capa - WordPress.com

Transcrição

capa - WordPress.com
PROTUBERÂNCIA
O LIVRO DO BLOGUE
VOLUME I
(2006-2009)
Joel G. Gomes
Título: Protuberância: O livro do blogue: Volume I
Autor: Joel G. Gomes
Capa: Joel G. Gomes
(C) Joel G. Gomes 2012
UM ARTIGO SEM NEXO MAS COM UM TÍTULO
O PORQUÊ DA RIVALIDADE
ENTRE DOIS MUNDOS
ARTIGO 2 EM 1
O CÓDIGO DE JOEL
ATAQUE ALEATÓRIO AOS BONS COSTUMES
ALGUMAS COISAS QUE EU ACHO SUSPEITAS,
BIZARRAS, DESNECESSÁRIAS OU ESTÚPIDAS
O MEU PRIMEIRO ARTIGO SOBRE
A MARCA DA BESTA
FARÓFIAS, FAFE E FUTILIDADES
VIVA A GUERRA!
PRIORIDADES
PELA SEGURANÇA DA NAÇÃO
A ANTESTREIA DO REGRESSO
FILMES ONLINE
O OSAMA MORREU?
CONTRA A VIOLÊNCIA CONTRA
SOBRE CRÍTICA PUBLICADA
PRAXIS REGRESSUM
PELO BEM DAS NOSSAS CRIANÇAS
O REGRESSO DO SUPER-MÁRIO
UPGRADE POLICIAL
MANOEL DE OLIVEIRA A 48 VELOCIDADES
TUDO MENOS CINEMA
MAS O QUE FOI AGORA? OUTRA VEZ AQUELA CENA
DE CAMARATE?
VER SEM MEXER
AS CASUALIDADES DA GUERRA
UMA QUESTÃO DE DISTÂNCIA
PELA NÃO UTILIZAÇÃO DESPROPOSITADA E INÚTIL
DE UM ESPAÇO VIRTUAL BEM COMO PELA NÃO
ACÇÃO INTENCIONAL DE DANO MORAL E PSÍQUICO
DO LEITOR
O PRIMEIRO POST DO ANO
SE CALHAR ATÉ É DIFAMAÇÃO OU ENTÃO É MESMO O
SERVIÇO QUE NÃO VALE UM CORNO
PROFESSORES E JUNTAS MÉDICAS:
3 COISAS COM QUE EU NÃO BRINCO E PORQUÊ
NOVO FUNDO DE INVESTIMENTO CINEMATOGRÁFICO
COLECÇÃO DE VERÃO - LIVROS DE BOLSO DN:
COLECÇÃO DE VERÃO - LIVROS DE BOLSO DN:
AFINAL EM SANTA COMBA DÃO TAMBÉM HÁ COISAS
MÁS
NUNCA ESCREVI UM ARTIGO SOBRE ÓCULOS E ESTE É
O PRIMEIRO
SIM, É OUTRA VEZ UM ARTIGO SOBRE A COLECÇÃO
DE VERÃO DE LIVROS DO DN. E DEPOIS?
SALVEMOS AS NOSSAS CRIANÇAS! ELAS NÃO
MERECEM ISSO!
AI OS MORANGOS, AI OS MORANGOS…
PEQUENAS COISAS QUE NOS FAZEM GRANDE
DIGAM SIM À PIRATARIA
INDECISÃO
O ANONIMATO NOS BLOGS
MONOPÓLIO
DEIXAR COISAS A MEIO É FEIO E NÃO SE
E AGORA… MAIS UMA ESTÚPIDA IDEIA DAQUELAS
QUE SÓ AQUI!
PERCEPÇÕES E REALIDADE 2:
A INSTAURAÇÃO DO ELÁDIO
SACRIFÍCIOS PELA FOME NO MUNDO
TOCA A GANHAR QUANDO O TELEFONE TOCA
COISAS DO MUNDO
DAQUI PRA TRÁS
A SAÚDE PÕE-ME DOENTE
QUERIDOS, MUDEI OS MINISTROS
CONTRAFACÇÕES E AFINS
Ó MEU DEUS!
Ó MEU DEUS! II
DOIS TÍTULOS UMA SÉRIE
CITAÇÃO DE BLOG
HOMENAGEM A GEORGE CARLIN
SUGESTÕES DE LEITURA PARA JULHO
QUINTA DA FONTE
PRIVADAS & PÚBLICAS
SUGESTÕES DE LEITURA PARA O MÊS DE AGOSTO
SUGESTÕES (TARDIAS) DE LEITURA PARA SETEMBRO
CORRUPÇÃO PARA TODOS
DISCURSO EM DIRECTO
SOU EU QUE SOU ESTÚPIDO OU?
MANOEL DE OLIVEIRA E JOÃO CÉSAR MONTEIRO
(TUDO NO MESMO SACO E ATIRADO AO RIO)
INTEGRAÇÃO? EVENTUALMENTE HÁ-DE SER
JÁ SE PODE GOZAR COM A MADDIE
"SALAZARISTAS TEMEM INFILTRAÇÃO NEONAZI"
Por volta do século XI (os historiadores vão-me perdoar a
imprecisão) a civilização ocidental vivia um clima de
incerteza e temor em relação ao futuro próximo. Sinais
como a peste e desastres naturais – hoje em dia encarados
por nós de forma mais ligeira – eram vistos pelas gentes de
outrora, influenciadas pela "chegada do Apocalipse"
proclamada pelo quadrante mais (novamente o termo será
impreciso) "fanático" da Igreja Católica, como um castigo
pelos nossos pecados.
Passados dez séculos a situação mudou essencialmente
no modo como analisamos as coisas. Não temos a peste,
mas temos a SIDA, a hepatite, cólera, varíola e – a futura
nova coqueluche dos movimentos de solidariedade e
contribuições bancárias – a gripe das aves; os desastres
naturais continuam a acontecer quando têm de acontecer e
no que toca aos pecados temos os reality-shows
(esperemos pela punição).
Aviso ao leitor incauto (desprevenido, desatento, etc.):
Mudança do tom do discurso
Os dois parágrafos anteriores (ignorando o Aviso)
tiveram como finalidade transmitir uma ideia tantas vezes
dita e redita: quanto mais as coisas mudam, mais ficam na
mesma.
Creio que não é preciso ser-se um génio para se
perceber o que é que eu estou a falar; alguns já falam disso,
outros preferem não admitir nada com medo que a
admissão se venha a transformar em realidade. É,
infelizmente, impossível da minha parte ignorar esta
8
situação. Não consigo fechar os olhos e fingir que não se
passa nada. Admito que possa estar a ser injusto com
alguns de vocês – não gosto de rotular pessoas, muito
menos julgar os grupos pelos indivíduos que os compõem
– mas a vossa indiferença (o que eu interpreto como tal)
não me possibilita outra análise se não esta.
Como já devem ter percebido, falo do cancelamento don
concerto do Ricky Martin na Índia.
OK, pela vossa reacção vejo que afinal não estavam tão
a par do assunto como eu pensava. As minhas mais
sinceras desculpas se vos julguei precipitadamente.
Em traços gerais, o que aconteceu foi o seguinte:
alguém disse ao Ricky Martin que ele tinha talento (ou foi
ele que acordou um dia com azia e em vez de ir à casa-debanho decidiu gravar um disco), depois disso foi um vazio.
Há quem trace um paralelismo entre esse vazio criativo do
cantor (no qual ele lançou vários álbuns) e o regime de
intolerância vigente durante a Idade Média. Não obstante
o facto de realmente naquele tempo as pessoas se matarem
umas às outras por coisinhas de nada (era uma época em
que espirrar significava estar possuído pelo demónio),
também foi facto que a criatividade não abrandou (em
alguns zonas até floresceu).
Portanto, comparar a falta de criatividade na Idade
Média com a falta de criatividade do Ricky Martin é um
erro; mais que um erro, é uma ofensa.
E por agora chega de Ricky Martin; vamos mas é falar
do que realmente interessa. Só estou cá há… 5 meses, e
quem me conhece sabe que gosto de preparar o terreno
antes de avançar. Se fosse mais velho e tivesse participado
em alguma guerra, diria que é a minha experiência de
batalha a falar. Como não é o caso, digo que foi a minha
experiência de Boavista a falar.
É importante estabelecer uma aproximação cuidada
quando o assunto em questão é tão delicado como este que
9
vos trago. De tal modo que utilizei o estratagema do início
falso, tudo para que se rissem, sorrissem ou, pelo menos,
relaxassem de modo a encarar o que tenho para vos dizer
com outros olhos.
Desta vez não posso usar a expressão "como já devem
ter percebido" porque sei que não perceberam, eu sei que
vocês não sabem – basta-me olhar para as vossas caras
para saber que não sabem – por isso, sem mais delongas,
eis o assunto que me levou a escrever este artigo:
AS 333 MEDIDAS DO GOVERNO
PARA COMBATER A BUROCRACIA
Primeiro que tudo uma curiosidade; o dobro de 333 é o
666, o número da besta, número do fim dos tempos, do
Apocalipse. Não quero traçar paralelismos ou lançar ideias
disparatadas sobre o fim do mundo. No meu ver, sendo o
número de medidas igual a metade do número maldito,
isso só pode significar uma coisa: é meio caminho andado.
Mais 333 e chegamos ao fundo do poço; o que, como disse
um economista da nossa praça, "É bom, porque do poço já
não passamos."
Devo dizer que esperava mais orgulho da parte deste
Governo. Mais do que as promessas não cumpridas é isto
que me chateia.
Tudo começou com aquela história das empresas
criadas numa hora. Por esta altura já devem ser 2850
(eram 2849 quando comecei a escrever este artigo; não sei
quantas serão quando estiverem a ler) as empresas criadas
através deste novo sistema. O que não se percebe é o que é
que o Governo está a publicitar:
a) o tempo
b) as empresas
Analisemos os dois casos.
Se for a hipótese b) empresas, é tempo perdido. Há dois
10
tipos de empresas (grandes empresas) em Portugal; as que
funcionam mal e as que funcionam bem. E quando
funcionam bem o que acontece é isto: os donos vendemnas a empresários estrangeiros ou declaram falência e
mudam-se para países onde a mão-de-obra é mais barata
ou, caso fiquem em Portugal, declaram falência e abrem
novas empresas com o dinheiro que não dispunham antes
para pagar aos funcionários da antiga empresa (isto sem
contar com as chamadas "ajudas de custo" e "incentivos ao
desenvolvimento empresarial" que o Estado Português tão
criteriosamente distribui.
Obviamente, há excepções. Não podemos ser
preconceituosos e "pôr tudo no mesmo saco" porque há
empresários que não agem assim; simplesmente pegam no
dinheiro e vão para um sítio onde ninguém os chateie.
Outra hipótese a considerar: o tempo.
Admito que o Governo possa estar contente por fazer
algo significativo como a criação de UMA empresa no
período de uma hora, mas porquê limitar-se a isso? Se a
intenção é dar destaque ao que se consegue criar numa
hora, porque não publicitar com o grau de ênfase que a
situação exige, a criação de desempregos no espaço de
uma hora?
Os números não param de aumentar e são ícones
emblemáticos que representam (é um pleonasmo, eu sei)
toda uma política económica e social iniciada não se sabe
já por quem e continuada por este Governo (e passível de
ser mantida pelo próximo).
Portugal devia ter mais orgulho nos seus
desempregados e criar condições para que estes se
desenvolvessem.
Espanha conseguiu chegar aos 20% enquanto nós por
cá ainda mal chegámos aos 10%.
Irra! "Samos" portugueses ou não "samos"?
Eu acredito que é possível chegar aos 30%. Basta
11
empenharmo-nos mais. Se trabalharmos ainda mais por
ainda menos, os nossos empresários enriquecerão mais
bem mais depressa e poderão fechar as portas muito mais
cedo do que esperam. Não sejamos egoístas! 30% de
desempregados é um objectivo nobre a atingir, dignificanos como Nação e mostramos ao mundo que, quando
queremos, somos capazes.
PS: Já agora, para quem ainda não sabe, vou-me
embora em breve. Por esta altura hesitei entre ser honesto
ou hipócrita. Sendo assim vou dizer que gostei muito de
certas pessoas, menos de outras e outras ainda continuo a
ter dificuldade em reconhecê-las como tal. A localização
geográfica possibilitou-me conhecer mais pessoas do
Curso de Ciências da Comunicação do que do Curso de
Arquitectura, mas deixem-me que vos diga, um vale tanto
quanto o outro. Só cá estive cinco meses mas já conhecia o
clima existente. Ambos os lados dizem que "a culpa é dos
outros". Caso não saibam, a culpa é SEMPRE dos outros,
nunca é nossa. Há que aprender com os erros e seguir em
frente. Em relação aos alunos/professores/alunos de
Ciências da Educação nada a apontar. Turma do 2º ano,
continuem a comprar gomas porque é bom para as unhas
e para o cabelo; turma do 1º ano, o vosso altruísmo é
muito bonito mas não é salutar num clima de competição.
Uma última pergunta para todos aqueles de CC e de
Arquitectura: para quando um 9 de Novembro na Boavista?
Aqueles com mais cultura geral sabem que dia foi, os
outros vão me perguntar agora:
"Joel, o 9 de Novembro foi o quê?"
E eu responderei:
12
Em circunstâncias normais, o normal seria fazer um
balanço somente lá para o mês de Outubro – altura em
que completaria um ano na Boavista – contudo, isso só
seria possível se ainda lá estivesse. O que não é o caso.
Pelas minhas contas foram seis meses, o que já não é mau,
já dá para fazer alguma apreciação.
Antes de mais, um breve esclarecimento (os que já
sabem, estão à vontade para saltar esta parte, se assim o
quiserem): eu não caí na Boavista de pára-quedas, já lá
havia estado cinco anos antes e só me surpreendi por ver
que certas coisas continuavam na mesma. Eu, porém,
mudei bastante no espaço de cinco anos. De tal modo que,
além de aprender a usar uma faca e um garfo, decidi
lançar-me num empreendimento ambicioso e, disseramme alguns, “impossível”.
As circunstâncias e o tempo – que eu sabia ser escasso –
estavam contra mim. Apesar disso, não desisti e tentei dar
o meu contributo para a resolução deste conflito. Em
Espanha temos os conflitos entre os separatistas bascos e o
Governo; em Israel, temos o conflito israelo-árabe; na
Irlanda do Norte, são católicos contra protestantes. Na
Boavista, é CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO contra
ARQUITECTURA. E percebe-se bem o porquê desta
rivalidade.
Antes de regressar à Boavista trabalhei quatro anos em
Santa Marta e nunca consegui compreender bem as
rivalidades entre cursos que lá existiam:
13
ECONOMIA vs. GESTÃO
LÍNGUAS E LITERATURAS MODERNAS vs. TRADUTORES E
INTÉRPRETES
DIREITO vs. RELAÇÕES INTERNACIONAIS
PSICOLOGIA vs. SOCIOLOGIA
entre outras.
Tendo
em
conta
que
CIÊNCIAS
DA
COMUNICAÇÃO e ARQUITECTURA são duas
vertentes do mesmo domínio científico – ao contrário das
anteriores demonstradas – compreende-se esta questão da
rivalidade. Eis alguns dos motivos:
• As cadeiras comuns
Por vezes alunos do 1º ano de CIÊNCIAS DA
COMUNICAÇÃO têm aulas com alunos do 2º ano de
ARQUITECTURA numa sala onde mal cabe o 1º ano de
Ciências da Educação 1 . O espaço reduzido conduz a
comportamentos nervosos e, por vezes, erráticos. O
chamado ‘cabin fever’.
• A utilização do estúdio de rádio ou de TV
Quantas vezes é eu que não ouvi queixas de alunos do
6º ano de ARQUITECTURA que precisavam de utilizar o
estúdio de TV para editarem um spot publicitário, que
seria inserido numa maqueta, e não o podiam fazer porque
estavam lá alunos do 3º ano de CIÊNCIAS DA
COMUNICAÇÃO?
1
A minha ex-posição conferia-me acesso a certos privilégios como, por
exemplo, saber que a turma do 1º ano de Ciências da Educação era
composta por dez alunos).
14
• A utilização da plotter
Às vezes os alunos do 4º ano de CIÊNCIAS DA
COMUNICAÇÃO, da variante de Jornalismo, querem
imprimir uma plotagem para usar numa reportagem
televisiva e não o podem fazer porque os alunos do 3º ano
de ARQUITECTURA estão lá dia e noite.
Perante situações como estas É PERFEITAMENTE
COMPREENSÍVEL A RIVALIDADE ENTRE ESTES
DOIS CURSOS.
Meus caros, um conselho: sejam superiores à
mesquinhice. Não vale a pena lutarem por um objectivo
pobre de valor ou significado. Quem é que esperam
impressionar com as vossas querelas? E agora estão a
pensar ‘Eu não sou assim.’ ou ‘A culpa não é minha.’
Errado. A culpa é VOSSA!
Mais importante que apontarem falhas uns aos outros,
faziam melhor em (é uma ideia estúpida, mas eu vou dizer
na mesma), coordenar esforços para a concretização de
objectivos comuns. Dou dois exemplos:
1 - Os alunos de ARQUITECTURA costumam fazer
recolha de imagens, geralmente via fotográfica, dos locais
onde vão ser construídos os edifícios que vão projectar.
Os alunos de CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO (a
partir do 2º ano) fazem recolha de imagens através de
vídeo, primeiro para se habituarem aos aparelhos, depois
para a realização de reportagens.
Eis a minha ideia: quer me parecer que a utilização de
imagens de vídeo oferece mais vantagens que a simples
fotografia; assim, enquanto uns aprendem a filmar e a
editar, os outros podem usar o "bruto" das filmagens para
os seus projectos. Talvez eu fale sem saber.
2 - O 1º ano de CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO fez
15
uma visita ao Museu de Arte de Contemporânea em Lisboa.
Mais ou menos por essa altura uma turma de
ARQUITECTURA (não me recordo se do 2º ou do 3º
ano, lamento) iniciou um projecto cujo tema era um…
Museu de Arte Contemporânea
Suponho que os alunos de CIÊNCIAS DA
COMUNICAÇÃO tenham elaborado um relatório ou
trabalho qualquer a propósito da visita (conhecendo o
professor que os levou lá, acredito piamente que sim
embora não ponha as mãos no fogo por isso), assim como
acredito que os alunos de ARQUITECTURA tenham
recolhido informações várias acerca deste tipo de museus
(incluindo o museu visitado pelos “outros”.)
Novamente, declaro a minha ignorância. Mas aproveito
também para expor duas situações que sei que vos vão
chocar.
ALUNOS DO CURSO DE CIÊNCIAS DA
COMUNICAÇÃO A COMPRAREM CÓDIGOS DO
CURSO DE ARQUITECTURA
e
ALUNOS DO CURSO DE ARQUITECTURA A
COMPRAREM DOCUMENTOS DO CURSO DE
CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO
DE PROPÓSITO!
Especifico que foi de propósito para não começarem já
com esperanças vãs. 'Se calhar enganaram-se.' Não. Foi
deliberado. Aperceberam-se que naqueles códigos estavam
informações relevantes para a realização dum trabalho,
duma apresentação ou mesmo duma frequência.
A informação deve ser sempre considerada e não
descartada a priori devido à sua origem. Perdoo este tipo
de displicência ao pessoal de ARQUITECTURA, mas ao
pessoal de CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO só tenho a
16
dizer: a vossa atitude é estúpida.
Principalmente para aqueles que querem seguir
Jornalismo. Habituem-se às fontes que conseguem
arranjar e não àquelas que gostariam de arranjar. Podem
não gostar da pessoa, mas a informação que essa pessoa
vos dá é que importa.
Não discutam sobre que curso é mais difícil. Uns têm
trabalhos e exames e frequências ao longo do ano, os
outros vão a casa uma vez por semana porque não
entregar um trabalho pode significar chumbar a uma
cadeira e chumbar uma cadeira é – literalmente –
chumbar o ano inteiro.
E notem, eu não tomo partido de nenhuma das partes
envolvidas neste conflito. No entanto, há que pensar:
como seria o mundo hoje em dia se a Alemanha ainda
estivesse dividida?
Sou a favor da existência do Muro de Berlim na
Boavista. Acho bem que tenham escrito a frase por uma
razão: é mais fácil acabar com algo quando esse algo é
visível.
Há cinco anos a rivalidade entre CIÊNCIAS DA
COMUNICAÇÃO e ARQUITECTURA era um fantasma
que ninguém admitia que existia, hoje é real e já não se
consegue esconder.
Quem escreveu a famigerada frase pode tê-lo feito com
um intuito provocatório e de auto-afirmação mas deu,
inadvertidamente, o primeiro passo para combater este
problema. Os meus parabéns a essa pessoa.
17
OU… CHAMA-SE A ISTO
‘BATER NO CEGUINHO’
No dia da minha partida de Universidades Autónomas
surgiu o boato de que um novo curso irá juntar-se ao rol de
cursos já leccionados no Pólo da Boavista. (Reparem como
consegui conjugar os termos ‘rol’ e ‘leccionados’ na mesma
frase, o que, vistas bem as coisas, não é nada assim tão
espectacular para eu me estar a gabar. Assim vocês vêem
os pontos de interesse existentes na minha vida.)
Desconheço se o rumor (ou boato, se preferirem) tem
fundamento e isso é bom pois atesta que é um verdadeiro
rumor. Para quem não sabe, um verdadeiro rumor é
aquele que nós não sabemos se é verdade ou não, por isso
é que é um rumor. Se nós soubéssemos que um rumor é
verdadeiro, já não seria rumor, seria um facto.
Após um parágrafo tão longo, vou escrever um bem
mais curto, mas com muito menos interesse. E pronto, foi
isto.
Em relação ao curso, lá está, é um rumor; pode ser
verdade, pode não ser. O que dizem por aí é que irá
começar um curso de Design. (Suponho eu que seja uma
licenciatura) Portanto, coloca-se um problema que eu
penso conseguir demonstrar plenamente recorrendo a um
filme.
O filme, de seu título ‘No man’s land’, foi o vencedor dos
Óscares de 2001 para Melhor Filme Estrangeiro, e passase na Guerra dos Balcãs. A história é simples e ideal para
explicar o que talvez possa vir a acontecer no próximo ano
lectivo no Pólo da Boavista. Eis o que acontece: um
soldado sérvio e um soldado bósnio ficam encurralados
18
numa trincheira – e agora vem a parte gira – mesmo no
meio do campo de batalha. O filme é interessante e
oferece uma perspectiva diferente, por vezes divertida, da
guerra. E para comparação já chega.
Mas em que medida é que este exemplo se relaciona
com o pessoal de Design?
Simples. Onde é que eles serão colocados?
Os materiais utilizados e as técnicas sugerem uma zona
de maior confluência arquitectónica, os possíveis conceitos
e a inserção num contexto profissional indicam mais um
ambiente de forte conteúdo comunicacional. Por isso, em
que é que ficamos?
Antes de responder à pergunta lançada no final do
parágrafo anterior quero que saibam que eu podia escrever
frases bem mais simples, mas não o faço porque tenho
pretensões de erudito. (Embora eu acredite que não hajam
muitos eruditos a conjugar vocábulos como ‘calendário’,
‘comichão’, ‘azia’, ‘zurrar’ e ‘olheiras’ numa única
construção frásica.
Em suma, a ser verdadeira a vinda desta nova turpe,
além da dúvida já referida da localização, surge mais uma:
na semana das praxes quem vai praxar os caloiros de
Design? Uma vez que ainda não existem veteranos, como é
que se fará a sua integração no ambiente académico?
Proponho que se faça assim:
1 – Dividem-se os caloiros em dois grupos (os que
chegam a horas no primeiro dia de aulas e os que chegam
quando lhes apetece)
2 – Os atinadinhos serão praxados pelos outros
3- Não tenho mais nada para dizer, mas achei bem
escrever este terceiro ponto uma vez que não há duas sem
três
A grande pergunta que se coloca é: há alguma vantagem
neste novo curso?
Há. Ou, pelo menos, penso que há. Sendo um curso que
19
toca em áreas comuns à Comunicação e à Arquitectura
(ainda que, por vezes, de forma tosca ou pouco evidente)
acredito que isso possa vir a ser um meio de encurtar as
distâncias que separam estes dois grandes rivais
boavisteiros.
Já aqui falei de como deveriam utilizar os
conhecimentos de outros cursos sempre que isso fosse útil.
Os exemplos foram dados no artigo anterior, por isso não
os vou repetir. Desta feita, cabe acrescentar que a
aproximação (a possível aproximação, isto é) será bastante
mais forte e, por conseguinte, menos fraca.
E AGORA UM PEDIDO DE DESCULPAS:
PEDIDO DE DESCULPAS
Venho por este meio pedir desculpas a todos aqueles que
acabaram de ler este artigo e tenham sentido que não foram
alcançados os níveis adequados de riso, gargalhada ou
galhofa alcançados no artigo anterior. (Espero bem que
o artigo anterior tenha provocado riso, gargalhada,
galhofa ou um simples esgar, caso contrário este
pedido de desculpas torna-se desnecessário e
ridículo.) Por isso, para me redimir, deixo-vos com uma
última piada:
“Porque é que a galinha atravessou a estrada?”
“Bom, antes de considerarmos uma resposta válida há que
analisar toda uma série de contingências relacionadas com
o habitat da dita ave. Acima de tudo, cabe a nós ponderar
se uma eventual deslocação no espaço geográfico rodoviário,
se além de viável, possui um motivo psicológico ou se se
trata duma mera afirmação pessoal de independência, uma
ânsia de libertação das amarras do aviário ou----
Merda!!! Porque é que eu não consigo escrever coisas
simples?!
20
TEMA 1
A MARCA PORTUGAL VS. OS D'ZERT
NO ROCK IN RIO LISBOA
No seguimento do artigo anterior, trago-vos esta
semana algo que se enquadra de certo modo no que foi
discutido anteriormente. (Para os que conseguirem
dissecar o significado intrínseco desta frase, não pensem
que se trata de mais do mesmo.) A eventual
implementação dum curso de Design fez-me pensar em
alguns assuntos que muito têm sido discutidos na praça
pública mas dos quais ninguém fala.
A propósito da Marca Portugal, têm sido feitas
campanhas, tem-se investido algum dinheirito na criação e
divulgação dum conceito que se resume ao chavão "O que
é nacional é bom." É verdade, temos coisas boas. Uma
coisa boa que temos – li há uns anos atrás, por isso não sei
se a informação está actualizada – Portugal é o segundo
país da União Europeia com maior índice de corrupção
passiva. Podíamos ser o segundo país da União Europeia
com maior índice de corrupção activa, mas isso implicaria
a malta trabalhar. Acredito que esta informação possa
estar desactualizada, uma vez que foi publicada antes da
entrada dos últimos dez países. Ainda assim, é um sinal de
orgulho.
Marca Portugal. Qualidade, prestígio, inovação.
É óptimo na teoria e ainda melhor na prática.
Portugal é um país óptimo para viver. E se for um
cidadão não cumpridor da lei há toda uma série de
vantagens que lhe serão auferidas.
1 – O pessoal do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras
21
(SEF) é mal pago; uma compensaçãozinha monetária extra
é suficiente para que um processo de legalização seja
concluído rapidamente sem que certos e determinados
procedimentos sejam devidamente observados.
2 – Caso não queiram obter a legalização, podem ir para
o Algarve onde o facto de falarem uma língua estrangeira é
sinónimo de bons tratos, regalias e, em alguns casos,
preços mais baixos.
3 – Caso se legalizem e naturalizem, podem ficar
sujeitos à corrupção e ao suborno. Aqui temos o nosso
melhor chamariz. Devido a um pequeno lapso
inconstitucional, nós portugueses não podemos acusar ou
julgar quem recebe o suborno, só quem faz.
A Marca Portugal deve ser difundida e defendida por
todos. É necessário para que o nosso país evolua de forma
visível e considerável. Porém, existe um reverso nisto tudo.
Não posso estar aqui a falar de vantagens e ignorar certas
acções que pouco ou nada contribuem, antes pelo
contrário, para o chamado "desenvolvimento do objectivo
traçado".
Em poucas palavras, falo da vinda dos D'Zert ao Rock in
Rio Lisboa. Meus caros, se o objectivo é dar um bom nome
a Portugal, não é assim que vamos conseguir.
Pensem bem: eu estou a dar o meu melhor, estou a
divulgar pontos-chave para a nossa aceitação no
estrangeiro e depois põem os D'Zert num Festival de
música internacional (ou Festival internacional de música).
Não se percebe.
22
TEMA 2
SEM TEMA
Esta semana regressei por um dia a áreas boavisteiras.
Foi um regresso temporário, com motivos inerentes de
visita, que suscitou reacções várias – algumas de
contentamento, outras de indignação, raiva e, em alguns
casos, de aversão. Houve, inclusive, quem tivesse sentido
alguma irritação cutânea, mas isso foi mais por falta de
higiene pessoal, do que propriamente devido à minha
presença. (Julgo eu.) No fundo, senti-me como se tivesse
estado ausente durante duas semanas e tivesse voltado de
visita. Provavelmente por ter sido isso que aconteceu.
Portanto, estive de volta. Não por nada ligado a essa
palavra efémera que é a saudade, mas por outros motivos
bem mais nobres, como arranjar matéria para escrever
este artigo.
Tentei escrever qualquer coisa de manhã. Não consegui.
Pensei "à tarde penso melhor". Estava errado.
São neste momento 15:00 e continuo sem inspiração
para nada. E isto preocupa-me. Vocês que me conhecem e
me admiram (os que não me admiram tomara que
apanhem uma indisposição estomacal daquelas bem
valentes) sabem que isto é grave. "O Joel está sem
inspiração? Meu Deus, sinto os alicerces da minha fé a
serem abalados por forças além da minha compreensão!"2
É mau isto acontecer a um rapaz que ainda só tem 26
anos. Contudo, apesar da minha idade, sou um rapaz
prevenido e como tal preveni-me para uma eventualidade
destas. As próximas frases que se seguem poderão chocar
algumas pessoas e vocês também pelas referências óbvias
a sexo e violêncio. Chamo a atenção para esse facto,
colocando as frases em questão em negrito.
2
Adorava que alguém pensasse isto e o dissesse publicamente. Enaltecer-meia o ego.
23
Há quem goste de sexo brutal e violento e de ver
filmes com montes de mortos e sangue e corpos
esventrados e cabeças decepados e sexo com
animais e sangue, muito sangue e há pessoas
ainda mais doentes que acham que "O Crime" é
um bom jornal de café. E agora uma referência
ainda mais óbvia a sexo e violência: sexo e
violência.
Chega de sexo e violência por agora. (Oh… dizem vocês)
Pronto. Só mais um bocadinho.
Sexo e violência.
Sexo e violência.
Sexo e violência.
Sexo e violência.
Sexo e violência.
Sexo e violência.
Agora já chega. Vamos passar a uma fase mais calma.
Para os que me perguntaram "O que fazes agora?", "Onde
é que andas agora?", "O que é que andas a fazer agora?" ou
outras perguntas cujo significado se resume a uma
curiosidade interessada ou interesseira acerca dos meus
actuais afazeres e o local onde esses mesmos afazeres
continuam a ser exercidos. Esta é a oportunidade de
saberem duma vez por todas o que é que eu ando a fazer.
Tráfico de mulheres. Só mulheres, drogas não é comigo.
E não é difícil traficar mulheres. É preciso ter atenção ao
mercado e às estações do ano mas, fora isso, não é difícil.
Brasileiras no Inverno e eslavas no Verão. Não tem nada
que saber.
Um conselho que me deram e que vou partilhar com
quem estiver no ramo ou pensa entrar no ramo: nunca,
mas mesmo nunca, a sério, encomendar mulheres do leste
fora da época quente. Além de não ter quase saída
nenhuma, a mercadoria fica depois no armazém empatada
a ganhar pó.
24
Isto que eu estou a dizer, pode parecer chocante para
alguns de vocês (para os outros admito que possa mesmo
ser), mas é verdade. Eu próprio tenho dificuldades em
acreditar. Mas, não há como o negar. Mulheres do Leste só
vendem no Verão.
Outra actividade à qual eu me tenho dedicado de vez em
quando é o embalsamamento de animais. É chato porque
como não tenho um carro ou uma moto para atropelar os
animais, tenho de utilizar um bastão e agredi-los na cabeça.
Isto pode parecer uma piada de mau gosto, mas garanto
que eles têm uma morte rápida. E os que não têm é apenas
por uma questão de segundos. Além disso, mesmo que
tivesse um carro ou uma moto, como condutor sou uma
porcaria e o mais certo era eles acabarem feitos em merda.
Outra coisa que descobri. Pensavam que vinham cá e
não aprendiam nada? E não são só coisas más. Descobri
que atirar senhoras idosas, as chamada velhinhas, dum
10º andar pode causar algumas complicações no trânsito.
Estamos sempre a aprender, não é verdade? Menos mal;
há pessoal que não aprende nunca. Há gente muito burra
por aí.
25
Sou um dos 40 milhões que comprou e leu ‘O Código Da
Vinci’. Confesso que sou e não tenho vergonha de o
admitir. Porém, gostava também de dizer que me mantive
um pouco a leste de toda a polémica gerada pelo livro. Não
por concordar ou discordar do que foi dito, mas por falta
de atenção ao que se passa à minha volta.
Li o livro na sua versão original, antes de ser traduzido
para português, muito antes ainda da “explosão ideológica”
a que se assistiu. Duas coisas que convém dizer a propósito
da obra: primeiro, é um bom policial (embora tivesse
gostado mais do romance anterior ‘Anjos e Demónios’);
segundo, é uma obra de ficção. E é com esta premissa em
mente que devemos encarar o livro de Dan Brown (como
objecto literário) e não nos deixarmos levar por falsas
suposições.
‘O Código da Vinci’ dá continuidade à personagem
principal utilizado por Brown em ‘Anjos e Demónios’,
Robert Langdon, professor de Simbologia Religiosa na
Universidade de Harvard. A trama começa quando
Langdon é chamado ao Museu do Louvre (em Paris, para
os que não sabem) para examinar um cenário de crime.
Este é o princípio básico duma história que tentou romper
barreiras, alertar consciências. Tentou e falhou. Sim, eu li
o livro e gostei, mas daí ao ponto de o considerar como
verdadeiro vai um GRANDE passo.
