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Revista Brasileira de NEUROLOGIA Órgão Oficial do Instituto de Neurologia Deolindo Couto Vol. 52 • No 2 • Abr/Mai/Jun - 2016 Revista Brasileira de Neurologia » Volume 52 » Nº 2 » Abr/Mai/Jun 2016 ISSN 0101-8469 CODEN RBNEES ISSN eletrônico: 2447-2573 1 Acesso pelo LILACS-Express Revista Brasileira de NEUROLOGIA Órgão Oficial do Instituto de Neurologia Deolindo Couto Editorial 4 Efeitos da irradiação de força contralateral no controle motor da extensão de punho de pacientes após acidente vascular cerebral 5 Mariana Luiza da Silva Queiroz, Débora Wanderley, Maria das Graças Wanderley de Sales Coriolano, Luciana Rodrigues Belo, José Vicente Martins, Paulo José Moté Barboza, Daniella Araújo de Oliveira Avaliação dos membros superiores na doença de Parkinson: implicações para a Reabilitação Física 12 Thais Vianna Correa; Thiago da Silva Rocha Paz; Ana Elisa Lemos Silva; Gisele de Paula Vieira; Marco Antonio Araujo Leite; Silvana Allodi; Marco Orsini; Clynton Lourenço Correa Evolução cronológica do conhecimento neuroanatômico 17 Disfagia devido a osteofitose cervical: Relato de caso 22 Relação entre o equilíbrio e a capacidade funcional em hemiparéticos 27 The uncinate fascicle: from real to virtual dissection 48 Instruções para os autores 50 Sergio Murilo Georgeto, Munir Antonio Gariba, Karen Parron, Alekcey Glayzer Gavioli Colione, Luiz Roberto Aguiar Rogério Martins Pires de Amorim, Ana Caroline Siquara de Sousa, Lucas Loiola Santos, Maristella Reis da Costa Pereira, José Fernando Guedes-Corrêa Janmille de Sá Neves; Gabriela Ferreira; Tatiana Maíta Alves Conceição Eliasz Engelhardt, Denise Madeira Moreira, Felipe Kenji Sudo, Gilberto Sousa Alves, Júlio César Vasconcelos da Silva, Jerson Laks 2 Revista Brasileira de Neurologia » Volume 52 » Nº 2 » Abr/Mai/Jun 2016 Revista Brasileira de NEUROLOGIA Órgão Oficial do Instituto de Neurologia Deolindo Couto Fundador: Deolindo Augusto de Nunes Couto Diretor: José Luiz de Sá Cavalcanti Editores: Eliasz Engelhardt Marleide da Mota Gomes Editores associados: Marco Oliveira Py Luiz Felipe R. Vasconcellos Comissão científica: Abelardo Queiroz Campo Araújo Alexandra Prufer Araújo Ana Cláudia Celestino B. Leite Andrea Camaz Deslandes Claudia Marcia Nacif Drummond Claudia Domingues Vargas Denise Madeira Moreira Jerson Laks José Mauro Braz de Lima José Vicente Pereira Martins Leila Chimelli Luíz Antônio Alves Duro Marcos Raimundo Gomes de Freitas Marzia Puccioni-Sohler Osvaldo José Moreira do Nascimento Péricles Maranhão Filho Regina Maria Papais Alvarenga Sergio Augusto Pereira Novis Bibliotecárias: Luzinete Alvarenga Núbia Tavarez Gomes CIP-Brasil - Catalogação na Fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livro - RJ R349 Revista Brasileira de Neurologia/Instituto de Neurologia Deolindo Couto, Universidade Federal do Rio de Janeiro [vol 1 - nº 1 (1949)] Continuação do: Jornal Brasileiro de Neurologia [vol 19 - nº 6 (1983)] Trimestral a partir do vol 37 - nº 1 (2001) [descrição baseada no vol 34 - nº 6 (1998)] 1. Neurologia - Periódicos brasileiros. I. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Instituto de Neurologia Deolindo Couto. II. Título: Jornal Brasileiro de Neurologia. 98-1980CDD 616.8 CDU 616.8 ISSN 0101-8469 CODEN RBNEE Envie seu artigo científico para publicação na Revista Brasileira de Neurologia somente ON LINE: RBN: https://revistas.ufrj.br/index.php/rbn Endereço científico: Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Neurologia Deolindo Couto Av. Venceslau Brás, 95 - Botafogo 22290-140 - Rio de Janeiro - RJ - Brasil Tel.: (5521) 3873-5625 E-mail: [email protected] Revista Brasileira de Neurologia » Volume 52 » Nº 2 » Abr/Mai/Jun 2016 3 Editorial A Revista Brasileira de Neurologia (RBN) é um periódico tradicional da neurologia brasileira desde 1949 (originalmente com o nome de Jornal Brasileiro de Neurologia) e recentemente sua divulgação passou a ocorrer na forma virtual, podendo a RBN ser acessada no sítio https://revistas. ufrj.br/index.php/rbn para encontrar os artigos em PDF do interesse do usuário, fazer a submissão de manuscritos e acompanhar o seu processamento. Cumpre ressaltar que a ampla divulgação dos artigos é muito favorecida pela indexação no LILACS e sua inserção na página do LILACS-Express. 4 Revista Brasileira de Neurologia » Volume 52 » Nº 2 » Abr/Mai/Jun 2016 Rev Bras Neurol. 52(2):5-11, 2016 Efeitos da irradiação de força contralateral na extensão de punho de pacientes após acidente vascular cerebral Effects of contralateral force irradiation in the wrist extention, in patients after stroke Mariana Luiza da Silva Queiroz¹, Débora Wanderley2, Maria das Graças Wanderley de Sales Coriolano3, Luciana Rodrigues Belo4, José Vicente Martins5, Paulo José Moté Barboza6, Daniella Araújo de Oliveira7 RESUMO ABSTRACT Fundamento: Um dos princípios de irradiação de força da facilitação neuromuscular proprioceptiva (FNP) é estimular a musculatura fraca, a partir da resistência da musculatura forte, contribuindo para o aprendizado motor. Por esta razão, este procedimento básico tem sido utilizado em pacientes após acidente vascular cerebral (AVC), no tratamento da hemiparesia contralateral à lesão. Objetivo: Avaliar Background: A principle of force irradiation of proprioceptive neuromuscular facilitation (PNF) is to stimulate the weak muscles by applying resistance in strong muscles, contributing to motor learning. Therefore, this technique is used in patients after stroke, to treat the hemiplegia contralateral to the lesion. Objective: To evaluate contralateral force irradiation effects in motor control for activation of os efeitos da técnica de irradiação de força contralateral no controle motor para ativação dos músculos extensores de punho em pacientes após AVC. Métodos: Foram incluídos 10 participantes de ambos os sexos (62±6,4 anos), divididos em grupo hemiparético (n=5) e controle saudável (n=5). Foi realizado o padrão da FNP: flexão, abdução e rotação externa no membro não afetado do grupo hemiparético e no braço direito do controle. O sinal eletromiográfico dos músculos extensores radial longo e curto do carpo foi registrado em duas etapas (FNP1 e FNP2). Foram realizadas quatro repetições do padrão, mantidas por 6 segundos. A ativação muscular foi analisada pela root mean square (RMS). Resultados: Houve aumento na ativação da musculatura extensora do punho por irradiação entre as etapas FNP1 e FNP2 de 7,32% no grupo hemiparético e de 18,62% no grupo saudável, porém sem diferença estatística (p>0,05). A resposta motora foi maior na etapa FNP2, após a repetição das diagonais. Conclusão: Não houve ativação significativa dos extensores de punho em pacientes hemiparéticos com o procedimento de irradiação de força da FNP. Todavia, a repetição parece aumentar a resposta de irradiação de força em pacientes após AVC. the wrist extensors in patients after ischemic stroke. Methods: The study included 10 subjects of both sexes (62±6.4 years) divided into hemiparetic group (n=5) and healthy controls (n=5). We performed the PNF pattern: flexion, abduction and external rotation in the unaffected member of the hemiparetic group and in the right arm of the control. The electromyography signal of the long and short radial extensor carpi was recorded in the first stage (FNP1), in which the diagonal was repeated 4 times, and in the standard learning stage (FNP2), with 4 times. The contractions were maintained for 6 seconds. Muscle activation was analyzed by the root mean square (RMS). Results: There was an increase in the extensor muscles of the wrist activation by irradiation between FNP1 and FNP2 stages, of 7.32% in hemiparetic group and 18.62% in healthy group, without statistical difference (p> 0.05). Motor response was higher in FNP2 stage, after the repetition of the diagonals. Conclusion: There was no significant activation of the wrist extensors in hemiparetic patients with the technique of force irradiation of PNF. However, the repetition seems to increase the force irradiation response in patients after stroke. Palavras-chave: Acidente vascular cerebral; Força muscular; Exercícios de alongamento muscular; Eletromiografia. Keywords: Stroke; Muscle strength; Muscle Stretching Exercises; Electromyography. Fisioterapeuta, MSc. Departamento de Fisioterapia, Universidade Federal de Pernambuco, PE, Brasil. Fisioterapeuta, Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Neuropsiquiatria e Ciências do Comportamento, Universidade Federal de Pernambuco, PE, Brasil. 3 Fisioterapeuta, PhD. Departamento de Anatomia, Universidade Federal de Pernambuco, PE, Brasil. 4 Fonoaudióloga, Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Neuropsiquiatria e Ciências do Comportamento, Universidade Federal de Pernambuco, PE, Brasil. 5 Fisioterapeuta, MSc. Departamento de Fisioterapia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 6 Fisioterapeuta, Centro Integrado de Reabilitação e Terapia Aquática (CIRTA), Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 7 Fisioterapeuta, PhD. Departamento de Fisioterapia, Universidade Federal de Pernambuco, PE, Brasil. 1 2 Endereço para correspondência: Daniella Araújo de Oliveira. Programa de Pós-Graduação em Fisioterapia, Departamento de Fisioterapia, Universidade Federal de Pernambuco Av. Jorn. Anibal Fernandes, s/n, Cidade Universitária, Recife, PE, Brasil, 50740-560. Fone: (55-81) 21268937, Fax: (55-81) 21268491 e-mail: [email protected] Revista Brasileira de Neurologia » Volume 52 » Nº 2 » Abr/Mai/Jun 2016 5 Queiroz MLS et al. INTRODUÇÃO O acidente vascular cerebral (AVC) é uma das principais causas de morte1 e de incapacidade entre adultos no mundo1-6. Dados epidemiológicos mostram que nos Estados Unidos mais de quatro milhões de pessoas vivem com deficiências decorrentes de um AVC. No Brasil, é a primeira causa de mortalidade1,3, representando um importante problema de saúde pública. Um ano após o AVC, cerca de 17% a 49% dos indivíduos permanecem parcial ou completamente dependentes e 11% a 17% necessitam de hospitalização4. Após o AVC, a recuperação do membro superior é incompleta e varia de 20% a 80%7, limitando independência funcional dos pacientes2. Neste contexto, as técnicas e os conceitos de reabilitação utilizados na Fisioterapia, dentre eles a Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva (FNP)8, buscam maximizar a capacidade funcional desses pacientes, por reduzir as limitações funcionais decorrentes do desuso2. Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva é um conceito de tratamento que tem cinco bases filosófica: abordagem positiva, abordagem funcional, mobilização de reservas, considera o paciente como um todo e baseia-se nos princípios do controle motor e aprendizagem motora. Além disso, o conceito FNP utiliza princípios e procedimentos básicos associados a técnicas específicas8-11. Um dos procedimentos da FNP é a irradiação de força ou educação cruzada, cuja função é estimular a musculatura fraca, por meio da movimentação ativa do indivíduo contra uma resistência máxima apropriada8,11-13, facilitando a ativação dos músculos lesionados e fracos por meio de uma abordagem positiva e indireta.8,11,13-14 Sabe-se que o desempenho motor melhora com a aprendizagem da habilidade a ser realizada e que esse princípio ocorre tanto em indivíduos saudáveis, quanto naqueles que sofreram algum dano neurológico15. Ademais, a maior variedade de experiências dentro de uma determinada tarefa leva a um aprendizado mais forte e, consequentemente, a uma maior resposta motora16. Neste contexto, a FNP é um conceito que utiliza a realimentação sensorial, oferecendo experiências que podem favorecer o aprendizado e o desempenho motor. Diante dos achados, pesquisas buscam avaliar a ativação da musculatura co-agonista e co-antagonista durante os exercícios unilaterais, a fim de fornecer maiores evidências sobre a irradiação de força8,11,13-14,17-18. Um músculo agonista no membro exercitado é considerado um co6 -agonista no membro hemiparético contralateral11. Neste sentido, os mecanismos fisiológicos envolvidos não são totalmente esclarecidos, mas parece haver um aumento da excitabilidade das sinapses que ocorrem no corno medular anterior e nas aferências medulares em direção ao córtex, para o membro ipsilateral e contralateral19. Desta forma, o objetivo do presente estudo foi avaliar os efeitos da técnica de irradiação de força contralateral no controle motor para ativação dos músculos extensores de punho em pacientes após AVC. MÉTODOS PARTICIPANTES Trata-se de um estudo quasi-experimental, no qual foram incluídos 10 participantes de ambos os sexos, divididos em grupo controle (n=5) e grupo hemiparético (n=5), encaminhados do ambulatório de neurologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). O grupo controle foi formado por participantes saudáveis (61±2,5 anos), todos destros e sem histórico de doença neurológica e ortopédica em ambos os membros superiores. Já o grupo hemiparético foi formado por pacientes que tiveram AVC isquêmico (62±6,4 anos), cujo diagnóstico foi confirmado pela avaliação clínica e por meio de exames clínico e de imagem (tomografia computadorizada, ressonância magnética, angiografia cerebral ou ambas), indicando acometimento da artéria cerebral média. Foram incluídos participantes com tempo de AVC isquêmico entre 6 meses e até 3 anos e com boa cognição, cujo ponto de corte no Mini-Exame do Estado Mental é 18/19 para iletrados e 24/25 para letrados20. Quanto ao grau de espasticidade, foram incluídos participantes que obtiveram entre 1 e 2 pontos na escala de Ashworth modificada, na qual os valores variam de 0 (não há aumento do tônus) a 4 pontos (membro rígido, muito grave), quantificando a resistência encontrada durante a realização de movimentos passivos21. Foram excluídos sujeitos afásicos, com deformidades no punho, arritmias cardíacas, hipertensão arterial descontrolada e problemas respiratórios graves. O trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da UFPE, Recife, PE, Brasil (CEP/CCS/ UFPE 186/11). Todos os participantes assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. PROTOCOLO DE INTERVENÇÃO COM FACILITAÇÃO Revista Brasileira de Neurologia » Volume 52 » Nº 2 » Abr/Mai/Jun 2016 Força contralateral na extensão de punho após AVC NEUROMUSCULAR PROPRIOCEPTIVA Em ambos os grupos, com os voluntários sentados, foi solicitada uma contração isométrica dos extensores do punho contra uma resistência manual. O movimento foi repetido três vezes em cada lado nos dois grupos, com o objetivo de avaliar se o participante era capaz de contrair ativamente os extensores de punho, através da análise do sinal eletromiográfico. A capacidade de contração voluntária era requisito para permanência no estudo. Na sequência, os participantes foram posicionados em decúbito dorsal e foi realizado o protocolo de FNP. No grupo hemiparético o padrão de movimento foi realizado no membro superior não afetado e o braço parético foi mantido em repouso com a palma da mão virada para a cama. No grupo controle o padrão foi realizado no braço direito e o braço esquerdo permaneceu em repouso com a palma voltada para a cama. O padrão utilizado foi flexão, abdução e rotação externa21, com o propósito de promover a irradiação de força para ativação da extensão e abdução do ombro e irradiação para os músculos extensores de punho do membro em repouso.22 Durante a execução do padrão, em ambos os grupos foram utilizados comandos verbais e aplicada uma resistência manual ao movimento de extensão do punho, a fim de estimular a contração voluntária máxima muscular. O protocolo foi aplicado pelo mesmo fisioterapeuta em todos os participantes. No primeiro momento (etapa FNP1), o objetivo foi ensinar o padrão de movimento, que foi repetido quatro vezes, enquanto era registrado o sinal eletromiográfico bilateralmente. Na sequência, foi realizada a execução do padrão, repetindo o movimento oito vezes, sem coleta de sinal eletromiográfico. Posteriormente, foi realizada a etapa de aprendizagem do padrão (etapa FNP 2), com mais quatro repetições, enquanto era registrado o sinal eletromiográfico. As contrações foram mantidas por 6 segundos. O intervalo entre as repetições foi determinado individualmente por cada paciente e cada sessão teve duração de aproximadamente 30 minutos. amplitude de -5 a +5 volts. Após a coleta o sinal foi digitalizado e convertido para o formato (.txt) e analisado pelo software EMG bioanalyzer BR, que processa o sinal bruto em uma onda retificada e filtrada por uma janela móvel de 100ms23. A captação dos sinais obedeceu às recomendações do projeto da União Europeia de Eletromiografia de Superfície para a Abordagem não Invasiva Muscular (SENIAM)24. Os sinais eletromiográficos foram detectados utilizando dois eletrodos retangulares de superfície (Ag/ AgCl, autoadesivos, bipolares) posicionados sobre o ventre dos músculos extensores radial longo e curto do carpo. No grupo controle, o sinal foi captado no braço esquerdo, já no grupo hemiparético, no membro parético, com o objetivo de avaliar se os padrões da FNP realizados no membro contralateral foram capazes de promover irradiação de força. Os eletrodos foram separados por uma distância de vinte milímetros24-25. A amplitude do sinal (v) foi o parâmetro da atividade elétrica analisado, fornecendo dados sobre a ativação do músculo, quantificada pelos valores da root mean square (RMS). As contrações isométricas foram repetidas três vezes em cada segmento e a média dos valores da RMS normalizada foi utilizada para a comparação entre os grupos (RMS contração). O mesmo foi feito durante a realização das diagonais da FNP (RMS da diagonal). A normalização dos dados foi feita pelo valor médio da contração do sinal eletromiográfico, com o método da média dinâmica25, transformando-o em porcentagem26. PROCESSAMENTO E ANÁLISE DE DADOS O banco de dados foi digitado no programa Microsoft Excel, versão 2007 e exportado para o programa SPSS (versão 20.0) para análise. Os dados foram mostrados como média±erro padrão e percentual. Todas as variáveis apresentaram distribuição normal no teste de Kolmogorov-Smirnov. Foram aplicados o teste t de Student pareado, com nível de confiança de 95%, considerando significativo quando p<0,05. PROTOCOLO DE AVALIAÇÃO ELETROMIOGRÁFICA O equipamento EMG System do Brasil LTDA, modelo EMG 410C, foi conectado a um computador portátil. O aparelho tem quatro canais, com pré-amplifica- RESULTADOS dores, frequência de amostragem por canal de 2.000 Hz, filtro passa-banda de 20 a 500 Hz do tipo butterworth, amplificado 2.000 vezes (rejeição de modo comum >120 dB), digitalizado com frequência de 2 KHz por canal e faixa de pelos critérios de elegibilidade. Foram efetivamente incluídos no estudo 5 participantes hemiparéticos, dos quais 2 eram mulheres, cuja média do tempo do ictus do AVC foi de 31±7,7 meses. Três pacientes apresentavam hemipare- Revista Brasileira de Neurologia » Volume 52 » Nº 2 » Abr/Mai/Jun 2016 Inicialmente foram recrutados 20 participantes com hemiparesia após AVC, dos quais 15 foram excluídos 7 Queiroz MLS et al. Tabela 1. Análise da ativação muscular dos extensores de punho, por meio dos valores individuais e normalizados da root mean square, nos grupos hemiparético e controle. Root mean square Contração isométrica Grupo FNP 1 FNP 2 Hemiparético MH MS N% MH MS N% MH MS N% 1 49,620 244,562 20,289 35,950 106,327 19,694 37,024 188,002 33,811 2 1,508 43,125 3,496 1,264 47,026 2,021 