Revista digital Angola-Yetu Nº 05 - Consulado Geral da República

Transcrição

Revista digital Angola-Yetu Nº 05 - Consulado Geral da República
ANO 2 - no 05 - AGO/SET 2014
PUBLICAÇÃO DO CONSULADO GERAL DE ANGOLA EM SÃO PAULO
VISITA DO
PRESIDENTE
Assinado acordo
que facilita viagens
de negócios entre
Brasil e Angola
ENTREVISTA
EXCLUSIVA
COM ÂNGELA
BRAGANÇA
Secretária de
Estado para a
Cooperação
ANGOLA E BRASIL:
PARCERIAS &
OPORTUNIDADES
Reflexão de Eduardo
Arantes Ferreira,
presidente da Câmara de
Comércio Angola Brasil
editorial
POR UMA REVISTA MAIS
PRÓXIMA DA COMUNIDADE
O objetivo de Angola Yetu é divulgar a realidade angolana e também um
pouco do que São Paulo oferece nos seus mais diversos aspectos sócio-econômicos e financeiros, num proveitoso intercâmbio de informação e
ideias. Em seus conteúdos informativos, este periódico também destaca assuntos que se prendem às actividades presidencial, ministerial e consular
do país, além de contemplar uma vasta gama de temas sobre a sociedade,
a globalização, cultura e desporto. E como se pode verificar nas edições
anteriores, nossa revista retrata também o dia-a-dia da comunidade angolana no Brasil, particularmente nos estados de São Paulo, Paraná, Santa
Catarina e Rio Grande do Sul, além de contribuir para o reforço da ligação
da cidadania angolana e o fortalecimento de parcerias entre Angola e Brasil
nos mais diversos domínios.
Outro exemplo de temas que nos preocupam é o tráfico de drogas e a
necessidade de evitar prisões de cidadãos angolanos, pugnando por uma
conduta em conformidade com a lei. E a revista actua, nesse sentido, inculcando na consciência dos membros da comunidade, particularmente a
residente e a que vem ao Brasil a negócios, que se abstenham de tal prática, mostrando as consequências negativas desse acto, que vão da prisão
até a possibilidade de ter o nome na lista
negra da Interpol, o que irá se reflectir
objectivamente na vida futura da pessoa,
mesmo depois do cumprimento da pena.
Estamos conscientes de que o caminho
é longo para apresentar uma publicação
de melhor qualidade, quer em conteúdo
quer na sua forma exterior, e para isso
mudamos o projeto gráfico - criamos uma
nova identidade visual, mais moderna,
mais organizada. Esse trabalho foi realizado para estarmos mais próximos da
comunidade angolana, dando voz a quem
não tem. Por isso mesmo, todo esforço
será envidado para pautar nosso trabalho pela qualidade da informação. É justamente nesse sentido que fazemos ao
caro leitor um convite para que teça suas
considerações, enviando à nossa redação
sugestões, criticas e comentários. Queremos com isso que Angola Yetu possa com
justiça ser chamada de “A Nossa Revista”.
CÔNSUL GERAL BELO MANGUEIRA
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sumário
PUBLICAÇÃO DO CONSULADO
GERAL DE ANGOLA EM SÃO PAULO
ANO 2 - no 05 - AGO/SET 2014
DIREÇÃO GERAL
Cônsul Geral: Belo Mangueira
Vice-cônsul: Alice Mendonça
ADMINISTRATIVA
Vice-cônsul da área consular: Isaú Boco
Vice-cônsul das comunidades: Alves Fernandes
REDAÇÃO
Editor-chefe: Flavio Carrança
Editor-assistente: Vasco Suamo
Repórteres: Danilsa de Almeida e Rudmira Fula
JORNALISTA RESPONSÁVEL:
Flavio Carrança MTb nº 12.724
PROJETO GRÁFICO & DIAGRAMAÇÃO
Júlia Melo - [email protected]
Para enviar sua sugestão de pauta,
artigos, críticas e elogios para a redação:
[email protected]
www.consuladogeraldeangolasp.net
actividade presidencial
» Presidente visita o Brasil durante a Copa 08
» Angola reforça amizade com Cuba 09
actividade ministerial
» Angola apoia paz na República Centro-Africana 10
» Angola garante recursos para paz nos Grandes Lagos 12
» Fórum une países africanos de lingua portuguesa 13
» Barack Obama recebe 42 líderes africanos 14
» Alemanha e Angola querem maior cooperação 14
» Proposta moratória a rebeldes do Congo 15
actividade consular
» Ângela Bragança visita o Brasil 16
» Comitiva vai a cidades do sul do país 22
» Consulado atende angolanos presos 27
» Cônsul agradece prisão de suposto assassino 29
economia
» Angola e Brasil Parcerias e Oportunidades 32
» ANGOLA presente na 15ª COTRIJAL 33
» Crescem vendas brasileiras para Angola 34
» País atrai investimento estrangeiro 34
» Balança comercial fecha 1º trimestre positiva 35
comunidade
» Estudantes na diáspora passam por adaptação 36
» Reflexão sobre Dia da Paz reúne angolanos 38
» Palanca Negra tem nova direção 39
cultura
» Cantora angolana ganha Troféu de Ouro 40
» “Njinga- Rainha de Angola” lota sala de exibição 41
desporto
» Governo quer multiplicar desportistas 42
» Melhor lutador de “Muay Thay” do Paraná é angolano 42
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cartas à redação
A revista é um projeto louvável, uma iniciativa boa, é interessante
saber que a comunidade também é parte disso, ou melhor, que resta
um espaço para abordar temas que nos retratam, que demostrem um
pouco de nós. Por outro lado, acho que deveria ser mais cultural e pouco
político, dá um ar de Jornal por conter mais informação referente ao que
acontece em Angola, queremos nos informar claro, mas aqui temos pessoas que poderiam ser pauta diária, acontecimentos e enfim, ainda existem pessoas reclamando por não serem vistas quando deveriam. Para
próxima edição espero mais sociedade, mais cultura e menos política.
LEOPOLDINA PEDRO, formada em Administração Empresarial, é
cabelereira e reside no Brasil há nove anos.
(...) Gostei da iniciativa, uma vez que tem como objetivos
principais trazer-nos informações das mais diversas áreas, de
modo a manter os angolanos na diáspora a par do que se está
a passar no nosso país. Achei bastante interessante a matéria
que destacou o investimento na área rural, uma vez que sempre foi um campo que teve de enfrentar múltiplas dificuldades
da adversidade. Muitos tiveram de lutar arduamente em condições de sobrevivência pelo sustento dos seus filhos e familiares, investimento merecido a essas mulheres guerreiras.
A possibilidade de o governo angolano criar um acordo com o
governo brasileiro com relação aos vistos, no sentido de possibilitar nossa estadia como estudantes até a conclusão de nossos cursos, podendo assim evitar certos constrangimentos que
temos passado na Polícia Federal, é um assunto que considero
pertinente para ser trabalhado e até abordado na revista.
MARIA JÚNIOR FERNANDO reside há seis anos no Brasil, estuda
Administração e trabalha no sector de recursos humanos.
Gostei da revista, minha qualificação para a mesma é dez por ser um projeto que visa focar interesse geral. Ela aborda política, desporto, cultura, sociedade, eventos juvenis e até paisagens da
terra, fiquei satisfeito ao visualizar o tema que retratou as sete maravilhas e mostrou a beleza natural do nosso país, foi uma maneira de os turistas conhecerem e até mesmo para nos situarmos.
Creio que a parte de entretenimento está boa, mas o interessante seria buscar mais o aspecto educação, oportunidades de emprego que podemos encontrar ao regressar, bolsas para os
jovens que estão em formação ou até mesmo para dar continuidade aos estudos, uma vez que
não tem sido fácil a estadia e a adaptação.
Eu e minha família desejamos que a revista continue, que esteja sempre interessada em
aproximar a comunidade aqui residente e que além de informar ela nos forme também.
HELDER ANDRÉ, 21 anos de idade, estuda Engenharia Civil e trabalha como atendente de caixa.
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angolaYetu
A revista é um excelente recurso midiático a
qual busca aproximar a comunidade e mantê-la
informada sobre os principais acontecimentos
relevantes entre Angola e Brasil.
Penso que a mesma abarca um universo
muito amplo, ou seja, esta deveria dar um enfoque maior na Comunidade de São Paulo, assim
como nos seus estudantes, trazendo informações de como esta comunidade interage ou se
relaciona com o Consulado de São Paulo, visto
que a mesma foi publicada pelo consulado supracitado. Acredito que também é de suma importância realizar e registrar mais actividades
consulares, como programas educativos, acções solidárias, bem como divulgá-las também.
Um dos temas que mais me chamou atenção foi à actividade consular, onde o Consulado
comemorou o “Dia das Nações Carandiru”, no
presídio feminino,
Para a próxima edição, sugeria a inserção de
conteúdos relacionados à Educação e Tecnologias da Informação, voltados para o contexto
angolano, com destaque no Ensino Superior,
assim como Programas para candidaturas a
bolsas de estudo, estágios, em suma, programas acadêmicos.
GILBERTO PATROCÍNIO, estudante de
Doutorado em Ciências Matemáticas
na Universidade Cruzeiro do Sul.
Achei a revista interessante por abordar temas da Comunidade Angolana no Brasil inclusive
dos estudantes. Fala também de assuntos actualizados da nossa terra de forma a nos manter
informados sobre os factos. Não tinha conhecimento da revista, fiquei sabendo por meio desta
entrevista e percebi que ela não fala só de política, mas também de entretenimento o que deixa
mais atraente e principalmente direcionado ao público jovem. Sugeria que a revista tivesse uma
coluna voltada à educação, que falasse um pouco da vida de estudante aqui no Brasil, seus sonhos e talentos como meio de engrandecer a nossa sociedade, em forma de um estudo de revelação, entrevistar pessoas talentosas que residem fora de Angola. Isso não só podia deixar a revista
atraente e sim fazer com que os nossos dirigentes saibam um pouco mais do nosso povo.
Gostei da coluna que fala de eventos realizados aqui referentes à nossa cultura e sobre a bienal do ano passado. Espero fazer uma assinatura desta revista para que eu possa acompanhar
as suas publicações e me manter informada.
LUCINEIDE FONSECA, estudante de Comunicação Social em Publicidade Propaganda e Moda.
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actividade presidencial
PRESIDENTE
VISITA O BRASIL
DURANTE A COPA
No encontro com José Eduardo dos Santos,
a Presidente Dilma Rousseff assinou tratado
que amplia para dois anos o visto de
negócios entre Brasil e Angola
A
tendendo o convite da
presidente Dilma Rousseff, o presidente de
Angola, José Eduardo dos Santos, visitou o Brasil para participar da cerimónia de abertura
da Copa do Mundo de Futebol,
realizada em São Paulo no dia
12 de junho. O chefe do poder
executivo angolano foi também
recebido no Palácio da Alvorada, em Brasília, capital do país.
Dilma Rousseff assinou com ele
diversos acordos que ampliam
a possibilidade de realização de
negócios entre os dois países.
