Acredito muito nesse tipo de formação no setor público. Uma
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Acredito muito nesse tipo de formação no setor público. Uma
Ilustração | Canton Wu editorial A ideia de se aposentar e ficar de pernas para o ar é um conceito ultrapassado. Diante das mudanças — estamos vivendo mais, com mais qualidade, custo de vida mais alto e maior nível educacional e cultural —, surgiu um novo conceito, o da “Nova Velhice”. Ao invés de ficarem sentados numa cadeira de balanço vendo o tempo passar, os idosos começaram a encarar a aposentadoria como uma oportunidade para viver novas experiências. Há cada vez mais relatos de pessoas que resolvem abrir um negócio, montar roteiros de viagem, fazer cursos. As possibilidades são inúmeras. Mas quem quiser garantir uma aposentadoria saudável e ativa precisa se preparar mais cedo. Planejamento é a palavra-chave e é aí que as empresas e os órgãos públicos têm um papel fundamental na preparação do profissional para esse novo ciclo de vida. Esse é o assunto da matéria “Aposentadoria como um caminho de oportunidades”. Trazemos exemplos de iniciativas na administração pública que visam ampliar o horizonte do processo de aposentadoria dos servidores. E como aposentadoria é um tema que deve estar no “radar” dos gestores, temos um artigo sobre a gestão da Previdência, como foco nos governos municipais. Esta edição foi feita com todo cuidado e espera contribuir nas discussões sobre a administração pública, trazendo uma variedade de temas que você verá nas páginas seguintes. Boa leitura! 4 índice 06 07 12 13 22 30 38 45 50 58 59 70 CARTAS ENTREVISTA Regina Pacheco Coord. do mestrado profissional em Gestão e Políticas Públicas da FGV ACONTECE O que vem por aí ESTRATÉGIA Compras: área estratégica para a gestão CAPA CAPITAL HUMANO Aposentadoria como um caminho de oportunidades CONTA CERTA Diretrizes para a gestão previdenciária INOVAÇÃO ARTIGO: O poder da crise OPINIÃO Rumo a uma gestão melhor de segurança pública BOAS PRÁTICAS Erradicação de lixões a passos lentos CINE Náufrago ACADÊMICOS DA GESTÃO Cidades inteligentes: uma construção colaborativa HUMOR Quase verdade, se não fosse hipotético expediente A Revista Gestão Pública PE é uma publicação do Governo de Pernambuco, por meio do Instituto Gestão PE, vinculado à Secretaria de Planejamento e Gestão – SEPLAG/PE GOVERNO DO ESTADO DE PERNAMBUCO Governador Paulo Henrique Saraiva Câmara ENTREVISTA Regina Pacheco Coord. do mestrado profissional em Gestão e Políticas Públicas da FGV 07 Secretário de Planejamento e Gestão Danilo Cabral Secretário de Imprensa Ennio Benning Realização Instituto Gestão PE SEDMG / NICOM / SEPLAG/PE Coordenação Geral do Instituto Gestão PE Maurício Cruz Coordenação Geral do Projeto Vânia Campos CONTA CERTA Diretrizes para a gestão previdenciária 30 Conselho Editorial Danilo Cabral Samara Arcoverde Maurício Cruz Vânia Campos Iale Alves Andrea Pinheiro Marcos Alves Mariana Moreira Clarissa Bittencourt Jornalista responsável Andrea Pinheiro (DRT – 2557) Projeto Gráfico Christiano Mascaro OPINIÃO Rumo a uma gestão melhor de segurança pública 45 Capa Foto: Douglas Fagner Produção da capa: Luiz Filgueiras Diagramação Luiz Filgueiras Edição e Revisão Andrea Pinheiro Maurício Cruz Impressão Companhia Editora de Pernambuco – CEPE Tiragem da edição 700 exemplares BOAS PRÁTICAS Erradicação de lixões a passos lentos 50 5 Mais uma vez me reporto à redação da Revista para pontuar minha opinião sobre a qualidade e conhecimento técnico como são abordadas as matérias, sempre com sua linguagem simples e direta, congregando várias áreas e vertentes do conhecimento da gestão pública, trazendo o que está acontecendo de melhor por aí afora. Notei no expediente que algumas pessoas da equipe foram trocadas, mas, continuo dando nota 10 para todos que fazem a Revista. conta certa A gestão do orçamento público em tempos de CRISE Clarissa Bittencourt e Mariana Moreira 100 95 75 25 49 49-53 --- Conta Certa #7 Recife, maio de 2015 CONTA CERTA Em tempos de crise, o melhor é administrar e gerenciar seu orçamento INCLUSÃO Certidão de Nascimento: acesso para o exercício da cidadania Mala Direta Postal Básica 9912348382/2013-DR/PE SEPLAG vez, Mais uma Vez, você decide, eles fazem 100 95 75 25 A experiência pernambucana de participação popular como base para definição de estratégias e ações AF-01 --- capa 2015 Romulo Soares sexta-feira, 15 de maio de 2015 10:32:37 Administrador de Empresas São Paulo – SP 0 Gostaria de parabenizar a excelente iniciativa de compor uma revista com foco em gestão pública, abordando de forma prática e com exemplos. É muito raro termos material disponível sobre os temas de administração pública relatados em exemplos práticos. quinta-feira, 21 de maio de 2015 09:20:04 “O Brasil precisa simplificar legislações e procedimentos” PACTO FEDERATIVO 5 Foto: Azrainman (adaptado) Divulgação: everystockphoto Afirma a diretora do Banco Mundial para o Brasil, Deborah Weitzel Estratégias de apoio aos municípios são cada vez mais necessárias EXEMPLOS PRÁTICOS GERENCIAR É A SOLUÇÃO NOTA 10 5 0 Pesquisando na Internet sobre revistas de gestão pública, me deparei com a Revista Gestão Pública PE, e gostei muito como foi abordada a questão do orçamento público na matéria da Edição 7 - A gestão do orçamento público em tempos de crise. De uma forma clara e objetiva, mostrando exemplos, descrevendo soluções, apresentando dados técnicos. Muito boa! Registro também que compartilho de que é preciso gerenciar o próprio orçamento como forma de sair da situação de dificuldades pela qual passam os municípios e estados. Maria Tavares Lima José Maria Correia Vanessa Borges Consultor Financeiro Maceió - AL Recife-PE ATRATIVIDADE Registro que sou leitora, desde o primeiro número da Revista Gestão Pública PE, e cada vez mais gosto dos temas que são apresentados. Desta vez, vou elogiar o layout e as figuras que foram inseridas nas matérias. Os gráficos e as fotos apresentaram um algo mais. A capa está fantástica, uma das melhores. Economista Recife/PE Cartas à Redação Devem ser encaminhadas para o Instituto Gestão PE Envio das cartas para: Rua da Aurora, 1377 | Santo Amaro | Recife/PE ou pelo e-mail: [email protected] 6 Contatos com a redação: Fones: (81) 3182-3826 | 3182-3832 E-mail: [email protected] As cartas podem ser editadas caso estejam em desacordo com o espaço da revista entrevista Ambiente dinâmico, flexibilidade, parceria são temas chaves e necessários ao setor público do século XXI. Esta é a opinião de Regina Pacheco, coordenadora do mestrado profissional em Gestão e Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas. Em entrevista exclusiva à Revista Gestão Pública PE, a pesquisadora analisa o atual cenário do serviço público e o perfil do servidor brasileiro, apontando a necessidade de se refazer o elo com o cidadão. Doutora em Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente pela Universidade de Paris XII, Regina Silvia Pacheco foi presidente da Escola Nacional de Administração Pública (ENAP), entre 1995 e 2002. Na pós-graduação da FGV, coordena atualmente a linha de pesquisa Transformações do Estado e Políticas Públicas, desenvolvendo estudos sobre os temas reformas do Estado, relações entre esferas pública e privada, dirigentes públicos, contratualização de resultados no setor público, regulação e provisão de serviços públicos. Regina Pacheco Coordenadora do mestrado profissional em Gestão e Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas Fotos | Arquivo pessoal Para reconquistar o cidadão Mariana Moreira A população brasileira tem exigido mais qualidade na prestação de serviços públicos, tais como educação, saúde, segurança, transporte. Nesse contexto, o que a sociedade espera dos servidores públicos? A sociedade espera que os servidores públicos se coloquem a serviço do público, na perspectiva de entregar um bom serviço para a população. Essa é a principal expectativa. É refazer um elo entre o cidadão e o servidor. O servidor público já teve, no Brasil, prestígio social, respeito da opinião pública, do usuário. Isso se perdeu nas últimas décadas. Não só no Brasil. É preciso esclarecer que esse é um movimento global de crítica ao desempenho do Estado, de uma expectativa do cidadão por melhores serviços que não foi acompanhada par e passo com as melhorias ou modificações no Estado. Então, em todo mundo, se viu uma crítica, que se tornou um desprestígio, uma visão quase que caricata sobre o servidor público. Tal fato incomoda muito quem trabalha no setor público e se sente desprestigiado, injustiçado. Então, a sociedade apresenta esta expectativa de que os servidores possam entregar realmente um serviço de qualidade e fazer o possível para melhorar. É possível afirmar que está se consolidando no Brasil uma mudança na cultura do serviço público? Essa mudança é difícil e desigual. Ela não ocorre ao mesmo tempo e em todo lugar, em uma única direção. Você tem avanços 8 O servidor está lá para entregar uma política pública que resolva e melhore a vida do cidadão, está lá para concretizar um serviço público que ajude a tornar a pessoa mais cidadã. Para isso, acho que não basta apenas cumprir a norma” e retrocessos. Tem melhoras em um lugar, depois para, aí começa em outro lugar. A gente ainda não superou a visão de uma cultura burocrática, muito agarrada ao cumprimento de normas. Não se está diante de uma visão de prestação de serviços. Cada vez mais se dissemina essa noção entre servidores e suas lideranças. Há governos fazendo avanços excepcionais. O Governo de Pernambuco tem liderado esse processo de melhorias junto com o de Minas Gerais, na gestão que se encerrou em 2014. Tem avanços significativos, mas eu não diria que a gente já mudou a cultura do setor público. É um trabalho ainda a ser perseguido. E a mentalidade do servidor público tem acompanhado esse processo? A principal dificuldade é vencer o corporativismo. Claro que existem exceções, além de grupos e lugares em que isso já avançou muito. Mas, numa visão geral, o servidor ainda coloca a disputa por seus benefícios, suas conquistas, como alvo muito importante. Isso é um ponto. Outro ponto, o servidor ainda coloca um estrito cumprimento da norma, como se esse fosse o seu dever. Essas duas visões atrapalham essa aproximação com o cidadão. Muitas vezes, para o cidadão – e o servidor público precisa entender isso – a condição de trabalho do setor público é vista como privilegiada, com relação à situação comum do mercado de trabalho. Então, os servidores públicos são vistos pelo cidadão comum como um grupo que é detentor de privilégios, seja na estabilidade, na aposentadoria, ou mesmo em níveis de remuneração, que melhoraram nos últimos anos em vários governos. O servidor precisa entender essa questão e reconquistar o cidadão. Não adianta dizer que o cidadão está errado. Outra postura que impede uma mudança mais acelerada é a defesa corporativa dos seus interesses. As mudanças serão mais rápidas quando o próprio funcionalismo perceber que ele não está lá só para cumprir regras. O servidor está lá para entregar uma política pública que resolva e melhore a vida do cidadão, está lá para concretizar um serviço público que ajude a tornar a pessoa mais cidadã. Para isso, não basta apenas cumprir a norma. Na verdade, existe um alto espaço de discricionariedade, de interpretação, de correr risco calculado, de inovar, de fazer diferente, uma maneira diferente para poder entregar um melhor serviço. Outra questão é não pensar nos seus próprios benefícios e conquistas como aquilo que deve ser defendido em primeiro lugar. Se o funcionalismo perceber e entender que o mais importante é melhorar o serviço, em seguida, os benefícios virão como decorrência. Você concorda com a lógica de que “quanto mais qualificado o funcionalismo, melhor será o serviço prestado à população”? Em geral, concordo, mas precisa detalhar para cada tipo de serviço, complementação, que tipo de tarefa é exigida. A questão da qualificação não necessariamente é diploma formal, educação formal. É por exemplo saber muito bem qual o propósito daquele serviço, qual objetivo, qual a missão da instituição em que ele trabalha, qual o papel dele no todo, como ele pode ajudar a melhorar. Isso sem dúvida faz uma diferença muito grande porque leva a um alinhamento em torno do objetivo que se quer alcançar. Com relação à qualificação, diploma formal, bom, precisaria detalhar cada tipo de serviço, mas para desenhar políticas públicas, monitorar, avaliar, ajudar os governantes a tomarem decisão, precisa de gente qualificada sim. Em sua opinião, qual a importância de programas de formação para servidores públicos? Acho importante, principalmente, como alinhamento organizacional conduzido pelo dirigente da organização. Pela ordem de prioridades, a primeira delas é ter bons dirigentes. A eles cabem o primeiro alinhamento de todos que trabalham naquela organização, tirar o melhor possível daquelas pessoas. A motivação, a valorização, o engajamento, para onde ir. Nenhum curso substitui isso. Nenhum diploma, nenhuma oportunidade de se formar em qualquer lugar substituem a satisfação que vem de ter um bom chefe, um bom dirigente, que motiva e empolga. Além disso, os programas de formação são importantes no sentido de mostrar o que está acontecendo em outros lugares, de abrir as perspectivas para o servidor, para ele saber mais amplamente o que está mudando, onde está mudando e porque está mudando, em que direção. Para que ele possa se informar, entender as mudanças e para poder participar delas. Acredito muito nesse tipo de formação no setor público. Uma formação que situe cada servidor nesse contexto de permanente mudança que a gente tem que viver no setor público para poder torná-lo mais eficiente, mais eficaz, mais efetivo, mais voltado para o cidadão, entregando melhores serviços. Os programas de formação têm que ter muito esse conteúdo de contextualiza- Acredito muito nesse tipo de formação no setor público. Uma formação que situe cada servidor nesse contexto de permanente mudança que a gente tem que viver no setor público para poder torná-lo mais eficiente, mais eficaz, mais efetivo, mais voltado para o cidadão, entregando melhores serviços” 9 ção da mudança. E também a formação específica naquilo que for necessário à função. Nesse sentido, quais são as melhores diretrizes metodológicas a serem utilizadas em processos de formação de servidores públicos? A primeira é uma boa direção. É importante fazer as pessoas compartilharem conhecimento e tirar o melhor de cada um, valorizar competência e não só diploma ou conhecimento formal. Existe ainda uma visão – não estou me referindo a Pernambuco, que eu não conheço em detalhe, mas em geral – de que você deve possibilitar que o servidor faça mais cursos, tenha mais diplomas. A educação formal não resolve os dilemas de formar um bom gerente, um bom líder de equipe, de formar alguém que vai caminhando para ser um gerente estratégico. Isso é competência, não é educação formal. O desenvolvimento de competência depende muito de um bom ambiente de trabalho, um ambiente aberto, com feedback, com todo o corpo de gerentes e dirigentes dispostos a dar retornos no sentido de fazer aquela pessoa progredir nas suas competências. A Gestão de Conhecimento e a Gestão de Competências são muito importantes. Estão anos-luz distintos daquela visão de concurso público formal, só de marcar “x”, de conhecimento formal, mas funcionarão melhor se tivermos bons dirigentes. A começar por eles, que têm competência de direção e compartilhem o conhecimento com toda organização. Como você avalia as carreiras de gestor público, gestor governamental, especialista em políticas públicas e gestão governamental, analista de planejamento, orçamento e gestão? É muito importante, pode criar uma rede de pessoas, de interlocutores para a melhoria do serviço público e das políticas públicas. É uma carreira de generalistas. Acho importante que sejam generalistas, porque essa circulação é fundamental. Porém, essa circulação tem que ser de forma organizada. Não significa ficar seis meses em cada lugar. É preciso haver uma aprendizagem no setor que O desenvolvimento de competência depende muito de um bom ambiente de trabalho, um ambiente aberto, com feedback, com todo o corpo de gerentes e dirigentes dispostos a dar retornos no sentido de fazer aquela pessoa progredir nas suas competências” 10 a pessoa fica na organização. É uma carreira muito interessante. Por outro lado, as formas de concurso estão totalmente ultrapassadas, se a gente imaginar aquela prova de final de semana, com “xzinho”, com cursinho para preparar para prova. Não há um bom modelo de carreira do setor público para o século XXI. O modelo de carreira ainda é dos séculos XIX e XX. Então, fica aquele dilema, se você faz uma carreira piramidal dizendo que só alguns vão chegar ao topo, os integrantes da carreira não aceitam. Agora, se você não tem postos reservados para os integrantes das carreiras, eles também não gostam. É preciso redesenhar completamente todas as carreiras do setor público. Não sei se os jovens estão hoje interessados em ficar 30 anos no mesmo emprego. Acredito que não. O que eu vejo na juventude é uma outra maneira de estar na vida, muito mais flexível, de ir e vir, de fazer coisas variadas. A ideia do generalista, que é o especialista em políticas públicas, é interessante, mas não temos uma boa seleção, nem uma boa estrutura de carreira. Têm aspectos importantes a serem trabalhados. Esse grupo não pode se constituir em um grupo de interesse corporativo que se acha acima dos demais. Eu não sei como isso ocorre nos estados, mas, no Governo Federal isso era muito difícil de lidar. Eu, como presidente da ENAP, conduzi cinco concursos, cinco turmas de EPPGGs [Especialistas em Políticas Públicas e Gestão Governamental do Ministé- O modelo de carreira ainda é dos séculos XIX e XX. Então, fica aquele dilema, se você faz uma carreira piramidal dizendo que só alguns vão chegar ao topo, os integrantes da carreira não aceitam. Agora, se você não tem postos reservados para os integrantes das carreiras, eles também não gostam. É preciso redesenhar completamente todas as carreiras do setor público” rio do Planejamento e Gestão]. Os riscos da arrogância e do corporativismo têm que ser enfrentados e discutidos, porque ninguém faz nada sozinho. Ninguém é melhor do que o outro só porque passou num concurso. Então, isso tem que ser trabalhado permanentemente com esse segmento. De fato, é muito interessante ter uma carreira horizontal, com gente bem formada, que atua em vários órgãos. Quais os desafios e perspectivas para o serviço público no século XXI? Flexibilidade. Essa é uma perspectiva muito mais adequada para os tempos de hoje do que a rigidez, do que a homogeneização, a standartização, que é tudo que a gente aprendeu a fazer no setor público. Então, tem mesmo que haver uma mudança de orientação. É claro que a gente tem que andar dentro do parâmetro legal, não estou propondo ignorar isso. Mas, a maneira de encarar é aceitar muito mais a diversificação e a flexibilidade, do que defender a homogeneização e rigidez. Isso se aplica a tudo: estruturas, regras, pessoas, procedimentos. Flexibilidade é uma palavra-chave. Outra palavrachave é parceria. Abrir-se para parcerias, tanto entre vários órgãos públicos, entre várias esferas de governo, fora do governo, fora do setor público. Ou seja, você engajar a comunidade, engajar o usuário como partícipes do desenho do serviço. Há muitos desafios por aí. Foi-se o tempo em que cabia ao Estado dizer o que é melhor para o cidadão e ponto. O Estado tem que prestar informação e o cidadão tomar a decisão. Isso tem a ver com essa concepção de uma parceria no sentido amplo da palavra. Outro tema-chave é procurar maneiras de atrair e manter pessoas. Conviver com a mudança de pessoas no setor público tem a ver com a questão da juventude, da oxigenação das estruturas da carreira, pensar desenhos mais flexíveis, mais móveis de entrada e saída, de passar por órgãos diferentes. Essa também é uma tendência da juventude que a gente tem que trazer para dentro do setor público como um ganho e não como uma ameaça. Acho que são estes os temas principais: flexibilidade, parceria e mobilidade. É preciso pensar a juventude, os novos ingressos, novos talentos, como fazer para dinamizar o ambiente para atrair pessoas que venham atrás de desafios e que estejam comprometidas com a coisa pública, que não venham atrás apenas de estabilidade e salário garantido. É claro que a gente tem que andar dentro do parâmetro legal, não estou propondo ignorar isso. Mas, a maneira de encarar é aceitar muito mais a diversificação e a flexibilidade, do que defender a homogeneização e rigidez” 11 acontece leituraemfoco CURSOS 1. Com o objetivo de capacitar servidores, gerentes, líderes, coordenadores de projetos no setor público ou servidores públicos do poder executivo integrantes de equipes que trabalhem com a gestão de projetos, a Escola Nacional de Administração Pública (ENAP) promove, em agosto de 2015, o curso de Elaboração de Projetos. Dentre outros conteúdos, o curso apresentará como organizar o plano do projeto conforme as recomendações técnicas de elaboração e gerenciamento de projetos. Informações: http:// www.enap.gov.br/ 3. Em setembro de 2015, a Fundação Dom Cabral promove, em Fortaleza (CE), mais uma turma do Programa de Gestão Pública. O intuito é atualizar conceitos, fundamentos e ferramentas da gestão pública, promovendo uma análise detalhada da nova maneira de gerir os órgãos do Estado. O programa é voltado para gestores públicos envolvidos com a implementação de estratégias de políticas públicas, parceiros da iniciativa privada e do terceiro setor que atuam na execução de projetos com o setor público. Mais informações: http://www.fdc.org.br 2. A Escola de Contas Públicas Professor Barreto Guimarães, do Tribunal de Contas do Estado de Pernambuco (TCE-PE), promoverá o Curso Controles da Administração Pública com foco na Lei de Acesso à Informação. As aulas ocorrerão de 24 a 27 de agosto de 2015. Com carga horária total de 20 horas, o curso irá abordar, entre outros assuntos, Conceitos e objetivos das atividades de controle da Administração Pública; Controles interno e externo; Transparência na gestão pública; Exigências da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). As inscrições podem ser realizadas até o dia 19 de agosto. Informações: http://escola.tce.pe.gov.br/ 4. Com o propósito de desenvolver conhecimentos inovadores em gestão e transformá-los em resultados para a administração pública, o Instituto Publix realizará capacitações nos meses de agosto e setembro. Estão previstos os cursos de Sistemáticas de Monitoramento & Avaliação na Administração Pública (12 e 13/08); Gestão de Processos para Resultados na Administração Pública (09 e 10/09); Gestão de Parcerias e Redes na Administração Pública (15 e 16/09); Gerenciamento de Projetos para Resultados na Administração Pública (23 e 24/09). Mais informações: http://www. institutopublix.com.br/ PRÊMIO Até o dia 31 de agosto, continuam abertas as inscrições para o Prêmio Pelópidas Silveira em Planejamento e Gestão Urbana - Ano I. O prêmio é uma seleção pública que tem por objetivo estimular a reflexão e o debate crítico sobre planejamento urbano. Podem participar estudantes do ensino médio, profissionais, técnicos, graduados e pós-graduados de todo o País. