O TRABALHO VOLUNTÁRIO TEM HORA DE PARAR?

Transcrição

O TRABALHO VOLUNTÁRIO TEM HORA DE PARAR?
Informativo
do Instituto
Camiliano
de Pastoral
da Saúde
e Bioética
março de 2009
Ano XXVI – no 272
Província Camiliana Brasileira
❒ Pastoral
❒ bioética
❒ humanização
O TRABALHO VOLUNTÁRIO TEM HORA DE PARAR?
ANÍSIO BALDESSIN
H
á momentos em nossa vida em
que é preciso parar e fazer uma revisão. Como na administração de uma
loja, é preciso parar e fazer um balanço.
Contar o estoque, atualizar os produtos,
fazer alguns reparos na estrutura e aproveitar para fazer uma mudança no visual
para que o cliente note e se sinta bem. Bill Gates, um dos mais importantes empresários dos últimos tempos ao
anunciar sua saída da Microsoft deu uma
lição de liderança: “saber o momento de
dar o fora é decisivo para o sucesso”.
O autor do livro do Eclesiastes afirma: “Debaixo do céu há momento para
tudo, e tempo certo para cada coisa:
tempo para nascer e tempo para morrer. Tempo para plantar e tempo para
arrancar a planta. Tempo para matar e
tempo para curar. Tempo para destruir e
tempo para construir. Tempo para chorar e tempo para rir. Tempo para gemer
e tempo para bailar. Tempo para atirar
pedras e tempo para recolher pedras.
Tempo para abraçar e tempo para se
separar. Tempo para procurar e tempo
para perder. Tempo para guardar e tempo para jogar fora. Tempo para rasgar e
tempo para costurar. Tempo para calar
e tempo para falar. Tempo para amar e
tempo para odiar. Tempo para a guerra e
tempo para a paz” (Ecle 3, 1-9).
Depois de ouvirem uma palestra ou
um sermão as pessoas costumam dizer:
“o padre e/ou palestrante era realmente
muito bom. Gostamos de quase tudo o
que ele disse. Ele realmente conseguia
manter o interesse dos ouvintes. Essa
era a hora de parar. Como não o fez,
começou a ser repetitivo não prendendo
mais a atenção dos ouvintes. Conclusão, os participantes guardaram muito
mais o tom repetitivo da palestra do que
sua mensagem. Portanto, embora seja
difícil saber quando parar, existe uma
dica: pare quando estiver “em alta”.
Jerry Seinfeld, humorista americano, um dos grandes responsáveis pela
popularização do gênero de comédia
stand up em todo o mundo, fez enorme sucesso com a sitcom Seinfeld, que
retratava o cotidiano de quatro amigos:
Elaine Benes, Cosmo Kramer, George
Costanza e seu homônimo Jerry Seinfeld. No entanto, a série foi encerrada
na “alta”. Seinfeld recusou uma proposta de 5 milhões de dólares para apresentar o episódio na rede de televisão NBC.
Na sua genialidade, Seinfeld explicou
o inexplicável de um modo simples
quando foi interrogado sobre o momento que percebeu que era hora de parar.
“Apenas senti, respondeu ele. É difícil
explicar, mas eu senti. É como quando
você vai a um restaurante, e a comida
está muito boa, e você come muito bem.
Mas tem um ponto em que você percebe que, com mais uma garfada, você
pode estragar uma bela refeição. Não é
uma questão de quantidade. Você apenas sabe. E você sabe, sente que deve
parar naquele momento”.
Poderíamos citar inúmeros personagens de todos os setores da sociedade
que conseguiram perpetuar a fama porque pararam na hora certa. Porém, existe algo que se chama ambição. E ambição não deixa de ser uma coisa boa.
Pois ela nos desperta desejos, promove
o comprometimento e estimula a perseverança. Torna-nos mais fortes e nos faz
buscar a superação. Pela ambição conquistamos mais posses e mais poder.