Um dos tratados amplia
para dois anos o visto de negócios entre Brasil e Angola. De
acordo com o acto, empresários brasileiros que visitarem
Angola, assim como angolanos que vierem ao Brasil, não
precisarão renovar os vistos
quando forem viajar ao país
parceiro, desde que a autorização esteja dentro do prazo de
dois anos. O acordo ainda prevê que o visto seja de múltiplas
entradas, o que significa que
os representantes comerciais
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angolaYetu
não terão um limite no número
de viagens que poderão fazer,
desde que não fiquem mais de
três meses ininterruptos no
país de destino.
Durante a cerimônia, a Presidente Dilma disse que Angola e Brasil são países-irmãos,
que têm laços linguísticos
e culturais, mas sobretudo
étnico-históricos. Segundo o
Itamaraty, o Brasil foi o quarto principal abastecedor do
mercado angolano, tendo seu
intercâmbio comercial crescido quase 36 % entre 2009 e
2013. “Queremos destacar os
avanços de nossa cooperação
em matéria de defesa. A Força
Aérea Nacional de Angola adquiriu em 2009 seis aeronaves
Super Tucano, hoje já entregues”, disse Dilma.
Ao ressaltar o “importante
papel de Angola” na reconstituição democrática de países
africanos como a Guiné-Bissau, Dilma se disse satisfeita
em anunciar o apoio do governo brasileiro ao pleito angolano de, no próximo biênio
(2015-2017), ser membro do
Conselho de Segurança da
ONU. “Estou certa de que Angola poderá oferecer um olhar
atento e alternativas equilibradas aos atuais desafios da
paz e da segurança internacionais”, afirmou a Presidente.
No seu discurso, o Presidente angolano agradeceu o apoio
brasileiro e disse que também
faz votos de que o Brasil saia
vitorioso da candidatura para
sediar um evento internacional
de direitos humanos. Ao destacar a assinatura do acto, José
Eduardo dos Santos lembrou
que Angola é o terceiro parcei-
ANGOLA REFORÇA
AMIZADE COM CUBA
Depois de sete anos, José Eduardo dos Santos
volta a Cuba para reforçar os acordos que visam
enviar a Angola mais técnicos cubanos
especializados em saúde e educação
» “Venho a Cuba para estudar com os nossos irmãos cubanos,
JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS
agradeceu apoio à candidatura
de Angola ao Conselho de
Segurança da ONU
ro comercial do Brasil na África e que, com o acordo, espera
mais investimentos de empresários africanos no Brasil.
O Brasil foi o primeiro país a
reconhecer a independência de
Angola em 11 de novembro de
1975. Desde já, com o esforço
do executivo angolano, as relações bilaterais encontram-se estáveis. O primeiro acordo de cooperação econômica,
técnica e científica entre as
duas nações foi estabelecido
em 1980. E durante o mandato presidencial de Luís Inácio
Lula da Silva, surgiu uma parceria estratégica.
particularmente com o Presidente Raul Castro, todas as vias
possíveis para reforçar ainda mais estas relações.”, declarou à
imprensa o Presidente Angolano José Eduardo dos Santos, durante a visita a Havana realizada no mês de junho. “Angola e Cuba
são países irmãos com uma longa tradição de luta. Estamos aqui
para cooperar e melhorar cada vez mais estas relações de maneira que tenha uma incidência grande na melhoria da vida dos
nossos respectivos povos”, acrescentou o Chefe de Estado.
O Presidente chegou a Havana, procedente do Brasil, acompanhado pela Primeira Dama, Ana Paula dos Santos, e por membros
do executivo. Entre as actividades desenvolvidas pelo chefe do executivo angolano no país caribenho, teve destaque a deposição de
uma coroa de flores no monumento do herói nacional “José Marti”,
e o encontro com o presidente de Cuba, Raul de Castro.
José Eduardo dos Santos visitou também a Zona Especial de Desenvolvimento do porto Mariel, construída pela empresa brasileira
Odebrecht, também presente em Angola, e com financiamentos do
banco estatal brasileiro BNDES. Mariel é uma das prioridades do
governo cubano para atrair capitais estrangeiros, tecnologia, substituir importações e gerar exportações e novas fontes de emprego.
As relações diplomáticas entre os dois países se estendem por
mais de 30 anos, sendo caracterizadas, nos primeiros anos da
cooperação, por grandes contribuições cubanas principalmente
nas áreas de educação e saúde. Posteriormente, as cooperações
se estenderam para as áreas da cultura, desportos, indústria,
construção civil e obras públicas, transportes marítimos, pesca,
geologia e minas, petróleo, turismo e comunicação social.
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FOTO: JEROME DELAY/AP
actividade ministerial
ANGOLA APOIA
PAZ NA REPÚBLICA
CENTRO-AFRICANA
Delicada situação política no país torna urgente reconstruir
o Estado e reorganizar as forças armadas para consolidar
o processo de transição à democracia
A
contínua disposição de
Angola de apoiar o processo de Paz na República Centro-Africana (RCA)
foi reiterada pelo Ministro das
Relações Exteriores de Angola, Georges Rebelo Pinto Chikoti, na 5ª Reunião do Grupo
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angolaYetu
Internacional de Contacto sobre a RCA (GIC-RCA), realizada no início de julho em Addis
Abeba, capital da Etiópia. A
informação consta de nota à
imprensa enviada pelo Ministério das Relações Exteriores
à nossa redação.
Segundo o texto, a situação
política na RCA continua delicada, tornando urgente a reconciliação entre os centro-africanos
por meio do diálogo político, da
restauração da estrutura administrativa do Estado e da consolidação de seu próprio processo
de transição, com o desarmamento, a reforma das forças de
defesa e segurança, a reorganização das Forças Armadas,
assim como a realização de
eleições livres, justas, transparentes e democráticas.
Durante o encontro, Chikoti
disse que Angola, como membro da Comunidade Econômica
dos Estados da África Central
(CEEAC) e Presidente em exercício da Conferência Internacional para a Região dos Grandes
Lagos (CIRGL), tem contribuído
para ajudar a RCA a sair da actual crise que, pela sua dimensão e implicações, constitui
uma autêntica ameaça à paz e
segurança deste país e da sub-região, além de comprometer
os esforços de desenvolvimento
dos outros países integrantes
da CEEAC.
Para o chefe da diplomacia
angolana, os esforços que os
Chefes de Estado e de Governo da CEEAC têm desenvolvido
visam encontrar uma solução
duradoura para o fim do conflito na RCA e, ao mesmo tempo,
pedir maior apoio da comunidade internacional ao processo de transição em curso.
Entre as conclusões finais da
reunião, merecem destaque a
FOTO: FRED DUFOUR/AFP
Angola como membro
da CEEAC e Presidente
em exercício da CIRGL,
tem contribuído para
ajudar a RCA a sair
da actual crise
SITUAÇÃO POLÍTICA DELICADA torna urgente
a reconciliação entre os centro-africanos
realização de um Fórum para a
Reconciliação Nacional e diálogo político, em Brazzaville,
e o apelo dos participantes à
comunidade internacional para
que contribua no financiamento dessa e de outras actividades similares.
A cerimónia de abertura
da 5ª Reunião do GIC-RCA foi
marcada por discursos do Comissário-Chefe da Comissão
da Paz e Segurança da União
Africana, embaixador Smail
Chergui, do Secretario-Geral
Adjunto das Nações Unidas
para as Operações de Manutenção da Paz, Hervé Ladsous,
do Secretário-Geral da CEEAC,
embaixador Amed Allam-Mi,
do Primeiro-Ministro Chefe do
Governo de Transição da RCA,
André Nzapayéké, do Ministro
dos Negócios Estrangeiros e
da Integração Africana da República do Tchad, na qualidade
de presidente em exercício da
CEEAC, Moussa Faki Mahamat
e do Ministro dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação,
Basile IKouebe.
Também marcaram presença no encontro parceiros
internacionais do processo
de paz da RCA, como a União
Africana,União Europeia, Estados Unidos da América (EUA),
Canadá, Japão, Austrália, entre
outros países que têm contribuído com recursos financeiros
ou logísticos para apoio às atividades do Missão Internacional
de Solidariedade Centro Africana (MISCA).
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actividade ministerial
ANGOLA GARANTE RECURSOS
PARA PAZ NOS GRANDES LAGOS
Ministro das Relações Exteriores,
Anúncio foi feito pelo
Ministro das Relações
Exteriores, durante
visita a sete países
da região
GEORGES REBELO CHICOTI
»
Na qualidade de estado
membro e detentor da presidência da Conferência Internacional dos Grandes Lagos
(CIRGL), Angola contribuirá
com recursos para garantir a
execução do plano de ação estratégico dessa organização.
A afirmação é do Ministro das
Relações Exteriores, Georges
Rebelo Chicoti, e foi feita em
discurso realizado no encontro
que manteve com o Secretário
Executivo da entidade, Alphonse Ntumba, em Bujumbura,
capital do Burundi, no primeiro
semestre deste ano. Também
foram discutidos na reunião o
fim do conflito armado na República Democrática do Congo
e a busca de métodos para concretização da paz na República
do Sudão do Sul.
Angola é o actual presidente do Comitê Internacional da
CIRGL, organismo que reúne
representantes dos governos
de países da África Ocidental,
região considerada a mais populosa do continente africano e com grande potencial em
recursos naturais. Além de
Angola, fazem parte da CIRGL
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angolaYetu
Burundi, República Centro Africana (RCA), República do Congo, República Democrática do
Congo (RDC), Quénia, Uganda,
Rwanda, Sudão, Sudão do Sul,
Tanzânia e Zâmbia.
O plano de ação da CIRGL
prioriza acções pela paz e segurança e também o desenvolvimento democrático, econômico e a integração regional. Mas
o programa ainda tem como
focos questões humanitárias e
sociais, como a inclusão de gênero, a solução de problemas
da juventude e do meio ambiente, a luta contra o genocídio, o julgamento dos crimes de
guerra, o fim dos crimes contra
a humanidade e da discrimi-
nação. Chicoti assegurou que
a quantia a ser doada para o
alcance desses objetivos - cujo
valor não foi divulgado - será
usada com a devida parcimônia.
O secretário executivo da
CIRGL, Alphonse Ntumba, disse que a viagem do Ministro
Georges Chicoti aos sete países
da região Central dos Grandes
lagos demonstrou a determinação de Angola em elevar e valorizar a presidência da CIRGL.
Ntumba ressaltou o empenho
do Estado angolano na região,
acrescentando que a atitude do
Presidente em exercício da CIRGL, José Eduardo dos Santos,
dará um novo rumo e eficiência
à organização.
FÓRUM UNE PAÍSES AFRICANOS
DE LINGUA PORTUGUESA
A Declaração constitutiva do Fórum dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa
(Palop) fixa como principais objetivos do novo organismo a busca de posicionamentos
comuns em questões internacionais ou de interesse de cada um dos Estados Membros
e o aprofundamento das relações de amizade e de ajuda mútua
» Os cinco países africanos da língua oficial por-
tuguesa (Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe) constituíram,
durante reunião realizada no final de junho na capital angolana, o “Fórum Palop”, para dar maior
afirmação aos interesses desta entidade que funciona informalmente há vários anos.
A reunião, que elegeu o chefe de Estado angolano José Eduardo dos Santos para presidir o
Fórum até 2016, apelou à comunidade internacional para que dê apoio à realização de programas de desenvolvimento e à criação de um fundo de emergência para a Guiné Bissau, país que
realizou no início de junho eleições presidenciais
consideradas justas e transparentes, ganhas
pelo Presidente José Mário Vaz. O fórum também
acolheu a disponibilidade de Cabo Verde para re-
ceber a próxima cimeira dos chefes de Estado e
de Governo dos Palop, prevista para 2016.
