Muy Interesante Índice

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Muy Interesante Índice
Muy Interesante
Índice:
1. Barata: feia, útil e nutritiva!
2. Cura através de cerveza: una história de 2000 años
3. Cuando la hormiga derrota a el elefante e ayuda a salvar el
planeta
4. Simpósio de interações ecológicas e doenças transmissíveis
5. Quien fue el "descubridor" de la teoria de la evolucion?
6. Un mundo sin mosquitos!?
7. La ignorancia como combustíble para a divulgar.
8. Un menor presente para un chát de bebê
9. Ecologia o Escusa?
Barata: feia, útil e nutritiva!
Categoria: insectos
Una grande polemica Luiz Bento,sobre o papel dos mosquitos la natureza teve comentários bastante legais e
com visões diferentes. Seres repugnantes tem algum papel importante para nósotros? E para o ambiente en
general, les "prestam" para alguna cosa?
En este contexto de bichos escrotos (año poderia perder a piada), a barata é outro personage bastante polêmico.
Odiada por ellas mujeres e ignorada por ellos hombres (por lo menos la mayoria), las baratas son insetos
pertencentes a ordem Blattodea. lá habitan en los planetas a 300 millones de años e possuem por volta de 5.000
espécies. A presentan a habilidade de pressentir o peligro pela mudança nas correntes de ar a sua volta,
cientificamente chamado de Sentido Barata (mentira! é só uma paródia com o Homem-Aranha).
Baratinha de 8 cm encontrada nas florestas
chinesas. Você mataria pisando?
São onívoras, isto é podem se alimentar de mais de um nível trófico. Trocando em miúdos, podem comer restos
de vegetais e animais. Possuem um papel importante na natureza, pois são saprófagas (se alimentam de
organismos mortos). Uma matéria muito interessante publicada no Boletim Faperj comenta um projeto
intitulado Baratas: procuradas vivas ou mortas. Ele tem um objetivo muito interessante de desmistificar as
baratas e mostrar sua importância por meio de vídeos e visitas a escolas.
Essa é conhecida nossa!
Alguns fatos científicos se misturam a mitos criados em torno da figura da barata. Procurando na rede, observei
muitas curiosidades sobre as baratas como: "Podem prender sua respiração por 40 minutos, seu pulmão é
distribuído pelo lado do corpo e respiram por ele, e não pelo nariz". Bem essa doeu. Baratas, como todos os
insetos, não tem pulmões. As trocas gasosas se realizam através de canais bastante finos chamados traqueias,
que se ramificam dentro do corpo da barata. Este tipo de respiração é o que impossibilita baratas e formigas do
tamanho de cachorros ou dos filmes de terror. A superfície de contato seria muito pequena para a difusão de
oxigênio para todo o corpo do imenso inseto.
Agora um fato divulgado pelos pesquisadores do projeto é que em cidades como Rio de Janeiro e São Paulo, a
proporção baratas/humanos é de 200 indivíduos. Isto é, para cada pessoa que você vê na rua, existem 200
baratas escondidas esperando uma migalhinha para sobreviverem. Sendo assim, utilizando a população de 2009
do Rio de Janeiro, temos umas 123.734.200 de baratas convivendo com a gente. Por habitarem esgotos, podem
ser vetores de doenças também, além disso, restos e fezes de baratas são um dos componentes mais abundantes
da poeira doméstica, causando alergias respiratórias.
Na natureza, por serem saprófagas, ajudam na aceleração da decomposição dos organismos mortos. Servindo de
alimento para outros animais da teia trófica. Em alguns países, elas entram na dieta humana, junto com outros
insetos. As baratas são ubíquas nos habitas onde insetos são encontrados. Além disso, por mais que sejam
encontradas no deserto, procuram micro-habitas com características climáticas específicas. Ainda mais as
fêmeas, que necessitam substratos característicos para colocar seus ovos. Por serem ovíparas, sofrem grande
predação durante a embriogênese (gestão externa e pouco cuidado parental). E o mais legal, podem ser
componentes da dieta humana. Observem os espetinhos no mercado chines:
Procurando artigos sobre a composição nutricional da barata, encontrei esta pérola:
As baratas são ricas em gorduras e carboidratos, diferentes dos vermes terrestres que são riquíssimos em
proteínas. Enquanto formigas são riquíssimas em fibras. Já a composição de minerais:
Os insetos (formigas e baratas) são ricas em cálcio podendo ser usadas como suplementos de baixo custo para
mulheres na menopausa. Além disso, apresentam quantidades satisfatórias de magnésio, potássio e ferro.
E aí alguém tem dúvida agora da importância das baratas? É só incluir na sua dieta.
Referência:
Abulude, F.O., O.R. Folorunso, Y.S. Akinjagunla, S.L. Ashafa and J.O. Babalola, 2007. Proximate
compositions, mineral levels and phytate contents of some alternative protein sources (cockroach, Periplaneta
americana, soldier ants Oecophylla sp. and earthworm Lubricus terrestics) for use in animal feed formulation.
AJAVA., 2: 42-45.DOI: 10.3923/ajava.2007.42.45
Escrito por Breno Alves Guimarães de Souza em setembro 8, 2010 9:00 AM • 3 Comentários • 0 TrackBacks
setembro 6, 2010
Cura através de cerveza: una história de 2000 años
Categoria: curiosidades
A cerveja é uma bebida milenar. Sua origem é datada de 4000ac, sendo que seus primeiros fabricantes estão
entre sumérios, egípcios e mesopotâmios. Basicamente, ela é produzida através da fermentação de diferentes
tipos de açúcares encontrados em cereais. Tradicionalmente aqui no Brasil, utiliza-se cevada e milho. Porém,
podem ser usadas outras fontes de açúcares, como o trigo, além de complementos como mel, mandioca, café e
chocolate.
