Foram-se as promessas valeram os interesses
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Foram-se as promessas valeram os interesses
Vitórias Se houvesse vontade política, não faltaria dinheiro para melhores salários e para boas políticas sociais. Luta impõe CCTV FMEE EDITORIAL Órgão Na Delphi e Motometer, valeu a pena resistir com firmeza à chantagem da discriminação salarial, para defender os direitos inscritos no contrato colectivo do sector FMEE. N.º 3 Novembro 2008 dos trabalhadores das indústrias metalúrgica, química, Distribuição gratuita aos associados dos sindicatos federados farmacêutica, eléctrica, energia e minas Contratação colectiva vai decidir-se nas empresas 3 Firmeza vence discriminação Mais 50 euros em 2009 Os tribunais reprovam o comportamento das empresas que usam a discriminação salarial para tentarem impor a lei da selva. Leoni e CACIA foram condenadas. 9 A Fiequimetal e os sindicatos procuram ultrapassar o boicote das associações patronais e estão a dinamizar a apresentação das reivindicações nas empresas. Como valor de referência, exige-se uma actualização salarial de, pelo menos, 50 euros. Na Electricidade dos Açores, o acordo resultou num acréscimo salarial global de 4,68 por cento. Não cumprir sai caro Só a Tyco tem que pagar mais de um milhão de euros a 1300 trabalhadores - um dos vários casos em que os tribunais e a ACT obrigaram empresas a cumprir o contrato colectivo em vigor. 15 Precariedade Luta de todos 7 Lucros EDP ganha mais Os lucros da EDP cresceram abundantemente, no primeiro semestre de 2008, mas os impostos a pagar tiveram uma subida ínfima. 16 4a6 Grande protesto dia 1 de Outubro Por melhores salários e emprego sem precariedade e contra a revisão, para pior, da legislação laboral, o dia nacional de luta foi uma das maiores manifestações de protesto dos últimos meses. A luta vai continuar. 20 Foram-se as promessas valeram os interesses Arménio Carlos, da Comissão Executiva da CGTP-IN, fala sobre a acção do Governo de José Sócrates e do PS, empossado há três anos e meio. Centrais Onde alastra o trabalho precário, todos os trabalhadores ficam a perder. A campanha em curso apela à luta para que os «contratados» passem a efectivos e para que haja justos aumentos dos salários e direitos iguais. nacional EDITORIAL Os trabalhadores rejeitaram este Código, mas fundamentalmente exigiram uma mudança de política O A luta vai continuar opinião descontentamento dos trabalhadores e de outras camadas da população, contra a política do Governo Sócrates, tem sido intenso. Isto ficou demonstrado nas grandes acções de luta convocadas pela CGTP-IN contra essa política. Merece destaque a revisão do Código do Trabalho, desencadeada pelo Governo e aplaudidade pela CIP. Um e outra têm como objectivo, com a alteração da lei, atacar direitos fundamentais dos trabalhadores, levar ao aumento da precariedade do emprego, agravar brutalmente os horários de trabalho (que poderão chegar às 60 horas semanais), reduzir os salários, simplificar o despedimento sem justa causa, e procurar liquidar a contratação colectiva, através da caducidade, LUÍS PINTO Direcção Nacional da Fiequimetal e coordenador do Sindicato dos Metalúrgicos do Norte 2 subvertendo também o princípio do tratamento mais favorável. As grandes lutas que se desenvolveram, e em que participaram activamente os trabalhadores representados pela Fiequimetal, rejeitaram este Código do Trabalho, mas fundamentalmente exigiram uma imediata mudança de política do Governo, para impedir a continuação da destruição do aparelho produtivo (com a consequente eliminação de milhares de postos de trabalho), das deslocalizações e do encerramento de empresas, da política de baixos salários (que leva ao crescimento da pobreza dos trabalhadores), do agravamento do custo de vida e do aumento da precariedade (responsável por graves discriminações e limitações aos direitos e entraves à qualificação e à progressão profissional). É necessário que o Governo oiça a voz do grande protesto popular. Se não o fizer, por certo, como outros no passado, acabará por ser derrotado pela resistência e pela luta dos trabalhadores, que jamais se resignarão a aceitar a redução dos direitos e dos salários. D esde já, há que pôr em prática as orientações aprovadas pela Direcção da Fiequimetal, que passam por concretizar, em todos os sectores abrangidos pela Federação, uma forte acção reivindicativa para 2009, exigindo em cada empresa aumentos salariais que tenham em conta a inflação, a produtividade e as perdas salariais verificadas nos últimos anos. Há que aprovar as reivindicações salariais internas de empresa, que devem ser negociadas depois de formalmente entregues às administrações. Se não houver disponibilidade patronal para chegar a acordo, o caminho é a luta por melhores salários em 2009. Não podemos permitir que o patronato e o Governo, em nome da crise do sistema capitalista, de que são no País os únicos responsáveis, venham tentar manter a brutal contenção salarial dos últimos anos. C om indignação, os trabalhadores e os povos vêem que os governos que praticam políticas de direita, como o Governo de Sócrates, rejeitam políticas sociais justas, mas, quando o sistema capitalista decadente e explorador entra em colapso, como acontece actualmente, concedem biliões de euros a banqueiros e grupos financeiros que estão agora em falência mas são os principais beneficiários do sistema vigente. Afinal, se houvesse vontade política, não faltaria dinheiro para melhores salários e para boas políticas sociais. A crise financeira que se está a viver e a forma como os governos lhe procuram responder são provas de que o capitalismo é um sistema que provoca pobreza e sofrimento aos povos e que, como tal, nunca poderá ser aceite pelas massas trabalhadoras, que desejam uma sociedade de justiça e progresso, com o fim da exploração do homem pelo homem. É também por isso que a nossa luta vai continuar. Comboio do sono E ste tempo, marcado pela exploração do capital e sustentado por políticas de direita e anti-sociais, praticadas por um Governo PS, merece que a classe trabalhadora acorde e saia do comboio do sono em que há muito vem viajando. Este Governo, ministrado pelo senhor engenheiro José Sócrates, ainda na sua puberdade definiu como alvo principal a classe operária, desde muito cedo demonstrou que a linha adoptada era a de retirar direitos aos trabalhadores. Um exemplo desta constatação foi a afirmação de que a lei portuguesa «protege demais os trabalhadores em relação ao despedimento», produzida por um doutor entendido em leis de trabalho, que o Governo empossou na sua Comissão do Livro Branco. Com uma argumentação já usada e abusada por outros da mesma casta, vão dizendo que esta revisão do Código do Trabalho é para dinamizar a produtividade portuguesa. Nestes quatro anos de governação, tudo que é do povo, conquistado com a revolução de Abril, so- freu uma violenta ofensiva, desde a escola pública, à saúde, às reformas, e às leis laborais. Hoje temos no País instalado um clima de repressão, fruto do aumento do desemprego, da