resumo - Cursinho TRIU

Transcrição

resumo - Cursinho TRIU
k
brasil revolta da chibata
de olho
na história
Um século do
fim do chicote
fotos: fundação museu da imagem e do som-rj / acervo augusto malta
Na Revolta da Chibata, iniciada em 22 de novembro de 1910,
2,3 mil marinheiros se amotinaram, tomaram os principais
navios de guerra do país e ameaçaram o poder do Estado
A
s fotos desta página retratam a
Revolta da Chibata, um importante
episódio da história brasileira que,
durante muito tempo, foi banido da memória nacional por ser incômodo às elites. Seu
principal líder, o marinheiro negro João
Cândido Felisberto (1880-1969), sobreviveu à revolta, mas teve uma vida miserável
e só foi anistiado pelo Congresso Nacional
em 2008, 39 anos após sua morte.
Preste atenção à foto acima, que mostra
os marinheiros no controle do encouraçado São Paulo durante a revolta: quase
todos são negros. Assim era a Marinha
brasileira nas primeiras décadas da República: marujos negros em sua quase
totalidade, oficiais brancos. A escravidão
no Brasil havia acabado em 13 de maio de
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atualidades vestibular + enem 2011
1888, e, com ela, os castigos físicos aos
escravos. Com a Proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, também
foram abolidos na Marinha. No entanto,
no ano seguinte, é aprovado um código
disciplinar para a Marinha prevendo a
punição de 25 chibatadas (chicotadas).
No início do século XX, o descontentamento com os maus-tratos cresce, sobretudo quando os marinheiros comparam a
situação com a de outros países. Em 1909,
centenas de marinheiros brasileiros vão
para a Inglaterra para receber o encouraçado Minas Gerais, um dos mais modernos
do mundo à época. Lá, ficam sabendo,
por exemplo, da revolta do encouraçado
Potemkin, na Rússia, em 1905. Começam
então a articular um motim no Brasil.
A revolta
As eleições presidenciais de 1910 são vencidas pelo marechal Hermes da Fonseca.
O levante fica marcado para dez dias após
sua posse. Um acontecimento, porém, vai
antecipá-lo: em 16 de novembro, o marinheiro Marcelino Rodrigues, do encouraçado Minas Gerais, é submetido a 250
chibatadas a vista de toda a tripulação, por
ter ferido à navalha um cabo que o acusou
de um delito. Mesmo após Rodrigues perder os sentidos, o castigo prossegue.
Em 22 de novembro de 1910, estoura a
Revolta da Chibata. Aderem ao levante 2,3
mil marinheiros, nos encouraçados São
Paulo e Minas Gerais, no cruzador Bahia
e em outras embarcações fundeadas na
baía de Guanabara. Na ação, seis oficiais
são mortos. Os canhões são apontados
para o Rio de Janeiro, a capital federal,
e, em particular, para o Palácio do Catete,
sede da Presidência da República.
João Cândido, chamado de “Almirante
Negro”, formula uma carta simples com
as exigências: “O governo tem de acabar
com os castigos corporais, melhorar nossa
comida e dar anistia aos revoltosos. Senão,
a gente bombardeia a cidade”. As negociações começam. Em 25 de novembro,
o Congresso Nacional aprova a anistia.
No dia seguinte, o presidente Hermes da
Fonseca aceita as reivindicações, mesmo
com a resistência da cúpula da Marinha,
disposta ao enfrentamento. No fim, os
marinheiros depõem as armas e devolvem
o comando dos navios aos oficiais.
Repressão
NA ALÇA DE MIRA
Os marujos do
encouraçado São Paulo
apontam os canhões
para o Palácio do
Catete, em 26/11/1910
O compromisso da anistia,
porém, não é cumprido. Em
dois dias, começam as prisões
dos revoltosos. Em reação, 600
fuzileiros da Ilha das Cobras
se amotinam. A resposta é implacável: são bombardeados e morrem
quase 500. Os demais são presos. Dezoito
marinheiros, entre os quais João Cândido,
são aprisionados numa cela minúscula, na
qual é jogada cal virgem com água. Um dia
depois, só sobrevivem João Cândido e mais
um. Ele continua detido e, mais tarde, é
internado em um hospício. Centenas de
ex-revoltosos acabam deportados para
a Amazônia (para trabalho forçado em
seringais) ou são mortos. Em 1912, João
Cândido é absolvido da acusação de apoiar o motim da Ilha
das Cobras, é solto, mas permanece expulso da Marinha. Só
com a anistia em 24 de julho de
2008, aprovada pelo Congresso
Nacional, João Cândido e seus
companheiros são reabilitados.
A Revolta da Chibata é exemplar do cenário da República Velha: ainda permaneciam aspectos do Brasil escravocrata, com a
forte opressão e discriminação dos negros,
e as questões sociais no país eram tratadas
como caso de polícia, ou seja, na base da
repressão armada. Mas, com a Revolta da
Chibata, apesar do alto custo humano, os
marinheiros impuseram o fim dos castigos
físicos na Marinha brasileira.
u
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k
economia países emergentes
O
Brasil
eo
Bric
E
mbora possua um território de
dimensões continentais, riquezas
naturais invejáveis e a quinta maior
população do mundo, o Brasil sempre
exerceu papel secundário no cenário internacional. Mas essa situação começou
a mudar nos últimos anos, e o país passou
a ocupar um lugar de maior destaque nas
grandes questões da atualidade.
No front econômico, o Brasil consolida
a sua influência mundial como o principal
exportador de commodities (matériasprimas). Com a descoberta de enormes reservas de petróleo em camadas profundas
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atualidades vestibular + enem 2011
afp/evaristo sa
Com uma economia
em franca expansão,
o Brasil ganha
influência no cenário
mundial e integra
o grupo de países
emergentes que podem
se tornar a maior força
econômica do mundo
(pré-sal), a expectativa é a de que o país
também se torne um grande fornecedor
de energia. Na última década, ao lado da
estabilização financeira, que converteu o
Brasil num destino seguro e desejado para
o capital estrangeiro, o Produto Interno
Bruto (PIB) brasileiro esteve em franca
expansão até a eclosão da crise mundial,
no fim de 2008 – mas o impacto no país
foi considerado modesto, e a expectativa
para 2010 é de crescimento de 5%. O
reconhecimento externo da importância
econômica do Brasil cristalizou-se com
a inclusão do país num seleto grupo de
nações emergentes que vem dando o que
falar na imprensa mundial: o Bric, nome
formado pelas iniciais de Brasil, Rússia,
Índia e China.
À medida que amplia a sua participação
na economia global, o país busca maior projeção política. Além de ser um dos líderes
do movimento pela reforma do Conselho
de Segurança da ONU (veja na pág. 58),
o governo Lula vem assumindo a dianteira
na campanha pela maior liberalização do
comércio mundial. Nas crises regionais,
o Brasil também marca presença ao chefiar
desde 2004 a missão da paz da ONU no
Haiti. Em 2010, a diplomacia brasileira
deu um passo ambicioso, ao tentar mediar
o impasse nuclear envolvendo o Irã e as potências ocidentais (veja na pág. 28). Depois,
entrou em choque direto com os Estados
Unidos, ao votar contra as novas sanções
aprovadas na ONU contra o Irã.
Nasce o Bric
Em 2001, quando o economista Jim
O’Neill, chefe de pesquisa em economia global do banco Goldman Sachs,
debruçou-se sobre os principais dados
econômicos desses quatro grandes paí­ses
poder paralelo
emergentes, percebeu que eles
O economista juntou os
O presidente Lula
se destacavam dos demais. Não
quatro países e criou um
recebe em Brasília os
apenas porque Brasil, Rússia,
bloco que não existia. Para
outros líderes do Bric
China e Índia são países grannomeá-lo, ele concebeu um
na segunda reunião
des e populosos; nem somente
acrônimo, ao pegar empresde cúpula do bloco,
porque apresentavam econotado de cada país a sua letra
em abril de 2010
mia em rápido crescimento. O
inicial: Bric. Acrônimo é o
que chamou sua atenção foi a
nome que se dá a uma palavra
constatação – com base em projeções deque surge quando se juntam uma ou mais
mográficas e econômicas – de que o grupo,
letras iniciais de um conjunto maior, com
quando somado, poderá representar em
o objetivo de simplificar a comunicação.
2050 a maior força econômica do planeta,
Pode “pegar” ou não, dependendo da sua
suplantando os Estados Unidos, o Japão e
adequação ou originalidade. E chamar os
os membros da União Europeia.
quatro grandes emergentes de Brics caiu
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economia países emergentes
O TAMANHO DO G-20
Bloco reúne 19 nações e a União Europeia (formada por 27 países)*
País
População
PIB (em bilhões de dólares)
IDH (índice vai de 0 a 1)
Rússia
140,9 milhões
1.607
0,817
Alemanha
82,2 milhões
3.652
0,947
Reino Unido
61,6 milhões
2.645
0,947
Canadá
33,6 milhões
1.400
0,966
Japão
127,2 milhões
4.909
0,960
França
62,3 milhões
2.853
0,961
Estados Unidos
314,7 milhões
14.204
0,956
Coreia do Sul
48,3 milhões
929,1
0,937
Itália
59,9 milhões
2.293
0,951
México
109,6 milhões
1.085
0,854
China
Arábia Saudita
Índia
Brasil
Turquia
Indonésia
Argentina
África do Sul
Austrália
25,7 milhões
467,6
0,843
*Obs: Fazem parte da União
Europeia os seguintes países:
Alemanha, Áustria, Bélgica,
Bulgária, Chipre, Dinamarca,
Eslováquia, Eslovênia, Espanha,
Estônia, Finlândia, França, Grécia,
Hungria, Irlanda, Itália, Letônia,
Lituânia, Luxemburgo, Malta,
Países Baixos, Polônia, Portugal,
Reino Unido, República Tcheca,
Romênia e Suécia
193,7 milhões
1.612
0,8137
74,8 milhões
794,3
0,806
40,3 milhões
328,4
0,866
50,1 milhões
276,7
0,683
1,198 bilhão
1.217
0,612
1,34 bilhão
4.326
0,772
230 milhões
514,4
0,734
21,3 milhões
1.015
0,970
OUTROS GRUPOS
G-7 (Grupo dos 7) – EUA, Japão, Alemanha,
Reino Unido, Itália, França e Canadá
G-8 – Todos os países do G-7 mais a Federação Russa
G-8 +5 – Todos os países do G-8 mais cinco
grandes emergentes, que são: Brasil, México,
Índia, África do Sul e China
G-4 – Brasil, Alemanha, Japão e Índia
Bric – Brasil, Federação Russa, Índia e China
stephen thompson
RIQUEZAS DIVERSAS É interessante notar como os países do G-20 são diferentes entre si.
Por exemplo, observe o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Esse índice combina
indicadores de renda, saúde e educação. Ele varia de 0 a 1. Quanto mais perto de 1, melhor.
Repare que o Brasil, nesse ponto, não está muito bem colocado em relação a seus parceiros,
ficando à frente apenas da África do Sul, China, Índia, Indonésia e Turquia. Com relação à
população, o bloco conta com gigantes como Índia e China, ao lado de Austrália, com apenas
21 milhões de habitantes (o dobro da cidade de São Paulo). Quando for observar o PIB, não
se esqueça de que está em bilhões. O dos EUA, portanto, ultrapassa os 14 trilhões de dólares.
Fonte: ALMANAQUE ABRIL 2010
A expectativa para a
próxima década é de
expansão da classe
média na área do Bric
no gosto de jornalistas e economistas, e
dos próprios governos desses países, que
em junho de 2009 realizaram sua primeira reunião, em Ecaterimburgo, na
Rússia, e emitiram uma declaração conjunta, pedindo o estabelecimento de uma
ordem mundial multipolar.
Consumo interno
Em larga medida, a força do Bric provém
da enorme fatia da população mundial
concentrada nos quatro países. Neles vivem
2,7 bilhões de habitantes, o equivalente a
40% da humanidade. A grande maioria
desse contingente é de chineses e indianos,
126
atualidades vestibular + enem 2011
os países com as mais aceleradas taxas de
crescimento econômico entre as grandes
economias. O Bric também possui um
território enorme. Somada, a área dos
quatro países representa um quarto das
terras do planeta. Nesse vasto território,
há muita riqueza, como petróleo (Rússia
e Brasil), produtos agrícolas (Brasil), mão
de obra farta e barata (China) e potencial
para o desenvolvimento de mais produtos
com as inovações científicas e tecnológicas
(China e Índia).
A aposta atual dos economistas é que esta
será a década na qual o Bric presenciará a
inclusão de grande parcela da população
ao universo de consumo da classe média.
No Brasil, um estudo da Fundação Getúlio
Vargas (FGV) mostra que 32 milhões de
pessoas passaram a integrar a classe média
entre 2003 e 2008, o que levou a uma alta
de 15% no potencial de consumo do brasileiro. Pelos critérios da FGV, pertencem à
classe média pessoas com renda domiciliar
superior a R$ 4807 (classe AB) ou entre R$
1115 e 4806 (classe C).
De acordo com um informe publicado
em 2010 pelo Goldman Sachs, a expansão
da classe média no Bric, especialmente
na China e na Índia, orientará o mercado
mundial, já que o perfil de consumo dessa
classe social difere daquele típico das camadas mais pobres – no qual o peso do gasto
com comida e roupa é proporcionalmente
bem mais elevado do que com educação ou
lazer (veja o gráfico na pág. 129).
Papéis diferentes
De acordo com os critérios da classificação criada por Jim O’Neill, haveria
entre os países do grupo certa divisão
de funções. Brasil e Rússia seriam os
grandes fornecedores de matéria-prima,
principalmente de alimentos, no caso
brasileiro, e de petróleo, no russo. Com a
entrada em operação dos campos do présal, o Brasil deve se tornar, também, um
exportador de petróleo. Por outro lado,
Índia e China concentram, cada vez mais,
mão de obra e tecnologia suficientes para
inundar os mercados do mundo, e seus
mercados internos, com toda sorte de
bens manufaturados e de serviços.
O papel de grande exportador agropecuário do Brasil vem se consolidando, ano
a ano, especialmente devido à produção
de soja e de carne bovina – nas duas commodities, o que se produz no país seria
suficiente para alimentar boa parte da demanda mundial. A participação crescente
do Brasil na economia global também decorre da solução energética representada
pelo biocombustível, produzido com o
etanol da cana-de-açúcar; da existência
de grandes jazidas minerais e reservas de
petróleo; e do fato de o país possuir a maior
reserva de água doce do planeta.
CONSUMO EM ALTA
Já a Rússia dificilmente
se tornar a segunda economia
Movimentada rua de
conseguirá recuperar a relemundial, ultrapassando o Jacomércio em Hong
vância econômica e política
pão em breve.
Kong (China), um dos
que teve na primeira metade
Além do grande continpolos mais dinâmicos
do século passado, quando ligente populacional, Índia e
do capitalismo mundial
derava a União das Repúblicas
China vêm investindo pesaSocialistas Soviéticas (URSS).
damente na qualificação de
Entretanto, o país conta com extensas
sua mão de obra. Para ter uma ideia do
reservas de petróleo, de gás natural e de
esforço imenso feito em educação, a cada
carvão, e também com um importante
ano a China forma mais de 5 milhões de
arsenal de armas, que a faz temida e resuniversitários, sendo 75 mil apenas em
peitada no mundo. Também herdou da
engenharia e ciências da computação. A
corrida armamentista da época da Guerra
Índia não fica muito atrás dos chineses,
Fria uma mão de obra especializada que
formando por ano mais de 3 milhões de
está encontrando ocupação em outras
jovens no Ensino Superior, sendo 60 mil
áreas técnicas.
nas estratégicas áreas de engenharia e
computação, que devem formar a base de
A Índia poderá apresentar a mais alta
média de crescimento econômico do Bric
pesquisa e desenvolvimento de produtos
nas próximas décadas. Estima-se que, em
nos dois países. As próprias multina2050, ela poderá ser a terceira economia
cionais já perceberam isso, tanto que o
global, atrás de China e Estados Unidos.
centro de pesquisa e desenvolvimento da
Quanto à China, o país está a caminho de
Microsoft em Pequim, por exemplo, é o
2011 atualidades vestibular + enem
127
k
Resumo
economia países emergentes
QUANDO CRESCE A CLASSE MÉDIA, MUDAM OS GASTOS
Gastos com consumo (% do total mundial)
O gráfico mostra a participação das diversas despesas (em %) em cada faixa de renda anual (em US$) (Relatório de 2010)
Estados Unidos
Mercados emergentes
35
Richard Lewis/Newsteam.co.uk/divulgação
30
25
20
SURGE O BRIC A expressão foi criada
em 2001 pelo economista Jim O’Neill
para agrupar os quatro mais importantes países emergentes (Brasil, Rússia,
Índia e China). Segundo o estudo inicial
que cunhou a expressão, em 2050 o
Bric poderá representar a maior força
econômica do planeta.
100%
Transporte, cultura e lazer
Água e energia (luz, gás)
Saúde
Educação
Telefonia, Internet e Televisão
Manutenção da casa
Vestuário e calçados
Alimentação
40
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
1990
Ao lado dos países do
Bric, o Brasil integra o
G-20, fórum econômico
de destaque no mundo
segundo maior da gigante da informática,
só ficando atrás da sede da empresa, nos
Estados Unidos.
Apesar do crescimento vigoroso – de
causar inveja aos países ricos, todos ainda
patinando na recessão econômica desencadeada pela crise de 2008 –, persistem
alguns problemas sérios nas economias
do Bric. O maior deles é a má distribuição
da renda nacional, responsável pela existência de uma grande massa de pobres à
margem do mercado de consumo. Basta
lembrar que há na China 135 milhões
de pessoas vivendo abaixo da linha de
pobreza (com menos de 1 dólar por dia),
contingente inferior apenas ao que existe
na Índia. Há também graves problemas
de infraestrutura, como más condições
de transporte e gargalos na circulação
de mercadorias.
Do G-7 ao G-20
O primeiro bloco de países que formou
uma reunião de cúpula permanente para
debater questões de economia e segurança foi o G-7, formado pelos países mais
ricos do mundo – França, Alemanha,
Itália, Japão, Reino Unido, Estados Unidos e Canadá. É sobretudo um espaço
para os líderes de nações importantes
se encontrarem pessoalmente com certa
frequência. As origens do G-7 remontam
128
Países emergentes
CONSUMIDORES DE PRIMEIRA INSTÂNCIA
(*Projeção)
q
atualidades vestibular + enem 2011
grupo dos 20
O presidente Lula
participa da reunião de
cúpula do G-20, que
reúne as principais
economias do mundo
à década de 1970 e
estão relacionadas
aos problemas colocados aos países
ricos com a crise
do petróleo e a
recessão mundial
decorrente dela. Com a inclusão posterior
da Rússia, o G-7 passou a ser chamado
de G-8.
Na década de 1990, foi criado o G-20,
como uma resposta à crise financeira dos
anos 1990 e em decorrência do fato de
que era preciso incluir os principais paí­
ses emergentes nas grandes discussões e
decisões, pelo peso que passaram a ter suas
economias no cenário internacional. Dele
fazem parte todos os membros do G-8,
além de China, Índia e Brasil, entre outros.
Juntos, os países-membros do G-20 respondem por 85% das riquezas produzidas
no planeta, 80% do comércio global e dois
terços da população mundial.
Até poucos anos atrás, o G-8 ainda
era o fórum de maior destaque no cenário internacional. Em 2009, no auge da
crise econômica, que atingiu em cheio
as nações mais ricas do mundo, muitos
anunciavam a “morte do G-8”, ou seja,
a perda de seu papel de referência principal. Embora exagerada, a afirmação
reconhecia o fato de que, nos dias de hoje,
é impossível ignorar a influência decisiva
que os países emergentes exercem na
economia mundial – e os destaques vão
para os integrantes do Bric, que, com
exceção da Rússia, foram afetados de
forma menos severa que as nações ricas
pela recente crise financeira global.
2000
2010*
10%
Influência brasileira
Nesse contexto de aumento da relevância do Bric e do G-20, a diplomacia brasileira busca um papel maior na condução
dos negócios globais, e conta com o lugar
particular ocupado pelo presidente Lula,
como líder de um partido de esquerda,
mas que, no exercício do poder, adotou
várias políticas conservadoras, sobretudo
na área econômica – e manteve sua popularidade interna (beirando os 80% de
aprovação em meados de 2010). Assim, na
América Latina, Lula faz um contraponto
às posições nacionalistas e radicais do
líder venezuelano Hugo Chávez e adota
uma linha de colaboração com a política
externa dos EUA em diversos pontos.
O país chefia as tropas de missão de paz
da ONU no Haiti desde 2004, num momento em que os EUA mantêm quase 200
mil soldados no Afeganistão e no Iraque e
buscam parceiros para dividir os altos custos das intervenções militares no tabuleiro
global. Mas a política externa brasileira, que
mantinha uma tradição de não ingerência, está mais atuante e entrou em choque
com a norte-americana em dois eventos
recentes. Ao contrário de Washington, o
Brasil se recusou a reconhecer o resultado das eleições em Honduras, ocorridas
em novembro de 2009, após um golpe de
Estado cinco meses antes. Em junho de
2010, o Brasil e a Turquia foram os únicos
países do Conselho de Segurança da ONU
a votar contra o novo pacote de sanções ao
Irã, apesar da pressão dos EUA. Foi uma
forma de o Brasil protestar contra a não
aceitação do acordo com o Irã costurado
por brasileiros e turcos (veja na pág. 28).
O peso do Brasil também é grande
quando são discutidas questões ambientais. A dimensão continental do Brasil,
que abriga a maior floresta tropical do
mundo – a Amazônica –, faz com que o
país seja fundamental nas negociações
sobre as medidas para combater as mudanças climáticas.
No âmbito econômico, a liberalização
comercial tem sido uma das bandeiras de
Lula. O Brasil trabalha ativamente para
concluir a Rodada Doha, da Organização Mundial do Comércio (OMC), que
>35000
20000
35000
7500
20000
3500
7500
2000
3500
Fonte: GSGlobal ECS Research/Goldman Sachs nº 10/03, maio de 2010
1500
2000
Fonte: J.P. Morgan Chase
1000
1500
COMENTÁRIO Repare neste gráfico como, à medida que a renda se eleva, muda a composição do orçamento.
Quanto mais rica a pessoa, maior é o investimento em saúde, cultura e educação e também o gasto com água e energia.
Nas fatias mais pobres, a maior parte da renda é destinada a alimentação, vestuário e calçados.
0
800
1000
OS NOVOS REIS DO CONSUMO Segundo as estimativas e
a projeção deste gráfico, publicado na revista The
Economist de abril de 2010, o mundo emergente atravessa
a fase de crescimento mais espetacular da história. Desde
2007, os consumidores dos mercados emergentes somados
superaram os norte-americanos.
estão emperradas desde 2006. Nessas
negociações sobre as normas que regem
o comércio global, o que se discutem são
principalmente a redução dos subsídios
agrícolas que os países ricos concedem
aos produtores locais (o que beneficiaria
o comércio externo dos países pobres,
tradicionais exportadores de alimentos)
e o corte das tarifas de importação que
os países em desenvolvimento impõem
às importações das nações desenvolvidas
(o que beneficiaria o comércio externo
dos países ricos).
u
Saiu na imprensa
Mantega: BRICs
representarão dois
terços da economia
mundial em 5 anos
Madri, Espanha - Os principais países
emergentes, Brasil, Rússia, Índia e China (os BRICs), representarão dois terços
da economia mundial nos próximos
cinco anos, de acordo com o ministro
brasileiro da Fazenda, Guido Mantega.
“Nos próximos cinco anos, são os países
emergentes, os BRICs, os que vão liderar
o crescimento mundial e responder por
dois terços da economia mundial, e com
um crescimento de 5% a 5,5% o Brasil
estará entre eles”, previu o ministro em
um discurso em uma conferência sobre
a economia brasileira em Madri.
A previsão oficial de crescimento
do Brasil em 2010 é de 5,5% a 6% do
Produto Interno Bruto (PIB), recordou
Mantega, antes de afirmar que esta é
uma estimativa “conservadora”, já que
alguns analistas acreditam em uma alta
de 6% a 7%. Nos outros países do BRIC,
a China deve crescer 10%, a Índia 7% e
a Rússia 5,5%, segundo o ministro. (...)
Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), os BRICs representaram
entre 2000 e 2008 quase 50% do crescimento mundial. Até 2014, os quatro
países devem ser responsáveis por 61%
do crescimento econômico.
Para o ex-ministro espanhol da Economia Carlos Solchaga, o “Brasil é hoje
um dos melhores exemplos de êxito na
globalização”.
O Globo, 19/5/2010
PAPÉIS DIFERENTES Os quatro grandes emergentes exercem papéis econômicos diferentes: Brasil e Rússia
se tornaram grandes fornecedores de
energia e matéria-prima, enquanto Índia e China investem na especialização
de sua imensa mão de obra e na produção de sofisticadas mercadorias.
CONSUMO INTERNO Outra característica que une os integrantes do Bric
é a enorme expansão da classe média,
que deverá acontecer no decorrer da
próxima década, em razão do forte
crescimento econômico vivido pelos
quatro países.
G-20 Reúne 20 países desenvolvidos e
emergentes, que, juntos, respondem
por 85% do PIB do planeta, 80% do
comércio global e dois terços da população mundial.
G-8 Grupo formado pelos sete países
mais ricos (Estados Unidos, Canadá,
França, Reino Unido, Alemanha, Itália e
Japão) mais a Rússia. O G-8 perdeu relevância política desde a crise econômica
de 2008-2009, que afetou mais seriamente as economias desenvolvidas.
CONSELHO DE SEGURANÇA O Brasil
lidera a campanha por reformas no
Conselho de Segurança da ONU , defendendo a ampliação do número de
integrantes permanentes. Mas a proposta tem esbarrado na resistência dos
Estados Unidos e da China em dividir
o poder, especialmente em questões
relativas à segurança mundial.
ATRITO COM OS EUA Embora adote
uma política externa de colaboração
com Washington em vários pontos, o
Brasil votou contra o novo pacote de
sanções da ONU ao Irã, defendido pelo
governo norte-americano.
2011 atualidades vestibular + enem
129
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ECONOMIA GLOBALIZAÇÃO
afp
F
Turbulências
no mundo
globalizado
A economia mundial enfrenta recessão em 2009,
após crise financeira iniciada nos Estados Unidos
130
atualidades vestibular + enem 2011
alência de bancos e indústrias, bolsas de valores em queda e países
com a economia em crise. Esses têm
sido alguns dos acontecimentos recentes
da economia mundial, sobre os quais podemos ler todo dia nos jornais e revistas.
Como, atualmente, a economia dos países
é muito interligada, a crise iniciada há dois
anos no mercado financeiro dos Estados
Unidos acabou rapidamente por afetar a
economia global de modo geral.
A atual crise estourou em setembro de
2008, quando uma onda de falências atingiu bancos e empresas imobiliárias norteamericanos. A seguir, o problema espraiouse para a Europa, provocando a pior crise
econômica desde a quebra da Bolsa de
Nova York, em 1929. Em consequên­cia, o
mundo entrou numa recessão em 2009, da
qual estava tentando se recuperar no fim
do ano, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Mas eis que, em
dezembro, eclodiu uma crise de endividamento financeiro da Grécia, país da União
Europeia, que voltou a tumultuar as bolsas
de valores e os mercados internacionais
(veja na pág. 88).
As principais características da atual
crise, como a grande liberdade de movimento de capitais e a velocidade com que
os problemas financeiros surgidos nos Estados Unidos se espalharam, são típicas da
globalização, atual
queda histórica
fase de desenvolvimento da econoNo auge da crise
mia global, na qual
global, em dezembro
o mundo entrou há
de 2008, investidor
duas décadas.
chinês lamenta quedas
recordes no mercado
História
de ações do país
Para entendermos a globalização, é preciso saber que o fenômeno em si começou há
muito tempo. Os primeiros passos rumo
à conformação de um mercado mundial
e de uma economia global remontam
aos séculos XV e XVI, com a expansão
ultramarina europeia.
Quando Cristóvão Colombo chegou à
América, em 1492, deu início ao que alguns historiadores chamam de primeira
globalização. O avanço do mercantilismo
estimulou a procura de novas rotas comerciais da Europa para a Ásia e a África,
cujas riquezas iriam somar-se aos tesouros
extraídos das minas de prata e ouro do
continente americano.
Essas riquezas forneceram a base para
a Revolução Industrial, no fim do século
XVIII, que, com o tempo, desenvolveu
o trabalho assalariado e o mercado consumidor. As descobertas científicas e as
invenções provocaram grande expansão
dos setores industrializados e possibilitaram o desenvolvimento da exportação
de produtos.
Começaram a surgir, no fim do século
XIX, as corporações multinacionais,
industriais e financeiras, que irão se
reforçar e crescer durante o século XX.
O mercado mundial estava, então, atingindo todos os continentes. A interdependência econômica entre as nações
tornou-se evidente em 1929: após a quebra da Bolsa de Valores de Nova York, a
depressão econômica norte-americana
teve consequências negativas no mundo todo. Enquanto isso, a Revolução
Russa de 1917 e outras ocorridas após a
II Guerra Mundial retiraram diversos
países de uma inserção direta no mercado mundial. Mas, com o tempo, esses
regimes passaram a sentir uma crescente
pressão econômica e política e foram se
abrindo, gradualmente.
Neoliberalismo
O fim do século XX assiste a um salto nesse processo. Em 1989, acontece
a queda do Muro de Berlim, marco da
derrocada dos regimes comunistas no
Leste Europeu. Nos anos seguintes, esses
países serão incorporados ao sistema
econômico mundial. A própria integração
da economia global acentuou-se a partir
dos anos 1990, por intermédio da revolução tecnológica, especialmente no setor
de telecomunicações. A internet, rede
mundial de computadores, revelou-se a
mais inovadora tecnologia de comunicação e informação do planeta. As trocas
de informações (dados, voz e imagens)
tornaram-se quase instantâneas, o que
acelerou em muito a integração das atividades econômicas.
No momento atual, há uma política
econômica dominante em escala mundial
chamada de neoliberalismo, também
conhecida como Consenso de Washington. Essa última expressão surgiu em
1989, durante uma reunião na capital
norte-americana, Washington, no International Institute for Economy, quando
funcionários do governo dos Estados
Unidos, de organismos internacionais e
economistas latino-americanos debatiam
um conjunto de diretrizes para que a
América Latina conseguisse superar a
crise econômica da época e voltasse a
crescer. Era um período difícil para os
países latino-americanos, com dívida
externa elevada, estagnação econômica,
inflação crescente, recessão e desemprego. As conclusões desse encontro
passaram a ser chamadas informalmente
de Consenso de Washington, expressão atribuída ao economista inglês John
Williamson, ex-funcionário do Banco
Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI). Por decisão do Congresso
norte-americano, essas medidas foram
adotadas como políticas impositivas cada
vez que esses países viessem a solicitar
a renegociação de suas dívidas.
Mais tarde, as soluções apontadas no
Consenso de Washington tornaram-se
o modelo do FMI e do Banco Mundial
para todo o planeta. O neoliberalismo
prega que o funcionamento da economia
deve ser entregue às leis de mercado.
Segundo seus defensores, a presença do
Estado na economia inibe o setor privado
e freia o desenvolvimento. Algumas de
suas características são:
k abertura da economia por meio da
liberalização financeira e comercial
e da eliminação de barreiras aos investimentos estrangeiros;
k amplas privatizações;
k redução de subsídios e gastos sociais
por parte dos governos;
k desregulamentação do mercado de
trabalho, para permitir novas formas
de contratação que reduzam os custos
das empresas.
Historicamente, as ideias do neoliberalismo contrapõem-se às do keynesianismo – ideário formulado pelo
economista John Keynes (1883-1946),
dominante no período do pós-guerra, a
partir de 1945 –, que defendia um papel
determinante e uma presença ativa do
Estado na economia como forma de
impulsionar o desenvolvimento (um
exemplo da política de Keynes foi o
New Deal, adotado nos Estados Unidos
após a quebra da Bolsa em 1929, com
maciços investimentos estatais para
reativar a economia).
Nas últimas duas décadas, a expansão
do comércio global resultou na intensifi-
cação do fluxo de capitais entre os países.
A busca de maior lucratividade levou as
empresas a investir cada vez mais no mercado financeiro, que se tornou o centro
da economia globalizada.
A atual mobilidade do mercado mundial permite também que grandes empresas façam a relocalização de suas fábricas – nome que se dá ao fechamento de
unidades de produção em um local e sua
abertura em outra região ou outro país.
Esse mecanismo é globalmente usado
para cortar gastos com mão de obra, encerrando a produção em países nos quais
os salários são maiores para organizar a
produção onde há menos custos. À medida que as nações vão reduzindo suas
barreiras comerciais, a fabricação em
qualquer ponto do mundo e a exportação
para outros mercados tornam-se cada
vez mais rentáveis.
Blocos econômicos
Outro movimento importante da
economia global que se intensificou
nas últimas décadas foi a formação
de blocos econômicos, como a União
Europeia, o Nafta (Acordo de Livre
Comércio da América do Norte) e o
Mercosul. Os primeiros agrupamentos de nações surgiram com o objetivo
de facilitar e baratear a circulação de
mercadorias entre seus membros. Sob
a economia globalizada, os blocos econômicos ajudam a abrir as fronteiras de
cada nação ao livre fluxo de capitais, ao
reduzir barreiras alfandegárias, práticas
protecionistas e regulamentações nacionais. Existem quatro modelos básicos
de bloco econômico:
k zona de livre-comércio, em que há
redução ou eliminação de tarifas alfandegárias;
k união aduaneira, que, além de abrir o
mercado interno, define regras para o
comércio com nações de fora do bloco,
ou seja, todos cobram os mesmos impostos, taxas e tarifas de importação
de terceiros;
k mercado comum, no qual, além de
serviços e mercadorias, capital e trabalhadores também podem circular
livremente;
k união econômica e monetária, em que
os países de um mercado comum adotam a mesma política de desenvolvimento e uma moeda única.
2011 atualidades vestibular + enem
131
k
Resumo
ECONOMIA GLOBALIZAÇÃO
A globalização acentuou
as desigualdades sociais
e econômicas entre as
regiões e os países
A formação de blocos econômicos
acelerou o comércio mundial. Antes,
qualquer produto importado chegava ao
consumidor com um valor mais elevado,
em razão dos impostos cobrados por cada
país para proteger as suas empresas. Os
acordos entre os países reduziram essas
barreiras comerciais – em alguns casos,
acabaram com elas –, processo conhecido
como liberalização comercial.
O bloco econômico mais importante
do mundo é a União Europeia (UE),
tanto pela força de algumas de suas economias – como as da França, Alemanha
e Reino Unido –, quanto pela profundidade das relações entre seus membros
(veja na pág. 88). Os norte-americanos
impulsionaram o Nafta, tornando México e Canadá economias diretamente
vinculadas à sua. Os Estados Unidos
também fazem parte da Apec (Área de
Livre-Comércio da Ásia e do Pacífico),
integrada por Japão, China, Austrália e
Chile, entre outras nações.
Na América do Sul, o grande bloco é
o Mercosul, criado em 1991 por Brasil,
Argentina, Paraguai e Uruguai, que desde
o nascimento teve os Estados Unidos
como parceiro principal – pelo Acordo
4+1. Atualmente, a Venezuela está em
processo de integração ao Mercosul.
OS EUA TÊM QUASE 25% DO PIB MUNDIAL
AS EXPORTAÇÕES DOS RICOS CRESCEM MAIS
Distribuição do PIB no mundo, em %, em 2008
Evolução das exportações, por grupos selecionados
(em bilhões de dólares)
Resto do mundo
30,2
4.500
Estados Unidos
23,4
América do Norte e Europa
Ásia
Oriente Médio
América do Sul e Central
África
4.000
3.500
PIB mundial
em 2008
US$ 60,6
trilhões
Espanha
2,6
PAÍSES RICOS CARREGAM
DÍVIDA DE US$ 43 TRI
5.000
Índia
2,0
Canadá
2,3
Saiu na imprensa
Federação
Russa
2,7 Brasil
2,7 Itália Reino Unido
França
3,8
4,4
4,7
3.000
2.500
Japão
8,1
Jamil Chade, de Genebra
2.000
1.500
China
7,1
Alemanha
6,0
1.000
500
0
1953
1963
1973
1983
1993
2003
COMPARAÇÕES Existe uma relação estreita entre a produção
de riquezas (PIB) e a participação no comércio mundial
(veja no gráfico abaixo), mas as coisas não são exatamente
iguais. O PIB dos EUA representa 23,4% da economia global
e 10,6% do comércio mundial. Já a Alemanha tem uma
economia fortemente exportadora: seu PIB é 6% do total global,
mas o país morde 8,2% do comércio mundial. O perfil do Brasil
está mais próximo ao dos EUA: nossa economia representa 2,7%
do PIB mundial, mas participamos de apenas 1,2% das compras
e vendas no mercado global.
DESIGUALDADE O gráfico mostra 50 anos de evolução do
comércio internacional. Há um crescimento enorme das
exportações dos Estados Unidos e da Europa frente ao resto
do mundo. O crescimento da Ásia relaciona-se, sobretudo,
com Japão e China. Note que esse processo se acentua com
a globalização, no início dos anos 1990. Isso ocorre porque
os países ricos concentram a venda de produtos de
tecnologia de ponta, com alto valor agregado, e os países
pobres, a venda de matérias-primas. Essa estrutura de
comércio reforça as desigualdades entre os países do globo.
Fonte: Banco Mundial
Fonte: OMC
Desigualdades
Atualmente, os grandes investidores internacionais podem, com o simples acesso
ao computador, retirar milhões de dólares
de nações nas quais vislumbram problemas
econômicos, políticos ou sociais. Quando os
países se tornam excessivamente vulneráveis a esses movimentos bruscos de capitais
– com retirada maciça de investimentos
estrangeiros –, organismos internacionais
como o FMI liberam empréstimos para
que eles possam enfrentar a sangria de
dólares. Em contrapartida, os governos
beneficiados ficam obrigados a obedecer
ao receituário ditado pelo organismo, basicamente o estabelecido pelo Consenso
de Washington.
Uma das consequências disso é que,
além de muitas vezes penalizar a população carente, por causa da desativação ou
desaceleração dos investimentos sociais,
essas políticas tendem a frear o crescimento econômico, por força da maior
carga tributária, do congelamento de
investimentos públicos e da elevação dos
juros. Assim, a globaliza-
10,6
DEZ PAÍSES TÊM MAIS DA METADE DO COMÉRCIO MUNDIAL
Exportações e importações de 30 países em relação ao total global, em %, em 2008
8,2
CONCENTRAÇÃO Os números acima de cada barra representam quanto do comércio mundial é feito por país:
por exemplo, os Estados Unidos, sozinhos, respondem por 10,6% de todas as compras e vendas feitas entre nações no
mundo. Veja as dez principais: temos nove ricas – seis pertencentes à União Europeia – e apenas uma em desenvolvimento,
a China, que nas últimas três décadas apresenta enorme crescimento no comércio internacional. O Brasil continua num
patamar de 1,2% do comércio mundial, apesar dos esforços dos últimos 15 anos para favorecer as exportações
1,0
0,9
1,1
1,1
1,1
1,1
1,1
1,2
1,2
1,2
1,2
1,3
1,4
1,5
1,9
2,0
2,1
2,3
2,3
7,8
4,7
3,7
2,6
2,7
2,9
3,3
4,0
3,4
A
C
P
A
C
S
A
E
J
C
C
H
B
I
S
Á
R
F
B
M
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Uni
Tche
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o
rab ita
dos
l
es U
ca
nid
os
51,3% do comércio mundial
Rep
Fontes: OMC e Le Monde Diplomatique
132
atualidades vestibular + enem 2011
Nunca em tempos de paz governos
somaram déficits públicos tão grandes
quanto o que será registrado em 2010.
Dados das dívidas nacionais dos 30
países industrializados indicam que
o rombo nas contas chegam a US$ 43
trilhões, a maior já contabilizada por
qualquer entidade internacional em
qualquer momento da história.
Os dados são da Organização para a
Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), que reúne os países desenvolvidos. A conclusão do levantamento é
de que, sem dúvida, muitos países caminham para um cenário crítico e vivendo
ção acenou com perspectivas que não se
concretizaram. Imaginou-se um mundo
plenamente integrado e sem fronteiras.
Pelas previsões de seus defensores, novas
tecnologias e métodos gerenciais promoveriam o aumento geral da produtividade,
o bem-estar dos indivíduos e a redução
das desigualdades entre as nações.
Não é isso, porém, o que se vê no mundo, pois os últimos anos registram um
aumento das desigualdades no cenário
mundial. O comércio internacional nunca
foi tão intenso, mas as exportações dos
países ricos cresceram muito mais do que
a dos países pobres nas últimas décadas
e, atualmente, apenas dez países (dos 194
no mundo) monopolizam mais da metade
de todo comércio internacional (veja o
gráfico na página anterior).
Um dos instrumentos desse crescimento foi a criação da Organização Mundial do Comércio (OMC), em 1995, com o
objetivo de abrir as economias nacionais,
eliminar o protecionismo (quando um
país impõe taxas pesadas para restringir
a importação de produtos e proteger sua
própria produção interna) e facilitar o
livre trânsito de mercadorias pelo mundo. A OMC funciona com rodadas de
discussão sobre temas, que chegam ao
fim quando se fecham os acordos. Ocorre que a Rodada Doha, aberta em 2001
(com prazo previsto até 2006), entrou
além da capacidade de se financiar.
Em 2009, o Fundo Monetário Internacional (FMI) calculava que o Produto Interno Bruto (PIB) do planeta era de US$
57,9 trilhões. Se em 2010 o PIB mundial
ficar estagnado ou crescer pouco, a dívida apenas dos países ricos representaria
75% da riqueza do planeta. (...)
Reunindo todos os países ricos, o volume da dívida seria de fato a bolha mais
ameaçadora já conhecida pelo mercado
financeiro: US$ 43 trilhões. Na OCDE,
esses números são o que estão por trás
da preocupação de vários governantes.
Nos Estados Unidos, a dívida passou de
70% do PIB em 2007 para estimados
94% em 2010.
O Estado de S. Paulo, 9/5/2010
num impasse não resolvido até hoje. Os
países ricos querem maior acesso de seus
produtos industrializados aos países em
desenvolvimento, por meio da redução
de tarifas de importação. Já os países
em desenvolvimento buscam restringir
as vantagens econômicas (subsídios)
que os governos dos países ricos dão
a seus produtores agrícolas. A medida
beneficiaria o seu comércio externo, uma
vez que as nações emergentes são grandes exportadoras de matérias-primas
(commodities). O prolongado impasse
mostra a dificuldade da globalização
em beneficiar o conjunto dos países e
das populações.
O fato é que, com frequência, as reformas neoliberais não trouxeram progresso,
e em muitas regiões ocorreu o inverso.
Segundo o próprio FMI, os anos 1990
foram “decepcionantes” para a economia
da América Latina. De acordo com um
relatório de 2005 do órgão, reformas estruturais realizadas estimularam o crescimento econômico, mas não resolveram
problemas antigos: o número de pobres
aumentou em 14 milhões na década e o
Produto Interno Bruto (PIB) per capita
caiu mais de 1%, em média, entre 1997
e 2002. Cabe lembrar que as políticas
aplicadas nos países da região naquele
período foram largamente orientadas
pelo próprio FMI.
u
q
Globalização
CONSENSO DE WASHINGTON A expressão surgiu em 1989 e refere-se à
política que os Estados Unidos preconizavam para a América Latina. Essa
orientação, também chamada de neoliberalismo, tornou-se o modelo que o
FMI e o Banco Mundial propõem para
todos os países.
NEOLIBERALISMO Prega o domínio
do livre mercado sobre a economia e a
diminuição do papel do Estado na vida
econômica. Entre suas características
estão a eliminação de barreiras aos
investimentos estrangeiros, privatizações, redução de gastos sociais e
desregulamentação do mercado de
trabalho.
GLOBALIZAÇÃO Mudança econômica
iniciada no fim do século XX, com o
surgimento de um processo de interdependência entre governos, empresas
e movimentos sociais. O termo descreve uma situação propiciada pela
internet, com a troca instantânea de
informações, a realização on-line de
operações financeiras e do fechamento
de negócios, a facilidade em promover
relocalizações de fábricas e, sobretudo, a integração mundial do mercado
financeiro, que opera unificado nos
quatro cantos do globo.
OMC A Organização Mundial do Comércio foi fundada em 1995 como um
fórum de discussão para regulamentar
e fiscalizar o comércio internacional
dentro dos moldes da globalização.
A Rodada Doha, aberta em 2001 para
negociar avanços no comércio internacional, estava prevista para terminar
em 2006, mas entrou em um impasse,
opondo os países de economia avançada às nações emergentes.
BLOCOS ECONÔMICOS Agrupamentos
de nações reunidas com o objetivo de
facilitar a circulação de mercadorias
entre membros. Sob a economia globalizada, ajudam a abrir as fronteiras
de cada nação ao livre fluxo de capitais
pelo mundo. Classificam-se em zona
de livre-comércio, união aduaneira,
mercado comum e união econômica
e monetária.
2011 atualidades vestibular + enem
133
k
economia Energia
Energia:
presente
e futuro
O mundo precisa de cada vez mais energia,
mas é necessário encontrar fontes renováveis
que não prejudiquem o meio ambiente
134
atualidades vestibular + enem 2011
História
A matriz mundial de energia é dominada pela queima de combustíveis. Desde
que aprendeu a dominar o fogo e, com
ele, a cozinhar e se aquecer, o ser humano
retira a energia de todos os materiais
que tem à mão. O uso que fazemos da
energia para viver é uma ampliação da
necessidade que o nosso próprio corpo
tem de energia, absorvendo-a dos alimentos. E a forma mais primária, fácil
e barata de produzir energia é a ígnea:
queimar um material para obter calor e
luz, seja o carvão vegetal para o churrasco, o combustível para o automóvel
ou o carvão mineral para produzir aço
nas siderúrgicas.
Com o tempo, o ser humano aprendeu
a usar diversas formas de energia, como
apreender o vento nas velas de um barco (na Antiguidade) ou usar a água e o
vento para girar pás de moinho (na Idade
Média). Mas a forma de produzir energia
mais utilizada no mundo ainda é queimar
os materiais disponíveis em quantidade,
que produzem caloria a baixo custo.
A invenção da máquina a vapor estimulou a industrialização no século XVIII,
com a utilização do carvão mineral. Mas
foi o início da exploração de petróleo, no
fim do século XIX,
DESERTO PRODUTIVO
que impulsionou a
economia mundial
Refletor térmico da
no século XX. O
usina Nevada Solar One,
petróleo é a fonte
no deserto de Nevada,
primária de enernos EUA: em busca de
gia mais empregafontes alternativas
da no mundo por
divulgação
O
suprimento de energia em um
país é, em princípio, uma prioridade de todos os governos, pois
sem energia nenhum setor econômico e
social funciona. É em razão disso que a
descoberta de petróleo no pré-sal brasileiro ganhou tanto destaque, e ampliar a
oferta de energia foi declarado a prioridade número 1 do governo dos Estados
Unidos pelo presidente Barack Obama.
A busca por suprimentos permanentes
de energia é histórica e transformou em
áreas de interesse geopolítico as regiões
onde existem grandes jazidas de petróleo
e gás, especialmente o Oriente Médio.
No século XXI, os países enfrentam
o difícil desafio de aumentar sua produção de energia e equilibrar a matriz
energética – o conjunto da produção e
do consumo de energia, dos materiais
utilizados e do modo como são usados.
O consumo de energia não para de se
expandir, puxado pela economia industrial, pela urbanização crescente e pelo
aumento da população. Hoje em dia, há
a preocupação de reduzir a participação
na matriz de energia dos combustíveis
fósseis, como o petróleo, o carvão e o
gás natural, que criam gases poluidores
que agravam o efeito estufa. O Brasil tem
papel de destaque nesse cenário, pois
entre as grandes nações é a que tem o
maior equilíbrio no uso de energia renovável e não renovável e, além disso, com
a descoberta do pré-sal, viu suas reservas
de petróleo se tornar imensas, embora
ainda não se saiba qual é exatamente
sua dimensão.
2011 atualidades vestibular + enem
135
k
economia Energia
O choque do petróleo, em
1973, elevou os preços do
produto e impulsionou a
pesquisa de alternativas
Matrizes de energia
Todos os países calculam periodicamente a sua matriz energética. Para isso,
é necessário utilizar uma unidade comum
de cálculo entre os materiais, a Tonelada Equivalente de Petróleo (tep), que é
a conversão do poder de liberar calor na
combustão dos diversos materiais para o
petróleo como forma de fazer a compa136
atualidades vestibular + enem 2011
A maioria absoluta das fontes de energia que o ser humano utiliza tem como
origem a energia vinda do Sol:
1) as plantas absorvem a energia do Sol
e, por meio da fotossíntese, a estocam na forma de carbono;
2) extraímos essa energia dos vegetais
queimando a madeira, o carvão vegetal, o bagaço ou a palha;
3) os seres humanos e os animais absorvem a energia dos vegetais quando
os comem, e isso mantém a vida e o
corpo em funcionamento;
4) os ventos, que movem moinhos e barcos à vela, surgem do aquecimento
de massas de ar pelo Sol; as ondas
nascem impulsionadas por ventos;
divulgação
ter a melhor relação de custo/benefício,
ou seja a maior rentabilidade. Apesar de
exigir muito investimento, a lucratividade
na exploração de petróleo é elevada. Ele
concentra grande quantidade de calorias
em cadeias de carbono, capazes de gerar
dezenas de produtos em série, como gasolina, óleo diesel e óleo lubrificante, nafta, gás
liquefeito, polímeros e plásticos. Quando
queimado em quantidade equivalente, o
petróleo produz o dobro da energia liberada pelo carvão mineral.
Na década de
GIGANTE ENERGÉTICO
1970, a matriz
mundial de enerUsina hidrelétrica
gia sofreu grande
de Itaipu: garantia
abalo quando houde fornecimento às
ve o primeiro choregiões mais populosas
que de elevação do
preço do petróleo.
Na década de 1990,
surgiu outro fator importante: o alerta
global deflagrado pela Conferência das
Nações Unidas para o Meio Ambiente, a
ECO 92, sobre o aquecimento do planeta
gerado pelos gases de material fóssil, principalmente o dióxido de carbono (CO2).
Nessa década, com as jazidas de petróleo
diminuindo de volume e o preço aumentando, a solução foi ampliar o uso de gás
natural, o que ocorreu na Europa, nos
Estados Unidos e também no Brasil, com
a construção do gasoduto Bolívia-Brasil e
de usinas termelétricas a gás. Atualmente,
mais de dois terços da emissão mundial de
poluentes no ar são gerados pela queima
desses combustíveis fósseis, segundo o
relatório 2009 da Agência Internacional
de Energia (AIE). Também teve início a
lenta construção de usinas de eletricidade
eólicas e solares.
Quase toda a energia vem do sol
ração entre eles. Uma tep equivale a 10
milhões de kcal, a mesma unidade usada
para os alimentos.
O balanço anual da matriz mundial de
energia é feito pela Agência Internacional
de Energia (AIE). Para ser eficiente, o
balanço é um estudo o mais detalhado
possível da matriz e quantifica:
1) os recursos de energia primários,
como petróleo, xisto, carvão mineral,
lenha, cana-de-açúcar, mamona, urânio, água, ventos etc.;
2) os recursos de energia secundários,
como óleos cru e diesel, gasolina, álcool,
biodiesel, carvão vegetal e eletricidade,
gerados dos recursos primários; e
3) os setores de consumo de energia,
como transporte, agricultura, indústria, comércio e residências.
Manter uma oferta crescente de energia
na matriz e mudá-la quando necessário é
um desafio permanente de cada nação. É
preciso conseguir os recursos energéticos
e colocá-los à disposição a um preço viável.
As plataformas de petróleo marinhas e as
usinas nucleares, por exemplo, custam
muito caro, e só valem a pena se produzirem muita energia por um longo tempo.
Além disso, é preciso levar os recursos
energéticos até os pontos de produção
e de consumo, construindo oleodutos e
refinarias, gasodutos, redes de alta e baixa
tensão elétrica e canalizações urbanas.
Os investimentos em infraestrutura são
elevados e demorados, e, por isso, uma
característica das matrizes de energia é
que elas mudam lentamente. A situação
da matriz brasileira, por exemplo, com
boa participação do álcool, é resultado de
mais de três décadas de investimentos.
Conceitos de energia
Um fator essencial na composição das
matrizes é se os recursos primários utilizados são renováveis (recursos naturais
que se repõem, como a água, a lenha e a
cana-de-açúcar) ou não renováveis (cujas
reservas irão acabar, como o urânio e os
combustíveis fósseis: petróleo, gás natural
e carvão mineral). Nas décadas recentes,
surgiram também os conceitos de sustentabilidade e energia limpa. Conheça esses
conceitos.
Energia Limpa É aquela que não polui,
ou polui menos, na produção e no consumo. Os exemplos atuais mais importantes: a energia hídrica, a eólica (dos
ventos) e a solar. A energia limpa é um
objetivo que deve ser constantemente
pesquisado e aprimorado. No Brasil, por
exemplo, grandes represas hidrelétricas,
como Itaipu, Balbina e Tucuruí, foram
construídas sem que se retirassem antes
as matas nativas, que, por isso, estão em
decomposição e liberarão grande quantidade de gases do efeito estufa por dezenas de anos. Assim, elas estão poluindo
o ambiente. O conceito de energia limpa
também é aplicado na comparação entre
os materiais: o gás natural e o etanol são
considerados mais limpos do que a gasolina ou o diesel, porque liberam menos
gases do efeito estufa.
Energia sustentável É a que dá sustentação à produção e ao consumo, porque
se encontra disponível para o uso no
decorrer do tempo. O conceito leva em
conta a preservação do equilíbrio ambiental, mas não significa necessariamente que seja energia limpa. A lenha,
por exemplo, é um recurso sustentável,
entretanto é um dos piores poluentes,
e sua fumaça é tóxica e danosa à saúde;
portanto, não é limpa. Uma matriz energética para determinada cidade pode ser
considerada sustentável se combinar, por
exemplo, pequenas centrais hidrelétricas
e termelétricas a óleo e biomassa.
Equilíbrio brasileiro
O Brasil tem a matriz energética mais
equilibrada entre as grandes nações. Em
2009, de acordo com a prévia do Balanço Energético Nacional 2010, 47,3% da
energia usada pelos brasileiros veio de
fontes renováveis, como a água e a canade-açúcar, e o restante, 52,7%, de fontes
não renováveis, principalmente petróleo
e gás natural. A média mundial de uso de
energias renováveis é de apenas 12,7%, e a
média cai para 6,7% entre os 30 países da
Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), que
agrupa as mais ricas nações do planeta.
Nesta última década, o Brasil alcançou
autonomia em petróleo, produzindo o volume de que necessita, e essa autonomia
parece duradoura, com a confirmação da
exploração de grandes reservas de petróleo no pré-sal. O país também conseguiu
ampliar a produção e o consumo de sua
energia renovável, com uma mudança
importante: aumentou sua produção de
álcool combustível (etanol) e passou a
produzir em larga escala carros flex, com
motores bicombustíveis, para utilizá-lo. O
impacto foi tão grande que, em 2007, pela
primeira vez, a cana-de-açúcar ocupou a
segunda posição como fonte de energia
e as águas de rios (e represas) são
alimentadas e movimentam-se por
causa das chuvas (e da evaporação),
provocadas pelo calor do Sol;
5) o petróleo, o carvão mineral e os gases combustíveis formaram-se da
decomposição de plantas e animais
que existiram em outras eras e que
armazenaram a mesma energia do
Sol, há milhões de anos, em cadeias
de carbono.
Mas há exceções: a energia nuclear não
tem origem no Sol, e a energia geotérmica,
ainda pouco explorada, provém do magma
quente existente no interior da Terra. Uma
forma de energia renovável e limpa, pesquisada atualmente, e não proveniente
do sol, é a energia gerada pela quebra de
moléculas que contêm hidrogênio.
mais usada na matriz nacional, suplantando a água (hidreletricidade).
Mas não foi sempre assim. Durante 400
anos, da descoberta do país até o fim do
século XIX, utilizamos principalmente
a lenha (80% da energia) – também o
bagaço de cana e a gordura de baleia,
queimada em lamparinas públicas. Nos
anos 1910 e 1920, começou a eletrificação
do Brasil e, a partir da década de 1940,
com o governo de Getúlio Vargas e de
seus sucessores (veja também na pág.
108), foi sendo montada a infraestrutura
de base da indústria, com empresas para
explorar carvão (Companhia Siderúrgica
Nacional), petróleo (Petrobras) e para
construir e gerir um grande sistema hidrelétrico (Eletrobrás).
Nos anos 1970, após a primeira crise do
petróleo, em que o preço disparou mundialmente, o país começou a diversificar
a matriz de energia, investindo no álcool
combustível (programas Pró-Álcool e PróCarvão Mineral) e na energia nuclear. Nos
anos 1990, foi a vez do gás natural, com a
exploração de jazidas e a construção do
gasoduto Brasil-Bolívia, e, nos anos 2000,
iniciou-se a produção de biodiesel (feito
principalmente de mamona e soja) e a
implantação das usinas elétricas eólicas.
2011 atualidades vestibular + enem
137
k
Resumo
economia Energia
O Brasil investe em fontes
diversificadas: usinas
hidrelétricas, petróleo no
pré-sal, biodiesel e álcool
138
atualidades vestibular + enem 2011
pick imagem
Veja os principais fatos que marcaram
a evolução da matriz de energia brasileira
nesta última década:
k Aumento na construção de usinas termelétricas a óleo e gás (2002).
k Fabricação de carros bicombustíveis,
com motores flexíveis para gasolina e
etanol (2003).
k Ampliação da queima de biomassa de
cana-de-açúcar. A cana ultrapassa a
água e torna-se o segundo energético
da matriz (2007).
k Programa de construção de usinas
eólicas.
k Expansão em andamento da rede de
gás natural do Centro-Oeste-Sul e
Sudeste para o Nordeste.
k Projeto e construção de grandes represas hidrelétricas na Região Norte:
Santo Antonio e Girau, no rio Madeira
(Roraima); Belo Monte, no rio Xingu
(Pará); e outras 18 barragens para a
bacia dos rios Araguaia e Tocantins,
das quais a usina de Estreito, na divisa
entre o Tocantins e o Maranhão, está
em fase final de construção.
k Aceleração do programa de produção do biodiesel. Em 2008, essa produção cresceu 188%, pois o governo
decretou sua adição obrigatória ao
óleo diesel.
