Expandindo cada vez mais as fronteiras do lean

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Expandindo cada vez mais as fronteiras do lean
Expandindo cada vez mais as fronteiras do lean
Autor: Jos€ Roberto Ferro – Presidente do Lean Institute Brasil
Publicado em Abril/2012
Se a jornada lean na sua empresa foi iniciada há mais de 1 ano, agora pode ser um bom
momento para fazer uma reflexão sistematizada sobre os progressos conquistados e, então,
identificar os próximos passos.
Uma ferramenta A cada dia, empresas e organizações de novos setores da economia estão
iniciando a transformação lean no Brasil. As dinâmicas, as necessidades e os problemas
específicos variam e, portanto, algumas técnicas e ferramentas precisam ser redefinidas ou
mesmo criadas, ainda que os conceitos essenciais sejam os mesmos.
Vejamos alguns exemplos, em sua grande maioria ainda em estágios embrionários.
"Start Ups". Surgiu um novo enfoque para o empreendedorismo e a criação de novas
empresas baseados nos conceitos lean ("lean startup"), mais focalizado nas necessidades reais
dos clientes, mais interativo e mais rápido do que o modelo convencional.
Isso transforma o "start up" ou a criação de novas empresas em rápidos experimentos que,
com grande velocidade, informam e apontam aos fundadores/criadores de novas empresas se
o empreendimento está no caminho correto de transformar-se em um negócio viável. A
velocidade prevalece sobre as definições de custos.
Técnicas e conceitos, como ir ao gemba dos clientes e verificar in loco o que está acontecendo,
estão substituindo as práticas mais tradicionais de mensuração e números frios e
frequentemente pouco relevantes.
Embora inicialmente o foco tenha sido em empresas de alta tecnologia, cada vez mais se aplica
a todo o tipo de novo negócio em que é alta a incerteza sobre o que os clientes esperam. Com
isso, é possível que diminua a elevada taxa de mortalidade que existe na criação de novas
empresas. Veja mais detalhes em www.leanstartups.com.
TI. Há um grande interesse e uma grande necessidade na área de TI, tanto encarada como um
setor em si, com as empresas independentes produtoras de softwares e soluções, como
também considerando as áreas ou funções de TI dentro das empresas. Há uma percepção cada
vez mais generalizada de que a área consome muitos recursos e traz pouco retorno.
O movimento de "Lean TI / Agile" tem procurado entender melhor o que é valor para os
clientes dado que, na maioria das vezes, o que TI entrega é muito pouco usado ou não é a real
necessidade dos clientes. Algumas técnicas estão sendo utilizadas com a entrega de pequenos
lotes mais frequentes, de modo a permitir um feedback mais rápido dos clientes, assim como
tem se empreendido um maior esforço nas fases iniciais do projeto para entender as reais
necessidades dos clientes.
Empresas produtoras de software têm reconhecido a sua incapacidade em atender os clientes
na hora prometida e entregar aquilo que eles realmente querem. Os elevados custos e os
longos lead times, sem contar os atrasos sistemáticos, têm sido cada vez mais criticados em
projetos de TI.
Os departamentos ou funções de TI dentro das empresas deveriam estar, em tese, muito
melhor preparados e em condições de alinhar-se mais intensamente ao negócio. Mas nem
sempre é o que acontece. Frequentemente parece haver uma luta do resto da empresa contra
TI. Veja a primeira parte do artigo "A abordagem Lean na integração da TI com o negocio", de
Steve Bell.
Saúde. Na gestão hospitalar, há alguns anos começaram a surgir algumas iniciativas pontuais
no país, com os primeiros exemplos de hospitais dando os passos iniciais e já conseguindo
resultados auspiciosos. Os erros frequentes, a frustração dos pacientes, os custos elevados são
alguns dos problemas que vêm sendo atacados pelos hospitais que já iniciaram a
transformação lean.
Os esforços iniciais têm trazido como resultados o aumento da produtividade e da capacidade
(ex.: centros cirúrgicos, pronto atendimentos, gestão de leitos), melhor utilização de
equipamentos, diminuição dos erros e maior segurança e satisfação dos pacientes, aumento
da moral dos colaboradores, entre outros.
Entretanto, não temos ainda nem uma dúzia de hospitais com um esforço sistemático de
disseminação lean. Esperamos que esse interesse cresça na medida em que essas experiências
iniciais se consolidem e se expandam.
Ainda na saúde, além de hospitais e clínicas médicas, alguns laboratórios vêm reduzindo os
prazos de entrega dos resultados de exames e os erros e imprecisões com a aplicações de
algumas técnicas e conceitos lean. Esperamos que o recém-lançamento em Português do livro
"Uma transformação na Saúde", de John Touissant e Roger Gerald, possa ajudar a acelerar
esse movimento na área da saúde no Brasil.
Setor financeiro. Alguns bancos pioneiros já iniciaram a implementação lean ("lean banking"),
mesmo considerando que, até recentemente, eles estavam imunes à necessidade de esforços
significativos de melhoria da eficiência, devido à própria natureza do negócio, garantido
anteriormente por altas taxas de inflação e, em seguida, pelas elevadas taxas de juros e
elevados spreads. A maioria dos bancos tem conseguido excelentes resultados, mesmo sem se
preocupar muito com a eficiência operacional e seus elevados custos administrativos. Mas as
tendências de redução das taxas de juros e do spread podem intensificar o interesse e acelerar
essa transformação, assim como já ocorre há anos em outros países.
Em algumas empresas de seguros, a disseminação lean tem não apenas reduzido custos e
melhorado a rentabilidade como também tem facilitado a vida dos clientes, reduzindo a
complexidade dos processos de atendimento.
Médias e pequenas empresas. Embora muitas vezes carentes dos métodos básicos de gestão,
é crescente o número de empresas médias e até mesmo pequenas iniciando a transformação
lean. Frequentemente estimuladas por seus clientes, mas por vezes também por iniciativa
própria. Por requerer baixos investimentos, as oportunidades são enormes. Mas por outro
lado, mudar a cabeça de muitos desses empresários não é tarefa fácil. Tanto empresas
puxadas por clientes maiores querendo melhorar a sua cadeia de suprimentos, como algumas
poucas empresas em setores tradicionais e bastante competitivos, como têxtil, calçados,
móveis etc., estão percebendo as oportunidades com o lean.
Em todos esses setores, que são algumas das novas fronteiras do lean, os promissores
resultados iniciais sugerem que essa dinâmica tenderá a se reforçar no futuro. Isso é um bom
sinal. Essas empresas podem se beneficiar do aprendizado dos setores mais amadurecidos em
lean e acelerarem as suas curvas de aprendizado e, portanto, a velocidade de implementação.
Embora não haja mais nenhuma dúvida sobre a adoção do sistema lean para as empresas mais
avançadas e nos setores mais maduros em lean, como o automotivo (montadoras e
autopeças), que se tornou o modelo dominante de gestão das operações (manufatura e
logística), preocupa-nos muito a lentidão e o pouco esforço para a disseminação além das
áreas de operação. Os conceitos e técnicas têm tido dificuldades de sair das fábricas e
espalhar-se pela empresa. São raríssimas as iniciativas de mudança nas áreas de vendas e
marketing, compras, desenvolvimento de produtos.
Acreditamos que essa tendência de espalhar lean pela empresa toda tende a crescer nos
próximos anos.