Na história suméria, existe uma deusa da cerveja: Ninkasi. A adoração era tão grande que compuseram até
mesmo um hino para ela, além de vários versos a cultuando.
Recentemente, um químico chamado Mark Nelson, trabalhando com ossadas de um antigo povo sudanês
(antigo reino Nubiano), observou a presença do antibiótico tetraciclina. Entretanto, este povo viveu,
aproximadamente, 250-550ac e, na história da ciência, o primeiro antibiótico descoberto pelo homem foi a
penicilina a 82 anos atrás.
O que acontece é que este povo já dominava a arte de produzir cerveja, a tetraciclina é produzida por um tipo de
bactéria (estreptomicetos) encontrada no solo, apresentando semelhanças morfológicas com os fungos, podendo
até, erroneamente, serem caracterizadas como tais. Este grupo de bactérias é, atualmente, estudado por essa
capacidade de produzir metabólicos secundários (antibióticos e enzimas extracelulares).
Esta bactéria é característica de solos áridos, tipicamente encontrados no Sudão. Possivelmente, elas
contaminaram os barris de produção de cerveja, e como produzem colônias douradas e que flutuam sobre o
líquido, elas podem ter sido propagadas como ingrediente da cerveja por este povo. Isso se deve a possível
veneração ao outro por antigas civilizações. Com isso, o crescimento desta bactéria junto a cerveja, enriquecia
este maravilhoso líquido com o antibiótico tetraciclina.
Esta hipótese de crescimento junto a cerveja foi testada pelo co-autor do trabalho George Armelagos. Ele
produziu cerveja "contaminada" pela bactéria junto com seus alunos de graduação e obteve a bebida enriquecida
com o antibiótico (que ótimo projeto de graduação, não?!).
Apesar de proteger contra infecções, o excesso de tetraciclina pode causar deficiência na absorção de ferro pelo
corpo. Porém o custo da proteção contra infecções contrabalança este efeito colateral, ainda mais pelos prazeres
de beber uma boa cerveja.
Não entendo o porquê dos cientistas atuais não enriquecerem cerveja com medicamentos. Iria ser altamente
eficiente. Observemos o exemplo do flúor na água ou do iodo no sal de cozinha. Para você que queria mais um
motivo para beber ou mais uma pauta para aquele interessante bate-papo de botequim, o primeiro antibiótico ser
produzido devido a cerveja é uma boa pedida.
Fonte: Wired Science Escrito por Breno Alves Guimarães de Souza em setembro 6, 2010 9:00 AM • 8
Comentários • 0 TrackBacks setembro 3, 2010
Cuando la hormiga derrota a el elefante e ayuda a salvar el planeta
Categoria: Interações
As interações tróficas entre os animais são incríveis. Principalmente, quando a diferença de tamanho entre os
dois é gigantesca, bem como a resultado para todo o ambiente.
Em um trabalho publicado na revista Current Biology, pesquisadores americanos observaram que
comportamento de alimentação de elefantes era altamente influenciado por formigas. Isto se deve ao fato de
uma espécie de árvore (Acacia drepanolobium) ser colonizada por formigas. Estes insetos constroem sua
colônia sobre o vegetal, impedindo que ele seja consumido por elefantes.
Estas árvores crescem, basicamente, em solos argilosos, formando ilhas de
vegetação na savana. Os elefantes passam longe dessas ilhas, apesar de abundância de alimento. Este fato que
intrigou os pesquisadores. Para confirmar, foram feitos dois tipos de tratamento: primeiro, retiraram as formigas
das árvores e, segundo, colocaram as formigas em outras espécies de árvores que os elefantes se alimentam
comumente. No primeiro caso, os elefantes se alimentam dessa espécie, quando desprotegidas por formigas. No
segundo, os elefantes evitaram as espécies agora cobertas por formigas.
Sendo assim, concluíram que as formigas protegiam mesmo os indivíduos da espécie Acacia drepanolobium,
mantendo a estabilidade vegetal de grandes manchas dentro da Savana. Isto porque a fome dos elefantes é quase
que insaciável, sendo capazes de destruir imensas áreas atrás de alimento . Entre os benefícios disto, está a
possibilidade da manutenção de grandes estoques de carbono em biomassa vegetal, visto que as savanas
contribuem com mais de 20% da biomassa vegetal global.
Na nossa Mata Atlântica, temos um exemplo deste tipo de relação ecológica entre formiga e vegetal. As
espécies do gênero Cecropia (mais conhecidas como Embaúba) são colonizadas por formigas do gênero Azteca,
sendo protegidas dos herbívoros.
Indivíduo de Embaúba
Neste contexto, podemos observar a importância de cada espécie dentro do ambiente, tanto em escala pequena
escala (diminuição da herbivoria), quanto em grande escala (balanço global de carbono). Sendo assim, a
manutenção da biodiversidade deve estar na pauta política de todo e qualquer nação.
Fonte: The Scientist
Escrito por Breno Alves Guimarães de Souza em setembro 3, 2010 9:00 AM • 3 Comentários • 0 TrackBacks
setembro 2, 2010
Simpósio de interações ecológicas e doenças transmissíveis
Categoria: divulgação
Gostaria de divulgar o VII Simpósio em Ecologia - Interações ecológicas e doenças transmissíveis que será
realizado na Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, entre os dias 5 e 7 de outubro deste ano. Segue abaixo o
release do evento.
