Relatrio de Estudo
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Relatrio de Estudo
FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo Relatório de Estudo ANÁLISE DAS POSSIBILIDADES COMERCIAIS ENTRE RONDÔNIA E MANAUS FIERO - SEBRAE/RO Porto Velho - Janeiro - 1997 MENSAGEM DO PRESIDENTE FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo Relatório de Estudo FIERO - SEBRAE/RO Porto Velho - Janeiro - 1997 MENSAGEM DO PRESIDENTE Este trabalho, desenvolvido pela FIERO em parceria com o SEBRAE/RO, tinha por objetivo inicial um estudo de mercado da cidade de Manaus como forma de abrir novas oportunidades de negócios para a iniciativa privada de Rondônia. De pronto a equipe responsável por sua elaboração deparou-se com obstáculos aparentemente intransponíveis: a inexistência de dados oficiais e a reduzida confiabilidade nos poucos existentes nos dois estados. Este aspecto suscitou a necessidade do desdobramento do trabalho quer no estado de Rondônia, quer em Manaus, como forma de se obter essas informações. De outro lado, gerou a necessidade de ampliação do escopo do mesmo a partir de uma nova realidade que já se inicia no estado de Rondônia - os projetos Hermasa e PRODECER e a consolidação do corredor rodo-fluvial (BR-364/Rio Madeira) - e no estado do Amazonas - o início da implantação do projeto denominado 3º Ciclo. A partir dessas realidades, as análises aqui contidas transcenderam a proposição inicial e não se detiveram tão somente no mercado de Manaus. Após tantos esforços, esperamos que o presente documento não seja apenas mais um a dormitar em prateleiras, mas sim que tenha efetiva utilização. Nossos agradecimentos a todos os que permitiram sua realização, em particular ao SEBRAE/RO. Cumprimentando publicamente o Presidente do seu Conselho de Administração, Dr. Euro Tourinho Filho, o seu Superintendente, Dr.Roberval Duamel Zuñiga Jr. e sua diretoria, estendemos nossos agradecimentos a todos os funcionários deste órgão. Concluindo, repetimos aqui o que afirmamos em documento anterior: se quisermos romper os atuais paradigmas, não podemos nos abrigar num mundo imaginário, onde a história paralisada não se alimenta de mudanças. Para um estado marcado pelo imobilismo é necessário descobrir a gigantesca força das mudanças. Aquelas que nos conduzem ao rumo da história. MIGUEL DE SOUZA Presidente da FIERO FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo ÍNDICE SEGMENTOS PÁGINA Apresentação 1 Metodologia 8 Parte I - Introdução ao conhecimento dos mercados Capítulo 1 - A questão dos Pólos de Desenvolvimento Regional Capítulo 2 - Histórico da Ocupação Econômica dos mercados 15 16 28 Parte II - O Mercado de Manaus Capítulo 1 - Dois Estudos de Interesse Capítulo 2 - Oferta e Consumo de Gêneros Alimentícios e outros 48 49 61 Parte III - A Oferta Rondônia Capítulo 1 - Agricultura (Cereais, Frutas, Legumes, Outros) Capítulo 2 - Pecuária (Carne, Laticínios) Capítulo 3 - Indústria (Moveleira, Outras) 73 74 83 97 Parte IV - Fatores de Influência Capítulo 1 - Transportes Capítulo 2 - Competitividade: Incentivos Fiscais Capítulo 3 - O Projeto Hermasa e o PRODECER Capítulo 4 - O 3º Ciclo Capítulo 5 - A MP 1.511 111 112 125 134 147 155 Parte V - Conclusões Parte VI - Proposições Finais Bibliografia Adendo: Relação de Grandes Atacadistas de Manaus 161 167 190 192 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo EQUIPE DE ELABORAÇÃO Antônio Alves da S. Marrocos Neto - Engenheiro Químico Antônio Gurgel Barreto - Economista Antônio Rocha Guedes - Engenheiro Civil Desóstenes Marcos do Nascimento - Engenheiro Agrônomo Jorge Elage - Administrador de Empresa José Carlos de Sá Júnior - Jornalista José Ribamar da Cruz de Oliveira - Engenheiro Agrônomo Sérgio Ricardo Vieira Gonçalves - Jornalista William José Curi - Engenheiro Agrônomo MC&A - Consultoria e Assistëncia Empresarial Digitação, Gráficos, Layout, Edição e Editoração Eletrônica MC&A - Consultoria e Assistência Empresarial Ltda. Ficha Catalográfica preparada pelo Setor de Documentação do SENAI-DR-RO. SEBRAE/RO - Federação das Indústrias do Estado de Rondônia. Rondônia: Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus. Porto Velho, 1996. 1. Política Industrial: Rondônia 2. Rondônia: Produção e Indústria 3. Rondônia: Comércio e Mercado I.FIERO II. Título CDB 338.981175 Direitos reservados à FIERO e ao SEBRAE/RO FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo APRESENTAÇÃO Este trabalho é fruto da cooperação técnica entre o SEBRAE-RO e a Federação das Indústrias do Estado de Rondônia - FIERO, e surgiu inicialmente da necessidade de aportar subsídios para a classe empresarial rondoniense que servissem ao aumento do movimento comercial entre este estado e a capital amazonense, Manaus. Ou seja, pretendia-se dizer, dentre os produtos de Rondônia ou aqui possíveis de produzir, quais os que Manaus poderia adquirir, e em que volumes. Várias razões contribuíram para a escolha de Manaus, e todas elas explicadas por si mesmas. A relativa proximidade geográfica, a grande dependência de Manaus no tocante aos alimentos, o enorme volume de cargas com destino àquela cidade passando pelo porto de Porto Velho, as economias aparentemente complementares, são as mais evidentes. A escolha da capital, ao invés do universo inteiro do estado do Amazonas, foi também baseada no fato de que Manaus abriga, hoje, a metade dos habitantes do estado, é responsável por noventa e dois por cento de sua arrecadação fiscal e é seu principal ponto de entrada e entreposto comercial para quase tudo o que se consome no interior do estado e em Roraima. Associadas a estas condições, considerou-se ainda que Manaus é a porta de entrada da Amazônia para suas relações comerciais com a Venezuela e o Caribe, em conseqüência do asfaltamento já em curso da BR-174 que estabelecerá a ligação com aqueles países. Pretendia-se, portanto, de início, realizar apenas uma pesquisa de mercado em Manaus que pudesse apontar qualidades e quantidades de produtos produzidos ou produzíveis por Rondônia e quais os esquemas de comercialização mais utilizados ou melhor identificados com ambas as praças. O estabelecimento da metodologia a ser utilizada foi precedido de um prévio levantamento das fontes de dados disponíveis ou que viessem a se tornar necessárias, tanto em Manaus quanto em Porto Velho. Nesta pesquisa preliminar surgiu um Relatório de Estudo Econômico, de 1995, de autoria de um grupo técnico do CEAG - Instituto de Consultoria e Pesquisa sob a supervisão do economista Onildo Elias de Castro Lima, publicado a instâncias do SEBRAE/AM, sob o título: “Oportunidades de Investimentos para o Ano 2.000: Um mercado de 4 bilhões de dólares.”, que procura “identificar cinqüenta produtos finais ou intermediários ainda não fabricados ou produzidos inexpressivamente por empresas regionais1, que oneram a nossa balança comercial, de preferência voltados para a agroindústria, e com potencial de mercado capaz de justificar a sua transformação em oportunidades de investimentos produtivos de porte micro, pequeno e médio.” Aparentemente boa parte do estudo proposto pela FIERO em sua parceria com o SEBRAE/RO perdia razão de ser efetuada. O documento encontrado perfilhava projeções para o ano 2.000 da demanda interna do Amazonas de produtos de primeira necessidade por ele não produzidos e que, se produzidos por Rondônia, respondiam à central proposta inicialmente. Contudo, ao privilegiar produtos de tipo agro-industrial, deixa o referido estudo de abordar, em termos de demanda interna vários outros disponíveis hoje em Rondônia, alguns deles inclusive já sendo exportados para Manaus. 1 - do Amazonas. N.A. 2 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo Dois elementos deste estudo, ainda assim, foram aqui utilizados e relatados em capítulo próprio: a projeção dos perfis de demanda por grupo de produtos (quantitativos e em valores), para o ano 2.000, e a própria relação destes produtos de origem agro-industrial que, se ainda não são produzidos por Rondônia, podem muito bem passar a sê-lo agora, a partir destes indicativos aqui apresentados. Uma outra pesquisa de interesse surgiu do contato com a publicação Pequenos Objetos de Madeira, um trabalho conjunto do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA, através de sua Coordenadoria de Pesquisas de Produtos Florestais, do Conselho Nacional de Pesquisas CNPq e do SEBRAE-AM, que levantou a demanda por objetos de madeira de uso doméstico, e que também é apresentada de forma resumida no mesmo capítulo citado, deixando-se de lado as plantas e indicações de produção do próprio estudo. Mas a continuidade da busca de base de dados que permitisse a adequada pesquisa pretendida demonstrou, claramente, que a direção inicial do trabalho deveria ser modificada, na 3 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo medida do possível sem prejuízo dos seus objetivos iniciais, devido à enorme carência de informações oficiais fidedignas, em Manaus e Rondônia. Como atingir a complexa gama de nuances que envolvem a questão proposta apenas com uma pesquisa domiciliar? O que Rondônia produz, efetivamente, e em que escala? Haverá, com efeito, excedentes exportáveis? Em que volumes? Qual a qualidade do que se produz? O que Manaus consome? Em que quantidades? A que preços? O que já é comercializado entre Rondônia e Manaus? Quais os principais entraves e quais as facilidades? Como se dá a questão do transporte entre estas cidades? E entre Manaus e outras fontes de produção? Haveria vantagens comparativas? A tentativa de responder de forma correta a estas e a tantas outras perguntas fez com que o grupo de estudos, na análise das fontes oficiais existentes levantadas, verificasse rapidamente que não poderia fazê-lo por aqueles meios, tanto em Manaus quanto em Rondônia. Não há, em nenhum dos dois estados, bancos de dados estruturados que permitam responder diretamente a maioria absoluta daquelas perguntas. Os poderes públicos, nos dois estados, não parecem dar às estatísticas a importância que elas merecem para qualquer planejamento eficaz. Há algumas estatísticas, porém dispersas e pouco confiáveis. É recorrente a citação circular, em documentos oficiais de ambos os estados, de dados utilizados por estudiosos independentes que, por sua vez, se utilizam das próprias estatísticas oficiais existentes. Todos os dados sobre demanda interna do Amazonas, utilizados no trabalho antes referido2 pararam de ser coletados desde 1986. Assim, o levantamento dos documentos de onde apurar as informações desejadas levou a uma mudança da metodologia, necessária à sistematização do que se poderia obter de sua leitura, análise e crítica de consistência, e à necessidade de proceder a várias outras pesquisas, mais de campo e opinativas do que propriamente estatísticas, como forma final de atacar a questão. Esta metodologia se encontra explicitada no capítulo seguinte. As pesquisas de campo efetuadas em Manaus puderam apontar com clareza os segmentos produtivos de maior interesse ao mercado tipicamente comprador do Amazonas, enquanto as 2 - Op. Cit. ”Oportunidades de Investimentos para o Ano 2.000: Um mercado de 4 bilhões de dólares”. 4 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo pesquisas realizadas em Rondônia mostraram quais daqueles poderiam ser aproveitados atualmente, dados o seu desenvolvimento e estágio produtivo. Também interessou fazer um levantamento de preços médios ao consumidor, para que servissem de parâmetros comparativos entre os dois mercados estudados. A questão dos transportes, ponto sensível de toda transação com Manaus, mereceu estudo à parte, visando propiciar uma noção dos mecanismos ora utilizados e futuros na movimentação de mercadorias entre os dois pontos em estudo. Outros estudos complementares foram ainda agregados, na intenção de tanto clarear as condições atuais quanto projetar condições futuras para ambos os mercados. A principal motivação da equipe técnica para o estudo derivou do fato de que a falta de informações sobre os perfis de produção e consumo de produtos industrializados ou não no Estado de Rondônia e estados vizinhos, bem como sobre a origem dos mesmos e das estruturas de transporte disponíveis, vem dificultando a orientação tanto dos investimentos públicos como da iniciativa privada nos setores produtivos. Há uma necessidade urgente de se buscar novas alternativas para impulsionar o desenvolvimento de Rondônia. Assim sendo, deve-se entender como de real importância a elaboração de um amplo levantamento de dados capazes de orientar estes novos investimentos. Entende-se como oportuno, portanto, sugerir que outros estudos e levantamentos, mais específicos e dirigidos não só ao mercado amazonense como também a outros mercados nacionais ou estrangeiros mais próximos, venham a ser efetuados no futuro. Mas também será necessário que os governos se preocupem em realizar levantamentos sistemáticos dos dados dos Estados, ou jamais se obterão respostas precisas às indagações feitas. Ficou patente que um conhecimento acurado dos fluxos econômicos, dos níveis de consumo, dos processos de produção e da competitividade, serão indispensáveis para tentar reverter a atual situação e buscar novas alternativas para o desenvolvimento de Rondônia. Tais estudos possibilitarão a formulação de políticas de desenvolvimento por parte dos governos, e ainda orientarão a iniciativa privada em seus investimentos. 5 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo Está evidente que Manaus não pode ser esquecido como um centro bastante destacado na região Norte e com níveis de consumo semelhantes a de outras grandes metrópoles brasileiras, o que faz com que deva ser considerado com atenção numa análise de possibilidades comerciais. Vale salientar que, com uma população estimada em cerca de 1,23 milhão de habitantes, próxima à de todo o estado de Rondônia, que é de 1,53 milhão. Trata-se de um mercado sofisticado tipicamente importador de produtos de consumo geral, face à inexpressiva produção local. Como o Estado de Rondônia tem característica essencialmente agrícola, florestal e mineral, contribuindo, desta forma, como suporte para a indústria e agro-indústria, fica clara a possibilidade de colocação de imediato de produtos locais tais como gêneros alimentícios (frutas, legumes e cereais), carnes e móveis e, mais adiante, com a implantação de uma efetiva agroindústria, descortina-se um extenso rol de produtos passíveis de serem aqui produzidos. O estudo mostra que a opção por um mercado regional se dará apoiada na contingência do crescimento interno do estado, em sua proximidade, no fato de que Manaus apresenta uma das maiores rendas “per capita” do país e no contingente populacional da região, hoje estimado em mais de 5 milhões de habitantes, incluindo-se apenas os estados da Amazônia Ocidental, sendo o Amazonas responsável por pouco menos da metade deste total, com aproximadamente 2,35 milhões de habitantes. O estudo mostra ainda que as questões ligadas ao transporte para Manaus são bastante restritivas desta escolha, se cotejadas com as das regiões do sudeste e sul do país, embora as distâncias sejam consideravelmente maiores mas com menor tempo de tráfego, e que, além do mais, formam um mercado esmagadoramente superior por englobar 78% do PIB nacional, contra apenas 1,3% do Amazonas. Como fatores que podem alterar, a curto e médio prazos, as possibilidades de negócios de Rondônia com Manaus figuram três eventos que, relatados, mostram como a dinâmica das situações exógenas ou endógenas pode influir naquelas possibilidades. São eles: o projeto do corredor de soja pela hidrovia do Rio Madeira, encetado pela HERMASA, o início do PRODECER em Rondônia, e o programa governamental do Estado do Amazonas denominado Terceiro Ciclo, todos capazes de modificar algumas das condições atuais analisadas. 6 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo Ao final do trabalho, além de suas conclusões e diante da plêiade de fatores que envolvem a questão da comercialização entre os dois mercados, e daqueles que contribuirão, certamente, a médio prazo, para mudanças em suas características hoje mais marcantes, a equipe de estudos optou por relacionar uma série de sugestões válidas tanto para o poder público quanto para a iniciativa privada, voltadas à melhoria e crescimento do comércio de Rondônia, não só em relação a Manaus mas também a outras praças do país e do exterior. O que se poderá dizer, de forma genérica, ao final deste estudo, é que Manaus importa tudo o que consome e não só no campo dos alimentos. De outra parte, também ficou claro que quase todo o movimento comercial possível de existir entre os dois mercados já é hoje praticado, talvez apenas um pouco aquém de suas totais possibilidades. Apesar das boas oportunidades, o empresariado local não considera prioritário, ou desconhece, o mercado de Manaus, estando mais ligado, física e culturalmente, com os centros sul e sudeste do país. Diante das dificuldades encontradas com as informações oficiais, e das soluções alternativas que tiveram de ser buscadas, é possível que o trabalho não responda com absoluta clareza a todas as perguntas iniciais propostas, mas se acredita que tenha conseguido traçar um esboço bastante aproximado da situação, e que possa vir a efetivamente servir de orientação a nossos empresários quanto às possibilidades comerciais aventadas pelo estudo e de indicativo para outras iniciativas. Nesta apresentação, quer-se ainda agradecer especialmente a todos os que tornaram possível a elaboração deste trabalho, pelo concurso sempre pronto de suas informações, e pela boa vontade demonstrada para com nossos técnicos. Agradecimento especial merecem, sem dúvida, as autoridades estaduais de Rondônia, a Federação das Indústrias do Estado do Amazonas - FIEAM, a Superintendência da Zona Franca de Manaus, as Secretarias da Fazenda, do Comércio e Indústria e da Agricultura do Estado do Amazonas, o Instituto de Desenvolvimento do Amazonas, o professor Samuel Benchimol, da Universidade do Amazonas, o professor Ozório José de Menezes Fonseca, diretor do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, os gerentes dos portos de Porto Velho e de Manaus, os comerciantes, atacadistas e empresários amazonenses e rondonienses que deram sua contribuição a este estudo e as famílias visitadas na capital do Amazonas. 7 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo Destaque especial se deve, claramente, nos agradecimentos ao SEBRAE/RO, parceiro deste trabalho, e que mais uma vez demonstra a largueza de horizontes desta instituição, sempre pronta a investir no estudo e na pesquisa como formas auxiliares de apoio ao empresariado, norteando-os em suas iniciativas. Ressalte-se, também, a maneira fidalga com que foi tratada a equipe técnica da FIERO em seus contatos com o SEBRAE/AM, inclusive com a cessão de volumes de sua biblioteca para parte das pesquisas que se fizeram necessárias. ***** 8 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo METODOLOGIA A proposta inicial deste trabalho, considerada pelo grupo técnico que o elaborou como seu termo de referência, previa a realização de uma pesquisa, em Manaus, sobre quais produtos, e em que quantidade, aquela cidade importava de outras praças que poderiam ser substituídos por similares de Rondônia, já produzidos ou passíveis de serem aqui produzidos. Desdobrada esta questão, verificou-se que para respondê-la ter-se-ia, primeiramente, de determinar quais os produtos que Rondônia efetivamente produz. Este caminho evitaria a comparação de um universo restrito (produtos de Rondônia) ao extenso perfil de importações daquela cidade, envolvendo milhares de itens, cuja economia está centrada na produção de aparelhos eletro-eletrônicos, relógios e veículos de duas rodas, e que praticamente nada produz além disto. Efetivamente, levantar tudo o que Manaus importa hoje significava um trabalho muito além do necessário e talvez impossível de ser realizado diante dos objetivos e custos iniciais da proposta. A idéia do estudo então passou a se centrar no levantamento da produção de nosso estado passível de ser comercializada com Manaus porque assemelhada a parte das importações daquela cidade. Por outro lado, se deveria estar atento a novas oportunidades, isto é, à demanda existente por outros produtos, ainda não disponíveis, mas de produção potencial por Rondônia. A primeira dificuldade para se levantar a produção do nosso estado surgiu com a constatação de que Rondônia não dispõe de fontes confiáveis de dados sobre sua produção, seja ela primária ou industrial, implicando na necessidade de se realizar, também, uma pesquisa sobre o “quê, como e quanto” o estado produz e se gera excedentes para exportação. Esta não confiabilidade nos dados existentes será fartamente demonstrada ao longo deste estudo. A segunda dificuldade adveio de duas situações específicas. Uma dizia respeito também à absoluta ausência de dados oficiais sobre as importações de Manaus, exceto aquelas da Zona Franca que se restringem somente a valores financeiros totais anuais e nada indicam quanto à discriminação dos produtos. Assim sendo, além de não se dispor da informação de “o quê Manaus importa” também não se disporia dos dados complementares “de onde”, “quanto” e “por quanto”. Por mais que pareça estranha, a afirmativa acima é absolutamente verdadeira, e está sendo feita após uma busca exaustiva por indicadores daquele tipo, como se verá, em todos os órgãos oficiais do Amazonas, dentro ou fora do chamado Distrito Industrial. Apesar de tudo, esta dificuldade, aparentemente, poderia ser contornado com uma pesquisa junto ao comércio atacadista e supermercados. A estes agentes se perguntaria “o que Manaus importa” que se enquadrasse na condição inicial (que Rondônia produz, ou pode produzir), bem como as informações “de onde”, “em que quantidade” e “por quanto”. Contudo, estas simples perguntas esbarram em outros tipos de dificuldade para serem respondidas corretamente. Em primeiro lugar, a extensão da pesquisa que seria necessária para se ter idéia dos volumes totais envolvidos e, em segundo lugar, a reticência dos entrevistados a questionamentos desta ordem, que são sempre vistos como iniciativas da concorrente ou objeto de interesse do fisco. Diante do quadro geral decepcionante quanto a especificar e quantificar os objetos do estudo proposto, até mesmo para poder direcionar a pesquisa adequadamente aos seus objetivos, o grupo técnico optou pelo desdobramento do trabalho em três grandes linhas: 9 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo A - A primeira linha daria lugar a uma análise macroeconômica que permitisse a caracterização adequada dos dois mercados (produtor e consumidor) que se deseja aproximar, análise esta procedida com base nos indicadores disponíveis sobre o desempenho econômico dos mesmos ao longo dos últimos anos. B - A segunda linha se voltaria para uma visualização mais detalhada e próxima tanto das necessidades de um, quanto das potencialidades do outro mercado em pauta, como forma de melhor se verificarem os aspectos de troca possíveis, apoiada não só em indicadores disponíveis como numa pesquisa de campo envolvendo os principais setores e segmentos produtivos ou comerciais de cada estado. Além disto, se estudaria a questão dos incentivos fiscais, de lado a lado, para ver em que favorecem ou prejudicam o movimento comercial pretendido. C - A terceira linha trataria de estudar todos os demais fatores que pudessem intervir nas relações comerciais entre aqueles mercados: o transporte (custos de frete, períodos de trânsito, 10 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo estrutura rodo-fluvial existente ou outra), competitividade de preços e qualidade, disponibilidade de excedentes e regularidade no suprimento. Neste segmento, mostrou-se também de interesse o estudo das possibilidades do chamado 3º Ciclo, programa estadual amazonense que prevê a substituição de importações, especialmente de alimentos; do projeto Hermasa, capaz de produzir alterações no esquema de fretes para Manaus e a provocar também alterações no setor produtivo de Rondônia, e ainda à implantação do PRODECER na região sul do estado. Isto posto como diretriz geral, optou-se pela realização do trabalho segundo distintos tópicos abaixo enumerados: 1 - Viagem de técnicos a Manaus, para levantamento preliminar das fontes. 2 - Levantamento de dados e fontes em Porto Velho, por uma equipe técnica. a - Pesquisa de campo junto aos portos público e particulares; b - Levantamento de dados junto a Supermercados da capital. 3 - Viagem de uma equipe técnica a Manaus, para: a - Pesquisa e obtenção da documentação; b - Realização de pesquisa de campo junto a transportadoras; c - Realização de pesquisa de campo junto a grandes atacadistas; d - Realização de pesquisa de campo junto a Supermercados e feiras-livres; e - Realização de pesquisa domiciliar breve por estrato de renda; f - Realização de pesquisa de campo junto a produtores locais; g - Realização de pesquisa de campo junto a portos público e particulares. 4 - Viagem de uma equipe técnica a Humaitá, AM, para levantamentos referentes ao 3º Ciclo (conforme informações obtidas na etapa 1) 5 - Viagem de equipe técnica ao interior do Estado, para levantamentos junto às fontes produtoras locais. 6 - Estudo sobre Corredores de Exportação 7 - Estudo junto à Hermasa, para conhecimento do projeto e suas implicações para as economias de ambas as unidades pesquisadas (Manaus e Rondônia) 8 - Estudo sobre o PRODECER - Expansão 9 - Compilação, tabulação, análise e estudo dos dados levantados 10 - Elaboração do texto, quadros e referências 11 - Editoração do texto, edição final. 11 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo O estudo foi realizado então em diversos períodos, alguns deles superpostos, como se verá no seguinte cronograma. Período - Meses - Semanas→ Atividade↓ 1 - Viagem Manaus: levantamento preliminar 2 - Levantamento de dados em PVelho 2-a - Pesquisa de campo junto aos portos 2-b - Pesquisa de campo junto a Supermercados 3 - Viagem Manaus - 2ª etapa 3a - Pesquisa e obtenção da documentação 3b - Pesquisa de campo transportadoras 3c - Pesquisa de campo atacadistas 3d - Pesquisa supermercados e feiras 3e - Pesquisa domiciliar 3f - Pesquisa de campo produtores 3g - Pesquisa de campo junto aos portos 4 - Viagem a Humaitá, AM 5 - Viagem ao interior de Rondônia 6 - Estudo Corredores de Exportação 7 - Estudo junto à Hermasa 8 - Estudo sobre o PRODECER 9 - Compilação, tabulação, análise 10 - Elaboração de texto, quadros e ref. 11 - Editoração do texto, edição final Novembro. 1ª 2ª 3ª 4ª Dezembro 1ª 2ª 3ª 4ª Jan./97 1ª 2ª 3ª Primeiramente se realizou um cuidadoso levantamento bibliográfico e documental dos dois estados, sobre itens de interesse para o trabalho tais como bases produtivas, produção, importações, exportações, volumes anuais e tendências, além de se proceder à elaboração de uma lista de produtos já produzidos ou com possibilidades de serem produzidos em Rondônia, com base na classificação da Tarifa Aduaneira do Brasil - TAB. 12 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo Em períodos diferentes se realizaram viagens de técnicos a Manaus, Humaitá e interior do estado de Rondônia, para uma pesquisa de campo e coleta de dados diretamente nas fontes produtoras e pesquisas expeditas junto aos principais interessados, dependendo do caso (Rondônia ou Amazonas) como maiores distribuidores, maiores atacadistas e maiores produtores, bem como junto aos portos de Porto Velho e Manaus, portos particulares, aeroportos, Centrais de Abastecimento, Mercados Públicos, redes de supermercados e consumidores finais. Em relação a Manaus, os dados procurados referiam-se às quantidades de produtos vindos de fora do estado, sua origem, tempo de translado, custos de frete e de armazenagem e outros que envolvessem o preço final ao consumidor da lista de produtos já produzidos ou passíveis de produção em Rondônia. Visitou-se também o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, em busca de informações sobre o desenvolvimento de projetos de pesquisa agrícola ou agro-industrial para o aproveitamento de produtos regionais de interesse do Amazonas, cujas indicações são aproveitadas também neste trabalho. Em relação a Rondônia, interessava saber o que efetivamente se estava produzindo, quais os níveis de excedentes obtidos em cada produto, qual a comercialização hoje praticada e principais entraves vistos pelos produtores para a comercialização com o Amazonas, além de se levantar com mais acuidade as possibilidades de produção potencial do estado em segmentos tais como o madeireiro, o moveleiro, o de laticínios, de cereais, da carne, de frutas e legumes e alguns outros. Ao longo de todo o estudo, nas diferentes fases de pesquisa e levantamentos, foram contatadas as seguintes entidades, órgãos ou empresas: Em Rondônia: Secretaria de Agricultura e Abastecimento Secretaria do Planejamento e Coordenação Geral Secretaria de Indústria, Comércio, Mineração e Energia Secretaria da Fazenda 13 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo Capitania dos Portos de Porto Velho Administração do Porto de Porto Velho Transportadora Equatorial, em Porto Velho L.J.Veiga - empresa de navegação em Porto Velho Amazonave - empresa de navegação em Porto Velho MICHELON - transportadora rodoviária TRANSPEL - transportadora rodoviária TRANSSAR - transportadora rodoviária FRAJOLA - transportadora rodoviária TAKIGAWA - transportadora rodoviária J.F. Oliveira - Passarão - transportadora fluvial CONASA - transportadora fluvial NASSAU - transportadora fluvial Supermercado Irmãos Gonçalves Supermercado Gonçalves Supermercado Rawel Supermercado Maru Em Manaus: Secretaria da Fazenda Coordenação de Fiscalização Coordenação de Arrecadação Auditoria Interna Núcleo de Desembaraço de Documentos Fiscais Secretaria da Indústria e Comércio Superintendência da Zona Franca de Manaus - SUFRAMA Prof. Samuel Benchimol Federação das Indústrias do Estado do Amazonas - FIEAM SEBRAE/AM Associação Comercial do Estado do Amazonas - ACEM Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA Instituto de Desenvolvimento Agropecuário do Estado do Amazonas - IDAM 14 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo Supermercado Lojas Americanas - Matriz Supermercados CO Matriz - Lojas 1, 9 e 18 Supermercado Casa Roma - Matriz Supermercado Palito Supermercados DB - Shopping Importadora de Estivas Bastos Ltda. CEASA FRIGOMASA - Frigorífico de Manaus S.A. Indústria de Café Manaus Ltda. Café Moinhouro Cemanorte Ltda. Serraria Ulisses Moss Ltda. Rondônia Móveis Casa da Geladeira Só Móveis Ltda. Móveis Souza. ****** 15 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo PARTE I INTRODUÇÃO AO CONHECIMENTO DOS MERCADOS 16 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo PARTE I - INTRODUÇÃO AO CONHECIMENTO DOS MERCADOS Capítulo 1º A QUESTÃO DOS PÓLOS DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL Ao buscar-se analisar as possibilidades comerciais entre Rondônia e o Amazonas, notadamente Manaus, será útil a colocação das posições relativas destes estados e de suas eventuais possibilidades, dentro de uma perspectiva geral e abrangente da atual quadra econômica, entendendo-se que ambos se constituem hoje em pólos de desenvolvimento regional, cabendolhes, portanto, um papel decisivo no quadro socioeconômico da Amazônia Ocidental. Além disto, também uma projeção ou o esboço de um cenário previsível onde se engastem estes dois estados num futuro próximo, ajudará a identificar tendências que servirão ao escopo final deste trabalho. Conhecer mais de perto, por isso mesmo, as questões que envolvem os diferentes matizes deste desenvolvimento será útil para melhor situar depois as possibilidades que se abrem para a intensificação das relações comerciais entre esses pólos. Dentro deste espírito foi-se buscar auxílio em um estudo publicado pela FIERO em 1995: “Rondônia - Perfil e Diretrizes de Desenvolvimento Industrial e de Infra-estrutura”, que em seu Capítulo I - “Análise da Situação Econômica Contemporânea”, aborda exatamente, com base numa visão da atualidade, uma prospecção para o Brasil, para a Amazônia e mais especificamente para Rondônia. É com base neste estudo, devidamente atualizado e reduzido aos aspectos que interessam diretamente a este trabalho, que este capítulo foi produzido. A Amazônia sempre se caracterizou por ser uma região de fronteira econômica, com grande potencial de recursos naturais, baixa densidade demográfica e sem capacidade própria de investimentos. Na absoluta maioria dos casos os seus rumos dependem de decisões externas em ambos os níveis, nacional e internacional. Uma análise de tendências econômicas da Amazônia, portanto, tem de passar pelo comportamento econômico nacional e internacional e seus prováveis 17 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo impactos sobre a região. Mas há também os fatores internos que dificultam ou estimulam o seu desenvolvimento, que devem igualmente ser considerados. Traçar cenários de uma economia assim tão dependente é um trabalho arriscado, com baixas possibilidades de acertos, levando-se em conta o elevado número de variáveis que se combinam. Tem-se, inicialmente, que aceitar que a chamada atual crise internacional não poderá persistir por muito tempo, e já dá mesmo sinais de retração, ou a própria economia mundial mergulhará ainda mais numa etapa de incertezas capazes mesmo de gerar novos conflitos entre as grandes nações, e exacerbar as crises no interior de cada uma delas. Parece que os fatores de mudança mais importantes hoje em andamento já estão impulsionando o caminho da saída da crise. Poderiam ser citados: a revisão do papel do Estado, com as tendências neo-liberais, a globalização da economia ou reorganização geo-econômica, a abertura econômica do leste europeu e o fim da guerra-fria, as forças do Japão e Alemanha como potências econômicas, o fortalecimento de novos países industrializados, especialmente da Ásia, e os avanços científicos e tecnológicos capazes de respaldar um novo ciclo de crescimento econômico. A nível nacional, as mudanças efetivas mais sensíveis começaram a ter curso com o Plano Collor, o Mercosul e, posteriormente, o Plano Real, a partir de 1994. Considerando todo o período da gestão Fernando Henrique, entre 1995 e 1998, espera-se que a nação brasileira consolide um plano de reformas, e que sua economia se caracterize também por pequeno mas significativo crescimento econômico. Nas considerações sobre a economia amazônica, devemos considerar duas situações, ou fases: 1ª Fase - Entre janeiro de 1995 e dezembro de 1998, que se caracteriza, do lado internacional, pela continuidade da crise, e do lado nacional, pela reconstrução da economia, com moderado mas significativo crescimento econômico; 2ª Fase - a iniciar-se em 1999, deverá apresentar uma mudança de nível no campo internacional, seja com características conservadoras - pela retomada da economia americana, seja com ares mais avançados - com o estabelecimento de uma nova ordem econômica. Com esta inflexão a economia internacional deverá ser reabilitada, com crescimentos lentos de início, até 18 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo atingir sua plena reconstrução. Esta fase deverá encontrar a economia brasileira pronta a iniciar um crescimento mais vivo, com o país experimentando agora um novo modelo de desenvolvimento econômico. Embora se reconheçam os riscos das previsões, essas duas fases serão consideradas para analisar as tendências da economia regional, não sem, antes, examinar a influência dos fatores externos e internos de transformação, o que permitirá maior solidez à análise empreendida. Fatores Externos Historicamente, uma série de fatores externos têm determinado os fatos econômicos e sociais na Amazônia e sua integração à economia do país. Vejamos quais foram eles: a - Crescimento econômico e expansão do capital - O ritmo de crescimento do PIB é sempre determinante na demanda de insumos básicos. Neste campo, a Amazônia apresenta uma possibilidade alta de investimentos potenciais, ainda que, apesar do declínio da elasticidade dos insumos, a tendência mundial levará a um aumento na sua demanda. O mesmo se poderá afirmar em relação às “commodities”, especialmente petróleo e minérios. Há ainda grandes possibilidades no campo das demandas por recursos energéticos, como hidrelétricas, gás e petróleo. b - Políticas públicas globais e regionais - Em âmbito nacional as seguintes políticas e decisões deverão influenciar os rumos da Amazônia: A cobrança de “royalties” sobre a exploração de recursos naturais: petróleo, energia e minerais estratégicos, (alumínio, ferro, manganês, ouro, cobre, caulim, nióbio, níquel); os incentivos à exportação nos ramos de maior competitividade; a MP 1.511 e as portarias restritivas do IBAMA, do Ministério do Meio Ambiente; o novo Imposto Territorial Rural e seus reflexos sobre a política agrária; a própria política de colonização; a política de crédito rural; mudança constitucional permitindo investimentos externos no setor mineral; mudanças nos rumos da abertura comercial. No âmbito regional, destacam-se como instrumentos de políticas públicas: a política de incentivos regionais via SUDAM (Fundo de Investimento da Amazônia - FINAM) e via SUFRAMA (renúncia fiscal do IPI e II) e isenção do ICMS para a ZFM, podendo serem aprimorados no sentido de aumentar suas eficiências; fontes de crédito via FNO (Fundo Constitucional de Financiamento do Norte), BNDES/PAI (Programa Amazônia Integrada) e FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador); PRONAF (Programa Nacional de Agricultura Familiar); FINAME - Programa Amazônia Integrada Automático; FINAME - Programa Amazônia Integrada Automático Agrícola. PRODECER - Inserção de Rondônia, pelo município de Vilhena, no Programa de Cooperação Nipo-Brasileira para o Desenvolvimento dos Cerrados. O 3º Ciclo - Programa Estadual do Amazonas, visando a substituição de importações no campo alimentar para aquele estado. c - Dinâmica demográfica e migração: A migração deve se manter como fator importante na formação da população da Amazônia. A mão-de-obra excedente do processo de modernização agrícola em outras regiões nacionais e a impossibilidade de absorção pelos setores 19 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo secundário e terciário dessas mesmas regiões, devem contribuir para manter o fluxo migratório para a Amazônia. A região deverá atrair essa mão-de-obra numa relação direta com a intensificação dos investimentos nacionais, pela oferta de recursos naturais e de emprego, o que contribuirá para a elevação geral da população e da ocupação econômica da região. d - O Plano Real: Há de somar-se a todos estes fatores analisados também a situação atípica e não-histórica do Plano de Estabilização Econômica do governo Fernando Henrique Cardoso, o chamado Plano Real, ancorado no dólar americano, no achatamento da massa salarial, nas altas taxas de juros, no chamado Custo Brasil com suas pesadas cargas tributárias, tudo isto sem se mostrarem medidas ortodoxas como a eliminação do déficit público de forma efetiva (redução de gastos com custeio). A difícil trajetória que levaria da passagem da âncora cambial do Plano para uma âncora fiscal mais realista, está se fazendo de maneira muito lenta e com desvios de seu foco para assuntos como a reeleição, por exemplo, o que não induz a previsões otimistas. 20 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo Fatores Internos A influência da situação nacional e internacional sobre a Amazônia poderá ser estimulada, ou contrariamente - inibida, pelos fatores internos que caracterizam a região. Para efeito de análise, estes fatores serão apresentados em dois grandes grupos: os de resistência e os de incentivo às mudanças. a - Fatores de resistência às mudanças: fragilidade e instabilidade do sistema ecológico, que é vulnerável à ocupação econômica com tecnologias inadequadas; realidade sócio-cultural, marcada ainda pela forte cultura extrativista do caboclo e das nações indígenas, universo este que nada tem a ver com os padrões de intensificação do capital que exige eficiência, racionalidade, técnica, etc., o que leva a um processo traumático e conflitivo na ocupação econômica, além de gerar limitações quanto à mão-de-obra disponível. conflitos de terra, caracterizados, de um lado, pela cultura dos “posseiros” e, de outro, por empresários rurais que definem suas próprias leis e suas próprias terras. O Estado, quase que invariavelmente, caminha a reboque desta situação, e dispõe de baixíssimos estoques de áreas regularizadas, à exceção de Rondônia e Mato Grosso. a insalubridade, associada às condições climáticas, propiciando meios favoráveis à proliferação de pragas e doenças na agricultura, doenças endêmicas no homem, e dificultando o transporte interno; economia de periferia, distante dos grandes centros nacionais consumidores; o novo Imposto Territorial Rural e algumas indefinições sobre a aplicação da MP 1.511, especialmente no tocante às áreas de manejo florestal, não relacionadas na medida, levando a uma incerteza ainda maior de investimentos na região; desigualdade e diferenciação intra-regional, condicionadas por níveis de investimentos e de objetivos desiguais, com grandes diferenciações sócio-econômicas e políticas. Como resultado destes fatores, formaram-se quatro pólos de desenvolvimento regional, desarticulados entre si e voltados prioritariamente para o Sudeste do país: o triângulo de Carajás, 21 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo a Zona Franca de Manaus, o eixo agropecuário do centro-oeste e sudeste amazônico e o pólo agrícola de Rondônia. O que se verifica, então, é uma dupla desigualdade regional: o confronto e o desequilíbrio entre o moderno e o tradicional e entre os diferentes pólos de desenvolvimento, disputando entre si os privilégios do Estado, os recursos naturais e o capital. b - Fatores de dinamismo às mudanças: disponibilidade de recursos naturais: é a principal característica regional favorável ao crescimento econômico. Os recursos hidrelétricos representam mais de 50% de todas as reservas brasileiras. Grandes jazidas com elevados teores de minerais estratégicos e inestimáveis recursos madeireiros e de essências para óleos finos. De seu solo, 25 milhões de hectares não apresentam qualquer limitação à agricultura. A descoberta de gás natural e petróleo poderá abrir caminho para um novo pólo de desenvolvimento na Amazônia Ocidental. ampliação e propagação dos pólos de desenvolvimento, ou seja, o aumento de seus raios de influência em torno dos quais novas cidades e atividades econômicas vão gravitar. a integração continental, ligando a Amazônia Ocidental ao Pacífico, que permitirá um maior intercâmbio comercial com os países andinos numa primeira fase e, posteriormente, com os EUA e Ásia. a integração com a Venezuela e Caribe, através da pavimentação da rodovia BR-174, ligando Manaus, Boa Vista, BV-8, Caracas e os portos Cabello e La Cruz, no Atlântico Norte. a integração com o oeste europeu, pela hidrovia do Rio Madeira, Rio Amazonas e Atlântico Norte. urbanização: apesar da ocupação da Amazônia estar associada, numa primeira instância, à terra, seu crescimento populacional está se dando de forma acentuada em aglomerados urbanos. Neste processo, algumas cidades deverão desempenhar um papel catalisador. 