Energia
Saiu na imprensa
Vale admite déficit
de energia para
2015-2016 e quer
integrar Belo Monte
TECNOLOGIA Agrônoma faz testes com cana-de-açúcar em centro de desenvolvimento no interior paulista
Contrastes mundiais
As matrizes de energia estão sujeitas
a inúmeras variáveis, principalmente
com relação à disponibilidade dos recursos energéticos, às altas e baixas de
preço para produzir ou importar e às
variações do volume consumido. Veja
como é a matriz de energia brasileira no
quadro abaixo. É interessante destacar,
por exemplo, que, apesar de ser líder
mundial em energia renovável, o Brasil
não é o maior produtor de hidreletricidade. Em 2008, a China liderou, com 18,5%
da produção global, seguida pelo Canadá
(11,7%) e pelo Brasil (11,5%).
O Japão, a França e a Bélgica, por sua
vez, não dispõem de grandes rios para
produzir energia hidrelétrica. Por isso,
O presidente da Vale, Roger Agnelli,
afirmou que está disposto a analisar
um possível convite do consórcio Norte
Energia, vencedor do leilão da usina
de Belo Monte, para integrar o grupo
como autoprodutor. (...) “Não fomos
convidados, não estamos correndo
atrás de nada, mas temos interesse
em energia a R$ 77 (o megawatt-hora)”,
acrescentou.
Segundo ele, o consórcio do qual a Vale fez parte concluiu que o investimento
daria retorno ao preço de R$ 82,90. (...)
Belo Monte, que deverá ser, a partir de
2015, a terceira maior hidrelétrica do
mundo, atrás de Três Gargantas, na
China, e de Itaipu, na fronteira entre
Brasil e Paraguai, é um projeto de US$
11 bilhões que produzirá até 11.000 MW
produzem eletricidade com usinas termonucleares (veja na pág. 28) e importam
praticamente todo o petróleo e derivados
de que necessitam.
Quando observamos a participação das
energias renovável e não renovável, o
contraste entre as estruturas das matrizes
dos demais países e a do Brasil é grande.
Veja alguns exemplos:
Estados Unidos 84% da energia atual
é não renovável. Segundo previsão do
governo, até 2035 esse percentual pode
diminuir para 78%.
União Europeia 92% de toda a energia
é não renovável.
Reino Unido A produção é 97% não
renovável (carvão mineral, petróleo e
gás natural), e a energia renovável é produzida basicamente a partir do uso de
lixo e de resíduos. O Reino Unido era
autônomo em energia até o fim da década
de 1980, mas substituiu intensamente o
carvão mineral por gás natural em usinas
termelétricas. O país agora importa 20%
da energia.
Portugal Tem 80% de fontes de energia
não renováveis e importa 82% de toda a
energia que consome.
q
de energia. O leilão de concessão foi
realizado em 20 de abril.
Segundo ele, a Vale tem interesse nas
próximas licitações do setor elétrico
que derem retorno, inclusive do próximo projeto de grande porte que o governo deverá licitar, a usina de Tapajós, no
rio Tapajós (PA), com capacidade para
gerar 6.300 MW. O leilão está previsto
para 2011, segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE).
Agnelli informou que a Vale tem déficit
de energia para 2015-2016 que ainda não
foi contratado e por isso deverá buscar
oportunidades nas licitações. “O que vier
de licitação de hidrelétrica nós vamos
olhar”, afirmou o executivo ao ser perguntado se poderia participar da disputa
por Tapajós. (...) Ele afirmou ainda que
o custo da energia no Brasil é alto e por
isso a Vale busca também novas formas
de geração, como biodiesel e solar.
Correio Braziliense, 6/5/2010
França Importa 50% de todos os recursos energéticos. A energia nuclear é
dominante e representa 84% de tudo o
que produz. Consome 93% de energéticos
não renováveis.
Bélgica Tem 97% de energia não renovável e 3% de renovável, pela queima de lixo
e resíduos. A energia nuclear responde
por 88% do total produzido no país, que
importa 90% de toda a sua energia.
Garantir o provimento necessário de
energia para o desenvolvimento das sociedades é um desafio enorme para o
futuro, pois o consumo tende a aumentar
constantemente. No Brasil, entre 1940 e
2000, a população pouco mais que dobrou, mas o consumo cresceu quase cinco
vezes. Além disso, o consumo nacional
em 2007 foi de apenas 1,29 tep per capita,
cerca de 30% da média por pessoa dos
países desenvolvidos (4,7 tep), e também
abaixo da média mundial, de 1,7 tep. Essa
média vai aumentar, puxada principalmente pelo crescimento econômico de
nações superpopulosas, como a China e
a Índia. No Brasil, o governo prevê que
o consumo chegue a 2,33 tep/per capita
em 2030.
u
PETRÓleo É o principal energético mundial. Dele extraímos combustíveis com
alto poder calorífico (como gasolina,
óleo diesel e querosene) e importantes
matérias-primas para a produção de polímeros, plásticos, vinis, tintas etc.
FORMAS DE ENERGIA Energias renováveis são as de fontes naturais, como a
água e o vento, e que é possível repor,
como a lenha. Energias não renováveis são baseadas em fontes que vão
se esgotar, como urânio e petróleo.
Energias sustentáveis são as de fontes
com reposição garantida no decorrer
do tempo. Energias limpas são as de
fontes que fazem menos mal à saúde e
ao ambiente. As energias renováveis e
limpas são valorizadas hoje em dia.
MATRIZ ENERGÉTICA É o conjunto dos
recursos de energia de uma sociedade
ou região e as formas como eles são utilizados. Uma matriz de energia abrange principalmente as fontes primárias
(petróleo, carvão mineral, água, lenha,
cana-de-açúcar), as fontes secundárias
(gasolina, óleo diesel, eletricidade, álcool), os setores de consumo (transporte, indústria, agricultura, comércio
e residências) e as formas de energia
– renovável e não renovável.
MATRIZ BRASILEIRA A eletrificação
no Brasil começou por volta de 1900,
mas até 1940 a queima de lenha forneceu 80% da energia. Os recursos
priorizados depois foram o carvão
mineral e a hidreletricidade (a partir
da década de 1940), o petróleo (anos
1950), as grandes hidrelétricas (anos
1960), hidrelétricas gigantes, energia
nuclear e álcool (anos de 1970 e 1980),
gás natural (anos 1990) e, atualmente,
a biomassa de cana, biocombustíveis
e energia eólica.
EQUILÍBRIO DAS MATRIZES É o resultado do balanço da diversidade de fontes e
de seu caráter renovável e não renovável.
O Brasil tem a matriz mais equilibrada
entre as grandes nações, com recursos
renováveis e não renováveis em volume
quase igual, perto de 50% cada um. A
média de recursos renováveis é de 6,7%
entre as nações mais ricas.
2011 atualidades vestibular + enem
139
k
economia trabalho
O custo
humano
da crise
A
crise econômica mundial, iniciada
com o estouro da bolha imobiliá­
ria nos Estados Unidos, em se­
tembro de 2008, colocou 34 milhões de
pessoas no desemprego no mundo todo. É
uma onda de demissões sem precedentes,
segundo a Organização Internacional do
Trabalho (OIT), que calculou o número
comparando a situação do fim de 2009,
quando o total de desempregados che­
gou a 212 milhões de pessoas no mundo,
com o fim de 2007, antes, portanto, da
abertura da crise. Esse número equivale
a uma taxa de desemprego de 6,6% da
força de trabalho mundial.
Com relação a 2010, a OIT não é oti­
mista. Sua análise é que o desemprego
continuará elevado em nível global, com
mais 3 milhões de demissões nos países
ricos, enquanto em outras regiões haverá
estabilidade ou pequena alta do emprego.
A boa notícia por aqui é que o panorama
no Brasil mostra que o país foi menos
afetado pela crise do que a maioria e já há
uma importante reação no desempenho
econômico e no nível de emprego, como
se explica adiante.
140
atualidades vestibular + enem 2011
afp/getty images/jasper juinen
Onda de demissões
recorde atinge 34
milhões de pessoas
no globo em um ano
e meio, mas panorama
no Brasil é diferente
Os estudos da OIT – divulgados no
relatório Tendências Mundiais do Em­
prego 2010 – indicam que a fatia jovem da
população foi particularmente atingida
pela crise. No período de um ano e meio,
um total de 10,2 milhões de jovens foram
demitidos. O diretor-geral da entidade,
Joan Somavia, pensa que, diante da gra­
vidade da situação, os governos devem
adotar medidas para preservar os empre­
gos: “Assim como se tomaram decisões
para salvar os bancos, necessitamos da
mesma vontade para salvar e criar postos
de trabalho e ajudar as pessoas”.
Descompasso
O fato é que a produção de riqueza no
mundo é cada vez maior, mas as oportu­
nidades de trabalho estão encolhendo.
Uma das marcas da globalização – como
se chama a fase atual da economia mun­
dial – é um descompasso entre a expansão
da economia e o mercado de trabalho.
Com a recessão global, esse problema
se agravou, e houve um custo humano
pesado, na forma de aumento abrupto
do desemprego.
A maior perda de empregos ocorreu
nos países desenvolvidos – o que inclui
os Estados Unidos, Canadá, membros da
União Europeia, Austrália e Japão: houve
um salto de 29 milhões de desemprega­
dos em 2007 para 42,8 milhões no fim
do ano passado. Isso representa 41% de
todas as demissões em razão da crise. No
mundo todo, o nível de emprego caiu,
mas de forma menos aguda. O cenário
indica que, com a crise, as empresas sa­
crificaram as vagas nos países onde a
mão de obra é mais cara.
No cenário atual, a juventude tem par­
ticular dificuldade para entrar no mer­
cado de trabalho. Para que toda a nova
mão de obra que chega à idade produtiva
possa obter emprego, deveria haver um
aumento anual de 45 milhões de vagas.
Com a crise, houve redução no emprego,
e os jovens – os trabalhadores entre 15
e 24 anos – foram os mais atingidos,
perdendo mais de 10 milhões de postos
de trabalho desde 2007. O aumento nas
taxas de desemprego foi de 1,3 ponto
percentual para eles, contra 0,7 para a
mão de obra adulta.
Globalização
A crise estrutural do emprego é re­
sultado das transformações sofridas
pela economia mundial desde o fim dos
anos 1980. Voltando mais no tempo, nas
primeiras décadas do século XX pratica­
mente não faltava trabalho na maior parte
dos países. Isso mudou com a quebra da
Bolsa de Nova York, em 1929, expressão
da mais grave crise enfrentada pelo capi­
talismo mundial no século passado, que
provocou consequências negativas na
economia de todo o planeta no período
seguinte. Nos anos 1930, 27% dos norteamericanos e 40% dos alemães chegaram
a ficar sem emprego.
O período que se seguiu à II Guerra
Mundial (1939-1945) foi de prosperidade
e desenvolvimento econômico, induzido
por ações dos governos, com forte pre­
sença do Estado no funcionamento das
economias nacionais. Isso proporcionou
investimentos estatais em infraestrutura
(estradas, moradias), ampliou serviços
públicos (saúde, educação), alimentou
a produção industrial e, por extensão,
criou empregos.
No início dos anos 1990, com a queda
do Muro de Berlim (símbolo da dissolu­
ção do bloco comunista liderado pela exUnião Soviética) e o fim da Guerra Fria,
veio a globalização: os Estados nacionais
perderam importância como protagonis­
tas da ação econômica, há uma tendência
à desregulamentação das economias na­
cionais e o mercado mundial integra-se
em uma rede pela qual os capitais pas­
saram a circular bem mais livremente e
com poucas regras de controle.
Sob a globalização, as grandes corpo­
rações multinacionais ampliaram seu
raio de ação, atuando simultaneamen­
te em todo o mundo e impondo forte
competição às empresas nacionais. A
concorrência feroz estreitou as margens
de lucro, e a sobrevivência na economia
globalizada passou a exigir produtividade
máxima com custo mínimo, diretrizes
que produziram impacto sobre o nível de
emprego. O inves­
timento em tecno­
QUERO TRABALHAR!
logia de automa­
Desempregados buscam
ção, por exemplo,
recolocação em Madri:
eliminou milhares
demissões atingiram
de postos de tra­
3 milhões de espanhóis
balho em todo
o mundo, com a
substituição da
mão de obra humana por máquinas e
muito uso de computação. A diferença
entre o patamar do desemprego atual e
as crises anteriores é que hoje o problema
é estrutural. Em comparação com outras
épocas, agora o desemprego faz parte da
lógica com a qual opera o mercado con­
temporâneo, decorrência da forma pela
qual se reorganizou o processo produtivo
no cenário do mundo globalizado.
Sindicatos sob pressão
A busca incessante por mão de obra
cada vez mais barata e os avanços tec­
nológicos produziram uma nova divisão
internacional do trabalho, que borrou a
distinção entre os países industrializa­
dos e os fornecedores de matéria-prima.
Como meio para reduzir gastos com mão
de obra, grandes multinacionais transfe­
rem o processo produtivo – que absorve
a maior parte dos trabalhadores fabris –
dos países-sede para unidades nos países
economicamente periféricos, nos quais os
salários são bem mais baixos. Ficam nas
matrizes os centros tecnológicos (res­
ponsáveis pela concepção dos produtos
e gestão das empresas), com as vagas de
melhor qualificação, menos numerosas,
mas de remuneração mais elevada.
Nessa situação de forte competitividade,
para facilitar a contratação pelas empresas,
adeptos do neoliberalismo (veja na pág. 130)
defendem a desregulamentação do mer­
cado de trabalho no mundo. Isso significa
alterar as legislações para torná-las mais
flexíveis e permitir às empresas contratar
funcionários a custos menores ou sem os
direitos trabalhistas existentes hoje.
Os sindicatos de trabalhadores recu­
sam a desregulamentação, mas estão co­
locados numa posição defensiva. Com o
acúmulo de mão de obra desempregada,
a manutenção do emprego e dos direitos
– e não tanto a busca por mais direitos
– converte-se na principal bandeira do
movimento sindical. Daí a dificuldade
para organizar as categorias profissionais
nos sindicatos, como ocorria no passado.
Segundo a OIT, o número de trabalha­
dores sindicalizados diminuiu em vários
países nos últimos 20 anos.
DESEMPREGO NO MUNDO RETOMA O CRESCIMENTO
Em milhões de pessoas
250
212,0
200
170,3
150
1998
176,5
174,2
1999
2000
180,8
2001
186,4
2002
190,8
2003
192,7
2004
192,2
2005
186,4
2006
180,2
2007
188,6
2008
2009
SOBE E DESCE Repare como o número de desempregados teve uma subida até 2004, caiu por três anos seguidos a partir de
2005, mas voltou a aumentar com força em 2008, quando ocorreu o eclosão da crise econômica, com um forte salto em 2009
Fonte: Organização Internacional do Trabalho (OIT), maio de 2009
2011 atualidades vestibular + enem
141
k
Resumo
economia trabalho
Para a OIT, mais da
metade dos empregos
existentes no mundo
são “vulneráveis”
Cenário no Brasil
A falta de trabalho formal e regular – no
Brasil, diz-se “sem registro em carteira”
– leva expressiva
parcela dos trabafora da escola
lhadores a buscar
Crianças trabalham em
meios alternativos
carvoaria no interior
para sobreviver.
da Bahia: situação
Assim, cresce a indegradante e ilegal
formalidade (atividade por conta
própria, sem vínculo empregatício e na qual o trabalhador
não tem direitos trabalhistas). É o caso,
por exemplo, de camelôs e ambulantes
que ocupam espaços públicos nas grandes
cidades.
O trabalho informal cresceu como
resultado da crise econômica. A OIT
estima que o número de trabalhadores
com emprego “vulnerável” – definição
que abrange não só os trabalhadores informais, mas também os que não recebem
remuneração por fazer algum tipo de
trabalho familiar – supere 1,5 bilhão de
pessoas, o que abrange pouco mais da
metade da força de trabalho mundial. Em
2009, houve um aumento de 110 milhões
de pessoas vivendo nessas condições.
Na Índia e em países da África Subsaa­
riana, a informalidade oscila em perto
de 80% da força de trabalho. No Brasil,
há uma redução constante do trabalho
informal desde 2003, com o crescimento
da parcela dos que têm registro em carteira. Em 2002, 56,3% dos trabalhadores
estavam na informalidade, segundo o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas
(Ipea). Essa taxa caiu para 49,4% em 2008
(veja gráfico na página ao lado).
Terceirização
O desemprego também favorece a terceirização, que se insere na estratégia
das empresas de reduzir custos, principalmente os trabalhistas. Trata-se da
transferência para terceiros das atividades-meio – como serviços de limpeza e
vigilância – ou mesmo de parcelas das
atividades-fim. A terceirização acontece quando uma companhia contrata
142
atualidades vestibular + enem 2011
celso junior/agência estado
Informalidade
empresas especializadas, que alocam no
trabalho a ser feito os seus funcionários
(ainda se mantém o registro em carteira,
em geral com salário menor) ou quando
contrata um prestador de serviço individual, sem o registro. Com a terceirização,
proliferam as pequenas empresas sem
empregados (em que o “dono” é o único
trabalhador), dedicadas à prestação de
serviços às grandes.
Trabalho infantil
Graves consequências da precarização
das relações trabalhistas são o trabalho
infantil e o escravo. Em todo o mundo,
há 215 milhões de crianças trabalhando,
segundo relatório divulgado pela OIT
em maio de 2010. Em 2000, as crianças
trabalhadoras eram 246 milhões. Nesta
década, houve redução de 12,6%.
Para a organização, a queda foi pequena e muito lenta, e é preciso articular
iniciativas para combater o problema.
O relatório explica que, mesmo com a
redução, o trabalho infantil cresceu em
países da África Subsaariana, e há muitas
crianças enviadas para atividades penosoas em minas ou fábricas.
Crianças são obrigadas a ingressar no
mundo do trabalho, em geral, para complementar a renda familiar. Mas essa
dedicação rouba o tempo que, nessa faixa
etária, seria empregado para estudar e
brincar, atividades necessárias para um
crescimento sadio e para garantir a base
psicológica e intelectual da formação do
futuro adulto.
Para combater o problema, alguns países adotam políticas compensatórias. No
Brasil, o programa Bolsa Família oferece
dinheiro às famílias classificadas como
pobres (renda mensal por cabeça abaixo
de 140 reais). Em contrapartida, exige que
as crianças sejam mantidas na escola e
levadas regularmente à rede pública para
receber cuidados básicos de saúde. Em
2010, o Bolsa Família atende mais de 12
milhões de famílias em todo o Brasil.
Ainda não está no horizonte o fim do
trabalho infantil no mundo, entretanto,
para os próximos anos, a meta da OIT é
erradicar as “piores formas de trabalho
infantil”. A denominação se refere à exploração de crianças na prostituição, no
tráfico de drogas e em outras atividades
degradantes existente no planeta.
Trabalho escravo
O trabalho escravo no mundo atinge
principalmente crianças e adolescentes.
É definido como o regime em que a recusa ao trabalho imposto implica castigo.
Segundo a OIT, há no planeta pelo menos
12,3 milhões de pessoas trabalhando em
situação de escravidão. Destas, a maioria
são mulheres e crianças.
As regiões do mundo que concentram
o trabalho escravo são a África, a Ásia
e a América Latina, mas a organização
indica que 350 mil pessoas são relegadas
a essa condição nos países desenvolvidos.
No Brasil, operações de fiscalização no
interior do país flagram com frequência
trabalhadores com documentos retidos
pelos patrões em acampamentos dos quais
não podem sair. Desde 2003, 32 mil brasileiros foram libertados de condições de
trabalho semelhantes às da escravidão.
Trabalho
CRESCE O EMPREGO FORMAL
Em 2009, o país teve uma taxa média
de desemprego de 8,1%, ligeiramente
pior do que os 7,9% do ano anterior. Isso
significa que as consequências da crise
sobre o mercado de trabalho foram relativamente pequenas no país. O melhor é
que o primeiro semestre de 2010 registrou um aquecimento da economia e uma
boa expansão do nível de emprego.
Em maio, a taxa de desemprego havia
caído para 7,5%. Em números absolutos,
houve a abertura de quase 300 mil vagas
de trabalho em todo o país no mês. Quase
dois terços delas surgiram na Região Sudeste, que puxa a recuperação econômica. Em seguida, veio o Nordeste, com 15%
dos novos postos de trabalho. Com esses
dados, o Brasil fechou os cinco primeiros
meses de 2010 com crescimento constante do emprego, totalizando 1,26 milhão
de novos postos. A expansão do emprego
atinge todos os setores da economia:
serviços, indústria e agricultura.
A taxa de desemprego no Brasil caiu
significativamente desde 2003, quando
estava em 12,4%. Com pequenas oscilações, a redução foi constante. Naquele
ano, o país tinha 2,62 milhões de trabalhadores sem emprego, segundo o IBGE. Em
2009, esse número era de 1,87 milhão. Isso
Percentual das ocupações informais e dos empregos
com carteira assinada
60
56,2
50
40
56,3
55,3
54,6
53,9
informal
com carteira
43,8
43,7
44,7
45,4
2001
2002
2003
2004
52,5
46,1
47,5
2005
2006
51,6
50,6
48,4
49,4
2007
2008
MAIS CARTEIRAS ASSINADAS Para este gráfico, os 100%
são todos os trabalhadores brasileiros – divididos entre os
que têm o emprego registrado na carteira de trabalho e os
que não têm. Veja como, desde 2003, há uma redução
constante da informalidade, que agora já é minoritária.
Fonte: Ipea, com base nas Pnads do IBGE
aconteceu num mercado de trabalho em
expansão, que empregava 18,5 milhões
de pessoas em 2003 e cresceu para 21,3
milhões de postos em 2009.
Chama ainda atenção que, nesse período, melhoraram a renda e a qualificação
dos trabalhadores brasileiros: o salário
médio subiu de 1.181,90 reais (2003) para
1.350,33 reais (2009), e a participação de
trabalhadores com mais de 11 anos de estudo subiu de 46,7% do total empregado
em 2003 para 57,5% em 2009.
u
Saiu na imprensa
O desafio do trabalho
infantil
Cléa Carpi da Rocha
Completa este mês 11 anos o importante instrumento de direitos humanos
para a erradicação do trabalho infantil,
a Convenção (Convênio) 182 da Organização Internacional do Trabalho (OIT)
e a Recomendação 190 para Ação Imediata para a sua Eliminação. (...)
As novas normas internacionais concedem prioridade a uma ação imediata
para pôr fim à exploração das crianças
e dos adolescentes que realizam trabalhos perigosos, em regime de escravidão
ou de servidão, ou submetidos à prostituição ou à pornografia, ou que pela
natureza e condições em que o trabalho
é efetuado causem-lhes danos à saúde,
à seguridade ou à moralidade, práticas
q
essas que os afetam em todo o mundo
com dolorosas conseqüências. (...)
Muito embora a Convenção 182
encontra-se vigente no Brasil há dez
anos, preocupa e assusta que nosso
país ainda apresente quase 5 milhões de
crianças que trabalham, segundo dados
do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE). E vamos encontrálas em núcleos familiares pendentes de
condições ínfimas de existência, com
moradias em estado precário e sem
saneamento básico, com crianças sendo
obrigadas a trocar a escola pelo trabalho para aumentar a vil renda familiar.
A pobreza econômica traz consigo a
pobreza cultural. O mercado informal
de trabalho das crianças e o êxodo da
escola marcham juntos. (...)
Zero Hora, 13/6/2010
DESEMPREGO A crise econômica mundial, cujo estopim se deu em setembro
de 2008, atingiu em cheio o mercado de
trabalho nas várias regiões do globo. A
Organização Internacional do Trabalho
(OIT) calcula que, em comparação com
2007 (antes da crise), 34 milhões de
pessoas tenham perdido o emprego até
o fim de 2009. O relatório Tendências
Mundiais do Emprego, da OIT, registra 212 milhões de desempregados no
mundo no fim de 2009.
CAUSAS Mesmo antes de a crise se
estabelecer, a situação mundial do
emprego já se encontrava repleta de
contrastes e incertezas. Entre as justificativas para o descompasso estão
características da globalização, que
estreitou as margens de lucro e passou
a exigir produtividade máxima com
custo mínimo, práticas que afetaram a
quantidade de empregos. Investimentos em automação eliminaram postos
de trabalho. Em busca de mão de obra
barata, multinacionais transferiram
fábricas para países pobres, nos quais
os salários são mais baixos.
QUALIDADE DO EMPREGO A OIT ressalta que, além da taxa de desemprego
estar subindo, a qualidade do emprego
está caindo. Nesse aspecto, destacamse o trabalho sem reconhecimento de
direitos trabalhistas e com baixa remuneração, as terceirizações e, em casos
de ilegalidade flagrante, o trabalho infantil ou escravo. A OIT estima que haja
250 milhões de crianças trabalhando
no mundo e 12 milhões de pessoas
na escravidão.
BRASIL Houve um ligeiro aumento do
desemprego em 2009, que chegou a
8,1%, mas o cenário nos cinco primeiros
meses de 2010 mostra uma expansão
do emprego e a retomada da queda
na taxa de desemprego, que vem de
2003, quando era de 12,4%. Em maio
de 2010, foram criados mais de 300
mil postos de trabalho com carteira
assinada, e 1,26 milhão desde o início
do ano. De 2003 a 2009, o mercado
de trabalho no Brasil cresceu de 18,5
milhões de trabalhadores para 21,3
milhões em 2009.
2011 atualidades vestibular + enem
143
k
Resumo
economia pib brasil
FERNANDO MORAES
Consumo familiar em alta
Retração no
crescimento
O Produto Interno Bruto do país diminuiu em
0,2% em 2009, mas a queda foi pequena diante
do tamanho da crise da economia mundial
E
m março deste ano, a divulgação
do balanço da economia brasileira
esteve no centro das atenções. O
destaque foi a queda de 0,2% do Produto
Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2009,
em relação ao ano anterior. Porém, os
diversos veículos de comunicação, como
jornais, revistas e noticiosos de televisão,
dividiram-se entre os que destacaram esse
resultado como negativo ou como positivo.
E esse desencontro tem razão de ser.
A retração da economia em 0,2% em
2009 foi o pior desempenho recente.
Além disso, vem depois de um bom crescimento, de 5,1% em 2008. Visto por seu
aspecto positivo, essa retração mostrou
uma relativa estabilidade da economia do
país diante da crise mundial, deflagrada
em 2008. Isso porque a maioria dos países
com economia de peso passou por gran144
atualidades vestibular + enem 2011
de recuo econômico em 2009, como os
Estados Unidos (queda do PIB de 2,4%)
e a Rússia (retração de 7,9%), segundo
dados do Banco Mundial divulgados no
primeiro semestre deste ano.
O PIB é a principal referência para
mensurar o andamento e o tamanho de
uma economia, estimar sua prosperidade
e compará-la com outras. Ele representa
o total de riquezas produzidas no país.
No Brasil, esse dado é calculado pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que reúne os resultados
das pesquisas setoriais que o próprio instituto realiza periodicamente nas áreas
de agricultura, indústria e serviços, além
de contabilizar os gastos do governo, das
empresas e das famílias e incluir outros
indicadores, como valores de exportação
e importação.
O baixo desempenho da economia brasileira foi bastante influenciado pelas
grandes quedas na agropecuária (retração de 5,2%), na indústria (-5,5%) e nos
investimentos (-9,9%). Esses resultados
são os piores desde o início da atual série do PIB, em 1996. Eles são reflexo da
crise econômica mundial e mostram uma
realidade oposta à do ano anterior. Em
2008, o crescimento do PIB em 5,1% foi
impulsionado principalmente pelo desempenho da agropecuária (crescimento
de 5,8%) e por uma elevação expressiva
dos investimentos, de 19%, a mais alta
desde 2000.
Um dos fatores
boas compras
que ajudaram o
Loja da rua 25 de
Brasil a não ter um
Março, em São Paulo:
resultado pior em
o aumento do consumo
2009 foi o crescipopular em 2009
mento da demanda
ajudou a economia
interna, ou seja, a
expansão do consumo familiar. As
famílias brasileiras consumiram 4,1% a
mais em 2009, o sexto ano consecutivo
de aumento. Para isso, contribuiu uma das
medidas tomadas pelo governo federal para
enfrentar a crise mundial, que foi reduzir o
Imposto sobre Produtos Industrializados
(IPI) sobre determinados produtos. Isso
diminuiu os preços e impulsionou as vendas de automóveis, de eletrodomésticos e
de material de construção. Outra medida
favorável à expansão do consumo foi a
ampliação do crédito, ou seja, a criação
de facilidades para que os consumidores
pudessem fazer compras parceladas. O
aumento do consumo ocorreu também no
setor de serviços, que cresceu 2,6%.
Outro dado que teria contribuído para
isso é o fato de o Brasil participar em apenas 1% do comércio mundial e, portanto,
ter uma economia baseada bastante no
consumo interno. Isso teria protegido
parcialmente o país dos efeitos da recessão nas nações ricas e em outras, que
reduziram suas importações, inclusive
as compras feitas do Brasil.
PIB per capita
O PIB per capita anual também apresentou resultado negativo em 2009, com
uma queda de 1,2% em relação ao ano
anterior e o valor de 16.414 reais. O PIB
per capita é um indicador geral médio da
renda nacional. Para calculá-lo, divide-se
PIB Brasil
Saiu na imprensa
PIB do Brasil em 2009 foi
um dos melhores do G-20
Andrei Netto
Mesmo com o desempenho negativo,
marcado pelo recuo de 0,2% do Produto
Interno Bruto (PIB), a economia brasileira teve um dos melhores desempenhos
do Ocidente em 2009, se comparado
com os demais membros do G-20. Entre
as maiores economias da América Latina, só a Argentina, que cresceu 0,9%,
foi melhor. (...)
A comparação é baseada em dados
parciais coletados pela Organização
para a Cooperação e o Desenvolvimento
Econômico (OCDE) em institutos estatísticos das 20 maiores economias. Pelo
ranking – que difere nos porcentuais,
Definição O Produto Interno Bruto
(PIB) é a soma de tudo o que foi produzido em um lugar em determinado
período de tempo. Em geral, é a medida
da produção de um país durante um
ano. No Brasil, o indicador é apurado,
avaliado e divulgado trimestralmente
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE). O PIB é a principal
referência para medir o tamanho de
uma economia, estimar sua prosperidade e compará-la a outras.
mas não nas tendências reveladas pela
classificação apresentada ontem pelo
Banco Central –, o PIB brasileiro é o
sétimo melhor do G-20.
Pela ordem da OCDE, em 2009 a China
apresentou o melhor desempenho, com
8,7%, seguida por Índia (5,6%), Indonésia (4,5%), Austrália (2,7%) e Coreia do
Sul (0,2%). (...)
“Os países emergentes estão crescendo mais rapidamente do que a maior
parte dos países da OCDE. Estamos satisfeitos pelo que eles têm feito pela
economia global”, afirmou Pier Carlo
Padoan, economista-chefe da OCDE,
um dos autores do relatório “Objetivo:
Crescimento”. (...)
Queda O PIB brasileiro registrou uma
queda de 0,2% em 2009 em comparação ao ano anterior. A agropecuária,
a indústria e os investimentos, que
apresentaram uma queda respectivamente de 5,2%, 5,5% e 9,9%, foram os
principais responsáveis pela retração
do PIB. Apesar de ser o pior desempenho da economia brasileira desde
1996, esse resultado foi avaliado externamente como positivo, pois foi o
segundo melhor entre os países com
os maiores PIBs mundiais e mostrou
uma estabilidade do país diante da
crise econômica internacional.
O Estado de S. Paulo, 12/3/2010
DESEMPENHO DO PIB MUNDIAL EM 2009
o total calculado do PIB pelo número de
habitantes. Sendo assim, se fosse possível
dividir a riqueza do país igualmente entre
os brasileiros, por exemplo, cada um receberia a quantia de 16,4 mil reais no ano.
A queda do PIB per capita não é uma
surpresa. Isso porque, quando a expansão
percentual da economia é menor do que
o aumento percentual da população do
país, o PIB per capita diminui. Como em
2009 o PIB nacional apresentou uma
queda de 0,2% e a população cresceu,
houve retração percentual também do
PIB per capita.
-2,1%
Mundo
-2,4%
1º Estados Unidos
-5,2%
2º Japão
3º China
-4,9%
4º Alemanha
-2,6%
5º França
-4,9%
6º Reino Unido
-5,0%
7º Itália
-0,2%
8º Brasil
-7,9%
9º Rússia
-3,6%
10º Espanha
Melhoria em 2010
Fonte: Banco Mundial e FMI
O índice de expansão da economia é
divulgado a cada três meses pelo IBGE.
No decorrer deste ano, será possível
acompanhar o desempenho da economia brasileira. O primeiro resultado
periódico, com dados do trimestre de
janeiro a março de 2010, mostrava que a
economia cresceu 2,7%, na comparação
com o trimestre imediatamente anterior,
que foi o último de 2009. Nesse primeiro momento, o setor industrial estava
liderando impulso na economia, com
uma alta de 4,2% em relação ao trimestre anterior. Esse dado seguia de perto
a expectativa divulgada pelo governo
federal, que projetava um crescimento
em torno de 5% para 2010.
u
q
Variação em %, total e nas dez maiores economias
0
8,7%
Renda por pessoa O PIB per capita é
a divisão da produção nacional durante
um ano pela população do país. Quando
o aumento da economia é maior do que
o aumento da população no ano, o PIB
per capita cresce. Como houve queda
do PIB brasileiro, o PIB per capita caiu
1,2% em relação ao ano anterior. O valor do PIB per capita do país em 2009
foi de 16.414 reais.
CRISE GLOBAL Observe que o impacto da crise foi forte
nos países desenvolvidos e menor nos países emergentes
do grupo das maiores economias. A China manteve o
crescimento e o Brasil teve o segundo melhor resultado.
EVOLUÇÃO DO PIB BRASILEIRO
Taxa de variação do PIB, no Brasil, em %
5,7
6
4,3
5
4
5,4
3,4
3
1,3
2
1
3,2
2,7
0
5,1
3,8
1,1
0,3
0
-1
-0,2
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
QUEDA DO PIB Repare que em 2009, pela primeira vez nos últimos 13 anos, o PIB brasileiro apresentou uma queda. É
importante notar que o gráfico mostra a variação do PIB em relação ao ano anterior (em %), e não o seu valor real.
Fonte: IBGE
2011 atualidades vestibular + enem
145
k
Resumo
economia Balança comercial
Balança comercial
O SOBE E DESCE DA BALANÇA COMERCIAL BRASILEIRA
Em bilhões de dólares
200
180
160
Exportações
140
Importações
120
Balança comercial
100
80
60
40
DÉFICIT
20
0
-10
-5,6
-6,7
-6,6
-1,3
-0,75
2,6
13,1
24,8
33,7
44,8
46
40
24,7
25,3
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
CRESCENDO UM POUCO
O gráfico mostra a
evolução das exportações,
das importações e do saldo
final da balança comercial
a cada ano. Note que a
diferença entre exportação
e importação (as linhas)
aparece no resultado, as
barras laranjas. Em 2009,
o superávit brasileiro
cresceu um pouco, mesmo
com a queda geral no
comércio exterior.
agência vale/divulgação
Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior
longe da crise Terminal marítimo da Vale, no Espírito Santo: após uma retração em 2009, o comércio exterior do Brasil volta a crescer no início de 2010
Brasil mantém
saldo externo
Em 2009, o comércio brasileiro com o mundo
diminuiu por causa da recessão na economia
global, mas o saldo positivo voltou a crescer
O
panorama da economia mundial
foi sombrio em 2009, e o Brasil
não escapou ileso: o país também
importou e exportou menos. Porém, o
saldo positivo da balança comercial voltou
a crescer em relação ao ano anterior, após
dois anos consecutivos de diminuição.
Em 2009, segundo dados do Ministério
do Desenvolvimento, Indústria e Comércio
Exterior (Mdic), o país apresentou um
superávit do comércio exterior de 25,3 bilhões de dólares, 1,6% a mais do que os 24,7
bilhões de dólares totalizados em 2008.
O resultado superou as expectativas do
governo federal, que, para 2009, era de um
total em torno de 20 bilhões de dólares.
146
atualidades vestibular + enem 2011
O saldo da balança comercial brasileira é o resultado da soma de todas as
exportações e da subtração de todas as
importações. Quando o país exporta mais
do que importa, consegue um superávit
da balança comercial. Quando o resultado
é o inverso, dá-se o nome de déficit. E
o aumento do saldo positivo da balança
comercial em 2009, em relação ao ano anterior, mostra que o país teve uma queda
nas exportações menor do que a queda
nas importações (veja o gráfico na página
ao lado). Apesar de registrar pequenas
quedas e altas em períodos diversos, o
Brasil mantém superávits anuais na balança comercial desde 2001.
A desaceleração
A diminuição do volume de comércio
exterior do país é reflexo da desaceleração
da economia global, provocada por uma
crise financeira que atingiu a indústria
e o comércio, e fez diminuir a produção
e o consumo, especialmente nos países
desenvolvidos. Como consequência, as
empresas dos países ricos diminuíram
as suas compras de produtos e matériasprimas importadas. E as empresas brasileiras também diminuíram as compras que
fazem no exterior, de peças ou materiais
que utilizam para fabricar.
As exportações brasileiras diminuíram
22,7% no ano passado, totalizando 153
bilhões de dólares. É a maior queda percentual desde que os dados passaram a
ser sistematizados e registrados, em 1950.
O Brasil vendeu menos a quase todas as
regiões do mundo para as quais exporta.
A Ásia foi a única região que comprou
mais produtos brasileiros, com uma expansão de 5,3% em relação a 2008. Com
esse resultado, a Ásia fechou 2009 na primeira posição de mercado comprador de
produtos brasileiros, superando a União
Europeia e a América Latina.
As importações brasileiras somaram
127,6 bilhões de dólares, uma diminuição
de 26,2% em relação ao ano anterior.
A retomada
O andamento do comércio exterior começou a dar sinais positivos no primeiro
trimestre de 2010, com exportações de
39,2 bilhões de dólares e importações de
38,3 bilhões de dólares. Como os valores
são comparados sempre com os períodos
correspondentes, e o início de 2009 foi
muito ruim, os crescimentos foram muito
elevados, com 25,8% a mais de exportações e 36% a mais de importações no
primeiro trimestre de 2010.
Nas exportações, destacaram-se a
venda de matérias-primas, como soja,
açúcar, petróleo bruto e minério de ferro. Os produtos mais comprados foram
combustíveis e lubrificantes. Note que
as importações cresceram bastante. Uma
das razões é ter ocorrido valorização do
real diante do dólar, o que estimula as
empresas a antecipar as compras planejadas para o ano, seja de materiais, componentes e produtos de que precisarão,
seja de produtos prontos, que chegam
de fora por um custo baixo.
Além de apresentar uma melhora da
balança comercial, 2009 trouxe outra
novidade no mercado nacional. A China
fechou o ano como o principal parceiro
comercial do Brasil, superando os EUA.
No ano passado, a conta-corrente de
comércio (soma das exportações com
importações) da China com o Brasil foi
de 36,10 bilhões de dólares, ante 35,92
bilhões dos EUA. Os chineses também
foram os principais compradores de produtos brasileiros, seguidos dos norteamericanos e argentinos. Os principais
países dos quais o Brasil mais importou,
em 2009, foram os EUA, a China, a Argentina e a Alemanha.
u
q
Principais parceiros
comerciais do Brasil
Em bilhões de dólares, em 2009
País
Corrente de comércio
Total
Exportações
Importações
China
36,1
20,2
15,9
Estados
Unidos
35,9
15,7
20,2
Argentina
24,1
12,8
11,3
Alemanha
16,0
6,2
9,9
9,6
4,3
5,4
Japão
Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior
Definição É o conjunto de exportações e importações feito pelo país. A
diferença entre os dois valores é o saldo da balança comercial. Quando o país
exporta mais do que importa, tem-se
um superávit. Quando o resultado é o
inverso, há um déficit na balança.
Tendência atual O Brasil tem registrado superávits contínuos anuais desde 2001. Após dois anos de diminuição,
o saldo aumentou de valor em 2009,
totalizando 25,3 bilhões de dólares,
1,6% a mais do que o acumulado de
2008. Em 2010, a balança comercial
também apresenta bons resultados
iniciais. No primeiro trimestre, o país
obteve um superávit de 900 milhões
de dólares, exportando 39,2 bilhões de
dólares e importando 38,3 bilhões.
Novo parceiro A China tornou-se o
principal parceiro comercial do Brasil
em 2009. Na soma das exportações e
importações, o comércio entre Brasil
e China alcançou a quantia de 36,10
bilhões de dólares, superando o principal parceiro do Brasil durante anos,
os Estados Unidos.
Saiu na imprensa
Eles já estão entre nós
Marcelo Onaga e Thiago Bronzatto
(...) Os sinais do avanço chinês no mundo estão por toda a parte – de fábricas
de eletrodomésticos nos Estados Unidos a plantações na África, de montadoras no Uruguai a indústrias de papel
na Indonésia.
Em sua marcha rumo à vice-liderança
da economia global, a máquina chinesa
não para de assombrar – e parece ter
chegado a vez dos brasileiros de sentir
sua força. Nos últimos meses, o Brasil
tornou-se destino do capital chinês.
(...) De um modestíssimo 29º lugar no
ranking dos maiores investidores do
país, a China deve assumir o topo da
lista em 2010, desbancando países tradicionais, como Estados Unidos, Espanha e Alemanha. “Essa presença deve
crescer muito nos próximos anos, não
só porque a China precisa das commodities brasileiras, mas também porque
o Brasil vem ganhando importância
no cenário internacional”, diz Martin
Jacques, pesquisador da London School
of Economics e autor do livro When
China Rules the World (Quando a China
Dominar o Mundo).
De janeiro a maio, os chineses anunciaram investimentos no Brasil equivalentes a mais de dez vezes o volume
de recursos que trouxeram para o país
em toda sua longa história. (...) O fato é
que o recente movimento chinês pode
ser traduzido como a terceira fase de
uma investida iniciada há exatas duas
décadas, após a abertura do mercado
brasileiro. (...)
Exame, 16/6/2010
2011 atualidades vestibular + enem
147
k
economia Indústria Brasil
A indústria
sai da crise
H
á dois anos, destacava-se nas reportagens de economia o crescimento constante da indústria
brasileira. Mas a globalização, que é um
dos fatores que impulsionavam esse crescimento, cobrou seu preço. Assim, apesar de
ter um pé firme no consumo do mercado
interno, a produção industrial brasileira
levou um tombo em 2009, com uma retração de 7,4% em relação ao ano anterior. É
a maior diminuição da atividade industrial
em 20 anos, desde uma queda de 8,9% em
1990, ano em que o Plano Collor confiscou
o dinheiro que movimenta tanto os investimentos quanto o consumo.
A indústria foi um dos setores mais
atingidos pela crise econômica internacional, junto com o do agronegócio e o
de investimentos. Com o resultado, o país
caiu nesse ano no ranking mundial dos
maiores parques industriais, divulgado pela
Organização das Nações Unidas (ONU):
desceu da nona para a décima posição,
trocando de lugar com a Índia. Felizmente, em março de 2010, o país registrava o
quarto mês consecutivo de crescimento
percentual da produção industrial, um
aceno de melhoria para o conjunto do ano,
se ele se mantiver.
Importância
Em nosso país, a indústria tem importância crucial, por ser um dos macrossetores que exigem muito investimento
financeiro, além de produzir os bens de
maior valor da economia e empregar
milhões de brasileiros. Muitos dos bens
produzidos, chamados de manufaturados,
estão diretamente ligados à urbanização,
como os produtos eletrodomésticos que
usamos para nosso conforto, trabalho,
saúde e bem-estar. Quando existe uma
148
atualidades vestibular + enem 2011
retração econômica continuada da indústria, no decorrer de anos, pode haver um ciclo vicioso de coisas ruins: as
indústrias demitem trabalhadores, o que
provoca o aumento do desemprego; eles
reduzem a quantidade de produtos fabricados e podem elevar seus preços
para compensar as perdas, o que pode
levar à inflação; as vendas do comércio
diminuem e a arrecadação de impostos
cai, reduzindo a capacidade de funcionamento das três esferas de governos. Foi o
que aconteceu nos anos 1980, chamados
de “a década perdida” para a economia
brasileira. Felizmente, não parece ser
esse o cenário atual.
Um ponto importante a destacar é que
o termo indústria abrange um leque muito extenso de setores de produção. Por
exemplo, o de construção civil, o químico,
o de cerâmicas, o
de vestuário, o
a todo o vapor
Após registrar queda
de vidros, o de
alimentos, borrana produção em 2009,
chas, siderurgia,
o setor automobilístico
metalmecânica, o
começa a se recuperar
automobilístico,
da crise em 2010
o de máquinas e
equipamentos
(também chamado
de setor de bens de capital). Frequentemente, cada setor inclui múltiplas atividades. O petroquímico, por exemplo,
abrange direta ou indiretamente desde
extração de petróleo e produção de combustíveis até tintas e solventes, polímeros,
plásticos, fertilizantes e fibras. Por essa
razão, embora o indicador de atividade
geral sinalize alta ou baixa percentual,
ele sempre traz embutido o desempenho
de setores que se destacaram por um
movimento oposto.
germano luders
No Brasil, as atividades industriais foram as mais
afetadas pela crise econômica mundial, e em
2010 se recuperam de um de seus piores anos
Sinais de melhora
A diminuição na atividade da indústria
brasileira resultou de uma significativa
queda de compras das empresas dos outros países, provocada pela crise econômica. Como resultado, as indústrias brasileiras exportaram menos, e o setor mais
diretamente ligado a exportações, que é
o de bens de capital (máquinas e equipamentos), foi o que teve o pior desempenho
no ano, segundo o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE).
O setor de bens duráveis, como automóveis, celulares e eletrodomésticos, registrou declínio na produção e nas vendas no
fim de 2008 e na maior parte de 2009 – ano
que fechou em queda de 6,4%. No fim de
2009 e no primeiro trimestre de 2010,
ele começou a se recuperar. O aumento
na produção se deve ao crescimento da
renda e do consumo interno, pois 2009 foi
o sexto ano consecutivo de aumento deste
(veja mais na pág. 144). Além disso, contribuiu a redução emergencial, por parte
do governo, do imposto sobre produtos
industrializados (IPI), que incide sobre
eletrodomésticos e automóveis.
Os resultados ruins do ano passado
parecem estar sendo superados. No
primeiro trimestre de 2010, segundo o
IBGE, a produção industrial brasileira
subiu 18% na comparação com o mesmo
período do ano passado. A maior alta da
indústria ocorreu no setor de máquinas e
equipamentos, que subiu 42% de janeiro
a março em comparação com 2009.
A Indústria e o PIB
A indústria é muito importante na produção de riquezas do Brasil, mensurada
no Produto Interno Bruto (PIB), embora
a liderança seja do setor de serviços. Em
2009, o PIB brasileiro atingiu 3,14 trilhões
de reais, e a indústria foi responsável por
25,4% de todo esse valor.
A participação da produção industrial
nas exportações do país é significativa
e vem crescendo. De 1964 a 2009, em
pouco mais de 40 anos, a exportação
2011 atualidades vestibular + enem
149
k
Resumo
economia Indústria Brasil
A maior parte das
indústrias brasileiras
ainda está concentrada
nas regiões Sul e Sudeste
dos produtos manufaturados passou de
6% para 57,4% do total vendido ao ex­
terior, segundo dados do Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio
Exterior (Mdic).
A exportação de produtos industriali­
zados (como computadores, eletrodomés­
ticos e automóveis) é uma característica
dos países ricos. As nações pobres vendem,
sobretudo, produtos básicos ou matériasprimas (commodities), como minérios e
bens agrícolas, a exemplo do café e da
soja, exportados pelo Brasil. Entretanto, é
muito mais vantajoso comercializar pro­
dutos industrializados, porque eles são
mais caros e embutem um lucro maior.
Além disso, não sofrem grande variação
de preço como ocorrem com minérios e
alimentos, que são com frequência afeta­
dos por fatores como redução de consumo,
pragas ou superssafras.
História
Do século XIX à década de 1930, a in­
dústria, ainda sem muita estrutura, cres­
ceu lentamente e voltada para o mercado
interno, com a produção de alimentos,
bebidas, tecidos, utensílios e ferramen­
tas. Esse histórico mudou na Era Vargas
(1930/1945), quando foi criada a indústria
de base – mineração, siderurgia e energia
– e foram adotadas medidas protecionistas
para favorecer a indústria nacional.
Entre as medidas de proteção, ficou proi­
bida a importação de diversos produtos ou
foram aplicadas altas taxas de impostos
sobre eles. Assim, os importados ficavam
muito caros, para que o consumidor desse
preferência aos similares nacionais e assim
ajudasse a desenvolver a indústria local.
Durante cerca de 40 anos (da década de
1930 aos anos 1970), vigorou a política de
substituição de importações, estimulando
a implantação de uma indústria nacional
para produzir boa parte do que o Brasil
precisava. No governo de Juscelino Ku­
bitschek (1956/1961), teve início a forma­
ção da indústria de bens duráveis (como
carros), com o Plano de Metas, que teve
como lema fazer o país crescer “50 anos
em cinco”. Houve grande estímulo para
a indústria de veículos, eletrodomésti­
cos e construção. A dobradinha indústria
de base e de bens duráveis também foi a
tônica do período entre 1968 e 1973 (o
chamado milagre econômico), quando o
país cresceu mais de 10% ao ano. O Brasil
estagnou-se economicamente nos anos
1980. Nos anos 1990, com a globalização,
o país ampliou a abertura de diversos
segmentos do seu mercado a empresas
estrangeiras, tanto para a instalação de fá­
bricas no Brasil quanto para a importação
de seus produtos com menos impostos.
Isso objetivou aumentar a concorrência
interna e forçar as indústrias nacionais a
reduzir custos para baixar os preços.
Desconcentração
Durante o processo de industrialização,
cerca de três quartos das indústrias esta­
vam na Região Sudeste. Cem anos atrás,
havia apenas 3,2 mil empresas no país, das
quais 80% estavam nessa região. Trinta
anos atrás, o Sudeste ainda monopoliza­
va o parque industrial, cujo crescimento
esteve estreitamente ligado à urbanização
do país. Mas esse quadro está mudando.
DESCONCENTRAÇÃO INDUSTRIAL
% de indústrias, por região do Brasil, entre 1996 e 2008
80
1996
70
2008
60,8%
60
50
48,1%
40
23,2%
20
9,2%
10
12,7%
6,7%
4,5%
2,3% 2,9%
arquivo lorenzetti/divulgação
Norte
Sudeste
Sul
Centro-Oeste
MUDANÇA DE CENÁRIO
O setor industrial tem sofrido uma desconcentração nos
últimos anos. No gráfico, é possível perceber que a Região
Sudeste, que durante boa parte do século XX praticamente
monopolizava o parque industrial, vem perdendo indústrias
para outras regiões. Também é possível perceber que a
Região Sul cresceu em participação, favorecida por sua
proximidade com os países do Mercosul.
Fonte: IBGE
150
Nordeste
* total de indústrias em 1996: 123.373
total de indústrias em 2008: 448.003
primeiras fÁbricas Mulheres trabalham na linha de produção da Lorenzetti, na década de 1950
atualidades vestibular + enem 2011
Indústria pode crescer
8% em 2010, diz Mantega
Por Fabio Graner e Renata Veríssimo
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou hoje que a indústria ainda
tem capacidade ociosa e pode crescer
7% ou 8% neste ano. “Insisto em que o
crescimento brasileiro é sustentável”,
disse Mantega, explicando que a sobra
na capacidade produtiva permite que haja expansão sem pressionar os preços.
O ministro disse não acreditar que o
ritmo de 2% de crescimento do Produto
Interno Bruto (PIB) verificado no último
trimestre de 2009 vai se manter em
2010. Segundo ele, ao longo do ano
haverá uma acomodação, e o PIB deve
fechar 2010 com alta de 5% a 5,5%.
(...)
Nos últimos anos, têm ocorrido a descon­
centração industrial e a distribuição do
parque fabril nas várias regiões do país
e para fora das metrópoles. Segundo o
IBGE, em 2008 a Região Sudeste ainda
possuía a maior concentração industrial,
mas esta baixou para 48% das indústrias.
Já a Região Sul viu sua participação chegar
a 29,5% do total. Assim, as duas regiões
concentram o maior número de empresas
e de trabalhadores empregados.
Muitas razões são apontadas para o
processo de desconcentração industrial,
em geral centradas na redução de custos.
Entre elas, podemos apontar:
29,5%
30
0
Saiu na imprensa
k o deslocamento das fábricas para locais
nos quais contam com financiamento
por dinheiro público e recebem incen­
tivos fiscais, ou seja, grande redução ou
até a isenção de impostos por longos pe­
ríodos. Esse fator deflagrou uma guerra
fiscal entre os estados, para atrair as in­
dústrias. Atualmente, o governo pensa
numa legislação nacional que reduza a
autonomia de estados e municípios para
oferecer benefícios às empresas;
k a modernização das estradas, dos trans­
portes e dos meios de comunicação,
atraindo as empresas por garantir efi­
ciência da produção e rapidez na entrega
das mercadorias, com menor custo;
O ministro da fazenda disse ainda que
o setor externo deve dar contribuição
negativa de 2% para o PIB em 2010.
Segundo ele, essa contribuição reflete o
fato de que o país está crescendo mais
que a maioria dos países do mundo,
o que eleva as importações mais fortemente. De acordo com o ministro,
à medida que a economia mundial se
recuperar, o que ainda não está ocorrendo, as exportações vão reagir.
Mantega disse ainda que o comportamento fraco das exportações também
reflete a agressividade de alguns países
para vender seus produtos no mercado
internacional. “Tem economias que estão fazendo ações desesperadas para
exportar”, disse Mantega. (...)
Portal Veja (www.veja.com), 11/3/2010
k o estrangulamento estrutural de algu­
mas metrópoles brasileiras, o que aca­
ba dificultando o funcionamento das
empresas, que migram para cidades
menores perto de boas rodovias;
k o crescimento na oferta de mão de
obra com qualificação adequada fora
das capitais e da Região Sudeste, em
geral por menores salários;
k o deslocamento de empresas para
perto de fornecedores de matériasprimas ou do mercado consumidor. A
criação do Mercado Comum do Cone
Sul (Mercosul), por exemplo, atraiu
empresas para os estados do Paraná,
Santa Catarina, Rio Grande do Sul e o
Mato Grosso do Sul, pela proximidade
com Argentina, Uruguai e Paraguai;
k a fuga das empresas das grandes cidades,
onde os custos de benefícios trabalhistas
(como auxílio transporte, alimentação e
saúde, por exemplo) são mais elevados
e nas quais há sindicatos fortes para
manter e ampliar esses benefícios e ob­
ter aumentos salariais. O ABC paulista
é um exemplo sempre citado;
k a criação planejada de polos de desen­
volvimento industrial, como a Zona
Franca de Manaus, em que não há
cobrança de impostos para a importa­
ção de materiais e componentes para
a indústria.
u
q
Indústria Brasil
Motor da economia A indústria
é o setor que fabrica produtos com
matérias-primas utilizando tecnologia
e trabalhadores com diversos graus de
especialização. Ela abrange inúmeros
setores, como a construção civil, a petroquímica, a siderurgia, a indústria de
máquinas e equipamentos e a de bens
eletroeletrônicos. Cria grande quantidade de empregos e está diretamente
ligada à urbanização e ao bem-estar
social. Em 2009, a indústria foi responsável por 25,4% do PIB brasileiro.
Exportação lucrativa Os produtos
industriais possuem maior valor agregado que as matérias-primas e rendem
maiores receitas de exportação. Atualmente, as exportações de produtos industriais já representam mais de 57% da
receita de comércio exterior do Brasil,
ou seja, superam as vendas de minérios
brutos e produtos agrícolas.
Queda da produção Em 2009, a
atividade industrial brasileira diminuiu
7,4%, em relação a 2008. A produção
de máquinas e equipamentos (os bens
de capital) foi a que apresentou o pior
resultado em 2009. Na comparação
com o ano anterior, os bens de capital
apresentaram uma queda superior a
17%, dados do IBGE.
Crescimento O desempenho ruim da
indústria durante boa parte de 2009
parece estar sendo superado neste
ano. Segundo o IBGE, a produção industrial brasileira fechou o primeiro
trimestre de 2010 com uma alta de
18,1% em relação ao mesmo período
do ano anterior. A maior alta ficou no
setor de bens de capital, que subiu
sua produção em 42,1% em relação ao
primeiro trimestre de 2009.
Desconcentração Tradicionalmente concentrado na Região Sudeste,
sobretudo nas metrópoles, o setor
industrial tem se espalhado pelo país
nos últimos anos. Em 2008, segundo o
IBGE, a concentração no Sudeste baixou para 48% das indústrias. A Região
Sul é o segundo maior polo industrial,
concentrando 29,5% das indústrias
do país.
2011 atualidades vestibular + enem
151
k
economia MATRIZ DE TRANSPORTE
Matriz de transporte
A matriz de transporte de um país é o
conjunto dos meios de circulação usados
para transportar mercadorias e pessoas.
Como o transporte de carga é um dos problemas básicos para a economia, é dele
que tratamos quando se fala da matriz.
Uma matriz de transporte ideal consegue equacionar as distâncias a ser cobertas
com as exigências econômicas e sociais.
Para isso, contam-se os seguintes meios:
k t ransporte terrestre, composto de ro-
dovias e ferrovias;
divulgação/secon-mt
k t ransporte hidroviário, o que inclui
Por terra,
água e ar
Uma matriz de transporte equilibrada reduz
o preço final das mercadorias e aumenta a
competitividade de um país no comércio global
O
Brasil é um país de dimensão
continental, e, por isso, é um
grande desafio montar um sistema de transporte de pessoas e mercadorias que seja eficiente e barato. Para
a economia, a rede de transportes é um
dos problemas-chave de infraestrutura
do país, que afeta diretamente a vida das
pessoas e das empresas.
Peguemos como exemplo as opções de
um fazendeiro imaginário do estado de
Mato Grosso, de onde sai a maior parte
da safra de soja do Brasil, com 18 milhões
de toneladas do grão em 2008/2009, segundo a Companhia Nacional do Abastecimento (Conab). O grosso da produção
de soja tem como destino o mercado
externo. Veja as principais opções de
transporte que o produtor de soja teria
no fim da safra:
152
atualidades vestibular + enem 2011
k t ransportar a carga em caminhões, por
um longo trajeto de rodovias para o sul,
atravessando dois estados (MS e SP, por
exemplo), até embarcá-la nos portos de
Santos (SP) ou de Paranaguá (PR), em
navios cargueiros;
k t ransportar a carga em caminhões na
direção sudeste, até o Alto Araguaia
(MT), e remanejá-la para trens. De lá,
ela seguiria por trilhos para os mesmos
portos de Santos ou Paranaguá;
k finalmente, uma terceira opção seria levar a carga por caminhões para noroeste,
até Porto Velho, a capital de Rondônia.
