Interação lúdica do

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Interação lúdica do
ISSN 1806-0145
2013 - Ano 7, nº 34 - R$ 9,90
Interação lúdica do
teatro
Saiba como é possível utilizar a arte de
representar para desenvolver e ampliar
habilidades e competências nos alunos. p. 26
ENTREVISTA
Odorico Monteiro analisa a parceria da
Educação com a Saúde. p. 36
Gestão Educacional
Arte-Educação
Thiago Chaer delineia fatores
essenciais para que o educador
e as instituições possam
acompanhar as mudanças
educacionais. p. 22
Ângela Escudeiro da Comissão
Nacional de Incentivo à Cultura
do MinC, analisa o teatro e a
literatura no universo da criança
como agente transformador e
educador. p.32
Reflexão
AVALIAÇÃO
Sandra Bozza discute o papel
da escola na formação dos
seres humanos em um mundo
possível, a partir da simulação
VIDApousando
E EDUCAÇÃO | 1
de extraterrestres
numa escola. p. 44
Lançamentos
Poesia
P
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em Cena
Poesia
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oe em Cena é uma seleção de grandes
ndes popoe
ta brasileiros e estrangeiros, das diversas
diversas
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escolas
literárias e épocas distintas. P
Poetas
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e diferentes culturas, classes sociais e e
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que, com enlevo, cantaram o a
amor,
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um
natureza,
a paz, a liberdade, e sonharam
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mundo
melhor e mais fraterno.
O Nordeste nas canções
de Luiz Gonzaga
Análise das letras de músicas do Rei do Baião que
falam do Nordeste, sua história e seus costumes. O
livro é rico em imagens, curiosidades e cordéis que,
juntamente com as músicas, enaltecem a identidade de nosso povo. Traz reflexões e sugestões de
atividades em sala de aula e acompanha um CD do
músico Adelson Viana interpretando Luiz Gonzaga.
Tem ainda um anexo com todas as partituras das
músicas do CD.
Organização
Lucinda Azevedo
Organização
O
Or
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Ilustrações
Adelson Viana
Ana
Ana Thais Feitosa
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Kazane
Ana Thais Feitosa
Sete fábulas em cordel
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Este livro é a reunião de sete dos mais expressivos
m
autores do cordel contemporâneo. Os recontos em
nversos tornam estas narrativas atemporais atraens
tes para os pequenos leitores, que, em diferentes
imodalidades do cordel, revisitarão as fábulas atrim
buídas a Esopo, o lendário fabulista grego. Além
m
do reconto em cordel o livro traz as fábulas em
aprosa para ampliar as possibilidades de exploração do gênero.
Organização
Ilustrações
Rouxinol do Rinaré
Eduardo Azevedo
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do
Formando novos olhares
res
para um novo mundo..
www.imeph.com.br | [email protected] | (85) 3261.1002
NESTA EDIÇÃO
08 GINGA DA CAPOEIRA NA ESCOLA
Lúcia Vanda Rodrigues, doutoranda da Universidade Federal
do Ceará, iniciou suas primeiras pesquisas com a capoeira e
percebeu a importância desse instrumento mediador no processo
de educação para a cidadania.
11 POSSIBILIDADES DE
APROXIMAR TEORIA E PRÁTICA
EDITORIAL
Arte no educar
Pesquisadores da Universidade Federal do Ceará analisam a ementa
da disciplina Avaliação Educacional, descrita no projeto políticopedagógico do curso de licenciatura em Pedagogia, e constatam o
distanciamento entre teoria e prática. No entanto, o diálogo entre
Evolução da proficiência em Matemáƒca dos
pesquisadores permite novas estratégias para reverter a situação.
alunos do EM no SPAECE - Período 2009-2011
264,6
254,5
N° 34
SOLUÇÕES
Na linha de Avaliação Educacional, pesquisadores mapeiam
a disciplina de Matemática no Ensino Médio contribuindo
para que educadores, a partir das médias de proficiências
de seus alunos, identifiquem os obstáculos e determinem os
conteúdos a serem estudados.
239,8
1ª SÉRIE - ANO 2009 2ª SÉRIE - ANO 2010
24
16 MATEMÁTICA: PROBLEMAS E
3ª SÉRIE - ANO 2011
O
CÉU NA
EDUCAÇÃO
Proficiência
Matemáƒca
Carol de Holanda Pavão, pós-graduada em Arte-Educação
nos instiga a refletir sobre a educação, colocando quem
educa na condição de lagarta e borboleta. Segundo Carol,
precisamos assumir nossas falhas, na condição de lagarta,
para entrarmos no casulo e nos transformarmos em
borboletas para podermos educar.
39 DESAFIOS DA FAMÍLIA
CONTEMPORÂNEA
Milena Cristina Barros Barreto Aires, psicóloga que
trabalha com família e orientação profissional nos faz
refletir sobre os desafios que as famílias enfrentam para
educar os filhos em um mundo marcado por avanços
tecnológicos e científicos e como a escola pode contribuir
para equilibrar as relações entre pais e filhos.
46 INTERPRETAR PARA
REINVENTAR A ESCOLA
Mestre, Gestor e Consultor em Educação, Casemiro de Medeiros
Campos interpreta as reformas do sistema educativo e identifica
como as inovações captadas através dos resultados do IDEB
– Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, e de outros
instrumentos podem contribuir para reinventar a escola.
49 GESTOS DE FLEXIBILIDADE
NA EaD
No Eixo da Educação Comparada, as pesquisadoras Ana
Cláudia Uchôa Araújo e Patrícia Helena Carvalho Holanda,
avaliam a mulher e a docência na EaD, fundamentado num
diálogo com autores, entre eles, João Mattar (2012).
E AINDA...
5 Editorial
7 Publicações
21 Empreendedorismo
35 Undime em notícias
41Capacitação
O envolvimento da arte nas práticas educativas interfere e modifica
o ambiente escolar e a formação da
personalidade de alunos e educadores, mesmo que a intenção não seja
de formar artistas.
O ensino e a aprendizagem pensados a partir da arte, como conhecimento do mundo, refletem na melhoria da qualidade escolar, na apreciação, valorização da história da arte
e da diversidade cultural. Desenvolve
o discurso falado e escrito, a percepção, a imaginação, a observação, o
raciocínio e amplia a capacidade de
ver e ouvir na interação com o colega. Além do que, as expressões
artísticas exploram o universo das
emoções.
A reportagem, desta edição, nos
mostra o poder do teatro em encantar e interagir com o público, como
parte dos Parâmetros Curriculares
Nacionais, proposto pelo Ministério
da Educação. A arte dramaturga, não
somente exige disciplina, compromisso, cidadania, mas prepara o aluno para a vida. No contexto, teatrólogos e educadores avaliam o modo
de aprendizagem dos alunos e como
a escola pode desenvolver a reflexão
com projetos educativos em arte.
Também encaramos o desafio
de analisar o fato de a educação de
qualidade interferir na saúde pública.
Em entrevista concedida à Revista
Vida e Educação, Odorico Monteiro,
secretário de Gestão Estratégica e
Participativa do Ministério da Saúde
(SGEP), revela como políticas públicas voltadas para a educação podem transformar o sistema de saúde.
Como exemplo, a queda da mortalidade materna obtida a partir da maior
taxa de alfabetização das mulheres.
Enquanto isso, os artigos se
propõem a fazer algumas reflexões
acerca da capoeira como instrumento viabilizador da educação cidadã,
o distanciamento entre a teoria e
a prática, a dificuldade do aluno de
interpretar o que lê interferindo nas
aulas de Matemática, o valor do pensamento crítico do educador para a
transformação social, a reforma interior que cada um pode fazer para
tornar-se apto a educar.
Em meio a tantos assuntos, destacamos o ato de brincar em todas
as idades, os desafios da família
contemporânea, a atuação da mulher em diversas funções além da
docência, o papel da escola no mundo novo, como reinventar a escola e
as oportunidades de capacitação
profissional.
Vale ressaltar que temos muito
a discutir e refletir, em 2013, sobre
a importância do profissional da
educação, as estratégias de gestão
educacional, a interação escola-aluno-comunidade, as barreiras
políticas na pasta da Educação, os
desafios da prática e da formação,
entre outros, além das alternativas
para vivenciarmos mudanças no
Sistema Nacional de Educação. Assuntos fundamentais que estarão
presentes nos Fóruns Estaduais de
Educação (FEEs), encontros, reuniões, conferências livres, municipais
e/ou intermunicipais, estaduais e do
Distrito Federal, como etapa preparatória para o II CONAE – Conferência
Nacional de Educação que será realizada no próximo ano, em Brasília.
Espaço democrático para pontuar e
acordar propostas de organização
da educação, implementação e consolidação do novo Plano Nacional de
Educação (PNE).
Enfim, dentro de uma proposta
de comunicação responsável voltada à divulgação científica, a Vida e
Educação estreita, mais uma vez, os
laços com o leitor.
Boa leitura!
Sandra Lima Röhl
INSTITUTO CALUMBI
Publicações
Ecologia, educação, cultura e cidadania
Consultorias nas áreas:
Formação de gestores
Ensino de Libras
Pós graduação à distância
Projetos culturais
Projeto Livro Didático de História do município
®
Diretora: Sandra Lima Röhl
Jornalista responsável: Ticiana Rodrigues Aragão - MTB 2874
Reportagem e estrevista: Aécio Santiago
Revisão: Raimundo Jaguaribe e Rouxinol do Rinaré
Projeto gráfico: Norton Falcão
Editoração eletrônica: Harry Carvalho
Foto capa: Harry Carvalho
CONSELHO EDITORIAL
Ana Maria Iorio Dias (UFC)
Ariana Cosme (Universidade do Porto - Portugal),
Betânia Leite Ramalho (UFRN)
Casemiro de Medeiros Campos (UFC),
Clermont Gauthier (Université Laval, Canadá),
Elicio Abreu (Undime-CE)
Júlio César Araújo (UFC),
Luís Távora Furtado Ribeiro (UFC)
Marco Aurélio de Patrício Ribeiro (Iesc),
Maria de Jesus Araújo Ribeiro (Mieib)
Messias Dieb (UFC)
Rui Trindade (Universidade do Porto - Portugal)
COLABORADORES DESTA EDIÇÃO
Ana Cláudia Uchôa Araújo, Ângela Escudeiro, Augusto Boal, Carol de Holanda
Pavão, Casemiro de Medeiros Campos, César Nunes, Cláudia Maria da
Cruz, Cilene Conda, Cristovam Buarque, Fernanda de Façanha e Campos,
Francesca Danielle Gurgel dos Santos, Kélia Jácome, Lídia Azevedo de
Menezes, Lorena Sampaio, Lúcia Vanda Rodrigues, Luli Radfaher, Maria
Isabel Filgueiras Lima Ciasca, Marcos Meier, Marcos Melo, Mário Sérgio
Cortella, Milena Cristina Barros Barreto Aires, Nicolino Trompieri Filho, Odorico
Monteiro, Ozires Silva, Patrícia Helena Carvalho Holanda, Patrícia Melo,
Sandra Bozza e Thiago Chaer, Wellington Teófilo.
A galinha dos ovos de rapadura
Autor: Erilson Santiago
Editora: SEDUC
Ilustração: Nathália Forte
Publicação: 2010
Essa é a história de Candoca, a galinha dos ovos de rapadura. Sempre que
Candoca estava no canavial esperando
seu marido Teleco, ela tomava caldo de
cana. Um certo dia, seus ovos começaram a sumir e toda a bicharada da
fazenda entrou em pânico. Descubra
quem anda pegando os ovos da Candoca e o motivo do desaparecimento. Erilson é professor de Língua Portuguesa, formado pela UFC e que este livro
rendeu o prêmio de literatura infantil cearense 2010 - SEDUC- PAIC
Ensino de lutas na escola
ASSINATURA E DISTRIBUIÇÃO
Preço de assinatura anual no Brasil: R$ 59,90, para seis edições
(bimestrais). Venda em banca no estado do Ceará, Piauí e Maranhão.
Distribuição nacional para: assinantes, colaboradores, pesquisadores,
gestores educacionais, Instituições do terceiro setor, ministérios da educação,
cultura e meio ambiente.
Autor: Heraldo Simões Ferreira
Editora: Peter Röhl
Educação Especial - 2ª Edição
Publicação: 2012
220 Páginas
Tiragem: 5.000 exemplares
PUBLICIDADE
Fone: +55 (85) 3214.6971
[email protected]
ATENDIMENTO AO ASSINANTE
Telefone: +55 (85) 3214.6971/8895.9997
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SUGESTÕES OU CRÍTICAS
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ABC da Meninada 2ª edição
A obra faz parte do Projeto Esporte Educacional na Escola e integra o volume 4 da
Coleção Esporte. Apresenta ao leitor uma
nova prática pedagógica que contempla os
aspectos cognitivos, físico-motores e socioafetivos, além das dimensões de conteúdo
conceituais, procedimentais e atitudinais desenvolvendo integralmente o educando.
Autor: Crispiniano Neto
Editora: IMEPH
Publicação: 2012
56 páginas
É livro que, furtivamente, a mãe
ou o pai tiram da mochila da criança
adormecida, para reler, recordar e
sorrir, e depois devolvê-la ao lugar
de origem. O á. bê. cê de Crispiniano é coisa para criança, para moços
e para velhos é leitura obrigatória
para alunos e para professores.
Igual e diferente
A Revista Vida e Educação é uma publicação bimestral da Editora Peter Röhl
Edição e Comunicação, que mantém todos os direitos reservados.
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opinião da revista. A publicação se reserva o direito de adequar os artigos.
Impressão: Expressão Gráfica e Editora
Contatos: (85) 9164 8506 e-mail [email protected]
Autor/ Ilustração: Arlene Holanda
Editora: IMEPH
Publicação: 2012
24 Páginas
Poesia para crianças. Texto leve e bem
construído abordando as semelhanças e
diferenças entre as pessoas – etnias, gostos, sonhos, sentimentos, opiniões – características que as completam enquanto seres humanos. Desperta no pequeno leitor a
importância de conviver em sociedade com
as diferenças.
Assine
Nunca tanta educação
custou tão pouco.
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Cultura Afro-brasileira
Ginga da capoeira na
escola
Lúcia Vanda Rodrigues
Arquivo digital
Atividade física que reúne diversas artes, a capoeira, torna-se objeto de pesquisa e
vem se alinhando num processo educativo para a construção e o exercício da cidadania.
Atualmente, as atividades esportivas evidenciam-se com grande
relevância, atraindo a atenção dos
indivíduos, como um meio de compensar as tribulações cotidianas que
enfrentam, sobretudo por conta da
complexidade da vida moderna. O
fato de estar presente hoje em instituições variadas demonstra que o esporte não se limita às competições,
sendo por isso considerado o maior
fenômeno social da atualidade.
8 | MARÇO/ABRIL 2013
Entre os esportes mais em evidência atualmente está a capoeira,
surgida no Brasil através da combinação de três elementos: a resistência do povo africano buscando manter sua identificação cultural frente ao
sistema da escravidão em que vivia
imerso; seu desejo de liberdade e o
anseio de uma população composta
por brancos, negros e índios que viviam explorados, oprimidos e excluídos da sociedade, de serem reco-
nhecidos como cidadãos (AREIAS,
1983). Por ter surgido pela força da
resistência cultural e ânsia de liberdade de africanos em solo brasileiro
a capoeira é reconhecida mundialmente como um desporto de origem
afro-brasileira, que incorpora movimentos de luta, acrobacias, dança,
percussão e músicas num diálogo
rítmico de corpo e mente.
Proibida sua prática pelo Código Penal brasileiro de 1890, por ser
considerada perigosa à sociedade
vigente, foi liberada por Getúlio Vargas em 1934, passando a partir daí
a fazer parte do contexto desportivo
nacional. Reconhecida pelos órgãos competentes como arte marcial genuinamente brasileira desde
1972, praticada hoje em mais de
160 países, vem despertando muito
interesse da pesquisa educacional,
sendo mencionada sua importância como instrumento de educação,
chamando a atenção para a sua
contribuição no desenvolvimento
do indivíduo. Esse fato me conduziu
a eleger a capoeira como objeto de
minha pesquisa de graduação no
curso de Serviço Social, colocando
em foco a discussão da função social dessa atividade humana como
instrumento mediador do processo
de educação de adolescentes da
periferia de Fortaleza, no estado do
Ceará, à cidadania.
Ciente de que o processo educativo existe por toda parte, aparecendo sempre que há relações
de pessoas e intenções de ensinar
e aprender (BRANDÃO, 1991), de
que o processo de conscientização e conquista da cidadania pode
ocorrer em quaisquer lugares (RESENDE, 1996) e, sobretudo, que
educar para a cidadania supera a
postulação de direitos humanos,
mais visa formar cidadãos que
combatam os preconceitos, as discriminações, as disparidades e privilégios no plano social, levando o
indivíduo a acreditar no seu próprio
potencial, como agente de transformação qualitativa da própria vida e
do mundo (BALESTRERI, 2002).
“Essa prática pedagógica
ajuda o aluno a se
desenvolver melhor
socialmente ...”
Passei a pesquisar o núcleo de
ensino da Associação Zumbi Capoeira, localizado no bairro de Canindezinho, inserido na comunidade do
Grande Bom Jardim, no qual estava
a frente ministrando aulas há seis
anos, já que sou formada Mestre em
Capoeira. Trinta alunos, com idade
variando entre 12 e 24 anos, de ambos os sexos, compunham o público alvo do estudo. Dessa vez, meu
olhar de pesquisadora ampliou-se,
visando encontrar resposta para a
pergunta central de minhas inquietações: a Capoeira pode ser utilizada
como instrumento viabilizador da
educação cidadã?
O resultado do estudo apontou
afirmativamente a capoeira com
grandes probabilidades de colaborar na construção da educação
para a cidadania de seus adeptos.
Isso porque, ao contrário do que se
imagina, o aprendizado da Capoeira não se constitui somente do ensino metódico de golpes e contragolpes, mas também inclui a soma de
todos os conhecimentos dispersos
entre seus praticantes, desde épocas mais remotas, até a atualidade,
repassados de mestre para discípulo, de aprendiz para aprendiz,
constituindo o que se pode chamar
de tradição oral.
Existe também, como parte da
tradição na capoeira, o que se chama hierarquia, onde o praticante
é respeitado pelo “seu tempo de
Capoeira” e pela bagagem de conhecimento que acumula ao longo
dos anos. Essa hierarquia natural
pode ser sintetizada com os versos
da cantiga de domínio público: “Sou
discípulo que aprende, sou mestre
que dou lição”, que expressa a filosofia de seu aprendizado: Quem
sabe mais, mesmo que um pouco,
ensina quem sabe menos (COSTA,
1993:87). Essa prática pedagógica
ajuda o aluno a se desenvolver
melhor socialmente, desde que ajuda o praticante a estabelecer laços
de solidariedade, possibilitando sua
maior integração ao grupo. Naturalmente, o aluno almeja conquistar a
posição de mestre dentro do grupo
de capoeira, fato que o conduzirá à
persistência em sua prática, baseada, sobretudo, em disciplina pessoal, o que proporciona a ampliação
de sua consciência e responsabilidade tanto na escola de capoeira
da qual é representante, como fora
dela, na condição de cidadão inserido numa determinada sociedade
(COSTA, 1993).
A capoeira fundamenta-se também nos seguintes princípios filosóficos que devem ser incorporados à
sua prática: humildade, bom humor e
malícia (CAPOEIRA, 1985).
A humildade é de suprema importância, pois todos, apesar da
hierarquia, são iguais como seres
humanos. Ninguém sabe tudo, até
mesmo quando atinge o grau máximo de mestre. É como diz Mestre
Pastinha, maior expoente da Capoeira Angola no Brasil e no mundo:
“A Capoeira teve início, mas seu fim
é inconcebível ao mais sábio dos
mestres” (CAPOEIRA, 1985:183). O
bom humor constante é fundamental
dentro e fora das rodas de capoeira.
