psicopatologia psychopathology terapêutica therapeutics
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psicopatologia psychopathology terapêutica therapeutics
PSICOPATOLOGIA PSYCHOPATHOLOGY Esquizofrenia e ansiedade social Schizophrenia and social anxiety 56 A comorbilidade entre estas duas situações foi estudada por estes autores em 80 doentes esquizofrénicos em ambulatório, comparando os sintomas ansiosos e o ajustamento social com um grupo de 27 doentes não esquizofrénicos que tinham um diagnóstico de perturbação de ansiedade social (DSM-IV). No grupo dos esquizofrénicos, 41 (51%) tinham critérios para pelo menos uma perturbação de ansiedade e 29 (36%) tinham altos níveis de ansiedade social semelhantes aos do grupo de controlo. Os doentes esquizofrénicos com e sem ansiedade social tinham níveis semelhantes de sintomas positivos e negativos. No entanto, os que apresentavam ansiedade social tinham maiores taxas de tentativas de suicídio, maior letalidade dessas tentativas, maior prevalência de consumo de álcool e de outras substâncias, pior ajustamento social e pior qualidade de vida. Nesta pequena amostra os doentes esquizofrénicos com ansiedade social usavam mais clozapina ou olanzapina, enquanto que os que não apresentavam ansiedade social usavam mais risperidona ou quetiapina. Um aspecto importante a esclarecer-se é se estes sintomas eram ou não resultantes de efeitos colaterais da medicação ou resultado da forma de lidar com a doença esquizofrénica. Este estudo tem a vantagem de alertar para esta questão, mas são necesVOLUME VI Nº1 JANEIRO/FEVEREIRO 2004 sários mais estudos, sobretudo com amostras maiores, para se avaliar o risco de comorbilidade ansiosa e eventualmente corrigirse os esquemas de tratamento propostos para esses doentes. Pallanti S et al. (2004) Am J Psychiatry V161 Morte e demência Death and demency A experiência da morte parece ser uma experiência altamente stressante a avaliar pelos níveis de cortisol no liquor dos sujeitos que acabaram de morrer (20 vezes superiores às dos que vivem). Estes efeitos levaram a que estes autores examinassem os níveis de cortisol no liquor post-mortem em 85 doentes com Alzheimer, dos quais 73 estavam gravemente dementes e em 52 controlos não dementes que tinham morrido em situações várias. Dessas amostras, 54 doentes e 19 controlos tinham recebido morfina no fim da vida. Os autores pretendiam avaliar em que medida a morfina ou a presença da demência apagava ou atenuava a produção de cortisol pelas reacções de stress relacionadas com aspectos fisiológicos e psicológicos da morte iminente. Os resultados confirmaram dados anteriores segundo os quais os níveis de cortisol em todos os sujeitos eram 15-20 vezes superiores aos que normalmente se observam em sujeitos vivos. Nos dementes esses níveis eram cerca de 70% mais elevados do que nos controlos. Para além disso, a administração de morfina não se correlacionava com os níveis de cortisol, bem como não se correlacionavam as diferenças na hora e na estação do ano em que a morte ocorria, o tempo que mediava a recolha das amostras após a morte, o tempo de armazenamento do liquor e a idade da morte. Os autores lembram que nenhum dos sujeitos experienciou morte súbita em razão de condição médica que pudesse provocar tais elevações do cortisol. Se se interpretar tais valores de cortisol como indicador do stress da experiência de morte, estes dados indicam que nem a morfina nem a demência grave afectam os níveis de stress. Muito embora se tenham encontrado níveis elevados de cortisol em doentes de Alzheimer vivos, essas elevações (muito mais pequenas, na ordem da 1.5-2.5 vezes) não explicam estes resultados. Erkut ZA et al.(2003). Neuropsychopharmacology V29 TERAPÊUTICA THERAPEUTICS Esquizofrenia, disfunção cognitiva e antipsicóticos atípicos Schizophrenia, cognite deficit and atypical antipsychotics A função cognitiva nos doentes com esquizofrenia é um tema central nos tempos actuais. Não apenas pelo valor preditivo que tem na reabilitação destes doentes como também pelo efeito negativo que o tratamento com os neurolépticos clássicos tem sobre essa função. Mais interesse foi despertado quando se começou a s u g e r i r q u e o s n o vo s antipsicóticos diminuíam a disfunção daquele conjunto de funções. Resta ainda grande desconhe-cimento quanto o efeito diferencial dos diferentes antipsicóticos atípicos sobre essa disfunção. O estudo destes autores vem, de algum modo, trazer alguma novidade a este tema, já que avalia os efeitos da mudança de terapêutica em doentes com esquizofrenia estabilizados com antipsicóticos convencionais para o tratamento com a ziprazidona. Um total de 270 doentes esquizofrénicos cuja medicação era mal tolerada ou não era suficientemente eficaz mudaram para ziprazidona. Desses doentes, 108 estavam com antipsicóticos convencionais, 104 com olanzapina e 58 com risperidona. A dose desta substância variou entre 20-80 mg duas vezes por dia, durante 40 dias. À 6ª semana verificaram-se melhorias significativas nos testes de memória verbal secundária e de fluência verbal nos 3 grupos de doentes e melhorias significativas nos testes das funções executivas e de vigilância nos grupos de doentes que antes estavam a tomar neurolépticos e risperidona. Análises posteriores revelaram que a ziprazidona reduzia a disfunção cognitiva em 3 áreas: competências verbais, atenção e memória de curta duração, bem como nas