amor, uma análise critico-conceitual: mitos

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amor, uma análise critico-conceitual: mitos
 41 Amor, uma análise crítico‐conceitual... – Lima & Rodrigues AMOR, UMA ANÁLISE CRITICO-CONCEITUAL:
MITOS, CRISES, AMBIVALÊNCIAS E SENTIDOS
Edson Francisco Machado de Lima 1
(Orientador) Prof. Dr. Kleber Fernando Rodrigues 2
FAFICA
RESUMO:
O presente trabalho de pesquisa tem como objeto de estudo o amor na
contemporaneidade e busca como objetivo estudá-lo mediante seu
fenômeno histórico em seus mitos, crises, ambivalências e sentidos –
construídos pela humanidade. Apresentando suas características
principais, foca-se em compreendê-lo no tempo presente, de acordo
com o fenômeno da modernidade. Diante disso, três populares formas
atribuídas ao amor foram analisadas neste trabalho, sendo elas: Eros,
Philia e Ágape. A metodologia utilizada se constituiu da abordagem
qualitativa e procedimento bibliográfico fundamentada em autores
como: GIDDENS (1991), HALL (2001), BAUMAN (2004),
GHIRALDELLI (2011), FREUD (1996), ARISTÓTELES (2001),
KIERKEGAARD (2005) e MORIN (2000). Partindo desse referencial,
analisamos como as sociedades foram modificando os conceitos de
amor, no intuito de adequá-los às múltiplas culturas. Por fim, torna-se
evidente no resultado deste projeto a ideia de complexidade. Assim,
Eros, Philia e Ágape fazem parte de um todo, chamado amor, que se
deixa construir e desconstruir de acordo com o pensamento de cada
época e cultura, e, isso justifica a constante incerteza que o faz
sobreviver a tantas significações, modificando sua aparência, sem
perder a essência.
1
Graduando em Filosofia, pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de
Caruaru – FAFICA. Estudante de Iniciação Cientifica – NUPESQ – FAFICA. 2
Doutor em Sociologia - Universidade Sorbonne - Paris V - René Descartes Docente e Pesquisador do NUPESQ- FAFICA. Docente do Instituto Federal da
Pernambuco - IFPE. Revista Diálogos – N.° 11 – Mar/Abr ‐ 2014 41
42 Amor, uma análise crítico‐conceitual... – Lima & Rodrigues PALAVRAS-CHAVE: Amor; Desejo; Felicidade.
ABSTRACT
The present research has as an object of study the love in contemporary
and seeks as objective study it through his historical phenomenon in
their myths, crisis, ambivalence and senses - built by mankind.
Presenting its main features focuses on understand it at the present
time, according to the phenomenon of modernity. Thus, three popular
forms ascribed to love were analyzed in this work, namely: Eros, Philia
and Agape. The methodology used was composed of qualitative
research and literature procedure based on authors such as GIDDENS
(1991), HALL (2001), BAUMAN (2004), GHIRALDELLI (2011),
FREUD (1996), ARISTOTLE (2001), KIERKEGAARD (2005) and
MORIN (2000). Starting this referential, we analyze how societies were
changing the concepts of love, in order to adapt them to the multiple
cultures. Finally, it is evident result of this design in view of the
complexity. Thus, Eros, Philia and Agape are part of a whole, called
love, that lets you build and deconstruct according to the thinking of
every time and culture , and this justifies the constant uncertainty that
makes surviving so many meanings, modifying their appearance,
without losing the essence.
KEY WORDS: Love, Desire, Happiness.
1 - INTRODUÇÃO
A contemporaneidade tem vivido uma crise generalizada
em vários sentidos, em especial no sentido moral. Conceitos que
antes eram tidos como essenciais, no momento presente se
tornaram nada mais que, meros fatores culturais, julgados como
antigos e muitas vezes descartáveis, o que atinge de forma bem
Revista Diálogos – N.° 11 – Mar/Abr ‐ 2014 42
43 Amor, uma análise crítico‐conceitual... – Lima & Rodrigues significativa os relacionamentos humanos, em todos os seus
aspectos.
Este trabalho dedicar-se-á a analisar o fenômeno e as
múltiplas facetas do amor. Relação esta que ultrapassa, em muitas
vezes, os limites do afeto, pois a proximidade se torna tamanha
que não são mais dois corpos. Agora passam a existir dois corpos
e uma só alma, como prega a grande máxima do casamento
cristão: “E os dois formarão uma só carne” (Cf. Mt 19, 5). 3
O Amor na história da humanidade foi retratado e
interpretado de várias formas: poesias, músicas, artes plásticas,
esculturas, teorias e muitas outras expressões. Estes e muitos
outros tipos foram os que a humanidade encontrou para tentar
traduzir o que chamavam de amor. Contudo é interessante
perceber a vontade humana de querer transportar para ascoisas, o
belo do sentimento, podendo agora ser contemplado e tocado fora
da pessoa que o sente.
Para uma boa análise filosófica tem-se, em primeiro lugar,
a tentativa de esvaziar o conceito atual do que se conhece como
amor, levando em conta tudo que pode vir a influenciá-lo. E
consequentemente por meio de uma linha histórico-filosóficocultural, pretende-se reconfigurar o conceito vislumbrando assim
a criação de uma crítica para a atual condição discutida do tema
amor.
2 - MODERNIDADE E SUAS INTERPRETAÇÕES
É fundamental, antes de qualquer observação sobre algum
aspectoda sociedade, questionar-se sobre as realidades atuais e as
crises vividas em cada campo de pesquisa, de acordo também,
com o seu tempo histórico-social-cultural.
3
BIBLIA. Português. Bíblia sagrada. Tradução: Centro Bíblico Católico. 172.
ed. São Paulo: Ave Maria, 2007. Revista Diálogos – N.° 11 – Mar/Abr ‐ 2014 43
44 Amor, uma análise crítico‐conceitual... – Lima & Rodrigues No campo do relacionamento, vive-se uma época de crise,
cuja identidade está sendo colocada contra parede e cada vez
mais questionada. Vale ressaltar que, sociólogos, filósofos,
psicólogos usam de alguns termos para explicar estes momentos
de passagem vividos atualmente. Diante disso, Modernidade
tardia (SOUZA, 2010), consequências da modernidade
(GUIDDENS, 1990), modernidade liquida (BAUMAN, 2004),
pós-modernidade
(HALL,
2001),
hipermodernidade
(LIPOVETSKY, 2004) e muitos outros títulos sustentam essa
grande procura pelo “telos” 4 que está guiando essa sociedade.