Ao ser atingido por um golpe, se o
praticante não mantiver o bom humor, perde o controle emocional, o
autodomínio tão necessário tanto na
roda, como fora dela, no cotidiano. E
o mais utilizado quando não se conserva o bom humor é a violência, e
o capoeirista passa então agir dentro
da roda como um “capitão-do-mato”,
esquecendo que a capoeira foi criada
para defesa e que a violência não faz
parte de seus princípios. A malícia na
Capoeira não deve ser entendida no
seu sentido usual, de ser maldoso,
mas no sentido do praticante perceber o mal, as reais intenções do seu
VIDA E EDUCAÇÃO | 9
Cultura Afro-brasileira
“oponente” e por ele não ser atingido,
perceber o que não é bom para si e
procurar um caminho melhor para trilhar. (CAPOEIRA, 1992).
“...se faz necessário
aproveitá-la e empregá-la
de maneira eficiente e
benéfica...”
Aí estão os fundamentos básicos da capoeira com os quais
posso concluir que representam alguns dos benefícios que ela pode
trazer ao praticante como indivíduo,
constituindo-se numa das possibilidades que, somadas a outras, vai
conduzindo o aprendiz a modificar
sua maneira de ser e agir com os
outros indivíduos, transformando
seu relacionamento com o mundo
e a sociedade (CAPOEIRA, 1992).
Mas os benefícios da capoeira
não se resumem apenas em sua
filosofia, pois se constitui como um
conjunto de rara utilidade, formado
pela reunião de vários fatores para
a educação, já que em um só tema
se tem reunidas atividades físicas
com os movimentos, o ritmo dos
instrumentos que acompanham
as rodas, a dança como arte integrada, cultura e história. Por isso
mesmo a capoeira encanta a todas
as faixas etárias e é praticada por
ambos os sexos, como retrata os
versos da canção de domínio popular: “Capoeira é pra homem, menino e mulher, só não joga quem não
quer”, configurando-se como um de
seus maiores proveitos o interesse
que ela desperta em seus praticantes. E quando existe motivação no
sistema de ensino e aprendizagem
tudo se torna mais fácil.
Sendo a capoeira arte genuinamente brasileira altamente difundida
e aceita por vários segmentos da
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sociedade, se faz necessário aproveitá-la e empregá-la de maneira eficiente e benéfica, satisfazendo tanto
o educador por realizar um trabalho
eficaz com efetividade, quanto ao
aluno por estar em contato com algo
que tanto o cativa. Ressalto que, ao
apresentar a capoeira como instrumento mediador do processo de
educação cidadã de quantos venha
a praticá-la, desejo tão somente ampliar a visão de quantos se interessem pelo tema quanto à necessidade de se utilizar métodos de acordo
com o povo brasileiro e seu ambiente, buscando novos caminhos que
possam capacitar o homem a desenvolver suas potencialidades, de
forma que venham a contribuir com
mais eficiência para o desenvolvimento e bem estar da sociedade na
qual está inserido.
Saída de um contexto de marginalidade e malandragem, por
ser uma luta oriunda de negros
escravos, é perceptível na sua
história, da escravidão até os dias
atuais, em que foi perseguida e
marginalizada, quase extinta,
seus adeptos em luta constante
contra a estrutura que lhes negava o direito de ser cidadão e em
todos os momentos estiveram, de
uma forma ou de outra, lutando
para serem reconhecidos como
tais. Hoje, a capoeira é cidadã do
mundo, sendo ensinada em escolas, academias de ginástica, universidades e mais recentemente
nos presídios, começando a ser
percebida e utilizada em toda sua
riqueza, especialmente como importante instrumento pedagógico,
demonstrando que “educar não é
uma tarefa difícil. Basta um pouco
de ousadia, alguma criatividade,
fé em nosso próprio potencial,
vocação real para educar e muita
consciência de cidadania” (BALESTRERI,2002: s/p).
Formação Docente
E foi essa a minha intenção ao
elegê-la como objeto de pesquisa:
ousar, criar, acreditar nas possibilidades de cada um, assim como no
potencial da capoeira, nascida do
desejo da liberdade, do sofrimento,
das lutas e aspirações, não só da
raça negra, mas do povo brasileiro.
Um povo humilde, que necessita de
muita ginga, malícia, e bom humor
para vencer na grande roda chamada vida!
Lúcia Vanda Rodrigues
Assistente Social pela Universidade Estadual
do Ceará – UECE. Mestra em capoeira pela
Associação Zumbi Capoeira – AZC. Mestra
em Educação Brasileira pela Universidade
Federal do Ceará – UFC. Doutoranda em
Educação Brasileira pela Universidade Federal do Ceará – UFC. luciavandarodrigues@
hotmail.com
Referências bibliográficas
AREIAS, A. O que é capoeira. Coleção Primeiros Passos. 2. Ed. São Paulo: Brasiliense,
1983.
BALESTRERI, R.B. O que é educar para cidadania (s/d – s/e).
BRANDÃO, C.R. O que é educação. 3. Ed.
São Paulo: Brasiliense, 1995.
COSTA, R.S. Capoeira: o caminho do berimbau. Brasília. Brasília: Thesaurus, 1993.
CAPOEIRA, N. Capoeira. Os fundamentos da
malícia. Rio de Janeiro: Record, 1992.
_________Galo já cantou. Rio de Janeiro:
Arte, 1985.
RESENDE, E.J. Cidadania: o remédio para
doenças culturais brasileiras. São Paulo: Summus, 1992.
Possibilidades de
aproximar teoria e prática
Lídia Azevedo de Menezes
Nicolino Trompieri Filho
Maria Isabel Filgueiras Lima Ciasca
Através de pesquisas científicas saiba como é fundamental o educador continuar
pesquisando, saber ensinar e avaliar.
Esta quarta edição tem como
objetivo triangular resultados constatados na visão dos licenciandos em
Pedagogia, perfil para formação profissional docente, e a ementa da disciplina Avaliação Educacional, descrita no projeto político-pedagógico
do referido curso, pois considera-se
que a formação de professores para
avaliar na educação básica demanda
competências e habilidades previstas no perfil profissional e em disciplinas no projeto político-pedagógico
das licenciaturas, porém o que se
tem evidenciado é que em virtude de
uma formação fragmentada, disciplinar, diversificada, que não se relaciona teoria e prática, os licenciandos
não desenvolvem competências e
habilidades previstas para avaliar na
educação básica.
Nas três edições anteriores, abordou-se a problemática da formação
de professores, primeiramente no
que se refere à identidade docente, objeto de estudo da pesquisa de
mestrado. Por conseguinte, ampliou-se as reflexões com foco na formação de professores para avaliar na
educação básica, assunto investigado na pesquisa de doutorado. Assim,
VIDA E EDUCAÇÃO | 11
FORMAÇÃO DOCENTE
durante pesquisa exploratória, na
mesma Universidade Pública, Ceará, constatou-se a fragmentação na
formação inicial, o que nos remeteu
ao debate sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para Formação
de Professores na Educação Básica
e outros documentos. Realizou-se
comparativo com pesquisas acerca
da formação de professores para
avaliar na educação básica, com os
resultados encontrados até então.
Conforme ressaltou-se na última
edição, durante pesquisa exploratória, os licenciandos apresentaram
aspectos positivos. Quanto ao professor A: “a aula do professor A não
é cansativa, pois ela é extrovertida e
anima a sala” (licenciando A); aulas
comentadas e bem explanadas” (licenciando B).
Já o professor B: “textos ótimos
e bem trabalhados” (licenciando C);
“gostei muito dos métodos aplicados
na sala de aula, como o uso de textos
atuais, trabalhos em grupos e individuais, e recursos, como data-show”
(licenciando F).
Pelos aspectos positivos apontados constatou-se que houve satisfação dos licenciandos, porém destacaram-se aspectos negativos. Para o
professor A: “apesar das aulas terem
sido dinamizadas, houve uma falha
por parte da professora nas apostilas, que mandava tirar xerox e não
utilizava o conteúdo da apostila que
trata sobre a avaliação. Por mais que
estudamos, não é a mesma coisa
quando se tem a explicação vinda da
professora, onde podemos tirar dúvidas sobre avaliação” (licenciando A);
“faltou aula de campo e conhecimento mais aprofundado” (licenciando B).
Em relação ao professor B, afirmaram: “Faltou uma atividade de
pesquisa de campo, onde poderíamos ter tido oportunidade de aprofundar o conhecimento” (licenciando
C); “o que atrapalhou o andamento
12 | MARÇO/ABRIL 2013
da disciplina foram os feriados” (licenciando D).
Por sua vez, constatou-se divergências nas práticas pedagógicas
no ensino superior dos referidos
professores, pois o professor A,
não utilizou material selecionado de
forma adequada, e o professor B,
teve o prosseguimento da disciplina
comprometido, devido aos feriados.
Ambos os professores, conforme os
licenciandos, poderiam realizar atividades de campo, como estratégia de
aprofundamento do conhecimento,
demonstrando-se a importância de
se relacionar teoria e prática.
Foram realizadas as seguintes
sugestões para o professor A: “seria
muito bom se houvesse seminários,
debates em equipes, palestras de
avaliadores externos ou internos”
(licenciando A); “analisar avaliações
em escolas e realizar relatórios em
grupo” (licenciando B).
Quanto ao professor B: “nos próximos períodos, as aulas se tornassem menos cansativas, pois vimos
muita teoria. Poderia ser trabalhada
mais a prática, com pesquisas de
campo, para comparar nossa própria
rotina, para levar aos nossos colegas
e professor a realidade do nosso trabalho” (licenciando C); “realização de
seminários a partir de pesquisas ou
experiências dos próprios alunos” (licenciando D).
Veiga (2009) enfatiza a importância de se discutir as dimensões e conexões do processo didático na ação
docente, pois significa compreender
as concepções de ensinar, pesquisar, aprender e avaliar. Ou seja, uma
ação refletida permeada pela intencionalidade, um componente central
do processo didático, pois ela se
exerce como uma referência que pretende guiar a ação didática, dar direção e sentido ao ensino, à pesquisa,
à aprendizagem e à avaliação.
As sugestões apontadas pelos
licenciandos denotam uma relação
intrínseca as dimensões e conexões
do processo didático na ação docente, emergindo um olhar da docência,
na relação entre currículo e ensino
superior, na formação de professores
para avaliar na educação básica.
Ao analisar a ementa da disciplina Avaliação Educacional, descrita
no projeto político-pedagógico do
curso de licenciatura em Pedagogia,
localizou-se um quesito, sobre avaliação, no perfil profissional docente:
“avalie permanentemente os processos educativos, incorporando a
concepção de formação contínua, a
unidade da ação docente e a relação
docente-discente”.
A disciplina possui carga horária
de 60h, situa-se, como já ressaltado,
no 4º período, eixo: pesquisa e gestão do conhecimento educacional,
com a finalidade de proporcionar aos
licenciandos: “conhecer e realizar
atividades na gestão dos processos
educativos escolares e não escolar
como planejar, implementar, coordenar, acompanhar e avaliar”. E a
ementa sugere: “Estudo da avaliação
como instrumento indispensável para
o planejamento e acompanhamento
das ações educativas. As diferentes
concepções da avaliação e suas manifestações na prática. Procedimentos e instrumentos da avaliação da
aprendizagem. Avaliação Institucional. Instrumento de Avaliação”.
Pacheco (2005) enfoca que o
currículo não é meramente um plano, um programa, um cursus, uma
pista de corrida para os aprendentes. Currículo também é um projeto,
uma práxis sobre um conhecimento
controlado, por um lado, no contexto social em que o conhecimento é
concebido e produzido e, por outro,
no modo como esse conhecimento é
traduzido para ser utilizado no meio
educativo. Assim, a teoria curricular
crítica tornar-se-á ferramenta concei-
tual se ajudar professores e alunos a
entender que o currículo é uma construção que também lhes pertence,
não pelas políticas de descentralização que lhes reconhecem autonomia, mas porque as políticas culturais
permitem afirmar que o currículo é
uma construção enredada nas lutas
e relações sócio-políticas.
Triangulando-se os resultados
constatados na visão dos licenciandos, compreende-se que o currículo,
descrito no perfil profissional docente e na disciplina Avaliação Educacional, previsto no projeto político-pedagógico do curso de licenciatura
em Pedagogia, em Universidade
Pública, no Ceará, foi implementado
a nível teórico, constatando-se um
distanciamento entre teoria e prática, tornando-se a formação de professores para avaliar na educação
básica fragmentada. Nesse sentido,
acredita-se que a reforma curricular,
ocorrera somente no currículo, pois
as competências e habilidades a serem desenvolvidas, conforme descrito nas Diretrizes Curriculares, representa um desafio constante para a
docência, no ensino superior.
Assim, concorda-se com Lopes e
Dias (2003), ao argumentarem que o
currículo por competências apresenta-se como recontextualizado com o
fim de atender às novas finalidades
de formação docente: flexível e sujeita à avaliação permanente. O modelo
que está sendo questionado para o
currículo da formação de professores
no Brasil é o que se baseia nas experiências acadêmicas, desenvolvido
especialmente nas universidades.
Desse modo, a recontextualização
do currículo da formação de professores baseada nas competências
modifica o foco da aprendizagem
escolar, na qual os conteúdos e as
disciplinas passam a ter valor apenas como meios para constituição de
competências.
Corroborando-se, Valente (2002)
afirma que, se os professores não se
apropriarem do significado da noção
de competência, poderão torná-las
meros exercícios redacionais, partícipes sem maior expressão em planejamentos elaborados apenas para
atender exigências burocráticas.
Por sua vez, Mendes (s.d) assevera que os estudos sobre avaliação
reafirmam a necessidade de se encarar, sem deixar de considerar as
implicações políticas e sociais que
esta temática envolve. Está então
colocado o desafio, especialmente no sentido de formar professores
conscientes de sua responsabilidade
como ator principal para desencadear novos processos avaliativos para a
educação básica.
Vale salientar que os desafios não
são somente no âmbito da formação
inicial nas licenciaturas, mas na formação continuada dos professores,
em virtude de não terem desenvolvido na sua formação inicial competências e habilidades para avaliar na
educação básica.
Dessa forma, dar-se-á continuidade na próxima edição, reflexão
acerca das competências e habilidades para avaliar e a importância da
concepção da avaliação formativa
como possibilidade de melhoria na
qualidade da aprendizagem dos alunos na educação básica.
Lídia Azevedo de Menezes - Doutoranda
em Educação Brasileira, pela Universidade
Federal do Ceará-UFC, na Linha Avaliação
Educacional, Eixo Ensino-Aprendizagem. Bolsista FUNCAP. Pesquisadora em Avaliação e
Formação de Professores. Publicou em 2011
pela Editora Caminhar “Avaliação Curricular e
Identidade Docente”. lidia_educacao@yahoo.
com.br
Linha de Avaliação Educacional, Eixos Avaliação do Ensino-Aprendizagem e Avaliação
Curricular. Orientador de Mestrado e Doutorado, da Faculdade de Educação-FACED/UFC.
[email protected]
Maria Isabel Filgueiras Lima Ciasca - Doutora em Educação Brasileira, pela Universidade Federal do Ceará-UFC, na Linha Avaliação
Educacional, Eixo Ensino-Aprendizagem.
Professora Adjunta IV. Atua na Linha de Avaliação Educacional, Eixo Avaliação do Ensino-Aprendizagem. Orientadora de Mestrado e
Doutorado, da Faculdade de Educação-FACED/UFC. [email protected]
Referências bibliográficas
LOPES, A. C.; DIAS, R. E. Competências na
Formação de Professores no Brasil: O que
(não) há de novo. Educ. Soc., Campinas,
vol. 24, n. 85, p. 1155-1177, dezembro 2003.
Disponível em http://www.cedes.unicamp.br.
Acesso em 21/03/2011.
MENDES, O. M. As Políticas de Formação de
Professores e de Avaliação: caminhos que se
cruzam. FACED/UFU. s.d.
PACHECO, J. A. Escritos Curriculares. São
Paulo: Cortez, 2005.
VALENTE, S. M. P. Competências e Habilidades: Pilares do Paradigma Avaliativo Emergente. Ensino e Avaliação em uma proposta
para a formação de competências. Este texto
é parte integrante da Tese de Doutorado: Parâmetros Curriculares e Avaliação nas Perspectivas do Estado e da Escola, defendida na
UNESP/Marília em 20 de junho de 2002.
VEIGA, I. P. A. A aventura de formar professores. Campinas, SP: Papirus, 2009.
Nicolino Trompieri Filho - Doutor em Educação Brasileira, pela Universidade Federal
do Ceará- UFC. Professor Adjunto IV. Atua na
VIDA E EDUCAÇÃO | 13
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Matemática: problemas e
soluções
Francesca Danielle Gurgel dos Santos
Maria Isabel Filgueiras Lima Ciasca
Nicolino Trompieri Filho
Dados revelam os principais problemas de desempenho dos alunos do Ensino Médio
em Matemática.
O caráter censitário e universal do
Sistema Permanente de Avaliação
da Educação Básica do Ceará (SPAECE) adotado pela Secretaria da
Educação (SEDUC), a partir do ano
de 2008, possibilitou acompanharmos a proficiência do mesmo grupo
de alunos nas três séries do Ensino
Médio (EM) nas disciplinas de Língua
Portuguesa e Matemática na perspectiva longitudinal.
Nesta edição da revista Vida e
Educação analisaremos a evolução
longitudinal da proficiência de dois
grupos de alunos na disciplina de
Matemática, que cursaram o EM
nos períodos 2008-2010 e 20092011, identificando o quanto agregaram cognitivamente durante os
três anos; as competências e habilidades que dominavam e/ou deixaram de dominar no término do EM;
e quantos alunos concluíram o EM
com o nível de desempenho considerado adequado.
Durante todo o percurso escolar
escutamos as queixas dos professores em relação à aprendizagem dos
alunos na disciplina de Matemática,
em muitas destas as dificuldades de
aprendizagem diagnosticadas são
justificadas pelos educadores como
falta de embasamento necessário
16 | MARÇO/ABRIL 2013
em conteúdos universais da disciplina, cujo domínio possibilitaria o
desenvolvimento de novas aprendizagens e/ou o aprofundamento de
conhecimentos mais complexos.
É importante lembrarmos que os
resultados do SPAECE na disciplina
de Língua Portuguesa, divulgados na
edição anterior, nos revelaram problemas relacionados à leitura e interpretação textual, o que provoca consequências não só na aprendizagem
desta disciplina, como também nas
demais disciplinas da série cursada
pelo aluno. Assim, teremos efeitos similares na avaliação do SPAECE de
Matemática, considerando que se o
aluno tem dificuldades de interpretar
o que lê, como terá condições plenas
de resolver as situações problemas
propostas na avaliação?
A gravidade é acentuada na disciplina de Matemática devido os conteúdos serem sequenciais e, à medida
que os anos escolares vão passando,
o nível de complexidade dos conhecimentos matemáticos também vai
aumentando, provocando um distanciamento cada vez maior da possibilidade de aprendizagem do aluno que
já tenha dificuldades em desenvolver
competências e habilidades nesta
disciplina, justificado pela falta de
maturidade cognitiva adequada para
o grau de complexidade trabalhada
na série/ano que estuda, provocando
dificuldades de aprendizagens cada
vez maiores, (FELICETTI, 2010).
O desempenho dos alunos é
avaliado tendo como referência
uma escala de proficiência de 0 a
500 pontos, a partir desta, é possível identificarmos o que os alunos
sabem para a série/ano avaliado(a)
e o que deveriam saber. Em relação à escala de proficiência da
disciplina de Matemática, o ponto
de corte para análise tem uma diferença de vinte e cinco pontos a
mais em relação à escala de proficiência em Língua Portuguesa,
discriminadas da seguinte forma
(CEARÁ, 2009): muito crítico, médias abaixo de 250 (< 250); crítico,
médias no intervalo 250 |-- 300;
intermediário, médias no intervalo 300 |-- 350; e nível adequado,
maior ou igual que 350 (≥ 350).
