Poluição Marinha em ambientes recifais na Baía
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Poluição Marinha em ambientes recifais na Baía
UNIVERSIDADE CATÓLICA DO SALVADOR INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DEPARTAMENTO DE FUNDAMENTOS E MÉTODOS Poluição Marinha em ambientes recifais na Baía de Todos os Santos: composição, síndromes ecológicas e aspectos conservacionistas GUSTAVO FREIRE DE CARVALHO-SOUZA Orientador Designer: Froes, P. & Carvalho-Souza, G. F.. Prof. M.Sc./Biólogo Moacir Santos Tinôco Ph.D. Candidate SALVADOR – BAHIA – BRASIL 2009 ® O corpo deste documento foi impresso utilizando papel de reflorestamento. GUSTAVO FREIRE DE CARVALHO-SOUZA Poluição Marinha em ambientes recifais na Baía de Todos os Santos: composição, síndromes ecológicas e aspectos conservacionistas Monografia de conclusão de disciplina apresentada ao Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Católica do Salvador como parte das exigências para a obtenção dos créditos totais da disciplina BIO375 – Ciências Ambientais. Orientador Prof. M.Sc./Biólogo Moacir Santos Tinôco Ph.D. Candidate Universidade Católica do Salvador / University of Kent (U.K.) SALVADOR – BAHIA – BRASIL 2009 pág. ii GUSTAVO FREIRE DE CARVALHO-SOUZA Poluição Marinha em ambientes recifais na Baía de Todos os Santos: composição, síndromes ecológicas e aspectos conservacionistas Este trabalho monográfico foi julgado e aprovado para a obtenção de crédito total na disciplina BIO375 Ciências do Ambiente do Curso de Licenciatura Plena em Ciências Biológicas do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Católica do Salvador. Salvador, 17 de dezembro de 2009. Profº. M. Sc. Moacir Santos Tinôco Coordenador BANCA EXAMINADORA DO TRABALHO MONOGRÁFICO: ___________________________________________________________________ Profª. Drª. Alina Sá Nunes Graduada em Ciências Biológicas/ UCSal, Mestre e Doutora em Geologia Marinha, Costeira e Sedimentar/UFBA, Professora adjunta de Zoologia do Departamento de Zoologia do Instituto de Ciências Biológicas/UCSal/UNIME. ___________________________________________________________________ Prof. Dr. Cláudio Luis Santos Sampaio Graduado em Ciências Biológicas/ UFBA, Mestre e Doutor em Zoologia/UFPB, Professor adjunto do Departamento de Biologia do Instituto de Ciências Biológicas/UFBA. Pesquisador Colaborador do Museu de Zoologia/UFBA. ___________________________________________________________________ Prof. M.Sc. Henrique Colombini Browne Ribeiro Licenciado em Ciências Biológicas/ UCSal, Mestre em Ecologia e Biomonitoramento/UFBA, Professor do Departamento de Biologia do Instituto de Ciências Biológicas/UNIME/FIB. Pesquisador Colaborador do Centro de Ecologia e Conservação Animal (ECOA / ICB / UCSal). Orientador do Trabalho Monográfico: ___________________________________________________________________ Prof. M.Sc./Biólogo Moacir Santos Tinôco Ph.D. Candidate Doutorando em Manejo da Biodiversidade – Universidade de Kent – DICE (U.K.), Coordenador do Centro de Ecologia e Conservação Animal (ECOA / ICB / UCSal). pág. iii UCSAL. Sistema de Bibliotecas. Setor de Cadastramento. S729 Carvalho-Souza, Gustavo Freire de Poluição marinha em ambientes recifais na Baía de Todos os Santos: composição, síndromes ecológicas e aspectos conservacionistas/ Gustavo Freire de Carvalho Souza .___ Salvador: Universidade Católica do Salvador, 2009. 113p. Monografia apresentada a disciplina BIO 375 – Ciências do Ambiente da Universidade Católica do Salvador, sendo Professor e Orientador Especialista Msc. Moacir Santos Tinoco,como requisito para obtenção da licenciatura em Ciências Biológicas. 1 2 1.Resíduos Sólidos 2.Gestão Costeira 3.Biodiversidade Marinha 4.Bahia 5.Nordeste do Brasil I. Autor II.Universidade Católica do Salvador III. Tinoco, Moacir Santos - Professor IV. Tinoco, Moacir Santos – 3 Orientador V.Título. CDU: 574.5:628.4 (812/813) pág. iv MENSAGEM "Quando a bordo do H.M.S. Beagle, como naturalista eu fui abalado pelas belas paisagens do Atlântico Sul na costa da América do Sul. Aquelas terras pareceram para mim que lançavam alguma luz sobre a origem das espécies... eu fui absorvido por aquelas paisagens" (Charles Darwin) pág. v DEDICATÓRIA “Eu dedico esta obra a memória do eterno amigo Fellipe Freitas Nascimento” pág. vi A Deus e todas as forças e energias superiores transmitidas nos momentos de solidão e tempestades, por todos os momentos necessários. Muito obrigado por estar sempre ao meu lado, e trazer bons ventos e águas claras e calmas. Aos meus pais, dinda e família pela oportunidade concedida, apoio, “porto seguro” e ao meu vô (in memorian) a quem me fez enxergar o mar... Ao “Sir” Moacir S. Tinôco, primeiro por acreditar em mim, por todos os momentos compartilhados, conversas, sabedoria, cervejas, amizade... um grande amigo, paizão e irmão, além de orientador, mestre, coordenador, patrão, verdadeiramente um modelo ecológico a ser seguido. “Estar sempre presente é orientar pra vida”. Lhe serei eternamente grato por tudo “melhor orientador do Brasil” (IEL/CNI/BRA). AGRADECIMENTOS AGRADECIMENTOS Aos amigos “irmãos” Yuri Watanabe, pelas idéias, realidades e vitorias compartilhadas, e Luciano “Tchatcha M.Sc.” Pataro pelos momentos de alegria (que bom!), sonhos, conquistas, ansiedade e expectativa pré-monografia, este me ergueu a mão, quando eu mais precisei. Aos amigos (as) “irmãos (ãs)” e colegas de todo e sempre, Rodrigo Maia Nogueira, Diego Medeiros, Rodrigo Cerqueira, Itaquaracy Nascimento, Marcelo Gazar, Gilvana Barreto, Ayumi “Tchatcha”, Raissa Frazão, Kelly Fuchs, Luciano Souto, Janete Abrão, Ricardo Silva, Danilo Couto, Tércio Melo, e Vinicius “Mendus”. A Henrique Browne-Ribeiro pela confiança depositada, amizade, conhecimentos e momentos de descontração em meio a seriedade. Aos amigos (as) extra-acadêmicos Bill, Lalay, Dedé, Juninho, Dri, Anderson, Felipe Maluco, Mentex, Renatinho, Luan, Davi pela eterna juventude compartilhada. Aos docentes, a “linda” Alina Sá Nunes, Paulo Portela, Marcelo Peres, Anderson Abehussen, Christiano Menezes e Bernadete pelo apoio e contribuição a minha formação profissional. Aos revisores e banca examinadora do presente trabalho pelo aceite ao convite e contribuição ao crescimento desta pesquisa, Dra. Alina Sá Nunes, Dr. Claudio L. S. Sampaio e M.Sc. Henrique C. Browne-Ribeiro. Ao formigueiro que tanto contribuiu para a semente SEMEIA ser um sucesso, muito obrigado por compartilharem este sonho e espero que acreditem sempre nele. pág. vii Ao Instituto Euvaldo Lodi pela parceria, iniciativa, premiação (ajudou muito!) e reconhecimento referente às melhores práticas de estágio, nas pessoas de Edneide e Glaucia. Ao Centro de Ecologia e Conservação Animal, e todos os Ecoantes pelo apoio constante, prestatividade, e o diferencial que esta “casa verde” proporciona a universidade. Ao Centro Biota Aquática e companheiros de sonho pela ajuda, momentos compartilhados e muitas conquistas futuras. Ao Instituto Mamíferos Aquáticos, Underwater Escola de Mergulho pelas oportunidades concedidas durante o período acadêmico. AGRADECIMENTOS A Lacerta Ambiental pela oportunidade de trabalho com capacitação de excelência técnica e profissional. Tenho muito orgulho das amizades construída e em fazer parte desta família e “Dream Team” comandado pelos “Coaches” Moacir e Henrique. Ao Manu Chao, Nação Zumbi, Natiruts, Chico, Raul e Lenine pela companhia e sonoridade. A todos que contribuíram direta e indiretamente durante a minha formação acadêmica e não estão aqui citados e são tão importantes quanto. A minha especial companheira pelo amor, dedicação, crescimento e carinho. E em especial a vida marinha, tão exuberante e tão frágil. Muito Obrigado! pág. viii LISTA DE FIGURAS...................................................................................................11 LISTA DE TABELAS..................................................................................................14 LISTA DE ABREVIATURAS.......................................................................................16 SUMÁRIO SUMÁRIO RESUMO....................................................................................................................17 ABSTRACT................................................................................................................18 1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................19 2. OBJETIVO GERAL.................................................................................................22 2.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS................................................................................22 3. REFERÊNCIAS......................................................................................................24 4. CAPÍTULO I – COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA DOS RESÍDUOS SÓLIDOS EM AMBIENTES RECIFAIS NA BAÍA DE TODOS OS SANTOS, BAHIA, BRASIL.....28 4.1 INTRODUÇÃO....................................................................................................29 4.2 MATERIAL E MÉTODOS.....................................................................................31 4.2.1 ÁREA DE ESTUDO...........................................................................................31 4.2.2 APLICAÇÃO DE MÉTODOS.............................................................................36 4.2.3 ANÁLISE DE DADOS........................................................................................41 4.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO............................................................................42 4.4 REFERÊNCIAS....................................................................................................56 5. CAPÍTULO II – UMA NOVA SÍNDROME ECOLÓGICA NOS AMBIENTES RECIFAIS? ASSOCIAÇÃO DA BIOTA E O LIXO MARINHO NO NORDESTE DO BRASIL..........................................................................................................61 5.1 INTRODUÇÃO.....................................................................................................62 5.2 MATERIAL E MÉTODOS.....................................................................................64 pág. ix 5.2.2 APLICAÇÃO DE MÉTODOS.............................................................................64 5.2.3 ANÁLISE DE DADOS........................................................................................65 5.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO............................................................................66 SUMÁRIO 5.2.1 ÁREA DE ESTUDO...........................................................................................64 5.4 REFERÊNCIAS....................................................................................................86 6. CAPÍTULO III – O MAR ESTA PARA PEIXE OU PARA O LIXO? SITUAÇÃO ATUAL E ESTRATÉGIAS PARA A CONSERVAÇÃO.............................................92 6.1 INTRODUÇÃO.....................................................................................................93 6.2 MATERIAL E MÉTODOS.....................................................................................95 6.2.1 APLICAÇÃO DE MÉTODOS.............................................................................95 6.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO............................................................................96 6.4 REFERÊNCIAS..................................................................................................102 7. CONCLUSÃO GERAL..........................................................................................105 8. ANEXOS...............................................................................................................107 pág. x Figura 1 – Mapa de localização da Baia de Todos os Santos, incluindo contorno geral de batimetria e marcação das áreas amostradas Figura 2 – Foto aérea da região metropolitana de Salvador e entrada da Baía de Todos os Santos, sendo amostrada a área do presente estudo. Figura 3 – Delimitação da área de estudo e marcações dos locais de amostragem subaquática (de baixo para cima: Farol da Barra – P1, Porto da Barra – P2 e Yacht/Marco Polo – P3). LISTA DE FIGURAS LISTA DE FIGURAS Figura 4 – Batimetria Média da Baía de Todos os Santos, reconstituída a partir dos valores de profundidade dados nos nóis da malha de discretização Figura 5 – Vista da praia do Farol da Barra, entrada da Baía de Todos os Santos. Figura 6 – Vista da praia do Porto da Barra, em especial o constante fluxo de freqüentadores (banhistas, turistas, mergulhadores, trabalhadores, etc) no local e atracamento de pequenas embarcações. Figura 7 – Vista da área 3, Yacht/Marco Pólo, em especial o fluxo da pesca no local e atracamento de pequenas embarcações em seu entorno. Figura 8 – Método de amostragem em transecto percorrendo uma área de 60m2 por censo visual. Figura 9 – Busca intensiva aleatória em toda delimitação do ambiente recifal. Figura 10 – Prancha de amostragem das técnicas e métodos empregados no presente trabalho: censo visual e anotações em prancheta de PVC (1, 3), colocação de transecto em linha (2), caracterização do meio físico e biótico (4), busca intensiva (5), coleta de resíduos (6). Figura 11 – Prancha de resíduos sólidos encontrados no presente trabalho: descarte, restos de pescarias e perdas de materiais plásticos (1, 6), de vidro (2), pág. xi substrato biótico, tecido, papel e outros (5). Figura 12 – Prancha de resíduos sólidos encontrados no presente trabalho: descarte, restos de pescarias e perdas de materiais de metal (1), outros (2, 4, 5, 6) e papel (3). Figura 13 – Distribuição dos resíduos sólidos amostrados por categoria no Farol da Barra (P1) em escala logarítmica: 1-10 (verde); 10-100 (vermelho); 100-1000 (amarelo), e box splot do desvio padrão. Legenda: Plástico (PLA), vidro (VID), madeira (MAD), metal (MET), tecido (TEC), apetrecho de pesca (APE), outros LISTA DE FIGURAS madeira, metal (3), apetrecho de pesca (4) evidenciando o enroscamento no (OUT). Figura 14 – Distribuição dos resíduos sólidos amostrados por categoria no Porto da Barra (P2) em escala logarítmica: 10-100 (vermelho); 100-1000 (amarelo), e box splot do desvio padrão. Legenda: Plástico (PLA), vidro (VID), madeira (MAD), metal (MET), tecido (TEC), apetrecho de pesca (APE), outros (OUT). Figura 15 – Distribuição dos resíduos sólidos amostrados por categoria no Yacht/Marco Polo (P3) em escala logarítmica: 10-100 (vermelho); 100-1000 (amarelo), e box splot do desvio padrão. Legenda: Plástico (PLA), vidro (VID), madeira (MAD), metal (MET), tecido (TEC), apetrecho de pesca (APE), outros (OUT). Figura 16 – Coeficiente de Importância Relativa a partir dos valores atribuídos às categorias de resíduos sólidos de acordo com o grau de risco de impacto ambiental destes no ambiente marinho. Figura 17. Prancha de espécies associadas aos resíduos sólidos encontrados no presente trabalho: Demospongiae associado a plástico (1), Cirripedia a plástico (2), Ischnochiton sp. com garrafa de plástico (3), Gastropoda associado a borracha, (4) Octopus sp. a metal (5), Equinaster sp. associado a metal (6). Figura 18. Prancha de espécies associadas aos resíduos sólidos encontrados no presente trabalho: Equinometra locunter utilizando resíduo para cobertura (1), Eucidaris tribuloides associado a apetrecho de pesca (2), Millepora alcicornis pág. xii metal como refugio (4) Octopus sp. associado a pote de vidro (5), Epinephelus adscensionis e Malacoctenus sp. (6). Fotos: Carvalho-Souza, 2009. Figura 19. Polvo Octopus sp. associado a resíduo sólido (vidro), como refugio e denotando-se a deposição de seus ovos. Figura 20. Dendograma de Cluster definindo o agrupamento das interações entre os organismos e resíduos sólidos no Farol da Barra (P1). Figura 21. Dendograma de Cluster definindo o agrupamento das interações entre os LISTA DE FIGURAS associado a resíduos (3), Replica de Astrapogon puncticulatus utilizando lata de organismos e resíduos sólidos no Porto da Barra (P2). Figura 22. Dendograma de Cluster definindo o agrupamento das interações entre os organismos e resíduos sólidos no Yacht/Marco Polo (P3). Figura 23 e 24. Associação de peixes e águas-vivas, e no segundo caso com sacos plásticos flutuantes. Figura 25. Petrel, Puffinus gravis, enroscado a apetrecho de pesca (anzol e linha de nylon), ao largo da costa da Bahia. pág. xiii Tabela 1 – Descrição dos resíduos encontrados por categoria nos ambientes recifais da BTS. Tabela 2 – Quali-Quantificação e numero total por itens e por área dos resíduos sólidos encontrados em cada categoria nos ambientes recifais da BTS. Tabela 3 – Resultados da média de resíduos encontrados e desvio padrão (±2) nos três ambientes recifais da BTS amostrados no presente estudo. LISTA DE TABELAS LISTA DE TABELAS Tabela 4 – Matriz Sociométrica de Avaliação de Risco de Impacto Ambiental dos resíduos sólidos no ambiente marinho. Os itens foram categorizados como plástico (V1), vidro (V2), madeira (V3), metal (V4), tecido (V5), apetrecho de pesca (V6), papel (V7) e outros (V8), com a inclusão da variável nominal. Tabela 5 – Riqueza de espécies associadas aos resíduos solidos em cada uma das áreas analisadas no presente estudo. Legenda = N Ponto – Numero total de Espécimes associados por local. N ind. – Abundância dos organismos associados; TRIVEN – Tripneustes ventricosus; EQUSP – Equinaster sp.; ASTPUN – Astrapogon pucticularia; CIRRIP – Cirripedia; ISCSP – Ischnochiton sp.; LYTVAR – Lytechinus variegatus; DEMOSP – Demospongiae; ASCIDI – Ascidiaceae; MAJIDA – Majidae; GASTRO –Gastropoda; EPIADS – Ephinephelus adscensiones; MALSP – Malacoctenus sp.; EUCTRI – Eucidaris tribuloide; NEOATL Neospongodes atlantica; EQULOC – Equinometra locunter; PALCAR Palythoa caribaeorum; MILALC – Millepora alcicornis; STESET – Stenorhynchus seticornis; STEHIS –Stenopus hispidus; PSEMAC – Pseudopeneus maculatus; OPHICIN - Ophioderma cinereum. Tabela 6 – Tabela 6. Numero de associações dos resíduos sólidos com a biota, registradas no presente trabalho em cada uma das áreas recifais da BTS. Tabela 7 – Check-list de espécies associadas à poluição marinha encontradas no presente estudo e registradas no litoral brasileiro de acordo com uma revisão de literatura especializa e consulta a pesquisadores ligados a conservação dos ambientes recifais marinhos no litoral da Bahia. Estão evidenciados o grupo taxonômico (menor taxa), numero de organismos (N), tipo de associação (captura pág. xiv resíduo associado (plástico, vidro, madeira, metal, tecido, apetrecho de pesca, papel, outros), local (estado) e literatura especializa, quando necessário. LISTA DE TABELAS acidental, cobertura, ingestão, utilização e adesão ao substrato, enroscado, refugio) pág. xv ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas APA – Área de Proteção Ambiental APE – Apetrecho de pesca AMP – Área Marinha Protegida AGRRA – Atlantic Gulf Reef Rapid Assessment BTS – Baia de Todos os Santos CIR – Coeficiente de Importância Relativa DDE – Dichloroethylene DDT – Diphenyl-Trichloroethane LISTA DE ABREVIAÇÕES LISTA DE ABREVIAÇÕES ENCOGERCO – Encontro Nacional de Gerenciamento Costeiro ICMPE – International Conference on Marine Pollution and Ecotoxicology NOAA – National Oceanic and Atmospheric Administration MAD – Madeira MARPOL – International Convention for the Prevention of Pollution from Ships MET – Metal OUT – Outros PAP – Papel PBDE – Polybrominated diphenyl ethers PCB – Polychlorinated Biphenyls PLA – Plástico PRV – Peso Relativo das Variáveis RDC – Rover Diving Census RMS – Região Metropolitana de Salvador TEC - Tecido VID – Vidro pág. xvi Mar de luxo ou de lixo. Os oceanos são conhecidos por sua grandeza, esplendor e contemplação, sendo o berço da vida e de síndromes ecológicas extremamente intrínsecas para a manutenção dos sistemas, no entanto, em virtude das atividades humanas atuais, este majestoso ecossistema vem sofrendo uma ameaça silenciosa RESUMO RESUMO RESUMO e crescente em todo o mundo. A poluição dos oceanos foi omitida por um longo tempo devido à falta de conhecimento e políticas de gerenciamento, havendo atualmente esforços esparsos para suprir estes diagnósticos, permanecendo muitas lacunas sobre o conhecimento dos impactos no ecossistema marinho, principalmente associados a habitats complexos como os ambientes recifais, sendo de fundamental importância para a consolidação do estado da Bahia como um ponto de referência nos estudos de poluição marinha no Brasil. Nesta obra são abordadas questões em três capítulos avaliando os resíduos sólidos em três ambientes recifais na Baía de Todos os Santos, suas associações com a biodiversidade e uma análise global destes poluentes, subsidiando estratégias e recomendações para a gestão e conservação do ecossistema costeiro e marinho. A partir da utilização de métodos não destrutivos foram realizados censos visuais subaquáticos a fim de verificar a dinâmica dos resíduos sólidos nos costões rochosos, como se desenvolvem as associações com a biota e uma revisão sobre os impactos atuais. Os resultados apresentados mostram a necessidade de executar programas de gestão costeira e integração dos diferentes atores direta ou indiretamente responsáveis como também os interessados na conservação. E afinal, até quando os mares e oceanos serão a lixeira do mundo? Palavras-chave: resíduos sólidos, gestão costeira, biodiversidade marinha, Bahia, Nordeste do Brasil pág. xvii Luxury seas or litter seas? Oceans are known for their magnanimity, splendor and reflection, they are, therefore, considered the beginning of life and ecological syndromes where they are an intrinsic part for the maintenance of natural systems, however, due to actual human activities, these magnificent ecosystems are suffering ABSTRACT ABSTRACT from a silent and growing threat along the whole of the planet. Ocean pollution was for long periods missed out of the general knowledge and management policies, and nowadays it shows some scattered efforts to fulfill this requirement There are still vast gaps on the marine ecosystems impacts learning, specially when we consider special and complex habitats such as the reef environments, for all that the Bahia State becomes a reference point on the marine debris studies in Brazil. Throughout this study it I covered three separate chapters, issues evaluating the marine debris in three different reef habitats in the Todos os Santos Bay, and their associations with the local biodiversity as well as a comprehensive analysis towards its pollutants, which may lend support for recommendations and policies for the local marine and coastal management and conservation. Starting from non destructive methods, I performed visual subaquatic census in order to verify the marine debris dynamics on the rocky sea beds, and observed how the associations with the local biota developed and on the final chapter I offer a literature review over the impacts in this ecosystem throughout the world. The results here presented illustrate the critical need for the development of coastal management programs and the integration of the main actors and stakeholders, directly or indirectly involved and also the ones responsible for conservation. Finally, for how long the seas and oceans are going to be the garbage can of the world? Key-words: marine debris, coastal management, marine biodiversity, Bahia state, north-eastern Brazil pág. xviii INTRODUÇÃO GERAL A palavra poluição deriva do latim (polluere – sujar), sendo a poluição marinha definida como a introdução, pelo homem, de substâncias ou energia no ambiente marinho (incluindo estuários), acarretando em efeitos deletérios, como danos aos recursos vivos, à saúde humana, e obstáculos às atividades marinhas incluindo pesca e lazer, ocasionando uma redução da qualidade de vida (MARQUES JR. et al., 2009). Estes efeitos podem estar associados aos principais poluentes conhecidos no ambiente marinho como metais pesados, hidrocarbonetos (derivados de petróleo), INTRODUÇÃO GERAL 1. esgotos, pesticidas, compostos orgânicos sintéticos, sedimentos antrópicos e resíduos sólidos (WINDOW, 1992). Dentre estes componentes os resíduos sólidos nos mares e oceanos também conhecidos como lixo marinho, do inglês, marine debris, pollution ou garbage, vem se tornando uma ameaça por seus diversos impactos nestes ambientes e outros associados. Podem ser evidenciados como efeitos destes agentes, a contaminação (principalmente por agentes externos, como Nonilfenois e PCBs, pesca fantasma (ghost fishing), ingestão, introdução de espécies exóticas, prejuízos a navegação e ao turismo (SANTOS, 2005; TOURINHO, 2007; SZLINDER-RICHERT et al., 2009). Os impactos causados a indústria do turismo, de grande potencial econômico principalmente aos países tropicais como o Brasil, leva a possíveis restrições destes efeitos no valor cênico e atividades recreativas em áreas com registros de poluentes (NOLLKAEMPER, 1994) Segundo a ABNT (2004) e os conceitos acima, os resíduos sólidos são todo resíduo nos estados sólido e semi-sólido resultando de atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição, sendo classificados em função de suas propriedades físico-químicas e por meio da identificação dos contaminantes presentes. pág. 1 generalizada em todo o mundo havendo quantidades representativas destes poluentes que podem ser encontrados nos mais diversos ecossistemas marinhos (LAIST, 1987; DUFAULT e WHITEHEAD, 1994). Estipula-se que milhões de toneladas de lixo como o plástico, cheguem aos oceanos com o passar de cada ano (DERRAIK, 2002). Contudo, a ameaça desse material e demais resíduos sólidos não biodegradáveis para o ambiente marinho foi ignorada por muito tempo, e sua gravidade só recentemente foi reconhecida (STEFATOS et al., 1999). Em meio a esta gama de ameaças apontadas pela poluição no bioma costeiro e marinho, por sua vez, a vida que nela habita, é sem duvida um dos elementos principais e mais frágeis desse sistema. Além do que estes poluentes afetam a respiração dos organismos marinhos pelo bloqueio de suas via respiratórias, a INTRODUÇÃO GERAL INTRODUÇÃOGERAL Ecologicamente persistentes, a acumulação destes resíduos contaminantes é alimentação e causam uma diminuição da atividade fotossintética do fitoplâncton devido à redução da penetração de luz na coluna d‟água (MARQUES JR. et al., 2009). De acordo com estas ameaças, diversas atividades vêm sendo realizadas por inúmeras organizações para elencar e findar a problemática da poluição marinha em todo o mundo. São reconhecidas ações como a International Convention for Prevention of Pollution from Ships (MARPOL), o Dia Mundial de Limpeza de praias e oceanos (Clean up Day), Conferências e Simpósios (ICMPE, ENCOGERCO, etc) e Programas Educativos e de Monitoramento do Lixo Marinho em escala local a global (NOAA Marine Debris Program, Global Garbage, Programa Lixus humanus, dentre outros). Todas estas com intuitos de diagnosticar os impactos causados, instituir protocolos de prevenção, regulamentação e controle, mitigar o descarte de resíduos e óleos e principalmente sensibilizar as populações das regiões costeiras. Dessa forma, atualmente a presença de lixo nos oceanos e zonas costeiras vem chamando a atenção de diversos pesquisadores pelo mundo (LAIST, 1987; DUFAULT e WHITEHEAD, 1994; DERRAIK, 2002; IVAR DO SUL e COSTA, 2007; SPENGLER, 2009). Ivar do Sul e Costa (2007) realizaram uma revisão sobre os trabalhos realizados em praias na América do Sul e região do Caribe sinalizando 38 estudos ate então, enquanto que foram encontrados apenas 26 estudos realizados pág. 2 oceanos (SPENGLER e COSTA, 2008). Nesse contexto no Brasil, com uma extensão de costa de aproximadamente 7.000 km, os estudos com relação ao lixo no ambiente marinho ou correlatos, foram realizados no Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Maranhão e Pará (FIGUEIREDO Jr. et al., 2001; SANTOS et al., 2001; KATSUMITI, 2003; ARAUJO e COSTA, 2004; WETZEL et al., 2004; MACHADO, 2006; MASCARENHAS et al., 2008; NUNES et al., 2008; FIGUEIREDO e SOARES, 2008; BARBIERI, 2009), sendo alguns estudos pontuais no litoral da Bahia, (MAIA-NOGUEIRA, 2000, IVAR DO SUL, 2005; SAMPAIO, 2006; SANTOS et al., 2005; SANTOS et al., 2009; SANTANA NETO, 2009), no entanto INTRODUÇÃO GERAL em todo o mundo, avaliando os resíduos sólidos nas regiões bentônicas dos ainda existem muitas lacunas a serem exploradas com relação a poluição marinha, e principalmente envoltos aos ambientes submersos, seus efeitos e interações em locais de grande importância ecológica e potencial turístico no estado. O conhecimento sobre o lixo marinho bem como a compreensão dos processos que estes promovem na costa baiana e mais especificamente nos ambientes recifais surgem como uma iniciativa promissora e de fundamental importância para reforçar a consolidação do estado da Bahia como um ponto de referência nos estudos de poluição marinha no Brasil. A partir destes fatos, este trabalho teve como pretensão avaliar a atual situação dos resíduos sólidos em três ambientes recifais costeiros da Baía de Todos os Santos, verificando a composição e estrutura, os possíveis efeitos de impacto desta contaminação, associações com a biota e uma análise em escala global oferecendo subsídios para a gestão costeira, principalmente em áreas intensamente exploradas em maior ou menor grau de influência por usuários de praia (locais e turistas), navegação, pesca e atividades subaquáticas (recreacional e científico). pág. 3 OBJETIVO GERAL Avaliar a atual situação da poluição marinha por resíduos sólidos em três ambientes recifais costeiros da Baía de Todos os Santos, Bahia, nordeste do Brasil, verificando OBJETIVOS 2. os possíveis efeitos de impacto desta contaminação, sua composição e estrutura, síndromes ecológicas, uma análise em escala global e subsídios para a gestão dessas áreas. 2.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS Quali-quantificar os resíduos sólidos em três ambientes recifais; Respondendo as seguintes perguntas: - Quais tipos de lixo submerso são encontrados nos costões rochosos estudados? - Qual a quantidade de resíduos em cada um dos costões estudados? Avaliar as variações encontradas na composição e estrutura dos resíduos sólidos entre as áreas amostradas; Respondendo as seguintes perguntas: - Existe diferença nos tipos de resíduos encontrados nos costões amostrados da Baía de Todos os Santos? - A abundância do lixo submerso se diferencia nos costões estudados? - Em qual tipo de substrato (consolidado e inconsolidado) o lixo submerso pode se alojar? Discutir os efeitos da contaminação por resíduos sólidos nos ambientes recifais Respondendo as seguintes perguntas: - Qual a situação atual do lixo submerso nos recifes estudados? - Como esse efeito de contaminação poderá afetar e de quais formas no ambiente? pág. pág. 4 4 Descrever as espécies envolvidas e suas associações com o lixo submerso; Respondendo as seguintes perguntas: - Quais grupos taxonômicos e espécies se associam ao lixo submerso? - Quais tipo(s) de resíduo(s) mais envolvido(s) na síndrome? - Como ocorrem estas síndromes? - Quais os possíveis efeitos deletérios sobre a biodiversidade marinha? OBJETIVOS Analisar a situação atual dos resíduos sólidos e propor estratégias para a gestão Respondendo as seguintes perguntas: - Qual situação atual do lixo marinho em escala global e local? - Quais subsídios e recomendações para a gestão costeira podem ser evidenciados? Os três capítulos que compõem o corpo principal deste trabalho monográfico responderão às questões acima propostas. O primeiro manuscrito abordará o atual estado de contaminação dos resíduos sólidos em três ambientes recifais costeiros da Baía de Todos os Santos, e pretende responder às questões um a sete. O segundo manuscrito visa verificar a associação da biota com o lixo submerso nos ambientes recifais citados e pretende responder às questões de oito a dez, e o terceiro capitulo trará uma avaliação da situação atual do lixo submerso em escala global utilizando dados primários e secundários, pretendendo responder as questões onze e doze. Conclusões e sugestões gerais, relativas ao objetivo geral do trabalho, encontrar-se-ão após o terceiro capítulo. pág. pág. 5 5 REFERÊNCIAS ARAÚJO, M. C. B. & COSTA, M. F. 2004. Quali-quantitative analysis of the solid wastes at Tamandare Bay, Pernambuco, Brazil. Tropical Oceanography, Recife, v. 32, n. 2, p. 159-170. REFERÊNCIAS 3. 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CAPÍTULO I Composição e estrutura dos resíduos sólidos em ambientes recifais na Baía de Todos os Santos, Bahia, Brasil Structure and composition of marine debris in reef habitats in the Todos os Santos bay, Bahia, Brazil Carvalho-Souza, G. F. 2009 *Este capitulo encontra-se em conformidade para submissão ao periódico Revista de Gestão Costeira Integrada (Journal of Integrated Coastal Zone Management). A poluição dos oceanos foi omitida por um longo tempo devido à falta de conhecimento e políticas de gerenciamento, em se tratando de uma ameaça séria e crescente em todo o mundo (LAIST, 1987; NAGELKERKEN et al., 2001). A partir da revolução industrial, a produção de materiais não degradáveis foi intensificada e substitutiva aos materiais degradáveis, em detrimento as atividades humanas, sendo crescente nos últimos 50 anos, esta contaminação por resíduos INTRODUÇÃO 4.1 INTRODUÇÃO sólidos sobretudo aos ecossistemas costeiros e marinhos (GOLIK & GERTNER, 1992). Os resíduos sólidos e demais poluentes por sua vez atuam como agentes contaminantes nos oceanos e regiões costeiras, através da emissão por usuários de praia, canais, emissários e sistemas de tratamento das cidades litorâneas, e/ou descarte direto no mar por embarcações e plataformas de petróleo (SPENGLER, 2009). Estes resíduos sólidos, em especial, os materiais plásticos (uma das principais matérias primas da indústria atual), apresentam capacidade de flutuar, podendo ser transportados a grandes distâncias, como também podem se alojar no fundo dos oceanos e com isso permanecer por períodos inestimáveis devido a sua insolubilidade, baixa degradabilidade e assoreamento (KUBOTA, 1994; DERRAIK, 2002). Dentre as suas inúmeras ameaças listadas para o ambiente marinho e a biota, os resíduos sólidos também podem promover impactos sobre as atividades humanas, através de impedimentos e prejuízos a navegação, enredamento, restrições as atividades recreativas e comerciais, propiciando até perdas econômicas, e modificação da paisagem (OFIARA e SENECA, 2006; SPENGLER, 2009). Estudos utilizando os resíduos sólidos como modelo de avaliação nos fundos oceânicos em todo o mundo são incipientes (GALIL et al., 1995; STEFATOS et al., pág. 11 como método de amostragem destes resíduos sólidos (RIBIC, 1992; DONOHUE et al., 2001; KATSANEVAKIS e KATSAROU, 2004; SAMPAIO, 2006; MACHADO, 2006; SPENGLER, 2009). Em virtude dessa atual degradação de habitats, perda de biodiversidade, e estoques marinhos praticamente exauridos e sobre efeitos da sobre-explotação pesqueira, são de fundamental importância o conhecimento dos processos de intervenção e impactos ocorrentes no ecossistema marinho, principalmente INTRODUÇÃO 1999; GALGANI et al., 2000), e ainda mais raros os que empregam o mergulho associados a habitats de complexidade como os ambientes recifais costeiros, nos quais se localizam enquadrados em grandes metrópoles, servindo de base para a manutenção dos sistemas ecológicos. Frente às questões expostas, este capítulo se propõe a avaliar a composição e estrutura dos resíduos sólidos em três ambientes recifais costeiros da Baía de Todos os Santos, nordeste do Brasil, e verificar os possíveis efeitos impactantes desta contaminação nos ambientes recifais. pág. 12 4.2.1 Área de Estudo: A Baía de Todos os Santos (BTS) é o segundo maior acidente geográfico da costa do Brasil com uma área de 1223 km² (GENS, LESSA e CIRANO, 2004), resultante de uma longa cadeia de eventos, iniciados na separação dos continentes, efeitos do progressivo resfriamento do planeta (durante o Cenozóico), e variações na amplitude das marés em repetidos episódios de inundação e esvaziamento da baía, sendo determinados por esta história geológica (DOMINGUEZ & BITTENCOURT, 2009), no qual permitiram dessa forma em seu contorno e fisiografia, uma série de enseadas, ilhas, canais, sub-baias, penínsulas, recifes de MATERIAL E MÉTODOS 4.2 MATERIAL E MÉTODOS corais, costões rochosos e praias (Figura 1). Figura 1. Mapa de localização da Baia de Todos os Santos, incluindo contorno geral de batimetria e marcação das áreas amostradas (Adaptado de LESSA, 2001). pág. pág. 13 13 sedimentares que preenchem a sub-bacia sedimentar do Recôncavo (DOMINGUEZ & BITTENCOURT, 2009), apresentando um mosaico de paisagens de relativa importância biogeomorfológica, histórica e econômica, envolvendo 12 municípios com concentração demográfica elevada, como Salvador (maior aglomerado urbano do Nordeste), e estando enquadrada como Área de Proteção Ambiental (APA) desde sua criação pelo decreto estadual n° 7.595 de 05 de junho de 1999, sendo esta uma das menos restritivas categorias de proteção de unidades de conservação, e até então, esta unidade de conservação (UC) ainda não possui plano de manejo, e a elaboração deste só vem sendo discutido recentemente (Figura 2). MATERIAL E MÉTODOS Localizada na região do Recôncavo baiano, esta inserida sobre as rochas Figura 2. Foto aérea da região metropolitana de Salvador e entrada da Baía de Todos os Santos, estando inserida a área do presente estudo. Foto: Souza, N., 2009 (http://www.niltonsouza.com.br). Na entrada da baía (canal de Salvador), onde está aproximada a localização dos habitats da área de estudo, predominam os sedimentos marinhos de natureza arenosa e composição siliciclástica, como também pela ação das correntes de maré (DOMINGUEZ & BITTENCOURT, 2009). Os costões rochosos da área de estudo, centrados nas intermediações do Farol da Barra (13°00‟32.05” S e 38°00‟32.20” O), Porto da Barra (13°00‟13.85” S e 38°32‟01.19” O) e Yacht Clube (12°59‟57.04” S e 38°31‟52.92” O), localizam-se na porção sudeste da BTS, (Figura 3) sendo constituídos por rochas ígneas e metamórficas originadas do Pré-Cambriano (LESSA, 2000), possuindo sua extensão rochosa uniforme e com formação de paredes em suas extremidades, além de possuírem águas rasas (cerca de 5 a 15 m de profundidade), sendo que as maiores pág. 14 hidrodinâmica e oceanográfica diretamente influenciadas pelas correntes marinhas com características semi-diurnas e amplitude máxima de 2,7 m em suas porções mais internas (LESSA, 2001) (Figura 4). Sua variação de salinidade na porção principal da BTS está entre 33,0 e 36,7, sendo que estuários se restringem as áreas de influência do rio Paraguaçu. As temperaturas variam de 24° e 30° C, se tratando de características de ambientes abertos de mar (NUNES, 2002). MATERIAL E MÉTODOS profundidades são encontradas no canal de Salvador e apresentam uma circulação Figura 3. Delimitação da área de estudo e marcações dos locais de amostragem subaquática (de baixo para cima: Farol da Barra – P1, Porto da Barra – P2 e Yacht/Marco Polo – P3). Adaptado por Carvalho-Souza, G. F. de Google Earth, 2009. pág. 15 Figura 4. Batimetria Média da Baía de Todos os Santos, reconstituída a partir dos valores de profundidade dados nos nóis da malha de discretização (LESSA, 2000). MATERIAL E MÉTODOS 0 – 30 m 31 – 60 m 61 – 1000 m > 1000 m O substrato é composto predominantemente por fácies arenosas na região inconsolidada e por algas marinhas (Chlorophyta, Rhodophyta e Phaeophyta) e zoantídeos, Palythoa caribaeorum (Duchassaing & Michelotti 1860) e Zoanthus cf. sociatus, como também ouriços do mar, Lytechinus variegatus (Lamarck, 1816) e Echinometra lucunter (Linnaeus, 1758), Ascidiacea como Phallusia nigra Savigny, 1816, e colônias de corais como Millepora alcicornis Linnaeus 1758, Neospongodes atlantica Kukenthal 1903, Favia sp., Montastrea cavernosa (Linnaeus 1767), Mussismilia spp. e Siderastrea spp. são encontrados nas regiões consolidadas. O primeiro ponto de amostragem conhecido como Farol da Barra (P1) é uma área onde se localiza o Forte de Santo Antônio da Barra e encontra-se a entrada da BTS, sendo significativamente exposta à ação de ondas e utilizada por banhistas e diversos esportes e atividades náuticas, como o surf, natação, vela, caça submarina, coleta de organismos ornamentais, alem do mergulho recreativo e científico, devido também à presença de diversos naufrágios como Maraldi, Bretagne e Germânia (Naufrágios do Brasil, 2009) (Figura 5). pág. 16 MATERIAL E MÉTODOS Figura 5. Vista da praia do Farol da Barra (P1), entrada da Baía de Todos os Santos. Foto: Maia-Nogueira, R., 2009. O Porto da Barra (P2) é um local onde situa-se o Forte de Santa Maria, concentrando-se em uma reentrância de águas calmas e claras durante grande período do ano, servindo de sítio de atracamento para pequenas embarcações, desde pesca e lazer, e constitui-se um dos pontos de apelo turístico mais famosos do município, como também altamente frequentada pela população local, e devido a estes fatores concentra-se uma área de intenso impacto (Figura 5). Figura 6. Vista da praia do Porto da Barra, em especial o constante fluxo de freqüentadores no local, e atracamento de pequenas embarcações. Foto: Carvalho-Souza, G. F., 2009. pág. 17 desde o seu histórico com a construção do Yacht Clube da Bahia em 1935 e demais construções a beira-mar, apresenta uma comunidade local, e também é um ponto de atracamento de embarcações, sendo ainda utilizada para a pesca, lazer, coleta de organismos ornamentais e mergulho recreativo e cientifico (Figura 6). MATERIAL E MÉTODOS A área conhecida como Yacht/Marco Polo (P3) possui forte pressão antrópica Figura 7. Vista de P3, Yacht/Marco Polo, em especial o fluxo da pesca no local e atracamento de pequenas embarcações em seu entorno. Foto: Maia-Nogueira, R., 2009. Os costões rochosos da Barra e demais áreas de influência direta ou indireta, possuem usos múltiplos em todo seu entorno, constituindo uma área com elevada pressão antrópica evidenciando a alta produção de resíduos, porém possui um enorme potencial biológico, econômico, turístico e histórico (SAMPAIO, 2006). 4.2.2 Aplicação de Métodos: As observações de campo ocorreram nos meses de agosto a outubro de 2009, no período matutino (06h00min as 12h00min) e período vespertino (12h01min as 18h00min) em todas as áreas analisadas. Um único mergulhador realizou as contagens para evitar o viés relacionado ao desempenho do mergulhador (WILLIANS et al., 2006). Os dados coletados em campo foram registrados em placas de PVC, as áreas de estudo georeferenciadas por um GPS Garmim™ eTrex pág. 18 uma câmera digital Sony™ Cybershot W-170. As amostragens estão de acordo com as fases da lua e o ciclo das marés, baseado na Tábua de Maré da Diretoria de Hidrografia e Navegação da Marinha do Brasil, conforme as previsões de marés do Porto de Salvador - Bahia (12º57,9 S ; 38º31',0 W – carta 1102), distante cerca de 4 a 5 km das áreas de estudo respectivamente (Disponível em http://www.mar.mil.br/dhn/chm/tabuas/index.htm). Foram realizados 105 censos visuais utilizando dois métodos de amostragem em mergulho livre, onde esta técnica apresenta um baixo custo e torna-se aplicável a ambientes recifais costeiros como os três costões rochosos amostrados, Farol da Barra (P1), Porto da Barra (P2) e Yacht/Marco Polo (P3). Realizou-se 30 censos nos MATERIAL E MÉTODOS e observadas suas características físicas, além de registros fotográficos utilizando períodos matutino (n= 15) e vespertino (n= 15) em cada área, totalizando 90 censos subaquáticos utilizando uma adaptação do protocolo AGRRA (Atlantic Gulf Reef Rapid Assessment), visto a sua eficiência comprovada em amostragens de comunidades bióticas. Os transectos em linha de cabo com multifilamentos de polipropileno e chumbo de 30 x 4 metros (totalizando 120m2) foram estendidos aleatoriamente em profundidades entre 0,5 e 10 m, nas intermediações de todo o ambiente recifal, mantendo uma velocidade constante de natação, durante toda a coleta de dados, com uma duração média de 12 minutos cada (Figura 8). Protocolo AGRRA (Atlantic Gul Reef Rapid Assessment) Transecto em Linha Madeira - 6, plast , Vidro, 7 Papel – 12 Lytechinus variegatus - 7 30 m 2 m 2 Figura 8. Método de amostragem em transecto percorrendo uma área de 60m por censo visual. Imagem: Carvalho-Souza, G. F., 2009. Adicionado nas amostragens qualitativas, foram realizados 15 censos visuais subaquáticos (5 por localidade) utilizando o método adaptado do Rover Diving Census (RDC), consistindo em uma busca intensiva aleatória durante 30 minutos, pág. 19 natação durante toda a coleta de dados verificando a composição dos resíduos sólidos bentônicos, estrutura física do local e as possíveis associações e o tipo de comportamento da biota com o lixo submerso, este ultimo detalhado no segundo capítulo do presente trabalho (Figura 9). MATERIAL E MÉTODOS em toda a delimitação do ambiente recifal, mantendo uma velocidade constante de Figura 9. Busca intensiva aleatória em toda delimitação do ambiente recifal. Imagem: Carvalho-Souza, G. F., 2009. Foram coletados durante os censos visuais dados quali-quantitativos dos resíduos sólidos encontrados, sua relação com o meio biótico e de que forma estavam dispostos, sendo realizados em substratos consolidados ou inconsolidados (Figura 10.1 a 10.6). Todo o resíduo submerso com tamanho a partir de 2 cm foi registrado e removido manualmente para evitar re-amostragens quantitativas e posteriormente acondicionados em sacos de tela (Figura 10). Todos os resíduos sólidos coletados foram encaminhados ao sistema de coleta pública de resíduos do município devido principalmente ao estado de deterioração que passam no ambiente marinho e desta forma, em sua maioria, encontram-se indisponíveis para reutilização e/ou sujeitos a processos de reciclagem. pág. 20 2 3 4 5 6 MATERIAL E MÉTODOS 1 Figura 10. Prancha de amostragem das técnicas e métodos empregados no presente trabalho: censo visual e anotações em prancheta de PVC (1, 3), colocação de transecto em linha (2), caracterização do meio físico e biótico (4), busca intensiva (5), coleta de resíduos (6). Fotos: Aguiar, L. G. P. A., 2009. Os resíduos encontrados foram classificados e quantificados categoricamente da seguinte forma: plástico, vidro, madeira, papel, metal, tecido, restos de artefatos de pesca e outros (borracha, óculos, calçados, isopor e afins). pág. pág. 21 21 liberação de Nonilfenóis, DDE (dichloroethylene), PCB (Polychlorinated Biphenyls), PBDE (Polybrominated diphenyl ethers) e DDT (Diphenyl-Trichloroethane), que são liberados pelo plástico e absorvidos pelo ambiente (LIU et al., 2005; DENTON et al., 2006; SZLINDER-RICHERT et al., 2009). E o item madeira foi considerado quando somente de origem antropogênica. Materiais como pneus ou objetos de tamanho e peso elevado não foram removidos devido às condições logísticas e quando houveram bioincrustação, de forma a tornarem-se recifes artificiais e sua remoção causaria mais impactos ao ambiente, devido a sua reconhecida importância para a biodiversidade marinha (SANTOS e PASSAVANTE, 2007), no entanto estes foram marcados com uma fita MATERIAL MÉTODOS MATERIALEEMÉTODOS O item plástico foi removido em qualquer nível de incrustação devido à de seda na cor branca e ao final das atividades de campo, estas foram removidas. Naufrágios não foram incorporados como resíduos sólidos no presente trabalho devido a questões estruturais e de amostragem, e sua reconhecida importância biológica, turística, histórica e econômica, onde estudos específicos a estes ambientes se tornam necessários. A partir da categorização dos resíduos sólidos foi elaborada uma matriz sociométrica de avaliação de risco de impacto ambiental, de acordo com uma adaptação de Sanchez, (2006) e Tinoco (2005), com a finalidade de identificar a partir da valoração de indicadores as que seriam mais importantes e que poderiam possuir maior risco ao ambiente. Entre todas as variáveis, cada uma destas foi comparada com as demais, par a par, afim de obter como resultado o peso relativo das variáveis (PRV), e após somados determinar seu Coeficiente de Importância Relativa (CIR), que indica o ordenamento dos produtos obtidos, ou seja, evidenciando as categorias de resíduos com maior risco de impacto. pág. 22 Para o tratamento estatístico foram utilizadas matrizes da plataforma Microsoft Office 2007® para tabulação e armazenamento de dados, sendo realizada uma descrição estatística, e os testes de Kruskal-Wallis - ANOVA não paramétrica e Comparação Múltipla de Dunn, quando houve diferença estatística significativa, para verificar a existência de diferença estatística significativa, entre argumentos explicando a organização dos objetos, principalmente quando considerados os tipos de resíduos e a distribuição destes entre os pontos e sua associação com a biota. Para estas respostas foi aplicado o pacote estatístico Graphpad Instat ©. Com o objetivo de verificar a formação de grupos similares quanto às classes de resíduos encontrados e entre estes e a biota a estes associada, foi aplicada a MATERIAL E MÉTODOS 4.2.3 Análise de dados: análise de agrupamento de Cluster, com a utilização da distância Euclidiana e método de ligação de Ward, considerando uma amostragem aleatória simples, probabilística e com dados quantitativos contínuos (MCCUNE & GRACE, 2002). Para estas análises foi aplicado o pacote estatístico PCord © para plataforma Windows. Com o objetivo de discutir a importância e riscos de impacto ambiental, por parte das diferentes classes de resíduos, foi aplicada a técnica de avaliação de risco proposta por Sanchez (2006) e adaptada por Tinoco (2007). Esta técnica consiste da atribuição de peso para as diferentes variáveis de risco, neste caso, cada tipo de resíduo encontrado, considerando sua magnitude, escala espacial e temporal, capacidade de gerenciamento e danos físicos ao ambiente analisado. Após a atribuição de valores é então calculado o coeficiente de importância relativa (C.I.R.), o qual determina segundo estes critérios, qual resíduo se apresenta como mais importante neste contexto. pág. 23 Este capítulo traz um diagnóstico dos resíduos sólidos em três ambientes recifais costeiros da Baía de Todos os Santos, sendo levantado um total de 1.428 objetos divididos em oito categorias de resíduos sólidos. Dentre os objetos encontrados em cada categoria foram identificados desde fragmentos como dos mais diversos tipos de itens (Tabela 1). Tipo de Resíduo DESCRIÇÃO DOS RESIDUOS ENCONTRADOS Plástico barbeador, colher, copo, embalagens, espelho, fragmentos, garfo, garrafa, interruptor de tomada, pente Vidro copo, garrafas, fragmentos, perfume Madeira fragmentos, de embarcações, palitos de picolé, churrasco e queijo coalho Metal cesta, colher, fragmentos, lata de bebida e tinta Tecido biquíni, camisa, cordões, fragmentos, fitas, lençol, meia, prendedor de cabelo, short, toalhas Apetrecho de pesca anzol, chumbada, fragmentos de rede e muzuá, monofilamento, nylon Papel cartaz, flyer, fragmentos,embalagem, papelão Outros acento sanitário, bateria alcalina, borracha, cartão telefônico, celular, concreto, corda, embalagem, espuma, fiação, fibra, gude, moeda, óculos, pincel, pneu, preservativo, sandália, solado, tênis, tubo, tralha RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Tabela 1. Descrição detalhada dos resíduos sólidos encontrados por categoria nos três ambientes recifais da Baía de Todos os Santos - BTS. Percebe-se a partir dos tipos de itens encontrados nas áreas, que estes estão intimamente associados a descarte, pesca e perdas (Figura 11 e 12), e evidenciam um completo descuido por parte da população que freqüenta, trabalha e habita nestas localidades. Este fato esta vinculado aos registros do presente estudo, onde não foi encontrado nenhum indicio até então de serem originários de países estrangeiros, nos fazendo perceber que o lixo produzido nestas regiões da BTS tem uma origem local, ao contrario de resultados encontrados por outros estudos que diagnosticaram fontes externas, como advindos de embarcações e flutuantes dispersores (SANTOS, 2005). pág. 24 advindos de festejos populares e culturais em nosso estado como a festa de Yemanjá e festividades de final de ano que acarretam a uma série de resíduos como cestas, frascos de perfume, espelho e afins, onde alternativas a estes itens se fazem necessárias, e estudos específicos poderiam proporcionar uma integração da cultura aliada à conservação do ambiente como um todo. 1 2 3 4 5 6 RESULTADOS E DISCUSSÃO Outro fator verificado quanto à composição do lixo é a presença de materiais Figura 11. Prancha de resíduos sólidos encontrados no presente trabalho: descarte, restos de pescarias e perdas de materiais plásticos (1, 6), de vidro (2), madeira, metal (3), apetrecho de pesca (4) evidenciando o enroscamento no substrato biótico, tecido, papel e outros (5). Fotos: CarvalhoSouza, 2009. pág. 25 2 3 4 5 6 RESULTADOS E DISCUSSÃO 1 Figura 12. Prancha de resíduos sólidos encontrados no presente trabalho: descarte, restos de pescarias e perdas de materiais de metal (1), outros (2, 4, 5, 6) e papel (3). Fotos: Carvalho-Souza, 2009 e Maia-Nogueira, 2008 (5). O plástico foi o item mais encontrado em todas as áreas (n: 477) seguido de madeira (n: 298), e metal (n: 221), sendo os mais representativos (Tabela 2). Este fato é corroborado com outros estudos que avaliaram o lixo marinho tanto em ambiente praial como em fundos oceânicos, dos quais evidenciam o plástico, dentre pág. 26 associados (PIANOWSKI, 1997, DERRAIK, 