formação dos Agentes do Brincar

Transcrição

formação dos Agentes do Brincar
Guia do Agente
do Brincar
São Paulo, maio de 2013.
Site: www.ipadireitodebrincar.org.br E-mail: [email protected] Tel.: (11) 5021-3160 / (11) 3255-4563
REALIZAÇÃO
PARCERIA
APOIO INSTITUCIONAL
COORDENAÇÃO
Marilena Flores Martins
Sumário
Fundadora e presidente da IPA Brasil – Associação Brasileira
pelo Direito de Brincar; autora; consultora na área do brincar
e do desenvolvimento infantil.
[email protected]
ORGANIZAÇÃO E REVISÃO
5
Apresentação
D em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano;
consultora na área de jogos e aprendizagem.
[email protected]
http://mariaceliamalta.wordpress.com/
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Brincar como
direito humano
Maria Célia Malta Campos
ra.
MARILENA FLORES MARTINS
AUTORES
Ariane Andrade
Cientista social; arte educadora.
[email protected]
Carlos Sereno
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Professor de Educação Artística; contador de histórias.
[email protected]
MARILENA FLORES MARTINS
Eliana Tarzia Iasi
Professora de Educação Física; agente do brincar;
diretora da IPA Brasil.
[email protected]
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Contador de histórias; autor; ludo educador e palestrante.
www.contarhistorias.com.br
Diretora do Instituto Brasil Leitor – programa Ler é Saber
[email protected]
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Mina Regen
Assistente Social; consultora na área da pessoa com
deficiência.
[email protected]
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Renata F. Martins Ponzoni
Espaços do brincar:
internos e externos
MARILENA FLORES MARTINS
Artista plástica; arte educadora; agente do brincar.
Facebook.com/StudioRenataFlores
PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO
Brincar na
comunidade inclusiva
MINA REGEN
ILUSTRAÇÕES
Ana Cristina Silveira
Jogos e brincadeiras
CARLOS SERENO E
MARIA CELIA MALTA CAMPOS
Fabio Lisboa
Ivani Nacked
Brincar e o
desenvolvimento
da criança
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www.anacedesign.com.br
Espaços internos do
brincar: a brinquedoteca
e a biblioteca
ARIANE ANDRADE E IVANI NACKED
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A brinquedoteca hospitalar
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As múltiplas linguagens
da criança
ELIANA IASI TARZIA
RENATA F. MARTINS PONZONI,
ARIANE ANDRADE E FÁBIO LISBOA
GUIA DO AGENTE DO BRINCAR
Apresentação
A
o produzir o GUIA DO AGENTE DO BRINCAR com os temas que compõem o conteúdo de formação dos Agentes do Brincar da
IPA Brasil, temos a intenção de oferecer subsídios para que, tanto adultos, quanto crianças
e jovens tenham acesso a informações e experiências que lhes permitam promover, apoiar e
defender os direitos contidos no Artigo 31 da
Convenção dos Direitos da Criança (1989),
principalmente nas comunidades onde vivem.
Isto ganha relevância em razão da aprovação do documento Comentário Geral (General
Comment) na ONU em 01/02/2013, que veio
atender, não só ao anseio de todos os que defendem essa causa, como também promover a
defesa dos direitos das nossas crianças.
O Comentário Geral tem três objetivos
principais:
“(a) Definir as conseqüentes obrigações dos
Estados na elaboração de todas as medidas de implementação, estratégias e programas, focados no entendimento e na
completa efetivação dos direitos da criança, nele definidos;
(b)
Destacar o papel e as responsabilidades
do setor privado, incluindo as empresas
que atuam nas áreas de recreação, atividades culturais e artísticas, bem como as
“O Artigo 31 precisa ser entendido
holisticamente, tanto em termos de suas
partes constituintes, quanto na sua relação
com a Convenção em sua integridade. Cada
elemento do Artigo 31 é mutuamente ligado
e reforçado e, quando compreendido, serve
para enriquecer a vida das crianças.”
(CG, PÁGINA 4, PARÁGRAFO 8)
organizações da sociedade civil, que oferecem esses serviços para as crianças;
(c)
Elaborar guias para todos os indivíduos
que trabalhem com crianças, em todas as
ações que desenvolvem, incluindo guias
para pais.”*(CG PÁGINA 3, PARÁGRAFO 7)
Teremos alcançado os nossos objetivos se,
a par do compartilhamento de informações
qualificadas, tivermos tocado os nossos leitores
e leitoras, motivando-os a engajar-se na causa
que é de todos nós, a defesa dos direitos das
nossas crianças, principalmente o direito de
brincar e ser feliz!
MARILENA FLORES MARTINS
Fundadora e presidente da IPA Brasil – Associação Brasileira
pelo Direito de Brincar
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GUIA DO AGENTE DO BRINCAR
Brincar como Direito Humano
MARILENA FLORES MARTINS
E
m nosso país, por várias razões, desde os
tempos mais remotos, o trabalho foi valorizado em detrimento do ócio e do brincar, sendo
ainda considerado por alguns grupos de pessoas, como pura “perda de tempo”. Esta postura
vem causando inúmeros prejuízos ao desenvolvimento das crianças, sendo inclusive um
dos motivos que tornam difícil a erradicação
do trabalho infantil em nosso país, pois ainda
existem pessoas que compartilham do paradigma de que é melhor trabalhar do que ficar “sem
fazer nada”. Se considerarmos que, brincar é a
maneira pela qual as crianças estruturam o seu
tempo, ou seja, a sua vida, precisamos reconhecer que estamos falando de direitos humanos e
brincar é, antes de tudo, um direito da criança!
De uma maneira geral, os direitos humanos
têm sido conquistados em um processo histórico, cheio de vicissitudes. Implicam, na maioria
das vezes, em mudança de paradigmas e quebra
de preconceitos. No Brasil, já estamos na ter-
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ceira geração de direitos, desta vez, coletivos:
direito à infância, direito ao meio ambiente, direito à cidade, direito ao desenvolvimento dos
povos. É preciso, pois, considerar que o respeito ao direito de brincar é condição básica para
uma boa infância!
Histórico
A importância do brincar e da recreação
na vida de toda criança, tem sido, há tempos,
conhecida na comunidade internacional, como
evidenciado na Declaração dos Direitos da
Criança de 1959 e fortalecido pela Convenção
dos Direitos da Criança de 1989 que, explicitamente, reconhece o direito da criança ao descanso, lazer, brincar, atividades recreativas, livre
e plena participação na vida cultural e artística.
O Brasil foi signatário dessa Convenção, que
considerou a necessidade de proporcionar a elas
uma proteção especial, sendo o direito de brincar explicitado no Artigo 31, cujo texto diz:
GUIA DO AGENTE DO BRINCAR
Do ponto de vista legal, portanto, estamos
devidamente embasados para assegurar que
todas as crianças tenham o seu direito de brincar devidamente respeitado. O pouco reconhecimento do significado desses direitos na vida
das crianças resulta, muitas vezes em:
1.
2.
Os Estados Partes reconhecem o direito da criança ao descanso e ao lazer, ao
divertimento e às atividades recreativas
próprias da idade, bem como à livre participação na vida cultural e artística.
Os Estados Partes respeitarão e promoverão o direito da criança de participar
plenamente da vida cultural e artística e
encorajarão a criação de oportunidades
adequadas, em condições de igualdade,
para que participem da vida cultural, artística, recreativa e de lazer.
A Constituição brasileira de 1988, por sua
vez, em seu Artigo 227 cita claramente o“direito
ao lazer”, reforçado pelo Estatuto da Criança
e do Adolescente (ECA - 1990), nos artigo 4º
e 16:... “direitos ao lazer, à cultura, à liberdade( compreendendo os seguintes aspectos:
brincar, praticar esportes e divertir-se.”).
A Lei federal 11.104 de 21/03/2005 garante
que as crianças internadas em hospitais com
atendimento pediátrico, tenham assegurado o
seu direito de brincar, considerando inclusive,
como infração à legislação sanitária, os que
não cumprirem essa determinação.
•
faltadeinvestimentosemrecursosadequados,
•
legislaçãofracaouinexistentee
•
“invisibilidade”dascriançascomoprotagonistas, no planejamento e na execução das ações, em nível nacional e local.
O cumprimento das leis depende da ação
dos gestores públicos, tanto quanto da postura ética dos cidadãos, que podem e devem,
engajar-se na defesa das crianças e de seus
direitos. O engajamento consciente, no entanto, depende de informações consistentes,
comprovadas por pesquisas científicas e atualizadas, além da observação atenta, dos fatos
à nossa volta.
Proposta da IPA
A IPA internacional iniciou as suas atividades em 1961 na Dinamarca, para proteger
e promover as oportunidades das crianças
brincarem livremente, de modo permanente e
consistente. De lá para cá, outras organizações
semelhantes se organizaram e continuam se organizando, em mais de 50 países.
A IPA Brasil (Associação Brasileira pelo Direito de Brincar – www.ipadireitodebrincar.org.
br) iniciou as suas atividades em abril de 1997,
com a mesma missão da IPA internacional.
Em 2012, a IPA participou do Grupo de
Trabalho internacional para a elaboração de
um documento propositivo – o General Comment (GC) – entregue ao Comitê dos Direitos
da Criança – ONU em setembro do mesmo
ano. Esse documento, agora aprovado, traz
subsídios para a regulamentação do Artigo
31, com vistas à sua implementação, pelos
países que assinaram a Convenção, entre eles,
o Brasil.
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GUIA DO AGENTE DO BRINCAR
Brincar e o Desenvolvimento da Criança
MARILENA FLORES MARTINS
Cenário
Q
uando o assunto é a infância estamos falando sobre o nosso futuro. Se não tivermos um presente que respeite a condição da
criança de fazer descobertas no seu próprio tempo, estaremos comprometendo o seu amanhã.
Desde o nascimento, a vida humana passa
por mudanças significativas que, em relação às
demais espécies, possuem características únicas. A criança ao nascer dispõe de um cérebro
preparado para receber estímulos, logo, aprender; e, assim, fazer aquisições que serão importantes para que seja bem sucedida nas etapas
seguintes do seu desenvolvimento. Porém, isso
só será possível se compreendermos esse desenvolvimento como algo dinâmico que depende
das interações que a criança estabelece com o
meio físico (objetos, brinquedos, diferentes espaços e ambientes) e com o meio social (diferentes grupos de adultos e crianças).
