aos espíritos indecisos quanto às melhores sendas de ascensão
às Bênçãos Divinas; e a caridade iluminando a quantos consagram ao amor pelos semelhantes, redimindo sentimentos e elevando almas, porque, acima de todas as forças que renovam os rumos
da criatura, nos caminhos, humanos, a caridade é a mais vigorosa, perante Deus, porque é a única
que atravessa as barreiras da inteligência e alcança os domínios do coração.
Toque de luz
(Meimei, psicografia de Chico Xavier – do livro: Deus Aguarda)
Talvez não saibas que, em plena luz do dia, inúmeros irmãos nossos se movimentam de
alma em sombra.
Observa.
99
Dialogarás com eles e perceberás que, psicologicamente, se mostram longe.
No entanto, às vezes, não são simplesmente monossilábicos, mas também duramente
agressivos.
Renteando com eles, recorda que, em muitas ocasiões, na Terra, nos sentimos divididos entre o
apreço que devemos aos outros e o sofrimento que carregamos em nós.
A noite na alma decorre de causas diversas.
Em alguns companheiros, procede do pessimismo com que rejeitam as provações que se
lhe fazem precisas; em outros, nasce dos conflitos que sustentam consigo próprios.
Terás pessoas amigas que te ouvem, atendendo à cortesia, mas trazendo os sentimentos
em tribulações inconfessáveis; e surpreenderás, ainda outras, que te respondem a essa ou aquela
proposta, sem a mínima percepção dos temas aos quais te vinculas, em vista de se acharem completamente voltadas ao desespero.
Às vezes, semelhantes companheiros, quebrados de dor, a dentro deles próprios, permanecem junto de ti.
Localizar-se-ão, provavelmente, entre aqueles que mais amas.
Quando te vejas a frente de criaturas assim desoladas, a se esforçarem para que não lhes
anotes os processos de angustia, não lhes revolvas o fel com perguntas e apontamentos desnecessários.
Ouve-lhes as confidências sofridas e silencia quando não lhes possas doar alguma frase de
esperança e consolo.
E seja qual for o quadro de provações em que se debatam, oferece-lhe um gesto de amizade e compreensão, acrescido pela bênção de um sorriso, porque para dissipar as sombras de um
coração atormentado, muitas vezes, basta isso, porque um sorriso de simpatia é sempre um toque
de luz.
Na exaltação do amor
(André Luiz, psicografia de Chico Xavier – do livro: “Espírito da Verdade”,
cap. 78)
A folha ressequida que cai, anônima, do pedúnculo em que nasceu, é bem o símbolo do poder
oculto de Deus em a Natureza.
Poder que é força, vida e amor...
Quem a recolheu?
O Sol? Não. O Vento? Não. O Homem? Não.
A folha desceu por si mesma, segundo os ditames preestabelecidos pela leis gerais do Universo,
para o seio fecundante da Terra que a transforma em novo elemento no laboratório da incessante
renovação.
Assim também se movem as criaturas e os destinos.
A folha cai. Os mundos caminham... O homem evolve...
Brilha o Sol, naturalmente, mantendo a Família Planetária nos domínios da Casa Cósmica.
Avança o Vento, sem esforço, nutrindo a euforia das plantas. Em princípios de soberana espontaneidade, constrói o Homem a própria existência.
Saber não é tudo.
Só o amor consegue totalizar a glória da vida. Quem vive respire. Quem trabalha progride.
Quem sabe percebe.
Quem ama respira, progride, percebe, compreende, serve e sublima, espalhando a felicidade.
Siga, pois, seu roteiro, louvando o bem, esquecendo o mal e edificando sem repouso.
Se o caminho é áspero e sombrio, prossiga com destemor.
Lembra-se de que na vanguarda há mais amplo local para a sua esperança.
100
Busque ouvir a mensagem do amor, onde passe.
Estude amando.
Responda aos imperativos da evolução, amando onde esteja.
Atenda ao semelhante, amando com alegria.
Satisfará, em tudo, a você mesmo, amando sempre.
Na marcha ascendente para o Reino Divino, o Amor é a Estrada Real. As outras vias chamam-se
experiências que a Eterna Sabedoria, ainda por amor, traçou à grande viagem das almas para que
o espírito humano não se perca.
Antes de você, o amor já era.
Depois de você, o amor será.
Isso, porque o Amor é Deus em tudo.
Viva, assim, a vida, amando-a para entendê-la.
Viver e amar...
Amar e compreender...
Compreender e viver abundantemente...
Ângulos de uma verdade só - a Vida Eterna.
No entanto, viver sem amar é respirar sem trabalho digno; querer com exclusivismo entontecente é contemplar situações e circunstâncias com apriorismos que geram a enfermidade e a morte.
Se você sabe, portanto, o que é viver, porque não vive?
Só vive realmente quem ama.
Só ama efetivamente quem age para o bem de todos.
Só age, sem dúvida, para o bem de todos, quem compreende que o amor é a base da própria
vida.
Fora dessa verdade, há também movimento e ação, mas movimento e ação de sombra que tornará fatalmente à luz em ciclos determinados de choro, provação e martírio.
Nada novo, sempre a Lei, que funciona compassiva, mas inexorável, restituindo a cada sementeira a colheita certa.
Comande a embarcação de seu destino e não atribua a outrem os erros que as suas mãos venham a cometer.
De você mesmo depende a própria viagem.
Instrua a você mesmo, sem procurar encobrir, ante a própria consciência, as faltas que lhe arrojam a alma ao desencanto ou ao agravo das próprias necessidades do espírito.
Ainda que a noite lhe envolva o passo, alente, no imo de ser, o dia eterno da fé.
Não se confie ao sabor da invigilância, para que invigilância não lhe arraste a existência ao sabor
do sofrimento.
Antes de nós, o Universo era o Santuário da Glória Divina.
Lembremo-nos, pois, de que Deus nos criou para acrescentar-Lhe a grandeza.
Não Lhe diminuamos o esplendor, cultivando a treva...
Enganaremos a forma.
Jamais enganaremos a vida que palpita, triunfante, em nós mesmos.
Aprenda a buscar aquilo de que você carece no próprio aperfeiçoamento, antes que alguém lho
ensine a preço de aflição.
Busque o roteiro exato, antes que outros se lhe ofereçam, no dia de sua perturbação, para guias
de sua dor.
Força é poder. Ideia é força.
Mas só o amor condiciona o poder para a vitória da luz.
Ame e caminhe. Caminhe e vença.
101
Anote hoje os seus movimentos, no ritmo do trabalho e da oração, e o amanhã surgirá com brilho sempre novo.
Sorria para os lances mais difíceis da estrada e dos panoramas próximos e remotos descerrar-seão sorrindo à sua alma.
Não pare senão para refazer o fôlego atormentado.
Mais além, é a estrada de destino.
Não escute o murmúrio das sombras senão para socorrer as vítimas do mal, a fim de que os gemidos enganadores do nevoeiro não lhe anestesiem o impulso de elevação.
A fraternidade ser-lhe-á o anjo-sentinela entre os pântanos da amargura.
Cante o poema da caridade, seja onde for, e as criaturas irmãs, ainda mesmo quando algemadas
ao crime, responder-lhe-ão com estribilhos de amor.
Guarde compaixão e a paz ser-lhe-á doce prêmio.
Exemplifique a fé que lhe honra a inteligência e o mundo abençoar-lhe-á todas as palavras.
Amanheça cada dia no serviço que lhe compete e o dever retamente cumprido manterá você,
invariavelmente, na manhã luminosa da vida.
Antes de amparar a você, ampare aqueles que, desde muito, suspiram pela migalha de seu amparo.
Antes de nossa vontade, a vontade do Senhor.
Antes do bem para nós, o bem necessário aos outros.
Seja para você a justiça que observa e corrige e seja para o irmão de jornada a bondade que
ajuda e absolve sempre.
Sobretudo, guarde a certeza de que o amor se emoldura na humildade que nunca fere.
Coloque você em último lugar e a vida encarregar-se-á de sua própria defesa em qualquer parte.
Ainda mesmo com sacrifício, sob chuvas de fel e gritos de calúnia, renda diariamente o seu culto
ao amor e o amor na própria vida brilhará em sua alma, convertendo-a em estrela para a Glória
Sem Fim.
História de um pão
(Humberto de Campos, psicografia de Chico Xavier – do livro: “Espírito da
Verdade”, cap. 81)
Quando Barsabás, o tirano, demandou o reino da morte, buscou debalde reintegrar-se no grande palácio que lhe servira de residência.
A viúva, alegando infinita mágoa, desfizera-se da moradia, vendendo-Ihe os adornos.
Viu ele, então, baixelas e candelabros, telas e jarrões, tapetes e perfumes, jóias e relíquias, sob
o martelo do leiloeiro, enquanto os filhos querelavam no tribunal, disputando a melhor parte da
herança.
Ninguém lhe lembrava o nome, desde que não fosse para reclamar o ouro e a prata que doara a
mordomos distintos.
E porque na memória de semelhantes amigos ele não passava, agora, de sombra, tentou o interesse afetivo de companheiros outros da infância...
Todavia, entre eles encontrou simplesmente a recordação dos próprios atos de malquerença e
de usura.
Barsabás, entregou-se as lágrimas de tal modo, que a sombra lhe embargou, por fim, a visão, arrojando-o nas trevas.
Vagueou por muito tempo no nevoeiro, entre vozes acusadoras, até que um dia aprendeu a pedir na oração, e, como se a rogativa lhe servisse de bússola, embora caminhasse às escuras, eis
que, de súbito, se lhe extingue a cegueira e ele vê, diante de seus passos, um santuário sublime,
faiscante de luzes.
Milhões de estrelas e pétalas fulgurantes povoavam-no em todas as direções.
102
Barsabás, sem perceber, alcançara a Casa das Preces de Louvor, nas faixas inferiores do firmamento.
Não obstante deslumbrado, chorou, impulsivo, ante o Ministro espiritual que velava no pórtico.
Após ouvi-lo, generoso, o funcionário angélico falou sereno:
- Barsabás, cada fragmento luminoso que contemplas é uma prece de gratidão que subiu da
Terra ...
- Ai de mim - soluçou o desventurado - eu jamais fiz o bem...
- Em verdade - prosseguiu a informante -, trazes contigo, em grandes sinais, a pranto e a sangue
dos doentes e das viúvas, dos velhinhos e órfãos indefesos que despojaste, nos teus dias de invigilância e de crueldade; entretanto, tens aqui, em teu crédito, uma oração de louvor...
E apontou-lhe acanhada estrela, que brilhava a feição de pequenino disco solar.
- Há trinta e dois anos - disse, ainda, o instrutor -, deste um pão a uma criança e essa criança te
agradeceu, em prece ao Senhor da Vida.
Chorando de alegria e consultando velhas lembranças, Barsabás perguntou:
- Jonakim, o enjeitado?
- Sim, ele mesmo - confirmou a missionário divino. - Segue a claridade do pão que deste, um dia,
por amor, e livrar-te-ás, em definitivo, do sofrimento nas trevas.
E Barsabás acompanhou a tênue raio do tênue fulgor que se desprendia daquela gota estelar,
mas, em vez de elevar-se as Alturas, encontrou-se numa carpintaria humilde da própria Terra.
Um homem calejado aí refletia, manobrando a enxó em pesado lenho...
Era Jonakim, aos quarenta de idade.
Coma se estivessem as dois identificados no doce fio de luz, Barsabás abraçou-se a ele, qual viajante abatido, de volta ao calor do lar... (...)
Decorrido um ano, Jonakim, a carpinteiro, ostentava, sorridente, nos braços, mais um filhinho,
cujos louros cabelos emolduravam belos olhos azuis.
Com a benção de um pão dado a um menino triste, por espírito de amor puro, conquistara Barsabás, nas Leis Eternas, o prêmio de renascer para redimir-se.
Os novos samaritanos
(Eurípedes Barsanulfo, psicografia de Chico Xavier – do livro: “Espírito da
Verdade”, cap. 86)
Quem ainda não caiu nos resvaladouros do erro?
Quem ainda não se viu forçado a reerguer-se de muitas quedas?
Tange as fibras do coração e estende a indulgência, servindo aos companheiros que o açoite da
provação flagela e vergasta.
Ei-los que surgem por toda parte:
O doente recluso no manicômio, expirando à míngua de luz, no crepúsculo da existência......
A jovem acidentada cujos olhos empalidecem par não mais fitarem o azul do céu...
O moço que ostenta a saúde a brincar-lhe no corpo e a irreflexão a empurrar-lhe a alma para os
antros do vício...
A mulher que resume ao mesmo tempo a ternura de mil mãezinhas, ao enlaçar o filhinho amado e enfermo, desfalecente e já sem forças para chorar...
Homem de passo errante que se em descanso sobre passeios e bancos da via pública, tentando
conciliar o sono sem sonhos do supremo infortúnio...
O cultivador do solo, preso a dores antigas e que não troca de vestimenta há vários meses de intensa luta...
A dama elegante e bela que traz o coração repleto de enganos sobe o colo estrelado de joias...
103
O ébrio de olhar sem brilho e de lábios sem cor, que avança para o sepulcro, cambaleando aos
soluços dos filhos entregues à ignorância e à necessidade...
A velhinha encarquilhada que ainda busca coser farrapos de velhos sonhos...
Sentenciado infeliz cuja consolação é somente ouvir a orquestra dos passarinhos sobre as telhas
do cárcere...
Construindo o bem sem alarde, no sublime anonimato do amor fraterno, os espíritas podem e
devem ser os novos samaritanos, em plena vida de hoje.
Amor e caridade
(Bezerra de Menezes, psicografia de Chico Xavier – do livro: “Bezerra,
Chico e Você”)
O amor é luz Divina.
A Caridade é benemerência humana.
A claridade revela.
A bondade socorre.
Consagrastes o coração ao ministério bendito com Jesus e esperamos que os espinhos da senda
produzam flores para a tua fé renovadora e vibrante e que as pedras da estrada se convertam, ao
toque de tua compreensão e de tua boa vontade, em sublime pão do espírito.
Em verdade, a sementeira e a seara são infinitas. Cada setor reclama mil braços e cada leira exige devotamento e vigilância: entretanto, um discípulo somente, que se afeiçoe ao Mestre, pode
realizar milagres de amor e da caridade por onde passe, acordando corações para o serviço redentor.
Não nos cansemos, pois, na dedicação com que nos devotamos ao apostolado da renunciação.
Samaritano do Evangelho vivo, percebeste que não venceremos na batalha de nós mesmos, sem
partilharmos o carga que aflige nossos irmãos mais próximos.
Penetraste, feliz o santuário do entendimento novo e dispuseste o coração ao serviço mediúnico, aprendendo o valor do serviço aos semelhantes. Abençoado sejas.
Fenômenos e discussões, muita vez, constituem meros processos de enrijecer as fibras da alma,
porque nem todos se colocam, no mesmo nível, para a recepção das dádivas celestiais.
Todavia é imperioso reconhecer que o bem é a porta sublime através da qual o próprio pensamento de Jesus se manifesta, consolando e salvando, edificando e lenindo, amparando e iluminando o coração do homem cada vez mais.
Não descansemos, portanto, em nossa faina de ajuda e construir sempre.
Espiritismo sem aprimoramento espiritual é templo sem luz.
A hora do mundo é sombria e a jornada humana reclama lâmpadas acesas, para que as ovelhas
retardadas não se precipitem nos despenhadeiros fatais.
Irmanemo-nos no ministério da evangelização e avancemos.
Amor sem caridade é teoria de lábios desprevenidos: caridade sem amor é aqueles sino que
tange da imagem paulina.
Unamo-nos, em vista disso, na luz que redime a na fraternidade que socorre, convencidos de
que não nos faltará a benção daquele Divino Amigo que prometeu caminhar conosco até o fim dos
séculos. mor é luz Divina.
Caridade
(Thereza, psicografia de Chico Xavier – livro: “Caridade”)
Nos caminhos claros da inteligência, muitas vezes as rosas da alegria incompleta produzem os
espinhos da dor, mas, nas sendas luminosas da caridade, os espinhos da dor oferecem rosas de
perfeita alegria.
104
Onde a mão da caridade não passou, no campo da vida, as pedras e a erva daninha alimentam o
deserto; e, enquanto não atinge o cérebro, elevando-se do sentimento ao raciocínio, a ciência é
simples cálculo que a maldade inclina à destruição.
Indubitavelmente, a fé improvisa revolucionários, a instrução erige doutores, a técnica forma
especialistas e a própria educação, venerável em seus fundamentos, burila gentil homens para as
manifestações do respeito recíproco e da solidariedade comum. Só a caridade, porém, edifica os
apóstolos do bem que regeneram o mundo e lhe santificam os destinos.
A investigação e a cultura erguerão universidades e academias, onde o pensamento se entronize vitorioso; entretanto, somente a caridade possui as chaves do coração humano para fazer a vida melhor.
Cristãos abnegados da era nova, uni-vos sob o estandarte da divina virtude! Não convertais o
tesouro do Céu em motivo para indagações ociosas quando, ao redor de vossos passos, se agita a
multidão atormentada. Muitiplicai o pão da crença e do reconforto, à frente da turba aflita e esfaimada, porque o Senhor vos renovará os dons de auxiliar, toda vez que o cântaro de vosso esforço trouxer aos mananciais de cima o sublime sinal da caridade benfeitora. Estudai e meditai, monumentalizando as obras de benemerência pública e ensinando a verdade imperecível com que a
Nova Revelação vos enriquece, mas não vos esqueçais de instalar no peito um coração fraterno e
compadecido.
Instituições materiais primorosas, sem o selo íntimo da caridade, são frutos admiráveis sem sementes. Sem a compreensão, filha da piedade generosa e construtiva, nossa organização doutrinal
seria um palácio em trevas.
Iluminemos a luta em torno, clareando a vida por dentro.
Aspiremos ao paraíso, cooperando para que o bem alcance toda a Terra.
Fora de Deus não há vida e fora da caridade, que é o Divino Amor, não há redenção.
O anjo solitário
(Humberto de Campos, psicografia de Chico Xavier – do livro: “Estante da
Vida”, cap. 34)
Enquanto o Mestre agonizava na cruz, rasgou-se o céu em Jerusalém e entidades angélicas,
em grupos extensos, desceram sobre o Calvário doloroso...
Na poeira escura do chão, a maldade e a ignorância expeliam trevas demasiadamente compactas para que alguém pudesse divisar as manifestações sublimes.
Fios de claridade indefinível passaram a ligar o madeiro ao firmamento, embora a tempestade se anunciasse a distância...
O Cristo, de alma sedenta e opressa, contemplava a celeste paisagem, aureolado pela glória
que lhe bafejava a fronte de herói, e os emissários do Paraíso chegavam, em bandos, a entoaram cânticos de amor e reconhecimento que os tímpanos humanos jamais poderiam perceber.
Os Anjos da Ternura rodearam-lhe o peito ferido como a lhe insufladores energias novas.
Os portadores da Consolação ungiram-lhe os pés sangrentos com suave bálsamo.
Os Embaixadores da Harmonia, sobraçando instrumentos delicados, formaram coroa viva, ao
redor de sua atribulada cabeça, desferindo comovedoras melodias a se espalharem por bênçãos
de perdão sobre a turba amotinada.
Os Emissários da Beleza teceram guirlandas de rosas e lírios sutis, adornando a cruz ingrata.
Os Distribuidores de Justiça, depois de lhe oscularem as mãos quase hirtas, iniciaram a catalogação dos culpados para chamá-los a esclarecimento a reajuste em tempo devido.
Os Doadores de Carinho, em assembléia encantadora, postaram-se à frente dele e acariciavam-lhe os cabelos empastados de sangue.
105
Os Enviados da Luz acenderam focos brilhantes nas chagas doloridas, fazendo-lhe olvidar o
sofrimento.
Trabalhavam os mensageiros do Céu, em torno do Sublime Condutor dos Homens, aliviandoo e exaltando-o, como a lhe prepararem o banquete da ressurreição, quando um anjo aureolado
de intraduzível esplendor apareceu, solitário, descendo do império magnificente da Altura.
Não trazia seguidores e, em se abeirando do Senhor, beijou-lhe os pés, entre respeitoso e
enternecido. Não se deteve na ociosa contemplação da tarefa que, naturalmente, cabia aos
companheiros, mas procurou os olhos de Jesus, dentro de uma ansiedade que não se observara
em nenhum dos outros.
Dir-se-ia que o novo representante do Pai Compassivo desejava conhecer a vontade do Mestre, antes de tudo. E, em êxtase, elevou-se do solo em que pousara, aos braços do madeiro
afrontoso. Enlaçou o busto do Inesquecível Supliciado, com inexcedível carinho, e colocou, por
um instante, o ouvido atento em seus lábios que balbuciavam de leve.
Jesus pronunciou algo que os demais não escutaram distintamente.
O mensageiro solitário desprendeu-se, então, do lenho duro, revelando olhos serenos e úmidos e, de imediato, desceu do monte ensolarado para as sombras que começavam a invadir Jerusalém, procurando Judas, a fim de socorrê-lo e ampará-lo.
Se os homens lhe não viram a expressão de grandeza e misericórdia, os querubins em serviço
também lhe não notaram a ausência. Mas, suspenso no martírio, Jesus contemplava-o, confiante, acompanhando-lhe a excelsa missão, em silêncio.
Esse, era o anjo divino da Caridade.
Sublime ação
(Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Franco – livro: “Diretrizes para
o Êxito”, cap. 3)
Pessoas há, imensamente generosas, que são tocadas de compaixão ante as necessidades do
seu próximo e distendem-lhe mãos amigas de socorro e de amizade.
Repartem o pão, mesmo quando escasso, distribuem calor fraterno aos enregelados no abandono, brindam palavras gentis aos esfaimados de orientação.
Corteses e joviais, possuem verdadeiras fortunas de generosidade, desempenhando o seu papel
de cidadania em alto clima de solidariedade.
Enquanto se encontram em posição de relevo, não se ensoberbecem e procuram auxiliar todos
aqueles que lhes buscam apoio e necessitam do crescimento espiritual.
Esses homens e mulheres bem-intencionados contribuem em favor da sociedade que dignificam, mediante os bons exemplos de honradez, fomentando o progresso do grupo em que se encontram com os olhos postos no futuro da Humanidade.
Não importa se abraçam ou não qualquer religião.
Agem espontaneamente em decorrência dos sentimentos bons que lhes exornam o caráter.
Modelos sociais que se fizeram, conseguem movimentar-se em círculo de amizades prósperas,
homenageados e em destaque onde se apresentam.
Tornam-se estímulos para outros, que ainda não conseguiram superar as barreiras do egoísmo
nem os estigmas da indiferença ante a dor que ceifa esperanças a sua volta.
Representam biótipos que um dia se multiplicarão na Terra, tornando-se comuns, enquanto hoje rareiam.
Descobriram a arte de servir por meio da qual avançam intimoratos no rumo da própria felicidade.
Aprendendo a abrir o coração, ampliam os gestos de amor mediante as mãos solidárias ao sofrimento das demais criaturas.
106
Não cobram recompensa pelo que fazem, não exigem retribuição afetiva. O que praticam, realizam-no, porque lhes faz bem.
A verdadeira caridade, porém, conforme a entendia Jesus, é mais profunda, sendo benevolência
para com todos, indulgência para as faltas alheias e perdão das ofensas. (Questão de O Livro dos
Espíritos, de Allan Kardec, de nº 886. Nota da autora espiritual. )
A verdadeira caridade expressa-se mediante ações morais, relevantes e graves.
Sem dúvida, a doação de alimentos, de roupas e de medicamentos, de moedas que resgatam
dívidas, é valioso contributo para aquele que o recebe, evitando-lhe inomináveis padecimentos,
situações desesperadoras e mesmo alucinações que terminam em desaires e crimes variados.
Toda e qualquer oferta, portanto, distendida a quem sofre, é portadora de contributo significativo em nome do Bem.
Não constituindo sacrifício para o doador, é bênção para o atendido, auxiliando o coração generoso a habituar-se no exercício da solidariedade e no cumprimento dos deveres fraternos que a
vida impõe.
A ação sublime, no entanto, é mais escassa em razão dos sacrifícios de que se reveste.
A benevolência para com todos representa um sentimento de profundo amor pelo seu próximo,
de compreensão pelos seus atos, por cuja manifestação identifica as suas necessidades evolutivas
e não lhe cria embaraços na marcha.
A indulgência para as faltas alheias define-lhe o estágio moral avançado, após vencidas as etapas de desequilíbrio e sombra, que lhe ensinaram a entender quão difícil é a libertação dos atavismos primários que retêm na retaguarda.
O perdão das ofensas, por sua vez, é o auge das conquistas íntimas que desidentificam o ser das
próprias imperfeições, porque se dá conta do quanto necessita ser perdoado, naquilo que se refere às próprias fraquezas e delitos que tem cometido.
Essa ação sublime é, sim, a verdadeira caridade como a entendia Jesus.
As dádivas de natureza material enfocam a caridade nas suas primeiras manifestações, avançando para as expressões morais, quais a benevolência para com todos os corações perversos e
carentes, a tolerância ante as suas debilidades morais, olvido do mal e apoio àquele que o praticou.
Não bastará tolerar e até mesmo perdoar o mal que lhe é dirigido, mas sobretudo auxiliar aquele que derrapou na insensatez e gerou a situação infeliz. Ideal seria que esses sentimentos fossem
acompanhados do olvido do erro, mas como isso independe do sentimento, estando mais afeto à
memória, o treinamento de auxílio ao infrator contribui para o esquecimento da sua ação nefanda.
Treina a ação sublime no teu dia-a-dia, colocando, nas tuas práticas de bondade, as valiosas
contribuições morais que te desvelem espiritualmente bem em relação ao teu próximo. Não esqueças todavia, de prosseguir no auxílio mediante as ofertas materiais de algum significado para
os que necessitam desse imediato socorro.
Toma Jesus como teu modelo, sê benevolente, usando de indulgência e perdoando com total
fraternidade até o momento em que consigas esquecer todo e qualquer mal para pensar somente
no bem libertador.
Pessoas há, imensamente generosas, que são tocadas de compaixão ante as necessidades do
seu próximo e distendem-lhe mãos amigas de socorro e de amizade.
Repartem o pão, mesmo quando escasso, distribuem calor fraterno aos enregelados no abandono, brindam palavras gentis aos esfaimados de orientação.
Corteses e joviais, possuem verdadeiras fortunas de generosidade, desempenhando o seu papel
de cidadania em alto clima de solidariedade.
Enquanto se encontram em posição de relevo, não se ensoberbecem e procuram auxiliar todos
aqueles que lhes buscam apoio e necessitam do crescimento espiritual.
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Esses homens e mulheres bem-intencionados contribuem em favor da sociedade que dignificam, mediante os bons exemplos de honradez, fomentando o progresso do grupo em que se encontram com os olhos postos no futuro da Humanidade.
Não importa se abraçam ou não qualquer religião.
Agem espontaneamente em decorrência dos sentimentos bons que lhes exornam o caráter.
Modelos sociais que se fizeram, conseguem movimentar-se em círculo de amizades prósperas,
homenageados e em destaque onde se apresentam.
Tornam-se estímulos para outros, que ainda não conseguiram superar as barreiras do egoísmo
nem os estigmas da indiferença ante a dor que ceifa esperanças a sua volta.
Representam biótipos que um dia se multiplicarão na Terra, tornando-se comuns, enquanto hoje rareiam.
Descobriram a arte de servir por meio da qual avançam intimoratos no rumo da própria felicidade.
Aprendendo a abrir o coração, ampliam os gestos de amor mediante as mãos solidárias ao sofrimento das demais criaturas.
Não cobram recompensa pelo que fazem, não exigem retribuição afetiva. O que praticam, realizam-no, porque lhes faz bem.
A verdadeira caridade, porém, conforme a entendia Jesus, é mais profunda, sendo benevolência
para com todos, indulgência para as faltas alheias e perdão das ofensas. (Questão de O Livro dos
Espíritos, de Allan Kardec, de nº 886. Nota da autora espiritual.)
A verdadeira caridade expressa-se mediante ações morais, relevantes e graves.
Sem dúvida, a doação de alimentos, de roupas e de medicamentos, de moedas que resgatam
dívidas, é valioso contributo para aquele que o recebe, evitando-lhe inomináveis padecimentos,
situações desesperadoras e mesmo alucinações que terminam em desaires e crimes variados.
Toda e qualquer oferta, portanto, distendida a quem sofre, é portadora de contributo significativo em nome do Bem.
Não constituindo sacrifício para o doador, é bênção para o atendido, auxiliando o coração generoso a habituar-se no exercício da solidariedade e no cumprimento dos deveres fraternos que a
vida impõe.
A ação sublime, no entanto, é mais escassa em razão dos sacrifícios de que se reveste.
A benevolência para com todos representa um sentimento de profundo amor pelo seu próximo,
de compreensão pelos seus atos, por cuja manifestação identifica as suas necessidades evolutivas
e não lhe cria embaraços na marcha.
A indulgência para as faltas alheias define-lhe o estágio moral avançado, após vencidas as etapas de desequilíbrio e sombra, que lhe ensinaram a entender quão difícil é a libertação dos atavismos primários que retêm na retaguarda.
O perdão das ofensas, por sua vez, é o auge das conquistas íntimas que desidentificam o ser das
próprias imperfeições, porque se dá conta do quanto necessita ser perdoado, naquilo que se refere às próprias fraquezas e delitos que tem cometido.
Essa ação sublime é, sim, a verdadeira caridade como a entendia Jesus.
As dádivas de natureza material enfocam a caridade nas suas primeiras manifestações, avançando para as expressões morais, quais a benevolência para com todos os corações perversos e
carentes, a tolerância ante as suas debilidades morais, olvido do mal e apoio àquele que o praticou.
Não bastará tolerar e até mesmo perdoar o mal que lhe é dirigido, mas sobretudo auxiliar aquele que derrapou na insensatez e gerou a situação infeliz. Ideal seria que esses sentimentos fossem
acompanhados do olvido do erro, mas como isso independe do sentimento, estando mais afeto à
memória, o treinamento de auxílio ao infrator contribui para o esquecimento da sua ação nefanda.
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Treina a ação sublime no teu dia-a-dia, colocando, nas tuas práticas de bondade, as valiosas
contribuições morais que te desvelem espiritualmente bem em relação ao teu próximo. Não esqueças todavia, de prosseguir no auxílio mediante as ofertas materiais de algum significado para
os que necessitam desse imediato socorro.
Toma Jesus como teu modelo, sê benevolente, usando de indulgência e perdoando com total
fraternidade até o momento em que consigas esquecer todo e qualquer mal para pensar somente
no bem libertador.
Janelas da alma
(Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Franco – livro: “Momentos de
Felicidade”)
O sentimento e a emoção normalmente se transformam em lentes que coam os acontecimentos, dando-lhes cor e conotação próprias.
De acordo com a estrutura e o momento psicológico, os fatos passam a ter a significação que
nem sempre corresponde à realidade.
Quem se utiliza de óculos escuros, mesmo diante da claridade solar, passa a ver o dia com menor intensidade de luz.
Variando a cor das lentes, com tonalidade correspondente desfilarão diante dos olhos as cenas.
Na área do relacionamento humano, também, as ocorrências assumem contornos de acordo
com o estado de alma das pessoas envolvidas.
É urgente, portanto, a necessidade de conduzir os sentimentos, de modo a equilibrar os fatos
em relação com eles.
Uma atitude sensata é um abrir de janelas na alma, a fim de bem observar os sucessos da vilegiatura humana.
De acordo coma a dimensão e o tipo de abertura, será possível observar a vida e vivê-la de forma agradável, mesmo nos momentos mais difíceis.
Há quem abra janelas na alma para deixar que se externem as impressões negativas, facultando
a usança de lentes escuras, que a tudo sombreiam com o toque pessimista de censura e de reclamação.
Coloca, nas tuas janelas, o amor, a bondade, a compaixão, a ternura, a fim de acompanhares o
mundo e o seu séquito de ocorrências.
O amor te facultará ampliar o círculo de afetividade, abençoando os teus amigos com a cortesia,
os estímulos encorajadores e a tranquilidade.
A bondade irrigará de esperança os corações ressequidos pelos sofrimentos e as emoções despedaçadas pela aflição que se te acerquem.
O perdão constituirá a tua força revigoradora colocada a benefício do delinquente, do mau, do
alucinado, que te busquem.
A ternura espraiará o perfume reconfortante da tua afabilidade, levantando os caídos e segurando os trôpegos, de modo a impedir-lhes a queda, quando próximos de ti.
As janelas da alma são espaços felizes para que se espraie a luz, e se realize a comunhão com o
bem.
Colocando os santos óleos da afabilidade nas engrenagens da tua alma, descerrarás as janelas
fechadas dos teus sentimentos, e a tua abençoada emoção se alongará, afagando todos aqueles
que se aproximem de ti, proporcionando-lhes a amizade pura que se converterá em amor, rico de
bondade e de perdão, a proclamarem chegada a hora de ternura entre os homens da Terra.
109
Aplicações do Conhecimento Espírita
(Vianna de Carvalho, in “Espiritismo e Vida” – Cap 7)
O preclaro Codificador do Espiritismo, procedendo a uma análise sintética em torno da
Doutrina recém-apresentada ao mundo, estabeleceu que o seu desenvolvimento para atingir a
plenitude na sociedade atravessaria três períodos distintos, quais sejam: o da curiosidade, o do estudo filosófico e meditação dos seus postulados, e o da aplicação das suas consequências.
Superada a primeira fase, porque de efêmera duração, mais prolongada é aquela que faculta o estado filosófico, propondo meditações e reflexões profundas, para a sua aplicação futura,
consequência inevitável da incorporação dos seus postulados ao modus vivendi de cada um dos
seus adeptos.
Os fenômenos espíritas, retratando a realidade da vida em toda a sua complexidade, desvela o mundo espiritual, demonstrando a causalidade de todos os acontecimentos de maneira
inequívoca, graças ao que permite a identificação dos legítimos objetivos existenciais.
