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ANÁLISE DE INCERTEZAS NAS RESPOSTAS AO DESBALANCEAMENTO DE UMA UNIDADE GERADORA DO TIPO KAPLAN Arinan Dourado Guerra Silva1Aldemir Ap Cavalini Jr1Adriano Silva Borges2Valder Steffen Jr1 LMEst – Structural Mechanics Laboratory, Federal University of Uberlândia, School of Mechanical Engineering, Av. João Naves de Ávila, 2121, Uberlândia, MG, 38408-196, Brazil. 1 2 Federal Technological University of Paraná, Campus Cornélio Procópio, Av. Alberto Carazzi, 1640, Cornélio Procópio, PR, 86300-000, Brazil. RESUMO O modelo de uma máquina rotativa é obtido levando em conta vários subsistemas, como segue: primeiro, os subsistemas que podem ser definidos pela sua geometria, como o eixo, os discos e o acoplamento; em seguida, os subsistemas que são dependentes da frequência (velocidade de rotação) e/ou estados (deslocamentos e velocidades do eixo), como o efeito giroscópico e os mancais de deslizamento. Os mancais hidrodinâmicos são capazes de suportar o eixo rotativo por meio de uma película fina de lubrificante que separa as partes metálicas. Devido à alta capacidade de carga, mancais hidrodinâmicos são comumente utilizados em grandes máquinas rotativas, tais como as unidades geradoras de usinas hidrelétricas. Neste contexto, este trabalho se dedica a análise do comportamento dinâmico de uma turbina Kaplan suportada por dois mancais guia do tipo tilting pad. As incertezas inerentes que afetam a temperatura do óleo dos mancais hidrodinâmicos considerados sã modeladas como variáveis fuzzy. A análise se resume ao domínio temporal, consistindo da aavaliação das órbitas geradas pelo sistema rotativo. A análise fuzzy foi realizada por meio da técnica de otimização de níveis α devido a sua simplicidade matemática e a sua confiabilidade. PALAVRAS-CHAVE Análise de incertezas, lógica fuzzy, dinâmica de rotores e mancais hidrodinâmicos. INTRODUÇÃO De acordo com Meggiolaro (1996), a simulação matemático-computacional de máquinas rotativas representa um recurso indispensável para o engenheiro, pois permite uma compreensão abrangente acerca do comportamento dinâmico do sistema quanto às diversas variáveis de estado envolvidas, além da previsão de comportamentos mecânicos indesejados do equipamento. Assim sendo, um modelo matemático capaz de representar de forma fiel o comportamento dinâmico de uma máquina rotativa é obtido levando em conta vários subsistemas, como segue: em primeiro lugar, os subsistemas que podem ser definidos pela sua geometria, como o eixo (modelado geralmente via Método dos Elementos Finitos), discos e acoplamentos; posteriormente, os subsistemas que são dependentes da frequência e/ou estados, como os mancais de rolamento ou hidrodinâmicos; por fim, o efeito giroscópico (Cavalini Jr et al., 2012). Os mancais constituem um dos subsistemas mais críticos de um rotor. Sua influência sobre o desempenho, vida útil e confiabilidade da máquina não pode ser ignorado. Segundo Vance, Zeidan e Murphy (2010), muitos dos problemas enfrentados em sistemas rotativos podem ser atribuídos à concepção e aplicação dos mancais. Assim, a compreensão dos fenômenos físicos que os circundam é, portanto, essencial para fazer a escolha adequada que corresponda às exigências de serviço da máquina. Mesmo para equipamentos já em operação, a alteração ou modificação dos mancais constituem um dos meios mais eficazes, diretos e econômicos para melhorar o desempenho dinâmico do sistema. Os mancais hidrodinâmicos representam uma classe importante de mancais (Riul, 1992), pois são capazes de suportar a carga desenvolvida na máquina rotativa através de uma película muito fina de lubrificante que separa o eixo do mancal (não existe o contato entre as partes metálicas). Deve-se mencionar que devido a camada de filme de óleo o efeito do amortecimento é mais pronunciado em mancais hidrodinâmicos do que em mancais de rolamento, uma característica