precariedade, da exploração, consequência da política dos baixos salários imposta por um patronato retrógrado e vampírico. O movimento sindical unitário tem sido o grande baluarte da oposição às políticas seguidas por este Governo. Foram muitas as lutas com grande expressão de massas, mas a prepotência deste Governo mantém-se bem evidente com a apresentação da proposta de revisão do Código do Trabalho, que concretiza um ataque aos direitos dos trabalhadores, sem precedentes nestes 34 anos de democracia. Estamos num tempo de resistência. A luta desenvolve-se em torno do combate a esta revisão do Código para pior, que preconiza um ataque feroz à contratação colectiva, a liberalização dos horários de trabalho, a legalização da precariedade, um novo ataque ao movimento sindical. O movimento sindical tem que fazer parar esta comboio do sono, tem que acordar a classe trabalhadora para a consciência social e política e a necessidade de ruptura. É imperativo, nesta fase de combate à revisão do Código, que se imprima uma dinâmica forte à acção reivindicativa nas empresas e que nela se envolva a maioria dos trabalhadores. Resolver os problemas concretos, a nível de empresa e local de trabalho, serve de catapulta para dar mais confiança aos trabalhadores para as lutas que aí vêm. Portugal precisa urgentemente de uma política que dignifique quem trabalha e precisa que a riqueza produzida seja repartida mais equitativamente. No quadro da CGTP-IN, a nossa federação e os sindicatos nela associados têm sido um pilar fundamental na intervenção e mobilização para lutar por um projecto de justiça social e desenvolvimento saudável para Portugal. Com muita confiança, vamos continuar a lutar por um Portugal melhor. Novembro 2008 actual Luta impôs a aplicação do contrato colectivo Delegados na A. Vision Pela primeira vez, foram eleitos a 23 de Julho os delegados sindicais dos Metalúrgicos do Sul na A. Vision, criada pela Autoeuropa para lhe prestar serviços e fornecer trabalhadores. Na actividade a desenvolver, os delegados sindicais propõem-se manter um funcionamento regular, obter instalações próprias e responder cabalmente às solicitações dos sindicalizados, sobressaindo a luta contra a precariedade e pelo direito ao trabalho com direitos. No dia 7 de Outubro, os delegados reuniram com os responsáveis da empresa, ficando o compromisso de promover reuniões mensais com a estrutura sindical. Lutas no Parque Os trabalhadores da Vanpro Assentos (no Parque da Autoeuropa) reclamaram a reposição do poder de compra, após uma actualização de 2,8 por cento, em Janeiro. A empresa mostrou-se disponível para chegar a acordo e aplicou um prémio de um por cento do salário anual, no mínimo de 140 euros e máximo de 200. Na SPPM (também no Parque), após uma greve no dia 15 de Outubro, a administração propôs-se responder positivamente às reivindicações. Os salários de 666 euros passaram para 750, com compromisso de criar um subsídio de transporte em Junho de 2009. Valeu a pena A VN Automóveis, em Vendas Novas, reconheceu razão à reclamação do Sindicato dos Metalúrgicos e regularizou o pagamento do prémio e do subsídio de refeição aos delegados sindicais, relativamente aos períodos em que desenvolvem actividade sindical. Na Halla Climate Control, em Palmela, a comissão sindical conseguiu finalmente realizar um plenário, dentro do horário de trabalho, no dia 29 de Setembro. Ficou marcada uma reunião com a direcção para analisar vários problemas colocados pelos trabalhadores. Novembro 2008 Vitórias na Delphi e Motometer Valeu a pena resistir com firmeza à chantagem da discriminação salarial, para defender os direitos do CCTV FMEE que os amigos dos patrões querem ajudar a liquidar. A Delphi, em Braga, confrontada com a unidade, a resistência e a luta dos seus trabalhadores, viuse forçada a terminar um longo período de discriminação salarial, iniciado no ano de 2007. De nada valeram as pressões e chantagens. A empresa teve que desistir de aplicar a todos os trabalhares, por adesão individual, o contrato dos seus amigos e protegidos da UGT/Sima. Ao «pedido» da empresa, para adesão individual e formal ao contrato da UGT, disse que não a esmagadora maioria das trabalhadoras e dos trabalhadores, devidamente informados pelo seu sindicato, o STIENC. Merece destaque o pessoal do sector produtivo, pela forma muito determinada como rechaçou os propósitos da administração. Em Abril deste ano, a Delphi voltou a insistir na sua ofensiva de liquidação do contrato colectivo de trabalho do sector FMEE, que está em vigor e é muito mais favorável. Os trabalhadores, em plenário geral, voltaram a recusar e definiram um conjunto de lutas. Es- Unidade, firmeza e determinação na luta foram fundamentais para os resultados positivos (foto na manifestação de 5 de Junho, em Lisboa) te facto veio a determinar a assumpção, por parte da empresa, do pagamento salarial devido aos trabalhadores, a partir de Abril de 2008, e o abandono das exigências de adesão formal ao contrato dos patrões. O sindicato e os trabalhadores pretendem agora que a empresa assuma o pagamento das diferen- Sakthi reintegrou A Sakthi, na Maia (ex-Portcast), reintegrou como trabalhador efectivo, a partir de 25 de Agosto, um operário que, com o apoio do Sindicato dos Metalúrgicos do Norte, decidiu contestar o despedimento, intentado há cerca de um ano, no final do contrato a termo. Depois de ser notificada pelo Tribunal de Trabalho, a empresa contactou o sindicato, aceitando assumir a reintegração e garantindo a antiguidade, além das demais consequências le- gais. O trabalhador esteve um ano como temporário, a que se seguiu um ano e meio de contrato a termo. O posto de trabalho era permanente e, como referimos no primeiro número do Jornal da Fiequimetal, foi ali colocado outro trabalhdor, em regime temporário, após a decisão do despedimento. Para o sucesso desta batalha contribuíram a solidariedade dos camaradas e a acção da comissão sindical e da comissão de trabalhadores, salienta o STIMN. ças salariais que ficaram em dívida, desde Abril de 2007 a Março de 2008, para o que levaram o caso a Tribunal de Trabalho. Estava marcada audiência para 28 de Outubro. Cientes, agora por experiência própria, de que a luta é o único caminho para defender os direitos, os trabalhadores da Delphi marcaram presença massiva no plenário que teve lugar dia 1 de Outubro, respondendo ao apelo da CGTP-IN para esta jornada de combate contra o Código do Trabalho. Motometer pagou caro Depois de muitos anos de atraso na apreciação do processo em que os trabalhadores da Motometer reclamavam a aplicação do CCTV FMEE, o Tribunal do Trabalho de Vila Real decidiu finalmente impor à empresa a sua aplicação. No acordo firmado entre a empresa e o STIENC, ficou reconhecida e consagrada a aplicação dos direitos contratuais a todos os trabalhadores. O acordo, que precisou de esclarecimento adicional do juiz, por não haver um cumprimento rigoroso por parte da empresa, veio trazer justiça aos trabalhadores que, acreditando no trabalho desenvolvido pelos delegados sindicais e pelo seu sindicato, viram