Demitizando os tabus e superstições, crendices e fantasias em torno do Espírito e do seu
processo de evolução, convoca o pensamento `a análise lógica em torno da finalidade da existência física e das suas ocorrências.
Dessa maneira, transforma-se no maior adversário do materialismo, cujos postulados trabalham em favor do momento que passa, anulando a possibilidade de sobrevivência do se à decomposição orgânica. Suas bases, que não possuem qualquer suporte para sustentação em fatos
que lhe demonstrem a legitimidade, ante as demonstrações do Espiritismo soçobram, esboroando-se o edifício das suas teses, que são mais fruto de reações psicológicas às religiões ortodoxas
do passado, do que propriamente contra a fé legítima, especialmente quando racional.
Em face das elucidações que oferece, o Espiritismo torna o indivíduo seguro da sua realidade eterna, e que se sentindo realmente seguro das responsabilidades que lhe dizem respeito no
concerto social, rompe o claustro da pusilanimidade no qual se encarcerara e sai à luta em afanoso
trabalho de incessante renovação moral e espiritual.
Por efeito, a sociedade, na qual se movimenta, experimenta a mudança que nele se opera,
e desembaraça-se dos grilhões férreos das conveniências transitórias, para estabelecer o comportamento que promoverá a Humanidade ao nobre patamar da integridade social e do equilíbrio geral.
Infelizmente, em razão das estruturas arcaicas em que se firmam os valores éticos atuais, o
utilitarismo e a exaltação da personalidade têm prevalência nos seus quadros de relacionamentos
humanos.
Os indivíduos e os grupos assim constituídos tornam-se egoístas e laboram estimulados pelos interesses mesquinhos a que se aferram.
Frutos desse materialismo absurdo uns e do religiosismo exterior e indiferente outros, a falácia em torno do ser predomina nas suas formulações morais e nos seus objetivos essenciais, assinalando a jornada orgânica como necessidade inadiável e única para os primeiros, a caminho da
plenitude gratuita para os segundos, o que defrauda profundamente a realidade da vida.
O Espiritismo, como antagonista seguro do materialismo, fere-o de morte, por comprovar a
vacuidade da matéria e a sua existência, realçando a energia nas variadas expressões em que se
manifesta, culminando com o Espírito, que é o ser pensante.
Diluída a ilusão do nada, que é muito difundida, a perenidade do ser exige de todos um arsenal de conhecimentos para ser entendida, ao tempo em que se penetra na finalidade existencial
com o destino para onde ruma.
Da mesma forma, descartando as quimeras dos teólogos humanos sobre a fé religiosa, faz
que ruam os castelos do protecionismo para suas elites e repúdios eternos para os alienígenas aos
seus quadros, abrindo os amplos e infinitos rumos da Espiritualidade.
110
Enquanto uma e outra condutas filosóficas são resultados de elaborações humanas, de indivíduos e de grupos vinculados entre si pelos interesses a que se prendem, o Espiritismo de todas
difere, por ser trabalho dos Espíritos de todas as categorias que, em diferentes partes da Terra,
apresentaram-se em todos os tempos, mediante contínuas revelações e que, no século XIX, como
vozes dos Céus em sinfonia incomparável, de uma vez alertaram a consciência humana e suas
mensagens como estrelas caídas, e produziram uma luminosidade no pensamento que jamais se
apagará...
Codificadas essas lições, elaborados os seus paradigmas e confirmados os seus princípios ,
apresenta-se na condição de uma filosofia profunda, que se propõe a libertar as consciências emaranhadas no cipoal da ignorância, dos preconceitos, das idéias falsas, rompendo todas as amarras
que ameaçam retê-las na retaguarda.
Em face dos seus fundamentos repousarem na crença em Deus, na imortalidade da alma,
na Justiça Divina, nos benéficos efeitos da adoração ao Criador, mediante ações enriquecedoras,
na oração e no respeito aos ensinamentos humanos, em Jesus, como Modelo e Guia, inevitavelmente expressa-se com caráter religioso, porém racional, de forma a reconduzir a criatura ao Genitor Excelso, graças ao desenvolvimento dos tesouros morais e de sabedoria que lhe jazem em
latência.
À medida que esses conhecimentos tornam-se difundidos e venham a ser implantados nos
corações e nas mentes, as consequências inegáveis serão a felicidade, a harmonia social, o desenvolvimento pleno do ser humano, a libertação dos sofrimentos que se impõem por enquanto em
razão do processo evolutivo, com o qual todos se encontram comprometidos.
Dessa forma, a sociedade se tornará mais equânime e justa, os relacionamentos se farão
duradouros e ricos de compensações emocionais superiores, as leis ensejarão dignidade e confiança, desaparecendo as diferenças de classes, de raça, de pensamento arbitrário, e todas as criaturas, respeitando-se, harmonizarão os sentimentos proporcionando o bem-estar geral.
Conclui-se que o período da curiosidade logo passa, em razão de, sendo atendida pelos fatos inequívocos da sobrevivência do ser à disjunção molecular pela morte, os conteúdos filosóficos
tornam-se as respostas aguardadas para as interrogações perturbadoras que permanecem nas
mentes ansiosas.
Logo se impõe a necessidade da aplicação desse conhecimento espírita e suas consequências se prolongarão pelo porvir, trabalhando em favor da sociedade melhor, que se há de estabelecer no planeta terrestre, começando no indivíduo que, consciente das próprias responsabilidades, assumirá a condição de verdadeiro cristão.
Esses homens e mulheres de bem formarão pequenas células saudáveis moralmente, que
se transformarão em grupos felizes, moral e espiritualmente, conseguindo a meta proposta pela
existência, que é a felicidade real.
Coragem e Responsabilidade
(Vianna de Carvalho, in “Espiritismo e Vida” – Cap 30)
Quando o ser humano descobre o Espiritismo é tomado por especial alegria de viver, passando a compreender as razões lógicas da sua existência, os mecanismos que trabalham em favor
da felicidade, experimentando grande euforia emocional.
Quando o Espiritismo penetra na mente e no sentimento do ser humano, opera-se-lhe uma
natural transformação intelectomoral para melhor, propondo-lhe radical alteração no comportamento que enseja a conquista de metas elevadas e libertadoras.
Quando o indivíduo mantém os primeiros contatos com a Doutrina Espírita vê-se diante de
um mundo maravilhoso, rico de bênçãos que pretende fruir, deixando-se fascinar pelas propostas
iluminativas de que é objeto.
111
Quando o Espiritismo encontra guarida no indivíduo, logo se lhe despertam os conceitos de
responsabilidade, coragem e fidelidade à nova conquista.
Nem todos, porém, alteram a conduta convencional a que se acostumaram. Ao entusiasmo
exagerado sucede o convencionalismo do conhecimento sem a sua vivência diária, aguardando recolher conveniências e soluções para os problemas afligentes, sem maior esforço pela transformação moral. Não se afeiçoando ao estudo correto dos postulados espíritas e neles reflexionando,
detêm-se nas exterioridades das informações que recolhem, nem sempre verdadeiras, tornandose apenas beneficiários dos milagres que esperam aconteçam-lhes a partir do momento da sua
adesão.
Com o tempo e a frequência às reuniões, acomodem-se ao novo ritualismo da participação
sem realizações edificantes, ou entregam-se à parte da assistência social, procurando negociar
com Deus o futuro espiritual em razão do bem e da caridade que acreditam estar realizando.
O conhecimento do Espiritismo de forma natural e consciente desperta os valores enobrecidos da responsabilidade e da coragem indispensáveis à existência ditosa.
Todo conhecimento nobre liberta o ser humano da ignorância, apresentando-lhe a realidade desvestida dos formalismos e das ilusões, na sua face mais bela e significativa, por ensejar a
conquista dos valores legítimos que devem ser cultivados.
O homem livre da superstição e dos complexos mecanismos da tradição da fé imposta, redescobre-se e exulta por compreender que é o autor de toas as ocorrências que lhe sucedem, exceção ao nascimento e à desencarnação, e mesmo essa, dependendo muito do seu comportamento durante a vilegiatura física, podendo antecipá-la ou postergá-la.
Adquire a responsabilidade moral pelos atos, não mais apoiando-se nas bengalas psicológicas de transferir para os outros a razão dos insucessos que lhe ocorrem, dando lugar aos sofrimentos e às suas inevitáveis consequências.
Compreende que uma excelente filosofia não basta para proporcionar uma existência feliz,
mas sim, a vivência dos seus ensinamentos que se tornam responsáveis pelo que venha a ocorrerlhe na área do seu comportamento moral.
É comum, a esses adeptos precipitados, passado algum tempo, apresentar-se decepcionados e tristes, informando que esperavam muito mais do Espiritismo e que encontraram pessoas
confusas e perversas, insensatas e desequilibradas no seu movimento.
Da alegria exagerada passam à crítica contumaz, â maledicência, ao azedume.
Afinal, essa responsabilidade não é do Espiritismo, mas daqueles que o visitam levianamente e não incorporam à vida espiritual os ensinamentos excepcionais de que se constitui a sã doutrina.
De igual maneira que esses neófitos não se preocuparam em conseguir a autoiluminação, o
mesmo sucedeu com outros adeptos que os precederam, acostumados que estavam ao ócio espiritual, à leviandade religiosa, aguardando sempre receber sem a menor preocupação em contribuir.
O movimento espírita não é o Espiritismo. O primeiro é constituído pelos indivíduos, bons e
maus, conhecedores e ignorantes das verdades do mundo espiritual, ativos ou ociosos, que se deveriam integrar de corpo e alma ao serviço de renovação interior e da divulgação pelo exemplo.
No entanto, para esse cometimento é necessária a coragem da fé, essa robustez de ânimo que enfrenta as dificuldades de maneira lúcida e clara com destemor e espírito de ação para remover-lhe
os obstáculos e alcançar os patamares mais elevados de harmonia e de bem-estar.
Em muitos que permanecem na irresponsabilidade do comportamento e na falta de coragem para arrostar as consequências da sua conversão ao Espiritismo, permanecendo na dubiedade, nas incertezas que procuram não esclarecer, receando os impositivos da fidelidade pessoal à
doutrina, instalam-se as justificativas infantis para prosseguirem sem alteração, esperando que os
Espíritos realizem as tarefas que lhes dizem respeito.
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Outros, ainda, viciados na conduta da inutilidade esperam ter resolvidos todos os problemas de saúde, família, economia, surpreendendo-se, quando convocados aos fenômenos existenciais das enfermidades, dos desafios domésticos e financeiros, sociais e profissionais, que desejavam não lhes ocorressem em decorrência da sua adesão ao Espiritismo...
Só mesmo a mente insensata pode elaborar conceito dessa magnitude: a adesão a uma
doutrina feliz basta para que tudo lhe ocorra, a partir de então, de maneira especial e magnífica!
O Espiritismo enseja a compreensão dos fatores existenciais, dos compromissos que a cada
qual dizem respeito, do esforço que deve ser enviado em favor da construção do próprio futuro.
Elucida as ocorrências dolorosas, explicando as suas causas e oferecendo os instrumentos para a
sua erradicação com a consequente construção dos dias felizes do porvir.
Eis por que se impõe, logo após a adesão aos seus postulados, de par com a responsabilidade da conduta, a coragem para as mudanças interiores que devem ocorrer ao longo do tempo,
com a vigilância indispensável à produção de fatores elevados para o desenvolvimento intelectomoral que aguarda o candidato às suas fileiras.
Tomando como modelar a conduta de Jesus, o Espiritismo trá-lO de volta, desmistificado
das fábulas com que O envolveram através dos tempos, real e companheiro de todos os momentos, ensinando sempre pelo exemplo de que as Suas palavras se revestem.
O espírita sincero, que se redescobre através do conhecimento doutrinário, transforma-se
em verdadeiro cristão, conforme os padrões estabelecidos pelo Mestre galileu.
Não se permite justificativas infantis após os insucessos, levanta-se dos erros e recomeça
as atividades tantas vezes quantas ocorram, tem a coragem para o autoenfrentamento, libertando-se dos inimigos de fora para vencer aqueles de natureza interna, sempre disposto a servir e a
amar.
Evocando os mártires do Cristianismo primitivo, enfrenta hoje valores decadentes da ética
e da moral, graves problemas sociais e morais, que lhe exigem sacrifício para uma existência honorável sem os conchavos com a indignidade, a traição e o furto legalizado.
Torna-se alguém intitulado como portador de comportamento excêntrico, porque tem a
coragem de preservar a vida saudável, mantendo-se digno em todas as circunstâncias, responsável
pelos pensamentos, palavras e atos, incompreendido e, não poucas vezes, perseguido, mesmo nos
locais em que labora doutrinariamente, em face da conduta doentia dos acostumados à leviandade e ao ócio.
Sem qualquer dúvida, a adesão ao Espiritismo impõe a consciência de responsabilidade e
de coragem para tornar-se verdadeiramente espírita, todo aquele que lhe sinta a sublime atração.
Os Espíritas Verdadeiros
(Vianna de Carvalho, in “Espiritismo e Vida” – Cap 6)
A função filosófica e moral do Espiritismo é, primordialmente, produzir a transformação
pessoal do seu adepto para melhor. Não o conseguindo, permanece portador de grande beleza,
no entanto inócuo nos seus resultados, qual orquídea deslumbrante, mas apenas isso...
O espiritismo possui os elementos indispensáveis para operar a mudança social, isto é, criar
os recursos hábeis, através dos quais, iluminando a criatura, esta se encarregará de promover o
progresso da sociedade e acelerar a fraternidade, a vivência do bem.
Ciência estruturada em fatos demonstráveis à saciedade, desperta interesse nos investigadores, enquanto propicia a confirmação experimental dos seus paradigmas. Mediante a sua repetição constante elimina quaisquer hipóteses outras que se arquitetem com o fim de negá-lo.
Ao mesmo tempo a sua filosofia, que resultou dessas comunicações mediúnicas, possui um
repositório de sabedoria que enfrenta o materialismo de maneira estóica, respondendo a todas
questões perturbadoras do pensamento, firmadas na lógica e na razão.
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Dispensando quaisquer sinais exteriores de identificação, os seus profitentes fazem-se conhecidos pela conduta moral e as ações de caridade em que se empenham.
Não obstante, a fenomenologia, mesmo convencendo os seus experimentadores, nem
sempre consegue produzir espíritas verdadeiros, sinceros, devotados, mantendo-se na torpe situação de investigador exigente, não definindo a sua adesão à Causa.
Da mesma forma, outros tantos, que se convencem da sua realidade mediante a aceitação
dos seus postulados portadores de argumentação de bronze, embora a certeza da sua legitimidade, não são introjetados no comportamento.
Somente um número algo reduzido de estudiosos e investigadores assume a postura de
trabalhar em favor da sua divulgação, ampliando os horizontes terrestres para propiciar-lhes a felicidade através da renovação moral dos seus membros.
São esses os espíritos verdadeiros ou espíritas cristãos, pela sua aceitação e prática do código moral estatuído por Jesus.
Enxameiam, entretanto, aqueles adeptos que se creem portadores de méritos que estão
distantes de possuir, pensando que a sua adesão à Doutrina Espírita credencia-os a permanecerem exigentes, impermeáveis, sempre impondo condições novas para a aceitação total dos ensinamentos. E se dizem, também, espíritas, que o são, porém, apenas como experimentadores.
Outro número muito expressivo de crentes assim demora porque a Doutrina repletou-os a
todos de respostas legítimas, preenchendo-lhes as mil questões tormentosas em que se debatiam.
Apesar disso, não abandonam os velhos hábitos, estribados em egoísmo avassalador e em
soberba injustificável. Compreendem esses adeptos os ensinamentos exarados na Codificação Espírita e nas obras que lhe são subsidiárias, mas prosseguem acomodados nos seus gabinetes de reflexões e de vaidades, quando não se fazem renitentes nas paixões em que se comprazem. Esperam sempre soluções para os dramas que fomentam e aguardam distinções a que não fazem jus.
Normalmente são hábeis na censura aos demais com facilidade, exigindo perfeição que
não possuem; invejam a ascensão dos companheiros, atirando-lhes petardos acusatórios, sem
produzirem significativa alteração de conduta, tornando-a exemplar; combatem a prodigalidade
do próximo, aferrados à avareza pessoal; estabelecem diretrizes que desejam ser vivenciadas pelo
próximo, facultando-se justificativas impeditivas pelo próximo, facultando-se justificativas impeditivas para introjetá-las...Caracterizam-se por desejar, sem muita convicção, que o outro se revele
em condição moral superior, suportando o seu azedume e a sua petulância, enquanto apenas
apontam erros...
Geram dissidências, apegando-se a detalhes de forma, sem a preocupação de examinarem
os conteúdos, sempre vigorosos na exibição da cultura em detrimento da conduta, apegados à letra e longe do espírito da mensagem.
Compreende-se esse fenômeno humano, considerando-se o estágio inferior no qual estagia a grande massa, incluindo, naturalmente, algumas elites sociais, econômicas e intelectuais...
Transitando com dificuldade na indumentária física sob a pesada carga de compromissos
infelizes, não conseguem, após o encantamento inicial com o Espiritismo, vivenciar as suas lições.
Muitos debandam das suas fileiras, porque em realidade jamais se impregnaram dos ensinos espíritas, havendo sido frequentadores de reuniões ou admiradores de pessoas de destaque
no grupo, sem que experimentassem um sentimento de simpatia pela Doutrina em si mesma e interesse pela sua evolução espiritual. São os simpatizantes temporários e que esperam somente
fruir de benefícios propiciados pelos Espíritos ou do conhecimento doutrinário, mas sem a resposta competente do sacrifício pessoal.
Acreditam na vida futura, sem dúvida, no entanto, retêm-se vigorosamente nos impositivos
da existência presente, gozando e desfrutando de tudo quanto lhes é lícito ou não, desde que não
desejam perder a oportunidade do prazer...
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O espírita de coração, aquele no qual o Espiritismo encontra ressonância produzindo uma
revolução para melhor, abre-se ao seu conteúdo e aprende a ser feliz, elegendo a caridade como a
estrada moral a partilhar sem cansaço.
O verdadeiro espírita compreende todas essas ocorrências negativas e infelizes do Movimento no qual labora, sem desanimar nem rebelar-se.
Sabe que as defecções de muitos companheiros resulta da sua imaturidade espiritual e, em
vez de exprobrá-los permanece fraterno, mesmo quando hostilizado ou perseguido.
É manso sem emaranhar-se no cipoal da hipocrisia ou do servilismo perturbador.
A sua energia manifesta-se através da perseverança nas atividades doutrinárias que abraça.
Não tem a veleidade de impor-se, de converter os demais. São os seus atos que despertam
atenção, a crença que vivenciam.
O seu entusiasmo é encantador, nunca exaltado, porquanto aqueles que pretendem inocular nos demais a convicção de que se fazem portadores, proporcionam mais males à divulgação do
Espiritismo que benefícios.
O espírita verdadeiro não se sente completado, mas em construção evolutiva. Estuda sempre, observando as ocorrências e buscando retirar o melhor proveito, a fim de crescer emocionalmente sempre mais.
Certamente encontramos na sociedade homens e mulheres nobres e bons, que sem conhecimento dos fatos e dos ensinamentos do Espiritismo, podem ser considerados como espíritas,
pois creem em Deus, na imortalidade do Espírito e na sua comunicação, na Justiça Divina, no processo da evolução paulatina, seguindo a moral evangélica...
No entanto, o discípulo sincero da Doutrina, que a vive e a ensina em palavras e em atos, é
conscientemente espírita e verdadeiro cristão, conforme elucida o caroável mestre Allan Kardec,
no Capítulo III, de O Livro dos Médiuns, item 28.
Sacrifício e Amor
(Joanna de Angelis, in “Libertação pelo Amor” – Cap 8)
Invariavelmente, quando se fala a respeito da sublime doação do Mestre ao Seu rebanho,
entregando-lhe a própria vida, assevera-se que este foi-lhe um grande sacrifício, como se Ele não
tivesse conhecimento, desde antes, a respeito da necessidade de demonstrar a inefável grandeza
do Seu amor.
O conceito de sacrifício, em tão elevada demonstração de afeto, não se ajusta à realidade,
porquanto Ele marchou para o matadouro absolutamente seguro, consciente e confiante da necessidade de fazê-lo a fim de que, dessa maneira, pudesse despertar os Seus afeiçoados para o
significado da Sua entrega total.
Estivera com todos em momentos felizes, oferecendo-lhes bênçãos de saúde e de conhecimento, de esperança e de paz, informando, entretanto, que a existência física não é definitiva e
que todos deveriam preparar-se para o enfrentamento com as vicissitudes e os naturais sofrimentos.
Restituía-lhes a saúde, mas não impedia que viessem a morrer.
Proporcionava-lhes júbilos, porém não evitava que fossem visitados pela tristeza que decorre do processo de evolução ante os dissabores e as lições morais de crescimento íntimo.
Concedia-lhes paz, entretanto, não se permitia impossibilitar a luta que cada qual deve travar, a sim de autoconhecer-se e de encontrar o rumo da iluminação.
Mimetizava-os com a Sua ternura, todavia, era necessário que se esforçassem para preservá-la.
Jamais deixou de os amparar e de os auxiliar no crescimento íntimo para Deus.
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Abriu-lhes o olhos da alma para o discernimento e para a razão, concitou-os ao trabalho e à
solidariedade vivendo a serviço do Pai, sem jamais queixar-se ou exigir-lhes o que quer que fosse.
Tornava-se, portanto, indispensável demonstrar-lhes a grandeza desse amor, oferecendo a
existência em holocausto no rumo da Vida Eterna, última e vigorosa maneira de fazê-los crer.
Não foi, portanto, um sacrifício, no sentido de um esforço de imolação entre desespero e
luta renhida.
Sacrifício, ser-Lhe-ia deixar ao próprio destino aqueles que o Pai Lhe confiara para pastorear, conduzindo-os pelo rumo certo do dever e da conquista de si mesmos.
Seria também sacrifício se, por acaso, se houvesse eximido da oferenda máxima de que se
tem notícia, para que cada qual pudesse aprender através do sofrimento, que somente no dever
se encontra a razão essencial da existência humana.
A cruz, que sempre foi um símbolo de humilhação e de desgraça, de punição e de corrigenda severa, com Jesus tornou-se asas de libertação, facultando o vôo no rumo do Infinito.
EM razão disso, Ele doou a Sua vida para que todos a tivéssemos em abundância, lutando
pessoalmente, cada qual, por adquiri-la.
Quando se ama, nada constitui esforço, sofrimento, sacrifício.
O amor é tão rico de carinho e de bênçãos, que se multiplica à medida que se oferece, jamais diminuindo de intensidade quanto mais se distribui.
Invariavelmente, as criaturas consideram-no uma operação de reciprocidade, mediante a
qual a permuta dos sentimentos faz-se estímulo para o seu prosseguimento.
De alguma forma, porém, essa expressão de amor não deixa de ser o início do processo
que o levará à sublimação do querer e do doar.
Saindo do instinto, que é todo posse, matriz do egoísmo perturbador, aformoseia-se com a
experiência afetiva, agigantando-se e tornando-se maior na proporção da abnegação e do devotamento que se faz portador.
O amor nunca se exalta, nem reclama, porque é fonte de compreensão, nada obstante,
também de educação das emoções, do comportamento, da vida.
O Mestre sempre ensinava, e o clímax dessas lições foi a Sua crucificação, mediante a qual,
em forma de tragédia, atrairia todos a Ele.
O ser humano, infelizmente, ainda necessita do espetáculo ou da terapia de choque, de
modo a despertar do letargo a que se entrega.
Isso ocorre em todos os campos do relacionamento social.
Quando os fatos transcorrem naturais e sem comoção, não se tornam de aceitação imediata, pacífica e penetrante. No entanto, quando produzem impacto, sensação peculiar, despertam
interesse, discussão e aceitação na maioria das vezes.
Eis por que, embora seja o amor a fonte inexaurível de enriquecimento, o progresso do ser
como indivíduo e da sociedade como organismo coletivo, tem sido mediante a dor, especialmente
estabelecida pelos testemunhos que são considerados sacrifícios do prazer e do gozo imediato.
Dessa forma, a idéia vigente é de que a suprema doação do Mestre seria também um sacrifício em favor dos Seus afeiçoados, quando, diferindo do convencional, o Seu exemplo de enriquecimento é um convite à reflexão. Se Ele, que não tinha culpa, foi conduzindo ao máximo de entrega, é natural que as criaturas, caracterizadas pelas cargas emocionais de desequilíbrio e de dívidas
morais, não se possam considerar exceção, eximindo-se ao padecimento purificador.
Nele temos a oferenda de ternura e de alegria, embora as excruciantes aflições que padeceu, confirmando a Sua procedência de enviado de Deus, o Messias que as tormentosas condições
israelitas negavam-se a aceitar.
Na sua desenfreada alucinação pelo poder e dominação pelo orgulho, mediante o qual a
raça eleita governaria o mundo dos gentios, era muito difícil aceitar aquele Rei especial, sem trono
nem exército homicida, sem áulicos com trombetas nem embaixadores soberbos precedendo-o.
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Como o Seu reino não era deste mundo, os ministros e servidores não se apresentavam visíveis senão, à semelhança de João Batista, o Precursor, ou dos profetas que vieram bem antes dEle e foram, uns ridicularizados, outros perseguidos, outros mortos...
Esforça-te, por tua vez, para atender a doação da vida como a entrega amorosa Àquele que
a gerou.
Aprende a renunciar aos pequenos apegos, crescendo na direção da superação dos tormentosos desejos, aqueles de grande porte, em homenagem à tua iluminação, à tua ascensão.
É sempre necessário morrer, a fim de viver em plenitude.
Tem como exemplo Jesus em todas as situações, e se amas, tudo quanto ofereças, não
constitua sacrifício nem sofrimento, antes mensagem de alegria e de paz.
Indulgência
(Joanna de Angelis, in “Libertação pelo Amor” – Cap 16)
É muito escassa na criatura humana a qualidade da indulgência !
Preocupada com a conquista dos valores imediatistas, diante de ocorrências desagradáveis
facilmente resvala para a intolerância, a censura, a causticidade, o ressentimento, o ódio...
Fixa o lado negativo do que lhe sucedeu com muita naturalidade, deixando, à margem, os
valores positivos em desenvolvimento, as qualidades morais em início de afirmação no outro ser.
Em razão disso, campeiam a agressividade, a revolta, o pessimismo, o desconforto moral
entre os grupos humanos.
Pequeno incidente que pode ser superado sem grande esforço, avoluma-se e soma-se a
outros que já deveriam estar diluídos na memória, agravando situações que se tornam difíceis de
superar.
A intolerância sistemática, defluente do orgulho pessoal, seleciona detalhes insignificantes
para justificar a inferioridade de que é objeto e o temperamento intransigente, quando a atitude
comportamental deveria ser diferente.
Deslizes íntimos que não interessam a terceiros, tornam-se públicos, em razão do prazer
com que são comentados pelos frívolos e maledicentes, gerando dificuldades para a reabilitação
pessoal e a convivência fraternal edificante.
Comentários desairosos ampliam questões sem importância, alterando o conjunto dos fatos a serviço da radicalização de posturas.
Todas essas infelizes atitudes são promovidas por pessoas também falíveis e débeis, que
transferem para aqueles que lhes caem na área de observação danosa os próprios conflitos, sua
insegurança e seus equívocos contínuos.
Tal procedimento, no entanto, por falta de indulgência.
A indulgência propõe compreensão dos desvios de outrem e severidade para com os próprios equívocos; revisão de conteúdos morais, a fim de oferecer novas oportunidades àqueles que
se enganam, enquanto se envidam esforços para não mais repetir os mesmos tropeços; remissão
do erro de outrem através de novas realizações liberadoras de culpa e de punição; solidariedade
no desvio com ajuda oportuna, a fim de que se volte ao caminho da retidão.
A indulgência é uma forma de olvido do mal para somente anotar o bem, de bondade para
com o equivocado e de severidade para com o erro.
A indulgência não negaceia com o crime ou com o vício, ou com o delito. Se entende a debilidade daquele que se compromete, de maneira alguma concorda com a ação perturbadora,
dando-lhe vitalidade.
Trata-se de uma atitude solidária de amor à pessoa que delinque e não de conivência com
o seu erro.
Combatendo o mal sob qualquer forma em que se apresente, socorre-lhe as vítimas, as
pessoas que não tiveram resistências morais para suportar-lhe a vigorosa atração.
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É gentil, mas austera, nobre e sensata, apontando rumos de equilíbrio e de bondade para
com todos.
Naturalmente vigia o indivíduo, estimulando-o a ser severo em relação ao seu comportamento moral, que deve eleger aquele que constrói e dignifica, enquanto que é benigna para com o
seu próximo enredado na ignorância e vitimado pela defecção.
A indulgência é expressão de misericórdia que deve ser distendida a todos, facultando-lhes
a reabilitação.
Sê indulgente para com o teu irmão e cuidadosa em relação aos teus atos.
Não apresentes justificativas para os teus enganos, enquanto exiges melhor comportamento do teu próximo.
O que te é difícil conseguir para melhorar a própria conduta, noutrem constitui um verdadeiro problema que ainda não foi solucionado.
Mesmo que hajas superado o patamar de desequilíbrio em que o teu companheiro ora se
encontra, considera quanto te foi desafiador vencer a má inclinação. Assim, robustece a tolerância
para com a sua falta, aplicando-lhe o conforto moral da indulgência.
Uma atitude de indulgência, de forma alguma significa indiferença para com o comprometimento ou a aceitação da ocorrência lamentável. Constitui antes um ato de fraternal compreensão a respeito da debilidade estrutural de quem desfalece no cumprimento do dever, ao mesmo
tempo contribuindo com os recursos da tolerância, a fim de ensejar futura reparação.
A indulgência educa e orienta, consola e dignifica.
Educa, porque ensina a repetir a experiência malograda, facultando aprendizagem e respeito pelos deveres que devem ser cumpridos.
Orienta, abrindo caminhos novos, ainda não percorridos, para que sejam perlustrados com
segurança e equilíbrio.
Consola, em face de não se erguer como juiz que condena, senão transformando-se em
amigo que contribui para o restabelecimento da ordem.
Dignifica, porquanto enseja a reabilitação daquele que se compromete, propondo-lhe nova
conduta trabalhada no respeito aos códigos legais estabelecidos.
Uma atitude de indulgência pode salvar uma ou mais vidas, de acordo com a pauta das necessidades que sejam apresentadas.
A pessoa indulgente caracteriza-se pela paz interior de que se faz instrumento, tornando-se
companheira ideal para os empreendimentos sociais, laborais e espirituais.
Ninguém que dispense um gesto de compreensão e de bondade.
Da mesma forma, jamais alguém pode atravessar o rio da existência humana sem equivocar-se, anelando por apoio e amizade.
A única exceção é Jesus, que já era, antes que fôssemos, transformando-se no modelo que
devemos seguir sem qualquer receio, porque nunca defraudou a confiança e o carinho que Lhe
são devotados.
Diante de quaisquer testemunhos aflitivos, utiliza-te da indulgência para com todos, perdoando-lhes as ofensas e olvidando sempre o mal que te direcionem, a fim de recordares apenas o
bem que te hajam feito.
Há muitas feridas não cicatrizadas nas almas humanas.
Existem dores graves resguardadas no pudor de muitas vidas, que se não permitem desvelar.
Permanecem muitas angústias atrás de sorrisos gentis, que não são percebidas.
Demoram-se muitas ansiedades no sentimento de vidas que se estiolam por falta de compreensão e que não se deixam identificar.
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Assim, age com indulgência sempre e para com todos. Não esperes que alguém te suplique
esse socorro abençoado. Concede-o, antes que seja solicitado, tornando-te o irmão que ajuda em
silêncio, que estimula com a presença e com quem sempre se pode contar.
Indulgência sempre, porquanto, sem qualquer dúvida, um dia dela poderás também necessitar.
Exercício da Compaixão
(Joanna de Angelis, in “Libertação pelo Amor” – Cap 26)
Muitos males seriam evitados no cosmo individual e na família social, caso a compaixão
fosse atitude prioritária nos relacionamentos humanos.
O predomínio do egoísmo e do orgulho na conduta humana induz a pessoal à soberba, fazendo que se considere irretocável, colocada acima do bem e do mal...
A si própria reservando-se direitos especiais, acredita-se credora de todo o respeito que lhe
devem outorgar as demais criaturas, embora permita-se a licença de agir de maneira especial,
equivocada.
Em decorrência, mantêm-se inabordável, considerando que a sua invulnerabilidade credencia-a a um status superior.
Quando surpreendida pelas ocorrências comuns nos relacionamentos humanos ou sentindo-se agredida por incompreensão de qualquer espécie, escuda-se no rancor e introjeta a mágoa.
Não lhe ocorre a possibilidade de oferecer compaixão ao agressor, acreditando-se injustiçada, passando a cultivar sentimentos inamistosos que transforma em dardos mentais venenosos,
os quais dispara contra o opositor.
À medida que se sucedem os tempos, fixada na presunção, acumula o morbo do ressentimento que contamina todos quantos se lhe acercam, quando não consegue expeli-lo contra aquele a quem considera seu inimigo.
Lamentavelmente, envenena-se ao largo dos dias, perturbando as organizações emocional
e física.
Nesse interim, manifestam-se distúrbios de vária procedência, sejam aqueles de somatização ou os de agressão aos órgãos emocionais que lhes sofrem as altas cargas vibratórias de natureza tóxica.
Graças aos clichês mentais que são elaborados, abre campo mental a conexões espirituais
de baixo nível moral, produzindo os graves fenômenos de obsessão de breve ou de demorado curso.
Ninguém, na Terra, que não necessite de receber compaixão, e, por consequência, de perdoar.
Somente quando se frui o prazer da liberação do ressentimento mediante o conceder da
compaixão e do perdão, é que se pode credenciar a recebe-los.
A compaixão é terapia valiosa com caráter preventivo a muitos males, tanto quanto curadora em relação a distúrbios perniciosos já instalados.
À medida que o ser humano eleva-se moralmente, abandona o primarismo da vingança para adotar o comportamento afável da compaixão.