O aluno do Ensino Médio tem três
anos (1ª, 2ª e 3ª série) para chegar ao
ponto considerado mínimo adequado, ou seja, 350 da escala de proficiência de Matemática, porém podemos encontrar evidências de alunos
da 1ª série com média de proficiência adequada nesta disciplina, estes
certamente terão mais chances de
desenvolver as competências e habilidades esperadas para o EM. Daí,
a importância da equipe pedagógica
de cada unidade escolar, com seus
respectivos professores de Matemática, se apropriarem dos resultados
do SPAECE e mapear a média de
proficiência dos seus alunos, identificando: quais descritores acertaram
e quais erraram; e quais habilidades
já foram desenvolvidas e quais ainda
precisam ser alcançadas.
A apropriação destes dados pela
equipe pedagógica e professores
norteará a definição de estratégias
metodológicas de modo a promoverem um planejamento pedagógico
interventivo, com foco na superação
das dificuldades de aprendizagens
reveladas numa perspectiva de avaliação formativa reguladora, cujos
pressupostos pedagógicos, segundo Silva (2010), devem primar pela
educabilidade; o entendimento é
que todos os alunos são capazes de
aprender, cada um no seu tempo e
forma; pedagogia diferenciada, onde
o professor mediador antecipe os
obstáculos didáticos similares entre
a maior parte dos alunos e proporcione ações pedagógicas diversificadas; pesquisa como fundamento do
trabalho pedagógico, primando pela
investigação pedagógica para favorecer a contextualização curricular à
realidade dos alunos do EM, onde
a escola está inserida; centralidade
nas aprendizagens significativas em
Matemática, superando aprendizagens mecânicas, onde os alunos são
treinados na resolução de exercícios
matemáticos; escola como lugar de
aprendizagens, aberta a transformações com respeito à multiplicidade
cultural, em que a prática docente
seja constantemente analisada no
intuito de sua melhoria; projeto político-pedagógico construído coletivamente e que oriente o cotidiano pedagógico da prática docente; e, além
de tudo, que todos os educadores
envolvidos com a educação formal
assumam o compromisso social de
promoção de uma escola pública de
qualidade.
Analisemos a evolução das médias de proficiência dos dois grupos
de alunos, apresentados nos Gráficos 1 e 2, abaixo.
Evolução da proficiência em Matemá‚ca dos
alunos do EM no SPAECE - Período 2008-2010
253,2
234,9
1ª SÉRIE - ANO 2008 2ª SÉRIE - ANO 2009 3ª SÉRIE - ANO 2010
Proficiência Matemá‚ca
Gráfico 1 - Demonstrativo da evolução da proficiência dos alunos em Matemática durante os três anos
de Ensino Médio no SPAECE 2008-2010, 1º Ciclo.
Fonte: Elaboração própria com base nos dados divulgados
em Ceará (2012).
Evolução da proficiência em Matemáƒca dos
alunos do EM no SPAECE - Período 2009-2011
264,6
254,5
239,8
1ª SÉRIE - ANO 2009 2ª SÉRIE - ANO 2010
3ª SÉRIE - ANO 2011
Proficiência Matemáƒca
Gráfico 2 - Demonstrativo da evolução da proficiência em Matemática dos alunos durante os três anos
de Ensino Médio no SPAECE 2009-2011, 2º Ciclo.
Fonte: Elaboração própria com base nos dados divulgados
em Ceará (2012).
Os alunos que estudaram nos
dois períodos analisados, concluíram
o EM com padrão de desempenho
na proficiência em Matemática considerado crítico, cujo crescimento em
percentual ao longo dos três anos foi
respectivamente 10,7 e 10,3, ou seja,
o valor agregado em conhecimento
cognitivo durante o EM fica aquém
do desejado para atingir o padrão de
desempenho considerado adequado. Se considerarmos na análise a
escala de proficiência em Matemática utilizada para a 3ª série do EM,
ao longo dos três anos, perceberemos que estes alunos avançaram
em conhecimentos matemáticos da
1ª para a 2ª série, saindo do padrão
muito crítico para o crítico, porém a
evolução cai consideravelmente da
2ª para 3ª série.
Diante deste crescimento irrisório surgem muitos questionamentos
envolvendo: a formação do professor
licenciado em Matemática está atendendo a necessidade dos alunos do
Ensino Médio da escola pública? A
dinâmica de acompanhamento pedagógico destes alunos tem mapeado as dificuldades de aprendizagem
reveladas pelo SPAECE como foco
na superação das mesmas? O currículo adotado pelas escolas públicas
cearenses tem possibilitado a flexibilidade no planejamento das aulas
de Matemática? O planejamento das
aulas tem como prioridade a aprendizagem dos alunos com superação
das dificuldades apresentadas ou o
foco é somente o conteúdo?
Poderíamos acrescentar muitos
outros questionamentos, mas o fato
é que os nossos alunos pouco têm
aprendido em relação aos conteúdos
tangíveis pela avaliação em larga escala adotada no Ceará. Isto remete
aos educadores a responsabilidade
de promover uma discussão reflexiva no âmbito escolar sobre a prática
pedagógica adotada, que pouco tem
favorecido a melhoria da aprendizagem dos alunos.
Analisemos os Gráficos 3 e 4 a
seguir. Estes apresentam o demonstrativo de crescimento em pontos da
proficiência em Matemática de uma
série para outra, ficando evidente
quanto os alunos agregam de conhecimento cognitivo em Matemática durante os três anos do EM.
VIDA E EDUCAÇÃO | 17
pesquisa
Crescimento da proficiência em Matemáca
Período 2008-2010
30
25,1
25
20
15
18,3
10
6,8
5
0
1ª /2ª SÉRIE
2ª /3ª SÉRIE
1ª /3ª SÉRIE
Crescimento na proficiência de Mat/ Pontos
Gráfico 3 - Demonstrativo do crescimento da
proficiência em Matemática dos alunos concludentes do EM, período 2008-2010.
Fonte: Elaboração própria com base nos dados divulgados
em Ceará (2012).
Crescimento da proficiência em Matemáca
Período 2008-2010
30
25,1
25
20
15
18,3
10
6,8
5
0
1ª /2ª SÉRIE
2ª /3ª SÉRIE
1ª /3ª SÉRIE
Crescimento na proficiência de Mat/ Pontos
Gráfico 4 - Demonstrativo do crescimento da
proficiência em Matemática dos alunos concludentes do EM, período 2009-2011.
Fonte: Elaboração própria com base nos dados divulgados
em Ceará (2012).
É possível evidenciarmos similaridade no crescimento na
proficiência de Matemática nos
dois grupos de alunos através dos
Gráficos 3 e 4, a saber: aprendizagem maior da 1ª para 2ª série
em relação ao crescimento da
proficiência da 2ª para 3ª série.
Esta similaridade nos faz lembrar
que os conteúdos de Matemática
trabalhados da 2ª para a 3ª série são mais complexos, exigindo
que os alunos tenham o domínio
de alguns conhecimentos básicos em Matemática trabalhados
em fases escolares anteriores, o
que possibilitará a aprendizagem
18 | MARÇO/ABRIL 2013
de novos conteúdos previstos
para estas séries.
O professor conhecedor das médias de proficiências de seus alunos
saberá se a turma está preparada
ou não para estudar determinados
conteúdos, antecipando-se em relação a possíveis obstáculos de
aprendizagem, cujo currículo deverá
ser flexível a esta realidade. Assim,
planejará estratégias pedagógicas
condizentes com a diversidade de
padrão de desempenho que o grupo
de alunos apresentou nos resultados do SPAECE, assumindo a preocupação de uma prática docente
que favoreça a transposição didática
do conteúdo matemático, adequando-o ao nível de proficiência que os
alunos se encontram na perspectiva
de superar as dificuldades e ocorra
avanço cognitivo.
De acordo com o detalhamento
dos padrões de desempenhos apresentados em Ceará (2009), ambas
as turmas concluíram o EM sem terem desenvolvido as competências
e habilidades mínimas esperadas,
apesar de terem demonstrado, a
partir do resultado do SPAECE da 2ª
série, o domínio de habilidades consideradas básicas, além de necessárias, para aprenderem os conteúdos.
Porém, considerando o tempo que
restava para conclusão do EM pelos
alunos, precisaria ter ocorrido uma
ação articulada bem planejada entre
gestores, coordenadores pedagógicos, professores coordenadores de
áreas e seus respectivos professores
de Matemática para definir coletivamente estratégias pedagógicas que
estimulassem seus alunos a desenvolverem habilidades de resolver
situações-problemas com grau de
complexidade um pouco maior (CEARÁ, 2009), condizente com a série/
ano avaliada.
Oportunamente, lembramos-nos
de Vianna (2005), quando elenca alguns dos comportamentos que o alu-
no deveria ser capaz como resultado
do processo ensino e aprendizagem
da disciplina de Matemática, dentre
eles: solucionar problemas de diferentes formas e níveis de formulação
com reconhecida importância para a
vida em sociedade, cujos problemas
envolvam a necessidade de conhecimento matemático. Embora a busca
seja constante por esta emancipação
na aprendizagem dos alunos, a realidade escolar ainda está permeada
de tradicionalismo no ensino de Matemática, cujos conteúdos, em sua
maioria, não são contextualizados à
realidade dos alunos, além de não
transparecerem a estes por que é
importante estudá-los e qual a sua
utilidade na vida cotidiana.
Através dos resultados do SPAECE, apresentados anteriormente nos
gráficos, é possível diagnosticar que
os alunos dos dois períodos analisados concluíram a 3ª série do EM com
habilidades na resolução de situações problemas envolvendo operação de subtração de números racionais representados na forma decimal
contendo o mesmo número de casas
decimais; encontrar informações em
gráficos, cuja estrutura contenha até
duas colunas; localizar dados em tabelas de múltiplas entradas; converter de kg para g ou relacionar diferentes unidades de medida de tempo;
localizar números inteiros e números
racionais na reta numérica; aplicar o
conceito de porcentagem, progressão aritmética e probabilidade em
situações problemas consideradas
simples; identificar fração como parte
de um todo, sem necessitar de apoio
ilustrativo; e calcular o valor numérico
de uma expressão algébrica, incluindo potenciação, dentre outras habilidades. (CEARÁ, 2009).
Apesar da média de proficiência
em Matemática dos dois grupos de
alunos cearenses, concludentes do
EM, indicar padrão de desempenho
considerado crítico, alguns alunos
concluíram esta fase da vida escolar com padrão adequado (CEARÁ,
2012). Dentre as habilidades que estes alunos desenvolveram, podemos
destacar: resolvem situações problemas que exigem raciocínio algébrico
e geométrico; calculam volume de
paralelepípedo; sabem dividir com
números racionais, tanto na forma
fracionária quanto na forma decimal;
são capazes de resolver problemas
envolvendo sistemas de equações
de 1º e 2º grau; conseguem utilizar o
princípio multiplicativo para eventos,
independentes no cálculo da probabilidade de um evento; resolvem
problemas envolvendo equações e
funções exponenciais simples; e relações métricas no triângulo retângulo.
(CEARÁ, 2009)
Entretanto, os resultados de ambos os períodos analisados precisam ser discutidos entre os gestores
e professores no âmbito da Secretaria da Educação, Coordenadorias
Regionais de Desenvolvimento da
Educação (CREDE’s) e, principalmente, nas escolas públicas do
Estado do Ceará, considerando o
quantitativo inexpressivo de alunos
que concluem o EM com o padrão
de desempenho adequado no universo de alunos avaliados pelo SPAECE. Vejamos o Gráfico 5.
É perceptível através do Gráfico
5 que mais de 90% dos alunos que
concluíram o EM nas escolas públicas do Ceará, nos dois períodos
analisados, estavam com a média
de proficiência abaixo do nível adequado. No intuito de entendermos a
gravidade desta realidade na 3ª série
do período 2008-2010 e 2009-2011,
foram avaliados respectivamente
82.475 e 82.549 alunos, destes somente 5,4 e 6,7%, nesta ordem, obtiveram média de proficiência no nível
adequado, ou seja, apenas 4.417 e
5.507 alunos conseguiram desenvolver as competências e habilidades
esperadas para o Ensino Médio.
Diante de todo investimento no
âmbito da educação cearense, menos de 10% dos alunos concluem o
EM tendo desenvolvido as competências e habilidades previstas; fato que
precisa ser urgentemente debatido e
investigado, fazendo-se uma reflexão
coletiva sobre como podemos aproveitar o tempo escolar dos alunos
proporcionando-lhes aprendizagens
significativas. Para tanto, a compreensão e apropriação dos resultados do
SPAECE na perspectiva longitudinal
no âmbito escolar, oferece a possibilidade de uso da avaliação em uma
perspectiva formativa pelo professor,
acreditando que o erro do aluno na
Matemática é fonte de informação
sobre a maturidade cognitiva que se
encontra e o planejamento de estratégias pedagógicas partindo desta informação, certamente terá efeitos positivos na aprendizagem da disciplina de
Matemática.
Demonstravos do percentual dos alunos concludentes da 3ª série
do EM em nível adequado em Matemáca
2011
6,7
93,3
2010
5,4
94,6
0
20
40
% de alunos abaixo do nível adequado
60
80
100
% de alunos com nível adequado
Francesca Danielle Gurgel dos Santos
- Doutoranda em Educação Brasileira pela
Universidade Federal do Ceará (UFC), linha
de pesquisa Avaliação Educacional no Eixo
Avaliação Ensino-Aprendizagem.
[email protected]
Maria Isabel Filgueiras Lima Ciasca - Professora Associada do Departamento de
Fundamentos da Educação da Faculdade
de Educação (FACED) da UFC. Diretora da
FACED. Doutora em Educação Brasileira pela
UFC. Mestre em Educação, Arte e História
da Cultura pela Universidade Presbiteriana
Mackenzie. Orientadora de Mestrado e Doutorado, da FACED UFC. [email protected]
Nicolino Trompieri Filho - Doutor em Educação Brasileira pela UFC. Atua na Linha de
Avaliação Educacional, Eixos Avaliação do
Ensino-Aprendizagem e Avaliação Curricular.
Orientador de Mestrado e Doutorado, da FACED/UFC. [email protected]
Referências bibliográficas
CEARÁ. Secretaria da Educação. SPAECE –
2008 a 2011 – Resultados de desempenho e
participação – Projeto Matemática.
______. Secretaria da Educação. Boletim Pedagógico da Escola. SPAECE – 2009, Ensino
Médio – Matemática/Universidade Federal de
Juiz de Fora, Faculdade de Educação, CAEd.
v. 3 (jan/ dez. 2009), Juiz de Fora, 2009 – Anual.
FELICETTI, Vera Lucia. Linguagem na Construção Matemática. Revista Educação por Escrito
– PUCRS, v. 1, n. 1, p. 31-43, 2010.
SANTOS, Francesca Danielle Gurgel dos; CIASCA, Maria Isabel Filgueiras Lima. A perspectiva
do acompanhamento longitudinal da aprendizagem dos alunos do ensino médio através dos
resultados do SPAECE. Estudos em avaliação
educacional, São Paulo, v. 23, n. 51, p. 116-134,
jan./abr. 2012.
SILVA, Jassen Felipe da. Avaliação na perspectiva formativa-reguladora: pressupostos teóricos
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VIANNA, Heraldo Marelim. Fundamentos de um
Programa de Avaliação Educacional. Brasília: Liber Livro Editora, 2005.
Gráfico 5 - Situação do desempenho dos alunos em Matemática na conclusão
do EM, em 2010 e 2011.
Fonte: Elaboração própria com base nos dados divulgados em Ceará (2012).
VIDA E EDUCAÇÃO | 19
empreendedorismo
Educação Empreendedora
Fernanda de Façanha e Campos
Através de pesquisas científicas saiba como é fundamental o educador continuar
pesquisando, saber ensinar e avaliar.
Escolas parceiras
O êxito da Metodologia Orientação Profissional, Empregabilidade
e Empreendedorismo - OPEE consiste por oferecer oportunidades
para crianças e jovens na construção dos seus projetos de vida e
para provocá-los, por meio do empreendedorismo, dando sentido no
que eles fazem na escola, ou seja,
aproximar a vida da escola e a escola da vida.
Segundo o consultor de negócios da Editora Caminhar e
representante da Metodologia
OPEE no Nordeste, José Farias
dos Santos Filho, a escola precisa fazer as crianças sonharem
que outro mundo é possível e a
Metodologia OPEE vai ser um
instrumento que contribui para
o fortalecimento da autonomia e
autoestima dos alunos.
Atualmente a Metodologia OPEE
está presente nos estados do
Ceará, do Maranhão e da Bahia.
No quadro ao lado apresentamos
as escolas parceiras na Metodologia OPEE:
EDITORA CAMINHAR LTDA
Av. Dom Manuel, 709 - Centro - Fortaleza /CE - CEP: 60060-090
www.opee.com.br | [email protected]
CEARÁ
Fortaleza:
Colégio Moranguinho
Colégio Cora Coralina
Colégio Daulia Bringel
Colégio Maria Ester I
Colégio Maria Ester II
Colégio Irmã Maria Montenegro I
Colégio Irmã Maria Montenegro II
Sobral:
Colégio Luciano Feijão
Tianguá:
Colégio Santa Maria
Bela Cruz:
Centro de Educação e Apoio Interdisciplinar Alegria do Saber - CEIAM
MARANHÃO
São Luís:
Colégio Santa Teresa (Irmãs Dorotéias)
Colégio O Bom Pastor
Colégio O Bom Pastor Junior
Colégio Dom Pedro II
Colégio Educator
Imperatriz:
Colégio Santa Luzia
BAHIA
Salvador:
Colégio Mundial
Diferencial na formação
A psicóloga Milena Aires, que
trabalha com orientação profissional e a formação de professores com a Metodologia OPEE,
afirma que os princípios do autoconhecimento, definição de valores e a perspectiva de futuro formam as diretrizes intrínsecas a
OPEE. Esses princípios atingem
o professor nas dimensões pessoal e profissional. À medida que
ele vai vivenciando, também vai
se modificando e construindo um
estilo de vida mais humano, voltado para a necessidade do outro, em que se respeita o ser humano, isso facilita a sua relação
na sala de aula com os alunos, e
consequentemente a educação e
a escola ganham, pois, nesta relação humanizada o aluno, a escola e a família são diretamente
beneficiados. Somente seremos
pessoas valiosas se construirmos nos seres humanos, pela
educação, esses valores que afirmam de forma crítica a nossa humanização. Com esta nova forma
de ensinar e aprender, pautada
no diálogo, na escuta e no olhar,
temos o compromisso de formar
as novas gerações com integridade e caráter.
Fones: 85 9601.1520
85 3261.0501
85 9769.8282
VIDA E EDUCAÇÃO | 21
Gestão Educacional
Como acompanhar
as mudanças
educacionais?
Foto: Arquivo Digital
Thiago Chaer
Saiba de que maneira o papel do educador na gestão pode transformar tanto as práticas
como as instituições educacionais.
Cada educando, cada grupo de
educandos, cada situação de ensino possui características únicas
e singulares. Desta forma as ações
empreendidas num processo de
ensino dependem das intenções e
significações atribuídas por seus
protagonistas. Neste contexto, a incerteza, novos saberes a descobrir e
construir e a reflexão sobre e na ação
são aspectos que permeiam a prática educativa.
Os educadores jamais evoluirão
em sua formação e prática se não
22 | MARÇO/ABRIL 2013
conviverem com a mudança, com
novos desafios promovidos pela diversidade nas formas de aprendizado, pelo contexto singular de vida de
cada aluno, do seu próprio contexto
e do contexto local. Na configuração
atual do ensino, o educador limita-se a dar aula num mesmo formato,
seguindo regras pré-definidas e métodos restritivos, impelindo-o numa
espiral de desmotivação e descrença sobre sua real capacidade de
transformação social através de sua
prática. Para que o educador possa
se emancipar das tutelas externas e
mostrar a totalidade de sua inteligência e de seu pensamento crítico para
a compreensão e a transformação
social, é necessário que ele participe
das decisões sobre sua atuação, na
definição de seus referenciais, na reformulação de saberes conceituais e
práticos, na construção de métodos e
políticas a respeito de sua atuação. A
educação é um aprendizado no contexto na busca pelo bem-estar social!
