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líderes do pensamento Mario Garnero* A VEZ DO ÁLCOOL EM CARROS DE LUXO O jornalista Fernando Calmon, que escreve e é especializado em indústria automobilística há mais de 40 anos, revelou no começo de novembro que a BMW está prestes a lançar o primeiro veículo com um motor turboflex e injeção direta movido 100% a álcool hidratado. O modelo em questão é um BMW 320i a ser importado da Alemanha, mas que poderá ser produzido aqui no Brasil, quando a fábrica que a montadora está construindo no município de Araquari, em Santa Catarina, entrar em funcionamento, a partir de 2015. Marca do segmento premium e de luxo, a BMW está dando um passo importante para consolidar o uso do álcool hidratado (E100) em veículos de alto desempenho, sabendo que o consumo poderá ficar comprometido, muito embora esse não seja um fator que iniba os compradores dessa faixa de renda. Sabemos que a artificialidade do preço da gasolina, que o governo segura para controlar a inflação, está tirando a competitividade do preço do álcool, que em algumas bombas de combustíveis fica bem acima dos 70% recomendados para o consumidor. Não fosse isso, os proprietários de mais de 20 milhões de veículos que utilizam o motor flex-fuel estariam abastecendo com álcool, em vez de gasolina, por pelos menos duas razões: melhoria de desempenho e menor emissão de gases poluentes. Em novembro último, estive em Israel, a convite do primeiro-ministro, Binyamin Netanyahu, participando de um importante seminário sobre biocombustíveis, onde tive a oportunidade de debater, com grandes espe- cialistas em energia, a bem-sucedida experiência brasileira com o álcool combustível, que até hoje, passados mais de 33 anos do lançamento do nosso carro a álcool, em 1980, continua despertando o interesse da comu- Mais de 33 anos depois do lançamento, o carro movido a etanol ganha espaço no mundo nidade cientifica, que está em permanente busca de fontes renováveis de energia, que sejam sustentáveis, como é o caso do álcool derivado da cana de açúcar aqui no Brasil. E os primeiros resultados concretos desse seminário surgiram com a possibilidade de Israel passar a importar álcool do Brasil. Dos aproximadamente 80 milhões de veículos que serão produzidos em todo o mundo em 2013, China, Estados Unidos e Brasil responderão por quase 50% desse total, fato esse que vem reforçar a posição estratégica do Brasil no cenário automobilístico internacional. Outro importante ponto de convergência desses três grandes países é o interesse comum pela criação de um mercado internacional de álcool, para se tornar uma forte commodity, a ser negociada nas principais bolsas de mercadoria, fator esse que traria estabilidade nos preços e na produção. A China está investindo maciçamente na produção de metanol, extraído de carvão mineral, mas está também interessada na produção de álcool a partir da madeira e, junto com os Estados Unidos e o Brasil, pode formar uma aliança muito forte para estimular ainda mais o uso dos biocombustíveis em substituição aos combustíveis derivados de petróleo. Em Israel, pude comprovar, pessoalmente, que aos olhos dos especialistas em energia o Brasil deu um exemplo ao mundo de que é possível, sim, buscar fontes renováveis de combustíveis, como o álcool derivado da cana de açúcar, que, além de reduzir nossa dependência ao petróleo, faz muito bem ao meio ambiente. A iniciativa da BMW de lançar um veículo com motor turboflex e injeção direta 100% a álcool vai, com certeza, incitar a concorrência a seguir pelo mesmo caminho e quem sairá ganhando, mais uma vez, será o consumidor. *Mario Garnero é chairman do Grupo Brasilinvest, presidente do Fórum das Américas e da ANUBRA (Associação das Nações Unidas — Brasil). FEVEReiro 2014 11.Artigo_Garnero ed17 R.indd 33 forbes brasil | 33 12/02/14 17:11