NC_edicao_78 (versão para Web) - Sinduscon-SP
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2 REVISTA NOTÍCIAS DA CONSTRUÇÃO EDITORIAL Bons ventos O programa habitacional Minha Casa, Minha Vida trouxe bons ventos ao mercado imobiliário. Desde seu lançamento, vem motivando o aumento da comercialização de imóveis para as famílias com renda mensal a partir de 3 salários mínimos. O desafio que se impõe é viabilizar a outra parte do programa: a construção de novos empreendimentos de habitação de interesse social, destinados às famílias de 0 a 3 salários mínimos, segmento onde se concentram 93% do déficit de 7,2 milhões de unidades habitacionais do país. Para debater o programa, o SindusCon-SP e a CBIC realizaram um workshop com o Ministério das Cidades, a Caixa e as Secretarias de Habitação do Estado e do Município de São Paulo, tema de nossa reportagem de capa. Na ocasião, ficou claro que o sucesso do plano em cidades como São Paulo, onde os terrenos são caros e escassos, dependerá da contrapartida efetiva dos governos estaduais e municipais, aportando terrenos e provendo infra-estrutura. Tanto o vice-presidente de Governo da Caixa, Jorge Hereda, como a secretária nacional de Habitação, Inês Magalhães, admitiram a possibilidade de rever o programa onde for necessário, para viabilizar a construção de 1 milhão de novas habitações, com a consequente geração de emprego. Atitude ambiental Em outra reportagem desta edição, mostramos que o SindusCon-SP e a CBIC decidiram priorizar o tema das mudanças climáticas, atuando em favor da criação de políticas públicas que minimizem as emissões de gases de efeito estufa na cadeia produtiva do setor. A decisão das entidades foi anunciada no seminário Mudanças Climáticas e Construção Civil, realizado no SindusConSP, em conjunto com o Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV. Entre outros, participaram os secretários de Meio Ambiente do Estado, Francisco Graziano; do Verde e Meio Ambiente do Município de São Paulo, Eduardo Jorge; o vereador Gilberto Natalini, coordenador do Grupo de Trabalho de Meio Ambiente da Câmara Municipal, e os ambientalistas Fábio Feldmann e Sergio Besserman. Sergio Watanabe* biental, não a restringindo à busca de certificações, ou ao plantio de árvores. A intenção é criar estímulos a uma nova cultura de sustentabilidade na construção, mudando a forma de elaborar os projetos de edificações, o planejamento urbano, a habitação popular e a ampliação da infraestrutura. Isto só será possível com políticas públicas. Elas precisam informar e orientar os cidadãos, bem como regrar as atividades produtivas, com estímulos ao uso de tecnologias e materiais de baixa pegada de carbono. Para que estas políticas sejam eficientes, elas dependem de um diálogo perma- Minha Casa será viável para baixa renda se houver apoio de Estados e Municípios Na ocasião, Graziano elogiou a postura das entidades e Jorge formalizou convite do prefeito Gilberto Kassab para o SindusCon-SP integrar o Conselho Municipal de Mudanças Climáticas. A construção civil decidiu dar um passo para além das providências inovadoras já em curso nas novas edificações: o uso racional da água, de madeira de origem legal e de energia solar; a eficiência energética dos edifícios; a eliminação dos desperdícios de materiais; o correto gerenciamento dos resíduos da construção e o uso de materiais com baixa pegada de carbono. O setor vai aprofundar estas ações e pretende ampliar sua visão da questão am- nente entre todos os agentes envolvidos: políticos, acadêmicos, ambientalistas, juristas, setor produtivo e consumidores. Sempre atuando com fundamentação técnica, a construção civil defenderá as soluções efetivas, que não encareçam desnecessariamente a atividade do setor. * PRESIDENTE DO SINDUSCON-SP cas, mentários, críti Envie seus co mas gestões de te perguntas e su na: para esta colu m .b r nd us co ns p. co si @ te en pr es id REVISTA NOTÍCIAS DA CONSTRUÇÃO 3 Presidente SERGIO TIAKI WATANABE SUMÁRIO ESCREVA PARA ESTA SEÇÃO VOZ DO [email protected] Fax (11) 3334-5646 R. Dona Veridiana 55, 2º andar 01238-010 São Paulo LEITOR Cuidado no repasse Com o acordo coletivo, os salários da construção civil sofreram reajustes. Creio, entretanto, que tanto o setor como os seus prestadores de serviços devem refletir e evitar o repasse integral desse custo aos preços. Diante das dificuldades causadas pela crise às construtoras, muitos trabalhadores poderão ficar sem trabalho se os aumentos forem automaticamente repassados. Devemos agir no sentido de reduzir ganhos e não de aumentar o desemprego. Aqueles que por exemplo empreitam por m² ou m³ sempre levam em consideração horas-prêmio de pro- dução ou vulgarmente as “tarefas”, e um aumento aplicado integralmente num preço unitário pode significar aumento no lucro e nos impostos, que não deve existir neste momento! Precisamos lutar para que as “tarefas” sejam reduzidas e as pessoas trabalhem mais por hora, objetivando transformar um período muito difícil num momento difícil e transitório. Mauricio Linn Bianchi Vice-presidente de Tecnologia e Qualidade do SindusCon-SP 6 Capa 17 Eventos Governo e Caixa admitem ajustes no novo programa Minha Casa, Minha Vida Viaje com o SindusCon-SP para a França 24 Insumos Aquecedores solares recebem estímulo 26 SindusCon-SP em Ação Acordo prevê reajuste escalonado Operação Urbana será atualizada Conselho Jurídico volta à ativa Seconci-SP tem nova diretoria 9 Habitação Desburocratizar é o próximo desafio Setor está salvo, diz Pastore 11 Imobiliário 30 Notícias da Regionais Moradia Digna toma impulso 12 Meio Ambiente SindusCon-SP foca mudanças climáticas ‘Era do desperdício acabou’ Sindicato é convidado para Conselho Bauru lança “Adote uma Creche” Sorocaba terá ação contra dengue Prevenção de acidentes ganha patrocínio Ribeirão terá feira de imóveis Rio Preto apóia a Construweek Campinas oferece atualização Vice-presidentes CRISTIANO GOLDSTEIN DELFINO PAIVA TEIXEIRA DE FREITAS FRANCISCO ANTUNES DE VASCONCELLOS NETO HARUO ISHIKAWA JOSÉ ANTONIO MARSIGLIO SCHUVARZ JOSÉ CARLOS MOLINA JOSÉ ROBERTO PEREIRA ALVIM LUIZ ANTÔNIO MESSIAS MARCOS ROBERTO CAMPILONGO CAMARGO MARISTELA ALVES LIMA HONDA MAURICIO LINN BIANCHI ODAIR GARCIA SENRA PAULO BRASIL BATISTELLA Diretores das Regionais JOSÉ BATISTA FERREIRA (RIBEIRÃO PRETO) JOSÉ ROBERTO ALVES (SÃO JOSÉ DOS CAMPOS) LUÍS GUSTAVO RIBEIRO (PRESIDENTE PRUDENTE) LUIZ CLÁUDIO MINNITI AMOROSO (CAMPINAS) RENATO TADEU PARREIRA PINTO - (BAURU) PAULO PIAGENTINI (SANTO ANDRÉ) RICARDO BESCHIZZA (S ANTOS) RONALDO DE OLIVEIRA LEME (SOROCABA) SILVIO BENITO MARTINI FILHO (SÃO JOSÉ DO RIO PRETO) Representantes junto à Fiesp Titulares: EDUARDO CAPOBIANCO, JOÃO CLAUDIO ROBUSTI Suplentes: SERGIO PORTO, ARTUR QUARESMA FILHO Assessoria de Imprensa RAFAEL MARKO - (11) 3334-5662 NATHALIA BARBOZA - (11) 3334-5647 CONSELHO EDITORIAL: DELFINO TEIXEIRA DE FREITAS, EDUARDO MAY ZAIDAN, JOSÉ ROMEU FERRAZ NETO, MAURÍCIO LINN BIANCHI, FRANCISCO ANTUNES DE VASCONCELLOS NETO, SERGIO PORTO SUPERINTENDENTE: RICHARD OUANG GERÊNCIA DE MERCADO: IGOR ARCHIPOVAS SECRETARIA: MARCIA LAURINO EDITOR RESPONSÁVEL: RAFAEL MARKO REDAÇÃO: NATHALIA BARBOZA (SÃO PAULO) COM COLABORAÇÃO DAS REGIONAIS: ALEXANDRE BRANCO (SOROCABA) ANDRE LUIZ RESENDE, LUIZA PELLICANI (RIBEIRÃO PRETO) SUELI OSÓRIO (SANTO ANDRÉ) ESTER MENDONÇA (SÃO JOSÉ DO RIO PRETO) GISELDA BRAZ (SANTOS) HOMERO FERREIRA (PRESIDENTE PRUDENTE) JOSÉ CARLOS DUCATTI (SÃO JOSÉ DOS CAMPOS) MÔNICA MONTEIRO (CAMPINAS) SABRINA MAGALHÃES (BAURU) COMUNICAÇÃO: MARCELO DA COSTA FREITAS/CHEFE DE ARTE SANDERS CAPARROZ GIULIANI, ELAINE CRISTINA STEOLLA/ DESIGNERS GRÁFICOS; TEREZA CRISTINA PAIÃO/WEB SILENE MARCHI/SECRETÁRIA COLUNIST AS COLUNISTAS PUBLICIDADE: [email protected] Tel. (11) 9212-0312 [email protected] Tel. (11) 9106-4548 [email protected] [email protected] Tel. (11) 9132-9711 5 PAULO GALA - CONJUNTURA 22 MARIA ANGELICA LENCIONE PEDRETI - GESTÃO 10 CELSO PETRUCCI – FINANCIAMENTO 28 GIANFRANCO PAMPALON – SEGURANÇA DO TRABALHO 14 VANDERLEY M. JOHN – CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL 34 ANTONIO JESUS DE BRITTO COSENZA – MARKETING 16 PEDRO LUIZ ALVES - MOTIVAÇÃO 36 VAHAN AGOPYAN - INOVAÇÃO ENDEREÇO: R. DONA VERIDIANA, 55, CEP 01238-010 SÃO PAULO-SP CENTRO DE ATENÇÃO AO ASSOCIADO TEL. (11) 3334-5600 18 LUIZ HENRIQUE CEOTTO - QUALIDADE E PRODUTIVIDADE 38 ALEXANDRE TADEU NAVARRO GONÇALVES - JURÍDICO Tiragem desta edição: 9 MIL EXEMPLARES CTP/ IMPRESSÃO: VAN MOORSEL As opiniões dos colaboradores não refletem necessariamente as posições do SindusCon-SP [email protected] 4 REVISTA NOTÍCIAS DA CONSTRUÇÃO www.sindusconsp.com.br CONJUNTURA Câmbio competitivo O s resultados das contas externas brasileiras no primeiro trimestre de 2009 foram melhores do que o esperado. Logo no início do ano, alguns déficits comerciais semanais causaram calafrios. No final de janeiro e início de fevereiro, a situação melhorou e voltamos a navegar com superávits comerciais. O déficit em conta corrente de março foi de US$ 1,6 bilhão, acumulando em 12 meses um déficit total de U$ 22,9 bilhões. Nos 12 meses fechados até fevereiro, essa posição estava negativa em U$ 25,6 bilhões, ou seja, tivemos uma pequena melhora nesse setor. As exportações brasileiras caíram apenas (!) 6% em março na comparação com o mesmo mês de 2008. Considerando o número de dias úteis do mês, a queda foi de 15%, ainda assim a metade do ocorrido nas principais economias mundiais. Alguns fatores ajudam a explicar esse comportamento de nossas contas externas. As intervenções do BC no mercado de câmbio, especialmente no financiamento de crédito externo, contribuíram para esse resultado. A relativa recuperação de alguns preços de commodities que exportamos, a resistência da economia chinesa e nossa diversificação de destinos de exportação também jogaram um papel importante. A própria desvalorização do real de R$ 1,60 por dólar para R$ 2,30 também impulsionou exportações e reduziu importações. De fato, apesar do forte desaquecimento da economia mundial, um câmbio mais desvalorizado pode ajudar a reativar a economia brasileira mais rapida- mente, na medida em que estimula a produção industrial doméstica em detrimento de importações e ajuda também a produção para mercados externos. Um nível competitivo e estável da taxa de câmbio tem efeitos benéficos sobre a economia doméstica, na medida em que estimula a produção de manufaturas para o mercado mundial. Ao aumentar a rentabilidade da produção de bens comercializáveis industriais, um câmbio competitivo estimula o aumento de produção e investimento de indústrias nesse setor, rico em economias de escala, o que aumenta fortemente a produtividade da economia. Paulo Gala * tribuir também para a reversão da trajetória preocupante de nossas contas externas em termos de saldo industrial. Em 2008, o saldo entre importações e exportações da produção da indústria de transformação apresentou déficit de US$ 7,2 bilhões. Tal resultado representa uma enorme deterioração em relação a 2007, ano em que tivemos um superávit de US$ 18,8 bilhões. Essa piora se aproxima, aliás, do que se observou em nossas transações correntes para 2008: déficit de US$ 28,7 bilhões em 2008 contra superávit de US$ 1,7 bilhão em 2007. Para 2009, os resultados serão muito Em 2009, nossas contas externas devem apresentar uma dinâmica mais saudável A competitividade da taxa de câmbio contribui também para uma dinâmica saudável de contas externas, evitando crises no balanço de pagamentos. Ao estimular o aumento da lucratividade de empresas que operam no setor de bens comercializáveis, um câmbio competitivo também contribui para o aumento da poupança doméstica, ajudando no financiamento do desenvolvimento. O caso argentino recente é especialmente ilustrativo a esse respeito. Nos últimos anos, a poupança doméstica aumentou 10 pontos percentuais em relação aos anos 90. A prática de uma taxa de câmbio competitiva e estável tem ajudado o país a crescer a 8% ao ano desde 2004. A desvalorização cambial deverá con- melhores, especialmente pelo lado da redução das importações que cresciam no país a um ritmo explosivo. Resta aguardar que crise mundial se resolva logo, para que nosso motor exportador volte a funcionar com força. * PROFESSOR DA ESCOLA DE ECONOMIA DE SÃO PAULO DA FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS cas, mentários, críti Envie seus co as m te gestões de perguntas e su fgv.br @ la na: paulo.ga para esta colu REVISTA NOTÍCIAS DA CONSTRUÇÃO 5 CAPA Ajustes em pleno voo Nathalia Barboza O Fotos: Jorge´s Estúdio Fotográfico s ajustes do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida, lançado