Jeremias Cymerman
Transcrição
Jeremias Cymerman
“E vós, quem dizeis que eu sou?” Combati o bom combate... 13Chegando ao território de Cesaréia de Filipe, Jesus perguntou a seus discípulos: “No dizer do povo, quem é o Filho do Homem?” 14 Responderam: “Uns dizem que é João Batista; outros, Elias; outros, Jeremias ou um dos profetas”. 15 Disse-lhes Jesus: “E vós quem dizeis que eu sou?” 16 Simão Pedro respondeu: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo!” 17 Jesus então lhe disse: “Feliz és, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que te revelou isto, mas meu Pai que está nos céus. 18 E eu te declaro: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela. 19 Eu te darei as chaves do Reino dos céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus”. Tu és Pedro... O Evangelho deste domingo, mostra-nos Jesus confiando a Pedro a missão de liderar a comunidade nascente. Entretanto, antes de lhe ser outorgada tal tarefa, uma exigência lhe foi feita: explicitar a sua fé. Foi preciso que Pedro deixasse bem claro o que pensava a respeito de Jesus, de modo a evitar futuros desvios. Caso Pedro enxergasse Jesus ou sobre ele alimentasse o pensamento de que fosse um messias puramente humano, a comunidade correria o risco de ser transformada em um grupo de guerrilha que desejasse impor o Reino de Deus à força, servindose da violência como instrumento para tal fim. Se Pedro o considerasse um dos antigos profetas reencarnados, poderia transformar a Boa Nova do Reino em uma proclamação apocalíptica do fim do mundo, impondo sobre a comunidade o medo e o terror. Era fato, pensar que no final dos tempos muitos profetas do passado retornariam. Outrossim, caso a fé de Pedro não fosse precisa, ouse já, caso ele não soubesse com precisão a quem havia confiado sua vida, correria o risco de proclamar uma mensagem insossa conduzindo a comunidade de modo a torna-la como sal que perdeu o sabor ou como uma luz colocada em lugar errado. Somente depois de Pedro ter professado sua fé em Jesus, o “Messias, o Filho do Deus Vivo”, o Senhor lhe confiou a tarefa de ser “a pedra” sobre a qual a seria erguida a comunidade dos discípulos: a sua Igreja. Ao longo de sua vida e em meio a muitos percalços, Pedro deu provas mais que suficientes de sua adesão incondicional a Jesus, selando seu testemunho com a própria vida, demonstrando a supremacia de sua fé, levando sua missão até o fim, conduzindo e animando a comunidade recém formada. Arrebatado para o colégio dos apóstolos de Jesus Cristo no caminho para Damasco, Paulo foi o instrumento escolhido para anunciar a Boa Nova de Jesus e seu nome diante dos povos. Se não o maior, por certo um dos maiores missionários de todos os tempos. A ele, com toda propriedade cabível, dois títulos foram dados com toda justiça: “o Apóstolo dos gentios” o “Advogado dos pagãos”. Viajando incansavelmente por diversas regiões, Paulo fundou comunidades, disseminou as ideias do cristianismo, defendeu fervorosamente o ingresso de gentios na nova Igreja de Jesus Cristo. O Novo Testamento contém quatorze epístolas a ele atribuídas, das quais sete são consideradas quase que universalmente como sendo de sua autoria, enquanto que as outras são contestadas. Suas epístolas circulavam entre as comunidades cristãs e eram lidas em público por membros da Igreja, juntamente com outras obras. Ainda no primeiro século da nossa era, suas epístolas foram citadas por Clemente de Roma no ano de 96. A Solenidade de São Pedro e São Paulo é uma das mais antigas da Igreja. Havia a tradição de, neste dia, celebrar três missas: a primeira na Basílica de São Pedro, a segunda na Basílica de São Paulo Extra Muros e a terceira nas Catacumbas de São Sebastião, onde as relíquias dos apóstolos ficaram escondidas para fugir da profanação nos tempos difíceis. Os dois são considerados os pilares que sustentam a Igreja tanto por sua fé e pregação como pelo ardor e zelo missionários, sendo glorificados com a coroa do martírio, no final, como testemunhas do Mestre. São Pedro é o apóstolo que Jesus Cristo escolheu e investiu da dignidade de ser o primeiro condutor da Igreja. É o pastor do rebanho santo, é na sua pessoa e nos seus sucessores que temos o sinal visível da unidade e da comunhão na fé e na caridade. Hoje, temos entre nós o sucessor de Pedro que nos chama para a árdua missão de reformar a Igreja de Jesus Cristo. Possamos nós, unidos ao Papa Francisco, sermos discípulos e missionários em tempos de mudança de época. Com Francisco, caminhemos unidos ao Mestre Jesus que a cada um chama a seu modo. Equipe de Produção LITURGIA At 12, 1-11 33 (34) 2Tm 4, 6-8.17-18 Mt 16, 13-19 LITURGIA Padre José Antonio Pagola O episódio tem lugar na região pagã da Cesareia de Filipe. Jesus interessa-se por saber o que se diz entre as pessoas sobre Si. Depois de conhecer as diversas opiniões que há entre o povo, dirige-se diretamente aos Seus discípulos: “E vós, quem dizeis que Eu sou?”. Jesus não lhes pregunta que é que pensam sobre o sermão da montanha ou sobre a Sua atuação de curar entre as populações da Galileia. Para seguir Jesus, o decisivo é a adesão à Sua pessoa. Por isso, quer saber o que é que captam Nele. Simão toma a palavra em nome de todos e responde de forma solene: “Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo”. Jesus não é um profeta mais entre outros. É o último Enviado de Deus ao Seu povo eleito. Mais ainda, é o Filho do Deus vivo. Então Jesus, depois de felicitá-lo porque esta confissão só pode vir do Pai, diz-lhe: “Agora Eu te digo: tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a Minha Igreja”. As palavras são muito precisas. A Igreja não é de Pedro mas de Jesus. Quem edifica a Igreja não é Pedro, mas Jesus. Pedro é simplesmente “a pedra” sobre a qual se assenta “ a casa” que está a construir Jesus. A imagem sugere que a tarefa de Pedro é dar estabilidade e consistência à Igreja: cuidar que Jesus a possa construir, sem que os Seus seguidores introduzam desvios ou reducionismos. O Papa Francisco sabe muito bem que a sua tarefa não é “fazer as vezes de Cristo”, mas cuidar que os cristãos de hoje se encontrem com Cristo. Esta é a sua maior preocupação. Já desde o início do seu serviço como sucessor de Pedro dizia assim: “A Igreja há de chegar a Jesus. Este é o centro da Igreja. Se alguma vez acontecesse que a Igreja não levasse a Jesus, seria uma Igreja morta”. Por isso, ao fazer público o seu programa de uma nova etapa evangelizadora, Francisco propõem dois grandes objetivos. Em primeiro lugar, encontrar-nos com Jesus, pois “Ele pode, com a Sua novidade, renovar a nossa vida e as nossas comunidades… Jesus Cristo pode também acabar com os esquemas aborrecidos nos quais pretendemos encerrá-Lo”. Em segundo lugar, considera decisivo “voltar à fonte e recuperar a frescura original do Evangelho” pois, sempre que o fazemos, brotam novos caminhos, métodos criativos, sinais mais eloquentes, palavras carregadas de renovado significado para o mundo atual”. Seria lamentável que o convite do Papa para impulsionar a renovação da Igreja não chagasse até aos cristãos das nossas comunidades. Em: eclesalia.wordpress.com Padre Gilberto Kasper O Décimo Terceiro Domingo do Tempo Comum cede lugar à Solenidade de São Pedro e São Paulo, Apóstolos – as duas grandes Colunas da Igreja de Jesus Cristo: “Pedro, o primeiro a proclamar a fé, fundou a Igreja primitiva sobre a herança de Israel. Paulo, mestre e doutor das nações, anunciou-lhes o evangelho da salvação” (Prefácio próprio da Festa). “Celebramos a Páscoa do Cordeiro na vida e na ação evangelizadora de Pedro e Paulo. Apóstolos, fundadores da Igreja, amigos e testemunhas de Jesus. Agradecemos sua fé e empenho missionário. E celebramos o Senhor que os escolheu e os enviou para serem seus principais parceiros no grande mutirão em favor da vida, assumindo na Páscoa e dinamizado pelo dom do Espírito Santo. Esta é uma celebração antiquíssima. Existia antes da festa do Natal. Ela ajuda a nos achegarmos à fonte da vida cristã, ou seja, à Palavra de Deus e à Eucaristia que eles viveram intensamente e que nós estamos para celebrar no espírito de Comunidade de Comunidades: Uma Nova Paróquia! A Conversão Pastoral da Paróquia (Documentos da CNBB 100). Diferentes no temperamento e na formação religiosa, exercendo atividades diversas e em campos distintos, chegaram várias vezes, a desentender-se. Mas o amor a Cristo, a paixão pelo seu projeto, a força da fidelidade e a coragem do testemunho os uniram na vida e no martírio, acontecido em Roma sob o imperador Nero (54-68 D.C). Pedro foi crucificado e Paulo, decapitado. Ao celebrar a Páscoa dos dois grandes apóstolos, a Igreja lembra que em todas as comunidades estão presentes os fundamentos da missão evangelizadora: a vida eclesial, com sua dinâmica de comunhão e participação, e sua ação transformadora no mundo. No testemunho de Pedro e Paulo, temos duas dimensões diferentes e complementares da missão, como seguidores de Jesus. Apesar de divergirem em pontos de vista e na visão do mundo, o amor de Cristo e a força do testemunho os uniram na vida e no martírio. Neles, quer na vida, quer no martírio, prolongam-se a vida, paixão, morte e ressurreição de Cristo. Conheceram e experimentaram Jesus de formas diferentes, mas é único e idêntico o testemunho que, corajosos, deram dele. Por isso, são figuras típicas da vida cristã, com suas fraquezas e forças. As contínuas prisões de Pedro fazemno prolongar a paixão de Jesus. Não só aceita um Messias que dá a vida, mas morre por Ele e com Ele. Convertido, Paulo se torna propagador do Evangelho de Cristo, sofrendo como Ele sofreu, encarando a morte como Jesus a encarou. A comunidade, alicerçada no testemunho de Pedro e Paulo, nasce do reconhecimento de quem é Jesus. Esse reconhecimento não é fruto de especulação ou de teorias, e sim de vivência do seu projeto que passa pela rejeição, crucifixão, morte e ressurreição. Quando o testemunho cristão é pleno, o próprio Jesus age na comunidade, permitindo-lhe ‘ligar e desligar’. O poder que Jesus tem, as chaves do Reino, é entregue a nós, seus seguidores. A comunidade não é dona, apenas administra esse poder pelo testemunho e pelo serviço em favor da vida. Organiza-se como continuadora do projeto de Deus, a partir da prática do mestre, promove a vida e rejeita tudo o que provoca a morte. Jesus de Nazaré é para nós o mártir supremo, a testemunha fiel... Os mártires da caminhada resistiram ao poder da morte e ao aparato repressor: ‘A memória subversiva de tantos mártires será o alimento forte da nossa espiritualidade, da vitalidade de nossas comunidades, da dinâmica do movimento popular’. ‘Vidas pela vida, vidas pelo Reino! Todas as nossas vidas, como as suas vidas, como a vida dele, o mártir Jesus!’