Depois de analisar a situação política nos países integrantes do bloco, os participantes manifestaram a sua satisfação pelo actual nível das
relações políticas e de cooperação, mas afirmaram estarem preocupados com as situações de
conflito que prevalecem em alguns países do
continente africano e a com crescente ameaça do
terrorismo internacional em Africa.
Além disso, recomendaram a revisão dos acordos e protocolos de cooperação existentes entre
os cinco países membros, bem como a identificação de outras áreas de cooperação futura, com
particular realce para a vertente empresarial,
tendo em vista reforçar os programas que girem
em torno dos objectivos comuns e partilhados.
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actividade ministerial
BARACK OBAMA RECEBE
42 LÍDERES AFRICANOS
AMANDA LUCIDON / WHITE HOUSE
Presidente dos Estados Unidos defende novo
modelo de parceria com a África e anuncia
mais investimentos no continente
» Uma delegação liderada
pelo vice-presidente da República Manuel Domingos
Vicente representou Angola na Cúpula de Líderes dos
EUA-África, realizada em Washington na primeira semana de agosto. Em declaração
oficial dirigida ao encontro,
o governo afirmou que “Pelo
seu papel e importância no
Continente africano e no
mundo, Angola é um parceiro estratégico dos EUA. Razões históricas, interesses e
preocupações comuns de Paz,
segurança e desenvolvimento
neste mundo global vão continuar a construir uma base
forte e politicamente pragmática para um reforço cada vez
14
angolaYetu
maior das relações bilaterais
entre Angola e os EUA.”
Já o presidente norte-americano, Barack Obama, em
discurso realizado durante o
evento, se queixou que “nosso comércio com toda a África
equivale ao que temos com o
Brasil sozinho”. Obama anunciou um novo fundo de US$ 12
bilhões para ampliar o programa Power África, de acesso à
energia elétrica - que pretende
levar luz a 60 milhões de lares e defendeu um novo modelo de
parceria com África com vantagens recíprocas: “Precisamos
de mais africanos consumindo
produtos americanos e de mais
americanos consumindo o que
a África produz”, afirmou.
ALEMANHA
E ANGOLA
QUEREM MAIOR
COOPERAÇÃO
Encontro de ministros
das relações exteriores
fortalece laços entre
os dois países
»
“Angola e Alemanha têm excelentes relações, com perspectivas para melhoria e enorme
potencial de desenvolvimento”,
disse o ministro das relações
exteriores da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, durante visita que realizou a Angola em março deste ano.
Um dos principais objetivos da
viagem do diplomata alemão foi
o aprofundamento das relações
entre os dois países no âmbito
empresarial, tema que esteve
na pauta de reunião que realizou
com o ministro das relações exteriores de Angola, George Chicoti.
A agenda de Steimeier em
Luanda incluiu ainda a realização de um fórum empresarial,
que serviu para facilitar a aproximação entre proprietários e
dirigentes de empresas dos dois
países, como forma de estímulo a que invistam sem nenhum
constrangimento. Actualmente,
cerca de 20 empresas alemãs
funcionam em Angola.
Depois do encontro com Chicoti, o ministro foi recebido em
audiência pelo chefe de estado
angolano, José Eduardo dos
Santos, com quem conversou
sobre a região dos Grandes Lagos e o conflito na Ucrânia.
PROPOSTA MORATÓRIA A
REBELDES DO CONGO
Ministros dos estados membros da Comunidade dos Países da África Austral
(SADC) e da Conferência Inter-regional sobre a Região dos Grandes Lagos
(CIRGL) decidiram apresentar uma moratória para que os rebeldes da FDLR,
na República Democrática do Congo - RDC, possam dar provas do seu
interesse no processo de desarmamento
»
A decisão foi divulgada depois de reunião ministerial
conjunta entre a SADC e a CIRGL realizada na capital angolana no início de julho, pelo seu
co-presidente, Georges Chikoti, Ministro angolano das Relações Exteriores. Segundo ele, a
percepção dos participantes foi
de que as forças negativas da
região foram de algum modo
neutralizadas, mas que ainda
existe o problema das Forças
Democráticas pela Libertação
de Ruanda (FDLR), uma milícia
hutu que apresentou livremente a proposta de sua rendição e
desarmamento.
“Os resultados desta rendição não são suficientes, porque
até agora foram apenas 200
pessoas que se renderam, mas
no entanto as estados membros
consideraram que isso pode ser
aceitável”, disse à imprensa o
Ministro. Acrescentou, no entanto, que foi fixado um prazo
de três meses para um novo
encontro de avaliação. “Durante o qual, vamos decidir o
que pode ocorrer nos próximos
tempos caso não se registem
progressos neste sentido, portanto será feito um balanço até
Vista aérea da cidade
de UVIRA, CONGO
a próxima Cimeira, que ocorre
dentro dos próximos seis meses”, acrescentou.
Chicoti explicou que esta foi
a primeira reunião depois da
Cimeira da África do Sul, realizada no final do ano passado.
“Nela tentamos atender àquilo que eram as preocupações
dos chefes de Estado relativas
à questão da consolidação da
paz no leste da RDC”, explicou.
Disse ainda que os ministros
olharam para todas as operações até hoje desenvolvidas,
bem como os resultados militares ocorridos em termos políticos e o que isso representa
para a Região dos Grandes Lagos e da SADC.
15
actividade consular
ÂNGELA BRAGANÇA
VISITA O BRASIL
Durante a realização da Copa do Mundo de futebol, esteve no Brasil
a Secretária de Estado para a Cooperação do Ministério das Relações
Exteriores de Angola, Ângela Bragança. Além de acompanhar
o torneio, ela realizou, entre outras atividades, uma visita às futuras
novas instalações do Consulado Geral de Angola em São Paulo
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angolaYetu
N
o decorrer da visita, a Secretária concedeu à Angola Yetu uma entrevista exclusiva em que fala sobre os recentes acordos assinados por Angola e Brasil para facilitar
o fluxo de negócios entre os dois países; indica
também os caminhos que o governo angolano
vislumbra e de que forma está actuando para
tornar sustentável o ciclo virtuoso de desenvolvimento vivido pela economia do país; e explica
ainda os motivos pelos quais se justifica o desejo
do governo de que Angola de que o país venha a
ocupar o posto de membro não permanente do
Conselho de Segurança da ONU.
Com mestrado em relações internacionais
feito em Portugal, Ângela Bragança foi, durante
a década de 1980, dirigente da organização da
juventude do MPLA, tornando-se uma das personalidades mais emblemáticas de sua ala feminina. Eleita deputada para a Assembleia Nacional pela mesma sigla, exerceu o mandato de
1992 a 2012, ano em que foi convidada a ocupar
o cargo que exerce no momento. É casada com o
actual embaixador de Angola na Itália, Florêncio
Mariano de Almeida.
ANGOLA YETU - Recentemente, por ocasião
da vista de nosso presidente ao Brasil, a
Presidente Dilma manifestou seu apoio à
candidatura de Angola à posição de membro
não permanente no Conselho de Segurança
da Organização das Nações Unidas (ONU). Por
que motivos o país se colocou tal propósito e
por que essa pretensão se justifica?
Angola já esteve no Conselho
de Segurança como membro não permanente,
mas numa realidade completamente diferente
de hoje. Nosso país tem agora a experiência do
processo de pacificação, de coesão nacional e de
crescimento. E por outro lado um processo de
pacificação que é único, por isso mesmo exemplar, e que granjeou a admiração do mundo. Ao
assumir a presidência da conferência internacional dos Grandes Lagos, Angola tentou galvanizar
todos os elementos inerentes a estes processos,
que podem muito bem servir de exemplo para
ÂNGELA BRAGANÇA -
os demais, e pretendeu incorporar nesta presidência a tentativa de resolver, de dar um impulso
grande à pacificação da região. E, no quadro da
nossa candidatura, queremos utilizar os sucessos desta presidência activa, que é desenvolvida
não só no plano da região, no diálogo, na concertação politica com os demais chefes de Estado da
região, mas também com elementos preponderantes da politica externa no mundo, para fazer
o vínculo entre a situação da região e aquilo que
pretendemos que seja o respaldo ao nível mundial, porque de certa forma há conexão entre estas duas dimensões.
Queremos levar ao Conselho
de Segurança a experiência da
pacificação, da importância do
diálogo político e da concertação
política para a estabilidade e a
segurança mundiais (...)
ANGOLA YETU - E que resultados o governo de
Angola espera obter caso alcance esse objetivo?
Ao apresentarmos a nossa
candidatura, nós queremos levar ao Conselho de
Segurança a experiência da pacificação, da importância do diálogo político e da concertação política para a estabilidade e a segurança mundiais,
e levar também ao Conselho uma outra imagem
de África: uma África de paz, uma África de desenvolvimento, uma África de luta pelo crescimento e
uma África que quer cooperar, que quer interagir.
Quer sobretudo fazer aquilo que Sua Excelência
Presidente da República disse ainda há dias no
Brasil - quando conversou com os diplomatas
africanos: fazer com que as nossas matérias primas sejam transformadas no nosso continente.
Portanto, é esta África diferente que nós queremos partilhar no Conselho de Segurança como
candidatos. E por isso estamos a dialogar. Já te-
ÂNGELA BRAGANÇA -
17
actividade consular
mos, como sabem, o respaldo da União Africana
e através dela todos os Estados africanos; e estamos a obter outras promessas de apoio em uma
grande parte dos países do mundo, e pensamos
que é já uma rodada definida.
ANGOLA YETU – De que forma o governo actua
para conseguir os apoios necessários?
organizar a nossa candidatura, existe um grupo que é coordenado
pelo Secretário de Estado das Relações Exteriores Manuel Augusto - diplomata chefe deste
ministério - que integra a estrutura da nossa
missão permanente em Nova York e que, independentemente de aproveitar todas as oportunidades em eventos internacionais, tem estado
a fazer contatos directos com países, principalmente da região do Pacifico, com os quais
normalmente nós temos mais dificuldade de
diálogo, pela distância que nos separa do ponto
de vista geográfico. Portanto, há uma actividade muito intensa. A par da nossa presidência da
Conferência dos Grandes Lagos, é a prioridade
também da nossa política externa.
Ao longo dos 12 anos de paz,
Angola desabrochou. E o fez
sobretudo para o mundo, dando
a esperança de uma cooperação
diferente, que não é a cooperação
militar, que antigamente existia
ÂNGELA BRAGANÇA - Para
economia de Angola está
entre as que mais se desenvolvem em África. O
modelo econômico que gerou esses resultados
está servindo de exemplo para outros países
do continente?
ANGOLA YETU – De que maneira o governo
pretende actuar a fim de que esse interesse
despertado por nossa economia junto aos
investidores estrangeiros gere resultados que
permaneçam em Angola, que beneficiem o
conjunto de sua população?