Ao longo de mais de quinhentas páginas, Langdon e
Neveau (a ‘Langdon-girl’ de serviço) vão decifrando
enigma após enigma, código após código. O nível de
dificuldade aumenta de enigma em enigma e lentamente
começamos a descortinar a história que se esconde por
detrás de todo aquele secretismo, qual a verdade que a
26
Igreja Católica tem tentado manter oculta ao longo de
quase dois mil anos.
Os que já leram o livro sabem que verdade é esta (os
que não leram, tivessem lido porque tiveram tempo mais
que suficiente): Jesus era filho de Deus e de uma mulher
virgem, percorreu quilómetros e quilómetros a dizer que
devíamos ser bons uns para os outros, a multiplicar pães,
transformar água em vinho, a ressuscitar mortos, curar
cegos e leprosos e a caminhar sobre as águas. Jesus foi um
homem bom, tão bom que os romanos só tinham uma
coisa a fazer: crucificá-lo. Quem pode, pode e assim foi.
Jesus foi crucificado (não sem antes levar umas valentes
chicotadas) e morreu na cruz. Depois (como era filho de
Deus podia-se dar a tais luxos) Jesus ressuscitou e
ascendeu ao Céu onde foi viver para junto do seu pai, que
nos criou à sua imagem e semelhança. (Basta olharmos
uns para os outros para verificarmos isso.)
Volto a dizer: o livro de Dan Brown é um bom policial,
mas cai no absurdo ao tentar fazer passar esta tese como
sendo verdadeira. Monsenhor José Rafael Espírito Santo,
Vigário Geral do Opus Dei em Portugal, diz que a obra de
Dan Brown “não assenta num fundo de realidade”. Apesar
de não partilhar da mesma convicção religiosa, concordo
plenamente com as afirmações do Vigário. Dan Brown
pode ser um bom novelista, mas cai no mais ridículo dos
ridículos ao afirmar que a versão oficial e mais perto da
realidade (no meu ver) defendida pela Igreja Católica – a
de Jesus Cristo ter sido um homem bom, mas humano,
que se apaixonou por uma mulher e teve uma criança
dando origem a uma linhagem que dura há vários séculos
– é falsa.
Brown vai ao extremo, não através de acções ou
afirmações explícitas mas sim, mal dissimuladas de
afirmar que a teoria da evolução das espécies defendida
pela Igreja Católica é absurda e desprovida de qualquer
27
rigor científico.
Pior ainda. A certa altura do livro, uma das personagens
invoca o Génesis. Lembro-me de ter pensado ‘um pouco de
coerência finalmente!’, mas não foi o caso. Contrariando
todas as noções de bom senso, Brown auto-proclama-se
Deus e inventa a sua própria teoria da criação, usando o
Génesis como pano de fundo.
Deus criou Adão e arrancou-lhe uma costela para criar
Eva. Certos indivíduos chamam a isto mutilação e
clonagem, Brown chama-lhe ‘desígnio divino’. É mentira.
Deus é bom e não trata mal os seus filhos. Só que Adão e
Eva, apesar de serem filhos de Deus, eram indisciplinados
e não souberam obedecer às ordens do pai e o pai à
primeira infracção cometida usou da sua benevolência e
expulsou-os de casa. Adão e Eva, irmãos, vieram para a
terra e tiveram dois filhos (chama-se a isto incesto), um
bom e um mau. O mau matou o bom. Adão e Eva não se
ficaram e tiveram mais filhos, rapazes e raparigas. Fizeram
casalinhos e foi cada um para seu lado.
Mesmo que vagamente inspirado na existência da
linhagem defendida pela Igreja Católica, Brown ignora
questões de extrema relevância como doenças congénitas
que podem surgir de vez em quando numa linhagem que
dura desde o início da história da humanidade. Dito de
forma simples, dois mil anos tolera-se, mais que isso é cair
no ridículo.
E parece que fizeram um filme baseado no livro.
Imagino a risota que não será naquela cena em que Robert
Langdon (interpretado por Tom Hanks) diz a Sophie
Neveau (Andrey Tautou) que Jesus Cristo ressuscitou
depois de ser crucificado.
Querem a minha opinião? Dan Brown teria feito melhor
em dedicar-se à pesca. Talvez assim encontrasse alguma
ideia minimamente verosímil.
28
No passado dia 21 deste mês foi organizada uma marcha
contra a fome. O evento ocorreu simultaneamente em 365
cidades de 100 países. Em Lisboa e Porto participaram
sete mil pessoas, com o Alto-Comissário para os
Refugiados, o ex-Primeiro-Ministro de Portugal, António
Guterres, a encabeçar as hostes em Lisboa. Ora, convém
deixar aqui bem claro o seguinte: uma marcha contra a
fome é uma medida estúpida.
Admito a vossa relutância (ou ignorância) em não
aceitarem esta minha opinião mas, se acompanharem o
meu raciocínio, decerto mudarão de ideia.
Ora vejam:
- Num lado, há um grupo de pessoas que não tem nada
para comer;
- Do outro, há um grupo de pessoas que em vez de
oferecer comida aos primeiros, resolve ir dar um passeio.
(Como se isso fosse encher o estômago dos outros.)
E agora a parte realmente estúpida.
A marcha cansa. Chegados ao fim da marcha, o que é
que os participantes fazem? Comem. Mas não comem um
“lanchinho”. Não, como estão cansados, comem um lanche,
melhor, um “lanche reforçado”. Ou seja, não só não
enviam como ainda consomem mais comida do que se
tivessem ficado em casa a ver a marcha na televisão e a
pensar “Se eu pudesse até tinha ido”.
“O objectivo da marcha é angariar fundos para ajudar os
mais carenciados”, alguém disse. Provavelmente. Não ouvi
ninguém dizer isto, para dizer a verdade; mas este é
29
daquele tipo de frases que se dizem sempre nestas
situações. E angariar fundos é fácil. Principalmente nestas
circunstâncias. Imaginem. Milhares, vá lá, centenas de
pessoas chegam junto dum inocente transeunte e pedemlhe trocos para matar a fome aos pobrezinhos. Acredito
que muitas pessoas lhes dêem dinheiro por genuína
solidariedade, mas a maioria só o faz porque tem medo de
levar porrada se disser “não” àquela gente toda. Não que
tal vá acontecer, mas nunca é demais prevenir.
Em Lisboa e Porto reuniram 70 mil euros. A dividir por
7000 dá 10 euros a cada um. E agora uma questão sobre a
aplicação directa dessa verba: onde é que eles gastam o
dinheiro? São milhares de pessoas a andar, pessoas que se
cansam e ficam com fome; milhares de pessoas que
quando aquilo acabar vão comer qualquer coisa e só
depois é que voltam para casa. Com que dinheiro é que
vocês pensam que eles vão pagar o lanche?
Não se iludam, meus caros. É possível que algum do
dinheiro recolhido seja utilizado num propósito legítimo,
mas não me tentem convencer que TODO o dinheiro
recolhido é para esse fim. Não me tentem convencer que
alguém faz o que quer que seja a troco de nada.
Sabem quem ganha mais com isto? São os cafés e os
restaurantes por este mundo que tiveram que servir
lanches, almoços e jantares a esta gente toda. Sim, porque
enquanto cá lanchávamos, noutros países comia-se pernil
de porco com batata assada, noutros comia-se galinha
picante e noutros ainda pensava-se como seria bom ter
qualquer coisa para comer.
***
O Campo Pequeno reabriu e, como não podia deixar de
ser, o espaço foi reinaugurado com uma tourada – ou
como eles dizem, uma “corrida TV”.
30
Um pequeno aparte acerca das tradições. Eis a minha
opinião sobre as tradições: respeitá-las desde que
enquadradas devidamente na realidade que se vive. A
tourada, para mim, é um exemplo duma tradição que teve
o seu tempo, mas devia arrumar as botas, pendurar os
trapinhos e seguir viagem.
Não obstante a minha opinião sobre o assunto, dizem
que foi um espectáculo bonito de se ver. Eu não vi, por isso
não comento. A única coisa que vi – e posso comentar –
foram os comentários de vários participantes e do público
em geral. Um senhor toureiro disse que todos – e friso
“todos” – estavam com saudades duma boa tourada. Sinto
que ficou a faltar um comentário da parte do touro.
Podíamos ter ouvido um comentário do género “Ai que
saudades dumas boas farpas no lombo.”
Volto a dizer, a tourada é uma tradição obsoleta, mas se
não querem acabar com ela, sejam coerentes e tragam de
volta outras tradições entretanto extintas e que são tão ou
mais interessantes:
- Sacrificar raparigas virgens a vulcões (ou a buracos de
obras mal tapados);
- Queimar pessoas na fogueira por dizerem coisas que
não se deve dizer (como “É feio queimar pessoas na
fogueira”);
- Escravizar aqueles com menos posses a troco duma
falsa liberdade, deveres aos quais não consegue fugir e
direitos restringidos que implicam cedências de vária
ordem
Se é para sermos antiquados, que o sejamos como deve
ser.
***
Li uma entrevista com a poetisa Rosa Lobato (de) Faria
há dois dias atrás. Não querendo pôr em causa a obra
31
literária da senhora quero chamar a atenção para o teor
mais bizarro de certas perguntas e consequentes respostas.
Pergunta o jornalista (não dizia se é homem ou mulher,
por isso generalizo):
“O que é indispensável na sua casa?”
Responde a poetisa, “O silêncio e a vista.”
É por isso que eu nunca me considerei poeta. Consigo
pensar em coisas mais essenciais numa casa além do
silêncio e da vista; sejam elas: paredes, tecto, canalização,
electricidade e outras coisas que para mim são
importantes.
“O que ouve em casa?”
E a resposta, “Música clássica. Quando escrevo gosto de
músicas que não sugiram imagens.”
Se calhar nunca ouviu falar dum senhor Ludwig van
Beethoven. E se ele estivesse vivo hoje em dia, aposto que
ele também não ouviria falar dela. Quid pro quo, minha
cara.
A fechar, “E o que está a mais em Lisboa?”
“Os carros do lixo à noite! Fazem um barulho
ensurdecedor.”
Para quem preza o silêncio, concordo que os carros do
lixo à noite “fazem um barulho ensurdecedor”. Concordo
também que quem dá preferência à vista em prol de
saneamento básico não se deve sentir muito incomodado
se os sacos de lixo na rua começarem a amontoar-se até
chegar a um terceiro andar.
Sim, Rosa Lobato (de) Faria é uma escritora
conceituada, reconhecida e admirada, mas cometeu um
deslize. Ou talvez não. Talvez seja eu que só veja o lado
negativo das coisas e confundi sensibilidade poética com
falta de bom senso. Se calhar fui eu.
***
32
Em 2050 vai acabar o problema do buraco do ozono na
atmosfera. Não, não vamos ficar sem atmosfera. O que vai
acontecer, segundo dizem, é que o buraco vai se fechar.
Dizem que é por causa da diminuição da emissão de gases
para a atmosfera.
Seja verdade ou não, precisamos de avisar os Estados
Unidos que já não é preciso eles respeitarem o protocolo
de Kyoto. Digam-lhes, coitadinhos, que já podem poluir o
planeta à vontade.
***
Na Universidade de St. Andrews na Escócia, um grupo
de cientistas descobriu que os macacos conseguem juntar
vários sons e articular frases simples. É mais uma
característica que aproxima estes primatas de nós
humanos. E eu pergunto: onde é que querem chegar com
isto?
Todas as semanas surgem notícias de algo que os
macacos fazem e que os humanos também fazem (ou ao
contrário?) Será que o objectivo é convencer as pessoas
que é praticamente a mesma coisa? Só vejo uma razão:
“A senhora foi apanhada a ter relações sexuais
com um primata.”
“Ele disse que gostava de mim.”
“Isso dizem sempre. A senhora não sabe que
humanos e primatas não são compatíveis?”
“É só uma diferença de dois por cento nos genes, senhor
Juiz.”
33
Fico farto de tentarem adivinhar o que eu penso sobre isto
ou sobre aquilo. Para acabar com males entendidos aqui
fica uma lista do que eu acho supérfluo:
1. Joggers (acho suspeito pessoas correrem pela rua
sem motivo aparente; cá pra mim fizeram alguma)
2. Colheres em pacote (a ideia é evitar a propagação dos
germes; se assim é, porque não chávenas em pacote?)
3. Um dentista que diz “Isto não dói nada.”
4. Um barbeiro com doença de Parkinson
5. Um contabilista com doença de Alzheimer
6. Uma massagista tailandesa com buço
7. Um pivot televisivo com Síndroma de Tourette
8. Um empregado de balcão com manchas de óleo na
roupa
9. Cafés onde não se pode entrar com comida de fora
(isto é o mesmo que entrarmos numa loja de roupa e
dizerem-nos que não podemos entrar com roupa de
fora)
10. Livros sobre como tratar de plantas de plástico
11. Tamagochis
12. Políticos que pedem aos contribuintes mais trabalho
e mais impostos e depois baldam-se ao serviço para
34
irem para almoços no estrangeiro com os amigos e
põem a despesa total na conta do Estado
13. Mulheres que se maquilham excessivamente e dizem
que “o interior é que conta”
14. Produtores de cinema portugueses residentes em
França que recebem balúrdios do Estado português
para fazer filmes de merda que ninguém vai ver e
depois vêm à televisão do Estado português dizer que
o Estado português não lhes dá apoios nenhuns
15. Pessoas que são donas de agências funerárias e de
talhos
16. Pessoas que são donas de restaurantes chineses e de
lojas de animais
17. Pitas que se julgam adultas e capazes de mudar o
mundo após tomarem a sua primeira cerveja às oito
da manhã e vomitarem na casa de banho do café
18. Pessoas que fingem ignorância para falar como
entendidos daquilo que não percebem.
19. Artistas que não sabem explicar as suas obras
20. Candidatos a Procurador-Geral da Republica que são
advogados pessoais do Primeiro-Ministro
21. Planos de retaliação a ataques terroristas não
aprovados por falta de estudo sobre o impacto
ambiental
22. Estilistas que fazem campanha a favor das espécies
protegidas usando casacos de peles de espécies
desprotegidas
23. Militantes da extrema-direita que se dizem tolerantes
e não xenófobos
24. Cineastas portugueses que fazem filmes só para o seu
umbigo à custa do dinheiro dos contribuintes e
perante reacções negativas dizem: “Eu quero é que o
público português se foda!”
25. Críticos que admiram a qualidade do cinema
português e atribuem as salas vazias à falta de cultura
35
dos portugueses que não sabem o que é “arte”
26. Políticos que mudam de ideologia como quem muda
de gravata.
(Foi a minha homenagem ao comediante George Carlin,
que ainda não morreu mas eu acho que se devem
homenagear as pessoas também quando estão vivas e não
só depois de mortas)
(Infelizmente na data em que isto foi editado ele já se
foi.)
36
Em nome da diversidade e da variedade (que são a mesma
coisa ou, pelo menos, coisas parecidas, mas assim a frase
fica maior (isto já sem contar com o que está escrito entre
parêntesis)) resolvi ampliar os meus horizontes temáticos.
Dirão vocês “mas ó Joel, tu que já escreveste sobre
touradas, marchas contra a fome, ‘O Código da Vinci’, a
rivalidade boavisteira entre Ciências da Comunicação e
Arquitectura, tu que nos revelaste os teus hobbies e outros
afazeres, que nos fizeste reflectir sobre o porquê dos D’Zert
no Rock in Rio, que partilhaste connosco os teus
pensamentos e ideias, que até nos brindastes com
conteúdos de elevado teor sexual e violento, diz-nos: que
mais tens para nos oferecer?”
Desporto.
É verdade. A partir de agora também vou falar de
desporto. Não sempre, claro. Mas assim de vez em quando,
quando não houver mais ideias lá vai um artigo de
desporto. Até porque não é preciso muito para saber
escrever sobre desporto. Duas coisas que são essenciais:
uma fotografia (de preferência colorida) e um título
sonante; para o resto chega a especulação.
Dou um exemplo: o título qualquer coisa como
“Rabetinho nos planos de Ignacio Mendez”, depois
a foto do jogador (às vezes os jornais fazem umas
malandrices num daqueles programas de edição de
imagem como colocar o jogador em questão vestido com o
equipamento do Clube que está supostamente interessado
nele) e o texto basta dizer que “uma fonte oficial terá dito
37
que…” ou “apesar de ainda não confirmada, a informação
também não foi desmentida” e por aí em diante.
Quando já há certezas, aí vêm as declarações do jogador:
“venho marcar muitos golos”, “quero ajudar o grupo de
trabalho a atingir os objectivos traçados”, “almejo
concretizar propósitos que enobreçam esta invicta
instituição. Pronto, o último comentário, vá lá, os dois
últimos comentários, foram inventados. Mas se os
jogadores de futebol já falam na terceira pessoa, não há-de
faltar muito para começarem a falar bem.
Eu vejo o desporto como uma actividade física. Uma
simples actividade física. Nada que mereça dinheiro,
portanto. Ou, tudo bem que receba algum dinheiro, mas
desde que voluntariamente. Eu não me importo de pagar
cotas a um Clube ou Colectividade onde esteja inscrito – é
o meu dinheiro, eu decido o que fazer com ele – já ver o
dinheiro dos impostos gasto em estádios de futebol que
são usados uma vez e depois passam a ser usados como
campo de treinos para equipas distritais, aí a coisa muda
de figura.
Dizem que desporto é saúde, mas eu não percebo a
prioridade entre construir um estádio e construir ou
remodelar um hospital.
Outra coisa que eu não compreendo no mundo do
desporto: as transferências. Porquê tanto alarido sempre
que um atleta muda de um clube para outro? É apenas
uma transferência! O desporto é o único mundo onde
mudar de local constitui notícia. Um amigo meu é PSP.
Trabalhava na Amadora, foi transferido para a Caparica.
Houve alguma conferência de imprensa? Não. E era
importante que tivesse havido. Porque ficaríamos a
conhecer quais são as suas ambições numa nova esquadra.
Se quer lutar pela vitória do campeonato ou apenas pela
manutenção na I Liga.
E assim termina o meu primeiro artigo sobre desporto.
38
Notem como usei da especulação e dum discurso vago e
pouco elucidativo (para não dizer duvidoso) para criar a
ilusão vaga de que sabia do que estava a falar. Resultou?
Como diria o sábio, “Prognósticos, só no fim do jogo”.
39
Na passada terça-feira, dia 6 de Junho, um pouco por toda
a parte comemorou-se a capicua mais aguardada dos
últimos dez anos: o dia da besta. Alguns de vocês acredito
que tenham dedicado este dia a amaldiçoar vizinhos,
patrões, professores ou qualquer outra figura autoritária
de resto respeitada (ou tolerada) nos restantes dias do ano;
outros, menos mentalmente sãos, acenderam velas,
sacrificaram galinhas e fizeram rezas demoníacas para
receber o Anticristo
Lembro-me bem como foi há dez anos atrás. Toda a
gente em tumulto. Uns pais a rezarem para que os seus
filhos não nascessem naquele dia fatídico; outros a
fazerem figas justamente para que os seus rebentos fossem
seleccionados pelo Senhor das Trevas.
É no espírito de agradar a todos esses de capacidades
mentais mais reduzidas que decidi escrever este artigo.
Para isso e também para vos mostrar duas curiosidades
sobre o número 666. Ambas exigem uma percentagem de
atenção superior a 20%. (Monárquicos, novos democratas
e malta assim mais popular, atenção à DICA3)
A primeira curiosidade requer a consulta dos jornais
Diário de Notícias e Jornal de Notícias do tal dia 6
do 6 do 6. Ambos pertencem ao mesmo grupo editorial, e o
facto de ser Joaquim Oliveira o proprietário desse grupo já
é caso para pensarmos que algo não está bem. Se
juntarmos a isso o facto do 24 Horas fazer parte do
mesmo rol, aí a coisa atinge níveis extremos. Mas
deixemos o sensacionalismo de lado.
3
Falo do jornal distribuído gratuitamente pelo LIDL. Longe de mim querer
ofender pessoas que tanto fizeram pelo país durante o Estado Novo.
40
Ora bem, o exercício que vos proponho é o seguinte:
peguem no Jornal de Notícias desse dia e contem todas
as notícias com o algarismo 6 no título (sem contar com a
capa) até somarem 666. Se fizerem bem a sequência
registada será: 60; 3,6 e 60. Esta última parcela surge
numa notícia de fundo de página sobre o Ministério da
Educação.
Agora
cliquem
no
link
http://dn.sapo.pt/2006/06/06/cartoons/bandeira
.jpg e vejam o cartoon publicado pelo Diário de
Notícias nesse dia.
Os chamados adoradores de Satã não são propriamente
pessoas instruídas. Muitos aderem a semelhantes práticas
por moda, influência ou simples estupidez. Há, porém,
alguns mais informados que sabem como é que o número
666 se verifica nos tempos modernos. O número vem na
Bíblia, isso é dado garantido, mas como é que se passa da
Bíblia para a realidade? A resposta é: através do cálculo
numerológico.
Mas, antes disso, uma dúvida pertinente. Será o 666
uma espécie de equivalente ao indicativo fictício 555?
Sinto-me à vontade de lançar semelhantes questões a
partir do momento em que um ex-jornalista dos (extintos)
jornais 24 Horas e Tal e Qual (que não irei revelar como
sendo Frederico Duarte Carvalho) publica um livro (A
Mensagem Brown) em que afirma que há um código
secreto (mais um) n’ O Código da Vinci que revela que o
Santo Graal está escondido em Portugal. Um pormenor
que até tem a sua relevância: o jornalista em questão
descobriu isto tudo porque, aparentemente, quem traduziu
a obra de Dan Brown trocou ‘Oceano Atlântico’ por ‘Mar
Mediterrâneo’. Vá lá não ter trocado ‘Mar Mediterrâneo’
por ‘Mar Adriático’ ou ‘Mar de Bering’. Imaginem lá por
onde é que os Templários não terão andado. O Santo Graal
está num igloo. A seu tempo farei uma análise mais
aprofundada a esta matéria.
41
Por ora, regressemos à numerologia e ao dia 6 do 6 do 6.
1
A
J
S
2
B
K
T
3
C
L
U
4
D
M
V
5
E
N
W
6
F
O
X
7
G
P
Y
8
H
Q
Z
9
I
R
Eis como a coisa funciona. Pegam-se em nomes de
pessoas, de locais, datas, etc. e depois usa-se uma fórmula
super ultra secreta (que eu não vou revelar porque não me
apetece). Cada letra é trocada pelo número
correspondente e depois soma-se tudo até ficarmos apenas
com um algarismo. Na madrugada do dia 6 começou um
incêndio em Viana do Castelo que foi circunscrito
passadas poucas horas. Arderam seis hectares.
Agora vem a parte gira:
V+I+A+N+A+D+O+C+A+S+T+E+L+O
4+9+1+5+1+4+6+3+1+1+2+5+3+6 = 51
5+1 = 6
Ou seja
Local: 6
Data: 6
Área ardida: 6
Por agora estarão a pensar ‘Mas ó Joel tu que até
aparentavas ser um rapaz nada dado a essas coisas que foi
que te aconteceu para estares a perder tempo com isso?’ A
minha resposta é óbvia:
42
43
Tenho recebido imensas queixas de leitores descontentes
com o facto de há mais de duas de semanas não publicar
nada neste blogue. É um problema de actualização e a
culpa é vossa. Se não me disserem nada, eu penso que não
vale a pena gastar tempo com isto. Eu sei que isso
contradiz a primeira frase, mas como vocês não estão a ler,
paciência. A minha ideia é simples: se querem um blogue
actualizado, ACTUALIZEM-NO VOCÊS! (ou façam o vosso
próprio blogue; é fácil)
A verdade é que estas foram duas semanas um tanto
quanto conturbadas. Felizmente, não necessariamente por
motivos maus. Ou seja, embora tivesse matéria de sobra
para analisar, a minha mente não se conseguia decidir
sobre como tratá-los.
Deixemos isso de parte e falemos do grande assunto que
fez os portugueses saírem para as ruas no dia 1 deste mês
de Julho: o aumento da taxa da Euribor.
Contas feitas, este indexante passou de uma média de
2,60% em Dezembro para 3,15% em Junho, o que significa
uma subida de 21%. Em suma, quem quer comprar
casinha, tá bem lixadinho.
E isto é ainda mais complicado quando o desemprego
não pára de aumentar e a idade da reforma é esticada um
pouquito todos os dias porque alguém que trabalha menos
de 10 anos toda a vida e depois tem direito a uma reforma
vitalícia acha que quem trabalha 40 anos para depois ter
direito a uma reforma também vitalícia anda a brincar e
pode trabalhar mais uns anitos porque ainda tem corpo
44
para isso. Ambos recebem uma reforma vitalícia. A
diferença é que o primeiro reforma-se antes dos cinquenta
e o segundo reforma-se pouco antes dos setenta. É natural
que o primeiro receba mais dinheiro, uma vez que a sua
esperança de vida é muito maior.
A vida não está fácil para nós portugueses. Não que
esteja fácil para todos os outros. Há quem esteja pior que
nós, há quem esteja melhor. Mas nem todos podem dizer:
passámos às Meias-Finais do Campeonato Mundial de
Futebol!
Sim! As ruas fervilham de alegria e espírito positivo!
Uma mãe com uma criança ao colo, ambos não comem
há dois dias, mas sorriem porque Portugal ganhou o jogo.
O senhor Menezes, 63 anos, sofre duma condição física
que lhe dificulta o desempenho de funções no seu local de
trabalho. Infelizmente para o senhor Menezes, caso este se
decida reformar antes do tempo, terá de escolher entre
gastar dinheiro em comida ou em medicamentos. Por
outro lado, segundo o que o seu médico lhe diz, mais uns
anos de trabalho e o senhor Menezes só terá de se
preocupar em ter um fato pronto para usar no dia do seu
funeral.
Um estudante recém-licenciado, procura trabalho na
sua área. Não estando filiado a nenhum movimento ou
organização partidária, decide inscrever-se no Centro de
Desemprego como tendo apenas o 12º. As hipóteses de
arranjar trabalho aumentam exponencialmente. Na sala de
espera do Centro de Desemprego, estão mais cinquenta
pessoas que acreditam que uma vitória de Portugal no
Mundial de Futebol vai melhorar a sua vida
exponencialmente. Muitos estão desempregados desde o
final do Euro 2004.
Tentem ver isto de forma objectiva. Não comecem a
pensar já: traidor da Pátria, etc. Pensem como isto era há
dez anos. Lembrem-se como nos costumávamos referir
45
àqueles que ostentavam a bandeira portuguesa em tudo
quanto era sítio. Nacionalista era o termo mais simpático,
outros eram considerados fascistas ou pior que isso. Hoje
em dia quem não tem a bandeira à vista é que está fora do
sistema.
As coisas mudam, não há dúvida, mas eu preferiria que
OUTRAS coisas tivessem mudado. Nomeadamente, o bom
senso dos portugueses que são estúpidos e estão na merda
e convencem-se que o facto de Portugal ganhar um jogo ou
mesmo o Campeonato Mundial de Futebol vai-lhes trazer
a certeza duma vida melhor. Meus caros, abram os olhos:
nem uma esperança vão receber, quanto mais uma certeza.
Não gosto de futebol. Não gosto. Admito que preferiria
não ter Portugal no Mundial. Talvez assim, os noticiários
não fossem algo assim:
“Continuamos em directo de Marienfeld onde a
qualquer momento esperamos ouvir as declarações de
Ricardo que se encontra neste momento no WC. Recordo
que Ricardo hoje comeu caril ao almoço. (…) E parece que
a porta vai-se abrir. E sim! Cá está ele! Ricardo! Ricardo!
Como se sente?”
“O Ricardo precisa de mais papel higiénico. Tem aí?”
Faz-se uma reportagem para cada jogador, outra sobre
o próximo jogo, outra sobre o último jogo, outra sobre o
treino da manhã, outra sobre os adeptos em Portugal,
outra sobre os adeptos na Alemanha, outra sobre os
adeptos noutros países (e, quem sabe, no futuro, uma
reportagem sobre os adeptos noutros planetas). No meio,
assim como quem não quer a coisa, diz-se que mais dez
fábricas encerraram, os Estados Unidos ameaçam
bombardear o Gana por suspeitarem que existem lá armas
de destruição maciça e o Emplastro está prestes a lançar
uma linha de produtos de beleza.
Nós estamos na merda e ninguém nota. Ninguém quer
saber. O futebol estupidifica-nos e, no entanto, tem em si a
46
capacidade de nos tornar mais inteligentes. Portugal tem
dos resultados mais baixos em exames de Matemática.
Não atinamos com aquilo. A culpa é dos professores, é dos
alunos, é dos programas, é das escolas; a culpa é de tudo e
de todos, mas nunca é de ninguém. E aqui entra o futebol.
Pensem num problema qualquer com um merceeiro, dois
quilos de maçãs, três quilos de batatas e um troco de 1,27
cêntimos, metam pra lá uma equação, peçam para calcular
as probabilidades das maçãs serem vermelhas, para
elaborar um gráfico circular e vejam quantos alunos
acertam. Coloquem o mesmo problema usando o futebol
como base e vão ver a diferença. Não é segredo nenhum.
Pitágoras, o matemático grego, se fosse vivo e residente em
Portugal, seria um tipo muito frustrado.
Ganhámos
à
Inglaterra.
Ficámos
contentes,
continuámos na merda.
O presidente da Câmara Municipal de Viseu, também
presidente da Associação Nacional de Municípios
Portugueses disse que o melhor método para lidar com os
fiscais ultra-zelosos do Governo é “corrê-los à pedrada”.
São declarações assumidas como lúcidas, uma “expressão”
como disse o próprio no dia seguinte, e que eu tomo como
minhas. Mas o meu alvo de eleição seria o Zé Povinho
otário que janta uma vez por semana, vive numa barraca
sem luz e água com a mulher e oito filhos, mas poupou
dinheiro durante um mês para comprar um cachecol da
Selecção.
E viva Protugal!
47
Numa perspectiva de entretenimento, educação e serviço
público (três características que a RTP raramente
consegue incluir num mesmo programa) vou falar dum
tema que tem estado na ordem do dia: a ocupação do sul
do Líbano pelas tropas israelitas.
Poderá parecer à primeira vista que o tema proposto
não entretém, não educa e não serve o público; poderá
também parecer que, num blogue deste género, a minha
abordagem será satírica, porventura a roçar o campo do
desagradável.
Quanto à segunda parte da oração anterior, assegurovos que serei o mais imparcial possível. Nada contra ou a
favor de Israel, do Hezbollah, dos libaneses ou de
quaisquer outros envolvidos neste caso. Convém dizer isto
para que fique clara a minha imparcialidade. Posso dizer o
que me vier à cabeça sem parecer tendencioso.
Resta então a parte do entretenimento, da educação e
do serviço público.
A guerra não entretém? Se a guerra não entretém
porque é que usam nomes como “teatro de guerra” ou
“cenário de guerra” ou outros, todos eles alusivos ao
mundo do... entretenimento.
A guerra não educa? Se Israel não tivesse invadido o
Líbano, quem é que sequer ouviria falar do Líbano? As
únicas vezes que se ouve falar do Líbano é naqueles
concursos tipo “Herança” ou o “Um contra todos” (peço
desculpas por só dar exemplos de concursos emitidos pela
RTP, mas a verdade é que os outros canais públicos não
emitem concursos interessantes); fora isso não há nada.
Agora o Líbano está no centro da acção. E aqui entra uma
questão subtil que é: o estado israelita é apoiado pelos
48
Estados Unidos, que por sua vez encetaram uma luta
contra o terrorismo (vulgo Islão). Acontece que os Estados
Unidos não vão enviar nenhum contingente para o Líbano.
Conclui-se facilmente que o Líbano não tem petróleo. Se
não fosse a guerra quem é que sabia disto?
Resta o serviço público. Que, lamento dizer, não está a
ser cumprido. Isto porque não temos ainda nenhuma
conta da Caixa Geral de Depósitos para ajudar os
refugiados libaneses. Ainda não houve manifestações
públicas de figuras do jet-set que se dizem “ultrajadas pelo
que está a acontecer àquela pobre gente” lá no Iraque,
perdão, Libéria. Líbano. E pior que isso. Dos jornalistas
enviados para o Líbano nenhum deles (julgo eu) esteve
presente na Alemanha durante o Mundial de Futebol. Se a
intenção é servir o público, a minha sugestão seria enviar
para lá todos esses jornalistas (incluindo aquele que levou
com um saco de mijo 4 em cima há uns anos atrás) e
esperar que levassem todos com um míssil em cima
enquanto fazem comentários como:
“Estamos aqui em directo da capital do Líbano, onde a
qualquer momento esperamos obter mais informações
sobre o que se irá passar nos próximos momentos. Oiço
algo a aproximar-se. Acho que é um –”
BUM!!!!
Isso sim, seria serviço público.
4
Sim, eu escrevi “mijo” em vez de “urina”.
49
Agora cada português tem a sua caixa de correio
electrónico. Depois de cada português ter o seu telemóvel
(e na perspectiva do choque tecnológico) este era o passo
natural a ser tomado pelos responsáveis que governam o
nosso país. De futuro – quem sabe? – talvez vejamos cada
família portuguesa a viver numa casa sem buracos no tecto,
com paredes, com água, luz e gás. Talvez. Mas é melhor
vermos pastores a fazer anúncios para a Netcabo.
Já não sou o primeiro a dizê-lo, mas não custa repetir
para ver se entra nas vossas cabecinhas: quem dorme na
rua numa caixa de papelão precisa da merda duma caixa
de correio electrónico para quê? Ele não tem computador!
E mesmo que tivesse, ia visitar o quê? http://www.semabrigos.pt/? Eu passo horas na Internet. Nunca encontrei
fóruns ou salas de chats para os sem-abrigo. Quantas vezes
foram a um Espaço Internet e viram um sem-abrigo a falar
no Messenger ou a fazer uma busca no Google a “tipos de
caixas de papelão” ou “sítios bons para dormir na rua”?
Não se vê.
Outra coisa que também quero falar: a publicação das
listas de devedores ao fisco. Acho suspeito – para usar um
eufemismo – terem passado de 4000 para 290. Dizem que
certas situações foram regularizadas. Pensem comigo um
pouco. Mas só os que conseguirem. Acredito em algumas,
mas não em todas. 3110 contribuintes resolveram pôr as
contas em dia porque o Governo lhes disse “Se não pagas,
vou dizer a todos que és feio?” Não creio.