Não se limitando somente a racionalidade técnica, assumindo valores
e conceitos construídos por outros,
o educador deve considerar o desenvolvimento de sua autonomia
pela racionalidade prática, comprometendo-se com a realização
dos seus próprios sonhos e ideais,
ressignificando seus conceitos e conhecimentos, como encorajando e
apoiando a realização dos projetos
e ideais de seus educandos, fortalecendo o exercício da experimentação e da aprendizagem contínua.
Relacionando teoria e prática, em
uma aprendizagem transformadora.
Uma dimensão muito importante
que deve ser considerada quando
tratamos da autonomia e da formação continuada do educador, é
a dimensão emocional, pouco desenvolvida na formação inicial e
continuada, e algumas vezes mal
interpretada dentro das instituições,
o resultado disso é o distanciamento
afetivo das situações e das pessoas. Mesmo que para alguns o vínculo emocional e afetivo gera certo
inconveniente, atrapalhando o diagnóstico ou a aplicação de métodos
de ensino, por exemplo, é preciso
rever as dimensões do trabalho educacional, pois assim como bem coloca Frei Betto, estamos numa mudança de época e não numa época
de mudanças, complementando
com Domenico De Masi que diz que
há uma mudança de época quando
três inovações coincidem e são concomitantes: novas fontes energéticas, novas divisões do trabalho e
novas divisões do poder. Neste sentido, novos valores emergem e habilidades humanas e relacionais são
mais do que necessárias ao educador que é mediador na relação entre o sujeito e os mundos, e que na
inversão de papéis, construindo e
desconstruindo seus aprendizados,
aprimorando continuamente sua
prática gerando mudanças coerentes de forma sistêmica.
“...política de incentivo,
de remuneração e um
plano de carreira são
fatores preponderantes...”
Como costumo enfatizar, para
aprendizagem ter sentido para o
educando, precisa essencialmente
ter sentido para o educador. Por isso
a abordagem até aqui foi em torno
do papel do educador, já que não
se pode desenvolver valores educacionais sem a participação ativa do
educador. Sim, uma política de incentivo, de remuneração e um plano de
carreira são fatores preponderantes
quando tratamos da valorização do
educador, mas somente são efetivos
se combinados com o alinhamento de valores e aspectos formativos
como os citados anteriormente.
Para concluir, toda mudança exige compreensão (o significado de
compreender é apreender em conjunto, abraçar junto), é preciso que
as inter-relações governo-escola,
escola-família, família-escola, escola-educando, educando-sociedade
passe por uma ressignificação de papéis, métodos e processos, para que
se torne um organismo sistêmico de
apoio e cooperação, conduzindo mudanças coerentes, relevantes e pertinentes. Essas inter-relações existem
mesmo se falarmos de educação
aberta, ensino domiciliar, autoaprendizagem e todas as demais práticas
e conceitos que envolvem o processo de ensino-aprendizagem fora dos
limites das Instituições. Por isso o papel do educador é central em todo o
processo, seja o educador profissional que possui experiência, habilidades e competências para isso, como
o educador informal (pais, familiares,
trabalho, sociedade em geral).
Se a mudança é a principal exigência do nosso século, as insti-
tuições precisam saber como lidar
com ela, quando lhes for exigido.
Assim, listo algumas etapas importantes da gestão de mudanças aplicadas à educação.
• Contratação de um líder externo,
com perfil para realizar o diagnóstico
e apoio a gestão da mudança.
• Diagnóstico junto à instituição para
identificar a necessária mudança.
• Definição dos objetivos estratégicos, após acordo com principais
interessados (coordenação, educadores, pais e, em casos específicos,
os alunos).
• Sensibilização e envolvimento de
todos interessados.
• Definição da nova missão.
• Sensibilização e envolvimento de
todos interessados.
• Definição de métodos participativos e colaborativos para a condução
das atividades necessárias à realização da mudança.
• Definição dos caminhos críticos.
• Transparência e diálogo na
condução.
• Avaliação do impacto da mudança.
• Acompanhamento por tempo determinado.
O engajamento das pessoas para
uma mudança só acontecerá quando
o propósito da mudança for compartilhada e alinhada aos valores pessoais, por isso uma mudança não deve
ser imposta, mas co-criada.
Thiago Chaer
Idealizador e Presidente do Instituto Inovar
para Educar, organização orientada para a
melhoria da educação, por meio do apoio a
formação continuada de educadores. Especialista em Gestão da Inovação pela UTFPR.
Palestrante, consultor e pesquisador em inovação e tecnologia aplicadas à educação.
Soma mais de 13 anos em gestão de projetos
de tecnologia da informação e inovação.
VIDA E EDUCAÇÃO | 23
Educador nota 10
Carol de Holanda Pavão
Veja como o despertar para reformas interiores pode contribuir no momento de educar.
Coisa boa é recomeçar. E sempre é tempo. Não precisamos esperar por um novo ano para fazer listas
enormes com promessas muitas vezes não cumpridas. Como escreveu
o grande poeta Carlos Drummond: “é
dentro de você que o ano novo cochila e espera desde sempre.” “Para
ganhar um ano novo, meu caro, você
tem de merecê-lo, tem de fazê-lo
novo.” Portanto, não é preciso esperar, pode ser a qualquer tempo.
Isso me lembra um casamento
ao qual assisti certa vez, quando a
juíza de paz falou: “Aquilo que você
deseja para seu lar, corra atrás. Se
quer paz e amor, não espere conseguir com atitudes de grosseria
e desafeto. Porque só se tem no
lar aquilo que se coloca.” Sei que
parece clichê todo esse discurso,
bem típico mesmo das viradas de
ano eternas, mas há quem perceba no comum da vida algum ensinamento realmente fundamentado na razão. E é este olhar que
quero trazer para a educação.
Uma das mais belas frases que
já li, retirada de um dos maiores
clássicos infantis, O Pequeno
Príncipe, diz assim: “É preciso
suportar duas ou três lagartas se
quiser conhecer as borboletas”.
Ora! O que isso tem a ver com
ter novas atitudes num ano que já se
faz velho? Tudo, claro! Talvez se só
soubermos olhar com novos olhos
quando o ano começa a frase não
fará sentido. Mas se buscarmos as
sábias palavras de Drummond, entendendo que este novo cochila em
nós a qualquer tempo, certamente
compreenderemos que depende de
nós acordá-lo, quando bem desejarmos. Porque a novidade está o tempo todo do lado de dentro, mesmo
quando insistimos em procurar fora.
“Aquele que não se
experimenta, não se testa,
não para pra se refletir num
casulo, jamais vai voar.”
O que parece é que temos medo
de nos confrontar conosco mesmos. Então, é mais ameno esperar
no ano que nasce. Como se, num
milagre, tudo pudesse mudar, sem
qualquer esforço humano. Tolice
pensar assim.
É preciso (é urgente cada vez
mais) que tenhamos coragem de
olhar para nós, reconhecendo a lagarta que somos. Isso! Somos exata-
mente assim: seres que estão embaixo, rastejando e olhando para o chão.
Somos lagartas sempre. E, consequentemente, borboletas também. É
a condição de lagarta, e somente ela,
que nos permite a ousadia de voar
depois. Aquele que não se experimenta, não se testa, não para pra se
refletir num casulo, jamais vai voar.
Permanecerá para sempre rastejando como quem voa, arrotando arrogância e sabedoria que não possui.
Trago a reflexão para a educação, a
fim de que todos possam se enxergar assim: lagartas e borboletas.
A porção lagarta é aquela que
está no dia a dia, construindo entre a
sala de aula e a sala dos professores
um melhor meio de atuar. É aquela
que diariamente enfrenta dificuldades à primeira vista intransponíveis:
da mãe que mima o filho, do aluno
que odeia matemática, da aluna que
sofre bullying. É aquela que chega
em casa cansada, com vontade de
jogar tudo pro ar. É aquela que sofre
o salário mínimo. Aquela que chora
a criança agredida pelo adulto. Aquela que tem tantos sonhos colhidos
em sorrisos esperançosos e que, às
vezes, pergunta-se: “Será que dou
mesmo conta disso?”
Mas, aí, vem a porção borbo-
Foto: Arquivo Digital
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ninguém aquilo que não sabemos
dar. Tampouco podemos dar só esperando receber.
Nosso trabalho é uma obra que
precisa passar pela vida das pessoas. Talvez seja uma das obras mais
sérias, especialmente neste tempo
em que os valores estão tão corrompidos. É preciso devolver aos jovens
o ímpeto de lutar por seu país, de
acreditar que vai dar mesmo certo.
Porque no lar só entra aquilo que nós
colocamos. Um país reflete apenas
seu povo. E parte desse povo passa
por um professor. Sabemos o quanto
podemos ser influentes na vida de
um aluno. Então, sejamos! Vamos
acreditar de verdade na importância
do que fazemos! Como diria Drummond, “eu sei que não é fácil. Mas
tente. Experimente consciente.”
Talvez não vejamos grandes resultados globais em nossa geração.
Talvez a felicidade consista só em
ver pequenos avanços de nossos
alunos. Mas esses alunos formarão filhos, que formarão filhos, que
formarão filhos... A prova disso está
na atitude das crianças de hoje com
relação ao meio ambiente. Observem que dificilmente encontramos
uma criança jogando papel no chão.
Porque uma geração que começou
há cerca de dez, quinze anos ouviu
muito acerca disso na escola. Consequentemente, os nascidos neste
tempo já vieram com o amor à natureza enraizado. E o futuro disso pode
realmente ser um país de primeiro
mundo, onde não haja desigualdade
social, corrupção, violência, miséria.
A França da revolução francesa não
era a beleza de país que hoje tantos
visitam. Hoje andamos nas ruas de
Paris na madrugada sem medo. Mas
nem sempre foi assim. Toda nação
tem sua história, constrói-se a partir
de seu povo.
Tenham a certeza de que a pior
miséria começa do lado de dentro.
Um professor que não se empenha
para cumprir com grandeza seu ofício é tão desonesto quanto um político corrupto. Não importa se alguém
mata dez ou cem, é assassino do
mesmo jeito.
Então, meu desejo é que não
se espere por um novo ano para
caminhar com novos olhos, é que
realmente todos os que fazem a
educação possam reconhecer suas
lagartas e lutar com garra para vê-las
lindas borboletas. Que possamos alçar grandes voos, sem jamais esquecer que depende de nosso esforço.
Trabalho bem feito não cai do céu.
E ano novo pode ser diariamente.
Em pleno mês de abril, maio, junho...
“Com ele se come, se passeia, se
ama, se compreende, se trabalha...”
Sempre é tempo de novidade.
Não precisamos esperar a virada do
ano para isso. Vamos lá, colegas! O
céu (lindo e azul) é o limite.
Carol de Holanda Pavão - Pedagoga. Pós-graduação em Arte-Educação. Professora
do fundamental I e de Arte do Colégio Ágape.
Coordenadora pedagógica na rede municipal
de Fortaleza. Professora de teatro na Associação Revarte. Dramaturga e poetisa. Autora do
livro “Um grilinho feliz”.
Foto: Arquivo Digital
O céu na educação
leta. A porção que caminha ali,
lado a lado com a lagarta; como
se quisesse mostrar que vale a
pena todo o esforço cada vez
que uma criança aprende a ler.
Cada vez que uma rosa é trazida
do canteiro de casa. Cada vez
que os meninos sonham com o
que vão ser quando crescer. Porque o que forem terá sempre um
pouquinho do que fomos. A lagarta é a parte de nós que erra,
que enxerga desafios, que sofre,
que tem defeitos, que se desespera, que se descabela. E é bom
ser lagarta, é bom ter desafios,
é bom saber-se falho. Só quem
erra pode buscar acertar. Só lagarta pode virar borboleta!
E aí, nessa hora, é a hora de
entrar no casulo. De refletir sobre
as razões que nos fizeram escolher
a educação. De pensar sobre que
tipo de pessoas queremos ser e,
mais importante, que tipo de gente
queremos ajudar a formar. É aqui,
no casulo, que os educadores se
reciclam. Este é o tempo de ler, de
estudar, ouvir boa música, passear,
conversar com as crianças, repensar suas ações pedagógicas, observar as próprias falhas, ver onde
pode melhorar e, aí sim, voltar para
a sala de aula. Só que, dessa vez,
como uma linda borboleta, pronta
para ensinar voo livre aos alunos.
Precisamos ter esse olhar para a
educação. Precisamos entender que,
somente quando assumimos nossas
falhas, nossa condição de lagarta, é
que podemos repensar nossa prática educacional, entrando no casulo.
E, depois, somente como borboletas
podemos de fato educar. Por isso reafirmo que temos as duas condições
em nós diariamente. Mas, por não se
repensarem, os professores por vezes caem no comodismo. Deixam de
acreditar em si, no país, na educação
e, o que é pior, no outro. Quando, na
verdade, não podemos esperar de
VIDA E EDUCAÇÃO | 25
Escola: novo
palco para o
teatro
Aécio Santiago
Inspirado num teatro provocador, histórico ou apenas
lúdico e envolvente, profissionais das mais diversas áreas
– educadores, terapeutas, consultores empresariais – vêm
recorrendo, cada vez mais, à linguagem teatral como forma de
fortalecer a comunicação, o aprendizado, a interdisciplinaridade.
Nesta reportagem, a revista Vida & Educação foi conferir o que
vem sendo desenvolvido nessa área do conhecimento e qual a
contribuição do teatro como processo educativo.
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Da Enciclopédia Britannica, a
palavra teatro deriva do grego ‘theaomai’ - olhar com atenção, perceber, contemplar (1990, vol. 28:515).
‘Theaomai’, segundo Carol de Holanda Pavão, dramaturga da Cia de
Teatro Atos e Retratos de Fortaleza, com formação em Pedagogia e
especialização em arte educação,
teatro tem o significado de “ver,
enxergar”, portanto é lugar de ver
o mundo, de se ver no mundo, de
perceber o outro e de se perceber
na relação com o outro.
Assim, segundo a especialista,
todo teatro é educativo, porque mostra um comportamento social e moral. “Faz-nos refletir sempre. E pode
ser aplicado para disciplinas específicas também. O teatro passeia
pelo tempo, e pode falar de qualquer
tempo, como as demais artes o fazem”, esclarece Carol que diz vivenciar essa experiência rica em sala
de aula quando ‘provoca’ os alunos
trazendo fatos da história da arte ligados a fatos da história. “É aula de
arte ou de história?, questionam os
alunos. “Mas como falar de arte sem
falar de história?”, responde a arte-educadora.
Para Carol de Holanda, toda produção artística acontece em um tempo e recebe influência desse tempo.
É preciso, afirma a educadora, conhecê-lo para entender o que influenciou a determinada arte. “O conceito
de beleza mudou com o tempo. Até
o conceito de amor mudou, e tudo
isso está exposto nas diversas artes
existentes. Portanto, o teatro faz parte disso”, explica.
Essa influência histórica com
representação singular cultural na
educação e na arte pode ser observada no próprio teatro grego com as
apresentações das tragédias e epopeias nos anos 300 a.C. Aristóteles
já aponta em ‘Poética’, escrita entre
335 e 323 a.C, que a tragédia pode-
rá manter sua força mesmo apenas
lida, sem a representação de cena,
igualando-se a Epopeia. Mas o filósofo indica na obra que a música e
o espetáculo acrescentam um poder
a essa tragédia tornando a epopeia
mais rica e envolvente.
Para especialistas é possível ter
com os alunos sobre qualquer assunto através de teatro. É possível até
falar sobre as atuais relações familiares. E é preciso que a família esteja
sempre presente, conhecendo os objetivos das atividades realizadas por
seus filhos. Somente quando a família é explicada sobre o que se deseja
alcançar com determinada atividade,
ela pode fazer parte do aprendizado
de seu filho. O teatro é, talvez, uma
das formas mais divertidas de se ver
o mundo e no mundo, define Carol
de Holanda, que diz o teatro não se
tratar apenas de ouvir falar, mas de
ver de perto (ainda que na ficção) as
possíveis realidades humanas.
O teatro na
aprendizagem
Tanto quando se faz teatro ou
quando se assiste é possível
aprender. Nas duas formas, confirma Carol de Holanda, é o mundo
em que vivemos que está sendo
trabalhado, são situações humanas sendo dramatizadas. Ainda
que os personagens sejam animais, são sempre com caráter de
fábulas, onde é possível retirar lições ao final da história. Para os
alunos é bom ver ou vivenciar a
experiência de fazer teatro.
Fazer é divertido e assim o processo de aprendizagem vai sendo
desenvolvido, trazendo a possibilidade de se trabalhar a língua, a
oralidade, a expressão, o momento
certo de falar e, com isso, a espera. Crianças costumam ser ansiosas, querem todas se colocar ao
VIDA E EDUCAÇÃO | 27
Foto: Harry Carvalho
reportagem
reportagem
Jácome, as aulas de inglês ganham
um reforço fundamental com o uso
da encenação. “Acabamos absorvendo o idioma com mais naturalidade e eficácia. Claro, nem todos são
desinibidos o suficiente para entrar
no processo, mas acredito que uma
adaptação facilita o acesso às técnicas”, diz a jornalista.
Para os especialistas, o teatro
pode, sim, ser confundido em qualquer tempo como atividade recreativa, pois é impossível fazer teatro e
não se divertir. Alguns afirmam ser
até terapêutico fazer ou assistir. Em
todas as situações seria possível ser
feliz, divertir-se, e não haveria mal
nisso. A questão é como a atividade
será retomada pelo professor. Ou
pela família. A mediação que se faz
Encenação por alunos de escola pública em Viçosa do Ceará
28 | MARÇO/ABRIL 2013
depois, levantando questionamentos
acerca de como se deu a produção,
quais os problemas enfrentados, ou
até sobre o próprio texto trabalhado é
o que vai diferenciar o teatro da hora
do recreio.
Foto: Harry Carvalho
mesmo tempo, e, no teatro, elas
perceberão claramente que esperar sua vez faz toda a diferença.
“Enfim, as possibilidades são infinitas! Faz bem para a mente, para o
corpo e, com certeza, todas as oficinas trabalhadas numa aula de teatro,
melhoram o comportamento social.
Sou um exemplo disso, porque sempre fui extremamente tímida. Fazer
teatro me deu voz e jeito de falar com
os outros”, finaliza Carol.
Além de escolas, o teatro passou
a ser utilizado como ferramenta pedagógica e de socialização até em
empresas. A iniciativa acabou por
confundir o teatro nos espaços das
escolas apenas como atividade recreativa e de ocupação extraclasse.
Mas vai além. Para a jornalista Kélia
Revolução pela
educação
Tratando-se do teatro educativo,
que previamente já tem objetivos
traçados, a questão é encontrar a
melhor forma de alcançar tais metas.
Tudo depende de como o mediador
vai conduzir a proposta. Certamente
um dos trabalhos mais importantes
nesse processo do teatro educativo na perspectiva da aprendizagem
seja o ‘Teatro do Oprimido’, método
desenvolvido pelo dramaturgo Augusto Boal e inspirado no projeto de
Educação Libertadora criada pelo
educador Paulo Freire.
Em artigo de Cilene Canda, a
autora explica que Paulo Freire contribuiu significativamente para a
compreensão da educação como
processo imprescindível à superação
da dicotomia entre opressores e oprimidos. Augusto Boal, esclarece Cilene em artigo, construiu uma trajetória
artístico-educativa de fortalecimento
das potencialidades dos sujeitos em
seus atos de criação estética, reflexão e conscientização política.
“Ao compreender o teatro como
ferramenta de transformação social
para/com/pelos oprimidos, Boal difundiu seu método de teatro, baseado em jogos de percepção, expressão e criação, em diversos países,
batizando-o como Teatro do Oprimido, em homenagem à obra de Paulo
Freire”, escreve a autora.
