1 dongguan: uma nova fase de crescimento

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1 dongguan: uma nova fase de crescimento
DONGGUAN: UMA NOVA FASE DE CRESCIMENTO
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DONGGUAN: UMA NOVA FASE DE CRESCIMENTO
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DELTA
DO
RIO DAS PÉROLAS
Dongguan: Uma nova fase de crescimento
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DONGGUAN: UMA NOVA FASE DE CRESCIMENTO
Administração de Projecto
Mércia Maria Gonçalves
Coordenação
Gonçalo César de Sá
Louise do Rosário
Pesquisa e Textos
Thomas Chan
Louise do Rosário
Mark O'Neill
DONGGUAN: UMA NOVA FASE DE CRESCIMENTO
DELTA
DO
RIO DAS PÉROLAS
Tradução
Fernando Correia
Edição e Revisão
Maria João Janeiro
Dongguan: Uma nova fase de crescimento
Thomas Chan e Louise do Rosário
Fotografia
Eric Tam
Desenho gráfico
Soluções Criativas, Lda.
Impressão
Welfare Printing Company
Produção
Associação de Macau de Investigação do Delta do Rio das Pérolas
Avenida Infante D. Henrique, The Macau Square, Nos 43 - 53A, 10.o andar I, Macau
Publicações
MacauLink
[email protected]
Apoios
Dezembro de 2013
ISBN 978-99965-955-0-9
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DONGGUAN: UMA NOVA FASE DE CRESCIMENTO
DONGGUAN: UMA NOVA FASE DE CRESCIMENTO
DONGGUAN:
UMA NOVA FASE DE CRESCIMENTO
Uma visão global
Uma aldeia agrícola transforma-se numa das fábricas do mundo
A cidade de Dongguan é o produto notável das políticas reformistas e de abertura ao exterior dos
últimos 30 anos. A actual cidade era anteriormente um conjunto de pequenos agregados populacionais
dispersos por uma área de 2500 quilómetros quadrados do Delta do Rio das Pérolas, cujos terrenos
estavam cobertos por pomares de lichias, fruto apreciado pelas senhoras da corte imperial.
Desde então transformou-se numa das fábricas do mundo tendo, em 2012, alcançado um Produto
Interno Bruto de 501 mil milhões de yuans (81,6 mil milhões de dólares) e exportações de 85,1 mil
milhões de dólares.
A cidade conseguiu atingir este nível ao ter-se transformado numa zona industrial de mão-de-obra
intensiva para as empresas de Taiwan, Hong Kong e de outros locais. As suas principais indústrias são
electrónica e tecnologias de informação, máquinas eléctricas, maquinaria diversa, têxteis e vestuário,
mobiliário, brinquedos, papel, bebidas e produtos químicos.
Muitos dos artigos que se podem comprar no Wal-Mart ou no Carrefour como computadores,
brinquedos, calçado e electrónica de consumo são produzidos em Dongguan, que é uma das cinco
cidades da China que mais exportam, depois de Shenzhen, Xangai e Suzhou.
A cidade contém mais de 10 mil empresas constituídas com financiamento do exterior, a maior parte
das quais com a produção orientada para a exportação.
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DONGGUAN: UMA NOVA FASE DE CRESCIMENTO
No primeiro semestre de 2013, Dongguan manteve um crescimento acelerado, com o respectivo PIB a
crescer 9,2% para 243,4 mil milhões de yuans, superando com 0,7 pontos percentuais o PIB médio das
cidades da província de Guangdong. Neste período de seis meses, as exportações cresceram 7% para
41,2 mil milhões de dólares.
Comparativamente às outras cidades da província de Guangdong, Dongguan posicionou-se em quarto
lugar em termos de PIB no primeiro semestre, sendo superada apenas por Cantão, com 705,2 mil
milhões de yuan, Shenzhen com 601,4 mil milhões e Foshan com 325,9 mil milhões de yuans.
Dongguan fabrica 30% da produção mundial de brinquedos e mais de 20% da produção mundial de
cabeças magnéticas para discos rígidos e de digitalizadoras. A cidade é ainda o maior produtor mundial
de peças e periféricos para computadores pessoais, albergando mais de 2800 empresas de tecnologias
de informação.
Dongguan é um dos maiores produtores mundiais de telefones móveis bem como de mobiliário e de
lanifícios.
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Próximo de Shenzhen e de Hong Kong
A ascensão de Dongguan foi possível dado que se localiza junto a Shenzhen e à principal ligação
ferroviária e rodoviária entre Hong Kong e Cantão, o corredor que se tornou num dos mais importantes
centros industriais do mundo.
A cidade dista 47 milhas náuticas de Hong Kong e 48 milhas náuticas de Macau e dispõe de um sistema
de transportes bem estruturado, com vias rápidas para Shenzhen e Cantão e ligações por caminho-deferro a Hong Kong, Shenzhen, Shantou e Pequim.
Embora não disponha de um aeroporto próprio, a cidade fica a menos de três horas por estrada de
cinco aeroportos – Cantão, Shenzhen, Hong Kong, Foshan e Zhuhai.
Os investidores estrangeiros têm sido atraídos por factores como baixo custo dos terrenos e da
mão-de-obra e baixos impostos e uma atitude de laissez-faire, laissez-passer das autoridades
municipais.
Numa fase inicial, os investidores tinham de importar os materiais, as peças e os componentes que
eram montados para exportação. Mas, gradualmente, as fábricas foram atraindo um número crescente
de fornecedores, tanto domésticos como estrangeiros, conseguindo comprar localmente cada vez mais
do que necessitavam para a produção.
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A cidade dispõe de um sistema de produção industrial avançado que produz mais de 60 mil tipos
de produtos de 30 categorias industriais. Praticamente todos os 32 subúrbios que a constituem
especializaram-se num produto ou numa indústria. O subúrbio de Humen começou a fabricar vestuário
em 1993, sendo actualmente famosa pela produção de calças de ganga para senhora ou vestuário de
moda. O subúrbio de Dalingshan é o principal produtor de mobiliário de qualidade da China, albergando
mais de 500 fábricas do sector. Houjie, por seu turno, é um dos maiores produtores de calçado da
China, tendo construído o Centro Mundial do Calçado no Parque Industrial Ecológico, um recinto para
a comercialização de materiais para a produção de calçado, exposições e feiras comerciais com um
centro de pesquisa e desenvolvimento de novos materiais e técnicas, a um custo de 1,6 mil milhões de
yuans.
Dongguan tem uma área de 2465 quilómetros quadrados com 4 bairros e 32 subúrbios. No final de
2012, a sua população era de 8,29 milhões de pessoas quando, em 1990, era apenas de 1,75 milhões. A
população da cidade atingiu um pico de 12 milhões em 2008 tendo, desde então, estado a contrair-se.
Em 2012, o PIB da cidade atingiu 501 mil milhões de yuans, um aumento de 6,1% relativamente a
2010. O investimento em activos fixos foi de 118 mil milhões de yuans, mais 9,4%, as vendas a retalho
cresceram 9,3% para 135,5 mil milhões de yuans e a receita fiscal atingiu 84,6 mil milhões de yuans,
mais 0,8%. O comércio externo cifrou-se em 144,4 mil milhões de dólares, com exportações de 85 mil
milhões de dólares, mais 8,6%. O investimento directo estrangeiro contratado foi de 3,81 mil milhões
de dólares, mais 8,6% e o investimento directo estrangeiro realizado atingiu 3,37 mil milhões de dólares,
com um acréscimo de 10,5%.
Estas unidades industriais formaram agrupamentos e atingiram um dinamismo e uma dimensão tais
que mesmo os italianos foram a Dongguan tentar aprender o que podiam fazer para melhorar os seus
próprios agrupamentos.
A cidade atraiu grande quantidade de capital, técnicas avançadas de fabrico, equipamento de última
geração e design industrial de elevada qualidade.
Os serviços de apoio à produção industrial cresceram em paralelo, tendo a cidade construído um porto
com terminal de contentores para facilitar as exportações.
Dongguan veio a ser conhecido como um dos “quatro dragões” da província de Guangdong, juntamente
com Zhongshan, Shunde e Nanhai. Por seu turno, a província tornou-se na “fábrica do mundo.”
O rendimento médio dos residentes urbanos de Dongguan atingiu 42 944 yuans em 2012, um acréscimo
de 8,7% relativamente a 2011 e o dos residentes rurais aumentou 9,2% para 24 944 yuans.
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A cidade de Dongguan, que foi separada do município de Nanhai na cidade de Cantão, tinha jurisdição
sobre toda a região do delta a sul de Cantão. Em 757, Dongguan foi oficialmente designado um distrito
e a sede do governo distrital foi transferida de Nantou, na Shenzhen dos dias de hoje, ao longo da
margem oriental do estuário do rio das Pérolas, para a cidade de Dongguan, a sudeste de Cantão e mais
para o interior.
Em 1573, durante a Dinastia Ming, a zona sudeste de Dongguan foi separada para dar origem a um
novo distrito, Xinan. Esta alteração reflectia, provavelmente, o crescimento da população e o aumento
das receitas fiscais desde a deslocação maciça de população do norte do país para Cantão e para a
região do Delta do Rio das Pérolas e o comércio marítimo crescente ao longo da costa sudeste da China
desde a Dinastia Song do Sul (1127-1279).
A era das dinastias Song do Sul e Ming representou o início de um período de transformação da
economia de Dongguan, desde o sal a produtos agrícolas, bem como outros bens como o famoso
incenso local, muito procurado pelos mercadores ricos e pela casa imperial em Jiangsu e Zhejiang, e
comércio marítimo de produtos de uma grande extensão de território que chegava a Fujian e a Jiangxi
capitalizando no monopólio comercial oficial de Cantão.
Por exemplo, o mercado de incenso de Liubu era conhecido em termos nacionais como um dos quatro
grandes mercados de Guangdong, juntamente com o mercado de flores em Cantão, o mercado de
pérolas de Lianzhou, na actual Guangzi, e o mercado de ervas medicinais de Luofu, em Huizhou, durante
as dinastias Ming e Qing.
Na Dinastia Qing, quando o governo imperial definiu Cantão como o porto para o comércio com o
estrangeiro, Humen era um dos portos na região que os navios estrangeiros estavam autorizados a
demandar.
Enquadramento histórico
À semelhança de outras cidades e vilas do Delta do Rio das Pérolas, Dongguan começou há mais de 2000
anos como a expansão natural de Cantão. Nos dois milénios desde então serviu fundamentalmente
como o centro de produção de sal para Cantão e para a região interior da China. A cidade beneficiou
muito pouco do comércio marítimo de Cantão durante a Dinastia Tang, muito provavelmente porque
o seu comércio concentrou-se principalmente com a capital provincial e com Foshan, nos arredores,
que era uma cidade com uma indústria em expansão, ao passo que Dongguan tinha menos população
e menos actividades económicas.
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Antes do século XX, os tributários do Dong Jiang – o rio Oriental e o rio das Pérolas – atravessavam o
território e ligavam-se a outros sistemas fluviais fora da região do Delta do Rio das Pérolas. Estas ligações
proporcionavam um transporte fluvial conveniente e de baixo custo para Dongguan e Cantão poderem
importar mercadorias do estrangeiro e exportar os produtos locais para os mercados mundiais.
Na Dinastia Qing, navios saídos de Dongguan podiam ir de Huizhou a Chaozhou através do Han Jiang
(rio Han) e mais além, a Fujian, através do Ting Jiang. O mercado da cidade de Shilong era conhecido
como um dos quatro grandes mercados de Guangdong, juntamente com Cantão, Foshan e Chencun
de Shunde.
A importância de Dongguan ficava a dever-se às suas ligações com a região oriental de Guangdong e
com Fujian.
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O crescimento do comércio externo
O grande crescimento do comércio externo centrado em Cantão desde a Dinastia Ming contribuiu para
a crescente urbanização e desenvolvimento económico de Dongguan; em Guan ficava o centro urbano
e administrativo e Lianbu, Humen e Shilong eram os principais centros comerciais.
O aparecimento de Macau como uma ligação portuária ao exterior de Cantão não reduziu a importância
de Dongguan enquanto centro de intermediação mercantil da região. Existia uma clara divisão de
trabalho entre Macau e Dongguan; Humen concorria e complementava Macau enquanto porto
comercial para os navios estrangeiros.
Mesmo a secessão de Hong Kong e a sua emergência enquanto porto comercial para os navios
estrangeiros, que eclipsou a importância de Macau, não afectou Dongguan. Pelo contrário, a concorrência
entre Cantão – com o Departamento de Alfândegas de Cantão a controlar o comércio externo – e Hong
Kong – o porto franco que tentou atrair o comércio externo de Cantão com o seu regime comercial
– deu a Dongguan a possibilidade de retirar vantagens dessa concorrência e estimular o fomento do
comércio, servindo as actividades comerciais com o exterior, legais e ilegais, das duas cidades.
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No início dos anos 50, a população local era de apenas 700 mil pessoas, invertendo a tendência histórica,
quando chegou a ter mais população e uma economia mais vibrante do que Hong Kong. A população de
Dongguan cresceu nos anos 50 mas permaneceu inalterada durante mais de uma década até meados
dos anos 80, muito provavelmente devido à emigração maciça para Hong Kong.
Comparado com o súbito influxo de mais de 2 milhões de refugiados em Hong Kong, no início dos anos
50, o desenvolvimento de Cantão e Dongguan foram diminutos, sem brilho. A emigração de mão-deobra de Dongguan para Hong Kong ajudou a acelerar a industrialização do território e a fornecer à
economia pujante da cidade um certo número de pequenos empresários.
Nos finais da década de 70, o governo da China decidiu reaver Hong Kong aos britânicos; adoptou uma
política de reformas económicas e de abertura ao exterior, criando uma Zona Económica Especial em
Shenzhen e expandindo essa política a toda a região do Delta do Rio das Pérolas, incluindo Dongguan.
Esta decisão alterou o rumo do desenvolvimento e o futuro da região.
No início do século XX, Dongguan beneficiou do crescimento económico de Cantão, em Guangdong, e
de Hong Kong. Cantão era a cidade do governo revolucionário que, nos finais dos anos 20, derrotou os
senhores da guerra no norte e unificou o país pela primeira vez desde o colapso do governo imperial e o
estabelecimento da República da China. Hong Kong era, juntamente com Xangai, um membro destacado
do tratado do sistema de portos organizado pelas potências estrangeiras na China; era, igualmente, um
dos principais centros financeiros mundiais, financiando os conflitos internos e a modernização da
economia chinesa.
A invasão japonesa e a subsequente guerra civil vieram, contudo, devastar a região do Delta do Rio das
Pérolas e a província de Guangdong, tendo Dongguan perdido o seu papel de intermediário comercial.
A população decresceu na região e em Dongguan. Após 1949, Hong Kong foi fechada à região do Delta
do Rio das Pérolas e a Dongguan; a subsequente rápida industrialização de Hong Kong atraiu uma
imigração maciça, na sua maior parte ilegal, de Dongguan e das regiões vizinhas. Até ao início dos anos
50, Cantão estava mais desenvolvida do que Hong Kong e Dongguan beneficiava de uma economia
agrícola e comercial próspera.