E vejam lá se descobrem nessas listas um daqueles
nomes, mesmo que remotamente, ligados a grandes
grupos económicos ou a figuras do jet-set. Eu não vi nada.
E duvido que alguém veja. Lembrem-se do seguinte: há
50
uns meses foi o notícia o facto do fisco ter deixado
prescrever uma dívida de 512 mil euros (mais coisa, menos
coisa) do presidente da Vodafone Portugal. Ao que parece
“esqueceram-se”. Agora “corrigiram” um erro.
Mas tudo bem. Todos nós temos uma caixa de correio
electrónico e os que não são analfabetos podem enviar as
suas queixas para a conta do Primeira-Ministro (e esperar
que ele não tenha o filtro anti-spam ligado). Todos nós
esperamos manter ou encontrar trabalho. Esperamos
equilíbrio e alguma segurança futura. Mas a balança
internacional oscila. É o aumento dos combustíveis, é o
aumento disto, é o aumento daquilo; é a crise daqui, é a
crise de acolá. Fábricas encerram e deslocam-se para
países onde a mão-de-obra é mais barata. É a lei natural
das coisas. Como portugueses, resignamo-nos indignados.
“A minha vontade era ir lá pra eles verem como é que é!”
Só que nunca vamos. A vontade não passa disso mesmo.
“É melhor não. Parece mal.”
Para reflexão, deixo-vos com o seguinte: houve uma
concentração de Ferraris cá em Portugal. O objectivo do
organizador era reunir no mesmo local o maior número de
Ferraris possível. Tanto quanto sei, qualquer pessoa podia
ir, desde que tivesse Ferrari próprio (alugados ou a leasing
não dava).
O que é curioso nisto é que muitos dos presentes eram
na sua maioria empresários da indústria têxtil. Não duvido
que desses vários tivessem encerrado fábricas por
“questões de ordem económica”. Engraçado.
Calma! Não se ponham já com ideias! Parecendo que
não, o Ferrari é um carro dispendioso e um homem tem
todo o direito (para não dizer dever) de tomar opções.
Quem gasta dinheiro num Ferrari topo de gama (incluindo
combustível e manutenção) se calhar não pode continuar
com a fábrica de atacadores aberta. 300 Euros para trinta
trabalhadores que trabalham 12 horas durante toda a
51
semana todos os meses é muito.
Carro ou fábrica? O que é que faz mais falta?
O empresário só com fábrica não pode ir de carro às
compras, ao passo que o empresário só com carro não
precisa de levar a fábrica atrás para ir onde quiser.
É tudo uma questão de prioridades. Enviem-me um
mail e depois conversamos.
52
PRIMEIRA PARTE
A notícia saiu na semana passada num diário bem
conhecido do povo português e falava da aquisição de
material técnico ao exército israelita por parte da Polícia
Judiciária para proceder à vigia de sites e salas de
conversação (Messenger, Skype, mIRC, etc.).
Ao ler esta notícia não pude ficar indiferente e, como
bom cidadão que sou, a primeira coisa que fiz quando
cheguei a casa nesse dia foi ligar-me ao Messenger e
mudar a minha mensagem pessoal para Mensagem
especial para qualquer agente da autoridade que possa
estar a ler isto: NÃO TÊM NADA MAIS INTERESSANTE
PARA FAZER, NÃO?
Mas isto, meus caros, não é nada. Vou explicar-vos uma
coisa. A PJ não começou a vigiar as nossas conversas
electrónicas agora, já vigia há mais tempo; só que agora
tem material mais sofisticado ao seu dispor. Do pouco que
sei – e é mesmo pouco – existem programas que disparam
alarmes sempre que são localizados certos termos
registados numa lista especial. Às vezes as escutas são
feitas por motivos profissionais, outras vezes por motivos
de recreio. Não quero julgar aqui ninguém. Sei bem o que
é ter um trabalho secante para fazer e compreendo a acção
do agente de escuta que se serve do Programa de Controlo
da Palheta Online (PCPO) como se este fosse um
sintonizador de rádio.
Quando há combinações de compra de droga utiliza-se
53
o termo “CD”. Isto foi-me dito, não sei se é verdade ou
mentira. Uma coisa é certa. O termo “CD” pode ser mesmo
CD. Se algum dia decidirem aceder a salas de conversação
mais obscuras descobrirão que “CD” é também abreviatura
de “cross-dresser” (travesti em português). A minha
pergunta é lógica e legítima: do que é que eles andam
realmente à procura?
Mais algumas advertências sobre essas salas, caso
algum dia decidam ir lá:
1 – Sempre que um username esteja entre chavetas { }
é porque já tem dono (quem curte de cenas sado-maso
sabe do que eu estou a falar melhor do que vocês ou
mesmo eu)
2 – Nomes altamente sugestivos geralmente
pertencem a pessoas do sexo oposto ao que é
apresentado. Ex: NymphoBlonde é geralmente usado
por um careca de óculos (com todo o respeito que os
carecas de óculos merecem)
3 – Raparigas de 19 anos são gordas, baixas e têm 60
anos.
4 – Os homens têm todos pénis descomunais
(mesmo aqueles que fazem companhia com o Farinelli).
Compreendo a necessidade duma segurança apertada.
Numa altura em que a ameaça terrorista ameaça pairar
sobre o nosso país não é tempo para brincadeiras. É
preciso prevenir.
É claro que não há bela sem senão. Neste caso, o reverso
da moeda são aquelas pessoas que se preocupam muito
com a sua privacidade electrónica mas que, ao mesmo
tempo, contam tudo pessoalmente na condição de que a
outra pessoa não conte nada a ninguém. Se são muitas ou
poucas não interessa, interessa é que nos arriscamos a vêlas desistirem de utilizar a Internet e o telefone e o
telemóvel e isso não augura nada de bom para as intenções
54
do Governo de promover o choque tecnológico.
SEGUNDA PARTE
Uma semana depois de ter lido a notícia referida no
início do artigo, li uma outra notícia sobre o perigo de
violação das telecomunicações das forças de segurança
pública por parte de radioamadores ou mesmo de
criminosos.
O que temos aqui é um caso típico de vigias a serem
vigiados. Nada de grave. Estamos em Portugal. Vigiar
conversas privadas de altos funcionários do Estado não vai
revelar nada que não tenha sido já revelado “por fonte
anónimo do gabinete do adjunto do assessor do Ministério”
no dia anterior num tablóide de grande tiragem.
Peço desculpas pelo tipo de vocabulário utilizado, mas
temo que esta mensagem possa estar a ser lida por
terceiros. Daí a minha preocupação em escrever este texto
de forma aparentemente simples, ao mesmo tempo que
recorro a técnicas criptográficas do mais avançado que há.
É claro que há um lado bom em termos as nossas forças
de segurança vigiadas por criminosos. Primeiro, os
criminosos conseguem saber de antemão os movimentos
dos agentes da autoridade e agir em conformidade.
Segundo, à medida que as forças de segurança pública
aumentam o seu nível tecnológico, os criminosos vêem-se
obrigados a fazer o mesmo.
Duma perspectiva tecnicista, essas disputas de
equipamento só são boas para o choque tecnológico. O
nosso país precisa duma guerra dessas. E se por acaso
calharem a apanhar um ministro ou uma figura política de
alta importância a tecer comentários jocosos sobre o site
da Ana Malhoa, por favor, sejam amigos e partilhem isso
connosco. Temos saudades duma boa escuta.
55
Após meses e meses de artigos sobre temas tão
diversificados como a cultura do azoto e a esferovite como
solução para as infiltrações de humidade decidi retornar
ao campo temático que tornou este blogue um dos mais
visitados de todos os tempos: o estragão.
É verdade. Num blogue dedicado ao estragão nada mais
coerente que falar do estr— Ó merda! Já fiz asneira. E
agora como é que se apaga isto? Será aqui? Aorgo
rtgjregjrg fnb bnifth itnbi iunu itibunxti ubxtu ibnxiu
bniuxt nbu xnbi uftx biuxnbi un nefgnziu gtbxtig znbnu
ifnbin ibni tynhiu xnbiu nxftihn xiu hnxiub nxnxobni on
hxo itnbxiubni xuntiux ntiun xiunj+j+d j0w9 duj 035uw
a8u<80f>
Voltei à Boavista. Fui numa visita oficiosa e revi umas
pessoas e estive com outras. Apesar de não parecer, gostei
de lá ir, gostei de lá ter estado.
NOTA: Peço desculpas pelo rumo sem nexo e quase
lamechas que este artigo está a tomar, mas aguentem mais
um pouco. Chama-se a isto construir uma piada.
Adeus aos que ficam, olá aos que vão. Ou ao contrário.
Isto foi a construção.
E agora a piada:
Ao contrário é burro com égua.
Incrível! Num só artigo abordei o tema da saudade e
passei de forma completamente lógica para o campo da
engenharia genética e do cruzamento de espécies! Só
mesmo aqui!
Para os que não percebem o que é isto do cruzamento
56
de espécies, eu explico: peguem num frango e juntem-no
com uma dourada. É claro que só isto não chega, há que
compor o ambiente. Umas luzinhas, talvez uns sais,
daqueles que fazem bolhinhas e tal. Ah! E convém o frango
ser daqueles tipo galinha d’água, estão a ver? Depois,
esperam nove meses ou o que for e aproveitam o que sair
de lá.
Nunca ouviram aquela expressão ‘não é carne, nem é
peixe’? Descobri há uns meses atrás que nome se dá a isso.
Crocodilo.
Deu num programa que estava a falar dum restaurante
em Nairobi que servia carne de crocodilo e o gerente dizia
que aquilo sabia a uma mistura de carne e peixe. Não era
nem uma coisa, nem outra. Mas se for só isso, podia ser
também salada. Ou ‘não é água, nem é vinho’, é o quê?
Cerveja, sumo, leite.
E porque é que falei disto? Não faço ideia. Basicamente
porque estou a encalhar. (Mas ainda lúcio, perdão, lúcido
o suficiente para escrever ‘estou’ e não ‘tou’). E espero
levar vocês comigo neste encalho
Sim! Eu sou o Cronista de Heimlin! Sigam-me, meus
pupilos!
Ou não.
Ok, quando as aulas começarem, eu faço uma visita
oficial. Mas quero um tapete vermelho à porta. Se não
tiverem um, pode ser aquele encarnado. Eu não sou
esquisito.
57
Anda por aí a circular um filme chamado “A Curva”. Quem
anda pelo YouTube ou por outros sites provavelmente já o
viu. A história do filme, baseada em eventos ocorridos na
estrada de Sintra em 86, é praticamente obscurecida
perante a troca de opiniões gerada pelos internautas. Há
quem acredite, há quem duvide, há quem elogie, há quem
critique. Há de tudo para todos. Mas o que é importante
realçar é isto: um filme português “amador” está a ter mais
público do que qualquer outro filme português feito à
custa de subsídios pagos pelos contribuintes. Dói um
bocado.
Graças à Internet temos acesso a muita coisa. Só cabe a
nós escolher. Bom ou mau, a escolha é nossa. É um meio
de divulgação excelente. Em Portugal temos agora “A
Curva” e talvez outros. Dos EUA veio o “Snakes on a plane”
(“Serpentes a bordo”) com o “pastor” L. Jackson., um filme
que ainda antes de estar concluído já era filme de culto.
Aliás, se tomarmos em consideração que certas partes do
filme foram baseadas em sugestões dadas pelos fãs,
percebemos que a Internet não só é boa para divulgar
como também para adquirir sugestões.
É um exemplo a seguir por nós, portugueses. Uma lição
para muitos intelectuais. Temos pessoas capazes de fazer
filmes capazes de atrair público. Está mais que visto. E a
referência aos intelectuais não é negativa. Eu gosto dos
intelectuais. Gosto dos seus hábitos, dos seus cantares e
trajes populares. Eu gosto de cinema artístico. A única
coisa que não suporto no reportório nacional é só ter ao
meu dispor filmes que é preciso ter um doutoramento em
Belas Artes para os compreender ou então filmes que é
preciso ser mentalmente descompensado para os suportar.
58
Quero uma alternativa, um meio-termo. Com as vantagens
que a Internet aufere, é preciso sermos para não
aproveitarmos isso.
Por outro lado, há certas complicações que podem
surgir de utilizar a Internet como meio de divulgação de
vídeos, sejam eles profissionais ou amadores. Vejam, por
exemplo, a Al-Qaeda. Se não fossem aqueles vídeos que
surgem sempre que os Estados Unidos vão a eleições ou
quando há uma crise qualquer interna, em que aparece um
senhor a anunciar ataques que nunca chegam a acontecer,
o mundo seria diferente. Talvez. Talvez para pior. Mas
pelo menos teríamos por onde escolher.
59
Estou de luto. E não é para menos. Dizem que o Osama
morreu. E agora? Quem é que nós vamos culpar pelos
problemas do mundo? Quem é que vamos usar como bode
expiatório para o aumento do preço dos combustíveis? Da
instabilidade mundial? Para invadir países?
O mundo mudou quando o Osama se tornou conhecido.
Disso não há dúvidas. Excepto uma. Que mudanças virão
com o seu desaparecimento?
Por favor, não entendam esta pergunta como irónica ou
sarcástica. Isto é muito sério. A culpa é algo muito
importante e ter alguém para culpar é essencial. Quando
não há ninguém culpado ou suspeito, hão-de reparar nisto,
não se fala de certos assuntos. São atirados para a sombra,
restos de notícia, de rodapé. De vez em quando saem
alguns bocaditos cá para fora e ficamos a pensar de novo
no assunto e esquecemo-nos do que é realmente
importante.
O mundo seria bem diferente sem certas pessoas, mas
não as podemos remover a todas. E mesmo que o
fizéssemos, a sua marca ficaria; pelo bem ou pelo mal.
Depende do interesse.
Costuma-se que é bom manter os amigos por perto e os
inimigos ainda mais perto. No actual esquema da ordem
mundial podemos ver aplicações claras desse lema. Os
inimigos de ontem serão os amigos de amanhã e vice-versa.
Não há como fugir a isso.
O Osama morreu? E depois? Era um homem mau? Digo
que – sem querer soar maniqueísta – era. Mas digo
também que não era o mais mau. O Osama foi ou é fruto
daqueles que o criaram. Quem semeia ventos, colhe
tempestades; não é o que se diz? E o mundo colheu uma
60
bem forte. Ainda sentimos o seu vento. Talvez ele nunca
desapareça. O vento, digo. Quase de certeza vai-se acalmar
por uns tempos e surgir com nova força. Com outra cara
como protagonista. É preciso renovar. O velho não vende,
venha o novo.
Faço aqui o meu pedido. Em nome da estabilidade. Se
alguém tem de o fazer que esse alguém seja eu. Quero um
novo terrorista mundial.
(Mas de preferência alguém que não tenha a mania de
falar com o indicador em riste estilo professor do tempo do
Salazar. O mundo ocidental levá-lo-á muito mais a sério se
não fizer figuras dessas.)
61
Não há muito tempo testemunhei um caso óbvio de
violência perpetrada sobre uma criança. (Optei por
escrever ‘criança’ em vez de ‘menor’ como é hábito, não
fossem vocês pensar que eu me estava a referir a um anão.)
Para os que não ficaram em choque por eu saber conjugar
e aplicar correctamente o verbo ‘perpetrar’, eu continuo.
A violência sobre crianças é um assunto sobre o qual eu
não me costumo debruçar muito, mas a situação foi de tal
modo horrenda que achei obrigatório relatá-la.
Tudo aconteceu num autocarro – por razões de ética e
consciência, não divulgarei o nome da empresa – onde
viajavam uma criança (a vítima), os pais (agressores), uma
amiga dos pais (cúmplice) e uma vintena de passageiros
(testemunhas). A criança não devia ter mais dum ano, se
tanto, e os pais, insensíveis ou irresponsáveis ou imaturos,
submetiam a criança a ritmos alienistas: kizomba. Os pais
eram jovens, mas isso não era desculpa. Que tenham mau
gosto para gostar de kizomba é uma coisa. Obrigar o filho
a ouvir é outra completamente diferente.
Se tivesse bateria no telemóvel tinha ligado para a TVI.
Infelizmente, tal não era o caso e vi-me obrigado a
suportar aquela música própria de antecâmara de tortura.
Com uma diferença relevante: eu possuo filtros, ou seja
consigo pensar noutras coisas e abstrair-me; a criança não.
Os pais não a deixavam. Tanto não que tinham o telemóvel
donde ouviam a, passo a expressão, música praticamente
colado à orelha da criança. Capaz de ela ficar lesada
irreversivelmente como os pais. Isto é ainda mais grave se
62
considerarmos que os genes são hereditários, ou seja,
mesmo sem kizomba, não se avizinha um futuro risonho,
academicamente falando, para esta criança. E daí, posso
estar enganado. Pode sempre vir a ser artista de kizomba
ou autor de textos como este que estão a ler (Eu gosto de
me auto-criticar de forma negativa e ofensiva; assim os
outros não o fazem porque, e cito, “já não tem tanta
piada”.)
E não é que não goste de kizomba, nada disso. Não é
não gostar, é detestar mesmo.
Já me têm perguntado porque é que não gosto de
música africana. E eu não sei o que responder. Porque é
que eu não gosto de música africana? Vamos por partes.
Primeiro que tudo, kizomba e kuduro estão para África,
como o pimba está para Portugal.
Segundo, o que é música africana? África não é um país,
são vários. Não existe música africana, existem músicas de
países africanos. Não dizemos música europeia. Não existe
música europeia, logo não existe música africana.
Peço desculpa se no parágrafo anterior fui demasiado
repetitivo. Por instantes temi que pudesse estar a ser lido
por alguém que goste de música africana. Um recado se
tiver sido esse o caso:
63
Caro visitante, se chegou aqui através duma crítica
publicada na edição número 137 da revista Exame
Informática, não pense que lhe vou dar os parabéns por
isso. Bem pelo contrário. Estou até muito desiludido
consigo. Já tenho este blogue há mais de seis meses e foi
preciso uma revista com uma tiragem média de 55 000
exemplares falar dele para ir logo a correr para o
computador mais próximo e visitar um blogue cujos textos
têm um "tom informal mas inteligente"? E para quê? Para
agora estar a ouvi-las. Pois é. A pressa o que dá é nisto.
Mas não desespere. Não veio aqui em vão. Nada disso.
Apesar de não satisfeito com a forma como veio aqui
parar, dou-lhe as boas vindas. Aproveito também para
divulgar um dado importante que os senhores da revista
esqueceram-se: o meu blogue é o blogue chamado
PROTUBERÂNCIA mais visto do mundo. Asseguro-lhe.
Pode verificar onde quiser. Não vai encontrar outro blogue
chamado PROTUBERÂNCIA mais visto que o meu.
Ora isto, parecendo que não, confere algum prestígio e
obriga-me a algum rigor e responsabilidade. Agora já não
posso escrever “merda por tudo e por nada”.
(Eu disse que não podia escrever. É um visitante novo
que está a ler isto. Cala-te lá, voz estúpida na minha
cabeça.)
Eis algumas opiniões:
“Tá insonsa.”
Jovem marido para jovem mulher após a primeira
64
tentativa desta de fazer sopa
“(...) peca pela parca exploração (...) [dos]
personagens.”
Crítico sem carisma e sem gel de duche
65
OU UM ARTIGO ESTÚPIDO COM UM
TÍTULO AINDA MAIS ESTÚPIDO E
INCORRECTO DO PONTO DE VISTA
LINGUÍSTICO
Voltei à Boavista no dia 16 deste mês de Outubro. Desta
vez, ao contrário da anterior, foi uma visita oficial; embora,
oficiosamente, as aulas ainda não tenham começado. No
papel já começaram, acontece é que a primeira semana de
aulas coincide com a semana de praxes. E é disso que vos
vou falar.
Acho inadmissível que só se possam praxar os alunos do
primeiro ano. As praxes têm como intuito nobre integrar
novos membros em grupos já formados. É por isso que eu
acredito que as praxes devem ser aplicadas também a
professores ou formados recém-chegados à casa.
Querem melhor símbolo de integração no espírito
académico/profissional que verem dois professores
enrolados em papel higiénico a correrem dum lado para o
outro à procura de pauzinhos de giz verde? Que é difícil de
encontrar, caso não saibam.
Imagino um novo porteiro na Boavista e o senhor
Felgueiras a dizer-lhe: “Agora põe-te de joelhos em cima
do balcão e canta. Vá, Fifi! Canta, porra!”
Confesso que nunca vi o Felgueiras (deixei o ‘senhor’ de
parte) a ter ataques de fúria mas, como humano que é, não
está livre disso.
Vi os novos alunos (os de Ciências da Comunicação,
porque o pessoal de Arquitectura não se mete nisso; já
explico porquê), observei-os a comer, a beber, a cantar, a
66
saltar, etc. Não conhecia nenhum.
Em alguns casos, fiquei triste por isso. É que eu gosto de
conhecer pessoas. Por outro lado, com as figuras que
foram obrigados a fazer – onde é que desencantaram o GI
Joe, já agora? – fiquei contente por nenhum dos novos
alunos me conhecer (nem mesmo de vista). Era o que me
faltava era alguém num oleado branco, cheio de vernizes e
brilhantes, virar-se para mim e dizer para todos ouvirem
“Eh! Eu conheço-te! És o Joel!” A minha imagem – digam
que não estou a pensar alto; eu tenho imagem, certo? –
iria ser bastante afectada.
Ao mesmo tempo que se utilizava uma sala para
propósitos nobres como pôr pessoas em poses ridículas a
dizer frases de índole sexual com a desculpa da integração,
não muito longe dali, outro grupo de caloiros tomava
contacto com a realidade que irão conhecer nos próximos
quatro anos.
No primeiro artigo publicado neste blogue, falei do
Muro de Berlim. Os veteranos sabem do que eu estou a
falar; assistiram à sua criação (alguns participaram nela).
Pelo bem e pelo mal, os caloiros devem ser informados
disso. Ora, ao que consta, a área para lá do Muro de Berlim
está em obras.
Quanto a mim, é por isso que as praxes de Ciências da
Comunicação deste ano não chegaram aos pés das praxes
de Arquitectura. Vejam a comparação: os alunos de
Ciências cantam, dançam, comem alho, brincam com
vibradores e não têm aulas; os de Arquitectura têm aulas e,
da maneira que as salas deles estão, quase que são
obrigados a fazer as suas próprias salas.
É como eu costumo dizer: não há melhor integração do
que aquela que nos põe dentro dos eventos.
Sejam bem-vindos de novo. O Joel saúda-vos.
67
A SIC portou-se mal. Foi uma menina feia. E por isso a
nova madrasta da comunicação social portuguesa, a
Entidade Reguladora da Comunicação (ERC) decidiu pô-la
de castigo.
Isto assim, explicado em linguagem de retardado, até é
fácil de perceber. Mas, mesmo que eu recorresse a alguns
dos termos usados no relatório da ERC como “Os valores
para que remetem as imagens são degradantes e, não
menos importantes, arcaicos face às preocupações e ideais
geralmente identificados com os da juventude” a coisa
continuaria a ser mais ou menos fácil de entender.
A razão por trás deste processo imposto à SIC tem a ver
com a sexonovela ‘Jura’. Em concreto, com spots
autopromocionais que a SIC terá exibido 5 da referida
sexonovela em horário impróprio. Ao que parece não se
pode fazer publicidade a programas de índole sexual à
hora em que as criancinhas estão em casa a ver a
‘Floribela’.
Devo dizer que a decisão da ERC me fez confusão. Por
um lado, conheço mais ou menos o Código pelo qual a
ERC se rege e tenho quase a certeza que agiu bem. Por
outro lado, posso dizer que agiu tardiamente e sobre a
arraia miúda, por assim dizer. Sim, a SIC fez alusões a
conteúdos sexuais em horário impróprio. Foi punida por
isso. Certo. Mas não fizeram nada em relação à ‘Floribela’.
Se nunca fizeram a comparação, não se preocupem; eu
faço-vos a papinha toda. Ora vejam. ‘Jura’ é uma
5
Se são autopromocionais, não deveriam ser feitos pela própria sexonovela?
68
telenovela sexual feita para adultos. Por acaso passaram
uns spots a horas más. Agora vou falar-vos da ‘Floribela’.
A Floribela é uma telenovela infantil. E vejam que bom
é para as nossas crianças.
Ela fala com fadas, tem os olhos sempre brilhantes e
tem ataques de fúria quando o seu príncipe não admite os
seus sentimentos. E as crianças gostam disto. Elas gostam
duma jovem esquizofrénica, com tendências bipolares que,
ainda por cima, é militante do PPM. E não se esqueçam
dos olhos brilhantes. O que é que ela toma?
Sem dúvida não é um exemplo que eu gostaria de
partilhar um dia com os meus filhos. “Filho, não chateies o
pai. Vai ver a ‘Floribela’.” Nunca. Pode me chatear o tempo
que quiser.
E depois temos as músicas e os spots. Os spots da ‘Jura’
são nefastos para a mente das nossas crianças? Desviantes?
Atenção à letra do spot da ‘Floribela’: “para a frente e
para trás / para cima e para baixo” e logo a seguir,
com um sorrisinho maroto, “prontos para mais uma?”
A ‘Floribela’ é vista por crianças e pré-adolescentes
recém-iniciados em práticas de auto-satisfação. Mas não é
preciso ver a ‘Floribela’ para ver um spot sem querer. Os
‘iniciados’ vêem o spot, acompanham a letra a pulso e
perante a questão “Prontos para mais uma” eles são
capazes de corresponder em tempo recorde. Ora, isto faz
inveja aos mais crescidos. Alguns para dar uma precisam
de tomar um comprimido, quanto mais dar duas.
Se isto não for crueldade da SIC, é desleixo da ERC.
69
Mário Augusto está de volta aos ecrãs. Aos ecrãs, aos
posters, aos cartazes. Sinceramente, não me lembro do
genérico antigo do ’35 mm’, mas porra! O homem ‘tá assim
um bocado a puxar ao egocêntrico. Agora deu-lhe em pôr a
cara em tudo quanto é capa de filme. Não lhe bastava
assassinar a língua de quem entrevista em fundo azul;
ainda tem de estragar as capas.
É só por isso que esta ideia das capas me revolta. Se ele
soubesse falar inglês como deve ser ou, pelo menos, como
um aluno do sexto ano, aí tudo bem. Mas não. Tanto
tempo nos Estados Unidos; conhece tanta gente e no fim é
o que se vê. Até o Lauro Dérmio falava melhor inglês que o
Mário. Sim, era uma personagem fictícia, era no gozo, mas
pelo menos aí era de propósito e nós ríamo-nos; com o
Mário, o caso é mais para chorar. Até um mudo fala
melhor inglês que ele.
E há quem diga que o Mário não entrevista os seus
convidados pessoalmente. Que o Mário está num sítio, o
convidado noutro e é tudo editado em pós-produção.
Quanto a isso não sei. É verdade que raramente fazem um
plano conjunto a não ser quando se cumprimentam e
mesmo aí fica a dúvida. Basta que nos lembremos do
‘Forrest Gump’ e daquela cena em que o Tom Hanks
aperta a mão ao Kennedy para que a suspeita fique atiçada.
Pessoalmente, não me faz qualquer diferença se os
convidados estão lá ou se estão na lua ou onde quer que
seja. Para ser sincero, prefiro que não estejam. Vejam a
coisa assim: até agora só há suspeitas; sinal de que a
70
equipa técnica está a trabalhar bem. E depois há outra; o
programa já vai com alguns anos. Se os convidados fossem
todos entrevistados pelo Marinho, o programa tinha ficado
pelo piloto.
E daí não sei. Afinal de contas, eles são pagos por
entrevista. E são actores. De certeza que conseguem
manter um ar mais sério enquanto falam com o Mário. Eu
acho que não seria capaz. Mas também não sou actor.
Para terminar aqui ficam duas sugestões. Primeiro, um
substituto para o lugar do Mário, caso lhe aconteça alguma
(esperemos que não): o Donaltim. É da SIC e, apesar de
andar sempre com uma mão enfiada no rabo, suspeito que
fale melhor inglês que ele.
Segundo – e esta é mais delicada –, tornar o ‘35 mm’
mais popular fazendo uma versão porno. O título seria ‘35
cm’. Mas aí não poderia ser o Mário a apresentar. Teria de
ser o Jamal. E poderiam continuar com a cena das
fotomontagens. Só que desta vez seria o Jamal a assumir o
lugar principal. Mas como a tecnologia é boa; talvez se
conseguisse encaixar o Mário nalgum pixel. Antes isso que
encaixar um pequeno pixel nele.
Apaga! Apaga! Ai o que eu fui dizer....
71
Apesar das apreensões que são feitas e das redes de tráfico
que são desmanteladas, nós portugueses (e eu acima de
todos) temos a mania de considerar as nossas forças
policiais obsoletas e pouco capazes. Podem ser
reconhecidas lá fora como ‘boas’, ‘muito boas’, até mesmo
‘as melhores’. Cá dentro não prestam para nada.
Digo isto sem qualquer reserva porque é verdade. E
qual é o problema aqui? Não tem a ver com o material, não
tem a ver com os recursos, com o dinheiro. Nada disso.
Resume-se a uma palavra: turnos. Os turnos policiais são
muito curtos. Em oito horas não dá para fazer nada.
Eu vejo o ‘24’ desde que a série começou. E a verdade é
que eles só conseguem acabar com os terroristas porque
fazem turnos de 24 horas. E também porque não fazem
pausas. Nos episódios do ‘24’ nunca se vê ninguém a ir ao
WC6, a comer uma sandes, a beber café. Não se vê nada. O
pessoal está ali vinte e quatro horas seguidas e estão todos
na boa, sempre a trabalhar. O que é que aquela gente toma?
Mais importante que isso: é legal? E se sim, podemos
arranjar isso aos nossos agentes?
Sei que o ‘24’ é ficção. Num dia, apaixonam-se, casamse e divorciam-se. It’s life to the fullest ou carpe diem,
como dizia o outro naquele filme dos poetas mortos.
Mas se não são os turnos, há qualquer coisa que está
mal na nossa polícia. E eu acho que sei o que é. Falta-nos
criatividade. Um amigo meu escreveu para o Ministério da
Administração Interna a sugerir que a polícia usasse
6
Não querendo estragar a surpresa a quem ainda não viu, só para dizer que
na sexta temporada há um personagem que vai ao W enviar um fax. O
realismo acima de tudo...
72
hienas amestradas nas rusgas.
Era uma ideia de génio! Só que eles não aceitaram.
Imaginem. Os polícias entravam num apartamento,
começavam a revistar o apartamento. De repente, a hiena
começava-se a rir – porque é isso que elas fazem – o
suspeito atacava-a e a hiena desfazia-o em pedacinhos. Era
uma ideia boa. Não sei porque não a aproveitam. Talvez
por ele ser um leigo na matéria.
Ainda assim, mesmo sem grandes recursos tecnológicos
ao seu dispor, o polícia bom está sempre preparado para
tudo e não desiste. É um lutador, é um atleta. Infelizmente
(ou felizmente) o policiamento não é visto como um
desporto a sério. Por muito bom que um polícia possa ser,
nunca ouvimos falar de transferências milionárias de
agentes duma esquadra para outra.
Quando um novo comandante da GNR assume funções
numa determinada esquadra, não o vemos convocar uma
conferência de imprensa para dizer:
"Estou muito contente por estar aqui e prometo fazer o
meu melhor para evitar que esta esquadra desça de
divisão."
73
Têm criticado os filmes de Manoel de Oliveira. Eu próprio,
em tempos, subscrevi essas críticas. E sem razão. Diz-se
que os filmes de Manoel de Oliveira são chatos e lentos e
sendo ele o autor, atribui-se a culpa disso a ele.
Nada está mais longe da verdade.
E é em nome da verdade que vou revelar quem é o
verdadeiro responsável pelos filmes de Manoel de Oliveira
(e outros!) serem lentos e chatos. Até porque,
convenhamos, é muita coincidência tantos realizadores
portugueses fazerem filmes tão parecidos.
A culpa será deles?
Não.
A culpa é da tecnologia.
E para aqueles que pensam que sou um conservador,
que no ‘antigamente’ é que era bom, passo a explicar o
porquê do meu descontentamento.
Os clássicos portugueses têm estado a ser reeditados em
DVD. Isso é bom. O que não é bom é continuarem a fazer
nas edições em DVD o mesmo que haviam feito nas
edições em VHS, ou seja, porem os filmes numa
velocidade mais lenta que a original.
Esta é a verdade! Os filmes portugueses estão
carregados de acção!
Só que estão em câmara lenta.
Ou vocês acham que o Estado português iria dar 450
mil euros (na altura 150 mil contos) a um realizador para
ele filmar uma pedra durante quase cinco minutos? Ou
para fazer planos fixos ainda mais longos que isso?
74
Chegaram, inclusive, ao ridículo de dizer que houve um
realizador que recebeu dinheiro do Estado para fazer um
filme sem imagem. Mas alguém acredita nisto?
É lógico que não.
Isto acontece porque, muito provavelmente, quem
pediu os subsídios não foi o realizador. É só fazerem as
contas.
O subsídio para longas-metragens é de 150 mil ou 450
mil euros e o de curtas 50 mil. Ora, entre 50 e 150 a
escolha é fácil de fazer, não é?
Vamos reconhecer as longas-metragens portuguesas
como aquilo que elas realmente são: curtas-metragens em
câmara lenta.
Vamos acertar os subsídios e dar aos grandes
realizadores portugueses aquilo que eles realmente
merecem. E aproveitamos para dar o que sobrar à nova
vaga de realizadores que luta nas sombras para fazerem
filmes que as pessoas queiram ver.
75
Dois artigos seguidos sobre o Manoel de Oliveira pode
parecer implicância da minha parte – e se calhar até é –
mas julgo que não. É apenas uma precaução. Como sabem,
o senhor já passou dos noventa e tal anos e, por isso, como
eu acredito que ele fez tanto pelo cinema português como
o talhante da minha rua, resolvi escrever isto antes que ele
fosse desta para outra (decerto, bem mais movimentada
comparativamente). Tudo para que esta não seja uma
crítica póstuma.
Passando ao assunto em concreto, há cerca de dois, três
meses li uma crónica no jornal 'Público' escrita por, lá está,
Manoel de Oliveira. Na altura pensei em escrever um
artigo sobre certas ideias que ele havia exposto nessa
crónica. Felizmente para mim o meu gosto pela vida ainda
não havia esmorecido.