. Animados pelo testemunho de Pedro e Paulo, vamos ao encontro do Senhor que dá razão e sentido à nossa vida. Acolhendo sua Palavra, renovamos nossa adesão a Cristo e ao seu projeto. Professamos com alegria nossa fé na Igreja una, santa, católica, apostólica, aberta à comunhão universal e visceralmente missionária e proclamada da vida digna para todos. Participando a Eucaristia, somos identificados com Cristo e confirmados no seu caminho, para sermos disponíveis aos nossos irmãos e irmãs, até a morte, como marcas da identidade cristã. Hoje rezamos especialmente pelo Papa Francisco, Bispo de Roma, cidade onde se deu o martírio de Pedro e Paulo. A missão do Papa é zelar para que a Igreja permaneça unida, fiel a Jesus Cristo e ao seu projeto, realize com humildade e coragem o anúncio do Evangelho, cada vez mais inculturado, profético e aberto a todos. Supliquemos para que o Papa e todos os pastores sejam pétrus nas mãos do Senhor, fiéis ao Evangelho na condução da Igreja como servidora da vida, como sinal e instrumento da comunhão entre os povos” (cf. Roteiros Homiléticos da CNBB n. 22, pp. 51-57). Com facilidade emitimos opiniões errôneas, quando não medíocres em relação à autoridade e ao serviço do Santo Padre, o Papa! Talvez a celebração de hoje seja uma oportunidade de remissão, conversão e renovação de nossa fidelidade ao sucessor de Pedro, o Papa Francisco. Frequentemente me pergunto: quem sou eu para emitir qualquer crítica, desrespeitar ou até mesmo questionar a autoridade = serviço do Papa? Homem que se despe totalmente de si mesmo. Deixa para trás até o próprio nome e toda sua liberdade, para estar totalmente a serviço da Igreja de Jesus Cristo que lhe é confiada ao coração, colocada nos ombros, como a ovelha debruçada sobre o Bom Pastor. Só o fato do sim do Papa já basta para que mereça o carinho, a ternura, a fidelidade de todo cristão, que debruça sua fé sobre o evento da “confirmação de Pedro”, continuado em nossos dias na pessoa totalmente a serviço do Reino de Deus, o amado Santo Padre o Papa Francisco. Somos, também, convidados a rezar por nosso Papa Emérito Bento XVI, que se retirou e a exemplo de João Batista, deu lugar a alguém com maior vigor, mais saúde e menos idade, a fim de conduzir não a própria, mas a Igreja amada de Jesus Cristo, da qual todos somos filhos queridos. E seu Sucessor, o Papa Francisco, é eleito como o PAPA DA TERNURA! Nesta solenidade, a Igreja do mundo inteiro, realiza a Coleta do Óbolo de São Pedro. Com esta coleta o Papa socorre a humanidade em suas necessidades, especialmente em situações emergenciais, em nome dos Católicos do mundo. O resultado das Coletas realizadas em todas as Celebrações deste domingo deverá ser remetido à Cúria, que dará seu verdadeiro destino, fazendo-o chegar aos cuidados do Vaticano. Por vezes há resistência à Coleta do Óbolo de São Pedro por pura ignorância. Nem sempre as pessoas conhecem o bem que fazem, sendo generosas. Todos que se sentem dignos de serem cristãos, são conclamados a partilharem de sua pobreza em favor de quem tem menos. Pois é em nome da Igreja Católica Apostólica Romana, que o Santo Padre socorre nossos irmãos que são vitimadas pela fome, pela miséria, por catástrofes, como terremotos, enchentes e tantas outras ocasiões. Sejamos sensíveis e coerentes entre o que celebramos, pregamos e doamos. Padre Tomaz Hughes Hoje a Igreja celebra a festa dos dois grandes apóstolos, Pedro e Paulo. Como evangelho do dia, escolheu-se a história do caminho de Cesareia de Felipe. O relato mais antigo está em Marcos, Cap. 8, 27-38, que se tornou o pivô de todo o Evangelho. A estrutura de Mateus é diferente; mas, o relato tem a mesma finalidade, ou seja, clarificar quem é Jesus e o que significa ser discípulo d’Ele. A pedagogia do relato é interessante. Primeiro Jesus faz uma pergunta aparentemente inócua: “Quem dizem os homens que é o Filho do Homem?” Assim recebe diversas respostas, pois esta pergunta não compromete, é o “diz que”. Mas a segunda pergunta traz a facada: “E vocês, quem dizem que eu sou?” Agora não vêm muitas respostas, pois quem responde em nome pessoal, e não dos outros, se compromete com as consequências! Somente Pedro se arrisca e proclama a verdade sobre Jesus: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo”. Aparentemente, Pedro acertou e realmente, em Mateus, Jesus confirma a verdade do que proclamou! Afirmou que foi através de uma revelação do Pai que Pedro fez a sua profissão de fé. Mas, para que entendamos bem o trecho, é necessário que continuemos a leitura pelo menos até v. 25. Pois, o assunto é mais complicado do que possa parecer. Após afirmar que Pedro tinha falado a verdade, Jesus logo explica o que significa ser o Messias. Não era ser glorioso, triunfante e poderoso, conforme os critérios deste mundo. Muito pelo contrário, era ser fiel à sua vocação como Servo de Javé, era ser preso, torturado e assassinado, era dar a vida em favor de muitos. Jesus confirmou que, de fato era o Messias, mas não do jeito que Pedro quis. Este, conforme as expectativas do povo do seu tempo, quis um Messias forte e dominador, não um que pudesse ir, e levar os seus seguidores com Ele, até a Cruz! Por isso, Pedro remonstra com Jesus, pedindo que nada disso acontecesse, e como recompensa ganha uma das frases mais duras da Bíblia: “Fique atrás de mim, satanás, você é uma pedra de tropeço para mim, pois não pensa as coisas de Deus, mas dos homens!” (v. 23). Pedro, cuja proclamação de fé mereceu ser chamada a pedra fundamental da Igreja (v. 18), é agora chamado de Satanás - o Tentador por excelência - e “pedra de tropeço” para Jesus! Pedro tinha os títulos certos para Jesus; mas, a prática errada! Assim, Jesus usa o equívoco de Pedro para explicar o que significa ser seguidor d’Ele: “Se alguém quer me seguir, renuncie a se mesmo, tome a sua cruz, e siga-me” (v. 24). Ter fé em Jesus não é, em primeiro lugar, um exercício intelectual ou teológico, mas uma prática; o seguimento d’Ele na construção do seu projeto, até as últimas consequências. Hoje, enquanto celebramos os nossos dois grandes missionários, a segunda pergunta de Jesus ressoa forte: para nós, quem é Jesus? Não para o catecismo, não para o Papa ou o Bispo ou Pastor, mas para cada de nós pessoalmente? No fundo a resposta se dá, não com palavras, mas pela maneira em que vivemos e nos comprometemos com o projeto de Jesus - Ele que veio para que todos “tivessem a vida e a vida plenamente!” (Jo 10, 10). Cuidemos para que não caiamos na tentação do equívoco de Pedro, a de termos a doutrina certa, mas a prática errada, de cairmos na tentação de substituir o caminho humilde e serviçal da cruz pela pompa e ritual, de esquecermos os valores do Reino de Deus para substituí-los com os valores da sociedade vigente. Pedro aprendeu ao longo da vida o que é ser discípulo, pois terminou crucificado também, mas não foi fácil a mudança de mentalidade. Paulo também teve que despojar-se da toda a sua formação farisaica, quando descobriu que a Lei não salva ninguém, mas somente a graça de Jesus. Em: www.cebi.com.br Padre Alberto Maggi—OSM pós a lamentação de Jesus sobre as cidades da Galiléia, que tinham rejeitado a mensagem do Reino - e o rejeitaram porque eram cidades dominadas pela sinagoga e pelo ensinamento dos escribas e fariseus - Jesus abençoa aqueles que o haviam acolhido. Mateus capítulo 11 versículo 25. “Naquele tempo” - então o evangelista liga estas palavras com os acontecimentos anteriores e com a lamentação de Jesus: "Jesus disse: "Eu te louvo ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos”. Vamos logo esclarecer que Jesus não toma posição contra o saber, contra a cultura. Nada disso. Os sábios e os entendidos são os doutores da lei, o magistério oficial de Israel, aqueles que já haviam condenado Jesus como blasfemador. Por que Jesus diz que o Pai escondeu a eles estas coisas? Porque o Deus-amor é escondido aos que cultuam a lei. Quem está acostumado a se relacionar com as situações, os eventos, as pessoas, conforme um código, de acordo com uma lei, não pode compreender o rosto de um Deus que é amor, um Deus que cria o homem e o ama e defende a sua criatura. Portanto o critério de interpretação da Escritura, da Bíblia e da palavra de Deus deve ser o bem do ser humano. Aqueles que, ao contrário, fazem da Palavra uma doutrina, uma lei, na qual a observância de mandamentos e preceitos é mais importante do que o bem do homem, se tornam pessoas que arriscam ter, diante dos olhos, como que um véu que os impede de descobrir o projeto de amor de Deus sobre a humanidade. “E as revelaste aos pequeninos”. O termo referese ao simples, ou seja, pessoas que não têm dificuldade em acolher um Deus-amor porque é disso que eles precisam. “Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado”. Portanto, Deus decidiu que o critério para conhecê-lo é o amor e não a lei, não a doutrina. “Meu Pai entregou tudo a mim. Ninguém conhece o Filho, a não ser o Pai, e ninguém conhece o Pai, a não ser o Filho e aquele a quem o Filho quiser revelar”. O que Jesus quer dizer com estas palavras tão importantes? Jesus foi apresentado pelo Evangelista, desde o início do seu evangelho, como "Deus conosco", um Deus que não é preciso procurar, e sim acolher! E, acolhendo este Deus, ir com Ele e como Ele, não a procura de Deus, mas a procura dos homens. Portanto, com Jesus, Deus se fez homem e este é o único valor sagrado, o único valor importante, o único objetivo na vida do cristão. E por que Jesus diz que “ninguém conhece o Pai a não ser o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar?”. O verbo “revelar” significa remover o que impede ver, isto é a lei. A lei impedia de conhecer o amor do Pai. Mas, o critério para acolher Jesus e para compreender o Pai é colocar em sua própria vida, como único valor absoluto, como único valor sagrado, o bem do ser humano. Falado isso, Jesus, toma logo distância desses sábios, desses inteligentes, que fazem da lei um pedestal para dominar o povo e se dirige aqueles que são dominados e oprimidos. É um convite de uma força e de uma ternura incrível! “Venham para mim todos vocês”. Jesus convida todos os “que estão cansados de carregar o peso do seu fardo”. Cansados e sobrecarregados por qual razão? Pelo motivo da peso da lei, porque não conseguem observar todas essas regras, todas essas doutrinas, todas essas imposições. E isso os cansa, os oprime porque, o cumprimento destas regras que eles não conseguem praticar... os faz sentir-se sempre mais culpados, sempre mais em dívida para com o Senhor. E aqui está a boa notícia de Jesus: “e eu lhes darei descanso”. O verbo usado pelo evangelista "dar descanso" significa “aliviar" ou seja, recuperar o fôlego. E Jesus diz: “Eu serei o vosso fôlego”. Portanto, a todos aqueles que são oprimidos por uma relação com Deus que não conseguem levar adiante por causa das tantas leis e inúmeras regras, Jesus diz: “acolham-me e eu serei o vosso respiro. Eu serei o que lhes dará fôlego”. De fato, Jesus continua: “Carreguem a minha carga”. A carga (ou “jugo” ou canga ), como sabemos, é a ferramenta que se colocava sobre os animais para dirigi-los nos trabalhos. Pois bem, a observância da lei divina era chamada "jugo". Era uma lei impossível de ser observada. Lembramos que, nos Atos dos Apóstolos, quando querem impor estas leis também para os pagãos convertidos, Pedro diz: "Por que vocês agora tentam a Deus, querendo impor aos discípulos um jugo que nem nossos pais nem nós mesmos tivemos força para suportar?”