Sentimo-nos mais ricos, mais bonitos e
até mais livres. O que a estraga é a ganância que não nos deixa parar.
No salmo oitenta e nove o salmista afirma: “Há setenta anos vai a dura-
ção de nossa vida. Fato notável quando
chega aos oitenta”. Todavia, chegar aos
setenta anos hoje é algo muito comum.
Pois com a melhora das condições de
vida e os constantes avanços da medicina aumentamos sobremaneira a longevidade. Mas, se de um lado temos algo a
comemorar, do outro temos a lamentar.
Primeiro porque chega um momento da
vida que contrariamente à nossa vontade somos obrigados a pedir aposentaria.
Com isso, perdemos além do emprego
e das atividades diárias, um pouco os
recursos financeiros. Segundo, com o
aumento dos anos aumentam também
as possibilidades de adquirirmos uma
ou mais doenças. O que fazer?
Voluntariado é a solução?
Há algum tempo fiz uma reflexão
sobre a importância do trabalho voluntário, solidário, dizendo que o solidário
não é solitário. Esta é uma verdade. Pois
basta se colocar a serviço de alguém que
a solidão tende a desaparecer. É o que
acontece com milhares de pessoas que se
engajam na pastoral da saúde para atuarem na dimensão solidária como ministros da eucaristia, visitador de doentes
nas casas ou hospitais ou ainda trabalhar
nas dimensões comunitária ou políticoinstitucional da pastoral da saúde.
Não há dúvida que além de ser uma
das obras de misericórdia, fazer um trabalho pastoral é proporcionar bem estar
para os doentes e seus familiares como
também para o próprio agente. No entanto, chega um momento em que é
preciso parar. Essa decisão cabe ao próprio agente ou ao líder (coordenador)
responsável por ele. Richard Green,
presidente da empresa Blistex faz a se-
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guinte afirmação: “é imoral não demitir
as pessoas que não são capazes ou não
tenham mais condições de fazer o serviço”. Tal atitude deve ser tomada mesmo
que venha contrariar o grupo.
Certo dia desliguei do grupo uma
agente que há muitos anos prestava assistência religiosa. Além de estar passando por dificuldades físicas, tinha também alguns distúrbios mentais. Porém,
independente de não credenciá-la novamente, ela continuava vindo e dizendo
que tinha condições. Quando mais uma
vez disse que ela não faria mais parte
do grupo ficou muito revoltada. Revoltados ficaram também alguns componentes do grupo dizendo: “você precisa
pensar no mal estar que está causando a
ela”. Ao que respondi: “eu entendo que
possa estar causando um desconforto
para ela. Porém, eu tenho que pensar no
‘mal’ que a agente poderia causar àqueles a quem ela, com muita boa vontade
estava disposta a ajudar, mas que não
tinha mais condições de fazê-lo.
A hora de parar
Não é fácil, para o líder de uma
empresa tomar a decisão de demitir
um colaborador. Pois além de vínculos afetivos, estão presentes questões
financeiras e até mesmo o sustento de
uma família. Difícil também é a tarefa
de um coordenador pastoral que precisa
desligar um voluntário religioso. Afinal, do padre, pastor ou líder religioso
se espera muita compaixão e caridade.
Pois se nem a Igreja é capaz de aceitar
a pessoa, o que dirão os outros setores
da sociedade?
Todavia, um primeiro elemento
que deve ser considerado pelos que se
propõem a desenvolver uma atividade
voluntária, é ter consciência que o candidato (a) que se engaja num voluntariado não tem cadeira cativa (direitos
adquiridos) até morrer. Além disso,
quando o trabalho continua sendo feito
por alguém que muitas vezes, não dispõe de condições físicas e intelectuais
o comentário de quem observa de fora
é: “será que os mais saudáveis (líderes)
não são capazes de perceber que essa
pessoa não tem a mínima condição?”
