O Patológico: Jornal do CA da Unicamp ( 02/2009)

Transcrição

O Patológico: Jornal do CA da Unicamp ( 02/2009)
leiddd
O patolÓGICO
O PATOLÓGICO
Centro Acadêmico Adolfo Lutz - Medicina Unicamp - ano mmix - fevereiro
A GREVE DOS RESIDENTES NO HC CONHEÇA A
Veja a carta dos residentes das especialidades cirúrgicas e a entrevista
com o Superintendente do HC a respeito da greve publicada nesta edição
O PROJETO
INTEGRA SAÚDE
N
o início de 2009,
houve no Hospital das Clínicas
da
UNICAMP
uma paralisação parcial dentro das especialidades cirúrgicas, iniciada pelos residentes do hospital.
A mídia trouxe à tona a
greve e jornais como o “Correio Popular” de Campinas
noticiaram o ocorrido.
Assim, nesta edição, publicamos na íntegra a carta
escrita pelos residentes a re-
speito da greve. Além disso,
trazemos uma entrevista exclusiva com nosso superintendente do HC, Prof. Dr. Luiz
Carlos Zeferino, realizada no
dia 23/01 por um dos membros de nossa gestão, Diego
Augusto Barbosa.
Nesta entrevista, vários
aspectos do nosso Hospital
Escola foram discutidos e
problemas apontados.
Acreditamos que a função como gestão do Centro
Acadêmico seja participar
O PRÓ-SAÚDE
ativamente da avaliação e
construção de um Hospital
Universitário adequado para
nossa formação médica.
Pretendemos, em nosso
planejamento, fazer discussões a respeito de nosso
Hospital. Acesse o planejamento em nosso site (caalunicamp.com.br) e veja quais
espaços temos a intenção de
promover para discussão durante o ano.
Confira a matéria na página 3!
Veja as 2 entrevistas a respeito do programa federal,
com uma acadêmica da enfermagem do CAE e nossa
coordenadora do Ensino de Graduação.
p. 4 e 5
COBREM2009
Sarah Segalla, da gestão Roda Viva, faz um repasse do espaço promovido pela DENEM em Fortaleza.
» leia mais, p. 8
p. 5
“A CABEÇA PENSA
ONDE OS PÉS PISAM”
Veja a reflexão sobre a Extensão Universitária, feita por
Thais Machado.
» leia mais, p. 7
PATOCULTURAL
Veja o texto de Ricardo Schwingel a respeito do estilo espanhol Flamenco.
» leia mais, p. 6
SAIU NA MÍDIA
Leia “Futuros Médicos Racistas”,
que saiu na Caros Amigos, a respeito do ocorrido na UNIFESP
» leia mais, p. 7
SPASMO!
Marcelo Taricani e Fernando
Bergo trazem o poema publicado no Orkut: “Pra quê?”
» leia mais, p. 8
2 O patolÓGICO
Editorial
O
terceiro “O Patológico” de nossa gestão sai em
fevereiro!Nesta edição, temos o balancete de janeiro,
aqui ao lado. Contamos também com a carta redigida
pelos residentes de especialidades cirúrgioas do HC e
a entrevista com o Superintendente do HC.
A seção Spasmo! continua com 1 poema tirado do orkut, com
co-autoria de 2 já ex-alunos da faculdade. Já a seção Saiu na Mídia
apresenta a reportagem da Caros Amigos a respeito do ocorrido
na UNIFESP, com uma reflexão a respeito escrita por Henrique
Sater.
A seção PATOCULTURAL conta com uma explanação
minunciosa a respeito da arte andaluza do flamenco.
Além destes, temos a matéria a respeito do Pró-Saúde, com
2 entrevistas bem esclarecedoras a respeito do programa que
envolve nossa faculdade. Confira também os textos a respeito de
Extensão e sobre o COBREM, ambos produzidos por integrantes
de nossa gestão, além da explicação a respeito do Integra
Saúde.
E atenção: a próxima edição será em março, portanto, envie
seu texto o quanto antes para [email protected] e tenha
seu texto publicado!
Até o próximo pato!
Tiragem: 600 exemplares
Impressão: Gráfica Central da UNICAMP
Diagramação, editoração e elaboração: Gestão Roda Viva
fevereiro de 2009
A gestão 2009
Alessandra XLIV
Ana Carolina XLV
Antônio Fernando
XLV
Brayner XLVI
Bruna XLVI
Camilla XLVI
Carolina XLVI
Diego Barbosa XLVI
Fernanda XLVI
Gines XLV
Heloisa XLVI
Henrique(Abrealas)
XLV
Italo (Lili) XLVI
Josué XLV
Lucas (Trigo) XLV
Luiza Manhezi XLVI
Karla XLVI
Marcelo XLVI
Mariana Toro XLVI
Miquelline XLV
Natália XLVI
Priscilla XLVI
Rafael (Habib) XLVI
Sarah (XLVI)
Tati XLV
Thais MG XLV
Thaís Tubero XLVI
Vanessa XLVI
Victor(Baiano) XLVI
Balancete
JANEIRO
Dia
Descrição
Dia
Débito
Saldo
Crédito
Saldo Mês Anterior
R$ 30.461,91
02/01
Transporte COBREM
R$ 150,00
R$ 30.611,91
02/01
Transporte COBREM
R$ 150,00
R$ 30.761,91
R$ 150,00
R$ 30.911,91
02/02
Transporte COBREM
05/01
Salário Funcionários
R$ 3.116,44
R$ 27.795,47
05/02
Pagamento Patológico
R$ 292,57
R$ 27.502,90
05/01
Transporte COBREM
R$ 150,00
R$ 27.652,90
05/01
Transporte COBREM
R$ 150,00
R$ 27.802,90
R$ 27.952,90
05/01
Transporte COBREM
R$ 150,00
05/01
Transporte COBREM
R$ 150,00
R$ 28.102,90
05/01
Patrocínio Calourada
R$ 350,00
R$ 28.452,90
05/01
Transporte COBREM
05/01
Gastos Reunião Contador
R$ 150,00
R$ 28.602,90
R$ 31,40
R$ 28.571,50
R$ 28.234,66
06/01
Pagamento de telefone
R$ 336,84
06/01
Pagamento Transporte COBREM
R$ 1.510,00
08/01
Patrocínio Calourada
R$ 26.724,66
R$ 90,00
R$ 60,00
R$ 26.814,66
09/01
Patrocínio Calourada
09/01
Pagamento Contador
R$ 1.350,00
12/01
Pagamento provedor internet
R$ 9,90
12/01
Aluguel Randall
R$ 800,00
R$ 26.314,76
13/01
Patrocínio Calourada
R$ 30,00
R$ 26.344,76
R$ 31.359,32
R$ 26.874,66
R$ 25.524,66
R$ 25.514,76
13/01
Repasse Cantinas
R$ 5.014,56
14/01
Patrocínio Calourada
R$ 155,00
15/01
Mensalidade da conta
R$ 35,00
R$ 31.514,32
R$ 31.479,32
15/01
Patrocínio Calourada
R$ 45,00
R$ 31.524,32
16/01
Patrocínio Calourada
R$ 810,00
R$ 32.334,32
20/01
Pagamento Telefone Embratel
20/01
Patrocínio Calourada
20/01
Transferência para a Poupança
R$ 31,24
R$ 32.303,08
R$ 170,00
R$ 380,00
R$ 32.473,08
R$ 32.093,08
22/01
Patrocínio Calourada
R$ 1.000,00
R$ 33.093,08
22/01
Patrocínio Calourada
R$ 300,00
R$ 33.393,08
R$ 266,67
R$ 33.659,75
22/01
Patrocínio Calourada
22/01
Pagamento Caneca Calourada
R$ 160,00
R$ 33.499,75
22/01
Pagamento Xerox
R$ 142,56
R$ 33.357,19
23/01
Taxa extrato inteligente
R$ 3,90
R$ 33.353,29
23/01
Patrocínio Calourada
R$ 500,00
R$ 32.853,29
27/01
Patrocínio Calourada
R$ 335,00
27/01
Patrocínio Calourada
R$ 90,00
R$ 33.278,29
27/01
Patrocínio Calourada
R$ 100,00
R$ 33.378,29
R$ 33.478,29
R$ 33.188,29
27/01
Reembolso CAAL Noel
R$ 100,00
28/01
Transporte COBREM
R$ 150,00
R$ 33.628,29
28/01
Patrocínio Calourada
R$ 95,25
R$ 33.723,54
MÉDICOS?
29/01
Pagamento Alarme
29/01
Patrocínio Calourada
R$ 450,00
R$ 33.864,46
Foca (XLIII) - OMBUDSMAN
29/01
Reembolso FCM
R$ 1.138,15
R$ 35.002,61
Evolução: s.f. (lat. evolutio, ação de desenrolar). 1. Passagem progressiva de um estado a
outro. 2. Desenvolvimento ou transformação de idéias, sistemas, costumes, hábitos.
D
esde que entramos na faculdade de Medicina nos foi dito que o aprendizado viria com o tempo, com a
experiência prática adquirida por cada um. Com o passar dos anos vamos notando, mais do que o acúmulo
de conteúdo teórico, a aquisição de habilidades que antes não imaginávamos que poderíamos desenvolver.
Isso, graças a uma integração entre o saber e o “saber como fazer”. Saber é fácil: quem estuda, sabe! Saber
fazer também é fácil: basta aprender uma atividade manual qualquer e repeti-la, da mesma maneira, ao longo da
vida. Entretanto, o “saber como fazer”, dinâmico e pensante, não é para qualquer um, é preciso paciência, experiência
e muitas madrugadas em claro. No curso de Medicina, destaca-se o aluno que sabe como fazer.
É claro, contudo, que este equilíbrio não é alcançado somente mediante vontade própria. Também é preciso que
a Escola Médica ofereça recursos que permitam a obtenção do máximo potencial de cada futuro médico. E isso não
é qualquer faculdade (com “F” minúsculo) que proporciona. Quem sabe isso seja algum tipo de preconceito com
os bons alunos de escolas não tão boas assim, ou também seja uma máscara enfeitada para o aluno que se utiliza
do nome de sabidamente boas Universidades mas, até que se prove o contrário, cada médico formado é tão bom
quanto assim o é a Faculdade que cursou. Portanto, nós da UNICAMP temos a obrigação de ser, pelo menos, tão bons
quanto qualquer outro médico formado em nosso país.
Esta certeza baseia-se, principalmente, nos recursos que nos são oferecidos pela FCM e o modo como a prática
está incluída em nosso currículo. Quanto ao implemento de recursos, o PROMED/Pró-Saúde, aparentemente,
mostrou-se uma alternativa interessante para a melhora da infra-estrutura da inserção do graduando na rede básica.