Os modos de vida colocados em ação pela
modernidade nos livraram, de uma forma
bastante inédita, de todos os tipos tradicionais
de ordem social. Tanto em extensão, quanto
em intensidade, as transformações envolvidas
na modernidade são mais profundas do que a
maioria das mudanças características dos
períodos anteriores. No plano da extensão,
elas serviram para estabelecer formas de
interconexão social que cobrem o globo; com
termos de intensidade, elas alteraram algumas
das características mais íntimas e pessoais de
nossa existência cotidiana (GIDDENS, 1990,
p. 21).
Em consonância com o que foi dito, a existência agora
não está fundamentada somente no tradicionalismo, mas o que
emerge com força Stuart Hall vai chamar de descentramento do
sujeito 5 , ou seja, aquilo que antes se mantinha na periferia graças
4
Ponto ou estado de caráter atrativo ou concludente para o qual se move uma
realidade; finalidade, objetivo, alvo, destino. 5
Termo usado por Stuart Hall, em seu livro, A identidade cultural na pósmodernidade
(2006).
“asidentidadesmodernasestãosendofragmentadasargumentamqueoqueacontece
uàconcepçãodosujeitomoderno,namodernidadetardia,nãofoisimplesmentesuade
Revista Diálogos – N.° 11 – Mar/Abr ‐ 2014 44
45 Amor, uma análise crítico‐conceitual... – Lima & Rodrigues a grande força que o centro exercia nos modos de vida de cada
um, está sendo fragmentada e deslocada, dando lugar assim a um
grande centro cheio de diversidades. Porém, em constante
interconexão modificando-se a si mesmo a todo momento, e, por
consequência os modos de pensar e estar na vida social.
Nos relacionamentos, essa fragmentação se mostra de
forma bem contundente, pois os ideais de um relacionamento
seguro e duradouro não mudaram, mas a fácil interação e a
grande proximidade causada pela evolução tecnológica, fizeram
com que os novos relacionamentos se tornassem mais adaptáveis
ao que cada um procura, fazendo assim da liberdade a grande
causadora de dúvidas e mantenedora da extensa briga com o
tradicionalismo clássico.
Em virtude disso, a tradição abre um leque
ressignificativo para tratar da ligação entre passado, presente e
futuro. Como enfatiza Anthony Giddens:
Nas culturas tradicionais, o passado é honrado
e os símbolos valorizados porque contêm e
perpetuam a experiência de gerações. A
tradição é um modo de integrar a monitoração
da ação com a organização tempo-espacial da
comunidade. Ela é uma maneira de lidar com
o tempo e o espaço, que insere qualquer
atividade ou experiência particular dentro da
continuidade do passado, presente e futuro,
sendo estes por sua vez estruturados por
práticas sociais recorrentes. A tradição não é
inteiramente estática, porque ela tem que ser
reinventada a cada nova geração conforme
esta assume sua herança cultural dos
precedentes. A tradição não só resiste à
sagregação,masseudeslocamento.Elasdescrevemessedeslocamentoatravésdeum
asériederupturasnosdiscursosdoconhecimentomoderno” (p. 34) Revista Diálogos – N.° 11 – Mar/Abr ‐ 2014 45
46 Amor, uma análise crítico‐conceitual... – Lima & Rodrigues mudança como pertence a um contexto no
qual há, separados, poucos marcadores
temporais e espaciais em cujos termos a
mudança
pode
ter
alguma
forma
significativa.( GIDDENS, 1990, p. 38)
Assim, para uma boa análise do amor, enquanto
ambivalente, polissêmico e sujeito a constantes crises, a
modernidade é um fator primordial. O amor vive em constantes
ressignificações seja ele, Eros, Philia ou Ágape, e todas essas
especulações são baseadas fundamentalmente na seara da
modernidade enquanto influenciadora primeira no campo do
conhecimento e da atitude prática de cada ser.
Dessa feita, a modernidade histórica foi, e é
fundamentalmente marcada pela preponderância do ser subjetivo,
que não busca mais, exclusivamente, entender o que se encontra
fora dele – como acontecia com os clássicos e os medievais. Os
modernos também tinham como característica os ideais
românticos, mas agora envolvidos por essa percepção racional, na
qual, esta perspectiva muitas vezes se sobressai quando se fala de
modernidade. Watt nos diz que:
A maioria dos mitos do mundo ocidental
origina-se de figuras ou histórias clássicas e
bíblicas. Ainda me lembro d[e] quanto me
entusiasmou saber que Fausto, Dom Quixote
e Dom Juan não eram nem clássicos nem
bíblicos, mas criações modernas. (WATT,
1997, p. 14)
Partindo dessa premissa, Watt nos mostra que além da
racionalidade em foco, o romantismo estava presente e se
manifestava de forma bem explícita nas produções artísticas,
teóricas, e literárias daquela época. Logo, o amor a ser tematizado
nesse trabalho, abordará o ser moderno enquanto, subjetivo,
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47 Amor, uma análise crítico‐conceitual... – Lima & Rodrigues complexo, plural, e diverso coexistindo para fundamentar o
sentido da vida que manifesta no amor.
Portanto, o amor e a modernidade tem essa relação
dialógica e interativa, que envolvem símbolos, por vezes
sacralizados, mas que precisam ser pensados de forma
pedagógica e filosófica. E como diz Paulo Freire, é preciso sim,
dar espaço para o risco que se apresenta em qualquer área do
conhecimento, seja ele do campo prático ou teórico.
É próprio do pensar certo, a disponibilidade
ao risco, a aceitação do novo que não pode ser
negado ou acolhido só porque é novo, assim
como o critério de recusa ao velho não é
apenas o cronológico, O velho que preserva
sua validade ou que encarna uma tradição ou
marca uma presença no tempo continua novo.
(FREIRE, 1996, p. 35)
3 - EROS, ÁGAPE E PHILIA – CONCEITOS GERAIS
COMUNS
Por ser amado, o amor não cabe em si.
Por ser encantado, o amor revela-se.
Pétala - Djavan
Certamente o amor tem características peculiares, que se
manifestam de formas diferentes para cada situação, porém, na
sociedade moderna é de caráter comum diferenciar o amor em
três tipos, ou mesmo três formas de percebê-lo, que seriam: Eros,
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48 Amor, uma análise crítico‐conceitual... – Lima & Rodrigues Ágape e Philia. Logo poder-se-ia elencar aqui vários tipos,
subsequentes dos amores escritos acima.
Os conceitos comuns são bem distintos, porém através de
alguns estudos percebe-se uma correlação de tamanha proporção
que se torna difícil conceituar de forma válida aquilo que com o
decorrer da história, graças a uma cultura que visava o controle
social através de uma alienação generalizada, tirava o foco da
origem e do sentido original para assim construir julgamentos
morais desprovidos de profundidade filosófica.