Na razão direta em que a concede, mais feliz se sente, porque frui a alegria da consciência
de paz.
Enquanto mantém uma atitude reacionária contra aquele que agride e ofende, o seu estado interior se deteriora em razão das emoções desordenadas que o assaltam, em razão de optar
pelo revide.
A compaixão sempre é melhor para aquele que a oferece.
A árvore acoitada pela tempestade que a vergasta, despedaçando-a com crueldade, compadece-se da sua violência, reverdecendo-se e explodindo em flores.
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OS metais que experimentam a fornalha, compadecem-se do calor que os derreteu, tornando-se utilidades e adornos preciosos.
A terra magoada pelo inverno rigoroso compadece-se da friagem terrível que lhe roubou a
vege- tação vestindo-se novamente de vida e de cores.
A pedra despedaçada por explosivos e instrumentos que a ferem, compadece-se da agressão, tornando-se segurança na construção e em arte deslumbrante nas mãos do esteta.
O barro cozido no forno ardente, compadece-se da temperatura asfixiante, tornando-se
utilidade de grande valor.
Tudo são lições de compaixão, conclamando à renovação.
Morre uma expressão de vida ou modifica-se uma forma, a fim de darem lugar a novas
modalidades na ininterrupta sucessão do processo transformador.
O fluxo da vida é incessante, enriquecedor.
A água que passa carregada pelo rio, por sob uma ponte, pode retornar ao mesmo lugar,
no entanto, em circunstância e tempo muito diferentes.
Assim também os fenômenos que ocorrem entre as criaturas.
Em face da sua diversidade, cada qual vê o mundo conforme as lentes do seu amadurecimento psicológico, da sua lucidez de consciência, do seu estágio moral.
Não se pode esperar, portanto, igualdade de conceituação e de conduta, salvadas as exceções naqueles que vivem níveis mais elevados de sentimentos espirituais.
Nada obstante, muitos indivíduos que se sentem magoados com as ocorrências que fazem
parte do seu desenvolvimento intelecto-moral, esforçam-se para preservar as lembranças do mal
que lhes acontece, cultivando as paixões inferiores.
Sentem dificuldades de compadecer-se, de perdoar, porque não se interessam por fazê-lo,
nem se esforçam por ofertá-los.
Nesse estágio primário, comprazem-se quando odeiam, quando se sentem motivados para
a vingança, quando alguém os alcança com incompreensão, porque passam a dispor de material
favorável ao desforço que esperam conseguir, comprazendo-se em tormentos contínuos.
A compaixão é apanágio da evolução, que todos devem vivenciar a qualquer custo.
Quanto mais é postergada, tanto mais difícil torna-se de ser praticada.
Indispensável, portanto, cultivá-la no pensamento, não valorizando nenhum tipo de mal,
não passando recibo à vingança, não aceitando ofensa, lutando por manter-se em um nível melhor
do que aquele em que se encontra o outro, o infeliz que persegue e malsina.
Considerando-se que as demais criaturas encontram-se em processo de desenvolvimento,
ainda assinaladas pelas heranças do primitivismo, qual ocorre com quase todas, torna-se fácil conceder-lhes o direito de equivocar-se, de agir conforme os seus padrões morais, não revidando mal
por mal.
Quando alguém preenche os vazios existenciais com as mágoas, perde o contato com a beleza, a realidade e o amor.
A amargura se lhe aloja no sentimento e o pessimismo comanda-lhe as aspirações.
A liberdade interior é alcançada mediante a ruptura dos elos do ódio e do ressentimento
através da compaixão.
Quem utiliza da compaixão rompe o vínculo com aquele que se lhe fez algoz. Enquanto vige
o sentimento negativo permanece, infelizmente, a ligação nefasta.
Compadece-te portanto, sem qualquer restrição. Feliz e saudável é sempre aquele que
avança em paz, sem amarras perigosas com a retaguarda.
A saúde integral resulta de inúmeros fatores entre os quais a dádiva da compaixão.
Disputa a honra de ser aquele que concede a paz, distendendo a mão de benevolência em
solidariedade fraternal ao agressor.
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Paradigma do Ser ideal, na cruz de ignomínia, Jesus compadeceu-se dos Seus algozes e intercedeu a Deus por eles, suplicando que fossem perdoados, porque eles não sabiam o que estavam fazendo.
Todo aquele que se compraz na prática do mal, certamente não sabe o que está fazendo.
Se for contra ti a quem ele atire a sua maldade, compadece-te, mantendo-te saudável e em paz.
Amor e Progresso
(Joanna de Angelis, in “Garimpo de Amor” – Cap 13)
Mediante o amor, todos despertarão para as responsabilidades que lhes dizem respeito.
O amor é o mais prodigioso fomentador do progresso moral, do qual decorrem todas as
demais formas de desenvolvimento.
Quando não viceja no ser humano, as conquistas realizadas, por amis brilhantes, tendem à
destruição ou são filhas especiais do egoísmo, que as realiza para atender fins nem sempre respeitáveis.
A atualidade tem-se feito caracterizar por muitas formas de progresso, que têm impulsionado a cultura e a civilização a níveis elevados, não obstante a vigência dos crimes hediondos, da
fome estarrecedora, das enfermidades infecto-contagiosas, das guerras contínuas, dos abusos do
poder, dos preconceitos ainda não erradicados, da intolerância de vário matiz, dos descalabros
morais por meio dos vícios destruidores como o alcoolismo, o tabagismo, as drogas químicas...
A Ciência e a Tecnologia têm impulsionado o indivíduo a relevantes realizações, porém esquecidas do amor, e dessa forma as máquinas que ele criou substituem-no, desumanizam-no enquanto o superpovoamento das grandes cidades alucina-o, tornando-o mais agressivo e estressado.
Não obstante as propostas sociológicas que se multiplicam, esse cidadão perde a identidade e confunde-se na massa que detesta, tornando-se violento e sentindo a sua existência quase
em objetivo.
Os veículos de comunicação, com o seu imenso poder de conduzir notícias, invadem os lares em toda parte, especialmente a televisão, e os abarrotam com informações ligeiras, raramente
esclarecedoras e profundas quando da abordagem dos temas de alta significação, libertadores de
consciência e traquilizadores da emoção, apresentando, ao invés, muitos fatos escabrosos que ele
desconhece e, não poucas vezes, estimulam-no a lutas ferozes, nas quais os demais são-lhes inimigos em potencial. Infelizmente, esses veículos dão preferência às licenças morais devastadoras,
criando uma cultura pessimista e reacionária na qual o ódio, a frustação, o desespero assume papel de importância na conduta interior e na maneira de viver na sociedade.
A família, embora o patrimônio multimilenário de que se constitui, sofre os camartelos da
agitação e do desconcerto de que se tornou vítima, transtornando-se e esfacelando-se, tornandose campo de rudes batalhas malsucedidas.
...E o ser humano superconfortado transita sob injunções tormentosas, derrapando em
transtornos neuróticos, psicóticos, mergulhando no fosso da desolação.
Sucede que o progresso, sem amor, está sem Deus, portanto, sem o alicerce seguro do
equilíbrio e da libertação das vidas dos seus atavismos primitivos, que as escravizam no primarismo de onde procedem.
Torna-se urgente uma revisão de conceitos em torno do progresso e das suas propostas, a
fim de que seja realizada uma ação renovadora e saudável, propiciando relacionamentos felizes
entre as criaturas.
Esse ministério somente pode ser desempenhado pelo amor.
É inevitável que a máquina robotize muitas atividades, solucionando com razoável perfeição os misteres que lhe estão programados. Entretanto, cumpre ao ser humano encontrar solu-
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ções outras e mecanismos sábios para atender aos desempregados, àqueles que foram substituídos nas empresas e fábricas, nos laboratórios e no campo...
Tal compromisso diz respeito ao amor e à compaixão.
O amor fomenta o progresso, nunca eliminando a criatura humana, sua meta e seu destino.
De que adianta um mundo tecnologicamente bem equipado, com criaturas fantasmas de si
mesmas, sem objetivos de alta significação, transitando entre aspirações imediatas e prazeres fugidios ?
O ser humano é o grande investimento da Divindade, que aplicou centenas de milhões de
anos na sua construção, conduzindo-o, passo a passo, na longa travessia das experiências de crescimento.
Mediante o amor, de que se constitui, e na maioria ainda se encontra latência, conseguirá
romper os envoltórios resistentes, para sair a flux e desenvolver as aptidões, aumentando o campo de realizações que lhe dizem respeito.
Por meio da lucidez do amor, a Tecnologia trabalhará em favor da paz, jamais promovendo
guerras de extermínio, a soldo das ambições desmedidas de indivíduos e de governos alucinados,
egotistas e mercenários.
Os poderosos auxiliarão os fracos, emulando-os à conquista de recursos dignos, mediante
os quais adquirirão valores para a existência saudável.
O comércio terá características humanitárias e não apenas de exploração do homem pelo
homem, gerando a escravidão monetária, qual vem ocorrendo lastimosamente.
As indústrias respeitarão os direitos do cidadão, mediante horários de trabalho justo e espaços para repouso, espairecimento e estudo, mas também preservarão a Natureza.
O ser humano não foi criado para ter as suas forças exauridas, como se fora uma alimária
infeliz, no justo momento em que os amigos dos animais levantam-se para profligar contra o abuso e a impiedade com que muitos os tratam.
A agricultura receberá maior respeito, tornando-se milagroso instrumento de provisão para
as multidões, que não mais experimentarão fome ou escassez de alimentos.
O tráfico, em todas as formas como se apresente, será diluído na solidariedade que há de
viger entre os seres pensantes da Terra.
Porque, mediante o amor, todos despertarão para as responsabilidades que lhes dizem
respeito, e não apenas para os interesses mesquinhos que os submetem às tormentosas lutas de
predomínio e de loucura.
Como é possível uma sociedade, na qual alguns poucos detêm o poder financeiro, que todo
o restante da população do mundo, somada, não consegue sequer aproximar-se, menos ultrapassar ?! Como aguardar-se a paz social, estabelecida por tratados internacionais de conveniência,
firmados pelas Nações mais desenvolvidas e ricas da Terra, olvidando-se dos estertores agônicos
daquelas outras que lhes sofrem as injunções penosas, na condição de escravas, sem direito à palavra, à liberdade, à esperança, encontrando-se na linha abaixo da miséria estabelecida ?!...
Tudo isso ocorre somente porque o amor não foi consultado, quando se cuidou de desenvolver o progresso do mundo, longe dos sentimentos da compaixão e da solidariedade para com o
próximo, que não é apenas aquele que está mais perto, senão todos os seres existentes.
O amor verdadeiro, portanto, é aquele que se estabelece em todos os segmentos sociais,
culturais, científicos, religiosos, artísticos, priorizando sempre a criatura humana, seu objetivo, sua
razão de existir...
Com o seu hábito vivificador, comanda as consciências e os sentimentos, nunca permitindo
que alguém deseje, ou faça com outrem, aquilo que não gostaria que lhe fosse feito.
Quando essa compreensão abarcar os homens e as mulheres, conduzindo-os pela trilha da
evolução, o progresso será real, profundo e plenificador.
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Começa, então, desde agora, com esse compromisso de amar, não pensando em resultados, exceto os do próprio amor.
O futuro encarregar-se-á de leva-lo até onde não consigas chegar, e isso, sim, é o que se faz
importante.
Dar e dar-se
(Joanna de Angelis, in “Rumos Libertadores” – Cap 34)
Estudo: ESE, Cap. XIII – Item 9
Não te equivoques quanto ao sentido do verbo dar, à luz do Evangelho.
Toda oferenda que beneficia alguém é proveitosa e cabe na aplicação do exercício da caridade.
A doação, porém, mais valiosa se manifesta mediante o bem-estar que propicia ao ofertante.
As expressões de ajuda material são significativas no compromisso de diminuir as aflições e
necessidades do próximo mais carente do que nós. Sem embargo, os excessos que distendemos a
alguém não representam o mais precioso do quanto podemos dar.
Há pessoas que se martirizam por não disporem de valores para oferecer.
Acreditam que, convocadas para o ministério do bem incessante, somente realizariam o
cometimento exitoso se lhes abundassem tesouros que pudessem repetir e distribuir fartamente.
Ante a escassez, eximem-se de maior esforço, justificando transitar pela mesma situação
em que se encontram os sofredores...
As mais eloquentes doações que a Humanidade conhece foram realizadas de forma diversa
da distensão pura e simples de objetos e moedas.
Gandhi, sem qualquer posse, deu-se à luta pela “não-violência”, tornando-se um símbolo
de paz e doando a vida em holocausto pelo ideal libertador que o abrasava.
Francisco de Assis, após despir a túnica que pertencia ao genitor e renunciar ao nome de
família, fez as mais preciosas oferendas, dando-se a si mesmo a ponto de tornar-se o “santo da
humildade”.
Jesus, que não “possuía uma pedra para reclinar a cabeça, embora as aves do céu tivessem
ninhos e as serpentes covis”, é o excelente exemplo da maior doação de que se tem notícia na História da Humanidade...
Quantos homens e mulheres, seguindo-Lhe as pegadas, deram e doaram-se ao amor pelo
próximo, vitalizando a esperança no mundo, através dos tempos?!
Dá quanto possas, faze o que te seja viável, mas não te detenhas no conceito limitado das
dádivas materiais.
Se meditares em profundidade, descobrirás as fortunas de amor que jazem no teu mundo
íntimo, aguardando que a boa vontade e a abnegação se te façam garimpeiros e descubram as
gemas da caridade de maior de que podes dispor fartamente, endereçando-as a todas as criaturas
do roteiro por onde transitas. Esta forma superior de dar, far-te-á bem e ditoso, porquanto perceberás que te estás dando, forma única de encontrar a felicidade.
Luz da caridade
(Joanna de Angelis, in “Rumos Libertadores” – Cap 35)
Estudo: ESE, Cap.XIII – Item 11.
A beneficência atende à dor, e a caridade triunfa, dominando o cenário que se lhe submete.
A piedade fraternal sensibiliza, e a caridade esparze esperança, dilatando as perspectivas
da felicidade.
123
A solidariedade emoldura as almas, e a caridade penetra o coração com um bálsamo refrescante e curador.
A indulgência dulcifica o ser, e a caridade constitui a alma dos sentimentos que despertam
para as aspirações relevantes da vida.
O amor reina, e é a caridade que governa os destinos nos rumos de Deus.
Em todo tempo e lugar – caridade, expressão que canta todas as melodias e narra as mais
dúlcidas canções.
Caridade para todos os momentos e sem cessar.
Quando a caridade se espraia, modificam-se os painéis humanos e o amor se borda de sorrisos, expressando o poema da gratidão.
A caridade não pode ser dimensionada, porque é o “hálito de Deus” vivificando as criaturas
nas altas expressões da evolução moral do ser.
Nunca será demais referirmo-nos à caridade.
O gesto em flor de ternura, a gota do sentimento nobre, a palavra em música de compreensão, o pão em benção alimentícia, o poema do perdão são orvalho da caridade – estrela de primeira grandeza na escumilha da noite do coração...
Caridade é vida para quem a recebe e para quem a doa.
Sempre grandiosa, é maior, no entanto, para quem a doa.
Sempre grandiosa, é maior, no entanto, para quem a esparze, porquanto clarifica primeiramente quem a conduz em festa.
Não haverá sido o amor de Nosso Pai que nos enviou Jesus-Cristo para ser o Sol de nossas
vidas em nome da Caridade de sua Excelsa Misericórdia ?
Caridade, caridade, - alma do bem em mensagem de redenção !
Alma da caridade
(Joanna de Angelis, in “Rumos Libertadores” – Cap 36)
Estudo: ESE, Cap. XIII – Item 12
Nos cometimentos evangélicos, objetivando a aplicação da caridade em relação ao próximo, não descures da renovação íntima, impostergável.
A pretexto algum te permitas conduzir a mensagem luminescente da caridade, sem que te
deixes clarificar por dentro.
A realização do bem começará quando agasalhes os propósitos de realizá-lo. No entanto,
faz-se imperioso que o acolhimento da idéia do bem a ti próprio faça bem, removendo as cristalizações perniciosas que te perturbam e ajudando-te a romper sem pieguismo nem conivência com
as imperfeições que te aprisionam nas celas escuras da inferioridade redentora.
Chegaste ao corpo físico, não obstante apoiado pela excelsa mercê, para um empreendimento de elevação pessoal e sairás dele com as aquisições que adquirirás.
Voltarás conforme procedas, e consoante o estado íntimo que cultives, despertarás.
Se te apóias à palavra que te estimula, utiliza-te do verbo renovador, mas não dependas
dele.
Se te supres na experiência do companheiro generoso, busca-a, todavia não te vincules
apenas a isto.
Se te encorajas ante o exemplo de alguém que te inspira, cultiva os estímulos que nele
haures; sem embargo, compete-te caminhar a esforço pessoal e não te deixares arrastar por ele.
Vincula-te a Jesus, recordando de que todos somos almas em recuperação e não modelos
de virtudes para ti.
Culpar o próximo pelos teus fracassos, é técnica sofista para fugires à responsabilidade dos
teus erros.
Só Jesus convidou com autoridade indiscutível para que O seguíssemos.
124
Os companheiros somos seguidores d’Ele e não uns dos outros.
Faze o bem pelo prazer do bem.
Não dês guarida às astúcias do mal.
Manhoso e sutil, ele penetra a tua alma mental e, graças à maledicência insensata e invejosa que se apóia à mentira e à sandice, derrui as tuas construções otimistas e te vincula ao derrotismo.
Caridade é benção de que podes fazer-te instrumento para a própria e a felicidade de todos.
Não seja ela feita de atos extremos, nem de aparência, a fim de que o sentimento não se te
esfrie no coração.
Põe o “sal” do sacrifício nos teus compromissos cristãos e adoça tua alma na realização do
amor, esforçando-te pela tua melhora pessoal, sem te fazeres fiscal ou censor do próximo que, à
tua semelhança, trava difícil batalha que ignoras, e embora não te solicite ajuda, somente porque
avança em silêncio, espera contar com a tua compreensão e não com o teu reproche.
Põe a alma na tua caridade.
Caridade, portanto, para ti mesmo, não ferindo nunca nem censurando ninguém.
Em respeito à caridade
(Joanna de Angelis, in “Jesus e Vida” – Pag 121)
Por mais se aborde o tema referente à virtude por excelência – a caridade ! – sempre existem facetas novas e profundas que merecem análise para imediata aplicação,
A caridade é a filha predileta de que a fé se utiliza para expressar a riqueza de que se constitui.
Enquanto a fé é qual chama flamejante que ilumina interiormente, oferecendo vigor e alegria àquele que a cultiva, a caridade são-lhe as mãos laboriosas que lhe concretizam os sentimentos.
Graças ao combustível que a sustenta – a esperança! – é que não se lhe entibia a vitalidade, que lhe faculta mover montanhas, prosseguindo na sublime saga de libertar o ser humano da
ignorância em que estorcega.
Anjos protetores que se unem, desvelam-se na caridade enriquecida de amor e de paz.
Convencionou-se, entretanto, e vem sendo mantida através dos tempos a conceituação
falsa de que a caridade se constitui das ações generosas e compassivas que se oferecem materialmente, sem dúvida valiosas, mas não únicas.
A caridade sempre se apresenta em mil facetas que engrandecem aquele que a oferece,
assim como aqueloutro a quem se destina.
Para o desnudo, o vestuário é-lhe de alta importância, tanto quanto, para o esfaimado, o
pão é fundamental.
Para o enfermo, o remédio é benção que o auxilia na recuperação da sáude, assim como
para o sedento, o vasilhame com água generosa é salvação da existência física.
Para o enregelado pelo frio, o agasalho é mensageiro de calor e de alegria, da mesma forma como a ajuda monetária, que soluciona a dificuldade de alguém, que recupera a alegria de viver.
Nada obstante, para o desorientado, o oferecimento de diretriz de segurança representa
motivo de júbilo, de igual maneira, a palavra oportuna que esclarece e ilumina constitui indiscutível oferta de bem-estar.
Sempre existem maneiras diversas para a ação da caridade expressar-se, ademais daquelas
exclusivamente materiais.
125
Em um estudo mais profundo em torno das necessidades humanas, constatam-se as presenças da fome, das doenças, do abandono social a que são relegados os denominados excluídos,
o desvalimento moral, a falta de teto, de trabalho, de educação...No entanto, a mais terrível de
todas é o egoísmo que gera tais fenômenos desditosos, mas que a caridade real pode solucionar
por influência do amor.
Onde vicejam, portanto, o amor e a caridade, esses sofrimentos decorrentes da miséria
não florescem.
Há grande, insofismável carência, portanto, na sociedade terrestre, de valores morais, que
a caridade propicia, porquanto, encontrando-se a consciência humana iluminada pela fé no dever
e nos bons frutos disso decorrentes, a esperança trabalha pela remoção do egoísmo que domina o
coração das criaturas, abrindo espaço para a conquista sublime da felicidade.
Desse modo, à caridade, no seu relevante sentido moral, está reservada a missão de transformar a Terra para melhor, propiciando a conscientização dos seus habitantes, trabalhando em
favor do equilíbrio e da harmonia geral.
Isto porque, não somente a miséria socioeconômica é fomentadora do desespero, dos sofrimentos, da violência, mas principalmente responsável é a espiritual, que consideramos a alma
dessa e das demais ocorrências infelizes.
Em respeito à caridade, reflexiona em torno de outras desgraças sutis umas e grosseiras
outras, que podem ser evitadas ou saneadas, se essa mensageira da vida chegar em tempo.
A conduta pessoal é sempre reflexo das construções mentais, porquanto, as ocorrências
que têm lugar
no mundo físico, originam-se no pensamento.
Nas comunidades prósperas d mundo, onde não há escassez de recursos para os seus
membros, neles permanecem, no entanto, em predominância, os sentimentos de mesquinhez e
de inferioridade, que os tornam tão infelizes quanto aqueles que experimentam fome e abandono.
Multiplicam-se, nesses lugares, os sequazes da aflição, em renhidos combates psíquicos e
emocionais, sob a governança da inveja, da antipatia, das animosidades maldisfarçadas, criando
situações deploráveis.
Ciúmes doentios perturbam incontáveis existências que se estiolam nas suas garras vigorosas; calúnias urdidas pela insensatez e com habilidade desestabilizam pessoas representativas, que
se transtornam; agressões verbais e comentários perversos dividem famílias e separam afeições
que lhes padecem a felonia; desconsideração social e intrigas sórdidas atingem sentimentos que
se desajustam, perdendo o rumo por onde seguiam...
Nos arraiais da fé religiosa, lamentavelmente nas diversas denominações do Cristianismo,
os seus adeptos traem-se uns aos outros e reciprocamente, distantes de qualquer compromisso
emocional e moral com os postulados ensinados e vividos por Jesus até o momento do holocausto.
Odeiam-se, os membros da mesma congregação ou entidade, fraternalmente sorrindo,
disputando privilégios que se atribuem mérito, destaques, primazias, embora abraçando uma doutrina que preconiza a humildade, a renúncia, a abnegação, a compaixão...a caridade !
As lutas intestinas entre aqueles que compõem a grei, alcançam, normalmente, lamentáveis índices de violência verbal, culminando, muitas vezes, em pugilato físico, quando não em crimes vergonhosos.
As atitudes comportamentais não correspondem às aparentes convicções desposadas,
dando lugar a choques constantes de opinião, de realização, de vivência...
A presença da caridade no coração desses indivíduos bastaria para fazer cessar ou pelo
menos não acontecer esses infelizes fenômenos, que são frutos espúrios do egoísmo.
126
A caridade, portanto, prossegue essencial em todos os comportamentos como roteiro ético
em favor dos relacionamentos humanos.
A caridade alcança um dos seus pontos culminantes e gloriosos, quando se converte em
perdão ao próximo e proporciona ao indivíduo o autoperdão com a consciência lúcida em favor da
necessidade de reparação das faltas, da sua própria recuperação moral.
Caridade, pois, sem cessar.
...E através da oração pelos desencarnados em sofrimento, a caridade expressa-se sublime,
favorecendo, também, o envolvimento daqueles de quem ninguém se recorda: enfermos ou
abandonados, suicidas ou assassinos, que tiveram desencarnação violenta ou que permanecem
nos padecimentos inenarráveis do corpo enfermo, tornando-se excelsa como libertadora dos espíritos que estorcegam nesses e em outros ergástulos morais e espirituais...
Desse modo, a caridade de Jesus prossegue socorrendo-nos, sem que nos demos conta sequer das sublimes mercês que nos oferece.
Teu óbolo
(Joanna de Ângelis, in “Alegria de Viver” – cap 12)
Simbolicamente, o óbolo da viúva tem larga aplicação no constante labor de quem deseja
ser útil.
Não apenas a moeda representativa para a aquisição do pão ou do vestuário, do medicamento ou do teto... Mas, também, o gesto sacrifical, sem preço, raramente oferecido, assim como
a palavra oportuna, quando a circunstância é difícil.
Essas concessões, aparentemente insignificantes, são de grande valor, e, poucas vezes, colocadas a serviço da edificação do Bem.
Da mesma forma, o perdão silencioso à ofensa intempestiva ou a compreensão fraternal,
quando ocorra lamentável incidente.
A paciência amiga diante da contingência alucinadora ou a perseverança, quando tudo
conspira em relação ao prosseguimento das atividades expressivas.
O silêncio digno, quando a ofensa provoque reações infelizes ou a confiança no êxito,
mesmo que os fatores pessimistas pareçam predominar.
Todos possuímos essas moedas-amor, de aparente pequena monta, todavia, portadoras de
altos conteúdos para a aquisição da paz.
***
A viúva, referida por Jesus, na parábola, ofertou a última e menor moeda que possuía, em
cumprimento ao dever recomendado pela Lei.
Ninguém, da mesma forma, que se possa eximir à ajuda fraternal ao seu próximo.
Há doações valiosas e ricas que transitam pelas mãos do mundo, sem que solucionem os
problemas daqueles a quem são dirigidas.
Não obstante, a dádiva de amor logra abençoar as vidas, enriquecendo-as de esperança e
de harmonia.
***
Sempre serás convocado a repetir o gesto nobre e significativo da viúva pobre, que motivou a bela parábola evangélica.
A oração intercessória por alguém; a referência positiva a respeito do próximo; a ação,
desconhecida pelo beneficiário; a drágea que amortece a dor; o ungüento que refresca a ulceração; o conselho feliz, no momento adequado, são pequenas-valiosas moedas colocadas nos gazofilácios das vidas, em cumprimento à Lei de amor, que vige em toda a parte.
***
Não te justifiques a inércia ou a negação para o serviço da caridade.
127
Sempre podes auxiliar, doando e enriquecendo-te, porquanto, mais feliz é sempre aquele
que doa, pois que, mesmo na posição de carência em que se possa encontrar, desejando, sempre
pode ajudar, com o óbolo que notabilizou a feliz viúva do Evangelho.
O Vencedor
(Amélia Rodrigues, psicografia de Divaldo Franco – livro: “O Vencedor”)
"E Eu, quando levantado da terra, atrairei todos a mim." (João, 12:32)
Jesus veio para inaugurar na terra o reino do amor. Encontrou dificuldades de toda natureza,
porque os homens daqueles dias em que ele viveu entre nós, estavam acostumados ao poder e à
força.
As criaturas se encontravam divididas entre senhores e escravos, poderosos e os sem valor nenhum.
A vida não era respeitada, porque a guerra destruía as esperanças e submetia os que não podiam vencer, deles fazendo infelizes sem liberdade.
Quando Jesus ensinou que todos os homens são iguais e que as diferenças se fazem somente
através das conquistas morais, houve aborrecimentos por parte dos que governavam e queriam
manter o estado de coisas no ritmo em que se encontrava.
Ele, porém, continuou a ensinar o amor a todos os seres, o perdão a todas as ofensas e a humildade como formas de crescimento para Deus. Vivia cercado pelos pobres, pelos sofredores, pelos
que eram desprezados e não mereciam nenhuma consideração.
Em qualquer lugar em que ele aparecia, as multidões se aproximavam para o ouvir e receber
das suas mãos o alimento da paz, a esperança de felicidade e a saúde. Nada conseguia perturbar
Jesus. Ele convidou doze homens para que se tornassem seus discípulos, porque era o mais sábio
do mundo, assim fazendo-se mestre de todos.
Esses amigos o amavam, mas não compreendiam a missão dele, o reino que fundava. Porque
sofriam, e eram pobres, esperavam que ele se tornasse rei do país onde todos eles haviam nascido, e que se chamava Israel.
Ele demonstrava não ter interesse pelas coisas do mundo, nem pelas posições de destaque social na terra. Renunciava a tudo: aos aplausos, às gratidões, aos jogos humanos.
Mas, os companheiros não entendiam a sua atitude e ficavam inquietos. Eles amavam a Deus,
mas queriam a felicidade no mundo. Jesus, no entanto, ensinou-lhes, dizendo:
- Eu sou o caminho para Deus, que e a verdade e a vida, e ninguém consegue compreender essa
realidade, senão por meu intermédio.
Cada vez que ele apresentava lições tão profundas, que contrariávamos religiosos da época,
aumentavam os ódios contra a sua vida.
Foi durante a sua visita a Jerusalém, que era a capital de Israel, como ainda hoje, durante umas
festas chamadas de Páscoa, que Ele foi preso e levado a um julgamento injusto.
Judas, que era também seu discípulo, o vendeu aos sacerdotes, traindo o seu amor. E Pedro,
que igualmente o amava muito, quando foi apontado como sendo seu amigo, respondeu com medo, por três vezes:
- Eu nunca vi esse homem!
Os dois se arrependeram, quando o viram, depois de condenado, ser crucificado, no alto de um
monte que era conhecido pelo nome de Calvário. Judas, atormentado, suicidou-se, envergonhado
do que fizera, cometendo, com esse ato, um crime muito grave diante de Deus.
Pedro procurou recuperar-se, também arrependido, vivendo totalmente dedicado a pregar e a
viver a doutrina que ele havia ensinado. E, de fato, foi na cruz, erguido da terra, que todos compreenderam que Jesus era o verdadeiro vencedor do mundo.
128
Embora houvesse morrido, ele ressuscitou, três dias depois, e voltou a conviver com os amigos,
aparecendo até aos estranhos, num lugar onde estavam quase quinhentas pessoas, num monte,
escutando João, que era o seu discípulo amado, falando a respeito dele.
O verdadeiro vencedor não é aquele que domina os outros, mas quem consegue dominar os
seus ímpetos, amando sem qualquer rancor de ninguém, nem mesmo daqueles que o persigam e
maltratem.
A transcendente sinfonia do amor
(Amélia Rodrigues, psicografia de Divaldo Franco – livro: “Dias
Venturosos”)
Dia que prenunciava calor.
Desde cedo as nuvens esgarçadas passavam céleres, sopradas por favônios lentos, deixando o
céu de azul turquesa despido, silencioso e profundo, no qual, o Astro-rei se espraiava com abundância de luz.
As tarefas começaram pela madrugada.
Aqueles homens, simples e despretensiosos, que antes não aspiravam mais que a conquista do
pão diário, o modesto conforto do lar e a dádiva de bons vizinhos, subitamente estavam projetados para fora das comezinhas conquistas, procurados por desconhecidos loquazes e interesseiros
que, por seu intermédio, desejavam chegar a Jesus.
Repentinamente se viam num torvelinho, que não sabiam como contornar, prosseguindo nas
suas fainas, que nunca mais seriam as mesmas...
Estavam em junho e o calor abrasava mais do que noutras ocasiões.
Aquele dia, especialmente, apresentava-se longo, parecendo que as horas não passavam.
Havia algo no ar, que os assaltava em preocupação inabitual.
Ainda não se haviam acostumado à nova situação.
Acompanhavam o Amigo e viam-nO gigante a cada momento. Deslumbravam-se, mas não compreendiam o que estava acontecendo. Não tinham o hábito de reflexionar, menos o de peneirar
nas intrincadas complexidades da fé religiosa.
Jesus era diferente.
Seus discursos rasgavam as carnes da alma como lâminas aguçadas, que cicatrizavam logo com
o bálsamo da esperança.
Quem O fitasse, embriagava-se na luminosidade dos Seus olhos mansos.
Os Seus feitos jamais foram vistos antes, e todo Ele era único.
Nunca houvera alguém que se Lhe igualasse.
A suavidade da Sua voz alteava-se sem desagradar e a Sua energia nunca magoava, exceto aos
cínicos e hipócritas, que tentavam confundi-LO, perturbar-Lhe o ministério.
Era, sim, uma revolução, aquilo que Ele pregava, porém, de vida e não de morte, para a paz, jamais para a destruição, e a Sua espada - a Verdade - servia para separar a criatura dos seus embustes e paixões...
Buscavam-nO todos, e isto confundia os Seus discípulos mais próximos, que não entendiam.
O povo, que vivia esmagado, exausto de sofrer a injustiça social, seguia-O, aguardando apoio e
libertação...
Os opressores, os ricos e debochados, que pareciam duvidar dEle também O buscavam, apresentando suas feridas morais ou disfarçando-as. E Ele os atendia também, conforme as necessidades que apresentavam.
A cada um, dispensava auxílio especial, próprio, mantendo-se indiferente à bajulação e ao sarcasmo.
Ainda não haviam sido lançadas as bases do reino de Deus.
129
Jesus chamava a atenção e demonstrava a Sua autoridade, pouco a pouco.
A revelação tem que ser progressiva. As criaturas não podem alimentar-se do que não têm condição para digerir, por isso, a Verdade é desvelada, apouco e pouco, afim de não afligir, ou não ser
identificada.
O Deus de vivos trabalha pelo crescimento dos seres e não pelo seu aniquilamento. Por essa razão, a Sua mensagem renovadora fazia-se apresentada com sabedoria, pois que ela alterava por
completo os parâmetros existenciais, os objetivos humanos quase alienando aqueles que não possuem estrutura para realizar as mudanças, conforme devem ser feitas...