Não posso falar com relação aos outros cursos, mas na Medicina o contato precoce do estudante com o SUS e os
Centros de Saúde proporciona conhecimento aplicado à prática para o aluno e melhor atendimento (pelo menos foi
o que eu ouvi da maioria dos pacientes que eu atendi no CS) para a população. Claro que isso não resolve todos os
problemas, mas é preciso recursos físicos adequados para se formar um bom médico.
De nada vale a oportunidade da atividade prática se esta não puder ser realizada. É com este argumento que
se levantou a greve dos residentes das áreas cirúrgicas, impossibilitados de “praticar” com o reduzido quadro de
anestesistas. Ora, por que então a gigantesca carga horária da residência, se a parte que realmente importa, o “saber
como fazer” está engessado? Esta paralisação tem motivo justo de ter ocorrido e é obrigação da nossa faculdade
proporcionar os recursos para a boa formação do médico residente. Também não posso deixar de elogiar a iniciativa
da entrevista com o Dr. Zeferino. É sempre importante sabermos como tais discussões se dão em níveis diferentes
dentro da FCM/HC/UNICAMP.
Por fim, nada disso terá valido a pena se o foco de todo esse esforço, o aluno de Medicina, não trouxer consigo
algumas qualidades essenciais, e uma delas (quem sabe a principal...) é o respeito ao próximo. A Faculdade busca
preencher o ser humano em formação com conhecimento suficiente para que ele se torne um“curador de problemas”,
mas não pode ensinar respeito, educação, compreensão e outras tantas qualidades para um jovem de 20 e poucos
anos que em breve tornar-se-á Médico (no sentido mais amplo e filosófico da palavra). Uma fatia importante do
“saber como fazer” é constituído pelo caráter do profissional, independentemente da profissão. “Ninguém é melhor
como médico do que é como pessoa” (frase dita por algum professor em algum momento desses mais de 4 anos de
graduação).
É claro que o texto retirado da “Caros Amigos” exagera em alguns pontos: “o leão tomar LSD” não desenha a
minha paisagem mental, não vou pra Intermed porque lá tem putaria e porrada (...) e nem Santa Rita do Passa Quatro
deixou de sediar esta competição após a “primeira invasão bárbara”. Também é colocado o amor e identificação dos
estudantes com sua escola num balaio só, junto com fixação irracional e deterioração de todos os valores possíveis.
Amo minha escola, freqüento a Intermed, grito os hinos da UNICAMP e, nem por isso, sou bárbaro ou racista.
Saber e saber como fazer são pré-requisitos básicos da evolução de qualquer estudante de Medicina. Sem um
equilíbrio entre recursos educacionais e formação humanística há grandes chances de obter-se um profissional não
preparado para as demandas da sociedade e, portanto, médicos exercendo a não-Medicina.
R$ 309,08
R$ 33.414,46
Saldo Final do Mês
R$ 35.002,61
Poupança
R$ 16.301,09
Saldo Total do CAAL
R$ 51.303,70
Intercâmbio
O CAAL participou do processo de recontagem dos estágios internacionais (DENEM SCOPE e SCORE – ciclo 2009-2010), que ocorreu entre os dias
22 e 29 de janeiro no DA Lucas Machado da FCMMG, compondo a Comissão
de Recontagem e Supervisão, eleita na plenária final do XXI COBREM 2009,
em Fortaleza, da qual fizemos parte, junto a outros 2CA’s (CAOC-FMUSP e
DAAB-UFMG). Ficamos com a responsabilidade de refazer todo o processo,
desde a correção dos cadernos até a classificação final dos candidatos.
A recontagem dos pontos de intercâmbio dos estudantes do país inteiro foi requisitada na ROEX Salvador, devido aos diversos erros cometidos no
processo levado pela CEV 2008, que levaram à descrença quanto à fidelidade e à transparência deste órgão restrito na realização da seleção.
Para certificar a legitimidade do processo, nenhum dos participantes da
Comissão estava concorrendo às vagas. Além disso, os avaliadores não julgaram os documentos de estudantes de suas próprias universidades.
O processo foi acompanhado de perto por três dos quatro componentes da CEV 2009, coordenando as atitudes e decisões tomadas pela Comissão, que também foram respaldadas pela gestão DENEM 2009, após recebimento das atas das atividades da Comissão.
Esperamos ter colaborado com uma avaliação justa e transparente para
todos os estudantes de Medicina do Brasil.
Luiza Manhezi (46) e Miquelline (45)
Gestão Roda Viva - CAAL 2009
fevereiro de 2009 3
O patolÓGICO
carta dos residentes a respeito da greve no hc
Nós, Médicos Residentes das Disciplinas Cirúrgicas da Unicamp (Departamentos de Cirurgia,
Ortopedia, Otorrinolaringologia e Disciplina de
Neurocirurgia), vimos por meio desta carta prestar
esclarecimentos quanto ao movimento de Paralisação dos Médicos Residentes em curso.
O presente movimento de Paralisação resulta da
ampla insatisfação de todos os Médicos Residentes
supracitados quanto à suspensão de horários cirúrgicos iniciada regularmente em Janeiro de 2008 devido à depleção não compensada de anestesistas no
Hospital das Clínicas. Esta inadequação vem sendo
observada há pelo menos um ano e vem se agravando, principalmente nos últimos seis meses, apesar
de medidas já tomadas na tentativa de amenizá-la.
Isto resulta num número crescente de cancelamentos de salas (de aproximadamente 10% em Agosto e
Setembro a quase 30% dos períodos em Dezembro),
com prejuízo irreparável da formação dos Médicos
Residentes e da assistência aos pacientes.
A proposta de adequação ao quadro vigente é
de corte formal de horários entre 30% e 50% nos
primeiros três meses do ano de 2009, o que é ina-
Especialidade
Ago Set
Out
Nov
Dez
Média
Cardíaca
0
0
4,7
8,3
17
6
Ortopedia
8,3
6,4
16,2
14,4
20,5 13,1
Plástica
8,8
11,7 19,4
40
46,1 25,2
Urologia
9,7
8,5
15,7
21,6 15,5
Vascular
8,3
11,5 23
18,1
30
Pediátrica
18,1 14,2 17,3
22,2
37,5 21,8
Torácica
22,2 6,2
10
21,4
41,6 20,2
Proctologia
9,3
6,4
17,2
29,1
25
17,4
Neurocirurgia
12
25
19,2
21,4
35
22,5
Gastrocirurgia
14,7 12,9 19,6
20,7
19,2 17,4
15,3
25
Cabeça e Pescoço 10,5 6,2
22,2
20
18,8
15,4
ORL
11,3 12,5 19,1
18,7
18,9 16,1
Média Mensal
11,1 10,1 17,3
20,4
28,1 17,4
Porcentagem de suspensão de períodos cirúrgicos
ceitável frente às necessidades de treinamento em
serviço dos Médicos Residentes e às já existentes deficiências da assistência aos pacientes.
O movimento de paralisação encontra embasamento no Código de Ética Médica, no artigo n° 24
que versa sobre o direito a greve.
Nossa principal exigência é o retorno integral dos
horários cirúrgicos pré-existentes, conforme constante da Tabela de Horários eleborada pela diretoria
do Centro Cirúrgico.
Durante a vigência da paralisação, manter-se-á
apenas o atendimento de urgência e emergência, o
que implica a não realização de atividades eletivas.
Conforme decidido em Assembléia, será mantido o
número habitual de Residentes das Áreas Cirúrgicas
em plantão, que atenderão as Urgências/Emergências no Pronto Socorro e Centro Cirúrgico e os pacientes internados nas enfermarias. Considerando
o caráter de urgência dos Transplantes, os Médicos
Residentes desempenharão suas funções habituais
nestes eventos. Serão ainda atendidos os retornos
ambulatoriais de pacientes em pós-operatório recente.
o pato entrevista o superintendente do hc
“A falta de anestesistas é um problema crônico. Em outros momentos o HC já teve que diferenciar o salário do anestesista; mas
recentemente somaram-se alguns fatos e o salário é um deles. Outro fato é a alteração da residência de anestesiologia, de dois para
três anos. No ano passado quando os R2 eram para ter saído para o mercado de trabalho, eles foram fazer R3, e ficou um ano sem
entrar anestesistas no mercado, então isto complicou muito a situação de uma especialidade que já apresentava dificuldades.”
Entrevista realizada dia 23/01/2009 por Diego Barbosa (XLVI)
Gestão Roda Viva - Qual a importância do HC-UNICAMP
como hospital-escola?
Prof. Dr. Luiz Carlos Zeferino - Como hospital-escola, o HC tem
uma importância por estar associado à Faculdade de Ciências
Médicas, e como a FCM é uma das melhores escolas do Brasil, o
HC precisa corresponder a isso e buscar ser um dos hospitais de
ponta do Brasil.
GRV - Este mês houve uma greve dos residentes das áreas cirúrgicas, quais foram as conseqüências na assistência do
HC?
PDLCZ – A greve, logicamente, reduziu o número de cirurgias
eletivas do hospital; essa foi a conseqüência do ponto de vista de
atendimento. E o que eu estou sabendo pelos próprios residentes é que estas cirurgias estão sendo remarcadas de acordo com
a prioridade clínica, na medida do possível, sem prejuízo aos pacientes.
- Qual a repercussão de uma greve no HC-UNICAMP para
a sociedade?
PDLCZ – A repercussão direta é o prejuízo na assistência. O
HC-UNICAMP, pela sua importância no ensino e por ser um grande centro de pesquisa e assistência, acaba sendo um referencial,
não só para as pessoas que o procuram, mas também para as pessoas que nunca precisam ser atendidas aqui. É um órgão, uma instituição pública e, portanto, utiliza e é financiado pelos recursos
públicos, que são de todos. Com certeza, mesmo os que não utilizam o hospital, querem que ele seja eficiente e, então, qualquer
imagem ou fato que seja negativo dentro do hospital é algo pelo
qual a sociedade/comunidade se interessa.
GRV - Por que há uma falta de anestesistas no HC-UNICAMP, isto é reflexo da ausência desta especialidade no mercado de trabalho, ou o salário oferecido pelo HC-UNICAMP
está abaixo do que os anestesistas pretendem ganhar?
PDLCZ – Esta pergunta seria melhor respondida pelos anestesistas. A falta de anestesistas é um problema crônico. Em outros
momentos o HC já teve que diferenciar o salário do anestesista;
mas recentemente somaram-se alguns fatos e o salário é um deles. Outro fato é a alteração da residência de anestesiologia, de
dois para três anos. No ano passado quando os R2 eram para ter
saído para o mercado de trabalho, eles foram fazer R3, e ficou um
ano sem entrar anestesistas no mercado, então isto complicou
muito a situação de uma especialidade que já apresentava dificuldades.
GRV - Qual foi o acordo realizado com os residentes para
o fim da greve?
PDLCZ – O acordo com os residentes compõe-se de dois pontos principais. Um é voltar à normalidade das atividades cirúrgicas,
possível em fevereiro devido à conclusão da residência pelos R3 .
O segundo componente é um conjunto de medidas importantes
para o centro cirúrgico, que serão analisadas pelo colegiado gestor do centro cirúrgico e, dentro do possível, atendidas.