pelo governo federal no final de março e destinado à construção de um milhão de unidades habitacionais, também dependem da participação efetiva de todo o setor da construção civil, que é quem pode revelar muitos dos pontos a serem podados ou melhorados. Esta foi a mensagem do workshop “Minha Casa, Minha Vida”, que o SindusCon-SP e a CBIC realizaram em 4 de maio, na sede do sindicato, em São Paulo. “Sei que vamos encontrar uma série de falhas no processo. Mas faremos os ajustes necessários. A Caixa terá de aprender a trabalhar de forma mais efetiva nessa faixa de renda”, disse o vicepresidente de Governo da Caixa Econômica Federal, Jorge Hereda. “O programa é mais um componente do quebra-cabeça que vem desde a criação do Ministério das Cidades”, apontou a secretária nacional de Habitação do Ministério das Cidades, Inês Magalhães. Segundo ela, o programa é visto no ministério como um bom instrumento para iniciar o Plano Nacional de Habitação (Planhab). Para funcionar, precisará da contrapartida de Estados e Municípios, sob as formas não só de doação de terrenos e de aporte finan- ceiro. “Estes entes também são fundamentais para a organização da demanda, a identificação e formação de infraestrutura e a redução de custos via isenções tributárias”, concordou Valter Nunes, superintendente regional da Caixa. “O segmento de 0 a 3 salários míniSegundo Inês, programa habitacional é bom começo para o Planhab mos (até R$ 1.395) é o grande desafio para as empresas, que terão muita difide R$ 52 mil (apartamentos) e R$ 48 culdade em atender essa demanda mil (casas) nas regiões metropolitanas sem a ajuda dos Estados e municípios. de São Paulo e em Jundiaí, São José Cabe a todos nós, juntos, darmos ao dos Campos e Jacareí. programa a maior velocidade possível”, “Mesmo que o construtor consiga completou o presiadequar o valor do terreno no 0 a 3 dente do Sindussalários, pela lógica econômica, ele vai Con-SP, Sergio Wafazer para acima de três porque tem tanabe. possibilidade de ter um lucro maior do Como o goverque só a construção”, afirmou. no do Estado e a Outra possibilidade para as consPrefeitura de São trutoras é financiar o imóvel pela CaiPaulo, as construxa, e não depender da escolha ou dos toras deixaram clacritérios de cada Estado e município. ro que o valor-teto Essa faixa de renda agora conseguiria para moradias direcionadas a famílias arcar com as parcelas, avalia Watanacom renda de até três salários nas duas be, por causa do subsídio de até R$ 23 regiões é insuficiente. mil do governo. Mas, nesse caso, o “Não vou dizer que nenhuma [casa], mutuário precisa ter o nome “limpo”, o mas muito pouco” será construído, se que não é obrigatório para quem vai não houver doação de terreno na capipagar “simbolicamente” 10% da renda tal”, disse Watanabe. O limite fixado é se for escolhido após o cadastro. Governo e Caixa admitem que o Minha Casa, Minha Vida está aberto a ajustes 6 REVISTA NOTÍCIAS DA CONSTRUÇÃO O presidente da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), Paulo Safady Simão, ressaltou que a insatisfação com os limites para essa faixa de renda não é geral. "Certamente haverá algumas localidades em que vai ser mais difícil, mas há muita capital que está feliz com os preços", disse. Segundo a secretária Inês Magalhães, os tetos foram definidos conforme os valores da tabela Sinap dos dois últimos anos e não serão revistos tão cedo. “Certamente, se ele [o programa] não rodar, vamos ter que fazer algum mecanismo”, ponderou. Inês declarou ainda que os projetos licitados e que, portanto, já têm recursos garantidos não serão aceitos. “Uma das diretrizes do programa é que tenhamos mais investimentos e não trocar os previstos com os recursos de outro ‘funding’.” Fundo Garantidor Segundo Inês, embora transitório, o Fundo Garantidor será o instrumento mais estrutural do “pacote” e deverá contribuir para o desenvolvimento do mercado no segmento de baixa renda. Jorge Hereda, da Caixa, garante que as sugestões dos construtores continuarão a ser aceitas De acordo com Valter Nunes, superintendente da Caixa, o banco já está pronto para aprovar os projetos em um mês. “Os procedimentos foram muito simplificados. A avaliação de Riscos de Engenharia, onde eram vistos mais de 200 itens, por exemplo, agora tem apenas 30. E os limites dos projetos foram derrubados, o que fará com que a aprovação aconteça em 30 dias, contra os 4 meses que levava antes da alteração de nosso cultura”, disse Nunes. Segundo a Caixa, o programa tem investimento estimado em R$ 60 bilhões –desse total, R$ 34 bilhões em subsídios, sobretudo às famílias com renda de 0 a 3 salários mínimos. A expectativa é de que estimule a criação de 3,5 milhões de empregos. Participaram ainda do evento os presidentes do Sintracon-SP, Antonio Ramalho; e da Facesp (Federação das Associações Comunitárias do Estado de São Paulo), Veruska Franklin. Regional Rio Preto debate Minha Casa O programa habitacional Midentro da cadeia da construção cinha Casa, Minha Vida foi tema de vil para gerar negócios e empreoutro encontro entre representangos”. tes da Caixa e de construtoras, na “As parcerias com as construtosede da Regional São José do Rio ras são fundamentais, e está no Preto do SindusCon-SP, em abril. DNA da Caixa participar do desenO evento esclareceu dúvidas das volvimento do setor habitacional”, empresas associadas e filiadas afirmou Everaldo Coelho da Silva, sobre o funcionamento do prograsuperintendente regional da instima e como as construtoras podem tuição. Ele defendeu uma grande realizar negócios através dele. mobilização conjunta para colocar Para o diretor da Regional, Silem prática o programa federal. “Tevio Martini Filho, o evento foi immos que disseminá-lo, mostrar o portante para aproximar as cons- O superintendente da Caixa Everaldo Coelho da Silva e Silvio seu passo a passo e mobilizar os Martini Filho discutiram o tema em evento da Regional trutoras da Caixa, “a principal instiparceiros. Queremos trazer ainda facilitador do processo, agregando ao nostuição de fomento à construção civil com mais recursos para termos resultados efeso associado conhecimento e oportunidaum volume de recursos considerável na tivos na região”, disse. des e intermediando tudo que é possível nossa região. É papel do sindicato ser o (Ester Mendonça) REVISTA NOTÍCIAS DA CONSTRUÇÃO 7 Estado e Capital reforçam interesse em participar Antonio Marcio Costa: total convergência sição e, para doar os que há em estoque, será necessário enfrentar procedimentos muito longos de legalização e de autorizações. Teremos de trabalhar nisso para encurtar os prazos”, afirmou. Segundo ele, é da vontade do prefeito Gilberto Kassab remodelar os processos de aprovação. “Hoje, as aprovações passam por uma série de mais de 41 etapas. Queremos mudar os procedimentos para que eles sejam apreciados em paralelo”, contou o secretário. Já o representante da Secretaria estadual de Habitação, Antonio Marcio Fernandes Costa, contou que o governo aderiu ao programa “pela total convergência com os objetivos do Estado, desde 2007”. “O programa atual nos surpreende positivamente, mas ainda precisa ser melhorado. É preciso aglutinar uma série de ações desafiadoras, como a organização da demanda e as questões da pós-ocupação”, disse Costa. Tanto o representante do governo de São Paulo quanto o da prefeitura da Capital reforçaram, no workshop promovido pelo SindusCon-SP em parceria com a CBIC, a posição de colaborar para o sucesso do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida, que pretende construir 1 milhão de moradias, em especial para a população de baixa renda do país. O governo do Estado informou ter 20 mil unidades que poderiam ser incorporadas ao programa federal, embora uma parte já esteja licitada. Já a Secretaria Municipal de Habitação contabilizou seis terrenos para doar, sem detalhar localização ou tamanho. Pela dotação orçamentária inicial, o programa poderia financiar até 183 mil unidades no Estado. O secretário municipal de Habitação, Elton Santa Fé Zacarias, disse que “o momento é de parcerias”, apesar de admitir que a cidade terá “dificuldades estruturais” para participar. “O município não tem muitos terrenos à dispo- O secretário Elton Zacarias acredita que o momento é de parcerias 8 REVISTA NOTÍCIAS DA CONSTRUÇÃO Geric precisa estar válido O superintendente Regional da Caixa, Valter Nunes, explicou no evento do SindusCon-SP que está agilizando os procedimentos internos e eliminado várias exigências, com o objetivo de baixar de 4 meses para 30 dias o tempo necessário para a aprovação completa de um projeto. Segundo ele, a alçada de aprovação dos empreendimentos agora é das Superintendências Regionais. “Para imóveis a serem construídos na faixa de 0 a 3 salários, não pediremos mais o Seguro de Término de Obra, só o de Risco de Engenharia. Este também foi simplificado: de mais de 200 itens de verificação, passou para apenas 30”, lembrou. Apesar disso, ele alertou que é importante para as construtoras candidatas aos chamamentos da Caixa apresentarem o Geric (documento de avaliação de risco) válido. “Caso contrário, são mais 15 dias para fazer essa avaliação.” Os limites do projeto foram derrubados e o prazo de obra considerado ideal pela Caixa é de 15 meses. Outra novidade é o financiamento de 100% do custo de construção e a antecipação de 10% do custo total da obra ou do terreno, o que for menor. O setor continua vendendo, e vendendo bem. O desafio é voltar a lançar e, para isso, é preciso ter crédito desburocratizado e demanda, raciocinou o presidente da Abecip (das entidades de crédito), Luiz Antonio Nogueira de França, em evento promovido pelo Secovi-SP. França lembrou que há um enorme número de documentos que devem ser apresentados no momento da compra, o que gera lentidão. Segundo ele, o desafio do consumidor é encontrar um “pacote completo”, com o imóvel adequado e o financiamento facilitado. “Quando a gente enxergar que esse negócio vai crescer, aí as estatísticas vão subir”, disse. A percepção dos empresários presentes ao evento é de que a desburocratização ajudaria muito o crédito imobiliário a crescer. Dados apresentados pelo presidente da Serasa Experian América Latina, Francisco Valim, mostraram que esta modalidade representa só 2,4% do PIB brasileiro. “Como fatia do PIB, o crédito imobiliário é baixo, porque a taxa de juros é muito alta. Ainda é muito difícil para o mercado imobiliário dar crédito de longo prazo com as taxas altas. A pessoa paga, ao final, mais de um imóvel”, explicou. Fotos: Carlos T. Jorge/SECOVI Desburocratizar é o próximo desafio tos compromissos o consumidor tem, quanto conseguirá pagar e qual o perfil dele.” O executivo disse que, Valim aposta na embora a inadimplência esteja estável, é ainda alta em relação a outros países. “Já nos acostumamos a vêla no patamar de 6% ou até 8% no país. Mas seu custo é muito alto. Nos EUA, com toda a crise, ela não chega a 2%. Se conseguíssemos baixá-la de 6% para 2%, por exemplo, significaria uma injeção de R$ 40 bilhões na economia. É um Bradesco inteiro por ano a mais em circulação”, afirmou. O cadastro positivo foi apontado por Valim como a solução para baixar a inadimplência e aumentar o crédito, que tem efeito multiplicador sobre a economia. “Poderemos ter de 1% a 2% de crescimento do PIB somente por conta da elevação do crédito de 40%, como está hoje, Lentidão na papelada emperra crescimento do setor imobiliário Inadimplência Segundo ele, a maior fatia do spread bancário é oriunda da inadimplência, fator socializado que afeta a todos, mesmo os adimplentes. Segundo ele, com base em dados do Banco Central, a inadimplência, que responde por 37,35% do spread bancário no Brasil, é alta por causa da falta de informação sobre o consumidor no momento da concessão de empréstimos. “Hoje, a gente não sabe quan- adoção do cadastro positivo no Brasil para 60%, como é no Chile. Num ano difícil, seria algo extraordinário”, apontou. Correspondente imobiliário Já a Caixa Econômica Federal, para dar conta das análises de risco que virão no âmbito do programa Minha Casa, Minha Vida, planeja homologar novos sistemas de análise de risco de crédito de pessoas físicas. Segundo André Marinho de Souza Filho, gerente nacional do Programa de Arrendamento Residencial (PAR) da Caixa, o banco estuda contratar novos correspondentes imobiliários ou somar novas atribuições aos já contratados. “Planejamos experimentar os sistemas usados por construtoras e depois homologálos.” A meta é, assim que o novo método for implantado, aprovar o cliente em 15 dias, prazo sugerido pelo programa federal para este procedimento. Setor está