Doenças transmissíveis sempre pautaram o dia a dia da humanidade, tanto as que atingem diretamente os serem
humanos como as que afetam os animais e plantas associados, cultivados,ou utilizados por nós. Não é novidade
nossa vulnerabilidade, e a busca por meios de reduzir danos e vulnerabilidades faz parta da História. A
novidade atual é a velocidade de mudança dos processos epidêmicos em função da rápida transformação da
paisagem e das relações entre pessoas e espécies silvestres e domésticas. Concomitantemente, testemunhamos
também nos dias de hoje um rápido aumento na velocidade em que novos conhecimentos surgem sobre a
relação entre doenças transmissíveis, comportamento humano e fatores ecológicos, possibilitando o estudo,
entendimentos, e intervenções mais sistêmicos.
A proposta deste Simpósio é estimular o diálogo entre pesquisadores, profissionais e estudantes das áreas
de epidemiologia de doenças transmissíveis e da ecologia e conservação ambiental. Estas são áreas do
conhecimento que compartilham questões importantíssimas como a saúde humana, animal e ambiental, que
dependem umas das outras de forma complexa e multi-escalar. Questões como o impacto do aquecimento
global sobre a saúde humana e dos animais, o problema da qualidade da água, as questões de saúde específicas
de áreas silvestres, o desafio de preservação de espécies silvestres que são potenciais reservatórios de zoonoses,
são temas que estão na vanguarda da ciência e da gestão da saúde e do ambiente que demandam olhares
multidisciplinares. A expectativa é que o Simpósio estimule o intercâmbio e o debate a partir de experiências e
pontos de vista diversos - desde os envolvidos diretamente em saúde pública e suas respostas em larga escala
até aqueles envolvidos com a gestão de áreas protegidas e conservação de espécies nativas.
Vale a pena dar uma olhada no site e tirar o escorpião do bolso. Eu devo visitar o evento em pelo menos um dos
dias já que ajudei a organizar outros simpósios em Ecologia quando era editor executivo do periódico Oecologia
Australis (que na época era Oecologia Brasiliensis).
E para completar a visita a FIOCRUZ ainda é legal dar uma passada no sempre interessante Museu da Vida.
Escrito por Luiz Bento em setembro 2, 2010 8:22 AM • 2 Comentários • 0 TrackBacks
agosto 30, 2010
Queien fue el "descubridor" de la teoria de la evolucion?
Categoria: Alfred Wallace
Um dos fatos históricos mais comentadas quando estamos falando de Teoria Fato da Evolução é a discussão de
quem seria o verdadeiro "descobridor" do mecanismo pelo qual as espécies evoluem. Por algum motivo
gostamos de rotular pessoas, criar heróis ao invés de entender o processo histórico. Vide a discussão "Porque
Darwin não descobriu as leis de Mendel?". Existem vários artigos dedicados especificamente a discutir a
possível rixa Darwin-Wallace. Muitos argumentam que Darwin foi o único a ser reconhecido publicamente
como "Pai da teoria da evolução" pelo seu grande poder aquisitivo, o que realmente não era pouco. Segundo
levantamentos recentes ele teria deixado um patrimônio de 20,5 milhões de dólares. Outros falam sobre a
grande pressão que Hooker, Asa Gray e Lyell teriam feito para Darwin publicar o mais rápido possível o seu
livro assim que eles descobriram a famosa carta de Wallace onde foi descrita uma teoria muito parecida com a
proposta por Darwin. Quem trabalha com ciência sabe que essas pressões por publicação e autoria são comuns e
que isso não indica um desvio de carácter. O interessante neste contexto é o espanto que o próprio Darwin
mostrou depois de ter contato com as ideias de Wallace.
"Down Kent Bromley
18 de junho
Meu caro Lyell
Há mais ou menos 1 ano atrás, você me recomendou ler um artigo de Wallace nos anais [da Sociedade
Lineana], que lhe interessou e como eu estava escrevendo para ele, eu sabia que isso iria lhe agradar muito,
então eu lhe disse. Ele enviou-me hoje o anexo e me pediu para enviá-lo para você. Parece-me que vale a pena a
leitura. Suas palavras que eu deveria me prevenir tornaram-se realidade. Você disse isso quando eu expliquei
aqui muito brevemente a minha opinião de "Seleção Natural", dependendo da luta pela existência. Eu nunca vi
uma coincidência mais impressionante. Se Wallace tivesse meu esboço escrito em 1842, não poderia ter feito
um resumo melhor! Até seus termos constam agora nos títulos dos meus capítulos. (...)
Trecho de uma carta escrita por Darwin para Lyell
Fonte: Darwin Correspondance Project
"Down Bromley Kent
4 de julho - 1858
Meu querido Gray
(...)
Wallace, que agora está explorando-Nova Guiné, enviou-me um resumo da mesma teoria [Seleção Natural], a
maioria, curiosamente coincidente até mesmo em expressões. E ele nunca poderia ter ouvido uma palavra do
meu ponto de vista. Ele dirigiu-me a enviá-lo para Lyell .- Lyell que está familiarizado com a minha consulta ao
Hooker, (que leu uma dúzia de anos atrás, um rascunho longo escrito em 1844) me pediu com muita gentileza
para eu não deixar de ser prevenido e que lhes permita publicar junto com o artigo de Wallace um resumo da
minha [teoria]; e como a única coisa breve que eu havia escrito era uma cópia de minha carta para você, que
mandei-o e, creio eu, acaba de ser lido, (embora nunca tenha sido escrita ou feita para este propósito) (...)."
Trecho de uma carta escrita por Darwin para Asa Gray
Fonte: Darwin Correspondance Project
Polêmicas históricas a parte, hoje em dia todos sabemos que o Fato da Evolução deve ser descrito tendo como
base uma co-autoria Darwin-Wallace. É assim que o trabalho destes dois naturalistas foi lido perante a
Sociedade Linneana e é reconhecido até hoje pela mesma sociedade. Em um especial recente a própria
Sociedade coloca Darwin e Wallace na capa com o subtítulo "Teoria da evolução de Darwin-Wallace". Então o
problema da autoria está resolvido? Não. Muitos questionam a ordem da co-autoria. Ao invés de "DarwinWallace" vários autores defendem que Wallace deveria ser o primeiro autor e levantam os motivos do possível
preterimento. Eu já falei um pouco sobre estes motivos no post "Alfred Wallace - O evolucionista esquecido".