GRV - Foi realizado um contrato de emergência para
contratação de novos anestesistas pela FUNCAMP. Como foi
realizado este contrato de emergência com os anestesistas?
Houve alteração nos salários?
PDLCZ – Sim, houve uma alteração de salários. Existem três
tipos de contratos: para 24, 30 e 40 horas semanais. Quem optou
por 24 horas semanais,não teve aumento, quem optou por trabalhar por 30 horas semanais teve um aumento, e quem entrou para
trabalhar por 40 horas semanais teve um aumento proporcionalmente maior, porque o que se deseja é priorizar pessoas trabalhando 40 horas semanais, pois é mais fácil organizar o trabalho e
é mais fácil de deslocar pessoas para atender períodos que estão
com maior deficiência. As pessoas que trabalham com 24 horas
não têm flexibilidade para mudar de horário.
GRV - Qual a diferença entre um funcionário contratado
via FUNCAMP e via HC-UNICAMP?
PDLCZ – Na UNICAMP, você entra por concurso público que
tem as regras mais fixas, e na FUNCAMP, você entra por processo
seletivo; os dois modos são abertos. O profissional de nível superior da UNICAMP ganha cerca de R$ 1.000,00 a mais que o funcionário FUNCAMP.
GRV - O que um médico procura ao trabalhar no HC com
um salário menor do que o oferecido no mercado de trabalho?
PDLCZ – Muitos profissionais que trabalham na UNICAMP
com contrato de 24 horas semanais valorizam a relação com a
UNICAMP. De maneira geral, fazer parte do quadro de médicos
da UNICAMP é um privilégio, e esse é o principal fator para que
eles aceitem trabalhar aqui ganhando menos que no mercado
(de trabalho). Esses profissionais são muito bons, são os melhores
profissionais aí fora. E o fato deles serem os melhores profissionais aí fora também está associado ao fato de serem médicos da
UNICAMP. Contudo, eu queria deixar claro que o ideal seria (o profissional) receber o que merece. É evidente que pagar mais não é
simples.
GRV - Há ainda o risco de voltar a existir suspensão de cirurgias por causa da ausência de anestesistas?
PDLCZ – Eu não gosto muito de falar em futuro, mas nós estamos trabalhando para que isso não aconteça, incentivando a
permanência desses profissionais no Hospital. Tanto o Hospital,
quanto o Departamento de Anestesiologia estão investindo nisto.
GRV - No dia 3 de Novembro foi redigida uma carta pelas
41º e 42º turmas da Medicina UNICAMP reivindicando mudanças no PS (UER) do HC-UNICAMP, quais medidas foram
adotadas?
PDLCZ – Nós já estamos discutindo o nosso Pronto socorro
há muito tempo com profissionais da Cirurgia do Trauma e da
Emergência; este é um tema complexo que tem origem desde
que existe o HC-UNICAMP , pois não estava prevista a instalação
de um PS. Para haver um PS aqui no HC houve uma paralisação
dos alunos, mas o problema era onde implantar. Aquela área (de
emergência) é um espaço da Imaginologia mais um “puxadinho”
que fizeram no prédio do HC. A atual estrutura da emergência é
melhor do que a primeira, pois a área é cerca do dobro da inicial.
Ao longo do tempo não houve aumento da demanda no PS, mas
houve um aumento na gravidade dos pacientes que nós atendemos, e não é tanto pelo sistema de emergência; se você analisar
os pacientes que estão nas macas (na emergência), a maioria são
pacientes que são acompanhados no HC e como nós não possuímos leitos suficientes na enfermaria, eles permanecem no PS.
O que mais congestiona o PS não é um problema no sistema de
emergencia, é porque nosso Hospital de Clinicas é muito pequeno em número de leitos, nós temos 379 leitos funcionando hoje.
O HC-UNICAMP é menor do que qualquer outro de São Paulo,
como o HC-SP, menor que o HC-FMRP, Hospital de Base de Rio
Preto e inclusive menor que o Hospital de Botucatu. Se nós tivéssemos mais 40 ou 50 leitos para acolher os pacientes que estão
na emergência, seria muito bom. Quanto à reforma no PS, nós
até pensamos em fazer algumas adaptações, mas o PS é aquela
casa que, por mais que você mexe, ela continua com defeitos, por
isso nosso projeto é a construção de um prédio novo, um prédio
de fato para emergência. Portanto, não é um problema de agora com a carta dos alunos, mas desde que se abriu este hospital.
Agora, nós estamos equipando a emergência com alguns novos
equipamentos; de acordo com normas do Ministério da Saúde,
um consultório deveria ter no mínimo 7m2 e local para lavar as
mãos, mas nenhum consultório da nossa emergência tem estas
características; a sala de emergência (sala vermelha) teria que ficar
na porta de entrada do PS onde a ambulância estaciona e não no
fundo do PS. Por isso nós pretendemos iniciar a construção de um
prédio novo para emergência neste ano com previsão de conclusão dentro de 2 anos após o inicio das obras.
GRV - Qual o seu conselho para que um aluno ou residente faça em situações de deficiência do ensino médico para
que não seja necessário o extremo de uma greve?
PDLCZ – O aluno e o residente estão vinculados a suas respectivas comissões: Comissão de Ensino da Graduação e Comissão
de Residência. O primeiro local que os alunos devem colocar suas
dificuldades, suas criticas ou sugestões são nas suas respectivas
comissões. Nos colegiados da faculdade há representantes discentes e, se o problema persistir, pode ser apresentado e solicitadas informações, seja individualmente ou através da sua respectiva comissão. Como nós estamos em uma instituição publica, ela
tem que estar organizada e institucionalizada para que os vários
participantes dos seus conselhos tenham voz, participem do que
for necessário e para que haja um respeito entres estes. As grandes decisões são tomadas pelo conselho formado por docentes e
discentes, e este conselho é fundamental.
Luiz Carlos Zeferino concluiu o doutorado em Tocoginecologia
pela Universidade Estadual de Campinas em 1994. Atualmente é
Professor Associado do Departamento de Tocoginecologia da Faculdade de Ciências Médicas e Superintendente do Hospital de Clínicas,
Unicamp. (fonte: currículo Lattes)
4 O patolÓGICO
o pró-saúde
fevereiro de 2009
ELEIÇÃO PARA REPRESENTANTE DISCENTE DO PRÓ-SAÚDE
Inscrição para eleição: 13/03 a 20/03 Eleição: 23, 24 e 25 de março
O Pró-Saúde é o Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional em Saúde. Como dito na edição de dezembro, trazemos nessa um aprofundamento
desse tema por meio de duas entrevistas, com nossa coordenadora de Ensino da Graduação e uma acadêmica do curso de Enfermagem e integrante do CAE.
Gestão Roda Viva - O que é o Pró-Saúde e de onde surgiu a
idéia desse programa?
Profª Drª Angélica Maria Bicudo Zeferino - O Pró-Saúde (Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional em Saúde)
veio seguindo o PROMED, que era um programa de incentivo às
mudanças curriculares do curso de medicina e objetivava mudar
o perfil do médico que estava sendo formado. A idéia da criação
desses programas surgiu a partir do diagnóstico de que os médicos
formados pelas faculdades de medicina não estão preparados para
as necessidades da população em geral; portanto, há uma dificuldade de inserção do médico na rede, na atenção básica. Assim, o
ministério da saúde resolveu investir nisso.
GRV - O PROMED surgiu no final do governo de Fernando
Henrique Cardoso com algumas regras: o dinheiro era para
dar condições de inserção do aluno na rede. Quando mudou
o governo, mudou todo o ministério e esqueceram um pouco
do programa, mas como este já tinha sido aprovado, ele continuou vigente. Entretanto, voltou ao ministério o grupo do
Francisco Campos (participante da criação do PROMED), resgatando o projeto com outro nome, ampliando o Pró-Saúde
para os cursos de enfermagem e odontologia. A idéia do PróSaúde era começar com esses três cursos e ir ampliando para
outras áreas, o que já está acontecendo.
PDMABZ - No Pró-Saúde as regras são mais fechadas ainda. Na
primeira carta acordo só poderia investir dinheiro na rede para que
o aluno tivesse um ensino de qualidade nela e que propiciasse um
pouco dessa mudança para a faculdade, ampliando o campo de
estágio além do hospital.
GRV - Qual a sua avaliação sobre o Pró-Saúde (como programa do governo federal) e por que foi pensado em se utilizar
esse programa na FCM/UNICAMP?
PDMABZ - Avalio que o Pró-Saúde é um incentivo muito bom,
pois fez a diferença em muitas escolas e na FCM/UNICAMP, viabilizou um projeto que a escola já tinha. Antes do PROMED, já havia
sido aprovada a mudança curricular, já havia esse projeto de ir pra
rede, só que ainda não estava viabilizado.Tal viabilização ocorreu
graças ao PROMED e agora ao Pró-Saúde. que está dando continuidade a ela. Isso nos ajudou muito, pois há uma contrapartida
para a rede daquilo que a gente faz lá; então, você vai pra rede com
muitos alunos e oferece algo em troca. Assim, o centro de saúde
que recebe o aluno está recebendo muita coisa em troca, não só
da qualidade que a gente leva no atendimento, na interação com a
unidade, mas também com equipamentos, com infra-estrutura de
melhoria do prédio. Isso tem feito a diferença, pois nós temos sido
convidados a nos inserir em outras unidades. Eu encaro como um
incentivo importante que faz a diferença. O único problema é que
ele precisa ser mais bem pensado, em sua flexibilidade; mas por outro lado o ministério tem sempre as razões dele quando radicaliza
o projeto. Um exemplo: no PROMED nós gastamos em forma total
com ensino, mas teve escolas que não fizeram isso. Talvez por isso o
Ministério fechou tanto o Pró-Saúde; por causa de algumas instituições fizeram regras para todo mundo, o que falta é flexibilizar mais
pra cada escola. Toda vez que existe um projeto, o ministério abre
um edital com regras. Nós submetemos o projeto ao ministério e o
nosso foi aprovado, pois ele previa essa inserção do ensino na rede
básica de saúde; por isso a FCM/UNICAMP participa do programa.
GRV - O projeto da FCM/UNICAMP mandado ao ministério
foi escrito por quem? Teve participação discente? Em quanto
tempo ficou pronto? Os estudantes foram consultados nesse
processo? Houve divulgação do projeto para os estudantes
antes de esse ser remetido ao ministério?
PDMABZ - O projeto enviado ao ministério para a participação
no Pró-Saúde não teve participação discente em sua elaboração.
O ministério mandou o edital em dezembro, quando todos os coordenadores de curso estavam de férias e tinha prazo até o fim de
janeiro. Foi uma correria. Na verdade, eu e o Carlos tivemos que
fazer super rápido e não houve tempo para consultas, pois era
período de férias. Troquei informações com outros coordenadores
que estavam elaborando seus projetos . Foi muito louco, o aluno
não participou porque não teve tempo. Aliás, todo processo do
Pró-Saúde os alunos tem participado muito pouco na medicina. O
projeto ficou pronto em menos de 15 dias e não houve divulgação
na faculdade antes dele ser enviado ao ministério, pois não havia
tempo.
