FICHA 14: Meditações sobre o Cântico dos Cânticos ou Conceitos
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FICHA 14: Meditações sobre o Cântico dos Cânticos ou Conceitos
1 FICHA 14: Meditações sobre o Cântico dos Cânticos ou Conceitos do amor de Deus cap.1. 1. Pistas gerais de leitura das “Relações” 1. Aspeto histórico O lugar de composição foi o convento de São José de Ávila, pela menção à visita do leigo Alonso de Cordobilla (MC 3,8) que só pôde visitar esse convento porque morreu em outubro de 1566. Data de composição. (1ª 1568 y 2ª 1572). A data das duas redações é incerta, segundo a crítica interna, mas podemos assinalar um marco que vai de 1568 a 1572 para as duas redações. Não anterior a 1568 pela menção em MC prol.1.3 de vários mosteiros fundados e em 1568 se funda o terceiro. Pela menção em MC 2,29 da canonização do beato Diego de Alcalá, realizada a 2 de Julho de 1568. E pela indicação ao final MC 7,2 do êxtase acontecido em abril de 1571 em Salamanca (cfr. R 15). Não posterior a 1572 porque em 1572 ingressa no cárcere frei Luís de León pela sua tradução do Cântico, o que torna improvável que ela escreva a sua meditação posterior a esta data. A 10 de agosto de 1575, o p. Domingo Báñez aprova o escrito. Em resumo temos que talvez a primeira redação foi em 1568 e a segunda entre 1572 e 1575. A situação em que se encontra Teresa, quando nasce este livro abarca o desejo de comunicar às suas filhas a sintonia que percebia entre as suas experiências místicas com a leitura do “Cântico dos Cânticos”. Já que faz como dois anos que deus lhe concede entender por experiência algumas palavras do Cântico (MC pról.,2-3). E uma situação marcada por muitas ocupações como o escrever, fundar, rezar, fiar, relacionar-se com pessoas e com as descalças (MC 7,10). A situação respeito aos estudos bíblicos, é crítica. No séc. XVI dá-se uma mudança de promoção da leitura bíblica a um travão nela devido ao surgir do protestantismo, como o diz Bartolomé de Carranza: “Antes que as heresias do malvado Lutero saíssem do inferno a esta luz do mundo, não sei eu que estivesse vedada a Sagrada Escritura em línguas vulgares entre nenhumas pessoas. Em Espanha havia bíblias trasladadas em vulgar por mandado dos Reis Católicos”. A reação de Espanha ante o perigo de protestantismo e judaização é com os índices de livros proibidos, incluindo as traduções da Escritura. Bartolomé Carranza dá as razões da proibição: “Em Espanha, que estava limpa de esta discórdia (de heresias) por mercê e graça de nosso Senhor dispuseram em vedar geralmente todas as translações vulgares da Escritura, por pessoas simples e sem letras; e também porque tinham e têm experiência de casos particulares e erros que começavam a nascer em Espanha, e achavam a raiz era ter lido algumas partes da Escritura sem as entender”2. Em 1572 ingressa no cárcere frei Luís de León pela sua tradução do Cântico. Por isso não é de estranhar que Teresa tenha tido que queimar o autógrafo em 1574. Destinatárias da obra são as carmelitas descalças (MC pról.1), que farão quatro cópias. 1 Bibliografía: ÁLVAREZ T., Diccionario de santa Teresa de Jesús, Monte Carmelo, Burgos, 2001, 385-392. DANIEL DE PABLO, “Meditaciones sobre los Cantares”, en AA.VV., Introducción al estudio de santa Teresa, EDE, Madrid, 559-570. 2 JOSÉ, IGNACIO, TELLECHEA, Comentarios sobre el Catecismo cristiano, Madrid, BAC, 1972,110-111. 