salvo, diz Pastore O ex-secretário da Fazenda de São Paulo e ex-presidente do Banco Central, Affonso Celso Pastore, disse no evento do Secovi-SP que, dentro do cenário de crise, o setor habitacional “fica bem, dentro das circunstâncias”. Segundo ele, “o setor se sai melhor pois não depende tanto do comércio exterior e está mais atrelado à demanda interna”. O setor imobiliário também teria vantagem por ser “novo” e de estar “mais limpo, menos alavancado e ter risco do crédito mais baixo”. Pastore afirmou ainda que existe o risco de o dinheiro para o programa habitacional do governo não estar disponível na hora de ser usado. “A receita do governo está caindo. A previsão para ela é muito otimista, de aumento de 2,5% este ano. Eu acredito que seja menos”, disse. A justificativa seriam as reduções de impostos feitas em segmentos, como os de linha branca e veículos. (Nathalia Barboza) REVISTA NOTÍCIAS DA CONSTRUÇÃO 9 FINANCIAMENTO Para dar certo E ste ano tem tudo para ser o mais marcante no âmbito do crédito imobiliário no Brasil. Além da abundância de recursos para habitação, quase R$ 80 bilhões das principais fontes de financiamento, Caderneta de Poupança e FGTS, teremos um ano decisivo principalmente por dois fatores, que deveremos acompanhar atentamente. O primeiro fator foi o anúncio, pelo governo federal, do programa Minha Casa Minha Vida, cujos protagonistas são o setor produtivo e a Caixa Econômica Federal, e que teve o condão de mexer com todo o mercado imobiliário. As vendas cresceram em todo o país, não só para imóveis destinados às famílias de mais baixa renda, mas também para produtos de maior valor de venda. A reação do mercado imobiliário se fez sentir em todos os Estados e, em alguns deles, as vendas do primeiro trimestre de 2009 dão sinais de fechamento no mesmo patamar ou até melhor que em igual período de 2008. A Caixa anunciou que, pouco mais de 15 dias após a operacionalização do programa (13 de abril), já havia mais de 50 mil unidades habitacionais em condições de análise na instituição em todas as faixas de renda cobertas, de 0 a 10 salários mínimos. Restam algumas dúvidas quanto à capacidade operacional da Caixa para analisar os processos de financiamento nos prazos prometidos (até 45 dias) e a adesão das prefeituras e órgãos ambientais aos prazos previstos no programa. Outra dúvida é se são viáveis os preços fixados pelo Ministério das Cidades para produção e aquisição de unidades 10 REVISTA NOTÍCIAS DA CONSTRUÇÃO Celso Petrucci * para famílias de até 3 salários, como por exemplo o de R$ 52 mil para apartamentos na cidade de São Paulo. Se os preços fixados “baterem na trave”, infelizmente poderá ocorrer com o plano o mesmo que aconteceu com o PAR –Programa de Arrendamento Residencial, que queiramos ou porque exista tendência de aumento da Selic, porém ela poderá subir novamente para patamares visitados num passado não tão longínquo (2005), quando foi de 18,5% na média. Também não podemos correr o risco de que qualquer modificação na remune- prejudicando aqueles que mais necessitam de sua moradia. Estamos atentos para que isso não aconteça, pois seria um desperdício o país não aproveitar esta ótima oportunidade. O segundo fator, também de extrema importância, será o acompanhamento do que acontecerá com a Caderneta de Poupança. O presidente Lula vem insistindo em declarações de que ela não é investimento e não servirá de refúgio para investidores profissionais. Existem idéias sendo veiculadas a partir do fato de que a taxa Selic nunca esteve tão baixa –hoje 10,25%, o que poderá levar investidores que aplicam em fundos de renda fixa a migrarem para a Poupança. Fala-se muito em duas idéias mais viáveis: redução dos juros pagos na caderneta, de 6% para 4% ao ano, ou sua vinculação com a Selic. Ambas soluções são polêmicas, pois a primeira penalizaria aqueles que acreditaram na Poupança e que perderam muito nos últimos anos para os índices oficiais de inflação. Já a segunda também é polêmica, não por- ração da Poupança coloque em cheque o direcionamento de recursos para financiamentos imobiliários, pois seria inoportuna qualquer iniciativa neste sentido, principalmente quando o país começa a experimentar as facilidades do crédito imobiliário. Assim, 2009 tem tudo para ser o Ano do Crédito Imobiliário. Mas, para que isso se torne realidade, precisamos nos engajar no programa Minha Casa Minha Vida, fazendo ele dar certo, e acompanharmos passo a passo as mudanças na remuneração da Caderneta e seu direcionamento legal para o financiamento imobiliário. 2009 será o Ano do Crédito Imobiliário se nos engajarmos no programa Minha Casa * CELSO PETRUCCI É ECONOMISTA-CHEFE DO SECOVISP, DIRETOR-EXECUTIVO DA VICE-PRESIDÊNCIA DE INCORPORAÇÃO IMOBILIÁRIA DO SINDICATO E MEMBRO TITULAR DO CONSELHO CURADOR DO FGTS cas, mentários, críti Envie seus co as m te gestões de perguntas e su na: para esta colu uo l.c om .b r ce ls op et ru cc i@ Fotos: Divulgação IMOBILIÁRIO Compromisso com o futuro O programa Minha Casa, Minha Vida “não garante o compromisso futuro de erradicar o déficit habitacional brasileiro, que é de 7,2 milhões de unidades (segundo a FGV Projetos/SindusCon-SP) e, por isso, é fundamental sensibilizar a sociedade para a necessidade de aprovação, pelo Congresso Nacional, da PEC (Projeto de Emenda Constitucional) 285/08”, alertou o coordenador nacional da Campanha pela Moradia Digna, Miguel Sastre, durante o workshop promovido no início do mês pelo SindusCon-SP. Sastre, que também é membro do Comitê de Habitação Popular do SindusCon-SP e representante da CBIC no Conselho das Cidades, explicou que somente a aprovação da PEC garantirá recursos públicos capazes de enfrentar a questão até o fim, já que o programa tem como meta resolver apenas 14% do déficit de moradias no país (relativo a um milhão de casas). “É preciso aprová-la para tornar o programa perene, independente da cor política que estiver no poder”, justificou. No mesmo evento, a secretária Nacional de Habitação do Ministério das Cida- Em São Paulo, ladeado por Élcio Sígolo e Sastre, do SindusCon-SP, o presidente do Sintracon, Antonio Ramalho, acompanhou o trabalho des, Inês Magalhães, dos voluntários da campanha no evento da Força Sindical demonstrou entusiasmo em relação à campanha. “A moradia digna se transformou 1° de Maio no estandarte desse grupo”, afirmou. SeEm abril e início de maio, a Campagundo ela, a criação da campanha refornha pela Moradia intensificou suas ações ça a importância do Conselho das Cidapara o recolhimento de assinaturas em des, que reúne os principais agentes reprol da PEC. Em 23 de abril, vários Comipresentativos do setor, governo e societês Estaduais mobilizaram seus militandade civil organizada e de onde surgiu a tes para o “Dia Nacional de Coleta de ideia da mobilização. Assinaturas”, que foi às ruas coletar adesões ao abaixo-assinado que deverá ser entregue ao presidente da República no segundo semestre. A meta é obter um milhão de assinaturas. Os Comitês de São Paulo, Santa Catarina, Espírito Santo, Amazonas e Pernambuco, por exemplo, distribuíram militantes dos movimentos populares de luta pela moradia em vários pontos de municípios como Criciúma, Tubarão, Vila VeA presidente da Facesp (Federação lha, Recife e Manaus. Na Capital paulista, das Associações Comunitárias do Estahavia grupos recolhendo assinaturas em do de São Paulo), Veruska Franklin, resbairros de todas as regiões da cidade. saltou que a criação do programa Minha Já em 1° de maio, aproveitaram-se as Casa, Minha Vida só reforça a necessidafestas das centrais sindicais em comemode de lutar pelo objetivo maior da Camração ao Dia do Trabalho para cumprir a panha pela Moradia Digna, de assegurar mesma tarefa. Em São Paulo, 100 intesubsídios permanentes grantes da campanha estiveram presenpara o segmento de habitates à praça Campo de Bagatelle, na zona ção de interesse social. norte, na grande festa promovida pela O presidente do CBIC, Força Sindical. Paulo Simão, também coEm Tubarão (SC), foram coletadas mentou a importância de outras assinaturas, assim como em Chaconsolidar os avanços obtipecó e na Paraíba, Estado que já contabidos com a criação do Minha liza 20 mil assinaturas. Por lá, o comitê Casa por meio da aprovalocal resolveu partir agora para divulgar ção da PEC da Habitação. a campanha nas cidades do interior, através de quatro novas caravanas. (Nathalia Barboza) Campanha pela Moradia Digna quer ir além do Minha Casa, Minha Vida Em Chapecó (SC), integrantes da campanha coletaram assinaturas no feriado de 1° de Maio REVISTA NOTÍCIAS DA CONSTRUÇÃO 11 MEIO AMBIENTE Mudar para melhor questão ambiental, não a restringindo à busca de certificações, ou ao plantio de árvores para diminuir a pegada de carbono de nossa atividade. Precisamos ir além, criar estímulos ao surgimento de uma nova cultura de sustentabilidade no setor da construção, mudando a forma de elaborar os projetos de edificações, o planejamento urbano, a habitação popular e a ampliação da infra-estrutura de nosso país”, disse Watanabe. Segundo ele, as mudanças climáticas geradas pela emissão de gases de efeito estufa na atmosfera deixaram de ser um assunto restrito às discussões acadêmicas ou científicas, e a construção civil não pode ficar omissa frente a tal desafio. “Nos- so setor precisa criar mecanismos para mitigar as emissões em toda a sua cadeia produtiva”, argumentou. Entre as medidas citadas estão o uso racional da água, maior eficiência energética e a utilização de materiais com baixa pegada de carbono. “Temos de criar nossos próprios modelos. Não podemos copiar ninguém nem sujar nossa matriz energética”, advertiu o vice-presidente Francisco Vasconcellos. “A pior contribuição do setor está nos prédios antigos. Devemos nos preocupar mais com a questão da retrofitagem desses edifícios”, ressaltou o presidente da CBIC, Paulo Simão. SindusCon-SP passa a focar atuação ambiental no combate às mudanças climáticas Fotos: Divulgação R eferência positiva no mercado quando o assunto é o meio ambiente e a construção civil, o SindusCon-SP acaba de assumir o papel de, agora em diante, estar totalmente engajado no esforço de combater as causas das mudanças climáticas no planeta. O compromisso foi anunciado em maio, pelo presidente da entidade, Sergio Watanabe, durante discurso de abertura do Seminário Mudanças Climáticas e a Construção Civil. O evento reuniu 170 pessoas na sede do sindicato e foi realizado em parceria com a CBIC e o Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas (GVCes). “A partir de agora, o SindusCon-SP, por meio de sua vice-presidência de Meio Ambiente, liderada pelo Francisco Vasconcellos Neto, tem no tema das mudanças climáticas seu foco principal de atuação. Precisamos ampliar nossa visão da Nathalia Barboza Realidade Autoridades e representantes da construção que participaram do evento do SindusCon-SP foram unânimes em admitir que as mudanças climáticas preocupam e que, para enfrentá-la, será preciso um esforço conjunto e objetivo de toda a sociedade. A coordenadora-adjunta do Centro de Estudos de Sustentabilidade da FGV, Rachel Biderman, lembrou que os fenômenos climáticos extremos são uma realidade. “Temos menos de uma década para resolver isso”, alertou. “Este auditório lotado tem uma importância fundamental. É a cadeia da construção, a marca registrada de São Paulo, demonstrando que se preocupa com o que está acontecendo. Eu sei o que isso Na primeira fila do auditório, Raquel Biderman, Eduardo Jorge, Graziano, Simão, Watanabe, Feldmann e Natalini significa, porque, apesar de eu alertar meus pares na Câmara há muito tempo, só agora é que a ficha deles está caindo”, comparou o vereador Gilberto Natalini. Para o secretário municipal do Verde e Meio Ambiente, Eduardo Jorge, mais do que econômico, este é um assunto “pessoal”. “É uma questão moral, de quem tem responsabilidade com seus descendentes”, disse. Por isso tudo, em seu discurso, o secretário estadual do Meio Ambiente, Fran- cisco Graziano Neto, ressaltou que a agenda ambiental “veio para ficar e será cada vez mais rigorosa”. Ele elogiou a priorização dada pela construção à questão ambiental e lembrou as dificuldades que o segmento enfrentava para compreender o assunto. “O setor finalmente começou a fazer do aperto na lei um diferencial de mercado. Hoje, ele não vende casa, vende meio ambiente. Uma mina d’água, que antes era um problema, agora faz parte do marketing do loteamento”, disse. O evento teve ainda palestras de Marcelo Takaoka, presidente do Conselho Brasileiro de Construção Sustentável; Roberto Lamberts, professor da UFSC; Paula Gabriela Freitas, gerente do ICLEI – Governos