resolvido um problema que os afectou durante anos. A Motometer passou agora a aplicar o contrato colectivo em vigor no sector FMEE, mas teve que pagar a sonegação de direitos mais vantajosos. As trabalhadoras e os trabalhadores prejudicados obtiveram: - a contagem do tempo de progressão na carreira e de contagem de antiguidade, desde Janeiro de 1991, - e o pagamento e acerto de salários a partir de Janeiro de 2005. Congratulando-se por este desfecho positivo, o sindicato valoriza a disponibilidade revelada pelos trabalhadores nas lutas travadas e a total confiança depositada nos seus representantes. A determinação na luta foi especialmente visível na adesão à greve geral de 2007 e na participação nas acções desenvolvidas a nível nacional, em Lisboa e no Porto. Salienta-se ainda a massiva sindicalização no STIENC. Greves na Fehst Os trabalhadores da Fehst realizaram greves de meia hora por dia, durante todo o mês de Julho. De 1 a 12 de Setembro, os períodos de greve aumentaram para uma hora. A adesão a estas lutas foi quase total, informando o STIENC que, caso a empresa não altere a sua posição, serão desencadeadas outras formas de luta. Esta foi uma firme resposta à provocação do pa- trão da Fehst, empresa saída do desmantelamento da antiga Grundig, que não actualiza salários desde 2006, alegando que se desvinculou da ANIMEE e que, por isso, não tem que aplicar os acordos firmados pela associação patronal. Nos últimos tempos, a Fehst tem apresentado propostas inaceitáveis e, por via da sua filiação na associação da metalurgia, quer aplicar outro contrato colectivo, o que levaria a uma perda considerável de direitos. Quer ainda suprimir o pagamento dos prémios integrados e do subsídio de turno fixo, e que os trabalhadores passem a pagar na cantina um euro acima do valor do subsídio de refeição (contra um direito conquistado há catorze anos). 3 contratação Acção integrada no sector FMEE Mundo Elevadores Para regulamentar as condições de prestação do trabalho em regime de deslocação, está em curso um processo negocial entre o SIESI e a Mundo Elevadores, empresa que se dedica à montagem e manutenção de elevadores, predominantemente no estrangeiro. Estão já acordadas matérias como a classificação de todos os trabalhadores, numa carreira mais curta e automática, em Técnicos de Montagem, do grupo dos Técnicos Fabris do CCTV FMEE; o pagamento da diferença entre a remuneração contratual e o salário mínimo praticado no país onde estão deslocados; o direito de vinda a Portugal, para gozo de licença suplementar e dias de descanso compensatório, cada cinco semanas. O processo negocial iniciou-se depois de os trabalhadores deslocados na Holanda terem decidido apresentar-se na sede da empresa, em Alverca do Ribatejo, em protesto pela intenção da gerência de substituir a retribuição certa pelo pagamento de prémios, ao que a gerência reagiu com a suspensão preventiva de 15 operários. Os trabalhadores sindicalizaram-se e elegeram delegados sindicais. OTIS Na OTIS foi conquistado um subsídio de disponibilidade (40 euros semanais e 35 euros por saída) para os trabalhadores em regime de prevenção, como resultado de negociações, conduzidas pelo SIESI e pelo STIENC. Ficou ainda acordado um aumento salarial de três por cento e o valor de oito euros para o subsídio de refeição. CSP Os trabalhadores da CSP conseguiram o encurtamento da carreira dos operadores especializados, dos nove anos e meio previstos no contrato colectivo (CCTV FMEE) para oito anos ou, nalguns casos, sete anos e meio. Este progresso foi obtido durante as negociações dos aumentos salariais para este ano (três por cento, com efeitos a Janeiro) naquela fábrica de semicondutores. 4 Organizar para ganhar A par da proposta salarial para cada empresa, trata-se de reforçar a organização, aumentar a sindicalização e incrementar a luta pelos direitos e pelo aumento real dos salários. N os fabricantes de material eléctrico e electrónico, o boicote da associação patronal na revisão do contrato colectivo e o «prémio» que, com a revisão do Código do Trabalho, o Governo quer oferecer a quem não respeita os direitos em vigor, levam a estrutura sindical a avançar com mais determinação para a acção nas empresas. Em plenários de trabalhadores, vai ser debatida a proposta salarial para 2009, para cada empresa, e a forma de a concretizar. Para além da proposta salarial, é indispensável desenvolver um alargado e aprofundado debate com a estrutura sindical de cada empresa, encarando de forma integrada o reforço da organização, o consequente aumento da sindicalização, a luta pela manutenção dos direitos conquistados e o aumento real dos salários (considerado o objectivo estratégico para o próximo ano). A federação, o SIESI e o STIENC consideram que, em resultado de um longo processo de desinvestimento e destruição do aparelho produtivo, e de uma aposta estratégica na As reinvindicações vão ser apresentadas e negociadas nas empresas, para romper o boicote da ANIMEE (foto na manifestação de 5 de Junho, em Lisboa) contenção salarial, os sucessivos governos de direita conduziram o País a uma grave situação económica, que o coloca no patamar dos mais atrasados da UE. A luta pelo aumento dos salários permite, por um lado, que os patrões sejam novamente derrotados, perante a chantagem de fazerem depender os aumentos salariais da aplicação do seu «con- trato colectivo». Por outro lado, o crescimento real dos salários constitui um imperativo para o País, para atingirmos um nível de vida e bem-estar cada vez mais próximo das médias registadas nos países da UE mais desenvolvidos e para estimular a economia e a criação de emprego. A federação e os sindicatos vão desenvolver um amplo debate com os tra- balhadores, de forma a garantir, em cada empresa, aumentos que tenham em conta a inflação, a produtividade e a recuperação das perdas salariais dos últimos anos. Para além da negociação ao nível sectorial, há que, em todas as empresas, com a aprovação dos trabalhadores, apresentar propostas de revisão salarial para 2009, que deverão ser entregues às administrações e negociadas pelos delegados sindicais e sindicatos. Para conquistar melhores salários em 2009, é imprescindível que os trabalhadores, com unidade e convicção, exijam a negociação dessas propostas e demonstrem a sua determinação para lutar por elas, se o patronato recusar negociar. Também as alterações ao Código do Trabalho impõem a necessidade de discutir com os trabalhadores o seu envolvimento na luta, mantendo a resistência a um nível elevado, o que será decisivo para alcançar, empresa a empresa, um novo edifício de direitos que contemple muitos daqueles de que dispomos hoje e que foram alcançados pela árdua luta de gerações e gerações de trabalhadores do sector FMEE. O que os trabalhadores dificilmente compreenderão é a circunstância de muitas multinacionais, que quase duplicaram os lucros, poderem vir a aumentar a jornada de trabalho sem pagarem mais por isso, se o Governo do PS, contra todas as promessas feitas, conseguir servir aos patrões o mais apetecível ingrediente para o