8,071 62,552 17,162 3 54,110 96,090 56,311 8,667 74,005 13,587 11,295 63,788 15,263 4 11,833 66,663 17,750 5,966 210,799 3,098 6,892 192,576 3,270 5 105,903 217,527 48,685 7,963 67,739 8,139 9,235 97,835 13,633 Grupo Controle MSD MSE N% MSD MSE N% MSD MSE N% 1 383,611 223,667 58,306 101,276 25,029 24,713 107,716 32,301 29,987 2 122,413 102,088 119,910 53,015 7,895 14,892 57,575 14,913 25,901 Contração isométrica FNP 1 FNP 2 3 30,220 77,470 39,009 28,079 5,990 21,332 59,042 8,167 32,766 4 197,312 233,438 84,524 78,070 11,070 14,179 102,874 13,758 24,679 5 350,738 279,083 79,570 107,169 19,459 18,158 115,509 31,502 27,272 N % = valores normalizados; MH: membro hemiparético; MS: membro saudável; MSD: membro superior direito; MSE: membro superior esquerdo; FNP 1: ensinando o padrão de facilitação neuromuscular proprioceptiva; FNP 2: aprendizagem do padrão de facilitação neuromuscular proprioceptiva. sia esquerda. O grupo controle (n=5), foi formado pelos DISCUSSÃO acompanhantes dos pacientes, sendo 2 mulheres. Não houve diferença entre os grupos em relação à idade (p=0,752). A análise da ativação muscular, por meio da RMS, é apresentada na Tabela 1. Houve irradiação da força nas etapas FNP1 e FNP2, promovendo a ativação contralateral dos músculos extensores do punho, tanto no grupo hemiparético, quanto no grupo controle (Tabela 1). Ao comparar as etapas FNP1 e FNP2 do grupo hemiparético, foi observado um aumento de 7,32% na ativação da musculatura extensora do punho. Já no grupo controle, o aumento foi de 18,62%. Na Figura 1, observa-se que houve a ativação muscular dos extensores radiais longo e curto do carpo, no momento da realização das etapas FNP 1 e FNP 2, em ambos os grupos, porém sem diferença estatística (p>0,05). No presente estudo, foi possível observar a ativação contralateral dos músculos extensores de punho em pacientes hemiparéticos após acidente vascular cerebral isquêmico, utilizando a irradiação de força contralateral por meio do FNP. A repetição do movimento pareceu favorecer o controle motor, decorrente de uma maior resposta motora na eletromiografia entre os momentos FNP1 e FNP2. Entretanto, devido à ausência de diferença estatística, possivelmente pelo pequeno tamanho amostral, não confirmamos a nossa hipótese. É provável que a utilização da irradiação de força represente uma modalidade de tratamento indireto27, útil para estimular o aprendizado motor e a reabilitação deste grupo de pacientes. Ao analisar os efeitos do aprendizado motor na resposta motora, em nosso estudo, é provável que os participantes tenham aprendido melhor o padrão de Grupo hemiparético Grupo comparação 40 40 30 % RMS 20 10 20 10 P2 FN p=0,062; teste t pareado RMS= Root Mean Square FNP=Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva Erro padrão da média 0 P1 FN P2 FN P1 0 FN % RMS 30 p=0,052; teste t pareado RMS= Root Mean Square FNP=Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva Erro padrão da média Figura 1. Representação dos valores da root mean square em porcentagem 8 Revista Brasileira de Neurologia » Volume 52 » Nº 2 » Abr/Mai/Jun 2016 Força contralateral na extensão de punho após AVC movimento durante a etapa final (FNP2), pois as conexões neurais corticais podem ser remodeladas pelas experiências28 e também durante o aprendizado29. Todavia, não foram aplicados, no presente estudo, testes que avaliassem tarefas funcionais, tais como o Wolf Motor Function Test e o Jebsen-Taylor Test30, as quais poderiam ser comparadas antes e após as etapas FNP 1 e 2. Corroborando esses achados, dois estudos31-32 destacam que o efeito do princípio da irradiação de força depende da quantidade de estímulos que vão das vias motoras centrais para os músculos em contração, além das aferências para os neurônios motores contralaterais. Assim, quanto maior o número de repetições e o tempo de treino, maior seria o número de estímulos para ativar as vias contralaterais, aumentando a ativação muscular. Neste contexto, sabe-se que durante a aprendizagem e treinamento motor a representação dos movimentos específicos é usada para o sucesso do desempenho das tarefas motoras não afetada e registrando a atividade muscular do iliopsoas, bíceps braquial e tríceps braquial. Os resultados apontam que as diagonais da FNP podem melhorar a atividade muscular do lado parético, através do princípio da irradiação. Outro aspecto relevante é a aplicação da resistência durante a realização do conceito da FNP22,38. Na presente pesquisa, a atividade muscular foi analisada durante os níveis máximos de contração dos extensores de punho, após a aplicação de uma resistência. Dessa forma, sugere-se que apenas treinando com intensidade igual ou superior a 50% da atividade eletromiográfica máxima ocorre o princípio da irradiação de força, promovendo efeitos de aumento da atividade muscular contralateral11,32,39. Neste contexto, um estudo11 observou-se que a irradiação de força dos membros superiores em voluntários saudáveis é afetada pela direção da diagonal e pela intensidade da contração. Durante o exercício, a atividade do e, quando selecionada, expande no córtex a custa de outras representações dos membros33. Além disso, a irradiação de força contralateral dos extensores do punho observada pode ser explicada pelo aumento na excitação dos centros motores e dos trajetos do sistema nervoso central, especialmente nas células do corno anterior da medula. Nesta região ocorrem as sinapses dos interneurônios, os quais projetam aferências ao cérebro, para o mesmo membro e para o membro contralateral34-35. De acordo com um estudo36, a atividade voluntária unilateral também envolve atividade motora no córtex contralateral, sugerindo que o treinamento unilateral generalizado demanda contrações bilaterais sobre a musculatura35. Na literatura, alguns estudos18,37 avaliaram os efeitos da irradiação de força contralateral em pacientes pós-AVC, porém utilizando diferentes diagonais e avaliando a ativação de diferentes músculos. Em um desses estudos37 foram avaliados os resultados da educação cruzada no membro superior e inferior de 11 pacientes pós-AVC agudo. Foram realizados exercícios ativos com diferentes cargas nas extremidades não afetadas, enquanto a ativação dos músculos bíceps braquial, tríceps braquial e quadríceps femoral da extremidade hemiparética era analisada pela eletromiografia. Houve irradiação de força contralate- músculo deltóide medial, peitoral maior e trapézio superior no lado não dominante dos membros foi registrada pela eletromiografia superfície, mostrando que houve aumento na atividade muscular durante a realização das diagonais. A atividade muscular foi maior quando as realizadas diagonais em flexão com contração voluntária máxima. Já em outra pesquisa40, ao analisar a atividade eletromiográfica de músculos do membro contralateral durante a realização de exercícios isométricos e de exercícios sem resistência, não houve ativação contralateral. Os autores sugerem que não é a força máxima que ativa a irradiação, pois a execução ativa de uma força máxima com um membro não seria suficiente para promover sozinha a ativação no membro oposto. Por outro lado, propõem que é a FNP envolve um complexo sistema de alavancas que permite ativar a musculatura contralateral, provavelmente por usar padrões combinados de movimentos. Com essa afirmação, tornam-se necessários estudos que avaliem se é o uso da força máxima ou o sistema de alavanca capaz de ativar a contração contralateral. Um dos aspectos clínicos relevantes deste estudo foi o conhecimento de que a irradiação de força pode promover mudanças na ativação muscular contralateral e que esta resposta sofre influências do processo de aprendizado motor, ativando as funções receptiva (input), integrativa ral durante todos os exercícios. Já o outro trabalho18, investigou o padrão de irradiação contralateral em sete pacientes pós-AVC, aplicando diagonais da FNP em extensão na extremidade superior (intra-hemisféricas e inter-hemisféricas) e expressiva (output), por meio da execução do movimento, representando um importante achado para o tratamento fisioterapêutico do paciente após AVC. Revista Brasileira de Neurologia » Volume 52 » Nº 2 » Abr/Mai/Jun 2016 9 Queiroz MLS et al. Os autores reconhecem que o pequeno tamanho da amostra foi uma limitação no presente estudo e esclarecem que o fato ocorreu devido às dificuldades de recrutar participantes que compusessem uma amostra homogênea, dentro dos critérios de elegibilidade estabelecidos. Além disso, especulamos se mudança no posicionamento do braço que estava em repouso poderia alterar o efeito da irradiação. Assim, sugerimos que em futuros estudos a mão seja posicionada em posição neutra, com a borda ulnar apoiada na cama com o dorso da mão encostado em alguma superfície. 1. Pinto EB, Maso I, Pereira J, et al. Differential aspects of stroke and congestive heart failure in quality of life reduction: a case series with three comparison groups. Health Qual Life Outcomes. 2011;9:65. 2. Bonifer NM, Anderson KM, Arciniegas DB. Constraint-induced movement therapy after stroke: efficacy for patients with minimal upper-extremity motor ability. Arch Phys Med Rehabil. 2005;86(9):1867-73. 3. Souza WC, Conforto AB, André C. Terapia de restrição e indução do movimento em pacientes pós-AVC. Fisioter Bras. 2007;8(1):64-8. 4. Teixeira-Salmela LF, Lima RCM, Souza AC, Goulart F. Mudanças na qualidade de vida associadas ao treinamento de hemiplégicos em academias. Fisioter mov. 2006;19(3):75-82. 5. Senkiio CH, Kill F, Negretti MR, Oliveira CA, Alves NPF. A utilização da escala de Fugl-Meyer no estudo do desempenho funcional de membro superior no tratamento de indivíduos hemiparéticos pós AVE. Fisioter Bras. 2005;6(1):13-8. 6. Langhorne P, Stott D, Robertson L, et al. Medical complications after stroke a multicenter study. Stroke. 2000;31(6):1223-9. 7. Morris JH, van Wijck F, Joice S, Ogston SA, Cole I, MacWalter RS. A com- Bras Fisioter. 2009;13(5):438-43. 9. O’Hora J, Cartwright A, Wade CD, Hough AD, Shum GL. Efficacy of static stretching and proprioceptive neuromuscular facilitation stretch on hamstrings length after a single session. J Strength Cond Res. 2011;25(6):1586-91. 10. Costa UA, Cronemberger CD, Luz MPM, Portela TS, Matos LKBL. Estudo comparativo de duas técnicas de alongamento muscular: FNP (manter-relaxar) e passivo manual na flexibilidade dos músculos isquiotibiais. Ter Man. 2008;6(26):218-22. 11. Abreu R, Lopes AA, Sousa AS, Pereira S, Castro MP. 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Todavia, a repetição parece favorecer o controle motor, aumentando a resposta de irradiação de força contralateral em pacientes após AVC como também nos controles. O estudo contribuiu para somar relevâncias clínicas e científicas que sugerem que a técnica de irradiação de força da FNP pode vir a ser uma ferramenta útil na reabilitação motora após AVC. CONFLITOS DE INTERESSE Os autores declaram não haver conflitos de interesse a serem declarados. REFERÊNCIAS 10 Revista Brasileira de Neurologia » Volume 52 » Nº 2 » Abr/Mai/Jun 2016 Força contralateral na extensão de punho após AVC ralysis. Phys Ther Rev. 1953;33(2):53. 35. Munn J, Herbert RD, Hancock MJ, Gandevia SC. Training with unilateral resistance exercise increases contralateral strength. J Appl Physiol. 2005;99(5):1880-4. 36. Kristeva R, Cheyne D, Deecke L. Neuromagnetic fields accompanying unilateral and bilateral voluntary movements: topography and analysis of cortical sources. 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Revista Brasileira de Neurologia » Volume 52 » Nº 2 » Abr/Mai/Jun 2016 11 Rev Bras Neurol. 52(2):12-16, 2016 Avaliação dos membros superiores na doença de Parkinson: implicações para a Reabilitação Física Assessment of upper limbs in Parkinson’s disease: implications for Physical Rehabilitation Thais Vianna Correa1; Thiago da Silva Rocha Paz1; Ana Elisa Lemos Silva1; Gisele de Paula Vieira2; Marco Antonio Araujo Leite2; Silvana Allodi3; Marco Orsini4,5,6; Clynton Lourenço Correa1,2 RESUMO ABSTRACT A doença de Parkinson é uma desordem neurológica com impacto negativo na motricidade e qualidade de vida dos pacientes. O comprometimento motor inclui dificuldades para a marcha, equilíbrio e atividades de vida diária. Contudo, pouca atenção é dada aos aspectos de avaliação e reabilitação física dos membros superiores na doença de Parkinson. Sendo assim, o presente artigo apresenta instrumentos de avaliação no contexto da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde que são relatados na literatura e que podem servir como desfechos clínicos para verificar a evolução dos pacientes com DP na reabilitação física. Parkinson’s disease is a neurological disorder with a negative impact on motor function and quality of life of patients. The motor impairment includes difficulties in walking, balance and daily activities. However, little attention is paid to aspects of evaluation and physical rehabilitation for upper limbs in Parkinson’s disease. Therefore, this paper presents assessment tools in the context of the International Classification of Functioning, Disability and Health that are reported in the literature and which can serve as clinical outcomes to verify the evolution of Parkinson’s disease patients in physical rehabilitation. Palavras-chave: Doença de Parkinson; Membros superiores; Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde; Exame físico. Key words: Parkinson’s disease; Upper limbs; International Classification of Functioning, Disability and Health; Physical examination. Programa de Mestrado e Doutorado em Educação Física, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil. Programa de Mestrado e Doutorado em Neurociências e Neurologia, Universidade Federal Fluminense, Niterói, Brasil. 3 Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil. 4 Laboratório de Mapeamento Cerebral e EEG, IPUB, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil. 1 2 5 6 Centro Universitário Severino Sombra, Vassouras, Rio de Janeiro, Brasil Programa de Mestrado em Ciências da Reabilitação - UNISUAM Endereço para correspondência: Clynton Lourenço Corrêa, MSc, PhD, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, CCS, Laboratório de Neurobiologia Comparativa e do Desenvolvimento, Av. Carlos Chagas Filho, 373 Bloco G, Sala G2-001, CEP21941-902. Email: clyntoncorrea@ gmail.com 12 Revista Brasileira de Neurologia » Volume 52 » Nº 2 » Abr/Mai/Jun 2016 Reabilitação membros superiores, d. de Parkinson A Doença de Parkinson (DP) é caracterizada por degeneração progressiva dos neurônios dopaminérgicos na substância negra em sua parte compacta, comprometendo a via nigro-estriatal1,2. Em virtude do comprometimento da via nigro-estriatal, surgem os sinais motores denominados de tétrade parkinsoniana, a saber: rigidez, bradicinesia, tremor de repouso e instabilidade postural. Além disso, outros sinais podem surgir, tais como congelamento e fraqueza muscular3,4. As dificuldades funcionais progressivas comuns na DP têm impacto negativo na qualidade de vida, comprometendo a independência funcional nas tarefas diárias, de lazer e autocuidado1,3,5,6. As desordens motoras ocasionadas pela DP provocam mudanças no padrão dos movimentos finos das mãos, de tarefas sequenciais e bimanuais7,8,9,10. Avaliações padronizadas são fundamentais na obtenção de parâmetros para a formulação da melhor condu- que avaliam os membros superiores na DP abrangem os domínios da CIF “Função e Estrutura do Corpo”. Os instrumentos de avaliação disponíveis para a DP que contemplam os domínios “Atividade e Participação” geralmente avaliam atividade muito específica do membro superior, por exemplo, destreza manual fina (Tabela 1). Assim, torna-se difícil o conhecimento sobre as condições motoras funcionais dos membros superiores destes indivíduos. Um estudo buscando identificar os instrumentos de avaliação dos membros superiores utilizados por Fisioterapeutas e Terapeutas Ocupacionais através de questionário, constatou que 54% de 191 profissionais avaliaram funcionalmente essa região do corpo, regularmente. A justificativa reportada pelos profissionais que não avaliaram em seus pacientes foi, em sua maioria, porque os indivíduos não relataram queixa funcional relacionada aos membros superiores. A queixa funcional dos pacientes era referente aos membros inferiores e, consequentemente, ta terapêutica, além de facilitar o acompanhamento da evolução do tratamento. No campo da pesquisa, observa-se um grande número de estudos de validação de testes que envolvem avaliação da marcha e do equilíbrio em indivíduos com DP11,12,13,14,15,16. Contudo, existe escassez sobre as abordagens, no âmbito de avaliação físico-funcional, relacionadas ao comprometimento dos membros superiores na DP6. A fim de proporcionar uma linguagem unificada e padronizada para a descrição da saúde, além de fornecer uma visão mais ampla sobre a condição de saúde dos indivíduos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) criou em 2001 a Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF). A CIF descreve a funcionalidade e a incapacidade de acordo com as condições de saúde, identificando as habilidades ou restrições que os indivíduos apresentam em sua vida diária. A CIF possui duas partes, cada uma com dois componentes: Funcionalidade e Incapacidade (Funções e Estruturas do Corpo; Atividades e Participação) e Fatores Contextuais (Fatores Ambientais; Fatores Pessoais)17. Considerando o modelo de saúde adotado pela OMS, é importante que os profissionais que atuam na reabilitação física de pacientes com DP saibam quais são os instrumentos de avaliação que contemplam os domínios Atividades e Participação. Dessa forma, os pro- marcha. No mesmo estudo, os pesquisadores identificaram que tremor, bradicinesia e discinesias são os sinais mais avaliados nos membros superiores, porém menos de 25% dos terapeutas utilizaram instrumentos de medidas padronizadas para avaliar estas desordens6. A análise observacional foi o método de avaliação mais comumente reportado e a Unified Parkinson Disease Rate Scale (UPDRS), a medida padronizada mais comumente reportada pelos terapeutas entrevistados6. A UPDRS é uma escala confiável e válida utilizada para avaliação dos sinais e sintomas da DP na prática clínica e em pesquisa8. É, sem dúvida, a escala de avaliação clínica mais conhecida para DP18. Ela é composta por 42 itens, divididos em quatro partes: I) Estado Mental e Humor, II) Atividades da Vida Diária (AVD’s), III) Exame Motor, e IV) Complicações da Terapia8. Tem sido testada por sua estrutura e propriedades métricas, sendo demonstrada alta consistência interna e excelente confiabilidade teste-reteste para os domínios AVD’s, Exame Motor e escore total8. A UPDRS é aplicada no campo clínico da DP para avaliação de sintomas motores e não motores. No entanto, é necessário estabelecer valores mínimos de diferença clinicamente relevantes e definir escores com intervalos de confiança que sejam correlacionados com designações clínicas ajustadas como “leve”, “moderado” e “grave”. A fissionais conseguirão eleger instrumentos de avaliação que possam identificar disfunção dos membros superiores, bem como estabelecer um plano de tratamento apropriado. Todavia, muitos dos instrumentos utilizados atualmente escala pode apresentar um resultado subjetivo, o que pode representar uma limitação quando o objetivo da avaliação é capturar pequenas mudanças durante uma intervenção no campo da reabilitação física terapêutica