Locais pela Sustentabilidade; Samoel de Souza, vice-presidente da Abrava; Volf Steinbaum, assessor da Secretaria de Meio Ambiente; e Shigueo Watanabe Jr., coordenador do Comitê de Ética e Normas da Associação das Empresas de Mercado de Carbono. ‘Era do desperdício acabou’ Expoente da questão ambiental, o ambientalista e secretário-executivo do Fórum Paulista de Mudanças Climáticas Globais e Biodiversidade, Fábio Feldmann, decretou que “a era do desperdício acabou”. Para ele, as mudanças climáticas são tema urgente da economia real e requerem uma mudança radical na capacidade de a sociedade fazer alianças. “A sociedade civil precisa ser capaz de identificar os setores econômicos mais ‘cosmopolitas’ e, portanto, permeáveis à questão climática. É necessário fazer alianças estratégicas com esses setores e também com as comunidades científica e acadêmica e com o poder público. Todos terão de trabalhar juntos”, afirmou Feldmann. Um dos grandes desafios, apontou, será a mudança de matriz energética do Brasil, que ainda tem uma base “limpa”, mas que ruma com velocidade “para sujá-la”. Ele ressaltou ainda a necessidade de não só estimular a inovação tecnológica, mas de gerar uma nova maneira de incorporá-la às atividades cotidia- nas. “Temos de pensar os empreendimentos desde a sua concepção, passando pelo projeto e manutenção, até a demolição”, apontou. É “o” negócio Já o economista Sergio Besserman, presidente da Câmara Técnica e Desenvolvimento Sustentável e Governança Metropolitana da Prefeitura do Rio de Janeiro, ressaltou que a sustentabilidade hoje é “o” negócio das empresas, e não apenas um dos assuntos aos quais elas precisam ficar atentas. “As outras questões é que são transversais numa companhia”, afirmou. Segundo ele, o grande dilema para as empresas hoje é a precificação exata da redução das emissões de gases de efeito estufa. “Quanto custa reduzir? Que tipo de empresa vai se dar bem? A que apostará em alternativas limpas ou a que defenderá até o fim a cultura atual? Enquanto isso não for definido, não se resolverá a estrutura de preços relativos”, disse. Para o economista, a mudança na estrutura de preços relativos vai levar à construção de um novo mundo em que várias questões culturais terão de ser reavaliadas. “O governo japonês, por exemplo, já proibiu o uso da gravata e, com isso, obteve uma redução no consumo de energia em áreas com ar condicionado.” SindusCon-SP é convidado para Conselho O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, ofereceu para a presidência do SindusCon-SP uma dessas novas vagas do empresariado no Conselho Municipal de Mudanças Climáticas, que terá mudanças na sua estrutura. Hoje, ele é composto apenas por membros do governo, mas, com a alteração, passará a ser paritário, integrado por 7 secretários municipais e 7 representantes da sociedade civil organizada. REVISTA NOTÍCIAS DA CONSTRUÇÃO 13 CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL Por que precisamos de uma Agend T enho argumentado há bastante tempo sobre a necessidade de a sociedade brasileira dispor de uma agenda de desenvolvimento sustentável para cada setor produtivo. Falo de uma agenda acordada pela sociedade: governo, setor produtivo, entidades não governamentais, academia etc. E isto, naturalmente inclui a construção. Dirigentes de órgãos governamentais e intergovernamentais, ONGs, lideranças setoriais e acadêmicos parecem discordar. Na minha percepção, está se consolidando a visão de que a generalização do uso de um número limitado de soluções pontuais já conhecidas, como aquecedores solares, reuso de água, eficiência energética, utilização de alguns materiais fabricados com resíduos, proibição de madeira “ilegal”, promoção de madeira certificada, redução dos compostos orgânicos voláteis..., tudo isto preferencialmente embalado em um sem-número de selos e certificados, vai resolver nosso problema. Não discordo de que estas soluções são fundamentais, mas nadando contra a tendência tenho muitas razões para considerá-las insuficientes e defender que a construção de uma é agenda fundamental. Em primeiro lugar, não podemos nos enganar: os desafios do desenvolvimento sustentável são mais complexos que a implantação de algumas soluções já existentes –estas ao meu ver são o que podemos fazer agora, já. Uma limitação óbvia destas tare- 14 REVISTA NOTÍCIAS DA CONSTRUÇÃO fas é que elas nada dizem sobre a ecoeficiência e a responsabilidade social dos processos produtivos: apenas acrescenta “gadgets”. Também não nos preparam para os grandes desafios ambientais, como mudanças climáticas. Trata-se de reduzir o impacto ambiental do ciclo de vida de todas as atividades da construção por um fator de 4 ou 5 vezes. E simultaneamente aumentar o retorno social do setor. Não nos enganemos: nossos problemas atuais com gestão de resíduos, licenças ambientais, madeira etc. são apenas a ponta do iceberg. Será necessária uma transformação muito mais profunda de toda a cadeia industrial, da extração de matérias primas, produção de materiais, componentes e equipamentos, projeto, construção, operação das construções, manutenção até a sua desmobilização. transformação profunda necessária exige que cada ator (público ou privado) tenha seu planejamento de médio e longo prazo e suas metas. Este tipo de previsibilidade só uma agenda, elaborada a partir de uma visão sistêmica e olhando para nossos desafios, pode fornecer. Ao tornar o futuro mais previsível, permite a todos Em segundo lugar, necessitamos de previsibilidade e não de uma sequência de iniciativas descoordenadas. Sem agenda estamos à mercê de pacotes, lobbies, senso de oportunidade e até boas intenções de políticos e da sociedade, que podem surgir do dia para o outro, afetando os negócios, privilegiando aqueles que trabalham na informalidade. A eles investir de forma contínua na transformação de suas atividades visando à sustentabilidade. E somente com planejamento e investimento sustentado vai ser possível transformar nossa construção, pois é nada mais nada menos este o desafio. Em terceiro lugar, precisamos transformar radicalmente nossa cultura: muitas soluções que considera- Sem previsibilidade, ficaremos à mercê de ações, lobbies e oportunismos prejudiciais mos naturais, usuais e até únicas deverão ser substituídas - em certa medida já estamos fazendo isto, por exemplo, no caso dos resíduos que não existiam e agora mais do que existem. Esta necessidade precisa de símbolos e referências. Uma agenda providencia ambos. Em quarto lugar, a transformação radical do setor produtivo vai exigir inovações, não no sentido a que estamos acostumados –baixar custo de construção–, mas na acepção do termo, envolvendo não apenas a fase de construção, mas também a indústria de materiais, componentes e equipamentos e a fase de projeto. Aliás, talvez a maior tarefa seja convencer engenheiros (em especial, mas não somente os civis), que aprenderam na universidade como aplicar soluções conhecidas para problemas conhecidos, de que o futuro da humanidade e dos negócios está em achar novas soluções para problemas conhecidos e até ainda desconhecidos. foto Mario Takeashi a de Construção Sustentável Vanderley M. John * Inovação exige investimento continuado em pesquisas –em escala profissional, não os trocos investidos em pesquisa na construção civil. Vai ser necessário ampliar muito a força de trabalho em pesquisa, englobando áreas correlatas como engenharia de materiais, química, meio ambiente, engenharia de produção, física etc. Isto requer mudança na forma de o setor conceber e articular o suporte para a inovação e pesquisa. Em quinto lugar, a ausência da agenda dificulta a visualização de oportunidades de negócio. Por exemplo, como as receitas de green-buil- clo de vida de produtos depende de modelos e informações sobre a etapa de uso das construções. Precisamos melhorar nosso conhecimento da fase de uso, e melhorar os modelos de vida útil, conforto, energia, consumo de água etc. Também leva tempo. Manipular esta massa de dados vai exigir novas ferramentas de projeto onde seja possível construir virtualmente –uma versão mais sofisticada do BIM (Building Information Model) . Em sétimo lugar, será necessário enfrentar nossa informalidade para tornar eficazes as políticas setoriais e dings vão nos ajudar a solucionar o grande desafio de adaptar o ambiente construído para a inevitável mudança climática –um novo negócio que depende somente da construção. Em sexto lugar, repensar a construção exige uma nova infra-estrutura de conhecimento, novas ferramentas e novas categorias de informações para subsidiar nossas decisões de projeto. Por exemplo, vai ser necessário construir uma base nacional para subsidiar decisões baseadas na análise do ciclo de vida de produtos. Mesmo uma base simplificada toma tempo. A consideração dos impactos sociais e ambientais ao longo do ci- evitar que as mudanças fundamentais sejam bloqueadas porque aumentariam as vantagens competitivas daqueles que operam à margem da lei. Estas são razões apenas para começar. Receitas de green buildings vão ajudar a adaptar construção à mudança climática * ENGENHEIRO E PROFESSOR POLI-USP, É MEMBRO DA CÂMARA AMBIENTAL DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL E CONSELHEIRO DO CBCS. cas, mentários, críti Envie seus co mas gestões de te perguntas e su us p. br na : jo hn @ po li. pa ra es ta co lu REVISTA NOTÍCIAS DA CONSTRUÇÃO 15 MOTIVAÇÃO Sair da angústia Q uem de nós já não se perguntou: “Como será o dia de amanhã?” ou “Será que vamos manter nossos empregos após a conclusão desta obra?” No entanto, apesar das incertezas, temos tanto trabalho, desafios e anseios por resultados que, ao sairmos do trabalho, parece que ficamos devendo, o que nos deixa ainda mais angustiados. Angústia? Sim, e por quê? Porque as empresas, hoje com menos recursos humanos e financeiros, estão cobrando cada vez mais efetividade, o que exige dos profissionais, muito mais eficácia. Resultado: preocupação sobre o futuro e a nossa capacidade de sobreviver, porque o mercado está enfraquecido para absorver profissionais demitidos. Muitos empresários da construção continuam otimistas e mantêm uma postura empreendedora, porém há também aqueles que estão muito preocupados. Já entre os profissionais há uma preocupação e uma insegurança muito grande. Eles relatam que as exigências por competência e atitudes proativas são significativamente maiores do que em 2006, 2007 e parte de 2008, quando muitos podiam trocar de emprego num estalar de dedos e ganhando muito mais. Esse sentimento de incerteza faz sentido, porém não podemos nos entregar. Empresas e profissionais devem aproveitar esse momento e desenvolver alternativas de aprendizado, crescimento e, sobretudo, buscar a motivação. Há uma frase de Jack Welch que diz: “Se você não está confuso, você não sabe o que está acontecendo”. Acho essa afirmação excelente para expressar nossos 16 REVISTA NOTÍCIAS DA CONSTRUÇÃO sentimentos e motivação hoje. Estar angustiado é normal, anormal será permanecer influenciados pela angústia. Temos que arregaçar as mangas, e trabalhar, sem a preocupação única e exclusiva com o dia de hoje, plantando para o amanhã. Muitas empresas têm feito isso. Algumas estão aproveitando o momento para, em vez de diminuir o quadro e criar um ambiente de terror, buscar, por meio do treinamento dos profissionais, o desenvolvimento de suas equipes. Certamente, Pedro Luiz Alves * Outra dica é estabelecer uma relação entre capital e trabalho, com responsabilidade, cumplicidade e interesse em atravessar e aprender com as circunstâncias. Temos que, juntos, buscar a motivação, pois o futuro nos reserva momentos fantásticos, sobretudo para aqueles que souberem enfrentar com maturidade esta época. Brevemente estaremos rindo e festejando por termos conseguido desenvolver e aprender com as oportunidades que a crise propiciou de criar e crescer. Empresas que investirem na qualificação e não no “terror” sairão mais fortalecidas essas organizações sairão mais fortalecidas quando o sol brilhar em breve, pois estão garantindo a retenção de seus talentos e buscando o aprimoramento das pessoas para enfrentar novos momentos. Portanto, do lado das organizações, nem tudo ou nem todas estão despreparadas para enfrentar a conjuntura. E os profissionais, o que podem e devem fazer e refletir? Inicialmente, é fundamental aproveitar o momento para se aprimorar, é o momento de percorrer a “milha extra”, de buscar novos conhecimentos e desenvolver competências e potencialidades. Também é importante perseguir a eficácia e, sobretudo, ser obsessivo por melhores resultados para a empresa. Quem