Alunos de escolas públicas no palco da X Bienal Cearense do Livro encenando a peça “O preço da liberdade” baseada no livro homônimo
do poeta Rouxinol do Rinaré
Saiba mais sobre o fundador
do Teatro do Oprimido
Augusto Pinto Boal - (Rio de Janeiro, 16 de março de 1931 - Rio de Janeiro, 2 de maio de 2009) foi diretor
de teatro, dramaturgo e ensaísta brasileiro, uma das grandes figuras do teatro contemporâneo internacional. Fundador do Teatro do Oprimido, que alia o teatro à ação social, suas técnicas e práticas difundiram-se pelo mundo,
notadamente nas três últimas décadas do século XX, sendo largamente empregadas não só por aqueles que
entendem o teatro como instrumento de emancipação política, mas, também, nas áreas de educação, saúde
mental e no sistema prisional.
Alguns livros publicados de Augusto Boal
Em português
• Arena conta Tiradentes. São Paulo: Sagarana,1967.
• Crônicas de Nuestra América. São Paulo: Codecri, 1973.
• Técnicas Latino-Americanas de teatro popular: uma revolução copernicana ao contrário. São Paulo: Hucitec, 1975.
• Teatro do oprimido e outras poéticas políticas. Rio de Janeiro. Civilização Brasileira. 1975.
• Jane Spitfire. Rio de Janeiro: Codecri,1977.
• Murro em Ponta de Faca. São Paulo: Hucitec, 1978.
• Milagre no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1979.
• Stop: ces’t magique. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1980.
• Teatro de Augusto Boal. vol.1. São Paulo: Hucitec,1986.
• Teatro de Augusto Boal. vol.2. São Paulo: Hucitec,1986.
• O Corsário do Rei. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1986.
VIDA E EDUCAÇÃO | 29
reportagem
Auxiliar na oratória, na desinibição e na postura. Apoiar o desenvolvimento dos alunos em disciplinas do currículo obrigatório, como
português, história, geografia, entre
outras. Esses são dois dos principais benefícios para os estudantes
que participam de aulas de teatro em
suas escolas, segundo Wellington
Teófilo, professor e coordenador de
Projetos Extracurriculares da Escola
Estadual de Ensino Profissionalizante Júlia Giffoni.
A escola tem, desde junho de
2011, um grupo de coral cênico. Os
espetáculos produzidos pelo grupo Phylos, segundo o coordenador,
trabalham com os alunos desde a
escrita do texto, bem como a contextualização histórica e social do tema
das peças e das músicas cantadas.
“A melhoria na desenvoltura e na desinibição dos alunos mediante as situações de estresse, bem como essa
30 | MARÇO/ABRIL 2013
possibilidade de interrelacionar os temas curriculares por meio do teatro,
são alguns dos objetivos alcançados
com a prática”, frisa o professor.
Para ele, o teatro na escola pública Júlia Giffoni tem sido não apenas agente de integração, mas de
inclusão cultural. “Muitos de nossos
alunos não tinham o costume de
frequentar ou simplesmente visitar
centros culturais em nosso Estado.
No entanto, compreende-se que
para ser gerador de arte e produzir
espetáculos, faz-se necessário esta
visitação. A ação de incentivo a visitas a teatros iniciou-se de forma bem
tímida, com a participação de apenas
poucos alunos. Com o tempo, começaram a vir as famílias e, atualmente, parte da comunidade discente de
nossa escola, bem como comunidade vizinha, que já participam desta
ação. Eles não apenas assistem os
espetáculos produzidos pelo grupo,
mas também visitam os teatros, que
culminam na visualização de peças
promovidas nesses locais”, conta.
Entretanto, para Teófilo, o desenvolvimento de atividades teatrais no ambiente escolar ainda está
longe do ideal. “Nas escolas não
existem pessoas qualificadas para
esta atividade. Contrata-se um professor de artes e querem que este
saiba cortar papel, cantar, dançar,
interpretar e muito mais. O ideal é
que seja realizada a contratação de
professores qualificados em cada
uma destas áreas, o que, infelizmente, ainda não ocorre”, constata.
Foto: Arquivo Grupo Phylos
Aperfeiçoar o aprendizado tem
sido o mote para um grupo de alunos
da rede pública de ensino. O teatro,
o instrumento para a troca de experiências com textos, contextos e uma
nova perspectiva de grupo.
Foto: Arquivo Grupo Phylos
O teatro como ferramenta de interdisciplinaridade se
destaca no ambiente profissionalizante
Apesar do sucesso alcançado pelo
grupo Phylos, o coordenador afirma
que a principal dificuldade que enfrentam é a falta de apoio financeiro.
“Não temos conhecimento de ações
de apoio desse tipo de atividade”, diz.
Para a aluna Lorena Sampaio,
16 anos, houve uma mudança na
sua postura, na fala, aprendeu a se
expressar melhor, a lidar com o público. “Nunca frequentei o teatro, por
falta de oportunidade, mas sei da importância dessa melhora na minha
bagagem cultural”, conta Lorena. Na
sua avaliação, a experiência com o
teatro também melhorou o desempenho nas outras disciplinas. “Depois
da escola pretendo continuar me
aperfeiçoando no teatro”, diz a estudante que há um ano participa das
aulas de teatro.
Sobre o Grupo Phylos
O grupo Phylos nasceu com
três alunos, atualmente é composto por 23 integrantes, neles estão
incluídos os instrumentistas, o coral e os atores, entretanto todos
participam das aulas de teatro.
Criado em junho de 2011, o grupo
teve início com a montagem do espetáculo Amoratêmpora, em fevereiro de 2012, por meio de leituras
dramáticas de poesias de autores
consagrados como Fernando Pessoas e Camões, bem como poesias autorais, que eram embaladas
por 11 músicas, uma também de
autoria própria do grupo.
Com este espetáculo, foram
realizadas apresentações em
grandes teatros de Fortaleza e
do interior do Estado, entre eles o
SESC Iracema, o SESC Emiliano
Queiroz, o Teatro José de Alen-
car, o Centro Cultural Bom Jardim, o
CUCA Che Guevara, o Teatro Tom
Cavalcante (em Guaiúba) e a Escola de Artes e Ofícios Tomaz Pompeu
Sobrinho.
A partir da repercussão e da aceitação do grupo, produziu-se no ano
de 2013 o segundo espetáculo, ‘Recomeçar’. A peça retrata a história
de duas irmãs, que pelas situações
da vida acabaram se distanciando e
buscam a essência perdida da amizade. Recomeçar é composto por
cinco personagens, dez pessoas no
coral e três instrumentistas. Este espetáculo já foi apresentado no Teatro
José de Alencar, no Centro Cultural
Bom Jardim e no Teatro Antonieta
Noronha.
VIDA E EDUCAÇÃO | 31
Arte-Educação
Ângela Escudeiro
Entenda de que maneira o teatro e a literatura, além de educar, transforma crianças e
adultos.
Teatro para a criança é o elo entre
o real e a fantasia. A ponte de acesso
que transporta a criança para os dois
polos mágicos de ser. Que a faz ser
qualquer ser, sem o compromisso de
ser uma “criança grande” como nós,
adultos, algumas vezes, almejamos
que ela seja.
Literatura infantil para a criança,
antes de ser literatura, é apenas o elo
entre a fantasia e o real. A ponte de
acesso que a transporta para os dois
polos mágicos do saber. Faz a criança sentir, ver, ouvir, sonhar, conhecer,
chorar, sorrir e, antes de tudo, e de
qualquer coisa: brincar, brincar, simplesmente brincar...
O brincar para a criança é o fio
condutor que faz a “liga” entre a literatura e o teatro. Ao ver com o olhar da
criança, não há como, ao atravessar
essa ponte, desligar uma linguagem
da outra, nem como fazê-lo, sem a
ação do brincar.
“A leitura que a criança
faz do universo lúdico
não passa por uma
leitura de análise
estrutural, didática.”
Se nós podemos considerar o papel do teatro e da literatura como um
agente transformador e educador,
por que então não podemos exerci-
32 | MARÇO/ABRIL 2013
tar essa criança cidadão-consciente,
essa criança cidadão-leitor, sem a
irritante educação padronizada que
faz do educador um ser punitivo e puramente disciplinador? Um educador
de criança deveria também saber ler
e fazer teatro para criança... “Fazer
teatro infantil é o mesmo que fazer
teatro para adultos: só que é mais difícil” (PIRANDELLO, citado no artigo
“A Semântica e o Teatro Infantil” por
Carlos Augusto Nazareth - CEPETIN
– Centro de Pesquisa e Estudo do
Teatro Infanto-Juvenil, ano 2010). É
através da brincadeira que a criança
inicia seu percurso de evolução da
vida... É na brincadeira das palavras
que se inicia a brincadeira do teatro...
É na brincadeira do teatro, que se
aprende a dança das palavras...
Brincadeira para uma criança é a
verdade de sua real necessidade de
aprender através do lúdico, da arte. A
forma de construção das linguagens
artísticas não interessa à personagem criança. A leitura que a criança
faz do universo lúdico não passa por
uma leitura de análise estrutural, didática. A ela, interessa a descoberta
do fazer, do sentir, das nuances do
despertar para o pensar artístico, naturalmente.
A arte do faz-de-conta provoca na criança a descoberta de
aspectos singulares que fogem à
compreensão de alguns adultos.
Não é baseado no empirismo, mas
Foto: Arquivo Autora
Ler, brincar, bonecos
Vamos fazer-de-conta?
é dito pelo boneco, isso Interfere no
aprendizado da criança de forma
direta. Sua figura evidencia o lúdico
presente no espírito da criança, permitindo-lhe participar diretamente em
suas ações teatrais. O seu aspecto
lúdico extrapola qualquer razão. Muitas vezes, a concretização do que parece irreal aos adultos atropela essa
razão dentro do universo infantil.
no aspecto onírico. Sua brincadeira
de faz-de-conta redesenha no jogo
dramático o modo de aprender a lidar
com seus sentimentos de medos e
desejos. Ao brincar de teatro, comete
ações que substituem o que é real,
sem perder o referencial libertário de
criar e recriar o que de fato existe, o
que denominamos de concreto no
mundo real.
Na brincadeira com o boneco, a
criança também acredita nas possibilidades de animação do inanimado.
O que é um simples objeto em nossas mãos, para a criança está sempre suscetível de ser animado. Uma
espiga de milho plástica pode, num
passe de mágica, correr para o milharal, contracenar com as outras espigas e causar uma verdadeira revolução! Corpo e fala da espiga como
elementos relevantes no convívio
social do milharal. Nesse momento,
ocorre uma transmutação dos seus
valores como personagem ativo, que
interfere no real através do imaginário, do seu imaginário.
“Um niño que no sabe jugar es
un pequeno viejo y será un adulto
que no sabrá pensar”, afirma Jean
chateau. (O boneco é o faz de tudo
em um mundo imaginário que ultrapassa a barreira do real e, aos olhos
da criança, torna-se mágico). Durante as apresentações com o teatro de
bonecos, pode-se observar a reação
da criança diante das ações e do que
VIDA E EDUCAÇÃO | 33
Arte-Educação
Tanto ao boneco como à criança,
no mundo da fantasia, tudo é permitido. Criança que sonha de olhos
abertos é como o boneco que dorme
de olhos abertos... Acreditar que é
na simples costura de um pedaço de
pano colorido que se veste a ilusão
daquilo que poderia ser, é a verdadeira mágica do saber ser criança.
Para ela, ao boneco tudo é permitido: Deslizar sem patins, enxergar
mesmo sendo deficiente visual, pular
sem ter pernas, falar, embora esteja
com a boca hermeticamente fechada, voar sem possuir sequer uma
asa e mergulhar em um rio onde não
correm águas...
Essa força é tão evidente que leva
até mesmo o adulto a se permitir ter
a ilusão de que o boneco possui vida.
Percebe-se que, para a criança, diante de um boneco no seu
fazer teatral, não existe impossibilidades. Sua imaginação e a
intimidade que ela conquista em
relação ao boneco permite que ela
desenvolva toda a sua capacidade
de criação. De recriação.
“A maioria dos adultos está
se esquecendo do elo entre
o real e a fantasia...”
O teatro de boneco em sua arte
milenar, como entretenimento e instrumento educativo, possui sua história universal registrada. Pode-se
constatar isto em estudos de pesquisa realizados por profissionais competentes da área artística e educacional do Brasil e do mundo.
Através dessas pesquisas – mesmo que não se tenha dado concreto
comprovando com exatidão a sua origem – foi possível traçar um panorama histórico da sua existência vindo
desde a Idade Média, com suas influências religiosas até ser trazido ao
Brasil pelos colonizadores europeus.
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UNDIME EM NOTÍCIA
Poderíamos – baseados nessas pesquisas onde se afirma ter sido usado
provavelmente pelos jesuítas em sua
catequese com os índios – dizer então, que, pelo menos no Brasil, desde
o século XVI, o boneco vem cumprindo muito bem seu papel como instrumento artístico-educador. De acordo
com Ana Maria Amaral (1991), Helena Antipoff, ao criar a Sociedade
Pestalozzi do Brasil, recorreu a esse
recurso indispensável para o aprendizado prazeroso, possibilitando uma
maior evolução do teatro de bonecos
no meio artístico-educacional.
A maioria dos adultos está se esquecendo do elo entre o real e a fantasia, apagando do cérebro a fantástica luz do brincar teatro, contribuindo diretamente para que crianças
perambulem pelas ruas perdendo o
direito de ser criança. Mendigando o
direito de poder brincar. Praticar uma
atividade cultural que irá formá-la
como cidadão.
“El teatro para niños debe estar
hecho como el de los adultos, solo
que mejor” (CONSTANTÍN STANISLAWSK, 1984,p.54).
É nessa perspectiva de despertar na criança – a partir dos seus
primeiros passos em direção à vida
– o exercício de experimentação dos
sentidos para a busca do conhecimento em todos os seus aspectos
quiméricos, tomando como base o
teatro, a literatura e o boneco, que
pretendo sempre redescobrir o olhar
de observação da criança por meio
da sua fantástica via de acesso: o
seu próprio universo. O universo da
brincadeira.
É preciso reaprender a arte do
brincar. A arte de se fazer teatro.
Portanto, aplausos ao prazer que
sente uma criança de ser, no corpo
e na alma, outrem. Personagens humanos, assim como a mãe, o pai, o
maquinista, o lutador, o pipoqueiro,
a médica. Personagens fantásticos
que nem a bruxa, o fantasma, o
monstro. Personagens simbólicos a
exemplo do leão, do gato, do pato.
Aplausos ao prazer de uma criança que ao ler, ver e ouvir histórias
consegue consolidar laços afetivos
com as personagens, com o contador. Com o personagem livro com
quem ela tão bem contracena, dialogando com ele através das suas
indagações de aprendiz.
Aplausos ao prazer de uma criança que dá vida ao boneco, que se
permite envolver na brincadeira da
manipulação, da confecção numa
verdadeira dança de tintas. Fios.
Braços. Laços. Cabeças e mãos. Boneco capitão, Simão, Assombração,
Lampião, Quitéria, Benedito brigão,
bonecos do Teatro de Bonecos...
Texto Publicado no Editorial
NENL / CAPC – Núcleo Espírita Nosso Lar – Centro de Apoio ao Paciente
com Câncer. Página VARIEDADES –
Março / 2013 – Edição 13 - ANO 03.
Florianópolis / Santa Catarina
Ângela Escudeiro – Escritora. Artista.
Arte-Educadora. Membro da Academia
Feminina de Letras do Ceará. Vice-Presidente da ABTB - Associação Brasileira de
Teatro de Bonecos. Membro da CNIC – Comissão Nacional de Incentivo à Cultura –
MinC - Ministério da Cultura.
Estados e municípios precisam
regularizar conselhos do Fundeb
Unesco sugere novo plano de
financiamento para a educação
Quase 3 mil conselhos de acompanhamento e controle social do Fundo
de Manutenção e Desenvolvimento
da Educação Básica e de Valorização
dos Profissionais da Educação (Fundeb) estão em situação irregular no
país. Estados e municípios que possuem qualquer pendência com relação aos conselhos precisam regularizar a situação no portal eletrônico do
Fundo Nacional de Desenvolvimento
da Educação (FNDE) para que não sejam prejudicados.
A Lei nº 11.494/2007, que regulamenta o Fundeb, determina a instituição dos conselhos, que são responsáveis por acompanhar a distribuição
e a aplicação dos recursos do fundo.
Também cabe a eles monitorar a execução do Programa Nacional de Apoio
ao Transporte Escolar (PNATE) e emitir parecer sobre as prestações de
contas de estados e municípios que
recebem recursos do programa. Caso
os conselhos não estejam regularmente estabelecidos, os entes podem ficar
sem os repasses financeiros do PNATE.
Entre os conselhos municipais,
2.959 estão em situação irregular. No
caso dos estaduais, são 22 conselhos
com pendências. Municípios, estados
e o Distrito Federal têm até 30 de abril
para enviar as prestações de contas
de 2011 e 2012 do PNATE por meio
do Sistema de Gestão de Prestação
de Contas (SiGPC), disponível no
portal eletrônico do FNDE. O mesmo
prazo vale para o envio das prestações de contas do Programa Nacional
de Alimentação Escolar (PNAE) e do
Programa Dinheiro Direto na Escola
(PDDE). Quem não cumprir a determinação pode ficar sem os recursos dos
três programas enquanto não regularizar a situação.
A Organização das Nações Unidas
para a Educação, a Ciência e a Cultura
(Unesco) lançou em março dados parciais do “Relatório de Monitoramento
Global de Educação para Todos”, que
revelam que um quarto dos fundos destinados à educação nunca deixa os países de origem. Isso porque os recursos
são revertidos em bolsas para que alunos de regiões pobres estudem nos países doares. Segundo o levantamento, 3
bilhões de dólares por ano poderiam ser
usados para promover os estudos de 132
milhões de crianças e adolescentes em
países menos favorecidos. Além disso, o
documento aponta que, desde 2010, aumenta a lacuna no financiamento da educação básica, totalizando a necessidade
de 26 bilhões de dólares por ano. Se considerados os nove anos de ensino fundamental, esse déficit sobe para 38 bilhões
de dólares. A Unesco afirma que, com
o redirecionamento dessa verba, os
fundos já existentes poderiam cobrir
quase um oitavo dessa lacuna. “Recomendamos que 50% das contribuições
de países mais desenvolvidos sejam
destinados ao ensino básico. Só assim
conseguiremos avançar”, avalia a coordenadora de educação da UNESCO no
Brasil, Rebeca Otero.
No Fórum Social Mundial em Dakar
(Senegal), em 2000, 164 países se comprometeram a alcançar seis metas relacionadas à educação até 2015. Rebeca
ressalta que, durante esse período, o
Brasil avançou em suas políticas, mas
não conseguiu cumprir os objetivos.
“Caminhamos muito na questão da equidade, por exemplo, mas na qualidade,
precisamos melhorar. E o problema é o
déficit no financiamento.”
Pelo menos 20% da ajuda dos quatro maiores doadores para a educação
– Japão, Canadá, Alemanha e França
– são utilizados para custear estudantes
estrangeiros. Para cada aluno de uma
universidade em um país desenvolvido,
Fonte: FNDE
centenas de estudantes poderiam receber educação básica em países pobres.
Uma única bolsa de estudos para um
jovem nepalês estudar no Japão, por
exemplo, poderia custear 229 alunos do
ensino secundário no Nepal.
Entre os signatários do documento
de Dakar, 23 países se comprometeram a destinar 0,7% de seu Produto Interno Bruto (PIB) para a educação, mas
nem todos estão cumprindo. Além dos
compromissos já firmados, a pesquisa
sugere a ampliação das fontes de financiamento, com mais colaboração do setor privado e investimentos do grupo de
colaboração Brics (Brasil, Rússia, Índia e
China e África do Sul). Os governos reconheceram que, para acompanhar a execução das metas, seria necessário um
monitoramento regular e o “Relatório de
Monitoramento Global de Educação para
Todos” cumpre esse papel. De acordo
com Rebeca Otero, o relatório completo
deverá ser lançado ainda no primeiro semestre de 2013.
Os informes disponíveis estão no site
da Unesco (www.unesco.org).