aumento da exploração. Propostas entregues na metalurgia É imperioso alcançar um aumento substancial dos salários, defende a Fiequimetal, que entregou em Setembro as propostas às associações patronais metalúrgicas. Na proposta de revisão do CCTV da metalurgia e metalomecânica, apresentada à AIMMAP (Associação dos Industriais Metalúrgicos, Metalomecânicos e Afins de Portugal, com sede no Porto, com a qual foi celebrado um acordo salarial, no final de Março deste ano), e nas propostas sindicais enviadas à FENAME, à ANEMM e à Associação Industrial do Minho (que reiteradamente fogem à negociação, datando o último acordo do ano 2000), salienta-se que o significativo aumento salarial constitui um elemento de justiça social (repondo o poder de compra perdido com o aumento dos preços, muito acima da inflação oficial), mas também é um passo importante para promover o desenvolvimento, através da redinamização da procura interna. A federação defende a inversão da actual política, para relançar o aparelho produtivo nacional, o que permitiria melhorar as condições de vida e de trabalho - pondo termo ao ataque aos direitos dos trabalhadores e enveredando por relações laborais cuja estabilidade assegure a formação necessária no sector, bem como a atenuação dos ritmos e tempos de trabalho. Na fundamentação das propostas, não foram escamoteadas situações de efectivas dificuldades, antes se procura combatê-las na origem (a política que estimula as actividades financeiras e especulativas). Por outro lado, a perspectiva de resolver os problemas das empresas à custa de baixos salários e maior exploração dos tra- balhadores acaba por condicionar e até impedir que sejam adoptadas verdadeiras medidas de recuperação. A federação admite, contudo, discutir situações concretas, lembrando que assim sucedeu com os horários de trabalho (cuja adaptação é permitida pelo contrato colectivo, em situações de recurso, desde que haja acordo). Depois de referir os casos de Espanha (cujo governo aponta para um salário mínimo de 800 euros) e da Alemanha (onde o sindicato dos Metalúrgicos reivindica aumentos de 7 a 8 por cento, equivalentes a cerca de 200 euros), a fede- ração apresenta os valores propostos para o subsídio de refeição e as tabelas salariais, defendendo um aumento de, pelo menos, 50 euros para todos os trabalhadores. Às associações patronais que persistem na recusa de negociar, a Fiequimetal comunicou que pretende reclamar a intervenção do ministro do Trabalho, para confirmar se aquelas prescindem de ter protagonismo nesta área. A ser assim, a federação irá procurar outras soluções, que assegurem o direito à contratação colectiva no sector (no caso, a partir da convenção da AIMMAP). Novembro 2008 contratação Negociar e reivindicar com resultados O balanço da acção reivindicativa desenvolvida pelos sindicatos que constituem a Fiequimetal, abrangendo 230 empresas, desde o início do ano até ao final de Agosto, comprova que reivindicações justas podem levar a resultados positivos para os trabalhadores, sendo determinante que estes estejam unidos, organizados e determinados a baterem-se pelos objectivos definidos. Em 25 empresas, as actualizações salariais foram inferiores a 2,5 por cento, valor registado em 43 casos. Aumentos de três ou mais por cento ocorreram em 64 empresas. Nestas, houve acordos que contemplaram aumentos diferenciados, favorecendo os salários mais baixos, que chegaram a ter subidas de 15 ou mesmo 17 por cento. Em várias empresas foram negociados aumentos num valor absoluto igual para todos os trabalhado- res, conseguindo-se 50 euros ou mais em seis casos (chegando ao valor máximo de 70 euros). Na negociação com associações patronais, persistem os casos graves de boicote e bloqueio, procurando a caducidade dos direitos dos trabalhadores ou tentando impor contratos menos favoráveis. Mas, naquele período, foram também alcançados importantes acordos salariais, como, por exemplo, no CCTV dos anúncios luminosos (aumento médio de 3,38 por cento, variando, nos diversos graus remuneratórios, entre 3 e 5,45 por cento), no CCT das garagens (mais três por cento na tabela) ou no CCT dos pesticidas (acordados aumentos de 5 ou 6 por cento, conforme os grupos, e para os anos de 2007 e 2008, estando em elaboração o texto consolidado do contrato, para publicação). Prioridade aos salários na indústria mineira O Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Mineira deu seguimento às deliberações dos plenários realizados em várias empresas, cujas conclusões, unânimes, apontaram o aumento dos salários como necessidade imperiosa no sector. O STIM apresentou nas empresas a correspondente reivindicação com vista à efectiva melhoria das condições de vida e de trabalho de todos os trabalhadores. Salienta o sindicato que a indústria extractiva tem características que a distinguem das demais, por tratar-se de uma actividade de desgaste rápido, pela penosidade do trabalho em si, pela falta de condições que deriva da irresponsabilidade das empresas em matéria de Saúde, Higiene Novembro 2008 e Segurança, da inoperância da Inspecção do Trabalho e, também neste sector, da subserviência do Governo aos desígnios do capital. A actividade de qualquer mina, recorda o STIM, é sempre uma actividade a prazo, já que o homem extrai em poucos anos o que a natureza leva muitos anos a criar. Esta situação agrava-se quando algumas empresas, como sucede em Portugal, desenvolvem a exploração desenfreada dos recursos, quando a cotação dos minerais está em alta, e promovem a «lavra gananciosa», explorando apenas os filões cujo teor de minério é mais elevado. Estas práticas encurtam em muitos anos o tempo de vida das minas. Na contratação colectiva e nas empresas Mais 50 euros em 2009 A Fiequimetal e os sindicatos apresentaram propostas na contratação colectiva e estão a dinamizar as reivindicações nas empresas, apontando como valor de referência uma actualização salarial de, pelo menos, 50 euros. A decisão foi tomada dia 10 de Setembro, pela Direcção da federação, que aprovou uma resolução em que apela aos trabalhadores para que se mobilizem pela concretização daquele justo objectivo. O valor mínimo reflectiuse nas propostas concretas apresentadas às associações patronais. Salientase que é necessário que os salários mais baixos, no sector produtivo, tenham um aumento substancial e que todos cresçam significativamente acima da inflação verificada. Isto será fundamental para fazer face ao aumento do custo de vida e para dar início à recuperação do poder de compra perdido, e tam- bém para atenuar o escandaloso fosso que separa os trabalhadores portugueses dos demais trabalhadores europeus. No folheto nacional, em distribuição, recorda-se que os metalúrgicos alemães, que já ganham quatro vezes mais do que os portugueses, conquistaram aumentos de 5,5 por cento para 2008 e reivindicam 7 a 8 por cento para o próximo ano. Em Espanha, o Governo assumiu o compromisso de elevar o salário mínimo para 800 euros. Enquanto o patronato, em Portugal, argumenta com a crise para negar melhorias salariais, verifica-se que as grandes