A eterna questão da autoria. Crédito: Research School of Biological Sciences
Acho que o argumento final para esta discussão está em escutar a pessoa que seria a mais prejudicada no caso.
Vamos tentar fazer uma comparação com um exemplo fictício. Duas pessoas publicam um artigo e, por vários
motivos, dizem que o segundo autor (ou autora) do artigo é o que realmente trabalhou e desenvolveu a ideia
principal do artigo. O segundo autor tem um passo triste, veio de uma família pobre e tinha que vender parte do
próprio material de pesquisa para sobreviver. O primeiro autor é uma pessoa rica, que nunca trabalhou na vida.
Começa então uma grande polêmica que gera vários teorias conspiratórias. Para acabar com essa polêmica,
jornais e revistas procuram o segundo autor e pedem que ele fale sobre o caso. No dia seguinte todos os jornais
publicam a notícia de que o segundo autor confirma que eles tiveram a mesma ideia em lugares distintos, mas
que o primeiro autor foi o que realmente desenvolveu a teoria, merecendo ser primeiro autor do trabalho.
Em escala menor sem os recursos midiáticos foi mais o menos o que aconteceu com Darwin e Wallace. Além
de Wallace ter dado o nome de "Darwinismo" a um dos seus livros pós "Origem das espécies", outra prova nos
indica que ele mesmo defendia que Darwin teria uma contribuição muito grande para o desenvolvimento da
teoria. Após a leitura perante a Sociedade Lineana, os artigos de Darwin e Wallace foram publicados. Wallace
fez algumas anotações na sua cópia dos artigos, que hoje em dia se encontram no Museu de História Natural de
Londres.
Cópia dos artigos publicados pela Sociedade Lineana que pertenceram a Wallace. Anotações feitas por Wallace
na página da direita. Crédito: darwinsbulldog
Para facilitar a leitura segue abaixo a transcrição do que foi escrito por Wallace na sua cópia dos artigos
(tradução livre):
1860. Fevereiro
Depois de ler a admirável obra de Darwin "A Origem das Espécies", acho que não há absolutamente nada aqui
que não esteja em quase perfeita concordância com os fatos e opiniões deste cavalheiro.
Seu trabalho porém toca e explica em detalhes vários pontos que eu mal tinha pensado - como as leis de
variação, a correlação do crescimento, a seleção sexual, a origem dos instintos e dos insetos neutros, e a
verdadeira explicação de afinidades embriológicas. Muitos de seus fatos e explicações na distribuição
geográfica são também completamente novo para mim e do mais alto interesse.
Nada poderia ser mais simples e direto. Wallace reconhecia de forma notória que Darwin desenvolveu muito
mais sobre a evolução das espécies do que ele próprio. Não que isso tire os méritos de Wallace, mas não
podemos também diminuir o papel de Darwin. Wallace foi um naturalista muito importante não só para o
desenvolvimento do pensamento evolutivo mas para vários outras áreas da biologia como taxonomia e
biogeografia (Wallace é chamado por muitos estudiosos de "Pai da geografia animal").
Não podemos fechar os olhos para o legado de Wallace, mas temos que fazer jus a grandiosidade de Darwin
para o Fato da evolução.
Escrito por Luiz Bento em agosto 30, 2010 7:28 AM • 5 Comentários • 0 TrackBacks
agosto 26, 2010
Un mundo sin mosquitos!?
Categoria: Conservação
"Alerta mosquito. Baixo (lanche), médio (refeição) e alto (banquete). Mosquitos são bons para alguma coisa...
eles são comida para milhões de aves migratórias que fazem ninho no Alasca a cada verão". Crédito: Travis S.
O título deste post foi feito a partir de uma reportagem publicada pela Agência de notícias da Nature no final do
mês passado. Para vocês terem uma ideia da polêmica gerada, segue o título e subtítulo da reportagem (assinada
por Janet Fang):
"Un Mundo sin mosquitos
Erradicar qualquer organismo traria consequências sérias para Ecossistemas, não é? Não se tratando de
mosquitos."
Ao longo do texto a repórter defende de forma bem argumentada a posição de que os mosquitos em geral
causam grandes problemas para a espécie humana devido a doenças como a Malária e que a extinção destes
insetos não traria grandes consequências para os Ecossistemas. Alguns cientistas foram entrevistados para a
reportagem, incluindo o entomologista brasileiro Carlos Brisola Marcondes da Universidade Federal de Santa
Catarina. É do brasileiro que a repórter pinçou uma frase bem marcante: "O mundo sem mosquitos seria mais
seguro para nós". Dentre os poucos exemplos levantados que contariam pontos para os pobres mosquitos foi
uma situação descrita como "excepcionalmente rara" pelo entomólogo americano Daniel Strickman, a situação
da tundra no ártico. Segundo o cientista em determinada época do ano a população de mosquitos pode ser bem
relevante e ser um importante alimento para várias espécies de animais. Mas logo depois na reportagem o
biólogo americano Cathy Curby diminui mais ainda este caso, informando que estudos mostram uma baixa
presença de mosquitos no estômago de aves da região.
Outros argumentos foram dados ao longo do texto, mas a parte realmente polêmica foi deixada para o final:
" (...) A noção romântica de toda a criatura tendo um lugar vital na natureza pode não ser suficiente para pleitear
o caso do mosquito. Trata-se das limitações dos métodos de erradicação de mosquitos, não das limitações de
intenção, que fazem um mundo sem mosquitos improvável.