Ali, remanejá-la para chatas e transportála pela hidrovia do rio Madeira, até o
Porto de Itacoatiara (AM), no rio Amazonas, local em que atracam cargueiros
transatlânticos que levam a carga para
o exterior.
NO ATOLEIRO
Para decidir qual
Rodovia BA-160:
a melhor maneira
péssimas condições
para transportar
de tráfego em rota de
sua safra, o produtransporte da produção
tor precisa avaliar
do Brasil central
ao menos três variáveis essenciais: o
peso da mercadoria, o custo do transporte
e o prazo de entrega. Há outras, como a segurança da carga e das pessoas, e cada produtor faz suas contas e escolhas. Oferecer
meios de transporte adequados a diversos
tipos de carga e a um custo baixo é um dos
pontos-chave para o desenvolvimento do
país. Para isso, é necessária uma matriz de
transporte equilibrada entre diversos modais, o que não ocorre no Brasil de hoje.
Como vimos, no caso de Mato Grosso
o produtor não tem muitas escolhas. Mais
da metade da produção segue para fora do
estado dentro de caminhões, por rodovias
precárias, como a BR-163, que liga Cuiabá
(MS) a Santarém (PA), recordista em acidentes. Além do perigo das estradas, o frete
desse tipo de transporte é caro.
Para escoar com maior eficiência a produção do estado, a concessionária América
Latina Logística está investindo 1 bilhão de
reais para estender a ferrovia Ferronorte
em direção às áreas de cultivo. Nos últimos
quatro anos, a melhoria no ramal reduziu
o tempo de transporte até Santos de 240
horas para 96. Os produtores, porém, reclamam do preço do frete ferroviário, ainda
muito próximo ao do rodoviário.
navegação fluvial (por rios), a navegação de cabotagem (costeira) e a
transatlântica;
k transporte por dutos ou tubulações
(basicamente de gás e petróleo);
k t ransporte aéreo.
Uma matriz de transporte eficiente é
aquela que permite essa locomoção no menor tempo e com o menor preço. Em um
país continental como o nosso, o assunto é
muito complicado, pois a infraestrutura de
transportes exige bastante investimento.
Para equilibrar uma matriz, é preciso levar
em conta alguns fatores:
k transporte rodoviário é o meio mais
indicado para interligar pontos próximos. Isso porque construir e manter
estradas custa caro;
k t ransporte ferroviário exige grande
investimento inicial, mas pode transportar uma quantidade maior de carga. É, adequado, portanto, a trajetos
médios ou longos em que haja necessidade de locomover grande volume
com eficiência;
k t ransporte hidroviário é mais lento do
que caminhões ou trens, mas gasta-se
menos para transportar milhares de
toneladas de produtos;
k t ransporte dutoviário é utilizado
quando há a garantia ou a previsão de
um fluxo contínuo de gás ou petróleo,
porque exige grande planejamento e
investimento que só se pagam a longo
prazo; como energia é um fator essencial, é construído para cobrir qualquer
distância.
k t ransporte aéreo é o que tem os fretes
mais caros, por isso é usado para cargas
delicadas, como eletroeletrônicos, ou
perecíveis, como frutas e flores.
Desequilíbrio
Um país grande em território como o
Brasil, que movimenta produtos internamente e exporta um volume significativo
de grãos e minérios produzidos em áreas
distantes do litoral, deveria utilizar de
forma equilibrada as várias modalidades
de transporte. Não é o que ocorre. Cerca
de 58% de todo o transporte do país é
feito em rodovias, um quarto da carga é
levado por ferrovias e apenas 13% seguem
por hidrovias. O restante ficou com o
meio dutoviário (3,6%) e com o transporte aéreo (0,4%), em 2005, segundo dados
do Ministério dos Transportes.
O principal resultado do desequilíbrio
dessa matriz é o alto custo nacional do
transporte de carga. Por exemplo, no caso
da soja, pelo modo hidroviário paga-se
um terço do que é gasto via ferrovia e um
quinto do necessário para levá-la por es-
tradas. No entanto, o produtor da soja terá
de usar uma combinação desses meios,
pois, apesar de mais barata, a hidrovia não
leva a todos os lugares.
Um estudo do Ministério dos Transportes adverte que os dois principais concorrentes do Brasil nas exportações agrícolas,
Argentina e Estados Unidos, registram
custos menores nos transportes. Os argentinos, porque possuem cobertura ferroviária
maior e têm um território menor. Os norteamericanos, porque usam intensivamente
ferrovias e hidrovias em um país com dimensões semelhantes às nossas.
O impacto do custo elevado do transporte não recai só sobre o que exportamos.
Ele onera também o custo operacional das
empresas e o preço final das mercadorias
vendidas dentro do país. Assim, melhorar
o sistema de transportes é um fator para
o crescimento geral da economia.
AS ESTRADAS EM AVALIAÇÃO
A qualidade das rodovias em cada região, de ótimo a péssimo, na opinião de donos de transportadoras entrevistados, em 2009
Ótima
Regular
Boa
BRASIL
Centro-Oeste
Sul
13,5%
7,9%
45,0%
17,5%
16,9%
52,8%
20,5%
30,9%
26,6%
8,6%
Péssima
14,6%
11,3%
Sudeste
Nordeste
Ruim
13,2%
20,1%
28,3%
53,7%
2,1%
11,3% 4,7%
38,2%
45,4%
Norte 1,3% 5,1%
4,1%
11,6
44,1%
19,1%
7,1%
12,7%
11,7%
ESTRADAS RUINS Com base na análise do gráfico acima, é possível concluir que a situação das rodovias no Brasil não é
avaliada como aceitável pelos empresários do setor de transportes. O resultado de avaliações regular, ruim e péssimo soma
69% das opiniões. Note que as regiões mais ricas do país são as que apresentam as estradas mais bem avaliadas:
o Sudeste, com 45,7% de ótima e boa, e o Sul, com 42,2%. Para os entrevistados, a Região Norte tem as piores estradas.
Fonte: Confederação Nacional do Transporte
MUDANÇA NA MATRIZ DE TRANSPORTE
A atual matriz de transporte de carga no Brasil e a planejada para 2025
Dutoviário
3,6%
Aéreo
0,4%
Aquaviário
13%
Rodoviário
58%
Dutoviário
5%
Aéreo
1%
Aquaviário
29%
2005
Ferroviário
25%
Rodoviário
33%
2025
Ferroviário
32%
METAS A LONGO PRAZO Ao observar o gráfico da esquerda, é possível perceber como a matriz de transporte atual (2005)
é desequilibrada, com mais da metade dos transportes no Brasil sendo feita por estrada, modo mais caro e de capacidade
relativamente pequena para grandes quantidades de carga. Mas a meta é alcançar uma melhor distribuição da matriz de
transporte, como é possível observar no gráfico da direita. Em 20 anos, o Brasil espera obter forte crescimento dos
transportes por ferrovia e, sobretudo, por hidrovia, cujos fretes são mais baratos e sua capacidade de carga é maior.
Fonte: Ministério dos Transportes, Plano Nacional de Logística de Transportes
2011 atualidades vestibular + enem
153
k
Resumo
economia MATRIZ DE TRANSPORTE
No Brasil, as rodovias
transportam mais da
metade das cargas e as
ferrovias, apenas 25%
AS PRINCIPAIS REDES DE TRANSPORTE NO BRASIL
AP
RR
Histórico
Do período final do século XIX até a
década de 1920, a maior parcela dos transportes no Brasil foi feita por ferrovias e
navegação. A implantação e expansão das
ferrovias nesse período foi vinculada ao
complexo agroexportador do café.
No período seguinte, houve ainda um
crescimento das vias férreas, mas teve
início a construção de uma rede de estradas. A chegada ao poder de Juscelino
Kubitschek, em 1956, marcou um forte
impulso para a implantação da indústria
automobilística no país e para a expansão
das estradas asfaltadas. Nas décadas seguintes, o transporte por rodovias acabou
recebendo um tratamento prioritário
pelos sucessivos governos.
AM
RN
PI
AC
RO
PE
PB
AL
SE
TO
BA
MT
Gasodutos e aviões
GO
Portos
Terminais hidroviários
MG
MS
ES
RJ
Estradas
Hidrovias
SP
PR
Ferrovias
SC
RS
Rodovias
As rodovias são o principal meio de
transporte de passageiros e cargas no
Brasil, mas segundo levantamento de
2009 da Confederação Nacional do Transporte, 73,9% de toda a malha rodoviária
pavimentada brasileira encontra-se em
estado regular, ruim ou péssimo. Isso quer
dizer que há cerca de 60 mil quilômetros
de estradas a ser melhorados. A solução
encaminhada por governos estaduais e
federal tem sido privatizar a administração das rodovias que construíram. A obra
mais cara e recente do sistema rodoviário
no país é a construção de um anel viário
ao redor da região metropolitana de São
Paulo, interligando as estradas de forma a
diminuir o trânsito de caminhões de carga
no interior da capital. Isso reduzirá o tempo de transporte, custos e poluição.
Atualmente, apenas 25% da produção
brasileira roda sobre trilhos, índice que
na Rússia, por exemplo, chega a 80%.
Além da manutenção e modernização
das vias antigas e locomotivas, a expansão
da malha ferroviária precisa ancorar-se
num processo integrado com outros meios
de transporte, o que se chama intermodalidade ou transporte intermodal.
Atualmente, o transporte ferroviário é
uma das áreas de investimento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e
registrou, nos últimos anos, um aumento
de 20% da carga transportada.
pois uma única barcaça fluvial carrega
uma quantidade de carga equivalente
a 15 vagões de trem ou a 60 caminhões.
A expansão da rede depende também da
compatibilidade entre o rumo geográfico
dos rios e a direção dos fluxos de carga.
Nos últimos dez anos, o transporte fluvial
cresceu 15%.
Assim, é crescente o volume de gado
transportado de Mato Grosso e Goiás por
barcaças na hidrovia Tietê-Paraná com
destino a frigoríficos de Araçatuba (SP).
Essas mesmas barcaças voltam carregadas
de insumos para os produtores de gado.
Ferrovias
Hidrovias
Portos
O Brasil possui uma rede de linhas
ferroviárias menor do que necessita e, em
muitos casos, linhas precárias e sucateadas, o que ocorreu principalmente em
razão da concentração dos investimentos
em rodovias. São 29.817 quilômetros de
ferrovias, número que permanece inalterado há praticamente 40 anos. Os Estados
Unidos, com uma área pouco maior do
que a nossa, possuem dez vezes mais.
154
CE
MA
PA
atualidades vestibular + enem 2011
Fonte: IBGE
No Brasil, o transporte hidroviário
poderá assumir grande importância. O
país possui uma rede com cerca de 44
mil quilômetros de rios, dos quais 29 mil
são naturalmente navegáveis, mas são
utilizados para transporte apenas 13 mil
quilômetros, segundo dados da Agência
Nacional de Transportes Aquaviários
(Antaq). Em resumo, há boa possibilidade de crescer, e também há motivos,
1,7 milhão de unidades, segundo dados da
Antaq. Para conseguir dar conta da movimentação, o porto de Santos vem sendo
ampliado. Os estudos indicam que, caso
a economia brasileira confirme o crescimento previsto, a estrutura dos portos
precisará dobrar em dez anos, para dobrar
também a capacidade de transporte de
carga anual, que é atualmente de 700 milhões de toneladas. Isso exigirá obras com
custo estimado em 30 bilhões de dólares,
para construir ou modernizar armazéns,
depósitos, terminais de contêineres, de
produtos agrícolas e de minérios, berços
de atracação e canais de acesso.
Um ponto de gargalo da matriz de
transporte são os portos, terminais das
vias internas de comunicação (rodoviárias,
ferroviárias e fluviais) e pontos de partida
para mais de 90% das exportações.
O porto de Santos, o maior do país, é
responsável por 25% do comércio exterior
brasileiro e liderou o ranking dos portos
públicos que mais movimentam contêineres. Em 2008, por exemplo, transportou
Os dutos são um excelente meio para
transporte de gás natural e petróleo.
O gasoduto Bolívia-Brasil opera desde 1999
e visa a diversificar a matriz de energia brasileira e a diminuir o consumo de petróleo,
carvão e eletricidade.
Quanto ao transporte aéreo, o governo
federal vem favorecendo a reforma e a
modernização de diversos aeroportos pelo
país, e uma de suas diretrizes para incentivar o transporte de bens de consumo são
os aeroportos industriais. Dois terminais
de passageiros considerados ociosos, o
de Viracopos, em Campinas (SP), e o de
Tancredo Neves, em Confins (MG), estão
recebendo investimentos para que venham
a ser centros de processamento de exportações. Entretanto, graves acidentes aéreos
– como a queda dos aviões das companhias
aéreas Gol, em 2006, e TAM, em 2007 – evidenciaram que a infraestrutura de controle
dos voos precisa ser modernizada.
Matriz futura
Em 2007, o governo federal iniciou
um programa de investimento em infraestrutura por meio do Programa de
Aceleração do Crescimento (PAC). Nos
anos anteriores, o investimento privado
tinha sido a principal opção para expandir o setor. A proposta do Plano Nacional
de Logística de Transportes norteia os
investimentos públicos e privados pelos próximos 15 anos, com o objetivo de
melhorar e equilibrar a matriz nacional
de transporte. Sua principal meta é ampliar a participação dos setores ferroviário e hidroviário na matriz de 38% para
61% até 2025 (veja o gráfico na pág. 153).
Se isso ocorrer, teremos um barateamento do transporte no Brasil, com benefícios
para as exportações e para a circulação
interna de mercadorias.
u
Saiu na imprensa
Frete em Mato Grosso é
três vezes mais caro que
nos Estados Unidos
Venílson Ferreira
O custo de transporte da soja no norte de Mato Grosso até os portos é três
vezes superior ao frete pago pelos produtores do Estado americano de Iowa.
Os cálculos foram feitos pelo (...) Imea.
Os produtores que estão em Sorriso (MT),
que fica a 2.282 km do Porto de Paranaguá (PR), têm um custo de US$ 97 por tonelada de soja transportada por rodovia.
Já os produtores de Iowa, que estão a
1.576 km do porto, gastam US$ 33,98
por tonelada, dos quais US$ 10,09 são
despesas com o frete do caminhão até os
terminais no Rio Mississippi e mais US$
23,89 com o da barcaça que transporta
a mercadoria até o Golfo do México.
Os cálculos do Imea são utilizados pela
Associação dos Produtores de Soja de
Mato Grosso (Aprosoja/MT) para defender investimentos na hidrovia Teles
Pires-Tapajós, que reduziria o custo do
frete da região norte de Mato Grosso
para cerca de US$ 55,54 por tonelada, sendo US$ 37 do caminhão até a
hidrovia e mais US$ 18,77 da barcaça.
Se a hidrovia fosse construída, a soja
sairia pelo norte do Estado de Mato
Grosso, a partir do município de Sinop, e
percorreria 1.099 km até Santarém (PA),
sendo exportada pelo Norte do País.
(...) Segundo levantamento do Departamento de Agricultura dos Estados
Unidos (USDA, na sigla em inglês), no
ano passado o custo de transporte representou 32% do preço da soja originária de Mato Grosso desembarcada
em Xangai, na China. (...)
O Estado de S. Paulo, 6/5/2010
q
Matriz de transporte
O que é Matriz de transporte é a distribuição dos meios de circulação para
transportar mercadorias e pessoas em
determinado momento em uma aérea
geográfica. Ela inclui mensurar os volumes e tipos de cargas e de passageiros,
a intensidade e os meios utilizados
e os destinos de partida e chegada.
O transporte de carga é um dos problemas básicos da economia.
Desequilíbrio A matriz de transporte
brasileira é bastante desequilibrada.
O país possui 58% de rodovias, 25% de
ferrovias e 13% de hidrovias. O ideal
seria um terço para cada meio de transporte. Com isso, cada um poderia ser
usado para uma finalidade: o rodoviário
funcionaria para pequenas distâncias;
o ferroviário, para médias e longas; e
o hidroviário, para grandes cargas não
perecíveis e longas distâncias. Há ainda
o meio dutoviário, empregado para gás
e petróleo, e o transporte aéreo.
Rodovias Os caminhões transportam
mais da metade das cargas do Brasil.
O maior problema é que cerca de 60 mil
quilômetros de estradas (69% do total)
se encontram em estado ruim.
FERRovias Concentram um quarto
do transporte de carga. Precisam de
investimentos para modernização.
HIDRovias Atualmente, totalizam
13 mil quilômetros em operação, mas
esse número pode crescer bem mais.
Hoje, as hidrovias respondem por 13%
do transporte de carga no Brasil.
Investimento A melhoria da malha
de transportes é fundamental para evitar gargalos no escoamento da produção, pois eles prejudicam o crescimento
contínuo da economia brasileira.
Custo Elevado O impacto do alto
custo do transporte no Brasil não recai só nas exportações. As empresas
repassam o custo do transporte ao
preço dos produtos para o consumidor.
Investir na melhoria do transporte pode resultar na diminuição do preço dos
produtos e no aumento do consumo
interno e da produção.
2011 atualidades vestibular + enem
155
k
questões sociais MIGRAÇÕES BRASIL
A
Um país de
migrantes
As diferenças no desempenho econômico de
uma região para outra explicam o perfil das
correntes migratórias pelo território brasileiro
Por Paulo Montoia Infografia Yuri Vasconcelos e Multi/SP
s migrações deixam fortes marcas tanto nos países quanto nas
pessoas. Quem não tem conhecidos cujo apelido se refere ao estado
de origem, como “mineiro”, “paulista”
ou “baiano”? Quando as pessoas se deslocam, carregam consigo a cultura, a
língua, o jeito de falar e muitas outras
características da terra natal.
No Brasil de hoje, uma pessoa a cada
seis vive longe do estado natal. É gente
que, em algum momento, na infância ou
na fase adulta, emigrou para outro canto
do país. Quando vem a nova geração, a
situação muda, pois os filhos dos imigrantes já são naturais na nova região.
Carregam então uma “herança” cultural: “Meus pais são gaúchos”, diz um,
ou “Meus avós vieram da Itália”, afirma
outro. E atenção: quando tratamos de
migrações, estamos falando de pessoas
que saem do local de nascimento – tanto
MOBILIDADE
INTERMUNICIPAL
Percentual de brasileiros que
não moram na cidade de
origem (por região)
POPULAÇÃO NATURAL
x POPULAÇÃO MIGRANTE
Centro-Oeste
O Centro-Oeste é a região brasileira hoje
com o maior número de migrantes
(% em relação à população total)
DA POPULAÇÃO
BRASILEIRA,
40,1%
não moram no município
em que nasceu
NOVOS HORIZONTES
Famílias do Paraná
emigrando para
Mato Grosso: expansão
da fronteira agrícola
Norte
Sudeste
Residentes migrantes
Residentes naturais
92,6%
54,2%
43,3%
41,3%
Sul
78,1%
44%
Nordeste 31,8%
21,9%
64,4%
15,7%
7,4%
NORTE
não residem no
estado de origem
NORDESTE
35,6%
82%
3,3 milhões
CENTRO-OESTE
de brasileiros mudaram
de estado em 2008
Esse número mostra quantas pessoas
não nascidas em cada região vivem
nela. Podemos concluir que a Região
Centro-Oeste foi fortemente
colonizada nas últimas décadas, já que
mais de um terço de sua população
nasceu em outros pontos do país. O
motivo é a expansão das fronteiras
agrícolas e do agronegócio. O Nordeste
é a região com menos imigrantes.
4,6 milhões
foi o contingente médio de
migrantes interestaduais,
por ano, entre 2001 e 2007
88%
18%
SUDESTE
12%
SUL
Fique esperto: uma análise
destes dois gráficos revela que é
muito mais comum uma pessoa
deixar sua cidade natal e mudar
para outra no mesmo estado –
fluxo de pessoas do interior
para a capital, por exemplo, ou
mudança para uma cidade
vizinha – do que para um
município de outro estado.
Fonte: Pnad 2008
walter firmo
2011 atualidades vestibular + enem
157
k
questões sociais MIGRAÇÕES BRASIL
IMIGRAÇÃO NEGRA
NO BRASIL
PORTUGAL
Portos de embarque na África
e desembarque no Brasil
Séculos XVI e XVII
Século XVIII
Século XIX
Europeus são a maioria dos imigrantes
no Brasil no fim do século XIX e início do XX
Desembarque estimado de africanos
entre 1531 e 1855
Rota do tráfico
A imigração estrangeira hoje
INVASÃO ESTRANGEIRA
1.680.100
1.719.300
Desde janeiro de 2009, por um acordo
bilateral entre os governos, qualquer
argentino pode solicitar visto permanente para viver no Brasil, sem que esteja
estudando ou trabalhando aqui, e o mesmo vale para brasileiros na Argentina.
Essa é uma das mudanças recentes na
legislação para estrangeiros.
Em 2009, de julho a dezembro, o governo abriu um processo para que imigrantes ilegais pudessem regularizar sua
situação. Foi uma anistia que objetivou
principalmente alcançar os bolivianos,
que vêm trabalhar na Grande São Paulo,
sobretudo em pequenas empresas de
confecção de roupas, e que vivem
1870-1907
1908-1953
Total 1870-1907
SENEGAL
GÂMBIA
BENIN
GANA
NIGÉRIA
2.328.585
Total 1908-1953
BRASIL
Recife
Salvador
MG
SP
(café)
560.000
MOÇAMBIQUE
RJ
(mineração)
2.546.455
TANZÂNIA
ANGOLA
(cana)
Rio de
Janeiro
50.000
1531 a
1600
1601 a
1700
1701 a
1800
1801 a
1855
Repare que o número
de italianos que
entraram no Brasil
neste período foi mais
do que o dobro de
portugueses e mais da
metade do total.
1.208.042
951.654
Este período foi o
apogeu do tráfico de
escravos para o Brasil.
Estima-se que, em 1800,
os negros fossem
por volta de 47% da
população brasileira,
519.033
471.639
356.647
287.822
357.793
contra 30% de mulatos e
23% de brancos.
Imigrantes portugueses
PORTUGUESES
NO BRASIL
2.256.798
Desde a chegada dos primeiros
colonizadores, o fluxo migratório
de lusitanos viveu fases distintas
Período
1500 a
1700
100.000
1701 a
1850
626.633
1851 a
1960
1961 a
1991
Fonte: Brasil: 500 Anos de Povoamento (IBGE, 2000)
158
Imigração de transição
Além de imigrantes de elite, chegaram
também minhotos pobres, expulsos de
sua terra natal (a região do Minho) em
função da falta de trabalho
1.470.793
59.372
atualidades vestibular + enem 2011
4.009.400
154.409
56.416
Italianos
Portugueses
Espanhóis
Alemães
Imigração de massa
Pessoas de origem pobre,
mulheres e crianças menores de
14 anos, órfãs ou abandonadas
eram a maior parte do contingente
Imigração de declínio
O desenvolvimento industrial português,
a queda na taxa de natalidade e o
envelhecimento da população são fatores
que explicam a redução do fluxo
O Centro-Oeste é a região
brasileira com mais
imigrantes, e o Nordeste,
a com mais emigrantes
as que vão para outros países, quanto as
que mudam de estado ou cidade dentro
do próprio país.
Atualmente, a região brasileira com
mais imigrantes é o Centro-Oeste, onde
35,6% da população vem de outras regiões. A que tem menor número de imigrantes é o Nordeste, com 7,4% (veja na
pág. 157). O Distrito Federal, fundado há
apenas 50 anos, lidera entre as unidades
federativas, com 51% de imigrantes, seguido de Rondônia, com 46%.
202.679
190.282
–
Japoneses
Fonte: Brasil: 500 Anos de Povoamento (IBGE, 2000)
Imigração restrita
O grosso relaciona-se à migração
internacional forçada, o degredo
(condenação penal), para suprir as
deficiências do povoamento
Número de imigrantes
Imigrantes negros
sem amparo legal nem trabalhista. Não
há números oficiais, mas estima-se algo
em torno de 150 mil pessoas. Os que se
regularizam podem tirar carteira de
identidade e de trabalho.
O Brasil já tomou iniciativas como essa
em 1988 e em 1998. Na anistia atual,
regularizaram-se 43 mil estrangeiros. O
maior grupo foi o de bolivianos, com 17 mil
inscritos, seguido por 5,5 mil chineses, 4,6
mil peruanos, 4,1 mil paraguaios e 1,1 mil
coreanos. O governo foi surpreendido com
2,4 mil europeus, na maioria aposentados
ou pessoas de renda elevada que vieram
abrir negócios, principalmente pousadas
e restaurantes no Nordeste.
54.593 64.031
Russos
Poloneses,
ucranianos,
tchecos, sírios e
libaneses fazem
parte deste grupo.
Outros
Fonte: Memorial do Imigrante
Quando se consideram os números absolutos de migrantes, ainda é no Sudeste
que vivem mais brasileiros vindos de fora
– mais de 14 milhões de residentes. O Nordeste mantém-se como a terra de origem
da maior parte dos migrantes brasileiros
– cerca de 10 milhões de pessoas.
A consolidação de novas áreas de atração econômica têm feito com que um
número cada vez maior de migrantes se
mova entre estados vizinhos, caracterizando o que é definido como movimentos
migratórios intrarregionais – ou seja,
dentro das regiões. Esse tipo de deslocamento, atualmente, tem importância no
Nordeste, por exemplo, com a abertura de
fronteiras agrícolas no oeste da Bahia e no
sul do Piauí e do Maranhão, e na Região
Sul, com a vinda de indústrias.
Miscigenação
O ser humano migra quase sempre em
busca de melhores condições de vida. Em
poucas partes do mundo, esse fator é tão
relevante quanto nas Américas, colonizadas por europeus migrantes. Nos séculos
XIX e XX, os países americanos se ofereceram para receber pessoas vindas de
nações assoladas por guerras e fome. No
Brasil, as migrações estão vinculadas ao
nosso processo de povoamento, econômico e a formação da nossa cultura.
As marcas da migração no Brasil são
visíveis na própria conformação física
dos brasileiros, que chama a atenção de
estrangeiros pela diversidade. Somos
resultado de uma miscigenação de europeus, índios e negros, como já se aprende
desde o Ensino Fundamental.
Estima-se que, quando da chegada dos
portugueses, havia no Brasil pelo menos
1 milhão de índigenas, organizados em
1,4 mil nações de dois grandes troncos
linguísticos, o Guarani e o Tupi. Antes
disso, os índios já tinham uma cultura
nômade e, dependendo do crescimento
das populações e de suas necessidades de
alimento, se deslocavam pelo território,
uma nação lutando por supremacia sobre
outra e fundindo culturas.
A maior quantidade de imigrantes foi
de negros vindos do imenso continente
africano. Entre 1531 e 1850 (ano em que
o tráfico de escravos foi extinto com a
Lei Eusébio de Queirós), estima-se que
tenham vindo para o Brasil cerca de 4
milhões de negros de vários grupos étnicos
e sociais. Eles foram trazidos como imi2011 atualidades vestibular + enem
159
questões sociais MIGRAÇÕES BRASIL
O maior contingente de
imigrantes no Brasil foi
o de africanos, trazidos
à força como escravos
Causas da migração
VAIVÉM DE
BRASILEIROS
Principais fluxos migratórios por
grandes regiões, entre 1999 e 2004
100.610 - 128.171
177.050 - 183.680
193.890 - 215.530
286.345
390.000 - 403.510
456.546
grantes forçados para o trabalho escravo,
das regiões onde ficam hoje Guiné, Benin,
Costa do Marfim, Mali, Congo, Angola e
Moçambique. Em 1800, quase metade dos
3 milhões de moradores do Brasil colônia
eram negros.
Com origem europeia, até meados do século XIX, houve basicamente o imigrante
português, determinante na formação do
país, mas deve-se lembrar ainda da ocupação do Maranhão por franceses (15941615) e da de Pernambuco por holandeses
(1630-1654). Eles foram expulsos, mas
deixaram traços culturais e genéticos.
1970
65
2007
Sudeste
56
17
17
12
13
9
CENTROOESTE
MG
C.-Oeste
Norte
As migrações são motivadas por
diversas causas, das quais a
principal é a busca por melhores
condições de vida
4 2
5
RJ e ES
SUDESTE
SP
SUL
…MUDA A MIGRAÇÃO
Sul Nordeste
NORDESTE
A largura das setas dá
uma noção do volume
de migrantes que se
deslocou no período
analisado. Note que o
maior fluxo foi de São
Paulo para a Região
Nordeste e vice-versa.
MUDA A ECONOMIA,…
Participação de cada região no PIB do Brasil (em %)
NORTE
Fonte: “A migração no
Brasil no começo do
século 21: continuidades
e novidades trazidas
pela Pnad 2004” – José
Marcos Pinto da Cunha
RIO DE JANEIRO
MATO GROSSO DO SUL
Apresentou em 2008 o
primeiro saldo positivo (mais
gente entrou no estado do
que saiu) desde 1992, ano
em que o IBGE passou a
pesquisar essa questão.
Passou de um saldo
positivo em 2007 para um
pequeno saldo negativo
no ano seguinte. Muita
gente saiu do estado num
período recente.
PARÁ
BAHIA
Desde 2004, exercia forte
poder de atração, mas em
2008 seu saldo migratório
foi próximo de zero. O
maior contingente humano
vem do vizinho Maranhão.
Após três anos com mais
entrada do que saída de
migrantes, voltou a ver uma
forte saída de baianos em
2008. Quase metade (46%)
vai para São Paulo.
Nos 37 anos que separam os dois anos abordados
a grande mudança foi a queda da participação do
Sudeste no PIB e o crescimento do Centro-Oeste.
Refugiados no Brasil
O Brasil foi o primeiro país da América
do Sul a assinar a Convenção de 1951 das
Nações Unidas para os Refugiados. Segundo a agência das Nações Unidas para a
área (Acnur, sigla para Alto Comissariado
das Nações Unidas para os Refugiados),
o Brasil abrigava, em 2009, 4.294 refugiados reconhecidos pelo governo, provenientes de 75 países. A maioria vive nos
grandes centros urbanos.
O maior contingente procede dos países
da África. Da Ásia, um grupo que pode ser
destacado é o de famílias refugiadas da Palestina, abrigadas principalmente em São
Paulo, onde o governo estadual inaugurou
uma representação do Acnur em 2008.
Naquele ano, 46% de todos os refugiados
no país estavam em São Paulo.
Desde 1997, uma lei federal criou o
Comitê Nacional para Refugiados (Conare), que atua em parceria com a Acnur.
Diversas organizações civis, principalmente religiosas, atuam para ajudar os
refugiados a superar as barreiras que
enfrentam por desconhecer a língua e
auxiliá-los a ter uma vida regular: trabalhar, estudar e se relacionar com as
comunidades de onde vivem.
Toda pessoa que se muda de local de
vida é um migrante. Aquele que parte é
emigrante, e aquele que chega é imigrante. As razões para migrar geralmente são
econômicas (trabalho e salários), mas há
razões sociais, como guerras, catástrofes
naturais ou perseguições religiosas.
No Brasil, as atividades econômicas
foram determinantes para a chegada de
imigrantes estrangeiros e também das
migrações internas no período colonial,
com a ocupação portuguesa para obter
matérias-primas,
as entradas e banTRADIçÃO GAÚCHA
deiras, para capLavoura na Região
turar e escravizar
Centro-Oeste: terras
índios, o ciclo do
disponíveis atraíram
ouro e o da canasulistas (foto de 1988)
de-açúcar.
Com a proibição
do tráfico de escravos, o Brasil assina acordos internacionais
para a imigração. Entre 1870 e 1953, o país
recebe quase 5 milhões de imigrantes,
vindos da Itália, Portugal, Espanha, Alemanha, Rússia, Japão e de outros países
(veja tabela na pág. 159). Eles substituem
os escravos na agricultura como colonos
meeiros (recebem parte da produção como
pagamento) ou assalariados, e integramse também na indústria e serviços. Além
do interesse econômico do Brasil, pesam
razões sociais e políticas nos países de origem, como crises de desemprego e falta de
alimentos, a I Guerra Mundial (1914-1918),
a Guerra Civil Espanhola (1936-1939) e a II
Guerra (1939-1945). Hoje, mudou o perfil
da imigração estrangeira no Brasil, que
atrai agora principalmente a população de
países vizinhos, como bolivianos, peruanos
e paraguaios (veja boxe na pág. 159).
ronaldo kotscho
k
Industrialização
No Distrito Federal, de
cada dez habitantes, cinco
não nasceram ali.
51,1
46,2 45,9
41,4
32,2
29 28,7
terras na Amazônia Legal e pela criação
do polo industrial da Zona Franca de Manaus. A partir dos anos de 1990, o governo
estimula a redistribuição das indústrias
pelo território brasileiro e há melhoria na
infraestrutura nacional de transportes, de
telecomunicações e de energia elétrica,
além de estímulo à geração de empregos
em regiões menos desenvolvidas. Passa
a ocorrer também a guerra fiscal entre
os estados e municípios, que oferecem
isenção de impostos e outras vantagens
para atrair as empresas.
É importante destacar nesse período
o estímulo ao desenvolvimento da fruticultura irrigada e da indústria têxtil no
Nordeste e à ocupação agropecuária e
industrial do Centro-Oeste. Mato Grosso,
que em 1990 produzia apenas 3% do algodão do país, em 2002 passou a realizar
Durante o séxulo XX, a expansão da
agricultura e a industrialização trouxeram para o Sudeste, sobretudo para São
Paulo e Rio de Janeiro, brasileiros de
todas as regiões, mas principalmente
do Nordeste. Esse processo provocou
uma forte concentração populacional
e econômica no Sudeste e aprofundou
a desigualdade que já existia entre as
regiões brasileiras. O estado de São Paulo,
em 1970, produzia 39,4% do PIB do país,
e a Região Sudeste, 65% (veja tabela na
página anterior).
A partir dos anos de 1960, começa uma
lenta ocupação das regiões Centro-Oeste
– incentivada pela inauguração de Brasília – e Norte – estimulada pela abertura
de estradas como a Belém-Brasília e a
Transamazônica, pela distribuição de
O estado do Rio Grande do
Sul é o que possui o menor
percentual de migrantes.
ONDE ESTÃO OS MIGRANTES
Percentual de migrantes na população
São Paulo ocupa a sétima
posição no ranking de
migrantes por estado.
23,4 22,7
18,3 18,1 18 16,8
15,7 14,1
11,8 10,4 9,9
DF RO RR MT TO MS GO SP AP PA ES PR RJ
9
8,4
8
7,6 6,9 6,5 6,4 5,7
4,1
SC AM SE AC RN MA PI MG PE AL PB BA CE RS
Fonte: Pnad 2008
160
atualidades vestibular + enem 2011
2011 atualidades vestibular + enem
161
Resumo
questões sociais MIGRAÇÕES BRASIL
mais da metade da produção (53%). Nesse
mesmo ano, as regiões Centro-Oeste e
Norte já totalizavam 51% da produção
nacional de gado bovino. Na Região Norte,
também cresceram as atividades de mineração e extrativismo vegetal.
Como resultados desse processo, entre
1970 e 2007, cresceu a participação no
PIB do Nordeste, do Norte e do CentroOeste, enquanto caiu a participação do
Sudeste (veja a tabela na pág. 160). Entre
1986 e 2002, a Grande São Paulo perdeu
quase 1 milhão de empregos industriais,
o que provocou a migração de retorno ao
local de origem.
Na Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios de 2006 (Pnad, do IBGE), o
estado de São Paulo aparecia com uma
perda de 207 mil habitantes no saldo migratório – o total de imigrantes menos o
de emigrantes. Na mesma pesquisa, estados que tradicionalmente apresentavam
saldo migratório negativo inverteram
o sinal, como Bahia, Ceará, Pará e Rio
Grande do Norte. A pesquisa registra
que, dos migrantes de São Paulo para a
Bahia, 65% eram baianos de nascimento.
Percentual semelhante de cearenses foi
observado entre os migrantes que se dirigiram ao Ceará. Nesse mesmo período,
os movimentos de população obedeceram
a duas forças simultâ­neas: o desestímulo a permanecer na Região Sudeste e a
atração econômica exercida por outras
regiões do Brasil.
Mudanças recentes
Em migrações, o importante é entender
os grandes fluxos, que mudam a fisionomia do planeta e do país. Muitas vezes,
mudanças rápidas na estrutura econômica
alteram o sentido dos movimentos – e isso
pode ser curto ou duradouro. Um exemplo
são os dados divulgados recentemente na
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad 2008), do IBGE, que mostram uma tendência de reversão do fluxo
migratório, que poderá ou não se manter
nos próximos anos, segundo análise do
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Estados do Norte, Nordeste
e Centro-Oeste, que estavam com saldo
migratório positivo (mais gente entrando
do que saindo), voltaram a ter saldos negativos ou estão perdendo atratividade. É o
caso do Pará, que teve o saldo quase zerado,
do Rio Grande do Norte, que registrou
movimento de emigração, e da Bahia, que
voltou a ter saldo negativo, principalmente
em direção a São Paulo.
No Centro-Oeste, Mato Grosso e Mato
Grosso do Sul apresentaram saldos anuais
negativos, provocados pelo aumento da
emigração, de 44,4% e 61,1%, respectivamente. Mato Grosso nunca havia registrado saldo negativo desde o início das
apurações anuais do IBGE, em 1992.
No Sudeste, há uma tendência crescente a novos saldos positivos. Em 2008,
também pela primeira vez desde 1992, o
estado do Rio de Janeiro teve um saldo
anual positivo, com entrada de imigrantes
maior do que a saída. Em São Paulo, o
saldo negativo de fluxo começou a diminuir em 2006 e quase foi zerado em
2008. Os estados que mais forneceram
migrantes para São Paulo foram Bahia,
Pernambuco e Paraná.
Ainda com estudos preliminares, os
especialistas do IBGE e do Ipea acreditam
que as mudanças recentes se devem à
grande criação de empregos registrada no país, particularmente no Sudeste,
onde há maior concentração de
indústrias. A construção civil,
em especial, destaca-se por ser
a maior geradora de empregos
diretos, concentrar negócios
onde há mais financiamentos
e consumidores com poder
aquisitivo para comprar e por
atrair e empregar a mão de
obra sem especialização nem
formação. Outro fator provável é a expansão da indústria
sucroalcooleira. De acordo com
Associação Paulista de Cogeração de Energia, em 2008 o
Brasil possuía 347 usinas de
produção de álcool a partir de
cana-de-açúcar, a maioria em
São Paulo, e havia 104 usinas em
Entrou mais gente
do que saiu
Muitas vezes, mudanças
rápidas na estrutura
econômica alteram os
sentidos da migração
Saiu mais gente
do que entrou
k
MIGRANTES POR FAIXA ETÁRIA
Percentual de brasileiros não naturais que vivem...
…no município
12,7
21
27,4
37
48,8
54,9
60,6
64,8
até 9 anos
10 a 17 anos
18 e 19 anos
20 a 29 anos
30 a 39 anos
40 a 49 anos
50 a 59 anos
60 anos ou mais
Fonte: Pnad 2008
162
atualidades vestibular + enem 2011
…no Estado
3,7
6,8
9,3
13,8
19,9
22,6
25,4
27
Os dois gráficos mostram que a
faixa acima de 60 anos é a que
tem maior percentual de
migrantes. Isso ocorre porque
a pessoa pode ter se mudado
no decorrer de toda a vida.
A ATRAÇÃO
PAULISTA
Saldo migratório entre
São Paulo e as regiões
(em mil pessoas)
500
400
300
Note que, depois de 2000,
ocorre uma reversão no
fluxo: mais gente sai do
que chega a São Paulo.
200
100
0
Principal polo econômico do
país, São Paulo é um centro
“magnético” da migração.
O estado é visto como um local
de oportunidades para os
brasileiros de regiões menos
desenvolvidas.
-100
-200
1992
Saldo migratório
Saiu na imprensa
São Paulo
Bahia
600.000
400.000
Positivo
0
Negativo
-200.000
Positivo
Negativo
-400.000
1992
Os dois saldos estão
relacionados: quando
São Paulo atrai menos,
a Bahia retém mais
gente. Olhe o gráfico
seguinte.
2008
2000
SEMPRE EM MOVIMENTO
Em demografia, saldo migratório é o
resultado de pessoas que entram e saem
de uma cidade, estado ou país. Quando
é positivo, o local recebeu mais gente
do que perdeu; quando é negativo,
perdeu mais do que ganhou. Confira
abaixo o comportamento do saldo
migratório de dois estados desde 1992
construção para inauguração até o fim de
2010, a maior parte delas também em São
Paulo, além de unidades em Minas Gerais,
Mato Grosso do Sul e Goiás. O aumento da
produção de álcool combustível objetiva
abastecer a frota crescente de veículos
com motor bicombustível, os carros flex, e
também para exportar. No Rio de Janeiro,
um fator de atração de mão de obra, nos
últimos anos, é a reativação do setor de
estaleiros navais.
u
600
-300
200.000
A correta leitura é a seguinte:
12,7% dos brasileiros de até
9 anos não vivem no município
em que nasceram, ao passo
que 3,7% dos brasileiros dessa
faixa etária não residem no
estado natal.
Nordeste
Sudeste
Sul
Centro-Oeste
Norte
2008
Brasil tem 4,3 mil
pessoas refugiadas
O Comitê Nacional para Refugiados
(Conare) do Ministério da Justiça e o
Alto Comissariado das Nações Unidas
para Refugiados (Acnur) divulgaram
ontem um relatório que mostra que o
Brasil tem 4,3 mil refugiados. O número
chega a 15,2 milhões em todo o mundo.
O nível é considerado estável.
Do total no Brasil, 2.789 refugiados
são da África, 959 da América, 443
da Ásia e 98 da Europa. As principais
nacionalidades destes imigrantes são
angolanas (1.688), colombianas (589),
congolesas (420), liberianas (259) e
iraquianas (199).
De acordo com o Conare, os refugiados se sentem tranquilos com a hospitalidade brasileira. O levantamento
anual ‘Tendências Globais 2009’ mostra
que, até dezembro de 2009, pelo menos
43,3 milhões de pessoas foram forçadas
a se deslocar por causa de conflitos
e perseguições no mundo – o maior
registro de deslocamentos forçados
desde a metade dos anos 90, segundo
o relatório.
O prolongamento de conflitos pelo
mundo, segundo o estudo, reduziu ao
nível mais baixo, nos últimos 20 anos,
o número de pessoas que retornaram
ao seu país de origem por vontade
própria.
Ainda de acordo com o documento,
em 2009, apenas 251 mil refugiados
voltaram para casa. Nos últimos dez
anos, o número anual chegou a 1 milhão
de retornos para o país de origem.
O Dia On-line, 16/6/2010
q
Migrações Brasil
Fluxos migratórios São os trajetos do maior volume de migrantes.
Quem sai de uma região é emigrante,
e quem entra é imigrante. No Brasil
colônia, foram marcantes as imigrações de negros escravos da África e
de colonizadores de Portugal. No fim
do século XIX e início do XX, acontece
a imigração maciça de europeus e de
asiáticos. Atualmente, a maioria dos
imigrantes estrangeiros é da América do Sul e da Ásia. Dentro do país,
o fluxo migratório mais significativo
no século XX sempre foi das regiões
menos industrializadas (sobretudo o
Nordeste) para o Sudeste. No período mais recente, o desenvolvimento
agrícola no Centro-Oeste atraiu muita
gente para a região.
Razões das migrações A busca de
trabalho, renda e melhores condições
de vida são determinantes para atrair
os imigrantes. Mas as razões para emigrar podem ser diretamente econômicas, como recessão e desemprego;
causas naturais, como catástrofes e
secas; ou sociais, como guerras, ocupações militares e perseguições políticas,
que criam os refugiados.
Ciclos econômicos No período
colonial, os fluxos migratórios acompanharam principalmente o ciclo do
ouro e da cana-de-açúcar. No Império
e na República Velha, houve o ciclo da
borracha e a expansão do café. A seguir,
a industrialização no Sudeste passou a
ser o polo de atração mais importante.
Nos anos 1970 houve também o estímulo à imigração para a Amazônia Legal,
com a distribuição de terras e a criação
da Zona Franca de Manaus.
Tendências atuais A tendência a
imigrar para o Sudeste diminuiu nas
últimas décadas, pois a partir dos anos
de 1990 acontece uma redistribuição
das indústrias para outras regiões,
como Sul, Nordeste e Centro-Oeste,
e há uma forte expansão da agropecuária no Centro-Oeste. A partir de
2006, o IBGE constata uma volta da
migração das outras regiões para o Sudeste, estimulada pela grande criação
de empregos.
2011 atualidades vestibular + enem
163
k
questões sociais Urbanização
Os desafios
das cidades
Atualmente, há a tendência à conurbação, que é a união física entre cidades
vizinhas, criando mega-áreas de concentração econômica e de população. Um
exemplo são as regiões metropolitanas
do Rio de Janeiro e de São Paulo, que
englobam as capitais de estado e inúmeras cidades vizinhas, numa mancha
urbana contínua. O poder dessas áreas é
grande, de acordo com as Nações Unidas:
“As 40 maiores megarregiões do mundo
atual cobrem uma área porcentualmente
pequena, mas concentram 18% da população, 66% da atividade econômica
mundial e 85% de toda a inovação tecnológica e científica”.
O crescimento urbano desordenado provoca
graves problemas, e as sociedades tentam
resolvê-los para garantir a qualidade de vida
Maioria urbana
As cidades atraem as pessoas por oferecer melhores oportunidades. Por isso
mesmo, é a migração para as cidades que
faz, hoje em dia, a taxa de crescimento
populacional urbano ser quase duas vezes
maior que a rural: 1,8%, contra 1% ao ano.
Em 2008, pela primeira vez na história, a
população que vive em cidades superou a
das áreas rurais e soma agora 50,6% (3,49
bilhões de pessoas), segundo a Organização das Nações Unidas (ONU).
A urbanização em sua forma atual
começou com a Revolução Industrial
nos países da Europa (século XVIII) e a
seguir ocorreu nos Estados Unidos e no
164
atualidades vestibular + enem 2011
Conceitos e critérios
O termo urbanização indica dois sentidos:
k Em demografia, ele é sinônimo do
crescimento da população que mora
nas cidades e distingue essa população
da que vive em áreas rurais.
kEm arquitetura e urbanismo, o termo se refere aos recursos que a cidade
oferece, como água e esgoto canalizados, asfaltamento e transporte público.
Nesse sentido, urbanizar é dotar uma
área de infraestrutura.
afp/frederic j. brown
Japão. Nesses países, ocorreu de forma
lenta, o que permitiu planejar o crescimento das cidades e construir redes de
abastecimento, de transportes públicos
e de serviços, como escolas, hospitais,
delegacias, corpo de bombeiros etc.
Mas nos países em desenvolvimento
a industrialização aconteceu após o fim
da II Guerra Mundial, a partir dos anos
1950, e de forma acelerada, como no caso
do Brasil. “Em 1950, um terço das pessoas
do mundo vivia em cidades. Cinquenta
anos depois, isso passou para 50%, e continuará a crescer até alcançar dois terços,
ou 6 bilhões de pessoas, em 2050”, prevê
a ONU.
O lado positivo
NOVOS HORIZONTES
dessa supremaModernos arranha-céus
cia urbana é que
dão um ar futurista a
pessoas que moPequim e expressam
o desenvolvimento da
ram em cidades
economia da China
têm, em princípio, mais acesso a
emprego, serviços,
educação, saúde e
lazer. O lado negativo é que o crescimento dos municípios hoje é maior nos
países pobres, e, na maioria dos casos, as
pessoas se aglomeram em cidades sem
condições de recebê-las. Disso resultam
graves problemas sociais, como o crescimento de favelas, o colapso dos sistemas
de transportes e a falta de acesso à saúde
e à educação.
Segundo a ONU, nos países em desenvolvimento, um em cada três moradores
de cidades vive em bairro pobre. O principal fator de inchaço das cidades nesses
países é a migração em massa das áreas
rurais, provocada pela falta de trabalho
e de condições econômicas adequadas
para produzir e viver no campo.
Megalópoles
A urbanização acentuada está aumentando o tamanho das cidades, mas principalmente o das cidades médias, grandes
(com mais de 1 milhão de pessoas) e as
megalópoles ou megacidades (com mais
de 10 milhões de habitantes). A previsão é
que, até 2025, tenhamos 27 conglomerados
urbanos com mais de 10 milhões de pessoas
e 910 cidades com mais de 1 milhão de
moradores. O continente em que as megacidades mais crescem é a Ásia – que possui
61% da população global, mas abrigava
apenas 9% em 1920. O continente terá três
das cinco maiores megalópoles dos países
em desenvolvimento em 2015: Mumbai e
Délhi (Índia) e Daca (Bangladesh).
Em milhões de pessoas e porcentagem do total
AS MAIORES MEGALÓPOLES MUNDIAIS
Em milhões de pessoas, 2005
40
35,3
35
30
25
18,7
18,7
18,3
20
15
10
5
0
18,2
15,1
14,5
14,3
12,6
12,6
12,3
11,6
11,5
11,5
11,3
Tó
Cid
qu
ad
io
ed
oM
éx
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No
va
Yo
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Sã
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iro
(E
git
Rio
o)
de
Jan
eir
Os
o
ak
a(
Jap
ão
)
O
ser humano sempre construiu
casas e cidades perto de fontes
de manancial de água e rios, das
quais pode captar a água de que precisa
e atirar o esgoto para que ela o limpe.
Com o crescimento das cidades, as áreas
próximas a rios, por exemplo, ficaram
superpovoadas e a população começou
a ocupar as áreas circundantes, o que
inclui as encostas e os morros, e com frequência esse processo foi descontrolado.
Derrubada a mata, o solo fica exposto e os
mananciais de água diminuem. Quando
há chuvas fortes, a terra é levada pela
água e assoreia os rios, as cidades ficam
alagadas e congestionadas. Nas encostas e
nos morros, a infiltração da água provoca
aluviões e deslizamentos que causam
soterramentos e tragédias.
Esse é apenas um exemplo dos vários
desafios de planejamento enfrentados
atualmente nas cidades, que já abrigam
a maioria da população mundial. O modo
de tratar esses problemas é por meio de
políticas públicas.
ACELERAÇÃO DO SÉCULO XX
Veja que a maioria das cidades da lista pertence a nações em desenvolvimento, como Brasil, Índia e China. A urbanização
começou lentamente, no século XVIII, nos países atualmente ricos. As primeiras megalópoles, Tóquio e Nova York,
continuam líderes. Mas a maioria das novas megalópoles, e as que mais crescem, fica nos países em desenvolvimento.
Fonte: Divisão de Populações das Nações Unidas
Vejamos outra diferença importante:
k A maioria dos países desenvolvidos
considera zona urbana aquela na qual
85% da população vive em área com
concentração superior a 150 pessoas
por quilômetro quadrado. É um critério puramente demográfico, definido
pela Organização para a Cooperação
e o Desenvolvimento Econômico
(OCDE), que coordena ações dos 30
países mais ricos do mundo.
k No Brasil, é considerada zona urbana
toda sede de município e de distrito,
não importando a concentração de moradores no local. É a definição adotada
pelo Instituto Brasileiro de Geo­grafia e
Estatística (IBGE) e utilizada no censo.
Assim, se um grupo pequeno de pessoas
vive na sede de um distrito, esse grupo é considerados população urbana,
independentemente da densidade populacional (total de pessoas por área) e
dos recursos que o local oferece.
2011 atualidades vestibular + enem
165
k
questões sociais Urbanização
O planejamento urbano é
fundamental para evitar
problemas como aumento
de favelas e enchentes
Planejamento
Planejar a construção das cidades e de
suas estruturas ajuda a garantir seu funcionamento. No Brasil, esse planejamento
passou a ser obrigatório apenas em 2001
para todas as cidades com mais de 20 mil
habitantes, por um Plano Diretor decenal.
Mesmo assim, no decorrer do tempo,
fórmulas que eram muito utilizadas estão
sendo repensadas com a urbanização.
Veja alguns exemplos.
Calçadas Tornaram-se símbolos da
urbanização, mas impermeabilizam o
solo e agravam enxurradas e enchentes.
Atualmente, muitas são feitas de blocos
e passeios de grama, que permitem a
drenagem da água, e com rebaixamentos
de acesso para a cadeirantes.
Rios Tiveram seus traçados retificados
e leitos rebaixados para aumentar a vazão
da água com o esgoto e a construção de
estradas nas margens. Com a impermea­
bilização do solo, a água chega mais depressa ao rio, que fica assoreado de lixo,
lama de esgoto e terra da periferia. Como
resultado, há enchentes e engarrafamentos. Entre as soluções, estão canalizar e
tratar o esgoto para limpar o rio, deixar
as margens livres para absorver a água,
construir reservatórios subterrâneos para
adiar a chegada da água ao rio (piscinões)
e melhorar a coleta de lixo.
Elevados longos e caros Foram construídos em áreas centrais para o tráfego
entre diferentes áreas. Mas eles engarrafam, bloqueiam o sol e desvalorizam os
imóveis, resultando em prédios-fantasma
e bairros decadentes. Uma das soluções
possíveis tem sido derrubar esses viadutos, encontrar alternativas e replanejar
o uso das áreas degradadas.
Bairros decadentes Ocorrem em áreas
centrais, em que só há empresas diurnas.
À noite, atraem prostituição e criminalidade. Para restaurar essas áreas, são adotados planos de revitalização urbana.
Conjuntos habitacionais São feitos na
periferia, em larga escala, para evitar ou
substituir favelas. Quando não há áreas de
lazer, escolas ou boa infraestrutura urbana no bairro, podem se transformar em
cidades dormitório, degradar-se e fazer
com que seus moradores se desloquem
por grandes distâncias para trabalhar e
estudar. Exigem múltiplas ações públicas
integradas.
Tráfego Para evitar o congestionamento nas grandes cidades, a solução passa
por ampliar transportes públicos – metrô,
ônibus e trem – de qualidade e integrálos (sistemas modais), além de desestimular o uso do automóvel. Curitiba
é apontada internacionalmente como
exemplo de boas intervenções urbanas:
75% dos curitibanos usam ônibus para
se locomover.
Habitação e favelas
O cumprimento da primeira das metas das Nações Unidas para as cidades
(veja boxe na pág. ao lado) está com um
indicador positivo. A meta é, até 2020,
melhorar a vida de 100 milhões de moradores de favelas dos países pobres, o que
quer dizer providenciar uma nova casa
para quem é favelado ou dar aos barracos melhores condições de habitação,
água e esgoto – a urbanização de favelas.
Os levantamentos da ONU registraram
uma melhoria na vida de 227 milhões de
EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO URBANA MUNDIAL
Em bilhões de pessoas e porcentagem do total
*Previsão
0,220
1950
1900
13%
TOTAL
1,700
0,732
29%
TOTAL
2,529
2005
TOTAL
6,531
3,270
49%
2030*
4,900
60%
TOTAL
8,320
CRESCIMENTO CONSTANTE
Os saltos percentuais da população urbana em relação à rural mantêm um ritmo que pode ser considerado regular no
decorrer do tempo. Como a industrialização e as mudanças no campo atingem a maior parte dos países, a previsão é de
que a urbanização continue crescendo nas próximas décadas e chegue a 60% da população mundial em 2030.
pessoas entre 2000 e 2009, mais do que
o dobro da meta na metade do tempo
(veja o desempenho dos países no quadro
abaixo à direita). Isso prova que, mesmo
que a meta tenha sido modesta, é possível
avançar quando há disposição.
O problema é que, nesse mesmo perío­
do, as favelas cresceram quase 6 milhões
de moradores ao ano e o total de habitantes de favelas passou de 776 milhões
para 827 milhões. As piores situações,
envolvendo de 180 milhões a 200 milhões de favelados cada, estão na África
Subsaariana e nas regiões sul e leste da
Ásia. Comparadas a elas, o cenário na
América Latina é avaliado como um “problema moderado”, à exceção do Haiti e
da Jamaica, onde é muito grave.
No Brasil, a ONU registra que 16%
da população favelada (10,4 milhões de
pessoas) melhorou de condições de vida
entre 2000 e 2010 – seja com a transferência para conjuntos habitacionais, seja
com urbanização na favela. No mesmo
período, tiveram os melhores percentuais
a Argentina (menos 5 milhões de pessoas)
e a Colômbia (menos 3,7 milhões), com
redução de 40%.
Segundo o Ministério das Cidades, o
déficit habitacional do Brasil está em
5,8 milhões de domicílios. Para calcular
esse déficit o governo considera o total
que falta de moradias para as pessoas
que moram em condições precárias ou
que declaram que necessitam dividir
o domicílio com outros a contragosto.
Isso pode parecer pouco em relação à
população, mas representa 10% do total
de habitações no Brasil.
Esgoto captado e água
Levar o esgoto ao rio ou ao mar até
que não era má ideia séculos atrás, pois
a água carregada de oxigênio limpa significativamente a sujeira orgânica. Mas, no
mundo de hoje, com 6 bilhões de produtores diários de esgoto e consumidores de
água, sobra esgoto e é preciso economizar
água limpa. Uma consequência séria desse
quadro é a expansão dos patógenos que
causam a cólera, a meningite e a hepatite,
eliminados só quando a água é tratada.
Um sinal de alerta foi a epidemia de cólera que atingiu a América do Sul em 1991
e deixou 400 mil doentes e 4 mil mortos.
Naquele ano, apenas 13,7% do esgoto
canalizado no continente era tratado.
Atualmente, mais de um quarto da população do mundo em desenvolvimento
vive sem condições sanitárias adequadas,
segundo as Nações Unidas.
O Brasil corre atrás do prejuízo, pois
ainda falta muito para dar saneamento
básico (água e esgoto) a toda a população brasileira. O último levantamento
nacional, com dados de 2007, indica que
metade do esgoto urbano produzido tem
coleta adequada, mas apenas 32,5% do
esgoto total do país recebe algum tratamento. O fornecimento de água tratada
atinge 80% das pessoas, número que sobe
para 94% nas zonas urbanas.
Ambiente, lixo e doenças
Impedir que a interferência do ser
humano degrade o meio ambiente é um
grande desafio nas cidades. Há o grande
volume de lixo, ao qual é difícil dar destino. Quanto maior e mais rica a cidade,
Fonte: Divisão de Populações das Nações Unidas
O TRANSPORTE INDIVIDUAL CONSOME MAIS COMBUSTÍVEL
Energia usada por passageiro transportado, em joule por km
4,0
As metas da Habitat
Privado individual
Público coletivo
3,5
3,0
2,5
2,0
Note como o transporte público coletivo
gasta menos combustível por passageiro
em todas as regiões. Assim, a opção por
incentivar o transporte individual
provoca um custo maior para o país,
exige mais combustível e polui mais a
atmosfera
1,5
1,0
0,5
0
China
Ásia
(países
pobres)
África América Ásia Europa Europa Austrália/ Oriente Estados Canadá
Latina (países Oriental Ocidental Nova Médio Unidos
ricos)
Zelândia
Fonte: Relatório "Cidades 2008", da UN Habitat
166
atualidades vestibular + enem 2011
Note também como o transporte coletivo
nos EUA gasta mais combustível: isso se
relaciona ao tipo de veículo usado e aos
combustíveis que são utilizados
A principal entidade internacional para
debater questões sobre as cidades é o Programa da Organização das Nações Unidas
para Assentamentos Urbanos (conhecido
em inglês pela abreviação UN Habitat).