2 As motivações da obra são três. A primeira é a obediência aos seus superiores (MC prol. epil.). A segunda é a de doutrinar as suas monjas Carmelitas. E a terceira é a de partilhar a sua experiência de vida mística e a confirmação de dita experiencia que oferece o livro, “ouvisse algumas coisas dos Cânticos, e nelas entendeu ir bem guiada a sua alma” (MC 1,6). Aspeto literário. O título da primeira edição é o de “Conceitos do Amor de Deus”, dado pelo p. Gracián. “Meditação sobre o Cântico dos Cânticos”, é o título dado por Francisco de Santa Maria (Pulgar)3 e pelo p. Efrén de la Madre de Dios. Teresa não lhe põe título, só o chama “Minhas Meditações” (MC 1,8). E é o que usaremos. O género literário é o de “meditações bíblicas” sobre alguns versículos do Ct (MC 1,8). O desenvolvimento das suas meditações é guiado pelas suas experiências místicas e não pela ordem do texto bíblico. A interpretação dos personagens é o da alma com Cristo, sendo a Virgem Maria o modelo de esposa (MC 6,8). Índice. Introdução Prólogo Capítulo 1: A veneração com que devem ser lidas as Sagradas Escrituras e a dificuldade de as compreender. Capítulo 2: Nove maneiras de falsa paz. Declara a paz verdadeira. Capítulo 3: A verdadeira paz e união com Deus, e exemplos de caridade heroica. Capítulo 4: Fala da oração de quietude e de união e os seus efeitos. Capítulo 5: Segue na oração de união e os seus efeitos. Capítulo 6: Os benefícios desta união e a suspensão das potências. Capítulo 7: Os desejos de sofrer por Deus e os frutos para a Igreja dos que chegam à união. O autógrafo não existe porque Diego de Yanguas OP ordenou que se deitasse ao fogo. A Santa obedeceu, mas antes de o apresentar ao confessor tinha pedido fazer cópias. As quatro cópias são: 1ª Cópia de Alba de Tormes é a cópia mais completa. A 2ª Cópia de Baeza, 3ª Cópia de Consuegra, e 4ª Cópia de las Nieves, se conservam na Biblioteca Nacional de Madrid ms.1400. A edição é do P. Gracián em Bruxelas em 1611 com os editores Roger Velpio e Huberto António, segundo uma cópia pertencente à família Alba-Baeza, com o título: “Conceitos do amor de Deus”. Dividiu a obra em sete capítulos e escreveu os títulos dos capítulos. A aprovação do livro foi dada por Domingo Báñez OP ao início e ao final da cópia de Alba, a 10 de junho de 1575 em Valladolid. O Maestro Ávila também o aprovou como “bom”. Aspeto teológico. Conteúdo. É o único escrito baseado na Bíblia usando a versão da liturgia das horas. Apresenta uma meditação de seis versículos do Ct 1,1.2.3: Ct 2,3.4.5 meditados em 7 capítulos. O tema central é a paz verdadeira que vem da amizade com Cristo. O livrito incorpora o simbolismo nupcial ao ideário teresiano (MC 6, 7–8). Interessa também porque desenha nos seus sete capítulos o que depois se converterá no traçado das moradas do Castelo Interior. Temas teológicos. Cristo dá a verdadeira paz. O beijo do amado é sinal de amor e comunica Paz. A comunhão e obediência por amor traz como fruto a Paz. Há uma falsa paz, que pode nascer 3 Reforma de los Descalzos de Nuestra Señora del Carmen de la Primitiva Observancia…, I Madrid, 1644, lib.V, cap.35,873. Citado por DANIEL DE PABLO, “Meditaciones sobre los Cantares”, en AA.VV., Introducción al estudio de santa Teresa, EdE, Nota 8, p.565. 3 na riqueza (MC 2,8) na honra (MC 2,11), na vida cómoda (MC 2,14), na vida medíocre (V 8,9). É o estar em paz porque se está metido no pecado ordinário, é a paz no egoísmo e indiferença. Pelo contrário a paz verdadeira que vem da amizade com Cristo, ou o beijo da sua boca, é uma paz em permanente guerra, crescimento e criatividade que nasce de um amor que “não pode deitar-se a viver das rendas”, mas que tende a esforçar-se, a dar sem medida. O beijo de Jesus ou a paz verdadeira leva à união com a vontade de Deus que dá três frutos: 1º Agir por fé e não por