C2175 - PREVALNCIA DE QUEIXAS DE INCONTINNCIA URINRIA

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C2175 - PREVALNCIA DE QUEIXAS DE INCONTINNCIA URINRIA
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PREVALÊNCIA DE QUEIXAS DE INCONTINÊNCIA URINÁRIA DE ESFORÇO NO
PRÉ-PARTO E PÓS-PARTO IMEDIATO EM GESTANTES E PÚERPERAS DE
PATROCÍNIO-MG
GONÇALVES, Andréa Caixeta (UFU) [email protected]
CAIXETA-NETO, Ademar Gonçalves (UFOP) [email protected]
SILVA, Juliana Araújo Freitas (UNICERP) [email protected]
FREITAS, Silvia Nascimento (UFOP) [email protected]
RESUMO
OBJETIVO: Mostrar a prevalência de queixas de Incontinência Urinária de Esforço
pré e pós-parto em gestantes e puérperas de Patrocínio-MG e identificar o tipo de
sintomas urinários mais freqüentes no pré e pós-parto imediato. METODOLOGIA:
Trabalho realizado entre os meses de julho à setembro de 2008, após aprovação do
Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário do Cerrado - Patrocínio
(UNICERP). Foi selecionada amostra aleatória de 80 mulheres, sendo 40 gestantes
que se encontravam no 3° trimestre de gestação e 40 puérperas no pós-parto
imediato, sendo a coleta de dados realizada através do King’s Health Questionnaire.
Foram incluídas gestantes no 3° trimestre e puérperas no pós-parto imediato, tendo
como idade mínima 15 anos e máxima 40 anos. A análise estatística foi realizada
por meio do teste do qui-quadrado (x²), com índice de significância estabelecido com
p < 0,05. RESULTADOS: A prevalência de queixas de IUE em gestantes foi de
42.5%, enquanto que nas puérperas foi de 25%. As situações em que houve perda
urinária em gestantes de forma mais comum foram: espirar (70.58%), tossir
(58.22%), rir (17.64%), pegar peso (11.76%) e andar (5.88%). Nas púerperas houve
perda urinária ao espirar (70%), tossir (60%), rir (20%) e andar (10%).
CONCLUSÃO: A prevalência de IUE foi maior em gestantes quando comparada às
puérperas. Não houve diferença significante estatisticamente entre puérperas e
gestantes quanto à perda urinária ao espirar, tossir e rir.
PALAVRAS-CHAVE: Incontinência Urinária de Esforço, Pré-Parto, Pós-Parto
Imediato.
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INTRODUÇÃO
A incontinência urinária (IU) pode ser definida como o comprometimento nos
mecanismos de armazenamento e de esvaziamento de urina. Segundo definição da
International Continence Society é caracterizada por qualquer perda involuntária de
urina (VIANA et al., 2001), sendo a incontinência urinária de esforço (IUE) definida
como "queixa de perda involuntária no esforço ou exercício, espirro ou tosse"
(ABRAMS et al., 2003) e por Sir Eardley como “perda de urina através da uretra
intacta, sob certas condições que causam aumento da pressão intraabdominal”
(FREITAS et al., 2006).
Segundo Guccione (2002), a incontinência urinária não é um diagnóstico, mas
sim um sintoma. É uma situação bastante comum entre mulheres, particularmente
durante e após as gestações. Como sintoma, se refere à perda da urina associada a
qualquer atividade que aumente a pressão intra-abdominal, tais como tosse, espirro
ou realização de esforços (SILVEIRA & SILVEIRA, 2002).
Embora o extravasamento indesejável de urina seja classificado como uma
das queixas médicas mais antigas, muitas mulheres não consideram a perda
urinária como um problema, o que pode ser confirmado em pesquisa realizada nos
Países Baixos e Estados Unidos, em que observou-se que as mulheres utilizam-se
de recursos como protetores, no entanto, não buscam tratamento (BEZERRA,
2008).
Cerca de 45% da população feminina mundial apresenta algum tipo de
incontinência urinária. Estima-se que 50% das pacientes tenham incontinência
urinária de esforço, 20% tenham incontinência urinária de urgência e 30%
apresentam a de sintomas (RAMOS, 2006).
Fatores como idade avançada e redução dos níveis de estrógeno pósmenopausa podem ser considerados como alguns dos mais importantes fatores no
que se refere à ocorrência de sintomas da IU, além da utilização de medicamentos e
cirurgias que podem provocar a diminuição do tônus muscular pélvico e/ou gerar
danos nervosos (BICALHO et al., 1999).
O objetivo desde trabalho foi descrever a prevalência de queixas de IUE no
pré-parto e pós-parto imediato, além de identificar os tipos de sintomas urinários
mais freqüentes na população estudada.
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MATERIAIS E MÉTODOS
Estudo de delineamento transversal foi realizado em Unidades Básicas de
Saúde e no Hospital e Maternidade Santa Casa de Misericórdia do município de
Patrocínio-MG, com gestantes e puérperas de 15 a 40 anos de idade, após
aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário do Cerrado Patrocínio (UNICERP), em 2008.