Ele realizou seu 5º Fórum Mundial em
março de 2010, no Rio de Janeiro. Os países signatários da sua convenção, a Agenda Habitat, tentam alcançar metas para
cumprir as diversas convenções sociais
da ONU, como a dos direitos humanos.
Conheça as três principais:
Meta 1 Melhorar a vida de pelo menos
100 milhões de favelados até 2020.
Meta 2 Deter a propagação do HIV/
aids e reverter a tendência de contaminação até 2015.
Meta 3 Reduzir pela metade a parcela
da população mundial sem acesso permanente à água limpa.
No Brasil, a regulação do funcionamento das cidades é definida no Estatuto das
Cidades, que se tornou lei em 2001.
maior o volume de lixo produzido por
cabeça e maior o volume total. Quando
não há coleta, o lixo fica em terrenos
baldios e ruas, atrai ratos e insetos, entope
galerias de coleta das chuvas, agrava as
enchentes e dissemina doenças como a
leptospirose, a dengue, a febre amarela e
a malária. Essas três últimas atacam cada
vez mais nas cidades, onde os mosquitos
transmissores encontram local com água
favorável para a reprodução, o que inclui
entulho, latas, pneus etc.
A falta de coleta de lixo é grave nos
grandes conglomerados urbanos da África e da Ásia. Nas megalópoles e nas conurbações, há cada vez mais dificuldade
de encontrar locais para novos aterros
sanitários. Mas há iniciativas importantes, como construir nos aterros usinas
termelétricas que queimam gás metano
originado do lixo. É o caso da usina Bandeirantes, em São Paulo. Ela foi construída
com dinheiro dos créditos de carbono previstos no Protocolo de Kyoto, gera energia
Melhorias em favelas no mundo
Milhões de pessoas atendidas em favelas urbanas,
de 2000 a 2010
China
65,31
Índia
59,73
Indonésia
21,23
Brasil
10,38
Nigéria
8,05
México
5,08
Egito
5,01
Argentina
4,94
Colômbia
3,72
Turquia
3,51
Marrocos
2,43
África do Sul
1,96
ENORME DESAFIO
Esta tabela mostra o número de favelados urbanos atendidos
por programas de melhoria nas condições de vida – na
própria favela, ou retiradas para conjuntos habitacionais.
Note que a tabela traz números absolutos, e não a
porcentagem de redução em relação ao total de favelados ou
da população do país. Quanto maior a população favelada,
maior é o desafio. Na China, a melhoria foi considerada pela
ONU “espetacular”, atingindo 25% do total de favelados.
Na Índia, 32%. O Marrocos é um caso de sucesso, pois houve
melhorias para 50% dos moradores de favelas.
No Brasil, atingiu-se 16% da população favelada.
Fonte: "O Estado das Cidades do Mundo 2009-2010", da UN Habitat
2011 atualidades vestibular + enem
167
k
Resumo
questões sociais Urbanização
e evita atirar na atmosfera esse gás, que
agrava o efeito estufa. O crescimento da
coleta e reciclagem dos materiais nobres
também é uma boa iniciativa. Na capital
do Egito, Cairo, apenas um terço do lixo
é recolhido pela prefeitura, mas a coleta
para reciclagem, pela população, tornouse uma intensa atividade econômica, que
mantém a cidade viável.
Há ainda outros desafios ambientais e
para a saúde. A poluição do ar pelos meios
de transporte afeta o clima e agride a saúde humana - provoca mais doenças respiratórias, como rinite, sinusite, bronquite
e asma. A poluição não se trata apenas
da fumaça dos veículos, mas também a
fumaça tóxica da queima de lenha e carvão para cozinhar nas cidades dos países
pobres. Além disso, cresce a incidência de
estresse e hipertensão, provocados pela
má qualidade de vida nas cidades.
Vilãs do efeito estufa
Em comparação com as áreas rurais,
as cidades são as maiores vilãs do efeito
estufa. Nas grandes cidades, o consumo de energia cresce em larga escala,
pela substituição de casas por prédios
de apartamentos, de pequenas lojas por
shopping centers, e assim por diante.
A energia necessária para eletricidade,
aquecimento e refrigeração, transporte
e indústria gera mais de 60% dos gases
do efeito estufa de origem humana no
mundo. O gasto energético das cidades
é cada vez maior e, na maioria delas,
resulta de combustíveis que liberam dió­
xido de carbono (CO2), como gasolina e
óleo diesel nos transportes, gás e carvão
mineral em termelétricas.
Além disso, há liberação de outros gases
do efeito estufa, como o metano (gás natural, CH4), gerado na decomposição do
lixo e do esgoto. Finalmente, as áreas mais
adensadas concentram cimento, concreto
e asfalto e se transformam em ilhas de
calor, pois esses materiais armazenam
calor e o devolvem para o ar na forma de
radiação térmica. A diferença de temperatura entre uma área verde e uma típica
área central de uma cidade pode ser de
170
atualidades vestibular + enem 2011
bruno agostini
Os centros urbanos são
muito mais quentes do que
as áreas com vegetação
ao redor das cidades
ROCINHA No Rio de Janeiro, o crescimento da população foi mais veloz que o da infraestrutura urbana
5 graus centígrados a mais (veja o mapa
abaixo). Eis outras das soluções:
k Criar e preservar áreas verdes.
k Ampliar o uso de energias mais limpas
na produção e no transporte.
k Incentivar construções com a “arquitetura inteligente” (edifícios e residências
que buscam ser autossustentáveis),
usar a energia solar, reciclar a água e
os materiais, organizar melhor os usos
e horários de atividades.
k Disseminar programas governamentais para ampliar a fabricação, a venda
e o uso de placas de aquecimento solar
e de energia fotovoltaica e de minigeradores eólicos para residências.
k Adotar programas de estímulo à eficiência energética para aparelhos e
máquinas, residências, edifícios, indústria, comércio e serviços.
k Substituir o uso de combustíveis fósseis no transporte.
Brasil
O Brasil possuía 5.564 cidades em
2008, um número que não para de crescer. Mas quase 5 mil delas (o número
exato é 4.979) tinham menos de 50 mil
moradores, e apenas 37 cidades possuíam
mais de 500 mil habitantes, segundo o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pelos parâmetros usados
pelo IBGE, 87% dos brasileiros vivem em
DENSIDADE DEMOGRÁFICA E ILHAS DE CALOR
A região central de
São Paulo,altamente
urbanizada, apresenta
temperaturas mais
elevadas
Distribuição da
vegetação em SP
Temperatura aparente
da superfície
Rural
Menor
Maior
No sul da cidade,
onde há mata e quase
não existem prédios nem
casas,as temperaturas
são bem mais baixas
Fonte: Atlas Ambiental do Município de São Paulo
Nas áreas em que há conurbação, a
solução para os problemas de infraestrutura urbana (rede de transporte, sistemas
de vias públicas, distribuição de água,
tratamento de esgoto) envolve com frequência vários municípios. Por isso, no
Brasil, a figura da região metropolitana
passou a ser um conceito administrativo
e político, adotado na década de 1970 e
utilizado quando o poder público decide
traçar políticas públicas comuns para um
grupo de cidades vizinhas. Os governos
de estado têm o poder de decidir que
certa área forma uma região metropolitana. Em todo o país, há um total de 31
regiões metropolitanas. u
Um morro inteiro
e dezenas de vidas
engolidos pelo lixo
Duzentas pessoas podem ter sido
soterradas no morro do Bumba, o pior
desastre desta semana. A noite de medo
e morte deu lugar a uma manhã de horror no que restou do morro do Bumba.
Uma das comunidades mais pobres do
Fonseca, em Niterói, foi engolida por
avalanche de lixo e lama, soterrando um
número estimado de 200 moradores, no
fim da noite de quarta-feira.
O desabamento do aterro sanitário
que virou favela chocou ainda mais a
fragilizada população do Rio, que esta
semana chora a morte de 182 pessoas no
Grande Rio – a maioria, 107, em Niterói,
Urbanização
DEFINIÇÃO Em geografia, o conceito
é populacional e indica o crescimento
da parcela da população que vive nas cidades em comparação com a das zonas
rurais. Em outras disciplinas, refere-se
também aos recursos de que a população precisa e que a cidade oferece.
CRITÉRIOS Muitos países usam um critério de densidade demográfica e consideram que uma área é urbana quando
85% da população vive concentrada em
pelo menos 150 moradores por km2. Já o
Brasil considera toda sede de município
ou distrito como área urbana, mesmo
com poucos moradores.
Cresce a urbanização no Brasil
Em porcentagem da população total
1955
40%
1995
78%
1960
45%
2000
81%
1965
50%
2005
84%
1970
56%
2010
87%
1975
61%
2015*
88%
1980
66%
2020*
90%
1985
71%
2025*
91%
75%
2030*
91%
1990
* Previsão
Fonte: IBGE
Saiu na imprensa
Da redação
Município de São Paulo, com variação de temperatura de 24 ºC a 32 ºC, em 3/9/1999
Urbano
áreas urbanas e o restante, em rurais.
Mas estudos comparativos utilizando
o critério demográfico empregado pela
OCDE dariam um resultado diferente: o
Brasil teria 30% da população em área
rural e 70% em urbana.
A urbanização no Brasil ocorreu conjuntamente com a industrialização do
país, nos últimos 70 anos. Até o Censo
de 1940, apenas um terço dos brasileiros
vivia nas cidades. Nas décadas seguintes,
o crescimento industrial atraiu parcelas
crescentes da população para as cidades,
enquanto a concentração da produção
agrícola, voltada para o mercado de exportação, reduziu a oferta de emprego
no campo e produziu o êxodo rural. Nos
anos 1980, todas as regiões brasileiras já
concentravam a maioria de seus moradores em centros urbanos.
A desigualdade social é uma marca
da urbanização brasileira. Na década
de 1970, período do milagre econômico,
iniciou-se a tendência da favelização nas
cidades. Entre as consequências associadas à desigualdade social e à urbanização
desordenada está o crescimento da violência urbana, em número de homicídios e de mortes no trânsito. Na primeira
década do novo milênio, o Brasil tem
se destacado na adoção de políticas de
combate à desigualdade social.
q
que decretou calamidade pública. Na
capital já são 55 óbitos; em São Gonçalo, 16; Maricá, 3; e Nilópolis, 2. Magé,
Paulo de Frontin e Petrópolis contam
um morto cada. (...)
Horas antes de o morro todo vir abaixo, o lixão dera um aviso – ignorado – do
desastre. Algumas casas desabaram,
e bombeiros foram ao alto da comunidade procurar um morador que estaria soterrado. Por volta das 18h30, o
grupo foi embora, prometendo voltar
com equipamentos, e não viu motivos
para mandar a favela toda sair de lá –
só os que estavam em imóveis então
atingidos. A corporação só retornaria
por volta das 22h30, com a terra já arrasada. (...)
O Dia online, 9/4/2010
MEGALÓPOLES São aglomerações urbanas com 10 milhões de habitantes
ou mais, formadas geralmente por conurbação (a união territorial de várias
cidades). Também são chamadas de
megacidades. Existem 20 megalópoles
no mundo, das quais duas estão no
Brasil: São Paulo e Rio de Janeiro.
MUNDO Em 2008, pela primeira vez na
história, mais da metade da população
mundial vivia em cidades. O processo
de urbanização está mais acelerado
nos países em desenvolvimento. Em
2050, prevê-se que 70% da população
mundial viverá em centros urbanos.
DESAFIOS As megacidades causam problemas sociais e ambientais que devem
ser enfrentados por políticas públicas.
Usam muita energia fóssil, que libera
gases que acentuam o efeito estufa.
Nos países pobres, a urbanização provoca sobrecarga da infraestrutura urbana,
crescimento das favelas, aumento da
criminalidade, poluição dos rios e águas
com esgoto e aumento de doenças.
Prioridades das cidades O Programa da ONU para as cidades, UN Habitat, estabeleceu três prioridades para
as cidades do mundo, dentro das metas
do milênio: melhorar a vida de pelo menos 100 milhões de favelados até 2020;
reverter a tendência de contaminação
pelo vírus HIV/aids até 2015; e reduzir
pela metade a parcela da população
sem acesso permanente a água limpa.
A primeira meta já foi atingida.
2011 atualidades vestibular + enem
171
k
questões sociais demografia
FILHARADA
Jocelina Gomes e Maria
do Socorro Santos com
15 de seus 41 filhos:
elas vivem na ilha de
Marajó, um dos lugares
com as famílias mais
numerosas do Brasil
edmar farias
Brasil,
mostra a sua cara
Saiba como é o Censo de 2010,
a mais completa radiografia das riquezas,
das potencialidades e, também,
dos problemas econômicos e sociais do país
Por Ricardo Prado
172
atualidades vestibular + enem 2011
2011 atualidades vestibular + enem
173
questões sociais demografia
A
Fonte: IBGE
Censo
Transição demográfica
Realizar um censo para as dimensões
do Brasil é tarefa grandiosa e cara: será
preciso 1,4 bilhão de reais para fazer o
Censo de 2010. É um dinheiro muito
bem empregado, pois as informações da
pesquisa, feita a cada dez anos, dão aos
poderes Executivo e Legislativo dados essenciais para definir as políticas públicas
para a próxima década. Do censo sairão
informações sobre a população do país,
a saúde do brasileiro, seu nível educacional, sua renda, a expectativa de vida, os
níveis de consumo etc. O censo também
é importante para os municípios, pois é
por meio da contagem das populações que
o Tribunal de Contas da União define o
valor dos recursos que o governo federal
destina aos estados e municípios.
O modelo de coleta de dados será o
mesmo usado desde 1960, com dois questionários levados pelo recenseador:
k um modelo detalhado, para ser aplicado em uma amostra de domicílios (e a
cada um de seus moradores), chamado
de questionário da amostra;
k outro pequeno, para ser aplicado aos
domicílios (e a cada um de seus moradores) não selecionados para a amostra,
chamado de questionário básico.
O Censo de 2010 trará inovações tecnológicas. A mais importante é o uso de computadores de mão nas visitas domiciliares.
Além de facilitarem a coleta e o envio dos
dados, os aparelhos são dotados de GPS,
o que permitirá registrar a localização de
postos de saúde, escolas e demais prédios
públicos, na zona rural e urbana.
174
POPULAçÃO Brasileira nos censos
cada década, o Brasil se vê diante
de sua própria imagem, como se
estivesse na frente de um gigantesco espelho. Esse espelho é o censo, que
quantifica (e, depois, qualifica) os avanços, eventuais retrocessos e as mudanças
estruturais pelos quais passa o país.
A partir de agosto de 2010, um batalhão
de 240 mil recenseadores visitará mais
de 58 milhões de residências em todos os
5.546 municípios brasileiros. Trata-se de
um extenso levantamento de dados realizado pelo Instituto Brasileiro de Geo­
grafia e Estatística (IBGE), no qual nossa
população é contada pessoa por pessoa e,
a partir de cada domicílio, são coletadas
dezenas de outras informações.
atualidades vestibular + enem 2011
CENSO
POPULAÇÃO
1872
9.930.478
1890
14.333.915
1900
17.438.434
1920
30.635.605
1940
41.236.315
1950
51.944.397
1960
70.070.457
1970
93.139.037
1980
119.002.706
1991
146.825.475
2000
169.799.170
O Brasil apresentava até os anos 1940
um padrão demográfico relativamente
estável e de caráter secular. Entre 1940 e
2000, o número de brasileiros cresceu 17
vezes (veja na tabela acima, a população
do país a cada censo), e hoje o Brasil possui a quinta maior população do mundo
(atrás de China, Índia, Estados Unidos
e Indonésia).
A partir da primeira contagem da população brasileira, no século XIX, tanto os
níveis de fecundidade como os de mortalidade se mantiveram elevados por décadas,
com pequenas oscilações, embora já se
pudessem observar, a partir da virada do
início do século XX, pequenos declínios
dos níveis de fecundidade. Mas uma mudança radical aconteceria após a década
de 1960, em decorrência de uma queda
vertical nas taxas de fecundidade.
Acompanhando a tendência mundial, o
crescimento demográfico brasileiro vem
desacelerando nas últimas décadas, ao
mesmo tempo em que a expectativa de
vida se eleva (veja na pág. 176). Esse processo é chamado de transição demográfica. Em outras palavras: as famílias ficam
menores, com menos filhos, e as pessoas
vivem até uma idade mais avançada.
As consequências dessa mudança no
perfil da população têm impacto sobre
as contas públicas e sobre o sistema de
saúde, já que as doenças típicas de um
país jovem são diferentes das que ocorrem em um país com mais gente idosa.
Há 50 anos, por exemplo, as doenças
infectocontagiosas representavam cerca
de metade das mortes registradas no país.
Hoje, respondem por menos de 10%, pois
são as doenças cardiovasculares, próprias
das pessoas mais velhas, que matam mais.
Assim, em meio século, o Brasil passou
de um perfil de mortalidade típico de
uma população jovem para um cenário
de enfermidades complexas, que exigem
mais investimentos do poder público.
Para ter uma ideia de como essa mudança foi rápida, basta compará-la com
o que ocorreu na França. Lá, a transição
demográfica levou quase dois séculos. Por
aqui, apenas quatro décadas.
Queda da fecundidade
A última vez em que o Brasil contou sua
população cabeça por cabeça foi no Censo
de 2000: éramos, então, 169,8 milhões
de habitantes. Desde então, a população
veio sendo calculada por projeção, com
base nas taxas de crescimento apuradas
em 2000. Mas em 2007 o IBGE fez uma
contagem restrita da população – por
amostragem –, visitando 30 milhões de
residências. Descobriu-se, então, que as
projeções estavam superestimando o crescimento populacional, e que, em sete anos,
o erro acumulado era de cerca de 6 milhões. A população brasileira havia crescido bem menos do que o esperado. Na
noite de 7 de julho de 2010, menos de um
mês antes de o censo decenal ter início,
a população brasileira era de 193.183.606
habitantes, segundo a consulta ao contador populacional do site do IBGE, que é
alterado várias vezes ao dia.
O motivo do crescimento abaixo do
esperado é a queda acentuada do número
de filhos das mulheres brasileiras. No
decorrer de sete anos, a partir de 2000,
a taxa de fertilidade no Brasil caiu de 2,3
para dois filhos por mulher, nível abaixo
da taxa de reposição populacional a longo
prazo, que é considerada de 2,1 filhos por
mulher. Isso resultou num crescimento
populacional de apenas 1,21% ao ano, em
média, nesse período.
O fenômeno vem de longe. Até 1990, a
taxa havia despencado vertiginosamente,
de 6,3 (em 1960) para 2,9. A partir de
então, baixou mais suavemente, mas de
forma ainda rápida para os especialistas.
Se a tendência persistir, a população brasileira poderá diminuir a partir de 2060,
pois atualmente a taxa de fecundidade
está em 1,95 filho por mulher. Ainda há
crescimento, pois o número de jovens
no Brasil é muito grande (veja gráfico
na pág. 177).
Pierre Duarte/Folhapress
k
UM POR UM O recenseador Afonso Nogueira entrevista Joana Canoto, em Borá (SP), no Censo de 2000: a contagem da população é feita em todos os domicílios do país
Vida mais longa
Segundo o estudo Tábuas Completas
de Mortalidade 2007, do IBGE, enquanto
a fertilidade da mulher brasileira caiu,
a expectativa de vida da população vem
aumentando. Expectativa de vida é uma
estimativa de qual será a duração da vida
de quem está nascendo hoje, em média.
As crianças nascidas em 2007 devem
viver, em média, 72,5 anos. Em relação
a 1960, o ganho foi de quase 18 anos. E,
se o número atual for comparado ao das
primeiras estimativas de vida disponíveis,
de 1900, quando a expectativa de vida
ao nascer era de apenas 33,7 anos, isso
representa um crescimento de 215% em
pouco mais de um século.
O aumento da longevidade da população é um fato bastante positivo. Isso
acontece porque houve melhoria das
condições de vida: alimentação, água
tratada, esgoto, remédios e assistência
médica, práticas mais saudáveis e avanços
A revolta contra o censo nos tempos do Império
Em 1850, dom Pedro II separou recursos para fazer o primeiro censo oficial
do Brasil. Ele pretendia ainda implantar o registro civil e retirar das igrejas
o registro de nascimento, casamento
e morte. Mas, como as instituições religiosas também guardavam as cartas
de alforria e as promessas públicas de
libertação de escravos, a mudança para
o poder civil foi vista como ameaça aos
negros alforriados ou com promessa
de liberdade, que viam uma ameaça
de reescravização no Regulamento do
Registro dos Nascimentos e Óbitos do
Império e na lei do censo.
Conhecida como Guerra dos Marimbondos, a revolta contra o censo
atingiu, em 1851, várias províncias do
Nordeste. Foi um levante de pequenos
agricultores, que contou com o apoio de
donos de escravos, receosos de que o censo comprovasse que parte do plantel de
cativos estava em condição ilegal.
O historiador Luis Felipe de Alencastro
estima que, nessa época, 700 mil escravos
estavam em situação irregular, e, pela lei,
não poderiam mais continuar como cativos. A lei que instituía o censo e o registro
civil virou letra morta, pois os sertanejos
atacaram os funcionários do censo e destruíram os registros, forçando o governo
imperial a desistir de sua implantação.
Apenas em 1872 aconteceu o primeiro
censo oficial do Brasil. O registro civil só
seria instituído após a Proclamação da
República, em 1889.
2011 atualidades vestibular + enem
175
questões sociais demografia
O padrão de fecundidade
está mudando, com as
mulheres tendo filhos
cada vez mais jovens
na educação. Tudo isso colabora para que
haja menos mortes de recém-nascidos e
crianças e para que a vida seja prolongada
nos anos da velhice.
Com o envelhecimento da sociedade,
cai a proporção de crianças e jovens na
população. As crianças de até 14 anos de
idade somavam em 1996 quase 30% da
população; já em 2008, eram 25,5%. No
extremo oposto da pirâmide, a população
de idosos cresceu. Em 2008, 10,5% da população brasileira tinha mais de 60 anos.
As projeções indicam que, até 2050, essa
proporção deva superar 13%. Com as mudanças, o perfil populacional do país foge
do tradicional desenho de pirâmide, com
a base mais larga, ainda comum aos países
mais pobres. Aos poucos, ela se estreita na
base e se alarga nas outras faixas etárias: a
princípio, na faixa dos adultos, e, depois, na
dos idosos (veja na página ao lado).
A tendência indica uma melhoria na
qualidade de vida, mas algumas de suas
consequências preocupam, pois o envelhecimento populacional obriga a pensar
no equilíbrio das contas públicas, como
a das aposentadorias. No Brasil, a renda
mensal de quem se aposenta é paga com
o desconto no salário de quem trabalha.
É um desafio custear aposentadorias e
pensões a uma população crescente de
idosos enquanto a de jovens diminui.
Gravidez precoce
Uma das mais importantes funções
do censo é trazer dados confiáveis para
estudos acadêmicos sobre as questões
sociais que necessitam de uma intervenção planejada do poder público. Como
exemplo, pode ajudar a definir políticas
de prevenção à gravidez na adolescência. Entre 1980 e 2000, enquanto a taxa
de fecundidade caiu em quase todos os
grupos etários, considerando-se o perío­
do fértil da mulher (de 15 a 49 anos), a
única exceção acontecia justamente no
segmento mais jovem da população: o de
mulheres entre 15 e 19 anos.
O padrão de fecundidade das brasileiras, que até a década de 1970 era tardio,
ou seja, com uma forte concentração nos
grupos etários de
geração perdida
25 a 29 anos ou de
Assassinato em São
30 a 34 anos, pasPaulo: a violência atinge
sou nos anos 1990
a ser mais jovem,
sobretudo os jovens do
com uma taxa alta
sexo masculino
específica para as
mulheres entre 20
e 24 anos.
O alerta já havia sido dado, mas o que
mais preocupou os estudiosos foi a descoberta de que, em 2006, segundo o Sistema
de Informações sobre Nascidos Vivos
do Ministério da Saúde, 21,5% das mães
brasileiras tiveram o primeiro filho antes
dos 19 anos. Ou seja, havia um grande aumento da gravidez na adolescência. Com
essa tendência estabelecida, abriu-se o
caminho para campanhas de conscientização sobre a prevenção à gravidez e às
doenças sexualmente transmissíveis.
REDUÇÃO DA FECUNDIDADE BRASILEIRA
CRESCE A EXPECTATIVA DE VIDA DO BRASILEIRO
Em média de filhos por mulher
Em anos
8
7
Homens
6,2
6,2
70
5,8
5
60
4,4
4
50
2,9
3
2
2,3
2,0
1
Outro dado revelador da realidade brasileira apontado nos últimos censos é o
impacto da violência numa faixa específica da população brasileira: os homens
jovens, pobres, na faixa de 15 a 29 anos de
idade. Eles são as principais vítimas e os
principais agentes da violência urbana.
Em 1980, segundo estudo divulgado do
IBGE, os homicídios eram responsáveis
por 22,4% das mortes masculinas por
“causas externas” (quer dizer, não por
Média
66,4
53,1
56,1
54,6
59,9
70,9
62,7
1940 1950
1960
1970
1980
1990 2000 2006
63,2
74,3
67,0
66,7
70,4
76,1
68,4
72,2
40
30
20
0
Cenário nacional
A Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios (Pnad), realizada todo ano
pelo IBGE, é uma importante ferramenta
para os estudiosos de demografia e para
quem quiser conhecer melhor o Brasil.
Ela surgiu em 1967, com dois objetivos
principais: suprir a falta de informações
sobre a população brasileira entre os
censos decenais e levantar dados sobre
os temas pouco investigados ou não contemplados nos censos.
+80
75 - 79
70 - 74
65 - 69
60 - 64
55 - 59
50 - 54
45 - 49
40 - 44
35 - 39
30 - 34
25 - 29
20 - 24
15 - 19
10 - 14
5-9
0-4
Idade
1960
1980
1991
2000
2006
DESCIDA Até os anos 1960, as mulheres tinham em média
mais de seis filhos. Com a média de dois filhos por mulher,
a população cresce porque as pessoas estão vivendo mais.
SUBIDA No Brasil, a expectativa de vida cresce há décadas. Veja que a das mulheres vem sempre acima: elas vivem mais.
Como a expectativa de vida no país é uma média, note que a altura da barra vermelha é a média das outras duas barras.
Fonte: Censo Demográfico 1940/2006/IBGE
Fonte: Tábuas Completas de Mortalidade 2006/IBGE
atualidades vestibular + enem 2011
doença). Era o início de uma explosão de
violência urbana que cresceria durante
os anos 1980 e 1990. Em 2000, ela atingiu
seu ponto mais alto, quando 41,8% das
mortes de homens nessa faixa etária por
causas externas estavam relacionadas
à violência. As regiões que registraram
maior crescimento na ocorrência de homicídios masculinos, de 1980 a 1990,
foram Norte (elevação de 18%) e Sudeste
(14%). Nessa última, em 2000, quase a
metade das mortes masculinas por causas
externas foi causada por assassinato.
O antropólogo Luiz Eduardo Soares,
estudioso da questão da violência, afirma:
“No Brasil, há um genocídio que está exterminando sobretudo os jovens, pobres,
do sexo masculino. O que é paradoxal e
mais trágico é que esse genocídio é autofágico, é fratricida, porque os perpetradores são também jovens, pobres, do
sexo masculino”. A discreta queda nesses
índices, verificada a partir de 2005, talvez
tenha sido o início da resposta de governos
estaduais, responsáveis pela segurança
pública, às contundentes estatísticas.
A Pnad compreende cinco áreas de
pesquisa: demografia, habitação, educação, trabalho e renda. Veja algumas das
principais conclusões da Pnad 2008:
Educação Entre as pessoas com 15 anos
ou mais de idade, havia cerca de 14,2
milhões de analfabetos, 10% do total de
adultos. A Pnad também contabilizou 30
milhões de analfabetos funcionais, entre
as pessoas de 15 anos ou mais.
Renda Houve uma melhoria no rendimento mensal do trabalho no país em
todos os níveis de renda, especialmente
nos níveis de menor renda. Em 2008, o
rendimento médio mensal dos domicílios brasileiros foi de 1.968,00 reais,
registrando-se um aumento de 2,8% em
comparação ao de 2007.
Habitação O fornecimento de eletricidade foi o serviço público de maior alcance
no país, atingindo 98,6% dos domicílios.
Já o abastecimento de água por rede geral
atingiu 83,9%. A maior expansão foi da
telefonia, 5,3% a mais em um ano: em
2008, 82,1% das residências possuíam
algum telefone, fixo ou celular.
A Pnad 2008 também pesquisou a presença de outros aparelhos domésticos:
televisor (95,1% dos lares), geladeira
(92,1%), rádio (88,9%), freezer (16%),
máquina de lavar roupa (41,6%) e computador com internet (23,8%).
Vale a pena acompanhar os resultados
da Pnad 2009, que deverão ser divulgados
por volta de setembro de 2010.
PIRÂMIDES ETÁRIAS DO BRASIL
10
0
176
O jovem e a violência
80
6,3
6
Mulheres
Pablo de Sousa
k
1980
2010
Homens Mulheres
Homens Mulheres
2050*
Homens
*projeção
Mulheres
TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA Note como, em 1980, a pirâmide populacional brasileira era larga na base e estreita no topo,
mostrando um grande número de crianças e jovens, e poucos idosos. Veja como hoje já é diferente: há, proporcionalmente,
menos crianças e mais idosos. Em 2050, com a diminuição na base (as mulheres estão tendo menos filhos) e o alargamento
nas faixas etárias intermediárias e avançadas (as pessoas estão vivendo mais), o desenho se assemelhará mais a um vaso.
Fonte: IBGE
Os censos e a cor da pele
Até 1872, os dados sobre a população
brasileira eram obtidos de forma indireta,
isto é, não eram feitos levantamentos com
o objetivo estrito de contar o número
de habitantes (veja boxe na pág. 175). As
fontes de informações eram relatórios
preparados com outras finalidades, como
os relatórios de autoridades da igreja sobre os fiéis ou de funcionários da colônia
enviados às autoridades da metrópole.
Também eram usadas as estimativas
da população fornecidas pelos ouvidores
ou por outras autoridades à Intendência
Geral da Polícia. O primeiro censo oficial
do Brasil, o de 1872, recebeu o nome de
Recenseamento da População do Império
do Brasil. Depois dele, foi realizado censo
em 1890, 1900, 1920 e 1940. Em 1910 e
em 1930, não foi feito o recenseamento.
Com a criação do IBGE, em 1938, foi
inaugurada a moderna fase censitária no
Brasil. Nela, foi ampliada a abrangência
temática do questionário, com a introdução de perguntas de interesse econômico
e social, tais como os de mão de obra, emprego, desemprego, renda, fecundidade,
migrações, entre outros temas.
Uma das questões mais controversas
nos censos, que já sofreu várias alterações, é a caracterização de cor e raça. O
Censo de 1872 criou uma classificação racial baseada nas categorias utilizadas na
época pela sociedade brasileira: branca,
preta, parda e cabocla. O censo seguinte,
de 1890, o primeiro da República, trocou
a expressão “parda” por “mestiça”.
A pergunta sobre a cor da pele sumiu nos censos de 1900 e 1920, sob in­
fluência das doutrinas raciais europeias,
que defendiam o “branqueamento” da
população, o que incluía o incentivo à
imigração europeia – significativa nessa
época. Como resultado da maciça imigração de japoneses (iniciada em 1908),
os censos de 1940, 1950 e 1960 adotaram
três opções de cor da pele: branca, preta
e amarela. Os demais eram classificados
automaticamente como “pardos”.
No Censo de 1970, sai de novo a referência a “cor ou raça”. Ela retorna no Censo
de 1980 em quatro categorias: branca,
preta, parda e amarela. Por fim, os censos de 1991, 2000 e 2010 acrescentam
mais uma, a indígena. Assim, os índios
passaram a ter uma classificação específica, já que eram considerados caboclos nos
primeiros censos e pardos desde 1940.
2011 atualidades vestibular + enem
177
k
Resumo
questões sociais demografia
2005-2010
2045-2050
Mundo
67,6
75,5
Países
desenvolvidos
77,1
82,8
prevenção de doenças e, também, avanços
da medicina. Outros fatores são o aumento
da escolaridade e do acesso à informação,
que naturalmente conduzem à melhoria
das condições de vida.
Além do aumento da expectativa de
vida, a cada dia cai o número de filhos
por mulher na grande maioria dos países.
O declínio da taxa de fertilidade – média
do número de filhos que as mulheres têm
durante a vida – é causado por vários
fatores combinados, como o desenvol­
vimento e a disseminação de métodos
contraceptivos (como a pílula e a cami­
sinha) e o aumento da participação da
mulher no mercado de trabalho (que
dá mais independência e dificulta que
a mulher se dedique apenas a cuidar de
crianças). A urbanização também tem
seu papel, por elevar o custo de vida das
famílias, onerando as mais numerosas.
Antes, numa família rural, era vantajoso
ter mais filhos, pois isso significava mais
mão de obra no trabalho. Na cidade, fa­
mília grande significa mais gasto.
74,3
Desigualdades
O MUNDO MAIS VELHO
Distribuição da população mundial por faixa etária (em %)
2010
0-14
15-24
25-59
60 +
80+
27
18
44
11
2
20
13
2050
45
22
4
cada vez menos filhos
Média de filhos por mulher no decorrer da vida
1970-1975
2005-2010
Mundo
4,32
2,56
Países
desenvolvidos
2,17
1,64
Países em
desenvolvimento
5,18
2,73
AUMENTA A LONGEVIDADE
Expectativa de vida ao nascer (em anos)
paulo vitale
Países em
desenvolvimento
idosos em alta Em países como o Japão, cresce a proporção de pessoas com mais de 60 anos de idade
Um mundo
mais velho
A longevidade das pessoas
está aumentando e as taxas de
fertilidade, diminuindo
O
Brasil está ficando mais velho, mas
a humanidade também. Em 2010,
a população mundial ultrapassa
6,85 bilhões de pessoas – 11% desse total
tem 60 anos ou mais de idade, segundo a
Organização das Nações Unidas (ONU).
Nos próximos anos, esse número deve
crescer continuamente, até que, em 2050, o
número de idosos deve superar o de crian­
ças de até 14 anos. Daqui a quatro décadas,
um em cada cinco habitantes do planeta
terá mais de 60 anos.
178
atualidades vestibular + enem 2011
Essa mudança global tem várias conse­
quências, como a ampliação do tempo das
aposentadorias e pensões, provocando
o chamado déficit previdenciário em
muitos países. Outra consequência do
envelhecimento da população é a amplia­
ção da vida economicamente ativa das
pessoas, especialmente nos países menos
desenvolvidos, provocando pressões na
base da pirâmide, entre os mais jovens,
que lutam para ingressar no mercado
de trabalho. Segundo a ONU, em 2009,
47% das pessoas com mais de 60 anos
de idade permaneciam trabalhando nos
países menos desenvolvidos, enquanto
nos mais ricos, onde há sistemas previ­
denciários bem estabelecidos, essa taxa
era de 24%.
Por outro lado, nos países desenvolvidos,
o envelhecimento da população trouxe uma
redução da faixa da população em idade
65,6
MUDANÇAS As tabelas acima são de previsões. A população
cresce, mas a participação de crianças e jovens cai e a de
idosos cresce. Um detalhe: como as pessoas com mais de 80
anos já estão no grupo com mais de 60, a soma das linhas
dá mais de 100%. Nas de baixo, vemos que os países ricos
estão na frente, mas todos passam pelo mesmo processo.
Fonte: Divisão de População do Departamento de Assuntos Sociais e Econômicos
da ONU (2009), World Population Prospects: The 2008 Revision
econômica ativa (dos 25 aos 59 anos), o
que cria dificuldades para a reposição po­
pulacional. Em diversos países da Europa,
a população já estaria diminuindo se não
fosse o fluxo de imigrantes vindos de países
pobres, sobretudo da África e Ásia. Mas por
que a população está envelhecendo?
Fertilidade e longevidade
A humanidade vem ficando mais velha
porque a expectativa de vida das pessoas
está aumentando. A expectativa de vida é
o tempo estimado de vida para uma pessoa
nascida em determinado ano. Ela é estabe­
lecida com base em pesquisas que mostram
quanto as pessoas estão vivendo (isso se
chama “longevidade”) e se esse tempo
está aumentando ou diminuindo. O que
contribui para o crescimento da longevi­
dade é a melhoria do acesso da população a
serviços de saúde, campanhas de vacinação,
O envelhecimento da população não
acontece ao mesmo tempo em todas as
regiões do globo. Na Europa, Estados
Unidos, Canadá, Austrália, Nova Zelân­
dia e Japão, por exemplo, cerca de 21%
da população já atingiu ou passou de 60
anos, e o número de idosos ultrapassou
o de crianças abaixo de 15 anos, segundo
a ONU. Mas, nas regiões mais pobres, a
população ainda permanece jovem, com
crianças abaixo de 15 anos constituindo
30% da população e os jovens entre 15 e
24 anos mais 19%.
Nos países em desenvolvimento, a mé­
dia da população acima dos 60 anos cai
para 8%, chegando a 5% nos países menos
desenvolvidos. É provável que a maioria
desses países venha a ter nos próximos
anos queda das taxas de natalidade e
aumento nas de envelhecimento.
As regiões mais desenvolvidas do pla­
neta tiveram nas últimas décadas uma
taxa de fertilidade abaixo do mínimo
para repor a população a longo prazo:
menos de 2,1 filhos por mulher. No perío­
do 2005-2010, 25 nações desenvolvidas,
incluindo Japão e vários países do Leste
Europeu, registraram taxas de fertilidade
abaixo de 1,5 filho por mulher. Assim, a
população de 45 países desenvolvidos
deverá encolher entre 2010 e 2050, mes­
mo que já esteja em curso uma reação ao
crescimento negativo, seja em razão da
imigração, seja pela adoção, por governos
de países ricos, de medidas para incenti­
var os casais a ter mais filhos.
Dessa forma, o crescimento populacio­
nal diagnosticado por Thomas Malthus,
no início do século XIX, que parecia ir­
reversível até a metade do século XX, dá
sinais de que começa a ser superado pelos
recursos nascidos da evolução tecnoló­
gica, como a pílula anticoncepcional.u
Saiu na imprensa
Censo 2010 do IBGE será
mais detalhado
O Censo 2010, que começa em agosto,
vai traçar a mais completa radiografia
das relações familiares e das condições
de vida dos brasileiros. O censo investi­
gará os novos arranjos familiares que
existem no país – não apenas registrar
quantos pais, mães e filhos, mas também
quantos são os agregados, conviventes,
pensionistas, cônjuges do mesmo sexo,
filhos só do responsável, enteados etc.
(...)
Pela primeira vez, a pesquisa do Ins­
tituto Brasileiro de Geografia e Esta­
tística (IBGE) vai investigar as línguas
indígenas, assim como a cor e raça da
população, registro de nascimento,
brasileiros que moram ou estudam no
exterior e formas de deslocamento para
o trabalho e o estudo.
No Censo de 2000, os itens raça e cor
estavam nos questionários da amos­
tra, ou seja, uma parte da população
os declarava e depois os números eram
trabalhados do ponto de vista estatísti­
co de projeção. Agora, no Censo de 2010,
a classificação (branco, preto, pardo,
amarelo ou indígena) fará parte do ques­
tionário básico nacional, o que dará uma
amostra mais extensa e segura.
Diário do Nordeste, 6/5/2010
q
Demografia
CENSO de 2010 A cada dez anos, é
realizado um censo no país, para atua­
lizar os dados sobre o crescimento da
população e municiar com uma série
de informações os formuladores de
políticas públicas. Entre cada censo
decenal, o IBGE realiza regularmente
a Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios (Pnad), um levantamento
anual mais qualitativo e acurado, mas
menos abrangente.
ENVELHECIMENTO É o aumento no
percentual de pessoas com 60 anos
ou mais na população, e a redução no
percentual de jovens. O fenômeno é
causado pela queda na taxa de fertili­
dade, associada à crescente expecta­
tiva de vida. A redução percentual da
população em idade ativa, com a queda
no número de filhos por mulher, pode
dificultar a reposição populacional.
TAXA DE FERTILIDADE É o número
médio de filhos que as mulheres têm
durante a vida. A redução da taxa de
fertilidade é causada por diversos fato­
res, entre os quais a disseminação dos
métodos contraceptivos e o aumento
da participação das mulheres no mer­
cado de trabalho.
EXPECTATIVA DE VIDA É o tempo es­
timado de vida que, em determinado
ano, as pessoas têm ao nascer. Atu­
almente, na maioria das regiões do
mundo, cresce a longevidade graças
à melhoria nas condições de vida, aos
avanços da medicina, à vacinação e ao
aumento da escolaridade e do acesso
à informação.
TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA Os países
desenvolvidos já passaram pelo proces­
so de envelhecimento da população. Os
países mais pobres ainda vão passar. A
esse processo de mudança no perfil de
idade da população de um país dá-se o
nome de transição demográfica.
TAXA DE FECUNDIDADE Até 1970, as
mulheres tinham o primeiro filho em
idade mais tardia, após completar 25
ou 30 anos. O Censo de 2000 revelou
que as brasileiras passaram a ter filhos
cada vez mais cedo.
2011 atualidades vestibular + enem
179
k
questões sociais desigualdade racial
Em busca
da igualdade
Após anos de discussões, o Congresso aprova
um Estatuto da Igualdade Racial que busca ser
um marco jurídico para combater
as desigualdades sociais ligadas à negritude
E
Eduardo Anizelli/Folhapress
m 16 de junho deste ano, o Con­
gresso Nacional aprovou sua ver­
são final do Estatuto da Igualdade
Racial. Do primeiro projeto ao texto final
da lei, foram gastos sete anos de trâmites
e discussões, e esse prazo longo de certa
forma ajuda a dimensionar a dificuldade
com que o Brasil depara para enfrentar
uma de suas questões sociais mais com­
plexas. Afinal, a miscigenação está no
âmago da formação da sociedade bra­
sileira e regulamentar por lei aspectos
que a envolvem causa acaloradas reações
contra e a favor a cada ponto abordado.
No caso desse estatuto, a solução polí­
tica foi retirar os pontos sobre os quais
não houve consenso, como as cotas nas
universidades, em partidos políticos e
de empregos em
órgãos e empresas
desde criança
públicas, a regula­
Alunos brincam com
mentação de quem
bonecos de várias
tem direito a terras
cores em creche de
em comunidades
Santo André (SP):
quilombolas, entre
diferenças e igualdade
outras propostas.
180
atualidades vestibular + enem 2011
O novo documento pretende ser um
marco jurídico para enfrentar as desi­
gualdades sociais que atingem as pes­
soas negras no Brasil. Não há citação aos
indígenas. Aprovado no Congresso, ele
foi enviado à Presidência da República e
aguardava sanção para entrar em vigor.
Paralelamente à aprovação desse es­
tatuto, a questão da reserva de cotas nas
universidades ainda estava, em julho de
2010, esperando julgamento de constitu­
cionalidade no Supremo Tribunal Federal
(STF). Em 2008, dois manifestos foram
entregues ao presidente do STF, um con­
trário e outro favorável à reserva de vagas
por cor ou raça. Os que se opõem às cotas
argumentam que o critério étnico ou racial
para a reserva de vagas é inconstitucional
porque “cria distinções entre brasileiros” e
que, além disso, não ataca de frente a falta
de qualidade no ensino e as desigualdades
socioeconômicas da população. Os que
aprovam o sistema dizem que o Estado tem
o dever de atuar com ações afirmativas aos
grupos que são tratados desigualmente,
para que tenham oportunidades iguais.
2011 atualidades vestibular + enem
181
questões sociais desigualdade racial
QUEM SÃO OS ANALFABETOS
BRASILEIROS CURSANDO O ENSINO SUPERIOR EM 1997 E 2007
Analfabetos funcionais de 15 anos ou mais de idade por cor
(em %)
Amarelos e indígenas
Percentual de pessoas de 18 a 25 anos, por cor ou raça, que cursam o ensino superior no Brasil,
sobre o total da população em cada faixa etária
Preta e parda
67,8%
1,2%
Branca
31%
25%
20%
15%
10%
QUADRO TRÁGICO Neste simples gráfico que chamamos
de “pizza” divide-se um universo de 100% em fatias.
Podemos ver que, para cada pessoa branca analfabeta no
Brasil, há mais de dois negros na mesma situação.
Fonte: Síntese de Indicadores Sociais 2009, IBGE
Os dados estatísticos
mostram que os negros
voltaram a ser maioria
da população brasileira
Maioria populacional
A partir de 2010, o Brasil passa a ter a
maioria de sua população negra. Também
no passado os negros foram a maioria
no Brasil. Em 1890, apenas dois anos
após a abolição da escravatura pela Lei
Áurea, 56% dos residentes em território
nacional eram negros. Mas, com o ingresso no país de cerca de 3,8 milhões de
imigrantes europeus entre 1887 e 1930,
para trabalhar nas lavouras do Sudeste
e Sul, principalmente, substituindo a
mão de obra escrava, houve um aumento da população branca no Brasil, ao
mesmo tempo em que se intensificava a
marginalização econômica e social dos
ex-escravos, que não foram preparados
para a nova economia capitalista que se
instaurava no país.
Assim, em 1940, os negros representavam menos de 36% da população. A
partir da década de 1970, no entanto, a
porcentagem de negros voltou a crescer.
Em 1976, o Brasil contava com 57% de
brancos e 40% de negros. Em 1987, os
negros já eram 43%. A Síntese de Indicadores Sociais do IBGE publicada em
2009 confirma a nova maioria:
k somados os 43,8% de pardos com 6,8%
de pretos, a população negra soma 50,6%
da população. Os brancos somam 48,4%
e os povos indígenas, 0,9%.
182
atualidades vestibular + enem 2011
TRABALHO DE BASE
Aula de reforço de
alfabetização em escola
do Rio: a redução das
desigualdades começa
pela escola
5%
0%
18
19
20
21
22
23
24
25
Branca 2007
Preta e parda 2007
Branca 1997
Preta e parda 1997
UNIVERSIDADE BRANCA
O gráfico mostra que, tanto em 1997 quanto em 2007, uma
porcentagem bem superior da população branca cursava a
universidade em comparação com a da população negra
(preta e parda). Vê-se que houve aumento considerável da
frequência no ensino superior nesse período de dez anos,
mas, em 2007, a porcentagem de negros na universidade
era ainda menor do que a dos brancos dez anos antes.
Observe o predomínio da faixa etária dos 20 aos 22 anos.
Estatuto da
Igualdade Racial
O que muda hojE
1. O poder público passa a ser obrigado a tratar de programas e medidas
específicos para a redução da desigualdade racial.
2. Criação do Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Sinapir)
para tratar das medidas voltadas
para a população negra.
3. Os agentes financeiros devem promover ações para viabilizar o acesso
da população negra a financiamentos habitacionais.
4. A capoeira passa a ser considerada
desporto.
5. Fica garantido o direito da crença e
de cultos de matriz africana.
6. É confirmada a obrigatoriedade do
ensino da história geral da África e
da história da população negra no
Brasil, em todas as escolas do Ensino Fundamental e Médio do país,
públicas e privadas, conforme já estabelecia a Lei no 9.394/1996.
Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2007. Exclui a população rural de Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Pará e Amapá
NEGROS ESTÃO MAIS ATRASADOS NO ESTUDO
ANOS DE ESTUDO DE NEGROS E BRANCOS
Distribuição dos estudantes de 18 a 24 anos de idade,
segundo o nível de ensino em que está – 2008
Média de anos de estudo de trabalhadores empregados
com 16 anos ou mais de idade, por sexo e cor ou raça
Brancos
Pretos e pardos
Fundamental ou 1o grau
6,4%
18,7%
Médio ou 2o grau
Mulheres brancas
Mulheres negras
Homens brancos
Homens negros
9,3
8,4
7,6
29,7%
49,9%
Pré-vestibular
3,2%
7,4
6,8
5,2
6,3
4,4
2,0%
Superior ou 3o grau
60,3%
28,7%
1996 2007
1996 2007
1996 2007
1996 2007
DISTORÇÃO Este gráfico analisa estudantes acima de 18
anos. Se a pessoa fez a escola no tempo certo, já está no
curso superior. Veja como boa parte dos negros se encontra
nas etapas anteriores: resultado de piores condições de vida.
DESIGUALDADE O Ipea comparou os anos de escolaridade
de brancos e negros, homens e mulheres, com base na pesquisa
do IBGE, e constatou que o crescimento da escolaridade na
população negra foi maior do que entre a população branca
na década compreendida entre 1996 e 2007.
Fonte: Síntese de Indicadores Sociais 2009, IBGE
Fonte: Ipea, Retrato das desigualdades de gênero e raça, 2008
0
10
20
30
40
50
60
70
80
O aumento da população negra nas últimas décadas não está relacionado somente
a uma maior taxa de natalidade nessa
parcela da população, mas ao crescimento
do número de pessoas que passaram a se
autodeclarar negras nos censos, já que a
cor da pele é anotada pelo recenseador
segundo a declaração dos entrevistados.
Seja por preconceito, por hábitos culturais ou por tradição, parte da população afrodescendente, cujos ancestrais se
miscigenaram com brancos ou índios,
declara-se parda. Atualmente, a maioria
dos estudiosos considera correto classificar essa população como negra, para fins
estatísticos, mesmo se levando em conta
que pode haver uma minoria pequena
de pardos que não possuem ascendência
africana, mas indígena.
Diferenças históricas
O resultado desse histórico é que, em
geral, o negro brasileiro tem piores condições de vida quando comparado com
o branco. Estatisticamente, o negro vive
menos, morre mais por causas violentas,
estuda menos, tem mais dificuldade de
ingressar e se manter no mercado de
trabalho, além de trabalhar nas ocupações menos valorizadas, ganhar salários
mais baixos e constituir maioria entre a
parcela economicamente mais carente da
população. Entre os 10% mais pobres no
país, 73,7% são negros e pardos, segundo
a Síntese de Indicadores Sociais 2009.
Nos últimos anos, as diferenças entre
brancos e negros começaram a diminuir,
em parte em razão de políticas sociais
como o programa Bolsa Família, pois os
Fernando Donasci/Folhapress
k
negros são majoritários entre a população
atendida pelos programas federais de
transferência de renda.
Um relatório elaborado pelo economista
Marcelo Paixão, da Universidade Federal
do Rio de Janeiro, mostra que ocorreram
alguns avanços entre 1995 e 2005:
k a diferença na expectativa de vida
entre negros e brancos caiu de 5,6 para
3,2 anos;
k a diferença na taxa de mortalidade na
infância entre negros e brancos caiu
de 84% para 27%;
k o analfabetismo, que era de 9,5% entre
os brancos e 23,4% entre os negros, caiu
para 6,5% e 9,5%, respectivamente.
Nesses casos, segundo Paixão, a redução se deu em razão do estabelecimento
de prioridades em relação à população
mais pobre, principalmente das regiões
Norte e Nordeste, que conta com grande
participação de negros.
Um dado positivo nesse sentido é que,
ainda segundo o Ipea, a renda média
do trabalhador cresceu 7,6% entre 2002
e 2008, enquanto a dos “não brancos”
avançou 17,9% no mesmo período. Porém,
as políticas gerais do governo não são tão
eficazes quanto seria necessário para
aumentar as taxas de emprego e renda
e atacam as desigualdades a longo prazo.
O Ipea estima que, a continuar nesse
ritmo, na melhor das hipóteses, apenas
em 2040 os negros e brancos teriam a
renda média equiparada.
O que será regulamentado depois
1. O Poder Executivo deverá implementar critérios para provimento
de cargos em comissão e funções de
confiança destinados a negros.
2. Criação de condições de financiamento agrícola, como linhas de crédito específicas, para a população negra.
3. Ações para promover a igualdade
de oportunidades no mercado de
trabalho.
4. Ações do governo de estímulo à iniciativa privada a adotar medidas
semelhantes.
5. Criação de normas para preservar
a capoeira.
6. Ouvidorias para receber reclamações
de discriminação e preconceito.
2011 atualidades vestibular + enem
183
k
Resumo
questões sociais desigualdade racial
reprodução
A presença de negros em
instituições de ensino
superior passou de 18% em
1998 para 34% em 2008
O que são as
ações afirmativas
A adoção de medidas como as cotas de
acesso para afrodescendentes e indígenas no ensino público superior nasce de
um tipo de política chamada de ações
afirmativas – conjunto de medidas do governo ou da iniciativa privada que visa a
abrir oportunidades sociais, econômicas,
educacionais e culturais a grupos que sofrem algum tipo de discriminação, para
compensar desigualdades. O adjetivo
“afirmativas”, no caso, pode ser entendido como assumir uma desigualdade
e afirmá-la como um fato presente, em
vez de sublimá-la ou negá-la. A expressão “ação afirmativa” teria sido utilizada pela primeira vez pelo presidente
dos Estados Unidos John Kennedy, nos
anos de 1960. No decorrer do tempo, as
ações afirmativas foram se consolidando conforme passaram a ser adotadas
nos países. No Brasil, encaixam-se nessa
diretriz, por exemplo, a criação de vagas
de estacionamento para idosos ou deficientes físicos nas ruas e em espaços
de uso público e a adoção de cotas para
a representação das mulheres nos partidos políticos.
184
atualidades vestibular + enem 2011
Desigualdades na educação
Os rendimentos médios dos negros, em
torno de 50% menores que os dos bran­
cos, são um reflexo da desigualdade edu­
cacional. Em 2009, segundo a Síntese dos
Indicadores publicada naquele ano:
k o analfabetismo atingia 9 milhões de
pretos e pardos, num total de 14,2 mi­
lhões de analfabetos brasileiros;
k o analfabetismo funcional era de 15,8%
entre os brancos, de 25,5% entre os
pretos e de 26,3% entre os pardos;
k no ensino superior, na faixa etária
entre 18 e 24 anos, havia 60,3% de
brancos e 28,7% de pretos e pardos.
Nos últimos anos, o governo tem va­
lorizado e adotado políticas de ações
afirmativas. Segundo o Mapa das Ações
Afirmativas, feito pelo Laboratório de
Políticas Públicas da Universidade Esta­
dual do Rio de Janeiro (que foi a primeira
universidade a adotar cotas para estudan­
tes negros no país, em 2001), outras 51
instituições de ensino superior públicas
adotavam, em 2008, alguma ação para o
ingresso de jovens negros, para negros e
índios, para os formados no sistema de
ensino público ou para os três casos.
Como consequência dessas ações e
do ProUni, programa do Ministério da
Educação (MEC) que desde 2005 con­
cede bolsas em faculdades privadas a
estudantes de baixa renda formados em
escolas públicas, a presença dos negros
no ensino superior passou de 18% em
1998 para 34% em 2008 – um aumento
expressivo para apenas uma década. Mas
entre os professo­
EM TEMPOS IDOS...
res o percentual de
negros ainda é mí­
Na gravura de Debret,
nimo. De acordo
uma casa carioca há
com estudo rea­
200 anos: a menina
lizado pelo pro­
branca estuda,
fessor José Jorge
o menino negro trabalha
de Carvalho, da
Universidade de
Brasília (UnB), e
divulgado pelo Instituto Brasileiro de
Análises Sociais e Econômicas (Ibase)
em 2008, o número de professores negros
nas universidades públicas não chega a
1%. Em seis das universidades de maior
prestígio no Brasil (USP, Unicamp, UFRJ,
UFMG, UFRGS e UnB), do total de 15.866
professores, somente 67 são negros – o
equivalente a 0,4% do total.
O mito da democracia racial
A concepção romântica de que vivemos
numa nação livre de preconceito racial se
deve muito ao antropólogo pernambuca­
no Gilberto Freyre (1900-1987). Em Casa
Grande e Senzala (1933), Freyre defendeu
a tese de um antagonismo camarada e
harmonioso entre as três principais etnias
que constituíram o povo brasileiro: os
colonizadores portugueses, os escravos
africanos e os indígenas nativos. Para o
autor, os mestiços – particularmente os
mulatos, filhos de senhores europeus
com escravas africanas – constituíram
um canal significativo de assimilação da
cultura negra pelos brancos.
Mas a história dos 350 anos de escra­
vidão registra revoltas e conflitos, como
foi a própria constituição do Quilombo
dos Palmares (século XVII), na região
do atual estado de Alagoas, por escravos
foragidos e seu extermínio por armas. Em
sua etapa final, sob a liderança de Zumbi,
Desigualdade racial
Saiu na imprensa
Debate sobre cotas
chega ao serviço público
Kleyzer Seixas e João Mauro Uchoa
Uma audiência pública do Supremo
Tribunal Federal (STF) marcada para o
próximo dia 3 pode facilitar a introdução
de cotas para afrodescendentes e índios
no serviço público. O foco do debate
é a constitucionalidade da reserva de
vagas para estudantes em universidades públicas. Uma decisão favorável à
manutenção das políticas de ação afirmativa possibilitará a continuidade de
iniciativas polêmicas que já são objeto
de ações na Justiça.
Mesmo sem o aval da Constituição
Federal alguns estados e municípios
já realizam concursos públicos com
o quilombo enfrentou as tropas armadas
portuguesas durante 14 anos. Calcula-se
que, do século XVI ao XIX, tenham sido
trazidos da África para as Américas 10
milhões de africanos escravizados, dos
quais 4 milhões para o Brasil.
Pressionado pela Inglaterra, que im­
pulsionava a Revolução Industrial e o
capitalismo com mão de obra assalariada,
o Brasil proibiu o tráfico negreiro em
1850. Em 1871, a Coroa assinou a Lei do
Ventre Livre. A partir de então, todo filho
de escravo nascido no Brasil ou perma­
neceria com o proprietário de seus pais
até os 21 anos, trabalhando como homem
livre, ou seria entregue ao governo. Na
prática, a lei nada avançou, pois dos pre­
sumíveis 400 mil negros nascidos após
a promulgação da lei, apenas 118 foram
entregues ao governo. Assim aqueles que
nasciam livres permaneciam escravos nas
fazendas onde nasceram.
A Lei do Ventre Livre foi ignorada pela
Justiça brasileira da época, e o movimento
abolicionista só começou a ganhar força
em 1880, com o surgimento de parlamen­
tares, personalidades públicas, associações
e jornais dedicados à causa. Passaram-se
outros oito anos até que fosse vencida a
resistência à abolição, feita principalmente
pela elite cafeeira do interior paulista. Em
13 de maio de 1888, a Lei Áurea foi sancio­
nada pela princesa Isabel, que ocupava o
q
cotas. O caso mais recente é o da Polícia Civil do Paraná, que reservou a
candidatos afrodescendentes 10%
das 500 vagas para investigadores,
papiloscopistas e escrivães.