Entre o nascimento e os três anos, muita
coisa acontece para que ela aprenda a controlar os esfíncteres, a comunicar-se pela fala, a
andar e a ter mais independência dos familiares
e adultos mais próximos.
Progressivamente, as crianças passam a
pertencer a outros grupos sociais que, igualmente, influenciam o seu desenvolvimento. O
desenvolvimento da linguagem e das habilidades sociais é mais eficaz quando misturado com
as atividades em grupo, como a capacidade de
entender regras e instruções simples. Amigos
e colegas assumem importância gradativa na
vida da criança, uma vez que elas aprendem
muito mais, imitando o comportamento dos
outros; experimentando com seus amigos, sentindo-se felizes também!
As crianças desenvolvem as suas habilidades
motoras pelo movimento dos músculos como
andar, correr, escalar, rastejar, balançar, puxar,
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sacudir-se e chutar. Encontrar caminhos para
agarrar, driblar ou salvar uma bola pode ser entendido como formas da expressão criativa encontradas nos jogos e nos esportes. A criatividade é excitante e prazerosa e oferece oportunidade
para explorar problemas e desenvolver soluções.
Por esse motivo, as brincadeiras oferecem oportunidades para o desenvolvimento intelectual tais
como: propor soluções, negociar, fazer estimativas, contabilizar, planejar, comparar e julgar.
As crianças que aprendem a brincar, controlando livremente as brincadeiras, sentem
um prazer natural com isso e tendem a manter
o interesse por essas atividades. Brincar e praticar esportes permite que as crianças explorem
o mundo e encontrem seu lugar nele. Ajudam
a aprender a vencer e a perder, uma vez que influenciam o autocontrole.
Investindo-se no desenvolvimento da criança, ela aprende a ser cidadã, compartilha experiências aprendendo novas brincadeiras e jogos,
além de ter oportunidades culturais. Enquanto
brincam, as crianças adquirem os conceitos de
valores, limites e responsabilidades, recebendo
informações sobre o que podem e o que não
podem fazer.
Atores
Agentes do Brincar são as pessoas que,
com conhecimento e competência, criam as
oportunidades para que as crianças brinquem
livremente. Podem ser: jovens, pais, educadores, profissionais, estudantes, voluntários de
organizações da sociedade civil, pessoas na
terceira idade. Além do conhecimento teórico
prático precisam ter algumas habilidades sobre
as quais discorreremos neste Caderno.
Desafios e possibilidades no brincar
As brincadeiras e os brinquedos, objetos
que fazem parte do imaginário infantil , quan-
GUIA DO AGENTE DO BRINCAR
do bem escolhidos, são instrumentos importantes para o desenvolvimento das crianças,
contribuindo para a sua educação.
Sugerimos a seguir algumas brincadeiras e
atividades que as crianças apreciam. Embora,
por questões práticas, elas sejam apresentadas
por faixa etária, podem ser oferecidas em diferentes idades. Assim, lembramos que:
BEBÊS ATÉ OS 3 ANOS GOSTAM DE: fazer caretas e sons para serem observados; brincar com
seus dedos, pés, paninhos e bonecos de pelúcia
quando estiverem em seus berços, camas ou
sobre um tapete no chão; brincar de esconder
atrás de panos, lençóis, porta; diferentes texturas e tamanhos para tocar; imitar gestos e sons
de animais domésticos; fazer ginástica: pular
sobre a cama, rolar no tapete, engatinhar, balançar nos joelhos; brincar de esconder e achar
pequenos objetos; empilhar objetos com diferentes tamanhos e cores; brinquedos com argolas ou de puxar;objetos com diferentes sons
como brinquedos com guizo e chocalhos; ouvir
histórias curtas e ver livros com figuras simples
e com texturas que podem ser de pano ou outro
material, laváveis e macios; brincar de imitar
gestos dos adultos, como andar de quatro, cantar como um galo; equilibrar-se em um pé só,
pular com os dois pés, correr de olhos fechados, brincar com bola ou rastejar em um túnel; brincar de “faz de conta”, com fantoches,
fantasiando-se ou usando uma roupa velha ou
de adulto; utilizar grandes caixas de papelão
para fazer carros, lojas ou somente para explorar; brinquedos de construção ou encaixe;
brinquedos com movimento e rodas: carrinhos
de puxar ou empurrar, triciclos, cavalinho de
pau; brincar com terra, areia, água e tintas não
tóxicas; brincadeiras que envolvem música,
gestos e expressão corporal; brincar com outras crianças, principalmente as mais velhas,
compartilhando um mesmo objeto, como por
exemplo, entrar em uma caixa e ser empurrado, jogar bola, vestir uma boneca.
CRIANÇAS DE 3 A 6 ANOS GOSTAM DE: brinca-
deiras de roda, pular, correr, escalar, rolar e escorregar; andar de bicicleta, brincar com terra,
água e areia; massa para modelar, tintas com
cores variadas para pintar; brinquedos com
movimento como carros, trenzinhos, aviões ou
barcos; brincadeiras de faz de conta; brincar
de casinha, mamãe e papai; imitar as atividades dos adultos, além de imitar outros seres vivos; usar fantasias dos seus heróis preferidos,
brincar de fantoches e de teatrinho; brincar de
pular, correr, cantar e dançar; alguns brinquedos eletrônicos; atividades como andar de bicicleta e outros brinquedos com rodas; brincar
com bonecos e bonecas, além de miniaturas de
tudo o que existe em seu ambiente cotidiano:
utensílios domésticos, móveis, veículos; usar
vestimentas e fantasias, principalmente dos
personagens com os quais se identificam; ouvir
história, principalmente os de heróis e heroínas; teatrinho de fantoches; jogos com regras
simples: memória, dominó e de tabuleiro; jogos
de construção; massa para modelar, forminhas
e potinhos, tinta não tóxica;
CRIANÇAS DOS 6 AOS 9 ANOS APRECIAM:
atividades que estimulem a sua autonomia e
iniciativa, que evitem a monotonia, o excesso de atividades “acadêmicas” ou de disciplinamento exagerado; oportunidades para as
brincadeiras espontâneas, o uso de materiais
criativos, os jogos, as danças e os cantos, as
múltiplas formas de comunicação, de expressão artística, de criação e de movimento; ir ao
parque ou convidar os amigos para brincar em
casa; jogos eletrônicos adequados à sua idade;
atividades de iniciação aos esportes que facilitem o aprendizado de regras e de atuação em
equipe; brincar de casinha ou de escola, preferencialmente, se forem meninas; os meninos
também as acompanham nessas brincadeiras
e gostam bastante de jogos com movimento
e desafios; misturar ingredientes de cozinha e
preparar alimentos simples na companhia de
adultos; mesclar tintas para obter cores e cheiros novos, utilizando-as em diferentes formas
de expressão artística. Gostam de desenhar e
se expressam com riqueza de detalhes; montar,
construir e brincar com jogos que tenham propostas simples, como os dominós, jogos de memória, lotos etc. Estes podem ser construídos
com materiais recicláveis e na companhia de
adultos ou crianças mais velhas, o que pode ser
um momento interessante para transmitir, na
prática, os conceitos de educação ambiental;
livros de contos, principalmente, os que falam
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de valores e que são importantes para o seu desenvolvimento intelectual e emocional. Através
deles podem aprender a identificar e a reconhecer, nos outros e em si mesmas, pensamentos e
sentimentos que ajudam ou atrapalham a sua
relação consigo mesma e com os outros.
CRIANÇAS DE 9 AOS 12 ANOS GOSTAM DE:
jogos com bola, brincar na água, correr, saltar,
equilibrar-se ou equilibrar objetos; mesclar as
atividades solitárias, como ler uma revista, assistir TV ou jogar videogame, com aquelas que
incluem exercícios físicos, bem como os jogos em
grupo ou com regras; acompanhar os pais em atividades esportivas ou freqüentar clube ou escolinha esportiva, tudo como brincadeira e estando
sempre atentos para evitar os treinos agressivos,
bem como os excessos competitivos; oportunidades para experimentações científicas; aprender
jogos cooperativos; participar de torneios de jogos com regras: dominó, xadrez e outros; atividades criativas como o desenho, por exemplo;
fazer viagens e passeios de aventura; participar
de atividades artísticas como o teatro, música e
dança que, em suas inúmeras formas de representação, são ótimas oportunidades para que as
crianças apresentem, de forma imaginativa, sua
visão de mundo; literatura infantil quando viajam nas asas da imaginação. Os temas oferecidos
pela TV, por exemplo, poderão servir de centro
de interesse para vôos mais altos.
Além destas sugestões lembramos que
crianças gostam e devem ser conduzidas pelos
adultos, a participar de atividades culturais,
tanto aquelas relacionadas à sua comunidade,
quanto ir ao cinema, ao teatro e assistir espetáculos de música e dança, desde que apropriados à sua idade.
O perfil do Agente do Brincar
Em um ambiente adequado para brincar, as
crianças farão escolhas acerca do que elas brincam e com quem brincam. Nesses momentos
poderão ser apoiadas e estimuladas pelo Agente do Brincar, um animador e facilitador das
oportunidades lúdicas.
Os interessados nesta atividade devem capacitar-se para a sua ocupação, além de pos-
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suir predisposição para o desenvolvimento das
relações interpessoais, da liderança, da comunicação, da criatividade, além de habilidades
físicas, psicológicas e sociais necessárias a um
bom desempenho. Como para qualquer outra
ocupação voltada para estimular o desenvolvimento humano, o Agente do Brincar precisa ter
e desenvolver habilidades e valores essenciais
para o seu bom desempenho, tais como:
Liderança – lembrando sempre que o brincar é conduzido pela criança; Criatividade
– cria acontecimentos e oferece soluções; Organização – no seu planejamento, material e
ambiente; Flexibilidade – para ver e ouvir, estimulando os relacionamentos; Respeito – a si
próprio, ao outro e ao meio; Vocação para a
pesquisa – avalia novas formas de abordagem
em busca de melhores resultados; Laborabilidade – capacidade de trabalhar ativamente e
enfrentar novos desafios.
Pais e cidadãos motivados e comprometidos, juntamente com agentes capacitados, são
os protagonistas para a construção de um cenário que garanta os direitos das crianças e dos
jovens, contribuindo positivamente para o futuro do nosso planeta.
