Revista e acontecimento: percursos da imagem e da memória

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Revista e acontecimento: percursos da imagem e da memória
Programa de Pós-Graduação em Jornalismo – POSJOR/UFSC |
PROJETO DE PESQUISA
Pesquisador: Daisi Irmgard Vogel
Título: Revista e acontecimento: percursos da imagem e da memória
Período de execução: 2011/1 a 2013/2
Linha de Pesquisa: Fundamentos do Jornalismo /Jornalismo, Cultura e
Sociedade
Grupo de Pesquisa: Fundamentos do Jornalismo
Financiamento: A pesquisa está vinculada ao projeto “Tecer: Jornalismo e
Acontecimento”, desenvolvido com recursos da Capes pelo programa PROCAD
2007.
1. Apresentação:
Aprofundamento da compreensão da noção de acontecimento, em
particular como se apresenta em suportes de divulgação caracterizáveis como
“revista”. O conceito de revista associado ao de montagem, como princípio
artístico e procedimento filosófico. Nesse cruzamento, privilegiam-se as noções
de imagem e de memória, com referência central ao pensamento filosófico de
W. Benjamin, no qual a imagem constitui o centro da paisagem cultural. A
noção de imagem confrontada com a de acontecimento.
Palavras-chave: Jornalismo; acontecimento, imagem, revista,
memória.
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2. Problematização:
O projeto busca localizar experiências históricas do jornalismo de revista
e verificar sua performance cultural em perspectiva crítica, tomando-as como
lugares de circulação e sedimentação heterogênea e anacrônica de formações
discursivas do moderno, ativos nas relações que constituem a imaginação.
Assim, procura-se, num primeiro momento notadamente teórico da pesquisa,
propor um modo de leitura para a revista ilustrada de diferentes épocas, que
tome como ponto de partida aquelas reflexões contemporâneas que apontam o
anacronismo como vantajoso para a história cultural do social e para a crítica da
cultura. Concomitantemente, explora-se a noção de acontecimento e de
acontecimento jornalístico, buscando, ao longo do trabalho, o cruzamento dos
conceitos de acontecimento e imagem
Reconhece-se, de antemão, a revista como arquivo de imagens, que são
matrizes da imaginação e da história, e a necessidade de incorporar a leitura
dessas imagens ao saber interpretativo que se procura nas revistas. A
imaginação é aqui compreendida como forma cultural organizada que, na
paisagem
contemporânea,
ganhou
característica
de
concomitantemente
individual e pública. Nela se debatem forças, atuantes no interior e no exterior
do processo de acumulação de bens e capitais, que são imagens (Antelo, 2008).
A imagem é entendida como conceito operatório, não como simples suporte de
iconografia. De modo que aí se incluem imagens coisificadas e também imagens
mentais, afetadas pela psique e pelo inconsciente, o que demanda a crítica da
noção mesma de representação.
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Donde algumas primeiras perguntas que o projeto propõe: O que é a
revista e como se pode lê-la, se tomada como fonte de saber histórico? O que é o
acontecimento na revista? Parte-se da idéia de que deter-se diante de uma
revista é, ao mesmo tempo, interrogar o arquivo e o tempo, é questionar a
história da revista e a própria história, a historicidade em si mesma. Daí a
necessidade de um desvio dos modelos de investigação de objetos do passado
baseados
apenas
na
concordância
eucrônica,
ou
seja,
sustentados
exclusivamente numa reinserção dos eventos, das imagens do arquivo, em um
contexto de época – porque se adere à perspectiva de que o anacronismo
atravessa todas as contemporaneidades (Didi-Huberman, 2006: 18).
No âmbito dessa proposta de trabalho, sugere-se, portanto, como
hipótese, que a revista é uma montagem de tempos heterogêneos (configuração
anacrônica), que manifestam a complexidade, a exuberância e a sobredeterminação das imagens. Nessa perspectiva, que questiona a submissão total
da história cultural do social ao tempo cronológico, e que põe em jogo a
memória e as manipulações do tempo presentes em cada edição, mesmo alguns
estatutos sedimentados acerca das temporalidades do jornalismo (atualidade,
duração do interesse etc) podem mudar de posição (sobre a relação
atualidade/história, veja-se Mouillaud, 2002:76-80).
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3. Metodologia:
Na proposição de um modo de leitura, que poderia ser tomado como um
método, considera-se que, sempre que se realizam leituras de corpus, está
implicada uma reflexão sobre a heurística do método quando acionado,
colocando em suspensão aquilo que o método toma por evidente. O
procedimento dominante, portanto, é o de percorrer as imagens da superfície
com a memória, em rede, num caminho com muitos caminhos, como num jogo
ou labirinto ou mapa.
Existem já disponíveis, de momentos anteriores desta pesquisa,
resultados da indexação de 24 edições da revista Senhor no banco de dados do
Núcleo de Estudos Literários e Culturais – Nelic, da UFSC. Verificou-se que a
maioria dos textos longos da revista foram categorizados como “Ficção”, o que
engloba todos os textos literários como contos, romance, novelas, peças teatrais
e crônicas. Já a categoria “reportagem” é a quinta maior em número de textos,
porém pode ser considerada a segunda, se levarmos em conta apenas os textos
longos. Com a análise dessa estatística e desse conteúdo, se poderá pensar a
literatura como acontecimento na revista.