Jesus sabia-o. Psicoterapeuta especial, medicava, peneirando o ser com a luz incomparável da
Sua ternura.
A Sua proposta se firmava na construção da criatura integral, na qual predominassem a abnegação, o espírito de sacrifício, a compreensão e a renúncia de si mesmo.
Aqueles eram dias ásperos e ásperos também eram os corações.
Não poucas vezes, os sacerdotes e escribas, os fariseus e saduceus, buscavam-nO com mal disfarçada hipocrisia, para O comprometer. Suas perguntas dúbias tinham finalidades nefandas; seus
sorrisos melosos ocultavam a ira, a inveja, o despeito, e tudo faziam para perdê-lO.
Jesus conhecia-os, devassava-os com o olhar e os desarmava...
Naquele dia de junho, quando o Sol murchava, devorado pelo crepúsculo e as montanhas ao
longe se adornavam do ouro em brasa do poente, destacou-se, da multidão que O seguia, um escriba, que O ouvira discursar e discutir, e vendo que Jesus lhes tinha respondido bem, perguntouLhe:
- Qual é o primeiro de todos os mandamentos?
A pergunta ecoou nos ouvidos da multidão, que mais dEle se acercou, afim de ouvir-Lhe a resposta.
Aquele era o momento máximo do ministério até então vivido.
Toda a preparação anterior era para aquele instante.
Estaria Ele com ou contra a Lei antiga? Quais seriam os seus planos e estratégias? -pensavam
todos.
A indagação direta exigia uma resposta concisa e clara.
Jesus então ripostou, tranquilo:
- O primeiro é: Ouve Israel: O Senhor, nosso Deus, é o único Senhor; amarás o Senhor, teu Deus,
com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento e com todas as tuas
forças.
Uma sinfonia mística embalou o ar morno do entardecer, enquanto suave brisa, que soprava do
mar, refrescou a Natureza, desmanchando-Lhe os cabelos.
Ele prosseguiu suave e canoro:
- O segundo é este: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior
que este.
Ante o silêncio da multidão extasiada, podia-se perceber que a Sua revolução igualava iodos os
seres no amor: vencedores e vencidos, poderosos e escravos, ricos e pobres, nobres e plebeus,
cultos e incivilizados possuíam no ao seu próximo um lugar comum, nivelador...
Mas era necessário amar-se, desenvolver os valores íntimos, adormecidos no ser, a fim de espraiar-se em interesse pelo próximo.
Aquele que se não ama, a ninguém ama. Explora-o, negocia o sentimento, transfere-o por seu
intermédio e logo o abandona, decepcionado... consigo mesmo.
Quem se ama sem egoísmo, sem o desejo de acumular, porém vive para repartir; sem a paixão
da posse, mas com o sentimento de libertação, ama o seu próximo, conforme Deus nos ama.
O amor é sustento da vida, por ser de origem divina e ter finalidade humana.
130
Subitamente, despertando magia envolvente da Sua palavra, as pessoas entreolharam-se, sorriram, tocaram-se.
O escriba, emocionado, disse-Lhe:
- Muito bem, Mestre, com razão disseste que Ele é o único e que não existe outro além dEle; e
que amá-lO com todo o coração, com todo o entendimento, com todas as forças e amar o próximo
como a si mesmo vale mais do que todos os holocaustos e sacrifícios.
Permaneciam as vibrações de paz e as ansiedades dos corações se acalmavam.
Favônios, agora perfumados pelos loendros em flor, varriam o ambiente, inebriando as almas ali
reunidas.
Vendo Jesus que ele respondera sabiamente, disse-lhe:
- Não estás longe do reino de Deus.
Era um prêmio para o homem nobre, honesto, sincero em suas crenças.
Estavam lançadas as sementes de luz.
A partir daquele momento não mais sombras; eles conheciam quais eram os meios de que se
deveriam utilizar em quaisquer situações.
Nunca revidar ao mal - amar.
Jamais ceder ao crime - amar.
Não desistir - amar.
Maltratados, e amando.
Incompreendidas, porém amáveis.
Estava inaugurada a Era Nova e a transcendente sinfonia do amor iniciava o período de estabilização na Terra.
E ninguém mais ousava interrogá-lO.
Nem era necessário.
O segredo da vida
(Vinícius – livro: “Na Seara do Mestre”)
A vida decorre de duas alternativas que se sucedem num ritmo contínuo; dar e receber.
Quem dá pouco, pouco recebe. Quem mais dá, mais recebe e mais vive porque vive a vida mais
intensa. "Eu vim para terdes vida, e vida em abundância."
A vida verdadeira, a única vida, é a do Espírito. A que se revela através das formas organizadas
é, apenas, o reflexo daquela, tal como a luz da Lua não passa de reflexo do Sol.
O corpo humano vive graças às constantes permutas que nele se processam. Há células que se
renovam em poucos dias. Deram o que tinham, morreram e ressurgiram em novos corpos hauridos na fonte da vida eterna.
"Em verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica só; mas,
se morrer, dará muito fruto."
O milagre da multiplicação dos pães, cotidianamente reproduzindo no seio da terra, opera-se
mediante o sacrifício da semente. É necessário que ela se renuncie, dando-se a si mesma, para que
a vida, nela oculta, se manifeste em toda a sua pujança. "Quem renuncia a sua vida neste mundo,
conservá-la-á, para a eternidade."
O egoísmo é contraproducente em suas expressões. Destrói e espalha, pretendendo manter e
ajuntar. Quem dá a vida da forma, aumenta a vida real, que é a do Espírito. Sujeitando a vida do
corpo, que é a reflexa, à vida do Espírito, que é a verdadeira, fazemos crescer em nós o potencial
da vida, percebendo-a e sentindo-a em grau cada vez mais elevado.
Mais, espiritualmente, corresponde a mais vida, mais poder, mais luz, mais aptidão.
"As obras que eu faço, não as faço de mim mesmo. O Pai, que está em mim, produz as obras."
"Tudo o que eu faço, vós também podereis fazer, e coisas ainda maiores."
131
A vida é amor. O egoísmo é a morte. Deus é a dádiva perpétua. Ele não dá por medida. O egoísmo do homem é que delimita suas dádivas e seus dons. Quem pouco recebe é porque pouco dá.
A capacidade de receber está em relação com a capacidade de dar. "Dai e dar-se-vos-á, boa medida, bem coagulada, transbordando."
De outra sorte, a vida consiste em aprender e ensinar. Quem mais ensina é quem mais aprende.
Quem mais se dispõe a aprender é quem melhor ensina. Por pouco que saibamos, há sempre
quem saiba ainda menos, a quem podemos ensinar.
Quanto mais sabemos, mais reconhecemos a nossa ignorância e mais vontade temos de aprender.
Aprender e ensinar. Subir, auxiliado pelos que se acham em cima, auxiliando, por sua vez, a escalada dos que se encontram em baixo: tal é a Lei.
DAR E RECEBER: eis o segredo da vida.
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Eixo Temático: “protagonismo na caridade”
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Para agradar a Deus e assegurar a sua posição futura, bastará que o homem não pratique o
mal? (O Livro dos Espíritos – questão 642)
Estará subordinado a determinadas condições o mérito do bem que se pratique? Por outra:
será de diferentes graus o mérito que resulta da prática do bem? (O Livro dos Espíritos –
questão 646)
Que se deve pensar da esmola? (O Livro dos Espíritos – questão 888)
Poderá jamais implantar-se na Terra o reinado do bem? (O Livro dos Espíritos – questão
1019)
O óbolo da viúva (livro: “O Evangelho Segundo O Espiritismo” – cap. XIII, itens 5 e 6)
Parábola dos Talentos (livro: “O Evangelho Segundo O Espiritismo” – cap. XVI, item 6)
Código penal da vida futura (livro: “O Céu e O Inferno” – Primeira parte, cap. VII)
Espíritos felizes (livro: “O Céu e O Inferno” – Segunda parte Exemplos, cap II)
As Aristocracias (livro: “Obras Póstumas” – primeira parte)
Diferentes maneiras de fazer a caridade (Dissertações Espíritas – Revista Espírita de outubro
de 1861 )
Sucídio impedido pelo Espiritismo (Revista Espírita, novembro de 1864)
Abri-me! – apelo de Cárita (Revista Espírita, dezembro de 1865)
Esmola (Emmanuel, psicografia de Chico Xavier, do livro: “Fonte Viva” – cap. 60)
Fermento espiritual (Emmanuel, psicografia de Chico Xavier, do livro: “Fonte Viva” – cap. 76)
Esforço e Oração (Emmanuel, psicografia de Chico Xavier, do livro: “Caminho, Verdade e Vida” – cap. 6)
Mocidade (Emmanuel, psicografia de Chico Xavier, do livro: “Caminho, Verdade e Vida” –
cap. 151)
O verbo é criador (Emmanuel, psicografia de Chico Xavier, do livro: “Pão Vinha de Luz” – cap.
73)
Que fazemos do Mestre? (Emmanuel, psicografia de Chico Xavier, do livro: “Vinha de Luz” –
cap. 100)
A marcha (Emmanuel, psicografia de Chico Xavier, do livro: “Pão Nosso” – cap. 20)
Trabalhemos também (Emmanuel, psicografia de Chico Xavier, do livro: “Pão Nosso” – cap.
33)
Cristão sem Cristo (Emmanuel, psicografia de Chico Xavier, do livro: “Livro da Esperança” –
cap. 14)
Exercício do Bem (Emmanuel, psicografia de Chico Xavier, do livro: “Livro da Esperança” –
cap. 37)
Evangelho em ação (Emmanuel, psicografia de Chico Xavier, do livro: “Doutrina de Luz”)
Onde estiveres (André Luiz, psicografia de Chico Xavier, do livro: “Confia e Serve”)
Hábitos infelizes (André Luiz, psicografia de Chico Xavier, do livro: “Sinal Verde”)
Migalha do amor (Meimei, psicografia de Chico Xavier, do livro: “Sentinelas da Alma”)
Campo afetivo (Meimei, psicografia de Chico Xavier – do livro: Deus Aguarda)
Aula de compaixão (Meimei, psicografia de Chico Xavier – do livro: Deus Aguarda)
Deus aguarda (Meimei, psicografia de Chico Xavier – do livro: Deus Aguarda)
Colaboração (Meimei, psicografia de Chico Xavier – do livro: Deus Aguarda)
O segredo da juventude (Humberto de Campos, psicografia de Chico Xavier, do livro: “Contos
Desta e Doutra Vida” – cap. 44)
Oração do jovem (Néio Lúcio, psicografia de Chico Xavier, do livro: “Alvorada Cristã” – cap.
50)
Juventude e Jesus (Ivan de Albuquerque, psicografia de Raul Teixeira, do livro: “Cânticos da
juventude”)
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Juventude e Gentileza (Ivan de Albuquerque, psicografia de Raul Teixeira, do livro: “Cânticos
da Juventude”)
Sublime Ação Joanna de Angelis, in “Libertação pelo Amor” – Cap 17)
Sublime Ação (Joanna de Angelis, in “Diretrizes para o Êxito” – Cap 3)
Ouvir com o Coração (Joanna de Angelis, in “Diretrizes para o Êxito” – Cap 12)
Afetividade (Joanna de Angelis, in “Diretrizes para o Êxito” – Cap 26)
Caridade e alento (Joanna de Angelis, in “Rumos Libertadores” – Cap 37)
Perdoarás... (Joanna de Angelis, in “Rumos Libertadores” – Cap 24)
Mensagem aos jovens (Joanna de Ângelis, psicografia Divaldo Franco – no site
www.fepiau.org.br)
Aos jovens espíritas (Yvonne Pereira, do livro: “À Luz do Consolador”)
Protagonismo juvenil espírita – fundamentação (Federação Espírita Brasileira (FEB), do documento “Diretrizes para Ações da Juventude Espírita no Brasil”)
134
O Livro dos Espíritos – questões 642, 646, 888, 1019
642. Para agradar a Deus e assegurar a sua posição futura, bastará que o homem não pratique o
mal?
“Não; cumpre-lhe fazer o bem no limite de suas forças, porquanto responderá por todo mal que
haja resultado de não haver praticado o bem.”
646. Estará subordinado a determinadas condições o mérito do bem que se pratique? Por outra:
será de diferentes graus o mérito que resulta da prática do bem?
“O mérito do bem está na dificuldade em praticá-lo. Nenhum merecimento há em fazê-lo sem
esforço e quando nada custe. Em melhor conta tem Deus o pobre que divide com outro o seu único pedaço de pão, do que o rico que apenas dá do que lhe sobra, disse-o Jesus, a propósito do
óbolo da viúva.”
888. Que se deve pensar da esmola?
“Condenando-se a pedir esmola, o homem se degrada física e moralmente: embrutece-se. Uma
sociedade que se baseie na lei de Deus e na justiça deve prover à vida do fraco, sem que haja para
ele humilhação. Deve assegurar a existência dos que não podem trabalhar, sem lhes deixar a vida
à mercê do acaso e da boa vontade de alguns.”
a) — Dar-se-á reproveis a esmola?
“Não; o que merece reprovação não é a esmola, mas a maneira por que habitualmente é dada.
O homem de bem, que compreende a caridade de acordo com Jesus, vai ao encontro do desgraçado, sem esperar que este lhe estenda a mão.
“A verdadeira caridade é sempre bondosa e benévola; está tanto no ato, como na maneira por
que é praticado. Duplo valor tem um serviço prestado com delicadeza. Se o for com altivez, pode
ser que a necessidade obrigue quem o recebe a aceitá-lo, mas o seu coração pouco se comoverá.
“Lembrai-vos também de que, aos olhos de Deus, a ostentação tira o mérito ao benefício. Disse
Jesus: ignore a vossa mão esquerda o que a direita der.’ Por essa forma, ele vos ensinou a não tisnardes a caridade com o orgulho.
“Deve-se distinguir a esmola, propriamente dita, da beneficência. Nem sempre o mais necessitado é o que pede. O temor de uma humilhação detém o verdadeiro pobre, que muita vez sofre
sem se queixar. A esse é que o homem verdadeiramente humano sabe ir procurar, sem ostentação.
“Amai-vos uns aos outros, eis toda a lei, lei divina, mediante a qual governa Deus os mundos. O
amor é a lei de atração para os seres vivos e organizados. A atração é a lei de amor para a matéria
inorgânica.
“Não esqueçais nunca que o Espírito, qualquer que sejam o grau de seu adiantamento, sua situação como reencarnado, ou na erraticidade, está sempre colocado entre um superior, que o guia e
aperfeiçoa, e um inferior, para com o qual tem que cumprir esses mesmos deveres. Sede, pois, caridosos, praticando, não só a caridade que vos faz dar friamente o óbolo que tirais do bolso ao que
vo-lo ousa pedir, mas a que vos leve ao encontro das misérias ocultas. Sede indulgentes com os
defeitos dos vossos semelhantes. Em vez de votardes desprezo à ignorância e ao vício, instruí os
ignorantes e moralizai os viciados. Sede brandos e benevolentes para com tudo o que vos seja inferior. Sede-o para com os seres mais ínfimos da criação e tereis obedecido à lei de Deus.”
SÃO VICENTE DE PAULO
1019. Poderá jamais implantar-se na Terra o reinado do bem?
“O bem reinará na Terra quando, entre os Espíritos que a vêm habitar, os bons predominarem,
porque, então, farão que aí reinem o amor e a justiça, fonte do bem e da felicidade. Por meio do
progresso moral e praticando as leis de Deus é que o homem atrairá para a Terra os bons Espíritos
135
e dela afastará os maus. Estes, porém, não a deixarão, senão quando daí estejam banidos o orgulho e o egoísmo.
“Predita foi a transformação da Humanidade e vos avizinhais do momento em que se dará,
momento cuja chegada apressam todos os homens que auxiliam o progresso. Essa transformação
se verificará por meio da encarnação de Espíritos melhores, que constituirão na Terra uma geração nova. Então, os Espíritos dos maus, que a morte vai ceifando dia a dia, e todos os que tentem
deter a marcha das coisas serão daí excluídos, pois que viriam a estar deslocados entre os homens
de bem, cuja felicidade perturbariam. Irão para mundos novos, menos adiantados, desempenhar
missões penosas, trabalhando pelo seu próprio adiantamento, ao mesmo tempo que trabalharão
pelo de seus irmãos ainda mais atrasados. Neste banimento de Espíritos da Terra transformada,
não percebeis a sublime alegoria do Paraíso perdido e, na vinda do homem para a Terra em semelhantes condições, trazendo em si o gérmen de suas paixões e os vestígios da sua inferioridade
primitiva, não descobris a não menos sublime alegoria do pecado original? Considerado deste
ponto de vista, o pecado original se prende à natureza ainda imperfeita do homem que, assim, só
é responsável por si mesmo, pelas suas próprias faltas e não pelas de seus pais. não descobris a
não menos sublime alegoria do pecado original? Considerado deste ponto de vista, o pecado original se prende à natureza ainda imperfeita do homem que, assim, só é responsável por si mesmo,
pelas suas próprias faltas e não pelas de seus pais.
“Todos vós, homens de fé e de boa vontade, trabalhai, portanto, com ânimo e zelo na grande
obra da regeneração, que colhereis pelo cêntuplo o grão que houverdes semeado. Ai dos que fecham os olhos à luz! Preparam para si mesmos longos séculos de trevas e decepções. Ai dos que
fazem dos bens deste mundo a fonte de todas as suas alegrias! Terão que sofrer privações muito
mais numerosas do que os gozos de que desfrutaram! Ai, sobretudo, dos egoístas! Não acharão
quem os ajude a carregar o fardo de suas misérias.”
SÃO LUÍS
O óbolo da viúva
(livro: “O Evangelho Segundo O Espiritismo” – cap. XIII, itens 5 e 6)
Estando Jesus sentado defronte do gazofilácio, a observar de que modo o povo lançava ali o dinheiro, viu que muitas pessoas ricas o deitavam em abundância. – Nisso, veio também uma pobre
viúva que apenas deitou duas pequenas moedas do valor de dez centavos cada uma. – Chamando
então seus discípulos, disse-lhes: Em verdade vos digo que esta pobre viúva deu muito mais do que
todos os que antes puseram suas dádivas no gazofilácio; – por isso que todos os outros deram do
que lhes abunda, ao passo que ela deu do que lhe faz falta, deu mesmo tudo o que tinha para seu
sustento. (S. MARCOS, 12:41 a 44; S. LUCAS, 21:1 a 4)
Muita gente deplora não poder fazer todo o bem que desejara, por falta de recursos suficientes,
e, se desejam possuir riquezas, é, dizem, para lhes dar boa aplicação. É sem dúvida louvável a intenção e pode até nalguns ser sincera.
Dar-se-á, contudo, seja completamente desinteressada em todos? Não haverá quem, desejando
fazer bem aos outros, muito estimaria poder começar por fazê-lo a si próprio, por proporcionar a
si mesmo alguns gozos mais, por usufruir de um pouco do supérfluo que lhe falta, pronto a dar aos
pobres o resto? Esta segunda intenção, que esses tais porventura dissimulam aos seus próprios
olhos, mas que se lhes depararia no fundo dos seus corações, se eles os perscrutassem, anula o
mérito do intento, visto que, com a verdadeira caridade, o homem pensa nos outros antes de pensar em si. O ponto sublimado da caridade, nesse caso, estaria em procurar ele no seu trabalho, pelo emprego de suas forças, de sua inteligência, de seus talentos, os recursos de que carece para
realizar seus generosos propósitos.
Haveria nisso o sacrifício que mais agrada ao Senhor. Infelizmente, a maioria vive a sonhar com
os meios de mais facilmente se enriquecer de súbito e sem esforço, correndo atrás de quimeras,
quais a descoberta de tesouros, de uma favorável ensancha aleatória, do recebimento de inespe-
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radas heranças, etc. Que dizer dos que esperam encontrar nos Espíritos auxiliares que os secundem na consecução de tais objetivos? Certamente não conhecem, nem compreendem a sagrada
finalidade do Espiritismo e, ainda menos, a missão dos Espíritos a quem Deus permite se comuniquem com os homens. Daí vem o serem punidos pelas decepções, (O Livro dos Médiuns, 2ª Parte,
nos 294 e 295.)
Aqueles cuja intenção está isenta de qualquer ideia pessoal, devem consolar-se da impossibilidade em que se veem de fazer todo o bem que desejariam, lembrando-se de que o óbolo do pobre, do que dá privando-se do necessário, pesa mais na balança de Deus do que o ouro do rico que
dá sem se privar de coisa alguma, Grande seria realmente a satisfação do primeiro, se pudesse socorrer, em larga escala, a indigência; mas, se essa satisfação lhe é negada, submeta-se e se limite a
fazer o que possa. Aliás, será só com o dinheiro que se podem secar lágrimas e dever-se-á ficar
inativo, desde que se não tenha dinheiro? Todo aquele que sinceramente deseja ser útil a seus irmãos, mil ocasiões encontrará de realizar o seu desejo. Procure-as e elas se lhe depararão; se não
for de um modo, será de outro, porque ninguém há que, no pleno gozo de suas faculdades, não
possa prestar um serviço qualquer, prodigalizar um consolo, minorar um sofrimento físico ou moral, fazer um esforço útil. Não dispõem todos, à falta de dinheiro, do seu trabalho, do seu tempo,
do seu repouso, para de tudo isso dar uma parte ao próximo? Também aí está a dádiva do pobre,
o óbolo da viúva.
Parábola dos Talentos
(livro: “O Evangelho Segundo O Espiritismo” – cap. XVI, item 6)
O Senhor age como um homem que, tendo de fazer longa viagem fora do seu país, chamou seus
servidores e lhes entregou seus bens. – Depois de dar cinco talentos a um, dois a outro e um a outro, a cada um segundo a sua capacidade, partiu imediatamente. – Então, o que recebeu cinco talentos foi-se, negociou com aquele dinheiro e ganhou cinco outros. – O que recebera dois ganhou,
do mesmo modo, outros tantos. Mas o que apenas recebera um cavou um buraco na terra e aí escondeu o dinheiro de seu amo. – Passado longo tempo, o amo daqueles servidores voltou e os
chamou a contas. – Veio o que recebera cinco talentos e lhe apresentou outros cinco, dizendo: Senhor, entregaste-me cinco talentos; aqui estão, além desses, mais cinco que ganhei. – Respondeulhe o amo: Servidor bom e fiel; pois que foste fiel em pouca coisa, confiar-te-ei muitas outras; compartilha da alegria do teu senhor. – O que recebera dois talentos apresentou-se a seu turno e lhe
disse: Senhor, entregaste-me dois talentos; aqui estão, além esses, dois outros que ganhei. – O
amo lhe respondeu: Bom e fiel servidor; pois que foste fiel em pouca coisa, confiar-te-ei muitas outras; compartilha da alegria do teu senhor. – Veio em seguida o que recebeu apenas um talento e
disse: Senhor, sei que és homem severo, que ceifas onde não semeaste e colhes de onde nada puseste; – por isso, como te temia, escondi o teu talento na terra; aqui o tens: restituo o que te pertence. – O homem, porém, lhe respondeu: Servidor mau e preguiçoso; se sabias que ceifo onde não
semeei e que colho onde nada pus – devias pôr o meu dinheiro nas mãos dos banqueiros, a fim de
que, regressando, eu retirasse com juros o que me pertence. – Tirem-lhe, pois, o talento que está
com ele e deem-no ao que tem dez talentos; – porquanto, dar-se--á a todos os que já têm e esses
ficarão cumulados de bens; quanto àquele que nada tem, tirar-se-lhe-á mesmo o que pareça ter; e
seja esse servidor inútil lançado nas trevas exteriores, onde haverá prantos e ranger de dentes. (S.
MATEUS, 25:14 a 30.)
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Código penal da vida futura
(livro: “O Céu e O Inferno” – Primeira parte, cap. VII)
6º — O bem e o mal que fazemos decorrem das qualidades que possuímos. Não fazer o bem
quando podemos é, portanto, o resultado de uma imperfeição. Se toda imperfeição é fonte de sofrimento, o Espírito deve sofrer não somente pelo mal que fez como pelo bem que deixou de fazer
na vida terrestre. 6º — O bem e o mal que fazemos decorrem das qualidades que possuímos. Não
fazer o bem quando podemos é, portanto, o resultado de uma imperfeição. Se toda imperfeição é
fonte de sofrimento, o Espírito deve sofrer não somente pelo mal que fez como pelo bem que deixou de fazer na vida terrestre.
8º — Sendo infinita a justiça de Deus, o bem e o mal são rigorosamente considerados, não havendo uma só ação, um só pensamento mau que não tenha consequências fatais, como não há
uma única ação meritória, um só bom movimento da alma que se perca, mesmo para os mais perversos, por isso que constituem tais ações um começo de progresso.
16º — O arrependimento, conquanto seja o primeiro passo para a regeneração, não basta por
si só; são precisas a expiação e a reparação.
Arrependimento, expiação e reparação constituem, portanto, as três condições necessárias para apagar os traços de uma falta e suas consequências. O arrependimento suaviza os travos da expiação, abrindo pela esperança o caminho da reabilitação; só a reparação, contudo, pode anular o
efeito destruindo-lhe a causa. Do contrário, o perdão seria uma graça, não uma anulação.
17º — O arrependimento pode dar-se por toda parte e em qualquer tempo; se for tarde, porém, o culpado sofre por mais tempo.
Até que os últimos vestígios da falta desapareçam, a expiação consiste nos sofrimentos físicos
e morais que lhe são consequentes, seja na vida atual, seja na vida espiritual após a morte, ou ainda em nova existência corporal.
A reparação consiste em fazer o bem àqueles a quem se havia feito o mal. Quem não repara os
seus erros numa existência, por fraqueza ou má vontade, achar-se-á numa existência ulterior em
contato com as mesmas pessoas que de si tiverem queixas, e em condições voluntariamente escolhidas, de modo a demonstrar-lhes reconhecimento e fazer-lhes tanto bem quanto mal lhes tenha
feito. Nem todas as faltas acarretam prejuízo direto e efetivo; em tais casos a reparação se opera,
fazendo-se o que se deveria fazer e foi descurado; cumprindo os deveres desprezados, as missões
não preenchidas; praticando o bem em compensação ao mal praticado, isto é, tornando-se humilde se se tem sido orgulhoso, amável se se foi austero, caridoso se se tem sido egoísta, benigno
se se tem sido perverso, laborioso se se tem sido ocioso, útil se se tem sido inútil, frugal se se tem
sido intemperante, trocando em suma por bons os maus exemplos perpetrados. E desse modo
progride o Espírito, aproveitando-se do próprio passado.
[Observação de Kardec: A necessidade da reparação é um princípio de rigorosa justiça, que se
pode considerar verdadeira lei de reabilitação moral dos Espíritos. Entretanto, essa doutrina religião alguma ainda a proclamou. Algumas pessoas repelem-na porque acham mais cômodo o poder quitarem-se das más ações por um simples arrependimento, que não custa mais que palavras,
por meio de algumas fórmulas; contudo, crendo-se, assim, quites, verão mais tarde se isso lhes
bastava. Nós poderíamos perguntar se esse princípio não é consagrado pela lei humana, e se a justiça divina pode ser inferior à dos homens? E mais, se essas leis se dariam por desafrontadas desde
que o indivíduo que as transgredisse, por abuso de confiança, se limitasse a dizer que as respeita
infinitamente.
Por que hão de vacilar tais pessoas perante uma obrigação que todo homem honesto se impõe
como dever, segundo o grau de suas forças?
Quando esta perspectiva de reparação for inculcada na crença das massas, será um outro freio
aos seus desmandos, e bem mais poderoso que o inferno e respectivas penas eternas, visto como
138
interessa à vida em sua plena atualidade, podendo o homem compreender a procedência das circunstâncias que a tornam penosa, ou a sua verdadeira situação.]
32º — Deus, diz-se, não daria prova maior de amor às suas criaturas, criando-as infalíveis e,
por conseguinte, isentas dos vícios inerentes à imperfeição? Para tanto fora preciso que Ele criasse
seres perfeitos, nada mais tendo a adquirir, quer em conhecimentos, quer em moralidade. Certo,
porém, Deus poderia fazê-lo, e se o não fez é que em sua sabedoria quis que o progresso constituísse lei geral. Os homens são imperfeitos, e, como tais, sujeitos a vicissitudes mais ou menos penosas. E pois que o fato existe, devemos aceitá-lo.
Inferir dele que Deus não é bom nem justo, fora insensata revolta contra a lei.
Injustiça haveria, sim, na criação de seres privilegiados, mais ou menos favorecidos, fruindo gozos que outros porventura não atingem senão pelo trabalho, ou que jamais pudessem atingir. Ao
contrário, a justiça divina patenteia-se na igualdade absoluta que preside à criação dos Espíritos;
todos têm o mesmo ponto de partida e nenhum se distingue em sua formação por melhor aquinhoado; nenhum cuja marcha progressiva se facilite por exceção: os que chegam ao fim, têm passado, como quaisquer outros, pelas fases de inferioridade e respectivas provas.
Isto posto, nada mais justo que a liberdade de ação a cada qual concedida. O caminho da felicidade a todos se abre amplo, como a todos as mesmas condições para atingi-la. A lei, gravada em
todas as consciências, a todos é ensinada. Deus fez da felicidade o prêmio do trabalho e não do favoritismo, para que cada qual tivesse seu mérito.
Todos somos livres no trabalho do próprio progresso, e o que muito e depressa trabalha, mais
cedo recebe a recompensa. O romeiro que se desgarra, ou em caminho perde tempo, retarda a
marcha e não pode queixar-se senão de si mesmo.
O bem como o mal são voluntários e facultativos: livre, o homem não é fatalmente impelido
para um nem para outro.
As Aristocracias
(livro: “Obras Póstumas” – primeira parte)
Aristocracia vem do grego aristos, o melhor, e kratos, poder. Aristocracia, pois, em sua acepção
literal, significa: poder dos melhores. Há-se de convir em que o sentido primitivo tem sido por vezes singularmente deturpado; mas, vejamos que influência o Espiritismo pode exercer na sua aplicação. Para esse efeito, tomemos as coisas no ponto de partida e acompanhemo-las através das
idades, a fim de deduzirmos daí o que acontecerá mais tarde.
Em nenhum tempo, nem no seio de nenhum povo, os homens, em sociedade, hão podido prescindir de chefes; com estes deparamos nas tribos mais selvagens. Decorre isto de que, em razão
da diversidade das aptidões e dos caracteres inerentes à espécie humana, há por toda parte homens incapazes, que precisam ser dirigidos, homens fracos que reclamam proteção, paixões que
exigem repressão. Daí a necessidade imperiosa de uma autoridade. É sabido que, nas sociedades
primitivas, essa autoridade foi conferida aos chefes de família, aos antigos, aos anciãos; numa palavra: aos patriarcas. Essa a primeira de todas as aristocracias.
Tornando-se numerosas as sociedades, a autoridade patriarcal veio a ficar impotente em certas
circunstâncias. As querelas entre povoações vizinhas deram lugar a combates; fez-se mister, para
dirigi-las, não mais os velhos, porém homens fortes, vigorosos e inteligentes; daí os chefes militares. Vitoriosos, estes chefes foram investidos da autoridade, esperando os seus comandados que
com a valentia deles estariam garantidos contra os ataques dos inimigos.
Muitos, abusando da posição a que tinham sido elevados, se apossavam dela por si mesmos.
Depois, os vencedores passaram a impor-se aos vencidos, ou os reduziram à escravidão. Daí a autoridade da força bruta, que foi a segunda aristocracia.
Os fortes, com os bens que possuíam, transmitiriam muito naturalmente a seus filhos a autoridade de que desfrutavam; e os fracos, nada ousando dizer, se habituaram pouco a pouco a ter es-
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ses filhos por herdeiros dos direitos que os pais haviam conquistado e a considerá-los seus superiores. Veio assim a divisão da sociedade em duas classes: a dos superiores e a dos inferiores, a dos
que mandam e a dos que obedecem. Estabeleceu-se de tal modo a aristocracia do nascimento,
que tão poderosa e preponderante se tornou, quanto a da força, visto que, se não tinha por si a
força, como nos primeiros tempos, em que importava fizesse cada um o sacrifício da sua pessoa,
dispunha de uma força mercenária. Na posse de todo o poder, ela naturalmente se arrogou todos
os privilégios.
Para conservação destes, era necessário lhes dessem o prestígio da legalidade; ela então fez leis
em seu próprio proveito, o que lhe era fácil, pois que ninguém mais as fazia. Como isto, entretanto, não bastasse, juntou aos privilégios o prestígio do direito divino, para torná-los respeitáveis e
invioláveis. A fim de lhes assegurar o respeito das classes submetidas, que cada vez mais numerosas se faziam e mais difíceis de ser contidas, mesmo pela força, um único meio havia: impedi-las
de ver claro, isto é, conservá-las na ignorância.
Se a classe superior houvesse podido manter a classe inferior sem se ocupar com coisa alguma,
tê-la-ia governado facilmente durante ainda longo tempo; mas, como a segunda fosse obrigada a
trabalhar para viver, e trabalhar tanto mais quanto mais premida se achava, resultou que a necessidade de encontrar incessantemente novos recursos, de lutar contra uma concorrência invasora,
de procurar novos mercados para os produtos, lhe desenvolveu a inteligência e fez com que as
próprias causas, de que os da classe superior se serviam para trazê-la sujeita, a esclarecessem.
Não se patenteia aí o dedo da Providência?
A classe submetida viu com clareza as coisas; viu a fraca consistência que lhe opunham e, sentindo-se forte pelo número, aboliu os privilégios e proclamou a igualdade perante a lei. Este princípio, no seio de alguns povos, marcou o fim do reinado da aristocracia de nascimento, que passou
a ser apenas nominal e honorífica, porquanto já não confere direitos legais.