22 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo TENDÊNCIAS DA AMAZÔNIA 1ª FASE De modo geral, a política de estabilização econômica do país pode restringir parcialmente o projeto modernizador da Amazônia, e diminuir a renovação tecnológica na agricultura nacional. Como a taxa de investimentos nacional vai se elevar lentamente, os investimentos deverão se restringir a setores mais dinâmicos e exportadores. A demanda de insumos básicos deve se elevar moderadamente, embora com a diminuição de sua elasticidade e da crise internacional, em função da expansão das indústrias pesadas nos novos países industrializados e do Leste Europeu, e do crescimento interno, ainda que moderado. Da mesma forma em relação às “commodities”, em particular minerais e alimentos. Esses dois fatores beneficiam a Amazônia nesta primeira fase não somente quanto às empresas instaladas no pólo minero-metalúrgico de Carajás, mas a toda a região. Os investimentos no setor energético não deverão sofrer uma forte desaceleração, pois em caso contrário a retomada do crescimento na segunda fase estará fortemente comprometida. A tendência geral e irreversível será a da privatização das empresas geradoras e os investimentos darão prioridade à conclusão de hidrelétricas em andamento, à intensificação da exploração e uso do gás de Urucu - AM, através de termelétricas e à canalização de recursos privados para a geração de energia através de pequenas e médias centrais hidrelétricas. Some-se, ainda, os “royalties” sobre recursos naturais que permitirão uma maior agregação de renda à região. Embora o setor minero-metalúrgico vá se sobressair como maior responsável pelo crescimento regional nesta fase, também contribuirão para o crescimento a maturação dos grandes projetos e a implantação de novos projetos agro-industriais de grande porte. Esta maturação e implantação de novos projetos industriais, em particular em Carajás, e de projetos agro-industriais, no Mato Grosso e Pará, e em menor escala em Rondônia, revelam o peso que a indústria tende a ganhar na região, com um volume esperado de investimentos bastante superior ao do setor primário. A população amazônica continua crescendo a taxas superiores à nacional, apesar da moderação do fluxo migratório. A migração diminuirá seu impulso para Rondônia, mas se manterá importante na área de Marabá, ao Norte de Cuiabá e em direção a Santarém. A região 23 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo deverá continuar a atrair essa mão-de-obra em função dos investimentos superiores à média nacional, da oferta de empregos e de recursos naturais. Com a diminuição do fluxo migratório e da ocupação de áreas rurais, a região deixará inalterados, ou até mesmo atenuados, os fatores que dificultam ou favorecem esta ocupação: os desequilíbrios ecológicos menores, tensões sócio-culturais e conflitos de terra na mesma proporção e disponibilidade de recursos naturais alterada pela liberação constitucional dos investimentos externos no setor mineral, levando, este último fator, a uma intensificação nos investimentos em pesquisa mineral. O processo de urbanização se deverá consolidar nesta fase, e algumas cidades com melhor base econômica e localização em eixos rodoviários importantes desempenham papel catalisador: Belém, Manaus, Porto Velho, Cuiabá, Santarém, Marabá, Altamira e São Luiz, refletindo uma tendência à formação de cidades de porte médio e de rápido crescimento. As mudanças na estrutura espacial da região tendem a ser significativas. O pólo de Carajás, mais beneficiado, manifesta uma expansão moderada em área de influência e efeito irradiador. O pólo agropecuário do centro-oeste e sudeste amazônico tende também a crescer de forma mais significativa, com ampliação da ocupação dos cerrados, aumento da produtividade de grãos e ampliação do processo agro-industrial. O pólo industrial de Manaus que já foi beneficiado no ano de 1995 em grande parte em função da variação das alíquotas dos importados, medida esta que tem oscilado desde aquela data mas que no geral se manteve vantajosa para a indústria da ZFM. Ainda que sejam rebaixadas, as alíquotas não deverão chegar aos níveis anteriores, e isto será feito em doses homeopáticas, donde se pode concluir pelos benefícios a este pólo durante toda esta fase. Esta medida, aliás, não beneficia as Zonas de Livre Comércio, como a de Guajará-Mirim, em Rondônia, que vêem suas vantagens diminuírem face aos produtos nacionais ou importados. No decorrer desta primeira fase, o pólo mais penalizado está sendo o agrícola de Rondônia, que poderá mudar este quadro em função do seu programa de zoneamento agro-econômico-ecológico (Planafloro), com recursos do Banco Mundial, pois deixou de ser, aos olhos do mundo, o exemplo-a-não-ser-seguido, para ser o exemplo-a-ser-seguido-em-toda-a-Amazônia. 24 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo Além disto, medidas recentes do governo federal vêm criando novos e mais difíceis obstáculos ao processo produtivo em curso neste pólo. Somente no caso do governo do Estado se organizar com bons projetos de investimentos nas “zonas liberadas” pela Lei do Zoneamento, é que as alternativas de recursos externos através do PPG-7 poderão ser de algum modo promissoras. No tocante às questões ambientais é preciso considerar os problemas levantados pela MP 1.511, que reduziu a área de desmatamento a 20% das áreas totais ocupadas. Como Rondônia, graças em parte à disciplina imposta pelo seu zoneamento agro-econômico-ecológio, já mantinha 60% de suas áreas produtivas com cobertura vegetal perene, fica completamente impedida de novos desmatamentos e, por conseguinte, de novas frentes de exploração agropecuária. Este assunto é abordado no 5º Capítulo da Parte IV deste trabalho. A ligação com a Venezuela será concluída, com a consolidação da BR-174, o que virá beneficiar os estados do Amazonas e Roraima. O final desta fase poderá coincidir com a ligação da rodovia de saída para o Pacífico, mas não será feita esta análise aqui. Mas certamente no decorrer desta fase se consolidará a abertura do corredor de exportação de soja e milho através da calha do Rio Madeira, concretizado nos projetos da Hermasa e na implantação do PRODECER em Rondônia, comentados mais adiante em capítulo próprio. Há que se ressalvar, contudo, que a integração continental ligando a Amazônia Ocidental ao Pacífico, permitiria constituir uma região altamente dinâmica e estimular a re-arrumação do espaço amazônico. O fato de promover maior intercâmbio com os EUA, Ásia e países andinos, causaria grande impacto sobre o desenvolvimento regional, com maiores benefícios e expansão dos Pólos agrícola de Rondônia e eixo agropecuário do centro-oeste e sudeste amazônico, arrastando junto o estado do Acre. Já se verificam alguns investimentos asiáticos no setor madeireiro. Caso ocorra esta ligação ainda no governo Fernando Henrique, a análise do comportamento destes dois pólos levariam a benefícios bastante superiores aos que são analisados aqui. Não há ainda, nesta fase, condições para consolidação de um mercado interno regional. A economia da Amazônia crescerá a taxas significativamente superiores à média nacional, com base 25 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo no crescimento de seus pólos, à exceção do pólo agrícola de Rondônia, que tem espaço aberto a recursos internacionais mas precisa descobrir seus caminhos. 2ª FASE Tentando visualizar uma segunda fase desta prospecção, pode inferir-se que a recuperação parcial da economia nacional e o início do período de ajuste da economia internacional, provocará o aumento dos produtos e insumos básicos da Amazônia, aumentando a receita em divisas do país e renda gerada pela exportação desta região brasileira. Ligeiramente aliviado, o Estado voltará a investir pesado na região, em infra-estrutura econômica e projetos de colonização e desenvolvimento. Na arrancada desta segunda fase, as pressões nacionais e internacionais quanto ao meio ambiente serão ainda mais contundentes. Assim, é provável que ocorram problemas políticos localizados que atrasem ou coíbam algumas obras e investimentos. De outro lado, a expansão econômica eleva a disponibilidade efetiva de recursos naturais, na medida em que aumenta o conhecimento do seu potencial. Este aspecto atrai novos investimentos privados e públicos para a região, num momento em que se acelera o aproveitamento econômico das reservas de gás natural e petróleo e dos potenciais hidrelétricos da Amazônia, solucionando as necessidades de geração de energia no Estado de Rondônia e Amazonas. Através do gás natural e petróleo se vai dando início à consolidação do 5º pólo de desenvolvimento na Amazônia. Os efeitos da ligação dos estados do Amazonas e Roraima com a Venezuela e Caribe, serão sentidos nesta segunda fase, com maior ênfase quanto ao estado de Roraima, em particular quanto à produção de alimentos para comercialização com estes países. Diante destas condições, a região consolidará a posição de exportadora de insumos básicos minero-metalúrgicos, produtos eletro-eletrônicos, agropecuários e florestais. Deverá ocorrer, nesta fase, um incremento significativo do crescimento populacional, em função dos projetos de colonização e intensificação da modernização agrícola no país, que gera excedentes de mão-de-obra. Esta expansão populacional deverá ser acompanhada de taxas crescentes de urbanização. O aumento dos raios de influência dos quatro pólos de desenvolvimento, ainda com destaque para Carajás, dará início à integração intra-regional, pela aproximação do eixo agropecuário do centro-oeste. Este, por sua vez, aproxima-se mais do pólo agrícola de Rondônia pela expansão da ocupação dos cerrados e, da parte de Rondônia, também pela ocupação dos seus cerrados e áreas de alta fertilidade natural no extremo Sul do Estado. Nessa área de confluência, seja no extremo norte do Mato Grosso, seja no extremo Sul de Rondônia, se dará início a um processo de industrialização da soja e de outros grãos, em particular milho e arroz, o que contribuirá para consolidar a aproximação dos três pólos de desenvolvimento. Há, ainda, a considerar neste contexto, a forte integração que ocorrerá entre Rondônia e Amazonas, com a consolidação do projeto Hermasa e a extensão à região sul de Rondônia do PRODECER. O tráfego de soja para o exterior durante cinco meses ao ano, fatalmente levará a que Rondônia ajuste sua produção para o comércio com Manaus e o exterior, tirando proveito das novas condições de transporte e de comercialização que se estabelecerão. As empresas multinacionais intensificarão investimentos, principalmente no setor mineral, e as grandes empreiteiras encontrarão novo alento com a retomada dos investimentos públicos. De parte dos órgãos de desenvolvimento regional, se deverão implementar medidas de retenção 26 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo de renda na Amazônia, contribuindo para a formação e dinamização do mercado interno. A saída para o Pacífico tem maior possibilidade de vir a ocorrer nesta fase do que na anterior. A globalização da economia, com a ausência das fronteiras econômicas, e o MERCOSUL e sua extensão aos países andinos, fatores que em seu início já estão começando a influenciar a economia brasileira como um todo, deverão ser fatos irreversíveis nesta segunda fase, com a ampliação dos seus limites e perspectivas. * * * Desta visão de um panorama possível para o futuro a médio e longo prazos, pode-se inferir que Rondônia deve, desde já, procurar novos rumos que a façam retomar o caminho da história iniciada nos anos 70 e que atingiu seu apogeu no ano de 1980, sob pena de continuar a acentuada queda da taxa de crescimento de seu PIB que já se vem notando desde 1981. Este 27 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo enorme potencial tanto humano quanto material com que conta o Estado deve ser explorado com urgência e através de todas as formas possíveis. O esforço inicial à auto-suficiência, seguido do comércio dos excedentes com outros pólos de desenvolvimento da Região Norte, especialmente Manaus, e posteriormente buscando atingir os países andinos para saltos ainda mais ambiciosos, serão, certamente, as formas de se dar os passos corretos na direção do futuro. Este estudo pretende ser, ao final, uma contribuição para isto. Contudo, há etapas ainda a serem vencidas, e dificuldades a serem enfrentadas, que deverão ser, uma a uma, estudadas em profundidade e extensão, para que mais fácil se torne o caminho a trilhar. Já Manaus, que hoje desponta como uma excepcionalidade de abundância e riqueza em meio a um quase vazio demográfico, tende não só a crescer ainda mais como a desequilibrar de vez a balança entre os pólos de perfil industrial e os tradicionais na Amazônia ocidental. ***** 28 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo PARTE I: INTRODUÇÃO AO CONHECIMENTO DOS MERCADOS Capítulo 2º HISTÓRICO DA OCUPAÇÃO ECONÔMICA DOS MERCADOS 1 - Introdução Como vimos, a cidade de Manaus e o estado de Rondônia se constituem em dois importantes pólos de desenvolvimento regional na Amazônia Ocidental, com perspectivas dessemelhantes de desenvolvimento e com diferentes papéis a desenvolver na integração regional. Levadas a impulsionar o progresso em regiões pouco habitadas e ainda selvagens, tornaram-se, cada uma delas, pólos de produção e de atração migratória, guardadas e respeitadas suas características marcadamente diferenciadoras. Ultrapassados os já conhecidos Ciclos da Borracha, tanto Manaus quanto Rondônia entraram em fase de estagnação, salvando-se esta última com a descoberta da cassiterita, no início da década de 60, em áreas de seringais. À mesma época, o governo da União pretendeu dar a Manaus uma ferramenta que a reabilitasse como grande pólo comercial na região Norte brasileira, e criou a Zona Franca de Manaus. Pretendia-se, com a ZFM, irradiar crescimento neste que é o maior estado brasileiro e também o menos densamente povoado. Concentração demográfica de Manaus em relação ao Amazonas Anos % da população total do estado 1960 24,3 1970 32,6 1980 44,3 1990 48,4 1995 52,0 Fontes: CODEAMA - SEPLAN/AM - IBGE 29 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo A população de Manaus, desde aquela época, só tem crescido, naturalmente indicando o fenômeno de urbanização de todo o país e a importância econômica que adquiriu a ZFM dentro do estado do Amazonas. Taxa média de crescimento populacional - Comparativo Manaus/AM Período Manaus % Amazonas % 1960/1970 6,2 2,9 1970/1980 7,5 4,2 1980/1990 4,6 3,7 Fonte: CODEAMA - SEPLAN/AM Na década seguinte, a pressão fundiária nos estados do sul e sudeste levou a União a encetar grandes projetos de colonização no então Território Federal de Rondônia, acarretando um enorme fluxo migratório de outros estados e de origem rural que transformou a região numa nova fronteira agrícola do país. Comparativo entre os crescimentos populacionais RO/Região Norte/Brasil Período Rondônia % Região Norte % Brasil % 1950/1960 6,39 3,34 2,99 1960/1970 4,76 3,47 2,89 1970/1980 16,03 5,02 2,48 1980/1990 7,88 5,19 1,93 Fonte: FIBGE Por outro lado, as experiências com a ZFM deram resultados positivos, com sua gradual passagem da fase inicial de mero pólo importador de produtos mais ou menos sofisticados para uma posição de parque industrial de relativa importância dentro do contexto nacional e o mais forte da região Norte. Arrecadação de Tributos no Amazonas - Em US$1,000 Ano Arrec.Federal Previdência 1990 405.719 207.059 1991 307.362 142.384 1992 204.279 101.665 1993 282.090 115.648 1994 594.605 166.640 1995 969.761 267.506 I.C.M.S. 585.185 434.418 293.939 316.224 528.227 987.411 Total 1.197.963 884.164 599.883 713.962 1.289.472 2.224.678 Fonte: Ministério da Economia, Planejamento e Fazenda, Secretaria de Fazenda do Amazonas - Samuel Benchimol Amazônia 1995 - Paraíso do Fisco e Celeiro de Divisas. 30 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo Vejamos que rumos tomaram, independentemente, cada um dos mercados em estudo, analisando em Manaus os aspectos ligados ao consumo, e em Rondônia, os vinculados à produção. 2 - Manaus A - Evolução A política de incentivos fiscais que fora expressa na Lei 5.174 de 1966, em que se facultou a toda pessoa jurídica radicada em território nacional reduzir em até 50% de seu imposto de renda para posterior emprego em investimentos na Amazônia, previamente aprovados pela Sudam3, mostrou-se inócua para o desenvolvimento da Amazônia Ocidental. Ao lembrar da história do planejamento do desenvolvimento da Amazônia, desde o início do século, se verá que a instituição da ZFM foi o mais eficaz instrumento criado pelo Governo Federal com esta finalidade. É fácil comprovar-se isto, após 29 anos de funcionamento da Suframa4, materializados no parque industrial instalado que, em 1995, obteve um faturamento de 11,5 bilhões de dólares. A ZFM passou por dois períodos distintos em sua história. O primeiro, da sua criação até 1990, quando o surto de crescimento industrial se verificou somente a partir dos anos 70. Este foi um período de vigência do modelo de substituição de importações e de fechamento da economia, com a criação das reservas de mercado. Por esta época, a ênfase da Suframa repousava no chamado “índice de nacionalização”, obrigatório por decisão da União. Estas exigências restritivas da liberdade empresarial levaram, o mais das vezes, à prática de preços elevados e à falta de mercadorias de qualidade. A nacionalização, contudo, atingiu níveis superiores à média nacional (75%), conforme se vê no quadro seguinte: 3 - Superintendência para o Desenvolvimento da Amazônia - Autarquia federal criada para gerir os recursos auferidos com os benefícios da Lei 5.174, de 1966. - Superintendência da Zona Franca de Manaus - Autarquia federal destinada a administrar os incentivos especiais da Zona Franca de Manaus, criada em 1967. 4 31 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo Zona Franca de Manaus - Índices de Nacionalização de Alguns Produtos - 1987 Produtos Índice de Nacionalização em % TV’s em Preto e Branco 98 Motocicleta 125 cc 94 TV em cores 93 Rádios Portáteis 93 Barbeadores 92 Aparelhos de Som 3 em 1 85 Fornos de Microondas 78 Máquinas de Escrever eletrônicas 72 Motocicletas 450 cc 63 Relógios de pulso 57 Vídeo-cassetes 52 Fotocopiadoras 35 Calculadoras eletrônicas 27 Fonte: Federação das Indústrias do Estado do Amazonas - Maio 1996 A fase seguinte se inicia em 1990, com a abertura da economia brasileira e seus corolários: a busca do aumento da qualidade e da competitividade. As indústrias da ZFM tiveram de se adaptar às novas condições para poder enfrentar a concorrência dos similares importados. Inicialmente foi uma fase aguda para Manaus e a ZFM, com grandes taxas de desemprego e faturamento em queda em quase todas as linhas de produção. Iniciou-se a compra de componentes no exterior e na região sul-sudeste do país. Os esforços realizados deram resultados em pouco tempo. Agora, com uma população empregada de cerca de 63.000 operários, a ZFM já exibe números como os de 1995, quando faturou cerca de US$ 11,5 bilhões. Constituída para durar até o ano de 1997, a ZFM teve seu prazo de vigência prorrogado na Constituição Federal de 1.988, e assegurada a manutenção de suas características de área de livre comércio de exportação e importação e de incentivos fiscais especiais até o ano de 2013. Todos estes fatores levaram à consolidação de Manaus e do Distrito Industrial, mas colaboraram também fortemente para a ainda maior hegemonia da capital sobre o restante do Amazonas, fazendo com que sua participação na renda anual do estado chegue nos dias atuais a 92%5, com uma arrecadação de ICMS de 102 milhões de reais em média. Como conseqüência deste fenômeno, a cidade de Manaus vem atraindo constantemente mais pessoas, concentrando-as 5 - Vide adiante item referente ao PIB de Manaus 32 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo em largas faixas de sub-habitação e de sub-emprego, colaborando para que a população da cidade já ultrapasse a casa do 1,23 milhão de habitantes. O governo estadual do Amazonas, numa tentativa de fixar no interior suas populações, deu início em 1995 a um vasto programa de incentivos à produção primária, denominado “3º Ciclo de Desenvolvimento” por considerar que este seria o terceiro dentre os ciclos produtivos já passados pelo Estado (borracha e ZFM seriam os dois primeiros). Este programa é comentado na Parte IV deste estudo. Parte deste interesse está radicado na situação de extrema dependência de Manaus (e do Estado, por conseguinte) em relação a gêneros alimentícios de primeira necessidade. No interior, ao menos, há sempre atividades de subsistência que têm permitido aos caboclos viverem em relativa autonomia quanto a Manaus. Contudo, à proporção que essas populações migram para a metrópole, reduz-se ainda mais esta produção e aumenta a dependência do Estado das importações de alimentos. O 3º Ciclo, portanto, ao tempo que busca tornar interessante a fixação destas populações no interior, pretende reduzir sua situação de dependência externa. O governo do Amazonas, por outro lado, deposita grandes esperanças e faz investimentos no projeto da Hermasa com seu porto graneleiro, uma fábrica de óleo de soja refinado e fábrica de ração animal em Itacoatiara. Talvez veja ali a oportunidade do início de uma desconcentração populacional no Estado que venha a favorecer as ações governamentais neste sentido. B - População Comparativo das populações urbana, rural e da capital do Amazonas Regiões 1960 1970 1980 1991 Amazonas 708.459 955.235 1.430.089 2.102.901 - Urbana 232.917 405.831 856.617 1.501.807 - Rural 475.542 549.404 573.472 601.094 Manaus 173.703 311.622 633.392 1.010.544 % s/Reg. 74,5 76,8 73,9 67,3 Urbana % s/Reg. Rural 36,5 56,7 110,4 168,1 % s/Amazonas 24,5 32.6 44,3 48,1 1995 (1) 2.350.544 (2) 1.738.931 (1) 611.613 (1) 1.229.327 70,7 201,0 52,0 Fonte: IBGE (1) - Estimativa FIERO - Fonte: IBGE - PNAD 1995 33 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo A partir deste quadro, pode-se constatar que a capital manauara abriga hoje a metade da população total do Estado (52%) e representa 71% de toda sua população urbana. Outra conclusão é que no Amazonas a população rural representa apenas 26% da população total. A oferta de emprego no comércio, na indústria e no setor de serviços, fez surgir um crescimento migratório do interior para a capital e atraiu pessoas de outras regiões do país. Em 1960, a população de Manaus representava 24% da população do estado, já em 1995 estima-se que esta participação seja de 52%. Estes indicadores colocam o estado do Amazonas num perfil de distribuição demográfica semelhante aos estados desenvolvidos do pais, caracterizados por populações predominantemente urbanas, o que sob o prisma de mercado consumidor representa uma vantagem significativa, obtida graças ao surgimento de oportunidades de empregos na cidade de Manaus, com a ascensão de uma massa de assalariados de diversos níveis de renda. C - Emprego e Renda Amazonas No estado do Amazonas a massa de rendimentos total do ano de 1995 chegou a 3,7 bilhões de Reais, distribuídas pelas classes de rendimento segundo mostra o quadro a seguir: Massa mensal de rendimentos por classe - Amazonas - 1995 Classe de Populaçâo Rendimento Total Homens Mulheres Até ½ SM 21.752 8.975 12.777 > ½ SM a 1SM 146.407 55.944 90.463 > 1 até 2 SM 192.306 106.687 85.619 > 2 até 3 SM 113.959 75.972 37.987 > 3 até 5 SM 105.327 66.306 39.021 > 5 até 10 SM 79.763 53.179 26.584 > 10 até 20 SM 35.565 24.516 11.049 Acima de 20 SM 17.268 13.469 3.799 Totais Gerais 712.347 405.048 307.299 Total do Rendimento em R$ 1.000 827 13.909 30.192 29.287 43.289 57.190 52.032 79.933 306.659 Fonte: IBGE - PNAD 1995 Obs.: mês de referência setembro/95 34 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo Por outro lado, a evolução do PIB do Amazonas alcançou em 1995 um valor de 6,245 bilhões de dólares6. O gráfico a seguir mostra a evolução deste indicador desde 1970: Amazonas - PIB a Custo de Fatores Evolução em US$ milhões 6.245 7000 5.255 6000 3.956 5000 4000 2.543 3000 795 2000 227 1000 0 1970 1975 1980 1985 1990 1995 Fonte:EBAP-FGV/1996 De acordo com estes números, a renda “per capita” do estado do Amazonas ficou, em 1995, na casa dos US$ 2,657, contra uma renda “per capita” nacional de US$ 3,028. O gráfico seguinte mostra a evolução das taxas de crescimento do PIB nacional e do estado do Amazonas no período 1970-1995. Variações Percentuais do PIB Brasil - Amazonas 250 250 221 220 200 150 Brasil 120 Amazonas 100 54 50 33 28 40 15 0 1970/1975 1975/1980 1980/1985 1985/1990 19 1990/1995 Fonte: EBAP-FGV/1996 O início do cálculo se dá como 1970=1, e cada lustro comparado ao anterior. Note-se que o período de maior alta corresponde à entrada em operação do parque industrial da Zona Franca 6 - Fonte EBAP-FGV/agosto de 1996 35 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo de Manaus, e os de menores taxas de crescimento ao de abertura do mercado brasileiro e mudanças no perfil de produção da ZFM. Manaus No ano de 1990 o parque industrial da ZFM atingia seu nível máximo de geração de empregos com 76.798 pessoas ocupadas diretamente em suas diversas linhas de produção. Com a crise dos importados a partir daquele ano (diminuição das alíquotas de importação), este número sofreu uma redução e, em 1995, a média apresentada foi de 47.267 empregos diretos e 16.227 terceirizados, o que representa um total de 63.494 ocupações somente no distrito industrial. É de notar-se que, ao final do período, Manaus transformara sua indústria, de bases de nacionalização da produção, para o modelo que privilegia o processo produtivo básico - PPB (montadoras), o que colaborou para reduzir o número de empregos, ainda que os níveis de produção se tenham mostrado crescentes a partir de 1993. O dispêndio total no ano de 1995 com salários, sem contar encargos e benefícios sociais (alimentação, assistência médica, transporte, creche, etc.), no distrito da ZFM foi de US$ 300,000,000 (trezentos milhões de dólares), o que representa um salário mensal médio de US$ 529 por trabalhador. Com base nos Indicadores Industriais que são elaborados permanentemente pela SUFRAMA SIC7, e em estudo do economista Ronaldo Bonfim8, pode-se concluir que os postos de trabalho ocupados em Manaus, com seus respectivos custos anuais, são: Empregadores Distrito Industrial - Empregos Diretos - Terceirizados Comércio e outros serviços Governo (União, estado e município) TOTAIS Empregos 63.000 47.000 16.000 160.000 65.000 288.000 Salários c/ encargos (*) 800,000 700,000 100,000 650,000 650,000 2,100,000 (*) - Em US$ 1,000 7 - Secretaria de Indústria e Comércio do Amazonas - “ZONA FRANCA DE MANAUS: Realidade, Desafios e Oportunidades” - Edição da FIEAM - Abril 1996. Perceba-se que o referido estudo não considerou o emprego gerado pela micro e pequenas indústrias não contempladas com incentivos fiscais e disseminadas por todo o município, que certamente ocupam uma massa considerável de trabalhadores. 8 36 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo Segundo estudo feito pela Suframa, o PIB de Manaus para o ano de 1995 foi de 5,7 bilhões de dólares9, o que dá a Manaus uma participação de 92% no PIB total do estado. A partir deste dado, e conhecendo-se a massa mensal de rendimentos (Vide quadro na página 33), é justo supor que a massa total anual de rendimentos da capital esteja por volta de R$ 3,4 bilhões. Resta, portanto, cerca de R$ 1,3 bilhão, que representa rendimentos da economia informal e outros não referidos no quadro acima. A renda “per capita” da capital, por sua vez, foi estimada em US$ 4,637 em 1995, bem acima da média nacional e abaixo apenas da do estado de São Paulo, que foi de US$ 5,019 no mesmo ano. O desemprego disfarçado existente em Manaus, especialmente de vendedores ambulantes que, naquela cidade, representam segmento significativo, organizado e com bons níveis de renda10, além de outros, comuns em qualquer grande cidade do país, devem mesmo representar uma substancial parcela da renda total daquela cidade. 2 - Rondônia A - Evolução Em 1970 o governo federal declara Rondônia como “província estanífera” e proíbe a garimpagem manual de cassiterita, dando lugar a que grandes companhias mineradoras passassem a explorar o minério com modernos métodos mecanizados. Isto, evidentemente, reduziu o mercado local de trabalho, muito embora tenha também significado o primeiro impulso industrial da região e, na prática, o encerramento do chamado Ciclo da Cassiterita. No início dos anos 70, função de maciços investimentos e incentivos federais, observouse intensa onda migratória em direção a Rondônia, constituída de contingentes populacionais oriundos dos estados mais ricos do país. Estes migrantes rurais provinham de São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná e Minas Gerais, principalmente. 9 10 - “Zona Franca de Manaus - Realidade, Desafios e Oportunidades” - Pesquisa realizada junto a dez ambulantes na cidade de Manaus. N.A. 37 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo Tratava-se de gente afeiçoada à terra e aos tratos culturais, e queriam ocupar a terra nova e fazê-la produzir. Este novo ciclo fixou em pouco tempo enormes contigentes humanos nas áreas rurais, deslocando o eixo de importância econômica dos municípios de Porto Velho e Guajará-Mirim, para os novos povoados e municípios ao longo da BR-364, estabelecendo uma economia agropecuária de grande valor. Evolução das populações urbana e rural de Rondônia Anos/população Urbana % Rural 13.816 37,4 23.119 1950 30.186 43,2 39.606 1960 59.564 53,6 51.500 1970 227.856 46,4 263.213 1980 658.172 58,2 472.702 1991 (1) 816.792 53,3 714.822 1995 % 62,6 56,8 46,4 53,6 41,8 46,7 Total 36.935 69.792 111.064 491.069 1.130.874 (2) 1.531.614 Fonte: IBGE - IBGE/PNAD-1995 - Projeção EBAP/FGV No quadro seguinte pode-se observar a inversão do fenômeno da ocupação ocorrido entre o Amazonas e Rondônia. Enquanto Manaus, gradativamente, incorporava a cada ano parcelas maiores da população total do Estado, Porto Velho, embora crescendo a ritmo acelerado ainda se mantinha caudatário da ocupação do interior rondoniense. Evolução das populações capital e interior - Amazonas e Rondônia 1960 1970 1980 1991 Região↓ Ano→ Total 748.459 955.235 1.430.089 2.102.901 175.343 314.197 633.392 1.010.544 Amazonas Manaus 573.116 641.038 796.697 1.092.357 Interior Total 69.792 111.064 491.069 1.130.874 51.049 88.856 133.898 286.471 Rondônia P. Velho 18.743 22.208 357.171 844.403 Interior 1995 (1) 2.350.544 1.229.327 1.121.217 1.531.614 382.903 1.148.711 Fontes: IBGE (1) - Estimativas Um novo ciclo produtivo se abriu, então, beneficiando-se em parte dos agregados populacionais que se haviam formado com o ciclo da garimpagem. A agricultura apareceu, especialmente ao longo da estrada que ligava as extremidades norte-sul do Território, e veio dar novo vigor à sociedade local. 38 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo Esta fase se caracterizou pela presença maciça de investimentos federais e pela intensidade do fluxo migratório. Fazendo parte do mesmo movimento de expansão agrícola do centro-sul do país que, em um primeiro momento, tomara o oeste paranaense e, entrando pelo Mato Grosso do Sul, chegou a Rondônia onde o processo foi de certa forma sofreado com a implantação dos Projetos de Colonização do INCRA, possibilitando uma fixação mais adequada do homem à sua gleba e permitindo-lhe, ao menos, dar a partida em atividades que seriam a principal causa para a autonomia estadual.. Passados quase trinta anos do início do desenvolvimento deste ciclo agrícola, Rondônia, se hoje ostenta alguns galardões com seu setor primário, precisa também repensar seus caminhos para que este não seja mais um ciclo a estiolar-se na busca do desenvolvimento regional. O modelo adotado para a colonização em Rondônia privilegiou as propriedades agrícolas de pequena área. As dificuldades com algumas culturas perenes como o cacau e a seringueira, contudo, levou várias destas propriedades a serem incorporadas gradualmente pela pecuária. Assim, deu-se início a outro fenômeno migratório, desta vez no sentido rural-urbano, fato mais destacado no final dos anos 80 e início dos 90. B - Os Setores Produtivos Agricultura Os fatores combinados dos projetos de colonização, do asfaltamento da BR-364 e dos investimentos federais na região foram determinantes para que a agricultura de Rondônia passasse a ter expressividade econômica, a partir de 1970. Estes fatores, aliados à disponibilidade de solos férteis e de migrantes com grande tradição e vocação rurais fizeram com que a agricultura de subsistência praticada inicialmente em Porto Velho e Guajará-Mirim desse lugar a uma verdadeira explosão produtiva ao longo da BR-364. Ainda que o “boom” agrícola não tivesse uma constância de crescimento ao longo do tempo e variasse de produto a produto, função dos inúmeros problemas que assolam a agricultura regional, que vão da falta de pesquisas até às questões do crédito, uma visão nos números da 39 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo produção de três décadas já nos permite afirmar que a agricultura tende a se firmar em Rondônia como seu principal setor produtivo Produção Agrícola de Rondônia - Comparativo 1975/1995 - Em toneladas Produto 1975 1985 1995 Café 63 92.535 171.237 Cacau 12 29.443 15.871 Arroz 62.096 219.101 262.437 Feijão 2.485 36.050 81.002 Milho 5.178 147.764 370.180 23.109 407.200 25.889 Banana (1) Mandioca 21.429 493.378 708.605 Fonte: CEPA/RO - EMATER/RO: Anuário Estatístico Agropecuário 1995 (1) - 1.000 frutos Um quadro geral da produção agrícola do estado, no ano de 1995, demonstra também que a diversificação da produção já retirou Rondônia da fase da mera agricultura de subsistência, e que paulatinamente ingressa em fase mais sofisticada, especialmente no tocante a legumes e frutas tropicais, exceção feita à banana, que embora ainda de produção expressiva, seu desempenho vem decaindo ao longo dos anos. Seu maior quantitativo de área e produção se deu durante a fase de implantação dos cacauais, onde se prestava para um primeiro sombreamento. Produção Agrícola de Rondônia - 1995 - em Toneladas Produtos Produção Algodão em caroço 27.062 Arroz 262.437 Feijão 81.002 Melancia 2.722 Milho 370.180 Soja 4.500 Tomate 488 Abacaxi (1) 944 Banana (1) 25.889 Mamão (1) 1.177 Mandioca 708.605 Cacau 15.871 Café 171.237 Citros (1) 157.918 Cupuaçu (1) 3.606 Fonte: EMATER/RO: Anuário Estatístico Agropecuário 1995 (1) - 1.000 frutos. 40 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo Apesar destes números, a agricultura de Rondônia ainda não satisfaz adequadamente seu consumo interno, além de sofrer algumas outras restrições que limitam seu poder de competitividade com a produção do centro-sul brasileiro. Assim é que o arroz, por exemplo, tem a maioria de sua produção classificada como do tipo 2, por razões que vão desde a colheita até sua armazenagem. O café produzido, robusta, tem sua maior aplicação como café solúvel, e também sofre restrições de qualidade devido justamente à sua classificação, ligada a problemas de colheita, secagem e armazenamento. O cacau enfrenta sérias crises, em especial a presença marcante da “vassoura-de-bruxa”, que impõe quedas na produção, maiores gastos de custeio e, em conseqüência, redução de sua área cultivada. Produtos olerícolas estão aos poucos assumindo posição de importância, especialmente após a experiência do município de Vilhena, com a “plasticultura”, método de cultivo de elevada tecnologia e baixos custos de investimentos que elimina vários dos problemas climáticos que sempre prejudicaram este tipo de lavoura. A experiência vem se espalhando por outros municípios e prevê-se um forte crescimento da olericultura. Contudo, ela ainda não satisfaz à demanda interna do estado. Também as tentativas com fruticultura estão dando bons resultados, com a entrada em produção de áreas incentivadas em torno da cidade de Ji-Paraná, onde já opera uma indústria de polpas, que se prepara para a produção do concentrado, por ser este um caminho melhor para a comercialização do produto final. Além disto, um número significativo de pequenas indústrias atesta o vigor desta cultura. Já a soja, está apenas se reintroduzindo no Estado pelo seu chamado cone-Sul, região de Vilhena e arredores, onde encontra tipo de solo apropriado à mecanização que esta lavoura exige. Rondônia já chegou a ter 25.000ha de terras cultivadas com soja, mas os diversos planos econômicos da última década quebraram os produtores. Hoje se estima seu cultivo em apenas 10% daquela área. Contudo, com a implantação do projeto Hermasa, do corredor de exportação de soja pelo Rio Madeira, e da inclusão de Vilhena 41 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo no PRODECER11 a cultura certamente deverá sofrer um forte impulso e se projetar no cenário estadual. Interessa também lembrar que Rondônia dispõe de um milhão de hectares de cerrados, com altitudes variando entre 400 e 600 metros, área extremamente apropriada ao cultivo da soja. Maiores considerações sobre a produção de grãos e hortigrangeiros são realizadas na Parte III - A Oferta de Rondônia, no seu Capítulo 1º. Pecuária A pecuária foi a atividade do setor primário que mais se expandiu nos últimos anos no Estado, especialmente a bovina, que hoje se apresenta como plenamente capaz de satisfazer o consumo interno e ainda oferecer excedentes exportáveis. A pecuária de corte, aliás, tem evoluído mais rapidamente do que as outras, junto com a expansão das áreas de pastagens, contra uma estagnação ou até mesmo redução de áreas de lavoura. Já a pecuária de leite se desenvolveu mais nas áreas de pequenas e médias propriedades, como fator de agregação de renda aos agricultores tradicionais. A suinocultura e a avicultura ainda são atividades incipientes no estado, que também conta com pequeno rebanho de ovinos e caprinos. A criação de peixes já dispõe de bases sólidas de produção de alevinos e de ração, e é um setor que demonstra tendência de crescimento acelerado. Evolução do Rebanho Bovino de Rondônia Em 1.000 cabeças 4500 4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500 0 4.441 1.719 1985 1990 764 1995 Fonte: CEPA/RO - Emater/RO - Anuário Estatístico Agropecuário 1995 Maiores detalhes sobre este setor serão tratados na Parte III - A Oferta de Rondônia, em seu 2º Capítulo. 11 - PRODECER - Programa de Cooperação Nipo-brasileira para o Desenvolvimento dos Cerrados. Vide capítulo próprio (A Hermasa e o PRODECER) na parte IV deste trabalho. 42 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo Extrativismo Com exceção da madeira e da extração de cassiterita em Bom Futuro, o extrativismo - que marcou toda a história de Rondônia - perdeu nos dias de hoje qualquer sentido verdadeiramente econômico. Borracha, castanha do Pará, couros silvestres, pau-rosa, ipeca, copaíba, ouro, foram todos itens importantes na pauta de exportações de Rondônia até há algumas décadas atrás, mas não representam hoje nem uma mínima fração do que já foram. A garimpagem de cassiterita na jazida de Bom Futuro deu origem a pequenas empresas mineradoras que utilizam processos mecanizados e que mantém atividade produtiva. Contudo, ao lado da exploração das jazidas de Pitinga, AM, e somando-se a queda dos preços internacionais, esta atividade foi um dos fatores responsáveis pela drástica redução da atividade extrativa mineral no estado pelas grandes empresas mineradoras. A extração de ouro, que já teve grande importância, é hoje totalmente incipiente. O extrativismo vegetal, que através da madeira ainda é uma importante atividade econômica do estado, vê-se ameaçado por uma série de restrições que vão desde o zoneamento agro-econômicoecológico realizado em Rondônia, até as malfadadas medidas do IBAMA e do Ministério do Meio Ambiente, reduzindo ainda mais a disponibilidade de áreas para corte de madeira no estado. Indústria O processo de industrialização em Rondônia se iniciou na década de 70, com duas vertentes principais: a indústria de mineração de cassiterita, implantada em conseqüência de legislação federal que fechou o garimpo manual, e a indústria extrativa madeireira, que também sofreu forte influxo das medidas federais quanto à criação de Projetos de Assentamento e Colonização, facilitando enormemente o seu desenvolvimento naquela década. Assim como dois fatores exógenos (a criação da “Província Estanífera” e os projetos de colonização do INCRA) estimularam estes dois segmentos industriais, também outros dois fatores externos são responsáveis pela sua decadência: a queda do preço do estanho, substituído largamente pelo alumínio como matéria prima para embalagens metálicas, e a crescente pressão 43 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo internacional em favor da qualidade ambiental e da preservação da natureza. O fato de tanto o surgimento quanto o ocaso das primeiras indústrias de Rondônia terem sido determinados, em certa parte, por fatores externos, pode ser uma das causas da relativa lentidão com que o processo industrial vem se desenvolvendo no estado, aliado à questão energética, esta sim determinante para esta situação, haja vista o caso da indústria de transformação de cassiterita, que não pode ser implantada na época por falta de infra-estrutura energética. Some-se a estes fatores a inexistência de uma política industrial que contemple o incentivo à produção através de benefícios fiscais e creditícios, a exemplo de outros estados da federação, que possam estimular o incremento da produção e tornar os produtos de Rondônia mais competitivos. Apesar de tudo, Rondônia tem visto seu processo de industrialização caminhar ao longo do tempo, ainda que mantendo as características e feição de economia periférica, produzindo minimamente para o atendimento à demanda interna, ou fornecendo matérias-primas para as indústrias do centro-sul do país. O setor que mais vem crescendo em Rondônia é o de alimentos, haja vista as performances das indústrias de laticínios e dos frigoríficos O setor madeireiro e o moveleiro, ainda os mais significativos do estado, com as restrições impostas à extração de sua matériaprima e a exigência do mercado por produtos baratos e de desenho moderno, têm procurado se adequar gradualmente e buscam novas tecnologias para a obtenção de produtos competitivos e redução de perdas, disposto a superar suas dificuldades com novas aplicações em tecnologia e “design”. Maiores detalhes sobre a indústria de Rondônia serão relatados na Parte III - Capítulo 3º deste trabalho. C - O Produto Interno O Produto Interno Bruto de Rondônia, embora tenha crescido nos últimos vinte anos de forma acentuada, não fez com que o estado atingisse um nível sequer intermediário no conjunto 44 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo dos estados nacionais. Observe-se que, embora o gráfico seguinte mostre a evolução deste indicador, sempre crescente, em 1994 houve uma redução do PIB de Rondônia, que naquele ano atingiu o valor de US$ 1,147 bilhão, retomando o crescimento em 1995. Rondônia - PIB a Custo de Fatores Evolução em US$ milhões 1400 1.164 1.393 1.147 1200 1000 811 800 533 600 400 128 200 34 0 1970 1975 1980 1985 1990 1994 1995 Fonte: EBAP-FGV A variação do PIB, além disto, após crescimento acelerado entre as décadas de 70 e 80, vem caindo progressivamente, em especial a partir de 1985, ficando abaixo da média nacional. Variações Percentuais do PIB Brasil - Rondônia 350 316 300 250 200 276 Rondônia 210 Brasil 150 120 100 52 50 28 40 15 0 1970/1975 1975/1980 Fonte: EBAP-FGV/1996 43 1980/1985 1985/1990 20 1990/1995 O gráfico seguinte, do PIB por setores da economia em 1990, último dado disponível, mostra a evidente predominância dos setores agropecuário e de serviços sobre o comércio e, 45 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo principalmente, sobre a indústria, que representa apenas 13% do PIB total. Esta também é a razão para o baixo volume do PIB estadual, já que o setor primário notoriamente não agrega grandes valores à sua produção, quando comercializada sem transformações pela agro-indústria, como é o caso de Rondônia. Mantido este percentual, pode-se supor que o PIB industrial do estado estaria, em 1995, em torno de US$ 177 milhões. Rondonia - PIB Estadual por Setores da Economia em US$ milhões - 1990 e 1995 549 600 Agricultura 459 500 425 355 Serviços 400 242 300 202 177 148 200 Comércio 100 Indústria 0 1990 1995 Fonte: EBAP/FGV e Estimativa O crescimento da produção em Rondônia foi insuficiente, até o momento, para acompanhar o crescimento populacional. Pelo quadro seguinte se percebe que o estado é detentor da menor renda “per capita” da região norte, e com tendências nítidas de agravamento desta situação. Acresça-se a isto que, no contexto brasileiro, em relação a este indicador, Rondônia, com US$ 910 de renda “per capita”, fica à frente apenas do Estado do Piauí, que em 1995 foi de US$ 678. Como atenuante, vale acrescentar que na classificação pelo Índice de Desenvolvimento Humano IDH, calculado pelo PNUD e pelo IPEA, considerando os índices de higidez,, nível educacional e renda “per capita”, Rondônia situa-se em 15º lugar no “ranking” nacional, superando o Para e o Acre na região Norte e todos os estados nordestinos. Evolução das rendas “per Anos Rondônia 1970 306 1975 548 1980 1.085 1985 1.130 1990 1.029 1995 910 capita” dos estados da Região Norte - Em US$ Acre Amazonas Roraima Pará 195 238 147 168 330 680 633 411 903 1778 1251 1134 1.300 2322 1561 1023 1.350 2499 1565 1050 1.432 2581 2162 1050 Amapá 324 452 941 1178 1171 1249 Fonte: EBAP-FGV/1996 Conforme se observa pelo gráfico a seguir, Rondônia é o único estado da Região Norte que está com tendências declinantes na variação de sua renda. 