PARA SABER MAIS
BROCK, Avril. Perspectives on play: learning for life. Pearson Education Limited
.Edinbourgh Gate, 2008.
FLORES, Marilena Martina. Brincar é preciso. São Paulo: Editora Evoluir, 2009.
OLIVEIRA, Vera Barros (org.). O brincar
e a criança do nascimento aos seis anos.
Petrópolis: Editora Vozes, 2008.
OLIVEIRA, Vera Barros, FORTUNA, Tânia Ramos, SOLÉ, Maria Borja (orgs.).
Brincar com o outro: caminho de saúde
e bem-estar. Petrópolis: Editora Vozes,
2010.
GUIA DO AGENTE DO BRINCAR
Jogos e Brincadeiras
CARLOS SERENO E MARIA CELIA MALTA CAMPOS
Cenário
O essencial não é o brinquedo,
mas o ato de brincar.
O
jogo ativa e desenvolve inúmeras habilidades nos jogadores. Entre elas, algumas
colaboram na aprendizagem de qualquer novo
conhecimento, como observar e identificar,
comparar e classificar, analisar e estabelecer relações, elaborar hipóteses, inferir. Também são
habilidades de conhecimento os procedimentos utilizados no jogo, como a antecipação, o
planejamento, o uso de um método de ação, o
emprego de formas de registro e de contagem,
entre outros. Porém, não podemos esquecer a
função socializante do jogo, pois a interação
que ele proporciona favorece a prática de atitudes importantes como: competir dentro de regras, saber respeitar a força do oponente, perceber uma situação sob o ponto de vista oposto
ao seu. Aprender com o outro é mais rápido e
mais efetivo porque é mais prazeroso. Uma das
coisas que o jogo assegura é justamente esse
espaço de prazer e aprendizagem que o bebê
conhece, mas que a criança perde quando entra
na escola e o adulto esquece de uma vez ao ingressar no mundo do trabalho.
Nesse breve percurso do imenso campo dos
jogos e brincadeiras, adotamos uma classificação dos mesmos, com base na proposta de Jean
Piaget, psicólogo estudioso dos processos de
conhecimento e de desenvolvimento humano.
Jogos Corporais
O corpo está presente em todas as atividades da criança, desde o nascimento. O movimento é a ação natural da criança, a qual propicia o desenvolvimento das suas habilidades
psicomotoras amplas e finas, além de facilitar
o desenvolvimento de habilidades sociais e cognitivas, sempre na relação com objetos, com o
espaço e com os outros. Assim, objetos e brin-
quedos favorecerão o desenvolvimento dos seus
esquemas motores de atirar, enfiar, pular, girar,
equilibrar-se, entre outros. Por sua vez, os materiais para jogos corporais que descrevemos a
seguir podem e devem ser incorporados a outros jogos, como os de faz de conta e os jogos
teatrais, por exemplo.
O MATERIAL ESTIMULADOR: bolas de tamanhos va-
riados e de diferentes materiais, petecas, cordas
de pular, arcos, boliche, cestos de basquete, tacos,
latas, tábuas sobre apoios.
O Agente do Brincar deverá favorecer a
ação livre e espontânea das crianças, para que
explorem e descubram as características dos
objetos na relação com as possibilidades de
seus movimentos, como força, velocidade, direção. Por exemplo, as tabuas podem servir como
obstáculo para saltos ou para caminhar em
cima delas, equilibrando-se; mas podem também servir de “pista” de corrida para carrinhos
e objetos variados. As atividades corporais
permitem o arranjo dos jogadores em duplas
ou equipes, em contexto de jogos estruturados
por regras simples, acompanhados por músicas - em brincadeiras de roda, por exemplo ou desafios, como pega-pega, pique-bandeira,
estátua, entre outros.
Jogos Simbólicos
A criança entre cerca de 3-4 anos de idade até
8- 9 anos costuma se entregar com espontaneidade e alegria ao jogo simbólico (a brincadeira
de faz de conta). Essa é a sua linguagem por excelência, sua forma de comunicação, já que não
domina tão bem a comunicação verbal, como
nós adultos. Em sua brincadeira, ela expressa
e reorganiza suas experiências de vida e o seu
ambiente. A seu bel prazer, transforma objetos
(um bloco de madeira é um caminhão; um palito
pode ser uma espada ou uma varinha mágica)
e encarna personagens imaginários ou do seu
cotidiano familiar e social (a mãe, a professo-
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GUIA DO AGENTE DO BRINCAR
ra, o médico, o policial). Ali ela se encontra no
controle da situação, é o autor daquela criação
fantasiosa. Nesse território de liberdade, ela não
será corrigida ou instruída sobre o certo/errado.
ginário será reproduzido em objetos tridimensionais, a serviço da brincadeira, compondo
cenários e também ensejando a integração com
as atividades de expressão criativa.
O MATERIAL ESTIMULADOR: adereços como capas,
tiaras e chapéus; colares e pulseiras; miniaturas de
utensílios e móveis do cotidiano do lar; de objetos
da loja, feira ou mercado; de animais e veículos;
blocos de madeira; retalhos de tecidos variados;
fios de lã, cordas.
Jogos com Regras
Este jogo imaginário, extremamente individual e subjetivo, se prolonga, gradualmente, em brincadeiras coletivas, quando então
as crianças assumem papéis e representam situações imaginárias, elaborando seqüências e
enredos. São jogos dramáticos que podem, aos
poucos, se fixar e ganhar estrutura em pequenas narrativas teatrais.
Jogos de Construção
São as brincadeiras em que as crianças inventam e criam, de acordo com sua imaginação, mas onde está presente a observação mais
fiel da realidade e um menor grau de fantasia.
Nesses jogos, as crianças procuram fazer uma
imitação exata dessa realidade e assim constroem bonecos, veículos, maquetes de edifícios e
cidades. Conforme adquirem melhor coordenação motora, elas também podem corresponder de modo mais adequado, a execução de sua
construção com a imagem mental que elaboraram. Por isso, pode-se considerar que tais jogos
situam-se numa posição intermediária entre o
jogo de faz de conta e os jogos de regras.
O MATERIAL ESTIMULADOR: peças de isopor, pape-
lão, cartolina, blocos de madeira, peças de encaixe,
caixas de embalagens, canudinhos e palitos; tubos
e conexões de PVC em tamanhos e formas variadas
(em T e em Y, canos retos, cotovelos, roscas); cola,
fita colante, tesoura, clips, grampeador.
Todo esse material enseja ações de ligar,
unir, sustentar - esquemas práticos, mas também extremamente simbólicos. Ele remete ao
produto industrializado que cerca o ambiente
da criança, mas que será transformado e inserido em um contexto lúdico e criativo. O ima-
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Esta classe de jogos se assenta no respeito
a limites e a estruturas externas e exige a prática da cooperação e do respeito mútuo, a tolerância à frustração e a aceitação dos limites
dados pelas regras. Desse modo, as interações
no contexto do jogo de regras promovem o
desenvolvimento moral, sem o qual o próprio
jogo fracassa. Além disso, esses jogos facilitam
a construção de várias habilidades cognitivas,
como as noções espaciais (espaço uni e bidimensional, relações de distancia, proximidade,
vizinhança) e de tempo, como seqüência ou
ordem dos movimentos. As estratégias do jogador se apóiam na progressiva coordenação
lógica entre essas noções, permitindo as antecipações e o planejamento das jogadas.
O MATERIAL ESTIMULADOR: jogos regrados, em geral,
como jogos de tabuleiro e quebra-cabeças. Dos mais
tradicionais aos mais modernos, muitos desses jogos podem ser construídos pelas próprias crianças e
adaptados às suas necessidades e interesses.
Os jogos a serem oferecidos devem permitir
diversas composições de jogadores, atendendo
aos interesses das crianças. Alguns jogos propõem quebra-cabeças e são solitários, caso do
Sudoku, do Resta Um, do Rush Hour. Outros
prevêem dois oponentes, como Damas, Batalha
Naval, Lig-4, jogo da Velha, Dominó; outros
ainda podem ser jogados por mais oponentes
(jogos de percurso como o Ludo e o Jogo da
Vida; jogos de tabuleiro como Xadrez Chinês,
Trilha (ou Moinho) e o tradicional Pega - Varetas e até por equipes (Imagem e Ação, Detetive).
Desafios e possibilidades
nos jogos e brincadeiras
Para o jogo simbólico e o de construção,
é interessante oferecer às crianças formas não
estruturadas, objetos sem desenhos e material
não figurativo, como blocos de madeira, papéis
coloridos e de diversas texturas, fitas e fios, ou
GUIA DO AGENTE DO BRINCAR
seja, materiais sem acabamento e definição.
Desse modo, as crianças poderão, mais livremente, neles imprimir seus significados, criando seus brinquedos e compondo suas brincadeiras a partir de suas fantasias.
Nos jogos regrados, mesmo naqueles individuais ou de 1 contra 1, o orientador poderá
introduzir modificações, com novos arranjos de
jogadores - como dupla contra dupla; equipe
contra equipe), que estimulem a participação
de todos, dos mais hábeis aos menos experientes. O adulto poderá também propor campeonatos e torneios para que a repetição do mesmo
jogo se mantenha estimulante, assim favorecendo o progressivo domínio das suas estratégias.
Podemos pensar também que a prática de jogos regrados introduz a criança na cultura e nas
tradições de diferentes povos e épocas, fazendo-a participante ativa na história da humanidade.
O Mancala ilustra bem essa possibilidade
de enriquecimento da vivencia infantil, por ser
um jogo tradicional nas sociedades africanas
e asiáticas, além de antiqüíssimo. Na verdade,
Mancala é o nome genérico para mais de 200
jogos, semelhantes entre si e originários do Egito antigo. Registros desse jogo datam de 3.500 a
7.000 anos e vestígios de seus tabuleiros foram
encontrados na
pirâmide de Keops e nos desertos
da Arábia. Em
toda a África se
joga com sementes, na Indonésia
com conchinhas e os marajás da Índia jogavam
com rubis e safiras. Seu tabuleiro é escavado na
terra ou na areia, ou verdadeiras obras de arte.
