Matéria publicada no jornal da comunidade no dia

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Matéria publicada no jornal da comunidade no dia
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JORNAL DA
Comunidade
Brasília, 6 a 12 de dezembro de 2003
Atualmente com 57 anos de profissão e ainda na ativa aos 83 anos de
idade, Mário Garófalo procura cumprir o que disse ao padre-diretor do
seminário de Jaboatão: falar a verdade e procurar fazer justiça, mesmo admitindo a ressalva do provérbio latino
errare humanum est (errar é humano).
- Toda vez que cometo um erro e
alguém vem reclamar, vou verificar se
cometi mesmo uma injustiça e então
eu me retrato em público tentando
consertar meu erro. É por isso que
quando sou chamado para fazer palestras nas faculdades de jornalismo
aqui de Brasília, sempre digo aos futuros focas: apurem, pesquisem bastante e nunca falseiem nada em suas
reportagens. Isso o público não perdoa porque se sente enganado.
Cita o recente caso de um conhecido apresentador de uma tevê paulistana, mas se recusa a fazer qualquer
comentário por uma questão de ética. Retoma sua receita aos focas:
- Sobretudo digo a eles que culti-
vem humildade profissional, isto porque a arrogância só dificulta o trabalho do repórter. As pessoas, em geral,
não gostam de jornalistas posudos,
não é verdade?
Mas que não se confunda humildade com timidez, isto porque arrojo
sempre foi um componente no trabalho do jornalista Mário Garófalo. Por
suas façanhas transmitidas ao vivo
“tudo, a qualquer instante e de qualquer lugar”, sendo o primeiro a descobrir que era possível transmitir uma
reportagem utilizando o telefone como
transmissor, ele ganhou notoriedade
junto ao público carioca, principalmente porque no final da década de
40 a rádio era o grande veículo de comunicação e entretenimento popular.
E o segredo do sucesso junto ao chamado povão estava diretamente ligado à sua empolgada narrativa. De certa
feita, na cobertura de um incêndio,
transmitiu com voz emocionada:
“Meus queridos ouvintes, estamos
aqui literalmente cercados pelas cha-
mas! Ouçam o barulho da água das
mangueiras dos bombeiros!... e agora ouçam o crepitar das chamas!...”
Com certeza, foi essa vontade de
sempre pular na frente que motivou
em 1950 Garófalo a se infiltrar entre os passageiros do navio auxiliar
de guerra Duque de Caxias, quando cerca de 1500 brasileiros resolveram realizar uma peregrinação
marítima que se estenderia ao cemitério dos pracinhas da FEB, em Pistóia, na Itália; e que teria seu ponto
final no Vaticano para uma histórica
visita ao Papa Pio XII. Fazendo das
tripas coração e utilizando o sistema de rádio de bordo, Garófalo conseguiu transmitir informes diários do
vaso de guerra em alto mar, repetindo flashs radiofônicos do cemitério
de Pistóia, só Deus sabe como e por
quais ondas hertzianas. Para complementar, o dinâmico repórter coroou
esses autênticos furos internacionais
com uma sensacional entrevista radiofônica com o Papa Pio XII.
A epopéia da inauguração da nova capital
Na intercalação de grandes emoções, todas relacionadas à própria história do
novo Brasil, Mário Garófalo
participou de corpo presente
da verdadeira epopéia em
que se transformou a inauguração da nova capital brasileira, nascida e batizada em
pleno cerrado do Planalto
Central a 21 de abril de 1960.