fortunas continuam a crescer escandalosamente e que as desigualdades são cada vez maiores. Se as associações patronais, nos sectores, insistem em boicotar a negociação colectiva, há que apresentar as reivindicações e exigir aumentos salariais ao nível das empresas, salienta a federação, desafiando o patronato a deixar-se de atacar os trabalhadores; a respeitar a contratação colectiva e os direitos; a cumprir o direito dos trabalhadores à formação contínua; a pôr fim à precariedade e garantir a estabilidade do emprego; a acabar com a política de baixos salários. Tal como se defende na Política Reivindicativa da CGTP-IN para o próximo ano, a melhoria dos salários e a sua valoriza- ção real devem ter em conta a evolução do poder de compra em anos anteriores (e as perdas face à inflação registada), as condições económicas de cada sector e empresa, e os ganhos de produtividade. Considerando estes factores, a CGTP-IN reclama do Governo e dos representantes patronais que os aumentos salariais, em 2009, se situem, pelo menos, dois por cento acima da inflação. Além de exigir o cumprimento do acordado para a evolução do salário mínimo nacional, fixando-o em 450 euros no novo ano, para alcançar os 500 euros em 2011, a CGTP-IN apresentou um novo quadro de evolução, apontando para 600 euros no ano de 2013. Encontro nacional da química e farmacêutica No encontro nacional de representantes do Sinquifa e Sinorquifa foi decidido reformular a proposta sindical, reivindicando um aumento mínimo de 50 euros em 2009. Este valor, de acordo com a resolução aprovada e entregue depois na empresa que preside à associação patronal APEQ, tem por objectivo fazer face ao aumento do custo de vida e obter uma valorização real dos salários. Em Março de 2007, a Fiequimetal deu acordo definitivo a 88 cláusulas da proposta patronal sobre o texto global e aos anexos, posição agora reafirmada, juntamente com a reformulação das reivindicações respeitantes à tabela salarial e cláusulas de expressão pecuniária. Os mais de cem dirigentes e delegados sindicais, membros de comissões de trabalhadores e representantes para a segurança, higiene e saúde laboral, reunidos a 18 de Setem- Os representantes dos trabalhadores foram à CUF-Químicos Industriais, em Estarreja, para entregarem as reivindicações aprovadas no encontro bro, em Rio Meão, decidiram desenvolver uma ampla acção reivindicativa, para esclarecimento e mobilização dos trabalhadores e com realização de acções junto das empresas dirigentes patronais, para que abandonem as propostas que impedem o acordo e respondam positivamente à proposta sindical. Foi reafirmada a determinação e disponibilidade para as acções e lutas que se mostrem necessárias, para a obtenção do acordo no CCTV. No encontro foi ainda aprovada uma resolução, a reclamar à Assembleia da República, em especial aos deputados do PS, que reprovem a proposta de lei do Governo sobre a Revisão do Código do Trabalho, e uma saudação aos trabalhadores da Fapobol, pela luta que têm vindo a travar, designadamente contra os processos disciplinares abusivamente instaurados a activistas. Outros sectores Encontros e assembleias de representantes e activistas sindicais de outros sectores tiveram igualmente lugar, durante o mês de Setembro: metalúrgicos do Norte (dia 8), STIENC (dia 9), metalúrgicos do Sul e metalúrgicos de Aveiro, Viseu, Guarda e Coimbra (dia 17), SIESI e metalúrgicos de Lisboa, Leiria, Santarém e Castelo Branco (dia 18), metalúrgicos de Braga (dia 22). 5 CONTRATAÇÃO Sistema Complementar de Saúde ugénio Rosa E Economista da CGTP-IN EDP e REN atacam utentes Contas da habitação A actual crise financeira, que começou nos EUA e alastrou por muitos outros países, está a ter em Portugal consequências muito graves. A EDP e REN têm apenas apresentado propostas para transferir custos para os utentes e subverter o Sistema Complementar de Saúde, acusou a Fiequimetal, avançando para a realização de plenários e lançando um abaixo-assinado. O N número de famílias portuguesas com empréstimos para habitação era, em Julho de 2008, de 1.808.096, representando cerca de 49,5 por cento do total. Entre Dezembro de 2004 e Junho de 2008, o número de famílias endividadas aumentou 24,6 por cento e o valor total da dívida cresceu 48,1 por cento. Como consequência da crise gerada pela ganância do capital financeiro, só possível pelo domínio que este exerce sobre os governos, em Portugal, entre Janeiro de 2005 e Julho de 2008, a prestação média com empréstimos destinados à aquisição de habitação aumentou 31,3 por cento, mas a parcela destinada à amortização diminuiu 18,9 por cento, enquanto a parte dessa mesma prestação destinada ao pagamento de juros cresceu 75,3 por cento. Por outras palavras, em cada cinco euros pagos ao banco, apenas 1,44 euros se destina à amortização, ou seja, à redução da dívida, enquanto 3,56 euros destinam-se ao pagamento de juros. Como consequência, o número médio de anos necessários para pagar o empréstimo passou de 31 para 45 anos, ou seja, mais do que a vida activa da maioria dos portugueses. Entre 2004 e 2008, o valor total que as famílias portuguesas serão obrigadas a entregar à banca, para pagar só os juros de empréstimos para aquisição de habitação, passará de 2.629,6 milhões de euros para 5.749,7 milhões de euros, ou seja, aumentará 118,7 por cento (isto tomando como base a taxa de juros de Junho de 2008). Embora os encargos com a habitação representem já uma parcela importante das despesas das famílias portuguesas, o Instituto Nacional de Estatística recusa-se a incorporar esta despesa no índice de preços que publica mensalmente, alegando que estas despesas destinam-se à «aquisição de um activo». Esta recusa do INE só pode ser interpretada como tendo razões políticas, ou seja, visa ocultar o verdadeiro aumento de preços para as famílias portuguesas, já que publica vários outros índices (IPC, IPCH, Indicador da inflação subjacente, etc.). Se fosse publicado um índice a incorporar os encargos das famílias com a aquisição da habitação, naturalmente a taxa de inflação seria muito superior à oficial, o que tornaria mais difícil à propaganda do Governo e do patronato ocultar a degradação real das condições de vida em Portugal, nomeadamente dos trabalhadores. O INE presta assim um bom serviço ao Governo e aos patrões, mas um mau serviço ao País, pois ao contribuir para ocultar a descida real do poder de compra dos salários e das pensões de reforma em Portugal contribui para que esta descida continue. O aumento dos juros está a contribuir fortemente para a degradação das condições de vida. 6 a declaração que entregou aos representantes do Grupo EDP e REN, dia 3 de Setembro, a Comissão Negociadora Sindical liderada pela Fiequimetal afirmou que a política defendida pelos representantes das empresas nas negociações significaria, a prazo, a liquidação do Sistema Complementar de Saúde, pelo que merece clara rejeição. Alertando para a importância de outras matérias, a declaração refere seis pontos em que tal posição se revela, ao longo de mais de ano e meio de reuniões e contactos: os custos dos serviços médicos; a Mútua; o âmbito de aplicação (deixaria de abranger todos os trabalhadores); a melhoria da qualidade da prestação dos cuidados de saúde; a tabela de actos médicos (usada pela empresa para transferir custos para os utentes); o cumprimento do acordo entre a EDP e a Direcção-Geral dos Cuidados de Saúde Primários. Não é o serviço complementar de saúde que põe em causa a competitivida- Os trabalhadores não aceitam que a EDP se porte como uma qualquer seguradora de e a sustentabilidade das empresas. Contrariando declarações exageradas da comissão negociadora da EDP e REN, os representantes sindicais recordam que, entre Janeiro de 2005 e o primeiro semestre de 2008, o Grupo EDP obteve 3 622 milhões de euros de lucros líquidos, a que se somam 828 milhões da REN. As várias aquisições em Portugal e no exterior, bem como outros negócios realizados, atestam a boa situação económica e financeira salientada publicamente pelo próprio pre- sidente do grupo. Quando não aceitaram discutir, no quadro da Mútua, a cobertura dos valores que pretendem obter com a sua proposta, como a CNS/Fiequimetal propôs, os representantes das empresas deixaram claro que o problema não está nos custos, e comprovaram a seguir que pretendem a subversão do sistema, quando propuseram um sistema que resultaria na triplicação dos encargos dos utentes. «A EDP parece uma qualquer seguradora, prestadora de um plano de saúde», comenta-se, a propósito, na declaração sindical. Para contrariar e alterar as posições da empresa, defende-se, como é referido no texto do abaixo-assinado: a continuação do Sistema Complementar de Saúde, para todos os trabalhadores do Grupo EDP e REN, baseado nos princípios mutualistas, com melhoria da qualidade da prestação dos cuidados de saúde, parando o encerramento de postos médicos e aplicando medidas contra a degradação dos serviços clínicos. Mais 4,68 por cento Acordo positivo na EDA O acordo alcançado na Electricidade dos Açores resultou num acréscimo global médio de 4,68 por cento. Na tabela salarial, o aumento foi de 2,8 por cento, tal como nas diuturnidades, na assiduidade, nos turnos, no trabalho suplementar. O subsídio de alimentação passou para 7,50 euros (aumento de 4,74 por cento). Foi, ainda, acordado um prémio de 350 euros para todos os trabalhadores. As negociações de revisão da tabela salarial e cláusulas de expressão pecuniária para 2008 ficaram conclu- ídas a 6 de Maio, considerando o SIESI que se tratou de um acordo positivo e que resultou, mais uma vez, do envolvimento dos trabalhadores na defesa intransigente dos seus direitos e interesses. A posição do sindicato, nas reuniões com a administração, foi sempre alvo de discussão com os trabalhadores. Na semana que antecedeu a reunião que era considerada decisiva, por exemplo, foram realizados plenários em todas as ilhas. A negociação na EDA criou condições para que as admi- nistrações da maioria das empresas do grupo tivessem de aplicar aumentos salariais de valor igual, o que ocorreu também com o subsídio de alimentação. Continua a ser desenvolvido um trabalho mais profundo, visando a criação de regulamentação colectiva em todo o grupo EDA. Encontram-se em fase final as propostas de regulamentação para a Segma e Sogeo. A administração da empresa-mãe recusou-se a negociar um acordo colectivo de trabalho que fosse aplicável a todo o grupo. Este facto le- vou o SIESI a iniciar um processo que, gradualmente, irá abranger todas as empresas, dando prioridade àquelas em que o estado de organização o permitiu, nomeadamente com a eleição de delegados sindicais. Depois de discutidas e aprovadas pelos trabalhadores, as propostas de regulamentação colectiva serão entregues às empresas. No essencial, propõe-se um quadro de direitos que ponha termo a situações de discriminação entre trabalhadores do grupo, procurando ainda incluir reivindicações específicas. Novembro 2008 CONTRATAÇÃO Contra a precariedade de emprego Porteiro recruta Na Sonafi, em São Mamede de Infesta, os trabalhadores temporários chegam ao cúmulo de terem que se dirigir todos os dias ao porteiro da empresa, a saber se existe trabalho - revelou o Sindicato dos Metalúrgicos do Norte. Depois de contactar a chefia directa, o porteiro informa o trabalhador se vai pegar a trabalhar ou se vai para casa até ao dia seguinte. Parcerias ao ataque Para tentar substituir emprego com direitos por trabalho com vínculos precários, na sua corrida desenfreada para remeter actividades para o exterior, a administração da EDP Distribuição lançou uma nova estratégia, assente em «parcerias», alertou o SIESI. A primeira, com a Efacec, resultou na criação da EME2, que deve assegurar a manutenção das subestações da zona Centro (abrangendo todas as 72 subestações e postos de corte naquela área, equivalentes a 18 por cento do parque nacional da empresa). Foram dadas informações e garantias ao sindicato, particularmente quanto à manutenção dos direitos dos trabalhadores que aceitem passar para a EME2. Mas faltam ainda várias respostas da empresa, para clarificar o quadro em que se irão desenvolver as relações laborais. Até lá, os trabalhadores devem ficar atentos à evolução da situação e às informações sindicais. Apesar de a EDP Distribuição declarar que não tem mais projectos deste tipo, o SIESI não afasta tal possibilidade, na conhecida política de procurar embaratecer o custo do trabalho à custa do recrutameto de pessoal no exterior, para as «parcerias», e assim a administração tentar excluir esses trabalhadores do ACT e dos direitos nele consagrados. Novembro 2008 A luta é de todos Onde alastra o trabalho precário, todos os trabalhadores ficam a perder. Por isso, todos são chamados à luta para que os «contratados» passem a efectivos e para que haja justos aumentos dos salários e direitos iguais. A postos de trabalho permanentes têm de corresponder contratos efectivos, reclamam a Fiequimetal e os sindicatos, que decidiram desenvolver uma campanha contra a precariedade de emprego nos sectores, reclamando que seja cumprido aquele princípio legal. Contratos a termo, contratos temporários e falsos recibos verdes são instrumentos do patronato para pagar salários mais baixos, para fugir à aplicação dos direitos, para criar uma falsa divisão entre precários e efectivos, para dificultar a organização e diminuir a capacidade reivindicativa de todos os trabalhadores, recorda-se no folheto central, em distribuição desde o início de Outubro. Apontado o objectivo de quem promove os vínculos de emprego precários, conclui-se que, nas em- Cumpra-se a lei Contratos a prazo O contrato de trabalho a termo só pode ser celebrado para a satisfação de necessidades temporárias da empresa e pelo período estritamente necessário à satisfação dessas necessidades. Código do Trabalho em vigor Prestação de serviços (recibo verde) Só quando: a) O trabalhador não esteja na dependência e inserido na estrutura organizativa do beneficiário da actividade; b) O trabalhador não realize a sua prestação sob as ordens, direcção e fiscalização do beneficiário da actividade, mediante