E assim, enquanto seres humanos encaminham inadvertidamente espécies benéficas, de atum aos corais, para a
extinção, os seus melhores esforços não podem ameaçar seriamente a um inseto com poucas características
compensadoras. 'Eles não ocupam um nicho insubstituível no ambiente', diz o entomologista Joe Conlon, da
Associação Americana de Controle de Mosquitos, em Jacksonville, Florida. 'Se erradicarmos eles amanhã, os
ecossistemas onde eles são ativos sofrerão um contratempo e depois continuarão a vida. Algo melhor ou pior
assumiria."
Claro que a resposta a esta reportagem foi tão forte quanto as declarações do glorioso membro da Associação
americana de controle de mosquitos. Não que eu possa desmerecer o especialista americano, mas acho que ele
falou de algo mais complexo do que parece. E não sou apenas eu que digo isso. Na edição do periódico
científico Nature publicada hoje (não confundam a agência de notícias com o prestigioso periódico científico
americano) várias cartas foram publicadas em repúdio à reportagem do mês passado. Uma destas cartas chamou
minha atenção por não apenas criticar a reportagem em si, mas toda a política que envolve a conservação de
espécies:
"Se um mundo sem mosquitos seria melhor para a humanidade e infligiria não mais do que 'danos colaterais'
sobre os ecossistemas, então o que mais poderíamos razoavelmente eliminar da face do planeta - cobras
venenosas, pragas de gafanhotos?
Não importa se os danos colaterais de erradicar os mosquitos podem incluir a perda de um grupo de
polinizadores e uma fonte primária de alimento para muitas espécies. Talvez um outro organismo vai vir para
preencher o nicho eventualmente - supondo que os organismos são substituíveis e intercambiáveis.
Nesse caso, os ecólogos têm que perguntar qual nível mínimo de biodiversidade é necessária para a provisão
funcional dos serviços ecossistêmicos para sustentar a humanidade."
Fern Wickson
Simples, direto e correto. Mesmo se os "danos colaterais" da eliminação dos mosquitos fossem mínimos,
mesmo se houvesse outro inseto voador que substituísse o nicho ecológico deixado pelos mosquitos. Não
existem estudos conclusivos sobre o papel real dos mosquitos em seus ecossistemas. Mas mesmo se esses
estudos existissem e mostrassem que a eliminação dos mosquitos não fosse causar nenhum efeito em termos
ecossistêmicos, os mosquitos não são as únicas criaturas que trazem malefícios ao homem. Vamos então
eliminar todos os animais peçonhentos? Todos os repugnantes? Vamos reduzir a biodiversidade até o mínimo
teórico levantado por Wickson?
Estamos em um mundo realmente estranho onde investimos rios de dinheiro para salvar os animais bonitos e
pensamos em uma extinção intencional de espécies que mal sabemos o papel na natureza. Onde gastamos
milhões de reais para salvar ecossistemas "famosos" e achamos que biomas como o Cerrado podem ser
degradados de forma irrestrita. Vivemos no século da informação, mas o que mais falta é informação de
qualidade. Principalmente sobre meio ambiente.
Escrito por Luiz Bento em agosto 26, 2010 9:39 AM • 21 Comentários • 0 TrackBacks
agosto 23, 2010
La ignorancia como combustíble para a divulgar.
Categoria: divulgação
Uma das coisas mais incríveis de se escrever em um blog é a interação com os leitores. Diferente das mídias
impressas, o blog permite que os leitores façam seus comentários sobre o assunto do post. Hoje de manhã vendo
site da revista Galileu, com ótimas fotos de seres com aparência estranha, vejo a pérola escrita pela leitora Júlia.
É o segundo comentário.
A ignorância é absurda, um comentário somente para tentar desmerecer a matéria. A falta de conhecimento é
absurda. Vaca virando girafa, pois estica o pescoço para comer folhas de mangueira??!?!?! Evolução não é isto.
Essas ideias finalistas são típicas dos fanáticos religiosos. Me espantou ela não ter invocado a evolução dos
olhos. Falar que os olhos são tão perfeitos que só um ser divino para ter feito eles.
Mais uma vez, fica difícil discutir sobre escala temporal com pessoas que acham que o universo tem 5000 anos.
Realmente fica difícil de entender evolução. Ou melhor, fica difícil de entender qualquer coisa que não esteja na
bíblia.
Não vou me estender para explicar evolução e as bases genéticas da geração de variabilidade. Somente é um
desabafo sobre como a ignorância é o câncer da sociedade. São essas coisas que me fazem ter mais vontade de
trabalhar com divulgação científica.
Obrigado Júlia! Pessoas como você me fazem ter mais vontade de mostrar o quanto a Ciência pode ser
libertadora e interessante! Que pessoas tão ou mais ignorantes que você comentem nos blogs de ciência, pois
pelo menos assim, vocês leem o post e aprendem alguma coisa por difusão! Ou até possam ser contaminados
pelo vírus da dúvida e reflitam melhor sobre suas posições.
Escrito por Breno Alves Guimarães de Souza em agosto 23, 2010 11:10 PM • 11 Comentários • 0 TrackBacks
un menor presente para un chát de bebê
Categoria: ambientalismo
- Nós teremos um chá de bebê para a Kim na sexta-feira.
- Eu mal conheço ela.
- Ela irá ter trigêmeos. Tente trazer um presente apropriado pela primeira vez.
- É um...livro sobre como diminuir minha pegada de carbono?
- Você está nos matando.
Não entendeu? Clique aqui. Do sempre sarcástico Dilbert.
Escrito por Luiz Bento em agosto 23, 2010 10:58 AM • 4 Comentários • 0 TrackBacks
agosto 20, 2010
Ecologia o Escusa?