para verificar se Revista Brasileira de Neurologia » Volume 52 » Nº 2 » Abr/Mai/Jun 2016 13 Correa TV et al. houve alguma melhora funcional19. A utilização de testes motores específicos que possam avaliar a função e permitir o monitoramento da progressão da doença e os efeitos da intervenção terapêutica se faz necessária. A Escala de Hoehn & Yarh (H&Y) (1967) é rápida, prática e indica o estado geral do paciente, podendo ser aplicada com esse intuito19. O principal indicador de gravidade da doença é a instabilidade postural, não pontuando outros sinais cardinais da DP, nem sinais não-motores. Embora a escala considere os sinais da doença em um membro superior e no dimídio contralateral para efeitos do estadiamento da doença, ela não avalia especificamente nenhum aspecto da funcionalidade dos membros superiores, considerando que os pacientes já podem apresentar algum comprometimento funcional na ocasião do diagnóstico clínico20,21,22. Através de uma revisão do uso de medidas de resultado e da conduta clínica da função da extremidade na vertical e quatro círculos côncavos na parte superior. Os pequenos pinos de metal são posicionados no lado do membro superior que será testado. Os pacientes são solicitados a pegar os pinos e colocá-los ordenadamente nos furos na vertical o mais rápido possível. O número de pinos colocados em 30 segundos é computado. Valores normativos e validade foram produzidos em indivíduos com 60 anos ou mais28. Assim como o 9HPT, o PPT não avalia disfunções de todo o membro superior, mas somente a destreza manual. Testes motores, como 9HPT e PPT foram aplicados, a fim de identificar se tais testes seriam capazes de detectar disfunções motoras sutis, de difícil percepção no exame clínico convencional, em indivíduos em estágio inicial da DP, mesmo que apresentando membros clinicamente não acometidos21,22. Ambos os estudos identificaram serem tais testes satisfatórios na verificação precoce de desordens motoras. Como medidas de desfecho para efeitos superior na DP e na doença de Huntington, foi observada a necessidade de ser destinada maior atenção à abordagem orientada para as tarefas motoras que contemplem as AVD’s relacionadas aos membros superiores, pois identificaram escassez de estudos com tal propósito23. Nesse sentido, apresentaremos a seguir testes funcionais utilizados na avaliação de membros superiores na DP. O Nine Hole Peg Test (9HPT), que em tradução livre para o português significa “teste dos nove pinos e buracos” é um instrumento de baixo custo, rápida administração e utilizado para avaliar a destreza manual. Sua padronização foi estabelecida em 198524. Composto por nove pinos e uma placa com nove furos, o indivíduo é orientado a pegar um pino de cada vez e inseri-lo nos orifícios contidos na placa e então, posteriormente, deverá retirar os pinos e devolvê-los ao local de origem, sendo o tempo de execução da tarefa cronometrado pelo pesquisador22,24. Considerando que o teste é específico para avaliar a destreza manual, não é possível identificar disfunções relacionadas aos movimentos do ombro, cotovelo e punho com o 9HPT. O Purdue Pegboard test (PPT), que em tradução livre para o português significa “teste da placa perfurada de Purdue” assim como o 9HPT, é utilizado para avaliar a destreza manual fina. Estudos com o PPT foram desen- de tratamento e estudos, nos quais aplicaram o PPT, também observaram diferenças significativas nos resultados de indivíduos em estágio inicial da DP quando comparados ao grupo controle25,27. O uso de tarefas com pinça e garra é citado como medida sensível para mensurar prejuízos motores na função da mão23. Resultados positivos com instrumentos no que se refere a avaliar os movimentos de pinça e garra foram obtidos. No entanto, os autores utilizaram tecnologia com programas de computadores e sensores periféricos que dificultam adoção na prática clínica devido ao alto custo9,30,31. Validado em 1994 para a população idosa saudável, o Box and Block Test (BBT), que em tradução livre para o português significa “teste da caixa e bloco” mensura a destreza manual ampla unilateral. É um instrumento de fácil aplicabilidade e de baixo custo. A tarefa é mover o máximo de blocos possível, um a um, para dentro da caixa, em 60 segundos. A validação e confiabilidade do teste foram estabelecidas em um estudo com 35 sujeitos saudáveis e 34 sujeitos com comprometimento do membro superior. A diferença entre os escores que envolveram o membro superior acometido/dominante e os que envolveram o não acometido/não-dominante foi estatisticamente significativo. O BBT é validado para população idosa saudável e volvidos na DP para avaliar o efeito de medicações antiparkinsonianas25, de cirurgias na DP26 e da aplicação concomitante com tarefas concorrentes27. O PPT é composto por uma placa retangular com dois conjuntos de 25 furos em algumas doenças neurológicas (Acidente Vascular Cerebral (AVC)), porém o teste não tem validação para os pacientes com DP, ainda que seja utilizado por profissionais da reabilitação física. Dessa forma, o teste pode não ser 14 Revista Brasileira de Neurologia » Volume 52 » Nº 2 » Abr/Mai/Jun 2016 Reabilitação membros superiores, d. de Parkinson capaz de identificar as mudanças decorrentes da evolução da doença e/ou das intervenções terapêuticas. Assim como o PPT e 9HPT, o BBT avalia especificamente a função manual e, consequentemente, não engloba outros segmentos do membro superior29. Avaliações do arco de movimento de articulações axiais e apendiculares de pessoas saudáveis e pacientes com DP em atividades de alcance por meio da goniometria encontraram diminuição nos valores médios da amplitude articular no grupo DP em relação ao grupo controle. A mobilidade durante o alcance foi avaliada por um sistema de análise em 3D. Os autores ainda apontaram, como fundamento no próprio estudo, o comprometimento do arco de movimento presente em estágios iniciais da doença. Embora tenham utilizado o goniômetro e encontrado alterações significativas no arco de movimento de indivíduos com DP, o uso desse instrumento de avaliação contempla um aspecto do domínio Função do Corpo da CIF32. A força muscular tem sido objeto de estudo em diversas pesquisas, nas quais encontramos desfechos que apontam para mudanças no padrão de geração de força, alterações no controle da força e no tempo de relaxamento muscular3,9. A força de preensão palmar pode estar acometida na DP, refletindo em declínios funcionais importantes33. O instrumento utilizado para avaliar essa valência é o dinamômetro manual, tendo sido o instrumento do fabricante Jamar validado para a população normal34. Assim como o goniômetro, o dinamômetro é um instrumento de avaliação que contempla o domínio da CIF “Função do Corpo”. Na prática da reabilitação física, é importante que seja contemplado o domínio da CIF “Atividade” para identificar a influência das disfunções motoras no aspecto da funcionalidade física. Confiabilidade, validade e utilidade do acelerômetro triaxial foram avaliadas para medir o nível de atividade física em indivíduos com e sem desordens neurológicas, incluindo a DP35. O acelerômetro é uma medida válida e confiável para mensurar o tremor de repouso36,37,38. A tabela 1 resume os instrumentos adotados para avaliação dos membros superiores de pacientes com DP. Revista Brasileira de Neurologia » Volume 52 » Nº 2 » Abr/Mai/Jun 2016 Tabela 1. Instrumentos utilizados para avaliação dos membros superiores na doença de Parkinson Instrumento Medida Domínio da CIF Uso na DP Autor Nine Hole Peg Test Destreza Manual Atividade Sim Earhart et al., 201122 Purdue Pegboard test Destreza Manual Atividade Sim Desrosiers et al., 199528 Block Box Test Destreza Manual Atividade Sim Desrosiers et al.,199429 Goniometria Arco de movimento Estrutura e Função do corpo Sim Schenkman et al., 200132 Dinamometria Força Manual Estrutura e Função do corpo Sim Bohannon et al., 200634 Acelerômetro Tremor Estrutura e Função do corpo Sim Potvin et al., 197538 O conhecimento inadequado ou a falta de familiaridade com os instrumentos disponíveis dos fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais que atendem à população com DP, foram apontados como fatores que levam ao não acompanhamento dos comprometimentos dos membros superiores. Os profissionais entrevistados utilizaram instrumentos validados para outras condições neurológicas, como instrumentos de desfecho para os membros superiores de pacientes com DP. Os autores enfatizaram a necessidade da elaboração de uma diretriz fornecedora de informações detalhadas, sobre instrumentos específicos de avaliação da evolução. dos pacientes com DP submetidos à intervenção da reabilitação física dos membros superiores6. Algumas vezes um instrumento de avaliação é erroneamente adotado para pacientes com uma doença específica. Foram estudados os efeitos da terapia de restrição de movimentos em pacientes com DP. Para avaliar os efeitos da terapia nos membros superiores dos pacientes, os autores utilizaram a escala Fugl-Meyer. Essa escala foi desenvolvida especificamente para pacientes com hemiparesia devido à lesão cerebral. A escala tem itens específicos para avaliar aspectos como espasticidade e sinergia flexora anormal. É importante notar que nem a espasticidade nem o sinergismo anormal são observados em pacientes com DP. Dessa forma, é claro que a escala de Fulg-Meyer é uma medida inadequada e inapropriada para avaliar membros superiores de pacientes com DP39. 15 Correa TV et al. CONSIDERAÇÕES FINAIS Tendo em vista que os instrumentos disponíveis para avaliar a função dos membros superiores na DP não contemplam uma avaliação de toda a extremidade, é importante esforços para estabelecer um teste que seja válido e confiável para a identificação de disfunção dos membros superiores. Além disso, é importante que a avaliação física dos membros superiores na DP inclua análise de tarefas sequenciais, complexas, uni e bilaterais, focalizando o domínio da CIF “Atividades e Participação” para verificar o impacto dos comprometimentos motores na funcionalidade física dos membros superiores dos pacientes com DP. 17. 18. 19. 20. CONFLITOS DE INTERESSE 21. Os autores declaram não haver conflitos de interesse a serem declarados. 22. REFERÊNCIAS 1. Kwakkel G, Goede CJT DE, Van Wegen EEH. Impact of physical therapy for Parkinson’s disease: A critical review of the literature. Parkinsonism and Related Disorders 2007; 13: 478–487. 2. Bleuse S, Cassim F, Blatt JL, Labyt E, Bourriez JL, Derambure P, Destée A, Defebvre L. Anticipatory postural adjustments associated with arm movement in Parkinson’s disease: a biomechanical analysis. J Neurol Neurosurg Psychiatry. 2008;79(8):881-7. 3. Corcos DM, Chen CM, Quinn NP, McAuley J, Rothwell JC. Strength in Parkinson’s disease: relationship to rate of force generation and clinical status. Ann Neurol. 1996;39(1):79-88. 4. Buckley TA, Hass CJ. Reliability in one-repetition maximum performance in people with Parkinson’s disease. Parkinsons Dis. 2012;2012:928736. 5. Lana RC, Álvares LMRS, Nasciutti-Prudente C ET al. Percepção da qualidade de vida de indivíduos com doença de Parkinson através do PDQ-39. 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Since ancient times, the scientific thinking evolved in stages, and this article is a brief historical analysis of the progress of the neuroanatomical knowledge. Consequently, a temporal analysis not only provides a description of this evolution, as explained by the manner and depth with which the structures were being understood. The description of the neuroanatomical findings subdivided into four distinct temporal phases allowed to understand the evolution of neurological thought and the correlations between the reports. Keywords: Anatomy; Brain; History. Palavras-chave: Anatomia; Cérebro; História. Mestre em Tecnologia em Saúde. Docente do Departamento de Neurocirurgia da Santa Casa de Londrina. Londrina, Paraná, Brasil. Doutor em Engenharia Biomédica. Docente do Departamento de Engenharia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Londrina, Paraná, Brasil. 1 2 Doutora em Farmacologia. Docente do Departamento de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Londrina, Paraná, Brasil. Mestre em Ciências da Saúde. Presidente da Colione Informática Ltda. Londrina, Paraná, Brasil. 5 Doutor em Medicina. Docente do Departamento de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Londrina, Paraná, Brasil. 3 4 Endereço para correspondência: Sérgio Murilo Georgeto, Avenida Bandeirantes, nº 476, Londrina, Paraná, Brasil. CEP: 86020-620 E-mail: georgetosm@gmail. com Revista Brasileira de Neurologia » Volume 52 » Nº 2 » Abr/Mai/Jun 2016 17 Georgeto SM et al. INTRODUÇÃO A evolução do conhecimento neuroanatômico foi gradual ao longo da história. Inicialmente, as estruturas foram descritas do ponto de vista topográfico, sendo que os relatos com correlações funcionais só foram possíveis com o advento de uma nova mentalidade impulsionada pelos pensamentos renascentistas. Estruturas topográficas pontuais foram relacionadas à execução de funções corticais. Com o desenvolvimento da medicina, o pensamento topográfico funcional não conseguia explicar as inúmeras manifestações clínicas encontradas na prática diária, sendo necessária uma mudança de paradigma. As correlações passaram a ser feitas entre regiões cerebrais e as possíveis funções desempenhadas por essas áreas. Com o passar dos anos, esse modelo se tornou insuficiente para explicar as disfunções neuropsiquiátricas. A neuropsicologia passou a utilizar de modelos comportamentais para explicar as suas doenças. Contudo, esses modelos careciam de uma confirmação neuroanatômica que somente foi possível com o surgimento dos modernos exames de neuroimagem. A evolução dos fatos descritos anteriormente foi dividida nas cinco etapas que se seguem para facilitar o seu entendimento e suas correlações. FASE DESCRITIVA Essa fase se caracteriza pelo relato das estruturas que compõem o cérebro, sem a preocupação de se relacionarem de maneira efetiva com uma função cortical específica. As descrições eram observacional-comparativas e proferiram somente deduções dogmáticas sobre a atividade cerebral. O primeiro relato com conotação de um tratado cirúrgico foi encontrado em um papiro egípcio transcrito há aproximadamente há 2000 A.C. - provavelmente um compilado de notas referentes a diagnósticos e tratamentos usados pelo sumo sacerdote Imhotep, que teria vivido há 3000 A.C. O tradutor desses papiros foi Edwin Smith, um americano nascido em Connecticut no ano de 1822. Ele trabalhou como tradutor de antigos documentos egípcios por 18 anos, tendo a oportunidade de traduzir esse importante documento.1 No império Persa data do século VI A.C e durante o seu apogeu, era permitida a dissecção de cadáveres o que possibilitou que estudos anatômicos prosperassem. O grande expoente da época foi Rhazes, autor de um livro de anatomia muito usado como referência por séculos. 18 Ele foi o primeiro a utilizar o termo neuroanatomia e seus pensamentos tiveram profunda influência, principalmente para os gregos. Quando o islamismo unificou o império e passou a condenar a dissecção em animais e pessoas, a produção cultural entrou em colapso. 2 Os filósofos pré-socráticos, livres de pressões religiosas, deram continuidade aos trabalhos científicos, principalmente no período de 500 a 400 A.C. Dentre eles se destaca Alcmaeon, o primeiro a relacionar o cérebro com sensações e cognição. Realizava dissecções em cadáveres, reconhecendo o cérebro como o órgão do sentido e sua conexão com os nervos e introduziu noções de cefalometria. Da escola da ilha de Cos na Grécia, o mais ilustre personagem é Hipócrates, conhecido como o “Pai da Medicina”. Sua principal herança foi a desmistificação dos fatores que levam as doenças, retirando-as do campo sobrenatural e trazendo uma explicação real, baseada na observação clínica. Sua teoria dos quatro humores - o sangue, a bile amarela, a bile negra e a flegma - influenciou o pensamento médico por séculos. Aristóteles foi outra grande personalidade na escola grega. Seu método consistia da anatomia comparativa. Sua ênfase era a função, comparando o senso de significado funcional relacionado à estrutura, forma e função juntas. Por esse estilo de estudo ele é considerado o Pai da Anatomia comparativa.3 A escola de Alexandria foi o último reduto a conciliar a prática da anatomia humana com o desenvolvimento de novas técnicas cirúrgicas, tendo como referência o trabalho desenvolvido por seu mais ilustre representante, Herófilo da Calcedônia (335-280 A.C.). Com a expansão do Império Romano e a consagração do Cristianismo como religião oficial do império (200 A. C. e 300 D.C.), a prática de dissecção humana foi se tornando cada vez mais difícil, vindo a ressurgir somente no renascimento.4 FASE TOPOGRÁFICA FUNCIONAL Importantes mudanças ocorreram no período conhecido como Renascimento e ajudaram no entendimento do ambiente que propiciou o surgimento dos pensamentos topográficos funcionais. Entre outras, tem-se o advento da imprensa por Gutemberg e o florescimento de novas ciências, o que possibilitou um entrelaçamento destes conceitos e uma propagação de informações pela Europa como nunca visto. Durante os 200 anos posteriores ao renascimento, grandes alterações surgiram no campo da anatomia, fazendo com que ela se estabelecesse definitivamente Revista Brasileira de Neurologia » Volume 52 » Nº 2 » Abr/Mai/Jun 2016 Conhecimento neuroanatômico como uma ciência médica.5 A partir da reintrodução da dissecção humana, em Bolonha, pelo cirurgião e anatomista Mondino de Luzzi (1270-1326 D.C.), as velhas doutrinas de localização da atividade motora e sensorial na “rete mirabile”, que afirmavam ser a localização de processos mentais estava nas cavidades ventriculares e a sua variante, chamada de doutrina da célula, idealizada por autoridades eclesiásticas do início do cristianismo, começaram a ser desmoronadas quando ele incorporou o estudo sistemático da anatomia pela dissecção cadavérica, reavivando o importante legado deixado pela escola de escola de Alexandria. Seu trabalho não teve foco na dissecção craniana e nem questionou os preceitos tradicionais da teoria ventricular, contudo, produziu um tratado de anatomia que foi referência pelos 250 anos seguintes.6 As mais importantes mudanças nos conceitos e na didática da anatomia se devem a Andreas Vesalius (1514- fundamental para compreender como os dois sistemas arteriais se sobrepõem na irrigação do cérebro, bem como as manifestações clínicas diversas que eram originadas pelos déficits de irrigação, o que permitiu a descrição de várias síndromes clínicas correlacionas à anatomia vascular.10 Em 1663, o médico e anatomista Franciscus Sylvius (1614-1672) descreveu uma marca profunda na superfície lateral do cérebro que iniciava próximo da órbita e se curvando posterior e superiormente, dirigia tão distal quanto à origem do tronco encefálico, dividindo o cérebro em uma porção superior e uma inferior, que foi denominada fissura lateral. Em sua homenagem é nomeada, também, de fissura de Sylvius.11 A fase das representações minuciosas da estrutura cerebral é substituída por técnicas que visam desvendar o seu funcionamento. Seu início foi marcado pelas ideias originais de Félix Vicq d’Azyr (1748-1794), que fez a descrição da neuroanatomia da face medial do cérebro. Suas 1564). Reconhecido como maior anatomista da renascença, foi professor na Universidade de Pádua em 1537, onde