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas através dos sites www.seplag.pe.gov.br ou www.condepefidem.pe.gov.br. 12 PLANEJAMENTO DE ESTRATÉGIAS E INFORMAÇÕES MUNICIPAIS PARA CIDADE DIGITAL O livro destaca-se como um guia prático para elaboração de projetos em prefeituras e instituições públicas. A gestão municipal é apresentada através de ferramentas de planejamento estratégico e da tecnologia da informação. São expostos conceitos relevantes para os municípios, como empreendedorismo, plano plurianual, plano diretor, plano de governo, inteligência pública e suas integrações. O autor tem experiência em projetos municipais, assimilada através de pesquisas acadêmicas, assessorias a prefeituras e organizações públicas. Autor: Denis Alcides Rezende Editora: Atlas Nº de páginas: 232 LEI DE ACESSO À INFORMAÇÃO TEORIA E PRÁTICA Este livro disponibiliza elementos teóricos e práticos para a compreensão do direito de acesso à informação, tendo como base a Constituição Federal de 1988, convenções internacionais e legislação sobre o assunto. Analisa e aponta interpretações possíveis sobre a Lei nº 12.527, de 2011, a Lei de Acesso à Informação (LAI). Um aspecto a se destacar é a análise dos pedidos e recursos interpostos no âmbito da Controladoria Geral da União, bem como de procedimentos administrativos de acesso à informação pública, como o Serviço de Informação ao Cidadão. Autores: Marcio C. Cunha Filho e Vítor César S. Xavier Editora: Lumen Juris Nº de páginas: 417 Foto | freeimages.com estratégia Compras: área estratégica para gestão Bruna Cruz e Francisco Shimada Comprar, na administração pública, vem exigindo cada vez mais profissionalização das atividades e capacitação dos profissionais Q uando passou num concurso público nos anos 1990, Marco Cavalcanti Batista não imaginava que acabaria trabalhando na área de compras da Fiocruz Pernambuco. Depois de anos atuando como administrador na iniciativa privada, ele foi convocado e designado para assumir o setor de compras da instituição de pesquisa e ensino pernambucana mesmo sem nunca ter atuado na área. “Na época, o que eu sabia de compras públicas era o pouco que havia aprendido na graduação. Aceitei o desafio, mas comprei alguns livros, estudei e pude aprender na teoria os procedimentos que eu precisaria desenvolver no dia a dia”, conta o atual assessor de Compras e Contratos da Hemobrás, empresa pública vinculada ao Ministério da Saúde. Designar pessoas sem conhecimento para a área de compras era um hábito comum há alguns anos. Com a necessidade de profissionalizar a gestão pública, fortalecida com a aplicação de novas tecnologias e introdução de metodologias de planejamento ao cotidiano da administração, a área da gestão de suprimentos, com destaque para a de compras, vem se tornando cada vez mais estratégica principalmente com a exigência do uso mais eficiente dos recursos públicos. Antigamente quem atuava na área de compras era designado para a função como uma forma de “punição” para um servidor com desempenho inadequado, já que comprar era considerada uma atividade “menor” e que gerava grande trabalho para quem a realizasse. Esse perfil também vem mudando devido ao novo entendimento da alta gestão quanto ao papel da área de compras para a administração pública. É por meio do setor que é feita boa parte dos investimentos dos recursos e as contratações de obras e serviços destinadas à melhoria da qualidade de vida da população. Sua finalidade é suprir a instituição com os serviços e materiais necessários, qualidade e quantidade certas, no tempo e com preço adequado. A função da área de compras envolve algumas ações que, se bem definidas, também fazem a diferença no resultado final, a exemplo da necessidade de administrar estoques e assegurar a continuidade dos suprimentos para proporcionar o melhor serviço possível aos usuários, com o menor custo possível. Também é fundamental manter relacionamentos colaborativos sólidos com os demais setores, fornecendo e recebendo informações e direcionamentos que assegurem a operação eficaz e eficiente de toda a instituição, entre outros. A necessidade de mudança na visão do papel da área de compras é apenas uma das dificuldades apontadas por quem atua como comprador na área pública. Os problemas, segundo LEGISLAÇÃO DE COMPRAS NO BRASIL 1862 DECRETO 2.926 1922 DECRETO 4.536 1967 DECRETO-LEI 200 Regulamentou as arrematações dos serviços a cargo do Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas Código de Contabilidade da União Primeira legislação que tratou de licitações e contratos no Brasil estruturando os primeiros procedimentos 14 os profissionais, estão relacionados à abrangência e a pouca flexibilidade da Lei n° 8.666/93, que conceitua compra como toda aquisição de bens para fornecimento de uma só vez, ou em parcelas, e estabelece as normas gerais sobre licitações e contratos administrativos pertinentes a obras, serviços - inclusive de publicidade -, compras, alienações e locações no âmbito dos Poderes da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios. Também estão subordinados à Lei de Licitações, como é conhecida, os órgãos da administração direta, os fundos especiais, as autarquias, as fundações públicas, as empresas públicas, as sociedades de economia mista e demais entidades controladas direta ou indiretamente pelos Poderes. As principais queixas afirmam que a legislação é um dos entraves para a melhora da gestão das aquisições governamentais devido ao excesso de formalismo, de uniformidade e por ela tratar objetivos, mercados e complexidades distintas de forma padronizada. Outro problema está relacionado à cotação dos preços e à necessidade de planejar e executar com antece- dência as licitações e compras de que os órgãos precisam, já que há uma série de formalidades a serem seguidas, desde a elaboração dos documentos internos, do edital de licitação e da licitação propriamente dita, além da contratação em si. Segundo Marco Cavalcanti Batista, seria interessante que a legislação fosse mais flexível. Ele já atuou na realização de compras com vários níveis de complexidade, desde entrega de água, material de expediente e contratação de empresas para prestação de serviços gerais e de informática, até as mais complexas, como transporte de medicamentos, obras estruturais, aquisição de equipamentos e compras internacionais de equipamentos e insumo. Mesmo assim, ele afirma que é possível driblar as limitações e comprar bem seguindo o que determina a Lei de Licitações. Para isso, é preciso contar com compradores comprometidos e mais conscientes do seu papel. Depois de trabalhar tantos anos com compras, o assessor 1973 DECRETO-LEI 73.140 1986 DECRETO-LEI 2.300 1987 DECRETOS-LEI 2.348 E 2.360 Regulamentou as licitações e os contratos de obras e serviços de engenharia Estatuto Jurídico de Licitações e Contratos Administrativos Alteraram o Decreto 2.300/1986 A legislação impõe restrições, mas é possível buscar alternativas. Ao solicitar uma proposta de produto ou serviço para uma empresa, por exemplo, é preciso cobrar constantemente o retorno, questionar se o fornecedor precisa de algum esclarecimento ou de mais tempo para encaminhá-la. Se não fizermos isso, o processo ficará a mercê do tempo do fornecedor” Marco Cavalcanti Batista, assessor de Compras e Contratos da Hemobrás 15 EVOLUÇÃO DA ECONOMIA DO PREGÃO ELETRÔNICO NAS LICITAÇÕES PÚBLICAS - ÓRGÃOS SISG (%) 9,9 9,4 8,4 9,1 8,7 6,5 52% 18% 2008 44% 33% 28% 39% 9,1 23% 22% 24% 19% 18% 17% 2009 2010 2011 2012 2013 2014² Economia¹ % Variação Acumulada² ¹ Valores corrigidos pelo IPCA Dessazonalizado ² Janeiro e março Economia (%) Fonte: Comprasnet / SLT1 / MP da Hemobrás resolveu aprofundar seus conhecimentos. Ao realizar o mestrado profissional em Gestão de Instituições de Ciência e Tecnologia pela Fiocruz, ele elaborou sua dissertação sobre o papel do comprador no processo de compras e chegou à conclusão de que esse profissional não pode se preocupar apenas em “juntar papéis” e fechar o processo de compra sem analisar a opera- ção e articulá-la com os demais processos da gestão. Para ele, o comprador precisa ser proativo. “A legislação impõe restrições, mas é possível buscar alternativas. Ao solicitar uma proposta de produto ou serviço para uma empresa, por exemplo, é preciso cobrar constantemente o retorno, questionar se o fornecedor precisa de algum esclarecimento ou de mais tempo para encaminhá-la. Se não fizermos 1988 ART. 22, 37 E 175 DA 1993 LEI 8.666 Conferiu à licitação status de princípio constitucional e obrigatória para aquisições e serviços pela Administração Pública direta e indireta de todos os Poderes da União, estados, municípios e o Distrito Federal Institui normas de licitações e contratos administrativos CONSTITUIÇÃO FEDERAL 16 isso, o processo ficará a mercê do tempo do fornecedor”, comentou. Ele conta que também é preciso realizar a análise das propostas recebidas, indo além da escolha pelo menor preço, confrontar a proposta com o termo de referência ou projeto básico, verificar se a proposta atende tecnicamente o que foi solicitado, se constam todos os custos, como frete, e outras características solicitadas. Outra atitude importante e diferenciada é o monitoramento da quantidade de processos de compras, do tempo decorrido em cada uma, do valor trabalhado e do percentual de desconto obtido. “Adotamos o hábito de pedir desconto à empresa que apresentou menor preço e, no planejamento estratégico da instituição, estabelecemos a meta de alcançar um desconto médio de 5% durante o ano em todas as aquisições”, indicou Marco Cavalcanti Batista. Avanços na prática Para facilitar os processos de compras, que até a virada do milênio só poderiam ser reali- 2000 MEDIDAS PROVISÓRIAS 2.026/2000 e 2.108/2001 (e ATUALIZAÇÕES) Alteraram o Decreto 2.300/1986 procedimentos zados através das modalidades previstas na Lei n° 8666/93, por meio da Lei 10.520/2002, foi implantada uma nova forma de adquirir bens e serviços comuns: o pregão. Para os gestores, a nova metodologia repercutiu positivamente na administração pública. A implantação de sua forma eletrônica ampliou a disputa entre os fornecedores, incentivando a competitividade e dando mais credibilidade às compras, já que o uso da tecnologia da informação reduz as possibilidades de fraudes e outras práticas ilegais. O pregão eletrônico também representou mais agilidade, eficiência e simplificação do processo licitatório, já que possibilitou a redução de preços a partir da apresentação de lances sucessivos pelos fornecedores, a negociação do preço final com o vencedor, a inversão da fase de habilitação, a diminuição do tempo de execução e dos custos e assegurou mais transparência quanto aos gastos de recursos públicos. A nova modalidade também passou a atrair gestores públicos porque não limita o valor da aquisição e não gera fracionamento de despesa. Além de reduzir custos e comprar com eficiência, outra preocupação do processo de compras públicas é garantir a qualidade nos produtos adquiridos e dos serviços contratados conforme prevê a lei. Uma das formas de alcançar esse objetivo, seguindo o que está previsto na legislação, é especificá-los da forma mais detalhada e robusta possível – características, quantidade, indicadores de qualidade, direitos e obrigações do comprador e do fornecedor, rotinas de entrega/aceite/pagamento, supervisão –, no termo de referência (TR) ou projeto básico (PB) contando, para isso, com informações e com a parceria permanente da área técnica solicitante antes e depois compra. Também é fundamental verificar criticamente se o que foi entregue está em conformidade com o que foi solicitado e previsto no TR ou PB. Se não atender, há a possibilidade do poder público exigir a troca do produto ou atestar que o serviço não está sendo realizado adequadamente. Se o fornecedor não entre- 2000 DECRETO 3.555 2001 DECRETO 3.931 2002 DECRETOS-LEI 2.348 E 2.360 Regulamentou o Pregão na forma presencial Regulamentou no âmbito do governo federal o Sistema de Registro de Preços Institui o Pregão na estrutura jurídica brasileira de forma definitiva para União, Estados, Distrito Federal e Municípios Preço X Qualidade gar, pode-se abrir um processo de punição. “Esse procedimento vem contribuindo para alijar do processo de compras públicas as empresas que pretendem tirar alguma vantagem”, comentou Marco Cavalcanti Batista. A dificuldade na realização das compras também está ligada à estrutura dos setores e ao capital humano envolvido nas atividades. Para que o profissional execute bem sua função, além de conhecer os procedimentos determinados por lei, é necessário que seu perfil esteja vinculado às necessidades estratégicas da instituição. Como ainda não exis- 17 te uma carreira específica para a função, funcionários administrativos de nível médio, em sua maioria, são designados para realizar as funções de compras. Algumas exigências nas normas exigem conhecimentos mais aprofundados de matemática financeira, contabilidade, custos, direito civil e trabalhista, estatística, entre outros, que só são adquiridos, muitas vezes, quando o profissional avançou na sua qualificação e passou pela graduação e, até mesmo, por um curso de pós-graduação. Por isso, as competências precisam ser aprimoradas, seja por acúmulo de conhecimento prático ou a partir da qualificação contínua que deve ser oferecida pela instituição ou órgão ao qual ele está vinculado. Em parte, devido à ausência da carreira, ficam faltando, ainda, incentivos para que os profissionais se qualifiquem. Também se espera que quem atua na área de compras aja com ética em todas as etapas da aquisição, procurando não se deixar desviar de sua conduta. São as suas atitudes que deixarão claro aos fornecedores que eles não conseguirão vantagens ilegais na relação com a administração pública. CONTEXTUALIZANDO A LEI DE LICITAÇÕES A Lei n° 8.666/93 entrou em vigor num contexto social e econômico totalmente diferente do que vivemos atualmente, no período pós-redemocratização do País e depois dos sucessivos escândalos do governo Collor e dos “anões do Orçamento”. A resposta dada a esses problemas foi a instituição de controles rígidos e do fortalecimento dos instrumentos de compras governamentais, com a implantação de mecanismos confiáveis de controle da gestão e dos resultados. A Lei de Licitações estabeleceu procedimentos para assegurar as aquisições, atender ao melhor interesse público e respeitar os princípios legais e constitucionais da economicidade, da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publicidade, da probidade administrativa, da vinculação ao instrumento convocatório e do julgamento objetivo (Artigo 3°). Desde então, para comprar é preciso obedecer aos ritos formais estabelecidos na legislação e garantir a fiscalização, seja por parte dos interessados, da sociedade ou dos órgãos de controle, como os Tribunais de Contas. A lei já sofreu mudanças pontuais por meio de 80 normas, das quais 61 implantadas através de medidas provisórias e 19 leis que complementaram suas determinações. 