um míope entendimento, (cfr. 7M 4); 2º Não repara nas suas virtudes e forças nem se deixa vencer pelos pecados e 3º uma superação de todos os temores e confiança em Deus. A Sagrada Escritura é fonte de vida. A meditação orante da Bíblia por parte das mulheres é agradável a Deus (MC 1,8) e o cristão não se tem de deixar levar pelo temor a que Deus possa realizar obras nas pessoas simples: “Não como alguns letrados (que não os leva o Senhor por este modo de oração, nem têm princípio de espírito) que querem levar as coisas por tanta razão e tão medidas pelos seus entendimentos, que não parece senão que têm eles com as suas letras de compreender todas as grandezas de Deus” (MC 6,7). Há uma ação do Espírito Santo que inspira o escritor bíblico e outra na que inspira ao leitor da Bíblia que “recolhia mais e movia a minha alma” (MC prol.1). Teresa oferece duas chaves hermenêuticas bíblicas. A chave cristológica leva-a a ler toda a Bíblia com Cristo como o Mestre que toma a iniciativa, ilustra a pessoa, comunica os seus sentimentos e revela o Padre. A chave hermenêutica experiencial de la Bíblia, ajuda-a a corrigir ou confirmar a sua experiência de Deus e assim poder viver um sentido da Bíblia espiritual: “se lhe comunicam grandes verdades; porque esta luz que a deslumbra, por não o entender ela o que é, a faz ver a vaidade do mundo. Não vê o bom Mestre que a ensina, ainda que entenda que está com ela; mas fica tão bem ensinada e com tão grandes efeitos e fortaleza nas virtudes”. (MC 4,2). 2. PERGUNTAS AO TEXTO. QUE DIZ TERESA DE JESUS? 1. Como entende a petição do beijo a Deus em MC 1,1? Porque é que é difícil entender a Bíblia em MC 1,1? 2. Como se faz meditação bíblica teresiana em MC 1,1.2.5, qual é a sua dinâmica MC 1,6, em que fixar a atenção da meditação MC 1,7, qual o seu lugar hermenêutico e propósito segundo MC,9? 3. Que diz do contexto dos estudos bíblicos em MC 1,2? 4. Como se explica Teresa as interpretações que encontram medos e rejeição a interpretar em sentido literal expressões de amor do Cântico em MC 1,3.4? E onde coloca Teresa a chave que diferencia o tipo de interpretação das palavras de amor do Ct e da obra de comunhão com o Santíssimo Sacramento em MC 1,11? 5. Teresa afirma a legitimidade da investigação do sentido verdadeiro querido pelo Espírito Santo de parte dos doutores e que argumentos acrescenta para legitimar o âmbito de estudo, discussão e ensino das mulheres sobre matéria bíblica? 6. Em que legitima santa Teresa a interpretação do sentido literal da petição do Ct em MC 1,10? E em que se baseia a santa para afirmar tal sentido literal que é contracorrente ao uso do sentido alegórico e à opinião de que as pessoas simples e em especial as mulheres lessem a Bíblia em MC 1,12? 3.PERGUNTAS DE MEDITAÇÃO. QUE ME/NOS DIZ O TEXTO? 1. Que pistas dá Teresa para fazer uma meditação espiritual do Ct? 2. Que orientações dá Teresa para afirmar que é legítimo fazer uma meditação bíblica? 3. Porque é especialmente difícil de compreender o livro do Cântico dos Cânticos e por acaso é só dificuldade das mulheres? 4 4. Que diz santa Teresa do contexto de leitura e interpretação da Bíblia tanto dos tipos de interpretação como das objeções a que as mulheres meditem a Bíblia? 5. Que diz de Deus, da vida espiritual desde a categoria nupcial de uma meditação espiritual do Ct?. 4. Para refletir, orar. QUE ME FAZ DIZER O TEXTO A DEUS? Que te nasce pedir, agradecer ou louvar a Deus da leitura e meditação realizada deste grau de oração? Que qualidades de oração teresiana gostarias de pedir a Deus?
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