46 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo Renda per capita - Região Norte e Rondônia Evolução - em US$ Rondônia 3000 2500 Acre 2000 Amazonas 1500 Roraima 1000 Pará 500 Amapá 0 1970 1975 1980 1985 1990 1995 Isto fica ainda mais claro quando se verifica a curva de variação percentual da renda “per capita” de Rondônia no período, como demonstrado a seguir: 100 80 60 40 20 0 1970/1975 1975/1980 1980/1985 1985/1990 1990/1995 -20 Pelo até aqui visto, Rondônia e Manaus tem diferenças acentuadas, nos dias de hoje, em termos de sua ocupação econômica. A ZFM elevou a capital amazonense num patamar muitas 47 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo vezes acima daquele que jamais poderia pretender com uma evolução normal e não-provocada. Enquanto Rondônia, embora também por influência exógena de ações do governo da União, se voltava para uma ocupação mais nos moldes tradicionais de fronteiras de expansão agrícola, Manaus se transformava numa metrópole com um parque industrial que estava a décadas de seu futuro previsível. A rápida absorção desta condição, pela capital manauara, é um dos maiores indicadores da capacidade de adaptação da mão-de-obra nacional e de sua inteligência. ***** 48 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo PARTE II O MERCADO DE MANAUS 49 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo PARTE II: O MERCADO DE MANAUS CAPITULO 1º DOIS ESTUDOS DE INTERESSE Um Estudo para o Ano 2.000 No levantamento da bibliografia que poderia ser útil ao presente trabalho, foi encontrado um Relatório de Estudo Econômico de iniciativa do SEBRAE/AM, realizado em parceria com a CEAG - Instituto de Consultoria e Pesquisa S/C Ltda, denominado “OPORTUNIDADE DE INVESTIMENTOS PARA O ANO 2.000: UM MERCADO DE 4 BILHÕES DE DÓLARES”. O estudo foi publicado em julho de 1993, em Manaus, e já foi referido aqui na Apresentação. A intenção do estudo amazonense era a de “identificar cinqüenta produtos finais ou intermediários ainda não fabricados ou produzidos inexpressivamente por empresas regionais, que oneram a nossa balança comercial, de preferência voltados para a agroindústria, e com potencial de mercado capaz de justificar a sua transformação em oportunidades de investimentos produtivos de porte micro, pequeno e médio.”12 Também como já se esclareceu anteriormente, o estudo aparentemente resolvia, ao menos em parte, as questões levantadas por este trabalho, só não o fazendo, de forma plena, por dois motivos: 1º - Relacionava predominantemente produtos derivados de agro-indústria, excluindo os produtos primários que são o forte de nossa oferta; 2º - Referia-se a uma projeção para o ano 2.000, e já tinha três anos de elaborado, o que poderia redundar em sérios erros de avaliação se utilizado plenamente para o caso presente. Apesar destas duas restrições, o trabalho elenca produtos que poderiam, quase sem exceção, ser produzidos em Rondônia nos dias atuais. Restava apenas verificar se tais produtos 12 - Doc. cit. Pág. 15 50 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo ainda não eram produzidos por Manaus, desde a feitura do estudo. Isto pode ser claramente constatado pelos técnicos que viajaram àquela cidade, na pesquisa de campo dos produtos oferecidos no mercado de Manaus para seu consumo interno. Mas, assim como se verificou que o quadro de produção manauara continuava com suas mesmas características da época do estudo, também se pode constatar a impossibilidade de realizar atualização nos dados do consumo do Amazonas ou mesmo de sua capital. Não há, em órgãos oficiais ou particulares daquele estado, nenhum registro documental ou eletrônico das entradas de mercadorias em dada época. O levantamento que serviu de base ao estudo citado e que também interessaria ao presente trabalho deixou de ser feito desde 1985. A entrada de quaisquer tipos de mercadorias é registrada em computadores apenas pelo nome da empresa, a sigla da Unidade Federada de sua origem, o valor total da nota fiscal e do ICMS. Através deste tipo de registro, pode-se saber o montante das vendas de uma dada empresa ao estado num dado período de tempo, mas exclui-se a possibilidade de conhecer-se que tipo de mercadoria aquela empresa vendeu. Verificou-se, assim, “in loco” a inexistência de estatísticas atualizadas que permitissem determinar os quantitativos por produto ou grupo de produtos em Manaus. Não existe, por outro lado, nenhum estudo oficial ou banco de dados relativos ao consumo interno, nem mesmo em relação à Zona Franca. Todos os registros existentes e que foram dados consultar aos técnicos deste trabalho, são realizados apenas pelos seus valores, sem especificar tipo ou quantidade de mercadorias. Para a obtenção de dados confiáveis uma pesquisa demandaria pelo menos um ano, abrangendo cerca de 7.000 posições da NBM - Sistema Harmonizado e que para tanto haveria de se manipular em torno de 120.000 notas fiscais de entrada de mercadorias, por mês. Portanto, optouse por considerar o estudo em referência entendendo-se que o mesmo atenderia determinadas premissas de atualidade: a cidade de Manaus, representativa de 92% da economia amazonense, apesar do seu desenvolvimento industrial, continua somente a produzir para atender uma demanda externa de bens de consumo duráveis, notadamente eletroeletrônicos, desprezando a 51 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo produção interna de produtos destinados a atender a necessidades básicas; os produtos propostos no estudo, em sua maioria, são passíveis de produção regional, por contemplarem tecnologias de amplo conhecimento e que aproveitam matérias-primas regionais; a situação das importações nacionais e estrangeiras daqueles produtos entre as datas de sua publicação e o ano de 1993 manteve-se inalterada para o ano de 1996, considerando-se como válidas as projeções ali propostas13. Em outras palavras: as condições de produção da capital manauara continuam as mesmas observadas nos anos anteriores e, como se pode verificar, a cidade continua praticamente a nada produzir para seu sustento alimentar. Para a realização do estudo, seus autores adotaram uma metodologia que lhes permitisse trabalhar com um universo menor de produtos, sem o que tampouco lhe seria possível, pelas condições desfrutadas, de realizá-lo a contento. Naquele caso, os autores se preocuparam na adoção de critérios para a exclusão de determinados itens que: não apresentassem demanda regional suficiente; utilizassem para sua fabricação de tecnologia altamente desenvolvida; utilizassem matérias primas de difícil obtenção; fossem fabricados por cartéis. Assim sendo, a lista formulada pelo estudo atingiu um total de 320 produtos, dentro de 50 grupos classificados dentro da NBM - Sistema Harmonizado. No seu aproveitamento para este trabalho, os presentes autores incluíram mais um critério de exclusão, que constou de todos os produtos do setor metal-metalúrgico, pelas óbvias condições mais difíceis de sua produção devido à carência de insumos e níveis mais elevados de investimentos necessários. Ainda na adaptação do estudo ao caso presente, deve-se considerar que a proposta original daquele era a indicação de oportunidades de investimentos para industriais que se dispusessem a atender o mercado da Região Norte, notadamente o Amazonas, enquanto nossa proposta era a de verificar os níveis de consumo interno de Manaus de produtos obteníveis 13 - Considerou-se ainda, como fundamental, o fato do estudo abranger não só o estado do Amazonas, mas toda a região norte, ampliando o alcance do trabalho. 52 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo ou potencialmente obteníveis em Rondônia. Assim sendo, para o caso deste trabalho, só se apontarão os dados referentes a uma parte do estudo em questão, ou seja, aqueles referentes aos volumes de consumo interno (para o Amazonas e Região Norte), e seus correspondentes valores em US$ (dólares americanos), não se referindo aos volumes de investimentos necessários para sua produção, que também constam do estudo. Os quadros a seguir apresentam os produtos, a demanda total do conjunto de produtos em dólares, o seu peso em toneladas e a quantidade em unidades, quando for o caso, para o estado do Amazonas e para a Região Norte, retirados do estudo em pauta. Toucinho seco, defumado, entremeado..., charque, carne bovina e suína salgada, seca ou defumada..., língua salgada, seca ou defumada; qualquer outro miúdo salgado, seco, defumado ou em salmoura, etc... Amazonas Região Norte U$ 1,000 toneladas U$ 1,000 toneladas 6,500 5.900 47,000 43.000 Leite fresco, pasteurizado ou não, esterilizado, peptonizado ou homogeneizado, fermentado,...iogurte, creme de leite fresco Amazonas Região Norte U$ 1,000 toneladas U$ 1,000 toneladas 230 260 1,700 1.820 Manteiga natural, fresca ou salgada e outras manteigas Amazonas Região Norte U$ 1,000 toneladas U$ 1,000 toneladas 4,600 12.450 33,200 89.900 Queijos: lanche, minas, montanhês, muzzarela, parmesão, prato, provolone, ricota, requeijão, fundido, etc. Amazonas Região Norte U$ 1,000 toneladas U$ 1,000 toneladas 3,700 3.900 26,750 28,200 53 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo Farinha de banana, farinha e sêmola de mandioca e de raspa de mandioca...farinha de batata, purê de batata instantâneo, em flocos...fécula de mandioca Amazonas Região Norte U$ 1,000 toneladas U$ 1,000 toneladas 1,850 3.030 13,360 21.900 Alecrim, boldo, camomila, menta, hortelã, cravo-da-índia, outras plantas e frutas para perfumes, medicina e outras Amazonas Região Norte U$ 1,000 toneladas U$ 1,000 toneladas 100 20 730 150 Banha de porco em bruto e refinada, sebo bovino em bruto, refinado e fundido, óleo de sebo e de banha não comestíveis, lanolina, gordura de ossos em bruto e refinada, outras gorduras alimentícias preparadas Amazonas Região Norte U$ 1,000 toneladas U$ 1,000 toneladas 930 310 6,750 2.200 Óleo de soja, dendê, mamona, gergelim, purificado ou refinado, qualquer outro óleo vegetal ou animal fixo ou concreto, purificado, refinado, cozido, oxidado ou desidratado, óleos animais e vegetais total ou parcialmente hidratados Amazonas Região Norte U$ 1,000 toneladas U$ 1,000 toneladas 18,850 20.500 136,100 148.100 Presuntos, salsichas, salsichões e semelhantes, carne bovina cozida (corned beef) congelada, carne ovina cozida (corned mutton), fiambre de carne suína, qualquer outra preparação e conserva de carne Amazonas Região Norte U$ 1,000 toneladas U$ 1,000 toneladas 18,600 73.200 134,000 529.000 54 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo Bombons, balas, caramelos, pastilhas, pirulitos; goma de mascar; confeitos, chocolate branco, doce de leite, outros produtos de confeitaria e outros não especificados Amazonas Região Norte U$ 1,000 toneladas U$ 1,000 toneladas 9,260 11.200 66,900 80.850 Manteiga, gordura e óleo de cacau, chocolate em pó, granulado, em pastilhas, barra, tablete ou pastas ou em qualquer outra forma de preparado. Geléias, pasta de frutas contendo cacau, outras formas não especificadas Amazonas Região Norte U$ 1,000 toneladas U$ 1,000 toneladas 7,500 13.850 54,100 99.820 Massas alimentícias. Massas alimentícias adicionadas de legumes e semelhantes para alimentação infantil, qualquer outra massa alimentícia. Arroz inflado, bolacha e biscoito para uso dietético, qualquer outro produto de padaria para outros usos, hóstia, casquinha de sorvete, pão-de-forma mesmo com cacau, bolachas e biscoitos amanteigados, de água e sal e de maizena. Bolachas e biscoitos sanduíche Amazonas Região Norte U$ 1,000 toneladas U$ 1,000 toneladas 9,300 25.700 66,900 185.200 Batatas fritas ou conservadas com ou sem vinagre; laranjas cristalizadas; qualquer outra fruta cristalizada; casca de frutas cristalizadas; compotas, geléias, doces, purê e pasta de abacaxi, goiaba, banana e quaisquer outras frutas; conservas ao natural ou em calda, de abacaxi ou qualquer outra fruta; conservas de frutas misturadas, frutas conservadas em álcool; suco de abacaxi, ananás, côco, caju, goiaba, laranja , limão, maracuja, tangerina e de qualquer outra fruta Amazonas Região Norte U$ 1,000 toneladas U$ 1,000 toneladas 7,800 10.000 56,200 71.900 55 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo Molho de soja, molho de pimenta, qualquer outro molho; preparações para sopa contendo peixe; qualquer outra preparação para sopa ou caldo; sopa ou caldos preparados contendo peixes; qualquer outra sopa ou caldo preparado; palmito em conserva, sorvetes e picolés, geléia de mocotó; refeições preparadas, resfriadas ou congeladas, xaropes aromatizados, outras preparações alimentícias. Amazonas Região Norte U$ 1,000 toneladas U$ 1,000 toneladas 4,660 6.500 32,920 47.000 Aguardente, licores, batidas e qualquer outro aperitivo; outras bebidas, preparados alcoólicos compostos para fabricação de bebidas; outros preparados para fabricação de bebidas; vinagres. Amazonas Região Norte U$ 1,000 toneladas U$ 1,000 toneladas 7,600 4.430 54,800 32.000 Farinha de peixe para alimentação animal, farinhas e pós de miúdos para alimentação animal, qualquer outro farelo ou resíduo de peneiragem ou moagem; farelo de tucum; farelo de soja e outros resíduos da extração de óleos vegetais; outros produtos de origem vegetal para alimentação animal; preparações alimentícias para cães, aves e peixes; mistura de resíduos de peixe, leveduras e sementes para alimentação animal; mistura de produtos de origem vegetal para alimentação de pássaros, isca para pesca, de resíduos; outros produtos de origem vegetal para animais. Amazonas Região Norte U$ 1,000 toneladas U$ 1,000 toneladas 1,640 3.400 11,820 24.600 Perfumes (extratos); água de colônia, loção, água perfumada e semelhantes; outras perfumarias; cremes de beleza; cremes e loções tônicas; preparados anti-solares, bronzeadores; batom sólido, cremoso ou líquido; brilho para lábios; compactos, ruge em pó, cremoso ou creme; sombra para olhos; lápis para sombrancelhas; rimel; desodorantes líquidos, cremosos e em bastão; xampus, xampus para animais, cremes para barbear; 56 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo loções após barbear; águas aromáticas e solução de flor de laranjeiras; qualquer outra água aromática; soluções aquosas de óleos essenciais; tinturas e descolorantes para cabelos; laquês e outros fixadores para cabelos; depiladores; esmalte para unhas; qualquer outro preparado para manicuro e pedicuro; outros cosméticos Amazonas Região Norte U$ 1,000 toneladas U$ 1,000 toneladas 4,550 1.000 32,800 7.000 Sabões industriais; sabões abrasivos; sabões ou sabonetes perfumados; sabão em bastão ou em pó para barbear; sabão medicinal veterinário ou desinfetante; sabões sem perfume; outros sabões; detergentes; preparações lubrificantes com base de sabão; preparações com base de óleos vegetais; preparados utilizados no tratamento a óleo, de couro; ceras prepraradas; pomadas e cremes para calçados; encáustica para móveis, pisos e qualquer outra encáustica; lustro para metais; sapóleos e pastas para limpeza; lustro para metais com pinturas; qualquer outra pasta e pó para limpeza e areação; velas perfumadas; velas de cera; velas de parafina; qualquer outra vela; pavios para lamparinas e artigos semelhantes; ceras odontológicas; outras pastas para modelagem, inclusive para diversões infantis; Amazonas Região Norte U$ 1,000 toneladas U$ 1,000 toneladas 78,200 37.100 564,000 267.800 Cola de osso, pele, tendões e materiais semelhantes, qualquer outra cola de origem animal; outras gelatinas e seus derivados; outras colas; amidos solúveis; féculas solúveis; cola de amido ou de fécula; cola preparada vegetal à base de borracha; qualquer outra cola preparada vegetal; cola sintética, impregnada em papel para fabricação de compensados; soluções de borracha; cola de derivados de celulose; colas de goma arábica; cola sintética aminada ou fenólica; diástase; papaína; proteases; renina; qualquer outra enzima Amazonas Região Norte U$ 1,000 toneladas U$ 1,000 toneladas 10,420 6.100 75,200 43.920 57 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo Produtos de madeira: bengalas, lã e farinha de madeira, tacos para assoalho, filetes e molduras para móveis, decorações, interiores e semelhantes, caixas, caixotes e semelhantes para embalagens, utensílios para serviço de mesa, cabos de ferramentas e qualquer outro cabo para utensílios, formas para calçados, outras ferramentas, armações e cabos de madeira; caixas, escrínios ou estojos, artigos para escritório; artigos de adorno pessoal; outras obras de ornamentação; palitos para dentes, unhas e semelhantes; baú, chapeleiros e malas; pranchetas escolares; estrado para empilhamento; outras obras de madeira (14) Amazonas Região Norte U$ 1,000 toneladas U$ 1,000 toneladas 2,523 2.377 - - Artigos de malha: camisolas, combinações, pijamas, calcinhas e outras roupas íntimas Amazonas Região Norte U$ 1,000 toneladas U$ 1,000 toneladas 7,850 8.300 56,700 59.900 Artigos de tecido: camisas, pijamas e cuecas para homens e meninos; camisas, pijamas para mulheres e meninas; coeiros e fraldas; lenços de bolso, de renda, de algodão, de linho, outros lenços Amazonas Região Norte U$ 1,000 toneladas U$ 1,000 toneladas 11,360 18.250 82,000 131.800 Artigos de tecido de algodão: cobertores, mantas, lençóis, fronhas, colchas, qualquer outra roupa de cama; toalhas, guardanapos, panos de enxugar louças; qualquer roupa de mesa, copa e cozinha Amazonas Região Norte U$ 1,000 toneladas U$ 1,000 toneladas 11,100 4.700 80,100 33.400 Como se poderá verificar, não há referência a produtos primários como grãos, carnes, hortigrangeiros e frutas, uma vez que a linha do estudo privilegiou o setor da agro-indústria na 14 - Não há projeção para a Região Norte. 58 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo sua pesquisa. Isto, contudo, não exclui aqueles produtos da demanda de Manaus, e serão objeto de estudo no capítulo seguinte. Além do Estudo revisto acima, outro documento atendia, de certa forma, ao questionamento colocado pelo trabalho em seu termo de referência. Tal foi o caso do Projeto POM, do INPA, cuja síntese se transcreve a seguir. Pequenos Objetos de Madeira Dentre as pesquisas realizadas pela equipe em Manaus registrou-se uma visita ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA, na pessoa de seu Diretor o Professor Ozório José de Menezes Fonseca e de alguns professores-pesquisadores. O objetivo da visita era verificar se o INPA dispunha de alguns projetos de utilização de matéria prima regional que pudessem ser desenvolvidos em Rondônia no atendimento ao mercado de Manaus. A equipe foi brindada com um volume do denominado Projeto POM, baseado em pesquisa realizada pela Coordenação de Pesquisas de Produtos Florestais - CPPF daquele Instituto, sob a coordenação do Professor Estevão Vicente Cavalcanti Monteiro de Paula, a expensas do Conselho Nacional de Pesquisas - CNPq e publicado pelo SEBRAE/AM. O Projeto POM foi direcionado inicialmente para a determinação das condições do mercado manaura para a produção e comercialização de pequenos objetos de madeira. Os pesquisadores visitaram estabelecimentos comerciais e detectaram a presença de quarenta e quatro destes objetos na seguinte freqüência: Freqüência de ocorrência, no comércio de Manaus, de pequenos objetos de madeira - 1995 Produto Freqüência em % Tábua de cortar carne 66,66 Colher de pau 66,66 Porta Retratos 50,00 Bandeja 50,00 Espátula 50,00 Batedor de carne, garfo, pilão, rolo para massas e estojo escolar 33,33 Suporte para: chaves, envelopes, condimentos, tesouras, copos, facas, pratos, talheres, guardanapos e panelas; raquetes de "squash”; amassador; pentes, cabides, jogos americanos 16,66 e espátula furada Outra fase da pesquisa, realizada junto aos consumidores, com 41% de homens e 59% de mulheres, com idade média de 30 anos e famílias com quatro pessoas, buscou determinar a freqüência de utilização destes objetos na vida diária, encontrando os seguintes números: Freqüência de Utilização Doméstica de POM’s na cidade de Manaus - 1995 Objeto % de Utilização Objeto % de Utilização Colher de pau 94,1 Porta guardanapo 17,6 Tábua de cortar carne 80,4 Jogo Americano 15,7 Cabide para roupa 60,8 Porta copos 15,7 59 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo Freqüência de Utilização Doméstica de POM’s na cidade de Manaus - 1995 Objeto % de Utilização Objeto % de Utilização Porta Retrato 41,2 Porta revistas 15,7 Bandeja 39,2 Garfo 13,7 Rolo para massa 39,2 Suporte de TV 13,7 Batedor de carne 33,3 Porta papel-higiênico 13,4 Porta Livros 21,6 Suporte de Vídeo 11.7 Porta Panelas 19,6 Abajur 9,8 Cinzeiro 19,6 Adega 9,8 Porta Lápis 19,6 Saleiro 7,8 Porta Sapatos 19,6 Porta CD’s 7,8 Espátula 17,6 Porta Cassetes 7,8 Porta fósforos 17,6 Porta Lixeiro 7,8 Observou-se ainda, nesta pesquisa, que os objetos acima listados não eram produzidos por indústrias de Manaus e sim importados de outras regiões do país, como mostra o quadro a seguir: Participação por Estado na importação de POM’s para Manaus - 1995 Estados Produtores % de Participação no mercado Paraná 25,0 São Paulo 25,0 Pará 12,5 Rio de Janeiro 12,5 Rio Grande do Sul 12,5 Santa Catarina 12,5 60 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo O trabalho da pesquisa é acompanhado da apresentação de vários projetos, com suas respectivas plantas, orientando a fabricação de pequenos objetos de madeira. A publicação se encontra à disposição, para cópias, na Federação das Indústrias do Estado de Rondônia - FIERO. ***** 61 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo PARTE II: O MERCADO DE MANAUS Capítulo 2º OFERTA E CONSUMO DE GÊNEROS ALIMENTÍCIOS E OUTROS Neste capítulo o estudo se propõe a traçar um perfil do consumo de Manaus no tocante a gêneros alimentícios, como se viu, a face da maior possibilidade de atuação comercial por Rondônia diante daquele mercado. Primeiramente foi pesquisada a oferta da cidade, através de entrevistas com grandes atacadistas, supermercados e centrais de abastecimento. Assim é que se relatam, a seguir, as observações e os resultados de pesquisa de campo realizados a nível dos atacadistas, do CEASA e dos Supermercados. 1 - Atacadistas O grosso do comércio atacadista de Manaus se localiza na região central da cidade denominada Escadaria dos Remédios, nas imediações do Porto de Manaus, atendendo basicamente a dois tipos de clientes: os compradores do interior, cujo comércio é feito por pequenas embarcações regionais que ali aportam, e os comerciantes da periferia, feirantes e pequenos empacotadores. Os produtos comercializados pelo comércio atacadista naquele local são basicamente cereais e enlatados em geral. No tocante aos cereais, as procedências se dão conforme o quadro a seguir: Produto Preços Principal Procedência Observações Arroz tipo 1 Rio Grande do Sul Arroz tipo 2 R$18,00/ Rondônia já está entrando arroz de fardo 30 kg Roraima Feijão R$33,00/ Rondônia, Minas Gerais, São de acordo com a safra fardo 30 kg Paulo, Bahia, Santa Cruz de La Sierra (Bolívia) Farinha R$15,00/ Paraná, Santa Catarina , semelhante ao padrão fardo 25 kg interior do estado amazonense do Arini Milho R$8,50/ Todas as regiões produtoras até Rondônia, na época da fardo 30 kg do país, com ênfase no Mato safra. Destina-se a ração para avicultura. Grosso Milho de R$30,00/ Exterior nacional tem pior qualidade. Pipoca 15 saco 23 kg Café em grão Minas Gerais, Paraná encontrado no comércio apenas o produto beneficiado em Manaus Os enlatados são compostos de leite em pó, derivados de leite, óleos de soja, amendoim, milho e arroz, carnes enlatadas de boi e peixe, compotas, sucos naturais concentrados, doces e concentrados de tomate. Sua procedência é bastante variada, com predominância dos estados do sul-sudeste do país. 15 - O Milho de pipoca pronto para micro-ondas é importado por Manaus desde a criação da ZFM. 62 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo É de notar-se que, no campo alimentar, Manaus só é auto-suficiente em ovos de granja, que produz em quantidades que permitem também abastecer o interior do estado, possuindo uma grande região de granjas avícolas nas proximidades da cidade. Tudo o mais é importado, sendo que alguns alimentos são empacotados pelos próprios atacadistas ou por empacotadoras independentes. Difícil detectar-se os quantitativos importados, mesmo através de pesquisa direta, tanto pela desconfiança gerada com perguntas que envolvam números (acreditando-se que sirvam ao fisco), quanto por não ser possível atingirem-se cifras totais, diante do grande número de atacadistas e a movimentação de produtos entre eles, sem haver nenhum domínio de mercado. Parte destas respostas foram obtidas pela pesquisa domiciliar, descrita em item próprio deste capítulo. 2 - Ceasa A Central de Abastecimento de Manaus mudou completamente suas feições iniciais e se tornou o ponto de instalação dos atacadistas de verduras, legumes e frutas, trabalhando exclusivamente com produtos destes gêneros, importando de todas as partes do Brasil e até 63 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo mesmo do exterior. Não atende mais ao público, e suas instalações estão todas dedicadas ao armazenamento de curta duração dos produtos que adquire, antes de repassá-los aos distribuidores e comerciantes finais. Com a possibilidade da importação sem pagamento de imposto, e com a gradual sofisticação do mercado manaura diante dos produtos importados, a Ceasa hoje importa frutas de várias partes do mundo, que aportam em containeres refrigerados com até 20 toneladas. Alguns dos principais atacadistas do CEASA de Manaus possuem também varejões próprios, espalhados por toda a cidade, efetuando vendas diretamente ao consumidor. A origem dos produtos pode ser vista no quadro a seguir: Produto legumes verdes (alface, couve, agrião, repolho, pimentão, cheiro-verde, espinafre, etc.) tomate batata, chuchu, abobrinha, beterraba maçã Origem Observação Brasília, Minas Gerais, São Paulo Brasília, São Paulo e Minas Já houve um Gerais carregamento Vilhena/RO abóbora, Minas Gerais, São Paulo Estados do Sul laranja pera uvas São Paulo Estados do Sul Rio Grande do Sul e Nordeste banana interior do estado primeiro de Pequenas quantidades provém da Argentina. Pequena quantidade provém dos EUA Pequena quantidade provém de Rondônia Fonte: Pesquisa de campo FIERO O transporte é, na maioria dos casos, rodo-fluvial por carretas pelo eixo BR-364/Rio Madeira. O transporte aéreo é utilizado especialmente provindo de Brasília, ou nos períodos de entressafra, de São Paulo e Minas Gerais. 3 - Supermercados A exemplo de qualquer cidade moderna em Manaus a rede varejista de produtos de 64 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo consumo domiciliar é composta por supermercados e por médios e pequenos empórios nas regiões mais periféricas, açougues e padarias. Os supermercados de Manaus em nada ficam a dever aos supermercados da região sul-sudeste do país. Na pesquisa realizada foram considerados os produtos passíveis de virem a ser objeto de interesse imediato por produtores em Rondônia, o que excluiu, de pronto, boa parte daqueles com níveis elevados de industrialização, normalmente oligopolizados. Os preços oferecidos são, particularmente em relação aos legumes e frutas, bastante superiores aos de Porto Velho, como se verá na listagem comparada a seguir. Frutas, verduras e legumes Produto Unidade abacate abacaxi abóbora moranga abobrinha acelga alface alho banana prata batata lavada beringela beterraba cebola nacional cenoura chuchu laranja limão maçã nacional mamão manga maxixe melão milho verde pimentão rabanete repolho tomate vagem kg kg kg kg unidade unidade kg kg kg kg kg kg kg kg kg kg kg kg kg kg kg kg kg kg kg kg kg Preço MAO 2,59 0,70 2,10 3,50 4,00 2,10 4,0 2,94 2,10 3,08 1,70 0,95 1,50 2,10 1,12 2,56 2,92 2,66 1,33 3,08 2,70 3,99 3,20 5,18 1,40 2,40 4,34 médio Preço PVH 1,45 0,48 0,58 1,70 2,70 1,05 3,64 0,76 0,83 1,21 0,48 0,67 0,83 0,63 0,39 0,75 1,99 1,08 0,59 2,50 1,30 2,00 1,37 3,80 0,39 0,82 1,15 médio Diferença % MAO/PVH +79 +46 +262 +106 +48 +100 +10 +287 +153 +154 +254 +42 +80 +233 +187 +241 +47 +146 +125 +23 +108 +100 +133 +36 +259 +192 +277 65 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo Cereais e Outros Produto Açúcar Cristal Itamarati Açúcar refinado Brancura Açúcar refinado Doçura Água de coco em caixa Água Mineral Amendoim cru Arroz Blue Ville Arroz Extremo Sul Arroz Gran Ville Arroz tipo 2 Arroz Tio João Arroz Uncle Bean Café Betânia Café Betânia Café Garçonete Café Manaus Farinha de 2ª Farinha do Paraná Farinha trigo Dona Benta Farinha de tapioca Feijão carioquinha Feijão preto tipo 2 Feijão preto tipo 1 Flocos de milho Fubá de milho Palmito Pickles Arisco Polpas e Sucos de Frutas Produto Polpa da abacaxi Polpa de acerola Polpa de cupuaçu Polpa de goiaba Polpa de graviola Polpa de maracujá Suco abacaxi Suco acerola Suco goiaba Unidade kg kg kg 200ml 600ml 500g 5kg 5kg 5kg kg 5kg 5kg 500g 250g 500g 500g kg 2kg kg 200g kg kg kg 500g 500g 300g 200g Unidade 500g 500g 500g 500g 500g 500g 500g 500g 500g Preço MAO 0,52 0,63 0,80 1,00 0,46 2,44 5,00 5,50 5,30 0,55 6,00 5,25 3,60 1,80 3,78 3,78 0,80 1,30 0,95 2,70 1,45 1,25 1,50 0,90 1,10 9,00 1,74 médio Preço médio Diferença % PVH MAO/PVH 0,46 +13 0,65 -3 0,77 +4 1,00 0,50 -8 1,78 +37 5,25 +5 0,68 -19 4,88 +23 4,50 +17 16 3,10 +16 1,6017 +13 18 2,97 +27 19 3,22 +17 0,59 +35 1,17 +11 0,78 +22 2,60 +4 1,00 +45 1,14 +10 1,20 +25 0,75 +20 0,82 +34 5,60 +61 1,36 +28 Preço MAO 1,88 2,25 2,63 1,88 2,63 2,63 2,10 2,80 2,10 médio Preço médio Diferença % PVH MAO/PVH 2,58 -27 2,70 -27 3,35 -21 2,53 -26 2,85 -8 3,44 -24 1,55 +35 1.65 +70 1,83 +15 16 - Marca correspondente: Café Brasileiro. - Idem, idem 18 - Marca correspondente: Café Japurá 19 - Marca correspondente: Café Urupá 17 66 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo Produto Unidade Suco de manga Suco de maracujá Suco de caju 500g 500g 500g Carnes, queijos e ovos Produto Alcatra Carne de Sol Carne moída 1º Carne de sol caseira Charque Jaó Charque regional Contra-filé Coxão duro moído Coxão Mole File mignon Frango Sadia Miúdos Bucho Miúdos Coração Miúdos Fígado Mortadela Perdigão Mortadela Sadia Patinho Peito de Chester Peito de frango Peito de peru Queijo muzzarela Ouro Branco Queijo muzzarela Lac-Bom Queijo prato Queijo provolone Queijo tipo Reino Ovos casca branca Leite Longa Vida Molico Leite Longa Vida Parmalat Unidade kg kg kg kg kg kg kg kg kg kg kg kg kg kg kg kg kg kg kg kg kg kg kg kg kg dúzia litro litro Preço MAO 2,10 3,30 1,55 Preço MAO 4,60 4,50 3,90 4,50 4,80 3,40 4,30 3,90 4,15 6,00 1,55 1,10 1,60 1,80 3,15 3,84 4,30 5,89 3,70 4,50 7,00 6,00 8,00 13,00 15,00 1,10 1,15 0,90 médio Preço médio Diferença % PVH MAO/PVH 1,45 +45 2,50 +32 1,30 +19 médio Preço médio Diferença % PVH MAO/PVH 3,29 +40 4,00 +12 3,10 +26 4,00 +12 4,05 +19 3,93 -14 3,29 +31 3,10 +26 3,29 +26 4,20 +43 1,50 +3 0,79 +39 1,40 +14 1,79 3,00 +5 3,91 -2 3,20 +34 4,00 +47 3,06 +21 3,99 +13 4,10 +71 4,43 +35 4,70 +70 10,50 +24 13,00 +15 0,85 +29 0,98 +17 0,70 +29 67 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo Material de Higiene, Limpeza e Outros Produto Unidade Papel higiênico popular Papel higiênico luxo Fraldas Pumpers Sabão de côco em barra Sabão em barra comum Velas Água sanitária Lustra móveis Cera Líquida Saneante Higiênico 4x40m 4x40m pacote 5x200g 5x200g caixa c/6 1.000ml 200ml 850ml 500ml Preço médio MAO 0,88 1,30 a 1,90 4,90 2,00 1,20 0,80 0,95 1,26 2,46 1,30 Preço médio PVH 0,80 1,25 a 1,65 5,70 1,97 1,09 1,00 0,92 1,36 2,80 1,45 Diferença % MAO/PVH +25 +4 a +15 -16 +1 +10 -20 +3 -7 -12 -10 Em relação aos quatro últimos produtos desta lista, pesquisados nos Supermercados de Manaus e de Porto Velho, devido ao grande número de marcas existentes e conseqüentes variações de preços, trabalhou-se com quatro das mais consumidas e calculou-se o preço médio ao consumidor. As variações de preços de um produto da mesma marca em diferentes estabelecimentos pesquisados foi sempre inferior a 5%. 4 - Grandes Fornecedores Trezentas empresas brasileiras respondem por 71% do total de todas as compras efetuadas pelo Estado do Amazonas, estimadas para 1996 em 5 bilhões de reais, com base nos dados fornecidos pela Secretaria da Fazenda Estadual, até setembro do corrente ano. Deste universo foram encontradas quarenta empresas produtoras de alimentos e móveis, objetos preferenciais deste estudo, e descartadas todas as demais por produzirem insumos para a ZFM ou mercadorias fora de nosso interesse imediato. O quadro a seguir mostra, por estado, a quantidade de empresas por tipo de atividade e o movimento de vendas havido durante o ano de 1995. Quadro do Movimento registrado em 1995 Estado Nº São Paulo 7 3 Mato Grosso 7 Rio Grande do Sul 3 1 Rondônia 2 Paraná 3 Santa Catarina 2 Espírito Santo 2 Mato Grosso do Sul 2 Minas Gerais 2(2) Pará (1) 1 RJ-GO-DF-MA-CE 5 (1 de cada) TOTAL 40 Tipo Alimentos Móveis Alimentos Alimentos Móveis Alimentos Alimentos Alimentos Alimentos Alimentos Alimentos Alimentos Alimentos - R$ 1.000,00 17.893 9.359 60.320 19.678 2.489 19.686 7.052 4.832 3.903 5.176 20.233 40.520 16.712 227.853 Fonte: Secretaria da Fazenda do Estado do Amazonas - FIERO Observações: 68 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo (1) - Trata-se de uma distribuidora NESTLÈ (2) - Há de se considerar que um dos maiores fornecedores, Com.Imp.Martins Ltda., trabalha com uma vasta gama de produtos, e não só alimentos. Duas empresas, Nestlè e Martins, e mais o Grupo Sadia, representado por cinco empresas, respondem sozinhas por 43% do total das vendas destes segmentos listados acima. A importação de móveis pelo estado do Amazonas em 1995 está estimada em R$ 18,3 milhões, tomada por base a participação deste setor entre as trezentas maiores empresas fornecedoras do estado. Percebe-se, por sua vez, que o mercado de alimentos industrializados é fortemente dominado por grandes produtores nacionais e multinacionais, o que aparentemente poderia ser um fator inibidor de negócios com Manaus. Entretanto, no ano em observação, as importações nacionais do Estado somaram 3,5 bilhões de reais, enquanto os trezentos maiores fornecedores representaram 2,3 bilhões de reais. Restam ainda cerca de 1,2 bilhão a ser rateado entre outros fornecedores que não estão neste ranking dos 300 maiores, e que provavelmente a grande maioria seja composta de pequenas, médias e até mesmo grandes empresas com baixos volumes de negócios no mercado, em transações de gêneros alimentícios, confecções, brinquedos, móveis, materiais de construção e outros bens não oligopolizados. Embora Rondônia desponte como um dos grandes fornecedores, sua posição deriva da venda apenas de um produto, a carne. Posição importante é a do Mato Grosso, nos segmentos 69 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo analisados, que é o maior exportador de alimentos para o Amazonas. Já a posição do Pará é apenas aparente, pois a alta cifra apontada representa vendas da distribuidora Nestlè para a Região Norte. Também o valor de Minas Gerais deve ser considerado relativo, uma vez que engloba uma grande variedade de itens, além de alimentos, vendidos pela distribuidora Martins. 5 - Consumo “per capita” e consumo total de gêneros alimentícios A determinação dos volumes totais do mercado de Manaus de gêneros alimentícios foi conseguida através de uma pesquisa domiciliar expedita sobre o consumo médio dos seus habitantes. Cinqüenta famílias foram selecionadas segundo o seguinte critério: Faixas de Rendimentos de 0 a 3 Salários Mínimos de >3 a 5 Salários Mínimos de >5 a 10 Salários Mínimos de >10 a 20 Salários Mínimos > de 20 Salários Mínimos Número de Famílias 33 7 5 3 2 Esta distribuição obedeceu a proporção das faixas de rendimento da população economicamente ativa, segundo o perfil da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio - PNAD 1995, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. A distribuição geográfica dessas famílias foi feita segundo a qualidade das moradias previamente conhecidas, sendo as duas primeiras faixas localizadas em bairros periféricos e não contíguos, a terceira em bairros de classe média baixa e as duas últimas em bairros de média alta e alta. 0 a 5 SM - Bairros: Aleixo, Alvorada e Cidade Nova 5 a 10 SM - Bairros Adrianópolis e Cachoeirinha 10 acima - Bairros Vila Municipal e Vieir’alves Os questionários abrangeram o consumo dos seguintes produtos, arrolados como sendo do possível interesse para Rondônia: carne bovina, frango, peixe, leite, queijo, arroz, óleo de soja, 70 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo ovos, feijão, café moído, fubá de milho, banana, laranja, legumes e verduras, papel higiênico e detergentes. Para o cálculo do consumo médio da população pesquisada, utilizou-se o seguinte critério: a - Levantamento do consumo familiar por produto e por faixa de rendimentos; levantamento do total de membros da família pesquisada; determinação do total consumido por todas as famílias por faixa de rendimentos; determinação do total de pessoas pesquisadas por faixa de rendimento; e - determinação do consumo médio por produto por faixa de rendimentos(c/d); f - determinação da média dos consumos médios por produto. O cálculo final visou determinar o volume total de consumo por produto/ano, multiplicando-se a média dos consumos médios por produto e por pessoa/ano encontrada em (f) pelo total da população da cidade. Os resultados obtidos encontram-se demonstrados na tabela a seguir, tomando-se por base a população de Manaus já referida neste trabalho: Produto Média Kg/ano Cons. Total em t carne bovina 19,07 23.440 peixe 39,50 48.576 frango 13,91 17.094 leite pasteurizado 55,56 68.306 arroz 30,26 37.195 pão Francês 20,52 25.231 açúcar 21,74 26.728 farinha de mandioca 9,43 11.591 óleo de soja 9,79 12.034 ovos de galinha 8,13 9.990 feijão 11,89 14.619 farinha de trigo 6,51 7.997 café moido 4,13 5.083 fubá de milho 3,01 3.696 banana 13,94 17.134 laranja 18,63 22.897 queijo 1,61 1.983 legumes e verduras 9,08 11.161 71 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo Chama a atenção, neste quadro, o consumo “per capita” anual de peixe, que é um dos maiores do Brasil. Pelo fato de não ter sido determinada nem entrevistada a população flutuante, sendo esta significativa e com altos níveis de padrão de consumo, alguns destes itens arrolados poderão ter seus valores subestimados. Ainda assim, quase todos os resultados se encontram acima das médias nacionais de consumo, o que é facilmente explicável devido à segunda renda per capita do país ostentada por Manaus. 6 - Produtos de Higiene e Limpeza Embora produtos de higiene e limpeza sejam de fabricação cartelizada, permite nichos de mercado aos pequenos e médios fabricantes. A soma dos mercados do Amazonas e de Rondônia já seria um atrativo para a instalação de indústrias dedicadas a alguns destes itens, como foi possível demonstrar através de pesquisa de campo no caso do papel higiênico e alguns outros produtos de limpeza. No tocante aos produtos de higiene residencial e pessoal possíveis de ser inventariados, consumidos no Estado do Amazonas, verificou-se que cerca de 92% é consumida em Manaus, ainda que esta cidade detenha somente a metade dos habitantes do estado. Isto se dá, provavelmente, pelos níveis de renda muito superiores ao restante do estado, por ser a capital a responsável pela geração de exatamente este mesmo percentual da renda global (92%), porque Manaus centralize as compras para muitos outros municípios mas seja impossível determinar o volume de redistribuição, ou porque vários municípios são abastecidos diretamente, sem passar pela cidade de Manaus. Considere-se, além disto, que a população da capital é extremamente urbana e consumista. Os dados apresentados a seguir são resultado da pesquisa domiciliar e de levantamentos junto a atacadistas, supermercados, feiras e posterior cruzamento das informações. Dizem respeito, portanto, aos produtos selecionados que são consumidos no Amazonas e que passam por ou são consumidos na sua capital. 72 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo Cera líquida - Unidades de 850 ml - utilizada por 40% da população do Estado Consumo Anual Mensal per capita/anual Amazonas 2.559.600 213.300 1,1 Manaus 2.354.830 196.236 1,9 Lustra-móveis - Unidades de 200 ml - utilizado por 27% da população Consumo Anual Mensal per capita/anual Amazonas 633.600 52.800 0,27 Manaus 582.910 48.576 0,47 Saneante higiênico para vaso sanitário - Unidades de 500 ml - utilizado por 12% da população do estado. Consumo Anual Mensal per capita/anual Amazonas 591.360 49.280 0,25 Manaus 543.960 45.330 0,49 Papel Higiênico - rolos de 40 m O consumo nacional anual “per capita” deste produto é de 58 rolos20. Vale salientar que, além do consumo doméstico, o papel higiênico é também utilizado para outros fins, como a fabricação de “papier maché” para alegorias carnavalescas e máscaras festivas. O consumo inventariado para o estado do Amazonas foi de 85% da média nacional, isto é, 49,3 rolos/ano. Assim sendo, o consumo anual do estado deve ser de 115.855.000 unidades. Do total consumido, 20% é produto de baixa qualidade, 50% de qualidade média e 30% de qualidade superior. Pode-se afirmar, sem qualquer possibilidade de erro, que o consumo “per capita” de Manaus deste produto é superior à média do estado e provavelmente se nivela com a média nacional. Sabão em barra - em toneladas Não foi possível obter-se a informação quanto ao consumo do Estado, mas tão somente a referente à cidade de Manaus. As populações do interior, especialmente das áreas rurais, utilizam via de regra produto de fabricação caseira. Consumo Anual Mensal per capita/anual Manaus 5.340 445 4 kg ou 20 barras de 200 g * 20 * * * * - Dados fornecidos pela indústria nacional. 