Categoria: ambientalismo
Gostaria de compartilhar com vocês um ótimo artigo escrito por Camila Souza Ramos e publicado em maio de
2009 pela Revista Fórum. Este e todos os outros artigos publicados por esta revista estão licenciados sob
Creative Commons e, por este motivo, reproduzo abaixo na íntegra o artigo. Mesmo sendo crítico em relação a
um viés mais ambientalista presente em outros textos publicados pela mesma revista, acho que o artigo da
Camila Souza Ramos atingiu um ponto bem interessante. Como o discurso de proteção a natureza pode ser
utilizado como uma ferramenta de exclusão.
O artigo "Ecologia ou exclusão" é um dos cinco finalistas na categoria mídia impressa da décima edição do
Prêmio de Reportagem sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica. Outra finalista é a vizinha de ScienceBlogs
Maria Guimarães com o artigo "Jardineiras Fiés" que pode ser lido em sua edição original no site da revista
Pesquisa FAPESP. Por sinal também é um ótimo artigo, que eu até já havia indicado anteriormente para os
meus alunos do curso de licenciatura em Ciências Biológicas do CEDERJ. Bem, vamos ao artigo que intitula
este post.
Ecologia o escusa?
por Camila Souza Ramos
Desde março, a paisagem da Cidade Maravilhosa está ganhando um ar sombrio: muros de concreto de três
metros de altura já começaram a ser construídos ao lado da favela Dona Marta, e serão estendidos por mais 11
mil metros até rodear 11 favelas da zona Sul da cidade. E isso é só a primeira parte. O governo do estado, autor
do projeto, promete ampliar o muro também para as regiões Oeste e Norte da capital até 2010, ano eleitoral. O
argumento usado para a construção do muro - ou "ecolimite", como o governo prefere tratar - é a expansão das
favelas sobre a Mata Atlântica dos morros cariocas.
"É pra ficar bem claro para todo mundo: ali é um ecolimite. Daqui pra lá é mata e daqui pra cá é urbanização e
[a população] pode ocupar", aponta Ícaro Moreno, presidente da Empresa de Obras Públicas (Emop), empresa
contratada para executar o serviço. De acordo com o governo do estado, o crescimento das favelas tem sido
responsável pela devastação das matas que cobrem as encostas da cidade. Mas o argumento se mostra frágil se
analisados os dados de uma pesquisa recente do Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos (IPP),
vinculado à própria prefeitura e responsável pelo planejamento urbanístico e execução de obras de
infraestrutura.
A pesquisa indica que as áreas escolhidas para a execução da primeira parte do projeto foram justamente as que
menos cresceram nos últimos anos. De 1999 a 2008, enquanto a área total registrou uma ampliação de 6,88%,
as favelas da Zona Sul cresceram, somadas, somente 1,18%. Na comunidade de Santa Marta, a primeira a
receber os três metros de concreto ao seu redor, o terreno chegou a registrar inclusive uma redução de 0,99%
nesse período, segundo o instituto que fez a medida em termos de área ocupada a partir de fotos aéreas, sem
levar em conta o crescimento vegetativo. Também por isso não se pode dizer que a favelização não tenha se
intensificado nos últimos anos. O aumento foi notado por 61,6% dos moradores das comunidades, segundo uma
pesquisa da Central Única de Favelas (Cufa) realizada em 2008. Mas o pulo do gato é que o crescimento das
favelas na cidade tem sido, em sua maior parte, no sentido vertical: é o "puxadinho", o barraco construído em
cima a laje.
A próxima favela a ser cercada pelos ecolimites é a Rocinha, que até pouco tempo era considerada a maior
favela do Rio de Janeiro, perdendo o posto para a favela Fazenda Coqueiro, na zona Oeste da cidade,
considerando-se o tamanho da área ocupada. A lista de favelas a serem muradas conta com o parque da Cidade,
na Gávea; os morros dos Cabritos e a Ladeira dos Tabajaras, em Copacabana; da Babilônia e Chapéu
Mangueira, no Leme; Cantagalo e Pavão-Pavãozinho, em Ipanema; Vidigal, no Leblon; e Benjamim Constant,
na Urca. O projeto custará aos cofres públicos R$ 40 milhões, sendo que R$ 22 milhões serão gastos somente
nos 634 metros do Dona Marta e nos 2,5 km da Rocinha.
A notícia de que muros seriam erguidos em volta das favelas cariocas não demorou a ser criticada pela
sociedade e por grandes nomes de defensores de direitos humanos, como José Saramago. O escritor destila sua
crítica em seu blog "Caderno de Saramago": "Cá para baixo, na Cidade Maravilhosa, a do samba e do carnaval,
a situação não está melhor. A ideia, agora, é rodear as favelas com um muro de cimento armado de três metros
de altura. Tivemos o muro de Berlim, temos os muros da Palestina, agora os do Rio. Entretanto, o crime
organizado campeia por toda a parte, as cumplicidades verticais e horizontais penetram nos aparelhos de Estado
e na sociedade em geral. A corrupção parece imbatível. Que fazer?".
Histórico
O projeto de erguer barreiras entre mata e favela não é invenção do governador Sérgio Cabral. Foi durante a
primeira gestão de César Maia (1993-1996) na cidade do Rio de Janeiro que o atual prefeito Eduardo Paes,
então subprefeito da Barra da Tijuca e de Jacarepaguá, idealizou e propôs a construção de limites físicos,
batizados de ecolimites. A ideia não teve adesão na época, mas manteve-se no ideário dos políticos cariocas que
acham que crescimento da pobreza se combate com barreiras físicas.