- Além da passagem da
Caravana, eu já tinha vindo a Brasília umas quatro
vezes, a convite de Israel
Pinheiro e do médico Ernesto Silva. E no comecinho de
abril, o João Calmon, que
era o superintendente dos
Diários Associados, me
convidou para cobrir a
inauguração da nova capital. Como os equipamentos
de transmissão à longa distância eram bastante precários, ele resolveu o problema instalando uma rede de
microondas de Brasília a
Belo Horizonte, de Belo
Horizonte a Juiz de Fora e
de Juiz de Fora ao Rio. Cheguei aqui dois dias antes,
me instalei na casa alugada pelo Correio Braziliense
e me preparei para enfrentar mais um desafio de
transmitir debaixo de forte
emoção. Felizmente, consegui realizar o meu trabalho
a contento. Mas só Deus
sabe com que esforço para
conter as lágrimas, de tão
emocionado fiquei.
Devia estar escrito em algum lugar que Garófalo trocaria sua base de residência
do Rio por Brasília. Ao se
despedir de Juscelino, depois
da bem-sucedida cobertura
jornalística da inauguração,
JK perguntou ao repórter
por que ele não fixava residência na nova capital.
- Disse a ele que não ficava porque não tinha onde
morar. Aí, Juscelino me conseguiu um apartamento funcional e eu acabei ficando,
empregando-me como diretor de redação do Correio
Braziliense. E dou graças a
Deus por ter resolvido ficar,
já que foi em Brasília que
eu encontrei o maior tesouro da minha vida: a Lúcia,
a minha mulher.
E mais uma vez o talento de um homem que tocava sete instrumentos serviu
como elo de uma seqüência
de fatos positivos. Com o
know how obtido de 1957 a
1959 quando dirigiu o Observatório Astronômico da
Escola Nacional de Engenharia, instalado no morro
do Valongo, no Rio de Janeiro, Garófalo foi convidado a ajudar na criação e ensino do Curso de Astronomia da UnB, no qual deu sua
contribuição entre 1964 a
1969. E foi nesse ambiente
universitário que o rádio-re-
MÁRIO e LÚCIA, apoio recíproco para enfrentar dificuldades
- Na primeira vez que a
vi foi na hora do recreio. E a
Lúcia despontava com sua
beleza, cercada de admiradores por todos os lados. Fiquei de olho nela. E num
belo domingo, por volta das
quatro da tarde, eu passava
de carro pela W-3, quando
vi a Lúcia caminhando a pé.
Perguntei o que ela estava
fazendo ali, sozinha. Ela me
respondeu que estava procurando um cinema pra ver um
filme. Convidei para que
Felizmente, consegui
ela entrasse
no carro e
realizar o meu trabalho a
fomos à procontento. Mas só Deus sabe
cura do tal
filme. Depois
com que esforço para conter
disso, comeas lágrimas, de tão
cei a dar em
cima da Lúemocionado fiquei
cia, cortejava-a e levapórter e professor de astro- va corbeilles de rosas vermenomia improvisado (divorci- lhas. Aí começamos a namoado e pai de Mário Antônio rar, a namorar... E o amor
Garófalo, já adulto) cruzou foi crescendo, crescendo, até
com a bela moça paulista que fomos morar juntos. E
Lúcia Batista, que comple- juntos estamos faz 25 anos.
mentava seu curso de Inglês, Hoje dou graças a Deus tobacharelando-se posterior- dos os dias por ter colocado
mente em Comunicação So- a Lúcia no meu caminho. Ela
é tudo para mim!
cial e Biblioteconomia.
Foi ainda em Brasília
que Mário Garófalo conquistaria o seu segundo tesouro, deixando de ser empregado e transformandose em patrão, mais precisamente empresário de comunicação, participando de
uma licitação pública em
1979 para a concessão de
uma rádio FM, tendo como
argumentos apenas a cara
e a coragem. Como centro
logístico de estímulo, contava com o valioso apoio da
agora sua mulher Lúcia Batista Di Garófalo. Na avaliação final para a escolha dos
concorrentes, a proposta de
Garófalo venceu com a boa
vantagem de cinco pontos
sobre a segunda colocada.