ÂNGELA BRAGANÇA - Ao
ÂNGELA BRAGANÇA -
ANGOLA YETU – A
longo dos 12 anos de paz,
Angola desabrochou. E o fez sobretudo para o
mundo, dando a esperança de uma cooperação
diferente, que não é a cooperação militar, que antigamente existia. Obrigou inclusive a redimensionar objetivos. E nós os temos muito claros, estão no nosso Plano Nacional de Desenvolvimento
para o período de 2013/2017, que no fundo é a
concretização do programa de governo que foi
apresentado nas eleições, programa do partido
maioritário, que está a ser desenvolvido, e que
tem atraído uma grande parte de interesses estrangeiros. Hoje, nós temos a necessidade quase
de parar, pedir para parar, porque todos os paí-
18
ses, empresas e grandes grupos também querem
ir a Angola, querem conhecer Angola, realizar
negócios com Angola. A par daquilo que tem sido
a nossa relação institucional com os diferentes
países, estamos a privilegiar também a atração
do investimento estrangeiro. Reparem que hoje
nós temos tido delegações que têm duas vertentes: a política, que normalmente coordena as delegações, mas a grande componente econômica
é suportada pela parte empresarial. Recebemos
ligações de vários países, temos feito fóruns econômicos, no nosso país e em outros onde temos
missões diplomáticas, para mostrar Angola.
angolaYetu
Estamos a tentar interagir as
empresas estrangeiras com as nacionais, para
poder dar alento a uma prioridade do nosso desenvolvimento, que é a diversificação econômica. É objetivo do governo retirar a dependência da
nossa economia do petróleo, porque isso não traz
sustentabilidade. É um produto vulnerável a situações de flutuação externa. Nós verificamos agora,
com a guerra do Iraque houve algum incremento,
mas também há momentos de baixa, portanto não
é sustentável e a economia não pode funcionar e
ser gerida com um produto que é tão volátil. Por
isso mesmo, o governo aposta agora no desenvolvimento agrícola; estamos a fazer grandes apostas
Na visita ao novo prédio do Consulado,
ÂNGELA BRAGANÇA se encontrou com a autora
do projeto, arquiteta ADRIANA YOSIMURA
na agroindústria e também na criação de polos industriais, com prioridade para aquelas áreas que
vão permitir maior oferta de empregos. Por outro
lado, a indústria petrolífera não é uma grande seara
de empregos, porque ela é muito especifica, especializada, automatizada, com tecnologia de ponta.
ANGOLA YETU – Na sua opinião, o que é preciso
fazer para que essas alternativas se viabilizem?
Nós temos que ter fábricas
e, neste domínio, estamos a criar os suportes, as
infraestruturas de energia, por que não é possível termos uma indústria florescente se não tivermos energia. Estamos também a desenvolver
o projeto de água e saneamento. Portanto, é todo
um movimento em torno da criação de infraestruturas que vão permitir criar as bases para um
desenvolvimento mais consentâneo com os objetivos que nós temos - suportados quer na Constituição, quer no programa de desenvolvimento
- que é melhorar a qualidade de vida da população, mas também criar condições para que haja
empreendedorismo e desenvolvimento de opções
que permitam a cada momento ir resolvendo o
emprego. E queremos um emprego melhor - não
um emprego que dê condições, por exemplo, que
não permitam uma família realizar a educação -,
que dê condições para prestar uma melhor oferta
em termos também de saúde, de condição social
de habitação etc. Esta é a grande aposta, aposta
de diversificação, porque nós criamos parâmetros
ÂNGELA BRAGANÇA -
anteriormente que assim o permitem. E um deles é a estabilidade macroeconômica, que permite
hoje Angola criar bases para receber investimento
estrangeiro, realizar a diversificação econômica e
estimular o empreendedorismo, seja directo ou
através de parcerias público-privadas.
ANGOLA YETU – Angola
e Brasil parecem
ter uma parceria estratégica importante.
O que ela significa?
ÂNGELA BRAGANÇA - O Brasil foi o primeiro país que
reconheceu Angola e isto tem fundamento na relação histórica, tradicional, laços fortes que existem
entre os dois países e, há alguns anos atrás - isso
foi inclusivamente alvo de uma rectificação na Assembleia Nacional - Angola aprovou uma Declaração de parceria estratégica com o Brasil. Uma
parceria que já se desenvolve em vários domínios.
19
actividade consular
No sector energético com muita intensidade, seja
na área petrolífera, na construção das grandes
barragens hidroelétricas, no sector da construção.
Também no âmbito das trocas financeiras, o Brasil
é um dos países que tem apostado na abertura de
linhas de crédito e cremos que, muito recentemente, na visita do Presidente José Eduardo dos Santos, há mais uma abertura de uma linha de credito
forte com o Brasil. E eu penso que há um elemento
importante a considerar em tudo isso: Angola tem
que aproveitar mais as oportunidades desta cooperação com o Brasil para aumentar as capacidades das suas empresas, trocando know how, por
que nós, numa parceria estratégica, não podemos
vê-la apenas no âmbito do comércio, da troca, de
uma troca que não é tão biunívoca. Nós temos que
torná-la biunívoca, mas para isso é preciso que Angola possa gerar elementos, no âmbito do proces-
so de diversificação, que permitam criar este dar
e receber de uma maneira mais intensiva com o
Brasil. Deve tornar estes laços mais perenes, mais
sólidos, através de projectos e de acções que criem
esta robustez ao nível das duas economias.
Angola tem que aproveitar mais
as oportunidades desta cooperação
com o Brasil para aumentar as
capacidades das suas empresas,
trocando know how, por que nós,
numa parceria estratégica, não
podemos vê-la apenas no âmbito
do comércio, da troca, de uma troca
que não é tão biunívoca.
ANGOLA YETU – Durante a recente visita do
Presidente José Eduardo dos Santos ao Brasil,
a Presidente Dilma Roussef e ele assinaram um
acordo que facilita a obtenção de vistos para
viagens de negócios. Em que medida isso deve
facilitar essa parceria?
Para a
Secretária,
NOVOS
ACORDOS
aperfeiçoam
parceria
Brasil/Angola
20
angolaYetu
ÂNGELA BRAGANÇA - Foi assinado um acordo no
domínio da facilitação de vistos, por que de facto
havia algumas queixas no setor empresarial sobre
a multiplicidade de vistos que precisavam, sempre que tivessem que se deslocar a Angola. Isso dá
maior leveza, maior fluidez, dá maior proximidade,
por que não cria obstáculos e vai permitir, com
certeza, fazer com que esta nossa parceria estratégica seja desenvolvida com maior naturalidade.
Temos feito um apelo às nossas empresas nacionais: que sejam de facto empresas, que sejam ousadas, que lutem para que se criem sinergias, seja
ao nível de joint ventures ou de outros tipos, que
permitam esta robustez, de criação de grandes
grupos empresariais que possam sobretudo competir. Por que um dos grandes objetivos do programa do governo é inserir a economia angolana no
contexto da economia internacional. Para isso, é
preciso que tenhamos empresas e, de fato, uma
economia que tenha condições para esse objetivo.
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actividade consular
COMITIVA VAI A
CIDADES DO SUL
DO PAÍS
Equipe leva serviços do Consulado a angolanos
residentes no Paraná e em Santa Catarina e promove
comemoração da paz alcançada em 2002
22
angolaYetu
C
onfraternizar com as comunidades angolanas dos dois estados comemorando o Dia
da Paz, estreitar os laços com autoridades e
empresários locais e regularizar a documentação
dos angolanos neles residentes foram os principais
objetivos da viagem realizada, no início de abril, por
uma comitiva do Consulado Geral de Angola em
São Paulo, encabeçada pelo seu titular Embaixador
Belo Mangueira. O Consulado de São Paulo tem jurisdição também sobre os estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, que possuem uma
das maiores comunidades angolanas do Brasil.
A comitiva consular chegou a Curitiba, capital
do Estado do Paraná, na tarde do dia 5 de abril
e à noite se reuniu com a comunidade angolana
local para comemorar o Dia da Paz em Angola, 4
de Abril, data em que no ano de 2002 foi assinado
o acordo entre as Forças Armadas de Angola e
a facção armada do partido Unita, que pôs fim à
guerra civil, tornando-se uma data consagrada à
Paz e à Reconciliação Nacional.
A comitiva consular chegou
a Curitiba e se reuniu com a
comunidade angolana local
para comemorar o Dia da Paz
em Angola. Tendo como lema
“Pela paz nacional, consolidemos
a democracia”, o jantar de
confraternização foi aberto com o
Hino Nacional Angolano
Tendo como lema “Pela paz nacional, consolidemos a democracia”, o jantar de confraternização, realizado no restaurante Espeto Dourado, foi
aberto com o Hino Nacional Angolano. A programação contou com a presença do presidente da
Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Angola
do Paraná, Simão Grilo dos Santos, e do pastor
angolano Ngangula Miguel de Sousa que orou
pedindo a presença divina na festividade.
A confraternização foi também uma oportunidade para a comunidade local, formada em grande parte por estudantes, expor suas dificuldades,
tendo o Consulado Geral aproveitado para resolver problemas como renovação de passaporte,
inscrição consular, retirada de certidão de nascimento e de casamento, sem necessidade de pagamento de qualquer taxa.
Durante o encontro, que terminou com um jantar e dança ao som do DJ angolano Dominique
Mayasse, o estudante Helder Mbala, secretário
da Associação da Comunidade Angolana no Estado do Paraná, disse que a ideia da viagem da
comitiva ao estado “foi bem vinda, já que evita a
ida a São Paulo para tratar desses documentos,
atendendo às dificuldades financeiras que estudantes e outros cidadãos nacionais têm para cobrir o transporte, alimentação e alojamento”.
As comemorações do Dia da Paz em Florianópolis, capital catarinense, foram marcadas por
actividades culturais realizadas no Hotel Blue
Tree Towers. Cinco estudantes fizeram intervenções poéticas e musicais. Luísa Filho declamou
“Anseio pela liberdade”, poesia que retrata os
frutos dessa conquista, enquanto a estudante
angolana Luisa Epalanga e o ganense Salomon
Amoah entoaram uma música sul africana. Ana
Epalanga também cantou a música Malaika, de
Miriam Makeba, e declamou a poesia “Eu me levanto”, de Maya Angelou, poeta e activista negra
norte-americana recentemente falecida.
Ainda em Santa Catarina, o Cônsul Geral Belo
Mangueira participou do programa Floripa em
Foco, da TV Floripa, onde foi entrevistado pelo
apresentador brasileiro Silvio Smaniotto, e pelo
jornalista angolano Fernando Camuaso Segunda,
um dos cidadãos com deficiência visual que chegaram ao Brasil em 2001, beneficiados por uma
bolsa de estudo da Fundação Eduardo dos Santos
(Fesa). Tendo terminado seus estudos em 2010,
dirige atualmente a Rádio Camuaso, emissora
que retrata a realidade de Angola e sua cultura.
MUITOS ATENDIMENTOS
Um importante saldo dessa iniciativa do Consulado Geral de Angola em São Paulo foi a efectiva resolução de questões referentes à regulari-
23
actividade consular
Serviços consulares foram colocados á
disposição das COMUNIDADES VISITADAS
zação de documentos angolanos, como inscrição
consular, renovação de passaportes, transcrição
de assentos de nascimento, visto que alguns cidadãos se encontram no Brasil há muitos anos,
sem se deslocarem a Angola. Para isso, foi utilizado em Curitiba o salão do Instituto Superior
Camões, onde foram atendidas 57 pessoas, das
quais 53 de Curitiba e quatro de Londrina, cidade
do interior paranaense.