importante para sistemas que passam pela velocidade crítica durante o processo de start-up ou de run-down. Devido à alta capacidade de carga, os mancais hidrodinâmicos são comumente utilizados em máquinas rotativas de grande porte, tais como em unidades geradoras de usinas hidroelétricas. Existem diversas configurações de mancais hidrodinâmicos, utilizadas segundo a disponibilidade de espaço e os requisitos de operação da máquina rotativa em que serão instalados (Vance; Zeidan; Murphy, 2010). Unidades geradores de energia usualmente são suportadas por mancais de geometria variável, conhecidos como mancais com sapatas oscilantes (mancais tilting pad). De acordo com Childs (1993), o projeto de mancais de sapatas oscilantes gera a máxima influência positiva de estabilização possível no rotor que contrabalanceia os fatores desestabilizadores externos. Neste contexto, a análise de incertezas de fatores relacionadas a geometria (e.g., folga radial, devido a operação da máquina ou dano) ou relacionados as condições operacionais (e.g., viscosidade do óleo) que afetam a performance do mancal é uma importante questão de projeto. Sendo assim, uma evolução natural dos modelos determinísticos é a adição de um procedimento de análise de incertezas com o objetivo de avaliar a influência da variação dos parâmetros no comportamento dinâmico das unidades geradoras. A análise de incertezas de rotores flexíveis tem sido realizada através da aplicação de abordagens estocásticas baseadas principalmente no Método dos Elementos Finitos Estocásticos. Didier et al. (2011) quantificou os efeitos das incertezas na resposta de rotores flexíveis através da teoria da Expansão de Caos Polinomial. Koroishi et al.(2012) representaram as incertezas nos parâmetros de um rotor como campos estocásticos Gaussianos homogêneos discretizados através da expansão de Karhunen-Loève. A resposta dinâmica do sistema fora caracterizada através da 2/ 16 técnica de amostragem do Hipercubo Latino associada a simulações de Monte Carlo. Lara-Molina et al. (2014) utilizaram o Método dos Elementos Finitos Estocásticos Fuzzy quantificar os efeitos de incertezas de alta ordem na resposta de máquinas rotativas. Em acordo com a teoria fuzzye a dinâmica de rotores associada ao problema, neste trabalho, propõe-se a aplicação de uma abordagem direta para avaliar a resposta dinâmica de uma turbina Kaplan suportada por dois mancais guias de sapata oscilante. Para atender este propósito, os parâmetros incertos fuzzy são mapeados no modelo dinâmico da turbina com a ajuda da técnica de otimização de níveis α (Moller and Beer, 2004). Adicionalmente, o algoritmo de programação sequencial quadrática (SQP – sequential quadratic programming, Vanderplaats, 1999) é utilizado para solucionar os problemas de otimização relacionados a análise fuzzy. Nesta contribuição, nas simulações numéricas as incertezas afetam principalmente a viscosidade do óleo nos mancais considerados. MODELO DO ROTOR A Eq. (1) apresenta a equação diferencial que descreve o comportamento dinâmico de um rotor flexível suportado por mancais hidrodinâmicos ou por rolamentos. M q D Dg q K K st q W Fu Ff Fs (1) onde M é a matriz de massa, D é a matriz de amortecimento (amortecimento proporcional Dp devidamente somado ao amortecimento associado aos mancais), Dg é a matriz do efeito giroscópico, K é a matriz de rigidez e Kst representa o enrijecimento do sistema quando em regime transiente. Todas estas matrizes são associadas às partes girantes da máquina, tais como os discos, o acoplamento e o eixo. O vetor de deslocamentos é representado por q e a velocidade de rotação é dada por . A força peso, W, contempla apenas as partes girantes, Fu representa as forças de desbalanceamento, Ff são forças diferentes das de desbalanceamento que podem ser aplicadas no rotor (por exemplo, forças magnéticas e de esforço hidráulico) e Fs é o vetor das forças produzidas pelos mancais a