Revista Arautos do Evangelho
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Revista Arautos do Evangelho
Número 84 Maio 2010 Sob tempestade, novas maravilhas O amor da Mãe do Salvador A quilo que se opõe mais diretamente à caminhada do homem em direção a Deus é o pecado, o perseverar no pecado, enfim, a negação de Deus. [...] Na verdade, a salvação eterna do homem somente em Deus se encontra. A rejeição de Deus por parte do homem se se tornar definitiva, logicamente conduz à rejeição do homem por parte de Deus (Cfr. Mat 7, 23; 10, 33), à condenação. Timothy Ring Poderá a Mãe, que deseja a salvação de todos os homens, com toda a força do seu amor que alimenta no Espírito Santo, poderá Ela ficar calada acerca daquilo que mina as próprias bases desta salvação? Não, não pode! Por isso, a mensagem de Nossa Senhora de Fátima, tão maternal, se apresenta ao mesmo tempo tão forte e decidida. [...] Esta mensagem é dirigida a todos os homens. O amor da Mãe do Salvador chega até onde quer que se estenda a obra da salvação. E objeto do Seu desvelo são todos os homens da nossa época e, ao mesmo tempo, as sociedades, as nações e os povos. (Trecho da Homilia do Papa João Paulo II em Fátima, 13 de maio de 1982) Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima SumáriO Escrevem os leitores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Flashes de Fátima Boletim da Campanha “O Meu Imaculado Coração Triunfará!” Ano XII nº 84 - Maio 2010 Director: Manuel Silvio de Abreu Almeida Conselho de redacção: Guy Gabriel de Ridder, Juliane Vasconcelos A. Campos, Luis Alberto Blanco Cortés, Mariana Morazzani Arráiz, Severiano Antonio de Oliveira Editor: Associação dos Custódios de Maria R. Dr. António Cândido, 16 1050-076 Lisboa I.C.S./D.R. nº 120.975 Dep. Legal nº 112719/97 Tel: 212 338 950 / Fax: 212 338 959 www.arautos.pt / www.arautos.org.br E-mail: [email protected] Assinatura anual: 24 euros Com a colaboração da Associação Privada Internacional de Fiéis de Direito Pontifício Arautos do Evangelho Impressão e acabamento: Pozzoni - Istituto Veneto de Arti Grafiche S.p.A. A palavra dos Pastores – Ancorados em Cristo e firmes na fé A voz do Papa – Símbolo da bondade de Deus ...................... ........................ 10 Congresso Teológico Internacional – “Sejamos sacerdotes até o fundo” ...................... 18 Entrevista com Dom Mauro Piacenza – O sacerdote é um outro . . . Cristo ................... 24 Arautos no mundo ...................... Tiragem: 40.000 exemplares 38 6 Comentário ao Evangelho – Pertencemos à Família de Deus! ...................... 34 5 Aconteceu na Igreja e no mundo ...................... 40 História para crianças... A chave do Céu ...................... 46 Os santos de cada dia ...................... 48 Portas da terra, Porta do Céu Membro da Associação de Imprensa de Inspiração Cristã Profeta da alegria cristã ...................... Sob tempestade, novas maravilhas (Editorial) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Via L. Einaudi, 12 36040 Brendola (VI) Os artigos desta revista poderão ser reproduzidos, desde que se indique a fonte e se envie cópia à Redacção. O conteúdo das matérias assinadas é da responsabilidade dos respectivos autores. 4 28 ...................... 50 E screvem Inspirada pelo Espírito Santo Há mais de dois anos recebo a revista Arautos do Evangelho e, a cada novo exemplar que leio, sinto que ao assiná-la fui inspirada pelo Espírito Santo. Seus artigos são de excelente qualidade, embasados em grande cultura religiosa e artística, sem falar na qualidade de suas fotos e impressão. Os comentários ao Evangelho, de Mons. João Scognamiglio Clá Dias, sempre me fazem estudar a Bíblia com outra visão, deixando-me ufana de pertencer à Santa Igreja Católica, tão rica em conteúdo doutrinário, história e tradição. No número de março passado, o artigo A Escolástica em pedra veio enriquecer a leitura que faço atualmente do livro Como a Igreja Católica construiu a Civilização Ocidental, de Thomas E. Woods Jr., no qual constam estudos sobre a Idade Média e o contributo de inigualável valia dado pela Igreja Católica ao ensino universitário, às artes plásticas, às obras de caridade, às ciências e à arquitetura. Gostaria até de saber se há possibilidade de que se faça outro artigo no mesmo gênero, sobre o Barroco (italiano, espanhol, português e brasileiro), presente em muitas das nossas mais belas e tradicionais igrejas. Minha coleção desta revista é um tesouro para mim. Releio sempre os números anteriores e aguardo com ansiedade o próximo. Edméa A. S. Marton Lorena - SP “O menino do tambor” Sou professor de uma escola pública em minha cidade e leciono para crianças. Vivi 10 anos no Cana4 Flashes de Fátima · Maio 2010 os leitores dá, onde tive a oportunidade de ler o conto O menino do tambor. Qual não foi minha surpresa de vê-lo publicado na edição de dezembro passado, da revista Arautos do Evangelho. Li a história para meus alunos da 4ª série e eles se encantaram, decidindo, com minha orientação, apresentar no pátio da escola uma peça de teatro com este tema, durante o “Momento cultural” promovido pelo educandário. Foi um sucesso e fomos muito aplaudidos! Agradeço à revista por esta grande colaboração. Emanuel M. Lima Taguatinga – DF Importante meio de difusão de nossa religião Creio que esta revista é uma necessidade e uma bênção, não só para nós que a recebemos, mas para todo o mundo. É um importantíssimo meio de difusão de nossa religião Católica Apostólica e Romana, nesta globalização confusa e perdida na qual vivemos. Sonia Castro Matamoros San José – Costa Rica A “Voz do Papa”, ponto alto da revista A revista Arautos do Evangelho é, sem sombra de dúvida, por seu denso conteúdo doutrinário e fidelidade à ortodoxia, um indispensável veículo de propagação da Fé Católica. O enfoque dado à catequese do Papa Bento XVI que, para nós, católicos, é “um santo sábio e um sábio santo”, é um dos pontos altos da revista. Tenho o hábito de ler a revista como um todo, não perdendo nada, pois, como é feita, dela nada se pode perder. Merecem destaque — e não poderia deixar de ser — os Comentários ao santo Evangelho, do Mons. João Scognamiglio Clá Dias. É fantástica sua versatilidade na interpretação da Sagrada Escritura, é uma autêntica aula de exegese bíblica. Felicito a todos os que se envolvem mensalmente neste trabalho de edição da revista, oferecendo tal primor da imprensa católica ao nosso país e ao mundo. José Nonato da Conceição Caeté – MG Alimento para o espírito A informação que recebemos através da revista é um alimento para nosso espírito e esclarece muitas dúvidas sobre temas da Religião. É um meio informativo que deveria chegar a todos os católicos, para ajudar a manter viva nossa Fé. Gaby Vilela Ubillés de Talledo Lima – Peru Dia dos Arautos do Evangelho Gostaria de participar a todos os leitores desta renomada revista mais uma boa notícia sobre os Arautos do Evangelho, que nos vem através do Jornal Cantareira, de circulação nos municípios que compõem esta serra. O prefeito de Mairiporã, Antonio Shigueyuki Aiacyda, juntamente com o vereador Márcio Alexandre Emídio de Oliveira, fizeram uma bela homenagem ao trabalho de vocês, criando a partir deste ano o “Dia dos Arautos do Evangelho”, que deverá ser comemorado em 22 de fevereiro. Quando se plantam boas sementes em terrenos preparados, germinam sempre árvores de bons frutos. Parabéns mais uma vez ao Mons. João Scognamiglio Clá Dias e a todos os Arautos por este presente da comunidade da Serra da Cantareira, em reconhecer a grandeza do trabalho dos Arautos do Evangelho. Isidio D. Duarte Via e.mail – Brasil Editorial Sob tempestade, N 84 Número 0 Maio 201 , pestade Sob tem s a aravilh novas m Bento XVI imparte a Bênção Apostólica Urbi et Orbi no domingo de Páscoa (Fotos: Gustavo Kralj / Ricardo Castelo Branco) novas maravilhas o estado de prova em que fomos lançados depois do Pecado Original, nossa vida oscila entre dramas e alegrias. Não raro, às perspectivas jubilosas sucedemse transtornos inesperados, que nos fazem considerar com apreensão o futuro. Nem os Apóstolos escaparam a essa regra. Se, por um lado, o sacro convívio deles com o Messias esteve marcado por inefável júbilo, por outro, passaram por terríveis angústias, como as que começaram no Horto das Oliveiras e culminaram com a morte do Salvador, crucificado entre dois ladrões, no Calvário. Mas, também no dia a dia, não lhes faltaram momentos de aflição, como os vividos no mar da Galileia logo após a primeira multiplicação dos pães e dos peixes. Achavam-se eles, naquela noite, atormentados pelas ondas, deitando inúteis esforços sobre os remos, quando viram aproximar-se um vulto, caminhando sobre as águas. Soltaram gritos de terror, julgando tratar-se de um fantasma. Mas o Divino Mestre os tranquilizou, dizendo: “Sou Eu. Não temais”. São Pedro desceu então da barca e caminhava sobre o mar, ao Seu encontro. “Vendo, porém, que o vento era forte, temeu, e, começando a afundar, gritou: ‘Senhor, salva-me!’ Imediatamente Jesus, estendendo a mão, o tomou e lhe disse: ‘Homem de pouca fé, por que duvidaste?’. Depois que subiram para a barca, o vento cessou” (cf. Mt 14, 24-32). Essa nau sacudida pela tempestade simboliza a Igreja, em luta nos mares deste mundo; e as agitadas águas do mar da Galileia bem podem ser comparadas à onda difamatória lançada na mídia internacional contra a excelsa pessoa do Sumo Pontífice felizmente reinante, o Papa Bento XVI. Visam, sem dúvida, os autores dessa saraivada de ataques, não só atingir a augusta figura do Sucessor de Pedro, mas, ainda mais, golpear a própria Instituição nascida do Sagrado Costado de Cristo. Inútil tentativa, uma vez que, santificada e purificada pelo seu Fundador, a Igreja se apresenta a Ele “toda bela, sem mancha nem ruga ou qualquer reparo, mas santa e sem defeito” (Ef 5, 27).* A Igreja “é santa”, ressalta Paulo VI, “não obstante compreender no seu seio pecadores, porque ela não possui em si outra vida senão a da graça: é vivendo da sua vida que os seus membros se santificam; e é subtraindo-se à sua vida que eles caem em pecado e nas desordens que impedem a irradiação da sua santidade” (Sollemnis Professio fidei, n.19). Santa e invencível é, com efeito, a Esposa de Cristo porque assim foi erigida por seu Fundador: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16, 18). Mais de dois mil anos de História corroboram de sobejo a eficácia dessa promessa. Assim, perante a atual onda de ataques lançados contra a Igreja, pode ela repetir sobranceira: “Alios ego vidi ventos; alias prospexi animo procellas — Vi outros ventos e enfrentei sem temor outras tempestades” (Cícero, Familiares, 12, 25, 5). Pois, após cada catástrofe aparentemente destruidora, ela ressurge mais jovem e mais portadora de esperanças. Em meio à tempestade, surgem na Santa Igreja novas maravilhas. * Vide em www.arautos.org/desagravo/index.html o artigo A Igreja é imaculada e indefectível, de Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP. Maio 2010 · Flashes de Fátima 5 Gustavo Kralj A voz do Papa Símbolo da bondade de Deus O Espírito Santo é o óleo da alegria. No fruto da oliveira, no óleo consagrado, toca-nos a bondade do Criador, o amor do Redentor. O centro do culto da Igreja é o Sacramento. Sacramento significa que o primeiro a intervir não somos nós homens, mas Deus que primeiro vem ao nosso encontro com o Seu agir, olhanos e nos conduz até junto de Si. E existe ainda outra coisa extraordinária: Deus nos toca por meio de realidades materiais, através de dons da criação que Ele assume ao Seu serviço, fazendo deles instrumentos do encontro entre nós e Ele mesmo. Síntese entre Criação e História Quatro são os elementos da Criação com os quais o universo dos Sacramentos é construído: a água, o pão de trigo, o vinho e o azeite. A água, como elemento básico e condição fundamental de toda a vida, é o sinal essencial do Batismo, o ato através do qual uma pessoa torna-se cristã; o ato do nascimento para uma vida nova. Enquanto a água é o elemento vital em geral e, por isso, representa o acesso comum ao novo nascimento de todos como cristãos, os outros três elementos pertencem à cultura do ambiente mediterrâneo. Deste modo aludem ao ambiente histórico con6 Flashes de Fátima · Maio 2010 creto, no qual o Cristianismo se desenvolveu. Deus agiu num lugar bem determinado da Terra, verdadeiramente fez História com os homens. Estes três elementos, por um lado, são dons da Criação e, por outro, são também indicações dos lugares da História de Deus junto de nós. São uma síntese entre Criação e História: dons de Deus que sempre nos ligam com aqueles lugares do mundo onde Deus quis atuar conosco no tempo da História, fazendo-Se um de nós. O óleo representa o Espírito Santo Nestes três elementos há novamente uma graduação. O pão faz referência à vida cotidiana. É o dom fundamental da vida de todos os dias. O vinho recorda a festa, o primor da criação, em que se pode ao mesmo tempo expressar de modo singular a alegria dos redimidos. O azeite possui um amplo significado. Serve de nutrimento, medicamento, embelezamento, adestra para a luta e dá vigor. Os reis e os sacerdotes são ungidos com este óleo, que assim torna-se sinal de dignidade e responsabilidade e ainda da força que vem de Deus. No nosso nome de “cristãos”, está presente o mistério do óleo. Com efeito, a palavra “cristãos”, com que foram denominados os discípulos de Cristo, já no início da Igreja formada a partir dos pagãos, deriva da palavra “Cristo” (At 11, 20-21) — tradução grega da palavra “Messias”, que significa “Ungido”. Ser cristão significa: provir de Cristo, pertencer a Cristo, ao Ungido de Deus, Àquele a quem Deus entregou a realeza e o sacerdócio. Significa pertencer Àquele a quem Deus mesmo ungiu — não com um óleo material, mas com Aquele que é representado pelo óleo: com o Seu Espírito Santo. Assim, o azeite simboliza de um modo muito particular a permeabilização do Homem Jesus pelo Espírito Santo. Sinal da bondade de Deus que nos toca Na Missa Crismal de Quinta-Feira Santa, os santos óleos estão no centro da ação litúrgica. São consagrados pelo Bispo na Catedral para o ano inteiro. Assim, exprimem também a unidade da Igreja, garantida pelo Episcopado, e aludem a Cristo, o verdadeiro “pastor e guarda das Gustavo Kralj “Na Missa Crismal de Quinta-Feira Santa, os santos óleos estão no centro da ação litúrgica. São consagrados pelo Bispo na Catedral para o ano inteiro. Assim, exprimem também a unidade da Igreja, garantida pelo Episcopado”. Missa Crismal na Basílica de São Pedro, 1/4/2010 nossas almas”, como o chama São Pedro (cf. I Pd 2, 25). E, ao mesmo tempo, mantêm unido todo o ano litúrgico, ancorado no mistério de Quinta-Feira Santa. Enfim, os óleos aludem ao Horto das Oliveiras, onde Jesus aceitou interiormente a sua Paixão. Contudo, o Horto das Oliveiras é também o lugar donde Jesus subiu ao Pai, tornando-se, assim, o lugar da Redenção: Deus não deixou Jesus na morte. Jesus vive para sempre junto do Pai, e por isso mesmo é onipresente, está sempre junto de nós. Este duplo mistério do Monte das Oliveiras também está “ativo” no óleo sacramental da Igreja. Em quatro Sacramentos, o óleo é sinal da bondade de Deus que nos toca: no Batismo; na Confirmação, como Sacramento do Espírito San- to; nos vários graus do Sacramento da Ordem; e, finalmente, na Unção dos Enfermos, na qual o óleo nos é oferecido, por assim dizer, como medicamento de Deus — como o medicamento que agora nos torna seguros da Sua bondade e deve nos revigorar e consolar, mas ao mesmo tempo aponta para além do momento da enfermidade, para a cura definitiva, a ressurreição (cf. Tg 5, 14). Assim o óleo, nas suas diversas formas, nos acompanha ao longo de toda a vida, desde o catecumenato e o Batismo até ao momento em que nos preparamos para o encontro com Deus, Juiz e Salvador. Em suma, a Missa Crismal, na qual o sinal sacramental do óleo nos é apresentado como linguagem da Criação de Deus, fala de modo particular a nós, sacerdotes: fala-nos de Cristo, que Deus ungiu como Rei e Sacerdote; d’Ele, que nos torna participantes do Seu sacerdócio, da Sua “unção”, na nossa ordenação sacerdotal. Jamais deve faltar em nós o óleo da misericórdia Procurarei agora explicar brevemente o mistério deste sinal sagrado na sua referência essencial à vocação sacerdotal. Já na Antiguidade, etimologias populares associaram a palavra grega “elaion” (óleo) com a palavra “eleos” (misericórdia). De fato, nos vários sacramentos, o óleo consagrado é sempre sinal da misericórdia de Deus. Por isso, a unção para o sacerdócio significa sempre também a missão de levar a misericórMaio 2010 · Flashes de Fátima 7 Fotos: Gustavo Kralj dia de Deus aos homens. Na lâmpada da nossa vida, não deveria jamais faltar o óleo da misericórdia. Não nos cansemos de procurá-lo a tempo junto do Senhor — no encontro com a Sua Palavra, recebendo os Sacramentos, demorando-nos em oração junto d’Ele. Cristo vence por meio da Cruz Através da história da pomba com o ramo de oliveira, que anunciava o fim do dilúvio e, desse modo, a nova paz de Deus com o mundo dos homens, tanto a pomba, como o ramo de oliveira e o mesmo óleo tornaram-se símbolos da paz. Os cristãos dos primeiros séculos gostavam de ornamentar as tumbas dos seus defuntos com a coroa da vitória e o ramo de oliveira, símbolo da paz. Sabiam que Cristo venceu a morte e que os seus defuntos repousavam na paz de Cristo. Eles mesmos sabiam que Cristo os esperava, que lhes tinha prometido a paz que o mundo não é capaz de dar. Lembravam-se de que a primeira palavra do Ressuscitado aos Seus discípulos fora: “A paz esteja convosco!” (Jo 20, 19). Por assim dizer, Ele mesmo traz o ramo de oliveira, introduz a sua paz no mundo. Anuncia a bondade salvífica de Deus. Ele é a nossa paz. Portanto, os cristãos deverão ser pessoas de paz, pesso8 Flashes de Fátima · Maio 2010 as que reconhecem e vivem o mistério da Cruz como mistério da reconciliação. Cristo não vence com a espada, mas por meio da Cruz. Vence, superando o ódio. Vence em virtude daquele amor maior que é o Seu. A Cruz de Cristo diz “não” à violência. E, justamente assim, ela é o sinal da vitória de Deus, que anuncia o novo caminho de Jesus. A vítima foi mais forte que os detentores de poder. Na sua autodoação na Cruz, Cristo venceu a violência. Como sacerdotes, somos chamados a ser, na comunhão com Jesus Cristo, homens de paz, somos chamados a opor-nos à violência e a confiar no poder maior do amor. O direito é o fundamento da paz Também pertence ao simbolismo do óleo o fato de que este robustece para a luta. Isto não contradiz o tema da paz; é, antes, uma parte deste. A luta dos cristãos consistia, e consiste, não no uso da violência, mas no fato de que estes estavam, e ainda estão, prontos a sofrer pelo bem, por Deus. Consiste no fato de que os cristãos, como bons cidadãos, respeitam o direito e fazem aquilo que é justo e bom. Consiste no fato de que rejeitam fazer aquilo que, nos ordenamentos jurídicos em vigor, não é direito, mas injustiça. A luta dos mártires consistia no seu “não” concreto à injustiça: rejeitando a participação no culto idolátrico, na adoração do imperador, recusaram-se a ajoelhar-se diante da falsidade, da adoração de pessoas humanas e do seu poder. Com o seu “não” à falsidade e a todas as suas consequências, exaltaram o poder do direito e da verdade. Assim, serviram a verdadeira paz. Também hoje, é importante para os cristãos seguir o direito, que é o fundamento da paz. Também hoje, é importante para os cristãos não aceitar uma injustiça que é elevada a direito — por exemplo, quando se trata do assassinato de crianças inocentes ainda por nascer. É justamente assim que servimos a paz e vivemos seguindo os passos de Jesus Cristo, de quem São Pedro diz: “Quando injuriado, não retribuía as injúrias; atormentado, não ameaçava; antes, colocava a sua causa nas mãos d’Aquele que julga com justiça. Sobre Sua Cruz, carregou nossos pecados em Seu próprio corpo a fim de que, mortos para os pecados, vivamos