lecionava anatomia e cirurgia. Seus métodos já se mostraram inovadores desde o início, pois a disseção era feita no centro de um teatro e executada pelo próprio Vesalius, dispensando o uso de cirurgiões barbeiros, ficando a plateia ao seu redor distribuída em diversos andares. Outro aspecto inédito foi a extensa inclusão de ilustrações, dando uma nova compreensão aos textos anatômicos.7 Ele demostrou através de um corte transversal no nível dos átrios ventriculares que o sistema ventricular em humanos tem morfologia muito semelhante ao de alguns animais. Com essa constatação, Vesalius argumentou que não poderia ser negada a presença da alma nos animais, já que esses apresentavam os mesmos requisitos anatômicos que os seres humanos. Esse fato foi decisivo para o abandono da teoria ventricular.8 Costanzo Varolio (1543-1575) conseguiu a completa exteriorização do cérebro, fazendo um corte paralelo ao nível da base do crânio, separando o encéfalo da caixa craniana. Com esse método as estruturas encobertas pelo manto cortical puderam ser descritas, entre elas a ligação do cérebro com a medula, que foi designada de ponte e posteriormente denominada ponte de Varolio .9 Thomas Willis (1621-1675), utilizando a técnica descrições eram acompanhadas de correlações anatomo-funcionais e evolucionárias, estabelecendo uma conexão entre os conhecimentos usados na anatomia (a ciência da morte) com a fisiologia (a ciência da vida).12 Contradizendo as teorias holísticas dos séculos XVII a XIX sobre o funcionamento cerebral, Luigi Rolando (1773-1831) acreditava que o sistema nervoso poderia ter áreas distintas do ponto de vista funcional e anatômico. Ele constatou que apesar da variabilidade havia sempre dois giros, dispostos transversalmente à fissura de Sylvius, sendo um na região frontal e o outro na parietal. Ente eles existiam um sulco, também constante, que recebeu o nome de fissura de Rolando em sua homenagem. Seus conceitos contradisseram a ideia holística, abriram caminho para uma nova teoria de organização funcional do cérebro, dando características topográficas para as funções cerebrais.13 Franz Joseph Gall (1756-1828) propôs no início do século XIX que o comportamento humano poderia estar correlacionado com características faciais externas. Numa fase inicial do seu trabalho, ele se uniu ao anatomista Johann Gaspard Spurzheim (1776-1832) e publicaram uma série de artigos sobre anatomia funcional e psicologia. Por discordar de Gall quanto à necessidade de um maior rigor científico para continuar suas afirmações, Spurzheim se separou e fundou a frenologia. As afirmações de suas acima descrita, fez um estudo detalhado da circulação da base do encéfalo, em que demonstrava haver uma conexão entre a circulação carotídea e vertebral, posteriormente denominada polígono de Willis. Esse conhecimento foi teorias passaram a sofrer críticas da comunidade científica, acusadas de carecerem de fundamentação. Apesar dos ataques, as ideias de Gall sobrevivem até os experimentos do neurologista francês Jean Baptiste Bouillaud (1796-1881), Revista Brasileira de Neurologia » Volume 52 » Nº 2 » Abr/Mai/Jun 2016 19 Georgeto SM et al. que acreditava indubitavelmente na teoria da localização, principalmente no que se referia à fala.14 Coube a Paul Broca (1824-1880), anatomista, antropologista e cirurgião, demonstrar em 1861, junto a Sociedade de Antropologia Francesa que as ideias de Jean Baptiste Bouillaud estavam corretas. Ele apresentou o caso do paciente Monsieur Leborgne (denominado por Broca de Monsieur Tan), que havia sofrido um trauma frontal esquerdo e apresentava múltiplos problemas neurológicos relacionados à expressão da fala. Sua autópsia revelou alterações na circunvolução frontal inferior na sua porção posterior. Ele apresentou tempos depois um segundo caso com as mesmas correlações clínicas e anatomopatológicas e estes foram essenciais no estabelecimento da conexão entre a linguagem e o giro frontal inferior esquerdo. Toda a fundamentação da moderna neurofisiologia e neurociência cognitiva está embasada nos achados clássicos proferida por Broca. Em sua homenagem, esse distúrbio da expres- cio do pensamento hodológico, que procurava definir em cada área as conexões estabelecidas pelas fibras brancas. O segundo destaque é para o casal Oskar (1870-1959) e Cecile Vogt (1875-1062), que procuraram estudar as variações corticais mieloarquitetônicas das 43 áreas definidas por Brodmann, resultando numa subdivisão de mais de 200 áreas. Esse imenso trabalho infelizmente nunca foi concluído.17 Constantin von Economo (1876-1931) e Georg Koskinas (1885-1975) fizeram posteriormente uma revisão dos achados do casal Oskar, e reconstruíram um mapa de 107 áreas corticais. Estudaram as variações de espessura cortical, volume, densidade celular, forma dos neurônios, proporção entre corpos neuronais (grandes e pequenos), quantidade de células gliais, gerando um volume enorme de informações, que foi posteriormente somado aos padrões funcionais da área.18 O conceito de pluralidade funcional atribuída ao são da fala recebeu o nome de afasia de Broca e a região do giro frontal inferior, compreendida entre a porção triangular e a opercular, passou a chamar-se área de Broca.15 Os trabalhos de Broca também ganharam notoriedade com as correlações clínicas descritas por Charcot (1825-1893) e Gower (1845-1915), conferindo-lhes especial notoriedade. Esses relatos possibilitaram, também, a Fritsch (1843-1891) e Hitzig (1838-1907) detectar a localização do córtex motor, que por sua vez, abriram caminho para Ferrier (1843-1928) iniciar seus experimentos com estimulação cortical, estabelecendo uma nova fase na neurociência.16 Nesta fase, a topografia funcional já não conseguia explicar de modo convincente as inúmeras manifestações clínicas relatadas na literatura médica. Pesquisadores insatisfeitos com essa situação passaram a se dedicar ao estudo das conexões entre as áreas cerebrais para poder localizar as suas funções dando origem aos mapas corticais. O primeiro destaque é para Alfred Campbel (1868-1937), que em seu trabalho estruturou as diferenças regionais do córtex em relação à histologia, associado aos achados clinicopatológicos às supostas funções exercidas por essa região, culminando com a elaboração de um mapa cérebro foi acolhido na obra de Karl Friedrich Burdach (1776-1847), que relatou a descoberta do tapetum, do fascículo uncinado, do arcuado e do longitudinal superior, além de padronizar a nomenclatura dos achados anatômicos, passando a ser descritos em latim. Essa modificação teve grande aceitação da comunidade científica e se tornou uma norma, sendo usada pelo Comitê Internacional de Nomenclatura desde 1989.19 Joseph Jules Digerem (1849-1917) introduziu novas técnicas de dissecção de fibras brancas, associadas à coloração por hematoxilina ferrosa, e conseguiu demonstrar diferentes correlações entre áreas corticais e suas projeções em territórios da linguagem, o que possibilitou a descrição de lesões occipitotemporais, com extensão ao esplênio do corpo caloso. As lesões occipitotemporais produziam súbita perda do campo visual direito, afetando capacidade de leitura. Contudo, esses pacientes mantinham íntegra a capacidade de escrever, apesar de não entenderem o que havia sido escrito. O quadro clínico manifestado foi chamado de alexia sem agrafia.20 Seguindo esses fundamentos de conexões, Carl Wernicke (1848-1905) relatou a presença de pacientes com um comprometimento da compreensão da linguagem sem a perda da capacidade de articulação. Não havia perda auditiva ou visual, nem déficit motor, como na afasia de com 17 campos citoarquitetônicos, concordando anatomia, patologia e fisiologia. As áreas foram designadas pela função deveriam realizar e não por um número, como era o caso da cartografia proposta por Brodmann. Foi o iní- Broca, o que sugeria uma nova localização anatômica. O déficit determinado por essa alteração faz com que o indivíduo, ao se expressar, troque uma palavra por outra (parafasia verbal) ou substitua uma palavra escrita por outra FASE CONECTIVA FUNCIONAL 20 Revista Brasileira de Neurologia » Volume 52 » Nº 2 » Abr/Mai/Jun 2016 Conhecimento neuroanatômico semelhante (parafasia de escrita), sem o menor contexto com o diálogo. Esse achado foi chamado de afasia de expressão.21 O método mais elaborado de disseção de fibras brancas foi proposto por Josef Klingler (1888-1963) em 1956, que possibilitou um entendimento revolucionário entre as conexões de áreas cerebrais em que estratégias de dissecção diferenciadas, possibilitaram a demonstração da complexa inter-relação entre áreas cerebrais por meio de feixes de fibras brancas, e isto gerou um novo entendimento dessas estruturas do ponto de vista espacial. Klingler foi o primeiro a documentar suas disseções com fotografias.22 se tornou possível com o advento dos modernos exames de neuroimagem. 24 FASE MULTIMODAL No início do século XX, a concepção do sistema nervoso como uma série de centros conectados, começava a ser questionada, associando-se a descrições anatômicas macroscópicas insuficientes para explicar a complexidade Os modernos estudos por ressonância magnética (RM) possibilitaram correlacionar a anatomia topográfica cortical como suas conexões pela tratografia, bem como sua atividade específica na execução de determinada função pela RM funcional, permitindo visualizar as diversas maneiras possíveis de inter-relação entre diferentes áreas topográficas, in vivo, em tempo real com um número de indivíduos e padronização de amostra nunca antes imaginada. A proposta de uma fundamentação neural para sustentar o conhecimento conceitual procurava determinar os fundamentos neuroanatômicos para o entendimento das funções corticais superiores. A contextualização da psicologia cognitiva por categorias de conhecimento abriu das disfunções neuropsicológicas. Pela ausência de suporte neuroanatômico, a abordagem neuropsicológica conquistou espaço no meio científico. A fundamentação neuropsicológica teve início com as constatações, John Hughlings Jackson (18351911) que propôs separar as relações entre mente e cérebro para melhor entender suas inter-relações. O córtex cerebral deveria ser pensado com uma máquina sensitivo-motora. A observação entre indivíduos sadios e doentes seria a base da fundamentação para a ciência neurológica. Funções corticais superiores não poderiam ser explicadas pela simples observação do cérebro. Associando os preceitos evolucionários de Charles Robert Darwin (1809-1882), Jackson adotou uma evolução nos conceitos de linguagem ao propor uma organização hierárquica quanto à complexidade, definições, integrações e interconexões, assim contribuindo para a expansão dos caminhos rumo à neurociência moderna.23 A abordagem psicológica passou a ser feita com análises de grupos de indivíduos normais. Os indivíduos foram submetidos a diferentes tratamentos experimentais, seus efeitos mensurados com protocolos padronizados e posteriormente validados por métodos estatísticos, com análise de variância.24 A neuropsicologia trabalhava nessa época procu- o caminho para a neuroanatomia propor uma explicação anatômica para a alteração dos padrões de reconhecimento visual. Demostrou-se que o padrão de reconhecimento facial estava vinculado à região temporal inferior esquerda e a nomeação de um objeto recrutados da memória de utilização esta ligada à ativação da junção occipitotemporoparietal esquerda.25 Estudando as macrovias perisilvianas de linguagem, por tratografia tridimensional, pode-se comprovar os modelos anatômicos propostos anteriormente por Paul Broca, Carl Wernicke, Joseph Déjèrine e Norman Geshwind, com suas respectivas associações. Estudos recentes demonstraram uma conexão direta entra a região temporal e frontal e dois segmentos sobrepostos: um posterior ligando o temporal ao parietal e um anterior unindo o parietal ao frontal. Essas descobertas explicaram as variações clínicas existentes nos grupos de afasia de Broca e Wernicke. Houve uma identificação topográfica dos mecanismos hodológicos, sendo a correlação documentada in vivo. Os dados tiveram sua comprovação com o uso de exames funcionais e baterias de testes psicológicos. Constatou-se a existência de uma assimetria entre os padrões estruturais dessas rotas conforme a dominância da função superior. Essa diversidade inter e intrapessoal explica o fato uma lesão cerebral com uma mesma topografia, apresentar uma variabilidade rando uma compressão das lesões cerebrais, tentando entender quais as repercussões que essas produziam sobre as funções corticais superiores. A neuropsicologia carecia de ferramentas para poder confirmar suas hipóteses, o que só de sintomas.26 Para explicar a diversidade na recuperação funcional destes indivíduos, a definição de neuroplasticidade foi acrescida ao conceito anterior, traduzindo a capacidade FASE DOS MODELOS NEUROPSICOLÓGICOS Revista Brasileira de Neurologia » Volume 52 » Nº 2 » Abr/Mai/Jun 2016 21 Georgeto SM et al. de recuperação da função neurológica após o córtex ter sofrido uma injúria e a sua reintegração depende da localização da lesão e do modelo fisiopatológico. A combinação de análises estruturais por tratografia, associadas a análises funcionais, como estimulação intraoperatória, RM funcional, potenciais evocados, eletrocorticografia e eletromagnetocoticografia, confere um padrão multimodal nas interpretações das possibilidades de recuperação.27 Os usos desses conceitos integrativos, na compreensão do funcionamento cerebral e suas doenças, motivaram dois projetos recentes multicêntricos, confirmando o interesse da comunidade científica internacional. O primeiro, The Human Connectome Project, inclui cientistas da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), do Massachussets General Hospital, da Universidade de Washington e da Universidade do Minnesota, objetiva estudar um milhão e duzentos mil indivíduos saudáveis usando as macrovias de associação e imagens estruturais, a um custo de 40 milhões de dólares (28). O segundo, Human Brain Project, lançado em outubro de 2013, envolve 26 países e 136 instituições, tendo como finalidade desenvolver tecnologia de informação e comunicação para produzir um modelo computacional que simule um cérebro em funcionamento, com um orçamento um bilhão de euros, custeado pela Comunidade Europeia (29). Assim sendo, o presente artigo procurou dar uma visão abrangente das correlações entre os diferentes achados, permitindo associar essas descobertas aos avanços que se sucederam. Por se tratar de uma visão geral sobre a história, essa está sujeita a falhas, no entanto, um olhar amplo sobre os fatos pode ser útil para aprofundamentos posteriores. CONFLITOS DE INTERESSE Os autores declaram não haver conflitos de interesse a serem declarados. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Hughes JT. The Edwin Smith Surgical Papyrus: an analysis of the first case reports of spinal cord injuries. Paraplegia 1988;26(2):71-82. 2. Shoja MM, Tubbs RS. The history of anatomy in Persia. 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Revista Brasileira de Neurologia » Volume 52 » Nº 2 » Abr/Mai/Jun 2016 Rev Bras Neurol. 52(2):23-26, 2016 Disfagia devido a osteofitose cervical: Relato de caso Dysphagia due to cervical osteophytosis: Case report Rogério Martins Pires de Amorim1, Ana Caroline Siquara de Sousa1, 3, Lucas Loiola Santos1, Maristella Reis da Costa Pereira1, José Fernando Guedes-Corrêa1, 2 RESUMO ABSTRACT Doenças degenerativas na coluna cervical são comuns nos pacientes idosos. Os autores apresentam caso de paciente do sexo feminino, 44 anos, com quadro de disfagia progressiva relacionada à osteofitose cervical anterior em C5-C6 e C6-C7. Esofagograma mostrou a compressão esofágica pelos osteófitos anteriores. O tratamento realizado foi brocagem dos osteófitos, discectomia cervical em dois níveis e artrodese cervical, resultando na remissão completa do sintoma. Embora seja uma causa incomum de disfagia, osteófito deve ser incluído como diagnóstico diferencial pois é uma causa tratável e Degenerative diseases of the cervical spine are common in elderly patients. The authors present a case report of female, 44 years old, with progressive dysphagia due to anterior cervical osteophytes (C5C6 and C6-C7). Esophagogram showed esophageal compression by anterior osteophytes. The treatment was removal of osteophytes by drill, cervical discectomy on two levels and cervical arthrodesis, resulting in complete remission of symptoms. Although it is an uncommon cause of dysphagia, osteophytes should be included in the differential diagnosis because it is a treatable and reversible cause of reversível do sintoma. the symptom. Palavras-chave: osteófito; disfagia; doenças da coluna vertebral; vértebras cervicais. Key words: osteophyte; dysphagia; spinal diseases; cervical vertebrae. Divisão de Neurocirurgia. Departamento de Cirurgia do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle (HUGG) – Escola de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (EMC – UNIRIO), Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 1 Centro de Cirurgia de Nervos Periféricos. Instituto de Neurologia Deolindo Couto – Universidade Federal do Rio de Janeiro (INDC – UFRJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 3 Serviço de Anatomia Patológica do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle (HUGG). 2 Endereço para correspondência: Ana Caroline Siquara de Sousa, E-mail: [email protected] Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Hospital Universitário Gaffrée e Guinle. , Rua Mariz e Barros nº 775, Tijuca, 20270-004 - Rio de Janeiro, RJ - Brasil Revista Brasileira de Neurologia » Volume 52 » Nº 2 » Abr/Mai/Jun 2016 23 Amorim RMP et al. INTRODUÇÃO Na coluna cervical dos pacientes idosos é comum o acometimento por doenças degenerativas. Nessa população, a incidência de ostéofitos cervicais anteriores (OCA) é de 20 a 30%.1, 2 As três doenças que mais comumente cursam com osteofitose cervical são doença degenerativa do disco intervertebral, hiperostose esquelética difusa idiopática (DISH) e espondilose anquilosante.3 Apresentação clínica de osteófito cervical sob a forma de disfagia é rara sendo decorrente da compressão do esôfago.4 Há aproximadamente cem casos descritos de disfagia causados por osteófitos, a maioria por DISH.5 Relatamos caso de paciente jovem com quadro de disfagia relacionada a osteofitose que apresentou reversão completa dos sintomas após procedimento cirúrgico. acesso ântero-lateral clássico à coluna cervical, medialmente ao feixe vasculonervoso cervical. Sob controle radioscópico foi realizada brocagem dos osteófitos por broca cortante, discectomia nos dois níveis e artrodese cervical com placa cervical e parafusos sob microscopia (Figura 2). A artrodese foi necessária porque os discos intervertebrais estavam completamente degenerados e foram ressecados. RELATO DE CASO Paciente do sexo feminino, 44 anos, apresentou quadro de disfagia progressiva (alimentos pastosos e depois sólidos) com evolução de doze meses, além de dor na região cervical. Sem dados relevantes na história patológica pregressa. Exame neurológico sem anormalidades. Foram realizadas laringoscopia e endoscopia, sendo consideradas inconclusivas. Radiografia da coluna cervical e ressonância magnética mostraram osteofitose extensa e esofagograma com bário contrastado evidenciou obstruções que poderiam corresponder a osteófitos no nível de C5-C6 e C6-C7 que comprimiam acentuadamente o esôfago nesses níveis, sugestivos de DISH (Figura 1). A paciente foi submetida a cervicotomia com Figura 2. Foto cirúrgica mostrando instalação de placa cervical com quatro parafusos cervicais após ressecção de complexos disco-osteofitários. Não houve intercorrências no pós-operatório. Vinte e quatro horas após o procedimento cirúrgico a paciente relatou melhora acentuada da deglutição e das dores cervicais. Em radiografia de controle três meses após a cirurgia observou-se a artrodese estável. Não foi realizado novo esofagograma porque a paciente se apresentou completamente assintomática. Figura 1. Esofagograma de bário evidenciando obstruções em nível de C5-C7. 