Untitled - Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro

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Untitled - Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro
Capa:
Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro
Escola Nacional de Botânica Tropical
A etnobotânica e a medicina popular em mercados na cidade
do Rio de Janeiro.
Inês Machline Silva
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação
em Botânica, Escola Nacional de Botânica
Tropical, do Instituto de Pesquisas Jardim
Botânico do Rio de Janeiro, como parte dos
requisitos necessários para a obtenção do título
de Doutor em Botânica.
Orientadora: Dra Ariane Luna Peixoto
Rio de Janeiro
2008
II
A etnobotânica e a medicina popular em mercados na cidade do Rio de
Janeiro.
Inês Machline Silva
Tese submetida ao corpo docente da Escola Nacional de Botânica Tropical, Instituto
de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro - JBRJ, como parte dos requisitos
necessários para a obtenção do grau de Doutor.
Aprovada por:
_______________________________________
Profª Dra Ariane Luna Peixoto (Orientadora)
_______________________________________
Profª Dra Mara Zélia de Almeida
_______________________________________
Prof. Dr. Fábio Pedro Souza de Ferreira Bandeira
______________________________________
Profª Dra Luci de Senna-Valle
_______________________________________
Profª Dra. Rejan R. Guedes-Bruni
Rio de Janeiro
Em 26/02/2008
III
S586e
Silva, Inês Machline
A etnobotânica e a medicina popular em mercados na cidade do
Rio de Janeiro / Inês Machline Silva. – Rio de Janeiro, 2008.
xii, 184 f.: il.
Tese (Doutorado) – Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio
de Janeiro/Escola Nacional de Botânica Tropical, 2008.
Orientadora: Ariane Luna Peixoto.
Bibliografia.
1. Etnobotânica. 2. Conservação. 3. Extrativismo. 4. Plantas
medicinais. 5. Mata Atlântica. 6. Rio de Janeiro (RJ). I. Título. II.
Escola Nacional de Botânica Tropical.
CDD 581.63
IV
Aos meus pais, grandes amigos, Sebastião Luiz de
Oliveira e Silva e Giselle Machline de Oliveira e
Silva
(in memoriam)
e aos meus sogros Clarice Ribeiro de Oliveira e
Sebastião Ribeiro de Oliveira que, na ausência dos
meus pais, tornaram-se imprescindíveis.
V
Agradecimentos
Em primeiro lugar a Deus,
Quero expressar meus agradecimentos a todas as pessoas que me ajudaram nestes anos
de trabalho quando busquei entender um pouco das relações entre homens e plantas. Em
especial:
Àquelas pessoas batalhadoras, erveiros, feirantes, gente que acredita no seu trabalho e
que confiou em mim contando um pouco dos seus segredos. Brasileiros e portugueses fazendo
a história do nosso lugar. Às administrações do Mercado de Madureira e da CEASA por terem
permitido as visitas e realização do trabalho.
A Ariane Luna Peixoto, grande amiga e (eterna) orientadora solidária e muito paciente.
Foram horas de conversas e correções de textos! A Rogério Ribeiro de Oliveira, amigo,
esposo, companheiro de muitos anos: em tudo, fundamental. A Viviane Stern da FonsecaKruel amiga, parceira, e também co-autora desse trabalho, o meu reconhecimento.
Aos demais “etnoamigos”, especialmente a Margarete Emmerich, Sônia Lagos-Wite,
Maria Mercedes Teixeira da Rosa, Helena Regina Pinto Lima, Rejan R. Guedes-Bruni, Regina
Helena Potsch Andreata, Lucí Senna Vale, Nivaldo Peroni, Alexandre Christo, Fernanda
Santos, Montserrat Rios e Mara Zélia de Almeida - profissionais a quem devo muitas idéias e
gentilezas. Pessoas que me encorajaram e tornaram-se imprescindíveis na minha vida
profissional.
Aos Coordenadores da Escola Nacional de Botânica Tropical e sua equipe, pela
incansável tarefa de orientação aos alunos e busca de recursos imprescindíveis à realização
dos trabalhos.
Aos amigos e colegas de profissão do Departamento de Botânica da Universidade
Federal Rural do Rio de Janeiro, pelo apoio fundamental; à Lana Sylvestre pela orientação no
trato com as Pteridófitas e assuntos gerais.
Às queridas amigas da primeira turma de Doutorado da ENBT: com elas rejuvenesci.
À equipe do laboratório de Botânica estrutural do Jardim Botânico, em especial a
Cláudia Franca Barros, que me aceitou e orientou numa difícil caminhada “anatômica”
demonstrando ter uma fonte inesgotável de paciência e à Andréia Santos pelo auxílio na
VI
confecção de lâminas. Também agradeço a Carlos Wagner de Oliveira pela coleta das cascas
bem como a Kátia Callado e Gabriel Uriel Santos que me acolheram nas aulas de anatomia na
UERJ.
À Ana Angélica Barros pela amizade surgida durante o curso e pelo auxílio em várias
fases desse trabalho. A Marcelo Souza, companheiro de sala, inigualável no trato das pessoas
e das Myrtaceae. Aos etnoamigos Rúbia Graciele Patzlaf; Maria Otávia, Rodrigo e Juan,
jovens sempre dispostos a ajudar.
Aos pesquisadores Sebastião José Silva Neto, Maria de Fátima Freitas, Haroldo
Cavalcante de Lima, Marli Pires Morim, Sheila Profice e Vidal Freitas Mansano, que me
ajudaram mais do que imaginam.
À equipe da Biblioteca Barbosa Rodrigues, do Herbário e de Coleções Vivas, em
especial, Carla Carneiro, Milton, Penha, Rafaela Forzza, Rafael, Mariana Machado Saavedra,
Ricardo Reis e Cláudio Nicolete.
Aos geógrafos Clara Machline e Felipe Bagatoli, amigos, filhos e companheiros de
trabalho, inclusive nas madrugadas desta cidade, nem sempre tão maravilhosa, e também a
Rita Montezuma. Juntos abriram meus horizontes em direção ao “olhar geográfico”. À Isabel
Machline, um agradecimento especial: sem ela não seria possível!
Aos integrantes do nosso grupo de estudos, em especial à Maria Carmem Pirassununga
Reis e Paulo Leda do Programa de Fitoterapia / Secretaria Municipal de Saúde pelo
acolhimento e trocas de idéias.
À Clarisse Paranhos Farias pela confecção dos mapas e à Isabel Machline, Letícia
Carrera, Gabriela Carrera e Claúdia Franca Barros no auxílio no tratamento das imagens. A
Alexandre Solórzano e Roy Funch pela versão dos textos para o inglês. A Cláudio Linhares
pelas idéias importantes.
Aos profissionais que auxiliaram na identificação das espécies bem como na resolução
de dúvidas gerais. Para tal tarefa interromperam seu trabalho e usaram de seu precioso tempo.
Acanthaceae: Sheila Profice
Agavaceae: Rafaela Campostrini Forzza
Amaranthaceae: Josafá Carlos de Siqueira JS
Annonaceae: Adriana Lobão
Araceae: Marcos Nadruz e Eduardo Gomes Gonçalves
Asteraceae: Roberto Esteves, Marilena Menezes Silva Conde, Gustavo Heiden
Bignoniaceae: Vidal Freitas Mansano e Rosana Singer
VII
Boraginaceae : Elsie Franklin Guimarães
Cactaceae: Maria de Fátima Freitas
Cyperaceae : Ana Angélica Barros
Dilleniaceae: Cláudio Nicolete
Euphorbiaceae: Luis Pinto
Fabaceae: Haroldo Cavalcante de Lima
Agavaceae (Herreriaceae): Rosana Conrado Lopes e Regina Andreata
Lamiaceae: R. M. Harley
Lauraceae: Alexandre Quinet
Malvaceae: Mássimo Bovini
Melastomataceae: Berenice Chiavegatto e José Fernandes Baumgratz
Moraceae: Marcelo M. Vianna Filho
Siparunaceae: Ariane Luna Peixoto
Myrtaceae: Marcelo de Costa Souza
Orchidaceae: Claudio Nicoletti de Fraga
Passifloraceae: Solange de Vasconcelos Pessoa
Piperaceae: Elsie Franklin Guimarães
Rubiaceae: Pedro Germano Filho; Mário Gomes e Sebastião J.da Silva Neto
Salicacaeae (Flacourtiaceae): Ronaldo Marquete
Sapindaceae: Genise Vieira Freire
Sapotaceae: Ricardo C. Reis
Solanaceae: Lucia D Avilla Freire de Carvalho
Trigoniaceae: João Rodrigues Miguel
Urticaceae (Moraceae): Marcelo M. Vianna Filho
Verbenaceae: Fátima Regina Gonçalves Salimena
Fungo: Aníbal A. C. Júnior e Ana Angélica Barros
Peridófitas: Lana da Silva Sylvestre e Claudine Myssen
Por fim,
À Ariane e Rosilene porque me fizeram chegar até aqui. Aos meus irmãos Elisabet e Arthur
prestimosos e em tudo, fundamentais.
A Rogério e aos meus filhos Clara, Isabel, Marcos e Juliana, por compreender a importância
dessa fase da minha vida.
A eles dedico esse trabalho.
VIII
SUMÁRIO
Agradecimentos....................................................................................................................VI
Resumo.................................................................................................................................XI
Abstract...............................................................................................................................XII
Introdução Geral.....................................................................................................................1
I artigo - O Mercado de Madureira e a CEASA na construção do saber popular sobre
plantas na cidade do Rio de Janeiro, RJ, Brasil
Resumo.......................................................................................................................11
Introdução ..................................................................................................................12
Material e Métodos.....................................................................................................19
A história dos bairros: a Freguesia de Irajá como ponto de partida ...........................22
A chegada dos trilhos..................................................................................................28
A constituição de Madureira e Irajá como espaços urbanos e a necessidade social dos
mercados......................................................................................................................31
A
CEASA......................................................................................................32
O Mercado de Madureira..............................................................................39
O mercado das ervas.....................................................................................42
A formação das hortas de Madureira: história e seu papel no abastecimento dos
mercados.......................................................................................................54
Considerações Finais................................................................................................64
Referências Bibliográficas........................................................................................65
II artigo - Plantas de uso medicinal, ritual e condimentar comercializadas no Mercado de
Madureira e na CEASA, RJ, Brasil
Resumo.......................................................................................................................69
Introdução...................................................................................................................70
Material e Métodos.....................................................................................................72
Resultados e Discussão...............................................................................................76
As plantas e suas ações terapêuticas.............................................................96
A Importância Relativa das espécies............................................................97
O Índice de Saliência..................................................................................104
O comércio de cascas e órgãos subterrâneos..............................................109
IX
Conclusões..................................................................................................116
Referências Bibliográficas........................................................................................117
Anexo 1.....................................................................................................................124
Anexo 2.....................................................................................................................125
Anexo 3.....................................................................................................................138
Anexo 4.....................................................................................................................142
III artigo - A importância da identificação taxonômica em etnobotânica: o caso da quinarosa (Simira glaziovii (k. Schum.) Steyerm., Rubiaceae) comercializada no Mercado de
Madureira, RJ, Brasil
Resumo......................................................................................................................146
Introdução..................................................................................................................147
Material e Métodos....................................................................................................149
Resultados e Discussão .............................................................................................150
Referências Bibliográficas.........................................................................................157
IV artigo - O abajurú (Chrysobalanus icaco L. e Eugenia rotundifolia Casar.)
comercializado na cidade do Rio de Janeiro, Brasil
Resumo......................................................................................................................162
Introdução..................................................................................................................163
Material e Métodos....................................................................................................164
Resultados e Discussão..............................................................................................166
Por que Chrysobalanus icaco está sendo substituída por Eugenia rotundifolia?
..........................................................................................................168
Considerações Finais.................................................................................................172
Referências ...............................................................................................................173
.
Conclusões Gerais..............................................................................................................179
Referências Bibliográficas.................................................................................................181
X
RESUMO
O objetivo do presente trabalho foi identificar, através de uma abordagem etnobotânica, as espécies
medicinais, ritualísticas e /ou condimentares comercializadas em dois mercados na cidade do Rio de
Janeiro e os processos envolvidos na utilização, pela população, dessas espécies. O Mercado de
Madureira (bairro de Madureira) e a CEASA (bairro de Irajá), foram escolhidos por serem centros
abastecedores para feiras livres e pequenos mercados da cidade e de outros municípios do estado.
Foram aplicadas entrevistas semi-estruturadas a 15 erveiros no primeiro mercado (53,5% do total) e a
todos os sete encontrados na CEASA. Os resultados da pesquisa são apresentados em quatro artigos.
No primeiro, procurou-se correlacionar a história de ocupação desses bairros com a comercialização
das plantas, buscando-se também conhecer o perfil dos atores envolvidos nesse comércio, nos
respectivos mercados. Além das plantas provenientes do extrativismo, detectou-se que tanto as hortas
localizadas ao lado do Mercado de Madureira como as da região serrana, abastecem diretamente esses
dois mercados. O segundo artigo trata do inventário das espécies vegetais comercializadas além de
correlações com as formas de utilização, preparação dos remédios, procedência e a origem provável
das espécies. Foram identificadas 265 espécies em 85 famílias sendo Asteraceae, com 30 espécies, a
mais numerosa. O maior número de espécies foi citado para tratar doenças do aparelho respiratório
(Mercado de Madureira) e do aparelho circulatório (CEASA). O mercado de Madureira concentra-se
em plantas e objetos utilizados em rituais afro-brasileiros, o que pode ser uma explicação para o
número de espécies comercializadas (256), das quais 189 são exclusivas deste mercado, sendo 43,3%
de uso ritual em contraposição à CEASA (voltada para venda ao nível de atacado), com 76 espécies,
sendo nove exclusivas e somente 14,4% voltadas ao uso ritual. A maioria das plantas é de provável
origem americana (50%). A listagem livre apontou as espécies mais comercializadas no Mercado de
Madureira (97) e na CEASA (53), para as quais foram calculados a Importância Relativa e o Índice de
Saliência. Algumas espécies (29) não cultivadas pelos erveiros têm suas cascas, órgãos subterrâneos e
caules aéreos (cipós) comercializados, o que pode representar um vetor de decréscimo das populações
nativas. No terceiro artigo procurou-se resolver o problema da identificação botânica de uma casca
comercializada e conhecida como quina-rosa utilizando como ferramenta a anatomia vegetal. Alguns
caracteres anatômicos mostraram-se eficientes na identificação da casca como sendo Simira glaziovii
(K. Schum.) Steyerm. O quarto artigo analisa a introdução de uma nova espécie medicinal no mercado
popular de plantas para a qual ainda não há qualquer referência ao fato em literatura e nem estudos de
comprovação científica - Eugenia rotundifolia Casar. Essa espécie vem sendo consumida pela
população do Rio de Janeiro para o tratamento do diabetes tal qual o abajurú (Chrysobalanus icaco L.),
que apresenta propriedades hipoglicemiantes comprovadas por pesquisas farmacológicas e é utilizada
pela população para este fim.
Palavras-chave: Etnobotânica, conservação, extrativismo, plantas medicinais, MataAtlântica,
Rio de Janeiro
XI
Abstract
The present work used an ethnobotanical approach to identify plants used for medicinal
and ritualistic purposes and/or plants used as spices that are sold in two public markets in the
city of Rio de Janeiro, as well as the processes involved in the utilization of these species by
human populations. The Mercado de Madureira (Madureira neighborhood) and CEASA (Irajá)
were chosen because they are centers for supplying public markets and small shops in the city
and in other nearby municipalities. Semi-structured interviews were made with 15 herbsellers in the first market (53.5% of the total) and with all seven merchants encountered in
CEASA. The results of this research are presented in four articles. In the first article an
attempt was made to correlate the history of the occupation of these neighborhoods with the
commercialization of these plants, seeking also to determine the profile of the actors involved
in this commerce in each of the two markets. In addition to the plants harvested from wild
populations, it was found that gardens located very close to the Mercado de Madureira (and
others in nearby montane regions) directly supplied these two popular markets. The second
article presents the results of an inventory of the plants sold, with information concerning their
forms of utilization, the preparation of the folk medicines, plant origins, and their probable
species names. A total of 265 species belonging to 85 families were identified, with
Asteraceae (30 species) being the most well represented. The largest numbers of species were
cited as useful for treating illness of the respiratory tract (Mercado de Madureira) and of the
circulatory system (CEASA). The Madureira market specializes in plants and objects utilized
in Afro-Brazilian rituals, which probably explains the large number of species sold there
(256), of which 189 are exclusively sold in this market, with 43.3% having ritual uses, in
contrast with the CEASA market (more wholesale commerce) that commercialized 76
different species (nine of which were exclusive to this market place), of which only 14.4% had
ritual uses. A majority of the plants are of probable American origin (50%). The free-listing
technique indicated which species were most sold in the Mercado de Madureira (97) and in
CEASA (53), and was used to calculate their Relative Importance and Salience indices. The
bark, roots and stems (vines) of a number of species (29) were not cultivated by the herbsellers themselves, and the commercial use of these plants may have deleterious effects on
their natural populations. The third article addressed the problem of botanical identification of
a type of bark known as “quina-rosa” by using classical techniques of plant anatomy. Various
anatomical characteristics indicated that the bark was derived from Simira glaziovii (K.
Schum.) Steyerm. The fourth article analyzed the introduction into the popular market of a
new medicinal plant species that has not yet been examined in a laboratory setting - Eugenia
rotundifolia Casar. This species is used by the population of Rio de Janeiro as an antidiabetic,
much like the widely-used “abajurú” (Chrysobalanus icaco L.) whose hypoglycaemic
properties have been confirmed by pharmacological testing.
Key words: Ethnobotany, conservation, harvest, medicinal plants, Atlantic Forest, Rio de
Janeiro
XII
1
INTRODUÇÃO GERAL
As feiras livres e os mercados constituem um espaço privilegiado de expressão da
cultura de um povo no que se refere ao seu patrimônio etnobotânico, uma vez que um grande
número de informações encontra-se lá disponível de forma centralizada, subjacente a um
ambiente de trocas culturais intensas. Almeida & Albuquerque (2002) ressaltaram o papel dos
mercados no desempenho de funções sociais e simbólicas ligadas ao uso medicinal ou mágicoreligioso dos produtos comercializados. Constituem-se, segundo Martin (1992), um espaço
para a seleção e introdução de novas espécies capazes de tornarem-se produtivas e vendáveis
pelas comunidades. Cunningham (2002), em sua obra sobre etnobotânica aplicada, dedica um
capítulo a estudos em mercados que se tornou leitura obrigatória para o tema. Para o autor, o
comércio de espécies vegetais dá uma oportunidade importante para realizar estudos
sistemáticos e
constitui rica fonte de informação para os programas de conservação,
desenvolvimento rural e administração de recursos.
Pesquisas em etnobotânica vêm sendo desenvolvidas de forma considerável no mundo,
mas, na América Latina, especialmente no Brasil, o número de instituições e pesquisadores
nessa área cresceu exponencialmente (Fonseca-Kruel & Sá 1997; Hamilton et al. 2003;
Fonseca-Kruel et al. 2005). No que diz respeito especificamente àqueles desenvolvidos em
mercados e feiras livres o mesmo processo ocorre, porém em menor escala. Em 1983, Bye &
Linares chamaram a atenção para o fato de que mercados são locais organizados onde as
pessoas encontram as espécies necessárias às suas necessidades biológicas, culturais e
econômicas, uma vez que se encontram desprovidas do contato direto com as plantas.
Pesquisas em mercados e feiras podem responder, para o Brasil, a inúmeros
questionamentos relacionados às especificidades regionais (rurais ou urbanas), uma vez que
revelam, através das espécies presentes, as necessidades da população, sejam físicas ou
espirituais, subsidiando programas governamentais ligados à área de saúde. Tornam-se
também passagem obrigatória para os seguidores dos cultos de origem africana uma vez que lá
podem ser encontrados os elementos que fazem partes dos rituais, como as espécies vegetais
usadas em banhos, incensos e bebidas (Albuquerque et al. 2006).
Além de todas as questões de saúde (ou doenças/sintomas) reveladas através das
espécies consumidas pela população nos mercados e feiras são também extraídas informações
2
acerca do cultivo, em hortas e quintais, bem como sobre o extrativismo nos ambientes onde
essas espécies ocorrem espontaneamente. Nesse sentido,poucas são as informações sobre as
pessoas envolvidas no contexto urbano do comércio de espécies que, na maioria das vezes, é
clandestino e ocorre nas madrugadas das grandes cidades brasileiras. Na Índia, por exemplo,
estima-se que existam de 8 a 9 milhões de vendedores de plantas medicinais (Jain 2000); para
o Brasil este número é ainda uma incógnita. Estão, sem dúvida, envolvidos nesses processos,
pessoas pertencentes às camadas mais carentes da população e que merecem maior atenção
por parte da comunidade científica.
Estudos etnobotânicos em mercados vêm sendo desenvolvidos em todo o mundo. Na
Grécia, Handilou et al. (2004) compararam três mercados distintos e encontraram 172
espécies de uso popular entrevistando 18 informantes, analisando a origem, procedência e
parte das plantas utilizadas. Demonstraram que um número grande espécies (99) vendidas nos
mercados já haviam sido citadas na Grécia clássica por Dioscórides e, ainda hoje, permanecem
recomendadas para os mesmos usos.
Na África, o levantamento efetuado por Betti (2002), em cinco mercados no
Cameroon, obteve 35 espécies comercializadas. Propôs um Índice de Performance (IP)
baseado no número de referências de uso obtido a partir das entrevistas com 18 informantes.
Na Ásia, Delang (2005) tratou de espécies comercializadas em nove mercados no
Vietnam, nas cidades de Sapa e Hanói, buscando compreender o papel dos mercados para os
turistas que os procuram durante as férias. Foram identificadas 44 plantas para as quais o autor
obteve dados de usos e variações de preços. Foram entrevistados, nessa pesquisa, 15 turistas
que buscaram espécies medicinais no mercado, bem como 16 membros de uma minoria étnica
que vendem as espécies medicinais.
Na América Latina muitas publicações tratam de mercados, algumas mais descritivas e
outras com enfoque mais quantitativo. No México são relevantes os trabalhos de Robert Bye e
Edelmira Linares que se tornaram leituras fundamentais nesse campo. Estes autores iniciaram
seus trabalhos obtendo dados gerais em dois mercados mexicanos e analisando os fatores que
influenciam a disponibilidade de plantas, tais como a presença, riqueza e abundância das
plantas, distribuição espacial e temporal bem como padrões de fluxo (fluxo das plantas desde
as populações vegetais fornecedoras até os consumidores finais) e, ainda, fatores ecológicos e
evolucionários (Bye & Linares 1983). Posteriormente, Bye (1986) comparou as informações
3
etnobotânicas de uso de plantas medicinais entre grupos étnicos diferentes: índios moradores
das montanhas e mexicanos urbanos no mercado de Chihuahua. O autor verificou que das 47
espécies utilizadas pelos índios Tarahumar (obtidas no mercado da cidade), 30 eram utilizadas
da mesma forma entre esses e os mexicanos urbanos. Sendo assim sugeriu que estas plantas
poderiam produzir efeito satisfatório, visto serem repetidamente empregadas por estes grupos.
Buscando compreender o comércio de “complexos” de espécies que compartilham não
só alguns nomes comuns, mas também características morfológicas e aromáticas, bem como
usos, Linares & Bye (1987) concentraram-se em quatro grupos de plantas comercializadas nos
mercados do México e dos EUA. Cada grupo apresenta uma espécie dominante que foi
caracterizada como aquela cujo uso se estende além da sua distribuição natural e que apresenta
um substituto local que não é registrado para além de sua distribuição natural. Os autores
discutem as prováveis hipóteses envolvidas nesse processo e concluem que as espécies
mantiveram seus principais usos desde o período colonial Mexicano.
Esses mesmos autores compararam usos passados e presentes de espécies
comercializadas em mercados mexicanos desde o século XIX, à época da conquista do
México, até século XX. Selecionaram cinco espécies de um total de 260 comercializadas no
mercado de Sonora com base em sua constante disponibilidade no mercado e concluíram que
nem sempre há continuidade de usos entre períodos anteriores e atuais (Bye & Linares 1987).
Os autores investigaram a manutenção do uso de cinco espécies que haviam sido registradas
nos mercados mexicanos, durante o período de 1571-1576, e detectaram que somente as
sementes de Theobroma cacao (cacao) e os frutos de Crataegus pubescens (tejocote),
permaneciam comercializados nesses mercados (Bye & Linares 1990).
Na pesquisa realizada em mercados por Martin (1992) no México, foram encontradas
300 espécies de Angiospermas, oito coníferas, duas cicadáceas, 10 pteridófitas, sete briófitas,
além de um líquen e 17 cogumelos, distribuídas em cinco categorias de uso assim
denominadas: medicinal, alimentar, ornamental, condimentar e outros usos. Em relação às
medicinais, o autor não detectou qualquer espécie ameaçada de extinção e pressupôs que isso
seja explicado pelo fato de folhas, flores e frutos constituírem a maioria dos remédios. Cascas
e raízes, quando retiradas de forma inescrupulosa, podem levar a planta à morte. O autor
chama a atenção para a importância de estudos de sazonalidade, como também arqueológicos,
que podem fornecer uma idéia de como o uso de plantas transforma-se ao longo dos séculos.
4
Nicholson & Arzeni (1993) registraram os usos populares de 70 plantas medicinais
vendidas em dois mercados de Monterrey, no México, sendo entrevistados 13 erveiros. Os
autores detectaram que parte dessas espécies é silvestre e coletada por extrativismo. Chamam
a atenção para o fato dos erveiros terem tido treinamento com familiares e com antecessores
experientes quando ainda trabalhavam como aprendizes. Concluem alertando que algumas
espécies se encontram em perigo de extinção na natureza. Da mesma forma, para esses
autores, estão também ameaçados os próprios usos das plantas e a metodologia para a
fabricação dos remédios caseiros.
Ainda para o México, Ugent (2000) identificou as práticas atuais e as táticas de venda
dos erveiros e vendedores ambulantes em um dos maiores mercados do país, o Mercado
Juarez, localizado na cidade de Toluca. O local bem como os vendedores são descritos, assim
como as “falas” utilizadas por eles para atrair os clientes e convencê-los a comprar as plantas.
Lista 72 espécies vegetais acompanhadas dos usos recomendados bem como as formas de
preparo e identifica quatro espécies que já eram utilizadas, no México, desde o século XVI.
Macía et al. (2005) estudaram dois mercados na Bolívia,um em La Paz e outro em El
Alto e adquiriram informações sobre 129 espécies a respeito de seus usos, forma de preparo
dos remédios, partes das plantas utilizadas e formas de administração. Discutiram também a
origem geográfica das espécies e usos mágico-religiosos das mesmas.
A coleta e comercialização de plantas medicinais foi o foco do trabalho de Martinéz
(2005) em Córdoba, na Argentina. O autor utilizou-se de entrevistas e do Diagnóstico Rural
Rápido para obter informações em farmácias, ervanários e outros pontos de venda de plantas,
acerca do estoque, sítios e épocas de colheita bem como sobre a percepção local da
disponibilidade dos recursos. Assinalou as espécies de maior demanda e concluiu que, para
essas, não é possível calcular o real impacto do extrativismo, a menos que se façam estudos
demográficos de abundância populacional, ensaios de propagação, estudos da capacidade e
êxito reprodutivo, entre outros aspectos.
No Brasil existe um grande número de trabalhos que fazem referência à utilização de
espécies vegetais, seja na farmacopéia popular, seja nos preparados das antigas boticas ou,
antes ainda, nos primeiros relatos das virtudes terapêuticas de espécies brasileiras, sendo o de
Piso & Marcgrave (1648) realizados no Nordeste, no século XVII um dos primeiros,
descrevendo e ilustrando espécies, sobretudo as medicinais e alimentícias.
5
Um dos primeiros estudos em mercados populares, com enfoque etnobotânico, foi
realizado por Van den Berg (1984) que tratou das espécies no mercado de Ver-o-Peso, em
Belém (PA). A autora aponta a presença paralela de plantas oriundas dos estados do sul do
país, nesse mercado, ressaltando a importância de trabalhos em mercados para catalogação da
cultura popular. Posteriormente, Van den Berg & Silva (1986) trataram das espécies do
referido mercado que são utilizadas, especificamente, para um tradicional “banho-de-sãojoão”, típico da região.
Ferreira (2000), em levantamento das plantas utilizadas em Manaus (AM), encontrou
149 espécies medicinais comercializadas nos mercados tradicionais e nas farmácias, das quais
56 são de origem amazônica e em grande parte provenientes de extrativismo. Ainda na região
Norte, na cidade de Boa Vista (RR) foi elaborado um levantamento com cinco comerciantes
localmente denominados de “raizeiros” para identificação dos produtos e subprodutos da
medicina popular, obtendo-se 100 produtos de origem vegetal e 17 de origem animal oriundos,
principalmente, da região nordeste do país (Pinto & Maduro 2003).
No nordeste brasileiro, um trabalho extremamente interessante é o de Cunha (1941)
intitulado “De von Martius aos ervanários da Bahia” onde o autor, na primeira parte, faz uma
justa homenagem a Martius. Na segunda parte, apresenta um levantamento de plantas
comercializadas pelos ervanários da Bahia1. Adicionou às suas próprias informações aquelas
encontradas em Martius (Flora Brasiliensis) como também as de Vellozo (Flora Fluminensis).
Em relação aos estabelecimentos visitados por ele, fez o seguinte comentário “nessa ocasião, a
Secretaria de Educação e Saúde, fazendo cumprir os decretos que regulamentam a profissão
farmacêutica havia ordenado o fechamento, ou melhor, o desaparecimento das chamadas
“casas das folhas” o que veio ferir de morte a existência das mesmas”. Certamente não foi só
na Bahia que esta determinação legal marcou tão profundamente o destino desses
estabelecimentos.
Almeida & Albuquerque (2002) elaboraram um estudo de caso com os vendedores de
plantas e animais medicinais, na feira de Caruaru (PE). Os autores levantaram informações
sobre o uso medicinal de plantas e animais, aplicando métodos quantitativos para o cálculo da
1
Herbanário (ervanário; ervanária): estabelecimento que vende ervas medicinais. Ou, indivíduo que vende e/ou
conhece plantas medicinais – também chamado de ervatário (seg. Ferreira, Aurélio Buarque de Holanda. 1975.
Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 1a. ed.. Nova Fronteira, Rio de Janeiro).
6
importância relativa destes recursos e o consenso quanto às propriedades terapêuticas
atribuídas pelos vendedores. Estudaram também a variação intra-cultural no conhecimento
desses recursos, bem como as implicações do uso e extrativismo das espécies. Ramos et al.
(2005) desenvolveram uma pesquisa em mercados na cidade de Recife (PE), com a
colaboração de 18 informantes utilizando também métodos quantitativos para análises das
espécies de maior valor cultural. Mais recentemente, Albuquerque et al. (2006) examinaram as
plantas medicinais e mágicas vendidas em um mercado de Recife em duas fases distintas:
1993-1995 e 2001-2002. Na primeira etapa foram entrevistados 10 informantes e na segunda,
oito informantes. O objetivo foi comparar a riqueza de espécies nessas duas épocas distintas,
investigar as diferenças entre a Importância Relativa das espécies bem como apresentar
descrições de seus principais usos. São fornecidos comentários sobre as espécies de uso
mágico-religioso.
Na região Centro-Oeste, na cidade de Campo Grande, MS, Nunes et al. (2003)
entrevistaram raizeiros da cidade para levantamento das espécies mais comercializadas (32) e
dentre estas, foram escolhidas as seis mais freqüentemente consumidas para a avaliação
preliminar da qualidade, bem como disposição das informações de dados químicos,
farmacológicos e toxicológicos encontrados na literatura científica.
São Paulo destaca-se pelo trabalho pioneiro de Hoehne (1920) “o que vendem os
hervanários da cidade de São Paulo”, do início do século XX. Neste, estão listadas muitas
espécies, por nome popular, acrescidas de citações de uso e enriquecidas com informações de
botânicos, farmacêuticos, médicos e químicos tais como Dias da Rocha, Monteiro da Silva,
Caminhoá, Engler, Peckolt e Augusto da Matta. A última parte, não menos importante, tem o
seguinte título peculiar “productos animaes e mineraes; amuletos, fetiches, cruzes e artefactos
a que se attribue virtudes absurdas”. Isso pode explicar porque o autor se refere apenas aos
nomes populares dessas plantas.
O estado de São Paulo apresenta ainda outros trabalhos que falam de comércio de
espécies, mas não realizados exatamente em feiras livres, mercados ou outros
estabelecimentos. O de Born (2000) tratou de aspectos concernentes ao uso, comercialização e
manejo de plantas medicinais no Vale da Ribeira. O de Batalha & Ming (2003) refere-se aos
fatores que influenciam a competitividade das cadeias agroindustriais, de plantas medicinais e
aromáticas, no estado de São Paulo. Apesar de não focar no comércio informal, trata-se de
7
leitura obrigatória, visto que abrange questões relacionadas à caracterização do sistema
produtivo discutindo o cultivo e o extrativismo das espécies de forma abrangente.
No Rio de Janeiro, onde o presente estudo foi realizado, destaca-se o trabalho de
Guedes et al. (1985), que foi um dos pioneiros e relacionou 51 espécies utilizadas em rituais
afro-brasileiros comercializadas em casas especializadas em artigos de umbanda e discutiu
dados relativos à região de origem, à morfologia, hábito e distribuição das espécies no Brasil.
Posteriormente,
outras
pesquisas
revelaram
os
recursos
vegetais
vendidos
especificamente em feiras livres e mercados no estado. O de Stalcup (2000) tratou de 151
espécies de uso medicinal ou ritual comercializadas em uma feira livre no bairro da Tijuca. A
autora baseou seus dados no conhecimento de quatro erveiros que se tornaram informantes a
respeito dos usos das espécies, nomes vulgares e preparo dos remédios. O trabalho apresenta
uma descrição botânica e um levantamento bibliográfico dos usos, na medicina popular e em
rituais afro-brasileiros, para cada espécie. Santos & Sylvestre (2000) concentraram-se nas
Pteridófitas comercializadas por erveiros de Niterói e do Rio de Janeiro. Apresentaram uma
chave de identificação, figuras e comentários gerais sobre cada espécie.
Parente & Rosa (2001) identificaram 100 espécies medicinais comercializadas em uma
feira livre no município de Barra do Piraí, RJ. Os autores apresentam as indicações
terapêuticas, formas de uso e partes das plantas utilizadas e acrescentam considerações sobre a
posologia recomendada. Discutem também o uso ritualístico e aspectos relacionados à
toxicidade de algumas espécies. Posteriormente, Azevedo & Silva (2006) identificaram 127
espécies vegetais, consideradas medicinais e de uso religioso, comercializadas em mercados e
feiras livres nas zonas norte e oeste da cidade do Rio de Janeiro. As autoras abordam aspectos
gerais de usos, discutindo, principalmente, questões relacionadas à cadeia de comercialização
e extrativismo de espécies nativas.
Para a região serrana do estado do Rio de Janeiro, Santos (2006) relaciona as plantas
úteis vendidas nas feiras livres e mercados populares dos Municípios de Petrópolis e Nova
Friburgo. Utilizou técnicas de entrevistas estruturadas e listagem livre com cinco feirantes
para obtenção de informações a respeito das 115 espécies comercializadas como medicinais,
ritualísticas bem como ornamentais (categoria pouco trabalhada, por outros autores, neste rol
de artigos aqui apresentados). As espécies indicadas como medicinais foram analisadas de
acordo com o índice de Importância Relativa (IR) e de Classificação Preferencial. Ainda
8
focando feiras, mas nas zonas sul e norte da cidade do Rio de Janeiro, Maioli-Azevedo &
Fonseca-Kruel (2007) verificaram as indicações terapêuticas, posologia e procedência de 106
espécies vegetais, a partir de entrevistas semi-estruturadas aplicadas a 54 erveiros em 33 feiras
livres.
Até o momento, estes são os principais trabalhos que foram selecionados, dentro de
uma vasta bibliografia em etnobotânica, que centraram esforços, principalmente, no comércio
de espécies vegetais em mercados (ou herbanários) e feiras livres no Brasil e em outros países.
Dentre o universo explorado pelos autores, alguns pontos foram priorizados como as listagens
de espécies e considerações taxonômicas gerais; usos populares e comprovação científica das
propriedades atribuídas, origem bem como os problemas relacionados à conservação de
plantas nativas. Para finalizar, o trabalho de Silva et al. (2001) que trata de espécies
comercializadas em todo o Brasil, não especificamente em feiras e mercados, traz uma enorme
contribuição ao assunto, uma vez que sintetiza os pontos problemáticos de maior destaque
nessa área. Chamam a atenção para o fato de que a qualidade das informações oficiais,
relacionadas com o comércio de espécies, é insuficiente para determinar a dimensão real dessa
atividade e seu impacto sobre as populações vegetais dos recursos utilizados.
Por outro lado, uma outra vertente muito pouco discutida, diz respeito aos atores
envolvidos diretamente no trato das espécies vegetais, seja em relação ao cultivo, ao
extrativismo, ou à comercialização. Para cada fase existem, muitas vezes, indivíduos
especializados. A etnobotânica pode e deve servir como uma disciplina aliada às ciências
sociais, não só capaz de detectar os indivíduos imersos nesse sistema - no caso específico dos
mercados - bem como as questões sociais relacionadas.
Procurou-se, nesta tese, estudar o comércio de espécies medicinais, ritualísticas e /ou
condimentares em dois mercados na cidade do Rio de Janeiro, o Mercado de Madureira e a
CEASA, utilizando-se ferramentas metodológicas usuais nesse campo de estudo. Os
resultados das pesquisas são aqui apresentados em forma de artigos que foram e/ou serão
encaminhados para publicação em revistas científicas.
A análise da situação atual dos Mercados de Madureira e da CEASA, a partir de uma
perspectiva histórica dos bairros de Madureira e Irajá, faz parte do primeiro artigo da tese que
buscou contextualizar esses mercados e os atores envolvidos no comércio das plantas,
apontando características próprias relacionadas à existência de hortas. Esse artigo é
9
denominado “O Mercado de Madureira e a CEASA na construção do saber popular sobre
plantas na cidade do Rio de Janeiro, RJ, Brasil”.
O segundo artigo centrou-se nas espécies comercializadas explorando algumas questões
relativas aos usos atribuídos pela população e suas devidas correlações como as formas de
utilização, preparação dos remédios, a origem provável das espécies, procedência e outras
análises próprias da abordagem etnobotânica. Esse artigo é intitulado “Plantas de uso
medicinal, ritual e condimentar comercializadas no Mercado de Madureira e na CEASA, RJ,
Brasil”
Como conseqüência das informações obtidas nos mercados e o interesse em responder
a perguntas específicas, foram elaborados dois textos que se constituíram no terceiro e quarto
artigos. O primeiro refere-se à utilização de cascas na medicina popular. Procurou-se resolver
o problema da identificação botânica de uma casca comercializada e conhecida como quinarosa utilizando como ferramenta a anatomia vegetal. Foi designado “A Importância da
identificação taxonômica em etnobotânica: o caso da quina-rosa (Simira glaziovii (K. Schum.)
Steyerm., Rubiaceae) comercializada no Mercado de Madureira, RJ, Brasil”.
O quarto ateve-se ao comércio de uma espécie, que comumente não é conhecida como
abajurú, mas que vem sendo consumida pela população do Rio de Janeiro como
antiglicemiante, tal qual o abajurú. Abordou-se a questão da introdução de novas espécies
medicinais no mercado popular de plantas medicinais o qual foi intitulado “O abajurú
(Chrysobalanus icaco L. e Eugenia rotundifolia Casar.) comercializado na cidade do Rio de
Janeiro, Brasil”.
10
I Artigo
O MERCADO DE MADUREIRA E A CEASA NA CONSTRUÇÃO DO SABER
POPULAR SOBRE PLANTAS NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO, RJ, BRASIL
“Barraca de mercado” (Chamberlain)
Fonte: Gorberg, S.& Fridman, S. A. 2003. Mercados no Rio de Janeiro: 1834-1962. S. Gorberg, Rio de
Janeiro, 152p. )
11
O MERCADO DE MADUREIRA E A CEASA NA CONSTRUÇÃO DO SABER
POPULAR SOBRE PLANTAS NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO, RJ, BRASIL
Resumo
(O Mercado de Madureira e a CEASA na construção do saber popular sobre plantas na cidade
do Rio de Janeiro, RJ, Brasil) O objetivo desse trabalho foi correlacionar a história de
ocupação dos bairros de Madureira e de Irajá, da zona norte da cidade do Rio de Janeiro, RJ
com o surgimento de mercados e feiras livres na cidade. Foram desenvolvidas pesquisas
etnobotânicas, nos anos 2005 e 2006, nos Mercado de Madureira (Madureira) e na CEASA
(Irajá). Os informantes foram os erveiros de plantas medicinais, ritualísticas e/ou
condimentares selecionados pela técnica bola-de-neve, que trabalham nesses locais.