Mas o vencedor mal teve tempo para comemorar:
- O coronel Neiva, que era
do Dentel, me procurou para
dizer “olha, Garófalo, você
ganhou porém não vai levar”. Perguntei por quê. E ele
me respondeu: “você não tem
dinheiro, você não tem grupo financeiro por trás de
você, você não tem infra-estrutura, você não tem
nada!...” Retruquei que tinha
o mais importante: o conhe-
SEMPRE PRESENTE nos salões presidenciais, Garófalo tinha acesso até mesmo a marechais, como Castelo Branco e Eurico Dutra
A ALEGRIA é o traço de união do casal que adotou Brasília
cimento de como funcionava
uma rádio, argumentando
que havia montado a Rádio
Planalto, dos Associados,
sem gastar um centavo.
Enquanto Mário Garófalo esperava ansioso uma
definição da parte do Dentel, sua mulher Lúcia lhe
chamou a atenção para uma
nota publicada no CB: encontrava-se de passagem em
Brasília o general Otero Vale,
que já havia trabalhado no
Palácio Buriti no tempo do
governador Hélio Prates e
que era seu amigo.
- Ela insistiu para que eu
falasse com o homem. Então
fui ao Hotel Nacional e contei ao general Otero o que
havia ouvido do coronel Neiva, acrescentando com raiva: “Se isso é verdade, general, onde está a coerência
desse Governo?”. Eu não
sabia que o Otero Vale era
amigo pessoal do presidente Figueiredo, daí a sua irritação quando ouviu o meu
desabafo. E ele me pergun-
tou: “Você tem coragem de
escrever o que está dizendo?” Ao ouvir minha confirmação, o general marcou
encontro para o dia seguinte: “Traga a carta amanhã
e irei com você ao Palácio
do Planalto”. Compareci na
hora combinada e fomos
juntos ao gabinete do Presidente. Lá, ele entrou sozinho.
Ao sair, depois de alguns
minutos, o general Otero Vale
me segredou: Figueiredo
abrira o sinal verde para a
instalação de minha rádio,
mas me chamou de “f... da
p...” pelo meu atrevimento de
escrever aquela carta!
E foi assim, meritoriamente, que o hoje empresário Mário Garófalo ganhou
a sua Brasília Super Rádio
FM, complementando essa
vitória com outro lance notável: ele conseguiu que o
Papa João Paulo II, na sua
primeira visita a Brasília,
abençoasse a nova estação
na sua inauguração a 30 de
junho de 1980.
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Brasília, 6 a 12 de dezembro de 2003
A diferença é a música, o encontro com
Humberto II e o sonho de Dom Bosco
A DISCOTECA da Brasília Super Rádio é de primeiro mundo
A arma de JK e Brasília
na rota da selva virgem
Com seu jeitão comunicativo, não foi difícil para Mário
Garófalo se aproximar de figurões que ocupavam altos postos,
como no caso do presidente Juscelino Kubitschek, com quem
almoçou duas vezes no Palácio
das Laranjeiras, no Rio. Na segunda vez, faltando poucos meses para a inauguração de Brasília, o repórter notou qualquer
coisa estranha da parte de JK:
- Percebi que ele, de vez
em quando, sacudia a perna
direita por debaixo da mesa,
assim como se tivesse chutando alguma coisa. Em determinado momento, não resisti
à curiosidade e perguntei se
havia algum problema com a
perna dele, se ele havia se
machucado. Aí o Juscelino
deu aquela gargalhada e me
confidenciou: embaixo daquela mesa, ele tinha um
aparelhinho que controlava o
sistema de som da sala. Havia uma haste que aumentava os decibéis quando era tocada por sua perna para a
direita e, vice-versa, baixava
quando era tocada para a esquerda. E o Presidente me explicou: quando tem uma pessoa com conversa muito chata, eu aumento o som da música com a minha perna. E me
disse como se chamava o tal
engenho: “Potenciômetro”.