retribuição. Contrato temporário O direito a emprego estável e com direitos tem que ser defendido pela luta (foto da manifestação de 5 de Junho, em Lisboa) ETT florescem na Autoeuropa Durante os últimos meses, muitas centenas de trabalhadores, depois de fazerem os testes de admissão na Autoeuropa, foram contratados através de empresas de trabalho temporário (ETT). O Sindicato dos Metalúrgicos do Sul, no final de Julho, considerou lamentável que a Autoeuropa tenha servido de centro de selecção para empresas de trabalho precário. As ETT instaladas no parque industrial pretendem fugir ao pagamento da indemnização pela caducidade dos contratos, procurando levar os trabalhadores a rescindirem. Se o trabalhador rescinde, perde os seus direitos. Mas, alerta o sindicato, não é preciso rescindir o contrato para passar para a empresa utilizadora, porque não muda de posto de trabalho. O contrato de utilização deve ser celebrado pelo período estritamente necessário à satisfação das necessidades do utilizador. Não é permitida a utilização de trabalhador temporário em postos de trabalho particularmente perigosos para a sua segurança ou saúde, salvo se for essa a sua qualificação profissional. Não são permitidos contratos de utilização para satisfação de necessidades que eram realizadas por trabalhadores cujos contratos cessaram, nos 12 meses anteriores, por despedimento colectivo ou extinção dos postos de trabalho. Na Inspecção de Trabalho (ACT) de Setúbal, o sindicato declarou estar disponível para uma solução, preconizando o pagamento da caducidade, no final do contrato, ou o reconhecimento da antiguidade pela utilizadora. Há muitas certezas de que, na maioria dos contratos temporários, a justificação ou é falsa ou é tão genérica que, se fossem verificados pela Inspecção do Trabalho, certamente esta os tornaria em contratos sem termo (efectivos) na empresa utilizadora. Reclamando da ACT uma melhor intervenção nesta área, o sindicato apelou aos trabalhadores das ETT e contratados a termo para que resistam e lutem, em defesa dos seus direitos, com apoio dos delegados e dirigentes sindicais e dos restantes camaradas. Lei nº 19/2007 de 22 de Maio presas onde há trabalho precário, todos os trabalhadores ficam a perder. É que todos são, directa ou indirectamente, atingidos nas suas condições de vida e de trabalho. Sendo assim, a luta pela passagem dos «contratados» a efectivos, por aumentos salariais e direitos iguais para todos, exige a parti- cipação e a unidade de todos os trabalhadores. Muitos dos trabalhadores precários estão a ocupar postos de trabalho permanentes e já deveriam estar efectivos, alerta a federação, apelando a que cada um verifique a sua situação, informando-se junto do respectivo sindicato. No documento salientase ainda que os contratados a termo (incluindo os temporários), independentemente do vínculo, têm os mesmos direitos legais e contratuais que os trabalhadores efectivos e não podem ser objecto de qualquer discriminação pelas empresas. Da OTRS para a Valor Ambiente Efectivos e com direitos Os trabalhadores da OTRS, a empresa que, em regime de empreitada, tem explorado a Estação de Tratamento de Resíduos da Madeira, ganharam um importante batalha contra a precariedade e por melhores condições laborais. Desde há vários anos, estavam contratados a termo incerto para a OTRS. Agora, em simultâneo com a transmissão da exploração da estação para a Valor Ambiente, conseguiram transitar para esta empresa, com contratos sem termo e com todos os direitos que até agora conquistaram, incluindo o Acordo de Empresa, revelou o Sinquifa. Todavia, ainda falta assegurar o pagamento, por parte da OTRS, da indemnização correspondente à antiguidade adquirida ao seu serviço, tal como está estabelecido nos contratos individuais de trabalho. Os trabalhadores estiveram reunidos, no dia 8 de Outubro, para analisar esta situação, e decidiram aguardar até ao final do mês, para que lhes sejam dadas garantias cla- ras de pagamento daquele direito. Caso contrário, expressaram desde logo a sua disposição para realizarem as acções de luta que forem necessárias, incluindo a greve, para receberem as indemnizações a que têm direito pela antiguidade adquirida ao serviço da OTRS e das empresas que a antecederam. Um novo plenário ficou previsto para o início de Novembro, de modo a analisar a evolução do processo e decidir acções concretas de luta, se tal se mostrar necessário. 7 NOTÍCIAS Sindicato dos Mineiros responde ao golpe da BTW Olimar aumentou Durante 6 anos, a Olimar, empresa do ramo da metalurgia com sede em Alcanena, não deu qualquer aumento aos trabalhadores. Estes, em plenário, no mês de Julho, decidiram avançar para a denúncia pública desta situação, sobretudo na comunicação social regional e junto da população. Além de aumentos salariais, reclamaram também melhoria das condções de trabalho. Foi enviada uma carta à empresa, dando conta das decisões tomadas. Coincidência, ou talvez não... a Olimar aumentou os salários dez por cento e o subsídio de almoço subiu dois euros. Ficamos mais fortes! Ao recusar a renovação do contrato com José Maria Isidoro, a multinacional que explora as Minas da Panasqueira quis atacar o sindicato, mas deu um tiro no pé. E m Setembro, a Beralt Tin & Wolfram Portugal deixou de ter aquele dirigente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Mineira nos seus quadros de pessoal. Em comunicado, o STIM acusou a empresa de pretender, com esta decisão, «quebrar a espinha» à organização sindical local. No entanto, a BTW deu um tiro no próprio pé, pois o Sindicato Mineiro vai sair reforçado, com novos delegados sindicais, e o visado da trama orquestrada vai ter mais tempo livre, durante pelo menos os dois anos de mandato que tem ainda pela frente, para se dedicar mais profundamente ao combate contra as ilegalidades e injustiças que a Beralt perpetra, no seu dia-a-dia, contra os trabalhadores. José Maria não saiu da empresa por vontade própria, mas sim por imposição da Beralt. O golpe foi preparado pelo capataz da lavaria, mas acabou por ter o aval da Direcção da empresa. Há algum tempo atrás, o dirigente mineiro tinha sido retirado do trabalho por turnos, sem ou- Braga perdeu Em Outubro, consumouse a falência da Sarotos, a empresa mais emblemática da metalurgia no concelho de Braga, que tinha 62 trabalhadores e contava 108 anos de existência. Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos, no último ano o concelho perdeu uma dezena de empresas do sector, nas quais trabalhavam cerca de 400 pessoas. Foram os casos da Serralharia Bernardino, da Floságua e da Joaquim Fernando da Silva Monteiro. Em quase todas, como sucedeu com a Sarotos, o principal credor era o Estado (Fisco e Segurança Social), cujos representantes obedecem a instruções do Governo e preferem o encerramento à viabilização. Jotta suspendeu Dois dirigentes sindicais, trabalhadores da Cutelarias Jotta, em Guimarães, foram suspensos em Setembro, depois de se recusarem, legitimamente, a limpar as casas-de-banho. O acto prepotente da empresa foi agravado pelo não pagamento de salários durante a suspensão. A 20 de Outubro, foi julgada uma providência cautelar que impôs a reintegração imediata dos dois dirigentes. 