relação com os pais é essencial no aprendizado

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relação com os pais é essencial no aprendizado
Arquivo Pessoal
todo mundo
foi neném
PaUL ZaLOOM,
O PrOfessOr beakMan
entrevista jack shonkoff
de são paulo
As palavras do pediatra
Jack Shonkoff, da Universidade Harvard (EUA), podem
surpreender famílias que gastam pequenas fortunas com
cursos e brinquedos para
crianças de até seis anos. Para o pesquisador, bastam interação com adultos e poucos
utensílios para garantir bom
desenvolvimento infantil.
Shonkoff é diretor de um
centro em Harvard que pesquisa o tema e que defende
que a boa estruturação cerebral na primeira infância depende da qualidade da atenção dada pelos adultos.
Quando as crianças recebem respostas para suas demandas, conexões neuronais
são ativadas, se integram às
outras e se fortalecem. E são
elas que formarão a base para a boa aprendizagem na escola e as habilidades de se relacionar bem com os outros.
“Nada disso exige brinquedos ou cursos”, disse Shonkoff à Folha, por telefone.
Outro ponto que o pesquisador defende é que os pais
não devem ficar se culpando
por eventuais erros. “Mesmo
os melhores pais do mundo
cometem erros todos os dias.
Criar filhos é muito mais uma
arte do que uma ciência.”
Leia trechos da entrevista.
ambiente, aprender. E protegê-la do alto nível de estresse.
Dizem, por exemplo, que é
importante ler para o filho, o
que é correto. Mas se a criança não quer ficar sentada, se
você precisa brigar, segurála, ela vai chorar, se estressar. Tem de ser prazeroso.
É interessante colocar crianças de até seis anos em aulas
como música, artes, línguas?
Com a preocupação de estimular as crianças, há pais
superestimulando os filhos.
É importante ter equilíbrio,
e um modo de encontrá-lo
é apenas deixar a criança
ser criança. A melhor forma
de ela aprender é brincando, imaginando coisas. Um
monte de atividades impostas pode gerar estresse.
divulgação
H
O que os pais podem fazer para realmente ajudar no desenvolvimento dos filhos?
Jack Shonkoff - Na gravi-
dez, garantir que o bebê e a
mãe estejam em boas condições de saúde. Ter bom atendimento médico. E dormir
bastante antes de o bebê nascer, porque depois... (risos).
Logo após o nascimento, o
mais importante é construir
forte conexão com a criança.
Estar atento às demandas dela e respondê-las. Como num
pingue-pongue, se a criança
sorri ou aponta para algo, é
importante que o adulto sorria de volta, converse. É o que
constrói a relação, que são os
tijolos necessários para todo
o desenvolvimento que virá.
Outro ponto é dar à criança
a oportunidade de explorar o
Aulas de música ou natação
não podem ser importantes?
É diretor do Centro
de Desenvolvimento
Infantil da Universidade
Harvard, professor de
pediatria na mesma
universidade e
presidente do Conselho
Científico nacional para
o Desenvolvimento
Infantil (eUa). formouse na Universidade de
nova York
Os primeiros anos de vida do criador de Mônica (nas fotos,
aos 6, e hoje) estão nos seus gibis. “Fui o Chico Bento”,
diz Mauricio de Sousa, que brincava “com a turminha”
numa rua de terra em Mogi das Cruzes (SP). Passava o dia
jogando pega-pega, bolinhas de gude, ou nadando no rio.
“A família toda morava em dois quarteirões. Duas avós,
duas tias, primas, padrinho.” Com as casas sempre abertas,
a criançada entrava na mais próxima para fazer um lanche.
A rua era também uma “ONU”, dava aula de convivência:
tinha o armazém do turco (na verdade, um libanês) e as
casas do espanhol e do japonês. Sousa prendeu a ler com
livros do pai e, claro, com o seu primeiro gibi (“O Guri”).
Só entrou na escola aos seis anos, na capital: foi a primeira
vez que usou sapatos. (ricardo Bunduky)
Qualoriscodosuperestímulo?