Os primeiros relatos desta reflexão
mostram que muitas pessoas continuaram sendo famosas porque souberam
parar na hora certa. No Brasil, seguindo
talvez a sugestão do salmista, o cargo
de um professor titular, por exemplo,
vai até os setenta anos. Depois disso,
seu posto é ocupado por outra pessoa.
É claro que não vamos aqui estabelecer
uma idade mínima para interromper a
atividade voluntária (pastoral da saúde)
de uma pessoa. Até porque perderíamos
muitos adeptos. No entanto, se em todas
as profissões existe um momento em
que as pessoas são obrigadas a deixarem seus postos, será que nas atividades
voluntárias, religiosas, também não deveria existir um momento de parar?
Anísio Baldessin, padre camiliano, é capelão
do Hospital das Clínicas da FMUSP.
CURIOSIDADES QUE PREVINEM DOENÇAS
Com tantas dietas e recomendações sobre
alimentação, nós já não sabemos se é melhor
comer ou passar fome. O melhor mesmo é ter
bom senso e seguir algumas orientações já comprovadas cientificamente, como estas a seguir:
Para ouvir melhor
expediente
A vitamina B12 pode proteger a audição de
pessoas que trabalham em lugares barulhentos. A especulação foi feita por pesquisadores
que examinaram um grupo de soldados israelenses com perda da capacidade auditiva
e zumbidos no ouvido. Metade dos homens
apresentava baixo nível de vitamina B12, nutriente responsável pela proteção dos nervos.
Como os danos são irreversíveis, os pesquisadores recomendam uma dieta rica em fontes
da vitamina: carnes magras, peixes, frutos do
mar, semente de girassol, ervilha, gérmen de
trigo, fígado, amendoim, carne de porco,
pão, cereais integrais.
Um pouco mais sobre a vitamina B12:
por que precisamos? — Bom para a saúde
dos nervos e músculos, metabolismo e carboidratos, álcool e gorduras.
Se não ingerimos… — Inicialmente temos
irritação, falta de concentração, depressão,
problemas de sono e perda de apetite. A
longo prazo temos flacidez muscular, confusão mental e perda de memória.
Churrasco saudável - A fumaça e o chamuscado do churrasco originam substâncias
que, depositadas na carne, podem favorecer o
aparecimento do câncer de estômago, quando consumidas em excesso. Algumas dicas:
- Prefira carnes magras. Ao pingar sobre o
carvão em brasa, a gordura cria mais fumaça
e chamas, capazes de escurecer o alimento;
- Se usar grelha, cubra-a com papel alumínio,
furando alguns pontos para a gordura escorrer. Ajuda a proteger o alimento das chamas;
- Enquanto a carne estiver no fogo, borrife-a com um pouco de água ou molho a
O Boletim ICAPS é uma publicação do
Instituto Camiliano de Pastoral da Saú­­de­e
Bioética – Província Ca­miliana Brasileira.
Presidente: José Maria dos Santos
Conselheiros: Niversindo Antônio Cherubin,
Leocir Pessini, João Batista Gomes de Lima,
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Secretária: Cláudia Santana
Revisão: Fadwa Hallage
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Prod. gráfica: Edições Loyola
Tel. (11) 2914-1922
Tiragem: 3.500 exemplares
ser usado. Mantêm a carne úmida e evita
os chamuscados;
- Se alguns pedacinhos queimarem corte
rente e jogue-os fora.
Mal de trabalho - Desemprego, estresse no
trabalho e perda de um filho podem aumentar o risco de câncer no sistema digestivo, de
acordo com um levantamento sueco. O grupo de maior risco é de pessoas com problemas no trabalho. Elas seriam cinco vezes mais
propensas a desenvolver esse tipo de câncer.
Abaixo os radicais - Exercitar-se durante
30 minutos, de três a cinco vezes por semana,
pode ser uma excelente maneira de evitar a
ação dos radicais livres, moléculas que provocam a degeneração celular. A constante
atividade física permite ao organismo manter
estável a produção das enzimas protetoras
que anulam os inimigos.
Artigo extraído do jornal
Grupo Geração Saúde.