A internet se tornou o grande portal de conhecimento na
atualidade. Os sites de relacionamentos, blogs, e até as páginas de
pesquisa são constantemente editadas, segundo os moldes da
pessoa que se diz administrador e pode mostrar aquilo que quiser
sem nenhuma repreensão.
Numa perspectiva comum, bem difundida e encontrada
com grande proporção na internet temos para Eros 6 , Ágape 7 e
Philia 8 , algumas interpretações interessantes. Ao pesquisar no
Google as palavras, Eros, Ágape e Philia encontra-se:
Eros, o amor paixão. O amor que cega, que
nos faz surdos e mudos. Tira-nos a razão,
enlouquece, [...] Philia, o amor amizade. O
amor companheiro de todas as horas. O amor
que nos faz poder contar com outro a todo e
qualquer momento. O amor que nos faz
cúmplices, íntimos, amigos.[...] Ágape, amor
que tudo compreende. Tudo aceita. Tudo
constrói. Um amor que de tão imenso,
6
Eros (em grego Ἔρως; no panteão romano Cupido) era o deus grego do
amor. Hesíodo, em sua Teogonia, considera-o filho de Caos, portanto um deus
primordial. 7
Ágape (em grego "αγάπη", transliterado para o latim "agape") 8
Philia" (em grego: "φιλíα" transliteração para o latim:"philia") Revista Diálogos – N.° 11 – Mar/Abr ‐ 2014 48
49 Amor, uma análise crítico‐conceitual... – Lima & Rodrigues extrapola a vida a dois e é compartilhado com
todos os que estão à volta. (MAIA, 2012)
Partindo dessa premissa, percebe-se que para o ser
humano moderno é necessária essa partição e conceituação
individual de cada coisa, pois se assim não for, pode gerar
dúvidas sobre o que realmente vem a ser aquilo que esta sendo
observado.
Por isso, no intuito de se perceber a profundidade
existente em cada conceito é necessária a busca e o entendimento
das origens. Em caráter convencional tem-se no ocidente, a
origem grega como principal fonte de estudos. E a partir desta,
este estudo se comprometerá em analisar as crises culturais, a que
se atribuem o amor em suas vária acepções e sentidos.
4 - EROS: ORIGENS AMBIVALÊNCIAS E SENTIDOS
Várias tradições narram o nascimento de Eros, e, isso fala
muito de suas características, pois em cada uma percebe-se
alguma das várias atribuições do amor. Uma das mais citadas é a
tradição de Hesíodo 9 , no seu poema mais conhecido, chamado:
Teogonia 10 , que narra as origens dos deuses, sua genealogia e a
organização do universo.
Hesíodo diz que Eros era um dos deuses primordiais
juntamente com Caos, Terra e Tártaro. E segundo o poeta, Eros, o
deus mais belo dos deuses imortais, tinha como função inicial a
9
Hesíodo (em grego: Ἡσίοδος, transl. Hēsíodos) foi um poeta oral grego da
Antiguidade, geralmente tido como tendo estado em atividade entre 750 e 650
a.C., por volta do mesmo período que Homero. Sua poesia é a primeira feita na
Europa na qual o poeta vê a si mesmo como um tópico, um indivíduo com um
papel distinto a desempenhar. 10
Teogonia, também conhecida por Genealogia dos Deuses, é um poema
mitológico em 1022 versos hexâmetros escrito por Hesíodo no séc. VIII a.C.,
no qual o narrador é o próprio poeta. Revista Diálogos – N.° 11 – Mar/Abr ‐ 2014 49
50 Amor, uma análise crítico‐conceitual... – Lima & Rodrigues união das partes do mundo ,ou seja, transformar o Caos inicial em
Cosmos. É de suma importância perceber toda a cosmologia
pregada pelos filósofos iniciais, de certa forma baseia-se na união
das partes, para a busca da harmonia. Percebe-se isso em
Empédocles, quando tenta explicar que além dos quatro
elementos primordiais: água, fogo, terra e ar; existia dentro destes
o que a tradição passou a chamar de forças – o amor e o ódio. Por
esse motivo, o amor aqui não se identifica com sentimento ou
mesmo genitalidade, mas vontade/propensão de união para fins
organizacionais e harmônicos.
Continuando as observações têm-se: Terra que é a
segurança, enquanto Tártaro nada mais é que as “profundezas
nevoentas” e insegurança, ou seja, esses dois últimos são matéria.
Em contrapartida, Eros e Caos eram forças de coesão e separação
responsáveis pela organização do mundo. Diante disso, fica um
questionamento: por que se usa na sociedade o Eros com
frequência em expressões relacionadas ao sexo?
É simples e ao mesmo tempo complexo responder isto,
pois, num outro relato mítico Eros é filho de Afrodite, e sua mãe
percebe que o filho mesmo com o passar do tempo não cresce
(envelhece), e isso entristece Afrodite, até que outra deusa
conversando com ela diz que a razão dele não crescer é por que
ele se encontra sozinho, e se ela quisesse que ele crescesse teria
que ter outro filho. Sendo assim Afrodite não hesitou e teve logo
outro filho Anteros, que ao se relacionar com Eros, fez com que
este último crescesse e ficasse robusto. Dando assim a
característica principal do amor, que ele só pode crescer quando
há relação de interação direta e mútua.
Então aí está a resposta da pergunta, e mais ainda a grande
diferença de Eros e Caos. O primeiro é responsável por atrair
tudo que há, e para que aconteça isso é necessário que existam
primeiramente dois “corpos” e em segundo plano a interação
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51 Amor, uma análise crítico‐conceitual... – Lima & Rodrigues erótica (relação íntima de vontade). Sendo assim, destes nascerá a
harmonia. É importante entender que a relação erótica aqui
frisada nada tem a ver com a genitalidade ou sentimento, mas sim
tem conexão direta com a vontade como propensão a união em
busca do belo/bem/harmonia.
Assim o prazer obtido no sexo é semelhante em certo
sentido à função erótica primordial, no que concerne a função de
gerar o belo. Por isso, no decorrer do trabalho, implicitamente,
ficará evidente a interdependência que há entre Ágape, Philia e
Eros. Contudo, no decorrer da história este – Eros – passou a ser
atribuído somente ao amor enquanto sexual, Philia ficou sendo
interpretado como amizade e Ágape como o amor de
Deus/fraternal.