para a justiça” (I Pd 2, 23s). A alegria que vem de Deus Os Padres da Igreja sentiam-se fascinados por uma palavra do Salmo 45 (44) — segundo a tradição, o salmo nupcial de Salomão — que Na Missa Crismal, o Papa abençoou três ânforas contendo o óleo dos catecúmenos que será usado no Sacramento do Batismo, o óleo dos enfermos, e o óleo do crisma. Três arautos diáconos participaram do cerimonial litúrgico. era considerado pelos cristãos como Salmo para as núpcias do novo Salomão, Jesus Cristo, com a Sua Igreja. Ali, diz-se ao Rei, Cristo: “Amas a justiça e odeias a iniquidade; por isso Deus, o teu Deus, Te consagrou com óleo da alegria, de preferência a teus iguais” (v.8). O que é este óleo da alegria com o qual foi ungido o verdadeiro Rei, Cristo? Os Padres não tinham qualquer dúvida a este respeito: o óleo da alegria é o próprio Espírito Santo, infundido sobre Jesus Cristo. O Espírito Santo é a alegria que vem de Deus. A partir de Jesus, esta alegria se derrama sobre nós no seu Evangelho, na Boa Nova de que Deus nos conhece, que Ele é bom e que a Sua bondade é um poder superior a todos os poderes; que somos queridos e amados por Ele. A alegria é fruto do amor. O óleo da alegria, que foi derramado sobre Cristo e d’Ele passa para nós, é o Espírito Santo, o dom do Amor que nos torna felizes porque existimos. Porque conhecemos Cristo e, em Cristo, o verdadeiro Deus, sabemos que é bom ser homem. É bom viver, porque somos amados. Porque a verdade mesma é boa. Na Igreja antiga, o óleo consagrado foi considerado, particularmente, como sinal da presença do Espírito Santo, que Se comunica a nós a partir de Cristo. O Espírito é o óleo da alegria. Esta alegria é uma realidade diversa do divertimento ou da alegria exterior que a sociedade moderna deseja. No seu justo lugar, o divertimento é certamente uma coisa boa e agradável. É bom poder rir. Mas, o divertimento não é tudo. É somente uma pequena parte da nossa vida; e, quando pretende ser tudo, torna-se uma máscara por detrás da qual se esconde o desespero ou, pelo menos, a dúvida se a vida é realmente boa ou se talvez seria melhor não existir, em vez de existir. Quem ama está disposto a sofrer pelo Amado A alegria, que nos vem de Cristo, é diferente. Essa também nos dá contentamento, mas pode sem dúvida, coexistir com o sofrimento. Dános a capacidade de sofrer e, no sofrimento, de permanecer também intimamente felizes. Dá-nos a capacidade de compartilhar o sofrimento dos outros e assim tornar perceptí- veis, na disponibilidade recíproca, a luz e a bondade de Deus. Sempre me faz refletir a passagem dos Atos dos Apóstolos segundo a qual os Apóstolos, depois terem sido flagelados a mando do Sinédrio, saíram de lá “contentes por terem sido considerados dignos de injúrias por causa do nome de Jesus” (At 5, 41). Quem ama está pronto a sofrer pelo amado e por causa do seu amor, e precisamente por isso experimenta uma alegria mais profunda. A alegria dos mártires era mais forte do que os tormentos infligidos. No fim, esta alegria venceu e abriu a Cristo as portas da História. Como sacerdotes, somos — diz São Paulo — “colaboradores da vossa alegria” (II Cor 1, 24). No fruto da oliveira, no óleo consagrado, toca-nos a bondade do Criador, o amor do Redentor. Rezemos para que a Sua alegria nos inunde sempre mais profundamente e peçamos para sermos capazes de levá-la novamente a um mundo tão urgentemente necessitado da alegria que brota da verdade. (Homilia na Missa Crismal, 1/4/2010) Todos os direitos sobre os documentos pontifícios estão reservados à Libreria Editrice Vaticana. A íntegra dos documentos acima pode ser encontrada em www.vatican.va Maio 2010 · Flashes de Fátima 9 Se rg io H ol lm an n “Santíssima Trindade” Paróquia de Santiago, Puente la Reina, Espanha a Evangelho A “Naquele tempo disse Jesus a Seus discípulos: 12 ‘Tenho ainda muitas coisas a dizervos, mas não sois capazes de as compreender agora. 13 Quando, porém, vier o Espírito da Verdade, Ele vos conduzirá à plena verdade. Pois não falará por Si mesmo, mas dirá tu- 10 Flashes de Fátima · Maio 2010 do o que tiver ouvido e até as coisas futuras vos anunciará. 14 Ele Me glorificará, porque receberá do que é meu e vo-lo anunciará. 15 Tudo o que o Pai possui é meu. Por isso, disse que o que Ele receberá e vos anunciará é meu’” (Jo 16, 12-15). Comentário ao Evangelho – Solenidade da Santíssima Trindade Pertencemos à Família de Deus! Constatando a insuficiência da humana inteligência diante dos maiores mistérios de nossa Fé, resta-nos prestar um tributo de amor e gratidão ao Deus Uno e Trino, que nos oferece uma dádiva infinitamente acima de nossa natureza e merecimentos. Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP I – Um dos maiores mistérios da nossa Fé Conta uma piedosa tradição que, estando o grande Santo Agostinho muito empenhado em procurar compreender a Santíssima Trindade, certo dia sonhou que presenciava na praia um menino esvaziando baldes e baldes de água do mar em uma cavidade na areia. Intrigado, aproximou-se dele e indagou: — Que fazes aqui, meu jovenzinho? — Tento colocar toda a água do mar neste buraco na areia. — Mas, não vês que isso é impossível? — perguntou-lhe o santo. — Pois sabei, Agostinho, que mais fácil é transferir para aqui toda a água do mar do que vós compreenderdes o mistério da Santíssima Trindade. A sábia resposta fez o Doutor da Graça darse conta da insuficiência da inteligência humana, ainda que tão brilhante como a dele, perante um dos mistérios centrais da nossa Fé. Inatingível pela mera razão natural Nas aulas de Catecismo, aprendemos uma fórmula extraordinariamente simples e breve: “Um só Deus em três pessoas”. Ela nos é muito familiar e podemos decorá-la com facilidade, mas jamais conseguiremos penetrar no seu significado sem a ajuda da Fé. Por isso, Santo Agostinho nos aconselha: “Se almejamos compreender tanto quanto nos é possível a eternidade, a igualdade e unidade de um Deus trino, precisamos crer antes de entender”.1 Desde toda a eternidade, conhecendo-Se a Si mesmo no espelho puríssimo de Sua essência, o Pai gera o Filho — o Verbo, a Palavra viva e substancial —, que é a Segunda Pessoa. Vendo a essência divina do Seu Verbo, o Pai O ama sem limites. E o Verbo, afirma o padre Royo Marín, “retribui a Seu Pai um amor semelhante, igualmente eterno e infinito. E ao encontrar-se a corrente impetuosa de amor que brota do Pai com a que brota do Filho, salta, por assim dizer, uma torrente de chamas, que é o Espírito Santo”.2 Esse insondável mistério da vida ad intra de Deus, baseada no amor, tornou-se cognoscível apenas pela Revelação. Para a inteligência humana resulta impossível entendê-lo, pois nada há na ordem da criação que possa dar ideia explícita dele. “É impossível chegar ao conhecimento da Trindade das Pessoas divinas pela raMaio 2010 · Flashes Nada há na ordem da criação que possa dar ideia explícita desse mistério de Fátima 11 Tanto o mistério da Encarnação quanto o da Santíssima Trindade e os outros mistérios da nossa Fé foram escondidos dos sábios, e revelados aos pequeninos pela ação do Espírito Santo zão natural”, afirma São Tomás.3 Logo a seguir, esclarece ser-nos possível conhecer de Deus, por mero raciocínio, “o que pertence à unidade da essência, não à distinção das Pessoas”.4 Tão inefável é o mistério da Santíssima Trindade que Santo Antônio Maria Claret, após procurar descrevê-lo, afirma: “Incompreensível vos parecerá isto, sem dúvida. E se pudéssemos compreendê-lo com perfeição, ou seríamos esse Deus, ou Aquele cuja natureza declarássemos como é em si, não o seria. O que teria de precioso a Divindade incompreensível — pergunta Eusébio Emiseno — se a sabedoria humana pudesse compreender Aquele Senhor que habita nas alturas, ao qual as nuvens servem de abajur e que é infinitamente superior a toda a ciência dos homens?”.5 O Espírito sonda tudo A incapacidade de nosso intelecto para desvendar os mistérios da Fé não deve nos causar estranheza quando, mesmo no plano material, continuamos desconhecendo a explicação de muitos fenômenos naturais que nossos sentidos captam e cujas causas poderíamos deduzir pela aplicação do nosso entendimento. Alguns mistérios, como o da Encarnação, parecem estar mais ao nosso alcance, porque neles encontramos um Deus que Se fez Homem, tornando-Se perceptível a nossos sentidos. Mas, tanto o da Encarnação quanto o da Santíssima Trindade e os outros mistérios da nossa Fé foram escondidos dos sábios, e revelados aos pequeninos (cf. Mt 11, 25) pela ação do Espírito Santo, que “sonda tudo, mesmo as profundezas de Deus” (I Cor 2, 10). É pela fogosa pluma do Apóstolo que temos ciência de quanto “o amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo, que nos foi dado” (Rm 5, 5). A grande e virtuosa Santa Maria Madalena de Pazzi, disse em certa ocasião: “Vi um hóspede divino sentado sobre um trono”.6 O afamado padre Plus torna-nos ainda mais explícito quem é esse Divino Visitante: “Esse Hóspede, o mais nobre e digno de todos, é o Espírito Santo que, com a agilidade de Sua bondade e de Seu amor a nós, infunde-Se rapidamente em todas as almas dispostas a recebê-lo. Quem poderia enunciar os maravilhosos efeitos que Ele produz em qualquer lugar onde é recebido! Fala sem articular palavras, e todos ouvem Seu divino silêncio. Está sempre imóvel e sempre em movimento, e Sua imobilidade móvel 12 Flashes de Fátima · Maio 2010 comunica-se a todos. Permanece sempre em repouso e, não obstante, age sempre; e no Seu repouso realiza as mais dignas e admiráveis obras. Sempre em movimento, sem nunca mudar de lugar, confirma e ao mesmo tempo destrói tudo onde penetra. Sua imensa e penetrante ciência tudo conhece, tudo ouve e tudo descobre. Sem necessidade de estar atento, ouve a menor palavra dita no mais íntimo do coração”.7 Diz-nos, ademais, o padre Faber: “O Espírito Santo fala mais que Jesus [...], toma maior iniciativa; parece dizer mais, parece que a paixão de Seu interesse pelos pecadores, Ele a tem muito maior para o santo”.8 É o Espírito Quem nos faz compreender — muitas vezes às apalpadelas (cf. At 17, 27), como se andássemos às escuras — os ensinamentos revelados pela Palavra da verdade. É por um dom do Paráclito que aos poucos vamos conhecendo-os e constituindo uma noção cada vez menos imprecisa a respeito da Santíssima Trindade. Por isso, pedimos na Oração do Dia: “Ó Deus, nosso Pai, enviando ao mundo a Palavra da verdade e o Espírito Santificador, revelastes o vosso inefável mistério, fazei que, professando a verdadeira Fé, reconheçamos a glória da Trindade e adoremos a Unidade onipotente”. Mistério com o qual convivemos cotidianamente Já nos escritos apostólicos, encontramos formulações afirmando a crença na Trindade. Destaca-se, entre eles, o encerramento da Epístola aos Coríntios, que inspirou a saudação inicial da Santa Missa: “A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós” (II Cor 13, 13). E ao longo dos séculos foi a Igreja explicitando sua Fé trinitária e definindo verdades por obra dos Concílios, com a contribuição dos Padres da Igreja e do sensus fidei do povo cristão. Hoje, podemos constatar a naturalidade com que, por maravilhosa ação da graça nas almas, convive o fiel cotidianamente com um dos principais mistérios de nossa Fé. Diversas vezes ao dia nos persignamos “em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo” e a maior parte das nossas orações termina glorificando a Santíssima Trindade. Em qualquer ato litúrgico ou piedoso Ela é reverenciada sem que, na maioria das ocasiões, os presentes se detenham para pensar sobre a grandeza desse mistério. E a Liturgia desta Solenidade — cuja comemoração foi estendida por João XXII, em 1334, a toda a Igreja Latina — visa precisamente incrementar nossa devoção ao Deus uno e Trino, Trindade consubstancial e indivisível. II – Jesus anuncia o Paráclito O trecho do Evangelho de São João, hoje contemplado, pertence ao relato da Última Ceia. Precede a Oração Sacerdotal, e sucede ao episódio do lava-pés e a diversas afirmações misteriosas do Divino Redentor que pareceram incompreensíveis aos Apóstolos, como o anúncio da traição de Judas, da negação de Pedro antes que o galo cantasse, ou ainda da Sua breve partida: “Para onde Eu vou, vós não podeis ir” (Jo 13, 33). Encontravam-se eles admirados e perplexos ao extremo diante do grandioso panorama apresentado por Jesus, tanto mais que suas vidas estavam em questão, pois poucos instantes antes o Salvador afirmara: “Virá a hora em que todo aquele que vos matar, julgará estar prestando culto a Deus” (Jo 16, 2). “Não sois capazes de compreender agora” “Tenho ainda muitas coisas a dizervos, mas não sois capazes de as compreender agora”. 12 G us ta vo Kr al j Chama a atenção ver o Mestre por excelência, incomparável pedagogo, dotado de divina didática, afirmar que vai silenciar determinados ensinamentos porque Seus interlocutores não são capazes de compreendê-los. Até se poderia ter a falsa impressão de que, por causa de certas deficiências dos Apóstolos, Nosso Senhor houvera decidido guardar para Si algumas das doutrinas que deveriam fazer parte da Revelação. E que, portanto, se os Doze tivessem sido inteiramente fiéis, ter-lhes-ia o Divino Mestre desvendado muitas outras maravilhas. Afirmar isso, porém, seria grave erro, pois equivaleria a asseverar que ficou incompleta a missão de Nosso Senhor, não tendo sido atingida, com Ele, a plenitude da Revelação. Para bem entendermos este versículo, precisamos considerar a rudeza dos Apóstolos, sua condição de pessoas simples e a sublimidade dos ensinamentos que lhes seriam confiados. Tudo isto exigia, segundo o padre Tuya, “uma transformação radical que, no plano do Pai, estava reservada ao Pentecostes, como ponto inicial da ação do Espírito sobre eles”.9 Necessitavam dos dons do Paráclito para compreender certas verdades reveladas, que ultrapassam a capacidade humana de entendimento. De nada serviria, naquele momento, toda a divina didática de Cristo, sem estar acompanhada pela ação sobrenatural que se lhes concederia mais adiante. Embora o Espírito Santo “não fosse melhor mestre que Jesus, Ele, entretanto, lhes falaria numa oportunidade melhor”, explica Maldonado.10 De outro lado, as palavras de Nosso Senhor não autorizam a deduzir que tenha havido alguma falta ou infidelidade da parte dos Apóstolos. Apenas afirma o Divino Mestre serem eles incapazes de compreender, naquele momento, “muitas coisas” que Ele tinha a transmitir. Nisso nada havia de desonroso, pois, mesmo decorridos já dois milênios, durante os quais a doutrina católica foi crescentemente explicitada pelo Magistério pontifício, pelos escritos dos doutores ou pela voz dos pregadores, muitas das verdades reveladas permanecem ainda incompreensíveis à razão humana, aguardando uma ação do Paráclito que venha esclarecê-las. De nada serviria, naquele momento, toda a divina didática de Cristo sem estar acompanhada pela ação sobrenatural que lhes seria concedida mais adiante Encontravam-se os Apóstolos admirados e perplexos ao extremo diante do grandioso panorama apresentado por Jesus “Última Ceia” - Igreja de Nossa Senhora da Consolação, Coney Island, Nova York Maio 2010 · Flashes de Fátima 13 Uma última reflexão, útil especialmente para nós sacerdotes. Além de reconhecermos com humildade essa limitação do nosso intelecto, precisamos saber aplicar, no exercício de nosso ministério, a lição moral que o Cardeal Gomá tira deste versículo: “A inteligência humana é um vaso pequeno demais para receber toda a verdade divina. Por isso Deus é misericordioso a ponto de descer até nós e dar-nos a verdade de acordo com a medida de nossa capacidade. Tenham isto bem presente aqueles que ensinam, ao povo, as verdades de nossa Religião”.11 “Ele vos conduzirá à plena verdade” “Quando, porém, vier o Espírito da Verdade, Ele vos conduzirá à plena verdade”. 13a Deveria nosso Redentor partir em breve, vindo em seguida o Paráclito para abrir as almas dos discípulos à “plena verdade”, isto é, conduzi-los ao conhecimento completo do que foi revelado. Pois cabe ao Consolador, como afirma Fillion, finalizar a obra de Jesus, ensinando aos Seus discípulos “a verdade cristã inteira e completa em toda a sua extensão, e sem perigo de errarem, ao menos naquilo que lhes fosse necessário para seu futuro ministério”.12 No mesmo sentido se pronuncia o padre Manuel de Tuya, ao afirmar: “O contexto do Evangelho de João sugere que, mais do que a uma revelação absolutamente nova de verdades, feita pelo Espírito Santo, refere-se a uma maior penetração das verdades reveladas por Cristo aos Apóstolos”.13 Com efeito, no decurso da era da Nova Aliança, o Espírito Santo não deixa de inspirar progressivamente as almas no sentido de melhor entenderem a riquíssima doutrina deixada por Nosso Senhor. Tudo quanto Ele ensinou será passível de desdobramentos e aprofundamentos até o fim Três pessoas idênticas e coeternas “Pois não falará por Si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido”. 13b Timothy Ring Quem não tiver recebido o Sacramento do Batismo, jamais conseguirá atingir certas verdades de nossa Fé do mundo. E sempre haverá novas pérolas a descobrir nesse inesgotável tesouro, pois, “embora a Revelação esteja terminada, não está explicitada por completo; caberá à Fé cristã captar gradualmente todo o seu alcance ao longo dos séculos”.14 Em relação ao método usado pelo Espírito Paráclito para melhor fazer penetrar os Apóstolos nas verdades reveladas, Maldonado interpreta da seguinte forma a expressão “vos conduzirá”: “Conduzir à plena verdade não significa ensinar de qualquer maneira toda a verdade, mas agir de modo que o mestre leve quase pela mão o discípulo, e vá ensinando-lhe o caminho da verdade mais adequado à sua inteligência; ou seja, não expor-lhe todas as coisas ao mesmo tempo ou em desordem, mostrando primeiro o difícil e depois o fácil, mas ao contrário, propondo primeiro o fácil e em seguida o difícil, cada coisa a seu tempo, de acordo com o aproveitamento e a capacidade de quem aprende”.15 É preciso notar, por fim, que quem não tiver recebido o Sacramento do Batismo jamais conseguirá atingir certas verdades da nossa Fé, por maiores que sejam a inteligência e o esforço aplicados. E isto porque a alma não recebeu a luz do Espírito Santo, que torna compreensível a Palavra divina. Assim aconteceu quando Nosso Senhor revelou a Eucaristia: muitos dos Seus discípulos O abandonaram, por interpretarem Suas palavras em sentido literal (cf. Jo 6, 48-69); hoje, porém, com o auxílio da graça do Paráclito, milhões e milhões de fiéis no mundo inteiro participam da Celebração Eucarística, dobrando os joelhos em adoração, ao serem pronunciadas, na Consagração, palavras do teor daquelas que outrora tanto chocaram, inclusive os Apóstolos. “Pentecostes” - Pro-Catedral de Santa Maria, Hamilton, Canadá 14 Flashes de Fátima · Maio 2010 O dom de profecia 13c “ e até as coisas futuras vos anunciará”. Pode-se interpretar esta afirmação como um recurso didático utilizado pelo Divino Mestre para melhor fazer compreender, aos Seus ouvintes, toda a extensão do poder do Espírito Santo para conduzir as almas à plena verdade. Mas outros autores, entre os quais Maldonado,19 preferem interpretar esta passagem como sendo um desejo de Jesus, de frisar a presença do dom de profecia entre os demais dons que o Espírito Santo infundiria nos Apóstolos. Pois se este dom foi dado à Sinagoga, com muito maior razão deveria possuí-lo a Igreja. É o que assinala o Cardeal Gomá: “As funções do Espírito Santo não terminaram com a morte dos Apóstolos; com eles encerrou-se a Revelação; mas a Igreja tem a assistência positiva do Espírito Divino para não errar no caminho Gustavo Kralj Com Nosso Senhor, atingiu-se a plenitude da Revelação. “Cristo, o Filho de Deus feito Homem, é a Palavra única, perfeita e insuperável do Pai. N’Ele o Pai disse tudo e não haverá outra palavra senão esta”.16 Portanto, nada há fora do Verbo Encarnado que possa ser transmitido aos homens, e devemos interpretar neste sentido o presente versículo, como observa Lagrange: “O Espírito não falará por Si mesmo, ou seja, não exporá uma doutrina própria d’Ele: a doutrina não será nova, pelo menos no sentido de que não será estranha à Revelação já feita pelo Filho”.17 De outro lado, convém evitar a conclusão errônea segundo a qual o Espírito Santo necessitaria ouvir os ensinamentos de Cristo para depois transmiti-los aos Apóstolos, como se Ele tivesse alguma inferioridade em relação ao Filho. Sendo as três Pessoas idênticas e coeternas, são um só Deus. Portanto, falando em termos humanos, o que “sabe” uma Pessoa divina, “sabem-no” também as outras. Ou, dito com as palavras do Cardeal Gomá: “A ciência das três Pessoas divinas é a mesma, infinita; contudo, recebendo o Espírito Santo a natureza do Pai e do Filho, dos quais procede, recebe também a ciência, segundo nossa maneira de falar”.18 Assim, quando o Paráclito disser aos Apóstolos “tudo quanto tiver ouvido”, estará revelando aquilo que conhece desde toda a eternidade, tal qual o Pai e o Filho. da verdade especulativa e prática; por outro lado, nunca cessou, na Igreja, o espírito de profecia”.20 Lembremos também que profetizar não significa apenas, nem principalmente, prever o futuro; consiste, pelo contrário, em interpretar o presente para saber conduzir os fiéis nas vias da Providência. Esse carisma para discernir os desígnios de Deus e guiar Seus filhos é concedido à Igreja em um grau incomparavelmente maior do que foi dado na Antiga Lei. O Espírito não é maior do que o Filho “Ele Me glorificará, porque receberá do que é meu e vo-lo anunciará”. 