Gerson Tomás, que vive no Brasil há mais de
uma década e coabita maritalmente com uma
brasileira que espera um filho, aproveitou a
ocasião para tirar a Declaração de Capacidade
Matrimonial, documento que permite realizar o
casamento civil. “Eu estava muito preocupado,
o nosso filho nascerá daqui a três meses e não
queria que ele chegasse sem estarmos casados
no civil. Graças a Deus, o Consulado veio até aqui
e me ajudou a resolver um problema que me tirava o sono”, declarou.
Outro cidadão angolano, Miguel Canga, que
reside no Paraná há mais de 14 anos, conta que
estava sem nenhum documento de seu país e
que tinha como única identificação a carteira de
trabalho brasileira. Por conta disso, não conseguia registrar os três filhos que teve no Brasil.
24
angolaYetu
“Achei muito boa a iniciativa que o Consulado
teve de vir até a comunidade. Estou no estado
há mais de 14 anos e nunca recebemos uma
visita consular. Agora que tratei o meu passaporte, vou poder registrar os meus filhos, estou
muito feliz”, ressaltou.
No encontro com a comunidade de Santa
Catarina, estiveram presentes estudantes de
Florianópolis, Joinville e Blumenau, aos quais
foram apresentados os objetivos da visita da comitiva do Consulado Geral e ouvidos os relatos
sobre os principais problemas enfrentados, que
são basicamente os mesmos apontados pelos
angolanos do Paraná. Na sequência da confraternização do Dia da Paz, aqueles que tinha necessidade desse serviço, puderam providenciar
seus registros consulares e regularizar documentos pessoais nacionais.
Um importante saldo dessa
iniciativa do Consulado Geral
de Angola em São Paulo foi a
efectiva resolução de questões
referentes à regularização de
documentos angolanos
COMUNIDADE DE ESTUDANTES
O predomínio de estudantes na população angolana do Paraná e de Santa Catarina foi perceptível nos encontros com as comunidades.
Exemplo disso, foi constatado pela comitiva na
cidade de Criciúma, onde foi realizada uma visita à Universidade Extremo Sul Catarinense
(UNESC), instituição com o maior número de
estudantes angolanos na cidade. A recepção foi
feita pelo Magnífico Reitor Professor Gildo Volpado, que afirmou estarem regularmente matriculados na instituição 105 alunos angolanos,
entre bolsistas da empresa Sonangol e os que
vieram por conta própria.
Chamou a atenção dos diplomatas o facto
de que os estudantes angolanos ocupam um
O vice-governador do
Paraná FLÁVIO ARNS em
encontro com o Cônsul
Geral BELO MANGUEIRA
lugar privilegiado entre os estudantes estrangeiros, com um bom nível de aproveitamento,
recebendo expressivos elogios da direção da
Universidade. Financiada por recursos públicos, a UNESC está em fase de expansão,
criando novos cursos e se consolidando como
a principal instituição universitária da cidade,
com uma parceria com Angola que se estende
por mais de uma década.
CONTACTOS COM
AUTORIDADES BRASILEIRAS
No Paraná, a comitiva angolana foi recebida
pelo vice-governador do Estado, Flávio Arns, a
quem foram retransmitidas as dificuldades da
comunidade angolana no Estado, recebendo
dele a promessa de ajuda para obtenção dos
pleitos apresentados. Arns também comentou
que sempre esteve atento às comunidades africanas, em particular aos angolanos. E lembrou
da ajuda que o governo estadual oferece aos estudantes deficientes visuais provenientes de Angola, que estão nesse Estado desde 2001, recordando ainda uma festa organizada pelo governo,
durante a qual o grupo dos deficientes visuais
angolanos fez uma apresentação cultural.
Ainda na capital paranaense, o Embaixador
Belo Mangueira, o vice-cônsul Alves Fernandes
e o senhor Simão Grilo dos Santos visitaram
a Secretaria dos Assuntos Internacionais na
prefeitura, onde foram recebidos pela diretora
do Departamento de Relações Internacionais,
Rosane Fante G. Kupka, e por Mônica Maria M.
Nasser, conselheira e chefe do Escritório de
Representação do Ministério das Relações Exteriores no Paraná (EREPAR). O Cônsul agra-
25
actividade consular
deceu a recepção e elogiou o planejamento
urbano de Curitiba, cidade que, segundo ele,
permite alta qualidade de vida e oferece um
óptimo sistema de ensino.
A comitiva consular esteve também na Delegacia Regional da Polícia Federal do Paraná, onde
foi recebida pelos delegados regionais José Washington Luiz e Igor Romário de Prova, responsável pelo combate ao crime organizado, além do
diretor do Departamento de Imigração e Estrangeiros, Renato Lima. A visita foi importante uma
vez que a Polícia Federal é um dos organismos
mais solicitados pela comunidade angolana, não
só para a obtenção do documento de Registro
Nacional de Estrangeiro (RNE) como para a renovação de sua permanência no Brasil.
No encontro, o Cônsul Geral exprimiu as preocupações da comunidade, particularmente a estudantil, e foi informado que não existe nenhum
cidadão angolano detido no estado: “Angola é
bem representada no Paraná. A comunidade angolana é a mais comportada das comunidades
estrangeiras, pois não soma nenhum boletim de
ocorrência”, afirmou o delegado Renato Lima.
Angola é bem representada no
Paraná. A comunidade angolana é a
mais comportada das comunidades
estrangeiras, pois não soma nenhum
boletim de ocorrência
- DELEGADO RENATO LIMA
Situação similar foi constatada pela comitiva em Florianópolis, durante visita à sede local
da Polícia Federal, onde foi recebida pelo Superintendente Regional Cleyton Eustáquio Xavier, que assegurou: “A comunidade angolana
no Estado não tem sido uma preocupação da
polícia”. De acordo com ele, isso ocorre talvez
porque os angolanos são na maioria estudantes, centrados na vida escolar, que não geram
preocupações ao Estado.
26
angolaYetu
ENCONTRO COM EMPRESÁRIOS
Um grupo de empresários do Estado do Paraná
que preparava uma viagem de prospecção comercial e empresarial a Angola ofereceu ao cônsul Belo
Mangueira e sua comitiva um jantar em um dos
melhores restaurantes da cidade. No encontro, receberam informações sobre a política de concessão
de vistos para actividades de investimento privado,
assunto de grande utilidade para o grupo.
O interesse de empresários brasileiros por Angola foi assunto também em Santa Catarina, durante a visita que a comitiva consular realizou ao
Centro Administrativo do governo do Estado, onde
foi recebida pelo diretor interino Marcelo Trevisani. “Os empresários catarinenses – disse o diretor - estão interessados em fazer investimentos
em Angola, principalmente no sector agrícola”.
Segundo ele, alguns acordos só não foram celebrados por causa da dificuldade na obtenção dos
vistos, recebendo da equipe informações sobre
a intenção do Consulado Geral de agilizar esse
processo para permitir mais investimentos nas
diferentes áreas da vida económica do país
A comitiva consular foi também integrada pelo
vice-cônsul dos Assuntos Consulares Isaú Boco,
o vice-cônsul para a Comunidade Alves Fernandes, o agente consular Domingos Buanga, a secretária consular Sonia Tavares, e o assistente
consular Filomeno Matias.
REPORTAGEM DE VASCO SUAMO
[email protected]
CONSULADO ATENDE
ANGOLANOS PRESOS
Visita a presídios dá continuidade a trabalho de sensibilização contra
o tráfico de drogas, que tem ajudado a diminuir o número de cidadãos
angolanos aprisionados por terem cometido esse tipo de crime
O
clima indesejável, triste e muitas vezes frio,
existente entre as angolanas encarceradas
na Penitenciaria Feminina da Capital (Carandiru) foi quebrado numa manhã de abril com
a visita de representantes do Consulado Geral de
Angola em São Paulo. O encontro ocorreu no auditório do presídio, onde o chefe da missão consular,
embaixador Belo Mangueira, transmitiu saudações
do governo angolano. O diplomata estava acompanhado do pessoal do Consulado Geral. Actualmente estão encarceradas naquele presídio por tráfico
internacional de drogas 33 angolanas, que durante
a visita receberam cobertores e roupas de inverno.
SENSIBILIZAÇÃO PREVENTIVA
Para ajudar a diminuir o problema, o Consulado
de São Paulo, em parceria com a empresa Linhas
Aéreas de Angola (TAAG), trabalha na sensibilização dos cidadãos para que não recebam encomendas no aeroporto, visto que muitas mulheres foram
presas em flagrante no momento do check-in.
Caso que ocorreu, por exemplo, com a comerciante Maria Luzolo (nome fictício), depois de receber
um pacote nas mãos de um cidadão angolano. O
rapaz disse que eram medicamentos para controlar
a pressão arterial da sua mãe e que, ao chegar em
Luanda, uma irmã pegaria a encomenda.
27
actividade consular
Depois de muito negar, Maria aceitou fazer o
transporte. Mas, ao chegar no check-in, a polícia a abordou dizendo que havia recebido uma
denúncia de que ela transportava drogas na bagagem. Durante a revista, foram encontrados 400
gramas de entorpecentes no pacote que levava
para o rapaz. Maria foi presa em flagrante e condenada a cinco anos de detenção. Este esquema
é usado por grandes quadrilhas de tráfico para
passar com elevadas quantidades de entorpecentes enquanto a polícia procura o denunciado.
Depois de muito negar, Maria
aceitou fazer o transporte. Mas,
ao chegar no check-in, a polícia
a abordou dizendo que havia
recebido uma denúncia de que ela
transportava drogas na bagagem.
(...) Este esquema é usado por
grandes quadrilhas de tráfico para
passar com elevadas quantidades
de entorpecentes enquanto a polícia
procura o denunciado.
PENITENCIÁRIA MASCULINA
A equipe consular de Angola visitou também a Penitenciária Cabo PM Marcelo Pires da Silva a fim de
ouvir e prestar auxílio à população masculina encarcerada. O encontro ocorreu em Itaí, interior do Estado de São Paulo, e a Penitenciária é considerada
uma das maiores do Estado. A unidade também é
conhecida por ser reservada a cidadãos estrangeiros
que cometem crimes graves, como o tráfico internacional de drogas, tendo mais de 50 países representados na população carcerária. Atualmente 70
angolanos estão presos ali, número que, segundo o
consulado, diminuiu 30% em um ano.
ATRÁS DAS GRADES
Augusto Cassinda (nome fictício), 30 anos, trabalhava na Associação dos Empresários da Huila,
até que um dia, após uma discussão com uma das
28
angolaYetu
colegas, foi demitido. Preocupado em como sustentar os seis filhos, ele se mudou para Luanda
à procura de trabalho. Na capital, conheceu um
rapaz do Congo de Mocratina que lhe apresentou
o tráfico. No esquema, Cassinda deveria ir ao Brasil pegar entorpecentes e voltar para Angola. Tudo
seria pago pelos meliantes e ele receberia US$ 10
mil pelo serviço. Cassinda aceitou, pois viu ali uma
chance de dar uma boa vida aos filhos.
Em alguns dias os procedimentos foram
acertados e a viagem aconteceu. No Brasil, conheceu mais duas pessoas da quadrilha, entre elas outro angolano que garantiu que nada
aconteceria. No entanto, horas antes de voltar
para Angola, os dois rapazes o levaram a um bar
e o embebedaram. Já no aeroporto, a polícia o
abordou no check-in e encontrou com o jovem
quatro quilos de cocaína. Cassinda foi preso e
condenado a sete anos de detenção.