4.1 - EROTISMO E SEXUALISMO
Em suma, via-se que o Amor em suas origens teve quatro
funções como diz Ghiraldelli: “[...]força cósmica, amor
erótico/sexual, amor de amizade e amor fraterno
cristão[...]”(GHIRALDELLI, 2011. p 11) e que somente as três
últimas chegaram até as pessoas de forma explícita. No entanto,
quando se fala de atração física ou espiritual, estar-se falando
daquele sentido perdido ligado ao cosmos.
Não obstante, em tempos modernos tendem-se, em
primeiro lugar, a exaltar os amores de mãe, de Deus, da amizade,
em detrimento do amor sexual/erótico, quando na verdade, como
nos diz Ghiraldelli citando Freud informalmente que:
Freud foi o responsável por dizer que todos os
amores são derivações do amor erótico. Os
amores estariam ligados a uma base de
‘energia’ psicofísica pertinente a cada um de
nós, o que ele denominou de Libido. [...] uma
vez que, Freud construía sua teoria, a própria
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52 Amor, uma análise crítico‐conceitual... – Lima & Rodrigues noção de amor erótico, no âmbito popular,
começou a ser reduzida ao exclusivo ‘desejo
de ter relações sexuais’”(FREUD apud
GHIRALDELLI, 2011. p 11)
Partindo dessa premissa, o erotismo não seria somente o
desejo sexual em si, mas em síntese seria essa energia peculiar
que se impele também ao sexo, porém mais ainda se dá um
sentido/vontade/prazer de vida, manifestado assim também na
religião e no relacionamento amical.
Zygmunt Bauman no seu livro “AMOR LÍQUIDO –
Sobre a fragilidade dos laços humanos”(2004) mais
especificamente no Capítulo Segundo: “Dentro e fora da caixa de
ferramentas da sociabilidade”(p. 55) nos informa de maneira
clara as várias funções do sexo na história da sociedade, mas
sobretudo faz uma crítica usando as palavras do sexólogo
Volkmar Sigusch, onde ele afirma que “salvo as exceções, nossa
cultura não produziu uma ars erótica, mas sim uma scientia
sexualis.”(SIGUSCH apud BAUMAN, 2004 p.56)
É como se Antero, irmão de Eros e “gênio
vingativo do amor rejeitado”, tivesse tomado
de seu irmão o domínio sobre o reino do sexo.
“Hoje, a sexualidade não condensa mais o
potencial do prazer e felicidade”. Ela não é
mais mistificada positivamente com êxtase e
transgressão, mas negativamente, como fonte
de opressão, desigualdade, violência, abuso e
infecção mortal. [...] A ciência sexual
continua a existir, porque a miséria sexual
se recusa a desaparecer”, pois “Eros agora
pode ser encontrado em toda parte, mas
não permanecerá por muito tempo em
lugar nenhum [...] se quiser encontrá-lo
Revista Diálogos – N.° 11 – Mar/Abr ‐ 2014 52
53 Amor, uma análise crítico‐conceitual... – Lima & Rodrigues escreva para posta restante e mantenha a
esperança. (BAUMAN, 2004, p. 56-7)
É incrível ver que os relatos mitológicos estão presentes
em todos os tempos, pois se por um lado Antero toma o reino do
sexo do seu irmão Eros. Por outro lado se fala na modernidade de
uma diferenciação drástica entre amor e sexo, eque como nos diz
Ghiraldelli citando Kant em seu programa “Hora da coruja”, Kant
sendo o Filósofo defensor de uma moral da não objetivação do
outro, ou seja, não transformar o outro em um meio, viu no sexo
uma atitude quase correta, que para a salvação desta condição
indecente, seria o casamento a melhor opção, pois ali haveria a
promessa e esta mesmo que não cumprida irá dar o caráter de
deliberação consciente aquele ato.
4.2 - DESEROTIZAÇÃO DO AMOR
Certamente, na sociedade ao se perguntar a alguém, o que
seria o amor, ter-se-ia uma resposta um tanto que clássicoromântica. E se fosse questionado a respeito do que seria o sexo,
muitas respostas seriam dadas, porém, será que todas estariam
relacionadas diretamente ao amor? Ghiraldelli faz um jogo para
explicar em que estado de crise e alienação a sociedade está em
relação a Eros.
Chegamos à ideia que se expressa de maneira
esquisita em nossa linguagem: o “fazer amor
é tomado por “fazer sexo”, porém, sem
nenhum erotismo. Pois o próprio sexo se
reduz ao que é genital. Ora, para um grego,
uma conversa assim implicaria erro
semântico, algo que não faria sentido. Como
poderia o amor se separar de si mesmo, ou
seja, de Eros? ”(GHIRALDELLI, 2011 p.17)
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54 Amor, uma análise crítico‐conceitual... – Lima & Rodrigues Daí poder-se-ia perguntar: onde estaria a outra parte de
Eros? O filósofo vai ressaltar que, tanto um extremo como outro é
incompleto, e faz do conceito um mero termo circunstancial
porque:
Ao utilizarmos outras palavras para amor,
apertamos os botões que fizeram a máquina
da linguagem vomitar o estranho vocabulário
que fala em ‘amor verdadeiro’, sendo que
este, muitas vezes, tem de ser entendido como
aquele
que
se
opõe
ao
sexo.
”(GHIRALDELLI, 2011 p.17)
Diante disso, defronta-se com uma crise de identidade
conceitual que nem se sabe mais aquilo que é tão intimo e
pessoal. “Alienamos o amor. Nós o partimos em dois, e, no
cotidiano, nem sempre ficamos com a melhor parte”
(GHIRALDELLI, 2011 p17).
Nesse sentido, vê-se uma concordância nos pensamentos
de Bauman e Ghiraldelli, para assim tentar entender uma mesma
crise no que concerne as cisões feitas ao longo das épocas dos
conceitos amor e sexo, dando a este entendimento que se tem
hoje, um caráter de alienação e depreciação de tais conceitos. No
que concerne à atividade sexual Bauman citando Fromm indica
que:
Nesse papel, o orgasmo sexual “assume uma
função que o torna não muito diferente do
alcoolismo e do vicio em drogas”. Tal como
estes, ele é intenso – mas transitório e
periódico. A união é ilusória e, no final, a
experiência tende a ser frustrante, diz Fromm,
por ser separada do amor [...] Qualquer que
seja a capacidade geradora de fusão que o
sexo possa ter, ela vem de sua
Revista Diálogos – N.° 11 – Mar/Abr ‐ 2014 54
55 Amor, uma análise crítico‐conceitual... – Lima & Rodrigues “camaradagem” com o amor. (BAUMAN,
2004 p.62-3)
Outros motivos também são atribuídos a esse processo de
“deserotização” do amor. Como a demonização do sexo, tanto
quanto a idealização perfeita do amado/a fazendo dele um deus
intocável e que não pode ser corrompido. Todas essas alienações
são cabíveis para a explicação deste fenômeno no qual o amor foi
partido em dois.