. (At 15,10) Portanto, é um fracasso. Essa doutrina, essas imposições tem sido um fracasso porque ninguém era capaz de observá-las. Isso teve, como resultado, fazer o homem se sentir sempre mais culpado, em dívida com Deus. E quando você se sente culpado você não pode experimentar o amor de Deus! Jesus diz: “Carreguem a minha carga e aprendam de mim, porque sou manso e humilde de coração”. Jesus aqui não está dizendo de imitar as suas qualidades . É algo impossível ter o caráter de Jesus e imitar as Suas qualidades. A mansidão e a humildade de Jesus não se referem ao caráter e nem à qualidade de uma pessoa, mas à condição social. Na bem-aventurança: “Bem-aventurados os mansos", esses eram os sem herança, os últimos da sociedade, os humildes - em grego “tapinos” - ou seja, aqueles que são insignificantes. Jesus fez uma escolha: Ele se colocou ao lado dos últimos, dos marginalizados, das pessoas insignificantes. Portanto, isso pode ser feito. E o que isso significa? Não excluam ninguém do alcance do vosso amor. Não procurem as pessoas importantes, as que ocupam os primeiros lugares, mas se coloquem ao lado dos últimos, porque “é aí que Eu estou”. “Aprendam de mim, porque sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para suas vidas”. Jesus nos convida a orientar as nossas vidas ao serviço dos outros e nisso há o fôlego, o respiro. Aqui estão o ânimo e a força da vida do cristão. Jesus conclui, renovando o convite. “O meu jugo”, portanto não o jugo da lei, e sim o Seu jugo. E o jugo de Jesus são as “Bem-aventuranças”, ou seja, um convite a tudo aquilo que contribui para a plena felicidade do homem. “A minha carga é suave” - literalmente “boa” - “e meu fardo é leve”. É um fardo leve, porque não há regras a seguir, mas um amor para ser acolhido. Não há uma doutrina que deve ser aceita em suas próprias vidas, mas há um Jesus que pede para ser acolhido e se misturar com o ser humano, dando -lhe a Sua própria capacidade de amor. Em: www.studibiblici.it Entrevista com o Papa Francisco O Papa Francisco recebeu na segunda-feira passada no Vaticano- um dia após a oração pela paz com os presidentes de Israel e Palestina – o Jornalista Henrique Cymerman para esta entrevista exclusiva ao La Vanguardia. O Papa estava contente por ter feito todo o possível pelo entendimento entre israelenses e palestinos. Eis a entrevista. A violência em nome de Deus domina o Oriente Médio. são as americanas, que se emanciparam dos Estados europeus. As independências de povos por secessão são um desmembramento e às vezes são muito óbvias. Pensemos na ex-Iugoslávia. Obviamente, há povos com culturas tão diversas que nem com cola pegam. O caso iugoslavo é muito claro, mas eu me pergunto se é tão claro em outros casos, em outros povos que até agora estiveram juntos. É preciso estudar caso a caso. A Escócia, a Padânia [região norte da Itália], a Catalunha... Haverá casos que são justos e casos que não são justos, mas a secessão de um país sem um antecedente de unidade forçada é preciso tomá-lo com muitas pinças e analisá-lo caso a caso. A oração pela paz do domingo não foi fácil de organizar nem tinha precedentes no Oriente Médio nem no mundo. Como se sentiu? É uma contradição. A violência em nome de Deus não é uma exclusividade do nosso tempo. É algo antigo. Em perspectiva histórica é preciso admitir que os cristãos, às vezes, também a praticaram. Quando penso na Guerra dos Trinta Anos, era violência em nome de Deus. Hoje, é inimaginável, não é verdade? Chegamos, às vezes, pela religião, a contradições muito sérias, muito graves. O fundamentalismo, por exemplo. As três religiões têm seus grupos fundamentalistas, pequenos em relação a todo o resto. Você sabe que não foi fácil. Eu sentia que era algo que escapava a todos. Aqui, no Vaticano, 99% diziam que não iria acontecer e depois o 1% foi crescendo. Eu sentia que nos víamos empurrados para uma coisa que não nos havia ocorrido fazer e que, pouco a pouco, foi tomando corpo. Não se tratava de um ato político – senti isso desde o início –, mas de um ato religioso: abrir uma janela para o mundo. E qual é a sua opinião sobre o fundamentalismo? O verdadeiro olho do furacão, pelo entusiasmo que havia, foi a Jornada Mundial da Juventude do Rio de Janeiro, no ano passado. Decidi ir à Terra Santa porque o presidente Peres me convidou. Eu sabia que seu mandato terminava nesta primavera. Dessa forma, me vi obrigado, de alguma maneira, a ir antes. Seu convite precipitou a viagem. Não estava nos meus planos. Um grupo fundamentalista, embora não mate ninguém, embora não ataque ninguém, é violento. A estrutura mental do fundamentalismo é a violência em nome de Deus. Alguns dizem que o senhor é um revolucionário. Deveríamos chamar a grande Mina Mazzini, cantora italiana, e dizer-lhe “prendi questa mano, zinga” e que leia o meu passado, para ver que... (risos) Para mim, a grande revolução é ir às raízes, reconhecê-las e ver o que essas raízes querem dizer nos dias de hoje. Não há contradição entre ser revolucionário e ir às raízes. Mais ainda, creio que a maneira de fazer verdadeiras mudanças é a identidade. Nunca se pode dar um passo na vida se não for de atrás, sem saber de onde venho, qual é o meu sobrenome, o sobrenome cultural ou religioso que eu tenho. O senhor quebrou muitos protocolos de segurança para aproximar-se das pessoas. Sei que pode me acontecer alguma coisa, mas isso está nas mãos de Deus. Recordo que no Brasil haviam preparado um papamóvel fechado, com vidros, mas eu não posso saudar um povo e dizer-lhe que gosto muito dele dentro de uma lata de sardinhas, mesmo que seja de vidro. Para mim, isso é um muro. É verdade que algo pode me acontecer, mas sejamos realistas: na minha idade, não tenho muito a perder. Por que é importante que a Igreja seja pobre e humilde? A pobreza e a humildade estão no centro do Evangelho e o digo num sentido teológico, não sociológico. Não se pode entender o Evangelho sem a pobreza, mas há que distingui-la do pauperismo. Eu creio que Jesus não quer que os bispos sejam príncipes, mas servidores. O que a Igreja pode fazer para reduzir a crescente desigualdade entre ricos e pobres? Está provado que com a comida que sobra seria possível alimentar as pessoas que têm fome. Quando você vê fotografias de crianças desnutridas em diversas partes do mundo, põe a mão na cabeça, não é possível entender! Creio que estamos em um sistema econômico mundial que não é bom. No centro de todo sistema econômico deve estar o homem, o homem e a mulher, e todo o resto deve estar a serviço deste homem. Mas nós colocamos o dinheiro no centro, o deus dinheiro. Caímos em um pecado de idolatria, a idolatria do dinheiro. A economia move-se pelo afã de ter mais e, paradoxalmente, alimenta-se uma cultura do descarte. Descarta-se os jovens quando se limita a natalidade. Também se descarta os idosos porque já não servem, não produzem, são uma classe passiva... Ao descartar as crianças e os idosos, descarta-se o futuro de um povo, porque as crianças projetam-se com força para frente e porque os anciãos nos dão a sabedoria, têm a memória desse povo e devem passá-la aos jovens. E agora também está na moda descartar os jovens pelo desemprego. Preocupa-me muito o índice de desemprego dos jovens, que em alguns países passa dos 50%. Alguém me disse que 75 milhões de jovens europeus menores de 25 anos estão desempregados. É uma barbaridade. Mas descartamos toda uma geração por manter um sistema econômico que já não se sustenta, um sistema que, para sobreviver, deve fazer a guerra, como sempre fizeram os grandes impérios. Mas como não se pode fazer a Terceira Guerra Mundial, então fazem-se guerras regionais. E o que isto significa? Que se fabricam e vendem armas, e com isto os balanços das economias idolátricas, as grandes economias mundiais, que sacrificam o homem aos pés do ídolo do dinheiro, obviamente se sanam. Este pensamento único tira a riqueza da diversidade de pensamento e, portanto, a riqueza de um diálogo entre pessoas. A globalização bem entendida é uma riqueza. Uma globalização mal entendida é aquela que anula as diferenças. É como uma esfera, com todos os pontos equidistantes do centro. Uma globalização que enriquece é como um poliedro, todos unidos, mas cada qual conservando sua particularidade, sua riqueza, sua identidade. Não é o que está acontecendo. Preocupa lhe o conflito entre a Catalunha e a Espanha? Qualquer divisão me preocupa. Há independência por emancipação e há independência por secessão. As independências por emancipação, por exemplo, Por que escolheu meter-se no olho do furacão que é o Oriente Médio? Por que é importante para todo cristão visitar Jerusalém e a Terra Santa? Pela revelação. Para nós, tudo começou aí. É como “o céu na terra”, uma antecipação do que nos espera no além, na Jerusalém Celeste. O senhor e seu amigo o rabino Skorka se abraçaram diante do Muro das Lamentações. Que importância teve este gesto para a reconciliação entre cristãos e judeus? Bom, no Muro estava também o meu bom amigo o professor Omar Abboud, presidente do Instituto do Diálogo Inter-religioso de Buenos Aires. Quis convidá-lo. É um homem muito religioso, pai de dois filhos. Também é amigo do rabino Skorka e quero muito a ambos, e quis que esta amizade entre os três fosse vista como um testemunho. O senhor me disse há um ano que “dentro de cada cristão há um judeu”. Talvez o mais correto seria dizer que “você não pode viver seu cristianismo, você não pode ser um verdadeiro cristão, se não reconhecer sua raiz judaica”. Não falo de judeu no sentido semítico de raça, mas no sentido religioso. Creio que o diálogo inter-religioso tem que aprofundar isto, a raiz judaica do cristianismo e o florescimento cristão do judaísmo. Entendo que é um desafio, uma batata quente, mas se pode fazer como irmãos. Eu rezo todos os dias o Ofício Divino com os Salmos de Davi. Passamos os 150 Salmos numa semana. Minha oração é judaica, e depois tenho a eucaristia, que é cristã. Como vê o antissemitismo? Não saberia explicar porque existe, mas creio que está muito unido, em geral e sem que seja uma regra fixa, à direita. O antissemitismo costuma aninhar-se melhor nas correntes políticas de direita que de esquerda, não? E continua até hoje. Há, inclusive, quem negue o holocausto, uma loucura. Um dos seus projetos é abrir os arquivos do Vaticano sobre o holocausto. Trarão muita luz. Preocupa lhe alguma coisa que possa ser descoberta? Neste tema o que me preocupa é a figura de Pio XII, o Papa que liderou a Igreja durante a Segunda Guerra Mundial. Jogaram tudo em cima do pobre Pio XII. Mas é preciso lembrar que antes era visto como o grande defensor dos judeus. Ele escondeu muitos nos conventos de Roma e de outras cidades italianas, e também na residência de verão de Castel Gandolfo. Ali, na casa do Papa, em seu próprio quarto, nasceram 42 nenês, filhos de judeus e outros perseguidos ali refugiados. Não quero dizer que Pio XII não tenha cometido erros – eu mesmo cometo muitos –, mas seu papel deve ser relido no contexto da época. Era melhor, por exemplo, que não falasse para que não matassem mais judeus, ou que o fizesse? Também quero dizer que, às vezes, tenho um pouco de urticária existencial quando vejo que todos atacam a Igreja e Pio XII, e se esquecem das grandes potências. Você sabe que conheciam perfeitamente a rede ferroviária dos nazistas que levavam os judeus aos campos de concentração? Tinham fotos. Mas não bombardearam esses trilhos. Por