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o recebimento, pelo Correio, de 11 (onze)
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A FÉ PODE CURAR
HAROLD KOENIG
Q
uem cultiva uma crença, independentemente da religião, é mais saudável
e feliz do que os céticos. E ainda consegue
lidar melhor com a dor física e emocional.
A conclusão é do médico americano Harold
Koenig, psiquiatra, geriatra e diretor do
Centro para o Estudo da Religião/Espiritualidade e Saúde da Universidade de Duke, na
Carolina do Norte (EUA). Há duas décadas
o professor americano se debruçou sobre a
relação entre religiosidade e saúde e conseguiu provar o que muitas pessoas já percebiam na prática: a fé pode curar. Na década
de 90, Koenig acompanhou 4 mil pessoas de
mais de 60 anos e dos mais diferentes credos. O resultado, seis anos depois, foi que
menos da metade daquelas que não tinham
uma prática religiosa assídua estava viva.
Em contrapartida, 91% das que tinham uma
crença encontravam-se saudáveis.
Por que o senhor resolveu pesquisar
o assunto?
Há 20 anos, percebi entre meus pacientes que quem tinha uma prática religiosa era
mais feliz e reagia melhor, física e emocionalmente, às doenças. Esses também tinham
menos depressão, mais paz interior e aceitavam melhor os tratamentos médicos. Comecei a me questionar se tal comportamento
poderia realmente influenciar a saúde.
O que o senhor concluiu?
Pessoas que têm crença religiosa e a praticam vivem, em geral, sete anos mais do
que as que não alimentam a fé. Quem reza
ou freqüenta cultos religiosos ao menos uma
vez por semana tem 40% menos chances de
apresentar pressão alta. Outro estudo mostra
que 50% dos idosos saudáveis que não rezam
estão mais propensos a morrer nos próximos
seis anos do que os que têm esse hábito.
Por quê?
Pesquisas mostram que pessoas religiosas são mais otimistas e têm uma visão mais positiva da vida. Isso dá a elas
um significado, um sentido, um objetivo e
esperança. É perceptível, ainda, que essas
pessoas têm uma vida social mais intensa — mais amigos, com quem interagem
e com quem podem contar para receber
apoio e ajuda emocional. Finalmente, são
homens e mulheres com um estilo de vida
mais saudável: fumam menos, não se excedem com bebidas alcoólicas, não usam
drogas ou cometem atos criminosos. Todos esses fatores psicológicos, sociais e de
comportamento influenciam nos processos
de cura. Isso se reflete de maneira indireta
na saúde, como reforço dos sistemas imunológico, endócrino e cardiovascular.
Mas quais seriam exatamente os efeitos
fisiológicos da fé no organismo?
Práticas religiosas acalmam a mente e
as emoções. E já é cientificamente comprovado que acalmar a mente reduz a pressão
arterial e os batimentos cardíacos e reforça
o sistema imunológico.
Esses efeitos são similares aos da
meditação?
Sim. Mas se tornam mais poderosos se
a prática vem acompanhada de uma crença
religiosa forte, não apenas individual, mas
de um grupo.
Ter ou não ter fé pode fazer diferença
na cura de algum problema específico de
saúde?
Observamos que os efeitos são especialmente relevantes para os males causados
pelo excesso de stress, como doenças cardiovasculares, infartos. E pessoas que alimentam suas crenças espirituais enfrentam
melhor as dores físicas. Em geral, são pessoas que não se deixam dominar pela dor.
Os profissionais de saúde sabem respeitar
a crença de seus pacientes ou percebem a
importância disso nos processos de cura?
Médicos são cientistas. Eles respeitam
e valorizam os métodos científicos. Foi por
meio dos métodos científicos que demonstramos que as pessoas que têm fé são mais
saudáveis e felizes. Por isso, é crescente o
número de médicos que levam em conta as
crenças pessoais de seus pacientes como
parte do processo de cura. No entanto, pesquisas demonstram que apenas 5% dos médicos incentivam seus pacientes a encarar
sua religião ou seu credo espiritual como
parte do tratamento. Mas isso está mudando
nos Estados Unidos. Atualmente, mais de
dois terços das escolas médicas americanas
já têm disciplinas de “religião e medicina”.