A geração de filhos, por meio do sexo, talvez tenha parte
no inicio dessa crise, pois, para os antigos, a geração seria o
sinônimo de benção, da parte dos deuses. No cristianismo não foi
diferente, em até certo tempo, tinha-se este pensamento, porém
com o advento do capitalismo os casais passaram a ter menos
filhos, sem que necessariamente passassem a fazer menos sexo.
Baseado nisso, com advento da ciência pós-renascimento, onde a
Igreja perde sua força, os métodos de contracepção começaram a
aparecer mais popularmente.
Em contrapartida, a Igreja católica em seu rito de
casamento, além da promessa da monogamia, existia também a
condição de aceitação do ideal de procriação como requisito
importante no ato do matrimônio.
Abraçando o Matrimônio, ides prometer amor
e fidelidade um ao outro. É por toda a vida
que o prometeis? [...] Estais dispostos a
receber com amor os filhos que Deus vos
confiar, educando-os na lei de Cisto e da
igreja?(IGREJA CATÓLICA, Ritual do
Matrimônio, p. 35)
Sendo assim, na celebração do casamento católico devem
coexistir a disposição de procriar e o amor, em sua instância
monogâmica, no qual o Bauman nos ajuda a entender isso
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56 Amor, uma análise crítico‐conceitual... – Lima & Rodrigues fazendo uma correlação com a dissociação do sexo, instigador de
prazer, mas agora separado das tarefas de procriação.
O amor e disposição de procriar eram
companheiros indispensáveis do sexo do
homo faber 11 , da mesma forma que as uniões
duradouras que ajudavam a criar eram
“produtos principais” – não “efeitos
colaterais”, muito menos rejeitados ou
refugos, dos atos sexuais. [...] Libertado das
tarefas de construção e ressentido dos
esforços exigidos por elas, o homo
consumens 12 pode empregar seus poderes
sexuais
de
formas
novas
e
imaginativas.(BAUMAN, 2004, p. 66)
Em suma a capacidade sexual era uma ferramenta usada
pelo homo faber, para erigir e manter as relações humanas. No
homo consumens, não mais preocupado com tarefas de
procriação, usa de tudo, no sentido de consumir e obter prazer
individual, contrariamente ao que incialmente vimos, no qual,
Eros deve ser mútuo e propenso à união harmônica.
5 - INTERPRETAÇÕES SOBRE O PRAZER E DESEJO
Decerto, pode-se sentir prazer ao ouvir uma música,
comer ou dançar. O prazer seria popularmente aquilo que por
algum momento transmite felicidade e “a determinação de suas
características depende da função que se atribui às emoções, e por
11
Homo faber: conceito do ser humano como ser capaz de fabricar ou criar
com ferramentas e inteligência. 12
O “Homo consumens” é o ser humano que desenvolveu a capacidade de
consumir bens naturais sem se preocupar com o futuro. Representa o lado da
espécie que é mais ‘demens’ que ‘sapiens’ Revista Diálogos – N.° 11 – Mar/Abr ‐ 2014 56
57 Amor, uma análise crítico‐conceitual... – Lima & Rodrigues isso está relacionada com a teoria geral das emoções”
(ABBAGNANO, 1970 p.786). Assim, cada pessoa pode sentir
prazer ou não em diferentes situações, dependo de fatores
internos e externos que estarão em interação naquele instante.
Sigmund Freud, nos seus textos explica de forma bem
clara a natureza do prazer, suas características, e de que forma ele
se mantem no ser humano. Uma das explicações inovadoras
utilizadas por Freud, no campo da filosofia e da psicologia, foi a
relação do prazer com o mito grego de Thánatos 13 e Eros, para
explicar a interação entre vida, morte, desejo, amor e prazer, que
por fim geraria o que ele conceitua como libido.
No seu livro, O mal-estar na civilização (1996), Freud
expõe em primeiro lugar a ideia da, busca do prazer em virtude
do sentimento de felicidade. Para isso ele se apega a entender
primeiro as ambivalências, que fundamentam o princípio da
felicidade, e, até que ponto o sofrimento tem relação direta com
esta sensação.
Como vemos, o que decide o proposito da
vida é simplesmente o programa do
principio do prazer. [...] O que chamamos
de felicidade no sentido mais restrito
provém da satisfação (de preferência,
repentina) de necessidades represadas em
alto grau, sendo, por natureza, possível
apenas como uma manifestação episódica.
(FREUD, 1996, p 84)
Partindo dessa premissa, pode-se dizer que a felicidade
não pode ser contínua, sem que haja essa constante e repentina
sensação de prazer. Logo, o teórico indica isso, por meio da
13
Tânato (do grego θάνατος, transl. Thánatos, "morte"), também referido
como Thanatos, é a personificação da morte. Revista Diálogos – N.° 11 – Mar/Abr ‐ 2014 57
58 Amor, uma análise crítico‐conceitual... – Lima & Rodrigues poesia de Goethe, quando o mesmo diz que: “nada é mais difícil
que suportar uma sucessão de dias belos”. (GOETHE apud
FREUD, 1996, p.84) Sendo assim, essa sensação de prazer só é
proporcionada pelo potencial de infelicidade que se estar
propenso a sentir, ou seja, o sofrimento, que para Freud, se
apresenta de três direções.
O sofrimento nos ameaça a partir de três
direções: de nosso próprio corpo, condenado
à decadência e à dissolução, e que nem
mesmo pode dispensar o sofrimento e a
ansiedade como sinais de advertência; do
mundo externo, que pode voltar-se contra nós
com forças de destruição esmagadoras e
impiedosas; e, finalmente, de nossos
relacionamentos
com
os
outros
homens.(FREUD, 1996, p 83)
De forma bem direta, o estudioso caracteriza, os
relacionamentos humanos como o mais penoso e critico que
qualquer outro, porque “Contra o sofrimento que pode advir dos
relacionamentos humanos, a defesa mais imediata é o isolamento
voluntário, o manter-se à distância das outras pessoas” (FREUD,
1996, p 85) e essa atitude de afastamento também parece ser
sofrível.