Passado todo este tempo, apercebo-me que o meu gosto
pela vida ainda continua por esmorecer mas, ao mesmo
tempo, apercebo-me e assumo que às vezes é preciso fazer
sacrifícios por um bem maior.
Comecemos pelo título. 'Cinema de ontem, cinema de
amanhã'. Eis algo que me assusta. Manoel de Oliveira é
tido como o grande patrono do cinema português e fez tão
bem as suas jogadas que o cinema de amanhã, mesmo já
sem ele, seguirá o mesmo rumo.
Como sabem, o nosso cinema é rico em variedade.
Desde filmes sobre toxicodependentes a pessoas com
depressão, a padres que caem na tentação, a padres
toxicodependentes com depressão que caem na tentação.
E no meio podem pôr uma prostituta arrependida. Ou
então fazem um filme de época. Assim, estilo 'Branca de
Neve'. Não se nota, mas é. Dizem.
76
Gosto de uma coisa nele (Manoel de Oliveira) –
precisamente também o que mais odeio – aos noventa e tal
anos ainda filma. Por esta altura, já perdi a esperança de
que venha a ter acção nos seus filmes. Se não teve nas
últimas décadas, não era agora que ia começar a ter.
Entristece-me é a nova vaga de realizadores – os
apadrinhados – que ainda tem forças para se mexerem e
mudarem o rumo que seguimos desde há muito tempo e,
em vez disso, cedem à inércia para não perderem o apoio
que tanto lubrificante lhes custou.
Outra coisa que admiro em Manoel de Oliveira é a
honestidade. Eu desconfiava e ele, sincero e justo como
poucos, confirmou-o na tal crónica. No último parágrafo,
Manoel de Oliveira escreve: “Curiosamente, da minha
parte, faço sempre um grande esforço para que
não aconteça durante a fabricação de qualquer um
dos meus filmes que eu nunca caia nesse estado de
um
abstracto,
de
um
pressuposto
que
frequentemente leva as pessoas a acreditarem que
estão a fazer cinema. O que, sempre que começo
uma nova filmagem, me leva a dizer para comigo
mesmo, e até, por vezes, a prevenir o chefe
operador: vamos fazer tudo o que for preciso,
tudo menos cinema.” É bonito e confirma as minhas
suspeitas. Só precisa é de ter mais divulgação.
Quanto à escrita em si.... bom, os que compreenderam e
apreciaram a crónica são aqueles doutorados ou pseudointelectuais que apreciam e julgam compreender os filmes
dos grandes realizadores portugueses. A eles, peço
desculpa pelos termos usados neste meu modesto artigo.
Só espero que a simplicidade não vos tenha ofendido.
77
Acho que já ia sendo tempo de escrever um artigo sobre
Camarate. Confesso que a vontade não era muita, mas
agora tenho uma justificação para o fazer. Do caso em si já
muito foi dito. Portanto dizer coisas como ‘foi tudo uma
granda aldrabice’ ou ‘aquilo foi coisas dos americanos’
seria ‘chover no molhado’.7 Optei por esperar. E a espera
valeu a pena.
‘Sô Zé’, também conhecido no mundo das pessoas
normais por José Esteves (ou será antes José Esteves,
também conhecido por ‘Sô Zé’?) veio a público dizer que
foi ele quem construiu o engenho explosivo (que raio de
ocultista é este que diz tudo assim à balda; até parece que
agora já não lhe podem fazer nada) que arrebentou (dito
em bom português) com o avião onde viajava o PrimeiroMinistro Sá Carneiro e o Ministro da Defesa Amaro da
Costa.
Até aqui nada de novo, até porque o nome do confessor
já fazia parte do top de suspeitos desde há muito. É tipo
aquela história do pai que pergunta aos filhos quem partiu
a janela e os filhos calados e então o pai volta a perguntar e
os filhos nada até que o pai diz aos que não atiraram uma
fisgada ao vidro para levantarem o braço e depois vai-se a
ver e não foi nenhum dos miúdos na volta se calhar foi a
7
Não faço ideia se estas citações pertencem a alguém ou não. Mas são
lugares-comuns tão comuns que é possível que alguém as tenha dito numa
altura ou outra. Pelo sim, pelo não…
78
mãe. Pronto, o exemplo não é dos melhores. Mas há de
servir de exemplo para outra coisa. Julgo eu.
O truque é que o crime já prescreveu. Por outras
palavras, já não o podem acusar. Isto agora teria muito
mais impacto (piada não digo, mas impacto certamente) se
lá atrás não tivesse escrito já isso.
Ora, isto pode parecer triste – há até quem diga que é
‘uma vergonha para a justiça portuguesa’ – mas do ponto
de vista humorístico é do melhor que se arranja. Primeiro,
temos a referência a ‘justiça portuguesa’. Segundo, a piada
em si do dizer ‘sou culpado’ quando já arrebentou a bolha.
Ainda por cima, o próprio ‘Sô Zé’é uma piada. Não
gosto de julgar as pessoas pelas suas crenças ou aparências,
mas olhando para a foto dele, diria que parece um José
Castelo Branco envelhecido. (Diria, mas não digo porque
isso seria de mau gosto.) A juntar a tudo isto, José Esteves
foi Segurança (era o único que entrava com bombas, os
outros ficavam todos à porta que até se lixavam), foi
membro dum grupo terrorista de extrema-direita (ai onde
vão esses tempos…); hoje é vidente convertido ao
Islamismo. Fazia-nos falta uma figura assim há muito
tempo.
Acrescento ainda que, a bem ou a mal, Sá Carneiro e
Amaro da Costa tinham de morrer mais cedo ou mais
tarde. Os conspiradores dizem que era por causa das
armas que foram vendidas pouco depois ao Irão. Os sábios,
como eu, sabem que a única maneira de fazerem um
aeroporto Francisco Sá Carneiro era se Sá Carneiro
morresse numa queda de avião. Basta verem a quantidade
de nomes de figuras públicas que baptizam locais públicos
e contar quantos estão ainda vivos.
Para terminar, a minha boa acção do dia, uma correcção
a Leonete Botelho, jornalista do Público: o incidente de
Camarate ocorreu em 1980, não em 2004 como
escreveu na peça publicada a 29 de Novembro deste ano.
79
Mais cuidado para a próxima. O que a gente precisa menos
aí são informações falsas para desviar a nossa atenção.
E já agora, sabiam que certa pessoa bem conhecida da
nossa sociedade portuguesa, indivíduo ligado ao ramo do
imobiliário, foi visto a perguntar as horas a um sujeito que
andou na mesma escola que um actual assessor do
Governo? Dizem que tiveram a mesma professora de
Físico-Química, mas isso cá para mim já é especulação.
80
Dizem que os espanhóis vêem bem é com as mãos. Não
quer isto dizer que os espanhóis sejam cegos ou que
tenham a sua anatomia focal desviada do sítio; mas sim
que são espertos e aproveitam-se da fama para ter o
proveito.
Eu não sou espanhol – embora tenha uma costela vinda
desse outro lado da Península – por isso não sei o que é
isso de ver com as mãos. Assim, limito-me a fingir que
hablo un poquito de espanhol. Como podem ver, nem
escrever espanhol como deve ser eu sei, quanto mais falar.
E agora, passo ao assunto do da: a frustração.
Gosto de espanholas. Gosto de italianas, brasileiras,
eslovenas, portuguesas, americanas. Pronto. Gosto de
gajas. Mas de gajas como deve ser. Daquelas que um gajo
encontra num daqueles bares onde se pagam 100€ só para
entrar. O café lá nunca é menos de 2€, mas num sítio onde
se pagam vinte contos para entrar o que se quer menos é
café. Mesmo quando há sono. Umas notas em mão certa e
o sono desaparece e outras zonas corpóreas ficam logo
pré-dispostas para se animarem.
Quem já frequentou locais como este, sabe o que pode
encontrar lá. Desde o simples mas honesto strip-tease, ao
dispendioso (mas proveitoso) free-for-all. Pelo meio há
algo que, para mim, se qualifica como sinónimo de tortura
da mais vil que existe. Falo do lap-dance.
No strip podemos ter uma gaja boa, no free-for-all
outra ainda melhor; mas a gaja que apanhamos no lapdance põe logo as outras duas a um canto.
E o pior é que não podemos fazer nada. Ao mínimo
toque vêem logo dois matulões que nos põem dali para
fora num instante. Não sem antes nos explicarem à custa
81
de várias nódoas negras e ossos partidos que é para ver
sem mexer.
Para quem procura diversão, isto é do pior que pode
haver. Além de caro, não se chega a provar nada. No
entanto, há alguns para quem este tipo de práticas, mais
do que pela sexualidade se caracteriza pelo seu lado
profissionalmente engrandecedor.
Refiro-me não às executantes, mas aos clientes.
Nomeadamente o Clero. No meu ver, padre é que é padre é
casto e não tem pensamentos libidinosos. (Pelo menos,
não os deveria ter.) Logo, ter uma gaja toda boa a esfregarse nele e ele sem reagir é bom sinal. É sinal que é puro.
Ou não.
Talvez não reaja por não apreciar aquele tipo de iguaria,
o que não augura bons tempos para os putos da catequese.
Uma última nota sobre a questão da castidade dos
padres; é que muita gente confunde castidade com celibato.
Não misturem as coisas. Celibato é não casar, castidade
é não molhar o bico (dito em bom português). Os padres
fazem voto de castidade, não de celibato.
Infelizmente, pelas regras deles, para se comer tem de
se primeiro entrar no restaurante. E isso eles não podem.
Podem comer, mas não podem entrar. Podem conduzir,
não podem é ter carro. Por outras palavras, eles podem
consumar o casamento. Só que não se podem casar. É a
paga. Por isso é que alguns fazem biscates por fora.
82
Dei por mim a pensar no seguinte: a TVI começou a guerra
com os ‘Morangos com Açúcar’, a SIC respondeu com a
‘Floribela’; a TVI contra-atacou então com a ‘Doce
Fugitiva’.
O meu receio, como decerto devem estar a pensar é
óbvio: o que é que a SIC vai inventar a seguir?
Pior que isso!
Em caso de resposta à altura, o que é que a TVI vai
retirar da sua Caixinha de Programinhos Mágicos?
Ainda não vi a ‘Doce Fugitiva’, por isso não vou tecer
aqui quaisquer elogios. Objectivamente falando, prefiro
dizer que não presta. É mais seguro, honesto e possível de
ser verdadeiro. Subjectivamente falando, julgo que não irei
gostar. Mas não dou certezas quanto a isso.
Posso, porém, falar sobre os ‘Morangos com Açúcar’ e a
‘Floribela’. Posso, mas não vou. Porque não me apetece. É
uma questão de humores. Os humores vêm do estômago e
o meu fica mal-humorado quando penso ou falo sobre
estes assuntos.
A questão essencial – não imaginam o quanto eu
esperei por poder introduzir a questão essencial num
artigo meu – ainda está por ser respondida. Temo até que
ainda não tenha sido sequer formulada.
Quem é que assiste aos danos causados por esta guerra?
Quem é que cuida das vítimas?
Pais, filhos, adultos, crianças, adolescentes, idosos.
Todos sem excepção são deixados ao abandono pela
implacável crueldade da guerra das audiências. Enganam83
se aqueles que dizem que isto é servir o público. Errado.
Trata-se apenas de mantê-lo servido. E mal.
Já falei dos efeitos da ‘Floribela’ e dos ‘Morangos com
Açúcar’. Agora decido levar a batalha para outro campo.
Os pais dos directores da SIC e da TVI deixam os filhos
verem os produtos infantis que eles exibem?
O Francisco Penim tem filhos? Se sim e se ele (ou ela)
gostarem de ver a ‘Floribela’, com que cara é que ele (o pai)
pode dizer “Vai trabalhar mandrião!’ se o filho for
telespectador assíduo da ‘Floribela; cujo lema, recordo, é:
‘rica em sonhos e pobre em ouro’. É um pouco como um
incentivo à preguiça e à anarquia. (Aquelas roupas nunca
me enganaram, confesso.) Nenhum pai quer isso.
Um pequeno reparo, se mo permitem, esta situação com
o Francisco Penim foi toda ela fictícia. Chamo a vossa
atenção para isso. Para isso e pasra o facto de que, caso
Penim tenha mesmo um filho, provavelmente ele não
estará ainda em idade legal para trabalhar. Um ponto a
meu ver. Preocupo-me com a integridade física e social das
crianças. Só falta outros começarem a preocupar-se com a
sua integridade psicológica e mental para que as coisas
comecem a entrar nos eixos.
Por agora fico por aqui. Sei que muita coisa ficou por
dizer, mas voltarei a este assunto um dia destes.
84
Finalmente trago um assunto pertinente para ser discutido
dentro e fora da blogosfera: casas de banho públicas, com
enfoque na distância que vai da retrete à porta. Friso que
incluo na definição de ‘casa de banho pública’ não só as
‘cabines’, como também as de cafés e restaurantes.
Já todos nós estivemos em situações de aperto – no
sentido fisiológico do termo – e chegámos a um local onde
esperávamos encontrar alívio e no fim encontrámos um
novo aperto – desta vez a nível espacial. Esta situação
tende a repetir-se constantemente. Porque é que ninguém
fala disto?
Os ‘gabinetes’ são demasiado exíguos. Mal dá para uma
pessoa abrir a porta como deve ser. Às vezes chega a ser
necessário pôr os pés em cima da sanita (gosto mais da
palavra ‘sanita’ do que da palavra ‘retrete’) para que
consigamos sair.
E isto no caso de sermos magros. Se formos gordos nem
chegamos a entrar.
É por isso que eu gosto das casas de banho grandes.
Aquelas em que uma pessoa entra e tem espaço até para
meter um roupeiro e uma secretaria – embora fazer isso
seja próprio de alguém com perturbações mentais
acentuadas, não me custa nada dar a dica só para ver até
onde vocês vão.
Há, porém, um senão. Novamente, a questão entre a
porta e a sanita. Convém explicar, duma vez por todas, a
quem desenha casas de banho públicas que o facto delas
serem espaçosas não implica que a porta esteja longe da
85
sanita. Particularmente quando o trinco está avariado e a
nossa única defesa contra uma exposição pública não
desejada são a esperança e reflexos rápidos. E, já agora,
um braço grande para que, quando a porta se começar a
abrir, possamos reagir a tempo. Isto é deveras
desagradável; para não dizer exaustivo.
Chamo ainda a atenção dos responsáveis para outra
coisa: as luzes automáticas. Não gosto. Ao início, sim
senhor, é bonito, mas depois... É que o automático
funciona para os dois lados, isto é, as luzes tanto acendem
automaticamente, como apagam automaticamente. Muitas
vezes nas piores alturas.
Afinal de contas, qual é a finalidade das luzes
automáticas? Que raio de vantagem é que essa invenção
trouxe ao mundo? A meu ver, nenhumas. Ó sim, é muito
mais prático entrar na casa de banho e a luz acender-se
sozinha. É quase como um tapete vermelho e, realmente,
poupa-nos imenso trabalho quando estamos mesmo
aflitos. Mas as vantagens ficam por aí. E isto porquê?
Primeiro, porque os sensores nunca tão colocados como
deve ser. Activam-se quando uma pessoa entra, tudo bem,
mas depois quando um gajo tá sentado a fazer o serviço,
tem de estar, a maior parte das vezes, a mexer os braços,
senão é obrigado a fazer o serviço às escuras.
Que raio de ideia foi esta? Eu vou ali para perder peso
intestinal (só para não escrever ‘cagar’) não é para dançar.
Figuras tristes já as faço cá fora. Não se posso ter um
pouco de dignidade na casa de banho, onde é que poderei?
E depois há aquelas casas de banho que o sensor só
funciona se tivermos de pé. Se tivermos na sanita podemos
até dançar a “macarena” que não há luz pra ninguém.
E isto se forem pessoas altas, ou pelo menos da minha
altura. Se forem mais baixas que isto, não se safam. A não
ser que levem um banquinho.
Eu vi-me uma vez numa situação parecida. Estava
86
sentado e o sensor estava fora de alcance. Então eu pensei:
‘E se eu regulasse o sensor de modo a que o ângulo
ficasse mais fechado?’
Assim o pensei, assim o fiz; convencido que estava a
fazer um grande favor, não só a mim mas também a todos
aqueles que tiveram ou poderiam vir a estar naquela
mesma situação.
O problema é que o sensor onde eu fui mexer tinha um
alarme. Aquela porcaria começou a apitar duma maneira
que até parecia que eu estava a assaltar um banco.
O gajo do café veio logo ver o que é que se estava a
passar e começou a bater à porta.
“Ó amigo, vamos lá a parar com as mexidelas aí para a
gente não se zangar!”
E eu ali caladinho. Não que eu tivesse medo dele mas já
me bastava estar um gordo careca do outro lado a ralhar
comigo por eu estar a fazer brincadeiras na casa de banho.
O outro, lá se foi embora, e foi então que eu percebi
para que é que servem as luzes automáticas. Qual a grande,
senão a única, vantagem que elas têm. Não para os
utilizadores, mas para os donos dos cafés.
A conta da luz é baixíssima.
O pessoal, se para ter a luz acesa precisa de estar aos
saltinhos, é pá, caga lá nisso. Mais vale fazer às escuras. E
os gajos poupam dinheiro que é uma coisa parva.
87
OU POR OUTRAS PALAVRAS NÃO
FAZÊ-LO PERDER TEMPO A
COMEÇAR PELO TÍTULO
Não gosto de pessoas que julgam que qualquer merda que
lhes vem à cabeça é merecedora de passar para a folha de
papel ou para a folha virtual. Acho isso presunçoso,
arrogante e estúpido. Porque é que ninguém lhes diz que
fazer os outros perder tempo com artigos redundantes e
sem nexo é pura perda de tempo?
Se isto não é judicialmente punível, pelo menos a nível
social deveria ser. Haja alguém que apanhe essas pessoas e
lhes inflija fortes vergastadas. A não ser que elas gostem.
Se for esse o caso digam que lhes vão bater mas depois não
batem. Ameacem só.
Voltando ao tópico principal, o país já está complicado o
suficiente. Não era preciso vir mais alguém atirar postas
88
de pescada para a fogueira só porque pensa que tem piada.
Alguém lhe disse que tem? Não creio.
Por tudo isto eu vos digo: olhem bem para dentro de vós
e (se estiver tudo no sítio certo) pensem no seguinte:
porque é que eu perdi tempo a ler isto?
89
– A PROPÓSITO DE…
Talvez a minha ausência algo prolongada vos tenha dado a
ideia (errada) de que havia abandonado a escrita neste
blogue. O que é que querem? Não há tempo para tudo.
Não que eu tenha uma vida super ocupada – sim, eu
trabalho – é se calhar mais por falta de vontade do que
propriamente por falta de ideias. As ideias são até demais,
para dizer a verdade. De facto, se tenho estado ausente
este tempo todo, não é por falta de assuntos para cometer,
é sim por ter muito e não saber o que escolher.
Continuamos com o Apito Dourado, com a Casa Pia,
passou o Referendo ao Aborto, o Luz do Samoeiro ou
Samouco (ou lá de onde era), a cena das urgências em
Odemira. Alguns casos sazonais, outros pontuais; nada de
importante portanto. Compreendi então que um regresso
não podia ser feito através de um comentário – por muito
bem elaborado e escrito que possa ser – a assuntos que já
fazem parte do quotidiano da nossa praça pública.
Pensei então sobre que tema seria o ideal para eu
analisar neste post. Após uma profunda e cuidada reflexão
cheguei ao tema fulcral, o tema que de norte a sul junta
pessoas numa acção quase ritualista, de transe. Falo,
naturalmente, da recolha de tampas de plástico.
Quase de certeza já falaram nisto. É mais que provável.
Mas tê-lo-ão feito (aposto) na altura em que a recolha
começou, na altura em que era ‘um gesto bonito’ (para uns)
ou ‘algo condenado a desaparecer em menos de nada’
(para outros). O desafio a que eu me proponho é trazer
90
este assunto de novo à luz da ribalta e, passados estes anos,
analisar que efeitos a tampomania 8 teve na população
portuguesa.
Convivo regularmente com pessoas que sofrem de
tamponite9 e sei o que o malefício das tampas lhes fez. E
digo malefício sem qualquer hesitação. Eu sei que há um
propósito nobre a orientar tudo isto (dizem), só que à
custa disso esquecemo-nos sempre dos que contribuem
para isso. Não nos lembramos das pessoas que deixaram
de consumir álcool para passar a beber só aguinha e
iogurtes líquidos. Hábitos de alimentação alterados por
completo para que alguém receba uma cadeira de rodas.
Não me entendam mal. Acho bem que se ajude quem
precisa, mas há coisas que não compreendo. Como por
exemplo: porque é que o único plástico aproveitável é o
das tampas? As garrafas também são feitas de plástico.
Não podemos reciclá-las também? E sim. O plástico é
reciclado. Mas o único plástico que vai para as cadeiras
(pelo que dizem) é o das tampas.
Tentem lembrar-se de quando a coisa começou. No
início só recolhiam tampas de garrafas de água – as
tampas azuis –, só depois passaram para os iogurtes e
refrigerantes e outros produtos. Se repararem, as pessoas
fazem uma cara estranha quando vêem uma tampa de
outra cor que não azul no meio duma pilha de tampas
recolhidas. Cheguei a ver o dono dum café a chocalhar o
garrafão das tampinhas colocado em cima do balcão para
ocultar amarela que alguém lá havia deixado.
Mas voltemos ao tema do plástico. Quantas toneladas é
que eles dizem ser preciso? Uma? Duas? Quatros? Dez? E
só à custa de tampinhas. Sabem quantas tampinhas são
precisas para fazer um quilo? Quinhentas. Pela lógica
8
9
Se ninguém registou isto, azar. O termo agora passa a ser meu.
Outra para mim.
91
matemática, para fazer duas toneladas são precisas um
milhão de tampinhas. A considerar isto tudo como
proveniente de garrafas de água, a coisa deverá rondar os
75 cêntimos por tampinha. Contas feitas, estamos a falar
dum valor na ordem dos 750 mil euros. Talvez o preço da
cadeira seja mesmo esse mas, também, talvez fosse
possível fazer mais cadeiras se aproveitassem mais plástico.
Digo eu.
Até há pouco julgava que tudo isto não passava duma
manobra orquestrada pelos donos das companhias de
sumos, águas, etc. para vender mais e mais. Vendo as
coisas doutra perspectiva, vejo que talvez a resposta seja
mais óbvia que isso que se, por alguma razão, nos escapou
durante todo este tempo é porque somos estúpidos.
Eis a minha dedução: só recolhem tampas. Não lógico
assumir que é o pessoal que fabrica as tampas que tem
algo a ganhar? E agora vocês interrogam-se: mas as
tampas são feitas no mesmo sítio não são? E eu é que sei?
Se as minhas conclusões vos fizerem algum sentido, talvez
sejam; senão, quem sabe?
A verdade é que isto que eu estou a dizer, faz tanto
sentido quanto aquilo que nos disseram. A diferença é que
não peço nada em troca. Ainda.
92
Como podem reparar tenho estado ausente. A esse facto
devem-se compromissos profissionais, excesso de labor
doméstico e falta de tempo. Enfim, tudo razões sem
qualquer fundamento. Tentem ver isto como um serviço.
Vocês querem vir cá e ler artigos actuais e interessantes.
Nesse caso, porque é que vêm aqui? Pergunto-me isso.
Ainda assim, apesar de não perceber porquê, percebo e
calculo que haja quem cá venha pela actualização dos
posts. (Também há quem venha através de pesquisas feitas
no google a ‘Floribela’ e ‘Doce Fugitiva, mas isso fica
prometido para um próximo artigo.) E é nisso que eu
tenho falhado mais. No fundo, o que eu estou a fazer é
prestar um mau serviço e a usar desculpas esfarrapadas
para, lá estar, me desculpar.
Por tudo isto vou mudar de assunto e falar-vos do meu
relacionamento com a Pixmania.
Começou numa manhã de Inverno, fria e chuvosa.
Lembro-me de ter pensado então ‘se isto fosse uma gaja
boa, daqui a uns dez estaríamos a lembrar-nos deste dia’.
Só que não era uma gaja boa, era o site da empresa
Pixmania. Estávamos no dia 24 de Janeiro do ano da graça
do Senhor de 2007 (se digo ‘graça’ é porque,
provavelmente, o único que se está a rir é Ele) e eu, qual
consumidor incauto, fiz fé nos ditos de qualidade e
93
satisfação garantida ao cliente. Mais honestidade que esta,
posso dizer que só li nos anúncios da secção ‘Relax’ do
jornal Correio da Manhã.
Agora entra a parte mais ou menos séria (digo ‘mais ou
menos’ porque, apesar de rigoroso quanto aos eventos, não
hesitarei em atirar uma boca sempre que a ocasião o
justifique; isto é, em cada parágrafo):
Fiz uma encomenda através do site. Como fui um
menino bonito durante todo o ano de 2006, o Pai Natal
ofereceu-me uma televisão para pôr no quarto. (Iupi!!!)
Então eu, como além de bonito, sou também poupadito
(mas não sovina) decidi que estava mais que na hora de
arranjar um aparelho que me permitisse passar todo o
VHS que tinha ainda aproveitável para DVD e um suporte
de parede onde pudesse colocar tanto a TV, como o tal
aparelho.
Abro aqui um parêntesis para dizer que não culpo o
google se os primeiros resultados de uma pesquisa feita a
‘gravador dvd/vhs’ reportam ao site da Pixmania. É graças
ao google, à sua organização e aos cliques feitos por acaso
que tenho 800 visitas.
Iludi-me pela pesquisa e fiz a tal encomenda: um
gravador-leitor DVD/VHS da Samsung e um suporte para
vídeo/DVD da Vogel. Como gosto de fazer as coisas como
deve ser, fiz o pagamento e envio do comprovativo
conforme requisitado dois dias após ter feito o pedido. E
fiquei à espera.
Para quem nunca pensou por esta experiência, esperar
por uma encomenda quando já enviámos o dinheiro pode
provocar ansiedade. É como esperar que um familiar volte
da Guerra. Por vezes enviamos o dinheiro para lá, com
uma nota para ele comprar um agasalho e ele depois gasta
tudo em meretrizes e vinho verde. (Não escrevi ‘putas’
porque podia parecer mal.) O que nos chega a casa pode
não ser o que estávamos à espera.
94
E assim foi… em parte. Graças a telefonemas sucessivos
e ao reenvio do comprovativo da transferência a partir da
loja da Pixmania em Lisboa consegui ter a encomenda em
casa somente dois dias do prazo para o pagamento ter
terminado. Não vos contei? Fazemos o pedido, enviamos o
dinheiro e o comprovativo e se o comprovativo não chegar
lá no prazo de quinze dias, o pedido é cancelado. Quanto
ao dinheiro, não sei. Há-de ficar por lá.
Felizmente, não foi isso que aconteceu. A encomenda
chegou e estava quase tudo como eu desejava. Primeiro
senão, porventura o menos chato, o tal aparelho não trazia
instruções em português. Não que eu precise, mas se tenho
direito a ter só tenho é de ter, nem que seja só para ter na
prateleira. O segundo senão é o que me levou a escreve isto.
Falo, claro, do suporte. Conforme leram mais acima, a
minha intenção era comprar um suporte que desse tanto
para a TV como para o gravador. De preferência, ajustável.
O que recebi foi isto:
A foto não ficou com boa resolução
Pensei então, se eu fosse uma tal gaja à espera que o
marido regressasse da guerra, seria uma boa altura para
cair nos braços da histeria e desatar aos gritos com uma
vozinha estridente a fazer lembrar a claque do Nacional da
Madeira “Assassinos! Assassinos! Cortarem-no todo!
Assassinos!”
Senti-me como os consumidores dos anúncios de
serviço pessoal dos jornais. Lemos a descrição, ouvimos a
voz e fazemos o retrato na cabeça. E depois vai-se a ver e…
é o que todos nós sabemos.
95
O meu caso foi ainda pior pois tinha uma foto para me
guiar antes de ter feito a encomenda. (O engano não foi só
meu, até funcionários da loja julgaram ser este o artigo.)
É bonito ou não é? Agora comparem:
E esta porcaria amputada custou quase trinta euros.
Trinta euros por uma merda sem estabilidade, sem ajuste
e, pelo que dizem, só compatível com suportes da mesma
marca.
No site da Pixmania o suporte para TV da Vogel mais
barato que encontrei custava 41 euros. Fiz o que qualquer
pessoa sensata faria e mandei-os para o raio que os parta.
Como? Fui a um hipermercado e comprei um suporte
completo, ajustável em cima e em baixo. Por quanto?
Menos de trinta euros. Oh! Mas não é possível! E então
que fizeste tu depois Joel? Depois disse à vozinha na
minha cabeça para se calar ou os leitores deste artigo iriam
pensar que eu não regulo bem. E depois fui devolver o
suporte.
Antes disso já tinha reclamado – até agora sem resposta.
Entreguei o suporte a 26 de Fevereiro. Só no dia 12 de
Março recebi um mail a confirmar a recepção do artigo
para avaliação. Olhem novamente para isto:
Que merda de avaliação é preciso fazer? Ou está inteiro
96
ou não está. A não ser que – e aqui é a parte em que se
comprova o que eu disse – eles julguem que o artigo seja
um suporte completo e estejam à espera que chegue o
resto. É que se for esse o caso, não vale a pena esperar
porque não vai chegar nada.
Quanto a mim, continuo à espera que me devolvam o
dinheiro ou qualquer coisa para compensar; que alguém
do programa da Fátima Lopes ou do Manuel Luiz Goucha
se aperceba do meu problema e me leve à televisão; ou
então aquela menina do ‘Nós por cá’. Se calhar preferia
isso. Por uma questão de alinhamento.
 Você na TV (TVI): Tonicha + EU + filha violada pelo
meio-irmão
 Fátima (SIC): Donaltim + EU + Cláudio Ramos
 ‘Nós por cá’ (SIC): reclamação à TV Cabo + EU +
poste de iluminação na varanda.
97
AFINAL O QUE SE PASSA?
A classe dos professores queixa-se de estar a ser vítima de
injustiças, discriminações, atentados aos direitos
fundamentais, blá blá blá. Essa cambada (que é o mínimo
que se pode dizer) queixa-se, queixa-se e sem razão.
Primeiro eram os horários, depois eram as deslocações
(tomara muitos pilotos da TAP viajarem tanto como certos
professores), depois vieram os programas escolares, os
putos delinquentes. Agora, para animar a festa, são as
Juntas Médicas.
Eu já não sou estudante, também não sou professor –
esses problemas passam-me todos ao lado – mas porra!
arranjem outra merdinha para se queixarem. Tudo bem,
morreram dois professores. Só que não se esqueçam. Uma
tinha leucemia, outro tinha cancro. Não é ser má língua ou
insensível, mas não eram propriamente os melhores
exemplos de saúde que andavam aí.
No dia 24 de Julho li no DN a propósito de um terceiro
caso do género, o de uma professora, também com cancro.
Desconheço a situação actual da senhora desde então; sei
que a Junta Médica que avaliou o seu pedido de
aposentação, recusou a aceder. E fez senão bem. É que é
preciso ser insensível ou burro para não ver o bem que
estas Juntas Médicas estão a fazer por estes professores.
É muito simples. Se a Junta Médica os tivesse
reformado, o que teria acontecido? Ficavam em casa, na
companhia dos seus, a viver bem e a sonhar, diriam os
mais positivos. A verdade é que a serem reformados mais
98
cedo, estes professores ficariam em casa, a pensar no que
já não poderiam fazer, no pouco tempo que tinham, a
lamentar-se por decisões mal tomadas e que já não
poderiam corrigir. Ficariam tristes e morreriam
depressivos.
Ao trabalharem até quinar, nem dão pelo tempo a
passar. Alguns nem conseguem pensar se estão alegres ou
tristes; continuam a educar os seus alunos. O que é senão
nobre.
Além de que, isso de trabalhar até morrer é um acto que
muitos sonham atingir, mas que poucos querem que passe
realmente do sonho. O verdadeiro actor, o verdadeiro
artista, quer morrer no palco, o verdadeiro lutador quer
morrer no ringue, o verdadeiro toureiro quer morrer na
arena. Estes professores têm o privilégio de poderem
morrer nas salas de aula – imaginem o que seria um
professor de Expressão Dramática ao encenar uma morte,
soltar o último fôlego. Mais realista seria impossível – e
ainda se queixam.
Isto sem falar que no ‘tempo da outra senhora’ (a versão
espacial desta expressão será, porventura, na ‘casa da
Joana’?) ainda continuavam a exercer o seu poder de voto
depois de mortos. Alguns tinham a vida, perdão, tarefa,
facilitada. Nem se precisavam de mexer; já estavam nas
urnas, era só votar.
Bons tempos, bons tempos…
(Quis meter-me na pele dum dos sujeitos das Juntas
Médicas que têm tomado estas decisões tão humanistas e
respeitadoras da dignidade profissional. Além do que
acabaram de ler, isto provocou-me também uma azia.
Conto que tenha sido por ter estado tanto tempo na pele
de tal espécime e não por qualquer coisa que tenha comido
estragada.)
99
100
No mundo de hoje é preciso sabermos bem distinguir o
bem do mal, o certo do errado. É preciso traçar linhas e
sabermos quais os nossos limites. Em tempos lutaram pela
nossa liberdade, o que, apesar de simpático, não teve
grande efeito prático na elaboração desta pequena lista de
três coisas com que eu não brinco.
1ª coisa com que eu não brinco: Deus
A minha política no que se refere a coisas “gozáveis” é
simples: têm de existir. Deus não existe, logo não brinco
com ele. Alguma piada ou referência que eu faça é apenas
porque de vez em quando vejo Deus como um gambuzino.
2 ª coisa com que eu não brinco: ciganos
Admiro-lhes o espírito de união, o nomadismo e o modo
como se aguentaram ao longo dos tempos. Confesso a
minha ignorância em relação à sua cultura e costumes
(tipo usar uma banheira como horta). Acredito que hajam
alguns com espírito para a brincadeira, mas a diferença de
culturas ensina-me a ser cauteloso e a pensar bem antes de
agir. Por isso, não brinco com eles.
3 ª coisa com que eu não brinco: José Sócrates
Como aspirante a funcionário público que sou, devo
pensar bem antes de dizer o que seja sobre o Senhor
Primeiro-Ministro Engenheiro José Sócrates, não vá dizer
algo impróprio sem querer. Mesmo que fosse trabalhador
do sector privado, continuaria a rezar pela sua alma e a
101
considerar este o melhor Primeiro-Ministro de sempre.