Entrevistas semi-estruturadas foram aplicadas a fim de se obter informações relacionadas aos
erveiros e aos mercados. O processo de formação desses bairros está relacionado ao perfil dos
habitantes e das vertentes culturais que marcaram essa região da cidade, caracterizada por
apresentar papel fundamental no comércio de plantas usadas pela população. Além das plantas
provenientes do extrativismo, detectou-se que tanto as hortas localizadas ao lado do Mercado
de Madureira bem como as da região serrana, abastecem diretamente esses dois mercados - de
plantas de uso medicinal, condimentar e/ou ritualístico - e indiretamente as feiras livre e
pequenos mercados da cidade e de outros municípios. A utilização pela população das
espécies de uso medicinal, cultivadas nesses espaços, na forma de automedicação torna-se
alternativa à falta de acesso ao sistema de saúde da rede oficial.
Palavras-chave: Etnobotânica, erveiros, mercados e feiras livres, hortas urbanas.
Abstract
(The role of the Madureira and CEASA Public Markets in the construction of popular
knowledge in the city of Rio de Janeiro, RJ, Brazil) The present work examined the
correlation between the history of occupation of the Madureira and Irajá neighborhoods in
northern Rio de Janeiro City, RJ, and the existence of public markets and fairs in those
localities. Ethnobotanical surveys were undertaken in 2005 and 2006 at the Mercado de
Madureira (Madureira) and CEASA (Irajá). Informants were selected by the “snow-ball”
12
technique from among merchants working in those popular markets selling plants used for
medicinal or ritualistic purposes or as condiments.
Semi-structured interviews were
undertaken to obtain information related to the herb-sellers themselves and the markets in
which they worked. The processes that formed these neighborhoods are related to the profiles
of the inhabitants and the cultural foundations of this part of the city - which has the
fundamental role of supplying plants used by the urban population. In addition to selling
plants derived from harvesting wild populations, there are numerous small gardens next to the
Mercado de Madureira (as well as in nearby montane areas) that directly supply these two
principal markets with medicinal, condiment, or ritualistic plants, and indirectly supply other
small markets in Rio de Janeiro or nearby municipalities. Self-medication using medicinal
species cultivated in these semi-urban areas constitutes an alternative to the lack of access to
the official public health system.
Key words: Ethnobotany, herb-sellers, public markets and fairs, urban gardens
Introdução
Desde o início do período colonial registraram-se na cidade do Rio de Janeiro a
presença regular das populares quitandas2. Constituiam aglomerações de negras ao ar livre,
acocoradas ou dispondo de tabuleiros, situadas em pontos preestabelecidos, para a venda de
produtos da pequena lavoura, da pesca e da indústria doméstica (Mascarenhas 2005).
Segundo Gorberg & Fridman (2003) os oficiais da câmara, desde o século XVII,
procuraram delimitar os raios de ação dos mercadores ambulantes de gêneros alimentícios,
criando incipiente mercados. Na sessão de julho de 1637, decidiu a Câmara da Cidade do Rio
de Janeiro que os escravos somente poderiam vender frutas e hortaliças nas casas
especialmente construídas pelo Conselho, no local que ficou conhecido como Praia de Peixe
(próxima à Rua do Ouvidor e Passo Imperial). Foram instaladas barracas de madeira, cobertas
de palha, onde se vendia principalmente o pescado.
Para Mascarenhas (2005) a literatura nos deixa vagas referências a esta modalidade de
varejo que, na aparência de um arremêdo de feira, represente talvez a principal forma
2
kitanda: feira, venda; loja ou local onde se faz comércio (palavra do quimbundo, língua dos bantos de Angola)
(Seg. Ferreira, Aurélio Buarque de Holanda. 1975. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 1a. ed.. Nova
Fronteira, Rio de Janeiro).
13
precursora das feiras livres do início do século XX. No final do século XVIII, o Rio de Janeiro
contava com o significativo conjunto de 181 barracas de quitandeiras.
No século XIX, apesar do padrão ser do imigrante português vendendo de porta em
porta, a venda era também uma atividade constante dos escravos. Esses vendedores
ambulantes tinham que solicitar licença municipal e os escravos, de ambos os sexos, vendiam
de tudo em cestas, bandejas de madeira ou caixas: artigos de vestuário, chaleiras, utensílios de
cozinha, cestas e esteiras, porções do amor, estatueta dos santos, ervas e flores, pássaros e
jóias (Fig. 1). Os não alforriados saiam às ruas para vender e mendigar dinheiro para seus
donos. Também havia pela cidade bancas de feiras onde negros livres vendiam frutas e
verduras (Gorberg & Fridman 2003).
Figura 1 - “Femmes noires au marché, Rio de Janeiro, vers 1875” ( foto: Marc Ferrez
2005)
Segundo Mascarenhas (2005), o processo de territorialização destas modalidades
populares de comércio se consumou através das muitas décadas de uma urbanização
acelerada, porém baseada em muitos aspectos no modelo colonial. A presença numerosa de
14
negros, e posteriormente de grupos de imigrantes estrangeiros, num quadro de baixa oferta de
empregos, impuseram à cidade diferentes formas de comportamento territorial na luta
cotidiana pela sobrevivência, de forma tal que esta parece ter sido, na virada do século, um
fantástico laboratório de territorialidades populares. Para Mascarenhas (2005), a prefeitura do
Rio de Janeiro (então Distrito Federal) decidiu pela multiplicação dos mercados cobertos,
iniciativa que remonta a aproximadamente 1870, não apenas para a possibilidade maior de
fiscalização pública mas, sobretudo para superar o criticado aspecto árabe da cidade e remover
da paisagem o passado escravista-colonial, pela redução, afastamento ou mesmo dissolução
das aglomerações de negras quitandeiras.
Como resultado então dessa política de “limpeza” da cidade houve o aparecimento de
alguns mercados através da resolução da Câmara Municipal (1840), na qual foram designados
para comercialização de legumes, frutas, aves e comestíveis, vários outras Freguesias, mas
sem necessariamente a edificação de imóveis3 (Gorberg & Fridman 2003).
Para substituir as antigas bancas de pescado (Praia do Peixe) construiu-se, em 1841, o
mercado conhecido como Mercado da Candelária (Praça do Mercado ou Mercado da Praia do
Peixe) (Fig. 2). Vendiam-se legumes, cereais, cebolas, alhos, farinhas, frutas, hortaliças, aves,
ovos caça, peixes, louças do país e louças estrangeiras (Gorberg & Fridman 2003).
3
Segundo Gorberg & Fridamn (loc. cit.), a palavra mercado, nessa resolução, significava uma aglomeração de
pessoas comercializando produtos, e não a construção de um mercado fechado.
15
Figura 2 - Mercado da Candelária, RJ em 1892 (Fonte Gorberg & Fridman 2003)
Em 1899 esse mercado já não atendia às necessidades da população crescente (muitos
bairros ficavam distantes) e apresentava prejuízo aos lavradores que traziam suas mercadorias
e as colocavam no chão e quando não achavam espaço disponível, eram obrigados a vendê-las
para os atravessadores. Foi então demolido em 1911 (Gorberg & Fridman 2003).
Quando no início do século XX, o prefeito Pereira Passos iniciou seu tão famoso botaabaixo, remodelando a área central do Rio de Janeiro não apenas na fisionomia, mas sobretudo
nas práticas sociais (expulsando os deselegantes, arcaicos e promíscuos usos populares), os
espaços públicos, do centro da cidade, estavam majoritariamente animados em seu cotidiano
pelas formas mais rudimentares de mercadejar (Carvalho apud Mascarenhas 2005).
Foram construídas grandes avenidas, abertos túneis, melhoradas as instalações de água,
esgoto, gás e iluminação elétrica, e foi substituída a tração animal dos bondes pela elétrica.
Ruas estreitas foram alargadas, reconstruídas ou calçadas e inúmeras casas de arquitetura
simples, de origem portuguesa, deram lugar a prédios de estilo arquitetônico francês,
alimentando o sonho de transformar a cidade em uma filial de Paris. A circulação de animais
16
pelo centro da cidade foi proibida, assim como diversos costumes populares, entre eles o
candomblé e o comércio ambulante4.
Como lembra Mascarenhas (2005) os ideais de civilidade contidos no projeto
modernizante de Pereira Passos eram incondizentes com a permanência de feiras africanas e
outras práticas de comercialização pelas ruas da cidade. Não obstante a importância destas
práticas no abastecimento urbano e na provisão de oportunidades de trabalho, bem como na
manutenção de territórios de sociabilidade informal, a Reforma Passos baniu tais usos,
desterritorializando formas de sobrevivência e de sociabilidade tidas como impróprias. Em seu
lugar estabeleceu territórios de alto grau de disciplina e controle: mercados cobertos e feiras
livres.
Além do Mercado da Candelária, podem ser citados como mercados que tiveram
grande relevância para a cidade, o Mercado Municipal (1907) bem como outros menos
imponentes, tais como o da praça da harmonia, no bairro da saúde (1856-1900), o Mercado da
Glória (1858-1893), o Mercado de Madureira (1914), o do Largo dos Leões, da Tijuca, de São
Cristóvão, de Santa Thereza e da Praça da Bandeira, entre outros.
O Mercado Municipal, inaugurado em 1907 (também conhecido como Mercado do
Paço Imperial, ou Mercado da Praça XV de Novembro), era administrado pela Companhia
Mercado Municipal do Rio de Janeiro, tendo sido construído durante o governo de Pereira
Passos (Fig. 3). Em 1956 a Secretaria de Urbanismo tinha o projeto de construção da Avenida
Perimetral e, desta forma, acabar com o Mercado Municipal. Derrubaram o mercado pelos
anos 60 e reconstruíram outro prédio e, do antigo, só sobrou um dos torreões onde funciona o
restaurante Albamar.
4
Dados da Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro: Plano Estratégico da cidade do Rio de Janeiro em:
http://www.rio.rj.gov.br/planoestrategico - acessado em setembro de 2007
17
Figura 3 - Mercado Municipal (Fonte Gorberg & Fridman 2003)
Por iniciativa dos lavradores, formou-se a “Associação dos Mercados Municipais do
Rio de Janeiro” que decidiram ter seu próprio Centro de Abastecimento, se desvinculando da
Prefeitura. Compraram então o terreno que pertencia à antiga fábrica de cigarros Veado, na rua
Capitão Félix, n° 110, em Benfica. Com a criação do Estado da Guanabara, em 21 de abril de
1960, este novo mercado passou-se a chamar Centro de Abastecimento do Estado da
Guanabara - hoje conhecido como CADEG – (Gorberg & Fridman 2003). Apresenta hoje 714
lojas (e salas comerciais) que vendem diversos tipos de produtos nacionais e importados,
como frutas, hortifrutigranjeiros, laticínios, bebidas, flores (arranjos naturais e artificiais),
materiais para decoração, embalagens, descartáveis, entre outros5.
Uma outra forma de comércio estimulada pela administração da cidade foi a feiralivre, criada em 13/10/1904. O texto do decreto 997 se refere a “feiras ou mercados livres”6
(nos domingos, dias santos e feriados) sem no entanto explicar a adoção do adjetivo livre,
que posteriormente se incorporou em definitivo ao nome (feira livre) (Mascarenhas 2005).
A partir do decreto de 20 novembro de 1916 (1126) foi estabelecido que uma vez por
semana estes funcionariam nos locais e dias definidos pelo executivo: “as feiras e mercados
livres são destinados à venda exclusivamente a retalho de frutas, legumes, animais
domésticos, produtos de pequena lavoura e das indústrias rurais e de quaisquer gênero de
5
Informações retiradas de http://www.cadeg.com.br – acessado em setembro de 2007.
Feira: lugar público, muitas vezes descoberto, onde se expõem e vendem mercadorias (Seg. Ferreira, Aurélio
Buarque de Holanda. 1975. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 1a. ed.. Nova Fronteira, Rio de Janeiro).
6
18
comércio, considerados de primeira necessidade, a juízo do prefeito” (Gorberg & Fridman
2003).
Mascarenhas (2005) chama a atenção para o fato de que os mercados cobertos,
certamente desempenharam, pelo menos até 1916, um papel muito mais efetivo que as
feiras livres no abastecimento da cidade. Supõe ainda que o papel das feiras livres tenha
sido muito mais simbólico do que concreto enquanto veículo de distribuição varejista.
Parecem ter funcionado como símbolo de higiene, de estética e da racionalidade
geometrizante, elementos da fantasia urbanística moderna. A limpeza e a organização eram
rigorosamente fiscalizadas; os horários obedecidos; as barracas enfileiradas em ordem
absolutamente geométrica, e apresentando toldos com cores referentes ao tipo de produto
exposto. Vários outros aspectos eram severamente observados pela fiscalização pública.
No início do século XX outros mercados foram construídos - como o Mercado Praia de
Botafogo (atual Praça Nicarágua); o Mercado da Praça General Osório no centro da cidade
(próximo à Rua dos Andradas) e o Mercado da Praça da Bandeira – e demolidos.
Provavelmente, com a chegada dos supermercados, nos anos 70, perderam muito da sua razão
de ser. Atualmente, os que restaram são pequenos e localizam-se, em sua maioria, nas regiões
norte e centro da cidade.
Com a regularização das feiras e as reformas na cidade, os vendedores ambulantes
diminuíram e, os poucos que restaram, concentraram-se nas feiras e mercados autorizados.
Cabe ressaltar que especificamente, no caso dos vendedores de plantas medicinais e/ou rituais
(e também os de temperos) nas feiras livres, é muito comum verificar a presença dos mesmos
à margem do alinhamento das barracas, com seus produtos dispostos em bancas simples e sem
coberturas, num padrão consistentemente diferente das outras, quase sempre coloridas e
autorizadas pela Prefeitura. Podem ser vistos comercializando suas mercadorias em ruas ou
esquinas próximas às das feiras. Por outro lado, os vendedores (feirantes) cadastrados são
verdureiros, mas também reconhecidos como erveiros pela população, já que também vendem
algumas espécies medicinais e/ou rituais.
Mascarenhas (2005) em seu artigo sobre feiras livres na cidade do Rio de Janeiro
indaga até que ponto a feira livre, criada na administração de Pereira Passos, não teria sido
concebida enquanto mais um ornamento dedicado à pedagogia da civilização nos trópicos.
Seu formato, carregado do sentido de organização, beleza e asseio reflete a imagem da nova
19
ordem civilizadora, induzindo a crença de que a cidade estava realmente mudando, e para
muito melhor.
Seriam os erveiros, hoje, um resquício dos outroras ambulantes (negros, escravos,
portugueses) alijados desses espaços públicos “limpos e organizados” da reforma de Pereira
Passos? Ou ainda, em que sentido a presença desses erveiros traz às feiras e mercados a
lembrança de uma cidade suja não condizente com os hábitos burgueses? A verificação da
espacialização periférica dos erveiros em relação aos comerciantes formais nas feiras e a
baixa frequência dos mesmos, nesses locais e também nos mercados, talvez seja justamente
uma das consequências dessa política de segregação e ordenamento do espaço público
onde, certamente, essas pessoas não se enquadravam e não se enquadram.
Os mercados e feiras livres marcaram – e marcam ainda- muito da história da cidade
do Rio de Janeiro e da complexa rede relacionada à comercialização de legumes, verduras, e
plantas medicinais, rituais e condimentares. Nesse aspecto, inúmeros agentes contribuíram
para a constituição desses locais de compra e venda, influenciaram e foram influenciados pelas
políticas locais e costumes da sociedade.
Nesse artigo procurou-se correlacionar a história de ocupação recente desses bairros e a
comercialização de plantas, com ênfase nas de uso popular medicinal, condimentar e/ou
ritualístico focando-se o Mercado de Madureira (em Madureira) e a CEASA (em Irajá).
Material e Métodos
Áreas de estudo - A CEASA (Central de Abastecimento do Estado do Rio de Janeiro
S.A-CEASA/RJ) e o Mercado de Madureira (ou Mercadão de Madureira como é conhecido
popularmente), localizados nos bairros de Irajá e Madureira respectivamente, foram escolhidos
para a pesquisa etnobotânica pela importância no cenário carioca de comercialização de
espécies úteis (Azevedo & Silva 2006) (Fig. 3).
20
Figura 3 – Localização dos mercados de Madureira (Bairro de Madureira) e CEASA (bairro
de Irajá), Rio de Janeiro, RJ.
O município do Rio de Janeiro, com 6.136.652 habitantes, ocupa uma área de 122.456
km2, e apresenta traços contrastantes de relevo pela presença de maciços montanhosos,
lagunas e extensas áreas de baixada7. Está dividido em cinco Áreas de Planejamento (AP), 33
Regiões Administrativas (RA) e 160 bairros (IPP 2005).
A XIV Região Administrativa formada por seis bairros incluindo Irajá, bem como a
XV Região Administrativa, com 13 bairros incluindo Madureira, fazem parte, entre outras, da
Área de Planejamento III (Zona Norte) da Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro, que é
caracterizada por apresentar a maior parcela da população (2.353.590 habitantes) e diversidade
de usos e assim, conseqüentemente, o menor percentual de espaços naturais dentre todas as
7
Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro: Plano Estratégico da cidade do Rio de Janeiro e Armazém de Dados.
Disponível em www.rio.rj.gov.br/ . Acessado em 24 de outubro de 2006.
21
AP’s – com 95,9% da sua área antropizada8 (IPP 2005). A área central da XV Região
Administrativa de Madureira abriga um dos mais importantes centros de comércio e serviços
da Região Metropolitana do Rio de Janeiro e uma das principais áreas de integração
intermodal da cidade (Oliveira 2007).
Os dois bairros foram criados formalmente em 1981, com a divisão territorial da cidade
(Decreto Nº 3.158, de 23 de julho de 1981). O bairro de Madureira, com uma população de
49.546 habitantes (censo de 2000) e área total de 378,76 ha, possui cinco escolas públicas
municipais, cinco estaduais e uma unidade de saúde Municipal. O bairro do Irajá, incluso na
grande “Região Irajá”, tem 99.236 habitantes em uma área territorial de 747,78 ha conta com
25 escolas públicas municipais. A maior parte do seu território pertence à bacia do Rio Irajá, o
restante localiza-se nos arredores da foz do Rio Pavuna9.
Coleta de dados- Para a escolha dos informantes, utilizou-se a técnica conhecida como
“bola de neve” indicada para uma população altamente especializada e de pequeno número de
integrantes (Appolinário 2006). Para tal, um informante-chave, previamente conhecido,
indicou outra pessoa a ser entrevistada e assim sucessivamente.
Dessa forma, ao longo dos anos de 2005 e 2006, foram aplicadas entrevistas semiestruturadas (Bernard, 1995) para levantamento de dados etnobotânicos a 15 erveiros (num
total de 28) que comercializam principalmente plantas medicinais e/ou rituais, no Mercado de
Madureira, bem como a sete erveiros, na CEASA. Além desses informantes dois homens
portugueses foram indicados no Mercado de Madureira e se dispuseram a participar de
entrevistas, separadamente, cujo tema central foi a vinda dos portugueses e a implantação das
hortas no subúrbio carioca. O primeiro é feirante há 45 anos e dono de horta por mais de 30
anos. A entrevista ocorreu em sua residência e pode ser gravada. O segundo é irmão de um
erveiro do mercado e vendedor de ervas em uma barraca, ao lado de sua horta, aonde foi feita
a entrevista (não gravada). Algumas hortas localizadas ao lado do Mercado de Madureira
foram visitadas.
8
Áreas cujas características naturais foram alteradas. Compõem-se de área urbana, campo antrópico, solo
exposto, cultura e pastagem e outros (IPP 2005).
9
Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro: Plano Estratégico da cidade do Rio de Janeiro e Armazém de Dados.
Disponível em www.rio.rj.gov.br/ . Acessado em 24 de outubro de 2006.
22
Optou-se por ocultar os nomes dos informantes e estes estão representados, no texto e
nas tabelas, pelas primeiras letras de seus nomes, antecedidos pela letra H (homem) ou M
(mulher).
Adquiriu-se material botânico das espécies listadas pelos erveiros através de compra,
nos mercados, e para a identificação do mesmo utilizaram-se chaves analíticas, bibliografia
especializada, comparação com material de herbários e, quando necessário, valeu-se do auxílio
de especialistas. Foram confeccionadas exsicatas, que serão depositadas no herbário do
Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro (RB).
A história dos bairros: a Freguesia de Irajá como ponto de partida
Segundo Santos (1965), a região de Irajá10 teve origem na mais extensa das Sesmarias
doadas pela coroa portuguesa aos primeiros colonizadores. Em 1568 estas terras, que mais
tarde tornaram-se fazendas, foram doadas a Antônio de França, que fundou o engenho de
Nossa Senhora da Ajuda, marco histórico inicial dos bairros dos subúrbios. Nesta época, o Rio
de Janeiro já havia iniciado sua divisão em várias “jurisdições religiosas” (ou paróquias)
chamadas de Freguesias e, em 1625, a Sesmaria de Irajá (ou campo de Irajá) ia da Região
“Centro” até Campo Grande, tornando-se, em 1644, a Freguesia de Nossa Senhora da
Apresentação de Irajá. Foi a primeira grande região produtora da cidade, propícia ao plantio da
cana-de-açúcar e criação de gado; era também fonte abastecedora de frutas, hortaliças,
aguardentes e produtos básicos para construção, provenientes das olarias locais.
Aproximadamente vinte anos depois (em 1661) esta foi desmembrada, dando origem a
inúmeras outras Freguesias rurais que, mais tarde, antes mesmo da divisão em distritos, em
1867, transformaram-se em bairros: Freguesia Nossa Senhora do Loreto de Jacarepaguá,
(desmembrado em 1661); Freguesia de Campo Grande (desmembrado em 1673); Freguesia de
Inhaúma (desmembrado em 1743) e Freguesia Engenho Velho (em 1795). Irajá, assim, pode
ser considerado o berço dos subúrbios cariocas. A figura 4, datada de 1767, sinaliza a
localização de engenhos, de cultura da cana-de-açúcar, primeira atividade de grande
10
O termo Irajá refere-se ao nome indígena de uma abelha; também tem o significado de cuia, ou cabaça
com mel (Filho 1946). Para Dias da Cruz & Guimarães (1941) em tupi-guarani o termo Irajá (corruptela de yrayá) significa “mel que brota”.
23
importância no território carioca. Na Freguesia de Nossa Senhora da Apresentação de Irajá,
marcada pela letra “H”, grandes engenhos como os de Inhaúma e o de Campinho mostram-se
assinalados (Abreu 1957). Posteriormente, a Freguesia de Irajá e Inhaúma separaram-se, como
pode ser observado na Figura 5.
Figura 4 - Localização das Freguesias do Rio de Janeiro em 1767. Em destaque a Freguesia de Nossa Senhora
da Apresentação de Irajá, (H) (Fonte Abreu 1957).
24
Figura 5 -. Rio de Janeiro com as divisões das Freguesias de Irajá e Inhaúma, século XIX (Fonte: Abreu 1957)
25
26
Além da Fazenda do Campinho (Engenho do Campinho, assinalado na Fig.4), outras
grandes fazendas formaram a região de Madureira, tais como, Fazenda da Bica, Fazenda do
Portela, Fazenda de Cascadura, Engenho da Rainha, Fazenda de Vigário Geral, entre outras.
As regiões de Irajá e Madureira nunca produziram café, mas cana-de-açúcar e também
produtos hortigranjeiros como banana, laranja, manga, amora, couve, alface, agrião, chicória,
cebolinha, batatas, entre outros. Esta foi sua primeira aptidão: produtora de gêneros
alimentícios e materiais de construção para o abastecimento da cidade, bem como servir como
o centro de transporte e escoamento da produção da região (Santos 1965). Para isso, as
fazendas eram interligadas entre si (Rio Ilustrado 1936).
Desde o século XVIII, esta região já abastecia a cidade de hortaliças e outros produtos
através do portinho de Irajá, na foz do então navegável Rio Irajá, pelo canal do rio Meriti e
canais secundários que levavam à Baia da Guanabara11 (Fig. 6).
Madureira era um ponto importante e movimentado por ser um local convergente no
caminho para a área central da cidade. Por um lado, alcançava a Capitania de São Paulo
(seguindo-se pela Estrada dos Jesuítas, em Santa Cruz) e também a de Minas Gerais. Pelo
outro lado, pela Serra do Tinguá, também se chegava a Minas Gerais. A produção das áreas
suburbanas da cidade, que simbolizavam a riqueza rural das terras, escoava por Madureira,
sendo que a região de Jacarepaguá guardava os maiores faustos da lavoura carioca (Dias da
Cruz & Guimarães 1941).
11
O rio Irajá pertence à denominada “Macrobacia da Baía da Guanabara” (sub-bacia Irajá) passando pelos
bairros atualmente conhecidos como Irajá, Vicente de Carvalho, Brás de Pina e Cordovil (disponível em:
www.rio.rj.gov.br).
Figura 6 - Portos no Rio de Janeiro Colonial – em destaque o Porto de Irajá (Fonte : adaptado de Fridman 1999).
27
28
No século XIX o adensamento dos núcleos suburbanos, formados desde o século XVI,
ampliou-se preferencialmente em torno das igrejas e proximidades das fazendas devido à
concentração de atividades comerciais, que utilizavam as vias fluviais e marítimas e,
posteriormente, a estrada de ferro. A Igreja Nossa Senhora da Apresentação, em Irajá (séc.
XVIII) e o Santuário Mariano de Nossa Senhora da Penha de França (século XIX) foram
marcos locais para o desenvolvimento e consolidação como área urbana.
Em 1850 a promulgação da Lei das Terras permitiu a aquisição de pequenos lotes por
parte dos posseiros, consolidando legalmente a propriedade privada da terra e possibilitando o
fracionamento das grandes fazendas coloniais e com isto a organização dos loteamentos
(Fridmam 1999). Essa medida potencializou o processo de ocupação das áreas suburbanas
possibilitando a aquisição de terras por parte de grupos que tentavam principalmente a
ascensão social.
A chegada dos trilhos
Durante o século XIX, a expansão da malha ferroviária contribuiu para uma
significativa mudança na região. Os núcleos suburbanos que se formavam em volta das igrejas
ou de pontos comerciais foram ampliados pelas estações ferroviárias que formaram
futuramente os bairros da região. Concomitante, houve a abertura de ruas paralelas aos
núcleos e o desenvolvimento dos bondes por tração animal. O interesse de empresas privadas
na região resultou na eletrificação dos bondes, entre outros investimentos. Além disso, as
formas rudimentares de transporte ainda mantinham grande importância no transporte
suburbano. As carroças e animais de carga tiveram, por muito tempo, um papel muito
importante na distribuição de bens (sobretudo alimentos) e prestação de serviços pelo poder
público e por agentes privados (Duarte 2005)
Somente em 1858 é que os trilhos da Central do Brasil chegaram à região com o
primeiro trecho da Estrada de Ferro D. Pedro II (depois denominada Rede Ferroviária Federal
Central do Brasil – RFFSA), com ramais em Nilópolis, Mesquita, Nova Iguaçu, Queimados,
Japeri e Paracambi). Entretanto, a estação mais próxima à Madureira era do bairro vizinho
Cascadura, apesar de não ser o local de maior centralidade da região (Barat 1975; Abreu
1997). Duarte (2005) lembra que a estação não foi construída com o objetivo primordial de
29
transportar passageiros e produtos para o abastecimento da capital, e sim escoar o café do Vale
do Paraíba.
As estações de Madureira foram inauguradas, a primeira em 1893 - conhecida como
estação de Madureira - e a segunda, em 1898, a estação de Magno, na Estrada de Ferro
Melhoramentos do Brasil, localizadas apenas a 400 metros uma da outra (Duarte 2005).
Atualmente a estação de Magno é conhecida como Estação do Mercadão de Madureira, por
causa da proximidade do Mercado, tendo sido incorporada, em 1903, à Estrada de Ferro
Central do Brasil, com o nome de linha auxiliar (Abreu 1997) 12.
Em relação à história dos trilhos em Irajá, a estrada de ferro Rio D’Ouro que ligava a
localidade de Rio D’Ouro (Nova Iguaçu) ao bairro do Caju (RJ) foi criada, em 1876, para
transportar trabalhadores e materiais para a primeira grande obra de abastecimento de água
encanada no Brasil, oriunda dos mananciais da serra do Tinguá, em Nova Iguaçu, destinandose a abastecer a demanda de água nos chafarizes da cidade. O grande número de trabalhadores
foi determinante para a ocupação da área já que passaram a construir barracos em terrenos
localizados nas proximidades das paradas dos trens. A estação de Irajá foi aberta em 1883,
pela já citada Estrada de Ferro Rio D’Ouro. Em 1970 foi construído um prédio para essa
estação que, em 1983 transformou-se na estação de metrô de Irajá 13 (Fig. 7).
A ferrovia incentivou todo processo de ocupação do subúrbio e, conseqüentemente, a
formação dos bairros próximos às estações, o que favoreceu a transformação de freguesias que
até então se mantinham exclusivamente rurais (Abreu 1997).
12
As duas estações em Madureira são administradas, desde 1998, pela SuperVia, concessionária responsável pela
malha ferroviária da região Metropolitana do Rio de Janeiro.
13
“Companhia do Metropolitano do Rio de Janeiro: A história do Metrô Carioca” em www.railbuss.com acessado em 20 de setembro de 2007.
Figura 7 - Mapa da região metropolitana do Rio de Janeiro, com a localização das estradas de ferro. (Fonte: Abreu
(1997).
30
31
Com a criação das ferrovias, os núcleos surgidos começaram a se adensar e a crescer
de forma desordenada. Entre 1861 (Cascadura) e 1890 (Madureira), novas estações foram
criadas para atender ao movimento de transporte dos habitantes dos bairros, já agora com
características tipicamente urbanas. Um intenso comércio varejista formou-se em alguns dos
bairros e surgiram loteamentos para construção de residências e imóveis comerciais14.
O processo de loteamento se intensificou, sobretudo, nas terras do entorno das linhas
férreas. Eram loteamentos promovidos por particulares, sem a intermediação do estado,
incentivados pela presença das concessionárias de serviços públicos, como transporte coletivo
e iluminação, dois dos grandes vetores da expansão urbana da cidade (Santos 1965).
Em 1876, os bondes chegaram à região. Esse meio de transporte potencializou a
ocupação dos espaços suburbanos, fazendo a ligação de áreas mais distantes até os núcleos
suburbanos. Duarte (2005) afirma que “o novo padrão de circulação baseado nos transportes
sobre trilhos acabou por soldar a centralidade do bairro de Campinho, na de Cascadura,
compondo um dos espaços mais dinâmicos dos subúrbios no início do século”. Os bondes
atuaram com grande importância no desenvolvimento dos bairros suburbanos, dinamizando o
acesso a áreas além das estações de trem. Abreu (1997) aponta a importância dos transportes
coletivos na transformação da forma urbana na cidade. Ele afirma que os trens e os bondes
atuaram sincronicamente como elementos impulsionadores na transformação da cidade. Com
isso os transportes coletivos foram indispensáveis para o crescimento urbano nas áreas
suburbanas e na transformação do local, que antes tinha uma feição rural e que após a chegada
dos transportes coletivos foi ganhando uma feição urbana.
A constituição de Madureira e Irajá como espaços urbanos e a necessidade social dos
mercados
Para Duarte (2005), os bairros de Madureira e Irajá, na virada do século XIX para o
XX, não possuíam uma feição urbana. Só em 1910 a luz elétrica chegou às residências, e em
14
Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro: Plano Estratégico da cidade do Rio de Janeiro em:
www.rio.rj.gov.br/planoestrategico - acessado em 15 de setembro de 2007
32
1917 às suas ruas. Porém, nas primeiras décadas do século XX, os bairros passaram por um
importante processo de urbanização e ocupação.
No começo do século XX, com a reforma urbana promovida pelo prefeito Pereira
Passos (1902-1906), inclusive com a demolição de cortiços no centro da cidade, um grande
número de pessoas se deslocou para os subúrbios, gerando um processo de urbanização
decisivo na região e separando as áreas mais privilegiadas como Centro, Zona Sul e Tijuca
(Abreu 1997). Essa ação foi determinante para a formação social das áreas suburbanas, pois o
desenvolvimento da cidade do Rio de Janeiro tomou duas direções, uma para Zona Sul da
cidade, feita por populações com maiores recursos e a outra para as áreas suburbanas, feitas
pelos proletários que viviam nos cortiços demolidos na área central. No momento em que
Pereira Passos assumiu a gestão da cidade, esta apresentava um cenário complexo no tocante à
estruturação e distribuição espacial do pequeno comércio, herdado de séculos de um longo
passado colonial. Nesse cenário, com os bairros de Madureira e Irajá, não foi diferente. A
construção de mercados de hortigranjeiros, nesses bairros, estava inserida nessa lógica de
arrumação do comércio varejista em locais consideradas mais “apropriados”. Mais que um
simples espaço para venda de mercadorias, os mercados passaram a se constituir em
importante fonte de rendimentos para o contingente de população que chegava aos subúrbios,
praticamente excluídos da economia formal.
A CEASA
Durante a década de 70, o interesse do Estado em investir na dinamização do
abastecimento da cidade do Rio de Janeiro resultou na inauguração da CEASA (Centrais de
Abastecimento do Estado do Rio de Janeiro S.A). Trata-se de uma sociedade por ações de
economia mista, órgão da administração indireta do Estado do Rio de Janeiro, vinculada à
Secretaria de Estado de Agricultura, Abastecimento, Pesca e Desenvolvimento do Interior. Foi
criada pelo Decreto Lei Estadual nº 228 de 20 de maio de 1970, pela Companhia Brasileira de
Alimentos (COBAL), órgão do Ministério da Agricultura e Abastecimento. Em 1988, foi
estadualizada
pelo
Decreto
Lei
nº
2.400,
de
21
de
dezembro
de
1988
(www.ceasa.rj.gov.br/institucional/institucional.htm) (Fig. 8).
O sistema compreende, atualmente, cinco unidades ligadas diretamente ao
abastecimento de hortigranjeiros do estado, assim distribuídas: a Central Grande Rio em Irajá,
33
uma Unidade em São Gonçalo, e três Mercados do Produtor; Região Serrana (Nova Friburgo),
Paty do Alferes e Noroeste Fluminense (São José de Ubá).
A CEASA tem como objetivos básicos promover, desenvolver, regular, dinamizar e
organizar a comercialização de produtos hortigranjeiros ao nível de atacado no Estado do Rio
de Janeiro. É considerada a segunda maior do Brasil em volume comercializado e é
responsável pelo abastecimento do segundo maior mercado consumidor do País, que é a
Região Metropolitana do Rio de Janeiro, já que atende a 90% do consumo desta população. A
sua localização, na Avenida Brasil tornou-se um ponto estratégico para ligação com os
produtos hortigranjeiros advindos, principalmente, da região serrana do Estado, bem como
para a distribuição destes produtos por toda a região metropolitana, visto que a Avenida Brasil
é interligada à Via Dutra, à rodovia Washington Luis bem como à Ponte Rio-Niterói
(www.ceasa.rj.gov.br/institucional/institucional.htm).
Segundo
Costa
&
Moura
(s.d),
inicialmente a Central atacadista de Irajá possuía apenas dois espaços destinados ao comércio
de produtos agrícolas. O primeiro era destinado ao comércio de cereais e frutas. O segundo
espaço era o mercado destinado à comercialização dos produtos familiares de todo o estado
(pavilhão 21).
Figura 8 - CEASA (Centrais de Abastecimento do Estado do Rio de Janeiro SA)
(Fonte: www.ceasa.rj.gov.br/ceasa; capturada em 24 de setembro de 2007).
34
A sua localização em Irajá deve-se, provavelmente, à história do bairro relacionada,
desde o século XVIII, ao abastecimento de alimentos para a cidade do Rio de Janeiro.
Com a instalação da CEASA, o Mercado de Madureira sofreu forte queda nas vendas,
forçando a mudança de perfil de seus produtos já que comercializava hortigranjeiros em
atacado, o que passou a ser feito pela CEASA (ACOGRAMM 2001). Desta forma, o mercado,
passou a diversificar seus produtos e suas lojas, traçando um novo perfil atrativo para o
comércio. Começaram a surgir lojas para venda de produtos “populares” como plásticos,
brinquedos, bijuterias, entre outros, e de artigos religiosos.
No que diz respeito especificamente ao pavilhão das ervas, a abertura da CEASA teve
conseqüência direta na mudança de perfil das plantas comercializadas. Nessa ocasião a
maioria dos vendedores eram portugueses especializados na venda de hortaliças. Com a
concorrência da CEASA e a abertura de muitos supermercados, o preço das hortaliças caiu
tornando a venda desfavorável resultando assim numa gradativa mudança em direção ao
comércio de plantas medicinais e ritualísticas, o que será discutido posteriormente.
Para Seabra (2006) o sistema CEASA criado para ser um entreposto comercial
responsável pela aglomeração de fornecedores de produtos agrícolas e varejistas perdeu, na
década de 90, sua função pela integração direta de grandes redes de supermercados com seus
fornecedores, em harmonia com o desenvolvimento de tecnologias capazes de integrar as
partes na cadeia de supermercados. A CEASA, ao contrário da maioria dos supermercados,
abriga vários intermediários, ou atravessadores, até o consumidor final (Seabra 2006). Não
basta produzir em baixo custo, é fundamental fornecer, estocar e distribuir de forma rápida,
com constante redução de custos, como fazem as grandes redes de supermercados. Ainda
segundo Seabra (loc. cit.), o resultado desse processo foi a marginalização de produtores
“incapazes” de atender às metas exigidas pelas grandes redes varejistas, sendo alijados do
canal de comercialização hegemônico, restando o sistema CEASA-RJ como alternativa para o
pequeno produtor rural fluminense.
É justamente nesse cenário de produção rural, citado por Seabra (2006), que estão
incluídos os comerciantes de plantas medicinais, rituais e condimentares na CEASA. O fato do
incremento da venda de tais plantas (nos últimos dez anos), por parte desses produtores, é
certamente uma adaptação às novas configurações, forçadas pela entrada dos supermercados
na competição pela venda de legumes e verduras, bem como pela busca de atendimento de
35
uma demanda, aparentemente crescente. Segundo os próprios produtores, uma tentativa de
manter a renda mensal. Essa questão não atinge somente os comerciantes da CEASA, mas boa
parte da agricultura familiar do estado, que se encontra fragilizada no âmbito da produção
agrícola e escoamento e comercialização de seus produtos. Entretanto, embora pareça
paradoxal, essa agricultura familiar abastece boa parte da população urbana do Rio de Janeiro,
principalmente com raízes e folhas (Costa & Moura s.d).
Assim, erveiros de diferentes locais (ou até de outros municípios) dirigem-se, de
madrugada, à CEASA para a compra de espécies que serão revendidas em feiras livres,
pequenos mercados e em bancas isoladas, espalhadas pela cidade.
No pavilhão 21 da CEASA, referido anteriormente, concentram-se dessa forma os
erveiros (todos homens), acomodados sempre nos mesmos lugares e delimitados entre si – e
entre outros comerciantes – através das caixas de madeira usadas no transporte das
mercadorias (Figs. 9 e 10). As informações relativas a esses erveiros encontram-se na Tabela
1.
Figura 9 - Pavilhão 21 da Central de Abastecimento do Estado do Rio de Janeiro (CEASA)
iniciando sua atividade matutina (foto: I. M. Silva em 8 de março de 2006).
36
Figura 10 - Erveiro entrevistado na Central de Abastecimento do Estado do Rio de Janeiro
(CEASA) (foto: I. M. Silva em 28 de março de 2006).
37
Tabela 1 - Informações relacionadas aos erveiros que trabalham na CEASA/ RJ (2005/2006). Carga de Trabalho Semanal (CTS).
Erveiros/
Naturalidade
HJ
Região norte do
Brasil
Idade
Tempo no
mercado (anos) /
CTS (dias)
Tipo de cultivo
Residência
Autodenominação**
Observações
Sócio com outros nortistas, moradores
no local das hortas. Vendem também
em Madureira.
~ 60
5
6
Horta
comunitária
Madureira
HA
Rio de Janeiro
52
17
5
Não possui
horta
Petrópolis
(região serrana)
Produtor rural/
erveiro
HR
Rio de Janeiro
31
~1
5
Horta própria
Pati do Alferes
(região serrana)
Produtor rural
HAl
Rio de Janeiro
~ 35
~10
2
Horta própria
Miguel Pereira
(região serrana)
Produtor rural
HT
Rio de Janeiro
71
15
2
Horta própria
Friburgo
(região serrana)
Erveiro
HM
Rio de Janeiro
65
+ 10
4
Horta própria
Bangu
Produtor rural
HS
Rio de Janeiro
35
12
5
Horta própria
Seropédica
Produtor rural
Morador do bairro rural INCRA.
61
17
1
Produtor rural
Vendedor de verduras em outro
pavilhão e ocasionalmente no Pavilhão
21. Pertence à Associação de
Agricultores do bairro.
HD*
Rio de Janeiro
Horta própria
Campo Grande
Erveiro
HR, HAl e às vezes HT são seus
fornecedores.
Irmão de HA
Cunhado de HA
* Entrevista incompleta (poucos dados) que não foram incluídos na análise quantitativa. ** A principio todas as pessoas que vendem nesse pavilhão da
CEASA são produtores rurais (adquirindo permissão para venda).
38
Das oito pessoas comercializando ervas na CEASA, a metade é da região serrana,
considerada a principal área de produção hortícola do estado (Seabra 2006). O informante HT
especializou-se em ervas medicinais, e se considera o “único erveiro” do local. Seus pais eram
suíços e não conheciam as plantas de Friburgo quando foram morar lá:
“Erveiro é quem receita... .aqui na CEASA muitos só
vendem, mas eu sou procurado porque sei usar...eu sou
teórico, aprendi sozinho”
O Sr. HA, um outro informante, relutou um pouco a se autodenominar erveiro, mas
argumentou:
“vendo ervas...então sou erveiro, né?”