2002; ARAÚJO & COSTA, 2004; WETZEL et al., 2004; IVAR DO SUL, 2005; SAMPAIO, 2006; SANTANA NETO, 2009; SPENGLER, 2009). O plástico já é reconhecido cientificamente por sua predominância e superioridade dentre as categorias de resíduos (DERRAIK, 2002), em virtude principalmente do atual sistema de consumo das ultimas décadas ao qual este produto é de elevado e fácil descarte, onde sua durabilidade no meio marinho ainda é incerta, mas eles parecem durar cerca de três a dez anos, e provavelmente os aditivos podem prorrogar esse prazo de 30 a 50 anos (GREGORY, 1978), e possuindo uma alta mobilidade de dispersão e liberação de substancias como Nonilfenóis, DDE, PCB (Polychlorinated Biphenyls) e DDT, já evidenciados anteriormente. Tipo de Resíduo Plástico Vidro Madeira Metal Tecido Apetrecho de pesca Papel Outros N TOTAL/ÁREA FAROL 138 08 05 69 30 06 13 35 304 PORTO 204 32 274 76 33 18 45 29 711 YACHT/MARCOPOLO 135 26 19 76 16 49 13 79 413 N TOTAL/ITEM 477 66 298 221 79 73 71 143 1428 RESULTADOS E DISCUSSÃO os resíduos, como a maior problemática dos ambientes costeiros, marinhos e Tabela 2. Quali-Quantificação e numero total por itens e por área dos resíduos sólidos encontrados em cada categoria nos ambientes recifais da BTS. Os resíduos sólidos amostrados nos censos visuais em todas as áreas apresentavam-se na região bentônica embora fosse comumente observada à presença de objetos flutuantes, inclusive associados à biota (descrito com maiores detalhes no capitulo 2), e conseqüentemente através da dinâmica das correntes podem estar se dispersando e poluindo outras localidades, ou ainda causando problemas graves como possíveis introduções de espécies exóticas (SANTOS, 2005). pág. 27 mais representativas quanto entre o tipo de item encontrado. Na área do Farol da Barra (P1), foi encontrada uma média de 38 objetos e teve um desvio padrão (±2) de 45,78209257, enquanto que no Porto da Barra (P2) obteve-se uma média de 88,875 objetos e desvio padrão de 96,05123261 e na região do Yacht/Marco Polo (P3) apresentou uma média de 51,625 objetos e um desvio padrão de 42,7348553 (Tabela 3). Média Desvio Padrão (±2) FAROL (P1) 38 45,78209257 PORTO (P2) 88,875 96,05123261 YACHT/MARCO POLO (P3) 51,625 42,7348553 Tabela 3. Resultados da média de resíduos encontrados e desvio padrão (±2) nos três ambientes recifais da BTS amostrados no presente estudo. No Farol da Barra, local com menor intensidade de resíduos encontrados predominou o plástico (n= 138), metal (n= 69) e outros (n= 35) (Figura 13). Já na RESULTADOS E DISCUSSÃO Foi verificada a ocorrência de variações entre as áreas tanto nas categorias região do Porto da Barra (P2), os itens mais encontrados foram madeira (n= 274), plástico (n= 204) e metal (n= 76) (Figura 14). O terceiro local amostrado, o Yacht/Marco Polo (P3), teve o plástico (n= 135) como resíduo mais encontrado seguido de outros (n= 79) e metal (n= 76) (Figura 15). Figura 13. Distribuição dos resíduos sólidos amostrados por categoria no Farol da Barra (P1) em escala logarítmica: 1-10 (verde); 10-100 (vermelho); 100-1000 (amarelo), e box splot do desvio pág. 28 de pesca (APE), outros (OUT). Figura 14. Distribuição dos resíduos sólidos amostrados por categoria no Porto da Barra (P2) em escala logarítmica: 10-100 (vermelho); 100-1000 (amarelo), e box splot do desvio padrão. Legenda: Plástico (PLA), vidro (VID), madeira (MAD), metal (MET), tecido (TEC), apetrecho de pesca (APE), RESULTADOS E DISCUSSÃO padrão. Legenda: Plástico (PLA), vidro (VID), madeira (MAD), metal (MET), tecido (TEC), apetrecho outros (OUT). Figura 15. Distribuição dos resíduos sólidos amostrados por categoria no Yacht/Marco Polo (P3) em escala logarítmica: 10-100 (vermelho); 100-1000 (amarelo), e box splot do desvio padrão. Legenda: Plástico (PLA), vidro (VID), madeira (MAD), metal (MET), tecido (TEC), apetrecho de pesca (APE), outros (OUT). pág. 29 Barra foi à única localidade que apresentou três escalas de grandeza, para as diferentes classes de resíduos encontrados, sendo representado em ordem decrescente pelo plástico (100-1000), seguido de metal, tecido, papel e outros (10100), e por ultimo agrupados na escala 1-10, encontra-se o vidro, madeira e apetrecho de pesca. No Porto da Barra e Yacht/Marco Polo o escalonamento observou duas grandezas presentes apresentando como itens de maior grandeza a madeira e o plástico (100-1000), enquanto que vidro, metal, tecido, apetrecho de pesca, papel e outros se concentraram na grandeza 10-100. Foram encontradas diferenças significativas através do teste de KruskalWallis - ANOVA não paramétrica, entre cinco categorias de resíduos e nas áreas de amostragem, sendo estas encontradas no Farol da Barra com o vidro (p = 0,0129), no Porto da Barra, com a madeira (p = 0,0001) e papel (p = 0,0246), e no Yacht/Marco Polo, encontrado com apetrecho de pesca (p = 0,0001) e papel (p = RESULTADOS E DISCUSSÃO Após analisar os gráficos acima (Figuras 11, 12 e 13) nota-se que o Farol da 0,0246). Com base nestas informações foi realizada uma comparação múltipla de Dunn para as diferenças estatísticas significativas percebendo que o que elevou a diferença do Farol da Barra entre seus resíduos encontrados foi o vidro (p < 0,05), devido, sobretudo a sua baixa freqüência de ocorrência naquele ponto. Já o Porto da Barra se diferenciou devido aos itens plástico e madeira (p < 0,05), onde foi constatada uma elevada concentração destes resíduos no local. O Yacht/Marco Polo apresentou diferenças significativas nos seus resíduos, apetrecho de pesca, papel e outros (p < 0,05). Baseado nestes registros pôde-se atribuir os resultados encontrados provavelmente as seguintes questões: O Farol da Barra se apresenta a partir de sua caracterização como um local com menor fluxo de freqüentadores devido a sua estreita fácie arenosa emersa (somente exposta em baixa-mar), e assim apresenta uma proximidade de sua balaustrada da orla marítima da cidade, facilitando o direcionamento de resíduos diretamente ao mar, que por sua vez, possui uma ampla dinâmica e influência das pág. 30 podem estar sendo carreados em deposição a ambientes mais profundos, onde são evidenciados desde já a necessidade de estudos com maior escala de espaço e tempo. O Porto da Barra apresenta um intenso e contínuo fluxo de frequentadores das mais diversas atuações, atividades e segmentos, sendo o local com maior quantidade de resíduos encontrados, e em sua grande maioria quando comparados todos os itens (par a par) entre as áreas, a exceção de apetrecho de pesca e outros na área do Yacht/Marco Polo. Além de uma elevada geração de resíduos P2 apresenta uma região de baía mais protegida e por isso denota-se que os resíduos encontrados são depositados na própria localidade. Este foi o único local dentre os demais avaliados que teve como resíduo mais encontrado a madeira, este fato ocorreu em virtude de um elevado consumo de gêneros alimentícios que utilizam palito para “churrasquinho”, RESULTADOS E DISCUSSÃO correntes em relação às demais áreas, por sua fisiografia, com isso os resíduos queijo coalho, camarão e picolé. Este item é apontado também por banhistas e freqüentadores em entrevistas realizadas como um resíduo que pode causar danos à saúde em virtude do seu teor perfurante (CARVALHO-SOUZA comm. Pess.). Em P3, Yacht/Marco Polo foram registradas categorias iguais às encontradas no Farol da Barra, apesar de apresentarem áreas fisicamente heterogêneas, no entanto merecem atenção especial aos registros apontados nas categorias outros e apetrecho de pesca devido a sua proporção em relação às outras localidades apontando com isso, uma elevada concentração de pesca artesanal no local. Outro fator que merece destaque é que este item pode continuar a capturar inúmeros organismos através da “pesca fantasma”. Além disso, nesta mesma área, através das observações de composição dos resíduos, percebeu-se que a grande quantidade de itens da categoria outros como fraldas, pincel, latas de tinta, restos de roupa, fragmentos de embarcações diversos e afins, esta associada ao mal direcionamento dos resíduos gerados pela comunidade que vive no local e pescadores que a utilizam, sendo necessários pág. 31 área. A presença de plástico e metal entre as três categorias mais representativas em todas as áreas representa um padrão de homogeneidade na deposição de resíduos entre as áreas analisadas, indicado também pela conectividade entre estas. Estes itens também estão intimamente relacionados ao exacerbado consumo de bebidas e alimentos principalmente resultantes das atividades de lazer nas praias e oceanos. Apesar de a escala temporal do presente trabalho não se apresentar longínqua os padrões de composição e estrutura dos resíduos foram semelhantes a outros trabalhos realizados com o lixo marinho tanto em praias como no ambiente bentônico utilizando os mais diversos métodos pelo mundo e na costa brasileira (PIANOWSKI, 1997, IVAR DO SUL, 2003; KATSANEVAKIS e KATSAROU, 2004; RESULTADOS E DISCUSSÃO também estudos de sensibilização ambiental e gerenciamento sócio-ambiental desta ARAÚJO & COSTA, 2004; SAMPAIO, 2006; SPENGLER, 2009). Os níveis de ocupação dos locais refletiram diretamente na abundância e diversidade de resíduos sólidos, como encontrado em outros estudos (IOC/FAO/UNEP, 1989; IVAR DO SUL, 2005), onde na área de maior fluxo de freqüentadores houve uma maior proporção de lixo relacionado ao consumo, e na área onde ocorre habitação e pesca os itens foram relativos a estas atividades. Fragmentos de resíduos sólidos foram comumente encontrados no presente trabalho em todas as áreas analisadas e representam uma ameaça, pois são facilmente ingeridos pela biota (BUGONI et al. 2001). Em locais menos habitados, no entanto com uma pressão pesqueira o item mais encontrado foi artefatos de pesca (SCHARER, 2004), como visto parcialmente em sítio (P3) no presente estudo, embora neste caso não houvesse somente esta influência e este item não foi o mais encontrado, e sim representativo. Na mesma localidade Sampaio (2006) verificou o impacto dos resíduos sólidos sobre organismos de importância ornamental encontrando dados similares quanto à composição o lixo submerso e diferindo somente no local com maiores pág. 32 Yacht Clube. Com isso, observou que armadilhas de pesca associadas as correntes marinhas refletem os resultados encontrados. Santana Neto (2009) estudando o ambiente praial do Porto da Barra, área emersa de um dos pontos do presente trabalho, encontrou um significativa quantidade de resíduos sólidos, como os amostrados nos ambientes submersos, entretanto uma menor quantidade de categorias o que indica que muitos dos resíduos estão sendo diretamente carreados e depositados nos ambientes recifais por múltiplos fatores evidenciados, ou ainda podendo servir de núcleos de dispersão a outros locais onde existe um menor fluxo de freqüentadores no entanto os indícios de poluição são registrados como as praias do sul da Bahia recebendo aporte da deriva litorânea (SANTOS, et al., 2009). Contudo ainda se torna difícil mensurar os reais impactos dos resíduos sólidos e demais poluentes no ambiente marinho, visto sua dinâmica e processos RESULTADOS E DISCUSSÃO densidades sendo este o Farol da Barra, seguido do Porto da Barra e por fim o oceanográficos envolvidos onde seus efeitos transbordam escalas locais e são necessários integrar monitoramentos a longo prazo de forma padronizada passiveis de comparação, devido a grande quantidade de métodos aplicados e a integração de diversos avaliadores para um diagnóstico mais representativo. Baseado nestes pontos foi acrescentado às informações encontradas, resultados propostos através da confecção da matriz sociométrica de avaliação de risco de impacto ambiental (Tabela 4) e sendo gerado seu coeficiente de importância relativa (C.I.R.) (Figura 16), onde definem o plástico como o item de maior risco, pois a integração dos seus diversos polímeros apresentando estruturas moleculares não encontradas no ambiente natural, e assim não sofrendo os efeitos da fotodegradação, o que leva a baixas taxas de biodegradação, condicionadas justamente pelo alto aporte produzido pela industria atual, e seu longo prazo de degradação aos habitats (UNESCO, 1994), já sendo elencado acima suas diversificadas e intensas problemáticas no ambiente marinho. Apetrecho de pesca foi também indicado como um item estressor aos habitats marinhos devido ao seu conhecido impacto de causar danos a vida marinha (LAIST, pág. 33 Os principais itens encontrados nesta categoria foram fragmentos de redes, linhas de nylon, anzóis e chumbada. Observações registraram que redes e linhas de nylon constantemente encontravam-se enroscadas as ramificações das colônias do hidrocoral Millepora spp. Outro ponto a ser considerado é o da chumbada, um metal cumulativo e tóxico no ambiente e sua contaminação representa uma séria ameaça não só a questão ambiental, como também de saúde pública. O vidro apesar de ser um resíduo com fácil bioincrustação recebeu esta importância pelo elevado período que leva para se degradar no ambiente e seus fragmentos causarem danos a saúde. Os objetos mais observados foram fragmentos, frascos de perfume, garrafas e potes, onde muitos organismos encontravam-se alojados. RESULTADOSEEDISCUSSÃO DISCUSSÃO RESULTADOS 1987), como também o baixo potencial de degradabilidade de seus componentes. pág. 34 Resíduo V1 Plástico 0,9 0,9 0,9 0,9 0,8 0,9 0,8 1 Vidro 0,1 Madeira Metal Tecido Apetrecho de pesca Papel Outros Variável Nominal V2 V3 V4 V5 V6 V7 V8 0,197222 0,7 0,5 0,6 0,4 0,8 0,6 1 0,1 C.I.R. 0,3 0,1 0,3 0,3 0,1 0,5 0,2 1 0,5 0,1 0,7 0,4 0,2 0,2 0 0,8 0,2 0,8 0,1 0,7 0 0,105556 0,9 0,7 1 0,3 0,4 0 0,125 0,2 0,7 0,3 1 0,8 0,5 0,4 0 0,4 0,9 0,2 0,077778 0,6 0,2 0,8 0,6 1 0,7 0,6 0,1 0,130556 0,2 1 0,3 0 0,163889 0,8 0 0,072222 1 0,127778 0 0 Tabela 4. Matriz Sociométrica de Avaliação de Risco de Impacto Ambiental dos resíduos sólidos no ambiente marinho. Os itens foram categorizados como plástico (V1), vidro (V2), madeira (V3), metal (V4), tecido (V5), apetrecho de pesca (V6), papel (V7) e outros (V8), com a inclusão da variável nominal. Figura 16. Coeficiente de Importância Relativa a partir dos valores atribuídos às categorias de resíduos sólidos de acordo com o grau de risco de impacto ambiental destes no ambiente marinho. pag. 35 RESULTADOS E DISCUSSÃO 0 infinidade de matérias que poderiam estar enquadrados e seus efeitos são desconhecidos. Esta categoria apresentou itens como pneu, preservativo, calçados, tubo e tralha e alguns bem incomuns como acento sanitário, bateria alcalina, cartão telefônico, celular, fiação. O item metal apesar de apresentar maior degradabilidade quanto em contato ao ambiente marinho devido, sobretudo a salinidade, apresenta importância econômica atual na indústria da reciclagem e um grande mercado informal, embora também possa representar uma ameaça a saúde publica. Seus itens mais registrados foram fragmentos, latas e lacres. O tecido se enquadrou como potencial impacto por pode provocar danos a vida marinha sobretudo ao enroscamento e cobertura impedindo até a passagem luminosa. Nesta categoria foi representativo o numero de fragmentos e roupas. RESULTADOS E DISCUSSÃO A categoria outros foi indicada pelo principio da precaução, devido a sua O item madeira apresentou risco pelas elevadas quantidades encontradas no local através principalmente de resíduos alimentares e provocar danos devido a sua característica perfurante. Os itens mais encontrados foram palitos e fragmentos de embarcações. Apesar de o papel apresentar uma elevada degradabilidade pode apresentar riscos e efeitos em grandes concentrações por se tratar de um material não natural. Os registros maiores foram para fragmentos e embalagens. Estes dados evidenciam que os ambientes recifais costeiros da Baía de Todos os Santos encontram-se contaminados por resíduos sólidos e provavelmente este seja um padrão para ambientes recifais urbanos de toda a costa da Bahia, tendo como principais e preocupantes poluentes o plástico, madeira, metal, apetrechos de pesca e outros onde estes estão afetando diretamente o ambiente, a biota, paisagem submarina, as atividades recreacionais, o comércio, e com isso podendo acarretar a perdas ecossocioculturais e econômicas para o estado. Os dados obtidos no presente trabalho servirão como informações pretéritas acerca desta problemática e a futuros planos de gerenciamento e manejo destas áreas de pág. 36 capítulo diagnosticou a composição e estrutura dos resíduos sólidos em três ambientes recifais costeiros da Baia de Todos os Santos, identificando padrões dos resíduos sólidos e avaliando seus efeitos e possíveis impactos nestes ambientes. Para uma melhor compreensão da dinâmica destes padrões e processos envolvendo os resíduos sólidos na Baía de Todos os Santos se evidenciam necessários maiores estudos de escala espaço-temporal, identificando o estado de conservação das áreas e efeitos da poluição marinha, dispersão destes resíduos a outras localidades através de correntes, os locais de deposição no substrato, monitoramento das diversas atividades comerciais e pescaria artesanal como também dos festejos sócio-culturais, envoltas a área de influência e sensibilização ambiental aos diferentes atores que estão envolvidos direta ou indiretamente acerca desta problemática. RESULTADOS E DISCUSSÃO importância biogeomorfológica, turística, histórica e econômica. Assim, o presente pág. 37 ARAÚJO, M. C. B. & COSTA, M. F. 2004. Quali-quantitative analysis of the solid wastes at Tamandare Bay, Pernambuco, Brazil. Tropical Oceanography, Recife, v. 32, n. 2, p. 159-170. BUGONI, L.; KRAUSE, L. & PETRY, M. V. 2001. 