Elevou-se então uma nova potência, a do dinheiro, porque com dinheiro se dispõe dos homens
e das coisas. Era um sol nascente e diante do qual todos se inclinaram, como outrora se curvavam
diante de um brasão. O que não se concedia ao título, concedia-se à riqueza e a riqueza teve
igualmente seus privilégios. Logo, porém, se aperceberam de que, para conseguir a riqueza, certa
dose de inteligência era necessária, não sendo necessária muita para herdá-la, e de que os descendentes são quase sempre mais hábeis em a consumir, do que em ganhá-la, de que os próprios
meios de enriquecimento nem sempre são irreprocháveis, donde resultou ir o dinheiro perdendo
pouco a pouco o seu prestígio moral e tender essa potência a ser substituída por outra, por uma
aristocracia mais justa: a da inteligência, diante da qual todos podem curvar-se, sem se envilecerem, porque ela pertence tanto ao pobre quanto ao rico.
Será a última? Será a mais alta expressão da Humanidade civilizada? Não.
A inteligência nem sempre constitui penhor de moralidade e o homem mais inteligente pode fazer péssimo uso de suas faculdades. Doutro lado, a moralidade, isolada, pode, muita vez, ser incapaz. A reunião dessas duas faculdades, inteligência e moralidade, é, pois, necessária a criar uma
preponderância legítima, a que a massa se submeterá cegamente, porque lhe inspirará plena confiança, pelas suas luzes e pela sua justiça.
Será essa a última aristocracia, a que se apresentará como consequência, ou, antes, como sinal
do advento do reinado do bem na Terra. Ela se erguerá muito naturalmente pela força mesma das
coisas. Quando os homens de tal categoria forem bastante numerosos para formarem uma maioria imponente, a massa lhes confiará seus interesses.
Como vimos, todas as aristocracias tiveram sua razão de ser; nasceram do estado da Humanidade; assim há de acontecer com o que se tornará uma necessidade. Todas preencheram ou preencherão seu tempo, conforme os países, porque nenhuma teve por base o princípio moral; só este
princípio pode constituir uma supremacia durável, porque terá a animá-la sentimentos de justiça e
caridade. A essa aristocracia chamaremos: aristocracia intelecto-moral.
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Mas, semelhante estado de coisas será possível com o egoísmo, o orgulho, a cupidez que reinam soberanos na Terra? Responderemos terminantemente: sim, não só é possível, como se implantará, por ser inevitável.
Já hoje a inteligência domina; é soberana, ninguém o pode contestar. É tão verdade isto, que já
se vê o homem do povo chegar aos cargos de primeira ordem. Essa aristocracia não será mais justa, mais lógica, mais racional, do que a da força bruta, do nascimento, ou do dinheiro? Por que,
então, seria impossível que se lhe juntasse a moralidade?
— Porque, dizem os pessimistas, o mal domina sobre a Terra. — Quem ousará dizer que o bem
nunca o sobrepujará?
Os costumes e, por conseguinte, as instituições sociais, não valem cem vezes mais hoje do que
na Idade Média? Cada século não se assinala por um progresso? Por que, então, a Humanidade
pararia, quando ainda tem tanto que fazer?
Por instinto natural, os homens procuram o seu bem-estar; se não o acharem completo no reino
da inteligência, procurá-lo-ão algures, e onde poderão encontrá-lo, senão no reino da moralidade?
Para isso, torna-se preciso que a moralidade sobrepuje numericamente. Não há contestar que
muitíssimo se tem que fazer; mas, ainda uma vez, fora tola pretensão dizer-se que a Humanidade
chegou ao apogeu, quando é vista a avançar continuamente pela senda do progresso.
Digamos, antes de tudo, que os bons, na Terra, não são absolutamente tão raros como se julga;
os maus são numerosos, é infelizmente verdade; o que, porém, faz pareçam eles ainda mais numerosos é que têm mais audácia e sentem que essa audácia lhes é indispensável ao bom êxito. De
tal modo, entretanto, compreendem a preponderância do bem, que, não podendo praticá-lo, com
ele se mascaram.
Os bons, ao contrário, não fazem alarde das suas boas qualidades; não se põem em evidência,
donde o parecerem tão pouco numerosos. Pesquisai, no entanto, os atos íntimos praticados sem
ostentação e, em todas as camadas sociais, deparareis com criaturas de natureza boa e leal em
número bastante a vos tranquilizar o coração, de maneira a não desesperardes da Humanidade.
Depois, cumpre também dizê-lo, entre os maus, muitos há que apenas o são por arrastamento e
que se tornariam bons, desde que submetidos a uma influência boa. Admitamos que, em 100 indivíduos, haja 25 bons e 75 maus; destes últimos, 50 se contam que o são por fraqueza e que seriam
bons, se observassem bons exemplos e, sobretudo, se tivessem sido bem encaminhados desde a
infância; dos 25 maus, nem todos serão incorrigíveis.
No estado atual das coisas, os maus estão em maioria e ditam a lei aos bons. Suponhamos que
uma circunstância
qualquer opere a conversão de 50 por cento deles: os bons ficarão em maioria e a seu turno ditarão a lei; dos 25 outros, francamente maus, muitos sofrerão a influência daqueles, restando
apenas alguns incorrigíveis sem preponderância.
Tomemos um exemplo, para ilustrar o que acabamos de dizer: Há povos no seio dos quais o assassínio e o roubo são a normalidade, constituindo exceção o bem. Nos povos mais adiantados e
mais bem governados da Europa, o crime é a exceção; acuado pelas leis, ele nenhuma influência
exerce sobre a sociedade. O que nesses povos ainda predomina são os vícios de caráter: o orgulho,
o egoísmo, a cupidez com seus cortejos.
Por que, progredindo esses povos, os vícios não se tornariam a exceção, como o são hoje os
crimes, ao passo que os povos inferiores galgariam o nosso nível? Negar a possibilidade dessa
marcha ascendente fora negar o progresso.
Certamente, chegar a tal estado de coisas não pode ser obra de um dia, mas, se há uma causa
capaz de apressar-lhe o advento, essa causa é, sem nenhuma dúvida, o Espiritismo. Fator, por excelência, da fraternidade humana, por mostrar que as provas da vida atual são a consequência lógica e racional dos atos praticados nas existências anteriores, por fazer de cada homem o artífice
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voluntário da sua própria felicidade, a vulgarização universal do Espiritismo dará em resultado, necessariamente, uma elevação sensível do nível moral da atualidade.
Apenas elaborados e coordenados, já os princípios gerais da nossa filosofia hão congregado, em
imponente comunhão de ideias, milhões de adeptos espalhados por toda a Terra.
Os progressos realizados pela sua influência, as transformações individuais e locais que eles têm
provocado em menos de quinze anos, permitem apreciemos as modificações imensas e radicais
que operarão no futuro.
Mas, se, graças ao desenvolvimento e à aceitação geral dos ensinos dos Espíritos, o nível moral
da Humanidade tende constantemente a elevar-se, singularmente se iludiria quem supusesse que
a moralidade preponderará sobre a inteligência. O Espiritismo, com efeito, não quer que o aceitem cegamente; reclama a discussão e a luz.
“Em vez da fé cega, que aniquila a liberdade de pensar, diz ele: “Não há fé inabalável, senão a
que possa encarar face a face a razão, em todas as épocas da Humanidade. A fé necessita de base e esta base consiste na inteligência perfeita daquilo em que se haja de crer. Para crer, não
basta ver, é, sobretudo, preciso compreender.” (O Evangelho segundo o Espiritismo.) Com bom
direito, pois, podemos considerar o Espiritismo como um dos mais fortes
precursores da aristocracia do futuro, isto é, da aristocracia intelecto-moral.
Diferentes maneiras de fazer a caridade
(Dissertações Espíritas – Revista Espírita de outubro de 1861 )
(Sociedade Espírita de Lyon.)
Nota. A comunicação seguinte foi obtida em nossa presença, no grupo de Perrache:
Sim, meus amigos, virei sempre ao vosso meio, cada vez que aí for chamado. Ontem, estive muito feliz por vós, quando ouvi o autor dos livros que vos abriram os olhos testemunhar o desejo de
vos ver reunidos, para vos dirigir benevolentes palavras. Foi para todos, ao mesmo tempo, um
grande ensinamento e uma poderosa lembrança. Somente quando vos falou de amor e caridade,
ouvi vários dentre vós dizerem a si mesmos: Como fazer a caridade? Frequentemente, não tenho
mesmo o necessário.
A caridade, meus amigos, se faz de muitas maneiras; podeis fazer a caridade em pensamentos,
em palavras, e em ações. Em pensamento: orando pelos pobres abandonados, que morreram sem
mesmo terem visto a luz; uma prece de coração os alivia. Em palavras: dirigindo aos vossos companheiros de todos os dias alguns bons conselhos; dizei aos homens amargurados pelo desespero,
as privações, e que blasfemam o nome do Altíssimo: "Eu era como vós; eu sofria, era infeliz, mas
acreditei no Espiritismo, e vede, estou radiante agora." Aos velhos que vos dirão: "É inútil; estou
no fim de minha carreira; morrerei como vivi." Dizei a esses: "Deus tem, por todos vós, uma igual
justiça; lembrai-vos dos obreiros da décima hora." Às criancinhas que, já viciadas pelo seu ambiente, vão vagar pelos caminhos, prestes a sucumbirem às más tentações, dizei-lhes: "Deus vos vê,
minhas queridas crianças," e não temais repetir-lhes, freqüentemente, esta doce palavra; ela acabará por germinar em sua jovem inteligência, e em lugar de pequenos vagabundos, tereis feito
homens. Está ainda aí uma caridade.
Vários dentre vós também dizem: "Ora, somos tão numerosos sobre a Terra, Deus não pode nos
ver a todos." Escutai bem isto, meus amigos: quando estais sobre o cume de uma montanha, é
que o vosso olhar não abarca milhões de grãos de areia que formam essa montanha? Pois bem!
Deus vos vê do mesmo modo; deixa-vos o vosso livre arbítrio, como deixais esses grãos de areia
livres de ir ao sabor do vento que os dispersa; somente Deus, em sua misericórdia infinita, colocou
no fundo do vosso coração uma sentinela vigilante, que se chama a consciência. Escutai-a; ela não
vos dará senão bons conselhos. Por vezes a entorpeceis opondo-lhe o Espírito do mal; ela então se
cala; mas ficai seguros de que a pobre abandonada se fará ouvir logo que tiverdes deixado perce-
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ber a sombra do remorso. Escutai-a; interrogai-a e, frequentemente, vos achareis consolados com
os conselhos que dela recebestes.
Meus amigos, a cada regimento novo o general remete uma bandeira; eu vos dou, eu, esta máxima do Cristo: "Amai-vos uns aos outros”. Praticai esta máxima; reuni-vos todos ao redor deste
estandarte, e dele recebereis a felicidade e a consolação."
Vosso Espírito protetor – em Dissertações Espíritas, Revista Espírita de outubro de 1861
Sucídio impedido pelo Espiritismo
(Revista Espírita, novembro de 1864)
Escrevem-nos de Lyon, a 3 de outubro de 1864:
“Conheceis a reputação do capitão B... É um homem de uma fé ardente, de uma convicção
comprovada. Dele já falastes em vossa Revista. Há algum tempo ele se achava nas margens do
Saône, em companhia de um advogado, espírita como ele. Prolongando o passeio, aqueles senhores entraram num restaurante para almoçar e logo viram um outro passeante entrar no mesmo
estabelecimento. O recém-chegado falava alto, comandava bruscamente e parecia querer atrair
apenas para si o pessoal do restaurante. Vendo esse despreocupado, o capitão disse em voz alta
algumas palavras um pouco severas ao recém-vindo. De repente foi tomado de estranha tristeza.
O Sr. B... é médium auditivo; ele ouve distintamente a voz de seu filho, do qual recebe frequentes
comunicações, murmurando ao seu ouvido: ‘O homem que vês tão brusco vai suicidar-se. Ele vem
aqui fazer sua última refeição.’
“O capitão levanta-se precipitadamente, aproxima-se do perturbador e lhe pede perdão
por ter externado tão alto o seu pensamento. Depois, arrastando-o para fora do estabelecimento,
lhe disse: ‘Senhor, ides suicidar-vos.’ Grande admiração da parte do indivíduo, velhote de setenta
e seis anos, que lhe respondeu: ‘Quem vos pôde revelar semelhante coisa?’ ‘Deus’ respondeu o Sr.
B... Depois começou a lhe falar suavemente e com bondade sobre a imortalidade da alma e, reconduzindo-o a Lyon, conversou com ele sobre Espiritismo e tudo quanto em casos tais Deus pode
inspirar para encorajar e consolar.
“O velho lhe contou sua história. Antigo ortopedista, tinha sido arruinado por um sócio infiel. Caindo doente, ficou muito tempo no hospital, mas, uma vez curado, sua saúde lançou-o no
desemprego, sem nenhum recurso. Foi recolhido por uma operária pobre, criatura sublime que
durante meses inteiros o alimentou sem ser obrigada senão pela piedade. Mas o receio de ser um
incômodo o tinha impelido ao suicídio.
“O capitão foi ver a digna mulher, encorajou-a, ajudou-a. Mas quando se tem que viver o
dinheiro vai depressa, e ontem o pobre mobiliário da operária teria sido vendido se alguns espíritas não tivessem resgatado os poucos móveis de seu único quarto, porque depois de um ano alimentando o velho, ela havia penhorado cobertores, cobertas, etc. Isto foi resgatado, graças aos
bons corações tocados por esse generoso devotamento. Mas isto não é tudo. É preciso continuar
até que o velho tenha conseguido um refúgio nas irmãzinhas dos pobres. A respeito, Cárita me fez
escrever uma comunicação que vos remeto, com a expressão de todo o nosso reconhecimento, a
vós, caro senhor, que nos tornastes espíritas. Quanto a mim, não esqueço que fui convidada a voltar convosco, quando voltardes.”
Eis a comunicação:
APELO AOS BONS CORAÇÕES
“O Espiritismo, esta estrela do Oriente, não somente vem abrir-vos as portas da Ciência.
Ele faz mais que isto: é um amigo que vos aproxima uns aos outros, para vos ensinar o amor ao
próximo e sobretudo a caridade, não essa esmola degradante que busca no bolso a menor moeda
para lançar na mão do pobre, mas a doce mansuetude do Cristo, que conhecia o caminho onde se
encontra o infortúnio oculto.
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“Meus bons amigos, encontrei em meu caminho uma dessas misérias de que a história não
fala, mas de que o coração se lembra quando foi testemunha das tão rudes provas. É uma pobre
mulher; ela é mãe; ela tem um filho há muitos meses sem ocupação; além disso, ela sustenta uma
infeliz, operária como ela. E, além disso, um velho vem diariamente encontrá-la à hora da comida,
quando há o suficiente para comer. Mas no dia em que falta o necessário, as duas pobres mulheres, criaturas admiráveis por sua caridade, dão o seu repasto aos dois homens, o velho e o rapaz,
pretextando que, estando com fome, comeram antes. Vi isto renovar-se muitas vezes. Vi o velho,
num momento de desespero, vender a última roupa e querer, por insigne ato de loucura, dizer um
último adeus à vida, antes de partir para o mundo invisível, onde Deus vos julga a todos.
“Vi a fome imprimir suas marcas nesses deserdados do bem-estar social, mas as mulheres
oraram com fervor, e Deus as escutou. Ele já pôs irmãos, espíritas, sobre os seus passos, e quando
a caridade chama, os corações devotados respondem. Já estão secas as lágrimas do desespero.
Nada mais resta além da angustia do amanhã, o fantasma ameaçador do inverno com seu cortejo
de granizo, de gelo e de neve. Eu vos estendo a mão em favor desse infortúnio. Os pobres, nossos
amigos, são os enviados de Deus. Eles vêm dizer-vos: Nós sofremos; Deus o quer; é o nosso castigo
e ao mesmo tempo um exemplo para a nossa melhora. Vendo-nos tão infelizes, vosso coração se
enternece, vossos sentimentos se alargam, aprendeis a amar e a lamentar o infeliz. Socorrei-nos, a
fim de que não murmuremos, e também para que Deus vos sorria do alto de seu belo paraíso.
“Eis o que diz o pobre em seus farrapos; eis o que repete o anjo da guarda que vos vela, e o
que vos repito, simples mensageira da caridade, intermediária entre o Céu e vós.
“Sorride ao infortúnio, ó vós que sois ricamente dotados de todas as qualidades de coração. Ajudai-me em minha tarefa. Não deixeis fechar-se esse santuário de vossa alma onde mergulhou o olhar de Deus, e um dia, quando entrardes na vossa mãe-pátria, quando, com o olhar incerto e o passo inseguro, buscardes o vosso caminho através da imensidade, eu vos abrirei de par em
par a porta do templo onde tudo é amor e caridade e vos direi: Entrai, meus amados. Eu vos conheço!
“CÁRITA”
A quem fariam crer seja esta a linguagem do diabo? Foi a voz do diabo que se fez ouvir ao
ouvido do capitão, sob o nome de seu filho, para adverti-lo que o velho ia suicidar-se e, ao mesmo
tempo, para lhe inculcar o arrependimento por ter dito palavras que poderiam magoá-lo? Segundo a doutrina que um partido busca fazer prevalecer, conforme a qual só o diabo se comunica, esse capitão deveria ter repelido como satânica a voz que lhe falava; disso teria resultado que o velho ter-se-ia suicidado; que o mobiliário das pobres operárias teria sido vendido e que elas talvez
tivessem morrido de fome.
Entre os donativos que para elas recebemos, há um que devemos mencionar, sem nomear
o autor. Ele estava acompanhado da carta seguinte:
“Senhor Allan Kardec,
“Eu soube por intermédio de um meu parente que obteve de vós o relato da bela ação
verdadeiramente cristã levada a efeito por uma pobre operária de Lyon em benefício de um velho
infeliz. Esse parente mostrou-me um apelo muito eloquente em favor do velho, por um Espírito
que se dá o suave nome de Cárita. À sua pergunta se nele eu reconhecia a linguagem do demônio,
respondi que os nossos melhores santos não falam melhor. É minha opinião. Por isso tomei a liberdade de lhe pedir uma cópia. Senhor, sou um pobre padre, mas vos envio o óbolo da viúva, em
nome de Jesus Cristo, para essa brava e digna mulher. Inclusa achareis a módica soma de cinco
francos, lamentando não poder dar mais. Peço o favor de não mencionar meu nome.
“Dignai-vos aceitar, etc.
“PADRE X...”
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Abri-me! – apelo de Cárita
(Revista Espírita, dezembro de 1865)
APELO DE CÁRITA
Escrevem-nos de Lyon:
“... O Espiritismo, esse grande traço de união entre todos os filhos de Deus, nos abriu um
horizonte tão largo, que podemos olhar de um a outro ponto todos esses corações esparsos que
as circunstâncias colocaram no oriente e no ocidente, e vê-los vibrar a um só apelo de Cárita. Ainda me lembro da profunda emoção que senti quando, no ano passado, a Revista Espírita nos dava
conta da impressão produzida em todas as partes da Europa por uma comunicação desse excelente Espírito. Sem dúvida poder-se-á dizer tudo quanto se queira contra o Espiritismo: é uma prova
de que ele cresce, porque geralmente não se atacam as coisas pequenas, mas os grandes efeitos.
Ademais, o que são esses ataques senão como a cólera de uma criança que atirasse pedras ao
oceano para impedi-lo de roncar? E os detratores do Espiritismo quase não suspeitam que denegrindo a doutrina, eles cobrem todas as despesas de uma propaganda que dá a todos os que a leem vontade de conhecer esse terrível inimigo que tem como palavra de ordem: “Fora da caridade
não há salvação...”
Esta carta estava acompanhada da seguinte comunicação, ditada pelo Espírito de Cárita, a
eloquente e graciosa pedinte que os bons corações conhecem tão bem.
(Lyon, 8 de novembro de 1865)
“Faz frio, chove, o vento sopra muito forte; abri-me!
“Fiz uma longa caminhada através da região da miséria e retorno com o coração semimorto e as espáduas vergadas ao fardo de todas as dores. Abri-me bem depressa, meus amados, vós
que sabeis que quando a caridade bate à vossa porta é que encontrou muitos infelizes em seu caminho. Abri vosso coração para receber minhas confidências; abri a vossa bolsa para enxugar as
lágrimas dos meus protegidos e escutai-me com essa emoção que a dor faz subir de vossa alma
aos vossos lábios. Oh! vós que sabeis o que Deus reserva, e que muitas vezes chorais essas lágrimas de amor que o Cristo chamava de orvalho da vida celeste, abri-me!... Obrigada! Eu entrei.
“Parti esta manhã. Chamavam-me de todos os lados, e o sofrimento tem a voz tão vibrante
que basta um só apelo. Minha primeira visita foi para dois pobres velhos: marido e mulher. Eles
viveram ambos esses longos dias em que o pão rareia, em que o sol se esconde, em que o trabalho
falta aos braços fortes que o chamam. Eles sepultaram sua miséria no crisol da dignidade, e ninguém pôde adivinhar que muitas vezes o dia transcorria sem trazer seu pão cotidiano. Depois chegou a idade, os membros enfraqueceram, os olhos ficaram velados e o patrão que fornecia trabalho disse: Nada mais tenho para fazer. Entretanto, a morte não veio, e a fome e o frio diariamente
são os visitantes habituais da pobre morada. Como responder a essa miséria? Proclamando-a? Oh!
não. Há feridas que não se curam arrancando a atadura que as cobre. O que acalma o coração é
uma palavra de consolo, dita por uma voz amiga que adivinhou, com sua alma, o que lhe foi oculto
aos olhos. Para esses pobres, abri-me!
“E depois vi uma mãe repartir seu único pedaço de pão com os três filhinhos, e como o pedaço era minúsculo, nada guardou para si. Vi o fogão apagado, o leito sem lençóis; vi os membros
tiritantes envolvidos em trapos; vi o marido entrar em casa sem ter encontrado trabalho; vi enfim
o filho menor morrer sem socorro, porque o pai e a mãe são espíritas e tiveram que sofrer humilhações das obras de beneficência.
“Vi a miséria em toda a sua chaga horrível; vi os corações se atrofiarem e a dignidade extinguir-se sob o verme roedor da necessidade de viver. Vi criaturas de Deus renegarem sua origem
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imortal, porque não compreendiam a provação. Vi, enfim, o materialismo crescer com a miséria e
em vão exclamei:
Abri-me! Eu sou a caridade. Venho a vós com o coração cheio de ternura. Não choreis mais,
eu venho vos consolar. Mas o coração dos infelizes não me escutou, pois suas entranhas tinham
muita fome!
“Então aproximei-me de vós, meus bons amigos, de vós que me escutastes; de vós que sabeis que Cárita é a mendiga para os pobres e vos disse: Abri-me!
“Acabo de vos contar o que vi em minha longa jornada e vos peço, tende para os meus pobres um pensamento, uma palavra, uma suave lembrança, a fim de que à noite, à hora da prece,
eles não adormeçam sem agradecer a Deus, porque vós lhes sorristes de longe. Sabeis que os pobres são a pedra de toque que Deus envia à Terra para experimentar vossos corações. Não os repilais, a fim de que um dia, quando tiverdes transposto o sólio que conduz ao espaço, Deus vos reconheça pela pureza dos vossos corações e vos admita na morada dos eleitos!
CÁRITA”
É com felicidade que nos fazemos intérpretes da boa Cárita e esperamos que ela não tenha
dito em vão: Abri-me! Se ela bate à porta com tanta insistência, é que o inverno, por sua vez, também aí bate.
Esmola
(Emmanuel, psicografia de Chico Xavier, do livro: “Fonte Viva” – cap. 60)
"Dai antes esmola do que tiverdes." Jesus (Lucas, 11:41)
A palavra do Senhor está sempre estruturada em luminosa beleza que não podemos perder de
vista.
No capítulo da esmola, a recomendação do Mestre, dentro da narrativa de Lucas, merece apontamentos especiais.
"Dai antes esmola do que tiverdes."
Dar o que temos é diferente de dar o que detemos, A caridade é sublime em todos os aspectos
sob os quais se nos revele e em circunstância alguma devemos esquecer a abnegação admirável
daqueles que distribuem pão e agasalho, remédio e socorro para o corpo, aprendendo a solidariedade e ensinando-a.
É justo, porém, salientar que a fortuna ou a autoridade são bens que detemos provisoriamente
na marcha comum e que, nos fundamentos substanciais da vida, não nos pertencem.
O Dono de todo o poder e de toda a riqueza no Universo é Deus, nosso Criador e Pai, que empresta recursos aos homens, segundo os méritos ou as necessidades de cada um.
Não olvidemos, assim, as doações de nossa esfera íntima e perguntemos a nós mesmos:
Que temos de nós próprios para dar?
Que espécie de emoção estamos comunicando aos outros?
Que reações provocamos no próximo?
Que distribuímos com os nossos companheiros de luta diária?
Qual é o estoque de nossos sentimentos?
Que tipo de vibrações espalhamos?
Para difundir a bondade, ninguém precisa cultivar riso estridente ou sorrisos baratos, mas, para
não darmos pedras de indiferença aos corações famintos de pão da fraternidade, é indispensável
amealhar em nosso espírito as reservas da boa compreensão, emitindo o tesouro de amizade e
entendimento que o Mestre nos confiou em serviço ao bem de quantos nos rodeiam, perto ou
longe.
É sempre reduzida a caridade que alimenta o estômago, mas que não esquece a ofensa, que
não se dispõe a servir diretamente ou que não acende luz para a ignorância.
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O aviso do Instrutor Divino nas anotações de Lucas significa: - daí esmola de vossa vida íntima,
ajudai por vós mesmos, espalhai alegria e bom ânimo, oportunidade de crescimento e elevação
com os vossos semelhantes, sede irmãos dedicados ao próximo, porque, em verdade, o amor que
se irradia em bênçãos de felicidade e trabalho, paz e confiança, é sempre a dádiva maior de todas.
Fermento espiritual
(Emmanuel, psicografia de Chico Xavier, do livro: “Fonte Viva” – cap. 76)
"Não sabeis que um pouco de fermento leveda a massa toda?" Paulo (I Coríntios, 5:6)
O fermento é uma substância que excita outras substâncias, e nossa vida é sempre um fermento
espiritual com que influenciamos as existências alheias.
Ninguém vive só.
Temos conosco milhares de expressões do pensamento dos outros e milhares de outras pessoas
nos guardam a atuação mental, inevitavelmente.
Os raios de nossa influência entrosam-se com as emissões de quantos nos conhecem direta ou
indiretamente, e pesam na balança do mundo para o bem ou para o mal.
Nossas palavras determinam palavras em quem nos ouve, e, toda vez que não formos sinceros,
é provável que o interlocutor seja igualmente desleal.
Nossos modos e costumes geram modos e costumes da mesma natureza, em torno de nossos
passos, mormente naqueles que se situam em posição inferior à nossa, nos círculos da experiência
e do conhecimento.
Nossas atitudes e atos criam atitudes e atos do mesmo teor, em quantos nos rodeiam, porquanto aquilo que fazemos atinge o domínio da observação alheia, interferindo no centro de elaboração das forças mentais de nossos semelhantes.
O único processo, portanto, de reformar edificando é aceitar as sugestões do bem e praticá-las
intensivamente, por intermédio de nossas ações.
Nas origens de nossas determinações, porém, reside a ideia.
A mente, em razão disso, é a sede de nossa atuação pessoal, onde estivermos.
Pensamento é fermentação espiritual. Em primeiro lugar estabelece atitudes, em segundo gera
hábitos e, depois, governa expressões e palavras, através das quais a individualidade influencia na
vida e no mundo. Regenerado, pois, o pensamento de um homem, o caminho que o conduz ao
Senhor se lhe revela reto e limpo.
Esforço e Oração
(Emmanuel, psicografia de Chico Xavier, do livro: “Caminho, Verdade e
Vida” – cap. 6)
"E, despedida a multidão, subiu ao monte a fim de orar, à parte. E, chegada já a tarde, estava ali
só." - (MATEUS, capítulo 14, versículo 23.)
De vez em quando, surgem grupos religiosos que preconizam o absoluto retiro das lutas humanas para os serviços da oração.
Nesse particular, entretanto, o Mestre é sempre a fonte dos ensinamentos vivos. O trabalho e a
prece são duas características de sua atividade divina.
Jesus nunca se encerrou a distância das criaturas, com o fim de permanecer em contemplação
absoluta dos quadros divinos que lhe iluminavam o coração, mas também cultivou a prece em sua
altura celestial.
Despedida a multidão, terminado o esforço diário, estabelecia a pausa necessária para meditar,
à parte, comungando com o Pai, na oração solitária e sublime.
147
Se alguém permanece na Terra, é com o objetivo de alcançar um ponto mais alto, nas expressões evolutivas, pelo trabalho que foi convocado a fazer. E, pela oração, o homem recebe de Deus
o auxílio indispensável à santificação da tarefa.
Esforço e prece completam-se no todo da atividade espiritual.
A criatura que apenas trabalhasse, sem método e sem descanso, acabaria desesperada, em horrível secura do coração; aquela que apenas se mantivesse genuflexa, estaria ameaçada de sucumbir pela paralisia e ociosidade.
A oração ilumina o trabalho, e a ação é como um livro de luz na vida espiritualizada.
Cuida de teus deveres porque para isso permaneces no mundo, mas nunca te esqueças desse
monte, localizado em teus sentimentos mais nobres, a fim de orares "à parte", recordando o Senhor.
De vez em quando, surgem grupos religiosos que preconizam o absoluto retiro das lutas humanas para os serviços da oração.
Nesse particular, entretanto, o Mestre é sempre a fonte dos ensinamentos vivos. O trabalho e a
prece são duas características de sua atividade divina.
Jesus nunca se encerrou a distância das criaturas, com o fim de permanecer em contemplação
absoluta dos quadros divinos que lhe iluminavam o coração, mas também cultivou a prece em sua
altura celestial.
Despedida a multidão, terminado o esforço diário, estabelecia a pausa necessária para meditar,
à parte, comungando com o Pai, na oração solitária e sublime.
Se alguém permanece na Terra, é com o objetivo de alcançar um ponto mais alto, nas expressões evolutivas, pelo trabalho que foi convocado a fazer. E, pela oração, o homem recebe de Deus
o auxílio indispensável à santificação da tarefa.
Esforço e prece completam-se no todo da atividade espiritual.
A criatura que apenas trabalhasse, sem método e sem descanso, acabaria desesperada, em horrível secura do coração; aquela que apenas se mantivesse genuflexa, estaria ameaçada de sucumbir pela paralisia e ociosidade.
A oração ilumina o trabalho, e a ação é como um livro de luz na vida espiritualizada.
Cuida de teus deveres porque para isso permaneces no mundo, mas nunca te esqueças desse
monte, localizado em teus sentimentos mais nobres, a fim de orares "à parte", recordando o Senhor.
Mocidade
(Emmanuel, psicografia de Chico Xavier, do livro: “Caminho, Verdade e
Vida” – cap. 151)
"Foge também dos desejos da mocidade; e segue a justiça, a fé, o amor e a paz com os que, de
coração puro, invocam o Senhor." - Paulo. (2ª EPÍSTOLA A TIMÓTEO, capítulo 2, versículo 22.)
Quase sempre os que se dirigem à mocidade lhe atribuem tamanhos poderes que os jovens
terminam em franca desorientação, enganados e distraidos. Costuma-se esperar deles a salvaguarda de tudo.
Concordamos com as suas vastas possibilidades, mas não podemos esquecer que essa fase da
existência terrestre é a que apresenta maior número de necessidades no capítulo da direção.
O moço poderá e fará muito se o espírito envelhecido na experiência não o desamparar no
trabalho. Nada de novo conseguirá erigir, caso não se valha dos esforços que lhe precederam as
atividades. Em tudo, dependerá de seus antecessores.
A juventude pode ser comparada a esperançosa saída de um barco para viagem importante. A
infância foi a preparação, a velhice será a chegada ao porto. Todas as fases requisitam as lições
148
dos marinheiros experientes, aprendendo-se a organizar e a terminar a viagem com o êxito desejável.
É indispensável amparar convenientemente a mentalidade juvenil e que ninguém lhe ofereça
perspectivas de domínio ilusório.
Nem sempre os desejos dos mais moços constituem o índice da segurança no futuro.
A mocidade poderá fazer muito, mas que siga, em tudo, "a justiça, a fé, o amor e a paz com os
que, de coração puro, invocam o Senhor".
Que fazemos do Mestre?
(Emmanuel, psicografia de Chico Xavier, do livro: “Vinha de Luz” – cap.
100)
"Que farei então de Jesus, chamado o Cristo?" - Pilatos. (MATEUS, 27:22.)
Nos círculos do Cristianismo, a pergunta de Pilatos reveste-se de singular importância.
Que fazem os homens do Mestre Divino, no campo das lições diárias?
Os ociosos tentam convertê-lo em oráculo que lhes satisfaça as aspirações de menor esforço.
Os vaidosos procuram transformá-lo em galeria de exibição, através da qual façam mostruário
permanente de personalismo inferior.
Os insensatos chamam-no indebitamente à aprovação dos desvarios a que se entregam, a distância do trabalho digno.
Grandes fileiras seguem-lhe os passos, qual a multidão que o acompanhava, no monte, apenas
interessada na multiplicação de pães para o estômago.
Outros se acercam dEle, buscando atormentá-lo, à maneira dos fariseus arguciosos, rogando
"sinais do céu".
Numerosas pessoas visitam-no, imitando o gesto de Jairo, suplicando bênçãos, crendo e descrendo ao mesmo tempo.
Diversos aprendizes ouvem-lhe os ensinamentos, ao modo de Judas, examinando o melhor caminho de estabelecerem a própria dominação.
Vários corações observam-no, com simpatia, mas, na primeira oportunidade, indagam, como a
esposa de Zebedeu, sobre a distribuição dos lugares celestes.
Outros muitos o acompanham, estrada a fora, iguais a inúmeros admiradores de Galiléia, que
lhe estimavam os benefícios e as consolações, detestando-lhe as verdades cristalinas.
Alguns imitam os beneficiários da Judéia, a levantarem mãos-postas no instante das vantagens,
e a fugirem, espavoridos, do sacrifício e do testemunho.