Nos anos 50, a industrialização abrandou na região do Delta do Rio das Pérolas, tendo Dongguan perdido
o seu papel de intermediário comercial e regressado a uma economia rural baseada na produção de
lichias e de arroz que tinha sido atribuída pelos responsáveis pelo planeamento centralizado. Pouco foi
investido no distrito.
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DONGGUAN: UMA NOVA FASE DE CRESCIMENTO
A aplicação da política de zonas económicas especiais abriu uma janela para Hong Kong a toda a região
do Delta do Rio das Pérolas e muito em particular Dongguan, que tinha mais emigrantes em Hong Kong
e estava mais próximo desta cidade antes do aparecimento de Shenzhen como uma nova cidade de
emigrantes.
Os emigrantes de Dongguan em Hong Kong foram os pioneiros no aproveitamento da política de
liberalização decidida pelo governo chinês de atrair investimento directo estrangeiro e encomendas do
estrangeiro; construíram bases industriais nas aldeias e vilas de onde tinham saído e onde mantinham
ligações sociais e familiares fortes. É esta a razão que explica que as primeiras fábricas tenham sido
construídas em Dongguan e, após o sucesso das iniciais, se tenham espalhado pelas aldeias e vilas do
distrito. O fluxo de investimento directo estrangeiro para Dongguan não foi o esforço organizado das
autoridades distritais mas sim obra de emigrantes individuais através das ligações sociais e de uma
forma descentralizada.
Nos primeiros anos da década de 80 não existia uma política industrial coerente a nível local. Na
realidade, a política de zonas económicas especiais tinha ainda de ser definida e formalizada. Por isso,
as fábricas espalhavam-se ao longo das estradas existentes, a maior parte a nível de aldeia mais do que
a nível de vila.
Os emigrantes transformaram Dongguan
O milagre económico de Dongguan
O desenvolvimento de uma base industrial orientada para a exportação em Dongguan foi o resultado
de uma combinação de factores internos e externos. Nos anos 70, Dongguan era, fundamentalmente,
uma economia rural com poucas, se algumas, indústrias modernas. Devido à política adoptada nos
anos 60 e 70 antecipando uma possível invasão por parte dos Estados Unidos e da União Soviética,
os planificadores económicos não investiram em indústrias próximo das regiões costeiras. Mesmo
Xangai viu-se forçada a deslocar muitas das suas unidades industriais e a mão-de-obra industrial para
o interior. Toda a região do Delta do Rio das Pérolas manteve unicamente algumas das unidades de
indústria ligeira de Cantão para exportação para Hong Kong e o Sudeste Asiático, os seus mercados
tradicionais. Não houve praticamente qualquer investimento em novas indústrias e infra-estruturas em
Dongguan. A linha de caminho-de-ferro Cantão-Kowloon, com 50 anos, manteve-se como o principal
meio de transporte. Com o controlo rígido nas fronteiras contra a emigração ilegal, poucas transacções
económicas tiveram lugar através do rio Shenzhen para Dongguan. A economia da cidade voltou-se
para norte para Cantão ao invés de para sul para Hong Kong.
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Estes novos negócios vieram demonstrar as grandes vantagens associadas aos benefícios da política
das zonas económicas especiais, nomeadamente a isenção de impostos e a não-obrigatoriedade de
cumprir muitos regulamentos oficiais.
Os investimentos pioneiros dos emigrantes de Dongguan iniciaram uma vaga maciça de investimento
industrial em Dongguan e, em menor dimensão, nas novas zonas económicas especiais de Shenzhen e
de outras cidades na região.
Devido às ligações sociais, as vantagens atribuídas aos que chegaram primeiro e o início da construção
de estradas e de uma rede de telecomunicações ligando a cidade a Hong Kong, Dongguan continuou a
atrair muitas fábricas deslocadas de Hong Kong e, através de Hong Kong, de Taiwan, Japão e de outros
países até à actualidade.
Esta situação pode ficar a dever-se às vantagens adicionais associadas à aglomeração com as respectivas
economias de escala; o agrupamento de empresas com capitais de Hong Kong numa aldeia ou numa
vila particular atraiu empresas fornecedoras e serviços de logística bem como outras indústrias e
serviços de apoio, a fim de fazer com que a cadeia de valor fosse mais completa e de maior dimensão.
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Esta realidade reduziu o custo das matérias-primas e aumentou os benefícios da coordenação industrial
e da divisão de trabalho; criou igualmente uma reserva acrescida de mão-de-obra e de tecnologias de
informação.
Os benefícios do processamento industrial em Dongguan e, em menor escala, em Shenzhen aumentaram
de forma significativa a competitividade das empresas de Hong Kong e de Taiwan que se haviam
deslocado. Num período de tempo muito curto, a produção industrial aumentou exponencialmente;
esta realidade permitiu que as empresas derrotassem os concorrentes de outras economias da Ásia
Oriental e capturassem uma quota de mercado cada vez maior para as suas indústrias de mão-de-obra
intensiva, primeiro nos Estados Unidos e mais tarde na Europa e em outros mercados.
A flexibilidade e as economias de escala do sistema de processamento industrial deslocado confirmou
os efeitos benéficos das sinergias entre a produção a baixo custo em Dongguan e o avançado centro
logístico e de serviços de Hong Kong. Ambos os lados deste recém-formado sistema de produção
transfronteiriço expandiram-se a uma velocidade raramente encontrada em outras economias. Do lado
de Dongguan, a diminuta população local não levantou qualquer obstáculo. Pelo contrário, Dongguan
expandiu-se quando o governo central afrouxou os regulamentos sobre movimento de populações
entre o campo e a cidade, permitindo que milhões de camponeses passassem a ser trabalhadores
migrantes nas cidades.
Uma vez que a região do Delta do Rio das Pérolas, em geral, e Dongguan, em particular, apresentavam
o maior crescimento de postos de trabalho industriais para satisfazer as encomendas do exterior, era
natural que a maior parte dos trabalhadores migrantes se dirigisse para Dongguan. Estes camponeses
transformados em trabalhadores migrantes foram preencher as necessidades básicas do processamento
industrial de mão-de-obra barata, sem qualificações, que não se importava de trabalhar longas horas
nem com o ritmo da intensidade da produção industrial.
Além disso, a ausência de regulamentos formais nas zonas económicas especiais reduziu de forma
significativa as obrigações dos investidores no que respeita a impostos, segurança social para a mãode-obra, direitos alfandegários e o custo do investimento em zonas urbanas.
DONGGUAN: UMA NOVA FASE DE CRESCIMENTO
Quadro 1: População local residente e trabalhadores migrantes em Dongguan, 1986-2011
(em milhões de pessoas)
Ano
População local registada
População de trabalhadores migrantes
1986
1,23
0,16
1991
1,33
0,81
1996
1,45
1,43
2001
1,53
4,58
2006
1,68
5,87
2011
1,84
4,11
Nota: O número real de trabalhadores migrantes deverá ser maior que o registado oficialmente. Na década
passada, a população total de Dongguan deverá ter ultrapassado 10 milhões. O número da população local
registada poderá aumentar não apenas através do saldo entre nascimentos e óbitos mas igualmente através
de casamentos.
Fonte: Anuários estatísticos de Dongguan
Quadro 2: Expnsão industrial em Dongguan, 1986-2011
(em termos de valor acrescentado industrial e em 100 milhões de yuan)
Ano
Valor acrescentado industrial
1986
10,54
1991
48,34
1996
187,85
2001
517,03
2006
1441,67
2011
2288,41
Fonte: Anuários estatísticos de Dongguan
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DONGGUAN: UMA NOVA FASE DE CRESCIMENTO
DONGGUAN: UMA NOVA FASE DE CRESCIMENTO
Quadro 3: Exportações de Dongguan, 1981-2011
(em milhões de dólares)
Ano
Exportações totais
Exportações não-industriais
1981
92
N.D.
1986
233
N.D.
1991
1 652
N.D.
164
1996
9 187
2001
18 989
259
2006
47 376
2 658
2011
78 328
13 411
O modelo de crescimento e de desenvolvimento económico de Dongguan tem as seguintes
características:
• Orientado pela procura, determinada unicamente pelas encomendas enviadas directamente pelos
grossistas ou retalhistas ou por intermediários, na sua maior parte com sede em Hong Kong;
• Limitação do processo industrial às encomendas recebidas sob a forma de OEM (fabrico de
equipamento original), muito em particular as fases de produção de mão-de-obra intensiva,
com as fases inicial e final a terem lugar fora de Dongguan, em Hong Kong e mesmo nos países
importadores.
Fonte: Anuários estatísticos de Dongguan
• As indústrias de Dongguan recebiam o pagamento devido pelas encomendas mas tinham de
investir em equipamento e em terrenos e todas as infra-estruturas necessárias. Os impostos eram
mínimos ao abrigo do regime da política de zonas económicas especiais que se tinha alargado a toda
a região do Delta do Rio das Pérolas.
Em resultado deste crescimento exponencial, Dongguan compara bastante bem com as médias
nacional e provincial por larga margem. O quadro seguinte compara o desempenho macro-económico
de Dongguan com a média nacional e provincial em termos per capita, utilizando a população registada
e a não-registada como base de comparação.
Quadro 4: Dongguan em comparação com a média nacional e provincial, 2010
Indicador per capita
PIB
Dongguan comparado
com a média provincial
177,4%
118,0%
Receita Fiscal
55,6%
78,7%
Exportações totais
733,4%
196,4%
Investimento em capital fixo
66,7%
88,5%
Vendas a retalho
117,3%
81,4%
Investimento directo estrangeiro realizado
429,7%
166,2%
Rendimento disponível dos residentes urbanos
186,8%
149,3%
Fonte: Anuários estatísticos de Dongguan
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Dongguan comparado
com a média nacional
• A mão-de-obra era constituída por trabalhadores migrantes, que trabalhavam longas horas em
troca de salários diminutos que poupavam e que eram enviados na sua maior parte para as aldeias e
vilas natais.
Do Quadro 4 fica claro que, não obstante o rápido crescimento económico, os benefícios conseguidos
pela comunidade local eram modestos, limitados pela baixa fiscalidade nos diversos níveis de governo
da cidade e por um investimento mínimo por parte das unidades industriais; os donos das fábricas não
tinham nem mecanismos nem incentivos para investir quer em tecnologia quer na mão-de-obra.
O baixo rendimento dos trabalhadores migrantes e a sua grande vontade de poupar também colocou um
travão ao desenvolvimento do comércio a retalho e de outros serviços ao consumidor em Dongguan.
Não obstante o elevado nível de urbanização e a transformação dos camponeses em residentes urbanos,
Dongguan é mais uma grande fábrica do que uma cidade; os serviços públicos e a rede de transportes
mantiveram-se inadequados muito tempo depois do início do processo de industrialização.
Os trabalhadores migrantes ficavam confinados aos dormitórios fabris e não eram de forma alguma
residentes ordinários de uma cidade com os correspondentes direitos e obrigações. Talvez seja este
o grande custo do modelo de rápido sucesso económico de Dongguan baseado no processamento
industrial voltado para a exportação.
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DONGGUAN: UMA NOVA FASE DE CRESCIMENTO
Desafios futuros
A realidade começou a alterar-se para Dongguan em 2006, quando a moeda chinesa, o yuan, começou
a valorizar-se. No final desse ano eram necessários 7,8 yuans para comprar um dólar, enquanto
actualmente bastam 6,3 yuans e o movimento de apreciação da moeda chinesa prossegue.
Os salários também subiram de forma acentuada no Delta do Rio das Pérolas. Em 2009, o salário
mínimo em Dongguan era de 770 yuans por mês, que compara com 1000 yuans em Shenzhen; em
2013, o salário mínimo em Dongguan é de 1310 yuans por mês, que compara com 1600 yuans em
Shenzhen. Este facto significa que as empresas a operar na cidade deixaram de poder contar com o
baixo custo da mão-de-obra para serem rentáveis.
DONGGUAN: UMA NOVA FASE DE CRESCIMENTO
forçada a alterar o seu modelo de desenvolvimento. Após longas reflexões e meses de consultas com
investidores, tanto estrangeiros como nacionais, o governo da cidade retirou duas lições fundamentais
da crise. A primeira centrava-se na necessidade de reduzir a dependência do mercado de exportação e
vender mais no mercado interno e a segunda lição era a de subir uns degraus na cadeia tecnológica.
Em 2010 ocorreu uma melhoria imediata, com o PIB a crescer 10,3% e as exportações a aumentarem
26,1%. Nos últimos dois anos, foram transferidos de Dongguan mais de 1500 projectos para outras
cidades na província de Guangdong, essencialmente fábricas poluentes e de mão-de-obra intensiva
produzindo bens de baixo custo. O PIB caiu para 8% e 6,1% em 2011 e 2012, respectivamente.
O segundo grande golpe foi a crise financeira de 2008 no Ocidente, que atingiu gravemente alguns dos
melhores clientes das fábricas de Dongguan. Em 2009, o PIB da cidade desacelerou para um crescimento
de 5,3%, o mais baixo valor desde 1978, e as exportações caíram 16% para 55,17 mil milhões de dólares,
após um crescimento anual de dois dígitos ao longo das duas décadas anteriores. Estes números eram
piores do que a média nacional e de outras cidades no Delta do Rio das Pérolas, dado que a sua
economia não estava tão concentrada na produção de bens industriais para exportação.
O crescimento do PIB caiu de uma taxa anual de 19,5% em 2005 para 19,2%, 18,3% e 14% nos três
anos seguintes. Algumas fábricas da cidade fecharam e os trabalhadores foram despedidos. Antes deste
maremoto, ninguém na cidade teria imaginado a necessidade de alterar o seu bem-sucedido modelo
de negócio baseado na produção industrial. Foi um momento crítico na história da cidade que se viu
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DONGGUAN: UMA NOVA FASE DE CRESCIMENTO
DONGGUAN: UMA NOVA FASE DE CRESCIMENTO
O plano defendia igualmente o desenvolvimento de um moderno sector de serviços, incluindo finanças,
conferências e exposições, tecnologias de informação, culturais e recreativos e o estabelecimento de
grupos empresariais; o plano incluía igualmente a produção de serviços mais tradicionais, caso da
logística. A meta para 2015 era a de que os serviços modernos representassem 30% do PIB local.
O desenvolvimento da indústria de serviços era algo novo para Dongguan, com a ênfase a ter sido
colocada esmagadoramente na indústria no decurso das últimas décadas.
Os serviços representavam 48,2% do PIB local em 2010, um nível relativamente baixo e que havia
registado um crescimento de apenas 1,2 pontos percentuais no decurso do 11º Plano Quinquenal
(2005-2010). O objectivo incluído no 12º Plano era de um crescimento ligeiramente mais elevado, um
acréscimo de 1,8 pontos percentuais a ser alcançado no decurso dos cinco anos.