Os angolanos presos, em geral, deparam-se
com muitos problemas que tentam ser minimizados, dentro do que a lei permite, com a ajuda
de algumas Organizações Não Governamentais e
Religiosas, como a Pastoral Carcerária e Igreja
Adventista. O Consulado Geral tem um sector jurídico que atende os cidadãos angolanos detidos
nas diferentes penitenciarias durante as diversas
fases, desde a detenção até a fase de execução
de penas, prestando uma assistência gratuita.
REPORTAGEM DE VASCO SUAMO
[email protected]
BENEFÍCIO A PRESO
SERÁ INFORMADO AO
CONSULADO
A proposta foi aceite pelo
Corregedor Geral de Justiça
do Estado de São Paulo
O pedido de que o Consulado
seja informado previamente sobre
qualquer benefício concedido
a um preso de nacionalidade
angolana foi apresentado pelo
Cônsul Geral Belo Mangueira ao
Desembargador Hamilton Elliot
Akel durante encontro que tiveram
no final de julho. O pleito se
justifica, segundo o advogado do
Consulado, Hédio Silva, porque
em muitos desses casos as pessoas
não têm residência no país,
havendo necessidade de busca da
melhor solução para a defesa dos
interesses desses cidadãos detidos.
Lembrando que em alguns
desses casos, o juiz permite que
o beneficiado retorne a Luanda,
o advogado acrescentou que é
preciso criar as condições para
que o Consulado possa ajudar na
obtenção de meios para que essa
volta de facto aconteça.
Até o fechamento desta edição
de Angola Yetu, chegava a 150,
entre homens e mulheres, o
número de angolanos presos em
São Paulo. No entanto, somente
nas duas últimas semanas de
julho, graças à intervenção do
Consulado, 12 deles obtiveram
benefícios prisionais que variam
da autorização para cumprimento
da condenação em regime de
prisão domiciliar a livramento
condicional.
CÔNSUL AGRADECE
PRISÃO DE SUPOSTO
ASSASSINO
Em reconhecimento ao desempenho
da polícia de São Paulo no caso do
asaassinato de uma estudante angolana,
Belo Mangueira reuniu-se com o Secretário
de Segurança do estado
» Belo Mangueira agradeceu ao secretário Fernando
Grella o trabalho que as autoridades brasileiras realizaram na captura de Jilmar da Silva, homem que,
presumivelmente participou do assassinato da estudante estudante angolana Zulmira de Souza Borges
Cardoso, ocorrido em 22 de Maio de 2012, no Brás,
bairro da capital paulista. Ele estava foragido da justiça desde a época do crime e com sua prisão os dois
supostos assassinos já estão nas mãos da justiça. O
julgamento dos presumíveis assassinos deveria ter
inicio no dia 23 de julho de 2014, mas foi adiado para
o dia 12 de janeiro de 2015 devido a ausência de uma
das testemunhas de defesa.
Aparentemente motivado pelo racismo, segundo relato de testemunhas, o crime aconteceu em um bar,
depois de uma discussão durante a qual estudantes
angolanos foram chamados de “macacos” por um homem, que se presume ser José Marcelo de Vasconcelos, o qual foi embora, retornando porém para realizar
os disparos que feriram várias pessoas do grupo, causando a morte de Zulmira. Jilmar da Silva teria dirigido
o carro que deu fuga ao suposto assassino.
29
economia
ANGOLA E BRASIL:
PARCERIAS & OPORTUNIDADES
O
Brasil foi o primeiro país a reconhecer a
independência de Angola. A declaração foi
feita através de nota oficial divulgada pela
diplomacia brasileira no palácio do Itamaraty um
dia antes da cerimônia de posse do novo governo,
instalado na capital, Luanda. Quando o Brasil reconheceu a independência de Angola, a 11 de Novembro de 1975, demonstrou lucidez - apesar de
o estado brasileiro viver, naquela época, um momento de ditadura -, reconhecendo a importância
do futuro da nação que estava a ser criada.
Hoje em Angola o apoio financeiro e a assistência técnica dos países ocidentais se apresentam
como alavancas fundamentais para a reconstrução do país e da sua economia. Com recursos naturais que podem ser considerados abundantes e
reservas de petróleo crescentes, se tornará rapidamente no primeiro produtor africano.
Angola é também um mercado que vai continuar
a crescer nos próximos 10 a 15 anos. Como tal, é
assumidamente, e sem margem para dúvidas, um
mercado de futuro. Um mercado que os empresários brasileiros devem ter em conta e ao qual devem
estar atentos. É um país importante da África e está
cada vez mais aberto ao mundo, e o Brasil também
ganha espaço internacional com essa aproximação.
Angola é um parceiro com muito significado
para o Brasil. Apresentando-se como, potencialmente, um dos mais prósperos países de África,
devido às suas reservas de petróleo, às capacidades hidroelétricas, aos minerais de que dispõe
e às grandes extensões de terra cultivável, das
quais só uma pequena parte está aproveitada.
No ranking do comércio exterior brasileiro de
2012, a Angola figurou como o 53º parceiro comercial do Brasil, participando com 0,26% do total. Entre 2008 e 2012, o intercâmbio comercial brasileiro
com o país apresentou diminuição de 71,7%. As exportações nacionais reduziram-se em 42% e as importações em 97,9%, neste intervalo. Em valores, o
intercâmbio comercial entre os dois países passou
de US$ 4,2 bilhões, em 2008, para US$ 1,2 bilhão,
32
angolaYetu
em 2012. O saldo da balança comercial foi superavitário para o Brasil em todos os anos, excepto em
2008, quando registrou deficit de US$ 260 milhões.
Em 2012, o saldo da balança foi de US$ 1,1 bilhão.
Para assegurar essa representatividade, é fundamental que os empresários angolanos trabalhem
em associações ou parcerias com empresários de
outros países, em especial os de língua portuguesa,
de forma a alavancar esse desenvolvimento econômico-social. O investimento privado desempenha
um papel crucial no desenvolvimento da economia
angolana. Pela mesma razão, o Governo de Angola
estabeleceu um regime legal de incentivos suficientemente atrativo para os potenciais investidores. Não
só pela oferta de garantias credíveis de segurança
e estabilidade jurídicas para os seus investimentos,
como também, e sobretudo, estabelecendo regras
e procedimentos claros, simples e céleres para os
respectivos processos de aprovação.
A Câmara de Comércio Angola Brasil desenvolve um importante trabalho de fomento de negócios entre os empresários brasileiros para facilitar
sua entrada no mercado angolano. Há enorme interesse, mas muita falta de informação por parte
dos empresários brasileiros no tocante a investir
em território angolano. A Câmara existe para ser
este elo entre as duas partes e desde a sua fundação, há cinco anos, a Câmara Angola Brasil tem
mostrado bons resultados.
O projeto atual é o de aumentar a participação de empresas brasileiras em Angola,
através de parcerias com
empresários angolanos.
Nós acreditamos neste
trabalho e seremos incansáveis na jornada para atingir nossas metas.
POR EDUARDO ARANTES FERREIRA
Presidente da Câmara de
Comércio Angola Brasil.
ANGOLA PRESENTE NA
15ª COTRIJAL
Produtores e exportadores de produtos agrícolas do sul do Brasil
manifestam interesse em fazer investimentos diretos no mercado angolano
T
rabalhar junto às autoridades angolanas
dos sectores público e privado – com destaque para a Câmara do Comércio e Indústria
de Angola e a Associação Industrial de Angola
– AIA - no sentido de que identifiquem empresas angolanas que possam eventualmente se
interessar em estabelecer parcerias comerciais
(joint-ventures) com empresas brasileiras da
região do Rio Grande do Sul. Esse foi o compromisso assumido diante de produtores brasileiros
do sul do país pelo representante comercial de
Angola no Brasil, Matheus Barros José, durante
a 15ª Edição da Expodireto Cotrijal – International
Fair – Feira Internacional do Agronegócio.
Realizada no primeiro trimestre deste ano na
cidade de Não-Me-Toque, no norte do Estado do
Rio Grande do Sul, sob o lema Inovação, Tecnologia e Oportunidades de Negócios, a feira atraiu,
além dos expositores brasileiros, mais de 77
países, entre os quais 25 Embaixadas Africanas
acreditadas no Brasil, representadas por embaixadores, ministros conselheiros e conselheiros
do Corpo diplomático africano sediado em Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro.
Durante a feira, o representante comercial de
Angola participou de rodadas de negócios com
produtores e exportadores de arroz, soja, frangos, ovos, carne bovina, vinho, agroindústrias
familiares e da indústria de máquinas e implementos agrícolas para o agronegócio. Segundo
ele, a maioria dos produtores e exportadores dos
sectores presentes manifestou o desejo de identificar parceiros empresariais angolanos para,
numa fase inicial, serem representantes dos
seus produtos em Angola. A intenção declarada
pelos empresários foi de, posteriormente, estudarem a possibilidade de realizar investimentos
diretos na construção de unidades de produção
no mercado angolano, caso a demanda local venha a justificar.
O representante comercial disse ainda que informou os empresários e produtores do agronegócio da região gaúcha sobre as potencialidades do
mercado africano, tanto no âmbito interno de Angola como no que se refere à Comunidade de Desenvolvimento dos Países da África Austral ( SADC)
e da Comunidade Econômica dos Países da África
Central ( CEAC), blocos que representam em conjunto mais 400 milhões de consumidores.
Disse ainda Matheus Barros José que forneceu
aos presentes informações sobre o ambiente de
negócios e a situação macroeconômica da República de Angola, com destaque para o crescimento do PIB, a estabilidade da moeda nacional, o
Kwanza, a diversificação econômica, o Programa
de Aquisição de Produtos Agro-Pecuários (PAPAGRO), o Programa de Relançamento da Indústria
transformadora e por último sobre a consolidação
da paz e das instituições democráticas no país.
33
economia
PAÍS ATRAI
INVESTIMENTO
ESTRANGEIRO
CRESCEM VENDAS
BRASILEIRAS
PARA ANGOLA
No primeiro trimestre deste ano, as
exportações brasileiras para Angola
cresceram 6.1 por cento, somando
USD 255.6 milhões
34
Angola é o quarto maior destino de
investimento estrangeiro em África.
O motivo é o forte crescimento anual
da economia do país, afirma estudo
da consultora Ernst & Young sobre a
atratividade empresarial
» De acordo com dados do Estudo de Atractivi-
» O melhor mês deste trimestre foi fevereiro, com
USD 94.7 milhões de vendas, de acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio
Exterior do Brasil (MDIC).. Entre os produtos mais
exportados estão o açúcar de cana, com um peso
de 8 por cento e carne de suíno congelada com 7
por cento. Galinha, enchidos, farinha de milho e
calçado são também outros produtos exportados.
Em sentido inverso, isto é, as importações brasileiras vindas de Angola, os dados do MDIC reportam
apenas ao mês de Janeiro, em que as compras ascendem aos USD 6.8 milhões. Mas, segundo o site
África 21 Digital, os dados disponibilizados pelo MDIC
sobre as exportações de Angola para o Brasil são irregulares e incompletos. Em 2013 houve meses sem
registos, outros com apenas alguns milhares de dólares e um pico de USD 140,9 milhões em julho.