funções executivas. O perfil farmacológico único da ziprazidona (alta afinidade para os receptores 5-HT1A, 1D e 2C, efeitos negligenciáveis nos receptores adrenérgicos α1, histaminérgicos e colinérgicos muscarínicos, a sua alta potência de inibição da recaptação da serotonina e da noradrenalina e o seu antagonismo para os receptores 5-HT2AD2) augura um efeito particularmente eficaz no funcionamento cognitivo dos doentes esquizofrénicos quando comparada com outros antipsicóticos. Contudo, este estudo, pelo facto de ser um estudo aberto, necessita de ser replicado com uma metodologia mais rigorosa. das hormonas da reprodução. Como controlos foram estudados 41 homens sem epilepsia e que não tomavam antiepilépticos. Os quadros clínicos dividiam-se por epilepsia parcial (33 sujeitos, 15 a tomar carbamazepina e 18 a tomar oxicarbamazepina) e por epilepsia generalizada (27 sujeitos, a tomarem valproato de sódio). Comparados com os níveis séricos dos controlos, os sujeitos epilépticos que tomavam carbamazepina apresentavam níveis séricos significativamente inferiores de deidroepiandrosterona e os sujeitos que tomavam valproato de sódio apresentavam concentrações séricas médias de androstenediona significativamente superiores. Nos sujeitos que tomavam oxicarbamazepina não havia diferenças, comparativamente com os controlos, das medições endócrinas. Por outro lado, nos homens com epilepsia foram encontradas múltiplas anomalias no sémen, estando todos os antiepilépticos associados com um aumento da frequência de anomalias morfológicas no esperma. Os homens que tomavam valproato de sódio apresentavam volumes testiculares menores e maior frequência de alterações no esperma, bem como menor mobilidade dos espermatozóides. Os que tomavam carbamazepina apresentavam maior frequência de concentração espermática baixa e de baixa motilidade dos espermatozóides. É certo que muitas destas alterações se podem dever à doença subjacente, mas o que se verifica é que os diferentes antivonvulsivantes apresentam efeitos diferentes. Os resultados indicam que estas medicações podem ter efeitos adversos na fertilidade masculina, mesmo nos doentes que tomem estes fármacos para outras doenças de tipo psiquiátrico. Isojärvi JIT et al.(2004), Neurology V62 Harvey PD et al.(2004), Schizophr Res V66 Antiepilépticos e função reprodutiva Antiepileptics and reproductive function Se os efeitos dos antiepilépticos sobre a função reprodutora feminina estavam bem documentados, o mesmo não acontece para esses mesmos efeitos no homem. Neste estudo, 60 homens que estavam a tomar medicação anticonvulsivante para a epilepsia, foram sujeitos a análises do sémen, a ultrassonografia testicular e a avaliações do volume testicular e dos níveis Psicoterapia e resposta neuroanatómica Psychoterapy and neuro-anatomic response Os efeitos da psicoterapia e dos fármacos antidepressivos nos doentes com diferentes formas de depressão são diferentes nos períodos iniciais do tratamento: enquanto que a psicoterapia afecta primariamente a ideação suicida e a disfunção psicossocial, os antidepressivos afectam primariamente os sintomas negativos. Este estudo revelou-se muito interessante, dado que os investigadores utilizaram dados dos PET scans para avaliar os efeitos da psicoterapia. A 17 doentes não tratados com depressão major, promoveram 15-20 sessões de terapia cognitivo-comportamental e identificaram padrões de mudança nos PET scans de 14 doentes que completaram com melhoria significativa do humor as sessões de terapia. Depois compararam esses scans com outros de um estudo anterior em 13 doentes com depressões unipolares que tinham respondido a 6 semanas de tratamento com paroxetina. O metabolismo regional cerebral ou a gravidade da depressão não diferia entre os dois grupos de doentes. Os resultados demonstraram que ambos os grupos diminuíram o metabolismo no córtice préfrontal ventral, mas o grupo de psicoterapia, ao contrário do da paroxetina, aumentou o metabolismo na região mediana do lobo cingulado e diminuiu nas regiões medianas préfrontais e posteriores da mesma região. Por sua vez, os doentes do grupo da paroxetina, mas não os da psicoterapia, aumentaram o metabolismo do tronco cerebral e do cerebelo e reduziram o metabolismo da insula e do lobo cingulado na região sub-geniculada. Por fim, os doentes do grupo da psicoterapia reduziram o metabolismo no córtice parietal inferior e préfrontal dorsolateral e aumentaram o metabolismo no córtice hipocâmpico , enquanto que o grupo de doentes com paroxetina apresentavam um padrão inverso a este. O aumento de actividade nas áreas límbicas e uma diminuição nas áreas corticais nos doentes em psicoterapia poderá indicar que a psicoterapia actua na modulação frontal dos afectos negativos alterando o processamento cognitivo negativo da informação, aumentando a atenção para a informação emocionalmente relevante e reduzindo as associações mal adaptativas. Por sua vez, os antidepressivos parecem reduzir primariamente a hiperactividade límbica e subcortical que altera os viés da resolução de problemas. Quer a acção “top-down” da psicoterapia, quer a acção “bottom-up” dos antidepressivos parece normalizar a relação entre os sistemas que interpretam e respondem à activação emocional e os que regulam a activação. Goldapple K et al.(2004), Arch Gen Psychiatry,V61 VOLUME VI Nº1 JANEIRO/FEVEREIRO 2004 57
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