Foram selecionadas 80 mulheres de forma aleatória, sendo 40 gestantes e 40
puérperas, as quais manifestaram desejo em participar da pesquisa e assinaram um
termo de consentimento livre e esclarecido. No caso das participantes menores de
18 anos, este termo foi assinado pelos pais e/ou responsáveis pelas mesmas.
Os dados sócio-demográficos, obstétricos e ginecológicos foram coletados
por uma equipe treinada de pesquisadores, no período de julho a setembro de 2008,
através da aplicação de um questionário semi-estruturado validado por Fonseca et
al. (2005).
Foram adotados como critérios de inclusão: gestantes no 3° trimestre e
puérperas no pós-parto imediato, tendo como idade mínima 15 anos e máxima 40
anos; e como critérios de exclusão, gestantes nos 2 primeiros trimestres de
gestação, idade inferior a 15 anos e superior a 40 anos e puérperas em pós-parto
tardio.
De acordo com classificação de Rezende (1985) citado por Moreno (2002)
foram consideradas puérperas em pós-parto imediato aquelas mulheres que se
encontravam entre o 1º e o 10º dia após o parto.
Foi realizada análise descritiva dos dados e para comparação dos grupos foi
utilizado teste de qui-quadrado de Pearson adotando-se nível de significância
estatística de 95%.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em relação à etnia, 46.25% das mulheres eram negras e 53.75% eram
brancas. Quanto ao estado nutricional 57.5% estavam eutróficas, 27.5% estavam
com sobrepeso e 25% com obesidade. No que se refere ao número de gestações,
43.75% eram primíparas e 56.25% eram multíparas. Do total de mulheres da
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amostra, 66.25% não apresentaram nenhuma intercorrência durante a gestação, ao
passo que 33.75% apresentam uma ou mais intercerrências. História pregressa de
aborto (s) foi relatada por 11.25% das participantes.
Gráfico 01: Distribuição das entrevistadas quanto à presença de IUE.
A partir da análise do gráfico 1, nota-se que a prevalência de queixas de IUE
em gestantes foi de 42,5%, já nas puérperas de 25%, condizente com os achados
da literatura, visto que diversos autores observaram prevalência em gestantes
variando entre 31% e 60% (BURGIO et al., 1996).
Estes achados podem ser explicados pelo fato de no período gestacional, o
peso do bebê associado à placenta promove uma sobrecarga sobre o assoalho
pélvico materno. Ainda na gestação, o aumento da pressão intra-abdominal é
transmitida à bexiga, e pelo novo posicionamento da porção proximal da uretra,
ocorre dificuldade na transmissão da pressão intra-abdominal à uretra, pelo aumento
do volume uterino, provocando incontinência urinária (SOUZA, 2002).
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Tabela 1 – Situações de ocorrência de perda urinária.
Situação da perda
Gestantes (n=17)
FA
FR
12
10
1
2
3
2
70,58
58,82
5,88
11,76
17,64
11,76
Espirar
Tossir
Andar
Pegar peso
Sorrir
Esforços mínimos
Puérperas (n=10)
FA
FR
7
6
1
0
2
0
70,0
60,0
10,0
0
20,0
0
p*
0,9
0,9
0,6
0,2
0,8
0,2
* Teste Qui-quadrado para comparação de grupos
Conforme mostra a tabela 1, as situações mais comuns em que houve perda
urinária em gestantes foram espirar (70,58%) e tossir (58,82%). Também nas
puérperas a perda urinária foi maior ao espirrar (70%) e tossir (60%), não tendo sido
relatada perda ao pegar peso e aos esforços mínimos. No entanto, não foi
observada diferença estatística entre os grupos.
É
demonstrado
na literatura
que o parto
vaginal provoca
trauma
neuromuscular e/ou deslocamento da fáscia pubocervical, podendo ao mesmo
tempo, provocar o estiramento e compressão dos nervos da junção uretrovesical e
dos músculos elevadores do ânus, estiramento e cisalhamento sobre os ligamentos
da fáscia endopélvica entre a vagina, bexiga, as sustentações uretrais e as fáscias
da linha Alba (SOUZA, 2002).
Alguns autores chegam mesmo a apontar a IUE como um fenômeno natural
resultante do parto devido à lesão nervosa ao nível do pavimento pélvico. No
entanto, ao analisar os valores de prevalência da IUE em mulheres nulíparas
verifica-se que estes são elevados, como observado por Bø et al. (2004) que
relatam uma prevalência de 31% em mulheres jovens nulíparas.
De acordo com estudo realizado por Modotte et al. (1999), 50% de nulíparas
jovens reportam ocasionalmente perda urinária quando tossem, riem ou espirram, ao
passo que apenas 1/6 de todas as mulheres gestantes experimentam a perda
urinária e destas 1/6 não resolvem sua incontinência no período pós-parto.
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CONCLUSÃO
A prevalência de incontinência urinária de esforço foi maior em gestantes
quando comparada às puérperas, o que é verificado em diversos trabalhos
encontrados na literatura.
Não houve diferença significante estatisticamente entre puérperas e gestantes
quanto à situação de perda urinária, a qual foi mais comum em ambos os grupos ao
espirrar, tossir e andar, respectivamente. Não foram relatadas perdas de urina ao
carregar peso e aos esforços mínimos em puérperas.
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