fim de suportar o eixo. EMPUXO MAGNÉTICO DESBALANCEADO (UNBALANCED MAGNETIC PULL) A força de atração magnética surge em máquinas elétricas quando o campo magnético gerado entre o rotor e o estator não é completamente simétrico. Assim, o campo magnético atua como uma mola de rigidez negativa, ou seja, com a translação radial do rotor (aproximação entre o rotor e o estator) a força magnética aumenta, encorajando o rotor a transladar ainda mais nesta mesma direção. Considerando os deslocamentos u e w do rotor (na posição do gerador), as forças de desbalanceamento magnético (Unbalanced Magnetic Pull - UMP) desenvolvidas ao longo das direções X e Z são dadas, respectivamente, por (Friswellet al., 2010): FmX 2 107 Ag Bavg Cm u 8 g (2) FmZ 2 107 Ag Bavg Cm w 8 g (3) 3/ 16 onde Ag = 2πLRs (área da folga radial), L é o comprimento do gerador medido na direção Y, R é o raio do estator e g = Rs – Rg (Rg é o raio do gerador). Cm é conhecido como coeficiente de Carter, Cm = 1 (Bettig; Han, 1999). Bavg representa a amplitude da componente principal da densidade do fluxo magnético e é dada por (Dorjee, 1994): Ea kNLRg 2 Bavg (4) sendo Ea a força eletromotriz (valor RMS), k é conhecido como winding factor e N é o número de voltas por fase. A força eletromotriz induzida (Ea) é determinada através da seguinte relação: Ea V ra I j xd I d j xq I q (5) onde I é a corrente e I d e I q são suas componentes; ra é a resistência da armadura e x d e x q são reatâncias. Os valores RMS de Id e Iq são obtidos a partir das seguintes relações: I d I sen( m ) (6) I q I cos( m ) (7) onde cos(θm) é conhecido como fator de potência. A tensão da linha Vl e o fator de torque δ são dados por: V Vl 3 3 tan (8) xq I cos m ra I sen m V ra I cos m xq I sen m (9) FORÇA HIDRÁULICA RADIAL As forças hidráulicas FH desenvolvidas ao longo das direções radiais da turbina podem ser calculadas utilizando a equação de Alford, como mostra a Eq. (10). De acordo com Bettig e Han (1999), esta equação considera a diminuição da produção de energia de acordo com o aumento das dimensões das pás da turbina. Além disso, a produção de energia está diretamente relacionada com o torque do eixo e a velocidade de rotação do sistema. FHX T H w Dp H (10) FHZ T H u Dp H (11) onde βH é conhecido como coeficiente de Alford (1 ≤ β H ≤ 3), Dp é o diâmetro medido na borda das pás e H é o comprimento das pás medido na direção radial. Note que a força hidráulica desenvolvida ao longo de uma determinada direção depende do 4/ 16 deslocamento observado na direção perpendicular a da força (acoplamento das direções ortogonais). O torque T é definido pela Eq. (12). T P (12) sendo P a potência (Watts) produzida pela unidade geradora. MANCAIS HIDRODINÂMICOS GUIA No modelo matemático de mancais hidrodinâmicos segmentados, as forças de sustentação são determinadas a partir da solução da equação de Reynolds. Para o desenvolvimento analítico da equação de Reynolds (mancais segmentados), quatro sistemas de referência são utilizados (Fig. 1). Seguindo a formulação apresentada por Russo (1999), o primeiro deles é posicionado no centro do mancal (sistema inercial I XYZ). O segundo sistema indica o posicionamento da j-ésima sapata no mancal (sistema auxiliar B xyz). Cada sapada possui um sistema auxiliar próprio móvel (sistema móvel B’ x’y’z’). Já o último sistema acompanha a superfície interna da sapata (sistema móvel curvilíneo B” x”y”z”). a) Sistema inercial I b) Sistema auxiliar B c) Sistema móvel B’ d) Sistema móvel curvilíneo B” Figura 1 – Sistema de coordenadas utilizado pelo modelo de mancais hidrodinâmicossegmentados adotado (j = 1, ..., N com N= 4; Russo, 1999). 5/ 16 Assumindo a viscosidade do óleo como sendo constante, a Eq. (13) mostra a equação de Reynolds para os segmentos de mancais guia na sua forma adimensional. 