24 Revista Brasileira de Neurologia » Volume 52 » Nº 2 » Abr/Mai/Jun 2016 Disfagia e osteofitose cervical DISCUSSÃO Há uma grande variedade de quadros clínicos causados por osteófitos, a depender do seu tamanho e localização, que incluem: disfagia, dispnéia, globus, disfonia, quadriplegia, obstrução do esôfago (como no caso apresentado), rouquidão, subluxação atlanto-axial, mielopatia cervical, lesão isquêmica da medula, estridor, síndrome do desfiladeiro torácico, síndrome de Horner, odinofagia e otalgia.1, 6-9 O osteófito pode acometer a coluna em qualquer nível, porém é mais comum em C5-C6.4 Os osteófitos nas vértebras C4 a C6 são os que podem causar algum tipo de dano ao esôfago, como no nosso relato.6,8,9 Os mecanismos que explicam a ocorrência de disfagia são: obstrução mecânica; invasão de locais de relativa imobilidade do esôfago; inflamação nas estruturas vizinhas ao osteófito causando obstrução do órgão; fibrose e adesão com fixação no nível da cartilagem cricoide; espasmo cricofaríngeo; diminuição da motilidade da epiglote; dor e espasmo; lesões neurológicas secundárias (paralisia do nervo laríngeo recorrente por hiperostose); combinação desses mecanismos.1, 3, 4, 6 Alguns osteófitos são sintomáticos, e outros não, a depender do seu tamanho e posição em relação ao esôfago, além da reação inflamatória em tecidos adjacentes que pode causar compressão esofagiana por mecanismo indireto.4 O diagnóstico da etiologia de disfagia e sua avaliação podem ser feitos através de vários exames complementares como radiografia, tomografia computadorizada, ressonância magnética, eletromiografia, endoscopia, videofluoroscopia dinâmica, manometria e esofagograma de bário.6-9 Entretanto, o melhor método para avaliar doenças da deglutição é videofluoroscopia. Esofagograma é necessário para evidenciar o estreitamento e compressão no esôfago de pacientes com osteofitose.4 A laringoscopia e a endoscopia foram inconclusivas no nosso caso, mas são importantes para descartar outras causas de disfagia como Candida sp, herpes vírus e carcinomas.6-9. Kapetanakis et al relataram que se deve solicitar tomografia computadorizada para investigar o tamanho e morfologia do OCA e sua relação com o esôfago e a laringe.1 A ressonância magnética também pode ser útil para evidenciar lesões inflamatórias e determinar o nível de compressão da cartilagem cricoide, ou evidenciar infecção e necrose da laringe. O esofagograma de bário exclui neoplasia e revela compressão e obstrução do esôfago, en- Revista Brasileira de Neurologia » Volume 52 » Nº 2 » Abr/Mai/Jun 2016 quanto que a endoscopia é necessária para excluir doenças causando compressão intrínseca, devendo ser executada cuidadosamente para evitar lesão iatrogênica.1,4 O diagnóstico de disfagia por OCA, portanto, é de exclusão.2 Há dois tipos de tratamento para a disfagia causada por osteófitos, o conservador e o cirúrgico.4 O tratamento conservador utiliza desde anti-inflamatórios e esteroides a técnicas de acupuntura, fisioterapia de deglutição ou orientação dietética.1, 2, 4, 6-8 McGarrah e Teller descreveram bons resultados com o tratamento conservador, com relatos de remissão ou estabilização dos sintomas.3 O tratamento cirúrgico (excisão dos osteófitos) é indicado para casos mais graves ou que não houve melhora com tratamento conservador, sendo curativo na grande maioria dos casos.1, 3, 4, 10 O manejo deve ser, pois, individualizado.6 Na série de Ozgursoy et al foram estudados 13 pacientes submetidos a remoção de OCA transcervical num período de dez anos e que não foram submetidos a outros procedimentos cirúrgicos em cabeça e pescoço.2 A faixa etária estava compreendida entre 51-84 anos e a incidência entre homens e mulheres foi de 5,5:1. Em relação a videofluoroscopia com manometria utilizadas para diagnóstico, foram descritos OCA dos níveis C2 a C7, sendo o segmento mais envolvido C5 (dez em 13 pacientes) e o menos envolvido foi C2 (dois em 13). A única complicação pós-cirúrgica foi um hematoma que causou comprometimento parcial de via aérea, necessitando de entubação traqueal de emergência. Todos os pacientes realizaram tratamento conservador antes da cirurgia (dieta, anti-inflamatórios, relaxante muscular e terapia de deglutição) sem melhora.2 Nosso relato de caso apresenta algumas características incomuns em relação aos dados epidemiológicos comuns na OCA: a paciente relatada é do sexo feminino, tem menos de 50 anos, e apresentou disfagia moderada com acometimento das vértebras cervicais e doença degenerativa do disco intervertebral, porém sem distúrbios metabólicos ou outros fatores associados. CONCLUSÃO Descrevemos paciente com causa rara de disfagia (compressão exofítica do esôfago) e faixa etária mais jovem (menos de 60 anos). A cirurgia foi curativa e a paciente apresentou evolução satisfatória, havendo remissão dos sintomas. 25 Amorim RMP et al. CONFLITOS DE INTERESSE Os autores declaram não haver conflitos de interesse a serem declarados. REFERÊNCIAS 1. Kapetanakis S, Vasileiadis I, Papanas N, Goulimari R, Maltezos E. Can a giant cervical osteophyte cause dysphagia and airway obstruction? A case report. Wien Klin Wochenschr. 2011;123:291-3. 2. Ozgursoy OB, Salassa JR, Reimer R, Wharen RE, Deen HG. Anterior cervical osteophyte dysphagia: manofluorographic and functional outcomes after surgery. Head Neck. 2010;32:588-93. 3. McGarrah PD, Teller D. Posttraumatic cervical osteophytosis causing progressive dysphagia. South Med J. 1997;90:858-60. 4. Uzunca K, Birtane M, Tezel A. Dysphagia induced by a cervical osteophyte: 26 a case report of cervical spondylosis. 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Revista Brasileira de Neurologia » Volume 52 » Nº 2 » Abr/Mai/Jun 2016 Rev Bras Neurol. 52(2):27-47, 2016 Relação entre o equilíbrio e a capacidade funcional em hemiparéticos Relationship between the balance and functional capacity in hemiparetics Janmille de Sá Neves¹; Gabriela Ferreira¹; Tatiana Maíta Alves Conceição² RESUMO ABSTRACT Introdução: O Acidente Vascular Encefálico (AVE) é responsável por incapacidades na vida do sujeito e pode muitas vezes provocar o seu óbito. Nos indivíduos acometidos, o equilíbrio é um dos principais componentes prejudicados, resultando em incapacidade. A Escala de Berg (EB) é um instrumento validado para avaliação do equilíbrio nessa população e a Escala de Avaliação de Fugl-Meyer (EFM) é também utilizada para avaliação do comprometimento sensório-motor e capacidade funcional nos pacientes vítimas de AVE. Objetivo: Introduction: Stroke is responsible for disabilities in the life of the subject and can often cause his/her death. In affected individuals, the balance is one of the damaged components, resulting in disability. The Berg Balance Scale (BBS) is an instrument for the assessment of the balance in this population and the Fugl-Meyer Assessment (FMA) is also used to evaluate the sensory-motor impairment and functional capacity in patients suffering from stroke. Objective: Analyze the relation between the balance and the functional capabilities in analisar a relação entre o equilíbrio e a capacidade funcional de pacientes hemiparéticos vítimas de AVE do Centro Universitário Jorge Amado. Metodologia: Trata-se de um estudo observacional de corte transversal, realizado no ano de 2014, composto por 11 indivíduos, utilizando para coleta dos dados as EB e EFM como instrumento de avaliação. Resultados: Correlacionando a EB com a EFM, encontrou-se uma correlação estatisticamente significante (r=0,680; p=0,021). Com a pontuação total da EB, foram correlacionados com os domínios “Sensibilidade” e “Função Motora do Membro Inferior - FMI” da EFM, além da idade e tempo de AVE, obtendo a maior relevância a relação tempo de AVE com EB (p=0,009), FMI (p=0,012) e sensibilidade (p=0,008). Os gêneros foram correlacionados com o equilíbrio e capacidade funcional, sendo as mulheres com menor pontuação na EB (p=0,425) e maior na EFM (p=0,767). Os indivíduos que realizam tratamento fisioterapêutico obtiveram melhor pontuação nas escalas (p=0,082 e p=0,166 para EB e EFM). Conclusão: Através dos resultados, é possível inferir que pacientes com melhor equilíbrio possuem melhor capacidade funcional. of hemiparetic patients victims of a Stroke on the Universitary Center Jorge Amado. Methodology: This study is a cross-sectional observational study, carried out in 2014, compound of 11 individuals, using for data collection the BBS and FMA as evaluation instruments. Results: Correlating the BBS with the FMA, was found a statistically significant correlation (r=0,680; p=0,021). The total score of BBS was correlated with “sensibility” and “the lower limb section” at FMA, moreover the age and time since Stroke, obtaining the bigger relevance in relation to the time since Stroke with BBS (p=0,009), FMI (p=0,012) and sensibility (p=0,008). The gender was correlated with the balance and functional capability, having the women the lower score at BBS (p=0,425) and the bigger in FMA (p=0,767). The individuals how have performed physiotherapeutic treatment had the best score in the scales (p=0,082 at BBS and p=0,166 at FMA). Conclusion: Through the results, it is possible infer that the patients with the best balance have best functional capability. Keywords: Stroke. Balance. Functional Capability. Hemiparetics. Palavras-chave: AVE, Equilíbrio, Capacidade Funcional, Hemiparéticos. ¹Graduada em Fisioterapia pelo Centro Universitário Jorge Amado (UNIJORGE); ²Mestre em Ciência Humana pela Universidade Castelo Branco (RJ), especialista em Neurologia pela Fundação Baiana para o Desenvolvimento das Ciências, especialista em Metodologia do Ensino Superior pela Faculdade Olga Mettig e docente do Centro Universitário Jorge Amado (UNIJORGE). Endereço para correspondência: Janmille de. Sá Neves Av. Luis Viana, n. 6775 – Paralela Salvador, BA. CEP: 41.745-130 e-mail: [email protected] Revista Brasileira de Neurologia » Volume 52 » Nº 2 » Abr/Mai/Jun 2016 27 Neves JS et al. INTRODUÇÃO O Acidente Vascular Encefálico (AVE) é definido como alguma alteração vascular, que leva a uma obstrução ou hemorragia, impedindo a perfusão sanguínea em uma região encefálica, gerando deficiências neurológicas, traduzido em incapacidades ou até mesmo o óbito1. Nos indivíduos acometidos, o equilíbrio é um dos principais componentes prejudicados devido a alterações no processo de integração sensorial e geração de respostas motoras(²). O paciente pós-AVE pode não conseguir manter o controle postural devido a possíveis comprometimentos de firmeza ou equilíbrio estático, simetria e estabilidade dinâmica. Eles tendem a cair, geralmente, para o lado do hemicorpo comprometido, resultando em fratura de fêmur e consequente embolia, traumatismo crânio encefálico, restrição ao leito e confusão mental associada, pneumonias, úlceras de decúbito, além de incapacidades ou até mesmo o óbito(³).É fundamental ressaltar que a funcionalidade envolve dimensões além das físicas, incluindo, por exemplo, as dimensões mentais e socioeconômicas, que são necessárias para a independência do indivíduo. A identificação do estado funcional do sujeito é fundamental para a escolha adequada da intervenção 4,5 Os danos físicos, psicoafetivos e cognitivos resultantes do AVE são considerados responsáveis por incapacidade na vida do sujeito e o grau de comprometimento varia de paciente para paciente. Além disso, o indivíduo pode apresentar modificação no padrão da marcha, dos movimentos dos membros, espasticidade, nas atividades funcionais e profissionais, na linguagem, na atividade sexual, no humor e na capacidade de praticar atividades de lazer.1 A Escala de Berg é um instrumento validado para avaliação do equilíbrio, que possui boa confiabilidade entre avaliadores, direcionada a população idosa e para pacientes vítimas de algumas incapacidades, como por exemplo o AVE, fornecendo subsídio para definição de estratégias para otimizar a performance do equilíbrio e postura. Já a Escala de Avaliação de Fugl-Meyer é considerada uma das principais escalas para avaliação do comprometimento sensório-motor e capacidade funcional de pacientes vítimas de AVE. Essa escala possui uma excelente confiabilidade intra e inter examinadores, e é amplamente utilizada em pacientes crônicos e agudos, auxiliando na identificação das incapacidades funcionais para execução das atividades de vida diária.6,7,8 Diante dos dados expostos, este trabalho teve por 28 finalidade analisar a relação entre o equilíbrio e a capacidade funcional de pacientes hemiparéticos vítimas de AVE atendidos ou cadastrados no banco de informações do Instituto de Saúde do Centro Universitário Jorge Amado, por meio das Escalas de Berg e Fugl-Meyer. METODOLOGIA Trata-se de um estudo observacional de corte transversal. A coleta de dados foi realizada entre março e agosto de 2014 no Instituto de Saúde (IS) do Centro Universitário Jorge Amado (UNIJORGE). A população que participou do estudo foi escolhida através de uma seleção por conveniência, através da busca do cadastro dos sujeitos no banco de informações do IS. A amostra foi do tipo não probabilístico, composto por 11 indivíduos vítimas de AVE e de ambos os sexos, com idade entre 28 e 66 anos. Esses pacientes foram convidados para participar do estudo e somente participaram efetivamente de todas as etapas da pesquisa aqueles que atendiam aos critérios de inclusão. Foram estabelecidos como critérios de inclusão: indivíduos hemiparéticos vítimas de AVE sem alteração cognitiva (escore igual ou superior a 24 pontos no Mini Exame do Estado Mental - MEEM, ANEXO 1) e estabilidade hemodinâmica. Pelo fato do AVE acometer preferencial adultos e idosos, as pesquisadoras esperavam que a amostra fosse composta em sua maioria por idosos, justificando assim a utilização do MEEM em todos indivíduos. Para os critérios de exclusão, foram determinados: hemiplégicos, dificuldade cognitiva (sendo o ponto de corte pontuação inferior a 24 pontos no MEEM), impossibilidade de locomoção, alteração motora grave (mensurada através da avaliação do tônus muscular pela Escala Modificada de Ashworth – ANEXO 2 , sendo ponto de corte aqueles indivíduos com o membro rígido em flexão ou extensão), fratura óssea não consolidada em qualquer segmento corpóreo, alterações visuais não corrigidas, hipertensão arterial sistêmica não controlada, instabilidade hemodinâmica, e outras causas de instabilidade não relacionadas ao AVE, como por exemplo: vestibulopatia, histórico de doença ortopédica associada, alteração sensorial grave, hipotensão ortostática, doenças cardíacas, entre outros. A coleta de dados ocorreu da seguinte maneira: ao aceitarem a participar do estudo, todos os pacientes foram convidados para uma avaliação inicial, onde foram esclarecidos todos os procedimentos da pesquisa e as dúvidas apresentadas por eles. Após as explicações iniciais, os pacientes assinaram o Termo de Consentimento Livre Revista Brasileira de Neurologia » Volume 52 » Nº 2 » Abr/Mai/Jun 2016 Equilíbrio e a capacidade funcional Esclarecido (TCLE - ANEXO 3). Somente após os esclarecimentos e a assinatura do TCLE, foram realizados a coleta de dados essenciais por meio da Ficha de Avaliação (APÊNDICE 1), e através desta, foram identificados os critérios de inclusão e exclusão, e assim definido ou não a participação dos pacientes no estudo. Após esse procedimento, foram aplicadas as Escalas de Berg (ANEXO 4) e a Escala de Avaliação de Fugl-Meyer (ANEXO 5). Cada uma das avaliadoras foi treinada previamente para aplicação das Escalas de Berg e de Avaliação de Fugl–Meyer, com intuito de realizar piloto e calibrar a coleta de dados. Antes da sua aplicação, as pesquisadoras também reservaram todos os equipamentos necessários (cadeira com e sem apoio para as costas, régua, fita métrica trena 1,5m MD, sandália, goniômetro grande 20 cm - Carci, papel, lápis, objeto cilíndrico, bola de tênis Wilson Championship, maca e plexímetro Erwin Guth) e explicou ao paciente o que consistia a escala em que ele estava sen- normal. Os autores da escala determinaram que pontuação inferior a 50 pontos para função motora denota um comprometimento motor severo; 50-84 marcante; 85-95 moderado e 96-99 leve. Todas as etapas do procedimento de coleta ocorreram individualmente e no setor de Neurologia do IS, sendo no espaço destinado para avaliação de pacientes e com supervisão técnica de profissionais do setor. Durante a coleta de dados, incluindo a aplicação das escalas, as autoras deste trabalho estavam juntas. O estudo respeitou os aspectos éticos que envolvem os seres humanos de acordo ao Conselho Nacional de Saúde – CNS 446/12, e foi aprovado pela Comissão de Ética da UNIJORGE (localizada na própria instituição), sob o número de avaliação do projeto 068/2013. Ao término do estudo, as pesquisadoras forneceram um feedback aos pacientes, informando os resultados das escalas e qual seria a melhor estratégia adotada para a sua reabilitação. do submetido. Criada por Berg et AL.9 e validada para o português por Myamoto et al.,10 a Escala de Berg tem como objetivo medir a capacidade de equilíbrio dos idosos institucionalizados ou na comunidade, e em pacientes com sequelas de patologias, dentre eles as sequelas de AVE. É um instrumento validado e confiável, de fácil reprodução e que ajuda os profissionais a determinar objetivos e formas de tratamento com relação ao nível de risco de quedas dos indivíduos. O teste é simples de administrar e seguro para os pacientes. A escala é quantitativa e de fácil interpretação, formada por 14 critérios que avaliam atividades do dia a dia como: levantar-se, ficar em pé sem apoio, sentar-se, transferências, girar 360°, entre outros. O seu escore máximo é de 56 pontos, onde quanto menor o resultado maior o risco de queda, sendo baixo risco uma pontuação entre 41-56 pontos, médio risco de 21-40 e 0-20 pontos elevado risco de quedas.11,12 Já a Escala de Avaliação de Fugl-Meyer (EFM) foi criada por Fugl-Meyer et al.13 e validada por Maki et al.,14 com a finalidade de verificar a recuperação sensório-motora pós-AVE. A EFM consiste em avaliação de domínios como: movimentação passiva e dor, sensibilidade, função motora da extremidade superior e inferior, equilíbrio e coordenação/velocidade. Semelhante a Escala de Berg, Os dados referentes à pesquisa também foram disponibilizados para o IS, além de terem sidos disponibilizados para os alunos interessados, bem como para os professores e supervisores de estágio. O banco de dados foi criado e analisado no software R 3.1.1. Foi realizada uma análise descritiva para identificar as características gerais e específicas da amostra estudada. A normalidade da distribuição dos dados foi testada usando o teste de Shapiro-Wilk. Para identificar diferenças estatisticamente significantes entre as variáveis quantitativas de acordo com o grupo de