14 Tudo quanto se refere à Santíssima Trindade fica envolvido em véus de mistério. Qual o significado da afirmação feita pelo Divino Mestre: “Receberá do que é meu”? Sob uma perspectiva eminentemente pastoral, Crisóstomo assim interpreta: “Para que, ao ouvir essas palavras, não julgassem os discípulos ser o Espírito Santo maior do que Ele e caíssem em maior impiedade, disse: ‘Receberá do que é meu’. Ou seja: ‘O que Eu disse, também Ele o dirá’”.21 Dídimo, de sua parte, sob um prisma metafísico, busca o sentido da mesma expressão: “‘Receber’, aqui, segundo a natureza divina, deve entender-se da seguinte forma: assim como o Filho, dando, não Se priva do que dá, nem Se prejudica beneficiando a outrem, assim também o Espírito Santo não recebe o que antes não possuía; pois se recebesse um dom que não tinha anteriormente, ficaria sem ele quando o transferisse a outrem. Convém entender que o Espírito Santo recebe do Filho aquilo que constitui Sua natureza, e que não são duas substâncias — uma que dá e outra que recebe — mas sim uma só substância. Do mesmo modo, o Filho recebe do Pai a mesma substância que subsiste em ambos: nem o Filho é outra coisa que tudo aquilo que recebe de Seu Pai, nem o Espírito Santo é outra substância que a que recebe do Filho”.22 Já Maldonado, em consonância com diversos comentaristas antigos, procura salientar a glorificação que Cristo há de receber pelo testemunho que d’Ele será dado pelo Espírito da VerMaio 2010 · Flashes Profetizar não significa apenas, nem principalmente, prever o futuro, mas interpretar o presente de Fátima 15 dade, e conclui: “Portanto, a verdadeira interpretação é: ‘O Espírito virá em meu nome e ensinará minha doutrina, como legado meu. Por isso, a glória de Suas obras e magistério redundará em minha glória’”.23 O Paráclito transformará as nossas almas Tudo o que o Pai possui é meu. Por isso, disse que o que Ele receberá e vos anunciará é meu”. 15 “ Em nosso relacionamento diário, temos uma insuperável matriz de convívio: o eterno amor entre as três Pessoas divinas Após ter afirmado no versículo anterior que o Espírito Santo “receberá do que é meu”, Jesus agora declara: “tudo o que o Pai possui é meu”, evidenciando a união substancial das três divinas Pessoas. Como bem assevera Lagrange, “é tal a unidade do Pai e do Filho que é preciso reconhecer: tudo quando o Espírito recebeu do Pai, Ele recebeu também do Filho, porque o Filho tem tudo quanto o Pai tem. Estas palavras são o que o Novo Testamento contém de mais expressivo sobre a unidade de natureza e a distinção de Pessoas na Santíssima Trindade, e especialmente sobre a processão do Espírito Santo”.24 No mesmo sentido se pronuncia o Cardeal Gomá, ao afirmar ser este versículo “uma forma de manifestar, segundo o raciocínio e as palavras do homem, aquilo que se produz de maneira inefável no seio da Trindade beatíssima. Baste-nos saber — para sentirmos profunda gratidão ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo — que as três Pessoas divinas realizaram o mistério de nossa salvação e santificação, e que as inspirações da graça, as sugestões de ordem intelectu- 1 SANTO AGOSTINHO. De Trinitate, I,8, c.5: PL 42, 952953. 2 ROYO MARÍN, OP, Antonio. Teología de la Perfección Cristiana. 9.ed. Madrid: BAC, 2001, p.53. 3 SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. I, q.32, a.1, resp. 4 Idem, ibidem. 5 SANTO Antonio María CLARET. Colección de Pláticas Dominicales. Barcelo- 16 Flashes de Fátima · Maio 2010 al, às quais aqui Se refere Jesus, atribuem-se ao Espírito Santo porque é obra de amor que se atribui ao Espírito Santificador”.25 Assim, em todas as nossas orações, sobretudo ao recebermos a Sagrada Comunhão, peçamos a graça de sermos inteiramente dóceis às inspirações do Paráclito. Abramos-lhe as nossas almas sem nenhuma restrição, desconfiança ou reserva, a fim de que Ele nos encha de luzes, fogo e entusiasmo, como o fez com os Apóstolos no dia de Pentecostes. III – Fazemos parte da Família Divina No Paraíso Terrestre, Adão passeava com Deus na brisa da tarde (cf. Gn 3, 8). Afirma, a este propósito, Santo Irineu: “O Jardim do Éden era tão belo e agradável que com frequência Deus nele Se apresentava pessoalmente, passeava e conversava com o homem, prefigurando o que haveria de suceder no futuro, isto é, que o Verbo de Deus habitaria junto ao homem e conversaria com ele, ensinando-lhe sua justiça”.26 Mas se esta passagem bíblica prenuncia o inefável relacionamento que a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade teria com os homens durante 33 anos nesta Terra, através de Sua sagrada humanidade, ela evoca ainda mais o celeste convívio na felicidade eterna, quando contemplaremos face a face o mesmo Deus que o homem apenas entrevia no Paraíso. Com a maternal preocupação de prepararnos para esse sobrenatural relacionamento, a Liturgia de hoje ilumina nosso entendimento na: Librería Religiosa, 1886, v.II, p.256. 6 SANTA MARIA MADALENA DE PAZZI apud PLUS, SJ, Raúl. Cristo en nosotros. Barcelona: Librería Religiosa, 1943, p.153. 7 PLUS, SJ, op. cit., ibidem. 8 FABER, Frederick William. Œuvres posthumes. P. Lethielleux,1906, t.I, p.125; t.II, p.242. 9 TUYA, OP, Manuel de. Biblia comentada – II Evangelios. Madrid: BAC, 1964, p.1253. No mesmo sentido, MALDONADO, SJ, Juan de. Comentarios a los cuatro Evangelios. III. Evangelio de San Juan. Madrid: BAC, 1954, p.867. 10 MALDONADO, SJ, op. cit., ibidem. 11 GOMÁ Y TOMÁS, Isidro. El Evangelio explicado. Barcelona: Acervo, 1967, v.II, p.535. 12 FILLION, Louis-Claude. Vida de Nuestro Señor Jesucristo. Madrid: Voluntad, 1927, p. 223. 13 TUYA, OP, op. cit., p.1253. 14 Gustavo Kralj e move nossa vontade. Pois se, pelo Batismo, a graça nos faz participar daquilo que o Espírito recebeu de Cristo, e Cristo recebeu do Pai, ela nos eleva muito acima da nossa natureza humana para nos tornar verdadeiros filhos e herdeiros da Santíssima Trindade. Como mais precisamente nos ensina São Paulo: “Todos os que são conduzidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus” (Rm 8, 14). Mesmo sendo puras criaturas, há no Céu um trono preparado para cada um de nós, e a consideração de tão grande dádiva convida-nos a esquecermos as contingências da vida terrena e elevar o espírito até a bem-aventurança eterna. Todos nós somos chamados a participar da própria vida de Deus. Pertencemos, como membros adotivos, a esta família chamada Santíssima Trindade. Este é nosso maior tesouro. Saibamos dar o devido valor a esta gratuita dádiva, e procuremos compreender que, em nosso relacionamento diário, temos uma insuperável matriz de convívio: o eterno amor entre as três Pessoas divinas. Pois, ensina-nos a Santa Igreja, a família cristã é “comunhão de pessoas, vestígio e imagem da comunhão do Pai, do Filho e do Espírito Santo”.27 Sejamos gratos à Divina Providência, rogando a graça de estarmos à altura de tudo quanto d’Ela recebemos. E peçamos, por meio da Filha diletíssima do Pai, Mãe admirável de Nosso Senhor Jesus Cristo, e Esposa e Templo do Paráclito, que a Santíssima Trindade nos cumule de dons místicos no relacionamento com o Pai que nos criou, com o Filho que nos redimiu, e com o Espírito que nos santifica. Peçamos, por meio de Nossa Senhora, que a Santíssima Trindade nos cumule de dons místicos no nosso relacionamento com o Pai, com o Filho e com o Espírito Santo “A intercessão de Cristo e de Nossa Senhora”, por Lorenzo Monaco Metropolitan Museum of Art, Nova York 18 GOMÁ Y TOMÁS, op. cit., p.535. 23 MALDONADO, SJ, op. cit., p.872. 19 Cf. MALDONADO, SJ, op. cit., p.871. 24 LAGRANGE, OP, op. cit., p.423. Catecismo da Igreja Católica, n.66. 20 GOMÁ Y TOMÁS, op. cit., p.534. 25 GOMÁ Y YOMÁS, op. cit., p.535. 15 MALDONADO, SJ, op. cit., p.869. 21 26 16 Catecismo da Igreja Católica, n.65. SAN JUAN CRISÓSTOMO. Homilías selectas – Homilías exegéticas. Madrid: Razón y Fe, 1911, t.III, p.509. 17 LAGRANGE, OP, Marie-Joseph. Évangile selon Saint Jean. Paris: Lecoffre, 1936, p.422. 22 DÍDIMO apud SANTO TOMÁS DE AQUINO. Catena aurea. ST. IRENAEUS, BISHOP OF LYON. The Demonstration of the Apostolic Preaching. London: Society of Promoting Christian Knowledge, 1920, p.82. 27 Catecismo da Igreja Católica, n.2205. Maio 2010 · Flashes de Fátima 17 Congresso Teológico Internacional “Sejamos sacerdotes até o fundo” Numa época tão ‘policêntrica’ e propensa a diluir todo tipo de concepção trinitária, é importante manter com clareza a peculiaridade teológica do Ministério ordenado, para não ceder à tentação de reduzi-lo às categorias culturais predominantes. Diác. Ramón Ángel Pereira Veiga, EP “C aríssimos sacerdotes, os homens e as mulheres do nosso tempo só nos pedem que sejamos sacerdotes até o fundo, e nada mais”. Estas palavras do Papa Bento XVI frisam eloquentemente um dos principais aspectos do Congresso Teológico Internacional, realizado em Roma nos dias 11 e 12 de março, na Sala Magna da Pontifícia Universidade Lateranense. Dele participaram mais de 50 Bispos e 500 presbíteros de numerosos países, entre os quais alguns Bispos presidentes das Comissões para o Clero dos respectivos países, supremos moderadores dos Institutos e das Associações Clericais e sacerdotes formadores do Clero. A alta qualidade dos conferencistas e seu ardente amor à Igreja proporcionaram sólido fundamento às exposições, que abordaram um a um os difíceis problemas com os quais se defrontam os sacerdotes de hoje, por vezes tão incompreendidos no exercício de sua missão. 18 Flashes de Fátima · Maio 2010 Um lema que é signo de unidade com o Santo Padre A primeira sessão, destinada a delinear a identidade sacerdotal perante o mundo atual, foi presidida pelo Cardeal Zenon Grocholewski, Prefeito da Congregação para a Educação Católica. Os trabalhos tiveram início com uma breve introdução do Prefeito da Congregação para o Clero, Cardeal Cláudio Hummes. Começou explicando que, “como tema do Congresso, foi escolhido o mesmo lema do Ano Sacerdotal, como signo de unidade com o pensamento que guiou o Santo Padre na proclamação do Ano e como reconhecimento da feliz e eficaz fórmula: Fidelidade de Cristo, fidelidade do Sacerdote. O tema conjuga no ministério sacerdotal o primado da graça com o dever sempre urgente da fidelidade e do testemunho do sacerdote”. Lembrando a relação existente entre o ser e o agir, o Cardeal tra- çou a linha na qual deviam se desenvolver os trabalhos do Congresso: “O princípio ‘agere sequitur esse’ [o agir vem depois do ser] tem constituído sempre a chave hermenêutica da realidade, no olhar do homem sobre o cosmos, no qual pode reconhecer a obra e, portanto, a existência de Deus; e no olhar do homem sobre si mesmo, que, reconhecendo-se como necessitado d’Aquele que fez todas as coisas, discerne a única via para sua própria realização: ser conforme à Vontade de seu Criador”. Cristologia e identidade sacerdotal Coube ao padre Réal Tremblay, CSsR. — professor de Teologia na Pontifícia Academia Alfonsiana e consultor da Congregação para a Doutrina da Fé — pronunciar a primeira conferência: Cristologia e identidade sacerdotal, que versou sobre o fundamento teológico do sacerdócio, o qual vem a ser a configuração a Cristo. Fotos: Fábio Kobayashi Mais de 50 Bispos e 500 presbíteros de numerosos países acompanharam com vivo interesse as exposições, que abordaram os problemas com que se defrontam os sacerdotes de hoje Logo a seguir, Dom Gerhard Ludwig Müller, Bispo de Regensburg, discorreu sobre Sacerdotes e cultura contemporânea. Mostrando a relação entre teologia e cultura, destacou como esta última deve basear-se no fato de que o ser humano é criatura de Deus. Nessa perspectiva, explicou ele, o mundo torna-se o espaço de uma cultura que tem a capacidade de reconhecê-Lo como Criador e Autor de toda criatividade. Dom Müller ressaltou, por fim, que o Sacrifício Eucarístico é o ápice da cultura humana e fonte da qual ela brota. Os trabalhos da manhã foram completados por três comunicações: uma sobre Mariologia e identidade sacerdotal, feita pelo Mons. M. Bordoni, da Pontifícia Universidade Lateranense; outra sobre O Cura d’Ars e a identidade sacerdotal, por Frei Antonio Sicari, OCD, consultor da Congregação para o Clero; e a terceira sobre Recentes mutações antropológicas, pelo Prof. Massimo Introvigne, Diretor do CESNUR. Do “ser” à dimensão missionária O prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Cardeal William Joseph Levada, presidiu a segunda sessão, iniciada com uma conferência do Arcebispo de Bolonha, Car- deal Carlo Caffarra. Sua Eminência colocou sobre sólida base filosófica a missão do sacerdote de hoje: ele não “é” mais por si mesmo, mas é confiscado para “ser” mediante o Senhor e pelo Senhor. Em seguida, o Bispo de Petrópolis, Dom Filippo Santoro — desenvolvendo o tema Do ser à função: a missão —, comentou que “nos últimos anos a formação sacerdotal, sobretudo na América Latina, preparou o sacerdote como organizador das pastorais, como promotor de atividades sociais e políticas e, em alguns casos, como homem do culto”. Essa situação, explicou ele, foi motivada pelo intenso debate pósconciliar sobre a identidade do sacerdote, contagiado pela hermenêutica da ruptura. É justamente uma formação baseada na hermenêutica da continuidade da identidade sacerdotal que tornará possível a renovação do espírito evangelizador do qual a Igreja precisa. Pois, afirmou, “quanto mais se é consciente da vida como missão, mais se constrói o Reino de Deus e se é responsável pela missão da Igreja”. Coube ao Arcebispo Raymond Leo Burke, Prefeito do Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica, apresentar o tema Do ser à função: aspectos pastorais e jurídicos. O ex- positor realçou o serviço prestado pelo Direito Canônico à Igreja no sentido de proteger e salvaguardar o dom do sacerdócio. Correto relacionamento entre sacerdotes e leigos Seguiu-se a comunicação sobre Experiências de “descontinuidade”, na qual Dom Willem Eijk, Arcebispo de Utrecht, descreveu o verdadeiro “tsunami de revoluções” que atingiu a Igreja nos anos 60 do século passado, mas já era perceptível na década de 40. A Holanda constituiu um caso emblemático. Entre as suas causas, Dom Willem destacou a infiltração do secularismo na Igreja, a falta de conteúdo espiritual da parte dos sacerdotes, “que irradiavam pouco sua identidade intrínseca”. Ao mesmo tempo — observou — o padre perdeu a posição de destaque que tivera até então no país, ferindo-se também sua identidade extrínseca. Ressalvou, porém, que o acontecido na Holanda não foi resultado do Concílio, mas de uma lenta erosão iniciada anteriormente. Em sua densa e aplaudida exposição sobre Sacerdotes e leigos: a justa relação, o subsecretário do Pontifício Conselho para os Leigos, Prof. Guzmán Carriquiry, observou que, depois do Concílio Vaticano II, poMaio 2010 · Flashes de Fátima 19 L’Osservatore Romano Em seu encontro com os participantes do Congresso, Bento XVI manifestou sua gratidão à Congregação para o Clero pelo empenho com que coordena as múltiplas iniciativas do Ano Sacerdotal de-se considerar superada, em princípio, “aquela visão tradicional que mantinha os fiéis leigos numa condição de minoridade”. Acrescentou que, de outro lado, um erro frequente na primeira fase do pós-conciliar foi o de “definir os leigos em oposição ao clero e aos religiosos, acentuando sua especificidade e autonomia”. Tal erro deu lugar “a não poucas tensões, contestações e conflitos dentro do todo eclesial”. Não foram os ensinamentos conciliares, nem sua fiel implantação, que produziram a “secularização dos clérigos” e uma “clericalização dos leigos”. Levando-se em conta a dignidade de todos os batizados e a vocação comum à perfeição, é preciso “manter-se com clareza, em nível teológico e na prática pastoral, a diferença entre sacerdócio universal dos fiéis e sacerdócio ministerial”, que são “modalidades essencialmente diversas”, salientou o Prof. Carriquiry. A sessão terminou com uma comunicação de Dom Francesco Moraglia, Bispo de La Spezia-SarzanaBrugnato. Nela tratou sobre a espiritualidade, a vida interior que deve possuir o sacerdote para um eficaz desempenho de seu ministério, e alertou: “O risco, sobretudo na nos20 Flashes de Fátima · Maio 2010 sa sociedade — como recorda o Diretório para o Ministério e da Vida dos Presbíteros (cf. n.44) —, é cair no funcionalismo”. “Estou feliz por me encontrar convosco” Com notória satisfação recebeu o Papa Bento XVI os participantes do congresso na Sala da Bênção do Palácio Apostólico, na manhã da sextafeira: “Estou feliz por me encontrar convosco nesta particular ocasião e saúdo todos vós com afeto. [...] A minha gratidão vai a todo o Dicastério, pelo compromisso com que coordena as múltiplas iniciativas do Ano Sacerdotal, entre as quais este Congresso Teológico”. Sua Santidade mostrou quão de perto tinha acompanhado as sessões do Congresso e a importância, para toda a Igreja, dos assuntos nele tratados: “O tema da identidade presbiteral, objeto do vosso primeiro dia de estudo, é determinante para o exercício do sacerdócio ministerial no presente e no futuro. Numa época como a nossa, tão ‘policêntrica’ e propensa a diluir todo o tipo de concepção trinitária, por muitos considerada contrária à liberdade e à democracia, é importante manter com clareza a peculia- ridade teológica do Ministério ordenado, para não ceder à tentação de o reduzir às categorias culturais predominantes”. Perante esse contexto de secularização, o Papa reafirmou a importância de “ultrapassar reducionismos perigosos que, nas décadas passadas, utilizando categorias mais funcionalistas do que ontológicas, apresentavam o sacerdote quase como um ‘agente social’, correndo o risco de atraiçoar o próprio Sacerdócio de Cristo”. Presbíteros que falem de Deus ao mundo Traçou a seguir o que deveria ser a linha diretiva do Congresso: “Assim como se revela cada vez mais urgente a hermenêutica da continuidade para compreender de maneira mais adequada os textos do Concílio Ecumênico Vaticano II, analogamente parece necessária uma hermenêutica que poderíamos definir ‘da continuidade sacerdotal’ que, começando a partir de Jesus de Nazaré, Senhor e Cristo, e passando através dos dois mil anos da História de grandeza e de santidade, de cultura e de piedade que o Sacerdócio escreveu no mundo, chegue até aos nossos dias”. Na época em que vivemos, acrescentou o Papa, “há grande necessidade de presbíteros que falem de Deus ao mundo e que apresentem o mundo a Deus; homens não sujeitos a modas culturais