GRV - Como são utilizadas as verbas recebidas através do
programa Pró-Saúde na FCM/UNICAMP?
PDMABZ - Nós utilizamos as verbas mais pra rede, principalmente para o 4º ano; mas com o Pró-Saúde estendemos para as
unidades do 1º ano e 2º ano. Quando nosso projeto enviado ao
ministério foi aprovado, assinamos a primeira carta acordo do PróSaúde e receberíamos duas parcelas de verbas. A primeira carta
acordo foi muito rígida com algumas coisas: a gente não podia
pagar mais tutor e só podia comprar equipamentos; além de ser
obrigado a ter uma comissão de acompanhamento do projeto. Assim, com essa primeira carta acordo a gente não podia fazer quase
nada, apenas comprar o que faltava. Fizemos um levantamento
na rede junto com a prefeitura, principalmente nas unidades que
a gente tem ensino (tanto a enfermagem quanto a medicina), de
necessidades do campo para melhorar (ex: falta de eletrocardiograma, cadeira, mesa, lousa, estetoscópio), o que foi contemplado.
Depois, outras unidades que atendiam o primeiro ano e que não
constavam no projeto, o que valeu muito. Essa foi a primeira carta
acordo com as duas parcelas. A primeira parcela a gente teve muita
dificuldade para gastar, porque tudo tinha que ser de acordo com
a prefeitura, então até isso sair demorou meses. Eu sei que foi difícil
gastar. Foram estipulados, então, prazos para se gastar a segunda
parcela, e nós acabamos perdendo-a, pois com aquela rigidez para
usá-la não se podia gastar com nada. Tudo que se vai comprar tem
que licitar e ver qual é o preço. A FUNCAMP tem um a prestação
de .contas demorada. Em 2009, reenviamos o projeto para assinar
“Os benefícios são a viabilização da
inserção do aluno na rede, com o
4º ano na clínica e na ginecologiaobstetrícia e o 5º ano com a clínica
na rede básica de saúde. “
a segunda carta acordo, e o ministério viu que muitas escolas não
conseguiram gastar as duas parcelas da primeira, e houve uma
mudança nas rubricas. Não assinamos ainda. Mas sei que agora a
segunda carta acordo veio muito mais maleável, por exemplo: só
se pode gastar 10% em equipamento, mas em compensação poderemos pagar tutor, que nos é fundamental. Estamos esperando a
segunda carta acordo que está no ministério para assinar. O projeto
mandado da primeira vez não precisou ser reescrito; apenas as necessidades foram reescritas
GRV - Como ocorre o processo de acompanhamento da
utilização das verbas do programa na FCM/UNICAMP? Como
ocorre a escolha do representante discente? Qual sua avaliação sobre a participação discente nesse processo de acompanhamento? Qual a importância da participação discente na
comissão de acompanhamento?
O processo ocorre por meio de uma comissão de acompanhamento. Nessa comissão temos a prefeitura, a instituição de ensino
superior, os alunos e o usuário. Montamos tal comissão e optamos
por unir a enfermagem e a medicina; e a odontologia pela localização física (o fato de se localizar em Piracicaba) não foi possível estar
junto. Eu sempre pedi pro CAAL escolher o representante discente
“As reuniões dessa comissão de
acompanhamento são mensais e no
momento a vaga de representação
discente na mesma, não está
preenchida.”
do Pró-Saúde e quando essa comissão foi criada, o Luiz Gustavo
era coordenador geral do CAAL e, como ele estava se inserindo na
rede na época, ele ficou de representante discente. Acho que tem
que ser alguém do quarto ano que esteja vivenciando a rede, a situação. Minha avaliação sobre a participação discente é que não houve uma participação efetiva. Apenas nos seminários realizados em
Brasília que estava presente em todos. Mas eu não acho que isso
seja ruim, pois eu vejo uma confiança na nossa coordenação, porque não há uma necessidade de uma vigilância, já que o aluno sabe
que eu sou gestora do módulo, faço parte da pediatria social e meu
ensino sempre foi na rede; então, de maneira alguma farei alguma
coisa que não privilegie aquilo que esta no projeto. As reuniões
dessa comissão de acompanhamento são mensais e no momento
a vaga de representação discente na mesma, não está preenchida.
GRV - Houve prestação de contas do dinheiro utilizado
através desse programa? Quando?
PDMABZ - Houve a prestação de contas do Pró-Saúde ano pas-
sado. A prestação do PROMED está acabando de ser feita, pois esse
ano ainda recebemos a última parte do dinheiro do programa para
ser gasto até dia 31 de janeiro (prazo super apertado).
GRV - Os objetivos que foram pensados para a adoção desse programa na faculdade foram alcançados?
PDMABZ - Temos cada vez mais alcançado os objetivos pensados quando o Pró-Saúde foi adotado. A rede nos informa que os
alunos que têm saído da faculdade apresentam uma inserção muito boa, com um desempenho brilhante. Isso já é um reflexo, uma
mudança de paradigma, porque na verdade o aluno odiava a rede,
achava que tudo era ruim; e agora há uma solicitação de aumento
dos estágios do 4º ano, para que passem a ser semanais (que era o
projeto original).
GRV - Quais os benefícios que o programa trouxe para a
reforma curricular?
PDMABZ - São a viabilização da inserção do aluno na rede, com
o 4º ano na clínica e na ginecologia-obstetrícia e o 5º ano com a
clínica na rede básica de saúde.
GRV - Quando será finalizado o recebimento de verbas
através do Pró-Saúde na FCM/UNICAMP? Há perspectiva de
renovação do programa?
PDMABZ - O prazo depende da prestação de contas. A gente
tem três parcelas. Demoramos quase 2 anos para gastar uma parcela; agora eu não sei quanto tempo vai ter para a segunda carta
acordo. Antes não tinham prazos, agora estão apertados. Por isso
que não conseguimos utilizar a segunda parcela da primeira carta
acordo.
GRV- Há algum projeto de se adotar o PET-Saúde?
PDMABZ - Quando veio o edital do PET-Saúde, eu li, reli, não
consegui entender, li de novo. Na minha análise não daria pra entrar no PET-Saúde. Achamos que ele ia poder pagar tutor, facilitar
transporte; mas veio com um edital engessado de uma forma totalmente inadequada, porque o que propõe fortemente é estimular iniciação científica para pesquisa na rede. Exigia integração e se
tivesse alguma chance seriam o 1º e 2º anos. Entreguei o projeto
nas mãos dos gestores de módulo. Saí de férias e quando voltei não
tinha sido viabilizado. Eu sabia de antemão que não daria para realizar um projeto agora, porque não adiantaria colocar no papel o
que não seria viabilizado. O PET-Saúde não deu certo, pois teríamos
que criar outro modelo, o nosso modelo não ia dar pra entrar no
edital pra fazer o projeto que ele estava sendo exigido. A integração
tem que ser construída.. A prefeitura mesmo propôs um seminário
de integração para ver se é possível fazer essa integração para os
próximos editais do PET-Saúde. Temos um currículo que não é fácil
mexer e mudar, mas podemos conseguir uma integração maior.
GRV - Os problemas ocorridos para a divisão de turma nos
centros de saúde não podem ser resolvidos com a verba recebida pelo Pró-Saúde?
PDMABZ - Quando a gente recebeu o dinheiro, a faculdade foi
na prefeitura pra ver onde seria aplicado; recebemos 200 mil por
ter enfermagem e medicina no Pró-Saúde. Só que esse dinheiro
não veio pra nós, mas sim para a prefeitura e nós que decidiríamos
onde seria aplicado. Na discussão ponderamos onde a enfermagem e medicina tinham estágios Optamos pela reforma do centro de saúde Santa Mônica. A idéia era que a prefeitura doasse o
terreno ao lado do centro de saúde para a unidade, fazendo uma
ampliação. Foram aprovadas a reforma do centro de saúde e a
ampliação do mesmo no terreno conjunto. Não seriam utilizados
apenas os 200 mil, pois ficaria muito mais; a prefeitura aprovou essa
reforma, aprovou usar os 200 mil e mais os recursos dela para fazer
tudo. A proposta foi começar pela reforma da unidade onde ocorre
o atendimento; após o termino da reforma e de ficar tudo arrumado, começaria a ampliação. Só que essa reforma iria mexer em tudo
e não seria possível ficarmos lá. Era pra começar em novembro e
terminar em janeiro. Em fevereiro estaria pronto. Como seriam 3
meses de reforma, pensamos que daria pra fazer nas férias. Só que
entramos de férias e não começou a reforma; ela começará agora;
então não é possível nosso estágio no Santa Monica. Assim, tivemos que procurar outra unidade para colocar os alunos. Tentamos
o centro de saúde Jardim Aurélia, que acabou de ser reformado.
Entretanto faltavam salas para o espaço que precisamos. Por fim,
discutimos com o grupo gestor e optamos por dividir os alunos nos
5 centros de saúde que sobraram e já estavam preenchidos com
outros alunos do 4º ano.
Profª Drª Angélica Maria Bicudo Zeferino é coordenadora do ensino de Graduação da Medicina e membro da Comissão de Acompanhamento Local do Pró-Saúde.
fevereiro de 2009 5
O patolÓGICO
Outra avaliação
Gestão Roda Viva - Qual a sua avaliação sobre o Pró-Saúde
(como programa do governo federal)? E qual sua avaliação de sua
aplicação na prática, na FCM-UNICAMP?
Marina Fuzita - O Pró-Saúde se propõe a melhorar a integração
ensino-serviço reorientando a formação com ênfase na atenção básica e assegurando uma abordagem integral no processo saúde-doença. Para atingir esse objetivo, o programa conta com uma estratégia que prevê que o curso “faça melhorias” em três eixos: orientação
teórica (determinantes de saúde e doença, educação permanente
e pesquisa ajustada à realidade local), cenários de prática (integração ensino-serviço, uso de diversos níveis de atenção) e orientação
pedagógica (aprendizagem ativa, integração básico-clínica e análise
crítica dos serviços). É um programa bastante interessante uma
vez que se propõe a pensar a formação dos profissionais de saúde
adequando o perfil desses às necessidades da população brasileira.
Entretanto, algumas considerações devem ser feitas:
- 66% dos recursos do Pró-Saúde II (R$ 63.340.544, 96) foram
gastos em instituições públicas e 34% (R$ 32.925.345,77) em instituições privadas e grande parte da verba deve ser utilizada com a
compra de equipamentos. Não seria uma forma de passar dinheiro
público para o setor privado?
- A formação de grande número de profissionais orientados a
atuar na atenção básica não causará uma desvalorização desse profissional, causando redução de seu salário?