Um grande bem haja para si, Senhor PrimeiroMinistro
Que Deus o tarde o a ter na sua companhia que o
mundo bem precisa de si.
Assina um funcionário público dedicado
P.S.: Sócrates rules! Plato, go fuck yourself!
102
Aos anos que andavam a falar disto e até me custa a
acreditar. Será que foi mesmo desta?
No dia 24 de Julho o Ministério da Cultura anunciou a
surpresa que todos aguardavam há três anos.
Convenhamos que em termos de surpresa não terá
resultado muito bem, mas a nível de efeitos positivos foi
uma boa nova.
Para quem não sabe o Ministério da Cultura criou um
novo fundo de investimento para o cinema e o audiovisual
que vai deixar de ser atribuído apenas pelo ICAM (Fundo
de Apoio Indiscriminado a Paulo Branco e Outros),
passando a ter a participação da RTP, da SIC (não me
lembro se também da TVI, mas é possível). Em suma,
entidades públicas e privadas.
Sublinho aqui a presença das privadas num fundo de
investimento. É o que me faz estar contente. Investimento
privado implica retorno do investimento, o que vai obrigar
muitos cineastas portugueses a deixarem de olhar tanto o
seu umbigo e fazer filmes para o público.
Por outro lado temos a primeira consequência negativa
disso que é começarem a fazer filmes tipo ‘O Crime do
Padre Amaro’ à paposeco. Se é excelente a ideia de ver
gajas como a Soraia Chaves nuas a toda a hora e instante,
às tantas tanta oferta torna-se monótona e perde o
interesse.
Não sou contra o cinema de autor – o Manoel de
103
Oliveira quer fazer um filme? Deixem-no – nem sou contra
“Padres Amaros”, “Sortes nulas” ou “Coisas ruins”. Há
lugar para tudo e para todos. Façam o que quiserem, mas
façam para o público.
O grande problema do cinema português é apenas este:
a bipolarização. São dois extremos tão distintos que
quando vemos um, não acreditamos que existe outro. O
que eu quero é algo que estará algures no meio.
E se alguns temem que conceitos como ‘rendimento’,
‘comercialização’ ou ‘lucro’ possam tornar os filmes
desprovidos de vida ou interesse cultural, pensem nos
subsídios que receberam durante anos e no que fizeram
pelo cinema português em Portugal. Lá fora é bom, mas
(preto no branco) que se foda isso. Estamos cá dentro, não
é lá fora.
O senhor Paulo Branco, um dos (senão o) produtores
portugueses que mais dinheiro recebeu do Estado para
fazer filmes ao desbarato, aquele que num programa da
RTP disse em directo que o Estado não lhe dava apoios
(abro aqui um parêntesis para dizer que se calhar isso até é
verdade; em nome individual, Paulo Branco nunca recebeu
apoio do Estado para fazer filmes, só através da Madragoa,
da Clap Filmes, talvez também da Medeia, etc., o que é
muito pouco realmente) nenhuns foi o porta-voz dos
indignados nessa tal conferência. Para ele e outros como
ele a ideia de fazer filmes que gerem receitas é um
anátema.
O desrespeito que tiveram pelos contribuintes
portugueses que vos sustentaram os ‘tiques’ vai vos sair
caro. Agora é que vão ver como elas vos mordem!
104
ARTIGO A FAVOR
Agraciar o público que lê tão antigo e, ao mesmo tempo,
actualizado matutino com algumas das obras literárias
mais referenciadas da cena nacional e internacional é algo
que – a lógica assim o indica – só podia vir dum jornal
com a marca de qualidade do Diário de Notícias.
A escolha do Verão para lançar esta colecção foi senão
uma escolha mais que sensata. É no Verão que as pessoas
mais têm tempo para ler e a visão de portugueses na praia
agarrados a tão magníficos livros deixa-me com uma
lágrima no canto do olho. Além de que, no Verão, como os
dias são mais longos, há mais luz para ler sem ter de se
recorrer a luzes artificiais. Verificamos assim, da parte do
DN, uma clara preocupação em dois aspectos; a saber, o
ambiente e a difícil situação financeira de alguns
portugueses que não fosse por alguns cafés não teriam
como aceder a tão fascinante periódico.
Obrigatório será também referir a dimensão dos livros.
São livros de bolso, sim mas isso não os torna inferiores
em nada em relação a outros de maiores dimensões. Pelo
contrário, as suas dimensões reduzidas permitem guardálos, inclusive, no bolso da camisa. No meu caso, no bolso
esquerdo. Bem junto ao coração.
Concluo, dizendo que quando terminar o Verão e, por
conseguinte, esta colecção, será um sacrifício ter de
esperar mais um ano até que seja época de iniciativa tão
louvável poder tornar a acontecer.
105
ARTIGO CONTRA
Só podem é ‘tar a gozar com um gajo! É que só podem!
Não bastava andarem a saltar com o ‘Bandeira’ dum lado
pró outro, agora ainda tiveram a ideia de lançar uma
colecção de livros de bolso todos eles publicados no século
passado pela Europa-América. Ainda bem que a porcaria
dos livros é de graça. À qualidade que eles têm, também
era abusar.
O primeiro defeito a apontar é a escolha das obras.
Quem é o português típico de praia que vai ler Dante,
Balzac ou Dostoievski? Atenção! Não é dizer que todo o
português é burro ou que só lê Margarida Rebelo Pinto,
Rita Ferro, Dan Brown, Nicholas Sparks, Rodrigues dos
Santos ou o que estiver no top do Modelo & Continente.
Eu sei que há portugueses que lêem estes autores. Para
dizer a verdade, eu próprio leria. E se aqui escrevo no
condicional é precisamente porque a merda da letra é tão
pequena que um gajo tem de pensar bem se vale realmente
a pena o esforço.
Essa da letra é outra. As edições da Europa-América já
de si tinham a letra pequena, mas estes exageraram na
dose. Os livros até podem ter sido bem escolhidos, mas só
para quem apanhou a lupa distribuída gratuitamente com
o primeiro livro. Quem não apanhou, azar. Por outro lado,
usar uma lupa para ler aqueles livros à luz do sol, apesar
de necessário, pode ter consequências ardentes.
O que me leva ao próximo defeito a apontar: a estação
do ano. Numa altura em que as gajas mais andam sem
106
roupa, em que o calor incita à procriação (que este país
tanto precisa), o que é que o DN faz? Espeta-nos com
livros do arco da velha que qualquer Biblioteca Municipal
tem (em edições com letra que se lê) e diz: leiam,
eduquem-se. Mais valia terem poupado as arvorezinhas e
pegarem num tronco bem grosso e enfiarem-no no recto
da senhora dona Europa. Andamos à tanto tempo
vergados que nem iríamos notar.
Ainda bem que só voltam para o ano.
(E acabei por não falar do papel. Aquela porcaria é tão
rija que nem para limpar o cu serve.)
107
Finalmente condenaram o Cabo Costa. A razão pela qual
escrevo ‘finalmente’ não é porque tivesse alguma coisa lá
empatada por causa do caso, por conhecer alguma das
vítimas e querer justiça ou por não gostar do sujeito em
questão, mas simplesmente porque acho que ‘finalmente’ é
uma palavra bonita para começar um artigo com ‘Santa
Comba Dão’ no título.
Pois é. Não tenho nada, rigorosamente nada, a ver com
o caso, mas estou contente que tenha chegado ao fim. A
terra de onde veio esse Grande Português com voz de
homem forte (daquelas que metem respeito e jamais
suscitam dúvidas quanto à sua pujança) que foi Salazar
não merecia ver a sua grande História manchada por uma
figura sinistra, outrora um agente policial cumpridor da lei.
Por que, senão por Salazar, seria Santa Comba Dão
conhecida? Julgo que se o Cabo Costa fosse o único com o
selo ‘made in Santa Comba Dão’, que mil vezes prefeririam
os seus habitantes serem uma terra insignificante sem
quaisquer figuras de referência. Bem melhor estavam
quando eram apenas conterrâneos daquele que conduziu
os destinos de Portugal durante tantos anos. (Suponho que
tenha sido em Santa Comba Dão que Salazar aprendeu a
nobre arte de curtir o couro. Senão de onde terá vindo o
nickname ‘Botas’?)
O Cabo Costa foi condenado a vinte e cinco anos. A lei
não dá para mais. E é pena. Vinte e cinco anos é pouco.
108
Devia ter levado vinte e seis ou, vá lá, se quisermos mesmo
ser rigorosos, vinte e sete. Já dava nove anos por cada
vítima, era mais fácil controlar.
Bandido! Andou a gozar com a gente este tempo todo! É
bem feita pra aprender! Assassino! (Estas expressões
ficam sempre bem.)
Já estou farto de dizer isto e não me canso: isto queria
era um Salazar em cada esquina! De preferência que fosse
gaja, limpinha e não cobrasse muito. (Mas agora que
passam recibo, não sei…)
109
Parece que tenho um dedo que adivinha. No meu
penúltimo artigo referi a letra minúscula com que os livros
da colecção de livros de bolso do DN são impressos. Eu
tenho boa vista, graças a um trabalho bem feito pelos
meus pais e não por qualquer obra e graça do Espírito
Santo. É verdade que tenho algum estigmatismo reduzido
na vista esquerda, mas… Bom, não sei se é reduzido ou não.
Pelo menos da última vez que fui ao oftalmologista era.
Agora não sei. Talvez seja tipo as f—
Peço desculpa por me estar a desviar do assunto em
análise. No entanto, esta conversa sobre falta de vista em
geral e oftalmologia em particular tem tudo a ver com o
tema deste artigo.
Como dizia antes, não tenho falta de vista, mas há quem
tenha. E então agora com aqueles que já falei, ainda mais.
No Correio da Manhã do dia 8 de Agosto deparei-me
com uma notícia cujo título era ‘ROUBO DE ÓCULOS’. Só
de olhar para o título, somei 1+1 (dá 2, para quem não sabe)
e pensei: ‘Já estás!’ Porém, ao ler a notícia apercebi-me
que a grande parte dos óculos roubados eram óculos de sol.
Ainda assim, o artigo refere que também roubaram
armações para óculos de prescrição médica.
A sorte do DN é que estes roubos não foram provocados
por influência da sua colecção de Verão. Porque, a avaliar
pelos prejuízos, se eu fosse um dos donos das lojas
assaltadas, quem havia de pagar as despesas era o jornal
110
responsável.
Continuando no mesmo artigo, mas fazendo um
viragem de perspectiva, pergunto: de quem foi a culpa dos
assaltos? Parte foi dos ladrões, como é óbvio. Creio, porém,
que não será errado atribuir uma quota de culpabilidade
ao responsável do Centro Óptico de Seia pelo assalto a este
local.
Luís, se estiveres a ler isto, eu sei que não fizeste por
mal, mas descobrir os melhores ângulos de instalação das
câmaras não é coisa que demore muito tempo a fazer.
Principalmente num sítio onde se trabalha há já algum
tempo e que é suposto conhecer-se bem.
Vá lá, isso eu até deixo passar. Agora, dizeres que foste
vítima dum crime organizado… Não sou especialista em
assaltos, mas duvido que qualquer acção criminosa que
recorra ao uso duma marreta quando há tantos outros
objectos mais subtis tenha algo de muito organizado por
trás.
Desejo-te sorte em recuperares o que é teu, porque
calculo que não tenhas dito o que disseste por maldade.
Estavas com a cabeça quente; o que, dada a talhada que foi,
é perfeitamente compreensível.
111
Antes que comecem já aí a pensar, eu digo-vos já: não
estou a bater no ceguinho. Se escrevo um quarto artigo à
volta do mesmo tema, por alguma razão é. Novamente me
debruço sobre a questão na medida em que continuo a ter
um dedo que adivinha. A vossa atenção agora, por favor.
Trabalho numa Biblioteca Municipal, que se divide
numa biblioteca central e mais três pólos em diferentes
freguesias do concelho. Nestas últimas duas semanas
calhou a mim a tarefa de ir buscar os jornais à papelaria.
Coincidência ou não, no dia em que escrevi o artigo
anterior relacionado com este tema, era suposto ter
recebido um livro com o DN – “O Último Adeus” de Balzac
– e não veio, veio só na sexta.
Era aqui que eu queria chegar. E porquê? Porque este
livro já vem impresso com letra de gente. Só que depois
espalharam-se outra vez ao comprido.
A acompanhar “O Último Adeus” veio o livro respectivo
de sexta, “O Caso dos Gémeos Desconhecidos” de Ellery
Queen, que, mais uma vez, requer o uso de uma lupa para
poder ser lido.
No entanto, e é isto que não percebo, o livro que saiu no
dia seguinte, o “Daisy Miller” do Henry James, vinha
112
também impresso em letra de gente, um pouco mais
pequena do que a do livro do Balzac mas, ainda assim,
legível.
Resolvi então pegar nos livros já distribuídos da
colecção e fazer uma pequena avaliação. Eis uma lista (a
ordem é aleatória):
 DAISY MILLER, de Henry James
 O CASO DOS GÉMEOS DESCONHECIDOS, de Ellery
Queen
 O ÚLTIMO ADEUS, de Honoré de Balzac
 O SENHOR DA CHARNECA, de Ruth Rendell
 A DIVINA COMÉDIA: O INFERNO, de Dante
 A MÁQUINA DO TEMPO, de H. G. Wells
 OS EUROPEUS, de Henry James
 CARTAS DE INGLATERRA, de Eça de Queirós
 FREI LUIS DE SOUSA, de Almeida Garrett
Os livros cujos títulos estão a negrito correspondem
àqueles publicados com letra legível. Porque é que uns
foram publicados assim e outros não?
De início pensei que era um caso de bipolaridade ou que
lhes tivesse dado na veneta fazer assim.
Foi após analisar com atenção os dados que possuía que
me deparei com uma terrível conclusão.
Tal como o jornalista do “24 Horas” ou do “Tal e Qual”
que descobriu que conseguia formar a palavra
‘PORTUGAL’ se tirasse um ‘P’ aqui, um ‘o’ ali, etc.,
também eu descobri que há um código secreto implícito
nos livros publicados.
Primeiro, há que separar os livros; os que nos
interessam são aqueles com os títulos a negrito.
Peguemos no ‘Frei Luís de Sousa’ e olhemos com
atenção para a CENA VI do Acto Primeiro. É anunciada a
113
chegada do senhor. Jorge, Madalena, Maria e Miranda são
as personagens intervenientes. Atenção particular à frase
“Terrível sinal naqueles anos e com aquela compleição!”
Saltemos agora para “O Último Adeus”, para a página
24, na qual o magistrado, “apontando para a
desconhecida”, pergunta “quem é aquela senhora?”. O
senhor de Grandville responde-lhe que é a condessa de
Vandières, louca ao que parece, regressada há dois meses.
Uma espreitadela agora ao “Daisy Miller”, à capa e à
contracapa, onde podemos observar a figura de Daisy
Miller em posições diferentes. Na capa, temos Daisy
situada no lado direito, na contracapa, Daisy está do lado
esquerdo. O cenário é o mesmo, a posição é a mesma.
Porquê, então, a mudança?
Se à primeira vista a relação entre estas três obras não
vos salta à vista, é perfeitamente normal, uma vez que eu
também só reparei nisso passado algum tempo.
Nas duas primeiras obras, temos o caso de uma pessoa
que regressou após um período de ausência. Na terceira, o
caso de uma mulher que é mal vista pelos seus
conterrâneos.
Porquê?
Porque é que uma mulher honesta é vista com maus
olhos?
Só se não for uma mulher, pensei eu.
Estava descoberto o enigma. D. João, o regressado do
Frei Luís de Sousa na figura do Romeiro, era na verdade a
condessa de Vandières. Faz todo o sentido que após um
cativeiro de vinte anos, D. João não só estivesse um pouco
louco como também decidido a experimentar um tipo de
vida alternativo.
O Romeiro/condessa de Vandières foi assim perseguido
até ao fim da sua vida por aqueles que não o aceitavam.
Queimado/a numa fogueira ele/a jurou voltar.
E um dia Daisy Miller nasceu. Mulher por fora, homem
114
por dentro, esconde o seu terrível segredo numa sociedade
que não a aceita.
Das duas uma, ou é isto que eu acabei de dizer ou então
é mero acaso.
115
No final do ano passado abordei o tema da guerra iniciada
pela TVI com a série ‘Morangos com Açúcar’. A SIC, como
se sabe, respondeu com a ‘Floribella’. Por sua vez, a TVI
contra-atacou com a ‘Doce Fugitiva’. Terminei o artigo
com uma nota de apreensão em relação ao que a retaliação
da SIC poderia trazer. Passados oito meses, temos a
resposta. ‘Chiquititas’ (ou ‘Chiquitities’, como eu
carinhosamente a baptizei) é a resposta (tardia) à ‘Doce
Fugitiva’. Já vi o produto em questão e há muito a apontar.
Comecemos pelos cenários e pelas perguntas que
andam na cabeça de toda a gente: onde é que o director
artístico compra droga? Será tão barata quanto parece?
Antes de vos responder, deixem-me que vos diga que sou
uma pessoa alegre. No entanto, aquela cor toda, aqueles
contrastes; aquilo para mim não é alegria, são os ácidos
que estão cada vez mais baratos.
Ainda não apanhei bem o rumo da história. Primeiro,
porque não vi do princípio; segundo, porque – e eu já
tenho a experiência disso – tenho medo de começar a ver e
de me interessar. Quase que ia acontecendo o mesmo com
a ‘Floribella’ e com os ‘Morangos’. As gajas são boas, um
gajo começa a ver, entusiasma-se e… pronto, fica agarrado.
Julgo, porém, que não hão de haver muitas coisas que
difiram entre a ‘Floribella’
e as ‘Chiquititas’. As
‘Chiquititas’ têm mais cor. Fora isso, ambas têm crianças
parvas, fadas do lar, mulheres más, mulheres boas,
116
homens bons, homens maus, etc. Desconheço se há ou não
uma árvore mágica, mas desconfio que um dos putos é
capaz de ter uma planta no quarto, daquelas que se secam
as folhas e depois fuma-se e é fixe. Sei também, ou por
outra, desconfio que há gémeos ou, pelo menos, há falta de
dinheiro para contratarem mais uma actriz e então
puseram a mesma actriz a interpretar dois papéis.
No entanto, não foram os maus aspectos de ‘Chiquititas’
que me levaram a escrever este artigo, foram os bons, que,
embora em menor quantidade, justificam uma cuidada
referência.
Sou fã, ou melhor, sou apreciador do ‘Dragon Ball’. (Fã
alude à compra de cromos e porta-chaves e tatuagens e
pins; eu só vejo os episódios). Ao início não era, não
suportava aquilo. Um dia vi um episódio.
Era a batalha entre o Songoku e o Coraçãozinho de Satã,
no final da série original. Só queria ver quem ganhava. Foi
o suficiente. A batalha ainda mal ia a meio quando
comecei a ver e quando, finalmente, terminou já havia sido
‘capturado’. O ‘Dragon Ball’ neste aspecto é como as
telenovelas, se nos distraímos um pouco somos logo
apanhados. Porquê este desvio para o ‘Dragon Ball’,
perguntam vocês. Tem tudo a ver com as ‘Chiquititas’ e
com a personagem Lili.
Um dos aspectos mais difíceis, talvez o mais difícil, de
um filme do ‘Dragon Ball’ com pessoas é conseguir
reproduzir com exactidão o penteado do Songoku sem ter
de recorrer a CGIs. Ao ver Lili com aquele penteado, eu
ouso acreditar que é possível.
Termino com uma chamada de atenção à actriz Marta
Fernandes que disse à revista ‘Correio da Manhã TV’ que a
série, e cito, “trata o mundo dos adultos visto do universo
das crianças. A visão que tenho deste trabalho é que é uma
distorção da realidade adulta que todas as crianças
acabam por fazer”.
117
Ora, eu já fui criança (e em algumas coisas ainda sou) e
não me lembro de ver o mundo assim. É claro que no meu
tempo o armário dos remédios ficava fechado. E ao senhor
director artístico e aos argumentistas, tentem não deixar
as drogas num sítio onde as crianças tenham acesso. É
verdade que se as crianças começarem a tomar ácidos vão
passar a ver o mundo assim. Só que isso é adaptar a
prática à teoria e isso não é correcto.
118
Os exemplos vêm de cima. A fama subiu-lhe à cabeça.
Duas frases possíveis de se ouvir quando alguém
conversa sobre o caso da detenção do jovem Tomás Santos,
actor da série infantil ‘Morangos com Açúcar’.
Para os mais atentos, que repararam que eu classifiquei
a série em questão infantil e não juvenil, eu explico o
porquê desta minha opinião. É que, a julgar pelos
comportamentos públicos de alguns deles, não estamos a
lidar com adolescentes, e sim putos.
No caso particular do Tomás, consta que foi detido
juntamente com mais três indivíduos pela PSP de Cascais
por, alegadamente, estarem a tentar sequestrar o condutor
do veículo onde se encontravam.
Isto da linguagem jurídico/jornalística é porreiro
porque graças a ela e a palavras como ‘consta’,
‘alegadamente’ e ‘tentar’ pude dizer que ele é culpado sem
que o tenha dito realmente. Não estou a dizer que seja,
mas também não estou a dizer que não seja. Chama-se a
isto o principio Marcelo Rebelo de Sousa: pode ser, mas
também pode não ser.
Voltando ao caso do sequestro, Valdemar o sequestrado,
disse que a razão por detrás do acto era uma dívida antiga
que ele tinha grupo. Estamos a falar de putos com menos
de vinte e cinco anos. Dívidas antigas neste universo etário
poderão ser o quê? Berlindes, pastilhas, gomas? Pessoas
com menos de vinte e cinco anos não têm dívidas antigas.
As dívidas só atingem o estatuto de antigo dos trinta anos
para cima.
119
Se estivéssemos a falar de pessoas com a idade de um
Ruy de Carvalho, a expressão ‘dívida antiga’ seria
extremamente bem empregue. Como não estamos, eu digo
assim: putos dos morangos, cresçam e apareçam!
120
CONTRAMÃO – A SEQUELA
O tribunal da Maia proferiu na quinta-feira passada a
“sentença da repetição do julgamento do caso de um
veículo descontrolado que voou para a contramão da A3,
em 2005, esmagando outra viatura e matando a sua
condutora.”
Transcrevi a frase tal qual ela veio no jornal onde li a
notícia (mas não digo qual porque o CM não me paga a
publicidade) porque há nela um elemento em particular
que me fez pensar: hã?!
Falo da expressão ‘voou’. Se o carro voava, porque é que
não se desviou? Tinha espaço suficiente para isso
Depois, temos a repetição do julgamento. Falemos da
primeira
sentença.
Dois
condutores
foram
responsabilizados pela morte…
INTERLÚDIO
na notícia falavam de dois condutores:
o que deu a pranchada e o que deu
pranchada; um deles morreu. Ora, se
os
dois
foram
considerados
responsáveis, qual será a pena da
morto? A condenação eterna?
… da condutora e “condenados a visitar semanalmente a
unidade de politraumatizados do Hospital de S. João”.
É bonito o gesto, mas ao mesmo tempo é algo que me
121
assusta e me indigna. Por um lado, temos um fantasma a
assombrar pessoas que já passaram por muito; por outro,
um tipo que provocou um desastre de viação a andar na
boa junto de pessoal que ficou paraplégico por causa de
pessoas como ele é estar a gozar com quem não mereceu.
Ainda não sei qual o resultado da nova sentença.
Quando souber – e se valer a pena – eu depois digo
qualquer coisa.
À ESPERA DO INEM
O caso da mulher que ligou para o 112 a pedir auxílio
para o seu marido e para o seu sogro teve agora o seu
desfecho com a operadora que fez ouvidos de mercador a
receber a sua punição. Punição essa que – concordo com o
que a mulher diz – é pouca. Cinco dias de suspensão são,
realmente, muito pouco. Faz todo o sentido a sugestão
dada pela dona Ermelinda. “Ela devia ser colocada noutro
serviço com menos responsabilidade”. Concordo
perfeitamente, até porque já se viu que a responsabilidade
desta operadora é pouca ou nenhuma.
APRENDER A NÃO SER GORDO
O termo científico não é ‘gordo’, é ‘obeso’, mas eu não
sou cientista. Digo isto já para que não hajam confusões.
A Faculdade de Motricidade Humana, com o apoio da
Câmara Municipal de Oeiras vai lançar o Programa Peso
Comunitário. O que se pretende (em linguagem simples) é
ensinar os gordos a serem menos gordos, os magros a
serem menos magros e os assim assim a ficarem como
estão.
Boas intenções, é certo, mas fica-se por aí. E porquê?
122
Por causa do horário. Atenção a uma coisa: eu acredito que
os responsáveis do Programa tenham a melhor das
intenções e das qualificações, mas eu já estudei em horário
pós-laboral e sei como é que a coisa funciona. A malta sai
do trabalho e antes de ir para as aulas come ‘qualquer
coisa’; antes disso já tomou um ‘lanche reforçado’. Isto,
porque chega a casa tarde e já só come ‘uma sopa’. Mais
tarde, antes de ir para a cama, come ‘qualquer coisita’ para
não ir dormir de estômago vazio.
Comigo é assim, mas assim como eu não sou cientista,
também não sou gordo, por isso não sirvo de exemplo.
CRAVO À PROVA DE ROUBO
Em Évora colocaram códigos com tinta invisível e chips
electrónicos para identificar no caso de furto duma réplica
de um antigo cravo da Universidade de Évora.
Quando li isto a primeira coisa que pensei foi ‘espero
que estejam a falar do instrumento e não da flor (sim,
existe um instrumento chamado ‘cravo’). Tudo bem que o
cravo flor é importante, por causa do 25 de Abril sempre e
tal, mas chips electrónicos numa flor é exagerar um pouco.
É que depois os chips apitam quando passam nos sensores
dos aeroportos. Já vimos como foi com o Castelo Branco
há uns anos atrás. Não queremos ver mais.
Depois pensei, ‘ainda que seja o cravo instrumento, não
será também um pouco exagerado?’ Gosto de ver Portugal
a utilizar novas tecnologias para salvaguardar o seu
património mas, convenhamos, quem é que é vai gamar
um cravo? (Há quanto tempo é que não liam a palavra
‘gamar’?) Aquela porcaria ainda é grande. Não é
propriamente uma harmónica que se meta no bolso.
Por outro lado, há uns anos atrás na Polónia roubaram
uma ponte. Desmontaram-na durante a noite e
123
transportaram-na em camiões TIR para depois vender o
ferro. Vistas as coisas, se calhar é melhor prevenir.
124
Mandem à merda o pessoal da ASAE que anda nas feiras a
apreender os filmes dos monhês. Insultem as gentes do
IGAC (já escrito ‘da IGAC’, devem ser todos hermafroditas
se calhar). Cuspam na cara de todos os funcionários do
Ministério da Cultura, da Administração Interna, etc.
Façam cópias de DVDs, partilhem programas para quebrar
protecções. Etc. etc.
Se estou a ser agressivo – bem mais do que é habitual
em mim – incorrecto, passível até de ser processado, creio
que as razões do meu descontentamento são lógicas e
pertinentes o suficiente para merecerem uma tomada de
posição radical.
Antes de mais, um esclarecimento que eu acho
necessário: não estou a incentivar à pirataria em geral, (Se
bem que o conceito me traz alguma confusão. Afinal de
contas, se uns ténis ‘Naike’ são piratas e uns ‘Nike’ são
originais, o que dizer, por exemplo de ‘Coca-Cola’ e ‘Pepsi’?
Ou talvez de um karaoke. Será um mau playback razão
para chamar a ASAE? Fica para pensar mais tarde.)
apenas à pirataria de DVDs. E porquê só de DVDs? Passo a
explicar.
Esta semana fui às compras a uma grande superfície e
comprei uma boa quantidade deles a um óptimo preço. No
fundo é o que a malta que gosta de filmes quer: arranjá-los
bons e a bom preço.
O que a malta não quer e é leva em quase todos os
filmes LEGAIS que compra de há uns bons tempos para cá
é aquele filme estúpido, cujo teor é: ‘sacar’ um filme na net
é a mesma coisa que roubá-lo do clube de vídeo ou
pontapear uma grávida de sete meses. A necessidade de
haver esse tipo de mensagens, eu aceito e apoio, mas porra!
125
Façam-nas chegar ao público certo.
Eu acabei de piratear o filme! Não o pirateei! Porque
carga de água é que sou obrigado a ver aquilo? E a palavra
correcta é mesmo ‘obrigado’, porque não podemos saltar
para o capítulo seguinte ou sequer acelerar a velocidade de
leitura. Eu sei que o filme é curto, mas é o meu direito de
não o ver que está em causa.
Aquilo devia vir – isso sim – nos DVDs piratas. Se assim
fosse, talvez a malta não fizesse tantas cópias como faz
hoje em dia. Como imagino que seja difícil convencer as
gentes das feiras a colocarem essa… ‘curta-metragem’
(chamemos-lhe assim para não chamarmos ‘bosta’) nas
suas edições – até porque, do ponto de vista do marketing,
não seria muito boa ideia – vou se calhar optar pela via
ilegal.
A não ser que os responsáveis por essa barbárie,
ganhem tino, deixem-se de filmezinhos da treta e
comecem mas é a trabalhar a sério.
E agora uma reflexão final: supondo que tenha havido
um concurso para escolher aquele entre outros filmes,
quão maus eram os outros?
Pensem vocês nisso, pois eu até fico medo só de
imaginar.
126
O homem sorriu, um sorriso franco e simples, daqueles
que se vêem muito nos filmes, séries de televisão, outdoors,
todo o local onde a imagem é o que vende, e levantou os
olhos para encarar o espectáculo (o termo aplicado tem as
suas reservas) perante si. Haviam sidas muitas as vezes
que ali estivera, mas hoje, entendia assim, seria diferente.
Hoje iria cumprir a sua missão. Enfrentaria o
desconhecido no seu próprio terreno e aí decidiria qual o
caminho a seguir. A decisão era difícil e dividia-se em
quatro pontos opostos. Informação relativa a cada uma
das opções disponíveis era escassa, em alguns casos nula, e
sujeita a erro.
Estava no centro da decisão. O que fazer?
Tinha de encontrar um caminho depressa. De
preferência, um que o obrigasse a prosseguir; não
adiantava voltar atrás.
Pensando nisto, olhou para trás. O caminho atrás de si
alterava-se a cada instante. Se dúvidas haviam, esta
espreitadela esclarecera tudo. O realizador deste filme
pensara em tudo. As marcas do seu passado estavam bem
presentes atrás de si, quase como se o perseguissem, mas
isso não o assustava. Não tinha medo do que fizera. Cedo
aprendera uma lição que dizia mais ou menos “o tempo a
seu tempo” ou, por outras palavras não tão sucintas, “o
passado é passado, o presente é presente e o futuro será
apenas o futuro”. Cada um pertence a si mesmo e é a sua
evolução contínua que constitui o ponto de interesse da
vida. A vida continua e as decisões têm que ser tomadas.
Já não podia ficar ali muito mais tempo. Era tanta a
pressão que gritou para dentro. O homem do sorriso
simples que só aparecia nos filmes e afins estava furioso
127
com a sua inércia, o seu temor. A sua mente era como um
disco de vinil riscado. Mesmo tendo em conta que a
maioria das pessoas da sua idade já não sabiam o que era
um disco de vinil. Só os mais aficionados. Não era o caso
dele. Ele, sobre o vinil, ouvira uma expressão e fixou-a.
Hoje em dia era tudo digital. Ou quase tudo. As pessoas
não sabem nem querem saber das suas origens.
Vistas as coisas, ele não era mais do que os outros. Os
outros, porém, haviam chegado ao mesmo impasse no
qual ele se encontrava agora e haviam escolhido o caminho
a seguir. Para o melhor ou para o pior, eles tomaram uma
decisão.
Inspeccionou o passado mais uma vez. Atrás de si
estavam figuras de outras eras navegando no oceano da
sua visão; manifestações físicas de pessoas que poderiam
ter sido ele. Contudo, a semelhança não é tudo como se
sabe e o tempo de acção era cada vez menos.
Qualquer um dos caminhos estava livre e era isso que
alimentava a sua indecisão. Não havia qualquer
informação acerca do que poderia ou não encontrar.
A sua cabeça andava às voltas dentro daquele enorme e
intenso turbilhão. O espaço curvava-se sobre si mesmo. O
ponto de partida repetia-se e tornava-se também ponto de
chegada.
Espreitou através do espelho do passado e viu então que
as pessoas que o seguiam eram outras. Em breve, também
estas iriam deixar uma vaga para as seguintes. Os outros
sucediam-se sem parar. Apenas ele permanecia naquele
local; não sucedia, nem era sucedido.
A raiva começava a dar lugar ao desespero e a este
sucedia o gozo. Começava a achar piada àquilo e viu a luz
que o levou a tomar a decisão definitiva. Aumentou a
velocidade, ligou o pisca e, após tanto tempo, saiu da
rotunda e seguiu em direcção à auto-estrada.
128
Nota do autor: Esta e outras histórias, espero eu,
estarão um dia presentes num livro de contos. É só eu
acabar de os escrever e procurar quem os edite.
129
Parece que lá para Setúbal passa-se qualquer coisa por
causa dum blog anónimo cujos textos ultrapassam os
limites do politicamente correcto, chegando mesmo ao
insulto. Dizem também que um funcionário dessa
autarquia foi detido por suspeitas de ser ele o responsável
por esse blog.
A qualquer um desses “factos” (coloco as aspas uma vez
que não está provado que seja mesmo este funcionário o
autor do blog) sou totalmente alheio. Porém, ao tomar
conhecimento desta matéria, não podia deixar de me
manifestar.
O meu protesto – como sabem sou um gajo do contra –
vem, não em relação aos agentes que procederam à
detenção, aos queixosos, àqueles que querem limitar a
liberdade de expressão, blá blá blá, mas ao autor do blog.
O Horácio (vou-lhe chamar assim para não estar sempre a
escrever “o autor do blog”, que isso cansa) é um sujeito
medricas e sem tomates.
Ó Anacleto (para o caso de o Horácio se chamar mesmo
Horácio vou usar um nome diferente de cada vez que me
referir a ele), escrever num blog é motivo de orgulho, não
de vergonha. Primeiro, provas ao mundo que sabes
escrever; segundo, demonstras que dominas as novas
tecnologias. Não deves ter medo de deixar as pessoas
saberem quem tu és.