efêmeras, mas capazes de viver autenticamente aquela liberdade que somente a certeza da pertença a Deus é capaz de conferir”. E terminou suas palavras com esta belíssima conclamação: “Caríssimos sacerdotes, os homens e as mulheres do nosso tempo só nos pedem que sejamos sacerdotes até ao fundo, e nada mais. Os fiéis leigos encontrarão em muitas outras pessoas aquilo de que humanamente têm necessidade, mas só no sacerdote poderão encontrar aquela Palavra de Deus que deve estar sempre nos seus lábios; a Misericórdia do Pai, abundante e gratuitamente concedida no Sacramento da Reconciliação; o Pão de Vida nova, verdadeiro alimento oferecido aos homens”. Jesus pôs seu próprio Corpo nas nossas mãos constante formação de todos: ordenados, consagrados e leigos”. E esclareceu: “Mais do que recorrer a atuações arbitrárias, a verdadeira renovação consiste em desenvolver cada vez melhor a consciência do senso do mistério. [...] A Liturgia da Igreja não tem como meta acalmar os desejos e os temores do homem, mas sim escutar e acolher a Jesus que honra e louva o Pai, para louvá-Lo e honrá-Lo com Ele”. A conferência do Cardeal Cañizares foi completada pela comunicação de Dom Marc Aillet, Bispo de Bayonne (França). Com o sugestivo título A Liturgia “ferida”, sua intervenção apontou desvios que causaram a banalização da Liturgia, esquecendo-se de que ela é, segundo a conhecida expressão do Concílio, “cume e fonte da vida e da missão da Igreja”. Comentou o Prelado francês: “Contra toda expectativa, como os Papas João Paulo II e Bento XVI com frequência enfatizaram, a implantação da reforma litúrgica conduziu às vezes a uma espécie de dessacralização sistemática, deixandose a Liturgia ser progressivamente invadida pela cultura secularizada do mundo circundante e perder assim sua natureza e identidade”. Ora, explicou Dom Aillet, a Liturgia é o lugar privilegiado para o aprofundamento da identidade sa- Fábio Kobayashi Na tarde dessa mesma sexta-feira realizou-se a terceira sessão, presidida pelo Cardeal Franc Rodé, CM, Prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica. Os trabalhos foram iniciados com a conferência do Cardeal Antonio Cañizares Llovera, Prefeito da Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos, sobre o tema Sacerdócio e Liturgia: educação para a celebração. Sua Eminência quis centralizar a exposição no Mistério Eucarístico, pois “na Eucaristia, resumo e centro de toda a Santa Liturgia, vemos quanto o ser sacerdotes faz parte de nós e é nossa razão de ser”. Após convidar os presentes a redescobrir o sacerdócio à luz da Eucaristia, pois Jesus “tomou nossas mãos e nelas pôs seu próprio Corpo”, o Cardeal mostrou a grande responsabilidade que isto implica: “A vida do sacerdote não pode ser senão a de Cristo. Não podemos nos contentar com uma vida medíocre. Mais ainda, não faz sentido uma vida sacerdotal medíocre. Nunca deveria fazer sentido, menos ainda no momento atual, em que é tão necessário mostrar a identidade do que somos e, assim, dar razão da esperança que nos anima. […] O sacerdote tem de ser como Cristo, tem de ser santo”. Referindo-se às celebrações litúrgicas, o Cardeal frisou ser preciso reconhecer que, “embora se tenha avançado muito depois do Concílio Ecumênico Vaticano II em viver o autêntico sentido da Liturgia, ainda resta muito por fazer. É necessária uma renovação contínua e uma A alta qualidade dos conferencistas e seu ardente amor à Igreja proporcionaram sólido fundamento às exposições. Nas fotos, os cardeais Antonio Cañizares e Julian Herranz e os arcebispos Gerhard Müller e Mauro Piacenza. Maio 2010 · Flashes de Fátima 21 “O celibato é uma provocação” Dentro da perspectiva da hermenêutica da continuidade, e tomando por base a História e a Tradição da Igreja, o padre Stefan Heid, do Pontifício Instituto de Arqueologia Cristã, traçou um perfil histórico-doutrinal do celibato eclesiástico. O tema foi completado, sob o aspecto psicoespiritual, pelo Doutor Manfred Lütz, médico psiquiatra, psicoterapeuta e teólogo. Começou sua exposição observando que “sem dúvida, sob o aspecto sócio-psicológico, o celibato é uma provocação. Num mundo que não mais acredita numa vida depois da morte, essa forma de vida é um constante protesto contra a superficialidade universal. O celibato é a mensagem continuamente vivida de que esta terra, com suas alegrias e suas dores, não é tudo. Há pessoas que ficam furiosas ao ouvir isso”. De sua exposição, destacamos a descrição empírica da “crise do celibato”, sob a perspectiva médica: “Com base na minha experiência terapêutica, não posso senão confirmar que o ressecamento da vida espiritual muitas vezes precede a ‘crise do celibato’. Se um sacerdote não reza mais com regularidade, se não se confessa, se, portanto, não tem nenhuma relação vital com Deus, então, enquanto padre, deixou de ser fecundo. Os homens, com efeito, notam que dele não mais extravasa força alguma do Espírito de Deus. Basta só isto para, posteriormente, levar esse padre perturbado a um estado de frustração e de insatisfação com respeito à sua vocação sacerdotal”. Lembrou também a importância de os presbíteros procurarem viver em comunidade: “Santo Agostinho sempre considerou digno de recomendação que padres celibatários vivam juntos numa mesma casa. Isso está sendo novamente posto em prática em muitos lugares. Uma comunidade doméstica desse tipo possibilita exercer melhor a necessária correctio fraterna” — concluiu o Doutor Lütz. Dimensão carismática e escatológica do celibato Em seguida, Mons. Fortunatus Nwachukwu, Chefe do Protocolo Ao vivo, via internet P or iniciativa da Congregação para o Clero, as atividades do Congresso Teológico Internacional foram transmitidas ao vivo via internet. A realização técnica esteve a cargo dos Arautos do Evangelho. Os vídeos e textos de todas as exposições estão disponíveis em www.convegnoteologico.org. Na foto, o Pe. Santiago Canals Coma, EP, mostra a Dom Mauro Piacenza alguns pormenores da transmissão. 22 Flashes de Fátima · Maio 2010 da Secretaria de Estado, tratou dos desafios do Celibato, castidade e virgindade, realçando a íntima ligação existente entre esses três conceitos. Sob essa perspectiva, explicou como o celibato não deve ser considerado “uma postura triste ou desfigurada que o padre é obrigado a assumir para mostrar a seriedade de seu compromisso”. Pelo contrário, a abstinência implicada no celibato sacerdotal deve ser vivida como fonte de intimidade com Deus, um relacionamento que inspira uma alegria não só interior, mas também externamente perceptível. Coube ao Cardeal Julián Herranz, membro da Congregação para o Clero, apresentar o labor teológico para justificar o celibato sacerdotal, considerando especialmente as explicitações feitas pelo Concílio Vaticano II e pelo Magistério posterior. Desde os primeiros séculos, o sensus fidei do Povo de Deus intuiu os liames que vinculam a virgindade ao sacerdócio ministerial. Os Padres e os Doutores da Igreja, como também os santos, percebiam a realidade desse fenômeno carismático, como o atestam a estima em que sempre o tiveram e a legião de ministros de Deus que faziam do sagrado celi- Fábio Kobayashi cerdotal. “A obediência do sacerdote às rubricas é ainda o sinal silencioso e eloquente de seu amor à Igreja, da qual ele é apenas ministro, quer dizer, servidor”, sublinhou. A “hermenêutica da continuidade sacerdotal” Magistralmente, Dom Mauro Piacenza sintetizou na conclusão as principais ideias em torno das quais foram construídas as três sessões do Congresso. Discorrendo sobre a identidade do sacerdote e suas relações com a Cristologia, o Secretário da Congregação para o Clero recordou que “a cultura contemporânea se mostra, infelizmente, distante das categorias do sagrado, da mediação, da sacramentalidade”. No confronto com a cultura contemporânea, a “verdadeira profeEm suas palavras de despedida, cia” continua a ser Dom Cláudio Hummes destacou a alegria dos participantes e os convidou a renovar seu júbilo “a santidade conpelo inapreciável dom da vocação sequente à própria identidade”. Dom Piacenza enfatizou a abso- mundo e com a cultura dominante luta necessidade da hermenêutica da —, é garantido, promovido, guardacontinuidade sacerdotal propugna- do, orientado e mantido exatamente da por Bento XVI em sua audiência pela hermenêutica da continuidade”. aos participantes no Congresso. No Renovar o júbilo pelo decurso das exposições, viu-se que, inapreciável dom da vocação “como garantia da clareza sobre a identidade sacerdotal e da eficácia Nas palavras finais de despedida missão, é urgente e necessário vi- da o Cardeal Cláudio Hummes, Prever o Ministério numa radical con- feito da Congregação para o Clero, tinuidade teológica, espiritual, jurí- destacou como fato auspicioso a aledico-pastoral e existencial, segundo gria de todos os participantes. Enfaa hermenêutica da continuidade que tizou que, segundo o desejo do Pa[...] o próprio Santo Padre novamen- pa, este Ano Sacerdotal deve constite enunciou para os sacerdotes, após tuir uma oportunidade para que cahavê-la indicado, desde 2005, como da padre, diariamente, dê graças e categoria para a única interpretação renove seu júbilo pelo inapreciável correta dos textos do Concílio Ecu- dom de sua vocação. mênico Vaticano II”. Nas circunstâncias atuais, a for“A hermenêutica da continuida- mação permanente adquire suma de sacerdotal pressupõe a consciên- importância, e o Congresso teve cocia da participação no único Sacer- mo objetivo pôr à disposição dos dócio de Cristo, da qual deriva to- formadores conteúdos para sua tada eficácia ministerial possível e na refa. A missão — a missão verdaqual está radicada a própria espiri- deira, em sentido estrito e forte — tualidade do Ministério. O equilí- é urgente, inclusive na Europa. Da brio, tão difícil de obter, entre os di- missão virá uma nova força. Cumversos âmbitos da vida do presbítero pre dar coragem aos sacerdotes para — da Liturgia até o ensinamento, da que proponham novamente o carisrelação com o laicato, com sua jus- ma fundamental — finalizou o Carta promoção, até a relação com o deal Hummes. Maio 2010 · Flashes de Fátima 23 Fábio Kobayashi bato o objeto de sua total doação ao mistério de Cristo. A natureza do sacerdócio não exige de per si o celibato. Como, então, explicar que ela o requeira tão fortemente? O Concílio Vaticano II e o Magistério eclesiástico subsequente procuraram no aspecto cristológico do celibato sacerdotal as razões para justificá-lo: é sumamente conveniente que o ministro de Cristo reproduza em si mesmo a íntima vinculação entre sacerdócio e virgindade, tão evidente na figura do Sacerdote eterno. Ele deve configurar-se a Cristo, pois é o sinal vivo da sua presença no meio de seu povo. Pela perfeita continência, o sacerdote adere mais facilmente a Cristo, com o coração não dividido, e mais livremente pode dedicar a integridade de sua pessoa, forças, capacidades e tempo à amorosa intimidade com Deus e ao serviço dos homens. Pelo celibato, o ministro consagrado “adquire melhor e participa mais amplamente da paternidade espiritual de Cristo, da plenitude do amor de Cristo, gerador da nova humanidade, cuja origem, ensina São João, provém non ex sanguinibus, neque ex voluntate carnis [...] sed ex Deo (Jo 1,13)”. O Cardeal Herranz mostrou, por fim, que o celibato tem inclusive uma dimensão escatológica, “porque faz também aparecer o sacerdote, diante de seus filhos em Cristo, como ‘sinal e penhor das sublimes realidades do Reino de Deus, dos quais é dispensador’”, como diz a encíclica Sacerdotalis cœlibatus, n.31. Entrevista com Dom Mauro Piacenza O sacerdote é um outro Cristo Em entrevista exclusiva à revista “Arautos do Evangelho”, o Secretário da Congregação para o Clero define com riqueza e profundidade teológica a identidade do sacerdote, a dignidade sobrenatural de que está revestido e a necessidade de lembrar estas realidades em face de um mundo secularizado e relativista. Pe. José Francisco Hernández Medina, EP Encerrar-se-á no próximo mês o Ano Sacerdotal, instituído por Bento XVI para favorecer o avanço dos sacerdotes na via da perfeição espiritual. Poderia Vossa Excelência adiantar alguns dos resultados obtidos, sobretudo no referente à santificação pessoal dos presbíteros? Antes de tudo, a focalização da própria identidade sacerdotal, na declinação do compromisso ministerial que essa identidade traz, com o consequente incremento da vida espiritual, não “apesar” da prática pastoral, mas “por meio” desta. O que levou a Congregação para o Clero a promover o Congresso Teológico “Fidelidade de Cristo, fidelidade do Sacerdote”, e quais frutos espera colher desse evento? Certamente a necessidade de esclarecer a teologia do sacerdócio, centralizada na cristologia, a diferença essencial entre o sacerdócio batismal e o ordenado, a prioridade 24 Flashes de Fátima · Maio 2010 da dimensão vertical, da qual deriva a horizontal. Os frutos que esperamos são, da parte dos sacerdotes, a plena consciência da própria consagração virginal e, em consequência, uma forte motivação em vista deste dom recebido de Deus, bem como a alegria de ver a própria identidade conformada segundo Cristo. Esperamos também que — embora sobrecarregados de tarefas e fatigados pelo contínuo dever de responder com o próprio testemunho à objeção apresentada pela sociedade secularizada — os sacerdotes se sintam sempre reconhecidos, sustentados pelas preces dos fiéis, encorajados e circundados pelo afeto das respectivas comunidades. Assim, o clima dentro da Igreja se tornará ainda mais propício para o desabrochar de respostas positivas às vocações que, da parte do Senhor da messe, certamente não faltam. Em uma das reflexões sobre o Ano Sacerdotal, Vossa Excelência recorda que o sacerdócio é um dom sobrenatural que comporta uma dignidade que todos — leigos e ministros consagrados — precisam reconhecer. Qual deve ser a atitude do presbítero perante sua própria dignidade? Uma profunda humildade que comporta o esvaziar-se de si mesmo para ceder lugar a Jesus Bom Pastor, numa progressiva conformação ao Tu que é o verdadeiro fim do próprio eu. À vista de um mandato tão nobre quanto imerecido, a inteligência, a vontade, a afetividade, todas as potências da nossa alma são depositadas na patena do ofertório para que, apresentadas a Ele, os limites da natureza humana possam ser transbordados pelo Seu Amor infinito. Diante da altíssima dignidade da ontologia sacerdotal, portanto, compreende-se bem a exigência de compromisso na castidade do sagrado celibato, na obediência e na pobreza evangélica. Isto requer uma imensa humildade, inspirada na da Santíssima Virgem, que, meditando sobre o Fotos: Fábio Kobayashi “É necessário que os sacerdotes vivam a própria identidade, não apenas interiormente, mas também exteriormente, mostrando a pureza do culto divino, a beleza da consagração virginal, a plenitude do relacionamento com Deus na oração”. Dom Mauro em um momento da entrevista concedida à Revista Arautos do Evangelho, durante o Congresso Teológico Internacional singular encargo que o Senhor Lhe solicitava, reconheceu com simplicidade como Ele “olhou para a humildade da sua Serva” (Lc 1, 48). Assim, no caminho cotidiano traçado pela Celebração Eucarística de cada dia, o programa de cada sacerdote é “tornar-se aquilo que ‘é’”! Influenciados por um mundo cada vez mais secularizado, certos fiéis tendem a ver o sacerdote como se fosse apenas um líder, um coordenador, um amigo. Como levá-los a reconhecer a dignidade intrínseca dos presbíteros, com o respeito devido à sua altíssima missão? Deus quer o sacerdócio para que Sua Vida chegue a todos os homens por meio de alguns que Ele mesmo chama — voca — a Si no Sacramento da Ordem, fazendo-os participar, com um caráter indelével e de modo todo especial, de Seu poder. É necessário que o sacerdote tenha essa consciência do próprio ministério; e o fiel tem o direito sacrossanto de exigir uma catequese ade- quada, dada segundo a sã doutrina — conforme o Magistério e o Catecismo da Igreja Católica —, os inumeráveis exemplos dos Santos e o testemunho de tantos bons sacerdotes de todos os tempos e lugares. O sacerdote consciente de seu próprio pertencer a Cristo “exalará” com naturalidade o seu mundo interior, através de sua humanidade consumada n’Ele, na delicadeza de trato, no sentimento de paz, no profundo espírito de acolhida, na simplicidade e na dignidade celebrativa. Neste mundo — que Vossa Excelência tão oportunamente qualifica de entrelaçamento de relativismo e de modelos democráticos mal-entendidos, de autonomismo e liberalismo — permanece válido o voto de obediência que os presbíteros fazem ao Bispo? Qual é o significado dessa obediência? A obediência não apenas permanece válida, mas é essencial ao ser sacerdotal e ao seu consequente agir. No presbítero Se prolonga o Jesus Redentor que Se fez “obediente até a morte, e morte de Cruz” (Fl 2, 8). A salvação passa pela Cruz, e a Cruz é obediência salvífica. O pecado entrou no mundo precisamente pela desobediência. O velho Adão afastou-se pela desobediência, rebelando-se contra o amor imerecido de Deus, colocando-se, assim, numa condição de aparente autossuficiência que evidencia a não submissão à sua identidade de filho. Cristo, o novo Adão, revelou ao homem sua verdadeira natureza, mostrando, no seu “sim” à vontade do Pai, a obediência filial como condição essencial do homem. O sacrifício da Cruz, a obediência total, é renovado cada dia na Santa Missa. Nela, o sacerdote não é um ator que representa o papel principal num “palco litúrgico”, mas é outro Cristo e, enquanto tal, deve-se submeter à realidade do que acontece no Sacramento da Eucaristia. Um sacerdote desobediente é uma contradição nos termos, é como um pecado contra a natureza. Ele deve ser portador de salvação, consciente de que esta passa forçosamente pela obediência ao Bispo, o qual, Maio 2010 · Flashes de Fátima 25 cial, a educação recebida em família, a efetiva experiência eclesial. Para obteremse vocações, é preciso juntar as mãos em oração! Diz-nos com clareza inequívoca o Evangelho: “A messe é grande, mas os operários são poucos. Pedi, pois, ao Senhor da messe que envie operários para sua Importa que os novos sacerdotes sejam educados messe” (Mt 9, 37num ascético trabalho sobre si mesmos, com o objetivo de corrigir eventuais secularizações, 38). Portanto, é funcontágios doutrinários da sociedade damental a prece, a contemporânea, ou individualismos. súplica ao Senhor baseada na necessiDom Mauro Piacenza, durante a terceira sessão do dade de ver repetirCongresso Teológico se o milagre de um homem que decide por sua vez, também precisa prestar aderir ao grande projeto de Cristo, a obediência eclesial do modo mais no dom total de si mesmo. É de particular importância fazer leal, teológico, comunial, concreto e a Adoração Eucarística e rezar o Roefetivo. A obediência consiste, portanto, sário nesta intenção. É também neem aderir àquele único Corpo que é cessário que os sacerdotes vivam a a Igreja e nele permanecer. São no- própria identidade não apenas incivos os “livres atiradores” que de- teriormente, mas também exteriorle se separam, provocando “hiatos”. mente, mostrando a pureza do culto Destacados da Videira, não podem divino, a beleza da consagração virdar fruto. Nesse caso, acontece em ginal, a plenitude do relacionamenâmbito eclesial o que clinicamente to com Deus na oração. Um sacerdote que não se apresenta como “ouocorre na embolia. tro Cristo”, oferece uma imagem falFala-se muito que, em certos sa de Cristo, nebulosa, e em consequpaíses, estão diminuindo as ência não pode atrair nem orientar. vocações para o sacerdócio. Por fim, não se mede o número Contudo, verifica-se que em das vocações segundo os padrões da outros há um notável aumento. sociologia, das pesquisas populacioComo interpretar isso? nais, mas pelos critérios da fé! São Quando se considera o número estes que nos devem mover, e só as de respostas efetivas à vocação sa- metodologias que aplicam esses cricerdotal, há muitos fatores a