quê? Será bom que falássemos de tudo um pouquinho. O senhor se sente ainda como um pároco ou assume seu papel de cabeça da Igreja? A dimensão de pároco é a que mais mostra a minha vocação. Servir as pessoas vem de dentro de mim. Desligo a luz para não gastar muito dinheiro, por exemplo. São coisas de um pároco. Mas também me sinto Papa. Ajuda-me a fazer as coisas com seriedade. Meus colaboradores são muito sérios e profissionais. Tenho ajuda para cumprir com meu dever. Não devo dar uma de Papa pároco. Seria imaturo. Quando vem um chefe de Estado, tenho que recebê-lo com a dignidade e o protocolo que merece. É verdade que tenho meus problemas com o protocolo, mas é preciso respeitá-lo. O senhor está mudando muitas coisas. Para que futuro estas mudanças estão levando? Não tenho nenhuma iluminação. Não tenho nenhum projeto pessoal que trouxe debaixo do braço, simplesmente porque nunca pensei que me deixariam aqui, no Vaticano. Todo o mundo sabe disso. Vim com uma malinha para voltar logo em seguida para Buenos Aires. O que estou fazendo é cumprir o que os cardeais refletiram nas Congregações Gerais, ou seja, nas reuniões que, durante o Conclave, tiveram todos os dias para discutir os problemas da Igreja. Daí saem reflexões e recomendações. Uma recomendação muito concreta era que o próximo papa deveria contar com um conselho externo, isto é, com uma equipe de assessores que não morassem no Vaticano. E o senhor criou o chamado Conselho dos Oito. São oito cardeais de todos os continentes e um coordenador. Reúnem-se a cada dois ou três meses aqui. Agora, no dia primeiro de julho teremos quatro dias de reunião, e vamos fazendo as mudanças que os próprios cardeais nos pedem. Não é obrigatório que o façamos, mas seria imprudência não ouvir os que sabem. Também fez um grande esforço para aproximar-se da Igreja ortodoxa. de mil maneiras, não necessariamente as formas religiosas tradicionais. O enfrentamento entre fé e ciência teve seu auge no Iluminismo, mas que hoje não está tanto na moda, graças a Deus, porque nos demos conta da proximidade que há entre uma coisa e a outra. O Papa Bento XVI tem um bom magistério sobre a relação entre fé e ciência. Em linhas gerais, o mais atual é que os cientistas sejam muito respeitosos com a fé, e o cientista agnóstico ou ateu diga: “Não me atrevo a entrar nesse campo”. O senhor conheceu muitos chefes de Estado. Vieram muitos e é interessante a variedade. Cada qual tem sua personalidade. Chamou-me a atenção um fato comum aos políticos jovens, quer sejam de centro, de esquerda ou de direita. Talvez falem dos mesmos problemas, mas com uma nova música, e gosto disso, me dá esperança, porque a política é uma das formas mais elevadas de amor, da caridade. Por quê? Porque leva ao bem comum. E uma pessoa que, podendo fazê-lo, não se compromete na política com o bem comum, é egoísmo; ou que usa a política para o bem próprio, é corrupção. Há 15 anos, os bispos franceses escreveram uma carta pastoral intitulada “Réhabiliter la politique” [Reabilitar a política]. É um belíssimo texto que faz a gente se dar conta de todas essas coisas. Qual é a sua opinião sobre a renúncia de Bento XVI? O Papa Bento fez um gesto muito nobre. Abriu uma porta, criou uma instituição, a dos eventuais papas eméritos. Há 70 anos, não havia bispos eméritos. Hoje, há quantos? Bom, como vivemos mais tempo, chegamos a uma idade em que não podemos seguir adiante com as coisas. Eu farei o mesmo que ele, pedirei ao Senhor para me iluminar quando chegar o momento e me dizer o que tenho de fazer, e seguramente vai me dizer. A ida a Jerusalém do meu irmão Bartolomeu foi para comemorar o encontro de 50 anos atrás entre Paulo VI e Atenágoras. Foi um encontro depois de mais de mil anos de separação. Desde o Concílio Vaticano II, a Igreja católica faz os esforços para se aproximar e a Igreja ortodoxa, o mesmo. Com algumas Igrejas ortodoxas há mais proximidade do que com outras. Eu quis que Bartolomeu estivesse comigo em Jerusalém e ali surgiu o plano para que viesse também para a oração do Vaticano. Para ele foi um passo arriscado, porque podem jogar isso na cara dele, mas era preciso estreitar este gesto de humildade. Para nós é necessário porque não é concebível que os cristãos estejam divididos, é um pecado histórico que temos que reparar. Tem um quarto reservado em uma casa de repouso em Buenos Aires. Diante do avanço do ateísmo, qual é a sua opinião sobre as pessoas que acreditam que a ciência e a religião são excludentes? Não pensei nisso, mas gosto quando alguém, recordando outra pessoa, diz: “Era um cara bom, fez o que pôde, não foi tão ruim”. Com isso me conformo. Houve um avanço do ateísmo na época mais existencial, talvez sartreana. Mas depois viu um avanço rumo a buscas espirituais, de encontro com Deus, “Os mafiosos não estão em comunhão com Deus, estão excomungados”. Francisco clama: “A Ndrangheta é a adoração do mal e o desprezo do bem comum. É preciso lutar contra este mal, afastá-lo, dizer não a ele. A Igreja está tão empenhada em educar a consciência, deve cada vez mais ocupar-se para que o bem prevaleça. Pedem-nos nossas crianças. Pedem-no nossos jovens necessitados de esperança. Para poder responder a estas exigências, a fé pode nos ajudar”. Também não nestes momentos de dificuldade o mal terá a última palavra. Portanto, não deixem que roubem a esperança de vocês, recomenda o Papa. E “graças a esta fé, nós renunciamos a Satanás e às suas seduções; renunciamos aos ídolos do dinheiro, da vaidade, do orgulho e do poder”. Na Calábria duramente castigada pelo desemprego e pelo crime organizado, Francisco lança um grito de esperança e anima os fiéis para se oporem “ao mal, às injustiças e à violência com a força do bem, da verdade e da beleza”. Um sinal concreto de esperança é o Progetto Policoro, “para os jovens que querem criar postos de trabalho para si e para os outros. Vocês, queridos jovens, não deixem que roubem a esperança de vocês. Portanto, adorando Jesus em seus corações e permanecendo unidos a Ele vocês saberão opor-se ao mal, às injustiças e à violência com a força do bem, da verdade e da beleza”. O bispo de Cassano all’Jonio e secretário da Conferência Episcopal Italiana garante que “a Igreja calabresa sente-se partícipe do despertar das consciências contra o crime organizado”, porque “o crime organizado alimenta-se de consciências adormecidas”. Ao longo do trajeto de carro de Cassano all’Jonio até Marina di Sibari, onde celebrou a missa em uma esplanada apinhada de fiéis, o Papa fez uma breve parada na frente da Igreja Matriz de São José, no povoado de Lattughelle, onde, no dia 03 de março passado, foi assassinado o padre Lazzaro Longobardi. Mais tarde, na área da antiga Insud da Planície de Sibari, o Pontífice presidiu a celebração concelebrada pelos bispos da Calábria e 207 sacerdotes. “Na festa de Corpus Christi celebramos Jesus, ‘pão vivo que vem do céu’, alimento para o nosso apetite de vida eterna, força para o nosso caminho”, afirmou Francisco na homilia: “Demos graças ao Senhor que hoje me permite celebrar o Corpus Domini com vocês, irmãos e irmãs desta Igreja que está em Cassano all’Jonio. A festa de hoje é a festa na qual a Igreja celebra ao Senhor pelo dom da Eucaristia. Enquanto na Quinta-Feira Santa recordamos sua instituição na Última Ceia, hoje predominam os agradecimentos e a adoração. E de fato é tradição neste dia a procissão com o Santíssimo Sacramento. Adorar o Jesus Eucarístico e caminhar com Ele”. Estes, evidencia o Papa Bergoglio, “são dois aspectos inseparáveis da festa de hoje, dois aspectos que imprimem a marca a toda a vida do povo cristão: um povo que adora a Deus e caminha com Ele. De fato, nós somos um povo que adora a Deus: nós adoramos a Deus que é amor, que em Jesus Cristo se entregou por nós, se ofereceu a si mesmo na cruz para espiar os nossos pecados e que, graças ao poder deste amor, ressuscitou e vive em sua Igreja”. Sim, em uma casa de padres idosos. Eu deixaria a Arquidiocese no final do ano passado e eu já havia apresentado a renúncia ao Papa Bento quando completei os 75 anos. Escolhi um quarto e disse: “quero morar aqui”. Trabalharia como padre, ajudando as paróquias. Esse seria o meu futuro antes de ser papa. Não vou lhe perguntar quem apoia na Copa do Mundo... Os brasileiros me pediram neutralidade (ri) e cumpro com minha palavra, porque o Brasil e a Argentina sempre são rivais. Como gostaria de ser recordado na história? Em: www.ihu.unisinos.rg.br nós, cristãos, não queremos adorar nada nem ninguém neste mundo que não seja Jesus Cristo, que está presente na santa Eucaristia”. Por outro lado, talvez nem sempre nos damos conta do que isto significa, das consequências que tem, ou deveria ter, a nossa profissão de fé. Hoje, peçamos ao Senhor que nos ilumine e nos converta para que verdadeiramente só adoremos a Ele e renunciemos ao mal em todas as suas formas. Mas esta nossa fé na presença real de Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, no pão e no vinho consagrados, é autêntica se nos empenharmos em caminhar atrás d’Ele e com Ele, tentando colocar em prática seus mandamentos, os quais deu aos seus discípulos durante a Última Ceia: ‘Que vos ameis uns aos outros como eu vos amei’. O povo que adora a Deus na Eucaristia é o povo que caminha na caridade”. “Portanto, hoje, como Bispo de Roma, estou aqui para confirmar vocês não apenas na fé, mas também na caridade, para acompanhar vocês e encorajá-los em seu caminho com Jesus Caridade. Quero expressar o meu apoio ao bispo, aos presbíteros e diáconos da Igreja, e também à Eparquia de Lungro, rica em sua tradição greco-bizantina. Mas, o estendo também a todos os pastores e fiéis da Igreja na Calábria, comprometida com coragem na evangelização e em favorecer estilos de vida e iniciativas que coloquem sua atenção nas necessidades dos pobres e dos últimos”. E o estende também “às autoridades civis que tentam viver o trabalho político e administrativo como é, um serviço a favor do bem comum”. Francisco anima a todos para “serem testemunhas da solidariedade concreta com os irmãos, especialmente com aqueles que têm mais necessidade de justiça, de esperança, de ternura. De fato, graças a Deus existem tantos sinais de esperança em suas famílias, nas paróquias, nas associações, nos movimentos eclesiásticos. O Senhor Jesus não cessa de suscitar gestos de caridade em seu povo”. A esplanada de Sibari transformou-se, com o passar das horas, em uma zona multicolorida. Olhando a área do alto, observam-se milhares de sombrinhas que colorem vários setores da planície. A temperatura passa dos 40 graus e os voluntários da Proteção Civil aumentaram a distribuição de água aos peregrinos. Na planície de Sibari todos os setores estão repletos esperando a missa que será cePortanto, nós não temos outro Deus senão este e hoje o confessamos vol- lebrada pelo Papa Francisco. tando o nosso olhar para o Corpus Domini, para o Sacramento do altar. E Em: www.ihu.unisinos.com.br Sônia Oddi e Celso Maldos São Félix do Araguaia, nordeste matogrossense, 10 de maio de 2014. Numa pequena capela, no fundo do quintal, uma oração inaugura o dia na casa do bispo emérito de São Félix, dom Pedro Casaldáliga. A simplicidade da arquitetura ganha força com o significado dos objetos ali dispostos. No altar, uma toalha com grafismos indígenas. Na parede, um relevo do mapa da África Crucificada, um Cristo rústico no crucifixo, uma cerâmica de mãe que protege seu filho com um braço e carrega um pote no outro. No chão de cimento, bancos feitos de toras de madeira, que lembram aqueles de buriti, usados pelos Xavante, em uma competição tradicional, em que duas equipes se enfrentam numa corrida de revezamento, carregando as toras nos ombros, demonstração de resistência e força, qualidades de um povo conhecido por suas habilidades guerreiras. Cercada de plantas, a luz entra por todas as faces das tímidas e incompletas paredes. Nesse ambiente orgânico, assim como tem sido a vida de Pedro, os amigos se aninham para tomar parte da oração. José Maria Concepción, companheiro de Pedro de longa data, e recém-chegado da Espanha, inicia a leitura: "1795: José Leonardo Chirino, mestiço, lidera a insurreição de Coro, Venezuela, com índios e negros lutando pela liberdade dos escravos e a eliminação de impostos. 