Para solucionar essa dicotomia de sentidos, o argumento
mais contundente parece ser a inter-relação de necessidade que há
nos conceitos, vida e morte, como forças diferentes, porém
conectadas. Para fundamentar isso Freud cita o poeta-filosofo
Schiller quando este diz que “fome e amor movimentam o
mundo”. (FREUD, 1996, p 121)
A fome podia ser vista como representando os
instintos que visam a preservar o indivíduo,
ao passo que o amor se esforça na busca de
objetos, e sua principal função, favorecida de
Revista Diálogos – N.° 11 – Mar/Abr ‐ 2014 58
59 Amor, uma análise crítico‐conceitual... – Lima & Rodrigues todos os modos pela natureza, é a preservação
da espécie. (FREUD, 1996, p. 121)
É dessa antítese entre instintos do ego e instintos objetais
que nasce o conceito de libido. Libido essa entendida agora
como, energia destes dois pulsos que controlam o ser humano, o
pulso de morte e de vida. Então, conceituando essas duas pulsões
tem-se em primeiro lugar que,
As pulsões de vida visam então, o
estabelecimento e manutenção de formas
mais diferenciadas e mais organizadas, a
constância e mesmo o aumento das diferenças
de nível energético entre o organismo e o
meio. [...]E a pulsão de morte propriamente
dita, visa à redução completa das tensões, a
um (re)conduzir o ser vivo para um estado
inorgânico, que seria a forma mais primitiva
do ser: o estado inanimado. [...] Esta
ambivalência
ocorre
em
todos
os
relacionamentos humanos, já que as pulsões
de vida e de morte, a sexualidade e os
impulsos destrutivos e agressivos, estariam no
sujeito desde sua concepção. (LAPLANCHE
e PONTALIS apud ALMEIDA, 2007, p. 5 6)
Confuso poder-se imaginar que as ditas
Pulsões de Vida lutam para que o indivíduo
permaneça vivo objetivando morrer do seu
próprio modo... Neste sentido, Eros seria
conservador no sentido de procurar meios de
manter a vida, mas se questionarmos mais
profundamente, não seria só a Pulsão de Vida,
já que Tânatos sempre tende a impulsionar o
organismo vivo a retornar ao inorgânico,
denotando também uma característica
conservadora. Torna-se complicado pensar na
Revista Diálogos – N.° 11 – Mar/Abr ‐ 2014 59
60 Amor, uma análise crítico‐conceitual... – Lima & Rodrigues possibilidade de que a vida humana possa ter
sido evocada do inorgânico, mediante a ação
de forças externas, como se o surgimento das
formas mais complexas de vida não viesse da
própria evolução, dos processos já existentes
como matéria animada. Assim, a vida e a
morte
representam
início
e
fim,
respectivamente, ou fazem parte de um todo
cíclico sem início e fim (Inorgânico–
Orgânico–Inorgânico)?( ALMEIDA, 2007, p.
6)
Portanto o amor no seu caráter de prazer é bem mais rico,
conceitualmente, do que se conhece comumente. Este amor, tanto
abarca os desejos que não morrem no ser humano, como também,
trabalham de forma silenciosa proporcionando ao ser o sentido de
viver, como indica Ghiraldelli, mostrando essa imortalidade dos
desejos, porém, sem externá-lo.
A loucura do amor é, portanto o fogo que
permite que, quando os desejos sexuais se
mostram naturalmente abrandados, ainda
exista a chama ou a lembrança desta, de
maneira a dar vida longa ao namoro por meio
de uma sólida amizade. (GHIRALDELLI,
2011, p 35)
E é este fogo que agora vai proporcionar o sentido
necessário a vida. A felicidade. Esta, marcada por momentos
bons e ruins, mas direcionada sempre a busca do bem para si e
para os outros de forma dialógica e interativa. Pois, o sexo é por
excelência essa seara das ambivalências, ora sentindo êxtase, ora
repulsa. Dessa forma, o sentido/vontade de viver se torna
presente.
6 - PHILIA: ORIGENS, AMBIVALÊNCIAS E SENTIDOS
Revista Diálogos – N.° 11 – Mar/Abr ‐ 2014 60
61 Amor, uma análise crítico‐conceitual... – Lima & Rodrigues Diferentemente de Eros que é fundamentado na
necessidade natural, condicionado por características prédeterminadas, tratar-se-á agora de uma relação marcada pela
vontade livre deliberada e formadora de princípios de justiça e
cidadania. Diante disso, os conceitos a serem tratados no decorrer
deste tópico abordará a temática do amor enquanto Philia.
Assim, Philia se traduz comumente como amor, ou amor
de amizade. Visto que um dos primeiros textos a aparecer esse
termo é a Ética a Nicômaco de Aristóteles (século I a. C.), cuja
expressão é utilizada nos textos do filósofo para designar
amizade, ou mesmo aquele amor que está de certa forma, a
serviço de outrem. Outras manifestações de amor também são
atribuídas a esse termo, por exemplo, o amor de mãe, as relações
trabalhistas e muitos outros. Contudo o aspecto que se perpetuou
na história foi a interpretação deste amor enquanto amizade.
É importante perceber que, Aristóteles não tem a intenção
de provar o sentimentalismo do amor Philia, como se vê
corriqueiramente. Ao invés disso, ele fundamenta na atitude da
amizade, mais do que nas outras relações, o caráter deliberativo
de vontade, ou seja, o uso da liberdade que iniciado numa
amizade, apresenta-se como característica louvável para os
antigos. Diferentemente dos amores Eros – que se pressupõe dele
o prazer individual-físico – e, Ágape – que se apresenta como o
amor de Deus, ultrapassando qualquer pensamento humano e
manifestando-se na humanidade por meio da caridade
incondicional. – podem ser confirmados na fala de Aristóteles
quando diz
A amizade ajuda os jovens a evitar o erro;
ajuda os velhos, amparando-os em suas
necessidades e suprindo as atividades que
declinam com o passar dos anos; e os que
estão no vigor da idade, ela estimula a prática
de nobres ações, pois com amigos – “dois que
Revista Diálogos – N.° 11 – Mar/Abr ‐ 2014 61
62 Amor, uma análise crítico‐conceitual... – Lima & Rodrigues andam juntos” 14 – as pessoas são mais
capazes de agir e pensar. (ARISTÓTELES,
Ética à Nicômaco, 2001, p.168)
Aristóteles elenca três fatores que convivem dentro do ato
amical e que são ambivalentes entre si. Estes fatores são: a busca
do bem, a utilidade e o prazer. Para o filósofo, a amizade deve
estar baseada, sobretudo, na busca do bem do(s) outro(s), assim
as características de utilidade e do prazer são presentes quando
essa busca do bem acontece. Contudo, se a motivação inicial tem
seu fundamento nestes dois últimos, pode ocorrer que amizade se
desvie do caráter deliberativo consciente, para se fundamentar
uma busca, em que de alguma forma, a amizade se torna, não um
fim, mas um meio para alcançar alguma coisa. Assim pensando, o
filósofo se torna taxativo e ortodoxo afirmando que “a amizade
perfeita é aquela que existe entre os homens que são bons e
semelhantes na virtude”(ARISTÓTELES, Ética à Nicômaco,
p.172), pois ele mesmo informa por meio da literatura estudada
na época que:
Uns dizem que a amizade seja uma forma de
semelhança [...] outros, pelo contrário dizem
que os semelhantes são entre si como
<<panelas a bater uma contra as outras>> 15
[...] Eurípedes, por exemplo, diz que
<<quando a terra está seca tem desejos de
uma tempestade de chuva e quando o
venerável céu está cheio de chuva, tem
desejos de se abater sobre a terra>> 16 , e
Heráclito: “o que se opõe é o que é amigo”, e
“de notas diferentes nasce a mais bela
melodia”, e ainda: todas as coisas são geradas
14
Homero, Odisséia, XVII, 218. HESIODO, trabalhos e dias, 25 16
Fr. 898, 7-10, NAUK 15
Revista Diálogos – N.° 11 – Mar/Abr ‐ 2014 62
63 Amor, uma análise crítico‐conceitual... – Lima & Rodrigues pelo antagonismo” 17 ; enquanto Empédocles e
outros sustentam o ponto de vista contrário,
segundo o qual o semelhante busca o
semelhante. (ARISTÓTELES, 2001, p. 169).