Planos para a transformação
Os planos da cidade para a sua transformação foram delineados no Plano de Desenvolvimento Económico
e Social, a ser incluído no 12º Plano Quinquenal da China (2011-2015). Nele eram seleccionadas e
apresentadas como prioritárias nove indústrias – tecnologias de informação avançada, veículos
eléctricos, energia solar, iluminação por semicondutores, bioquímica, energia nuclear, novos materiais,
actividades marítimas e poupança de energia. O objectivo era transformar Dongguan num grande
centro moderno de produção industrial até 2015, com metade da sua produção de produtos de alta
tecnologia. Historicamente, os gastos com pesquisa e desenvolvimento em percentagem do PIB eram
menores do que em outras cidades de Guangdong.
O plano defendia a passagem da produção de equipamento original (OEM, na sigla inglesa) para
produção de design original (ODM) e de produção de marcas originais (OBM). Por outras palavras,
Dongguan passaria a ser uma cidade com as suas marcas e produtos, não se limitando a produzir para
empresas terceiras.
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DONGGUAN: UMA NOVA FASE DE CRESCIMENTO
DONGGUAN: UMA NOVA FASE DE CRESCIMENTO
Actualização da cidade
Em termos industriais, o plano pretendia fazer com que Dongguan passasse a ser um importante
centro de produção de nível internacional. Começando pelas já existentes indústrias de mão-deobra intensiva, o desafio seria proceder à sua expansão para que atingissem um nível superior na
cadeia de valor. Tal envolvia o desenvolvimento do design e da produção através de uma utilização
mais alargada de semicondutores e de tecnologias de informação e novos processos tecnológicos.
Envolvia igualmente o desenvolvimento de modelos de fabrico avançados em detrimento dos de
baixo valor acrescentado e de mão-de-obra intensiva que caracterizou as três primeiras décadas do
seu desenvolvimento.
Os novos modelos incluíam o fabrico de equipamentos, automóveis e peças sobressalentes,
petroquímica e construção naval – indústrias avançadas que ocorrem numa economia no início da
sua passagem a desenvolvida. O plano estabelecia como meta para estas indústrias avançadas que
representassem mais de 50% do valor acrescentado bruto industrial em 2015. Tal meta permitiria
ultrapassar as indústrias tradicionais que a cidade desenvolveu ao longo de mais de 20 anos.
Além disso, o plano propunha ainda transformar a cidade numa base de produção importante para a
estratégia nacional de indústrias emergentes que o governo central delineou no 12º Plano Quinquenal.
Aquelas incluem indústrias de tecnologias de informação avançadas, veículos eléctricos, iluminação
por semicondutores, energia solar, biofármacos, energia nuclear, novos materiais, poupança de
energia e indústrias ambientais e marítimas.
No entanto, a cidade enfrenta grandes desafios ao pretender auto-transformar-se de um centro
de baixo custo e produção em massa para um outro com baixas emissões de carbono e com um
ambiente social e cultural mais avançado. Muitas das outras cidades do Delta do Rio das Pérolas
têm ambições semelhantes e estão a concorrer com Dongguan a fim de atrair as mesmas empresas
e indústrias.
O rápido aumento dos salários ocorrido desde 2008 representou igualmente um alerta, reflectindo o
facto de que surgiu nas regiões mais interiores da China maior número de ofertas de emprego. Isto
fez com que as pessoas deixassem de estar interessadas em mudar-se para longe das suas residências
e viver num dormitório fabril juntamente com muitos outros trabalhadores, longe das famílias e dos
amigos e visitá-los uma vez por ano, durante o Festival da Primavera. Um diferencial salarial de 400500 yuans por mês entre o que conseguem no local onde residem e Dongguan já não é suficiente
para os atrair. As empresas viram-se forçadas a aumentar os salários de forma substancial ou investir
em equipamento mais avançado a fim de substituir a mão-de-obra perdida.
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DONGGUAN: UMA NOVA FASE DE CRESCIMENTO
O plano 2011-2015 apelava, igualmente, à introdução de melhorias nas infra-estruturas da cidade. O
seu rápido desenvolvimento conduziu à expansão desordenada do agregado urbano com amontoados
de fábricas. Os transportes públicos estão pouco desenvolvidos e há pouca ligação entre eles, pelo que
ocorre uma dependência bastante grande do transporte privado.
O plano quinquenal pretende dar resposta a todos estes problemas com a construção de um sistema
de metropolitano ligeiro que faça a ligação com as linhas de caminho-de-ferro intercidades e de alta
velocidade que passam pela cidade. Tal modelo concentrará o desenvolvimento na região central
da cidade, que incluirá a zona comercial central e três dos principais subúrbios – Houjie, Humen e
Changan.
O plano antecipa crescimentos anuais do PIB de 8%, do PIB per capita de 7,5%, do comércio externo de
8% e dos rendimentos urbano e rural de 8%, passando as despesas com pesquisa e desenvolvimento
a representar 2,4% do PIB.
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DONGGUAN: UMA NOVA FASE DE CRESCIMENTO
Os investidores de Taiwan lideram o percurso
Os investidores estrangeiros desempenharam um papel fundamental no crescimento económico da
cidade. Mais de 50 empresas da lista Forbes das 500 maiores empresas do mundo estabeleceram-se na
cidade, incluindo a Samsung, Hitachi, Sony, Nokia e Philips. Em Junho de 2013, a fábrica da Nokia na
cidade produziu o seu telefone número mil milhões. Estabelecida em 1995, a fábrica produz um terço
dos telefones produzidos a nível mundial pela Nokia. Em Outubro de 2012, a empresa vendeu a sua
última fábrica na Europa, produzindo agora todos os telefones que comercializa na Índia e na China.
A fábrica de Dongguan dá emprego a 6000 pessoas com 10 linhas de produção. No entanto, a sua
quota de mercado na China tem estado em declínio, tendo a empresa despedido 100 trabalhadores em
Outubro de 2012.
Os primeiros investidores provinham de Hong Kong, sendo seguidos pelos de Taiwan, que fizeram da
cidade um dos seus centros nacionais. Em Outubro de 1993, constituíram a Associação de Empresários
de Taiwan de Dongguan, actualmente uma das maiores associações do género na China. As empresas
de Taiwan investiram em telecomunicações, cablagem, plásticos, calçado, têxteis, vestuário, electrónica,
maquinaria eléctrica e processamento de alimentos.
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DONGGUAN: UMA NOVA FASE DE CRESCIMENTO
DONGGUAN: UMA NOVA FASE DE CRESCIMENTO
A escola e o hospital de Taiwan
Em Novembro de 1999, os empresários de Taiwan montaram a primeira escola na China a seguir o
currículo da ilha, o que permitiu que os homens de negócios chamassem as respectivas famílias, uma
vez que os filhos podiam prosseguir os estudos segundo o currículo de Taiwan. Até então, a maior
parte dos investidores de Taiwan ia para a China deixando as famílias na ilha. Os empresários de Taiwan
estão actualmente a construir o Hospital de Cardiologia de Taiwan e um dos maiores arranha-céus da
cidade.
De acordo com os mais recentes números disponibilizados na página electrónica da associação, existiam
na cidade, no final de 2010, mais de 6000 negócios com capitais de Taiwan, representando 10% do
investimento efectuado por empresários da ilha com o valor de 14 mil milhões de dólares. Nesse ano,
o comércio externo efectuado por empresas de Taiwan ascendeu a 40 mil milhões de dólares, 30% do
total registado pela cidade.
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DONGGUAN: UMA NOVA FASE DE CRESCIMENTO
Perfil de Dongguan
Indústria
DONGGUAN: UMA NOVA FASE DE CRESCIMENTO
As cinco indústrias são electrónica e tecnologias de informação, maquinaria eléctrica e equipamentos,
calçado e têxteis, processamento de alimentos e papel. Destas cinco a produção de electrónica e
tecnologias de informação cresceu 22,6% no primeiro semestre de 2013.
Desde o início do período de reformas na China, a indústria tem sido a base da economia de Dongguan.
Em 2012, a produção industrial atingiu 173,3 mil milhões de yuans, um aumento anual de 5,6%. A
produção industrial pesada aumentou 8,3% para 94,87 mil milhões de yuans, 54,7% da produção
industrial total.
Eis os números relativos a alguns dos principais produtos industriais fabricados na cidade em 2012 –
1089 milhões de artigos de vestuário, menos 3% do que em 2011; 47,59 milhões de peças de mobiliário,
menos 18,1%; 1,543 milhões de toneladas de artigos em plástico, menos 4,4%; termoacumuladores
de energia solar com uma capacidade de 114,4 mil metros cúbicos, mais 18,4%; 997 300 calculadoras
electrónicas, mais 28,4%; 1,13 milhões de impressoras, mais 6,1%; 38,83 milhões de telefones, menos
5,1%; 67,29 milhões de telefones móveis, mais 27,8%; 469,2 milhões de óculos de sol, mais 1,4%; 63,4
milhões de circuitos integrados, mais 105,2% e 1,117 biliões de componentes electrónicos, mais 3,3%.
A produção da indústria ligeira foi de 78,44 mil milhões de yuans, um aumento de 2,4% e representando
45,3% da produção industrial total. Na primeira metade de 2013, a produção industrial ascendeu a 98,5
mil milhões de yuans, mais 12,3% em termos homólogos. A produção das indústrias de alta tecnologia
no período de seis meses cresceu 22,5% e a das cinco indústrias básicas da cidade aumentou 15,1%.
As principais indústrias são electrónica e tecnologias de informação, maquinaria eléctrica, têxteis e
vestuário, mobiliário, brinquedos, fabrico de papel e produtos derivados, alimentos e bebidas e químicos.
Ao longo de três décadas de reformas, estas indústrias desenvolveram um sistema global de produção
com tecnologias avançadas e sistemas de apoio colocando no mercado 60 mil produtos diversos.
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DONGGUAN: UMA NOVA FASE DE CRESCIMENTO
A indústria de tecnologias de informação no mercado mundial
A indústria de tecnologias de informação de Dongguan desempenha um papel importante no mercado
mundial. A produção e as vendas de mais de 10 produtos tais como cabeças magnéticas e digitalizadoras
representam 20% e 40%, respectivamente, da produção mundial.
DONGGUAN: UMA NOVA FASE DE CRESCIMENTO
Em resposta, os fornecedores afectados por estes problemas optaram por concentrar a sua atenção
em empresas chinesas em detrimento das estrangeiras. A marca chinesa Coolpad centrou a sua base
de produção em Dongguan em 2010 e, um ano mais tarde, já tinha vendido mais de 10 milhões de
telefones. Este ano, a empresa pretende vender mais do dobro daquele número.
O governo central designou Dongguan uma base nacional para as indústrias de tecnologias de
informação e de electrónica, com o seu centro no subúrbio de Shilong.
A Foxconn, o principal fornecedor há longo tempo da Apple, começou a receber encomendas da
Samsung e muitas outras fábricas de Dongguan começaram a alterar a sua estratégia de mudança
para marcas nacionais. Tal decisão ajudará a desenvolver as marcas de telefones móveis da China e a
beneficiar o desenvolvimento a longo prazo da indústria.
A produção de calçado, brinquedos, mobiliário, têxteis e vestuário também tem um papel importante
a desempenhar no mercado doméstico e estrangeiro. Por exemplo, os brinquedos fabricados em
Dongguan representam 30% do mercado mundial e o calçado representa mais de 10%.
Subúrbios industriais
Dongguan é um dos mais importantes centros mundiais para a produção de telefones móveis. A
província de Guangdong no seu todo produz metade dos telefones móveis construídos na China, país
que é o maior mercado mundial para este tipo de produtos. A Nokia foi a primeira empresa a abrir uma
fábrica em Dongguan, em 1995, cidade que foi a escolhida de entre uma dúzia de hipóteses na China.
Em Outubro de 2011 a fábrica da Nokia em Dongguan tinha já produzido 800 milhões de telefones
móveis. A decisão da Nokia em se instalar em Dongguan atraiu outros grandes fabricantes e marcas,
casos da Apple, Samsung, Blackberry, Google, HTC e Sony. Estas empresas são a base de uma grande
rede de fornecedores de peças existente na cidade. Quando uma delas tem problemas financeiros, o
mesmo acontece aos respectivos fornecedores. Foi precisamente isso que aconteceu com a Motorola,
quando a empresa não conseguiu adaptar-se aos novos telemóveis “inteligentes” a fim de concorrer
com a Apple ou a Samsung.
Historicamente, Dongguan não era uma cidade nem um distrito mas sim um conjunto de agregados
populacionais dispersos. Durante o período da reforma, estas vilas começaram a especializar-se num
tipo de produto, construindo um sistema de fornecimento que permite ao fabricante do produto
acabado ter próximo tudo que necessita. O subúrbio de Humen começou a fabricar vestuário em 1993.
Actualmente conta com mais de 1200 empresas a fabricar vestuário e que dão emprego a mais de 300
mil pessoas. A vila é conhecida por “Reino da roupa do sul da China” e é particularmente famosa pela
produção de calças de ganga para senhora e artigos de moda.
Em 2011, a vila vendeu mundialmente mais de 250 milhões de artigos que proporcionaram uma
facturação de 20 mil milhões de yuans. De acordo com a página electrónica do governo local, o seu PIB
atingiu 34,8 mil milhões de yuans em 2012, um crescimento de 6,2% em termos anuais e as exportações
cresceram 9% para 4,56 mil milhões de dólares.
Dalingshan é o maior centro de fabrico de mobiliário na região Ásia-Pacífico, com mais de 500 fábricas.
O sector dispõe de um linha de produção completa, desde o fornecimento de matérias-primas até ao
processamento, fabrico, empacotamento e exportação. As suas exportações de mobiliário mantêm-se
há 14 anos no primeiro lugar de toda a China. A vila tem uma produção importante de máquinas para
impressão e electrónica, tendo atraído investimento da AzkoNobel, Fuji Xerox e Toyota.
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DONGGUAN: UMA NOVA FASE DE CRESCIMENTO
O reino do calçado
Houjie é um dos mais importantes centros de produção de calçado da China, albergando mais de 400
fábricas produtoras e mais de 800 fornecedores de matérias-primas, maquinaria e cabedal. A meta
estabelecida para 2015 é de 900 milhões de pares, com um valor de 28,5 mil milhões de yuans, um
aumento relativamente aos 600 milhões de pares com o valor de 20,9 mil milhões de yuans produzidos
em 2010.
Em 2011, o sector empregava mais de 100 mil trabalhadores, em queda relativamente aos 150 mil
registados em 2007. Esta quebra é o reflexo da redução do número de encomendas e da subida na
escala de valor com a produção de calçado com maior valor acrescentado e a necessidade de menor
número de operários. Anualmente, o subúrbio é palco de uma grande feira internacional de calçado.
DONGGUAN: UMA NOVA FASE DE CRESCIMENTO
Investidores de Taiwan
Os investidores estrangeiros desempenharam um papel-chave no crescimento da cidade. Os primeiros
eram de Hong Kong, a que se seguiram os de Taiwan, que fizeram de Dongguan um dos seus centros
nacionais e que passaram a ser os principais investidores estrangeiros na cidade. Em Outubro de
1993, criaram a Associação de Empresários de Taiwan de Dongguan, actualmente uma das maiores
associações do género na China continental.
Os investidores de Hong Kong e de Taiwan foram pioneiros no modelo de “duas cabeças no exterior”,
que significa que as matérias-primas são importadas e o produto semi-acabado exportado para o
estrangeiro, sendo realizado na China apenas o processamento intermédio.