2005 DECRETO 5.450 2006 LEI COMPLEMENTAR 123 2008 LEI COMPLEMENTAR 128 Regulamentou o Pregão na forma eletrônica Estatuto das MEs e EPPs de licitações e contratos Cria o Microempreendedor Individual (MEI) de licitações e contratos DECRETO 5.504 Estabeleceu o pregão eletrônico para compras realizadas por estados e municípios com recursos voluntários da União 18 Problemas e punições Compras mal executadas podem gerar consequências graves para a população e prejuízos ao erário, sem falar nas punições por órgãos de controle e crises de imagem junto à opinião pública. Existem irregularidades variadas nas licitações, a depender do bem comprado ou do serviço contratado. A combinação de preços entre as empresas, por exemplo, é uma irregularidade relativamente comum, que constitui fraude à licitação e é crime. Outra irregularidade menos grave é a inadimplência das empresas com suas obrigações fiscais ou sua falta de capacidade. De acordo com o Procurador Federal Breno Lins, na esfera administrativa esses problemas são passíveis de punições tanto para os servidores públicos quanto para as empresas. “Para os servidores, as principais punições podem ser, nessa ordem de gravidade, a depender da falta cometida, advertência, suspensão de até 90 dias com desconto dos salários e demissão”, explica. O advogado, que atua desde 1998 na assessoria jurídica da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), conta que, para as empresas, as punições variam de acordo com a gravidade da falta cometida e vão desde advertência, suspensão temporária de participação em licitação e impedimento de contratação por prazo não superior a dois anos, até a declaração de inidoneidade para licitar ou contratar com a administração pública. “Essa punição é válida enquanto durarem os motivos determinantes da punição ou até que seja promovida a reabilitação perante a própria autoridade que aplicou a penalidade. Isso acontece nos casos em que o contratado ressarce a instituição pública pelos prejuízos resultantes e após decorrido o prazo da punição. Também caberá a pena de multa, que pode ser aplicada cumulativamente com as outras”, complementa. Ser proativo Ter bom senso e postura ética Ter vontade de aprender Conhecer e manter-se atualizado quanto à legislação vigente Fazer análise do processo e não simplesmente juntar papel Repensar e avaliar seu processo de trabalho buscando melhorias 2008 IN 02 2010 IN 01 2011 LEI 12.462 Diretrizes de contratação de serviços continuados ou não Estabelece critérios para compras sustentáveis Instituiu nova modalidade de licitação, o Regime Diferenciado de Contratação (RDC) * Estados e municípios têm legislações próprias 19 Foto | Divulgação Esses problemas vêm sendo cada vez menos comuns desde a instituição do Pregão Eletrônico, modalidade de licitação feita pela internet. Ele permite uma visualização ampla pelas empresas, que precisam se cadastrar previamente para participar e um maior controle e transparência do procedimento. É possível, por exemplo, verificar, por sistemas eletrônicos integrados, o histórico das empresas, para avaliar sua idoneidade e regularidade fiscal. Além disso, há um controle maior dos preços praticados, que são registrados em bancos de dados acessíveis pelos órgãos públicos em todo o país. Caso haja problemas com essa modalidade, a empresa poderá ficar impedida de licitar e de contratar com a União pelo prazo de até cinco anos, quando não assinar o contrato, deixar de entregar documentação exigida no edital, apresentar documentação falsa, tentar retardar a execução de seu objeto, não mantiver a proposta, falhar ou fraudar na execução do contrato, comportar-se de modo inidôneo, fizer declaração falsa ou cometer fraude fiscal. Em qualquer caso, tanto para o servidor quanto para a empresa, será assegurado o direito de defesa. “Quando o comportamento do servidor ou dos agentes das empresas for considerado criminoso, eles poderão até ser presos, mas o julgamento dos crimes é feito pelo Poder Judiciário”, finaliza Lins. 20 Comprar de micro e pequenas empresas pode ser vantajoso Os municípios brasileiros ganharam uma grande vantagem competitiva na aquisição de bens e serviços com a aprovação da Lei Complementar N° 123/2006 (Lei Geral da Micro e Pequena Empresa), que estabeleceu tratamento diferenciado para as micro e pequenas empresas (MPEs) nos âmbitos federal, estadual e municipal. Entre os benefícios estão privilegiar as MPEs em caso de empate em licitações e dar direito a participarem dos certames mesmo com pendências fiscais e trabalhistas. Mas nem todas as cidades estão aproveitando essa vantagem para ampliar seu poder de compra e promover o desenvolvimento local. Isso porque outra categoria de privilégio – poder dar a preferência a empresas desse porte na realização de licitações e compras públicas de até R$ 80 mil – só passa a valer se for regulamentada pelos municípios. Segundo o Sistema de Monitoramento da Implementação da Lei Geral, criado pelo Sebrae, o número de cidades que oferecem as vantagens para as MPEs ainda é baixo: apenas 2.333 dos 5.570 municípios brasileiros, o equivalente a 41,9%. Em Pernambuco, das 184 cidades, apenas 55 vêm aplicando a regra, o que equivale a cerca de 29% do total. No Brasil, apenas o Distrito Federal e Santa Catarina alcançaram a marca de 100%. No Nordeste, Alagoas é o Estado que tem mais municípios com a legislação regulamentada (67,65%). O Sebrae vem estimulando os municípios a adequarem seus processos licitatórios à Lei Geral e acompanhando a evolução da aplicabilidade da legislação para mudar esse panorama. “Com o apoio de vários parceiros, estamos buscando incrementar a participação das microempresas, empresas de pequeno porte e microempreendedores individuais nas compras governamentais, através de capacitações e consultorias voltadas para aumentar a com- A preparação das empresas para a participação em todas as fases dos processos licitatórios é fundamental” Leonardo Carolino, gerente da unidade de Políticas Públicas do Sebrae/PE IMPLEMENTAÇÃO DA LEI GERAL NOS MUNICÍPIOS BRASILEIROS NOV/2014 37,50% 48,39% 30,56% 47,83% 33,64% 26,95% 38,57% 29,73% 67,65% 30,67% 32,14% 70,50% 32,69% 29,98% 99,29% 100% 40,91% 47,15% 30,60% 50,63% 37,18% Fonte: Sebrae / Novembro 2014 37,21% petitividade nas vendas ao poder público. A preparação das empresas para a participação em todas as fases dos processos licitatórios é fundamental. Por isso, oferecemos treinamentos exclusivos para fornecedores, que abordam desde o entendimento do edital de licitação até o recebimento do pagamento. Também realizamos ações que envolvem a melhoria da gestão da empresa, adequação de produtos e serviços, certificações e atendimento a normas técnicas e finalmente, a promoção do acesso massificado a informação, com a distribuição de várias cartilhas e folders de orientação”, explicou o gerente da unidade de Políticas Públicas do Sebrae em Pernambuco, 65,22% 33,83% 100% 33,80% Leonardo Carolino. Um dos parceiros é a Associação dos Tribunais de Contas (Atricon). A ação desenvolvida pelos tribunais vai além da análise das compras públicas, com a orientação dos gestores públicos a criar editais de licitação que considerem as MPEs. Numa projeção nacional, a partir do cruzamento de dados da Finanças do Brasil (Finbra), com informações extraídas do Sistema de Monitoramento da Lei Geral do Sebrae, se todos os municípios brasileiros implementassem o capítulo das compras públicas da Lei Geral, o valor gasto com aquisições públicas junto a MPEs chegaria a R$ 55,3 bilhões. Atualmente, esse montante é de apenas R$ 12,7 bilhões. “Em documento re- cente, o FMI apontou que, apesar de não ser possível precisar com exatidão, em alguns casos, o efeito multiplicador fiscal de iniciativas como esta pode chegar a até 1,7. O significa que, para cada R$ 1 gasto pelo Governo Municipal, outros R$ 0,70 a mais seriam criados na economia, por meio da geração de novos empregos e renda locais”, complementa Carolino. As empresas desse porte vêm aumentando, ano a ano, sua participação nas compras governamentais, saindo de 23%, em 2008, para 30%, em 2011. Em 2013, esse segmento manteve a participação e respondeu por 30% do total das aquisições públicas. As informações são do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. 21 Foto | Douglas Fagner capital humano Aposentadoria como um caminho de oportunidades Mariana Moreira Programas de preparação para aposentadoria estão ganhando cada vez mais adesão no serviço público. Além do respaldo institucional, respeito e autonomia são fundamentais 23 S Foto | Arquivo pessoal urpreendendo a todos da família, quando o senhor se aposentou a prioridade foi comprar uma moto. Outro resolveu estudar fotografia e idiomas estrangeiros para melhor aproveitar as viagens. Recémaposentada, a mulher foi morar em outra cidade, longe de filhos e netos. Desejos e vontades de se aventurar, construir novos caminhos, romper com padrões e buscar desafios não são exclusividades da juventude. Com o aumento da longevidade da população brasileira, mudaram as perspectivas para aqueles que se aproximam da aposentadoria. A imagem do aposentado não é mais aquela de um ser humano idoso, desanimado, que passa o resto dos dias cochilando em frente a TV, jogando dominó, lendo jornal ou conversando com vizinhos. “Tem muita coisa para se fazer. E, na verdade, cada dia eu faço algo diferente”, diz Suely Botelho, 56 anos, aposentada desde 2012. Ao relembrar sua rotina de trabalho como professora da rede municipal do Recife, Suely 24 revela como era estressada e triste. “Eu estava saturada, ficando doente”. “Hoje, como aposentada, eu me sinto muito bem e feliz. A aposentadoria representa, para mim, tranquilidade. Está sendo um período de vida tranquilo, tudo eu faço no meu tempo. É maravilhoso”, conta Suely. Depois que se aposentou, ela fez cursos e começou a fazer trabalhos manuais utilizando materiais recicláveis. “Minha terapia”, revela. Dinâmica e habilidosa, Suely vende seus produtos para amigos e pessoas conhecidas. Já a casa de praia é o destino certo nos finais de semana. “Lá, eu tenho meu jardim. Toda quinta-feira, vou para a minha casa de praia. Tudo faço com muita calma, devagar. Faço o que eu quero. Tem gente que vê a aposentadoria como um ‘bicho-papão’. Eu não acho isso”. Como ocorreu com Suely, a aposentadoria pode representar uma conquista e a oportunidade de investir em novos projetos. O importante é garantir a autonomia da pessoa e sua qua- lidade de vida. “A necessidade que fez com que o trabalhador se afastasse do trabalho e galgasse o posto de aposentado não lhe retira o papel de cidadão e autor da própria história. Permite sim que ele reescreva os papéis e efetive novas conquistas”, opina a advogada previdenciarista Tonia Galleti, professora de Direito da Seguridade Social e coordenadora do Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos da Força Sindical. A aposentadoria visa proteger o trabalhador no momento em que ele se encontra em situação de necessidade, seja por estar com idade avançada, seja porque esse trabalhador iniciou cedo sua jornada e tem o direito de usufruir com dignidade esse momento da vida. Muitos trabalhadores, do serviço público ou da iniciativa privada, aguardam ansiosos pela aposentadoria. Entretanto, a proximidade desta etapa da vida traz questões existenciais e objetivas. O que fazer? Como ocupar o tempo antes dedicado ao trabalho? Como se susten- A aposentadoria representa para mim tranquilidade. Tudo eu faço no meu tempo. É maravilhoso” Suely Botelho, 56 anos, aposentada Foto | Funape / Divulgação tar financeiramente? Em que se focar? Como se sentir útil e produtivo? Apesar de dúvidas e inseguranças, o fato é que a aposentadoria não é o fim da vida. Trata-se de um momento novo capaz de possibilitar oportunidades e realizações. Após dedicar décadas ao trabalho, dispor de mais tempo livre torna-se um desafio. Por isso, preparação e planejamento são fundamentais para concretizar o ideal esperado, aproveitar de fato e viver de forma satisfatória a aposentadoria. Informação e orientação são elementos básicos oferecidos por iniciativas do poder público nessa área. Enquanto ainda no serviço público, as pessoas prestes a se aposentar contam com ações e O programa de preparação para a aposentadoria, da Funape, atua em três linhas programáticas: cidadania, qualidade de vida e futuro programas de preparação para vivenciar o novo período que se aproxima. Essa tendência está prevista na legislação. De acordo com o Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741/2003), o poder público criará e estimulará programas de preparação dos trabalhadores para a aposentadoria, com antecedência mínima de um ano, por meio de estímulo a novos projetos sociais, conforme seus interesses, e de esclarecimento sobre direitos sociais e cidadania. Nessa perspectiva, a Fundação de Aposentadorias e Pensões dos Servidores do Estado de Pernambuco (Funape), órgão vinculado à Secretaria de Administração do Estado, atende aos servidores interessados no assunto através do Programa de Preparação para a Aposentadoria (PPA). A iniciativa, uma das metas do programa Vida Ativa, é estruturada em três linhas programáticas: cidadania, qualidade de vida e visão de futuro. O Programa promove ações de integração e valorização para os servidores que estão prestes a se aposentar. “O PPA é uma ação de grande importância que visa cuidar do futuro do servidor. O desafio é ampliar a adesão dos servidores ao programa, além de buscar recursos financeiros para sua execução”, ressalta a presidente da Funape, Tatiana Nóbrega. Dentre as atividades, está o estímulo à realização de novos projetos pessoais e sociais, além de palestras sobre temas relacionados à qualidade de 25 26 Fotos | SAEB / Divulgação vida, regras para a aposentadoria, saúde, nutrição. O PPA oferece ao servidor estadual orientação sobre direitos e exigências legais para a futura aposentadoria e pretende ser um espaço de expressão de sentimentos, debates e reflexões sobre formas de utilizar o tempo livre. Além disso, o Programa possibilita o desenvolvimento de competências para novas atividades e promove assessoria na elaboração do projeto de vida pós-aposentadoria. Podem participar os servidores que cumprirem os requisitos para a aposentadoria nos próximos três anos. “A adesão ao PPA ocorre após a palestra de sensibilização, realizada pela Funape, que representa o primeiro passo do programa”, complementa Tatiana Nóbrega. Ainda no âmbito do Governo do Estado de Pernambuco, há a experiência da Companhia Pernambucana de Saneamento, órgão vinculado à Secretaria de Desenvolvimento Econômico. A gerente de Gestão de Pessoas da Compesa, Walclécia Aparecida dos Santos Lustosa, acredita que as ações são fundamentais já que preparam os colaboradores pra iniciar a nova etapa da melhor forma possível. “Tanto o aspecto formal do processo de aposentadoria, como temáticas ligadas a planejamento financeiro, questões psicológicas, sociais, saúde e qualidade de vida, bem como a elaboração de um projeto de vida são essenciais para a nova fase”, destaca. Segundo ela, muitos empregados buscam informação sobre o processo de aposentadoria, embora seja crescente o núme- Criado em 2008, o programa Prepare-se, da Bahia, procura mostrar novas perspectivas aos servidores estaduais a partir da aposentadoria com palestras motivacionais Foto | Arquivo pessoal ro de profissionais que se aposentam pelo INSS e permanecem trabalhando na empresa. “A decisão de não sair acontece de forma imediatista, já que haverá benefício financeiro com o recebimento do salário e da aposentadoria”, avalia a gerente de Gestão de Pessoas da Compesa. Em 2012, priorizando esse público formado por empregados que estavam aposentados e continuavam trabalhando, a Compesa desenvolveu o Programa Nova Vida, como um projeto-piloto de preparação para aposentadoria. “Nosso grande desafio é conseguir de fato que o colaborador esteja preparado para se aposentar. Para isso, vamos institucionalizar o programa e criar uma sistemática para formação de turmas, de forma a orientar um maior número de colaboradores”. Na Bahia, a Secretaria de Administração do Estado (Saeb) criou o Prepare-se. A ideia é mostrar a abertura de novas perspectivas para os funcionários públicos, demonstrando as oportunidades que se abrem após a aposentadoria. Também tem o intuito de esclarecer os servidores sobre os seus direitos e deveres em relação à previdência e incentivar o trabalho social e voluntário. Com aprovação do Ministério da Previdência Social, o programa ainda oferece aos funcionários palestras a respeito de qualidade de vida, empreendedorismo e sobre assuntos que privilegiam as suas áreas de interesse. O programa baiano começou em 2008 e já teve 17 edições. No total, 3.670 servidores participaram das ações. “É um espaço que, sem dúvida, abre caminho para o servidor ao se aposentar”, avalia o participante Julio de Jesus Costa, servidor da Secretaria de Administração Penitenciária e Ressocialização da Bahia. Na opinião de outra participante do Prepare-se Adailza da Silva Barbosa, servidora do Departamento de Trânsito da Bahia, preparar os funcionários para o seu desligamento da máquina pública mostra uma visão humanista do Estado. “Confesso que tinha um pouco de resistência a este tipo de esclarecimento, mas do jeito que foi elaborado e executado ficou uma coisa alegre, divertida e leve”, disse Adailza. Um aspecto a ser ressaltado é a realização de parcerias. Para desenvolver o Prepare-se, foi formada uma rede de apoio de diversas áreas e instituições: Secretaria da Justiça, A necessidade que fez com que o trabalhador se afastasse do trabalho e galgasse o posto de aposentado não lhe retira o papel de cidadão e autor da própria história. Permite, sim, que ele reescreva os papeis e efetive novas conquistas” Tonia Galleti, advogada previdenciarista e coordenadora do Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos da Força Sindical 27 Cidadania e Direitos Humanos da Bahia; Conselho Estadual do Idoso; Procuradoria-Geral do Estado; Conselho Previdenciário do Estado da Bahia; Ministério Público; Delegacia do Idoso/Polícia Civil; Núcleo de Interatividade do Veterano/Polícia Militar; Planserv; Instituto Mauá; Universidade Aberta da Terceira Idade; Superintendência dos Desportos do Estado da Bahia; Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – Sebrae. Na opinião do o superintendente de Previdência da Secretaria de Administração da Bahia, Pedro José Soares de Araújo, é preciso conscientizar os servidores de que a aposentadoria pode ser um recomeço na vida de cada um. “Conseguir atender satisfatoriamente uma demanda crescente de servidores interessados em participar do evento em cada nova edição é um dos desafios do Preparese”, enfatiza. “Neste momento da vida, o servidor precisa não somente da Foto | Douglas Fagner É cada vez mais comum os aposentados aproveitarem o tempo livre para cuidar da saúde com atividades físicas 28 Neste momento da vida, o servidor precisa não somente da garantia de recursos financeiros, aos quais têm direito após longos anos de trabalho dedicados ao Estado, mas também de conhecimentos que possibilitem um novo olhar sobre essa fase da vida” Pedro José Soares de Araújo, superintendente de Previdência da Secretaria de Administração da Bahia garantia de recursos financeiros, aos quais têm direito após longos anos de trabalho dedicados ao Estado, mas também de conhecimentos que possibilitem um novo olhar sobre essa fase da vida”, explica Pedro José. Maior companhia do setor de energia elétrica da América Latina, a Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf), subsidiária da Eletrobras/Governo Federal, entende como fator estratégico a busca de qualidade de vida para os empregados. Dentre as ações que a Empresa proporciona, destacase o Programa de Preparação para Aposentadoria, que visa conscientizar os colaboradores da necessidade de planejar esta nova etapa da vida, preparando -os para as mudanças que ocorrerão nos planos psicológico, financeiro e social. O programa oferece palestras e workshops sobre planos de previdência, finanças, voluntariado, empreendedorismo, dentre outros temas. Em 2012, participaram do programa 128 pessoas. No ano seguinte, 2013, o número de participantes atingiu o recorde de 613 funcionários. “No final de cada módulo, os participantes realizam avaliação para levantamento dos aspectos positivos e negativos. Os instrutores e pessoas envolvidas no processo fazem a avaliação geral para elaboração de relatório contendo os principais pontos levantados pelos empregados e propostas de melhorias para a edição seguinte”, explica a gerente da Divisão de Saúde e Bem Estar no Trabalho da Chesf, Ana Cristina Menezes. O que se constata é que há demanda por programas dessa natureza, com o aumento da procura e adesão de servidores. Por outro lado, apesar das inúmeras iniciativas de secretarias e órgãos públicos voltadas para seus servidores, é preciso tornar essas ações mais regulares e atrativas, para além da realização de palestras e feiras de bem-estar. “Preparar o tra- balhador para a aposentadoria significa permitir que esse cidadão mantenha em si o sentimento de pertença que lhe situe dentro da sociedade de maneira participativa e digna”, defende Tonia Galeti, coordenadora do Sindicato Nacional dos Aposentados. Na opinião dela, esses programas não podem ficar restritos a momentos imediatamente anteriores a aposentadoria. “Será preciso fomentar em cada trabalhador o autoconhecimento para que ele consiga identificar suas vontades e seus potenciais. Feito isso, será preciso instrumentalizá-lo para que, no momento acertado esse trabalhador consiga colocar em prática sua ideia inicial”, argumenta. Tonia alerta ainda para a responsabilidade do acompanhamento do trabalhador no período pós-aposentadoria. Segundo ela, é necessário oferecer-lhes suporte para efetivar as novas conquistas. “Tanto servidores públicos quanto aqueles que trabalham na iniciativa privada precisam, de algum modo, permanecer ativos na sociedade. É nesse sentido que todo programa preparatório para o momento da aposentadoria deve se fundar”, aponta. Outro aspecto a se ressaltar é que preparar servidores para a aposentadoria não traz apenas benefícios para quem se aposenta, mas também para os órgãos e secretarias do poder público. Assim, é preciso incluir como parte dos programas ações e dinâmicas capazes de estimular o compartilhamento de experiências e conhecimentos daquele que irá se aposentar. Expectativa de vida no Brasil 80 Homens Mulheres 78,6 78 76 Média 74,9 74 72 71,3 70 68 66 Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE | 2013 A Organização Mundial da Saúde previu que, neste ano, haverá mais pessoas idosas do que crianças no planeta. No Brasil, de acordo com