perseguir esse caminho estará mais preparado, pois desenvolverá sua “empregabilidade” e sua capacidade de enfrentar o mercado. Lembrem-se: “É na adversidade que crescemos!” Os povos que mais se desenvolveram fizeram isso nos períodos pós-guerra e de crise. O que há de mais animador é pensar que somos brasileiros e providos de vontade, alegria e muita energia natural e espontânea para enfrentarmos tudo na vida. Então, vamos em frente! ADMINISTRADOR E SÓCIO DA ACT –AÇÃO CONSULTORIA E TREINAMENTO, MEMBRO DO BOARD DA ASTD-BRASIL cas, mentários, críti Envie seus co as m gestões de te perguntas e su na: para esta colu .b r ns ul to ria .c om pe dr o@ ac ao co EVENTOS Viaje com o SindusCon-SP para a Batimat em Paris expositores, sendo 48% estrangeiros oriundos de 48 países. A expectativa é de que seja visitada por 447.338 profissionais, sendo 18,5% de estrangeiros oriundos de 141 países. Focada no tema da renovação sustentável das construções e a eficácia energética, a 27ª edição do salão será a ilustração de um ano de compromissos e realizações para conceber a construção do futuro dentro das recomendações do “Grenelle” sobre o Meio Ambiente: redução dos desperdícios energéticos, desenvolvimento de energias renováveis, isolamento acústico, acessibilidade para pessoas portadoras de deficiências, segurança e conforto. No total, serão 7 salões em 1: Fundações; Portas & Janelas; Informática; Acabamentos & De- Foto: GNU Free Documentation License N ão perca a oportunidade de fazer parte do grupo de construtoras associadas ao SindusConSP que, na companhia de um membro da Diretoria do sindicato, visitará a feira Batimat, de 31 de outubro a 7 de novembro, em Paris, na França. A realização é da Diretoria de Relações Internacionais do SindusCon-SP, liderada por Salvador Benevides. A Batimat é o líder mundial dos eventos de construção. A feira reúne em Paris, a cada dois anos, a mais completa oferta internacional de produtos, equipamentos e serviços, bem como o maior número de profissionais vindos do mundo inteiro (incorporadores, empreiteiros, construtoras, especificadores e distribuidores). São 134.655 m² ocupados por estandes, 2.779 Diretoria de Relações Internacionais irá acompanhar grupo de construtores à França coração; Gestão Sustentável das Construções; Equipamentos & Ferramentas; e Serviços. Confira as condições especiais oferecidas ao SindusCon-SP pela operadora Brazilusa Turismo: (11) 5083-2323 ou [email protected] . REVISTA NOTÍCIAS DA CONSTRUÇÃO 17 Estudo de demanda futura da FGV para o SindusCon-SP leva em conta déficit e formação de novas famílias QUALIDADE E PRODUTIVIDADE Crise mundial e preço do aço Luiz Henrique Ceotto * E ste artigo é, de certa forma, uma continuação da coluna de minha autoria publicada em Notícias da Construção nº 45 (janeiro de 2006) onde foram comparados os preços de alguns materiais de construção (aço em vergalhão, aço em perfis, concreto, cimento, agregados britados e areia) cotados em diversas partes do mundo (USA, Europa e Ásia) com os preços praticados no Brasil. Naquela ocasião, demonstrei que a maior diferença de preços (a maior para o Brasil) estava justamente no aço em vergalhão e também no aço em perfil, em que o preço brasileiro era o mais alto do mundo. Nessa época o aço brasileiro custava mais que o dobro do aço vendido na Ásia e 60% mais que o comercializado em Nova York, que era o mais caro dos EUA. A causa dessa disparidade é a falta de maior concorrência desse produto no Brasil, onde dominam apenas 3 empresas, sendo que 2 detêm 80% do mercado. A explicação de que a forte tributação brasileira em comparação à tributação internacional é a causadora dessa distorção não se sustenta, uma vez que isso não acontece em produtos de setores onde a competição é praticada por várias empresas, mesmo incidindo tributação semelhante. Como o aço em vergalhão para con- creto armado é do maior interesse para o tipo de construção feita no Brasil, foi iniciado um monitoramento desse produto a partir de janeiro de 2006, comparandose o preço da barra de aço de 12,5 mm de CA-50A com a barra de ½’ do aço ASTM Grade 60 (Rebar), vendida nos USA, Índia e China. Os preços foram os efetiva- aço equivalente ao CA-50A produzido nesses países seria o ASTM Grade 75 que, embora disponível, é pouco utilizado devido às limitações de abertura de fissuras no concreto impostas pelas normas técnicas locais. A possibilidade de congelamento e expansão da água nessas fissuras em ambientes muito frios, com Vergalhão no Brasil custa 2,5 vezes mais que na Índia e o triplo do produto chinês mente pagos em obras reais em todos esses países e correspondem à barra de aço entregue na obra sem o custo de corte e dobra. Também foi feita uma pesquisa retroagindo essas informações a setembro de 2004, de maneira que a análise abrangesse um período maior, sendo esses valores apresentados em gráfico na Figura 1. Um resumo da evolução dos preços é mostrado na Tabela 1, onde também aparece a variação percentual entre o preço no início da série (setembro de 2004) e o pico atingido em 2008, cujo mês varia para cada país, bem como a redução que aconteceu no preço desde o pico aos dias de hoje (abril de 2009). O aço ASTM grade 60 é menos resistente do que o CA-50A brasileiro, equivalendo ao que poderia ser um CA-42A. O a consequente deterioração do concreto, motivou essa limitação. A preocupação com o congelamento não existe no Brasil e por isso é possível usar o CA-50A sem maiores problemas. Embora o aço Grade 75 tenha um preço ligeiramente superior ao do Grade 60, da ordem de 5% a 8%, foi utilizado o preço desse último como elemento de comparação, para não haver uma distorção maior na informação. Essa aproximação não traz uma distorção significativa para a presente análise. Observando-se os valores explicitados na Tabela 1, pode-se ver que o Brasil teve o menor índice de aumento no período de crescimento da economia global (53% contra 90% na Índia), mas por outro lado foi o país que teve a menor queda nos preços após o início da crise (-5%) contra 90% da Índia e China. Em todo o período estudado, o Brasil teve o maior Tabela 1- Evolução dos preços do aço em barra de set 2004 a abr 2009 (US$/ton) aumento residual Variação Fator (46%) contra os País Set 2004 Pico variação Abril 2009 variação total Mult. EUA (20%), Índia (25%) e China (9%). Brasil 1003 1534 +53% 1461 -5% +46% EUA 679 1126 +66% 815 -28% +20% 1,79X Índia 459 872 +90% 572 -34% +25% 2,55X China 442 836 +89% 483 -42% +9% 3,02X Figura 1 – Evolução dos preços do aço em barra para concreto armado (rebar) no Brasil, US, Índia e China. Embora a comparação seja em relação a aços ligeiramente diferentes, o preço atual do vergalhão de aço no Brasil é 79% mais caro que nos EUA, 2,55 vezes mais caro que na Índia e espantosos 3,02 vezes mais caro que na China. Como interpretar esses dados a não ser considerando a escassa competição entre as empresas produtoras brasileiras? Se nosso aço já era o mais caro do mundo em 2004, após a crise a diferença aumentou ainda mais. É muito difícil explicar isso a investidores em imóveis, principalmente para investidores estrangeiros, que esperavam uma redução de preços no Brasil semelhante à dos demais países. Esse problema da falta de competição maior entre as empresas é antigo e tem sido muito discutido no Brasil. Muito discutido e pouco resolvido. Em 2000, atendendo a uma representação do SindusCon-SP, a SDE (Secretaria de Direito Econômico) ingressou com processo no Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) comprovando a prática de divisão de mercado em 1999, mas no Brasil esse caminho é muito moroso, demandando décadas para surtir algum efeito. O caminho da solução talvez seja de natureza mais simples e de implementação imediata –o aumento da competição por meio da importação. Esse caminho sempre esbarrou numa “reserva técnica de mercado” existente no Brasil –a norma brasileira define aços muito diferentes dos mais usados no exterior, principalmente quanto à sua resistência. Isso impede a simples substituição do aço utilizando-se as mesmas bitolas detalhadas no projeto estrutural e vai demandar uma revisão completa, inclusive com redimensionamento das peças estruturais, tornando a solução normalmente antieconômica. Entretanto, a fabricação do aço ASTM Grade 75 está cada vez maior nos EUA e na Ásia, e esse aço é muito semelhante ao CA-50A brasileiro. A única diferença é na especificação do raio mínimo de dobramento, que na norma brasileira é ligeiramente menor do que na ASTM (o aço brasileiro é ligeiramente mais maleável) e dessa forma poderia ser usado diretamente nas obras, sem a necessidade de revisão do projeto. Um ponto importante que estimula essa idéia é o fato de a alíquota do Imposto de Importação para o aço de construção ser zero. Também é possível negociação com os governos estaduais e municipais para a redução das alíquotas de ICMS e IPI incidentes na importação. Além disso, o investimento em equipamento de corte e dobra necessário para entregar o aço pronto para ser montado (cortado e dobrado) não é muito grande, além de existirem diversas empresas acostumadas a fazer esse tipo de serviço e que atuaram com bons resultados no passado. A diferença de preço entre o aço produzido nesses países e o brasileiro é tão grande que parece ser um investimento atrativo e mereceria ser estudado com cuidado. Os Sinduscons espalhados pelo Brasil podem ter uma participação decisiva na viabilização dessa idéia, incentivando empresas a investirem no processo de importação e na transformação do aço em barra para aço pronto, servindo de ponto de ligação entre fornecedores de aço do exterior e empresas importadoras brasileiras, negociando alíquotas de IPI e ICMS junto aos governos, controlando eventual aumento na alíquota de importação devido à pressão dos fabricantes nacionais junto ao governo e, também, evoluindo a normalização brasileira de forma a propiciar a “globalização” da nossa especificação do aço de construção. A solução mais viável para esse problema pode ser no sentido de um dar “choque de capitalismo” no mercado do aço de construção brasileiro. Caso contrário, vamos continuar a nos lamentar nas próximas décadas da mesma forma que fizemos nos últimos 20 anos. * ENGENHEIRO E PROFESSOR CONVIDADO DA POLI-USP, É DIRETOR DA TISHMAN SPEYER E MEMBRO DO CTQ DO SINDUSCON-SP cas, mentários, críti Envie seus co as m te gestões de perguntas e su na: para esta colu .b r an sp ey er.c om lh ce ot to @ tis hm REVISTA NOTÍCIAS DA CONSTRUÇÃO 19 GESTÃO EMPRESARIAL Uma abordagem alternativa N um mundo que parece estar em crise para uns, mas que também pode ser um fértil terreno a ser semeado para outros, reconhecer uma companhia de valor é imprescindível. Em edições passadas, discutimos a respeito da tradicional abordagem de avaliação baseada nos Fluxos de Caixa descontados ao Custo de Capital. Nesta edição, apresento uma nova ferramenta de avaliação de valor: o Modelo Adjusted Present Valu e, ou simplesmente APV, alternativo ao Método Tradicional. Para se chegar ao valor de uma companhia pela abordagem dos fluxos de caixa, devemos projetar fluxos de caixa livres para a companhia (antes do pagamento de juros aos credores) e descontá-los ao custo médio ponderado de capital, ou projetar fluxos de caixa livres para o acionista (ou seja, após o pagamento dos juros aos credores) e descontá-los ao custo de capital do acionista. A abordagem do APV difere da tradicional, na medida em que separa as formas de criação de valor e absorção de risco da companhia. Inicialmente, calcula-se o valor do negócio, independente de suas atividades de financiamento e qualquer benefício ou custo que dela advenha; a seguir, calcula-se o valor do benefício fiscal da atividade de financiamento e também o valor dos custos associados à possibilidade de falên- 22 REVISTA NOTÍCIAS DA CONSTRUÇÃO cia da empresa, financeiramente alavancada. Desta forma, o APV separa e explicita os efeitos de criação de valor através das decisões da companhia. Maria Angelica Lencione Pedreti * beta alavancado, pois, quando a companhia se endivida, o risco financeiro recai totalmente sobre os acionistas que, em última análise, podem perder a companhia se ela não tiver Veja os valores do negócio, do benefício fiscal e do risco de falência separados Um exemplo facilitará a compreensão: imagine a companhia X, que reportou um fluxo de caixa de $ 120 milhões. A companhia, madura, espera crescer 4% ao ano em um crescimento sustentável. Ela tem beta de 1,2 (já considerando seu endividamento) ou beta desalavancado de 0,9231 (considerando apenas o risco do negócio, sem os efeitos do