3 p Rs 3 p R h h h 6 12 h s Rs y t s2 y y L z z 2 1 (13) onde p retrata a distribuição de pressão sobre o segmento do mancal, y” é a coordenada curvilínea, z” é a coordenada ao longo do comprimento L do mancal, β s é o comprimento angular do segmento, Rs é o raio do segmento, R é o raio do eixo na posição do mancal, t representa o tempo e h é a espessura do filme de óleo, mostrada em sua forma adimensional pela Eq. (14). h Rs R sen yR Rs hs cos xR Rs R ho (14) sendo -β s /2 ≤ β ≤ βs /2, α é a posição angular do segmento, x R e y R são as coordenadas da posição do centro do eixo no sistema auxiliar B, hs é a espessura do segmento e ho a folga radial do mancal. Os parâmetros adimensionais [ ] são mostrados na Eq. (15). y s z L z h h ho t t p pho2 Rs2 (15) A viscosidade do óleo µ é calculada em função da temperatura utilizando uma aproximação do modelo de Vogel, como mostra a Eq. (16). Bbearing T bearing Cbearing Abearing exp (16) onde Abearing = 4,98 x 10-5, Bbearing = 959,79 e Cbearing = 98,62. Todos estes coeficientes são específicos para o óleo ISO VG 68. Tbearing é a temperatura do óleo dada em graus Celsius. A solução da Eq. (13) é determinada através de um processo iterativo, onde o método de Gauss-Seidel é utilizado para ajustar os valores de α, juntamente com a posição de equilíbrio do centro do eixo (direções x e y), até que as condições estabelecidas pela Eq. (17), Eq. (18) e Eq. (19) sejam satisfeitas. O método das Diferenças Finitas é utilizado para determinar o campo de pressão desenvolvido em cada segmento do mancal (Riul, 1988; Daniel, 2012). N FX 0 j 1 L y 0 N p j cos j dy dz cos s j j 0 FY Fw 0 j 1 M yj 0 L L y 0 y 0 (17) p j cos j dy dz sen s j j Fw 0 p j sen j dy dz Rs hs 0 (18) (19) onde FX e FY são as forças resultantes no mancal (direções X e Y, respectivamente), Fw é a força que o rotor aplica no mancal (estimada em um processo iterativo; rotor 6/ 16 vertical) e M y”j é o momento que atua sobre o segmento em torno do ponto de pivoteamento. Finalmente, os coeficientes de rigidez e amortecimento de cada segmento são determinados a partir da integração dos campos de pressão p obtidos. Estes foram determinados seguindo a formulação apresentada por Russo (1999). Pequenos deslocamentos e velocidades são então impostos a partir da posição de equilíbrio (posição onde são satisfeitas as condições estabelecidas pela Eq. (17), Eq. (18) e Eq. (19)). É importante ressaltar que os resultados obtidos através dos códigos computacionais construídos foram confrontados com os apresentados por Daniel (2012) e Russo (1999), se mostrando satisfatoriamente próximos. ANÁLISE DE INCERTEZAS FUZZY Segundo Lara-Molina et al. (2014), os parâmetros incertos de uma máquina rotativa podem ser modelados seguindo a teoria fuzzy em alternativa as abordagens propostas pelos métodos estocásticos. A teoria fuzzy fora inicialmente formulada por Zadeh (1965) para caracterizar os aspectos vagos da informação. Desde então, uma abordagem diferente para os conjuntos fuzzy, que pode ser comparada a teoria das probabilidades foi desenvolvida para lidar com informações incertas (Zadeh, 1968). Ambas as teorias estão relacionadas, de forma que as incertezas são modeladas por meio da teoria fuzzy nos casos nos quais o processo estocástico que descreve as variáveis aleatórias é desconhecido (Moens e Hanss, 2011; Waltz e Hanss, 2013). Os conceitos básicos da teoria fuzzy são revisados a seguir. Variáveis fuzzy Seja X um conjunto clássico cujos objetos são elementos genéricos denotados por x. O subconjunto A (A X) é definido pela função de pertinência clássicaµA: X → {0,1}, conforme ilustrado pela Fig. 2.Um conjunto fuzzy A é definido por meio da função de pertinência µA: X → [0,1], sendo [0,1] um intervalo contínuo. Esta função de pertinência indica o grau de compatibilidade entre um elemento x e o conjunto fuzzy A. Quão mais próximo de 1 é o valor de µA(x), maisxpertence a A. a) Conjuntos fuzzy. b) Níveis-α. Figura 2 – Conjuntos fuzzy e a representação de níveis-α. Desta forma, o conjuntofuzzyé completamente