O senhor já vivenciou uma demonstração
de que a fé pode curar que o tenha
surpreendido?
Um amigo teve um tipo agressivo de câncer no cérebro, cujas células doentes se alastraram para os rins. Ele foi operado e o cirurgião
retirou o máximo possível do tumor, mas o
avisou que tinha poucos meses de vida. Ele, a
família e as pessoas da igreja que freqüentava
rezaram pela sua cura. Hoje ele é um homem
saudável. E isso mostra que, mesmo para a
ciência, existem coisas para as quais não há
explicação lógica ou científica. É fé.
Texto extraído da
Revista Criativa — julho/2005.
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COMO RELACIONAR-NOS
HUMANAMENTE BEM
JOSÉ GARCIA FÉREZ
N
ós, os seres humanos,
necessitamos relacionarnos com os demais para podermos viver em sociedade, por
isso é importantíssimo saber
comunicar-nos bem e sabermos estabelecer boas relações
humanas. Todos queremos que
nos tratem bem e precisamos
saber tratar bem aos outros,
mas nem sempre é fácil fazêlo, nem possível consegui-lo.
Além disso, também somos
conscientes das vantagens que
uma boa relação interpessoal
nos traz (confiança, aceitação,
entendimento, ajuda mútua,
etc.), assim como as desvantagens de uma má ou estremecida relação com os demais
(falta de adaptação, crises, fracassos, medos, desconfiança, etc.).
Efetivamente, os conflitos conjugais,
os problemas familiares, as discussões
no trabalho, o estresse social, etc., são
fruto de relações humanas mal levadas
e, por conseqüência, doentias. São sinais, na maior parte dos casos, de uma
existência frustrada e de uma vida infeliz. Ao contrário, as relações pacíficas,
cheias de harmonia, respeito e afeição
nos permitem viver melhor as diferentes
etapas e situações de nossa vida, assim
como capacita-nos para podermos levar
a termo nosso próprio projeto de vida.
Como diria o filósofo alemão Arthur
Schopenhauer, não somos como ouriços
que quanto mais nos aproximamos mais
nos ferimos, porém podemos e devemos
fazer com que nossos relacionamentos
sejam os melhores possíveis, tanto para
nós como para os outros. Também não
acredito que existam relacionamentos
equivocados, pois de todas as pessoas
podemos aprender algo, embora considere que existam pessoas cuja relação
pode ser desafortunada ou contraproducente para nós, por terem uma intenção maliciosa ou porque possam nos
prejudicar a curto ou longo prazo em
algum aspecto de nossa vida, de forma
intencional ou não. Entretanto, existem
outros tipos de relações humanas muito
gratificantes que nos permitem transitar
pela vida com uma maior auto-realização social. Mas, para que estas possam
acontecer é preciso aprender a integrar
três valores fundamentais: diálogo, autoconhecimento e entendimento.
Diálogo
São muitos e bem diferentes os planos que norteiam a existência biográfica humana (biológico, afetivo, racional,
social e espiritual), assim como os aspectos circunstanciais e culturais que
influem no desenvolvimento vital da
mesma. Não obstante, partindo desses
princípios, devemos aprender a planejar nossa vida em relação aos outros,
esforçando-nos para construirmos junto
um futuro comum, justo e pacífico, evitando qualquer tipo de discriminação
(ética, étnica, sexual, econômica, religiosa, etc.) e fomentando o respeito à
dignidade de cada ser humano.