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S. 2007 *Este capitulo encontra-se em conformidade para submissão ao periódico Marine Pollution Bulletim. Os ambientes recifais representam a maior biodiversidade e complexidade estrutural dos ecossistemas marinhos tropicais (PAULAY, 1997). Esses ambientes formam os habitats de uma infinidade de organismos, os quais utilizam estas áreas para alimentação, interações, moradia, esconderijo e reprodução (KREBS, 1994). Dentre estes fatores necessários para a vida dos organismos no planeta, as INTRODUÇÃO 5.1 INTRODUÇÃO síndromes ecológicas podem ser evidenciadas como as relações entre os organismos nos seus habitats ocorrendo de diversas formas como comensais, mutualísticas, de protocoperação ou parasitárias (BEGON et al., 2006). Estas síndromes ecológicas compõem parte do repertório comportamental das espécies e ocorre interligado a uma diversidade de interações inter-específicas, principalmente associadas aos seus hábitos alimentares atuando em seu crescimento e reprodução, (DARWIN, 1859; RICKLEFS, 2003). Atualmente a poluição marinha vem protagonizando uma das mais novas e ainda desconhecidas associações nas assembléias dos recifes de todo o mundo, devido à crescente disposição destes resíduos nestes ambientes. Estes resíduos dentro da teoria e dos processos ecológicos tornam-se uma condição para as espécies e assim estas respondem de acordo com sua necessidade de recursos para realização de seu ciclo natural (RICKLEFS, 2003; BEGON et al., 2006). O lixo marinho é conhecido por afetar ao menos 267 espécies de animais marinhos em todo o mundo, incluindo 86% de todas as espécies de répteis marinhos, 44% de todas as espécies de aves marinhas e 43% de todas as espécies de mamíferos marinhos, além de muitas espécies de peixes, corais, moluscos e crustáceos. (LAIST, 1997). Alterações promovidas pelos poluentes na produtividade do ecossistema marinho, representados por uma diminuição dos nutrientes, degradação do substrato e na qualidade da água, podem provocar danos a todo um ecossistema, resultando pág. 44 cadeia trófica, além de prejudicar uma serie de elos envolvidos (OFIARA e SENECA, 2006). Estas mudanças na estrutura do ecossistema e perda de habitat por uma longa escala temporal ou espacial pode resultar em declínio na distribuição e riqueza de organismos em ecossistemas costeiros, marinhos e associados como manguezais e restingas, já que altera toda cadeia produtiva adjacente. INTRODUÇÃO em inúmeras perdas biológicas e econômicas, e afetando diretamente o habitat e Diversos estudos vem registrando a problemática do lixo e a biota marinha (MAIA-NOGUEIRA, 2000; BUGONI et al., 2001; SAZIMA et al., 2002; MEIRELLES e BARROS, 2007; BARREIROS e LUIZ JR, 2008), no entanto se faz necessária a realização de diagnósticos do estado dessas associações visto o seu caráter particular entre os tipos de associações, espécies e materiais sólidos envolvidos. Neste capítulo, uma das mais novas associações nas assembléias dos recifes de todo o mundo é descrita em três ambientes recifais costeiros da Baía de Todos os Santos. É discutida a apresentação de um diagnóstico do estado da síndrome da biota com o lixo submerso dentre os possíveis tipos de associações, espécies e materiais sólidos envolvidos. pág. 45 5.2.1 Área de Estudo: A área utilizada para realização do presente estudo é descrita detalhadamente em Carvalho-Souza, 2009 (Capítulo I). Em síntese, trata-se de costões rochosos localizados na entrada da Baía de Todos os Santos sendo estes: Farol da Barra (P1), Porto da Barra (P2) e Yacht Clube (P3), possuindo uma elevada biodiversidade, intensa pressão antrópica e de degradação dos habitats, sendo explorada pelos mais diversos setores, evidenciando uma elevada produção de resíduos, no entanto possui um enorme potencial biológico, econômico, turístico e histórico (SAMPAIO, 2006). MATERIAL E MÉTODOS 5.2 MATERIAL E MÉTODOS 5.2.2 Aplicação de Métodos: As observações de campo ocorreram nos meses de agosto a outubro de 2009, observado ciclo das marés e a utilização do protocolo AGRRA (Atlantic Gul Reef Rapid Assessment) como descrito em Carvalho-Souza, 2009 (Capítulo I). Durante a coleta de dados e após a triagem dos resíduos foi verificada, quando existiu, a presença de organismos marinhos associados, sendo verificado os tipo(s) e respectivas quantidade(s) de resíduo(s) envolvido(s) (plástico, vidro, madeira, metal, tecido, apetrecho de pesca, papel e outros) e a forma desta associação (captura acidental, cobertura, ingestão, utilização e adesão ao substrato, enroscado, refugio). Para a determinação dos taxa, neste estudo, utilizou-se a literatura especializada (CARVALHO-FILHO, 1999; HUMMAN & DELOACH, 2002; HUMMAN & DELOACH, 2003; SAMPAIO & NOTTINGHAM, 2008). Além das associações registradas in situ foi realizada uma revisão na literatura especializada e consulta a pesquisadores relacionados com o ambiente marinho no estado da Bahia para a confecção de uma listagem de espécies que constituíram algum tipo de síndrome com os resíduos sólidos no litoral brasileiro. pág. 46 As associações foram analisadas com base em um agrupamento de cluster (MCCUNE e GRACE, 2002). As matrizes foram organizadas de forma a revelar a similaridade entre argumentos e objetos, ao longo das três unidades amostrais. Foi utilizada a distância Euclidiana e o método de ligação de Ward com padronização padrão, para dados quantitativos discretos em amostragens probabilísticas aleatórias simples. Foram também organizadas matrizes, quadros e tabelas, a fim de apresentar um resumo estatístico descritivo, onde foram abordadas as freqüências globais reveladas ao longo do estudo. MATERIAL E MÉTODOS 5.2.3 Análise de dados: Todas as matrizes foram organizadas em banco de dados do pacote Excel™ e as análises desenvolvidas no pacote PCOrd™ para a plataforma Windows, com aplicação de planilhas em formato Lotus©. pág. 47 Neste capítulo o presente estudo traz evidencias de uma das mais novas associações nas assembléias dos recifes de todo o mundo, diagnosticando os possíveis impactos deletérios causados pela poluição na biota marinha em ambientes recifais. Foram encontradas síndromes ecológicas da biota com os resíduos sólidos, sendo representadas por 21 espécies dos mais diversos taxa como Porifera (n= 1), Cnidaria (n= 3), Mollusca (n= 2), Equinodermata (n= 6), Crustacea (n= 4), Ascidiaceae (n= 1) e Pisces (n= 4), associadas a resíduos sólidos nos três ambientes recifais costeiros da BTS (Tabela 1). TRIVEN EQUSP ASTPUN CIRRIP ISCSP LYTVAR DEMOSP ASCIDI MAJIDA GASTRO EPHADS MALSP EUCTRI NEOATL EQULOC PALCAR MILALC STESET STEHIS PSEMAC OPHCIN N Ponto FAROL (P1) PORTO (P2) Yacht/Marco Polo (P3) N Ind. 3 2 3 0 1 0 1 0 2 0 2 0 63 0 60 3 16 2 14 0 123 37 49 37 5 0 4 1 2 0 2 0 5 0 5 0 3 0 1 2 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0 10 10 0 0 1 1 0 0 20 4 0 16 1 0 0 1 1 0 0 1 1 0 0 1 1 0 0 1 54 145 63 262 RESULTADOS E DISCUSSÃO 5.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Tabela 5. Riqueza de espécies associadas aos resíduos solidos em cada uma das áreas analisadas no presente estudo. Legenda = N Ponto – Numero total de Espécimes associados por local. N ind. – Abundância dos organismos associados; TRIVEN – Tripneustes ventricosus; EQUSP – Equinaster sp.; ASTPUN – Astrapogon puncticulatus; CIRRIP – Cirripedia; ISCSP – Ischnochiton sp.; LYTVAR – Lytechinus variegatus; DEMOSP – Demospongiae; ASCIDI – Ascidiaceae; MAJIDA – Majidae; GASTRO – Gastropoda; EPIADS – Ephinephelus adscensiones; MALSP – Malacoctenus sp.; EUCTRI – Eucidaris tribuloide; NEOATL Neospongodes atlantica; EQULOC – Equinometra locunter; PALCAR – Palythoa caribaeorum; MILALC – Millepora alcicornis; STESET – Stenorhynchus pág. 48 PSEMAC – Pseudopeneus maculatus; OPHICIN - Ophioderma cinereum. Entre os resultados encontrados nas três unidades espaciais, o Porto da Barra foi à que apresentou o maior número de espécies (n= 14) e organismos (n= 145) associados aos resíduos sólidos, seguida do Yacht/Marco Polo com nove espécies e 63 organismos e por último o Farol da Barra com uma menor representatividade de espécies (n= 5) e organismos (n= 54), estando estes resultados diretamente conectados aos de composição e estrutura encontrados para as áreas estudadas (CARVALHO-SOUZA, 2009 – Capítulo I) (Tabela 1). Isto denota claramente que quanto maior o nível de contaminação da área, maior a possibilidade de ocorrência de síndromes, tanto em diversidade como em abundância nos ambientes recifais (Figura 17 e 18). Em virtude da atual degradação de habitats e efeitos antropogênicos cada vez mais evidentes no ambiente, as espécies vêm buscando se adaptar a esta nova RESULTADOS E DISCUSSÃO seticornis; STEHIS –Stenopus hispidus; realidade e cada vez mais são reportados indícios deletérios da biota a poluição marinha (LAIST, 1987). No entanto estes impactos ocorrem de maneira cíclica e se torna muito mais prejudicial à biota do que se fossem contínuos (SANTOS, 2004). Inúmeros são os registros das associações da biota com o lixo, e estas podem estar promovendo grandes conseqüências ao ambiente marinho como efeitos letais a populações, desde ingestão a enroscamento, diminuição do recurso e capacidade de forrageio, mudanças de habito, bloqueio do trato digestivo e introdução de espécies exóticas (LAIST, 1987; IOC/FAO/UNEP, 1989; BUGONI et al., 2001; SANTOS, 2005). pág. 49 2 3 4 5 6 DISCUSSÃO RESULTADOS EE DISCUSSÃO RESULTADOS 1 Figura 17. Prancha de espécies associadas aos resíduos sólidos encontrados no presente trabalho: Demospongiae associado a plástico (1), Cirripedia a plástico (2), Ischnochiton sp. com garrafa de plástico (3), Gastropoda associado a borracha, (4) Octopus sp. a metal (5), Equinaster sp. associado a metal (6). Fotos: Carvalho-Souza, 2009 e Sampaio, 2007 (5). pág. 50 2 3 4 5 6 RESULTADOS E DISCUSSÃO 1 Figura 18. Prancha de espécies associadas aos resíduos sólidos encontrados no presente trabalho: Equinometra locunter utilizando resíduo para cobertura (1), Eucidaris tribuloides associado a apetrecho de pesca (2), Millepora alcicornis associado a resíduos (3), Demonstração de Astrapogon puncticulatus utilizando lata de metal como refugio (4) Octopus sp. associado a pote de vidro (5), Epinephelus adscensionis e Malacoctenus sp. (6). Fotos: Carvalho-Souza, 2009. No presente estudo foram registradas diversas associações da biota ao lixo submerso, sendo cobertura a mais freqüente (n= 119), sendo esta carreada pela elevada abundância dos ouriços-do-mar, principalmente a Lytechinus variegatus, pág. 51 ou adesão ao substrato foi à síndrome mais registrada (n= 33), sendo que este fato pode ser corroborado nas discussões sobre o lixo marinho como um possível introdutor de espécies exóticas (SANTOS, 2005), e apesar do registro comum de algumas espécies invasoras na BTS, inclusive sendo predadas por espécies nativas (SAMPAIO e ROSA, 2005) não foi registrada nenhuma destas espécies nas observações do presente trabalho. Resíduos enroscados a biota foi uma associação também registrada (n= 29), onde foi evidenciada, sobretudo aos cnidários e apetrecho de pesca. Por ultimo refúgio foi à síndrome registrada nos censos visuais (n= 14), onde diversos resíduos sólidos apresentam formas que possibilitam a sua utilização por inúmeras espécies, entretanto este material apresenta uma dinâmica de dispersão e degradabilidade em função do tempo (Tabela 6). Tipo de Associação FAROL (P1) PORTO (P2) Yacht/Marco Polo (P3) Cobertura 39 42 38 Substrato 5 24 4 Refugio 0 10 4 Enroscado 13 0 16 RESULTADOS E DISCUSSÃO que apresentaram uma singular associação, descrita posteriormente. Após utilização Tabela 6. Numero de associações dos resíduos sólidos com a biota, registradas no presente trabalho em cada uma das áreas recifais da BTS. Dentre as espécies associadas, Lytechinus variegatus foi à espécie mais representativa (n= 123) em associações com o lixo submerso nos ambientes recifais da BTS. Esta associação como dos demais ouriços-do-mar encontrados, Tripneustes ventricosus e Equinometra locunter, esteve muito ligada à cobertura para proteção da luz UV e em menor proporção ao substrato. Fierce e Lapin (2004) realizaram um experimento utilizando as espécies L. variegatus e T. ventricosus, com relação ao uso de materiais naturais ou não como cobertura para se proteger da radiação ultravioleta. Estes autores encontraram evidencias de seletividade para T. ventricosus em materiais de cor escura (tiras pretas), que reduz a luz solar em sua superfície aboral, e nenhuma distinção para L. variegatus, onde este pode ter rejeitado o material plástico simplesmente por ser um material estranho e introduzido, ou escolher materiais que lhe permitam misturar-se no substrato natural (“faixas de grama”, do inglês, grass strips). Além disso, L. variegatus apresentou aqui uma intrínseca associação com resíduos sólidos principalmente materiais pág. 52 do-mar em ambientes menos contaminados mantêm, com condições propicias e continuamente equilibradas, utilizam restos de diversos materiais naturais como conchas, corais, algas e pedras, também registrados no presente estudo (CARVALHO-SOUZA obs. pess.). As conhecidas cracas (Cirripedia) também foram comuns em associação com os resíduos sólidos, mais especificamente plástico (n= 52) e vidro (n= 11), no entanto estas foram evidenciadas em fragmentos ou materiais aproximadamente maiores que 20 cm, onde este fato esta relacionado à fixação das larvas, onde as cracas evitam se fixar em superfícies pequenas que poderiam limitar seu crescimento (LEVINGTON, 1995). O poliplacóforo Ischnochiton sp. foi outra espécie também registrada com freqüência relacionadas ao lixo através de sua agregação ao substrato, no entanto foram encontrados somente em materiais plásticos (n= 9) e de vidro (n= 6). RESULTADOS E DISCUSSÃO plásticos (n= 89), utilizando-os para cobertura. No entanto, é observado que ouriços- Contudo nestes casos, animais sésseis ou que fiquem agregados a substratos móveis podem apresentar problemáticas, já citadas como perda de habitat devido ao tempo de deterioração do substrato e a dispersão e invasão de espécies através da flutuação e transporte ao longo de grandes distâncias, pois se encontram associados a estes materiais (MARTINEZ et al., 2007; MARTINEZ et al., 2009). Outras espécies em menor abundância foram registradas utilizando ou aderindo aos substratos dos resíduos sólidos como Palythoa caribaeorum (n= 1), Neospongodes atlantica (n= 1), moluscos gastrópodes (n= 3), Equinaster sp. (n = 1) e ascídias (n= 1). Este fato esta relacionado à intensa disputa por espaço de uma gama de espécies no ambiente marinho, utilizando feições métricas diminutas (cm) de relevo, apresentando uma grande complexidade levando-se em consideração, o espaço intersticial do substrato (WATLING & NORSE 1998). Uma associação bem representativa também foi a de enroscamento de artefatos de pesca (n= 14) e em menor frequência, tecido (n= 5) em Millepora alcicornis, como também em outro cnidário, Zoanthus cf. sociatus (n= 1), onde estes pág. 53 propicias a sofrerem conseqüências nesta associação pelos danos causados aos seus pólipos e obstrução da passagem de luminosidade. O emalhamento por restos marinhos ou pesca-fantasma, do inglês ghost fishing, de golfinhos, tartarugas, peixes, corais e outros organismos marinhos em redes e apetrechos de pesca é uma das principais causas de danos ou mortalidade em todo o mundo (SICILIANO, 1994; BUGONI et al., 2001; REEVES et al., 2003; CARVALHO-SOUZA, 2009 – Capitulo II). Estes danos a depender da forma e tamanho do resíduo causam mortes por asfixia, restrições no crescimento, na capacidade reprodutiva e má alimentação (FARIS E HART, 1995). E estes problemas, no entanto, segundo diversos especialistas, continua sem solução (CREMER, 2007). Outros fatores importantes a se considerar são pela atual matériaprima destes artefatos, ocorrendo pela mudança de materiais naturais por fibras sintéticas e cada vez mais resistentes nos artefatos de pesca ao longo do tempo, como também a própria danificação dos artefatos por grandes resíduos levando a RESULTADOS E DISCUSSÃO por apresentar estruturas ramificadas e/ou em colônias apresentam características prejuízos da indústria pesqueira e artesanal além de causar perdas nas capturas, onde no caso de pescadores de subsistência, uma diminuição deste rendimento pode levar até seu abandono completo da profissão (NASH, 1992; WILLIANS et al., 2005). Algumas espécies estiveram associadas aos resíduos sólidos bentônicos como carangueijos da família Majidae, camarões-palhaço Stenopus hispidus, carangueijos-aranha Stenorhynchus seticornis, polvos Octopus sp., Octopus insularis,e peixes recifais Astrapogon puncticulatus, Rypticus bistrispinus Sparisoma frondosum, Malacoctenus sp., Epinephelus adscensionis, Pseudopeneus maculatus, onde estes utilizaram estes materiais como refúgio para proteção contra possíveis predadores e até para fins reprodutivos (Figura 19). Esta possível condição seria devido às espécies estarem cada vez mais, buscando alternativas para o seu substrato em virtude do que pode se denotar uma evidente degradação dos habitats naturais, de forma que esta síndrome se torna uma ameaça às espécies, pois são prejudicados em termo de ciclagem de nutrientes e oxigenação, e principalmente por perdê-los a qualquer momento e tornarem-se vulneráveis aos processos ambientais. pág. 54 deposição de seus ovos. Foto: Carvalho-Souza, 2009. RESULTADOS E DISCUSSÃO Figura 19. Polvo Octopus sp. associado a resíduo sólido (vidro), como refugio, denotando-se a Foi verificada uma similaridade entre as espécies associadas aos resíduos sólidos e entre cada uma das unidades espaciais sendo verificado que no Farol da Barra ocorreu um agrupamento definindo os dois grandes grupos onde um apresentou exclusivamente L. variegatus devida a sua elevada abundância e número de associações com os resíduos sólidos, plástico (n=25), vidro (n= 3), metal (n= 4), tecido (n= 3), papel (n= 3) e outros (n= 3). No outro grupo E. locunter se diferenciou das demais apesar de todas apresentarem uma baixa abundancia pela sua elevada diversidade