Esse último foi considerado o informante-chave pelo fato de ter sido conhecido
anteriormente e um dos mais dispostos a colaborar. Na listagem livre, restritiva apenas às
espécies mais vendidas, ele foi o responsável pelo maior número de citações (18), num total de
99 para todos os erveiros. Juntamente com HT, alcançou 45,5% das 134 citações de espécies,
incluindo todas as entrevistas da CEASA.
As outras seis pessoas, embora se vejam como produtores rurais, também são
conhecidos como erveiros pelo fato de venderem espécies medicinais e rituais. Em 1999, na
primeira visita à administração da CEASA para permissão de trabalhos de pesquisa com
erveiros, fomos levados diretamente ao pavilhão 21 e apresentados àqueles que lá estavam
àquela ocasião (entre eles HT e HA). A utilização da técnica bola-de-neve para indicação dos
informantes deixou clara a condição de ser um erveiro: vender ervas – aqui entendidas como
espécies usadas pela população como remédio para a cura de doenças/sintomas e também para
questões espirituais na forma de molhos de folhas frescas ou secas, cascas, raízes, frutos , etc...
Os informantes HM, HS e HD, moradores da Zona Oeste do Rio de Janeiro são, sem
dúvida, pequenos agricultores ligados a CEASA há mais de 10 anos. HD era verdureiro (e
erveiro) do Mercado de Madureira, mas na década de 80 mudou-se para a CEASA com a
esperança de melhorar as vendas.
O informante HJ, ligado atualmente também ao comércio de ervas de Madureira,
reconhece-se como erveiro, apesar de até cinco anos atrás trabalhar na construção civil, no
39
norte do país. Trabalha em horta, em Madureira, com um casal, que às vezes também vende na
CEASA. Os três estão juntos, trabalhando em hortas e na CEASA, há apenas cinco anos.
Vendem ervas também, em numa banca isolada, próxima ao Mercado de Madureira.
HS é morador do INCRA, no Município de Seropédica, local de agricultores outrora
moradores do bairro Irajá e que, na época de construção da CEASA, foram indenizados pelo
governo (provavelmente pelo Instituto Nacional de Colonização Agrária) e transferidos para
Seropédica.
O Mercado de Madureira
O Mercado de Madureira teve sua origem no bairro de Cascadura, em um terreno
próximo à estação de trem, em 1914. Por motivos comerciais, foi transferido, em 1916, para
Madureira, à Rua Oliva Maia, em um terreno doado pela Light Serviços de Eletricidade SA
(Light) durante a administração do prefeito Amaro Cavalcanti, que governou o Distrito
Federal entre 1917 e 1918 e que teve predileção pelas zonas suburbana e rural, realizando
obras de incentivo à lavoura e pecuária (ACOGRAMM 2001, Gorberg & Fridman 2003) (Fig.
11).
De acordo com as informações obtidas por Fernandez (1995), a transferência do
mercado deu-se mais em função do interesse pessoal de um grande proprietário de Madureira
que junto com outros comerciantes portugueses buscou valorizar o bairro. Esta informação
pode ser confirmada na entrevista transcrita do trabalho da referida autora:
“O Seu Antônio Pereira tinha várias propriedades aqui em Madureira. Ele tinha
condições, junto com os patrícios, de trazer o mercado para Madureira. Então
valorizou o negócio dele. Em Cascadura ele não tinha nada. Ele usou a
inteligência. E como? Ao lado da estação de Magno (hoje Madureira), ali tinha
um ferradouro que ferrava os animais. Então o pessoal fazia suas vendas em
Cascadura, acabava três, quatro horas da tarde e a esta hora é que trazia os
animais para vir ferrar aqui em Madureira e ele, inteligentemente, embora fosse
analfabeto de pai e mãe, usou a cabeça e convenceu o pessoal de Cascadura a vir
fazer o mercado no ferradouro e aí, enquanto vendia mercadoria, os seus animais
40
estavam sendo ferrados. Um saco e dois proveitos. Vendia e quando acabava o
dia dele, pegava o seu animal e ia embora. Essa é a razão realmente do mercado
vir de Cascadura para Madureira.” (Entrevista do Sr. Nelson Prudente de Moraes
- administrador do mercado de Madureira - em 09/1994 a Annelise C. Fraga
Fernandez, 1995).
Em função da duplicação da linha de trem auxiliar, transferiu-se, posteriormente para o
prédio onde se localiza hoje a Escola de Samba Império Serrano (Rua Edgar Romero, 114) e,
em 1929, passou por uma reforma (ampliação) que o transformou no maior centro de
distribuição de alimentos da zona suburbana (ACOGRAMM 2001).
Figura 11 - Mercado de Madureira antigo, provavelmente em 1914 (Fonte: ACOGRAMM
2001)
Em 1949 o prefeito do Distrito Federal, General Mendes de Morais, cumprindo a
promessa de acabar com os intermediários que encareciam o preço das mercadorias, mandou
construir 26 boxes, no centro do Mercado de Madureira, com venda direta ao público. Após a
concorrência pública, que teve por base a produção de cada um, realizou-se, na Secretaria
41
Geral da Agricultura, a entrega destes pontos de venda, sendo 24 deles para verduras e
hortaliças, um para venda de peixes e outro para leite e derivados.
Em 1959, o Presidente Juscelino Kubitschek inaugurou, à Avenida Edgar Romero, 239,
o que o povo chamou de Mercadão, para o qual se mudaram os comerciantes do antigo
mercado. Hoje é de propriedade privada e administrado pela Associação Comercial do Grande
Mercado de Madureira (ACOGRAMM), fundada em 1956. Este sem dúvida foi um dos pólos
de venda que contribuiu para que Madureira, nessa época, chegasse a ocupar o primeiro lugar
em arrecadação de ICMS no Rio de Janeiro (ACOGRAMM 2001) (Figs. 12 e 13).
Figura 12 - Visão aérea do Mercado de Madureira pela entrada da Rua Conselheiro Galvão,
destacando-se o pavilhão das ervas e um trecho da linha do trem acompanhado de casas
(Fonte: www.mercadaodemadureira.com.brfotos. htm ; capturada em 15 de novembro de
2005)
42
Figura 13 - Visão frontal do Mercado de Madureira (Rua Edgard Romero), Madureira, Rio de
Janeiro, RJ. (Fotografia: I. M. Silva em 3 de maio 2004).
Em 2000 houve um grande incêndio que destruiu todas as suas instalações, e que
causou uma verdadeira comoção pública. Ciente da enorme importância do Mercadão, a
Prefeitura deu um suporte imediato aos comerciantes, o que possibilitou a re-inauguração em
instalações modernizadas, já em 2001 (ACOGRAMM 2001).
O mercado de ervas
O Mercado de Madureira possui atualmente cerca de 700 lojas para a venda de
produtos de alimentação, utensílios domésticos, papelarias, drogarias, e principalmente de
artigos religiosos. Funciona de segunda à sexta-feira de 6:00 às 19:00h e aos sábados de 7:00
às 14:00h (ACOGRAMM 2001). Alguns setores encontram-se abertos aos domingos,
inclusive a área de hortaliças e plantas medicinais, rituais e condimentares.
O perfil do Mercado, voltado para as questões ritualísitcas, é conseqüência da
inauguração da CEASA/RJ, na década de 70, que provocou forte queda nas vendas em
Madureira à época especializado no comércio de produtos hortigranjeiros em atacado, o que
passou a ser feito, em maior escala, pela CEASA (ACOGRAMM 2001).
43
Desta forma, o comércio de Madureira passou a diversificar seus produtos e suas lojas,
traçando um novo perfil atrativo. Especificamente no Mercado de Madureira foram
inauguradas lojas para venda de produtos “populares” como plásticos, brinquedos, bijuterias,
entre outros e, principalmente de artigos voltados às questões ritualísticas incluindo-se aí,
venda de animais para sacrifícios (cabritos, galinhas) ou de animais mortos (ou partes dos
mesmos), tais como estrelas-do-mar, cascos de tatú e cavalos-marinhos. Nesse sentido, para
Falcão (2002) torna-se referencial para o povo-do-santo, ponto de partida para qualquer ritual.
O local reservado à comercialização de hortaliças bem como de espécies medicinais
rituais e condimentares, é conhecido como pavilhão das ervas, que ocupa uma área de
aproximadamente 350 m², dividido em boxes (de aproximadamente 2 m2 cada um), onde cada
vendedor expõe suas mercadorias para a venda. (Fig. 14). Está localizado no segundo andar do
Mercado de Madureira, ao final do corredor voltado para a Rua Conselheiro Galvão (Fig. 15).
Figura 14 - Boxes de venda de espécies vegetais no “pavilhão das ervas” – Mercado de
Madureira, Rio de Janeiro, RJ (Foto: I. M. Silva; em 3 de maio de 2004).
44
A planta baixa do pavilhão das ervas indica a disposição dos 28 boxes. Nela estão
assinalados os 12 boxes com os informantes entrevistados (Fig. 16). Dois não trabalham nos
boxes e estão, no croqui, assinalados como dois círculos, no corredor. No box 19, foram
entrevistadas duas pessoas, resultando então em 15 informantes. Os boxes 6, 7 e 23, são de
família portuguesa e não quiseram participar das entrevistas. Informaram que venderam suas
hortas mas ainda vendem, quase exclusivamente, verduras. No box 24 são vendidas apenas
pimentas (compradas na CEASA); o box 21 estava desativado durante a pesquisa.
Apesar de haver relações de parentesco entre os informantes, como pode ser visto na
Figura 16 pelos triângulos coloridos e nas tabelas 2 e 3, tudo indica que existe uma tendência
dos filhos não permanecerem trabalhando nos Pavilhão das ervas. Ao contrário, as
informações obtidas indicam que há expectativa dos pais para que os filhos exerçam outras
atividades, que não a de feirante. Entretanto, vale ressaltar que nas hortas o trabalho familiar
parece fundamental.
45
Pavilhão das ervas
Figura 15 - Croqui das lojas no 2° andar do Mercado de Madureira, Rio de Janeiro, RJ,
indicando o “pavilhão das ervas” aonde se concentra principalmente a comercialização de
espécies medicinais, rituais e condimentares, bem como verduras (adaptado de ACOGRAMM
2001).
Figura 16 - Planta baixa indicando a disposição dos boxes no pavilhão das ervas, Mercado de Madureira, Rio de Janeiro, RJ. Os boxes com
informantes entrevistados estão marcados com listas. No corredor, os círculos correspondem aos erveiros/fornecedores entrevistados, que
não trabalham em boxes específicos. Os boxes relacionados às hortas estão marcados em verde. Os triângulos mostram, através das cores,
vínculos familiares entre os vendedores dos boxes.
46
47
Pela manhã até no máximo 9:00 horas, chegam ao local os fornecedores (ou
entregadores) que vendem espécies cultivadas para os comerciantes dos boxes (erveiros e
verdureiros) que não possuem hortas. Também podem ser vistos os fornecedores (extratores)
de espécies nativas (chamados de erveiros ou então de “casqueiros”, especializados em trazer
cascas) com sacos de aniagem, dentro dos quais estão dispostos os ramos das espécies,
agrupados em molhos grandes (também chamados de “amarrados”). Estes são dispostos
geralmente no chão do corredor central, entre os boxes de venda. Esses molhos são então
analisados e comprados pelos erveiros dos boxes que, por sua vez, os subdividem em três a
quatro molhos menores, para serem revendidos aos consumidores ou então a feirantes de
outras feiras que, por sua vez, irão fragmentá-los, para posterior revenda. Eventualmente esses
entregadores vendem diretamente aos consumidores.
Azevedo & Silva (2006) apresentam um diagrama da “cadeia de comercialização” que
foi re-adaptado, a partir das informações dos fluxos de vendas, adquiridas nesse trabalho
(Fig.17).
Mercado de Madureira
Horticultores (erveiros) e
Extratores
Feiras livres e pequenos mercados
Consumidores
Figura 17 – Diagrama dos fluxos de vendas de espécies comercializadas no pavilhão das
ervas, Mercado de Madureira, Rio de Janeiro, RJ. A seta mais escura indica a situação mais
freqüente (adaptado de Azevedo & Silva 2006).
A estimativa do total de pessoas que trabalham nesse pavilhão é, em média, de duas
pessoas para cada box de venda. Pelas informações coligidas, os boxes pagam cerca de R$
300,00 mensais de aluguel à administração do mercado.
48
O ingresso financeiro diário, para cada box, é de difícil cálculo. Os erveiros não falam
dos valores de venda alcançados. De forma geral, há uma média de preços praticados que pode
variar em função das espécies procuradas e da forma em que são vendidas (Tabela 4).
Tabela 4 – Variação de preços executados no Pavilhão das ervas, Mercado de Madureira, Rio
de Janeiro, RJ, para as unidades comercializadas, de espécies vegetais de uso popular (não
alimentícias), nos anos 2005-2006.
Itens
Molhos (ramos)
Molhos (cascas e raízes)
unidade (frutos e tubérculos)
Variação de Preços (R$)*
1,00 - 2,00
2,00 – 3,00
2,00 - 5,00
unidade (garrafadas)
15,00 - 30,00
* Algumas espécies alcançam preços diferenciados: Musa x paradisiaca L. (coração-dabananeira - R$ 2,00 a R$ 5,00); Saccharum officinarum L. (cana-de-açucar – R$ 5,00 o
pedaço de cerca de 1 metro); Piper umbellatum L. (capeba – R$ 2,50 o molho). Preços
praticados em 2005/2007.
A Tabela 5 indica a média provável de lucro alcançada, por erveiro do Mercado de
Madureira, por molho. Esses valores não se aplicam nos casos em que os próprios erveiros são
donos de hortas ou extratores de espécies não cultivadas visto que não há compra e venda.
Tabela 5 - Expectativa de lucratividade na venda de molhos pelos erveiros no Pavilhão das
ervas, Mercado de Madureira, Rio de Janeiro, RJ (anos 2005/2006). Os preços são relativos às
49
espécies cujos ramos (ou folhas) são comercializados em forma de molhos e vendidos a R$
1,00.
Preço de custo
Preço/ molho íntegro pago ao mateiro
R$ 0,60
Preço de custo de 1/3 de molho
R$ 0,20
Preço de revenda de cada molho dividido
Lucro na revenda (1/3 molho x 3)
revenda
lucro*
___
___
(%)
___
R$1,00
R$ 0,80 x 3
R$ 0,80
R$ 2,40
* Lucro relativo ao molho íntegro que é dividido em três partes, por erveiros, do Mercado de Madureira.
400
Fonte: dados da pesquisa
Teve-se a oportunidade, com a permissão dos erveiros, de se verificar as vendas
executadas durante algumas horas, permanecendo-se em pé, ao lado dos clientes compradores.
O tempo de observação e os valores alcançados encontram-se na Tabela 6. Em 13 horas de
observação, as mulheres compraram mais do que os homens, o que já era esperado de acordo
com os informantes. Em relação à média de venda de R$ 11,00/ h/ erveiro, pouco se pode
concluir. Essa metodologia objetivava comparar as espécies compradas pelos consumidores,
com as espécies citadas pelos erveiros como as mais vendidas, entretanto, gerou desconforto
para as pessoas envolvidas e não se deu procedimento.
Tabela 6 - Valores de venda alcançados, em horas de observação, em boxes do Pavilhão das
ervas no Mercado de Madureira, Rio de Janeiro, RJ (ano/2005). Para cada box estão indicados
50
os dias de observação, tempo de observação, gênero do comprador (homem = H; mulher= M),
média do valor da venda por hora e dias da semana em que ocorreram as observações.
Box
Data
1° Box
21/02/05
27/03/05
sub-total
2° Box
sub-total
3°Box
Compradores
Venda/
(gênero)
hora
Tempo de
Venda
observação
(R$)
2h
9,50
2 H ; 6M
Segunda-feira
1:30 h
3 H; 4 M
Domingo
3 H; 9 M
Sábado
Dias da semana
(R$)*
16/04/05
09/05/05
1:45 h
8,00
56,00
30 minutos
8,00
4M
13/05/05
1:30 h
2 H; 1 M
Sexta-feira
06/06/05
45 minutos
13,00
10,00
2 H; 3 M
Segunda-feira
----
8:00 horas
16 H; 23 M
18/02/05
1:30 h
104,5
20,00
5 H; 1 M
Sexta-feira
28/02/05
1:00 h
14,00
3 H; 7M
Segunda-feira
21/03/05
1:45 h
18,00
2H; 6 M
Segunda-feira
----
4:15 h
52,00
10H; 14 M
13,00
----
13/05/05
1:30 h
9,00
2 H; 7 M
7, 00
Sexta-feira
28H; 44 M
11, 00
TOTAL
13:45 h
165,00
*Média do valor pago por pessoa= R$ 2,29
Segunda-feira
13,00
----
Os dados relacionados aos erveiros, obtidos nas entrevistas e consideradas relevantes,
encontram-se na Tabela 7. Já, a Tabela 8 apresenta, especificamente, as características dos
erveiros que trabalham também como fornecedores.
51
Tabela 7 – Informações relacionadas aos erveiros que trabalham nos boxes do Pavilhão das ervas, Mercado de Madureira, Rio de Janeiro, RJ,
entrevistados em 2005/2006. Carga de Trabalho Semanal (CTS); Tempo aproximado de apropriação da horta (TH).
Erveiros (n° box)*/
Naturalidade
Idade
Tempo de
mercado
(anos) /
CTS (dias)
Tipo de cultivo/
TH
Vínculo familiar com o Pavilhão
das ervas
HA (box 2)
Paraíba
50
15
6
Horta própria
(?)
Não possui parentes no mercado
ME
Paraíba
63
30
6
Horta própria
(+ 30 anos)
HAd
Rio de Janeiro
30
12
6
Horta própria
(30 anos)
O marido, português, trabalhava
Horta cuidada por um irmão que
no local
também abastece outra irmã
O sobrinho trabalha como ajudante feirante
Os pais trabalhavam no local.
ML
Rio de Janeiro
35
~10
5
Horta própria
(40 anos)
ME
Pará
51
15
1
Não possui horta
MEl
Rio de Janeiro
32
~ 10
5
Horta própria
(40 anos)
MF
Rio de Janeiro
~ 40
~ 10
6
Não possui horta
Os pais, portugueses, trabalhavam
no local. É irmã de ME
Observações
Horta há mais de 40 anos
A irmã trabalha no local
Os pais, portugueses, trabalhavam
no local
Horta há mais de 40 anos.
Primos trabalham no local
HJ, que é primo, é o fornecedor
de ervas
52
Erveiros (n° box)*/
Naturalidade
Idade
Tempo de
mercado
(anos) /
CTS (dias)
Tipo de cultivo/
TH
Vínculo familiar com o Pavilhão
das ervas
Observações
MR
Rio de Janeiro
40
7
6
Não possui horta
Marido, português, trabalhava em
lojas no mercado
Marido trabalha atualmente na
CEASA.
MV
Rio de Janeiro
35
4
6
Horta própria
( + 10 anos)
O pai, mineiro, trabalhava no local
Box comprado pelo pai há 10
anos
MM
Paraíba
50
20
6
Horta própria
(12 anos)
Não possui parentes no mercado,
em outros boxes
A família possui três hortas de
verduras e medicinais, cuidadas
pelo marido (filho de
Portugueses)
MRe
Rio de Janeiro
15
2
2
Horta familiar
Filha de MM
HJ
Português
61
37
6
Horta familiar
(47 anos)
Irmão e prima trabalham no local
*Todos se autodenominam erveiros
53
Tabela 8 - Informações relacionadas aos erveiros que trabalham no Pavilhão das ervas, Mercado de Madureira, Rio de Janeiro, RJ,
entrevistados em 2005/2006, fornecedores aos boxes do pavilhão das ervas (não possuidores de hortas). Carga de Trabalho Semanal (CTS).
Erveiros*/
Naturalidade
Idade
Tempo de
mercado
(anos) /
CTS (dias)
Residência
Autodenominação
Posicionamento dentro
do pavilhão das ervas.
Observações*
HE
Rio de Janeiro
~ 60
8
6
Magé
Fornecedor
(erveiro)
Traz espécies nativas de
outros municípios.
49
15
7
Rio de
Janeiro
Entregador
(mateiro)
Não vende em box,
permanece no corredor
e vende as plantas aos
erveiros e ao público.
Eventualmente vende
em boxes, quando
contratado
pelos
donos, na ausência
destes.
HH
Rio de Janeiro
HR
Marica, RJ
22
12
3
Maricá
erveiro
* Nenhum deles tem parentes trabalhando no Mercado de Madureira.
.
Chamado também de erveiro
pelos companheiros. Busca
as espécies nas hortas para
os donos dos boxes.
Há dois anos trabalha Traz espécies nativas de
no box cuja dona outros Municípios
possui horta.
54
ME, HJ e MR e tornaram-se informantes-chave e foram entrevistados repetidas
vezes sendo responsáveis por 63,8% das citações, num total de 50315. Mesmo na listagem
livre, em que todos foram submetidos à mesma pergunta sobre as espécies mais vendidas,
estes foram responsáveis pelos maiores números de citações: ME (31), HJ (22) e MR (20).
Os dois últimos estão entre os mais antigos no pavilhão. MR, apesar de estar a
relativamente pouco tempo, informou que foi trabalhar no mercado sem conhecer as
espécies e as indicações de uso. Aprendeu, segundo disse, com os outros erveiros do
pavilhão, e com a própria clientela. ME, que veio da Paraíba jovem, também afirmou que
aprendeu tudo que sabe sobre ervas dentro do mercado bem como outros informantes.
Dos 15 entrevistados, 13 são diretamente ou indiretamente ligados às hortas seja
por serem donos, seja indiretamente por laços familiares. Apenas ME e MR não possuem
horta.
Trata-se, portanto, de um sistema de certa forma “fechado” onde os saberes são
compartilhados entre os erveiros e os consumidores. Existe uma dinâmica própria de oferta
e procura das espécies, influenciada de certa forma pelas estações do ano, festividades e
influências da mídia. Essa última, segundo os informantes, foi responsável pelo grande
aumento da venda da erva-de-são-joão (Ageratum conyzoides) após uma reportagem em
programa de televisão, no ano 2006. A notícia referia-se a Hypericum perforatum L., muita
comercializada no mundo para tratamento da depressão e conhecida em diversos países
como St. John Wort (Schenckel et al. 2004). Assim, como Ageratum conyzoides é também
conhecido por erva-de-são-joão, passou a ser procurado no mercado e consumido, após a
reportagem, para tratamento de depressão!
A formação das hortas de Madureira: história e seu papel no abastecimento dos
mercados
A região dos bairros de Madureira e Irajá, Zona Norte da cidade, bem como a Zona
Oeste, desde o século XVII, atuaram como fonte de abastecimento de produtos agrícolas
para o centro urbano do Rio de Janeiro. Essa ocupação do solo foi intensa ainda na década
de 1950 e, segundo Abreu (1957) a horticultura, nessa época, era representada por 196
hectares de canteiros situados em Jacarepaguá e Santa Cruz e era cuidada
predominantemente por portugueses e japoneses. Existiam também em vários outros
15
Considerou-se apenas uma citação por espécie, por informante, mesmo que um informante tenha citado
uma espécie várias vezes, para diferentes usos, conforme sugerido por Amorozo (2002).
55
pontos, mas com o crescimento das cidades e a valorização dos terrenos nas áreas urbanas,
as hortas se mantiveram nas áreas suburbanas e nas zonas rurais da cidade.
Nessa ocasião o agricultor quase não ia ao centro da cidade e, segundo Souza
(1951), os produtos agrícolas eram vendidos diretamente nas feiras livres ou na porta dos
sítios ou eram fornecidos à terceiros para revenda ou, como caso mais freqüente, entregue
aos barraqueiros (atravessadores) do Mercado Municipal.
Na figura 18 são demarcadas as regiões de roças e hortas, da década de 50, nos
bairros da Zona Oeste como Campo Grande, Santa Cruz, Guaratiba, Vargem Grande,
Vargem Pequena e Jacarepaguá – esse bem próximo à Zona Norte (Abreu 1957). O
Mercado de Madureira era um ponto de convergência da produção hortícola dessa região.
na região) (Fonte: Abreu 1957)
Mercado Municipal; (2) Mercado de São Cristóvão (ou Barão de Mauá); (3) Mercado de Madureira (observar a presença das hortas
Figura 18 – Principais zonas de abastecimento de hortifrutigranjeiros. Os três pontos para onde converge a produção são (1)
56
57
Os portugueses tiveram um papel fundamental na implantação e manutenção das
hortas da cidade. De acordo com Florentino & Machado (2002), no início do século XIX o
Rio de Janeiro era uma cidade africana, mas em 1906 os portugueses já constituíam a
quinta parte da população carioca, trabalhando como empregado no comércio.
À época da Primeira Guerra Mundial, o Rio de Janeiro era o destino da maioria dos
imigrantes portugueses então aportados no país. A partir da década de 30 e até 1950 houve
um acentuado declínio na imigração portuguesa, mas que não impediu que as relações
culturais entre os dois países fossem estimuladas, tanto por força de certas iniciativas
governamentais de parte a parte, como devido à presença, no Brasil, de importantes
intelectuais portugueses fugitivos do Salazarismo. De fato, para Paulo (2000), Getulio
Vargas controlava a entrada de imigrantes portugueses, mas mesmo durante a II Guerra
Mundial, quando o governo brasileiro, “endureceu” com os imigrantes, Getúlio estimulava
a imigração para o Brasil.
De acordo com Galvão (1957) os portugueses viviam em um sistema agrícola
fundamentado no regime de pequena propriedade, em uma cultura mais voltada para
subsistência do que para exportação e, aqui no Rio de Janeiro, eles já encontraram um
regime de terras regido pela especulação imobiliária que os conduziu a uma agricultura
essencialmente comercial. Ainda segundo esta mesma autora, a adaptação para o novo
ambiente foi tal que os levou a se moldarem, perfeitamente, até mesmo ao regime de
especulação imobiliária, por exemplo, exigindo indenização pela roça que teriam que
abandonar quando a terra era vendida.
O engajamento no sistema de agricultura comercial em pequena propriedade,
configurou-se também comum em Madureira onde os portugueses elevaram sua renda e
passaram a contratar empregados, muitos deles nordestinos, para trabalhar em suas hortas.
Seguem-se duas entrevistas com alguns trechos que se referem à algumas questões acima
discutidas.
O informante Sr. HAd, português dono de horta, relatou em entrevista, que o pai
tinha terra em Portugal mas, como já havia um irmão no Brasil cuidando de uma horta
perto de Madureira, veio procurar uma vida melhor. Para vir para o Brasil tinha que ter
uma “carta de chamada” emitida pelo governo brasileiro e os parentes mandavam esta
carta para Portugal. Só assim o presidente Salazar autorizava as pessoas a saírem do país.
“Os portugueses já tinham tradição de plantar em Portugal e muitos já tinham
terra lá e plantavam milho, batata, castanha e cereja. Em Portugal já tinham o
58
ritmo de plantar e vieram ao Brasil à procura de uma vida melhor. (...)
Atualmente têm muitos nordestinos donos de horta pois vieram de norte [sic]
para trabalhar de empregados e acabam comprando a horta. Moram ali do
lado delas, para tomar conta”. (entrevista: 11/08/2006).
Em outra entrevista, o informante Sr. HMa (75 anos), português do Porto
esclareceu que chegou ao Brasil em 1931, chamado pelo irmão que já possuía uma horta,
em Turiaçu, próximo a Madureira.
“Quem começou a plantar as hortas eram os portugueses. Cada um de nós
manda vir outro, manda vir para o ramo que tem. Eu ganhava bem. Tinha um
freguês que levava, na semana, mil molhos de verduras. Nós tínhamos carroça
e íamos ao mercado de Madureira, que naquele tempo era no Império
Serrano. Depois fui para uma horta em Colégio”.
E referindo-se à atual situação das hortas:
“Quando nós chegamos de Portugal, já tínhamos casa. Na horta já havia
empregados para trabalhar. Hoje a rapaziada que vem do norte, vendem uma
caixa de limão ou um saco de milho, mas pegar na enxada, não pegam [sic].
As roças estão hoje abandonadas.”
A relação dos portugueses com o mercado de Madureira pode ser exemplificada
através dos dois entrevistados. O primeiro, juntamente com dois irmãos, é dono de boxes
no mercado de Madureira e também fornece ervas para outros erveiros - de dentro do
mercado- além de vender ervas em uma barraca próxima à horta (onde se deu a entrevista).
O segundo, Sr. HMa, vendia verduras para o Mercadão mas, hoje, não tem mais horta,
cultiva algumas espécies em sua própria casa ou as compra na CEASA e é apenas feirante.
A entrada dos nordestinos nesse contexto pode ser considerada recente. Na medida
em que os portugueses foram ascendendo socialmente (e às vezes mudando de bairro),
estes foram adquirindo as hortas, e conseqüentemente também se tornaram, aos poucos,
donos dos boxes no pavilhão das ervas. Os portugueses lançaram-se em outras atividade,
inclusive dentro do próprio mercado, como donos de lojas, em diferentes ramos.
Em Madureira a atividade do comércio de plantas se configurou de três maneiras:
no primeiro momento, quando a região era considerada uma freguesia rural e o cultivo de
59
hortaliças era realizado principalmente nas grandes fazendas. No segundo momento, com o
princípio da urbanização (fim do século XIX e início do século XX), provavelmente as
áreas de cultivo diminuíram e permaneceram nas mãos de pequenos produtores, em
pequenas propriedades. Mais recentemente, com o processo de urbanização consolidado,
essa atividade (de cultivo em hortas) em Madureira e bairros adjacentes ficou restrita aos
espaços, ao lado da linha ferroviária e sob as linhas de transmissão da LIGHT, onde, em
tese, não são permitidas construções. Essas hortas formam uma linha verde contínua que se
estende desde o bairro de Madureira até Guadalupe (passando por Turiaçu, Honório
Gurgel, Marechal Hermes, Barros Filho), alcançando aproximadamente 4 km de extensão
por 87 m de largura (Fig.19). À medida que se afasta de Madureira, diminuem as áreas
cultivadas que podem ser observadas, descontinuamente, em toda a faixa da linha de
transmissão, que se estende até a região do Maciço do Mendanha, por aproximadamente
25 km.
60
Figura 19 - Vista aérea dos bairros com um trecho das hortas, em destaque, entre
as linhas vermelhas. O círculo indica a localização da CEASA. Abaixo, o Mercado de
Madureira (1), acompanhado da linha ferroviária e de um segmento de hortas na linha de
transmissão da Light (Fonte: Google Earth; capturada em 16 de setembro de 2007).
61
Segundo as informações obtidas, as hortas mediam (e algumas ainda medem)
aproximadamente 2.000 m2, mas muitas foram divididas e hoje são bem menores, o que
pode ser verificado in loco. Os erveiros pagam, segundo eles, “uma espécie de aluguel ou
imposto” decorrente de um acordo com a LIGHT que gerencia o local em função da
passagem de fios de alta-tensão. Assim, não permite o plantio de árvores e fiscaliza a área,
inclusive, com sobrevôos de helicóptero.
Ao lado da linha ferroviária, e conseqüentemente das hortas, encontram-se muitas
casas construídas irregularmente, como ocorre em outros subúrbios da cidade. Moram aí,
inclusive, os donos das hortas e suas famílias ou as pessoas que tomam contam delas
(parentes ou ainda empregados) (Fig. 20).
Esse sistema de cultivo urbano (hortas urbanas) pode também ser encontrado em
outras cidades do país e do mundo (Castro 2006) e, segundo a Organizacão das Nações
Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO 1999), estima-se que 800 milhões de
habitantes das cidades, em todo o mundo, participam em atividades relacionadas à
Agricultura Urbana e Periurbana (AUP) que geram recursos para as famílias e produzem
alimentos. Essa agricultura urbana é considerada pela FAO, como a produção de alimentos
dentro dos limites das cidades em pátios e hortas comunitárias assim como em espaços
públicos ou espaços não aproveitados.
Neste contexto, as hortas de Madureira e adjacências, onde são cultivadas
hortaliças, legumes, raízes e tubérculos, frutíferas, espécies ornamentais, medicinais,
rituais, bem como condimentos, têm certamente papel fundamental na alimentação e
sustento das famílias, uma vez que o excedente é comercializado para o Mercado de
Madureira, para feirantes e para moradores garantindo, pela proximidade, produtos frescos
para o comércio local.
Nos canteiros (às vezes entre eles) verificou-se o cultivo de espécies herbáceas e
arbustivas, plantadas pelos erveiros, como Achillea millefolium (macelinha); Baccharis cf.
trimera (carqueja), Capsicum spp (pimentas); Cordyline fruticosa (pelegum), Cymbopogon
citratus (capim-limão), Dioscorea alata (cará), Foeniculum vulgare (funcho), Kalanchoe
brasiliensis (saião), Newbouldia laevis (akokô), Polygonum punctatum (erva-de-bicho),
Rosa cf. chinensis (rosa-branca), Sacharum officinalis (cana-de-açúcar), entre outras.
Foram também registradas a presença de muitas espécies protegidas ou encorajadas
bem como simplesmente toleradas. De acordo com Blanckaert et al. (2004), esses são
estados culturais de plantas manejadas em quintais. As primeiras referem-se àquelas que
vieram transplantadas de outros lugares ou que cresceram espontaneamente (nesse caso
62
nos canteiros ou entre eles) e recebem durante seu ciclo de vida algum tipo de cuidado.
Nesse grupo podem ser citadas as Aristoloquias (papo-de- perú, mil-homens), os assapeixes (Vernonia spp) e embaúbas (Cecropia sp.). Como toleradas, foram consideradas as
que se desenvolvem sem nenhum tipo de manejo, crescendo espontaneamente nos
canteiros, ou entre eles, sem a necessidade de tratos culturais como é o caso do picão
(Bidens pilosa), da serralha (Sonchus oleracea), do melão-de-são-caetano (Momordica
charantia), da erva-macaé (Leonurus sibiricus) e da tiririca (Cyperus rotundus), entre
outras espécies.
Figura 20 - Detalhe de um canteiro onde são cultivadas espécies medicinais, rituais e
condimentares em horta localizada sob fios de alta-tensão da Light, bairro de Madureira,
Rio de Janeiro, RJ (Foto: I. M. Silva em 30 de maio de 2005).
Essas características - apesar da não possibilidade de cultivo e manutenção de
espécies arbóreas - poderiam incluir esses espaços nos chamados homegardens, household
gardens ou house gardens (quintais, hortos ou hortas familiares). Na concepção de Kumar
& Fair (2004), um típico homergarden é parte integrante de um sistema de cultivo,
próximo a uma casa, onde ervas, arbustos e árvores são cultivados para serem consumidos
63
e como fonte de renda, e ainda outros serviços, incluindo benefícios estéticos e ecológicos.
Esses autores lembram que os principais atributos para a sustentabilidade desses sistemas
são a ciclagem eficiente de nutrientes devido à presença de muitas espécies, a conservação
da diversidade bio-cultural bem como a diversificação de produtos incluindo valores
sociais e culturais como a oportunidade de homens e mulheres trabalharem igualmente no
manejo de espécies.
Para Vogl et al. (2004) o critério de definição para homegardens é o fato de se
localizarem adjacentes às casas onde moram os horticultores os quais cultivam,
usualmente, frutas, verduras, ervas (aromáticas ou medicinais) e plantas ornamentais para
subsistência e por prazer. Entretanto, para esses autores, o uso desses espaços pode variar –
alguns são usados para produção comercial de verduras enquanto outros para produção de
ornamentais, etc. A Figura 21 ilustra a localização urbana de uma horta, em Madureira e a
presença de casas adjacentes a ela.
Figura 21 - Horta no bairro de Madureira, Rio de Janeiro, RJ, rodeada por moradias (Foto:
I. M. Silva em 30 de maio de 2005).
Somente um estudo relacionado à estrutura e florística das hortas poderá avaliar a
real dimensão do cultivo e manejo das espécies, inclusive para a investigação da
contribuição na disponibilidade de plantas nativas para o mercado consumidor. Trabalhos
em etnobotânica, desenvolvidos em quintais (Barrera 1980; Blanckaert et al. 2004) têm
salientado que, de forma, geral, esses contêm grande diversidade e são locais onde as
64
espécies úteis têm sido intensivamente manejadas e satisfazem as necessidades básicas das
pessoas.
Por outro lado, no contexto social, esse espaço hoje é ocupado, pelo que se pode
verificar, por um número representativo de nortistas e/ou nordestinos que foram
paulatinamente comprando as hortas e/ou trabalhando como empregados na manutenção
das mesmas e, pouco a pouco, exercendo o papel que coube, durante anos, aos
portugueses, inclusive dentro do Mercado de Madureira. Até que ponto a presença dessa
heterogeneidade cultural poderia influenciar na escolha das espécies presentes nas hortas e
no repertório de espécies oferecidas ao consumidor carioca, são questões ainda a serem
investigadas.
Considerações Finais
A história dos mercados da cidade do Rio de Janeiro, especificamente dos bairros
de Madureira e Irajá, trazem à tona informações relevantes à compreensão da complexa
rede de atores participantes do comércio de espécies vegetais úteis à população, desde a
criação das Freguesias rurais até o cenário atual. Não deve ser deixado de lado, nestas
considerações, um fato subjacente a estas redes: o da precarização da vida das populações
envolvidas. O caráter periférico destas atividades para o sistema econômico da cidade
evidencia que estas redes representam um fator de grande importância não só para o
abastecimento como também uma alternativa ao precário sistema de saúde da rede oficial.
Os Mercados de Madureira e da CEASA, juntos, têm papel fundamental no comércio das
espécies vegetais na cidade. Na base dessa rede, encontram-se as hortas de Madureira e as
da região serrana (que abastecem a CEASA), pilares de sustentação desse comércio,
inclusive para muitas feiras livres da cidade.
A presença de muitos integrantes familiares nas atividades das hortas e dentro dos
mercados – característico dos portugueses - parece crescer também entre os nortistas (ou
nordestinos). O papel social dessas hortas suburbanas da cidade bem como as da região
serrana, no ingresso de recursos familiares pelo cultivo de espécies medicinais,
condimentares e rituais mereceria estudos relacionados, inclusive à segurança alimentar.
Além disso, parece haver um montante considerável de venda nos dois mercados.
Na CEASA as ervas mostraram-se boas alternativas para suprir o declínio de venda de
hortaliças, em queda pela presença dos supermercados, associado ao aumento de tarifas
embutidas no transporte e segurança da carga. No Mercado de Madureira, as plantas
65
medicinais, rituais e/ou condimentares transformaram-se, também, no ponto forte das
vendas uma vez que esse mercado compete, como a CEASA, com os supermercados na
venda de verduras. Vale ressaltar que esses dois mercados juntos comercializam uma
grande variedade de espécies tornando-se assim pontos de referência para a população da
cidade.
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68
II Artigo
PLANTAS
DE
USO
MEDICINAL,
RITUAL
E
CONDIMENTAR
COMERCIALIZADAS NO MERCADO DE MADUREIRA E NA CEASA,
RIO DE JANEIRO, RJ, BRASIL
‘De matéria medica”
Fonte: Manuscrito Persa (XV° século) – (Foto Michaud-Rapho: Larousse des plantes qui guérissent, 1974).
69
PLANTAS DE USO MEDICINAL, RITUAL E CONDIMENTAR
COMERCIALIZADAS NO MERCADO DE MADUREIRA E NA CEASA, RIO DE
JANEIRO, RJ, BRASIL
Resumo
(Plantas de uso medicinal, ritual e condimentar comercializadas no Mercado de Madureira
e na CEASA, Rio de Janeiro, RJ, Brasil) As espécies comercializadas como medicinais,
rituais e/ou condimentares foram inventariadas, nos anos 2005 e 2006, no Mercado de
Madureira (bairro de Madureira) e na CEASA (bairro de Irajá), utilizando-se entrevistas
semi-estruturadas e listagem livre. Foram encontradas 265 espécies de 85 famílias sendo
Asteraceae a mais numerosa (30 espécies) seguida por Lamiaceae (23) e Solanaceae (15).
O maior número de espécies foi citado para tratar doenças do aparelho respiratório
(Mercado de Madureira) e do aparelho circulatório (CEASA). O mercado de Madureira
concentra-se em plantas e objetos utilizados em rituais afro-brasileiros, o que explica,
provavelmente, o número de espécies comercializadas (256), das quais 189 são exclusivas
deste mercado, sendo 43,3% de uso ritual em contraposição à CEASA (voltada para venda
ao nível de atacado), com 76 espécies, sendo nove exclusivas e somente 14,4% voltadas ao
uso ritualístico. A maioria das plantas é de provável origem americana (50%), seguida das
asiáticas (14%), africanas (10%) e européias (6%), sendo que as de origem indeterminadas
representaram 16% do total. A listagem livre apontou as espécies mais comercializadas no
Mercado de Madureira (97) e na CEASA (53), para as quais foram calculados a
Importância Relativa e a Saliência. Algumas espécies (29) não cultivadas pelos erveiros
têm suas cascas, órgãos subterrâneos e caules aéreos (cipós) comercializados, o que pode
representar um vetor de decréscimo das populações nativas.