dados do Censo de 2010/IBGE, idosos com 60 anos ou mais representam 11% do total da população: 20,6 milhões pessoas. Com forte tendência de crescimento para os próximos anos, as projeções do IBGE apontam que, em 2050, serão 64 milhões de pessoas idosas no País, o que representará 30% da população. Os programas de preparação para a aposentadoria estão inseridos nesse contexto e são desenvolvidos como políticas voltadas para a melhoria da qualidade de vida da pessoa idosa. De forma a atender às necessidades desse perfil populacional, programas nessa linha abrangem: Tratamento humanizado Autonomia Mobilidade Manutenção da capacidade funcional Acesso a informações Educação e formação Promoção da saúde Inclusão social Bem estar Vida agradável e saudável Planejamento Projeção financeira Estímulo à elaboração de projetos de vida e sua realização 29 conta certa Diretrizes para a gestão previdenciária Foto | freeimages.com Artigo de Clarissa Bittencourt Gestora governamental Especialidade Planejamento, Orçamento e Gestão Brasil: o País dos IDOSOS 2,6 23,5 60 milhões milhões milhões 1950 2015 2060 Social (RGPS), Previdência dos Servidores Públicos – Regime Próprio de Previdência Social (RPPS) e Regime de Previdência Complementar (ver quadro na página 36). Para a análise dos regimes previdenciários é importante verificar o cálculo atuarial. Ele utiliza ferramentas matemáticas e estatísticas para determinar o risco e retorno em segmentos de mercado financeiro e de seguros. Trata-se da projeção de receitas e despesas previdenciárias para um período de longo prazo. Via de regra, os regimes previdenciários devem estar equilibrados atuarialmente. Essa estabilidade é que garante a sustentabilidade dos sistemas. Uma das formas apresentadas por especialistas para oxigenar o RGPS, que se encontra deficitário, é a criação de fundos através do Regime Próprio de Previdência Social. O Fonte: Previdência Social É notória a complexidade do assunto que cerca a Previdência Social no Brasil. Nos anos 1960, o País possuía baixa expectativa de vida, alta taxa de natalidade e um número pequeno de adultos em idade ativa no mercado de trabalho. Porém, o que se percebe atualmente, através de projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é que a pirâmide etária do Brasil está mudando e tende a modificar sua estrutura ainda mais, assemelhando-se com a do continente europeu. O caminho que o Brasil está percorrendo apresentará alto índice de idosos, quantidade mediana de adultos e baixo número de crianças e jovens. Essa tendência leva a algumas consequências positivas, como o aumento da expectativa de vida. Por outro lado, o País terá que arcar com maiores gastos com aposentados e com a redução do contingente da força de trabalho. A Previdência Social é um seguro que tem por finalidade garantir renda mensal ao contribuinte e sua família em casos de doença, acidente, gravidez, prisão, morte e velhice. No Brasil, é de responsabilidade do Ministério da Previdência Social (MPS) instituir as normas e fiscalizar as informações, de forma a garantir os benefícios previdenciários futuros, bem como criar as diretrizes fundamentais de gestão para o desenvolvimento da poupança previdenciária. A Previdência, no País, é composta por três regimes: Regime Geral de Previdência espaço de atuação são os 26 Estados brasileiros e todos os seus municípios. Os entes federativos ao instituírem, em lei a criação de seus fundos previdenciários, podem, se bem calculados, manter o equilíbrio atuarial atingindo o superávit. O estado ou o município assume assim um compromisso de longo prazo ao constituir seu RPPS. Um sistema previdenciário ideal seria aquele autossustentável, isto é, que o valor arrecadado cubra as despesas com o pagamento dos benefícios. Para os servidores públicos, isso indica ter uma conta, separada do Tesouro, para a qual sejam dirigidas as contribuições, a partir da correta análise atuarial. A finalidade da Lei Nº 9.917, de 1998, e da Portaria MAPS Nº 4.992, de 1999, é proporcionar o equilíbrio atuarial e financeiro dos regimes próprios de previdência da União, dos estados, do Distrito Federal e 31 dos municípios. O Regime Próprio traz mais responsabilidade ao gestor público, a partir do momento que tem o controle orçamentário, financeiro e patrimonial da previdência. Por se tratar de um fundo, autarquia ou fundação, os montantes são contabilizados separadamente. Ao conferir a avaliação atuarial, o gestor tem a cada ano a nova situação previdenciária. O RPPS possui uma estratégia que impulsiona a poupança previdenciária. As eventuais reservas financeiras podem ser capitalizadas para auxiliar o pagamento dos benefícios futuros. O especialista Ricardo Souza, professor, advogado e técnico do Tribunal de Contas de Pernambuco, destaca vantagens para a implantação por parte dos municípios de um regime de previdência próprio: Pirâmides etárias absolutas 2013 IDADE + de 90 85 a 89 80 a 84 75 a 79 71 a 74 65 a 69 60 a 64 55 a 59 Homens 50 a 54 Mulheres 45 a 49 40 a 44 35 a 39 30 a 34 25 a 29 Pessoas com mais de 65 anos serão mais de um quarto dos brasileiros em 2060, segundo projeção do IBGE. O percentual desse grupo representa 7,4% do total de pessoas que vivem no País em 2013 20 a 24 15 a 19 10 a 14 5a9 1a4 0a1 2040 + de 90 85 a 89 80 a 84 75 a 79 71 a 74 65 a 69 60 a 64 55 a 59 50 a 54 45 a 49 40 a 44 35 a 39 30 a 34 • Proximidade física com a entidade previdenciária – já que a unidade gestora do fundo está vinculada à prefeitura, é possível orientar, cobrar transparência e controlar a qualidade da gestão. Os servidores dos municípios ao verem o capital que está sendo acumulado pelo fundo se sentem mais satisfeitos com o resultado e, após a aposentadoria, podem continuar participando da vida política e social através de ações da própria prefeitura. • Relação com a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) – No RGPS a contribuição patronal realizada 32 25 a 29 20 a 24 15 a 19 10 a 14 5a9 1a4 0a1 2060 + de 90 85 a 89 80 a 84 75 a 79 71 a 74 65 a 69 60 a 64 55 a 59 Fonte: IBGE. Diretoria de Pesquisas, Coordenação de População e Indicadores Sociais. Projeção da População por Sexo e Idade para o Brasil. Grandes Regiões e Unidades da Federação. 2013. 50 a 54 45 a 49 40 a 44 35 a 39 30 a 34 25 a 29 20 a 24 15 a 19 10 a 14 5a9 1a4 0a1 MILHÕES DE PESSOAS 8 6 4 2 2 4 6 8 O que é cálculo atuarial para o RPPS? É o cálculo que dimensiona os compromissos do Plano de Benefícios e estabelece o Plano de Custeio para a observância do equilíbrio financeiro e atuarial do RPPS, verificando os parâmetros técnicos fixados por lei. O que é equilíbrio financeiro e atuarial? O equilíbrio financeiro é a garantia de equivalência entre as receitas auferidas e as obrigações do RPPS em cada exercício financeiro. Já o equilíbrio atuarial é garantia de equivalência, a valor presente, dos fluxos das receitas estimadas e das obrigações estimadas, apuradas em longo prazo. pelos servidores públicos é considerada despesa com pessoal, havendo o controle pela LRF. Porém, à medida que os municípios criam seus RPPSs, as contribuições mensais são registradas como uma poupança previdenciária e não despesa de pessoal, dando margem a possíveis reajustes salariais sem afetar os limites da LRF. • Redução de custos - Ao se constituir um fundo municipal de poupança para a previdência, o município, com os rendimentos gerados dessa reserva, pode utilizar os valores para cobertura dos custos administrativos. Como fonte de estímulo, o Governo Federal estuda implantar uma espécie de loteria para beneficiar com uma certa quantia as prefeituras que forem credenciadas ao RPPS. Fonte: Site Previdência Social – Perguntas Frequentes Regime Próprio SAIBA MAIS No artigo Ministério da Previdência e Tribunais de Contas: contribuições institucionais para a sustentabilidade previdenciária, publicado na Revista do TCE/PE em 2012, Ricardo Souza afirma que para nortear a gestão do RPPS municipal e estadual é preciso que o MPS certifique-se das políticas nacionais de manutenção, controle e regulação ao assegurar que recursos arrecadados respeitem o trinômio segurança, rentabilidade e liquidez, e que despesas não ultrapassem a estratégia de financiamento. O Certificado de Regularidade Previdenciária (CRP) é o documento que atesta a regularidade do regime de previdência social dos servidores titulares de cargos efetivos de um estado ou município, através da Portaria Nº 172 de 11/02/2005, como forma de preservar a saúde financeira dos regimes. Outra forma de apoiar a gestão pública no cumprimento das regras estabelecidas pelo Ministério da Previdência Social é estabelecer parcerias com os Tribunais de Contas (TCEs). Tais instituições têm toda a competência necessária para auditar as etapas de funcionamento dos RPPSs, passando do cálculo atuarial, planejamento e sustentabilidade dos fundos. Um grande desafio é desenvolver uma gestão de qualidade. No âmbito municipal, deve existir a preocupação das prefeituras na contratação dos profissionais que serão responsáveis pela gestão previdenciária local, incluindo o cálculo atuarial. Para a ocupação do cargo é necessário conhecer em profundidade a Lei Nº 9.717, de 1998, dominar o RPPS do município instituído em lei, estudar e implementar ações estratégicas que possam conciliar o aspecto financeiro e de sustentabilidade do fundo e de racionalizar recursos. Atualmente, o Centro Brasileiro de Estudos Previdenciários orienta os gestores interessados em promover melhores ações municipais relacionadas à previdência. O advogado e técnico do TCE/PE, Ricardo Souza, enfatiza a participação dos sindicatos e associações para cobrar e vistoriar as operações das unidades gestoras dos fundos previdenciários dos municípios. Em 2011, em entrevista para o especialista Ricardo Souza, a diretora-presidente da CaboPrev - Regime Próprio de Previdência Social do município pernambucano do Cabo de Santo Agostinho, Célia Verônica Emídio, citou a importância de capacitação dos profissionais para direcionamento dos traba33 dos fundos próprios de previdência em pauta. O tema é polêmico e gera preocupação para a maioria dos gestores municipais. Por isso, a importância na promoção de capacitações para instaurar o processo de melhoria contínua. Outro exemplo de Regime Próprio de Previdência Social é o São Paulo Previdência. Instituído pela Lei Complementar Nº 1.010, de 2007, o SPPREV é vinculado à Secretaria da Fazenda do Estado e sua implantação visa à adequação dos benefícios previdenciários aos requisitos e critérios fixados pela legislação federal, além da manutenção permanente do cadastro dos beneficiários e a gestão dos fundos e recursos arrecadados. A atuação do fundo é exclusivamente destinada ao pagamento de aposentadorias e pensões de servidores públicos e militares do estado de São Paulo. É negado por lei atuar nas demais áreas da seguridade social ou em qualquer outra área que não seja pertinente à sua finalidade. Atento a isso, o Tribunal de Contas de São Paulo vem trabalhando para melhorar o funcionamento dos RPPSs paulistas, através da Foto | freeimages.com lhos nos municípios. Em outra ocasião, ela enfatizou a criação de um banco de dados geral para os institutos com o objetivo de evitar a aplicação dos recursos previdenciários em fundos não confiáveis. Em Pernambuco, poucas são as prefeituras que contam em seu quadro de funcionários com gestores capacitados para avaliar, com discernimento, as melhores e mais seguras aplicações ofertadas no mercado financeiro. A Associação Municipalista de Pernambuco (Amupe) e o Tribunal de Contas do Estado já colocaram o assunto de gestão 34 INFORME-SE Em Pernambuco, dos 185 municípios, 147 possuem Regime Próprio de Previdência Social, gerando uma aderência de aproximadamente 80%. O Estado só perde em termos percentuais para o Rio de Janeiro. O sistema de previdência dos servidores de Pernambuco é o Funafin, fundo financeiro responsável pelas aposentadorias dos servidores estaduais e pensões de seus dependentes. O Fundo é mantido pelas contribuições do Governo estadual e de seus segurados. A gestão ocorre por intermédio da Fundação de Aposentadorias e Pensões do Estado de Pernambuco (Funape). Ao capilarizar o sistema próprio de previdência no Estado, a partir de 2005, por meio da Lei Municipal Nº 17.142, foi criado o Fundo Financeiro Recifin e o Fundo Previdenciário Reciprev. A Autarquia Previdenciária do Município do Recife (Reciprev) faz a gestão do Sistema Previdenciário do município. O Recifin é um fundo de repartição simples, os recursos são aportados e utilizados de forma integral e mensalmente para pagar os servidores que ingressaram até 16/12/1998. Já o Reciprev é um fundo previdenciário de regime de capitalização, onde os recursos são aplicados para executar as futuras aposentadorias e pensões dos servidores que ingressaram na Prefeitura do Recife a partir de 17/12/1998. O RPPS do Recife é considerado o maior do Nordeste e está entre os quinze melhores do Brasil. Fonte: Amupe , TCE/PE e Prefeitura do Recife. fiscalização e cumprimento das normas anunciadas pelo Ministério da Previdência Social. Afinal, a atuação dos Tribunais de Contas é fundamental para uma gestão previdenciária eficiente e eficaz, conjuntamente à capacitação de profissionais para analisar os cálculos atuariais e implementar estratégias de sustentabilidade. Nesse contexto, a Associação Nacional de Institutos de Previdência dos Estados e Municípios (Aneprem) promove anualmente uma premiação de Boas Práticas de Gestão em RPPS. A premiação é um reconhecimento aos gestores e às unidades gestoras de Regime Próprio de Previdência Social, bem como ao prefeito ou governador, que mais desenvolveram práticas baseadas nos princípios da transparência, equidade, ética, responsabilidade corporativa e social. Na última edição da premiação, realizada em 2014, concorreram 35 institutos do País, disputando as categorias de pequeno (até 2000 segurados), médio (de 2001 a 5000 segurados) e grande porte (mais de 5000 segurados). Localizado na Paraíba, o Instituto de Previdência dos Servidores Municipais de Cabedelo (IPSEMEC) – autarquia responsável pela execução da política de previdência e assistência dos servidores – foi o vencedor do prêmio Boas Práticas de Gestão em RPPS na categoria médio porte. Houve também o reconhecimento do prefeito de Cabedelo, Wellington Viana, pelo trabalho desenvolvido no RESULTADO Prêmio Boas Práticas de Gestão em RPPS – 2014 VENCEDORES DA 5ª EDIÇÃO: PEQUENO PORTE IPRECON Instituto de Previdência Social dos Servidores Públicos do Município de Concórdia – Santa Catarina MÉDIO PORTE IPSEMEC Instituto de Previdência dos Servidores Municipais de Cabedelo – Paraíba GRANDE PORTE ITAPREV Instituto de Previdência e Assistência dos Servidores do Município de Itaboraí – Rio de Janeiro Confira o Regulamento do 6º Prêmio Boas Práticas de Gestão de RPPS – 2015 e mais informações sobre o assunto em http://www.aneprem.org.br 35 Regimes previdenciários no Brasil Por Maurício Cruz REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL (RGPS) REGIME PRÓPRIO DE PREVIDÊNCIA SOCIAL (RPPS) REGIME DE PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR PARA SERVIDORES PÚBLICOS BENEFICIÁRIOS Trabalhadores celetistas, segurados e seus dependentes (vínculo subsidiário) Servidores públicos estatutários titulares de cargos efetivos dos entes federados Servidores públicos NÚMEROS DE ASSISTIDOS 27,8 milhões 3,4 milhões 3,2 milhões VINCULAÇÃO Automática e compulsória Automática e compulsória Voluntária, facultativa e de natureza contratual ENTIDADE GESTORA INSS Entidades Públicas de Previdência Social dos Entes Federados - Institutos e Fundos Previdenciários Entidades Abertas (para pessoas físicas) ou Fechadas (para servidores públicos - Fundos de Pensão) BASE LEGAL Art. 201 da CF e Leis 8.212 e 8.213/91 Art. 40 da CF, Lei 9.717/98 e Emenda 19/98 Art. 202 da CF e Leis Complementares 108 e 109/01 REGIME FINANCEIRO Regime Financeiro de Caixa Regime Financeiro de Caixa Regime Financeiro de Capitalização, com 3 tipos: Benefício Definido (BD), Contribuição Definida (CD) e Contribuição Variável (CV) SISTEMA DE FINANCIAMENTO Sistema de Repartição Simples: as gerações atuais pagam os benefícios das gerações passadas Sistema de Repartição Simples: as gerações atuais pagam os benefícios das gerações passadas Sistema de capitalização: as contribuições dos segurados constituem reservas que garantem o seu próprio benefício contratado COMO É FINANCIADO Trabalhadores contribuem proporcionalmente ao seu salário (limitado à contribuição do teto) e empregadores recolhem de acordo com a folha de pagamento Servidores contribuem com percentual do seu salário e Ente Federativo contribui paritariamente até limite estabelecido Servidores contribuem com percentual do seu salário e Ente Federativo contribui paritariamente até limite estabelecido ALÍQUOTAS DE CONTRIBUIÇÃO Para empregados, empregados domésticos e trabalhadores avulsos, a alíquota varia entre 8% a 11%, dependendo do salário de contribuição. Para contribuintes individuais e facultativos, as alíquotas variam entre 5%, 11% e 20%, dependendo do salário de contribuição SITUAÇÃO FINANCEIRA ATUAL Déficit de R$ 58,4 bilhões Déficit de R$ 61,7 bilhões Patrimônio acumulado: R$ 712,2 bilhões. Sistema em equilíbrio financeiro COBERTURA DE EVENTUAIS DÉFICITS FINANCEIROS Responsabilidade da União Responsabilidade dos Entes Federados No caso de CD, não há déficit financeiro. No caso de BD, os deficits são assumidos proporcionalmente pelas entidades patrocinadoras e pelos participantes BENEFÍCIOS CONCEDIDOS Aposentadoria por idade, por tempo de contribuição, por invalidez, especial (para categorias específicas); Auxílio acidente, doença,reclusão; Salário família, Salário Maternidade e Pensão por Morte Aposentadoria compulsória, voluntária, por invalidez permanente; Pensão por Morte Aposentadoria por tempo de contribuição; aposentadoria por invalidez e pensão por morte Exige carência de 15 anos para as aposentadorias por tempo de contribuição, por idade e especial. Utiliza hoje a Fórmula 85/95 Não exige carência, mas exige 10 anos de serviço público, sendo que destes os 5 últimos devem ser no cargo em que se dará a aposentadoria. Compulsória: Aposentadoria aos setenta anos de idade, com proventos proporcionais ao tempo de contribuição; Voluntária: Aplicação da média aritmética simples das maiores contribuições efetuadas a partir de julho/1994 A obtenção do beneficio complementar independe da concessão do benefício pelos regimes RGPS e RPPS Aplicável Não se aplica Não se aplica VALORES MÁXIMOS DOS BENEFÍCIOS R$ 4.663,75 (valor em junho/2015) Único teto previsto é a última remuneração do servidor no cargo efetivo em que se der a aposentadoria, limitado ao Teto Remuneratório Constitucional (na esfera federal, p.ex., corresponde aos subsídios dos Ministros do STF) Variável, mas via de regra corresponde, no máximo, à diferença entre o Teto do RGPS e o salário da ativa REAJUSTE DOS BENEFÍCIOS Preservação do valor real Em alguns casos, paridade com o valor pago com o servidor da ativa Reajustes concedidos para repor perdas inflacionárias e não para aumento real FATOR PREVIDENCIÁRIO 36 A alíquota dos segurados ativos é de 11%. As contribuições sobre os proventos dos segurados aposentados e dos pensionistas, De acordo com condições contratuais. Via observarão a mesma alíquota aplicada ao servidor ativo do respectivo ente federativo. de regra, alíquotas entre 7,5% a 8,5%, com contribuição paritária do Ente Federativo. A contribuição do ente federativo não poderá ser inferior ao valor da contribuição do servidor ativo nem superior ao dobro desta, observado o cálculo atuarial anual Um alerta para os fundos previdenciários municipais Por Mariana Moreira A projeção demográfica brasileira aponta para o envelhecimento populacional. Daqui a cinco décadas, já não haverá tantos trabalhadores comparados ao número de aposentados e pensionistas. Por isso, os fundos previdenciários são importantes como forma de poupar e garantir recursos para um futuro próximo. Se essa poupança não for feita hoje, vários estados e municípios poderão estar inviabilizados. É o que sinaliza o autor dos livros Novo Direito Previdenciário Brasileiro e Auditoria Previdenciária de Sustentabilidade Atuarial, Ricardo Souza. Segundo dados do Ministério da Previdência Social, 147 municípios do estado de Pernambuco possuem regimes próprios de previdência. Na análise de Ricardo Souza, que também é técnico do Tribunal de Contas do Estado de Pernambuco (TCE-PE), onde audita os regimes próprios dos municípios, 30 deles estão com gestão satisfatória. “Por outro lado, dos quase 120 restantes, a maioria está em situação crítica”. Como principais problemas, é possível citar o não controle de receita e despesa de acordo com as metas atuariais estabelecidas, o não repasse das contribuições previdenciárias, a nomeação de gestores que não entendem as especificidades da área, fusão do fundo capitalizado com o fundo financeiro para indiretamente sacar os recursos acumulados. Atualmente, o Tribunal de Contas de Pernambuco rejeita as contas dos prefeitos que não repassam as contribuições previdenciárias para os fundos. Tal medida serviu como modelo e referência para outros estados brasileiros. “No Brasil, os tribunais de contas tem buscado formas mais eficazes de controle”, diz Ricardo. Uma informação importante: neste ano, 2015, todos os municípios pernambucanos serão auditados com base no método da Auditoria Previdenciária de Sustentabilidade Atuarial, com foco no resultado. “Por esse método, como defendo em meu livro, toda ação ou omissão dos responsáveis (gestores diretores, prefeitos e secretários) que gerem um impacto negativo nas finanças do fundo previdenciário viola a Constituição Federal, em seu Art. 40, permitindo sanções rigorosas dos órgãos de Controle”, informa Ricardo Souza. Foto | Arquivo pessoal RPPS, através do compromisso referente aos repasses pontuais das verbas previdenciárias. O IPSEMC foi o único RPPS da Paraíba inscrito no prêmio e venceu pela segunda vez seguida na categoria médio porte, conquistando 49 dos 52 pontos possíveis, em quatro práticas de gestão analisadas: transparência, equidade, ética e responsabilidade corporativa e social. Outra alternativa possível para estados e municípios é instituir o regimes de previdência complementar. Como instrumento de proteção social, a Previdência Complementar pode proporcionar mais segurança aos servidores que querem manter uma renda aproximada a que se tinha quando em atividade. Em palestra proferida no 7º congresso do Conselho Nacional de Secretários de Estado da Administração (Consad), realizado em 2014, o então ministro da Previdência Social, Garibaldi Alves Filho, informou que os estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Ceará, Pernambuco e Rondônia haviam criado fundos de previdência complementar para seus servidores públicos. Na ocasião, o Ministério da Previdência indicou o número de 1,3 milhão de funcionários públicos da União, estados e municípios como potenciais participantes de fundos de previdência complementar. Como se observa, o caminho a ser percorrido pela Previdência Social no País possui um caráter complexo, onde as soluções devem ser analisadas de acordo com a realidade local. 