Porque, tenta perceber isto Inácia (lembrei-me que o
Barnabé pode afinal ser uma gaja) não partilhares o teu
nome com o resto de nós, além destes apartes estúpidos a
130
que me obrigo, prova que és uma pessoa vazia e com medo
de enfrentar as suas convicções. Quem quer lutar a sério,
vai de cara destapada. Essa de só aparecer em publico
quando as coisas correm bem para mim não dá.
E supondo que o/a autor(a) seja mesmo um(a)
funcionário(a) público(a) (se ler isto é chato, imaginem o
que é escrever), fique ele/ela sabendo que eu também sou.
Nunca o escondi. Já estava na comunidade antes de estar
na função e sempre assumi o que escrevi. Claro que às
vezes temo represálias, mas não é por isso que escrevo no
anonimato.
O nosso nome é aquilo que de mais precioso temos e
negá-lo ou escondê-lo só porque temos que um idiota a
quem chamámos idiota se zangue connosco é estúpido.
O truque aqui, Roberta (Roberta é um nome porreiro no
caso do Tancredo ou da Amélia estarem indecisos quanto à
sua orientação), não é esconder ou negar nada, é ser o
mais aberto possível, mas de forma dissimulada. É óbvio
que o domínio da linguagem irónico/satírica não está ao
alcance de todos, mas há que pelo menos tentar
escamotear um pouco as coisas.
O segredo é dizer o que se quer, a quem se quer, de
modo a que toda gente perceba o que se está a dizer, mas
que ninguém o possa usar para fins judiciais.
Um conselho: vai ler o Gil Vicente ou o Padre António
Vieira. Pode ser que eles te ensinem alguma coisa.
131
Há alturas em que penso não haver nada de novo para
falar, que tudo o que eu faço é reafirmar o óbvio de forma
diferente. Também há alturas em que há tanta coisa por
onde escolher que eu fico à nora e acabo por pegar num
tema fraquinho e não dar enfâse ao que interessa.
E depois há alturas como esta, alturas em que um tema
se evidencia dos demais.
Não é uma notícia de última hora - tem o seu q de
antigo - mas para muita malta da minha geração é um
verdadeiro símbolo de horas e horas de diversão nos seus
tempos de infância e juventude. Falo, como o título do
artigo indica, do jogo MONOPÓLIO.
Monopólio, esse clássico jogo de tabuleiro que nos
ensinou valores tão úteis numa sociedade de consumo
como 'capital', 'luxo', 'imposto', 'banca', 'renda', 'paga!' e,
claro 'monopólio'. Tinha o seu lado social; numa altura em
que algumas pessoas pediam cinquenta escudos para uma
sopa, podiamos comprar a Rua Augusta por quinhentos.
Aquilo era jogo para levar dias e dias até alguém ganhar.
Quando a malta estava bem equiparada era assim. O
dinheiro estava sempre a circular.
A razão que me leva escrever um artigo sobre o
‘Monopólio’ é porque li há umas semanas atrás que uma
produtora americana (só podia), creio que foi a 20th
Century Fox, comprou os direitos de adaptação do jogo ao
cinema.
Hã?!
Quem já jogou e tiver um ‘Monopólio’ em casa, pare de
ler e vá buscá-lo. Já foram? Ok. Agora montem o jogo
para… 4 pessoas, e depois de terem tudo no sítio – os
peões, o dinheiro distribuído, os dados, os títulos de
132
propriedade tudo ordenado, os cartões da ‘Sorte’ e da
‘Caixa da Comunidade’ – fechem os olhos um segundo ou
dois e tornem a abri-los
Eu fiz esta experiência para ver se conseguia perceber o
que passou na cabeça do gajo que olhou para uma caixa do
‘Monopólio’ e pensou ‘Olha, isto era capaz de dar um filme
porreiro! Só preciso dum gajo para o realizar. Já sei! Pode
ser aquele tipo do ‘Gladiador’.’
Pois é. Ridley Scott é o nome apontado como possível
realizador. E neste caso o termo ‘apontado’ dá-me a ideia
que foi castigo. “Vais tu que é pra aprender!” Depois de ter
feito o ‘Blade Runner’ não merecia, mas também ninguém
o mandou fazer o ‘GI Jane’. É assim, Ridley.
Voltemos então ao gajo que teve a ideia de adaptar o
‘Monopólio’ ao cinema, tomemos como hipótese a ideia ter
surgido quando ele entrou numa loja de brinquedos e
olhou para o jogo –
(PAUSA PARA CONSIDERAÇÃO PERTINENTE
(sem pontuação bem aplicada)
um gajo que tem a ideia de transformar um jogo de
tabuleiro num filme (além de ser parvo) tem de ter
dinheiro e idade para não se rirem dele e o mandarem dar
uma volta; o mais certo é ser um velho gordo e rebarbado,
com uma ligeira psique daquelas mesmo estranhas, tipo
aquele que num episódio do CSI tinha a panca de andar de
fraldas; será que queremos gente assim a frequentar lojas
de brinquedos? Não creio.)
Vamos supor agora que em vez do ‘Monopólio’ ou da
loja de brinquedos, ele tinha passado num parque e visto
dois velhos a jogar às ‘Damas’ ou ao ‘Dominó’. Não
imagino qual seja o plot para o filme do ‘Monopólio’ mas,
como guionista que sou, resolvi pensar num ou mais plots
caso o jogo das damas ou do dominó fossem também
adaptados ao cinema.
Eis o que me ocorreu:
133
DAMAS
Títulos possíveis: ‘Oreo Vídeo Fitness Program’;
‘Damarado’; ‘Rio Acima, Rio Abaixo’; etc.
No caso do jogo das damas achei que aquilo era estilo
aula de step que outra coisa qualquer. Aquele ‘anda para
aqui, anda para ali’ dá-me ideia disso. Mas é uma aula de
step que se transforma em orgia com as damas a
comerem-se todas umas às outras. É bonito.
Pensei também numa cena tipo western feminista, com
coristas dum lado e squaws do outro. O filme
acompanharia o processo de preparação para a grande
batalha. E no fim, novamente uma orgia com as damas a
comerem-se umas às outras. Ou então uma cena
canibalesca. É a ver.
DOMINÓ
Títulos possíveis: ‘A Bicha’; ‘A Pilha’; ‘A Parelha’; etc.
Para um filme sobre o Dominó tem de ser algo passado
numa prisão. Uma cena tipo ‘Expresso da Meia-noite’ com
um pouco de ‘Porridge’ à mistura, para a malta se rir um
bocado. Talvez também um pouco de ‘Prison Break’ que
além de estar na moda tem sempre aquele suspense que a
malta curte.
A história, por outro lado, não teria nada a ver com isso,
e iria girar á volta dum prisioneiro de seu número 1:1 que
descobre que está num centro de clonagem e que todos lá
têm um siamês que pode ou não ser um clone. A cena seria
também um musical com os vários clones a
desempenharem coreografias bem bonitas ao som de belos
fados.
A certa altura iria surgir um prisioneiro de número 6:6,
conhecido pelos demais como ‘O Carrão’, que por ser o
mais gordo teria fama e proveito de sodomizar toda a
gente.
134
Estas são as minhas ideias. Sei que são ideias de merda,
mas lembrem-se do que deu origem a este artigo. Lavo as
minhas mãos.
135
Tinha outro artigo para escrever em vez deste – ou melhor,
tinha em mente outro artigo para escrever em vez deste –
mas com a finalidade de ser actual vi-me forçado a
interromper o meu fluxo criativo para falar de outro
assunto.
Interrupção é, precisamente, a palavra mestra por
detrás deste artigo. Aconteceu no passado dia 26, quartafeira, no canal SIC Notícias. Eu, infelizmente, não assisti
ao evento; só tomei conhecimento no dia seguinte na rádio,
ao acordar de manhã.
Ainda pensei ‘isto sou eu a sonhar ainda’. Não fazia
sentido. Era algo que desafiava as leis da lógica que regem
este universo.
O Santana Lopes deixou uma actividade a meio?
Mas onde é que isso já se viu?
Santana Lopes, por nós comuns mortais conhecida pela
sua determinação em levar ideias a cabo, em ser o último a
abandonar o barco, levanta-se da cadeira e sai a meio da
entrevista?
Eu fiquei surpreendido. Para não dizer atemorizado. E
não foi para menos. Boa parte de mim viu-se forçada a
reavaliar o modo como olho para certas coisas. Há certos
aspectos da vida com os quais vou ter forçosamente de
interagir de forma difenrente.
O Santana Lopes deixou uma actividade a meio.
O mundo nunca mais será o mesmo.
E agora a grande pergunta: porque é que o Santana
Lopes fez isso?
136
Bom, ao que parece houve um pequeno islâmico que
chegou a Portugal na altura que o Santana estava a falar.
Não era caso para tanto. O coitado se calhar só queria
saber como ir para o Martim Moniz e a SIC Notícias foi
para lá enquanto não chegava alguém para o ir buscar.
Deve ter sido isso. Já se sabe que é preciso termos muito
cuidado com as crianças hoje em dia e deixá-las ao
abandono é que não.
Vou deixar este tema a meio – em homenagem sentida
à figura que o inspirou – e mudar para outro dentro do
mesmo assunto.
Aquando da sua interrupção, Santana Lopes falava da
actual crise no PSD. Bom, sobre isso, interesso-me tanto
como pelo míldio.
Se bem que o míldio até me interessa na medida em que
posso apanhar uma garrafa de vinho meio fajuta e arranjála bonita (bonita a consequência [sarcasmo?], a garrafa
seria daquelas de tara perdida). Para terminar o tema do
míldio, a vossa atenção na frase anterior à palavra ‘fajuta’ e
à expressão ‘arranjá-la bonita’; há que reconhecer valores
literários quando eles aparecem que eles não andam aí ao
desbarato, hã?
Crise no PSD! Voltemos à batata quente o quanto antes
para eu não me desviar do assunto.
Falando em batata quentNão!
Calma… Vou-me auto-admoestar e depois v
Admoestar é um verbo bo
Eu quero falar da crise do PSD!!!
Ou melhor, não quero, mas tenho.
Qual a outra grande notícia de ontem (quarta-feira, 26
Setembro)? Parece que há 200 eleitores do PSD na
Amazónia. E há quem diga que isso é mau. Com o
afastamento que há dos portugueses em relação aos
partidos políticos, foi precisamente um grupo de índios
137
seminus que veio nos chamar à atenção sobre os nossos
actos.
Pergunta: será q
138
A Cati tem sido das minhas comentadoras não-residentes
mais activas nestes últimos tempos – a isso se devem os
meus updates mais regulares que o habitual e às saudades
que ela tinha (mas não sabia ou não queria admitir) do seu
ex-aluno – e num dos seus últimos comentários fez uma
sugestão que, pensei eu, não é nada má, não senhor.
No artigo antes do artigo anterior (era para ter sido no
artigo anterior, mas entretanto aconteceu aquele evento
cósmico provocado pelo Santana Lopes na SIC Notícias)
analisei a estúpida adaptação do jogo ‘Monopólio’ ao
cinema. Atenção ao termo ‘estúpida adaptação’; nada
contra o jogo, eu adoro o jogo, mas também gosto de
pastéis de nata e de estar sentado a ver televisão. E
ninguém fez um filme sobre isso, pois não?
Bom, quanto ao estar sentado a ver televisão, fizeram a
‘Royle Family’ (que até era uma série porreira porque fazia
o efeito ‘espelho’: uma família a ver na televisão outra
família a ver televisão).
Voltemos então ao que interessa.
Vocês já não estranham estes apartes que eu faço assim
do nada, pois não? Eu tento ser sintético e não enrolar
muito; há até quem diga que eu faço isto para fugir dos
assuntos eJá percebi.
Ok. Qual foi então a sugestão feita pela Cati?
(Não se queixem de eu estar a enrolar tanto. Vocês se
139
quisessem já tinham ido ler o comentário e pronto.
Esperem!!! Não vão!
Continuem a ler, por favor.
Até porque se forem, depois a cena perde o efeito
surpresa.)
Sugestão: uma outra adaptação de jogo de mesa a filme.
A escolha da Cati é lógica e se eu não a considerei antes
foi porque formulei a teoria toda com base no gajo que
teve a ideia de passar o ‘Monopólio’ para filme em vez de
ter entrado numa loja de brinquedos ter visto dois velhos
no jardim a jogar ‘damas’ ou ‘dominó’.
Se é importante salientar como consegui escrever tão
bem este parágrafo anterior sem um único sinal de
pontuação que não o ponto a assinalar o fim do mesmo,
também é importante dizer qual o jogo proposto…
MIKADO
Títulos possíveis: ‘Big Trouble in Little China 2 – The
Cuming of the Mary Joe Nuttree Little-Chicken’ (aka ‘As
Aventuras de Joaquim Bretão nas Gaifanas da Sra. ExVereadora’); ‘Pointy n’ Stiff’ (aka ‘Tesos e Espetáveis’)
[Para limpar alguma ideia que possa ter ficado em
relação a excesso de referências sexuais lesbianas, irei
apostar noutro tipo de abordagem para este filme.]
The Opressed People’s Quest Against the
Invisible Threat Perpetrated by an Overwhelming
Fear of the Unknown (aka ‘O Filme do Jogo dos
Pauzinhos’)
Eis o texto do trailer:
Construíram o seu futuro juntos.
Uma comunidade fechada em si mesma, regida
pelas suas regras. Viviam juntos e felizes até ao
dia em que veio a… guerra!
Um terrível desastre daqueles me’mo beras e a
140
comunidade Mikado (aos detentores dos direitos do
jogo, não há crise em usar o nome aqui, ou há? é que
escrever a comunidade do jogo dos pauzinhos não fica
bem) viu-se pela primeira vez frente a frente com o
drama, a dor e o sofrimento.
Outrora, um povo em paz, viviam agora
separados, irmão contra irmão, numa eterna
guerra sem fim.
Eis então que surge um novo inimigo para
combater e sobre o comando do albino lá da terra,
os vários aldeões unem esforços e formam um
exército de retaliação contra a derradeira
ameaça… o conceito de adaptar jogos de mesa a
filme.
Obrigado pela ideia, Cati. Espero que o resultado tenha
ficado ao teu gosto. Vou agora tentar resolver o cubo
mágico (o do Rubik, esse granda maluco como algumas
pessoas gostam de enunciar) e ver se sai daí alguma nova
ideia para mais uma adaptação estúpida.
PARA VER O FABULOSO TRAILER
DESTE ÉPICO FILME É FAVOR
VISITAR O BLOGUE
PROTUBERÂNCIA
141
O MITO DO ACASO
Tenho uma forma própria de olhar o mundo à minha volta
– por ‘própria’ não digo por principio ‘exclusiva’ – e o
modo como o tempo e os eventos se sucedem. Não
acredito no simples acaso, no aleatório, mas também não
rejo a minha vida por uma sistema de parâmetros rígidos.
Acredito na relação causa-efeito, acredito em repercussões.
Não acredito em coincidências.
É uma convicção que tenho, sempre tive e que, há dias,
através de breves palavras, foi fortemente abalada.
Alguns, que denotam na minha escrita uma forte
preocupação social, especificamente a nível europeu,
estarão a ter em conta as declarações ‘porreiras’ proferidas
na Cimeira da União Europeia. Essas pessoas deviam
saber de antemão que eu não me preocupo nem me ocupo
de assuntos mundanos.
O causador da oscilação foi algo muito mais forte: a
revelação da verdadeira mãe da Floribella. Nada mais,
nada menos que Teresa Guilherme.
Isto, como podem calcular, deixou-me muito
constrangido. Num ápice senti-me arrependido de todas as
piadas que fiz à conta da ‘Floribella’, pedi desculpas em
pensamento a todas as pessoas que ao pesquisarem
‘Floribella’ no Google vieram ter a este blogue.
Porém, mais ainda que a solidariedade perante alguém
que passa por um momento difícil, o que me deixou mais
transtornado foi o modo como a SIC quebrou o meu sonho.
A Floribella tinha uma árvore como mãe e isso era bonito.
142
A mãe sempre lhe deu apoio, sombra; quando era época,
fruta de qualidade, para não falar de lenha, madeira para
móveis, para papel, etc. Era uma mãe útil. Com a Teresa
Guilherme como mãe o que é que ela vai ter?
É, no fundo, uma paga pelo que eu disse, pelo que eu fiz.
Mas a Floribella não o merecia. Ela até pôs uns implantes.
Isso não conta para nada? É uma causa-efeito do mais
evidente que há, com certeza. Mas não é uma coincidência.
O Santana Lopes, meses depois de ter saído do Governo
e de ter perdido as Legislativas para José Sócrates,
publicou ‘Percepções e Realidades’. No seu livro, Santana
descrevia a conspiração orquestrada contra a sua pessoa
para o impedir de concluir a sua obra. Há um mês e tal
atrás, Santana Lopes abandonou uma entrevista porque
foi interrompido. Isso também não é uma coincidência
mas, por acaso, é giro.
Coincidência poderia ser, na semana que antecedeu isto
do Santana, eu ter lido no ’24 Horas’ uma ‘notícia’ sobre o
Pacheco Pereira e uma sua quezília com a TMN – isto não
é publicidade à TMN, até porque eu sou da Vodafone. Ao
que parece Pacheco Pereira perdeu o seu telemóvel num
vulcão e exigia à operadora uma compensação.
Santana Lopes interrompido, Floribella filha da Teresa
Guilherme e o Pacheco a perder o telemóvel num vulcão.
Mais que coincidências, são azares do caraças.
143
Portugal tem os ‘Globos de Ouro’ da SIC, tem (ou tinha) a
Gala Nova Gente, tem pompons e serpentinas, mas não
tem uma cerimónia especial – há cerimónias banais? – SÓ
para a indústria do cinema português.
Dirão alguns que isso é por não termos uma indústria
de cinema em Portugal. Dirão com relativa razão. Não
temos material suficiente para escolher o que de melhor se
faz no cinema português. Pelo menos, não anualmente.
Para a coisa durar mais que dez, quinze minutos teríamos
de realizar a cerimónia de dez em dez anos ou, se ainda
acharmos que é pouco, de vinte em vinte.
Ou então, mudamos radicalmente de estratégia e
comemoramos – podia ter escolhido outro termo, eu sei –
o que de pior se faz. E aí, meus caros, há muito por
escolher.
Comecemos pelo boneco, ou mascote se preferirem. Já
tenho o nome: Eládio.
Segui o exemplo americano e fui buscar o nome a uma
figura televisiva bem conhecida do público. Só que, em vez
de usar o nome de um personagem da ‘Rua Sésamo’,
inspirei-me em alguém cujas referências são, tanto quanto
sei, imaculadas: Eládio Clímaco. É verdade que há muito
tempo não o vemos na televisão como gostaríamos de ver,
mas as suas prestações nos ‘Jogos sem fronteiras’ ainda
perduram na nossa memória.
Não sei bem, mas talvez seja mesmo esta a forma certa
de agir. Os americanos escolheram uma figura socialmente
incómoda (o sem-abrigo) para representar um prémio
144
bom. É lógico que eu fosse escolher alguém como deve ser
para representar um prémio mau. Uma coisa equilibra
outra. E tem de ser alguém como o Eládio ou, pelo menos,
alguém com um nome invulgar. A coisa não teria o mesmo
impacto se tivesse escolhido um Jorge Gabriel ou um
Mário Crespo. A entrega dos Jorges ou a entrega dos
Mários seriam cerimónias pobres se comparadas com a
entrega dos Eládios ou a entrega dos Isidros. Imaginem o
que seria a cerimónia dos Oscares, se o boneco em vez de
Oscar se chamasse Richard. Todos falariam dos DICK
AWARDS e isso seria bom para prémios de cinema porno,
mas fora isso... não ficaria bem.
Não vou propor candidatos, deixo isso a vosso cargo.
Quando tiver material suficiente fazemos uma cerimónia
com Trinaranjus e tortas Dancake. Vai ser à fartazana.
145
Certas pessoas têm a ilusão de que não comer tudo o que
se tem no prato, mesmo que ainda esteja vivo ou fora do
prazo de validade, é crime de extrema gravidade. Eu ouvi
várias vezes essas expressões de reparo sócio-familiares
que todos nós conhecemos desde pequenos. ‘Tanta gente a
passar fome e tu é o que se vê’, ‘O que tu tens é fartura’ ou
‘Umas semaninhas no Biafra e logo vias o que era fome’, só
para citar alguns exemplos. Ouvia-as muitas vezes; não
ligava e continuo a não ligar.
A minha ideia é simples e, no meu entender, honesta.
Ponto um: há pessoas com fome e isso é chato e tal e quem
nos dera que não fosse sempre assim. (Faço esta ressalva
porque se deixar de haver fome no mundo os alimentos
passam a ser supérfluos, o que vai acabar com o ganha-pão
de muita gente.) O que eu não percebo e contesto é porquê
espetarem-me no prato comida para duas pessoas como se
eu fosse um alarve e eu, por não comer tudo, passo a ser
um gajo cruel e insensível?
Eu ficava bem só com metade e a outra metade
oferecida a alguém que precisasse. Não me importaria
nada se assim fosse. E seria um gesto bonito de se ver.
Só que não. É doses individuais para duas pessoas,
meias doses para uma pessoa e não há volta a dar.
Ponto dois. O tamanho das doses não é tão significativo
quanto a qualidade. O que quer isto dizer? Quer dizer que
se a comida estiver bem saborosa, sou gajo para enfardar
uma dose sozinho. Caso contrário, é meia dose e vá lá vá lá.
E mesmo que eu comesse tudo – intragável ou não –
146
mesmo que eu ingerisse doses de comida para duas, três
ou mais pessoas, e toda a gente visse que eu comia bem e
não deixava comida no prato, em que é isso ajudaria as
pessoas que passam fome? (Respondam a esta pergunta
imaginando-me como o Mr. Creosote do ‘Meaning of Life’
dos Monty Python.)
(Outro aparte: a diferença entre ‘passar fome’ e ‘passar
férias’ não está apenas nas duas letras extras, há mais
qualquer coisinha a distinguir.)
O argumento de alguns para esta questão diz que se não
comermos porque não nos apetece estamos a ser injustos e
hipócritas perante aqueles que gostariam de comer, mas
não podem. É uma ideia errada e passo a exemplificar
porquê.
Situação #1
Na Somália, uma família de turistas holandeses faz um
piquenique. Os miúdos são arrogantes e meio parvos e não
querem comer as iscas. O pai ralha com os miúdos e
invoca o argumento da hipocrisia. São ouvidas expressões
como ‘têm mais olhos que barriga’ (mas em holandês).
A mãe defende os filhos dizendo que iscas não é comer
de piquenique, ainda para mais de piquenique holandês e
aquilo descamba numa discussão que termina com o
evento.
A família abandona o local e fica lá o tupperware com as
iscas. Duas crianças escondidas atrás dum arbusto
aproximam-se do local do piquenique e enchem o
bandulho à conta das iscas.
Situação #2
Outra família, daquelas que comem tudo (inclusive os
pratos e os talheres, mesmo que estes não sejam
comestíveis) vai fazer um piquenique, também na Somália.
Os pais comem tudo, os filhos comem tudo. Não fica nada
147
e partem para casa, sentindo-se todos bem.
Enquanto isso, escondidas atrás dum arbusto, duas
crianças passam fome. Agora tirem as vossas conclusões.
(Desde que uma delas não seja: Isso só resulta se for em
piqueniques na Somália.)
148
Liliana Aguiar, Patrícia Henrique e Vanessa Palma; a
primeira na TVI, as outras duas na SIC. São estes os
nomes que devemos dar às moças que todas as
madrugadas tornam mais agradáveis as noites de muitos
homens com insónias ou com horários de trabalho
trocados. Umas com ar mais inteligente que outras, é certo,
mas se tirarmos o som do televisor o nível de sapiência fica
ela por ela.
Embora saiba que há um gajo no programa da SIC,
estou só a falar das gajas porque há nessa figura masculina
muita coisa que não se percebe. Eu entendo que o
objectivo do programa é manter as pessoas acordadas de
madrugada. Se é para isso podiam fazer como eu fazia
quando era imaturo e pouco ciente dos meus actos e irem
tocar às campainhas das portas às tantas da noite. Dois
toques, um dedo para campainha e ‘tá feito. Faziam mais
exercício e chegavam a mais gente. Mais importante:
mostravam determinação e empenho.
De qualquer modo deixei-me disso. Até porque esta
semana as noites já começaram a ficar mais frias. Em vez
disso, decidi optar por usar o telefone. É claro que hoje em
dia há mais gente com telemóvel do que com telefone e
que muitos desligam o telemóvel durante a noite. Porém,
com um pouco de paciência e persistência ainda se
consegue incomodar e acordar algumas pessoas.
Desviei-me do assunto (e sou capaz de me ter
149
denunciado sem querer). Peço desculpa. Manter o pessoal
acordado é o objectivo. Porque já se sabe que àquela hora,
a tentar combater o sono, o pessoal papa tudo.
Principalmente se forem gajas boas a vender o produto.
Então, pergunto, porquê o… Quimbé?
Notem, eu aceito e compreendo que as mulheres
também tenham direito à sua cota parte de acção. Tudo
bem. Aceito isso sem reservas. Só que, falando de nomes
mais conhecidos, nós estamos a ver uma Diana Chaves, ou
uma Marisa Cruz e elas estão a ver um sujeito que faz o
Batatinha parecer um professor catedrático.
Quimbé! Será diminutivo de Joaquim Barnabé? Que
raio de nome é esse? Castigo? É para manter o pessoal
acordado? É? Consegue? À custa de buzinas e campainhas
e caretas parvas, lá se vai safando.
E lá vai convencendo algumas pessoas, que ou
partilham do seu nível mental ou se compadecem com ele,
a ligar para lá. No meu caso liguei duas vezes, mas foi para
o Miguel Bombarda e para o Júlio de Matos a pedir que
fizessem uma contagem dos pacientes. Pensei que ele
pudesse estar internado por pensar que tinha jeito para ser
apresentador de televisão. Não era o caso.
O meu problema é que sou a favor da equidade e como
esta funciona nos dois sentidos, o meu medo é que o
Quimbé seja tomado como ponto de referência e em vez de
gajas boas a animar as nossas noites e um Quimbé para as
mulheres, passemos a ter réplicas da palhaça Teté. Sem
dúvida que isso iria manter o pessoal acordado (ou a ter
pesadelos) mas, por favor, NÃO O FAÇAM!!!
150
 Processos contra Deus
Billy Connolly interpretou a primeira pessoa a interpor
uma acção judicial contra Deus. À ficção seguiu-se a
realidade. Primeiro foi um senador americano, depois foi
um recluso romeno. Haverá melhor bode expiatório que
um fulano omnipotente?
 Lifting animal
José Castelo Branco quer fazer um lifting ao seu cão. De
alguém que não respeita a sua própria natureza, o que
seria de esperar?
 Índia vs. EUA
Na Índia, um homem casou-se com uma cadela e um
miúdo de 10 anos fala onze línguas.
Nos Estados Unidos, um homem comeu 103
hamburgers em oito minutos e um homem de origem
islâmica foi detido num aeroporto pelo Departamento de
Defesa por suspeitas de terrorismo. O homem era um
ministro britânico que havia passado os últimos dias em
reuniões sobre o combate ao terrorismo… com o
Departamento de Defesa.
 Coragem vs. Violência
Um miúdo brasileiro de cinco anos deixou-se levar pela
fantasia de ser o Homem-Aranha e arriscou a sua vida
para salvar um bebé de um prédio em chamas.
No Reino Unido, uma ama asfixiou com uma almofada
o bebé que estava à sua responsabilidade.
151
Numa altura em que o cinema português se afasta dos
parâmetros elitistas e cinzentos que o caracterizaram
durante anos e anos, parece que ainda há tempo e lugar
para quem teima em não desistir de fazer o tipo de cinema
que não atrai nem surpreende.
Segundo a ‘Visão’ nº 777 de 24 de Janeiro de 2008, a
realizadora Catarina Ruivo conta, a propósito do seu novo
filme “Daqui pra frente”, o que gosta no processo de
criação de um filme. Eis o que ela diz:
“De pensar a estrutura do filme, de encontrar-lhe a
respiração, os planos de união, de optar pelos takes,
de descobrir o fotograma certo(…)”
Até aqui, tudo muito bem. O pior vem a seguir.
“Coragem não é deitar fora os planos que ficaram
mal, mas «ter a humildade de os manter» porque
fazem falta ao filme.”
Eu não sou editor, muito menos realizador, para opinar
– com bases técnicas – sobre essa ideia de aproveitar o que
ficou mal como sinal de humildade. Não considero que o
vídeo que coloquei neste blogue e o vídeo que coloque n’O
OVO REDONDO sejam exemplos de uma grande destreza
técnica. Por outras palavras, não me posso valer deles para
comentar profissionais da área. Contudo, tive
oportunidade de perguntar a amigos meus, esses sim,
profissionais da área o que achavam disto, e a reacção
deles foi de total incredulidade.
Poderá ter sido uma expressão descontextualizada.
152
Poderá ter sido equívoco da Visão e não da entrevistada e
isso seria um grande alívio. O problema é que a Visão não
se costuma enganar muito. Pode ser que para a semana
saia o desmentido e eu publique um artigo de desculpa.
Mas duvido que tenha sido engano. (Entretanto, já hoje é
quinta-feira, já li a nova edição da revista e não vem lá
nada. O Manuel Alegre ficou a 29 mil votos da Presidência,
em vez dos 200 mil referidos. Fora isso, não vem lá mais
nada.)
Como telespectador e, principalmente, como guionista,
acredito que é preciso saber deitar ideias fora sem ter
medo.
Aprendi com o Possidónio Cachapa qualquer coisa
como “uma cena são apenas palavras num papel”. É mais
que certo não estar a citá-lo ipsis verbis, mas isto já foi há
uns bons anos e foi uma frase que ficou apenas na
memória e não em papel. No fundo, é isto: podemos
sempre fazer melhor, mas para isso precisamos de apagar
o que fizemos e começarmos de novo. Isso vale para a
escrita, para a montagem, para a realização, para tudo.
Eis o que é humildade no meu manual:
 Deitar fora uma cena – a melhor que eu escrevi e que
serviu como base ao guião – porque não se enquadra
com o resto do guião. Deu origem a uma história
diferente da que estava planeada; mantê-la é
estupidez.
 Prescindir duma personagem, aquela com as
melhores falas, porque a produção assim o define,
ou porque não é imprescindível para que a história
faça sentido.
Manter isso, conservar o que ficou mal, o que não
funciona é apenas arrogância e preguiça.
Façamos uma comparação. Ainda que subjectiva, ajuda
a ter uma ideia.
Por motivos pessoais e profissionais, fui convidado para
153
a antestreia do filme “Call Girl” do António de PedroVasconcelos. Uma surpresa agradável e um filme que
entreteve.
Tem falhas, como todos os filmes têm, sejam
portugueses ou estrangeiros, mas é um filme feito pelo
autor para si e para o público; não se limita a satisfazer o
ego de quem o faz. Tem a Soraia Chaves e isso atrai muita
gente, mas o resto também não está nada mal.
Não fui o ver o “Corrupção”, nem vi outros
“blockbusters”. Por opção, mas acima de tudo porque
eram prova de uma ideia que eu já expressei neste blogue:
o oito ou oitenta, isto é, o filme muito inteligente e
cinzento e o filme feito de idiotas e violência
desmensurada. Não querendo parecer demasiado
elogiativo, “Call Girl” combina bem o melhor das duas
vertentes; tem equilíbrio.
E se falo do que fui ver e do que não vi, também tenho
de falar do que não quero ver. “Daqui p’ra frente’ surge no
topo da lista. O filme pode ser bom, mas o teaser não me
seduziu nada e aquela entrevista de Catarina Ruivo na
Visão tratou de afastar qualquer curiosidade que eu
pudesse ter.
Notas finais sobre esse filme (e facto assumido com
orgulho): a melhor cena do filme é copiada. Não preciso
dizer mais nada. Por fim, sei agradecer quando é preciso e
tenho que agradecer muito a Catarino Ruivo. Tenho estado
ausente estes meses todos, muito por preguiça e falta de
tempo mas também, essencialmente, por falta de tema
onde me pudesse concentrar. Eram muitos e eu não
conseguia escolher.
Catarino Ruivo fez essa escolha por mim. Obrigado a ela,
e obrigado também à ‘Visão’.
154
ARTIGO QUE JÁ SAI TARDE, MAS
UMA VEZ QUE JÁ ESTAVA ESCRITO,
TEM DE SER
O tema corrente da sociedade portuguesa é o das
urgências. Como hoje não me apetece escrever muito vou
apontar o dedo sem pensar muito se faz sentido ou não.
Primeiro, as pessoas vão para os SAP (ou iam quando
haviam) às 6, 5 e 4 da manhã para conseguirem uma
consulta para as 11. E nem todos conseguem vaga. E os que
conseguem, às vezes não são atendidos. Porquê?
Porque há uns senhores das agências de viagem que,
volta não volta, vão ao gabinete do senhor doutor mostrarlhes umas brochuras eDisseram-me agora que esses senhores não são das
agências de viagem, são da propaganda. É bom. Da
próxima vez que apanhar um deles, tenho de perguntar
porque é que deixei de receber a Dica.
Outro ponto. As pessoas morrem nas ambulâncias a
caminho das urgências.
De quem é a culpa?
Mas como é que querem que o país vá para a frente se, a
qualquer merdinha que aconteça, temos, forçosamente, de
apontar o dedo e dizer 'foi este' ou 'foi aquele'?
Se uma pessoa é atropelada ou baleada ou esfaqueada e
o serviço de urgência mais próximo fica a não sei quantos
quilómetros, qual é o espanto se morrer? Morrer em
ambulâncias a caminho de serviços de urgência não é mais
notícia do que alguém cair dum prédio de sete andares e
morrer.
Pelo menos assim parece ser o entendimento do
155
ministro Correia de Campos, quando teceu aquele
comentário em relação à morte de um idoso (penso que foi
no hospital de Aveiro, mas de momento não tenho como
ver e é da maneira que me corrigem). “Se as suas
avozinhas ou bisavós não tivessem morrido ainda hoje
seriam vivas.”
Como eu compreendo que as pessoas no calor do
momento digam coisas parvas sem pensar (eu sou
exemplo disso), aqui vão mais algumas frases para Correia
de Campos (e mais quiser).