(...) Uma candidata que participou de
uma seleção realizada pela administração municipal em 2007 ingressou com
ação na Justiça com o argumento de que
teria sido prejudicada pelo sistema de
cotas. Dois candidatos que se identificaram como afrodescendentes foram
convocados para a vaga que ela escolheu,
mesmo estando duas posições atrás da
reclamante. O Tribunal de Justiça de Santa Catarina acabou considerando inconstitucional a lei criada em Criciúma.
A Tarde, 23/2/2010
trono como regente. Quando a escravidão
foi abolida, parte dos escravos já tinha
conseguido alforria ou fugido das fazen­
das. Apesar de eles se verem livres do
pelourinho e dos castigos, suas condições
de vida praticamente não mudaram, pois
os negros libertos não tinham educação
nem apoio para sobreviver longe das
casas e fazendas dos antigos senhores.
Estima-se que, por ocasião da abolição,
em 1888, dos 800 mil escravos libertados
menos de 1% era alfabetizado.
O refúgio nas zonas rurais, que já era
a opção para a formação dos quilombos,
foi um dos caminhos encontrados pela
população negra para enfrentar o novo
quadro social. A Fundação Cultural Pal­
mares, ligada ao Ministério da Cultura,
registra a existência no país de 1.342 co­
munidades quilombolas, a maior parte
delas no Nordeste, principalmente na
Bahia e no Maranhão.
Mais de um século depois da abolição,
a biologia já comprovou que o conceito
de raça não se aplica à espécie humana.
Vários estudos indicam que as diferenças
genéticas entre um negro africano e um
loiro escandinavo podem ser menores do
que entre dois irmãos da mesma cor. Mas
persiste a desigualdade racial em diferen­
tes aspectos sociais e de emprego e renda.
E é ela que está no cerne das controvérsias
em torno das ações afirmativas.
u
ESTATUTO DA IGUALDADE RaCIAL
Aprovado no Congresso Nacional, aguarda sanção presidencial. Prevê alguns
mecanismos de inserção social, como
o Sistema Nacional de Promoção da
Igualdade Racial (Sinapir) e a liberdade
religiosa. O texto final foi criticado por
muitos integrantes do movimento negro por deixar de fora temas polêmicos,
como a cota em universidades públicas
para afrodescendentes.
DESIGUALDADES Os negros devem se
tornar maioria absoluta no país em
2010. Ainda assim, os negros constituem a parcela que enfrenta as maiores dificuldades socioeconômicas, com
maiores índices de desemprego e menor escolaridade que a população
branca.
AÇÕES AFIRMATIVAS São políticas
públicas ou privadas e medidas emergenciais que pretendem eliminar ou
diminuir as desigualdades para grupos
da sociedade, garantindo igualdade em
oportunidades sociais, econômicas,
educacionais e culturais. Começaram
a ser adotadas na década de 1960.
AVANÇO LENTO Alguns dados recentes
mostram que a população negra vem
elevando seu nível de escolaridade no
Brasil. Segundo o Ipea, entre 1996 e
2007 o crescimento da escolaridade
entre as pessoas negras foi maior do
que entre as brancas.
COTAS NO SUPREMO Desde 2008, tramita no Supremo Tribunal Federal ação
legal que questiona a constitucionalidade da reserva de vagas nas universidades para a população afrodes­cen­dente
ou para os povos indígenas.
ABOLIÇÃO Até a proibição do tráfico de
escravos, em 1850, estima-se que o Brasil tenha recebido até 4 milhões de negros – o que representa 40% de todo o
contingente trazido para as Américas.
A abolição da escravidão não foi acompanhada de políticas públicas de indenização, inserção social ou reparação
– os ex-escravos foram apenas despejados de onde estavam e permaneceram
na condição de pobreza.
2011 atualidades vestibular + enem
185
k
ciências e meio ambiente biodiversidade
Biodiversidade
sob ameaça
Desastres como o vazamento de petróleo no
Golfo do México mostram os impactos das
ações humanas sobre o meio ambiente
Por Mariana Ferreira
186
atualidades vestibular + enem 2011
Alerta nos oceanos
Relatório divulgado pela revista científica Science acredita que mais de 40%
da superfície oceânica esteja sob forte
pressão das atividades humanas e correm o sério risco de se transformar em
desertos biológicos. Os estudos mostraram que os oceanos apresentam mais de
400 zonas mortas, com baixo nível de
oxigênio na água e pouca ou nenhuma
vida marinha.
Estima-se que a população de peixes
grandes e mais lucrativos para a atividade
da pesca comercial, como o atum, o marlin
e as espécies de bacalhau, tenha diminuído em até 90% no decorrer do último
século. Mais de 70% dos recursos pesqueiros estão esgotados ou já excederam
seu limite sustentável. No Brasil, entre as
espécies marítimas mais ameçadas estão
os cações e os meros, a sardinha e as lagostas, que, no passado, eram mais frequentes
no litoral nordestino. A pesca excessiva e
a destruição dos manguezais, nos quais se
localizam algumas das principais fontes
mais importantes de alimento dos peixes,
estão entre as causas da perda de espécies
brasileiras, embora não sejam as únicas.
No caso das sardinhas, por exemplo, há
indícios de outros aspectos ambientais
envolvidos. O problema do declínio da biodiversidade não afeta apenas os ambientes
marinhos, pois em toda parte a interferência do homem
faz com que as esNATUREZA-MORTA
pécies estejam dePássaro coberto de
saparecendo muito
petróleo na costa da
mais rapidamente
Louisiana, no sul dos
do que em épocas
EUA: o desastre atinge
anteriores da vida
diversos ecossistemas
do planeta.
ap/gerald herbert
F
oi um mau início para o Ano Internacional da Diversidade Biológica,
declarado pela Assembleia-Geral da
Organização das Nações Unidas: em 20 de
abril, o Golfo do México foi palco do maior
desastre ecológico da história dos Estados
Unidos. Uma plataforma de petróleo da
empresa britânica Beyond Petroleum (além
do Petróleo, BP, ex-British Petroleum),
localizada a cerca de 80 quilômetros do
litoral do estado da Louisiana, explodiu
e, por uma falha no sistema de segurança,
deixou aberta a tampa do poço de onde
era extraído o petróleo, a 1,5 quilômetro
de profundidade. Dois meses após a explosão, especialistas do governo estimavam
que o óleo jorrava a uma média diária de
até 60 mil barris. A cada quatro dias, esse
volume de vazamento quase equivalia aos
260 mil barris de petróleo que o navio
Exxon Valdez despejou em uma área de
vida selvagem do Alasca em 1989, e que
era até então o pior desastre ambiental dos
EUA (veja gráfico na pág. 188).
Nos meses seguintes, a empresa realizava
diferentes tentativas para tampar o poço.
De acordo com especialistas, era difícil
mensurar os danos ao meio ambiente.
O óleo e os dispersantes (detergentes utilizados para tornar menor as partículas do
óleo de modo que ele se dilua na água e possa ser digerido pelas bactérias marinhas)
poderão afetar gravemente cerca de 2 mil
espécies que vivem nas águas profundas.
Na superfície, o óleo ameaçava o litoral dos
estados do Mississippi, Alabama, Louisiana
e Flórida. Na Louisiana, que abriga 40%
dos pântanos e mangues norte-americanos,
o governo identificou 210 espécies de pássaros, répteis, anfíbios e mamíferos que
poderiam ser afetados pelo vazamento.
2011 atualidades vestibular + enem
187
k
ciências e meio ambiente biodiversidade
Em um ecossistema,
a extinção de uma só
espécie pode provocar
um desequilíbrio geral
HOTSPOTS: A BIODIVERSIDADE EM PERIGO
Regiões ricas em diversidade biológica mais ameaçadas do planeta – 2005
HOTSPOTS *
Zona litorânea
da Califórnia
Espécies ameaçadas
Florestas
chilenas
Nova Zelândia
Anatólia e Irã
Montanhas da
África Oriental
Cerrado
Galápagos e litoral de
Equador e Colômbia
Andes
tropical
Florestas da
África Ocidental
Mata Atlântica
Litoral da Namíbia
e África do Sul
Região da
Cidade do Cabo
Japão
Himalaia
Filipinas
Litoral oeste da Sudeste
Índia e Sri Lanka Asiático
Chifre da África
PolinésiaMicronésia
Malásia e
Indonésia Ocidental
Madagáscar e ilhas
do oceano Índico
Florestas costeiras da África Oriental
Sudeste sul-africano
Indonésia
Central
Sudoeste
da Austrália
Ilhas da Melanésia
Ocidental
Nova Caledônia
Nova Zelândia
Os 34 hotspots concentram
2,3% da
digital globe
superfície terrestre
ÁREAS ATINGIDAS PELO VAZAMENTO DE PETRÓLEO NO GOLFO DO MÉXICO
MISSISSIPPI
Biloxi
ALABAMA
Mobile
Problema global
FLÓRIDA
Pensacola
Panama
City
is
si
ss
ip
LOUSIANA
pi
Nova
Orleans
EUA
Mancha
de óleo
Golfo do México
Local do
vazamento
Óleo nas praias
Pouco Muito
Maiores vazamento de petróleo no mundo Em Barris
Kuweit-1991
5.700.000
I Guerra do Golfo
Golfo do México-20/4/2010 a 15/6/10
3.360.000
Plataforma Deepwater Horizon
México-1979
3.300.000
Plataforma Ixtoc 1
EUA, Alasca-1989
Naufrágio do Exxon Valdez
260.000
Fonte: Oil Spill Intelligence Report e estimativas do governo norte-americano
Valor calculado com
base na estimativa do
governo, de até 60 mil
barris/dia. O vazamento
não tinha sido estancado
até essa data.
São áreas que já perderam, ao menos,
50%
da flora
42%
dos vertebrados
70% da vegetação original
SOB PRESSÃO
Note como as regiões assinaladas no mapa abrangem tanto áreas terrestres quanto marítimas atingidas atualmente pelas ações humanas. Algumas são locais com muita presença humana,
como o sudeste do Brasil, o Japão e a bacia do Mediterrâneo. Há outros locais da Terra densamente povoados, como o continente europeu, que não são considerados hotspots, pois suas
florestas nativas já foram devastadas há muito tempo. Logo, o conceito de hotspot envolve, além da riqueza de fauna e flora, a possibilidade de ainda salvar o ambiente original.
Fonte: Conservation International
M
atualidades vestibular + enem 2011
PolinésiaMicronésia
Montanhas do
sudoeste da China
Bacia do
Mediterrâneo
Florestas da América
Central e do México
o
188
Planaltos
do México
Ilhas do
Caribe
Ri
Existem no mundo cerca de 2 milhões de
espécies vivas já catalogadas, mas estima-se
que o número real seja bem maior – entre
5 milhões e 30 milhões. A cada ano são
descobertas novas espécies de animais e
plantas em algum lugar do planeta.
Tão importante quanto animais, plantas
e microrganismos tomados isoladamente é a maneira como eles interagem para
formar a estrutura e o funcionamento de
um ecossistema. Diante da complexidade
dos processos que ocorrem na natureza, só
agora os estudiosos começam a perceber
como o desequilíbrio de algum componente acaba afetando a sobrevivência do
todo. Assim, para
proteger espécies
MAR DE PETRÓLEO
ameaçadas, é neSatélite mostra a mancha
cessário preservar
de petróleo, a plataforma
o seu ecossistema.
(foco da fumaça) e os
Além disso, evitar
navios de limpeza no mar
a extinção de espé(pontos brancos)
cies e garantir sua
diversidade genética e biológica é fundamental para as populações que dependem delas economicamente. Apesar disso,
até recentemente o Brasil, como ocorreu
com outros países, não valorizava sua biodiversidade ao planejar suas atividades
econômicas. Uma das consequências foi a
destruição de quase toda a mata Atlântica
litorânea, que está reduzida a cerca de 7%
do tamanho original.
Hoje, a mata Atlântica é considerada um
hotspot (ponto quente, em inglês), termo
usado pelos cientistas para designar os
lugares que apresentam alto grau de diversidade biológica e endemismo e devem ser
especialmente protegidos, pois estão ameaçados pela atividade humana (veja mapa
na página ao lado). Além da mata Atlântica,
outro hotspot é o cerrado, pois estima-se
que ele tenha perdido 48% da paisagem
original, devido à expansão agropecuária
para o Centro-Oeste, particularmente no
oeste baiano, sul do Maranhão, Tocantins
e norte de Mato Grosso. Apesar de não ser
considerada um hotspot, a caatinga perdeu
grande parte da área original, 45%.
Montanhas da
Ásia Central
Cáucaso
* No mapa, as gradações de cor são usadas apenas para diferenciar os hotspots geograficamente.
Atualmente, as mudanças que afetam
o ambiente como consequência da ação
humana ocorrem em uma intensidade tal
que a natureza não consegue suportar e
com uma velocidade que não permite a ela
se recuperar nem compensar as perdas.
Isso vale tanto para a perda de indivíduos
de uma espécie quanto para o conjunto.
Assim, o número de espécies animais e
vegetais em extinção está aumentando.
Um grande sinal de alerta sobre os
ataques à biodiversidade foi dado em
2005, com a publicação do documento
Avaliação Ecossistêmica do Milênio, um
diagnóstico solicitado pela Organização
das Nações Unidas (ONU) sobre a saúde
do planeta e sua relação com a manutenção da vida humana. Realizado por
1.360 cientistas de 95 países, inclusive
do Brasil, o relatório conclui que a Terra está passando por um novo período
de extinção em massa ( já houve outros
em diferentes momentos do passado,
por diversos motivos). Os pesquisadores
estimaram que estejam desaparecendo
cerca de 27 mil espécies a cada ano, o
que inclui algumas espécies nem sequer
catalogadas e descritas pela ciência. O
documento afirma que, caso seja mantido
o ritmo atual de devastação ambiental,
dentro de algumas décadas o planeta não
conseguirá fornecer os recursos naturais
em quantidade suficiente à população
humana – por causa principalmente da
poluição e da exploração exagerada desses recursos.
O relatório da União Internacional para
a Conservação da Natureza (IUCN), rede
de organizações de mais de 160 países, estima que mais de 17 mil espécies existentes
na Terra estejam ameaçadas de extinção.
A contagem feita em 2009, referente só a
pássaros, informa que estão ameaçadas
1.222 espécies, ou 20% do total conhecido
no mundo. A lista brasileira mais recente
de animais em risco foi publicada em 2008
e apresenta 627 espécies.
Veja outros fatores que extinguem espécies e diminuem a biodiversidade:
Biodiversidade
O conceito de biodiversidade foi estabelecido pela Convenção da Diversidade
Biológica, assinada durante a Eco 92, no
Rio de Janeiro, e implica:
k conhecer a variabilidade de organismos
vivos existentes em determinado território;
k conhecer o material genético desses
seres vivos.
Líderes políticos, biólogos e ambientalistas utilizam o conceito de biodiversidade
para discutir os rumos do desenvolvimento nas próximas décadas. Assim, a biodiversidade é algo estratégico , que pode ser
útil para atividades agrícolas, pecuárias,
pesqueiras e florestais, além da indústria
de biotecnologia. Concretamente, a biodiversidade é fonte de proteínas, remédios,
cosméticos, material de construção, fibras, roupas e alimentos.
2011 atualidades vestibular + enem
189
Uma espécie exótica
pode se tornar uma
praga ao ser introduzida
em outro ambiente
k Tráfico de animais silvestres, um
problema que é considerado preocupante na América do Sul. Como o valor
da espécie é definido por sua raridade,
o tráfico de animais ameaçados de extinção tornou-se uma das principais
causas de desaparecimento da fauna.
kE
spécies exóticas que são trazidas
para um país por razões econômicas
ou por acidente podem desequilibrar
todo um ecossistema e eliminar espécies nativas. Um problema que se
tornou grave com o intenso comércio
mundial. Insetos, algas e moluscos são
levados na madeira dos caixotes ou no
ar e na água de lastro dos navios. No
Brasil, isso ocorreu, por exemplo, com
a chegada há alguns anos do mosquito
africano Aedes aegypti, vetor da dengue – que levou à atual propagação da
doença –, e do mexilhão-dourado, um
molusco que veio no lastro dos navios
e virou uma praga, incrustando-se
em instalações submersas de usinas
hidrelétricas e fábricas, muitas vezes
impedindo que eles funcionem normalmente.
kA
poluição ambiental com substâncias químicas, como os agrotóxicos,
que contaminam o ar, o solo e os mananciais de água.
kE
xpansão agropecuária, com a derrubada de matas sem a manutenção
de reservas naturais ou fragmentando
ecossistemas em pedaços.
k Intervenções humanas como a expansão de áreas urbanas, a abertura de
estradas, o extrativismo desordenado,
a mineração e a construção de lagos
para represas hidrelétricas.
Mecanismos de proteção
Em contrapartida a essa destruição,
desde a realização da Eco 92, no Rio de
Janeiro, há 18 anos, 191 países e territórios
já assinaram a Convenção da Diversidade
Biológica, que estabelece o direito soberano sobre a variedade de vida contida em
seu território e o dever de conservá-la e
de garantir que sua utilização seja feita de
forma sustentável, ou seja, equilibrada e
190
Resumo
ciências e meio ambiente biodiversidade
atualidades vestibular + enem 2011
Riqueza brasileira
Matar a natureza é
matar o lucro
Gabriela Carelli
Até pouco tempo atrás, as empresas
costumavam atrelar seu nome às causas
verdes principalmente como estratégia
de marketing. (...) demonstrar preocupação com o planeta era uma forma de
lustrar a imagem da companhia e atrair
os consumidores para suas marcas. (...)
Hoje, os custos de ações como essas vão
para a lista de investimentos, já que
podem significar lucros e crescimento
nos negócios. (...) O que mudou? Para
entender o fenômeno, tome-se como
exemplo a Coca-Cola, uma das marcas
mais valiosas do mundo.
Há dez anos, quando anunciou uma
série de investimentos inéditos em
projetos ambientais, a Coca-Cola não
estava preocupada com o derretimento
das geleiras do Ártico nem queria salvar
os ursos-polares ameaçados de extinção.
Diante de estudos que apontavam para
a crescente escassez de água doce no
planeta, a empresa se convenceu de que
ignorar o problema poderia ser perigoso
para o futuro de seu negócio. A água é a
principal matéria-prima para a fabricação
dos mais de 3 000 produtos da marca. A
companhia injetou bilhões de dólares na
criação de métodos e programas de reutilização e tratamento de água em suas
fábricas, em mais de 200 países. (...)
“(...) a escassez de água, a extinção das
espécies e o despejo de podutos tóxicos
afetaram profundamente o funcionamento da sociedade e também o das
empresas”, disse o economista Andrew
Winston (...).
VEJA, 9/6/2010
nova descoberta
O Brasil possui uma das maiores reservas
da diversidade biológica mundial. Estima-se
que o território brasileiro reúna 12% de toda
a vida do planeta. Isso ocorre graças à extensão de terras e mar e aos diversos climas que
contribuem para as diferenças ambientais
que caracterizam os seus biomas.
Nosso país abriga boa parte da maior floresta tropical úmida do mundo – a Amazônica –, com mais de 20 mil espécies vegetais,
e a maior planície inundável – o Pantanal –,
além de biomas como o cerrado, a caatinga
e a mata Atlântica, que contribuem para
essa extraordinária variedade. Além disso,
a costa brasileira inclui recifes de corais,
dunas, manguezais, estuários e lagoas. Assim, uma em cada dez espécies de mamífero
registradas é encontrada aqui, bem como
uma em cada seis espécies de ave, uma em
cada 18 de répteis,
Cientistas identificam
e uma em cada 12
novas espécies na
de anfíbios. Muiregião da Amazônia,
tas são exclusivas
como este pequeno
de nosso território
e curioso inseto
– o que se chama de
“endêmicas” –, pois
não existem em outros lugares. Pode-se
afirmar com razóavel grau de segurança
que o país conta com a flora mais diversa
do mundo. Ela totaliza 40.986 espécies de
planta, de acordo com a Lista de Espécies
da Flora do Brasil divulgada, em 2010,
pelo Jardim Botânico do Rio de Janeiro.
Mas trata-se de um banco de dados em
construção, que não para de crescer. As
plantas brasileiras correspondem a 14% do
total global. Possuímos também mais de
3 mil espécies de peixe de água doce.
Riqueza de espécies por bioma brasileiro
Biomas/grupos taxonômicos
Cerrado
Mata Atlântica
Amazônia
Caatinga
Pantanal
Campos sulinos
* Estimativa • Não há dado disponível
Fonte: Ministério do Meio Ambiente
Flora
12.356
20.000*
21.000*
•
•
•
Peixes
1.000
350
1.800*
185
263
150
Anfíbios
131*
340
206*
49
41
•
Répteis
202
197
550
107
113
110
Aves
837
1.020
1.300
510
463
476
Mamíferos
197
311
311
158
132
102
duradoura. A convenção ressalta a necessidade de repartição justa e equitativa dos
benefícios derivados do uso dos recursos
genéticos entre todos os países e entre
as populações cujo conhecimento foi a
fonte desses recursos – por exemplo,
comunidades que usam plantas de sua
região desde tempos ancestrais, como os
índios brasileiros.
Porém, a questão da compensação financeira pelo conhecimento obtido a partir da
biodiversidade continua a ser motivo de
controvérsia. Ganhou manchete nos jornais
o caso do cupuaçu, que teve um pedido de
patente registrado no exterior por uma
empresa do Japão, apesar de ser típica da
Amazônia. Com a patente, o nome “cupuaçu” e seu uso passariam a ser propriedade
da tal empresa. A contestação de entidades
ambientalistas impediu a aprovação do
registro, pois o uso e as características da
fruta já eram de domínio das comunidades
locais e não envolviam nenhuma inovação
que justificasse o direito de sua exploração
pela companhia japonesa.
Esse é um exemplo da complexidade
envolvida em questões ligadas à biodiversidade. Outro é o estabelecimento
de regras para que os países tenham as
informações necessárias antes de aceitar a importação de organismos vivos
q
Biodiversidade
Saiu na imprensa
pedro viana/geoma/divulgação
k
geneticamente modificados (transgênicos), pois eles podem comprometer
a diversidade biológica local e a saúde
das pessoas. A regulamentação do uso
dos transgênicos ainda é controvertida,
e, por isso mesmo, fica a critério de cada
país tomar medidas para prevenir danos
ambientais decorrentes de seu uso. Mas
já há um documento-base em vigor no
mundo, a Convenção da Diversidade Biológica, também chamada de Convenção
da Biodiversidade. Ela entrou em vigor
no Brasil em 2004 e foi promulgada como
lei em 2006.
Uma das estratégias mais eficientes para
preservar os ecossistemas é a criação de
corredores de biodiversidade, que interligam parques, reservas e áreas privadas
de uso menos intensivo. Eles permitem
que as espécies migrem e garantem a sobrevivência do maior número de animais
e plantas. No Brasil, estão sendo criados
corredores na mata Atlântica, no cerrado-Pantanal e em regiões da Amazônia.
Além disso, o país investe em um sistema
de áreas protegidas federais e estaduais,
que somam 12% do território, além de
terras indígenas e reservas particulares
somando 20% do território. O desafio é
fiscalizar essas áreas e conscientizar os
envolvidos de conservá-las.
u
Conceito Biodiversidade significa
a variabilidade de organismos vivos
de todas as origens existentes nos
ecossistemas terrestres e aquáticos.
O termo inclui a diversidade de genes
contidos em cada espécie e a maneira
como animais, plantas e microrganismos estão organizados e interagem
para formar a estrutura e o funcionamento de um ecossistema.
Importância A biodiversidade fornece
a matéria-prima para produtos essenciais como madeira, alimentos e medicamentos. Traz benefícios indiretos ao
ajudar a manter o equilíbrio do clima,
ao purificar a água e o ar, ao promover a
reciclagem dos nutrientes do solo.
Ameaças O crescimento populacional e as ações humanas sobre o meio
ambiente estão extinguindo espécies
numa velocidade em que é impossível
à natureza fazer reposição, pois o surgimento das espécies e a biodiversidade que temos demandaram milhões
de anos. As grandes causas para isso
são a expansão urbana e a ocupação
desordenada dos territórios, o desmatamento para expansão agropecuária,
a poluição dos solos e dos rios, o tráfico
de animais silvestres, a exploração
abusiva dos recursos naturais e a introdução nos ecossistemas de espécies
retiradas de outro ecossistema.
Brasil Nosso país é um dos mais ricos
em biodiversidade no mundo e abriga cerca de 20% de todas as espécies
conhecidas. Mas também é aqui que
ficam dois dos hotspots do planeta
– áreas riquíssimas em biodiversidade ameaçadas de destruição: a mata
Atlântica e o cerrado.
Convenção da bioDiversidade
Ela foi assinada durante a Conferência
das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, a Eco 92,
relizada no Rio de Janeiro. Estabelece o
direito das nações sobre a variedade de
vida contida em seus territórios e o dever
de conservá-la e de garantir que sua
utilização seja feita de forma sustentável. O Brasil assinou e ratificou essa
convenção, tornando-a lei em 2006.
2011 atualidades vestibular + enem
191
k
ciências e meio ambiente água
afp/vyacheslav oseledko
todo o tempo. Tudo depende do equilíbrio
entre a renovação e o consumo.
Fatores naturais limitam o volume de
água disponível para a espécie humana.
Muitos povos vivem em zonas áridas, e
mesmo regiões com bons recursos hídricos passam por secas que afetam os
mananciais. Isso sempre foi assim. A
diferença, na situação atual, é que enfrentamos uma ameaça de escassez crônica de
proporções globais cuja grande causa são
as atividades humanas. O consumo crescente e o desperdício, a contaminação
dos mananciais e as alterações climáticas
desequilibram a relação entre a oferta e a
demanda de água potável. A crise da água
é menos uma questão de escassez real, e
mais de mau gerenciamento do uso desse
recurso. A falta de água põe em risco
não só a saúde humana como também
o desenvolvimento socioeconômico e o
bem-estar de toda a sociedade.
Avaliar o volume total de água do planeta e a taxa de
MAR DE ARAL
consumo é uma ciência pouco exata.
Camelos passeiam no
Ainda assim, a estileito seco, onde antes
mativa do volume
havia água. Abaixo,
de água potável a
fotos de satélite: a
que o homem tem
areia vai dominando
acesso apresenta
O esgotamento das reservas de água do planeta
não é causado por fatores naturais, mas pelo
mau gerenciamento das fontes e de seu uso
A
s imagens desta página surpreendem. Infelizmente, trata-se de um
dos maiores desastres ambientais
do mundo moderno, que já ocorre há décadas sem que ninguém consiga brecá-lo.
O mar de Aral, na Ásia Central, que era o
quarto maior lago do planeta até 1960, com
68 mil km2, está secando e já perdeu 90%
do volume. A responsabilidade é toda do
ser humano: a causa da catástrofe é o uso
192
atualidades vestibular + enem 2011
descontrolado dos recursos naturais, com
o desvio de seus principais afluentes para
irrigar plantações em áreas desérticas.
A morte do mar de Aral é um alerta
mundial, pois, com a humanidade chegando a quase 7 bilhões de pessoas, tornou-se
uma questão de primeira importância a
gestão dos recursos hídricos, de forma a
garantir a cada indivíduo água potável e
tratada para uma boa qualidade de vida.
Hoje, podemos dizer que o planeta já
enfrenta uma crise de água. Isso não significa que a água da Terra esteja chegando ao
fim. O volume que circula por mares, rios
e lagos, mais o que é guardado nos depósitos subterrâneos, como gelo nas calotas
polares ou como umidade da atmosfera,
não varia. Está em eterno processo de
reciclagem natural: evapora, desaba como
chuva, escorre para o fundo da terra e
retorna para a superfície, de onde volta a
evaporar, num ciclo perpétuo. Por isso a
água é um recurso renovável. Afora uma
pequena parcela trazida do espaço sideral por cometas que eventualmente se
chocaram com a Terra, a água que hoje
usamos para matar a sede e para o banho
é composta das mesmas moléculas que
formaram os mares em que nadaram os
primeiros peixes, o gelo que recobriu o
planeta nas eras glaciais e a chuva que
molhou os dinossauros. No entanto, um
recurso renovável não se mantém, necessariamente, inesgotável e de boa qualidade
1977
1989
2006
nasa
O líquido
mais precioso
Renovável, mas limitado
valores bem aceitos na comunidade científica. Do total de 1,39 bilhão de quilômetros cúbicos de água que reveste o globo
(e cobre três quartos da superfície), apenas
2,5% são de água doce (35 milhões de quilômetros cúbicos). A maior parte da água
doce está congelada nas geleiras e calotas
polares ou em depósitos subterrâneos.
A proporção da água a que o homem tem
acesso fácil – a superficial, de rios, lagos e
pântanos – é de, no máximo, 0,4% da água
doce existente (veja infográfico na próxima
página). Contamos com pouco mais de
100 mil quilômetros cúbicos para matar
a sede, cuidar da higiene, gerar energia e
produzir alimentos e bens industriais.
Não é exatamente pouca água, mas,
segundo o Programa para o Meio Ambiente da Organização das Nações Unidas
(Unep), cerca de 1,2 bilhão de pessoas no
mundo – ou seja, um a cada seis indivíduos
– não têm acesso à água limpa e em quantidade suficiente para garantir a saúde e o
desenvolvimento social e econômico.
Fatores naturais respondem por parte dessa escassez, pois a natureza não
distribui a água de maneira equilibrada
pelo mundo. Enquanto há regiões com
recursos hídricos em abundância, outras
não dispõem do mínimo diário de 20 a
50 litros por pessoa recomendado pela
2011 atualidades vestibular + enem
193
ciências e meio ambiente água
Vários aquíferos e bacias
hidrográficas abrangem
mais de um país e devem
ser geridos em conjunto
Organização das Nações Unidas (ONU).
Compare: enquanto cada habitante da
Islândia tem disponíveis mais de 600
milhões de litros por ano, um morador do
Kuweit depende inteiramente da importação de água. A escassez do recurso em
algumas zonas do globo – particularmente na África e no Oriente Médio – é tão
grande que acaba sendo uma das causas
de conflitos armados.
utilização de água suja ou contaminada,
como a diarreia e a cólera.
Fatores como o crescimento demográfico, o desenvolvimento econômico,
a urbanização e as alterações climáticas
constituem o que se chama de pressões
humanas sobre a água. São atividades que
provocam grandes alterações no ciclo hidrológico: a natureza acaba não dispondo
do tempo necessário para reciclar a água
dos mares para a atmosfera e desta para
os rios que abastecem os reservatórios. As
perspectivas não são animadoras: estimase que, em 2025, 1,8 bilhão de pessoas
estarão vivendo em zonas secas e dois
terços da humanidade estarão sujeitos a
alguma restrição no acesso à água.
Consumo humano
Conflitos
Junte-se às limitações naturais a pressão do consumo humano. Enquanto nos
últimos 60 anos a população mundial
duplicou, o consumo de água cresceu
sete vezes. Isso não significa apenas mais
torneiras, descargas sanitárias e chuveiros nas residências, mas também que as
sociedades precisam gerar mais energia
e produzir mais, tanto no campo quanto
nas fábricas. O crescimento industrial
tem grande peso na queda do nível dos
rios e aquíferos. Por isso, quanto mais rica
é uma população, maior é o consumo de
água por cabeça.
A disparidade entre o consumo de
água por ricos e pobres constrói uma
lógica perversa. À população carente
sem acesso ao serviço de fornecimento
de água restam duas tristes opções: ou
longas caminhadas diárias até poços e
reservatórios ou a compra de água de
fornecedores particulares. Nas duas
situações, o custo é imenso: estima-se
que os africanos gastem 40 bilhões de
horas a cada ano só na coleta de água em
pontos distantes e em transporte para o
uso. É um tempo precioso, muito mais
bem aproveitado se fosse destinado à
produção de riquezas.
Em termos financeiros, a população
pobre de países em desenvolvimento
leva a pior: em média, paga entre dez e
20 vezes mais pela água comprada de
particulares do que as camadas mais altas
da população, que têm acesso à rede de
água e esgoto. O resultado final é trágico:
as populações mais pobres do planeta
apresentam altos índices de mortalidade e de incidência de doenças ligadas à
194
atualidades vestibular + enem 2011
Historicamente, recursos hídricos são
focos potenciais de guerras, revoltas e
atentados terroristas, principalmente
quando estão em áreas em que a escassez
hídrica é natural ou no subsolo de dois
ou mais países – estudo aponta a existência de 273 aquíferos que ultrapassam
fronteiras. A falta de água impacta as
relações entre as nações e a dinâmica
das migrações internacionais. Há especialistas que afirmam: o principal motivo
para as guerras no século XXI não será
mais o ouro, o petróleo ou qualquer outra riqueza mineral, mas a água, que se
tornou o líquido mais precioso.
Além dos aquíferos, existem 163 bacias hidrográficas transnacionais, que
abrangem 145 países, com mais de 40%
da população mundial. Em regiões como
Oriente Médio, Ásia Central e África, o
domínio sobre essas fontes é uma questão
de sobrevivência, que, se não for bem
equacionada, pode criar um contingente
de 100 milhões de refugiados nos próximos 20 anos.
Não é de hoje que a água motiva conflitos. O Instituto Pacífico, especializado
no assunto, contabilizou 50 episódios de
confronto militar ou ataque terrorista
pelo mundo relacionados ao acesso a
recursos hídricos desde 2000.
Nem sempre a água aparece claramente como o pomo da discórdia, mas é um
dos motivos por trás de vários conflitos,
como os embates entre China e Tibete.
O platô tibetano guarda imensa reserva
de águas de glaciares, que alimentam dez
dos maiores rios da Ásia, como o Mekong
e o Amarelo. No Oriente Médio, a Síria
SE PUDÉSSEMOS JUNTAR EM ESFERAS
TODO O VOLUME DE ÁGUA DO PLANETA,
O DIÂMETRO DE CADA UMA SERIA…
406 km
Diâmetro médio da Terra = 12.700 km
58 km
1.385 km
Volume da Terra = 1,07 trilhão de km3
Volume de
toda a água
do planeta
1,39 bilhão de km3
Volume da
água doce
do planeta
35 milhões de km3
Volume da
água doce
superficial
104,6 mil km3
A PORÇÃO MAIS
UTILIZADA PELA
HUMANIDADE
ATENçÃO COM AS CONVERSÕES
Não se confunda com o número de zeros na transformação de m3 em km3 e em litro (L)
Volume em m3
Volume convertido em litros (L)
1m.1m.1m=1m
1.000 L
Volume em km3
Volume convertido para m3
1 km . 1 km . 1 km = 1 km3
1.000 m . 1.000 m . 1.000 m = 1.000.000.000 m3 = 1,0 . 109 m3
3
multi/sp
k
A bolinha acima pode
parecer pouca coisa,
mas, se dividíssemos
a água que existe
aqui entre os 6,7
bilhões de seres
humanos, cada um
receberia
570 litros de água por
dia, durante 75 anos.
Fonte: USGS e Nasa
2011 atualidades vestibular + enem
195
k
Resumo
ciências e meio ambiente água
briga com a Turquia e o Iraque pelo controle da bacia dos rios Tigre e Eufrates.
Dona das nascentes, a Turquia represou
o Eufrates para gerar eletricidade e irrigar plantações, diminuindo em muito
o volume de água que chega aos países
localizados na parte baixa do rio.
Um dos casos mais persistentes de
disputa pela água envolve, há décadas,
israelenses, palestinos, sírios e jordanianos. Israelenses e palestinos brigam
pelos lençóis da Cisjordânia. Até 1967,
os palestinos tinham acesso livre a essas
fontes. Israel também ocupou as colinas
de Golã, da Síria, onde brota o rio Jordão.
Exaurido pela mineração e irrigação em
pleno deserto, o Jordão está minguando.
Apenas um terço de seu volume original
chega ao mar Morto, que por isso também
está secando.
Como se gasta água?
Bastam 50 litros por dia para uma
pessoa manter a higiene, matar a sede
e preparar as refeições. Mas, quando se
inclui no cálculo a água necessária para
produzir os alimentos básicos que chegam à nossa mesa, cada cidadão precisa
de muito mais do que isso – algo em torno
de 2,7 mil litros por dia. Isso significa
que, no período de um ano, cada cidadão
deve ter garantido no mínimo 1 milhão de
litros de água – o que representa cerca de
ÁGUA VIRTUAL
As cores no mapa-múndi indicam a disponibilidade hídrica nas diferentes regiões do planeta
É a quantidade de água usada, direta ou indiretamente, na produção de algo.
Veja quantos litros de água virtual existem em alguns produtos
A escassez física está muito
associada a extensas áreas de
AGRICULTURA IRRIGADA, como o
sul da Índia, o norte da China e
as planícies da América do Norte
Anna Paula Buchalla
O corpo humano é composto de 60% de
água. Ela participa de praticamente todos
os processos orgânicos: da regulação da
temperatura ao bom funcionamento do
cérebro e dos músculos. Por isso hidratarse - repor a água perdida na urina e na
transpiração - é tão vital, como não se
cansam de dizer os médicos. Tornou-se comum, no entanto, afirmar que a ingestão
de água traz outros benefícios. Diz-se, por
exemplo, que ela desintoxica e até ajuda
a emagrecer. Ainda não há comprovação
científica dessas teses. (...)
Recomenda-se beber líquidos no mesmo volume de calorias consumidas. Para
196
atualidades vestibular + enem 2011
32 litros
Microchip
(2 g)
140 litros
10 litros
2.000 litros
200 litros
2.325 litros
8.000 litros
Xícara de café
(125 ml)
Copo de leite
(200 ml)
Em algumas regiões,
a carência de água
leva a CONFLITOS
ARMADOS, como em
alguns países da África
e do Oriente Médio
A falta de água ocorre também em
AGLOMERADOS POPULACIONAIS, em áreas áridas e
semiáridas e em centros urbanos em rápida expansão
Fontes: New Scientist e WRI
Folha de papel A4
(80 g/m2)
Carne bovina
(150 g)
Camiseta de
algodão (250 g)
Par de sapatos
de couro
Em produtos de origem
animal, a maior parte da
água virtual vem da
produção da ração que
alimenta a criação
Fontes: R.L.Carmo, A.L.R.O.Ojima, R.Ojima e T.T.Nascimento; Hoekstra e Chapagain e Water Footprint Network
A agropecuária consome
70% da água, vindo em
seguida a indústria (22%)
e o uso doméstico (8%)
Saiu na imprensa
Sete mitos sobre o
consumo de água
Água
ONDE FALTA ÁGUA
não há falta
ameaça de escassez
escassez moderada
grave escassez
sem dados disponíveis
uma dieta de 1 200 calorias, 1,2 litro de
água. “Não precisamos de mais água do
que a sede solicita”, afirma. É preferível
tomar pequenas doses ao longo do dia a
ingerir uma grande quantidade de uma
vez. E deve-se lembrar que os alimentos
também ajudam na hidratação. (...)
Por muito tempo, a recomendação
do Colégio Americano de Medicina Esportiva era que os atletas deveriam
tomar o máximo possível de líquidos
durante o exercício físico para evitar a
desidratação. Agora, o que se sabe é que
água em excesso provoca a diluição do
sódio. É o mineral que ajuda a conduzir
os impulsos elétricos para os músculos,
inclusive o do coração.
Veja, 2/9/2009
dois quintos do volume de uma piscina
olímpica. Populações que têm acesso
a menos que isso vivem em regime de
escassez hídrica.
Cerca de 290 milhões de pessoas estão
em países com escassez hídrica – a maioria no Oriente Médio e no norte da África,
regiões com alta densidade demográfica e
de água naturalmente rara, pois têm clima
seco ou desértico e poucas fontes. Outros
440 milhões vivem em zonas de estresse
hídrico, ou seja, têm oferta disponível de,
no máximo, 1,7 milhão de litros por ano
por habitante.
A água que se usa em casa, aquela que
sai das torneiras e chuveiros, representa
uma pequena parcela de tudo o que cada
cidadão consome – no total, apenas 8%
do consumo mundial. Para o consumidor
doméstico, os restantes 90% vêm na forma de uma água invisível, que está dissolvida nos mais variados produtos que
consumimos e atividades que realizamos.
A agricultura é, de longe, a responsável
pelo maior consumo de água. Cerca de
70% do que é extraído dos rios e aquíferos se destina à produção agropecuária
– seja na forma da água que irriga as
plantações, seja na que mata a sede dos
animais. A indústria é responsável pelos
22% restantes do consumo.
Água virtual
q
Agora, pense no seguinte: tudo o que
a sociedade moderna consome – de alimentos e automóveis a eletricidade e
petróleo – só existe porque a água foi
usada, como matéria-prima ou como
insumo, na produção do bem ou do serviço. É o que se chama de água virtual
(veja o quadro acima).
O total de água consumida direta ou
indiretamente por um indivíduo ou toda
uma população em determinado período
recebe o nome de pegada hídrica. A pegada hídrica leva em conta não apenas a
água agregada aos produtos, mas também
o volume poluído na cadeia produtiva.
É possível calcular a pegada hídrica de
um produto, de um grupo de produtores
e de uma nação. Com esses conceitos –
água virtual e pegada hídrica –, fica fácil
entender que, quanto mais desenvolvida
e industrializada é uma nação, maior é
sua demanda por água.
Nem todas as nações deixam uma pegada hídrica equivalente à disponibilidade
de água em seu território. A razão é a
importação de bens: os países pobres em
água compram do estrangeiro alimentos e
produtos industriais e, com eles, importam
– na forma de água virtual – os recursos
de bacias hidrográficas de outras regiões
do globo. A Jordânia, por exemplo, retira
a cada ano apenas 1 bilhão de metros cúbicos de água de seus rios e aquíferos, que
se encontram em exaustão. Mas consome
de cinco a sete vezes mais água (na forma
virtual), contida nos produtos que ela
importa. É por esse mecanismo que os
chineses afetam indiretamente as bacias
hidrográficas brasileiras quando compram nosso frango e, no sentido inverso,
os brasileiros consomem parte da água das
bacias chinesas em cada eletroeletrônico
made in China. A globalização, que tornou interdependentes os mercados pelo
globo, reforçou, também, um comércio
internacional de água virtual.
O comércio de água virtual tem vários aspectos. O fator positivo é que essa
transferência desse recurso entre as nações alivia a escassez hídrica nos países
mais carentes de água. A exportação,
nesse caso, democratiza um bem natural.
Por outro lado, a produção de alimentos
para vender a outras nações exerce nos
países exportadores pressão sobre os
mananciais, que um dia podem vir a se
esgotar. Por fim, uma vez que a agricultura consome muito mais água do que a
indústria, as nações exportadoras de alimentos degradam suas reservas hídricas
mais do que as industrializadas.
u
ESCASSEZ Do total de 1,39 bilhão de
quilômetros cúbicos de água da Terra,
menos de 1% é potável e de fácil acesso
à humanidade. Mas a crise de água
é menos uma questão de escassez
natural do que de mau gerenciamento
desse recurso natural. O crescimento
demográfico, as alterações climáticas
e a rápida urbanização do planeta
estão entre os principais fatores que
pressionam o ciclo hidrológico: consumimos água mais rápido do que a natureza tem capacidade de repô-la.
CONFLITOS A ONU identifica 273
aquíferos e 163 bacias hidrográficas
transnacionais, que abrangem 145
países, onde vivem mais de 40% da
população mundial. Vários desses
lugares registram focos de guerras
e revoltas populares que têm entre
suas causas a escassez de água. A disputa pelo controle de rios e aquíferos
integra as causas de alguns dos mais
longos embates entre nações, como a
guerra entre judeus e palestinos.
USOS Quanto mais rica uma nação,
maior o consumo de água por habitante. Países que não detêm fontes
suficientes para a agricultura importam água virtual (contida na produção de alimentos) de outras nações.
A exportação de água virtual ameaça
as reservas dos países produtores.
MERCADORIA A água é um bem natural a que toda a humanidade tem
direito. No entanto, a escassez crescente faz com que governos passem a
cobrar por seu uso. As populações mais
pobres do planeta, sem serviços de
abastecimento nem saneamento, são
obrigadas a pagar caro pela água.
ÁGUA VIRTUAL É a quantidade de
água necessária para produzir determinado bem. Países em regiões secas,
como os do Oriente Médio, importam
água virtual ao comprar mercadorias
de outras nações, como alimentos e
bens industriais. Como se usa muita
água na agricultura, países que exportam produtos agrícolas utilizam mais
seu manancial do que os que vendem
bens industriais.
2011 atualidades vestibular + enem
197
k
ciências e meio ambiente Transgênicos
PARECE IGUAL
Milho geneticamente
modificado para resistir
às pragas, em fazenda
de Santa Cruz das
Palmeiras (SP)
A expansão dos
transgênicos
Briga política
P
oucos assuntos científicos despertam tanta polêmica como os transgênicos – organismos vivos com
modificações genéticas. Muitas pessoas
fazem ataques acalorados a eles, enquanto
outras não se importam e grandes corporações juram que são a maravilha do século.
O fato é que, além das questões técnicas, o
acirramento das disputas entre os que são
a favor e contra os transgênicos – também
chamados OGMs (organismos geneticamente modificados) – envolve aspectos
políticos, econômicos, culturais, éticos,
ambientais e de saúde.
Presença antiga
Para começar, os transgênicos, para o
bem ou para o mal, já são uma realidade
há tempos. Mais especificamente, a partir
da década de 1970, quando o desenvolvimento da tecnologia do DNA recombinante permitiu a introdução intencional
de genes com função reconhecida de um
organismo para outro. Isso deu origem às
alterações no genoma, ou seja, fez com
que informações genéticas codificadas
no DNA do organismo pudessem ser alteradas. Diferentemente das técnicas de
melhoramento clássico, conhecidas há
séculos, que consistem na transferência
de genes entre organismos por meio de
cruzamentos (reprodução sexual) ou de
combinações aleatórias, a biotecnologia
moderna permitiu a troca de genes de espécies diferentes de maneira previsível.
198
atualidades vestibular + enem 2011
Exemplos de substâncias ou produtos
fabricados por meio da introdução intencional de genes de um organismo em
outro podem ser encontrados às centenas
na medicina, como é o caso da insulina
humana, essencial para os portadores de
diabetes, produzida a partir de bactérias.
Calcula-se que existam mais de 130 drogas
ou vacinas que foram criadas pelas técnicas de DNA recombinante, utilizadas para
o tratamento ou prevenção de doenças.
Há também inúmeros outros exemplos
de aplicação da técnica com o uso de microrganismos visando à biodegradação
de lixo e esgoto, à recuperação de solos
contaminados, ao tratamento de efluentes
industriais e à purificação da água, que
não são objetos de controvérsia.
Prós e contras
Os problemas começam quando a tecnologia envereda para a agricultura, dando
origem a plantas com genes de bactérias
que lhes conferem características como
resistência a pragas e herbicidas ou conteúdo maior de nutrientes. Os defensores
das plantas transgênicas dizem que a tecnologia leva a alimentos mais produtivos
e resistentes e reduz o uso de pesticidas,
utilizando menos recursos naturais e melhorando a vida dos agricultores. Grandes
empresas como a Monsanto e a Basf investem nessa tecnologia esperando lucrar
com o desenvolvimento de sementes e
defensivos agrícolas mais eficientes.
divulgação/monsanto
Lavouras com organismos geneticamente
modificados crescem em importância,
e o Brasil já é o segundo produtor mundial
Os ambientalistas, por outro lado, argumentam que a transferência de genes
pode provocar uma eventual contaminação de ecossistemas e comprometer
a biodiversidade. Os principais pontos
de preocupação são a capacidade de sementes modificadas escaparem da área
de cultivo e contaminarem espécies silvestres. Por exemplo, uma planta com
gene resistente a certas toxinas poderia
eventualmente matar organismos vivos,
vegetais e animais, o que atingiria duramente um ecossistema. Causa preocupação também a possibilidade de as
sementes modificadas afetarem plantações vizinhas que não tenham espécies
transgênicas e até áreas nativas.
Argumenta-se que os transgênicos
podem intoxicar espécies animais e vegetais com seus componentes e que a
resistência adquirida aos pesticidas faz
com que sua utilização, após alguns anos,
exija um aumento do uso de produtos
químicos na agricultura, causando impactos ambientais ainda maiores. No
plano da saúde, teme-se o aparecimento
de alergias, intolerâncias alimentares e
outros problemas fisiológicos em reação
às manipulações genéticas, embora, até
agora, nada tenha sido constatado.
A Organização para a Agricultura e a
Alimentação da ONU (FAO) justifica o
uso das biotecnologias agrícolas – nas
quais os OGMs estão incluídos – como
uma saída à fome e à escassez de alimentos, sobretudo nos países pobres. Mas
faz restrições à forma como as pesquisas
estão sendo realizadas, considerando
que, em vez de melhorar o valor nutricional de culturas importantes para a
alimentação, como o arroz e a mandioca,
a indústria desenvolveu quatro variedades principais de transgênicos: algodão,
milho, canola e soja, justamente os que
têm maior valor comercial (há ainda
variedades de batata e algumas frutas,
como papaia). Para a FAO, o principal
problema dos transgênicos é o fato de a
técnica não ter chegado aos agricultores
pobres e ter sido guiada sobretudo por
interesses econômicos.
A resistência aos transgênicos adquire
contornos políticos. Há alguns anos, pressionados por uma crise ambiental e pela
fome, países africanos receberam doação
de alimentos transgênicos dos Estados
Unidos e foram criticados por organizações ambientalistas e de produtores
agrícolas. Na Europa, onde os partidos
verdes e as organizações ambientalistas
são muito atuantes, os transgênicos provocam fortes polêmicas. Só em 2010, após 12
anos em que nenhum OGM foi autorizado,
permitiu-se o cultivo de uma batata geneticamente modificada, para a fabricação de
ração animal e de três variações de milho,
para produção de alimentos.
Segundo a FAO, a realidade dos transgênicos indica que até agora essa tecnologia
atende a poucos problemas (resistência
aos insetos e tolerância a herbicidas) e
sua adoção ainda resulta em poucos benefícios evidentes para o consumidor e em
falta de segurança sobre a sua inocuidade.
A organização internacional frisa que a
preocupação sobre os efeitos dos transgênicos nos ecossistemas é justificada,
e, portanto, esses produtos têm de ser
cuidadosamente regulamentados. Isso
já é regra: a maioria dos países, mesmo
aqueles, como os Estados Unidos, onde
o incentivo aos transgênicos é maior,
adota protocolos de biossegurança antes de autorizar a liberação do plantio
de sementes modificadas. Como cada
OGM inclui genes distintos, considera-se
que os alimentos transgênicos devem ser
avaliados caso a caso.
No âmbito internacional, o Protocolo
de Cartagena sobre Biossegurança é um
tratado que faz parte da Convenção sobre
Diversidade Biológica (CDB) e busca
estabelecer as regras do comércio de
transgênicos, por meio de medidas de
segurança e identificação clara desses
produtos destinados à exportação. Mas
ainda não foram estabelecidas essas regras, que ficaram para ser decididas nas
próximas reuniões da CDB.
2011 atualidades vestibular + enem
199
k
Resumo
ciências e meio ambiente Transgênicos
OS TRANSGÊNICOS NO MUNDO
Saiu na imprensa
Principais países, suas culturas transgênicas e área de cultivo
Após 12 anos, Europa
aprova batata e milho
transgênicos
CANADÁ
8,2 milhões de hectares
Canola, milho, soja, beterraba
ESTADOS UNIDOS
64 milhões de hectares
Soja, milho, algodão,
canola, abóbora, papaia,
alfafa, beterraba
CHINA
3,7 milhões de hectares
Algodão, tomate, álamo,
papaia, pimentão
ÍNDIA
8,4 milhões de hectares
Algodão
PARAGUAI
2,2 milhões de hectares
Soja
BRASIL
21,4 milhões de hectares
Soja, milho, algodão
ÁFRICA DO SUL
2,1 milhões de hectares
Soja, milho, algodão
ARGENTINA
21,3 milhões de hectares
Soja, milho, algodão
A União Europeia aprovou ontem, pela
primeira vez em 12 anos, o plantio de
espécies transgênicas no continente.
O produto aprovado foi uma batata
geneticamente modificada da empresa
alemã Basf. A decisão atende a solicita­
ções americanas por um mercado mais
aberto na Europa.
A variedade aprovada, batizada de
Amflor, será usada na produção de
amido industrial para a fabricação de
papel, adesivos e têxteis. O produto
sofre objeções de grupos ambientalis­
tas. A decisão sinaliza maior desejo das
autoridades europeias de retirar obstá­
culos que companhias de biotecnologia
enfrentavam para expandir o mercado
global de culturas transgênicas, que
movimenta quase R$ 19 bilhões.
Também foram aprovadas três varieda­
des de milho da americana Monsanto que
serão usadas na produção de alimentos.
Em 2004, a União Europeia aprovou a
importação de alimentos transgênicos
depois de seis anos de proibição. Mas
ainda não permitia o cultivo.
O presidente de Portugal e da Comis­
são Europeia, José Manuel Barroso,
tenta vencer a resistência de mais da
metade dos 27 países que pertencem
ao grupo. Pesquisas mostram oposi­
ção de consumidores europeus, que
temem riscos, como o aumento da
resistência de bactérias a antibióticos
ou o surgimento de ervas daninhas
imunes a herbicidas.
O Estado de S. Paulo, 3/3/2010
Fonte: ISAAA
Onde eles existem
MAIORIA DA SOJA JÁ É TRANSGÊNICA
Total de área cultivada de certas culturas no mundo,
transgênica e convencional, em 2009
180
Transgênico
Convencional
160
140
158 milhões
de hectares
26%
120
100
90 milhões
de hectares
Área plantada por grandes grupos de países
(Milhões de hectares)
60
40
20
160
74%
77%
33 milhões
de hectares
31 milhões
de hectares
49%
21%
23%
51%
Soja
Algodão
79%
140
Total
120
Países ricos
100
Países em desenvolvimento
80
60
40
Milho
Canola
IMPORTÂNCIA Veja como os transgênicos já são
importantes em algumas das principais culturas no
mundo. Comparando este gráfico com o mapa, vemos
como a lavoura da soja, cuja maior parte hoje é
transgênica, está presente em quase todos os países.
Fonte: ISAAA
200
em inglês) mostrou que o Brasil é o segundo maior produtor de transgênicos
do planeta, com 21,4 milhões de hectares
plantados, ou seja, 16% do cultivo total
de transgênicos no mundo. A área significa mais de 5% das terras usadas na
agricultura brasileira.
No ranking global, feito com dados
relativos a 2009, o Brasil ultrapassou a Argentina e ficou atrás apenas dos Estados
Unidos (64 milhões de hectares). Esse
PLANTIO CRESCE MAIS NOS PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO
80
0
Calcula-se que seis países contem com
mais de 95% da área total de plantações
de transgênicos no mundo: Estados Unidos, Brasil, Argentina, Índia, Canadá e
China. Paraguai e África do Sul também
têm lavouras, e há algumas nações com
produção pouco expressiva. Um estudo
recente apresentado pelo Serviço Internacional para Aquisição de Aplicações
em Agrobiotecnologia (ISAAA, na sigla
atualidades vestibular + enem 2011
20
0
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
VELOCIDADE Note como, no início do plantio comercial de transgênicos, até 1999, o grande crescimento foi nos países ricos
(EUA e Canadá). Depois, as culturas de transgênicos passaram a crescer mais rapidamente nos países em desenvolvimento.
Fonte: ISAAA
crescimento causa preocupação entre os
ambientalistas, que acusam as grandes
corporações de lobby para aprovação
de novos produtos na Comissão Técnica
Nacional de Biossegurança (CTNBio). A
comissão foi criada após a aprovação da
Lei Nacional de Biossegurança, de 24 de
março de 2005, que regulamenta o uso
de transgênicos e estabelece normas de
segurança e mecanismos de fiscalização
de atividades que envolvam os OGMs.
Em 2003, foi publicado o decreto de
rotulagem (4.680), que obriga empresas
da área de alimentação, produtores e
quem mais trabalhe com venda de alimentos a identificar, com um T preto
sobre um triângulo amarelo, os alimentos com mais de 1% de matéria-prima
transgênica, uma vez que eles parecem
iguais aos convencionais. A resistência
das empresas foi grande, e muitas permanecem até hoje sem identificar os OGMs
em seus produtos; enquanto isso, correm
no Congresso projetos de lei para anular
essa regulamentação.
O primeiro transgênico a inaugurar a
polêmica dos alimentos no Brasil foi a
soja. Introduzida na década de 1990 no
país, com sementes contrabandeadas da
Argentina e do Paraguai, o grão ganhou
um gene de bactéria resistente ao glifo-
sato, um potente herbicida utilizado para
matar ervas daninhas. Com o nome de
Roundup Ready, o herbicida é fabricado
pela Monsanto, a mesma empresa que
desenvolveu a soja resistente. O negócio funciona assim: o agricultor planta
a soja resistente ao herbicida e usa-o
largamente para matar as ervas daninhas,
preservando a saúde da soja. Como isso
torna as plantações mais rentáveis, logo
a soja transgênica se expandiu por todo
o país, de tal forma que, em 2005, seu
plantio foi autorizado pelo governo.
Atualmente, quase 70% da soja brasileira é transgênica, e o mercado é dominado
pela multinacional. Já existem manifestações de que a resistência da planta ao glifosato dissemina ervas daninhas também
imunes ao herbicida. Por isso, aguarda-se
para a safra de 2012 o cultivo da variedade
desenvolvida pela Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária (Embrapa) em
parceria com a Bayer. Além disso, o Brasil
tem 11 variedades de milho geneticamente
modificado aprovadas pela CTNBio e seis
de algodão transgênico. Parte dos produtos
aprovados, porém, ainda não foi lançada
no mercado, uma vez que a autorização é
recente. Mas sementes de milho e algodão
resistentes, ambas da Monsanto, já são
plantadas em larga escala.
u
q
Transgênicos
Transgênicos Também chamados
de organismos geneticamente modi­
ficados (OGMs), são organismos nos
quais foram introduzidos genes de
outras espécies, com o objetivo de
atribuir a eles novas características
no caso dos grãos, resistência a pragas
e herbicidas.
Polêmica No caso de plantas, ambien­
talistas temem o risco de contamina­
ção de lavouras convencionais pelos
genes modificados e a falta de estudos
que comprovem que o consumo desses
produtos não traz risco à saúde nem
ao meio ambiente. As grandes corpo­
rações, que são a favor, argumentam
que os transgênicos levam a alimentos
mais produtivos e resistentes e redu­
zem o uso de pesticidas, utilizando
menos recursos naturais e melhorando
a vida dos agricultores.