37 inovação O Poder da Crise Artigo de Marcos Alves Gestor governamental Especialidade Planejamento, Orçamento e Gestão “Os que creem que a culpa de nossos males está em nossas estrelas e não em nós mesmos ficam perdidos quando as nuvens encobrem o céu.” Roberto Campos 38 39 Foto | freeimages.com Foto | Divulgação D a larga janela contemporânea veem-se ânimos impregnados de profundo mal-estar. Para os horizontes próximos, há a previsão de que se somem ao cenário, aparentemente cinzento, novas diretrizes para políticas públicas que deverão continuar causando impacto na trajetória econômica atual. E é de uma clareza, quase que solar, que a instabilidade e a insegurança trazem luz ao tema crise. Mas o que vem a ser crise? Quais as suas características? No Dicionário Aurélio podem ser encontradas algumas definições, tais como: “conjuntura ou momento perigoso, difícil ou decisivo; falta de alguma coisa considerada importante; embaraço na marcha regular dos negócios; desacordo ou perturbação que obriga instituição ou organismo a recompor-se.” Otto Lerbinger, professor emérito da Universidade de Boston, em seu livro The Crisis Manager, define crise 40 como “um evento que traz ou tem potencial para trazer à organização uma futura ruptura em sua lucratividade, seu crescimento e, possivelmente, sua própria existência”. Lerbinger diz também que, “para que exista uma crise, é preciso que haja estas três características: os administradores devem reconhecer a ameaça (ou risco) e acreditar que ela possa impedir (retardar ou obstruir) as metas prioritárias da organização; devem reconhecer a degeneração e irreparabilidade de uma situação, se eles não tomarem nenhuma ação; e devem ser pegos de surpresa. Essas três características da crise refletem estas descrições: subitaneidade, incerteza e falta de tempo”. Porém, boas-novas acerca do tema podem ser observadas. Empreendedorismo. Criatividade. Inovação. Liderança. Planejamento. Comunicação. Resiliência. Essas são algumas formas poderosas que muitas organizações encontram para percorrer os caminhos áridos da crise e sair dela mais forte e com um aprendizado robusto. Assim, partindo dessa visão, organizações empreendedoras, capazes de desafiar a própria gestão, de modo que mudanças responsáveis aconteçam e formem servidores empreendedores nos seus quadros, têm propiciado a construção de um conceito real e tangível do negócio público para a oferta de serviços de qualidade à sociedade. Dessa forma, como no âmbito privado, na administração pública também é essencial a procura por resultados. Essa demanda não está ligada ao lucro, mas à melhor utilização dos recursos nas diversas esferas de governo e, principalmente, voltados à eficácia nas entregas. É possível provocar um ambiente empreendedor mesmo em um cenário onde a burocracia e processos estanques são predominantes, como é o caso das instituições públicas. Empreendedores são pessoas motivadas pela realização e alcance de objetivos e que possuem características como criatividade, proatividade, inovação, liderança, iniciativa, comprometimento, flexibilidade, ousadia e autoconfiança, sendo a principal dessas, a capacidade de diferenciar-se. O gestor público empreendedor visa atender às demandas dos cidadãos, vendo esses como clientes que possuem anseios a serem suportados, mesmo em tempos de crise. Pois a limitação de recursos é fator que dificulta a gestão no serviço público, mas não a torna impossível de ser aplicada de forma empreendedora no dia a dia. São necessários, ainda, mudança no comportamento das lideranças e forte comunicação institucional, com foco nos objetivos, além da observação dos valores e cultura organizacionais para agregar valor ao plano. A cultura empreendedora na organização pública significa dar vigor à gestão, iluminar o caminho, mostrando novas possibilidades e indicando a responsabilidade de cada um diante do cenário que é apresentado, fortalecer a introdução de novas regras e estruturas de relacionamentos interno e externo. Algumas instituições públicas já vêm partindo na frente, na busca por soluções criativas, inovadoras e sustentáveis, como é o caso da Prefeitura de São Paulo, que quer “coworking” público em fábricas antigas localizadas em zonas industriais da cidade. O secretário de Desenvolvimento Urbano da capital paulista, Fernando de Mello Franco, tem dito em entrevistas que uma das ideias é criar nesses lugares equipamentos públicos como espaços de trabalho compartilhados para jovens empresários, bem como serviços relacionados, por exemplo, a tratamento de resíduos, triagem, ecopontos e afins, além de espaços para arte e cultura. Para o secretário, podem ser criados, ainda, polos de ino- vação, com startups. Ele diz que essas empresas não têm como bancar aluguéis, caros para quem está começando, e que vários lugares do mundo já estão praticamente disponibilizando esses espaços como uma política de incentivo para muitos setores produtivos. Mello Franco ressalta, no entanto, que o município precisa ser dono do imóvel. Com vista a esse segmento, também em São Paulo, outro projeto de coworking vem tentando melhorar a mobilidade urbana na cidade, com diversas iniciativas e mudanças. O Laboratório de Tecnologia e Protocolos Abertos para Mobilidade Urbana chama a atenção pela parceria entre o setor público, o MIT (Massachusetts Institute of Technology) e a USP – Universidade de São Paulo. Esse laboratório tem a intenção de funcionar como uma central de pesquisa ao estilo comunidade colaborativa. Equipes com focos diferentes em mobilidade no transporte e no trânsito Esse formato de trabalho visa uma moderna estrutura econômica e organizacional, composta por colaboração e comunidade, inspirado na cultura participativa do movimento open source, surgido no final dos anos 1990. Um ambiente onde não interessa a competição sem sentido, e sim a coopetição, buscando complementaridade de recursos e a possível redução de custos. Cooperação + Competição Foto | Divulgação O coworking é um novo modelo de trabalho onde profissionais de variados setores, freelancers, autônomos e pequenas empresas se reúnem em um mesmo ambiente para compartilhar experiências, ideias, custos, com o propósito de uma economia mais humana, interligada e sustentável, sem haver, no entanto, vínculo societário e/ou hierárquico. 41 42 Mas como Israel conseguiu superar as aparentes adversidades e se reinventar, dando a volta por cima? Milagre ou “dança da chuva” como resposta não é algo muito inteligente, replicável e, tampouco, equânime de ser aceito, até por que o País tem ainda um setor dinâmico de tecnologia, um dos mais modernos do mundo, além desse exemplar realce na agricultura. Uma boa resposta prática para o caso de Israel, que está em um ambiente árido e dependente de um método eficiente no uso da água, foi a sua capacidade analítica, determinação e tecnologia. Método criado pelo engenheiro israelense Simcha Blass, a agricultura de gotejamento é o que mais se aproxima de um “milagre”. A tecnologia é aproveitada em vários lugares do mundo, inclusive no Brasil. O gotejamento permite que a planta receba a quantia exata de água para o seu desenvolvimento. Apenas 20% da terra de Israel é arável. Mesmo assim, isso não impediu o florescimento da agricultura no País. Água é a matéria-prima da agricultura, e se estima que até 70% do consumo mundial vem desse setor. Israel tinha tudo para não ter agricultura alguma, mas superou o obstáculo natural com o uso de tecnologia. Isso mostra que esse País é um excelente exemplo de transformação de uma situação de crise em oportunidade, e ainda faturar, tendo em vista que exporta tecnologia na área de irrigação para 120 países. Foto | Divulgação ocuparão o mesmo espaço físico, interagindo e compartilhando informações. Todos têm o objetivo de desenvolver soluções para melhorias na gestão do transporte, do trânsito e da mobilidade urbana, além de disponibilizar informações para a população. O grupo é formado por especialistas das diversas áreas dos parceiros envolvidos. O Laboratório desembolsará reduzido recurso orçamentário e haverá bolsas de apoio à pesquisa, vinculadas e gerenciadas pela Fundação USP, destinadas a hackers da universidade que queiram se aventurar nesses protocolos. Essa escalada na direção de novas soluções para problemas cotidianos da gestão pública em épocas de incertezas traz à tona algumas verdades que ficam intocadas até que sejam postas em prática: “fazer do limão uma limonada”; “transformar ameaças em oportunidades”; “problemas são oportunidades disfarçadas”. Pensando nisso - e para não ficar no azedo - algumas instâncias governamentais se debruçam em estudos e pesquisas necessários, não apenas para mudar uma realidade atual, mas para prosperar e alterar significativamente sua história. É o caso do Estado de Israel, onde há fincado em parte razoável do seu pequeno território um inóspito e seco deserto, mas que, não obstante, tem mais de 250 milhões de árvores plantadas e é exportador de frutas e fatura o superior a US$ 50 milhões por ano com a exportação de flores. Lá ainda tem produção de peixes! A grande descoberta de Simcha Blass se deu no kibutz de Hatzerim, comunidade israelense em que a produção e a renda são coletivas, localizado em pleno deserto. Nessa região a chuva não ultrapassa 200 milímetros ao ano (no dia 3 de julho, em 24 horas, choveu 160 milímetros em Ipojuca-PE), o que sempre obrigou a população a construir reservatórios com água do Rio Jordão. No entanto, a tubulação destes tanques começou a apresentar vazamentos e, onde gotejava água, começava a crescer plantas. Blass observou o fato e logo viu a grande oportunidade. Na sequência, começou a desenvolver vários equipamentos que deram origem ao popular sistema de irrigação por gotejamento, uma tecnologia que revolucionou a agricultura em Israel. Simples e extremamente preciso, esse tipo de irrigação aumenta significativamente a produtividade e promove a utilização racional da água: a eficiência uso do recurso hídrico é de 95%, com economia de água de 60% e grande redução de energia. A explicação está no uso de bombas de baixa vazão que consomem 50% menos energia que os outros sistemas. lenta e assustadora que alimenta e é alimentada pela mídia (é a oportunidade dela na crise!). Para lidar bem com esse assunto, a Prefeitura de Curitiba tem utilizado com bastante destreza e criatividade as mídias sociais e de relacionamento, como o Facebook, para se comunicar com os cidadãos. Ao se propor a interagir com os curitibanos de maneira descontraída e bem-humorada, a página do Facebook da Prefeitura de Curitiba ganhou fãs no Brasil inteiro e atraiu a atenção do público jovem para um órgão sério. A página da “Prefs”, como é carinhosamente apelidada pelos fãs na rede social, ganhou fama nacional ao abandonar de vez o tom oficial e institucional para abraçar a linguagem informal e o bom humor, típicos da internet, para chegar mais junto da população e falar sobre temas relevantes do dia a dia. Esse formato criativo tem como objetivo, além de estreitar a relação com os moradores, incentivando sua participação em temas relevantes para a cidade, funciona como meio de escuta ativa e observação. Em Pernambuco, a Prefeitura do Recife também tem se ajustado com as novas formas de se comunicar com as pessoas, e vem obtendo resultados valiosos. Embora num tom mais contido, se comparado à Prefeitura de Curitiba, a página do Recife no Facebook consegue divulgar as ações e informações relevantes à sociedade, além de trazer um perfil mais humanizado, com uma linguagem mais leve e acessível. Reprodução | Facebook Observa-se, pois, que os ganhos obtidos ao lançar-se a desafios, sendo esses advindos de uma crise ou por empreendedorismo organizacional, não podem ser dissociados da percepção e representação que os atores têm do fato: um momento difícil ou uma oportunidade de mudança? Em quaisquer situações é importante que haja comunicação para que os horizontes se tornem possíveis de ser alcançados por todos. Nos momentos críticos, o que realmente importa é a visão do gestor e do público quanto ao evento. A percepção importa mais que os fatos. Parafraseando Robin Cohn, em seu texto Learning from crisis: as the curtain rises, a menos que se tenha um conhecimento mais abrangente sobre um acontecimento, nossa percepção se baseia no que vemos e ouvimos. Ver e ouvir são as palavras-chave neste contexto. As instituições estarão em uma situação vantajosa se o que o público vir e ouvir for informado diretamente por ela. Daí a importância de a gestão ser fonte de informação para todos os interessados. Pesquisas revelam que a percepção que o público tem sobre a crise é de suma importância para direcionar as mensagens e ações organizacionais. Monitorar as notícias, conhecer os rumores e boatos é essencial para a execução deste trabalho. Então, para surfar na onda da crise, é preciso ter atenção, capacidade de análise e habilidade para ficar imune ao mau humor que toma conta do ambiente. Há uma certa fala turbu- Segundo Leonardo Mello, gerente de Soluções e Tecnologia do Núcleo de Presença Digital da Prefeitura do Recife, a gestão atual persegue o objetivo de devolver a cidade às pessoas. Para isso, vem se inspirando na página norte-americana Human Of New York, sucesso com mais de nove milhões de seguidores no mundo inteiro, onde fotografias de pessoas comuns são dispostas, quase como um senso fotográfico. A ideia da série #PessoasdoRecife é abraçar a mistura que constitui a cidade e publicar fotos e histórias curtas sobre pessoas residentes e passantes da rica e eclética metrópole e estreitar laços e o sentimento de pertencimento. A Prefeitura também usa o Twitter para ouvir e responder as demandas dos cidadãos e publicar campanhas educativas das diversas áreas, tudo isso com o intuito de estreitar o relacionamento com a população. 43 Ainda em Pernambuco, o Governo do Estado, atrelado ao seu Mapa da Estratégia, criou a Rede de Modernização Governamental. O papel da rede é fomentar a discussão entre os agentes setoriais e municípios sobre a importância da modernização e criação de novos projetos que contribuam para a melhoria dos serviços prestados pelo Governo à sociedade, através de fóruns virtuais e presenciais, utilizando o blogger Remog e o grupo Remog no Linkedin, dentre outros meios. A Rede funciona como reforço à promoção na geração de incrementos na inovação e modernização de processos, métodos e ferramentas, tanto na gestão, como na operação das atividades do Governo. E, nesse contexto, tem a função de dar ênfase na divulgação e multiplicação da nova cultura de modernização do Estado. Servirá como um escritório de projetos para ajudar os servidores que necessitarem de consultoria, e de incentivo aos órgãos à prática de concurso de projetos. São partes integrantes da Rede os agentes de modernização governamental, que serão multiplicadores, incentivadores e ainda colaboradores. Todos eles poderão identificar oportunidades, implementar projetos e avaliar e medir resultados. Nota-se, portanto, que a comunicação certeira, através de ouvidorias, portais, homepages, redes sociais, blogs e outras mídias dos entes públicos, usados internamente e ofertados para a sociedade, deve ser cada vez menos passiva e ser 44 usada como ferramenta proativa. É possível reunir as demandas da população que chegam pelas redes e buscar as respostas. Em épocas de instabilidade e incertezas, comunicar-se de forma rápida e relevante com as áreas internas e com a sociedade mostra maturidade e compromisso. E nessa caminhada, em momento de recursos pouco disponíveis e, enquanto dias melhores não chegam, as administrações tendem a andar em passos mais cautelosos, no que se refere a investimentos e gastos. Contudo, é tempo para criatividade e persistência, lançando-se aos desafios medidos e testando a resiliência, capacidade inerente à administração pública. É o caso do Estado de Israel, que salta à frente da realidade geográfica e ensina como cultivar em condições pouco favoráveis. É tempo de compartilhar ideias e ter um olhar novo sobre a situação, como tem feito as prefeituras de São Paulo, Curitiba e Recife, que tem trabalhado na resolução de problemas cotidianos com inovação e parceria com a sociedade. Mas também é em época de escassez que a gestão também deve voltar-se para dentro, revisitando seus processos internos e, sobretudo, gastar mais tempo com estudos, pesquisas, ideações e avaliações, preparando soluções e pensar o que fazer quando a crise passar. Links utilizados na pesquisa https://repositorium.sdum.uminho.pt/ http://coworkingbrasil.org/manifesto/ http://www.enap.gov.br http://seresurbanos.blogfolha.uol.com.br http://coworkingbrasil.org/ http://revistadinheirorural.terra.com.br Foto | Divulgação Alerta ao conceito de “Inovação em Tempos de Crise”, o Governo de Pernambuco criou o PE INOVA, visando gerar incentivos para criatividade e ações de inovação. O concurso irá premiar as melhores ideias e projetos dos servidores públicos do Estado. Com tais ações o Governo reforça o conceito de que só há inovação se essa trouxer algum tipo de retorno à população. Ou seja, para inovar não basta só ser criativo, é fundamental que a inovação possa resolver problemas da sociedade. E esse é o objetivo do PE Inova. Foto | freeimages.com opinião Rumo a uma gestão melhor de segurança pública Laura Jaitman Especialista em temas de segurança pública Institutional Capacity of the State Division (ICS) Institutions for Development (IFD) BID - Banco Interamericano de Desenvolvimento A 100 Foto | Marcelo Horn GERJ América