Mas alguns povos ainda o associam a ritos mágicos e sagrados, ao movimento das estrelas e
à influência dos deuses. Simbolizando a semeadura, a plantação, a aposta no futuro, jogá-lo,
mais que uma experiência de confronto, é uma
vivência da parceria, do espírito de solidariedade. Ele ensina a semear no tempo certo, reavivar
esperanças e dividir os frutos da colheita.
O tabuleiro e o número de peças são sempre
o mesmo, porém a modalidade de jogo abaixo
descrita corresponde a apenas uma das inúmeras versões dessa família de jogos, também
chamada de jogos de semeadura ou jogos de
contagem e captura.
NÚMERO DE JOGADORES: 02
MATERIAL: 48 sementes ou qualquer outro grão e
dois tabuleiros (terrenos), com 06 covas cada um.
OBJETIVO: colher 25 sementes ou grãos antes que o
outro jogador.
PREPARAÇÃO: colocar 04 sementes ou grãos em
cada cova dos terrenos e definir que jogador vai dar
a partida.
MOVIMENTAÇÃO: o jogo segue no sentido anti-horá-
rio. Os jogadores, cada um na sua vez, devem apanhar 04 sementes de qualquer cova do seu terreno
(essa ficará vazia) e semear 01 semente em cada
cova seguinte (sentido anti-horário). Dependendo
da casa escolhida para retirar as sementes a serem
semeadas a seguir, o jogador poderá semear apenas em seu terreno, mas também poderá semear no
seu e no do outro jogador ou só no outro jogador.
COLHEITA: quando um dos jogadores, ao semear, no
campo contrário, completar nessa última casa 02
ou 03 sementes, deve retirá-las do tabuleiro para
si. Nas casas anteriores a essa última, havendo 02 ou
03 sementes, numa
seqüência, essas
também deverão
ser retiradas.
PARA SABER MAIS
PIAGET, J. (1964). Seis estudos de Psicologia: trad. Maria Alice Magalhães de
Amorim e Paulo Sérgio Lima Silva, 24a.
ed., Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2003.
ZASLAVSKY, C. Jogos e atividades matemáticas do mundo inteiro. Diversão multicultural para idades de 8 a 12 anos. Ed.
Artmed, 2000.
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GUIA DO AGENTE DO BRINCAR
Brincar na Comunidade Inclusiva
MINA REGEN
Cenário
A
atenção à pessoa com deficiência implica
em uma melhor compreensão das atitudes
ainda vigentes em relação a essa população e a
necessidade de construirmos uma sociedade inclusiva, em que caibam todos os seus cidadãos.
Da Antiguidade ao século XXI, grandes mudanças ocorreram na atenção às pessoas com
deficiência, dependendo da época e contexto
social, desde o abandono até à segregação e,
finalmente, à inclusão.
Sabemos, por exemplo, que na Grécia, só senhores de posses eram tidos como “cidadãos”.
Mulheres, crianças e escravos não tinham valor
social. Tratava-se de uma sociedade belicista e
que pregava o culto à perfeição e beleza física.
Assim, as crianças que nasciam com alguma deficiência eram eliminadas por exposição, isto é,
eram abandonadas para que morressem de fome
ou devoradas por algum animal. Já as crianças
sadias deveriam assumir o papel de continuidade da família. Em Roma, aquelas crianças que
nasciam com alguma anomalia eram poupadas
da morte e serviam de diversão para os nobres
romanos em seus festins, como “bobos da corte”
ou sendo ridicularizados nas feiras populares.
Novos conceitos surgiram na contemporaneidade, embasando as idéias vigentes em relação às pessoas com deficiência e contribuindo
para a construção de uma sociedade inclusiva
(SASSAKI, 1997).
AUTONOMIA: “É a condição de domínio no am-
biente físico e social, preservando ao máximo
a privacidade e a dignidade da pessoa que a
exerce”.
INDEPENDÊNCIA: “É a faculdade de decidir sem
depender de outras pessoas, tais como membros
da família ou profissionais especializados”.
EMPODERAMENTO: “Processo pelo qual uma pes-
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soa, ou um grupo de pessoas, usa o seu poder
pessoal inerente à sua condição – Por exemplo:
deficiência, gênero, idade, cor – para fazer escolhas e tomar decisões, assumindo assim o
controle de suas vidas”.
AUTOGESTÃO/AUTODEFESA: “Permite que uma
pessoa possa gerenciar todos os aspectos de
sua vida, desde as habilidades básicas de alimentação, autocuidado, vestuário, até a ampla
defesa de seus direitos (autodefesa)” (ROCHA,
M. S., 2007).
A família e a criança com deficiência
O nascimento de uma criança com deficiência
causa uma reação inicial da família, que dificilmente está preparada para receber uma criança
não desejada, dificultando a formação dos vínculos afetivos em seu processo de aceitação dessa
criança diferente, mas não desigual. Ao receber
o diagnóstico da deficiência de um filho, os pais,
geralmente, costumam se fechar em sua dor, mágoa, tristeza, isolando-se socialmente, sendo importante apoiá-los e fazê-los entender que é no
seio da família que o processo de inclusão social
das crianças com deficiência deve se iniciar.
A estimulação de bebês ocorre naturalmente, quando as mães ou os cuidadores são afetivos e comunicativos, ou seja, costumam conversar com eles enquanto trocam fraldas, dão
banho, alimentam, acariciam partes do corpo,
nomeando-as, oferecem brinquedos etc.
Porém, as crianças que já apresentam alguma alteração nos primeiros meses de vida, em
geral não reagem às brincadeiras, ocasionando diminuição das manifestações dos adultos.
Esta situação prejudica a evolução inicial da
criança, já que nessa fase é que ocorre o maior
desenvolvimento do cérebro humano.
É imprescindível que a família entenda a
importância do brincar e de propiciar espaços
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de convivência e aprendizado inclusivos, ou
seja, aqueles espaços onde crianças com e sem
deficiência possam brincar e interagir.
Desafios e possibilidades na inclusão
Atividades, brincadeiras, brinquedos e o desenvolvimento neuropsicomotor.
Prover um ambiente estimulador para as
crianças com algum tipo de deficiência deve ser
uma preocupação de: pais, cuidadores, educadores e dos Agentes do Brincar.
Do nascimento até aos 04 anos de idade, as
crianças precisam receber estimulação adequada para o desenvolvimento de várias habilidades físicas. Desde os primeiros meses de vida,
independentemente de suas limitações, algumas brincadeiras e estímulos são muito bem
vindos ao bebê. Por exemplo:
•
•
•
•
•
•
•
•
po (hipotonia). O quê e de que forma deve-se
oferecer-lhe um objeto para que ele se interesse
em movimentar as mãos?
A partir desse problema, experimente oferecer aos grupos de capacitação para Agentes
do Brincar, material de sucata e vários outros
materiais, como retalhos de tecidos, linhas coloridas, agulhas, botões, palitos de churrasco,
de sorvete, cola tesouras, revistas etc.
Peça que construam um objeto e uma situação
lúdica adequados às possibilidades da criança.
Objetos ou adaptações simples propiciam melhor condição de participação das
crianças com deficiência, em brincadeiras
ou na manipulação de brinquedos.
Colocaracriançaemdiferentesposições
Conversarbastanteeobservarseelatenta
olhar para quem fala com ela
Cantarparaacriança
Posicionar a criança de barriga para
cima, segurar um objeto colorido ou sonoro e movimentá-lo de um lado para o
outro e verificar se o segue.
Estimularbraçosepernasdacriançacom
toalhas felpudas e objetos de diferentes
texturas
Ao tocar campainhas ou outros objetos
sonoros do lado esquerdo e direito da
criança, observar se a mesma fica atenta.
Sentaracriançanocolo,frenteafrente,
aparando com as mãos suas costas e cabeça, sorrindo e cantando para ela.
Colocarochocalhonamãodacriançae
balançá-la de um lado para o outro.
Desafio: Pensando a adaptação
Muitos brinquedos ou brincadeiras podem
ser construídos e propostos para uma criança
com deficiência.
O bebê cego não movimenta muito as mãos
em direção a objetos, motivo pelo qual apresenta musculatura molinha nessa parte do cor-
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A cadeira com peso nos pés possibilita que a
criança seja retirada da cadeira de rodas e participe de atividades em uma mesinha.
Acionador caseiro: funciona como um prolongamento do botão liga e desliga de brinquedos eletrônicos ou do botão direito do mouse
– permite que crianças com dificuldades nos
membros superiores possam acioná-los.
Calças preenchidas com flocos permitem
que a criança, sem controle de tronco, seja posicionada no chão, com apoio para a coluna.
Experiência de Sucesso
Lápis cera de várias texturas permitem que
a criança com dificuldade de preensão possa
pintar ou desenhar.
“O olhar para as atitudes por mais simples
que elas sejam nos diz muito sobre a criança
e seu estado ou condição social, física e mental.” Depoimento de participante de curso de
capacitação em Agentes do Brincar, citado no
relatório de avaliação externa dos cursos de capacitação em Agentes do Brincar, 2012.
PARA SABER MAIS
Prancha inclinada: propicia melhor posicionamento do material ou da atividade, de modo
a facilitar o desempenho motor, visual ou de organização espacial da criança com deficiência.
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ROCHA, Moira Sampaio. Manual de formação de autodefensores. Nada sobre nós,
sem nós. Federação das APAEs do Estado
de Minas Gerais Pará de Minas. 2007.
SASSAKI, R.K. Inclusão: construindo uma
sociedade para todos. Rio de Janeiro: Editora WVA. 1997.
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Espaços do Brincar: Internos e Externos
MARILENA FLORES MARTINS
Cenário
O
impacto das brincadeiras no desenvolvimento infantil só poderá efetivar-se se,
além do conhecimento sobre a sua importância, os adultos puderem oferecer-lhes condições favoráveis nos diferentes ambientes e espaços da criança.
Espaços para brincar e aprender são aqueles
que oferecem atividades em um ambiente saudável, amoroso e proporcionam oportunidades
para as crianças interagirem com adultos, desenvolvendo um relacionamento de confiança com
eles. Esses espaços apóiam as crianças que estão
começando a desenvolver habilidades sociais
como: compartilhar, esperar a vez, explorar
responsabilidade, independência, autoconfiança, tomar decisões e saber trabalhar em grupo;
ajudam a desenvolver a prontidão das crianças
para a escola, por meio de atividades lúdicas que
estimulam a linguagem e o desenvolvimento do
pensamento; oferecem um lado da rotina das
crianças fora da família, em um ambiente familiar positivo; oferecem modelos de papéis. Ali,
as crianças aprendem umas com as outras, sem
se preocuparem com autoridade (pais/adultos).