A primeira vaga de investidores de Taiwan no continente chinês teve como destino Shenzhen, atendendo
a que a cidade ficava próximo de Hong Kong e a rede de transportes e de acesso aos mercados de
exportação muito conveniente. Mas, nos anos 90, à medida que Shenzhen começou a ficar mais repleta
e o preço dos terrenos e da mão-de-obra a aumentar, as empresas de Taiwan foram para Dongguan:
a cidade ficava próximo de Shenzhen e de Hong Kong e dispunha igualmente de bons transportes,
mas os custos de produção eram significativamente menores. Um ditado popular da época explicava o
fenómeno – “a criação de uma zona económica especial faz florescer os vizinhos” – de que Dongguan
era o melhor exemplo.
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DONGGUAN: UMA NOVA FASE DE CRESCIMENTO
DONGGUAN: UMA NOVA FASE DE CRESCIMENTO
A sua localização é excelente – a três horas por estrada de Hong Kong e a meio caminho entre Cantão e
Shenzhen, com fácil acesso a todo o Delta do Rio das Pérolas. O governo da cidade desempenhou um
papel importante, procurando atrair os investidores estrangeiros com incentivos fiscais e financeiros.
Ofereciam, além disso, fábricas com maior dimensão do que podiam conseguir nos locais de origem
e um fornecimento ilimitado de mão-de-obra barata.
As empresas de Taiwan escolheram concentrar-se nas exportações uma vez que já conheciam e
dispunham de parceiros nos mercados internacionais. Como não conheciam tão bem o mercado
chinês, preferiram fazer o que já sabiam.
Os primeiros investidores tiveram de adquirir os componentes a Taiwan mas, actualmente, a cidade
dispõe de um sistema industrial completo, podendo um computador ser montado com componentes
produzidos num raio de 50 quilómetros.
A Associação de Empresários de Taiwan de Dongguan deixou quatro grandes imagens de marca em
Dongguan, indicações de que pretendiam ali permanecer por muito tempo. Em Novembro de 1999, a
associação decidiu abrir a primeira escola na China continental seguindo o currículo de Taiwan, o que
permitiu que os homens de negócios se fizessem acompanhar das respectivas famílias. Atendendo a
que o currículo era o mesmo, os filhos, uma vez concluída a educação secundária, podiam candidatarse sem qualquer problema às universidades de Taiwan. Até então, os homens de negócios de Taiwan
deixavam as famílias em casa. A escola foi inaugurada em 2000 e tem actualmente 1750 alunos.
As indústrias finais surgiram em primeiro lugar, atraindo as que ficavam a montante que se
viram forçadas a seguir as primeiras a fim de não perder clientes. Actualmente, as empresas de
Taiwan envolvidas na produção industrial em Dongguan pouco ou nada importam da ilha de onde
provieram.
A importância das redes pessoais
Um dos motivos de atracção de Dongguan era a rede de produtos, partes e componentes. Outro
era a rede de pessoas de Taiwan que crescia à medida que o seu número aumentava em Dongguan,
o que fez com que houvesse outra boa razão para produzir em Dongguan. As pessoas de Taiwan
trabalham bem em conjunto, tendo criado redes que permitiam um contacto mais fácil e obter
assim os materiais necessários. Os empresários de Taiwan sentiam-se mais seguros ao trabalhar em
conjunto, num país em que a política de investimentos pode alterar-se radicalmente e as relações
pessoais são fundamentais para se resolver um problema.
Os cidadãos de Taiwan não dispõem da protecção consular disponível para investidores dos Estados
Unidos, Japão ou dos países europeus, sabendo que as relações entre os dois lados do estreito eram
sensíveis. Por isso decidiram investir no mesmo local onde já havia outros empresários de Taiwan,
tendo-se Dongguan tornado num dos locais mais populares.
Quatro imagens de marca
A segunda imagem de marca é o Hospital de Cardiologia de Taiwan. A construção iniciou-se em
Junho de 2009 num terreno de 15 hectares no subúrbio de Niushan e tem inauguração marcada para
Dezembro de 2013. Disporá de 1200 camas, com 600 na primeira fase e uma área de construção total
de 90 mil metros quadrados, oferecendo um serviço hospitalar completo. O custo deste hospital está
estimado em 70 milhões de dólares, 80% dos quais garantidos pela Associação e os restantes 20% pelo
Hospital Zhenxing de Taipé. O hospital, que servirá em primeiro lugar para atender pessoas de Taiwan
mas que atenderá igualmente estrangeiros e locais, pretende montar um posto de atendimento em
cada um dos 32 subúrbios sob a jurisdição de Donngguan, a fim de prestar melhores serviços de saúde
aos residentes.
A terceira imagem de marca, com inauguração prevista para a mesma altura, é o edifício Dongguan
TBA, com 68 andares e 289 metros em altura, um dos 20 mais altos edifícios da China. O edifício incluirá
um hotel, um centro comercial e escritórios bem como a sede da Associação de Empresários de Taiwan,
tendo a sua construção custado 1,5 mil milhões de novos dólares de Taiwan. Em Dongguan residem
cerca de 80 mil pessoas de Taiwan, na sua maior parte a trabalhar em duas zonas industriais – Parque
de Alta Tecnologia do Lago Songshan e Parque de Ciência e Tecnologia de Taiwan.
Um bom exemplo desta realidade é a Primax Electronics, um fabricante de periféricos para computadores.
A empresa chegou a Dongguan em 1989 e arrendou uma fábrica para produzir unidades de protecção
de picos de energia, um investimento de mão-de-obra intensiva. A partir de 1992 diversificou a
produção para ratos para computador, peças para telefones móveis, projectores, destruidores de papel
e digitalizadoras. Foi então admitida à cotação na Bolsa de Valores de Taiwan. Actualmente, tem seis
fábricas no continente, onde emprega 15 mil pessoas, quatro das quais em Dongguan, onde laboram 13
mil trabalhadores. As duas outras são em Kunshan, província de Jiangsu, e Chongqing. A administração
da empresa tem como meta ser um grupo de dimensão mundial com vendas de 3 mil milhões de dólares
até 2017, depois de em 2012 ter registado vendas de 1,44 mil milhões de dólares.
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DONGGUAN: UMA NOVA FASE DE CRESCIMENTO
Transformação da economia
No decurso dos últimos seis anos, grandes alterações afectaram as empresas de Dongguan,
incluindo as de Taiwan. Todas foram atingidas pela valorização do yuan, pela crise económica nos
Estados Unidos e na Europa – os dois mais importantes mercados de exportação – e pelo aumento
de quase 30% nos custos com mão-de-obra. Particularmente afectadas foram as empresas que
dependem das exportações, que são de mão-de-obra intensiva e que operam com baixas margens
de lucro.
A empresa Zhang Yu-fang, de Taiwan, é um exemplo típico. A empresa transferiu-se para a cidade na
década de 90 produzindo luvas, malas e outros artigos semelhantes. No pico da produção, antes do
maremoto financeiro de 2008, empregava 300 trabalhadores com três linhas de produção a funcionar
24 horas por dia; desses 300 trabalhadores, 200 viviam nos dormitórios da fábrica. Anualmente a
empresa recebia encomendas de valor superior a 10 milhões de yuans e conseguia um lucro entre 1
milhão e 2 milhões de yuans. De repente, a empresa foi atingida com três acontecimentos adversos. O
yuan começou a valorizar-se a partir de 2007 e, nesse mesmo ano, o governo da China aprovou a nova
Lei do Trabalho que impunha um salário mínimo. Os equilíbrios de poder no sector industrial começaram
a alterar-se, pois se anteriormente os trabalhadores sentiam-se bem na mesma fábrica durante anos, a
partir de 2007 começaram a ser mais selectivos e a encontrar melhores salários no crescente sector dos
serviços em Dongguan. Em seguida surgiu o maremoto de 2008. Empresas como a Zhang receberam
dos Estados Unidos uma fracção das encomendas a que estavam habituadas pelo que se viram forçadas
a reduzir a produção e o número de trabalhadores, tendo 500 delas encerrado portas. A Zhang reduziu
o número de trabalhadores de 300 para 100, mantendo na folha de pagamento apenas os operários
mais experientes; em 2012, os salários tinham atingido 2000/3000 yuans.
O comportamento dos operários também se alterou. Nos anos 90, os novos migrantes de zonas
rurais ficariam felizes em conseguir um emprego numa fábrica numa cidade como Dongguan e em
receber um salário modesto. Vinte anos depois, os jovens estão mais exigentes e menos dispostos
a aguentarem dificuldades e mesmo a fazer horas extraordinárias. Desde 2007, os salários pagos na
Zhang aumentaram quase 30%, forçando a administração da fábrica a investir numa dispendiosa
máquina produzida no Japão para substituir alguns dos trabalhadores. Além disso, a produção era feita
para satisfazer encomendas e destinava-se em exclusivo ao mercado da exportação. As encomendas
começaram a desaparecer e no, início de 2012, a fábrica empregava menos de 100 trabalhadores.
Finalmente, a Zhang fechou as portas e a administração procura agora, se possível, arrendar o espaço.
Existem centenas de empresas de Taiwan em Dongguan na mesma situação da Zhang. No decurso
de 2007/2008, os proprietários de muitas fábricas ponderaram a sua deslocação para o Vietname,
Indonésia, zonas mais interiores da China e mesmo para casa, em Taiwan. Os custos laborais no Sudeste
Asiático e nas zonas interiores da China são inferiores, mas enviar as mercadorias para os mercados de
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DONGGUAN: UMA NOVA FASE DE CRESCIMENTO
exportação é mais caro. Em Taiwan, uma empresa só pode ter entre os seus empregados um máximo
de 20% de trabalhadores estrangeiros, pelo que os custos são significativamente mais elevados. Assim,
algumas empresas de Taiwan decidiram mudar-se, outras substituíram trabalhadores por máquinas e
começaram a vender no mercado doméstico e não nos mercados estrangeiros.
“A única alternativa é substituir a exportação pelo mercado doméstico”, disse Ye Chun-rong, presidente
da Associação de Empresários de Taiwan em Dongguan de Novembro de 2007 a Dezembro de 2010.
“Desde 2007, os custos laborais aumentaram quase 30%, os mercados de exportação estão-se a reduzir
e as nossas margens de lucro foram comidas. Se não mudarmos o modelo de negócio, de que forma
poderemos sobreviver? Taiwan é um mercado diminuto e se lá produzirmos temos de exportar. Mas o
continente é um mercado enorme com grande potencial.”
A quarta imagem de marca
Assim sendo, as empresas de Taiwan na cidade decidiram abrir a sua própria empresa de distribuição
grossista (loja a retalho com muita variedade de mercadorias em que os clientes têm de adquirir grandes
quantidades dos produtos pretendidos), denominado T-Mark, para o mercado da China continental,
com um capital inicial de 300 milhões de dólares de Hong Kong. Esta é a quarta grande imagem de
marca de Taiwan na cidade. O modelo de negócio é o mesmo do Sam’s Club, uma unidade da WalMart, nos Estados Unidos e da Makro na Europa: os clientes pagam uma quota anual e adquirem
grandes quantidades de mercadorias a preços de revenda. Estas lojas são atractivas para os caçadores
de pechinchas e para os proprietários de pequenos negócios, uma vez que conseguem manter os preços
baixos devido ao facto de não gastarem na decoração das lojas.
O T-Mark vende cerca de 5 mil produtos de Taiwan, incluindo maquinaria eléctrica, electrodomésticos,
vestuário, mobiliário, cosméticos, produtos alimentares e produtos de consumo diário. Os produtos
à venda neste armazém são ou fabricados em Taiwan ou por empresas de Taiwan em Dongguan. A
primeira loja é um grande complexo situado no bairro Dongcheng de Dongguan, com 30 mil metros
quadrados de espaço de venda em três andares. Dois dos andares são reservados aos sócios e o terceiro
andar é utilizado para exposição de produtos. Esta loja abriu a 31 de Maio de 2011 e os sócios pagam
uma quota anual de 350 yuans.
“Anteriormente, as empresas de Taiwan não sabiam vender no mercado interno chinês, não entendiam o
comportamento dos consumidores e chegavam mesmo a crer que a colocação de anúncios na televisão
era um desperdício de dinheiro. O T-Mark representa um novo método de venda que, espero, seja uma
plataforma de longo prazo para as empresas de Taiwan”, disse o director Ye Chun-rong.
O T-Mark disponibiliza ainda comércio electrónico, tanto B2B (empresa a empresa) como B2C (empresa
a consumidor).
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DONGGUAN: UMA NOVA FASE DE CRESCIMENTO
Uma empresa de Taiwan que aprendeu a lição em devido tempo foi a Hsu Fu Chi Foods, que se
estabeleceu na ilha nos anos 70, fabricando doces, bolos e fruta cristalizada. Em 1992, deslocou-se para
Dongguan, onde abriu a primeira fábrica em 1994 vendendo a produção no mercado do continente. Mais
tarde abriu mais duas fábricas na cidade, com uma área conjunta de 120 mil metros quadrados e uma
capacidade de produção de 200 toneladas de doces, 70 toneladas de bolos chineses e 180 toneladas de
gelatina e pudins por dia. A empresa criou a sua própria rede de distribuição no continente e, em 2004,
inaugurou a primeira fábrica de produção do doce chinês sachima totalmente automatizada. Dois anos
mais tarde foi admitida à cotação na Bolsa de Valores de Singapura, sendo uma das primeiras empresas
chinesas de pastelaria a fazê-lo. Entre 2007 e 2012, os lucros da empresa cresceram a uma média anual
de 17% e, em 2011, a família proprietária começou a negociar a sua venda. A 11 de Julho desse ano, a
Nestlé, o maior produtor mundial de alimentos, pagou 1,7 mil milhões de dólares por uma participação
de 60%, ficando os restantes 40% nas mãos da família Hsu e Mekey Hsu Chen como presidente e
director executivo.
Muitos investidores de Taiwan ponderam qual será o seu futuro no continente. Nas décadas de 80 e de
90 eram muito bem recebidos em cidades como Dongguan que necessitavam dos seus projectos para
garantir emprego e receitas fiscais; toda a espécie de projectos era aprovada, incluindo a produção
em série de calçado, cabedal e T-shirts. Mas a China de 2013 é um país completamente diferente do
que era em 1983. É a segunda maior economia do mundo, é o maior produtor mundial de muitos
produtos e dispõe de um elevado nível tecnológico em muitos sectores. Tem capitais abundantes, tanto
nacionais como estrangeiros, pelo que a pergunta que se pode colocar é que podem as empresas de
Taiwan oferecer que não exista já no país? E, caso se trate de uma empresa não-tecnológica, será que
o continente tem necessidade desse investimento?
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DONGGUAN: UMA NOVA FASE DE CRESCIMENTO
Falta de mão-de-obra
À semelhança de outras empresas em Dongguan e em outras cidades da província de Guangdong, as
empresas originárias de Taiwan enfrentam uma falta de mão-de-obra que não se havia feito sentir nos
últimos 30 anos.