- De que forma o impacto desse investimento público pode ser
avaliado?
pressas ou devolvido para o Ministério. Ainda, a rubrica de equipamentos, geralmente, ocupa a maior parte do dinheiro a ser gasto
sobrando muito pouco para assessorias, viagens ou outros serviços.
Acredito que a reorientação da formação profissional, pretendida
com o Pró-Saúde, não pode ser atingida com a compra majoritária
de equipamentos mas sim com o uso de “tecnologias leves”, ou seja,
capacitação de docentes, assessorias pedagógicas e outras formas.
Certamente, o investimento em melhoria dos campos de estágio
propicia a integração ensino-serviço e causa mudanças positivas
nos campos de atividade prática. Entretanto, as reorientações teórica e pedagógica ficam a desejar.
GRV - Como ocorre a escolha do representante discente na
FCM-UNICAMP? Há uma padronização ou cada curso faz de
uma maneira? Qual sua avaliação sobre a participação discente
na comissão de acompanhamento? Como você avalia a importância dessa participação na comissão?
MF - Creio que não haja uma padronização dos cursos para a
escolha dos representantes discentes. No caso da Enfermagem, o
Centro Acadêmico tem indicado seus representantes através de ofício encaminhado à Comissão de Graduação do curso. A Fonoaudio-
“O fato de alguns profissionais receberem
bolsas por participarem de atividades de
ensino não geraria descontentamento
naqueles que realizam essas atividades e
nada recebem?”
GRV - O projeto da FCM/UNICAMP foi feito sem participação
discente? Como você avalia esse processo?
MF - Não há um projeto da FCM exatamente. Os projetos da
Enfermagem e da Medicina foram elaborados separadamente e são
projetos diferentes, apesar de serem acompanhados em parceria.
Não tenho propriedade para dizer quanto ao projeto da Medicina
e da Fonoaudiologia, mas no caso da Enfermagem, houve a participação de duas estudantes que contam terem se sentido parte da
construção do projeto apesar de não ter havido muito tempo para
reflexões, debates e discussões, pois o prazo entre a abertura do edital e entrega do projeto fora muito curto. Houve também um esforço da graduação em apresentar o projeto aos estudantes mas sem
muito sucesso.
logia, ainda não indicou (pelo menos até dezembro) seus representantes, pois acabou de entrar no projeto. As reuniões geralmente
acontecem em horário de aula e, apesar de tentarmos comparecer
ao máximo nas reuniões, nem sempre é possível participar de todos
os encontros e, certamente, esse deve ser o motivo da ausência do
representante discente da Medicina. Acredito que a participação
discente é e tem sido muito importante pois, além de permitir-nos
acompanhar o andamento do projeto, é uma estratégia para impulsionar mudanças curriculares. Penso também que a participação
dos estudantes não deve acontecer apenas através de seus representantes, mas todos os estudantes do curso deveriam ter mais interesse em conhecer e acompanhar o desenvolvimento do projeto,
afinal, sua formação está em questão.
GRV - Como são utilizadas as verbas recebidas através do
programa Pró-Saúde na FCM/UNICAMP? E qual sua avaliação
do uso delas?
MF - O Pró-Saúde prevê a existência de uma Comissão Gestora
Local (também conhecida como Comissão Local de Acompanhamento - CLA), no nosso caso, essa Comissão é composta pelos cursos da Medicina e Enfermagem e agora também pela Fonoaudiologia. A CLA conta com a presença de estudantes (um titular e um
suplente para cada curso), docentes, gestores (representantes do
serviço/CETS) e usuários. É nas reuniões da CLA que são decididas
as formas de uso do recurso recebido com o Pró-Saúde. Porém, a
maneira como a verba deve ser gasta é previamente estipulada pelo
Ministério da Saúde na forma de rubricas. Por exemplo: X % da verba
deve ser gasto em equipamentos, Y% em material de consumo, Z%
em serviços e W% em viagens. Geralmente, o tempo para gastar a
parcela recebida é muito curto e o dinheiro acaba sendo gasto às
GRV - Você considera que os objetivos que foram pensados
para a adoção desse programa na faculdade foram alcançados?
MF - Ano passado, o CAE elaborou uma enquete e aplicou a 116
de 160 alunos de Enfermagem. Os resultados mostraram que cerca
de 42% dos alunos entrevistados notaram mudanças nos campos
de atividade prática. Porém, apenas 1,8% dos entrevistados notaram alguma mudança em relação aos métodos de ensino (orientação pedagógica) e apenas 5,5% notaram mudanças relacionadas à
orientação teórica. É possível notar que houve mudanças no campo
de estágio. Porém, a aprendizagem continua se dando de forma
passiva, sem muita integração entre as disciplinas do IB e as disciplinas específicas da profissão. Essa reorientação da formação encontra resistências internas e não consegue ser resolvida apenas com
o recebimento de verba. O projeto, quase sempre, é acompanhado
um grupo pequeno de docentes e estudantes e creio que seja pos-
Integra saúde 2009
U
ma das novidades para a recepção dos calouros em 2009
será o Integra Saúde, evento que irá substituir a antiga Feira de Saúde. Para uma melhor compreensão sobre como
será o Integra Saúde, é necessário, inicialmente, explicar os
motivos que provocaram a mudança do formato deste evento.
Em outubro do ano passado iniciaram-se as conversas entre os
interessados em organizar a Feira de Saúde, com a intenção de proporcionar uma atividade tão boa ou ainda melhor do que o evento
de 2008 – do qual participamos como calouros e que foi muito bem
avaliado pela XLVI, como um todo. Para o início das atividades, houve uma reunião com os organizadores da Feira do ano anterior, para
a troca de idéias sobre a realização do novo evento. Uma das sugestões foi a de participar das reuniões do CA Saúde (Centro Acadêmico
dos Cursos da Saúde), para que, junto com os outros cursos da FCM,
fosse possível refletir e pensar de forma mais crítica sobre o modelo
da Feira de Saúde (afinal, até aquele momento, só era considerada a
visão da feira segundo os calouros da Medicina).
Nessas reuniões surgiram alguns problemas com relação à antiga e tradicional Feira da Saúde, como a baixa relevância do atendimento à população e a falta de integração entre os diferentes cursos
que participavam do evento, resultado da dificuldade em se atender
aos interesses e opiniões de todos os cursos. Então, ao entrar em contato com representantes dos outros cursos da FCM (Enfermagem,
Farmácia e Fonoaudiologia), o formato do evento foi modificado,
transformando-se em algo descentralizado que ocorreria em alguns
Centros de Saúde de Campinas e contaria com a participação da po-
pulação local que tem como referência em saúde aquele determinado Centro. Para isso, foi montada uma comissão organizadora composta por representantes de cada curso da área da saúde e firmada
uma parceria com a Secretaria de Saúde de Campinas. Essa proposta
foi apresentada à diretoria da FCM que aprovou e apoiou o projeto,
interessando-se pelo fato dele agregar todos os cursos da FCM. A
partir disso, pôde-se começar a pensar melhor sobre o evento.
Muita coisa já foi discutida desde então. Várias reuniões foram
realizadas em novembro, dezembro e janeiro, a FEF interessou-se e
uniu-se ao projeto, e finalmente chegamos ao formato do Integra
Saúde. O projeto foi escrito sob a supervisão do Prof. Dr. Gastão Wagner do Departamento de Medicina Preventiva e Social e teve o aval
do CETS (Centro de Educação dos Trabalhadores da Saúde), além
do apoio da direção da FCM. A proposta é levar cerca de 15 alunos
para cada Centro de Saúde, em grupos contendo, pelo menos, um
calouro de cada curso. Lá eles seriam supervisionados por veteranos
dos 5 cursos participantes (Educação Física, Enfermagem, Farmácia,
Fonoaudiologia e Medicina), participariam de atividades visando à
saúde de forma interdisciplinar no território do Centro de Saúde e
conheceriam a importância, as funções e as possíveis potencialidades das profissões de saúde dentro do SUS.
Para encerrar, no final do mês de janeiro foram divulgados os 12
Centros de Saúde interessados em participar do Integra Saúde: CS
Orosimbo Maia, CS Fernanda, CS Monte Cristo, CS Nova América, CS
São Marcos, CS DIC III, CS CAIC, CS Itatinga, CS Aeroporto, CS Conceição, CS São Quirino e CS 31 de Março. Em seguida houve uma reunião, no CETS, com os coordenadores dos 12 centros para a criação
dos projetos individuais de cada local, a partir do projeto comum do
Integra Saúde. A comissão organizadora do Integra Saúde se fragmentou em 12, e existe, no mínimo, um aluno responsável por cada
sível afirmar que nem todos os professores envolvidos na nossa formação atuam em consonância com o projeto dificultando o alcance
de seus objetivos. Quais os benefícios que o programa traz para a
formação do profissional de saúde? Você acha que um dos objetivos do Projeto: “de formar profissionais habilitados a responder às
necessidades da população brasileira” é alcançado? Creio que o
principal benefício que o Pró-Saúde traz para nossa formação seja a
oportunidade de fazer com que professores, usuários, alunos e profissionais do serviço “olhem” para o nosso currículo e se perguntem
“que tipo de profissionais estamos formando?” e iniciem a discussão
da importância em romper com os modelos de atenção “hospitalocêntricos” e “centrados na doença”. É uma pena que esse benefício se
restrinja aos envolvidos no projeto e não esteja conseguindo atingir
um grande número pessoas dos cursos. Formar profissionais capazes de responder às necessidades da população brasileira não é tarefa das mais fáceis e acredito que dentro da lógica de universidade
e sociedade que estamos inseridos estamos formando mais pessoas
que pensam em responder à sua própria necessidade do que pessoas que se comprometem com a população brasileira.
GRV - Qual sua avaliação sobre o programa PET-Saúde? Sua
implantação na FCM-UNICAMP seria condizente com a nossa
realidade, ele supriria alguma deficiência da implantação do
Pró-Saúde? A FCM enviou projeto do PET-Saúde? Qual sua opinião a respeito?
MF - Ao que sei, a FCM não enviou nenhum projeto para o PETSaúde por ter avaliado que não seria possível nesse momento. Uma
das principais dificuldades foi encontrar disciplinas que envolviam
os três cursos (Enf, Med e Fono). E, mais uma vez, o prazo entre a
abertura do edital e a entrega dos projetos foi muito curto para conseguir garantir as discussões e sua elaboração. Eu e a Aline (2º ano de
Enf, suplente na CLA) participamos de algumas reuniões. Não pudemos participar de todas devido às atividades do final de semestre. O
PET-Saúde é um programa que tem por finalidade “estimular”, através do oferecimento de bolsas, docentes, estudantes e profissionais
do serviço a realizarem atividades de ensino, pesquisa e extensão
de acordo com as necessidades do SUS. Uma estratégia bastante
interessante, que promove a interdisciplinaridade, mas que também encontra bastante dificuldade em sua aplicação prática. Seria
um projeto para auxiliar o Pró-Saúde a superar algumas dificuldades encontradas em sua execução. Porém, a meu ver, a formulação
e acompanhamento de um outro projeto dificulta, na prática, sua
operacionalização. Creio que o PET- Saúde poderia ser parte do PróSaúde e não necessariariamente um outro projeto à parte. Existem
também algumas questões a se pensarem quanto à sua aplicação.