Foi nesse segundo almoço com JK que Garófalo ficou sabendo a respeito do
projeto da Caravana de Integração Nacional:
- Naquele tempo não havia estradas ligando o norte
ao centro do País. Quem quisesse, por exemplo, viajar de
Belém ou de qualquer capital do Nordeste para o Rio de
Janeiro, só podia se embarcasse num dos navios da Costeira ou do Lóide. Por causa
da ausência de rodovias,
morreram centenas de brasileiros, quando os nossos navios de passageiros que faziam essas linhas foram torpedeados pelos submarinos alemães de Hitler, o que fez o
Brasil entrar na guerra a favor dos aliados, no começo
da década de 40. Falando
sobre esse assunto com o Presidente, eu externei o meu
desejo de um dia atravessar
o Brasil de ponta a ponta, por
terra. E foi aí que ele me falou sobre a Caravana de Integração Nacional, que sairia de Belém rumo a Brasília, abrindo caminho através
da selva virgem. Por sinal que
já não era tão virgem assim
porque ele me adiantou que
o engenheiro Bernardo
Sayão já tinha aberto com
seus tratores uma trilha na
mata durante dois anos, por
ordem dele, Juscelino.
Mais do que óbvio que o
solerte rádio-repórter não perdeu a oportunidade de se agregar à caravana de 52 jipes com
tração nas quatro rodas, que
partiria de Belém no final de
janeiro de 1960, integrada por
autoridades civis e militares,
além de jornalistas de todo o
País, não faltando o apoio logístico eclesiástico do Bispo do
Pará. Essa aventurosa viagem, com os jipes percorrendo cerca de 2.000 quilômetros da capital do Pará à capital do País (em véspera de ser
inaugurada), sobre trilhas recém-abertas, atravessando
rios sobre balsas, era tudo o
que a imaginação de Garófalo estava necessitando.
- A travessia dessa parte da
Amazônia (que hoje somam
quatro Estados: Pará, Maranhão, Tocantins e Goiás, além
do Distrito Federal) foi uma
nova descoberta de um Brasil
desconhecido. Durante quase
dez dias, dormíamos de qualquer jeito no meio da mata ou
em redes armadas nos toscos
acampamentos das empreiteiras. Infelizmente, dias antes de
partirmos de Belém, Bernardo
Sayão morreu esmagado por
uma árvore gigantesca que estava sendo derrubada a machado. E quando paramos no
local do acidente, sugeri ao Bispo que oficiasse uma Missa em
homenagem a Sayão, no que
fui atendido. E o altar da Missa foi instalado sobre a capota de um jipe. Foi uma coisa
muito bonita de se ver. Essa solenidade só foi superada pelo
discurso emocionado do presidente JK, que veio nos saudar ali na entrada da novacap.
O projeto da Caravana tinha
sido programado para terminar aqui em Brasília, mas naquele momento Juscelino resolveu esticar o percurso até o Rio,
e do Rio prolongou até Porto
Alegre. E foi assim que concretizei meu sonho de atravessar
o Brasil, de ponta a ponta.
Como troféu dessa viagem
inesquecível, Mário Garófalo
guarda numa redoma de vidro
duas botas de cano longo de couro marrom, com uma etiqueta relembrando a histórica travessia.
- Quando os meus amigos
cariocas da cadeia das Lojas de Calçados Polar souberam que eu ia pra selva, me
deram essas botas de presente, com a boa intenção de me
proteger contra as cobras venenosas da Amazônia.
Inaugurada em grande
estilo a Brasília Super Rádio
FM, o problema principal
eram os equipamentos, conforme havia previsto o coronel Neiva: não havia dinheiro, não havia infra-estrutura,
não havia nada. Mas Garófalo não era homem de desistir diante das primeiras dificuldades e também porque
agora contava com a ajuda
de sua mulher Lúcia, que
passou a funcionar como locutora improvisada, emprestando sua voz bonita que alguém identificaria anos mais
tarde como veludo auditivo.
Os dois se revezavam ao
microfone, mal sobrando
tempo para que o experiente
radialista saísse à rua para
garimpar anúncios, sem os
quais não haveria suporte
para manter a emissora no ar.