Desde 2012, tem havido uma quebra na população activa (15-55 anos) da China, com a perda de 3
milhões de pessoas por ano. Hoje, todos já entenderam que um cenário de mão-de-obra não qualificada e
inesgotável a receber baixos salários é algo que se foi para sempre. A fim de atrair mão-de-obra, Dongguan
e outras cidades costeiras têm de oferecer benefícios adicionais além do salário. Esta realidade fez com
que o governo local se visse obrigado a aumentar a receita fiscal a fim de cobrir os custos associados com
o acréscimo de serviços. Este facto fez com que os custos de produção aumentassem tanto em Dongguan
como em outras cidades vizinhas. Mas, a situação foi mais grave em Dongguan atendendo ao facto de
que a cidade necessitava de muitos trabalhadores migrantes devido à sua diminuta população e à imensa
estrutura industrial construída nas últimas décadas. Além disso, o processo de industrialização estava a
ocorrer rapidamente nas regiões central e interior da China, o que fez com que surgissem oportunidades
de emprego e de melhores salários, fazendo com que as pessoas deixassem de ter incentivos para se
deslocarem para Dongguan ou outras cidades na zona oriental do país.
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DONGGUAN: UMA NOVA FASE DE CRESCIMENTO
DONGGUAN: UMA NOVA FASE DE CRESCIMENTO
Investidor de alta tecnologia
Um investidor típico do parque é a Dongguan Sonicway Science & Technology Co, que foi fundada em
Pequim, em 2004, com um capital realizado de 31,58 milhões de yuans.
Parque Industrial Songshan
O projecto industrial mais ambicioso em Dongguan é o Parque Industrial de Ciência e Tecnologia do
Lago Songshan, sendo o símbolo do objectivo governamental de transformar a economia de um modelo
“Feito na China” para um modelo “Inventado na China”.
O parque foi inaugurado em 2001 após aprovação do governo provincial de Guangdong, pretendendose que seja um centro de pesquisa e desenvolvimento e de serviços, com recursos humanos e indústria
de alta tecnologia. As indústrias seleccionadas são electrónica e tecnologias de informação, fármacos e
maquinaria de precisão, bem como veículos eléctricos, computação em nuvem e iluminação por díodos
emissores de luz (LED). A fim de atrair investidores, o parque pretende oferecer um ambiente laboral e
de vida excelente, com cuidados médicos, cultura, entretenimento e serviços financeiros e comerciais.
Muitas cidades na China e em outros países pretendem atrair o mesmo tipo de empresas pelo que se
pode perguntar que oferece Dongguan que os outros não consigam?
O parque cobre uma área de 7200 hectares (72 km2), incluindo um lago com 763 hectares e 5943
hectares de terrenos úteis. Em redor do parque há montanhas cobertas por árvores e vegetação, sendo
a área a plantar com árvores de 1831 hectares. O parque, que inclui o Parque de Alta-Tecnologia de
Taiwan, alberga o Instituto da Indústria Electrónica de Guangdong, que tem por missão promover a
inovação, explorar novos métodos de produção, efectuar pesquisa e desenvolvimento e promover o
fomento da indústria de electrónica na região de Dongguan.
A empresa transferiu-se para Dongguan em Junho de 2009. Trata-se de uma empresa de alta tecnologia
especializada na pesquisa, desenvolvimento, produção e comercialização de produtos contra a
contrafacção e soluções contra a desintermediação para proteger os mercados e as marcas dos clientes.
Assim, pesquisa, desenvolve e fabrica produtos de alta tecnologia, tais como etiquetas informativas
personalizadas e invisíveis, impressão invisível e leitores de códigos invisíveis e outros instrumentos de
teste. A empresa já registou cinco patentes nacionais, comercializando soluções técnicas de segurança,
nomeadamente de notas de banco, documentos governamentais, certificados, bilhetes, etiquetas de
produtos e gestão de logística.
De acordo com o jornal estatal Diário de Dongguan, as receitas do parque do Lago Songshan atingiram
27,09 mil milhões de yuans na primeira metade de 2013, um acréscimo homólogo de 51,6%. A produção
industrial cifrou-se em 23,74 mil milhões de yuans, mais 51,2%, tendo a formação bruta de capital fixo
crescido 60,1% para 2896 milhões de yuans. Tendo atraído mais de 30 novos projectos de investimento
no primeiro semestre de 2013, a meta estabelecida para o parque é a de atingir uma produção industrial
de 300 mil milhões de yuans no decurso do 5º plano quinquenal (2011-2015), com um terço a ter
origem na indústria electrónica.
O parque de Taiwan tem uma área de 6,8 quilómetros quadrados e encontra-se dividido em três
áreas – fabrico de tecnologias de informação avançadas e optoelectrónica de díodos emissores de luz,
construção de grandes painéis e pesquisa e desenvolvimento. A construção do parque iniciou-se em
Julho de 2009 e ficou concluída em Junho de 2010.
A 31 de Maio de 2012 altos funcionários dos governos da cidade e da província de Guangdong
e o ministro da Indústria e do Comércio de Israel, Shalom Simhon, participaram na cerimónia de
constituição do Parque Industrial Internacional de Alta Tecnologia China-Israel no parque do Lago
Songshan. O centro exigiu um investimento de 1,5 mil milhões de yuans e cobre uma área de 25
hectares, destinando-se a empresas especializadas em aplicações tecnológicas de tratamento por
água, automóveis eléctricos, tecnologias de informação, iluminação por semicondutores, células
fotovoltaicas, protecção ambiental e biotecnologia.“Israel é um país desenvolvido com grandes
capacidades científicas e tecnológicas”, disse Xu Jianhua, secretário do Partido Comunista de
Dongguan. “O início deste projecto de alta tecnologia de Israel ajudará definitivamente a modernização
científica e técnica da cidade”, disse ainda Xu.
Em 2005, a produção industrial do parque do Lago Songshan atingiu 2 mil milhões de yuans e, em 2009,
aumentou para 21,5 mil milhões de yuans. Em 2007, a Huawei, a empresa de Shenzhen que é um dos
maiores fabricantes mundiais de equipamento de telecomunicações, despendeu 4 mil milhões de yuans na
instalação no parque de um centro de produção ocupando uma área de 500 mil metros quadrados.
O parque do Lago Songshan é um dos 180 parques económicos e zonas industriais propriedade do
governo de Dongguan, 30 dos quais são de grandes dimensões, caso do de Songshan. Alguns dos outros
são o Parque Urbano Industrial Científico e Tecnológico de Dongguan e a zona de tecnologia intensiva
Shilong National Star Class.
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DONGGUAN: UMA NOVA FASE DE CRESCIMENTO
DONGGUAN: UMA NOVA FASE DE CRESCIMENTO
Sector privado
À semelhança de outras cidades de Guangdong, o sector privado desempenhou um papel vital no
desenvolvimento da economia de Dongguan, em particular as pequenas e médias empresas (PME).
O valor acrescentado da produção industrial das PME representa mais de 70% do total da cidade.
Atendendo a que a maior parte das PME de Dongguan é de mão-de-obra intensiva e orientada para a
exportação, sente com maior intensidade as flutuações da economia mundial. Atingidas pela recente
crise financeira, 795 empresas faliram em 2007 e, em 2008, esse número aumentou para 865 e para
mais de 1500, em 2009.
O futuro de Dongguan
O governo da cidade de Dongguan tem tentado promover a modernização industrial e o desenvolvimento
de indústrias de alta tecnologia, tais como a zona industrial do lago Songshan. No entanto, tem de
concorrer com os fortes organismos estatais de pesquisa e desenvolvimento e com as universidades em
Cantão, bem como as empresas privadas do sector existentes em Shenzhen e que contam com capitais
de risco e com o mercado de capitais.
Dongguan não tem capacidade para concorrer com estes colossos industriais e empresas de serviços
existentes na região. Mesmo que consiga pôr de pé agrupamentos de indústrias de alta tecnologia, estas
serão radicalmente distintas das actuais indústrias de mão-de-obra intensiva que estão a braços com
grandes dificuldades e não as ajudarão a sobreviver, quanto mais a modernizarem-se e desenvolveremse. O desafio da actualização industrial da economia local não é uma tarefa fácil, para mais quando tem
de competir com a concorrência interna e externa.
A região do Delta do Rio das Pérolas está a evoluir rumo a uma região metropolitana centrada em
Cantão e apoiada pela rede regional de comboios de alta velocidade e metropolitanos, igualmente
centrada em Cantão e cuja construção deverá ficar concluída nos próximos anos. A economia regional
no seu todo, em particular as zonas controladas por Cantão, que abrangem actualmente não só o
município de Cantão mas também a cidade de Foshan, está a sofrer uma transformação rápida da
indústria para os serviços. Com a excepção de Humen, um centro grossista para vestuário e calçado e
uma plataforma dos comboios intercidades, as outras regiões de Dongguan estão a ser abandonadas no
que se refere à expansão dos serviços municipais. O declínio da produção industrial a nível de subúrbio
vai erodir ainda mais o modelo económico que foi a base para o milagre económico de Dongguan.
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As empresas privadas de maior dimensão incluem a BBK Electronics, Dongguan Fushi Furniture,
Dongguan Lamex Furniture, Qisheng Electronics, Tecsun e Nintaus Digital. A primeira destas empresas
foi constituída em 1995 e produz equipamentos electrónicos como televisores, reprodutores de MP3 e
de DVD e telefones móveis. Em 2011, a empresa obteve uma facturação de 8,44 mil milhões de yuans,
cifrando-se o resultado, depois de impostos, em 260 milhões de yuans.
A Dongguan Fushi Furniture foi constituída em 1999, tendo-se especializado no fabrico de mobiliário
para escritório. A Dongguan Lamex Furniture, uma empresa com capitais de Hong Kong, foi estabelecida
em 1991, igualmente para produzir mobiliário de escritório. Em 2006, a empresa foi adquirida pela
norte-americana HNI por 70 milhões de dólares.
Em 2013, o governo da cidade reconheceu 27 empresas privadas como bases para demonstração de
indústrias inovadoras, elevando o número dessas empresas para 102. As empresas recebem ajuda
financeira e de outro tipo dos diversos departamentos governamentais. Numa medida destinada a
ajudar as empresas a melhorarem a sua capacidade de inovação autónoma, o governo da cidade tem-se
concentrado na melhoria das políticas de inovação e no reforço do apoio a prestar.
Estas medidas incluem o projecto “Ciência e Tecnologia em Dongguan”, em que vão ser despendidos
anualmente 2 mil milhões de yuans na consolidação de 50 esquemas de apoio financeiro em apenas 24
linhas de financiamento enquadradas em 8 grandes projectos; incluem igualmente uma componente
de apoio financeiro para componentes-chave da inovação tecnológica bem como a transformação
e modernização industrial. Desde 2012, a cidade já organizou 13 plataformas públicas de inovação
e 12 plataformas de inovação tecnológica a nível local. A cidade montou igualmente um centro
de engenharia a nível nacional, um centro de tecnologia empresarial também a nível nacional, 45
centros de engenharia a nível provincial, 56 centros tecnológicos empresariais a nível provincial, nove
laboratórios a nível provincial e 10 parcerias de pesquisa de inovação a nível nacional entre a indústria
e as universidades.
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DONGGUAN: UMA NOVA FASE DE CRESCIMENTO
DONGGUAN: UMA NOVA FASE DE CRESCIMENTO
De vendedor de fruta a marca internacional
Uma empresa notável é a Yishion, constituída em 1997 por Guo Donglin, um antigo vendedor de
fruta. A empresa produz vestuário do dia-a-dia para homens, mulheres e crianças, sendo uma das
principais marcas no seu sector na China, onde dispõe de mais de 4 mil pontos de venda num mercado
extremamente competitivo, disputado tanto por marcas nacionais como internacionais. Em apenas 15
anos, Guo conseguiu criar uma marca nacional e expandi-la para o estrangeiro, com pontos de venda
em 19 países, incluindo Barein, Irão, Jordânia, Kuwait, Malásia, Omã, Qatar, Arábia Saudita e Vietname.
No Verão de 2013, a empresa anunciou que iria entrar no mercado do Brasil.
A empresa teve início como um pequeno fabricante e grossista de vestuário no subúrbio Humen de
Dongguan, em 1997. A partir daí desenvolveu o negócio de retalho através de uma rede de franquias.
Nos anos mais recentes, estas lojas em regime de franquia têm estado a crescer à taxa anual de 30%.
Actualmente, existem mais de 4 mil pontos de venda no continente, com áreas que variam entre 300 e
mais de 4 mil metros quadrados, localizadas na sua maior parte em Guangdong e Sichuan. A empresa
está igualmente presente em Xangai, Hangzhou e Pequim, e dispõe de lojas especializadas em Hong
Kong, Sudeste Asiático, Rússia, Dubai e outras cidades do Médio Oriente, sempre com a ideia de fazer
da Yishion uma marca internacional. A empresa dispõe igualmente de uma plataforma de venda
electrónica.
Os seus principais produtos são roupa do dia-a-dia destinada ao segmento médio do mercado,
visando consumidores com idades compreendidas entre 15 e 30 anos que gostam de desportos e
estão atentos ao evoluir da moda. A empresa utiliza grupos de consumidores-alvo para recolher
ideias para a concepção dos produtos, dispondo de mais de 1400 designers da Europa, Malásia,
Japão, Sudeste Asiático e Hong Kong bem como do continente na sede em Dongguan, que preparam
os produtos de cada estação.
A empresa tem expandido de forma gradual a sua capacidade de produção tendo, actualmente, 30
fábricas com mais de 30 mil trabalhadores, que produzem artigos em malha e em lã. Mas a procura é
tão grande que já subcontrata quase metade da produção a fabricantes no continente e em Hong Kong,
tendo estabelecido, para 2013, uma meta de vendas de 8 mil milhões de yuans.
Em 2010, constituiu uma parceria na Índia para aí comercializar vestuário de homem, mulher e criança,
sapatos e acessórios produzidos na China. Em apenas dois anos a empresa passou a dispor de mais de
200 pontos de venda na Índia, onde pretende agora abrir 10 representações oficiais.
A empresa montou um centro de design em Londres, a que se deverão seguir Paris, Tóquio e uma cidade
de Itália, sendo o próximo alvo os mercados dos países desenvolvidos, os mais competitivos e difíceis.
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O percurso de vida de Guo Donglin
Guo Donglin, o fundador da Yishion, tem um percurso de vida curioso. Nascido em 1971, em Heyuan,
na província de Guangdong, numa família pobre, que se alimentava de papas de arroz e de hortaliças
salgadas, pois o arroz e a carne eram artigos de luxo reservados para dias festivos e ocasiões especiais,
Guo levava uma lancheira para a escola mas tinha vergonha da pouca qualidade dos seus alimentos,
pelo que os ingeria o mais depressa possível, a fim de evitar a troça dos colegas. Sempre que algo
desaparecia na escola era ele o acusado, uma vez que provinha de uma família pobre. Como único
refúgio sentava-se sozinho na margem de um pequeno rio onde dizia a si próprio que a única forma
de sobreviver era ser melhor do que os colegas e abrir o seu próprio caminho na vida. No segundo ano
do liceu viu-se forçado a abandonar os estudos, uma vez que a sua família não conseguia pagar as
propinas. O seu próximo passo foi pedir emprestado 4000 yuans e aventurar-se no negócio de madeira;
para azar seu, o negócio faliu e ele perdeu todo o dinheiro investido.