ponde- térios devem ser utilizadas para avarar; não se pode ser simplista. É pos- liar as vocações. sível, entretanto, encontrar alguns Quais são os pontos que mais pontos essenciais como, por exemseria necessário reforçar, plo, o quociente de fé existente num na formação dos novos determinado contexto histórico-so26 Flashes de Fátima · Maio 2010 sacerdotes, preparando-os para exercer seu ministério neste mundo secularizado? À imagem do modo de agir de Cristo, que salva o homem partindo da sua condição limitada, será certamente necessário um olhar sobre o mundo. Isso comporta, porém, uma desintoxicação do espírito do mundo, baseada num senso construtivamente crítico, sobretudo no relativo às culturas dominantes. Esse juízo deve ser construtivo, isto é, deve partir das facetas que definem a realidade social, analisando em profundidade suas motivações, para depois identificar pontos fracos e sanálos, salvando assim o homem de enveredar pelos caminhos que o desviam de Cristo e até de qualquer valor positivo fundado n’Ele. Portanto, será particularmente proveitoso criar “anticorpos” contra o relativismo, o subjetivismo individualista e o pacifismo como um fim em si mesmo. Com esse objetivo, será importante um sadio “travamento” filosófico, aprofundado na metafísica, na lógica e na crítica. Importa, além disso, que os novos sacerdotes sejam logo educados na ortodoxia doutrinal, num ascético trabalho sobre si mesmos, com o objetivo de corrigir eventuais secularizações, contágios doutrinários da sociedade contemporânea, ou individualismos que conduzem à procura de mensagens novas, mas desviadas do eterno, puro e sempre novo conteúdo do Evangelho transmitido há dois mil anos, na continuidade do Magistério. O Papa proclamará São João Maria Vianney “Padroeiro de todos os Sacerdotes”. Assim, é útil e oportuno seguir seu exemplo. É de altíssima atualidade a força profética que marcou a personalidade humana e sacerdotal desse pastor, naquele tempo e naquelas terras feridas pelas consequências da Revolução Francesa e por sua vontade de “sair do estado de minoridade” causado pelo assim denominado Ancien Régime. O santo pároco conseguiu penetrar no âmago das almas, mesmo das mais afastadas, simplesmente mostrando a todos aquilo que intimamente vivia, isto é, a sua relação de amizade com Cristo. É esse o método que desde sempre a Igreja pede a seus filhos prediletos, chamados a servi-la na totalidade! Na última Audiência Geral de 2009, Bento XVI insistiu sobre a necessidade de celebrar com dignidade e decoro os Sacramentos. Qual é o papel da beleza no exercício do ministério sacerdotal? Em seu livro O Idiota, dizia Dostoiévski: “A beleza salvará o mundo”. A via estética, que conduz a Deus, foi sempre uma via privilegiada para o homem, pois a arte, subdividida em todas as suas disciplinas, lhe serve de instrumento para atingir algo que supera suas simples capacidades. A essa luz, a Igreja foi levada, no decorrer dos séculos, a desenvolver a arquitetura, a música, as artes plásticas e o artesanato numa sinfonia harmoniosa capaz de manifestar ao mundo, do modo mais di- reto possível, o grande e pacificante mistério de Deus que Se fez homem por nós. Sendo o belo, junto com o verdadeiro e o bom, um transcendental do ser, uma faceta do Ser subsistente em Si mesmo, que é Deus, é tarefa do sacerdote comunicar da melhor maneira possível esse conjunto de articulações do Único Mistério na sagrada Liturgia que lhe foi confiada. Fala-se, com efeito, de ars celebrandi, visando precisamente ao melhor modo de exprimir a Beleza inefável do Amor divino, que nos é dado celebrar e mostrar ao Povo de Deus, de maneira especial na Santíssima Eucaristia. A dignidade e o decoro da Liturgia derivam daí como consequência direta, pois a objetividade e o realismo da Encarnação não se comunicam por meio de gestos e palavras improvisadas, mas na obediência a um critério que não foi estabelecido por nós, mas comunicado e revelado pelo próprio Deus como um imenso dom. Assim, nas coisas sagradas, a arte torna-se culto e catequese, piedade e caridade. Entre os principais elementos que definem o sacerdócio, está o serviço litúrgico e, mais especialmente, o ministério do Altar. Como ajudar os presbíteros a aprofundar cada vez mais o significado teológico e espiritual da Liturgia? O senso do eterno, do divino, do sobrenatural — que constitui o cerne amplo da formação sacerdotal — deve transparecer naquela pessoa a qual, uma vez conformada a Cristo pelo Sacramento da Ordem, é constituída em vínculo entre o “aqui” e o “além”. O amor ao Senhor, único fundamento real do sacerdócio, prova-se de modo eminente por aquele aspecto não suficientemente sublinhado, mas absolutamente central, que é o amor à divina Presença de Cristo Ressuscitado na Eucaristia. Na Santa Missa, o sacerdote tem a possibilidade de perceber, na própria carne, o que significa pertencer ao Corpo Místico e agir in persona Christi, participando, inclusive com seus próprios sofrimentos, no mistério da substituição vicária, que é chamado a viver em si mesmo cotidianamente. Nisso deve residir a verdadeira felicidade do ministério sacerdotal, já que em Cristo até mesmo o sacrifício é alegria, participação no grande projeto de salvação, querido pelo Pai para a Redenção dos homens. D om Mauro Piacenza, Secretário da Congregação para o Clero, nasceu em Gênova (Itália) em 1944 e recebeu a ordenação sacerdotal em 1969, das mãos do Cardeal Giuseppe Siri. É professor de Direito Canônico na Faculdade Teológica da Itália Setentrional, e de Cultura Contemporânea e História do Ateísmo, no Instituto Superior de Ciências Religiosas “Ligure”. O Papa João Paulo II nomeou-o, em 2003, presidente da Pontifícia Comissão para o Patrimônio Cultural e, em 2004, da Pontifícia Comissão de Arqueologia Sacra. Foi ordenado Bispo pelo Cardeal Tarcísio Bertone em 15 de novembro de 2003. Desde 1990 tem atuado na Congregação para o Clero, da qual foi chefe de escritório e sub-secretário. Ao ser nomeado, em 2007, Secretário desse dicastério, foi também elevado à dignidade de Arcebispo. Maio 2010 · Flashes de Fátima 27 Consolo espiritual aos irmãos na fé O Pe. François Bandet dirige palavras de conforto aos sobreviventes do coro da Catedral de Port-au-Prince P rofundamente tocado pela situação do Haiti, após o forte terremoto do início deste ano, o Revmo. Pe. François Bandet, EP, sentiu um chamado especial da graça para consolar de alguma forma os fiéis daquele sofrido país. Ao encontro desse desejo veio o insistente pedido de cooperadores haitianos dos Arautos para que a Imagem Peregrina do Imaculado Coração de Maria os visitasse, a fim de auxiliá-los espiritualmente. Port-au-Prince A viagem foi organizada com rapidez, fixando-se a data da partida para o dia 24 de março. Quatro arautos canadenses acompanharam o Pe. Bandet, além do Diác. Juan Pablo Merizalde, EP, que partiu da República Dominicana. Logo que os missionários arautos se aproximaram de Port-au-Prince, desvendaram-se perante seus olhos os Procissões – Foram realizadas procissões em honra de Nossa Senhora, acompanhadas com entusiasmo e fervor. 28 Flashes de Fátima · Maio 2010 sinais da catástrofe: bairros inteiros em ruínas, pessoas morando sem abrigo nas ruas, barracas de lona espalhadas por toda parte. Atraídos pelo hábito dos arautos, grupos de haitianos se aproximavam do Pe. Bandet, pedindo-lhe a bênção e especiais orações por seus familiares falecidos ou flagelados. Na festa da Anunciação, a Imagem Peregrina foi levada à Paróquia da Divina Misericórdia, onde Dom Pierre-André Dumas, Bispo de Anse-à-Veau e Miragoâne, e diretor da Cáritas Haiti, presidiu a Eucaristia perante uma multidão emocionada de fiéis. “Não fiquem aflitos — disse-lhes Dom Dumas —, porque o Imaculado Coração de Maria triunfará!”. E expressou a gratidão de todos com as palavras: “A generosidade e o amor dos Arautos ao povo haitiano é um conforto e um grande exemplo de fraternidade cristã”. A imagem foi também venerada em diversas paróquias, nas quais foram promovidos terços, Missas, Vias Missas – As igrejas ficaram repletas de fiéis para receber a Imagem Peregrina. Na foto, chegada da Imagem ao Santuário de Nossa Senhora de Altagrâce. Vias Sacras – O próprio Dom Pierre-André Dumas quis levar a cruz processional durante a Via Sacra celebrada em sua diocese. Sacras e procissões em honra de Nossa Senhora. No Santuário de Nossa Senhora de Altagrâce, a vice-prefeita de Port-au-Prince, Nadège Joachim Auguste, representando o prefeito, Muscadin Jean-Yves Jason, agradeceu a missão evangelizadora e o apoio humano dos Arautos, rogando uma bênção para ela e para toda a cidade. Particularmente tocantes foram as visitas aos acampamentos de refugiados, onde moram milhares de famílias em condições muito precárias. Diocese de Anse-à-Veau e Miragoane A convite de Dom Dumas, a imagem foi conduzida às cidades de Anse-à-Veau e Miragoâne, que dão o nome à Diocese. Para chegar até lá, foi preciso percorrer de jipe, por mais de 5 horas, um íngreme caminho que contorna os rios que o atravessam. A população é constituida por pessoas muito simples, em sua maioria, que vivem em cabanas sem água corrente. Porém, por sua robusta fé, impressionaram os missiónarios arautos. Apesar de haver sido uma comunicação de última hora, grande número de jovens compareceu à Missa na Ca- Desabrigados – Mais de 4.000 pessoas tiveram oportunidade de venerar a imagem de Nossa Senhora no acampamento mantido pela comunidade “Foyers de Charité”. tedral de Santa Ana. Logo a seguir, realizou-se uma improvisada Via Sacra. Atrás da cruz, portada por Dom Dumas, seguia a Imagem Peregrina de Nossa Senhora, aos ombros dos jovens do lugar. À medida que se iam sucedendo as estações, o número de fiéis aumentava, assim como o seu fervor. Ao retornar ao templo havia já cerca de mil pessoas. Sentir-se amado pelos irmãos na fé Durante o encontro que tiveram com Dom Joseph Lafontant, Administrador Apostólico de Port-auPrince, e Dom Hubert Constant, OMI, presidente da Conferência Episcopal do Haiti, os arautos puderam sentir, ainda melhor, o quanto Port-au-Prince e muitas outras cidades do país necessitam com urgência de muito auxílio material. Só na capital, das 83 igrejas, 50 foram danificadas ou destruídas. Entretanto, o que os haitianos mais precisam no momento, para enfrentar as adversidades, é sentir-se amados por seus irmãos na fé. Por isso foi tão frequente os arautos ouvirem, como fórmula de agradecimento: “Obrigado por terem se lembrado de nós!”. Inocência infantil – Nos acampamentos de desabrigados, as crianças recebiam com respeito e avidez as estampas de Nossa Senhora, medalhas e outros objetos religiosos distribuídos pelos arautos. Maio 2010 · Flashes de Fátima 29 Moçambique – Para melhor comemorar os mistérios Campo Limpo, SP – Mais de 100 arautos e Colômbia – Milhares de fiéis acompanharam a Itaquaquecetuba, SP – Coube ao Pe. José Luis de Guatemala – Arautos participaram do Tríduo Pascal na Recife, PE – Arautos conduziram a imagem de Nossa da Paixão, os arautos de Maputo ilustraram a Via Sacra com uma piedosa encenação teatral. procissão da Via Sacra no centro de Medellín. Arautos e terciários fizeram a guarda de honra dos andores. Paróquia da Imaculada, em Ciudad Vieja. As cerimônias foram presididas pelo Pe. Fernando Gioia, EP. 30 Flashes de Fátima · Maio 2010 simpatizantes atuaram na tradicional encenação da Paixão, presidida pelo Bispo diocesano. Zayas, EP, presidir a Procissão de Ramos no Jardim Mônica, Itaquaquecetuba. Senhora das Dores na procissão da Via Sacra que percorreu o Bairro da Boa Vista. Tríduo Pascal na paróquia dos Arautos 1 P iedade, recolhimento e ampla participação dos fiéis marcaram as comemorações do Tríduo Pascal na Paróquia Nossa Senhora das Graças, confiada pelo então Bispo de Bragança Paulista (SP), S. Excia. Rvma. D. José Maria Pinheiro, aos cuidados dos Arautos do Evangelho. Como complemento às cerimônias litúrgicas desses dias, foram representadas, em várias das capelas, encenações teatrais da Paixão, visando evangelizar de maneira didática e atraente (fotos 3, 4 e 6). Arautos e paroquianos participaram como atores. Houve também solenes procissões da Via Sacra (foto 1). Os fiéis mostraram especial compenetração e significativo silêncio durante o rito da Adoração da Santa Cruz, no ofício de Sexta-Feira Santa (fotos 2 e 5). 2 3 4 5 6 Maio 2010 · Flashes de Fátima 31 A Semana Santa vivida pelos Jovens Arautos N a quinta dos Arautos do Evangelho, em Palmela, ao longo de toda a Semana Santa, podiam ouvir-se expressões do seguinte género: “Gostei imenso de participar no cortejo do enterro do Senhor”; “Adorei este acampamento, porque teve cerimónias muito bonitas”; “Foi uma experiência fantástica, fez-nos conviver com jovens do norte, centro e sul do país”; “Hoje consegui descobrir o verdadeiro sentido da Páscoa!”. Frases deste estilo brotavam dos lábios de mais de setenta e cinco jovens, vindos de diversas partes do país, com o objectivo de se prepararem intensamente para a Paixão e Ressurreição do Senhor. O Tríduo Pascal constituiu o ápice deste encontro, pois fez memória da obra da redenção humana e da perfeita glorificação de Jesus Cristo. O Acampamento findou no Domingo de Páscoa com a celebração da Eucaristia presidida pelo Re- 32 Flashes de Fátima · Maio 2010 vmo. Pe. Luiz Henrique Oliveira Alves, presidente dos Arautos do Evangelho em Portugal, em que estiveram presentes não só os jovens participantes do encontro, mas também os seus familiares. Após a Santa Missa, todos puderam degustar um suculento churrasco, que decorreu num ambiente de agradável convívio familiar: “É óptimo este convívio entre famílias” exclamava a mãe de um adolescente; “Estes encontros dever-se-iam promover com mais frequência”, expressava o pai de outro jovem. Quando a tarde já ia longe, os jovens quiseram ainda brindar os seus pais com uma peça de teatro, envolvendo temáticas alusivas à Páscoa. O contentamento foi geral, pais e filhos tiveram a oportunidade de descortinar dotes artísticos, anteriormente velados: “Senti um grande orgulho por descobrir que tenho um filho artista lá em casa”, afirmava um pai entusiasmado. Sector feminino dos Arautos visita o Lar de São José “S e tiver toda a fé, até ao ponto de transportar montanhas, mas não tiver a Caridade, nada sou!”. Seguindo o precioso ensinamento do apóstolo São Paulo, o sector feminino dos Arautos do Evangelho visitou o Lar de São José da Santa Casa da Misericórdia, na Póvoa de Lanhoso. Primeiramente, os cerca de cem idosos e funcionários do lar participaram na celebração da Eucaristia, presidida pelo capelão da referida instituição, Pe. António Leitão, e animada pelas jovens Arautos do Evangelho. Ao término da Santa Missa, o Revmo. Pe. António ministrou o sacramento da santa unção a grande parte dos idosos, ali presentes, e procedeu à solene imposição dos escapulários de Nossa Senhora do Carmo. A acenar lenços brancos, todos se despediram entusiasticamente da Imagem Peregrina e receberam, como lembrança daqueles momentos, uma linda medalha de Nossa Senhora. Fátima – Realizou-se nos dias 27 e 28 de Março, mais um retiro para coordenadores do apostolado do oratório, colaboradores e simpatizantes, no intuito de melhor se prepararem para a Semana Santa, através de uma profunda reflexão quaresmal, adoração do Santíssimo Sacramento, recitação do terço na capelinha das aparições. Maio 2010 · Flashes de Fátima 33 São Filipe Néri Profeta da alegria cristã Por onde andava, esse ardoroso apóstolo difundia a alegria da santidade, perto da qual a satisfação efêmera do pecado não passa de grotesca caricatura. Irmã Carmela Werner Ferreira, EP N a Cidade Eterna, avançava para seu final a noite calma e silenciosa. Após mais uma jornada na qual conduzira com valor a Barca de Pedro, o Sumo Pontífice descansava por algumas horas, para retomar seu posto aos primeiros clarões da aurora. Nem todos, porém, repousavam naquela madrugada de 1544. A célebre Via Ápia, outrora palmilhada nessas horas pelos vigias de César e por cristãos que procuravam refúgio nas catacumbas, presenciava agora os passos de um humilde fiel chamado Filipe Néri, então com 29 anos de idade. Percorreu pouco mais de três quilômetros até a ponta da escadaria da Catacumba de São Sebastião, seu local predileto de oração e recolhimento. O “pentecostes” de São Filipe A Santa Igreja atravessava as conturbações religiosas do século XVI. Preparavam-se em Trento as seções do grande Concílio e o mundo cristão vivia uma encruzilhada histórica, de desfecho pouco previsível. Posto nessa situação, Filipe erguia do fundo daquelas úmidas e escuras galerias uma prece que se con34 Flashes de Fátima · Maio 2010 fundia com o clamor dos mártires: “Enviai, Senhor, o vosso Espírito, e renovareis a face da Terra”. Enquanto rezava, sentiu seu coração encher-se “de grande e inusitada alegria, uma alegria feita de amor divino, mais forte e veemente que qualquer outra sentida antes”.1 Uma bola de fogo — símbolo do Espírito Santo — refulgiu diante dele, entrou por sua boca e pousou em seu coração. Num instante, viu-se tomado de excepcional amor e entusiasmo pelas coisas divinas, bem como de uma capacidade incomum de comunicá-los. Sua constituição física, não podendo conter o ímpeto da ação sobrenatural, modelou-se milagrosamente a ela: o coração aumentou de tamanho e buscou lugar entre a quarta e a quinta costelas, as quais se arquearam docilmente para darlhe um maior espaço. Esse episódio miraculoso, ocorrido na vigília de Pentecostes, passaria para a História como “o pentecostes de São Filipe Néri”. E os frutos de tamanho prodígio não se fizeram esperar: “É assim que esse homem, admirável pela doçura, a persuasão e o fogo da caridade, começou essa santa renovação social pela qual regenerará os povos da Itália; sublime obra de humildade, paciência e devotamento, que ele realizou antes de morrer, e sua congregação continuou depois tão gloriosamente”.2 Peculiar vocação Filipe Romolo Néri nasceu num bairro popular de Florença, a 22 de julho de 1515. Aos 18 anos, seu pai, Francesco Néri, o enviou à casa de um tio, em San Germano, a fim de aprender o ofício de comerciante. Da bela cidade onde nascera, que deixava para sempre, haveria de conservar como um tesouro a formação religiosa recebida dos dominicanos do Convento de São Marcos: “Tudo quanto tenho de bom, recebi dos padres de São Marcos”,3 repetirá ao longo da vida. Sua vocação, porém, não era mercantil. Desapontado com as perspectivas de um lucro que hoje se conquista e amanhã se perde, ele se interessava muito mais por acumular tesouros no Céu, “onde não os consomem a traça nem a ferrugem, e os ladrões não furtam nem roubam” (Mt 6, 20). Partiu para Roma no ano seguinte, abandonando o tio e os negócios. O problema de uma vocação “oficial” não se pôs para este jovem, já Difundia a alegria da santidade Em pouco tempo, por toda a Urbe, comentava-se a santidade desse peregrino de vida edificante. Solidificado na virtude, pelo longo período de recolhimento, ele sentiu ter chegado a hora de iniciar sua obra evangelizadora. Para isso, escolheu as regiões mais pobres e “em todos os bairros, mesmo nos de pior fama, pregava ao ar livre a ouvintes benévolos e obtinha conversões extraor- www.oratoriosanfilippo.org decidido a entregar-se a Deus. Não quis ser padre, nesse então, nem ir para um convento, nem integrar qualquer instituição eclesial da época. Entretanto, dificilmente encontraremos entre o clero, nos claustros ou confrarias daquele século, pessoa mais devota do que ele. Desde sua juventude, Filipe teve a característica de escapar dos esquemas habituais, para mostrar que a única regra perfeita em si mesma é a caridade, e nenhuma disciplina tem valor quando se afasta da obediência a Jesus Cristo. Com efeito, levava no mundo uma vida espiritual admirável! Tendo recebido asilo na casa de um nobre florentino, estabelecido na Cidade Eterna, ali passou vários anos em isolamento, oração e severa penitência. Frequentava com avidez a Roma Antiga, deixando-se ficar longas horas em oração nos sagrados lugares. Alguns anos mais tarde, sentiuse atraído a estudar Filosofia e Teologia, e os mestres da Sapienza e do Studium agostiniano se assombraram perante o voo intelectual desse homem que vivia como um mendigo. Tais anos de estudo foram altamente fecundos, a ponto de lhe valerem para o resto da vida e daremlhe a justificada fama de possuir uma sabedoria em nada inferior à dos maiores teólogos que essa época conheceu. São Tomás de Aquino será para sempre seu mestre; a Suma Teológica, seu livro de cabeceira. São Filipe Néri, por Carlo Dolci dinárias”.4 Sua fórmula para interpelar um pecador consistia em pousar a mão em seu ombro, no lugar onde o encontrasse, e dizer: “Vamos ver, irmão, é hoje que nos decidimos a comportar-nos bem?”