Acima de tudo, são ambientes informais onde as
brincadeiras devem ser livres.
Para melhor compreensão da abrangência
dos mesmos, poderíamos classificá-los em:
1. ESPAÇOS/AMBIENTES IMATERIAIS: são os espa-
ços onde a criança está presente e que lhes
proporcionam os estímulos, as condições afetivas e os relacionamentos necessários para o
seu desenvolvimento humano, pessoal e social, além de desenvolver o seu sentido de pertencimento. São eles:
•
•
•
•
Família
Educação
Comunidade
Políticapública
2. ESPAÇOS/AMBIENTES FÍSICOS: são os espaços
de vida das crianças e que lhes dão continência
física, oferecendo-lhes as condições materiais e
ambientais adequadas ao seu pleno desenvolvimento. Os espaços físicos abrigam os espaços
imateriais. São eles:
•
•
•
•
Casa/Habitação
Escola
Ruas,PraçaseParques
Equipamentosdesaúde,culturaelazer
Faremos a seguir algumas considerações sobre a correlação entre os espaços imateriais e
físicos e o seu impacto no desenvolvimento das
crianças, à luz dos direitos contidos no Artigo 31.
A. Família/Habitação
“As crianças precisam esforçar-se, lutar
e se superar, mas isso não significa que
a infância deva ser uma corrida.” Carl
Honoré ( filósofo escocês)
Mães e pais preocupam-se com o futuro dos
seus filhos, principalmente em questões como o
sucesso profissional, o desenvolvimento saudável e as habilidades sociais, como base para a
felicidade. O importante é saber que brincar faz
seus filhos mais felizes e que a criança que brinca
fica mais esperta, aprende com mais facilidade
e se torna um adulto mais realizado. As brincadeiras ajudam a criança a relacionar-se melhor
com os outros, desenvolvem a sua criatividade,
fazendo-as mais tranqüilas e inteligentes.
Brincar em família é igualmente importante e
os pais são os parceiros preferidos em suas brincadeiras, principalmente pelas crianças pequenas,
sendo que toda criança precisa ser aceita incondicionalmente por, pelo menos, um adulto. Quando as famílias eram maiores, os avós, tios e primos viviam próximos uns dos outros e brincavam
bastante com as crianças. O importante é saber
que, quando crianças e adultos brincam juntos,
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demonstram o seu afeto e expressam a aceitação
incondicional: não há outro motivo para desfrutar a não ser a presença de um pelo outro, sendo
um, parte da vida do outro e pertencendo um ao
outro. Brincar é o estímulo que ajuda as crianças
a construir o seu projeto de vida.
Por essas e outras razões é que os espaços físicos habitacionais devem oferecer as condições
adequadas do ponto de vista arquitetônico e de
recursos materiais, para que as crianças e adultos possam ter experiências lúdicas positivas e
aprimorem os seus relacionamentos de forma
espontânea e alegre.
B. Educação/Escola
As brincadeiras são para as crianças, principalmente as pequenas, mais do que diversão.
São experimentos que conduzem ao aprendizado e à percepção do mundo. Depois da casa,
a escola é o local preferido pelas crianças para
brincar e fazer amigos, construindo os seus relacionamentos sociais. Brincar na escola contribui
para desenvolver os quatro pilares da educação:
Aprender a Ser, Aprender a Conviver, Aprender
a Conhecer e Aprender a Fazer (UNESCO). No
entanto, a excessiva pressão para a aquisição
de conhecimento acadêmico formal, com cronogramas rígidos e programas densos e super
estruturados, vem provocando nas crianças,
transtornos físicos e mentais que impedem, entre outros, o seu bom aproveitamento escolar.
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Além da escola, os espaços culturais como bibliotecas e museus, são elementos importantes
para o desenvolvimento da criança.
C. Comunidade/Ruas Praças e Parques
Se quisermos efetivamente promover o desenvolvimento sustentável, que estimule o respeito ao
meio ambiente, precisaremos oferecer às crianças
oportunidades para conhecer, conviver e brincar
junto aos elementos da natureza, proporcionando-lhes uma série de efeitos positivos tais como:
liberdade, criatividade, atividade física, estímulo, habilidade motora, imaginação, capacidade
de observação, interações sociais, relaxamento e
tolerância à diversidade. Atividades na natureza
oferecem oportunidades para que todos se envolvam em eventos na sua própria comunidade,
dando-lhes o sentido de pertencimento.
CONDIÇÕES ESSENCIAIS PARA UM AMBIENTE EXTERNO:
•
•
•
Umambientequesejaseguroderiscosocial ou violência;
Um ambiente suficientemente livre de
lixo, esgoto a céu aberto, poluição, tráfego e outros perigos físicos para permitir
às crianças movimentarem-se livremente
e com segurança em sua vizinhança;
Espaçoseoportunidadesparabrincarfora
de casa desacompanhadas, em um ambiente físico diversificado e desafiador, que
ofereça riscos controlados e com fácil aces-
GUIA DO AGENTE DO BRINCAR
•
•
so a adultos protetores, quando necessário;
Oportunidade de criar ou transformar
espaços e tempos onde elas possam investir no seu próprio mundo, imaginação,
linguagens e fantasias;
Padrõesdesegurançaparatodososespaços de brincar e recreação, brinquedos e
equipamentos lúdicos.
D. Políticas Públicas
Em relação às políticas públicas voltadas
para a criança, lembramos que as suas necessidades não se referem somente àquelas relacionadas à nutrição, imunização e educação, infantil e fundamental. As políticas voltadas a elas
precisam colocar ênfase no brincar, recreação,
cultura e artes, e os profissionais, responsáveis
pelo desenvolvimento dos programas, precisam
estar adequadamente capacitados para lhes dar
suporte. As leis e a sua normatização devem
prever a dotação orçamentária, necessária para
o desenvolvimento dos programas, que precisam ter mecanismos efetivos de monitoramento
e fortalecimento, para assegurar que todos os
membros da sociedade civil, incluindo o setor
corporativo, comprometam-se com os recursos
para atender aos direitos contidos no Artigo 31.
Para que sejam efetivas, elas precisam de
gestores comprometidos, apoiados por uma
política de direitos, com o respectivo controle
social, que facilite a participação comunitária.
A atuação inter setorial entre os governos: municipal, estadual e nacional é essencial para a
sua efetividade e permanência, fazendo com
que seja efetivamente uma política de estado.
Espaços Externos do Brincar –
montagem e gestão de projetos lúdicos
Os Agentes do Brincar poderão organizar eventos lúdicos com o objetivo de sensibilizar, informar e mobilizar as comunidades,
para que ofereçam as condições necessárias
para o livre brincar.
Dentre eles, destacamos o Projeto Lúdico
Comunitário cuja idéia central é a de criar uma
cultura para as atividades lúdicas e culturais
nos espaços públicos das cidades, garantindo
melhor qualidade de vida e utilizando-as como
importante instrumento no aperfeiçoamento
das relações adulto/ criança e criança/criança,
contribuindo para a cultura de paz.
Em um Projeto Lúdico Comunitário, o público-alvo será composto por pessoas de todas
as idades e com todas as capacidades, incluindo
prioritariamente as crianças e seus familiares.
Os participantes atuarão ativamente em todo o
processo, desde o planejamento das atividades
até a montagem e a participação nas Estações.
Os temas culturais e educativos do evento
deverão ser escolhidos em comum acordo com
os parceiros e a comunidade.
Os objetivos específicos dos projetos lúdicos
comunitários são:
1.
Mobilizar pessoas e organizações para
uma nova visão dos espaços públicos,
motivando-os a ocupá-los de maneira
criativa, competente e organizada, voltados para sua função social;
2.
Propor a participação da comunidade
com a capacitação dos Agentes do Brincar, objetivando o inicio de uma rede de
apoio para as crianças e adolescentes daquela comunidade.
Etapas de um Projeto Lúdico
Para se garantir o sucesso de um projeto lúdico comunitário, deve-se elaborar um planejamento que contemple cuidadosamente suas
distintas etapas:
1. IMPLANTAÇÃO
Refere-se às ações preliminares ao início do
trabalho, das quais dependem os bons resultados. São elas:
•
Avaliação e consolidação de parcerias
com escolas e organizações locais, para a
escolha dos futuros Agentes do Brincar e
das atividades que comporão as estações
lúdicas, culturais e ações de divulgação e
mobilização da comunidade;
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•
•
•
•
Articulação da parceria com os gestores
públicos das áreas envolvidas no evento:
educação, cultura, meio ambiente, outras;
Definição do mapa local onde serão montadas as atividades lúdicas e culturais, denominadas Estações lúdicas;
Levantar os recursos disponíveis e necessários, além de suas fontes, para a realização
das etapas do evento na sua totalidade;
Avaliar os riscos existentes e tomar as medidas necessárias para minimizá-los, tais
como: providenciar a limpeza e segurança
do local, além de um possível plantão médico, quando possível.
2. CAPACITAÇÃO DOS AGENTES DO BRINCAR
PARA OS EVENTOS COMUNITÁRIOS
Esta etapa tem por objetivo: informar sobre o projeto, embasar o conhecimento sobre
o brincar, aprofundar a motivação dos participantes, envolvendo-os de forma mais efetiva e
responsável. A preparação se dá através de informações teóricas e práticas sobre:
•
•
•
Osdireitosdascriançasejovens;
Aspropostasdoprojeto;
Ametodologiaqueseráutilizadanodesenvolvimento das atividades a serem realizadas nas diferentes Estações.
to propriamente dito. Para tanto, deve-se definir
data, horário e local, além do seu formato com
a quantidade de estações lúdicas.
Sugestão para as Áreas de Atuação que podem orientar a montagem dessas estações:
•
•
•
•
Atividades Lúdicas e Esportivas
Oficinas de Construção e Reciclagem
Oficinas de Arte educação
Apresentações Culturais de grupos locais
Definir o espaço onde se realizarão as atividades – o evento acontece dentro de um espaço demarcado que pode ser chamado A Trilha
do Aventureiro. Ao longo dessa trilha estarão
dispostas as Estações Lúdicas. O participante
inicia a Trilha de posse de seu Passaporte, com
o objetivo de visitar e interagir em todas as Estações para finalizar o percurso e receber seu
Certificado de Aventureiro.