Palavras-chave: Etnobotânica, mercados populares, botânica econômica, erveiros.
Abstract
(Plants sold in the Madureira and CEASA popular markets in Rio de Janeiro, RJ, Brazil
that are used for medicinal or ritualistic purposes or as condiments) Plants commercialized
as medicinal or ritualistic species and/or as condiments were inventoried in 2005 and 2006
in the Mercado de Madureira (Madureira neighborhood) and CEASA (Irajá neighborhood),
using semi-structured interviews and the “free-listing” technique. A total of 265 species
belonging to 85 families were encountered, with Asteraceae comprising the most species
(30) followed by Lamiaceae (23) and Solanaceae (15). The largest numbers of species
were cited for treating illnesses affecting the respiratory system (Mercado de Madureira)
70
and the circulatory system (CEASA). The Madureira market specializes in plants and
objects utilized in Afro-Brazilian rituals, which probably explains the large number of
species sold there (256), of which 189 are exclusively sold in this market, with 43.3%
having ritual uses, in contrast with the CEASA market (more wholesale commerce), which
commercialized 76 different species (nine of which were exclusive to that market place),
although only 14.4% of all the plants had ritual uses. A majority of the plants are of
probable American origin (50%), followed by Asiatic (14%), African (10%) and European
(6%) species. Free-listing indicated which species were most sold in the Mercado de
Madureira (97) and in CEASA (53), and this information was used to calculate the
Relative Importance and Salience indices of these species The bark, roots and stems
(vines) of a number of species (29) were not cultivated by the herb-sellers, and the
intensive use of these plants may have deleterious effects on their natural populations.
Key-words: Ethnobotany, popular markets, economic botany, herb-sellers
Introdução
A utilização de plantas para cura de enfermidades e rituais religiosos é praticada
pelo homem desde os primórdios da sociedade. Durante as chamadas civilizações
clássicas, as drogas começaram a ser registradas de forma sistemática. Aristóteles e
Theophrastus deram início às considerações filosóficas e escreveram, exaustivamente,
sobre plantas, embora este último ridicularizasse as superstições relacionadas às formas de
colheita das plantas (Balick & Cox 1996). Esforços para decodificar o uso místico e
popular das espécies medicinais devem-se a Dioscórides, que escreveu o compêndio
intitulado “De Materia Medica”, que por mais de 1500 anos foi considerado a bíblia de
médicos e farmacêuticos (Almeida 2003).
O estudo do uso e conhecimento de plantas por grupos humanos tem sido objeto
de pesquisa de grande relevância e vem sendo incorporado à disciplina etnobotânica.
Segundo Morgan (1995), a etnobotânica emergiu da geografia, tendo Alphonse De
Candolle expandido a fitogeografia humboldtiana e enfatizado, em seus trabalhos, as
origens geográficas e a dispersão de plantas cultivadas. O desenvolvimento da sociedade
resultou na distribuição e dispersão de plantas e hábitos culturais pelo mundo. Numa
perspectiva histórica e fitogeográfica, a etnobotânica torna possível o reconhecimento da
distribuição, origem e diversidade de plantas cultivadas no tempo e no espaço
(Albuquerque 1997).
71
O homem é e foi importante agente de mudanças na paisagem e no curso da
evolução vegetal porque sempre foi dependente do uso de plantas para a sua sobrevivência,
manipulando-as para suprir suas necessidades mais urgentes, mas também na sua magia e
medicina, no uso empírico ou simbólico, nos ritos gerenciadores de sua vida e
mantenedores da ordem social (Albuquerque 2005). O fenômeno da urbanização trouxe em
seu bojo uma ideologia de volta ao passado e ao consumo de produtos naturais,
estimulando, por exemplo, a utilização de plantas para medicamentos. A esta ideologia
acrescem-se outros motivos bastante diversos e mais concretos para o aumento de consumo
de plantas medicinais em áreas urbanas.
No município do Rio de Janeiro, principalmente nas Zonas Oeste e Norte, são
encontrados imensos bolsões de populações excluídas de serviços primários do Estado,
como saúde e educação. Por seu baixíssimo custo, as plantas medicinais representam, em
muitos casos, a única alternativa de tratamento possível para esta parcela da população.
Albuquerque (1997) discute vários aspectos da pesquisa etnobotânica e afirma que, em
termos práticos e biológicos, a acumulação do conhecimento oriundo das investigações
etnobotânicas possibilita, entre outros itens, reconhecer e preservar plantas potencialmente
importantes em seus respectivos ecossistemas, bem como promover programas para o
desenvolvimento e preservação dos recursos naturais dos ecossistemas tropicais.
A presença de certas espécies vegetais nos mercados e feiras pode revelar padrões
de comportamento e necessidades da população que busca esses locais. A etnobotânica
procura, através de diferentes análises, investigar essas relações reveladas pela ocorrência,
ou ausência, de determinadas espécies nos mercados. Das diferentes abordagens
etnobotânicas, estudos baseados em mercados são os que, provavelmente, conferem
resultados mais produtivos, uma vez que apontam espécies que, invariavelmente, aparecem
nos mercados, têm um número de usos consistentes (e limitados) e ainda apresentam um
grande volume de venda (Trotter & Logan 1986). Tal padrão pode indicar, por exemplo,
espécies merecedoras de pesquisas farmacológicas detalhadas.
O Mercado de Madureira e a CEASA, localizados em Madureira e em Irajá,
respectivamente, mostraram-se importantes pontos distribuidores de espécies vegetais para
feiras livres e pequenos mercados na cidade do Rio de Janeiro. Neste trabalho, objetivou-se
inventariar as espécies vegetais comercializadas principalmente para uso medicinal, ritual
e/ou condimentar pela população e analisar, através de metodologia etnobotânica, alguns
aspectos relacionados às formas de preparação dos remédios, posologia, formas de
administração, entre outros. Procurou-se ainda verificar as prováveis origens das espécies,
72
bem como compreender alguns padrões relacionados ao uso de espécies, diagnosticando
aquelas de maior valor cultural, discutindo-se alguns problemas relativos ao comércio de
espécies vegetais nativas.
Material e métodos
A Central de Abastecimento do Estado do Rio de Janeiro SA (CEASA/RJ ) e o
Mercado de Madureira (ou Mercadão de Madureira como é conhecido popularmente),
localizados nos bairros de Irajá e Madureira respectivamente, foram escolhidos para a
pesquisa etnobotânica
pela importância
desses
locais no
cenário carioca
de
comercialização de espécies úteis (Azevedo & Silva 2006).
Para a escolha dos informantes, utilizou-se a técnica conhecida como “bola de
neve” indicada para uma população altamente especializada e de pequeno número de
integrantes (Bernard 1995, Appolinário 2006). Para tal, um informante-chave, previamente
conhecido, indicou outra pessoa a ser entrevistada e assim sucessivamente.
Ao longo dos anos de 2005 e 2006, foram aplicadas 52 entrevistas semiestruturadas (Bernard 1995) para levantamento de dados etnobotânicos a 15 erveiros (em
um total de 28) que comercializam principalmente plantas medicinais, rituais e/ou
condimentares no Mercado de Madureira, bem como 12 entrevistas a sete erveiros, na
CEASA.
Utilizou-se a técnica de listagem-livre (freelist) (Smith 1993; Martin 1995; Sutrop
2001) para se determinar as espécies consideradas mais vendidas, pelos erveiros, durante o
período da pesquisa. Cada informante foi estimulado a citar, pelo menos, dez espécies
consideradas como mais comercializadas (restricted list task – REF) de acordo com Sutrop
(2001). Partiu-se, dessa forma, da entrevista estruturada, com duas perguntas consideradas
diretas (Martin 1995; Alexiades 1996) que promoveram respostas concretas de todos os
informantes. A pergunta inicial foi: “Quais são as plantas, no momento, que você mais
vende? Cite pelo menos 10.”
Uma vez listadas as espécies buscou-se identificar as categorias de uso através da
seguinte pergunta: “Que tipos de plantas você vende? Ou: você vende, por exemplo,
temperos e o que mais? Essa pergunta foi somente aplicada quando as categorias não
haviam sido anteriormente explicitadas.
Depois da listagem de espécies e as categorias definidas, partiu-se para a terceira
pergunta, bem mais abrangente que as demais: “Você poderia me dizer para que servem
essas plantas e como são utilizadas? Essa parte da entrevista pode ser considerada semi-
73
estruturada caracterizando-se pela presença de uma questão (ou um tópico) que necessita
ser coberto, podendo provocar respostas extensas (Bernard 1995; Martin 1995).
Normalmente as listagens são utilizadas para se obter informações sobre um
domínio semântico - conjunto organizado de palavras, conceitos ou sentenças, todas no
mesmo nível de contraste que juntas referem-se a uma simples esfera conceitual - como,
por exemplo, nomes de plantas úteis (Borgatti 1994; Thompson & Juan 2006). Como reune
os dados rapidamente e facilmente é muito usado em pesquisa etnobotânica e muito
proveitoso para quem estuda plantas medicinais (Trotter & Logan 1986; Phillips & Gentry
1993; Martin 1995; Cotton 1996; Heirinch et al. 1998; Christo et al. 2006).
Trata-se, dessa forma, de uma técnica que é usada para o cálculo da saliência
cultural (isto é, proeminência, importância, familiaridade ou representatividade) ou outras
inferências (Ryan et al. 2000). Assim, plantas culturalmente importantes são aquelas
usadas por um grande numero de pessoas, para a mesma categoria de uso, enquanto que
plantas que são usadas por somente um ou dois informantes são consideradas como tendo
uma baixa importância cultural (Trotter & Logan 1986). A análise de consenso (ou
Consenso dos Informantes) fornece um método de investigação para os padrões de
concordância entre os respondentes (entrevistados ou informantes) (Borgatti 1994).
Segundo Romney et al. (apud Borgatti 1994), com dados apropriados, é possível
inferir a quantidade de conhecimento que cada informante tem, sobre um domínio cultural,
segundo o padrão de concordância entre todos os pares de respondentes. Em outras
palavras, o consenso é uma função do conhecimento. Assim, a importância de diferentes
plantas ou usos é acessada pela proporção de informantes que, independentemente,
reportam conhecimento de um dado uso ou que tem usado uma planta de forma específica
(Phillips & Gentry 1993).
Com os dados adquiridos construíram-se planilhas utilizando-se o programa Excel.
Os informantes foram, em determinados casos entrevistados mais de uma vez -em dias
diferentes- para a complementação de dados, sendo que mais entrevistas se sucederam
para aqueles que continuaram colaborando com a pesquisa e para esses dados, em
particular, novas planilhas foram elaboradas para análise em separado.
Para a contagem das citações considerou-se apenas uma citação por informante
mesmo que este tenha repetido a mesma informação várias vezes, para o mesmo uso.
Adquiriu-se material botânico das espécies listadas pelos erveiros através de
compra, nesses dois mercados, e para a identificação do mesmo utilizaram-se chaves
analíticas, bibliografia especializada, comparação com coleções de herbários e, quando
74
necessário, valeu-se do auxílio de especialistas. O sistema de classificação adotado para as
Angiospermas foi o Angiosperm Phylogeny Group – APG II (Stevens 2007); para
Gymnospermas utilizou-se o trabalho de Page (1990); para as Pteridófitas, o de Smith et
al. (2006) e para Fungos seguiu-se Kirk et al. (2001). As famílias, gêneros e espécies
foram organizados, nas tabelas, em ordem alfabética e as abreviaturas dos nomes dos
autores das espécies e variedades seguiram Brumitt e Powell (1992).
Foram confeccionadas exsicatas, que se encontram depositadas no Herbário do
Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro (RB). Cascas, cipós e partes
subterrâneas comercializadas, quando não acompanharam exsicatas, foram acondicionados
em sacos plásticos etiquetados e incorporados à coleção etnobotânica do Herbário RB.
Os nomes populares das espécies e dos sintomas e/ou doenças foram grafados de
acordo com o senso mais comum de termos utilizados popularmente, não se levando em
consideração formas idiossincráticas, tais como, aguniada (agoniada); patijulí (patchouli).
As formas de preparação dos remédios e as formas de aplicação (forma de uso,
modo de emprego, via de aplicação) estão organizadas, sempre que possível, seguindo-se a
terminologia empregada pelos entrevistados, mas também adaptados de Debuigne (1974) e
Matos (2000).
Em relação à análise dos sistemas corporais tratados, as indicações terapêuticas,
citadas pelos informantes, foram adaptadas da “Classificação Estatística Internacional de
Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-10)” da Organização Mundial da Saúde
(1994). Para tal foram realizadas consultas na base de dados da Secretaria Executiva do
Ministério
da
Saúde
(DATASUS/SE/MS),
disponível
no
endereço
www.datasus.gov.br/cid10/webhelp/cid10.htm. As doenças foram agrupadas em 14
categorias: (I) Algumas doenças infecciosas e parasitárias; (II) neoplasias (tumores); (III)
Doenças do sangue e dos órgãos hematopoéticos e alguns transtornos imunitários; (IV)
Doenças
endócrinas,
nutricionais
e
metabólicas,
(V)
transtornos
mentais
e
comportamentais; (VI) doenças dos olhos e anexos; (VII) doenças do aparelho circulatório;
(VIII) Doenças do aparelho respiratório; (IX) Doenças do aparelho digestivo; (X) Doenças
de pele e do tecido subcutâneo; (XI) Doenças do sistema osteomuscular e do tecido
conjuntivo; (XII) Doenças do aparelho geniturinário; (XIII) Sintomas, sinais e achados
anormais de exames clínicos e de laboratório, não classificados em outra parte e (XIV)
Lesões, envenenamento e algumas outras conseqüências de causas externas.
Foram consultadas obras relacionadas à taxonomia, floras e farmacopéias para a
determinação da provável origem das espécies. As regiões foram assim consideradas:
75
“América” (norte ao sul do continente americano, bem como as Antilhas), “Europa”,
“Ásia”, “África”, “Oceania” (Ilhas do Pacífico e Austrália) e “Cosmopolita” (ocorrendo
nas regiões Neotropical, Paleotropical, Holártica e Oceania). As “indefinidas” aquelas que
ainda não tiveram sua origem esclarecida e/ou que apresentem informações conflitantes.
Quando as espécies foram consideradas originárias de duas regiões distintas, cada região
foi pontuada como 0,5 para efeito de contagem, de acordo com a metodologia utilizada por
Bennett & Prance (2000).
Calculou-se a partir da listagem livre o “Índice de Saliência” utilizando-se o
software Visual Anthropac-Freelists 4.0 (Borgatti 1996) a fim de se verificar o grau de
importância das espécies listadas, tanto para o Mercado de Madureira quanto para a
CEASA. Os cálculos foram também efetuados no programa Excel, seguindo-se a
metodologia recomendada por Quinlan (2005), e descritos a seguir: calculou-se um índice
individual, para cada espécie, na lista de citação de cada erveiro, baseando-se no número
total de espécies da lista de cada informante e a posição da espécie nesta lista. Ou seja,
para cada lista (ou informante) a espécie citada primeiro recebeu o valor máximo, que
correspondeu ao número total de espécies citadas nessa lista e assim sucessivamente (rank
invertido); para o cálculo da saliência de cada espécie, o valor de cada uma foi dividido
pelo número total de espécies citadas na lista. Para o cálculo do índice de “saliência total”
somaram-se os valores de cada espécie (obtidos de cada informante) e dividiu-se, cada um,
pelo número total de listas (ou informantes).
O cálculo da Importância Relativa das espécies baseou-se na metodologia proposta
por Bennett & Prance (2000) que leva em consideração o número de propriedades
farmacológicas atribuídas a cada planta e o número de sistemas corporais (categorias de
doenças) tratados, sendo 2 o valor máximo obtido por uma espécie. Aplicou-se a fórmula:
IR= (NSC + NP), onde:
IR= Importância Relativa
NSC= corresponde ao número de sistemas corporais tratados por uma determinada
espécie (NSCE), dividido pelo número total de sistemas corporais tratados pela
espécie mais versátil (NSCEV);
NP= corresponde ao número de propriedades farmacológicas atribuídas a uma
determinada espécie (NPE), dividido pelo número total de propriedades atribuídas à
espécie mais versátil (NPEV).
76
Na análise de similaridade entre o Mercado de Madureira e a CEASA utilizou-se o
índice de Sorensen (Mueller-Dombois & Ellenberg 1974), onde S = (2C/A+B) x 100,
sendo:
S = índice de Sorensen.
C = n. total de espécies comuns aos dois mercados.
A = n. total de espécies na CEASA.
B = n. total de espécies no Mercado de Madureira.
Resultados e Discussão
Foram inventariadas 264 espécies vasculares (dois táxons com as famílias não
identificadas) e um fungo comercializados, das quais 71,6 % foram encontradas apenas no
Mercado de Madureira (Tabela 1).
Tabela 1 - Espécies comercializadas no Mercado de Madureira (Madureira) e CEASA
(Irajá), Rio de Janeiro, RJ.
Mercados (n= 265 espécies)*
Espécies
Exclusivas
CEASA
9
Espécies
comuns
Total de
espécies
76
67
Mercado de Madureira
189
256
* Somatório das espécies exclusivas de cada mercado adicionado às espécies comuns aos
dois mercados.
No Mercado de Madureira encontrou-se praticamente o triplo de espécies da
CEASA. Esse fato pode ser resultado do número maior de erveiros no Mercado de
Madureira (15) em relação à CEASA (7). Neste último, foram entrevistados todos aqueles
que trabalhavam no local, que aí permanecem por poucoas horas, sendo as vendas
concentradas durante as madrugadas, até o amanhecer, enquanto que no Mercado de
Madureira 53,5% dos erveiros foram entrevistados, os quais permanecem no mercado
durante todo o dia. Como conseqüência as entrevistas em Madureira somaram 52, das
quais 34 aplicadas aos três informantes-chave enquanto que na CEASA 12, sendo duas
com o informante-chave. Obteve-se 503 citações em Madureira (322 dos informanteschaves) e 134 na CEASA (37 dos informantes-chave).
As espécies inventariadas nos dois mercados estão distribuídas em 85 famílias
botânicas e 205 gêneros, que estão listados na Tabela 2.
77
Tabela 2 - Relação das espécies vasculares e um fungo comercializados no Mercado de
Madureira (Madureira) e na CEASA (Irajá), Rio de Janeiro, RJ nos anos 2005/2006. As
espécies estão organizadas em ordem alfabética das famílias e seguidas dos nomes
populares, usos nos mercados, hábito e número de registro (N°. Reg.) das exsicatas no
Herbário JBRJ (RB) ou número de coleta de I. M. Silva. Madureira - Mad.; CEASA - Cea.
(Medicinal - 1; Ritualístico - 2; Condimentar - 3; Alimentar - 4; Cosmético - 5; Abortiva 6; Outros usos: ornamental, veterinário - 7; Usos não informados – 8).
Famílias/ Espécies
Nome popular
Usos /
mercados
Hábito
Mad. Cea.
N°.
Reg*
ACANTHACEAE
Justicia gendarussa Burm. f.
vence-tudo
2
1
erva
454286
Sabugueiro
1
1
arbusto
454287
Fourcraea foetida L.
pita
1
1
erva
454289
Herreria glaziovii Lecointe
salsaparrilha
1
trepadeira
454290
chapeú-de-couro
1
erva
454248
1, 2
erva
**
ADOXACEAE
Sambucus nigra L.
AGAVACEAE
ALISMATACEAE
Echinodorus grandiflorus (Cham. &
Schltdl.) Micheli
ALLIACEAE
1
Allium cepa L.
cebola
Allium sativum L.
casca-de-alho
2
erva
454294
Alternanthera brasiliana (L.) Kuntze
anador; penicilina
1
erva
454295
Alternanthera sp.
Novalgina
1
erva
454296
Amaranthus viridis L.
caruru-sem-espinho,
caruru-preto
crista-de-galo
2, 4
erva
454297
2
erva
457822
erva-de-santa-maria,
santa-maria
1, 7
erva
454298
AMARANTHACEAE
Celosia argentea L.
Dysphania ambrosioides (L.) Mosyakin &
Clemants (=Chenopodium ambrosioides
L.)
ANACARDIACEAE
Anacardium occidentale L.
cajueiro
1
árvore
454299
Mangifera indica L.
Mangueira
2
árvore
454301
Schinus terebinthifolius Raddi
Aroeira
árvore
454304
árvore
454305
erva
454306
1, 2
1
ANNONACEAE
Annona acutiflora Mart.
guiné-preto
2
erva-doce, funcho
1
APIACEAE
Foeniculum vulgare Mill.
APOCYNACEAE
1
78
Famílias/ Espécies
Nome popular
Usos /
mercados
Hábito
Mad. Cea.
N°.
Reg*
ACANTHACEAE
Asclepias curassavica L.
oficial-de-sala
2
2
erva
454308
Geissospermum laeve (Vell.) Miers
pau-pereira
1
1
árvore
454309
Thevetia peruviana (Pers.) K. Schum.
chapéu-de-napoleão
1
arbusto
454312
Apocynaceae indet.
agoniada
1
árvore
650
erva
454313
2
Hemiepífita
454314
erva-de-santa-luzia
1
erva
454315
patioba
2
erva
454316
abebê, vintém, abebêde-oxum
conchinha-de-oxum
2
erva
454317
2
arbusto
454320
dendê
2
arborescente 454322
ARACEAE
Dieffenbachia picta Schott
Epipremnum aureum (Linden & André)
G.S. Bunting
Pistia stratiotes L.
Xanthosoma appendiculatum Schott
comigo-ninguém-pode,
comigo-ninguém-podemacho, comigoninguém-pode-fêmea
jibóia
2, 7
ARALIACEAE
Hydrocotyle umbellata L.
Polyscias cf. balfouriana (André) L.H.
Bailey
ARECACEAE
Elaeis guineensis Jacq.
ARISTOLOCHIACEAE
Aristolochia triangularis Cham.
Aristolochia sp.
mil-homem, cipó milhomem, bem-com-deus
papo-de-perú
1, 2
babosa
1, 5
1, 2
2
trepadeira
454331
trepadeira
454325
erva
454334
ASPHODELACEAE
Aloe vera (L.) Burm. f.
1
ASPLENIACEAE
Asplenium serratum L.
pena-de-xangô
2
erva
454335
Achillea millefolium L.
macelinha
1
erva
454336
Achyrocline satureioides (Lam.) DC.
macela
1
erva
454338
Acmella uliginosa (Sw.) Cass.
1, 2, 3
erva
454339
erva
454341
Artemisia verlotorum Lamotte
oripepê, jambú, agriãodo-pará
erva-de-são-joão,
mentrasto
losna
1, 6
erva
454338
Artemisia sp.
cânfora
1
erva
454347
Baccharis dracunculifolia DC.
alecrim-do-campo,
alecrim
carqueja, carquejo
2
1
arbusto
454330
1
1
erva
454353
picão-preto, picão-domato, picão-roxo, picão,
picão-branco
balainho-de- velho,
balauê
1
1
erva
454355
erva
454363
ASTERACEAE
Ageratum conyzoides L.
Baccharis cf. trimera (Less.) DC.
Bidens pilosa L.
Centratherum punctatum Cass.
1, 6
2
1
79
Famílias/ Espécies
Nome popular
Usos /
mercados
Hábito
Mad. Cea.
N°.
Reg*
ACANTHACEAE
Chromolaena odorata (L.) R.M. King &
H. Rob.
Coreopsis grandiflora Hogg ex Sweet
1
Cynara scolymus L.
arnica-do-mato, arnicado-campo
camomila, camomilanacional
alcachofra
Emilia sonchifolia (L.) DC.
dente-de-leão
Helianthus annuus L.
girassól
Melampodium divaricatum (Rich.) DC
1, 2
erva
454367
erva
454370
erva
454372
1
erva
454373
1, 2
erva
454376
botão-de-ouro
2
erva
454377
Mikania glomerata Spreng.
guaco, guapo
1
1
trepadeira
454379
Mikania hirsutissima DC.
cipó-cabeludo
1
trepadeira
454381
Mikania sp.
guaco
1
trepadeira
454382
Pluchea sagittalis (Lam.) Cabrera
quitoco
1
erva
454383
Pterocaulon alopecurioides (Lam.) DC.
erva-da-lua, neve-branca
2
erva
454385
Smallanthus sonchifolius (Poepp.) H. Rob. batata-yacon
1
erva
**
Solidago chilensis Meyen
arnica, arnica-da-horta
1
1
erva
454386
Sonchus oleraceus L.
serralha
1
1
erva
454387
Tagetes sp.
cravo-de-defunto
erva
454388
Vernonia beyrichii Less.
assa-peixe
1
arbusto
454389
Vernonia cinerea (L.) Less.
vassourinha-preta
1
arbusto
454392
Vernonia paludosa Gardner
assa-peixe
1
arbusto
454393
Vernonia sp.
assa-peixe
1
arbusto
454398
Asteraceae indet.
erva-grossa
1
erva
546
Impatiens balsamina L.
beijo-branco
1
erva
454401
Impatiens sultanii Hook. f.
maravilha
1
erva
454402
árvore
454407
árvore
454410
1
1
1
1, 2, 6
1
BALSAMINACEAE
BIGNONIACEAE
Crescentia cujete L.
cuitê
Jacaranda cf. puberula Cham.
carobinha
1
akokô, erva-dafelicidade
cinco-chagas, cinco
folhas
ipê-amarelo
2
árvore
454414
1, 2
árvore
454416
1
árvore
454403
Newbouldia laevis (P. Beauv.) Seem. ex
Bureau
Sparattosperma leucanthum (Vell.) K.
Schum.
Tabebuia sp.1
1, 2
1
Tabebuia sp.2
ipê-roxo
1
árvore
454404
Tynanthus labiatus (Cham.) Miers
cipó-cravo
1
trepadeira
454406
urucum
1
árvore
454419
erva-balieira
1
arbusto
454420
BIXACEAE
Bixa orellana L.
BORAGINACEAE
Cordia curassavica (Jacq.) Roem. &
Schultes
80
Famílias/ Espécies
Nome popular
Usos /
mercados
Hábito
Mad. Cea.
N°.
Reg*
ACANTHACEAE
Symphytum officinale L.
confrei
1
1
erva
454424
1
1
erva
454426
1, 2
1
epífita
454428
BRASSICACEAE
Lepidium pseudo-didymus Thell. ex Druce mastruz
BROMELIACEAE
Tillandsia usneoides (L.) L.
barba-de-velho
CACTACEAE
Cereus fernambucensis Lem.
mandacaru
1
arbusto
454429
Epiphyllum phyllanthus (L.) Haw.
dama-da-noite
2
arbusto
454430
Nopalea cochenillifera (L.) Salm-Dyck
palmatória
1, 2
arbusto
454431
mutamba, curindiba
5
árvore
454432
abajurú, bajurú
1
arbusto
454433
árvore
454434
erva
454435
parasita
454436
erva
454437
erva
454438
erva
454440
erva
454442
CANNABACEAE
Trema micrantha (L.) Blume
CHRYSOBALANACEAE
Chrysobalanus icaco L.
CHLORANTHACEAE
Hedyosmum brasiliense Miq.
macota
1
COMMELINACEAE
Tradescantia zebrina Heynh.
trapoeraba
2
Cuscuta racemosa Mart.
cipó-chumbo, cuscuta
1
Ipomoea batatas (L.) Lam.
batata-doce
1
cana-do-brejo
1
Kalanchoe pinnata (Lam.) Pers.
fortuna
2
Kalanchoe brasiliensis Cambess.
saião
1
Cayaponia tayuya (Vell.) Cogn.
abóbora-d'anta
8
trepadeira
454443
Luffa cylindrica M. Roem.
bucha
1
trepadeira
454444
Luffa operculata (L.) Cogn.
buchinha
1, 6
trepadeira
454445
Momordica charantia L.
melão-de-são-caetano
trepadeira
454446
CONVOLVULACEAE
1
COSTACEAE
Costus spiralis (Jacq.) Roscoe
1
CRASSULACEAE
1
CUCURBITACEAE
1, 6, 7 1
CYPERACEAE
Cyperus acicularis (Schrad.) Steud.
dandá-da-costa
2
erva
454447
Cyperus rotundus L.
batata-de-tiririca
1
erva
454448
trepadeira
454449
trepadeira
**
DILLENIACEAE
Davilla rugosa Poir.
cipó-caboclo
1, 2
cará
2, 4
8
DIOSCOREACEAE
Dioscorea alata L.
81
Famílias/ Espécies
Nome popular
Usos /
mercados
Hábito
Mad. Cea.
N°.
Reg*
ACANTHACEAE
EQUISETACEAE
Equisetum hiemale L.
cavalinha
1
Acalypha communis Müll. Arg.
parietária
Chamaesyce prostrata (Aiton) Small
1
erva
454451
1
arbusto
454453
quebra-pedra
1
erva
454455
Cnidoscolus urens (L.) Arthur
cansanção
2
erva
454456
Codiaeum variegatum (L.) A. Juss.
folha-da-independência
2
arbusto
457911
Euphorbia tirucalli L.
velame
1
arbusto
454457
Jatropha gossypiifolia L.
2
arbusto
454458
Joannesia princeps Vell.
pinhão-roxo, pinhãobranco
cutieira
1
árvore
454460
Manihot esculenta Crantz
mandioca
1
arbusto
454461
Amburana cearensis (Allemão) A.C. Sm.
amburana-de-cheiro
1
árvore
454462
Bauhinia cf. variegata L.
pata-de-vaca
1
1
árvore
454463
Bauhinia microstachya (Raddi) J.F.
Macbr.
Bauhinia sp.
pata-de-vaca
1
trepadeira
454464
escada-de-macaco
1
trepadeira
454465
Bowdichia cf. virgilioides Kunth
batata-de-sucupira
1
árvore
454466
Caesalpinia ferrea Mart.
jucá; fava-de-jucá
1
árvore
454467
Cajanus cajan (L.) Millsp.
guando
1
árvore
454469
Desmodium adscendens (Sw.) DC.
amor-do-campo
erva
454470
Erythrina speciosa Andr.
mulungú
1
árvore
454471
Hymenaea courbaril L.
jatobá
1, 2
árvore
454474
Pterodon cf. emarginatus Vogel
sucupira
1
árvore
454476
Senna occidentalis (L.) Link
fedegoso
1, 6
arbusto
454477
Senna alexandrina Mill.
sene
1
árvore
454478
Fabaceae indet.
barbatimão
1
árvore
651
ginko
1
árvore
454479
bico-de-papagaio
1
erva
454480
erva
454481
erva
454484
EUPHORBIACEAE
FABACEAE
1, 2
1
GINKGOACEAE
Ginkgo biloba L.
HELICONIACEAE
Heliconia rostrata Ruiz & Pav.
LAMIACEAE
Aeollanthus suaveolens Mart. ex Spreng.
Leonotis nepetifolia (L.) R. Br.
macassá, catinga-demulata
cordão-de-frade
1, 2
2
Leonurus sibiricus L.
erva-macaé, macaé
1
1
erva
454485
Mentha pulegium L.
poejo
1
1
erva
454487
Mentha spicata L.
hortelã-da-horta,
hortelã-miúdo, menta
erva
454490
1
1, 3
82
Nome popular
Usos /
mercados
Hábito
Mad. Cea.
N°.
Reg*
elevante
1, 2, 3 1, 2
erva
454491
1, 2, 3 3
erva
454494
1, 2, 3 3
erva
454496
Ocimum cf. americanum L.
manjericão, manjericãoroxo
alfavaca, alfavaca-dahorta , alfavaquinha
manjericão
2, 3
erva
454499
Ocimum gratissimum L.
alfavacão
1, 2, 3
erva
454500
Ocimum selloi Benth.
anis
2
erva
454501
Ocimum sp.
manjericão-roxo
1
erva
454502
Origanum vulgare L.
manjerona, orégano
3
erva
454503
Plectranthus amboinicus (Lour.) Spreng.
1, 3
erva
454505
Plectranthus barbatus Andr.
hortelã-pimenta, hortelãdoce
boldo
erva
454507
Plectranthus neochilus Schltr.
boldo-japonês
1
erva
454508
Plectranthus nummularius Briq.
dólar
2
erva
454509
Pogostemon cablin (Blanco) Benth.
patchouli
2
erva
454510
Rosmarinus officinalis L.
1, 2, 3 1, 3
erva
454511
Salvia officinalis L.
alecrim, alecrim-dahorta
salvia
1, 2, 3
arbusto
454512
Tetradenia riparia (Hochst.) Codd
sândalo
2, 3, 5
arbusto
454514
Thymus vulgaris L.
tomilho, amoragarradinho
erva-de-jurema, erva-dajurema
erva
454516
2
arbusto
454517
8
árvore
454519
árvore
454520
árvore
457912
Famílias/ Espécies
ACANTHACEAE
Mentha x piperita L. var. citrata (Ehrh.)
Briq.
Ocimum basilicum L.
Ocimum campechianum Mill.
Vitex agnus-castus L.
1
1
2, 3
LAURACEAE
Cinnamomum camphora (L.) J. Presl
vick-do-mato
Cinnamomum verum J. Presl
canela
1,2,4,6
Laurus nobilis L.
louro
1, 2
Persea americana Mill.
abacate
1
árvore
454522
sapucaia
1, 2, 4
árvore
454524
linhaça
1
erva
454525
amor-perfeito
2
erva
454526
erva-de-passarinho
1
1
hemiparasita 454527
abre-caminho, abreporta
2
2
trepadeira
3
LECYTHIDACEAE
Lecythis pisonis Cambess.
LINACEAE
Linum cf. usitatissimum L.
LINDERNIACEAE
Torenia fournieri Lind.
LORANTHACEAE
Struthanthus marginatus (Desr.) Blume
LYGODIACEAE
Lygodium volubile Sw.
LYTHRACEAE
454530
83
Famílias/ Espécies
Nome popular
Usos /
mercados
Hábito
Mad. Cea.
N°.
Reg*
ACANTHACEAE
Cuphea carthagenensis (Jacq.) J.F. Macbr. sete-sangrias
1
Punica granatum L.
romã
1
erva
454534
1
arbusto
454535
akossí, murici
2
árvore
454536
brinco-de-princesa
2
arbusto
454537
obi
2
árvore
454539
1, 2
arbusto
454540
2
arbusto
454541
Hibiscus sabdariffa L.
papoula-vermelha,
brinco-de-princesa
vinagreira
1
arbusto
454542
Luehea conwentsii K. Schum.
açoita-cavalo
8
árvore
454543
Malva parviflora L.
malva-branca
1
erva
454544
Malva sp.
malva-cheirosa
1,2
erva
454545
trevo-de-quatro-folhas
2
erva
454547
Clidemia biserrata DC.
abranda-fogo
2
arbusto
454548
Miconia albicans (Sw.) Triana
canela-de-velho, vencedemanda, café-do-mato
capa-de-xangô, erva-dexangô
1, 2, 7
arbusto
454550
2
arbusto
454554
árvore
454556
árvore
454557
MALPIGHIACEAE
Byrsonima sericea DC.
MALVACEAE
Abutilon striatum Dicks. ex Lindl.
Cola acuminata (P. Beauv.) Schott &
Endl.
Gossypium herbaceum L.
Hibiscus rosa-sinensis L.
algodão
MARSILEACEAE
Marsilea polycarpa Hook. & Brév.
MELASTOMATACEAE
Miconia calvescens Schrank & Mart. ex
DC.
MELIACEAE
Guarea guidonea (L.) Sleumer
berreiro
2
Melia azedarach L.
para-raio, berreiro,
carrapeta
2
buta
1
trepadeira
454559
Artocarpus altilis (Parkinson) Fosberg
fruta-pão
1
árvore
454560
Dorstenia sp.
carapiá
1
erva
454561
Morus alba L.
amora
1
arbusto
454562
espinheira-santa
1
árvore
454563
coração-de-bananeira
1
erva
**
Campomanesia guaviroba (DC.) Kiaersk.
guariroba
1
árvore
454570
Eucalyptus torelliana F. Muell.
eucalipto
árvore
454573
Eucalyptus sp.1
eucalipto
árvore
454572
2
MENISPERMACEAE
Chondrodendron platiphyllum (A. St.Hil.) Miers
MORACEAE
Sorocea cf. bonplandii (Baill.)Burger,
Lanjou & W. Boer
MUSACEAE
Musa x paradisiaca L.
1
MYRTACEAE
1
1
84
Famílias/ Espécies
Nome popular
Usos /
mercados
Hábito
Mad. Cea.
N°.
Reg*
ACANTHACEAE
Eucalyptus sp. 2
eucalipto-cheiroso
Eugenia rotundifolia Casar.
1
Myrcia guianensis (Aublet) DC.
abajirú, bajurú, abajurú,
bajirú
pedra-ume-caá
Pimenta dioica (L.) Merr.
Syzygium aromaticum (L.) Merr. & L.M.
Perry
Syzygium malaccense (L.) Merr. & L.M.
Perry
NYCTAGINACEAE
Boerhavia diffusa L.
1
árvore
454571
1
arbusto
454574
1
arbusto
454581
cravo-da-índia
2
árvore
454582
cravo-da-índia
3
árvore
**
jambolão, jamelão
1
árvore
454583
erva
457826
erva-tostão, pega-pinto
1, 2
NYMPHAEACEAE
Nymphaea cf. rubra Roxb. ex Salisb.
ochibatá
2
erva
flutuante
454584
Cyrtopodium gigas (Vell.) Hoehne
sumaré
1
epífita
454586
Oeceoclades maculata (Lindl.) Lindl.
cantaria
1
erva
454587
maracujá-assú
1
trepadeira
454589
erva-pombinha
1
erva
454590
árvore
454592
ORCHIDACEAE
PASSIFLORACEAE
Passiflora alata Dryand
PHYLLANTHACEAE
Phyllanthus tenellus Roxb.
1
PHYTOLACCACEAE
Gallesia integrifolia (Spreng.) Harms
pau-d'alho
1, 2
Petiveria alliacea L.
guiné pi-piu
1, 2
2
erva
454593
oriri, oripepê, parietária,
língua-de-sapo
tira-teima, bete-cheirosa,
corta-mandinga, cortamironga, corta-feitiço
desata-nó, jaborandi
1, 2
1
erva
454597
arbusto
454600
PIPERACEAE
Peperomia pellucida (L.)Humb., Bonp.
& Kunth
Piper amalago var. medium(Jacq.) Yunck
Piper anisum (Spreng.) Angely
Piper arboreum Aubl. var. arboreum
2
2
1, 5
arbusto
454602
2
2
arbusto
454605
1, 2, 5 2
arbusto
454610
1
arbusto
454612
Piper hoffmanseggianum Roem. & Sch.
vence-demanda, joãobarandi, desata--nó,
abranda-fogo, vencetudo
desata-nó, jaborandí
Piper mollicomum Kunth
aperta-ruã
Piper umbellatum L.
capeba
1
1
arbusto
454613
Plantago major L.
tanchagem, transagem
1
1
erva
454615
Scoparia dulcis L.
vassourinha
1, 2
erva
454618
1
erva
454619
PLANTAGINACEAE
POACEAE
Coix lacryma-jobi L.
lágrima-de-nossa-
85
Famílias/ Espécies
Nome popular
Usos /
mercados
Hábito
Mad. Cea.
N°.
Reg*
ACANTHACEAE
senhora
Cymbopogon citratus (DC.) Stapf
capim-limão
1
Cymbopogon densiflorus (Steud.) Stapf
Imperata cf. brasiliensis Trin.
saco-saco, capim-deangola, capim-são-josé
raíz-de-sapê
Melinis minutiflora P. Beauv.
capim-gordura
Saccharum officinarum L.
cana-de-açúcar
2
erva-de-bicho
1
orelha-de-pau
6
1
erva
454620
1, 2
erva
454621
1
erva
452836
erva
454622
erva
**
erva
454623
__
454626
1, 2, 4
erva
454627
1, 2, 4
erva
454629
erva
454630
árvore
454631
arbusto
454632
árvore
454635
1
POLYGONACEAE
Polygonum punctatum Elliot
1
POLYPORACEAE
Pycnoporus sanguineus (F. ex Fr.) Murril
PORTULACACEAE
Portulaca oleracea L.
Talinum racemosum (L.) Rohrb.
beldroega, erva-deobaluaiê
bredo-de-santo-antônio
PTERIDACEAE
Adiantum raddianum C.Presl
avenca
1
ROSACEAE
Eriobotrya japonica (Thunb.) Lindl.
ameixa
Rosa cf. chinensis Jacq.
rosa-branca
1
1, 2
1
RUBIACEAE
Coffea arabica L.
café
Genipa americana L.
jenipapo
1
árvore
454636
trapoeraba-branca
1
erva
454637
quina- rosa
1
árvore
452835
corredeira
2
erva
454639
2, 7
arbusto
454640
2, 7
arbusto
454641
2
erva
454645
2
erva
454646
1
árvore
454647
1
árvore
454648
arbusto
454649
árvore
454653
Pentodon pentandrus (Schumach. &
Thonn.) Vatke
Simira glaziovii (K. Schum.) Steyerm.
Spermacoce laevis Lam.
1, 2, 6 6
RUSCACEAE
Cordyline fruticosa (L.) A. Chev.
Dracaena fragrans (L.) Ker Gawl.
Sansevieria cylindrica Bojer
Sansevieria trifasciata Hort. Ex Pain
pelegum-roxo, pelegumde-ogum-roxo
pelegum, pelegumamarelo, pau-d'agua,
pelegum verde
lança-de-insã, espadade-iansã
espada-de-são-jorge
RUTACEAE
Hortia arborea Engl.