estudo, utilizou-se o teste T-Student e para identificar correlações estatisticamente significativas entre as variáveis quantitativas, foi usado a Correlação de Pearson ou a de Spearman. O nível de significância adotado para este estudo foi de 5%. Os resultados obtidos foram apresentados de forma descritiva em tabelas comparativas formuladas no Microsoft Word. a EFM também é quantitativa, com o escore máximo de 226 pontos, sendo 100 pontos destes para a função motora amostra encontra-se na tabela abaixo. Revista Brasileira de Neurologia » Volume 52 » Nº 2 » Abr/Mai/Jun 2016 RESULTADOS A amostra foi composta por 11 indivíduos, com média de idade de 56,7 anos, sendo 45,5% do sexo feminino e 54,5% do sexo masculino, todos hemiparéticos. Desses indivíduos, 45,5% tinham o hemicorpo direito afetado e 54,5% tiveram o hemicorpo esquerdo. A média do tempo de acometimento do AVE foi de 92 meses. O perfil dessa 29 Neves JS et al. 54,5% realizavam tratamento fisioterapêutico prévio e os outros 45,5% não. Obtiveram pontuação maior tanto na EB quanto EFM os indivíduos que eram submetidos ao tratamento mencionado, como mostra a tabela 3.Tabela 3. Tabela 1. Perfil dos indivíduos. Indivíduos Idade Sexo Hemicorpo acometido Tempo de acometimento do AVE (meses) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 58 60 65 62 60 59 61 56 49 66 28 F M M F M F F M M F M Esquerdo Esquerdo Direito Esquerdo Esquerdo Esquerdo Direito Direito Direito Direito Esquerdo 240 120 60 60 60 108 72 108 84 4 96 Realização do tratamento fisioterapêutico e sua relação com equilíbrio e capacidade funcional (EB e EFM). Variáveis Escala de Berg Realizava tratamento fisioterapêutico Não realiza tratamento fisioterapêutico Os dados evidenciados na tabela 2 estão relacionados a análise dos gêneros e suas relações com o equilíbrio e capacidade funcional. Os indivíduos do sexo feminino obtiveram uma pontuação menor do que aqueles do sexo masculino na pontuação da EB. Em relação à capacidade funcional, ocorreu o inverso; os indivíduos do sexo feminino apresentaram uma média superior aos do sexo masculino na EFM. Mediana Escala de Berg 38,6 11,0 32,0 Homens 44,0 10,4 42,5 Escala de Avaliação de Fugl-Meyer P-Valor 0,767 Mulheres 155,6 50,8 164,0 Homens 147,8 33,3 153,0 0,082 47,0 6,324 44,0 35,0 11,335 31,0 0,166 Realizava tratamento fisioterapêutico 167,0 30,502 173,5 Não realiza tratamento fisioterapêutico 132,6 45,130 142,0 Foi avaliada a relação entre a idade dos indivíduos com o equilíbrio e capacidade funcional, pelas EB e EFM respectivamente. Os domínios “Sensibilidade”, “Função Motora de Membro Inferior” da EFM foram correlacionados com a pontuação total da EB, com a idade e tempo de acometimento do AVE. Os resultados de maior relevância foram a relação do tempo de acometimento do AVE com a EB e com o domínio Função Motora de Membro Inferior da EF, além da Idade com o escore relacionado do domínio Sensibilidade da EFM, visualizados na Tabela 4. Os indivíduos foram submetidos às EB e EFM para avaliação do equilíbrio e da capacidade funcional, e obtiveram média de 41,5 e 151,3 pontos, respectivamente, e ao correlacionar essas pontuações, obteve-se uma boa relevância estatística. Na tabela 5, é mostrado a pontuação alcançada e o valor total em porcentagem obtido por cada indivíduo nas escalas. 0,425 Mulheres P-Valor Fonte: Dados da autoria das pesquisadoras. Tabela 2. Relação entre gênero e equilíbrio/capacidade funcional. Pontuação Média Desvio Padrão Mediana Escala de Avaliação de Fugl-Meyer Fonte: Dados da autoria das pesquisadoras. Variáveis Desvio Padrão Pontuação Média Fonte: Dados da autoria das pesquisadoras Dos 11 indivíduos que participaram do estudo, Tabela 4. Comparação da Idade com as EB e EFM, e correlação dos domínios “Sensibilidade” e “Função Motora de Membro Inferior” da EFM, com a idade e tempo de acometimento do AVE. Variáveis Pontuação da Escala de Berg Pontuação da Escala de Avaliação de Fugl-Meyer Domínio Sensibilidade da Escala de Avaliação de Fugl-Meyer Domínio Função Motora do Membro Inferior da Escala de Avaliação de Fugl-Meyer Coeficiente de P-valor Correlação Coeficiente de Correlação P-valor Coeficiente de Correlação P-valor Coeficiente de Correlação P-valor Idade 0,297 0,375 0,474 0,141 -0,747 0,008 0,446 0,169 Tempo de acometimento do AVE -0,740 0,009 - - 0,276 0,412 -0,724 0,012 Fonte: Dados da autoria das pesquisadoras 30 Revista Brasileira de Neurologia » Volume 52 » Nº 2 » Abr/Mai/Jun 2016 Equilíbrio e a capacidade funcional Tabela 5. Pontuação total das Escalas de Berg e Fugl-Meyer. Indivíduos Escala de Berg % Alcançada na Escala de Berg Escala de Avaliação de FuglMeyer % Alcançada na Escala de Avaliação de Fugl-Meyer 1 30 53,57 164 72,56 2 27 48,21 96 42,47 3 56 100,00 180 79,64 4 55 98,21 184 81,41 5 43 76,78 175 77,43 6 32 57,14 142 62,83 7 31 55,35 77 34,07 8 42 75,00 134 59,29 9 42 75,00 130 57,57 10 45 80,00 211 93,36 11 54 96,42 172 46,10 Fonte: Dados da autoria das pesquisadoras. De acordo com esses resultados, observou-se que nenhum dos participantes apresentava risco elevado de quedas. Da amostra, 63,6% dos indivíduos apresentavam baixo risco de quedas, enquanto 36,3% tinham risco médio de acordo com a EB. Em relação ao comprometimento funcional evidenciada pela EFM, os pacientes que apresentavam baixo risco de queda na EB, alcançaram uma média de 74,96% na EFM, e para aqueles de médio risco na EB, fizeram 52,98% na EFM. DISCUSSÃO No estudo em questão verificou-se o perfil dos indivíduos participantes. Em relação à idade, obteve-se uma média de 56,7 anos. Esse dado difere de Teles e Gusmão15, que avaliaram a função sensório-motora em pacientes vítimas de AVE durante tratamento, bem como a correlação desta variável com a idade e o tempo de tratamento com o comprometimento motor desses pacientes. A média encontrada por esses autores foi de 66,5 anos. Apesar do AVE possuir maior prevalência na população idosa3, esse dado não foi aqui evidenciado provavelmente pela disparidade dessa variável nesse estudo, uma vez que temos participante de 28 anos nessa pesquisa. Nessa amostra do estudo, a prevalência do gênero foi maior para o sexo masculino. Esse resultado era esperado e já descrito na literatura do maior estudo prospectivo epidemiológico de AVE realizado no Brasil, produzido por Carvalho et al.16 A provável explicação para essa predominância na lesão vascular neurológica deve-se ao fato do homem possuir menor quantidade do hormônio estrogênio, que tem relação direta com a elasticidade dos vasos sanguíneos. A diminuição ou falta deste favorece a probabilidade de ocorrer o AVE. Na literatura, existe uma variação em termos de Revista Brasileira de Neurologia » Volume 52 » Nº 2 » Abr/Mai/Jun 2016 prevalência do hemicorpo afetado por AVE. Neste estudo, o hemicorpo mais atingindo foi o esquerdo, bem como no trabalho de Voos e Ribeiro do Valle.17 Para esses autores, a depender do lado encefálico comprometido a abordagem terapêutica deve ser diferente, pois lesão encefálica a esquerda, com comprometimento sensório-motor à direita, produz maior impacto funcional aos pacientes. Isso porque as sequências motoras relacionadas às atividades funcionais estão mais ligadas a este lado encefálico. Já para Rodrigues, Sá e Alouche18, esse dado para fator prognóstico não possui relevância, e em seu estudo a amostra foi diferente neste aspecto, sendo o hemicorpo direito o mais acometido, assim como nos achados de Lucena et al.19 No presente estudo, os indivíduos acometidos no hemicorpo esquerdo obtiveram uma média funcional ligeiramente maior do que os indivíduos que tiveram o hemicorpo direito afetado, corroborando com os achados de Voos e Ribeiro do Valle.17 Neste caso, se o hemicorpo direito for acometido e este for o hemicorpo dominante, o impacto nas atividades funcionais será ainda maior, diferindo assim dos achados de Rodrigues, Sá e Alouche.18 No que refere-se ao tempo de acometimento do AVE, a média foi alta, apesar dos extremos dessa variável neste trabalho. Esse dado difere de Amaral-Natalio et al.(20). Possivelmente o valor encontrado no estudo aqui apresentado deve-se ao fato do Instituto de Saúde da UNIJORGE realizar atendimento em saúde gratuitamente para a população. Por essa razão, a lista de espera é grande, e provavelmente, quando esses pacientes são chamados, já se passaram muito tempo da ocorrência do evento. Em relação ao gênero, foi analisado separadamente o desempenho nas escalas. As mulheres apresentaram pior desempenho na avaliação do equilíbrio, porém na avaliação funcional foram melhores em relação aos homens. Esse achado difere quando avaliado essas variáveis de toda a amostra, sem distinção do gênero, apresentando uma correlação estatisticamente significante, onde indivíduos com melhor pontuação na avaliação do equilíbrio, também tinham maior desempenho funcional. A população para estudo de um modo geral é na maioria das vezes heterogênea, o que dificulta a relação desta variável. No trabalho aqui apresentado, esse resultado da correlação de gênero, equilíbrio e capacidade funcional foram atribuídos ao pequeno número de voluntários para o estudo, o que pode ter invalidado o resultado. Os indivíduos foram questionados se os mesmos já realizavam tratamento fisioterapêutico e, para aqueles 31 Neves JS et al. que não realizavam, não foi perguntado se eles nunca tinham feito esse tipo de tratamento pós AVE. Ao correlacionar esse dado com a pontuação total das escalas, os sujeitos que eram submetidos ao tratamento tiveram melhor desempenho, apesar deste resultado não ter tido boa significância estatisticamente. Pressupõe-se que esses resultados podem ter sido influenciados pelo baixo número de participantes da pesquisa, apesar de ter sido esperado que aqueles submetidos ao tratamento fisioterapêutico tivessem melhores pontuações nas escalas. Os achados deste estudo são semelhantes ao encontrado por Giriko et al.21 Em seu trabalho, os autores submeteram os participantes a um programa de fisioterapia em grupo, com duração de 6 semanas. Utilizando a EB para avaliação do equilíbrio antes, durante e após as semanas de intervenção, verificou-se ao término do estudo uma melhora na pontuação final em comparação ao valor inicial, com diferença estatisticamente não significante. Os determinar mais aprofundado a funcionalidade desses indivíduos. Ao correlacionar a média de idade com a pontuação total da EB no atual estudo, não houve boa significância. Provavelmente este resultado deve-se ao fato da amostra ter uma alta discrepância em relação à variável “idade”. Possivelmente, se a amostra fosse formada exclusivamente por idosos, o resultado seria mais fidedigno. Miyamoto et al.10 ao validar o uso desta escala para a versão brasileira, tiveram como média de idade de 72 anos, sendo todos os indivíduos com idade superior à 65 anos, e um desvio padrão inferior quando comparada com o atual estudo. Os autores concluíram em seu trabalho que na população idosa, a EB é confiável para avaliação do equilíbrio. Possivelmente, se a população do estudo aqui apresentado fosse mais homogênea nesse aspecto, o resultado desta correlação seria outro. Neste estudo, o menor tempo de acometimento resultados deste estudo e de Giriko et al.21 diferem com os achados de Scalzo et al.,22 que submeteram a sua amostra, composta por 8 indivíduos hemiplégicos a um treinamento específico de equilíbrio. Ao término da intervenção, observou-se que todos eles tiveram uma melhora dessa variável, possuindo boa relevância. Diferentemente de Scalzo et al.,22 no presente trabalho não foi encontrada essa boa relevância provavelmente pelo fato da amostra dos autores mencionados ter sido mais homogênea no que refere-se por exemplo ao tipo de intervenção. Na literatura, não foram identificados muitos estudos que comparam a capacidade funcional dos indivíduos hemiparéticos antes e após o tratamento fisioterapêutico, por meio da EFM através do escore total. Entretanto, há trabalhos que fazem essa correlação por meio de outras escalas, como exemplo, a Medida da Independência Funcional (MIF).23 No estudo de Fernandes et al.,24 os autores correlacionaram a funcionalidade dos indivíduos acometidos por AVE na fase crônica, com a realização do tratamento fisioterapêutico. Ao término do estudo, esses autores observaram uma melhora insignificante na pontuação da MIF entre os indivíduos que realizavam fisioterapia e os que não realizavam. Este resultado foi semelhante ao aqui apresentado, mesmo não sabendo a qual tipo de tratamento do AVE foi de 4 meses e o maior tempo, de 240 meses. A média dessa variável para os 11 indivíduos foi de 92 meses e para a pontuação na EB, 41,5 pontos. Quando correlacionado essas duas variáveis, obteve-se um p-valor de 0,009. Esse correlação com boa significância não foi encontrada no estudo de Meneghetti et al.25 Os autores, ao correlacionarem o tempo de acometimento do AVE com a pontuação total da EB em sua amostra, encontraram um p-valor de 0,31. Ainda de acordo com eles, o tempo de acometimento do AVE não interfere no equilíbrio, mas, o fato de ser acometido pelo evento, já é um alerta para o risco de quedas. No estudo em questão, o indivíduo com maior tempo de sequela, obteve apenas 30 pontos na EB, indicando déficit de equilíbrio, diferindo assim dos achados de Meneghetti et al.25 Já no trabalho de Trindade et al.,26 a média para tempo de acometimento do AVE e pontuação total da avaliação do equilíbrio foram de 37 meses e 32,4 pontos. Apesar da amostra deles diferirem no aspecto de quantidade de indivíduos participantes, a média de idade foi quase semelhante. Ao comparar as correlações do trabalho mencionado com o presente estudo, a pontuação total da EB foi inferior, apesar do tempo do acometimento de AVE ter sido menor. Ao confrontar os achados de Meneghetti et al.25 e Trindade et al.26 com este estudo, pressupõe e por quanto tempo os pacientes da amostra foram expostos. Fernandes et al.24 ressaltam um elevado efeito teto e que esse fator pode ter influenciado no resultado no estudo deles, demonstrando uma incapacidade da escala MIF em que indivíduos com maior tempo de lesão são aqueles que possuem também melhor equilíbrio, devido ao processo de neuroplasticidade ser mais evidente com o passar do tempo auxiliando na reorganização para execução de tare- 32 Revista Brasileira de Neurologia » Volume 52 » Nº 2 » Abr/Mai/Jun 2016 Equilíbrio e a capacidade funcional fas funcionais.27,28 Ao analisar o comprometimento sensório-motor pela EFM, Michaelsen et al.29 submeteram sua amostra final com média de 58,9 anos a avaliação desta escala e encontraram média de 171,9 na pontuação total da EFM. Já no trabalho realizado por Oliveira, Cacho e Borges,30 as médias de idade e da avaliação funcional dos indivíduos foram de 47,9 anos e 170,5 pontos na EFM. Nesses estudos, parece não haver uma relação da média de idade com desempenho funcional destes indivíduos. O que sugere que os determinantes na aplicação da referida escala são variáveis, como o tempo de acometimento do AVE e a extensão da lesão, fundamentais na determinação de sequela desses indivíduos, prejudicando-os assim em seus desempenhos. Os domínios “Sensibilidade” e “Função Motora de Membro Inferior” da EFM foram correlacionados com as médias de idade e o tempo de acometimento do AVE. Na literatura, é incomum a existência de estudos que correlacionem diretamente os domínios “Sensibilidade” e “Função Motora de Membro Inferior” da EFM, com as variáveis de idade e de tempo de acometimento do AVE desses pacientes. O nível de significância encontrada no estudo, talvez se deva ao fato da amostra ter uma discrepância alta em relação à idade, bem como o tempo de acometimento do AVE, podendo invalidar esse resultado. Para a “Função Motora de Membro Inferior”, o p-valor foi correlacionado com a idade e com o tempo de acometimento do AVE, sendo esse último com uma boa significância. No trabalho de Cacho, Melo e Oliveira(31), ao avaliar esse domínio da escala nos 10 indivíduos com sequela de hemiparesia e hemiplegia, com idade entre 40 e 80 anos e com o tempo de acometimento de lesão menor que 15 dias, foi encontrado pelos autores a média de 19,5 pontos para os hemiparéticos. Após 5 meses, foi feita uma reavaliação e a média aumentou para 26,3 pontos. Semelhante ao estudo aqui apresentado, a discrepância da idade foi encontrada no trabalho de Cacho, Melo e Oliveira.31 Apesar disso, ficou evidenciado em ambos os trabalhos, que quanto maior for o tempo de lesão melhor será a pontuação desse domínio, por conta da organização e adaptação do tecido nervoso (neuroplasticidade). Por fim, ao aplicar as EB e EFM para a avaliação do equilíbrio e capacidade funcional, foi possível inferir que indivíduos com maior pontuação na avaliação do equilíbrio, possuem melhor capacidade funcional, apresentando assim uma correlação estatisticamente significante. Revista Brasileira de Neurologia » Volume 52 » Nº 2 » Abr/Mai/Jun 2016 Azevedo et al.32 em estudo similar a este, utilizaram as EB e EFM e os resultados encontrados corroboram com dados deste estudo, apesar da sua amostra ter sido maior e com menor tempo de acometimento do AVE. Os participantes com maior déficit de equilíbrio apresentavam maior déficit motor e dependência das atividades de vida diárias, minimizadas por meio de estratégias compensatórias adotadas por eles. No estudo em questão, as escalas utilizadas são voltadas para o paciente vítima de AVE. A MIF, apesar de avaliar os aspectos funcionais de forma geral, não foi elaborada exclusivamente para esse tipo de paciente. Mesmo assim, os resultados sugerem que equilíbrio e capacidade funcional estão intimamente relacionados, e a deficiência em um, repercute no outro. De acordo com Pompeu et al.,33 ao observarem a relação entre a funcionalidade e equilíbrio com o controle de tronco nos 15 indivíduos vítimas de AVE, evidenciaram-se que o baixo comprometimento sensório-motor justificou-se pela baixa pontuação na avaliação do equilíbrio dos pacientes crônicos, na EB e MIF. Os autores atribuem esse achado aos componentes prejudicados pós-AVE, responsáveis pela manutenção do equilíbrio, sendo eles o sistema visual, vestibular, sensorial e motor, e que repercutem na realização das atividades funcionais. Além disso, o controle postural parece interferir nessas variáveis. Marcucci et al.34 compararam a atividade eletromiográfica da musculatura do tronco de pacientes hemiparéticos vítimas de AVE e observaram que estes apresentaram menor ativação do músculo reto abdominal, e que realizavam compensações por meio do músculo oblíquo externo. Apesar dessa compensação proporcionar um desarranjo muscular e biomecânico, a função de tronco era preservada. O controle de tronco, mesmo compensado, oferece estabilidade na realização de uma tarefa. O déficit de equilíbrio causado por essas instabilidade pode interferir na capacidade de equilibrar-se do sujeito, comprometendo em seus aspectos funcionais. Oliveira, Cacho e Borges30 investigaram a relação entre equilíbrio e capacidade funcional também na fase crônica, e evidenciaram que o comprometimento motor de membro inferior estava relacionado com o déficit de equilíbrio e funcional, tendo boa significância estatística, corroborando com o resultado aqui apresentado. Em ambos os estudos, não se sabe qual era o predomínio de acometimento dos indivíduos, isto é, braquial ou crural, o que pode ter influenciado no valor encontrado. Isso porque no 33 Neves JS et al. presente estudo, foram levados em consideração todos os domínios da EFM. A partir dos resultados expostos, ao avaliar o equilíbrio e correlacioná-lo com a capacidade funcional dos hemiparéticos, aqueles que tiveram melhor pontuação na avaliação do equilíbrio, possuíram também melhor capacidade funcional, sendo uma correlação estatisticamente significante. Assim, baseado nos dados aqui apresentados, pode-se inferir que a aplicação de um programa fisioterapêutico voltado para o treinamento do equilíbrio resultará em melhor capacidade funcional, e consequentemente, melhor desempenho dos pacientes nas EB e EFM. CONSIDERAÇÕES FINAIS Mediante todos os resultados apresentados, observou-se que existe uma correlação entre equilíbrio e capacidade funcional, com diferença estatisticamente significante e com maior relevância para esse estudo. Dentre os fatores considerados limitantes para a elaboração deste trabalho estão: a falta de investigação em relação à realização do tratamento fisioterapêutico realizado pelos pacientes, o tamanho da população de estudo e a ausência da informação se o hemicorpo acometido pelo AVE era o dominante ou não. Sugere-se para uma maior fidedignidade dos resultados encontrados, novos estudos desta natureza, com uma amostra mais homogênea em relação à idade, gênero e tempo de acometimento do AVE, além de um acompanhamento desses pacientes em um período maior para posterior análise, e novas correlações, como por exemplo lado dominante com o lado acometido por esses pacientes, e verificar a relação desses com equilíbrio e capacidade funcional. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Freitas EV. et al. Tratado de Geriatria e Gerontologia. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. 2. Tanaka AFD, Scheicher ME. 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Neuro-Psiquiatr. 2007;65(3b):900-905. Revista Brasileira de Neurologia » Volume 52 » Nº 2 » Abr/Mai/Jun 2016 Equilíbrio e a capacidade funcional ANEXOS ANEXO 1 - MINI EXAME DO ESTADO MENTAL (MEEM) Qual a hora aproximada? Em que dia da semana estamos? Orientação temporal (5 pontos) Que dia do mês é hoje? Em que mês estamos? Em que ano estamos? Em que local estamos? Que local é este aqui? Orientação espacial (5 pontos) Em que bairro nós estamos ou qual é o endereço daqui? Em que cidade nós estamos? Em que estado nós estamos? Registro (3 pontos) Repetir: FUTEBOL, CASA, CORAÇÃO Atenção e cálculo (5 pontos) Subtrair: 100-7= 93-7= 86-7= 79-7= 72-7= 65 Memória de evocação (3 pontos) Quais os três objetos perguntados anteriormente? Nomear 2 objetos (2 pontos) Relógio e caneta Repetir (1 ponto) “Nem aqui, nem ali, nem lá” Comando de estágios (3 pontos) Apanhe esta folha de papel com a mão direita, dobre-a ao meio e coloque-a no chão Escrever uma frase completa (1 ponto) Escrever uma frase que tenha sentido Ler e executar (1 ponto) Feche os olhos Copiar diagrama (1 ponto) Copiar dois pentágonos com interseção Revista Brasileira de Neurologia » Volume 52 » Nº 2 » Abr/Mai/Jun 2016 35 Neves JS et al. ANEXO 2 - ESCALA MODIFICADA DE ASHWORTH ESCALA MODIFICADA DE ASHWORTH 36 Grau Descrição 0 Sem aumento do tônus muscular 1 Discreto aumento do tônus muscular, manifestado pelo apreender e liberar, ou por mínima resistência ao final da amplitude de movimento, quando a parte (ou as partes) afetada é movimentada em flexão e extensão. 1+ Discreto aumento no tônus muscular, manifestado pelo apreender, seguido de mínima resistência através do resto (menos da metade) da amplitude de movimento. 2 Marcante aumento do tônus muscular através da maior parte da amplitude de movimento, porém as partes afetadas são facilmente movimentadas. 3 Considerável aumento do tônus muscular; movimentos passivos dificultados. 4 A parte (ou partes) afetada mostra-se rígida à flexão ou extensão. Revista Brasileira de Neurologia » Volume 52 » Nº 2 » Abr/Mai/Jun 2016 Equilíbrio e a capacidade funcional ANEXO 3 – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO CENTRO UNIVERSITÁRIO JORGE AMADO - UNIJORGE CURSOS DE SAUDE TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO I - DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DO SUJEITO DA PESQUISA OU RESPONSÁVEL LEGAL 1.NOME DO PACIENTE:................................................................................................. DOCUMENTO DE IDENTIDADE Nº : ................................... SEXO : M ( ) F ( ) DATA NASCIMENTO: ......../......../...... ENDEREÇO ........................................................................... Nº ............ APTO....... BAIRRO........................................................................CIDADE................................. TELEFONE: DDD (............) ......................................................... 2.RESPONSÁVEL LEGAL............................................................................................ NATUREZA(grau de parentesco, tutor, curador etc)....................................................... DOCUMENTO DE IDENTIDADE :....................................SEXO: M( ) F( ) DATA NASCIMENTO.: ....../......./...... ENDEREÇO:.....................................................................Nº ............... APTO: .............. BAIRRO:..........................................................................CIDADE: ........................... CEP:......................................TELEFONE:DDD(............)............................ II - DADOS SOBRE A PESQUISA CIENTÍFICA TÍTULO DO PROTOCOLO DE PESQUISA: RELAÇÃO ENTRE O EQUILÍBRIO E A CAPACIDADE FUNCIONAL EM HEMIPARÉTICOS 1.PESQUISADOR (ES): Gabriela Ferreira Sampaio Janmille de Sá Neves Tatiana Maíta Alves Conceição CARGO/FUNÇÃO: ESTUDANTES INSCRIÇÃO CONSELHO REGIONAL Nº : 1. AVALIAÇÃO DO RISCO DA PESQUISA: SEM RISCO RISCO MÍNIMO (x) RISCO BAIXO RISCO MAIOR RISCO MÉDIO (probabilidade de que o indivíduo sofra algum dano como conseqüência imediata ou tardia do estudo) 1. DURAÇÃO DA PESQUISA: Março à Agosto de 2014 Revista Brasileira de Neurologia » Volume 52 » Nº 2 » Abr/Mai/Jun 2016 37 Neves JS et al. III - REGISTRO DAS EXPLICAÇÕES DO PESQUISADOR AO PACIENTE OU SEU REPRESENTANTE LEGAL SOBRE A PESQUISA, CONSIGNANDO: Análise da relação entre o equilíbrio e a capacidade funcional em hemiparéticos. O estudo respeita os aspectos éticos que envolvem os seres humanos de acordo ao Conselho Nacional de Saúde – CNS 196/96, e o projeto referente a ele será enviado ao comitê de ética da UNIJORGE para análise, e somente após a sua aprovação, será iniciado. Os possíveis riscos durante a realização do estudo são queda da própria altura, fadiga e descompensação hemodinâmica, que serão minimizados pelo acompanhamento contínuo do pesquisador e em casos de alguma intercorrência importante, a equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) será acionada (atualmente, a 17º base descentralizada da SAMU encontra-se na UNIJORGE), bem como os profissionais de saúde do Instituto de Saúde (formado por uma equipe interdisciplinar), preconizando a prestação de serviço o mais rápido possível, diminuindo possíveis danos. Futuros participantes poderão se beneficiar com os resultados desse estudo. Os resultados obtidos irão colaborar com o conhecimento científico, e direcionar o profissional de saúde para um melhor diagnóstico funcional e uma melhor abordagem terapêutica. A participação do estudo será de forma voluntária, e a qualquer momento e por qualquer motivo o paciente poderá desistir de participar do mesmo. Além disso, ele não receberá nenhuma forma de pagamento e não pagará absolutamente nada durante a realização do estudo. ____________________________________________________________________ IV - ESCLARECIMENTOS DADOS PELO PESQUISADOR SOBRE GARANTIAS DO SUJEITO DA PESQUISA: Ao término do estudo, os pesquisadores serão responsáveis em fornecer um feedback aos pacientes, informando se o estudo alcançou ou não os seus objetivos, e em não alcançando-os, os pesquisadores comprometem-se em ofertar gratuitamente um tratamento com eficácia já comprovada. Além disso, os dados do trabalho serão disponibilizados para a instituição e para os alunos interessados, bem como para os professores e supervisores de estágio. V. INFORMAÇÕES DE NOMES, ENDEREÇOS E TELEFONES DOS RESPONSÁVEIS PELO ACOMPANHAMENTO DA PESQUISA, PARA CONTATO EM CASO DE INTERCORRÊNCIAS CLÍNICAS E REAÇÕES ADVERSAS. Nome: Janmille de Sá Neves / Email: [email protected] / Nome: Gabriela Ferreira Sampaio / Nome: Tatiana Maíta Alves Conceição / Email: [email protected] _____________________________________________________________________ VI. OBSERVAÇÕES COMPLEMENTARES: _____________________________________________________________________ 38 Revista Brasileira de Neurologia » Volume 52 » Nº 2 » Abr/Mai/Jun 2016 Equilíbrio e a capacidade funcional VII - CONSENTIMENTO PÓS-ESCLARECIDO Declaro que, após convenientemente esclarecido pelo pesquisador e ter entendido o que me foi explicado, consinto em participar do presente Protocolo de Pesquisa Salvador, _ _ de _________________ de 20___. . ____________________________________________ assinatura do sujeito da pesquisa ou responsável legal ______________________ assinatura do pesquisador INSTRUÇÕES PARA PREENCHIMENTO 1. Este termo conterá o registro das informações que o pesquisador fornecerá ao sujeito da pesquisa, em linguagem clara e accessível, evitando-se vocábulos técnicos não compatíveis com o grau de conhecimento do interlocutor. 2. A avaliação do grau de risco deve ser minuciosa, levando em conta qualquer possibilidade de intervenção e de dano à integridade física do sujeito da pesquisa. 3. O formulário poderá ser preenchido em letra de forma legível, datilografia ou meios eletrônicos. 4. Este termo deverá ser elaborado em duas vias, ficando uma via em poder do paciente ou seu representante legal e outra deverá ser juntada ao prontuário do paciente. 5. A via do Termo de Consentimento Pós-Informação submetida à análise da Comissão de Ética para Análise de Projetos de Pesquisa deverá ser idêntica àquela que será fornecida ao sujeito da pesquisa. Revista Brasileira de Neurologia » Volume 52 » Nº 2 » Abr/Mai/Jun 2016 39 Neves JS et al. ANEXO 4 – ESCALA DE BERG 1. Posição sentada para posição em pé 2. Permanecer em pé sem apoio Instruções: Por favor, levante-se. Tente não usar suas mãos para se apoiar. ( ) 4 capaz de levantar-se sem utilizar as mãos e estabilizar-se independentemente ( ) 3 capaz de levantar-se independentemente utilizando as mãos ( ) 2 capaz de levantar-se utilizando as mãos após diversas tentativas ( ) 1 necessita de ajuda mínima para levantar-se ou estabilizar-se ( ) 0 necessita de ajuda moderada ou máxima para levantar-se TOTAL:_________ Instruções: Por favor, fique em pé por 2 minutos sem se apoiar. ( ) 4 capaz de permanecer em pé com segurança por 2 minutos ( ) 3 capaz de permanecer em pé por 2 minutos com supervisão ( ) 2 capaz de permanecer em pé por 30 segundos sem apoio ( ) 1 necessita de várias tentativas para permanecer em pé por 30 segundos sem apoio ( ) 0 incapaz de permanecer em pé por 30 segundos sem apoio Se o paciente for capaz de permanecer em pé por 2 minutos sem apoio, dê o número total de pontos para o item No. 3. Continue com o item No. 4. TOTAL:_________ Instruções: Por favor, fique sentado sem apoiar as costas com os braços cruzados por 2 minutos. ( ) 4 capaz de permanecer sentado com segurança e com firmeza por 2 minutos ( ) 3 capaz de permanecer sentado por 2 minutos sob supervisão 3. Permanecer sentado sem apoio nas costas, mas com os pés apoiados no chão ou num banquinho 4. Posição em pé para posição sentada 5. Transferências 6. Permanecer em pé sem apoio com os olhos fechados 40 ( ) 2 capaz de permanecer sentado por 30 segundos ( ) 1 capaz de permanecer sentado por 10 segundos ( ) 0 incapaz de permanecer sentado sem apoio durante 10 segundos TOTAL:_________ Instruções: Por favor, sente-se. ( ) 4 senta-se com segurança com uso mínimo das mãos ( ) 3 controla a descida utilizando as mãos ( ) 2 utiliza a parte posterior das pernas contra a cadeira para controlar a descida ( ) 1 senta-se independentemente, mas tem descida sem controle ( ) 0 necessita de ajuda para sentar-se TOTAL:_________ Instruções: Arrume as cadeiras perpendicularmente ou uma de frente para a outra para uma transferência em pivô. Peça ao paciente para transferir-se de uma cadeira com apoio de braço para uma cadeira sem apoio de braço, e vice-versa. Você poderá utilizar duas cadeiras (uma com e outra sem apoio de braço) ou uma cama e uma cadeira. ( ) 4 capaz de transferir-se com segurança com uso mínimo das mãos ( ) 3 capaz de transferir-se com segurança com o uso das mãos ( ) 2 capaz de transferir-se seguindo orientações verbais e/ou supervisão ( ) 1 necessita de uma pessoa para ajudar ( ) 0 necessita de duas pessoas para ajudar ou supervisionar para realizar a tarefa com segurança TOTAL:_________ Instruções: Por favor, fique em pé e feche os olhos por 10 segundos. ( ) 4 capaz de permanecer em pé por 10 segundos com segurança ( ) 3 capaz de permanecer em pé por 10 segundos com supervisão ( ) 2 capaz de permanecer em pé por 3 segundos ( ) 1 incapaz de permanecer com os olhos fechados durante 3 segundos, mas mantém-se em pé ( ) 0 necessita de ajuda para não cair TOTAL:_________ Revista Brasileira de Neurologia » Volume 52 » Nº 2 » Abr/Mai/Jun 2016 Equilíbrio e a capacidade funcional 7. Permanecer em pé sem apoio com os pés juntos 8. Alcançar a frente com o braço estendido permanecendo em pé Instruções: Junte seus pés e fique em pé sem se apoiar. ( ) 4 capaz de posicionar os pés juntos independentemente e permanecer por 1 minuto com segurança ( ) 3 capaz de posicionar os pés juntos independentemente e permanecer por 1 minuto com supervisão ( ) 2 capaz de posicionar os pés juntos independentemente e permanecer por 30 segundos ( ) 1 necessita de ajuda para posicionar-se, mas é capaz de permanecer com os pés juntos durante 15 segundos ( ) 0 necessita de ajuda para posicionar-se e é incapaz de permanecer nessa posição por 15 segundos TOTAL:_________ Instruções: Levante o braço a 90º. Estique os dedos e tente alcançar a frente o mais longe possível. (O examinador posiciona a régua no fim da ponta dos dedos quando o braço estiver a 90º. Ao serem esticados para frente, os dedos não devem tocar a régua. A medida a ser registrada é a distância que os dedos conseguem alcançar quando o paciente se inclina para frente o máximo que ele consegue. Quando possível, peça ao paciente para usar ambos os braços para evitar rotação do tronco). ( ) 4 pode avançar à frente mais que 25 cm com segurança ( ) 3 pode avançar à frente mais que 12,5 cm com segurança ( ) 2 pode avançar à frente mais que 5 cm com segurança ( ) 1 pode avançar à frente, mas necessita de supervisão ( ) 0 perde o equilíbrio na tentativa, ou necessita de apoio externo TOTAL:_________ Instruções: Pegue o sapato/chinelo que está na frente dos seus pés. ( ) 4 capaz de pegar o chinelo com facilidade e segurança ( ) 3 capaz de pegar o chinelo, mas necessita de supervisão ( ) 2 incapaz de pegá-lo, mas se estica até ficar a 2-5 cm do chinelo e mantém o equilíbrio independentemente ( ) 1 incapaz de pegá-lo, necessitando de supervisão enquanto está tentando ( ) 0 incapaz de tentar, ou necessita de ajuda para não perder o equilíbrio ou cair TOTAL:_________ 9. Pegar um objeto do chão a partir de uma posição em pé 10. Virar-se e olhar para trás por cima dos ombros direito e esquerdo enquanto permanece em pé 11. Girar 360 graus 12. Posicionar os pés alternadamente no degrau ou banquinho enquanto permanece em pé sem apoio Instruções: Vire-se para olhar diretamente atrás de você por cima do seu ombro esquerdo sem tirar os pés do chão. Faça o mesmo por cima do ombro direito. (O examinador poderá pegar um objeto e posicioná-lo diretamente atrás do paciente para estimular o movimento) ( ) 4 olha para trás de ambos os lados com uma boa distribuição do peso ( ) 3 olha para trás somente de um lado, o lado contrário demonstra menor distribuição do peso ( ) 2 vira somente para os lados, mas mantém o equilíbrio ( ) 1 necessita de supervisão para virar ( ) 0 necessita de ajuda para não perder o equilíbrio ou cair TOTAL:_________ Instruções: Gire-se completamente ao redor de si mesmo. Pausa. Gire-se completamente ao redor de si mesmo em sentido contrário. ( ) 4 capaz de girar 360 graus com segurança em 4 segundos ou menos ( ) 3 capaz de girar 360 graus com segurança somente para um lado em 4 segundos ou menos ( ) 2 capaz de girar 360 graus com segurança, mas lentamente ( ) 1 necessita de supervisão próxima ou orientações verbais ( ) 0 necessita de ajuda enquanto gira TOTAL:_________ Instruções: Toque cada pé alternadamente no degrau/banquinho. Continue até que cada pé tenha tocado o degrau/banquinho quatro vezes. ( ) 4 capaz de permanecer em pé independentemente e com segurança, completando 8 movimentos em 20 segundos ( ) 3 capaz de permanecer em pé independentemente e completar 8 movimentos em mais que 20 segundos ( ) 2 capaz de completar 4 movimentos sem ajuda ( ) 1 capaz de completar mais que 2 movimentos com o mínimo de ajuda ( ) 0 incapaz de tentar, ou necessita de ajuda para não cair TOTAL:_________ Revista Brasileira de Neurologia » Volume 52 » Nº 2 » Abr/Mai/Jun 2016 41 Neves JS et al. 13. Permanecer em pé sem apoio com um pé à frente 14. Permanecer em pé sobre uma perna Instruções: (demonstre para o paciente) Coloque um pé diretamente à frente do outro na mesma linha; se você achar que não irá conseguir, coloque o pé um pouco mais à frente do outro pé e levemente para o lado. ( ) 4 capaz de colocar um pé imediatamente à frente do outro, independentemente, e permanecer por 30 segundos ( ) 3 capaz de colocar um pé um pouco mais à frente do outro e levemente para o lado, independentemente, e permanecer por 30 segundos ( ) 2 capaz de dar um pequeno passo, independentemente, e permanecer por 30 segundos ( ) 1 necessita de ajuda para dar o passo, porém permanece por 15 segundos ( ) 0 perde o equilíbrio ao tentar dar um passo ou ficar de pé TOTAL:_________ Instruções: Fique em pé sobre uma perna o máximo que você puder sem se segurar. ( ) 4 capaz de levantar uma perna independentemente e permanecer por mais que 10 segundos ( ) 3 capaz de levantar uma perna independentemente e permanecer por 5-10 segundos ( ) 2 capaz de levantar uma perna independentemente e permanecer por mais que 3 segundos ( ) 1 tenta levantar uma perna, mas é incapaz de permanecer por 3 segundos, embora permaneça em pé independentemente ( ) 0 incapaz de tentar, ou necessita de ajuda para não cair TOTAL:_________ ESCORETOTAL: 56 PONTOS O seu escore máximo é de 56 pontos, onde quanto menor o resultado maior o risco de queda. Baixo risco: 41-56 pontos Médio risco: 21-40 pontos Elevado risco: 0-20 pontos 42 Revista Brasileira de Neurologia » Volume 52 » Nº 2 » Abr/Mai/Jun 2016 Equilíbrio e a capacidade funcional ANEXO 5 - ESCALA DE AVALIAÇÃO DE FUGL-MEYER (EFM) TESTE PONTUAÇÃO I.Movimentação passiva e dor: Ombro: flexão, abdução 90, rot, ext. e int. Cotovelo, punho e dedos: flexão e extensão Antebraço: pronação e supinação Quadril: flexão, abdução, rot. ext. e int. Joelho: flexão e extensão Tornozelo: dorsiflexão e flexão plantar Pé: eversão e inversão Pont. Max.: (44 mobilidade) (44 dor) Mobilidade: 0 – apenas alguns graus de movimento 1 – grau de mobilidade passiva diminuída 2 – grau de movimentação passiva normal Dor 0 – dor pronunciada durante todos os graus de movimento e dor marcante no final da amplitude 1 – alguma dor 2 – nenhuma dor II.Sensibilidade: - Exterocepção: membro superior, palma da mão, coxa e sola do pé ( ) Pont. Max. (8) 0 – anestesia 1 – hipoestesia / diestesia 2 - normal - Propriocepção: ombro, cotovelo, punho, polegar, quadril, joelho, tornozelo e hálux ( ) Pont. Max. (16) 0 – nenhuma resposta correta (ausência de sensação) 1 – ³/4 das respostas são corretas, mas há diferença entre o lado afetado 2 – todas as respostas são corretas III.Função motora de membro superior 1 – Motricidade reflexa: bíceps/ tríceps ( ) (2) 0 – sem atividade reflexa 2 – atividade reflexa presente 2 – Sinergia flexora: elevação, retração de ombro, abdução + 90, rot. externa, flexão de cotovelo, supinação ( ) Pont. máx: (12) 0 – tarefa não pode ser realizada completamente * 1 – tarefa pode ser realizada parcialmente 2 – tarefa é realizada perfeitamente 4 – Movimentos com e sem sinergia: a)mão a coluna lombar ( ) b)flexão de ombro a 90° ( ) c)prono-supinação (cotov. 