73 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo PARTE III A OFERTA DE RONDÔNIA 74 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo PARTE III: A OFERTA DE RONDÔNIA CAPÍTULO 1º AGRICULTURA 1 - Cereais Neste Capítulo se demonstrará a efetiva produção de Rondônia daqueles produtos em que há ou pode haver excedentes exportáveis e de interesse para nosso estudo, ou seja, também consumidos por Manaus. Os quadros a seguir mostram a produção consolidada por região, no ano de 1995, e os excedentes comercializáveis, com seus respectivos comentários. O consumo total de Rondônia foi calculado com base nos indicadores de consumo médio brasileiro utilizados pela FAO. Arroz - Em toneladas Região 1 - Porto Velho 2 - Guajará-Mirim 3 - Ariquemes 4 - Ji-Paraná 5 - Alvorada d’Oeste 6 - Cacoal 7- Vilhena 8 - Colorado do Oeste Produção Total do Estado Produção de arroz beneficiado21 Total do consumo interno Excedente Produção 1995 10.980 5.228 29.765 102.392 34.244 44.305 7.487 28.036 262.437 174.978 45.948 129.031 Fontes: Dados de produção EMATER/RO - Anuário Estatistico Agropecuário 1995; Consumo: FIERO Esclareça-se que o arroz de Rondônia é do tipo 2. Há de se notar que Rondônia também importa arroz do tipo 1 de outros centros, de modo que a disponibilidade para exportação deve ser ainda maior. Em 1995 foi registrada a entrada de 1.286 t no estado, provavelmente tipo 1, de acordo com o Posto de Vigilância Agropecuária de Vilhena, da Delegacia Federal de Agricultura. 21 - A proporção entre arroz em casca e arroz beneficiado é de 3:2 na relação de peso. 75 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo Feijão - Em toneladas Região 1 - Porto Velho 2 - Guajará-Mirim 3 - Ariquemes 4 - Ji-Paraná 5 - Alvorada d’Oeste 6 - Cacoal 7- Vilhena 8 - Colorado do Oeste Produção Total do Estado Total do consumo interno Excedente Produção 1995 342 1.980 2.750 30.238 6.648 27.279 3.713 8.052 81.002 15.929 65.073 Fontes: Dados de produção EMATER/RO - Anuário Estatistico Agropecuário 1995; Consumo: FIERO O feijão é totalmente comercializado num prazo máximo de sessenta dias após a colheita, valendo dizer que, neste período, o feijão é vendido para quem primeiro o comprar, sendo assim exportado para vários lugares do Brasil. Como na entressafra o feijão tem de ser importado, a disponibilidade efetiva para exportação certamente é superior ao demonstrado. Entraram no estado, em 1995, 195 t do produto, em acordo com os registros do DFARA/RO. Milho - Em toneladas Região 1 - Porto Velho 2 - Guajará-Mirim 3 - Ariquemes 4 - Ji-Paraná 5 - Alvorada d’Oeste 6 - Cacoal 7- Vilhena 8 - Colorado do Oeste TOTAL DO ESTADO Produção 1995 6.868 5.592 26.364 130.101 50.257 93.280 20.948 36.770 370.180 Fonte: EMATER/RO - Anuário Estatístico Agropecuário 1995 Não há dados de consumo porque a quase totalidade da produção de milho do estado é destinada à exportação, uma vez que sua utilização como ração animal bem como a produção de alimentos humanos a partir deste cereal é incipiente no estado. 76 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo Café - Em toneladas Região 1 - Porto Velho 2 - Guajará-Mirim 3 - Ariquemes 4 - Ji-Paraná 5 - Alvorada d’Oeste 6 - Cacoal 7- Vilhena 8 - Colorado do Oeste TOTAL DO ESTADO Produção 1995 699 1.413 47.515 38.702 22.040 53.467 5.148 1.253 170.237 Fonte: EMATER/RO - Anuário Estatístico Agropecuário 1995. Rondônia produz pouco café arábica, mais fino, que serve de base para a composição dos cafés de uso corrente como bebida, destinando este produto ao consumo interno. A quase totalidade de sua produção é de café robusta, que é aplicável na mistura com cafés mais finos, mas especialmente apropriado para a produção de café solúvel. Assim sendo, toda a produção de café de Rondônia é exportada, em parte para o exterior (em 1995 foram 4.427t no valor de cerca de US$ 11 milhões) e o restante para a indústria nacional de café solúvel. Os registros do DFARA/RO para aquele ano indicam uma saída de 13.612 t por Vilhena. Soja Ainda que os documentos oficiais relacionem a região de Vilhena como produtora de 4.500t de soja no ano de 1995, em verdade não se pode incluir este produto neste rol, dada sua baixíssima produção atual. Contudo, este é um produto de grande potencial, em especial na região sul do Estado, a partir de alguns elementos a considerar: a semelhança dos solos, clima e do relevo local com as áreas adjacentes da região norte de Mato Grosso, onde hoje a soja é cultivada em larga escala, a tradição agrícola da maioria dos habitantes da região de Vilhena, já acostumados com este cultivo, e o tamanho médio das propriedades, adequado à mecanização da lavoura. De outra parte, a entrada em cena do PRODECER III - Expansão, Programa de Cooperação Nipo-brasileira para o Desenvolvimento dos Cerrados, contemplando o Estado com uma verba total de US$ 52 milhões para o financiamento do plantio de soja nas regiões de 77 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo cerrado rondoniense, irá afetar decisivamente esta cultura que, a curto prazo, se deverá posicionar como uma nova e rentável produção de cereais para a região. Outro ponto a considerar será o impulso que fatalmente será dado a esta cultura com a entrada em operação do projeto Hermasa, como se verá no capítulo correspondente. 2 - Frutas A fruticultura rondoniense ainda é incipiente, com exceção da banana e da acerola, embora algumas iniciativas já se estejam pronunciando e permitindo até mesmo a abertura de uma indústria de polpa que em breve irá produzir também o concentrado, hoje o maior requerimento do mercado. Os quadros a seguir resumem a produção de 1995 em Rondônia, por região de influência, acompanhados de comentários a respeito de cada produto. Banana - Em toneladas Região 1 - Porto Velho 2 - Guajará-Mirim 3 - Ariquemes 4 - Ji-Paraná 5 - Alvorada d’Oeste 6 - Cacoal 7- Vilhena 8 - Colorado do Oeste Produção Total do Estado Total do consumo interno Excedente Produção 1995 11.300 6.780 36.790 171.430 3.360 20.140 3.000 6.090 258.890 15.776 243.114 Fontes: Dados de produção EMATER/RO - Anuário Estatístico Agropecuário 1995; Consumo: FIERO Observação: Cálculo com base em 10 k por cacho. Estes dados de produção parecem exageradamente otimistas. Retirado o consumo interno, a quase totalidade do excedente é exportada para São Paulo. Também são realizadas vendas pouco significativas para Manaus. Acerola - Toneladas Região 1 - Porto Velho 2 - Jamari 3 - Ariquemes 4 - Ji-Paraná 5 - Alvorada d’Oeste 6 - Cacoal 7- Vilhena 8 - Colorado do Oeste TOTAL DO ESTADO Produção 1995 30 30 3 2.717 28 340 318 30 3.496 Fonte: EMATER/RO - Anuário Estatístico Agropecuário 1995 Embora com produção ainda baixa e destinada ao consumo local através das indústrias caseiras de polpa, a acerola tem uma grande área plantada na região de Ji-Paraná, que está em início de produção e se destinará à fábrica da mesma cidade, para a produção de polpa e futuramente de concentrado, voltada inteiramente à exportação. 78 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo Mamão - Por 1.000 frutos Região 1 - Porto Velho 2 - Guajará-Mirim 3 - Ariquemes 4 - Ji-Paraná 5 - Alvorada d’Oeste 6 - Cacoal 7- Vilhena 8 - Colorado do Oeste TOTAL DO ESTADO Produção 1995 1.580 3.408 6.688 410 347 420 12.853 Fonte: EMATER/RO - Anuário Estatístico Agropecuário 1995 As tentativas de cultivo do mamão em Rondônia não se tem mostrado viáveis, devido principalmente a pragas. Embora não se tenha o índice médio de consumo deste produto, presume-se que toda sua produção é consumida internamente. Abacaxi - Por 1.000 frutos Região 1 - Porto Velho 2 - Guajará-Mirim 3 - Ariquemes 4 - Ji-Paraná 5 - Alvorada d’Oeste 6 - Cacoal 7- Vilhena 8 - Colorado do Oeste TOTAL DO ESTADO Produção 1995 548 170 293 3.530 0 494 100 350 5.485 Fonte: EMATER/RO - Anuário Estatístico Agropecuário 1995 O abacaxi está apenas sendo introduzido no Estado, mas com características promissoras. Não houve registro de produção em 1994, por ser incipiente. Mas a produção atual já está 79 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo próxima a abastecer o mercado interno, que ainda importa o diferencial do vizinho estado do Acre e de outras regiões. Sua produção inicialmente será destinada ao aproveitamento pela indústria de polpas e concentrados em Ji-Paraná e para o consumo interno “in natura”. Melancia - Toneladas Região 1 - Porto Velho 2 - Guajará-Mirim 3 - Ariquemes 4 - Ji-Paraná 5 - Alvorada d’Oeste 6 - Cacoal 7- Vilhena 8 - Colorado do Oeste TOTAL DO ESTADO Produção 1995 33 49 147 2.128 45 79 112 129 2.722 Fonte: EMATER/RO - Anuário Estatístico Agropecuário 1995 Também a produção de melancia está apenas se iniciando, e começa a abastecer parte do mercado interno do produto. O estado tende a ser auto-suficiente a curto prazo neste produto. Citros - Por 1.000 frutos Região 1 - Porto Velho 2 - Guajará-Mirim 3 - Ariquemes 4 - Ji-Paraná 5 - Alvorada d’Oeste 6 - Cacoal 7- Vilhena 8 - Colorado do Oeste TOTAL DO ESTADO Produção 1995 9.750 2.615 26.691 72.550 415 33.150 6.578 6.169 157.918 Fonte: EMATER/RO - Anuário Estatístico Agropecuário 1995 Os citros já formam uma cultura com alguma tradição no Estado, destacando-se as regiões de Ji-Paraná, Cacoal e Ariquemes. Sua produção, contudo, ainda está bem abaixo da demanda interna, provocando a importação especialmente de São Paulo. Cupuaçu - Por 1.000 frutos Região 1 - Porto Velho 2 - Guajará-Mirim 3 - Ariquemes 4 - Ji-Paraná 5 - Alvorada d’Oeste 6 - Cacoal 7- Vilhena 8 - Colorado do Oeste TOTAL DO ESTADO Produção 1995 2.584 0 377 484 32 86 23 10 3.596 Fonte: EMATER/RO - Anuário Estatístico Agropecuário 1995 80 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo A cultura de cupuaçu é pequena e atende as indústrias caseiras de polpa, com uma parte destinada à venda dos frutos em feiras ou mercados. A produção das regiões em torno de JiParaná, subtraída a venda direta ao consumidor, será destinada à unidade fabril situada no município. Esta é outra cultura que tende a se expandir no estado e hoje já se registram excedentes do produto. 3 - Legumes e Verduras A oferta atual de Rondônia é incipiente, sendo o Estado importador destes itens. Contudo, as recentes experiências bem sucedidas levadas a efeito na região de Vilhena com a “plasticultura”, e que já começa a se disseminar por outros municípios, é de se prever que esta atividade possa vir a ter um importante papel no nosso quadro produtivo, substituindo importações e até mesmo gerando excedentes exportáveis. Além deste fato, acresça-se o início da prática da hidroponia, hoje já encontrada em Vilhena, Pimenta Bueno e Porto Velho, que tornará a produção de legumes e verduras ainda mais promissora no estado. 4 - Outros produtos Alguns outros produtos de Rondônia podem ser apreciados em sua oferta, com as observações que lhes correspondem. Cacau - Toneladas Região 1 - Porto Velho 2 - Guajará-Mirim 3 - Ariquemes 4 - Ji-Paraná 5 - Alvorada d’Oeste 6 - Cacoal 7- Vilhena 8 - Colorado do Oeste TOTAL DO ESTADO Produção 1995 16 0 6.528 7.788 4 976 13 546 15.871 Fonte: EMATER/RO - Anuário Estatístico Agropecuário 1995 81 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo A cacauicultura de Rondônia, que já o colocou em posição de destaque nacional, hoje está bastante prejudicada, mas há grandes esforços para mantê-la e avivá-la. A produção caiu 3 mil toneladas entre 94 e 95, para uma redução de 7.000ha e está concentrada nas regiões de Ji-Paraná e Ariquemes. A CEPLAC vem desenvolvendo esforços para a reabilitação da cultura. Toda sua produção é comercializada para fora do estado. Se conseguir superar seus atuais entraves, entre eles os causados pela “vassoura-de-bruxa” poderá retornar a ser importante item da pauta de exportações de Rondônia. Mandioca - Toneladas Região 1 - Porto Velho 2 - Guajará-Mirim 3 - Ariquemes 4 - Ji-Paraná 5 - Alvorada d’Oeste 6 - Cacoal 7- Vilhena 8 - Colorado do Oeste TOTAL DO ESTADO Produção 1995 149.748 39.095 80.920 229.017 21.340 126.405 30.240 31.540 708.305 Fonte: EMATER/RO - Anuário Estatístico Agropecuário 1995 A mandioca é um produto que vem aumentando sua produção que, embora alta, ainda somente supre nossas necessidades internas, não havendo excedentes exportáveis. A fabricação caseira de farinha, a alimentação animal e humana são suas principais destinações. Não existe média de consumo da mandioca “in natura”, pelo que não pode ser avaliado seu consumo. Algodão - Toneladas Região 1 - Porto Velho 2 - Guajará-Mirim 3 - Ariquemes 4 - Ji-Paraná 5 - Alvorada d’Oeste 6 - Cacoal 7- Vilhena 8 - Colorado do Oeste TOTAL DO ESTADO Produção 1995 30 675 300 9.224 5.298 5.392 5.668 475 27.062 Fonte: EMATER/RO - Anuário Estatístico Agropecuário 1995 82 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo Apesar de estes serem dados oficiais, coloca-se em dúvida sua validade, uma vez que as indústrias de beneficiamento de algodão informaram uma produção de 200 mil arrobas, que representa apenas 3.000t. Ver mais detalhes sobre o tema na Parte III - Capítulo 3º, dedicado à Indústria. ***** 83 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo PARTE III: A OFERTA DE RONDÔNIA CAPÍTULO 2º PECUÁRIA A - Carnes Como já foi citado anteriormente, a pecuária bovina de corte e leite vem se desenvolvendo com grande rapidez a partir dos anos 80. A criação de suínos, aves, ovinos e caprinos tem crescido, ainda que não nos índices do gado vacum. Dado que a produção de carne de gado já atingiu patamares de auto-suficiência, os frigoríficos de Rondônia se voltaram para a exportação, já sendo Manaus o principal mercado comprador. Este item, por sua importância relativa na pauta de produtos exportados por Rondônia merece uma análise mais detalhada de sua oferta, até mesmo, também, por se mostrar como o de maior potencial de resposta imediata no que tange à capacidade de absorver investimentos. A indústria de abate de bovinos em Rondônia é constituída por apenas três frigoríficos localizados em Porto Velho, Ariquemes e Cacoal, sendo que somente os dois últimos se encontram regularizados junto ao Serviço de Inspeção Federal - SIF, e portanto, aptos a comercializarem com outros estados. O quadro a seguir mostra o rebanho bovino do Estado, em 1995, constituído de 4,4 milhões de cabeças. Assim, para uma taxa média de desfrute de 15%, teríamos o aproveitamento de 660.000 cabeças por ano. Entretanto, com base nos levantamentos feitos junto aos frigoríficos, matadouros municipais e aos principais comerciantes de carne durante o desenvolvimento deste trabalho, pode-se avaliar que o número mais próximo da realidade é de 600.000 animais-ano. Essa diferença resulta das projeções feitas pela Emater-RO para inferir a população bovina do estado, que alcançou o valor total acima indicado. A pesquisa aqui referida, mantida a taxa de desfrute de 15%, nos leva a um total de 4 milhões de bovinos, o que referenda as estimativas da FIERO. 84 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo Produção de animais de corte em Rondônia - 1995 R egiões/R ebanho Bovinos % S/Total Suínos Porto V elho 324.068 7,30 98.062 G uajará M irim 71.520 1,61 3.350 A riquem es 474.429 10,68 63.661 Ji-Paraná 1.043.223 23,49 174.073 A lvorada d'O este 202.186 4,55 34.193 Cacoal 807.722 18,19 394.428 V ilhena 778.370 17,53 68.199 Colorado do O este 739.449 16,65 90.184 TO TA L ESTA D O 4.440.967 100,00 926.150 Fonte: EMATER/RO - Anuário Estatístico Agropecuário 1995 % S/Total 10,59 0,36 6,87 18,80 3,69 42,59 7,36 9,74 100,00 A ves 456.795 85.000 575.601 2.187 .878 261.218 1.028.552 384.215 304.390 5.283.649 % S/Total 8,65 1,61 10,89 41,41 4,94 19,47 7,27 5,76 100,00 Dessa quantidade de 600.000 animais-ano, cerca de 540.000 são abatidos nos três frigoríficos existentes, nos matadouros municipais e em matadouros clandestinos. O restante (60.000 animais) são exportados em pé, para os estados do Amazonas e do Mato Grosso. Na ausência de dados oficiais realistas sobre a pecuária do Estado, foram usados aqueles obtidos na pesquisa como valores da produção do estado, os quais apresentam total coerência se confrontados dados originados de diferentes fontes. Quando são obtidos por cálculo, isso é indicado no texto. Os valores de referência, utilizados em cálculos e estimativas, são os mostrados à seguir. I - Relação entre os componentes de diversos produtos de origem bovina, de acordo com a experiência dos frigoríficos do estado, e dados estatísticos básicos. Para produzir uma tonelada de sabão são necessários 585 kg de sebo. Cada animal abatido produz, em média, 13 kg de farinha de carne e osso, usada para alimentação de suínos e aves, em granjas. Para produzir este tipo de farinha, são usados os restos de matança, vísceras estragadas, limpezas da carne, cabeça e mocotó. Quando há retorno de ossos contidos na carne distribuída, é possível obter-se 15 kg de farinha por animal. Atualmente, apenas os três frigoríficos e um pequeno produtor independente no município de Candeias produzem essa farinha, no Estado. Nos cálculos será usada a relação 13 kg por animal. Na costela, incluída a fraldinha interna, a relação carne/osso é de 70/30, alcançando freqüentemente 80/20. A média de peso de costela, por animal, é de 16,5 kg. Na 85 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo fabricação do charque a partir da costela, usa-se apenas a carne nela contida, e a perda em peso, quando se usa o antigo processo de secagem ao sol, alcança até 30%. Há processo moderno que reduz substancialmente esta perda, mas ainda não é usado por nossos produtores. Nos cálculos relacionados ao uso da costela na produção de charque foi usada a relação 80/20, e perdas de 30%. Considerou-se o consumo médio, per capita, de 20 kg de carne/ano em Rondônia, superior à média nacional, que é de 18 kg/ano. A população de Rondônia é considerada igual a 1.531.614 habitantes, conforme o PNAD-95, do IBGE. O peso médio considerado para os animais abatidos é de 225 kg, aí incluídos dianteiro, traseiro e costela (boi limpo). Os preços indicados como FOB, ao longo do trabalho, são os valores médios praticados em Rondônia, para entrega nos frigoríficos. II - O conteúdo médio, por animal abatido, de diversos produtos bovinos, é mostrado na tabela seguinte. Carne industrial, vísceras e outros produtos, por animal abatido. Produto Média/animal Preço FOB Destino (kg) (R$/kg) Fígado 4,5 1,20 Rondônia e Manaus Bucho 3,9 0,40 Rondônia e Manaus Cabeça 3,0 (1) Embutidos / farinha Coração 1,4 0,50 Rondônia e Manaus Língua 1,0 1,10 Rondônia e Manaus Rim 0,7 0,28 Rondônia e Manaus Pulmão 1,0 0,20 Alimento canino in natura Manaus Costela 16,5 1,00(2) Rondônia e Manaus / Charque Rabo 1,2 2,10 Rondônia e Manaus Lombinho (próximo do 0,5 1,40 Rondônia e Manaus / Enlatados bucho) - Sudeste Fraldinha interna (ponta da 0,7 1,15 Rondônia e Manaus / Enlatados costela) - Sudeste Sebo 15,0 0,35 Indústria do sabão / Local ou Sudeste 86 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo Produto Média/animal (kg) Couro salgado 30,0 Carne industrial (da cabeça 3,0 e restos de sangria) Preço (R$/kg) 0,80 0,60 FOB Destino Curtumes - Franca (SP) e RS Enlatados Sul e Sudeste Fonte: FIERO (1) - Destinado exclusivamente à produção de farinha de carne e osso. - Preço para entrega no frigorífico, variando entre R$0,95 e R$1,00. A produção e o valor monetário, de itens derivados de gado bovino no estado de Rondônia (Ref. dez/96), é mostrada nas próximas tabelas. Saliente-se que as quantidades anuais de produtos baseiam-se no total de animais abatidos no estado, tanto por empresas regulares como pelos clandestinos. Por outro lado, devido à óbvia importância do produto, a carne verde será mostrada numa tabela independente dos demais itens. Produção de carne verde em Rondônia - 1996 Produto Produção Preço FOB Valor (t/ano) (R$/t) (R$) Carcaça limpa (1) 121.500 1.500 182.250.000 Costela (2) 8.910 1.000 8.910.000 Sub-total (3) 121.500 ---182.250.000 Destino RO, AM, Sul-Sudeste RO, AM Fonte: FIERO (1) - Neste item estão incluídos o traseiro, o dianteiro e as costelas do boi. Representa, portanto, o total de carne verde produzida no estado. (2) - Neste item a costela é mostrada separadamente da carcaça, tendo em vista apenas seu possível uso para produção de charque. (3) - Deve ficar claro que os valores de produção e monetários não são aditivos, visto que a costela está computada no item carcaça. O consumo de carne bovina em Rondônia está estimada com base na população e consumo anual per capita, valores indicados nos itens I.d e I.e. A diferença para o total de carne produzida é indicada como excedente exportável, e mostrados logo a seguir. Consumo de carne - 30.632 t/ano. Excedente exportável - 90.868 t/ano. A próxima tabela mostra as quantidades e valores monetários dos demais itens obtidos pelo abate de bovinos, excetuada a carne verde, considerados todos os pontos de matança do estado. 87 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo Produção de itens de origem bovina em Rondônia - 1996 Produto Produção anual (t) Fígado 2.430 Bucho 2.106 Coração 756 Língua 540 Rim 378 Pulmão 540 Rabo 648 Lombinho (do bucho) 270 Fraldinha (ponta da costela) 378 Sebo 8.100 Couro salgado 16.200 Carne industrial 1.620 Sub-total 33.966 Valor (R$) 2.916.000 842.400 378.000 594.000 105.840 108.000 1.360.800 378.000 434.700 2.835.000 12.960.000 972.000 23.884.740 Fonte: FIERO Produção total de carne bovina em Rondônia - 1996 Produto Produção anual (t) Carne bovina 155.466 Valor (R$) 206.134.740 Fonte: FIERO Tendo em vista não ser possível precisar-se o destino dado a todos os itens pelos matadouros clandestinos, estes são os valores máximos da produção estadual, considerando-se o total de animais abatidos. Para os produtos industriais já em fabricação no estado, como o sabão, a farinha de carne e osso, e o charque, a tabela seguinte mostra os totais que poderiam ser produzidos, calculados com base nos parâmetros indicados no item I. São, portanto, números potenciais, e consideram que todos os produtos-base para fabricação dos mesmos são utilizados e destinados a sua produção, sem qualquer outra destinação. Produção potencial de derivados bovinos em Rondônia - 1996 Produto Produção anual (t) Preço FOB (R$/t) Sabão em barra (200 g) 13.846 650 Farinha de carne e osso 7.020 180 Charque (1) 4.990 2.900 Totais 25.856 ---- Valor da Produção (R$) 8.999.900 1.263.600 14.471.000 24.734.500 Fonte: FIERO Produção calculada com base no aproveitamento de toda a costela obtida para a fabricação de charque, pelo antigo processo de salga e exposição ao sol, sem qualquer outra destinação à mesma. 88 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo Atualmente a produção estadual dos itens mostrados na tabela acima é estimada em: Sabão em barra - 3.600 t/ano. O sabão em barra é fabricado em unidades instaladas nos próprios frigoríficos Farinha de carne e osso - 3.900 t/ano. A farinha de carne e osso, além dos frigoríficos, é produzida por um pequeno produtor independente. Charque - 850 t/ano. O charque dispõe de produtores independentes em Porto Velho, Cacoal e Ji Paraná. A maior das indústrias, instalada em Cacoal, produz abaixo de 50% da sua capacidade total, que seria de 780 t/ano. As demais operam normalmente a plena capacidade. As regiões de Ji-Paraná, Cacoal, Vilhena e Colorado do Oeste respondem juntas por 76% do rebanho bovino do estado, onde existe instalado apenas um frigorífico. O consumo de carne suína “in natura”, na Região Norte, não apresenta índices significativos. No entanto deve se observar que seus derivados (salsichas, lingüiças, fiambres, salames, etc.) representam itens importantes nos hábitos alimentares desta mesma região. Embora pequeno, o rebanho suíno de Rondônia, com 926.150 cabeças, atende a demanda interna, devido ao fato de que a maioria dos produtores cria para auto-consumo. Os produtores especializados são em número reduzido, o que impede a expansão de uma indústria de embutidos, hoje em sua maior parte, de caráter artesanal e doméstico. A avicultura de corte no Estado também é bastante limitada, onde somente as regiões de Ji-Paraná e Cacoal representam mais de 60% da produção total. Presume-se que tal atividade não tenha ainda prosperado por fatores tais como: clima, custos de insumos, inexistência de tecnologia apropriada para a região e concorrência dos grandes frigoríficos do sul do país. Contudo, um projeto de avicultura de corte, em fase de implantação no município de Espigão d’Oeste, prevê um abate inicial de 5 mil aves/dia, evoluindo para 50 mil na última fase, o que reverterá o quadro da avicultura de corte no Estado. 89 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo B - Piscicultura A Amazônia brasileira, tem nas suas reservas aqüíferas o maior potencial da Terra na produção de peixes de água doce, quer em criatórios naturais em lagos e rios, quer no desenvolvimento da piscicultura racional através de criadouros que contemplam desde a produção de alevinos, passando pela recria até alcançar o produto final pronto para consumo. Esta atividade, inibida talvez pela produção natural, somente há alguns anos vem sendo encarada pelos empresários como importante, não só por questões ambientais, mas por ter demonstrado capacidade de oferecer retorno aos seus investimentos. Assim é que o estado do Pará, que há mais tempo desenvolve pesquisas de criadouros de peixes em cativeiro, já dispõe de uma vasta rede de produtores bem sucedidos. Em Rondônia, mais recentemente a piscicultura racional foi introduzida e vem se desenvolvendo rapidamente com aporte de investimentos em todas as suas fases de produção. A produção de alevinos, considerada a fase mais delicada do processo, já conta no estado com oito produtores, sendo dois registrados no IBAMA e seis informais que podem oferecer ao mercado cinco milhões de unidades/ano das espécies mais comumente criadas no estado: tambaqui, tambacu, pacu, curimatá e carpa. Outro projeto, já em fase final de implantação, agregará a essa oferta potencial, mais um milhão/ano de alevinos, inclusive aumentando suas variedades, pois pretende oferecer, além das espécies citadas, também o matrinxã, o pintado, o jundiá e a jatuarana. A fase de recria e engorda em 199622 já conta no estado com 360 produtores, com espelho d´água médio de 5.000 m² e com uma produção estimada de 360 a 400t/ano.Vale salientar que entre estes, destacam-se dez criadores que somados atingem uma produção de 100t/ano, que representa 25% do total estadual. No tocante à produção de rações, embora não exista ainda nenhuma indústria envolvida apenas nessa atividade, pode-se afirmar que dentre os grandes produtores de peixe, seis dispõem 22 Inventário efetuado pelo CNPq - MCT 90 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo de misturadores para o preparo de sua própria ração. Quanto ao mercado consumidor, o consumo “per capita” do estado situa-se em torno de 9 kg/ano, o que para uma população de 1,53 milhão de habitantes se traduz numa demanda de 13.770 t/ano, que é abastecido pela pesca artesanal e pela importação de regiões próximas, no estado do Amazonas. Note-se que somente 3% (três por cento) da demanda é atendida pelos piscicultores do estado, daí este setor estar demonstrando forte tendência de expansão. No mercado estadual os picos de preços ao consumidor ocorrem entre dezembro e fevereiro, época da desova, quando a pesca é proibida, e de março a junho, época das cheias dos rios, quando há escassez na oferta de pescados. Em 1996, o valor médio do quilograma do peixe bruto (com vísceras) pago ao produtor foi de R$ 2,50 (dois reais e cinqüenta centavos), chegando ao consumidor entre R$ 3,50 e 4,00. Dentre os principais motivos da tendência de crescimento da piscicultura em Rondônia podem-se relacionar: o mercado estadual é importador de peixes; os preços no mercado estadual, em particular Porto Velho, permitem elevada margem de lucro ao produtor; trata-se de atividade ecologicamente correta, o que propicia acesso mais fácil a financiamentos, credenciamentos e autorizações dos organismos públicos governamentais; acesso ao mercado potencial brasileiro, com custo de transporte não proibitivo; clima e recursos hídricos, em várias sub-regiões do estado, chegando próximo do ideal para as espécies hoje produzidas; o mercado para exportação é extremamente promissor desde que haja regularidade na oferta e atendimento aos padrões requeridos de qualidade. Nesse mercado, os produtores poderão obter margens de lucro superiores aos obtidos no mercado interno. 91 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo A questão fundamental que deve ser resolvida para que o produtor tenha um excelente mercado cativo e obtenha bons contratos de fornecimento é, básicamente, a regularidade da produção e a qualidade do produto. É importante ressaltar que a atual baixa qualidade do peixe produzido em cativeiro, pela grande maioria de criadores não estruturados, deve-se ao fato de não utilizarem ração específica, alimentando-os, principalmente, com mandioca e milho, que induz a um excesso de gordura. Identificam-se, também, como os principais problemas que atingem a piscicultura no estado: falta de organização do sistema produtivo, de fomento e de assistência técnica; deficiências no sistema de comercialização e distribuição do produto; carga tributária para venda fora do estado, já que os países do Mercosul exportam para o Brasil com isenção tributária. Quanto ao custo de produção, em linhas gerais, um peixe “de mercado” (com aproximadamente 2,5 kg), produzido por um piscicultor mais estruturado, não considerando os custos do investimento, e que utiliza ração importada de fora do estado e, considerando ainda, uma taxa de conversão alimentar padrão de 2:1 (dois para um), é de R$ 1,20 (um real e vinte centavos) por quilograma de peixe. Neste valor está computado o custo de aquisição dos alevinos, sendo: Alevinos I - R$ 30,00 a 40,00 / milheiro. Alevinos II - R$ 100,00 / milheiro. C - Laticínios 1 - Surgimento No final na década de 70, visando induzir o crescimento da produção de leite na região, o governo do então território instalou, com recursos do POLAMAZONIA, duas indústrias de beneficiamento de leite “in natura”, sendo uma na capital Porto Velho e outra no município 92 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo interiorano de Ouro Preto do Oeste. A indústria do interior, após ser arrendada para a iniciativa privada, passou a produzir queijos, principalmente do tipo muzzarela, e exportar para o mercado de São Paulo. Este fato chamou a atenção dos empresários do setor que à época tinham suas indústrias instaladas nas regiões de Goiás, Minas Gerais e São Paulo. A partir daí, deflagra-se o processo de instalação de novas indústrias em Rondônia, liderado por empresários de S. Paulo, aproveitando as vantagens de uma nova região produtora de leite e com um imenso potencial de crescimento. Este processo possibilitou que, em pouco mais de dez anos se implantassem cerca de 44 indústrias de grande, médio e pequeno portes, sendo essas últimas já de iniciativa empresarial da região, possibilitada pelo surgimento de mão-de-obra especializada gerada a partir dos primeiros empreendimentos. O crescimento da indústria de laticínios em Rondônia deu-se em ritmo acelerado com a conseqüente resposta da bacia leiteira, por cerca de dez anos até a entrada em vigor do tratado do MERCOSUL, quando então passou a sofrer competição dos produtos do Uruguai e da Argentina, uma vez que a alíquota do Imposto de Importação foi reduzida a 2%. Esta política redundou numa violenta crise no setor de produção de laticínios a nível nacional, já que as indústrias daqueles dois países operam com preços internacionais, comprando o leite junto ao produtor a U$ 0.15/litro, enquanto que a indústria nacional e de Rondônia operava pagando R$ 0,25/litro de leite. Em 1995 o governo brasileiro atende aos reclamos do setor e eleva a alíquota de importação para 32%. Com o pagamento ao produtor de R$ 0,15/litro e redução das margens de lucro da indústria, o setor de laticínios do estado retomou sua competitividade e atualmente opera em condições normais de mercado. Ainda que, desta forma, o produtor tenha visto reduzir suas margens, a verdade é que a produção de leite representa para a maioria dos pequenos produtores de Rondônia a única fonte de renda disponível o ano todo, razão pela qual se adequaram ao mercado sem maiores traumas. 93 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo 2 - Capacidade Instalada Atualmente existem no estado de Rondônia quarenta e quatro indústrias de laticínios, todas voltadas para produção de queijos e leite pasteurizado inclusive com a iminente entrada em produção do leite tipo Longa Vida por uma delas. Esta última iniciativa permitirá ao estado entrar no mercado brasileiro desse produto que, para ser obtido, requer alto nível de investimento, utilizadora da tecnologia de embalagem mais moderna que existe no mundo. Empresas de Laticínios do Estado de Rondônia - 1995 Empresa Nova Esperança Santa Beatriz Laticínios Arilac Laticínios Frio Bom ltda Laticínio Asa Branca Laticínio Danny Laticínio Arilac Teixeiralat Ind. Laticínios ltda. Inlaron Ind. de Laticínio Jaru ltda. Monte Verde Inlaron Laticínio Ouro Minas C.J.I. Flor de Rondônia Laticínio Boa Vista Laticínio Monte Verde Yolat Com. Prod. Aliment. Ltda. Laticínios Flor de Rondônia Laticínios Flor de Rondônia Canaã Laticínios Laticínio Urupá Ltda. Inlaron Ind. de Latic. Ltda Laticínio Fribom Laticínios Nova Brasilândia Laticínios Guaporé Laticínios Alta Floresta Inlaron Laticínios Nova Esperança Laticínios Canelinha Laticínios Vale do Oeste Laticínios Cacoal Laticínios Esperança do Oeste Laticínios Presidente Médici Laticínios Rolim de Moura Ltda. Laticínios Santa Luzia Laticínios Porto Belo Laticínios Rolim de Moura Laticínios Pimenta Bueno Laticínios Cerejeiras MULTI-BOM Laticínios Colorado MULTI-BOM Laticínios Realeza Queijo Bela Rose Localização Porto Velho Porto Velho Ariquemes Cacaulândia Machadinho Doeste Montenegro Rio Crespo Jaru Jaru Jaru Jaru (Tarilândia) Jaru (Tarilândia) Ji-Paraná (Rondominas) Ji - Paraná(Nova Londrina) Ji - Paraná Mirante da Serra Ouro Preto d’Oeste Presidente Médici Distrito de Pres.Médici Teixeirópolis Urupá Vale do Paraíso Alvorada D”Oeste Nova Brasilândia D”Oeste São Miguel do Guaporé Alta Floresta D”Oeste Cacoal Espigão D”Oeste Espigão D”Oeste Espigão D”Oeste Ministro Andreazza Ministro Andreazza Ministro Andreazza Rolim de Moura Santa Luzia D”Oeste Santa Luzia D”Oeste Santa Luzia D”Oeste Pimenta Bueno Cerejeiras Colorado d´Oeste Colorado d´Oeste Colorado d´Oeste Capacidade/dia 8.000 20.000 30.000 30.000 4.000 5.000 20.000 80.000 35.000 100.000 não disponível. não disponível. 10.000 3.500 20.000 5.000 100.000 25.000 18.000 70.000 70.000 70.000 20.000 3.300 15.000 20.000 50.000 1.500 4.000 40.000 5.000 3.000 2.000 100.000 7.000 40.000 100.000 30.000 80.000 20.000 1.500 200 94 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo Empresa Total da capacidade instalada Localização Capacidade/dia (*) 1.266.000 Fonte: EMBRAPA/RO Obs.: Faltam ainda duas indústrias: uma em Nova Mamoré e outra em Guajará-Mirim que não estão em produção. (*) - Obtido sem os dados das localidades não disponíveis. É possível que se tratem apenas de postos de coleta e resfriamento de leite. Como se observa na relação acima a maior concentração de laticínios encontra-se na região de JiParaná, com destaque para os municípios de Jaru, Ouro Preto e Ji-Paraná, em conseqüência de ser esta a região maior produtora de leite do estado. 3 - Produção de Leite A produção do leite em Rondônia é alta, pois, embora com uma média em torno de 45 litros por produtor, o grande número destes no estado faz com que o volume total produzido atinja níveis significativos, o que em parte explica a implantação desse número de indústrias que já representa uma parcela razoável da oferta de queijos no mercado nacional. O quadro a seguir demonstra a produção anual de leite no Estado, por região: Produção de Leite em Rondônia - 1995 Regiões Porto Velho Guajará Mirim Ariquemes Ji - Paraná Alvorada d´Oeste Cacoal Vilhena Colorado d´Oeste Produção Anual (litros) 10.189.766 2.563.000 18.686.638 170.016.578 9.062.800 9.191.500 6.798.500 8.589.200 TOTAL DO ESTADO 235.097.982 Fonte: EMATER/RO - Anuário Estatístico Agropecuário 1995 Comparando-se a capacidade anual de processamento das indústrias instaladas em Rondônia, com os números deste quadro, percebe-se que há uma ociosidade de cerca de 50% nos laticínios do Estado. É válido observar-se que a qualidade do plantel leiteiro de Rondônia é em 95 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo geral boa, mas a falta de tratos adequados não permite que se obtenham maiores índices de produtividade, significando que o simples ato de adicionar ração ao gado leiteiro representaria um incremento imediato de produção e produtividade. Note-se que em todas as regiões supracitadas existem indústrias de laticínios e que, segundo pesquisa junto a esse segmento, 75% do leite produzido é destinado a indústria, e 25% para o consumo “in natura” e fabricação de queijo caseiro. Desta forma, pode-se estimar um volume anual de 176 milhões de litros utilizados pela indústria. Deste total, próximo de 20% (35 milhões de litros/ano) é destinado à pasteurização e, os 80% restantes, à fabricação de queijo. A relação média da indústria é de 9,5 litros de leite por quilo de queijo produzido. Aplicando-se esse indicador sobre o volume de leite destinado a fabricação de queijos, obtém-se uma estimativa de produção anual de 14,8 mil toneladas de queijos tipo muzzarela e prato. A indústria possui uma capacidade instalada suficiente para produzir anualmente 48,6 mil toneladas de queijos, significando que, para os atuais volumes repassados à indústria, apenas 30% é utilizada. Portanto à medida que a produção de leite seja incrementada, o setor não requer novos investimentos em instalações industriais. 4 - Comercialização e Mercado Dos produtos obtidos pela indústria de laticínios apenas os queijos requerem ações mais complexas para comercialização, uma vez que o leite pasteurizado, por suas características de baixa durabilidade, é totalmente comercializado no mercado local. Do total passível de venda em outros estados, o mercado da cidade de S. Paulo absorve a quase totalidade da produção de Rondônia, quer para consumo próprio, quer para revenda para as demais regiões do país. Parte desse assim chamado passeio do produto é conseqüência do sistema de transporte e comercialização, que exige caminhões frigorificados somente disponíveis no mercado de fretes, na configuração de carretas de 25 toneladas, enquanto os grandes atacadistas se encontram na cidade de São Paulo. Ao comerciante de supermercado e atacadistas de regiões de pequeno consumo, torna-se impraticável a compra de 25.000 kg de apenas dois tipos de queijo (muzzarela e prato). Além do que, trata-se de produto altamente perecível e com prazo restrito de 96 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo utilização para consumo. A sub-utilização da capacidade de carga de uma carreta oneraria o custo do frete a ponto de alijar do mercado o comerciante que desejasse utilizar-se deste sistema. O mercado de Manaus, embora não apresente um consumo “per capita” comparável com os da região sul e sudeste e, por conseqüência, um volume que justifique uma política mais agressiva de vendas, representa uma alternativa para suprir parte do mercado que está se perdendo em São Paulo para os produtos do Uruguai e Argentina, até mesmo porque Manaus será ponto de passagem obrigatório para quem pretender alcançar em futuro próximo os mercados do Caribe. Para que a indústria de Laticínios de Rondônia atinja o mercado de Manaus em condições permanentes de abastecimento, necessário se faz que: passe a produzir outros tipos de queijos que lhe permita consolidar uma carga de menores quantidades e maior diversificação por tipo de produto; faça um esforço de marketing visando fixação de marcas; mantenha regularidade no suprimento; instale ou promova a instalação de distribuidores na cidade. No entanto, um fato relevante se opõe a que ações nessa direção venham a ocorrer. A grande indústria do estado é de propriedade de empresários paulistas e que mantém naquela região estrutura de comercialização atacadista como câmaras frias para estocagem, sistema de distribuição e equipes de vendas. Certamente não parece que estariam dispostos a modificar seu perfil de comércio, exceção feita à Parmalat, que já oferece em Manaus seus produtos fabricados em Rondônia. ***** 97 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo PARTE III : A OFERTA DE RONDÔNIA CAPÍTULO 3º INDÚSTRIA Apesar de se ter contabilizado, na última pesquisa realizada pela FIERO, mais de 3.000 indústrias em Rondônia, não se afirmar que o estado tenha um perfil propriamente industrial. Em 1990, por exemplo, o PIB de Rondônia era composto em 39% pela atividade agrícola, 31% pelos serviços, 17% pelo comércio e apenas 13% pela indústria.23 No Paraná, por exemplo, esta relação é de 18% para a agricultura, 30% para os serviços, 12% para o comércio e 40% para a indústria. Além do mais, há a considerar-se que 92% do parque industrial do estado é composto de micro e pequenas empresas, como se vê no quadro abaixo, e que as médias e grandes indústrias atuam nos setores madeireiro, da construção civil, frigoríficos, laticínios e refrigerantes, o que significa dizer que fora desta linha, Rondônia não possui oferta competitiva em mercados que não sejam locais. Quantitativo das Empresas Industriais de Rondônia Porte Nº de Empresas Micro 2.613 Pequeno 510 Médio 226 Grande 42 Totais 3.391 Participação % no Total 77,06 15,04 6,67 1,23 100,00 Fonte: Banco de Dados do Perfil da Indústria - FIERO/1994 Ainda que as empresas daqueles setores citados tenham condições de competir no mercado nacional, sofrem restrições no que tange às condicionantes de qualidade, preço e regularidade. 23 - Segundo a EBAP/FGV no documento Análise da Evolução do PIB por estados - 1996 98 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo A indústria de refrigerantes não será abordada no presente estudo por se tratar de atividade amplamente disseminada em todos os estados, onde normalmente os mercados são cativos, e determinados pelos cartéis detentores das marcas. A construção civil também é omitida dado o fato de que, neste setor, as grandes obras são cartelizadas, circunscrevendo os médios e pequenos empresários aos mercados locais, geralmente impermeáveis a empresas de outros estados. As ofertas da indústria de carne e de laticínios foram vistas no capítulo anterior, referente à pecuária. Neste capítulo serão abordadas as de sucos e polpas, madeireira, moveleira, de estanho, de granito e de água mineral. Polpas e Concentrados de Frutas A indústria de polpas de frutas está bastante irradiada no estado, sob a forma predominante de pequenos equipamentos caseiros, destinados à produção para o consumo local, na maioria dos casos adstritas às próprias cidades onde estão instaladas, não possuindo a licença para exportação de seu produto nem capacidade para tanto em termos de regularidade ou volumes de produção. Mais recentemente, com o financiamento de setecentos produtores na região de Ji-Paraná para o plantio de acerola, abacaxi, maracujá, goiaba, coco-da-Bahia e mamão, instalou-se uma agroindústria de beneficiamento de frutas para a produção de polpas. O plantio do mamão neste projeto foi erradicado por problemas havidos no seu cultivo e falta de assistência técnica apropriada, porém os demais cultivos encontram-se em início de produção e apresentam excelentes índices de produtividade. Com a evolução do mercado, que passou a exigir concentrados de frutas ao invés de polpa, essa agro-indústria, antes mesmo de iniciar sua produção e em função de atrasos no seu projeto devido a descompassos na liberação de recursos financiados, se defrontou com a necessidade de ampliar seus investimentos e capacitar-se àquele tipo de produção. Isto representa um investimento da ordem de 1,2 milhão de dólares e capacidade para processamento de até 3 99 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo toneladas/hora de matéria prima. O quadro a seguir mostra a oferta efetiva de polpas para a safra de 1996/97 para uma capacidade nominal de 12.000t/ano de polpas diversas. Produção Prevista no primeiro ano - 1996 Frutas Acerola Abacaxi Maracujá Total Produção de Polpa em toneladas 4.000 2.500 500 7.000 Fonte: FRUTIRON - Indústria de Sucos. Obs.: As demais frutas previstas no projeto só entrarão em produção a partir de 1997. Segundo informação do empreendedor, esta indústria não terá qualquer problema de colocação do seu produto, podendo inclusive vir a comercializar parte de sua produção com Manaus. Outro projeto de fruticultura, que contempla também a produção de sucos, particularmente de caju, está em fase final de implantação na cidade de Vilhena, com recursos da SUDAM. Indústria madeireira O quadro abaixo demonstra os quantitativos de empresas por setor do segmento madeireiro: Indústrias Madeireiras do Estado de Rondônia - 1994 Atividade Nº de Participação % Industrial indústrias no Segmento no Setor (*) Desdobramento de madeira 535 57 15,78 Estruturas de Madeira e Artigos de Carpintaria 135 14 3,98 Fabricação de Artigos Diversos de Madeira 233 25 6,89 Fábrica de Chapas de Compensado 34 4 1,00 937 100 27,65 Totais Fonte: Perfil e Diretrizes de Desenvolvimento Industrial - FIERO - 1995 (*) - Refere-se ao total de indústrias no estado em 1994. Apesar da grande atividade do setor, e dos levantamentos realizados pela FIERO, não existem estatísticas a respeito dos volumes de produção deste segmento industrial, pelo que fica impossível calcular sua oferta global. O único registro efetivo sobre o setor diz respeito apenas aos volumes e valores exportados para o exterior, realizado pela SECEX do Ministério da Indústria e Comércio. 