endividamento), suas ações no mercado acionário valem $ 1 bilhão e o valor de mercado do passivo exigível é de $ 500 milhões. A taxa livre de risco é 5% ao ano e o prêmio pelo risco de mercado é 5,5% ao ano. A probabilidade de falência de uma empresa com esse grau de alavancagem é de 10% e, se ela falir, o custo da falência é de 25% do valor do negócio. Estimaremos o valor da companhia X pelo método APV, por meio de uma seqüência de passos: Passo 1: estime o valor do negócio, independente do seu grau de alavancagem financeira. Observe que o beta desalavancado é menor que o condições de pagar os juros. Agora, usamos o CAPM para calcular o custo de capital do acionista: Ksdesalav = 5+(0,9231*5,5) = 10,0771%. Este é o custo de capital do acionista que financia 100% do seu negócio, ou seja, não requer dinheiro emprestado a terceiros. Lembre-se de que esta é a maneira mais cara de se financiar o negócio, mas fica claro que o risco desse acionista é muito menor, pois se trata apenas do risco do negócio. Assim, com um fluxo aproximado de $ 120 milhões e um crescimento projetado de 4% ao ano em perpetuidade (sustentável), o fluxo do próximo ano será de $124,8. Usando-se o Modelo de Gordon para calcular, chegamos ao valor de 124.800.000/ (0,100771-0,04) = 2.056.013,179. Passo 2: estimar o valor criado pelo benefício fiscal advindo da estrutura de financiamento escolhida pela empresa: Valor benefício fiscal = Alíquota de IR*Valor da dívida = 0,4*500.000.000= 200.000.000. Passo 3: estimar o valor dos custos de falência, advindos pelo risco de que a companhia não honre suas dívidas com terceiros. Conforme o exemplo, se a empresa falir, ela perde o equivalente a 25% do valor do negócio e há uma probabilidade de 10% associada a essa falência. Então: PV do custo falência = 0,1 * 0,25 * 2.056.013.179 = 51.400,329. Passo 4: reunir os três componentes. Desta forma o valor da empresa X será dado pelo valor do negócio puro, sem alavancagem, mais o valor do benefício fiscal gerado pela alavancagem financeira, menos o valor que ela perderia se falisse e tivesse que ser dissolvida para pag a r d í v i d a s c o m c r e d o r e s. V = 2.056.013,18 + 200.000.000 – 51.400,33 = 2.204.612.850. Qual o ponto fraco desta abordagem? O custo de falência, que é difícil de se atribuir, principalmente se não houver companhias semelhan- APV explicita os efeitos de criação de valor através das decisões da empresa tes, no setor, que tenham passado por essa infeliz experiência. Se, por outro lado, as houver, observe quanto uma companhia que tenha falido perdeu de valor nesse processo. A probabilidade de falência pode ser obtida junto a bancos de sua confiança, pois eles trabalham exatamente com essa probabilidade para determinar sua classificação de risco e assim também a taxa de juros que cobrarão de eventuais empréstimos. Por outro lado, observe que você enxerga os valores do negócio, do benefício fiscal e do risco de falência separados: você visualiza de onde vem o valor. Outra vantagem: como o APV se- para os efeitos bons e ruins da alavancagem financeira, você pode usálo para fazer simulações e descobrir qual o grau de endividamento que faz o valor total de sua companhia ser o maior possível. * PROFESSORA DE CONTABILIDADE E FINANÇAS DA FGV, MESTRA EM ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS, TRABALHA EM PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO cas, mentários, críti Envie seus co mas gestões de te perguntas e su @ fg vs p. br ne io nc le na : m pa ra es ta co lu REVISTA NOTÍCIAS DA CONSTRUÇÃO 23 INSUMOS Mercado aquecido E Fotos: Divulgação mbora o governo não vá exigir a utilização de energia solar em todos os empreendimentos e em todas as cidades cobertas pelo Minha Casa, Minha Vida, o programa habitacional deixa claro que pretende incentivar de alguma forma a aplicação do sistema. “A energia solar é uma riqueza natural que deve ser a cada dia mais utilizada pelo ser humano. Para isto, cabe ao mercado conseguir reduzir preços de sistemas para que venham os ganhos da escala”, aponta Maurício Bianchi, vice-presidente de Tecnologia e Qualidade do SindusCon-SP. Segundo ele, o programa Minha Casa, Minha Vida pode trazer escala à energia solar. “Os fabricantes entenderam que têm, sim, a oportunidade de inserir o aquecimento via energia solar dentro dos projetos habitacionais”, diz. Além disso, “quando algo é bom, basta investir em custos inteligentes e informação precisa que a ‘ideia pega’, como diz o brasileiro, mas, quando se tenta impô-la, desvaloriza o sistema, por melhor que ele seja”. “Esperamos que haja um efetivo esforço dos fabricantes e projetistas para aprofundar conhecimentos, com base naquilo que já se encontra instalado. É preciso colher informações e comparar os sistemas em funcionamento com opções elétricas e a gás”, diz Bianchi, para quem o governo poderia subsidiar a diferença de custo de implantação, “que é alto”, para receber seu investimento a curto e médio prazos, sob a forma de economia na geração de energia. E sempre há a opção de conjugar sistemas: de aquecimento a gás com solar; elétrico com gás; ou elétrico com solar e gás. O professor da UFSC e pesquisador do Procel Edifica/Eletrobrás, Roberto Lamberts, lembra que, em média, “só 50% da água é aquecida por energia solar”. O restante, diz, precisa- Programa habitacional do governo incentiva uso de energia solar rá, por exemplo, de resistência elétrica. “Nesse caso, um chuveiro na ponta seria a melhor opção”, afirma. Mesmo assim, a indústria se esforça em oferecer produtos adequados às classes mais baixas. “No ano passado obtivemos excelentes resultados nos empreendimentos para baixa renda e classe média, que juntos responderam por 15% de nossa receita”, aponta Edson Pereira, presidente da fabricante Transsen, que desenvolveu a linha Porto Seguro, mais versátil e resisten- O Soletrol Eco Total 300 é o maior modelo compacto do mercado; no alto, aquecedor solar acoplado, da Transsen te a ataques químicos decorrentes de maresia e águas corrosivas, especialmente em regiões onde não há grande oferta de água tratada. Já o coletor Magnum da Transsen promete a maior produção de energia mensal do país. Com classificação “A” do Inmetro, garante maior resistência mecânica e durabilidade, segundo o fabricante. A Soletrol lançou o Eco Total 300, que se destaca por sua contradição: é o maior modelo compacto do mercado, com reservatório de 300 litros, que atende a famílias de 4 até 8 pessoas, conforme os hábitos individuais de banho. Indicada para residências de até 120 m², novas ou construídas, o aquecedor solar compacto Soletrol Solarmax atende a famílias de 4 a 6 pessoas, de acordo com os hábitos do banho. Possui coletor solar de 1,6 m², reservatório térmico com capacidade para 200 litros e pode ser fornecido com sistema auxiliar elétrico. Canteiro Para Bianchi, as construtoras também poderiam contribuir espalhando coletores nos canteiros de obra. “Elas podem usar energia solar. O governo teria como dar crédito tributário para uso posterior no Habite-se”, afirma. Numa simples conta, segundo ele, se há 2 milhões de trabalhadores da construção civil no mercado formal, e a norma NR-18 exige um chuveiro a cada 10 operários, poderia haver nos canteiros 200 mil chuveiros elétricos a menos funcionando em horário de pico (quase todos tomam banho entre 17h e 18h). “Façam as contas que quiserem. É muito mais do que muita cidade consome”, lembra Bianchi. (Nathalia Barboza) SINDUSCON-SP EM AÇÃO Acordo prevê reajuste escalonado de R$ 2.500 até R$ 5.000; e Os presidentes do SindusCon-SP, Sergio Watanabe, e 3% para acima de R$ 5.000. Os pisos subiram para R$ do Sintracon, Antonio Rama767,80 (não-qualificados) e lho, assinaram no fim de abril R$ 917,40 (qualificados). A Convenção Coletiva de Tracesta básica passou para 36 balho relativa à data-base de quilos, e as empresas deve1º de maio. rão fornecer protetor solar Do lado do SindusCon-SP, aos trabalhadores expostos as conversações foram conao sol. As demais cláusulas duzidas pelo Comitê e pelo mantiveram-se inalteradas. Núcleo Permanente de Negociação, coordenados pelo No interior vice-presidente de Relações Eber Duarte, Izabel Oliveira, Renato Romano, Antonio Ramalho, Sergio Watanabe, Haruo Ishikawa, Darci Gonçalves e Bauer, na assinatura No início de maio, no feCapital-Trabalho, Haruo Ishichamento da presente edikawa, com a participação do Desde 1º de maio, foram aplicados ção, as conversações com os sindicatos conselheiro Roberto José Falcão Bauer, os seguintes reajustes escalonados: do interior encontravam-se bastante do associado Marcio Escatêna e dos as6,74% para quem recebe salário de até adiantadas, com possibilidade de assisessores jurídicos Renato Romano e IzaR$ 2.500,00; 5,50% para salários acima natura de novos acordos coletivos. bel Flores de Oliveira. 26 Operação Urbana Conselho Jurídico volta à ativa será atualizada Seconci-SP tem nova diretoria A Operação Urbana Água Branca terá sua lei refeita, adequando-a ao Estatuto da Cidade e às exigências de impacto ambiental, e dotando-a de uma gestão compartilhada com a iniciativa privada. O anúncio foi feito pelo diretor de Desenvolvimento e Intervenções Urbanas da Emurb, Rubens Chammas, em palestra para mais de 100 pessoas, em abril, no SindusCon-SP. O evento foi aberto pelo vice-presidente de Imobiliário do sindicato, Odair Senra, que enfatizou a importância de a construção civil conhecer em profundidade as operações urbanas e os títulos públicos Cepacs. Chammas apresentou a situação de cada uma das quatro Operações Urbanas em andamento no município. O presidente do SindusCon-SP, Sergio Watanabe, representou o sindicato na solenidade de posse da nova Diretoria e Conselho Consultivo do Seconci-SP, em abril, na sede daquela entidade. Três representantes do sindicato integram o Conselho: os vice-presidentes Haruo Ishikawa e Maristela Honda, e o representante à Fiesp e conselheiro Sergio Porto. Watanabe destacou o trabalho desenvolvido nestes 45 anos de existência do Seconci-SP, agradecendo à dedicação de todos os empresários do setor que assumiram a entidade. O novo presidente do Seconci-SP, Antonio Carlos Salgueiro de Araujo, listou os desafios da entidade de ampliação do atendimento à saúde, e o ex-presidente Francisco Crestana fez um histórico das conquistas da entidade. REVISTA NOTÍCIAS DA CONSTRUÇÃO O Conselho Jurídico do SindusConSP retomou suas atividades em reunião coordenada pelo presidente do sindicato, Sergio Watanabe, e pelo vice-presidente de Jurídico, Paulo Brasil Batistella. O advogado e colunista da revista Notícias da Construção, José Carlos Puoli, foi eleito coordenador do Conselho. Montou-se uma agenda de trabalhos. Uma das primeiras ações será uma análise do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida, sob as óticas jurídica e tributária. Além de Puoli, participaram da reunião os advogados Renato Romano (assessor jurídico do SindusCon-SP), Alexandre Tadeu Navarro, Carlos Del Mar, Gilberto Capocchi, Marcos Minichillo, Paulo Neder e Renato Darcy de Almeida. REVISTA NOTÍCIAS DA CONSTRUÇÃO 27 SEGURANÇA DO TRABALHO Mantendo fachadas D evido ao seus graves riscos, os serviços de reforma, manutenção e limpeza de fachadas devem merecer especial atenção. Por desconhecimento ou omissão de contratantes e prestadores de serviços, estas atividades costumam não atender às normas, aumentando ainda mais estes Trilho fixado de forma riscos. Para realizar estes serviços com segurança, são necessários planejamento e utilização de equipamentos apropriados. Entretanto, boa parte das construtoras não costumava deixar, nos edifícios, pontos de ancoragem definitivos para os equipamentos de sustentação de andaimes e cabos de segurança destinados ao uso da proteção individual. Frequentemente, a ancoragem de cabos-guia e de sustentação era feita em pontos improvisados, com risco de acidentes. Esta situação mudou a partir da Portaria 157, de 10 de abril de 2006. Segundo ela, toda edificação com 4 ou mais pavimentos, ou altura de 12 metros ou mais, deverá prever em seu projeto estrutural a instalação de 28 REVISTA NOTÍCIAS DA CONSTRUÇÃO Gianfranco Pampalon * xada em elemento estrutural da edificação. Se sustentada em platibanda ou beiral da edificação, esta deverá sofrer estudos de verificação estrutural sob responsabilidade de profissional habilitado. Na pintura ou restauro de fachada, é proibida a terceirizapermanente no topo do edifício; no destaque, exemplo de ancoragem ção ou o contrato temporário. A esperas ou dispositivos destinados empresa contratada deve executar o à ancoragem, com exceção das ediserviço com funcionários próprios. ficações