Regulamentação No Brasil, o plan­
tio de transgênicos ocorre oficialmente
desde 2005, quando foi aprovada a Lei
de Biossegurança, e está sujeito à apro­
vação da Comissão Técnica Nacional de
Biossegurança (CNTBio), que assesso­
ra o governo federal nas questões de
biotecnologia.
Produção Seis países respondem por
quase todas as plantações de transgêni­
cos no mundo: Estados Unidos, Brasil,
Argentina, Índia, Canadá e China. Estu­
do recente mostrou que o Brasil é o se­
gundo maior produtor de transgênicos
do planeta, com 21,4 milhões de hecta­
res plantados, ou seja, 16% do cultivo
no mundo, atrás apenas dos Estados
Unidos. O Brasil tem duas variedades
de soja, 11 de milho e seis de algodão
geneticamente modificadas aprovadas.
Mas apenas três estão sendo utilizadas,
sendo uma de cada planta.
Rotulagem Prevista em lei desde
2003, a rotulagem dos transgênicos
não é respeitada por muitas empresas
no Brasil. Elas não são fiscalizadas e
falta informação aos consumidores. A
rotulagem prevê a identificação de pro­
dutos que contenham matéria-prima
transgênica a portar um “T” preto sobre
um triângulo amarelo.
2011 atualidades vestibular + enem
201
ciências e meio ambiente origem do homem
frank vinken/eva-mpg
k
SER OU NÃO SER? O professor sueco Svante Pääbo olha o crânio de um homem de Neandertal: ele liderou a equipe que sequenciou o genoma da espécie
Novidades
À
sobre a origem
do ser humano
A entrada de mais um hominídeo na árvore
genealógica da humanidade e a confirmação
de que carregamos genes dos homens
de Neandertal colocam novas peças no
quebra-cabeça da evolução da nossa espécie
202
atualidades vestibular + enem 2011
s vezes a sorte colabora decisivamente nas descobertas de fósseis.
Isso ocorreu em agosto de 2008,
quando o antropólogo Lee Berger, da Universidade do Witwatersrand, na África do
Sul, explorava uma caverna localizada no
sítio arqueológico de Malapa, com seu filho
Matthew, de 9 anos, e o cachorro da família.
O filho do pesquisador tropeçou e, ao se
levantar, mostrou ao pai um pequeno osso
que agarrara, sem querer, na tentativa de
evitar o tombo. Berger logo percebeu que
aquela clavícula poderia ser humana – ou
bem próxima disso, como suas pesquisas
posteriores revelariam.
Os fósseis encontrados na ocasião, pertencentes a um macho adolescente e a
uma fêmea adulta, foram datados como
tendo 1,9 milhão de anos. Ganharam o
nome de Australopithecus sediba e fama
mundial em abril de 2010, quando Berger
publicou um artigo na revista Science
anunciando a descoberta. Na língua sesotho, idioma falado na região onde foram
encontrados os fósseis, “sediba” significa
fonte, e o nome de batismo aponta para a
hipótese levantada por seu descobridor:
com dentes pequenos e quadris apropriados a longas caminhadas ou até habilitados a correr, o novo hominídeo poderia
ser um ancestral direto do Homo sapiens,
espécie à qual pertencemos.
A origem da espécie humana envolve
um cenário complicado. Para facilitar sua
leitura, vá conferindo as informações no
quadro da evolução, na próxima página.
O antropólogo Berger, ao analisar a
anatomia dos fragmentos de esqueleto,
concluiu que o Australopithecus sediba
descende do Australopithecus africanus,
um hominídeo – família natural à qual
pertence o ser humano – que viveu no
continente africano entre 3 milhões e 2,4
milhões de anos atrás. Quanto a isso, não
há muitas dúvidas, dada a semelhança
anatômica entre as espécies, ambas com
membros alongados e crânio com tamanho equivalente a um quarto do crânio
do Homo sapiens.
Há, porém, entre os cientistas divergências quanto à possibilidade de o Australopithecus sediba ser um ancestral do
homem, principalmente em razão da idade
dos ossos encontrados. A datação colocao cerca de 300 mil anos após a primeira
ocorrência conhecida do Homo habilis,
uma espécie pertencente ao mesmo gêneA classificação do ser humano
Pela classificação dos seres vivos aceita atualmente,
o homem moderno (Homo sapiens) pertence a:
Reino
animal
Filo
cordatos (animais com um eixo de
sustentação interno)
Subfilo
vertebrados (com coluna vertebral)
Classe
mamíferos (cobertos de pelo e que
amamentam os filhotes)
Ordem
primatas (com cérebro grande, uso maior
da visão que do olfato e unhas em lugar
de cascos)
Família
hominídeos (bípedes, caminham eretos e
têm caninos pequenos)
Gênero
Homo (com cérebro especialmente grande,
dominam a fala e desenvolvem cultura)
Espécie
sapiens
ro do ser humano atual e, portanto, mais
próxima de nós que o gênero australopiteco. A explicação dada por Berger é que
diversas espécies de hominídeos teriam
habitado o continente africano ao mesmo
tempo. Para ele, não é possível traçar uma
árvore genealógica linear da evolução da
espécie humana, pois hominídeos dos
gêneros Australopithecus e Homo conviveram por muito tempo, até que os primeiros
fossem extintos e o Homo sapiens restasse
como único representante do gênero.
Primeiros hominídeos
Na ponta do novelo que teria dado início à linha evolutiva humana, segundo a
teoria da evolução das espécies de Charles
Darwin (veja o boxe abaixo), há outro esqueleto achado no continente africano: o
Ardipithecus ramidus, identificado como
o mais antigo hominídeo já descoberto,
com 4,4 milhões de anos. Os cientistas
liderados por Tim White, da Universidade
de Berkeley (EUA), concluíram que esse
esqueleto, que ficou conhecido como Ardi,
já apresentava sinais de ser um bípede,
mesmo não se parecendo com a famosa
Lucy, um fóssil de Australopithecus afarensis de 3,2 milhões de anos de idade, considerado até então o mais antigo esqueleto
de hominídeo já encontrado.
Para os paleoantropólogos, a capacidade
de andar sobre as duas pernas, também
chamada de bipedalismo, é o que diferenciou, no início da evolução humana, os
hominídeos dos demais primatas, como os
macacos e gorilas. E Ardi, mesmo conservando um polegar opositor nos dedos dos
pés, como os chimpanzés, teria sido capaz
de andar em postura ereta, segundo matéria publicada na revista Science em 2009
pela equipe de descobridores, após 15 anos
de estudo. No entanto, mesmo com tanto
tempo de pesquisa, Ardi ainda provoca
divergências, especialmente em relação ao
suposto “andar ereto eficaz” sugerido pela
equipe de White. Para alguns estudiosos,
Ardi possuía um “bipedalismo facultativo”,
ou seja, poderia andar sobre as duas pernas,
mas talvez não o fizesse com frequência.
Por isso, poderia ser um ancestral comum
a todos os atuais primatas.
A Teoria da Evolução e a espécie humana
Em seu livro A Origem das Espécies, de
1859, no qual formulou a teoria da evolução, Charles Darwin evitou abordar as
consequências de sua teoria sobre a espécie humana, prevendo o escândalo que
provocaria entre os cristãos ao igualar
o homem às demais espécies do planeta. Há apenas a menção de que aqueles
postulados sobre a evolução das espécies
“lançariam luzes sobre a origem e a história do homem”.
Tais luzes, no entanto, só seriam inteiramente compreendidas no século
seguinte, pois, se Darwin havia decifrado o mecanismo da seleção natural,
não conseguira identificar seu agente,
os genes – que são as unidades fundamentais de transmissão dos caracteres
hereditários. Apenas por volta de 1920,
biólogos juntaram as ideias de Darwin
com os estudos sobre ervilhas feitos pelo
monge belga Gregor Mendel (1822-1884)
que desvendaram as leis da hereditariedade. A Síntese Moderna da Teoria da
Evolução das Espécies, também conhe-
cida como de neodarwinismo, defende
a idéia de que:
• a evolução sempre ocorreu e continua
a ocorrer;
• todas as características de um organismo estão gravadas em genes, que são
transmitidos dos pais aos filhos;
• a evolução se dá por mudanças que os
genes sofrem ao acaso, combinadas à
seleção natural;
• nem todos os genes se manifestam
num organismo. Mas mesmo os que
permanecem silenciosos são transmitidos no decorrer das gerações e
podem se expressar mais tarde.
O grande avanço da biologia que pavimentou de vez o sucesso da teoria da evolução de Darwin foi a descoberta, em 1953,
do DNA, a molécula em espiral, existente
no interior dos cromossomos, que carrega
os códigos genéticos. Os genes nada mais
são do que trechos dos braços da espiral. O
alcance dessa descoberta se materializaria
há uma década, quando o Projeto Genoma
sequenciou o código genético humano.
2011 atualidades vestibular + enem
203
k
Resumo
ciências e meio ambiente origem do homem
Parte da humanidade
carrega de 1% a 4% de
genes dos neandertais,
extintos há 30 milênios
coberta, confirma-se que a evolução humana não seguiu uma progressão linear,
com uma espécie seguindo outra, até o
homem moderno, como se pensava. Hoje,
a descoberta de novos fósseis e revisões de
análises anteriores mostram que a questão
da nossa origem é muito mais complexa,
como demonstra o quadro abaixo.
Fósseis achados na África indicam que
muitas espécies de hominídeos se tornaram bípedes e, assim, ganharam vantagem
evolutiva à medida que o clima das savanas
ficava mais seco e as florestas diminuíam, o
A evolução humana
O antropólogo Walter Neves, da Universidade de São Paulo, diz que a árvore evolutiva da humanidade tem tantos
ramos que parece uma moita cheia de
pequenos galhos. De descoberta em des-
que ocorreu há 6 milhões de anos. Essa é a
datação da espécie mais antiga de hominídeo, o Sahelanthropus tchadensis.
Depois desse primeiro hominídeo, surgiram vários exemplares do gênero Australopithecus, 4 milhões de anos atrás. Os
fósseis dessas espécies eram diferentes
dos grandes macacos atuais, bem como
dos hominídeos anteriores. Os cientistas
acreditam que a linhagem sobrevivente que
deu origem aos humanos provavelmente
passe pelo Australopithecus afarensis, mas
não há certeza absoluta.
EVOLUÇÃO DA ESPÉCIE HUMANA
Veja como fica a árvore genealógica da espécie humana com as novas descobertas
Milhões de anos atrás
7
6
Note que a linha à
esquerda do quadro mostra
o tempo em milhões de
anos, e o tamanho das
barras azuis registram o
tempo de duração de cada
espécie. As que aparecem
na mesma faixa de tempo
foram contemporâneas.
5
Sahelanthropus
tchadensis
Orrorin tugenensis
Ardipithecus
ramidus
Hipóteses
Australopithecus
anamensis
4
Australopithecus
bahrelghazali
Australopithecus
afarensis
Kenyanthropus
platyops
3
?
Australopithecus
africanus
Paranthropus
aethiopicus
2
Paranthropus
boisei
1
Homo
ergaster
erectus
Australopithecus
sediba
Segundo seus descobridores, o Australopithecus
sediba, descendente direto do Australopithecus
africanus, pode ter sido ancestral do gênero humano.
Homo
neanderthalensis
0
Fonte: Enciclopédia Britânica
atualidades vestibular + enem 2011
Homo
rudolfensis
habilis
Homo
habilis
?
Homo erectus
Homo
heidelbergensis
Pesquisa genômica comprova que humanos tiveram filhos com neandertais
204
?
Australopithecus
garhi
?
Paranthropus
robustus
Pesquisadores descobrem que humanos e
neandertais teriam mantido relações sexuais
Após quatro anos de estudos, uma
equipe de pesquisadores do Instituto
de Max Plank, na Alemanha, publicou a
versão inicial do sequenciamento genético do Homem de Neandertal. É a primeira vez que este feito é alcançado em
uma espécie extinta. O trabalho provou
a controvertida ideia de que os homens
modernos (nós, Homo sapiens) e os de
Neandertal (Homo neanderthalensis)
cruzaram e tiveram descendentes.
Genes do neandertal vivem em nosso genoma. De certa forma, disseram
os cientistas, somos um pouco neandertais. Cerca de 4% de nossos genes
seriam herança do neandertal.
Homo sapiens
Ardipithecus kadabba
Duração da espécie
Supostas relações
?
Saiu na imprensa
?
?
Homo sapiens
Nossa espécie, o Homo sapiens, surgiu
cerca de 200 mil atrás. Há duas hipóteses
para seu aparecimento. A primeira, da
origem única, propõe que os humanos
modernos se diferenciaram da população
de um arcaico ancestral africano. Esse
grupo teria saído da África e substituído
todas as populações humanas do mundo,
incluindo seus parentes europeus, como os
homens de Neandertal, e os descendentes
do Homo erectus que haviam migrado
anteriormente para a Ásia.
A segunda hipótese, chamada de multirregionalista, propõe que populações
regionais descendentes do Homo erectus se
dispersaram pelos continentes e se transformaram em sapiens em diversos pontos
do globo. As características modernas teriam, então, aparecido em alguns grupos e
se espalhado aos demais por miscigenação.
Essa hipótese admite o intercruzamento de
diferentes populações, inclusive de neandertais, o que acaba de ser provado.
Nosso primo neandertal
Outra descoberta que provocou rebuliço
entre os cientistas foi a divulgação, em maio
de 2010, de que o homem moderno traz de
1% a 4% de genes que pertenceram ao homem de Neandertal. Troncudo, com a testa
curta e grossa e a mandíbula forte, o Homo
neanderthalensis surgiu na Europa, cerca
Trata-se de uma realização científica
sem precedentes, feita apenas dez anos
após a comunidade científica decodificar o genoma do Homo sapiens, o parente mais próximo do hominídeo extinto.
A espécie se extinguiu há 30 mil anos,
mas seu genoma oferece pistas concretas para um santo graal da ciência: as
diferenças que nos fazem humanos e
dão ao nosso cérebro inteligência. Essas
diferenças ínfimas no tamanho e imensas em significado podem estar nos
poucos genes que humanos modernos
e neandertais não compartilham.
Diário de Pernambuco, 7/5/2010
de 120 mil anos atrás, e ocupou territórios
naquele continente e no Oriente Médio, até
sumir, há 30 mil anos. O primeiro espécime
foi descoberto às margens do rio Neanderthal, na Alemanha, daí o seu nome.
Para provar que o Homo sapiens se relacionou sexualmente com o neandertal,
gerando descendência fértil, os cientistas
de 22 instituições, liderados por Svante
Pääbo, do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva, na Alemanha, conseguiram usar o material genético de três fósseis
de mulheres neandertais, com 38 mil anos
de idade, para sequenciar dois terços do
genoma da espécie. O DNA neandertal foi,
então, comparado com o genoma de cinco
pessoas vivas: duas da África, de povos
iorubá e san, uma da Papua Nova Guiné,
uma francesa e uma chinesa. Com exceção do DNA dos africanos, o dos outros
humanos apresentou genes pertencentes aos neandertais. A explicação para a
ausência do DNA neandertal nos grupos
africanos é que esse provável encontro
entre espécies teria ocorrido após a ida
do Homo sapiens para a Europa e a Ásia,
onde viviam os neandertais. A região mais
provável do encontro teria sido o Oriente
Médio, onde grupos das duas espécies
teriam encontrado refúgio nos invernos
rigorosos da última glaciação. “Pode-se
dizer que carregamos o neandertal em
nós”, resumiu Pääbo.
u
q
Origem do homem
NOVO HOMINÍDEO Em abril de 2010
foi apresentado pela revista Science
o Australopithecus sediba, que viveu
há 1,9 milhão de anos, na África. Com
dentes pequenos e quadris mais apropriados a longas caminhadas ou até
habilitados a correr, o novo hominídeo poderia ser um ancestral direto
do Homo sapiens, uma espécie de avô
da espécie humana.
BIPEDALISMO Em 2009, o Ardipithecus
ramidus, outro hominídeo encontrado
na África, foi identificado como o mais
antigo já descoberto, com 4,4 milhões
de anos. Esse hominídeo já apresentava sinais de ser um bípede. Para os
paleoantropólogos, a capacidade de
andar sobre as duas pernas, chamada
de bipedalismo, é o que diferenciou,
no início da evolução humana, os hominídeos dos demais primatas, como
macacos e gorilas. Os estudos ainda
provocam divergências, especialmente
em relação ao suposto “andar ereto
eficaz” do Ardipitheus ramidus.
HERANÇA NEANDERTAL Por meio
da comparação do sequenciamento
genético de três fósseis do Homo
neanderthalensis com amostras de cinco
genomas humanos atuais, uma equipe
do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva, na Alemanha, descobriu
que o DNA do homem moderno carrega
de 1% a 4% de genes pertencentes aos
neandertais. O estudo provou que houve cruzamento entre as duas espécies,
com descendência fértil.
A EVOLUÇÃO HUMANA Há duas hipóteses sobre a origem do homem moderno.
A da origem única propõe que o Homo
sapiens se diferenciou de um arcaico
ancestral africano por volta de 200 mil
anos atrás, tendo migrado da África e
substituído as populações humanas do
mundo. A hipótese multirregionalista
propõe que diversas populações regionais descendentes do Homo erectus se
dispersaram pelos continentes e se
transformaram em sapiens, em vários
pontos do planeta. As características
modernas teriam aparecido em alguns
grupos e se espalhado para os demais
por miscigenação.
2011 atualidades vestibular + enem
205
k
ciências e meio ambiente Galileu
O olhar
de Galileu
Há 400 anos, o italiano Galileu Galilei utilizou
o recém-inventado telescópio para observar
os astros e fazer descobertas que mudariam a
maneira de a humanidade enxergar os céus
Por Martha San Juan França
Descobertas
Esse céu tão imenso não foi visto sempre da mesma maneira aqui da Terra.
Em diferentes épocas, ele foi explicado
segundo os mitos, percepções, conhecimentos e instrumentos que estavam ao
alcance do ser humano.
Há quatro séculos, quando o italiano
Galileu Galilei (1564-1642) apontou pela
primeira vez a luneta para o espaço “lá
em cima” , o que se via era o lugar da
eter­nidade, da matéria em estado mais
puro, segundo a cosmologia aristotélica,
até então vigente. No cosmo imaginado
pelo grego Aristóteles, na Antiguidade,
cuja concepção ainda prevalecia no sé206
atualidades vestibular + enem 2011
culo XVII, o céu era o lugar da perfeição,
enquanto a Terra, “cá embaixo”, era onde
tudo se desfazia com rapidez. A Terra,
imóvel, era o centro do cosmo. A Lua,
o Sol, os planetas e as estrelas giravam à
sua volta, em órbitas circulares.
Em março de 1610, Galileu publicou um
pequeno livro de 24 páginas com o título
Sidereus Nuncius (O Mensageiro das Estrelas). Nele, descrevia minuciosamente
suas descobertas com o telescópio:
k A Lua não tinha uma superfície esférica perfeita e lisa, como supunham
os filósofos aristotélicos, mas exibia
um relevo, como a Terra;
k Vênus tinha fases, como a Lua, um
indício de seu movimento em torno
do Sol, e não da Terra, como defendia
o modelo geocêntrico;
k A mancha esbranquiçada da Via Láctea
formava um “amontoado incontável
de estrelas”;
k As estrelas, ao contrário dos planetas,
não eram pequenos discos circulares,
mas “chamas que cintilam e brilham”,
cujo número parecia muito maior do
que aquele avistado a olho nu;
k Júpiter tinha quatro luas, o que constituía outra evidência de que nem todos
os astros giravam exclusivamente ao
redor da Terra.
nasa
P
ara quem vive rodeado de edifícios e iluminação, o céu noturno
é algo que não chama muito atenção – apenas algumas estrelas esparsas
acima do horizonte enevoado. É muito
diferente do espetáculo que se renova
todas as noites em lugares distantes da
poluição luminosa. Mesmo sem telescópio, é possível observar milhares de
estrelas brilhando em vários tons dentro e fora da faixa esbranquiçada da Via
Láctea. A Lua, os planetas e as estrelas
são sinais de um universo vastíssimo,
que, aos poucos, a ciência vislumbra sem
conhecer por inteiro.
As observações de Galileu fizeram com
que as pessoas passassem a olhar o céu
de maneira diferente e mudaram para
sempre o entendimento sobre a Terra.
Além de comprovar a tese de Nicolau
Copérnico (1473-1543), publicada em 1543,
que colocava a Terra girando ao redor do
Sol, Galileu percebeu que nosso mundo
era apenas mais um corpo celeste dentre
tantos que existiam no espaço. Na época,
sua persistência em defender esse modelo
de universo desembocou numa das mais
célebres polêmicas entre religião e ciência.
Pela defesa da teoria de Copérnico, Galileu
foi condenado pela Igreja Católica à prisão
domiciliar perpétua e à negação pública de
suas ideias. Esse episódio representou o
momento em que, na civilização ocidental,
a ciência se tornou uma forma distinta de
conhecimento, operando segundo princípios diferentes dos da religião e da fé.
Ampliação do olhar
Sessenta anos depois, Isaac Newton
(1643-1727) demonstrou que todos os
movimentos planetários e lunares poderiam ser explicados e previstos desde que
se assumisse que o Sol estava no centro
do sistema solar. Outras descobertas na
astronomia levaram à conclusão de que
TERRA À VISTA
o sistema solar está contido
imagens com maior rapidez e
O telescópio espacial
em uma galáxia composta de
eficiência, além de corrigir as
Hubble é colocado no
milhões de estrelas, a Via Lácdistorções provocadas pela atcompartimento de
tea, e outras galáxias existem
mosfera na imagem dos astros.
carga do Atlantis para
além dela, tão longe quanto
Então, os astrônomos consemanutenção, em 2009
os instrumentos de observaguiram vasculhar vários aspecção podem alcançar. Com o
tos do Sol e de outras estrelas,
tempo, novas combinações de lentes e
“enxergando” diversos tipos de radiação,
materiais permitiram aos telescópios capcomo ondas de rádio, microondas, raios
tar luz em maior quantidade e produzir
X, raios gama e infravermelhos.
O aperfeiçoamento da tecnologia de obimagens de maior qualidade.
servação e de foguetes e sondas espaciais
No século XX, acoplados a detectores
permitiu ao homem viajar até a Lua e enviar
eletrônicos e controlados por computadores, esses novos instrumentos puderam
robôs para estudar de perto planetas, astedecompor a luz das estrelas e analisar as
roides e cometas. A observação dos céus foi
2011 atualidades vestibular + enem
207
k
Resumo
ciências e meio ambiente Galileu
O astrônomo Edwin
Hubble concluiu com
suas observações que o
universo está em expansão
afp/collection roger-viollet
muito ampliada com projetos internacionais como os dois observatórios Kecks, de
10 metros de diâmetro cada um, no Havaí;
o Grande Telescópio das Ilhas Canárias,
com 10,4 metros de diâmetro; e os quatro
telescópios de 8,2 metros de diâmetro que
constituem o VLT (very large telescope),
instalado pelos europeus no norte do Chile. Isso sem contar os satélites de raios X
(Rosat, Asca, Chandra, XMM-Newton),
infravermelho (Iras, ISO), raios gama
(Compton) e outros.
Algumas das teorias mais revolucionárias da ciência surgiram da tentativa
de explicar a origem e o comportamento
do universo. A mais aceita atualmente é
a de que ele teria nascido de uma grande
explosão primordial, chamada de Big Bang.
O astrônomo Edwin Hubble (1889-1953),
em 1929, provou que o universo se encontrava em expansão ao constatar que as
galáxias estavam se afastando umas das
outras e, quanto mais distantes, maior sua
velocidade de afastamento. As medidas
atuais mais confiáveis mostram que o Big
Vida fora da Terra
NOVIDADE Gravura retrata Galileu Galilei, em Veneza, no século XVII, mostrando a recém-criada luneta
Bang ocorreu há 13,7 bilhões de anos –
o telescópio espacial Hubble, que está na
órbita da Terra desde 1990, já fotografou
galáxias a uma distância de 13 bilhões de
anos-luz (1 ano-luz é a distância percorrida
pela luz no vácuo durante 1 ano – cerca de
9,5 trilhões de quilômetros).
Em 1998, descobriu-se que essa expansão está sendo de fato acelerada, como se
houvesse uma força contrária à gravida-
Plutão, o planeta rebaixado
Há quatro anos, a União Astronômica
Internacional retirou de Plutão a classificação de “planeta”, e parece não haver
mais nenhuma dúvida de que ele está
fora dessa categoria de corpos celestes
do sistema solar (agora são oito, de Mercúrio a Netuno). Na verdade, com o que
se conhece hoje sobre planetas, Plutão
jamais deveria ser incluído nessa lista.
Mas quando foi descoberto, há 80 anos,
não se sabia que o sistema solar era dotado de uma multidão de pequenos corpos
– alguns de seu tamanho, chamados por
isso de planetas anões. Plutão é muito
menor do que algumas luas (tem 2.360
quilômetros de diâmetro), e sua órbita
em torno do Sol é muito inclinada quando comparada com a dos planetas.
Para além de Netuno, há quatro plane-
208
atualidades vestibular + enem 2011
tas anões (além de Plutão, Eris, Makemake e Haumea), mas acredita-se que
haja centenas a ser descobertos. Sem
contar outros, como Ceres, que ficam
perto do cinturão de asteroides (entre
Marte e Júpiter), todos os anões estão
numa faixa orbital chamada Cinturão de
Kuiper, muito distante do Sol e, por isso
mesmo, dificilmente avistada. Por ele ser
muito escuro e longínquo, estudar Plutão
e os outros anões com a ajuda de telescópio é difícil. As primeiras fotografias, que
foram feitas pelo Hubble e divulgadas
no início deste ano, mostram mudanças
de cor em consequência do gelo de sua
superfície. Mais informações sobre Plutão poderão ser obtidas pela sonda New
Horizons, lançada em 2006, que deverá
chegar perto do planeta anão em 2015.
de, que repelisse os objetos cósmicos em
vez de atraí-los. A essa misteriosa força,
que ninguém sabe o que é, os astrônomos
deram o nome de energia escura. Não
confunda com a matéria escura, ou seja,
matéria que não emite luz, mas tem massa
e pode ser detectada observando-se sua
ação gravitacional atuando sobre grandes
objetos cósmicos, como aglomerados de
galáxias. Hoje, os cientistas sabem que a
matéria comum, feita de prótons, elétrons
e nêutrons, corresponde a apenas 5% do
universo. O restante constitui matéria
escura (95%), que talvez possa ser mais
bem conhecida quando o Grande Colisor
de Hádrons (LHC, na sigla em inglês), o
maior acelerador de partículas do mundo, instalado num túnel circular de 27
quilômetros na Suíça, começar a simular
como a matéria se desenvolveu com a
da formação do universo. O acelerador
passou a funcionar neste ano, após muita
polêmica sobre sua segurança.
Nos próximos anos, todos os instrumentos astronômicos, no solo ou no espaço
– entre eles o próprio telescópio Hubble,
que foi recentemente reformado –, estarão
voltados para obter pistas sobre a energia
escura, já considerada pelos cientistas
“o mais profundo problema” da física moderna. Novos e revolucionários aparelhos
encontram-se em projeto, como o telescópio gigante Magalhães, nos Andes, e o European Extremely Large Telescope (E-ELT),
resultado do maior consórcio internacional
já estabelecido pela astronomia.
Outro enigma que os astrônomos tentarão desvendar é a possibilidade de existência de outros planetas semelhantes ao
nosso. E, se existirem, quais as chances
de haver vida e até mesmo civilizações
capazes de se comunicar conosco?
Para ter uma ideia de como as pesquisas na área evoluíram, basta dizer que,
até a década de 1990, essas questões se
resumiam à especulação. A busca pelos
exoplanetas (planetas fora do sistema
solar) começou a ganhar atenção em 1995,
quando o astrônomo Michel Mayor, da
Universidade de Genebra, constatou a
existência do primeiro deles, em órbita
da estrela 51 Pegasi. Mayor deduziu a
existência do planeta por seus efeitos
na velocidade de órbita da estrela, já
que não era possível vê-lo diretamente.
Por esse método, nos anos seguintes,
foi possível estabelecer a existência de
mais de 400 exoplanetas em galáxias
distantes. Porém, eram planetas gasosos, do mesmo tamanho ou maiores que
Júpiter, que giravam muito próximo de
suas estrelas e, portanto, nunca poderiam
ser habitáveis.
O aperfeiçoamento dos instrumentos
e os dados acumulados permitiram um
salto nas pesquisas. Em 2009, o mesmo
grupo de Mayor, com outras instituições
europeias, anunciou ter encontrado um
planeta com pouco menos de duas vezes a
massa da Terra orbitando a estrela Gliese
– a mesma onde haviam descoberto, dois
anos antes, um planeta com diâmetro semelhante ao do nosso. Detalhe: o planeta
encontra-se na zona habitável, nem tão
perto nem tão longe da estrela, teoricamente capaz de abrigar água líquida.
Hoje, os astrônomos consideram difícil
não existir vida fora da Terra, já que ela
requer condições teoricamente simples.
Para formar as moléculas essenciais à vida,
são necessários elementos químicos como
carbono, hidrogênio, oxigênio e nitrogênio,
que estão entre os mais abundantes do
universo. Submetidos a altas temperaturas,
descargas elétricas e energia, esses átomos,
em combinação, acabam produzindo água
(H20), metano (CH4), amônia (NH3) e dióxido de carbono (CO2). Teoricamente, são
elementos que poderiam se encontrar até
mesmo nos planetas próximos do sistema
solar. Recentemente, a agência espacial
americana Nasa anunciou que o robô Cassini, ao passar por Titã, lua de Saturno,
encontrou evidências de que formas de
vida poderiam existir em seus lagos de
etano. E um mapeamento da superfície de
Marte, com dados de várias sondas que lá
estiveram, demonstra que o planeta pode
ter abrigado um oceano no passado. u
Saiu na imprensa
Descoberta de planeta
habitável é iminente,
dizem astrônomos
Astrônomos afirmam que estão à beira de encontrar planetas semelhantes
à Terra em órbita de outras estrelas,
um passo essencial para determinar se
estamos sozinhos no universo. Um alto
funcionário da Nasa e outros importantes cientistas dizem que, dentro de
quatro ou cinco anos, o primeiro planeta
semelhante à Terra e capaz de abrigar vida deve ser encontrado, ou talvez até já
tenha sido. Um planeta com o tamanho
aproximado da Terra pode até mesmo
ser anunciado ainda este ano, se certas
pistas detectadas por um telescópio
espacial se confirmarem. (...)
O novo telescópio espacial Kepler, da
Nasa, e diversas novas pesquisas no campo da exoplanetologia, que de repente se
tornou altamente competitivo, geraram
um notável burburinho (...). Cientistas
falam que hoje estão num “ponto incrivelmente especial da história”, e perto
de descobrir a resposta para a pergunta
que incomoda a humanidade desde os
primórdios da civilização.
“A pergunta fundamental é: estamos
sós? Pela primeira vez, há otimismo de
que em algum ponto, dentro de nosso
tempo de vida, vamos chegar à resposta
para isso”, disse Simon Worden, astrônomo e chefe do Centro de Pesquisa
Espacial Ames, da Nasa. “Se eu fosse de
apostar, e sou, apostaria que não estamos sós, que há um monte de vida.”
O Estado de S. Paulo, 8/1/2010
q
Galileu
Importância Há 400 anos, o italiano
Galileu Galilei usou uma luneta, recéminventada, para olhar o céu. Suas observações sobre a Lua, Vênus, os satélites
de Júpiter e as estrelas revolucionaram
a maneira como se entendia o cosmo.
Galileu, como já havia feito Copérnico,
refutou a ideia de que a Terra era o
centro do universo. Sua persistência
em defender esse modelo desembocou
numa das mais célebres polêmicas entre religião e ciência.
Telescópios A luneta de Galileu evoluiu nos séculos seguintes, permitindo
que, com novas combinações de lentes e materiais, se pudesse enxergar o
céu mais longe e com melhor nitidez.
No século XX, foi possível entender a
composição do Sol e das estrelas com
telescópios e sondas em diversos tipos
de comprimento de ondas – rádio, microondas, raios X, raios gama, ultravioleta e infravermelho. Hoje, consórcios
internacionais desenvolvem grandes
observatórios capazes de enxergar o
céu com mais rapidez e eficiência, além
de corrigir as distorções provocadas pela atmosfera na imagem dos astros.
Expansão do universo A teoria
mais aceita atualmente é que o universo teria surgido de uma grande explosão primordial, apelidada de Big
Bang. Desde então, o universo está em
expansão. Em 1998, descobriu-se que
essa expansão está sendo acelerada,
como se houvesse uma força contrária
à gravidade que repelisse os objetos
cósmicos, em vez de atraí-los. A essa
misteriosa força, que ninguém sabe
o que é, os astrônomos deram o nome
de energia escura. Procura-se agora
descobrir como ela é constituída.
Exoplanetas Outro desafio dos astrônomos modernos é descobrir se
existem outros planetas iguais à Terra,
e, se existir, qual é a possibilidade de
haver vida neles. Nos últimos anos, foram achados mais de 400 exoplanetas
(planetas fora do sistema solar), mas
nenhum em condições ideais. A busca
continua. Os astrônomos acreditam
que os elementos básicos para a vida
são muito comuns no universo.
2011 atualidades vestibular + enem
209
As imagens e a
representação
simbólica
do mundo
Davi Fazzolari, professor de português da Escola Nossa
Senhora das Graças e do Colégio Assunção (SP)
A proposta de redação apresentada pela Fuvest em 2010 intitulavase “Um Mundo por Imagens”. Como se vê pela reprodução na página
ao lado, a proposta foi composta de um primeiro texto não verbal
(uma imagem extraída de endereço na internet) e por outros dois
pequenos textos verbais assinados por Gilbert Durand (professor,
filósofo e antropólogo, autor, entre outros, de A Imaginação Simbólica)
e por Tânia Pellegrini (professora de literatura e autora de variados
ensaios sobre a ficção brasileira). Além dessa breve antologia, três
parágrafos delimitaram tecnicamente o tema e um pequeno quadro
de instruções encerrou a prova.
Em uma contemporaneidade povoada (saturada, para os mais
severos) por imagens de representação simbólica, tem sido cada vez
mais comum depararmos com questionamentos que se desenvolvem
ao redor do embate entre o mundo real e o mundo virtual. De um
lado, o compromisso imposto pelo dia a dia repleto de atribulações
da agitada vida cotidiana, e, de outro, a possibilidade de evasão e
recriação da vida social, dentro de um universo paralelo, alavancado
e sustentado pelas chamadas novas tecnologias. O que se buscava
era o posicionamento crítico do candidato em relação aos variados
debates nascidos nesse confronto.
“No cotidiano, é comum substituir-se o real imediato por essas
imagens” foi a chamada que se lia no enunciado. Para desenvolver
sua tese e sua argumentação, o candidato deveria escolher uma
“construção de imagem” dentre um espectro bastante amplo, como
veremos a seguir.
210
atualidades vestibular + enem 2011
A antologia oferecida pela prova promovia um questionamento acerca da recepção
da realidade, em nossos dias. De um lado,
a possibilidade de estender a experiência
humana, a partir de seus sentidos ampliados pela simbologia, e, de outro, a curiosa
suplantação de parte da realidade dentro
dos domínios da imaginação.
O primeiro texto era a imagem em
preto e branco de uma janela de folha
única aberta para dentro, em perspectiva
de quem vê de dentro para fora. O fato
de estar aberta teria permitido que um
pequeno globo terrestre, curiosamente,
adentrasse ao ambiente de quem recepciona a cena. Pela improbabilidade física
dos elementos que compunham a imagem,
o leitor-candidato era conduzido a ler esse
primeiro texto (não verbal) como uma
representação simbólica do planeta
O texto do pensador Gilbert Durand
evocava uma associação entre a imaginação simbólica e o equilíbrio apaziguador
dos indivíduos. Abordagem filosófica que
poderia abrir argumentos sensíveis acerca das soluções práticas possíveis, nestes
tempos de revoluções tecnológicas.
O texto da professora Tânia Pellegrini
abordava o fato de a representação ter se
intensificado muito em nossos tempos,
a ponto de nos levar a viver entre a contemplação de símbolos e a própria realidade. Na verdade, era uma provocação
ao candidato crítico, para que notasse a
possibilidade de explorar o desequilíbrio
de forças entre a “vida real” e a “vida
representada”.
O primeiro parágrafo do enunciado
tecia considerações sobre a construção de
imagens variadas – pessoas, fatos, livros,
instituições e situações – em nossos tempos. Funcionava, assim como os textos
da antologia, como mais um texto de
aquecimento, além de servir de recorte
temático. O segundo parágrafo, como
vimos, apresentava uma afirmação categórica, que não deixava alternativa ao
candidato que não fosse sua admissão
como premissa à dissertação: “No cotidiano, é comum substituir-se o real imediato
por essas imagens”. O terceiro parágrafo
solicitava a escolha e o aproveitamento
de um – e de apenas um! – dos elementos
listados no início do enunciado para desenvolvimento temático da redação.
As instruções exigiam a produção em
prosa e o respeito à norma culta da língua. Alertavam para a necessidade de um
título e indicavam 20 a 30 linhas como
quantidade mínima e máxima de linhas.
A dissertação é um dos três “gêneros
escolares” mais frequentes nas salas de
aula do Ensino Médio – a narração e a
descrição são os outros dois –, e, assim
como na Fuvest, costuma ser o mais solicitado nos vestibulares do país.
E o que é, afinal, a dissertação? Trata-se
de um texto opinativo, ou seja, um espaço
no qual o estudante exercita sua livre
opinião acerca dos mais variados temas
propostos. A defesa de um ponto de vista
sustentada por argumentação convincente
talvez seja a melhor síntese para o que
é uma dissertação. De certa forma, é, de
todos, o gênero textual mais simples de
ser elaborado, mas é preciso estar atento
a certas situações que podem auxiliar ou
prejudicar a exposição das ideias.
A argumentação é a principal peça de
convencimento. Sempre que uma opinião
necessita de defesa, o argumento deve
vir em seu auxílio. Um bom argumento reforça a ideia central da redação e
tende a convencer o leitor da coerência
do pensamento do candidato. Por isso,
quanto melhor o argumento, mais chance
de sucesso terá o texto.
Vestibulares que apresentam antologias
acabam por delimitar as abordagens do
tema geral. Para o candidato, a antologia
determina a objetividade com a qual deverá ser tratado o tema. E essa objetividade
é uma das maiores cobranças da banca
avaliadora. Considera-se bom o texto que
consegue desenvolver uma tese a partir
de considerações e argumentos legítimos
e reconhecidos cientificamente, ou seja,
distantes da experiência do autor, e confirmados por especialistas no tema.
Diante do enunciado, das provocações
propostas pelos textos da antologia e pelas aproximações possíveis entre eles, o
estudante deveria manifestar sua opinião
sobre o tema proposto. Para tanto, o ideal
é elaborar um plano de texto, que é uma
organização prévia do que se vai escrever. O
texto opinativo é composto de seções quase
obrigatórias. Mais do que um rascunho, um
plano de texto estabelece o ponto de vista
e os questionamentos que serão desenvolvidos. Essa organização é fundamental para
garantir a coesão textual.
Um dos caminhos práticos para formular um plano de texto é questionar
o tema: as perguntas que você elaborar
sobre o tema exploram a proposta, e as
possíveis respostas em que você pensar
esboçam os parágrafos e as etapas da
dissertação: apresentação, desenvolvimento e desfecho. Nas páginas seguintes,
analisamos três textos selecionados pela
banca da Fuvest 2010 como redação de
boa qualidade.
2011 atualidades vestibular + enem
211
A redação E assim caminha a humanidade alimentou-se de períodos bem construídos,
do ponto de vista gramatical, oferecendo fluidez e clareza ao leitor. Sem se preocupar
com grandes ousadias literárias ou filosóficas, o candidato-autor fez a opção por discorrer sobre a “imagem simbólica” por meio de uma linguagem simples e eficiente.
A progressão argumentativa permitiu ao leitor receber o tema, primeiramente, de
modo panorâmico, e, depois, por meio de exemplos do nosso dia a dia. Por fim, a cena
política internacional registrada em todo o século XX dividiu o protagonismo com o
marketing das corporações, em um desfecho rigoroso e crítico.
Apesar de um ligeiro descuido em relação à coerência – o entusiasmado posicionamento inicial, favorável a um mundo formulado pela imagem, é substituído, até o fim do
texto, por um olhar mais severo e resistente –, a consistência do produto final garantiu
o seu sucesso.
O título fazia referência ao nome que recebeu no Brasil o filme estadunidense, de 1956,
Giant, de George Stevens, estrelado por ícones hollywoodianos, como Elizabeth Taylor,
Rock Hudson e James Dean. Tratava-se de uma citação bastante conveniente, não só
por associar a redação ao tom de um filme que abordou limitações humanas como por
inserir o próprio cinema em um debate acerca da imagem.
Os primeiros dois parágrafos apresentaram o tema de modo mais amplo.
Em seguida, no terceiro parágrafo, o autor anunciou uma guinada do texto ao recorte
temático.
O ponto de vista, enfim, se estabeleceu dentro de um argumento que sugeria o monumento histórico e por ele procurou se justificar.
O quarto parágrafo continuou desenvolvendo a argumentação histórica, em busca
de um ponto específico no qual se alojaria a tese central do texto. Para tanto, depois de
apresentar a imagem como legitimação do poder, o autor avançou em suas considerações
para o “poder de influência” de algumas instituições. Com essa estratégia, conseguiu
atingir o século XX e chegar também aos nossos dias, contemplando o enunciado da
prova [Na civilização em que se vive hoje, (...)] e fixando a tese, embutida no título, de
que a imagem pode determinar o movimento humano.
O desfecho foi organizado de modo clássico e reuniu, na forma de síntese, os principais passos argumentativos da redação. Além disso, ao mencionar Hollywood, entre
outros ambientes da imagem, o autor sugeriu uma leitura coesa do texto, consolidada
no último trecho.
Talvez tenha faltado um elo evolutivo mais claro entre a primeira e a segunda parte do
texto, para que ficasse evidente a ideia, construída no desfecho, de que o homem tenha
aproveitado mal o poder da imagem em sua trajetória histórica. Mesmo assim, o olhar
crítico e progressista sobre o tema dado, registrado em períodos regulares, respeitando
pontuação e ortografia, foi suficiente para os examinadores da prova.
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Em uma primeira leitura, o ponto forte da redação intitulada A imagem como seu
próprio objeto parece ser a citação de grandes nomes da filosofia e das artes e de seus
respectivos conceitos. Quando explorado de modo adequado, esse tipo de referência,
de fato, pode trazer densidade ao texto do vestibulando e ampliar sua chance de convencimento. Boas citações, contudo, não teriam levado, sozinhas, o texto ao sucesso,
sem o excelente encadeamento argumentativo e o bom aproveitamento dos textos
ofertados pela própria prova.
O primeiro parágrafo apresentou o tema a partir da ideia de construção e estabeleceu
um primeiro diálogo com um conceito que se lia no enunciado da proposta: “Na civilização
em que se vive hoje, constroem-se imagens, as mais diversas (...)”. Apostando justamente
nessa “diversidade”, o candidato abriu um bastante amplo espectro para sua abordagem do
tema e anunciou os dois polos de concentração de expectativas humanas em igualdade
de condições, quando o assunto é uso da imagem.
Ao introduzir a “filosofia platônica”, ainda nessa fase de apresentação do tema, o
candidato adensou o debate que culminaria no ponto de vista por ele adotado.
O segundo parágrafo estabeleceu a argumentação tomando por base a obra pictórica
do artista belga (e não “francês”) René Magritte (1898-1967), comentada pelo filósofo
francês Michel Foucault (1926-1984). Mais uma vez foi possível ler o diálogo, já que os
conceitos apresentados nessa fase se amparam na afirmação de Tânia Pellegrini oferecida na proposta: “É como se ficássemos suspensos entre a realidade da vida diária
e sua representação”. A tese do candidato associava-se justamente à postura que se lia
nessa espécie de constatação indignada da suspensão da realidade vivida em nossos
tempos altamente tecnológicos.
Mantendo o estratégico diálogo com os textos oferecidos pela prova, o candidato, em seu
desfecho, contrariou o conceito de Gilbert Durant – para quem “A imaginação simbólica
é sempre um fator de equilíbrio” – ao afirmar que “o valor dos símbolos contemporâneos vem como crise e não como equilíbrio”, deixando, assim, uma lição aos próximos
candidatos. Não é necessário concordar com as opiniões contidas nos textos fornecidos
pela prova, mas é possível construir toda a redação com base neles. O mais importante
talvez seja extrair da prova as ideias essenciais e estabelecer com elas um debate coerente.
As conclusões a que chegou o candidato nasceram na própria argumentação.
Com períodos bem construídos, ortografia respeitada (mesmo com uma pequena inversão de vogais na última linha da redação, em “indissociáveis”), vocabulário
adequado e, em alguns casos, bastante refinado, o candidato não apresentou clichês
nem vícios de linguagem, mantendo-se dentro do esperado quanto à norma culta e à
expressividade. Além disso, um olhar crítico e objetivo pode ser lido em todo o texto.
A autonomia necessária para a independência semântica da redação foi cuidadosamente garantida, mesmo com o emprego da técnica dialógica. Todos esses cuidados,
aliados a um repertório adquirido provavelmente nas disciplinas de filosofia, artes e
literatura, no Ensino Médio, consolidaram o sucesso da redação.
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Em Um mundo por imagens: somente umas mil palavras, a problematização do tema
começava já pelo título. Ao contrapor imagens e palavras, o autor considerou o possível
processo de exclusão de um pelo outro, das palavras pelas imagens.
Uma afirmação contundente, já no segundo parágrafo, dava continuidade à apresentação do tema e estabelecia o ponto de vista do candidato. Por extensão de raciocínio,
o autor atribuiu à “falta de tempo para desenvolvermos a lógica do discurso (...)” o que
chamou de “consequência nefasta à cultura”, consolidando seu posicionamento crítico
em relação ao tema dado.
O terceiro parágrafo avançou pelo recorte temático estabelecido nos dois primeiros e
passou a responsabilizar a velocidade e o consumismo pela comunicação por imagens
criadas sem nenhum critério. A esta altura, o autor utilizou um recurso de estilo que
merece destaque. Embora não seja recomendada em textos dissertativos, a enumeração irregular que se lê na sequência “mais complexos”, “muito mais veloz” e “caótico”
provavelmente foi avaliada como uma ironia, adequada ao ponto de vista adotado pelo
autor. “Nossas mentes”, de modo voluntário, poderiam buscar um mundo mais veloz
e até um mundo mais complexo, mas não um mundo caótico. Tratava-se, esse “mundo
caótico”, da “consequência nefasta” anunciada no parágrafo anterior.
O desfecho foi introduzido por um “sim”, sugerindo um questionamento nas entrelinhas, que, então, seria confirmado. Tal técnica mostrou-se eficiente para os avaliadores.
Embora tenha se encerrado com um clichê, deixou bastante nítido o posicionamento
do autor e o alvo de suas críticas.
Uma contribuição importante para os novos candidatos é deixar claro que uma linha
de raciocínio bem apresentada e bem defendida, ainda que sem “citações grandiosas”
nem conceitos consagrados das ciências ou das artes, pode atingir nível de excelência
nos vestibulares. No lugar das referências de destaque, o candidato-autor optou por um
discurso seguro acerca de nossas fragilidades e limites, discorrendo sobre o poder de
sugestão simbólica das imagens em tempos sedutoramente consumistas, empobrecedores naturais das realidades ideologicamente mais comprometidas.
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Como fazer A
a resposta
discursiva a
uma “questão
aberta”
2. Na
composição de um anúncio, veiculado pela
Folha de S.Paulo, em 26/9/2008, era possível ver
partes distintas - imagem e texto - unidas para
uma mensagem comum. A imagem sugeria um rosto
humano em meio a uma impressão digital, enquanto
um texto verbal convidava o leitor a descobrir a
identidade e o pensamento dos paulistas com os
dizeres “quem é e o que pensa”. Tanto em uma
situação como em outra, o tema era comum: a
identidade de um grupo específico - os paulistas
- escolhido dentre outros que seria explorado,
sendo parte de um todo, em suas culturas
específicas. Evidentemente, nessa composição,
a relação de sentido está diretamente ligada à
identificação e ao reconhecimento de um grupo
em meio a outros.
prova de redação da Fuvest é apresentada ao candidato
no primeiro dia da 2ª fase do vestibular. Vem acompanhada de dez questões que pedem respostas discursivas.
São questões que exigem um texto objetivo, que respeite a norma
culta e ofereça, com clareza, as respostas solicitadas.
As informações cobradas pelas questões distribuem-se por
tipos de expectativa variada. Há, entre elas, questões que cobram
conhecimento técnico, questões que testam o conhecimento de
dados e conceitos e, ainda, questões que verificam a sensibilidade
e a competência leitora dos candidatos.
Levando em conta o modelo de avaliação divulgado pela Fuvest1 , no qual os examinadores atribuem de 0 a 4 pontos a cada
resposta, muitos dos cuidados para a redação são bem-vindos
nessa parte. Vejamos questões abertas da prova de Português, cuja
estrutura é semelhante às de diversas áreas do conhecimento.
1ª questão da 2ª fase Fuvest 2010 – Português
k A primeira parte da questão - letra a), solicitava do candidato
leitura e compreensão semântica de um texto híbrido. Parte imagem (texto não verbal), parte texto verbal. Para estabelecer uma
“relação de sentido” entre o desenho de uma impressão digital
contendo, em seu interior, a expressão de um rosto humano, e
o trecho “quem é e o que pensa”, o candidato deveria estabele-
1
cer um texto em que se pudesse ler uma micro dissertação, em
suas três partes fundamentais: abordagem, desenvolvimento e
desfecho. Uma vez que, conforme o manual da Fuvest, respostas variadas podem ser consideradas corretas2 , vejamos três
exemplos para possíveis respostas adequadas:
1. O anúncio que se lê na questão apresenta
um texto híbrido. Trata-se, essencialmente, de
uma imagem simbólica, obtida pela reunião de uma
impressão digital e de um rosto humano, apoiada
por um texto verbal com os seguintes dizeres:
“Descubra quem é e o que pensa o morador
de São Paulo”. A relação de sentido que se
estabelece está ligada aos pontos comuns das
duas partes do anúncio, ou seja, a identidade. De
um lado os verbos “ser” e “pensar” determinando
a identificação individual da existência “Penso, logo existo” - e, de outro, um símbolo
visual consagrado pela cultura popular como
reconhecimento do indivíduo social, já que está,
inclusive, na documentação comum de cada cidadão.
Portanto, é possível afirmar que a relação de
sentido entre a imagem e o trecho “quem é e o
que pensa” é a identificação das individualidades.
No caso, a identificação do paulistano.
Abordagem do tema
Desenvolvimento
3. A demonstração de realização e
contentamento representada por um rosto
sorridente, inserido na impressão digital de um
polegar humano, associada a um texto verbal “Descubra quem é e o que pensa o morador de
São Paulo” - era a composição de um anúncio
publicado pela Folha de S.Paulo em 2008.
Os pronomes “quem” e “que” são nítidos
indicadores de identificação e, associados à
imagem, estabelecem uma relação de sentido
identitária. Como se, simbolicamente, a imagem
respondesse ao texto verbal: “O paulistano
é feliz e seu pensamento demonstra
satisfação”. Portanto, a relação de sentido
é a de definição do perfil de um grupo social:
o habitante de São Paulo.
Já a segunda parte da mesma questão – letra b) – pedia
apenas que o candidato acionasse seu conhecimento acerca
da concordância verbal; um conhecimento de ordem técnica,
portanto. A resposta deveria ater-se à reescritura do trecho
dado, alterando-se o número, de singular para o plural:
Descubram quem são e o que pensam os
moradores de São Paulo.
Desfecho
Trecho extraído do site: “Cada prova é gravada eletronicamente logo que chega à Fuvest. Em seguida são feitas duas cópias de cada questão,
2
4ª questão da 2ª fase Fuvest 2010 – Português
k A primeira parte da questão – letra a) – pedia a compreensão
de um trecho de Machado de Assis, ou seja, que o candidato
conseguisse entender o sentido do texto. Solicitava-se um posicionamento opinativo, seguido de argumentação que sustentasse o posicionamento. Trata-se, mais uma vez, guardadas as
devidas proporções, de uma estrutura típica da dissertação.
Vejamos um exemplo adequado a essa resposta.
Não. No texto de Machado de Assis, uma nota
diplomática está associada diretamente a
uma “mulher da moda”. Ambas possuem enfeites
em excesso que escondem suas realidades.
O autor aproxima por semelhança as “frases,
circunlocuções, desvios, adjetivos e advérbios” da
nota às “fitas, rendas, joias, saias e corpetes”
da mulher. Para Machado, é preciso retirar o
rebuscamento da nota diplomática para chegar à
sua real intenção, à sua “ideia capital”.
Opinião/Tese
Argumentação
Desfecho
A segunda parte da questão – letra b) – procurava testar
conhecimentos técnicos do candidato em relação à sinonímia
e ao uso do pronome oblíquo “lhe”.
“Capital” poderia ser substituído por
fundamental, essencial, principal. O pronome
“lhe” refere-se a “uma nota diplomática”.
Trecho extraído do site da Fuvest: “A correção de segunda fase segue rigorosamente os critérios estabelecidos pela banca elaboradora das ques-
encaminhadas a dois corretores distintos, sem identificar o candidato. Cada um deles atribui uma nota (0, 1, 2, 3 ou 4) à resposta apresentada pelo
tões, que entrega, por escrito, à Fuvest, em data anterior à realização dos exames, um gabarito completo de cada questão, já que uma determinada
candidato, de acordo com o gabarito oficial”. [http://www.fuvest.com.br/PORTAL/fuvest/conteudo]
pergunta pode apresentar variantes em suas respostas, podendo estar todas elas igualmente corretas”.
[http://www.fuvest.com.br/PORTAL/fuvest/conteudo]
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Fichas-resumo
veja nestas páginas quais foram os assuntos abordados em edições anteriores do atualidades vestibular
Estude mais temas
com as fichas do
Atualidades
A
gora que você já estudou vários temas do mundo atual
no Atualidades Vestibular 2011, trazemos as
fichas-resumo com temas tratados em edições anteriores. Para facilitar o estudo, as fichas são divididas da mesma
forma que a publicação: Internacional, Brasil, Economia,
Questões Sociais e Ciências e Meio Ambiente.
O objetivo das fichas-resumo é dar um panorama do conjunto
de temas que podem cair nos vestibulares, além dos que já estão
tratados nesta edição. Ao oferecermos esses resumos, partimos
do pressuposto de que você já os estudou, e as fichas visam
a ajudá-lo a refrescar a memória, relembrando-o de alguns
tópicos por assunto. Fizemos um trabalho de atualização dos
temas aqui tratados, buscando os dados mais recentes.
Caso queira uma abordagem mais aprofundada desses temas, procure o Atualidades Vestibular 1º semestre
de 2010, que aborda a grande maioria deles. Nossa redação
preparou as duas edições de forma complementar, elaborando
assim a obra mais abrangente e aprofundada de que um vestibulando dispõe para ficar por dentro do que está ocorrendo
no mundo atual.
Última edição
do Atualidades Vestibular + Enem,
publicada no primeiro semestre de 2010
220
k Internacional Curdos
k Internacional Revolução Islâmica
Quem são Os curdos habitam uma ampla área, chamada por eles de Curdistão, que abrange parte dos territórios da Turquia, Síria, Iraque, Irã, Armênia e
Azerbaidjão. Totalizam 26 milhões de pessoas com idioma próprio, majoritariamente muçulmanos sunitas, que se organizam em clãs nômades.
Separatismo O principal grupo separatista curdo, o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), iniciou luta armada contra o governo turco em 1984
e, desde então, o conflito já matou mais de 40 mil pessoas, a maioria curdos.
O braço militar do PKK está baseado no norte do Iraque, onde os curdos têm
relativa autonomia, de onde faz incursões militares.
Turquia O governo turco reprime a minoria curda. No fim de 2007, para combater a guerrilha, cerca de 100 mil soldados foram deslocados para o leste
e o sudoeste do país, na fronteira com Irã, Síria e Iraque. Por meses, houve
bombardeios e conflitos. Em 2008, o Iraque protestou contra a invasão de seu
território pelos turcos para combater rebeldes.
O que é Em 1978, a crise econômica e a ampla corrupção no Irã fazem crescer a oposição ao xá Reza Pahlevi. As correntes oposicionistas (esquerdistas,
liberais e muçulmanas tradicionalistas) unem-se sob a liderança do aiatolá
Ruhollah Khomeini. Em janeiro de 1979, o governo não consegue controlar a
insurreição e o xá foge do país. Em 1º de abril de 1979, o Irã é declarado oficialmente uma república islâmica, cuja autoridade máxima é o líder religioso
supremo (aiatolá). O posto é ocupado por Sayed Ali Khamenei desde 1989,
quando Khomeini morre.
Sistema de governo No sistema político iraniano, o Estado é tutelado por
um líder religioso não eleito pela população, que tem a última palavra em
questões importantes do país. O presidente da República e os parlamentares
da Assembleia Consultiva Islâmica são eleitos por voto universal.
Moderados Os moderados mantiveram-se no poder por 16 anos seguidos,
até a eleição do conservador Mahmoud Ahmadinejad, em 2005.
k brasil Questão Agrária
k ECONOMIA AGROPECUÁRIA
Latifúndio A concentração das terras brasileiras tem origem no período colonial, com a divisão do território em capitanias hereditárias. Mesmo após a
independência, o problema persiste, com uma economia baseada no latifúndio
monocultor para exportação de produtos como cana-de-açúcar e café.
Reforma agrária É a política que visa a promover a distribuição social da
terra, com a instalação de famílias de lavradores em terras públicas ou desapropriadas pelo governo. A reforma prevê também o fornecimento de todo o
suporte necessário para que o assentado desenvolva a produção.
CONSTITUIÇÃO Segundo o Estatuto da Terra (1964), o acesso à terra para quem
nela vive e trabalha é um direito que o Estado deve garantir. A Constituição de
1988 reforça esse princípio e diz que a terra precisa ter uma função social.
MST O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, criado há mais de 25
anos, luta pela reforma agrária. Sua estratégia inclui ocupação de terras, muitas vezes ilegal, visando a pressionar o poder público pela desapropriação.
Importância Definida como o conjunto de atividades ligadas à criação de
plantas e animais para o consumo humano, a agropecuária é um dos três setores utilizados para o cálculo do PIB. A pecuária é fundamental para o comércio
exterior do Brasil, pois o país ocupa o segundo lugar global na produção de
carne bovina e lidera as exportações do produto. Na área agrícola, o Brasil
destaca-se na produção de soja, milho, café e cana-de-açúcar.