Fonte: Portal Aprendiz
Nova lei obriga pais a matricular crianças em escola a partir
dos 4 anos
A Presidente Dilma Roussef alterou
trechos da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação. Governos estaduais e municipais têm até 2016 para garantir ensino
gratuito à população de 4 a 17 anos. A
nova lei ainda torna “dever dos pais ou
responsáveis efetuar a matrícula das
crianças na educação básica a partir dos
4 anos de idade”. Pela norma anterior, a
matrícula na pré-escola era obrigatória
apenas a partir dos 6 anos de idade.
O novo texto também estabelece que
as crianças de 4 e 5 anos terão “avaliação mediante acompanhamento e registro do desenvolvimento, sem o objetivo
de promoção, mesmo para o acesso ao
ensino fundamental”.
Fonte: Agência Estado
entrevista
Saúde e Educação
Desde 2010, o cearense Luiz Odorico Monteiro de
Andrade ocupa o cargo de secretário de Gestão Estratégica e
Participativa do Ministério da Saúde (SGEP). Nesta entrevista
exclusiva para a revista Vida e Educação, o ex-secretário de
Saúde de Quixadá e Fortaleza fala sobre a importância da
educação no processo da melhora da qualidade do sistema de
saúde em todos os níveis. Odorico cita casos bem sucedidos
como a queda da mortalidade materna obtida a partir da
maior taxa de alfabetização das mulheres. Odorico tem sido
responsável por importantes ações na área, e compartilhou
com a revista sua experiência e desafios no setor durante a
realização do Encontro Aprece Novos Gestores, dias 23 e 24
de janeiro último, no Centro de Eventos do Ceará. No encontro,
o secretário realizou palestra sobre o SUS, a municipalização
e o Desafio da Saúde.
Vida e Educação - Que desafios
os novos prefeitos estão assumindo
na área da saúde em 2013?
Odorico Monteiro – A primeira
questão é a complexidade do sistema de municipalização de saúde
no Brasil. O Brasil é o único país do
mundo com mais de 100 milhões
de habitantes que tem esse sistema
universal e o único com um desenho
federativo em três esferas de poder:
a federal, estadual e municipal. Na
saúde, nós fizemos a descentralização financeira, administrativa e
política e no caso da educação, nós
tivemos a universalização do ensino
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fundamental. Quando voltamos pra
saúde, entendemos que a maior parte dos municípios brasileiros não devem resolver todos os problemas de
saúde no espaço do seu município,
o que coloca um grande desafio nas
relações interfederativa, porque a
maior parte dos problemas que é dos
prefeitos, da sua população, está fora
do seu município e ele está ainda resolvendo problemas de municípios
vizinhos. Isso é um grande desafio.
Ou seja, como os novos prefeitos
vão administrar a saúde do município
sem perder de vista a abrangência
regional dos problemas da saúde.
Foto: Luís Oliveira (ASCOM/MS)
Aécio Santiago
VE - Antes da entrevista, o senhor abordou a questão do Sistema
de Saúde e Escola, onde a filosofia
é todo espaço é espaço de ensino,
pesquisa e assistência. Como funciona esse sistema?
OM – A relação da saúde com
a educação é intrínseca. A ideia é
transformar os espaços de saúde
em espaço de escola para os profissionais e estudantes da área de
saúde. Pra se ter uma ideia, quando fazemos estudos sobre a mortalidade infantil, a variável que mais
influencia a redução da mortalidade
infantil é a variável ano de estudo
da mãe. Ou seja, a mãe que estuda
mais, a possibilidade do filho dela
não morrer no primeiro ano de vida
é muito maior do que a mãe que
não estudou. Essa variável é muito
forte e está bastante demonstrado.
Por outro lado, o grande desafio
para o sistema de saúde universal é
a questão da relação do sistema de
educação com o sistema de saúde
no que diz respeito às necessidades de saúde da população e os
profissionais que são formados, do
ponto de vista da qualidade do currículo, mas, também, da quantidade
de profissionais.
VE – E como encarar esse desafio?
OM - Hoje nós temos no Brasil
uma grande deficiência de profissionais médicos e não é apenas
no setor público da saúde primária, secundária e terciária, mas,
também, no setor privado. Para
se ter uma ideia, a relação no
Brasil é de um médico para cada
1,8 mil habitantes. Na Inglaterra,
essa relação é 2,7 médicos para
mil habitantes. Para chegarmos
a essa proporção aqui no Brasil,
precisávamos ter mais 32 mil médicos. Na proporção que estamos
formando médicos atualmente,
só atingiremos essa marca em
2032. Na área primária da saúde nós temos uma deficiência de
mais de seis mil médicos. Precisamos fazer uma verdadeira integração entre o sistema de saúde
e educação.
VE – Onde a experiência desse
sistema foi bem sucedida?
OM – Tem em vários municípios
no Brasil. No Ceará, temos a experiência em Sobral e Fortaleza. Em
Sobral, isso já está bem maduro.
Temos várias turmas de graduação
que vivenciaram isso. O princípio do
VE – O senhor também abordou
sobre uma proposta inovadora chamada Tenda Invertida. Do que se
trata?
OM – Também inspirada em Paulo Freire, a Tenda Invertida é uma visão diferente do modelo profissional
que existe atualmente nas universidades, inclusive as mais modernas.
Esse modelo é inspirado na cultura
no aprendiz de ofício e do mestre de
ofício na relação medieval. Então, na
formação da especialidade médica,
você tem essa realidade. Se for querer fazer cirurgia, você faz residência
especializada e lá se forma cirurgião. No Programa Saúde da Família
(PSF) invertemos essa lógica. A residência tem que ser no espaço onde
o profissional trabalha, onde tem a
demanda. E os mestres desse profissional precisam estar nesse território.
A Tenda Invertida é isso. Ao invés
VE – É possível unir espaço de do aprendiz ir até a tenda do mestre,
ensino, pesquisa e assistência com é o mestre que vai para a tenda do
eficácia?
aprendiz. Com isso, podemos dar esOM – Eu diria que buscamos ins- cala na formação.
piração em pedagogos, em profissionais da linha de educação como o
VE - Esse é um grande desafio
Paulo Freire. Ele coloca o aprendiza- para o PSF?
do de forma interacionista, interação
OM – Sim. A formação do especom a realidade do profissional em cialista com escala, inclusive para
contato com ela e aprender essa re- compormos mais aqueles números
alidade para essa realidade. Ele diz, e aquela proporção de médicos para
ainda, que o processo pedagógico, a população, que temos em pouco
de ensino aprendizagem envolve tempo dar essa resposta a pelo meuma perspectiva participativa, dialó- nos chegar em parâmetros dos sisgica e problematizadora. E no espa- temas universais.
ço da saúde você dever ter a particiVE – As campanhas na área da
pação da relação do professor com
o aluno; ele vai ter a problematiza- saúde não deveriam estar mais em
ção, seja um problema no território, sintonia, integradas com uma aborassistencial, seja o diagnóstico de dagem mais voltada para a educauma doença, e produzir o aprendiza- ção como forma de melhorar os índido em cima dessa problematização. ces de qualidade na saúde?
OM – Eu diria que há um esforço
Portanto, a participação, a interatividade do aluno no processo com o do governo federal e aí há uma inteprofessor e o objeto do aprendizado, gração importante ocorrendo entre o
produz a construção desse conheci- Ministério da Educação e o Ministério
da Saúde, e tem sido construída uma
mento agregado.
sistema é ter um espaço onde você
atende as pessoas, mas num espaço
onde você possa ter um profissional
sendo formado e pode produzir pesquisa no próprio espaço, melhorando
e aperfeiçoando esse serviço. Com
isso, a gente pode criar a educação
permanente, onde podemos ter não
apenas a integração do aluno de
graduação à residência dos profissionais de saúde, tanto residência
médica como residência com profissionais, como também ter todos os
trabalhadores se tornando alunos no
processo de educação permanente.
Então como você aprende na saúde?
Aprende fazendo. Como se aprende
a fazer um diagnóstico de pneumonia? À medida que você atende uma
pessoa com pneumonia e o professor que está ali apresenta pra você
um quadro de pneumonia.
VIDA E EDUCAÇÃO | 37
entrevista
VE – O que mais pode ser estimulado na escola enquanto uma perspectiva da saúde de qualidade?
OM – A questão das drogas, do
álcool, do tabagismo, do trabalho
infantil. A outra questão nesse
aspecto diz respeito a trabalhos
comunitários. Então você pode
fazer várias reflexões no espaço
da escola, onde a escola discuta
a questão da saúde no seu território. Outra questão importante é
a questão da integração intergeracional. Nós temos a questão do
envelhecimento muito rápido da
população; portanto, a tolerância
intergeracional é importante de
ser debatida na escola. Temos
algumas iniciativas importantes
como a questão da escovação,
aumentando a escovação coletiva nas escolas como atividade
preventiva. A questão da Oftalmologia, através do programa Olhar
Brasil, dando um diagnóstico precoce de crianças que têm dificuldade da visão e gera dificuldade
no aprendizado.
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VE – O que tem sido prioridade
no governo Dilma?
OM – Tem uma questão importante que eu chamo de paradoxo
de saúde da mulher. Isso é uma
grande preocupação da presidenta
Dilma, que é a redução da mortalidade materna no Brasil, a redução de
mortalidade por câncer de mama e
a redução da mortalidade por câncer
de cólon. Principalmente o de cólon
e a mortalidade materna tem relação
forte com mulheres negras, pobres e
sem escolaridade, e isso é um grande desafio pra o que o espaço da
escola seja um espaço pedagógico
e promoção da saúde, a importância da mãe saber que até os 65 anos
faça a mamografia a cada dois anos.
Então essas informações sendo discutidas na sala de aula repercutem
muito positivamente em casa. E eu
queria chamar a atenção para a dengue. Em vários momentos eu enfrentei surtos de dengue, foi na escola, foi
na educação que nós fizemos uma
grande aliança pra resolver desde as
informações na sala até os mutirões,
mobilizações na escola, operação
contra o lixo fundo de quintal.
VE – A que novos projetos o senhor se referia na sua palestra?
OM – A presidenta Dilma recebeu
todos os prefeitos agora em janeiro para um acolhimento, porque ela
entende que precisamos compartilhar governança, além do ministro
da Saúde Alexandre Padilha que recebeu secretários de saúde do País
pra esse momento em Brasília. Outro
momento é discutir o Plano de Melhoria da Qualidade da Atenção Básica. Nós precisamos ter o maior número de unidades brasileiras dentro
desse programa. A questão do Requalifica, que é ampliar as unidades
básicas no País, reforma e ampliação
para que possamos ter o maior número de municípios ampliando suas
unidades. O cartão nacional de saú-
de é outra novidade. Nossa meta é
universalizar o cartão até 2014, além
de disponibilizar através de uma parceria Ministério da Saúde e Ministério
das Comunicações a conectividade
desse cartão para todas as unidades
básicas de saúde.
Desafios da família
contemporânea
Milena Cristina Barros Barreto Aires
VE – Pensando na complexidade
do sistema de saúde, sempre acompanhamos problemas de desmonte das prefeituras no final de cada
gestão. Além da fiscalização para
prevenir o problema, falta também
mais competência na gestão nas
prefeituras?
OM – O mais importante disso
tudo é que nós cada vez mais no
Brasil estamos aprimorando nossos mecanismos de transparência,
de controle do sistema. No Sistema
Único de Saúde (SUS) nós temos o
controle interno que é DENASUS,
temos os tribunais de contas dos
municípios, além da CGU (Controladoria Geral da União). O importante
é não ter a sensação da impunidade;
por isso temos a Lei da Ficha Limpa,
além dos conselhos municipais, estaduais de saúde. Agora, eu entendo
que essa instabilidade que nós temos no sistema municipal de saúde
em função da transição, a cada quatro anos, é extremamente prejudicial
para a população. Não tenho dúvidas
de que nós precisamos construir instrumentos de governança mais estruturados, menos instáveis para que a
população não fique à mercê dessas
transições.
VE – A sua mensagem final para
os nossos leitores
OM – Eu quero parabenizar
essa iniciativa. Fico feliz que aqui
no Nordeste a gente tenha uma revista que aborde essa questão da
educação como uma política pública, e quero agradecer ao convite
que foi feito para contribuir.
Foto: Arquivo Digital
agenda de articulação importante intersetorial entre educação e
saúde, principalmente pra resolver
esse problema da formação médica, da residência médica. Por
outro lado, nós temos um conjunto
de iniciativas que devem ocorrer
entre esses setores. No espaço
do município, essa integração é de
extrema importância. Você tem um
conjunto de questões que começa
nessa integração. Por exemplo, a
questão da obesidade infantil que
é um grande problema atualmente. O espaço da escola é extremamente importante para a educação
alimentar, a própria discussão em
sala de aula sobre a questão do
consumo correto de alimentos, de
frutas e verduras, a redução do
açúcar, mais atividade física e tudo
isso começa na escola.
PAIS NA EDUCAÇÃO
Entenda como
as atitudes dos
pais podem
influenciar as
mudanças no
comportamento
dos filhos.
O mundo atual é marcado pelo
grande avanço tecnológico e científico, que acarreta fortes e rápidas mudanças na vida e em toda a sociedade. Neste contexto, podemos afirmar
que a família contemporânea vem
sendo diretamente influenciada por
estas transformações, seja no âmbito
estrutural, seja no âmbito relacional
ou afetivo.
Percebemos que a família contemporânea vem enfrentando desafios que precisam ser cada vez mais
discutidos. Constantemente lemos
artigos em jornais, revistas e livros
abordando sobre os diversos aspectos da vida familiar, assuntos como a
educação dos filhos, as novas relações parentais, conflitos entre pais e
filhos, dificuldade de relacionamento
entre os entes familiares, dentre outros desajustes em relação a valores
e princípios de educação doméstica.
Frente a este cenário, em nossa sociedade, os relacionamentos
sociais vêm sendo permeados por
comportamentos individualistas, relativistas e consumistas. Contudo,
percebemos uma forte turbulência
dos valores intra-familiares, nos
VIDA E EDUCAÇÃO | 39
Pais na educação
“Mas lembro que
estabelecimento de
limites e disciplina é
fundamental, desde que
sem exageros...”
Visualizamos ao nosso redor famílias frágeis em seus laços afetivos,
em que a desoneração da mesma é
resultado de conflitos de interesses
internos, sejam por parte dos pais ou
por parte dos próprios filhos. Neste
sentido, percebemos uma relação
difícil de ser resolvida: por um lado
temos genitores que precisam trabalhar e querem acumular bens e riquezas para viver melhor e para proporcionar “melhores condições para
seus filhos”, portanto se ausentam
cada vez mais do lar e de casa. Por
outro lado, temos os filhos carentes,
que reclamam a ausência dos pais
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que não possuem mais tempo para
ouvi-los, ajudá-los e amá-los.
Diante destes impasses sociais,
percebemos outro grande desafio, o
qual vem imperando nos relacionamentos de pais e filhos: a falta de comunição. Muitas vezes, as justificativas, as expectativas dos pais e reclamações das necessidades reais dos
filhos não estão sendo dialogadas
em família, ou seja, não está havendo na unidade familiar tempo dedicado entre pais e filhos para conversar,
falar, discutir e, principalmente, para
se ouvir uns aos outros. Assim, sem
um diálogo franco e aberto, os desejos e sentimentos não são explicitados, ficam ocultos nas relações, o
que não é bom para o fortalecimento
das relações familiares.
Outro grande desafio entre pais
e filhos é o estabelecimento das regras, pois se observa que muitas famílias têm atitudes permissivas e não
criam e nem exigem o cumprimento
de normas, ficando os filhos sem referência de limites sociais. Em contrapartida há o outro extremo, famílias que muitas vezes impõe muitas
regras, cobram o cumprimento destas em demasia, sem levar em consideração as realidades dos filhos,
o que também acaba prejudicando
as convivências familiares e sociais.
Mas lembro que estabelecimento
de limites e disciplina é fundamental, desde que sem exageros, e até
sugiro que podem ser combinadas
entre os pais e até com a participação dos filhos na medida que vão
amadurecendo.
Em todo este cenário de impasses, constata-se que há um descontentamento familiar, uma perda de
referencial e de amor entre pais e
filhos, que se manifestam nas relações cotidianas, por meio de atitudes,
muitas vezes, silenciosas, indiferentes, desrespeitosas, chegando, em
muitos casos, a serem até mesmo
agressivas. Nestas circunstâncias,
deve-se levar em consideração que
cada família tem seu papel e função
social de educar e formar indivíduos,
contudo, cabe aos pais à responsabilidade de, impulsionados pelo amor
e o cuidado com os filhos, tentar pelo
diálogo superar os desafios atuais.
Pais e filhos não devem esquecer
que, para a harmonia familiar, é importante prevalecer sempre a abertura para o diálogo e o respeito mútuo,
que se reveste em atenção às necessidades e o estabelecimento de
limites, procurando juntos, em família, tomar as decisões, tendo sempre
como objetivo a unidade familiar e a
harmonia equilibrada das relações
entre pais e filhos e entre os filhos.
Neste caminho, a escola pode
contribuir, pela ação docente do professor, com um papel de grande relevância na formação de pais. A família
e a escola devem ser grandes parceiras neste processo de educação dos
pais e dos filhos, encontrando meios
e estratégias de suprir, com o processo de formação destes indivíduos, as
fragilidades do mundo hoje. Caso
contrário, encontramos famílias, pais
e filhos vulneráveis às situações mais
imprevisíveis, inclusive a própria destruição da nossa humanidade.
Portanto, como educadores –
pais, professores e responsáveis – a
vida nos exige compromisso, dedicação e doação, o que representa uma
busca incessante de bem viver.
Milena Cristina Barros Barreto Aires - Psicóloga clínica, palestrante. Trabalha com família e orientação profissional. milenaaires@
bol.com.br Facebook: Milenabarreto
Educação 3.0
Patrícia Melo
Paulo Freire (1921-1997), o mais
célebre pensador da educação
brasileira e reconhecido internacionalmente por suas teorias, propôs
uma nova escola, como espaço de
transformação do aluno. No entanto,
a sociedade atual está vivendo um
novo debate sobre a educação do
presente e do futuro. Com o objetivo
de estender esse debate aos leitores
da Vida e Educação, conversamos
com alguns educadores, que apontaram uma nova conscientização deste
espaço de transformação. Nesses
novos tempos, onde a tecnologia
invade toda a sociedade e cada vez
mais a sala de aula, a percepção de
alguns estudiosos em educação é de
que a escola passa por uma metamorfose, justamente para reaprender
seus modelos, cumprindo sua função
em prol da sociedade.
Marcos Meier, psicólogo, professor e escritor, acredita que, mesmo
cheia de defeitos e manias, “a gente nem imagina ficar sem a escola”.
Para Meier, a boa notícia é que ela
está se transformando: “vai ficar
mais atraente, mais sábia, coerente e
atualizada”. Luli Radfaher, Ph.D. em
comunicação digital pela ECA-USP
e consultor em inovação digital, acredita que a “Escola 3.0” precisa rever
suas competências, estar preparada
para as atitudes dos alunos e criar um
ambiente de interação para buscar
várias descobertas, pois não existem
mais soluções prontas. “É incoerente
o modelo de escola que se tem hoje
em dia. Avançamos e vamos evoluir
muito mais, mas para isto a escola
precisará entender melhor o aluno e
Foto: Andreia Naomi
quais o mundo capitalista torna-se
o referencial de educação. Desta
forma, perdem-se de vista os caminhos, até então, tradicionais na educação dos filhos, sendo adotadas
práticas baseadas no imediatismo,
no prazer, no ter, no possuir. Isso tem
provocado uma inversão no comportamento dos indivíduos e não se tem
claro o que é e o que não é válido.
Uma postura relativista invadiu os
relacionamentos e os pais perderam
os referenciais para a educação e a
boa convivência em sociedade.