Por exemplo:
- O fato de alguns profissionais (funcionários dos Centros de
Saúde) receberem bolsas por participarem de atividades de ensino
não geraria descontentamento naqueles que realizam essas atividades e nada recebem?
- O número de bolsas não é suficiente para todos os alunos.
Como se daria esse processo seletivo?
- Como seriam escolhidos os docentes que participariam desse
projeto?
- Temos professores que não são docentes. Esses professores poderiam se candidatar a essas bolsas?
Marina Fuzita, estudante do 4º ano de enfermagem, membro do Centro
Acadêmico da Enfermagem – CAE, representante discente na Comissão Local
de Acompanhamento do Pró-Saúde e na Subcomissão Gestora do Pró-Saúde
(do Departamento de Enfermagem), tem participado de diversas discussões do
tema, esteve em oficinas regionais do Pró-Saúde e no Seminário Nacional.
um dos Centros de Saúde, para a realização dos projetos. As reuniões
individuais já começaram, os projetos já estão sendo desenhados e
o financiamento e patrocínio foram buscados, na esperança de se
conseguir reduzir consideravelmente os custos do evento.
Nossos objetivos pessoais são de que o Integra Saúde seja tão
bem avaliado pelos calouros quanto foi a Feira de Saúde para nós;
que seja construído e organizado por todos os cursos participantes;
que transforme a opinião dos calouros em relação aos “pré-conceitos” da saúde publica brasileira e, finalmente, que traga benefícios
reais para a comunidade e para os profissionais do Centro de Saúde.
Algumas pessoas poderiam achar que este evento seria uma antecipação de disciplinas do currículo da Medicina, como Ações em
Saúde ou ainda Medicina e Saúde. Acreditamos que isso não seja
verdade, afinal em momento algum do nosso currículo existe uma
atividade que integra os estudantes da área da saúde da Unicamp,
futuros profissionais que trabalharão juntos para produzir saúde.
Este é o grande diferencial do Integra Saúde ao proporcionar este
momento único para o calouro.
Gostaríamos de contar com as idéias de quem se interessar pelo
projeto, afinal o nosso principal objetivo é que nossos calouros se
divirtam tanto quanto nós nos divertimos na nossa Semana de Calourada.
Esperamos que todos compreendam os motivos que nos levaram a modificar a feira de saúde e estamos abertos a sugestões para
melhorar cada vez mais esse projeto.
Muito obrigado,
Diego, Fernanda, Luiza Manhezi e Heloisa.(XLVI)
Membros da comissão organizadora do Integra Saúde
Saiu
na
mÍDIA
Futuros Médicos
6 O patolÓGICO
Racistas
Caso de polícia
É
de indignar e causar asco o jornal O Menisco, da
Associação Atlética Acadêmica Pereira Barreto,
da Universidade Federal de São Paulo, Unifesp
– a Escola Paulista de Medicina. A Atlética congrega alunos que, anualmente, disputam a Intermed, torneio criado em 1966, cada ano numa cidade paulista. O
jornal dedicado à competição retrata o péssimo caráter de
parcela importante dos futuros médicos brasileiros.
O Menisco apareceu no pior momento possível. A
Unifesp vivia dias tensos, o reitor acusado de pagar com
cartão corporativo despesas de viagem – hotel na Disney,
compra de produtos esportivos e eletrônicos, total 230
mil. Ulysses Fagundes Neto alegou ter devolvido o dinheiro para facilitar as investigações e acabou renunciando em
25 de agosto.
Estudantes acampam na sede paulistana da Unifesp, na
Vila Clementino. Diferentes motivos excitam a rapaziada.
Alguns saem rumo a Araraquara para a Intermed. O clima
esquenta quando alunos investem contra os acampados,
estariam “manchando a imagem da instituição”. Pancadaria, lutadores rolam pela escadaria histórica.
A renúncia do reitor leva à convocação de Assembléia
Geral dos Estudantes. A aluna negra Talita de Carvalho
Honorato, 24 anos, cotista, da turma 75 de Medicina, protesta contra piadas racistas no Menisco. Constrangimento.
Pedem para Talita ler as ofensas, ela se recusa, era muita
humilhação. Talita, ao pedir explicações na Atlética, foi expulsa. Estava “causando” na diretoria. “Alguém, não sei o
nome, disse: ponha-se da porta para fora.”
Não era novidade para Talita o racismo. Na edição anterior ofenderam uma aluna obesa. À noite e no outro dia,
recebeu telefonemas de diretores da Atlética, defendendo
a publicação, depois admitindo o erro, mas sondando se
a colega tomou alguma providência legal. Na Semana da
Pátria, sete dias de folga esfriaram a cabeça de Talita. Melhor não se expor tanto numa universidade dominada por
brancos ricos, pensou.
Mas a história não parou aí.
Nem juvenil é: infantil
Dois alunos de Guarulhos, município colado a São Paulo, acionaram a prefeitura – ali a Unifesp instalou unidades,
as primas pobres do curso de Medicina. Além de racista, o
jornal ofende a mulher. Há páginas grotescas com fotos de
lanches – o hambúrguer entre pães é a imagem da vagina
em montagem com fotos de corpos femininos.
As 29 piadas racistas ocupam 3 páginas e, ao apresentá-las, O Menisco se diz “betuminosamente indignado”.
Cinismo: o tom não é de indignação, sim de ironia. Lemos
abjetas citações tiradas do Google: “Por que inventaram o
cavaquinho? Pro preto poder tocar algemado.” Este repórter não tem estômago para reproduzir o resto.
Mas se você está se perguntando que tipo de cabeça
pensa e publica tais aberrações, a explicação está no próprio jornal (68 folhas de sulfite xerocadas e encadernadas
com espiral). Sai em ocasiões especiais, na chegada dos
calouros ou às vésperas da Intermed. A edição em questão
é um calhamaço de arroubos, incentivos aos atletas e cobranças infantis (nem chegam a juvenis).
“Tudo o que a gente tem que ensinar é muito simples:
é ensinar a amar a Escola, de verdade, acima de tudo, de
todas as dificuldades.”
Mais transcrições literais:
Ão, ão, ão, pau no cu da tradição!
Vamos DESTRUIR essa porra.
Viva a morte do meu pau
Há informações sobre pacotes de “brejas”, alojamentos
e camisetas para a Intermed, e o aviso: “pela milionésima
vez, cartão só Visa”.
Músculos no cérebro
Após a catraca na entrada, há um corredor e, no fim,
um painel marca os dias que faltam para a Intermed. Toda
manhã um funcionário atualiza. A Atlética é o clube dos
alunos de Medicina. Tem duas quadras, sala de ginástica,
piscina; e guarda reluzentes troféus. Espécie de irmandade, para alguns quase religião, cumpre calendário de rituais, como a “aula da Atlética”, palestra histórica para os calouros. Costumavam projetar no telão a imagem do reitor
que se demitiu, atleticano roxo, bebendo num troféu em
antiga festa da vitória.
O símbolo é uma caveira de cartola e piteira – apesar
de cigarro não combinar com saúde. Interessante notar o
significado aristocrático da imagem, copiada por outras
Atléticas. A diretoria é sempre ocupada por alunos do terceiro ano. O evento mobilizador é a Intermed, nas quais
rolam putaria, porrada e bebedeira. As cidades que os recebem nunca mais os querem de volta. Arrogantes, invadem cidades e agem como bárbaros.
Em Araraquara, explodiram bomba caseira no teto da
escola Rafael de Medina. Em 2007, uma aluna da Unicamp
tomou tijolada na cara. Por causa da violência, a Atlética
da USP abandonou a competição em 2005.
Os hinos das torcidas das várias universidades paulistas desenham a paisagem mental dos futuros médicos. Os
alunos da Unifesp puxam grito de guerra típico:
“Não tenho medo de morrer, eu dou porrada pra valer.”
Os da Universidade Estadual Paulista, Unesp, de Botucatu, optam pela rima pobre e chula:
“Enterra, enfia e põe no cu; meu pau levanta, abaixa;
vem aí Botucatu.”
Na edição racista do Menisco, o texto sério, em tom
de ata, é de Jorge Carlos Machado Curi, presidente da Associação Paulista de Medicina. Segundo ele, em reuniões
decidiu-se coibir bebedeira e brigas com punições rigorosas, segurança particular e filmagem do evento – será
que alguém registrou os artífices da bomba na escola de
Araraquara?
Quando há problemas, os responsáveis somem. O expresidente da Atlética da Unifesp, Carlos Augusto M. Menegozzo, criou novo perfil no Orkut. O anterior informa
que o sujeito, natural de Sorocaba, tem 22 anos, não fuma
nem bebe. E recomenda: “Acho melhor vir me conhecer e
tirar suas conclusões.” Cercado de advogados e protegido
pelo corporativismo, não é fácil encontrar o presidente da
Atlética da gestão que publicou O Menisco racista.
Silêncio geral. No Orkut, a página da Atlética comunica
que o Ministério Público move ação relativa ao jornal. Dos
1.544 membros da comunidade, um comentou. Ricardo
Saick, da turma 75, saiu com esta: “Falácias... interpretação
errada, tendenciosa... sensacionalismo e tudo mais.” O aluno participa de 685 grupos virtuais, entre eles “Sou descendente de alemão” e “Meu beijo dá tesão”.
Haverá justiça?
A Unifesp foi a primeira universidade paulista a adotar
as cotas, em 2005. Não reservou vagas, aumentou em 10%
o número delas, evitando reclamações quanto à diminuição do espaço para os abastados. Concorrem negros, pardos e indígenas vindos do Ensino Médio público.
Um ano depois, expandiu-se para quatro localidades
próximas: Diadema, Guarulhos, São José dos Campos e
Baixada Santista. Dos 14 novos cursos, nenhum tão cobiçado quanto os oferecidos na capital. Hoje são 3.274 alunos; cotistas aprovados, 117.
O Menisco é a primeira manifestação documentada de
racismo na Unifesp. Depois da semana da Pátria, a história
poderia ter acabado, mas felizmente continuou. Os alunos
de Guarulhos acionaram a Coordenadoria da Mulher e da
Igualdade Racial da prefeitura, que levou o caso ao Ministério Público. A reitoria instaurou sindicância e o novo
reitor garante a seriedade da iniciativa. Marcos Pacheco
de Toledo Ferraz considera uma barbaridade o conteúdo
racista do jornal e espera que os responsáveis paguem:
“Minha expectativa é que se faça justiça.”
Ele admite: alguns professores discordam da sindicância, acham que são bons meninos que se excederam. A investigação corre em segredo e, no Natal, completará três
meses.