Grande maioria procede à moda de Pilatos que pergunta solenemente quanto ao que fará de
Jesus e acaba crucificando-o, com despreocupação do dever e da responsabilidade.
Poucos imitam Simão Pedro que, após a iluminação no Pentecostes, segue-o sem condições até
à morte.
Raros copiam Paulo de Tarso que se ergue, na estrada do erro, colocando-se a caminho da redenção, através de impedimentos e pedradas, até ao fim da luta.
Não basta fazer do Cristo Jesus o benfeitor que cura e protege. É indispensável transformá-lo
em padrão permanente da vida, por exemplo e modelo de cada dia.
O verbo é criador
(Emmanuel, psicografia de Chico Xavier, do livro: “Pão Vinha de Luz” –
cap. 73)
"Mas o que sai da boca procede do coração, e isso contamina o homem." - Jesus. (MATEUS,
15:18.)
O ensinamento do Mestre, sob o véu da letra, consubstancia profunda advertência.
149
Indispensável cuidar do coração, como fonte emissora do verbo, para que não percamos a harmonia necessária à própria felicidade.
O que sai do coração e da mente, pela boca, é força viva e palpitante, envolvendo a criatura para o bem ou para o mal, conforme a natureza da emissão.
Do íntimo dos tiranos, por esse processo, origina-se o movimento inicial da guerra, movimento
destruidor que torna à fonte em que nasceu, lançando ruína e aniquilamento.
Da alma dos caluniadores, partem os venenos que atormentam espíritos generosos, mas que
voltam a eles mesmos, escurecendo-lhes os horizontes mentais.
Do coração dos maus, dos perversos e dos inconscientes, surgem, através do poder verbalista,
os primórdios das quedas, dos crimes e das injustiças; todavia, tais elementos perturbadores não
se articulam debalde para os próprios autores, porque dia chegará em que colherão os frutos
amargos da atividade infeliz a que deram impulso.
Assim também, a alegria semeada, por intermédio das palavras salutares e construtivas, cresce
e dá os seus resultados.
O auxílio fraterno espalha benefícios infinitos, e o perfume do bem, ainda quando derramado
sobre os ingratos, volta em ondas invisíveis a reconfortar a fronte que o emite.
O ato de bondade é invariável força benéfica, em derredor de quem o mobiliza. Há imponderáveis energias edificantes, em torno daqueles que mantêm viva a chama dos bons pensamentos a
iluminar o caminho alheio, por intermédio da conversação estimulante e sadia.
Os elementos psíquicos que exteriorizamos pela boca são potências atuantes em nosso nome,
fatores ativos que agem sob nossa responsabilidade, em plano próximo ou remoto, de acordo com
as nossas intenções mais secretas.
É imprescindível vigiar a boca, porque o verbo cria, insinua, inclina, modifica, renova ou destrói,
por dilatação viva de nossa personalidade.
Em todos os dias e acontecimentos da vida, recordemos com o Divino Mestre de que a palavra
procede do coração e, por isso mesmo, contamina o homem.
A marcha
(Emmanuel, psicografia de Chico Xavier, do livro: “Pão Nosso” – cap. 20)
"Importa, porém, caminhar hoje, amanhã e no dia seguinte." – Jesus. (Lucas, 13:33.)
Importa seguir sempre, em busca da edificação espiritual definitiva. Indispensável caminhar,
vencendo obstáculos e sombras, transformando todas as dores e dificuldades em degraus de ascensão.
Traçando o seu programa, referia-se Jesus à marcha na direção de Jerusalém, onde o esperava a
derradeira glorificação pelo martírio. Podemos aplicar, porém, o ensinamento às nossas experiências incessantes no roteiro da Jerusalém de nossos testemunhos redentores.
É imprescindível, todavia, esclarecer a característica dessa jornada para a aquisição dos bens
eternos.
Acreditam muitos que caminhar é invadir as situações de evidência no mundo, conquistando
posições de destaque transitório ou trazendo as mais vastas expressões financeiras ao círculo pessoal.
Entretanto, não é isso.
Nesse particular, os chamados "homens de rotina" talvez detenham maiores probabilidades a
seu favor.
A personalidade dominante, em situações efêmeras, tem a marcha inçada de perigos, de responsabilidades complexas, de ameaças atrozes. A sensação de altura aumenta a sensação de queda.
É preciso caminhar sempre, mas a jornada compete ao Espírito eterno, no terreno das conquistas interiores.
150
Muitas vezes, certas criaturas que se presumem nos mais altos pontos da viagem, para a Sabedoria Divina se encontram apenas paralisadas na contemplação de fogos-fátuos.
Que ninguém se engane nas estações de falso repouso.
Importa trabalhar, conhecer-se, iluminar-se e atender ao Cristo, diariamente. Para fixarmos semelhante lição em nós, temos nascido na Terra, partilhando-lhe as lutas, gastando-lhe os corpos e
nela tornaremos a renascer.
Trabalhemos também
(Emmanuel, psicografia de Chico Xavier, do livro: “Pão Nosso” – cap. 33)
“E dizendo: Varões, por que fazeis essas coisas? Nós também somos homens como vós, sujeitos
às mesmas paixões.”- (Atos, 14:15)
O grito de Paulo e Barnabé ainda repercute entre os aprendizes fiéis.
A família cristã muita vez há desejado perpetuar a ilusão dos habitantes de Listra.
Os missionários da Revelação não possuem privilégios ante o espírito de testemunho pessoal
no serviço. As realizações que poderíamos apontar por graça ou prerrogativa especial, nada mais
exprimem senão o profundo esforço deles mesmos, no sentido de aprender e aplicar com Jesus.
O Cristo não fundou com a sua doutrina um sistema de deuses e devotos, separados entre si;
criou vigoroso organismo de transformação espiritual para o bem supremo, destinado a todos os
corações sedentos de luz, amor e verdade.
No Evangelho, vemos Madalena arrastando dolorosos enganos, Paulo perseguindo ideais salvadores, Pedro negando o Divino Amigo, Marcos em luta com as próprias hesitações; entretanto, ainda aí, contemplamos a filha de Magdala, renovada no caminho redentor, o grande perseguidor convertido em arauto da Boa Nova, o discípulo frágil conduzido à glória espiritual e o
companheiro vacilante transformado em evangelista da Humanidade inteira.
O Cristianismo é fonte bendita de restauração da alma para Deus.
O mal de muitos aprendizes procede da idolatria a que se entregam, em derredor dos valorosos expoentes da fé viva, que aceitam no sacrifício a verdadeira fórmula de elevação; imaginamnos em tronos de fantasia e rojam-se-lhes aos pés, sentindo-se confundidos, inaptos e miseráveis, esquecendo que o Pai concede a todos os filhos as energias necessárias à vitória.
Naturalmente, todos devemos amor e respeito aos grandes vultos do caminho cristão; todavia, por isto mesmo, não podemos olvidar que Paulo e Pedro, como tantos outros, saíram das
fraquezas humanas para os dons celestiais e que o Planeta Terreno é uma escola de iluminação,
poder e triunfo, sempre que buscamos entender-lhe a grandiosa missão.
Cristão sem Cristo
(Emmanuel, psicografia de Chico Xavier, do livro: “Livro da Esperança” –
cap. 14)
“Vinde a mim, todos vós que estais aflitos e sobrecarregados que eu vos aliviarei". JESUS (MATEUS, 11:28.)
Reverencia o Divino Mestre, com todas as forças da alma, entretanto, não menosprezes honrálo na pessoa dos semelhantes.
Guarda-Lhe as memórias entre flores de carinho, mas estende os braços aos que clamam por
ELE, entre os espinhos da aflição.
Esculpe-Lhe as reminiscências nas obras-primas da estatuária, sem qualquer intuito de idolatria,
satisfazendo aos ideais de perfeição que a beleza te arranca sonhos de arte, no entanto, socorre,
pensando NELE, aos que passam diante de ti, retalhados pelo cinzel oculto do sofrimento.
Imagina-Lhe o semblante aureolado de Amor, ao fixá-LO nas telas em que se te corporifiquem
os anseios de luz, mas suaviza o infortúnio os que esperam por ELE, nos quadros vivos da angústia
humana.
151
Proclama-Lhe a glória imperecedoura no verbo eloquente, mas deixa que a sinceridade e a
brandura te brilhem na boca, asserenando, em seu nome, os corações atormentados que duvidam
e se perturbam entre as sombras da Terra.
Grava-Lhe os ensinamentos inesquecíveis, movimentando a pena que te configura as luminosas
inspirações, no entanto, assinala as diretrizes dele com a energia renovadora dos teus próprios
exemplos.
Dedica-Lhe os cânticos da fidelidade e louvor que te nascem da gratidão, mas ouve os apelos
dos que jazem detidos nas trevas, suplicando- liberdade e esperança.
Busca-Lhe a presença, no culto da prece, rogando-LHE apoio e consolação, no entanto, ofereceLHE mãos operosas no auxílio aos que varam o escuro labirinto da agonia moral, para os quais essa
ou aquela ninharia de tuas facilidades constitui novo estímulo à paciência.
Através de numerosas reencarnações, temos sido cristãos sem Cristo.
Conquistadores, não nos pelávamos de implorar-LHE patrocínio aos excessos do furto.
Latifundiários cruéis, não nos envergonhávamos de solicitar-lhe maior número de escravos que
nos atendessem ao despotismo, em clamorosos sistemas de servidão.
Piratas, dobrávamos insensatamente os joelhos para agradecer-LHE a presa fácil.
Guerreiros, impetrávamos DELE, em absoluta insanidade, nos inspirasse o melhor modo de
oprimir.
Agora que a Doutrina Espírita no-lo revela por mentor claro e direto da alma, ensinando-nos a
responsabilidade de viver, é imperioso saibamos dignificá-Lo na própria consciência, acima de
quaisquer demonstrações exteriores, procurando refleti-Lo em nós mesmos.
Entretanto, para que isso aconteça, é preciso, antes de tudo, matricular o raciocínio na escola
da caridade, que será sempre a mestra sublime do coração.
Exercício do Bem
(Emmanuel, psicografia de Chico Xavier, do livro: “Livro da Esperança” –
cap. 37)
Comumente inventamos toda a espécie de pretextos para recusar os deveres que nos constrangem ao exercício do Bem.
Amolentados no reconforto e instalados egoisticamente em vantagens pessoais, no imediatismo do mundo, ignoramos que é preciso agir e servir na solidariedade humana; todavia, de rramamos desculpas a rodo, escondendo teimosia e mascarando deserção.
Confessamo-nos incompetentes.
Alegamos cansaço.
Afirmamo-nos sem tempo.
Declaramo-nos enfermos.
Destacamos a necessidade de vigilância na contenção do vicio.
Reclamamos cooperação.
Aqui e ali, empregamos expressões cronificadas que nos justifiquem a fuga, como sejam “muito difícil”, “impossível”, “melhor esperar”, “vamos ver” e ponderamos vagamente quanto aos arrependimentos que nos amarguram o coração e complicam a vida, em face de sentimentos,
ideias, palavras e atos infelizes a que, em outras ocasiões, nos precipitamos de maneira impe nsada.
Na maioria das vezes, para o Bem, exigimos o atendimento a preceitos e cálculos, enquanto
que, para o mal, apenas de raro em raro, imaginamos consequências.
Entretanto, o conhecimento do Bem para que o Bem se realize é de tamanha importância que
o apostolo Tiago afirma no versículo 17 do capitulo 4 de sua carta no Evangelho:
“Todo aquele que sabe fazer o Bem e não o faz comete falta.”
152
E dezenove séculos depois dele, os Instrutores desencarnados que supervisionaram a Obra de
Allan Kardec desenvolveram o ensinamento ainda mais, explicando na Questão 642 de “O Livro
dos Espíritos”:
“Cumpre ao homem fazer o Bem, no limite de suas forças, porquanto responderá pelo mal
que resulte de não haver praticado o Bem.”
O Espiritismo, dessa forma, definindo-se não apenas como sendo religião da Verdade e do
Amor, mas também da Justiça e Responsabilidade, vem esclarecer-nos que responderemos, não
só pelo mal que decorra do nosso comodismo, não praticando o Bem que nos cabe fazer.
Evangelho em ação
(Emmanuel, psicografia de Chico Xavier, do livro: “Doutrina de Luz”)
Meus amigos, muita paz.
Nunca é demais salientar a missão evangélica do Brasil, na sementeira do espiritualismo moderno.
Em outros setores da evolução planetária, eleva-se a inteligência aos cumes da prosperidade
material, determinando realizações científicas e perquirições filosóficas de vasto alcance, co mprometendo, porém, a obra do sentimento santificante.
Em esferas outras, assinalamos a investigação de segredos cósmicos, na qual se transforma o
homem no gênio destruidor da própria grandeza, alinhando canhões na retaguarda de compêndios valiosos e de comovedoras teorias salvacionistas, em todos os ângulos da política e da economia dirigidas.
No Brasil, contudo, ergue-se espiritualmente o ciclópico e sublime santuário do Cristianismo
Redivivo.
Aqui a Doutrina Consoladora dos Espíritos perde as exterioridades fenomênicas para que o
homem desperte à luz da Vida Eterna.
Aqui, o Evangelho em movimento extingue a curiosidade ociosa e destrutiva que se erige em
monstro devorador do tempo, descortinando o campo de serviço pela fraternidade humana, sob
o patrocínio do Divino Mestre.
É por isto que ao espiritista brasileiro muito se pede, esperando-lhe a decisiva atuação no trabalho restaurador do mundo, porquanto na pátria abençoada do Cruzeiro a amplitude da terra
se alia à sublimidade da revelação.
É necessário que em seus dadivosos celeiros de pão e amor se modifiquem as atitudes do
crente renovado em Nosso Senhor Jesus, a fim de que o pensamento das Esferas Superiores se
expanda livre e puro, nos círculos da inteligência encarnada, concretizando a celeste mensagem
de que os novos discípulos são naturalmente portadores.
Não basta, portanto, apreender o contingente de consolações do edifício doutrinário ou receber a hóstia do conforto pessoal no templo sagrado que o Espiritismo Evangélico representa p ara quantos lhe batam às portas acolhedoras.
É imprescindível consagrar nossas melhores energias à extensão da fé vivificante que nos refunde e aperfeiçoa, à frente do futuro.
Semelhante edificação, todavia, não se expressará senão por intermédio de nosso próprio devotamento à causa da libertação humana, transformando-nos pelo esforço e pelo estudo, pelo
trabalho e pela iluminação íntima, em hifens de amor cristão, habilitados à posição de instrumentos do Plano Superior.
O Espiritismo brasileiro congrega extensa caravana de servidores da renovação cultural e sentimental do mundo e complexas responsabilidades lhe revestem a ação com o Cristo.
Estendamos, assim, o serviço evangélico na intimidade da filosofia espiritualista, insculpindo
em mós, antes de tudo, os princípios da doutrina viva e redentora de que nos constituímos pregoeiros.
153
Não cristalizemos, sobretudo, a tarefa que nos cabe à frente das exigências da Terra, refugiando-nos na expectativa inoperante, porque a ruína das religiões sectaristas provém da ociosidade mental em que se mergulham os aprendizes, aguardando favores milagrosos e gratuitos do
Céu, com prejuízo flagrante da religião do dever bem cumprido na solidariedade humana, da
qual depende a execução de qualquer sistema salvacionista das criaturas.
Acordemos, desse modo, as nossas forças profundas, colaborando no nível real de nossas possibilidades dentro da tarefa que nos cabe realizar, individualmente, no imenso concerto de regeneração da vida coletiva.
Enquanto houver um gemido na paisagem em que nos movimentamos, não será lícito cogitar
de felicidade isolada para nós mesmos.
Companheiros existem suspirando por um paraíso fácil, em que sejam asilados sem obrigações, à maneira de trabalhadores preguiçosos e exigentes que centralizam a mente nas noções
do direito sem qualquer preocupação quanto aos imperativos do dever.
Esses, em geral, são aqueles que cuidam de conservar alva rotulagem, na planície das convenções terrenas, muita vez à custa do sofrimento e da dilaceração de almas inúmeras que lhes servem de degraus, na escalada às vantagens de ordem material e perecível, para despertarem,
depois, infortunados e desiludidos, nos braços da realidade amargurosa que a morte descerra,
invariável.
Nós outros, no entanto, não ignoramos que a Nova Revelação nos infunde energias renovadas
ao coração e à consciência, com os impositivos de trabalho e responsabilidade no ministério árduo do aperfeiçoamento e sabemos, agora, que o homem é o decretador de suas próprias dores
e dispensador das bênçãos que o cercam, de vez que a Lei de Justiça e Equilíbrio expressa em
cada um de nós o resultado de nossa sementeira através do tempo.
É indispensável a nossa conversão substancial e efetiva ao Espírito do Senhor, materializandolhe os ensinos e acatando-lhe os desígnios, onde estivermos, para que, na condição de servidores de um país extremamente favorecido, possamos conduzir o estandarte da reabilitação espiritual do mundo que se perde, rico de glórias perecíveis e mendigo de luz e de amor.
Esperando que a paz do Mestre permaneça impressa em nossas vidas, que devem traduzir
mensagens cristalinas e edificantes de seu Evangelho Salvador, terminamos, invocando-vos a
cooperação em favor do mundo melhor.
— Entrelacemos corações em torno da Boa Nova que nos deve presidir às experiências na atividade comum! Enquanto os discípulos distraídos se digladiam, desprezando, insensatos, a bênção das horas, ouçamos a voz do Senhor que nos compele à disciplina no serviço do bem, revelando-se, glorioso e dominante, em seus sacrifícios da cruz, aprendendo, finalmente, em companhia d’Ele que só o Amor é bastante forte para defender a vida, que só o Perdão vence o ódio,
que somente a Fé renasce de todas as cinzas das ilusões mortas e que somente o Sacrifício Individual, em Seu Nome, é o caminho da ressurreição a que fomos chamados.
Unamo-nos, desse modo, não apenas em necessidades e dores para rogar o sustento e o socorro da Misericórdia Divina, mas estejamos integrados na fraternidade legítima, a fim de que
não estejamos recebendo em vão as graças do Céu, convertendo nossas vidas em abençoadas
colunas do templo Espiritual de Jesus na Terra, portadores devotados de sua paz, de sua luz, de
sua confiança e de seu amor.
Realizem outros as longas incursões do raciocínio, através da investigação intelectual, respeitável e digna, no enriquecimento do cérebro do mundo. E aproveitando-lhes o esforço laborioso,
no que possuem de venerável e santo, não nos esqueçamos do Evangelho vivo, em ação. Meus
amigos, muita paz.
154
Onde estiveres
(André Luiz, psicografia de Chico Xavier, do livro: “Confia e Serve”)
Onde estiveres, não percas a oportunidade de semear o bem.
Se a conversa gira em torno de uma pessoa, destaca-lhe as virtudes, recordando que todos ainda nos encontramos muito longe da perfeição.
Se o assunto descamba para comentários maliciosos, à cerca de certos acontecimentos, procura, discretamente, imprimir um novo rumo ao diálogo, sem te julgares superior a quem quer que
seja.
Onde estiveres, não permitas que o mal conte com o teu apoio para se propagar.
Se muitos falam em tom de pessimismo sobre os problemas que afligem a Humanidade, demonstra a tua confiança no futuro, recordando aos interlocutores que nada acontece sem a permissão de Deus.
Se outros se transformam em profetas da descrença, quais se fossem eles mesmo os únicos a se
salvarem do naufrágio dos valores morais em que o homem se debate neste ocaso de milênio,
trabalha com todas as tuas forças na construção de um mundo melhor, porquanto um só exemplo
tem mais poder de persuasão sobre as almas do que um milhão de palavras.
Onde estiveres, não te esqueças de que o bem necessita de ti como instrumento para manifestar-se e não cruzes os braços, como se nada tivesses a ver com o que acontece ao teu redor.
Hábitos infelizes
(André Luiz, psicografia de Chico Xavier, do livro: “Sinal Verde”)
Usar pornografia ou palavrões, ainda que estejam supostamente na moda.
Pespegar tapinhas ou cutucões a quem se dirija a palavra.
Comentar desfavoravelmente a situação de qualquer pessoa.
Estender boatos e entretecer conversações negativas.
Falar aos gritos.
Rir descontroladamente.
Aplicar franqueza impiedosa a pretexto de honorificar a verdade.
Escavar o passado alheio, prejudicando ou ferindo os outros.
Comparar comunidades e pessoas, espalhando pessimismo e desprestígio.
Fugir da limpeza.
Queixar-se, por sistema, a propósito de tudo e de todos.
Ignorar conveniências e direitos alheios.
Fixar intencionalmente defeitos e cicatrizes do próximo.
Irritar-se por bagatelas.
Indagar de situações e ligações, cujo sentido não possamos penetrar.
Desrespeitar as pessoas com perguntas desnecessárias.
Contar piadas suscetíveis de machucar os sentimentos de quem ouve.
Zombar dos circunstantes ou chicotear os ausentes.
Analisar os problemas sexuais seja de quem seja.
Deitar conhecimentos fora de lugar e condição, pelo prazer de exibir cultura e competência.
Desprestigiar compromissos e horários.
Viver sem método.
Agitar-se a todo instante, comprometendo o serviço alheio e dificultando a execução dos deveres próprios.
Contar vantagens, sob a desculpa de ser melhor que os demais.
Gastar mais do que se dispõe.
Aguardar honrarias e privilégios.
155
Não querer sofrer.
Exigir o bem sem trabalho.
Não saber aguentar injúrias ou críticas.
Não procurar dominar-se, explodindo nos menores contratempos.
Desacreditar serviços e instituições.
Fugir de estudar.
Deixar sempre para amanhã a obrigação que se pode cumprir hoje.
Dramatizar doenças e dissabores.
Discutir sem racionar.
Desprezar adversários e endeusar amigos.
Reclamar dos outros aquilo que nós próprios ainda não conseguimos fazer.
Pedir apoio sem dar cooperação.
Condenar os que não possam pensar por nossa cabeça.
Aceitar deveres e largá-los sem consideração nos ombros alheios.
Migalha do amor
(Meimei, psicografia de Chico Xavier, do livro: “Sentinelas da Alma”)
Não menosprezes a migalha de amor que te pode marcar o concurso no serviço do bem.
Estende o coração através dos braços e auxilia sempre.
Quem definirá, entre os homens, toda a alegria da xícara de leite nos lábios da criancinha doente ou da gota de remédio na boca atormentada do enfermo? Quem dirá o preço de uma oração
fervorosa, erguida ao Céu, em favor do necessitado? Quem medirá o brilho oculto da caridade que
socorre os sofredores e desvalidos?
Recorda a importância do pano usado para os que choram de frio, da refeição desaproveitada
para o companheiro subnutrido, do vintém a transformar-se em mensagem de reconforto, do minuto de conversação consoladora que converte o pessimismo em esperança, e auxilia quanto possas.
Lembra-te que Jesus renovou a Terra, utilizando diminutas migalhas de boa vontade e cooperação... Dos recursos singelos da Manjedoura faz o mais belo poema de humildade, de cinco pães e
dois peixes retira o alimento para milhares de criaturas, em velhos barcos emprestados erige a tribuna das sublimes revelações do Céu... Para ilustrar seus preciosos ensinamentos, detém-se na
beleza dos lírios do campo, salienta o valor da candeia singela, comenta a riqueza de um grão de
mostarda e recorre ao merecimento de uma dracma perdida.
Não olvides que teu coração é esperado por bênção viva, na construção da felicidade humana e,
empenhando-lhe, agora, a tua migalha de carinho, recolhê-la-ás, amanhã, em forma de alegria
eterna no Reino do Eterno Amor.
Campo afetivo
(Meimei, psicografia de Chico Xavier – do livro: Deus Aguarda)
Usa a benevolência para com todos, mas especialmente para com os entes amados, quando não possam cumprir os encargos que assumem.
Esse amigo resistiu, por muito tempo, a certo tipo de tentação, no entanto, sem forças para guardar os avisos da consciência, entrou em longo labirinto de remorsos do qual não sabe como
sair.
Essa companheira rogou amparo e compreensão, centenas de vezes, contudo, sem achar
segurança no chão que pisava, resvalou para atitudes estranhas nas quais parece enlouquecer.
156
Outro quis desfrutar um momento de felicidade, através da fuga aos próprios compromissos, entretanto, viu-se preso numa rede de enganos lamentáveis, induzindo almas queridas à rebeldia e ao sofrimento.
Outro, ainda, a pretexto de repouso e entretenimento, esbarrou em vasto despenhadeiro
de arrependimento e solidão.
Ante os seres amados, envolvidos em acidentes da alma, silencia, abençoa-os e segue em
teu próprio caminho.
Ama-os, quais se mostram, e prossegue estrada adiante, na certeza de que tanto eles
quanto nós, continuamos em plena vida, apoiados no amor e na sabedoria de Deus.
Aula de compaixão
(Meimei, psicografia de Chico Xavier – do livro: Deus Aguarda)
E o mentor, finalizando a aula valiosa, falou com simplicidade
- Para auxiliar com segurança nas trilhas humanas, é necessário que a compaixão se nos faca base em qualquer atitude.
Nenhuma exasperação conduz a benevolência.
Qualquer apontamento destrutivo é agente perturbador no campo das boas obras.
Entreguemo-nos a sementeira do amor, sem aguardar qualquer tributo de gratidão.
Os espíritos reencarnados trazem por si pesada carga de tribulações, para que nos seja licito atormentá-los com admoestações e censuras.
Quase sempre, todos eles sofrem e choram ...
Esse apresenta alto nível de vigor, no entanto, carrega as desvantagens da precipitação,
aquele atingiu a segurança econômica, mas transporta enfermidade oculta a frenar-lhe os movimentos, outro acumulou enorme fortuna, contudo,lastima o desequilíbrio dos descendentes, outros muitos que ontem se mostravam despreocupados, hoje lamentam a perda de criaturas inesquecíveis, esse conquistou a fama, entretanto, se vê relegado a solidão, aquele que obteve influencia e poder sobre milhares de pessoas, todavia, precisa apoiar-se em algum coração
amigo, a fim de não cair sob o peso das próprias obrigações, outro é sábio, mas necessita escorarse em alguém, de modo a não sucumbir ante as exigências da vida comunitária, e outros muitos se
destacam em campeonatos de beleza e inteligência, no entanto, acalentam consigo os impulsos
negativos que os aproximam da doença e da morte.
Misericórdia para todos é o que nos pede o Senhor da vida.
O instrutor dera por terminada as elucidações, mas um companheiro abeirou se dele e
perguntou:
- Professor, existira, porventura, algum processo pelo qual possamos instalar facilmente a
compaixão por dentro de nós?
O interpelado sorriu com bondade e rematou
- Amigo, a compaixão é fruto do discernimento. Quantos de nos, que nos achamos neste
recinto, já atravessamos as estradas humanas, e, por isso, conhecemos quanto custa trabalhar pelo bem nos constrangimentos e dificuldades do plano físico. Em razão disso, recordemos a lição de
Jesus aquele de nos que houver passado pelo caminho dos homens, com a grandeza dos anjos, atire a primeira pedra.
Deus aguarda
(Meimei, psicografia de Chico Xavier – do livro: Deus Aguarda)
Nunca se creias inútil.
O caminho para a Vida Superior começa na prestação de serviço aos outros.
E as Leis de Deus não te conservaram onde te encontras, se ai não tivessem necessidade de ti.
157
Reflete e reconheceras que todos os seres, ao redor de teus passos, algo espera, que os
mantenha e auxilie.
Erguendo-te, cada manhã, observa e perceberás que todos aqueles que se te associam ao
grupo doméstico, aguardam o teu sorriso ou a tua frase encorajadora, nos quais se nutram de
equilíbrio para mais um dia de trabalho e de esperança.
Nas tarefas em que vejas, os companheiros te rogam cooperação.
Na rua, os transeuntes te pedem paciência em que se te expressem o entendimento e a bondade.
E alista das requisições prossegue aumentando ...
O Irmão da experiência comunitária te reclama simpatia, os necessitados aguardam, pelo
socorro que se te faça possível; o animal te esmola proteção, a planta te requisita respeito, a fonte
espera lhe faças a preservação e a defesa, o ambiente em que vives conta contigo, na execução
dos próprios deveres, a fim de que a paz felicite a vida de todos ... E se estiveres de pensamento
acordado, ante os princípios do Bem Eterno, compreenderas, em todas as situações e em todos
os lugares, que Deus necessite de tua colaboração e espera por ti.
Colaboração
(Meimei, psicografia de Chico Xavier – do livro: Deus Aguarda)
Ninguém realiza algo sem o apoio de alguém.
Pensa nisso, a fim de que saibas angariar o concurso preciso na execução da tarefa a que te
consagras.
Colaboração é reciprocidade.
A árvore protege a fonte e a fonte lhe alimenta as raízes. O solo acolhe a semente e a semente produz valores que o prestigiam.
Auxilia aos teus companheiros no cotidiano para que te possam auxiliar.
Criatura alguma concretiza esse ou aquele ideal sem aquelas outras que se lhes façam
recursos de expressão.
E entendendo que todos nos – os espíritos interligados no aperfeiçoamento na terra – somos ainda seres em crescimento, não exijas cooperadores perfeitos para as realizações que demandas.
Sempre encontraras companheiros no mundo que te apresentem falhas no mecanismo
da ação.
Esse possui raciocínio rápido, mas não mostra apuro de sentimento. Aquele revela coração
generoso, entretanto, ainda não percebe a necessidade de estudo.
Outro comunica otimismo e entusiasmo. Outro comunica otimismo e entusiasmo, contudo parece tardar no culto a disciplina. Outro ainda é um modelo de honestidade, no entanto, não
compreende, por agora, o impositivo da cortesia para a rentabilidade do serviço em andamento.
Ante a nossa própria condição de obreiros incompletos, aproveita as qualidades de cada
qual e usa a paciência diante das imperfeições de cada um, observando que todos nos achamos
em processo de evolução, à frente do futuro.
Recorda que a pedra é capaz de ferir, mas, se colocada em lugar certo da construção,
é agente de solidez no edifício que se levanta. A força elétrica é suscetível de gerar incêndios destruidores, no entanto, se devidamente controlada, é manancial de energia e de luz.
Ampara a todos os irmãos que te cruzem o caminho, mas ampara especialmente aos que
te amparam.
Nem Deus quis estar a sós na sustentação do Universo, pois chamou as suas próprias criaturas a participarem com Ele das Obras da Criação. E o próprio Jesus, na formação do
cristianismo que se agiganta com os séculos, precisou de doze companheiros e entre os doze estavam três que mais profundamente lhe refletiam o coração.
158
O segredo da juventude
(Humberto de Campos, psicografia de Chico Xavier, do livro: “Contos
Desta e Doutra Vida” – cap. 44)
Formoso Anjo da Justiça, na Balança do Tempo, recebia pequena multidão de Espíritos recémdesencarnados na Terra. Eram todos eles pessoas maduras, em torno das quais o Ministro da Lei
deveria emitir um juízo rápido, como introdução a mais ampla análise, assim como um magistrado
terreno que, na fase inicial de um processo, pode formular um despacho saneador.
Velhos gotosos e dementados, abatidos e caquéticos, demonstrando evidentes sinais de angústia, congregavam-se ali, guardando os característicos das enfermidades que lhes haviam marcado
o corpo. Muitos choravam à feição de crianças medrosas, outros comprimiam o coração com a
destra enrijecida, ao passo que outros muitos se erguiam com imensa dificuldade, arrastando-se,
trêmulos… As sensações da carne ferreteavam-lhes o íntimo, detendo-lhes o ser nas amargas recordações que traziam do mundo.
Conduzidos a exame, sob a custódia de benfeitores abnegados, acusavam essa ou aquela diferença para melhor, recebendo uma folha explicativa para o início das novas tarefas que os aguardavam no plano Espiritual. Agora, era um psicopata recobrando a lucidez; depois, era um hemiplégico retomando o equilíbrio… Entretanto, os traços da velhice corpórea perseveravam quase intactos, decerto, longo tempo na vida nova para serem devidamente desintegrados.
Em derradeiro lugar, no entanto, aproximou-se do Anjo pobre velhinha, humilde e triste. Os cabelos de prata e as rugas que lhe desfiguravam o rosto denunciavam-lhe aproximadamente oitenta anos de luta física. Trazida, contudo, à grande balança, oh! divina surpresa!… De anotação em
anotação, fazia-se mais jovem, até que, abençoada pelo sorriso do Aferidor Angélico, a estranha
anciã converteu-se em bela menina e moça, nos vinte anos primaveris. Toda a assembleia vibrou
de felicidade, ante o quadro inesquecível. Intrigado, abeirei-me de antigo orientador e perguntei
pela razão da inesperada metamorfose. O esclarecido mentor pediu a ficha da celestial criatura,
para socorro de minha ignorância, e, na folha branca e leve, pude ler, admirado:
Nome – Leocádia Silva.
Profissão – Educadora.
Existência Terrestre – 701.280 horas. 80,05 anos
Aplicação das Horas:
Serviço de autoassistência para a justa garantia no campo da evolução:
1 – Mocidade Laboriosa…………………………………..175.200 – 20 anos
2 – Magistério digno…………………….…………………. 65.700 – 7,5 anos
3 – Alimentação e higiene…………………..……………. 43.800 – 5 anos
4 – Estudo proveitoso e atividades religiosas………..41.900 – 4,8 anos
5 – Repouso necessário ao refazimento………………….9.500 – 12,5 anos
Serviço extra, completamente gratuito, em favor do próximo:
1 – Devotamento aos necessitados………………………….85.100 – 9,7 anos
2 – Movimentação fraterna em missões de auxílio…… 32.840 – 3,7 anos
3 – Noites de vigília em solidariedade aos enfermos ….33.000 – 3,8 anos
4 – Conversação sadia no amparo moral genuíno………54.750 – 6,25 anos
5 – Variadas tarefas de caridade moral elucidando e confortando moralmente próximo…9.490 –
6,8 anos
Total – Horas………………….701.280 – 80,05 anos
- Compreendeu? – disse-me o orientador, sorridente.