Em consonância com isso, as ambivalências existem, e, a
partir dessas nasciam os mais variados sentidos dentro da relação
de amizade. A busca do bem é primordial, porém a utilidade e a
geração de bem estar são necessárias para a harmonização do
universo, antes pensada de forma cósmica – Eros e Caos – ligada
a natureza. Agora transplantada para o ambiente social-politico
humano.
Estas características antes elencadas por Aristóteles se
configuram muito bem na realidade atual da sociedade, pois,
parece haver na contemporaneidade um relativismo tal que
atrapalha o trabalho da consciência no agir ético do ser social
humano. Philia diz respeito a deliberação, ou seja, escolher não
por meios externos, mas sim através de uma razão consciente e
desprendida, vinculada à vontade. Diferentemente de Eros, que
pode ser interpretado como desejo, ou seja, aquilo que de certa
forma não se pode controlar.
Nessa perspectiva, Philia nasce também desse desejo em
virtude do prazer, pois ninguém se torna amigo de outrem por
pura caridade. A amizade se caracteriza, principalmente, por essa
busca do bem do outro, porém, o parceiro também deve ser esse
agente proporcionador de prazer mútuo.
Diante disso, o amor Philia é marcado por esta
característica deliberada em vista do bem para si e para os outros,
pois o sentido de justiça que está ai intrínseco, é uma atitude,
livre e desprendida das realidades de utilidade/funcionalismo e
17
Fr. 8, DIELS. Revista Diálogos – N.° 11 – Mar/Abr ‐ 2014 63
64 Amor, uma análise crítico‐conceitual... – Lima & Rodrigues prazer, sendo que estes últimos são consequências inevitáveis do
ato da vontade livre.
Na contemporaneidade, assim como Eros, Philia se
transformou no que diz respeito as suas origens, visto que, esse
termo sendo muito usado na formação das palavras, afim de
explicar sua etimologia. Um bom exemplo disso é o termo
Filosofia (Philia – Filo –amor, Sophia – Sofia – Sabedoria). Então
o amor Philia trata dessa eterna busca do bem racional, por meio
do relacionamento de alteridade e liberdade.
7 - ÁGAPE: ORIGENS, AMBIVALÊNCIAS E SENTIDOS
Ágape, também traduzido como amor, tem sua origem na
cultura judaico-cristã. Jesus Cristo 18 , por meio de sua vinda a
terra manifestou um amor diferente, ou seja, este amor não se
enquadrava nos tipos de amor já conhecidos. Isto acarretou, nos
indivíduos daquela época, uma nova concepção de Deus e de
amor, pois Deus tornava-se próximo, enquanto este amor baseado
na caridade sobrevivesse entre os homens.
Esse amor era o amor de Deus para com os
homens. Segundo o apóstolo Paulo e outros,
como ficou registrado no Novo Evangelho, o
amor de Deus tornava-se claro no amor pelo
vizinho, fosse esse vizinho amigo,
desconhecido, ou inimigo. Jesus rompeu com
a ideia de fazer justiça. Submeteu a justiça ao
amor. E aposentou a justiça como reparação e
18
Jesus Cristo também chamado de Jesus de Nazaré, é a figura central do
cristianismo.
Para
a
maioria
dos cristãos.
Jesus
é Cristo,
a encarnação de Deus e o "Filho de Deus", que teria sido enviado ao mundo
para salvar a humanidade. Revista Diálogos – N.° 11 – Mar/Abr ‐ 2014 64
65 Amor, uma análise crítico‐conceitual... – Lima & Rodrigues colocou em seu lugar a Lei do Amor.
(GHIRALDELLI, 2011, p. 10-11)
Nessa perspectiva, o cristianismo propagou essas atitudes
de Jesus, pois por meio do “perdão” 19 (ARENDT, 1958, p. 23841) o homem pode alcançar a libertação dos pecados, mas só se
alcaçaria isso na livre decisão pelo amor incondicional, ou seja,
“o homem exerce a liberdade de pecar, mas também ele, pela
liberdade do ato do perdão – que deve vir do fundo do coração
sincero –, pode recomeçar”(GHIRALDELLI, 2011, p. 39)
Assim sendo, “aceitar o preceito do amor é o ato de
origem da humanidade [...] passagem decisiva do instinto de
sobrevivência para a moralidade.”(BALMAN, 2004, p. 98)
Ágape trouxe ao mundo essa característica de evolução
humanística e solidária, baseada não somente nos atos externos,
mas primeiramente no amor ao próximo fundamentado no amor
próprio 20 .
Nesse sentido, “[...] ao trazer a liberdade para perto da
palavra ‘amor’, contaminou esta ultima em toda sua aplicação.