Latina e Caribe (ALC) é a região mais insegura do mundo. De acordo com números mais recentes apurados para esta análise, em 2012, no mundo, ocorreram 437 mil homicídios dolosos, valor equivalente a uma taxa global de 6,2 homicídios por 100 mil habitantes. A ALC apresentou uma taxa de 25 homicídios por 100 mil habitantes. Embora detenha menos de 9% da população mundial, 33% dos homicídios ocorrem na Região. No caso do Brasil, no mesmo período, perto das áreas consideradas de risco (conflitos armados), a taxa de homicídios foi superior a 25 por 100 mil habitantes. Em particular, a taxa de homicídios de jovens no País atingiu 59 por 100 mil habitantes. A América Latina e Caribe, não só apresenta uma alta taxa de criminalidade, como também é desproporcionalmente alta para os parâmetros socioeconômicos dos seus países. Treinamento de policiais da UPP Nova Brasília no Rio de Janeiro | Taxas de homicídios Países da América Latina e Caribe - 2012 GRÁFICO 1 90 80 70 60 Fonte: BID (elaboração a partir da base de dados do ESCRITÓRIO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE DROGAS E CRIME (UNODC) 46 URUGUAI HAITI EQUADOR GUIANA CONFLITO MÉXICO BRASIL BAHAMAS COLÔMBIA JAMAICA GUATEMALA EL SALVADOR 0 BELICE 10 VENEZUELA 20 HONDURAS 30 TRINIDAD E TOBAGO 40 REPÚBLICA DOMINICANA 50 EPIDEMIA GRÁFICO 2 | Homicídios Internacionais (por 100.000 habitantes) 100 América do Sul HND Caribe 80 África Sub-Saariana Resto do Mundo JAM 60 Valores Ajustados VEN BLZ GTM SLV 40 KNA COL TTO BHS VCT BRA DOM LCA MEX PAN GRD ECU ATG PER URY BRB ARG ABW CHL 20 GUY BOL NIC PRY 0 5 6 7 No gráfico 2, podemos observar que existe uma anomalia na Região. Para o seu nível de renda per capita, os países da América Latina e Caribe apresentam uma taxa muito mais elevada de homicídios que o resto do mundo. A regra geralmente aceita é que quanto maior o 8 9 10 nível de riqueza, mais baixo é a incidência de violência. A linha vermelha indica a posição em que cada país teria de localizar a sua taxa de homicídios por renda (para controlar as taxas de pobreza e desigualdade medidas pelo coeficiente de Gini). Quase to- 11 12 Fonte: Escritório das Nações Unidas contra a Droga e o Crime América Central dos os países da Região estão bem acima da linha vermelha (valores ajustados), ou seja, a situação na ALC é significativamente pior do que deveria ser para os seus níveis de renda (o que não explica por que estes países relativamente são desiguais ou mais pobres). Como gerir a segurança pública nesse contexto? Qual é a estratégia mais eficaz para controlar o crime? O problema do crime, muitas vezes, é enquadrado como um debate entre os partidários de uma abordagem de “mão forte”, priorizando ações punitivas, versus aqueles que atuam em favor de uma abordagem “soft”, concentrados em programas de prevenção e recuperação para melhorar as oportunidades de emprego para as pessoas que se encontram em situação de risco. Mas, o modelo canônico A regra geralmente aceita é que quanto maior o nível de riqueza, mais baixa é a incidência de violência da economia do crime sugere que uma política racional para combater o crime deve combinar de forma otimizada as duas abordagens. Afinal, é uma questão empírica, onde se pode demandar um maior peso em am- bos os enfoques, gerando assim uma forma mais eficiente. O objetivo seguinte é encontrar uma boa política pública para elaborar uma carteira de investimentos sensível à natureza multifacetada do crime. 47 A análise econômica do crime se baseia no trabalho de Gary Becker, ganhador do Prêmio Nobel de Economia em 1992. Ele trabalha na suposta ideia de que criminosos são indivíduos que agem de forma racional e procuram maximizar seu bem-estar. Este modelo pode ser apresentado em termos de uma análise custo-benefício. Considerando-se que, na economia, há dois setores: o legal e o ilegal. O problema em nossa Região (ALC) é que o benefício esperado decorrente dos crimes se torna maior do que o benefício potencial decorrente das atividades legais. Neste contexto, os indivíduos cometem atos criminosos se os benefícios esperados, ao fazê-lo, superam as atividades le- gais. Este modelo implica que, aumentando a certeza e a gravidade da punição, pode-se reduzir o rendimento líquido do crime (aumentando o custo esperado do crime) e, assim, modificar os padrões de ocorrências criminais. O modelo também prevê que os aumentos de salários e oportunidades de geração de renda, no setor legal, podem reduzir o número de problemas decorrentes dos crimes. Abordagens complementares Voltando ao tema inicial deste artigo, em vez de pensar em termos de “mão forte” versus “soft”, o melhor seria classificar as estratégias de controle do crime quanto ao fato de tentar mudar o ambiente que determina o custo em incorrer em atividades criminosas. Ou se tentar mudar a propensão do indivíduo (potencial infrator) em direção a um comportamento criminoso, através de políticas de prevenção, tais como o aumento de tratamentos médicos para os viciados em drogas, tidos como potenciais criminosos, e muitas outras intervenções que busquem diminuir a incidência do número crimes. Entre os fatores que afetam o custo esperado em combater crimes, estão, sem dúvida, as ações de aplicação da lei e do sistema penal. A polícia é a chave para impedir e reduzir a instituição do crime. Na América Latina e Caribe (ALC), vemos grande hete48 O BID entende que, para encontrar o portfólio ideal é essencial avaliar o custo-benefício dessas intervenções e promover políticas econômicas que possam controlar e reduzir a criminalidade na Região rogeneidade, mas, em média, na Região existem cerca de 300 agentes de polícia por 100 mil habitantes, perdendo apenas para o Oriente Médio. Os Estados Unidos têm cerca de 200 agentes de polícia por 100 mil habitantes e os índices de criminalidade são baixos. Atualmente, muitas cidades passam por um processo de modernização e equipagem das suas polícias. Por exemplo, o BID está apoiando programas para melhorar a gestão e utilização dos sistemas de informação e análise do crime no Uruguai, Equador, Brasil e Paraguai, en- tre outros. No Uruguai, estamos trabalhando com o Quartel da Polícia de Montevidéu para melhorar a alocação de patrulhamento para que se possa reduzir a incidência de roubo, um crime em ascensão, que gera impacto na percepção de insegurança entre os cidadãos. Estamos avaliando cientificamente um piloto, usando estimativas e protocolos policiais, através de softwares, combinando medidas específicas em determinadas áreas. Em Honduras, estamos redesenhando o currículo de preparação da polícia, objetivando que esta seja Foto | Divulgação realizada de acordo com as necessidades atuais. No Brasil, também são observadas mudanças para aprimorar a capacidade de investigação, análise criminal e resposta da polícia em diferentes estados. As ações estão sendo implementadas através das polícias especializadas nas áreas de maior conflito e policiamento comunitário, como as Unidades de Polícia Pacificadora do Rio de Janeiro, a Polícia Interativa no Espírito Santo e os painéis de Polícia em áreas de risco em Minas Gerais. Além disso, através da integração das Polícias Militar e Civil no Amazonas, Espírito Santo, Paraná, Pernambuco e Minas Gerais. Muitos desses projetos são apoiados pelo BID. Em se tratando da Justiça, indicadores do sistema penal na América Latina e Caribe estão longe dos padrões internacionais, mostrando taxas muito baixas sobre esclarecimentos dos crimes. A prevalência da impunidade, neste contexto, incentiva o crime. É por isso que a melhoria da gestão da Justiça é essencial para aumentar os investimentos esperados no combate ao crime. Outras ações para reduzir a criminalidade são baseadas no aumento do retorno esperado de atividades legais. Essa é a ideia de intervenções sociais que impedem a violência, tais como melhorar a educação, o emprego ou a forma de resolver os conflitos. O BID apoia os países com múltiplas intervenções. No Brasil, por exemplo, os Centros de Prevenção da Violência, recebem apoio em quatro estados, através de ações voltadas para melhorar a educação, as habilidades e os comportamentos dos jovens, objetivando aumentar o seu regresso à escola, ao trabalho, e reduzir a criminalidade. A distinção entre a oportunidade para cometer o crime e a propensão para o comportamento criminoso nos ajuda a avançar no sentido de um debate mais pragmático do que ideológico sobre a forma mais eficiente de gerenciar a segurança pública. Também deixa claro que as abordagens chamadas “hard” e “soft”, que essencialmente se relacionam com ações punitivas e de prevenção da criminalidade, podem ser complementares. Diante do contexto, o BID entende que, para encontrar o portfólio ideal, é essencial avaliar o custo -benefício dessas intervenções, e promover políticas econômicas que possam controlar e reduzir a criminalidade na Região. As soluções são complexas e exigem mudanças profundas no sistema de “incentivos”, diferenciando de maneira mais ampla, em grande parte, às atividades legais das ilegais. É essencial, para começar, se construir evidências sobre quais políticas funcionam e quais não funcionam na Região, e que esta evidência é quase inexistente. A geração de estatísticas confiáveis e regulares é mais que necessária para melhorar a concepção das políticas e da prestação de contas. Investir em monitoramento e avaliação das iniciativas é fundamental para que seja desenvolvido esse corpo de evidências de boas práticas, a fim de mitigar o crime e a violência, que constituem uma clara ameaça para o desenvolvimento da Região. No Uruguai, BID desenvolve projeto para melhorar patrulhamento realizado pela polícia de Montevidéu 49 boas práticas Erradicação de lixões a passos lentos Rafael Guerra Municípios pernambucanos enfrentam o desafio de alcançar a meta da Política Nacional de Resíduos Sólidos para a implantação de aterros sanitários 51 Foto | Arquivo do Comsul ser enfrentado pela população e, especialmente pelo poder público. No Brasil, desde agosto de 2010, existe a Lei nº 12.305, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), que tem como objetivo o enfrentamento das principais questões ambientais, sociais e econômicas decorrentes do manejo inadequado dos resíduos sólidos. Entre as várias metas e objetivos impostos pela PNRS, está a eliminação dos chamados lixões. O prazo para que todos os municípios desativassem seus lixões e passassem a destinar seus resíduos sólidos a aterros sanitários era agosto de 2014. Diante do não cumprimento da meta, o Senado aprovou, no dia 1º de julho deste ano, um projeto que estica o prazo, de forma escalonada, para que os municípios atendam as exigências. Para as capitais e cidades das regiões metropolitanas, a nova data é 31 de julho de 2018. Muni- Aterro público em Escada beneficia mais de 220 mil pessoas em oito municípios da Mata Sul 52 cípios de fronteira e os que têm mais de 100 mil habitantes terão até julho de 2019 para cumprir a meta e cidades que têm entre 50 e 100 mil habitantes, dois anos a mais, julho de 2020. Já as cidades com 50 mil habitantes – a maior parte dos municípios brasileiros – terão o prazo de 31 de julho de 2021. O texto, aprovado pelo Senado, ainda precisa passar para a Câmara Federal para ser confirmado como lei. Além do alargamento dos prazos, a proposta prevê que a União normatize o acesso a recursos federais para a implantação dos aterros sanitários, obras caras e complexas. Cada aterro precisa de grandes áreas impermeabilizadas, sistemas de medição de gases e de escoamento de chorume. A falta de financiamento federal é apontada pelos gestores municipais como o principal motivo para o não cumprimento dos prazos estabelecidos na PNRS. Foto | Arquivo do Comsul U ma ideia muito utilizada nos debates sobre a gestão dos resíduos sólidos é que não existe o “jogar lixo fora”. Sob todos os pontos de vista, desde o consumo e descarte individual, passando por uma casa com várias pessoas, até chegar à produção industrial de lixo, não há como jogá-lo fora. Fora da casa, mas dentro do bairro. Fora da cidade, mas dentro do Estado. Fora do País, mas dentro do Planeta. Então, chega-se ao fim das possibilidades. Não existe, do ponto de vista planetário, o “fora”. Só o Brasil produz 76 milhões de toneladas de resíduos sólidos, segundo o Panorama dos Resíduos Sólidos, de 2013. Um volume que chama a atenção, principalmente quando se sabe que cerca de 10% desse total não foi coletado, sendo lançado em rios e áreas clandestinas. Esses números só atestam que o problema do lixo precisa Adequação lenta No Brasil, atualmente, de acordo com dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), 60% das cidades ainda descartam inadequadamente os resíduos. Os dados de agosto de 2014 mostram que 2.507 dos 5.564 municípios ainda destinam o lixo coletado nos domicílios e aquele proveniente do sistema de limpeza pública a lixões Se levarmos em conta a pontuação da Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH) para o ICMS socioambiental referente ao ano de 2014 apenas 31 municípios funcionam de forma correta” Joana Aureliano, gerente de Resíduos Sólidos da Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade – Semas (45%); 815 municípios enviam para os aterros controlados, os lixões reformados (14,6%) e 2.243 enviam para aterros sanitários (40,4%). Já o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento Básico informou que, em 2013, o País tinha 1.196 lixões e 652 aterros sanitários. A PNRS se desdobra em planos nacional, estaduais e municipais. Em Pernambuco, a situação é complicada. O Estado produz 3,9 toneladas de lixo por ano, segundo a Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas). A pasta informa que, dos 184 municípios, 148 adotam a disposição final de resíduos sólidos em lixões. Os dados são de 2012, quando foi instalado o Plano Estadual de Resíduos Sólidos (PERS). A gerente de Resíduos Sólidos da Semas, Joana Aureliano, explica melhor a situação. “Se levarmos em conta a pontuação da Agência Estadual de Foto | Douglas Fagner A transição do lixão para o aterro sanitário é um dos principais pontos da PNRS. Mas o que isso significa exatamente? Os lixões são áreas onde os resíduos sólidos são depositados sem nenhuma preparação anterior do solo. O aterro sanitário recebe o lixo em um terreno preparado previamente, com o nivelamento de terra e o selamento da base com argila e mantas de PVC. No primeiro caso, não há sistema de tratamento de efluentes líquidos – o famoso chorume –, que penetram a terra levando substâncias contaminantes para o solo e para o lençol freático. Além dos problemas ambientais, os lixões promovem mazelas sociais já tão documentadas e que, apesar de toda revolta que causam, continuam tão presentes. A céu aberto, urubus, ratos, moscas convivem com crianças, adolescentes e adultos, que usam o espaço para tirar o sustento, seja catando comida para consumo próprio ou em busca de materiais recicláveis para a venda. No caso do aterro sanitário, a impermeabilização do solo não permite que o chorume contamine o lençol freático. Ele é acumulado em poços e, durante os seis primeiros meses, recircula sobre a massa de lixo aterrada, para depois ser encaminhado a estações de tratamento de efluentes. Outra importante diferença é que, nos aterros sanitários, há uma previsão de cobertura diária do lixo, não ocorrendo a proliferação de animais transmissores de doenças, mau cheiro e poluição visual. 53 54 Ana Gama, gerente de Captação de Recursos da Secretaria das Cidades - Secid a fazer a troca do lixão para o aterro sanitário. Além disso, todos os municípios do Estado estão com um Plano Municipal de Resíduos Sólidos pronto ou em andamento. “A Semas está elaborando para os 153 municípios, enquanto a Secretaria das Cidades está responsável pelo Plano na Região Metropolitana do Recife e para Fernando Noronha. Os municípios do Alto Pajeú, no Sertão do Estado, já estão com o plano pronto, elaborado pelo Consórcio de Integração dos Municípios do Pajeú”, afirma Joana. A gerente de Captação de Recursos da Secretaria das Cidades, Ana Gama, fala sobre a situação dos municípios da RMR. “Em 2009, o Governo de Pernambuco já havia criado um Plano Metropolitano de Resíduos Sólidos. Atualmente, estamos em uma fase de adaptação ao Plano Nacional, já que este veio depois do nosso que, por exemplo, era mais voltado para os resíduos urbanos. Estamos trabalhando para contemplar no nosso Plano todos os resíduos O lixo do Brasil em números 76 milhões de toneladas é a produção de resíduos sólidos em 2013 7,2 milhões de toneladas não foram coletadas, sendo lançadas em rios e áreas clandestinas 58,3 % dos resíduos sólidos urbanos coletados tiveram destinação final adequada 41,7% do total coletado no ano (cerca de 28,8 milhões de toneladas) foi depositado em lixões e aterros que não garantem condições de segurança + de 42 milhões de toneladas de resíduos de construção e demolição foram descartados em vias públicas em 2013, um aumento de 4,6% em relação a 2012 1 Kg é a quantidade de resíduo sólido que cada brasileiro gerou, em média, por dia em 2013 R$ 114 ,84 foi quanto os municípios gastaram, em média, por habitante/ano na coleta e demais serviços de limpeza urbana Fonte: Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2013 Foto | Douglas Fagner Meio Ambiente (CPRH) para o ICMS socioambiental referente ao ano de 2014, que leva em consideração os aterros sanitários em operação regular, apenas 31 municípios funcionam de forma correta”, diz. A gestora acrescenta, então, que os 153 municípios restantes não depositaram seus resíduos em local ambientalmente adequado, o que pode não ser exatamente um lixão. “Pode ser um aterro sanitário que não esteve em 2014 com operação ambientalmente adequada”, explica. Apesar da situação preocupante, a Gerência de Resíduos Sólidos da Semas apresenta números que mostram um indicativo de que o Estado e os municípios estão se esforçando para cumprir as metas do PNRS. Até fevereiro de 2015, 102 municípios haviam assinado um Termo de Compromisso Ambiental do Centro de Apoio Operacional às Promotorias de Proteção ao Meio Ambiente do Ministério Público de Pernambuco. Eles se comprometeram Na RMR, todos os municípios que já descartam adequadamente têm contrato com um aterro privado, com exceção de Paulista que optou por uma parceria público-privada” Solução consorciada O presidente da Amupe cita o caso do aterro sanitário público localizado em Escada e administrado pelo Consórcio Público dos Municípios da Mata Sul Pernambucana (Comsul). Financiado pelo Governo do Estado através do programa Promata, o aterro foi construído entre 2004 e 2007 e iniciou as atividades em 2010, quando foi formalizado o consórcio. Atualmente, oito cidades - Amaraji, Barra de Guabiraba, Chã Gran- de, Cortês, Escada, Pombos, Primavera e Ribeirão - são beneficiárias do aterro, que recebe 118,71 toneladas, em média, por dia de resíduos sólidos urbanos. Ele beneficia 200 mil pessoas. O superintendente de Saneamento do Comsul, João Amaral, explica que o consórcio tem um programa amplo de gestão de resíduos sólidos, denominado Programa Regional de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos, através do qual Foto | Douglas Fagner produzidos, seja ele urbano, industrial, eletroeletrônico ou agrosilvopastoril”, destaca Ana. Ainda segundo Ana Gama, apenas duas cidades da RMR descartam os resíduos sólidos em lixões: Camaragibe e São Lourenço da Mata. “O Recife, por exemplo, faz toda a sua coleta e descarta o lixo em um aterro sanitário privado em Candeias. Na RMR, todos os municípios que já descartam adequadamente têm contrato com um aterro privado, com exceção de Paulista que optou por uma parceria público-privada”. A gerente fez questão de lembrar que o papel do Governo estadual é de apoiar, ajudar, apontar diretrizes, mas a gestão e execução das ações é de responsabilidade do município ou de consórcios municipais, como sugere o PNRS. O presidente da Associação Municipalista de Pernambuco (Amupe), José Patriota, prefeito de Afogados da Ingazeira, não é muito otimista em relação à atual situação dos municípios pernambucanos no que diz respeito à gestão dos resíduos sólidos. “Nossa posição é de muita dificuldade, já que, até agora, não conseguimos financiamento. Se o projeto de lei que adia as datas para o cumprimento de metas for aprovado na Câmara de Deputados, é um alívio no sentido do prazo. Se o financiamento, no