Fazendo uma careta, Mário
lembra dos primeiros meses
de funcionamento ao vivo:
- As dificuldades começavam com nossas instalações, já que fomos obrigados a utilizar os banheiros
da torre como estúdios. O
pior é que a nossa proposta
era caracterizar a nossa
emissora com música de
boa qualidade, o que viria
justificar o nosso slogan de
“a diferença é a música”, e
só foi possível começar com
apenas seis discos, assim
mesmo emprestados. Mas,
pouco a pouco, fomos superando os obstáculos com
improvisações e sobretudo
com infinita paciência, conseguindo manter o que era
o mais importante: o bom
nível da programação, o
que conquistava gradativamente o número de
ouvintes e, em conseqüência, de anunciantes.
Mesmo mantendo ainda sua base funcionando
nos módulos próximos à
Torre de Tevê, não há como
comparar 23 anos depois a
Super Rádio de antes com a
de agora, com a essencial
vantagem que em vez de
três funcionários do ínicio,
há nada menos de 23 pessoas contratadas, entre os
quais dois locutores, três pianistas e uma jornalista. Na
entrada das instalações apertadas, há uma imponente
estátua de Dom Bosco, que
é uma espécie de protetor do
valioso acervo mantido no
local. De seis discos emprestados, a discoteca cresceu para mais de 20 mil discos de CDs da melhor qualidade; e o grande patrimônio de valor inestimável:
uma coletânea de 175 trilhas
sonoras de grandes filmes
musicais de Hollywood.
Resta saber se o casal Garófalo ficou rico, a julgar pelo
casarão em que passaram a
morar no Lago Sul.
- Somos ricos, sim, mas
de coisas espirituais e principalmente do amor que resultou nossa união. Quanto
à nossa Brasília Super Rádio
FM, ela às vezes dá pequeno lucro, mas algumas vezes
sou obrigado a recorrer às
economias da Lúcia para
saldar nossos compromissos.
Se não sobra dinheiro
para investir em lazer, isso
não atrapalha a rotina de
vida de Garófalo, homem
que gosta de descansar em
casa ouvindo boa música,
de preferência as óperas de
Puccini, bem longe da agitação lá de fora. Justificando a teoria de unir o útil ao
agradável, ele se distrai bastante ao comandar ao vivo
um dos segmentos da programação da Super Rádio:
“Um piano ao cair da noite”, apresentado no palco de
um pequeno auditório no
Conjunto Nacional, de segunda às sextas-feiras, das
18 às 19 horas. Quando está
inspirado, Mário convida
uma das
senhoras
ali presentes
p a r a
dançar,
o que faz
com extrema elegância
como se fosse
um Rodolfo
Valentino de
cabeça branca, já tendo se
arriscado certa vez até nuns
passos de tango. Com base
nessas performances, o repórter quer saber onde e
quando ele aprendeu a dançar tão bem? A resposta vem
rebocada numa gargalhada:
“Acontece simplesmente
que não sei dançar coisa
nenhuma. Eu movimento as
pernas por puro reflexo do
ritmo que estou ouvindo”.
E conta um episódio que
caracteriza mais uma das
suas iniciativas arrojadas:
- Originalmente, aquele
palco tinha o dobro do tamanho que tem hoje. E foi
ali que consegui levar a orquestra da Força Aérea
Americana, que deu verdadeiro show de harmonia e
ritmo. Na ocasião, foi a primeira vez que me atrevi a
convidar uma distinta senhora do auditório para
dançar. No final, o maestro
americano me cumprimentou pela exibição de dança.
Quando confessei que não
sabia dançar, ele respondeu: “Então, o senhor tapeia muito bem!”
Bailarino de ouvido, o
dono da Super Rádio brasiliense rejeita os inúmeros
convites semanais para participar de festas dançantes.