Citrus aurantium L.
Ruta graveolens L.
Zanthoxylum caribaeum Lam.
cáscara-sagrada, casca
d'anta, pau-para-tudo
laranja-da-terra
arruda, arruda-fêmea,
arruda-macho
espinho-cheiroso, erva-
1, 2, 6 2
2
86
Famílias/ Espécies
Nome popular
Usos /
mercados
Hábito
Mad. Cea.
N°.
Reg*
ACANTHACEAE
de-oxóssi
Zanthoxylum cf. caribaeum Lam.
mamica-de-porca
1
árvore
454654
Casearia commersoniana Camb.
chá-de-bugre, porangaba
1
árvore
454655
Casearia sylvestris Sw.
são-gonçalinho
1, 2
árvore
454657
SALICACEAE
SAPINDACEAE
Serjania cuspidata Cambess.
cipó-cabeludo, uva-domato
1
trepadeira
454661
abiu
2
árvore
454662
1, 2
arbusto
454663
trombeta
2
arbusto
454666
3
3
erva
**
Capsicum frutescens L.
pimenta-caiana,
pimenta-rabo-demacaco, pimenta dedode-moça, pimentacambuci, pimenta-reino,
pimenta-de-cheiro
pimenta- malagueta
3
3
erva
**
Capsicum sp.1
pimenta-baiana
3
3
erva
**
Capsicum sp.2
pimenta- fogo
3
3
erva
**
Cestrum laevigatum Schltdl.
coerana
2
arbusto
454667
Datura aff. metel L.
beladona
1
erva
454669
Nicotiana tabacum L.
fumo
1, 2
erva
454670
Solanum alternato-pinnatum Steud.
jiquiri
1
trepadeira
454672
Solanum americanum Mill.
erva-moura
1
erva
454673
Solanum argenteum Dun.
erva-prata, erva-de-iansã
2
arbusto
454674
Solanum capsicoides Alliori
arrebenta-cavalo
2
erva
454671
Solanum cernuum Vell.
panacéia
arbusto
454678
Solanum pachinatum Dun.
panacéia, milho-decobra
jurubeba
1
arbusto
454679
1
arbusto
454680
1, 2
árvore
454682
8
árvore
454683
2
erva
454684
SAPOTACEAE
Chrysophyllum oliviforme L. subsp.
oliviforme
SIPARUNACEAE
Siparuna guianensis Aubl.
negramina, negraminafêmea
SOLANACEAE
Brugmansia suaveolens (H.&B. ex.
Willd.) Bercht. & Presl.
Capsicum annuum L.
Solanum torvum Sw.
1
URTICACEAE
Cecropia cf. lyratiloba Miq. var.
lyratiloba
Cecropia pachystachya Tréc.
Pilea nummularifolia (Sw.) Wedd.
embaúba-branca
embauba, folha-dapreguiça
dinheiro-em-penca
87
Famílias/ Espécies
Nome popular
Usos /
mercados
Hábito
Mad. Cea.
N°.
Reg*
ACANTHACEAE
VERBENACEAE
Aloysia cf. gratissima (Gilties & Hook)
Tronc.
Aloysia gratissima (Gilties & Hook)
Tronc.
Lantana camara L.
1, 2
arbusto
454686
alfazema
1, 2, 3
arbusto
454687
cambará
2
erva
454690
erva-cidreira, melissa,
cidreira
gervão
1
erva
454691
1
erva
454693
Anchietea pyrifolia (Mart.) G. Don
suma-roxa
1
trepadeira
454695
Anchietea cf. pyrifolia (Mart.) G. Don
suma-roxa
1
trepadeira
454696
insulina
1
trepadeira
454697
Alpinia zerumbet (Pers.) Burtt & Smith
colônia
1, 2
erva
454698
Hedichium coronarium J. König
lírio-do-brejo
2
erva
454699
Zingiber officinale Roscoe
gengibre
1
erva
**
INDETERMINADA
catuaba
1
__
454701
INDETERMINADA
nó-de-cachorro
1
__
454700
Lippia alba N.E. Br.ex P. Wilson
Stachytarpheta cayennensis (Rich.) Vahl
sementes de alfazema
1
VIOLACEAE
VITACEAE
Cissus verticillata (L.) Nicholson &
C.E.Jarvis
ZINGIBERACEAE
1
1
* Número de Registro no Herbário RB. Os espécimens ainda não registrados estão
indicados com o número de coleta de I. M. Silva e os assinalados com asterisco (**) serão
posteriormente incluídos na coleção, em meio líquido ou ensacados.
O número de espécies encontrado, no presente trabalho, é superior aos resultados de
outras pesquisas em etnobotânica, desenvolvidas em feiras livres e mercados do Brasil,
sendo encontrados iguais ou superiores apenas no exterior (Tabela 3). No documento
intitulado “Plantas medicinais do Brasil: aspectos gerais sobre legislação e comércio”
elaborado por TRAFFIC América do Sul (Silva et al. 2001), foram registradas 88 espécies
de plantas nativas comercializadas por todo o Brasil das quais 17 (correspondendo a
19,3%) foram também encontradas nos dois mercados estudados.
Tabela 3 - Pesquisas etnobotânicas realizadas em mercados e feiras livres, organizados por
países, com os respectivos números de feiras e/ou mercados visitados: R- riqueza de
espécies; NF- número de famílias botânicas; NI- número de informantes.
88
Local/ Unidades da federação (unidades visitadas)
Mercado de Madureira, RJ (1)
CEASA, Irajá, RJ (1)
Tijuca (RJ) (1)
Zona Oeste (RJ) (8)
R
256
76
151
127
NF
80
62
59
58
NI
15
7
4
__
Autores (data)
Presente trabalho (2007)
Presente trabalho (2007)
Stalcup (2000)
Azevedo & Silva (2006)
Rio de Janeiro (RJ) (33)
106
49
54
Rio de Janeiro; Niterói (RJ)
Barra do Piraí (RJ) (1)
8
101
6
42
10
__
Maioli-Azevedo & Fonseca-Kruel
(2007)
Santos & Sylvestre (2000)
Parente & Rosa (2001)
Petrópolis e Nova Friburgo (RJ) (3)
Caruaru (PE) (1)
114
114
49
57
5
20
Santos (2006)
Almeida & Albuquerque (2002)
Recife (PE) (7)
152
60
18
Ramos et al. (2005)
Recife (PE) (1)
136
66
18
Albuquerque et al. (2006)
Boa Vista (RR)
100
__
5
Pinto & Maduro (2003)
Campo Grande (MS)
28
__
10
Nunes et al. (2003)
R
172
35
260
300
70
75
129
NF
72
19
__
97
38
34
55
NI
18
18
__
__
~13
__
21
Outros países
Local/
Grécia (3)
Cameroon (5)
México
México (2)
México (2)
México
Bolívia (2)
Autores (data)
Handilou et al. (2004)
Betti (2002)
Bye & Linares (1987)
Martin (1992)
Nicholson & Arzeni (1993)
Ugent (2000)
Macía et al. (2005)
As famílias que mais se destacaram em número de espécies foram Asteraceae (30),
Lamiaceae (23), Solanaceae (15), Fabaceae (14), Myrtaceae (9), Euphorbiaceae e
Malvaceae (8), Bignoniaceae e Piperaceae (7) e Poaceae (6). Estas 10 famílias concentram
47,9% do total de espécies inventariadas. Em relação aos gêneros, foram as famílias
Asteraceae (22), Lamiaceae (13), Fabaceae (10) e Euphorbiaceae (8) que sobressaíram.
Resultados semelhantes têm sido reportados em outras pesquisas etnobotânicas
desenvolvidas em feiras e mercados (Almeida &Albuquerque 2002; Pinto & Maduro 2003;
Macía et al. 2005; Albuquerque et al. 2006a; Maioli-Azevedo & Fonseca-Kruel 2007). As
famílias Lamiaceae e Asteraceae têm um número grande de espécies e são encontradas
tanto em regiões temperadas como nas tropicais e, além disso, são ricas em óleos voláteis e
muito utilizadas na medicina popular, ao redor do mundo (Menezes & Kaplan 1992;
Bennettt & Prance 2000; Simões & Spitzer 2004).
Nos dois mercados estudados as espécies são utilizadas, em sua maioria, como
medicinais, ritualísticas e/ou condimentares, pela população. Essas categorias de uso estão,
89
neste estudo, refletindo a etnoclassificação empregada pelos informantes que separam
“plantas para chá”, “plantas para banho” e “plantas para tempero”. O limite entre estas
categorias é muitas vezes tênue, mas de forma geral, observou-se que as plantas para chá
incluiram as utilizadas para cura de doenças e/ou sintomas culturalmente bem definidos
explicitados pelos informantes (e com correspondência na medicina convencional). As
espécies para “banho” relacionaram-se principalmente àquelas utilizadas em uso ritual no
combate às doenças físicas e/ou espirituais (usados na forma de defumadores, simpatias,
banhos, sacodimentos nas casas e feitiços). Nas condimentares foram incluídas as plantas
aromáticas, usadas como temperos.
Por apresentarem outros usos, além dos já citados, algumas espécies foram
incluídas também na categoria “alimentar” já que são utilizadas na dieta popular, ou ainda
nas categorias “cosmético” (usadas como preparados para os cabelos) ou ainda “outros
usos” incluindo as ornamentais e de uso veterinário. Quando houve relutância por parte dos
informantes, as espécies foram inseridas na categoria “Usos não informados”. Apesar de
todos os informantes terem incluído as plantas usadas como abortivas na categoria “plantas
para chá”, optou-se por criar a categoria “abortiva”, por não haver correspondência com
doenças, sinais e/ou sintomas citados paras as espécies submetidas à categoria “medicinal”.
O fungo orelha-de-pau (Pycnoporus sanguineus (F.ex Fr.) Murril) e o café (Coffea arabica
L.) foram citados como abortivos exclusivamente no Mercado de Madureira e na CEASA,
respectivamente.
Embora o Mercado de Madureira apresente um número muito maior de espécies
medicinais e rituais comparado à CEASA, existe certa proporcionalidade entre os dois
mercados quando se refere ao percentual de espécies comercializadas em cada categoria,
com exceção das ritualísticas que, em Madureira, são mais significativas (Tabela 4).
Tabela 4 – Número total de espécies, por categorias (independentemente das
espécies aparecerem em mais de uma categoria), no Mercado de Madureira e na CEASA.
Em cada célula o número de espécies é seguido da percentagem entre parênteses (med medicinal; ritual. - ritualística; cond.- condimentar; alim. - alimentar; cosm. - cosmética;
abort. -abortiva; outros usos: ornamental e veterinário).
Mercados
med.
ritual.
Madureira
178
(69,5%)
111
(43,3%)
cond.
19
(7,4%)
outros
usos
6
5
10
6
(2,3%) (1,9%) (3,9%) (2,3%)
alim.
cosm.
abort.
usos não
informados
3
(1,1%)
90
CEASA
59
(77,6%)
11
(14,4%)
8
(10,5%)
__
1
1
(1,3%) (1,3%)
__
1
(1,3%)
Grande parte das espécies aparece apenas em uma única categoria, principalmente
na CEASA. Somente o Mercado de Madureira apresenta espécies com múltiplos usos, o
que pode expressar uma maior versatilidade de indicação de usos, por parte dos erveiros de
Madureira (Fig.1). Em relação às condimentares, por exemplo, com exceção das pimentas,
orégano e cravo-da-índia, as outras espécies tiveram também citações de uso como
ritualística (9 citações), medicinal (8 citações), cosmética (1 citação) e abortiva (1 citação).
Figura 1 – Distribuição percentual de espécies pelo número de categorias comercializadas
no Mercado de Madureira e na CEASA , Rio de Janeiro, RJ.
Outra maneira de se verificar essa questão é a análise da Figura 2, onde se observa
que a CEASA apresenta maior percentual de espécies exclusivas nas categorias Medicinal,
Ritualística e Condimentar indicando, ao contrário do Mercado de Madureira, a tendência
a uma menor versatilidade de uso das espécies.
91
Condimentar
CEASA
Madureira
Ritualística
Medicinal
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Valorpercentual
Figura 2 – Percentual de espécies exclusivas nas categorias Medicinal, Ritualística e
Condimentar no Mercado de Madureira e na CEASA, Rio de Janeiro, RJ.
As nove espécies vendidas somente na CEASA são a macota (Hedyosmum
brasiliense; Chloranthaceae); o cipó-cabeludo (Mikania hirsutissima; Asteraceae); a pata–
de-vaca (Bauhinia microstachya; Fabaceae) e a panacéia (Solanum cernuum; Solanaceae),
todas com uso exclusivamente medicinal e nativas. As outras são Eucalyptus sp.;
Eucalyptus torelliana (Myrtaceae); Piper mollicomum (Piperaceae); Melinis minutiflora
(Poaceae) e Adiantum raddianum (Pteridaceae), que são plantas cultivadas. Em relação às
espécies condimentares predominam, na CEASA, as pimentas, que só são usadas para tal e
que são revendidas aos erveiros do Mercado de Madureira (Anexo 1).
O Mercado de Madureira é popular e muito freqüentado para compras a varejo- o
que explica, em parte, a versatilidade de usos atribuídos às espécies- e tem um perfil
diverso da CEASA, que é voltada basicamente à organização da comercialização de
produtos hortigranjeiros ao nível de atacado no Estado do Rio de Janeiro, o mesmo
acontecendo com as ervas que são adquiridas, de forma geral, para a revenda. O varejo
também ocorre, mas, em menor escala. Neste contexto, apesar de não se ter quantificado o
percentual total diário das vendas, observou-se claramente que, em função de suas
especificações, a CEASA vende menos espécies porém, em maior quantidade, por erveiro.
92
Ao contrário, o Mercado de Madureira vende mais espécies, em menor quantidade, por
erveiro.
O Mercado de Madureira, nas últimas décadas, visando melhorar as vendas, buscou
especializar-se em produtos ligados a rituais afro-brasileiros, o que gerou também uma
demanda para a venda de espécies vegetais com essa finalidade. As designações populares
atribuídas a algumas plantas fazem alusão a esse tipo de uso, como por exemplo: abebê;
vintém; abebê-de-oxum; conchinha-de-oxum; pena-de-xangô; oripepê; akokô; dandá-dacosta; cipó-caboclo; erva-da-jurema e outros. Inclusive, para determinadas espécies a
variação de nomes vernaculares é muito maior nesse mercado, como é o caso de Piper
arboreum que, além de vence-demanda, usado também na CEASA, é denominado de
joão-barandi, desata-nó, abranda-fogo e vence-tudo.
A maior riqueza de espécies usadas em rituais foi encontrada no gênero Ocimum
(Lamiaceae). Das seis espécies de Ocimum vendidas no Mercado de Madureira, cinco são
de uso ritualístico. No Brasil, os táxons deste gênero que se destacam na cultura
tradicional, originam-se no Velho Mundo, assimilados na cultura brasileira graças aos
africanos que chegaram ao país na condição de escravos e se constata a similaridade de
usos medicinais e mágico-religiosas entre as culturas africanas e afrobrasileiras
(Albuquerque & Andrade 1998). Apesar de não desempenharem uma função primordial
nas cerimônias de candomblé, muitas espécies de Ocimum são associadas a outras plantas
em rituais, mas não se conhecem referências de ações psicoativas relacionadas ao transe.
Entretanto há provas dos efeitos que produzem os azeites essenciais de Ocimum como
antibacterianos, antimicóticos, antipiréticos e analgésicos (Albuquerque & Andrade 1998).
Em relação a essa herança cultural, Guedes et al. (1985) lembram que o uso mágico
das plantas (ou ervas) é um importante elemento nas atividades popularmente denominadas
“simpatias” – que encontram acolhida e credulidade em diversas camadas sociais e nos
rituais religiosos afro-brasileiros. Albuquerque & Chiappeta (1994), em trabalho sobre o
uso de plantas e a concepção de doença e cura nos cultos afro-brasileiros, investigaram o
papel das mesmas no sistema de crenças desses cultos e observaram que a idéia que se tem
da existência de propriedades mágicas dos vegetais é o que verdadeiramente norteia o
emprego de plantas no combate a enfermidades.
Neste sentido, Almeida (2003) ressalta que as manifestações de cura originadas nas
crenças e costumes de origem africana são agrupadas como “Terapêutica Yoruba” e o
principal referencial é a filosofia de tratamento, diretamente relacionada às tradições
ritualísticas, com as plantas sempre presentes através do uso das folhas, raízes e frutos.
93
Segundo esta autora pode-se definir a medicina de origem yorubá como uma síntese de
todos os conhecimentos, explicáveis ou não, à luz da medicina ocidental hipocrática
(convencional), usados em diagnósticos, prevenção e eliminação de distúrbios físicos,
mentais ou sociais. Desta forma, pode-se avaliar porque os defumadores, as “limpezas”,
“ebós de saúde” e “sacudimentos”, “banhos de ervas”, as preces, os cânticos e danças, são
considerados em conjunto, ações terapêuticas e, portanto, “remédios” objetivando a cura
(Almeida 2003). Além dos autores já citados, Barros (1993); Verger (1995); Albuquerque
& Chiappeta (1996); Camargo (1998); Trindade et al. (2000) e Albuquerque (2001), entre
outros, discutiram questões relacionadas ao uso de espécies em rituais afro-brasileiros e
auxiliaram na elucidação de um universo ainda pouco estudado.
Buscou-se, na literatura, o(s) provável(eis) continente(s) de origem das plantas para
se verificar se há alguma correlação com as espécies citadas pelos informantes,
especialmente as rituais (Anexo 2). Verificou-se que praticamente a metade das plantas
vendidas é americana, seguidas pelas asiáticas, africanas e européias (Fig. 3). Por último
aparecem as da Oceania e as Cosmopolitas. As de origem indeterminadas representaram
16% do total. Hidalgo (2002) encontrou resultado bastante semelhante para o estado do
Amazonas, quando analisou a origem de 105 espécies medicinais, das quais 49% foram
consideradas americanas (acrescidas de 10,9% da Amazônia).
94
América
Ásia
África
Europa
Oceania
Cosmopolita
0%
10%
20%
30%
40%
50%
participação percentual
Figura 3 - Percentual das espécies comercializadas no Mercado de Madureira e na
CEASA (Rio de Janeiro, RJ) em relação à provável origem.
Quando se leva em consideração apenas as espécies que apresentam uso ritual
vendidas no Mercado de Madureira, esta mesma proporcionalidade se mantém, ao
contrário do que se esperava. As espécies de origem africana (15 espécies) permanecem
em menor número do que as americanas (50) e asiáticas (17,5), apesar da singularidade
desse mercado, que apresenta, em suas práticas, um universo tipicamente afro-brasileiro
(Fig.4).
95
América
Ásia
África
Europa
Oceania
Cosmopolita
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
participação percentual
40%
45%
Figura 4- Percentual das espécies rituais comercializadas no Mercado de Madureira e na
CEASA (Rio de Janeiro, RJ) em relação à provável origem.
Parte desta explicação pode estar relacionada ao processo de aculturação, sugerindo
que a adaptação para um novo lugar levou a uma mudança de significados e, com isso,
espécies originárias de locais fora da África fizeram parte do universo etnobotânico afrobrasileiro. Segundo Almeida (2003), ao incorporarem-se ao novo habitat e às novas
condições sociais, algumas plantas indispensáveis aos rituais de saúde foram substituídas
por outra de morfologia externa semelhante. Os afro-brasileiros realizaram um duplo
trabalho; transplantaram um sistema de classificação botânica da África e introjetaram as
plantas nativas do Brasil, na sua cultura. Além disso, a maior diversidade de espécies
encontradas no novo continente pode ter propiciado a introdução de diferentes espécies
para usos já consagrados.
Camargo (1998) chama a atenção para a influência portuguesa e indígena ao acervo
de plantas empregadas em rituais afro-brasileiros e lembra que, na medida em que os
negros foram se fixando em novas terras, desprovidos dos recursos naturais de que
50%
96
dispunham em suas regiões de origem, encontraram não só plantas conhecidas, como
foram também se aproximando de sucedâneos. Da mesma forma, Ugent (2000) relata a
utilização de numerosas espécies européias e asiáticas por curandeiros no México.
A biogeografia ligada a manifestações culturais é uma das formas de compreensão da
dinâmica de adaptação de novas espécies vegetais, aos costumes de um povo, o que pode
ser evidenciado no mercado de Madureira, pela utilização de um grande número de plantas
americanas como ritualísticas.
Em relação às espécies asiáticas, Nepomuceno (2003) lembra que os Árabes
estabeleceram conexão entre a península Arábica com o oriente, o mediterrâneo e a África
oriental. Teriam ancorado em 800 AC, na China e nas Ilhas Molucas (Indonésia). Na volta,
traziam produtos que eram comercializados no norte da África, mas faziam crer a todos
que eram produtos da própria Arábia. Traziam do Oriente pedras preciosas, sedas, arroz,
chá preto, açúcar, pimenta-do-reino, cravo e canela e levavam para o Oriente sálvia, menta,
manjerona, sal, azeites, cominho, coentro, açafrão, pimentas, bálsamos, incensos, linho, lã,
vidro, prata e corais. Desta forma, com a colonização européia no Brasil houve a entrada
de um grande número de espécies provenientes da própria Europa, da Ásia e da África.
A dificuldade de se determinar a origem de cada espécie é um dos maiores
problemas para os estudos biogeográficos. Esta vem sendo parcialmente resolvida através
de pesquisas baseadas em biologia bolecular, acrescidas de informações provenientes de
morfologia, taxonomia, lingüística, antropologia e arqueologia (Doebley 1990). Tais
estudos ainda estão voltados para espécies cultivadas de maior importância comercial,
principalmente as alimentares.
As plantas e suas aplicações terapêuticas
A listagem livre, utilizada nessa pesquisa, é considerada um método bem
estabelecido, relacionado às fronteiras de domínios culturais, que parte do pressuposto que
quando as pessoas listam livremente elas tendem a citar os termos em ordem de
familiaridade - os indivíduos que sabem mais sobre o conteúdo solicitado listam mais do
que aquelas que sabem menos - e os termos que são mais lembrados indicam que são
localmente mais proeminentes (Quinlan 2005). Considera-se que as espécies mencionadas
com freqüência indicam um conhecimento comum entre os indivíduos, ou consenso,
dentro de uma determinada cultura.
97
Nesse contexto, foram escolhidas para essa pesquisa, metodologias que podem
indicar as prováveis espécies ou categorias de doenças merecedoras de destaque e análise,
a saber, a Importância Relativa (IR) das espécies medicinais (Bennett & Prance 2000) e o
índice de Saliência Cultural ou índice de Saliência (Quinlan, 2005).
Para se avaliar as espécies que se sobressaíram, foram levadas em consideração
apenas aquelas relacionadas nas listagens livres (as mais comercializadas), padronizandose assim as análises, já que todos os informantes foram submetidos igualmente às mesmas
perguntas. Dessa forma, não foram levadas em consideração as espécies citadas em
entrevistas adicionais.
A análise de similaridade entre o Mercado de Madureira e a CEASA levou em
consideração as espécies citadas na metodologia de listagem livre, ou seja 53 espécies para
a CEASA, 97 para o Mercado de Madureira e 42 espécies em comum. Utilizando-se o
índice de Sorensen (Mueller-Dombois & Ellenberg 1974) foi obtida uma similaridade de
56% que, segundo (Maguran 1988) significa similaridade entre as espécies mais
comercializadas nos dois mercados. Isso quer dizer que, apesar das diferenças no perfil dos
informantes e dos compradores, existe um rol de plantas preferido pela população. Para se
avaliar justamente essas preferências, foram utilizados os índices discutidos abaixo.
A Importância Relativa das espécies
A Importância Relativa foi calculada apenas para as espécies mais vendidas que
tiveram indicação popular de uso medicinal, nas listagens livres. Deve-se considerar que
entre as espécies mais comercializadas nos mercados (53 na CEASA e 97 no Mercado de
Madureira), algumas não se destacaram por seu uso medicinal (12 na CEASA e 32 no
Mercado de Madureira) e, para elas, não se calculou o referido índice.
Essa metodologia (IR) assume que uma planta é mais importante quanto mais
versátil se apresenta, ou seja, quantos mais usos apresentar, mas também leva em
consideração o número de sistemas corporais envolvidos. Em relação a esses últimos, no
Anexo 3 deste artigo, podem ser observadas as espécies usadas para tratamento de doenças
e/ou sintomas, organizadas em sistemas corporais.
98
No Mercado de Madureira o maior número de espécies foi indicado para doenças
do aparelho circulatório bem como para doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas
(Fig.5) em decorrência da indicação de plantas para pressão alta, problemas cardíacos e
ainda para controlar o colesterol e o diabetes. Talvez esse resultado reflita a procura pela
população, por plantas para o controle de males que sabidamente tornaram-se comuns na
população urbana do Brasil e de outros países. Em seguida, vêm os sintomas ou sinais
anormais de exames clínicos e de laboratório, provavelmente pelo fato de muitas plantas
terem sido indicadas como antinflamatórias em geral, e ainda as doenças do aparelho
respiratório, que são amplamente utilizadas para minimizar os efeitos da gripe e resfriados.
neoplas ias [tum ores ]
doenças do olho e anexos
les ões , envenenam ento e outras caus as externas
s angue, órgãos hem atopoéticos e trans tornos im unitários
doenças da pele e do tecido s ubcutâneo
s is tem a os teom us cular e do tecido conjuntivo
trans tornos m entais e com portam entais
algum as doenças infeccios as e paras itárias
doenças do aparelho diges tivo
doenças do aparelho geniturinário
doenças do aparelho res piratório
anorm alidades em exam es clínicos e de laboratório
doenças endócrinas , nutricionais e m etabólicas
doenças do aparelho circulatório
0
2
4
6
8
10
12
14
16
n. de espécies
Figura 5 – Número de espécies indicadas como de uso medicinal no Mercado de
Madureira, Rio de Janeiro, organizadas por Categorias de Doenças. Foram consideradas
somente as espécies mais comercializadas citadas na listagem livre.
Para a CEASA sobressaíram as espécies indicadas para o tratamento das doenças
do aparelho digestivo, como úlcera, gastrite e má digestão (Figura 6). Esse resultado foi
também encontrado por Betti (2002) em um mercado africano. Assim como no Mercado de
Madureira, sobressaíram as categorias que incluem os sintomas ou sinais anormais de
exames clínicos e de laboratório bem como as doenças endócrinas, nutricionais e
metabólicas, provavelmente pelas mesmas razões já descritas acima.
99
De forma geral, os sistemas corporais para os quais se tem mais indicação de
espécies nos dois mercados o foram também em outras pesquisas (Silva-Almeida &
Amorozo 1998; Bennet & Prance 2000; Almeida & Albuquerque 2002; Amorozo 2002;
Handilou et al. 2004; Christo et al. 2006 ; Maioli-Azevedo & Fonseca-Kruel 2007).
les ões , envenenam ento e outras caus as externas
s angue, órgãos hem atopoéticos e trans tornos im unitários
neoplas ias [tum ores ]
doenças do olho e anexos
s is tem a os teom us cular e tecido conjuntivo
doenças infeccios as e paras itárias
trans tornos m entais e com portam entais
doenças do aparelho circulatório
doenças do aparelho geniturinário
doenças do aparelho diges tivo
doenças endócrinas , nutricionais e m etabólicas
anorm alidades em exam es clínicos e de laboratório
doenças do aparelho res piratório
0
2
4
6
8
10
12
n. de espécies
Figura 6– Número de espécies indicadas como de uso medicinal na CEASA, Rio de
Janeiro, organizadas por Categorias de Doenças. Foram consideradas somente as espécies
mais comercializadas citadas na listagem livre.
A análise da Importância Relativa das espécies vendidas na CEASA revelou que 15
apresentam alta versatilidade, no que diz respeito aos seus usos (ou propriedades
farmacológicas atribuídas pelos informantes) - pois apresentaram o valor da IR maior do
que 1 (Albuquerque et al. 2006b) - e apenas quatro, no Mercado de Madureira (Tabelas 5
e 6). Esse resultado pode ser explicado pelo fato de Sorocea cf. bonplandii (espinheirasanta) e Ruta graveolens (arruda), no Mercado de Madureira terem muitos usos atribuídos,
reduzindo assim proporcionalmente o IR das outras espécies.
100
Tabela 5 - Importância Relativa (IR) das 41 espécies medicinais referidas listagem livre e
consideradas como mais comercializadas pelos informantes da CEASA, Rio de Janeiro. As
propriedades farmacológicas (PF) foram indicadas pelos informantes e os sistemas
corporais estão baseados na classificação de doenças da Organização Mundial de Saúde*.
Nome científico
Leonurus sibiricus
Aloe vera
Bidens pilosa
Plantago major
Adiantum raddianum
Echinodorus grandiflorus
Cuphea carthagenensis
Baccharis cf. trimera
Baccharis dracunculifolia
Cymbopogon citratus
Equisetum hiemale
Ageratum conyzoides
Foeniculum vulgare
Mikania hirsutissima
Solanum cernuum
Sorocea cf. bonplandii
Struthanthus marginatus
Eucalyptus sp. 2
Kalanchoe brasiliensis
Vernonia beyrichii
Alpinia zerumbet
Bauhinia microstachya
Cuscuta racemosa
Cynara scolymus
Desmodium adscendens
Eucalyptus torelliana
Geissospermum laeve
Jacaranda cf. puberula
Lippia Alba
Melinis minutiflora
PF
atribuída
PF
relativa
Sistema
corporal
4
3
3
5
3
3
4
4
3
3
3
2
2
2
2
3
3
2
2
2
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
0,8
0,6
0,6
1,0
0,6
0,6
0,8
0,8
0,6
0,6
0,6
0,4
0,4
0,4
0,4
0,6
0,6
0,4
0,4
0,4
0,2
0,2
0,2
0,2
0,2
0,2
0,2
0,2
0,2
0,2
3
3
3
2
3
3
2
2
2
2
2
2
2
2
2
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
Sistema
corporal
Relativo
1
1
1
0,66
1
1
0,66
0,66
0,66
0,66
0,66
0,66
0,66
0,66
0,66
0,33
0,33
0,33
0,33
0,33
0,33
0,33
0,33
0,33
0,33
0,33
0,33
0,33
0,33
0,33
Valor
IR
1,8
1,66
1,66
1,66
1,6
1,6
1,46
1,46
1,26
1,26
1,26
1,06
1,06
1,06
1,06
0,93
0,93
0,73
0,73
0,73
0,53
0,53
0,53
0,53
0,53
0,53
0,53
0,53
0,53
0,53
101
Nome científico
PF
atribuída
PF
relativa
Sistema
corporal
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
0,2
0,2
0,2
0,2
0,2
0,2
0,2
0,2
0,2
0,2
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
Mentha pulegium
Mentha x piperita L. var. citrata
Mikania glomerata
Peperomia pellucida
Piper anisum
Plectranthus barbatus
Polygonum punctatum
Rosa cf. chinensis
Schinus terebenthifolius
Symphytum officinale
Sistema
corporal
Relativo
0,33
0,33
0,33
0,33
0,33
0,33
0,33
0,33
0,33
0,33
Valor
IR
0,53
0,53
0,53
0,53
0,53
0,53
0,53
0,53
0,53
0,53
* Os Sistemas Corporais estão detalhados no Anexo 3.
Tabela 6 - Importância Relativa (IR) das 65 espécies medicinais referidas na metodologia
de listagem livre e consideradas como mais comercializadas pelos informantes do Mercado
de Madureira, Rio de Janeiro. As propriedades farmacológicas (P.F.) foram indicadas pelos
informantes e os sistemas corporais estão baseados na classificação de doenças da
Organização Mundial de Saúde*.
Nome científico
Ruta graveolens
Sorocea cf. bonplandii
Baccharis cf. trimera
Polygonum punctatum
Alpinia zerumbet
Bidens pilosa
Mentha x piperita L. var.
Citrata
Sparattosperma leucanthum
Echinodorus grandiflorus
Cuphea carthagenensis
Davilla rugosa
Equisetum hiemale
Kalanchoe brasiliensis
Petiveria alliacea
Casearia commersoniana
Jacaranda cf. puberula
Ocimum basilicum
Ocimum campechianum
Rosmarinus officinalis
Scoparia dulcis
Symphytum officinale
Vernonia paludosa
Acalypha communis
Eugenia rotundifolia
Lepidium pseudo-didymus
Starchytarpheta cayennensis
P.F.
atribuída
P. F.
relativa
Sistema
corporal
6
7
5
4
3
3
0,86
1,00
0,71
0,57
0,43
0,43
6
4
3
3
3
3
Sistema
corporal
relativo
1,00
0,67
0,50
0,50
0,50
0,50
3
3
4
3
3
3
3
3
2
2
2
2
2
2
3
3
2
2
2
2
0,43
0,43
0,57
0,43
0,43
0,43
0,43
0,43
0,29
0,29
0,29
0,29
0,29
0,29
0,43
0,43
0,29
0,29
0,29
0,29
3
3
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
1
1
1
1
1
1
0,50
0,50
0,33
0,33
0,33
0,33
0,33
0,33
0,33
0,33
0,33
0,33
0,33
0,33
0,17
0,17
0,17
0,17
0,17
0,17
Valor IR
0,93
0,93
0,90
0,76
0,76
0,76
0,76
0,76
0,62
0,62
0,62
0,62
0,62
0,62
0,60
0,60
0,45
0,45
0,45
0,45
1,86
1,67
1,21
1,07
0,93
0,93
102
Nome científico
Aeollanthus suaveolens
Anchietea pyrifolia
Bauhinia variegata
Boerhavia diffusa
Campomanesia guaviroba
Chamaesyce prostrata
Chromolaena odorata
Chrysobalanus icaco
Cissus verticillata
Coreopsis grandiflora
Costus spiralis
Cymbopogon densiflorus
Datura aff. metel
Desmodium adscendens
Disphania ambrosioides
Foeniculum vulgare
Geissospermum laeve
Imperata cf. brasiliensis
Lecythis pisonis
Lippia Alba
Malva sp.
Miconia albicans
Mikania glomerata
Myrcia guianensis
Ocimum gratissimum
Oeceoclades maculatum
Peperomia pellucida
Plantago major
Plectranthus amboinicus
Schinus terebinthifolius
Senna alexandrina
Senna occidentalis
Simira glaziovii
Smallanthus sonchifolius
Tabebuia sp. 2
Vernonia sp. 2
Herreria glaziovii
Chondodendron platyphyllum
P.F.
atribuída
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
P. F.
relativa
0,14
0,14
0,14
0,14
0,14
0,14
0,14
0,14
0,14
0,14
0,14
0,14
0,14
0,14
0,14
0,14
0,14
0,14
0,14
0,14
0,14
0,14
0,14
0,14
0,14
0,14
0,14
0,14
0,14
0,14
0,14
0,14
0,14
0,14
0,14
0,14
Sistema
corporal
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
Sistema
corporal
relativo
0,17
0,17
0,17
0,17
0,17
0,17
0,17
0,17
0,17
0,17
0,17
0,17
0,17
0,17
0,17
0,17
0,17
0,17
0,17
0,17
0,17
0,17
0,17
0,17
0,17
0,17
0,17
0,17
0,17
0,17
0,17
0,17
0,17
0,17
0,17
0,17
Valor IR
0,31
0,31
0,31
0,31
0,31
0,31
0,31
0,31
0,31
0,31
0,31
0,31
0,31
0,31
0,31
0,31
0,31
0,31
0,31
0,31
0,31
0,31
0,31
0,31
0,31
0,31
0,31
0,31
0,31
0,31
0,31
0,31
0,31
0,31
0,31
0,31
Não informado
Não informado
* Os Sistemas Corporais estão detalhados no Anexo 3.
Leonurus sibiricus (erva-macaé) e Aloe vera (babosa), que obtiveram os maiores IR
na CEASA, foram citadas como mais vendidas apenas nesse mercado. Christo et al. (2006)
coincidentemente encontraram estas duas espécies com os maiores valores de IR, em uma
comunidade rural, em Silva Jardim, Rio de Janeiro. Ambas são cultivadas e
comercializadas em feiras livres e mercados, tanto no Brasil (Parente & Rosa 2001;
Almeida & Albuquerque 2002; Azevedo & Silva 2006) como em outros países (Handilou
103
et al. 2004; Macia et al. 2005). Plantago major (tanchagem) foi a planta que apresentou,
na CEASA, maior versatilidade de usos (antinflamatória em geral, infecção na urina,
próstata, dor-de-gargante e dor-de-dente) que podem ser verificados também em diferentes
trabalhos (Handilou et al. 2004; Macia et al. 2005, Martinez 2005, Albuquerque et al.
2006a ). Também Bennet & Prance (2000) estudando a farmacopéia de espécies utilizadas
na Amazônia, encontraram para P. major o maior valor de IR e, para Aloe vera, o quarto
maior valor.
Ruta graveolens (arruda), no Mercado de Madureira, apareceu como uma planta
altamente versátil. Além de muito comercializada como ritualística, foi indicada para o
tratamento de dor-de-cabeça, menopausa (uso oral), problemas nos olhos, tratamento de
piolhos (uso tópico), má circulação e varizes (banho) e ainda foi apontada como espécie
abortiva.
Sorocea cf. bonplandii, conhecida como espinheira-santa, tem amplo uso na região
sudeste. Coulaud-Cunha et al. (2004) chamam a atenção para o perigo do consumo dessa
espécie, uma vez que é utilizada normalmente contra úlceras e gastrites e pelo fato de não
existirem estudos conclusivos que assegurem a falta de toxidade crônica, tornando seu uso
um risco para a população. Além desses usos, essa planta foi indicada, no Mercado de
Madureira também para emagrecer, para problemas na coluna, para problemas estomacais
em geral, males do fígado, problemas na vesícula e como antinflamatória. Em pesquisa
anterior (Azevedo & Silva 1999, dados não publicados), nesse mesmo mercado, essa
espécie foi citada apenas para gastrites e úlceras. Isso pode indicar um processo de
experimentação, pela população, para o tratamento de outros males.
É importante salientar que a Resolução da Secretaria de Estado de Saúde\RJ N°
1757 de 18/02/2002, contra-indica durante a gestação e lactação, o uso na forma oral, de
algumas espécies, entre elas, Aloe vera, Leonurus sibiricus, Plantago major e Ruta
graveolens, por apresentarem potencial tóxico, teratogênico e abortivo.
Nesse sentido, ao se verificar as formas de uso (ou de administração) das espécies
mais comercializadas, a forma oral foi o de maior destaque - como era o esperado - para os
dois mercados, com 84,9% e 87,3% das indicações para a CEASA e para o Mercado de
Madureira, respectivamente. Para a CEASA seguem-se os banhos e a inalação (2,8% cada)
bem como o uso tópico, em forma de colírio ou em gargarejos com 1,88% cada. E, para o
Mercado de Madureira, além do uso oral, foram listados o uso tópico (com 6% das
indicações), a compressa (2,8%), o banho (1,4%) e colírio (0,46%). Para os dois mercados
juntos, em 2,8% das indicações as informações foram imprecisas. O percentual elevado de
104
uso oral encontrado nos dois mercados aponta para o risco que a população pode estar
submetida pela ingestão de plantas tóxicas ou incorretamente identificadas. Como o uso de
muitas espécies não é um fato culturalmente cristalizado, ocorrendo com freqüência a
experimentação e mudanças nos usos e nas propriedades atribuídas, este risco é
potencializado.
Em relação à forma de preparo, os chás (infusão ou decocto) sobressaíram com
68,2% das indicações na CEASA e 75,5% no Mercado de Madureira. Para este último, a
maceração (11,6%), o xarope (9,8%) e o uso in natura (1,4%) foram também listados. Na
CEASA, o xarope (com 17,3% das indicações) ultrapassou a maceração (com 8,6%). O
uso in natura, em pó e a inalação obtiveram, juntas, 4,8% das indicações na CEASA.
O Índice de Saliência
A Saliência é a expressão tanto da freqüência como da ordem (ou média) de citação
em que os itens apareceram (Quinlan 2005). Pode ser calculado a partir da listagem livre
(Bernard 1995) e se baseia no fato de que a) os informantes tendem a listar primeiro as
espécies culturalmente importantes e b) as plantas mais conhecidas são mais
frequentemente listadas (Trotter & Logan 1986). Sendo assim, pode se interpretar que,
num determinado domínio cultural, as primeiras plantas listadas, sejam as mais
importantes.
Os resultados dos índices do índice de Saliência da CEASA e do Mercado de
Madureira estão organizados nas Tabelas 7 e 8.
Tabela 7 - Índice de Saliência das 53 espécies referidas na metodologia de listagem livre e
consideradas como mais comercializadas pelos informantes da CEASA, Rio de Janeiro.
Espécies*
Leonurus sibiricus
Baccharis cf. trimera
Sorocea cf. bonplandii
Laurus nobilis*
Vernonia beyrichii
Mikania glomerata
Cuphea carthagenensis
Equisetum hiemale
Echinodorus grandiflorus
Lygodium volubile*
Kalanchoe brasiliensis
Plantago major
Cymbopogon citratus
Piper arboreum aubl. var. arboreum*
Frequência (%)
71.4
57.1
42.9
42.9
57.1
42.9
42.9
28.6
28.6
28.6
28.6
42.9
42.9
28.6
Média do Rank
7.4
5.75
4.67
4.33
7.75
6
6.67
2.5
2.5
4
3.5
8.67
7.33
5
Saliência
0.39
0.39
0.33
0.33
0.31
0.29
0.29
0.26
0.24
0.23
0.23
0.23
0.22
0.21
105
Espécies*
Mentha x piperita L. var. citrata
Aloe vera
Lippia alba
Eucalyptus sp.