Trouxe também para o interior do amor erótico-romântico, [...],
tudo que precisava para ser o amor romântico per excellence, a
saber, a liberdade.” (GHIRALDELLI, 2011, p 41)
Em contrapartida, esta forma de amar se tornou alvo de
várias críticas, fundadas no argumento de que se tornaria
impossível viver um amor que necessariamente seja
incondicional e logicamente unilateral. Um dos estudiosos que
tematizaram este assunto foi Kierkegaard dizendo que:
É algo esquisito que uma pessoa não busque o
seu interesse pessoal, é esquisito que não
devolva as injúrias; é algo esquisito e
19
Arendt atribui a Jesus a invenção do Perdão Amar o Próximo como a si mesmo. (Cf. Mc 12, 31) 20
Revista Diálogos – N.° 11 – Mar/Abr ‐ 2014 65
66 Amor, uma análise crítico‐conceitual... – Lima & Rodrigues embaraçoso que perdoe seus inimigos e quase
se preocupe em saber se fez o suficiente em
favor de seus inimigos, é esquisito que esta
pessoa sempre se coloque na posição errada,
jamais onde há vantagens em ser corajoso,
altivo, desinteressado: tudo isso é esquisito,
afetado e meio maluco, em suma: algo que se
pode rir, quando alguém, mesmo sendo
mundo, está seguro de, como cristão, estar de
posse da verdade e da felicidade, tanto aqui
quanto lá em cima. (KIERKEGAARD, 2005,
p. 234)
Nesse trecho, Kierkegaard usa do argumento contraditório
para defender a tese de que, logicamente não é possível obter a
posse da felicidade, simplesmente pelo fato da adesão e
manifestação externa de alguma fé. De forma que, ao fazer obras
de caridade, sem a premissa aparente da recompensa, condicione
esse discurso muitas vezes exclusivista e hierárquico, defendido
pelo Agapismo 21 .
É interessante perceber que, Ágape, em seus princípios,
detinha-se amor de Deus para com o homem, porém, no decorrer
da história, esta perspectiva foi atribuída também ao amor ao
próximo. Sendo assim, o homem atingiria a característica de
Deus no que diz respeito ao amor. Diante disso, poder-se-ia
retirar de Deus a criação desse tipo de amor, e atribui-la ao
homem.
Sob este aspecto, “o amor natural ainda não é
o eterno, ele é a bela vertigem da infinitude”.
O amor que não sofreu a transformação da
21
AGAPISMO(in. Agapism). Termo empregado por Peirce para designar a "lei
do amor evolutivo", em virtude da qual a evolução cósmica tenderia a um
incremento do amor fraterno entre os homens (Chance, Love andLogic, pp.
266 ss.). Revista Diálogos – N.° 11 – Mar/Abr ‐ 2014 66
67 Amor, uma análise crítico‐conceitual... – Lima & Rodrigues eternidade é precisamente o amor imediato
que pode tornar-se infeliz e cair no desespero,
pois: “[...] o que torna o homem desesperado
não é a má sorte, mas é que lhe falta o eterno;
desespero consiste em carecer do eterno;
desespero consiste em não ter se submetido à
transformação da eternidade pelo ‘tu deves’
do
dever”(KIERKEGAARD
apud
GUERREIRO, 2010, p.145)
Assim sendo, por meio de sua capacidade de pensar, o
homem busca num ser superior, a perfeição, que só pode ser
pensada a partir da imperfeição, sendo esta última, a realidade
existente. Esta, que é dada ao ser humano para que ele busque um
sentido de viver, um desses encontrados pela humanidade, foi o
que se conhece como Deus.
8 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
Certamente, conceitos como liberdade e livre-arbítrio, são
fundamentais para o entendimento destas questões relacionadas
ao amor, muitas vezes pré-conceituado. A grande diferença
desses dois, dá-se justamente no campo social, pois o primeiro
diz respeito à condição de vontade, e, o outro se fundamenta no
respeito às necessidades humanas em favor do bem, para si em
primeiro lugar, e, depois para os outros.
Desta feita, a escolha mesmo realizada na individualidade
através do exercício da liberdade, se projeta para o coletivo.
Nisso, o indivíduo que antes buscava sua realização, agora vê-se
parte de uma comunidade, vislumbrando assim também as
necessidades do outro. É preciso que haja um entrelaçamento
desses conceitos de forma dialógica e complexa. Entretanto, o
que seria essa complexidade?
Revista Diálogos – N.° 11 – Mar/Abr ‐ 2014 67
68 Amor, uma análise crítico‐conceitual... – Lima & Rodrigues A complexidade é um problema, é um
desafio, não é uma resposta. O que é a
complexidade? [...] Num primeiro sentido, a
palavra complexus significa aquilo que está
ligado em conjunto, aquilo que é tecido em
conjunto. E é este tecido que se deve
conceber. Tal como a complexidade
reconhece a parte da desordem e do
imprevisto em todas as coisas, também
reconhece uma parte inevitável de incerteza
no conhecimento. É o fim do saber absoluto e
total. A complexidade tem a ver, ao mesmo
tempo, com o tecido comum e com a
incerteza.(MORIN, 2000, p. 495)
Ao seguir essa ótica, percebe-se que, mais do que a
lucidez consciente e o entrelaçamento coeso de ideias, a
complexidade necessita dessa constante incerteza, para que
pontos antes estipulados como fixos, possam ser descosturados e
recolocados onde se possibilite um melhor entendimento dessa
harmonia construída dentro da confusão.
Esse processo de reconfiguração de conceitos só é
possível graças a um constante processo de evolução e involução.
Poder-se-ia facilmente se questionar sobre essa ideia de evolução
que a sociedade atual eleva, subjugando assim as sociedades que
antes viveram, pois é preciso entender a cegueira que aflige a
contemporaneidade, como enfatiza Morin.
A ciência tornou-se um fenômeno central; o
conhecimento
científico
estimulou
o
desenvolvimento
técnico,
o
qual
evidentemente reestimulou o conhecimento
científico, mas esse desenvolvimento
científico também permitiu a criação da
bomba atômica, etc. Estamos num círculo
vicioso em que é justo distinguir aquilo que é
Revista Diálogos – N.° 11 – Mar/Abr ‐ 2014 68
69 Amor, uma análise crítico‐conceitual... – Lima & Rodrigues científico, técnico, sociológico, político[...]
Mas é preciso distingui-los, não dissociá-los.
E há sempre a cegueira, a incapacidade de
olhar-se a si próprio. (MORIN; LE MOIGNE,
op. cit., p. 34.)
Concomitantemente com o que foi dito, o amor vive nessa
constante luta por identidade, porém diferente desse sentimento
contemporâneo relativista, o amor busca ser entendido por todos.
Decerto que as ambivalências e polissemias existem, mas
compete ao ser humano, por meio da alteridade, este caráter da
decisão em favor do bem social.
Em suma, Eros, Philia e Ágape admitem em seu processo
conceitual, essa constante crise de identidade. Mediante isso, é
preciso fundamentar e entender o amor, de forma que as partes e
o todo sejam fortemente equivalentes em essência e existência.
Partindo sempre dessa proposta da complexidade, abandona-se o
reducionismo, e dá-se lugar à criatividade e ao caos.
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