entanto, não acontecer, só vai postergar o problema”, explica Patriota. Para ele, o consórcio de municípios, é a principal forma de cumprimento das metas estabelecidas. Hoje menos de 40% dos municípios dão destinação final adequada a seus resíduos e as soluções individualizadas são comprovadamente insustentáveis” João Amaral, superintendente de Saneamento do Comsul 55 oferece aos municípios todo o conjunto de intervenções que a PNRS espera dele, desde a educação ambiental à logística reversa, passando pela elaboração dos planos de gestão integrada, limpeza urbana, coleta seletiva, coletas especiais, tratamento, organização de catadores de materiais recicláveis, beneficiamento, compostagem e destinação final. “Apesar dessa gama de serviços oferecidos, o interesse maior dos municípios ainda é o descarte”, comenta João Amaral. Ele faz uma análise mais ampla sobre a o Plano Nacional e o estágio de Pernambuco no cumprimento das metas propostas. “A PNRS tinha estipulado o prazo de até agosto de 2014 para a extinção dos lixões, mas não termina aí o papel desta política Os municípios brasileiros e o lixo das cidades descartam inadequadamente os resíduos Dos 5.564 municípios 2.507 (45 %) 2.243 (40,4 %) 815 (14,6 %) Em Pernambuco, são produzidas 3,9 toneladas de lixo por ano, segundo a Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade destinam o lixo coletado nos domicílios e aquele proveniente do sistema de limpeza pública a lixões enviam para aterros sanitários municípios enviam para os aterros controlados, os lixões reformados Fonte: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) 56 ção final adequada a seus resíduos sólidos, pois há o passivo ambiental inerente ao funcionamento dos lixões, deixando o gestor passível de judicialização por danos ambientais e de responsabilidade administrativa”, avalia. O superintendente ainda destaca que o Governo de Pernambuco e a Amupe têm desempenhado um importante papel no tratamento do tema ao elaborar o Plano Estadual de Resíduos Sólidos e ao auxiliar os municípios na intermediação com os órgãos de controle externo como a CPRH, o MPPE e o TCE-PE. “No fim das contas, a postura do homem público à frente das prefeituras é que vai determinar a solução do impasse. Na Mata Sul, estamos articulando mais um equipamento para tratamento e destinação final de resíduos sólidos na microrregião de Palmares. Com este equipamento, esperamos ser a primeira Região de Desenvolvimento do Estado a ter 100% dos lixões desativados”, assevera João. Foto | Prefeitura do Recife / Divulgação 60 % pública. Como não há a cobrança pelas demais etapas componentes do Plano Nacional, a gestão pública caminha a passos lentos. O próprio aterro sanitário, com muitas melhorias técnicas e operacionais, tem uma vida útil estimada para no máximo mais nove anos. Se as prefeituras cumprissem os demais itens da PNRS e apenas o rejeito fosse ao aterro sanitário, sua vida útil passaria para 30 anos a partir de agora”, aponta o superintendente. João Amaral acredita que o consórcio público é a melhor ferramenta para gestão integrada de resíduos sólidos para municípios de médio e pequeno porte. “Hoje menos de 40% dos municípios dão destinação final adequada a seus resíduos e as soluções individualizadas são comprovadamente insustentáveis. O MPPE tem feito um grande trabalho no acompanhamento da PNRS em Pernambuco e a alteração do prazo para extinção dos lixões, caso o projeto seja aprovado, não desobriga os gestores públicos a darem destina- Foto | Prefeitura do Recife / Divulgação Os resíduos sólidos coletados no Recife são destinados ao aterro sanitário privado localizado na vizinha Jaboatão dos Guararapes Novos projetos A Secretaria de Planejamento e Gestão do Estado, através do Escritório de Projetos, lançou um edital que destina R$ 10 milhões para que as prefeituras realizem projetos executivos de engenharia. Os projetos podem ser feitos individualmente ou de forma consorciada. Das 123 propostas enviadas, 13 foram relacionadas à gestão de resíduos sólidos. O número pode parecer pequeno, mas o fato de ser permitido o consórcio muda a perspectiva, como ressalta Joana Aureliano, da Semas. “Aproximadamente 90 municípios estão contemplados. A partir do número, entendo que o interesse foi muito representativo. Atualmente, as propostas estão em análise, o que pode resultar em um número de municípios diferente”, afirmou. Há solicitação de recursos para projetos de construção de aterros sanitários, de recuperação de áreas municipais degradadas por antigos lixões e construção de centros de pesquisa. Daquelas 13 propostas, nove foram de consórcios. De acordo com as regras de seleção do Escritório de Projetos para o edital, terá prioridade o financiamento de projetos consorciados. Cada uma das propostas, a depender do número de municípios beneficiados, pode receber até R$ 400 mil. O Governo tem até o dia 30 de agosto para analisá-las e divulgar o resultado. 57 cine NÁUFRAGO Vânia Campos Gerente Geral de Profissionalização da Gestão Secretaria de Planejamento e Gestão/PE Título original: Cast Away | Gênero: Drama | Duração: 2h23 Ano de lançamento: 2000 | Direção: Robert Zemeckis Estúdio: Dreamworks SKG / 20th Century Fox / Image Movers / Playtone O filme retrata a história de Chuck Noland, um inspetor da Federal Express (FedEx), vivido pelo ator Tom Hanks. Ele tem a função de verificar e supervisionar vários escritórios da empresa em vários estados e países, cercado de ferramentas e tecnologias necessárias para realizar suas tarefas. Em uma das suas inúmeras viagens, Noland sofre um acidente, que culmina com a queda do seu avião em uma ilha totalmente deserta no meio do Pacífico. Sobrevivente, ele permanece no local por quatro anos. Com todos os seus familiares e amigos imaginando que ele morrera, Noland passa a buscar soluções para enfrentar desafios físicos e emocionais para sobreviver em um ambiente totalmente hostil e diferente da civilização a qual estava acostumado. Desafiando o senso comum, o personagem passa a ter a necessidade de empreender. Para sobreviver, ele precisa desenvolver um novo modelo de vida, baseado na análise de toda estrutura existente ou a falta dela e na criação e adaptação de ferramentas que não estava acostumado a usar. Durante a estadia na ilha, Noland passou por um processo de análise e aprendizado para compreender 58 a nova dinâmica e adaptação de uma nova realidade a qual foi submetido, onde o uso da sua iniciativa e criatividade, bem como a observação, foram pontos fundamentais para sobrevivência. Fazendo uma leitura do ponto de vista da gestão, a maior parte da inspiração trazida pelo filme, vem da reflexão sobre como gerir e lidar com obstáculos, cenários e situações de crise extrema, visando buscar alternativas criativas para o alcance dos resultados. Ou seja, é possível traçar paralelos entre o que se vê no filme e alguns movimentos gerenciais do mundo corporativo, em particular, a necessidade clara de readaptar as limitações de estrutura, insumos, recursos, falta de pessoal, que são encontradas, e como fazer para superá-las. Assim como o nosso personagem, tanto gestores como colaboradores deparam-se constantemente com a necessidade de saber lidar com as adversidades e superá-las. Muitas vezes, assumem áreas e projetos com recursos escassos e que precisam gerar resultados, ocasionando, assim, a necessidade latente de buscar, no uso de ferramentas e processos criativos, a forma de obter resultados. Exercer a imaginação, a engenhosidade e o desenvol- vimento de novas ferramentas atreladas à criatividade para atuar em uma nova situação e em mudanças de cenários são subsídios essenciais e determinantes para o alcance das metas. Também são a busca do conhecimento e o aprendizado adquirido da vivência e observação da realidade, transformando -os em itens e fatores para determinar o sucesso de um projeto. O paralelo traçado mostra que a escassez de recursos tecnológicos, de pessoal e material não pode travar ou impedir que projetos e produtos deixem de ser implementados. Mostra claramente, no entanto, que a atitude, criatividade, quebra de paradigmas, releitura da situação e aprendizagem, a partir da observação, podem gerar resultados bastante satisfatórios. A exemplo de Noland, que tinha como projeto a sobrevivência e a busca de novas alternativas para sair da situação na qual se encontrava. acadêmicos da gestão Cidades inteligentes: uma construção colaborativa Neste artigo são expostos diversos aspectos que permeiam o planejamento e a gestão das cidades inteligentes, com destaque ao desenvolvimento e os resultados da gestão colaborativa, que traz um modelo de governança que integra os vários atores participantes do espaço urbano, alterando a dinâmica de cidades, estados e até mesmo países. Este modelo de cidade tem também por objetivo tornar viável a comunicação por meio de redes como método de diminuir a burocracia, além de estimular as Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), facilitar o acesso à informação e promover o desenvolvimento social e econômico, tornando a gestão pú- blica mais eficiente. As cidades inteligentes são aquelas que sabem extrair o potencial de uma era digital e que, por meio desses instrumentos, transformam as vidas dos cidadãos em mais confortáveis e os seus problemas possíveis de serem rapidamente solucionados. A smartificação dos espaços urbanos aliada a uma gestão colaborativa, fruto da parceria entre a população e seus órgãos públicos, proporciona respostas ágeis e assertivas aos anseios da sociedade, resultando um convívio urbano salutar e enriquecedor para todos. Palavras-chave: Cidades inteligentes. Gestão colaborativa. Cidades Brincantes. TICs. Foto | freepik.com Canton Farias Braga Wu1 Daniely Andressa da Silva2 1 Bacharel em Design Gráfico pelo Instituto Federal Pernambuco (IFPE). 2 Bacharel em Direito pela Universidade Positivo. Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Especialista em Ciências Jurídico Ambientais pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Mestre em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Professora Universitária. 1 Introdução A expressão Cidades Inteligentes, ou Smart Cities, como também é popularmente conhecida, está diretamente interligada com a inovação do processo de planejamento e gestão das cidades. A necessidade de desburocratizar o serviço público, tornando-o mais acessível às mais diversas camadas sociais, juntamente com a crescente evolução tecnológica da informação e comunicação foram fatores determinantes que passaram a demandar do gestor uma capacidade criativa para lidar com os novos moldes em que as cidades estão se organizando. A característica preponderante desta nova organização político-administrativa diz respeito à capacidade de execução rápida e ágil dos seus processos, o que demanda soluções inteligentes, práticas e principalmente eficientes, e tem como finalidade precípua atender às necessidades e anseios dos cidadãos mesmo quando se está diante de recursos escassos. CASTELLS apud WEISS (2013, p. 5) traz o conceito de inteligência das cidades como sendo oriundo de uma sociedade em que informação e criatividade são bens valiosos, e que a partir destes o ser humano tem procurado métodos para o desenvolvimento de ações inovadoras, onde sustentabilidade e qualidade de vida possuem papéis de destaque. Desta forma, o trabalho objetiva apresentar, através de pesquisa bibliográfica, os impactos positivos que a “smartificação” das cidades proporciona nos espaços urbanos e no comportamento social. Como resultado desse processo, obtêm-se novas maneiras de interação da população com o governo, estreitando a distância entre estes dois atores, ao mesmo tempo em que aumenta a qualidade dos serviços prestados, tornando as cidades em grandes centros sociais e humanizados. A obra pretende também expor a importância do cidadão como agente colaborador, situando-o como personagem fundamental na construção de uma cidade com potenciais criativos e, por conseguinte, uma sociedade possível de reconfigurar espaços e histórias. De forma a atender aos objetivos propostos, este trabalho contempla, no primeiro momento, as fundamentações em que se baseiam e quais são os conceitos relevantes das cidades inteligentes, relatar os impactos que esse novo modelo causou tanto no comportamento da sociedade como no modo de conduzir a gestão pública. Em um segundo momento, pretende mostrar a relação destas cidades, que são cada vez mais conectadas com sua população, e a tecnologia da informação e comunicação (TICs). O terceiro capítulo trata de uma apresentação do progresso da gestão colaborativa, mostrando a importância que o cidadão possui na construção de sua cidade, não só como um mero depositário das ações de seus representantes públicos, mas como um agente colaborador de projetos que estimulam e desenvolvem as grandes metrópoles, e por fim, são expostos conceitos derivados da “smartificação” das comunidades e cidades, como as Playable Cities e Smart Citizens. 2 As cidades inteligentes e o planejamento estratégico BOLLIER apud WEISS (2013, p. 6), afirma que o primeiro conceito sobre cidade inteligente surgiu por volta de 1990, por consequência de um movimento que tratava da criação e im60 plantação de políticas urbanas inovadoras. A partir de então, o assunto ganhou mais notoriedade e evoluiu para o interesse em desempenhar formas de gestão urbana alicerçadas em Tecnolo- gia da Informação e Comunicação, representada no Brasil pela sigla “TICs”. De acordo com a IBM (2012), o tripé em que se baseiam as cidades inteligentes é quada a fim de obter dados que o auxiliem na tomada de decisões, visando o crescimento econômico sustentável bem como a prosperidade dos cidadãos. Oliveira (2014, p. 5) trata a importância da crescente demanda como um desafio da gestão pública em lidar com a realidade multifacetada que tem por objetivo promover melhor qualidade de vida para a população. Sobre a dinâmica de lidar com a escassez dos recursos de maneira eficiente, os autores a seguir consolidam este raciocínio ao afirmarem que: A função do governo é agir e transformar a realidade. Dada a complexidade do ambiente, em termos de recursos, agentes envolvidos e natureza dos problemas a serem enfrentados, o administrador público precisa organizar as ações em torno de metas claras, visando dar direção e foco às ações, posicionando-se como condutor do processo. O plano não é uma carta de intenções, mas um instrumento que dirige e governa a ação. (SILVA, NIERO e MAZZALI apud OLIVEIRA, 2014, p. 5) Os autores reforçam a ideia de que o gestor público está diante do desafio de manusear a máquina pública, através Ilustração | freepik.com composto pela infraestrutura, operações e pessoas. Através dessa visão da cidade como um sistema interconectado, observam-se os eixos que devem ser trabalhados para uma evolução dinâmica. Estes eixos se referem ao meio ambiente, energia, água, comunicação, transporte, educação, assistência médica, programas sociais, segurança pública entre outros serviços da cidade que são relevantes para o funcionamento da mesma. Com tantos componentes, a percepção é de que a demanda é crescente e os recursos são limitados, o que torna necessário a existência de líderes com conhecimento técnico e com ferramentas para fazer uma análise ade- 61 possam ser representados graficamente. O balanced scorecard é um instrumento criado por Kaplan e Norton e que atinge o objetivo de consolidar a fase inicial de um novo processo gerencial, faz a coleta dos objetivos e indicadores de maneira estratégica e facilita a comunicação interna e externa da organização. Os autores MARTINS e MARINI (2010, p. 105) salientam ainda a importância de um roteiro a ser seguido para a construção dos mapas estratégicos e que deve-se estar atento a três passos essenciais. São eles: Definição das perspectivas, Identificação dos objetos e Enunciação dos objetivos. Essas três fases permitem identificar os insumos, capital humano, os impactos positivos e negativos da ação governamental do ponto de vista social e financeiro, a identificação dos beneficiários com os processos geridos e a mensuração dos esforços necessários para atingir os resultados desejados. Todo esse trabalho deve ser orientado e coordenado para que sua execução ocorra com o melhor custo-benefício possível, atendendo aos princípios de economicidade, efetividade e eficiência, aos quais as cidades inteligentes procuram se estruturar sobre. A importância da economicidade se dá pela necessidade de obter resultados com o menor gasto possível, remetendo à realidade desafiadora de atingir metas com escassez de recursos. (MARTINS e MARINI, 2010, p. 108). As cidades que possuem uma gestão estratégica bem estruturada dão espaço para o uso de instrumentos tecnológicos que visam uma melhor qualidade de vida para sua população. Por essa razão, o conceito de cidades inteligentes também está diretamente conectado com o de Tecnologia da Informação e Comunicação, pois é a partir destas que é possível a construção de uma smart city. Foto | freepik.com de mapas estratégicos. Estes devem dar estrutura para um processo de planejamento, que defina metas, estabeleça prioridades, indique as perspectivas do governo e consolide os elementos estratégicos do planejamento organizacional. Além de técnicas adequadas para tomada de decisões, é fundamental para o conceito de cidades inteligentes que exista planejamento preventivo das situações que possam incorrer em problemas futuros. A antecipação para solucionar os problemas antes deles se tornarem uma realidade é uma forma de minimizar o impacto de um possível aspecto negativo sobre uma cidade, assim como traz a possibilidade de refletir métodos alternativos de lidar com a problemática. De acordo com MARTINS e MARINI (2010, p. 103), a melhor maneira de definir resultados é utilizando um instrumento de explicitação da estratégia, onde as relações de causa e efeito dos objetivos e dos indicadores 62 3 A transformação da cidade digital em cidade inteligente através de TICs BRIGGS e BURKE (2006, p. 33), descreveram sobre a origem do conceito de cidades inteligentes ao afirmar que: As tecnologias da informação e comunicação (TICs) atualmente estão engajadas principalmente na construção de bem-estar, conforto e felicidade integrando ao cotidiano da sociedade seja no ambiente doméstico, trabalho, saúde, segurança, transporte e em especial na informação e comunicação (BRIGGS e BURKE, 2006, p. 33). Os autores nos trazem a correlação das TICs ao conceito de cidades inteligentes ao afirmar que as sociedades atuais, em todas as partes do mundo, sofreram algum tipo de impacto com a tecnologia da informação e comunicação. GAMA apud SOARES (2012, p. 3) afirma que o processo de surgimento das cidades inteligentes como estratégias de desenvolvimento na era do conhecimento está vinculado ao investimento em infraestruturas digitais e ao aumento do uso e valorização da internet. Ressalta também que as TICs são ferramentas que facilitam o processo de interação no meio virtual. Ferramentas tais que, unidas, possibilitam novas maneiras de executar políticas públicas, bem como maximizam possibilidades de novos usos da informação a serviço do cidadão. O autor traz a ideia da consolidação das cidades inteligentes por meio do uso das redes das cidades que vivem a era digital, onde existe uma nova forma de se relacionar e interagir com pessoas e objetos em espaços ou redes que potencializa o fluxo ou o acesso a informações e torna mais dinâmica a produção do conhecimento. BRITO (2006, p. 10) afirma que as TICs propiciam informações, por meio de canais virtuais, sem que haja intermediário que burocratize as ações dos usuários. Este novo movimento tem o intuito de se afastar das práticas antigas de governar que estavam diretamente associadas à dificuldade, burocracia e limitações das informações por parte dos cidadãos. Com as TICs é possível exercer um governo democrático e com maior credibilidade. Partindo desta premissa, autores como HERNÁNDEZMUÑOZ et al.