Se você força a criança a
aprender algo, reforça a ideia
de que aprender é desprazeroso.Acriançapodesetornar
resistente à aprendizagem.
Se os pais não conseguem oferecer estímulos à criança na
idade adequada, o que fazer?
O mais importante para
o desenvolvimento é o bom
relacionamento da criança
com os pais. E você sempre
pode melhorar as coisas.
O que posso dizer é que
mesmo os melhores pais
do mundo cometem erros
todos os dias. Criar filhos é
muito mais uma arte do que
uma ciência.
Crianças não são tão frágeis. Há várias formas de ser
bom pai ou mãe. O problema
mesmo é quando a criança é
maltratada ou abandonada.
Qual a opinião do sr. sobre o
uso de tablets ou celulares?
perfil
jack shonkoff, 68
MaUrICIO De sOUsa,
O PaI Da MÔnICa
É maravilhoso se os pais tiverem condições de oferecer
essas experiências. Mas só se
for divertido para a criança.
Se ela chora por causa da atividade, é melhor recuar.
A criança precisa da interação com pessoas, demandaserespostas.Quandovocê
é mais velho, pode aprender
por meio de vídeos, de tablets. Um bebê, não.
Não há evidência de que
seja prejudicial o uso de tablet por uma criança de dois
anos, se ela usa por algum
tempo no dia para brincar
com ícones animados, mover
figuras ou ver o resultado de
suas próprias ações.
Mas se os pais entendem
que o tablet pode substituílos, e a criança o usa por muito tempo diariamente, não é
bom. Em qualquer idade.
O COMEÇO
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fábio takahashi
Divulgação
DEsEnvolvimEnto DEpEnDE
mAis DA AtEnção Dos ADultos
E DAs brincADEirAs Do quE DE
AulAs chEiAs DE Estímulo,
AFirmA pEsquisADor DE hArvArD
O primeiro contato de Paul Zaloom (nas fotos aos 6,
e nos anos 90) com o teatro foi quando seus pais o
levaram à Broadway, em Nova York. “Gostava muito de
‘Oliver’ [adaptação de ‘Oliver Twist’, de Charles Dickens],
morria de inveja das crianças que atuavam. Na escola,
participava de todas as peças.” A diversão virou profissão,
e Paul se formou como ator. A maior parte da carreira foi
manipulando marionetes, outra paixão, mas seu papel mais
marcante foi no ‘Mundo de Beakman’, programa de TV que
ensinou ciência para crianças de 90 países. (Bruno Fávero)
Arquivo Pessoal
relação com os
pais é essencial
no aprendizado
wenDeL beZerra,
a VOZ DO bOb esPOnJa
Dono da voz brasileira de Bob Esponja, Wendel Bezerra
(aos 6, e hoje) começou a trabalhar cedo seu instrumento
mais precioso: aos quatro anos, já tinha duas falas na
peça “Gota D’Água”, na qual entrou de carona com o
irmão e contracenou com a atriz Bibi Ferreira. “Ela me
‘adotou’, me enchia de presentes.” Mas a infância ao lado
dos quatro irmãos não foi nada glamourosa. “A gente
era muito pobre, vivia mudando de casa.” Seguindo os
passos de dois dos manos, cresceu em bastidores de
teatro e estúdios de TV, gravando comerciais. O pai,
motorista, foi ausente. A mãe, nordestina, criou a prole
com rigidez e ditados como “quem com porcos se mistura
farelos vem a comer”, que ele usa até hoje. (rB)
apr esentado por:
DA VIDA
(Be - The beginning of life)
estreia em
Direção de Estela Renner
u m f i l m e da
U m f i l m e e s s e n c i a l pa r a to da s a s M ã e s , pa i s e c u i da d o r e s
Divulgação
ab
Domingo, 9 DE Agosto DE 2015
Gustavo Epifanio/Folhapress
HHH
Raquel Cunha
6 série especial primeira infância
M A RÇ O DE
2 01 6