Sexualidade em Geriatria
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Sexualidade em Geriatria
Sexualidade em Geriatria Ana Cristina N. B. Faria Mestre em Clínica Médica UFMG Coordenadora da especialização em geriatria CIAPE – FCMMG Este material é parte do material didático do curso do CIAPE. Poderá ser utilizado para outros fins, desde que autorizado pela autora: [email protected], F: 31-32138782 • • • • • • Aspectos Anatômicos, Fisiológicos e Patológicos associados ao envelhecimento Mitos A menopausa ou a andropausa assinalam o fim da vida sexual. A mulher tem menos desejo sexual que o homem. O desejo e a potência reduzem após 40 anos. O homem não pode falhar. O homem deve estar sempre disposto para o sexo. A mulher não pode tomar iniciativas sexuais. Lopes G, Torres O, Maia MB, 1994 • • • • • • • Envelhecimento Ativo e saudável Aceitar o envelhecimento como um processo natural do ciclo da vida. Continuar a ter objetivos na vida: idealizar e sonhar. Conviver socialmente, ter atividades interativas e de lazer, e manter ocupações. Manter atividades físicas regulares. Aprimorar hobbies e habilidades. Manter o exercício da sexualidade. Avaliações regulares da saúde, reabilitação. Revisão da literatura Tema pouco estudado: • Medline 2000-2005 – Sexualidade + idoso (descritores de assunto) – 140 artigos . – Sexualidade + idoso + qualidade de vida – 41 artigos – Impotência + idoso (descritor) – 193 artigos. • A maioria dos homens permanece interessada em sexo, independente da idade Schover, LR; 1984 • Cerca de 50% dos idosos apresentam queixas relacionadas à sexualidade, apesar da hesitação em discutir sobre o assunto. Ende J, Rockwell S, Glasgow M, Arch Intern Med, 1984 • 314 idosos: 156 mulheres e 158 homens. – 59,5%: vida sexual ativa. – Impotência: 44,9% homens – Ressecamento vaginal: 21,1% mulheres – Redução da libido: 15,3% homens e 11,8% mulheres. Faria, ACNB; 2004 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Importância Tema negligenciado na avaliação do idoso. – Anamnese da sexualidade. – Falência no diagnóstico de disfunção sexual. – Falência na orientação das alterações do envelhecimento. – Efeitos colaterais de medicações. – Orientações para o sexo seguro e prevenção de DST na terceira idade. Sexo x Gênero Sexo: características genéticas e biológicas que diferenciam o homem e a mulher. Gênero: papéis socialmente construídos, comportamentos e expectativas aprendidos, associados à feminilidade e à masculinidade. Sexualidade Identidade, forma como o indivíduo estabelece a relação consigo e com os outros. Integração de aspectos físicos, emocionais, intelectuais, espirituais e sociais, que expressam feminilidade ou masculinidade. Interações com pessoas, afeto, higiene pessoal, forma de falar, de vestir... Avaliar o desejo do idoso com relação à expressão da sexualidade e/ou da relação sexual. Limitações da sexualidade no idoso Desconhecimento das alterações fisiológicas do envelhecimento. Doenças clínicas. Auto-estima negativa. Problemas emocionais. Barreiras sociais, religiosas ou culturais. Dificuldades de relacionamento conjugal e falta de comunicação. Ausência de parceiro. Institucionalização. Doenças terminais. Anamnese da sexualidade Idoso nem sempre inicia assuntos de sexualidade, precisa ser questionado: – Tem companheiro (a)? – Tem um bom relacionamento com seu (sua) companheiro (a)? – Tem relações sexuais? – Tem dificuldades para relações? Impotência? Ressecamento vaginal? Dor à relação? Dificuldades de ejaculação? Dificuldades no prazer? – Tem múltiplos parceiros? – A libido está normal? – Já teve alguma experiência sexual negativa ou traumática? – Conversa com seu (sua) parceiro (a) sobre sexualidade? Segurança durante abordagem, habilidade nas perguntas, ênfase na escuta, respeito ao idoso. Forma do profissional se apresentar diante do idoso: vestuário, postura, seriedade, imparcialidade. Avaliação global clínica. • • • • • • • • • • • Exame físico completo. Anamnese detalhada das medicações em uso. Fases fisiológicas da resposta sexual Fase neuroendócrina: corresponde ao desejo sexual (sistema límbico, hipotálamo e neocórtex) e alterações hormonais (androgênios, estrogênios, progesterona, prolactina, serotonina, dopamina...) e estímulos sexuais. Fase de excitação: – Vasocongestão: acúmulo de sangue. – Miotonia: contrações musculares. Na manutenção do estímulo sexual e integridade dos sistemas: lubrificação vaginal e ereção. Fase de orgasmo: congestão e miotoia máximas. Sexualidade e envelhecimento Alterações na resposta sexual humana: – Aumentam transtornos sexuais por causas multifatoriais: • Queda no status hormonal • Deterioração da condição social • Deterioração das relações maritais • Luto pela viuvez • Perda da forma física • Saída dos filhos de casa (Síndrome do ninho vazio). • Doenças associadas • Alterações anatômicas e fisiológicas do envelhecimento • Uso de medicamentos • Iatrogenia Alterações anátomo-fisiológicas Pseudodisfunções Sexuais Alterações fisiológicas do envelhecimento, vividos como patológicos por desconhecimento ou negação. Queixas de pseudodisfunções femininas: – Vagina seca, cólicas uterinas coitais ou pós-coitais, vagina estreita e curta ou vagina alargada, imposição do ritmo sexual pelo homem. Queixas de pseudodisfunções masculinas: – Ereção só com manipulação do pênis, impotência com a esposa (monotonia conjugal), redução da ejaculação. Solução: esclarecimento, apoio, aconselhamento sexual, psicoterapia. – – – – Gênero Masculino Libido: redução ou elevação. Maior tempo para atingir ereção completa • Que nem sempre é conseguida. Gera medo da impotência. Maior necessidade de estimulação direta do pênis. • Redução da resposta de ereção por outros estímulo sensoriais. Retardo na ejaculação Que nem sempre ocorre. Perda rápida de ereção após ejaculação. Redução da força e volume da ejaculação. Maior dificuldade de manter ereção durante a relação. Maior período de latência para nova ereção. Redução da freqüência sexual. • Associada também à receptividade da parceira. • – – – – Gênero Feminino • Influência dos hormônios sexuais femininos: – Comportamento. – Desenvolvimento e utilização de funções intelectuais. – Humor, sensação de bem estar. – Ação genital: resposta sexual normal. – Redução da libido, dos sonhos eróticos e fantasias sexuais. – Redução da vasocongestão genital e lubrificação vaginal. – Atrofia vaginal e uretral • Desconforto, dor e sangramento nas relações. • Cistites de repetição. – Redução da capacidade e duração do orgasmo. – Redução da acidez vaginal e aumento de vaginites. – Atrofia de mamas, redução de pêlos genitais e aumento da gordura corporal. • Influências: – Reposição hormonal. – Lubrificação artificial. – Co-morbidades levam a maior limitação. – Influências psicológicas: • dependência e submissão marital • herança familiar • criação. Redução de libido: Desejo sexual hipoativo ou inibido X Fobia sexual: Completa aversão a carícias e atitudes sexuais Dificuldades na abordagem em idosos: preconceitos sexuais, monotonia sexual, resistência à permissão do auto-erotismo e de criatividade sexual. Abordagem do casal. Dosagem de prolactina, testosterona total e livre, avaliação do estado geral da saúde e do uso de medicamentos. Aspectos Patológicos Doenças x sexualidade Doença Clínica Influência na sexualidade Artrites DPOC Dificuldades de performance Dispnéia Prostatite crônica IRC Dor reduz desejo sexual Impotência Diabetes mellitus ICO ICC Impotência Impotência, precordialgia Impotência, dispnéia HAS Impotência Redução de libido e da performance, Doença de Parkinson impotência Doença de Peyronie Dificuldades de penetração, dor Incontinência urinária 50% de disfunção sexual em mulheres Performance: paresia, paralisia, AVC hipoestesia Redução da libido, impotência, efeito de Depressão drogas Ansiedade, estresse Redução de libido, impotência Procedimento cirúrgico Histerectomia Mastectomia Prostatectomia Orquiectomia Colostomia, ileostomia Cir. Câncer retal Tratamento Controle da dor, treinamento de posições sexuais, programar relações para momentos de menos dor. Reabilitação, Oxigenioterapia Antibióticos, massagem prostática, Exercícios de Kegel Diálises, transplante renal, tto emocional Controle glicêmico adequado, tto da impotência Reabilitação CV, tto da angina Reabilitação CV, tto da ICC Antihipertensivos com menos efeitos adversos Levodopa, reabilitação Cirurgia, psicoterapia Exercícios de Kegel, Biofeedback, TRH Reabilitação, Orientações posturais Psicoterapia, antidepressivos, sonoterapia Psicoterapia, ansiolíticos Cirurgias x sexualidade Influência na sexualidade 6-8 semanas semrelações, depressão Reações emocionais, redução da libido 6 semanas semrelações, impotência, reações psicogênicas Impotência Reações emocionais, impotência, redução de libido Impotência Medicamentos x sexualidade • Psicotrópicos: – Antidepressivos tricíclicos – IMAO – ISRS – Estabilizadores do humor, anticonvulsivantes – Antipsicóticos – Benzodiazepínicos • Antihipertensivos – Diuréticos – Beta-bloqueadores – α-Agonistas centrais – α1- bloqueadores – IECA – Bloqueadores canais cálcio • • • • • • • • • Tamoxifeno Anti-alérgicos Antiulcerosos Anorexígenos Substâncias de abuso: – Álcool – Barbitúricos – Maconha – Cocaína – Opióides – Anfetaminas – Nicotina • Hormônios: – Progesterona – Cortisol Aspectos diversos da sexualidade: Homossexualidade no idoso. Abuso, violência ao idoso. Conscientização corporal. Oficina de sexualidade.