que possuírem projetos específicos para instalação de equipaCuidados na contratação mentos definitivos para limpeza, maConheça a empresa que vai connutenção e restauração de fachadas, tratar. Solicite documentos como: como gôndolas, trilhos etc. CNPJ; CCM; últimas guias de recoOs pontos de ancoragem precilhimento de INSS, FGTS e ISS; ficha sam estar dispostos de modo a atende registro, atestados de saúde e der todo perímetro da edificação, comprovante de treinamento em sesem provocar abrasão ou esforços gurança do trabalho dos operários. cortantes nos cabos e apresentando Caso a empresa não os apresente, uma carga pontual de 1.200 Kgf. Denão a contrate, pois o síndico e o converão se fixar em parte estrutural do domínio estarão assumindo os risedifício e serem de material resistencos. te a intempéries, como o aço inoxiA concorrência não pode ser badável ou material de característica lizada somente pelo menor preço. equivalente. Lembre-se de que o contratante é A sustentação de andaimes susresponsável solidário na ocorrência pensos só poderá ser apoiada ou fide acidentes. Nas atividades de manutenção de fachadas, devem merecer especial atenção os seguintes itens de segurança: • Sistemas de fixação seguros para elementos de sustentação de andaimes suspensos; • ancoragem para cabo-guia; • uso correto de dispositivos de segurança; • critérios na escolha, uso e manutenção de cabos de sustentação; • correta utilização dos EPIs • recomendações de segurança para estas atividades; • critérios na escolha e contratação de empresas prestadoras de serviço. Todo serviço realizado em fachada exige um planejamento dos seguintes itens: • tipo de fachada, estado dos componentes e resistência dos beirais. • definição da movimentação nos Confira os itens que devem ser observados nos serviços que exigem ancoragem segura beirais visando deslocamento racional, distante de rede elétrica e garantindo resistência mecânica de todos os pontos de ancoragem de no mínimo 1.200 kg. • definição dos materiais e equipamentos necessários à realização dos trabalhos. Se a edificação estiver próxima ou junto ao passeio, deve ser instalada tela de proteção na fachada e galeria de proteção sobre o passeio com altura interna livre de no mínimo 3 metros, para prevenir a possível queda de materiais sobre transeuntes. Em caso de necessidade de realização de serviços sobre o passeio, a galeria deve ser executada na via pública, devendo neste caso ser sinalizada em toda sua extensão, por meio de sinais de alerta aos motoristas nos dois extremos e iluminação durante a noite, respeitando-se a legislação do Código de Obras municipal e de trânsito em vigor. * ENGENHEIRO CIVIL E DE SEGURANÇA DO TRABALHO, É AUDITOR FISCAL DO TRABALHO DA SRTE/SP cas, mentários, críti Envie seus co as m te de s gestõe perguntas e su na: para esta colu uo l.c om .b r p@ gi an fra nc os REVISTA NOTÍCIAS DA CONSTRUÇÃO 29 NOTÍCIAS DAS REGIONAIS Bauru lança “Adote uma Creche” derá “adotar” uma enA Regional Bauru do SindusCon-SP acatidade indicada pela Prefeitura Municipal. ba de lançar o Projeto Os empresários apro“Adote uma Creche”. A vam a idéia: 15 consproposta é incentivar trutoras já aderiram à empresários da construiniciativa. ção civil do município e O lançamento do região a assumirem um projeto foi feito durancompromisso com a reste o Encontro de Emponsabilidade social. presários da Constru“A ideia é que cada ção Civil, que reuniu empresa ‘adote’ uma entidade e garanta, pelo cerca de 30 pessoas em Bauru em abril. O menos por um ano, a manutenção gratuita evento discutiu o padas instalações. Paralepel do SindusConSP e das construtoras lamente, também queremos que haja uma inteno cenário atual do Encontro da Construção Civil em Bauru, onde o projeto foi oficialmente lançado setor. ração das diretorias de empresas e instituições, Na oportunidade, cessitam desta intervenção. “O governo representantes de diversas empresas deno intuito de otimizar os processos adminão tem estrutura para bancar tudo. Precibateram os principais desafios da construnistrativos das creches. Assim, contribuisamos das parcerias”, comentou a titular remos para o bom funcionamento das enção civil na região e apresentaram proda Sebes, Darlene Tendolo. postas para alavancar o desenvolvimento tidades e, consequentemente, para um do setor. melhor atendimento às crianças”, afirmou Adesões feitas Para saber mais ou aderir ao Projeto o diretor da Regional, Renato Parreira. De acordo com o diretor regional ad“Adote uma Creche”, entre em contato com O Projeto “Adote uma Creche” conta junto do SindusCon-SP, Rogério Caetaa Regional Bauru: (14) 3234-1242 ou com o apoio da Secretaria Municipal do no, a empresa que aderir ao projeto [email protected]. Bem-Estar Social (Sebes) de Bauru, que rá escolher uma creche ou, se preferir, po(Sabrina Magalhães) deverá indicar as entidades que mais ne- Sorocaba terá ação contra dengue O diretor da Regional Sorocaba do SindusCon-SP, Ronaldo de Oliveira Leme, prepara uma grande ação entre as construtoras associadas para a conscientização contra a ameaça da dengue nos canteiros de obras. “É uma questão de saúde pública. Devemos nos debruçar sobre o assunto e começar um trabalho para acabar com o problema. Uma ação conjunta resolve a situação", afirmou Leme. 30 REVISTA NOTÍCIAS DA CONSTRUÇÃO Em 25 das 30 obras vistoriadas pela equipe da Zoonoses de Sorocaba nos últimos meses, foram encontrados focos do mosquito transmissor. Estavam em latões, tambores, caixas de preparação de massa e em outros equipamentos usados pelos trabalhadores. A chefe de seção de controle da Zoonoses, Nila Puglia, explicou que a situação preocupa porque há cerca de 220 imóveis nessa situação na cidade. “Não há como voltarmos a um prédio vistoriado no qual foi descoberto criadouro do inseto, num prazo menor de um ano”, frisou. De janeiro a abril deste ano, foram registrados apenas dois casos de dengue importados na cidade. No mesmo período no ano passado ocorreram 14 casos autóctones (contraídos na própria cidade) e (Alexandre Branco) 14 importados. REVISTA NOTÍCIAS DA CONSTRUÇÃO 31 A Regional Sorocaba do SindusCon-SP foi uma das patrocinadoras da 5ª Semana Municipal de Prevenção de Acidentes de Trabalho. Exposições, palestras, passeio ciclístico e teatro infantil marcaram a programação do evento, na primeira semana de maio. As atividades foram preparadas por uma comissão organizadora formada por representantes de vários setores, como Prefeitura, Câmara dos Vereadores, indústrias, instituições de ensino, Conselho Municipal da Saúde (CMS), Ordem dos Advogados do Brasil, sindicatos e outros órgãos representantes de classe. A realização é da Prefeitura, por meio da Secretaria da Saúde e do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest). Paulo Ochandio/AI Prefeitura de Sorocaba Prevenção de acidentes ganha patrocínio Palestra sobre acidentes de trabalho foi um dos eventos da Semana Municipal, em Sorocaba A Sempat é realizada anualmente com o objetivo de marcar a passagem do Dia do Trabalho. O evento é aberto a toda a sociedade para discutir e refletir sobre as questões relacionadas à saúde e à segurança do trabalhador. (AB) Ribeirão terá feira de imóveis Rio Preto apóia evento A regional Ribeirão Preto do SindusCon-SP promoverá a Feira de Imóveis SindusCon-SP e desenvolverá, em parceria com a Caixa, o 5º Feirão da Casa Própria em Ribeirão Preto. Os dois eventos ocorrerão simultaneamente de 5 a 7 de junho, no Novo Shopping daquela município, sendo que a Feira terá patrocínio exclusivo da Caixa. O objetivo é reunir construtoras, compradores e a instituição financeira no mesmo espaço, facilitando o fechamento do negócio e a obtenção de crédito. “Ao todo, 15 construtoras associadas participarão da Feira, ofertando produtos de pelo menos 20 empreendimentos. Será uma soma de esforços que gerará um gran- de benefício para as associadas e a cidade”, afirmou o diretor da Regional, José Batista Ferreira. “O SindusCon-SP, além de um grande parceiro da Caixa, representa o segmento da construção civil na região e, por isso, é um importante facilitador do Feirão”, disse Celso Javorski, gerente regional da Caixa no segmento da construção civil. A expectativa da instituição financeira é de receber aproximadamente 20 mil visitantes e realizar negócios imobiliários na ordem de R$ 50 milhões nos três dias de Feirão –negócios que têm impacto direto na geração de 800 a 1.000 novos empregos diretos e indiretos. (Luiza Pellicani) Campinas oferece atualização Estão abertas as inscrições para a 6ª turma do Curso de Especialização Lato Sensu em Gestão e Tecnologia de Sistemas Construtivos de Edificações oferecido pela UFSCar em parceria com a Regional Campinas do SindusCon-SP. Com iní- 32 REVISTA NOTÍCIAS DA CONSTRUÇÃO cio previsto para 8 de agosto no Colégio Cotuca, o curso destina-se a engenheiros, tecnólogos e arquitetos. Associados do SindusCon-SP têm ainda desconto na matrícula. Informações: (16) 3351-9660 ou www.deciv.ufscar.br/gtsce6/ . A Regional São José do Rio Preto do SindusCon-SP fechou parceria com a AM Bureau, organizadora da ConstruWeek –feira da construção, decoração e empreendimentos imobiliários, com o objetivo de facilitar a participação das construtoras associadas no evento. As associadas terão 10% de desconto no valor da aquisição do estande para participar do evento. O SindusConSP também terá sua logomarca publicada nos materiais de divulgação, além de apresentar seus serviços na exposição e captar novos associados. A ConstruWeek será realizada de 18 a 21 de junho, no pavilhão do Interior Eventos, um espaço com 16 mil m². Na edição de 2008 a feira recebeu mais de 20 mil visitantes e gerou, segundo os organizadores, R$ 52 milhões de reais em negócios aos expositores. (EM) REVISTA NOTÍCIAS DA CONSTRUÇÃO 33 MARKETING Marketing sustentável N a alimentação, a onda orgânica já é uma realidade. No vestuário, começa a movimentação por fibras e tinturas naturais. Na construção, os edifícios verdes iniciam sua presença. Mas podemos chamar tudo isso de empreendimentos sustentáveis? Podemos buscar a sustentabilidade na logística, economizando espaço e tempo de armazenagem; no transporte, utilizando combustível limpo e com menores trechos de traslado; na iluminação, aproveitando energia solar ou luz natural; na água, com tratamento de efluentes, no sistema de refrigeração etc.. Entretanto, não podemos afirmar que um empreendimento seja sustentável, a menos que toda a sua cadeia produtiva esteja construída de forma a garantir essa qualificação. Na construção, é necessária a qualificação da mão de obra, pois a sustentabilidade começa com o processo educacional. Um trabalhador qualificado diminuirá desperdícios e acidentes de trabalho. E possibilitará a reciclagem de sobras de materiais. Um edifício, residencial, industrial ou comercial, só será realmente sustentável se todo o seu projeto for pensado com essa filosofia, e se o processo educacional de seus ocupantes e da população flutuante fizer parte do projeto. A educação para uso adequado da água e da energia evitando desperdício na limpeza das áreas comuns, o recolhimento do lixo em recipientes separados para permitir a reciclagem, a utilização correta dos equipamentos, tudo deve integrar o projeto original. O investimento será maior, mas o retorno também. 