O professor negro Joaquim Machado Junior, psiquiatra
fevereiro de 2009
voluntário do Departamento de Psiquiatria, levantou o assunto em sala de aula, na disciplina Psiquiatria Médica, no
primeiro ano de Medicina. Pediu relatório. Percebeu mais
vergonha que indignação nos textos. Uma aluna liberou
a verve. Antes não tivesse escrito. Considerou absurdas
as piadas, mas com a mesma indignação afirmou que as
cotas prejudicam a relação entre estudantes. Contou do
professor que rechaçou o sistema, sugerindo registro profissional de cotista (CRM) e, pior: o super sincero prometia
discriminar, barrando os alunos na prova de residência
médica, após a conclusão do sexto ano. Os primeiros cotistas prestarão exame em 2010.
Há dois inquéritos instaurados. Um, na Delegacia de
Crimes Raciais e Delitos de Intolerância, São Paulo, apura a responsabilidade criminal pela publicação racista, e
intolerante, pelas ofensas contra a mulher. Oito pessoas
já foram ouvidas, mas faltam muitos, e a delegada pediu
prorrogação de prazo. Outro, na 4ª Delegacia de Crimes
Eletrônicos, investiga o sítio de onde os componentes da
Atlética retiraram as piadas. E desde 15 de outubro o Ministério Público paulista está no caso.
No imponente prédio de 13 andares do MP, centro
de São Paulo, em 19 de novembro, véspera do feriado da
Consciência Negra, a promotora Deborah Kelly Affonso,
do Grupo de Atuação Especial de Inclusão Social, espera
naquela tarde a presença do presidente da Atlética à época dos fatos. Ele não comparece. Até aquele dia, a Atlética
não havia respondido nenhum requerimento da promotora.
Quem pode, pode
Na última parte da reportagem, eu tentaria conversar
com os alunos da Atlética, especialmente da diretoria anterior. Estava autorizado pela reitoria e assessoria de imprensa a percorrer o campus e entrevistar pessoas.
Chego às 11 da manhã da segunda-feira após o feriado da Consciência Negra. Burburinho na porta da Atlética. Com copos de cerveja nas mãos, ninfetinhas de nariz
empinado e musculosos em roupas de banho entram e
saem. A batucada come solta e os trabalhadores no ponto
de ônibus espiam. Trata-se de mais um evento tradicional
da Atlética, o “banho”, ou “passagem do balde” dos alunos
concluintes do sexto ano. Bebem e se molham, divertidíssimo para eles.
Tento entrar sem dizer nada, mas o segurança impede.
Explico-me, chamam alguém. Vem à portaria Tiago Cyrillo
Devitte, o Ticão, presidente da Atlética. Bafo de cerveja,
coloca rapidinho os óculos escuros quando digo que sou
repórter fazendo matéria sobre O Menisco. Proíbe minha
entrada. Insisto, estou autorizado. Sem chance, é dia de
festa, a diretoria anterior publicou o jornal e deveria responder, não eles. Sentei na mureta ao lado para aguardar
a assessora de imprensa da Unifesp. Vários alunos vêm até
a porta, espiam, comentam, apontam para mim.
Meio-dia falo com a assessora, pelo telefone da recepção. Reitera a autorização, e apesar do prédio da Atlética
fazer parte da Unifesp, diz que lá quem manda são os
alunos. Entendi. Restava ir à biblioteca conferir no livro
comemorativo aos 75 anos da universidade a citação do
ex-aluno Rubens Belfort, que declara:
“Estávamos na época da ditadura, talvez seus piores
anos, e a escola era dividida em dois grupos: comunistas
do Centro Acadêmico e fascistas da Atlética, mas a grande
maioria dos estudantes não era nada.”
Antes de sair, encontro dois ex-diretores da Atlética,
justamente os responsáveis pela edição do Menisco. Douglas Renê de Alencar e Bruno Paganotti lêem uma cópia
de anotações, parece conteúdo de aula. Só faltou Samuel
Salu, outro dos editores do infame jornal. Surpresos, ficariam brancos se já não fossem. Refeitos, não querem falar.
Dei voz aos envolvidos. Deixo meu número de celular e
vou embora. Ninguém é obrigado a responder perguntas
de um repórter – mas no caso, as de diretores, promotores
e delegados, sim.
Marcos Zibordi é jornalista.
[email protected]
Caros Amigos - Dezembro 2008
fevereiro de 2009 7
O patolÓGICO
Conseguiram separar o gene da melanina?
S
alve, meus irmãos africanos e lusitanos, do outro lado
do oceano. O Atlântico é pequeno pra nos separar,
porque o sangue é mais forte que a água do mar.” Começo esse texto com versos do sagaz Gabriel O Pensador, na música com o título quase que tautológico: Racismo é
Burrice.
Mas burrice nunca foi justificativa, ainda que intrínseca ao
ser humano desde o começo dos tempos. O caso na UNIFESP
parece um absurdo e referente apenas aos “índios” mais exaltados e radicais, ainda mais envolto pelo sensacionalismo pejorativo do jornalista da revista Caros Amigos.
No entanto, isso não isenta o fato do racismo estar mais
presente no ensino superior público do que imaginamos. A favor das cotas ou não, é indubitável que a maior parte de meus
leitores não produzem lá muita melanina. E tal se caracteriza
o perfil do usuário da universidade pública brasileira, desde
docentes a graduandos, são poucos os negros. E, coincidentemente, é possível ver funcionários negros trabalhando na
limpeza de nosso espaço. Vocação(?!) ou falta de opção, urge
Henrique Sater (Abrealas)
a multietnicidade dentro do meio acadêmico, com acesso universal a todo e qualquer espaço .
Pode, pois, surgir o argumento do senso-comum: “tentar
inserir negros na universidade pública de forma não-espontânea não é racismo?”. Ou ainda: “aposto que não há muito narigudos na universidade, devemos inseri-los também?”. As duas
perguntas exigem mais reflexão pessoal que argumentos contrários sólidos, por mais convincentes que o sejam. As exce-
ções às regras são criadas para diminuir desigualdades, não
gerá-las. Caso contrário, devemos eliminar as filas especiais
para idosos, as meias entradas para estudantes e os assentos para obesos nos ônibus. Apelo para a jocosidade, pois é
necessário mostrar que preservar e zelar pela diversidade
não necessariamente está embasado em preconceito.
É triste ver o quanto podemos retroceder em um evento
tão juvenil quanto o ocorrido na UNIFESP. São anos de luta,
milhares de mortos e oprimidos em batalhas e massacres
étnicos, mártires e ícones da luta contra o racismo, para estudantes do curso mais concorrido de uma grande universidade brincarem com algo tão sério. Isso porque em cada
turma há pelo menos 11 cotistas, o que gera um número
extraordinariamente maior de negros presentes em nosso
curso.
A era em que o grande império do mundo é comandado por um negro pode ainda ser uma era marcada por racismo. Cabe a nós enxergá-lo e fazer questão de cessá-lo.
Caso contrário, a diversidade continuará seleta e baseada
em quantidades mesquinhas de melanina.
“A Cabeça Pensa Onde os Pés Pisam”
H
Thais Machado Dias (XLV)
oje entendo meu pai. Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias,
imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com
seus olhos e seus pés para entender o que é
seu. (...) Um homem precisa viajar para lugares que
não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz
ver o mundo como nós imaginamos e não como ele é
ou pode ser; essa arrogância que nos faz professores
e doutores no que não vimos, quando deveríamos ser
alunos e ir ver.” Amir Klink
No tripé universitário, o ensino se constitui como
razão primeira da própria existência da universidade, a
pesquisa é o olhar crítico sobre o conhecimento que é
dado, buscando sua comprovação e sua complementação com novas informações a cada dia, e a extensão...
Sobre extensão é que se pretende falar nesse texto.
A palavra extensão, nesse contexto, significa estender-se, a algum lugar e/ou a alguém. A extensão universitária é uma forma de interação entre a universidade
e a comunidade na qual está inserida. É uma espécie
de ponte permanente entre a universidade e diversos
setores da sociedade. A universidade vai até a comunidade prestar-lhe serviços e assistência e aprender com
ela, com um olhar especial em suas necessidades.
Ter a realidade social como parte indissociável do
tripé universitário significa entender que a educação
superior deve se voltar à realidade, tê-la como ponto
de partida e de chegada do processo educativo. É acreditar numa educação fruto do ambiente, sem perder a
COBREM
D
e 11 a 18 de janeiro realizou-se no campus da UFC, em
Fortaleza (CE), o XXI Congresso Brasileiro de Estudantes
de Medicina. O COBREM é instância deliberativa da
Direção Executiva Nacional dos Estudantes de Medicina
(DENEM) e inicia cada ano de movimento em uma construção
coletiva, com a participação de todas as escolas médicas através
de seus delegados.
O COBREM tem um papel fundamental
na DENEM, pois é nele que os estudantes de
todo o Brasil têm a oportunidade de planejar
estrategicamente mais um ano de atividade
no Movimento Estudantil de Medicina (MEM),
aprofundando a discussão sobre a conjuntura
nacional, educação, educação e saúde, Hospitais
Universitários, entre outros assuntos, sempre
inserindo esse debate no nosso cotidiano
enquanto estudantes de medicina.
Todos os congressistas têm direito a voz e
participam ativamente na construção do planejamento da DENEM,
que identifica, seleciona e prioriza os problemas, bem como debate
sobre as suas causas e efeitos, definindo um conteúdo propositivo
para o planejamento, visando sempre à viabilidade estratégica das
ações planejadas e avaliando se estamos prontos para sustentar as
lutas e executar as estratégias propostas.
A UNICAMP contribuiu nessa construção com oito delegados,
sete representantes eleitos pelos alunos em eleição realizada em
novembro, e um delegado indicado pelo CAAL, além de outro 13
alunos que compareceram e contribuíram para o congresso.
Do planejamento desse COBREM, foram escolhidas três frentes
prioritárias de luta para a entidade, listadas a seguir:
Frente de Saúde: “Lutar por uma saúde pública, gratuita,
dimensão da universalidade, e com o compromisso de
transformação para a melhoria desse ambiente social.
Essa relação da universidade com a sociedade, entretanto, pode- se dar das mais diversas maneiras. Há
os que acreditam na extensão como “a mão santa que
vai salvar aquele que recebe a ação extensionista ” ou
que o objetivo maior da extensão é servir de campo de
prática e diretriz de pesquisa da universidade (tendo
desse modo, a universidade como finalidade última da
ação). Acreditamos, por todos os motivos citados acima
(inclusive o de prática e pesquisa) que a universidade é
sim, e muito, beneficiada com o as atividades de extensão, mas que devemos direcionar um olhar especial à
comunidade. Isso por uma questão de responsabilidauniversal, de qualidade e orientada pelos determinantes sociais da
Saúde.”