100 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo Madeira Exportada por Rondônia - Em US$ 1,000 Produto 1994 Volume t US$ Madeira serrada/ compensada/laminada 36.777 19,275 1995 Volume t US$ 46.603 25,737 Observação: estes números se referem a negócios realizados por apenas 47 empresas do setor. A indústria madeireira de Rondônia é igualmente responsável pela maior parte dos empregos gerados no setor industrial, e certamente pela também maior parte da produção industrial do estado. Suas condições de operação lhe permitem claramente competir no mercado externo, para onde se dirigem seus esforços atuais. Contudo, o Amazonas, ou mesmo sua capital Manaus, não são mercados adequados à penetração de seus produtos, por serem igualmente produtores e seus concorrentes. Reflorestamento Embora a indústria madeireira de Rondônia tenha se desenvolvido segundo um modelo de exploração extrativa, com o simples corte de espécies selecionadas, basicamente em função da cotação alcançada no mercado pela espécie-alvo, vem sendo reorientada para uma atuação em bases empresariais, voltando-se para o reflorestamento, o manejo florestal e outras práticas. Atualmente, apesar das incertezas provocadas pela atuação dos órgãos normativos e fiscalizadores, encontra-se no caminho da auto-sustentação. Diversas empresas, individualmente ou associadas em cooperativas, desenvolvem vários projetos de reflorestamento e de condução da regeneração natural. Os primeiros e importantes resultados destas ações, supridoras da indústria madeireira nas próximas décadas em bases racionais e empresariais, são demonstrados a seguir. Para o reflorestamento as espécies mais utilizadas são: a teca, o pinho cuiabano, o freijó, o mogno, a caixeta e o cedro-rosa. De importância também são os plantios de ipê, leiteiro, pinus eliot, balsa, tuna, caucho, landil, cerejeira, samaúma e sucupira. A área total reflorestada corresponde a 1.889ha, onde já foram plantadas 3.328.467 árvores das espécies indicadas. Os primeiros cortes estão previstos para o próximo ano de 1999. Já a regeneração natural e o enriquecimento vem sendo conduzida utilizando-se basicamente espécies nativas e frutíferas como o açaí, a pupunha, o cupuaçu, a manga, etc. A área total onde se conduz a regeneração natural corresponde a 834ha onde se plantaram 1.092.731 árvores. Indústria Moveleira. a - Situação atual A indústria moveleira no mundo todo vem se tornando, ano a ano, mais sofisticada, em grande parte pela constante busca de alternativas para a madeira, tradicional matéria prima, que já vem escasseando a nível mundial. É cada vez maior o consumo daquilo que pode ser chamada de “madeira industrial”, como aglomerados de diversos tipos, MDF (“Medium Density Fiberboard”), sanduíches semi-ocos e chapas de compensados, com revestimentos sintéticos tais como laminados plásticos, PVC, etc , que na maioria dos casos apresentam muito maiores vantagens que a madeira e laminados de madeira tradicionais. 101 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo Com isto, a indústria moveleira atinge, nos centros industrializados, níveis de competitividade extremamente elevados, e praticamente imbatíveis por novos centros produtores, dado que vêm detendo o maior conhecimento tecnológico e mercadológico capaz de dar o devido suporte às mesmas. É preciso levar em conta, na análise deste segmento industrial, alguns fatores bastante significativos que determinam praticamente o rumo, as tendências e mesmo a velocidade de expansão desta atividade, face as constantes evoluções tecnológicas e as restrições do mercado que se lhes apresentam. A indústria moveleira opera em duas grandes linhas de consumo: o de móveis domiciliares, tais como camas, mesas, armários, beliches, cadeiras, etc., e o de móveis escolares e para escritórios, como escrivaninhas, arquivos, poltronas, cadeiras, armários, balcões, etc. O comportamento destas linhas é determinado também por dois fatores: instalações novas, domésticas ou de escritórios e renovação/substituição. 102 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo À exceção do primeiro caso, móveis não se constituem em artigos de primeira necessidade. Ademais, segundo pesquisas recentes24, são a última prioridade de compras dentro de uma casa, ainda que sejam essenciais à sua formação inicial. De outra parte, sendo o Brasil um país de baixo nível de renda, o consumo de móveis é mais elevado em se tratando de “linha econômica”, que representa cerca de 95% do total, produtos que por sua própria natureza exigem emprego de alta tecnologia e produção em série. Estes tipos de restrição mercadológica, aliado à cada vez maior complexidade dos processos fabris empregados e a diversidade de materiais, coloca a indústria de móveis numa posição suigeneris dentro do quadro industrial do país, pois mesmo tendo atingido, nos centros produtores mais importantes, altos níveis de sofisticação, é o único segmento industrial que ainda não foi capaz de ganhar um certificado internacional de qualidade ISO 9.000.25 Estes argumentos são colocados para facilitar o entendimento de parte das dificuldades pelas quais vem passando o setor moveleiro no estado de Rondônia, onde se debatem em concorrência mais de duzentos fabricantes sem tradição, com baixa tecnologia e pouco conhecimento mercadológico, situados a centenas de quilômetros dos grandes centros consumidores, enquanto que a nata deste tipo de indústria se concentra em uma escassa centena de fabricantes radicados nos estados do sul do país, próximos dos grandes centros consumidores e dos fabricantes de peças metálicas, elementos decorativos e revestimento, que facilitam o desenvolvimento conjunto de novos produtos com grande competitividade. Ultimamente o setor moveleiro rondoniense vem buscando evoluir tanto na direção de seus investimentos quanto na absorção dessas tecnologias de produção, sem no entanto atingir patamares compatíveis com o setor, a nível nacional, o que restringe sua atuação quase exclusivamente ao mercado local sem entretanto abastecê-lo e, eventualmente, a algumas parcerias com indústrias do sul/sudeste. 24 - Pesquisa da Associação Brasileira da Indústria de Painéis de Madeira - ABIPA e da Associação Brasileira da Indústria de Móveis - ABIMOVEL 25 - Informação de janeiro de 1996. 103 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo A questão da qualidade da madeira, especialmente no tocante aos seus tratos e teor de umidade, está longe de ser superada e se restringe a um número pequeno de empresas de médio porte. Ainda assim, mesmo nestes casos, o produto final está longe dos padrões nacionais. A indústria moveleira nacional vem mostrando nos últimos tempos uma necessidade cada vez maior de se transformar numa indústria de montagem, abandonando alguns processos de transformação onde parceiros possam ser mais eficientes. Raciocinando com esta necessidade, algumas empresas mais em dia com este pensamento buscam preparar-se para a produção de componíveis para as indústrias montadoras de móveis do sul-sudeste, o que algumas delas já estão fazendo. Segundo alguns empresários do setor, prosseguir neste rumo será a única saída para a indústria moveleira local, mas isto demanda não só novos investimentos, como treinamento de mão-de-obra e outros, e a busca de interesses complementares junto à indústria que hoje domina o mercado no país, especialmente o da linha mais popular. É bem verdade que ainda existem alguns nichos de mercado menos exigentes no tocante a qualidade ou preço, ou que ainda valorizam o móvel de madeira maciça de alto preço, o que tem permitido a sobrevivência das indústrias locais. Tal como ocorre com o setor madeireiro, e infelizmente, também não se conseguem, mesmo com inúmeras tentativas, estatísticas ou dados confiáveis tanto sobre a capacidade instalada das indústrias moveleiras de Rondônia, quanto aos seus volumes de produção atual, ficando difícil qualquer assertiva sobre sua efetiva capacidade de produção e geração de excedentes exportáveis. Pesquisas realizadas em Rondônia e Manaus junto aos revendedores de móveis, mostraram a grande presença desse produto fabricado no sul do país e a forte recusa em trabalhar com produtos fabricados na região. As razões apresentadas vão da falta de “design” atualizado, à não fabricação em série por se tratar de móveis maciços com custos comparativos mais elevados, até a qualidade inferior no acabamento e a não capacidade de fornecimento regular. Isto leva a concluir que não existe, em Rondônia como em Manaus, oferta de móveis produzidos localmente que atenda às necessidades desses mercados. 104 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo Em relação a Manaus e como se viu no capítulo correspondente, foi possível estimar-se uma importação anual de móveis no entorno de US$ 18 milhões, a partir do levantamento dos maiores fornecedores do estado e não se considerando a produção local. Este número pode ser considerado como um indicador de consumo deste item pela capital manauara. É de supor-se que a demanda de Rondônia fique bem abaixo desta cifra, rodeando talvez os US$ 10 milhões, dado que praticamente a metade de sua população se situa no meio rural e que seus níveis de renda e consumo são bastante inferiores. Ainda assim, mesmo neste mercado bem mais reduzido, a participação do móvel de fabricação local não chega a 30%. Lembrando que o grosso do mercado nacional de móveis está voltado para a linha popular, verifica-se que a indústria moveleira de Rondônia incide em dois erros: por um lado, está voltada para o atendimento apenas da fatia minoritária do mercado que requer móveis de madeira maciça (5%), faltando-lhe contudo qualidade de acabamento; e por outro, atende mal o grande mercado de móveis populares. Por último, vale lembrar que a participação do setor moveleiro de Rondônia no mercado de Manaus é desprezível. b - Informações Complementares Na procura de informações que confirmassem algumas das afirmativas colhidas na pesquisa junto a produtores de móveis locais, encontrou-se como interessante subsídio um estudo mostrando que um móvel é comumente dividido em cinco partes, a saber: painéis, revestimento, acabamento superficial, ferragens, elementos decorativos e puxadores. Os quadros a seguir enumeram as vantagens e desvantagens na utilização de diversos tipos de insumo na fabricação de cada uma delas. Painel Alternativas Madeira Maciça Chapa Compensado Vantagens Aspecto - robustez - acabamento fácil fixação de ferragens de Preço melhor que madeira disponibilidade - fixação razoável das ferragens Sanduíche semi-oco Preço peso reduzido Desvantagens Preço - empenamento - difícil processamento - uniformidade falta - peso - disponibilidade processamento artesanal Falta de uniformidade na espessura dificuldade de automatização Aspecto popular - durabilidade limitada - problemas na automação da fabricação - dificuldade na uniformização da espessura Requer ferragens especiais Aglomerado Preço - excelente usinabilidade sensível à umidade - não permite a processamento automatizável uniformidade superficial do usinagem em relevo material - disponibilidade flexibilidade de acabamento aspectos ecológicos MDF - ( Medium Uniformidade em todo o volume - Preço - disponibilidade (atual) usinabilidade excelente e em Density Fiberboard) relevo - uniformidade superficial 105 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo Alternativas Vantagens Desvantagens do material - flexibilidade de acabamento - aspectos ecológicos É notável o destaque em vantagens da MDF em relação a todos os outros tipos de matéria prima. Este material é apresentado em painéis com três tipos de densidade: 725kg/m3 (standart), 600kg/m3 (light) e de 500kg/m3 (ultra-light), conforme sua utilização. Mas vale salientar que ainda se trata de produto caro (por ser importado) e de difícil obtenção por existirem poucas fábricas no mundo. Contudo, com a instalação de uma indústria deste material em Bento Gonçalves, Rio Grande do Sul, é de se esperar que a indústria moveleira venha a ampliar bastante sua utilização. Revestimento Alternativas Sem revestimento Lâmina de madeira Laminado Plástico PVC Impressão direta Papel Vantagens Custo Desvantagens Vulnerabilidade da superfície aspecto pobre Aspecto natural - custo dificuldade de uniformização preço alto em relação a pintura - aplicação artesanal disponibilidade de matéria prima perdas no processamento Altíssima resistência à abrasão Preço - dificuldade na - durabilidade - superfície aplicação completamente impermeável aspecto limpo Aspecto - impermeabilização - Preço - baixa resistência a permite revestimento de perfis riscos - aplicação automatizada investimento em Uniformidade do acabamento - Alto custo baixo - flexibilidade nos maquinário - requer grandes séries uniformes - alta acabamentos porcentagem de falhas/retrabalhos Baixo custo baixo Preconceito pelo fato do investimento - diversificação acabamento ser de papel. de padrões - séries menores aspecto natural - não requer, mas permite acabamento superficial Acabamento Superficial Alternativas Sem acabamento Vantagens Custo Encerado Custo baixo - aspecto natural Desvantagens Vulnerabilidade da superfície aspecto pobre Proteção mecânica deficiente aplicação manual e artesanal difícil uniformização das 106 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo Envernizado superfícies Fácil automatização - vasta Custo elevado gama de acabamentos - boa proteção da superfície. Como ferragens, puxadores e elementos decorativos envolvem uma variedade muito grande de opções de marca, deixa-se de enumerar aqui suas vantagens e desvantagens relativas por fugir ao escopo deste trabalho. A tendência futura para a industrialização de móveis em escala prevê a utilização intensa dos seguintes processos e materiais: chapas e aglomerados; acabamento folheado ou impresso, dispositivos de montagem rápida embutidos, cantos arredondados e fornecimento totalmente desmontado, sendo montado pela equipe do lojista ou pelo próprio consumidor. Ainda assim, permanecerão existindo nichos de mercado para cada um dos demais tipos de matérias-primas ou processos de fabricação de móveis citados nos quadros acima. Vale dizer que, mesmo sendo reduzido, ainda há algum espaço para móveis de madeira maciça. 107 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo Beneficiadoras de Algodão Uma grande tentativa de diversificar o parque industrial do Estado, dentro do setor agroindustrial, foi feita na direção do algodão, com o fomento à sua produção. Em resposta ao esforço agrícola, cinco beneficiadoras se instalaram em diferentes municípios do interior de Rondônia. O quadro a seguir apresenta a relação das usinas, com sua localização, capacidade instalada e produção de 1995 e 1996. Indústria Algodoeira de Rondônia e Performance 95/96 - Em arrobas (@) Usinas Município Cap. Instalada Produção 1995 @ Algonorte Cacoal 800 mil @/ano 170.000 Esteves Ji-Paraná 800 mil @/ano 142.000 Taji Ji-Paraná 400 mil @/ano 48.000 Algomasa Pres. Médici 400 mil @/ano 120.000 Ouro Branco Rolim de Moura 400 mil @/ano 50.000 2.800 mil @/ano 530.000 TOTAIS Produção 1996 @ 30.000 (1) 0 15.000 (2) 140.000 15.000 200.000 Fonte: Pesquisa de campo FIERO Obs.: (1) - A empresa foi desativada e desmontada neste ano (2) - Trata-se da única usina que distribuiu semente aos produtores. Relembre-se aqui o anotado no Capítulo sobre a oferta agrícola de Rondônia, no item relativo à produção de algodão. Efetivamente os dados informados pelas indústrias e as visitas aos centros de produção não deixam dúvidas de que os números oficiais se distanciam enormemente da realidade. Vale lembrar, também, que para cada três arrobas de algodão bruto resulta uma arroba de algodão beneficiado e duas de caroço. Beneficiamento de Algodão em Rondônia Em Arrobas 1.000.000 800.000 600.000 400.000 200.000 0 1993 1994 1995 1996 Fonte: ALGONORTE S.A. 108 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo O gráfico demonstra a violenta queda nos volumes da produção industrial desde 1993, seu início, até o ano em curso, segundo informações da ALGONORTE S/A, empresa do setor. A descontinuidade nos financiamentos à produção de algodão tem sido um dos maiores fatores de sua queda, associada à falta de uma correta assistência técnica para uma lavoura de já conhecidas dificuldades no seu trato, e à inexistência de pesquisas para o produto em trópico úmido. Há informações de que mais duas usinas venham a ser desativadas em 1997, caso não se volte a estimular a produção agrícola deste produto. Indústria Estanífera Com duas décadas de atraso em virtude do problema de energia no estado, e com o estanho mostrando tendências declinantes na sua utilização, surgem as primeiras indústrias de transformação de cassiterita. A partir de 1994 as primeiras tentativas foram feitas no sentido de viabilizar algumas unidades em Porto Velho (2), Candeias do Jamari (1), Vilhena (1) e Ariquemes (2). No ano de 1996, apenas uma destas, na cidade da Ariquemes, se encontra produzindo normalmente, processando 5.760t/ano de cassiterita, obtendo uma produção anual de 3.480t de estanho. Como atualmente a produção anual de cassiterita no estado é de 14.400t, depreende-se que apenas 40% do minério produzido vem sendo processado pela indústria local, restando portanto 8.640t/ano que são enviadas para fora do estado. O custo da energia elétrica, que representa 40% dos custos totais de produção, foi diagnosticado como o grande responsável pelo insucesso da maior parte das indústrias, e como fator impeditivo do aumento da produção daquela que hoje está em operação. Esta indústria se encontra em negociação com o governo estadual no sentido de conseguir uma equalização da tarifa energética com outros mercados, caso em que conseguiria processar todo o minério hoje produzido no estado, como única condição para o não fechamento da empresa na situação atual. Atualmente só se produz no estado o estanho puro, em lingotes de 50 kg. Há que se alertar para a possibilidade e o fato de que os produtos derivados do estanho utilizam tecnologia de amplo domínio e podem ser quase sempre gerados por empresas de 109 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo pequeno e médio portes, portanto, compatíveis com a economia de Rondônia. Podemos enumerar algumas dessas possibilidades: fabricação de soldas, artesanatos, cartões magnéticos para telefone e outras. Indústria de Granito O beneficiamento industrial de granito em Rondônia já desponta como realidade a partir da instalação de uma indústria no município de Ji-Paraná, que irá absorver investimentos da ordem de R$ 10 milhões, com início de produção prevista para agosto/setembro de 1997, dependendo apenas do recebimento de equipamentos provindos da Itália, visto que as obras civis já estão prontas e já se iniciou a exploração da jazida. A produção inicial prevista é de 6.000 m²/mês de granito beneficiado e de 12.000m²/mês e 18.000m²/mês em duas etapas subsequentes, quando atingirá o nível máximo de produção e estará gerando 150 empregos diretos e cerca de 350 indiretos. A expectativa de mercado inicial prevê o abastecimento do consumo interno do estado, e dos estados do Acre e Amazonas. Posteriormente a indústria pretende atingir o mercado internacional, particularmente os países asiáticos, utilizando a hidrovia do Rio Madeira para escoamento de sua produção. Embora o potencial das jazidas de granito do estado não esteja perfeitamente dimensionado, a ocorrência desse minério em vários municípios como Ariquemes, Jaru, Ouro Preto e Ji-Paraná, além de outros, permite afirmar que o suprimento dessa matéria prima para a indústria está assegurado por muitas décadas. Por outro lado, o granito encontrado em Rondönia, em forma bruta é de excelente qualidade, apresentando várias tonalidades e por conseguinte atendendo a exigência de diversos mercados. Estudos preliminares de composição de custos de produção sinalizam uma redução do preço final do produto por volta de 30% se cotejado com similares provenientes de outros estados. 110 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo Outras indústrias Como se afirmou anteriormente, o parque industrial do estado é ainda incipiente e, em sua maioria, incapaz de atender sequer as demandas locais por produtos industrializados. Prevê-se que, com uma cada vez mais forte base agropecuária, a indústria de processamento de alimentos venha a ganhar uma importante dimensão no quadro produtivo rondoniense. A demanda representada, seja pelo mercado interno, seja pelo mercado manauara poderá estimular os investimentos rondonienses no setor, tendo em vista que, apesar das vantagens da ZFM, razões diversas têm impedido que o Amazonas busque suprir suas carências com o esforço interno. A produção de água mineral no estado é explorada por duas empresas. Conquanto atuem em áreas restritas ao seu raio de influência, uma delas, localizada no município de Pimenta Bueno, já tentou colocar seus produtos no mercado de Manaus, não obtendo êxito por problemas de competitividade de preço. Fica assim evidenciado que esse setor não demonstra maiores condições de competir em mercados que não os adstritos às cercanias de suas fontes de produção Embora bastante ativa e atendendo perfeitamente à demanda interna, a indústria de materiais de construção civil não tem condições de ampliar seu mercado devido ás distâncias a serem consideradas nesta região. O turismo é uma atividade que apenas engatinha no estado, apesar de suas potencialidades em regiões como o vale do Guaporé, especialmente quanto ao turismo ecológico. Vale, neste caso, alertar para as possibilidades de integração do setor no estado com o turismo do Amazonas, atuando de forma complementar. Algumas outras indústrias ainda poderiam ser relacionadas no potencial do Estado de Rondônia, mas cuja atual expressividade não permite previsões a curto prazo de capacidade de atuar no mercado de Manaus, ou mesmo em outros, ou competir com mercados mais tradicionais. * * * * * 111 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo PARTE IV FATORES DE INFLUÊNCIA 112 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo PARTE IV: FATORES DE INFLUÊNCIA Capítulo 1º TRANSPORTES O comércio inter-regional brasileiro depende de uma matriz de transportes que se caracteriza pela supremacia do sistema rodoviário sobre todos os demais. Na região Norte, porém, capitais como Macapá, Manaus e Boa Vista se encontram isoladas das demais regiões do país em suas possibilidades de ligações por rodovia. Algumas tentativas foram realizadas na década de 70 no sentido de integrar tais áreas ao sistema rodoviário brasileiro, tais como as BR-319 (Manaus-Porto Velho), e a Perimetral Norte (MacapáBR-174). A primeira foi abandonada por questões técnicas, e a segunda por razões econômicas. Já o asfaltamento da BR-153 (Belém-Brasília) e da BR-364(Cuiabá-Porto Velho) permitiu a ligação rodo-fluvial das regiões Centro-Sul com Manaus e daí até Boa Vista, com a BR-174 em fase de conclusão de pavimentação. Em verdade, o desenvolvimento do parque industrial da Zona Franca de Manaus fez surgir uma demanda por serviços de transporte cada vez mais eficientes, entendendo-se a rapidez como fator determinante. É assim que a navegação de cabotagem, menos eficiente sob este aspecto, começa a perder espaço para o sistema rodo-fluvial, que se estabeleceu através da ligação fluvial por Belém e Porto Velho, complementando-se com os trechos rodoviários da Belém-Brasília (BR153) e Cuiabá-Porto Velho (BR-364). A interligação com o Nordeste manteve-se via porto de Belém. Neste quadro, contudo, nas ligações com os maiores mercados consumidores dos produtos de Manaus, a BR-364 passou a ter importância de relevo dentro do sistema, enquanto a BR-153 permanece como alternativa secundária. Desta forma acredita-se que a cidade de Manaus, através da calha do Rio Madeira, encontrou a solução mais adequada para o seu problema de abastecimento, quer de insumos nacionais para o parque industrial da ZFM, quer para o abastecimento de gêneros de primeira 113 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo necessidade e outros produtos consumidos localmente, além de atender satisfatoriamente ao escoamento de sua produção. Nota-se, no transcurso das mudanças no direcionamento dos transportes, que o sistema rodofluvial inviabilizou a navegação de cabotagem para Manaus e que o transporte aéreo manteve-se restrito aos insumos de alta relação preço/peso, e aos gêneros de primeira necessidade altamente perecíveis, notadamente hortaliças. O sistema rodo-fluvial tem se consolidado de tal forma que, atualmente próximo de 90% do intercâmbio comercial brasileiro com os estados do Amazonas e Roraima se dá por essa via, sendo importante conhecê-lo de imediato, em especial no caso do comércio de Rondônia que se tornou o grande beneficiário de sua evolução, inclusive para a exportação de seus produtos ao exterior via portos de Manaus e Belém, e ainda por ser a única opção disponível no momento para o transporte de grandes volumes de carga. 1 - Transporte Rodo-fluvial O sistema rodo-fluvial pela calha do Rio Madeira é responsável por certa de 70% de toda a carga nacional destinada a, ou oriunda de, Manaus e está embasado no tripé: BR-364, portos em Porto Velho e portos em Manaus. a - BR-364 Como foi visto, o estado do Amazonas, para estabelecer comunicação rodo-fluvial com as regiões Centro-Sul e Sudeste, dispõe das rodovias BR-153, chegando a Belém e BR-364, chegando a Porto Velho. Nos trechos rodoviários partindo-se, por exemplo, de São Paulo, estas duas distâncias se eqüivalem, pois cerca de 3.000 km separam São Paulo destas duas cidades. No entanto, ao adicionarmos os trechos fluviais, verifica-se que o trajeto por Porto Velho representa uma economia de 365km, uma vez que esta dista de Manaus 1.348km, enquanto que por Belém, essa distância chega a 1.713km. Viagens de balsa (ida e volta) entre Manaus e Porto Velho demandam 8 dias em média, no período de cheias do rio, enquanto de Manaus a Belém entre 10 e 12 dias. 114 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo Este menor tempo de percurso se explica não só pela menor distância como também porque, pelo rio Madeira, a carga mais pesada (cereais, insumos industriais, frigorificados, etc.) se verifica no sentido de Manaus, ou na baixada do rio, enquanto que a de menor peso (TVs, eletrodomésticos, bicicletas, etc.) se dá no sentido oposto. Já no caminho por Belém, se verifica o inverso. Mesmo considerando-se o fato de que o Rio Amazonas não tem problemas de navegabilidade durante todo o ano, com ressalvas apenas nas travessias do estreito de Breves e da baía de Guajará, enquanto que o Rio Madeira, em alguns trechos, apresenta pequena profundidade em épocas de estiagem, a preferência pelo tráfego via Porto Velho somente sofre redução significativa nos casos em que a BR-364 tem problemas de trafegabilidade por falta de manutenção, o que ressalta ainda mais a necessidade de permanentes cuidados com esta rodovia, também pela importância que assumiu como corredor de transportes regional. A transformação do Rio Madeira em hidrovia, com a eliminação de trechos de navegação crítica na estiagem, balizamento e elaboração de cartas de navegação por satélite, já em fase de conclusão pelo governo federal, fará com que o transporte para Manaus via Porto Velho venha a apresentar redução de custos e se confirmar como a principal via de transportes na região. b - Portos em Porto Velho A estrutura portuária de Porto Velho é formada pelo porto da Portobrás, administrado pela Companhia Docas do Pará, e pelo porto Nacional, localizado na estrada do Belmonte, e operado por diversos armadores fluviais. O porto da Portobrás dispõe de estrutura de armazenagem e movimentação para o transporte de carga geral, além de rampa de acesso para operações Roll-on-Roll-off e do terminal graneleiro da Hermasa, em fase de conclusão. Opera mensalmente 46.300t de carga para Manaus, sendo seus principais armadores as companhias L.J.Veiga, Amazonave e Equatorial, esta última tendo suas operações baseadas na utilização de “containers” de 20 toneladas, inclusive com alguns adaptados para cargas a granel. O movimento maior se dá entre dezembro a setembro, caindo próximo de 30% durante os meses 115 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo de outubro e novembro. Maiores detalhes quanto à navegabilidade do rio Madeira serão relatados no capítulo 3º desta IV Parte - A Hermasa e o Prodecer. Frota disponível nos portos de Porto Velho - 1996 Transportadores Nº de balsas Capacidade em Carretas ou containers por balsa Equatorial 37 60 “containers” Amazonave não informado não informado L.J. Veiga 10 20 carretas/60 “containers” J.F.Oliveira 18 25 carretas CONASA 25 25 carretas Nassau só opera com cargas de cimento Porto que opera Portobrás Portobrás Portobrás/Nacional Nacional/Portobrás Nacional/Portobrás Nacional Fonte: Pesquisa de campo FIERO A capacidade de carga das carretas e “containers” é examinada mais adiante. No porto Nacional a estrutura de armazenagem é mantida fora da região portuária pelos transportadores rodoviários que operam apenas no sistema Roll-on-Roll-off. Em alguns casos é feito o transbordo de carretas para a consolidação de cargas na própria área portuária. Os principais armadores operando neste porto são J.F. Oliveira (Passarão), CONASA e NASSAU. Embora a estrutura dos portos seja aparentemente pouco organizada, ela propicia uma integração em tempo ideal da carga rodoviária com seu transporte por meio fluvial, operando quase que num sistema “just-in-time”, ou seja, a carreta chega para o embarque na balsa no momento em que a balsa está pronta para recebê-la. Volumes transportados na área portuária de Porto Velho por mês - 1996 Porto Carretas 27 t Portobrás Nacional TOTAIS 900 1.000 1.900 de Toneladas “Containers” de 20 t Toneladas Total Unid. Total t 24.300 27.000 51.300 1.100 1.100 22.000 22.000 2.000 1.000 3.000 46.300 27.000 73.300 Fonte: Pesquisa de campo FIERO Observação: Unidades= “containers”+carretas 116 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo c - Fretes Os fretes rodo-fluviais com destino a Manaus e de passagem ou origem em Porto Velho, podem ser classificados em duas categorias: A - Cargas fechadas da origem ao destino feitas por veículo (caminhões de dois eixos, trucados, carretas de dois e três eixos, com ou sem cavalos, etc.) e equipamentos em geral. O sistema de cobrança de fretes, neste tipo de serviço, é por “praça”, isto é, espaço ocupado na superfície da balsa, independente do peso transportado. O preço médio do frete de uma carreta, com cavalo, medindo aproximadamente 17 metros, PORTO VELHO - MANAUS - PORTO VELHO é de R$ 1.100,00 (um mil e cem reais). Carretas mais longas ou outros equipamentos sofrem pequenas variações no preço em função da área ocupada na balsa. B - Cargas com transbordo em Porto Velho. Este tipo de serviço pode ser atendido em duas modalidades diversas: B.1 - Realizado por empresas que prestam serviços de transporte de cargas, por tonelada, utilizando carretas próprias para as quais são transbordadas as mercadorias dos caminhões transportadores que não querem seguir até Manaus em seus próprios veículos. A empresa prestadora deste tipo de serviço, inclui no valor do frete fluvial, os custos de mão de obra de transbordo da carga e posterior descarga e entrega no local de destino em Manaus (sistema Porto a Porta). O custo médio é de R$ 70,00 / 80,00 por tonelada. Este meio é o mais utilizado para o transporte de frutas, verduras e legumes. B.2 - Outra modalidade é o transporte em “containers”, utilizados por quem transporta mercadorias até Porto Velho com destino a Manaus, à semelhança da modalidade anterior, porém utilizando-se de “containers”, que podem ser de: - 20 pés (33 m3), ou 20 toneladas; - 40 pés (66 m3), ou 15 toneladas. Contrariamente ao esperado, os “containers” de 40 pés, por serem mais pesados e de difícil manuseio, são mais indicados para cargas volumosas de pouco peso, daí comportarem menos peso comparativamente aos de 20 pés. 117 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo A única empresa atualmente prestando serviços de “containers” é a Equatorial Transporte da Amazônia. Normalmente esta modalidade de transporte é utilizada para transbordo de cargas não fracionadas, isto é, cargas homogêneas de forma que possam utilizar plenamente o espaço do “container”. As mercadorias que chegam em Porto Velho com destino a Manaus, são transbordadas das carretas para os “containers” (em 90% dos casos são usados os de 20 pés), que são colocados nas balsas que transportam de 40 a 80 “containers”. O sistema utilizado é o de Porto (em PVH) a Porta (em MAO), de forma que o cliente recebe o conteúdo do “container” no endereço de destino. O valor do aluguel de um “container” de 20 pés e seu transporte até o destino em Manaus é da ordem de R$ 600,00. Para as mercadorias com origem em Rondônia e destino a Manaus, devem ser agregados os custos do transporte desde a origem no interior do estado até Porto Velho. O transporte intermunicipal de cargas fechadas em Rondônia é feito principalmente por caminhoneiros autônomos. Os preços a seguir são os praticados pelos transportadores autônomos de alguns municípios até Porto Velho, em caminhões de 15 toneladas, por caminhão contratado: Vilhena - Porto Velho Ji-Paraná - Porto Velho Guajará-Mirim - Porto Velho Rio Branco/AC - Porto Velho R$ 600,00 R$ 400,00 R$ 500,00 R$ 600,00 Estes preços podem variar segundo haja carga de retorno, ou se o caminhão está retornando ou não ao domicílio de seu proprietário. As empresas de transporte de cargas como Araçatuba, Rápido Rondônia, Colibri, Cascavel, e outras, trabalham exclusivamente no setor de transporte de cargas fracionadas, onde o custo do frete é tabelado em quilogramas, não se recomendando para usuários de cargas do tipo fechadas, pois seus custos ficam proibitivos. 118 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo O tempo médio de ida e volta até Manaus, com o rio cheio, no período dezembro a setembro, é de 3 dias na ida, e 5 dias no retorno. No período de rio seco, mais crítico, de outubro e novembro, o tempo eleva-se a 4 e 6 dias, respectivamente. É de se esperar que a estrutura portuária atualmente existente tenha sua capacidade saturada nos próximos anos, o que exigirá, a médio prazo, a construção de um novo porto na cidade, considerando-se também que o porto Nacional não passa de um enclave na área urbana de Porto Velho, sem vias de acesso apropriadas e com poucas chances de vir a tê-las. O projeto Hermasa, do grupo Maggi, que está construindo um terminal graneleiro em Porto Velho, também estuda a possibilidade da construção de um novo porto em área de sua propriedade a jusante da capital rondoniense. c - Portos em Manaus Os armadores que utilizam o sistema “Ro-Ro” operam em portos particulares na cidade de Manaus, uma vez que o porto oficial (Portobrás) não dispõe de estrutura para operações daquele tipo com balsas, e são os mesmos que operam em Porto Velho, com idêntica capacidade de carga e mesmo nível de eficiência, onde a movimentação é feita pelos próprios armadores em conjunto com os transportadores. O Porto de Manaus, operado pela Portobrás, atende à navegação de longo curso (navios provenientes do exterior com cargas para a ZFM), navios da ENASA, Empresa de Navegação da Amazônia S.A., que faz o transporte de passageiros e cargas entre Manaus e Belém-PA, com escalas em algumas cidades do Baixo Amazonas, e eventualmente navios turísticos. Atualmente não existe navegação de cabotagem para Manaus. A navegação dita regional de cargas e passageiros que utiliza equipamentos tradicionais, normalmente construídos em madeira, os chamados “motores de linha”, opera nos ancoradouros da Escadaria dos Remédios, Igarapé de Educandos, Panair e São Raimundo. 119 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo d - Observações Complementares Os transportadores fluviais, à exceção da EQUATORIAL, operam com o aluguel de suas balsas para empresas transportadoras rodoviárias ou autônomos. A maioria das empresas transportadoras rodoviárias não possuem depósitos na área dos portos, utilizando-se da estrutura dos próprios armadores. A EQUATORIAL trabalha 95% de sua carga com “containers”, inclusive está desenvolvendo um sistema de “container” graneleiro, e deve operar também balsas graneleiras, fazendo o transporte completo, isto é, do produtor ao comprador final. É a única empresa com o sistema de transporte modal totalmente verticalizado, possuindo frota rodoviária própria, frota fluvial e “containers” próprios e está em vias de inaugurar a modalidade de transporte via aérea entre São Paulo e Manaus. Para uma maior compreensão dos aspectos relacionados ao transporte, é interessante observar-se que no mesmo trajeto, ida e volta, os preços cobrados são diferentes conforme a demanda por carga em cada um dos pontos, chamando-se “frete” sempre o maior valor cobrado, e “frete de retorno” ao mais barato. No caso do transporte entre Manaus e São Paulo, o frete é considerado neste sentido (contrariamente ao esperado), enquanto que o frete de retorno é cobrado no sentido São Paulo-Manaus. e - Principais cargas No porto da Portobrás, 95% da carga embarcada para Manaus é composta de gêneros alimentícios, com destaque para arroz, feijão, açúcar, e milho, com origem em Rondônia, Mato Grosso e outras regiões produtoras do país, de acordo com suas safras. Também é realizado o embarque de carne, origem no estado e outras partes do país e de madeira de Rondônia, destinada, prioritariamente, à exportação via Belém. No porto Nacional as grandes transportadoras efetuam o embarque, principalmente, de carne e derivados, frios, insumos para a ZFM, laticínios, frutas, verduras e legumes frigorificados 120 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo ou não, provenientes de todas as partes do país. Incluem-se também pedras ornamentais tipo mineira e ardósia, de Itumbiara - GO, urnas funerárias do Espírito Santo, farinha do Paraná, etc. A carga de retorno é composta exclusivamente de produtos da ZFM, especificamente eletrodomésticos, bicicletas, motocicletas, condicionadores de ar e aparelhos de som. 2 - Transporte Aéreo A ZFM parece haver conseguido um equilíbrio bastante razoável entre suas necessidades e capacidades de estoque e os tempos demandados pelo sistema de transporte rodo-fluvial, de modo que o transporte aéreo é utilizado de forma pouco freqüente, e reduzido às situações de emergência como escassez de estoques ou de gêneros alimentícios perecíveis. Ainda assim, sua utilização vem crescendo e é bastante usado para o transporte de hortaliças provindas de Brasília, especialmente alface e tomate. A maior parte da carga aérea é, contudo, a de componentes para a indústria eletro-eletrônica fabricados em São Paulo. As duas principais empresas que operam com carga aérea para Manaus são a VASP e a VARIG, localizadas no aeroporto de Belmont. a - Tarifas Tabela de Códigos de Cargas Aéreas Nomenclatura Código da Tarifa Jornais Revistas 001 Animais vivos Restos Mortais Frutas Peixes, crustáceos mariscos (moluscos) Peixes ornamentais Confecções, fibras manufaturados Vacina 010 020 031 - até 500 kg 032 - mais de 500 kg e 050 055 e 071 - até 50 kg 072 - mais de 50 kg 080 Conservas e doces 120 regionais 130 Material fotográfico Livros em geral 140 Hortigranjeiros 151 - até 500 kg 152 - mais de 500 kg Descrição Quando expedidos pelos respectivos editores, distribuidores e gráficas. Peso mínimo sem limite. Animais domésticos (cães, gatos etc), e de grande porte e aves de um dia. Peso mínimo sem limite Peso mínimo sem limite Frutas frescas, secas, cristalizadas e polpas. Vivos, secos e congelados, lagostas, ostras, caramujos (escargots) Peso mínimo sem limite. Peso mínimo sem limite. Vestuários em geral. roupas de cama, mesa e banho, fibras animais e vegetais, linhas, panos, malhas. Vacinas e respectivos solventes Peso mínimo sem limite. Secos, compotas, pastas e geléias. Peso mínimo sem limite. Projetores, papeis, máquinas, filmes virgens e revelados, etc. Peso mínimo 25 kg. Quando expedidos por editores, produtores, distribuidores e estabelecimentos de ensino. Peso mínimo sem limite. Todas as plantas que se cultivam em hortas. Ovos frescos. 121 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo Nomenclatura Carnes, aves laticínios, frios Código da Tarifa abatidas, 160 Alimentos industrializados 180 Couro cru Couros manufaturados Produtos Farmacêuticos, cosméticos, materiais cirúrgicos, dentários e oftalmológicos. Flores e plantas vivas Minérios Material escolar 190 195 200 210 220 240 Descrição A carga deve ser entregue 3 (tres) horas antes da partida do vôo. Carnes frescas ou congeladas, frios e laticínios em geral. Peso mínimo sem limite. Enlatados em geral, sal, açúcar, carnes industrializadas, azeites etc. Peso mínimo sem limite. Peso mínimo de 200 kg. Peso mínimo sem limite. Remédios em geral, perfumarias, materiais e instrumentos cirúrgicos, dentários e oftalmológicos. Peso mínimo sem limite. Peso mínimo sem limite. Peso mínimo sem limite. Peso mínimo sem limite. Valor das Tarifas Específicas por Códigos - Porto Velho-Manaus Código Valor/Kg. Código 001 1.07 140 010 2.22 151 020 2.22 152 031 1.17 160 032 0.91 180 050 0.78 190 055 1.96 195 071 1.17 200 072 0.91 210 080 1.50 220 120 0.91 240 130 1.31 **** Valor/ Kg 0.59 1.17 0.91 0.91 0.91 a combinar a combinar 1.04 2.22 0.65 0.65 **** 122 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo Valor das Tarifas Normais - Porto Velho - Manaus Tarifa Valor x kg. Tarifa mínima 13,62 Tarifa geral até 25,5 kg 2,22 Tarifa geral até 50,5 kg 1,96 Tarifa geral até 300,5 kg 1,70 Tarifa geral até 500,5 kg 1,50 Tarifa geral até 1.000,5 kg 1,31 Tarifa geral > 1.000,5 kg 1,17 b - Observações Complementares - Transporte Aéreo - No cálculo de tarifas por cubagem, para mercadorias leves e volumosas, prevalece o maior valor e deve-se considerar a relação de: 1.000g eqüivalem a 6.000 cm3 (seis mil centímetros cúbicos) - A mão de obra na carga (entrega) e descarga (recepção) no Terminal de Cargas da transportadora é por conta do cliente, sendo o valor médio da braçagem de R$ 10,00 por homem/dia. Só a movimentação interna é responsabilidade da empresa de transporte aéreo. - A empresas transportadora pode assumir a entrega da carga no local de destino. Atualmente o custo é de R$6,12 para cargas até 10Kg e R$0,12 por kg excedente. - As empresas VASP e VARIG informaram que estes valores constantes nas tabelas se referem a atendimento eventual. Seus Departamentos de Vendas estão credenciados a negociar preços diferenciados para clientes com volume de carga regular e constante. Conforme foi constatado, há casos de até 35% (trinta e cinco por cento) de desconto nas tarifas específicas, o que torna este custo de transporte extremamente competitivo, em relação ao transporte fluvial de Porto Velho para Manaus. 