No primeiro trimestre deste ano as exportações do Brasil para a Comunidade dos Países de
Língua Portuguesa (CPLP) foram de US$ 381,4
milhões, ficando abaixo do valor expedido para os
países lusófonos no mesmo período do ano passado. Entre os países da CPLP, Angola continua
a ser o principal destino das vendas brasileiras,
seguida por Portugal.
dade de África (2014), os investimentos em curso ao nível das infraestruturas, nomeadamente
em portos e aeroportos, bem como a anunciada
criação de um fundo de investimento soberano
de cinco mil milhões de euros e o lançamento de
uma bolsa em Luanda, são “sinais da melhoria
da atractividade” angolana para investimentos
privados. Este estudo da Ernst & Young, divulgado pela Agência Lusa, coloca Angola como o
quarto maior receptor de investimento estrangeiro na África Subsariana, de resto a mesma
posição que o país ocupa no ranking da percepção dos investidores “quanto às localizações
mais atractivas no continente”.
O ranking de Investimento Directo Estrangeiro
(IDE) é liderado pela África do Sul, seguida pela
Nigéria e Quénia, três países que concentram
40% do total de investimento em mais de 50 Estados africanos. Quanto a Angola representa 6,9%
do investimento estrangeiro. Em termos globais,
a consultora identifica que o IDE na África Subsariana aumentou cerca de 4,7% em 2013, “mas
assistiu-se a um decréscimo” no mesmo período
no norte de África.Ainda sobre Angola, a Ernst &
Young diz também que, apesar de o número de
projetos de IDE ter registado uma ligeira diminuição em 2013, o país “continua a ser um importante destino de investimento, em boa parte
devido a ter sido uma das economias com maior
crescimento no período 2003-2013”.
Fonte: http://www.redeangola.info
Fonte: http://www.rtp.pt/noticias
angolaYetu
BALANÇA
COMERCIAL
FECHA 1º
TRIMESTRE
POSITIVA
As receitas provenientes
do petróleo foram as únicas
responsáveis pela obtenção de um
resultado superior a 11,4 mil milhões
de dólares (8,4 mil milhões de euros)
nos primeiros três meses deste ano
N
esse período - segundo o último relatório
do Instituto Nacional de Estatística (INE)
angolano sobre o Comércio Externo, relativo ao primeiro trimestre de 2014 - a balança
comercial de Angola teve um saldo positivo na
ordem dos 11.470 milhões de dólares (8,4 mil
milhões de euros), “como resultado do comportamento do preço do petróleo, principal produto
de exportação de Angola”, informa o documento.
Comparadas ao primeiro trimestre de 2013,
as exportações caíram este ano cerca de 10,55%,
enquanto as importações, registaram uma diminuição de 22,64%, segundo os dados do INE. Entre janeiro e março de 2014, a economia angolana exportou 15.441 milhões de dólares (11,3 mil
milhões de euros). No sentido inverso, importou
3.971 milhões de dólares (2,9 mil milhões de euros), segundo o mesmo relatório.
Comparando trimestres, o resultado positivo da
balança comercial reduziu-se em 2014 em cerca
de 700 milhões de dólares (514 milhões de euros)
face ao mesmo período do ano anterior.As expor-
tações, segundo os dados do INE, resumem-se
aos produtos petrolíferos, sendo Angola o segundo maior produtor da África subsaariana. Há ainda
registo de exportação de produtos agrícolas, metais, madeira e cortiça, num total de cerca de 300
milhões de dólares (em 11,4 mil milhões).
A China continua a ser o maior destino do petróleo angolano. As exportações angolanas negociadas com Pequim representaram 50,8% do total,
com um volume de 7.844 milhões de dólares (5,7
milhões de euros) no primeiro trimestre de 2014.
Seguiram-se países como a Índia (7,93%), Canadá
(5,20%) e Taiwan (4,59%). Nas importações, o principal parceiro angolano continua a ser Portugal,
com 18,40% do total, correspondente, neste estudo
do INE, a 730 milhões de dólares (536 milhões de
euros) apenas no primeiro trimestre do ano. Países
como a China (12,29%), EUA (7,20%), Emirados Árabes Unidos (5,45%) e Reino Unido (5,11%) fecham o
grupo dos principais fornecedores de Angola.
Fonte: angonoticias.com
35
comunidade
ESTUDANTES
NA DIÁSPORA
PASSAM POR
ADAPTAÇÃO
O ingresso em nova realidade
cultural e a necessidade de garantir a
sobrevivência enquanto se aprimora
as habilidades geram tensões que a
seu tempo são superadas
”A
busca pela a aquisição de conhecimentos, à experiência de morar fora, vivenciar outra cultura e conhecer novas pessoas muitas vezes é motivo para persistência, mas
nada fácil”, diz a estudante de Administração Maria Fernando, explicando que, ao chegar no Brasil
enfrentou muita dificuldade, como acontece em
todo e qualquer começo: “ Pensei em desistir, mas
com o passar do tempo fui percebendo que nada é
fácil para ninguém, e que cabe a cada um de nós
lutar pelos nossos ideais. Quando se tem força de
vontade alcançamos até aquilo que achávamos ser
impossível”, avalia ela quando questionada sobre
suas experiências durante a estadia no Brasil. E
acrescenta: “Hoje eu digo aos meus amigos, que
aprendi a superar os meus medos e limites, e que
sofrimento gera amadurecimento. Superei todas
as dificuldades que me foram impostas e continuo
firme na luta pela minha formação”.
Uma grande preocupação dos jovens angolanos que vêm estudar no Brasil é com o tempo
demasiadamente curto para renovação dos vistos de permanência no país, como explica Marisa
Marcos, estudante de Direito e estagiária da área
Civil e Trabalhista, “A vida de estudante não é fácil, - diz ela - e por ter visto temporário a dificuldade está em renovar a tempo. Parece simples,
mas não é. O esquecimento da data para reno-
36
angolaYetu
var, a demora de documentos que as instituições
têm para emitir, os documentos que têm que vir
de Angola, sem falar do passaporte que caduca”.
Marisa entende que, para resolver esse problema, o Consulado deveria fazer um acordo com o
governo brasileiro a fim de manter os vistos até
o término dos cursos: “Dessa forma não ficaríamos limitados como agora, podendo assim evitar
alguns constrangimento que passamos na Policia Federal”, acrescenta.
A imersão em uma outra realidade que caracteriza a chegada de um estudante ao novo país pode
gerar, inicialmente, um grande desconforto, como
acontece sempre que é preciso se adaptar a todo
e qualquer lugar que não nos seja familiar. Ivanild
Gonga, estudante de Direito e estagiária no Juizado Especial Civil, por exemplo, ressalta que para
ela sempre foi indispensável conciliar os conhecimentos teóricos com as habilidades profissionais,
uma vez que no curso que faz é fudamental juntar
a teoria e a prática. Ao perceber isso, no terceiro
ano decidi que faria um estágio”.
Ivanild diz que para os estudantes estrangeiros,
principalmente os que precisam adquirir experiências profissionais na área de especialidade, situações de constrangimento podem acontecer por ser
CONDIÇÕES PARA PERMANÊNCIA
DE ESTUDANTES ESTRANGEIROS
BRASIL DEVEM MELHORAR
O Ministério das Relações Exteriores (MRE)
do Brasil aceitou o pedido de recomendação
da Defensoria da União (DPU) em São Paulo,
referido à validade do visto temporário dos
alunos estrangeiros de acordo com a duração
dos cursos em que estão matriculados.
Estrangeiros matriculados em faculdades
de todo Brasil, não precisarão renovar seus
vistos temporários. De acordo com a resolução
Normativa n° 09/1997, do Conselho Nacional
de Imigração (CNIg), “o Brasil tem o poder e o
dever de conceder vistos em seu território sem
a necessidade do retorno do aluno ao seu país
para regularizar a situação”.
tudo novo e diferente, mas aos poucos vão se removendo e assim se integrando. “Eu venho de uma
realidade cultural, politica e econômica bem diferente da brasileira, isso foi um grande empecilho.
Eu atendo o público, todo mundo que procura o Juizado Especial Cível é porque sofreu uma injustiça
ou pelo menos acha que tenha sofrido. Tenho que
ouvir e entender o problema, e seguidamente fazer
a petição endereçada ao Juiz”, salientou Ivanild.
Estudante de Tecnologia de Redes e Computador e Analista de Suporte na empresa Y&V Partner Vision, João Dorivaldo Neto lembra que nem
sempre associar o trabalho aos estudos acontece
de maneira desejada, “Não foi fácil conciliar os
estudos com o trabalho, no começo tive grande
dificuldade com as diferenças, pois daí surgem
iniciativa, responsabilidade, amadurecimento e
compromisso”. O estudante revela que a preocupação com o salário também tem sido requisito para demostrar suas habilidades: “Estaria a
mentir se dissesse que não sou ambicioso, porque se você quer crescer ou ser alguém na vida,
tem que ter ambições. Espero boas oportunidades de emprego, tendo em conta que além de formado já tenho experiência profissional, e no final
das contas, quero ter uma boa remuneração”.
Questões como expectativa profissional, remuneração adequada, possibilidade de obter
emprego e fazer uma carreira remetem ao tema
do regresso ao país, outra fonte de preocupações
para o estudante na diáspora. Com base na formação acadêmica que receberam e no fato de já
estarem exercendo uma actividade profissional
remunerada, esses jovens esperam muito do governo para o encaminhamento e a efectiva inserção no mercado de trabalho angolano.
“Obviamente, espero que o país tenha tido uma
melhoria no mercado de trabalho, uma vez que
era perceptível a falta de oportunidade para jovens estudantes. Espero que este quadro tenha
mudado, com mais oportunidades e menos limitações”, ressalta Maria Fernando, enquanto Marisa Marcos explicita suas aspirações para quando
regressar ao seu país “ Quero uma empresa que
me possibilite exteriorizar os meus conhecimentos, minhas habilidades, que eu possa aprender
ainda mais e claro, que o salário seja compatível”,
afirma. Ivanild Gonga, por seu lado, lembra que
a estabilidade no trabalho é uma exigência, uma
vez que parte desta formação é feita no exterior
“Espero encontrar receptividade e oportunidades
no nosso mercado para desenvolver minhas experiências”, ressaltou.
REPORTAGEM DE DANILSA DE ALMEIDA
37
comunidade
REFLEXÃO SOBRE
DIA DA PAZ REÚNE
ANGOLANOS
Debate em São Paulo destaca trabalho em comunidade
como caminho para consolidar a paz e a democracia
»
“Angola em Paz: que caminhos para consolidação da
democracia e a promoção da
cidadania?” foi o tema do debate promovido pelo Consulado
Geral de Angola em São Paulo,
em 4 de abril, para comemorar
o Dia da Paz. O evento, que foi
realizado na Universidade de
São Paulo - USP, contou com a
presença da Vice Cônsul Alice
Mendonça, em representação
do Consulado, estudantes e
trabalhadores angolanos residentes no Brasil, além dos prelectores Isaac Pedro Vieira Paxe
e Abreu Castelo Vieira Paxe.