34 REVISTA NOTÍCIAS DA CONSTRUÇÃO Não é concebível que ainda se lavem calçadas com mangueiras e esguichos domésticos. Ou que as caçambas dos canteiros de obra sirvam de depósito de todo tipo de lixo, inclusive orgânico. A deterioração das áreas públicas e centrais das grandes cidades é visível e os projetos de recuperação, risíveis e invisíveis. O desperdício de água e energia no país é espantoso. O Brasil desperdiça 1 milhão de m³ de biogás por dia, em aterros sanitários, estações de tratamento de água e na agroindústria. Há mais de 40 aterros Antonio Jesus de Britto Cosenza * autonomia e autosuficiência de suas atividades econômicas. Os grandes e demorados deslocamentos provocam tensão, aumento da agressividade e violência, além do grande desperdício econômicofinanceiro. Os transportes públicos não parecem merecer atenção maior dos dirigentes das concentrações urbanas. Incentiva-se o transporte individual de tal forma que o número de carros em Brasília, cidade planejada, já provoca engarrafamentos dignos de São Paulo. Projetos de edifícios já deveriam prever a educação ambiental dos futuros ocupantes que não aproveitam o combustível. Temos entraves burocráticos e legais que ainda não foram solucionados pela Agência Nacional do Petróleo. É preciso vontade política para ingressarmos na era da sustentabilidade. Até uma grande obra de engenharia, como uma hidrelétrica, provoca um desequilíbrio de forças sociais não considerado por ocasião do planejamento. A construção de um grande condomínio ou de um simples shopping center causa um congestionamento viário que implica mais gasto de combustível e maior tempo de locomoção, desperdícios incompatíveis com a sustentabilidade. Não há uma preocupação com os deslocamentos das pessoas nos grandes centros. Não há um projeto de retenção dos habitantes numa área geográfica, pela Podemos, sim, ter obras emblemáticas para atestarmos a nossa entrada na era da sustentabilidade. Elas são necessárias pois demonstram um esforço real. O que não podemos é imaginar que elas sejam suficientes para mascarar todo o desmando e falta de planejamento educacional de uma população que clama por uma melhor qualidade de vida. É com educação e conscientização que faremos o marketing sustentável e contribuiremos para a preservação dos recursos do nosso país. * CONSULTOR DE EMPRESAS E PROFESSOR DA EAESPFGV E DA BBS cas, mentários, críti Envie seus co as gestões de tem perguntas e su na: para esta colu .com.br nzaeassociados se co a@ nz cose INOVAÇÃO A construção civil no mundo em crise N a semana de 20 de abril ocorreu mais uma reunião do Conselho Internacional da Construção – CIB (Internacional Council for Research and Innovation in Building and Construction), na cidade de Shanghai, na China. Normalmente depois desses encontros, costumo fazer um relato das tendências internacionais do nosso setor, que num curto espaço de tempo repercutem no Brasil. Desta vez, vou postergar esse relato para o próximo mês, e comentar nesta edição as repercussões da crise financeira mundial na construção civil de diversos países. Durante a reunião do Conselho do CIB, decidiu-se reservar um período para que os participantes relatassem o que estava ocorrendo com o setor nos seus países e as perspectivas que se apresentavam. Aproveitou-se a oportunidade única de se ter representantes de diversos países juntos, num momento muito particular do setor, e se fez a rodada de relatos. Pode parecer inoportuno tratar desse tema numa coluna sobre Inovação, mas nos comentários finais ficará claro que há muita correlação. O levantamento feito foi empírico, pois não se utilizou nenhum critério científico nem se adotou uma metodologia para isso. Os conselheiros apresentaram os seus relatos de forma dispersa, utilizando dados que conheciam ou estavam disponíveis pela internet, alguns ampliando o seu escopo para toda a sua região. O Conselho tem predominantemen- 36 REVISTA NOTÍCIAS DA CONSTRUÇÃO te representantes dos países desenvolvidos e não pode ser considerado como abrangente. Por exemplo, sou o único representante da América Latina, e do continente africano só há um representante, da África do Sul. Por fim, do grupo do BRIC, faltaram os dados da Rússia, apesar de se ter conhecimento da grande dificuldade da indústria daquele país, neste momento. Vahan Agopyan * cios públicos foi pequena, na maioria dos países; b) com exceção da Europa Oriental, incluindo-se a Rússia, a crise no setor da construção acontece numa escala bem menor do que a crise geral do país; essa indústria sente a repercussão da crise, mas não com a mesma gravidade e intensidade que os demais setores industriais ou de serviços; A maioria dos governos estimula o setor como forma de combate à crise econômica As constatações feitas pelos 24 conselheiros de 20 países foram muito instigantes e interessantes, merecendo por isso a sua divulgação. Os países participantes desse levantamento foram: África do Sul, Alemanha, Austrália, Bélgica, Brasil, China, Dinamarca, Estados Unidos, Finlândia, França, Holanda, Hong Kong (que tem uma economia diferente do resto da China), Hungria, Índia, Israel, Japão, Nova Zelândia, Reino Unido, Suécia e Suíça. Não pretendo fazer um relatório cansativo das apresentações, mas sintetizá-las apresentando os principais destaques, que foram: a) o setor mais afetado, de uma maneira geral, é o de edificações, particularmente as construções habitacionais (casas ou edifícios) e os edifícios comerciais. A redução da construção de edifí- c) a maioria dos governos adotou o estímulo à construção civil como instrumento de combate à crise econômica. Parece uma redescoberta de Keynes, com a vantagem de, ao se melhorar a infraestrutura de um país, estimular-se o crescimento de outros setores produtivos. Isto vem ocorrendo, numa escala menor, mesmo nos países escandinavos e na Suíça, que já tem uma infraestrutura bem desenvolvida; d) as empresas que exportavam intensamente serviços de construção, como as da África do Sul, França, Holanda, Japão e Reino Unido (provavelmente também as da Coréia do Sul e da Turquia) estão sofrendo graves problemas decorrentes de suas atividades no exterior (por exemplo nos Emirados Árabes) e não em seus países de origem; e) como a tendência dos governos é de investir predominantemente em obras de infraestrutura, a construção civil apresenta, em média, indicadores satisfatórios, mas não de forma homogênea. As grandes construtoras, que sobreviveram ao início da crise, estão se recuperando e ficam preocupadas com o acúmulo de serviço nas empresas de projeto, que não conseguem aceitar novas propostas (principalmente na Alemanha, Finlândia, Holanda, Hong Kong, Reino Unido) e com isso não permitem a abertura de novas oportunidades/frentes. Mas as pequenas empresas dedicadas às construções habitacionais não têm muitas alternativas e estão sendo as maiores vítimas da crise; f) apesar do quadro apresentado não ser tão problemático (os conselheiros construtores eram os mais entusiasmados), todos externaram a preocupação para depois de 2010, se a crise econômica não for superada até lá; g) alguns governos estão criando novas demandas para manter a construção civil em atividade. O tema central é o ambiente construído limpo, verde e economizando energia, e para isso reformam e adequam os edifícios públicos, com essa abordagem. Outros países estão melhorando o desempenho contra sismos dos seus edifícios e obras-de-arte; h) na mesma semana, o FMI apresentou um novo relatório aumentando a previsão de crescimento da China para 6,5% neste ano, devido principalmente ao bom desempenho econômico que a construção civil apresentou no primeiro trimestre do ano; i) a Exposição Universal de 2010 em Shanghai, na China, e a Copa do Mundo na África do Sul foram destacados como grandes alavancadores da indústria. A cidade de Shanghai é hoje um canteiro de obras, não apenas para a construção da sede da exposição, mas está ampliando de forma acelerada toda a sua infraestrutura viária, metrô, trem urbano e edificações para serviços; Pelos pontos acima apresentados, a crise econômica mundial está sendo en- carada como uma oportunidade para a indústria da construção civil, na maioria dos países. No entanto, o setor está bem maduro e consciente de que se deve manter competitivo e eficiente para transpor esse período e evitar uma euforia que possa criar uma nova “bolha” fictícia de Aproveito essa colocação para mostrar a conexão entre o desempenho do setor na crise e a Inovação. Se estivermos considerando o momento como uma oportunidade para a construção civil, não podemos desperdiçá-la. Temos que aproveitar e desenvolver as nossas ativida- crescimento, já que não se pode esperar pelo investimento governamental por um longo prazo. A realidade do nosso país não é muito diferente da acima apresentada, pois felizmente tanto o governo federal como vários estaduais e municipais têm adotado a postura de investir na infraestrutura para combater a crise. Da mesma forma, temos que ser precavidos para evitar dissabores num futuro próximo, e muito criativos para superar as dificuldades pontuais. A preocupação, já externada por vários especialistas, é que não estamos aproveitando adequadamente essa situação para desenvolver a nossa indústria, tornando-a mais sustentável e mais competitiva. des, implantando novas tecnologias para a maior sustentabilidade do ambiente construído, para que nos tornemos mais competitivos quando a situação econômica se recuperar. É o que estão fazendo as empresas no exterior, incluindo as da China, Índia e África do Sul. As pequenas construtoras habitacionais estão entre as maiores vítimas da crise * PROFESSOR TITULAR DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO E COORDENADOR DE C&T DA SECRETARIA DE DESENVOLVIMENTO DO ESTADO DE S. PAULO cas, mentários, críti Envie seus co as m gestões de te perguntas e su na: para esta colu n@ po li. us p. br va ha n. ag op ya REVISTA NOTÍCIAS DA CONSTRUÇÃO 37 JURÍDICO Propósito específico A segregação dos empreendimentos imobiliários é uma prática já muito comum em nosso mercado, em que cada negócio usualmente é representado por uma empresa individualizada, de forma a destacar e separar os seus resultados, em consonância às suas características e particularidades, sendo recomendada a estruturação de maneira mais eficiente e apropriada através da constituição de diversas SPEs (Sociedades de Propósito Específico), uma para cada empreendimento. Essa modalidade permite o deslocamento e a concentração da carga tributária de forma individualizada em cada uma das SPEs, mas o aspecto fiscal é apenas um para essa forma de estruturação. Utilizada em larga escala pelas empresas do setor imobiliário, a SPE caracteriza-se pela constituição de uma empresa (subsidiária) destinada a uma obra ou uma operação específica, que já nasce com objeto e prazo de duração predeterminados, visando exclusivamente o cumprimento daquele objeto, inclusive com a eventual participação de outros investidores e parceiros. Abaixo, listamos outras características mostrando que a constituição de SPEs é forma legítima, válida e adequada especialmente para o mercado imobiliário: Alienação: por se tratar de uma empresa isolada/destacada, a operacionalização em caso de alienação integral de um desses empreendimentos envolve procedimentos menos burocráticos, mais ágeis e, frise-se, mais econômicos, se comparada à alienação das unidades imobiliárias propriamente ditas. 38 REVISTA NOTÍCIAS DA CONSTRUÇÃO Personalidade Jurídica: a SPE tem personalidade jurídica própria, ou seja, é uma empresa autônoma. Por esta razão, está sujeita à entrega de todas as declarações exigidas pelos Fiscos e ao pagamento dos tributos devidos, bem como ao cumprimento das demais obrigações acessórias, permitindo um controle rígido e mais completo de sua regularidade. Alexandre Tadeu Navarro Pereira Gonçalves* Como se vê, a forma jurídica de uma SPE confere melhor individualização dos custos e receitas de cada um dos empreendimentos, ao mesmo tempo em que oferece certa flexibilidade considerando a possibilidade de alienação da integralidade do empreendimento, ou mesmo alienando apenas seus recebíveis. Adicionalmente, essa estrutura permi- A constituição de SPEs é forma legítima, válida e adequada para setor imobiliário Riscos da Operação: por estarem as SPEs delimitadas e individualizadas por empreendimento, os riscos comerciais, fiscais e trabalhistas delas estão segregados das obrigações próprias das demais empresas e negócios, dos sócios pessoas físicas e das outras SPEs. E é essa segregação que, reduzindo os riscos da operação, permite uma maior facilidade na obtenção de recursos junto às instituições financeiras, maior flexibilidade junto aos fornecedores e prestadores de serviços de cada empresa. Regime de Tributação: a SPE poderá optar por um regime de tributação (lucro real, lucro presumido, RET ou lucro real com custo orçado) diferente daquele pelo qual a empresa-mãe optou e diverso daquele adotado por outras empresas de um mesmo grupo. Tipo Societário: a SPE poderá constituir-se sob a forma de uma sociedade limitada ou sob a forma de sociedade por ações. te a segregação dos negócios, evitandose, com isso, os riscos de contaminação com eventuais problemas ocasionados em outras operações ou mesmo em outros empreendimentos, especialmente considerando a grande diversidade dos negócios imobiliários praticados pelos principais grupos que atuam em nosso mercado, a saber: incorporações (comerciais e residenciais); loteamentos; locações comerciais estruturadas (built-to-suit); shopping center; urbanismo; construção civil etc. * ADVOGADO INTEGRANTE DO CONSELHO JURÍDICO DO SINDUSCON-SP E SÓCIO DO ESCRITÓRIO NAVARRO E MARZAGÃO ADVOGADOS ASSOCIADOS. cas, mentários, críti Envie seus co as gestões de tem perguntas e su na: para esta colu co m .b r c. bi na ta de u@ REVISTA NOTÍCIAS DA CONSTRUÇÃO 39
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