3 - Transporte de cabotagem O transporte de cabotagem foi, como se viu, completamente inviabilizado pelo sistema rodofluvial implantado a partir da calha do Madeira e BR-364. Não há navios de procedência nacional aportando em Manaus. Uma das razões deste fato é que tampouco se permite, pela legislação atual, o transporte de “containers” estrangeiros por navios nacionais para portos nacionais, inviabilizando-se, portanto, sua utilização para carga no retorno aos portos do sul- 123 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo sudeste do país. Assim é que Manaus contabiliza hoje cerca de 25.000 “containers” estocados em diversas áreas dos seus portos, à espera de navios estrangeiros que os reportem às suas nações de origem. Alguns destes “containers” já estão sendo alugados para o comércio da cidade, como local de estoque de mercadorias secas. Este fato leva a que o frete do exterior para Manaus seja encarecido. Mudança substancial poderá ocorrer com a regulamentação da nova Lei da cabotagem. Entre os transportadores existe a esperança da modificação na legislação de cabotagem, o que permitiria, em tese, o retorno de navios estrangeiros, que aportam com matérias-primas para a indústria de Manaus, com destino aos portos brasileiros do sul-sudeste carregados com produtos da ZFM nos “containeres” previamente utilizados. Esta hipótese, porém, não é vista como concorrência capaz de liquidar com o sistema rodo-fluvial implantado, ainda que pudesse resultar numa substancial redução de preços de frete. A rapidez do atual sistema lhe garante uma sobrevida tranqüila, ainda que limitada às atuais condições de consumo e produção de Manaus. Está claro que, em caso de um grande aumento da produção da ZFM, o sistema rodo-fluvial não poderia lhe garantir o escoamento adequado a seus produtos, fazendo com que outros sistemas devam ser adotados para não haver estrangulamento do transporte na produção manauara. 4 - Outras alternativas O estado do Amazonas encara como uma necessidade urgente sua, a adoção de novas alternativas para seu sistema principal de ligação com o restante do país, para não se restringir ao atual que lhe limita, de certa forma, as possibilidades de expansão. Neste sentido, luta para que a recuperação da BR-319, Manaus-Porto Velho, venha a ser efetivada segundo promessa do presidente da república ao governador do Amazonas. Esta linha de raciocínio, porém, não leva em consideração as restrições técnicas daquela rodovia para o trânsito intenso de carretas pesadas, o que fatalmente limitará sua atividade à condição de um sistema auxiliar do principal, que continuará sendo o da hidrovia do Madeira. 124 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo Uma outra alternativa também considerada pelas autoridades e empresários do setor de transporte do Amazonas se fixa na conclusão da rodovia Cuiabá-Santarém. Contudo, subsistiria o trecho fluvial entre Santarém e Manaus, o que talvez leve a não haver vantagens substanciais na adoção deste novo corredor. 5 - O Fator Hermasa Embora tratado em capítulo próprio, deve-se citar aqui o projeto Hermasa como um fator interveniente no processo de transportes capaz de produzir efeitos nas questões do frete. Sabe-se de que a empresa pretende colocar uma frota substancial para o transporte de sua produção de soja e milho provinda da região de Sapezal, no Mato Grosso, e que este mister não ultrapassa cinco meses do ano. Assim sendo, os equipamentos da Hermasa ficariam ociosos durante sete meses, não estivesse a empresa pronta a admitir sua entrada no mercado do transporte hidroviário entre Porto Velho, Manaus, Belém e Itacoatiara. Esta iniciativa pode indicar uma concorrência que, acirrada, permitirá o barateamento dos fretes, o que virá a ocorrer, desde já, com a efetiva transformação da calha do Rio Madeira em uma hidrovia. Este é mais um fator a ser considerado na questão das relações comerciais entre Rondônia e Manaus. ***** 125 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo PARTE IV : FATORES DE INFLUÊNCIA Capítulo 2º INCENTIVOS FISCAIS País com dimensões continentais e grandes diferenças regionais, o Brasil contempla com carga tributária igual regiões desiguais, o que de certa forma contribui para aumentar o fosso entre elas. Por sua vez, a incidência de impostos e contribuições federais com efeito cascata (PIS, CONFINS, CPMF) oneram a movimentação de insumos entre indústrias, produzindo uma desnecessária verticalização que inibe a especialização e conseqüente redução de custos. Os incentivos fiscais foram criados no sentido de diminuir aquelas disparidades, devendo, na sua concepção, ser oferecidos às regiões mais atrasadas do país como o norte e o nordeste. A criação de organismos como a SUDAM, por parte do governo brasileiro, buscava organizar, em áreas desfavorecidas, os investimentos provenientes de incentivos fiscais e financeiros previamente estabelecidos, e que permitiam a dedução de até 50% do Imposto de Renda para aplicação em projetos nas regiões da Amazônia. Contudo, por privilegiar o fator capital e não propiciar nenhum risco para o investidor, jamais conseguiu atingir seus objetivos originais, prestando-se mais como instrumentos de pressão política. Uma das provas da ineficiência da SUDAM está em que, apesar dos seus benefícios se terem concentrado no estado do Pará, este manteve seus índices de crescimento desde 1970, apenas vegetativos, não tendo sido o suficiente para sequer aumentar a participação daquele estado na renda nacional, praticamente mantendo-se a mesma e no entorno de um por cento desta. Um exemplo clássico de experiência bem sucedida na concessão de incentivos fiscais é a Zona Franca de Manaus, aonde, aos incentivos federais nas áreas do Imposto de Renda, do Imposto de Importação e do Imposto sobre Produtos Industrializados, somaram-se isenções estaduais do ICMS e até mesmo municipais, do ISS, para os setores produtivos ali instalados. 126 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo É de se supor que a concessão de tantos benefícios levaria a uma arrecadação insignificante. No entanto, na prática, ocorre exatamente o inverso, verificando-se um crescimento em termos reais de todos os tributos incidentes sobre a economia do estado. Ver quadro nesta página. Ao imaginar que isenção de ICMS para novas indústrias reduz receita estadual, as administrações públicas incorrem em duplo prejuízo. A um tempo, desestimulam novos investimentos produtivos e, sem estes, não vêem crescimento na arrecadação. Isto é especialmente verdade quando se trata de estados exportadores de impostos, com baixos índices de industrialização, como é o caso de Rondônia. Além do mais, os investimentos privados geralmente se orientam no sentido dos estados que oferecem maiores vantagens comparativas. Arrecadação tributária no AM, PA e RO - 1990/1995 - Em US$ 1,000 Arr. Federal Prev.Social Total Crescimento ICMS Crescimento Amazonas 1990 405.719 207.059 612.778 100 585.185 100 1991 307.362 142.384 449.746 73 434.418 74 1992 204.279 101.665 305.944 68 293.939 68 1993 282.090 115.648 397.738 130 316.224 108 1994 594.605 166.640 761.245 191 528.227 167 1995 969.761 267.506 1.237.267 163 987.411 187 Pará 1990 314.507 251.820 566.327 100 437.915 100 1991 230.651 172.500 403.151 71 385.541 88 1992 202.963 165.313 368.276 91 265.720 69 1993 207.777 190.473 398.250 108 289.178 109 1994 370.284 237.844 608.128 153 460.897 159 1995 559.045 341.627 900.672 148 686.876 149 Rondônia 1990 71.648 53.884 125.532 100 169.780 100 1991 45.910 30.553 76.463 61 116.922 69 1992 40.010 40.723 80.733 106 90.985 78 1993 47.740 46.056 93.796 116 102.425 113 1994 109.756 48.678 158.434 169 154.730 151 1995 169.830 69.731 239.561 151 217.249 140 Fonte: Samuel Benchimol - Amazônia, paraíso do Fisco e celeiro de divisas. - março, 1996 Obs.: As duas colunas em destaque assinalam a variação da arrecadação federal e do ICMS, respectivamente. O ano de 1990 foi tomado como base 100. Neste quadro se demonstram os valores de arrecadação fiscal federal e do ICMS, nos estados do Amazonas, Pará e Rondônia, entre 1990 e 1995. Por ali se verá que a do Estado do Amazonas cresceu em dólares numa proporção acima dos outros dois estados comparados, que 127 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo não oferecem benefícios fiscais na amplitude daquele estado. No caso do ICMS, onde oAmazonas oferece isenção de até 100% para as indústrias, este crescimento foi mais acentuado ainda, confirmando o oposto das suposições correntes acerca das isenções fiscais. O gráfico a seguir representa as linhas de variação do crescimento do faturamento da Zona Franca de Manaus, do ICMS recolhido, e do dispêndio com pessoal havidos naquela capital ao longo do período 1989/1995, tomadas em relação a 1990 (1990=100). É de notar-se que embora as indústrias da ZFM gozem de isenção de ICMS, a arrecadação deste imposto acompanha a curva de variação do seu faturamento, indicando a grande vinculação existente entre a ZFM e a vida econômica da cidade. Verifique-se também que a curva de dispêndio total com pessoal é a grande influenciadora das variações do ICMS. Veja-se que, em 1992, quando o dispêndio com pessoal da ZFM sofreu sua maior queda, também o ICMS acompanhou esta tendência. Isto demonstra que a concessão do incentivo fiscal é benéfica, quando não se tem indústrias e se pretende tê-las, dada a extrema vinculação que se cria, a partir de sua existência, com a renda gerada pelo seus empregos, e o conseqüente reflexo na atividade comercial. 180 160 140 120 I.C.M.S 100 Faturamento Dispêndio 80 60 40 20 0 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 Fonte: Samuel Benchimol OP.CIT. 128 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo A política de incentivos se vem mostrando, ano a ano, mais agressiva por parte de alguns estados, a ponto de se ter hoje em uso o termo “guerra fiscal” e uma certa preocupação federal com sua extensão. Ainda assim, parece um mecanismo irreversível na política de captação de investimentos, e não pode ser ignorado pelos administradores de qualquer nível. Dado que a existência de incentivos é um dos fatores primordiais quanto à decisão do investidor, e tendo este trabalho por escopo apontar aos empresários de Rondônia oportunidades de negócios, será útil traçar-se um panorama sobre este tema, envolvendo seus aspectos mais significativos. A posição atual dos benefícios fiscais nos estados é a mostrada no quadro a seguir: Principais Benefícios Fiscais à Indústria nos Estados brasileiros Benefícios Fiscais Estados que adotam Isenção do ICMS para novas empresas, sem produto similar no Estado e durante determinado período Isenção ou redução do ICMS para as micros e pequenas empresas Redução de alíquotas de ICMS (para situações e produtos específicos) Prorrogação dos prazos de recolhimento do ICMS Utilização do mecanismo de "diferimento" (recolhimento postergado do ICMS) Dedução do ICMS para as mercadorias de origem nacional destinadas a consumo nas ALC, Isenção ou redução de 50% do IRPJ (Sudam, Sudene) AM, AC, BA, PI AM, AC, AP, BA, CE, MG, PA, PB, PE, PI, RJ, RR AM, AP, BA, ES, MS, PA, PB, RR RO, ES, PR, RJ, SP, SE RO, AL, BA, PB, PE, RR, SE Áreas de Livre Comércio RO, MT, TO, MA, PA, AM, RR, AC, BA, parte de MG, SE, AL, PB, RN, CE, PI Isenção de IPI incidente nas mercadorias produzidas ou AM(ZFM), industrializadas Isenção de IPI na venda de produtos com matérias primas RO, AC, AM, RR agrícolas ou extrativas vegetais de produção regional, exceto de origem agropecuária. Isenção de IPI para bens e mercadorias nacionais ou RO, AC, AM, RR estrangeiras recebidos, beneficiados ou fabricados, desde que adquiridos através da Zona Franca de Manaus ou dos entrepostos da SUFRAMA na Amazônia Ocidental, e que sejam destinados ao consumo interno ou à utilização nestas mesmas áreas. Isenção de Imposto de Importação Zona Franca de Manaus Suspensão do pagamento do II - Imposto de Importação e Áreas de Livre Comércio: do IPI - Imposto sobre Produtos Industrializados na Guajará-Mirim, Brasiléa, entrada de mercadorias estrangeiras e convertida em Tabatinga, Bomfim, Macapá. isenção para comercialização interna. 129 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo É importante esclarecer-se que, embora assinalados em Rondônia, os incentivos regionais são pouco utilizados, e que em termos de incentivos estaduais eles praticamente inexistem. Já em contrapartida, a Lei 1939, de 27/12/89, do estado do Amazonas, concede isenção do ICMS total ou parcial as indústrias do estado, nas formas e condições que, por se julgar apropriadas, são resumidas a seguir: 1 - A partir de 27/02/1997, todas as empresas beneficiadas por outras legislações ou que venham a se beneficiar de incentivos fiscais no estado do Amazonas passarão a se reger pela esta Lei. 2 - Poderão ser beneficiárias da restituição total ou parcial do ICMS as empresas que obedeçam aos seguintes princípios: a - reciprocidade - contrapartida a ser oferecida na forma de salários, encargos e benefícios sociais locais, definidos nos arts. 8º e 212 da Constituição do Amazonas; b - transitoriedade - prazo certo que deve ter o incentivo (no máximo até o ano 2013); c - regressividade - retirada do incentivo num processo gradual; d - gradualidade - concessão diferenciada do incentivo de acordo com prioridades estabelecidas. 3 - A concessão do incentivo fiscal obedece as seguintes diretrizes gerais: a - tratamento diferenciado - as empresas de micro e pequeno porte com destaque para aquelas de base tecnológica, as localizadas no interior do estado, aquelas que utilizem matéria-prima regional, as que produzem bens de consumo imediato destinados à alimentação, vestuário e calçados, e aquelas complementares ao parque industrial. benefício máximo - as empresas industriais, agro-industriais e agropecuárias localizadas no interior do estado; as empresas que tenham por objetivo único a produção de medicamentos a partir de plantas medicinais regionais; as empresas de industrialização de pescado e as micros e pequenas empresas de base tecnológica. 130 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo Os incentivos serão concedidos as empresas consideradas de fundamental interesse para o desenvolvimento do estado e que atendam pelo menos três das seguintes condições: a - concorram para a integração e consolidação do parque industrial do estado; b - contribuam para o incremento do nível de aproveitamento industrial do estado; c - contribuam para o aumento da exportação estadual para o mercado internacional; d - promovam investimento em pesquisa e desenvolvimento de tecnologia de processos e/ou produtos; e- contribuam para substituir importações nacionais e/ou estrangeiras; f - promovam a interiorização do processo de desenvolvimento do estado; g - contribuam para o aumento da produção agropecuária do estado. 4 - Os incentivos serão concedidos de acordo com suas características e obedecendo os seguintes níveis: a - 100% para bens produzidos por empresa de base tecnológica de micro e pequeno porte, produtos medicamentosos que utilizem plantas medicinais da região, bens produzidos no interior do estado, pertencentes a setores prioritários. b - até 100% para bens intermediários, bens que utilizem matéria-prima regional e produtos agropecuários pertencentes a setores prioritários. c - 55% para bens de capital e bens de consumo destinados à alimentação, vestuário e calçados. d - 45% para outros bens industrializados de consumo final excluídos os anteriormente citados. Como se pode perceber o estado do Amazonas preocupa-se em incentivar o desenvolvimento do setor primário, oferecendo vantagens no âmbito do ICMS para empresas que estejam interessadas em agregar valor através de processo industrial aos seus produtos. Ao mesmo tempo estabelece vantagens extra-fiscais através de financiamentos com crédito subsidiado, treinamento de recursos humanos, apoio tecnológico, mercadológico e gerencial, todos estes também previstos no bojo da lei que concede incentivos fiscais. 131 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo É evidente que a simples condição da existência dos benefícios muitas vezes não chega a anular desvantagens como distâncias, falta de tradição, baixa densidade demográfica e outras, mas a sua ausência certamente é condição para inviabilizar o surgimento de algum foco de desenvolvimento nessas regiões. Por outro lado, a nova Lei nº 67/96, aprovada em outubro deste ano, institui regimes especiais de tributação como mecanismos para interiorizar o desenvolvimento, incrementar as atividades industriais e revitalizar o comércio, dirigida especificamente às empresas optantes dos benefícios da Lei 1.939, supra-mencionada, ou que vierem a se instalar na ZFM e que tenham seus projetos aprovados pelo Conselho de Desenvolvimento do Amazonas - CODAM. Esta lei atende: empresas já instaladas na ZFM e que pretendam expandir ou diversificar sua produção ou que vierem a instalar-se, exigindo que: se mantenha o atual número de empregados e a média do faturamento e do recolhimento do ICMS dos últimos seis meses; gere novos empregos em número compatível com a expansão ou diversificação pretendida; os níveis salariais dos novos empregos sejam idênticos aos das atuais linhas de produção. Por sua vez, a Lei concede: diferimento do ICMS sobre importação de matéria prima ou insumo industrial de origem estrangeira; dispensa de ICMS antecipado relativo a insumos ou bens destinados a ativo fixo, de procedência nacional, inclusive partes e peças; crédito presumido nas aquisições de insumos nacionais, nos termos da legislação já existente; crédito presumido igual ao ICMS devido no período, apurado na escrita fiscal, na hipótese de ocorrência de saldo devedor. A mesma legislação cria o Fundo de Fomento ao Turismo e Interiorização do Desenvolvimento do Amazonas - FTI, com recursos orçamentários e extra-orçamentários, tais 132 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo como a incidência de 1% sobre o valor do CIF constante dos documentos de importação de mercadorias destinadas à comercialização, de 1% sobre o faturamento bruto das empresas industriais que se vierem a instalar na ZFM beneficiadas com os regimes especiais desta mesma lei, 1% sobre o faturamento bruto correspondente à parcela de expansão ou diversificação das empresas industriais beneficiadas com esta mesma lei, e 2% sobre o valor CIF das importações de insumos industriais destinados às empresas fabricantes de bens finais, além de contribuições de empresas incentivadas oriundas de acordos firmados com o Governo do Estado. A contribuição destas alíquotas, no entanto, são condição essencial para que as empresas se beneficiem do regime especial da Lei. A mesma lei amazonense institui ainda o Cadastro Simplificado de Produtor Primário, e cria uma série de benefícios para o produtor, tais como: isenção do ICMS nas aquisições internas de insumos agropecuários, dispensa da exigência de ICMS antecipado nas aquisições de insumos agropecuários efetuadas em outras unidades da Federação, diferimento do ICMS nas operações de saída, para o momento de saída do produto ou do resultado de sua industrialização, para o consumidor final ou fora do Estado; faculta o uso de Nota Fiscal de Produtor sem destaque do ICMS; dispensa o pagamento da taxa de expediente na emissão de Notas Fiscais avulsas nas operações de saída, quando efetuadas diretamente nas Delegacias, Agências ou Postos da SEFAZ; dispensa o pagamento do ICMS incidente sobre as prestações de serviço de transporte intermunicipal. Os benefícios são válidos tanto para produtores individuais como para cooperativas ou fundações públicas. Não se aplicam a atividades extrativas vegetais ou minerais. Pelo até aqui visto, e muito embora Rondônia tenha os mesmos benefícios federais (isenção de IPI e de IR para projetos aprovados pela SUFRAMA e SUDAM), está muito defasada comparativamente aos demais estados da região norte, em particular do Amazonas, em termos de legislação fiscal estadual. Enquanto aquele estado oferece todas as vantagens com relação ao ICMS, Rondônia dispõe de uma sofrível legislação que concede, a título de empréstimo, até 70% daquele imposto para as indústrias, como auto-financiamento. No entanto, o benefício nunca foi utilizado por ter sido considerado inconstitucional pela próprio governo estadual. Mais uma oportunidade de se criar incentivos fiscais foi perdida em 12 de dezembro de 1996, no correr deste trabalho, quando a Assembléia Legislativa Estadual votou a Lei nº 688/96, 133 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo que veio substituir a Lei nº 233/89, que instituiu o Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestação de Serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicações - o chamado ICMS. Esta nova lei buscou adequar a antiga à Lei Complementar Federal nº 87, sancionada a 13 de setembro de 1996, que busca uniformizar a legislação do ICMS em um único dispositivo legal, facilitando sua aplicação. Nenhuma alteração de vulto foi proposta, e apenas assinala, como principais vantagens para o empresariado local, a isenção do ICMS nas exportações de quase a totalidade de produtos, independentemente do nível de industrialização, inclusive produtos primários. Como este benefício é dado por todos os estados, não chega a ter qualquer vantagem comparativa. Também contempla, a nova Lei, os benefícios de movimentação, no interior do estado, de produtos de origem florestal e agrícola (cereais), quando transportados entre estabelecimentos distintos destinados à industrialização ou beneficiamento. É muito pouco, para um Estado que precisa urgentemente de investimentos. ***** 134 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo PARTE 4: FATORES DE INFLUÊNCIA Capítulo 3º O PROJETO HERMASA E O PRODECER A - O PROJETO HERMASA 1 - A hidrovia Madeira-Amazonas. Grande corredor natural de transporte fluvial, com 3.061 km de extensão entre Porto Velho, praticamente no centro-oeste brasileiro, e Belém, no litoral norte, constitui-se em um importante fator de integração entre os povos da região. Historicamente assim tem sido para brasileiros, bolivianos e peruanos. A meio caminho, 1.348 km de Porto Velho, encontra-se Manaus, a maior cidade da Amazônia Ocidental e importante pólo industrial e comercial, praticamente um porto marítimo encravado no interior amazônico. Embora diante de suas enormes potencialidades seja ainda incipiente e cara a navegação na hidrovia, evidencia-se agora como o meio mais direto para acesso aos grandes mercados do Atlântico Norte, para os produtos das novas fronteiras agrícolas do país, plantados no centro-oeste e avançando celeremente em direção ao norte. O grande Amazonas permite a navegação de navios de porte oceânico, durante todo o ano, até Manaus, a 1.721 km do litoral. O baixo Madeira, trecho navegável do rio, tem 1.115 km de extensão, entre Santo Antônio do Madeira e a sua foz, esta situada a 233km de Manaus. Neste trecho apresenta declividade média de 1,7 cm/km, largura quase sempre superior a um quilômetro, baixa sinuosidade, forte correnteza, e significativa quantidade de restos de árvores sendo arrastadas. A variação de nível das águas entre os períodos de cheia e estiagem varia entre 12 e 16 m. Apresenta alguns poucos pontos de maior risco à navegação, devido a bancos de areia ou pedras, que serão sanados em curto prazo com trabalhos relativamente simples de engenharia, projetados a partir dos dados disponíveis pela Marinha do Brasil. 135 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo Durante o ciclo anual, podem-se distinguir quatro períodos distintos para a navegação, nas condições atuais do rio: de março a maio, período de enchente, e de junho a setembro, início da vazante do rio, que aceita embarcações com calado de até 6,8m; de dezembro a fevereiro, embarcações com calado até 5m e, de outubro ao final de novembro, calado até 2m, quando a navegação torna-se necessariamente mais cuidadosa, mas não é interrompida. Incorporada aos projetos prioritários do Governo Federal, no Plano de Metas Plurianual, preparam-se atualmente novas cartas de navegação e praticagem para a hidrovia no trecho do rio Madeira, escoradas em recentes levantamentos efetuados pela Marinha. Para o ano de 1997 estão programados os trabalhos de balizamento visual e eletrônico do canal navegável do Madeira. Além disso, será implantado um sistema de posicionamento por satélite, DGPS, que permitirá navegação em toda a região amazônica com segurança dentro dos padrões internacionais, durante todas as épocas do ano. Os novos padrões de navegação, entre outros benefícios, possibilitarão a redução dos tempos de viagem e a contratação de seguros para os bens transportados, inexistente nas condições atuais. Essas melhorias certamente trarão redução nos custos do frete entre Manaus e Porto Velho, beneficiando de imediato, por exemplo, o transporte dos produtos eletroeletrônicos da Zona Franca de Manaus em demanda ao sul-sudeste. 2 - O projeto Hermasa. 2.1 - As bases do empreendimento Percebendo as enormes possibilidades da hidrovia Madeira-Amazonas, o Grupo André Maggi, que possui empreendimentos agrícolas na região da Chapada dos Parecis, em Mato Grosso, vem há anos estudando essa opção como alternativa para enfrentar os altos custos de transporte entre aquela região produtora e os portos de Paranaguá e Santos, distantes cerca de 2.500 km. Para alcançar qualquer desses portos exportadores, o transporte de uma tonelada de soja custa US$80, atingindo um máximo de US$115, por modal rodoviário, o único disponível. Os estudos do grupo acabaram por eleger o corredor fluvial como a melhor alternativa para redução dos custos de transporte dos produtos da região centro-oeste (especialmente a soja), e da Amazônia Ocidental, e indicam economia de, no mínimo, US$30 por tonelada de soja transportada, posta em Roterdã. 136 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo Custo do transporte de soja - Chapada dos Parecis-Roterdã - Via Madeira-Amazonas Item Distância - km US$ / Tonelada Modal rodoviário : Chapada dos Parecis-Porto Velho 900 31,00 carregamento das balsas : terminal de Porto Velho ---2,00 Modal fluvial : Porto Velho-Itacoatiara 1.270 19,50 Descarga da balsas : Terminal de Itacoatiara ---6,50 Total : transporte interno 2.170 59,00 Modal marítimo: Itacoatiara-Roterdã 7.124 16,00 TOTAIS 9.294 75,00 Fonte: Hermasa Custo do transporte de soja - Chapada dos Parecis-Roterdã - Via Paranaguá Item Distância - km US$ / Tonelada Modal rodoviário : Chapada dos Parecis-Paranaguá 2300 80,00 Porto - transbordo ----9,00 Modal marítimo : Paranaguá-Roterdã 7.993 16,00 TOTAIS 10.293 105,00 Fonte: Hermasa O transporte da soja até o porto exportador de Santos (SP) tem custos idênticos ao via Paranaguá (PR). Fica assim evidente a vantagem da mudança em direção ao norte: o preço da tonelada do produto posta em Roterdã, centro distribuidor para o mercado europeu e mundial, fica reduzido em pelo menos US$30,00. Deve ser observado que os custos aqui comparados baseiam-se no menor valor para o modal rodoviário até Paranaguá. Outro aspecto a ressaltar, de grande importância para toda a economia regional, é que o frete entre P.Velho e Itacoatiara, e, por inferência, a Manaus e Belém, entrando em operação o sistema de transporte da Hermasa, deverá sofrer uma redução em todas as tarifas hoje praticadas, acima de 50%. Estudos demonstram ser ainda possível reduzir do valor hoje estimado (US$ 19,50/t) a cerca de US$14,00/t, o que o aproxima dos US$12/t praticados no rio Mississipi (EUA), paradigma mundial nessa forma de transporte, por distância similar. Naquele rio, que tem metade da vazão e porte do Madeira, o movimento anual de cargas é da ordem de 400 milhões de toneladas, e trafegam 25 mil balsas graneleiras. Obviamente, essa diminuição adicional no custo de transporte na hidrovia beneficiará ainda mais a relação de custos comparativos com os portos de Paranaguá e Santos, alcançando a diferença de US$35 por tonelada transportada. 137 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo É, entretanto, necessário observar que essa vantagem é dependente da distância entre a zona de produção e o porto de Itacoatiara. Exemplificando: para o transporte de uma tonelada de soja, desde a zona de produção até Roterdã, teremos os seguintes custos comparativos: de Humaitá, distante 1.100km do terminal exportador por hidrovia, sem transporte rodoviário, o custo é de US$40; desde o sul de Rondônia, distante de Porto Velho 750 km por via rodoviária, e mais 1.270 km por hidrovia, o custo atinge US$65; desde a Chapada mato-grossense, a 900km de Porto Velho, o custo é de US$75, como já vimos na tabela anterior. Por essa razão, é de se esperar que o plantio da soja em larga escala em Rondônia, iniciando pela região sul do estado, expanda-se na direção norte, em busca das terras mais próximas do porto da capital e de menores custos de transporte. Definida esta opção, deu-se início ao projeto Hermasa que se propõe a transportar até um milhão de toneladas/ano de grãos, já no seu terceiro ano de operações, em 1999. O projeto inclui, além da construção de modernas balsas graneleiras e empurradores apropriados, especialmente projetados para navegar nas condições do rio Madeira, um terminal graneleiro no porto de Porto Velho (RO), e um terminal portuário misto em Itacoatiara (AM), onde poderão atracar navios de até 60.000 toneladas de deslocamento. Nessas instalações o volume de recursos empregados será da ordem de R$35 milhões, envolvendo capitais próprios e incentivos fiscais, sendo R$7 milhões no terminal de Porto Velho e R$28 milhões no de Itacoatiara. Em fase adiantada de construção e montagem, este sistema entrará em operações já em abril de 1997, quando o primeiro navio cargueiro com destino ao porto de Roterdã será abastecido de soja do Mato Grosso no terminal de Itacoatiara. Para o transporte até Itacoatiara a Hermasa disporá, inicialmente, ao custo de R$27 milhões, de uma frota composta de: Dois comboios constituídos, cada um, das seguintes embarcações: Um (1) empurrador fluvial de 2.600 cavalos-vapor (BHP). Quatro (4) balsas graneleiras de 1.850 toneladas. Duas (2) balsas graneleiras de 2.000 toneladas. Duas (2) Embarcações de apoio: Dois (2) rebocadores portuários de 15 toneladas de empuxo (TTE), um em cada terminal. Uma (1) lancha veloz de apoio, para monitoramento do tráfego, assistência operacional e manutenção de bóias de sinalização. Esses comboios de balsas, atualmente em fase final de construção em estaleiro de Manaus, estarão ocupados cinco meses por ano, de março a julho, no transporte de soja. Nos demais períodos do ano estarão prestando serviços de transporte geral ao longo da hidrovia, podendo beneficiar-se dessa estrutura principalmente o milho, o algodão, o cacau, o café, o feijão e a madeira de Rondônia. 2.2 - O projeto agrícola. Tendo como pontos focais o plantio e a comercialização da soja, e secundariamente do milho, o projeto está dimensionado para uma produção atual, na Chapada dos Parecis em Mato Grosso, da ordem de 3,35 milhões de toneladas em 1,35 milhão de hectares plantados . As projeções indicam crescimento para 4,5 milhões de toneladas em 1,8 milhão de ha, no ano 2000. Incluindo-se as novas áreas a serem plantadas nos estados de Rondônia, Amazonas e Acre (não considerando o estado de Roraima), as projeções atingem 9 milhões de toneladas em 3,6 milhões de hectares até o ano 2004. 138 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo Presentemente, a área plantada e a produção de soja na região do empreendimento está assim distribuída: Áreas e Produção de soja - região de influência do projeto Hermasa Região Área ( ha ) Total Agricultável Plantada Chapada Parecis - MT/RO 40.000.000 20.000.000 1.350.000 Sul dos estados - AM/AC 30.000.000 5.000.000 15.000 Produção (t) Soja 3.350.000 --- Fonte: Hermasa As previsões de incremento do plantio de soja em novas áreas até o ano 2.000 são: Chapada dos Parecis (MT) - 50.000 ha/ano. Chapada dos Parecis (RO) - 25.000 ha/ano. Sul do Amazonas e Acre - 25.000 ha/ano. Total do incremento - 100.000 ha/ano 139 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo Os estudos para orientação técnica dos novos plantadores, nas novas regiões, vem sendo desenvolvidos pelo Grupo Maggi, há vários anos, com suporte da Embrapa. Em Rondônia, as áreas inicialmente previstas para plantação estão localizadas na região sul do estado, na Chapada rondoniense, embora estejam em desenvolvimento pesquisas nas regiões centrais, como Jaru, Ouro Preto, Ariquemes, Ji-Paraná e Cacoal, com possibilidades futuras de expansão do plantio. Para a região de Vilhena, o Grupo Maggi dispõe de um pacote próprio de financiamento aos interessados que disponham das condições básicas para participação no empreendimento, quais sejam: extensão adequada de terras preparadas para o plantio e implementos como trator, caminhão e colheitadeira. Nesse pacote incluem-se o fornecimento das sementes com uma garantia mínima de produtividade, manutenção e até mesmo a reforma de máquinas como trator, caminhão e colheitadeira, a análise do solo e as quantidades adequadas de corretivos e fertilizantes, além de uma certa quantidade de recursos financeiros até a colheita. Não haverá financiamento de máquinas e implementos no pacote. Vale lembrar que a colheita é um serviço que já pode ser terceirizado no país. Devido às diferentes épocas de colheita nas diversas regiões produtoras, grande quantidade de colheitadeiras deslocam-se de região para região, nas épocas de safra, para execução da colheita. Portanto, em princípio, a inexistência de colheitadeiras na propriedade não é fator impeditivo para a participação no empreendimento. Já em meados de 1997 deverá estar concluído em Vilhena um armazém para grãos, a ser construído com modernos parâmetros tecnológicos de acondicionamento, e capacidade para 65.000 toneladas. Para o futuro estão previstos mais cinco (5) armazéns do mesmo tipo ao longo da BR 364, com capacidades e localização final ainda por definir. No estado do Amazonas, as pesquisas concentram-se na região de Humaitá, Canutama e Lábrea. Humaitá, particularmente, sendo um porto do Madeira, deverá tornar-se importante pólo no desenvolvimento do projeto, estando prevista a construção de um terminal fluvial na localidade. Apesar do custo de preparação do solo na região de Humaitá ser maior que em Rondônia, devido à particularidades físicas de seu solo, que necessita de drenagem, por exemplo, a região tem grande importância para o futuro do empreendimento. Parte dessa importância 140 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo deriva da sua proximidade do rio Madeira e do menor custo de acesso ao terminal graneleiro de Itacoatiara. Acrescente-se aqui o propósito do governo amazonense de tornar produtora essa região, para o que vem investindo somas consideráveis, a custo baixíssimo para o produtor. O forte apoio, logístico e financeiro, que o governo do Amazonas vem oferecendo como parte de sua estratégia para o chamado programa do 3o. Ciclo de Desenvolvimento, poderá no futuro suprir o Estado, e Manaus em particular, de diversos produtos alimentícios, como a farinha, o arroz, o feijão, frutas, etc. Em outro município, Apuí, na rodovia Transamazônica, também há investimentos oficiais objetivando torná-lo produtor agrícola, neste caso segundo um modelo semelhante ao implantado na colonização de Rondônia. No entanto, apresenta para a indústria da soja o inconveniente de possuir uma grande cobertura florestal, o que, além de ser uma possível fonte de problemas com órgãos oficiais e organizações ambientalistas não-governamentais, conduz a elevados custos para preparação do terreno para o plantio mecanizado. No Acre o projeto concentra-se nas terras ao sul do estado, que dão continuidade ao solos estudados no Amazonas, em áreas de desmatamento antigo e de fácil mecanização. Quanto a Roraima, o asfaltamento da BR 174 deverá tornar atrativa a exploração da soja nos vastos campos do Estado, onde já existem pesquisas em andamento para a produção em larga escala, ao possibilitar seu escoamento econômico pelo terminal de Itacoatiara, alcançado por via terrestre. Por outro lado, o estado dispõe, em Caracaraí, de um porto com características semelhantes ao de Porto Velho, distando cerca de 300 km das áreas potencialmente produtoras. Embarcando aí, a soja e o milho serão transportados até Itacoatiara e daí a Roterdã, a um custo total de US$40/t, o mesmo estimado para a região de Humaitá. 2.3 - A Agro-indústria. O volume de soja contemplado pelo projeto traz, de imediato, a decisão de implantação de indústrias de seu beneficiamento. O Grupo Maggi projeta a operação de uma indústria de óleo refinado a ser construída em Itacoatiara, ao custo de R$34,5 milhões, e capacidade de 141 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo esmagamento de 1.500 t/dia, gerando 300 empregos diretos de bom nível salarial. A escolha do local responde a avaliação de uma série de condicionantes, dos quais os mais importantes são: o fato de Itacoatiara já dispor de capacidade de armazenamento capaz de suprir a indústria, sendo mesmo o destino final de toda a movimentação do produto pelo corredor Madeira-Amazonas em território brasileiro. o transporte da soja até Itacoatiara é obrigatório, por ser este o porto exportador, o que torna desnecessário transportar o produto desde um local distante, até outro terminal. os incentivos que vem se tornando disponíveis no Estado do Amazonas, que investe R$16 milhões no projeto e estuda outras formas de incentivar o empreendimento. o interesse do governo amazonense em produtos como a ração animal, também produzida na indústria, para os seus projetos de desenvolvimento, é outra razão para o apoio que vem prestando. 2.4 - Os fertilizantes. A intensa mecanização e exigências de alta produtividade para manutenção da competitividade do negócio da soja exige, além de grandes extensões de terras planas para o plantio, correção e adequada adubação do solo. Em toda a área plantada, e nas novas previstas, há necessidade de correção e fertilização do solo. As grandes jazidas de calcário existentes em Rondônia, próprio para essa correção, constituem, portanto, reservas estratégicas nesse processo, já que têm volume e qualidade suficientes para atender às exigências. Entretanto, a quantidade e a qualidade do produto atualmente colocado a disposição do mercado são insuficientes e inadequadas, devido às deficiências da extração e beneficiamento realizada com equipamentos inapropriados, não atendendo às especificações requeridas pela agricultura. Propriedade da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais - CPRM, vem sendo explorada pela Companhia de Mineração de Rondônia - CMR, a qual já evidenciou não ter capacidade técnica e financeira para investir no aumento e melhoria da qualidade da produção. 142 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo É imprescindível resolver o impasse da exploração dessa riqueza, de grande importância para o futuro da economia do estado. A iniciativa privada poderá ser a resposta para isso. Encontrar um parceiro adequado, com recursos financeiros e tecnológicos, e experiência na mineração para assumir o empreendimento parece ser o caminho a ser percorrido pelos responsáveis por essa questão. Concomitantemente, será preciso investir na melhoria dos meios de acesso às minas, para garantir sua exploração econômica e o escoamento do produto. Para a fertilização do solo corrigido, a própria hidrovia cria as condições necessárias à obtenção dos fertilizantes a preços competitivos. A área total plantada em toda a região nos próximos anos, fará com que o consumo de fertilizantes seja altamente expressivo em termos nacionais, certamente tornando atrativo esse mercado aos grandes fabricantes e distribuidores desses produtos. O Grupo Maggi demonstra-se interessado em localizar parceiros para investir nessa área, dominada por grandes empresas multinacionais, o que recomenda cautela antes da tomada de decisão. Contudo, certamente haverá espaço para a implantação de “misturadoras”, que preparem os fertilizantes nas composições demandadas pelos diversos tipos de solo onde plantar. Nesse item, vale lembrar os esforços que se vem desenvolvendo para viabilizar o aproveitamento do gás natural das reservas de Urucu, no Amazonas, para a geração de energia elétrica. A disponibilidade desse produto em Porto Velho poderá viabilizar a implantação de fábricas de fertilizantes nitrogenados derivados do mesmo, como amônia e uréia, na região. - Efeitos imediatos sobre a economia regional Na agricultura os resultados imediatos virão sob a forma de fortes investimentos para incrementar a produção de soja na região sul do estado. Aí, várias famílias de agricultores reunindo as condições mínimas para participação no projeto já foram localizadas. Nos períodos do ano em que não estiver sendo trabalhada a soja, o segundo cultivo a ser desenvolvido pelo Grupo Maggi será o do milho. Este cereal, portanto, receberá atenção especial dos empreendedores durante o período da chamada “safrinha”. No entanto, outros produtos regionais decerto serão beneficiados durante a entresafra da soja, a partir do momento que a estrutura de comercialização e transporte criada em torno dela tornar-se ociosa, e superior às necessidades da cultura do milho. 