As Estações lúdicas desenvolverão atividades variadas que vão desde brincadeiras tradicionais, jogos cooperativos e de consciência ambiental, com atividades para pessoas de todas as
idades e com todo o tipo de capacidade.
Poderá haver um palco onde serão feitas apresentações de grupos performáticos, musicais e
culturais da comunidade, durante todo o evento.
A capacitação deverá ainda promover:
•
•
AintegraçãodosAgentesdoBrincarcom
a organização do projeto e seus parceiros;
Ainformaçãoespecializadaacercadatemática escolhida pelos parceiros.
3. MOBILIZAÇÃO DA COMUNIDADE
Para tal, sugere-se uma palestra ou oficina de
sensibilização da comunidade em parceria com
as lideranças locais. Além disso, é importante
promover a comunicação com a comunidade,
através de mídia local e distribuição de cartazes
em escolas, organizações da comunidade que
atuam com crianças e jovens e no comércio local.
4. O EVENTO
Nesta etapa, faz-se o planejamento do even-
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Dentro do espaço da Trilha teremos ainda
instalações educativas, abordando os aspectos
relacionados ao tema.
5. PÓS EVENTO
Esta etapa é muito importante, pois será a
oportunidade para realizar a avaliação do projeto, juntamente com a comunidade, com foco
nos desafios encontrados e nas oportunidades
oferecidas, visando a sua sustentabilidade.
Essa avaliação será feita com todos os parceiros e Agentes do Brincar participantes. Ela
poderá ser realizada mediante uma roda de
histórias, onde se compartilhe o que aconteceu
durante o evento, além de oficinas lúdicas. Pode
contar ainda com um avaliador externo e que
tenha participado do mesmo.
GUIA DO AGENTE DO BRINCAR
Espaços Internos do Brincar:
a Brinquedoteca e a Biblioteca
ARIANE ANDRADE E IVANI NACKED
N
o mundo contemporâneo, nos centros
urbanos, a rua se tornou o lugar dos carros, acarretando na perda deste espaço público
como lugar de brincar. Os lugares públicos ainda freqüentados são os parques e praças, onde
há alguns estímulos para a brincadeira, como
brinquedos fixos e a própria natureza. Entretanto, a maioria das crianças, atualmente,
brinca em casa ou em espaços fechados, como
escolas, clubes ou shoppings.
De acordo com o Estatuto da Criança e
do Adolescente (ECA), toda criança possui o
direito de brincar, independente de sua idade, raça ou condição socioeconômica, sendo
necessário que a população faça cumprir esse
direito e que ele seja respeitado, pois o brincar
é uma atividade essencial para a saúde física,
emocional e intelectual do ser humano. È neste contexto que o movimento de organização
das Brinquedotecas assume um papel de grande importância no Brasil, enquanto defende o
acesso à cultura e ao brincar, como um direito
não só da criança como de toda a família.
A brinquedoteca é um dos espaços dedicados à brincadeira livre como tantos outros,
porém, é um lugar com muitas especificidades, que podem variar de acordo com o ambiente em que está inserida: escolas, empresas, clubes e hospitais, por exemplo.
A organização de uma brinquedoteca deve
sempre priorizar a autonomia da criança e
favorecer o trabalho do brinquedista, assim
chamada a pessoa que faz a mediação nesse
espaço. Assim, encontrar um bom lugar para
instalar uma brinquedoteca requer atenção
para questões como: segurança do local, condições para expor brinquedos adequados aos
seus usuários; boas condições de iluminação e
ventilação; existência de banheiros próximos e,
se possível também de uma área externa.
A infância e as bibliotecas
O estimulo pela existência de espaços
aonde o livro e o brinquedo coexistem de
forma harmoniosa ajuda a ampliar a leitura
de mundo realizada pelas crianças. Essa associação entre livros, brinquedos e cenários,
obtida por meio da interação entre várias
linguagens - oral, escrita, musical e cênica,
permite que as crianças vivenciem a história
contida no livro brincando e, muitas vezes,
recriando-a de forma lúdica.
Bibliotecas adequadas às crianças, desde os
primeiros meses de vida, são importantes para
auxiliá-las a aprender a ouvir, interagir, pensar,
investigar, comunicar-se e explorar o mundo
ao seu redor a partir das vivências ocorridas
no âmbito da leitura e do lúdico. É fazendo do
livro também um brinquedo, que se torna possível desenvolver um comportamento leitor por
meio da associação do ler com o brincar, estimulando essas crianças a construir sua própria
cultura como cidadãos de direito.
Atores
Dividem tarefas e funções na brinquedoteca
e na biblioteca: Coordenadora; Brinquedotecária; Bibliotecária; Secretária; Brinquedista;
Agente de leitura; Encarregada da Limpeza;
Voluntário(s).
Desafios e oportunidades na
brinquedoteca/biblioteca
O espaço deve estimular a brincadeira. Assim, a variedade de brinquedos e livros oferecida será adequada às características de seus usuários, de acordo com faixa etária e condições
de desenvolvimento. Por isso é necessário planejar a organização e utilização dos espaços,
bem como a organização das atividades que a
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brinquedoteca/biblioteca proporcionará, além
de definir como se fará isso.
Uma estrutura básica para organização
das atividades pode ser a seguinte:
1. Livro de Registro do acervo – contendo o número de entrada, data, fabricante, local, código, procedência, preço, observações.
2. Lista do acervo por ordem alfabética
(contendo o número de registro).
o único lugar em que as crianças não entram para
brincar e nem entram sozinhas, pois é destinado
simplesmente para maior organização dos jogos.
Dicas de organização da brinquedoteca/
biblioteca:
•
•
•
•
3. Arquivo (livro ou pasta) com cópia das
regras, dos Jogos ou instruções.
4. Caderno de Recados (anotações de todos os telefonemas e contatos).
•
•
•
5. Caderno de Tarefas que precisam ser
realizadas.
6. Local para separar jogos incompletos
ou que precisam ser consertados.
•
7. Livro de registro de Visitas (sempre em
cima da mesa).
O espaço da brinquedoteca/biblioteca poderá ser arrumado em diferentes ambientes,
embora recomende-se que haja flexibilidade e
que as crianças possam organizá-los livremente
e em comum acordo, pois, cada vez mais, ele é
pensado como um espaço livre do brincar. Assim, podem ser oferecidos espaços como: Canto
da Leitura; Canto do Faz de Conta; Canto das
Brincadeiras com estantes baixas para que as
crianças possam pegar os brinquedos, jogos,
instrumentos musicais, entre outros; Canto dos
Jogos, com mesas e cadeiras; Oficina para atividades artísticas; Área Externa com brinquedos
que possam desafiar e desenvolver a criatividade e motricidade da criança.
ACERVO: local com estantes altas, com jogos,
livros e brinquedos que estão classificados e organizados. O acervo é
20
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•
•
Brinquedos, livros e jogos na altura da
criança;
Brinquedosdeencaixedevemterumespaço no chão para serem montados;
Osbrinquedoselivrosparacriançaspequenas devem ser grandes e coloridos.
Organizaroacervodeformaconvidativa, que estimule a brincadeira;
Manter um cuidado estético na decoração;
Manterumarmáriocommaterialdehigienização, manutenção e reposição;
Ahigienizaçãodosbrinquedosdeveser
diária. Depois de usados, os brinquedos
deverão ir para uma sala de higienização
apropriada, onde se fará a limpeza com
álcool em gel 70.
Noshospitais,osbrinquedosdeverãoser
higienizados, conforme procedimento da
equipe de Infectologia do Hospital. Este
procedimento deverá ser de suma importância, dele dependerá todo o futuro da
brinquedoteca e da alegria das crianças.
Éprecisoficaratentoàspossíveisperdas
ao final do período de trabalho - peças de
jogos, bolas e petecas, por exemplo, são
brinquedos que facilmente se perdem.
Sempre retirar os brinquedos quebrados, livros rasgados ou jogos com falta
de peças que impossibilitem a leitura ou
a brincadeira.
GUIA DO AGENTE DO BRINCAR
A brinquedoteca hospitalar
ELIANA IASI TARZIA
A
hospitalização traz consigo transtornos
em todas as fases da vida, sendo potencialmente traumática na infância, com prejuízos da saúde mental que permanecem mesmo
após a alta hospitalar. Quando uma criança
sofre uma internação ela é afastada de sua vida
cotidiana, do ambiente familiar e submetida
a um confronto com a dor e a limitação física. Diante desta nova situação, a criança pode
apresentar sentimentos como medo, sensação
de abandono, distanciamento de pessoas queridas, culpa e até mesmo sensação de punição,
o que acarreta mais sofrimento e dificuldade de
intervenção para a equipe. Tudo isso ocorre ao
mesmo tempo, mas com intensidades diferentes
em cada criança, pois é preciso levar em consideração a idade, situação psicoafetiva, rotinas
hospitalares, motivo e duração da internação.
Estas condições vão determinar uma maior ou
menor adesão durante o tratamento. Assim, o
atendimento à criança hospitalizada nos remete a várias questões, particularmente uma reflexão acerca do ambiente recreativo-educacional
oferecido às crianças pela organização da instituição hospitalar. No Brasil, em 2005, foi criada uma lei ( nº 11.104/2005), que determina que
todos os hospitais que ofereçam atendimento
pediátrico contarão, obrigatoriamente, com
uma brinquedoteca nas suas dependências.
xiliar na saúde psicológica da criança hospitalizada. Surge como uma possibilidade de modificar o cotidiano da internação, diminuindo
o estresse provocado pela situação e melhora
no comportamento das crianças neste período. Quando chamadas para a brinquedoteca,
vêm com muita alegria, mesmo estando ainda
debilitadas. Há uma intensa interação entre as
crianças e o profissional responsável, o que fortalece o vínculo entre elas.