Considerando que não
vivemos numa sociedade
perfeita nem num mundo ideal, qualquer relação
humana não está isenta de
problemas, conflitos, riscos, possibilidades e responsabilidades. E todo pluralismo social exige certa
dose de tolerância moral,
ou seja, toda relação entre
seres humanos deve almejar a ser, pelo menos, igualitária e respeitosa. Embora
aceitar e respeitar as formas
de pensar e de agir dos outros possa ser uma tarefa
difícil. Entretanto, só o fato
de tentar fazê-lo contribuirá
notavelmente para a construção de uma sociedade
mais livre e mais humana para todos.
É indispensável saber relacionar-se.
Por isso é importante resgatar o valor da
palavra “diálogo”, não só como instrumento de conhecimento e de aproximação entre as pessoas, mas também como
forma de respeitar os direitos humanos
fundamentais de cada um. A atitude de
diálogo nos permitirá, em muitos casos,
saber escutar os outros, compreender
suas razões, compará-las com as nossas,
aceitar ou recusar dita forma de pensar
alheia ou até transformar, de certo modo,
nossa personalidade se descobrirmos que
as razões vitais dos outros são tão válidas,
boas ou úteis como as nossas. Negar-se a
dialogar por manter atitudes egocêntricas,
racistas ou não solidárias podem supor,
em muitos casos, deixar a porta aberta à
violência, ao desprezo, aos maus tratos e
à falta de horizontes de sentido comuns.
Autoconhecimento
Não pode haver uma verdadeira relação interpessoal se previamente não
tem havido uma exploração de nosso
autêntico “eu interno”, ou seja, se antes
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não tivermos feito o esforço de compreender e conhecer a imagem ou percepção que temos de nós mesmos. Se
pretendemos conhecer-nos tal como somos na realidade, necessitamos analisar
cuidadosa e continuamente os diferentes aspectos que configuram nossa maneira de pensar, sentir e atuar. E isso só
é possível através da interiorização, isto
é, pela busca de nosso ser interior.
Já dizia Santo Agostinho eu sua obra
“A Cidade de Deus”, que “a autoconsciência é a primeira certeza que temos”,
pois é preciso partir dela para poder
transcender nossa relação do plano intimista para o plano da alteridade. Também o manifesta em outra passagem da
verdadeira religião: “Não busques fora
de ti … entra em ti mesmo; a verdade encontra-se no interior da alma humana”.
E parece que temos dedicado e investido
grande quantidade de tempo e esforço
em descobrir o mundo, em conquistar o
universo, mas não temos tido o mesmo
empenho em conhecer a nós mesmos.
Assim, pois, cada um deve saber
como é ou deveria ser para poder saber
como são ou deveriam ser os outros. Não
obstante, podemos ter uma imagem equivocada ou deformada de nós mesmos e
dos outros, pois o ser humano tem uma
capacidade estimativa e hermenêutica
falível, ou seja, tem a possibilidade de
errar ao imaginar ou considerar as coisas
como não são na realidade. E isso ocorre
também com as pessoas, pois frequentemente não conseguimos compreender
como somos na realidade, ou o que podemos fazer, nem a nós nem aos outros.
Mas apesar dessas dificuldades temos de aventurar-nos a nos conhecer,
temos de atrever-nos a entrar em nós
mesmos e averiguar quem somos realmente. Mas esta auto-exploração psicoemocional não deverá ser feita às pressas, mas da forma mais séria e adequada
possível. Caso contrário, poderíamos
transformá-la num jogo sem substância,
em um entretenimento banal ou numa
experiência não transcendente. Nosso
“eu” interno pessoal merece toda nossa
atenção e todo o nosso tempo e dedicação. O êxito de nossa vida social e o
estabelecimento de relações maduras e
satisfatórias dependerá, em grande medida, do nível ou grau de conhecimento
que tenhamos de nós mesmos.