de registros de associações com os resíduos sólidos (plástico, metal, tecido, apetrecho de pesca e outros). Em seguida dentro de outra sub-divisão estiveram Palythoa caribaeorum e Millepora alcicornis por sua semelhança em associar-se ao tecido, e T. ventricosus e Ischnochiton sp. por sua associação exclusiva ao plástico (Figura 20). pág. 55 Agrupamento das interações dos organismos com os resíduos - Farol da Barra Distance (Objective Function) 0 1,3E+02 100 75 2,6E+02 3,9E+02 5,2E+02 25 0 Information Remaining (%) 50 TRIVEN ISCSP PALCAR MILALC EQULOC LYTVAR Figura 20. Dendograma de Cluster definindo o agrupamento das interações entre os organismos e Na área do Porto da Barra o agrupamento teve uma divisão em dois grandes grupos, devido as suas abundâncias no local e associação com diversos resíduos onde um esteve representando por L. variegatus (n = 49) e Cirripedia (n = 60), e outro, através de uma junção das demais espécies registradas. Neste cluster foram definidas diversas sub-divisões (> 80% de similaridade), sendo evidenciadas por uma separação de T. ventricosus e Demospongiae que estiveram associados a praticamente os mesmos resíduos (plástico e madeira). Equinaster sp. e Astrapogon puncticulatus se agruparam também devido a associação em único resíduo (metal), como também Neospongodes atlantica, Gastropoda e Ascidiaceae exclusivamente ao plástico. Malacoctenus sp., Epinephelus adscensionis e Eucidaris tribuloides também se agruparam devido a associações com os mesmos resíduos (tecido e apetrecho de pesca) e bem próximo estiveram os carangueijos Majidae, diferenciando-se apenas pelo plástico (Figura 21). RESULTADOS E DISCUSSÃO resíduos sólidos no Farol da Barra (P1). pág. 56 Agrupamento das interações dos organismos com os resíduos - Porto da Barra Distance (Objective Function) 0 1,1E+03 2,1E+03 3,2E+03 4,2E+03 25 0 Information Remaining (%) 100 75 50 TRIVEN DEMOSP EQUSP ASTPUN ASCIDI GASTRO NEOATL MAJIDA EPHADS MALSP EUCTRI ISCSP CIRRIP LYTVAR Figura 21. Dendograma de Cluster definindo o agrupamento das interações entre os organismos e Para a unidade espacial do Yacht/Marco Polo o agrupamento associativo entre as espécies e resíduos sólidos (Figura 21) foi dividido em dois grandes grupos (> 75% de similaridade) e novamente um apresentou-se exclusivamente com a contribuição de L. variegatus devida a sua elevada abundância e número de associações com os resíduos sólidos, plástico (n= 25), madeira (n= 2), metal (n= 3), tecido (n= 4), apetrecho de pesca (n= 3) e papel (n= 11). Já o segundo grupo a subdivisão aconteceu em um novo sub-grupo e outro com Millepora alcicornis devido a sua abundância em associações com apetrecho de pesca (n= 13) e tecido (n= 2). Em seguida houve mais uma divisão e formado mais um grupo de espécies e Cirripedia associado exclusivamente ao vidro (n= 3). Neste novo grupo Demospongiae e Ophioderma cinereum também se agruparam devido a associação exclusiva com o plástico. Ainda em outra divisão com um sub-grupo formado por gastrópodes e camarões penaeídeos associados por sua abundancia similar e com exclusividade ao item outros, como também estiveram agrupados Stenopus hispidus, Stenorhynchus seticornis e Pseudopeneus maculatus a este item porem RESULTADOS E DISCUSSÃO resíduos sólidos no Porto da Barra (P2). com abundancias menores (Figura 22). pág. 57 Agrupamento das interações dos organismos com os resíduos - Yacht/Marco Polo Distance (Objective Function) 0 2,1E+02 100 75 4,3E+02 6,4E+02 8,6E+02 25 0 Information Remaining (%) 50 CIRRIP DEMOSP OPHCIN GASTRO PENAEI STESET STEHIS PSEMAC MILALC LYTVAR Figura 22. Dendograma de Cluster definindo o agrupamento das interações entre os organismos e Os agrupamentos das interações da biota aos resíduos sólidos mostraram algumas particularidades como: L. variegatus se diferencia das demais espécies por estar presente em todas as áreas e devido a sua elevada abundância e diversidade de resíduos associados, evidenciados anteriormente para a proteção contra a radiação ultravioleta. Este organismo é considerado um bom modelo para realização de ensaios avaliando a qualidade do ambiente (CETESB, 1999), e desta forma podendo também ser aplicado indicadores de poluição marinha por resíduos sólidos. Cirripédios ocorreram em duas áreas e apresentaram uma elevada abundância no Porto da Barra (n= 60) e baixa no Yacht/Marco Polo (n= 3), sendo registrados apenas associados com plástico e vidro onde estes fatos podem ser indicados pela distribuição dos resíduos nos locais. Esta situação é similar ao poliplacofóro Ischnochiton sp. com a exceção deste ser encontrado no Porto da RESULTADOS E DISCUSSÃO resíduos sólidos no Yacht/Marco Polo (P3). Barra (n= 14) e Farol da Barra (n= 2). Este padrão também apareceu para Millepora alcicornis com a presença de associação aos resíduos em duas áreas, sendo mais encontrada no Yacht/Marco Polo (n= 16) e em menor freqüência no Farol da Barra (n= 4), principalmente associados a apetrechos de pesca, como já descrito anteriormente. pág. 58 locais ocorrendo no Porto da Barra (n= 1 e n= 4) e Yacht/Marco Polo (n= 2 e n= 1), respectivamente, no entanto se diferenciam as suas associações devido as suas próprias características bioecológicas. Algumas espécies (vide Tabela 1) foram registradas em um único local ou com baixa abundância sendo importantes registros de associação e possivelmente em alguns casos não registrados até então pela ciência, contudo não se apresentam consistentes a fim de enfatizar e estabelecer sua real associação com resíduos sólidos nos ambientes recifais nesta área de estudo. Adicionado a estes resultados foram compilados registros de síndromes ecológicas da biota marinha a poluição marinha na costa brasileira através de trabalhos científicos gerados e comunicações de cientistas em ambientes marinhos resultando em uma meta análise apresentada a seguir (Tabela 7). RESULTADOS E DISCUSSÃO Gastrópodes e esponjas foram semelhantes quanto a sua distribuição nos Esta listagem apresenta 12 taxa dos mais diversos grupos da nomenclatura zoológica (LINNAEUS, 1758), como Filos, Sub-Filos, Super-classes e Classes, e estão descritos 50 registros documentados e/ou comentados de associações destas espécies com a poluição marinha dentre o presente trabalho e procedentes da literatura cientifica com ocorrência na costa brasileira. Informações adicionais do numero de indivíduos, grau de associação, tipo de resíduo, local, e autores foram incluídos. Em virtude de esta problemática vir a ser registrada somente nas ultimas décadas (LAIST, 1987, BUGONI et al., 2001), e ainda serem desconhecidos os estudos voltados as associações em ambientes recifais, algumas destas observações tratam-se do primeiro registro documentado de algumas espécies e suas associações a resíduos sólidos na Bahia e na costa brasileira. Além disto, esta pesquisa ainda fornece uma atualização dos esforços e como se encontra o estado da arte sobre o conhecimento desta síndrome ecológica no Brasil, disponibilizada em uma única fonte. pág. 59 Taxa / Espécie N Tipo de associação Resíduo(s) encontrado (s) Local Referencia DEMOSPONGIAE 4 aderido ao substrato Plástico, madeira BA presente trabalho CNIDARIA Zoanthus cf. sociatus Palythoa caribaeorum (Duchassaing & Michelotti, 1860) 1 1 enroscado utilização como substrato tecido tecido BA BA Millepora alcicornis Linnaeus, 1758 20 enroscado apetrecho de pesca, tecido BA Neospongodes atlantica Kukenthal, 1903 1 utilização como substrato plástico BA presente trabalho presente trabalho presente trabalho, Sampaio 2006 presente trabalho, Sampaio 2006 POLYPLACOPHORA Ischnochiton sp. 16 utilização como substrato plástico, vidro BA presente trabalho MOLLUSCA Mitridae Gastropoda 1 3 utilização como substrato utilização como substrato plástico plástico BA BA presente trabalho presente trabalho CRUSTACEA Penaeidae Cirripedia Majidae Stenopus hispidus (Olivier, 1811) Stenorhynchus seticornis (Herbst, 1788) 2 63 5 1 1 refugio utilização como substrato refugio refugio refugio pneu (outros) plástico, vidro plástico pneu (outros) pneu (outros) BA BA BA BA BA presente trabalho presente trabalho presente trabalho presente trabalho presente trabalho EQUINODERMATA Diadema antillarum (Philippi, 1845) 1 enroscado BA Sampaio comm. pess. BA BA presente trabalho presente trabalho BA presente trabalho Equinometra locunter (Lamarck, 1816) Tripneustes ventricosus (Lamarck, 1816) Lytechinus variegatus (Lamarck, 1816) plástico plástico, metal, tecido, 10 cobertura, utilização como substrato, enroscado apetrecho de pesca, outros 3 cobertura plástico, madeira, papel cobertura, utilização como substrato plástico, vidro, madeira, 123 metal, tecido, apetrecho de pag. 60 RESULTADOS E DISCUSSÃO 1 1 1 enroscado utilização como substrato enroscado pesca, papel, outros apetrecho de pesca, tecido metal outros BA BA BA presente trabalho presente trabalho presente trabalho Octopus sp. Octopus insularis Leite & Haimovici, 2008 3 1 refugio refugio metal, plástico e vidro plástico, vidro BA BA presente trabalho, Sampaio comm. pess. Sampaio comm. pess. ASCIDIACEA 2 utilização como substrato plástico BA presente trabalho PISCES Rhizoprionodon lalandii (Müller & Henle, 1839) Carcharhinus falciformis (Müller & Henle, 1839) Prionace glauca (Linnaeus, 1758) Ophistonema oglinum (Lesueur, 1818) 3 1 1 1 enroscado enroscado ingestão enroscado plástico apetrecho de pesca vidro plástico SP RS BA BA Astrapogon puncticulatus (Poey, 1867) Rypticus bistrispinus (Mitchill, 1818) Sparisoma frondosum (Agassiz, 1831) Malacoctenus sp. Epinephelus adscensionis (Osbeck, 1765) Pseudopeneus maculatus (Bloch, 1793) 4 1 1 1 1 1 refugio refugio refugio refugio refugio refugio lata de metal, vidro, tecido plástico apetrecho de pesca, tecido apetrecho de pesca, tecido apetrecho de pesca, tecido pneu BA BA BA BA BA BA Sazima et al., 2002 Schreiner, 2009 Sampaio comm. pess. presente trabalho presente trabalho, Sampaio comm. pess. presente trabalho presente trabalho presente trabalho presente trabalho presente trabalho Chelonia mydas (Linnaeus, 1758) Caretta caretta (Linnaeus, 1758) Dermochelys coriacea (Vandelli, 1761) Lepidochelys olivacea (Eschscholtz, 1829) 56 16 2 - ingestão ingestão ingestão ingestão plástico, apetrecho de pesca plástico, apetrecho de pesca plástico, apetrecho de pesca plástico RS / BA RS RS PB Bugoni et al., 2001, Sampaio comm. pess. Bugoni et al., 2001 Bugoni et al., 2001 Mascarenhas, 2004 AVES Puffinus gravis (O'Reilly, 1818) 1 ingestão apetrecho de pesca BA Maia-Nogueira comm. pess. Eucidaris tribuloides (Lamarck, 1816) Equinaster sp. Ophioderma cinereum Müller & Troschel, 1842 CEPHALOPODA REPTILIA pag. 61 RESULTADOS RESULTADOS EE DISCUSSÃO DISCUSSÃO Puffinus griseus (Gmelin, 1789) Spheniscus magellanicus (Forster, 1781) 1 1 ingestão ingestão apetrecho de pesca BA plástico, apetrecho de pesca BA MAMMALIA Arctocephalus tropicalis (Gray, 1872) Megaptera novaengliae (Borowski, 1781) Grampus griseus (Cuvier, 1812) 1 1 1 ingestão captura acidental ingestão plástico apetrecho de pesca plástico e orgânico Steno bredanensis (G. Cuvier in Lesson 1828) 4 ingestão, captura acidental Sotalia guianensis (Van Bénéden, 1864) Physeter macrocephalus (Linnaeus, 1758) 9 1 ingestão, captura acidental captura acidental Pontoporia blainvillei (Gervais & d'Orbigny, 1844) 14 ingestão, captura acidental Globicephala macrorhynchus Gray, 1846 Mesoplodon densirostris (Blainville, 1817) Tursiops truncatus (Montagu, 1821). Ziphius cavirostris Cuvier, 1823 1 1 1 1 captura acidental ingestão captura acidental ingestão Maia-Nogueira comm. pess. Maia-Nogueira comm. pess. BA ES BA Maia-Nogueira comm. pess. Netto e Barbosa, 2003 Maia-Nogueira, 2000 Meirelles e Barros, 2007, plástico, apetrecho de pesca CE / ES Netto e Barbosa, 2003 Geise and Gomes, 1992, plástico, apetrecho de pesca SP / ES Netto e Barbosa, 2003 apetrecho de pesca ES Netto e Barbosa, 2003 Pinedo, 1982, Netto e plástico, apetrecho de pesca RS / ES Barbosa, 2003 Netto e Barbosa, 2003, Barros et al., 1997 apetrecho de pesca ES plástico RS Secchi e Zarzur, 1999 apetrecho de pesca ES Netto e Barbosa, 2003 plástico BA Maia-Nogueira comm. pess. Tabela 7. Check-list de espécies associadas à poluição marinha encontradas no presente estudo e registradas no litoral brasileiro de acordo com uma revisão de literatura especializa e consulta a pesquisadores ligados a conservação dos ambientes recifais marinhos no litoral da Bahia. Estão evidenciados o grupo taxonômico (menor taxa), numero de organismos (N), tipo de associação (captura acidental, cobertura, ingestão, utilização e adesão ao substrato, enroscado, refugio) resíduo associado (plástico, vidro, madeira, metal, tecido, apetrecho de pesca, papel, outros), local (estado) e literatura especializa, quando necessário. pag. 62 RESULTADOS E DISCUSSÃO costa brasileira denotam que esta ameaça é aparentemente comum a toda a costa brasileira, do norte ao sul, em seus mais diversos habitats costeiros e marinhos, e estas áreas apesar de apresentarem características diferenciadas tanto em clima e relevo, existem semelhanças quanto à falta de uma gestão costeira integrada, o que leva a uma ameaça a toda a biota (COSTA, et al., 2004). Este fato cada vez mais freqüentemente reportado nos leva a crer ainda que mesmo que sejam veiculadas estimativas destas perdas, estas já possam estar subestimadas. São conhecidos amplamente pelo mundo, os registros de impactos da poluição marinha em espécies, sendo em maior proporção para cetáceos, repteis e aves marinhas, embora também se tenha registro de outros organismos marinhos (LAIST, 1987). Foram realizados registros documentados de associação entre o lixo marinho e peixes cartilaginosos, como o tubarão Carcharhinus falciformis que foi capturado RESULTADOS E DISCUSSÃO Os registros encontrados apesar de pontuais, em diversas localidades da com um pedaço de rede de monofilamento de polietileno, e ao crescer incorporou este material em sua cabeça, ficando somente resquícios da linha fora da epiderme, e marcas de cicatrização ao redor do focinho, denotando-se evidências de uma curiosa capacidade regenerativa devido ao processo de interiorização da linha (SCHREINER, 2009). Outro registro ocorreu em três jovens espécimes do caçãofrango Rhizoprionodon lalandii que encontravam-se com anéis de detritos de plástico na região branquial e bucal, o que dificultou as atividades alimentares do animal (SAZIMA et al., 2002). Outra informação conhecida é de um tubarão Prionace glauca onde foi registrado em seu estômago uma garrafa de cerveja, (vidro) ao largo da costa de Ilhéus – BA (SAMPAIO, comm. Pess.). Outros registros com peixes recifais foram realizados pelo presente trabalho onde um indivíduo de sardinha, O. oglinum encontrava-se com um pedaço de plástico oriundo de copos descartáveis envolto ao seu corpo e enquanto o individuo permaneceu observado apresentava dificuldades de natação, o que facilitaria sua predação. Também foram registrados no presente estudo a utilização de resíduos sólidos diversos (plástico, metal, vidro, apetrecho de pesca, tecido e outros) como refugio para Astrapogon puncticulatus, Rypticus bistrispinus, Sparisoma frondosum, pág. 63 tenham sido apontadas as causas e conseqüências desta síndrome. Uma observação interessante durante as expedições a campo foi realizada entre a interação de águas-vivas (Cnidaria) e pequenos peixes (Carangidae), onde esta mesma espécie foi registrada também se associando com sacos plásticos (Figura 23 e 24). Isso demonstra que para as espécies não esta havendo distinção para esta associação, onde são atraídas escolas residentes de peixes, e por sua vez, predadores marinhos de topo. No entanto em sacos plásticos estes organismos acabarão possivelmente ingerindo itens de plástico e os associados não terão a mesma função de proteção e possibilitando uma dispersão de espécies por sua propriedade flutuante a longas distâncias devido aos processos de circulação oceânica (WILLIANS, et al., 2005; MARTINEZ et al., 2009) (Figura 23 e 24). Este registro ainda informa uma necessidade de conhecer os processos relacionados aos impactos desta dispersão, visto que a corrente de deriva litorânea na Bahia predomina para o sul (BITTENCOURT et al. 2002), e de acordo com Santos et al. (2005), esta pode ser uma RESULTADOS E DISCUSSÃO Malacoctenus sp., Epinephelus adscensionis e Pseudopeneus maculatus onde já fonte significativa de detritos flutuantes para esta localidade. Figura 23 e 24. Associação de peixes e águas-vivas, e no segundo caso com sacos plásticos flutuantes. Foto: Carvalho-Souza, 2009. É evidenciado ainda que estes detritos flutuantes de plástico e a formação de ilhas podem em algum momento se depositar em fundos oceânicos trazendo diversas pág. 64 para a dispersão local, regional e trans-oceânica de espécies marinhas, quiçá algumas terrestres (GREGORY e RYAN, 1997). Bugoni et al., (2001) realizou uma analise dos estômagos e esôfagos de três espécies de tartarugas marinhas, Chelonia mydas, Caretta caretta e Dermochelys coriacea, e registrou a presença de mais de 60% de resíduos sólidos, sendo este o maior registro já encontrado na literatura de acordo com os autores, além de apresentar o plástico como o item mais freqüente. Também foi registrada a presença de pedaços de plástico para a tartaruga-oliva, Lepidochelys olivacea em seu estómago na costa da Paraíba (MASCARENHAS, et al., 2004). Ao largo da região costeira do baixo sul da Bahia, metropolitana de Salvador (RMS) e BTS, é conhecido o registro de ingestão de apetrechos de pesca como anzóis e pedaços de linha (nylon) em três espécies de aves marinhas, os petréis Puffinus gravis (Figura 25) e Puffinus griseus e o pingüim-de-magalhães Spheniscus RESULTADOS E DISCUSSÃO problemáticas discutidas no presente contexto e passivamente tornam-se vetores magellanicus (MAIA-NOGUEIRA comm. pess ), não sendo encontrado nenhum registro sistematizado e