Resumo Ferraro Pfeffer Sutton 2005

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Resumo Ferraro Pfeffer Sutton 2005
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Economics Language and Assumptions: How Theories Can Become Self-Fulfilling
Linguagem econômica e assunções: como as teorias pode se tornar autorrealizáveis
(Ferraro, Pfeffer e Sutton, 2005)
Resumo: As teorias nas Ciências Sociais podem se tornar autorrealizáveis moldando designs
institucionais e práticas gerenciais, assim como normas sociais e expectativas sobre
comportamento, criando, assim, o comportamento que predizem. As teorias também podem
se perpetuar promulgando linguagens e assunções que se tornam amplamente utilizadas e
aceitas. Ilustra-se estas ideias considerando como a linguagem e assunções da economia
moldam práticas gerenciais: teorias podem “ganhar” no mercado de ideias,
independentemente da sua validade empírica, à medida que as assunções e linguagens são
tomadas como certas e válidas normativamente, por conseguinte, criando condições que as
fazem se tornarem verdadeiras.
Introdução
Teorias das Ciências Sociais podem influenciar a realidade de formas profundas, por meio da
influência em como nós pensamos sobre nós mesmos e como agimos. Profecias
autorrealizáveis significam uma predição que, inicialmente, é uma definição falsa de uma
situação que evoca comportamentos que fazem a concepção originalmente falsa se tornar
verdadeira (Merton, 1984).
Os debates das Ciências Sociais não são constantemente operacionalizados de maneira que
facilitem o desenvolvimento de uma agenda empírica que explore as suas consequências. É
preciso uma apreciação mais profunda dos custos e das consequências de nossos esforços
científicos enquanto cientistas sociais e dos processos em que as nossas teorias e resultados
podem afetar nosso mundo. Assim, para entender este processo, identificam-se três
mecanismos – que reforçam um ao outro – pelo qual as teorias pode se tornar
autorrealizáveis: design institucional, normas sociais e linguagem. Também são discutidos
duas condições-chave: cultura e responsabilidade (prestação de contas) que podem afetar a
operação desses mecanismos.
Design Institucional
Teorias se tornam autorrealizáveis quando design institucional e arranjos organizacionais –
estruturas, sistemas de recompensa, práticas de medição, processos de seleção – refletem
teorias dos seus designers, no processo de transformação “da imagem em realidade”, por
meio da mudança das condições e práticas organizacionais materiais. Gerenciar pessoas por
meio de reforço contingencial pode, ao longo do tempo, “mudar os motivos das pessoas em
se engajar em tarefas e a maneira em que elas desempenham essas tarefas” de maneira
consistente com os princípios do reforço.
Resumo feito por David Bouças ([email protected])
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Normas Sociais
Teorias se tornam autorrealizáveis quando, independentemente de sua habilidade inicial de
predizer e explicar comportamentos, elas se tornam verdades e normas aceitas que governam
o comportamento. As pessoas se comportaram de uma dada maneira porque temem violar
determinadas normas estabelecidas.
Linguagem
Teorias se tornam autorrealizáveis quando a linguagem e assunções promulgadas afetam
como os indivíduos veem, entendem a si e ao mundo. A linguagem afeta o que as pessoas
veem, como elas veem e as categorias sociais e descritores que elas usam para interpretar sua
realidade. Neste sentido, a realidade é socialmente construída e a linguagem desempenha
um importante papel nesta construção. “A forma como as pessoas falam do mundo tem tudo
a ver com a maneira como o mundo entendido e como as pessoas agem nele”.
Teorias autorrealizáveis: o caso da economia
Teoria dos Custos de Transação conduzem muitos tomadores de decisão a criar certas
instituições e contratos, mesmo que as evidências e a lógica sugiram que estes arranjos podem
enfraquecer o desempenho organizacional. Considerando o comportamento oportunista como
uma regra, o gestor irá recompensar os funcionários se eles agirem de acordo com o que a
organização quer e, pelo outro lado, os funcionários tendem a agir de forma intencional para
adquirir vantagens pessoais. O que fica claro é que, a crença em determinadas normas, regras
gerais, faz com que as pessoas ajam de acordo com o estabelecido, mais do que suas reais
intenções. As teorias ganham quando elas são amplamente aceitas e acreditadas. Kuhn
(1970) enfatiza a importância do consenso teórico ao se criar e sustentar uma determinada
teoria, mais do que se a teoria, de fato, for verdadeira.