Desafios O aumento da produtividade no campo transforma o Brasil numa
potência do setor, mas o crescimento da produção agrava problemas, em especial o êxodo rural e a dificuldade de escoamento dos produtos.
Meio Ambiente Outro problema decorrente da expansão da agropecuária é
o desmatamento do cerrado e da Amazônia, visto que as frentes pioneiras
avançam principalmente nas regiões Centro-Oeste e Norte. Segundo o IBGE, as
áreas com matas e florestas dentro das propriedades diminuíram 11%, sobretudo no Pará e em Rondônia, responsáveis por metade desse desmatamento.
k Internacional Convenção de Genebra
k Internacional Índia
k ECONOMIA Agronegócio
k questões sociais Internet
Objetivos Refere-se a um conjunto de normas estabelecidas em acordos internacionais, entre 1864 e 1949, que institui limites humanitários para ações
de guerra. Visa a diminuir o sofrimento de militares em combate e de civis,
fixando padrões éticos para situações de conflito. Quem foge a essas regras
comete crimes de guerra e é submetido a um tribunal internacional. Em 1998,
foi criado o Tribunal Penal Internacional para julgar as violações. São signitários da Convenção 192 países, e a organização que acompanha seu trabalho é a
Cruz Vermelha Internacional (Crescente Vermelho, em nações muçulmanas).
Direitos Pela Convenção de Genebra, soldados capturados são considerados prisioneiros de guerra. Devem ter seus direitos humanos respeitados, não
podem ser torturados, não são obrigados a fornecer informações ao inimigo e
podem voltar para casa no fim do conflito.
Restrições Os membros das Forças Armadas de uma nação ou de milícia
organizada estão legalmente amparados pela convenção. Os membros de organizações terroristas não são considerados prisioneiros de guerra.
Gigante A Índia ocupa a maior parte do Subcontinente Indiano, sendo o
sétimo maior país do planeta em extensão. Sua população, de 1,2 bilhão de
habitantes, é menor apenas que a da China (1,3 bilhão) e representa 18% da
população global. A cordilheira do Himalaia, a mais alta cadeia montanhosa do
planeta, conhecida como “teto do mundo”, encontra-se ao norte do país.
Caxemira Situada no Himalaia, a Caxemira é disputada por Índia e Paquistão
desde sua independência, em 1947. Na ocasião, o Subcontinente Indiano, que
estava sob domínio britânico desde o século XVIII, foi separado em dois países,
com base em critérios religiosos: a Índia, de maioria hindu, e o Paquistão, de
maioria muçulmana. Dois terços da Caxemira ficaram com a Índia. A região tem
maioria (70%) muçulmana, mas é ligada à elite indiana.
Desigualdade Mais de 40% da população vive abaixo da linha de pobreza, e
as favelas têm se multiplicado em megacidades como Mumbai (ex-Bombaim)
e Calcutá. Ao mesmo tempo, a Índia ganha posição entre os principais países
emergentes do mundo, com um PIB de 1,2 trilhão de dólares (2008).
Cadeia produtiva O agronegócio abrange a cadeia produtiva de indústria e
serviços ligada à produção agropecuária. Ela começa nas fábricas de tratores,
de adubos ou de ração de animais. Em seguida, estão as plantações e a criação de animais, que são o centro da atividade. Depois, vêm as indústrias que
processam e agregam valor ao produto agropecuário. No fim, há a logística da
distribuição – do transporte ao armazenamento, até chegar ao consumidor.
Gargalos O agronegócio é responsável por 26,5% do PIB brasileiro e por
36,3% das exportações (2008). Apesar do crescimento, o setor enfrenta problemas como juros altos, instabilidade no câmbio e carências na infraestrutura.
O transporte da produção é feito predominantemente por rodovias, geralmente
em condições precárias, o que acaba encarecendo o produto final.
Agroenergia A energia produzida com produtos e resíduos do agronegócio,
incluindo o etanol, o biodiesel, a biomassa e o biogás, é uma aposta de longo
prazo para o crescimento do setor, pois eles têm vantagens sobre os combustíveis fósseis: são renováveis e bem menos poluidores.
O Que é A mais completa e dinâmica fonte de informações do planeta, que
modificou vários aspectos da vida das pessoas. No início de 2009, 1,5 bilhão de
pessoas tinham acesso à rede. A interface gráfica da internet, chamada World
Wide Web (www), foi criada pelo físico inglês Tim Berners Lee, em 1991.
Globalização A internet causou profundas mudanças no mundo dos negócios
e do trabalho e já é considerada uma nova Revolução Industrial. O processo
de globalização está intimamente ligado ao crescimento da rede e aumentou
muito a quantidade de transações comerciais. Ao mesmo tempo, a diminuição
de distâncias facilitou às multinacionais transferir o processo produtivo dos
países-sede para nações periféricas, onde a mão de obra é mais barata.
Exclusão digital Enquanto nos países ricos, como os da América do Norte,
74% da população já tem acesso à internet, nas regiões pobres e emergentes
esse número é baixo. Apenas 5,6% dos africanos se conectam ao mundo de
informações e negócios da rede, o que aumenta o abismo entre nações ricas e
pobres. No Brasil, aproximadamente 34% da população acessa a rede.
atualidades vestibulaR + ENEM 2011
2011 atualidades vestibular + ENEM
221
Fichas-resumo
222
k questões sociais VIOLÊNCIA
k questões sociais IDH
k ciências e meio ambiente PROTOCOLO DE KYOTO
k ciências e meio ambiente RIO São Francisco
Desigualdade Social A má distribuição de renda no Brasil causa desigual­
dade social, uma das razões para o aumento da criminalidade e da violência.
As dificuldades de acesso à educação e a bens e serviços torna os jovens mais
vulneráveis à criminalidade e a mortes violentas. No Brasil, houve mais de
47 mil homicídios em 2007, e esse tipo de crime já é a principal causa externa de
morte na faixa etária de 10 a 24 anos, somando mais da metade dos casos.
Interiorização Nos anos recentes, a violência diminuiu em algumas regiões
metropolitanas, nas quais há um aumento do policiamento e de medidas de
segurança, mas cresceu em cidades do interior e em regiões remotas do país.
Soluções A violência no Brasil não é exclusividade dos criminosos. O nú­
mero de homicídios praticados por policiais é alto, revelando o despreparo
e uma prática alimentada pela impunidade e pela conivência de autoridades.
O aumento de investimentos em segurança pública para treinamento e aper­
feiçoamento dos agentes de segurança, a adoção de programas para reduzir
a desigualdade social e a reforma do sistema penitenciário são algumas das
ações propostas para diminuir a violência.
Indicadores O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), criado pelo Pro­
grama das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) em 1990, mede a
qualidade de vida das populações das várias nações. É calculado com base em
três indicadores: renda, que considera o PIB per capita; educação, que avalia
a taxa de alfabetização e a taxa de matrículas em todos os níveis de ensino; e
saúde, que leva em conta a expectativa de vida da população ao nascer.
Extremos Os países recebem uma pontuação que vai de 0 a 1 e são ranquea­
dos em quatro categorias: IDH baixo, médio, alto e muito alto. As primeiras
posições são ocupadas por países da Organização para a Cooperação e o De­
senvolvimento Econômico (OCDE). Em 2009, o topo foi da Noruega, com IDH
de 0, 971, e o último lugar foi de Níger, com 0,340 de IDH. Das 24 nações com
o pior IDH do mundo, 22 encontram-se na África Subsaariana.
Brasil O país obteve em 2009 um IDH de 0,813, classificado na faixa de na­
ções com desenvolvimento humano alto. Em 2008, o IDH tinha sido de 0,808.
O Brasil apresentou evolução nos três indicadores, mas o aumento da renda
per capita foi o que mais impulsionou a alta do IDH no último ano.
Objetivos O primeiro documento internacional a estabelecer metas e prazos
para a redução de emissões de gases do efeito estufa foi assinado em Kyoto,
no Japão, em 1997. Ele prevê que os países desenvolvidos cortem, até 2012,
as emissões de CO2 e de outros gases do efeito estufa em 5% com relação aos
níveis de 1990. As nações em desenvolvimento não têm de cumprir metas.
Créditos de carbono O mecanismo de desenvolvimento limpo foi instituí­
do para ajudar as nações a cumprir as metas, permitindo que os países ricos
compensem a emissão a mais de gases com o investimento em projetos para
a implantação de tecnologias limpas ou para o uso de energias renováveis
nas nações em desenvolvimento. Dessa forma, os países poluidores ganham
créditos de carbono, que contam “pontos” para atingir sua meta de redução.
Entrave A principal limitação do Protocolo de Kyoto é que nem todos os
paí­ses aderiram a ele. Os Estados Unidos, os maiores emissores mundiais de
gases do efeito estufa, não ratificaram o protocolo, por acreditar que os países
em desenvolvimento, como a China e a Índia, deveriam se comprometer com
metas e políticas concretas de redução das emissões.
TRANSPOSIÇÃO Para abastecer rios menores e açudes do semiárido nordestino,
onde vivem cerca de 12 milhões de pessoas, a obra de transposição do rio São
Francisco deve desviar de 1% a 3% de suas águas por 720 quilômetros de canais.
Iniciada em 2007, a obra tem investimentos estimados em 7 bilhões de reais e é
dividida em duas partes. O Eixo Leste desviará água de Petrolândia (PE) a outros
pontos do sertão pernambucano e paraibano e deve ficar pronto no fim de 2010.
O Eixo Norte levará água de Cabrobó (PE) para o sertão de Pernambuco, Ceará,
Paraíba e Rio Grande do Norte e deve estar pronto até 2012.
Polêmicas Alguns especialistas acreditam que a construção de poços para
captar água de lençóis subterrâneos e de cisternas para coletar água da chuva
é uma alternativa mais barata e mais eficaz no combate à seca. Outros dizem
que muitas comunidades isoladas não serão alcançadas pelo projeto.
Impacto ambiental Os ambientalistas afirmam que a obra pode aumentar os
danos ao rio, já deteriorado. Para tentar reduzi-los, o projeto engloba progra­
mas ambientais, e os estados doadores de água devem ganhar compensações
na forma de obras para revitalização da bacia do rio São Francisco.
k questões sociais Doenças
k questões sociais AIDS
k ciências e meio ambiente Biomas brasileiros
k ciências e meio ambiente Antártida
Disparidades Em termos mundiais, o avanço da medicina e o crescente
acesso da população a recursos básicos, como água tratada e redes de esgo­
to, têm melhorado a saúde do planeta. Ainda assim, há uma clara divisão. Nos
países mais pobres, é maior a incidência de doenças transmissíveis, a maioria
relacionada às más condições sanitárias e à desnutrição.Nos países desenvol­
vidos, a população vive mais e acaba afetada por moléstias cardiovasculares,
que prejudicam o coração e os sistemas circulatório e respiratório.
Gripe Suína É causada pelo vírus A (H1N1), resultado da mutação de vírus
originalmente responsáveis pelas gripes humana e aviária, e inicialmente
transmitida por porcos. Os primeiros casos foram registrados em março de
2009, no sul dos Estados Unidos e no México, com alta taxa de mortalidade.
Pandemias Surgem quando um vírus sofre mutação e se espalha por diversas
regiões do planeta, com alta porcentagem de infectados e de mortos. A dis­
seminação da gripe suína seguiu esse desenvolvimento, assim como a gripe
espanhola, que matou dezenas de milhões de pessoas no início do século XX.
O que é Sigla para síndrome da imunodeficiência adquirida, em inglês, a aids
é uma doença infecciosa e contagiosa para a qual ainda não há cura. A proli­
feração descontrolada do vírus HIV arrasa o sistema de defesa do organismo
e abre as portas para outras infecções e tumores.
Números De acordo com o Programa das Nações Unidas para Aids/HIV
(Unaids), o número de mortes em decorrência de complicações causadas pela
doença cresce num ritmo lento, de 1,9 milhão em 2001 para 2 milhões em 2008.
Já o número de pessoas infectadas cai: de 3,2 milhões em 2001 para 2,7 milhões
em 2008, o que indica que o mundo superou o auge da epidemia. Mas a aids
ainda é um problema gravíssimo, especialmente na África Subsaariana.
Soropositivos A melhora no quadro está sendo possível graças às cam­
panhas de prevenção, como as que defendem o uso de preservativos, e dos
tratamentos com medicamentos antirretrovirais. Com a terapia, um núme­
ro cada vez maior de soropositivos sobrevive mais tempo: no fim de 2008,
33,4 milhões de pessoas conviviam com o HIV. Em 2001, eram 29 milhões.
Bioma É um conjunto de ecossistemas que formam uma comunidade estável,
adaptada às condições naturais de uma região e geralmente caracterizada por
um tipo principal de vegetação, solo, clima e relevo. Entre os biomas brasilei­
ros, cerrado e mata Atlântica encontram-se na lista dos 34 hotspots da Terra
– locais que reúnem rica biodiversidade, mas estão sob forte ameaça.
Mata Atlântica Foi o primeiro bioma a sofrer o impacto do desenvolvimento,
há vários séculos, com a retirada do pau-brasil e, depois, com as lavouras de
cana-de-açúcar. O crescimento das cidades alterou a paisagem e levou ao
lançamento de esgoto nos rios, poluindo os mananciais.
Cerrado Depois da mata Atlântica, é o bioma que mais sofreu com a ocupação
humana. Inicialmente, os garimpos poluíram os rios com mercúrio e erodiram
o solo. Mais tarde, foram a monocultura intensiva de grãos e a pecuária. Re­
centemente, as plantações de cana para a produção de biocombustível têm
se expandido. Se as taxas de desmatamento mantiverem o ritmo acelerado, o
cerrado poderá estar muito reduzido até 2030.
Gelo O nome do continente vem do grego antartiko, que significa “oposto
ao Ártico”. É uma área de terra coberta por uma enorme camada de gelo, com
espessura média de 2 quilômetros. No inverno, a superfície do continente, de
13,2 milhões de quilômetros quadrados, dobra de tamanho com o congela­
mento das águas dos mares ao redor. Essa massa de gelo é de vital importância
ambiental, pois concentra 70% das reservas de água doce da Terra.
Tratado da Antártida O documento, assinado em 1959 e em vigor desde
1961, estabelece que os países que pretendiam se apossar de terras no con­
tinente abririam mão desses planos, permitindo a liberdade de exploração
científica na região em regime de cooperação internacional. Em 1991, como
um aprimoramento das propostas iniciais, foi assinado o Protocolo de Madri,
que fez da Antártida uma reserva natural, dedicada apenas à ciência.
Brasil Possui a Base Comandante Ferraz na Ilha do Rei George, que faz moni­
toramento ambiental e atmosférico, além de estudos sobre a repercussão, no
território brasileiro, das mudanças que ocorrem no continente gelado.
k ciências e meio ambiente TERREMOTOS
k ciências e meio ambiente AQUECIMENTO GLOBAL
k ciências e meio ambiente Nanotecnologia
k ciências e meio ambiente Células-tronco
Placas tectônicas São blocos gigantescos que integram a camada sólida
externa da Terra. Ao todo, o globo é composto de 12 grandes placas e 20 placas
menores. A movimentação das placas, que estão sobre o manto, sujeito a tem­
peraturas e pressão muito altas, é constante e lenta. De tempos em tempos,
elas se atritam, provocando imenso acúmulo de energia. A pressão aumenta
até que toda a energia seja liberada, causando o terremoto. A escala Richter,
referência para medir a intensidade dos tremores, define a magnitude de um
abalo sísmico, ou seja, a quantidade de energia liberada e seu alcance.
Haiti e Chile Em janeiro de 2010, o Haiti, no Caribe, foi atingido por um
terremoto de 7 pontos na escala Richter. Estimam-se 230 mil mortos, em razão
também da precária infraestrutura do país. Pouco mais de um mês depois, o
Chile, na América do Sul, sofreu um abalo de 8,8 pontos na escala Richter, o
sexto maior abalo sísmico já registrado no mundo.
Deriva dos continentes É o deslocamento contínuo dos continentes, como
resultado do movimento das placas tectônicas. A América do Sul, por exemplo,
desloca-se lentamente na direção da Ásia.
Efeito Estufa É um fenômeno natural causado por gases na atmosfera que
retêm parte do calor recebido do Sol. Cientistas acreditam que o aumento
anormal na concentração desses gases, como o gás carbônico (CO2), liberado
pela ação humana, principalmente na queima de combustíveis fósseis (gaso­
lina, diesel) pelas indústrias e veículos e no desmatamento, reforce o efeito
estufa, provocando o aquecimento global.
Convenção de Copenhague A Conferência das Partes (COP15) de Copenha­
gue, realizada na Dinamarca em 2009, visava a definir um acordo para reduzir a
emissão de gases poluentes entre 25% e 40% até 2020. A reunião acabou sem
acordo, e as decisões foram adiadas para a COP16, que ocorrerá no México,
em dezembro de 2010.
Brasil Diferentemente de outros países que contribuem para o aumento do
efeito estufa pela dependência excessiva dos combustíveis fósseis, o Brasil
emite gases do efeito estufa principalmente por causa do desmatamento da
floresta Amazônica. A política nacional de mudanças climáticas estabelece a
meta de redução do desmatamento dessa floresta em 80% até 2020.
O que é Trata-se de uma área multidisciplinar da ciência que associa conceitos
e ferramentas da física, química, biologia e engenharia na manipulação de
estruturas atômicas e moleculares, por meio de microscopia ou combinação
química. Lida com dimensões na escala do nanômetro (1 nanômetro é igual a
1 milionésimo de milímetro). A ideia de organizar artificialmente os átomos e
moléculas foi proposta em 1959, pelo físico Richard Feynman.
Aplicação Por seu aspecto multidisciplinar, a pesquisa em nanotecnologia
encontra aplicação nas mais diversas áreas: do meio ambiente à saúde, da
informática à engenharia. A promessa mais expressiva é na medicina, no de­
senvolvimento de substâncias que se liguem a células ou tecidos doentes para
tratamento, por exemplo, de tumores cancerígenos.
Limites Diversos produtos disponíveis no mercado já utilizam nanotecnolo­
gia, como discos rígidos (HDs) de computadores e protetores solares. Mas as
grandes promessas ainda dependem de anos de pesquisa e estudos. Um dos
principais receios da comunidade científica quanto aos produtos desenvolvi­
dos à base de nanotecnologia diz respeito a sua eventual toxicidade.
O que são Células-tronco são aquelas que podem transformar-se em diversos
tecidos do organismo humano. Encontram-se nos embriões, no cordão um­
bilical e em partes do corpo humano adulto, como medula óssea e sangue. As
células-tronco mais versáteis são as embrionárias, que podem modificar-se
em todos os tipos de célula do corpo humano.
Polêmica Para alguns grupos religiosos, o ser humano começa a existir no
momento da fecundação do óvulo pelo espermatozoide, e a vida humana é
protegida pela lei brasileira. Mas os defensores das pesquisas com célulastronco embrionárias argumentam que os embriões inviáveis, armazenados em
clínicas de reprodução assistida, jamais se desenvolverão como seres humanos
e podem ser úteis às pesquisas.
Legislação A Lei de Biossegurança, de 2005, regula as pesquisas com cé­
lulas-tronco embrionárias e autoriza o uso de embriões fertilizados in vitro e
considerados inviáveis. Em 2008, o Supremo Tribunal Federal entendeu como
constitucionais as regras definidas pela Lei de Biossegurança. As pesquisas
com células-tronco embrionárias estão liberadas no Brasil.
atualidades vestibulaR + ENEM 2011
2011 atualidades vestibular + ENEM
223
Simuladão
respostas comentadas de questões de atualidades selecionadas entre os maiores vestibulares do país
1. (Fuvest 2010)
BRASIL
%
40
Déficit habitacional
por região
%
60
Participação no PIB nacional
por região
50
30
40
20
30
20
10
10
0
N
NE
S
SE
Regiões
CO
0
N
NE
SE S
Regiões
CO
Fonte: IBGE, 2006/2007
Desde o final da década de 1970, no Brasil, os movimentos sociais urbanos
têm reivindicado o chamado Direito à Cidade, em que a moradia é elemento
fundamental. Acerca desse tema, considere os gráficos, seus conhecimentos e
as seguintes afirmações:
I. A Região Sudeste responde por mais da metade do PIB nacional, sendo,
porém, a região com maior déficit habitacional. Consequentemente, forte
concentração de capital não significa acesso à moradia.
II. A Região Nordeste tem o segundo maior déficit habitacional e a terceira maior
participação no PIB nacional. Isso significa que a histórica desigualdade
social nessa região foi superada.
III.A Região Norte tem o segundo menor déficit habitacional e a menor participação no PIB nacional. Isso significa que o déficit habitacional é um
problema desvinculado da produção/distribuição de riqueza.
Está correto o que se afirma em
a) I, apenas.
b) I e II, apenas.
c) I e III, apenas.
d) II e III, apenas.
e) I, II e III.
2. (UFBA 2010 — adaptado)
Na atual época da globalização, há uma interligação entre as economias
de todas as nações, os capitais se movem em grande velocidade, bancos e
empresas se associam e se fundem em diferentes países e continentes, e uma
crise iniciada nos Estados Unidos, a economia mais poderosa do planeta —
responsável por cerca de um quarto de tudo que é produzido no mundo —, afeta
todos os mercados em questão de horas. (ZOCCHI; JONES, 2009, p. 100)
A partir dessas informações e dos conhecimentos sobre a crise econômica mundial
e suas consequências, identifique e explique a(s) afirmativa(s) correta(s):
224
atualidades vestibular + enem 2011
I. O fluxo intenso de produtos e serviços, a interdependência das economias
dos países a formação de blocos econômicos, como o Mercosul, são características da globalização.
II. A crise financeira do subprime – devedores com histórico de inadimplência
ou dificuldade de comprovação de renda –, nos Estados Unidos, em meados
de 2007, levou ao “estouro da bolha imobiliária”, que tomou dimensão
internacional.
III. O baixo nível dos estoques mundiais de alimentos, o acesso reduzido aos
créditos e a possível ocorrência de elevação da temperatura do planeta em
mais dois graus, nos próximos anos, poderão provocar a diminuição mundial
de alimentos, particularmente na África, na Ásia e na América Latina.
IV. Os países emergentes, como a China, a Índia e a Federação Russa, ficaram
à margem da tormenta, mantendo seus mercados internos e externos em
equilíbrio e suas economias em crescimento.
V. A economia brasileira ainda sofre os reflexos da crise, mesmo depois de vários
meses de seu início, mas é consenso que o Brasil foi um dos países menos
afetados, de acordo com pareceres de organizações, como o Fundo Monetário
Internacional, o Banco Mundial, e de alguns economistas do país.
VI. A fase mais aguda da crise levou o Brasil a gastar as suas reservas em
moeda forte, restringir o mercado externo, diminuindo significativamente
o número de compradores, e estagnar o crescimento do PIB do país.
VII.A crise econômico-financeira de 1929 e a eclodida em 2008 apresentam
como semelhança o processo de especulação, e, como diferença, a rapidez
de propagação entre os mercados, fenômeno específico da sociedade
globalizada.
3.
(Mackenzie 2010)
A estrutura psicológica do ser humano não suporta que a dor e a angústia se
mantenham tão vivas na memória como no momento em que ocorreram. [...]
Por isso, agora, ao sairmos desses 20 anos difíceis e doloridos de nossa história,
a lembrança de que houve irmãos nossos, nesse período, que perseguiam sem
piedade, torturaram e mesmo mataram pessoas pelo simples fato de elas se
oporem ao governo que se impôs ao país em 1964, parece mais pesadelo do
que realidade. E, no entanto, esse absurdo ocorreu, aqui em nossa terra,
como se um vendaval frio de loucura tivesse gelado esses corações. [...] Que
objetivos justificam tudo isso?
Dom Paulo Evaristo Arns
Identifique a alternativa relacionada ao contexto histórico citado.
a) O Brasil, liderado pelos Estados Unidos, vivia guerra aberta contra o narcotráfico, que, aliado às FARC, assolava a América do Sul, sobretudo a região
de fronteira amazônica.
b) A chamada “guerra das civilizações” entre Ocidente e Oriente ameaçava a
hegemonia americana; apoiando ditaduras militares, os EUA procuravam
deter o avanço do fanatismo islâmico na América.
c) O mundo encontrava-se em sua ordem bipolar e os Estados Unidos procuravam, por meio do apoio a golpes e a regimes ditatoriais na América Latina,
deter o avanço do Comunismo.
d) O avanço da ideologia nazista pelo mundo e as pretensões imperialistas
alemãs justificam as práticas autoritárias citadas, que garantiriam o sucesso
da Doutrina de Segurança Nacional.
e) O crescimento do Positivismo entre os líderes populistas ameaçava os ideais
neoliberais das Forças Armadas, que tomaram o poder e implantaram um
verdadeiro “terror de estado” no país.
4. (UFSC 2010 — adaptado)
Se as tecnologias de produção do combustível celulósico se mostrarem viáveis,
haverá matéria-prima considerável – bagaço – já disponível nas usinas para
ser usada, diferentemente dos Estados Unidos, onde o transporte e a logística
devem continuar sendo um desafio.
Disponível em: <http://www.estadao.com.br/noticias/economia,petrobrasdeve-iniciar- producao-de-etanol-celulosico-em-2012,380467,0.htm>
Acesso em: 9 ago. 2009 (adaptado)
Texto 1
Com base nos textos 1 e 2, assinale e comente a(s) proposição(ões) CORRETA(S).
I. Conforme o texto 2, os EUA lideram, desde 2007, a produção e a comercialização de etanol de segunda geração no mundo.
II. De acordo com o texto 2, o etanol de segunda geração, produzido a partir da
celulose, presente nos resíduos da cana-de-açúcar e em outras matériasprimas vegetais, é uma alternativa viável para a produção de combustível,
sem prejudicar a produção de alimentos.
III. O texto 1 é uma charge que sintetiza, criticamente, os temas tratados no texto 2.
IV. A partir da charge (texto 1), pode-se inferir que, ao longo das décadas,
atribuem-se diferentes causas para o problema da fome.
V. O texto 2 enfoca as vantagens ambientais do uso energético da biomassa
(bagaço).
VI.No texto 1, parte do humor da charge se constrói mediante um elaborado
jogo de repetições e trocas, como se pode constatar na manutenção do
mesmo predicado com diferentes sujeitos.
Disponível em: <http://www.biodieselbr.com/charges/laqua/alimentoversus-biodiesel.htm.> Acesso em: 9 ago. 2009 (adaptado)
Texto 2
Petrobras deve iniciar produção de etanol celulósico em 2012
A Petrobras deve iniciar a produção comercial de etanol de segunda geração
feito a partir de material celulósico em 2012. Segundo autoridades governamentais, “o objetivo é manter a liderança do Brasil em termos de produtividade
em etanol de primeira geração e disputar a liderança em etanol de segunda
geração”, porque os Estados Unidos superaram o Brasil como maior produtor
de etanol do mundo em 2007.
O Brasil, que produz o etanol a partir da cana-de-açúcar, continua sendo o
produtor mais eficiente do biocombustível de primeira geração. Nos EUA, o
etanol é feito principalmente com milho, um método de produção consideravelmente menos eficiente.
A produção de etanol de segunda geração ainda não atingiu a escala comercial,
mas algumas empresas apostam no uso de material celulósico, como bagaço
de cana ou grama, para a produção de biocombustíveis, em parte como uma
maneira de evitar produtos que sejam alimentos. A forte expansão da produção
de etanol nos EUA nos últimos anos foi amplamente criticada por contribuir
para a inflação dos alimentos.
[...]
A safra de cana do Brasil deve chegar a 630 milhões de toneladas nesta temporada, com as quais serão produzidos 28 bilhões de litros de etanol. O bagaço é
aproveitado nas usinas para gerar energia através da queima da biomassa.
5.
(Enem 2009)
O movimento migratório no Brasil é significativo, principalmente em função
do volume de pessoas que saem de uma região com destino a outras regiões.
Um desses movimentos ficou famoso nos anos 80, quando muitos nordestinos
deixaram a região Nordeste em direção ao Sudeste do Brasil. Segundo os dados
do IBGE de 2000, esse processo continuou crescente no período seguinte, os anos
90, com um acréscimo de 7,6% nas migrações deste mesmo fluxo. A Pesquisa
de Padrão de Vida, feita pelo IBGE, em 1996, aponta que, entre os nordestinos
que chegam ao Sudeste, 48,6% exercem trabalhos manuais não qualificados,
18,5% são trabalhadores manuais qualificados, enquanto 13,5%, embora
não sejam trabalhadores manuais, se encontram em áreas que não exigem
formação profissional. O mesmo estudo indica também que esses migrantes
possuem, em média, condição de vida e nível educacional acima dos de seus
conterrâneos e abaixo dos de cidadãos estáveis do Sudeste.
Disponível em: http://www.ibge.gov.br. Acesso em: 30 jul. 2009 (adaptado)
Com base nas informações contidas no texto, depreende-se que
a) o processo migratório foi desencadeado por ações de governo para viabilizar
a produção industrial no Sudeste.
b) os governos estaduais do Sudeste priorizaram a qualificação da mão-deobra migrante.
c) o processo de migração para o Sudeste contribui para o fenômeno conhecido
como inchaço urbano.
d) as migrações para o sudeste desencadearam a valorização do trabalho
manual, sobretudo na década de 80.
e) a falta de especialização dos migrantes é positiva para os empregadores,
pois significa maior versatilidade profissional.
2011 atualidades vestibular + enem
225
Simuladão
6.
(Mackenzie 2010)
Em 2003, o governo russo convocou um plebiscito para definir o futuro político
da Chechênia. A grande maioria dos votantes apoiou a permanência da Chechênia
no interior da Federação Russa. Esse resultado foi entendido pelo governo russo
como apoio explícito dos chechenos às propostas de Moscou, que tem interesses
para manter esse território sob seu controle.
d) aumento da população em cerca de cinquenta milhões de pessoas, manutenção do número de homens e mulheres, aumento de crianças e velhos e
manutenção aproximada da população urbana e da população rural.
e) aumento da população em cerca de cinquenta milhões de pessoas, manutenção
aproximada da proporção de homens e mulheres, diminuição da proporção de
crianças e aumento da população urbana em detrimento da população rural.
A respeito desses interesses, analise as afirmativas I, II, III e IV, abaixo.
I. Interesse ambiental, pelo território em que se encontra, às margens do Mar
de Aral, fonte de recurso hídrico para o abastecimento de água potável à
população urbana de Moscou.
II. Interesse econômico, por ser esse território cortado por dutos, levando o
petróleo extraído na Bacia do Cáspio para os portos russos do Mar Negro.
III.Interesse geopolítico, pois uma Chechênia independente estimularia outras
repúblicas autônomas da Federação Russa a tentar seguir o mesmo caminho.
IV.Interesse cultural-religioso, pois uma Chechênia livre promoveria o recrudescimento do fundamentalismo islâmico na região, levando grupos de
fanáticos a se expandirem por outras áreas autônomas da Rússia asiática.
8. (Unicamp 2010)
Estão corretas
a) I e II, apenas.
b) II e III, apenas.
c) I, III e IV, apenas.
d) III e IV, apenas.
e) I, II, III e IV.
a) Qual a maior cidade nordestina fora do Nordeste brasileiro? Por que houve
o incentivo ao processo imigratório de nordestinos para São Paulo?
b) Quais as principais determinantes sociais e econômicas do processo migratório de nordestinos para São Paulo em meados do século XX?
9. (Uerj 2010)
7. (UEL 2010)
POPULAÇÃO TOTAL E PROPORÇÃO DA POPULAÇÃO POR SEXO,
GRANDES GRUPOS DE IDADE E SITUAÇÃO DE DOMICÍLIO
1980
1990
População do Brasil
119.002.706 146.825.475
Por sexo (%)
Homens
49,68
49,36
Mulheres
50,31
50,63
Por grandes grupos de idade (%)
0-14 anos
38,20
34,72
15-64 anos
57,68
60,45
65 e mais
4,01
4,83
Por situação do domicílio
Urbana
67,59
75,59
Rural
32,41
24,41
1996
2000
157.070.163 169.799.170
49,30
50,69
49,22
50,78
31,54
62,85
5,35
29,60
64,55
5,85
78,36
21,64
81,25
18,75
Disponível em: http://www.ibge.gov.br/brasil_em_sintese/tabelas/populacao_tabela01.htm. Acesso em: 5 out. 2009
De acordo com os dados da tabela, é correto afirmar, que ao longo dos vinte anos
que antecederam o último censo, ocorreu
a) aumento da população em cerca de setenta milhões de pessoas, manutenção
aproximada do número de homens, aumento de crianças e jovens, aumento
da população urbana e da população rural.
b) aumento da população em cerca de cinquenta milhões de pessoas, aumento
de homens e diminuição de mulheres, aumento da proporção de crianças e
aumento da população urbana e da população rural.
c) aumento da população em cerca de sessenta milhões de pessoas, aumento
da população infantil e diminuição da idade e aumento da população rural
em detrimento da população urbana.
226
O impacto sobre São Paulo dos migrantes nordestinos, que chegaram à
cidade no meio do século XX, foi tão grande quanto os efeitos produzidos pelos
imigrantes que vieram da Europa, do Oriente Médio e da Ásia em décadas
anteriores. Nos dois casos, os que dominavam a cidade incentivaram a vinda
desses trabalhadores e suas famílias (...). Entretanto, os efeitos sociais e
políticos foram sempre mais difíceis de digerir como demonstram os casos
recentes de uma prefeita da cidade e de um presidente da República, nascidos
no Nordeste, e objetos em São Paulo de preconceitos nada sutis.
Adaptado de Paulo Fontes. Um Nordeste em São Paulo – Trabalhadores Migrantes
em São Miguel Paulista (1945-66). Rio de Janeiro: FGV, 2008, p.13
atualidades vestibular + enem 2011
No admirável mundo novo das oportunidades fugazes e das seguranças frágeis,
a sabedoria popular foi rápida em perceber os novos requisitos. Em 1994, um
cartaz espalhado pelas ruas de Berlim ridicularizava a lealdade a estruturas
que não eram mais capazes de conter as realidades do mundo: “Seu Cristo é
judeu. Seu carro é japonês. Sua pizza é italiana. Sua democracia, grega. Seu
café, brasileiro. Seu feriado, turco. Seus algarismos, arábicos. Suas letras,
latinas. Só o seu vizinho é estrangeiro”.
ZygmunT Bauman
Adaptado de Identidade. Rio de Janeiro: Zahar, 2005
A alteração de valores culturais em diversas sociedades é um dos efeitos da
globalização da economia. O cartaz citado no texto ironiza uma referência cultural
que pode ser associada ao conceito de:
a) localismo
b) nacionalismo
c) regionalismo
d) eurocentrismo
10. (FGV Economia 2010)
Na Rússia, a mortalidade era de 16‰ em 2005 contra 8‰ nos Estados Unidos, e a
natalidade, de 10‰ na mesma data contra 14‰ nos Estados Unidos. A esperança
de vida é de 58 anos para os homens (era 63,8 anos nos anos de 1960) e de 72
anos para as mulheres. O déficit de população ativa é estimado em 18 milhões
de pessoas e, apesar do clima de xenofobia existente, o país deverá apelar para
a imigração para complementar a população ativa que necessita.
C.W.Wenden. Atlas Mondial des Migrations, adaptado
A leitura do texto e os conhecimentos sobre a realidade socioeconômica russa,
na atualidade, permitem afirmar que o país
a) está em fase de transição tanto econômica quanto demográfica.
b) enfrenta uma situação social e demográfica alarmante.
c) deve aumentar o ritmo de crescimento demográfico quando concluir a
transição política.
d) passa por um período de instabilidade demográfica semelhante ao que
ocorre na Europa.
e) tem adotado uma política de controle demográfico para manter a estabilidade
econômica.
11.
(Enem 2009)
No mundo contemporâneo, as reservas energéticas tornam-se estratégicas
para muitos países no cenário internacional. Os gráficos apresentados mostram
os dez países com as maiores reservas de petróleo e gás natural em reservas
comprovadas até janeiro de 2008.
POSIÇÃO/PAÍS
GÁS NATURAL – RESERVAS PROVADAS (METROS CÚBICOS)
1 Rússia
47.570.000.000.000
2 Irã
26.370.000.000.000
3 Catar
25.790.000.000.000
4 Arábia Saudita
6.568.000.000.000
5 Emirados Árabes Unidos 5.823.000.000.000
6 Estados Unidos
5.551.000.000.000
7 Nigéria
5.015.000.000.000
8 Argélia
4.359.000.000.000
9 Venezuela
4.112.000.000.000
10 Iraque
3.170.000.000.000
POSIÇÃO/PAÍS
PETRÓLEO – RESERVAS PROVADAS (BARRIS)
1 Arábia Saudita
266.800.000.000
2 Canadá
178.800.000.000
3 Irã
132.500.000.000
4 Iraque
115.000.000.000
5 Kuwait
104.000.000.000
6 Emirados Árabes Unidos
97.800.000.000
7 Venezuela
79.730.000.000
8 Rússia
60.000.000.000
9 Líbia
39.130.000.000
10 Nigéria
35.880.000.000
( ) As glomerações urbanas mantêm e reforçam laços interdependentes entre si
e com outras áreas que elas atraem. Estas áreas que sofrem atração podem,
às vezes, pertencer a regiões homogêneas diversas. Estas áreas criam um
sistema urbano regional mais bem definido. Portanto, as regiões, de forma
geral, nada mais são que recortes territoriais destas áreas.
( ) A característica marcante da estrutura dos sistemas de cidades que varia de
acordo com seu tamanho, com a extensão de sua área de influência espacial
e com a sua qualidade funcional no que se refere aos fluxos de bens, de
pessoas, de capital e de serviços. No esquema atual das relações entre as
cidades, uma vila pode se relacionar diretamente com a metrópole nacional,
ao contrário do esquema clássico, onde a vila se relaciona, primeiramente,
com a cidade local, depois com o centro regional, e em sequência, com a
metrópole regional e nacional.
( ) O processo vinculado às transformações sociais que provocam a mobilização de pessoas, geralmente, de espaços rurais para centros urbanos.
Essa mobilização de pessoas é motivada pela busca por estratégias de
sobrevivência, visando à inserção no mercado de trabalho bem como na
vida social e cultural do centro urbano.
( ) O conjunto articulado ou integrado de áreas urbanas que cobrem um determinado espaço geográfico e que se relacionam continuamente.
( ) O termo empregado para cidade central de uma determinada região geográfica,
densamente urbanizada, que assume posição de destaque na economia, na
política, na vida cultural,etc. A mancha urbana é formada, geralmente, por
cidades com tendência ao fenômeno de conurbação. Vários municípios formam
uma grande comunidade, interdependente entre si e com a preocupação de
resolver os problemas de interesse comum.
A sequência correta obtida a partir da correlação entre os conceitos e as definições é:
a) I, II, IV, V, III.
b) II, V, I, III, IV.
c) IV, III, I, II, V.
d) III, IV, I, II, V.
e) IV, I, V, II, III.
13. (Fuvest 2010)
Disponível em: http://indexmundi.com. Acesso em: 12 ago. 2009 (adaptado)
As reservas venezuelanas figuram em ambas as classificações porque
a) a Venezuela já está integrada ao MERCOSUL.
b) são reservas comprovadas, mas ainda inexploradas.
c) podem ser exploradas sem causar alterações ambientais.
d) já estão comprometidas com o setor industrial interno daquele país.
e) a Venezuela é uma grande potência energética mundial.
12.
(Unesp 2010)
Correlacione os conceitos a seguir:
I. Urbanização;
II. Rede urbana;
III.Hierarquia urbana;
IV. Polarização; e
V. Metrópole.
Considere os mapas do Estado de São Paulo, seus conhecimentos e as afirmativas abaixo.
I. A expansão desse cultivo tem ocorrido, principalmente, com vistas ao
aumento da produção de etanol para o abastecimento dos mercados interno
e externo.
II. O cultivo desse produto agrícola tem ocupado porções do Oeste Paulista
que, tradicionalmente, eram ocupadas com pasto.
III.A expansão desse cultivo tem acarretado a diminuição da produção de
gêneros alimentícios em algumas regiões do estado.
2011 atualidades vestibular + enem
227
Simuladão
c) A distribuição da população idosa terá uma maior concentração entre os países
ricos e emergentes, por terem maior acesso à tecnologia da medicina.
d) A maior concentração de idosos estará em países subdesenvolvidos, proveniente do elevado crescimento vegetativo de hoje.
e) O maior número de idosos se concentrará no continente europeu, devido ao
crescimento e à expansão da União Europeia, que proporcionará igualdade
de tecnologia e tratamentos médicos à sua população.
Está correto o que se afirma em:
a) I e II, apenas.
b) II, apenas.
c) II e III, apenas.
d) III, apenas.
e) I, II e III.
14. (Unicamp 2010)
“Em 1985, viviam na Região Metropolitana de São Paulo mais de 14 milhões de
pessoas. A maioria mora em habitações precárias - favelas, cortiços e casas
autoconstruídas em terrenos destituídos de serviços públicos - e ganha poucos
salários mínimos por mês, revelando um acentuado grau de pauperismo e
precárias condições urbanas de existência. A Região configura-se enquanto
Metrópole não só pela sua extensão territorial, mas também porque é a partir
dela que se organiza a dinâmica do capitalismo no Brasil, pois aí se concentra
a engrenagem produtiva essencial à economia do País (...).”
Lúcio Kowarick, Escritos Urbanos. São Paulo: Ed. 34, 2000, p.19
a) O que define uma metrópole?
b) Identifique dois fatores econômicos determinantes na metropolização de
São Paulo.
15. (Fuvest 2010)
POPULAÇÕES URBANA E RURAL NO BRASIL (1920-2000)
população rural
população urbana
%
100
90 84%
80
81,2%
70
69%
60
50
45%
40
30
20
10
0
74%
67%
55%
33%
31%
26%
16%
1920
18,8%
1930
1940
1950
1960
1970
1980
1990
2000
Fonte: IBGE, Recenseamentos Gerais (1920-2000)
Observe o gráfico e, a partir dele,
a) indique as transformações demográficas ocorridas no período mencionado.
b) discorra sobre as mudanças sociais decorrentes da urbanização.
16. (Mackenzie 2008)
Hoje, a população idosa no mundo é de aproximadamente 650 milhões de
habitantes. Segundo a ONU, a perspectiva para 2050 é de que o mundo tenha 2
bilhões de pessoas com mais de 60 anos. Assinale a alternativa que corresponde
à correta distribuição demográfica de idosos no planeta, nesse período.
a) A população idosa terá uma distribuição demográfica homogênea, devido
à conquista de recursos na área de saúde, que atingirão a maior parte da
população mundial.
b) A maior parte da população idosa estará concentrada nos países desenvolvidos,
onde o investimento no social é alto, gerando uma elevada expectativa de vida.
228
atualidades vestibular + enem 2011
17. (Enem 2009)
À medida que a demanda por água aumenta, as reservas desse recurso vão se
tornando imprevisíveis. Modelos matemáticos que analisam os efeitos das
mudanças climáticas sobre a disponibilidade de água no futuro indicam que
haverá escassez em muitas regiões do planeta. São esperadas mudanças nos
padrões de precipitação, pois
a) o maior aquecimento implica menor formação de nuvens e, consequentemente, a eliminação de áreas úmidas e subúmidas do globo.
b) as chuvas frontais ficarão restritas ao tempo de permanência da frente em
uma determinada localidade, o que limitará a produtividade das atividades
agrícolas.
c) as modificações decorrentes do aumento da temperatura do ar diminuirão
a umidade e, portanto, aumentarão a aridez em todo o planeta.
d) a elevação do nível dos mares pelo derretimento das geleiras acarretará
redução na ocorrência de chuvas nos continentes, o que implicará a escassez
de água para abastecimento.
e) a origem da chuva está diretamente relacionada com a temperatura do ar,
sendo que atividades antropogênicas são capazes de provocar interferências
em escala local e global.
18.
(UEL 2010)
Texto 1
Dados do IBGE (2000) apontam para a configuração de uma hierarquia da rede
urbana no Brasil com a classificação de quatro categorias de estudo:
• Metrópoles globais, nacionais e regionais (13 centros urbanos, exceto
Manaus)
• Centros regionais (16 centros, com 13 aglomerações urbanas não-metropolitanas). Ex: Ribeirão Preto - SP, Londrina - PR, Florianópolis - SC, Uberlândia
- MG, entre outras.
• Centros subregionais 1 e 2 (82 centros urbanos, sendo 31 CSR 1 e 51 CSR
2). Exs: CSR1: Maringá - PR; Joinville - SC; Criciúma - SC; São Carlos - SP;
Uberaba - MG; entre outras.
• C entros de expressão local e cidades pequenas (o restante dos municípios
do país).
Texto II
Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA (1999) mostram
que o processo de urbanização no Brasil, nos anos 80 e 90, levou à formação de
12 metrópoles e 37 aglomerações urbanas não metropolitanas, concentrando
aproximadamente 47% da população do país, segundo critérios estabelecidos
por aquele instituto.
Santos, E.C. “Caracterização do Sistema Urbano Brasileiro e Seus Principais
Problemas”. Ensaio. Curitiba, 2005
Sobre a urbanização, é correto afirmar:
I. A complexidade da questão urbana no Brasil é relativa principalmente à
continentalidade do território ao ritmo e características da sua ocupação
territorial, às características específicas do processo histórico e de desen-
volvimento do país e ao ritmo e características específicas do processo de
urbanização brasileiro.
II. O padrão de distribuição das cidades pelo território, resultante do nível de
urbanização, é dado por fatores independentes que determinam a forma
da rede urbana e o tamanho das cidades dentro do sistema urbano.
III.A rede urbana em sua distribuição espacial pelo território nacional é acentuadamente homogênea e desconcentrada, com características e problemas
comuns a quase todas as cidades, independentemente de seus respectivos
tamanhos.
IV. A configuração atual da rede urbana brasileira mostra que enquanto 13
municípios – com mais de 1 milhão de habitantes – respondem por mais de
20% de toda a população do país, tem-se milhares de municípios – com menos
de 20 mil habitantes – concentrando menos de 20% da população.
Assinale a alternativa correta.
a) Somente as afirmativas I e IV são corretas.
b) Somente as afirmativas II e III são corretas.
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
e) Somente as afirmativas I, II e IV são corretas.
19. (FGV Economia 2010)
Um estudo realizado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada)
mostrou que, até 1995, cada aumento na oferta de trabalho formal correspondia
a uma redução do índice de trabalhadores na informalidade. Desde então, a
lógica mudou, e a tendência hoje mostra que a criação de novos empregos, com
carteira assinada, não causa mais esse impacto. Assim, pode-se afirmar que,
nestes últimos 15 anos, a informalidade
A notícia reflete preocupações inerentes à nova ordem mundial. De que modo
pode-se explicar o fenômeno da fome nos dias de hoje?
a) A fome hoje é uma consequência da falência das economias da China, Índia
e Indonésia, que estão entre as que melhor absorvem o impacto da crise.
b) O número de miseráveis no mundo aumentou por causa da bipolarização
econômica, que transferiu riquezas para os países periféricos do hemisfério
sul.
c) A produção de alimentos no mundo diminuiu drasticamente, devido à falta
de investimentos econômicos na zona rural.
d) A fome começou a se espalhar pelo mundo depois do início da globalização,
quando milhões de pessoas abandonaram o campo, devido à industrialização
e urbanização do meio rural.
e) A crise econômica aumentou o desemprego e reduziu o poder de compra
da população, além de ter contribuído para o aumento nos preços dos
alimentos.
22. (Fuvest 2010)
“O poder do cidadão, o poder de cada um de nós, limita-se, na esfera política,
a tirar um governo de que não gosta e a pôr outro de que talvez venha a se
gostar. Nada mais. Mas as grandes decisões são tomadas em uma grande esfera
e todos sabemos qual é. As grandes organizações financeiras internacionais,
o FMI, a Organização Mundial do Comércio, os bancos mundiais, tudo isso.
Nenhum desses organismos é democrático. E, portanto, como é que podemos
falar em democracia, se aqueles que efetivamente governam o mundo não
são eleitos democraticamente pelo povo?”
Discurso de José Saramago, disponível em www.revistaforum.com.br.
Acessado em 11/9/2009
a) cristalizou-se como válvula de escape do desemprego.
b) está inserida na conjuntura mundial de barateamento da mão de obra.
c) implica o aumento da carga tributária paga pelos assalariados.
d) absorve a parte da população jovem masculina que ingressa no mercado de
trabalho.
e) contribui para o aumento da flexibilização do mercado de trabalho.
20. (Unicamp 2009)
Recentemente, a relação entre a expansão da produção de agrocombustíveis e
a produção de alimentos entrou na agenda política internacional. Considerando
esse fato, responda às questões:
a) No Brasil, a produção de agrocombustíveis tem forte base na cultura da canade-açúcar. Aponte o principal impacto socioeconômico advindo do crescimento
da produção de cana-de-açúcar e identifique os principais Estados brasileiros
em que essa expansão vem ocorrendo mais fortemente.
b) A implementação de uma política de soberania ou segurança alimentar tem
sido indicada como alternativa à crise de alimentos. Quais os principais
objetivos das políticas de segurança alimentar?
21. (Unesp 2010)
Segundo Jacques Diouf, diretor-geral da FAO – Organização das Nações Unidas
para Agricultura e Alimentação –, a crise silenciosa da fome, que afeta um
sexto de toda a humanidade, constitui um sério risco para a segurança e a
paz mundial (...). Hoje, o aumento da fome é um fenômeno global. Todas as
regiões foram afetadas.
Folha de S.Paulo, 20/6/2009
Na charge acima, o cidadão sentado representa o presidente de um país emergente.
Considerando a referida charge, o texto e seus conhecimentos,
a) caracterize a Nova Ordem Econômica Mundial.
b) analise a relação entre regime político democrático e neoliberalismo, no
mundo atual.
23. (Enem 2009 — prova anulada)
Quatro olhos, quatro mãos e duas cabeças formam a dupla de grafiteiros
Osgemeos. Eles cresceram pintando muros do bairro Cambuci, em São Paulo,
e agora têm suas obras expostas na conceituada Deitch Gallery, em Nova
Iorque, prova de que o grafite feito no Brasil é apreciado por outras culturas.
Muitos lugares abandonados e sem manutenção pelas prefeituras das cidades
tornam-se mais agradáveis e humanos com os grafites pintados nos muros.
Atualmente, instituições públicas educativas recorrem ao grafite como forma de
expressão artística, o que propicia a inclusão social de adolescentes carentes,
2011 atualidades vestibular + enem
229
Simuladão
demonstrando que o grafite é considerado uma categoria de arte aceita e
reconhecida pelo campo da cultura e pela sociedade local e internacional.
Disponível em: http://www.flickr.com. Acesso em 10 de setembro 2008 (adaptado)
No processo social de reconhecimento de valores culturais, considera-se que
a) grafite é o mesmo que pichação e suja a cidade, sendo diferente de obra
dos artistas.
b) a população das grandes metrópoles depara-se com muitos problemas
sociais, como os grafites e as pichações.
c) atualmente, a arte não pode ser usada para a inclusão social, ao contrário
do grafite.
d) os grafiteiros podem conseguir projeção internacional, demonstrando que
a arte do grafite não tem fronteiras culturais.
e) lugares abandonados e sem manutenção tornam-se ainda mais desagradáveis
com a aplicação do grafite.
Em 1950, por outro lado, Vargas, ainda candidato à presidência, proclamava que:
“(...) a criação de novos hábitos políticos, reclamada insistentemente pela
opinião pública, dar-se-á pela presença efetiva do povo no trato e na solução dos problemas nacionais. (...) Somos uma Nação de economia ainda
onerada por condições semicoloniais, em que a riqueza de possibilidades
naturais contrasta com a pobreza do homem.”
Citado por D’ARAÚJO, Maria Celina Soares. O Segundo Governo Vargas,
1951–1954. 2ª ed., São Paulo: Ática, 1992, p. 84
Observe o gráfico abaixo.
TRANSPORTE NO BRASIL
%
60
Indique um país que promova campanha de incentivo à natalidade, apresentando uma
justificativa para isso. Em seguida, identifique um motivo pelo qual a população do
Brasil não diminuiu entre 1982 e 2008, apesar dos dados acima apresentados.
40
30
20
27. (UFRJ 2010)
10
Ro
d
Fe oviá
rro rio
Aq viá
u ri
Du aviá o
tov rio
iár
Aé io
reo
Ro
d
Fe oviá
rro rio
Aq viá
u ri
Du aviá o
tov rio
iár
Aé io
reo
0
2005
2025
Fonte: Plano Nacional sobre Mudança do Clima. www.mma.gov.br
Acessado em 15de julho de 2009
a) Analise a matriz brasileira dos transportes, em 2005, considerando aspectos
históricos e políticos.
b) Explique a previsão da matriz brasileira dos transportes, para o ano de 2025,
considerando aspectos ambientais implícitos.
25. (UFPR 2010)
Getúlio Vargas foi presidente do Brasil de 1930 a 1945 e de 1951 a 1954. Foram
muitas as diferenças entre suas formas de atuação entre 1930 e 1937, entre
1937 e 1945 e entre 1951 e 1954. Leia os dois pronunciamentos seguintes,
do próprio Vargas.
Em 1937, dizia que:
“(...) não se oferecia outra alternativa além da que foi tomada, instaurando-se
um regime forte, de paz, de justiça e de trabalho. Quando os meios de governo
não correspondem mais às condições de existência de um povo, não há outra
solução senão mudá-los, estabelecendo outros moldes de ação.”
Reproduzido de FENELON, Dea (org.). 50 Textos de História do Brasil. São
Paulo: Hucitec, 1974, p. 159
230
atualidades vestibular + enem 2011
A desconcentração industrial muda o Sudeste Brasileiro
“O fenômeno da desconcentração industrial está modificando o perfil da
economia da Região Sudeste. Durante boa parte do Século XX, de cada
quatro indústrias, três ficavam no Sudeste. Hoje, embora ainda exista forte
concentração de empresas, a realidade é outra. As indústrias estão se espalhando pelo país.”
Almanaque Abril 2009
26. (Uerj 2010)
50
O aumento do número de acordos de integração regional foi um dos principais
eventos nas relações internacionais nas últimas décadas. Praticamente todos os
países são membro de algum bloco e muitos participam de mais de um.
a) Apresente duas vantagens da criação de blocos econômicos para os países
integrantes.
b) Apresente uma característica que diferencia a União Europeia de outros
acordos de integração regional.
28.
(Unesp 2010)
Nunca na história da humanidade houve tão grande concentração de poder
nuns poucos lugares nem tamanha separação e diferença no interior da comunidade humana. Formou-se um mundo quase totalmente integrado – um
sistema mundo – evidentemente controlado a partir de alguns centros de
poderes econômicos e políticos.
Olivier Dollfus, 1994 (adaptado)
Neste sistema mundo contemporâneo, pode-se identificar que
a) as maiores potências nucleares do século XXI são: Estados Unidos, França,
Canadá, Japão, Alemanha, Índia e Paquistão.
b) o Ocidente não tem medo da proliferação de armas nucleares principalmente
em regimes hostis aos Estados Unidos.
c) o Irã, a Síria e Mianmar formam um grupo de países que abriram mão de
seus projetos voltados à proliferação da tecnologia de armas nucleares.
d) a Coreia do Norte tem grande dependência da China, por ser esta a maior
exportadora de alimentos e energia aos norte-coreanos.
e) a paz entre os palestinos e Israel depende apenas de acordos com os EUA.
Explique as mudanças no que se refere à
a) política econômica.
b) questão social.
32. (Mackenzie 2010)
No que diz respeito à relação entre crescimento econômico e democracia, escreva
um texto identificando as principais diferenças entre o Estado Novo (1937–1945)
e o governo varguista que se estendeu de 1951 até seu suicídio em 1954.
Pare de tomar a pílula
Dia desses, podem lançar uma campanha para as mulheres brasileiras voltarem
a ter mais filhos, como já acontece em alguns países mundo afora.
Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios revelam que, se dependesse apenas do nascimento de bebês, nossa população já teria encolhido: em
1982, eram 6,7 milhões de brasileiros com menos de um ano; em 2008, eram
5,2 milhões, ou seja, 1,5 milhão de brasileirinhos a menos no país.
Adaptado de O Globo, 20/9/2009
24. (Fuvest 2010)
29. (UFBA 2010 — adaptada)
DESCONCENTRAÇÃO INDUSTRIAL
Logo após o final da Segunda Guerra Mundial (1945), o grande império
soviético estava dividido administrativamente em 15 repúblicas federadas
unidas por um governo central (Moscou). Essa organização se manteve até
agosto de 1991, quando, após meio século de crescimento, o império soviético
se desmantelou e a situação se modificou na transição para o capitalismo,
deixando várias sequelas. (Adas, 2001, p. 35).
Número de indústrias conforme a região do Brasil, em 2006
Total: 6.144.500 indústrias
Centro-Oeste
7,1%
Norte
3,5%
Nordeste
15,6%
Fundamentado no mapa, no texto e nos conhecimentos sobre a União das
Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e sua desintegração,
a) mencione como se organizou o espaço da União Soviética quando foi desintegrado politicamente, em 1991;
b) cite dois efeitos negativos ocorridos na Federação Russa, após o fim da
União Soviética.
Sudeste
50,5%
Sul
23,3%
Fonte: Cadastro Central de Empresas 2006/IBGE
30.
(Enem 2009)
A partir de 1942 e estendendo-se até o final do Estado Novo, o Ministro do
Trabalho, Indústria e Comércio de Getúlio Vargas falou aos ouvintes da Rádio
Nacional semanalmente, por dez minutos, no programa “Hora do Brasil”. O objetivo
declarado do governo era esclarecer os trabalhadores acerca das inovações na
legislação de proteção ao trabalho.
GOMES, A. C. A Invenção do Trabalhismo. Rio de Janeiro: IUPERJ / Vértice.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 1988 (adaptado)
Os programas “Hora do Brasil” contribuíram para
a) conscientizar os trabalhadores de que os direitos sociais foram conquistados
por seu esforço, após anos de lutas sindicais.
b) promover a autonomia dos grupos sociais, por meio de uma linguagem
simples e de fácil entendimento.
c) estimular os movimentos grevistas, que reivindicavam um aprofundamento
dos direitos trabalhistas.
d) consolidar a imagem de Vargas como um governante protetor das massas.
e) aumentar os grupos de discussão política dos trabalhadores, estimulados
pelas palavras do ministro.
31. (Fuvest 2010)
O conceito de revolução, aplicado ao movimento de 1930 no Brasil, é alvo de
polêmica entre historiadores. Independentemente da controvérsia, não há
como negar que houve mudanças importantes, nessa década, com relação
às diretrizes da política econômica e à questão social.
Em relação à desconcentração industrial brasileira nos últimos anos, considere
I, II e III a seguir.