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DONGGUAN: UMA NOVA FASE DE CRESCIMENTO
DONGGUAN: UMA NOVA FASE DE CRESCIMENTO
Em 1999, no decurso da mesma feira internacional, lançou a sua própria marca, Yishion. Decidiu
igualmente diversificar a actividade, deixando apenas de produzir, para entrar no comércio a retalho e
no negócio de franquias, a fim de reter a maior parte dos lucros. Desde então o crescimento da empresa
tem sido espectacular, com as vendas a excederem anualmente 8 mil milhões de yuans. A riqueza
pessoal de Guo atingiu 2200 milhões de yuans em 2011, fazendo dele uma das 50 pessoas mais ricas da
China, de acordo com um sítio oficial. Em Outubro de 2010 percorreu as ruas de Dongguan envergando
vestuário Yishion transportando o facho dos Jogos Asiáticos de Cantão.
O percurso de vida de Guo não é único na China. Outras pessoas conseguiram deixar de ser pobres
e passar a ser muito ricas, em particular nas províncias do sul do país, como Guangdong, onde
a actividade privada tem mais força; a maior parte aproveitou as oportunidades existentes nos
primeiros anos do período de reformas, numa altura em que o mercado a retalho ainda se estava a
desenvolver.
Actualmente, os grandes grupos, tanto chineses como estrangeiros, chegaram e estabeleceram a sua
presença pelo que as oportunidades para pessoas como Guo são em menor número. A maior parte
dos amigos e vizinhos que Guo teve quando jovem continua a trabalhar na agricultura ou na indústria.
Quando percorre as suas fábricas e observa as centenas de trabalhadores migrantes a trabalhar nas
máquinas de costura, Guo imagina que poderia ter tido um futuro semelhante.
Sem vontade para regressar a casa e ter de enfrentar a troça dos familiares, rumou a Cantão com 50
yuans no bolso. Uma vez na cidade montou uma venda de fruta junto ao porto. Guo tinha de se levantar
cedo mas o negócio prosperou uma vez que era o único ponto de venda aberto quando chegavam os
operários do primeiro turno. Nesta actividade ganhou o suficiente para pagar as dívidas do falido negócio
de madeira, tendo aproveitado o tempo disponível para tirar um curso de gestão de empresas.
Um dia foi apresentado a uma pessoa que trabalhava no negócio do vestuário. A partir deste momento
começou a comprar roupa barata nos saldos das fábricas do Delta do Rio das Pérolas e a vendê-la com
um pequeno lucro. Continuava a ter de se levantar cedo a fim de estar no portão da fábrica antes dos
outros e poder escolher as roupas mais baratas e mais populares. As margens de lucro eram mínimas
mas permitia-lhe poupar algum dinheiro, além de que apreciava o seu novo negócio.
Em 1996, montou a sua primeira fábrica de vestuário em Panyu, na província de Guangdong, ano
em que conheceu a sua futura mulher, Ye Guiyan. No ano seguinte, o casal mudou-se para Humen,
em Dongguan, um centro nacional de produção de vestuário. Uma vez chegados decidiram centrar a
produção numa gama média dirigida a jovens, sendo a Zara o modelo de negócio a emular. Guo geria a
fábrica e a mulher tinha a responsabilidade de desenhar os produtos. Numa fase inicial a fábrica tinha
40 operários. Nesse ano, 1997, Guo apresentou-se na Feira Internacional de Vestuário de Humen com
11 peças originais e conseguiu obter um grande número de encomendas.
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DONGGUAN: UMA NOVA FASE DE CRESCIMENTO
Aumento dos salários
No decurso dos últimos cinco anos, a contratação de trabalhadores migrantes tem sido uma questão
crítica para as empresas privadas. Melhor condição laboral na província de Sichuan, em Chongqing e em
outras regiões tem levado a que as pessoas estejam menos interessadas em mudar-se para Dongguan
e outras cidades costeiras. Um trabalhador em Chongqing, por exemplo, consegue um salário de 1800
yuans por mês; o custo de vida é menor do que em Dongguan e está em casa, junto da família e dos
amigos. Por isso, uma empresa de Dongguan tem de oferecer pelo menos 3 mil yuans por mês para
atrair esses trabalhadores.
Outras cidades na província de Guangdong aumentaram este ano o salário mínimo em cerca de 30%
para 1310/1510 yuans por mês. A pressão decorrente dos crescentes custos com a mão-de-obra tem
forçado empresas de Guangdong a socorrerem-se de outras soluções, tais como a automação. Uma
fábrica de artigos em ferro de Dongguan reduziu a sua força de trabalho de cerca de 2 mil trabalhadores,
em 2008, para os actuais 600, número que vai continuar a baixar com a introdução constante de
produção automatizada.
DONGGUAN: UMA NOVA FASE DE CRESCIMENTO
Imobiliário e finanças
À semelhança de outras cidades da China, Dongguan aprovou, em 2013, medidas no sentido de travar
a escalada de preços no sector do imobiliário. Essas medidas pretendem apoiar os compradores da
primeira habitação e reduzir os lucros decorrentes da especulação imobiliária. Em Fevereiro, o governo
da cidade reduziu de 80% para 70% do valor da casa o montante máximo para a concessão de
empréstimos a compradores da primeira habitação.
De acordo com dados oficiais, o investimento em imobiliário, em 2012, atingiu 37,3 mil milhões de
yuans, um aumento anual de 1,1% e a área total dos apartamentos vendidos ascendeu a 6,39 milhões
de metros quadrados, mais 7,3%.
Em Maio de 2013, o grupo estatal Poly Real Estate anunciou um plano para investir 20 mil milhões de
yuans na construção da Poly Eco-City em Dongguan, projecto que cobre uma área de 60 quilómetros
quadrados, ou cerca de duas vezes a superfície de Macau. Quando concluído, este será o maior projecto
turístico no Delta do Rio das Pérolas. Este projecto abrange três bairros de Dongguan, com a primeira
fase, que consiste em vivendas e condomínios em que cada unidade terá uma área de 200 a 400 metros
quadrados, a localizar-se no bairro Zhangmutou.
No decurso dos próximos seis a oito anos, o grupo Poly aplicará o montante anunciado na construção
de uma série de parques temáticos, um centro de saúde Zen e uma zona para negócios que inclui um
campo de golfe, um centro de conferências e um hotel. O governo da cidade de Dongguan encara este
projecto como vital para ajudar a rejuvenescer o mercado imobiliário e adianta que o projecto do grupo
Poly atingirá vendas anuais de 20 mil milhões de yuans quando concluído, montante suficiente para
investir em outro bairro.
Este projecto visa atrair entre 6 milhões a 8 milhões de turistas por ano e ajudar a melhorar o rácio entre
a indústria e os serviços em Dongguan.
Sector financeiro
A cidade tem um sector financeiro pujante, com 97 instituições financeiras, das quais 31 são bancos
comerciais e 41 companhias de seguros, havendo ainda 25 empresas envolvidas na negociação de
títulos e de futuros.
No final de 2012, os depósitos no sector financeiro atingiam 743 mil milhões de yuans, um acréscimo anual
de 12,4%. Daquele montante, 420 mil milhões de yuans pertenciam a particulares, um aumento de 13,3%.
Os empréstimos a particulares para a compra de propriedades atingiram 83,3 mil milhões de yuans,
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DONGGUAN: UMA NOVA FASE DE CRESCIMENTO
mais 8,5% e 921 milhões de yuans, menos 43,3%, para a compra de viatura própria. No final desse ano,
954,1 mil pessoas dispunham de contas correntes nas empresas de corretagem, mais 59,3 mil do que
um ano antes. O volume de negócios nesta actividade situou-se, em 2012, em 610 mil milhões de yuans,
uma queda de 25,7% relativamente a 2011.
População
De acordo com dados oficiais, a população de Dongguan era de 8,29 milhões de pessoas no final de
2012, das quais apenas 1,87 milhões eram possuidores do cartão de residente. Estes números ilustram
de uma forma clara a natureza pouco usual da população no decurso dos últimos 20 anos. A maior
parte dos residentes da cidade – os outros 6,42 milhões – são migrantes que se mudaram em busca
de trabalho, mantendo a sua residência primária e o registo urbano na terra natal, em outras zonas de
Guangdong ou em outros províncias da China.
Muitos vivem nos dormitórios das fábricas ou em apartamentos partilhados com outros familiares
ou outros trabalhadores. O seu objectivo é maximizar as poupanças a fim de enviar o dinheiro para a
família, sendo que o dinheiro ganho em Dongguan pode chegar para construir uma casa ou montar um
negócio na terra natal.
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DONGGUAN: UMA NOVA FASE DE CRESCIMENTO
Estes trabalhadores deixam as mulheres e as crianças em casa e vêem-nos uma vez por ano, durante
o Festival da Primavera. Anualmente a China é palco da maior movimentação populacional em tempo
de paz em todo o mundo, quando dezenas de milhões de pessoas deixam Dongguan e outras cidades
costeiras rumo a casa para aí passarem entre duas a quatro semanas. Na terceira semana após o
Ano Novo Lunar, os proprietários das fábricas em Dongguan começam a aguardar ansiosamente pelo
regresso dos trabalhadores, que poderão não o fazer dado terem encontrado emprego próximo de casa
ou em fábricas de outras cidades, conseguido através de um amigo ou de um contacto estabelecido
durante as férias. Este fenómeno é recorrente em Shenzhen, Zhuhai, Shantou, Cantão, Xangai, Pequim,
Tianjin e nas outras cidades que são os centros industriais da China. No entanto, este fenómeno observase com maior acutilância em Dongguan.
Dongguan é uma cidade jovem, onde a maior parte da população é constituída por trabalhadores
migrantes; outras cidades, que se têm desenvolvido ao longo de 30 anos ou mais, têm sido escolhidas
pelos trabalhadores migrantes para aí residirem. Fazem-se acompanhar das mulheres e dos filhos e, por
vezes, dos pais e, caso o consigam, adquirem um apartamento. Dentro de algum tempo conseguem
obter o certificado de residência. Em Dongguan quase 90% da população tem idades compreendidas
entre 15 e 64 anos, a idade activa, com apenas 2,26% a terem mais de 65 anos. Esta percentagem é
uma das mais baixas de qualquer cidade em toda a China ou no mundo, o que significa que a maior
parte dos residentes não pretende permanecer na cidade uma vez terminado o trabalho, regressando a
casa ou indo à procura de emprego em outros locais.
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DONGGUAN: UMA NOVA FASE DE CRESCIMENTO
População residente diminui
Em Dongguan, o processo de domiciliação e migração não ocorre há tempo suficiente e a cidade não
conseguiu convencer os trabalhadores migrantes de que é o melhor lugar para passarem a viver. A
população atingiu um pico de 12 milhões, em 2008, e desde então sido grandemente afectada pelas
alterações económicas.
O subúrbio de Dingshan na vila de Houjie, por exemplo, tem uma população residente de apenas 10
mil pessoas mas dezenas de milhares de trabalhadores migrantes lá trabalham nas muitas fábricas
existentes. Desde 2008, 40 mil trabalhadores migrantes saíram de Dongguan, onde actualmente
existem muitos apartamentos e fábricas devolutas disponíveis para arrendamento. De acordo com
dados oficiais, a população da cidade caiu de um pico de 12 milhões de pessoas, em 2008, para 8,25
milhões actualmente. Em 2002 também Dingshan tinha muitas pessoas, o que levou a que muitas com
acesso a capital construíssem apartamentos para arrendar. Entre 2002 e 2008 a taxa de ocupação era
superior a 70% mas, em 2009, caiu para 50% e, após 2012, para menos de 50%.
A questão de quando e como reformar o sistema de autorização de residência tem sido activamente debatida
na China nos últimos anos. Uns propõem que as cidades devam atribuir estas autorizações aos trabalhadores
migrantes que viveram na cidade um determinado número de anos e que deram uma contribuição
significativa. Em sua defesa argumentam ser injusto que os filhos não tenham os mesmos direitos de acesso
a escolas bem como as famílias a hospitais e a outros benefícios sociais enquanto residentes.
Outros argumentam que os governos das cidades não têm capacidade financeira para garantir a milhões
de trabalhadores migrantes o mesmo nível de apoio educativo e de saúde que é atribuído aos residentes
de longa data. Este debate é particularmente relevante em Dongguan, uma das cidades da China com
a mais elevada proporção de pessoas migrantes.
DONGGUAN: UMA NOVA FASE DE CRESCIMENTO
Estas medidas incluem o tratamento preferencial de empresas que prestem serviços ao domicílio,
incluindo a diminuição das exigências regulamentares, o aumento do nível de apoio financeiro e
reduzindo ou renunciando a taxas e outros impostos sobre estas empresas. Por exemplo, as empresas
que prestam serviços ao domicílio e que tenham sido constituídas na forma de sociedades anónimas
de responsabilidade limitada – com a excepção de empresários em nome individual – com um capital
inferior a 100 mil yuans podem adiar pelo período máximo de dois anos a realização desse capital. O
governo da cidade dará ainda a estas empresas tratamento preferencial sob a forma de subsídios em
dinheiro e empréstimos.
Comércio
Dongguan alberga o maior centro comercial do mundo. O Novo Centro Comercial do Sul da China
abriu ao público em 2005 no que anteriormente eram terrenos agrícolas no bairro Wanjiang, com
892 mil metros quadrados de área, 660 mil dos quais disponíveis para arrendamento. O centro tem
espaço coberto para 2350 lojas e dispõe de sete zonas que têm por base temas internacionais, incluindo
Amesterdão, Paris, Roma, Veneza, Egipto, Caraíbas e Califórnia. No centro existe uma réplica do Arco
do Triunfo com 25 metros de altura, uma réplica da torre sineira de São Marcos, em Veneza, um canal
com uma extensão de 2,1 quilómetros por onde navegam gôndolas e uma montanha russa interior e
exterior com 553 metros de comprimento.
O centro foi inaugurado em 2005 antecipando os seus promotores uma afluência de 100 mil visitantes
por dia; no entanto, muito do espaço para o comércio a retalho não foi arrendado, sendo que 99% das
lojas continuam vazias. As únicas zonas que estão ocupadas são as junto das entradas onde existem
restaurantes de cadeias ocidentais de comida pronta a servir e um parque de estacionamento que foi
transformado numa pista para corridas de karts.
Melhorar o atendimento domiciliário
O governo da cidade já reconheceu a necessidade de melhorar os serviços de atendimento domiciliário,
especialmente no que se refere a idosos. Em Junho de 2013, anunciou um conjunto de medidas para
fomentar a indústria que incluíam benefícios fiscais, subsídios monetários e empréstimo a taxa zero
para empresas que prestem aquele tipo de serviços. No decurso do 12º plano quinquenal irá apoiar seis
sectores-chave na indústria, com o objectivo de criar 20 mil postos de trabalho e alcançar uma taxa de
emprego de 60% para aqueles que na cidade disponham das necessárias qualificações.