definido por (onde 0 ≤ µA ≤ 1): 7/ 16 A x, A ( x) x X (20) Para propósitos computacionais, o conjuntofuzzy A pode ser representado por meio de subconjuntos denominados deníveis-α. Estes subconjuntos, correspondem a intervalos contínuos e reais, e são definidos por Aαk (Fig. 2), assim: A k x X , A (x) k (21) Osníveis-αsubconjuntos de A possuem a seguinte propriedade: A k A i i , k (0,1] (22) comα i ≤ α k .Se o conjunto fuzzyé convexo para o caso unidimensional, cadanível-αAαk correspondeao intervalo [x αkl , x αkr], apresentado pelas Eqs. (23). x kl min x X A ( x) k (23) x kr max x X A ( x) k Modelos dinâmicos com parâmetros fuzzy Neste trabalho,o modelo dinâmico descreve o comportamento do rotor por meio de um conjunto de equações diferenciais. Consideriandoxcomo o conjunto de parâmetroseza resposta estrutural, a relação entre as entradasxe as respostaszde um determinado modelo dinâmicoM f é caracterizado porf, que representa o conjunto de equações diferenciais na Eq. (24). M f : z ( ) f (x) (24) Desta forma, a funçãofmapeia os parâmetrosxna respostas estrutural z( ) . Assim, x→ z( ) , ondeτé a variável independenteda resposta dinâmicaque pode representar tempo, frequência, ou coordenadas espaciais. Consideradoos parâmetros do modelo como variáveisfuzzy x ou funçõesfuzzy x( ) , a resposta dinâmica do sistema correspondea função fuzzyresultante z( ) . Estas funçõesfuzzysão resultado do mapeamento, assimx→ z( ) . Análise dinâmica fuzzy A análise dinâmicafuzzyé um método apropriado para mapear o vetorfuzzyde parâmetros x na resposta z( ) de um modelo numéricoatraves da utilização do modelo determinístico dado pela Eq. (24). Na análise estrutural, a combinação de incertezas modelas como variáveisfuzzycom o modelo determinísticobaseado no método de 8/ 16 elementos finitosé denominada de Método de Elementos Finitos Fuzzy. A análise dinâmicafuzzyinclue dois estágios, baseadosna otimização de níveis-α (Möller et al 2000), conforme ilustrado pela Fig. 3. No primeiro estágio, para propósitos computacionais, o vetor de entradasque corresponde aos parâmetros fuzzyé discretizado por meio da representação de níveis-α, apresentado na Eq. (21) e na Fig. 2. Assim, cada elemento do vetor de parâmetros fuzzy x ( x1 ,..., xn ) é consideradocomo um intervaloXiαk = [x iαkl , x iαkr], ondeα k (0,1]. Consequentimente, o sub-espaço crispXαk é definido de forma queXαk = (X1αk , …, Xnαk ), ondeXαk Rn. Figura 3 – Otimização deníveis-α. O segundo estágio está relacionado a resolução dos problemas de otimização gerados. Estes problemas de otimização consistem na obtenção dos valores máximos e mínimos da resposta do sistema, em cadaτavaliado, para o mapeamento do modelo M f : z ( ) f (x) , assim: z kl min f ( x) xX k (25) z kr max f (x) xX k ondezαklezαkr correspondemaos limites inferiores e superiores respectivamente do intervalozαk = [zαkl , zαkr] no nível-αα k . O conjunto de intervalos discretizados [zαkl , zαkr] paraα k (0,1] compõem a variávelfuzzy resultante z . MODELO DA TURBINA A Fig. 3 apresenta o modelo de Elementos Finitos que foi elaborado tomando como base a UG01 (turbina tipo Kaplan) da UHE Álvaro de Souza Lima (Bariri). Neste caso, 29 elementos de eixo foram utilizados para representar o comportamento dinâmico do rotor. O modelo matemático construído contempla um eixo vertical de aço (E= 208 GPa, ρ= 7870 kg/m 3 e = 0,3) com 12,5 m de comprimento, três discos rígidos localizados nos nós #3 (representação das pás da turbina Kaplan), #23 e #30 (representação do gerador distribuído por dois nós), de aço (ρ= 7870 kg/m 3), e dois mancais hidrodinâmicos segmentados localizados nos nós #7 e #20 (B1 e B2; mancal 9/ 16 guia da turbina e mancal guia do gerador, respectivamente). O corpo da turbina Kaplan (todo o conjunto ignorando as pás) foi representado no modelo da UG01 por um aumento localizado do diâmetro do eixo (elementos localizados entre os nós #1 e #5). Assim, juntamente