Estudo do MAI propõe extinção das brigadas de Trânsito
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Estudo do MAI propõe extinção das brigadas de Trânsito
Outras seis forças da GNR desaparecem até 2008 Estudo do MAI propõe extinção das brigadas de Trânsito e Fiscal 10.10.2006 - 00h04 José Bento Amaro PÚBLICO As brigadas de Trânsito e Fiscal da Guarda Nacional Republicana (GNR) poderão desaparecer até final de 2008. No mesmo prazo, está também apontada a extinção de quatro brigadas territoriais, bem como dos regimentos de Cavalaria e Infantaria. Ontem, reuniram-se em Lisboa os altos comandos da GNR para apresentarem alternativas à proposta final de um estudo encomendado pelo próprio Ministério da Administração Interna (MAI). O ministro António Costa reúne-se hoje com o comandante da GNR, Mourato Nunes. O fim das oito forças da GNR é preconizado no relatório final elaborado pela empresa de consultadoria Accenture, que há vários meses trabalhava neste projecto encomendado pelo MAI. Para que se processe à extinção das referidas brigadas – a 2 (área de Lisboa), a 3 (Alentejo/Algarve), a 4 (Porto) e a 5 (Coimbra) – e dos regimentos são avançadas razões como o aumento da eficácia na actividade operacional com menos recursos. O modelo proposto pela Accenture propõe uma diminuição dos quadros relativos ao apoio geral e serviço administrativo e um aumento da área operacional. Neste particular, a principal novidade é a integração dos efectivos da BT, BF, Brigadas Territoriais e Cavalaria e Infantaria em grupos. Estes, ao contrário do que sucede até agora com as brigadas, passarão a depender do comando-geral. Tal significa, também, que muitos dos actuais 11 generais existentes na GNR deixarão de ter funções efectivas de chefia, uma vez que os grupos serão comandados por uma patente máxima de coronel. Com a perda de autonomia da BT e BF, os serviços agora efectuados por estas forças especiais passam a ser desempenhados por um efectivo total que terá ainda como funções o policiamento de proximidade e a intervenção. Na prática, os guardas deixam de ter funções específicas e passam a ser escalados para qualquer tipo de actividade. Com o desaparecimento das brigadas territoriais, os postos que compõem as mesmas e que serão inseridos nos grupos terão, obrigatoriamente, que ser comandados por oficiais. Acabam, assim, os postos de chefia até agora desempenhados por sargentos e cabos. Barbeiros, cozinheiros, alfaiates... As mexidas previstas na GNR abrangem a quase totalidade dos efectivos. Actualmente esta força possui 25.325 elementos e o Estudo de Racionalização de Estruturas elaborado pela Accenture abarca 22.812. O Regimento de Cavalaria (que, juntamente com o de Infantaria, constitui as Unidades de Reserva da GNR) é, proporcionalmente ao número de efectivos, aquele que inclui maior número de quadros que não desempenham actividade operacional. O estudo refere o quadro de pessoal de apoio geral é de 40 por cento (365 militares e dez civis), enquanto para a área operacional restam 532 militares (58 por cento). O estudo diz ainda (em relação ao Regimento de Cavalaria) que, em consequência do elevado número de efectivos que desempenham funções de suporte, existe uma imensa sobrecarga para os que estão agregados às tarefas operacionais, os quais são muitas vezes obrigados a trabalhar 60 e 80 horas semanais. Ou seja, mais do dobro do que a lei prevê. Entre as actividades de suporte identificadas e desempenhadas por militares que, na verdade, não cumprem as tarefas para as quais receberam formação, contam-se profissões tão diversificadas como cozinheiros, ajudantes de cozinha, pessoal de serviço, baristas, mecânicos, bate-chapas, estofadores, pintores, pedreiros, carpinteiros, serralheiros, barbeiros, sapateiros, correeiros e alfaiates. Motivo forte para a reestruturação recomendada pelo estudo é a replicação de tarefas. Segundo os peritos da Accenture, existe uma replicação de serviços de suporte em quase todos os níveis, desde o comando-geral às brigadas, aos grupos e até aos destacamentos. Um exemplo de duplicação de tarefas foi detectado no Comando da