Mikania hirsutissima
Ocimum basilicum*
Ruta graveolens*
Bidens pilosa
Aristolochia triangularis*
Cuscuta racemosa
Symphytum officinale
Solanum cernuum
Baccharis dracunculifolia
Adiantum cf. raddianum
Rosmarinus officinalis*
Alpinia zerumbet
Chromolaena odorata*
Polygonum punctatum
Petiveria alliacea*
Bauhinia microstachya
Mentha pulegium
Desmodium adscendens
Piper anisum
Foeniculum vulgare
Ageratum conyzoides
Jacaranda cf. puberula
Aeollanthus suaveolens*
Piper hoffmannseggianum*
Plectranthus barbatus
Ocimum campechianum*
Davilla rugosa*
Rosa cf. chinensis
Schinus terebenthifolius
Struthanthus marginatus
Geissospermum laeve
Melinis minutiflora
Peperomia pellucida
Cynara scolymus
Eucalyptus torelliana
Frequência (%)
28.6
28.6
42.9
28.6
28.6
28.6
28.6
57.1
14.3
28.6
14.3
42.9
28.6
14.3
14.3
28.6
14.3
14.3
14.3
14.3
14.3
14.3
14.3
14.3
28.6
14.3
14.3
14.3
14.3
14.3
14.3
14.3
14.3
14.3
14.3
14.3
14.3
14.3
14.3
Média do Rank
5.5
6
9.67
7
8.5
7.5
9
12.75
2
10.5
2
10.67
10.5
3
5
10
6
8
6
7
7
8
8
6
13
10
9
12
9
11
15
12
13
14
17
10
13
15
14
Saliência
0.19
0.18
0.17
0.17
0.16
0.15
0.14
0.14
0.13
0.13
0.13
0.13
0.12
0.11
0.11
0.10
0.09
0.09
0.08
0.08
0.08
0.08
0.07
0.07
0.07
0.06
0.06
0.05
0.05
0.03
0.03
0.02
0.02
0.02
0.02
0.01
0.01
0.01
0.01
* Espécies indicadas para outros usos que não o medicinal.
Tabela 8 - Índice de Saliência das 97 espécies referidas na listagem livre e consideradas
mais comercializadas pelos informantes do Mercado de Madureira, Rio de Janeiro.
Espécies*
Mentha x piperita L. var. citrata
Ocimum basilicum
Eugenia rotundifolia
Sorocea cf. bonplandii
Kalanchoe brasiliensis
Mentha pulegium*
Aeollanthus suaveolens
Freqüencia de citação(%)
53,30
66,70
53,30
40,00
46,70
40,00
53,30
Média do Rank Saliência
6,25
0,38
7,60
0,36
5,88
0,35
3,00
0,34
5,57
0,32
4,17
0,30
10,13
0,29
106
Espécies*
Vernonia paludosa
Baccharis cf. trimera
Piper arboreum Aubl. var.
arboreum*
Lygodium volubile*
Bidens pilosa
Lippia alba
Echinodorus grandiflorus
Cuphea carthagenensis
Sparattosperma leucanthum
Ruta graveolens
Peperomia pellucida
Alpinia zerumbet
Symphytum officinale
Mikania glomerata
Piper hoffmanseggianum*
Piper anisum*
Equisetum hiemale
Rosmarinus officinalis
Jacaranda cf. puberula
Disphania ambrosioides
Chamaesyce prostrata
Siparuna guianensis*
Lepidium pseudo-didymus
Miconia albicans
Petiveria alliacea
Coreopsis grandiflora
Hibiscus rosa-sinensis*
Desmodium adscendens
Smallanthus sonchifolius
Chrysobalanus icaco
Salvia officinalis*
Polygonum punctatum
Bauhinia variegata
Cissus verticillata
Miconia calvescens*
Plectranthus amboinicus
Ocimum campechianum
Trema micrantha*
Casearia sylvestris*
Plantago major
Myrcia guianensis
Ocimum gratissimum
Melia azedarach
Cymbopogon densiflorus
Tetradenia riparia*
Costus spiralis
Acalypha communis
Imperata cf. brasiliensis
Chromolaena odorata
Ocimum selloi*
Coffea arábica*
Solanum argenteum*
Freqüencia de citação(%)
33,30
26,70
46,70
33,30
26,70
20,00
26,70
20,00
13,30
33,30
26,70
20,00
13,30
13,30
26,70
26,70
13,30
20,00
13,30
20,00
20,00
20,00
13,30
13,30
26,70
13,30
13,30
13,30
6,70
6,70
13,30
13,30
6,70
6,70
6,70
6,70
13,30
6,70
20,00
6,70
6,70
6,70
20,00
13,30
6,70
6,70
6,70
6,70
6,70
6,70
6,70
13,30
Média do Rank Saliência
6,40
0,22
3,75
0,21
11,86
10,20
6,50
5,67
5,75
6,00
1,50
9,40
11,00
8,67
4,50
4,00
12,50
11,00
6,50
6,33
8,00
7,33
8,00
15,00
5,50
6,50
15,50
8,50
7,50
11,00
1,00
1,00
13,50
7,00
2,00
2,00
2,00
3,00
7,50
3,00
12,00
3,00
3,00
5,00
17,33
12,50
4,00
5,00
6,00
4,00
8,00
5,00
5,00
15,50
0,19
0,17
0,17
0,16
0,15
0,13
0,13
0,13
0,12
0,12
0,11
0,11
0,10
0,10
0,10
0,09
0,09
0,09
0,09
0,08
0,08
0,08
0,07
0,07
0,07
0,07
0,07
0,07
0,06
0,06
0,06
0,06
0,06
0,06
0,06
0,06
0,06
0,06
0,06
0,05
0,05
0,05
0,05
0,05
0,05
0,05
0,05
0,05
0,05
0,05
107
Espécies*
Malva sp.
Centratherum punctatum*
Hymenaea courbaril*
Zanthoxylum caribaeum*
Casearia commersoniana
Simira glaziovii
Starchytarpheta cayennensis
Oeceoclades maculatum
Senna alexandrina
Boerhavia diffusa
Epiphyllum phyllanthus*
Campomanesia guaviroba
Senna occidentalis
Ocimum cf. americanum*
Herreria glaziovii
Foeniculum vulgare
Newbouldia laevis*
Abutilon striatum*
Schinus terebinthifolius
Gallesia integrifólia*
Datura aff. Metel
Anchietea pyrifolia
Lecythis pisonis
Nymphaea cf.rubra*
Brugmansia suaveolens*
Geissospermum laeve
Polyscias cf. balfouriana*
Chondodendron platyphyllum
Baccharis dracunculifolia*
Vernonia sp.
Acmella uliginosa*
Scoparia dulcis
Celosia argentea*
Tabebuia sp.2
Asplenium serratum*
Aristolochia sp.*
Mangifera indica*
Davilla rugosa
Freqüencia de citação(%)
6,70
6,70
6,70
13,30
6,70
6,70
6,70
6,70
6,70
6,70
6,70
6,70
6,70
6,70
6,70
6,70
6,70
6,70
13,30
6,70
6,70
6,70
6,70
6,70
6,70
6,70
6,70
6,70
6,70
6,70
6,70
6,70
6,70
6,70
6,70
6,70
6,70
6,70
Média do Rank Saliência
11,00
0,04
6,00
0,04
9,00
0,04
16,00
0,04
5,00
0,04
10,00
0,04
14,00
0,04
8,00
0,04
6,00
0,03
8,00
0,03
9,00
0,03
10,00
0,03
9,00
0,03
18,00
0,03
11,00
0,02
8,00
0,02
21,00
0,02
12,00
0,02
19,00
0,02
17,00
0,02
11,00
0,02
13,00
0,01
13,00
0,01
10,00
0,01
12,00
0,01
12,00
0,01
14,00
0,01
14,00
0,01
10,00
0,01
10,00
0,01
10,00
0,01
13,00
0,01
27,00
0,01
13,00
0,01
15,00
0,00
15,00
0,00
21,00
0,00
28,00
0,00
* Espécies indicadas para outros usos que não o medicinal.
Dentre as 15 primeiras espécies que obtiveram maior saliência nos dois mercados
(22 espécies), oito são comuns, significando que foram frequëntemente lembradas e
listadas nas primeiras posições. São elas, Baccharis cf. trimera (carqueja), Cuphea
carthagenensis (sete-sangrias), Echinodorus grandiflorus (chapéu-de-couro), Sorocea cf.
bonplandii (espinheira-santa) e Kalanchoe brasiliensis (saião), utilizadas como medicinais,
bem como Mentha piperita L. var. citrata (elevante), Lygodium volubile (abre-caminho) e
Piper arboreum Aubl. var. arboreum (vence-demanda), estas duas últimas de uso
exclusivamente ritualístco. As outras espécies (que não apareceram concomitantemente
108
nos dois mercados) foram: Aeollanthus suaveolens, Bidens pilosa, Cymbopogon citratus,
Equisetum hiemale, Eugenia rotundifolia, Leonurus sibiricus, Lippia alba, Mentha
pulegium, Mikania glomerata, Ocimum basilicum, Plantago major, Vernonia beyrichii ,
Vernonia paludosa e Laurus nobilis.
Todas essas espécies (excetuando Eugenia rotundifolia) são recorrentemente
citadas em estudos etnobotânicos desenvolvidos em feiras livres e mercados, significando
um uso amplamente difundido entre a população (Santos & Sylvestre 2000; Parente &
Rosa 2001; Almeida & Albuquerque 2002; Handilou et al. 2004; Azevedo & Silva 2006;
Albuquerque et al. 2006; Maioli-Azevedo & Fonseca-Kruel 2007). No Mercado de
Madureira, E. rotundifolia (abajurú) apareceu em terceiro lugar e não foram encontradas
referências, na literatura, de sua venda, atual ou pretérita, em feiras livres e mercados
significando a entrada de uma nova espécie no comércio. Por isso, mereceu uma análise
mais aprofundada por Silva & Peixoto (ined.) em um artigo científico próprio.
As 15 primeiras espécies de cada mercado que obtiveram os maiores valores de IR
e saliência foram selecionadas resultando em 11 espécies comuns com esses atributos
(Tabela 9). Destas, apenas três espécies (Baccharis cf. trimera, Cuphea carthagenensis e,
Echinodorus grandiflorus) se destacaram em ambos, tanto em valores de IR quanto de
Saliencia, as nove restantes destacaram-se em apenas um dos mercados. As que não se
destacaram nos primeiros lugares, em ambos os mercados e nas duas metodologias, estão
assinaladas com tracejados. O fato da IR não levar em consideração o número de
informantes que citaram as informações, ao contrário da Saliência, deve ser parte da
explicação dos resultados obtidos.
Tabela 9 - Ranking das espécies de uso medicinal que obtiveram os maiores valores de
Saliência e de Importância Relativa e que ocorrem no Mercado de Madureira e/ou na
CEASA, Rio de Janeiro.
Espécies
Baccharis cf. trimera
Bidens pilosa
Cuphea carthagenensis
Cymbopogon citratus
Echinodorus grandiflorus
Equisetum hiemale
Kalanchoe brasiliensis
Leonurus sibiricus
Mentha x piperita l. var. citrata
M. Madureira
CEASA
Sal.
IR
Sal.
IR
4°
5°
7°
---6°
---3°
---1°
7º
3°
6°
---4
---5°
---2°
2°
---3°
7°
5°
4°
---1°
----
2°
---5°
7°
4°
6°
---1°
----
109
Plantago major
Sorocea cf. bonplandii
---2°
----1°
6°
----
3°
----
Com exceção de Sorocea cf. bonplandii, as espécies da Tabela 9 são herbáceas,
domesticadas (e cultivadas) mas, nos mercados estudados, algumas são também
provenientes de extração, como é o caso de Baccharis cf. trimera, Bidens pilosa, Cuphea
carthagenensis, Leonurus sibiricus e Plantago major. Entretanto, excetuando-se S. cf.
bonplandii e B. cf. trimera, podem ser consideradas invasoras uma vez que “em
determinadas
áreas
específicas
suas
populações
crescem
inteiramente
ou
predominatemente em situações de distúrbio claramente causados pelo homem” (Stepp &
Moerman 2001). Esses autores afirmam que o papel das ervas invasoras nas farmacopéias
tem sido subestimado, apesar das evidências de serem importante fonte de plantas
medicinais para povos indígenas e terem representação significativamente maior nas
farmacopéias em relação a outros tipos de plantas. Sugerem ainda que a acessibilidade e a
abundância das herbáceas invasoras podem explicar esse fato. Harborne (1993) lembra que
os compostos secundários produzidos pelas ervas exercem funções ecológicas como a
alelopatia, a atração de animais para a polinização e defesas contra a herbivoria sendo
compostos altamente bioativos.
Levando-se em consideração todas as espécies vendidas nos dois mercados
estudados, verificou-se que as ervas são predominates (44,4%), seguidas das árvores
(23,6%), arbustos (20,4%), trepadeiras (9,0%), epífitas e hemiepífitas (1,18%) bem como
parasitas e hemiparasitas (0,78%). A análise dessas espécies aponta um número razoável
de táxons considerados na literatura como invasores de pastagens ou áreas perturbadas e
poucos crescendo exclusivamente em ambientes florestais. É possível se pensar que os dois
métodos aplicados (Saliência e IR) sejam complementares e que possam indicar as
espécies mais consumidas pela população que procura esses mercados o que não significa,
necessariamente, que sejam plantas culturalmente mais importantes. Nesse aspecto,
Albuquerque et al. (2006b) lembram que esses índices são medidas de uso que
possivelmente ignoram determinados fatores culturais e sociais.
O comércio de cascas e órgãos subterrâneos
Os dois mercados estudados são centralizadores e distribuidores de plantas para a
revenda, em muitos pontos da cidade. Essa mesma constatação foi feita por Azevedo &
110
Silva (2006) e Maioli-Azevedo & Fonseca-Kruel (2007). A partir de informações coligidas
diretamente com os compradores (feirantes e erveiros) nos dois mercados e em feiras livres
visitados nessa pesquisa (dados não publicados), adicionados de dados obtidos por MaioliAzevedo & Fonseca-Kruel (2007), foram encontradas plantas adquiridas nesses mercados
em 31 bairros do Rio de Janeiro, além do município de Caxias (Figura 7). A zona oeste do
RJ foi menos visitada, o que explica a ausência de pontos de venda assinalados nessa
figura.
Figura 7 – Pontos de venda (feiras livres) de espécies adquiridas por erveiros na CEASA
(1) e no Mercado de Madureira (2), Rio de Janeiro, RJ.
Para algumas espécies, cuja quantidade média de molhos vendidos foi informada
pelos erveiros, pode-se ter uma idéia de quantificação de vendas (Tabela 10). Um volume
grande de vendas de espécies (segundo os informantes) ocorre durante a madrugada, no
estacionamento do mercado de Madureira e os erveiros participam ativamente, vendendo e
comprando ervas, inclusive as cultivadas em hortas mantidas, muitas vezes, pelos erveiros
ou seus familiares.
111
Evidentemente deve-se levar em consideração, nesse tipo de avaliação, a
sazonalidade entre os meses do ano. Por exemplo, plantas que são vendidas mais no
inverno, em função das gripes e resfriados (guaco, saião, eucalipto) ou em épocas festivas
relacionadas a rituais específicos (flores para Iemanjá, semana do preto-velho). E ainda,
lembrar-se que em determinadas datas, como o dia de São Cosme e Damião, o mercado de
Madureira torna-se muito procurado para a venda de doces e em conseqüência há o
aumento também na procura de plantas.
Tabela 10 - Número de molhos de espécies medicinais e rituais, comercializados no
Mercado de Madureira e/ou na CEASA, Rio de Janeiro, RJ, segundo os erveiros
entrevistados em 2005-2006. Número de molhos vendidos = N - Mercado (Madureira=M ;
CEASA= C) - Freqüência = F (diário = d; semanal = s).
Espécie ( parte comercializada)
Nome popular
N
Mercado
F
Aristolochia triangularis (cipó)
mil-homem
80
C
d
Baccharis cf. trimera (parte aérea)
carqueja
70
C
d
Chrysobalanus icaco** (folhas)
abajurú
70
M
d
Desmodium adscendens (parte aérea)
amor-do-campo
30
C
d
Eugenia rotundifolia **(folhas)
abajurú
70
M
d
Jacaranda cf. puberula (ramos)
carobinha
30-40
C
d
Lygodium volubile (folhas)
abre-caminho
50
C
d
L. volubile * (folhas)
abre-caminho
15-200
M
s
Mikania glomerata (cipó)
guaco
40
C
d
Solanum cernuum (folhas)
panacéia
20
C
d
Sorocea cf. bonplandii (ramos)
espinheira-santa
150
M
d
Zanthoxylum caribaeum (ramos)
espinho-cheiroso
150
M
s
* a venda pode alcançar até 400 molhos semanais (fim do ano).
** a venda pode alcançar até 2000 molhos por semana (encomendas)
A pressão de coleta de ramos e folhas de espécies arbóreas não costuma ser um
problema mas, certamente, o é para herbáceas. Mikania glomerata e Baccharis cf. trimera
são cultivadas nas hortas, mas essa última é também proveniente de extrativismo e
encontra-se na lista de espécies de uso medicinal com alta prioridade para coleta de
germoplasma e conservação no Brasil, definida pela EMBRAPA Recursos Genéticos e
Biotecnologia. Foi também apontada por Batalha & Ming (2003) como uma planta que,
apesar de cultivada, sofre ainda grande extrativismo no estado de São Paulo. Solanum
112
cernuum (panacéia) tem uso popular difundido tradicionalmente e registrado em literatura
(Moreira 1862 apud Fenner et al. 2006, Freise 1934; Coimbra 1942) o que indica uma
certa demanda e um volume significativo de venda.
Lygodium volubile (abre-caminho), apesar de ser um dos táxons mais vendidos, em
função do uso ritualístico, não apresenta problemas de conservação; tem ampla distribuição
no Brasil, coloniza áreas abandonadas sendo considerada fora de perigo (Lana Sylvestre,
com. pess.), assim como Desmodium adscendens (amor-do-campo) que é uma planta
reconhecida como invasora (Kissmann & Groth 1999).
Os mercados aqui tratados, por sua natureza, necessitam de estoque do material
requisitado pelo comércio. Ramos e folhas, de forma geral, preocupam menos em relação à
coleta predatória pelo fato de se regenerarem. Entretanto, cascas, órgãos subterrâneos,
frutos, sementes e cipós são também extraídos (Tabela 11), Nesse sentido, verificou-se
entre as plantas mais comercializadas que as partes aéreas (incluindo ramos e/ou folhas)
receberam as maiores indicações para CEASA e Madureira (79,2% e 82%),
respectivamente. Para a CEASA, os caules aéreos dos cipós (13,2%), as cascas (3,7%), a
planta interia (toda a planta) e as flores (1,8% cada) foram indicados menor número de
vezes. O mesmo ocorreu no Mercado de Madureira mas, para esse, outras partes foram
também indicadas: a planta inteira (5%), os caules aéreos dos cipós e as cascas (4% cada),
raízes, bulbos e tubérculos (3%) e as flores (1%). No anexo 4 encontram-se pranchas com
algumas imagens desses órgãos comercializados.
Na Tabela 11 estão registradas as plantas cujas cascas, órgãos subterrâneos, frutos,
sementes e caules aéreos (cipós) origindas de práticas extrativistas no mercado de
Madureira e na CEASA.
Tabela 11 – Espécies não cultivadas pelos erveiros cujas cascas, órgãos subterrâneos,
frutos, sementes e caules aéreos (cipós) são comercializados no mercado de Madureira e na
CEASA, Rio de Janeiro. Partes da planta comercializadas= PC (casca=C; órgãos
subterrâneos= OS; frutos= F; sementes= S, cipós = Ci) – Mercados (Madureira=M;
CEASA=C)
Nome científico*
Amburana cearensis
Anacardium occidentale
Anchietea pyrifolia
Aristolochia triangularis*
Bauhinia cf. microstachya
Nome popular
amburana-de-cheiro
caju
suma-roxa
mil- homem
escada-de-macaco
Família
Fabaceae
Anacardiaceae
Violaceae
Aristolochiaceae
Fabaceae
PC
S
C
Ci
Ci
Ci
113
Nome científico*
Bowdichia cf. virgilioides
Caesalpinia férrea
Chondrodendron platiphyllum
Davilla rugosa*
Dorstenia sp.
Fourcraea foetida
Gallesia integrifólia
Geissospermum laeve*
Herreria glaziovii*
Hortia arbórea
Hymenaea courbaril*
Imperata sp.
Joannesia princeps
Pterodon cf. emarginatus
Schinus terebinthifolius*
Simira glaziovii*
Tabebuia spp.
Tynanthus labiatus
Zanthoxylum cf. caribaeum*
Indeterminada
Indeterminada
Indeterminada
Indeterminada
Indeterminada
Nome popular
batata-de-sucupira
jucá
buta
cipó-caboclo
carapiá
pita
pau-d’alho
pau-pereira
salsaparrilha
cáscara-sagrada
jatobá
Sapê
cutieira
Sucupira
aroeira
quina-rosa
ipê-amarelo, ipê-roxo
cipó-cravo
mamica-de-porca
agoniada
angico-vermelho
barbatimão
nó-de-cachorro
catuaba
Família
Fabaceae
Fabaceae
Menispermaceae
Dilleniaceae
Moraceae
Agavaceae
Phytolaccaceae
Apocynaceae
Agavaceae
Rutaceae
Fabaceae
Poaceae
Euphorbiaceae
Fabaceae
Anacardiaceae
Rubiaceae
Bignoniaceae
Bignoniaceae
Rutaceae
Apocynaceae
Fabaceae
Fabaceae
Indeterminada
Indeterminada
PC
OS
C
Ci
Ci
OS
OS
C
C
Ci; OS
C
C; F
OS
F
S
C
C
C
Ci
C
C
C
C
C
C
* Espécies consideradas mais comercializadas na listagem livre aplicada aos erveiros do
mercado de Madureira.
Todas as especies são vendidas no Mercado de Madureira, sendo que Davilla
rugosa e Aristolochia triangularis são também encontradas na CEASA. A primeira, usada
como ritual, é de ampla distribuição no Brasil, ocorrendo nas matas primárias e
secundárias, em áreas de transição e nas restingas (Guedes et al. 1985). As Aristolochias,
amplamente utilizadas no país, já foram muito estudadas sob o ponto de vista químico e
apresentam diversos metabótilos secundários (Leitão & Kaplan 1992). Apesar de nos
mercados estudados serem as partes aéreas comercializadas, Guedes et al. (1985) lembram
que os rizomas e as raízes são amplamente utilizadas. A salsaparrilha (Herreria glaziovii),
de acordo com um informantes “é proveniente das matas de encostas, principalmente de
Jacarepaguá, sendo difícil de se conseguir partes subterrâneas e caules para o comércio,
uma única “planta” de salsaparrilha fornece até 50 kg de raiz”.
A amburana-de-cheiro (Amburana cearensis), e o barbatimão (provavelmente
Mryacroduon urundeuva Fr. Allem.) são, segundo os informantes, provenientes do
nordeste e somente ensacadas para a revenda. O mesmo deve acontecer com o caju. Essas
114
plantas foram indicadas por Albuquerque et al. (2006a) como plantas nativas do cerrado e
da catinga usadas como medicinais e frequentemente encontradas nas feiras livres e
mercados do nordeste (citadas por 100% dos entrevistados do referido trabalho). São
plantas que têm sofrido perseguição sistemática e, particularmente M. urundeuva,
encontra-se como vulnerável na Lista de Espécies da Flora Brasileira Ameaçadas de
Extinção (IBAMA 1992).
Algumas espécies de Dorstenia (carapiás) aparecem também como “Vulneráveis”
ou até “Raras” em listas de espécies da flora ameaçadas (IBAMA 1992; Mendonça & Lins
2000) bem como o jatobá (Hymenaea courbaril), que se encontra na categoria “Em perigo”
no Paraná (Governo do Estado do Paraná 1995).
No caso específico do abajurú, dois táxons distintos (Chrysobalanus icaco e
Eugenia
rotundifolia)
vêm
sendo
comercializados
como
tal
e usados
como
hipoglicemiantes. O montante médio de venda é preocupante, aliado aos problemas que
envolvem seu uso. Simira glaziovii (quina-rosa) cuja casca é extraída nas matas do Rio de
Janeiro foi tratada em artigo de Silva & Peixoto (ined.).
Evidentemente, para essas espécies que ocorrem espontaneamente no estado do
Rio de Janeiro bem como para as outras citadas na Tabela 11 há que se verificar, em
trabalhos que envolvam os extratores, se a extração de cascas, rizomas, etc... redunda em
ameaça às populações. Esse é o ponto provavelmente mais complicado para quem desejar
apontar, com segurança, os táxons utilizados como medicinais e que estão ameaçados por
superexploração. Até o momento não há nenhuma referência disponível sobre este tema,
para o Rio de Janeiro.
Os dados coligidos com os informantes apontam que o extrativismo ocorre em
áreas de serranias do município do Rio de Janeiro como já apontado por Azevedo & Silva
(2006), bem como em municípios vizinhos (Fig. 8). Todas estas áreas de coleta fazem
parte ou circundam unidades de conservação, tais como o Parque Estadual da Pedra
Branca, Parque Nacional da Tijuca, Parque Natural Municipal da Serra do Mendanha e
Reserva Biológica do Tinguá, por exemplo. São ambientes que sofreram intensas
explorações no passado, e que atualmente vêm sendo protegidos por dispositivos legais,
que na prática não conseguem controlar o impacto do crescimento da malha urbana que os
rodeiam.
115
Figura 8 - Locais de extração de espécies indicados pelos erveiros e fornecedores do
Mercado de Madureira e da CEASA, RJ.
A análise da Figura 8 demonstra uma tendência de coleta, por parte dos erveiros da
CEASA (ou de seus extratores), na Região serrana do estado (Municípios de Friburgo,
Miguel Pereira, Paty do Alferes, Petrópolis e Teresópolis) uma vez que lá residem (em sua
maioria). Ao contrário, as informações obtidas com os erveiros de Madureira apontam o
extrativismo ocorrendo nas partes mais baixas, nas encostas e topos de morros, bem como
nas regiões de restinga, conhecida como “Região dos Lagos”.
O trabalho de Batalha & Ming (2003) sobre o comércio de plantas medicinais e
aromáticas no estado de São Paulo apontou que a maioria das plantas comercializadas
ainda é proveniente de extrativismo, apesar da presença de grandes empresas atacadistas na
distribuição dos produtos, mas que não trabalham de forma efetiva com o cultivo das
espécies exploradas. Para os mercados e feira livres do Rio de Janeiro há uma cadeia de
coleta de espécies, cuja base são os extratores (às vezes especializados em cascas e/ou
determinadas espécies) que vendem diretamente aos feirantes (erveiros) ou então a
intermediários. Nesse caso a precariedade de dados é ainda maior. Trata-se, como visto, de
116
um comércio voltado, principalmente, a uma camada da população com baixo poder
aquisitivo e sem acesso aos atendimentos básicos de saúde.
Apesar dos trabalhos que discutem questões relacionadas à conservação de
espécies usadas como medicinais no Brasil (Pavan-Fruehauf 2000; Reis et al. 2000;
Montanari Júnior 2002) e fora do país (OMS 1993; Hersch-Martínez 1995; Sheldon et al.
1997; Sánchez & Valverde 2000) há uma enorme dificuldade em se avançar em práticas
eficientes e duradouras que contemplem as diferentes vertentes envolvidas nesse processo.
Durante a realização desse trabalho, várias tentativas de obtenção de informações e
práticas de campo não foram bem sucedidas. No entanto, a recente existência no Brasil, de
uma Política de Plantas Medicinais e Fitoterápicos (Decreto 5813/2006 do Ministério da
Saúde), trará certamente avanços para o enfrentamento dos problemas relacionados à
venda e consumo de plantas medicinais.
Conclusões
Os dois mercados apresentam especificidades no que se refere à clientela que os
freqüenta, o que acarreta em diferenças na disponibilidade de plantas vendidas. A CEASA
é voltada basicamente para a comercialização de produtos hortigranjeiros ao nível de
atacado no estado do Rio de Janeiro, o mesmo acontecendo com as ervas que são
adquiridas, em maioria, para a revenda. Já no Mercado de Madureira, a par de ser um
importante centro de distribuição de ervas medicinais e ritualísticas no município do Rio
de Janeiro, tem parte substantiva de seu movimento comercial representado pelas vendas a
varejo. Esse fato per si determina que este mercado seja um local onde se dá um intenso
movimento de relações e trocas culturais voltadas ao conhecimento das ervas, sejam
aquelas voltadas para o plano físico-medicinal, seja para o espiritual. Assim se explica que
a riqueza de espécies (256) no Mercado de Madureira seja 3,4 vezes maior do que na
CEASA (com 76 espécies). A respeito da origem das espécies, praticamente a metade das
plantas vendidas é americana, seguidas pelas asiáticas, africanas e européias. Na dinâmica
das manifestações culturais relativas aos aspectos religiosos, é freqüente a adaptação de
novas espécies vegetais aos costumes de um povo, o que pode ser evidenciado no mercado
de Madureira, pela utilização do grande número de plantas americanas como ritualísticas.
As famílias com maior número de espécies foram Asteraceae (30), Lamiaceae (23),
Solanaceae (15), Fabaceae (14), Myrtaceae (9), Euphorbiaceae e Malvaceae (8),
Bignoniaceae e Piperaceae (7) e Poaceae (6). Nessas dez famílias são encontradas 47,9%
do total de espécies inventariadas. A maior riqueza de espécies usadas em rituais foi
117
encontrada no gênero Ocimum (Lamiaceae) em que das seis espécies de vendidas, cinco
são de uso ritualístico. No Mercado de Madureira o maior número de espécies foi indicado
para doenças do aparelho circulatório bem como para doenças endócrinas, nutricionais e
metabólicas, em decorrência da indicação de plantas para pressão alta, problemas cardíacos
e ainda para controle do colesterol e do diabetes. Nos dois mercados o percentual de
indicação de uso de plantas por via oral foi superior a 85%, o que evidencia riscos para a
população decorrentes da ingestão de plantas tóxicas ou incorretamente identificadas.
A pressão de coleta de ramos e folhas de espécies arbóreas em áreas florestadas não
costuma ser um problema para a conservação, mas certamente o é para herbáceas assim
como para cascas, raízes e tubérculos. Um total de 29 espécies não cultivadas pelos
erveiros têm suas cascas, órgãos subterrâneos, frutos, sementes e caules aéreos (cipós)
comercializados no mercado de Madureira e na CEASA, o que pode representar um vetor
de decréscimo das populações nativas. Em se tratando de um comércio voltado
principalmente a uma camada da população com baixo poder aquisitivo e sem acesso aos
atendimentos primários de saúde esta situação pode se intensificar a médio prazo.
Agradecimentos
As autoras agradecem a Alexandre Gabriel Christo pelas sugestões e a Rogério
Ribeiro de Oliveira pela revisão do texto.
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ANEXO 1 - Pimentas comercializadas no Mercado de Madureira
Pimentas (Capsicum spp) comercializadas no Pavilhão das ervas, Mercado de
Madureira, RJ: (a) pimenta de fogo; (b) pimenta baiana; (c) pimenta dedo de moça; (d)
pimentas variadas para a venda; (e) pimenta caiana; (f) pimenta rabo de macaco; (g)
pimenta cambuci ou sino; (h) pimenta malagueta.
125
ANEXO 2
Provável origem das espécies comercializadas no Mercado de Madureira e CEASA, RJ.
Espécies
Abutilon striatum
Nome popular
brinco-de-princesa
Provável origem Referências
_____
_____
Acalypha communis
parietária
América
Smith et al. (1988)
Achillea millefolium
macelinha
Europa
Bruggeman (1957)
Achyrocline satureioides
macela
América
Aristeguieta (1964)
Acmella uliginosa
oripepê
Aristeguieta (1964)
Adiantum raddianum
avenca
América do Sul
e Antilhas
América
Aeollanthus suaveolens
macassá
África
Hanelt et al. (2001)
Ageratum conyzoides
erva-de-são-joão
América
Cabrera et al. (1996)
Allium cepa
cebola
Ásia
Puserglove (1972)
Allium sativum
casca-de-alho
Eurásia
Robineau (2005)
Aloe vera
babosa
Ásia e África
Maire et al. (1958)
Aloysia cf. gratissima
sementes de alfazema
_____
_____
Aloysia gratissima
alfazema
_____
_____
Alpinia zerumbet
colônia
Ásia
Cronquist (1981)
Alternanthera brasiliana
anador
América do Sul
Siqueira (2002)
Alternanthera sp.
novalgina
América do Sul
Siqueira (2002)
Amaranthus viridis
caruru-sem-espinho
pantropical
Siqueira (2002)
Amburana cearensis
amburana-de-cheiro
América (Brasil)
Carvalho (2003)
Anacardium occidentale
cajueiro
América tropical
Ferrão (1992)
Anchietea pyrifolia
suma-roxa
Brasil
Souza & Souza (2002)
Annona acutiflora
guiné-preto
Lobão et al. (2005)
Apocynaceae indet.
agoniada
Americana
(Brasil)
______
Aristolochia sp.
papo-de-perú
______
_____
Aristolochia triangularis
mil-homem
América do Sul
Capellari Junior (2002)
Artemisia sp.
cânfora
______
_____
Artemisia verlotorum
losna
Europa
Maire et al. (1958)
Artocarpus altilis
fruta-pão
Ásia
Zerega et al. (2004)
Asclepias curassavica
oficial-de-sala
América
Pereira et al. (2004)
Asplenium serratum.
pena-de-xangô
_____
_____
Asteraceae sp. 1
erva-grossa
_____
_____
Baccharis cf. trimera
carqueja, carquejo
Brasil
Lorenzi & Matos (2002)
Baccharis dracunculifolia
alecrim-do-campo
____
_____
Bauhinia cf. variegata .
pata-de-vaca
Ásia
Bauhinia microstachya
pata-de-vaca
América
Bauhinia sp.
escada-de-macaco
______
http://www.ildis.org/Legum
eWeb
http://www.ildis.org/Legum
eWeb
_____
Mickel & Smith (2004)
_____
126
Espécies
Abutilon striatum
Nome popular
brinco-de-princesa
Provável origem Referências
_____
_____
Bidens pilosa
picão
América
De Candolle (1855)
Bixa orellana
urucum
Heiser (1990)
Boerhavia diffusa
erva-tostão
América
Tropical
América
Bowdichia cf. virgilioides
batata-de-sucupira
América
Braga (1980)
Brugmansia suaveolens
trombeta
América
Schultes & Raffanf (1991)
Byrsonima sericea
akossí, murici
_____
_____
Caesalpinia ferrea
Jucá, fava-de-jucá
América
Carvalho (2003)
Cajanus cajan
guando
África
Puserglove (1968)
Campomanesia guaviroba
guariroba
América do Sul
Landrum (1986)
Capsicum annuum
pimenta-caiana
América
Heiser (1990)
Capsicum frutescens
pimenta- malagueta
América
Heiser (1990)
Capsicum sp.1
pimenta-baiana
América
Heiser (1990)
Capsicum sp.2
pimenta- fogo
América
Heiser (1990)
Casearia commersoniana
chá-de-bugre
América
Marquete (2005)
Casearia sylvestris
são-gonçalinho
América
Marquete (2005)
Cayaponia tayuya
abóbora-d'anta
Brasil
http://mobot.mobot.org
Cecropia cf. lyratiloba
Miquel var lyratiloba
Cecropia pachystachya
embaúba-branca
América
Oliveira et al. (2000)
embauba
América
Celosia argentea
crista-de-galo
Ásia
Centratherum punctatum
balainho de velho
Brasil
Berg & Franco-Rosselli
(2005)
Robertson & Clemants
(2003)
Cabrera & Klein (1980)
Cereus fernambucensis
mandacaru
Brasil
Taylor & Zappi (2004)
Cestrum laevigatum
coerana
Brasil
Braga (1980)
Anchietea pyrifolia
suma-roxa
_____
_____
Chamaesyce prostrata
quebra-pedra
De Candolle (1885)
Chondrodendron
platiphyllum
Chromolaena odorata
buta
América e
Antilhas
Brasil
arnica-do-mato
____
____
Chrysobalanus icaco
abajurú, bajurú
Prance (2003)
Chrysophyllum oliviforme L.
subesp. oliviforme
Cinnamomum camphora
abiu
Áfr., Am., e
Caribe
Antilhas
vick-do-mato
Ásia
Jarry & Balmès (2004)
Cinnamomum verum
canela
Ásia
Ferrão (1992)
Cissus verticillata
insulina
América
Lombardi (2000)
Citrus aurantium
laranja-da-terra
Ásia
Ferrão (1992)
Clidemia biserrata
abranda-fogo
____
_____
Cnidoscolus urens
cansanção
____
_____
Codiaeum variegatum
folha-da-independência
Ásia
Puserglove (1968)
Lorenzi & Matos (2002)
Araújo (2000)
Pennington (1990)
127
Espécies
Abutilon striatum
Nome popular
brinco-de-princesa
Provável origem Referências
_____
_____
Coffea arabica
café
África
Puserglove (1968)
Coix lacryma-jobi
lágrima-de-nossa-senhora
Ásia
De Candolle (1855)
Cola acuminata
obi
África
Puserglove (1968)
Cordia curassavica
erva-balieira
Brasil
Smith (1970)
Cordyline fruticosa
pelegum-roxo
Àsia
Coreopsis grandiflora
camomila
____
Lott & García-Mendoza
(1994)
____
Costus spiralis
cana-do-brejo
América
Kamer et al. (2003)
Crescentia cujete
cuitê
América
Heiser (1990)
Cuphea carthagenensis
sete-sangrias
América
Cuscuta racemosa
cipó-chumbo
Cymbopogon citratus
capim-limão
Antilhas,
Guianas, Brasil
Ásia
Cavalcante & Graham
(2002)
Braga (1980)
Cymbopogon densiflorus
saco-saco
Àfrica
Longhi-Wagner (2001)
Cynara scolymus
alcachofra
Europa
Jarry & Balmès (2004)
Cyperus acicularis
dandá-da-costa
____
____
Cyperus rotundus
batata-de-tiririca
Tropical
De Candolle (1855)
Cyrtopodium gigas
sumaré
Brasil
Hoehne (1942)
Datura aff. metel
beladona
América
De Candolle (1855)
Davilla rugosa
cipó-caboclo
Neotropical
Esteves & Meira (1999)
Desmodium adscendens
amor-do-campo
América
Carvalho (2003)
Dieffenbachia picta
comigo-ninguém-pode
América
Dioscorea alata
cará
_____
International Aroid Society
(2005)
_____
Dorstenia sp.
carapiá
_____
_____
Dracaena fragrans
pelegum
África
Dysphania ambrosioides
erva-de-santa-maria
América
Lott & García-Mendoza
(1994)
Heiser (1990)
Echinodorus grandiflorus
chapeú-de-couro
América
Elaeis guineensis
dendê
África
Haynes & Holm-Nielsen
(1994)
Ferrão (1992)
Emilia sonchifolia
dente-de-leão
____
____
Epiphyllum phyllanthus
dama-da-noite
Taylor & Zappi (2004)
Epipremnum aureum
jibóia
América Central
e Sul
Ilhas Salomão
Equisetum hiemale
cavalinha
____
_____
Eriobotrya japonica
ameixa
China
Braga (1980)
Erythrina speciosa
mulungú
América
Krukoff & Barneby (1974)
Eucalyptus sp. 2
eucalipto-cheiroso
Austrália
Machiori & Sobral (1997)
Eucalyptus sp.1
eucalipto
Austrália
Marchiori & Sobral (1997)
Eucalyptus torelliana
eucalipto
Austrália
Marchiori & Sobral (1997)
Eugenia rotundifolia
abajirú
Brasil
Souza (2005)
Longhi-Wagner (2001)
Brown (2000)
128
Espécies
Abutilon striatum
Nome popular
brinco-de-princesa
Provável origem Referências
_____
_____
Euphorbia tirucalli
velame
África
Puserglove (1968)
Fabaceae Indet.
barbatimão
______
_____
Foeniculum vulgare
erva-doce
Mediterrâneo
Puserglove (1968)
Fourcraea foetida
pita
Pirani & Cordeiro (2002)
Gallesia integrifolia
pau-d'alho
América do Sul
e Central
América do Sul
Geissospermum laeve
pau-pereira
Brasil
Santos (1948)
Genipa americana
jenipapo
América
Carvalho (2003)
Ginkgo biloba
ginko
Ásia
Löfgren (1914)
Gossypium herbaceum
algodão
África, Ásia
Puserglove (1968)
Guarea guidonea
berreiro
Pennington (1981)
Hedichium coronarium
lírio-do-brejo
América e
Antilhas
Ásia
Hedyosmum brasiliense
macota
Neotropical
Todzia (1988)
Helianthus annuus
girassól
América
Heiser (1990)
Heliconia rostrata
bico-de-papagaio
América do Sul
Marques et al. (2004)
Herreria glaziovii
salsaparrilha
_____
Lopes (2003)
Hibiscus rosa-sinensis
papoula-vermelha
Provável Ásia
Bates (1965)
Hibiscus sabdariffa
vinagreira
Provável África
Bates (1965)
Hortia arborea
cáscara-sagrada
Neotropical
Hydrocotyle umbellata
abebê
América
Pirani & Skorupa
(2002)
___
Hymenaea courbaril
jatobá
América
Rickey & Daly (1998)
Impatiens balsamina
beijo-branco
Ásia
Marques (1976)
Impatiens sultanii
maravilha
África
Lorenzi & Souza (1995)
Imperata cf. brasiliensis
raíz-de-sapê
Davidse & Pohl (1994)
Ipomoea batatas
batata-doce
América e
Antilhas
América
Jacaranda cf. puberula
carobinha
América do Sul
Gentry (1992)
Jatropha gossypiifolia
pinhão-roxo
América do Sul
Smith et al. (1988)
Joannesia princeps
cutieira
América
Braga (1980)
Justicia gendarussa
vence-tudo
Ásia oriental
Kalanchoe pinnata
fortuna
Madagascar
Sheila Profice (com. pes.