.5 Dotado de grande atrativo pessoal, Filipe Néri difundia ao seu redor a alegria da santidade, perto da qual a satisfação efêmera do pecado não passa de grotesca caricatura. Todos queriam estar perto dele e receber o transbordamento de seu amor a Deus. Os jovens se comprimiam ao seu redor, para ouvi-lo falar das coisas do Céu e brincarem juntos, em ruidosa algazarra. A um adulto ranzinza que reclamava do barulho, respondeu com um só argumento: “Eles não cometem nenhum pecado!”.6 Com efeito, no inovador método de evangelização desse apóstolo leigo, tudo era permitido, menos o pecado e a tristeza. Assim era a amizade desses santos... Lançando-se num incansável apostolado junto aos leitos dos doentes, Filipe livrou do desespero e conduziu à morte santa muitos moribundos. No ano de 1548 fundou, juntamente com seu confessor, Persiano Rosa, a Confraria da Santíssi- ma Trindade, destinada a atender os enfermos e peregrinos. Santo Inácio de Loyola percebia o valor de Filipe e fez-lhe reiterados convites para ingressar na Companhia de Jesus, mas este preferiu continuar na condição de pietoso lazzarone (piedoso mendigo). Admirado pela legião de pessoas que, movidas por suas palavras, abraçavam a vida consagrada, Santo Inácio o cognominou de “o Sino”, dando a seguinte explicação: “Assim como um sino de paróquia, que chama todo mundo para a igreja e permanece no seu lugar, este homem apostólico faz os outros entrarem na vida religiosa e permanece de fora”.7 Em contrapartida, Filipe — que se sentia chamado para suscitar religiosos, mas não para ser um deles — manifestava grande entusiasmo pelo convertido de Manresa; chegou a afirmar que nunca contemplava sua fisionomia sem vê-lo resplandecente como um Anjo de luz. Assim era a amizade de tais santos! “Roma será a tua Índia” Mas se o fundador dos jesuítas não conseguiu atraí-lo para a Companhia, seu filho espiritual, Francisco Xavier, despertou no pietoso lazzarone imenso desejo de partir para a Índia, a fim de conquistar maior número de almas para Cristo. As cartas do Apóstolo do Oriente estavam na ordem do dia, nos ambientes eclesiásticos romanos. Filipe reunira em torno de si um núcleo de discípulos mais próximos para auxiliá-lo no apostolado — os futuros sacerdotes da Congregação do Oratório, que ele fundaria em 1575 —, com os quais comentava as narrativas vindas da Índia, lamentando-se: “Que lástima existirem tão poucos operários para recolher semelhante colheita! Por que não vamos também nós ajudá-los?”.8 Em insistente oração, eles imploravam luzes sobrenaturais para decidir sobre a viagem. A resposta veio pela palavra do abade cisterciense de Maio 2010 · Flashes de Fátima 35 Tre Fontane, a quem São Filipe consultara: “Roma será a tua Índia”.9 Compreendeu nosso Santo que sua vocação era ser missionário na Cidade Eterna, onde o aguardavam sofrimentos, fadigas e sacrifícios, como talvez nem na Índia encontraria. A peregrinação das sete igrejas Francisco Lecaros Em 23 de maio de 1551, recebeu a ordenação sacerdotal. Contava 36 anos, e agora executaria, como ministro do Senhor, os trabalhos de sua vinha. No exercício do ministério sacerdotal, aos discípulos pobres se juntariam nobres, burgueses, artistas e cardeais. Qual o principal método de atuação escolhido por São Filipe para atraí-los? A originalíssima “peregrinação às sete igrejas”. O programa da “peregrinação” começava na Basílica de São Pedro, onde, após a leitura espiritual, fazia-se uma exposição doutrinária. Os participantes meditavam, comentavam, e Padre Filipe tirava a conclusão. Em seguida, todos se levantavam e se dirigiam para a Basílica de São Paulo, cantando hinos e salmos em compenetrada devoção. Ali chegando, ouviam uma nova conferência sobre a História da Igreja, a vida dos santos ou a Bíblia. E assim prosseguiam até o meio dia, quando assistiam à Missa e comungavam na Igreja de São Sebastião ou na de Santo Estêvão. Em seguida, servia-se uma refeição nos jardins da redondeza, sempre animada pela contagiante alegria de São Filipe. A “peregrinação” recomeçava com novo cortejo musical, passando por outros templos veneráveis. O número de conversões ultrapassava todas as expectativas. Membros de importantes famílias, como a dos Médici e a dos Borromeu, estiveram, lado a lado, com crianças órfãs e humildes artesãos nesse exercício que, por seu fervor, censurava os cristãos tíbios e ao mesmo tempo os conclamava. Poderemos contar até mil pessoas peregrinando juntas num mesmo dia, entre elas quatro futuros papas — Gregório XIII, Gregório XIV, Clemente VIII e Leão XI — e o genial compositor Giovanni Pierluigi da Palestrina. São Filipe, porém, dava pouca importância aos cargos e talentos, se discernia nas almas a fealdade do pecado. Ele cumpria sua missão de purificá-las e torná-las humildes, quaisquer que fossem. Oratório dos Filipinos em Roma e igreja de Santa Maria in Vallicella 36 Flashes de Fátima · Maio 2010 Ao cair da tarde, findava a meditação na Basílica de Santa Maria Maior, todos voltavam para casa carregados de bons propósitos e, o que é mais importante, com força para cumpri-los. Santas peripécias Entre os historiadores que retrataram a figura deste insigne Santo, alguns o descreveram com traços inexatos, como se ele fosse um comediante, interessado apenas em despertar o riso com seus ditos jocosos. Na verdade, a alegria deste varão sobrenatural provinha de sua união com Deus, do sentir em seu interior a presença consoladora do Espírito Santo e poder comunicá-la ao mundo. Melhor que ninguém, conhecia a imensa riqueza que significa a posse do estado de graça, bem preciosíssimo, em comparação com o qual nada tem valor. A consideração dos mistérios divinos o cumulava de imensa felicidade, e desta brotava a peculiaridade de sua atividade evangelizadora. Seus métodos pitorescos e cheios de vivacidade, ele os empregava com muito critério e na hora certa, sempre visando extirpar ou ridicularizar o erro, conduzir à virtude e, por vezes, ocultar sua santidade ou seus dons sobrenaturais. Assim, por exemplo, se um penitente omitia na confissão algum pecado, ele dizia: “Falta tal pecado”. Mas se alguém lhe perguntasse: “Como sabes que cometi também esse pecado?”, sua resposta seria: “Pela cor do teu cabelo!”.10 Evitava assim revelar o dom de discernimento dos espíritos com o qual a Providência o dotara. Filipe obtinha de Deus o favor de muitos milagres, que o povo não deixava de relacionar com a eficácia de suas preces. Para evitar isso, ele arranjou uma grande bolsa, onde afirmava estarem preciosas relíquias. Tocava os enfermos com ela, e quando algum se curava, atribuía o “Eis a Fonte de toda a minha alegria!” São Filipe Néri deixou este mundo aos 80 anos. Segundo o Cardeal Angelo Bagnasco, viveu numa época na qual “a Igreja conheceu um inaudito florescimento — seria melhor dizer uma ‘verdadeira concentração’ — de santos e santas que, por número e qualidade, dificilmente se encontra na História da Igreja”.11 Nesse contexto, seu papel não foi pequeno. Seu amor à Santa Igreja, sua entranhada devoção à Santa Missa e à Santíssima Virgem, somados à disposição de servir o próximo, produziram copiosos frutos. Sofreu o inenarrável por causa de uma frágil saúde, perseguições e invejas, sem por isso perder o sorriso, quase sempre mantido com heroísmo. No dia de sua morte, 26 de maio de 1595, ele ainda celebrou Missa, atendeu várias confissões e manteve com os padres do Dotado de grande atrativo pessoal, Oratório umas últimas hoFilipe Néri difundia ao seu redor a alegria ras de convívio. Ao receber da santidade o Viático, pronunciou estas São Filipe Néri pregando palavras, resumitivas de sua Igreja de Sant’Abbondio, Cremona (Itália) existência: “Eis a Fonte de toda a minha alegria!”.12 A Congregação por ele fundada, costes” de São Filipe, suas duas cosinovadora sob muitos aspectos, assu- telas arqueadas: uma no Oratório de miu a missão de continuar sua obra Roma e a outra no de Nápoles. Esbaseada na caridade, isenta de rígi- sas preciosas relíquias parecem prodas normas que poderiam cercear clamar a seus filhos espirituais e a uma atividade evangelizadora a ser todas as almas chamadas à atividade exercida no meio do mundo, em be- apostólica: “Os homens que deixam nefício das almas imersas nas preocu- seu coração moldar-se pela ação do Espírito Santo são os que verdadeipações mundanas. Conservam-se ainda hoje, como ramente colaboram para renovar a eloquentes testemunhas da “pente- face da Terra”. 1 CAPECELATRO, CO, Alfonso. The life of Saint Philip Neri, Apostle of Rome. 2.ed. London: Burns & Oates, 1894, p.127. 4 2 GUÉRIN, Paul. Le petit bollandistes. 7.ed. Paris: Bloud et Barral, 1876, v.VI, p.210. 5 Idem, ibidem. 6 GUÉRIN. Op. cit., p.213. 7 Idem, p.212. 8 Idem, p.213. 3 PRODI, Paolo. Filippo Néri. In: Il grande libro dei santi. San Paolo: Cinisello Balsamo, 1998, v.I, p.684. DANIEL-ROPS, Henri. A Igreja da Renascença e da Reforma – A Reforma Católica. São Paulo: Quadrante, 1999, p.141. 9 GALLONIO, CO, Antonio. The life of Saint Philip Neri. San Francisco: Ignatius, 2005, p.57. 10 DANIEL-ROPS, Henri. Op. cit., p.140. 11 BAGNASCO, Angelo. Testimonianze. In: Annales Oratorii, Roma: 2007, n.6. 12 GUÉRIN. Op. cit., p.219. Maio 2010 · Flashes de Fátima 37 Francisco Lecaros fato ao poder das relíquias. Esse argumento convenceu a muitos, até o dia em que se fez uma grande descoberta: a sacola estava vazia! Em certa ocasião, dois padres do Oratório tiveram um sério desentendimento e não queriam se reconciliar. Filipe chamou-os à sua presença e, em nome da santa obediência, mandou cada um deles cantar e dançar uma música folclórica para o outro. Com esse inusitado espetáculo, operou-se a reconciliação. Numa “peregrinação às sete igrejas”, São Filipe notou a presença de certa dama da nobreza que ostentava um aparatoso vestido, joias e imenso penteado. Percebendo não estar a senhora tão preocupada com as coisas de Deus quanto com sua aparência pessoal, o Santo pendurou-lhe no nariz seus próprios óculos. O público estalou em sonoras risadas. Ela entendeu a lição e terminou com devoto recolhimento o exercício começado com frivolidade. Poderíamos multiplicar indefinidamente o relato de episódios como estes, todos surpreendentes, cheios de candura e de presença de espírito. A palavra dos Pastores Ancorados em Cristo e firmes na fé Na homilía da Missa Pascal, o bispo de Aveiro nos estimula a crescer na fé, na fidelidade e no compromisso cristão, além de nos preparar para darmos uma calorosa acolhida a Bento XVI. Dom António Francisco dos Santos Bispo de Aveiro E sta é a mais bela e solene Vigília da Liturgia da Igreja. Guiados pela Palavra de Deus, fazemos memória da longa Vigília da salvação da Humanidade desde a criação do Homem até à sua plenitude, atingida na ressurreição de Cristo. Jesus ressuscitou e oferece uma nova luz para o nosso olhar, uma rocha firme para a nossa fé. A fé é fonte da esperança no amor que nos salva. A morte foi vencida e deixa aberta a porta do futuro, que Deus faz nascer em cada Páscoa. O pecado é redimido pela justiça purificadora da cruz e da ressurreição, e o egoísmo cede o lugar ao amor límpido e regenerador da doação da vida de tantos irmãos e irmãs entregues por inteiro ao serviço da humanidade. Esta certeza enche-nos de alegria e faz exultar o nosso coração. Dá solidez às nossas convicções e revigora as nossas forças. Eleva o nosso espírito e mostra-nos que “tudo é possível a quem crê”. 38 Flashes de Fátima · Maio 2010 Foi este, irmãos e irmãs, o lema da caminhada quaresmal que queremos prosseguir no tempo pascal com energia redobrada. Por isso, continuamos a seguir os passos de Jesus, agora nas suas aparições aos discípulos. Estas aparições são encontros exemplares de quem acaba de viver uma tragédia de morte e desilusão, que se transforma em fonte de vida, força de compromisso e raiz de esperança. Esta é a novidade gerada pelo Senhor ressuscitado no coração daqueles que fizeram a experiência de O ver glorificado. Somos convidados à aceitação da novidade revigorante da fé Também nós, seus discípulos, somos convidados a passar da indiferença e da rotina espiritual ou da indiferença religiosa à aceitação da novidade revigorante da fé, celebrada nos sacramentos e testemunhada na vida familiar, profissional, cultural e social. Jesus Cristo constitui de facto a origem de uma nova humanidade que, sob o impulso do Espírito Santo, vai germinando sempre que, de forma coerente, adoptamos os seus critérios de vida e de acção. A fé cristã brota desta certeza inconfundível. Quem a vive, sente e irradia a alegria de ser amado por Deus. Na Páscoa vamos buscar a força e a alegria para apresentar as razões da esperança que nos animam, assumir uma presença pública activa, conhecer as forças que influenciam os centros de decisão e procurar os meios adequados de intervenção. A Páscoa mantém-nos atentos e acolhedores a quem não crê ou a quem escolheu o caminho da indiferença religiosa ou do agnosticismo militante, fazendo-lhes chegar a mensagem de que cada pessoa encontra a plenitude de humanidade no Evangelho de Jesus Cristo, fonte inesgotável da verdade, do amor, da beleza e do bem. A pedagogia do encontro pascal é assumida pela Igreja para iniciar na fé os candidatos à vida cristã e fazer a sua inserção na comunidade pascal. A alegria do baptismo de duas jovens Temos a alegria de, com a bênção do lume novo do círio pascal e da água límpida e purificadora das nascentes da vida, celebrarmos, nesta solene Vigília Pascal, o baptismo de duas jovens. Saúdo-vos com particular afecto em nome de toda a Igreja que vos acolhe com alegria. Pelo baptismo ides identificarvos com Cristo vivo e ressuscitado, que já conheceis e amais. No diálogo que tive convosco dissestes que o baptismo dará novo sentido à vossa vida e iluminará diariamente o vosso caminho. Esperais receber da Igreja a verdade da vida, a alegria da fé e o acolhimento de irmãos que vos ajudem a crescer na fé. A Igreja de Aveiro é a vossa Igreja. Aqui deveis crescer na fé, na fidelidade e no compromisso cristão. A nossa fé é também a vossa fé. Sois nossas irmãs em Cristo e membros desta Comunidade diocesana. Rezar e acolher a mensagem do sucessor de Pedro No tempo pascal, que hoje começa, ocorre a visita do Santo Padre a Portugal. É uma feliz coincidência e uma abençoada oportunidade para recebermos o sucessor de Pedro, testemunha corajosa de Jesus ressuscitado. Bento XVI vem até nós como peregrino e convida-nos a caminharmos com ele na redescoberta da “caridade na verdade”, na sabedoria da fé e na afirmação da esperança, que humaniza as relações humanas e sociais. O Santo Padre vem como pastor da Igreja universal a confirmarnos na fidelidade a Jesus Cristo, no amor à Igreja e no serviço a todos os irmãos em humanidade. “Convido-vos a encontrardes a presença de Jesus ressuscitado no sacramento da Eucaristia celebrado e vivido em cada comunidade cristã.” Vamos aproveitar esta oportunidade singular para estarmos próximos, acompanhar o seu percurso, rezar com ele e acolher a sua mensagem. O testemunho suscita vocações Ocorre também neste tempo pascal a Semana de Oração pelas vocações consagradas sob o tema: “O testemunho suscita vocações”. Compreendeis, irmãos e irmãs, que à luz do mistério da ressurreição e da Páscoa, sinta o dever de convidar toda a Diocese a olhar com o olhar de Cristo ressuscitado para a urgência de novas vocações para a vida sacerdotal, religiosa e missionária. A nossa Diocese tem realizado várias iniciativas mobilizadoras. A nível de padres, de diáconos, de leigos e de religiosas. A nível de comunidades, serviços pastorais e movimentos apostólicos. Muitos cristãos vivem um amor crescente pelo nosso Seminário. Há um clima vocacional promissor, sobretudo entre os jovens. A Casa Sacerdotal, qual santuário de gratidão, está a chegar à fase de construção. A hora é de esperança fundada e de alegria confiante. Nesta hora da vida da Igreja sejamos capazes de nos abrirmos ao dinamismo de purificação e de mudança que em cada Páscoa nasce para sermos Igreja educadora da fé, exemplo de santidade e fundamento de esperança para o mundo. Desejo a todos os diocesanos, amados irmãos e irmãs, e a quantos se acolhem neste belo espaço geográfico da diocese de Aveiro ou nos visitam neste tempo ao encontro das suas famílias ou na procura da beleza da nossa terra e do acolhimento afável e cordial das nossas gentes, que possais viver estes acontecimentos festivos com espírito pascal. Convido-vos a encontrardes a presença de Jesus ressuscitado no sacramento da Eucaristia celebrado e vivido em cada comunidade cristã e também no esforço sincero de quem procura Deus e na coragem cristã de quem O descobriu, vivo e ressuscitado, na manhã vitoriosa da Páscoa. Que a Senhora da Páscoa, Mãe de Cristo e Mãe da Igreja, nos ilumine neste caminho pascal, guie os nossos passos na firmeza da fé e da fidelidade. Que Santa Joana Princesa, nossa Padroeira, cuja vida foi sempre tão próxima do mistério da Cruz e tão unida ao milagre da Páscoa, oriente o nosso olhar de serenidade, de confiança e de paz, no horizonte do amor infinito de Deus e do serviço permanente aos nossos irmãos, segundo o belo e oportuno lema da nossa Diocese: “Amar a Deus é servir”. Uma santa e feliz Páscoa. Aleluia! Aleluia! ² Maio 2010 · Flashes de Fátima 39 Três de cada quatro alunos do sistema educativo espanhol, desde a Educação Infantil até o Ensino Médio, optaram por cursar a matéria de Religião no curso 2009-2010, segundo dados estatísticos publicados no site da Conferência Episcopal Espanhola (www.conferenciaepiscopal.es). Mais precisamente, do total de 4.759.190 estudantes, foram 3.430.654 (72,1% ) os que se inscreveram para receber formação religiosa e moral católica. Ao divulgar esses números, a Comissão de Educação e Catequese da Conferência dos Bispos espanhóis salienta quanto eles são significativos, à vista dos entraves existentes na Espanha ao ensino dessa matéria, e conclui: “Pode-se afirmar que, apesar dos obstáculos a superar, os pais e alunos exercem com dignidade e firmeza seu fundamental direito de optar pela formação religiosa e moral católica”. Em Uganda, a Igreja “cresce com força” “Não viemos a Roma trazer más notícias ao Papa; em nosso país a Igreja cresce com força, o número dos católicos é de cerca de 40%, e esta é uma boa percentagem” — declarou à agência Gaudium Press Dom Matthias Ssekamanya, Presidente da Conferência Episcopal de Uganda, logo após sair de audiência com Bento XVI, em 5 de março. 