E, ante o meu insopitável assombro, concluiu:
159
- Quem dá o seu próprio tempo, a benefício dos outros, não conta tempo na própria, idade no
sentido de envelhecer. Leocádia cedeu todas as suas horas disponíveis no socorro aos irmãos do
mundo. Os dias não lhe pesam, assim, sobre os ombros da alma…
Meu interlocutor afastou-se, lépido, para felicitar a heroína, e, contemplando, enlevado, o semblante radioso do Mensageiro Sublime que presidia à Grande reunião, compreendi o motivo pelo
qual os Anjos do Amor Divino revelam em si a suprema beleza da juventude eterna.
160
Oração do jovem
(Néio Lúcio, psicografia de Chico Xavier, do livro: “Alvorada Cristã” – cap.
50)
Mestre Amado!
Aceita-nos o coração em teu serviço, e, Senhor, não nos deixes sem a tua lição.
Ensina-nos a obedecer na extensão do bem, para que saibamos administrar para a glória da
vida.
Corrige-nos o entusiasmo, a fim de que a paixão inferior não nos destrua.
Modera-nos a alegria, afastando-nos do prazer vicioso.
Retifica-nos o descanso, para que a ociosidade não nos domine.
Auxilia-nos a gastar o Tesouro das Horas, distanciando-nos das trevas do Dia Perdido.
Inspira-nos a coragem, sustando-nos a queda nos perigos da precipitação.
Orienta-nos a defesa do Bem, do Direito e da justiça, a fim de que não nos convertamos em
simples joguetes da maldade e da indisciplina.
Dirige-nos os impulsos, para que a nossa força não seja mobilizada para o mal.
Ilumina-nos o entendimento, de modo a nos curvarmos, felizes ante as sugestões da Experiência e da sabedoria, a fim de que a humildade nos preserve contra as sombras do orgulho.
Senhor Jesus, nosso Valoroso Mestre, ajuda-nos a estar contigo, tanto quanto estás conosco!
Assim seja.
Juventude e Jesus
(Ivan de Albuquerque, psicografia de Raul Teixeira, do livro: “Cânticos da
juventude”)
Amigo,
Tu que estás palmilhando as rotas da juventude com que o Criador homenageia-te as horas,
pensa no bem que podes operar sob o olhar sublime de Jesus, o Mestre e o Amor de nossas vidas.
Detém-te, um pouco, ante os mais multiplicados episódios por Ele vividos, e forja teu caráter de
tal modo que possas segui-Lo, sentindo-O mais próximo de ti e sentindo-te, por outro lado, mais
junto do Seu coração.
É na vida do Celeste Amigo, Juventude, que identificamos a Tolerância sem conivência, a Humildade sem subserviência, a Energia sem violência, a Verdade sem presunção, a Orientação sem
empáfia, o Amor total sem pieguismo...
Observa, meu jovem companheiro, o que tanto há faltado nas relações humanas, e medita nas
razões de tanto sofrimento, de tantos dramas: decisão firme para o esforço do autoaprimoramento; fidelidade aos compromissos com Deus; coragem de viver a verdade conhecida; disposição de
testemunhar o amor ao próximo, sem quaisquer temores.
Sendo assim, não negligencies perante teus deveres. Não te retardes. Atende, por amor.
Quando, Juventude, puderes participar da vida com os valores que o Cristo exemplificou, sobejamente, terás alcançado os mais felizes objetivos com relação aos propósitos dos teus dias moços, no mundo.
Ele, pulcro, esteve entre os jovens, concitando-os ao Reino dos Céus; caminhou entre os adúlteros de todos os tipos, chamando-os à vida digna; falou aos doutores, convidando-os à real humildade; trabalhou, suportando o mau humor e a antipatia de tantos e deixou a Terra sob o abandono de quase todos, a todos envolvendo e conclamando à vitória sobre si mesmos, sobre o mundo
moral deficiente e equivocado.
161
Juventude e Jesus!
Quando estas duas forças estiverem integradas à daqueles que tudo desejam realizar, com audácia nem sempre refletida, mas honesta, com a Daquele que tudo podia operar e limitou-se a
cumprir a vontade do Pai, que O enviara, então, teremos conquistado, com base nos Códigos Supremos da vida da alma, o eloquente progresso, desde há tanto anelado. A Juventude, vitalizada
pela mensagem de Jesus, será imbatível e incorruptível força progressista, dirigindo para a perene
ventura todos quantos tiverem aproveitado os tempos juvenis para a sementeira, nos seus próprios rumos, das luzes do trabalho e do amor, como Ele ensinou.
Juventude e Gentileza
(Ivan de Albuquerque, psicografia de Raul Teixeira, do livro: “Cânticos da
Juventude”)
Por certo, não desconheces as consequências dessa onda de egoísmo que recrudesce no seio
social, toda vez em que os valores educativos não se fazem prezados.
A bem da verdade, bem poucas têm sido as pessoas ocupadas em trabalhar essa dimensão da
personalidade, qual seja a do altruísmo, tornando-se úteis à dinâmica da vida planetária.
Encharcados de personalismo, os indivíduos falam somente de si, disputam nonadas para si, recorrem a favores diversos apenas para si, sufocando-se no esquife do egoísmo, mais e mais.
Nas atividades cotidianas, esses egoístas aproveitam-se de todas as chances possíveis para driblarem os outros, tendo a sensação de serem mais astutos, mais vivos, mais sabidos, dando vazão
ao intimo doente.
Se devem enfrentar as filas variadas, desse ou daquele tipo, para serem atendidos a seu tempo,
tratam de descobrir pessoas conhecidas, localizadas à frente, que lhes facilite passar para posições
privilegiadas, quando não invadem abusivamente, elas mesmas, o espaço dos que aguardam dignamente. Creem-se mais apressados ou com mais compromissos que os demais.
Entretanto, para o egoísta, tanto faz seja a fila bancária, ou dos cinemas e outras diversões, o
que deseja é passar à frente dos outros, porque lhe impacienta a espera ou por vício, sempre alimentado.
Os males do caráter, desenvolvidos e alicerçados no egoísmo, não se limitam.
Nas conduções populares, o acomodado egoísta vê pessoas idosas, mulheres gestantes, criaturas visivelmente enfermas, viajando de pé, sob ingentes sacrifícios, sem qualquer sensibilização,
mantendo-se assentados, indiferentes.
Em outros momentos, vemos crianças e moços assentados, ao lado de seus pais, que acompanham a tudo, fazendo de conta que não estão vendo ou entendendo o que se passa.
A disputa generalizada por entrar ou sair primeiro dos lugares de muita gente, quantos acidentes há provocado? E os desentendimentos e guerras mentais que se somam, incontáveis?
A marca do egoísmo, assim, mostra-se em toda parte, entre as mais diversas personalidades.
Avaliando esse quadro que se forja nos grupos sociais, percebe, meu jovem companheiro, quantas ocasiões de conquista salutar para a alma têm sido postergadas.
Verifica, desse modo, como tens agido, em relação à gentileza. Se constatares que não tens estado sintonizado com ela, esforça-te para alcançá-la.
Se te encontrares em algum transporte coletivo, valendo-te do vigor da tua mocidade, não esperes que te solicitem. Oferece o teu assento para quem dele precise, demonstrando os valores
que te lucilam no íntimo. E é tão pouca coisa.
Evita que tombe uma gestante ou um velho; impede que se fira uma pessoa obesa ou doente, e
sintas as alegrias de ser útil.
162
Diante das filas, enfrenta-as. Tu podes fazê-lo. Se tiveres pressa, chega mais cedo. Não sobrecarregues os amigos que encontres com teus pedidos, embora possas pedir a alguém que te guarde o
lugar e, quando chegues, esse alguém, então, sairá.
A virtude costuma parecer tolice, quando começamos a exercitá-la. Depois, transforma-se em
luz tão ampla que não mais a dispensamos.
Ao atravessar a via pública, vê se por perto não haverá um velhinho, um cego, alguém a quem
possas ajudar na travessia. Far-te-á imenso bem essa atitude.
Coopera com alguém que sobe ou desce uma escada com fardos e bolsas pesados. Dá-lhe pequena ajuda e recolhe, nas vibrações agradecidas, verbalizadas ou não, as alegrias de servir.
Abre uma porta para esse ou aquele, dando-lhe passagem, gentilmente, seja em tua casa, seja
num elevador, seja onde for, e sintas a euforia de ser atencioso.
À principio, terás que fazer esforços; com o tempo a gentileza será parte de ti.
Juventude, se pretendes influir no mundo para modificar-lhe as bases de vida social, que sabes
tão complexa e perturbadora, começa com teu empenho, com a tua contribuição.
Na gentileza exemplificada por ti, verás que a postura egocêntrica vai sendo transformada, e
que, ao te sentires mais leve e feliz, não te preocuparás com a gratidão ou não dos beneficiários
da tua solicitude, porque, para o teu coração, valerá a cooperação que prestas à Vida, a cooperação com a Obra de Deus.
Segue, então, adiante. Contagia os teus amigos e afetos com a tua atitude gentil, ajudando a extinguir o egoísmo do mundo.
Por certo, não desconheces as consequências dessa onda de egoísmo que recrudesce no seio
social, toda vez em que os valores educativos não se fazem prezados.
A bem da verdade, bem poucas têm sido as pessoas ocupadas em trabalhar essa dimensão da
personalidade, qual seja a do altruísmo, tornando-se úteis à dinâmica da vida planetária.
Encharcados de personalismo, os indivíduos falam somente de si, disputam nonadas para si, recorrem a favores diversos apenas para si, sufocando-se no esquife do egoísmo, mais e mais.
Nas atividades cotidianas, esses egoístas aproveitam-se de todas as chances possíveis para driblarem os outros, tendo a sensação de serem mais astutos, mais vivos, mais sabidos, dando vazão
ao intimo doente.
Se devem enfrentar as filas variadas, desse ou daquele tipo, para serem atendidos a seu tempo,
tratam de descobrir pessoas conhecidas, localizadas à frente, que lhes facilite passar para posições
privilegiadas, quando não invadem abusivamente, elas mesmas, o espaço dos que aguardam dignamente. Crêem-se mais apressados ou com mais compromissos que os demais.
Entretanto, para o egoísta, tanto faz seja a fila bancária, ou dos cinemas e outras diversões, o
que deseja é passar à frente dos outros, porque lhe impacienta a espera ou por vício, sempre alimentado.
Os males do caráter, desenvolvidos e alicerçados no egoísmo, não se limitam.
Nas conduções populares, o acomodado egoísta vê pessoas idosas, mulheres gestantes, criaturas visivelmente enfermas, viajando de pé, sob ingentes sacrifícios, sem qualquer sensibilização,
mantendo-se assentados, indiferentes.
Em outros momentos, vemos crianças e moços assentados, ao lado de seus pais, que acompanham a tudo, fazendo de conta que não estão vendo ou entendendo o que se passa.
A disputa generalizada por entrar ou sair primeiro dos lugares de muita gente, quantos acidentes há provocado? E os desentendimentos e guerras mentais que se somam, incontáveis?
A marca do egoísmo, assim, mostra-se em toda parte, entre as mais diversas personalidades.
Avaliando esse quadro que se forja nos grupos sociais, percebe, meu jovem companheiro, quantas ocasiões de conquista salutar para a alma têm sido postergadas.
Verifica, desse modo, como tens agido, em relação à gentileza. Se constatares que não tens estado sintonizado com ela, esforça-te para alcançá-la.
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Se te encontrares em algum transporte coletivo, valendo-te do vigor da tua mocidade, não esperes que te solicitem. Oferece o teu assento para quem dele precise, demonstrando os valores
que te lucilam no íntimo. E é tão pouca coisa.
Evita que tombe uma gestante ou um velho; impede que se fira uma pessoa obesa ou doente, e
sintas as alegrias de ser útil.
Diante das filas, enfrenta-as. Tu podes fazê-lo. Se tiveres pressa, chega mais cedo. Não sobrecarregues os amigos que encontres com teus pedidos, embora possas pedir a alguém que te guarde o
lugar e, quando chegues, esse alguém, então, sairá.
A virtude costuma parecer tolice, quando começamos a exercitá-la. Depois, transforma-se em
luz tão ampla que não mais a dispensamos.
Ao atravessar a via pública, vê se por perto não haverá um velhinho, um cego, alguém a quem
possas ajudar na travessia. Far-te-á imenso bem essa atitude.
Coopera com alguém que sobe ou desce uma escada com fardos e bolsas pesados. Dá-lhe pequena ajuda e recolhe, nas vibrações agradecidas, verbalizadas ou não, as alegrias de servir.
Abre uma porta para esse ou aquele, dando-lhe passagem, gentilmente, seja em tua casa, seja
num elevador, seja onde for, e sintas a euforia de ser atencioso.
À principio, terás que fazer esforços; com o tempo a gentileza será parte de ti.
Juventude, se pretendes influir no mundo para modificar-lhe as bases de vida social, que sabes
tão complexa e perturbadora, começa com teu empenho, com a tua contribuição.
Na gentileza exemplificada por ti, verás que a postura egocêntrica vai sendo transformada, e
que, ao te sentires mais leve e feliz, não te preocuparás com a gratidão ou não dos beneficiários
da tua solicitude, porque, para o teu coração, valerá a cooperação que prestas à Vida, a cooperação com a Obra de Deus.
Segue, então, adiante. Contagia os teus amigos e afetos com a tua atitude gentil, ajudando a extinguir o egoísmo do mundo.
Ivan de Albuquerque, psicografia de Raul Teixeira – do livro: “Cânticos da Juventude”.
Sublime Ação
(Joanna de Angelis, in “Libertação pelo Amor” – Cap 17)
Sublime ação é sempre a da caridade.
Toda e qualquer atividade que promove e dignifica a criatura humana é valiosa contribuição em favor do progresso da sociedade.
É inerente ao homem e à mulher a generosidade , esse sentimento de prodigalidade, em
face da sua procedência espiritual. Mesmo quando se encontra em fase inicial do processo evolutivo, predominando-lhe os instintos agressivos, o despertar dos sentimentos sob o comando do
amor induz a essa faculdade.
Inicialmente, apresenta-se como impulso desconexo, sem lucidez nem profundidade do
seu significado, começando a desabrochar e expressar-se de maneira diferente, vitalizando todos
os gestos edificantes.
Ei-la – a generosidade – em forma de humanitarismo, no qual a presença solidária favorece
a harmonia, o bem-estar, contribuindo para tornar melhor a vida daqueles que lhe são beneficiários.
Noutra circunstância, surge como atitude compassiva, evitando julgar com impiedade
aquele que se envolve em atitudes infelizes, desculpando a ignorância que nele jaz ou o atraso que
o conduz, sem permitir-lhe uma existência digna.
Alonga-se em forma de altruísmo, quando adiciona a renúncia e o interesse pela recuperação ou promoção do seu próximo, mantendo-se feliz pela oportunidade de auxiliar.
164
Engrandece-se a partir do momento em que descobre a emoção superior que se deriva da
ação de socorre a necessidade do rebelde ou atormentado, passando a educá-lo e a dignifica-lo,
embora ele estorcegue nos cipoais da loucura a que se entregou.
É o alento que sustenta o ideal de edificar o bem com desinteresse pessoal, quando medram o egoísmo e a insensatez.
Ao produzir a abnegação e o devotamento que a sensibilizam, emoldurando os seus atos
com ternura e amor avança triunfalmente pelo caminho de serviço e transforma-se na virtude por
excelência – a caridade.
A caridade é como uma peregrina luz que necessita de combustível, a fim de que continue
brilhando, derramando claridade em derredor.
A sua chama crepita, esparzindo calor que altera o clima gélido da indiferença e proporciona reconforto, graças ao qual a existência humana volta a adquirir coragem e valor.
A fim de que alcance o objetivo a que se destina, não pode, porém, prescindir da fé, especialmente a de natureza religiosa, pelo conteúdo de espiritualidade de que se reveste.
Essa visão espiritual que dá sentido à vida, torna-a grandiosa em face da sua perenidade.
Enquanto se observa a transitoriedade, as modificações que experimentam os seres na sua
forma física, material, a convicção a respeito do prosseguimento da vida após o túmulo, proporciona uma visão profunda e um significado transcendente para a ação caridosa.
Na árvore da existência humana, podemos considerar a fé como a flor exuberante de onde
se origina o fruto nutriente da caridade.
Toda frutescência é antecedida pelo enflorescimento.
A seiva dessa árvore, no entanto, procede do Pai Criador, que lhe dá origem e lhe preserva
a continuidade, sustentando-a de acordo com a qualidade da produção.
A caridade manifesta-se de forma natural, sem mesclas de ganho imediato ou remoto, não
possuindo qualquer expressão egoística, mantida pelo amor que se distende generosos como dádiva de Deus.
É semelhante a perfume carregado por brisa abençoada e converte-se em alimento para a
alma.
Sem a presença da caridade no mundo, as conquistas da inteligência e da cultura não bastariam para arrancar o ser humano do caos de si mesmo.
A caridade vela silenciosa e enriquecedora pelas vidas, apresentando-se quando tudo aparentemente se apresenta sem esperança, numa terrível conspiração contra a dignidade e a alegria.
Ela ergue o tombado e caminha sustentando o trôpego.
Nunca se cansa, nem exige nada.
É jovial e gentil, não se jactando nem se impondo em momento algum, mantendo-se em
clima de harmoniosa convivência com os fatores gerados pelo Bem.
Enquanto viceje no mundo, pode-se ter certeza de que o Pai Generoso continua amparando os Seus filhos.
Conforme sucede com as demais denominadas virtudes, medra espontaneamente, depois
instala-se no ser, acompanhando-o durante todo o seu processo evolutivo.
Apesar disso, para que se possa estabelecer como parte integrante da existência, hábito
superior de conduta, torna-se necessário exercitá-la, iniciando o ministério com pequenos gestos
de bondade e de afabilidade, de compaixão e de misericórdia para com o próximo, até insculpir-se
como essencial à existência.
Tem como objetivo não apenas o ser humano, mas abrange todas as expressões vivas que
existem, bem como a Natureza em si mesma, aos quais infunde ânimo e oferece apoio.
Em relação, porém, ao próximo, tem finalidade precípua, porque exaltada por Jesus na Sua
incomparável parábola do bom samaritano, quando tudo era adverso ao caído e não praticado pelo estrangeiro, que se torna o anjo dotado de amor e de bondade, que o arranca do abandono,
165
atende-o e resguarda-o de todo e qualquer perigo, com esforço e sacrifício pessoal, sem pensar
em si mesmo, embora sabendo-se detestado.
A caridade jamais se detém privilegiando uns em detrimento de outros, elegendo aqueles
que compartilham da mesma grei ou do mesmo grupo, antes alcançando os opositores, os adversários, aos quais trata com dignidade e sem diferença alguma em relação ao partido a que pertencem, aos interesses que cultivam, às crenças que professam.
Por isso, é ação sublime.
A sublime ação da caridade altera o comportamento do beneficiado, tornando-se-lhe companheira afável, permanecendo como vitalidade do amor que sempre nutre.
As ações de benemerência e de solidariedade revelam o nível de progresso moral do indivíduo e de um povo, avançando para a elevada expressão de caridade conforme Jesus a pregou e
a viveu em todos os momentos, antes e depois da Sua morte.
Sublime Ação
(Joanna de Angelis, in “Diretrizes para o Êxito” – Cap 3)
Pessoas há, imensamente generosas, que são tocadas de compaixão ante a necessidade do
seu próximo e distendem-lhe mãos amigas de socorro e de amizade.
Repartem o pão, mesmo quando escasso, distribuem calor fraterno aos enregelados no
abandono, brindam palavras gentis aos esfaimados de orientação.
Corteses e joviais, possuem verdadeiras fortunas de generosidade, desempenhando o seu
papel de cidadania em alto clima de solidariedade.
Enquanto se encontram em posição de relevo, não se ensoberbecem e procuram auxiliar
todos aqueles que lhes buscam apoio e necessitam do crescimento espiritual.
Esses homens e mulheres bem-intencionados contribuem em favor da sociedade que dignificam, mediante os bons exemplos de honradez, fomentando o progresso do grupo em que se encontram com os olhos postos no futuro da Humanidade.
Não importa se abraçam ou não qualquer religião.
Agem espontaneamente em decorrência dos sentimentos bons que lhes exornam o caráter.
Modelos sociais que se fizeram, conseguem movimentar-se em círculo de amizades prósperas, homenageados e em destaque onde se apresentam.
Tornam-se estímulos para outros, que ainda não conseguiram superar as barreiras do egoísmo nem os estigmas da indiferença ante a dor que ceifa esperanças a sua volta.
Representam biótipos que um dia se multiplicarão na Terra, tornando-se comuns, enquanto hoje rareiam.
Descobriram a arte de servir por meio da qual avançam intimoratos no rumo da própria felicidade.
Aprendendo a abrir o coração, ampliam os gestos de amor mediante as mãos solidárias ao
sofrimento das demais criaturas.
Não cobram recompensa pelo que fazem, não exigem retribuição afetiva. O que praticam,
realizam-no, porque lhes fazem bem.
A verdadeira caridade, porém, conforme a entendia Jesus, é mais profunda, sendo benevolência para com todos, indulgência para as faltas alheias e perdão das ofensas.
A verdadeira caridade expressa-se mediante ações morais, relevantes e graves.
Sem dúvida, a doação de alimentos, de roupas e de medicamentos, de moedas que resgatam dívidas, é valioso contributo para aquele que o recebe, evitando-lhe inomináveis padecimentos, situações desesperadoras e mesmo alucinações que terminam em desaires e crimes variados.
Toda e qualquer oferta, portanto, distendida a quem sofre, é portadora de contributo significativo em nome do Bem.
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Não constituindo sacrifício para o doador, é benção para o atendido, auxiliando o coração
generoso a habituar-se no exercício da solidariedade e no cumprimento dos deveres fraternos que
a vida impõe.
A ação sublime, no entanto, é mais escassa em razão dos sacrifícios de que se reveste.
A benevolência para com todos representa um sentimento de profundo amor pelo seu próximo, de compreensão pelos seus atos, por cuja manifestação identifica as suas necessidades evolutivas e não lhe cria embaraços na marcha.
A indulgência para as faltas alheias define-lhe o estágio moral avançado, após vencidas as
etapas de desequilíbrio e sombra, que lhe ensinaram a entender quão difícil é a libertação dos
atavismos primários que retêm na retaguarda.
O perdão das ofensas, por sua vez, é o auge das conquistas íntimas que desidentificam o
ser das próprias imperfeições, porque se dá conta do quanto necessita ser perdoado, naquilo que
se refere às próprias fraquezas e delitos que tem cometido.
Essa ação sublime é, sim, a verdadeira caridade como a entendia Jesus.
As dádivas de natureza material enfocam a caridade nas suas primeira manifestações,
avançando para as expressões morais, quais a benevolência para com todos os corações perversos
e carentes, a tolerância ante as suas debilidades morais, olvido do mal e apoio àquele que o praticou.
Não bastará tolerar e até mesmo perdoar o mal que lhe é dirigido, mas sobretudo auxiliar
aquele que derrapou na insensatez e gerou a situação infeliz. Ideal seria que esses sentimentos
fossem acompanhados do olvido do erro, mas como isso independe do sentimento, estando mais
afeto à memória, o treinamento de auxílio ao infrator contribui para o esquecimento da sua ação
nefanda.
Treina a ação sublime no teu dia-a-dia, colocando, nas tuas práticas de bondade, as valiosas contribuições morais que te desvelem espiritualmente bem em relação ao teu próximo. Não
esqueças, todavia, de prosseguir no auxílio mediante as ofertas materiais de algum significado para os que necessitam desse imediato socorro.
Toma Jesus como teu modelo, sê benevolente, usando de indulgência e perdoando com total fraternidade até o momento em que consigas esquecer todo e qualquer mal para pensar somente no bem libertador.
Ouvir com o Coração
(Joanna de Angelis, in “Diretrizes para o Êxito” – Cap 12)
Além da faculdade de escutar-se com os ouvidos, pode-se fazê-lo também com a mente,
com a emoção, com interesse, com malícia, com descaso, com ressentimento, com alegria, com o
coração...
A arte de ouvir é muito complexa.
Normalmente se ouvem as informações pensando-se em outras questões que predominam, desviando a atenção e impedindo que se fixem as impressões daquilo que se informa.
Algumas vezes, ouvem-se as narrativas que são apresentadas com estados de espírito crítico e perdem-se os melhores conteúdos, porque não estão de acordo com o pensamento e a conduta de quem escuta.
Em diversas oportunidades, ouvem-se as pessoas com indiferença, pensando-se nos próprios problemas e inquietações, distantes do sofrimento alheio, por considerar-se muito grande o
próprio.
É comum ouvir-se por obrigação social ou circunstancial, estando-se noutro lugar e situação mental, embora fisicamente ao lado.
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As criaturas humanas convivem umas com as outras, mantendo-se sempre estranhas, não
conseguindo sair do próprio cárcere em que restringem os passos, embora preservando a aparência de livres.
Por consequência, a solidão e a depressão aumentam na razão direta em que se avolumam
os grupos sociais, sempre ávidos de novidades e posses transitórias, quase coisas nenhumas.
A saturação que decorre do mesmismo, das atividades repetitivas, embora de alta gravidade, que terminam por se transformar em corriqueiras para quem as escuta, responde pelo aturdimento e desinteresse daqueles que se colocam na condição de ouvintes.
Especialmente as pessoas que escutam as narrações dos sofrimentos humanos, de tal forma se acostumam com os dramas e tragédias que, por mecanismo defensivo, distanciam-se dos
fatos e oferecem palavras destituídas de emoção e de significado, que momentaneamente atendem aos aflitos, sem os confortar com segurança.
É compreensível essa atitude, porque também são indivíduos que sofrem pressões, angústias, ansiedades e organizam programas de felicidade que não se completam conforme gostariam.
Tornam-se, desse modo, ouvintes insensíveis.
Despertando para a circunstância aflitiva, de que eles também necessitariam de ser ouvidos e orientados, na solidão em que se encontram, nas necessidades a que estão expostos, são induzidos a fazer uma avaliação de conduta, mudando de atitude em relação àqueles que os buscam.
Passam então a ouvi-los com o coração.
Isto é, participam da narrativa do outro com espírito solidário, saindo da própria solidão.
Ouvir com o coração !
Quem narra um drama é gente que, como tal, deve ser considerada.
Não é um caso a mais, um cliente, um necessitado, um pesadelo do qual se deve descartar.
Está sobrecarregada e não sabe como prosseguir.
Necessita de ajuda. Requer atenção.
Pode ser molesto para quem ouve. No entanto, uma palavra dita com o coração consegue
o milagre de modificar-lhe a visão em torno do que lhe ocorre, encorajando-a para prosseguir no
cometimento.
Um sorriso de compreensão dá-lhe um sinal de que está sendo entendida e encontrou alguém que com ela simpatiza e dispõe-se a ser-lhe amigo.
Escasseiam os amigos, os afetos verdadeiros.
Multiplicam-se aqueles que fazem parte dos mortos-vivos da sociedade consumista, quando ela necessita de seres que pensam e que sentem, vibrando em espírito de solidariedade.
Cada pessoa é um país a conquistar-se e a ser conquistado.
Particularmente, quando está fragilizada, isolada na ilha da sua aflição, perdida na fixação
do sofrimento, anseia por outrem que lhe possa arrancar a âncora infeliz que lhe retém a embarcação existencial nesse penhasco sombrio.
Somente quando se pode ouvir com o coração, é que a mensagem encontra ressonância e
pode repercutir na alma que chora.
Não poucas vezes, o cansaço que a todos acomete, a irritação que se deriva dos problemas
quotidianos, o mal-estar decorrente dos problemas existenciais armam o indivíduo de indiferença
pelo seu próximo, tapando-lhe os ouvidos do coração.
Jesus o disse com muita propriedade: ... Eles têm ouvidos, mas não ouvem.
Os seus são ouvidos bloqueados para o mundo exterior, em razão dos conflitos internos e
dos estrídulos sons morais que os estremecem e agoniam.
Há, no entanto, uma forma para a mudança de conduta, beneficiando-se e auxiliando aos
demais.
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Procurar ouvir em cada ser uma história, como se fosse um escritor, um jornalista, alguém
interessado na outra vida.
Descobrir o novo, o inusitado no seu próximo, com olhos mais percucientes, penetrando
no âmago da ocorrência.
Deixar-te inspirar pelo outro, pela sua necessidade, pela sua aflição, pela sua alegria e
mensagem, quando isso ocorrer.
Além de ouvir, oferecer algo em troca: uma palavra alentadora, um gesto fraternal em
forma de abraço, um sorriso compassivo, qualquer coisa que responda ao suplicante de maneira
encorajadora.
Ampliar o coração no rumo de quem fala ou de quem apenas, em silêncio, demonstra a sua
terrível aflição.
Ouvir com o coração é também uma forma feliz de falar com o coração, mediante ou não o
uso de palavras.
É vibração de amor que se expande e que retorna em música de solidariedade.
Os médicos, invariavelmente, utilizando-se do estetoscópio, auscultam o coração dos seus
pacientes, mas raramente escutam a mensagem discreta que ele transmite, pedindo socorro fraternal, ajuda emocional, bondade estimuladora...
Aprende, tu, a ouvir com o coração, tudo quanto outros corações estejam procurando dizer-te.
Descobrirás um mundo totalmente novo, enriquecedor, no qual te encontras e ainda não
havias percebido, alegrando-te com a honra imensa de estar nele e ajuda-lo a ser cada vez mais
feliz.
Afetividade
(Joanna de Angelis, in “Diretrizes para o Êxito” – Cap 26)
Defluente da lei natural da Vida, a afetividade é sentimento inato ao ser humano em todos
os estádios do seu processo evolutivo.
Esse conjunto de fenômenos psicológicos expressa-se de maneira variada como alegria ou
dor, bem-estar ou aflição, expectativa ou paz, ternura ou compaixão, gratidão ou sofrimento...
Embora no bruto se manifeste com a predominância da posse do instinto, aprimora-se, à
medida que a criatura alcança os patamares mais elevados da razão, do discernimento e do amor.
Mesmo entre os animais denominados inferiores, vige a afetividade em formas primárias
que se ampliarão através do tempo, traduzindo-se em apego, fidelidade, entendimento, como automatismos que se fixaram por meio da educação e da disciplina.
Não obstante os limites impostos pelos equipamentos cerebrais, em alguns é tão aguçada a
percepção, que o instinto revela pródromos de inteligência, que são também expressões de afeto.
No ser hominal, em face dos valores da mente, o sentimento desata a emoção, e a afetividade exterioriza-se com mais facilidade.
Imprescindível à existência feliz, por intermédio do tropismo do amor, desenvolve-se e enternece-se, respondendo pelas glórias da sociedade, pelo progresso das massas, pelo crescimento
da consciência e pela amplitude do conhecimento.
Na raiz de todo empreendimento libertador ou de todo empenho solidário, encontra-se a
afetividade ao ideal, à pessoa, à Humanidade, estimulando, e, quando os desafios fazem-se mais
graves, ei-la amparando o sentimento nobre que não pode fenecer e a coragem que não deve enfraquecer-se.
No começo, é perturbadora, por falta de discernimento do indivíduo a respeito do seu significado especial. No entanto, quando se vai fixando nos refolhos da lama, torna-se abençoado refrigério para os momentos difíceis e estímulo para a continuação da luta.
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Sem ela a vida perderia o seu significado, tão eloquente se apresenta na formação da personalidade e da estrutura psicológica do homem e da mulher.
A afetividade proporciona forças que se transformam em alavancas para o progresso, alterando as faces desafiadoras da existência e tornando a jornada menos áspera, porque se faz dulcificada e esperançosa.
Ninguém consegue fugir-lhe à presença, porque, ínsita no Espírito, emerge do interior ampliando-se na área externa e necessitando de campo para propagar-se.
A afetividade é o laço de união que liga os indivíduos por meio do sentimento elevado e os
impulsiona na direção do Divino Amor.
Quando se pode entender e se tem olhos de ver, é possível distinguir a afetividade nos
mais variados sentimentos humanos, a saber:
O egoísmo é a afetividade a si mesmo;
O ressentimento é a afetividade egoísta que não foi comprazida;
A bondade é a afetividade ao dever;
O ódio é a afetividade que enlouqueceu;
O auxílio fraterno é a afetividade em ação;
A vingança é a afetividade que enfermou;
A preguiça é a afetividade adormecida;
O amor é a afetividade que se sublima;
A caridade é o movimento máximo da afetividade...
Em qualquer circunstância libera a tua afetividade desencarcerando-a, a fim de que se expanda e beneficie os demais.
A afetividade é portadora de especial conteúdo: quanto mais se doa, mais possui para oferecer.
É rica, infinitamente possuidora de recursos para expender.
Jamais te arrependas por haveres sido afetuoso.
Não te facultes, porém, uma afetividade exigente, que cobra resposta, que se impõe, que
aguarda retribuição.
Atinge o elevado patamar emocional da afetividade que se esquece de si mesma para favorecer a outrem, conforme Jesus a viveu, sem apego nem decepção, por não haver recebido compensação.
A afetividade se completa no próprio ato de expandir-se.
Caridade e alento
(Joanna de Angelis, in “Rumos Libertadores” – Cap 37)
Estudo: ESE, Cap. XIII – IteM 19.
Urge que vivas a mensagem evangélica em clima de otimismo e de paz.
Indispensável que seja modificado o conceito pessimista que se transformou em condicionamento infeliz nas almas, de modo a edificar-se a Era melhor em que se tornarás modelo e
exemplo da fé excelente que preconizas.
Nesse sentido, e para tanto, o exercício da caridade assume dever e caráter impostergáveis.
Caridade do esquecimento para as ofensas e perdão incondicional para os ofensores.
Se angustiado e ferido pelo ácido da malquerença de alguém que te aflige incessantemente, caridade para ele, não lhe devolvendo a agressão sutil ou violenta, privada ou pública...