O arquiteto Luiz Paulo Conde, que foi prefeito da cidade e vice-governador do estado na gestão de Rosinha
Garotinho, retomou a proposta em 2004, tendo a oposição justamente de Paes, que até o fechamento desta
edição não respondeu às perguntas enviadas pela Fórum. A proposta de Conde ia além da contenção da
ocupação irregular de barracos nas matas ao redor. Segundo o então vice-governador, um muro conteria a fuga
de criminosos pela floresta. Novamente o projeto não se concretizou. O assessor de Conde afirmou que o exprefeito não está concedendo entrevistas porque, acredita, "a imprensa já tomou uma posição sobre o assunto".
Nas últimas eleições, Gabeira voltou a colocar em pauta a construção dos muros. Sua proposta era de ampliar
ecolimites digitais já existentes, que, segundo ele, preveria participação da comunidade para evitar a ocupação
para fora dos limites e o estabelecimento de postos de orientação urbanística que instruiriam moradores a
construírem suas casas dentro da lei. "Com a boa-vontade da população, talvez não precisasse do muro", opina.
O Rio de Janeiro não escolheu Gabeira, mas continuou com Cabral. Eduardo Paes, que já mudou de opinião,
agora mostra-se favorável à medida, conforme declara seu vice Carlos Alberto Muniz. A um ano das eleições
para governador, Sérgio Cabral recuperou o projeto e pretende estendê-lo em três áreas da cidade, uma próxima
à área nobre da capital. Muniz, que também é secretário municipal do Meio Ambiente, afirma que a prefeitura
está agindo em complementação à construção do muro com arborização interna das comunidades e
reflorestamento dos entornos em mutirão com a comunidade, além de estar implementando "telhados verdes",
coberturas vegetais sobre as lajes das casas.
Disputa de discursos
A ação do governo estadual apela para um dos discursos mais mobilizadores da atualidade: o ambiental. "Os
interesses sociais só podem ser defendidos de forma mais ampla e no longo prazo se os interesses ambientais
também forem defendidos", observa Eduardo Cesar Marques, pesquisador e diretor do Centro de Estudos da
Metrópole (CEM), de São Paulo. O argumento verde começou a ganhar corpo na década de 1970, quando
vários desastres ambientais e a primeira crise do petróleo levaram a sociedade a buscar na área saídas para seus
entraves sócioeconômicos. A militância política em torno do discurso ambientalista começou em 1972, com a
criação do Partido Verde na Tasmânia, na Austrália, e chegou ao Brasil na forma institucional em 1986. De
acordo com o pesquisador Rui Lima Ramos, da Universidade Minho, de Portugal, "há [atualmente] uma
onipresença do discurso do ambientalismo" na imprensa que geralmente se reveste de um "caráter técnico". Em
seu artigo "Dimensões do discurso ambientalista nos media: uma abordagem exploratória", Ramos aponta que o
discurso descreve a chamada "sociedade de risco", em que qualquer espécie de desenvolvimento "é ensombrada
pelos riscos produzidos, que se democratizam e estendem-se a todas as classes sociais". O pesquisador do CEM
vai no mesmo sentido. "A questão é a mobilização dos discursos. O discurso ambiental no Rio de Janeiro é
repetidamente mobilizado nos últimos anos para legitimar ações contra as favelas, para culpabilizá-las".
Coordenador do Instituto de Terras no Rio de Janeiro, Maurício Ruiz defende os muros e a proteção que eles
podem dar à Mata Atlântica. "Tem que construir o muro sim", afirma argumentando que qualquer crescimento
registrado é significativo para a devastação das matas da cidade. "Mas essa medida e outras devem ser aplicadas
a todas as classes sociais", assegura. Em sua visão, não existe contradição entre a militância ambiental e a
social. "O movimento ambiental e o movimento social estão de mãos dadas. Quem entra para o ecologismo não
pode deixar de lutar contra a pobreza", finaliza. Já Sérgio Cabral chegou a declarar que o muro não seria
segregador, mas "de inclusão". "Ele significa o fim da omissão do poder público", declarou à imprensa.
Vítimas ou culpados?
Francisco Valdean dos Santos veio da cidade de Cachoeira Grande, quase divisa com o Piauí, e mora no
Complexo da Maré desde 1995. Apesar de as duas escolas de ensino médio mais perto estarem fora da
comunidade, beirando a avenida Brasil, Francisco completou o ensino médio e hoje cursa ciências sociais na
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). "O muro cria um imaginário de que existe uma violência muito
grande nas favelas e que tem que ser combatida dessa forma. Mas existem violências muito maiores do que a
que se vê na imprensa, como falta de escola, baixa qualidade na saúde pública... Nesse processo tem uma
violência muito maior", reflete Francisco, que hoje trabalha no Observatório de Favelas no Rio. Ele acredita que
o projeto materializa a criminalização da pobreza, e desabafa: "o morador da favela é sempre o culpado, agora
inclusive pela destruição da mata".
"O Rio de Janeiro tem uma longuíssima história de culpabilização das favelas, desde 1920, da viagem do rei da
Bélgica, quando se removeu a favela do Calabouço por sua visibilidade no caminho que o rei iria fazer", retoma
o pesquisador Eduardo. "Diz-se que a cidade está sendo agredida pela favela, mas é o contrário", indigna-se
Carlos Vainer, urbanista do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da UFRJ. "Não bastasse
essa população estar penalizada pela situação dramática em que se encontra, agora ainda é culpabilizada",
completa, classificando a política de Sérgio Cabral como um "urbanismo policial".
Há quem ainda contemporize, como Eduardo, que acredita que uma mureta com baixa agressão visual
submetida à fiscalização seria "plenamente suficiente". A proporção do muro e o local em que está sendo
erguido é que constituiriam um problema. "(Os muros) são de grande visibilidade, próximos à classe média,
formadora de opinião. É uma tentativa clara de mostrar a ação do poder público dura em uma área sensível",
coloca.