A linguagem, assunções e local da economia na administração
A ideia fundamental da economia que exerce forte influência sobre o discurso das Ciências
Sociais é o de que todo agente age conforme seu interesse pessoal (Sen, 1977). Se as pessoas
agem pelo próprio interesse, incentivos serão essenciais para a organização obter o
comportamento esperado, razão esta pelas quais pesquisadores da economia dão tanta
ênfase a incentivos extrínsecos (Heath, 1999). Esta assunção está no centro do pensamento
da Teoria da Agência. Numa lógica de mercado, agir por interesses pessoais conduz à
competitividade que produz resultados eficientes para a alocação de recursos e benefícios
para a sociedade em geral (Teoria Moderna de Adam Smith). Na Teoria Econômica, a busca por
interesses pessoais produz resultados sociais ótimos, assim, “a competição significará o
desaparecimento da preguiça [...] competição promove progresso”.
Como as teorias econômicas se tornam autorrealizáveis
1) Práticas Gerenciais e Arranjos Institucionais: uma teoria se torna verdadeira à medida
que as pessoas agem com base em nas ideias e assunções trazidas pelas teorias,
introduzindo práticas, rotinas e arranjos organizacionais que criam condições que
favorecem as predições da teoria. A expansão da administração contemporânea, sua
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literatura, estratégias etc., são amplamente utilizadas por empresas de consultoria,
instituições de ensino e empregadas nas organizações. Estratégias como BSC e SWOT
são utilizadas amplamente e, cada vez mais, consolidando a sua aceitação em amplas
organizações na sociedade;
2) Normas Sociais e Comportamentos nas Organizações: Teorias se tornam
autorrealizáveis ao descrever como as pessoas e as organizações devem se
comportamento, não apenas como elas se comportam. Assunções da economia como
a ação do homem motivado por interesses pessoais é uma predição de como as
pessoas se comportam, mas também serve como uma norma que regula o
comportamento. Número crescente de evidências aponta que o comportamento por
interesse próprio é um comportamento aprendido e as pessoas aprendem ao
estudarem determinados campos do saber como a economia e negócios;
3) Como a linguagem produz comportamentos autorrealizáveis: a linguagem direciona
imagens e esquemas cognitivos que guiam o entendimento e os comportamentos. Nós
vemos as coisas em parte em razão de como falamos sobre elas e os conceitos e
construtos que nós usamos em nossas descrições. A linguagem afeta o
comportamento, julgamento de uma pessoa por outras e as crenças sobre os
comportamentos adequados em uma dada situação.
Quando as teorias se tornam autorrealizáveis? (Cultura e Accountability)
Nem todos os indivíduos, mesmo em uma mesma organização ou sociedade, são homogêneos
a respeito das normas e crenças, em outras palavras, os comportamentos nem sempre são
condizentes aos valores e atitudes. Em uma dada sociedade altamente individualista
(Hofstede, 1980), as assunções econômicas serão mais receptivas, enquanto em sociedades
mais coletivas, ideias como o oportunismo serão menos aceitas.
A conclusão é a de que a economia e outras ciências sociais devem se engajar num processo
de articulação cultural com as normas aceitas. Assim, para uma teoria se difundir em uma
sociedade ou organização, as assunções e linguagens da economia precisam estar em
sintonia com, pelo menos, algumas normas existentes. Ao longo do tempo, essas assunções
contribuem para a definição das próprias normas, mas, inicialmente, eles devem ser
consistentes às normas locais.
Numa lógica de globalização, cada vez mais, a linguagem e assunções da economia são
amplamente aceitas, independentemente das culturas e normas envolvidas.
No que se refere a accountability (responsabilidade, prestação de contas), trata-se que existe
uma pressão sobre os gestores para manterem uma identidade social, ou seja, accountability
pressiona os atores para adotarem comportamentos legitimados, tais como aqueles
normativamente sancionados pela teoria econômica.
Efeitos da linguagem e assunções econômicas sobre as práticas gerenciais
Quando atores constroem suas práticas gerenciais e arranjos institucionais, eles
necessariamente consideram as assunções sobre a natureza humana – como o oportunismo
– para respaldar suas decisões. Portanto, ainda que numa organização as pessoas não ajam de
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forma egoísta, elas estarão em ambientes com design institucional que consideram que as
pessoas agirão de forma interessada e apenas motivadas por incentivos extrínsecos (como nas
instituições burocratizadas). Ou ainda, em casos de pagamentos por produtividade individual,
a assunção econômica em questão é considerada (oportunismo) e guia a definição da
política de reconhecimento e remuneração da empresa, ainda que autores apontem que isso
pode ocasionar outros efeitos indesejáveis como redução da satisfação no trabalho, problemas
de relacionamentos internos, queda de qualidade e performance, e aumento no turnover.
Conclusão: talvez a mais importante implicação deste artigo é que as teorias se tornam
dominantes quando a sua linguagem é amplamente e negligentemente usada e suas
assunções se tornam aceitas e válidas normativamente, independentemente da sua validade
empírica.
Referência completa
FERRARO, F.; PFEFFER, J.; SUTTON, R. Economics language and assumptions: How theories can
become self-fulfilling. Academy of Management Review, 30, 8-24. 2005.
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