143 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo A força propulsora dos grandes recursos a serem aplicados na produção e comercialização de produtos como a soja e o milho, poderá alavancar a destinação de capitais para o desenvolvimento da nossa agro-indústria. Nos serviços, haverá maior demanda por atividades relacionadas ao transporte de grandes quantidades de produtos agrícolas. O movimento de carretas nos dois sentidos da BR 364, transportando soja desde as regiões produtoras até o porto de Porto Velho será de 200 carretas/dia no primeiro ano (1997), 400 ao dia em 98 e 600 ao dia em 99, durante os cinco meses de escoamento da safra. Contratos de transporte para escoamento da safra poderão ser assinados entre proprietários de carretas e os exportadores, com a duração do período de safra. Também como conseqüência do intenso tráfego de veículos de carga, pode-se vislumbrar a ampliação dos negócios de comercialização e manutenção mecânica de veículos pesados, comércio de combustíveis e correlatos, comércio de máquinas e implementos agrícolas, etc. Esse será, certamente, um dos itens de maior expansão em decorrência da exploração da soja. No transporte fluvial entre Porto Velho e Manaus é que se vislumbram transformações radicais. A modernização das condições de navegação do baixo rio Madeira, trará consigo a redução do tempo das viagens, e a maior segurança geral da navegação, inclusive e particularmente para o tráfego de passageiros. Na área de cargas a Hermasa estima para o ano de 2004 um volume de 12 milhões de toneladas anuais sendo transportadas pela hidrovia, dos quais 9 milhões de soja, 2 milhões de outros grãos e 1 milhão em outras cargas. A livre concorrência, nestas condições, decerto resultará na redução dos preços de fretes, com repercussões benéficas para todos. Um fantástico crescimento no setor de transportes da região, e de Rondônia em particular, transformando esta hidrovia num dos mais importantes corredores de transporte fluvial do mundo. B - O PRODECER O PRODECER - Programa de Cooperação Nipo-brasileira para o Desenvolvimento dos Cerrados, é coordenado e executado pela Companhia de Produção Agrícola - CAMPO, fundada em 1978 para essa finalidade, tendo como mutuário o Ministério da Agricultura. No decorrer deste tempo até hoje, o PRODECER I, PRODECER II e o PRODECER III - Piloto, incorporaram 350 mil hectares de terras de cerrados ao processo produtivo. Os PRODECER I e II foram desenvolvidos nos Estados de Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás e Bahia, onde dezenove projetos de colonização assentaram 700 famílias com uma aplicação em investimentos de US$ 400 milhões, ocupando uma área de 270 mil hectares e gerando mais de 55 mil empregos diretos numa produção de 500 mil toneladas de grãos, com uma receita de US$ 100 milhões anuais. O PRODECER III - Piloto, se estendeu aos estados de Tocantins e Maranhão, onde 80 mil hectares de terras foram incorporadas ao processo produtivo, exigindo investimentos de US$ 138 milhões, distribuídos em dois projetos. Na região de Balsas - MA, foi alcançado o recorde de produção nacional de soja em áreas extensas, atingindo a marca das 37,8 sacas por hectare no primeiro ano de plantio, quando a média nacional de 20 sacas/ha já é considerada uma produtividade satisfatória. Está prevista a ampliação do programa em mais 10 mil hectares da área de cultivo no Maranhão e início da exploração de mais 20 mil hectares no Tocantins, assim como dois projetos 144 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo para a produção de frutas em áreas irrigadas e a instalação de agro-indústrias nas duas regiões abrangidas pelo PRODECER III. Com o sucesso alcançado pelos projetos anteriores, o Ministério da Agricultura resolveu agregar novas áreas em outras regiões do país, além de consolidar os pólos criados pelos programas I e II. Quatro objetivos específicos do PRODECER III demonstram claramente os propósitos do Governo Federal com esta etapa do programa: Ampliar a infra-estrutura de apoio à produção e à comercialização, de modo a melhorar o desempenho produtivo das áreas abrangidas pelos projetos de assentamento do PRODECER; Incorporar ao processo produtivo, novas áreas de cerrados da Bahia, Mato Grosso, Piaui, Pará, e Rondônia, constituindo novos pólos de irradiação de desenvolvimento agrícola; 145 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo Consolidar os pólos de irradiação de desenvolvimento agrícola criados pelo PRODECER I e II. Estimular a implantação de pólos de irradiação de desenvolvimento agrícola, com alta tecnologia, nas áreas de influência da ferrovia Piarapora-Unai, MG. Para atingir todos estes objetivos, a PRODECER III - Expansão prevê uma aplicação de recursos de US$ 850 milhões de dólares, distribuídos por fontes conforme quadro abaixo. Discriminação Fonte Externa: OECF (*) Fontes Internas: - Tesouro Federal - CVRD (**) - Beneficiários e Agentes Financeiros TOTAL Valor em US$ milhões 510 510 340 100 200 40 850 % 60,00 60,00 40,00 11,76 23,52 4,72 100,00 Fonte: PRODECER (*) - Overseas Economic Cooperation Fund (**) - Companhia Vale do Rio Doce No caso específico de Rondônia, o PRODECER - Expansão visa incorporar a região dos cerrados do Sul do Estado, que dispõe de áreas semelhantes às já testadas pelos programas similares que o antecederam. O modelo a ser adotado será o de assentamento de produtores previamente selecionados, associados e apoiados por cooperativas, com assistência técnica e crédito orientados, com vistas à criação de pólos de irradiação de desenvolvimento agrícola. A forma do projeto será a de Colonização, sendo seus beneficiários produtores rurais pessoas físicas com experiência comprovada26. As atividades desenvolvidas constarão da produção de grãos através de culturas mecanizadas e de culturas perenes irrigadas. A organização dos produtores se dará através do sistema cooperativo, ao qual caberá desenvolver e demonstrar as tecnologias aprovadas nos projetos anteriores, fornecendo o apoio técnico e exercendo o papel de agente agregador de valores à produção, através de processos de 26 - No caso de Rondônia, esta etapa pode ser considerada praticamente cumprida pois a existência de colonos com experiência na própria região já favorece e facilita o programa. 146 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo beneficiamento e agro-industrialização, bem como da comercialização dos produtos e insumos necessários. A área inicial a ser incorporada pelo PRODECER III - Expansão em Rondônia será de 20.000 hectares de área útil, através de 40 produtores em áreas cultivadas de 500 hectares. Conforme o quadro a seguir, o montante de recursos para essa incorporação será de US$ 39,5 milhões para investimento, e de US$ 12,8 milhões para custeio, totalizando 52,3 milhões de dólares. Tipo do Investimento INVESTIMENTO FIXO - Investimento Fundiário - Desmatamento, Preparo do Solo - Correção do Solo - Benfeitorias - Culturas Perenes - 1º Custeio (Investimento) - TEP/TAT INVESTIMENTO SEMI-FIXO INFRA-ESTRUTURA COOPERATIVA. CUSTEIO (Subseqüente) TOTAL Rondônia 25.684.366 7.000.000 3.960.000 6.770.000 2.064.000 1.090.000 4.264.700 535.666 8.634.600 5.212.400 12.794.100 52.325.466 Fonte: PRODECER É importante referir que somente na região de Vilhena existem cerca de 30.000 hectares de terras já incorporadas anteriormente ao plantio de grãos e hoje ocupadas por pastagens ou subutilizadas. Conclui-se, portanto, que a ampliação de área projetada é possível até mesmo com um simples remanejamento no orçamento mostrado no quadro acima, sem modificar o valor total. Experiências piloto como os projetos de Plasticultura e de Fruticultura, implementadas pela Prefeitura de Vilhena poderão ainda servir de demonstração ao PRODECER - Expansão, vez que os mesmos já se enquadram perfeitamente aos aspectos de cooperativismo exigidos. ***** 147 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo PARTE IV: FATORES DE INFLUÊNCIA CAPÍTULO 4º O “Terceiro Ciclo” Ao buscar respostas para o incremento ao comércio de Rondônia com Manaus, verificou-se de pronto que o setor primário do estado seria o determinante destas relações, com peso superior, evidentemente, à produção industrial. Pela mesma época a equipe técnica tomou conhecimento do programa denominado “3º Ciclo de Desenvolvimento”, levado a efeito pelo governo amazonense, e que busca justamente, entre seus objetivos básicos, a substituição das importações de alimentos, em especial de produtos agrícolas e agro-industriais. Tal programa, portanto, surge e se evidencia como um possível fator de influência nas relações pretendidas, posto que, se vitorioso em seus propósitos, fecharia as portas do mercado do Amazonas aos produtos primários aqui produzidos. O chamado 3o. Ciclo de Desenvolvimento constitui um programa de governo para incentivo à agro-produção no estado do Amazonas, voltado principalmente para as pequenas comunidades do interior. Seu nome resulta do entendimento de que a economia amazonense vivenciou já dois ciclos distintos de desenvolvimento: o chamado Ciclo da Borracha e o ciclo decorrente da criação da Zona Franca de Manaus, sem que o conjunto do estado deles se beneficiasse. O 3º Ciclo objetiva então estabelecer condições para elevar os níveis de renda e emprego da população, além do aumento da produção e da produtividade agropecuária do estado. Objetiva conduzir também à auto suficiência dos municípios na produção de alimentos básicos; introduzir culturas permanentes nas áreas desmatadas; melhorar a qualidade dos produtos; viabilizar o escoamento, armazenamento, beneficiamento e comercialização da produção; dotar as sedes municipais e algumas outras localidades com máquinas e equipamentos de apoio à produção agrícola e de infra-estrutura básica como água, luz, estradas e navegação. 148 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo Em outras palavras, o programa quer retirar a economia do interior do estado do estágio de estagnação, onde não se produz sequer para a própria subsistência, e levá-la a uma fase mais avançada, produzindo e gerando excedentes primários e mesmo alguns bens manufaturados, como móveis, isto tudo aliado ao esforço de manter-se o homem em seu local de origem, desestimulando o êxodo para Manaus, e também abastecendo a própria capital, ela mesma refém da falta de produção de alimentos, através da substituição de suas importações. Os recursos para execução do programa virão de várias fontes. Do governo estadual através da SEPLAN, o FPMES (Fundo de Fomento à Média e Pequena Empresa e Desenvolvimento Social), o FUNEDE (Fundo Estadual de Desenvolvimento), das Prefeituras Municipais e do BEA (Banco do Estado do Amazonas S/A). O FPMES, criado com essa finalidade, é formado com recursos do ICMS e permite empréstimos aos interessados a juros de 4% a.a. mais 50% da TJLP. Poderão ser financiados equipamentos, máquinas e o cultivo, sendo o pagamento pelo sistema de equivalência por produto. Outras facilidades estão disponíveis, como a que estabelece que até o limite de R$70.000,00 o empréstimo poderá ser feito com garantias flexíveis quando, por exemplo, não será exigido que o tomador seja o proprietário das terras em que trabalha. O principal responsável pelas ações do 3o. Ciclo é a CIAMA (Companhia de Desenvolvimento do Amazonas), que dirige as dez superintendências em que o estado foi dividido para fins do programa. Outros órgãos do estado, como o IDAM (Instituto de Desenvolvimento Agropecuário do Estado do Amazonas) e a SETRAN (Secretaria Estadual de Transportes), também executarão ações dentro do programa. As dez superintendências, também denominadas etapas do programa, e os produtos selecionados como prioritários em cada uma delas são: Superintendências administrativas do 3o. Ciclo de Desenvolvimento Região Produtos 1. Alto Solimões Cana-de-açúcar, madeira, mandioca 2. Triângulo Jutaí- banana, essências florestais, castanha, madeira, mandioca. Solimões-Juruá 3. Purus Cana-de-açúcar, borracha, feijão, madeira, mandioca, bovino de corte. 4. Juruá borracha, cana-de-açúcar, madeira, mandioca. Região Produtos 5. Madeira arroz, banana, café, feijão, madeira, melancia, milho, bovino de corte. 6. Alto Rio Negro 7. Rio Negro-Solimões 8. Médio Amazonas 9. Baixo Amazonas 10. Manaus artesanato, essências florestais, mandioca, peixes ornamentais, piaçava, palmito. abacaxi, essências florestais, banana, cupuaçu, mamão, mandioca, maracujá, milho, olerículas, peixes ornamentais, piaçava, aves (postura), bovinos de corte e leite. abacaxi, banana, cana-de-açucar, citrus, cupuaçu, guaraná, mamão, mandioca, olerículas, aves de corte, aves (postura), piscicultura, bovinos de corte e leite, bubalinos. banana, cupuaçu, guaraná, mamão, mandioca, bovinos de corte e leite, bubalinos. abacaxi, citrus, cupuaçu, mamão, mandioca, maracujá, olerículas. 149 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo Fonte: Governo do Estado do Amazonas. Dentre todas elas, as regiões do Purus e Madeira tem significado especial, tanto para Rondônia, pela perspectiva de concorrência com seus produtos e recursos de investimentos privados, como para o Amazonas, tendo em vista os projetos do grupo privado Maggi, aos quais se associam os esforços do “terceiro ciclo”. O escoamento dos produtos dessas regiões, tanto quanto os de Rondônia, será beneficiado pelas melhorias que serão introduzidas na navegação do Madeira. Por outro lado, o governo amazonense prepara em conjunto com o governo federal o zoneamento ecológico do vale do Madeira, de modo a estabelecer definições legais para as áreas que poderão ser usadas para plantio. O governo do Amazonas já faz declarações argumentando com a hipótese de que a região esteja, em breve, produzindo 2 milhões de toneladas de grãos no cerrado. Os municípios incluídos em cada uma das duas Superintendências citadas, são os seguintes: Purus - Autazes, Beruri, Boca do Acre, Canutama, Careiro (várzea), Iranduba, Lábrea, Manaquiri, Pauini, Rio Preto da Eva e Tapauá. Madeira - Apuí, Barreirinha, Boa Vista do Ramos, Borba, Humaitá, Itacoatiara, Manicoré, Maués, Nova Olinda do Norte e Novo Aripuanã. 150 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo As expectativas de produção e preços médios a pagar ao produtor, de alguns dos produtos a serem cultivados nessas Etapas do 3o. Ciclo, já para a próxima safra, são mostradas na tabela seguinte: Expectativas de produção - Etapas Purus e Madeira Produto Produção (t) Valor Unitário (R$) Arroz 8.479 200,00 Feijão 980 330,00 Milho 6.261 200,00 Farinha de mandioca 27.098 400,00 Totais 42.818 --------- Valor Total (R$) 1.695.800,00 323.400,00 1.252.200,00 10.839.200,00 14.110.600,00 Fonte: Governo do Estado do Amazonas. A tabela na página a seguir mostra as expectativas de área total plantada, de produção e de quantidade de produto destinado ao mercado geral, para cada um dos municípios das duas etapas consideradas, admitindo-se que a diferença será consumida nas próprias regiões produtoras, além dos períodos do ano em que haverá safra. Com a entrada em operação do projeto Hermasa, visto no capítulo anterior, especialmente a industrialização da soja em Itacoatiara, abre-se ainda uma enorme perspectiva para a produção de proteína animal em larga escala no vizinho estado, podendo atender à criação de bovinos em confinamento, à produção de leite, à avicultura, suinocultura e piscicultura, através do aproveitamento do sub-produto da soja, a torta. Estes são fatores que devem preocupar Rondônia em suas relações comerciais com o estado vizinho. Em vista disto, a visita a Humaitá se inscreveu como um fato obrigatório na ilustração destes fatores de influência aqui estudados. 151 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo Expectativas de produção para mercado - Programa Terceiro Ciclo PRODUTOS E PRODUÇÃO ESPERADA Municípios ARROZ FEIJÃO Área Prod. Mer- Perío-do Área Prod. Total cado Total (ha) (t) (t) (ha) (t) Etapa Madeira 4.256 7.669 6.615 785 628 Apuí 1.750 3.500 3.000 mar/abr 400 320 Barreirinha 76 114 60 mar/abr 38 31 Boa V. Ramos 67 53 Borba 40 80 30 50 40 Humaitá 1.500 3.000 2.500 fev/mar Itacoatiara 200 300 200 mar/abr 30 24 Manicoré 220 330 280 fev/mar 100 80 Maués 50 75 45 fev/mar Nova Olinda 20 30 30 24 Novo Aripuanã 400 600 500 mar/abr 70 56 Etapa Purus 405 810 415 440 352 Autazes 90 180 100 fev/mar 40 32 Beruri 10 20 fev/mar 10 8 Boca do Acre 100 200 100 abr 10 8 Canutama 15 30 15 fev/mar 10 8 Careiro 100 80 Iranduba 100 80 Lábrea 80 160 90 fev/mar 100 80 Manaquirí 20 16 Pauini 80 80 80 jan 20 16 R.Preto da Eva Tapauá 30 30 30 jan 30 24 Totais 4.661 8.479 7.030 1.225 980 Fonte: Governo do Mercado 380 250 30 20 40 40 130 50 40 40 510 MILHO Períod Área Prod. o Total (ha) (t) 2.265 4.741 fev 660 1.650 25 62 jul 35 87 jul 20 50 700 1.190 40 100 jul+out 275 687 60 150 jul+out 450 765 640 1.520 110 275 20 50 100 170 10 25 jul+out 100 250 jul+out 100 250 jul+set 50 125 100 250 jul+set 50 125 2.905 6.261 Estado 152 Mercado 2.670 1.000 30 45 20 700 50 350 75 400 390 140 20 80 10 70 70 3.060 MANDIOCA Perío-do Área Prod. Total (ha) (t) 6.393 20.894 fev/mar 2.760 9.660 fev/mar 200 600 fev/mar 150 450 fev/mar 300 900 fev/mar fev/mar 900 2.700 fev/mar 675 2.360 fev/mar 450 1.350 fev/mar 500 1.500 fev/mar 458 1.374 2.043 6.204 jan/fev 1.308 3.924 jan/fev 100 300 nov/dez 75 260 nov/dez 80 280 jan/fev jan/fev nov/dez 200 600 jan/fev nov/dez 80 240 200 600 8.436 27.098 do Mercado 8.360 3.860 240 180 360 1.080 950 540 600 550 2.472 1.560 120 100 112 240 100 240 10.832 Período ano ano ano ano ano ano ano ano ano ano ano ano ano ano ano ano ano ano ano ano ano Amazonas FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo O Município de Humaitá no 3º Ciclo. Tendo em vista sua proximidade geográfica, especialmente em relação ao terminal portuário de Porto Velho, ao fato de ser um porto do Madeira, e ser um município que pode bem exemplificar as condições atuais da agricultura no estado do Amazonas, além de estar incluído em todos os projetos que poderão trazer grandes modificações à estrutura agrária e econômica da região, o município de Humaitá (AM) foi avaliado individualmente. Para lá deslocou-se uma equipe de pesquisadores que percorreu a região, mantendo contatos com autoridades e produtores, de modo a levantar as reais condições da agropecuária no município e como vêm se manifestando os resultados do início de implantação do programa do 3º Ciclo. Dentro do cronograma de execução do projeto do grupo privado Maggi, para produção de soja e escoamento via hidrovia Madeira-Amazonas, o plantio na zona do cerrado de Humaitá será posterior ao aproveitamento das terras do sul de Rondônia, onde já existem cerca de 30.000 ha preparados. Nessa circunstância, é razoável supor que apenas dentro de quatro ou cinco anos a região estará plantando áreas significativas com a soja. Nesta região do estado do Amazonas é ainda necessário preparar o solo, que do ponto de vista da exploração agrícola apresenta algumas dificuldades, como a superficialidade do lençol freático, que torna obrigatória a drenagem do terreno a um custo adicional de R$120,00/ha. Por outro lado, as terras dos vizinhos municípios de Lábrea e Canutama oferecem melhores condições físicas, e estão incluídos no projeto, apesar da pequena, mas significativa distância do porto de Humaitá, o que aumenta os custos de transporte, comparativamente à sua produção neste município. A grande vantagem da região refere-se ao seu regime de chuvas, que faz prever duas safras anuais de soja, embora sejam exigidas práticas agrícolas específicas pois o solo facilita o fenômeno da compactação. Como a área agricultável da região é muito grande, podendo portanto produzir grandes quantidades de grãos, é lícito supor que se justifiquem os investimentos adequados, que a transforme num grande celeiro de alimentos. 154 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo Em se tornando uma região fortemente produtora de grãos, Humaitá, às margens do rio Madeira, poderá tornar-se uma excelente opção de investimento e progresso, e potencial competidor da economia rondoniense . O município está incluído na Superintendência do Madeira, para efeito das ações do programa do 3o. Ciclo. Pelo quadro anteriormente mostrado, observa-se que é pretensão desse programa implementar a produção de bens primários que são a base da produção rondoniense: arroz, feijão, café, madeira, bovinos de corte. Os produtores locais vivem um momento de otimismo, face as possibilidades do programa. Dentre outras vantagens do mesmo para o município, o governo estadual vem subsidiando o calcário, insumo indispensável à agricultura regional, e que é vendido a R$75,00 a tonelada. O calcário usado é todo importado de Pimenta Bueno (RO). Os fertilizantes, também necessários, tem a perspectiva de redução de preço à medida que a hidrovia Madeira-Amazonas comprove sua viabilidade como fator de exportação de grandes massas de produtos agrícolas produzidos desde a região centro-oeste do país. Nestas condições, o otimismo demonstrado é compreensível. Entretanto, a atual produção agrícola de Humaitá é basicamente de subsistência, sendo os produtos mais importantes o arroz, o milho e o cupuaçu. A soja tem presentemente apenas um produtor, em 120 ha, previstos ampliar para 500 ha em 1997. Para orientar o desenvolvimento da agropecuária regional, o Grupo Maggi contratou e já estão em curso os serviços de uma instituição mato-grossense para fazer pesquisas com as culturas da soja, milho, arroz e feijão no cerrado de Humaitá. Além das ações do 3o. Ciclo, estão disponíveis três tipos de financiamentos para o produtor rural: do Banco do Estado (BEA), através do FINED, do Banco da Amazônia (BASA), através do FNO normal, e do BASA, através do FNO especial, feito por meio da Cooperativa, para o pequeno produtor. 155 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo Sucintamente, o quadro presente da produção agrícola do município é o seguinte: Arroz - é o mais importante produto agrícola da região, com área plantada da ordem de 5.000 ha. Os produtores estão organizados na Cooperativa Agropecuária Mista Rio Madeira de Humaitá - COOPERIO -, com um corpo social de quatrocentos (400) pequenos produtores, dos quais apenas vinte e quatro (24) produzem arroz, em propriedades com áreas cultivadas de 200 ha em média, com produtividade de 30 a 40 sacas/ha. A produção é vendida principalmente para Manaus, onde é beneficiada. Encontra-se em fase de instalação pela Cooperativa, uma pequena beneficiadora de arroz. Milho - está apenas no início a cultura do milho em maior escala. Foi plantado recentemente no cerrado, onde vem apresentando bom aspecto vegetativo. Mas o plantio existente ainda é considerado muito pequeno para uma avaliação sobre a produção. Cupuaçu - a partir de 1992 foi financiado o cultivo de cerca de 146 ha de cupuaçu, que se encontram atualmente em fase de produção comercial, significando aproximadamente quarenta mil pés plantados e estimando-se a produção em no mínimo duzentas toneladas de frutos. O viveiro da prefeitura, junto com o IDAM, distribuiu 52.000 mudas, e o Colégio Agrícola produziu cerca de quatro mil, suficiente para um novo plantio de 186 ha. Outros 490 hectares já plantados, ou em fase de implantação, somar-se-ão brevemente aos existentes. Entretanto, no momento, há insegurança quanto à comercialização do produto in natura ou despolpado, especialmente quando as novas áreas entrarem em produção. A indústria extrativa é explorada no município, destacando-se a madeira, a borracha, a castanha, a sorva, a balata, a copaíba e o pau-rosa. A indústria madeireira é de maior expressão que as demais, empregando o maior quantitativo de mão-de-obra local. Apenas uma das madeireiras locais, a maior delas, ocupa duzentos e vinte empregados. Pode-se concluir dizendo que o conjunto de medidas de fomento, e os investimentos particulares atualmente em curso poderão, em futuro próximo, tornar Humaitá e o vale do Madeira, na porção encravada no estado do Amazonas, grandes produtores de cereais competidores dos produtos de Rondônia. * * * * * 156 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo PARTE 4: FATORES DE INFLUÊNCIA Capítulo 5º A MEDIDA PROVISÓRIA 1.511 Aspectos negativos A Medida Provisória nº 1.511, ou MP 1.511, é um instituto legal baixado recentemente pela Presidência da República que trata da redução da permissão para o desmatamento em áreas florestais na região norte de 50% para 20%. Vale dizer: numa dada propriedade rural nesta região, só se permite ao proprietário o desmatamento ou corte raso de no máximo 20% de sua propriedade. A medida tem como objetivo reduzir o interesse pela exploração das áreas de florestas na Amazônia, com práticas que impliquem em desmatamento, visando a proteção florestal. Ora, em Rondônia, um vasto programa federal que vem sendo implantado há vários anos, o PLANAFLORO (Plano Agropecuário e florestal de Rondônia), com suas áreas de reservas respaldadas por Leis estaduais e federais próprias, já impõe - através de uma Lei de Zoneamento - uma área de preservação (que não admite corte raso) que cobre algo próximo a 60% de toda a área territorial do Estado. Este valor foi atingido numa primeira aproximação. Na execução da segunda aproximação, já em andamento, é provável que esse percentual fique próximo dos 50%, o que vem a significar que, considerando este valor como final, dos 50% liberados só poderão ser desmatados apenas 20% de acordo com a MP 1.511. É de se concluir que, em se mantendo tanto a Lei do Zoneamento estadual quanto o prescrito pela MP, da área total do Estado, apenas 10% estarão livres para o corte raso. Caso haja a manutenção da MP 1.511 e caso a Lei do Zoneamento seja revogada, ainda assim, da área total do Estado poderiam ser desmatados apenas 20%, índice que atualmente já foi 157 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo atingido, o que significa, em tese, que Rondônia não pode mais ocupar área alguma. Em verdade o estado já teria ultrapassado em 100% a área de corte permitida pela MP! Mas, independentemente do aspecto esdrúxulo quanto à situação de ilegalidade que gera, a MP 1.511 tem tantos outros aspectos negativos que é assombroso não terem sido aparentemente analisados. Em primeiro lugar, a medida estimula o latifúndio, com seus problemas, exatamente numa região sub-povoada, já que um produtor que pretenda ocupar com lavouras ou pastagens uma área de 2.000ha vai necessitar agora de uma área total de 10.000ha. Em segundo lugar, a MP 1.511 aniquila o minifúndio, ou a pequena propriedade tal como ela foi proposta na região norte através dos projetos de ocupação agrícola em Rondônia. Isto porque a média do tamanho das áreas de assentamento, colonização e regularização, efetuados pelo INCRA para pequenos produtores no estado é de 30ha. A manter-se a MP esses pequenos proprietários só poderão ocupar produtivamente 6ha, o que inviabiliza sua sobrevivência através de culturas alimentares e os expulsa da terra para ampliar os bolsões de pobreza nos centros urbanos. Esses lotes ou imóveis rural tenderão a ser agregados em áreas maiores rumo ao latifúndio. Ainda um outro aspecto negativo é que a MP cria problemas exatamente para a apregoada reforma agrária do governo federal porque, obviamente, ao impor a redução dos desmatamentos de 50 para 20% da área total das propriedades, está limitando muito mais ainda as possíveis áreas plausíveis para projetos de reforma agrária. Não bastasse isto tudo, a Medida Provisória 1.511 ainda conflita com a nova legislação do Imposto Territorial Rural - ITR, porque esta legislação, embora necessária, amplia gigantescamente o imposto para as áreas não agricultadas, mantendo os mesmos valores para as áreas trabalhadas. Ou seja, o ITR cresce proporcionalmente à área não trabalhada e mantida como reserva de valor e inversamente à área trabalhada. Se se amplia o percentual de reserva florestal de 50% para 80%, em tese a carga desse imposto irá aumentar. 158 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo A MP prevê excetuar aquelas com áreas com manejo florestal já estabelecido e ainda aquelas cedidas para preservação. Isto significa quase que uma cessão compulsória dessas áreas. E, no caso de Rondônia, tem-se muito menos de uma centena de projetos de manejo florestal aprovados pelo IBAMA, donde se conclui que haverá um generalizado e vultuoso aumento do tributo em nosso estado. Não bastasse tudo até aqui examinado, a MP, com as restrições que impõe, desestimula totalmente novos investimentos, e certamente colaborará para acentuadas desvalorizações no preço da terra. Outro aspecto ainda a considerar é que a manutenção desta medida poderá induzir a desobediência civil na região, sendo bem provável que a sociedade civil se recuse a cumprila, pois se trata aqui de uma desapropriação branca, sem indenização. Há ainda a considerar que, no momento do recrudescimento desta medida certamente haverá pressão de empresários, trabalhadores, e dos sem-terra, junto à Assembléia Legislativa do Estado, para a revogação da Lei de Zoneamento do Estado. Se isto vier a ocorrer, jogará por terra o principal condicionante para a continuidade do PLANAFLORO, cujo tomador do empréstimo junto ao Banco Mundial é o próprio governo federal. Portanto há necessidade de uma posição enérgica contra esta medida no que diz respeito ao estado de Rondônia, que já dispõe de sua Lei de Zoneamento, a nível de criar um entendimento público de que seus efeitos não atingem só os produtores rurais e madeireiros, mas sim toda a economia do estado. Há de se desenvolver ações no sentido de sensibilizar o ministro do Meio Ambiente e o senhor presidente da República quanto ao equívoco da medida para os estados que já disponham de suas leis de zoneamento (Rondônia e Mato Grosso) Trabalhar também via política através do Congresso Nacional, e via judiciária, através do Supremo Tribunal. A liderança dessa ações deve partir do governo do estado, o que lamentavelmente não vem ocorrendo. Os estados de Rondônia e Mato Grosso, além de obrigatoriamente terem de ser excluídos da MP, podem e devem servir de exemplo e induzir ou obrigar a que todos os estados da região 159 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo norte venham a ter a sua própria Lei de Zoneamento. Basta que a MP 1511 seja reeditada apenas acrescentando-se: “Excluem-se os estados que já disponham de sua Lei de Zoneamento, devidamente acatada ou aceita pelo Ministério do Meio Ambiente e Secretaria de Assuntos Estratégicos”. Há que se fazer justiça aqui que, na luta pela alteração da MP 1.511, alguns parlamentares de Rondônia, da bancada federal e da Assembléia Legislativa do Estado, foram sensíveis e vêm agindo na direção da solução deste impasse. A Assembléia Estadual impetrou, junto ao Supremo Tribunal, uma Ação Direta de Insconstitucionalidade (ADIN), e a bancada federal também mantém permanente acompanhamento da questão. De outro lado, a classe empresarial também está fazendo a sua parte, tendo chegado até a atos extremos como a interdição da BR-364. Falta somente alguém que lidere estas ações. Alguém que tenha legitimidade e o dever constitucional de defender seu estado: o próprio governador. O que é uma MP e como saná-la no Congresso Nacional? Vive-se, com o presidente Collor e Fernando Henrique Cardoso um presidencialismo imperial, promovido pela Constituição de 1988, que - acreditando na criação do parlamentarismo, onde os poderes presidenciais ou do primeiro ministro são fortemente inibidos pelo parlamento - enfeixou talvez sem querer, nas mãos dos atuais presidente, um poder que jamais tiveram em dias da República. Exemplo do presidencialismo imperial são as Medidas Provisórias, que dão ao Presidente poder total. De uma penada, altera a vida de toda a população brasileira ou de toda a região norte do país, a exemplo da MP 1.511. Outra comprovação dessa assertiva é que todos os projetos que criam despesa só podem ser gerados e encaminhados pelo Executivo (Presidente da República). Aprofundando-se a análise é fácil perceber que praticamente todos, ou a maioria absoluta dos Projetos de Lei, geram despesas, o que fortalece muito o executivo, criando para ele uma gigantesca reserva de domínio, 160 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo totalmente acima dos poderes Legislativo e Judiciário. Além disto, o Executivo tem o direito de veto, o que amplia essa reserva de domínio. Quanto ao disposto na Constituição de 1988 quanto aos poderes Legislativo e Judiciário não poderem propor Projetos de Lei que gerem despesas, tem ainda de ser observado que se este preceito for levado à risca, levará a que a maioria absoluta das propostas daqueles poderes sejam declaradas inconstitucionais, o que vem acentuar ainda mais a posição privilegiada da Presidência da República. Quanto à população, ela praticamente está impedida de formular diretamente propostas ao Congresso Nacional. De modo que nenhum poder pode mesmo, ao final, ser equiparado ao do Presidente, e daí a afirmação inicial que vivemos, desde que entrou em vigor a Constituição de 1988, um presidencialismo imperial. A figura da MP na Constituição brasileira foi copiada da constituição italiana, e assim o foi para ser usada em casos extremos e especiais, regidos pelo artigo 167, parágrafo 3º, que particulariza créditos extraordinários. A medida provisória passa a ter peso de Lei a partir do momento de sua publicação. Encaminhada ao Congresso Nacional, forma-se aí uma Comissão Mista para sua validação ou não. Essa Comissão dispõe de cinco dias para avaliar a admissibilidade e mais quinze para a avaliação do mérito. Só que isto, infelizmente e via de regra, não ocorre no Congresso. Essa Comissão instituída não consegue se mobilizar e se reunir para a obediência dos prazos, além, evidentemente, de haver a interveniência do Executivo junto aos parlamentares aliados para que realmente isto não ocorra. Vencidos esses prazos, o presidente da Comissão pode, ou deve, colocar a matéria em votação, o que também na prática quase nunca ocorre por falta de quorum, porque não consegue reunir a maioria dos parlamentares que fazem parte da Comissão. Daí, a cada mês a Presidência da República reedita a MP, que continua às vezes por muitos anos, como Lei. Isto posto, torna-se claro o caminho a ser encetado para a solução da MP 1.511: há que se trabalhar (sensibilizar) todos os membros da Comissão Mista para a obediência dos prazos e/ou 161 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo para que, vencidos os prazos, o presidente da Comissão coloque a matéria em votação, com quorum suficiente e favorável aos estados que disponham de legislação ambiental. A via judiciária se dá através da ADIN, cujos principais impetrantes são, obrigatoriamente, a ALE, o governo do Estado, Direção Nacional de Partidos políticos com representação no Congresso brasileiro e a sociedade organizada através de confederações. Os empresários, através da FIERO, e a ALE, já fizeram a sua parte. Novamente o governo do Estado foi omisso. Novamente, repete-se aqui, o terceiro caminho é sensibilizar os senhores presidente da República e ministro do Meio Ambiente. Cabe ao governo do estado liderar uma comissão representativa dos diversos segmentos patronais, de trabalhadores e políticos, para um trabalho de sensibilização junto a essas autoridades, como forma de excluir da MP 1.511 os estados da região norte que dispõem de Leis de Zoneamento. ***** 162 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo PARTE V CONCLUSÕES 163 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo PARTE V CONCLUSÕES Nesta parte do trabalho são apresentadas as conclusões finais que podem ser inferidas do conteúdo do estudo. Deve ser ressaltado que, no decorrer das várias análises encetadas, houve necessidade de acrescentar conclusões no próprio texto, quando deveriam, por questão metodológica, aparecerem somente aqui. Por outro lado, muitas das análises feitas tiveram necessidade de se tornar mais abrangentes do que o escopo inicial, em razão do que se extrapolaram os mercados de Rondônia e Manaus. 1 - A região amazônica abriga quatro pólos de desenvolvimento, sendo dois deles de perfil industrial e dois de perfil tradicional. Rondônia e Manaus compõem dois destes pólos. As diferenças entre o pólo agrícola de Rondônia e o pólo industrial de Manaus tendem a se acentuar com o passar do tempo, em benefício deste último. A evolução da economia de Manaus se deu pela implantação de um parque industrial produtor de bens de elevado conteúdo tecnológico. Em Rondônia o modelo de desenvolvimento foi o tradicional, de ocupação de terras e geração de riquezas a partir delas. Daí concluir-se que, aquilo que Rondônia é capaz de produzir, tem mercado em Manaus, que consome segundo padrões urbanos elevados para as condições brasileiras. 2 - As economias de Rondônia e Manaus estão voltadas prioritariamente para o mercado do sul-sudeste, sendo fortemente dependentes de decisões exógenas, e as relações comerciais entre os quatro pólos de desenvolvimento existentes na Região Norte ainda são pequenas ou quase inexistentes. As economias de Rondônia e Manaus podem ser analisadas pelos seus aspectos bilaterais, entretanto, não é mais possível esquecer a integração de todas as economias amazônicas, sejam em território brasileiro ou nas nações vizinhas. Para Rondônia o fator primordial de desenvolvimento reside nos meios físicos de integração regional, assim como as saídas para as nações vizinhas e o corredor de transporte constituído pela hidrovia Madeira-Amazonas e a BR-364. 3 - Manaus é um centro importador por excelência, principalmente de produtos do sulsudeste do Brasil. Os alimentos, praticamente todos importados, têm como maiores fornecedores os estados daquela região e Mato Grosso. Rondônia desponta apenas como grande fornecedor de carne bovina. A possibilidade de participação dos produtos de Rondônia no mercado de Manaus, e em outros, é hoje limitada quer pelos volumes produzidos, quer pela qualidade, quer pelos preços. 4 - O estado de Rondônia tem uma população cerca de 20% superior à de Manaus, a qual no entanto, aufere rendas cerca de cinco vezes maior. É, portanto, um mercado com capacidade de compra muito superior a de todo o estado. 5 - Rondônia tem uma oferta agrícola razoável, especialmente no tocante a carnes e laticínios. Pode passar a ser um significativo fornecedor de hortigrangeiros e de concentrados de frutas. 164 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo 6 - O corredor intermodal de transporte BR-364/Rio Madeira/Rio Amazonas é fundamental para o futuro da economia rondoniense e da região. A execução das obras previstas que garantirão navegação rápida e segura durante todo o ano no Madeira, é condição “sinequa-non” ao desenvolvimento das relações comerciais entre Rondônia e Manaus, pela segurança e redução no preço dos fretes, estes, suficientemente altos para fazer com que produtos iguais vendidos em Manaus tenham preços muito maiores que os praticados em Rondônia, apesar das isenções de IPI e ICMS vigentes nas compras para aquela cidade. As manutenções da hidrovia e da rodovia, de modo a manter as boas condições de tráfego são, portanto, capitais. 7 - A melhoria das condições de navegação do Madeira e o incremento no volume de cargas transportadas pelo rio demandarão diversos tipos de embarcações adequadas às condições da região. Pode-se, portanto, prever que, se corretamente impulsionada, poderá ser implantada e se desenvolver uma indústria de construção naval em Rondônia. Por outro lado, o aumento no tráfego fluvial demandará também maior quantidade de mão-de-obra qualificada. 8 - As ações em curso por força do Projeto Hermasa provocarão impacto imediato na economia de Rondônia, seja na agricultura, seja em serviços relacionados a transportes, comercialização de produtos agrícolas, etc. A partir daí Rondônia poderá produzir soja em quantidades significativas, e esta atividade influenciará positivamente o plantio e comercialização de outros produtos agrícolas, e ainda estruturar em moldes empresariais modernos o cultivo, o transporte e a comercialização dos mesmos. 9 - O PRODECER é um projeto que também implicará em profundas mudanças no perfil produtivo do estado, particularmente pela possibilidade de aproveitamento das facilidades de transporte criadas pelo projeto Hermasa, além de resultar na implantação de uma indústria de esmagamento de soja em Vilhena. 10 - A ausência de efetivos incentivos fiscais para a produção industrial no estado é um fator altamente limitante dos esforços no sentido de ampliar seu comércio. 11 - A MP 1.511 é altamente prejudicial e injusta para com o estado de Rondônia, que já dispõe de legislação própria de zoneamento ambiental. 12 - As indústrias que utilizam madeira poderão se beneficiar da demanda pelos chamados pequenos objetos de madeira, considerável em Manaus, e nem sempre com produção local. Quanto à indústria moveleira, enquanto estiver baseada numa produção semi-artesanal não terá competitividade com similares produzidos pelas indústrias do sul do país. As razões para isto vão desde o padrão de qualidade até os preços, embora móveis de madeira maciça disponham de nichos próprios no mercado. 13 - O setor madeireiro de Rondônia é voltado para o mercado do sul-sudeste e para a exportação. 14 - A produção industrial e a instalação de novas indústrias em Rondônia ainda se ressente do insuficiente suprimento de energia elétrica em várias regiões, assim como das incertezas 165 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo em relação ao futuro. A estrutura tarifária vigente, por outro lado, não estimula a industrialização. A Usina Térmica Caiari, a ser construída usando o gás natural da região de Urucu, no Amazonas, por certo trará a solução definitiva à questão, embora as pequenas centrais hidrelétricas previstas e as em implantação, assim como a possível construção de uma usina térmica em Cacoal, pela iniciativa privada, possam representar alívio a prazo menor. 15 - O potencial produtivo de Rondônia é basicamente agrícola e extrativo madeireiro e mineral (particularmente a cassiterita). Entretanto, para cada um desses setores, uma série de fatores concorre para inibir seu desenvolvimento. 16 - Dentre as novas e promissoras atividades produtivas, com reais possibilidades de expansão em Rondônia, podemos citar a piscicultura, a fruticultura, a olericultura, a agroindústria em geral e a exploração de granito. Promissora também, ainda que praticamente inexistente, a indústria do turismo. 17 - A atividade pecuária gera consideráveis excedentes de carnes e derivados, com qualidade e preços competitivos em todo o mercado regional. Esta atividade poderá, em futuro próximo, sofrer forte concorrência de produtos amazonenses, se as ações do “3º Ciclo”, associadas à produção de ração animal derivada da soja, em Itacoatiara-AM, desenvolver significativo rebanho bovino criado em regime de confinamento. Embora não descritos no diagnóstico, uma série de outros fatos também podem colaborar para trazer prejuízos ao setor, apontados a seguir: O grande indutor da ocupação das terras de Rondônia na atualidade é a pastagem, ocupando uma área superior a 3 milhões de hectares. Pelo menos dois terços deste total é ocupado pela pecuária de corte, e o restante pela pecuária de dupla aptidão ou especializada na produção de leite. O maior mercado para o excedente de carne e derivados de Rondônia é a cidade de Manaus ou, mais propriamente, o estado do Amazonas. Caso este mercado venha a ser saturado com a produção, se vitoriosa, do 3º Ciclo, o setor primário de Rondônia entrará em colapso. De outro lado, os países do Mercosul, em particular a Argentina e o Uruguai, já estão colocando, no mercado brasileiro, carne, leite e derivados a preços menores que os nacionais, traduzidos ainda por carnes de animais precoces e queijos de igual ou superior qualidade que os nacionais. Ainda no que diz respeito à carne importada, está alterando o hábito do consumidor - o animal precoce oferece carne de melhor qualidade (mais tenra e com menor teor de gordura), além do que oferece um maior rendimento de carcaça e redução em até um ano o tempo de abate, em regime de campo. Desta forma, a produção de carne bovina em Rondônia sofre diferentes ameaças: a do 3º Ciclo, das carnes importadas, da adequação dos estados mais desenvolvidos a esta nova realidade e a da mudança de hábitos do consumidor brasileiro, cada vez mais exigente quanto à qualidade. Um outro aspecto a somar-se aos anteriores é que os frigoríficos, mesmo os de Rondônia, estabeleceram preços para os bois abatidos tendo como referencial o peso de 15 arrobas (225kg de carcaça). A preços atuais, os bois acima deste peso são 166 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo pagos a R$ 19,00/arroba, enquanto os abaixo, a R$ 16,00, equivalentes ao preço pago por vacas abatidas. O diferencial de preço de bois abatidos destas duas categorias tem se mantido na ordem de 20%. Todos estes fatores são indicativos de que deve se alterar drasticamente a produtividade tanto da carne como do leite no estado de Rondônia. É importante lembrar que a capacidade ociosa das indústrias de laticínios é de 50%. ***** 167 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo PARTE VI PROPOSIÇÕES FINAIS 168 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo PARTE VI PROPOSIÇÕES FINAIS 1 - A Reforma do Estado de Rondônia É urgente a necessidade de uma ampla reforma do estado. Acredita-se que recursos de consultoria para consecussão deste programa podem ser obtidos através do PLANAFLORO (BIRD-PNUD). Da mesma forma, parte dos recursos para a solução dos problemas e propostas a serem apontados. Não se viabiliza qualquer programa através do governo do estado caso não se reorganize a máquina pública e não se cumpra um rigoroso plano de ajuste estrutural, em particular o PLANAFLORO, que para ser operacionalizado exige elevados recursos de contrapartida e uma estrutura de execução absolutamente bem organizada. A FIERO já publicou documento pertinente, denominado Proposta da FIERO para Mudanças Estruturais do Estado, onde sinaliza em grandes linhas os fundamentos do que seria esta reforma. Agregar-se-ia àquelas proposições mais uma, de grande importância: a de que os governos de ambos os estados, tanto de Rondônia quanto do Amazonas, devem urgentemente providenciar meios para a montagem de um grande banco de dados sobre produção e consumo internos, que sirva às pesquisas que interessem tanto à integração regional quanto ao desenvolvimento mesmo individual de cada estado. 