Entendimento
Vivemos em sociedades abertas, diversas e plurais, com códigos morais variáveis, e a partir desta realidade caberia
propor uma ética que evite os enfrentamentos, promova o diálogo e nos permita viver em paz uns com os outros. Entretanto,
observamos formas de fanatismo cultural,
de fundamentalismo político-religioso, de
ideologias que tentam impor-se, dominar
ou eliminar outras, de atitudes intolerantes e desrespeitosas com o ideal ético de
um hipotético entendimento universal
que deveria ser sustentado, pelo menos
em alguns valores mínimos ou princípios
morais básicos. Esta moral de mínimos
baseada nos direitos humanos (respeito
à vida, à liberdade, à igualdade, à justiça,
etc.) e em repúdio a toda forma de violência ou de atentado contra a dignidade
e a integridade de qualquer ser humano,
é que pode garantir-nos uma convivência
sadia e uma irmandade universal…
Como habitamos num mundo cada
vez mais interligado e interdependente,
com pessoas muito diferentes pela sua
procedência e maneira de viver, estamos
obrigados a entender-nos, e a conviver
da melhor maneira possível. E a primeira
máxima para aprender a conviver é saber
respeitar o mundo que temos e as pessoas
que vivem nele. Os valores do respeito, do
diálogo e do entendimento, representam os
pontos angulares para uma ética comunitária que aspire a um encontro de identidades
culturais pacífico e tolerante. Estes valores
fomentarão, sem dúvida, a responsabilidade de forjar um mundo melhor para todos, isto é, uma humanidade onde impere
o civismo e a concórdia. Mesmo que este
ideal de entendimento global possa parecer utópico, dado o rastro pessimista que
o ser humano vem deixando nos últimos
séculos de sua história (injustiças, guerras,
fome, pobreza, desigualdades, falta de solidariedade, intolerância, violência, etc.).
Relacionar-nos-emos humanamente
bem só quando partirmos destas premissas:
saber dialogar, aprender a conhecer a nós
mesmos e querer buscar um entendimento mútuo, seja entre duas ou mais pessoas,
entre grupos sociais ou, do ponto de vista
global, entre todas as culturas. Esta filosofia da fraternidade interpessoal e intercultural de todos para com todos é e deveria
ser nossa meta moral mais elevada como
pessoas e como sociedade que caminha
para um futuro inexorável e incerto.
5
LEITE MATERNO É
FUNDAMENTAL PARA
A SAÚDE DO BEBÊ
DANIELA JOBST
O leite materno é o alimento mais completo que existe e é muito importante para o
desenvolvimento sadio do bebê. Fatores como
a inteligência e a prevenção de doenças ao longo de nossas vidas estão ligados à amamentação materna que recebemos quando criança.
Sua composição é específica e sutilmente modificada de acordo com a necessidade do lactente. Em todos os mamíferos, os nutrientes e,
em especial, as proteínas do leite produzido,
são para estimular, nesta espécie, o melhor
crescimento e desenvolvimento orgânico e funcional. Quanto mais a tecnologia nos oferece
mais conhecimentos específicos sobre a composição e as funções do leite materno, mais esforço é despendido em relação ao aleitamento
materno pelo maior tempo possível, pelos quais
já foram comprovados os inúmeros benefícios
que isto trará para o resto da vida do bebê.
O leite materno é um líquido rico em gordura, proteína, carboidratos, minerais, vitaminas, enzimas e imunoglobulinas que protegem
contra várias doenças. Composto por 87% de
água e 13% de uma poderosa combinação de
elementos fundamentais para o crescimento e
desenvolvimento da criança, a prepara adequadamente para aceitar e utilizar os alimentos que
serão introduzidos gradualmente, a partir de
um mecanismo imunológico perfeito, desenvolvido a partir das substâncias nele presentes.
O leite humano também é rico em leucócitos
e anticorpos que protegem o bebê contra infecções e alergias e possui fatores de crescimento
que aceleram a maturação intestinal, também
prevenindo alergias e intolerâncias. A vitamina
A presente no leite materno previne e/ou reduz
a gravidade de algumas infecções e previne
doenças oculares causadas por sua deficiência.