90° e ombro 0°) ( ) d)abdução ombro a 90° com cotov. estendido e pronado ( ) e) flexão de ombro de 90° a 180° ( ) f)prono-supinação (cotov. estendido e ombro fletido de 30 a 90° ( ) Pont. máx: (12) 5 – Atividade reflexa normal: ( ) Bíceps / tríceps/ flexor dedos (avalia-se reflexo somente se o paciente atingiu nota 2 para os itens d), e), f) do item anterior) Pont. máx: (2) 6– Controle de punho: a)Cotovelo 90°, ombro 0° e pronação, c/ resistência, (assistência, se necessário) ( ) b) máxima flexo-extensão de punho, cotov. 90°, ombro 0°, dedos fletidos e pronação (auxílio se necessário) ( ) c) Dorsiflexão com cotovelo a 0°, ombro a 30° e pronação, com resistência (auxílio) ( ) d) Máxima flexo-extensão, com cotov. 0°, ombro a 30° e pronação (auxílio) ( ) e) Circundução Pont. máx: (10) Revista Brasileira de Neurologia » Volume 52 » Nº 2 » Abr/Mai/Jun 2016 a)* b) 0 – se o início do mov. o braço é abduzido ou o cotovelo é fletido 1 – se na fase final do mov., o ombro abduz e/ou ocorre flexão de cotovelo 2 – a tarefa é realizada perfeitamente c) 0 – Não ocorre posicionamento correto do cotovelo e ombro e/ou pronação e supinação não pode ser realizada completamente 1 – prono-supino pode ser realizada com ADM limitada e ao mesmo tempo o ombro e o cotovelo estejam corretamente posicionados 2 – a tarefa é realizada completamente d) 0 – não é tolerado nenhuma flexão de ombro ou desvio da pronação do antebraço no INÍCIO do movimento 1 – realiza parcialmente ou ocorre flexão do cotovelo e o antebraço não se mantêm pronado na fase TARDIA do movimento 2 – a tarefa pode ser realizada sem desvio e) 0 – o braço é abduzido e o cotovelo fletido no início do movimento 1 – o ombro abduz e/ou ocorre flexão de cotovelo na fase final do movimento 2 – a tarefa é realizada perfeitamente f) 0 – Posição não pode ser obtida pelo paciente e/ou prono-supinação não pode ser realizada perfeitamente 1 - atividade de prono-supinação pode ser realizada mesmo com ADM limitada e ao mesmo tempo o ombro e o cotovelo estejam corretamente posicionados 2 – a tarefa é realizada perfeitamente 0 – 2 ou 3 reflexos são hiperativos 1 – 1 reflexo está marcadamente hiperativo ou 2 estão vivos 2 – não mais que 1 reflexo esta vivo e nenhum está hiperativo a) 0 – o pcte não pode dorsifletir o punho na posição requerida 1 – a dorsiflexão pode ser realizada, mas sem resistência alguma 2 – a posição pode ser mantida contra alguma resistência b) 0 – não ocorre mov. voluntário 1 – o pcte não move ativamente o punho em todo grau de movimento 2 – a tarefa pode ser realizada c) Idem ao a) d) Idem ao b) e) Idem ao b) 43 Neves JS et al. 7 – Mão: a)Flexão em massa dos dedos ( ) b) extensão em massa dos dedos ( ) c) Preensão 1: Art. Metacarpofalangeanas (II a V) estendidas e interfalangeanas distal e proximal fletidas. Pressão contra resistência ( ) d) Preensão 2: O paciente é instruído a aduzir o polegar e segurar um papel interposto entre o polegar e o dedo indicador ( ) e) Preensão 3: o paciente opõe a digital do polegar contra a do dedo indicador, com um lápis interposto ( ) f) Preensão 4: Segurar com firmeza um objeto cilíndrico, com a superfície volar do primeiro e segundo dedos contra os demais ( ) g) Preensão 5: o paciente segura com firmeza uma bola de tênis ( ) Pont. máx: (14) IV. Coordenação/Velocidade MS: a)Tremor ( ) b) Dismetria ( ) c) Velocidade: Index-nariz 5 vezes, e o mais rápido que conseguir ( ) Pont. máx: (6) V. Função motora membro inferior: Motricidade reflexa A) Aquiles ( ) B) Patelar ( ) (4) 1 – Motricidade reflexa: Patelar e aqileu/ adutor ( ) (2) a)* b) 0 – nenhuma atividade ocorre 1 – ocorre relaxamento (liberação) da flexão em massa 2 – extensão completa (comparado com a mão não afetada c) 0 – posição requerida não pode ser realizada 1 – a preensão é fraca 2 – a preensão pode ser mantida contra considerável resistência d) 0 – a função não pode ser realizada 1–o papel pode ser mantido no lugar, mas não contra um leve puxão 2 – um pedaço de papel é segurado firmemente contra um puxão e) 0 – a função não pode ser realizada 1 – o lápis pode ser mantido no lugar, mas não contra um leve puxão 2 – o lápis é segurado firmemente f) 0 – a função não pode ser realizada 1 – o objeto interposto pode ser mantido no lugar, mas não contra um leve puxão 2 – o objeto é segurado firmemente contra um puxão g) 0 – a função não pode ser realizada 1– o objeto pode ser mantido no lugar, mas não contra um leve puxão 2 – o objeto é segurado firmemente contra um puxão a)0 – tremor marcante/ 1 – tremor leve/ 2 – sem tremor b) 0 – dismetria marcante/ 1 – dismetria leve/ 2 – sem dismetria c) 0 – 6 seg. mais lento que o lado não afetado/ 1 – 2 a 5 seg. mais lento que o lado não afetado / 2 – menos de 2 segundo de diferença 0 – sem atividade reflexa 2 – atividade reflexa pode ser avaliada 0 – 2 ou 3 reflexos estão marcadamente hiperativos 1 – 1 reflexo está hiperativo ou 2 estão vivos 2 – não mais que 1 reflexo está vivo 2 – Sinergia flexora: flexão quadril, joelho e dorsiflexão (dec. dorsal) ( ) Pont. máx: (6) * 3 – Sinergia extensora: extensão de quadril, adução de quadril, extensão de joelho, flexão plantar ( ) Pont. máx: (8) * 4 – Mov. com e sem sinergias: a)a partir de leve extensão de joelho, realizar uma flexão de joelho além de 90°. (sentado) () b) dorsiflexão de tornozelo (sentado) ( ) c) quadril a 0°, realizar a flexão de joelho mais que 90° (em pé) ( ) d) dorsiflexão do tornozelo (em pé) ( ) Pont. máx: (8) VI. Coordenação/Velocidade MI: a)Tremor ( ) b) Dismetria ( ) c) velocidade: calcanhar-joelho 5 vezes ( ) (dec. dorsal) Pont. máx: (6) 44 a)0 – sem movimento ativo 1 – o joelho pode ativamente ser fletido até 90° (palpar os tendões dos flexores do joelho) 2 – o joelho pode ser fletido além de 90° b) * c) 0 – o joelho não pode ser fletido se o quadril não é fletido simultaneamente 1 – inicia flexão de joelho sem flexão do quadril, porém não atinge os 90° de flexão de joelho ou flete o quadril durante o término do mov. 2 – a tarefa é realizada completamente d) * a)0 – tremor marcante/ 1 – tremor leve/ 2 – sem tremor b) 0 – dismetria marcante/ 1 – dismetria leve/ 2 – sem dismetria c) 0 – 6 seg. mais lento que o lado não afetado/ 1 – 2 a 5 seg. mais lento que o lado não afetado / 2 – menos de 2 segundo de diferença Revista Brasileira de Neurologia » Volume 52 » Nº 2 » Abr/Mai/Jun 2016 Equilíbrio e a capacidade funcional VII. Equilíbrio: a)Sentado sem apoio e com os pés suspensos ( ) b) Reação de paraquedas no lado não afetado ( ) c) Reação de paraquedas no lado afetado ( ) d) Manter-se em pé com apoio ( ) e) Manter-se em pé sem apoio ( ) f) Apoio único sobre o lado não afetado ( ) g) Apoio único sobre o lado afetado ( ) a)0 - não consegue se manter sentado sem apoio/ 1 – permanece sentado sem apoio por pouco tempo/ 2 – permanece sentado sem apoio por pelo menos 5 min. e regula a postura do corpo em relação à gravidade b) 0 – não ocorre abdução do ombro, extensão de cotovelo para evitar a queda/ 1 reação de paraquedas parcial/ 2 – reação de paraquedas normal c) Idem ao b) d) 0 – não consegue ficar em pé/ 1 – de pé com apoio máximo de outros/ 2 – de pé com apoio mínimo por 1 min. e) 0 – não consegue ficar em pé sem apoio/ 1 – pode permanecer em pé por 1 min. e sem oscilação, ou por mais tempo, porém com alguma oscilação/ 2 – bom equilíbrio, pode manter o equilíbrio por mais de 1 min. com segurança f) 0 – a posição não pode ser mantida por mais que 1-2 seg (oscilação)/ 1 – consegue permanecer em pé, com equilíbrio, por 4-9 segundos/ 2 – pode manter o equilíbrio nessa posição por mais que 10 segundos g) 0 – a posição não pode ser mantida por mais que 1-2 seg (oscilação) 1 – consegue permanecer em pé, com equilíbrio, por 4-9 segundos 2–pode manter o equilíbrio nessa posição por mais que 10 segundos Pont. máx: (14) Escore máximo de 226 pontos, sendo 100 pontos destes para a função motora normal. Pontuação inferior a 50 pontos para função motora denota um comprometimento motor severo; 50-84 marcante; 85-95 moderado e 96-99 leve. Revista Brasileira de Neurologia » Volume 52 » Nº 2 » Abr/Mai/Jun 2016 45 Neves JS et al. APÊNDICE APÊNDICE 1 – FICHA DE AVALIAÇÃO FICHA DE AVALIAÇÃO Nome:__________________________________________________________ Nome do responsável:_____________________________________________ Data da avaliação:___/___/___ Data de nascimento:___/___/___Idade:_____anos Sexo: ( ) Fem. ( ) Masc. Endereço:_______________________________________________________ Telefone: _______________________________________________________ Escolaridade:_________________________ Tempo do AVE:________ ( ) Hemiparesia ( ) Esquerda ( ) Direita ( ) Hemiplegia ( ) Direita ( ) Esquerda Cardiopata: ( ) Sim ( ) Não. Se sim, qual?______________________ HAS: ( ) Sim ( ) Não. Se sim, controlada?______________________ DM : ( ) Sim ( ) Não. Instabilidade postural não relacionada ao AVE? _____________________________________________ ______________ Vestibulopatia ( ) Sim ( ) Não Vertigem?( ) Sim ( ) Não Zumbido?( ) Sim ( ) Não Tontura?( ) Sim ( ) Não Hipotensão ortostática? ( ) Sim ( ) Não Há quanto tempo recebe atendimento no Instituto de Saúde? ____________ Toma alguma medicação? ( ) Sim ( ) Não. Se sim, qual (is)? 46 Revista Brasileira de Neurologia » Volume 52 » Nº 2 » Abr/Mai/Jun 2016 Equilíbrio e a capacidade funcional EXAME FÍSICO Sinais Vitais: F.C.: ___________bpmSatO2:__________% F.R.:____________ipmTemperatura_________°C P.A.:____________mmHg Score no MEEM:_______ Desempenho na Escala de Berg:________ Desempenho na Escala de Avaliação de Fugl-Meyer:________ Revista Brasileira de Neurologia » Volume 52 » Nº 2 » Abr/Mai/Jun 2016 47 Rev Bras Neurol. 52(2):48-49, 2016 Imagens em NEUROLOGIA The uncinate fascicle: from real to virtual dissection O fascículo uncinado: da dissecção real para a virtual Eliasz Engelhardt1,3, Denise Madeira Moreira2, Felipe Kenji Sudo3, Gilberto Sousa Alves4, Júlio César Vasconcelos da Silva 3, Jerson Laks3,5 The uncinate fascicle (Fasciculus uncinatus) is an assemble of bidirectional fibers associated to the limbic system. It is a hook-shaped bundle, arcing around the Sylvian fissure, and connecting the anterior temporal and the frontal lobes. It may be divided into three segments - a frontal (lateral orbital and polar), a middle (insular), and a temporal (uncal, entorhinal, perirhinal, anterior and polar). The uncinate fascicle has been implicated in psychiatric and neurological disorders, being related to memory, language and social-emotional processing1,2. This fascicle was first defined by Reil (haakenförmige Markbundel) (1809), as acknowledged by Burdach, who renamed (Hakenbündel), fully described and depicted the bundle (1822)3. A clear macrodissection of the tract (Fasciculus uncinatus – Fig. 19) was produced by Meynert4 (Figure 1). The first studies of the bases for the tractography technique appeared in 1992, and virtual dissection was implemented in the following years5. A tractographic study of the uncinate fascicle is here presented (Figure 2). Figure 1. Meynert’s “real dissection” of the human brain (Meynert, 1884 Figure 19).4 Arrows point to two segments of the uncinate fascicle: a=frontal, b=temporal, both connected by the intermediate (not labeled). Figure 2. Uncinate fascicle tractography - a “virtual dissection” (adapted from Engelhardt and Moreira, 2008, with permission of the RBN [2008;44(4):19-34]). Arrows point to two of its segments: a=frontal, b=temporal, both connected by the intermediate (not labeled). Cognitive and Behavioral Neurology Unit – INDC/CDA-IPUB-Institute of Psychiatry - UFRJ; Neuroradiology Unit - INDC/UFRJ; Radiology Service PróCardíaco Hospital-Rio de Janeiro; 3 Center for Subjects with Alzheimer’s Disease and Related Disorders (CDA) - IPUB/UFRJ; 4 Department of Internal Medicine, Federal University of Ceará, Fortaleza; 5 Postgraduate Program in Translational Biomedicine – Biotrans, Unigranrio University, Brazil. 1 2 Address for correspondence: [email protected] 48 Revista Brasileira de Neurologia » Volume 52 » Nº 2 » Abr/Mai/Jun 2016 Uncinate fascicle dissections REFERENCES 1. Catani M, de Schotten MT. A diffusion tensor imaging tractography atlas for virtual in vivo dissections. Cortex 2008;44:1105-1132. 2. Von Der Heide RJ, Skipper LM, Klobusicky E, Olson IR. Dissecting the uncinate fasciculus: disorders, controversies and a hypothesis. Brain 2013;136:1692-1707. 3. Burdach KF. Von Baue und Leben des Gehirns. Band 2. Leipzig: Dyk, 1822, p 152. [Retrieved from: http://www.biusante.parisdescartes.fr/histoire/medica/resultats/?cote=06505x02&do=pdf] Revista Brasileira de Neurologia » Volume 52 » Nº 2 » Abr/Mai/Jun 2016 4. Meynert TH. Psychiatrie. Klinik der Erkrankungen des Vorderhirns. Wien: W. Braumüller, 1884, p 40. [Retrieved from: http://www.archive.org/details/psychiatrieklini00meyn] 5. Filler A. The History, Development and Impact of Computed Imaging in Neurological Diagnosis and Neurosurgery: CT, MRI, and DTI. Internet J Neurosurg 2009; 7(1):1-37. [Retrieved from: http://print.ispub.com/api/0/ ispub-article/12184] 49 Instruções para os autores A Revista Brasileira de Neurologia (RBN) é o órgão oficial do Instituto de Neurologia Deolindo Couto da UFRJ. Tem como objetivo publicar artigos técnico-científicos na área das neurociências básicas e clínicas, oferecendo aos profissionais interessados, de variados graus de experiência, material que possibilite seu aperfeiçoamento e/ou educação continuada. Serão aceitos para análise os seguintes tipos de manuscritos: • • • • Artigos Originais: pesquisa clínica ou experimental; Artigos de Revisão: análises críticas sobre temas atuais; Opiniões, Comunicações Breves, Relato de Casos, Nota Histórica; Imagens em Neurologia: imagens de aspectos ilustrativos na área de neurologia e afins. Os textos devem ser preferencialmente em português, sendo também aceitos em espanhol e em inglês. Os autores devem encaminhar, juntamente com o manuscrito, carta de autorização assinada por todos, transferindo os direitos de publicação do artigo, assegurando que ele é inédito e não está sendo avaliado por outro periódico. Aceito para publicação, fica entendido que o trabalho torna-se propriedade permanente da RBN, que reserva os direitos autorais do artigo publicado, permitindo, entretanto, sua posterior reprodução como transcrição, com a devida citação da fonte, mediante autorização prévia por escrito. Os manuscritos serão analisados pela comissão editorial para verificação da adequação do tema ao periódico, encaminhados para revisão e, posteriormente, quando necessário, reenviados aos autores para as devidas modificações. O manuscrito poderá ser aceito ou recusado, decisão tomada pela comissão editorial e parecer dos revisores. ESTRUTURA DO MANUSCRITO A RBN adota as normas editoriais do Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals: Writing and Editing for Biomedical Publications (http://www.icmje. org/). Os autores devem submeter o original em Word fonte 12 (Arial ou Times NewRoman). 3. Texto: a.Artigos Originais: até 3.000 palavras, excluindo-se as referências, contendo: introdução e objetivo; métodos (sujeitos e procedimentos), referência explícita quanto ao cumprimento das normas éticas aplicáveis, incluindo o nome da Comissão de Ética que aprovou o estudo e a obtenção do Consentimento Informado assinado; resultados; discussão; conclusão; agradecimentos; referências (até 50). Evitar repetir no texto dados que constem de tabelas e ilustrações; b.Artigos de Revisão: até 5.000 palavras, sem contar as referências, incluindo análise de dados de outros autores ou metanálise, avaliação crítica dos dados da literatura e considerações baseadas em sua experiência pessoal, outras informações semelhantes ao item anterior, referências (até 100); c.Nota Histórica e Relato de Caso: até 1.000 palavras e até 15 referências; d.Imagens em Neurologia: até 150 palavras, com resumo dos dados pertinentes e comentários sobre as imagens, referências (até duas). 4. Tabelas: a.Artigos Originais e de Revisão: até cinco, apresentadas em páginas separadas, constando: número de ordem, título e legenda; b.Nota Histórica e Relato de Caso: até duas, com formato semelhante ao dos artigos. 5. Ilustrações: a.Artigos Originais e de Revisão: até seis gráficos e/ou fotos (excepcionalmente mais, a critério dos editores), de qualidade adequada para impressão, com legendas em páginas separadas; b.Nota Histórica e Relato de Caso: até duas, com formato semelhante ao descrito para os artigos; c.Imagens em Neurologia: até duas, em uma única página. Obs.: Reproduções de ilustrações publicadas – informar sobre a autorização do detentor do direito, caso não se encontre em domínio público. O texto deve conter, nesta ordem: Obs.: Ilustrações em cores terão os custos repassados ao autor; o local de inserção de tabelas e figuras deve ser assinalado no texto. 1. Apresentação (página de rosto): 6. Referências: a.Título sintético e preciso, com até 150 caracteres; incluir título abreviado até 30 caracteres; Seguir o estilo Vancouver baseado no NLM http://www.nlm.nih.gov/bsd/ uniform_ requirements.html; as referências devem ser ordenadas de acordo com sua citação no texto (preferencialmente); incluir todos os autores quando até cinco; quando seis ou mais, listar os três primeiros seguidos de “et al.”. b.Autor: nome e sobrenome, este como desejado para indexação; c.Informações complementares: nome da instituição em que foi feito o estudo, cidade e país; grau e cargo do autor; declaração de conflito de interesses; financiadora; endereço eletrônico do autor correspondente. 2. Resumo e Abstract: a.Artigos Originais, de Revisão, Nota Histórica e Relato de Caso [opcional]: até 250 palavras, contendo informação estruturada quanto a: fundamento, objetivos, métodos, resultados, conclusão; palavras-chave e keywords: de acordo com os Descritores de Ciências da Saúde (http://decs.bvs.br/); b.Outras modalidades: sem Resumo ou Abstract, assim como sem palavras-chave e keywords. 50 Responsabilidades Autores: Estudos envolvendo seres humanos devem conter menção da aprovação por Comitê de Ética em Pesquisa e sobre a obtenção de assinatura de consentimento informado pelo participante ou responsável legal. Os estudos conduzidos com animais experimentais deverão também conter aprovação ética adequada. Os autores assumem plena responsabilidade intelectual e legal pelo conteúdo do artigo, incluindo texto, tabelas e figuras. Anúncios: O conteúdo dos anúncios publicados na RBN é de responsabilidade exclusiva da empresa anunciante, devendo seguir as normas da Anvisa. 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