(2011); KOMNINOS, 2011 apud WEISS (2013, p. 5) afirmam que as cidades possuem capacidade de aprendizagem tecnológica e, através da criatividade na forma de gerir a máquina pública, podem tornar o processo mais dinâmico de forma a obter infraestrutura digital e realizar portanto, a esperada inteligência. Tal raciocínio levou a NAM; PARDO apud WEISS (2013, p. 6) concluir que uma cidade digital não é neces- sariamente inteligente. Mas que na realidade ela possui componentes digitais disponíveis para gerar subsídios inteligentes. Com essas inovações governamentais, fica evidente o aumento da habilidade dos grupos de cidadãos discutirem acerca dos assuntos referentes à gestão pública, trazendo dados relevantes e questionamentos pertinentes com uma instantaneidade que só o meio tecnológico pode proporcionar. (RHEINGOLD apud BRITO, 2006, p. 10). Na visão do autor SCHEER apud BRITO (2006, p.13), o cidadão precisa atuar na história da sociedade para que possa ser reconhecido diante da mesma. É necessária sua relação com a política que o oriente no exercício da cidadania e suas ações possuam efeitos sociais concretos. Estes novos canais vêm encurtado e facilitando as relações que antes eram impossíveis, de forma que a sociedade tem acesso virtual direto aos seus representantes governamentais, propiciando uma participação ativa e a comunicação mais democrática entre cidadão e governo. O autor José Brito remonta o desafio para o uso das TICs, observando o fato de que não basta a existência da rede, mas que ela possa ser acessada por todos de forma a proporcionar democracia. A popularização das TICs de forma não-excludente e com abragência 63 irrestrita permitirá maior aproximação do ideal democrático do acesso às informações e conhecimentos universais, com transparência, solidariedade, direitos humanos e participação dos cidadãos. Por outro lado, caso não se observe tais premissas democráticas, as TICs podem se tornar novos instrumentos para hegemonias antidemocráticas e elitizadas, aumentando as desigualdades econômicas e sociais, em detrimento dos já ex-excluídos pelos poderes locais, regionais, federais e multinacionais. (BRITO, 2006, p. 14). Para o exercício dessa democracia, faz-se necessária uma ruptura cultural na forma de o Estado olhar para o cidadão e vice-versa, pois dessa maneira o cidadão, de modo geral, poder ser observado pelos órgãos não apenas como um mero usuário do serviço público, mas como agente que vem conquistando um espaço que é seu e que é fundamental a participação do povo. Tais atitudes vêm reinventando inclusive a visão pragmática de que o poder executivo deve se ater à execução e ao cumprimento da lei. É importante observar e inovar na forma que a execução está sendo realizada e qual a participação do povo diante da mesma. Executar, atualmente, abrange a necessidade de planejamento, execução, avaliação e controle, além da inserção do procedimento de co-criar e inovação na demanda deste processo. Por essa série de motivos, o gestor público, atualmente, se encontra diante do desafio de manusear a máquina pública como instrumento facilitador que estreita as relações entre os órgãos públicos e população, compreendendo que é de fundamental importância ouvir os cidadãos no que eles têm a solicitar e também a acrescentar e sugerir sobre as reais necessidades e expectativas enquanto sociedade. Fica claro que o dinamismo e a nova forma de os gestores se relacionarem com a sociedade é o que define a capacidade de uma cidade se desenvolver de uma forma inteligente. A gestão voltada para resultados, através de inovações dos seus processos, viabiliza uma governança pautada nas propostas estratégicas, colaborativas e consequentemente, com um melhor uso dos subsídios tecnológicos que as cidades têm a oferecer. 4 O cidadão como agente da Gestão Colaborativa Com a consolidação de uma gestão pública que visualiza ideias inovadoras, criativas e que perpassem pelas tecnologias de informação e comunicação, solucionar problemas deixou de ser responsabilidade exclusiva dos responsáveis por gerir a máquina pública. Muitas pessoas de diversas áreas distintas de atuação estão provando que não é necessário depender de instituições centralizadas para desenvolver problemas complexos que podem gerar soluções de bem-estar para sociedade. São inúmeros os exem64 plos de empresas e pessoas que criam negócios, projetos e movimentos com o objetivo comum de conectar pessoas em uma relação de colaboração. Cada cidade possui necessidades particulares que devem ser mapeadas e conhecidas pelos seus gestores, principalmente no que diz respeito às suas disfuncionalidades. Ao redor do mundo há diversos programas de gestão pública eficaz, que atenderam às necessidades a que se propuseram, e que, consequentemente, servem de exemplo a outras cidades e até países. No entanto, é de extrema importância a observância das diferenças das necessidades e deficiências dos locais onde estão sendo extraídos esses modelos. Faz parte, inclusive, da criatividade na gestão, fazer uma adaptação ao modelo, priorizando as reais dificuldades existentes no contexto da cidade em questão, portanto é preciso ‘escutar’ a cidade, ou melhor, ouvir os cidadãos. Por outro lado, sabemos que há problemas que são de comum interesse e estão na pauta de diversas sociedades ao Foto | freepik.com redor do mundo, como é o caso da deficiente mobilidade urbana, por exemplo, que se tornou um desafio para as comunidades urbanas. Esta problemática tem sido trabalhada, debatida e até, aos poucos, mitigada através de ações conjuntas entre governo e cidadãos, através de ferramentas digitais colaborativas, onde inúmeros projetos vêm sendo criados com o intuito de solucionar essa temática. HADDAD (2014) relacionou alguns exemplos de algumas iniciativas que possuem lógica de rede em relação de colaboração: Waze, Moovit, Uber, Getaround e Spinlister. Todos estes aplicativos citados se referem à mobilidade urbana e surgiram para ajudar os usuários que se locomovem por carros particulares, por transporte público ou até mesmo, de bicicleta, informando onde está a maior incidência de trânsito, acidentes nas vias, expondo rotas de ôni- bus, metrôs, os horários de cada linha do transporte público. Há também como calcular quanto tempo seu carro ou bicicleta fica parado em casa, auxiliando como fazer um melhor uso dos mesmos e há, até mesmo, aplicativos que conectam passageiros para compartilhar caronas, evitando uma quantidade enorme de carros nas ruas com apenas um ou dois ocupantes. Com o mesmo objetivo de gestão colaborativa para promover o bem-estar social através das redes, existem vários aplicativos com vasta gama de funções nas áreas de Finanças, Educação, Pesquisa, Consumo consciente, Trabalho, entre outros. A sociedade é conectada por redes e a internet foi apenas um pontencializador dessas redes, ao passo que já é realidade a comunicação promissora entre o poder público e a sociedade. A era do futuro, das cidades inteligentes e dos seres humanos solucionando problemas através de um clique, já se faz presente na vida de milhões de pessoas. ARAUJO apud GISOLDI (2013, p. 51) salienta a importância da comunicação pública para dar conta da enorme demanda proveniente de vários grupos sociais. Ele ainda complementa que atualmente é praticamente impossível distinguir quem faz o papel de transmissor ou de receptor que antigamente eram bem definidos. O que vemos atualmente são os dois lados, órgãos públicos e diversos públicos de interesse, atuando como protagonistas no trabalho colaborativo para a gestão da sociedade. ARAUJO apud GISOLDI (2013, p. 52) alerta para o fato de que as instituições públicas enxergam esses grupos de interesse através das mídias sociais como uma grande oportunidade de avançar em sua comunicação, mas também, como um fator de risco. Pois nem sempre as instituições estão abertas aos questionamentos que surgem em páginas da internet, como blogs, por exemplo. O autor deixa claro que é um grande avanço e que, apesar de ainda estar em construção, inevitavelmente fará parte da realidade de todas as instituições públicas brasileiras o desafio de usar esse potencial em seu favor. Sobre os lugares ocupados pelo governo e pelo cidadão, BRAGA apud GISOLDI (2013, p. 52) acredita que o desafio do governo é adequar-se ao ritmo do cidadão e que, para tanto, faz-se necessária uma equipe de servi65 dores voltada para participação em debates e responderem aos questionamentos e as demandas do público, inclusive quando se tratar de questões inviáveis. Dessa forma, haveria uma rápida troca de informações entre as partes por meio de um processo transparente. O autor ainda acrescenta como sendo relevante a importância que a função do Estado se afaste das funções burocráticas e assuma uma postura de diálogo, análise de sugestões, orientações e comportamentos colaborativos mútuos. Complementando este pensamento, Brito corrobora a ideia de que o cidadão e os órgãos públicos estão contribuindo igualmente para a evolução do mesmo cenário: A inovação digital tem mudado os paradigmas comunicacionais quando segmenta, “desintermedeia” ou corta transversalmente as tradicionais relações da sociedade em diversas dimensões e facetas. A comunicação nesta nova configuração permite que todos os atores sejam emissores e receptores, num elevado nível de interatividade entre as partes e, em tese, com os mesmos graus de visibilidade e de oportunidade. (BRITO, 2006, p. 8). A exemplo dessa colaboração compartilhada, podemos citar a criação de uma rede social colaborativa em abril de 2013, fundada por um grupo de pernambucanos da cidade do Recife, que tem a função 66 de identificar irregularidades das cidades, tais como carros estacionados em locais proibidos, buracos abertos em vias e quaisquer outros problemas que necessitem chegar aos órgãos públicos. Através do aplicativo Colab.re, os cidadãos cadastrados precisam apenas fotografar o local e publicar por meio do seu smartphone para que a Prefeitura seja notificada com o problema e possa tomar as devidas medidas. Josemando Sobral, um dos criadores do Colab, em entrevista, relatou que devido às inúmeras queixas que ouvia sobre os problemas da cidade, seja de trânsito, iluminação, má conservação das vias públicas, entre outros, surgiu a ideia de pensar em uma maneira fácil de o cidadão propor melhorias para as cidades brasileiras. O objetivo consistia na combinação da eficiência do sistema de gestão com a praticidade de uma rede social. (GOES, 2013). Em entrevista para a revista Startupi (2014), Gustavo Maia, também fundador-membro do Colab.re, diferencia o projeto das reclamações que ocorrem diariamente em redes sociais como Facebook e Twitter. No Colab.re, a reclamação do usuário é diretamente encaminhada ao órgão competente. A proposta é garantir ao usuário que a solicitação de mudança chegará ao conhecimento da gestão do município. O aplicativo disponibiliza também um diagnóstico com a realidade dos municípios brasileiros que pode ser acessado e visualizado por qualquer cidadão. A recente criação desta plataforma, realizada por um grupo de jovens cidadãos do município de Recife, retoma a ideia de que população e órgãos públicos funcionam igualmente como protagonistas das inovações para os problemas urbanos. O aplicativo ganhou notoriedade ao ganhar um prêmio internacional como o melhor aplicativo urbano do mundo, o AppMyCity, em 2014. O projeto inspirou algumas cidades brasileiras a implementar o Colab em algumas prefeituras, a exemplo de Curitiba, que foi a primeira cidade do Brasil a adotar este modelo. Gomes (2014), afirma que a Prefeitura de Curitiba e o Colab firmaram uma parceria e que, desde então, basta que os cidadãos registrem suas reclamações e/ou sugestões no programa e estas serão levadas diretamente ao poder público. Vale ressaltar que o aplicativo permite ainda que o cidadão acompanhe a resolução do problema através do seu celular. O sócio-fundador MAIA apud GOMES (2014) explica qual é o conceito da gestão colaborativa proposto no programa ao afirmar que “a gente busca fazer gestão colaborativa: uma gestão da cidade em que as prefeituras procurem a colaboração do cidadão no dia-a-dia”. A iniciativa dos criadores e das prefeituras interessadas em implementar as propostas tem rendido novos ambientes para o florescimento dos negócios. O Colab é um sistema inteligente, que se utiliza do georeferenciamento e de outros recursos que a tecnologia oferece para modificar o conceito de solução dos principais problemas urbanos (GOMES, 2014). A participação dos cidadãos enquanto criadores de ideias e propostas modificado- ras tem sido matéria de interesse da população em vários países. Os benefícios que as cidades têm ganhado com esses projetos e a sua eficiente aplicabilidade tem motivado órgãos públicos a modificar sua forma de gestão, incentivado empreendedores a desenvolver novas ideias, bem como, motivado a população a se interessar pela participação e sugestão de melhorias do espaço social. 5 O surgimento das Playable Cities O crescimento dos projetos de gestão colaborativa é resultado dos inúmeros benefícios urbanos que estes vêm trazendo. Tais projetos têm fomentado o desenvolvimento de novos potenciais criativos, como é o caso de um novo alinhamento entre gestão colaborativa e uso da tecnologia da informação e comunicação, que surgiu como uma nova proposta a cidades inteligentes e foi denominada Cidade Brincante (Playable City), que surge como um contraponto ao processo de “smartificação” simples das cidades, que foca na entrega rápida e eficiente de serviços de forma automatizada, em detrimento a organicidade e significância destas entregas. A ideia que foi proposta pelo Centro Britânico de Cinema e Criatividade Digital de Bristol, criador do termo, objetiva desenvolver novos modelos de convivência nas cidades através da inserção da arte, tecnologia e cultura. De acordo com a própria instituição, o intuito é de transformar as cidades em espaços lúdicos, ou seja, o desafio é incentivar a criatividade para explorar áreas que aparentemente não tem nada a oferecer e transformar em lugares onde os cidadãos e turistas possam desfrutar daquele ambiente. As cidades brincantes ou “playable cities” trazem em seu conceito o objetivo de se afastar o máximo possível do pensamento de que apenas a construção de grandes edifícios são formas saudáveis para o crescimento e evolução de uma cidade. A instituição ainda define uma “Playable City” como “uma cidade que preza as pessoas, a hospitalidade e a transparência. É um lugar com o qual os moradores e visitantes podem reconfigurar espaços e histórias”. (WATERSHED, 2014) De acordo com TUHUSDUBROW (2014), uma Cidade Brincante é uma cidade onde as pessoas, a hospitalidade e a abertura são elementos-chave que permitem que seus moradores e visitantes possam reconfigurar e reescrever os serviços, lugares e histórias desta cidade. Diante do exposto, podemos compreender que as “playable cities” vieram complementar e enriquecer as primeiras modificações de evolução urbana que as smart cities trouxeram. Enquanto as cidades inteligentes surgiram com o interesse de agilizar e tornar efi67 caz o serviço da gestão pública, as cidades brincantes aparecem com a ideia de que, além do efetivo serviço prestado, é fundamental observar a qualidade dessas relações estabelecidas, o nível de satisfação dos cidadãos ao se inserirem neste novo conceito e, principalmente, pensar novas formas de promover espaços sociais capazes de contribuir para o estímulo, a convivência e o potencial criativo da sociedade. Hemment consolida esta ideia afirmando que: Até agora, o debate sobre a Cidade Inteligente temse centrado em torno da tecnologia que está sendo desenvolvido e criado por grandes corporações, e ignora a dimensão mais importante das cidades, as pessoas que vivem, trabalham e criam dentro de si.” (HEMMENT, 2013). O autor traz a existência de um impasse na forma das cidades inteligentes funcionarem, afirmando que não há uma conectividade entre o interesse dos cidadãos e o aparato tecnológico oferecido pelas corporações globais. Diante das novas necessidades que surgiram com o crescimento da demanda das cidades inteligentes, surge a reflexão de que as smart cities, as playable cities e a gestão colaborativa não são construídas apenas a partir da existência isolada de uma tecnologia avançada, por exemplo. Na realidade, as cidades inteligentes são formadas por cidadãos inteligentes. Esta percepção trazida por HEMMENT (2013) possibilitou a construção de um novo conceito chamado smart citizen, que tem como papel fundamental explorar diversas formas que os cidadãos podem influenciar o futuro de sua cidade, inclusive criando novas abordagens para a entrega de infraestrutura, transporte e energia. Dessa forma, o cidadão inteligente ou os smart citizen, não está criando apenas cidades inteligentes, mas sim novas vertentes para as cidades do futuro. tomando novas formas, ao passo que os cidadãos comuns vêm desenvolvendo projetos pessoais que interferem positivamente no bem-estar social, tais como o Colab.re e outros aplicativos que podem ser acessados através do telefone celular. As tecnologias da informação e comunicação foram apresentadas como instrumentos importantes que dão suporte às ações desses lugares inteligentes, tal como o investimento em redes que propiciou a aproximação da sociedade com os governantes e deu um grande passo no processo de desburocratização da máquina pública. Apresentou-se também o processo de desenvolvimento criativo, que consiste em transcender a ideia da prestação de serviço efetiva, por exemplo. O bom serviço social vai além de O mundo tem sofrido transformações das mais diversas possíveis como decorrência da busca da humanidade por novas formas de construir suas relações pessoais, sociais e governamentais. Mudar a maneira como nos relacionamos através dos subsídios promovidos dos avanços tecnológicos tem trazido conquistas e descobertas promissoras para a humanidade. Nesse contexto, este trabalho teve como objetivo discorrer sobre o estudo das cidades inteligentes bem como das ferramentas e conceitos que permeiam os avanços nesta temática. A interação da sociedade com as políticas de governo vem 68 Foto | freepik.com 6 Conclusão sua agilidade, este deve visar à melhoria da qualidade das relações estabelecidas, aumentar o nível de satisfação dos cidadãos, sendo, portanto, capaz de reconfigurar os espaços urbanos de maneira lúdica, através das cidades brincantes. O desenvolvimento de todo esse processo só é possível a partir de cidadãos pensantes que contribuem através de uma gestão colaborativa, mostrando que mais importante do que ter uma cidade inteligente, é ter cidadãos pensantes. Os autores e trabalhos citados possuem experiência significativa na área e agregam conhecimentos relevantes para a continuidade dos estudos nesse campo de trabalho. Desta forma, conclui-se que este trabalho pode ainda, apontar novos caminhos, novos questionamentos para futuras investigações acerca do tema, permitindo que o conceito de smart cities seja mais explorado e possa contribuir com avanços e descobertas que se adaptem a todos os contextos governamentais possíveis. REFERÊNCIAS BRIGGS, Asa; BURKE, Peter. Uma história, social da mídia: de Gutemberg à Internet. 2.ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2006. 375 p. BRITO, José Augusto Pereira. Cibercidadania: a virtualização na Comunicação Pública Contemporânea, 2006. Disponível em: <http://www.eca.usp.br/departam/crp/cursos/ posgrad/gestcorp/organicom/re_vista4/106.pdf>. Acesso em: 26 set. 2014 GISOLDI, Robson Luiz. Reclame Aqui Cidades: inovações da mídia social para o exercício da cidadania São Caetano do Sul, SP, 2013. Disponível em: <http://www.uscs.edu.br/posstricto/comunicacao/ dissertacoes/2013/pdf/robson_luiz_gisoldi.pdf> Acesso em: 26 set. 2014 GOES, Gisele. 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E mais: entrevistas, matérias especiais, opiniões, artigos técnicos, dicas bibliográficas, filmes e humor, apresentados de maneira direta e convidativa. Para pensar. Para refletir. Para formar opinião. Quer colaborar? Envie sugestões de temas que você gostaria de ver na nossa revista para [email protected] TODO JEEP FEITO EM PERNAMBUCO TEM MUITO DOS PERNAMBUCANOS. Com muito trabalho e planejamento, o nosso Estado mostrou que sabe fazer. E inaugurou, aqui, um polo automotivo. A fábrica da Jeep traz, junto com ela, uma rede de fornecedores com 16 empresas. Além disso, também, teremos um dos maiores centros de tecnologia automotiva do mundo, estimulando a vocação da nossa gente para a pesquisa e a inovação. O Polo Automotivo de Pernambuco está gerando novas oportunidades para os pernambucanos. Gente que com coragem, talento e força faz o nosso Estado seguir sempre em frente.