com o disco utilizado para representar as pás (nó #3) chegouse a massa total de 126000 kg. Adicionalmente, foram incluídos no modelo os discos localizados nos nós #7, #18 e #20 para representar as inércias da pista do m ancal guia da turbina, do colar do mancal de escora e da pista do mancal guia do gerador, respectivamente. Vale mencionar, que o mancal de escora é representado pelos coeficientes de rigidez e amortecimento KX = KY = 1.34 x 1010 N/m eDX = DY = 2.21 x 108 Ns/m, respectivamente, que são constantes e aplicados no nó #18 (i.e., a análise de incerteza foi realizada apenas no mancal guia). A Tab. 1 e a Tab. 2 mostram as características dos discos e mancais hidrodinâmicos, respectivamente. A temperatura determinística do óleo nos mancais é considerada igual a 60oC. Foi adicionado a este sistema um amortecimento do tipo proporcional de coeficientes λ = 1 x 10-3 e β = 1 x 10-7. Os sensores foram posicionados ao longo das direções ortogonais de ambos os mancais, planos de medição SB1 e SB2, respectivamente, denominados SB1X, SB1Y, SB2X, e SB2Y. Figura 3 – Modelo em Elementos Finitos da turbina UG01 dotada de mancais hidrodinâmicos cilíndricos ( disco; mancal). 10/ 16 Tabela 1 – Características dos discos incluídos no modelo da UG01. Discos M Dx 103 (Kg) IDx 103 (Kg.m 2) IDzx 103 (Kg.m 2) #3 19,33 48,87 97,72 #7 1,28 0,24 0,45 #18 19,32 10,96 18,99 #20 0,49 0,09 0,18 #23 158,0 834,28 1666,0 #30 158,0 834,28 1666,0 Tabela 2 – Dimensões dos mancais segmentados incluídos no modelo da UG01. Mancal #7 (turbina) #20 (gerador) Comprimento L (m) 0,210 0,305 Raio do eixo R (m) 0,650 0,635 Folga radial hox 10 (m) 160 180 Comprimento angular βs (graus) 20 27 Raio do segmento Rs (m) 0,6504 (estimado) 0,63545 (estimado) Espessura dos segmentos hs (m) 0,047 0,048 Número de segmentos N 16 12 Posição φs do segmento 1 (graus) 0 0 Distância entre os pivôs (graus) 22,5 30 Posição φs do segmento N (graus) 337,5 330 Discretização do campo de pressão (y”) 32 32 Discretização do campo de pressão (z”) 32 32 -6 RESULTADOS NUMÉRICOS A Figura 4 apresenta os deslocamentos determinados nos planos de medição SB1 e SB2 considerando três diferentes níveis de desbalanceamento: Unb1 = 50 kg.m / 0°, Unb2 = 100 kg.m / 0°, eUnb3 = 200 kg.m / 0° (aplicados separadamente no nó #28 do modelo de elementos finitos). Em todas as simulações, o rotor foi mantidoa 112.5 RPM e umdesbalanceamento de 500 kg.m / 0° foi também considerado na turbina (node #3). O efeito da força pesoW (veja Eq. (1)) é desconsiderado na análise (i.e., rotor vertical).A Tab. 4 apresenta os parâmetros adotados para a determinação do besbalanceamento magnético do gerador (desbalanceamento magnético igualmente distribuído nos nós #23 and #30). As forças hidráulicas geradas na turbina foram obtidas a partir dos seguintes parâmetros: coeficiente de Alford βH= 3, Dp = 5.988 metros, eH = 1.5 metros. É importante ressaltar que o objetivo deste trabalho é avaliar o comportamento dinâmico da unidade geradora Kaplan considerando flutuações na temperatura do óleo dos mancais. Assim, variaçõesnos desbalanceamentos magnético e hidráulico não foram consideradas.Conforme esperado, a amplitude dos deslocamentos obtidos no plano de medidaSB1permaneceu constante com o aumento do nível de desbalanceamento (veja Fig. 4a, 4c and 4d). No entanto, a amplitude da 11/ 16 resposta medida emSB2diminui com o aumentodo desbalanceamento (Fig. 4b, 4d and 4f). a) SB 1X c) SB 1Y e) SB 1X and SB 1Y b) SB 2X d) SB 2Y f) SB 2X and SB 2Y Figura 4 – Resposta ao desbalanceamento da unidade geradora Kaplan ( Unb1; Unb2; Unb3). Tabela 4 – Parâmetros elétricos adotados para o desbalanceamento magnético. Parameter Vl P I Rs Rg L Value 13800 volts 41,4 MW 1930 A 4,65 m 4,55 m 1,13 m Parameter N k cos (θm) xd xd ra Value 432 0,949 0,9 0,7 0,5 0 A Figura 5 ilustra os campos de pressão gerados nas quatro sapatas do mancalB1 (mancais guia da turbina; sapatasφs1 = 