Assim, entendemos que a família
está mudando. Daí vale perguntar:
afinal, qual seria o melhor entendimento sobre o que é a família? Muitas são suas definições, mas podemos entender aqui, de forma geral,
como uma instituição social, unidade
básica da sociedade, sendo uma
organização de pessoas, com identidade e grau de parentesco entre si,
permeada de laços afetivos e sentimento de segurança e harmonia.
CAPACITAÇÃO
Palestrante Mário Sérgio Cortella
buscar seus princípios fundamentais,
só que agora através de novas ferramentas que tem à disposição”. Já o
especialista em gestão da inovação
pela UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná), Thiago
Chaer, aponta que estamos em uma
época de mudança, em que todas
as áreas da sociedade são exigidas
a repensarem seus modelos e a reaprenderem. A escola, como ambiente e espaço de facilitação da aprendizagem e da construção do conhecimento, também está nesse processo
de reaprendizagem de seus modelos, motivada pela massiva inclusão
da tecnologia digital e da informação
no cotidiano. “Qualquer mudança só
é sustentável quando todos os agentes envolvidos participam igualmente
na construção do algo novo”.
O educador paranaense avalia
ainda que o conceito de Educação
3.0 vem somar e apoiar mudanças
inexoráveis, prevendo a participação
ativa da família, dos educadores e da
sociedade na melhoria contínua da
escola. “Essas mudanças possuem
componentes do empreendedorismo e da inovação, com aspectos
de aprendizado emocional, social,
da tecnologia digital, da sociedade
e da formação do educador. É, sem
dúvida, um momento de grande entusiasmo, pois a escola passa por
um período singular em toda a sua
história”, completa Chaer, idealizador
e Presidente do Instituto Inovar para
Educar e coordenador pedagógico
do projeto Aprender & Crescer, cujo
objetivo é a formação complementar
em empreendedorismo e tecnologia
digital para estudantes do ensino médio de escolas públicas do Paraná.
“Educação 3.0: A Escola do Futuro chegou?” será o tema central
da 20ª EDUCAR EDUCADOR, que
será realizada de 22 a 25 de maio,
em São Paulo. Durante quatro dias,
mais de 150 palestrantes nacionais
VIDA E EDUCAÇÃO | 41
e internacionais debaterão diversos
assuntos que envolvem a educação
brasileira e mundial. No mesmo espaço estará a Feira EDUCAR (Feira
Internacional de Produtos e Serviços para a Educação) que, por sua
vez, trará a exposição de produtos e
serviços inovadores, através de centenas de empresas nacionais e internacionais do segmento. “Para nós, a
Educação 3.0 é sinônimo de uma escola aberta, dinâmica, participativa,
onde todos possam ter a consciência
e a humildade de aprenderem juntos.
Alunos, escolas, famílias, professores e a sociedade terão a oportunidade de se conectar no presente com
a forma de educação que se tornará,
inexoravelmente, sua prática no futuro”, explica Marcos Melo, diretor da
Futuro Eventos, organizadora e promotora do evento.
Diariamente, a EDUCAR 2013
realizará 10 atividades pedagógicas
simultâneas, em 10 diferentes auditórios, com palestras, talk shows e
mesas de debates. A cada 1h30, participará das programações pedagógicas uma média de 4.200 inscritos.
Com o intuito de disseminar conhecimento e aprimorar a formação continuada de professores e gestores, a
20ª Educar debaterá os mais diferentes assuntos intrínsecos à educação
e os modelos de escola do passado,
do presente e do futuro. “A necessidade de se evoluir cognitivamente é
premente, justamente em função do
avanço dos recursos e estratégias
tecnológicas, porém descobrindo
novas formas de adaptação para o
ensino”, lembra o diretor do evento.
Apesar de ter a Educação 3.0 como
tema central, Marcos Melo esclarece
ainda que os congressos da EDUCAR EDUCADOR tratarão de outros
fatores dentro e fora do tema, permeando a gestão na educação brasileira, a valorização do docente, os
investimentos em educação, os projetos político-pedagógicos aplicados
42 | MARÇO/ABRIL 2013
e, sobretudo, a formação continuada
dos professores e gestores.
O evento reunirá educadores,
gestores, secretários estaduais e
municipais de educação, sindicatos,
órgãos públicos, organizações não
governamentais, chefes de Estado e
autoridades educacionais do Brasil e
de diversos países da América Latina, Europa e Ásia. Cláudia Maria da
Cruz, membro do Conselho Estadual
de Educação do Paraná e palestrante da EDUCAR 2013, esteve presente na edição passada como visitante
e hoje volta participando de uma das
mesas de debate. Ela conta que em
2012 teve acesso a inúmeras ferramentas tecnológicas, pesquisas e
conhecimentos na área educacional,
disponíveis tanto no mercado brasileiro, quanto no internacional. “Tudo
isso contribuiu para que eu tivesse
uma análise mais criteriosa de como
a educação pública pode melhorar
seus processos utilizando esses
meios para atingir um fim imprescindível: garantir o direito à educação de
todas as crianças, jovens e adultos”,
diz Claudia. Já a Secretária Municipal
de Educação de Bom Princípio (RS),
Claudia Raquel Muller, também faz
questão de participar novamente do
evento, por isso já garantiu sua inscrição. A secretária destaca a feira
internacional, onde pode conhecer e
levar inúmeras novidades para o seu
município, inclusive algumas já implantadas, como o Projeto Jovens
Empreendedores. “Minha expectativa é de que o evento ofereça,
mais uma vez, referências para
que eu possa instrumentalizar as
escolas municipais com recursos
tecnológicos, tornando-as cada
vez mais atrativas aos alunos,
uma vez que o objetivo principal
da escola é de que os estudantes dominem os conceitos fundamentais de forma prática e prazerosa, com incentivo à pesquisa,
preparando-os para a vida”.
“É sem dúvida o maior ponto de
encontro da educação brasileira e da
América Latina, que a cada ano ganha mais consistência, seja em conteúdo dos seus congressos, seja em
exposições de produtos e serviços, e
que atende do educador ao gestor,
ao empreendedor e às instâncias governamentais, em todas as suas necessidades de atualização”, enfatiza
o diretor da Futuro Eventos.
Feira EDUCAR
Diferente do formato de realização em todo mundo, a EDUCAR
EDUCADOR proporciona, junto com
os congressos pedagógicos, uma
feira de produtos e serviços voltados para o segmento educacional.
Professores, educadores, gestores
e demais profissionais da área encontrarão na EDUCAR a inovação
necessária para complementar o
aprendizado adquirido nas palestras
e talk show de mesas de debates.
“É a área prática junto com a teórica,
que é desenvolvida dentro dos dez
auditórios”, resume Melo.
A área total da 20ª EDUCAR abriga 27.000 m² e tem a expectativa de
público superior ao registrado em
2012, quando trouxe para o pavilhão
do Centro de Exposições Imigrantes
(SP) mais de 12,5 mil pessoas. Em
2013, a Feira EDUCAR está alocando 1.500m² somente para empresas
estrangeiras, reunindo novidades de
todos os continentes.
Palestrantes de
Destaque
Entre os mais de 100 especialistas presentes, a EDUCAR EDUCADOR destaca nomes como Mário
Sérgio Cortella, Charles Hadji (França), Cesar Nunes, James Hunter
(EUA), Leonardo Boff, José Weinstein (Chile), Cristóvam Buarque, Philippe Perrenoud (Suíça), Washington
Foto: Andreia Naomi
CAPACITAÇÃO
Olivetto, Win Veen (Holanda), Rosely
Saião, Marcos Meier, Miguel Arroio,
Dado Schneider, Carlinhos de Jesus,
Dudu Braga, Emília Ferreiro, Giomar
Namo de Mello, Gustavo Cerbasi,
Júlio Groppa e Ozires Silva. Confira
alguns depoimentos dos palestrantes
sobre o tema central do evento:
Senador Cristovam Buarque:
“Educação 3.0 significa um sistema
escolar bom, ao qual todos tenham
acesso, cujas escolas tenham a
mesma qualidade, que tenham em
seus quadros professores muito bem
remunerados, com excelente formação, preparados para o desafio de
transmitir uma educação completa,
interdisciplinar e que sejam regularmente avaliados. Além disso, cujas
escolas funcionem em prédios bonitos, agradáveis, contendo os mais
modernos equipamentos pedagógicos. E cujos alunos tenham aulas em
período integral.”
Palestra “Educação Brasileira e
Infraestrutura Intelectual. Sistema Reprovado e Falido para as Exigências
dos Tempos Atuais. O que Fazer?”
Cesar Nunes: “Um evento grandioso como esse deve voltar às origens para ser “original” em sua atualidade. Saber, conhecer, são valores
socialmente muito importantes, mas
tem que ter parâmetros éticos e políticos voltados para a promoção da
vida, para a prática da liberdade, para
o respeito às diferenças… Não posso ter uma presunção de que o saber
esteja acima da vida, da igualdade
humana. Não pode a erudição superar a sabedoria! É preciso formar as
pessoas para aprender que a vida é
nossa única riqueza, que a recebemos como dádiva, como graça, voltada para a busca da felicidade.”
Palestra “Educação e Sociedade:
Matrizes Históricas e Possibilidades
Emancipatórias Atuais”
Feira Educar
Ozires Silva “As rupturas do conhecimento, que levam às quebras
de paradigmas, são cada vez mais
frequentes e é possível antecipar
que, pela frente, vamos ver coisas
novas, muito novas, superar as tradicionais, não somente transformando
o mundo, mas substituindo empresas líderes por outras que trazem
produtos diferentes que vençam a
preferência dos consumidores.”
Palestra “Uma Educação de Qualidade Produz Resultados Extraordinários e Multiplicadores para um
Líder da Inovação”
Mario Sergio Cortella: “É preciso uma nova postura coletiva.
Ambiente de aprendizagem não é
apenas um lugar; é, sobretudo, uma
disposição para conviver em uma esfera de permuta de conhecimentos
recíprocos, no qual o desconhecimento e as dificuldades não podem
ser encarados como ameaças e sim
como oportunidade de crescimento
pessoal e coletivo. Nesse ambiente
deve imperar um clima de respeito
sincero e de incorporação dos saberes individuais e, ainda, das competências originadas externamente ao
espaço pedagógico.”
Palestra “Da Oportunidade ao
Êxito – Mudar é Complicado? Acomodar-se é Perecer”
Os congressos pedagógicos
serão divididos em: 20º EDUCADOR (Congresso Internacional de Educação), 10º AVALIAR (Congresso Internacional
sobre Avaliação na Educação),
9º EDUCADOR MANAGEMENT (Seminário Internacional
de Gestão em Educação), 8º
INFÂNCIA&CIA
(Congresso
Internacional de Educação Infantil e Séries Iniciais), 3º EDUCATEC (Fórum Virtual Educa
de Tecnologia e Inovação em
Educação) e 2º PROFITEC
(Congresso Internacional sobre
Educação Profissional e Tecnológica). Mais informações no
site www.futuroeventos.com.br/
educar.
Patrícia Melo - jornalista e empreendedora,
com a Presença – Comunicação Educacional
(facebook.com/presencaeducacional), que
contribui para um diálogo mais consistente
e criativo entre a Escola e a Família. O texto
contou com a colaboração da Assessoria de
Imprensa da Educar/Educador.
VIDA E EDUCAÇÃO | 43
reflexão
Qual o papel da escola no
novo mundo?
Sandra Bozza
A escola está apta a formar os seres humanos educando
para além de conteúdos e competência?
Uma excelente forma de se refletir sobre o papel e a importância da
escola na pós-modernidade seria a
simulação da seguinte situação: desviados de seu destino em direção a
distante galáxia, seres extraterrestres
se veem obrigados a pousar em uma
escola, onde está ocorrendo uma
Reunião de Pais, e perguntam aos
que ali se encontram:
– O que é isto? Para que serve
este local?
– O que os alunos responderiam? (...)
O que os pais responderiam?
E nós, os professores, como caracterizaríamos a instituição que é
nosso campo diário de batalha? (...)
Parece tão simples, e, talvez, por
isso mesmo, seja tão complexo de
ser explicitado.
– Ora, em uma escola se ensina,
se aprende, se transmite ou se constrói conhecimentos, diríamos aos
nossos vizinhos cósmicos.
– Mas que tipo de conhecimentos? - perguntariam eles.
– Conhecimentos científicos.
Aqueles historicamente produzidos
e acumulados ao longo dos tempos
pelos homens.
– Por que é necessário ensinar
esses conhecimentos?
– Para que os humanos mais
novos possam aprender e compreender como a vida neste planeta é
44 | MARÇO/ABRIL 2013
organizada... - responderíamos prontamente.
– Por que neste espaço e não
com seus familiares ou com os que já
viveram muito tempo e aprenderam
bastante? - insistiriam nossos interlocutores galácticos.
– Talvez porque estes não soubessem transmitir todos os conhecimentos produzidos, que são muitos e
complexos.
– E por que eles precisam
aprender muitos e complexos conhecimentos?
– Para que os humanos que
nascem não precisem “reinventar a
roda”... Para que produzam novos
conhecimentos a partir daqueles já
existentes... Para que supram cada
vez mais as necessidades criadas a
partir da satisfação de antigas necessidades... Para que evoluam...
Enfim, a escola existe para que
apreendam e compreendam como e
para que se vive!!!
E a escola consegue?! - surpreender-se-iam os visitantes. (...)
O título deste breve artigo poderia ser apenas COMO FORMAR SERES HUMANOS, pois na
minha opinião, quando a escola
foi parida teria sido para prover
com maior competência do que
as famílias, e, obviamente, de maneira mais sistematizada, também
essa necessidade.
Destarte, no parágrafo acima já
anuncio minha perspectiva sobre o
papel e a importância social que a
escola deveria ter nas relações societárias.
Todavia, tal como ocorreu com
o significado de certas palavras,
nos distanciamos tanto deste remoto objetivo que, mesmo trabalhando
no interior de uma escola, fica difícil
explicarmos para um alienígena, por
exemplo, o motivo pelo qual estamos
trabalhando com determinados conteúdos ou desenvolvendo determinadas competências.
Hoje quando chamamos alguns
de nossos pares de companheiros
já não empregamos a palavra com o
sentido original: aquele que compartilha o pão. Ao utilizarmos o termo comunidade não temos mais em mente a comunhão igualitária dos bens
produzidos naquele local. Ou ainda,
quando recebemos em nossa casa
alguns camaradas não estamos esperando repartir nossa câmara, nosso quarto mais íntimo.
Acredito que o mesmo ocorreu
com a função da instituição chamada
escola. Talvez por isso fica tão intrigante explicarmos para os Ets a existência de algo que perdeu totalmente
sua função original e se organizou
para ensinar fragmentos de conhecimentos, tidos como científicos e
como verdades absolutas, para uma
sociedade que muito pouco guarda
de suas peculiaridades remotas.
Como apropriadamente reflete
Maurice Tardif, os saberes transmitidos pela escola não parecem
mais corresponder, senão de forma muito inadequada, aos saberes
socialmente úteis no mercado de
trabalho, e o professor cuida da sua
transmissão, pois a formação integral da personalidade dos aprendentes já não parece ser mais de
sua responsabilidade.
Enquanto isso, a essência que
daria conta do mundo continuar
sendo formado por seres verdadeiramente humanos está sendo relegada ao enésimo plano.
Apesar de, às vezes, os projetos
pedagógicos até contemplarem a
ensinagem e a aprendizagem dos
direitos humanos, o que menos se
constata na prática cotidiana de uma
escola é esse exercício.
VOO PARA UM MUNDO POSSÍVEL
Eduardo Galeano
As pessoas não serão dirigidas pelos automóveis,
Nem programadas pelo computador, nem olhadas pelo televisor.
O televisor deixará de ser o membro mais importante da família e
será tratado como o ferro de passar e a máquina de lavar roupa.
A comida não será uma mercadoria e nem a comunicação um negócio, porque comida e comunicação são direitos humanos.
Ninguém morrerá de fome, porque ninguém morrerá de indigestão.
Os meninos de rua não serão tratados como lixo, porque não haverá
meninos de rua.
Uma mulher, negra, será presidente do Brasil, e outra mulher, negra,
será presidente dos Estados Unidos da América; e uma mulher, índia,
governará a Guatemala e outra o Peru.
Seremos compatriotas e contemporâneos de todos os que tenham
aspiração de justiça e aspiração de beleza, tenham nascido onde tenham nascido e tenham vivido onde tenham vivido, sem que importem
nem um pouco as fronteiras do mapa ou do tempo.
A perfeição continuará sendo um aborrecido privilégio dos deuses;
mas neste mundo confuso e fastidioso, cada noite será vivida como se
fosse a última e cada dia como se fosse o primeiro.
E é justamente na reflexão destes
e na luta pela sua garantia que eu
concebo a existência dessa parafernália a qual hoje chamamos de escola. Ela só terá sentido se for para
desenvolver a promoção e a interiorização de todas as gerações dos
direitos humanos. Não basta consagrar esses direitos através do discurso. É necessário praticar e garantir,
pelo menos no âmbito escolar, que
esses direitos sejam assegurados.
Se a escola tem o poder de reproduzir a sociedade como está
ou de emancipar para que possamos construir o mundo que precisamos, será sempre via defesa e
exercício das quatro gerações de
Direitos Humanos, a saber: os cívicos e políticos, os sociais (conseguidos através do trabalho), a
preservação do meio ambiente (o
bem estar de quem ainda está por
nascer) e os direitos aos conhecimentos relacionados à comunicação e à informação.
Como afirma Marcuse, hoje temos a capacidade de transformar
o mundo num inferno e estamos a
caminho de fazê-lo. Todavia, temos
também a capacidade de fazer exatamente o contrário. Por que não
fazê-lo se a construção de um novo
mundo pode ser determinada também pelo poder de nossas ações
como educadores?
Quem sabe a resposta adequada
aos alienígenas do início de nosso
diálogo fosse o poema com o qual
Eduardo Galeano presenteou-nos
quando do Primeiro Fórum Social
Mundial: a escola existe para que
possamos tornar esse mundo mais
HUMANO.
Sandra Bozza - Mestre e Ciências da Educação. Linguista. Professora de Metodologia de
Ensino da Língua Portuguesa. Autora de livros
didáticos e técnicos sobre o ensino da língua
escrita. [email protected]
VIDA E EDUCAÇÃO | 45
Política Educacional
Interpretar para
reinventar a escola
Casemiro de Medeiros Campos
O objetivo do IDEB – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica é fomentar a
melhoria da qualidade de ensino do País, mas é necessário discutir o assunto e interpretar os
relatórios para transformar a escola.
Na busca de estabelecer consensos, a política de educação
dos últimos vinte anos no Brasil
trouxe temas de grande importância para a reforma do sistema
educativo. As redes de ensino foram obrigadas a definir uma adaptação às referências da discussão
da pedagogia da competência.
O Conselho Nacional de Educação e o Ministério da Educação
instituíram ações com objetivo de
modernizar a educação brasileira em que a avaliação passou a
cumprir um papel estratégico no
gerenciamento dos sistemas de
educação. Tivemos uma definição inicial no plano da legislação
da educação com a nova Lei de
Diretrizes e Bases da Educação
Nacional – Lei nº 9394/1996.
Num segundo plano, tivemos a
edição das novas orientações curriculares. Como exemplo, podemos
destacar as alterações dos conteúdos de ensino, com a edição dos
Referenciais da Educação Infantil,
na Educação infantil; dos Parâmetros
Curriculares Nacionais – PCN´s no
Ensino Fundamental e Médio e as
definições das Diretrizes Curriculares
para a Educação Básica e na Educação Superior.
Posteriormente, diante dos compromissos do país assumidos internacionalmente, tivemos o aumento
46 | MARÇO/ABRIL 2013
do tempo pedagógico, passando
a escolaridade básica de oito para
nove anos, oportunidade em que a
criança entra no ensino fundamental
com seis anos de idade.
É relevante salientar que dois
mecanismos foram fundamentais
para a estruturação da política de
educação nos últimos anos: a criação em 1996 do FUNDEF, que foi
renovado em 2007 pelo Fundo de
Manutenção e Desenvolvimento
da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação
- FUNDEB. Mas, de forma muito
exigente, as instituições escolares
tiveram que se submeter ao sistema de avaliação da escola básica
que avalia a escola em todos os níveis do ensino – dos anos iniciais
do ensino fundamental ao término
da escola básica no ensino médio.