documentado até então sobre estas associações no estado. Um exemplar de P. gravis foi registrado em Massachussets (EUA) por ingestão de plástico, obstrução e inanição subseqüente, ocorrendo o óbito do mesmo. Em outras localidades da costa brasileira também já são bem conhecidos estas associações, onde foram encontrados fragmentos de plásticos em espécime de S. magellanicus na costa de Santa Catarina (AZEVEDO E SCHILLER, 1991), como também anzóis, fragmentos de plástico e outros apetrechos de pesca, madeira e isopor no conteúdo estomacal de aves marinhas da praia do Cassino - RS (PEDROSO et al., 2004). pág. 65 da costa da Bahia. Foto: Maia-Nogueira, 2008. RESULTADOS E DISCUSSÃO Figura 25. Petrel, Puffinus gravis, enroscado a apetrecho de pesca (anzol e linha de nylon), ao largo Em algumas localidades da costa brasileira, mamíferos marinhos são reportados com algum tipo de associação aos resíduos sólidos marinhos principalmente voltados a enroscamento e ingestão. Um pinípede, o lobo-marinho, Arctocephalus tropicalis, apresentou em seu estomago material plástico na costa da Bahia (MAIA-NOGUEIRA, comm. Pess.). Diversas espécies de cetáceos são conhecidas pela captura acidental da indústria pesqueira e/ou artesanal como Megaptera novaengliae, macrocephalus Pontoporia Steno bredanensis blainvillei Sotalia Globicephala guianensis Physeter macrorhynchus Tursiops truncatus, (NETTO e BARBOSA, 2003; MEIRELLES e BARROS, 2007) sendo observadas marcas e cicatrizes dos apetrechos de pesca, principalmente redes nas carcaças coletadas. Como nas aves e tartarugas marinhas os cetáceos também sofrem regurlamente com a ingestão de resíduos sólidos, principalmente pedaços de plástico como Grampus griseus, Steno bredanensis, Sotalia guianensis, Pontoporia blainvillei, Mesoplodon densirostris e Ziphius cavirostris (PINEDO, 1982; GEISE e GOMES, 1992, SECCHI e ZARZUR, 1999; MAIA-NOGUEIRA, 2000; NETTO E BARBOSA, 2003; MAIA-NOGUEIRA comm. Pess.). pág. 66 esforços até então realizados ao conhecimento existente sobre o lixo marinho na região da America Latina e Caribe, mostrando que as informações sobre a biota associada à poluição marinha têm registros com apenas as aves marinhas, repteis, mamíferos (ingestão), tubarões e crustáceos (enroscamento). Dessa forma muitos dos registros apresentados no presente trabalho tratam-se do primeiro esforço em mensurar as associações de organismos recifais como corais, diversos peixes e invertebrados, principalmente em áreas de elevada importância como a BTS. As síndromes registradas com os resíduos sólidos nos ambientes recifais da BTS demonstram que as espécies dentro do seu processo habitual de ciclo de vida estão procurando se adaptar a esta nova realidade apresentada pelos atuais processos antropogênicos nas regiões costeiras e marinhas. No entanto as conseqüências deste processo e ameaças ao ambiente marinho são ainda pouco mensuradas e assim é necessário diagnosticar e monitorar diretamente sua influência às populações marinhas. RESULTADOS E DISCUSSÃO Ivar do Sul e Costa (2007) realizaram um dispendioso levantamento dos O estudo apresentado no presente capítulo descreve as associações estabelecidas por esta nova síndrome ecológica nos ambientes recifais, sendo alguns caracterizados como novos registros documentados entre resíduos sólidos bentônicos e organismos recifais, trazendo discussões sobre os impactos deletérios destes materiais e suas conseqüências a todo o ambiente. Foram ainda compiladas as informações sobre estas associações no litoral brasileiro, trazendo os resultados alcançados pelos estudos realizados, onde estas informações poderão proporcionar a estruturação de planos de gestão e manejo dos resíduos sólidos descartados e da pesca além de monitoramentos de longo prazo destas áreas identificando focos e meios de gerenciamento para sua conservação. pág. 67 AZEVEDO, T.R. & SCHILLER, A. 1991. Notes on the diet and the ingestion of plastic material by the megellanic penguin Spheniscus magellanicus on Santa Catarina Island and mainland (Brazil). Unit. Doc. Zoologie. Seru. Ethol. Psichol. Anim. University of Lie`ge, Belgium. Rapport 457, pp. 1–8. REFERÊNCIAS 5.4 REFERÊNCIAS BARREIROS, J. P. & LUIS Jr. O. J. 2008. Use of plastic debris as shelter by an unidentified species of hermit crab from the Maldives. JMBA2 - Biodiversity Records. p. 2. BARROS, N. B.; GASPARINI, J. L.; BARBOSA, L. A.; NETTO, R. F. & MORAES, C. S. 1997. 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O ecossistema marinho detém uma elevada importância para a manutenção dos processos que permeiam pelo planeta, através de suas funções biogeomorfológicas e assim condizentes as atividades humanas. Nestas estariam inseridas, a navegação, trabalho, recreação e transporte de bens para as comunidades humanas, no entanto estas atividades vêm proporcionalmente provocando serias ameaças à saúde deste “planeta água”. INTRODUÇÃO 6.1 INTRODUÇÃO Os oceanos e os mares se tornam os derradeiros sorvedouros dos subprodutos gerados pelas atividades humanas e acolhem de forma direta ou indireta uma grande variedade de poluentes, rejeitos urbanos, agrícolas e industriais. Isto se dá pelo fato da grande maioria dos grandes centros urbanos estarem localizados em regiões costeiras e geralmente próximos a baías e estuários, estas áreas são, comparativamente aos oceanos, as mais vulneráveis ao impacto da poluição (MARQUES JR. et al., 2009). Esta poluição marinha traz uma série de agravantes e problemáticas ao ambiente e a biota marinha como evidenciado em Carvalho-Souza, 2009 (Capitulo I e II) e literatura especializada (LAIST, 1987; NASH, 1992; DUFAULT e WHITEHEAD, 1994; DERRAIK, 2002; SANTOS et al., 2005; IVAR DO SUL e COSTA, 2007; SZLINDER-RICHERT et al., 2009). Isto pode acontecer de diversas formas dentro do ecossistema marinho através do descarte de resíduos sólidos, pesca industrial e de subsistência, turismo, desastres e derramamento, agentes químicos e sonoros (NASH, 1992; SANTOS et al., 2005; SZLINDER-RICHERT et al., 2009). A grande questão é que o escopo desta problemática apresenta um âmbito muito dinâmico e complexo, apresentando uma escala global, pois até onde não existem sociedades humanas próximas são evidenciados sinais deste impacto, não havendo assim quaisquer focos diretivos, de forma que a poluição marinha no mundo acaba a envolver os mais diversos setores da sociedade atual. pág. 75 entrelaça aos de importância econômica, biológica, paisagística e sócio-cultural, onde registram-se a presença de poluentes de em regiões costeiras como praias, recifes, costões rochosos, manguezais e restingas como também em ambientes pelágicos e até nas regiões polares (LAIST, 1987; NOLLKAEMPER, 1994; OFIARA e SENECA, 2006). Graças atualmente aos esforços, apesar de ainda esparsos, de pesquisadores (IVAR DO SUL e COSTA, 2007) como também agentes preocupados INTRODUÇÃO A extensão dos impactos promovidos pelo lixo marinho no mundo se com a atual situação, esta problemática vendo sendo amplamente discutida, dentro do espaço acadêmico, público e cível, verificando a necessidade de criar soluções e estratégias para o controle deste impacto e manutenção do equilíbrio dos processos. Existe uma necessidade atual apontada para a criação de meios para o conhecimento e integração destas informações pelo mundo a fim de criar planejamentos diretivos a esta problemática, pois uma compreensão dos processos costeiros e dinâmica da poluição marinha, aliados as alternativas da produção de possíveis resíduos descartáveis é fundamental para intensificar modelos de gerenciamento destes resíduos e estratégias para a conservação dos ambientes costeiro e marinho. Neste capítulo se discutirá a situação atual da poluição marinha em escala global, seus impactos promovidos, e fomentar a discussão estratégias que possibilitem a promoção de subsídios e recomendações para a gestão costeira e políticas publicas de gerenciamento das zonas costeiras e ambiente marinho como um todo. pág. 76 6.2.1 Aplicação de Métodos As amostragens foram realizadas através de uma revisão de literatura utilizando trabalhos publicados em periódicos científicos entre os anos de 1970 a 2009, como também foram inseridos relatórios técnicos, textos em jornais e revistas ou outros meios de circulação. A busca pelas referências ocorreu em bases de dados eletrônicas e em referências bibliográficas da literatura que identificaram grande parte da produção científica envolvendo a poluição marinha no mundo. Foram também estabelecidos como critérios de inclusão, além do período acima citado, artigos publicados e indexados em periódicos nacionais e MATERIAL E MÉTODOS 6.2 MATERIAL E MÉTODOS internacionais como Revista Gestão Costeira Integrada, Marine Pollution Bulletim, International Journal of Environment and Pollution e demais publicações amplamente disponíveis. Em segundo lugar aos artigos publicados em jornais, revistas e outros documentos que também estejam disponíveis nos bancos de dados, e que trouxessem pelo menos informações acessórias que pudessem ajudar a interpretar os dados. Foram observados ainda resumos, monografias, dissertações e teses onde caso os seus conteúdos não são tenham sido publicados, ou textos em jornais e revistas, através da utilização das seguintes palavras chave: (1) poluição marinha; (2) lixo marinho; (3) marine debris; (4) garbage; (5) litter; (6) biota marinha (7) marine biodiversity; (8) gestão costeira; (9) síndromes ecológicas; (10) association; (11) conservação marinha, e resultando assim em uma completa revisão da literatura científica e técnica. Essas estratégias foram necessárias à medida que as pesquisas utilizando os resíduos sólidos como modelo encontram-se bastante dispersas. Estes dados serão adicionados aos resultados discutidos nos capítulos anteriores do presente trabalho. A partir disto foi traçado um panorama da situação atual do lixo marinho e a formulação de estratégias e recomendações para a gestão costeira e de políticas publicas voltadas aos resíduos sólidos. pág. 76 A problemática do lixo no ambiente marinho vem sendo conhecida em todo mundo, seja através dos seus impactos diretos ou indiretos, no entanto permanece em parte ignorada e sem solução em grande parte dessa escala local a global. A poluição marinha apresenta como seus principais agressores divididos em sólidos: onde se enquadram os resíduos, compostos orgânicos sintéticos e sedimentos antrópicos; líquidos e químicos: metais pesados, hidrocarbonetos (derivados de petróleo), esgotos e pesticidas, além de uma outra contaminação tão perigosa e pouco analisada que seria dos ruídos artificiais gerados em larga escala por navios comerciais, sonares militares, estudos sísmicos e pesquisas acústicas nos oceanos, onde estes sons com frequências similares às “canções” e comunicação dos cetáceos, e embora não sejam percebidos pelo ouvido humano, atrapalham a comunicação destes animais (WINDOW, 1992; MARQUES, 2002). RESULTADOS E DISCUSSÃO 6.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO A poluição marinha, com especial enfoque aos resíduos sólidos apresentam duas fontes, advindos de descartes terrestres e descartes marinhos, através de embarcações de pesca, militares, recreativos e mercantes, onde a primeira se caracteriza por uma maior e significativa contribuição de poluentes nos oceanos (FARIS E HART, 1995). Entretanto, realizar esta identificação não uma tarefa fácil, pois em alguma situações percebe-se claramente a fonte local (WALKER et al., 1997), mais em outros casos nem todas as fontes as vezes são tão óbvias de revelar sua origem (DIXON, 1995). Diversos estudos se propuseram a trazer informações sobre os resíduos sólidos em todos os mares do mundo, sendo os ambientes praiais os mais estudados (IVAR DO SUL e COSTA, 2007), embora existam também esforços de investigações em fundos oceânicos, flutuantes e associados. Desde remotas ilhas oceânicas (BENTON, 1995) aos países de vários continentes, Europa (VELANDER E MOCOGNI, 1998), Oceania (HAYNES, 1997), America do Norte (RIBIC, 1998) e do Sul (SANTOS et al., 2009), produziram informações pretéritas de suma importância sobre este impacto em suas localidades. pág. 77 o numero de metodologias utilizadas nos trabalhos é diversa, no entanto um padrão se assemelha muito independente da localidade, área pesquisada e método. O plástico como descrito em Carvalho-Souza (2009 – Capítulo I) e literatura citada é o maior item encontrado nas pesquisas sobre lixo marinho ao redor do mundo e se apresenta como o mais prejudicial contaminante no meio ambiente. Devido a este resíduo ser amplamente conhecido por suas conseqüências no ambiente seria interessante atribuir como condicionante aos fabricantes e distribuidores dos materiais de composição plástica a serem responsáveis pelo gerenciamento dos seus resíduos ou que busquem alternativas em produtos com uma maior degradabilidade e causem menos impacto nestes ambientes, e, além disto, os colocando como possíveis responsáveis por cada resíduo descartado de maneira inapropriada poderiam estar sendo veiculadas campanhas informativas por parte destas institucionais que trariam um ganho extraordinário colocando a poluição marinha em foco de discussão na sociedade como um todo. RESULTADOS E DISCUSSÃO Outro fator que influência quaisquer iniciativas de discutir efeitos globais é que O setor privado atuante numa conjuntura ao governo e instituições não governamentais poderia propiciar mudanças significativas através de suas praticas e compromisso com as questões ambientais fomentando a introdução de medidas cabíveis para uma melhor gestão, transporte e destino dos resíduos gerados por estas, Além disso ao reduzir a poluição proveniente de atividades terrestres, através de ações governamentais ou não, a qualidade marinha conseqüentemente também ira melhorar e as possíveis perdas geradas por estes produtos (WILLIANS, et al, 2005) O problema do lixo no meio ambiente não só leva a potenciais riscos à saúde, mas também de perdas econômicas. Fragmentos marinhos afetaram diretamente ou indiretamente a condição social e econômica comunidades nas margens, com as tensões financeiras impostas por estes detritos, sendo que estas perdas nem sempre sobre possibilitadas de quantificações. As perdas econômicas no ambiente marinho podem se dividir em perdas para a industria pesqueira e prejuízos para o turismo (OFIARA e SENECA, 2006). pág. 78 a alguns anos onde estas perdas ocorreram devido a proliferação de redes de arrasto pelos fundo oceânicos, o bloqueio da saída de emissários e comprometimento de hélices (JONES, 1995). São verificados ainda danos aos navios através de colisões em grande artefatos metálicos e de madeira (DIXON E DIXON, 1981). A atividade pesqueira também pode ser prejudicada direta ou indiretamente pela ocorrência de resíduos sólidos no ambiente marinho, através da diminuição da captura de pescado ou causando danos aos apetrechos de pesca e aos motores de embarcações, o que torna a atividade mais onerosa (NASH, 1992). Por outro lado, a atividade pesqueira também pode gerar resíduos muito perigosos à vida marinha, como é o caso da pesca-fantasma, do inglês ghost fishing, descrita com detalhes seus impactos em Carvalho-Souza, 2009 (Capitulo II), ocorrendo quando partes de redes ou outros restos de apetrechos de pesca, RESULTADOS E DISCUSSÃO O impacto econômico dos resíduos sólidos sobre a pesca tem sido reportado abandonados por pescadores, ficam à deriva e continuam capturando peixes e outros animais marinhos, provocando um número incalculável de mortes (MATSUOKA et al., 2005). Outro potencial risco associado ao lixo nos ecossistemas costeiros é a dispersão de espécies invasoras. O plástico, como já exposto anteriormente, por flutuar, pode ser um meio de transporte para diversas espécies de poliquetas, briozoários, hidróides e moluscos que se fixam em sua estrutura, alem de peixes que se associam como se estivessem a águas-vivas (descrito em CARVALHOSOUZA, 2009 - Capitulo II) e são levadas para outras regiões, onde podem se instalar, ameaçando os ecossistemas locais (BARNES, 2002). Mas o lixo marinho não é apenas um risco aos organismos, também representam um problema de saúde pública, pois pode ser vetor de doenças e causar acidentes aos banhistas (IVAR DO SUL e COSTA, 2007). A existência de fragmentos perfuro-cortantes como vidro, madeira, metal e demais itens pontiagudos como também a presença de substancias tóxicas e produtos hospitalares, constitui um perigo potencial para os visitantes (WILLIANS, et al., 2005). Despejos de esgoto pág. 79 contaminadas também, o que significa um risco à saúde dos banhistas, onde estes expostos a esta água contaminada apresentam maiores risco de infecções (MCINTYRE, 1990). Além disso, a ocorrência freqüente de lixo em praias pode diminuir o turismo na região, o que acarreta prejuízos econômicos ao comércio e aos serviços (STORRIER e MCGLOSHN, 2006). Este fato está atrelado à forte dependência das comunidades costeiras frente ao turismo, onde o impacto do lixo marinho pode provocar perdas em suas rendas de subsistência (CORBIN E SINGH, 1993). O valor estético das praias pode ser reduzido pela aparência de resíduos sólidos evidentes e direcionamento de esgoto (JONES, 1995). As pessoas preferem freqüentar praias limpas, sem foco de lixo, ao invés das que apresentam alta diversidade de resíduos. Os frequentadores de praia podem vir a evitar alguns destes locais com aparências inaceitáveis (WILLIAMS et al., 2000). Este efeito estético da paisagem sobre os ambientes marinhos é definido como: uma diminuição do turismo; danos resultantes RESULTADOS E DISCUSSÃO em um local sugerem que a relação com suas águas adjacentes estariam ao lazer e infra-estrutura, danos a atividades comerciais diretamente associadas ao turismo, danos as atividades pesqueiras e demais dependentes; prejuízos a imagem do lugar, em nível nacional ou internacional, de