40 Flashes de Fátima · Maio 2010 da Catedral de Saint Patrick, Mario Bruschi, à Catholic News Agency. Wikipedia Alunos espanhóis optam por cursar Religião Sobre a participação dos católicos no desenvolvimento dessa nação, quase estritamente agrícola, ponderou o Prelado: “A Igreja tem dado uma grande contribuição nos campos da educação e da saúde, além de prestar assistência nos hospitais privados”. Dom Matthias ressaltou, porém, que o trabalho eclesial não recebe apoio do governo, e fez um apelo aos demais países: “Nós ainda precisamos de ajuda internacional”. Primeiro Congresso Eucarístico e Mariano de Lima Catedral de Saint Patrick Nova York: “24 horas de Confissão” na Quaresma A Associação de Jovens Adultos da Catedral de Saint Patrick e a Arquidiocese de Nova York promoveram — a partir das 7 horas de sexta-feira, dia 5 de março — a segunda edição do projeto “24 horas de Confissão”, durante o qual 21 igrejas mantiveram suas portas abertas de forma ininterrupta para acolher os fiéis desejosos de receber o Sacramento da Reconciliação. “Neste Ano Sacerdotal, os presbíteros da Arquidiocese de Nova York estão fazendo um grande sacrifício para ouvir as Confissões, aconselhar e reconfortar os fiéis, recordando-lhes que este Sacramento é um meio de nos reconciliar com Deus quando pecamos”, explicou o diretor do grupo de Jovens Adultos O Arcebispo de Lima, Cardeal Juan Luis Cipriani Thorne, organizou um Congresso Eucarístico e Mariano que se realizará na capital peruana, de 29 de maio a 6 de junho. Ele “é uma resposta a esse querer despertar para a Missão Continental (Documento de Aparecida, 2007), a esse retomar da dimensão da Igreja para ir por todo o mundo” — esclareceu o Purpurado, em reunião com mais de 200 sacerdotes do clero arquidiocesano. Acentuou que “durante essa semana se viverá um especial fervor à Sagrada Eucaristia e à nossa Mãe Santíssima, a Virgem Maria”. Constam do programa: Simpósio teológico, Encontro Mariano, Encontro com as famílias, Encontro com os empresários e o mundo da cultura, Encontro com os jovens. “Faltam-nos santos apaixonados por Cristo, testemunhas de Cristo”, afirmou o Cardeal Cipriani, conclamando todos a unirem esforços para o êxito do Congresso. Vídeo sobre a grandeza da vocação sacerdotal Em colaboração com a Congregação para o Clero, a associação es- Confirmada visita do Papa à Inglaterra Representantes das Conferências Episcopais britânicas confirmaram, durante coletiva de imprensa realizada em Londres no dia 16 de março, que o Papa visitará a Inglaterra de 16 a 19 de setembro. A visita foi definida como uma “oportunidade sem precedentes para reforçar os laços entre o Reino Unido e a Santa Sé, e para reafirmar o importante papel da Fé na criação de comunidades fortes”. Segundo a Rádio Vaticano, trata-se da primeira viagem apostólica de um Papa à Inglaterra com o status de “visita de Estado”. Bento XVI será recebido pela rainha Elizabeth II em Edimburgo, Escócia, proferirá no Westminster Hall um discurso à sociedade civil britâni- ca e celebrará, em Coventry, a solene Missa de beatificação do Cardeal Newman. O Papa terá também um encontro com o Arcebispo anglicano de Cantuária, Rowan Douglas Williams, e rezará na Abadia de Westminster com os líderes de outras confissões cristãs. wikipedia panhola “Hogar de la Madre” lançou em 15 de março o vídeo Alter Christus, que apresenta múltiplos aspectos do sacerdócio, tais como: identidade do presbítero, Sacramentos, celibato, missão. Tendo como personagem central São João Maria Vianney, o filme “procura aprofundar a grandeza e a beleza da vocação sacerdotal”, declarou à Rádio Vaticano a Irmã María Luisa Belmonte, de “Hogar de la Madre”. Gravado em cinco línguas — alemão, espanhol, francês, inglês e italiano —, o vídeo tem 120 minutos de duração e apresenta entrevistas com diversas personalidades eclesiásticas, como os Cardeais Antonio Cañizares e Cláudio Hummes. Uma versão reduzida de 30 minutos está disponível gratuitamente no site da Fundação EUK Mamie (www.eukmamie.org), entidade não lucrativa cujo objetivo é contribuir para a formação humana do povo, sobretudo nos aspectos culturais, sociais e religiosos. Dom Frederic Baraga Milagre atribuído à intercessão de Bispo missionário A Diocese de Marquette (EUA), sufragânea de Detroit, está investigando um possível milagre atribuído à intercessão de Dom Frederic Baraga (1797-1868), cuja causa de canonização foi aberta em 1952. Tratase da cura extraordinária de um homem que tinha um tumor no fígado. Dom Baraga nasceu na Eslovênia em 1797, mudou-se para os Estados Unidos em 1830 e atuou como missionário na região dos Grandes Lagos, junto às tribos Odawa e Ojibwa. Locomovia-se de canoa, cavalo, trenó e muitas vezes esquis, a ponto de ser conhecido como “o Padre de Esquis”. A ele também se atribui o primeiro dicionário Ojibwa-Inglês, em uso ainda hoje. Foi nomeado Bispo de Marquette em 1853 e faleceu em 1868. “Como seu sucessor, dou graças a Deus pelo seu santo exemplo de sacerdote”, declarou à agência Fides o atual Bispo dessa diocese, Dom Alexander K. Sample, JCL. Inicia o processo de beatificação de mais um brasileiro Mais um brasileiro, o Irmão Roberto Giovanni, deu seu primeiro passo rumo à glória dos altares. Durante Missa celebrada no dia 16 de março em Casa Branca, São Paulo, foi instalado oficialmente o Tribunal para a instrução do processo de beatificação desse humilde irmão coadjutor da Congregação Estigmatina que dedicou sua vida a serviço de Cristo, prestando assistência espiritual e material aos pobres, órfãos, idosos, enfermos e toda sorte de necessitados. Nascido em 16 de março de 1903, na cidade paulista de Rio Claro, Roberto Giovanni fez sua profissão religiosa em 1931 e faleceu em 1994, aos 91 anos de idade. Lisboa: Patriarca destaca valor da castidade O respeito pelo corpo e o valor da castidade foram sublinhados pelo Cardeal-Patriarca de Lisboa na noite de Quinta-feira Santa. Na Missa da Ceia do Senhor, que assinala a instituição da Eucaristia, D. José Policarpo falou da virtude da castidade a que todos os cristãos são chamados. O Patriarca centrou a sua homilia na ligação entre o Corpo de Cristo e o nosso corpo para Cristo. “Quem uniu o seu corpo ao do Senhor não pode, para evitar a morte, ser infiel a essa união de amor. É a forma radical de responder ao dom do próprio Cristo, dizendo-Lhe e dizendo ao mundo que o nosso corpo Lhe pertence”. D. José Policarpo salientou que a castidade é uma virtude que deve ser vivida por todos, casados e não só. Católicos chineses enviam ajuda ao Haiti Fides – Até 16 de março, a comunidade católica chinesa, coordenada pela Jinde Charities, entidade caritaMaio 2010 · Flashes de Fátima 41 Homenagem à fundadora dos Focolares L’Osservatore Romano publicou em suas edições de 14 e 16 de março vários artigos sobre a fundadora do Movimento dos Focolares, Chiara Lubich, por ocasião do segundo aniversário de seu falecimento. Ela foi “portadora de um evidente e grande dom de Deus, e quis continuar levando frutos de um extremo ao outro da terra, para benefício de toda a humanidade” — declarou a presidente atual do Movimento, Maria Emmaus Voce, segundo notícia da agência Zenit. O Cardeal Stanisław Ryłko, presidente do Pontifício Conselho para os Leigos, salientou que a figura de Chiara Lubich “marcou profundamente a vida da Igreja e do mundo no século XX”. Cristãos perseguidos no Iraque Nos primeiros dias de março, mais de mil famílias cristãs fugiram da cidade de Mossul, ao norte do Iraque. “As pessoas estão com medo e pensam em se salvar”, declarou à agência Fides Dom Georges Casmoussa, Arcebispo sírio-católico de Mossul. 42 Flashes de Fátima · Maio 2010 O Arcebispo explica os motivos do êxodo: “O assassinato de três cristãos da mesma família — o pai e dois irmãos do Pe. Mazen Ishoa —, ocorrido alguns dias atrás, é uma terrível novidade, já que eles foram atacados e mortos em sua própria casa”. Segundo notícia da agência Zenit de 12/3/2010, registrou-se no Iraque “uma onda de assassinatos de cristãos nas últimas semanas, com um saldo de oito mortos apenas nos últimos dez dias”. A freira dominicana Donna Markham informa que os cristãos de Mossul estão abandonando o país. “Têm ocorrido muitos episódios de homicídios e estupros de fiéis”, denuncia ela. obispadodetemuco.cl tiva católica, recolheu 852.036 Yuan (equivalentes a mais de 92.000 euros) para a população haitiana atingida pelo terremoto de 12 de janeiro. Segundo informa o diretor da Jinde Charities, “graças às notícias da Fides, os fiéis na China puderam acompanhar constantemente a dramática situação da população haitiana, principalmente a situação na Arquidiocese de Porto Príncipe, dos sacerdotes, seminaristas, a condição da população devastada”. Por conseguinte, os católicos chineses se mobilizaram para recolher verbas para os irmãos e irmãs haitianos. É a quinta vez que Jinde Charities coordenou um projeto de solidariedade internacional. Dom Manuel Risopatrón Solidariedade é também ouvir e rezar juntos Rádio Vaticano – O Presidente da Caritas chilena, Dom Manuel Camilo Vial Risopatrón, comentou a reconstrução do país, assinalando que a ajuda solidária aos atingidos pelo terremoto não é apenas “embalar e distribuir mantimentos”, mas também escutar “as pessoas que precisam compartilhar o que sofreram”. Dom Risopatrón sublinhou que “procuramos fazer um acompanhamento do mais profundo de nossa Fé em Cristo. Não se trata só de receber, embalar e distribuir caixas de mantimentos. Também estamos escutando as pessoas que precisam compartilhar o que sofreram e que seguem sofrendo com as réplicas”. “A solidariedade cristã não visa só ter onde cobrir-se ou ter o que comer. Também é tempo para ouvir, abraçar, rezar juntos” — concluiu. Brutais manifestações de intolerância religiosa O observador permanente da Santa Sé na ONU, Dom Silvano Tomasi, interveio em 24 de maio na 13ª sessão plenária do Conselho de Direitos Humanos dessa organização, abordando o problema das manifestações de intolerância religiosa em diversos países. O Arcebispo fez referência a recentes episódios de desrespeito a personalidades e símbolos religiosos, discriminação, tortura e até brutais assassinatos, como os recentes morticínios de cristãos ocorridos na Nigéria. “A proteção do direito à liberdade religiosa é particularmente importante, uma vez que os valores religiosos são uma ponte para os direitos humanos. A dignidade humana, de fato, está enraizada na união das componentes espiritual e material da pessoa” — alertou Dom Tomasi. Preso na China sacerdote acusado de “reunião ilícita” O Pe. João Batista Luo, da Diocese de Mindong (China), foi preso por haver organizado um acampamento para 300 estudantes universitários, informa a agência Ásia News, com data de 12 de março. Três sacerdotes, seus colaboradores, também estão sob ameaça de prisão, e três outros foram multados, pelo mesmo “crime” de “reunião ilícita”. Uma semana antes de ser preso, havia declarado o Pe. Lou: “Ficarei feliz de dar testemunho de Cristo e seguir o exemplo de tantos santos mártires”. A Diocese de Mindong é constituída em sua quase totalidade por fiéis da chamada “Igreja Clandestina”. São 70 mil católicos reunidos em torno de um Bispo, 50 sacerdo- tes, 96 freiras e 400 catequistas leigos. Na Páscoa, 26 mil novos católicos nos Estados Unidos De acordo com dados fornecidos pela Conferência Episcopal dos Estados Unidos (USCCB), a Igreja Católica nesse país recebeu, por ocasião da Páscoa deste ano, cerca de 26 mil novos filhos, entre os quais um grande número de adultos provenientes de outras religiões cristãs. A cifra foi especialmente elevada nas regiões Sul e Sudeste dos Estados Unidos, destacando-se a Diocese Dallas, com 3 mil novos católicos, e a Arquidiocese de Los Angeles, com 2.833. Em outras nove dioceses ou arquidioceses foram mais de 1.000 os convertidos: Arlington, Atlanta, Cincinnati, Denver, Detroit, Fort Worth, San Antonio, Seattle e Washington. Atualmente o Catolicismo conta com mais de 68 milhões de membros nos Estados Unidos, sendo a confissão religiosa mais numerosa nessa nação. ra acolher um número limitado de crianças, podendo ser ampliado caso as inscrições ultrapassem o número previsto inicialmente, informam os organizadores. Mais de dez mil crianças e jovens estão inscritos para se encontrar com o Papa em Portugal Peregrinação militar a pé ao Santuário de Fátima De acordo com os organizadores da visita do Papa Bento XVI a Portugal, mais de dez mil crianças e jovens já se inscreveram para participar da missa com o Pontífice no Terreiro do Paço, em Lisboa, no dia 11 de Maio. As informações são do site oficial da visita, www.bentoxviportugal. pt, segundo o qual os pedidos estão a ser recebidos pelos sectores da Catequese e da Pastoral Escolar do Patriarcado de Lisboa. Devido à grande demanda no número de inscrições, o espaço reservado para as crianças em frente ao altar, com logística própria pa- De 6 a 9 de Abril realizou-se a IX Peregrinação militar a pé a Fátima. Esta peregrinação contou com a presença de pessoas dos vários ramos das Forças Armadas e das Forças de Segurança. À semelhança dos anos anteriores estes peregrinos “dirigem-se a Fátima com a consciência de que ser Igreja é ser peregrino” — lê-se na nota da Capelania Mor. E acrescenta: “Caminhar na Justiça, conforme o apelo do Papa na sua mensagem para a Quaresma, é o lema de todos os peregrinos”. Peregrinar é caminhar para um lugar de especial presença de Deus, Afrescos de Giotto ganham nova vida U Hugo Grados ma equipe de restauradores descobriu impressionantes detalhes nos afrescos pintados por Giotto por volta do ano 1320 na Capela Peruzzi, uma das dezesseis capelas da Basílica da Santa Cruz, em Florença, Itália — segundo notícia da agência Reuters, de 9 de março. Examinando através de raios ultravioletas as cenas das vidas de São João Evangelista e de São João Batista, os restauradores puderam notar detalhes que não são visíveis a olho nu. “Quando olhamos os afrescos sob a luz ultravioleta, de repente essas pinturas muito gastas, estragadas por restaurações antigas, ganharam vida nova”, declarou à Reuters Cecilia Frosinini, coordenadora dos trabalhos. “As cenas voltaram a ser tridimensionais, tornou-se possível enxergar as dobras das roupas, as expressões dos rostos”, esclareceu. Essa descoberta deve-se a um grupo de especialistas que iniciou no final de 2009 um ambicioso projeto de “diagnóstico não invasivo”, destinado a verificar as condições atuais da capela e orientar uma nova restauração que possibilite aos apreciadores da arte admirar a olho nu os famosos afrescos tais como se viam quando foram pintados há quase sete séculos. Sua deterioração começou no início do século XVIII, quando a Capela Peruzzi foi toda pintada de branco. Em 1840 essa tinta foi retirada, mas as rudimentares técnicas da época descaracterizaram e homogeneizaram as cores dos afrescos, levando os restauradores a repintar as partes mais danificadas. Em 1958, outra restauração removeu os traços acrescentados no século anterior, deixando o que restou do original. Maio 2010 · Flashes de Fátima 43 Documentos históricos do Vaticano disponíveis na internet T rês importantes coletâneas de documentos estão agora disponíveis na seção Textos fundamentais do site oficial da Santa Sé (www.vatican.va). Trata-se das coleções completas, em formato PDF, da Acta Sanctæ Sedis (ASS), da Acta Apostolicæ Sedis (AAS), e dos Actes et Documents du Saint-Siège relatifs à la Seconde Guerre Mondiale. Acta Apostolicæ Sedis (Atos da Sé Apostólica) é o órgão ofi- “para aí se encontrar mais facilmente com Ele. É um tempo forte de oração, de conversão, de comunhão com Deus e com os irmãos. Também é um gesto de desinstalação das rotinas diárias, das preocupações e comodidades da vida, para ir ao encontro dos valores e experiências de natureza espiritual” — realça. Catequese tem de aproveitar inclinação de crianças e adolescentes para a religião ABC da Catequese – A catequese está a negligenciar a inclinação para o religioso inerente à personalidade das crianças e adolescentes, considera a responsável pelo Departamento de Formação do Secretariado Nacional da Educação Cristã. Em entrevista à Agência ECCLESIA, Cristina Sá Carvalho sublinha que a abertura à simbólica e à estética, assim como a preocupação pela distinção entre o bem e o mal, constituem algumas das estruturas psico44 Flashes de Fátima · Maio 2010 ACTA APOSTOLICAE SED IS COMMENTARIUM OFFICI ALE ANNUS I. - VOLUMEN I. ROMAE cial do Vaticano. Surgiu em 1865, com o nome de Acta SanctæSedis (Atos da Santa Sé) e recebeu em 1909 o seu atual título. Os Atos e documentos da Santa Sé relativos ao período da II Guerra Mundial (Actes et Documents du Saint-Siège relatifs à la Seconde Guerre Mondiale) estão compostos por 12 volumes lógicas dos mais novos que favorecem a adesão à transcendência. A psicóloga destaca também a frequência com que as crianças e adolescentes anunciam os conteúdos cristãos e convencem familiares e amigos a aproximarem-se da Igreja: “Há muitos casos em que eles levam a mensagem para casa e trazem os pais e colegas da escola à catequese”. A formação técnica e espiritual e a diversificação dos conteúdos são alguns dos temas em foco no Encontro Nacional de Catequese, que decorre no Funchal. No entender de Cristina Sá Carvalho, a catequese não pode ser uma “experiência escolar” centrada na “transmissão da doutrina”, pelo que é preciso reforçar as dinâmicas que dão mais importância à Palavra de Deus e à liturgia. Por outro lado, o testemunho e a “qualidade da experiência da fé do catequista” são questões centrais TYPIS POLYGLOTTIS VATICANIS MDCCCCIX. que começaram a ser publicados a partir de 1965, por determinação do Papa Paulo VI. “numa catequese que quer converter, fazer discípulos e pessoas que vivem com alegria uma vida em Cristo”, explica a responsável. “Não podemos dar o que não temos. Se a fé do catequista não é robusta nem contagiante, ele não consegue comunicar nada de válido”, sintetiza a responsável. A aplicação dos conhecimentos e valores adquiridos após o itinerário catequético tem sido uma das inquietações da Igreja: “Os resultados que nós encontramos depois de muitos anos de catequese não são os mais animadores”, afirmou D. Anacleto Oliveira, bispo auxiliar de Lisboa, ao Jornal da Madeira. “As crianças e jovens estão 10 anos connosco e a seguir o que é que acontece? Que tipo de transformação na sua vida, que tipo de prática cristã, de intervenção na sociedade e de liderança é que estes miúdos são capazes de fazer?”, questiona Cristina Sá Carvalho, que admite a neces- Victor Domingues sidade de rever materiais, tempos e espaços da catequese, mas sem que essas alterações se possam considerar uma “revolução”. A responsável adiantou que está para breve a edição de um novo manual: “Supomos que na assembleia especial dos bispos que vai decorrer em Junho será levado à aprovação o novo catecismo do 4.