Experiência de Sucesso
De acordo com relatório de avaliação independente dos cursos do Agente do Brincar da
IPA Brasil, entre os conhecimentos transmitidos no curso que mais auxiliam no lidar com as
crianças, foram destacados pelos participantes,
entre outros: “Incluir as crianças em todas as
etapas, desde a construção do local até a brincadeira em si.”; “A idéia do livre brincar, valorizando os espaços naturais e objetos soltos”;
“Passei a escutar mais as crianças e respeitar as
vontades e opiniões delas na hora de brincar.”
O movimento de humanização
hospitalar e o brincar
A humanização hospitalar busca melhorar
a qualidade do atendimento dos pacientes com
base no conceito de saúde global. Pensando
nesses aspectos da internação infantil, é importante que todas as pessoas que tenham contato
com a criança saibam que não se deve tratar
somente a sua doença, mas sim, vê-la como
um todo, com suas necessidades específicas, tal
como o brincar.
O ato de brincar proporciona recursos para
elaborações afetivo-cognitivas que podem au-
PARA SABER MAIS
CUNHA, Nylse Helena S. Brinquedoteca: um
mergulho no brincar. Ed. Aquariana, 2007.
VIEGAS, Dráuzio. Brinquedoteca hospitalar.
Isto é humanização. Ed. WAK, 2007.
OLIVEIRA, Vera Barros, PEREZ-RAMOS,
Aydil de Queiroz. Brincar é Saúde. O lúdico como estratégia preventiva. Rio de
Janeiro: Ed. WAK, 2010.
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GUIA DO AGENTE DO BRINCAR
As Múltiplas Linguagens da Criança
RENATA F. MARTINS PONZONI, ARIANE ANDRADE E FABIO LISBOA
Jogos teatrais
ARIANE ANDRADE
CENÁRIO
Na capacitação dos Agentes do Brincar o
módulo de teatro propicia uma sensibilização
para o aprendizado lúdico e para a espontaneidade, ou seja, para a liberdade de criar, de
descobrir, para o autoconhecimento. Ao trabalhar essas questões, os Agentes do Brincar
desenvolvem a disponibilidade necessária para
participar das propostas das crianças ou para
criar propostas lúdicas. Afinal, o teatro é uma
grande brincadeira, arte coletiva que tem como
instrumento principal o ser humano.
CONCEITO DE JOGO
O conceito de jogo utilizado como referência, seja ele tradicional ou teatral, é aque-
le apresentado por Johan Huizinga, em sua
obra Homo Ludens (1938): o jogo tem função
social, é um momento de liberdade, que existe dentro daquele tempo e espaço, “jogado
até o fim.”
O módulo propõe os JOGOS TEATRAIS,
como desenvolvidos por Viola Spolin (1906
– 1994), com seus princípios pedagógicos e
regras. Esses jogos são baseados em um problema a ser solucionado pelos participantes-atores e devem conter uma estrutura dramática: “onde”, “quem” e “o que”. Essa proposta
valoriza fortemente a improvisação e a tomada
de decisão frente ao problema colocado e, assim, favorece que o participante ganhe autonomia no pensamento e na ação.
Desafios e oportunidades
dos jogos teatrais
•
Todojogoteatralpossuiumfoco,oque
é essencial para permitir o envolvimento
do grupo em uma causa comum. Ocupados em um ponto de concentração, os jogadores não hesitam e perdem o medo.
•
Odesenrolardojogoteatraléauxiliado
pelas orientações do Agente do Brincar
durante o jogo, de acordo com as necessidades de cada jogador.
•
Explicação e Experiência: cada jogo,
com seu problema, deve ser apresentado
brevemente, pois é jogando que se aprende. A explicação não tem o mesmo efeito
de aprendizado que a experiência, já que
é através da experiência que o indivíduo
se envolve com o ambiente ou com os outros indivíduos.
•
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Processo e Produto nos Jogos Teatrais:
o essencial não é resolver o problema que
o jogo propõe, mas de que maneira cada
um dos jogadores tenta solucionar o pro-
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blema. Fazer teatro é, antes de qualquer
coisa, jogar.
•
A oficina de criatividade
RENATA F. MARTINS PONZONI
As Brincadeiras Tradicionais: são utili-
CENÁRIO
zadas como aquecimento para os jogos,
mas também são ferramenta fundamental para definir e entender as relações entre os participantes.
N
DICAS: na preparação para os jogos teatrais, as
brincadeiras são valiosas porque geram dois elementos importantes: a tensão e a diversão. A tensão exige prontidão, condição necessária para o
jogo teatral e a diversão desperta a disponibilidade de cada um para ampliar o repertório (corporal, gestual, rítmico) e, principalmente, para
exercitar suas dificuldades de modo lúdico/ sem
maiores inibições. As regras dessas brincadeiras
e as cantigas de fácil aprendizado que as acompanham favorecem a disponibilidade do grupo e
facilitam o desenvolvimento das habilidades expressivas.
Desenvolvimento de Habilidades
Sociais e Expressivas
A função integradora dos jogos teatrais:
através das brincadeiras tradicionais e dos jogos teatrais trabalha-se em grupo. Para fazer
parte de um grupo, é necessário reconhecer a
relação de interdependência dos componentes,
uma vez que cada um cumpre uma função dentro do todo, e que o todo só funciona através da
cooperação entre os componentes.
A função expressiva e instrumental dos
jogos teatrais: além de permitirem a experimentação de distintas formas de se expressar,
estes favorecem a ampliação do repertório de
brincadeiras e jogos que podem ser repetidos
em outros momentos.
Uma experiência de sucesso
Depoimento de participante do curso
Agentes do Brincar, registrado em relatório de
avaliação externa: “A principal e mais difícil
mudança que deve ocorrer é em relação a mudança de atitude do adulto que deve deixar de
ser um orientador, a pessoa que sabe tudo para
dar espaço ao protagonismo da criança.”
a capacitação dos Agentes do Brincar são
apresentados conceitos gerais sobre arte
e criatividade e sua aplicação no trabalho a ser
desenvolvido com as crianças, no que diz respeito ao despertar do olhar criativo para realização
de atividades artísticas. Enfatiza-se a idéia de
que a arte é a primeira forma de expressão pela
qual a criança transmite ao outro o seu olhar
e compreensão acerca do mundo em que vive,
estabelecendo por meio da mesma um canal de
comunicação, antes mesmo da fala e da escrita.
Ao utilizar materiais com diversas texturas,
cores e formas como meios de expressar sua
criatividade, as crianças desenvolvem o seu senso estético e a noção de belo. Essas noções contribuirão para que elas ampliem, além de suas
habilidades manuais, a capacidade de cuidar de
si próprias e o respeito pelo outro, notadamente com relação à higiene e organização.
As crianças têm uma sensibilidade mais livre e aberta que os adultos, assim, elas merecem uma atenção especial no que diz respeito
ao processo criativo. Por essa razão, na parte
prática da aula é oferecida aos alunos a oportunidade deles próprios expressarem a sua criatividade. Para tanto são trazidos elementos que
estimulam a reflexão sobre questões que servirão de embasamento para a expressão artística de cada um, como um texto, uma música,
o próprio entorno e oferecem-se materiais que
viabilizam a construção de objetos, a expressão
de idéias, sentimentos, enfim, qualquer ação
que traduza a experiência criativa do aluno.
Desafios e oportunidades
da oficina de criatividade
DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES
SOCIAIS E EXPRESSIVAS
Os participantes descobrem o seu próprio
processo criativo e, com isso, podem, a qualquer tempo, favorecer esse mesmo processo das
crianças, em atividades artísticas. Nas ativida-
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des com artes, diversas técnicas podem ser utilizadas, tais como: pintura, desenho, gravura,
escultura, vídeo etc.
Na oficina de criatividade, propõe-se o desafio da construção de objetos tridimensionais,
utilizando-se somente os materiais disponibilizados, como jornais, elásticos, tesoura e cola.
A idéia de restringir a técnica e apresentar materiais não convencionais tem por finalidade estimular os alunos a exercitarem sua criatividade de forma mais instigante e desafiadora.
Com essa atividade, pretende-se contribuir
para fortalecer as habilidades de planejamento,
organização, ordem, limpeza, atenção e observação, bem como atitudes de respeito à produção e opinião do outro. Ao final, as produções
são expostas e colocadas em discussão, momento em que o grupo tem a oportunidade de continuar expressando sua criatividade ao abordar
novas questões e trazer outras propostas.
•
tórias fazem a criança sentir que faz
parte de algo maior: de um ou mais povos e de uma família, depois da escola,
e por fim, de uma comunidade, onde todos têm uma história de vida e inserem-se numa cultura.
•
Descobrir outras culturas: quanto
mais histórias se ouvem, maior o respeito pelo outro. Mesmo que este outro
seja de outro gênero, cultura ou religião. Quem ouve histórias consegue se
identificar com os diferentes pontos de
vista dos personagens e logo também
aprende a fazer isso no cotidiano, respeitando e entendendo melhor posições
diferentes da sua.
•
Ensinar a ouvir e a dialogar: enquan-
to o conto é contado o ouvinte tem a
chance de representar estes diálogos em
sua mente e até mesmo interromper a
narrativa para perguntar, para compartilhar algum sentimento ou experiência. Aos poucos, o ouvinte percebe a
importância de, antes de falar, escutar.
Também com a prática, o contador de
histórias vai abrindo brechas para a
criança expressar, extravasar e elaborar
com a fala os sentimentos e pensamentos que a escuta lhe proporciona.
Uma experiência de sucesso
De acordo com depoimentos de participantes dos cursos do Agente do Brincar da
IPA Brasil, essa formação enfatizou atitudes
importantes para o estímulo à criatividade da
criança, como: “Respeitar o desejo, o momento da criança.”; “Conceitos que ficaram fortes:
permitir, respeitar e deixar sonhar.”
Contar histórias: um diálogo
entre corações
FABIO LISBOA
CENÁRIO
Os Porquês da importância de se Contar
Histórias:
•
Toda criança tem direito a participar
“da vida cultural, artística, recreativa e
de lazer.” (Artigo 31 da Convenção da
ONU). Sem precisar de recursos além
de um par de ouvidos e uma boca, o ancestral ato de contar histórias abrange
em si esses aspectos culturais, artísticos, recreativos, de lazer (e descanso) a
que as crianças têm direito.