Na abertura do debate, Isaac
Pedro relembrou os factos que
deram origem ao Dia da Paz, e
que estão na base da situação
actual que se vive no país. Mostrou também sua preocupação
com a gestão das políticas públicas na resolução de problemas
sociais das mais diversas áreas,
usando o exemplo da educação,
factor que considera o ponto de
partida para busca de cidadania,
democracia e com isso a paz,
“Um dos caminhos que a constituição implementa para construção da paz e a consolidação
da democracia é o direito e dever
dos cidadãos”, esclareceu.
38
angolaYetu
Abreu Castelo, por seu lado,
ao aprofundar a discussão sobre
o tema, evidenciou a comunicação como elemento que produz
a paz, a democracia e com isso
cultura. Com base em uma visão geral sobre o país, disse que
ao se firmar o acordo de paz e
a maneira como foi feito, houve
um grande ganho, acrescentando que os processos de paz e reconciliação devem ser repensados nos elementos básicos que
constituem a família angolana.
Observou ainda o palestrante
que muitos desafios foram colocados após a conquista da paz,
que esforços ainda são feitos por
meio de estratégias para fortalecer os sinais de estabilização
social e concluiu: “O trabalho
em comunidade é um dos caminhos para consolidação da paz
e democracia, o que por sua vez
pode ser o mais útil e viável para
o bem comum”.
No decorrer do debate, questões foram apresentadas aos prelectores, dúvidas esclarecidas,
saberes partilhados. Estudantes
estimulados a darem suas contribuições para melhoria do país
elogiaram o Consulado por ter
criado esse encontro, que teve
como meta estimular a reflexão
sobre a realidade angolana para
estimular a busca de mecanismos que fortaleçam a estabilidade e a paz na sociedade.
REPORTAGEM DE DANILSA DE ALMEIDA
PALANCA
NEGRA TEM
NOVA DIREÇÃO
Eleita por diversas comunidades
angolanas do Estado de São Paulo,
a gestão que começa quer
reorganizar a associação
» Com a presença de várias entidades angolanas
e brasileiras - como o Consulado Geral de Angola
no Rio de Janeiro, Instituto Nacional de Bolsa de
Estudo (INABE), Linhas Aéreas de Angola (TAAG),
Câmara de Comércio Angola-Brasil e a Associação Brasileira de Franchising, foi realizada a cerimônia de tomada de posse da nova direcção da
Associação dos Angolanos no Estado de São Paulo, denominado “Palanca Negra. O evento aconteceu no no Centro de Capacitação e Eventos, da
ABF (Associação Brasileira de Franchising), situado na zona oeste da cidade de São Paulo.
Os membros fizeram o juramento de melhor
servir a toda a comunidade do Estado de São Paulo,
respeitar e fazer respeitar o estatuto da Associação.
A duração do mandato da nova diretoria será de
dois anos e todos os seus integrantes foram eleitos
pelas respectivas comunidades locais, que estão
representadas na direcão: as comunidades de São
Paulo, Osasco, São Carlos, Santos, Bauru, São José
do Rio Preto, ABC, Campinas e Lins.
O presidente da associação, Rogério José Sabino, declarou que a meta da nova Direcção é
“estreitar a relação com o Estado angolano, em
particular com o Consulado Geral de Angola em
São Paulo, saber quantos somos e onde estamos
localizados, que é a iniciativa da sociedade angolana”, afirmou. Tudo isso com uma finalidade:
unir cada vez mais a população angolana no Estado de São Paulo.
Já o Cônsul Geral de Angola no Estado de São
Paulo, Dr. Belo Mangueira, proferiu um discurso
em que apelou à nova direção para que leve em
NOVOS INTEGRANTES DA DIRECCAO
DA ASSOCIAÇÃO “PALANCA NEGRA”
Rogério José Sabino » Presidente da Associação
Domingos Pedro Mendes Inácio » Vice Presidente
Hermenegildo Chissapa » Secretário
Alberto Silva Kapuca » Secretário
Esperança Gomes » Tesoureira
António Victória » Tesoureiro
Pedro Kikuca » Tesoureiro
José Pedro » Pres. da Mesa da Assembléia Geral
Yuri Katuko e José Manuel
conta particularmente a forma organizativa dos
associados, nunca se esquecendo de que estes
não são só estudantes, “a comunidade angolana em São Paulo comporta em si estudantes,
empresários, residentes e outros que, temporariamente, estão no Estado em férias e em tratamento”, disse o diplomata, que também garantiu
apoio, prometendo ceder espaço e equipamentos
nas novas instalações do Consulado Geral para o
melhor trabalho da instituição.
REPORTAGEM DE RUDMIRA FULA
[email protected]
39
cultura
CANTORA ANGOLANA GANHA
TROFÉU DE OURO
Premiação atesta crescimento da música gospel angolana
C
om mais de 70% de votos
pela internet, a cantora
angolana Lioth Cassoma
ganhou a segunda edição do
prêmio Troféu de Ouro na categoria internacional, sendo considerada a melhor intérprete
gospel do continente africano. A
40
angolaYetu
cerimônia de entrega do prêmio
ocorreu na noite de 5 de agosto,
em São Paulo.
Natural de Luanda, nascida
de uma família de músicos cristãos, Lioth Kassoma, que também é compositora, começou a
cantar aos sete anos de idade no
coral infantil da Igreja Evangélica Pentecostal de Angola (IEPA).
Em 2009 iniciou sua carreira
musical com o lançamento do
single intitulado “Confio”.
Lioth tem sido um dos grandes rostos da música gospel
em Angola, tendo arrebatado os
prémios de “Melhor Música Gospel” no Top Rádio Luanda (2010),
“Melhor Vídeo Clip” na Gala ML3
(2012) e agora o Troféu de Ouro
no Brasil (São Paulo), na categoria de Artista Internacional.
Na noite da premiação, trajando vestimentas tradicionais
africanas, a intérprete aproveitou o momento para agradecer a
Deus, aos familiares e a todos os
amantes da música gospel angolana. Para a cantora, o prêmio
mostra que a música sacra de
Angola está ganhando espaço internacional, visto que outros cantores concorreram ao prêmio.
Segundo a artista, a música
religiosa africana já foi vista como
algo triste, sentimental, usada
apenas para momentos fúnebres,
mas acredita que o troféu mudará
este paradigma, mostrando que a
canção evangélica pode conquistar lugar no mercado mundial.
A cantora também pontua que o
prêmio servirá para que ela tenha
mais responsabilidade na produção musical, uma vez que muitos
angolanos a têm como referência
na música gospel.
TROFÉU DE OURO
Idealizado pela empresa
Prisma Brasil, o Troféu de Ouro
foi criado com o objetivo de reconhecer a todos que trabalham pelo desenvolvimento e
valorização da música gospel.
A intenção inicial era de realizar um evento bienal, porém a
partir da sua 2ª Edição, devido à
constante evolução do mercado
gospel no Brasil, passará a ser
uma premiação anual.
REPORTAGEM DE VASCO SUAMO
[email protected]
“NJINGA - RAINHA DE
ANGOLA” LOTA SALA
DE EXIBIÇÃO
Filme conta a história da rainha que liderou a luta do
povo mbumdu contra o colonialismo português
» Os 70 lugares da sala de exibição do Centro Cultural do Banco do Brasil, no centro da capital paulista, foram insuficientes
para acolher o grande público interessado em ver “Njinga- Rainha de Angola”, um dos mais recentes filmes angolanos. Depois de mais de 10 dias de exibição no Rio de Janeiro, a longa
metragem do director Sergio Graciano, produzido pela Semba
Comunicação, chegou a São Paulo, onde permaneceu em cartaz
de 30 de abril a 4 de maio.
Estrelado por Lesliana Pereira e Sílvio Nascimento, o filme
conta a história da rainha angolana Njinga Mbande, que no
século XVII defendeu por 40 anos a independência dos reinos
de Ndongo e Matamba. Ao ver seu filho assassinato e o irmão
humilhado pelos colonizadores portugueses, Njinga resolve
lutar pela libertação do povo mbundu. Depois de muito tempo
de conflito, ela consegue estabelecer a paz com os portugueses, que a reconheceram como rainha de Matamba e Ndongo.
Actualmente,Njinga é considerada pela Unesco uma das 25 figuras femininas com mais relevância na história de libertação
do continente africano.
41
desporto
GOVERNO QUER
MULTIPLICAR
DESPORTISTAS
A meta é ambiciosa: em pouco mais de dez
anos, fazer crescer 60 vezes a quantidade
de praticantes de desporto em Angola, mas
o Secretário de Estado Albino da Conceição
afirma que o cenário positivo do país depois
da paz de 2002 torna possível alcançá-la
MELHOR
LUTADOR DE
“MUAY THAY”
DO PARANÁ É
ANGOLANO
»
Chegar ao ano de 2025 com três milhões de praticantes de desporto em Angola, contra os actuais cinquenta mil. A ambiciosa meta foi anunciada pelo Secretário de Estado para Política Desportiva, Albino da
Conceição, no final do último mês de abril, durante o
workshop “Generalização do Desporto”, promovido
pelo Ministério da Juventude e Desportos em Menongue, Cuando Cubango.
O Secretário lembrou que, após a paz alcançada em
Abril de 2002, o cenário do país é bastante diferente,
com perspectiva de melhorias contínuas, expressas em
ganhos ao nível de infra-estruturas, formação direcionada e fomento do desporto em todo o país. “Os estádios
de futebol e pavilhões multiusos em Luanda, Cabinda,
Benguela e Huíla, construção de campos multiusos junto das escolas, formação de técnicos estão a permitir
o desenvolvimento de diversas modalidades, graças à
paz”, acrescentou, lembrando ainda a entrada em funcionamento dos institutos superiores de educação física
em Luanda, no Huambo e Huíla, numa estratégia que se
espera estender por todas regiões académicas, abrangendo também às 11ª, 12ª e 13ª classes até 2017.
Depois de anunciar o início oficial da construção
de um estádio de futebol na localidade de Macueva,
e outro em Menongue, com a capacidade para seis e
sete mil lugares, respectivamente, o Secretário assinalou como ganhos proporcionados pela conquista
da paz, a reconstrução nacional, implementação de
políticas de desenvolvimento, desde a indústria extrativa, de montagem, agricultura, formação de quadros e criação de universidades.
42
angolaYetu
Conquista serviu como incentivo
para o estudante continuar a
prática do desporto
» Depois de vencer uma luta realizada no
final de julho em Curitiba, capital do Paraná, o angolano Carlos Geovane dos Santos tornou-se o melhor lutador de “Muay
Thai” daquele estado, na categoria de até
63.5 quilos. Para conquistar do título, ele
enfrentou e venceu os dois adversários,
um proveniente de Londrina e outro de
Maringá, cidades do interior paranaense.
O novo campeão tem 22 anos de idade e
nasceu no bairro Maculusso da cidade de
Ingombotas, na província de Luanda. Em
2011, veio para o Brasil onde se apaixonou pelas artes marciais. A dedicação ao
desporto, no entanto, aconteceu sem que
ele perdesse o foco nos estudos, o motivo
de sua vinda ao Brasil. Carlos frequenta o
segundo ano de economia na Faculdade
de Educação Superior do Paraná (FESP).
Lutando actualmente sem patrocínio,
Carlos Santos pede ao Ministério dos
Desportos e a empresas particulares um
apoio para se manter na actividade.
w
www.epromaq.com.br
(19)3861-4883
Rua Paula Bueno, Centro
Nº1233 Mogi Guaçu-SP