1985: Irne García e Gustavo Chamorro, mártires da justiça. Guanabanal, Colômbia. 1986: Josimo Morais Tavares, padre, assassinado pelo latifúndio. Imperatriz, Maranhão, Brasil” Os martírios lembrados referem-se àquela data, 10 de maio. Inúmeros outros, centenas deles, são e serão lembrados ao longo de todo o ano, de acordo com a Agenda Latino-Americana. E continua: "2013: Ríos Montt, ex-ditador guatemalteco, condenado a 80 anos de prisão por genocídio e crimes contra a humanidade. A Comissão da Verdade calcula que ele cometeu 800 assassinatos por mês, nos 17 meses em que governou, depois de um golpe de Estado.” O jovem padre Felipe Cruz, agostiniano, de origem pernambucana, conduz um canto, a reza do pai-nosso e a leitura de uma passagem da edição pastoral da Bíblia. O encerramento se dá com a Oração da Irmandade dos Mártires da Caminhada Latino-Americana, escrita por dom Pedro, onde na última linha pode-se ler "Amém, Axé, Awere, Aleluia!”, em respeito à diversidade de crenças do povo brasileiro. Em nome desse respeito, dom Pedro nunca celebrou uma missa na Terra Indígena Marãiwatsédé, dos Xavante, comunidade que desde sempre contou com o seu apoio na luta pela retomada da terra, de onde haviam sido deportados em 1968 e para onde começaram a retornar em 2004. "Se o bispo está aqui celebrando a missa, significa que nós estamos em pleno direito aqui. E, por orientação do Cimi (Conselho Indigenista Missionário) e da igreja da Prelazia, ele, pessoalmente, não fez nenhuma celebração na reserva”, testemunha José Maria. Sagrado bispo pelas mãos de dom Tomás Balduíno, dom Pedro dedicou a vida ao povo da região do Araguaia Por apoiar a luta quase cinquentenária dos povos originários daquela região de Mato Grosso, Pedro foi ameaçado de morte algumas vezes. Sagração Episcopal de D. Pedro em 23/10/71 Na última, no final de 2012, quando o processo de desintrusão (medida legal para efetivar a posse) dos fazendeiros e posseiros da TI (terra indígena) Marãiwatsédé avançava e se efetivava, decorrente da determinação da Justiça e do governo federal, ele teve de se ausentar de São Félix. Perseguições, ameaças de morte e processos de expulsão do país têm marcado a trajetória de Pedro, que chegou à longínqua região do Araguaia, como missionário claretiano, em 1968, aos 40 anos. De origem catalã, ele nasceu em 1928 – e aos 8 anos teve sua primeira experiência com o martírio, quando um irmão de sua mãe, padre, foi assassinado quando a Espanha estava mergulhada em uma sangrenta guerra civil. A Prelazia de São Félix, uma divisão geográfica da Igreja Católica, foi criada em 1969 e abrange 15 municípios: Santa Cruz do Xingu, São José do Xingu, Vila Rica, Santa Terezinha, Luciara, Novo Santo Antônio, Bom Jesus do Araguaia, Confresa, Porto Alegre do Norte, Canabrava do Norte, Serra Nova Dourada, Alto Boa Vista, Ribeirão Cascalheira, Querência e São Félix do Araguaia. Atualmente, conta com uma população estimada em 135 mil habitantes, uma área aproximada de 102 mil quilômetros quadrados e 22 chamadas paróquias. Pedro, em meio às distâncias, encontrou um povo carente, sofrido, abandonado, à mercê das ameaças dos grandes proprietários criadores de gado. Os pobres do Evangelho, a quem havia escolhido dedicar a sua vida, estavam ali. Em 1971, pelas mãos de dom Tomás Balduíno (que morreu em maio último, aos 91 anos) foi sagrado bispo da prelazia. A partir de 2005, quando renunciou, recebeu o título de bispo emérito. Um dos fundadores da Teologia da Libertação, o seu engajamento nas lutas dos ribeirinhos, indígenas e camponeses incomodou os latifundiários e a ditadura. Ainda hoje, incomoda os homens ricos e poderosos do Centro-Oeste brasileiro. A política dos incentivos fiscais, levada a cabo pelos militares, por meio da Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam), foi o berço do agronegócio. E também dos conflitos advindos da expropriação da terra das populações originárias, da exploração da mão de obra, do traDom Tomás, Dom Pedro Casaldáliga e Ivar Busatto na balho escravo e toda sorAssembleia Geral do CIMI (Goiânia, 1975) te de violências, que indignou o missionário Pedro e o fez escolher do lado de quem estaria. "O direito dos povos indígenas são interesses que contestam a política oficial”, diz dom Pedro. "São culturas contrárias ao capitalismo neoliberal e às exigências das empresas de mineração, das madeireiras. Os povos indígenas reivindicam uma atuação respeitosa e ecológica.” Em plena ditadura, nos anos 1970, fundou, junto com dom Tomás Balduíno, o Cimi e a Comissão Pastoral da Terra (CPT), como resposta à grave situação dos trabalhadores rurais, indígenas, posseiros e peões, sobretudo na Amazônia. Ainda nesse período, em 1976, presenciou o assassinato do padre João Bosco Burnier, baleado na nuca quando ambos defendiam duas mulheres que eram torturadas em uma delegacia de Ribeirão Cascalheira (MT). Pedro faz seções de fisioterapia algumas vezes na semana. Aos 86 anos, e com o Parkinson diagnosticado há cerca de 30, esse cuidado se faz necessário para minimizar os avanços do mal que provoca atrofia muscular e tremores. Ele segue disciplinadamente uma dieta alimentar, o que de certa maneira retardou, mas não cessou, segundo seu médico, o avanço da doença. A disciplina se repete na leitura diária de e-mails, notícias, artigos, acompanhado mais frequentemente por frei Paulo, agostiniano, que assim como dom Pedro tem sempre as portas abertas para moradores da comunidade e viajantes. Durante a visita da Revista do Brasil, por exemplo, há uma pausa para acolher Raimundo, homem alto, pardo, magro que, aflito, emocionado, de joelhos, pedia a sua bênção. A casa é simples, de tijolos aparentes, sem acabamento nas paredes. Porém, tal como a capela no fundo do quintal, é plena de significados e ícones que atestam o compromisso com as causas humanas, de quem vive sob aquele teto. Che, Jesus, Milton No quarto, na salinha, na cozinha, no alpendre dos fundos, no escritório, um devaneio para os olhos e para o coração. Imagens de significados diversos: Che Guevara, Jesus Cristo, Milton Nascimento, padre João Bosco Burnier, dom Hélder Câmara, monsenhor Romero, Pablo Neruda. Textos de Martín Fierro, São Francisco de Assis, Joan Maragall, Exodus. Pôsteres da Missa dos Quilombos, da Romaria dos Mártires da Caminhada, da Semana da Terra Padre Josimo. Calendários da Guerra de Canudos, de operários no 1º de Maio. E ainda fotos, pequenas lembranças e artefatos populares, em meio a estatuetas de prêmios recebidos. O seu compromisso com as causas populares extrapola as fronteiras do país. Em 1994, dom Pedro apoiou a revolta de Chiapas, no México, afirmando que quando o povo pega em armas deve ser respeitado e compreendido. Em 1999, publicou a Declaração de Amor à Revolução Total de Cuba. Fala com convicção da importância da unidade latino-americana, idealizada por Simon Bolívar (1783-1830) e defendida pelo ex-presidente da Venezuela Hugo Chávez (1954-2013). "Eu dizia que o Brasil era pouco latino-americano, a língua comum dos povos castelhanos fez com que o Brasil se sentisse um pouco à parte do resto”, diz dom Pedro. "Por outro lado, o Brasil tem umas condições de hegemonia que provocava nos outros povos uma atitude de desconfiança. Hugo Chávez fez uma proposta otimista, militante, apelando para o espírito de Bolívar, com isso se conseguiu vitórias interessantes, como impedir a vitória da Alca.” Ele recorda de um encontro com o ex-presidente brasileiro. "Quando Lula esteve na assembleia da CNBB, estávamos nos despedindo, ele se aproximou de mim e me deu um abraço. E eu falei, vou te pedir três coisas. Primeiro, que não nos deixe cair na Alca, segunda, que não nos deixe cair na Alca, terceira, que não nos deixe cair na Alca. Só te peço isso”, conta, em referência a Área de Livre Comércio das Américas, ícone do neoliberalismo. "E realmente não entramos na Alca. Porque a América Latina tem de se salvar continentalmente, temos histórias comuns, os mesmos povos, as mesmas lutas, os mesmos carrascos. Os mesmos impérios sujeitando-nos, uma tradição de oligarquias vendidas. Tem sido sempre assim. Começavam com o império, o que submetia as oligarquias locais. Os exércitos e as forças de segurança garantiam uma segurança interesseira. Melhorou, inclusive os Estados Unidos não têm hoje o poder que tinham com respeito ao controle da América Latina. Somos menos americanos, para ser mais americanos.” Esperança e diálogo É preciso de todo jeito salvar a esperança, defende dom Pedro. "Insistir nas lutas locais, frente à globalização. Se somar as reivindicações, sentir como próprios, as lutas que estão acontecendo nos vários países da América Latina. El Salvador, Uruguai, Bolívia, Equador... Claramente são países muito próximos nas lutas sociais.” Há tempos dom Pedro Casaldáliga não concede entrevistas pela dificuldade que tem encontrado em conciliar a agilidade do raciocínio com o tempo possível da articulação das palavras. A ajuda de José Maria, seu amigo e conterrâneo, foi fundamental para a compreensão das pausadas e esforçadas falas, enquanto discorria sobre assuntos por ele escolhidos. Otimista com a atuação do papa Francisco, ressalta que "ele fez gestos emblemáticos, muito significativos”. "A Teologia da Libertação se sentiu respaldada por ele. Tem valorizado as Comunidades Eclesiais de Base, com o objetivo de uma Igreja pobre para os pobres. Estimulou o diálogo com outras igrejas... Chama a atenção nele o diálogo com o mundo muçulmano e com o mundo judeu, e agora essa visita a Israel... Muito significativa. Desmantelou todo o aparato eclesiástico, seus colaboradores tiveram de se adaptar.” Ele reconhece as limitações que o sistema político impõe à atuação do governo, que segundo dom Pedro tem "um pecado original”: as alianças. "Quando há alianças, há concessões e claudicações. Enquanto esses governos todos se submeterem ao capitalismo neoliberal teremos essas falhas graves. A política será sempre uma política condicionada. Tanto o Lula como a Dilma gostariam de governar a serviço do povo mesmo, mas as alianças fizeram com que os governos populares estivessem sempre condicionados”. Para ele, deve haver uma "atitude firme, quase