Carlos acredita que as intenções da medida vão além do mero interesse eleitoreiro. "Trata-se de atender aos
reclames do capital imobiliário, que pretende ocupar as encostas e disputar espaço com as favelas", acredita. As
primeiras onze favelas que receberão os três metros de cimento até o fim deste ano são vizinhas dos bairros
mais nobres da Cidade Maravilhosa, como Botafogo, Copacabana, Ipanema e Leblon.
Apesar das críticas, o Datafolha perguntou a 644 pessoas de diversas classes sociais se elas eram contra ou a
favor da construção: 47% afirmaram ser a favor, e 41% contra. "A discussão do meio ambiente vem sendo
jogada muito na mídia, então tem aceitação", opina Francisco. "Junta-se esse apelo mundial pelo meio ambiente
a uma reivindicação de contenção das favelas". Mas há quem conteste o número apresentado pelo Datafolha,
como os moradores da Rocinha, que por meio de sua associação de moradores realizaram uma consulta que
chegou a ter 1.173 votos. O resultado foi que a esmagadora maioria, 1.111 votos, se posicionou contra a
construção dos ecolimites, enquanto 56 foram a favor e seis se abstiveram. A discrepância dos números das
duas pesquisas e a própria evidência na do Datafolha de que não é a maioria absoluta que está a favor da medida
colocam a questão como um debate a ser construído na cidade do Rio de Janeiro.
A elite também desmata
O plano dos 11 km de muro em torno das favelas dá a entender que elas são as únicas responsáveis pelo
desmatamento da encosta dos morros. A devastação é incontestável: em pesquisa realizada pelo Instituto de
Pesquisas Espaciais (Inpe) no ano passado, a região metropolitana do Rio de Janeiro teve 205 hectares de sua
floresta suprimida em três anos. Na pesquisa anterior, foi registrada, entre 2000 e 2005, uma diminuição de 94
hectares de matas. No entanto, a região metropolitana engloba municípios que registram níveis muito mais
críticos de desmatamento do que a capital, como Itaboraí e Nova Iguaçu, onde se tem derrubado árvores do
entorno da Reserva Biológica do Tinguá.
Mas será que a Mata Atlântica carioca é alvo somente do crescimento das favelas? Não, de acordo com o IPP.
Em recente pesquisa, o instituto apontou que 69,7% das encostas acima dos 100 metros de altitude são ocupadas
por famílias de classe média e alta. O governador cercará comunidades que respondem pela ocupação de 30%
da área das encostas cariocas.
Confrontados os dados, o diretor da Emop sustenta que, "se tiver [ocupação de classes médias e ricas],
construiremos o muro também". O importante é a Mata Atlântica". No entanto, não consta no projeto a
construção de muros em outras áreas que não sejam favelas. Já o secretário municipal do Meio Ambiente
questiona a pesquisa do IPP, afirmando que o instituto estaria se restringindo à análise urbanística, e diz que são
poucas as áreas de classe média e alta que estariam causando algum impacto ambiental. Os argumentos da
prefeitura acabam indo contra sua própria estrutura, uma vez que o IPP é uma autarquia ligada ao município, e
tem como função justamente realizar análises e planejamentos urbanísticos para a cidade. Essa diferença com
que se trata as classes sociais na questão ambiental, como observa Vainer, "é uma maneira de dizer que os
favelados não são cidadãos como os outros".
Pobres e itinerantes
"Eu fico pensando: onde vão colocar os pobres?", indaga Francisco, um dos moradores da Maré. Eles estão
limitados verticalmente a um crescimento de até três pavimentos, e agora foram coibidos horizontalmente. O
poder público ainda não respondeu como fará para remanejar a população crescente das favelas. A própria
construção dos muros já desalojará mais de 550 famílias que, conforme garante Ícaro, terão direito a um
aluguel-social de R$250,00 a R$350,00 por mês até receberem do governo do estado uma casa dentro da
própria comunidade, "com condições melhores e título de propriedade".
A política de realocar ou simplesmente despejar os moradores de favelas tem um longo histórico. Já no início da
década de 1920, o prefeito Pereira Passos marcou sua gestão ao demolir os cortiços do centro da cidade para dar
lugar a avenidas largas de luxo. Os encortiçados foram para os morros, já que ao nível do mar já não
encontravam onde ficar. A gestão de Carlos Lacerda na prefeitura da cidade, 40 anos depois, recuperou a linha
de Passos e marcou a história do Rio de Janeiro ao derrubar duas favelas da zona Sul, Catacumba, na Lagoa, e
Pasmado, no Botafogo. As famílias foram realocadas para a Cidade de Deus, planejada para ser um bairro de
conjuntos habitacionais que acabou crescendo vertiginosamente e hoje ocupa uma área de mais de 120 hectares
e conta com uma população de 38 mil habitantes.
Porém, ao contrário do senso comum, seu crescimento não foi desordenado. É o que defende a pesquisadora e
socióloga americana Janice Perlman. Seus estudos apontam que essas comunidades foram planejadas
desordenadamente pelo poder público, mas encontraram uma dinâmica interna de "coesão social e confiança
mútua". Para ela, existe um planejamento dos próprios moradores que, ao se verem obrigados a construir suas
residências em locais de risco ou com espaço limitado, desenvolvem "técnicas criativas de construção em
encostas que os urbanistas consideram demasiado íngremes para edificações". Porém, esse "jeitinho" garante a
sobrevivência, mas não o bem-estar. "As pessoas têm que entender que a favela é a última saída para quem não
tem recursos de habitar adequadamente e próximo ao trabalho", argumenta o urbanista Carlos. A Rocinha, por
exemplo, ainda é conhecida como um dos focos mais alarmantes de tuberculose no país, por conta da falta de
saneamento ambiental e condições adequadas de moradia. Carlos não vê outra saída que não a habitação
popular: "O resto é mistificação".