2005)
Robineau (2005)
Kalanchoe brasiliensis
saião
América (Brasil)
Braga (1980)
Lantana camara
cambará
América
Braga (1980)
Laurus nobilis
louro
Ásia
Puserglove (1968)
Lecythis pisonis
sapucaia
Brasil
Mori & Prance (1990)
Leonotis nepetifolia .
cordão-de-frade
África, Brasil
De Candolle (1855)
Leonurus sibiricus
erva-macaé
Ásia
Lorenzi & Matos (2002)
Lepidium pseudo-didymus
mastruz
América do Sul
Lorenzi & Matos (2002)
Lippia alba
erva-cidreira
América
Robineau (2005)
Carvalho (2003)
Kamer et al. (2003)
Ferrão (1992)
129
Espécies
Abutilon striatum
Nome popular
brinco-de-princesa
Provável origem Referências
_____
_____
Luehea conwentsii
açoita-cavalo
____
_____
Luffa cylindrica.
bucha
Ìndia
Bigognin (2002)
Luffa operculata
buchinha
América
Bigognin (2002)
Lygodium volubile
abre-caminho
Neotropical
Smith et al. (2006)
Malva parviflora
malva-branca
Europa
Malva sp.
malva-cheirosa
Europa
Mangifera indica
mangueira
Ásia
Mássimo Bovini (com.pes.
2005)
Mássimo Bovini (com.pes.
2005)
Ferrão (1992)
Manihot esculenta
mandioca
América
Rogers & Appan (1973)
Marsilea polycarpa
trevo-de-quatro-folhas
Johnson (1986)
Melampodium divaricatum
botão-de-ouro
América; Ilhas
Pacifico
América
Melia azedarach
para-raio
Ásia
Pennington (1981)
Melinis minutiflora
capim-gordura
África
Davidse & Pohl (1994)
Mentha pulegium
poejo
Lorenzi & Matos (2002)
Mentha spicata
hortelã-da-horta
Mentha x piperita L. var.
citrata
Miconia albicans
elevante
Europa, Ásia e
Arabia
Europa, Ásia ,
América do
Norte
Europa
canela-de-velho
América
Braga (1980)
Miconia calvescens
capa-de-xangô
América
Baumgratz (1980)
Mikania glomerata
guaco, guapo
Neotropical
Cabrera et al. (1996)
Mikania hirsutissima
cipó-cabeludo
América
Cabrera & Klein (1989)
Mikania sp.
guaco
____
____
Momordica charantia
melão-de-são-caetano
Ásia, África
Braga (1980)
Morus alba
amora
Ásia
Puserglove (1968)
Musa x paradisiaca
bananeira
Ásia
Ferrão (1992)
Myrcia guianensi.
pedra-ume-caá
____
_____
Newbouldia laevis
akokô
África
Aubréville (1936)
Nicotiana tabacum
fumo
América
De Candolle (1885)
Nymphaea cf. rubra
ochibatá
Cosmopolita
Feres & Amaral (2003)
Ocimum basilicum
manjericão
Ásia
Ocimum campechianum
alfavaca
América (Brasil)
Ocimum cf. americanum
manjericão
África
Ocimum gratissimum L.
alfavacão
África
Ocimum selloi
anis
Brasil
Albuquerque & Andrade
(1998)
Albuquerque & Andrade
(1998)
Albuquerque & Andrade
(1998)
Albuquerque & Andrade
(1998)
Eplinc (1936)
Ocimum sp.
manjericão-roxo
_____
_____
Oeceoclades maculata
cantaria
África
Claudio Nicoletti de Fraga
(com. pess. 2006)
Aristeguieta (1964)
Nepomuceno (2003)
Jarry & Balmès(2004)
130
Espécies
Abutilon striatum
Nome popular
brinco-de-princesa
Provável origem Referências
_____
_____
Origanum vulgare
manjerona
mediterrâneo
Nepomuceno (2003)
Passiflora alata
maracujá-assú
Brasil
Killip (1938)
Pentodon pentandrus
trapoeraba-branca
África
Peperomia pellucida
oriri
América, África
Mário Gomes (Com.
pes.2006)
Elsie Franklin (com. pes.
2006)
Persea americana
abacate
América
Ferrão (1992)
Petiveria alliacea
guiné pi-piu
América, África
Braga (1980)
Phyllanthus tenellus
erva-pombinha
Cosmopolita
Smith et al. (1988)
Pilea nummularifolia
dinheiro-em-penca
América
Pimenta dioica
cravo-da-índia
Piper amalago var. medium
tira-teima
América
Central,Caribe e
México
América
Marcelo V. Filho (Com. pes.
2006)
Landrum 1986
Piper anisum
desata-nó
América
Ichaso et al. (1977)
Piper arboreum Aubl. var.
arboreum
Piper hoffmanseggianum
vence-demanda
América
Ichaso et al. (1977)
desata-nó, jaborandí
América
Ichaso et al. (1977)
Piper mollicomum
aperta-ruã
América
Ichaso et al. (1977)
Piper umbellatum
capeba
América
Ichaso et al. (1977)
Pistia stratiote
erva-de-santa-luzia
Pantropical
Govaerts & Frodin (2002)
Plantago major
tanchagem
______
_____
Plectranthus amboinicus
hortelã-pimenta
Ásia
Robineau (2005)
Plectranthus barbatus
boldo
África, Ásia
Vieira (1999)
Plectranthus neochilus
boldo-japonês
____
_____
Plectranthus nummularius
dólar
____
_____
Pluchea sagittalis
quitoco
América
Lorenzi & Matos (2002)
Pogostemon cablin
patchouli
____
_____
Polygonum punctatum
erva-de-bicho
América
Polyscias cf. balfouriana
conchinha-de-oxum
Oceania
Cialdella & Brandbyge
(2001)
Plunkett et al. (2001)
Portulaca oleracea
beldroega
Cosmopolita
Braga (1980)
Pterocaulon alopecurioides
erva-da-lua
Barroso (1959)
Pterodon cf. emarginatus
sucupira
América do Sul
e Antilhas
América do Sul
Punica granatum
romã
Europa, Ásia
Pycnoporus sanguineus
orelha-de-pau
Cosmopolita
Rosa cf chinensis
rosa-branca
_____
Anibal A.C. Junior (Com.
Pes.2005)
_____
Rosmarinus officinalis
alecrim
Europa
Debuigne (1974)
Ruta graveolens
arruda
Europa
Puserglove (1968)
Ichaso et al. (1977)
http://www.ildis.org/Legum
eWeb
Puserglove (1968)
131
Espécies
Abutilon striatum
Nome popular
brinco-de-princesa
Provável origem Referências
_____
_____
Saccharum officinarum
cana-de-açúcar
Ásia
Ferrão (1992)
Salvia officinalis
salvia
Europa
Nepomuceno (2003)
Sambucus nigra
sabugueiro
Europa
Sansevieria cylindrica
lança-de-insã
África
Atkinson & Atkinson
(2002)
Braga (1980)
Sansevieria trifasciata
espada-de-são-jorge
África
Bruggeman (1957)
Schinus terebinthifolius
aroeira
_____
_____
Scoparia dulcis
vassourinha
América
Braga (1980)
Senna alexandrina
sene
África, Ásia
Irwin & Barneby (1982)
Senna occidentalis
fedegoso
América
De Candolle (1855)
Serjania cuspidata
cipó-cabeludo
América
Simira glaziovii
quina- rosa
Brasil
Genise Freire (com. pes,
2007)
Peixoto (1982)
Siparuna guianensis
negramina
América
Renner & Hausner (2005)
Smallanthus sonchifolius
batata-yacon
América
http://mobot.mobot.org
Solanum capsicoides
arrebenta-cavalo
____
_____
Solanum alternato-pinnatum
jiquiri
_____
_____
Solanum americanum
erva-moura
América
Smith & Downs (1966)
Solanum argenteum
erva-prata
América do Sul
Carvalho (1996)
Solanum cernuum
panacéia
Brasil
Carvalho (1996)
Solanum pachinatum
panacéia
Brasil
Carvalho (1996)
Solanum torvum Sw.
jurubeba
América
Puserglove (1968)
Solidago chilensis Meyen
arnica
América do Sul
Lorenzi & Matos (2002)
Sonchus oleraceus
serralha
Europa
Lorenzi & Matos (2002)
Sorocea cf. bonplandii
espinheira-santa
Neotropical
Sparattosperma leucanthum
cinco-chagas
América do Sul
Datwyler. & Weiblen
(2004)
Gentry (1992)
Spermacoce laevis Lam.
corredeira
_____
_____
Stachytarpheta cayennensis
gervão
Brasil
Lorenzi & Matos (2002)
Struthanthus marginatus
erva-de-passarinho
_____
_____
Symphytum officinale
confrei
Eurásia
Lorenzi & Matos (2002)
Syzygium aromaticum
cravo-da-índia
Ásia
Ferrão (1992)
Tabebuia sp.
ipê-amarelo
Neotropical
Gentry (1992)
Syzygium malaccense
jambolão
Ásia
De Candolle (1885)
Tagetes sp.
cravo-de-defunto
América do Sul
Lorenzi & Matos (2002)
Talinum racemosum
bredo-de-santo-antônio
Cosmopolita
Rodrigues & Furlan (2002)
Tetradenia riparia
sândalo
África
Lorenzi & Matos (2002)
Thevetia peruviana
chapéu-de-napoleão
América
Puserglove (1968)
Thymus vulgaris
tomilho
Europa
Puserglove (1968)
Tillandsia usneoides
barba-de-velho
América
Smith & Downs (1977)
132
Espécies
Abutilon striatum
Nome popular
brinco-de-princesa
Provável origem Referências
_____
_____
Torenia fournieri
amor-perfeito
Ásia
Lorenzi. & Souza (1995)
Tradescantia zebrina
trapoeraba
América
Hunt (1994)
Trema micrantha
mutamba
América do Sul
Carvalho (2003)
Tynanthus labiatus
cipó-cravo
Brasil
Vernonia beyrichii
assa-peixe
Brasil
Barroso (1959)
Vernonia cinerea
vassourinha-preta
África
_____
Vernonia paludosa
assa-peixe
Brasil
Baker (1873)
Vernonia sp.2
assa-peixe
_____
_____
Vitex agnus-castus.
erva-de-jurema
_____
_____
Xanthosoma appendiculatum
patioba
Brasil
Zanthoxylum caribaeum
espinho-cheiroso
América
Eduardo G. Gonçalves
(com. pes. 2006)
Pirani (2002)
Zanthoxylum cf. caribaeum
mamica-de-porca
América
Pirani (2002)
Zingiber officinale
gengibre
Ásia
Puserglove (1972)
Indeterminada
catuaba
____
_____
Indeterminada
nó-de-cachorro
_____
_____
Referências bibliográficas citadas na tabela do Anexo 2
Albuquerque, U.P. & Andrade, L. de H. 1998. Etnobotánica del género Ocimum (Lamiaceae) en las
comunidades afrobasileñas. Anales Jardin Botanico Madrid 56(1): 43-64.
Araújo, D. S. D. 2000. Análise Florística e Fitogeográfica das restingas do estado do Rio de Janeiro. Tese de
Doutorado. UFRJ, Rio de Janeiro, RJ, 176 p.
Aristeguieta, L. 1964. Compositae. Flora da Venezuela. Vol. X (1ª parte). Instituto Botânico, Ministério de
Agricultura, Caracas, 483 p.
Aristeguieta, L. 1964. Compositae. Flora da Venezuela. Vol. X (2ª parte). Instituto Botânico, Ministério de
Agricultura, Caracas, 941 p.
Atkinson, M.D. & Atkinson, E. 2002. Sambucus nigra L. Journal of Ecology 90: 895-923.
Aubréville, A. 1936. La Flore Forestière de la Côte D' Ivoire. III Tome, Larousse Ed., Paris.
Baker, J.G. 1873. Compositae In: Martius, C. F. P. von; Eichler, A. W. & Urban, I. Flora brasiliensis.
Munchen, Wien, Leipzig 6(2):
Barroso, G.M. 1959. Flora da Cidade do Rio de Janeiro. Rodriguésia 21/22 (33/34): 137-138.
Bates, D.M. 1965. Notes on the cultivated Malvaceae. 1. Hibiscus. Baileya 13: 57-130.
Baumgratz, J. F. A. 1980. Miconias do Município do Rio de Janeiro, seção Miconia DC. (Melastomataceae).
Rodriguesia 55: 73-95.
Berg, C. C. & Franco-Rosselli, P. 2005. Cecropia. Flora Neotropica Monograph 94. New York Botanical
Garden, New York, 233 p.
Bigognin, D.A. 2002. Origin and Evolution of Cultivated Cucurbits. Ciência Rural 32(5): 715-723.
Braga, R. 1980. Plantas do nordeste, especialmente do Ceará. 4ª ed. Ed. universitária da UFRN, Natal. 540 p.
133
Brown, D. 2000. Aroids. Plants of the Arum Family. 2ª ed. Ed. Timber PRESS, Portland, Oregon, 392 p.
Bruggeman, L.1957. Tropical plants and their cultivation. Thames and Hudson, London, 228p.
Cabrera, A.L. & Klein, R.M. 1989. Compostas 4. In: Flora Ilustrada Catarinense.
Cabrera, A.L. & Klein, R.M. 1980. Compostas 3. In: Flora Ilustrada Catarinense.
Cabrera, A.L.; Holmes,W.C. & MacDaniel, S. 1996. Compositae III. Flora del Paraguay, 349p.
Capellari Junior, L. 2002. Aristolochiaceae. In: Wanderley M. G. L; Shepherd G.J. & Giuletti, A.M. (Eds.).
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137
ANEXO 3
Categorias de doenças e indicações populares de uso medicinal para as espécies indicadas
como as mais comercializadas pelos informantes da CEASA, Rio de Janeiro. As
indicações populares referem-se apenas àquelas citadas na metodologia de listagem livre.
Sistemas corporais
(categorias de doenças)
Propriedades Farmacológicas
atribuídas (ou sintomas)
(Indicação populares )
Coqueluche, hepatite, infecção
Espécies
Neoplasias (tumores)
Câncer
Aloe vera
Bidens pilosa
Doenças do sangue e dos órgãos
hematopoéticos e alguns
transtornos imunitários
Sangue (anemia)
Echinodorus grandiflorus
Doenças endócrinas, nutricionais e
metabólicas
Diabetes, emagrecer
Adiatum raddianum
Ageratum conyzoides
Aloe vera
Bauhinia microstachya
Cynara scolymus
Baccharis trimera
Geissospermum laeve
Transtornos mentais e
comportamentais
Calmante, depressão
Ageratum conyzoides
Cymbopogon citratus
Foeniculum vulgare
Lippia alba
Doenças do aparelho circulatório
Coração, circulação, pressão alta
Alpinia zerumbet
Baccharis dracunculifolia
Cuphea carthagenensis
Leonurus sibiricus
Doenças dos olhos e anexos
olhos
Peperomia pellucida
Rosa cf. chinensis
Doenças do aparelho respiratório
Bronquite, gripe, resfriado,
sinusite, pulmão, tosse
Adiantum raddianum
Cuscuta racemosa
Cymbopogon citratus
Eucalyptus sp.2
Eucalyptus torelliana
Foeniculum vulgare
Kalanchoe brasiliensis
Mentha pulegium
Mentha x piperita L. var. citrata
Mikania glomerata
Struthanthus marginatus
Vernonia beyrichii
Algumas doenças infecciosas e
parasitárias
Adiatum raddianum
Bidens pilosa
Schinus terebenthifolius
138
Sistemas corporais
(categorias de doenças)
Propriedades Farmacológicas
atribuídas (ou sintomas)
(Indicação populares )
Espécies
Doenças do aparelho digestivo
Estômago, fígado, cólica na
barriga, gastrite, úlcera,
Baccharis trimera
Bidens pilosa
Cuphea carthagenensis
Leonurus sibiricus
Mikania hirsutissima
Plectranthus barbatus
Sorocea cf. bonplandii
Doenças do sistema osteomuscular
e do tecido conjuntivo
coluna
Equisetum hiemale
Cuphea carthagenensis
Doenças do aparelho geniturinário
Próstata, rins, inflamação na
próstata e rins, infecção na urina
Echinodorus grandiflorus
Equisetum hiemale
Mikania hirsutissima
Plantago major
Solanum cernuum
Lesões, envenenamento e algumas
outras conseqüências de causas
externas
machucados
Jacaranda cf. puberula
Sintomas, sinais e achados
anormais de exames clínicos e de
laboratório, não classificados em
outra parte
Alergia, inflamação, reumatismo,
infecção na garganta, dor-dedente,
Aloe vera
Baccharis dracunculifolia
Desmodium adscendens
Echinodorus grandiflorus
Leonurus sibiricus
Melinis minutiflora
Piper anisum
Plantago major
Polygonum punctatum
Solanum cernuum
Symphytum officinale
Continuação ANEXO 3
Categorias de doenças e indicações populares de uso medicinal para as espécies indicadas
como as mais comercializadas pelos informantes do Mercado de Madureira, Rio de
Janeiro. As indicações populares referem-se apenas àquelas citadas na metodologia de
listagem livre.
Sistemas corporais
(categorias de doenças)
Algumas doenças infecciosas e
parasitárias
Neoplasias (tumores)
Propriedades Farmacológicas
atribuídas (ou sintomas)
(Indicação populares )
hepatite, vermes, piolhos, sarnas
Espécies
câncer
Tabebuia sp.2
Baccharis trimera
Bidens pilosa
Disphania ambrosioides
Geissospermum laeve
Polygonum punctatum
Ruta graveolens
Senna occidentalis
139
Sistemas corporais
(categorias de doenças)
Propriedades Farmacológicas
atribuídas (ou sintomas)
(Indicação populares )
Limpar o sangue, anemia,
problemas do sangue em geral
Espécies
Doenças endócrinas, nutricionais
e metabólicas
Colesterol, diabetes, menopausa,
para emagrecer
Baccharis cf. trimera
Bauhinia variegata
Campomanesia guaviroba
Casearia commersoniana
Chrysobalanus icaco
Cissus verticillata
Eugenia rotundifolia
Imperata cf. brasiliensis
Myrcia guianensis
Piper hoffmannsegianum
Rosmarinus officinalis
Ruta graveolens
Scoparia dulcis
Smallanthus sonchifolius
Sorocea cf. bonplandii
Transtornos mentais e
comportamentais
Calmante, para animar o homem
Alpinia zerumbet
Coreopsis grandiflora
Foeniculum vulgare
Lippia alba
Ocimum basilicum
Oeceoclades maculatum
Doenças do aparelho circulatório
Coração, circulação, pressão alta,
derrame, varizes, hemorróidas
Alpinia zerumbet
Baccharis cf. trimera
Cuphea carthagenensis
Echinodorus grandiflorus
Eugenia rotundifolia
Hymenaea courbaril
Jacaranda cf. puberula
Ocimum basilicum
Ocimum campechianum
Petiveria alliacea
Polygonum puncatum
Rosmarinus officinalis
Ruta graveolens
Simira glaziovii
Symphytum officinale
Doenças dos olhos e anexos
Lavar os olhos
Ruta graveolens
Doenças do aparelho respiratório
Bronquite, gripe, resfriado,
expectorante, pulmão, tosse,
inflamação de garganta e ouvido.
Doenças do sangue e dos órgãos
hematopoéticos e alguns
transtornos imunitários
Anchietea pyrifolia
Cuphea carthagenensis
Ruta graveolens
Sparattosperma leucanthum
Bidens pilosa
Cymbopogon densiflorus
Kalanchoe brasiliensis
Lepidium pseudo-didymus
Malva sp.
Mentha pulegium
Mentha x piperita L. var. citrata
Mikania glomerata
Ocimum campechianum
Ocimum gratissimum
140
Sistemas corporais
(categorias de doenças)
Propriedades Farmacológicas
atribuídas (ou sintomas)
(Indicação populares )
Espécies
Plantago major
Plectranthus amboinicus
Vernonia paludosa
Vernonia sp.
Doenças do aparelho digestivo
Estômago, fígado, gastrite, úlcera,
icterícia, laxante
Baccharis cf. trimera
Bidens pilosa
Lecythis pisonis
Senna alexandrina
Sorocea cf. bonplandii
Starchytarpheta cayennensis
Symphytum officinale
Doenças do sistema
osteomuscular e do tecido
conjuntivo
Artrose, problemas na coluna,
relaxante muscular, reumatismo
Miconia albicans
Sorocea cf. bonplandii
Mentha x piperita L. var. citrata
Alpinia zerumbet
Davilla rugosa
Doenças do aparelho geniturinário
Rins, inflamação de útero e
ovário, ácido úrico, pedra nos rins,
Acalypha communis
Chamaesyce prostrata
Costus spiralis
Desmodium adscendens
Echinodorus grandiflorus
Equisetum hiemale
Peperomia pellucida
Lesões, envenenamento e algumas
outras conseqüências de causas
externas
Tombos, machucados
Datura aff. metel
Chromolaena odorata
Kalanchoe brasiliensis
Doenças da pele e do tecido
subcutâneo
Cravo-nos pés, queda-de-cabelo,
furúnculo, coceira no corpo,
Alpinia zerumbet
Jacaranda cf. puberula
Sparattosperma leucanthum
Polygonum puncatum
Sintomas, sinais e achados
anormais de exames clínicos e de
laboratório, não classificados em
outra parte
Inflamações, dor-de-cabeça, dorde-dente, dor-de-ouvido, dor nas
pernas, impotência, fraqueza, dorno-corpo
Aeollanthus suaveolens
Boerhavia diffusa
Casearia commersoniana
Davilla rugosa
Equisetum hiemale
Hymenaea courbaril
Kalanchoe brasiliensis
Mentha x piperita L. var. citrata
Petiveria alliacea
Ruta graveolens
Schinus terebinthifolius
Scoparia dulcis
Sorocea cf. bonplandii
Sparattosperma leucanthum
141
ANEXO 4 – Cascas, órgãos subterrâneos e cipós comercializados
Cascas comercializadas no Pavilhão das ervas, Mercado de Madureira, RJ: (a) cáscara
sagrada (cf. Hortia arborea Engl.); (b) pau pereira (Geissospermum laeve (Vell.) Miers);
(c) jatobá (Hymenaea courbaril L.); (d) quina rosa (Simira glaziovii (K. Schum.)
Steyerm.); (e) mamica de cadela (Zanthoxylum cf. caribaeum Lam.).
142
Raízes e caules comercializados no Pavilhão das ervas, Mercado de Madureira, RJ: (a)
sucupira (Bowdichia cf. virgilioides Kunth); (b) batata yacon (Smallanthus sonchifolius
(Poepp.) H. Rob.); (c, d) salsaparrilha (Herreria glaziovii Lecointe); (e) sumaré
(Cyrtopodium gigas (Vell.) Hoehne); (f) cará (Dioscorea alata L.); (g) caapiá (Dorstenia
sp.); (h) raiz de sapê (Imperata cf. brasiliensis Trin.).
143
Cipós comercializados no Pavilhão das ervas, Mercado de Madureira, RJ: (a, b) cipó cravo
(cf. Tynanthus labiatus (Cham.) Miers); (c) suma roxa (Anchietea pyrifolia (Mart.)G.
Don); (d) cipó caboclo (Davilla rugosa Poir.); (e)escada de macaco (Bauhinia sp.); (f) mil
homem fruto (Aristolochia sp.).
144
III Artigo
A
IMPORTÂNCIA
DA
IDENTIFICAÇÃO
TAXONÔMICA
EM
ETNOBOTÂNICA: O CASO DA QUINA-ROSA (SIMIRA GLAZIOVII (K.
SCHUM.) STEYERM., RUBIACEAE) COMERCIALIZADA NO MERCADO DE
MADUREIRA, RJ, BRASIL
Simira glaziovii (k. Schum.) Steyerm. cultivada no Jardim Botânico do Rio de Janeiro (foto I.M. Silva
abril/2007)
Economic Botany
(Artigo em submissão)
145
A IMPORTÂNCIA DA IDENTIFICAÇÃO TAXONÔMICA EM
ETNOBOTÂNICA: O CASO DA QUINA-ROSA (SIMIRA GLAZIOVII (K.
SCHUM.) STEYERM., RUBIACEAE) COMERCIALIZADA NO MERCADO DE
MADUREIRA, RJ, BRASIL16
I. M. Silva a, ∗ , C. F. Barros b , A. L. Peixoto b
a
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Departamento de Botânica, Rodovia BR
465 km 7, CEP 23890-000, Seropédica, RJ, Brasil.
b
Instituto de Pesquisas, Jardim Botânico do Rio de Janeiro, R. Pacheco Leão 915, Jardim
Botânico, CEP 22460-030, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
_________________________________________________________________________
The importance of taxonomic identification in ethnobotany: the case of “quina-rosa”
(Simira glaziovii (K. Schum.) Steyerm., Rubiaceae) commercialized in Rio de Janeiro,
Brazil. The present study is based on anatomic and morphological investigations used for
the taxonomic identification of bark from a tree known as “quina-rosa” that is sold in
public markets in Rio de Janeiro, Brazil. The bark is utilized by local populations to treat
blood disorders and inflammations. Samples of “quina-rosa” bark were purchased and
ethnobotanical interviews were carried out with 15 herbalists (“erveiros”) in a urban
market where medicinal plants are sold. Anatomical examinations has been shown to be
efficient in identifying the bark as Simira glaziovii (K. Schum.) We found that the
medicinal uses attributed to “quina-rosa” are the result of a long period of
experimentation with different species of the family Rubiaceae (“quinas”), where some
were presumably found to successfully treat certain symptoms and/or diseases.
Key Words: bark anatomy, medicinal plants, commercialization, Simira glaziovii.
A Importância da identificação taxonômica em etnobotânica: o caso da quina-rosa
(Simira glaziovii (K. Schum.) Steyerm., Rubiaceae) comercializada no Mercado de
Madureira, RJ, Brasil. O presente trabalho é baseado em investigações anatômicas e
morfológicas utilizadas para a identificação taxonômica da casca de uma árvore
conhecida como quina-rosa, comercializada em feiras livres e mercados na cidade do Rio
de Janeiro. As amostras da casca de quina-rosa foram adquiridas através de compra e
16

Parte da tese de doutorado da primeira autora. Escola Nacional de Botânica Tropical do Instituto de
Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
∗
Corresponding author
E-mail address: [email protected] (I.M. Silva).
146
foram aplicadas entrevistas a 15 erveiros em um mercado em que são comercializadas
plantas
medicinais.
Alguns
caracteres
anatômicos
mostraram-se
eficientes
na
identificação da casca como sendo Simira glaziovii (K. Schum.)Steyerm. É possivel que os
usos atribuídos à quina-rosa sejam o resultado de um longo período de experimentação
com diferentes espécies da família Rubiaceae (quinas) que apresentam respostas,
provavelmente satisfatórias, na cura de diferentes sintomas e/ou doenças.
Palavras-chave: Anatomia da madeira, plantas medicinais, mercados populares, Simira
glaziovii.
________________________________________________________________________
Diferentes famílias botânicas apresentam espécies reconhecidas popularmente no
Brasil como quinas. Entretanto, a família Rubiaceae é a que mais se destaca por ter este
nome associado ao gênero Cinchona L., possuidor de muitos alcalóides, dentre eles a
quinina, com atividade biológica comprovadamente antimalárica (Henriques et al. 2004).
A família Rubiaceae é constituída por cerca de 650 gêneros e 13.000 espécies, com ampla
distribuição geográfica, ocupando as regiões tropicais e subtropicais do globo (Delprete
1999). O nome “cinchona” foi dado ao gênero por Lineu, em homenagem à Condessa de
Chinchon, mulher de um vice-rei espanhol do Peru, curada da malária pelo uso da casca de
uma quina espontânea na região Andina, na América do Sul (Rizzini & Mors 1995). A
utilização pelos indígenas desta casca como antifebrífuga foi descoberta pelos jesuítas que
iniciaram a sua coleta e distribuição aos grandes mercados europeus (Sheldon, Ballick and
Laird 1997). Cinchona officinalis L., C. calysaia Wedd.. e C. succirubra Pav. ex Klotzsch,
conhecidas respectivamente como quina, quina-amarela e quina-vermelha, foram incluídas
na
Farmacopéia Brasileira, desde sua primeira edição (Guimarães 1965; Schenkel,
Gosmann and Petrovick 2004).
De acordo com Peckolt (1945), após a primeira Guerra Mundial, a demanda de
quinino aumentou em proporção à disseminação da malária no mundo. Árvores nativas do
Equador e Bolívia foram submetidas à superexploração. Assim, diversas nações européias
iniciaram o cultivo de quinas em suas colônias, principalmente na Ásia. Houve, também no
Brasil, a tentativa malsucedida de plantio de sementes de Cinchona calyssaia Wedd.,
provenientes do Peru (Rizzini and Mors 1995). Durante a Segunda Guerra Mundial, a
147
crescente dificuldade de obtenção das cascas de Cinchona, cultivada na Ásia, estimulou a
busca de espécies sucedâneas e, posteriormente ao isolamento e síntese dos alcalóides
antimaláricos (Sheldon, Ballick and Laird 1997).
As Rubiaceae e outras famílias botânicas tiveram, no Brasil, espécies reconhecidas
popularmente como quinas, quinas-do-campo, quinas-do-mato e quina-quina (Bittencourt
1909; Freise 1934; Hoehne 1978; Mors, Rizzini, and Pereira 2000; Sampaio 1946; Rizzini
and Mors 1995; Oliveira et al. 2003). Tais designações correspondem, de modo geral, a
plantas cujas cascas apresentam gosto amargo característico a muitos alcalóides (Henriques
et al. 2004). Bittencourt (1909) destaca que na história natural das sucedâneas das quinas, é
o nosso, um dos paises em que maior número de plantas indígenas e exóticas são reputadas
como tais. O levantamento bibliográfico de plantas utilizadas no tratamento de febres e/ou
malária na América Latina, elaborado por Milliken (1997), reforça esta afirmativa,
apontando 956 espécies em 140 famílias botânicas usadas para estes fins. Destas,
Asteraceae (com 94 espécies) e Rubiaceae (com 61), foram as de maior riqueza. Dentre os
gêneros de Rubiaceae, Borreria, Cinchona, Calycoplhyllum, Coutarea, Genipa e
Psychotria aparecem como quinas.
Rizzini e Mors (1995) afirmam que as faculdades amargas de uma casca sugerem, de
modo geral, ao homem leigo, supostas qualidades febrífugas e antimaláricas. Vem daí que
muitos vegetais amargos recebem o nome de quina, embora não tenham sempre ação
antimalárica. Estes autores englobam sob a expressão “falsa-quina” espécies de Coutarea,
Randia e Remijia (Rubiaceae) bem como espécies de outras famílias. Mors et al. (2000)
citam ainda os gêneros de Rubiaceae, Bathysa, Chiococca e Landenbergia. Hoehne (1978)
tratando de pseudo-quinas, menciona como tônicas (fortificantes) e antifebris as espécies
brasileiras do gênero Simira, conhecidas também, segundo ele, como araribás. Peixoto
(1982) informa que as espécies desse gênero são no Brasil chamadas de quina-rosa, canelasamambaia, maiate, arariba e marfim.
Na cidade do Rio de Janeiro em muitas feiras-livres e mercados encontram-se
vendedores de ervas medicinais (erveiros) que comercializam espécies, frescas ou secas,
geralmente na forma de pequenos amarrados de folhas, raízes ou cascas. Grande parte
desse material comercializado é adquirido, pelos erveiros, no Mercado de Madureira que
também comercializa plantas medicinais diretamente aos usuários (Azevedo and Silva
2006). O Mercado de Madureira foi criado em 1914 tornando-se, a partir de 1929, o maior
centro de distribuição de alimentos da zona suburbana do Rio de Janeiro. Apresenta hoje
aproximadamente 700 boxes para venda de muitos produtos variando de alimentação,
148
utensílios domésticos, papelarias, drogarias, e principalmente de comércio de artigos
religiosos, incluindo-se aí, venda de animais para sacrifícios (ACOGRAMM 2001). No
local reservado aos hortifrutigranjeiros encontram-se 28 boxes de plantas comercializadas
para fins medicinais e ritualísticos, que muitas vezes, vendem também temperos, legumes e
verduras.
Neste mercado, uma das cascas procuradas pela população é aquela conhecida como
quina-rosa, reputada por curar principalmente “problemas no sangue”. A ausência das
folhas e/ou flores agregadas ao material de quina-rosa comercializado dificulta a
identificação botânica da(s) espécie(s) a qual pertence(m) a casca comercializada.
Este trabalho teve como objetivos identificar a casca de quina-rosa comercializada
pelos erveiros do Mercado de Madureira, bem como abordar aspectos etnobotânicos
relacionados à utilização da mesma.
MATERIAL E MÉTODOS
As cascas de quina-rosa foram adquiridas no Mercado de Madureira, localizado no
bairro de Madureira, Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Ao longo dos
anos de 2005 e 2006, foram aplicadas 51 entrevistas semi-estruturadas (Bernard 1995) para
levantamento de dados etnobotânicos a 15 erveiros que comercializam ervas medicinais
e/ou rituais, condimentos ou ainda verduras. Para a delimitação do tempo das entrevistas e
o aprofundamento de informações relativas aos usos das espécies, aplicou-se a técnica
conhecida como free-listing (Albuquerque and Lucena 2004; Bernard 1995), na qual cada
informante foi estimulado a citar, pelo menos, dez espécies consideradas como as mais
comercializadas. Para a confiabilidade das informações relativas à quina-rosa, voltou-se ao
mercado para confirmação dos usos desta espécie (Albuquerque and Lucena 2004).
Os exemplares de quina-rosa (cascas) adquiridos no Mercado foram processados
segundo as técnicas usuais em botânica (Bridson and Forman 1992; Martin 1995),
depositados no herbário (RB) do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro,
JBRJ (I. M. Silva 576).
Para a análise anatômica partes da casca de quina-rosa foram incluídas em historresina,
cortadas a 3-7 μm e coradas em safranina e azul de astra ou azul de toluidina (Feder and
O’brien 1968) no Laboratório de Botânica Estrutural do JBRJ. As imagens digitais foram
obtidas ao microscópio óptico Olympus BX50, usando câmara de vídeo Coolsnap e o
software Image Pro-Plus versão 4.0 para Windows. A terminologia utilizada segue as
recomendações de Richter et al. (1996).
149
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No levantamento etnobotânico realizado com os erveiros no Mercado de Madureira
foram reconhecidas um total de 256 espécies, dentre as quais são comercializadas, em
forma de cascas, 14 espécies. Dentre os táxons que foram considerados como mais
comercializados pelos erveiros, encontram-se as cascas de ipê-roxo (Tabebuia sp), paupereira (Geissospermum laeve (Vell.) Miers), jatobá (Hymenaea courbaril L.) e quina-rosa.
Durante o período em que foram realizadas as entrevistas procurou-se obter folhas, flores
ou frutos para auxílio na identificação das espécies que eram comercializadas na forma de
casca, não se logrando êxito com o ipê-roxo e a quina-rosa.
A freqüente ausência das folhas ou de outros caracteres auxiliares na identificação,
como gosto e cheiro, pode levar o comprador a não reconhecer a espécie desejada.
Portanto, a utilização e a aquisição pela população de partes vegetais como cascas e raízes
para uso medicinal ficam associadas à confiança nas informações transmitidas pelo erveiro.
Neste sentido, a casca de quina-rosa, cujo nome está relacionado à “coloração
avermelhada que apresenta à medida que vai secando”, é considerada pelos erveiros de
“mais fácil” reconhecimento, visto que “esta coloração permanece por alguns meses,
diferenciando-a das outras cascas”. A aparência sempre muito semelhante da casca da
quina-rosa comercializada, aliada à informação obtida da provável existência de apenas um
fornecedor sugere que todo o material comercializado sob o nome de quina-rosa no
Mercado de Madureira pertença à mesma espécie (Fig. 1).
Peixoto (1982) informa que dentre os gêneros conhecidos como quina, as espécies de
Simira são as que apresentam cascas de coloração avermelhada, tal como a encontrada no
Mercado de Madureira. Esta autora informa que as Simira apresentam cerne marrom ou
marrom acinzentado, alburno amarelo ou acinzentado, quando fresco, geralmente
adquirindo coloração vermelha, rósea ou violácea quando exposto ao ar e/ou à
luminosidade (Fig. 1b).
150
Fig. 1. a) Cascas de quina-rosa comercializadas no Mercado de Madureira, Rio de Janeiro,
RJ, Brasil. b) Casca de quina-rosa (Simira glaziovii) de indivíduo cultivado no Jardim
Botânico do Rio de Janeiro.
Simira, gênero tropical de Rubiaceae, apresenta 16 especies no Brasil, quatro das quais
encontradas no estado do Rio de Janeiro: S. glaziovii (K. Schum.) Steyerm (quina-rosa,
arariba e arariba-vermelha), S. rubra (Mart.) Steyerm (arariba-branca e arariba-roxa), S.
pikia (K. Schum.) Steyerm (arariba-branca) e mais uma espécie, ainda não formalmente
descrita (Silva Neto 2000). Callado e Silva Neto (2003) informam que, no momento da
coleta em campo, as madeiras de Simira glaziovii e S. rubra são caracterizadas pela
coloração vermelha, enquanto que a de S. pickia apresenta coloração amarela muito intensa
o que pode ser atribuído à presença de conteúdo colorido no interior dos elementos de
vaso.
A comparação das lâminas da casca de quina-rosa comercializada, com as de Simira
pikia (Fig. 2b), S. rubra (Fig. 2c) e S. glaziovii (Fig. 2a) do laminário do Laboratório de
Botânica Estrutural, mostrou que o padrão apresentado corresponde ao de Simira glaziovii
(Fig. 2a, d, e, f). Os caracteres anatômicos da casca da espécie comercializada que levaram
à identificação de S. glaziovii foram predominantemente os seguintes: limite gradual entre
o floema não colapsado e floema colapsado. O floema distribui-se em faixas concêntricas,
delimitadas por esclereídes em disposição difusa, alongados axialmente e com paredes
polilamelares (Fig. 2a, d, e, f). Os elementos de tubo crivado podem ocorrer isolados ou em
grupos de dois ou mais elementos. O parênquima axial ocorre de forma difusa.
Os raios do floema possuem percurso reto no floema não colapsado. São integrados por
células procumbentes no corpo e células eretas e/ou quadradas nas margens. A porção do
151
raio contígua às esclereídes apresenta-se sem alteração (Fig. 2a, d, e, f). O tecido de
dilatação é bem desenvolvido, localizado no parênquima radial, ocorrendo em forma de
cunha. Cristais prismáticos e areia cristalina são observados nos raios, parênquima axial e
algumas vezes no lume das esclereídes.
152
Fig.2. Anatomia da casca de Simira. a) Secção transversal de S. glaziovii; b) Secção
transversal de S. pickia; c) Secção transversal de S. rubra; d) Secção longitunal tangencial
de S. glaziovii; e) Secção transversal de S. glaziovii. f) Secção longitunal tangencial de S.
glaziovii. a - d Lâminas de referência do Laboratório de Botânica Estrutural. e - f. Lâminas
obtidas a partir das cascas dos erveiros. Note a semelhança entre as imagens a, d, e, f. ∆
esclereídes; Χ raios. Barra = 200 μm.
Até o momento não foram encontrados trabalhos na literatura sobre a anatomia da
casca de Simira ou de outras Rubiaceae, o que impossibilitou a discussão dos caracteres
aqui encontrados. Entretanto, a caracterização do lenho de Simira glaziovii, S. pikia e S.
rubra foi elaborada por Callado e Silva Neto (2003). Soffiatti e Alfonso (1999) mencionam
153
que os caracteres anatômicos da casca podem ser mais eficientes para a segregação das
espécies do que a anatomia do lenho. A associação da anatomia do lenho e da casca tem se
mostrado eficiente, por exemplo, na separação de espécies de Myrtaceae e Lauraceae
(Richter 1985; Richter 1990; Soffiatti and Alfonso 1999) subsidiando, para esta última, até
mesmo o estabelecimento de um novo gênero, Aspidostemon Rohwer & Richter (Richter
1990).