0°, φs5 = 90o, φs9 = 180o, eφs13 = 270o) considerandoos parâmetros determinísticos apresentados. Os campos de pressão foram obtidos em um determinado instante de tempo aplicando uma força adicional de 5000 N ao longo da direçãoXdo nó #7 (mancal guia da turbina; veja Fig. 3). Note que a pressão máxima é obtida na sapataφs1 = 0°, que é posicionada na direção positiva do eixoX. A Figure 5e ilustra a posição angular dos segmentos (αconforme mostrado na Eq. (14)) do mancal guia da turbine para a condição de operação considerada.Pode-se 12/ 16 observar que a posição angular de cada sapata é diferente. Os resultados obtidos para o mancal guia do gerador (B2) são similares aos apresentados na Fig. 5. a) φ s1 = 0o d) φs13 = 270o b) φ s5 = 90o c) φs9 = 180o e) Angular position of the pads Figura 5 – Campos de pressão desenvolvidos no mancal B1e posições angulares de cada sapata. Conforme mencionado anteriormente, as análises de incerteza apresentadas neste trabalho estão relacionadas a introdução de variações na temperatura do óleo dos mancais guia.A temperatura do óleo afeta diretamente a viscosidade do óleoμ, alterando os campos de pressão desenvolvidos nos mancais de sapata oscilante (e,consequentemente, as forças de sustentação). Neste sentido, a análisefuzzyfoi aplicada considerando uma flutuação de ±6°C na temperatura determinística do óleo (i.e., 54°C neste caso). As Figuras 6a e 6b ilustram os limites inferiores e superiores das órbitas determinadas nos planos de medidaSB1eSB2, respectivamante. Note que a flutuação da temperatura tem um impacto significativo no comportamento dinâmico da unidade geradoraKaplan.Adicionalmente, pode ser observado que os efeitos das incertezas são mais significativos no mancal guia do gerador.Vale mencionar que o limite superior das órbitas apresentadas na Fig. 6 correspondem aos deslocamentos apresentados na Fig. 4 considerando a condição de desbalanceamentoUnb1 (i.e., 50 kg.m / 0° aplicada no nó #28 e 500 kg.m / 0° aplicada ao nó #3). 13/ 16 a) SB 1X and SB 1Y b) SB 2X and SB 2Y Figure 6 – Envelope das órbitas considerandoos planos de medidaS2 (- - -limite inferior / α = 0; -----limite superior / α = 0; - - - nominal). CONCLUSÕES O objetivo deste trabalho era avaliar o uso da lógica fuzzy na análise de incertezas de uma unidade geradora Kaplan de uma usina hidroelétrica suportada por mancais de sapata oscilante.Flutuações na temperatura do filme de óleo foram tratadas como variáveis fuzzye a análise de incerteza se limitou ao domínio do tempo (i.e., as órbitas obtidas ao longo das direções ortogonais dos mancais guia da turbina e do gerador). A metodologia proposta foi capaz de demonstrar a influência da flutuação da temperatura do óleo no comportamento dinâmico do sistema.Pode-se observar que o mancal guia do gerador apresentou uma maior sensibilidade em sua performance com a flutuação da temperatura do filme de óleo. Apesar de sua representatividade dinâmica, os resultados determinísticos apresentados neste trabalho, foram obtidos com base em algumas aproximações dimensionais e operacionais.Desta forma, deve-se ressaltar que para geração de resultados mais realistas, é necessária a atualização do modelo de elementos finitos proposto considerando dados experimentais mais precisos.No entanto, a estratégia proposta neste trabalho demonstra a relevância da introdução de incertezas nas variáveis de projeto a partir da perspectiva do projeto de máquinas rotativas. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem as agências de fomento brasileiras FAPEMIG, CNPq (INCTEIE), eCAPES, pelo suporte financeiro. Além disso, os autores agradecem aSKF do Brasil LTDA e a AES Tietê (Álvaro de Souza Lima, Bariri-SP) por proverem as informações necessárias para a elaboração do modelo de elementos finitos da unidade geradora Kaplan considerada. 14/ 16 REFERÊNCIAS Betting, B. P.; Han, R. P.S.. 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