O principal defeito deste centro comercial é a sua localização. Situa-se nos arredores de Dongguan,
apenas acessível por viatura privada ou por autocarro, fazendo com que seja de difícil acesso a grande
parte da população. A cidade não tem um aeroporto nem existem auto-estradas próximo. Além disso,
os trabalhadores migrantes estão na cidade para poupar dinheiro e não para gastá-lo, pelo que não
estão interessados em despendê-lo num centro comercial daquela dimensão ao fim-de-semana. O
alvo do centro devia ser a classe média e superior de consumidores dispondo de viatura própria que
procuram um local onde levar as crianças e os pais durante os feriados e fins-de-semana.
Os seis sectores são trabalhos domésticos, atendimento a idosos, cuidados de saúde a domicílio, serviços
de saúde, cuidados assentes na comunidade e serviço de acompanhamento de idosos. Além disso, o
governo da cidade pretende montar uma rede de serviços ao domicílio e acelerar a organização de
sistemas de apoio a idosos, serviços de apoio a pessoas com deficiência e serviços de fisioterapia.
Este centro comercial é um dos muitos “projectos fantasma” existentes na China. Tais projectos reflectem
as baixas taxas de juro e a celeridade dos bancos em financiá-los, sabendo de antemão que não serão
punidos caso os empréstimos deixem de ser pagos. Os bancos públicos podem dar-se ao luxo de manter
esses débitos nas contas.
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DONGGUAN: UMA NOVA FASE DE CRESCIMENTO
DONGGUAN: UMA NOVA FASE DE CRESCIMENTO
Cadeias internacionais
Muitas cadeias internacionais estão presentes em Dongguan. O Carrefour tem três pontos de venda e a
empresa alemã Metro Cash and Carry, uma divisão do grupo Metro AG, número um mundial do negócio
de cash and carry, estabeleceu-se na cidade em Janeiro de 2006. Nesta empresa, os clientes escolhem
os produtos, pagam em dinheiro e asseguram o transporte. Os clientes, que tanto podem ser pessoas
individuais ou colectivas, têm de ser sócios. Todas as manhãs, por volta das 03h00, os produtos de
consumo diário chegam à loja a fim de que os consumidores possam comprar produtos frescos todos
os dias. Outras grandes cadeias presentes na cidade incluem a Tesco, Wal-Mart, Oliver Supermarket e
Gome e Suning, estas duas para os electrodomésticos.
Centro de vestuário
No resto da cidade de Dongguan o comércio é mais convencional. No subúrbio de Humen, por exemplo,
existem mais de 1000 empresas que produzem vestuário, um terço das quais são propriedade de
estrangeiros. Diversos grupos retalhistas internacionais abriram lojas neste local, lugares onde o público
pode adquirir vestuário a preços inferiores aos de Hong Kong.
A rua comercial Nancheng Fumin reservada a peões, com uma extensão de 1200 metros, tem lojas da
Nestlé, da Du Pont dos Estados Unidos e Nokia da Finlândia.
Em 2012, as vendas a retalho na cidade de Dongguan atingiram o valor de 135,46 mil milhões de
yuans, um aumento anual de 9,3%. Esta taxa pode ser considerada baixa para Dongguan, cidade que
registou taxas de crescimento de dois dígitos desde 2006, com a excepção dos 8,8% registados em
2009. Em dois anos, 2007 e 2008, a taxa de crescimento do comércio a retalho foi de 20,5% e 22%,
respectivamente.
Em 2012, as vendas com taxas de crescimento mais elevadas foram as de alimentos, bebidas e tabaco, com
12,8%, vestuário, 11,9% e automóveis, com mais 10%. Na primeira metade de 2013 as vendas a retalho
atingiram 73,14 mil milhões de yuans, um aumento homólogo de 9,3%. A previsão oficial para o comércio
a retalho, em 2015, é de 165,8 mil milhões de yuans, com um crescimento anual médio de 13%.
60
Estas cadeias estão a alterar o tipo de consumo em Dongguan. Anteriormente, as pessoas com maiores
posses iam a Shenzhen, Cantão ou Hong Kong para adquirirem produtos mais caros. Mas, desde 2013,
as autoridades do continente começaram a aplicar taxas alfandegárias aos produtos adquiridos em
Hong Kong, o que funcionou como um desincentivo. Em segundo lugar, o aumento do rendimento
disponível na cidade criou uma classe média que pretende gastar o seu dinheiro em artigos de marca
e restaurantes e clubes caros. O desenvolvimento urbano também deu o seu contributo, uma vez que
com a entrada em funcionamento do metro ligeiro de superfície as deslocações às zonas comerciais
passaram a ser mais fáceis. Tudo isto tem encorajado o aparecimento de produtos de consumo de maior
qualidade.
A cidade é servida por lojas de uma série de cadeias nacionais, tais como Zhongyu Telecom, Meiyijia
Convenience Store, Jiarong Shopping e Kung Fu Fast Food. Outras redes de retalho são a Meiyijia
Convenience Stores, Tianfu Tea e Xinglinchun Herbal Tea, que operam na região do Delta do Rio das
Pérolas. Existem igualmente em Dongguan mercados por grosso, que abastecem toda a região do sul
da China em produtos agrícolas e vestuário de moda.
Marcas, pesquisa e desenvolvimento
O governo gastou grandes somas na pesquisa e desenvolvimento no âmbito dos esforços efectuados
no sentido de melhorar a economia da cidade e fazer com que as empresas fossem mais competitivas.
Em 2006, o departamento de Finanças do governo da cidade iniciou um programa quinquenal a fim de
aplicar mil milhões de yuans na inovação científica e tecnológica.
No final de 2007, 394 inovações técnicas e programas de inovação tinham recebido 340,11 milhões
de yuans em fundos nacionais, provinciais e municipais. Além disso, uma plataforma de inovação
foi estabelecida pelo Instituto Industrial de Electrónica de Guangdong, Instituto de Electrónica
61
DONGGUAN: UMA NOVA FASE DE CRESCIMENTO
e Tecnologias de Informação de Dongguan da Universidade de Ciência Electrónica e de Tecnologia
da China, o Laboratório Nacional de Tecnologia de Moldes, o Centro Experimental de Dongguan da
Universidade Central de Ciência e Tecnologia da China e outras instituições.
A cidade criou igualmente um laboratório para estudo de neutrões bem como oito plataformas de
inovação de nível provincial. Actualmente, existem 58 centros de pesquisa e desenvolvimento de
engenharia empresarial em Dongguan. A cidade está ainda a trabalhar no sentido de promover a
cooperação entre empresas, universidades e institutos de pesquisa.
Todos estes esforços têm ajudado as empresas instaladas na cidade a melhorarem a capacidade para
inovar os seus produtos e respectiva tecnologia. O governo da cidade pretende aumentar a proporção do
orçamento despendido em pesquisa e desenvolvimento para 1,5% em 2015, contra a taxa actual de 1,15%,
o que será um acréscimo significativo mas, mesmo assim, atrás dos níveis de Cantão ou de Shenzhen.
Outra componente da estratégia do governo municipal é melhorar as marcas das empresas instaladas na
cidade, a fim de que se deixe de produzir para terceiros, que obtêm a fatia de leão dos lucros através da
venda final dos produtos. Nesse sentido, a cidade estabeleceu um sistema de prémios financeiros para
marcas comerciais famosas, que chegam a atingir 1 milhão de yuans no caso das mais conhecidas.
O número dessas marcas tem estado a crescer, havendo actualmente mais de 400, 18 das quais
estão incluídas nos “Nomes comerciais famosos” da China e 9 nas “Marcas comerciais conhecidas”,
igualmente a nível nacional. Há, igualmente, 76 marcas livres de inspecção a nível nacional, duas
marcas exportadoras a nível também nacional, 117 marcas famosas da província de Guangdong, 130
marcas registadas da província de Guangdong, 22 marcas de produtos alimentares e quatro marcas de
produtos biológicos. No final de 2011, a cidade contava com 4325 marcas e 441 institutos de pesquisa
na indústria de processamento.
Deslocações e logística
A estação de caminhos-de-ferro de Dongguan foi inaugurada em 1911, uma estação na linha entre
Kowloon e Cantão, uma das primeiras da China. A estação ficou conhecida como Changping, em
função do bairro onde fica localizada. Mais tarde passou a chamar-se estação de caminhos-de-ferro de
Dongguan, com ligações a Shenzhen e a Hong Kong mas, igualmente, a Pequim.
Em 20 de Junho de 2013 voltou a chamar-se Changping, sendo o nome da estação de Dongguan
utilizado numa outra estação da linha Cantão-Shenzhen. As boas ligações ferroviárias entre Dongguan
e outras cidades do Delta do Rio das Pérolas têm estado na base do sucesso da cidade.
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DONGGUAN: UMA NOVA FASE DE CRESCIMENTO
A nova linha de metropolitano
Em 2010, a cidade iniciou a construção da rede de metropolitano. A primeira linha deverá ser
inaugurada em Março de 2015 com 15 estações numa extensão de 37,8 quilómetros, a maior parte
subterrânea. O custo desta linha está estimado em 18 mil milhões de yuans. O projecto será gerido
pela Companhia de Transportes do Metro Ligeiro de Dongguan, que foi constituída em Maio de 2009.
A empresa vai poder investir no fomento imobiliário ao longo da linha e proceder ao arrendamento
e à venda a retalho e por grosso dos espaços disponíveis; esta actividade irá gerar a maior parte das
receitas necessárias para pagar a construção da linha, o mesmo modelo que foi usado com êxito em
Hong Kong.
A linha foi desenhada para uma velocidade operacional máxima de 120 quilómetros por hora, pelo
que uma deslocação da principal estação, no bairro de Shilong, para a zona central da cidade levará
apenas 16 minutos. Uma viagem até ao subúrbio Humen demorará 24 minutos e percorrer a linha em
toda a sua extensão levará não mais de 40 minutos.
A primeira linha atravessará oito dos subúrbios da cidade e disporá de paragens em duas estações da
rede nacional de caminhos-de-ferro – Dongguan e a estação de Humen, actualmente em construção.
Esta nova estação estabelecerá a ligação com o comboio expresso Cantão-Shenzhen-Hong Kong e
com o comboio intercidades Cantão-Donnguan-Shenzhen.
Em 2020, o sistema de metro de Shenzhen ficará directamente ligado a Dongguan e à vizinha
cidade de Huizhou, facilitando ainda mais as deslocações entre as três cidades. As linhas 6 e 11 do
metro de Shenzhen ligar-se-ão às linhas R1 e R3 em Dongguan, ao passo que a linha Longgang e
a futura linha 12 seguirão para Huizhou. Quando todas estas linhas ficarem prontas, os residentes
de Dongguan poderão seguir de metro até ao bairro central de Futian de Shenzhen e até ao
aeroporto da cidade.
O sistema de metro tem diversos objectivos. Destina-se a estabelecer uma ligação entre os
32 subúrbios de Dongguan, permitir uma deslocação mais fácil e rápida entre elas e diminuir a
dependência da viatura privada, que tem sido essencial até à data. Permitirá igualmente que o papel
de centro comercial da cidade seja melhorado, ao facilitar o acesso aos residentes e aos visitantes.
Devido à localização geográfica de Dongguan e à sua importância enquanto centro exportador,
a cidade desenvolveu uma importante indústria logística, tendo por base o porto de Humen e o
centro logístico Changping Grand Beijing-Kowloon. A cidade conseguiu atrair empresas como a DHL,
Moller-Maersk e Ever Gain & Omori e locais como a Nanxin Logistics, Time-express Logistics e Huali
Transportation. Os quatro mais importantes centros logísticos ficam localizados nos subúrbios de
Shatian, Maching, Changping e Zhangmutou.
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DONGGUAN: UMA NOVA FASE DE CRESCIMENTO
Planeamento urbano
A cidade de Dongguan de há muito que é criticada pela ausência de planeamento urbano; pelo
contrário, o governo da cidade tem permitido o aparecimento disperso de agregados populacionais.
O nível de urbanização é muito elevado – mais de 80% desde 2006 e atingindo 87% em 2010 – mas
a natureza descoordenada do crescimento urbano fez com que Dongguan não seja uma cidade no
sentido exacto da palavra. Ao invés, existem zonas urbanas misturadas com zonas industriais – ou
agregados populacionais misturados com fábricas um pouco por todo o lado – nos 32 subúrbios que
compõem a cidade.
A ausência de infra-estruturas e serviços urbanos, em particular um sistema público de transportes, fez
com que a vida na cidade seja pouco atractiva. Um ambiente urbano deste tipo não atrai os quadros
de que a cidade necessita caso pretenda atingir os objectivos delineados e tornar-se numa cidade
inovadora e criativa.
DONGGUAN: UMA NOVA FASE DE CRESCIMENTO
Lazer e Cultura
Lazer
Para os adeptos do golfe, o facto de a empresa onde trabalham os colocar em Dongguan é uma bênção.
A cidade fica próximo de um dos maiores campos de golfe do mundo, Mission Hills, situado na vila de
Guanluan, entre Dongguan e Shenzhen. O campo tem 11 percursos de nível profissional e um percurso
de 18 buracos em que cada um foi desenhado por uma personalidade do golfe. Estas personalidades
incluem Jack Nicklaus, Greg Norman, Ernie Els, Annika Sorenstam, Nick Faldo, Jumbo Ozaki e Zhang
Lianwei.
O campo inclui um ginásio, estância turística e clube de campo com 51 campos de ténis, um dos quais
com 3 mil lugares sentados, academia de golfe e um hotel de cinco estrelas.
O 12º plano quinquenal pretende dar uma resposta àquele objectivo, podendo ser definido como uma
estratégia global de crescimento inteligente. Os níveis de urbanização nos próximos 5 anos terão
aumentado para 87% a 88%, sendo o acento tónico colocado num melhor planeamento e coordenação
visando melhorar a qualidade da vida citadina.
O crescimento centrar-se-á no principal centro urbano, que abrange o bairro comercial central e três
grandes subúrbios – Houjie, Humen e Changan. A cidade vai melhorar a actual rede de vias rápidas e
construir uma linha de metropolitano ligeiro para estabelecer a ligação com os comboios intercidades e
de alta velocidade que a atravessam. O objectivo é criar uma zona de percursos até outras cidades que
não ultrapassem uma hora e de apenas meia hora na zona habitacional da cidade.
Com a ênfase na rede de caminhos-de-ferro, a cidade está a fazer com que os transportes públicos
passem a desempenhar um papel de liderança, substituindo a grande dependência da viatura privada
que evoluiu à medida que mais núcleos urbanos iam aparecendo.
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DONGGUAN: UMA NOVA FASE DE CRESCIMENTO
Próximo dos campos de golfe está a ser construído um complexo de grandes dimensões, Mission Hills
Centreville, onde serão investidos 793 milhões de dólares. Este complexo inclui um hotel, escritórios,
parques, comércio e um centro de convenções e de entretenimento. A ser construído num terreno com
500 mil metros quadrados, terá um hotel de cinco estrelas com 700 quartos, uma sala de cinema IMAX,
salas para exposições, 200 lojas, uma escola internacional e cerca de mil apartamentos, tudo rodeado
por um parque de grandes dimensões.