Apesar do nome popular de quina estar relacionado, principalmente, ao uso
antifebrífugo e/ou antimalárico, no Mercado de Madureira, quina-rosa é comercializada
principalmente para problemas relacionados ao sangue: “combater anemia”, “limpar o
sangue” mas também para “inflamações” e “queda-de-cabelo”. Neste mercado apenas a
casca de pau-d’alho (Gallezia integrifolia (Spreng.) Harms) e as folhas de sabugueiro
(Sambucus nigra L.) foram indicadas como antifebrífugas.
O modo de preparo indicado para a quina-rosa é na forma de chá (decocto), colocandose em fervura, em um litro de água, por alguns minutos dois pedaços de casca de
aproximadamente 10 cm. “Pode ser tomado duas a três vezes ao dia”. A espécie faz parte
também de garrafadas, que são preparadas e vendidas no mercado por dois erveiros. Elas
se constituem em uma mistura de cascas e/ou cipós e raízes, utilizando-se, em média, dois
pedaços de cada espécie e deixando-se dentro de garrafas, com água fria ou vinho, durante
aproximadamente sete dias para curtir. São utilizadas para inflamações em geral,
impotência, bem como para o sangue e, neste caso, a inclusão das cascas de Simira
glaziovii é considerada essencial. Os erveiros recomendam beber apenas uma vez ao dia,
para “não engrossar nem afinar demais o sangue”. De acordo com um dos erveiros, “a
garrafada é uma só” ou seja, podem-se juntar várias espécies que servirão a diferentes
propósitos. Verificou-se no mercado a venda de pequenas doses ingeridas no próprio
local.
Coimbra (1942) cita algumas espécies de Cinchona, correlacionando-as a diversos
usos terapêuticos, entre os quais o combate à febre, à anemia e à clorose (anemia peculiar à
mulher, assim chamada pelo tom amarelo-esverdeado que imprime à pele). Este autor cita
um produto farmacêutico conhecido como “água inglesa”, elaborado à base de vinho e
plantas, dentre as quais a quina, indicada para doenças febris, anemias e doenças
infecciosas. Hoehne (1978) refere-se a algumas espécies de Rubiaceae, chamadas de
falsas- quinas, como aproveitadas em preparações caseiras, nos medicamentos tonificantes,
como os vinhos quinados e também para o preparo de loções para o cabelo. Helou (1989)
cita o produto farmacêutico “água de quina para cabelo”, como produzido no Brasil na
154
primeira metade do século XX sem, no entanto, citar qualquer espécie vegetal relacionada
ao produto. No mercado estudado presenciou-se uma compradora adquirindo S. glaziovii
para combater a queda de cabelo. Mais uma vez pode-se perceber que não só os mesmos
usos são atribuídos às quinas (e falsas quinas), como também o tipo de preparação.
Sendo assim, torna-se bastante razoável supor que os usos atribuídos à quina-rosa
são conseqüência de uma longa experimentação e adaptação da população às diferentes
espécies da família Rubiaceae, conhecidas como quinas e que apresentam respostas,
provavelmente satisfatórias, na cura de diferentes sintomas e/ou doenças. Alves et al.
(2001) e Bastos et al. (2002) efetuaram estudo fitoquímico de folhas e cascas de S.
glaziovii caracterizando, pela primeira vez, várias substâncias para o gênero. Estes autores
referem-se como muito interessantes os estudos químicos de espécies do gênero Simira
devido, às atividades fototóxicas apresentadas por alguns de seus constituintes químicos e
relatam as informações etnomédicas sobre o tratamento de manchas na cavidade bucal com
cascas frescas de S. rubescens. Os alcalóides mais comuns neste gênero são a harmana,
maxonina e strictosamida os quais têm sido caracterizados como substâncias
fotossensibilizantes (Castaneda et al. 1991).
No que se refere aos aspectos ligados à conservação, Simira glaziovii é a espécie do
gênero de maior distribuição no bioma Mata Atlântica, ocorrendo nos estados da Bahia,
Espíritos Santo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Apresenta baixo risco de ameaça por
ocorrer em unidades de conservação como Parques Nacionais (Serra dos Órgãos-RJ e
Tijuca-RJ), Estação Experimental (Água Limpa-MG), Reservas Biológicas (Tinguá-RJ,
Sooretama-ES), Reserva Natural da CVRD/ES. Trata-se de uma árvore com até 30m de
altura que apresenta a lâmina foliar largamente obovada, repanda, cartácea, com ápice
obtuso a curto-acuminado e base ligeiramente auriculada, com 6,4-48,3 cm de
comprimento e 2,2-5,3 cm de largura (Fig. 3a, b). A presença de características diferenciais
em relação às outras espécies tais como folhas maiores do que as demais, avermelhadas
quando jovens e de nervuras muito típicas bem como o exudato vermelho que escorre do
tronco após o corte de ramos ou da casca, aumentam a confiabilidade do extrator de cascas,
no campo (a descrição completa da espécie encontra-se em Peixoto (1982).
155
Fig. 3. a) Indivíduo de Simira glaziovii cultivado no Jardim Botânico do Rio de Janeiro. b)
Detalhe das folhas.
No caso particular de S. glaziovii a extração da casca pode, dependendo do tipo de
manejo efetuado, redundar em injúrias aos indivíduos. Outrossim, é digno de nota o fato
de se ter verificado, no ano de 2006, uma diminuição da oferta da casca de quina-rosa, no
Mercado de Madureira, o que foi, segundo os erveiros entrevistados, conseqüência direta
da fiscalização dos órgãos ambientais ao extrativismo.
Estudos efetuados não só no Brasil mas em várias partes do mundo vêm apontando
para a possível extinção de muitas espécies em função do excesso de coletas decorrentes da
demanda urbana atual pela utilização de plantas medicinais, reforçando a necessidade de se
apurar os impactos, em longo prazo, da ação das populações que utilizam a flora local
(Montanari Junior 2002; Reis, Mariot and Di Stasi 2000; Vieira 1999; Williams, Balkwill
and Witkowski 2000).
Apesar de poucas referências bibliográficas para o uso de cascas S. glaziovii, há
indicativos de que a casca desta espécie vem sendo, há muitos anos, utilizada para fins
medicinais (Hoehne 1978), no entanto, não foram encontradas na literatura referências à
quantificação do volume de vendas desta espécie. O relatório elaborado em 2001 por
TRAFFIC América do Sul (Trade Records Analysis of Flora and Fauna in Commerce)
(Silva et al. 2001) lembra que, no Brasil, o comércio interno é bastante forte e o número de
espécies de plantas medicinais reportadas como comercializadas pelo IBAMA (Instituto
Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) é mínimo em relação à
realidade observada. Além disso os dados de comércio registrados resultam insuficientes
para garantir transparência no mercado local e internacional. Um dos motivos para isto
156
seria, segundo o referido relatório, erros nos nomes científicos apresentados pelos
comerciantes. No caso das cascas, obviamente, este problema é intensificado .
Desta forma, no caso particular de Simira glaziovii, pesquisas etnobotânicas aliadas
a outras disciplinas, como a anatomia vegetal, mostraram-se importantes ferramentas
auxiliares na elucidação de problemas de identificação taxonômica. Esta espécie pode ser
apontada como merecedora de estudos na área de etnofarmacologia, biologia da
conservação e trabalhos silviculturais.
AGRADECIMENTOS
Aos informantes do mercado de Madureira, especialmente Dona Efigênia e Seu
Joaquim que, com toda a paciência, falaram a respeito de suas garrafadas. Ao Dr. Sebastião
J.da Silva Neto, pelo auxílio na identificação da casca como pertencente ao gênero Simira
e pela solicitude de informações. À técnica de laboratório Andréa Santos, pelo auxílio na
confecção das lâminas da casca. A Viviane Stern da Fonseca-Kruel pela discussão de
idéias e sugestões.
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160
IV Artigo
O ABAJURÚ (CHRYSOBALANUS ICACO L. E EUGENIA ROTUNDIFOLIA
CASAR.) COMERCIALIZADO NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO, BRASIL
Eugenia rotundifolia Casar.
Fonte: Souza,
2005. Myrtaceae Juss. da restinga da Marambaia, RJ- Brasil. Rio de Janeiro, 152p.
(Dissertação de Mestrado – Programa de Pós-Graduação, Jardim Botânico do Rio de Janeiro/ ENBT.)
Revista Brasileira de Farmacognosia
(Artigo em submissão)
161
O abajurú (Chrysobalanus icaco L. e Eugenia rotundifolia Casar.)
comercializado na cidade do Rio de Janeiro, Brasil
Inês Machline Silva1*, Ariane Luna Peixoto2
1
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Instituto de Biologia, Departamento de
Botânica, Rodovia BR 465 km 7, CEP 23890-000, Seropédica, RJ, Brasil,
2
Instituto de Pesquisas, Jardim Botânico do Rio de Janeiro, R. Pacheco Leão 915, Jardim
Botânico, CEP 22460-030, Rio de Janeiro, RJ, Brasil,
RESUMO: Este artigo analisa as prováveis razões de introdução e comercialização de
uma espécie de uso medicinal em um mercado popular urbano na cidade do Rio de Janeiro,
Brasil - o Mercado de Madureira. Durante os anos de 2005 e 2006 aplicaram-se entrevistas
semi-estruturadas a 15 erveiros obtendo-se o freelist das espécies consideradas como mais
comercializadas (97) a partir do qual se calculou o índice de saliência, que para o abajurú
(Eugenia rotundifolia Casar.), foi elevado. A espécie conhecida na literatura e
comercializada como abajurú é Chysobalanus icaco L., que apresenta propriedades
hipoglicemiantes comprovadas por pesquisas farmacológicas e é utilizada pela população
para este fim; no entanto, verificou-se, nesse mercado, a venda quase exclusiva de E.
rotundifolia, com esse nome popular à qual são atribuídas as mesmas propriedades. Até o
momento não existem dados farmacológicos para essa espécie. Ambas são nativas e
ocorrem, predominantemente, nas restingas litorâneas do estado do Rio de Janeiro. A
atribuição da atividade hipoglicemiante à E. rotundifolia pode indicar uma correlação, por
parte dos erveiros, com os usos de outras espécies de Myrtaceae. Questões relacionadas à
fiscalização ambiental bem como desconhecimento e coleta equivocada podem também
estar envolvidos nesse processo.
Unitermos: Etnobotânica, plantas medicinais, restinga, extrativismo, mercado popular.
ABSTRACT: “The abajurú (Chrysobalanus icaco L. e Eugenia rotundifolia Casar.)
commercialized in Rio de Janeiro, Brazil”. The present paper analyzes the
commercialization of a new medicinal species in a public market in Rio de Janeiro, Brazil.
During the years 2005-2006 semi-structured interviews were made with 15 herbalists. A
free list of the most commercialized species (97) was made, and calculated the salience
index in witch Eugenia rotundifolia presented a high value. Chysobalanus icaco is known
*
E-mail: [email protected], Tel. +55-21-2441576
162
in the literature a sold as abajurú, and has hipoglicemient properties, proven by
pharmacological research. The local population uses this species for these properties,
however in the market in question, E. rotundifolia is almost exclusively sold with the same
popular name and medicinal property. Until the present time, no pharmacological data
exists for this specie. Both species are native and predominantly present in the coastal
formations (restinga) of Rio de Janeiro. The attribution of the hipoglicemient property of
E. rotundifolia may indicate a correlation, made by the herbalists, with the pharmacology
of other Myrtaceae species. The lack of knowledge, erroneous field surveys and problems
related with environmental monitoring may be involved with this process.
Keywords: Ethnobotany, medicinal plants, restinga, harvest, public market.
INTRODUÇÃO
Pelo potencial de uso que apresenta, Chrysobalanus icaco L. tem sido
recorrentemente citado na literatura. Pescadores da América e África cozinham sua casca e
utilizam para tingir, endurecer e tornar mais duradouras as suas redes (Pio Corrêa, 1926;
Fonseca-Kruel et al., 2006). Seus frutos com uma polpa branca e adocicada são
comestíveis e em muitos países utilizados como doces e em conservas, sendo em alguns
locais comercializados em feiras e mercados (Pio Corrêa, 1926; Braga, 1960; Ferrão 1999;
Ugent; Ochoa, 2006). O óleo da semente era outrora aproveitado para preparação de uma
emulsão antidiarréica e para ungüentos (Pio Corrêa, 1926). Suas raízes, cascas e folhas são
adstringentes e utilizadas contra disenterias, catarro de bexiga, leucorréias (Pio Corrêa,
1926; Freise 1934; Roig y Mesa, 1945; Wong, 1976; Hoehne, 1978) e pedra nos rins
(Fonseca-Kruel et al., 2006). O potencial como agente anti-tumoral (Fernandes et al.,
2003) e também no combate ao diabetes mellitus foram amplamente divulgados na
literatura (Costa, 1977; Pereira, 1997; Lorenzi; Matos, 2002; Fonseca-Kruel et al., 2006;
Albuquerque et al., 2007). É utilizada também como planta ornamental na América do
norte.
O diabetes atinge aproximadamente 35 milhões de pessoas nas Américas
(Sartorelli; Franco, 2003) e, particularmente no Brasil, cerca de 11 milhões de pessoas,
segundo a estimativa da Sociedade Brasileira de Diabetes (Netto, 2007). Desta forma
compreende-se porque inúmeras espécies vegetais são utilizadas no mundo para minimizar
suas conseqüências (Bnouham et al., 2006; Funke; Melzig, 2006). No Brasil cerca de 200
espécies são usadas para este fim, sendo que 52 foram estudadas experimentalmente e
apresentaram atividade analgésica, antiinflamatória e hipoglicemiante comprovada
163
(Barbosa-Filho et al., 2005). Dentre estas, C. icaco vem apresentando excelentes resultados
(Presta; Pereira, 1987; Castilho et al., 2000; Mors et al., 2000; Barbosa-Filho et al., 2005;
Barbosa et al., 2006). Esta espécie conhecida no Brasil como abajurú, abajerú, bajerú,
guajurú, entre outros nomes populares, ocorre no litoral brasileiro e também no litoral dos
paises do norte da América do Sul, América Central e México, bem como na costa
ocidental da África (Prance, 1972).
Em conseqüência de seu reputado efeito no controle ao diabetes, o comércio das
folhas frescas e/ou secas de C. icaco pode ser facilmente verificado tanto em feiras e
mercados como na forma de ensacados vendidos, em diferentes estabelecimentos
comerciais, na cidade do Rio de Janeiro. Neste sentido, o Mercado de Madureira,
localizado na Zona Norte da cidade, destaca-se pelo número de erveiros e quantidade de
espécies comercializadas. Dentre estas, o abajurú mereceu destaque por ter sido verificada
a comercialização simultânea, sob esta denominação popular, tanto de C. icaco, como
também de Eugenia rotundifolia (Myrtaceae).
O uso de diferentes táxons, sob uma mesma designação popular não é nova na
literatura: a questão da espinheira-santa, no Rio de Janeiro, é um exemplo recente da
introdução e absorção, no repertório popular, de espécies morfologicamente semelhantes,
mas que não necessariamente apresentam o mesmo efeito farmacológico desejado
(Gonzales et al., 2001; Coelho et al., 2002; Coulaud-Cunha et al., 2004). O uso tradicional
de espécies de espinheira-santa, na região sul do Brasil para o tratamento de úlceras, foi
incorporado na região sudeste. Contudo, naquela região utilizam-se espécies de Maytenus
(Celastraceae), enquanto que nas feiras livres do Rio de Janeiro e no próprio Mercado de
Madureira verifica-se a utilização de Sorocea cf. bonplandii (Moraceae) como tal.
O presente trabalho objetivou registrar a venda de C. icaco e E. rotundifolia, sob a
mesma designação popular, bem como discutir as prováveis causas e implicações
envolvidas nesse processo.
MATERIAL E MÉTODOS
Ao longo dos anos de 2005 e 2006 foram aplicadas 51 entrevistas semi-estruturadas
(Bernard, 1995) para levantamento de dados etnobotânicos a 15 erveiros (num total de 28)
que comercializam ervas medicinais e/ou rituais no Mercado de Madureira. Utilizou-se a
técnica conhecida como “bola de neve” indicada para uma população altamente
especializada e de pequeno número de integrantes (Appolinário, 2006). Para tal, um
informante-chave, previamente conhecido, indicou outra pessoa a ser entrevistada e assim
164
sucessivamente. Esse mercado foi criado em 1914, tornando-se, a partir de 1929, o maior
centro de distribuição de alimentos da zona suburbana do Rio de Janeiro. Apresenta hoje
aproximadamente 700 boxes para venda de muitos produtos variando de alimentação,
utensílios domésticos, papelarias, drogarias e principalmente de comércio de artigos
religiosos, incluindo-se aí, a venda de animais para sacrifícios. No local reservado aos
hortifrutigranjeiros encontram-se 28 boxes de plantas comercializadas para fins medicinais
e ritualísticos, que muitas vezes vendem também temperos, legumes e verduras. Esse
mercado é um dos grandes fornecedores para feirantes e vendedores ambulantes da cidade
(Azevedo; Silva, 2006).
Os erveiros foram entrevistados durante o período de trabalho e conseqüentemente
sem disponibilidade de tempo para longas entrevistas. Assim, optou-se por aplicar a
técnica conhecida como listagem livre (freelist) (Martin, 1995; Sutrop, 2001) - mais
especificamente a lista restrita de tarefas (restricted list task) - na qual cada informante foi
estimulado a citar, pelo menos, dez espécies consideradas como mais comercializadas.
Cada informante foi entrevistado pelo menos uma vez sendo que mais entrevistas se
sucederam para aqueles que continuaram colaborando com a pesquisa que teve objetivos
mais amplos do que a questão do abajurú. Para cada espécie foram anotadas informações
relacionadas à(s) propriedade(s) etnofarmacológica(s) atribuída(s), formas de uso, parte(s)
da planta utilizada(s) e outras informações.
Considera-se que as espécies mencionadas com freqüência indicam consenso ou
conhecimento comum entre os indivíduos, dentro de uma determinada cultura. Neste
sentido, para verificar o grau de importância das espécies listadas, especialmente do
abajurú, no mercado de Madureira, calculou-se o “Índice de Saliência” (Smith, 1993;
Martin, 1995; Cotton, 1996) que leva em consideração dois parâmetros: a freqüência e
ordem de citação seguindo-se a metodologia recomendada por Quinlan (2005), utilizandose para tal o software Visual Anthropac-Freelists 4.0 (Borgatti, 1996). Adquiriu-se material
botânico das espécies listadas pelos erveiros através de compra e para a identificação do
mesmo utilizaram-se chaves analíticas, bibliografia especializada, comparação com
exsicatas de herbários e, quando necessário, valeu-se do auxílio de especialistas. Foram
confeccionadas exsicatas, que se encontram depositadas no herbário do Instituto de
Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro (RB). As fotos da Figura 1 correspondem às
exsicatas de C.icaco (C. Farney & L.S. Sarayba 2148; RB 279529) e de E. rotundifolia
(D.Araújo 7903; RB 389252) depositadas no referido herbário.
165
O termo etnoespécie é aqui aplicado a duas espécies bem definidas (diferenciadas)
do ponto de vista da taxonomia vegetal para as quais os erveiros entrevistados atribuem o
mesmo nome popular.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No levantamento etnobotânico realizado com os erveiros no Mercado de Madureira
foram reconhecidas um total de 256 espécies. A listagem livre obteve um rol de 97
espécies que são consideradas como muito comercializadas. Esta técnica de listagem livre
é considerada um método etnográfico bem estabelecido, relacionado à fronteiras de
domínios culturais, que parte do pressuposto que quando as pessoas listam livremente elas
tendem a listar os termos em ordem de familiaridade - os indivíduos que sabem mais sobre
o conteúdo solicitado listam mais do que aquelas que sabem menos - e os termos que são
mais lembrados indicam que são localmente mais proeminentes (Quinlan, 2005). Na tabela
1 são apresentadas as espécies que mais se destacaram pelo índice de saliência.
Tabela 1. Índice de saliência das 10 espécies mais comercializadas nos anos de 2005/2006
no Mercado de Madureira, Rio de Janeiro, Brasil.
Documentação
Espécie
Família
Nome popular
Mentha piperita L. var. citrata
Lamiaceae
elevante
botânica
I.M.Silva 506
(Ehrh.) Briq.
Ocimum basilicum L.
Lamiaceae
manjericão
I.M.Silva 529
0,36
Eugenia rotundifolia L.
Myrtaceae
abajurú, bajirú,
I.M. Silva 611, 740
0,35
Sorocea cf. bonplandii (Baillon)
Moraceae
espinheira-santa
I.M. Silva 524
0,34
Burger, Lanjou &W. Boer
Kalanchoe brasiliensis Cambess
Crassulaceae
saião
I.M. Silva 715
0,32
Menyha pulegium L.
Lamiaceae
poejo
I.M. Silva 553
0,30
Aeollanthus suaveolens Mart. ex
Lamiaceae
macassá
I.M. Silva 590
0,29
Spreng.
Vernonia paludosa Gardner
Asteraceae
Assa-peixe
I.M. Silva 806
0,22
Baccharis cf. trimera (Less)DC..
Asteraceae
carqueja
I.M. Silva 718
0,21
Piper arboreum Aublet var.
Piperaceae
vence-demanda
I.M. Silva 533
0,19
arboreum
Saliência
0,38
166
O fato do abajurú (E. rotundifolia) aparecer, na tabela, em terceiro lugar, em um rol
de 104 espécies, confirma a importância da mesma na farmacopéia popular do Rio de
Janeiro. Dentre os 15 erveiros entrevistados, nove citaram e vendiam essa espécie de
abajurú para o combate ao diabetes (houve apenas uma citação para “abaixar o
colesterol”). Apenas um informante vendia a outra espécie de abajurú (Chrysobalanus
icaco) e, por ter sido citada apenas por ele, esta obteve um índice de saliência de apenas
0,07. Entretanto, este erveiro comercializava também E. rotundifolia, designando-a por
“abajurú genérico”.
As pesquisas comprovaram, até o momento, a eficácia científica de C. icaco como
hipoglicemiante (Di Stasi; Hiruma-Lima, 2003), atrelando-a sempre ao nome popular de
abajurú (ou nomes correlacionados). Entretanto, não foram encontradas referências
etnobotânicas, químicas e/ou farmacológicas indicando o uso de E. rotundifolia,
especificamente como tal, apesar de inúmeras pesquisas confirmarem a presença de
substâncias com potencial medicinal para esse gênero e para a família Myrtaceae em geral
(Almeida et al., 1995; Olajide et al., 1999; Holetz et al., 2002; Coelho de Souza et al.,
2004; Ravi, 2004; Barbosa-Filho et al., 2005; Oliveira et al., 2005; Bnouhmam et al., 2006;
Oliveira et al., 2006). Também não foram encontrados registros, na literatura, da
comercialização desta última com o nome popular de abajurú ou qualquer outro nome.
O número de espécies vegetais utilizadas no Brasil no combate ao diabetes mellitus
era muito menor no passado, mas atualmente, o país desponta na América do Sul como
responsável por 23% das espécies testadas (Barbosa-Filho et al., 2005). Este fato reflete
possivelmente uma tendência local (e também mundial) de acentuado incremento na
freqüência dessa doença nos últimos anos, ocasionado provavelmente pelo envelhecimento
da população e alterações no estilo de vida (Sartorelli et al., 2006). Para C. icaco, por
exemplo, a primeira referência encontrada na literatura ao uso como hipoglicemiante foi
em 1977 (Costa, 1977) embora outras atividades etnofarmacológicas já eram atribuídas
anteriormente para essa espécie. É provável que a ação hipoglicemiante de C.icaco tenha
sido amplamente noticiada a partir do incremento de trabalhos mais recentes, que
reiteraram tal atividade, estimulando, desta forma, o seu uso. Neste caso, o crescimento da
doença aliado ao empobrecimento da população bem como à falta de acesso aos serviços
oficiais de saúde nutriram, certamente, o comércio de plantas medicinais ávido por
apresentar novas espécies ou atribuir novas atividades farmacológicas a espécies já
conhecidas e consumidas anteriormente para outros fins.
167
Por que Chrysobalanus icaco está sendo substituída por Eugenia rotundifolia?
Albuquerque e Hanazaki (2006) salientam que é preciso tentar explicar como as
pessoas selecionam plantas e animais para uso medicinal e que critérios envolvem tal
escolha. Da mesma forma a substituição de espécies, na medicina popular, deve ser
analisada. Assim, as considerações abaixo apontam algumas possibilidades para o caso
específico do abajurú.
Chrysobalanus icaco ocorre em diversos estados brasileiros (AM, MA, CE, PA, PI,
PE, SE, BA, ES, RJ e SP) (Prance, 1972) e para o Rio de Janeiro foram registradas coletas
nos Municípios de Arraial do Cabo, Cabo Frio, Rio de Janeiro e Saquarema (Instituto de
Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, 2007). Ocorre também no Município de
Angra dos Reis, na Reserva da Praia do Sul (Ilha Grande) e ao norte do Município de Rio
das Ostras (Dorothy Sue Dun Araújo, comunicação pessoal).
Apresenta ampla plasticidade para estabelecer-se em diferentes associações
vegetais, na vegetação costeira, desenvolvendo-se em brejos, mangues e restingas, em
locais sujeitos a déficit hídrico ou a inundação em determinadas épocas do ano e em solos
com afloramento de rochas (Santana; Silva, 2000; Oliveira; Souza, 2005). Na restinga da
Marambaia, entretanto, esta espécie está presente somente na formação vegetacional
denominada “arbustiva aberta não inundável”, composta predominantemente por
Myrtaceae (Menezes; Araújo, 2005). Trata-se de um arbusto ou pequena árvore de até 5
metros de altura, freqüentemente com ramos decumbentes, com folhas geralmente
orbiculares a ovado-elípticas de 2-8 cm de comprimento e 1,2-6,0 cm de largura, retusas,
arredondadas ou com pequeno acúmem no ápice, base sub-cuneada, glabras em ambas as
faces e com pecíolo medindo 2 a 4 mm de comprimento (Prance, 1972).
As Chrysobalanaceae são morfologicamente distinta das espécies brasileiras de
Myrtaceae no que diz respeito a muitos aspectos, dentre eles, a filotaxia, que é alterna (e
oposta nas Myrtaceae) e folhas sem pontos translúcidos e nervura marginal, comuns em
Myrtaceae. Apesar disso, a forma semelhante das folhas de C. icaco e E. rotundifolia pode
confundir um leigo (Figura 1).
168
Figura 1: detalhes dos ramos das exsicatas de Chrysobalanus icaco L. (Chrysobalanaceae)
(a) e Eugenia rotundifolia Casar (Myrtaceae) (b)
E. rotundifolia é também um arbusto, de cerca de 2 m de altura, com folhas
opostas, elípticas obovadas ou suborbiculares, ápice arredondado, obtuso ou obtusoacuminado e base arredondada, obtusa ou aguda, bordo revoluto, coriáceas, discolores,
densamente pontudas (Souza, 2005). Ocorre nas restingas, principalmente nos estados da
Bahia, Espírito Santo e Rio de Janeiro. Especificamente para o Rio de Janeiro, foram
registradas coletas em Armação dos Búzios, Cabo Frio, Carapebus, Macaé, Maricá, Rio de
Janeiro, São João da Barra e também em Saquarema (Instituto de Pesquisas Jardim
Botânico do Rio de Janeiro, 2007; Souza, 2005).
O trabalho realizado por Pereira et al. (2001) na comunidade arbustiva fechada
localizada no cordão arenoso interno da restinga de Barra de Maricá aponta E. rotundifolia
como rara na área estudada (com apenas um indivíduo em área estimada de 1 ha).
Entretanto para os autores trata-se de uma espécie mais abundante em outras formações
vegetais dos cordões arenosos. Nesse sentido, Doroty Sue Dun Araújo (comunicação
pessoal) informa que apesar de não muito freqüente na região das dunas de Arraial do
Cabo, é bem comum, perto da praia, em outras restingas como a de Maricá e de Macaé.
Nessa última, nos trabalhos extensos, ainda não publicados, de levantamento
fitossociológico no Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba E. rotundifolia está entre as
169
10 espécies mais importantes na restinga arbustiva aberta de Clusia. Segundo Menezes e
Araújo (2005) E. rotundifolia ocorre na restinga de Marambaia em uma formação herbácea
(herbácea fechada de cordão arenoso) e em três arbustivas (arbustiva aberta não inundável;
arbustiva fechada de pós-praia e arbustiva fechada de cordão arenoso) sendo muito comum
nas duas primeiras. Esses mesmos autores encontraram C. icaco apenas na formação
arbustiva aberta não inundável.
No estado do Rio de Janeiro muitas restingas apresentam essas formações –
especialmente as mais abertas – que estão sob forte pressão antrópica. Entretanto, de
acordo com as informações obtidas com alguns erveiros, a fiscalização dos órgãos
ambientais do estado tem impedido, em parte, a extração de abajurú (C. icaco) em áreas
litorâneas. Isto provavelmente estimulou a procura por outra espécie que pudesse substituíla. Provavelmente, o fato de E. rotundifolia ter distribuição mais ampla no estado do Rio
de Janeiro e apresentar certa semelhança com C. icaco colaborou para que extratores e
erveiros passassem a vendê-la e denominá-la como abajurú. Os nomes populares
encontrados na literatura para E. rotundifolia foram “jaboticaba do mangue” (Pio Corrêa,
1926) e “aperta-goela” (Zamith; Scarano, 2004). Coincidentemente, este mesmo nome
vulgar é empregado pela população caiçara da Ilha Grande (Rio de Janeiro) para C. icaco.
Possivelmente o emprego de um mesmo nome popular para duas espécies pode ter
contribuído também para a comercialização de uma pela outra. No mercado de Madureira
E. rotundifolia foi também denominada pelos erveiros como “abajurú-do-mangue”.
As pesquisas realizadas para avaliação do uso seguro das plantas medicinais e
fitoterápicos no Brasil ainda são insipientes, sendo que a maioria das plantas nativas ainda
não foi avaliada quanto à sua segurança e eficácia (Rates, 2001), assim como é insipiente o
controle da comercialização pelos órgãos oficiais em feiras livres, mercados públicos ou
lojas de produtos naturais (Veiga Jr; Pinto, 2005). Sendo assim nenhuma espécie usada na
medicina tradicional deveria ser usada antes que os estudos de segurança tivessem sido
completados (Barbosa-Filho et al., 2005). A introdução de E. rotundifolia no mercado
informal pode refletir, por um lado, o efeito de alguma fiscalização na coleta de
exemplares em áreas de vegetação natural protegidas e, por outro lado, a ineficiência do
controle da comercialização do abajurú oferecido à população.
Fontenelle et al. (1994) caracterizaram a anatomia e micromorfologia de 11
espécies de Eugenia encontradas na restinga de Maricá (RJ) inclusive de E. rotundifolia. A
anatomia foliar de C. Icaco também foi trabalhada por Espinosa-Osornio et al. (2002).
Esses trabalhos certamente servirão de base para a verificação de ocorrência de fraudes e
170
identificação de espécies ensacadas e comercializadas no mercado informal, com a
designação popular de abajurú.
Segundo as informações obtidas no mercado de Madureira com um erveiro que
também fornece abajurú para outros erveiros e feirantes de outras localidades, a venda
destas etnoespécies atinge cerca de 70 molhos por semana na venda interna diária dentro
do mercado, e aproximadamente 1.000 molhos por semana, na venda durante a madrugada
(do lado de fora do mercado) para feirantes que irão revendê-las em feiras livres e bancas
isoladas da cidade. Neste contexto, não se pode descartar a possibilidade de redução das
populações, na natureza, pela intensificação da extração em seus ambientes naturais.
Zamith & Scarano (2004) estudando a viabilidade da produção de mudas destinadas a
plantios para a restauração de restingas degradadas informam que E. rotundifolia se
apresenta viável para a produção de mudas, visto o seu potencial elevado para germinação
(em torno de 60%). Assinalam, entretanto, que a germinação é lenta (em média 61 dias
para a emergência da parte aérea), o que pode acarretar na não uniformidade entre
plântulas e maior risco de perda das sementes por deterioração, uma vez que estas
permanecem no solo por um certo tempo, antes da germinação.
Numa primeira análise pode-se pensar então que a introdução de E. rotundifolia para a
venda popular com o nome de abajurú seja, em parte, um artifício encontrado pelos
extratores para driblar a fiscalização. Entretanto, não faz muito sentido tendo em vista que
ambas são vendidas muitas vezes ensacadas, o que dificulta o reconhecimento (Figura 2).
Quem fiscaliza saberia diferenciar as duas espécies?
171
Figura 2: ramos ensacados de Chrysobalanus icaco L. (esquerda) e Eugenia rotundifolia
Casar. (direita) comercializados no mercado de Madureira, RJ.
Uma segunda hipótese estaria ligada simplesmente a um problema de dificuldade no
reconhecimento das espécies pelos extratores e erveiros vendedores, bem como pelos
consumidores, por conta da morfologia semelhante.
Uma terceira hipótese - e talvez a mais interessante - seria haver, por parte dos
erveiros, a atribuição da atividade hipoglicemiante também à E. rotundifolia, uma vez que
outras espécies de Myrtaceae (pitanga, jambo e eucalipto) já são usadas pela população
como tal. É importante salientar que, no comércio popular de espécies consideradas
medicinais, a confiabilidade das informações transmitidas pelos erveiros é fundamental: as
relações interpessoais e a disseminação de informações dentro de um mercado, como o de
Madureira, vão mais além do que a simples troca de receitas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Estudos etnobotânicos em ambientes urbanos são fascinantes e abrem muitas portas
para se conhecer o que não tem sido catalogado (Balick; Lee, 2001). Ademais, os padrões
de usos locais para espécies consideradas medicinais, em áreas urbanas, não são ainda bem
entendidos.
Questões relacionadas às teorias da aparência e de disponibilidade de espécies são
discutidas em diversos estudos (Stepp; Moerman, 2001; Albuquerque; Lucena, 2005;
172
Akerreta et al., 2007) na tentativa de entender que fatores determinam as preferências e
critérios de locais de seleção para uso das plantas. Voeks (1996) sugere que erveiros da
floresta atlântica da costa do Brasil preferem florestas secundárias e áreas perturbadas:
plantas usadas como medicinais precisam ser abundantes e acessíveis. Como citado
anteriormente E. rotundifolia é uma espécie abundante, possibilitando o extrativismo.
Além dos fatores ambientais, fatores culturais certamente influenciam a distribuição
ou a área de uso das espécies já que atuam na seleção de plantas medicinais. Para Akerreta
et al., o fator cultural pode, às vezes, ser decisivo na escolha de plantas, até mais do que a
abundancia e disponibilidade das espécies. Por exemplo, quando a população local percebe
as propriedades químicas e medicinais de uma planta. Nesse sentido, para o caso do
abajurú (E. rotundifolia), isso vem de encontro a nossa hipótese relacionada à idéia de que
as pessoas poderiam, de fato, estender (e experimentar) o uso no tratamento contra os
efeitos do diabetes para novas espécies da família Myrtaceae.
No processo das interações das populações com as espécies vegetais, encontros
casuais podem levar a descobertas justificadas posteriormente pela ciência. Se levarmos
em consideração que certamente existem várias espécies na restinga morfologicamente
semelhantes, a substituição de C. icaco justamente por E. rotundifolia no comércio
popular, poderá também ser explicada, ou não, por futuras pesquisas farmacológicas.
AGRADECIMENTOS
As autoras agradecem aos erveiros por gentilmente dispor do seu tempo durante o
horário de trabalho, a Marcelo Souza, especialista em Myrtaceae, bem como a Dorothy Sue
Dun Araújo, Nivaldo Peroni, Maria Mercedes Teixeira da Rosa e Helena Regina P. Lima,
pelas valiosas críticas e sugestões.
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CONCLUSÕES GERAIS
Estudos etnobotânicos em mercados e feiras livres trazem à tona
informações que circulam no dia a dia refletindo com mais ou menos intensidade, as
necessidades e carências da população. São encontradas plantas largamente conhecidas e
utilizadas mas também, por influência de fatores culturais e leis de mercado, novas
espécies são continuamente experimentadas e aprovadas ou não pelos consumidores. Nesse
sentido, a etnobotânica tem como uma de suas atribuições investigar e disponibilizar estas
informações, de forma organizada, para que possam servir ao bem estar e melhoria da
qualidade de vida da população.
Durante a confecção desta tese exercitou-se tanto do lado da pesquisadora, quanto
pelo lado dos informantes, a capacidade de entendimento e empatia necessários para a
coleta de dados. Assim, esse trabalho obteve uma série de informações que poderão servir
como facilitadoras de pesquisas subseqüentes, em etnobotânica ou áreas afins. Por
exemplo, foram concentrados esforços buscando a correta identificação botânica (265
espécies inventariadas na CEASA e no Mercado de Madureira) o que não foi fácil tendo
em vista a que a maior parte dos exemplares adquiridos não portava flores ou frutos. As
plantas são muitas vezes comercializadas em estado fresco (ramos e/ou folhas). Outras
vezes são utilizadas as partes subterrâneas, sementes e cascas tornando ainda maior o
desafio da identificação.
Como foi demonstrado, a maioria das espécies comercializadas nos mercados é
cultivada. Há indicativos de que as hortas de Madureira e da região serrana garantam o
sustento das famílias e são os pilares do comércio de plantas medicinais, rituais e
condimentares, para as feiras livres da região metropolitana do Rio de Janeiro. No primeiro
artigo chamou-se a atenção para o fato de que horticultores (os próprios erveiros,
vendedores nos dois mercados estudados), extratores e consumidores são atores de uma
atividade periférica, pouco (ou não) reconhecida oficialmente, que ocorre, inclusive nas
madrugadas, de forma quase clandestina. Os dois mercados têm perfis diferenciados: o de
Madureira tem três vezes mais espécies, concentrando plantas utilizadas em rituais afrobrasileiros com vendas a varejo. Em contrapartida, A CEASA comercializa menos espécies
entretanto, ao nível de atacado. Essa rede de comercialização tem papel fundamental para o
abastecimento de plantas em feiras livres e pequenos mercados da cidade.
As espécies que sofrem extrativismo são provenientes –como era de se esperar- do
município do Rio de Janeiro ou de outros municípios próximos e muito poucas têm outra
179
fonte de aquisição pelos comerciantes. O conhecimento, pela população, da restrição legal
à retirada de plantas torna clandestina a atividade de extração e portanto quase invisível no
que diz respeito à rede de comercialização urbana, nos locais estudados. Se por um lado
existe o estímulo ao consumo de plantas medicinais pela sociedade em geral, por outro,
não há mecanismos reais que favoreça e torne segura tal atividade, nem para quem oferece
o produto, nem para quem o consome.
O uso de metodologias como a listagem livre permitiu calcular a Importância
Relativa das espécies medicinais bem como a Saliência, apontando aquelas mais utilizadas
pela população e com indicativo de alta importância cultural. Algumas, de certa forma, são
amplamente conhecidas e estudadas cientificamente. Outras, entretanto, mereceriam
maiores investigações. O fato de muitas espécies terem sido indicadas para doenças e/ou
sintomas do aparelho circulatório bem como para doenças endócrinas, nutricionais e
metabólicas (além de respiratório) corrobora a necessidade de pesquisas com essas
espécies utilizadas pela população para validação ou não do uso das mesmas.
Parece haver uma grande lacuna entre as políticas públicas, a academia e a
população, seus hábitos, suas necessidades tomando-se como pontos de referência os dois
mercados estudados e as pessoas envolvidas no comércio de plantas. Apesar da Política
Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos (Decreto 5813 de 2006) ter como objetivo
geral garantir à população brasileira o acesso seguro e o uso racional de plantas medicinais
e fitoterápicos, sua execução, na prática, dependerá do entrosamento entre as diversas
parcelas da sociedade. Nesse contexto, as hortas de cultivo que abastecem os mercados
estudados (e por conseqüência muitos outros), poderiam servir de modelo para a
implementação de algumas diretrizes referenciadas na Política, entre elas, a promoção da
inclusão da agricultura familiar na cadeia de cultivo de plantas medicinais.
O caso da quina-rosa, discutido nessa tese, indicou o uso de uma espécie nativa,
Simira glaziovii, para a qual não se tem ainda informações de sua atividade farmacológica.
Nesse trabalho demonstrou-se que a anatomia vegetal pode ser forte aliada no auxílio à
identificação botânica de cascas utilizadas como medicinais pela população ao contrário do
que é recorrentemente citado na literatura. Outro artigo, dessa tese, também pôs em
destaque a fundamental importância da correta identificação botânica e discutiu o caso do
abajurú comercializado, apontando a introdução de uma nova espécie no mercado popular
de comércio de plantas medicinais, na cidade do Rio de Janeiro.
As pesquisas desenvolvidas em mercados e feiras livres na cidade do Rio de Janeiro
e, particularmente nos dois mercados estudados, Mercado de Madureira e CEASA,
180
demonstram que a etnobotânica pode fornecer informações concretas à implantação efetiva
de políticas públicas. Também põem em evidência aspectos ligados ao fenômeno da
urbanização mal planejada caracterizada por vastos contingentes da população
precariamente incluídos nos serviços básicos de saúde o que passa a estimular o consumo
de plantas medicinais. Evidenciou-se igualmente que o processo de aquisição do
conhecimento acerca do uso dessas plantas passa ao largo, geralmente, da correta
identificação botânica ou de comprovações farmacológicas.
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