º ano”. Catedral de Santiago Compostela espera mais de 15 mil jovens em peregrinação No contexto das celebrações do Ano Santo Compostelano, a Arquidiocese de Santiago de Compostela prepara-se para receber os mais de 15 mil integrantes da Peregrinação e Encontro de Jovens (PEJ), que neste ano se realizará de 5 a 8 de agosto e contará com participantes de diversos países europeus. O encontro se desenrolará sob o lema Como o Apóstolo Santiago, amigos do Senhor. Os jovens peregrinos participarão de atividades pastorais e culturais, catequeses e vigílias de oração, sempre contando com a assistência de Bispos e sacerdotes, informa a agência Gaudium Press. Franciscanos apostam na evangelização da Europa Os Franciscanos (Província Portuguesa da Ordem Franciscana) reuniram-se em Capítulo Provincial, presidido pelo Pe. Vítor Melícias, em Braga. Nos primeiros dois dias de trabalho, os 46 capitulares apresentaram os relatórios da vida e acção da província no último triénio: “área social, ensino, saúde, formação, economia, missões, evangelização e migrações”. Alguns destes trabalhos foram realizados em parceria com organismos estatais, empresas e organizações. “Dar visualização à cultura franciscana num mundo secularizado”, “apostar na formação individual e comunitária” e “a criação de comunidades de inserção” foram algumas propostas lançadas em ordem ao futuro. Em relação à presença missionária dos franciscanos e ao “projecto Europa”, o Pe. Paulo Ferreira sublinhou que os membros da Ordem Franciscana procuram “dar um novo fôlego de evangelização à Europa envelhecida e secularizada”. Com 139 frades franciscanos em território português, a Província Portuguesa da Ordem Franciscana tem presença missionária na GuinéBissau e em Moçambique. Foi eleito também o novo conselho provincial, continuando a ter como Superior Provincial o Pe. Vítor Melicias. Bispos do Centro escreveram aos sacerdotes de suas dioceses Os Bispos de Aveiro, Coimbra, Guarda, Leiria-Fátima, PortalegreCastelo Branco e Viseu escreveram uma mensagem conjunta de Quaresma aos padres das suas Dioceses, “como expressão de estima e de gratidão pela vossa colaboração diária e, ao mesmo tempo, como palavra de estímulo para o trabalho pastoral acrescido que a todos é pedido neste tempo quaresmal, rumo à Páscoa do Senhor”. O documento aponta em particular à importância do Sacramento da Reconciliação. “Estamos conscientes, apesar das dificuldades pastorais sentidas neste ministério em ra- zão de uma tradição pouco esclarecida, bem como da crescente insensibilidade ao pecado, que a confissão sacramental é sempre um acontecimento de graça para os que procuram a graça do perdão e da reconciliação com Deus”, pode ler-se. “Sede, caríssimos padres, diligentes e generosos, não só no tempo quaresmal, mas ao longo do ano pastoral, proporcionando aos cristãos tempos adequados, frequentes e com horários acessíveis para que se possam abeirar do sacramento da Reconciliação. Se procurarmos nós próprios ser fiéis à celebração pessoal da Reconciliação, a misericórdia de Deus, pela experiência espiritual vivida, molda o nosso coração, e à imitação de Cristo para com os pecadores, conduz-nos à maior compreensão dos penitentes e ao acolhimento fraterno”, pedem os Bispos do Centro. Este apelo à “generosidade e prontidão” na celebração da Reconciliação, pretende, também, “ajudar à fidelidade de cada um ao dom recebido na ordenação sacerdotal”. “Se na celebração sacramental se experimenta ao vivo a fidelidade de Jesus Cristo, Redentor do homem pecador, não pode este seu gesto ser senão mais um estímulo à nossa fidelidade a Deus e aos irmãos”. Para estes responsáveis, “a dignificação do Sacramento da Penitência, em relação ao qual se vai sentindo menor apreço por parte de muitos cristãos, não se poderá operar sem o contributo pessoal e colectivo dos ministros da Igreja que nele operam, como mediadores necessários do perdão de Deus”. “Preparai-vos espiritualmente para cada celebração, ajudai também os penitentes a prepararem-se para sentirem, em verdade, a dor pelos pecados cometidos e o propósito de conversão, e fazei que cresça em todos a confiança na misericórdia de Deus, nosso Pai”, assinala a mensagem conjunta. Maio 2010 · Flashes de Fátima 45 História para crianças... ou adultos cheios de fé? A chave do Céu Pouco antes de morrer, Frei Lourenço começou a pedir com insistência para lhe trazerem “a chave do Céu”. Mas ninguém estava entendendo o que ele queria dizer... Irmã Daniela Ayau Valladares, EP C ada vez que passava em frente ao convento dos franciscanos de sua pequena cidade, Lourenço sentia o coração bater mais forte. Gostava de ficar ouvindo do lado de fora o canto suave dos frades, vindo da igreja. Aquelas melodias angélicas, cheias de uma paz que não era deste mundo, pareciam provir do Céu. Outras vezes, ficava espiando os monges enquanto trabalhavam na horta e pensava: “Como eles são alegres! O irmão cozinheiro, carregando tomates, é mais feliz que os meus arrogantes companheiros se exibindo pela rua em seus ruidosos carros”. Aos domingos, Lourenço assistia à pregação e depois meditava nas palavras do frade de feições austeras e voz possante: “Lembrai-vos sempre, irmãos, que mais importa guardar tesouros no Céu ao invés de multiplicá-los na Terra. O Senhor nos ensinou: ‘De que vale ao homem ganhar o mundo inteiro se vier a perder sua própria alma?’. Vede o exemplo de nosso pai São Francisco: soube ser pobre em espírito”. 46 Flashes de Fátima · Maio 2010 Um dia, não resistiu e perguntou a um franciscano: — O que devo fazer para morar aqui? O bom religioso deu-lhe uma resposta muito simples: — Para viver abrigado por estas santas paredes é preciso desejar acima de tudo o Reino dos Céus, abraçando a pobreza em espírito, como fez Jesus. Uma semana depois, o jovem, carregando apenas uma malinha, entrava no convento para não mais sair. Pediu para ser irmão leigo, pois queria viver só para Deus, servindo os frades. O mestre de noviços, que passou a acompanhá-lo, se encantava com o exemplo do Irmão Lourenço. Ninguém varria o chão ou lavava os pratos com maior entusiasmo; todas as suas ações pareciam uma prece. Um dia, Irmão Lourenço notou o hábito de um frade em mau estado, e comentou: — Vejo que sua manga está rasgada. Quer que a costure? Senão, quando o irmão for para as mis- sões, as pessoas vão reparar. Somos pobres, mas dignos, e não fica bem usar um hábito rasgado... Se me permitir prestar-lhe tal serviço me estará concedendo uma graça, pois sou um pecador e tenho faltas a reparar. — Mas tu sabes costurar? — Não muito bem... Porém, minha mãe é costureira e com ela aprendi algumas lições do ofício. — Está bem — concluiu o frade —, vamos ver como sai o serviço. Surpreendendo a todos, Irmão Lourenço fez um trabalho exímio. A cada ponto com a agulha tinha rezado uma jaculatória pedindo que a Santíssima Virgem de Nazaré costurasse por ele. Quando acabava a linha, rezava uma Ave-Maria. Dessa forma, cerziu a manga inteira, deixando-a como se fosse nova. A notícia se espalhou pelo convento. Não demorou muito em aparecer o irmão cozinheiro com uma roupa queimada, quase perdida por causa de um forno muito forte. Também o irmão porteiro veio mostrar um buraco no seu hábito que, embora escondido, já estava ficando gran- estar com ele, formando rodas animadas de conversas sobre o Seráfico São Francisco, Santa Clara e outros heróis da Ordem. Irmão Lourenço atraía a todos, falando só sobre coisas do Céu. E era para lá que caminhava... O implacável peso dos anos trouxe-lhe uma febre incurável, que começou a consumi-lo. Pressentindo a partida desta vida, ele pediu os Sacramentos e passou a falar cada vez menos. Rezava muito e pensava no encontro com Deus. Numa madrugada gélida de inverno, Frei Lourenço parecia não resistir mais. O sino do convento chamou a comunidade para acompanhar o querido irmão, em seus últimos momentos. Ajoelhados, rezavam a oração dos agonizantes. De repente, um fio de voz quase imperceptível foi ouvido. Era Irmão Lourenço que pedia: — Tragam-me a chave... a chave do Céu... Os frades não entenderam. Qual seria essa “chave do Céu”? Um deles saiu correndo rumo à biblioteca e voltou com um livro chamado A chave do Céu. Colocaram-no diante do moribundo, mas ele não se interessou. Apenas repetiu: — Eu quero... a chave... a chave do Céu... O superior mandou que trouxessem uma relíquia de São Francisco, à qual o enfermo tinha muita devoção. Mas ele seguia com seu raro pedido... Então, a fisionomia de um irmão se iluminou. Cruzou rapidamente os corredores e voltou com a agulha de Irmão Lourenço. Ao vê-la, este esboçou um sorriso e disse: — Sim, esta é minha chave do Céu! — e expirou. * * * Sem ser grande aos olhos do mundo, nem receber recompensa por seus serviços, Irmão Lourenço se santificara com uma agulha na mão, trabalhando por amor a Deus. Para cada um a Providência tem preparada uma “chave” que lhe abrirá o Céu. Trata-se de saber cumprir sua vontade e seus desígnios. “Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus” (Mt 5, 3). Edith Petitclerc de. Até mesmo certo frade estrangeiro, hospedado ali por alguns dias, pediu ao irmão que desse um jeitinho em sua velha vestimenta. Os hábitos voltavam cosidos, limpos e perfumados. O superior se alegrou com a descoberta. Admirado ao ver a despretensão daquele filho, logo notou a assiduidade de suas visitas ao Santíssimo Sacramento. “É por isso que tudo faz com tanto primor”, pensava. Passados alguns meses, ele percebeu que os dotes de Irmão Lourenço podiam ir além da habilidade de fazer remendos. — Quer tentar fazer um hábito inteiro? — perguntou-lhe. — Se com isso eu puder dar glória a Deus, perfeitamente! A experiência foi coroada de êxito. Das mãos “orantes” daquele religioso, começaram a sair maravilhas acima das expectativas. Nelas a tesoura tomava vida e corria pelo tecido marrom em traçados tão certeiros, que o melhor dos alfaiates não poderia superar. Os hábitos continuavam modestos, mas possuíam algo de especial: a marca do amor com que o irmão os fazia. Passaram-se os anos. Por vezes, a quantidade de pedidos o levava a dormir muito pouco, a perder as horas de recreação, e ele sentia a tentação de julgar que assim também já era demais... Mas logo pensava que Deus o chamara para glorificá-Lo daquela forma, e esse motivo o levava a dedicar-se por inteiro, redobrando as orações. Irmão Lourenço tornou-se um homem maduro e, com o tempo, um ancião. Seus cabelos ficaram prateados, mas nem por isso deixou de atender os pedidos de remendos e costuras. A comunidade o estimava e admirava. Muitos frades famosos, pregadores em santuários e professores em universidades, gostavam de Para cada um a Providência tem preparada uma “chave” que lhe abrirá o Céu. Trata-se de saber cumprir sua vontade e seus desígnios. Maio 2010 · Flashes de Fátima 47 ________ Os Santos de cada dia Sergio Hollmann da Sagrada Família, para prestar assistência aos sacerdotes nos trabalhos domésticos. 4. Santa Antonina, mártir (†séc. III/IV). Foi submetida a terríveis suplícios, encarcerada durante dois anos, e afinal queimada, por recusar-se a renegar a Fé. 5. São Máximo, Bispo (†cerca de 350). Após ser torturado e condenado a trabalhos forçados por ser cristão, foi libertado e tornou-se Bispo de Jerusalém. Trabalhou com afinco na propagação da Fé. 6. Beato Bartolomeu Pucci-Franceschi, presbítero (†1330). Sentindo-se chamado à vida religiosa, obteve o consentimento da esposa e filhos para ingressar no convento franciscano de Montepulciano, Itália. “São Pancrácio” - Catedral de Strasbourg (França) 1. São José Operário. Santo Amador, Bispo (†418). Aclamado Bispo de Auxerre, França, empenhou-se em extirpar as superstições pagãs e incentivou o culto aos santos mártires. 2. V Domingo da Páscoa. Santo Atanásio, Bispo e doutor da Igreja (†373). Beato Guilherme Tirry, presbítero e mártir (†1654). Sacerdote agostiniano executado durante o regime de Oliver Cromwell, na Inglaterra, por sua fidelidade ao Papa. 3. São Filipe e São Tiago Menor, Apóstolos. Beata Maria Leônia Paradis, virgem (†1912). Fundou no Canadá a Congregação das Pequenas Irmãs 48 Flashes de Fátima · Maio 2010 7. Beata Gisela, rainha (†1060). Esposa do rei Santo Estêvão, colaborou na construção de mosteiros e igrejas, e na evangelização da Hungria. Tendo ficado viúva, ingressou no mosteiro beneditino de Niedernburg. 8. Beato Ângelo de Massaccio, presbítero e mártir (†cerca de 1458). Prior do mosteiro camaldulense de Santa Maria della Serra, Itália, intrépido defensor da observância do Dia do Senhor. 9. VI Domingo da Páscoa. Santo Hermas, um dos cristãos saudados pelo Apóstolo São Paulo na Carta aos Romanos. 10. São Guilherme, presbítero (†1195). Nascido na Inglaterra, exerceu seu ministério como pároco em Pantoise, França. 11. São Francisco de Geronimo, presbítero (†1716). Religioso jesuíta, dedicado pregador de retiros e missões populares em Nápoles, Itália. 12. São Nereu e Santo Aquiles, mártires (†séc. III). São Pancrácio, mártir (†séc. IV). São Modoaldo, Bispo (†cerca de 647). Na Diocese de Tréveris, Alemanha, construiu e ornou várias igrejas e mosteiros, e fundou muitas comunidades de virgens. 13. Nossa Senhora de Fátima. Santo André Humberto Fournet, presbítero (†1834). Pároco de Puyen-Vélay, França, refugiou-se na Espanha durante a Revolução Francesa. Finda esta, regressou à França e fundou com a Beata Isabel Bichier a Congregação das Filhas da Cruz. 14. São Matias, Apóstolo. Santa Teodora Teresa Guérin, virgem (†1856). Ingressou na Congregação das Irmãs da Providência em Ruillé-sur-Loire, França. Enviada aos Estados Unidos para fundar uma nova comunidade, enfrentou com sabedoria as dificuldades, demonstrando admirável caridade para com suas irmãs de hábito. 15. São Ruperto, eremita (†séc. VIII). Proveniente de nobre família de Bingen, Alemanha. Após uma peregrinação a Roma, decidiu consagrar-se a Deus. Promoveu a construção de muitas igrejas e estabeleceu-se como eremita nas proximidades de Mainz. 16. VII Domingo da Páscoa. Ascensão do Senhor. Beato Vidal Vladimir Bajrak, presbítero e mártir (†1946). Sacerdote ucraniano da Ordem de São Josafá, morreu no cárcere, ao qual _______________________ Maio 17. Beata Antonia Mesina, virgem e mártir (†1935). Agredida por um jovem devasso quando recolhia lenha num bosque próximo a Orgosolo, Itália, morreu em defesa de sua castidade, massacrada a golpes de pedra. 18. São João I, Papa e mártir (†526). Santo Eric IX, rei e mártir (†1161). Tão logo subiu ao trono da Suécia, conquistou a veneração dos súditos por sua caridade ardente e zelo pela causa de Deus. Incentivou a construção de igrejas e enviou o Bispo Santo Henrique para difundir o Evangelho na Finlândia. 19. Beato Agostinho Novello, presbítero (†1310). Religioso da Ordem dos Eremitas de Santo Agostinho, nomeado confessor papal e penitenciário apostólico. Tendo sido eleito Superior Geral, organizou as províncias agostinianas e procurou estabelecer maior observância. 20. São Bernadino de Sena, presbítero (†1444). Sacerdote franciscano dedicado às missões populares na Itália. Propagou a devoção ao Santíssimo Nome de Jesus, incentivou as vocações religiosas e em três circunstâncias recusou a dignidade episcopal. 21. São Cristóvão Magalhães, presbítero, e companheiros, mártires (†1927). São Carlos Eugênio de Mazenod, Bispo (†1861). Fundou em Aix-enProvence, França, a Congregação dos Missionários Oblatos de Maria Imaculada. Eleito Bispo de Marselha, honrou a Igreja com suas virtu- 28. Santa Ubalesca, virgem (†1206). Aos quinze anos ingressou na Ordem de São João de Jerusalém, dedicando-se durante 55 anos ao serviço dos enfermos e necessitados. des, suas obras, pregações e escritos. 22. Santa Rita de Cássia, religiosa (†1457). São Domingos Ngon, mártir (†1862). Pai de família decapitado durante as perseguições no Vietnã, por recusar-se a renegar sua Fé. 29. Santa Úrsula Ledóchowska, virgem (†1939). Nobre polonesa, fundadora do Instituto das Irmãs Ursulinas do Coração Agonizante de Jesus. 23. Solenidade de Pentecostes. Santo Eutíquio, abade (†cerca de 487). Eleito prior do mosteiro de Núrcia, procurou reavivar nos monges o fervor pela vida contemplativa e pela integridade da disciplina. 30. IX Domingo do Tempo Comum. Santíssima Trindade. Beato Guilherme Scott, presbítero e mártir (†1612). Nascido numa família anglicana, converteu-se ao catolicismo e fez-se beneditino. Foi morto no reinado de Jaime I da Inglaterra, por exercer clandestinamente seu ministério sacerdotal. 24. Beata Joana. Mulher de Cuza, procurador de Herodes, uma das Santas Mulheres que seguiam a Jesus. 25. São Gregório VII, Papa (†1085). Santa Maria Madalena de Pazzi, virgem (†1607). São Beda Venerável, presbítero e doutor da Igreja (†735). Monge do mosteiro beneditino de Saint Peter, em Wearmouth, Inglaterra, dedicou toda a sua vida à meditação e ao estudo das Sagradas Escrituras. Deixou uma vasta obra literário-teológica. 26. São Filipe Néri, presbítero (†1595). Santo André Kaggwa, mártir (†1886). Morto em Uganda, durante as perseguições desencadeadas pelo rei Mwanga, por ter pregado o Evangelho aos pagãos e aos catecúmenos. 27. Santo Agostinho de Cantuária, Bispo (†605). Santo Eutrópio, Bispo (†cerca de 475). Tendo ficado viúvo, decidiu consagrar-se inteiramente a Deus; foi ordenado diácono e depois eleito Bispo de Orange, França. 31. Visitação de Nossa Senhora. Beato Tiago Salomoni, presbítero (†1314). Aos 17 anos, distribuiu aos pobres todos os seus bens e ingressou no mosteiro dominicano de Veneza. Foi sucessivamente eleito prior de diversos mosteiros. © Santiebeati.it foi condenado por ter denunciado as perseguições religiosas do regime soviético. Santa Úrsula Ledóchowska Maio 2010 · Flashes de Fátima 49 Portas da terra, Porta do Céu Portas, as há de múltiplas formas e variadas espécies, e são sempre um elo entre ambientes diversos. Haverá alguma pela qual se entre no Céu? Pe. Lourenço Isidoro Ferronatto, EP E Fotos: Nivaldo Bueno, Ricardo Castelo Branco, Victor Domingues las protegem as casas, garantem segurança e, ao mesmo tempo, ornam o ambiente, ou se abrem para nos dar a agradável surpresa da visita de um amigo. Falamos, naturalmente, das portas. Sua variedade é quase infinita: desde pequeninas portinholas que possibilitam um olhar desconfiado por detrás de robusta estrutura, até majestosos portais de luxuosos palácios, pelos quais passam régias comitivas. Há portas de madeira rústica, construídas com uma simplicidade única, e outras de fina madeira artisticamente entalhadas. 50 Flashes de Fátima · Maio 2010 Algumas se encontram fechadas, convidando-nos a imaginar segredos cuidadosamente ocultos por detrás delas: serão conversas para fechar importantes negócios, confidências sussurradas ao ouvido, ou solenes reuniões de personalidades que podem mudar o rumo da História... Quão grave mistério guarda, por exemplo, a porta da Capela Sistina quando é fechada para um Conclave: Quem será o próximo sucessor de São Pedro? Mas, seja qual for seu formato, tamanho ou decoração, sua função é sempre a mesma: ser um elemento de comunicação entre ambientes diversos. Ao sair de casa para ir ao trabalho, passando do conforto doméstico para as vicissitudes da labuta diária, o homem transpõe uma porta. Antes de entrar na casa de um amigo, é preciso aguardar que se abra uma porta. E ao deixarmos o ambiente ruidoso de uma rua para nos recolhermos num templo, também atravessamos uma porta. A arte sacra fez as igrejas de formas múltiplas e variadas. Algumas têm a simplicidade do românico ou da arte visigótica; outras são ornadas com a superabundância própria do barroco; mas as portas de todas elas têm algo que convida suavemente o transeunte a pe- Getty Images Pórtico da Catedral de Colônia (Alemanha) netrar no seu interior. São um cartão de visita. Em geral, as portas principais das igrejas dão abertura para uma espécie de vestíbulo, ultrapassado o qual os fiéis entram no santuário propriamente dito. Essa transição entre a rua e o interior do templo sagrado é muito conveniente, pois o recinto intermediário atua como um preâmbulo que ajuda a alma a adaptar-se para uma nova perspectiva, a da oração. * * * Mas para a piedade católica, tão rica em simbolismos, há também uma porta pela qual passamos da vida terrena à celeste. Ela é belíssima, valiosíssima e inigualável, toda fei- ta de ouro, e nos convida constantemente a entrar no Céu. Afirma São João de Ávila: “Se vemos uma bonita porta, bem edificada, muito rica, dizemos: ‘Oh! Santo Deus, que valiosa porta! Quão bela deve ser a casa que tal porta tem!’ E logo nos assalta o desejo de entrar e conhecer essa residência. Porta do Céu é Maria. Se à glória havemos de ir, por esta porta devemos entrar”.1 E Santo Antônio Maria Claret acrescenta: “Quando a Igreja diz que esta incomparável Rainha é a porta do Céu e a janela do Paraíso, nos ensina com essas palavras que todos os eleitos, justos e pecadores, entram na mansão da glória pe- la mediação de Nossa Senhora, com esta única diferença: os justos entram por Ela como pela porta aberta; mas os pecadores [arrependidos], pela janela que é Maria. Portanto, depois de Jesus, n’Ela devemos pôr toda a nossa confiança e esperança de nossa eterna salvação”.2 ² 1 San Juan de Ávila. Obras Completas. Madrid: BAC, 1953, t.II, p.980. 2 Santo Antonio MarÍa Claret. Escritos Autobiográficos y Espirituales. Madrid: BAC, 1959, p.771-772. Maio 2010 · Flashes de Fátima 51 Otáio de Melo Nossa Senhora d’Ajuda, imagem trazida ao Brasil pelos padres jesuítas em 1549 - Igreja do Arraial d’Ajuda, Porto Seguro, Bahia. Ao fundo, praia Coroa Vermelha, onde desembarcaram os primeiros missionários. Ó Virgem Santa, que podeis ajudar todo miserável e salvar os maiores pecadores, quem jamais solicitou Vosso poderoso patrocínio e foi por Vós desamparado? Tal caso nunca se deu e nunca se há de dar. (As Glórias de Maria, S. Afonso de Ligório)
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