um recurso (PHILIPP, 1993). Muitos desses problemas se manifestam em regiões em desenvolvimento, onde os recursos naturais se limitam e a economia é em boa parte dependente do turismo costeiro, como o caso de Salvador. A atenção pública para os problemas relativos à zona costeira tem sido baseada mais na percepção sobre o meio em que estão inseridas do que em qualquer conhecimento científico ou avaliação de fontes, destinos e os efeitos ambientais (WINDOM, 1992). A partir desta acurada percepção de impactos do lixo marinho nas zonas costeiras que instituições, pessoas ligadas à conservação e voluntario em todo o mundo desenvolvem iniciativas de limpeza de praias, estudos sistemáticos, e coleta de informações dos frequentadores. Com o intuito de promover uma sensibilização acerca das medidas a serem tomadas em relação ao gerenciamento da poluição marinha, instituições governamentais, organizações, não governamentais, setor privado e comunidade pág. 80 o mundo, Dia Mundial de Limpeza de Praias e Oceanos, dos eventos em inglês, Clean up the world e International Coastal Clean-Up, ambos com o intuito de evidenciar a problemática do lixo marinho e contribuir com uma limpeza “simbólica do local. Outra ferramenta para alcançar a redução de resíduos são os incentivos fiscais. Se existe um beneficio as pessoas iniciarão a ação, que será prontamente realizá-lo ou apoiá-lo. Um estudo de caso que hoje faz parte de um dos maiores mercados informais é o processo de coleta, venda e reciclagem de latas de alumínio utilizada na indústria de bebidas. Campanhas de sensibilização são ferramentas muito úteis nos tempos atuais e merecem alguns esclarecimentos para serem bem conduzidas. Para qualquer abordagem que requer que as pessoas mudem seu comportamento a comunicação eficaz é essencial. Para uma campanha de sensibilização pública ser bem sucedido RESULTADOS E DISCUSSÃO em geral realizam atividades anuais como os bem conhecidos e executados em todo existem dois elementos necessários: uma clara mensagem e um meio para entregálo. Como a maioria dos resíduos sólidos é resultado das decisões e comportamentos humanos, o reforço contínuo das mensagens públicas é necessário. No entanto pode apresentar uma elevada logística para obter que atinjam um grande publico, veiculadas na mídia e um abordagem focalizada poderão lhe render melhores resultados. Estas iniciativas são a base para a formulação de estratégias baseadas na cooperação e colaboração entre todas as instancias do governo afim de evitar a poluição de fontes terrestres e proteger os habitats ligados a costa e/ou zona costeira. Dentre estas estratégias e suas abordagens incluem diversas frentes de atuação como: (1) ações de monitoramento existentes dos padrões e processos da zona costeira; (2) intensificar e fortalecer as ações já existentes quando estas se considerarem insuficientes; (3) propor novas ações imediatas, ações preventivas e corretivas com base no conhecimento existente, recursos e planejamento; (4) promover a inclusão das comunidades litorâneas e da sociedade civil para a pág. 81 perdas de artefatos de pesca, descarte de grandes objetos e fundeio de barcos sem diagnostico anterior e monitoramento do local; (6) planos que incluam o ambiente e sua biodiversidade nos zoneamentos econômicos exclusivos da região costeira e marinha. O fator chave e de elementos essenciais para a condição do plano de gerenciamento alcançar êxito é gerar uma capacitação de sua equipe multidisciplinar, uma abordagem bem sucedida e com base teórica, monitoramentos quali-quantitativos e interpolados aos processos da zona costeira, apoio e participação conjunta das comunidades litorâneas, sensibilização ambiental e atividades de limpeza de praias são algumas destas questões chave para promover a discussão em audiências públicas e particulares, com o intuito de gerar documentos embasados e coerentes com a realidade local e integrados a escala global de impacto dos resíduos sólidos. RESULTADOS E DISCUSSÃO discussão das problemáticas atuais causadas pela poluição marinha; (5) reduzir as Nesse intuito este capítulo discutiu dentro de um amplo contexto a situação atual do lixo submerso em escala global e levantou possíveis estratégias que possibilitem a promoção de subsídios e recomendações para a gestão costeira, sendo de suma importância incluir todos os atores e tomadores de decisão que de alguma maneira estejam envolvidos e influenciam com as questões voltadas ao ambiente marinho, tanto aqueles direta ou indiretamente responsáveis pela poluição, como os interessados no seu desenvolvimento de maneira sustentável e conseqüentemente conservação dos oceanos como um todo, e ainda na promoção de discussões e nas ações que devem ser tomadas para prevenir, resolver ou mitigar as questões de poluição marinha na costa do Brasil e demais partes do globo. Por fim chega à hora de questionarmos nosso papel: E afinal, até quando os mares e oceanos serão a lixeira do mundo? pág. 82 BENTON, T. G. 1995. From castaways to throwaways: marine litter in the Pitcairn Islands. Biological Journal of the Linnean Society. 56, 415-422. BINGEL, F.; AVSAR, D. & UNSAL, M. 1987. A note on plastic materials in trawl catches in the northeastern Mediterranean, Meeresforsch; 31: 227- 233. REFERÊNCIAS REFERENCIAS 6.4 REFERÊNCIAS CARVALHO-SOUZA, G. F. 2009. Composição e estrutura dos resíduos sólidos em ambientes recifais na Baía de Todos os Santos, Bahia, Brasil. Trabalho de Conclusão de Curso. Universidade Católica do Salvador. Capitulo I, pp. 32. CARVALHO-SOUZA, G. F. 2009. Uma nova síndrome ecológica nos ambientes recifais: Associação da biota ao lixo marinho no nordeste do Brasil. Trabalho de Conclusão de Curso. Universidade Católica do Salvador. Capitulo II, pp. 31. CORBIN, C. J. e SINGH, J. G. 1993. 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Os resultados alcançados no primeiro capítulo evidenciam que os ambientes recifais costeiros da Baía de Todos os Santos encontram-se contaminados por resíduos sólidos e provavelmente este seja um padrão para todos os ambientes recifais urbanos da costa da Bahia, tendo como principais e preocupantes poluentes o plástico, madeira, metal, apetrechos de pesca e outros onde estes estão afetando diretamente o ambiente, a biota, paisagem submarina, as atividades recreacionais e comerciais e com isso podendo acarretar a perdas ecossocioculturais e econômicas para o estado. Além disso, para uma melhor compreensão da dinâmica destes padrões e processos envolvendo os resíduos sólidos na Baía de Todos os Santos se evidenciam necessários maiores estudos de escala espaço-temporal, identificando o estado de conservação das áreas e efeitos da poluição marinha, dispersão destes resíduos a outras localidades através de correntes, os locais de deposição no substrato, monitoramento das diversas atividades comerciais e pescaria artesanal como também dos festejos sócio-culturais, envoltas a área de influência e sensibilização ambiental aos diferentes atores que estão envolvidos direta ou indiretamente acerca desta problemática. pág. 86 estabelecidas por esta nova síndrome ecológica nos ambientes recifais, sendo alguns caracterizados como novos registros documentados entre resíduos sólidos bentônicos e organismos recifais na BTS, onde um estudo direcionado a esta temática não havia sido realizado até então, e assim contribuiu para um maior conhecimento acerca destas síndromes que permeiam nos ambientes recifais. Estes resultados ainda nos proporcionaram discussões sobre os impactos deletérios destes poluentes e suas conseqüências a todo o ambiente, além de serem compilados numa única base de dados os registros de associação e evidenciados estes estudos de caso documentados na costa brasileira. No terceiro capitulo se evidenciou num amplo contexto a atual situação da CONCLUSÃO GERAL O segundo capitulo desta obra apresentou a descrição de associações poluição marinha, desde seus componentes principais e atuação, suas fontes de descarte e áreas atingidas, estudos de caso realizados até então, meios de reduzir a problemática dos resíduos, seus impactos na economia dentre atividade pesqueira, recreacional, beleza cênica e turismo. Fatores relacionados a saúde publica e da sociedade também foram discutidos e as formas de atuação e combate ao mal direcionamento dos resíduos, como também a efetivação de campanhas de sensibilização e incentivo ao publico e o mercado. Estes resultados trouxeram ainda uma interessante abordagem sobre possíveis estratégias para direcionar, mitigar e promover o gerenciamento das zonas costeiras e a promoção de políticas públicas voltadas à conservação do ambiente como um todo. pág. 87 ANEXOS 1 - Revista Gestão Costeira Integrada ANEXOS 8. Normas para a submissão de artigos Submissão de artigos: Os manuscritos devem ser submetidos por via electrónica para a Comissão Editorial, para um dos endereços seguintes: [email protected], [email protected], [email protected] ou [email protected]. Toda a correspondência será efectuada por e-mail. Língua: São aceites artigos redigidos em português, com resumo alargado em inglês, ou em inglês, com resumo alargado em português. O título e as legendas devem ser bi-lingues (português e inglês). Espaçamento: duplo Figuras: Devem ser enviadas em arquivos separados com a respectiva identificação. As legendas, com a numeração das figuras, devem ser enviadas em folha autónoma no final do texto do artigo. O texto do artigo deve identificar o local onde se pretende que a figura seja inserida. De preferência, as figuras devem ser enviadas em formato JPEG, embota também sejam aceitáveis os formatos GIF, TIFF, BMP, PNG, PCX, PSD. Tabelas e quadros: Devem ser apresentadas em arquivos separados com a respectiva identificação. As legendas, com a respectiva numeração, devem ser enviadas em folha autónoma no final do texto do artigo. O texto do artigo deve identificar o local onde se pretende que a tabela ou quadro seja inserida. Unidades: Deve ser utilizado o Sistema Internacional de Unidades (SI). Não deve haver espaço entre os algarismos e a abreviatura das unidades. pág. 88 respectivas filiações científicas e endereços. No caso de haver vários autores deve ser indicado qual é o autor que serve de interlocutor (corresponding author). Resumos: o artigo deve incluir dois resumos, um em português, com o máximo de 500 palavras, e outro em inglês, que pode ser um pouco mais extenso, com o ANEXOS Autores: Devem utilizar-se os nomes científicos dos autores, indicando as máximo de 1000 palavras. Legendas: As legendas devem ser bi-lingues (português e inglês). Referências bibliográficas: Pelos padrões internacionais, as teses e relatórios não publicadas, bem os artigos publicados em revistas sem expressividade internacional, são considerados literatura cinzenta (gray literature), pelo que, sempre que possível, se deve evitar fazer-lhes alusão. Nas “Referências Bibliográficas” os trabalhos devem ser referidos da seguinte forma: Artigos: Dias, J. A, Boski, T., Rodrigues, A. & Magalhães, F. (2000) – Coast line Evolution in Portugal since the Last Glacial Maximum until Present – A Synthesis. Marine Geology, 170(1-2):177-186. (doi:10.1016/S0025-3227(00)00073-6) Silva, I.R., Costa, R.M. & Pereira, L.C.C. 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Saxena. (Org.), Recent Advances in Marine Science and Technology, 2002, pp.565-575, International, Honolulu, HI, USA. (disponível em http://nippon.zaidan.info/seikabutsu/2002/00223/contents/142.htm). Teses: Polette, M. (1997) - Gerenciamento costeiro integrado: ANEXOS Widmer, Walter Martin (2003) - Recreational boats and submerged marine debris in Proposta metodológica para a paisagem da microbacia de Mariscal – Bombinhas (SC). 499p., Dissertação de Doutorado, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianololis, SC, Brasil. Relatórios: Governo do Estado do Pará (2004) - Macrozoneamento EcológicoEconômico do Estado do Pará/2004: Proposta para Discussão. 132p., Secretaria Especial de Estado de Produção / Secretaria Executiva de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente, Belém, PA, Brasil. (file://localhost/disponível em http/::www.amazonia.org.br:arquivos:148997.zip) Relatórios não publicados: Costa, C.L. (1994) - Final report of sub-project A “Wind wave climatology of the Portuguese Coast”, Instituto Hidrográfico/LNEC, Report 6/94-A, 80p. Lisboa, Portugal. (não publicado). Internet – livros electrónicos (e-books): Dias, J.A. (2004) - A Conquista do Planeta Azul: o início do reconhecimento do oceano e do mundo. (Versão Preliminar). http://w3.ualg.pt/~jdias /JAD/e_b_CPAzul.html. Faro, Portugal. Internet – artigos de revistas electrónicas (e-papers): Rei, A. (2005) - O Gharb alAndalus em dois geógrafos árabes do século VII / XIII: Yâqût al-Hamâwî e Ibn Sa„îd al-Maghribî. Medievalista on line, 1, IEM-Instituto de Estudos Medievais, Lisboa, Portugal. http://www.fcsh.unl.pt/iem/medievalista/MEDIEVALISTA1/PDF/GHARB_AL_ANDAL US_pdf Internet – relatórios electrónicos (e-reports): Rodrigues, R. Brandão, C. & Costa, J.P. da (2004) – A Cheia de 24 de Fevereiro de 2004 no Rio Ardila. 11p., Ministério pág. 90 Portugal. http://snirh.pt/snirh/download/relatorios/cheia_pedrogao200402.pdf Internet –sem autor identificado em portais electrónicos (web sites): Instituto de Meteorologia (s/d) – Extremos Climatológicos. Instituto de Meteorologia , Lisboa, ANEXOS das Cidades, Ordenamento do Território e Ambiente, Instituto da Água, Lisboa, Portugal. In: http://www.meteo.pt/pt/oclima/extremos(acedido em Abril 2008) 3.1.1 Sugestões para estruturação de artigos Os artigos devem ter elevado grau de estruturação, e ser bastante objectivos e sintéticos. Expressam-se seguidamente algumas sugestões para estruturação dos artigos. Título - Deve ser explicativo e sucinto. Deve ser apresentado em português, seguido do mesmo em inglês, em maiúsculas. Resumo – Deve, de forma sucinta (máximo: 500 palavras), apresentar o trabalho realizado e as suas motivações, os métodos utilizados, e as principais conclusões. Deve ser seguido de um resumo em inglês que pode ser um pouco mais extenso (máximo: 1000 palavras) Introdução - Deve incluir breve descrição do problema, abordagens pretéritas, hipóteses e objectivos, ainda que sejam de um projecto maior. O texto deve ser subdividido por temas. É importante, entretanto, que haja um equilíbrio no tamanho dos textos. Material e Métodos – Deve descrever, com o pormenor necessário, os materiais utilizados e os métodos que foram adoptados. Como é óbvio, devem ter estreita relação com os objectivos e com as conclusões. Esta parte deve ser sub-dividida por temas, mantendo, no entanto, equilíbrio na dimensão dos textos. Deve ser evitada a descrição de trabalhos efectuados e materiais utilizados que não forneceram resultados relevantes para os objectivos expressos. Resultados e Discussão - Podem ser apresentados separadamente ou em conjunto, tendo sempre como base os objectivos expressos. pág. 91 Figuras – Devem ter elevada qualidade gráfica, ser de fácil leitura e essenciais para compreensão ou ilustração do artigo. A legenda, sucinta, deve ser bi-lingue (português e inglês). ANEXOS Conclusões - Devem reflectir os objectivos propostos e ter elevada estruturação. Tabelas – Devem ser essenciais para compreensão ou ilustração do artigo. É de evitar ao máximo a utilização de tabelas extensas. A legenda, sucinta, deve ser bilingue (português e inglês). Agradecimentos – Devem ser bastante sucintos. Referências Bibliográficas – Devem ser formatadas de acordo com as normas de publicação. Todas (e apenas essas) as referencias bibliográficas utilizadas no texto devem constar da listagem bibliográfica final. Sempre que possível deve-se evitar referir material bibliográfico publicado na forma de literatura cinzenta (gray literature), tais como teses não publicadas, artigos em revistas sem ampla circulação internacional e relatórios não publicados. Notas de pé de página – Deve-se evitar a utilização de notas de pé de página. pág. 92 Author Artwork Instructions Author Artwork Instructions homepage: www.elsevier.com www.elsevier.com Author Artwork Instructions ANEXOS 2 – Marine Pollution Bulletim Welcome Generic information File formats• Font information• File naming• Artwork guidelines Sizing of artwork• Line art images• Grayscale images• Color image• s Combination ar• t Checklist • Generic colour information RGB to Gray conversio• n RGB to CMYK conversion• Monitor calibration• What‟s color?• Multimedia files Instruction• s Specifications• Support FAQ• Glossar• y Contac• t Dear Author, Help us reproduce your artwork to the highest possible standards - in both paper and digital formats. Submitting your illustrations, pictures, tables and other artwork (such as multimedia and supplementary files) in an electronic format helps us produce your work to the best possible standards, ensuring accuracy, clarity and a high level of detail. These pages show how to prepare your artwork for electronic submission and include information on common problems, suggestions on how to ensure the best results, and image creation guides for popular applications. pág. 93 For graphical images, journals published by Elsevier apply the following policy: no specific feature within an image may be enhanced, obscured, moved, removed, or introduced. Adjustments of brightness, contrast, or color balance are acceptable if and as long as they do not obscure or eliminate any information present in the original. Nonlinear adjustments (e.g. changes to gamma settings) must be disclosed in the figure legend. ANEXOS Figure manipulation Whilst it is accepted that authors sometimes need to manipulate images for clarity, manipulation for purposes of deception or fraud will be seen as scientific ethical abuse and will be dealt with accordingly. pág. 94
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