“A avaliação em si não
trouxe a inovação, mas os
seus resultados foram úteis
como fontes de análise...”
A avaliação gerou severas repercussões na escola, especialmente no âmbito da gestão escolar, fazendo com que os gestores
tomassem decisões estratégicas a
partir dos relatórios com os resul-
tados da avaliação. Outra medida
que vale ressaltar foi a definição do
piso nacional para professores da
escola básica, uma reivindicação
dos professores que, por meio das
suas entidades sindicais representativas, tiveram que pressionar o
Congresso Nacional para fazer
aprovar o referido piso salarial,
que era uma referência histórica
dos professores para o reconhecimento das lutas da categoria e da
valorização do magistério.
Relaciono os itens acima
como principais pontos que nos
levam necessariamente para
uma releitura da escola no Brasil.
Parte destas medidas veio tendo
como foco a inovação da escola, dos sistemas escolares e da
própria política de educação que
os definiram. Mas a implantação
e o paulatino aperfeiçoamento do
sistema de avaliação vieram consolidar uma tendência: a necessidade de eficiência do sistema
educacional público de ensino.
Os resultados das avaliações
podem ser utilizados para produzir
mudanças na escola e, de forma particular, na realidade da vida dos alunos, dos professores e das famílias.
A avaliação em si não trouxe a inovação, mas os seus resultados foram
úteis como fontes de análise para se
ter benefícios ou mesmo consequên-
cias para a busca da contínua melhoria da qualidade da escola, do trabalho pedagógico e do processo ensino
e aprendizagem e da própria gestão
das instituições escolares.
A inovação na educação não é
algo fácil de ser definido, mas pelos
resultados das avaliações se verifica
a cada ano na busca pelo compromisso com a melhoria, na definição
da escola e a sua verdadeira função
numa sociedade democrática. As
avaliações de âmbito nacional em
curso na escola são: Sistema de Avaliação da Educação Básica - SAEB;
Prova-Brasil; Provinha-Brasil e Novo
Exame Nacional do Ensino Médio –
Novo ENEM.
Os resultados das avaliações na
educação viabilizaram a conquista
da melhoria da escola pública. Há
muito que fazer e melhorar, a qualidade da escola que fazemos, mas
as avaliações cumprem um papel
que contribui para o enfrentamento
adequado às questões nevrálgicas
da escola pública. Como exemplo, pode ser citado as questões
referentes ao fracasso escolar. As
pesquisas revelam que nos últimos
anos há um desafio para o avanço
da melhoria da escola.
“Os números indicam ser
necessária uma mudança
no sistema de ensino.”
Elementos inovadores foram definidos na forma de instrumentos para
o controle da frequência, o acompanhamento da evasão, da repetência,
da reprovação e do abandono escolar que provocaram muitas divergências, mas foram incorporados como
recursos para o avanço de práticas
significativas na organização do trabalho docente na escola pública.
A definição do sistema de avaliação contribuiu sobremaneira para a
criação do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica – IDEB. Os
resultados do IDEB provocaram uma
reviravolta na definição das políticas
públicas na educação. A função deste indicador denota o monitoramento
dos sistemas públicos de ensinos
apoiados nos índices dos fluxos escolares tendo por base a promoção,
a repetência e a reprovação combinando com os resultados dos alunos
nos exames padronizados no final do
Ensino Fundamental I (5º. Ano) e na
conclusão do Ensino Fundamental II
(9º. Ano) e no término do Ensino Médio (3º. ano).
A criação do IDEB permitiu a coleta das informações anualmente para
o Censo Escolar das escolas públicas e particulares no país de informações básicas que passam a compor
o banco de dados sob a responsabilidade do INEP/MEC. O Censo Escolar
revela: matrícula, número de turmas,
função docente, número de estabelecimentos, movimentação escolar,
transporte escolar e rendimento dos
alunos. Os dados do Censo Escolar
produzem informações que, sistematizadas, colaboram para o funcionamento do sistema gerando outros indicadores, tais como: o tempo médio
de permanência dos alunos no sistema de ensino. A consistência das informações produzidas ano a ano por
meio dos indicadores permitirá uma
leitura mais aguçada da realidade e
suas nuanças, servindo para a tomada de decisão tendo em vista o êxito
escolar. O Índice de Desenvolvimento da
Educação Básica – IDEB, somente
tem sentido se apontar como instrumento de avaliação para a melhoria do ensino. Os resultados devem
servir como alerta aos gestores para
que medidas urgentes devam ser
tomadas com o objetivo no desenvolvimento da educação. Se compararmos uma série histórica, os resultados dos anos de 2005 a 2009, é
fácil verificar que o desempenho da
escola no Brasil cresce de forma lenta, aliás, muito lenta.
O sistema educacional brasileiro
encontra-se numa profunda letargia,
marcado por uma lentidão que afeta
o crescimento, tanto na rede pública
como na rede privada. Os números
indicam ser necessária uma mudança no sistema de ensino. O resultado
do último IDEB nos revela o baixo desempenho no crescimento da aprendizagem. Assim, urge o desafio em
focar a atividade de organização da
gestão da escola. É preciso interpretar as informações dos relatórios e
transformá-los em políticas de ação.
Ousar em reinventar a escola.
O núcleo central das mudanças está no paradigma: da concepção do ensino para uma nova
aprendizagem. Os professores
foram formados numa lógica em
que se tem a ação pedagógica
centrada no ensino. O modelo
de aulas exagera no instrucionismo e no uso das pedagogias
tradicionais. Sabemos que o conhecimento está disseminado
em rede, mas o centro da aula é
o professor. São utilizados métodos que não estão centrados na
aprendizagem. As experiências
verdadeiramente construtivistas
são raras e prolifera a mesmice
no dia-a-dia da sala de aula. Portanto, é preciso que se desenvolva outra mentalidade diante dos
desafios de fazer uma nova escola possível. É necessário investimento na formação continuada
dos professores.
Se a escola, sala de aulas e o
professor não mudaram isso é lamentável para a aprendizagem dos
alunos e demonstra a estagnação do
sistema. Não se pode dissimular a
importância do professor no processo de ensino-aprendizagem. O Relatório do IDEB nos mostra que 40%
dos professores que atuam no ensi-
VIDA E EDUCAÇÃO | 47
Política Educacional
“Mas a inovação leva certo
tempo para se consolidar
na forma de uma cultura
institucional.”
Esses números revelam o descaso do Estado com a formação
dos professores, mesmo que, desde
1996, a nova LDB – Lei nº. 9394/96,
já traga definido no seu texto como
lei a década da educação, determinando prioridade na formação em nível superior dos professores. Parece
que esta realidade ainda precisa ser
seriamente modificada. A realidade é
que a formação do professor possui
uma relação com a aprendizagem do
aluno e na qualidade do ensino.
É fundamental que a mudança da
melhoria da escola necessariamente
passe pelo professor. É necessário
desenvolver uma política de formação de professores, inicial e contínua, para além das semanas pedagógicas, das jornadas pedagógicas
promovidas pelas escolas e municípios. Estas atividades formativas não
devem acabar, mas que a formação
deve ser prioridade como projeto das
escolas para a melhoria da qualidade
do ensino. Neste sentido, é relevante que se proponha aos docentes a
mudança no processo didático, no
planejamento, no ensino, na aprendizagem e na avaliação. É fundamental
48 | MARÇO/ABRIL 2013
que se faça a superação desta situação com uma correta formação dos
professores.
Outro ponto que merece destacar
foi a inovação no sistema de avaliação, foi a implantação do Exame Nacional do Ensino Médio. A renovação
do ENEM em 2008, permitiu a implementação de mudanças que alteraram a sua composição, passando
a ser denominado, a partir de 2009,
como Novo Enem. Sob exigências
da política para as Instituições Federais de Educação Superior - IFES, o
Governo Federal requereu a adoção
do Novo ENEM em substituição ao
vestibular tradicional.
É fácil verificar que ano após ano
tem sido crescente a adoção do Novo
ENEM pelas IFES. Essa medida faz
parte da política do governo federal
que ao contemplar com recursos as
Instituições Federais de Educação
Superior exige em contrapartida destas a filiação aos programas do MEC.
As mudanças provocadas pelo Novo
ENEM em substituição dos vestibulares tradicionais haverá de trazer outras necessidades nas escolas para
o desenvolvimento e renovação da
sua estrutura e organização.
As medidas acima citadas, segundo o Estado avaliador, devem
contribuir para a melhoria dos sistemas de ensino e das escolas. Mas
a inovação leva certo tempo para se
consolidar na forma de uma cultura
institucional. Estes elementos podem
vir a se constituírem em instrumentos
de gestão dos sistemas de ensino e
das escolas. A inovação deverá ser
captada com a alteração dos resultados da avaliação.
Entretanto, a educação é marcada como um campo contraditório. A
contradição revela, de forma dialéti-
ca, outras questões que estão colocadas para o desafio da melhoria da
escola: porque a democratização e a
universalização da escola não permitiram a elevação dos indicadores de
qualidade do ensino?
Portanto, falta muito no que diz
respeito à responsabilidade do Estado, em ter como prioridade a educação e a escola. Como se pode
querer priorizar a escola tendo como
fim o desenvolvimento do país e não
se valorizar o professor e o seu trabalho? A valorização não deve ser
limitada à melhoria do salário com
a instituição do piso salarial dos
professores, mas investimentos no
bem-estar docente e nas condições
para o bom desempenho do seu trabalho são fundamentais.
Logo, se verifica que muito nos
falta para uma situação ideal. A reação negativa em priorizar a educação é algo que deverá ser superado,
pois, há muito para ser alcançado
na busca do ideal para o bem-estar
do trabalho e desempenho dos professores. Ainda não há uma vontade política explicitada nos discursos
políticos, ou seja, nos falta vontade
política para de fato melhorarmos na
educação.
Casemiro de Medeiros Campos – doutorando no Programa de Pós-Graduação em
Educação da Faculdade de Educação da
Universidade Federal do Ceará – UFC. Mestre
em educação/UFC, pesquisador na área de
formação de professores, gestor e consultor
em educação. Escritor.
www.casemiroonline.com.br
[email protected]
Gestos de flexibilidade
na EaD
Ana Cláudia Uchôa Araújo
Patrícia Helena Carvalho Holanda
Tese de Doutoramento investiga a participação da mulher no magistério na EaD no Brasil,
na contemporaneidade.
Esse texto consiste num relato da
aproximação teórica entre o objeto
de pesquisa – a mulher e a docência na EaD – contemplado em nossa
proposta de tese de Doutoramento,
e algumas leituras e estudos advindos da Disciplina de História da
Educação Comparada III, cursada
no Programa de Pós-Graduação em
Educação Brasileira, na UFC, no segundo semestre do ano de 2012.
De início, convém destacar que
o objeto de pesquisa ainda se encontra em pleno processo de delineamento, com todas as dúvidas e
angústias que invadem o pesquisador num momento como este. Neste
período, envolto mais em incertezas
do que certezas, tem-se a impressão
que se tateia no escuro, que as palavras e ideias não exprimem exatamente aquilo que se quer falar, enfim,
que a pesquisa não avança como se
espera e o tempo urge sem piedade.
Em meio a este caos (talvez, necessário), sinto-me como a deslizar
numa superfície ora lisa, ora íngreme, das lembranças de uma história
presente da qual também sou uma
personagem: a da participação da
mulher no magistério na EaD no Brasil, na contemporaneidade. É esta
participação somada à vivência que
tenho tido num núcleo de educação
a distância desde o ano de 2008 que,
ao se cruzarem com as leituras que
venho fazendo, sobretudo no âmbito da disciplina acima citada, contribuem para aos poucos tornar mais
vívido e preciso o foco do que pretendo pesquisar, colaborando para a
construção do referencial teórico, a
escolha da metodologia empregada
e a definição das categorias de análise norteadoras da investigação.
Contudo, convém destacar que
esta pesquisa também se volta para
o entendimento do passado, para a
melhor compreensão do hoje, uma
vez que começo o estudo pelo momento do ingresso maciço da mulher
no magistério brasileiro, que se dá
por volta da década de 1930, período de assentamento das bases da
industrialização no país e da República. A EaD no Brasil, o ambiente
em que se dá a investigação, por sua
vez, já no final do século XIX começa
a ter iniciativas tímidas no país, conforme Alves (2009), passando por
diversas fases de desenvolvimento
ao longo do século XX e tendo um
período de explosão exponencial na
primeira década do século XXI, por
ocasião da utilização das TIC‘s (Tecnologias de Educação e Comunica-
ção) no processo de ensino e aprendizagem.
Quanto à mulher que atua nesta
fase da EaD mais contemporânea,
sabe-se de sua atuação em diversas
funções de uma equipe multidisciplinar vinculada a esta modalidade, incluindo a docência, cuja figura mais
proeminente é a do tutor a distância.
Mattar (2012), a respeito da tutoria,
pontua que esta atividade é vista por
muitos de forma rebaixada, uma vez
que em várias instituições de educação a distância,
[...] O salário é indecente, e o tutor é
quase sempre convidado a agir passivamente, como um monitor, não
como um professor. Isso reforça um
modelo de EaD fordista, industrial e
instrucional, que acaba afastando
muita gente da EaD, embora não
seja o único modelo possível de se
fazer educação a distância. Ao contrário, há um modelo oposto, que dá
mais importância à interação do que à produção de conteúdo
e que, por sua vez,
exige processos de
formação de professores, profissionais
pagos decentemente
etc (op. cit, 2012, p. 19).
VIDA E EDUCAÇÃO | 49
Foto: Arquivo Digital
no fundamental possuem somente
o ensino médio, ou seja, são professores formados apenas com o curso
pedagógico ou o normal. Na região
Nordeste o quadro dos professores
com nível médio é de 50%. Os Estados da Bahia, Roraima, Maranhão,
Pará, Acre, Alagoas, Amapá, Piauí e
Pernambuco possuem mais de 40%
dos professores atuando no ensino
fundamental com formação de nível
médio. Essa realidade precisa ser
modificada com urgência.
carreira
carreira
Depreende-se, assim, que o tutor, como o profissional responsável
pela mediação pedagógica dos processos de ensino e aprendizagem
em EaD, é um docente por excelência e que a ele são delegados vários
papéis que demandam conhecimento do conteúdo específico, da tecnologia e de didática adequados ao
ensino virtual, sem no entanto ser
reconhecido como professor, nem
pelo nome, quanto menos pelo salário. Em que pese esta realidade,
Mattar, nesta obra, defende o uso
do termo professor para designar
o tutor que atua em EaD tanto no
aspecto pedagógico quanto no trabalhista, enquanto autores como
Bruno e Lemgruber (2009) defendem o termo professor tutor, por
entenderem que a ação deste profissional não está ligada ao fato de
simplesmente receber pacotes de
conteúdos prontos e irrefletidamente lançá-los aos alunos.
É neste contexto de docência
precarizada, que se busca investigar
o papel feminino, tecendo-se as seguintes indagações: o que se sabe
desta mulher professora no ensino
a distância? Qual a sua formação e
qual a relação disto com o trabalho
que desempenha na EaD? Em quais
cursos e modalidades atua? Por
quais desafios e dilemas tem passado? Como esta mulher professora
lida com as crescentes mecanização
e desterritorialização da docência
na EaD? Ainda não tenho respostas
para tais indagações, mas passo a
discorrer agora sobre o que o diálogo travado com um dos autores lidos
nesta disciplina tem colaborado com
a discussão que tenho iniciado na
pesquisa.
Em Del Priore (2011), tenho estudado a história feminina no país, desde os períodos coloniais, a situação
de subordinação da mulher e suas
tentativas de emancipação. Nos textos ainda se apresentam o corpo fe-
50 | MARÇO/ABRIL 2013
minino demonizado e “domado” e a
sua sexualidade reprimida, com o fito
de “proteger” a mulher de si mesma e
resguardar a sociedade da degeneração e perdição, advindas de uma
possível liberação sexual feminina.
Há destaque também para a
abordagem feita acerca da mulher
“histérica”, sendo ela já um produto
de uma sociedade repressora. Tal
mulher recebe o tratamento psiquiátrico para a sua doença. É rotulada,
dopada, confinada e mutilada através de práticas de enquadramento
patologizantes. Já num período de
nascente e crescente urbanização
brasileira, no início do século XIX, a
mulher burguesa também me é apresentada, como aquela que, embora
livre para sair para o cinema, o teatro
e o café, embora cuidadosamente
vigiada pelo marido, o pai e a sociedade, é tão presa quanto a mulher de
outrora, uma vez que deve assumir
os papéis (antigos e novos), os quais
mesclam o tradicional e o moderno, pois ao mesmo tempo em que
deve ser a esposa fiel, agora precisa aprender a ser mãe responsável
pelos cuidados da prole e da casa,
bem como se comportar em público
e granjear para o esposo e a família a
manutenção ou a elevação do status
familiar considerado qualificado para
a época.
A revisita a estas mulheres de,
pelo menos, quatro séculos me faz
voltar o olhar para a mulher do hoje, a
mulher professora da EaD, o sujeito
da pesquisa que estou desenvolvendo. Meu olhar é curioso, no sentido
de investigar seus anseios e temores, as interfaces estabelecidas entre a sua vida familiar e profissional.
Procuro imaginar em que medida, a
mulher colonial, a mulher “histérica”
e mulher burguesa se aproximam
desta mulher conectada às redes sociais e à educação a distância, que
sai agora sem a vigilância do marido e do pai, porque o dispositivo de
Projeto
Viva a Vida
vigilância e autorregulação, como
nos diria Foucault, já está introjetado
nela. Suspeito, porém, que as mulheres do passado e do presente estão
mais próximas do que imaginamos...
Educação
para a Cidadania
Ana Cláudia Uchôa Araújo - Doutoranda
em Educação Brasileira, pela Universidade
Federal do Ceará-UFC, na Linha História
da Educação Comparada, Eixo Educação
Comparada. Pesquisadora em Educação a
Distância, Educação Profissional e Educação
Comparada. Pedagoga no Instituto Federal
de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará,
Campus Fortaleza.
Emails:[email protected];
[email protected].
Acreditando que a melhor arma contra as
drogas é, e continuará sendo, a prevenção,
e entendendo que ações educativas e
preventivas só serão eficazes se discutidas
com a sociedade de forma aberta, é que
a JF Projetos e Edições lança a Cartilha
”Conversando Sobre Drogas”, com uma
proposta de pactuar caminhos intersetoriais que fortaleçam todas as iniciativas
favoráveis à sua prevenção e consumo.
Patrícia Helena Carvalho Holanda - Doutora em Educação Brasileira, pela Universidade Federal do Ceará-UFC. Professora do
Programa de Pós-Graduação em Educação
Brasileira da UFC, nas Linhas de Avaliação
Educacional, Eixo Avaliação Curricular, e
História da Educação Comparada, Eixo de
Educação Comparada. Orientadora de Mestrado e Doutorado, da Faculdade de Educação-FACED/UFC.
Email:[email protected]
Referências bibliográficas
ALVES, João Roberto Moreira. A História da EaD no Brasil. In: LITTO, Frederic
Michael e FORMIGA, Manuel Marcos M.
(orgs.). Educação a Distância: o Estado
da Arte. São Paulo: Pearson Education
do Brasil, 2009.
BRUNO, Adriana Rocha; LEMGRUBER,
Márcio Silveira. A dialética professor-tutor na Educação On-line: o curso de Pedagogia – UAB-UFJF em perspectiva.
Disponível em: http://www.ufpe.br/nehte/
hipertexto2009/anais/a/a-dialetica-professor-tutor.pdf. Acesso em: 24 fev. 2013.
DEL PRIORE, Maria. História das mulheres no Brasil. São Paulo: Editora Contexto, 2011.
MATTAR, João. Tutoria e interação em
Educação a Distância. São Paulo: Cengage Learning, 2012 (Série Educação e
Tecnologia).
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