revolucionária”, em relação a temas como saúde, educação e comunicação. Morto em março do ano passado, o ex-presidente da Venezuela Hugo Chávez é lembrado com determinação pelo religioso. "Ele tentou romper, rompeu o esquema. Por isso, a direita faz questão de queimar, queimar mesmo, a Venezuela. Nos diários e noticiários, a cada dia tem de aparecer alguma coisa negativa da Venezuela”. Direitos indígenas x ruralistas Ele aponta a "atualidade” da causa indígena, e as ameaças que não cessam. "Nunca como agora, se tem atacado tanto. Tem várias propostas para transformar a política que seria oficial, pela Constituição de 1988, que reconhece o direito dos povos indígenas de um modo muito explícito. Começam a surgir propostas para que seja o Congresso quem defina as demarcações das terras indígenas, sendo assim já sabemos como será a definição. A bancada ruralista é muito grande...”, observa dom Pedro. Por outro lado, prossegue, nunca os povos indígenas se organizaram como agora. E o país criou uma "espécie de consciência” em relação a essa causa. "Se querem impedir que haja uma estrutura oficial com respeito à política indígena, tentam suprimir organismos que estão a serviço dessas causas. Isso afeta os povos indígenas e o mundo rural . Tudo isso é afetado pelo agronegócio, o agronegócio é o que manda. E manda globalmente. Não é só um problema do Mato Grosso, é um problema do país e do mundo todo. As multinacionais condicionam e impõem. "A retomada da TI Marãiwatsédé é bonita e emblemática. Os Xavante foram constantes em defender os seus direitos. Quando foram expulsos, deportados – esta é a palavra, eles foram deportados –, seguiram vinculados a esse terreno, vinham todos os anos recolher pati, uma palmeira para fazer os enfeites. E reivindicavam sempre a terra onde estão enterrados nossos velhos. E foram sempre presentes”, testemunha. "Aqui, nós sempre recordamos que essa terra é dos Xavante, que esta terra é dos Xavante. Os moradores jovens, meninos, outro dia diziam – nossos vovôs contam que essa terra é dos índios, nossos papais contam que essa terra é dos índios.” A essa altura, dom Pedro lembra de "momentos difíceis” em que o Cimi se vê obrigado a contestar certas ações do governo. "Quando se diz que não há vontade política pelas causas indígenas, eu digo que há uma vontade contrária ao direito dos povos indígenas, isso é sistemático. A Dilma, eu não sei se se sentisse um pouco mais livre, respaldaria as causas indígenas. Alguns pensam que ela pessoalmente não sintoniza com a causa indígena. Tem sido criticada porque nunca recebeu os índios. Faz pouco foi o primeiro encontro com um grupo. Todos esses projetos de Belo Monte, as hidrelétricas. Se ela tem uma política desenvolvimentista, ela tem de desrespeitar o que a causa indígena exige: em primeiro lugar seria terra, território, demarcação, desintrusar os invasores. Seria também estimular as culturas indígenas e quilombolas”, diz, sem meio-termo. "Se você está a favor dos índios, você está contra o sistema. Não adianta colocar panos quentes aí.” Dom Pedro defende a presença de sindicatos, mas critica o movimento. "Eles são a voz dessas reivindicações todas dos povos indígenas, do mundo operário. Na América Latina, estiveram muito bem os sindicatos, ultimamente vêm falhando bastante. Foram cooptados. Quando se vê um líder sindicalista transformado em deputado, senador, ele se despede”, afirma, vendo a Via Campesina como uma alternativa, por meio de alianças de grupos populares em vários países. "Daí voltamos à memória de Hugo Chávez, que estimulou essa participação”, observa. "De ordinário acontece que antes as únicas vozes que os operários tinham eram o sindicato e o partido. Nos últimos anos, tanto o partido como o sindicato perderam representatividade. Em parte foram substituídos por associações, alguns movimentos. Mas continuam sendo válidos. Os sindicatos e partidos são instrumentos conaturais a essas causas do povo operário, camponês.” Para fazer campanha eleitoral, todo candidato operário a deputado, senador, tem de "claudicar” em algum aspecto, acredita dom Pedro. "Por isso, é melhor que não se candidate. Por outra parte, não se pode negar completamente a função dos partidos e dos sindicatos. Não é realista, ainda continuam sendo espaços que se deve preencher.” Lúcido, Pedro conclui a conversa lembrando a frase de um soldado que lutava contra a ditadura franquista na Guerra Civil Espanhola: "Somos soldados derrotados de uma causa invencível”. Descalço sobre a terra vermelha A minissérie em dois capítulos de uma hora Descalço sobre a Terra Vermelha, baseada em livro homônimo do jornalista catalão Francesc (Paco) Escribano, é uma produção da TVE (Educativa da Espanha), da TV3 da Catalunha, da produtora Minoria Absoluta, da TV Brasil e da produtora paulista Raiz Produções Cinematográficas. Descalço sobre a Terra Vermelha estreou na TV3 em março e está programada para ser exibida na TV Brasil no segundo semestre. Trata da vida de dom Pedro Casaldáliga, desde sua chegada ao Brasil até sua visita ad Limina ao Vaticano, quando se apresentou ao Papa João Paulo II e ao conservador cardeal Joseph Ratzinger, então à frente da Congregação para a Doutrina da Fé, herdeira da Santa Inquisição, onde deveria explicar sua ação teológica a favor dos pobres e dos oprimidos. O filme, uma belíssima e apurada produção, contou com a participação de mais de mil figurantes de povoados e das cidades de Luciara e São Félix do Araguaia, locais onde foram construídas verdadeiras cidades cenográficas, representando como eram esses lugares nos idos dos anos 1970. Dirigido por Oriol Ferrer, tendo Eduard Fernández, premiado ator catalão, no papel de Casaldáliga, contou com um elenco de ótimos atores espanhóis e brasileiros. Rodado como uma espécie de western teológico, retrata com grande força e sensibilidade a violência e tensão existentes, ainda hoje, nos conflitos entre latifundiários, invasores de terras indígenas, posseiros e a ação pastoral da Prelazia de São Félix que, tendo dom Pedro à frente, desde sempre esteve ao lado dos despossuídos. De acordo com a descrição que aparece no site da Minorita Absoluta, a série combina ação e misticismo "no cenário exuberante de Mato Grosso, em contraste com a paisagem humana e social chocante”. A história de Pedro Casaldáliga se desenvolve "em torno de valores universais”, no contexto da teoria filosófica e teológica da libertação e da situação geopolítica dos anos 1970, na ditadura brasileira. O jornalista e produtor executivo Francesc Escribano salienta que a produção se tornou "seu coração” para contar "uma história notável de um catalão universal”. Durante o making of, impressionou como a historia e principalmente o próprio dom Pedro teve impacto na vida de todos os envolvidos na produção. Confirma a impressão que tive desde a primeira vez que viajei com ele, há mais de 30 anos: estar na sua presença é sentir-se na presença de um espirito muito elevado; sem exagero, um verdadeiro santo do povo. ARTIGOS - OPINIÕES Leonardo Boff Destaco apenas uma frase dela: educar um homem é educar um indivíduo, mas educar uma mulher é educar uma sociedade. dos órgãos de repressão militar, Rose tinha a coragem de publicar os então autores malditos como Darcy Ribeiro, Fernando Henrique Cardoso, Paulo Freire os cadernos do CEBRAP e outros. Depois de anos de longa discussão e estudo em conjunto reunimos nossas convergências num livro que considero seminal Feminino & Masculino: uma nova consciência para o encontro das diferenças (Record 2010). No dia 21 de junho concluiu sua peregrinação terrestre no Rio de Janeiro uma das mulheres brasileiras mais significativas do século XX: Rose Marie Muraro (1930-2014). Nasceu quase cega. Mas fez desta deficiência o grande desafio de sua vida. Cedo instituiu que só o impossível abre o novo; só o impossível cria. É o que diz no seu livro Memórias de uma mulher impossível (1999,35). Com parquíssima visão formou-se em física e economia. Mas logo descobriu sua vocação intelectual: de ser uma pensadora da condição humana especialmente da condição feminina. Sem deixar nunca de lado a questão do feminino (no homem e na mulher) voltou-se cedo aos desafios da ciência e da técnica moderna. Já em 1969 lançava Autonomação e o futuro do homem e previa a precarização do mundo do trabalho. Foi ela que no final dos anos 60 do século passado, suscitou a polêmica questão de gênero. Não se limitou à questão das relações desiguais de poder entre homens e mulheres mas denunciou relações de opressão na cultura, nas ciências, nas correntes filosóficas, nas instituições, no Estado e no sistema econômico. Enfim deu-se conta de que no patriarcado de séculos reside a raiz principal deste sistema que desumaniza mulheres e também homens. Realizou em si mesma um impressionante processo de libertação, narrado no livro Os seis meses em que fui homem (1990,6ª edição). Mas a obra quiçá mais importante de Rose Marie Muraro tenha sido Sexualidade da Mulher Brasileira: corpo e classe social no Brasil (1996). Trata-se de uma pesquisa de campo em vários Estados da federação, analisando como é vivenciada a sexualidade, tomando em conta a situação de classe das mulheres, coisa ausente nos pais fundadores do discurso psicanalítico. Neste campo Rose inovou, criando uma grelha teórica que nos faz entender a vivência da sexualidade e do corpo consoante as classes sociais. Que tipo de processo de individuação pode realizar uma mulher famélica que para não deixar o filhinho morrer, dá o sangue de seu próprio seio? Trabalhei com Rose por 17 anos como editores da Editora Vozes: ela responsável pela parte científica e eu pela parte religiosa. Mesmo sob severo controle Destaco apenas uma frase dela: "educar um homem é educar um indivíduo, mas educar uma mulher é educar uma sociedade”. A crise econômico-financeira de 2008 levou-a colocar a questão do capital/ dinheiro com o livro Reinventando o capital/dinheiro (Ideias e Letras 2012), onde enfatiza a relevância das moedas sociais e complementares e as redes de trocas solidárias que permitem aos mais pobres garantirem sua subsistência à revelia da economia capitalista dominante. Outra obra importante, realmente rica em conhecimentos, dados e reflexões culturais se intitula Os avanços tecnológicos e o futuro da humanidade: querendo ser Deus? (Vozes 2009). Neste texto ela se confronta com a ponta da ciência, com a nanotecnologia, a robótica, a engenharia genética e a biologia sintética. Vê vantagens nessas frentes, pois não é obscurantista. Mas pelo fato de vivermos dentro de uma sociedade que de tudo faz mercadoria, inclusive a vida, percebia o grave risco de os cientistas presumirem poderes divinos e usarem os conhecimentos para redesenharem a espécie humana. Daí o subtítulo: Querendo ser Deus? Essa é a ingênua ilusão dos cientistas. O que nos salvará não é essa nova Revolução Tecnológica mas, como diz Rose, é a "Revolução da Sustentabilidade, a única que poderá salvar a espécie humana da destruição…pois a continuarmos como está, não estaremos em um jogo ganha-perde e sim no terrível jogo perde-perde que significará a destruição de nossa espécie, na qual todos perderemos” (Reinventando o Capital/dinheiro, 238). Rose possuía um sentimento