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Inserir a criança em sua cultura: his-
•
Construir auto estima e identidade:
as histórias proporcionam ao ouvinte se
identificar com os personagens, ou, ao
menos, com características deles. Todos
nós temos o nosso lado “lobo-mau”
e, através das histórias, conseguimos
enfrentá-lo e vencê-lo. Isso vai se refletir no amadurecimento ao enfrentar
problemas reais. Além disso, a criança
forma a idéia de si própria a partir das
reações dos outros com relação a ela.
A criança percebe a importância que
tem, de acordo com os momentos que
os pais dedicam a ela, como ao brincar
e contar histórias. É claro que, na vida
moderna, muitos pais enfrentam a falta
do tempo para estar com os filhos. Mas
é preciso que, mesmo que seja pequeno,
GUIA DO AGENTE DO BRINCAR
esse tempo seja de qualidade. Ao contar
uma história, permita que a criança entre (e entre junto com ela) no tempo da
ficção, deixando de fora os problemas,
telefones, TV, Internet ou qualquer
outro tipo de interrupção Um retorno positivo obviamente vai favorecer a
elevação da auto estima infantil. Daí a
importância de sorrir, ter paciência, ser
verdadeiro e amoroso com ela.
•
Ensinar valores humanos: crianças
estarão de coração aberto para ouvir,
entender e depois discutir conceitos e
valores como o Amor, Respeito, Meio
Ambiente, Coragem, Lealdade, Justiça,
Confiança, Cortesia, Disciplina, Paciência, Tolerância, Cidadania, Alegria e
muitos outros.
•
As histórias e os novos paradigmas
para o mundo: o ato de contar his-
tórias pode ser um dos pilares para a
construção de uma cultura de paz. Ao
contar histórias, não apenas “falamos”
destes valores, mas os praticamos, em
especial, no que diz respeito ao princípio “Ouvir para compreender” (Manifesto 2000-UNESCO). Ao dar voz ao
ouvinte e tentar entender o seu ponto
de vista de entendimento, também demonstramos na prática a importância
de “ouvir para compreender”. E devemos tentar compreender também as
crianças menores e todos aqueles que
não conseguem se manifestar oralmente, verbalizando para eles seus sentimentos e tentando interpretar suas expressões faciais e corporais.
Desafios e oportunidades
na contação de histórias
Se como humanos, temos o dom da comunicação, todos nós já somos contadores de
histórias. No entanto, podemos nos aprimorar
nesta arte, fazendo com que nossos ouvintes
sintam-se engajados e empolgados durante as
nossas narrativas.
Encontre as FERRAMENTAS narrativas que
se encaixam melhor às suas habilidades pessoais: podem ser as potencialidades da voz, seu
corpo e expressões faciais, ou até mesmo
efeitos especiais (música, imagens, roupas,
objetos, sons inusitados, aromas, texturas, novas tecnologias...). Mas o que enlaça o coração
e atenção do ouvinte mesmo são as emoções e
significações do conto.
Escolha as histórias que vai contar entre
as que lhe tocam profundamente. A história
deve ser contada de coração para coração.
Olhos nos olhos - a busca por ouvintes atentos
nos faz ir atrás da verdade de cada pessoa, de
cada personagem, de cada sentimento, de cada
conhecimento.
•
çar com um ritual (usando música, por
exemplo) que fará o ouvinte sair do mundo cotidiano, participar e responder aos
desafios de uma aventura extraordinária.
•
Empregar recursos narrativos para
enriquecer a contação: contar his-
tórias não depende só de livros. Chocalhos, brinquedos e objetos comuns
como latas e tampinhas, despertam a
imaginação infantil e adulta! No decorrer do conto, é possível dar vida aos objetos, criando vozes e movimento para
eles, transformando-os em personagens!
ATORES
Contar histórias não precisa ser encarado
como uma arte, mas como atitude cotidiana
que pode ser adotada não apenas por profissionais da palavra (como contadores de histórias,
jornalistas e escritores. Contam histórias: bebês, crianças, pais, avós, cuidadores, professores, Agentes do Brincar, voluntários e qualquer
pessoa que tenha a paciência de se fazer ouvir
– e ouvir – ao compartilhar uma história.
Marcar o espaço/tempo da narrativa: o contador de histórias pode come-
•
Fantoches e dedoches, feitos de meias
ou retalhos também animarão a narrativa;
•
Fotos, recortes de jornais e revista ou
desenhos de seus filhos ou alunos (e
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seus, por que não?!) podem ser reunidos para criar uma história em formato
de livro!
•
Ilustrações de revista, jornal, uma
foto de um álbum podem despertar a
imaginação da criança (e do narrador),
desencadeando um rico enredo.
•
um ponto!” Lembre-se de uma história
pessoal vivida em sua infância com a
qual você aprendeu algo para o resto da
vida. Transforme-a num conto de ensinamento maravilhoso.
Compartilhe suas histórias pessoais! Outro recurso ainda mais rápido,
fácil e gratuito. Lembre-se. Ou invente. Incremente! “Cada conto aumenta
26
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•
Não custa repetir: repita as histórias
preferidas dos pequenos. Eles se sentem seguros e até precisam da repetição!
Saber escutar e saber ouvir. Ao narrar, se
você quer ser ouvido, por isso demonstre que
você também sabe ouvir.
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Ao falar de paz, amor, proteção à natureza,
igualdade, solidariedade, liberdade, responsabilidade, faça valer as suas palavras e haja de
acordo com o seu discurso. Assim, as suas histórias mais felizes estarão cada vez mais perto
de serem ou se tornarem reais...
ONDE BUSCAR BOAS HISTÓRIAS: nas coletâneas de
Câmara Cascudo, Rosane Pamplona, Ilan Brenman,
Fernanda Lopes de Almeida, Monteiro Lobato, Ricardo Azevedo, Ruth Rocha, Marina Colasanti, Ana Maria Machado, Lygia Bojunga, Irmãos Grimm, Hans
Christian Andersen... E também em: BUARQUE, Chico. Chapeuzinho amarelo. Ilustrações: Ziraldo, Ed.
José Olympio; KANTON, Kátia. Histórias de Valor.
Ed. WMF Martins Fontes; LISBOA, Fabio. O mistério
amarelo da noite. São Paulo: WMF Martins Fontes,
2009; WERÁ, Kaká Jecupé. As Fabulosas Fábulas de
Iauaretê. Ed Peirópolis.
Desafio
“A Agente do Brincar Suzana começa a
ler histórias com lobos e leões e nunca consegue terminar porque seus ouvintes de 4 anos
começam a latir uivar ou rugir. Ela tenta gritar mais alto, mas sua voz sempre perde para
os latidos, uivos e rugidos de 15 crianças. Suzana está pensando em desistir de ler histórias com animais”.
Depois de pensar o que você faria numa situação dessas, leia as sugestões abaixo e decida
se indicaria um ou mais itens para resolver o
problema de Suzana.
1. Canalizar a energia das crianças para
que participem do desenrolar da história e até incrementem o seu enredo.
2. Dar um tempo para as crianças agirem
como os personagens lobos e leões.
3. Sempre que o entusiasmo, a bagunça
ou a dispersão ganharem, a professora
pode parar um pouco a história.
4. Verificar se os ouvintes estão mesmo
acompanhando a trama da narrativa e
incentivar a interação com vários tipos
de perguntas como:
•
•
•
•
Perguntassobreosporquêsdahistória;
Perguntas correlacionando os porquês
dos personagens e das crianças;
Perguntassobresentimentospessoaisque
são desencadeados;
Perguntasparaestimularacapacidadede
interpretar, prever os acontecimentos e
entender que as ações presentes têm conseqüências futuras.
PARA SABER MAIS
MUNARI, Bruno. Das coisas nascem coisas.
Tradução Jose Manuel Vasconcelos. São
Paulo: Martins Fontes, 1998.
SALLES, Cecília Almeida. Gesto Inacabado:
processo de criação artística. São Paulo:
FAPESP: Annablume, 2009.
VALÉRY, Paul. Variedades. São Paulo: Iluminuras, 1991.
BOAL, Augusto. Jogos para atores e não-atores. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.
2004.
KOUDELA, Ingrid D. Jogos teatrais. São Paulo: Perspectiva, 1994.
SPOLIN, Viola. Improvisação para o teatro.
São Paulo: Perspectiva, 2005.
____________. Jogos teatrais na sala de aula.
São Paulo: Perspectiva, 2007.
____________. Jogos teatrais o fichário de
Viola Spolin. São Paulo: Perspectiva, 2008.
DISKIN, Lia. Paz, como se faz?: Semeando
cultura de paz nas escolas / Lia Diskin e
Laura Gorreio Roizman – 3ª Ed. – Brasília: UNESCO, Associação Palas Athena,
2007;
MARTINELLI, Marilu. Aulas de Transformação: O programa de educação em valores humanos. São Paulo: Ed. Peirópolis.
MACHADO, Regina. Acordais: Fundamentos teórico-poéticos da arte de contar histórias - São Paulo: DCL;
MATOS, Gislayne Avelar e SORSY, Inno. O
ofício do contador de histórias. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
Webografia:
www.contarhistorias.com.br,
www. rodadehistorias.com.br, www.aletria.com.br
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IPA BRASIL
A IPA Brasil, fundada em 1997, é filiada à IPA internacional e tem
a mesma missão: promover, proteger e preservar os direitos das
crianças contidos no Artigo 31. Desenvolve ações no sentido de
comunicar a todos os públicos, a importância desse direito para a
vida das crianças brasileiras e desenvolve cursos de capacitação
para Agentes do Brincar, contribuindo para que, adultos de todas
as áreas, que trabalham com e para crianças, possam oferecer a
elas oportunidades lúdicas qualificadas, sem distinção alguma.
Desde 2010, a IPA Brasil é Ponto de Cultura do Estado de São
Paulo, em parceria com o Ministério da Cultura – Programa Cultura
Viva e a Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo. Em 2013,
iniciou as atividades do Centro Ludens para capacitar Agentes do
Brincar de forma continuada. O projeto tem o apoio do Comitê de
trabalhadores da Volkswagen mundial e é parte do programa “ A
Chance to Play”, sob a coordenação da ONG internacional Terre Des
Hommes. Conta ainda com a parceria da Secretaria de Estado da
Justiça e Defesa da Cidadania do Estado de São Paulo.
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Site: www.ipadireitodebrincar.org.br E-mail: [email protected] Tel.: (11) 5021-3160 / (11) 3255-4563
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