“Se ontem era amanhã, amanhã hoje será ontem” (Esta
para diálogos com o professor Manuel Maria Carrilho)
“Caso possuísse o Anacleto um designador de
personalidade civil baseado em Honório, assumir-se-ia
que esse designador não poderia ser baseado em Inácio.”
(Não faço ideia do que escrevi, nem se está bem ou não,
mas deve estar de acordo com a nova terminologia
linguística; indicado para conversas com Maria de Lurdes
Rodrigues)
Finalmente,
“Se a minha mãe tivesse pila, seria o meu pai.” (Frase
de trolha que não tem qualquer relevância na defesa de
uma medida governamental; funciona bem naquelas festas
em que está toda a gente a falar alto e de repente cala-se
tudo quando estamos a dizer uma barbaridade destas.)
Artigo incompleto, insubstancial, mal estruturado, mas
eu disse que não me apetecia escrever.
156
ARTIGO QUE SEGUE DA
CONCLUSÃO DO ANTERIOR E QUE
NÃO FARIA MUITO SENTIDO SE O
OUTRO NÃO TIVESSE SIDO
PUBLICADO
E porque é que não faria sentido? Basicamente, porque
vou explicar porque é que escrevi o artigo anterior. Ora, se
eu não tivesse escrito o artigo anterior, agora ia estar a
explicar porque escrevi o artigo sobre o filme da Catarina
Ruivo e, se isto já faz pouco sentido, assim ainda faria
menos. Segundo, vou ter de começar a usar menos vírgulas,
estou a parecer o Saramago, e eu não quero que isso
aconteça,
A verdade é que além de preguiçoso, sou teimoso.
Anteontem de manhã não tinha muita vontade de escrever,
mas tinha de escrever qualquer coisa sobre aquele tal
comentário de Correia de Campos e algo me disse que não
podia passar dali. E quando eu digo que não tinha vontade,
não tinha mesmo. Era mesmo daqueles dias que não dava.
Mas escrevi.
Chego a casa, ligo a televisão na SIC Notícias.
Remodelação no Governo. Mau, pensei logo. Tu queres ver
que...? Bem pensado, bem acontecido.
E eu sabia que já não ia a tempo de publicar o último
artigo antes da saída de Correia de Campos. Uma porque
tinha de passar o texto no computador e só viria a
acontecer por volta das onze da noite do dia seguinte.
157
Podia ter feito isso de manhã e publicado antes da tomada
de posse da nova ministra, mas optei por continuar a ler o
livro que me tem entretido desde Sábado passado ('Dirty
job', de Christopher Moore, se vos interessar).
Sabia também que um artigo possivelmente ofensivo
publicado numa altura em que a pessoa visada já não
estaria a desempenhar o cargo em questão, além de me
conotar como calão, preguiçoso, mal informado, pouparme-ia de eventuais represálias jurídicas.
Posso dizer que o Presidente da Républica Mário Soares
é gordo e não sabe falar francês. E reforçar o “é”, uma vez
que Mário Soares já não é Presidente da Républica.
Ou assim o espero...
E sobre a saída da Ministra da Cultura, acho bem.
Aprovou a nova lei de financiamento do cinema e isso ficalhe bem e tal, mas não foi nada planeado de início por ela.
Opiniões sobre o novo homem da Cultura só quando for
caso disso.
158
Não sou o tipo de pessoa que perde muito tempo a ver
mails. Todos os dias verifico a minha caixa de correio mas
limito-me a ler apenas aqueles que considero ter
importância. Deixo de parte os powerpoints, os dos
bonequinhos e, basicamente, todos os fwd: fwd: fwd.
Não uso filtros. O meu filtro é: se começa por
'URGENTE!!!!!' ou 'ISTO ACONTECEU MESMO' ou
'ATENÇÃO'... lixo.
No entanto, no outro dia, recebi um mail e resolvi ler.
Tendo em vista, a mentalidade inerente neste tipo de
mensagens, poderia haver substância cómica para ser
extraída. (Pergunta: quando fazem os forwards (ou os
reencaminhamentos) que tal apagarem o fwd: do campo
de título?)
Eis o texto:
ATENÇÃO às novas fiscalizações nas operações STOP!!!!
Ontem à noite, depois de sair com um grupo de amigos,
fomos mandados parar por uma brigada de trânsito da BT.
Até certo ponto, achamos normal por se tratar de um fimde-semana e ser costume haver a caça ao condutor com
álcool.
Depois de o condutor soprar no balão, qual o nosso
espanto quando o polícia pergunta se temos leitor de CD
no carro.
Tínhamos leitor de CD e logo a seguir pediu-nos para ver
os CD's que tínhamos no carro, para ver se eram cópias !!!!
Sobre isto, já eu tinha ouvido falar num mail que recebi
recentemente (ver mais abaixo).
O que é incrível é que, depois dos CD's, o polícia manda-
159
nos sair do carro e começa a olhar para a nossa roupa !
Verídico!
Nisto, chama uma mulher-polícia para junto das minhas
colegas e um outro polícia para junto de nós e... PEDEMNOS PARA VER A ETIQUETA DAS NOSSAS ROUPAS!
Recusámo-nos imediatamente e eles informaram-nos que,
naquela operação Stop, estava incluída uma busca por
contrafacção !!!
Um dos meus colegas tinha um casaco Paul & Shark,
comprado na feira de Espinho, e eles identificaram-no! O
meu colega já contactou o advogado e este informou-o de
que o que os policias fizeram está dentro da lei!
Pelos vistos, quando compramos roupa na feira, sabemos
que estamos a comprar material ilegal e isso é crime!
Estamos a pactuar com uma actuação fora da lei e por isso
sujeitos a coimas por conivência de forma de delito. Pelo
que percebemos, só algumas marcas é que estão sujeitas a
fiscalização, tipo, bolsas Gucci, óculos Channel, roupas
Lacoste, Nike, Gant, Louis Vuitton, etc etc.
Façam chegar este mail a toda a gente para que todos
saibam
A GNR-BT, nos auto-stops, começou a fiscalizar os CD's
piratas que temos no carro. Se os CDs não forem originais
ou então se não possuímos o original que deu origem à
cópia, (é permitido por lei efectuar UMA cópia de
segurança), a viatura pode ser apreendida e sujeitamo-nos
às respectivas sanções. Retirem urgentemente os CD's
piratas do carro, não vá o diabo tece-las. Este controlo foi
efectuado este fim de semana, na A1.
Enviado conforme recebido.
O que há a dizer disto? Ora bem, não vou aqui discutir
se é verdade ou não. Pode ser verdade como as colheitas de
órgãos nas lojas chinesas, verdade como o sujeito que
acorda numa banheira sem um rim com um cartão de
visitas e um telemóvel, ou verdade como o sujeito cuja
cabeça explodiu porque misturou mentos com coca-cola.
160
Importa é perceber a lógica dos eventos.
E eu tenho de dizer isto: nunca percebi o porquê da
perseguição às contrafacções. Será apenas porque o
produto tem uma qualidade inferior e um nome
semelhante a outro de qualidade superior? Será o nome?
Será a qualidade? Será porque um é vendido numa loja
com música ambiente e ar condicionado e outro é vendido
numa feira?
Limitando-me ao universo da roupa, quais as diferenças
entre uma peça contrafeita e uma peça das outras? Ambas
seguem um desenho, são feitas de tecido, etc. Será que são
ilegais por usarem o nome como método de venda?
Um produto de qualidade inferior a servir-se do nome
de outro de qualidade superior para vender mais.
Como na música. Quantos e quantos artistas não vemos
como cópias baratas de outros artistas e estes não são
perseguidos nem presos. São contrafacções, mas por terem
um nome diferente ninguém lhes diz nada.
Será apenas o nome?
161
Deus, Todo-Poderoso, omnipotente, tudo pode, tudo
consegue... Pois sim.
Durante anos vingou essa ladaínha relativa à força e
invencibilidade de Deus. Até vir o Bin Laden e estragar
tudo.
Primeiro que tudo, vou salientar o mais importante:
ainda bem que o Bin Laden está vivo! Desde que escrevi
aquele artigo a interrogar-me acerca do futuro do
terrorismo após a morte do seu representante máximo
tenho passado noites a fio a pensar nisso.
É bem verdade que o Bin Laden já voltou há mais tempo
e já fez outras ameaças antes destas últimas, mas se
ameaçar o Bush é mais do mesmo, ameaçar Deus é outra
coisa completamente diferente.
Bin Laden voltou em força. Tipo Stallone aos 60 a fazer
um 'Rocky Balboa' e um 'John Rambo'. A diferença é que
Bin Laden tem mais de setenta anos em cada perna e foi-se
meter com um sujeito com fama de ser mais lixado que
birmaneses e boxeurs afro-americanos todos juntos.
Ou assim todos nós pensávamos.
Aparentemente, Deus nada pode contra um gajo de
desfibrilado e tolha na cabeça. Arma-se em bom, atira com
gafanhotos e tal, mas depois...
Típico dos bullies São sempre invencíveis. Até chegar
um gajo e fazer-lhes frente.
Tudo bem que o Bin Laden não fez propriamente frente
a Deus. Fez ao Vaticano. Que é onde mora o representante
de Deus na Terra.
Imagino a reacção imediata às ameaças proferidas pelo
líder da Alcaeda.
“Eminência, o Bin Laden acabou de nos ameaçar. Que
162
fazemos? Rezamos um Pai Nosso?”
“Tás parvo? Chama mas é a Guarda do Vaticano.”
“Mas eles têm um uniforme ridículo.”
“Exacto. Se têm coragem de andar assim público, não
hão-de ter medo de mais nada.”
“Então e Deus?”
“Deus que vá brincar com os gafanhotos e não se meta
com a mulher dos outros.”
E pronto. (Esta última frase de Bento XVI foi mal
pontuada de propósito; e também não está muito bem
contextualizada, mas pronto.)
163
Bento XVI não confia no poder de Deus. E não é sem razão
ao contrário do que se poderia pensar.
Em Portugal, mais concretamente na Guarda, há uma
igreja sem sinos há bué da tempo (de vez em quando tenho
de escrever a captar público mais jovem) e o Estado, que é
o responsável pela manutenção (porquê, perguntam vocês)
não há meio de resolver o problema.
Eu sei o que é ter a campainha avariada. É uma chatice.
Principalmente se não formos nós a tê-la avariada. Vem a
chunguice toda tocar-nos à porta. E isso é mau. Aquela
igreja na Guarda ao não ter o sino arranjado, não ouve os
fiéis. Estes, sentindo-se ignorados, vão tocar a outra
freguesia. É um problema.
E o padre, o bispo e essa malta pediram ajuda. A quem?
Ao Papa? Já vimos a reacção dele a ameaças feitas por um
tipo de toalha na cabeça. Vão esperando.
Terá sido ao sujeito (com S grande) que criou o
Universo e a Terra e isto tudo e mais alguma coisa em seis
dias? Àquele que engravidou uma gaja à distância? Àquele
que tudo pode, tudo faz e tudo vê?
Qual quê! Pediram mas é às gentinhas da terra. Disse o
Carlin há quase dez anos e continua a ser verdade. “He's
all powerful, all knowing and all wise. Somehow, just can't
handle money!”
164
Título original: THE KING OF QUEENS
Título(s) em Portugal
1 (TVI): O REI DO BAIRRO
2 (SIC COMÉDIA/SIC MULHER): ELE, ELA E O PAI
Título original: CROSSING JORDAN
Título(s) em Portugal
1 (FOX LIFE): A PATOLOGISTA
2 (RTP1): A ENCRUZILHADA
Título original: GHOST WHISPERER
Título(s) em Portugal
1 (SIC): ENTRE VIDAS
2 (FOX LIFE): EM CONTACTO
Título original: TWO AND A HALF MEN
Título(s) em Portugal
1 (RTP) DOIS HOMENS E MEIO
2 (SIC) CONTACTO (COM OS COMENTADORES ZEZÉ
CAMARINHA E JOSÉ CASTELO-BRANCO)
Pergunta: quando uma destas séries é editada em DVD
em Portugal, qual dos títulos é escolhido e porquê?
Ou será que são editadas duas versões da mesma série
para os otários comprarem duas vezes o mesmo produto?
O meu palpite é que são atribuídos nomes diferentes à
mesma série para não acontecer estar a dar a mesma série
em dois canais concorrentes em simultâneo. Ou para
quem não possuir TVCabo aderir ao serviço porque são
165
transmitidas séries que não estão disponíveis em sinal
aberto.
Responda quem souber.
166
Não tenho por hábito citar totalidades de ideias de
terceiros, só parcialidades. Isto por norma. Como este caso
foge à norma, sinto-me no dever de o fazer. Até porque é
uma informação importante e urge levá-la ao maior
número de pessoas possível.
No BLOG DAS COISAS QUE VÃO MUITAS
VEZES DAR AO SEXO li o seguinte artigo:
Segunda-feira, 26 de Novembro de 2007
Hi5 e as Pessoas-Local
Quase todos os dias faço uma visita ao meu lugarzito no
Hi5, gosto de ver as adições de fotografias e amigos,
visitas ao meu perfil, mensagens, e essas tretas todas que
vão animando aquela imensa base de dados das 'gentes'
de todo o mundo. O Hi5 é ainda um bom modo de
conhecer o que as pessoas tomam como bom ou mau, já
que é lá que expõem o que acham que devem expor, que
decidem o que é bom dar a conhecer ou não e
consequentemente o que é favorável ou não para este
pedaço da sua identidade, que não está presente bem
numa base de dados, como aquelas chatas que devem
existir no estado ou aquela do programa de facturação.
Nada disso, o hi5 é encarado como um universo digital
de relações e posição social, qual base de dados qual quê!
Bom, mas independentemente do que acho que os
outros acham do Hi5, não consigo perceber esta
proliferação recente, já que tenho tomado consciência
dela nos últimos dias, daqueles seres que fazem questão
que não se possa ver as informações que introduziu na
base de dados. Mas afinal de contas por que razão é que
167
quiseram fazer parte dela? Ora se eu não conhecer o cão,
gato ou pintura e personagens favoritos de alguém que já
não vejo há uns anos - isto porque é raro olhar para a
foto que aparece na nossa indexação à base de dados e
reconhecer alguém - como é que sei que X ou Y são a
pessoa que procuro? Não percebo também porque numa
sistema como o hi5 que tem como fundamento a partilha
e ligação de amigos e conhecidos a outros amigos e
outros conhecidos, existe a necessidade de bloquear
outras pessoas de verem o nosso perfil e
consequentemente
de
encontrar
pessoas
que
poderiamos conhecer ou querer conhecer e assim
consecutivamente.
Acho que essas coisas que vão abundando por lá, devem
querer expressar uma atitude semelhante aos locais de
entrada reservada, que têm uma placa enorme a dizer
'proibida a entrada' ou algo de género, que de facto pode
ser qualquer coisa desde que siga o "conceito" de numa
forma ou outra querer fazer questão de dizer que é
importante, de forçar a ideia que se é mais que qualquer
outra coisa.
Acho até que essas entidades que habitam o Hi5, querem
ser outra coisa além de pessoas. Já são uma espécie de
pessoa-local. Querem ser aquele bar e restaurante que
tanto admiram. Querem ser o local que alberga e protege,
com o seu acesso reservado, outras pessoas. Ou a casa
onde a família retrograda que fecha/prende a filha para
que não tenha contacto com nenhum homem (só a
levam a passear no seu veículo de luxo, nos 'premium'!).
E ainda o local que quer de facto demonstrar que é
selecto, ele quer ser selecto onde não faz sentido ser. É o
local da piada-retrocesso, aquele tipo de humor que
descreve a rapariga 'pouco-virgem' no confessionário, ou
o canalizador bruto e másculo no convento. É o
argumento num filme pornográfico. E como este, é
despropositado, dispar e desnecessário.
168
Para essas pessoas-locais cujo egoísmo tenta fechar as
portas de forma a que não tenha acesso a outras pessoas
que podem ser importantes para mim (e que de outra
forma não encontro), quando queremos estar
isoladamente com os nossos amigos num ambiente só
nosso, não andamos para aí a cantar isso para toda a
gente, porque é daquele tipo de informação inútil para
os 'não participantes'. Se não gostam de partilhar
informações e amigos/conhecidos, nem usar isso para
encontrar pessoas que já não falam ha muito tempo, o
hi5, caso ainda não tenham reparado, não é bem o sitio
para vocês. O ICQ, MSN ou qualquer outra rede de
género é mais adequado e pelo menos, fazem o favor a
toda a gente de não empatar ninguém.
É tão estranho falar sobre isto como seria tentar
perceber ou explicar o argumento de um filme
pornográfico. Ou não, mas aí já estaríamos na Twilight
Zone.
Publicada por Sr.Cosmos em 4:22
Isto é uma mensagem que vale a pena espalhar por mail.
Não é aqueles powerpoints dos cãezinhos e dos
coraçõezinhos e essas merdinhas fofas. Abram os olhos.
169
"Take care of yourself. And take care of
somebody else."
– George Carlin
George Carlin, famoso comediante norte-americano,
faleceu no passado dia 23 de Junho, vítima de ataque
cardíaco. Morreu com 71 anos, ou como ele gostava de
dizer "Sixty nine with two fingers up my asshole!"
Conhecido pelo famoso 'the seven words you can't say on
television' e por muitos outros, o seu legado ficará para
sempre na História do Humor. Num dos meus primeiros
posts, prestei-lhe uma homenagem ainda era ele vivo. Eis
a homenagem póstuma:
FREE FLOATING HOSTILITY
(ou PESSOAS QUE NÃO FAZEM FALTA)
1 - Pessoas que levam as chaves de casa ao pescoço
2 - Pessoas que empatam filas no pronto-a-comer,
perguntando "O que é isto? O que é isto?"
3 - Advogados com o rego do cú à mostra
4 - Pessoas de camisas às bolinhas
5 - Juízes com vestígios de pó branco nas narinas
6 - Homens com mais de 40 anos que usam o boné de
lado
7 - Escritores de literatura 'light'
8 - Casais que levam o bebé para restaurantes
170
românticos
9 - Famílias numerosas que acham que os putos não
incomodam ninguém na praia
10 - Mulheres com mais celulite do que pele que acham
que têm corpo para usar fio dental na praia
171
Julho vai quase a meio mas ainda há tempo para muito
boa leitura. Aqui ficam algumas sugestões.
O PLANO NACIONAL DE LEITURA PARA ANALFABETOS
COMO ATINGIR PESSOAS DE CABEÇA PEQUENA COM UMA
FISGA
COMO TER GRANDES IDEIAS SEM LER ESTE LIVRO
IMPRESSIONE OS OUTROS SEM DIZER NADA
1001 MANEIRAS DE USAR UM FURADOR
SAIBA O QUE DIZEM DE SI QUANDO NÃO ESTÁ PRESENTE
COMO ALIMENTAR A SUA MANIA DE PERSEGUIÇÃO
UMA LISTA DE TODAS AS PALAVRAS QUE NÃO DEVE DIZER A
UM HOMEM
UMA LISTA DE TODAS AS PALAVRAS QUE NÃO DEVE DIZER A
UMA MULHER
MANUAL DE CONSTRUÇÕES COM UNHAS CORTADAS
COMO SER AMIGO DE TODA A GENTE
SUGESTÕES PARA DOBRAGEM DE GUARDANAPOS
DOMINE A INTERNET A PARTIR DO SEU TELEFONE DE CASA
COMO ESCOLHER O SEU PARTIDO POLÍTICO E NÃO SER
INFLUENCIADO
100 FRASES DE PESSOAS QUE NINGUÉM CONHECE
APRENDA A NÃO SE RALAR
COMPÊNDIO DE TODAS AS DOENÇAS CONTRAÍDAS POR
PESSOAS NASCIDAS NO SÉCULO XX
COMO SUBIR NA VIDA SEM DAR O CÚ E CINCO TOSTÕES
ADOCE A SUA VIDA COM ASPARTAME
110 RECEITAS À BASE DE PETAZETAS
172
Após centenas de e-mails e cartas recebidas a pedirem, a
exigirem que eu me manifestasse acerca dos
acontecimentos que tiveram lugar na Quinta da Fonte, em
Loures, eu continuei na minha. Disse a todos eles que a
minha criatividade não podia ser encomendada. "Eu
escrevo sobre o que me apetece," disse-lhes. E mantive-me
firme.
Até que uma das leitoras resolveu ser um bocadinho
mais persistente e... Enfim, digamos que eu faço isto POR
VOCÊS.
Vamos lá então, Quinta da Fonte. Primeiro, não me
interessa quem teve razão, se ciganos ou pretos (ou negros,
ou afro-portugueses, ou qualquer que seja o termo
politicamente correcto actualmente em vigor). Há sítios
onde eles se dão bem, há sítios onde se dão mal. Aquilo é
um bairro social. Fiquei espantado por uma situação
daquelas ter acontecido lá. Nunca pensei.
A única coisa que posso comentar em concreto sobre
este caso, prende-se com as declarações que ouvi duma
abécula, ave rara, (etc. ad infinitum) que disse no fórum
da TSF que "os ciganos são um povo nómada e nós
[sociedade ocidental] tentamos sedentarizá-lo." Na
opinião dessa aventesma em vez de casas devíamos darlhes antes roullotes.
Porque assim não há perigo de, ao mínimo sinal de
merda, zarparem para Espanha.
Obviamente, e isto é o que se deve ter SEMPRE em
conta, apesar das escaramuças que se possam ter tido com
ciganos ou pretos (ou negros, ou etc.) não se pode rotular
tudo. Já tive a experiência de ter sido uma vez confrontado
por um cigano que me confundiu com alguém que
173
apareceu na televisão a dizer coisas como "os ciganos
deviam ir todos prá terra deles."
Quem já teve confusões com eles, sabe que confusões
são motivo para espancamento. Tanto faz ser verdade
como mentira. Tentando manter a postura, expliquei-lhe
que não podia ser eu e... ele aceitou. Pediu desculpa, disse
que tinha sido erro da parte dele e foi à sua vida. Cruzeime com ele algumas vezes, cumprimentamos-nos com um
acenar e seguimos.
Por isso, Quinta da Fonte, Cova da Moura, Chelas,
Laranjeiro, Vale da Amoreira, etc., etc., olhem para esses
bairros, vejam em que condições algumas (nem todas)
dessas pessoas vivem. E mesmo aqueles que têm
actividades ilícitas, considerem o que aconteceu para eles
enveredarem por essa vida.
E digam se a culpa é mesmo deles ou de quem os pôs lá.
(to be replied)
174
Passei por quatro universidades na minha vida – duas
públicas e duas privadas –, estudei numa e trabalhei nas
outras três. Conheço bem o panorama das universidades
públicas e privadas. Ou melhor, conhecia de 1999 até
meados de 2006. Depois disso, parti para outra.
Era, por vezes, demais evidente o nível que distinguia os
alunos de uma e de outra universidade. A privada com prérequisitos académicos mais baixos e mensalidades mais
altas dava espaço aos meninos e meninas de bem, aos
“senhores” e aos “filhos dos senhores”. Na pública,
entravam por mérito próprio. Pagavam menos, mas o nível
de exigência era diferente. Não sendo isto uma regra de
ouro, eram mais as vezes em que acontecia assim do que o
contrário.
Não estou, portanto, a ser apologético de uma e crítico
de outras, mas era isto que se verificava. A postura dos
alunos na pública era mais humilde do que a dos alunos na
privada. Eis um exemplo (real, não inventado):
Dois alunos, oriundos da mesma escola, da mesma
turma, candidataram-se ao curso de Direito. Um entrou na
pública, o outro na privada. Os dois freaks.
No primeiro ano, continuaram como freaks. No
segundo ano, o que estava na privada, cortou o cabelo e
passou a vestir calça de ganga e camisa. No terceiro ano,
andava de fatinho e gravata. O outro continuou como
freak até ao final do curso.
Hoje em dia, anda também de fato, mas é a profissão
que obriga a isso. Exerce advocacia, o outro trabalha num
café.
Isto acontecia em Direito, acontecia em Economia,
Gestão, Informática, etc. E agora leio no DN que o
175
decréscimo de alunos não tem a ver com a
descredibilização das universidades privadas, mas sim
com a crescente concorrências das públicas. Em parte, é
verdade, mas só em parte.
Tomemos como exemplo alguns dos casos que vieram a
público sobre universidades privadas (alguns não passam
de rumores, mas mencionemo-los na mesma):
 Universidade Independente (suspeitas de
corrupção, branqueamento de capitais, falsificação
de documentos, etc.)
 Universidade Moderna (associação criminosa,
gestão danosa, apropriação ilícita, corrupção activa e
passiva e falsificação de documentos)
 Universidade Autónoma (suspeitas de corrupção,
exames comprados, etc.)
Estes são os casos de que me lembro e que encontrei na
net. Que também possam haver casos assim ou piores nas
universidades públicas, não me surpreende. Surpreendeme é dizerem que o facto do número de alunos ter
diminuído nos últimos dez anos não tem nada a ver com
isto.
Este é um Governo de imagem. Tudo é feito à superfície,
a porcaria varrida para baixo do tapete. Acho que se fosse
um objecto, este Governo seria uma capa para telemóvel.
O telemóvel cai ao chão, fica feito em merda por dentro,
troca-se a capa e, voilá!, fica como novo.
Algumas coisas terão mudado nestes últimos dois anos
em que estive afastado do ambiente universitário. A
começar pelo grau de exigência para entrada na pública. O
cenário que eu descrevia ao início, muito provavelmente,
não ocorre nos dias de hoje.
E isso surpreende alguém?
A mim não.
176
Fiz o ensino secundário na área de Comunicação.
Aprendi as quatro perguntas principais a que um
jornalista tem de responder quando escreve uma notícia
(QUEM, O QUÊ, ONDE e QUANDO) na minha primeira
semana de aulas.
Quando fui trabalhar para a primeira privada, na altura
dos exames finais, apanhei um aluno do 4º ano, curso de
Ciências da Comunicação, vertente de Jornalismo, a fazer
cábulas para o exame final. Só tinha lá uma coisa “QUEM,
O QUÊ, ONDE e QUANDO”. Hoje trabalha no 24 Horas.
Talvez.
Pagou para entrar, mas era óbvio que não tinha cabeça
para aquilo.
Hoje corre-se o risco de este cenário aconteceu em
todas as universidades. Alunos mal preparados, que
entram porque têm dinheiro para isso, mantêm-se porque
têm dinheiro para isso e acabam porque têm dinheiro para
isso.
Começa com algo tão simples e bonito como a subida
miraculosa dos resultados dos exames de Matemática.
Num ano estamos cá em baixo tudo, no ano seguinte
ninguém nos agarra. Alunos super inteligentes?
Professores super dinâmicos e instrutivos? Não sei. Mas
imagino que as capas para telemóveis nos chineses
estejam muito baratas.
177
Agosto, tempo de notícias parvas. E de bons livros.
DICAS DE BELEZA PARA PESSOAS COM VERRUGAS
RITOS DE ACASALAMENTO DOS BEDUÍNOS
CATÁLOGO PRIMAVERA-VERÃO PARA PESSOAS ANTIPÁTICAS
FALSIFIQUE NOTAS COM LENÇOS DE PAPEL
DIGA NÃO A TUDO
LISTA DE NOMES IDIOTAS PARA DAR AO SEU FILHO
HERMAFRODITA
DICIONÁRIO DE INSULTOS PARA INDIVÍDUOS DE ORELHAS
GRANDES
JOGOS E BRINCADEIRAS EM CAMPOS DE MINAS
O SEU VOTO CONTA
COMO DIZER SEMPRE A FRASE CERTA
1001 FORMAS DE PEDRA DE CALÇADA
BRICOLAGES DE CASA DE BANHO
ENFEITE A SUA SECRETÁRIA COM FOTOGRAFIAS DOS FILHOS
DOS SEUS COLEGAS
A SUA HIGIENE DIÁRIA EM UM MINUTO
ASSUSTE O SEU PARCEIRO COM RESULTADOS DE EXAMES
MÉDICOS
MANUAL DE ACASALAMENTO COM ANIMAIS DE PÊLO BRANCO
TRANSFORME OS SEUS RECEBOS VELHOS EM FLORES DE
PAPEL
UMA LISTA DE TODAS AS FRASES ESCRITAS EM CASAS DE
BANHO PÚBLICAS
TODAS AS PESSOAS PARA QUEM PODE LIGAR ÀS 4 DA MANHÃ
COMO AFUGENTAR TIAS CHATAS
178
O tempo é pouco e, infelizmente, só agora é que consegui
vir aqui deixar-vos a lista de livros a ler durante o mês de
Setembro. Para compensar o meu atraso e uma vez que
metade do mês já passou, em vez de vinte levam trinta
sugestões. Quem é amigo, quem é?
SURPREENDA OS SEUS VIZINHOS DURANTE A NOITE
TODOS OS TOQUES DE TELEMÓVEL EM LINGUAGEM SMS
APRENDA A DIMINUIR AS SUAS EXPECTATIVAS
DISFARCE O EXCESSO DE ÁLCOOL ATRAVÉS DE DANÇAS DE
SALÃO
UMA LISTA DE TODAS AS MULHERES QUE NÃO FINGEM
UMA LISTA DE PESSOAS QUE NÃO DÃO TRABALHO A NINGUÉM
UMA LISTA DE PESSOAS QUE NÃO INTERESSAM
O MENINO JESUS JÁ QUER IR ÀS MENINAS
COMO CONSEGUIR BONS DESCONTOS EM TUDO
O MEU ARCO-ÍRIS: MEMÓRIAS DE UM ESTRÁBICO
LISTA DE TODOS OS PREÇOS DE PASTAS DENTÍFRICAS EM
MERCEARIAS DE IDANHA-A-NOVA
100 RECEITAS DE ANIMAIS DOMÉSTICOS
SAIBA SE ESTÃO A GOZAR CONSIGO ATRAVÉS DE AERÓBICA
27 FRASES PARA DIZER QUANDO ENCONTRAR DEUS
UMA ANÁLISE
CONJUNTURA
DE
TUDO
O
QUE
FOI
DITO
SOBRE A
APRENDA A CONTAR PELOS DEDOS EM TRÊS TEMPOS
179
DISFARCE O SEU ODOR CORPORAL COM UMA SOLUÇÃO À BASE
DE VINAGRE E CEBOLA
ENCICLOPÉDIA DE MEDICINA ARTIFICIAL
TONS DE CORES QUENTES PARA VERNIZ DE UNHAS
O PLANO NACIONAL DE SAÚDE SOB O OLHAR DE JOSEF
MENGELE
APRENDA A NÃO DESISTIR (com prefácio de Pedro Santana Lopes)
TODAS AS PALAVRAS QUE NINGUÉM LEU
SEJA O CENTRO DAS ATENÇÕES ATRAVÉS DE SONS CORPORAIS
COMO USAR BOM SENSO EM DISCUSSÕES COM BÊBADOS
ARMADOS
TODAS AS CAVIDADES CORPORAIS ONDE PODE ESCONDER
DROGA
GINCANA DE MÉDICOS-LEGISTAS
PADRÕES DE PAPEL DE EMBRULHO COM RISCAS
OS ENDEREÇOS DE TODAS AS PESSOAS COM APELIDOS
COMEÇADOS POR 'S'
A RAIZ QUADRADA DE 2 EM 1700 PÁGINAS
PIROPOS DE TROLHA PARA USAR NO CONVENTO
180
Sofia divide o tempo entre dois
empregos. De tarde trabalha num
supermercado, à noite num bar de alterne
frequentado por dirigentes desportivos,
autarcas, polícias e juízes. Numa noite,
Sofia recebe uma proposta de um
inspector da Polícia Judiciária, Luís, que
reconhece nela uma certa classe, charme
e inteligência que a destacam de todas as
outras mulheres que habitualmente se
encontram nesses locais. A proposta é
simples e perigosa: Sofia deve dar-se a
conhecer a um dirigente de um clube
desportivo da primeira liga, seduzi-lo,
conhecer os seus segredos. Sofia aceita o
desafio, mas aos poucos começa a pôr em
causa o que lhe é dito pelo inspector. Mas
o cerco policial ao "Presidente" continua,
o que o leva a manter Sofia afastada de
qualquer informação comprometedora.
Sofia está agora disposta a revelar tudo o
que sabe. Mas a verdade tem um preço
muito alto.
-- sinopse do filme português
CORRUPÇÃO
Ora bem, isto já vem mais do que tarde, vem tardissímo,
mas eu tenho um problema – aliás, tenho mais do que um,
mas para o caso não interessa – que é ser preguiçoso. E
181
outro que é não ligar a filmes que não interessam. Eu vi as
conversas no programa da Fátima Lopes sobre a Carolina
Salgado, portanto já sabia de tudo o que ia acontecer no
filme. Ou, assim pensava eu. Pois ao ir a uma papelaria e
por acaso ver o dvd do filme 'Corrupção' e por curiosidade
(mórbida? não tanto, é mais pelo gozo) pegar para ler e
sinopse, constatei que o filme tinha e tem mais do que eu
julgava.
A história está lá como eu tinha ouvido dizer n vezes
tanto na Fátima Lopes como no Manuel Luís, só que
ninguém (e aqui fica o meu reparo a esses senhores
críticos sociais) me disse que o filme ia ser uma fábula da
Disney. Ou tentativa de. Pelo menos é o que parece. Vejam
porquê:
Uma mulher ter dois empregos para sustentar as filhas
e um deles ser num bar de alterne, não é a primeira nem
há-de ser a última. Se o emprego diurno for fiscal da ASAE,
pronto é mau exemplo. Mas o alterne, além de poder
ajudar as gaiatas quando for a altura dos exames de
Educação Sexual, também aprende a tirar cervejas e a
preparar cocktails. Imagine-se o caso das filhas irem pelo
mesmo caminho, abrem negócio em casa e é só facturar.
O bar é frequentado por gente importante, entre os
quais dirigentes desportivos, autarcas, juízes, policias. Ora
bem, por definição e por ética, a prostituição de alto nível é
onde uma pessoa pode ir e despejar os seus problemas (e
não só) e fica descansado porque dali não sai. Primeiro
sinal de que quem escreveu o filme nunca pôs os pés numa
casa de alterne ou então era ela que não era capaz de ficar
com a boca fechada.