A esta altura do campeonato, também não alimenta
paixões esportivas: não torce por time de futebol, nem
mesmo acompanha a Fórmula 1. Prefere a sombra
de seu jardim no Lago Sul
e sossego: é avesso à política e principalmente aos
políticos; fora do trabalho
não se interessa pelas sessões da Câmara ou do Senado; faz tempo que não assiste Missa. Nos
dias de
semana, de
v e z
em quando Mário e
Lúcia comparecem a jantares
e coquetéis nas
embaixadas estrangeiras,
onde são recebidos com o
maior carinho. Todos os domingos, desde que sua
emissora entrou no ar, levanta-se bem cedo para ouvir às
6 horas em ponto a transmissão do Ângelus, proferido
pelo Papa através da Rádio
do Vaticano. Traduz a mensagem para o português e retransmite-a às 12 horas, já
que a liturgia católica exige
que o Ângelus seja ouvido
pelos fiéis às 6 da manhã, às
12 e às 18 horas. Sobre esse
esforço pessoal, pelo qual
não cobra um centavo, Garófalo adianta ao repórter:
- Faço isso por gratidão
a João Paulo II por ter inaugurado e abençoado a nossa emissora. Porém, quando
ele falecer, não retransmitirei
mais o Ângelus do próximo
Papa, até porque para mim
hoje esse trabalho representa um certo sacrifício aos 83
anos de idade. Mas, é quase
certo que irei com a Lúcia ao
Vaticano para assistir o funeral de Sua Santidade.
Corda e caçamba, os dois
já viajaram pelos quatro continentes, mas ultimamente eles
dão preferência à Itália, onde
Garófalo aproveita para praticar seu italiano (antes falava
correntemente o francês) e rever seus parentes da parte de
mãe e de pai, residentes no norte e no sul da península. Foi
numa dessas viagens, com
parada em Portugal, que o
casal cruzou numa solenidade em Lisboa com o rei Humberto II, da Itália. E o repórter
que sempre habitou dentro de
Mário Garófalo decidiu quebrar o protocolo.
- Majestade, quero ter a
honra de cumprimentá-lo.
Ele me perguntou se eu era
um súdito italiano. Respondi que não: sou um jornalista brasileiro, descendente de italianos. Continuamos conversando animadamente. Ao me despedir, ele
me passou seu telefone
particular, convidandonos para um almoço no
final de semana. Liguei e
Sua Majestade ratificou o
convite, dando o endereço de sua mansão em Cascais, onde passava as férias em Portugal. Perguntei
se podia levar o pianista
brasileiro Paulo Burgo e o
Rei consentiu. Sabendo que
Humberto II gostava de
música italiana, pedi ao
Paulo que tocasse uma
canção napolitana. E aí começamos todos a cantar.
Em determinado momento,
confessei-lhe que, quando
estudante salesiano, ouvi
uma previsão de que ele,
Sua Majestade Humberto
II, seria o último rei da Itália. Continuamos a cantar
outras músicas napolitanas. E só paramos quando
as lágrimas nos interromperam. A previsão dos padres salesianos se confirmou: Humberto II foi o último rei da Itália.
Mesmo ciente de que
Garófalo é avesso à política, solicitamos uma avaliação do governo Lula, com
quem garante nunca teve
“qualquer tipo de contato”.
Talvez por isso, a resposta
sai curta:
- Acho que vai dar certo. Já está começando a dar
certo... Sabe por que eu estou dizendo isto?
Acrescenta, mais animado:
- Em 1800, o Santo Dom
Bosco fez mais de uma centena de profecias sobre Brasília. E numa delas em que
fala que tudo vai mudar radicalmente depois do final da
segunda geração, ele disse
textualmente: “Quando se
vier a descobrir as minas escondidas em meio a estes
montes, haverá tanta fartura
que jorrará leite e mel. E será
uma riqueza inconcebível.”
E conclui com os olhos
brilhando:
- Vale a pena lembrar que
o final da segunda geração
é agora no próximo 31 de
dezembro!

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