A grande quantidade de ácidos graxos de cadeia
longa são importantes para o desenvolvimento e
mielinização do cérebro. Os ácidos araquidônico
e linoléico, fundamentais na síntese de prostaglandinas, existem em maiores concentrações
no leite humano do que no leite de vaca. O principal açúcar do leite materno é a lactose, porém,
mais de 30 açúcares já foram identificados no
leite humano, como a galactose, frutose e oligossacarídeos, com ação bifidogênica comprovadamente muito maior do que os do leite de vaca.
É ideal que se amamente o bebê até que complete 6 meses de idade, o que traz benefícios não
só à criança, mas para a mãe também, que tem o
risco reduzido de contrair câncer de mama e ovário e volta ao peso normal mais rapidamente. Em um estudo em Cambridge, Reino Unido, com 926 bebês que foram acompanhados
por 5 anos, foi demonstrado que quanto maior
o tempo de consumo do leite materno, maior o
nível de mineralização óssea aos 5 anos, com
uma diferença de até 38% em relação aos que
receberam fórmulas infantis, apesar das mesmas terem uma proporção maior de cálcio.
Fonte: Support Produtos Nutricionais
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SILÊNCIO
DEOLINO PEDRO BALDISSERA
H
á uma canção do Padre Zezinho que começa assim:
“O silêncio está cantando uma
canção de amor e paz…”.
Fico pensando quanta gente gostaria que isso fosse verdade. No lusco-fusco de cada manhã que renasce
ao sair da noite, o vozerio do novo
dia vai tomando conta de todos os
cantos e no seu ritmo nós entramos
na dança pela sobrevivência correndo atrás da condução para chegar
ao trabalho, para não atrasar na escola, e subindo e descendo escadas
vamos meio ofegantes para o nosso
compromisso. E assim, na correria
do sobe e desce, amenizada um pouco
pelo fone de ouvido que repassa os sons
do MP3 com nossas músicas preferidas,
vamos levando a vida. O silêncio vai
ficando longe, perdido no barulho do
atropelo que se impõe. Ouvir o silêncio
de amor e paz como queria o Padre Zezinho não dá, sem chance!
Não é fácil para as pessoas silenciarem para ouvir aquela canção. Os
ruídos tomam conta das ruas, das casas, de todos os lugares. Muita gritaria
e pouco silêncio.
Na verdade, fazer silêncio é muito
exigente. Ele costuma acordar os problemas adormecidos e aí os incômodos
de tal situação geram muita tensão. Por
isso “melhor nem pensar”, assim fazemos de conta que eles não existem e
tudo bem. Quando se faz silêncio dá-se
espaço para as vozes internas, a mente se agita e o coração se inquieta e a
paz pode ir logo para a dispersão! Nem
todos estão dispostos a ouvir o que o silêncio interior tem a dizer.
No entanto, é preciso silenciar! Sem
ele a vida passa e não a percebemos.
Se não ouvimos a voz do silêncio
corremos riscos de não saber para
que existimos e por quê vivemos.
A vida assim pode ficar sem paz
e sem amor! Por isso silenciar é
preciso! Como chegar lá, eis o
desafio. Na verdade, parece que
temos medo do silêncio. Quem
o teme? Os amantes do barulho?
Os sem-tempo? Os desocupados?
Talvez nós temamos um pouco, e
por isso o evitamos. Contudo, é
através dele que temos a chance de
alcançar as profundezas de nosso
ser e entender nossas perguntas ou
ao menos perceber para onde elas
apontam ou querem nos levar. Ninguém
pode experimentar suas profundezas se
não fizer silêncio fora e dentro! É no
silêncio que se abre o espaço para as
diferentes “canções” presentes no coro
das vozes surdas do coração. Por isso
experimente, faça um pouco de silêncio e descubra qual a canção que ele
canta! Muito silêncio para você e cante
sua canção de amor e paz!
Deolino Pedro Baldissera é padre,
psicólogo e professor.
Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde
Tel. (11) 3862-7286, ramal 3
e-mail: [email protected]
Rua Barão do Bananal, 1.125
05024-000 São Paulo, SP
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