Se a insistência da perversidade te coima, desejando destruir a floração dos teus nobres
sentimentos, não te molestes com ofensas injustificáveis nem revides sob qualquer condição que
te seja imposta.
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O cristão legítimo sobrepaira ao alcance das farpas da inveja, disfarçada de sutis ornamentos com que atraiçoa e malsina.
Caminhas para a Vida, no ruma da vida, sob as injunções das tuas vidas passadas.
Sofres o que deves.
Padeces o que mereces.
De forma alguma impedirás a urdidura dos compromissos transatos.
Filhos, pais, irmãos e amigos são realização do pretérito, nem sempre na condição de companheiros gentis e afeiçoados do nosso roteiro de evolução.
Portanto, não reclames.
Faze a luz do entendimento, sem esperar que outros te ofertem claridade ou o seu combustível de manutenção.
Sê tu aquele que crê, o exemplo vivo.
A felicidade consiste não em sorrir, mas em não complicar a marcha ascensional com a adição de novas penas para o futuro...
Porfia em Jesus.
Recorda-te d’Ele em todos os momentos, mesmo quando a alma se encontre estraçalhada,
e especialmente nesse momento.
Não obstante com familiares, amigos e companheiros, esteve sempre a sós nos ásperos
momentos dos testemunhos de amor.
Não te atormentes de forma alguma ante as injunções do mundo e as circunstâncias de dores ou alegrias...
Tudo passa ! Menos a sublime conquista defluente do amor, no exercício da caridade a todos: sejam os que transitam pelo teu lar de provações até aqueles que vêm de longe ulcerar-te a
alma sensível.
Persevera na resistência pacífica e não te permitas desanimar, nunca.
Perdoarás...
(Joanna de Angelis, in “Rumos Libertadores” – Cap 24)
Estudo: ESE, Cap. X – Itens 14 e 15.
Perdoarás, olvidando todo o mal a fim de recordares o dever de fazer todo o bem possível.
Perdoarás a agressão de qualquer natureza, não conservando forma alguma de ressentimento contra quem se te faz instrumento de inquietações.
Perdoarás a injúria, compreendendo que aquele que te calunia padece de desequilíbrios
que ignoras.
Perdoarás a ingratidão dos amigos, tendo em vista que o ingrato é alguém a um passo da
desorganização emocional.
Perdoarás a impiedade, reconhecendo que o seu portador é alienado de alto porte a caminho da loucura total.
Perdoarás o invejoso, não te permitindo sintonia com as suas insinuações malévolas, já que
ele é inimigo de si próprio.
Perdoarás o maledicente, que se desmoraliza a si mesmo.
Perdoarás o intrigante, pois que ama o alçapão para se aprisionar, sofrendo as injunções do
ato que engendra.
Perdoarás o desertor do compromisso, prosseguindo sem ele, porém, fiel ao dever abraçado.
Perdoarás, sim, sempre a todos, mas não desanimarás, não retrocederás nos compromissos nobres abraçados, nem conivirás com aqueles que, enganados, preferem manter a sementeira
da desordem, da
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frivolidade e da insensatez, procurando apoiar-se na tua aquiescência ou desvincular-te
dos labores a que te afervoras.
Perdoarás sempre, tendo em vista que a mensagem da Doutrina Espírita, na sua feição
evangélica e filosófica, ensinando-te a remontar às causas anteriores das aflições, dá-te a resignação e a claridade do conhecimento, afim de compreenderes que somente se sofre o que se merece, e que a escalada da montanha da redenção é sempre feita sobre as imperfeições pessoais que
são esmagadas a pouco e pouco até a vitória total com legítima libertação das paixões deteriorantes.
Perdoarás, porque o teu compromisso é com o amor, e conforme faz Jesus, amando, compreenderás, perdoando sempre a tudo e a todos sem desfalecimento.
Mensagem aos jovens
(Joanna de Ângelis, psicografia Divaldo Franco – no site
www.fepiau.org.br)
Que Deus abençoe a juventude!
Os jovens são as primeiras luzes do amanhecer do futuro.
Cuidar de os preservar para os graves compromissos que lhes estão destinados constitui o inadiável desafio da educação.
Criar-se condições apropriadas para o seu desenvolvimento intelecto-moral e espiritual, é o dever da geração moderna, de modo que venham a dispor dos recursos valiosos para o desempenho
dos deveres para os quais renasceram.
Os jovens de hoje são, portanto, a sociedade de amanhã, e essa, evidentemente, se apresentará
portadora dos tesouros que lhes sejam propiciados desde hoje para a vitória desses nautas do
porvir.
Numa sociedade permissiva e utilitarista com esta vigoram os convites para a luxúria, o consumismo, a excentricidade irresponsáveis.
Enquanto as esquinas do prazer multiplicam-se em toda parte, a austeridade moral banaliza-se
a soldo das situações e circunstâncias reprocháveis que lhes são oferecidas como objetivos a alcançar.
À medida a promiscuidade torna-se a palavra de ordem, os corpos jovens ávidos de prazer afogam-se no pântano do gozo para o qual ainda não dispõem das resistências morais e do discernimento emocional.
Os apelos a que se encontram expostos desgastam-nos antes do amadurecimento psicológico
para os enfrentamentos, dando lugar, primeiro, à contaminação morbosa para a larga consumpção da existência desperdiçada.
Todo jovem anseia por um lugar ao Sol, a fim de alcançar o que supõe ser a felicidade.
Informados equivocadamente sobre o que é ser feliz, ora por castrações religiosas, familiares,
sociológicas, outras vezes, liberados excessivamente, não sabem eleger o comportamento que
pode proporcionar a plenitude, derrapando em comportamentos infelizes…
Na fase juvenil o organismo explode de energia que deverá ser canalizada para o estudo, as disciplinas morais, os exercícios de equilíbrio, a fim de que se transforme em vigor capaz de resistir a
todas as vicissitudes do processo evolutivo.
Não é fácil manter-se jovem e saudável num grupo social pervertido e sem sentido ou objetivo
dignificante…
Não desistam os jovens de reivindicar os seus direitos de cidadania, de clamar pela justiça social,
de insistir pelos recursos que lhe são destinados pela Vida.
Direcionando o pensamento para a harmonia, os desastres de vário porte que acontecem continuamente, trabalhar pela preservação da paz, do apoio aos fracos e oprimidos, aos esfaimados e
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enfermos, às crianças e às mulheres, aos idosos e aos párias e excluídos dos círculos da hipocrisia,
é um programa desafiador que aguarda a ação vigorosa.
Buscar a autenticidade e o sentido da existência é parte fundamental do seu compromisso de
desenvolvimento ético.
A juventude orgânica do ser humano, embora seja a mais longa do reino animal, é de breve curso, porquanto logo se esboçam as características de adulto quando os efeitos já se apresentam.
É verdade este é o mundo de angústias que as gerações passadas, estruturadas em guerras e
privilégios para uns em detrimento de outros, quando o idealismo ancestral cedeu lugar ao niilismo aniquilador e a força do poder predominava, edificaram como os ideais de vida para a Humanidade.
É hora de refazer e de recompor.
O tempo urge no relógio da evolução humana.
Escrevendo a Timóteo, seu discípulo amado, o apóstolo Paulo exortava-o a ser sóbrio em todas
as coisas, suportar os sofrimentos, a fazer a obra dum evangelista, a desempenhar bem o teu ministério. (*)
Juventude formosa e sonhadora!
Tudo quanto contemples em forma de corrupção, de degredo, de miséria, é a herança maléfica
da insensatez e da crueldade.
Necessário que pares na correria alucinada pelos tóxicos da ilusão e reflexiones, pois que estes
são os teus dias de preparação, a fim de que não repitas, mais tarde, tudo quanto agora censuras
ou te permites em fuga emocional, evitando o enfrentamento indispensável ao triunfo pessoal.
O alvorecer borda de cores a noite sombria na qual se homiziam o crime e a sordidez.
Faze luz desde agora, não te comprometendo com o mal, não te asfixiando nos vapores que
embriagam os sentidos e vilipendiam o ser.
És o amanhecer!
Indispensável clarear todas as sombras com a soberana luz do amor e caminhar com segurança
na direção do dia pleno.
Não te permitas corromper pelos astutos triunfadores de um dia. Eles já foram jovens e enfermaram muito cedo, enquanto desfrutas do conhecimento saudável da vida condigna.
Apontando o caminho a um jovem rico que O interrogou como conseguir o Reino dos Céus, Jesus respondeu com firmeza: - Vende tudo o que tens, dá-o aos pobres, e terás um tesouro nos
Céus, depois vem e segue-me... Iniciando o esforço agora.
Não há outra alternativa a seguir.
Vende ao amor as tuas forças e segue o Mestre Incomparável hoje, porque amanhã, possivelmente, será tarde demais.
Hoje é o teu dia.
Avança!
(*)II Timóteo 4:5. (1) Mateus 19:21. Notas da autora espiritual.
Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Franco – do site www. fepiau.org.br.
(Página psicografada na sessão mediúnica da noite de 22 de julho de 2013, no Centro Espírita
Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia, quando o Papa Francisco chegou ao Brasil, para iniciar
a 28ª Jornada Mundial da Juventude.)
Aos jovens espíritas
(Yvonne Pereira, do livro: “À Luz do Consolador”)
Um amigo declarou-nos, recentemente, que pela primeira vez na história da Humanidade os jovens dedicados às lides religiosas e espirituais têm ensejo de projetar os próprios talentos filosóficos, graças à instituição das chamadas “Juventudes Espíritas”. Não fora isso e se perderiam preciosos cabedais trazidos pela juventude ao reencarnar, porque esses jovens espíritas não seriam ja-
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mais conhecidos, nem aproveitados os seus valores pessoais a benefício da Doutrina Espírita e da
coletividade humana. E que, por isso, era pela amplitude da instituição, que de verá crescer sempre mais.
Também aplaudimos a instituição disciplinada das Juventudes e Mocidades Espíritas, pois sinceramente entendemos que ela é um bem e muito auxiliará os moços a se firmarem para os gloriosos destinos espirituais, que muitos certamente alcançarão em breve etapa. Todavia é bom raciocinar que essa instituição existiu desde os primeiros dias do Cristianismo e do Espiritismo, senão
com a feição hoje apreciada em nossa Doutrina, pelo menos muito significativamente estabelecida
pela própria legislação celeste.
Partindo do Cristianismo, observaremos que o seu fundador, Jesus de Nazaré, ao ser crucificado,
era um jovem que contaria trinta e três anos de idade, talvez menos, segundo os fundamentos históricos de ilustres investigadores e historiadores. Igualmente jovem seria João Batista, o seu grande precursor, cuja idade orçaria pela do Mestre. Dos doze apóstolos por ele, o Mestre, escolhidos,
apenas dois teriam sido de idade madura, segundo os mesmos historiadores e as afirmativas das
obras mediúnicas: — Simão, o zelote, e Tiago, filho de Alfeu, porque o próprio Simão Barjonas
(Pedro) seria homem de apenas quarenta anos de idade por ocasião da morte do Mestre, segundo
os mesmos historiadores e a observação em torno dos Evangelhos e dos Atos dos Apóstolos. Os
demais, Judas Iscariotes inclusive, seriam personalidades de vinte e tantos e trinta e poucos anos
de idade, enquanto João Evangelista contaria vinte anos, por ocasião do Calvário, um adolescente,
portanto, que se iniciou no apostolado com menos de vinte.
João Marcos, por sua vez, outro evangelista, era um rapazote ao tempo de Jesus, adolescente
quando se iniciou nos serviços do Cristo com seu amigo e instrutor Simão Pedro. Estevão, a mais
doce e comovente figura daqueles dias difíceis, o primeiro mártir do Cristianismo, depois do próprio Jesus, era pouco mais que adolescente ao ser lapidado. Jovem também era o grande Paulo de
Tarso, ao se dedicar à causa de Jesus para todo o sempre: — “... e as testemunhas (da morte de
Estevão), tomando-lhe as vestes, as puseram aos pés de um mancebo chamado Saulo”, esclarecem os versículos 55 a 58 de Atos dos Apóstolos. Muito moço ainda, senão propriamente jovem,
seria o evangelista Lucas, a julgar pela intensidade de suas lides.
O Cristianismo primitivo, nos dias de trabalho, de testemunhos, de difusão e de martírio está
repleto de referências a pessoas jovens convertidas ao apostolado cristão, jovens que não fraquejaram na fé pelo seu ideal nem mesmo à frente das feras, nos Circos de Roma. As obras mediúnicas que se reportam a esses tempos são incansáveis nas referências a jovens cristãos possuídos do
ideal sublime da renovação pelo Amor, cujo desempenho heroico é oferecido à Humanidade hodierna como padrão de honradez, fidelidade e nobreza moral.
Igualmente jovens foram, ao se projetarem no mundo como exemplos de virtudes inesquecíveis, Francisco de Assis, chamado “O Cristo da Idade Média”, o qual contava vinte anos de idade
quando vozes espirituais o advertiram, lembrando-lhe os compromissos firmados com o Senhor,
ao reencarnar; e Antônio de Pádua, aquele angelical “Fernando de Bulhões”, que aos dezesseis
anos deixou os braços maternos para se iniciar na Ciência Celeste e se tornar o poderoso médium
de transporte em corpo astral, o paladino da oratória religiosa numa época de cavalaria e guerras,
e cuja ternura pelas crianças ainda hoje inspira corações delicados ao mesmo afã, sete séculos depois da sua passagem pelo mundo. Jovem de dezoito primaveras foi Joana d’Arc, figura inconfundível do início da Renascença, médium passivo por excelência, cuja vida singular atrai nossa atenção como a luz de uma estrela que não se apagou ainda... E também Vicente de Paulo, iniciando
seu inesquecível apostolado aos vinte e quatro anos de idade, e, se rebuscássemos as páginas da
História, com vagar, outros encontraríamos para reforçar a nossa exposição.
A história do Espiritismo não é menos significativa, com a impressionante falange de juventude
e mocidade convocada para os misteres da Revelação Celeste, que caminha sempre:
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— Jovens de catorze e quinze anos de idade foram as irmãs Fox, as célebres médiuns de Hydesville, ao iniciarem compromissos mediúnicos com o Alto, compromissos que abalaram os alicerces
de uma civilização e marcaram a aurora de etapa nova para a Humanidade. Jovens também, alguns dos principais instrumentos mediúnicos de Allan Kardec, e cuja missão singular muitos espíritas esqueceram: — Mlle. Japhet, Mlle. Aline, Mlle. Boudin... Jovem de vinte e poucos anos era o
médium norte-americano James, citado por Aksakof, o qual prosseguiu o romance “O Mistério de
Edwin Drood”, de Charles Dickens, deixado inacabado pelo autor, que falecera, fato único na história da mediunidade, até hoje. Jovem, a célebre médium de Alexandre Aksakof, Elizabeth
d’Esperance, que desde menina falava com os desencarnados e que se tornou, posteriormente,
ainda na juventude, um dos maiores médiuns de efeitos físicos e materializações de Espíritos, de
todos os tempos. Jovem também e não menos célebre médium de William Crookes, que materializava o Espírito de Katie King, Florence Cook, que, com a sua extraordinária faculdade, ofertou ao
Espiritismo e ao mundo páginas fulgurantes e inesquecíveis com aquelas materializações, tão jovem que só mais tarde contraiu matrimônio. Também desfrutando plena mocidade foi que a lúcida intérprete do Espírito do Conde Rochester, Condessa W. Krijanovsky, obteve os romances brilhantes, que arrebanharam para o Espiritismo tantos adeptos. Jovem de vinte e uma primaveras
era Léon Denis, o grande pensador espírita, que tanto enalteceu a causa, ao iniciar seu labor no
seio da Doutrina dos Espíritos, e também Camilo Flammarion, o astrônomo poeta, outro médium
de Allan Kardec.
No Brasil, não menos jovem, de vinte e uma primaveras, ao se iniciar no intercâmbio com o Invisível, foi o médium Frederico Júnior, cujo apostolado quase sublime é desconhecido da geração
espírita da atualidade. Muito moços ainda, se não propriamente jovens, eram Fernando de Lacerda, o psicógrafo mecânico, que escrevia com as duas mãos páginas de clássicos portugueses, enquanto conversava com amigos ou despachava papéis na repartição em que trabalhava, e Carlos
Mirabelli, produtor dos mais significativos casos de materialização de Espíritos em nossa pátria,
pois que ambos nem mesmo esperaram a velhice para desencarnar. E jovem também era Zilda
Gama, ao se projetar, em 1920, com o seu primeiro livro mediúnico, “Na Sombra e na Luz”.
Jovem de vinte e um anos de idade era Francisco Cândido Xavier ao se revelar ao mundo com o
livro “Parnaso de Além-Túmulo”, para prosseguir numa ascensão mediúnica apostolar, que não
findou ainda. E, finalmente, jovem também era Yvonne A. Pereira, que aos doze anos de idade escrevia mediunizada sem o saber, que aos quinze recebia páginas de literatura profana sob o controle mediúnico da entidade espiritual “Roberto de Canalejas”, que a acompanhava desde a infância, e que antes dos vinte tinha a seu cargo a tremenda responsabilidade de um “Posto Mediúnico” para receituário e curas de obsessão, e já esboçados três dos livros que posteriormente publicaria. Ambos, Francisco Cândido Xavier e Yvonne A. Pereira, já aos cinco anos de idade viam os Espíritos desencarnados e com eles falavam, supondo-os seres humanos, tal como Elizabeth
d’Esperance. Daí para cá, então, os jovens espíritas começaram a ser preparados através das “Juventudes” e “Mocidades” espíritas constituídas dentro dos Centros como seus departamentos infanto-juvenis, orientados e assistidos por confrades esclarecidos, experientes e idôneos, exercendo as funções de mentores.
Entre inúmeros jovens outros que poderíamos ainda citar, temos Leopoldo Cirne que, aos 21
anos de idade, foi eleito vice-presidente e aos 31 presidente da maior organização espiritista do
mundo — a Federação Espírita Brasileira.
Como vemos, pois, Cristianismo e Espiritismo são doutrinas também facultadas a jovens.., e,
mercê de Deus, parece que todos eles, pelo menos os acima citados, não negligenciaram na multiplicação dos talentos pelo Senhor confiados aos seus cuidados. Acreditamos que as instituições
denominadas “Juventudes e Mocidades Espíritas” facilitarão, sim, muitíssimo, as tarefas dos jovens da atualidade e do futuro, tarefas, que, para os do passado, foram cercadas de espinhos e sacrifícios, de dramas e até de tragédias.
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Que Deus vos abençoe, pois, jovens espíritas! Tende a mão no arado para lavrar os múltiplos
campos da Seara Espírita. Elevai bem alto esse farol imortal, que recebestes imaculado das mãos
dos vossos predecessores! Sede fiéis guardiães dessa Doutrina que tudo possui para tornar sábia e
feliz a Humanidade! O futuro vos espera, fremente de esperanças! E o passado vos contempla,
animado pela confiança!
Um amigo declarou-nos, recentemente, que pela primeira vez na história da Humanidade os jovens dedicados às lides religiosas e espirituais têm ensejo de projetar os próprios talentos filosóficos, graças à instituição das chamadas “Juventudes Espíritas”. Não fora isso e se perderiam preciosos cabedais trazidos pela juventude ao reencarnar, porque esses jovens espíritas não seriam jamais conhecidos, nem aproveitados os seus valores pessoais a benefício da Doutrina Espírita e da
coletividade humana. E que, por isso, era pela amplitude da instituição, que de verá crescer sempre mais.
Também aplaudimos a instituição disciplinada das Juventudes e Mocidades Espíritas, pois sinceramente entendemos que ela é um bem e muito auxiliará os moços a se firmarem para os gloriosos destinos espirituais, que muitos certamente alcançarão em breve etapa. Todavia é bom raciocinar que essa instituição existiu desde os primeiros dias do Cristianismo e do Espiritismo, senão
com a feição hoje apreciada em nossa Doutrina, pelo menos muito significativamente estabelecida
pela própria legislação celeste.
Partindo do Cristianismo, observaremos que o seu fundador, Jesus de Nazaré, ao ser crucificado,
era um jovem que contaria trinta e três anos de idade, talvez menos, segundo os fundamentos históricos de ilustres investigadores e historiadores. Igualmente jovem seria João Batista, o seu grande precursor, cuja idade orçaria pela do Mestre. Dos doze apóstolos por ele, o Mestre, escolhidos,
apenas dois teriam sido de idade madura, segundo os mesmos historiadores e as afirmativas das
obras mediúnicas: — Simão, o zelote, e Tiago, filho de Alfeu, porque o próprio Simão Barjonas
(Pedro) seria homem de apenas quarenta anos de idade por ocasião da morte do Mestre, segundo
os mesmos historiadores e a observação em torno dos Evangelhos e dos Atos dos Apóstolos. Os
demais, Judas Iscariotes inclusive, seriam personalidades de vinte e tantos e trinta e poucos anos
de idade, enquanto João Evangelista contaria vinte anos, por ocasião do Calvário, um adolescente,
portanto, que se iniciou no apostolado com menos de vinte.
João Marcos, por sua vez, outro evangelista, era um rapazote ao tempo de Jesus, adolescente
quando se iniciou nos serviços do Cristo com seu amigo e instrutor Simão Pedro. Estevão, a mais
doce e comovente figura daqueles dias difíceis, o primeiro mártir do Cristianismo, depois do próprio Jesus, era pouco mais que adolescente ao ser lapidado. Jovem também era o grande Paulo de
Tarso, ao se dedicar à causa de Jesus para todo o sempre: — “... e as testemunhas (da morte de
Estevão), tomando-lhe as vestes, as puseram aos pés de um mancebo chamado Saulo”, esclarecem os versículos 55 a 58 de Atos dos Apóstolos. Muito moço ainda, senão propriamente jovem,
seria o evangelista Lucas, a julgar pela intensidade de suas lides.
O Cristianismo primitivo, nos dias de trabalho, de testemunhos, de difusão e de martírio está
repleto de referências a pessoas jovens convertidas ao apostolado cristão, jovens que não fraquejaram na fé pelo seu ideal nem mesmo à frente das feras, nos Circos de Roma. As obras mediúnicas que se reportam a esses tempos são incansáveis nas referências a jovens cristãos possuídos do
ideal sublime da renovação pelo Amor, cujo desempenho heroico é oferecido à Humanidade hodierna como padrão de honradez, fidelidade e nobreza moral.
Igualmente jovens foram, ao se projetarem no mundo como exemplos de virtudes inesquecíveis, Francisco de Assis, chamado “O Cristo da Idade Média”, o qual contava vinte anos de idade
quando vozes espirituais o advertiram, lembrando-lhe os compromissos firmados com o Senhor,
ao reencarnar; e Antônio de Pádua, aquele angelical “Fernando de Bulhões”, que aos dezesseis
anos deixou os braços maternos para se iniciar na Ciência Celeste e se tornar o poderoso médium
de transporte em corpo astral, o paladino da oratória religiosa numa época de cavalaria e guerras,
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e cuja ternura pelas crianças ainda hoje inspira corações delicados ao mesmo afã, sete séculos depois da sua passagem pelo mundo. Jovem de dezoito primaveras foi Joana d’Arc, figura inconfundível do início da Renascença, médium passivo por excelência, cuja vida singular atrai nossa atenção como a luz de uma estrela que não se apagou ainda... E também Vicente de Paulo, iniciando
seu inesquecível apostolado aos vinte e quatro anos de idade, e, se rebuscássemos as páginas da
História, com vagar, outros encontraríamos para reforçar a nossa exposição.
A história do Espiritismo não é menos significativa, com a impressionante falange de juventude
e mocidade convocada para os misteres da Revelação Celeste, que caminha sempre:
— Jovens de catorze e quinze anos de idade foram as irmãs Fox, as célebres médiuns de Hydesville, ao iniciarem compromissos mediúnicos com o Alto, compromissos que abalaram os alicerces
de uma civilização e marcaram a aurora de etapa nova para a Humanidade. Jovens também, alguns dos principais instrumentos mediúnicos de Allan Kardec, e cuja missão singular muitos espíritas esqueceram: — Mlle. Japhet, Mlle. Aline, Mlle. Boudin... Jovem de vinte e poucos anos era o
médium norte-americano James, citado por Aksakof, o qual prosseguiu o romance “O Mistério de
Edwin Drood”, de Charles Dickens, deixado inacabado pelo autor, que falecera, fato único na história da mediunidade, até hoje. Jovem, a célebre médium de Alexandre Aksakof, Elizabeth
d’Esperance, que desde menina falava com os desencarnados e que se tornou, posteriormente,
ainda na juventude, um dos maiores médiuns de efeitos físicos e materializações de Espíritos, de
todos os tempos. Jovem também e não menos célebre médium de William Crookes, que materializava o Espírito de Katie King, Florence Cook, que, com a sua extraordinária faculdade, ofertou ao
Espiritismo e ao mundo páginas fulgurantes e inesquecíveis com aquelas materializações, tão jovem que só mais tarde contraiu matrimônio. Também desfrutando plena mocidade foi que a lúcida intérprete do Espírito do Conde Rochester, Condessa W. Krijanovsky, obteve os romances brilhantes, que arrebanharam para o Espiritismo tantos adeptos. Jovem de vinte e uma primaveras
era Léon Denis, o grande pensador espírita, que tanto enalteceu a causa, ao iniciar seu labor no
seio da Doutrina dos Espíritos, e também Camilo Flammarion, o astrônomo poeta, outro médium
de Allan Kardec.
No Brasil, não menos jovem, de vinte e uma primaveras, ao se iniciar no intercâmbio com o Invisível, foi o médium Frederico Júnior, cujo apostolado quase sublime é desconhecido da geração
espírita da atualidade. Muito moços ainda, se não propriamente jovens, eram Fernando de Lacerda, o psicógrafo mecânico, que escrevia com as duas mãos páginas de clássicos portugueses, enquanto conversava com amigos ou despachava papéis na repartição em que trabalhava, e Carlos
Mirabelli, produtor dos mais significativos casos de materialização de Espíritos em nossa pátria,
pois que ambos nem mesmo esperaram a velhice para desencarnar. E jovem também era Zilda
Gama, ao se projetar, em 1920, com o seu primeiro livro mediúnico, “Na Sombra e na Luz”.
Jovem de vinte e um anos de idade era Francisco Cândido Xavier ao se revelar ao mundo com o
livro “Parnaso de Além-Túmulo”, para prosseguir numa ascensão mediúnica apostolar, que não
findou ainda. E, finalmente, jovem também era Yvonne A. Pereira, que aos doze anos de idade escrevia mediunizada sem o saber, que aos quinze recebia páginas de literatura profana sob o controle mediúnico da entidade espiritual “Roberto de Canalejas”, que a acompanhava desde a infância, e que antes dos vinte tinha a seu cargo a tremenda responsabilidade de um “Posto Mediúnico” para receituário e curas de obsessão, e já esboçados três dos livros que posteriormente publicaria. Ambos, Francisco Cândido Xavier e Yvonne A. Pereira, já aos cinco anos de idade viam os Espíritos desencarnados e com eles falavam, supondo-os seres humanos, tal como Elizabeth
d’Esperance. Daí para cá, então, os jovens espíritas começaram a ser preparados através das “Juventudes” e “Mocidades” espíritas constituídas dentro dos Centros como seus departamentos infanto-juvenis, orientados e assistidos por confrades esclarecidos, experientes e idôneos, exercendo as funções de mentores.
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Entre inúmeros jovens outros que poderíamos ainda citar, temos Leopoldo Cirne que, aos 21
anos de idade, foi eleito vice-presidente e aos 31 presidente da maior organização espiritista do
mundo — a Federação Espírita Brasileira.
Como vemos, pois, Cristianismo e Espiritismo são doutrinas também facultadas a jovens.., e,
mercê de Deus, parece que todos eles, pelo menos os acima citados, não negligenciaram na multiplicação dos talentos pelo Senhor confiados aos seus cuidados. Acreditamos que as instituições
denominadas “Juventudes e Mocidades Espíritas” facilitarão, sim, muitíssimo, as tarefas dos jovens da atualidade e do futuro, tarefas, que, para os do passado, foram cercadas de espinhos e sacrifícios, de dramas e até de tragédias.
Que Deus vos abençoe, pois, jovens espíritas! Tende a mão no arado para lavrar os múltiplos
campos da Seara Espírita. Elevai bem alto esse farol imortal, que recebestes imaculado das mãos
dos vossos predecessores! Sede fiéis guardiães dessa Doutrina que tudo possui para tornar sábia e
feliz a Humanidade! O futuro vos espera, fremente de esperanças! E o passado vos contempla,
animado pela confiança!
Protagonismo juvenil espírita – fundamentação (Federação Espírita
Brasileira (FEB), do documento “Diretrizes para Ações da Juventude
Espírita no Brasil”)
“Torna-se, pois, necessário, refazer completamente a educação da mocidade, se desejarmos acelerar as vitórias e o progresso do século por vir. É preciso que tudo em torno dessa juventude: homens e coisas, artes, ciências, literatura, tudo lhe fale de grandiosidade,
nobreza, força, glória e beleza. Será a divisa da legião nova, isto é, da mocidade livre, liberta das
peias das falsas disciplinas, da mocidade que se interroga e se ausculta a si própria, que ouve as
vozes íntimas e procura compreender seu destino, estudando o mistério e a lei da evolução.” – Léon Denis.
A Juventude Brasileira tem sido alvo de inúmeros estudos nas últimas décadas. A identificação de seu perfil, dos novos hábitos, comportamentos, ideias e ideais vem pautando ações voltadas ao melhor atendimento às suas necessidades e aos seus interesses, em todos os campos de inserção que caracterizam a vida jovem.
As instituições espíritas, alinhadas aos propósitos de promover o estudo,
a prática e a difusão da Doutrina Espírita, têm se empenhado nas últimas décadas em implantar e
implementar ações junto à juventude, de modo a favorecer espaços de estudo e convivência que
possibilitem integração e confraternização. Mesmo com todo o empenho em se atender ao jovem,
nota-se em muitas instituições espíritas a necessidade premente de se avançar tanto na forma de
se conceber o jovem quanto na maneira de se organizar as atividades da Juventude/Mocidade Espírita. Identifica- se, atualmente, em parte dessas instituições, um modelo de ensino tradicional,
que adota como finalidade levar ao jovem um conhecimento pronto e organizado como algo inquestionável, fora do contexto da vida diária, um conteúdo a ser apreendido ou memorizado.
Em nossos dias, há necessidade de estimular e propiciar condições para a
viabilização do chamado “protagonismo juvenil”, como ação educativa para os jovens e, para os
coordenadores de juventudes, como parâmetro para o redirecionamento no preparo das novas
gerações.
Com respeito a esse cenário, mediante o Relatório Final do Grupo de
Trabalho Juventude FEB, Brasília-DF (2013), detectaram-se problemas e dificuldades, tais como:
Em nossos dias, há necessidade de estimular e propiciar condições para a viabilização do chamado
“protagonismo juvenil”, como ação educativa para os jovens e, para os coordenadores de juventudes, como parâmetro para o redirecionamento no preparo das novas gerações. Com respeito a
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esse cenário, mediante o Relatório Final do Grupo de Trabalho Juventude FEB, Brasília-DF (2013),
detectaram-se problemas e dificuldades , tais como:
 escolarização do processo de Evangelização Juvenil, com destaques para a rigidez no processo de acesso aos demais cursos oferecidos na Instituição Espírita, controles inflexíveis
de pontualidade e frequência;
 metodologia inadequada ao perfil do jovem;
 experiências de ensino-aprendizagem construídas a partir de uma realidade distante das
experiências de vida dos jovens, incluindo uma linguagem formal que não traduz empatia e
acolhimento ao jovem, o qual tem redundado no distanciamento entre o evangelizador/coordenador e o jovem;
 pouca flexibilidade para incluir abordagem de temas atuais;
 modelo de aula adotado por vezes conteudista, privilegiando o caráter informativo em detrimento do caráter reflexivo e vivencial;
 modelo pedagógico mais focado no processo de “ensinar” do que no de “educar”;
 pouca flexibilidade para questões relacionadas à faixa etária (ciclos) ou nível de desenvolvimento integral;
 pouca abordagem da dimensão afetiva no processo ensino-aprendizado;
 pouca atenção na organização dos registros das atividades desenvolvidas na Juventude/Mocidade Espírita;
 pouco espaço para a valorização do “protagonismo do jovem”.
Tais constatações nos convidam a refletir sobre novas formas de compreensão do jovem, a partir de seus anseios, necessidades, interesses e expectativas, respeitandoo como sujeito ativo na ação educativa. Costa (2000) afirma que:
”O protagonismo juvenil é uma forma de atuação com os jovens, a partir
do que eles sentem e percebem sua realidade. [...] o protagonismo preconiza um tipo de relação
pedagógica que tem a solidariedade entre gerações como base, a colaboração educador-educando
como meio e a autonomia do jovem como fim. O Protagonismo juvenil, embora tenha seu eixo na
educação para a cidadania, concorre também para a formação integral do adolescente, uma vez
que as práticas e vivências exercem influência construtiva sobre o jovem e em toda a sua inteireza.”
O autor reconhece o protagonismo como modalidade de ação educativa,
como criação de espaços e condições capazes de possibilitar aos jovens envolverem-se em atividades direcionadas à solução de problemas reais, atuando como fonte de iniciativa, liberdade e
compromisso. Nesse sentido, “participar, para o adolescente, é influir, através de palavras e atos,
nos acontecimentos que afetam a sua vida e a vida de todos aqueles em relação aos quais ele assumiu uma atitude de não - indiferença, uma atitude de valoração positiva”.
Assim, faz-se imprescindível aos evangelizadores/coordenadores de Juventudes/Mocidades Espíritas, auscultarem a si mesmo s, revendo as próprias práticas, impondo
atenção especial e coerente aos processos pedagógicos, para que possam construir caminhos que
permitam avançar em estratégias e ações coerentes com as novas concepções de juventude, contemplando verdadeiramente o protagonismo juvenil.
Federação Espírita Brasileira (FEB) – do documento “Diretrizes para Ações
da Juventude Espírita no Brasil”
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