Além disso, a cidade de Dongguan tem seis campos de golfe, uma das razões para a sua popularidade
junto dos naturais de Taiwan.
Dongguan é conhecida como a fábrica do mundo e agora pretende ser igualmente conhecida pelas
suas florestas. Em Abril de 2013, o Departamento Florestal Nacional aprovou a proposta entregue pelo
governo da cidade para ser designada uma “Cidade Florestal Nacional” e solicitou a apresentação de
um plano de pormenor. No final de 2012, a cobertura florestal da cidade era de 37,1%, com uma área
verde per capita de 16,6 metros quadrados. A área mais importante é o monte Huangqi, em Qifeng, que
recebe milhões de visitantes por ano, sendo por isso a maior atracção turística da cidade. Durante anos,
esta floresta foi gerida em termos empresariais. A partir de 2010 começou a atrair pessoas interessadas
em caminhadas, particularmente aos fins-de-semana.
A comissão de gestão iniciou, entretanto, um projecto para plantar muitas espécies, tendo em 2013
completado os trabalhos numa área de 155 hectares.
Dongguan tem 17 parques, conhecidos localmente como os “pulmões da cidade”. Os seis mais
conhecidos são Dalingshan, Dapingzhang, Shuilianshan, parque da montanha Huangqi (que inclui o
parque Huying), o parque ecológico Tongsha e Yinpingshan. Estes parques são de acesso livre, atraindo
milhares de pessoas, particularmente nos fins-de-semana e feriados.
DONGGUAN: UMA NOVA FASE DE CRESCIMENTO
Cultura
Dongguan é o local de nascimento da arte Lingnan1 . Os criadores originais deste estilo são Lian
Ju e Chao Ju, que viveram e deram aulas de pintura no jardim Keyuan, em Dongguan. A cidade
produziu igualmente artistas como Mu Zhang, Erya Deng, Geng Rong e Bai Deng, tendo este
último introduzido melhorias no estilo de pintura da arte Lingnan. O Colégio de Arte Lingnan de
Dongguan é, actualmente, um dos mais importantes centros para a promoção da arte Lingnan.
A ópera cantonesa é uma parte importante da cultura Lingnan, sendo Dongguan uma das
grandes bases deste tipo de espectáculo, muito popular na região. A cidade deu origem a muitos
cantores famosos de ópera cantonesa, incluindo He Feifan, Chen Xiaofeng e Lu Qiguang. Daojiao
recebeu as distinções de “Casa da ópera chinesa” e “Casa da ópera folclórica chinesa” pela
Associação de Ópera da China e pelo Ministério da Cultura. Machong foi distinguida com o
cognome de “Berço da ópera chinesa em Guangdong” e a peça de ópera cantonesa de Dongguan
Chang foi representada na Grande Sala do Povo e premiada com o Prémio Dourado de Arte
Folclórica da China.
No bairro de Guancheng fica situado Keyuan, um dos mais famosos jardins de Guangdong
durante a Dinastia Qing. Trata-se de um exemplo excelente da arquitectura Lingnan, tendo sido
construído por Zhang Jingxiu, um natural de Guancheng. A construção iniciou-se em 1850 e
terminou oito anos mais tarde e desde então o jardim tem sido expandido e reconstruído por
diversas vezes. O jardim cobre uma área de 2200 metros quadrados e tem diversos pavilhões
chineses de desenho requintado. Todos os edifícios foram construídos com tijolos fumados, o
que lhes dá um aspecto característico. Zhang era um funcionário imperial superior designado
pelas províncias de Guangxi e Jiangxi, tendo o nível de vice-governador. Após se ter aposentado
regressou à sua cidade natal de Dongguan, tendo passado a viver em Keyuan. Zhang praticava
caligrafia, xadrez e poesia e coleccionava pedras e antiguidades. Zhang costumava convidar
amigos, poetas, académicos e pintores para reuniões em Keyuan, que passou a ser um dos
berços da cultura de Guangdong. Foi neste jardim que o estilo de pintura Lingnan teve origem.
Há cinco anos, a cidade despendeu 120 milhões de yuans na construção do Parque de Cultura
Tradicional Keyuan, que inclui um museu Keyuan. O parque tem uma área de 17 900 metros
quadrados e uma área de exposição de 4800 metros quadrados, com cinco salas.
A cidade tem 21 bibliotecas públicas, três museus e 145 salas de espectáculos, incluindo 84
teatros.
1 A cultura Lingnan refere-se à cultura da província de Guangdong e das províncias vizinhas do sudeste da China e nela
incluem-se as culturas Hakka, Chaoshan e Cantonesa.
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DONGGUAN: UMA NOVA FASE DE CRESCIMENTO
DONGGUAN: UMA NOVA FASE DE CRESCIMENTO
Locais históricos
A cidade de Dongguan tem muitos locais de interesse histórico, particularmente os relacionados
com as Guerras do Ópio, também conhecidas com as Guerras Anglo-Chinesas, que decorreram
de 1839 a 1842 e de 1856 a 1860. Existem muitas fortificações dessa época, bem como outras
atracções e museus dedicados aos acontecimentos registados naqueles períodos. De todos o
melhor preservado é o forte Weiyuan Humen, um dos de maiores dimensões da China. O Museu
da Guerra do Ópio de Dongguan é considerado uma Área Cénica Nacional contendo uma colecção
diversa de materiais históricos relacionados com aquele conflito.
Situado no subúrbio de Humen, o museu expõe recordações da operação de destruição de ópio
levada a cabo por Lin Zexu, sendo uma das 100 principais bases de educação patriótica da China.
Este museu conta a história de Lin Zexu, famoso académico e funcionário enviado pelo imperador
Qing a Cantão para pôr termo ao comércio de ópio. Num primeiro momento Lin foi bem-sucedido
mas a destruição de uma grande quantidade de droga enfureceu os comerciantes ingleses, que
conseguiram convencer o governo britânico a desencadear uma guerra a fim de conseguir a
legalização daquele lucrativo produto.
A principal atracção do museu é o edifício de exposições, que cobre uma área de 2400 metros
quadrados. Na forma de um forte, apresenta muitas fotografias e artigos relacionados com
as Guerras do Ópio e com Lin Zexu. No segundo andar, existe uma pintura cubista de grandes
dimensões que pretende fazer com que o observador se consiga imaginar num campo de batalha
daquelas guerras. A pintura faz uso de tecnologias avançadas como caixa de areia, som, luz e
electricidade para tentar reproduzir aquele período turbulento. O museu inclui ainda exposições
sobre controlo de drogas, arte contemporânea, ciência e tecnologia e usos e costumes étnicos.
Zhangmutou
O Forte Shajiao, outra recordação das Guerras do Ópio, foi, em conjunto com o Forte Dajiao, uma
importante linha de defesa, protegendo a cidade de Cantão.
Um local de descanso para reformados de Hong Kong
Outro local popular em termos culturais é a “Vila do Eremita”, onde nasceu Li Juesi, um funcionário
da Dinastia Ming que foi demitido por ser frontal e honesto. Após a demissão regressou à terra
natal onde passou a viver como um eremita, daí a razão do nome.
O local foi expandido e transformado numa zona de lazer com mais de 50 hectares. A sua
arquitectura e esculturas ao estilo antigo fazem recordar o Confucionismo, Taoismo e Budismo.
Nele pode apreciar-se a maior estátua em mármore da Deusa da Misericórdia na China, com 29
metros de altura. Uma fonte de grandes dimensões tem a tradicional figura chinesa de Bagua, os
oito trigramas.
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Uma das razões do crescimento da economia de Dongguan é a atracção que exerce sobre migrantes
de Hong Kong. Num subúrbio da cidade, Zhangmutou, existem muitos apartamentos que foram
construídos visando aquelas pessoas. O seu nome deriva do facto de terem existido no local muitas
árvores de cânfora, que em chinês se diz “zhangmu”, enquanto “tou” significa cabeça. Em Zhangmutou
existe uma estação de caminhos-de-ferro da linha que liga Hong Kong, Shenzhen e Cantão, o que
significa que é de fácil acesso para as pessoas de Hong Kong. Neste subúrbio passam ainda outras
linhas de caminho-de-ferro. Situa-se a uma hora de distância de Macau, Hong Kong, Cantão, Shenzhen,
Dongguan e Huizhou, ficando a 38 quilómetros de Shenzhen e a 100 de Cantão.
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DONGGUAN: UMA NOVA FASE DE CRESCIMENTO
Este subúrbio cobre uma área de 119 quilómetros quadrados na região sudeste de Dongguan,
sendo um dos 32 subúrbios que compõem a cidade. À semelhança do que ocorre no resto da
cidade, também em Zhangmutou os trabalhadores migrantes, cerca de 200 mil, excedem em muito
os residentes, que são apenas 23 mil. De acordo com dados oficiais, mais de 50 mil pessoas de
Hong Kong adquiriram apartamentos neste subúrbio. Durante as férias, a zona atrai mais de 100
mil residentes em Hong Kong, o que levou muitos locais a apelidarem-no de “Pequena Hong
Kong.”
No final da década de 80 do século passado, um promotor imobiliário que visitou Zhangmutou
pensou que o local seria ideal para que as pessoas da então colónia britânica adquirissem um
segundo apartamento. O promotor percebeu que o local dispunha de boas ligações com Hong
Kong, tinha uma densidade populacional baixa e dispunha de um cenário natural belo.
A estratégia que adoptou foi a de comercializar apartamentos a uma fracção do custo dos de Hong
Kong e garantir em simultâneo serviços, como lojas, restaurantes, centros comerciais e centros
desportivos a que as pessoas de Hong Kong já estavam habituadas. O seu mercado-alvo foram os
reformados, aqueles que trabalhavam em Dongguan e as pessoas que não conseguiam adquirir
um apartamento em Hong Kong; Zhangmutou oferecer-lhes-ia a possibilidade de comprarem um
apartamento, mesmo que fosse apenas utilizado durante as férias.
Além disso, o investimento preferido das pessoas de Hong Kong, à semelhança dos outros chineses,
é imobiliário, algo para manter e revender, mesmo que nunca o utilizem.
70
DONGGUAN: UMA NOVA FASE DE CRESCIMENTO
Aquele promotor imobiliário não era o único a adoptar aquela estratégia de negócio. Em outras vilas
no Delta do Rio das Pérolas distando não mais de 100 quilómetros de Hong Kong, outros promotores
começaram a construir empreendimentos semelhantes, procurando atrair o interesse daquelas pessoas.
A região do delta está repleta de empreendimentos imobiliários destinados aos residentes em Hong
Kong e em Macau.
Na década de 90, os promotores de Dongguan iniciaram uma campanha agressiva de venda de
propriedades no mercado de Hong Kong. Dados oficiais revelam que em mais de 120 grandes projectos
imobiliários 90 tinham como alvo pessoas de Hong Kong. O sector do imobiliário atraiu mais de 10 mil
milhões de yuans em investimento estrangeiro, com mais de 8 milhões de metros quadrados de área
construída. No seu pico antes do maremoto financeiro de 2008, o sector do imobiliário representava
40% do Produto Interno Bruto de Dongguan.
O Produto Interno Bruto da cidade atingiu 5,9 mil milhões de yuans em 2010 e 6,1 mil milhões de yuans
no ano seguinte.
A desvantagem deste modelo de negócio é que a vila não garantiu oportunidades de emprego para o
súbito afluxo de pessoas; os empregos da grande maioria permaneceram em Hong Kong, bem como as
escolas para as crianças e os hospitais de que poderiam necessitar para tratamentos médicos. Por isso,
o apartamento em Zhangmutou era uma segunda residência, sendo o local de residência permanente
apenas para as pessoas reformadas. Esta situação fez com que o subúrbio ficasse demasiado dependente
de um único mercado e, após 2008, as pessoas de Hong Kong dispunham de menos dinheiro para
despender em imobiliário em Zhangmutou.
71
DONGGUAN: UMA NOVA FASE DE CRESCIMENTO
A história de Zhangmutou
O subúrbio de Zhangmutou foi constituído por pessoas da etnia Hakka, o único do género em
Dongguan.
O subúrbio tem muitos locais turísticos, incluindo o Museu do Mobiliário Good World. Este museu foi
fundado em Setembro de 2001 para expor mobiliário das dinastias Ming e Qing. Tem uma área de 5
mil metros quadrados, custou mais de 80 milhões de yuans e tem um acervo de mais de 5 mil peças.
Além disso, é o maior museu privado da província de Guangdong, nele se encontrando a colecção de
Su Yong-yao, presidente da empresa Good World International. O subúrbio alberga ainda a sala de
exposições Jiemi de escultura e artesanato.
O subúrbio inclui a Montanha Guanyin, o primeiro parque natural em Dongguan aprovado pela
Administração Florestal Estatal. Este parque abrange uma área de 18 quilómetros quadrados e inclui
turismo ecológico e entretenimento e atrai mais de 3 milhões de pessoas por ano. Contém, além disso,
espécies raras de animais e pássaros e uma grande variedade de flores e ervas medicinais. No topo
da montanha, 750 metros acima do nível do mar, há uma grande estátua em granito de Bodhisattva
Guanyin, com 33 metros de altura e 3 mil toneladas de massa, esculpida de acordo com o estilo da
Dinastia Tang.
No parque há também um Centro Internacional de Exposições e Convenções com uma área de 50 mil
metros quadrados, dispondo de uma grande sala de exposições com 12 mil metros quadrados e um
palco multifuncional com 600 metros quadrados. Desde o ano 2000, a administração do parque já
despendeu mais de 200 milhões de yuans na melhoria das infra-estruturas e instalações a fim de atrair
maior número de visitantes.
Zhangmutou tem um segundo parque florestal, Baoshan, na zona sudoeste. Este parque tem uma área
de 1424 hectares, divididos em quatro zonas. Existe ainda um parque ribeirinho, na região oriental, em
que foram despendidos 40 milhões de yuans antes de ser aberto ao público em Fevereiro de 2001.
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DONGGUAN: UMA NOVA FASE DE CRESCIMENTO
Índice
Dongguan: Uma nova fase de crescimento
Uma visão global
7
Uma aldeia agrícola transforma-se numa das fábricas do mundo
7
Próximo de Shenzhen e de Hong Kong
10
Enquadramento histórico
12
O crescimento do comércio externo
14
O milagre económico de Dongguan
16
Os emigrantes transformaram Dongguan
17
Desafios futuros
22
Planos para a transformação
24
Actualização da cidade
27
Os investidores de Taiwan lideram o percurso
29
A escola e o hospital de Taiwan
30
Perfil de Dongguan
32
Indústria
32
Investidores de Taiwan
37
Parque industrial Songshan
44
O futuro de Dongguan
46
Sector privado
47
De vendedor de fruta a marca internacional
48
Aumento dos salários
52
Imobiliário e finanças
53
População
54
Comércio
57
Marcas, pesquisa e desenvolvimento
59
Deslocações e logística
60
Planeamento urbano
62
Lazer e cultura
63
Zhangmutou
67
73
DONGGUAN: UMA NOVA FASE DE CRESCIMENTO
74
DONGGUAN: UMA NOVA FASE DE CRESCIMENTO
75
DONGGUAN: UMA NOVA FASE DE CRESCIMENTO
76

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