No que diz respeito às paisagens culturais, disponho de levantamentos
anteriores, a partir da consulta a acervos, de uma seleção de imagens de revistas
nacionais dos anos 1950-1960. São materiais de O Cruzeiro e Manchete,
somando em torno de 500 reproduções. Essas imagens, que incluem fotografias,
ilustrações, textos e desenhos de página, a serem associadas ao repertório de
imagens de Senhor, serão a base para a experimentação das noções de memória,
imagem e anacronismo como componentes do que se configura como
acontecimento jornalístico de revista.
4. Alcance, Resultados, Contribuições e Metas:
1)
Produção de um conjunto de quatro livros coletivos no âmbito
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do projeto PROCAD, que formam a série TECER: Jornalismo e
Acontecimento.
2)
Elaboração de quatro artigos para inserção nos volumes TECER.
3)
Elaboração de artigo para livro sobre o jornalismo de revista.
4)
Participação em encontros e seminários de discussão e
divulgação.
5. Objetivos:
Problematizar o conceito de revista como formação cultural e lugar de
circulação de discursos culturais a partir das noções de acontecimento e
imagem.
Objetivos específicos
1) Aprofundar o entendimento da noção de acontecimento e sua
associação com a imagem, em perspectiva transdisciplinar, acompanhando sua
transformação no circuito da produção midiática;
2) Organizar saberes e reflexões sobre o jornalismo de revista,
marcadamente em sua relação com a literatura e a crítica cultural, identificando
metodologias para o tratamento do acontecimento no jornalismo;
3) Verificar a constituição histórica de modelos e paisagens culturais pela
interpretação da imagem e, com isso, mapear performances do jornalismo no
campo cultural e reunir referências para a compreensão crítica do jornalismo
cultural contemporâneo;
4) Organização de uma formulação teórica que, fundamentada no estudo
realizado, aponte e ao mesmo tempo questione uma metodologia de leitura para
a história cultural inscrita nas revistas, mediante a experimentação de um
corpus.
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6. Justificativa:
No âmbito dessa pesquisa define-se a revista como montagem de tempos
heterogêneos, que manifestam a complexidade, a exuberância e a sobredeterminação das imagens. A submissão total da história cultural ao tempo
cronológico é questionada, a memória e as manipulações do tempo presentes
em cada edição são postas em jogo, alguns estatutos sedimentados acerca das
temporalidades do jornalismo (atualidade, duração do interesse etc) mudam de
posição.
Especificamente, neste projeto, investigações anteriores sobre a
organização do tempo e da imagem na revista Senhor (1959 – 1964) se cruzam
com a pesquisa sobre o acontecimento desenvolvida no âmbito do projeto Tecer.
Toma-se como pressuposto que problematizar o jornalismo e seus produtos em
perspectiva histórica é um dos modos concretos de compreender a dinâmica
social e comunicacional contemporânea.
7. Cronograma:
1º. Semestre 2011
Ações
Fevereiro – abril
Levantamento e seleção de materiais.
Estudos teóricos.
Redação da 1ª versão de artigo para o 2º volume da
série Tecer..
Maio – julho
Início de redação do diário coletivo.
Reunião de trabalho com a equipe Tecer na UFMG.
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Redação de ensaio para apresentação em evento de
divulgação científica.
Revisão final do artigo do 2º volume da série Tecer.
2º. Semestre 2011
Julho – Novembro
Continuidade da redação do diário coletivo.
Participação em seminário ou encontro científico.
Estudos teóricos.
Dezembro – fevereiro
Revisão de resultados.
Avaliação com a equipe de pesquisadores do projeto
Tecer (local a definir).
Elaboração de relatório.
1º. Semestre 2012
Fevereiro – maio
Preparação de artigo para terceiro volume da série
TECER.
Estudos teóricos.
Missão de estudos com a equipe, local a definir.
Maio – julho
Revisão final do artigo do 2º volume da série Tecer.
Início de produção de artigo para livro sobre
jornalismo de revista.
2º. Semestre 2012
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Julho – dezembro
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Finalização e revisão de artigo para livro sobre
jornalismo de revista.
Participação em reunião de avaliação do grupo Procad,
em Curitiba.
Planejamento do quarto volume da série TECER.
Estudos teóricos.
1º. Semestre 2013
Janeiro – março
Revisão de resultados.
Avaliação e prestação de contas do projeto Tecer (local
a definir).
Elaboração de relatório anual e final para Capes.
Planejamento do quarto volume da série TECER.
Abril- julho
Produção de artigo para quarto volume da série
TECER.
Revisão conceitual da pesquisa já realizada no âmbito
do projeto.
2º. Semestre 2013
Julho – dezembro
Organização e finalização do quarto livro da série
TECER. Título provisório: “Jornalismo e
Acontecimento: Teias Conceituais”.
Lançamento do quarto livro em novembro.
Revisão da trajetória de pesquisa. Avaliação /
redirecionamento do projeto.
8. Bibliografia:
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