do mundo agudíssimo: sofria com os dramas globais e celebrava os poucos avanços. Nos últimos tempos Rose via nuvens sombrias sobre todo o planeta, pondo em risco o nosso futuro. Morreu preocupada com as buscas de alternativas salvadoras. Mulher de profunda fé e espiritualidade, sonhava com as capacidades humanas de transformar a tragédia anunciada numa crise purificadora rumo a uma sociedade que se reconcilie com a natureza e a Mãe Terra. Conclui seu livro Os avanços tecnológicos com esta sábia frase: ”quando desistirmos de ser deuses poderemos ser plenamente humanos, o que ainda não sabemos o que é, mas que intuímos desde sempre” (p. 354) Em: www. leonardoboff.wordpress.com Frei Betto Mês que vem começa a propaganda eleitoral compulsiva e compulsória. Mais uma eleição em outubro, da qual é importante todos nós participarmos. Antes, porém, haverá algo tão importante quanto: o Plebiscito Popular por uma Constituinte Exclusiva e Soberana, na Semana da Pátria (1 a 7 de setembro). Eis a ocasião de dar uma virada no jogo! Vamos responder à questão: "Você é a favor de uma Constituinte Exclusiva e Soberana sobre o sistema político?” Adianto aqui a minha resposta: eu sou. Não será a primeira vez que isso acontece. Em 2002, o presidente FHC queria que o Brasil integrasse a Alca (Área de Livre Comércio das Américas), monitorada pelos EUA. O povo brasileiro foi consultado em plebiscito. Foram coletados 10.234.143 votos em 46.475 urnas em todo o país. O resultado comprovou a vontade popular: 98,32% dos eleitores se manifestaram contra a entrada do Brasil na Alca. No mesmo plebiscito havia outra pergunta: se o Brasil deveria ceder o território de Alcântara (MA) para os EUA instalarem uma base militar. Resultado: 98,54% votaram contra. O acordo foi anulado. Outros plebiscitos foram convocados: em 2000, sobre a dívida externa; em 2007, sobre a privatização da Vale do Rio Doce (que só piorou após sair do controle do Estado). A Constituição de 1988, em vigor, representa uma transição conservadora da ditadura à democracia. Teve o erro de não ser exclusiva. Foram seus formuladores os mesmos deputados e senadores eleitos para o Congresso pelo atual sistema político viciado. Por isso, preservaram muitos resquícios da ditadura, como a militarização da polícia, a estrutura fundiária favorável ao latifúndio, o pagamento da dívida pública, a injusta anistia aos torturadores e assassinos do regime militar, impunes até hoje! A Constituinte Exclusiva e Soberana deverá ser unicameral, sem o Senado, e sem tutela do Judiciário e ingerência do poder econômico. Só através dela nosso país alcançará, de modo pacífico, as tão almejadas reformas de estruturas, como a agrária e a tributária, e priorizará a qualidade da educação, da saúde, do transporte público e de outras demandas populares. Com essa Constituinte, proposta pelos movimentos sociais, poderemos aperfeiçoar a democracia representativa e participativa, e fortalecer o controle social sobre as instituições brasileiras. Participe desde já! Esta é a forma e o momento de mudarmos o sistema político do Brasil, que hoje monopoliza em mãos do Congresso a convocação de plebiscitos e referendos. Organize um Comitê Popular ou participe dos já criados em sua cidade, bairro, sindicato, movimento social ou partido político. Faça de seu computador uma arma para o aperfeiçoamento de nossa democracia! Saiba como fazê-lo e onde os comitês já atuam através destes contatos: www.plebiscitoconstituinte.org.br / facebook.com/plebiscitoconstituinte / Email: [email protected] Em: www.adital.com.br Luiz Alberto Gómez de Souza A Igreja Católica chegou dividida ao golpe de 1964, há meio século. De um lado, os movimentos da Ação Católica especializada, comprometidos com o testemunho evangélico na transformação da sociedade. Cristãos estiveram presentes na cultura popular, como no Movimento de Educação de Base (MEB), no Movimento Popular de Cultura (MPC) do Recife, na Campanha de Educação Popular (CEPLAR) da Paraíba, entre outros. A experiência alfabetizadora de Paulo Freire, também com forte presença de cristãos, espalhou-se pelo país. Em 30 de abril de 1963, a Comissão Central da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), pedira reformas urgentes na sociedade: "nossa ordem é, ainda, viciada pela pesada carga de uma tradição capitalista ... na qual o poder econômico, o dinheiro, ainda detêm a última instância das decisões econômicas, políticas e sociais”. E retomava as sugestões de "reformas de base”, lançadas pelo governo. Do outro lado, vieram as Marchas da Família, com Deus, pela Liberdade. Em São Paulo, dia 19 de março de 1964, quinhentas mil pessoas desfilaram preparando o golpe, entre as quais um bom número de cristãos e cristãs (as marchadeiras). Ali falou o senador Padre Calazans: “Hoje é o dia de São José, padroeiro da família ... Fidel Castro é o padroeiro de Brizola”. E o deputado Padre Pedro Vidigal anunciara meses antes, que era preciso substituir o "amai-vos uns aos outros”, por "armai-vos uns aos outros” (Elio Gaspari, A ditadura escancarada, p. 236-238). Logo depois, em 2 de abril, no Rio, vitorioso o golpe, realizou-se a Marcha da Vitória, com o apoio do Cardeal Jayme de Barros Câmara. Um primeiro momento, de 64 a 68, foi o que o dominicano francês Charles Antoine chamou: "a Igreja na corda bamba”. Dia 13 de abril, na posse de D. Hélder Câmara como arcebispo de Olinda e Recife, este declarou que, não se podia confundir a ordem, "com contrafações suas, responsáveis pela manutenção de estruturas que todos reconhecem não poder ser mantidas”. E bispos ali presentes denunciaram as primeiras arbitrariedades. Entretanto, em direção oposta, um surpreendente comunicado da CNBB, de 27 de maio, agradecia "aos militares, que, com grave risco de suas vidas (sic) se levantaram e... concorreram para libertarem (a nação) do abismo iminente”. No mesmo momento, pela operação "arrastão”, cerca de 300 leigos e clérigos, estavam na prisão (Thomas Bruneau). Chegaram os tempos valentes do leigo Alceu Amoroso Lima, em artigos memoráveis, como Terrorismo cultural, de 7 de maio, criticando demissões de brasileiros ilustres e prisões entre as quais a minha. Mereceu um telefonema do próprio presidente Castello Branco, que o declarou mal informado! Mas vieram logo outros valentes textos, como aquele que denunciava um "Primarismo cultural”. Pior ainda, lideranças populares foram mortas logo depois do golpe, como Pedro Fazendeiro, saudoso paraibano que me introduziu, em 1963, na Liga Camponesa de Sapé, em Miriri, jogado vivo num forno aceso depois de bárbaras torturas. E os mandantes e executores do crime, certamente se declaravam defensores da civilização cristã, a defender-se de um perigoso comunista. Um segundo momento, vai de 1968 - ano, ao mesmo tempo, do AI-5 no Brasil e da reunião dos bispos latino-americanos em Medellín -, até 1979 - ano da anistia conquistada entre nós e da reunião episcopal de Puebla, com a opção preferencial pelos pobres. Sociedade em cativeiro e forte dinamismo eclesial. Em meio a ditaduras, foram anos gloriosos em parte significativa da Igreja Católica na América Latina, que passou a ser a "voz dos sem voz”. Surgiu, no Brasil, em 1972, o Conselho Indigenista Missionário (CIMI) e, em 1975, a Comissão da Pastoral da Terra (CPT), importantes espaços de compromisso. Cresceram pelo país as Comunidades Eclesiais de Base (as CEBs). Era o tempo fecundo das pastorais sociais operária, da juventude...). Já em 1968, o bispo D. Cândido Padin denunciara a doutrina da segurança nacional dos militares como ante evangélica. Chegaram terríveis anos de perseguições, assassinatos como do Pe. Henrique Pereira Neto no Recife, Pe. Josimo Tavares em Imperatriz, Pe. João Bosco Bournier em Ribeirão Bonito, os leigos Santos Dias em São Paulo, Margarida Alves na Paraíba. Vários frades dominicanos foram presos e alguns terrivelmente torturados. Um deles, Frei Tito de Alencar, introjetou de tal maneira a terrível figura do delegado Fleury, que se matou, em 1974, na França. Além de D. Hélder e de vários bispos valentes, como D. Tomás Balduíno, que acaba de partir, foi marcante a presença de D. Paulo Evaristo Arns que, desassombrado, denunciou prisões e torturas. Em contrapartida, D. Sigaud, bispo de Diamantina, declarou, durante o Concílio, com terrível tranquilidade: "se há violência é só durante os interrogatórios”. Ele, aliás, dissera, sem pestanejar: "confissões não se conseguem com bombons” (Della Cava, A Igreja em flagrante, 1964-1980, p. 149). O Cardeal Agnelo Rossi, em Roma, negava que houvesse torturas. Mas era o tempo das Comissões Justiça e Paz da Igreja desocultarem o arbítrio absurdo. Um terceiro momento vai de 1979, com a lei da anistia e de uma lenta abertura no país. Mas aqui se dá uma inversão. Distensão na sociedade, rigidez na cúpula do mundo eclesiástico internacional, no que o saudoso Padre João Batista Libânio chamou: "inverno na Igreja: os anos oitenta”. Foram publicadas duas Instruções do cardeal Ratzinger, críticas à Teologia da Libertação (1984 e 1986) e foi imposto o silêncio obsequioso a Leonardo Boff (1985) e a Ivone Gebara (1990). O teólogo jesuíta uruguaio, Juan Luís Segundo, assinalava, num livro-resposta ao cardeal Ratzinger, futuro Bento XVI, que a primeira Instrução fora "conduzida por uma grande dose de ressentimento ... por uma teologia dependente de uma política sem esperança”. Porém, nas igrejas locais, seguia o compromisso evangélico. E a CNBB, com os primos Aloísio Lorcheider (1971-1978) e Ivo Lorscheiter (1975-1986) e, depois, Luciano Mendes de Almeida (1979-1995), na linha de Medellín e de Puebla, publicou documentos marcantes como "Exigências cristãs de uma ordem política” (1977) e outro, em 1979, em que denunciava que "os ricos ficam cada vez mais ricos, à custa dos pobres que ficam cada vez mais pobres”. A Igreja brasileira, nas suas bases, vivia tempos de testemunho e de ousadia. Uma nota contrastante nos tempos atuais. Essa Igreja que, na esfera eclesiástica, fora valente na tribulação, nos últimos anos, no Brasil, ao contrário de alguns episcopados, não parece muito visível para refletir com coragem sobre transformações internas (fim do celibato obrigatório, ordenação de homens casados e mulheres) e abrir caminhos de libertação em áreas como da ética sexual e das novas dimensões da família e do matrimônio, estes últimos temas, aliás, do próximo sínodo da Igreja Católica em outubro. Há um preocupante silêncio e boa dose de voos rasteiros. Onde está aquela Igreja dos grandes padres latino-americanos, que assinalara o teólogo belga Joseph Comblin? É verdade que o bispo Erwin Krautler levantou algum desses temas diante de Francisco. E temos ainda entre nós Pedro Casaldáliga ou José Maria Pires. Alguns teólogos, ligados ao poder clerical, se encerram em medrosa autocensura. Mas outros, pelo mundo, como o indu Michael Amaladoss, o alemão Hans Küng ou o italiano Vito Mancuso, arrostam as fúrias da Congregação da Doutrina da Fé, ex-Santo Ofício, que ainda teima em sobreviver. A omissão é tanto mais grave quando, nos tempos de Francisco, bispo de Roma, uma nova primavera parece, aos poucos, permitir e exigir posições fortes e proféticas. Em: www.ihu.unisinos.br C O O R D E N A Ç Ã O