I. Os governos estaduais oferecem vantagens, como isenção de impostos e
mais infraestrutura, às empresas que se instalarem em seu território. A
competição é chamada de “Guerra Fiscal”.
II. Os mercados das regiões Norte e Nordeste tornaram-se mais exigentes nas
últimas décadas, buscando maior qualidade e diversidade comercial. Assim
sendo, as empresas se mobilizam com vistas a rendimentos regionais.
III. Os estados da Região Sul e o Mato Grosso do Sul, no Centro–Oeste, ficam mais
próximos dos integrantes do bloco Argentina, Uruguai e Paraguai, o que facilita o
transporte de mercadorias, ampliando as relações comerciais com o Mercosul.
Dessa forma,
a) apenas I está correta.
b) apenas I e II estão corretas.
c) apenas II e III estão corretas.
d) apenas I e III estão corretas.
e) I, II e III estão corretas.
33.
(FGV Economia 2010)
Em 26 de junho de 2009, foi publicada no Diário Oficial da União a lei sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva que trata da regularização
fundiária de terras ocupadas na Amazônia (MP 458). O presidente fez apenas
dois vetos na lei que permite, a partir de hoje, a regularização de posses de
até 1,5 mil hectares da Amazônia.
(www.estadao.com.br/noticias/nacional. Acesso em 17.8.2009)
2011 atualidades vestibular + enem
231
Simuladão
Antes de tornar-se Lei, a Medida Provisória 458 tramitou pelo Congresso Nacional
e provocou calorosos debates entre ambientalistas e ruralistas. Leia alguns
comentários sobre a MP 458.
I. A partir da MP é que o governo poderá avançar na ordenação fundiária, no
zoneamento econômico-ecológico e nas políticas de incentivo ao desenvolvimento regional.
II. É uma medida de urgência. Se não houver flexibilização diante da situação
de fato de ocupação da Amazônia, a regularização ficará permanentemente
comprometida.
III.Não há nenhum tipo de garantia de que o processo de regularização de
posses venha de fato a aprimorar o ordenamento fundiário da região.
IV. A Medida vai premiar um modelo de desenvolvimento que não prioriza o
uso sustentável da floresta.
Assinale a alternativa que identifica, respectivamente, os argumentos dos
ambientalistas e dos ruralistas.
Suponha que tenha sido observada, em uma vila rural localizada a 100 km de
distância do mar de Aral, alguns anos depois da implantação do projeto descrito,
significativa diminuição na produtividade das lavouras, aumento da salinidade
das águas e problemas de saúde e em sua população. Esses sintomas podem
ser efeito
Ambientalistas Ruralistas
a) I – II III – IV
b) I – III II – IV
c) I – IV II – III
d) II – III I – IV
e) III – IV I – II
a) da perda da biodversidade da região.
b) da seca dos rios da região sob influência do projeto.
c) da perda de áreas úmidas nos arredores do mar de Aral.
d) do sal trazido pelo vento, do mar de Aral para a vila rural.
e) dos herbicidas utilizados nas lavouras de arroz e algodão do projeto.
Observe o gráfico abaixo e responda às questões:
EXPECTATIVA DE VIDA AO NASCER – POR REGIÃO
1995 – 2000
Expectativa de vida ao nascer — Em anos
1965 – 1970
75
66
52
50
53
71
59
70
75
65
56
43
(Mackenzie 2008)
Examine as seguintes afirmações a respeito da industrialização brasileira.
I. No Brasil, desde a década de 1970, já se observa uma relativa desconcentração
industrial, em virtude dos primeiros sinais de esgotamento de São Paulo e
das vantagens oferecidas por outras cidades e unidades da federação, em
decorrência da guerra fiscal facilitada pela Constituição de 1988.
II. Os mais novos polos industriais de São Paulo, os chamados centros tecnopólos, são os do Vale do Ribeira, com destaque para São José dos Campos,
e os de Campinas, que se desenvolveram na década de 1980.
III.A abertura da economia brasileira e a criação do Mercosul vêm contribuindo
para uma nova reconcentração industrial no Centro-Sul, o sistema just-intime, no qual o importante é fabricar e colocar rapidamente o produto no
mercado.
25
0
África
Ásia
Países
América Latina
Média
Desenvolvidos Mundial
e Caribe
Fonte: modificado de http://esa.un.org/unpp
a) Indique a(s) região(ões) do globo com taxa de esperança de vida ao nascer
inferior à média mundial, nos intervalos 1965-1970 e 1995-2000. Indique
a região representada no gráfico com o melhor desempenho no aumento de
expectativa de vida ao nascer entre os períodos 1965/1970 e 1995/2000.
b) Por que, entre os períodos 1965/1970 e 1995/2000, houve aumento da
esperança de vida ao nascer em todas as regiões indicadas no gráfico?
35.
(Enem 2009 — prova anulada)
O mar de Aral, um lago de água salgada localizado em área da antiga União
Soviética, tem sido explorado por um projeto de transferência de água em larga
escala desde 1960. Por meio de um canal com mais de 1.400 km, enormes
quantidades de água foram desviadas do lago para a irrigação de plantações
atualidades vestibular + enem 2011
38. (Unesp 2009)
No ano de 2006, a China, com 6,2 bilhões de t/ano, tornou-se o principal emissor
mundial de gases-estufa, superando os Estados Unidos (5,8 bilhões de t/ano),
segundo dados divulgados pela ONU em 2008. Assinale a alternativa que contém
um dos fatores do aumento chinês de emissões de gases-estufa.
Assinale
a) se todas estão corretas.
b) se apenas I e III estão corretas.
c) se apenas I está correta.
d) se apenas II e III estão corretas.
e) se todas estão incorretas.
37. (Fuvest 2009)
Existem semelhanças entre as ditaduras militares brasileira (1964-1985), argentina (1976-1983), uruguaia (1973-1985) e chilena (1973-1990). Todas elas
a) receberam amplo apoio internacional tanto dos Estados Unidos quanto da
Europa Ocidental.
b) combateram um inimigo comum, os grupos esquerdistas, recorrendo a
métodos violentos.
c) tiveram forte sustentação social interna, especialmente dos partidos políticos
organizados.
d) apoiaram-se em ideias populistas para justificar a manutenção da ordem.
e) defenderam programas econômicos nacionalistas, promovendo o desenvolvimento industrial de seus países.
e) a substituição de importações e a implantação de cadeias complexas para
a produção de matérias-primas e de bens intermediários. 41. (Mackenzie 2010)
a) Desmatamento acelerado em todo o país para o cultivo de arroz irrigado.
b) Geração de energia, principalmente por queima de carvão mineral, o mais
poluente dos combustíveis fósseis.
c) Matriz energética baseada apenas no petróleo, por ser um dos principais
produtores mundiais.
d) Maior frota mundial de veículos agrícolas, o que a coloca como uma das
agriculturas mais mecanizadas da Ásia.
39. (UFRJ 2010 — adaptado)
(Cartoon chinês ironizando o fato de que o crescimento econômico daquele
país está representando uma ameaça às relações familiares)
“Mesmo atingida pela crise internacional, a produção na China continua em crescimento e a sua economia alcança a terceira posição entre as maiores do mundo.”
36.
34. (Unicamp 2010)
232
de arroz e algodão. Aliado às altas taxas de evaporação e às fortes secas da
região, o projeto causou um grande desastre ecológico e econômico, e trouxe
muitos problemas de saúde para a população. A salinidade do lago triplicou,
sua área superficial diminuiu 58% e seu volume, 83%. Cerca de 85% das áreas
úmidas da região foram eliminadas e quase metade das espécies locais de
aves e mamíferos desapareceu. Além disso, uma grande área, que antes era
o fundo do lago, foi transformadas em um deserto coberto de sal branco e
brilhante, visível em imagens satélites.
MILLER JR., G.T. Ciência Ambiental. São Paulo: Editora Thomson, 2007
(adaptado)
(http://br.cinema.yahoo.com/filme)
O premiado documentário brasileiro “Condor”, de 2007, dirigido por Roberto
Mader, resgatou diferentes versões do que ficou conhecido como “Operação
Condor”, ou seja, um conjunto de ações político-militares coordenadas, nos
anos 70 do século passado, por diversos governos da América Latina, como
Chile, Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia.
Apresente um argumento dos governos envolvidos na Operação para levá-la
adiante.
40. (Enem 2009 — prova anulada)
A industrialização no Brasil é fenômeno recente e se processou de maneira
bastante diversa daquela verificada nos Estados Unidos e na Inglaterra, sendo
notáveis, entre outras características, a concentração industrial em São Paulo
e a forte desigualdade de renda mantida ao longo do tempo.
Outra característica da industrialização brasileira foi
a) a fraca intervenção estatal, dando-se preferência às forças de mercado,
que definem os produtos e as técnicas por sua conta.
b) a presença de políticas públicas voltadas para a supressão das desigualdades
sociais e regionais, e a desconcentração técnica.
c) o uso de técnicas produtivas intensivas em mão de obra qualificada e
produção limpa em relação aos países com indústrias pesadas.
d) a presença constante de inovações tecnológicas resultantes dos gastos das
empresas privadas em pesquisa e em desenvolvimento de novos produtos.
A respeito da prosperidade e da franca expansão econômica da China, desde a
década de 1970, considere as afirmações I, II, III e IV, abaixo.
I. O gigante asiático conta com reservas de quase 2 trilhões de dólares,
graças aos seguidos superávits na balança comercial e aos investimentos
estrangeiros no país.
II. Em 2007, a China chegou ao terceiro lugar entre as maiores economias do
globo, à frente da Alemanha, e atrás, apenas, dos EUA e do Japão.
III.Deng Xiaoping, após a morte de Mao, sobe ao poder e lança as Quatro
Grandes Modernizações (indústria, agricultura, ciência-tecnologia e forças
armadas). Foram criadas as Zonas Econômicas Especiais, para atrair as
empresas estrangeiras.
IV. O modelo de desenvolvimento adotado se baseia na abundância de mão de obra
especializada e bem distribuída por todo o território, contando com a obtenção
de subsídios estatais e com a atração de investimentos estrangeiros.
Estão corretas, apenas,
a) I e II.
b) II e III.
c) I, II e IV.
d) I, II e III.
e) III e IV.
42. (Fuvest 2008)
“A União Europeia (UE), composta de 27 países, apresenta um sistema político
historicamente único, que vem evoluindo há mais de 50 anos.”
Adaptado de Pascal Fontaine, 2007
a) Cite duas nações, membros da UE, que não aderiram à moeda única, o Euro.
Explique o porquê dessa não adesão.
b) Outros países europeus estão reivindicando sua entrada para a UE. Cite um
desses países e explique um motivo para tal reivindicação.
c) Cite uma exigência para um país ser aceito no bloco da UE. Explique.
2011 atualidades vestibular + enem
233
Simuladão
43. (Uerj 2010)
45. (Enem 2009 — prova anulada)
MUDANÇAS NA ESTRUTURA ETÁRIA DA POPULAÇÃO BRASILEIRA
população entre 0 e 14 anos
população acima dos 60 anos
%
40
Inundações naturais dos rios são eventos que trazem benefícios diversos para
o meio ambiente e, em muitos casos, para as atividades humanas. Entretanto,
frequentemente as inundações são vistas como desastres naturais, e os gestores
e formuladores de políticas públicas se veem impelidos a adotar medidas capazes
de diminuir os prejuízos causados por ela.
Qual das medidas abaixo contribui para reduzir os efeitos negativos das inundações?
a) a eliminação de represas e barragens do leito do rio.
b) a remoção de vegetação que acompanha as margens do rio.
c) a impermeabilização de áreas alagadiças adjacentes aos rios.
d) a eliminação de árvores de montanhas próximas do leito do rio.
e) o manejo do uso do solo e a remoção de pessoas que vivem em áreas de risco.
35
30
25
20
15
10
46. (UFRJ 2010)
5
0
1980
1990
2000
2010
2020
A Nova Aliança
www.ibge.gov.br
R e sp o sta s e co m en tári o s
1.
A questão traz dois gráficos, um que mostra o déficit habitacional por região
do Brasil e outro que apresenta a participação do Produto Interno Bruto (PIB)
nacional, também por região. Ao fazermos uma análise dos gráficos, é possível
perceber que o fato de uma região ter um alto PIB não quer dizer que tenha
pequeno déficit habitacional. Isso porque, mesmo que determinada região
produza bastante riqueza, isso não é garantia de que essa riqueza seja distribuída
de forma igualitária entre os seus moradores. Podemos concluir que, conforme
aponta a afirmativa I, a Região Sudeste de fato responde por mais da metade do
PIB nacional e, da mesma forma, apresenta o maior déficit habitacional, o que
mostra que uma forte concentração de riqueza não garante acesso à moradia.
A afirmativa II está incorreta, pois a Região Nordeste apresenta desigualdades
sociais que podem ser verificadas na análise dos próprios gráficos da questão
– a região apresenta problemas habitacionais, que refletem a concentração
de renda. O erro da afirmativa III está na frase “isso significa que o déficit
habitacional é um problema desvinculado da produção/distribuição de riqueza”,
o que difere do que foi posto antes.
Resposta: A
A partir da análise do gráfico, é possível projetar a redução da demanda por
investimento público no seguinte segmento:
a) sistema de previdência social
b) infraestrutura de apoio ao turismo
c) rede de escolas de ensino fundamental
d) programa de atendimento médico-hospitalar
2.
44. (Mackenzie 2009)
“(...) Para os mais velhos, Mao é um constrangimento. É raro encontrar
quem o defenda. Ao fim da viagem, quando eu já me conformava com o
ritmo lento e as respostas esquivas dos chineses, testemunhei a única
reação direta, quase intempestiva, de um professor de Economia da
Universidade de Tsing-Hua, Denggao Long. Ao indagar se as mudanças na
China mostravam uma verdadeira revolução de Deng, Long deu um pulo na
cadeira e até arriscou o inglês: ‘Revolução? Não! Reforma.’ Eu sorri, e ele
continuou: ‘Revolução, nunca mais na China. A Revolução Cultural foi uma
tragédia, um erro (...)”
Revista Época, 6/2008
Que aspecto da Revolução Cultural Chinesa, ocorrida entre as décadas de
1960/1970, justificaria a afirmação destacada no trecho acima? Assinale a
alternativa que responde, corretamente, à questão.
a) A Revolução Cultural agiu em favor da burocratização do Estado Chinês e da
planificação excessivamente centralizada da economia.
b) No plano econômico, a Revolução Cultural atrasou o avanço tecnológico do
país, entre outros aspectos, devido às inúmeras perseguições a intelectuais,
cientistas e educadores.
c) Por meio da mudança de mentalidade, o governo maoísta pretendia
consolidar os ideais revolucionários burgueses, em detrimento da massa
camponesa.
d) A Revolução Cultural combateu, duramente, o isolamento tradicional da
cultura chinesa, valorizando o cosmopolitismo e a inovação criadora trazida
pelo Comunismo.
e) Defendendo uma revolução proletária urbana, nos moldes da Revolução
Russa, Mao Tse-tung precisou usar de extrema violência para conter a
participação da massa camponesa, o que resultou em massacre.
234
atualidades vestibular + enem 2011
(Courrier Internacional – 6/4/2009)
China e Estados Unidos são hoje protagonistas na condução de grandes temas
globais. O presidente da China, Hu Jintao, listou uma vasta coleção de temas em
relação aos quais ele e o presidente americano, Barak Obama, estão dispostos
a atuar em benefício mútuo.
Adaptado de Clóvis Rossi, Folha de S.Paulo, 18/11/2009
Apresente dois fatores que têm levado a uma aproximação cada vez maior entre
os Estados Unidos e a China.
47. (Unicamp 2008)
“Saem as economias costeiras do Brasil e da China e entra o interior dos dois
países. Em vez da Índia e Rússia, estão Filipinas, Indonésia, México, Turquia
e Vietnã. Serão esses os ‘novos BRICs?’”.
(Folha de S.Paulo. Sérgio Dávila, “Brasil rural desponta entre novos BRICs.”,
23/9/2007, p. C3)
a) O acrônimo BRIC se forma pela junção da primeira letra dos nomes de um
grupo específico de países. Quais são esses países e qual a similaridade
que eles apresentam?
b) Quais as principais causas do crescimento elevado da China na última
década?
A globalização ganhou maior intensidade no fim do século XX, em razão da
revolução tecnológica, especialmente no setor de telecomunicações. Além
de trocas de informações, a globalização apresenta uma maior integração
de mercado entre os países. Nesse período, multiplicam-se os blocos econômicos, como a União Europeia, o Acordo de Livre Comércio da América do
Norte (Nafta) e o Mercosul, como aponta a afirmativa I. A crise econômica
mundial teve origem no colapso do mercado imobiliário dos EUA – o estouro
da “bolha imobiliária”, quando grandes empresas de financiamento de imóveis quebraram. Isso aconteceu porque boa parte das pessoas que haviam
tomado empréstimos (os clientes “subprime”) para comprar imóveis não
estava conseguindo pagar as prestações, conforme aponta a afirmativa II.
A afirmativa III está correta, pois os fatores listados são reais ameaças ao
abastecimento mundial de alimentos. O erro da afirmativa IV é dizer que
os países emergentes ficaram à margem da crise, pois eles também foram
atingidos (mesmo que em menor escala). O Brasil, como quase todos os
países do mundo, ainda sente reflexos da crise, mas foi um dos países menos
afetados por ela, conseguindo ter bom crescimento econômico em 2008 e
manter o PIB em 2009 (ao contrário de diversos países ricos, que entraram
em forte recessão). Assim, está correta a afirmativa V. Quanto à afirmativa
VI, esta está errada, pois sua descrição não corresponde ao que aconteceu.
Com relação à afirmativa VII, os EUA respondem por cerca de um quarto da
produção mundial, e, por causa disso, quando sua economia foi atingida pela
crise, o mercado global sofreu duras consequências. A rapidez com que isso
ocorreu foi bem maior do que em 1929, pois hoje o mercado mundial é muito
mais interligado, o que torna a afirmativa certa.
Resposta: são corretas as afirmativas I, II, III, V, VII
3.
Como é possível perceber, o texto de dom Paulo Evaristo Arns refere-se à
ditadura militar no Brasil, que foi uma dentre outras no continente no mesmo
período. Os Estados Unidos apoiaram a instalação desses regimes, obedecendo
ao plano de segurança do hemisfério, como forma de evitar o surgimento de
novos governos socialistas ou comunistas, como o de Cuba. A alternativa correta
é C. Veja por que as demais estão erradas: em A, afirmar que a associação entre
o tráfico de drogas e a guerrilha colombiana das Farc “assolava a América do
Sul” é generalizar a afirmação e o conflito; em B, o conceito de “guerra das
civilizações” é recente, refere-se ao choque de ideias entre o Islã e o Ocidente e
é posterior ao período das ditaduras na América do Sul; e, em D e E, as influên­
cias do nazismo e do positivismo são anteriores a esse período.
Resposta: C
4.
Descarta-se a afirmativa I, pois o texto afirma que a produção de etanol de
segunda geração nos EUA ainda nem atingiu a escala comercial. Segundo a
afirmativa II,e de acordo com as análises do texto 2 presente no enunciado da
questão, é possível dizer que, ao utilizar os resíduos de cana-de-açúcar, de milho
ou outras matérias-primas vegetais, produz-se mais energia utilizando menos
matérias-primas originais, ou seja, sem prejudicar a produção de alimentos. A
alternativa III não está correta, pois a charge não sintetiza os temas tratados
no texto 2. Ao analisá-la, vê-se que o tema é sempre o mesmo, só mudando
sua causa: a falta de alimento é ocasionada por diversos fatores, conforme
apontam as alternativas IV e VI. A afirmativa V está errada, pois o texto II não
aborda a questão ambiental.
Resposta: as afirmativas corretas são II, IV e VI
5.
Note que esta questão exige uma leitura atenta, pois, apesar de se estender
sobre diferentes aspectos da migração, a maioria das afirmações não é retirada
do texto. Resta apenas a primeira afirmação, de que a migração no Brasil é
significativa em quantidade, da qual se deduz que ela provoca o inchaço urbano,
indicado corretamente na alternativa C. O texto não faz nenhuma menção a ações
do governo para estimular as migrações, conforme se afirma em A, a que os
governos do Sudeste priorizem a qualificação da mão de obra migrante, como
diz a alternativa B. Embora cite dados do IBGE de que a maior parte (48,6%)
dos que migraram para o Sudeste em 1996 passou a exercer trabalhos manuais
não qualificados, o texto não afirma que houve valorização do trabalho manual,
o que invalida a alternativa D. E, ao contrário do que aponta a alternativa E, a
falta de especialização limita a versatilidade profissional.
Resposta: C
6.
A Chechênia é uma região estratégica para o governo russo. Nesse território
passam diversos oleodutos que levam petróleo da região do mar Cáspio para
os portos russos localizados no mar Negro. O que torna correta a afirmação
II. Além de sua importância econômica, a Chechênia possui um movimento
nacionalista e separatista, o que a torna uma ameaça de um processo de
desagregação da Federação Russa, como afirma a alternativa III. A disputa
pela região da Chechênia é antiga: começou no regime de Josef Stálin, quando
milhares de chechenos foram deportados para outras partes da então União
Soviética e imigrantes russos colonizaram a área. Com o desmantelamento da
URSS, a região se declarou independente. Em 1999, foi novamente ocupada
pelos russos, e os chechenos passaram a realizar ações terroristas como forma
de luta pela independência e pelo fim da ocupação. Portanto, estão corretas
as afirmativas II e III.
Resposta: B
2011 atualidades vestibular + enem
235
Simuladão
7.
Esta questão cobra do leitor atenção e análise para respondê-la. Note que a
simples subtração do total populacional dos anos 2000 e 1980 (169 milhões
menos 119 milhões), na primeira linha da tabela, já resulta em um crescimento
populacional no Brasil de 50 milhões de pessoas. Esse número elimina as respostas A e C, em que se afirma um crescimento de 70 milhões e 60 milhões.
Observe que a distribuição percentual de homens e mulheres se mantém,
com alterações apenas em casas centesimais, o que permite afirmar que
basicamente ela não mudou. As diferenças numéricas que se destacam são a
do envelhecimento gradual da população e a do aumento da população urbana
sobre a rural.
Resposta: E
8.
a) A cidade que mais concentra nordestinos fora do Nordeste brasileiro é São
Paulo. Principalmente a partir da década de 1950, o desenvolvimento econômico no Sudeste – especialmente no estado de São Paulo – foi um fator de
grande atração de migrantes nordestinos. Nesse período, houve expansão
econômica tanto na agricultura quanto em diferentes setores industriais,
inclusive os que empregam mão de obra com pouca especialização, como
o da construção civil e a agroindústria da cana-de-açúcar.
b)As principais determinantes desse processo migratório foram os diferentes
estágios de desenvolvimento econômico e social entre as regiões, as desigualdades em distribuição de renda, o acesso a direitos e serviços sociais
como alimentação, saúde, educação e trabalho. Enquanto o Sudeste se
desenvolvia, com melhor distribuição das terras agrícolas e diversas frentes
de avanço industrial, o Nordeste permanecia com concentração fundiária, a
ocorrência de secas e desemprego. Assim, as oportunidades de trabalho e
renda no Sudeste atraíram populações das regiões menos desenvolvidas.
Como resultado, houve concentração populacional e econômica que aprofundou a desigualdade que já existia entre as regiões brasileiras. Em 1970,
por exemplo, o estado de São Paulo produzia 39,4% do PIB brasileiro e a
Região Sudeste, 65%.
9.
Ao elencar as diferentes nacionalidades de produtos e elementos culturais
e sociais e contrapô-las ironicamente à afirmação “apenas o seu vizinho é
estrangeiro”, o cartaz faz uma crítica direta ao nacionalismo. Essa crítica não
poderia ser ao eurocentrismo, já que são citadas a cultura grega e a italiana e
não há no texto palavras associáveis a regiões ou locais.
Resposta: B
10.
A Rússia tem apresentado decréscimo na sua população absoluta, com queda
de 141,8 milhões de habitantes em 2008 para 140,9 milhões em 2009. Essa
diminuição resultou de alta taxa de mortalidade e baixa expectativa de vida,
principalmente entre os homens. Assim, houve redução da população ativa do
país, que vem apresentando um grande déficit. A situação da Rússia se apresenta
mais grave do que a dos países da Europa Ocidental, que também enfrentam
problemas parecidos, mas é amenizada por estes receberem alto número de
imigrantes para trabalhar (a população ativa). Assim, a Rússia enfrenta uma
situação social e demográfica alarmante.
Resposta: B
236
atualidades vestibular + enem 2011
11.
A Venezuela aparece nos dois gráficos por ser uma grande potência energética, o
quinto maior exportador mundial de petróleo, conforme aponta a alternativa E. A
afirmação A está errada porque a Venezuela apenas teve aceito seu pedido para
ingressar no Mercosul, mas a sua entrada ainda não foi confirmada. A alternativa
B está errada porque os gráficos mostram reservas provadas que podem ou não
estar sendo exploradas. Nada nos gráficos remete às afirmações C, sobre danos
ambientais, ou D, sobre comprometimento com setores da indústria.
Resposta: E
12.
A migração de pessoas das áreas rurais para as cidades é uma das características
importantes da urbanização. A rede urbana é o conjunto de interrelações entre
áreas urbanas ou cidades. Nessa rede urbana, as cidades mais influentes assumem o topo da hierarquia urbana e polarizam as influências, tanto econômicas
quanto sociais. As cidades centrais, geralmente densamente urbanizadas, que
assumem destaque, são as metrópoles. Sendo assim, a alternativa correta é a
que apresenta a ordem IV, III, I, II e V.
Resposta: C
13.
Ao analisar os mapas da questão, é possível perceber que houve um avanço no cultivo
de cana-de-açúcar no estado de São Paulo. Esse aumento pode ser entendido pelo
fato da crescente demanda por etanol, tanto interna quanto externa, cuja matériaprima é a cana-de-açúcar. A União Europeia, por exemplo, tem como meta, até
2020, fazer crescer a sua frota de automóveis rodando com etanol em até 10%, e
os Estados Unidos também pretendem ampliar bastante o uso desse combustível,
pois o etanol é bem menos poluente do que os combustíveis derivados do petróleo.
Como a produção de cana-de-açúcar tem se tornado bastante rentável, ela vem
substituindo a atividade de pecuária, que era comum no oeste do estado, e invadindo
também parte do espaço antes destinado à produção de gêneros alimentícios, como
apontam as afirmações II e III. Com isso, pode-se concluir que a alternativa correta
é a que indica as três afirmativas como corretas.
Resposta: E
14.
a) O conceito de metrópole refere-se a uma cidade que está no centro de um
processo de conurbação – quando as aglomerações urbanas de duas cidades
diferentes se encontram, formando uma única mancha urbana –, pelo seu
equipamento urbano, sua infraestrutura e seu grande porte econômico. Essa
cidade principal exerce um poder centralizador na hierarquia urbana.
b)Sem dúvida, a dinâmica econômica de São Paulo determinou a sua expansão
física, que levou à incorporação de municípios vizinhos, formando uma
metrópole. Entre os fatores econômicos responsáveis por esse crescimento
urbano, ou o processo de metropolização, podemos destacar o crescimento
industrial e a expansão do setor de serviços.
15.
a) De acordo com a análise do gráfico, é possível perceber que, de 1920 a 2000,
a população urbana brasileira passou de apenas 16% da população total do
país para 81,2%. Em contrapartida, a população rural encolheu, passando
de 84% em 1920 para 28,8% em 2000. Com a urbanização, houve muitas
mudanças demográficas: cresceu a escolarização do brasileiro, subiu a renda e
as famílias reduziram de tamanho, com a queda do índice de natalidade.
b)O aumento da população urbana se deu, principalmente, por causa da
industrialização. No Brasil, até o Censo de 1940, apenas um terço da
população vivia nas cidades. Nas décadas seguintes, o desenvolvimento
de indústrias nas cidades e da agricultura mecanizada transferiu cada
vez mais moradores do campo para as cidades. Se, por um lado, quando
as pessoas vivem nas cidades, há mais acesso a empregos, eletricidade,
transportes, escolas, hospitais, cultura e lazer, há também um lado
negativo, já que há um “inchaço” urbano, pois muitas cidades não estão
preparadas para receber o contingente extra de população. O resultado é
um colapso dos serviços urbanos, com a ampliação das favelas, a falta de
transporte público, de vagas nas escolas, de leitos hospitalares. Assim,
parte da população que migra do campo enfrenta uma vida de miséria nas
zonas urbanas.
16.
A expectativa de vida da população, consolidada em um índice, resulta principalmente das condições de saúde existentes em cada país, da qualidade de vida e do
perfil educacional da população. Durante o século XX, a tendência para o aumento
da população de idosos ocorreu nos países ricos, onde o elevado padrão de renda
combinado a políticas de serviços públicos garantiu longevidade. Contudo, para
os primeiros 50 anos deste século, a Organização das Nações Unidas prevê que
a maioria da população de idosos estará nos países subdesenvolvidos, especialmente os de economia emergente e com mais de 1 bilhão de habitantes, como
Índia e China. Isso será resultado de políticas que reduzem atualmente as taxas
de natalidade e de mortalidade infantil, do maior acesso a medicamentos e ao
uso de anticoncepcionais e da melhoria das condições de saneamento.
Resposta: D
17.
A formação da chuva (precipitação de água) está diretamente relacionada
com a temperatura atmosférica. De forma geral, sempre que a temperatura
aumenta, crescem a formação de vapor e as possibilidades de chuva. Portanto,
as ações humanas, ou atividades antropogênicas, são capazes de provocar
interferências no que diz respeito às chuvas, em escala local e global. O que
torna correta a alternativa E. As alternativas A e C são incorretas, pois com
aumento do calor tende a ocorrer maior evaporação, mais umidade e chuvas,
mesmo que algumas regiões se tornem áridas. A alternativa D também é errada,
pois com o derretimento de geleiras perenes haverá mais água para criar vapor
e provocar chuvas.
Resposta: E
18.
O Brasil concentra a sua população próximo à faixa litorânea. Isso é resultado do
processo histórico de ocupação do país. A ocupação do interior intensificou-se
após a industrialização, que ocorreu de forma mais significativa no século XX. Por
isso, podemos afirmar que a alternativa I está correta. O país possuía, em 2008,
mais de 5,5 mil cidades. Mas quase 5 mil tinham menos de 50 mil moradores e
apenas 37 possuíam mais de 500 mil habitantes, segundo o Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE). Com isso, podemos concluir que há uma
aglomeração urbana intensa em poucas cidades brasileiras e uma urbanização
menor na maioria delas. Como aponta a afirmativa IV. A afirmação II é incorreta
por não estar amparada em nenhum dos dois textos apresentados; a afirmação
III é incorreta ao afirmar que a rede urbana se distribui no território de forma
homogênea, quando ela ainda se concentra no litoral.
Resposta: A
19.
A informação de que não há mais relação direta entre o aumento da oferta do
trabalho formal e a diminuição do número das atividades informais confirma que
o trabalho informal é uma importante válvula de escape para os desempregados
de todo o Brasil. Há quem afirme, inclusive, que, caso a economia informal
passasse a ser formal, o PIB do Brasil aumentaria significativamente.
Resposta: A
20.
a) A expansão do cultivo de cana-de-açúcar, no Brasil, para a produção de
álcool combustível foi intensificada a partir das décadas de 1970 e 1980,
com a criação do programa Proálcool. Nessas décadas iniciais, a expansão
da cana acarretou concentração fundiária para os plantios, a expulsão de
trabalhadores do campo para as cidades e o uso de mão de obra avulsa para
as colheitas, sem contratos de trabalho, os boias-frias. Nos anos 2000, a
tendência de expansão da cana foi acentuada, com o crescimento da frota
de automóveis bicombustíveis (gasolina e álcool) e o aumento do consumo
de álcool combustível no exterior, que gera exportações. A expansão dos
cultivos de cana está ocorrendo principalmente no Sudeste (em São Paulo
e em áreas de Minas Gerais), no Sul (Paraná) e no Centro-Oeste (Goiás e
Tocantins). A principal consequência é a substituição, pela cana, de áreas
de pastagem e de outros cultivos agrícolas. Nos últimos anos, a expansão do
uso de combustíveis vegetais, como o álcool de cana-de-açúcar e de milho
e o biodiesel feito de soja, entre outros grãos, foi apontada como um fator
de redução da produção de alimentos e de seu encarecimento, o que agrava
as condições de fome e subnutrição nos países pobres, especialmente na
África. Entre as razões do encarecimento está também o crescimento da
renda per capita e do consumo de alimentos na China.
b)Um dos principais objetivos da adoção de políticas de segurança alimentar
é garantir a produção e o abastecimento de alimentos, para combater ou
evitar a fome. A adoção dessas políticas evitaria que a produção agrícola para
combustíveis provocasse a escassez de alimentos e a elevação de preços.
21.
O aumento da fome é um fenômeno global. Milhares de pessoas passam fome,
principalmente na África. O principal problema não é escassez de alimentos
no mundo, mas os altos preços cobrados por eles. Essa situação se agravou
com a crise econômica internacional, pois milhares de pessoas perderam o
emprego, o que diminuiu seu poder de compra. Ao mesmo tempo, o preço
dos alimentos subiu muito. No Brasil, por exemplo, essa alta foi a que mais
contribuiu para o aumento da inflação, nos primeiros quatro meses de 2010,
segundo dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
Portanto, a alternativa correta é a E, que diz que a crise econômica aumentou
o desemprego e reduziu o poder de compra da população, além de contribuir
para aumentar o preço dos alimentos.
Resposta: E
22.
a) A Nova Ordem Econômica Mundial foi instituída após a queda do Muro de
Berlim, em 1989, e o fim da União Soviética, em 1991. Antes disso, o mundo
vivia a Guerra Fria, dividido entre dois grandes blocos, o capitalista e o
socialista. A partir de então, o cenário mundial passou a ser caracterizado
pela presença de uma única superpotência, os Estados Unidos, e por um
predomínio acentuado das regras do mercado e da ideologia chamada de
neoliberalismo. Nessa nova ordem mundial, as organizações multilaterais
2011 atualidades vestibular + enem
237
Simuladão
– Fundo Monetário Internacional (FMI), Organização Mundial do Comércio
(OMC), Banco Mundial, entre outras – passaram a ser importantes centros
de decisão em nível global.
b)O discurso de José Saramago, escritor português ganhador do Prêmio Nobel,
dá uma abordagem para esse problema. Podemos dizer que, nos moldes da
nova ordem econômica mundial, as grandes decisões econômicas globais
estão no âmbito do neoliberalismo, que preconiza o enxugamento do estado,
com a redução do serviço público e as privatizações, e adoção de medidas
de livre circulação de capitais pelo mundo.Isso significa que os Estados
nacionais perdem parte do poder de decisão sobre a política e a economia.
Acontece que as eleições, que caracterizam o regime democrático, ocorrem
no quadro dos Estados nacionais. Assim, há características importantes do
neoliberalismo que atingem o regime político democrático, na medida em
que retiram das nações e dos governos eleitos o poder de decisão sobre
pontos importantes das áreas política e econômica.
23.
As alternativas A e B são incorretas por mostrar o grafite como sujeira e como
problema social, quando a afirmativa posta como questão pede que a resposta
complemente o grafite, visto como reconhecimento de valores culturais no
processo social. A alternativa C também é incorreta, já que o próprio texto
afirma, ao final, que ”o grafite é considerado uma categoria de arte”. Também
a afirmativa E é incorreta, por afirmar o contrário do que o texto afirma. O
enunciado correto é o que afirma que os autores Osgemeos conseguiram
projeção internacional.
Resposta: D
24.
a) Ao analisar o gráfico, é possível perceber que o principal meio de transporte no Brasil é o rodoviário. Essa é uma realidade tanto no transporte de
passageiros quanto no de cargas. Esse cenário é resultado da história do
investimento na matriz de transporte brasileira. Até a década de 1920, o
grosso dos transportes no Brasil era feito por ferrovias e navegação. Mas
esse quadro começou a mudar entre 1928 e 1955, período em que a malha
ferroviária cresceu apenas 20%, enquanto a malha rodoviária cresceu cerca
de 400%, principalmente na Região Sudeste. Na segunda metade da década
de 1950, com o presidente Juscelino Kubitschek, as rodovias cresceram ainda
mais, numa política de transportes voltada para desenvolver a indústria
automobilística, em fase de expansão no Brasil.
b) Como é possível perceber ao analisar o gráfico de 2025, trata-se de uma matriz
de transporte mais equilibrada, com uma diminuição da participação da malha
rodoviária e um aumento significativo dos transportes ferroviário e, sobretudo,
aquaviário. Essa é a proposta do Plano Nacional de Logística de Transportes,
criado pelo governo federal, que norteia os investimentos públicos e privados
pelos próximos 15 anos visando a melhorar e a equilibrar a matriz nacional de
transporte. Sua grande meta é ampliar a participação dos setores ferroviários e
hidroviário de 38% para 61%. Tais previsões beneficiarão o país ambientalmente,
com menor emissão de gases poluentes, atendendo às exigências ambientais
nacionais aos compromissos externos assumidos. O principal motivo é que o
transporte rodoviário, fortemente baseado no uso de combustíveis fósseis, é
muito mais poluidor do que o transporte por trem e barco.
25.
O Estado Novo (1937-1945) foi um período de ditadura institucionalizada,
em que o presidente Getúlio Vargas, que havia sido eleito indiretamente no
238
atualidades vestibular + enem 2011
Congresso, assume completamente o poder: outorga uma Constituição própria,
abole todos os partidos, fecha o Congresso, suspende as eleições, instala a
censura na imprensa e persegue ou prende seus opositores, com o apoio de
setores conservadores. É um período que soma o autoritarismo político com
centralização das decisões administrativas e econômicas. Vargas realiza uma
política econômica de forte atuação do Estado, que pretende dar maior autonomia
ao país, com a criação de indústrias de base e substituição de importações. Cria
uma legislação sindical que atrela os sindicatos ao Estado, enquanto adota leis
de benefícios aos trabalhadores. Em seu último período de governo (1951 e
1954), como presidente eleito pelo voto direto, Getúlio Vargas não tem mais
poder político para manter-se como ditador: governa com o funcionamento
de partidos e do Congresso e flexibiliza a legislação de funcionamento dos
sindicatos. Na economia, continua a adotar medidas de intervenção do Estado,
como a estatização do setor elétrico e do petróleo.
26.
A queda acentuada das taxas de natalidade é uma característica de países desenvolvidos e projeta, para o futuro de cada um, a ameaça de falta de mão de obra e
insolvência do sistema de aposentadoria, com mais aposentados do que trabalhadores
contribuintes. Também implica mudanças culturais, em razão da entrada contínua
de trabalhadores estrangeiros. O Japão é um país que vem incentivando a sua
população a ter mais filhos, pois registra queda contínua da população entre zero
e 14 anos de idade. A nação possui um ministério especializado nessa questão, o de
Planejamento Populacional e Igualdade entre Sexos. Entre as medidas adotadas pelo
ministério para aumentar a natalidade no país está a de reduzir o número de horas
extras, para que os casais fiquem mais tempo juntos. Outras nações que adotaram
políticas pró-maternidade são a França e a Alemanha. No Brasil, um dos fatores
que podemos apontar como responsáveis pela não diminuição da população entre
os anos 1982 e 2008, apesar de ter diminuído a quantidade de crianças de zero a
14 anos de idade, é o aumento da expectativa de vida no país, como reflexo da
melhoria geral das condições de vida e saúde. Em 2008, por exemplo, o brasileiro
atingiu uma esperança de vida de 72,8 anos.
27.
a) Entre as vantagens da criação de blocos econômicos para os países integrantes
podemos citar: a redução ou isenção de taxas alfandegárias para determinados
produtos entre os participantes, o aumento do volume das trocas comerciais
entre eles, o maior poder de negociação com outros países e mercados internacionais, a padronização de regulamentações e normas comuns a produtos
e serviços, o que reduz custos e preços e amplia o consumo.
b)A principal diferença entre a União Europeia e outros blocos econômicos
é ser o primeiro mercado unificado comum de países a adotar uma moeda
única, o euro, ressalvando-se que esta ainda não foi adotada por vários
países-membros, como é o caso do Reino Unido, Dinamarca e Suécia. A
União Europeia também se diferencia por possuir uma legislação comum
(principalmente o Tratado de Lisboa, que tem um caráter constitucional),
ter uma instância política comum, o Parlamento Europeu, por permitir na
maioria de seus países o livre trânsito, residência e trabalho de seus habitantes, pela adoção de padronizações técnicas, sanitárias e de consumo
para grande quantidade de produtos e serviços.
28.
A alternativa A está errada, pois Alemanha, Canadá e Japão não possuem bombas
nucleares. A afirmativa B também é incorreta, pois os países ocidentais têm
medo da proliferação de armas nucleares, principalmente em nações em que
há regimes hostis aos Estados Unidos e aos europeus, como é o caso do Irã e
da Coreia do Norte.
Os países citados na alternativa C nunca declararam ter projetos voltados para a
proliferação de armas nucleares, inclusive o Irã e a Síria dizem que enriquecem
urânio (matéria-prima para confeccionar a bomba atômica) para fins pacíficos,
como produzir energia. A afirmação E está errada, pois a questão entre palestinos e Israel não depende unicamente de um acordo com os Estados Unidos.
A alternativa correta é a D, que afirma apenas que a Coreia do Norte é aliada
da China, de quem compra alimentos e energia.
Resposta: D
29.
a) Em 31 de dezembro de 1991, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
(URSS) deixou de existir, dividindo-se em 15 repúblicas, das quais a principal
é a Rússia. Para manter os países agrupados, foi criada a Comunidade de
Estados Independentes (CEI), um fórum de coordenação política e econômica
que reúne 12 das 15 ex-repúblicas soviéticas. As três repúblicas bálticas –
Estônia, Letônia e Lituânia – romperam mais profundamente suas relações
com os russos, não quiseram aceitar a CEI e se aproximaram da Europa
Ocidental (hoje são membros da União Europeia).
b)Com o fim da União Soviética, a Federação Russa passa por um programa
radical de desestatização e liberalização econômica, realizado pelo presidente Boris Ieltsin para transformar a nova república em capitalista.
Alguns efeitos negativos a ser citados são a profunda recessão nos anos
seguintes – com a queda vertiginosa da produção, fruto da desorganização
da atividade econômica –, o aumento da inflação e o surgimento de diversas
máfias em vários setores da economia. Houve também uma explosão do
desemprego. Nesse cenário, passam a ocorrer muitos conflitos étnicos,
como exemplifica a Chechênia, ocupada por tropas russas após declarar
independência.
30.
O populismo foi uma das características dos diferentes períodos de governo de
Getúlio Vargas. Em linhas gerais, pode-se dizer que no populismo os governantes
buscam apoio popular para implementar seus projetos políticos, utilizando
diferentes meios, entre os quais a concessão de benefícios econômicos e
sociais, projetos e medidas nacionalistas amparadas em um discurso patriótico.
Getúlio Vargas criou o programa de rádio Hora do Brasil, para divulgar os seus
feitos e consolidar a sua imagem como um governante protetor das massas,
conforme aponta a alternativa D.
Resposta: D
31.
a) O governo de Getúlio Vargas, que se iniciou com a Revolução de 1930,
foi marcado por uma maior intervenção do Estado na esfera econômica
e social. Entre as novas diretrizes para a economia brasileira, podem-se
apontar: um maior incentivo à diversificação das atividades produtivas e
os projetos de apoio à industrialização do país, baseada na substituição das
importações.
b)No plano social, Getúlio Vargas incorporou à legislação importantes mecanismos de proteção aos trabalhadores, como a Justiça do Trabalho, o salário
mínimo, a jornada de oito horas, férias remuneradas e o descanso semanal
remunerado. Legalizou os sindicatos, ao mesmo tempo em que os vinculou
e os subordinou às instituições de estado.
32.
Como afirma a opção I, para atrair indústrias para seus estados ou cidades, os
governos fazem uma disputa, conhecida como guerra fiscal, em que oferecem
incentivos fiscais (que são redução ou isenção de tributos) e mais infraestrutura.
A alternativa II está incorreta, porque as exigências dos mercados locais, do
Norte ou Nordeste, não foram motivações de atração de indústria. O que atrai
indústrias para o Nordeste, por exemplo, são fatores como as vantagens fiscais
oferecidas, menor custo de mão de obra, a proximidade dos fornecedores de
matérias-primas e também de mercados para exportar, como os Estados Unidos
e a Europa. A proximidade geográfica com os demais países do Mercosul é um
forte fator atrativo para a instalação de indústrias nas regiões Sul e CentroOeste do país, como mostra a alternativa III. Com isso, entre as alternativas
dadas, as que melhor caracterizam a desconcentração industrial no Brasil nos
últimos anos são a I e a III.
Resposta: D
33 .
A Medida Provisória nº 458 foi criada para tentar solucionar o histórico problema fundiário da Amazônia, que vem trazendo sérios danos ambientais à
floresta. Para os ruralistas, essa medida realmente dará subsídios para que o
governo federal avance na questão do zoneamento econômico-ecológico, e,
com isso, a região conseguirá se desenvolver. Em contrapartida, os ruralistas
consideram essa medida apenas emergencial. Os ambientalistas, por sua
vez, acreditam que esse processo de regularização de terras não garantirá
o ordenamento fundiário da região, não evitará o desmatamento e apenas
garante a posse da terra sem priorizar o uso sustentável da floresta. Portanto,
podemos concluir que as afirmações I e II são favoráveis aos ruralistas e a III
e a IV a ambientalistas.
Resposta: E
34.
a) Os dados do gráfico mostram que, nos dois períodos, apenas a África
apresentou média de idade de expectativa de vida ao nascer inferior nos
dois períodos, pois, embora a Ásia tenha apresentado média inferior no
primeiro período, esse continente a superou no período seguinte. Ainda
analisando o gráfico, vê-se que a região que apresentou melhor desempenho no aumento da expectativa de vida ao nascer foi a Ásia. Atenção,
portanto, ao enunciado, pois não está sendo perguntado qual continente
tem as médias mais elevadas.
b) Uma das explicações para o aumento da esperança de vida em todas as regiões
é a intensificação do processo de urbanização, sobretudo na Ásia e na América
Latina, o que possibilita a mais pessoas acesso a saneamento básico, atendimento médico e hospitalar, além de melhores condições de vida de forma
geral, como acesso a trabalho, eletricidade e lazer, também importantes para
aumentar a expectativa de vida de uma população. Nesse período, houve ainda
importantes avanços tecnológicos em medicina e fármacos.
35.
O mar de Aral – localizado entre o Cazaquistão e o Uzbequistão – ocupava uma
área extensa, de quase 70 mil quilômetros quadrados, e era abastecido com
grandes rios da região. Mas nos anos 1930 o governo da então União Soviética
decidiu transformar a área em uma produtora de algodão e, como a região é
desértica, desviou águas que abasteciam o Aral para irrigar as plantações.
Durante algum tempo, o nível do mar se manteve, mas começou a declinar
fortemente na década de 1960. Vinte anos depois, em 1980, a baixa da água
2011 atualidades vestibular + enem
239
Simuladão
chegou a 1 metro por ano. Atualmente, a bacia do mar de Aral é um grande
deserto. A redução do nível do mar fez vir à tona grandes bancos de sal, que são
levados para longe pelos ventos fortes. Esse sal, conforme aponta a questão,
pode ter sido responsável pela diminuição da produtividade da lavoura da vila
rural fictícia e pelos aparentes problemas de saúde de sua população.
Resposta: D
36.
A afirmativa I está correta, pois a guerra fiscal entre as cidades e os estados
brasileiros se intensificou após a Constituição de 1988. Também é correta a
afirmativa III, de que a criação do Mercosul estimulou a abertura de empresas
em estados do Sul em razão da proximidade com os demais países-membros do
bloco econômico, Argentina, Uruguai e Paraguai. Portanto, a alternativa correta
é a B, pois apenas I e III são corretas. A alternativa II está duplamente errada,
pois o Vale do Ribeira, no sul paulista, é a região mais pobre do estado e não
possui tecnopolos; a cidade de São José dos Campos fica no Vale do Paraíba.
Resposta: B
37.
As ditaduras militares citadas na questão – a brasileira, a argentina, a uruguaia
e a chilena – combateram a ascensão de movimentos de esquerda, comum à
intensa repressão, que incluiu muitas vezes tortura e assassinatos. A alternativa
correta é a B. Em A) é incorreto afirmar que a Europa Ocidental apoiou essas
ditaduras; em C), que todas tiveram apoio interno de partidos políticos, uma
vez que as ditaduras se sobrepõem aos partidos ou os eliminam; em D), que
essas ditaduras se apoiaram em ideias populistas, pois esse termo é utilizado
para definir os governos nacionalistas com amplo respaldo popular; em E),
que essas ditaduras defenderam programas econômicos nacionalistas, pois
elas adotaram uma política oposta: de internacionalização de suas economias,
abertura à entrada de empresas multinacionais e captação de financiamentos
internacionais.
Resposta: B
38.
A principal causa do volume crescente de emissão de gases do efeito estufa na
China é o uso intensivo de carvão mineral para produzir energia.
Resposta: B
39.
A Operação Condor foi criada formalmente em 1975 e estabelecia uma aliança
entre os governos ditatoriais militares da América Latina, entre eles Chile,
Brasil, Argentina e Uruguai. O acordo consistiu no apoio político e operacional
entre os governos, para localizar, sufocar ou eliminar os que se opunham aos
regimes autoritários. Por causa desse acordo, por exemplo, um brasileiro que se
refugiasse no Chile para fugir de perseguição no Brasil poderia ser localizado e
preso pelos órgãos da repressão chilena. Dessa forma, a Operação Condor criava
uma imensa área comum de autoritarismo, ilegalidade e arbítrio.
40.
A industrialização no Brasil foi lenta até a década de 1930. Na Era Vargas
(1930-1945) começou a ser criada uma indústria de base e tiveram início uma
política de substituição de importações e a criação de cadeias para produzir
matérias-primas da indústria – por exemplo, com a criação da Companhia
240
atualidades vestibular + enem 2011
Vale do Rio Doce, para explorar minério de ferro, e da Companhia Siderúrgica
Nacional, para transformar esse minério em aço. A alternativa correta é a E.
Na resposta A, “intervenção estatal” se contrapõe ao conceito de “forças de
mercado”; e, nas demais alternativas, B, C e D, o que se afirma não é o que
ocorreu no país, o que seria: combate às desigualdades sociais, formação
de mão de obra qualificada, desenvolvimento avançado de tecnologias de
produtividade e ambientalmente limpas.
Resposta: E
41.
As três primeiras afirmações feitas são corretas, pois o panorama econômico
recente da China começou a formar-se com as reformas iniciadas por Deng
Xiaoping na década de 1970, com a política das Quatro Grandes Modernizações
(da indústria, da agricultura, da ciência e tecnologia e das Forças Armadas)
e a criação de Zonas Econômicas Especiais, abertas a investidores estrangeiros. A China tem crescido a uma taxa média de quase 10% ao ano, e seu
Produto Interno Bruno (PIB) de 2007 fez a terceira maior economia mundial.
O país mantém uma política de exportações maciças, em que cobra impostos
menores e oferece mão de obra com salários baixos. Isso atrai empresas
estrangeiras interessadas em montar seus produtos na China para vender
no mercado mundial. Essa política levou a nação a ter reservas superiores
a 2 trilhões de dólares, como é citado. A afirmativa IV erra ao afirmar que o
modelo de desenvolvimento adotado é de mão de obra especializada e bem
distribuída por todo o território. Ao contrário, a maior parte da mão de obra
não é especializada e, por isso mesmo, barata, e a concentração é maior nas
Zonas Econômicas Especiais.
Resposta: D
42.
a) Reino Unido e Suécia são dois países que fazem parte da União Europeia,
mas não aderiram ao Euro. Nesses dois países, houve a decisão de não
aderir à moeda comum em razão dos rigorosos critérios para utilizá-la, que
poderiam implicar perda de soberania sobre suas políticas monetárias. Para
participar da Zona do Euro, a União Europeia estabelece políticas cambiais
e financeiras a ser seguidas, que incluem metas de inflação e medidas de
controle do orçamento.
b)A Turquia é um exemplo de país que tem grande interesse em fazer parte
do quadro da União Europeia (UE). Desde 1999, a nação tenta entrar na UE,
o que favoreceria a receber investimentos dos outros países-membros e a
dinamizar a sua economia. Mas a Turquia enfrenta problemas para conseguir
entrar no bloco, como as acusações de violar os direitos humanos e o temor
de uma onda de migração turca para a Europa Ocidental.
c) Para que um país integre a União Europeia, além de obedecer às políticas
econômicas, é preciso atender a outros requisitos, como ser um Estado
democrático, estabelecer políticas migratórias de acordo com os demais
membros e combater a corrupção.
43.
Ao analisar o gráfico, é possível perceber que a porcentagem da população de
jovens entre zero e 14 anos de idade vem caindo nos últimos anos, enquanto
cresce a de pessoas idosas, acima de 60 anos. Como o número de crianças e
adolescentes está diminuindo, é possível projetar a redução da demanda por
investimento público nas redes de escolas de ensino fundamental, que atendem
crianças e adolescentes dos 6 aos 14 anos.
Resposta: C
44.
A Grande Revolução Cultural Proletária, conhecida como Revolução Cultural,
teve início em 1966. Foi concebida e liderada por Mao Tsé-tung e pretendeu criar um ideário comunista chinês, distinto de valores ocidentais, que
passaram a ser considerados burgueses. Entre suas ideias, ela valorizava o
trabalho braçal, na agricultura e nas fábricas, como moralmente superiores
aos trabalhos burocráticos e intelectuais, e ancorou-se nos estudantes e
nos trabalhadores urbanos. Estudantes de todo o país formaram as Guardas
Vermelhas, que cumpriam um papel arregimentador, nacionalista e policiador.
Durante a revolução, foram perseguidos políticos, intelectuais e cientistas,
o que acabou por resultar em atraso tecnológico. A resposta correta é a
alternativa B. Note as incorreções das demais afirmativas: em A, afirmar que
a Revolução Cultural era a favor da burocratização, quando a combatia; em
C, que pretendeu firmar valores burgueses, quando os negava e se ancorava
no operariado; em D, que combateu o isolamento da cultura chinesa,quando
promoveu esse isolamento; e em E, que se inspirou na Revolução Russa,
quando pretendeu diferenciar-se dela.
Resposta: B
45.
A questão pede ao leitor que indique qual das afirmativas é uma medida adotada
por gestores públicos para diminuir os prejuízos causados por inundações.
A alternativa A é incorreta ao propor a eliminação de represas e barragens,
quando estas ajudam a controlar e prevenir enchentes. A B também é errada,
pois tornou-se regra manter a vegetação à beira de reservas de água, as matas ciliares, e sua retirada não minimiza enchentes. A retirada de árvores de
montanhas pode provocar deslizamentos graves durante fortes chuvas, o que
também seria um erro, afirmado em D.
Resposta: E
46.
A economia da China cresce a índices elevados e já se tornou a terceira maior
do mundo. Tal realidade tem feito com que a China se relacione economicamente cada vez mais com os Estados Unidos. Entre as relações econômicas
que explicam a aproximação cada vez maior desses países, podemos citar a
compra pela China de títulos do tesouro norte-americano e o grande número
de empresas norte-americanas que instalaram fábricas na China, atraídas
por incentivos fiscais e pelos baixos salários locais em dólares. Assim, essas
empresas produzem na China para exportar seus produtos para o mercado
dos Estados Unidos e dos demais países, a preços menores e com maiores
margens de lucro.
47.
a) A sigla Bric soma as letras iniciais de Brasil, Rússia, Índia e China. Entre
algumas características comuns a esses países, podemos apontar: todos são
nações em desenvolvimento, com grande extensão territorial e população,
com elevado potencial de crescimento econômico.
b)Mesmo sob o regime político de partido único e com grande presença do
Estado na economia, a China abriu seu mercado ao capital externo, com a
criação de Zonas Econômicas Especiais. As empresas estrangeiras foram
atraídas para montar indústrias no país, motivadas pela baixa cobrança
de impostos e pela presença de mão de obra barata, em razão da enorme
disparidade de câmbio entre a moeda local, o iuan e o dólar. A China é
atualmente o maior exportador mundial.
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2011 atualidades vestibular + enem
241
De olho na história
Vinicius
de Moraes
Há 30 anos, morreu um dos mais importantes
poetas do modernismo, que era também
compositor e letrista da bossa nova
V
inicius de Moraes foi um nome
ímpar no panorama cultural brasileiro. Diplomata de carreira,
destacou-se como poeta modernista, mas
também como compositor e letrista popular. Marcus Vinicius da Cruz de Mello
Moraes nasce em 1913, no Rio de Janeiro,
onde morre, em 1980.
Com apenas 15 anos, quando estava
no curso secundário, começa a compor
músicas populares. Em 1933, conclui o
curso de direito. No mesmo ano, publica
seu primeiro livro, a coletânea de poemas
O Caminho para a Distância (1933). Em
1935, surge Forma e Exegese.
Em 1938 vai estudar na Inglaterra e
lança Novos Poemas. De volta ao Brasil,
ingressa no Ministério das Relações Exteriores, em 1943. Nesse ano, o livro Cinco
Elegias inaugura uma nova fase em sua
poesia. De um início marcado fortemente
pela religiosidade neossimbolista, o lírico
Vinicius passa para uma temática mais
próxima do amor, do erotismo e das angústias do desejo. Fala mais do cotidiano,
de temas sociais, e sua linguagem se torna
mais coloquial.
242
atualidades vestibulaR
vestibular + ENEM
enem 2011
2011
Em 1953 compõe seu primeiro samba,
Quando Tu Passas por Mim, e publica a
peça Orfeu da Conceição, em 1954. Em
1956 conhece o compositor Tom Jobim.
Duas de suas primeiras composições
com Jobim (Chega de Saudade e Outra
Vez) são gravadas por Elizeth Cardoso
no disco Canção do Amor Demais (1958),
com acompanhamento ao violão de João
Gilberto, e são consideradas o marco da
bossa nova. É de Vinicius a letra de Garota de Ipanema, a música brasileira mais
conhecida em todo o mundo.
Entre 1955 e 1956, Vinicius prepara o
roteiro do filme Orfeu Negro, do diretor
francês Marcel Camus, que ganha o Oscar
1959 de melhor filme estrangeiro. No
início dos anos 1960, compõe com outros
músicos, como Pixinguinha, Carlos Lyra,
Edu Lobo, Francis Hime e Dorival Caymmi. Com Baden Powell, cria afrossambas
famosos, como Canto de Ossanha e Berimbau. É aposentado do serviço diplomático
em 1968 pelo regime militar. A partir
de 1969, torna-se parceiro do violonista
Toquinho, com quem faz shows no Brasil
e no exterior até sua morte.
u
ilustração: Zé otávio

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