2 - O Custo da Preservação Um estado que, por opção própria, cria uma Lei de Zoneamento Ambiental que preserva mais de 50% do seu território e, em seguida, é penalizado por decisão de nível federal que o impede de utilizar 80% da área “liberada”, tem de criar e incentivar projetos como contrapartida a essas limitações, como estímulo a seu desenvolvimento econômico e social e para reduzir as crescentes pressões sobre as áreas preservadas. A comunidade internacional e a sociedade brasileira, que têm obtido vantagens no contexto mundial com as medidas adotadas na Amazônia, devem participar dos custos desta preservação, em especial quando estas medidas paralisam a economia local, impedindo que estas populações possam produzir as riquezas que lhes proporcionariam melhores condições de vida, já disponíveis para populações de regiões mais desenvolvidas. Portanto, ao lado da reforma do Estado, deve-se contar com bons projetos para negociação e obtenção de recursos a serem investidos nas áreas liberadas. 169 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo 3 - A Medida Provisória 1.511 A MP 1.511 tem que subtrair do seu conteúdo o estado de Rondônia, por ele ter sua própria Lei de Zoneamento Ambiental. As formas de se trabalhar para que isto ocorra estão descritas no Capítulo 5º da Parte IV, e podem ser aqui resumidas: Sensibilizar o Presidente da República e o Ministro do Meio Ambiente para subtrair Rondônia já na nova reedição da Medida Provisõria; Via judicial, através de ADIN (Ação Direta de Insconstitucionalidade); Ação no Congresso Nacional conforme descrito anteriormente. 4 - O Setor Primário de Rondônia Necessidade de um programa para este setor que leve em conta alguns pontos fundamentais, tais como: o auto-abastecimento de Rondônia; o mercado de Manaus, em particular através de produtos hortifrutícolas, de carne e derivados, de derivados de leite (queijo, manteiga, iogurte) e de móveis; a agregação de renda através da agroindústria; outros mercados, em particular Bolívia e Peru; diversificação da produção voltada para os diferentes mercados.; a questão Hermasa e o PRODECER, que definem ou sinalizam um processo de industrialização da soja em Vilhena e em Itacoatiara, e consolidam o corredor de escoamento rodo-fluvial (BR-364-Rio Madeira) em direção a Manaus, Belém e Atlântico Norte. Estes fatores exigem a reorganização da produção do estado com vistas a estes diferentes mercados; estar necessariamente à frente do Programa Terceiro Ciclo, proposto pelo estado do Amazonas; incentivar a produção para diminuir ou eliminar a capacidade ociosa da agro-indústria hoje instalada, em particular quanto ao leite e ao algodão. 4.1 - Pecuária bovina de corte e de leite Propõe-se que as medidas a serem tomadas no setor enfoquem: 170 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo A - Quanto à questão leiteira: Hoje, a maioria dos animais de leite são de qualidade média e respondem satisfatoriamente a uma suplementação alimentar, desde que somada a um tratamento sanitário efetivo. Deve-se estudar formulações de ração através de subprodutos disponíveis e a serem disponibilizados, produção na propriedade (capins de corte, cana de açúcar, milho, sorgo) e também a produção de leguminosas não consorciadas, mas em cultivo solteiro para corte e/ou pisoteio. Não se descarta a possibilidade de silagem. Uso do soro do leite na alimentação complementar de bezerros. Somar animais nas áreas de abrangência de cada usina de leite com capacidade ociosa, visando atingir a plena capacidade das mesmas. Deverá haver um sub-projeto específico de melhoria do rebanho, inicialmente através de reprodutores de boa linhagem ou inseminação artificial. B - Quanto à pecuária de corte: Confinamento com a utilização de subprodutos da soja e do algodão, produção de milho ou sorgo e da cana-de-açúcar na propriedade ou aquisição do milho excedente no estado. Cruzamentos industriais através de raças já comprovadas nos trópicos, a exemplo de reprodutores das raças Red Angus (linhagem do Aberdeen) e Semental. Este cruzamento com vacas de cria (as já existentes) resultará em animais de maior precocidade, de maior peso e rendimento de carcaça, além de permitir o abate de fêmeas com peso superior a 15 arrobas. Para acabamento de bois de corte em pastagens, estudar complementação alimentar de baixo custo para uso no período mais crítico do ano - julho, agosto e setembro - através de subprodutos da agro-indústria ou produção na propriedade. Criar estímulos para produtores especializados na geração de matrizes e reprodutores da raça Nelore - inseminação artificial. Para ambos os casos, pecuária de corte e leite, é necessário dar início a atividade de transferência de embriões com o objetivo inicial de obtenção de reprodutores de menor custo, já aclimatados e de qualidade comprovadamente superior. Este componente pode ser executado a baixos custos, desde que o estado - incluem-se aqui EMBRAPA e EMATER disponham de profissionais devidamente habilitados. Em parceria com produtores de leite ou com os de animais de dupla aptidão, este componente dispensaria a aquisição de matrizes, tornando-se de baixo custo. Caberia aos produtores que participassem deste projeto um percentual dos animais produzidos. Pode-se, a partir daí, desenvolver ações de troca, peso a peso, para pequenos produtores, e comercialização para produtores de médio e grande portes. Trocar-se-ia um reprodutor oriundo da transferência de embrião pelo do pequeno produtor, na base da equivalência-peso, e este irá para o abate. Este mecanismo pode ser utilizado com vistas ao cruzamento industrial, para a obenção de reprodutores Nelore puros e para a obtenção de reprodutores leiteiros. Outros aspectos que dizem respeito a ambos os casos é o do tratamento da madeira para a construção de cercas, e o estímulo ao uso de cercas-vivas, que também geram sombreamento, ou o plantio de essências que gerem sombra e renda adicional. 171 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo Vale ainda acrescer neste tópico a necessidade de ampliar e diversificar a indústria do boi, quanto à produção de: sabão, visando os mercados da região norte; farinha de carne e osso, para os mercados de Rondônia e Manaus; charque, com destino aos mercados de Rondônia e Amazonas; embutidos, para os mercados de Rondônia e Amazonas; curtume, visando os mercados do sul e sudeste; aproveitamento do sangue, após estudos de viabilidade; ração para cães a partir de farinha de carne e osso e outros subprodutos bovinos. Lembrar também que o Peru é grande consumidor potencial de vísceras de boi. Deve-se criar estímulos para a implantação de novos frigoríficos, prioritariamente no sul do estado, e para que os existentes agreguem equipamentos para desossa, o que permitirá de pronto: ampliar a produção de farinha de carne e osso; aumentar o valor final do produto, além de ampliar sua competitividade no mercado nacional e externo. Das citações aqui efetuadas quanto à ampliação e possibilidades de novas indústrias do boi, o Capítulo 2º da Parte III demonstra a disponibilidade total de matérias primas. Quanto ao curtume há que se recordar que o SENAI, a nível nacional, dispõe de um centro específico e poderá subsidiar os investidores com toda a tecnologia necessária para qualquer porte industrial. 4.2 - Produção de peixe em cativeiro (piscicultura) A piscicultura hoje exige um projeto específico que leve em conta: as particularidades de cada sub-região do estado; organização do sistema produtivo, fomento, assistência técnica e pesquisa; priorizar as linhas de crédito; desestimular ou proibir (não credenciar) a produção de alevinos de forma empírica, de fundo de quintal, que não leve em conta estudos genéticos, riscos de doença, etc. Este é um dos pontos fundamentais para se começar e continuar corretamente este cultivo; estimular via iniciativa privada a infra-estrutura de beneficiamento de pescado, aliada a uma estratégia de comercialização; não permitir a saída do estado de peixes produzidos em cativeiros com alimentação de baixa qualidade (com excesso de gordura provocada por alimentação errônea). Isto pode destruir os possíveis mercados para nosso pescado; estimular a implantação de fábrica de ração específica para peixes, inclusive com estrusor, a partir de matérias primas produzidas no estado: farinha de carne e osso, milho, farelo e torta de soja, caroço de algodão, entre outros; buscar a regularidade da produção - produção o ano inteiro - e a permanente qualidade do produto, através de orientação técnica, fiscalização do produto final e regularidade de produção de alevinos; 172 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo exercer efetivo controle sanitário principalmente na movimentação de alevinos provenientes de outras regiões. 4.3 - Agricultura (lavoura) A tecnologia hoje existente para produtos hortícolas, comprovada e disponível no município de Vilhena, através da “plasticultura”, deve ser adaptada a outras sub-regiões através da EMBRAPA, EMATER e de técnicos que lá a implantaram. Em seguida, elaborar um projeto de auto-abastecimento do estado e geração de excedentes para Manaus e Rio Branco. Os preços destes produtos inventariados em Manaus e Porto Velho, além da maior dificuldade e/ou limitações técnicas de produção, devem sinalizar aqueles a serem priorizados. O presente trabalho permite informar, em grandes números, os quantitativos consumidos em Manaus, e por extensão, mantendo ou diminuindo os quantitativos “per capita”, os do estado de Rondônia. Da mesma forma, deve-se desenvolver um projeto mais consistente quanto à fruticultura, com busca ao consumo “in natura”, em polpas e concentrados. Nos dois primeiros casos, com prioridade aos mercados de Rondônia, Manaus e Rio Branco, e no terceiro com vistas à exportação. É preciso lembrar que a estrutura de transporte fluvial da Hermasa vai permanecer ociosa durante sete meses ao ano, no período de julho a fevereiro. Portanto o estado deverá se organizar para utilizá-la neste período. Isto implica na alteração da rota de saída da madeira, agora em direção ao Atlântico Norte via Belém, e na produção de produtos de entressafra. Um segundo cultivo de milho, mesmo que com menor produtividade, a ampliação do cultivo das áreas de feijão, um segundo plantio de sorgo, além de produtos irrigados, em particular os hortícolas, visando os mercados de Rondônia, Manaus e Rio Branco, além de algumas espécies frutícolas a serem priorizadas com colheitas coincidentes com aquele período. Deve-se particularizar aqui a cultura do algodão, cuja indústria de beneficiamento trabalha com uma capacidade ociosa superior a 80%. Esforços, portanto, devem ser feitos para ampliar a área cultivada, especialmente reativando os financiamentos, melhorando a assistência técnica e promovendo pesquisas. É também urgente o arrendamento das jazidas de calcário à iniciativa privada, com vistas a dinamizar um programa de correção de solos no estado. Esta operação deve ser realizada através de critérios rígidos que permitam ao governo receber aluguel ou “royalties” em produto a ser repassado a preços subsidiados prioritariamente a micro e pequenos produtores, permitindo estimular projetos específicos. 5 - O Corredor rodo-fluvial A consolidação deste corredor (BR-364-Rio Madeira-Rio Amazonas), que implica já na sua primeira etapa, a partir de 1997, num acréscimo de duzentas carretas/dia durante os meses de março a julho, e na vultuosa ampliação das áreas cultivadas nos estados de Mato Grosso e Rondônia somada à produção do PRODECER (vide Capítulo 3º da Parte 173 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo IV), abre alternativas para uma série de novos negócios que vai desde a comercialização de carretas, veículos, máquinas e equipamentos agrícolas, até oficinas de reparos, vendas de peças, forte aumento no consumo de combustíveis, insumos agrícolas (sementes, corretivos, defensivos, fertilizantes), entre outros. Nasce, portanto, a partir daí, um novo momento para Rondônia: ampliação da área de produção de grãos, em particular a soja; aceleração do processo agro-industrial, geração de sub-produtos para alimentação animal, perspectivas para novos produtos agrícolas, barateamento do frete rodo-fluvial para Manaus e para o exterior. Some-se a isto o barateamento dos insumos agrícolas, em particular os fertilizantes, que se beneficiarão do transporte marítimo, fluvial e rodoviário de retorno. Para os três níveis esse insumo se utilizará do frete de retorno - de navios, balsas e carretas - que transportarão a soja e retornarão com fertilizantes. Pode-se, a partir desta nova realidade, buscar investidores para a implantação de uma indústria misturadora em Porto Velho e, no futuro, havendo disponibilidade do gás e petróleo de Urucu, de uma indústria de fertilizantes nitrogenados. Também se beneficiarão dos fretes de retorno os subprodutos do esmagamento da soja da indústria em fase de instalação em Itacoatiara. Com isto obtém-se um produto de baixo custo para alimentação animal. Reitere-se aqui a estrutura de transporte em questão. O governo e a iniciativa privada devem preparar-se para utilizá-la da melhor maneira possível, necessitando-se para isto, de uma reorganização da produção no estado para que esta venha a se beneficiar de uma redução de custos de transportes que poderá ser superior a 50% no eixo em questão. A agro-indústria, de forma geral, passa a ser a grande meta a ser buscada no estado, como fator de agregação de renda, de criação de empregos e de aumento de arrecadação, utilizando-se, para atingir os mercados, este corredor rodo-fluvial. É necessário lembrar-se aqui, da cada vez mais imperiosa necessidade da manutenção permanente da BR-364 e sua possível duplicação em prazo não superior a cinco anos. Isto sem falar na manutenção da malha viária vicinal do estado, para o estímulo à produção com garantias de escoamento dos produtos. 6 - Indústria 6.1 - Setor Moveleiro Lembra-se aqui que o mercado anual de móveis, somados Manaus e o Estado de Rondônia, é da ordem de US$ 28 milhões, e que se for incluída a cidade de Rio Branco este valor supera US$ 30 milhões, com participação pouco significativa da indústria moveleira do estado. A indústria moveleira, para assegurar seu pleno desenvolvimento deverá caminhar em direção a quatro vertentes básicas: estabelecimento de parcerias com a grande indústria moveleira do sul, para a produção de partes de móveis (componíveis) de madeira maciça; incorporação gradual de tecnologias e novos materiais para compor com insumos regionais, móveis capazes de competir com a indústria do sul, nos mercados de Rondônia, Manaus e Rio Branco; 174 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo produção em escala para o comprador de baixa e média rendas, que exige beleza, bom acabamento, baixo custo, não se preocupando muito com a durabilidade, e que compõe cerca de 90% do total gasto (US$ 30 milhões) em móveis dos mercados acima citados; aproveitamento de sobras de madeira e diversificação da produção. Para seguir em direção a estas vertentes, algumas ações são sugeridas: identificação de empresas estaduais e regionais e do sul do país interessadas e com capacidade de formar parcerias, numa ação conjunta conduzida pelo SEBRAE, SENAI, empresários do setor e governo do estado; um projeto de treinamento amplo, via SEBRAE e SENAI, para a transferência de tecnologia de forma geral e, em particular, quanto à utilização de modernos materiais e processos produtivos hoje em uso; promoção de visitas dos empresários locais a feiras de móveis, de usos alternativos de madeiras, de máquinas e equipamentos especializados, no Brasil e no exterior, através da liderança do SEBRAE; divulgar e facilitar o acesso a créditos de longo prazo, através de ações das entidades de classe e do governo do estado, junto ao sistema bancário e SUDAM; implantar um programa de compras governamentais, para micro e pequenas empresas, em particular quanto ao fornecimento de carteiras escolares e outros móveis de uso na administração pública estadual e municipal, criando mecanismos que possibilitem a participação individual ou coletiva, através de sindicatos, associações ou cooperativas do setor moveleiro; adotar incentivos públicos para o aproveitamento de espécies para fins decorativos e artesanais, em particular quanto a sobras de madeira. Quanto ao aproveitamento de sobras de madeira e diversificação da produção, relaciona-se abaixo uma série de produtos finais, que poderão ser produzidos em Rondônia: bengalas, lã e farinha de madeira, filetes e molduras para móveis, decorações interiores, caixas, caixotes e semelhantes para embalagens, utensílios para serviço de mesa, cabos de ferramentas e quaisquer outros cabos para utensílios (em particular para martelos), formas para calçados, armações e cabos de madeira; caixas, escrínios ou estojos, artigos para escritório; artigos de adorno pessoal; palitos para dentes, unhas e semelhantes; baú, chapeleiras e malas; pranchetas escolares; estrado para empilhamento; brinquedos de madeira; destaque especial se faz aqui para os produtos de madeira estudados o seu consumo em Manaus: tábua de cortar carne, colher de pau, porta-retratos, bandeja, espátula, batedor de carne, garfo, pilão, rolo para massas, estojo escolar; suporte para: chaves, envelopes, condimentos, tesouras, copos, facas, pratos, talheres, guardanapos, panelas; raquetes de “squash” ; amassador, pentes, cabides, jogos americanos e espátula furada. 6.2 - Estanho A solução para o custo da energia, que representa 40% do custo final do produto, é condição “sine qua” para a continuidade e ampliação ou para o fechamento da única indústria em funcionamento e que hoje beneficia 40% do total de cassiterita atualmente produzida no estado. Esforços foram desenvolvidos pela FIERO para a solução do problema, e apesar da aparente aceitação do Executivo para o proposto, na prática nada 175 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo ocorreu até a data. A falta de sensibilidade para esta questão, não leva em consideração que a aparente perda na receita da energia elétrica é largamente compensada pelos ganhos em impostos, na geração de empregos, e na agregação de renda ao produto. É imprescindível, portanto, a solução deste problema. E, em contrapartida, o governo do estado deve exigir que a indústria beneficie toda a produção atual de cassiterita do estado. Outro aspecto importante, após a resolução deste impasse, é a busca de investidores para a verticalização do setor: fabricação de soldas, produtos químicos, ligas metálicas especiais e também artesanato em estanho. Quanto a este último segmento, lembrar que os produtos daí derivados representam parcela significativa de renda e empregos em região de São João Del Rey, no estado de Minas Gerais, cuja matéria prima é adquirida em Rondônia. Recomenda-se, também, criar incentivos específicos e treinamento de mão-de-obra, via SENAI e SEBRAE, para pequenos e médios negócios artesanais com base no estanho. 6.3 - Granito Como descrito anteriormente, está em fase de implantação no município de JiParaná uma indústria de grande porte quando atingir sua plena capacidade de produção. Há, porém, grande espaço para novos investimentos no setor, dada a quantidade, qualidade e diversificação dos tipos de matéria-prima existente no estado. É necessário, entretanto, estudo específico das jazidas para comprovar a assertiva anterior e abrir possibilidades para pequenas e médias indústrias, incluindo-se aqui a produção de paralelepípedos. Devem-se incluir, neste estudo, as alternativas de mercado e o escoamento da produção através do corredor rodo-fluvial do Madeira, além de linhas específicas de crédito para o segmento. O SENAI, a nível nacional, dispõe no estado do Espírito Santo de um centro específico de treinamento e tecnologia sobre granito, e pode repassar toda a tecnologia de última geração necessária, estando disponível a um programa estadual de fomento desta atividade que vier a ser desenvolvido. 6.4 - Turismo O estado deve desenvolver um programa específico para esta indústria, que comporte estudos da potencialidade com vistas principalmente a hotéis ecológicos e hotéisfazenda, bem como buscar linhas de créditos e investidores e inventariar as formas de conexão com o turismo de Manaus. A disponibilidade de recursos naturais atrativos é ampla, a exemplo do vale do Guaporé, do lago do Cuniã, da pesca na cachoeira do Teotônio, no reservatório de Samuel e nos criatórios de peixes já existentes. A possibilidade de adequar estes potenciais não é uma visão ufanística nem de difícil concretização, porém sua viabilização só se dará através de investidores especializados e que disponham da solidez de um estudo de mercado, e, que consigam fazer a integração de Rondônia nos pacotes turísticos do Amazonas, trazendo também para o estado os turistas estrangeiros que para lá se dirigem. Lembra-se aqui, a existência de um programa nacional denominado PRODETUR, com recursos financeiros específicos para este setor. 176 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo 6.5 - Outras alternativas industriais Existem diversas outras alternativas industriais para Rondônia, como a de reciclagem de papel e plástico para fabricação de papel higiênico e sacos plásticos. Além disto é necessário desenvolver estudos de viabilidade para produtos de limpeza que, embora sejam de produção cartelizadas, há espaço para sua fabricação desde que grande parte das matérias primas sejam de aquisição local. Existe um mercado potencial para estes produtos nos estados de Rondônia, Acre, Amazonas e países vizinhos (Bolívia e Peru). Também se faz necessário um estudo de mercado para a produção de café solúvel, assim como a procura de investidores e linhas de crédito (de preferência SUDAM), pois Rondônia hoje comporta até três grandes indústrias deste produto. Outras possibilidades ainda podem ser estudadas: Vidro - há excelente matéria prima na região de Pimenta Bueno; Farinha de Mandioca - com mercado potencial em Rondônia e no Amazonas e pode ser uma excelente opção para Porto Velho; Babaçu - com incidência grande em todo o estado, à exceção dos cerrados; chega a ser considerado uma “praga” nas pastagens pela sua rápida regeneração. Deve-se desenvolver estudos para o aproveitamento do palmito, inicialmente, e do óleo numa fase posterior. Embora seu palmito seja de excelente qualidade, seu tamanho não tem características de consumo convencional ou tradicional, o que exige adequação de tecnologia; Couro vegetal - já em uso. Nas áreas de preservação deverão ser montados programas para exploração do látex e fabricação do couro vegetal, podendo chegar até produtos finais: bolsas, cintos, revestimentos de móveis estofados, etc. Recursos florestais - promoção de pesquisa e implantação de bio-indústrias para produção de fármacos e cosméticos, o que poderia ser viabilizado a partir de convênios com ONGs internacionais reconhecidas e com recursos disponíveis; Com base no estudo desenvolvido pelo SEBRAE/AM e referido neste estudo, selecionaram-se alguns dos produtos ali referidos e que podem ser produzidos por Rondônia através de indústrias caseiras, micro e pequenas empresas e até empresas de porte médio: toucinho seco, defumado; charque; língua salgada, seca ou defumada, qualquer outro miúdo salgado, seco ou defumado; leite tipo Longa Vida, peptomizado, iogurte, creme de leite; manteiga natural fresca ou salgada; queijos: lanche, minas, muzzarela, parmesão, prato, ricota, requeijão; farinha de banana, farinha de mandioca, fécula de mandioca; alecrim, boldo, camomila, hortelã, cravo da índia e outras plantas e frutos para fins farmacêuticos, perfumes e cosméticos; sebo bovino em bruto, refinado e fundido, óleo de sebo não comestível, gordura de ossos em bruto e refinada; presuntos, mortadelas, salsicha, carne bovina cozida (corned beef) congelada, carne ovina cozida (corned mutton) e conservas de carne; 177 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo bom-bons, balas, caramelos, pirulitos; goma e mascar; confeitos, chocolate caseiro e branco; doce de leite e outros produtos de confeitaria (de cupuaçu, de castanha - revestidos de chocolate ou outros); cacau em barra, tablete ou pastas; geleias, pasta de frutas contendo cacau; batatas fritas ou conservadas, laranjas cristalizadas; qualquer outra fruta cristalizada; casca de frutas cristalizadas; compotas, geleias, doces, pures e pasta de abacaxi, goiaba, banana e quaisquer outras frutas; conservas ao natural ou em calda, de abacaxi ou qualquer outra fruta; conservas de frutas misturadas; suco de ananás, abacaxi, côco, caju, goiaba, laranja, limão, maracujá, tangerina e qualquer outra fruta; palmito em conserva, geleia de mocotó; aguardentes, licores e batidas; sabões industriais, sabões e sabonetes perfumados, sabão desinfetante; detergentes; velas perfumadas; velas de cera; cola de origem animal, amidos solúveis, féculas solúveis, cola de amido ou de fécula, cola preparada à base de borracha; artigos de malha: camisolas, combinações, pijamas, calcinhas, e outras roupas íntimas; artigos de tecidos: camisas, pijamas e cuecas para homens e meninos; camisas e pijamas para mulheres e meninas; coeiros e fraldas; lenços de bolso, de renda, de algodão, de linho e outros lenços; artigos de tecido de algodão: cobertores, mantas, lençóis, fronhas, colchas, qualquer outra roupa de cama; toalhas, guardanapos, panos de enxugar louças; qualquer roupa de mesa, copa e cozinha. 178 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo 6.6 - Setor Madeireiro Em relação a este setor, as propostas basearam-se nas recomendações conjuntas da FIERO e da Associação das Indústrias Madeiro-moveleiras do Estado de Rondônia AIMARO, denominada “Propostas de Ação no Setor Florestal de Rondònia”, elaborada em setembro de 1996 na cidade de Ji-Paraná. O contexto atual da setor florestal de Rondônia requer que se persigam os seguintes objetivos: Garantir a sustentabilidade do setor a médio e longo prazos; Definir uma política florestal para o estado; Harmonizar a legislação pertinente ao aproveitamento florestal no estado; Combater a existência de “empresas fantasma” Para que sejam atingidos, arrolaram-se as seguintes proposições: A - Propostas Gerais de Ação A.1 - IBAMA promover discussões para a definição de uma política florestal no estado, de forma participativa em conjunto com FIERO, Estado, AIMARO, Sindicatos do setor, etc; descentralizar o IBAMA, para que os POCOF passem a ter maior autonomia; terceirizar atividades através de credenciamento de técnicos para a realização de vistorias, análise de projetos, etc. fortalecer a SEDAM como órgão de promoção, normatização, coordenação e supervisão da política florestal no estado; promover discussões para a revisão dos instrumentos jurídicos relacionados ao setor florestal. A.2 -Empresários do Setor Florestal Participar na discussão regionalizada, na definição e revisão de medidas jurídicas e políticas do IBAMA para o aproveitamento florestal; propor a extinção do Fundo de Reposição Florestal para as indústrias madeireiras; propor maior rigidez na instalação de novas empresas no setor através da exigência da sustentabilidade no abastecimento de matéria-prima. B - Aspectos Específicos B.1 - Manejo Florestal O manejo florestal deve ser fomentado pelos diversos segmentos da sociedade (pública e privada) como uma unidade alternativa de uso nas propriedades rurais, especialmente nas áreas de reserva legal, adotando-se procedimentos técnicos distintos, conforme a dimensão da área a ser manejada, de acordo com os ítens a seguir: Projetos com área de Manejo Florestal até 250 hectares levantamento de 100% das espécies florestais comercializáveis, porta-sementes e proibidas de corte; 179 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo marcação das árvores porta-sementes e das árvores a serem abatidas; exigência de Plano de Exploração Florestal; exploração florestal aceitável em um ou mais talhões, de acordo com a demanda de matéria-prima do extrator ou da indústria; validade da Autorização para Exploração - APE de acordo com o cronograma de exploração do Plano de Exploração Florestal; vistorias, análises, aprovação e liberação da APE a nível de POCOF. Projetos com área de Manejo Florestal superior a 250 hectares exigência de Projeto de Manejo Florestal; ciclos de corte definido conforme análise de informações contidas no Plano de Manejo e com princípios técnicos; área do talhão a ser explorado definida de acordo com a demanda da indústria e com os princípios técnicos; Autorização para Exploração - APE até 31 de dezembro do ano subsequente ou de acordo com o Cronograma de Exploração do Projeto; vistorias, análise e aprovação a nível de POCOF; homologação e liberação da APE a nível de SUPES; não exigência de EIA/RIMA, para projeto de manejo com área superior a 2.000ha. B.2 - Aproveitamento Florestal em Áreas de Pequenos Produtores Para propriedades rurais com área total máxima de 130ha, o produtor poderá obter autorização de exploração de até dez árvores, para o uso na propriedade ou comercialização, mediante autorização e as devidas vistorias técnicas do IBAMA, durante o período de um ano. A liberação para extração das árvores poderá ser feita em qualquer época do ano. B.3 - Exploração Florestal em Áreas Passíveis de Desmatamento a Corte Raso As atividades de desmatamento a corte raso poderão ser realizadas com a finalidade de implantação de projetos agropecuários, agro-florestais ou de reflorestamento e, necessariamente, deverão ser precedidas pelo aproveitamento do material lenhoso existente nas áreas a serem exploradas, em tempo hábil, de forma a evitar a queima ou a perda parcial ou total de madeiras comerciais. Assim, deverão ser adequados os instrumentos jurídicos para efetivação deste objetivo, conforme a dimensão da área da propriedade passível de desmatamento. Áreas de até 50ha passíveis técnica e juridicamente de desmatamento Os encaminhamentos técnicos e jurídicos para o desenvolvimento de ações de exploração florestal em áreas passíveis de desmatamento, devem envolver duas fases distintas e de forma isolada, a saber: Fase 1 - pré-exploratória para implantação da atividade agrícola, pecuária ou florestal. vistorias técnicas para avaliação qualitativa e quantitativa pelo POCOF ou laudo técnico (levantamento expedito) equivalente por profissionais habilitados, credenciados no IBAMA; Autorização para Exploração pelo POCOF; validade da Autorização para Exploração - APE, até 31 de dezembro do ano subsequente; 180 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo vistorias, análises e aprovação e liberação da APE a nível de POCOF. Fase 2 - Desmatamento comprovação do aproveitamento das espécies florestais comercializáveis existentes na área a ser desmatada; procedimentos Autorização de Desmatamento; vistorias, análise e aprovação a nível de POCOF e/ou SEDAM. Áreas superiores a 50 hectares passíveis técnica e juridicamente de desmatamento Fase 1 - pré-exploratória para implantação da atividade agrícola, pecuária ou florestal Plano de Exploração Florestal; Cronograma de Exploração Florestal adequado para o efetivo aproveitamento das madeiras comerciais, para o preparo da área de implantação do projeto agropecuário ou florestal, envolvendo diferentes períodos do ano; validade da Autorização para Exploração - APE, de acordo com o Cronograma do Projeto de Exploração Florestal; vistorias, análises, aprovação e liberação da APE a nível de POCOF/SUPES. Fase 2 - Desmatamento comprovação de aproveitamento de material lenhoso; apresentação da Autorização para Exploração - APE; projeto de uso alternativo do solo; vistorias, análises e aprovação a nível de SEDAM; Autorização de Desmatamento expedida pela SEDAM; Licença Ambiental (quando necessário). B.4 - Reposição Florestal A reposição florestal deve ser obrigatória, sendo, em conjunto com o manejo florestal, as principais atividades para garantir a sustentabilidade do setor a médio e longo prazos. As principais medidas a serem tomadas deverão ser: extinção do Fundo de Reposição Florestal Obrigatória; formar uma equipe técnica com representantes do IBAMA, SEDAM, FIERO, EMBRAPA e AIMARO que, no prazo de trinta dias, definirá o índice de reposição florestal por metro cúbico de árvore explorada, com base em critério técnico-científico (I.N. nº 001/96, artigo 17, parágrafo 2º); possibilitar o registro de associações de pequenos produtores rurais junto ao IBAMA, como detentoras de projetos de reflorestamento e créditos de reposição florestal; possibilitar a reposição florestal com espécies florestais exóticas, comprovamente viáveis econômica e tecnicamente; considerar como crédito florestal a reposição florestal em áreas de reserva legal exploradas anteriormente, possibilitando a reconstituição e viabilização econômica da mesma; criar fontes de financiamento ou incentivos ao reflorestamento para proprietários rurais, associação de produtores rurais, associação de consumidores de madeira, etc. B.5 - Ações específicas do IBAMA 181 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo Aspectos Institucionais incrementar a descentralização e terceirização das atividades; promover estudos para o fortalecimento de áreas de atuação estratégica do órgão; promover discussões para agilizar e viabilizar seu processo gradativo de descentralização; fortalecer os Postos de Controle Florestal - POCOFs; credenciar técnicos para as atividades de vistorias e análises de projetos ou planos; Aspectos Jurídicos elaborar, revisar e reeditar seus instrumentos jurídicos de forma participativa com os interessados do setor; promover a compilação e publicação de coletânea da legislação florestal brasileira; B.6 - Outros Possibilitar índices de aproveitamento de madeira diferenciados por indústria, a serem definidos de acordo com as especificidades e o grau de aproveitamento da matéria-prima da empresa, mediante apresentação de estudo detalhado, realizado por técnico habilitado. A Autorização de Transporte de Produtos Florestais - ATPF, deverá ser emitida por “grupo” e não por “espécies”. A ATPF deverá ter, em anexo, a Autorização para Exploração Florestal - APE, contendo a origem e a relação das espécies autorizadas por grupo. Formar grupo técnico de estudo, que no prazo de trinta dias, buscará a definição de alternativas para a destinação das espécies proibidas de corte, nas áreas passíveis de desmatamento, bem como uniformização de critérios de cubagem de toras. O grupo deverá ser composto por representantes técnicos da FIERO, AIMARO, IBAMA e SEDAM. Prorrogar para o ano agrícola (97/98) a implantação dos projetos de reflorestamento protocolados no IBAMA, com cronograma de plantio 96/97. O Plano Integrado Florestal - PIF deverá ser exigido apenas para as indústrias cujo consumo anual seja igual ou superior a 12.000m3 de toras por ano. A Declaração de Posse expedida pelo INCRA, deverá ser aceita como documento que caracteriza a justa posse, para fins de implantação de atividades de manejo florestal. Tal procedimento visa solucionar os problemas das ocupações em áreas em que o Zoneamento Econômico-ecológico proíbe a expedição de outras modalidades de documentos para os fins supra-citados. Em casos de madeiras beneficiadas para exportação, viabilizar a nomenclatura dupla do produto ou espécie, definindo para o IBAMA o nome vulgar utilizado no Brasil e, na Nota Fiscal, o nome da espécie conforme identificação aceita pelo importador. 7 - Política de Incentivos Fiscais e Financeiros Como contribuição deste trabalho para a adoção de medidas capazes de atrair novos e maiores investimentos para o Estado, tornando-o competitivo em relação a outras unidades da Federação, apresenta-se um elenco de sugestões para que o Governo do Estado e as lideranças políticas e produtivas possam atuar em forma conjunta para alcançar este objetivo. A FIERO se dispõe a fazer parte da linha de frente desta luta e, naquelas medidas 182 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo que só dependam da vontade política dos governantes, assume o compromisso solidário de elaborar os projetos correspondentes. As sugestões a serem elencadas deverão servir de sinalização dos caminhos para um amplo programa de incentivo fiscal para o estado de Rondônia. São elas: A - Tornar efetiva a aplicação dos benefícios previstos no PRODIC, através das resoluções do CONDER - Conselho de Desenvolvimento do Estado de Rondônia - operacionalizando seus mecanismos, repassando efetivamente as quotas-partes devidas ao Fundo, e agilizando a implementação de suas liberações ao empresariado. B - Diante das dificuldades do governo na operacionalização do FIDER, em relação aos repasses, que, pelo menos a curto prazo, seja implementado o benefício de autofinanciamento até 70% do ICMS devido, e, se possível, estendendo-o até 100%. Lembrar que tal benefício se aplica apenas a novos investimentos ou ampliações, não se constituindo em ônus ou perda de arrecadação para o Estado. C - Estudar a implantação de mecanismos de atração de capitais de origem nacional ou estrangeira, especialmente dos chamados Fundos de Pensão. D - Promulgação de Lei que venha a conceder, em casos especiais, isenção de ICMS para a implantação de novas indústrias, de produtos sem similar no Estado, num prazo pelo menos igual ao adotado pelo Acre. No país, esta medida é adotada igualmente na Bahia e no Piauí. E - Promulgação de Lei que conceda redução do ICMS para as micro e pequenas indústrias, adotada nos estados do Acre, Amapá, Pará e Roraima, só na Região Norte. No país, a medida é igualmente utilizada nos estados do Ceará, Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Piauí e Rio de Janeiro. F - Promover a utilização do mecanismo de “diferimento” do ICMS, ampliando os benefícios a outros setores hoje não atingidos. No país, esta medida é adotada pelos estados do Paraná, Alagoas, Bahia, Paraíba, Pernambuco e Sergipe. G - Implementação do FIDER para a aquisição de ativos fixos. Na região, esta medida já é aplicada em todos os demais estados, à exceção do Acre. Além disto, é medida utilizada em mais dezessete estados de outras regiões. H - Concessão financeira para a formação ou recomposição de Capital de Giro. É medida adotada na região por todos os demais estados, além de ser utilizada em mais quatorze outras unidades da Federação. I - Concessão financeira para pagamento do ICMS, benefício já existente no Acre e na Bahia. J - Concessão financeira para composição acionária e debêntures conversíveis, hoje existente nos estados de Alagoas, Espírito Santo, Santa Catarina e Sergipe. 183 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo L - Reduzir ainda mais, chegando a um intervalo entre 10% e 50%, os preços mínimo e máximo na aquisição de lotes e galpões industriais, em relação aos preços de mercado. Hoje, pela Lei nº 61 e Decreto nº 5.270, os valores estão fixados entre 30% e 80%. M - Promover a locação de lotes e galpões industriais por prazo determinado. Este benefício já é utilizado no Acre e Tocantins, na região Norte, e mais no Distrito Federal, Goiás, Rio Grande do Norte e Sergipe. N - Facilitar a permuta de terrenos para relocalização de empresas. Este benefício não existe na região Norte, mas é adotado em Alagoas e Sergipe. O - Instituir um programa de locação de máquinas e equipamentos. É adotado nos estados de Alagoas e Goiás. P - Promover a efetiva doação de áreas e lotes industriais, dependendo da natureza do empreendimento e capacidade de absorção de mão-de-obra. É prevista na Lei nº 61/92, mas não se verifica na prática. Esta medida é adotada em Pernambuco, São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina. Q - Promover a simplificação do processo de registro de empresas. Benefício adotado em Roraima e Amapá, na região Norte, e mais na Bahia, Pernambuco, Piauí e Rio de Janeiro. R - Adequação do processo de licitação, facilitando o acesso às pequenas empresas. Embora exista em Rondônia, não se aplica na prática. É adotado pelo Acre e Roraima, na região Norte, e pelos estados da Bahia, Maranhão, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro e Sergipe. S - Implementar programa de assistência técnica na elaboração de projetos. É adotado pelo Acre e Amapá, na região Norte, e por Alagoas, Bahia, Mato Grosso e Minas Gerais. T - Implementar programa de formação e capacitação de mão-de-obra. Embora exista sua previsão na Lei nº 61/92, não se tem verificado na prática. Na região, é adotado apenas pelo estado do Amazonas. No restante do país, pelo Rio de Janeiro. U - Implementar um programa de apoio aos pólos industriais do Estado, que contemple incentivos fiscais e financeiros, além de assistência técnica, gerencial e de qualificação de mão-de-obra. Para tais fins, buscar a parceria com instituições bancárias, SENAI, SEBRAE e outras. V - Elaborar estudos de oportunidades de investimentos industriais e agro-industriais, em particular destinados às atividades identificadas como prioritárias no presente documento. W - Apoio governamental na regularização fundiária dos lotes industriais, nas áreas urbanas e rurais do estado, a fim de possibilitar sua utilização como garantia bancária em financiamentos à indústria. 184 FIERO-SEBRAE/RO - 1997 - Análise das Possibilidades Comerciais entre Rondônia e Manaus - Relatório de Estudo BIBLIOGRAFIA AMANHÃ, Economia e Negócios. Brasil: as dez economias mais competitivas do país. Plural Comunicações. Porto Alegre, 1996 AMAZONAS, Empresa Amazonense de Turismo. Oportunidades de Investimentos na Amazônia. Manaus, s.d. - 83 Samuel p. AMAZONAS, Secretaria da Comunicação Social. Amazonas: fronteira para o futuro. Manaus, 1995 - p. AMAZONAS, Secretaria de Estado do Planejamento e Articulação com os municípios. Competitividade Estrutural da Zona Franca de Manaus e outras atividades da Amazônia Ocidental, dentro da Estratégia da Logística Integrada. Manaus, 1993 - 81 p. ---.---, Plano Estratégico do Desenvolvimento do Amazonas, PLANAMAZONAS: versão preliminar. 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