Frente de Educação Médica: “Lutar por uma transformação
socialmente referenciada da formação médica, por uma avaliação
justa em todas as esferas, pela regulamentação e contra a
precarização dos espaços de prática e pela qualidade dos estágios,
internato e espaços extra-curriculares.”
Frente de Educação: “Luta por uma Universidade Popular
que forme médicos socialmente referenciados para o trabalho
em saúde, entendo como importante a Extensão Popular e a
articulação com os movimentos sociais. Contra a reestruturação
neoliberal e a mercantilização do Ensino Superior evidenciadas
pelo Projeto REUNI, pelas mensalidades abusivas e pela abertura
indiscriminada de novas escolas.”
Além dessas ocorreu o planejamento da Frente
Organizacional, que é permanente, diferente das outras frentes,
que são reformuladas ano a ano. A frente organizacional consta
de operações e diretrizes referentes à articulação do movimento
estudantil de medicina com seus próprios alunos e com outros
movimentos de luta e sociais, incluindo o movimento estudantil
geral e os de outros cursos da área da saúde.
No mesmo espaço houve a eleição dos membros da gestão 2009
da DENEM, que se organiza em Coordenações Locais, Coordenação
Nacional e Coordenações de Área. As coordenações locais são
de social, seja ela oriunda de ideologias (ao acreditarmos que somos sim responsáveis pela realidade que
nos cerca, e que devemos atuar a todo momento em
busca da sociedade que queremos, pois a passividade
nesse sentido já é uma postura política de continuidade
da realidade atual) ou por uma questão mais simples,
de que é essa sociedade que financia toda estrutura
universitária e é nossa responsabilidade ética oferecer
nosso trabalho a ela, já que ela nos oferece a oportunidade de formação.
Acreditamos, então, na extensão universitária como
um meio de promoção de autonomia da comunidade e
que contribua também para o exercício das cobranças
de ações políticas. A extensão como um trabalho social
útil e com intencionalidade de transformação, com respeito mútuo, diálogo e solidariedade.
Buscamos com a extensão o empoderamento das
pessoas da comunidade e nosso aprendizado, seja ele
técnico ou político, visto que a extensão é um exercício de cidadania tanto para universidade quanto para
comunidade.
Cabe aqui, provocar nos leitores uma última reflexão: o quanto nossa universidade, e principalmente
nossa Faculdade de Ciências Médicas, tem se dedicado
a essa parte tão fundamental do tripé universitário? Se
existem ações nesse sentido, o quanto nós, alunos do
curso de medicina, buscamos nos inteirar e participar
delas? Se não existem, o que temos feito para mudar
isso?
cada centro acadêmico, organizados em regionais de acordo com
suas realidades; a nossa regional é a Sul2, que é composta pelas
escolas de PR e SP. A coordenação nacional é formada por sede
administrativa, coordenações regionais e coordenação de relações
exteriores. Cabe aqui destacar, com muita satisfação, a eleição de
um membro da UNICAMP como coordenador regional, a Marília
Felício, da 44ª turma, ex-membro do CAAL.
As coordenações de área abrangem as coordenações:
Científica (CoCien), de Cultura (CoCult), de Educação e Saúde
(CoES), de Estágios e Vivências (CEV), de Extensão Universitária
(CExU), de Meio Ambiente (CoMA), de Políticas Educacionais (CPE)
e de Políticas de Saúde (CPS). Juntas formam o Centro de
Estudos e Pesquisas em Educação e Saúde (CENEPES),
que objetiva aprofundar o conhecimento da entidade
nessas áreas. Aqui cabe mais uma estrelinha para o novo
Coordenador de Estágios e Vivências, o Tung (Stênio
Duarte), também da 44ª turma e ex-membro do nosso
centro acadêmico.
Esperamos que essas representações tão próximas
de nós na DENEM favoreçam nosso contato com a
entidade e gostaríamos muito que todos os alunos da
Medicina UNICAMP se apropriassem desse privilégio.
Como participante desse COBREM, devo destacar que foi
uma experiência muito especial entrar em contato com pessoas
de todos os estados e planejar com eles algo tão importante
quanto o caminho que nossa executiva deve trilhar por este ano.
Foi um espaço de criação de idéias e de estreitamento de laços,
além de fortalecimento de lutas e ideais. Até agora, as idéias estão
fervilhando na minha cabeça e espero de todos os que lá encontrei,
a mesma força de vontade para realizar nossas lutas postas em
papel.
“Não há nada como um sonho para criar o futuro” Victor Hugo
Sarah Barbosa Segalla
Gestão Roda Viva - CAAL 2009
Patocultural
falácias
O FLAMENCO
8 O patolÓGICO
fevereiro de 2009
Me pega de novo que foi gostoso!
Suze(45) p/ Bambu (45), que a ensinava a nadar no dia livre do COBREM
O
Ricardo Schwingel (XLVI)
O flamenco é uma arte andaluza, nascida ao sul da Espanha. Por
ser uma arte popular muito antiga transmitida oralmente, é difícil
determinar suas origens com precisão. A passagem de diversas
etnias e civilizações pela Andaluzia aportou uma variedade de
influências, que determinaram substancialmente sua evolução. Os povos
que mais contribuíram no desenvolvimento desta arte foram os ciganos, os
árabes, os judeus e os cristãos, mas também devemos considerar que a região
recebeu influências mais antigas de fenícios, gregos, romanos e persas. A arte
flamenca manifesta-se em três formas: no cante, no baile e na guitarra.
O termo cante é uma denominação coletiva que abarca e diferencia um
copioso número de canções dentro do grande conjunto dos cantares próprios do povo andaluz. As primeiras aparições historicamente constatáveis
dessa música a situam nos espaços mais caracteristicamente marginais da
sociedade espanhola da época. O ambiente carcerário, a serra como lugar de
bandoleiros, contrabandistas, o mundo marinheiro, o trabalho nas ferrarias
são temas constantes nos versos desses cantes.
O baile teve suas
características básicas
cristalizadas provavelmente entre 1869 e
1929, a chamada
idade de ouro do flamenco. Apesar disso, é
vivo e está em constante
evolução. Por sua
natureza, relaciona-se
com as emoções
do executor e, portanto,
deixa uma ampla
liberdade a quem dança,
o que enriquece
muito a comunicação
com o público.
Apesar dessa liberdade
que lhe é atribuída
para criar, não pode ele
prescindir de uma
direção, de uma série de
normas e regras
que caracterizam o gestual e a estética
coreográfica dessa arte e
que fazem parte
do próprio flamenco.
A guitarra, no
seu princípio, teve exclusivamente uma finalidade básica de acompanhamento ao cante. Sua função
técnica se resumia na marcação rítmica e na sustentação harmônica do que
estivesse sendo executado, sem qualquer participação de destaque, como
hoje ocorre. Com a modernização do cante no início do século XX, também
a guitarra foi abrindo caminho no panorama musical, com a introdução de
expressivos matizes no toque como arpejos, acordes e dedilhados. Adaptados, muitas vezes, da técnica da guitarra clássica, esses recursos enriqueceram o sabor natural, o colorido e o regionalismo desse instrumento, que
atualmente tem papel de destaque pelo grande número de concertistas que
a ela se dedicam.
Apesar de ser uma arte popular, o flamenco recebeu contribuições importantes de autores individuais, dentre os quais vale destacar:
- No cante: El Planeta, El Fillo, Silverio Franconetti, Enrique El Mellizo, Antonio Chacón, Antonio Mairena, Manuel Torre, Fernanda e Bernarda de Utrera,
Pastora Pavón e Camarón de La Isla.
- No baile: Juana La Macarrona, Vicente Escudero, Antonio, Carmen Amaya,
Matilde Coral, Antonio Gades, Manuela Carrasco, Antonio Canales, Eva La
Yerbabuena e Sara Baras.
- Na guitarra: Maestro Patiño, Ramón Montoya, Diego Del Gastor, Sabicas,
Niño Ricardo, Serranito, Paco de Lucía, Manolo Sanlúcar, Tomatito, Gerardo
Nuñez e Vicente Amigo.
Córdoba, Pepe de. Palos Flamencos. – 1. Ed. - São Paulo: Edicon, 2008.
Reyes, Alberto García. Guía Del Flamenco de Andalucía. 3. Ed. - Junta de Andalucía, Consejeria de Turismo,
Comercio y Deporte, Turismo Andaluz, S.A. Egondi Artes Gráficas, 2005.
Graf-Martinez, Gerhard. Flamenco Gitarrenschule. ED 8253 BSS 48089. B. Schott’s Söhne, Mainz, 1994.
Pohren, D E. El arte flamenco. Sevilla: Editora Española, 1970.
“Tô quebrada! Já tentei todas as posições nesse banco mas não dá!
Lú Manhezi(46) para Miquelline (45), ao reclamar do desconforto do banco do ônibus da UFPR
na viagem de volta do COBREM.
“Está quente mas é gostoso.... vai, põe tudo na boca...
Jabá (FIDABEM-SP) com Miquelline 45 sobre uma tortinha frita do Mac
durante o COBREM.”
Spasmo!
Pra quê?
E então...
Você percebe que tem um dom qualquer...
Algo que você não sabe pra que serve,
não se diz e não se pode compartilhar!
Não sabe se te faz melhor ou pior.
É só o que VOCÊ vê...
Um dom que tem uma latência de uma vida se perceber.
Um dom que é ridiculamente pífio na eternidade a partir de, de...
Agora!
Mas isso não te basta e te angustia
Como se a cada dia fosse lhe dado o direito, o dever, a possibilidade
De salvar uma alma por dia e todo dia você falhasse
Um remoer por dentro do seu único EU
Escarnecendo encarcerado, rosnando amordaçado, eclodindo de suas
entranhas
grunhindo palavras santas e blasfêmias
Você é livre? Independente?
Maleável? Flexível?
Você convive com... gente?
Acredita que a possibilidade de entender coisas é passar por
elas, provar...
Há textura, odor, viagem -exclusivamente única?!
Você deve? Cobra? Quem cobra?
Você lê: “A maior prova de independência e liberdade é saber
preservar-se.”
...E acaba indo dormir mais burro do que acordou!
Malditos sejam todos!
Que fazem pensar que meus pensamentos não são meus.
Eles são meus e teus...
suportas o meu altruísmo sem inveja?
E a minha crueldade sem nojo?
A distância que nos separa é tão ilusória
quanto a idéia de existir um “meu” e um “seu”
Sou tanto parte de você quanto você imagina sermos seres
distintos
por isso prefiro o vinho tinto
Existe sempre um momento em que se pode resistir...
Ou se atirar de cabeça...
-É preferível, e inteligente, que se adie tal momento...
Há penumbra em nossas escolhas...
-É escura para atrair!
-É clara para o que convém!
O momento o conduz por onde lhe apraz. Cada situação tem
vida própria para conduzir!
A estranha familiaridade...
-O que mais se pode querer?!
-Acabou... Aceite!
Chello(37) e Bergo (41)
mais no orkut, na Comunidade “Devaneios Tolos”