Brigada Fiscal, onde, por não existir espaço suficiente para a lotação calculada, se criaram duas messes para as mesmas instalações. Existem assim duas cozinhas separadas e o dobro dos cozinheiros previstos. De resto, em toda a estrutura da Brigada Fiscal funcionam, com espaços e estruturas de serviço próprios, 22 messes. Serviço Costeiro vai ser reforçado Na reestruturação sugerida pela Accenture para a GNR surge como principal novidade, em termos de criação ou reforço de serviços, a proposta para que passe a existir um Núcleo de Deontologia e, sobretudo, o reforço do Serviço Costeiro, que ficará na dependência directa do Comando Geral. Na prática, este serviço, que actualmente tem um quadro de 350 efectivos, será aumentado para mais do dobro. A sua principal missão, desempenhada ao longo de toda a linha costeira e até 12 milhas marítimas, consistirá na fiscalização de embarcações, pretendendo-se assim aumentar o combate ao tráfico de droga, contrabando e imigração ilegal. Actualmente esta tarefa compete a um grupo integrado na própria Brigada Fiscal, o qual está dotado de 42 embarcações e que opera ainda em 16 postos de observação em terra. A missão é assegurada pela operação de equipamentos de radar (Sistema Laos), mas estes aparelhos apresentam um nível de inoperacionalidade superior a 60 por cento. Alterações começaram a ganhar forma com o anterior executivo Estudos de reestruturação da PSP e do SEF serão apresentados em breve 10.10.2006 - 00h19 José Bento Amaro PÚBLICO A reestruturação pensada para a GNR e que está agora a ser analisada pelo ministro da Administração Interna e comandantes daquela força começou a ganhar forma ainda com o anterior executivo do MAI. Inclui igualmente alterações na estrutura funcional da PSP e do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF). O estudo da Accenture, que foi entregue a António Costa no final de Julho, não tem, contudo, apenas uma vertente de reorganização dos meios humanos e materiais, pretendendo também apontar soluções para uma inevitável redução dos custos com as forças de segurança. Começou com Figueiredo Lopes e prolongou-se durante a permanência de Daniel Sanches à frente do MAI a ideia de reestruturar as forças de segurança. Um primeiro levantamento previa o encerramento, em todo o país, de dezenas de postos da GNR e 25 esquadras da PSP. Nestas incluíam-se todas as que servem localidades com menos de 15 mil habitantes (Torres Novas, onde está instalada a Escola Prática da Polícia, também perdia a sua esquadra). O objectivo ministerial visava ainda vender ou deixar de pagar rendas pelos postos e esquadras a abandonar. As acções de segurança na maior parte das localidades passariam então a ser desempenhada pela GNR. Uma ideia que, não tendo ainda sido aprovada, já originou protestos por parte de autarquias e militares, que poderão ser afastados das suas residências em muitas dezenas de quilómetros. O PÚBLICO sabe que o estudo referente à PSP também se baseia na duplicação de tarefas que terá sido detectada ao nível dos diversos comandos e na utilização como pessoal de suporte (cozinheiros, baristas, etc.) de agentes que receberam formação para patrulhar as ruas e combater a delinquência. Existe ainda uma proposta para que, até final da actual legislatura, os oficiais da PSP e da GNR passem a ser formados numa só escola, pelo que uma das duas existentes seria desactivada. A formação de oficiais a partir dos próprios quadros é uma antiga aspiração dos sindicatos e associações das duas forças, as quais têm vindo a reclamar que os postos mais altos deixem de ser ocupados por oficiais vindos do Exército (na GNR são comissões de serviço por dois anos, normalmente atribuídas a militares em fim de carreira). Quanto ao SEF, a reestruturação prevista não deverá abranger os imóveis, antes passando pelo reforço dos quadros de investigação e fiscalização, tendo em vista a sua instalação na totalidade dos portos marítimos. O SEF é, de resto, a única força policial do país que gera lucros, mercê das quantias cobradas nos processos de legalização e autorizações de residência para estrangeiros.