O que remete para a próxima parte da história. Vai lá
um polícia bêbado fazer-lhe uma proposta . E bêbado
porquê? “(...) Luís [o bófia] (...) reconhece nela uma certa
classe, charme e inteligência que a destacam de todas as
outras mulheres que habitualmente se encontram nesses
182
locais” Que locais? Balcõesdo CitiBank? Repartições de
Finanças? Não. Casas de alterne. Classe, charme e
inteligência numa alternadeira? Pode ter, calma, mas não
é coisa que se veja e muito menos diga num primeiro
encontro.
Diálogo romântico pouco provável de acontecer:
“Então és tu a Marlene. Os meus amigos já me tinham
falado de ti.”
“E tu és o Elias. Lindo nome. Deves ser um garanhão.”
“Noto em ti uma certa classe, charme e inteligência tão
grandes que sinto que vou arrebentar.”
“É melhor irmos para o quarto tratar disso.”
“Se for por trás é mais caro ou é o mesmo preço?”
E por aí fora. Vêem isto acontecer na vida real? Eu não.
Mas a coisa não fica por aqui. Continua a ser tentativa
de fábula.
Ela ouve a proposta de meter-se com um gajo para lhe
sacar informação e aceita. Aceita ajudar o bófia que não
conhece de lado nenhum, traindo assim os principios que
regem toda uma classe de gente trabalhadora, e a troco de
quê? Acaba por ser descoberta e espancada e ficar de mãos
a abanar.
Mas antes do espancamento (que não é nada tão
espectacular como foi o de Leonor Cipriano (ver nota no
fim)) ainda deu tempo para uma bela história de amor
entre um senhor do desporto e uma menina da noite.
Momentos de grande ternura e alguma badalhoquice,
como a cena do coelhinho. (Espero que tenha a cena do
coelhinho. Disseram-me que tinha a cena do coelhinho.
Agora se não tem é que é chato que eu até seria capaz de
comprar o filme só para ver a cena do coelhinho.)
Classe, charme e inteligência? Lá paciência para aturar
paneleirices isso ela tem e sobra. Classe, talvez. Dentro do
género é possível que sim. E mesmo charme. Ao fim ao
cabo (que linda expressão!) são tudo aspectos superficiais.
183
Nada visível a olho nu como a inteligência. E aceitar ajudar
fazer a folha a um gajo que até seria um bom ganha-pão se
não o lixasse, só porque alguém lhe deu um piropo, não
evidencia uma inteligência por aí além.
Porém, ao mesmo tempo que espia, começa a pensar
que o bófia é capaz de não lhe ter contado tudo como deve
ser. Hum? Ponderações? Minha menina, estamos a entrar
no campo da Filosofia e isso é terreno muito pantanoso
para meninas com classe. Como até não está a fazer nada
de mal e como quem diz a verdade não merece castigo, o
que é que ela resolve fazer? Contar a verdade. É então que
leva o espancamento e o pontapé no rabo e põe-te a andar.
Estes são alguns dos aspectos que o filme possui que o
impedem de ser uma fábula da Disney. O que seria
necessário para que fosse, de facto, uma fábula?
Mantém-se tudo como está, mas sai o presidente e em
vez disso entra o coelhinho. Temos assim a figura
racioanal do filme e outros animais é tirar-lhes a voz e
deixá-los como estão.
Nota referente a há pouco: Leonor Cipriano, a ser
verdade o que dizem, teve dos melhores espancamentos
dados pela Polícia Judiciária. Carolina Salgado (ou Sofia)
foi espancada por grunhos e estes, por muito que tentem,
não chegam aos calcanhares da gente da PJ. E não é por
serem dos Super Dragões ou do Torreense ou do Clube de
Xadrez Unidos da Betesga que são grunhos. São grunhos
porque um gajo vestido de coelho diz-lhes para
espancarem uma gaja com classe, charme e inteligência e
eles espancam a gaja em vez de darem uma paulada no
coelhinho e pô-lo no forno a assar. Quem sabe, se depois
do coelhinho não a comiam de sobremesa? Talvez com a
promoção “Leve com quatro e pague dois” a coisa ficasse
por um bom preço. Não pensaram nisso, agora olha.
184
Se há coisa que gosto de ver são pessoas entrevistadas em
directo darem respostas parvas a perguntas concretas. Não
gosto tanto como gosto, por exemplo, de ovos estrelados,
mas gosto. E se é verdade que às vezes andamos tempos e
tempos sem nenhum caso digno de referência (a não ser
de futebolistas, só que isso é tão habitué que já chateia),
quando menos esperamos aparece um caso como deve de
ser.
O caso mais recente data de ontem (dia 27 de Outubro).
Antes da pergunta e da resposta, uma pequena
contextualização para que tudo faça sentido (ou não).
No dia em que se começou a administrar a vacina
contra o cancro do colo do útero (Gardasil), veio a público
uma notícia via CNN que dava conta de cerca de dez mil
jovens que sofreram "efeitos nefastos" (incluindo 21
mortes) após terem sido administradas com a tal vacina.
Como nós em Portugal somos pessoas sensatas, fomos
logo (quando fomos, refiro-me aos repórteres) pedir
explicações à Direcção Geral de Saúde, que garantiu não
haver razões para alarme. E é lógico que não há. Se não,
vejam.
REPÓRTER - Como comenta as notícias da CNN sobre
jovens que morreram ou adoeceram após terem sido
injectadas com Gardasil?
(Isto é uma pergunta que um repórter nunca faria em
directo. Muito longa. Vêem como já estão a aprender?)
GRAÇA FREITAS (a respondona) diz, e cito, "em
matéria de vacinas e medicamentos, a vigilância é
apertada, realçando que ainda não está comprovada uma
relação de causa efeito entre os problemas detectados nas
jovens e a Gardasil".
185
Pronto. Se tivesse ficado por aqui, tudo bem. Era uma
resposta um tanto quanto evasiva. Como o pessoal que fez
a avaliação do acidente na linha do Tua dizer que aquilo
estava tudo a cair de podre, agora daí a dizer que isso teve
alguma coisa a ver com acidente, calma lá. O problema é
que ela quis dar um exemplo. Eu nem vou dizer nada.
Leiam só.
«Posso ir a um centro de saúde apanhar uma vacina e
nas horas a seguir por acaso parto uma perna, foi na
sequência da vacina, mas não quer dizer que tenha sido
causada pela vacina. Por isso é que os organismos que
controlam os medicamentos, não emitiram nenhuma
recomendação, no sentido de se estar atento»
Querem mais exemplos? Cá vai.
«Posso ir a um matadoro matar um porco e nas horas a
seguir por acaso dar corda ao relógio, foi na sequência da
matança do porco, mas não quer dizer que tenha sido
causada pela matança do porco. Por isso é que os senhores
que controlam os porcos, não emitiram nenhuma
recomendação, no sentido de se estar atento.»
«Posso ir a um parque de diversões comer algodão doce
e nas horas a seguir por acaso elaborar um orçamento para
reparação de uma persiana, foi na sequência do algodão
doce, mas não quer dizer que tenha sido causado pelo
algodão doce. Por isso é que os senhores que adoçam o
algodão, não emitiram nenhuma recomendação, no
sentido de se estar atento.»
«Posso ser informado que a vacina que a entidade pela
qual eu sou responsável começou a administrar é capaz de
não ser lá muito boa e nas horas a seguir dar um exemplo
que faz de mim um atrasadinho, foi na sequência de não
ter tomado a medicação, mas não quer dizer que tenha
sido causada por isso. Por isso é que os senhores que
mandam na clínica onde resido, não emitiram nenhuma
recomendação, no sentido de se estar atento.»
186
Acho que já chega. Bem esteve o W. que quando um
repórter o questionou sobre um assunto pertinente,
respondeu "Gostava que me tivesse enviado essa questão
previamente por email."
187
As pessoas lêem cada vez menos. As estatísticas até são
capazes de dizer que não – não tenho nenhuma à mão
neste momento para confirmar ou desconfirmar – e ao
vermos a parafernália de livros que enchem as estante e
expositores das livrarias e supermercados e os novos
autores que brotam como cogumelos em terreno próprio
para cogumelos, quase que acreditamos que é verdade.
Só que não é.
A verdade – ainda que esta possa ser subjectiva, mas o
blogue é meu e eu é que sei – é que as pessoas lêem menos.
E lêem menos, decerto não em quantidade, porque a oferta
é cada vez mais vasta, mas em qualidade, uma vez que não
houve (nem creio que vá haver) alguém que separe o lixo
efémero do que é realmente literatura. Bem sei que não se
deve comentar o gosto dos outros. E os críticos fazem o
quê? Não comentam, fazem pior, impõem-nos o seu gosto.
Criticar é feio, mas se for pago está tudo bem. É isso?
Para mim, as pessoas lêem mais coisas más agora do
que em qualquer outra altura do passado recente e menos
recente. Não porque queiram – certo e sabido que há os
que querem ou não se importam – mas porque existe uma
estupidificação maciça da sociedade. O tempo é cada vez
menos, o dinheiro escasseia. Quem quer ler bons livros, ou
tem tempo e dinheiro para investir, ou vê-se obrigado a
comprar o que está em promoção nas prateleiras do
Modelo. E quando falo em tempo, não é só do tempo que
falo, é de cabeça também. Alguém disse-me uma vez “É
preferível lerem porcaria (literatura light no caso em
188
particular) do que não lerem nada.” Não, não é. Porque
quem vai para a literatura light como primeira opção já
dali não sai.
Começa logo na escola com a leitura de histórias
mutiladas. Crianças que mal sabem limpar o rabo a
analisar morfologicamente os textos. Bons textos na sua
versão original são reduzidos a excertos. E a acompanhar
esses textos vêm exercícios. Chama-se a isto “leitura
orientada”.
Sou o trigésimo sétimo (ou oitavo, não sei bem agora) a
dizer que saber analisar um texto é importante, mas não
como vi em certos livros. Num livro do 4º ano do Primeiro
Ciclo encontrei um poema de Eugénio de Andrade.
Introduzir poesia às crianças é nobre, é de saudar, mas há
um meio correcto de se fazer as coisas que não foi o
utilizado neste caso.
Depois do poema, na página seguinte, vinha... uma ficha
de leitura. A ideia subjacente aqui é: não basta ler e sentir
a poesia, é preciso esmifrá-la bem esmifrada. As palavras
do poeta podem carregar tantos significados, mas o que é
passado é a interpretação de meia dúzia de iluminados que
decifraram o que o poema quer realmente dizer e impõem
essa sua visão.
Primeiro exercício:
Assinala com V para Verdadeiro, F para Falso e
T para Talvez as seguintes frases.
“Talvez”? Pergunto eu, em vez de “talvez”, que dá uma
certa ideia de insegurança, porque não “Pode ser”, “É
possível que sim”, “Se calhar”, ou (a minha preferida) “Vai
na volta...”
E já agora, Verdadeiro e Falso já está muito visto.
Porque não “Com certeza” e “Hmmm... duvido”? Ou “É
pois!” e “Népias, não dá!”? Há tanto por onde escolher.
Inovem, meus caros.
Segundo exercício:
189
Dos seguintes desenhos, identifica o que NÃO
está relacionado com o Inverno
E tínhamos um boneco de neve, um velho de ar
rezingão e um camelo.
Se os camelos soubessem escrever, diria que um deles
foi quem elaborou aquele exercício.
Por fim, o terceiro exercício
Descreve em três linhas “o que é para mim o
Inverno...”
Ah! Dar liberdade de expressão às crianças! Tão querido!
Depois de um exercício que restringe a interpretação de
um poema a critérios objectivos e outra que cultiva a
imbecilidade, não há nada melhor do que um exercício que
promova a veia criativa. Mas só em três linhas.
Criatividade sim, mas com moderação. A nível pedagógico
isto é bestial, perdão, de besta.
Notem bem, sou a favor das crianças lerem textos e
depois analisarem esses textos. Em certos casos, até
concordo com as fichas de leitura. Mas! (friso a
exclamação) só se estiverem relacionadas com o poema em
si e não com a generalidade do tema que o poema aborda.
Há uma diferença.
Por outro lado, sou contra a leitura recreativa que é
passada através da escola. Porque não é de leitura
recreativa que se trata na maior parte das vezes.
Recreativo é sinónimo de lazer e lazer exclui fichas de
leitura.
Parece que os professores agora não podem passar
trabalho para férias, então sugerem “leitura de Verão”. No
meu tempo havia trabalho para férias, não era segredo, e
ninguém morria por isso. Hoje em dia está tudo
escamoteado. Gozávamos o Verão todo e deixávamos
aquilo para a véspera e ninguém morria. No caso da leitura
recreativa, como é para entreter, os próprios pais impõem
nos filhos a obrigação de passarem parte das férias de
190
volta desses textos.
Mais uma vez digo: a leitura deve ser estimulada, não
imposta.
Há dias conversava com alguém sobre isto e essa pessoa
deu-me o melhor exemplo possível para este caso:
“Pedir às crianças que preencham fichas de leitura
acerca de textos que leram nos seus tempos livres, é o
mesmo que trancar as portas do cinema e só deixar o
pessoal saair depois de cada pessoa preencher uma ficha
para ver se perceberam o filme ou não.
A leitura deveria ser estimulada, não imposta. O que se
faz é sobrecarregar alunos e professores com cargas
horárias violentas e matérias com poucas ou nenhuma
utilidade prática. Era assim no meu tempo (em parte), mas
agora está pior. É o caso do Inglês no 4º ano. Quando
surgiu, fui favor, agora oiço dizer que no 5º ano começam
tudo de novo. Não fui confirmar isto mas, a ser verdade,
porra! Os putos andam lá a aprender o quê?
É desmotivante. Os alunos que querem (ou melhor, têm
de) ser cumpridores e estudiosos não têm tempo para
serem crianças. Os professores que escolheram essa
profissão por razões nobres não têm como fugir ao que o
Ministério da Educação define como “conteúdos
programáticos obrigatórios”. Uns não podem sair para lá
da caixa, outros não querem, outros não deixam. E a
criatividade lá vai desaparecendo.
(Atenção que nem tudo o que o Ministério da Educação
faz é mau. Aspectos positivos: a minha professora de
Matemática do 8º ano, a minha professora de Geografia
do 11º, e mais uma ou outra mula que andavam por lá.
Eram visualmente agradáveis e até sabiam ensinar. O
problema era nós prestarmos atenção ao que elas diziam.
É difícil aprender equações quando a professora tem um
decote até ao pescoço. Mas que é estimulante, não há
dúvidas.)
191
Isto não vem de agora, mas agora está pior do que
nunca. E parte da culpa é deste Governo de imagem. (O
jornal espanhol El Mundo elaborou uma lista dos vinte
homens mais elegantes de 2008. E José Sócrates ficou em
sexto lugar. Querem melhor exemplo?) Como o são todos
em Portugal. É preferível parecer bonito do que funcionar.
Só que nem funciona, nem quando visto de perto parece
bonito.
É a televisão, poderão dizer. Não deixa de ter a sua
quota parte de culpa, mas não é a principal responsável. É
o “Big Brother”, é os “Morangos com Açúcar”, é o “Olha
quem dança”. É o que for, não importa. Eu olho para esses
e outros exemplos como se fossem balas. A cada tiro é
uma mini-lobotomia involuntária que foremos. Só que não
são eles que disparam. Os Directores dos canais dizem que
só que mostram o que o público quer ver. E eu sei que há
gente estúpida neste país, mas tanta assim?
Não gosto de usar expressões como “sistema”; parece
paranóia. Só que não consigo deixar de ver uma certa
organização macabra nesta situação toda.
O Governo promove a estupidificação desde os tempos
de escola até à entrada no mercado de trabalho. Começa
por ser muito fácil, depois vai ficando difícil sem rumo
certo, até que a certo ponto a espiral inverte e os critérios
deixam de ser os mesmos. Hoje em dia termos
anormalidades como turmas de 1º e 2º ano misturados, ou
2º e 3º ou 1º e 4º, ou os quatro anos numa única sala.
Porque no entender da senhora Ministra da Educação,
“chumbar uma criança é anti-pedagógico”. Além de dar
muito mais trabalho a justificar. Por isso, o nível aumenta
e aumenta a um extremo em que poucos alunos
conseguem acompanhar e assimilar, mas ninguém
chumba. Todos passam, todos sem excepção. E quando
chega a hora de ir para a Faculdade, a única coisa que
precisam é pagar a matrícula e a inscrição. Podem ter
192
média de sete ou oito, interessa é pagar.
Quem não tem dinheiro e não vai para a faculdade,
trabalha e o ritmo é tão intenso, a cabeça é tão
bombardeada com o estado do país, com a economia, o
desemprego, que quando chegam a casa não querem ver
nada. Talvez um filmezinho. Mas uma coisa que não puxe
muito pela cabeça. Infelizmente muitos vão para as
telenovelas, para os reality-shows, os talk-shows, aquelas
coisas que existem para se ver sem olhar, para encher o
tempo. E a estupidificação continua.
Incapazes de pensar por nós próprios, assistimos a
notícias sobre o aumento da criminalidade. Carjacking,
homejacking, tráfico de armas, lenocínio, tráfico de
pessoas e bens, TVI. Será assim tão estranho num sistema
que protege os direitos dos criminosos em relação às
vítimas, haverem assim tantos crimes? Não me parece.
E mesmo que isto seja sensacionalismo da minha parte,
mesmo que haja um exagero dos casos aqui apresentados,
não creio que isto seja feito por acaso. A intenção é
assustar e manter as pessoas assustadas. Pessoas
estupidificadas desde crianças, a viverem com medo de
serem assaltadas, de serem despedidas; todas com deveres,
poucas com direitos reais.
Na manhã em que comecei a escrever este artigo
(demorou mais tempo do que esperava) anunciaram na
TSF a publicação da lista de credores do Estado. Ouvi isso
e pensei logo 'Ninguém vai lá pôr o nome'. Passado este
tempo, vejo que não me enganei. Seria como o caixa de
óculos no 1º C ir cobrar os dez cêntimos que emprestou ao
folião do 4º E para este comprar gomas. Ele até lhe pode
pagar, só na brincadeira, mas quando o outro menos
esperar...
193
Manoel de Oliveira, o mais velho realizador em actividade
do mundo comemorou cem anos. E disse que não se vai
reformar. Ainda.
Às vezes perguntam-me, “ó Joel, se tu não gostas do
senhor, porque é que te dás ao trabalho de escrever sobre
ele?” Bom, a verdade é que nunca me senti atraído pela
sua obra cinematográfica. Pode ser muito boa, bla bla, mas
a mim “não puxa”. A título profissional, é mais ou menos
isto. Quanto à parte pessoal, não o conheço, não posso
comentar.
Não podia, melhor dizendo.
Há dias li declarações do senhor Manoel de Oliveira, a
queixar-se de que se tivesse de depender do Estado
português para fazer filmes, teria ficado por um ou dois.
Ora bem, eu entendo que o senhor esteja a ficar senil. É
a única desculpa possível e aceitável para tais declarações.
Se não é senilidade, é arrogância.
Não tenho por hábito responder a comentários feitos a
posts anteriores, mas acho que é importante abrir aqui
uma excepção apenas para consolidar o que estou a dizer.
O comentário foi a propósito do post “TERMINUS 21:
MANOEL DE OLIVEIRA A 48 VELOCIDADES” e dizia:
Leiam muito, vejam muito cinema, mesmo que vos
194
dê seca no inicio, e depois hão de ver que não querem
outra coisa. Ou então, senao gostarem paciencia.
Considero Manoel de Oliveira e João Cesar Monteiro
os maiores clássicos do cinema português, e lamento
os comentários que se escrevem acerca deles.
Quem não estuda matemática também a detesta. Mas
se esforçar e aprender ficará a gostar.
Pela ordem de ideias dos detractores, também os
clássicos da cultura humanistica seriam para deitar
fora , no entanto são a maior riqueza espiritual da
Humanidade.
Subscrevo que devemos valorizar os clássicos. Quanto a
valorizar Manoel de Oliveira e José César Monteiro, nem
pensar. Quem quiser gostar, é livre de gostar, mas eu não
consigo gostar, ou sequer respeitar chulos (sim, foi mesmo
chulos que escrevi) que sempre receberam dinheiro dos
contribuintes para fazer filmes que não deram lucro
nenhum, só despesa e vêm dizer que “o Estado não nos dá
apoio” ou “Eu quero é que o público português se foda.”
Eu digo-vos o que é que queria.
É melhor não.
O Paulo Branco, ex-produtor do Manoel de Oliveira,
disse na RTP que o Estado português não investe no
cinema português. Se ele com isto queria dizer ‘bom
cinema português’, é verdade; investe só nos dele.
Manoel de Oliveira largou o senhor Paulo Branco e
passou a trabalhar com o menino Gonçalo Cadilhe, filho
do ex-Ministro das Finanças do Governo de Cavaco Silva.
Será assim tão difícil para um realizador obter fundos para
fazer um filme, quando o seu produtor é filho de um exMinistro das Finanças do actual Presidente da Republica?
Eu não digo que haja favoritismos (todos sabemos que
nestas coisas somos modelos a seguir), mas dá que pensar.
195
Também já disse que não sou apologista do filme feito
às três pancadas. Sexo, gaja boa e tiros e explosões; só, não
chega. Gosto de bons filmes. Com ou sem efeitos especiais.
Não é negar a expressão artística do velhinho e amigos e
idolatrizar o comercialismo.
É ter um meio termo.
Que o Estado dê dinheiro a um realizador ou outro, cujo
filme faça um mau resultado junto do publico mas um
sucesso com os críticos, de vez em quando… eu aceito. O
que eu não aceito é que isso seja feito (felizmente a lei já
mudou) apenas porque a pessoa tem nome e já é velhinha
e não se pode dizer não ao velhinho senão dá-lhe o
badagaio.
O que se deve fazer é incentivar a indústria, fazer filmes
que façam dinheiro, mas que não deixem de poder ser
considerados obras de arte. Filmes bons, filmes maus, mas
que despertem o interesse das pessoas, que espevitem
alguns, que digam “eu consigo fazer melhor”. Força.
Façam. Tentem.
É assim tão difícil combinar as duas coisas? ‘A Lista de
Schindler’, ‘Titanic’, ‘O Padrinho’; há infinitos exemplos de
filmes que são considerados obras clássicas do cinema e
que, por incrível que pareça, não foram fracassos de
bilheteira.
A frase Yes, we can! está muito na moda entre os nossos
políticos. Que tal começarmos a aplicá-la no cinema
também?
(Uma última curiosidade sobre o Manoel de Oliveira:
em França, há uma especialização numa licenciatura de
cinema sobre o senhor. Exactamente. Há pessoas que são
especializadas em Manoel de Oliveira. É fácil identificá-los.
Olhem para uma pessoa; se ela estiver sem se mexer
durante dez minutos seguidos, é bem provável que seja um
especialista em Manoel de Oliveira.)
196
Tenho-me mantido afastado do blogue por várias razões,
sendo a mais premente e honesta a preguiça. Não tem
existido falta de assuntos para comentar – estamos em
Portugal – mas certos eventos não podem passar
despercebidos e este é um daqueles obrigatórios.
Em Barcelos, terra dos galos e de outras coisas, na
Escola Básica de Lagoa Negra em Barqueiros, construíram
um monobloco onde só têm aulas alunos de etnia cigana.
A informação é esta. Sem quaisquer comentários
adjacentes. Só que há sempre opiniões, contra ou a favor.
É como o copo; uns vêem-no meio cheio, outros meio
vazio. Eu prefiro vê-lo como demasiado pequeno.
A medida visa ajudar a integrar as crianças da etnia
cigana junto das outras crianças. Trata-se de um “projecto
que é, a todos os níveis, excepcional”, palavras de
Margarida Moreira, directora da D.R.E.N. Esta é a mesma
Margarida Moreira que pôs um processo ao Professor
Fernando Charrua por este ter contado uma piada sobre o
Primeiro-Ministro José Sócrates; portanto, podemos estar
descansados que isto não é uma coisa feita em cima do
joelho por mero capricho de poder.
Até porque, é preciso admitir isto, isolar um grupo é,
sem dúvida, a melhor maneira de o integrar no resto da
sociedade. É para isso que servem os bairros sociais.
Quase que arriscaria dizer que era esse o grande
objectivo de Hitler com os campos de concentração, a
197
integração. Infelizmente para o Adolf, não tinha uma
Margarida Moreira à frente do projecto.
Apesar das minhas palavras tenho que admitir que não
sei o que se passa. O que sei é o que me chega através da
comunicação social e, mesmo a fazer fé na sua
imparcialidade, esta está sempre sujeita a padrões
editoriais que diferem de jornal para jornal, de estação
para estação.
Se um caso semelhante, idêntico ou pior, tivesse
acontecido no Sul de Portugal, com um Governo de direita
(outro que não este PS), as vozes que hoje aprovam seriam
as vozes que então criticariam e apontariam o dedo. É por
isso que, antes de começarmos a criticar a medida e a
chamá-la de xenófoba, que devemos pensar o que
aconteceria se as circunstâncias fossem outras.
Pessoalmente não concorda com ela. Seja em que zona
for, seja por quem for. Sejam por motivos étnicos, maior
ou menor dificuldade de aprendizagem, ou outros. Admito
que há casos pontuais que podem necessitar de um
abordagem diferente, mas nunca se deve tomar o todo pela
parte.
Em tudo na vida há excepções e se naquela turma de
crianças ciganas há aquelas para quem esta medida é
benéfica, outras há que se sentem discriminadas e postas
de parte.
O grande problema, tanto nesta como em tantas outras
situações, continua a ser o de se fazer as coisas sem as
explicar. A intenção até pode ser boa, estar bem
estruturada, mas se não existir diálogo com os visados
estes nunca entenderão o que se pretende.
Em Ditadura decide-se e faz-se e ponto. Em Democracia
é diferente, deveria ser diferente. É por isso que, em jeito
de conclusão, quando penso naquelas crianças ciganas a
terem aulas naquele monobloco, isoladas dos outros
alunos, excepto nos intervalos, penso em como isso é
198
parecido com Portugal na Europa. De vez em quando
brincamos com eles mas, na maior parte do tempo,
estamos no nosso pequeno mundo. Bem integrados.
199
Uma pequena correcção, se me permitem, na verdade não
é "já se pode gozar com a Maddie" e sim "já se pode gozar
acerca da Maddie". Custou mas foi. Eu, posso dizê-lo sem
problemas, fui dos poucos que ao longo destes quase dois
anos resisti ao máximo por não fazer piadas acerca da
menina inglesa desaparecida na praia da Luz.
Por respeito à família (cujo comportamento não foi dos
mais exemplares na matéria) e, acima de tudo, à própria
Maddie, optei por não gozar com ela ou acerca dela
enquanto tal não fosse oficialmente permitido.
E isso finalmente aconteceu.
Da mesma maneira que daqui a algumas semanas irá
abrir oficialmente a época balnear, abriu agora a época
oficial para se gozar com a Maddie.
Porque é que eu digo isto?
Porque os pais da menina pegaram em dinheiro daquele
fundo criado apenas e só para auxiliar na localização dela e
espalharam cerca de dez mil fliers mais não sei quantos
outdoors por todo o Algarve. Ao ter conhecimento disto, a
minha primeira conclusão foi aquela que serviu de base a
todo este artigo. Estão a gozar com isto. Os próprios pais
estão a gozar com o assunto e se, assim é, qualquer um o
pode fazer sem medo de represálias.
A segunda opção, há que considerá-la apesar de pouco
provável, é a de haver alguém em Faro que não tenha
ouvido falar da Maddie, que nunca tenha visto uma
fotografia dela. (Não fosse alguém achar que a Maddie era
marroquina ou etíope; o nome pode induzir em erro).
200
Tenho que admitir que em tempos considerei esta
hipótese. Maddie, farta de uma vida confortável, foge do
apartamento na praia da Luz, vai a pé até uma daquelas
aldeias do interior onde só moram três pessoas mais as
cabras, onde não há electricidade, telefones, televisão (mas
há um Magalhães pastor) e passa a morar aí, fazendo vida
da pastorícia.
Daqui a três anos seria tema de reportagem na TVI:
"Menina inglesa desaparecida há cinco anos descoberta
em aldeia nos arredores de Faro. É agora pastora de cabras
e gostaria de ter um telemóvel de terceira geração para
falar com os amigos no hi5 e no Facebook."
Duvido que isso venha a acontecer. Mas se os pais
acham que é possível encontrá-la ao fim de dois anos no
local onde inicialmente desapareceu, pronto. Procurem-na
lá. Eu acho, mas isto sou só eu a dizer, que a Maddie não é
uma caneta. Uma caneta é que nós perdemos, corremos a
casa toda à procura e ao fim de dois, três anos, quando já
não andamos à procura dela, encontramo-la. "Eh pá!
Passei não sei quanto tempo à procura desta caneta e
agora encontro-a assim sem mais nem menos! Maravilha!"
Com a Maddie não pode ser assim. Provavelmente.
Ou se calhar até pode. Ainda ninguém pensou nesta
hipótese. E se a Maddie estiver a teimar? Enquanto não a
"deslargarem" ela não volta para casa. Afinal de contas, a
Maddie é uma criança e se há coisa que algumas crianças
têm, é teimosia. A Maddie não será excepção.
201
Amanhã (ou hoje, mais propriamente, já que estou a
escrever isto na madrugada do dia 3) comemoram-se os
120 anos do nascimento de Oliveira Salazar. A iniciativa é
organizada pelo Movimento Salazarista e está a gerar a
inevitável polémica.
Depois do presidente daquela Junta de Freguesia, lá em
Viseu, que não viu qual o problema de inaugurar o Largo
Dr. Oliveira Salazar no dia 25 de Abril (e com razão; os
americanos inauguraram a Praça Rainha Vitória no dia 4
de Julho e ninguém se queixou), aparecem agora os
salazaristas que temem ver a sua festinha inocente e
bonita ser infiltrada por gente da extrema-direita (ligada
ao PNR) e, pasme-se, por neonazis.
Dos nomes ligados a este evento destacam-se Rui
Salazar, sobrinho neto do "Botas", Paulo Rodrigues, exsecretário pessoal do Oliveira e João Gomes, porta-voz do
site "Salazar, o obreiro da Pátria" - acrescente-se que um
dos actuais colaboradores de João Gomes é Carlos Paula
Pereira, ser (alguém poderá sentir-se ofendido se me
referir a ele como pessoa) que fez parte das listas do PNR
para as Legislativas de 2005). Perante tudo isto, é natural
que os Salazaristas tivessem ficado surpreendidos, quiçá
assustados, quando lhes disseram que poderia haver gente
da extrema-direita ou neonazis a tentar entrar. Isto porque
os acepipes tinham sido encomendados à conta e não iria
haver comida que chegasse para todos.
O circo continua.
Em Santa Comba Dão, aconteça o que acontecer, o
202
Salazar há de ser sempre o menino bonito da terra. Aposto
que se tivesse nascido ou vivido em Lisboa, não teríamos a
Avenida da Liberdade, teríamos a Avenida Salazar.
No já referido site "Salazar, o obreiro da Pátria" está lá
uma petição para mudar o nome da Ponte 25 de Abril para
Ponte Salazar. De momento "só" têm duas mil assinaturas,
faltam outras duas mil para o assunto poder ser levado à
Assembleia da Républica. João Gomes (que devia ter um
ataque crónico de diarreia e prisão de ventre ao mesmo
tempo por ter o mesmo apelido que eu) diz que "Não
temos pressa. É escusado apresentar, para já, uma petição
destas na AR quando vivemos num regime totalitário." Eu
não quero ser má língua e dizer que este João tem os
fusíveis trocados. Mas... tem.
Tudo isto prova que gostamos daquilo que é nosso, ao
contrário do que dizem, mas só se for mau, estiver morto
e/ou fizer sucesso lá fora.
Se o Hitler tivesse passado em Portugal (e
provavelmente passou, ainda que não oficialmente) e
tivesse sido visto por um miúdo e esse miúdo hoje fosse
vivo só que, em vez de miúdo seria um velho com um
dente em dois cantos da boca, numa aldeia sem água e luz,
mas com Internet, e a TVI ou a SIC ou a RTP descobrissem
esse velho e fossem lá falar com ele, para ele lhes dizer
como tinha sido ver o Fuhrer ao vivo, havia de aparecer
alguém, quase certo, uma semana depois no máximo, a
pedir para rebaptizar aquele sítio com o nome do Adolf.
Somos estúpidos a esse ponto.
Em Santa-Clara-a-Velha, a Rua Marechal Carmona
parte da Praça Salazar. Em Santa Comba Dão há o tal
Largo; em Armamar e Carregal do Sal também há ruas e
largos dedicados ao ditador; na aldeia de Castainço, em
Penedono, há também uma rua com o nome Oliveira
Salazar. Na Madeira não se comemora o 25 de Abril, o que
é um sinal de elevada coerência porque não faz sentido
203
assinalar uma data que não lhes diz nada. Seria como os
americanos comemorarem o 10 de Junho.
Eu acho que já é tempo de alguém levar por diante a
única possível para resolver todos estes problemas.
Na Madeira há muito espaço desabitado. Talvez não
muito, mas o suficiente para, digamos, enfiar lá 11 205
pessoas, certo? Mesmo que fiquem um bocadinho
encafuadas, com jeitinho cabem lá todas.
Pergunto eu, se os tansos de Armamar, Carregal do Sal,
Santa Comba Dão, Santa-Clara-a-Velha e Castainço
querem tanto viver num Regime Ditatorial ou, como diz
João Gomes, numa sociedade sem partidos e de consenso
nacional, porque não mandá-los todos para a Madeira?
Mais os Salazaristas, claro.
Eu julgo que esta ideia já terá sido pensada por mais
alguém mas, por falta de poder para agir ou porque
"parecia mal", ficou tudo em águas de bacalhau.
É tempo de nos deixarmos de mariquices e ajudarmos
esta gente que só quer honrar os seus queridos ídolos e
mandá-los todos para um sítio onde possam ser felizes.
Ou mandá-los à merda. O que for mais fácil e
gratificante.
Por outro lado, e a pensar na falta de espaço, os
habitante da Madeira, dissidentes do Regime que lá vigora,
poderiam vir para o continente ocupar o lugar dos que
tinham ido para o arquipélago. Vistas as coisas, sempre é
melhor uma Democracia bipolar do que nenhuma
Democracia.
Uma última questão sobre Carlos Paula Pereira: não
acham irónico o PNR, conhecido pelas suas orientações
xenófobas e homofóbas, ter tido nas suas listas um homem
com nome de gaja?
204
FIM DO VOLUME I
205

Documentos relacionados