A M P L I A DA A Coordenação Ampliada do IPDM reunir -se-á com todos os seus membros às 20h00 de todas as Terceiras Terças-Feiras dos meses ímpares ou em caráter extraordinário quando for necessário. A agenda para o ano de 2014 obedecerá as seguintes datas: 22 de Julho - 16 de Setembro - 18 de Novembro As reuniões da Coordenação Ampliada serão realizadas na Paróquia São Francisco de Assis da Vila Guilhermina Praça Porto Ferreira, 48 - Próximo ao Metro Guilhermina - Esperança Nossas reuniões são abertas e todos os que desejarem dela participar serão muito bem vindos. PADRES - RELIGIOSOS - RELIGIOSAS - AGENTES DE PASTORAL As reuniões com Padres, Religiosos, Religiosas e Agentes de Pastoral serão realizadas sempre às 9h30 das últimas Sextas-Feiras dos meses pares ou em caráter extraordinário quando se fizer necessário. Durante o ano de 2014, as reuniões se darão nas seguintes datas: 27 de Junho - 29 de Agosto - 31 de Outubro As reuniões dom Padres, Religiosos, Religiosas e Agentes de Pastoral serão realizadas na Paróquia Nossa Senhora do Carmo de Itaquera Nas dependências do Centro Itaquerense de Famílias Amigas—CIFA Rua Flores do Piauí, 182 - Centro de Itaquera COORDENÇÃO AMPLIADA PADRES - RELIGIOSOS - RELIGIOSAS - AGENTES DE PASTORAL Reunião Unificada e Confraternização no dia 02 de Dezembro Maiores informações em breve. Quem é Jesus de Nazaré: «Um profeta poderoso em ação e palavras, diante de Deus e de todo o povo". (Lc 24,19) (Papa Francisco) (Papa Francisco) Tema: “Discípulos Missionários a partir do Evangelho de Mateus” Assessor: Padre Cyzo Assis Lima—fpm Tema: “Fé e Política – a importância da participação na política” Assessor: Prof. Fernando Altemeyer Jr - PUC-SP Tema: “A força dos pequenos – Teologia do Espírito Santo” Assessor: Padre Antonio Manzatto - PUC-SP Tema: “Interioridade e Espiritualidade” Assessores: Regina Nagy Eduardo Brasileiro Regina Nagy - Adriano Oliveira Professor Waldir Adriano Oliveira Santa Missa em Honra à São José de Anchieta Assessores: Todos os Padres do Setor Pastoral Ermelino Matarazzo e Convidados Para maiores informações entre em contato com: Professor Waldir - [email protected] - Messias Guirado - [email protected] REUNIÃO PELA IMPLANTAÇÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA ZONA LESTE Dia: 15 de Julho de 2014 – Terça-feira às 9h00 Local: R E I TO R I A DA U N I F E S P Rua Sena Madureira, 1500-Vila Mariana (Para chegar, vá de Metro até a Vila Mariana. Em frente à Estação, na Av. Domingos de Morais sentido Jabaquara, pegue o Ônibus 677A-10 TERM JD ÂNGELA que passa em frente a Unifesp) O QUE VAMOS COBRAR DA UNIFESP E DO MEC? 1. A solução definitiva para os problemas do terreno da Gazarra. Reforma dos prédios já existente para início das atividades da Universidade. 3. Apresentação do Projeto Executivo para implantação da UFZL. 4. Iniciar os primeiros cursos. QUE O MEC E A UNIFESP TOMEM PROVIDÊNCIA URGENTE PARA: - Iniciar imediatamente o processo de implantação de cursos na Zona Leste. - Iniciar o curso de Direito já aprovado para a Zona Leste. - Alugar Prédios para início imediato dos cursos. - Iniciar as obras de descontaminação do terreno e reforma dos prédios nas áreas não contaminadas. Apresentar o projeto executivo das obras de reforma e/ou novas construções no terreno. NÃO FALTE! SUA PRESENÇA PODE FAZER A DIFERENÇA Dia 15 de julho de 2014 - Terça-feira às 9h00 da Manhã na Reitoria da Unifesp Rua Sena Madureira, 1500 – Vila Mariana Dia: 09 de Agosto de 2014 - Sábado às 9h30 2º Seminário do Patrimônio Histórico e Cultural da Zona Leste Local: Centro Cultural Penha—Teatro Martins Penna Urgente Recuperação do Patrimônio Histórico da Zona Leste -Projetos, Custos—Prazos e Soluções Sítio Mirim - Fazenda Biacica - Capela da Penha - Fábrica Matarazzo Vamos lutar juntos pela preservação do nosso Patrimônio Histórico. Não somos um povo sem História. Maiores informações com Danilo: 96924-5693 / Tião Soares: 97995-5230 / Patrícia e Júlio A Escola de Cidadania da Zona Leste, é um espaço aberto onde as pessoas pensam criticamente, dialogam com todos e sonham com uma organização para por fim a todas as desigualdades sociais na cidade mais rica do Brasil. Nossa cidade de SP tem que ser justa, humana, fraterna e acolhedora de todas e todos. Tema Geral para o 2º Semestre de 2014 A CIDADE QUE TEMOS E A CIDADE QUE QUEREMOS! Lutamos por uma cidade onde todos tenham Cidadania, Qualidade de Vida, Políticas Públicas e Transparência Administrativa Tema para o Trabalho de Conclusão de Curso - TCC: “A Cidade que queremos para todos e todas” Texto base para o 2º Semestre: Livro do Professor Ladislau Dowbor disponível gratuitamente na Internet “A Comunidade Inteligente: visitando experiências da gestão legal” A Escola de Cidadania da Zona Leste Pedro Yamaguchi Ferreira é gratuita e Certificada pela UNIVERSIDADE FEDERAL DA ZONA LESTE Como Curso de Extensão da Universidade Federal de São Paulo. Início das Aulas: 01 de Agosto de 2014 às 19h30 no Salão da Igreja São Francisco de Assis Rua Miguel Rachid, 997—Ermelino Matarazzo—Fone 2546-4254 Para Maiores Informações faça contato com: Deise: [email protected] - Alex: [email protected] - Luis: [email protected] 1. Agências de Notícias e Portais Adital – www.adital.org.br - Ligada à Igreja Católica no Brasil têm como eixo de ação a prática libertadora de movimentos populares e de direitos humanos. Agência RIIAL - www.riial.org - Em "miembros" se encontram muitas outras Agências que fazem parte desta rede latino-americana AICA - Agência Informativa Católica Argentina - www.aica.org - A Igreja latino-americana vista desde Argentina Catolica Net - www.catolicanet.com.br - Site completo da comunidade católica. Fides - Vaticano - www.fides.org - Agências de Notícias da Congregação para a Evangelização dos povos. KNA - Katholische Nachrichten-Agentur - www.kna.de - Agência Católica de Notícias da Alemanha Misna – Itália - www.misna.org - Agência especializada na difusão de notícias dos países do sul do mundo. ZENIT-Agência Internacional Católica de Notícias - www.zenit.org - "O mundo visto de Roma" Amai-vos - www.amaivos.com.br - Relacionado à cultura, religião e sociedade da internet na América Latina, em conteúdos, audiência e serviços on-line. Centro de Estudos Bíblicos - www.cebi.org.br - Centro de estudos de gênero, espiritualidade, cidadania, ecologia, intercâmbio e educação popular. Mundo e Missão - www.mundomissao.com.br - Mantida pelo PIME aborda, sobretudo, questões relacionadas às missões em todo o mundo. Religião Digital - www.religiondigital.com - Aborda questões da Igreja em todo o mundo, além de questões sobre educação, religiosidade e formação humana. Carta Maior - www.cartamaior.com.br - Arte e cultura, economia, política, internacional, movimentos sociais, educação e direitos humanos dentre outros. Rede Nossa São Paulo - www.nossasaopaulo.org.br - Questões das esferas político-administrativas dos municípios com destaque à cidade de São Paulo. Pastoral Fé e Política - www.pastoralfp.com - Mantém informações diárias sobre as movimentações políticas-sociais em São Paulo e no Brasil. Vida Pastoral - www.vidapastoralfp.com - Disponibilizado pela editora o site da revista Vida Pastoral torna acessível um vasto acervo de artigos Paulus Livraria - www.paulus.com.br – A Paulus disponibiliza a Bíblia Sagrada edição Pastoral online/pdf. Acervo Paulo Freire - www.consciencia.net - Acervo Paulo Freire completo disponível neste endereço. 2. Missiologia, Teologia, Ciências Humanas IAMS - Asociación Internacional de Estudos de la Misión - www.missionstudies.org - Site da Associação Ecumênica Internacional de Missiologos. IACM - International Association of Catholic Missiologists - www.iacmcatholic.com - Site da Associação Católica Internacional de Missiologas. Relat - Revista Eletrónica Latinoamericana de Teología - servicioskoinonia.org/relat - Revista Eletrônica de Teologia. Soter - Sociedade de Teologia e Ciencias da Religião - www.soter.org.br - Boletim da Soter e notícias que envolvem os associados. IHU - Instituto Humanitas Unisinos - www.uhu.unisinos.br - Ética, Trabalho, Sociedade Sustentável, Mulheres: sujeito sociocultural, e Teologia Pública. RELAMI - Rede Latino Americana de Missiologos e Missiologas - www.missiologia.org.br - Ética, Trabalho, Sociedade Sustentável e Teologia Pública. 3. Mundo da Bíblia Estudos Bíblicos - www.airtonjo.com - Site para estudiosos da Bíblia. Centro Studi Biblici "G. Vannucci" - www.studibiblici.it - Site do Centro de Estudos Bíblicos de Montefano (Itália). 4. Causa Indígena e Afrodescendente Comissão Pró-Yanomami - www.proyanomami.org.br - Em defesa do povo Yanomami. Conselho Indigenista Missionário/Cimi - www.cimi.org.br - O Cimi atua na defesa dos povos indígenas e pela inovação da pastoral junto aos povos indígenas. Funai- Fundação Nacional do Índio - www.funai.gov.br - Informações sobre a política indigenista do Governo Brasileiro. Instituto Socioambiental - www.socioambiental.org/website/index.cfm - Informações sobre os povos indígenas no Brasil Museu do Índio - www.museudoindio.org.br - Informações oficiais O Mundo Maya - www.mesoweb.com/#espanol - Meso-América: O mundo Maya. 5. Causas Populares e Vida Alter nativa Fundação Gaia - www.fgaia.org.br - Educação ambiental Greenpeace - www.greenpeace.org.br - Atividades e campanhas em favor da natureza Ibase - www.ibase.br - Site de análise social e de lutas populares MST - www.mst.org.br - Informações sobre o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra Unipaz - www.unipazsul.org.br - Alternativa integral 6. Religiões, Ecumenismo, Diálogo e Paz Al Nakba - www.alnakba.org/index.htm - Al Nakba: A deportação dos palestinos em 1948 Beit Chabad - www.chabad.org.br - Rituais, leis, ensinamentos da comunidade judaica. Bodisatva - www.bodisatva.org - Site dedicado ao Dalai Lama e zen. Conselho Mundial de Igrejas - www.oikoumene.org - Site oficial do Conselho Mundial de Igrejas DharmaNet - www.dharmanet.com.br - Site brasileiro sobre budismo, com diferentes escolas, práticas e links. Diálogo Inter-Religioso - www.puffin.creighton.edu/jesuit/dialogue - Para todos que estão interessados no diálogo inter-religioso. Fundación Ética Mundial - www.weltethos.org - Investigação, formação, encontro intercultural e inter-religioso Islamic Studies - www.uga.edu/islam - Islamismo do ponto de vista do professor Alan Godlas Religião Budista - www.budismo.com.br - Conhecimentos básicos 7. Igrejas, Congregações Missionárias e Instituições Celam - Consejo Episcopal Latinoamericano - www.celam.org - Informes do Celam, desde Bogotá CNBB - Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - www.cnbb.org.br - Site institucional completo. Misereor - www.misereor.de - Organismo de solidariedade e apoio POM - Pontifícias Obras Missionárias - www.pom.org.br - Site institucional das Pontifícias Obras Missionárias Vaticano/Roma - www.vatican.va - Site oficial da Igreja Católica, Roma 8. Continentes, Mundo e Missão Missio München - www.muenchen.missio.de - Site institucional das Obras Pontifícias do sul da Alemanha População Mundial - www.xist.org - Tabelas com o crescimento da população mundial e outras informações ONU - www.un.org/spanish - Notícias e atividades das Nações Unidas