8 O caminho das represálias, tomado pela empresa, não enfraqueceu o sindicato Greve «de aviso» na Janz Os trabalhadores da Janz Contagem e Gestão de Fluídos, em Lisboa, não aceitaram trocar um justo aumento salarial por um «prémio» incerto e indefinido. A decisão de entrar em greve, de uma hora diária, de 28 a 31 de Julho, foi tomada em plenário, depois de se confirmar, pela prática, que a administração não estava na disposição de negociar as reivindicações aprovadas e apresentadas. A 23 de Junho, igualmente em plenário, a actualização salarial de 1,5 por cento, imposta pela administração, foi considerada claramente insuficiente e injusta, face ao brutal aumento do custo de vida, como refere o Sindicato dos Metalúrgicos. Para melhor fazerem perceber a sua mensagem e mostrarem a determinação de lutar por um aumento real dos salários, os trabalhadores foram até junto do edifício da administração. Esta já conhecia as reivindicações e até tinha distribuído um comunicado a tentar justificar a sua posição. Os trabalhadores deixaram bem vincado que, pe- rante as reais dificuldades de quem vive apenas do salário, não é aceitável, como pretendia a administração, trocar uma actualização salarial justa pela possibilidade de, no último trimestre deste ano, vir a ser pago um «prémio», sem sequer um compromisso quanto aos critérios objectivos da sua atribuição. O eventual dinheiro, a distribuir em forma de prémio, deveria, antes, ser aplicado uniformemente, no salário-base de cada trabalhador, respondeu o plenário, exigindo uma resposta objectiva. Mas a posição da administração não se alterou, persistindo numa infundada ameaça de que aumentos salariais superiores até poderiam pôr em causa a «estabilidade» e a «viabilidade» da empresa. Os trabalhadores responderam com a «greve de aviso», que paralisou a produção. Descanso compensatório é direito para cumprir Em Setembro, o sindicato solicitou a intervenção da Inspecção do Trabalho, para repor a legalidade e fazer com que a BTW cumpra o direito dos trabalhadores ao descanso compensatório. Nas Minas da Panasqueira, os trabalhadores realizam muitas horas extraordinárias. Ora, de acordo com o artigo 202.º do Código do Trabalho, em vigor, estes trabalhadores têm direito a descanso compensatório remunerado, correspondente a 25 por cento das horas de trabalho suplementar realizadas. O sindicato, por diversas vezes, tentou resolver este problema junto da administração. No final de Maio, comunicou a lista dos trabalhadores que fizeram trabalho suplementar, reclamando que fosse cumprido o direito ao descanso compensatório. Às diligências sindicais, a empresa concessionária da exploração mineira teimou em responder pela negativa. tra razão qeu não fosse diminuir-lhe o salário. A discriminação foi corrigida, depois de accionada a Inspecção do Trabalho. Mas, como alguns trabalhadores chegaram a ouvir, o capataz pretendia vingarse desta derrota. E encontrou condições para isso. Como qualquer outro reformado, a BTW poderia expelir José Maria dos seus quadros, bastando um pré-aviso de dois meses. Em Julho, a empresa comunicou ao trabalhador e dirigente sindical a intenção de resolver o contrato de trabalho. No dia 8 desse mês, o sindicato contestou, por carta, a intenção da administração. Lembrou que o trabalhador, durante mui- tos anos, dedicou o melhor de si a esta empresa e continua em perfeitas condições, fisicas e psicológicas, para continuar a desempenhar as suas funções. Na falta de melhores explicações, ou no caso de a empresa levar por diante a sua intenção de não renovar o contrato com aquele trabalhador, o sindicato concluiria que só pode tratar-se de retaliação, por ser dirigente sindical e assumir a defesa dos direitos e interesses dos trabalhadores. Um abaixo-assinado, entregue no dia 14, com duas centenas de assinaturas, veio dar mais força à exigência de renovação do contrato. Mas a multinacional manteve a sua posição. Protesto na Alstom A direcção da Alstom, na Mitrena, Setúbal, declarou guerra aos trabalhadores. O Sindicato dos Metalúrgicos afirma que a empresa pretende retirar o direito a dispensa graciosa, negociado com a administração da Mague há mais de 30 anos, e instalou na porta dos balneários torniquetes, que só servem para chatear quem trabalha, pois não têm qualquer utilidade válida. Mais recentemente, de forma clandestina, retirou as bebidas alcoólicas do refeitório. Os trabalhadores opõem-se a estas arbitrariedades e, num plenário realizado dia 7 de Outubro, aprovaram uma resolução e foram entregá-la na direcção da empresa. Reclamam reunir com a direcção e disponibilizam-se para outras acções, caso se mantenham as arbitariedades. Novembro 2008 NOTÍCIAS Instabilidade na Central da EDP Recorrentes notícias sobre um eventual encerramento da Central Termoeléctrica da EDP, em Sines – como as que surgiram em Julho, saídas do Fórum das Alterações Climáticas, promovido pelo Ministério do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional e resultante de um estudo elaborado por técnicos do Ministério e consultores externos – lançam a instabilidade e a inquietação entre os trabalhadores. As estruturas representativas exigiram esclarecimentos e reafirmaram a necessidade de uma política de defesa do aparelho produtivo e um tratamento sério das questões ambientais. Numa nota de imprensa conjunta, emitida pe- lo SIESI, pelo Sinquifa, e pelas SCOB EDP, CCT Petrogal, CT Repsol e União Local de Sindicatos, recordou-se o facto de o mesmo assunto ter surgido, um mês antes, num boletim informativo da EDP. Não é razoável afirmar que o País poderá estar dependente em exclusivo das energias ditas renováveis, defendiam, perguntando se à sombra dos ambientalistas se escondem outros interesses verdes, como as notas de cem euros. O SIESI, em comunicado aos trabalhadores da PTSN, repudiou as declarações sobre o eventual encerramento e notou que elas não focam, por uma intenção deliberada, os cerca de 400 milhões de euros em investimentos na área do ambiente e a certificação existente. A reunião então pedida à administração teve lugar a 25 de Setembro. Além das posições já públicas, o sindicato declarou que esta «polémica», independentemente das preocupações ambientais, pretenderá «tapar o sol com uma peneira», escamoteando outros factores de muito maior impacto. A empresa referiu que mantém todos os objectivos futuros quanto a Sines, cuja face mais visível é o avultado investimento que está – e vai continuar – a ser feito. Os documentos sindicais e as notícias saídas a este propósito podem ser consultados no sítio Internet da federação (www.fiequimetal.pt). Mais duas empresas condenadas Firmeza vence discriminação Os tribunais reprovam o comportamento das empresas que usam a discriminação salarial para tentarem impor a lei da selva. A Leoni (ex-Valeo) foi condenada pelo Tribunal de Trabalho de Viana do Castelo, por discriminar salarialmente um associado do STIENC. Deverá liquidar todos os salários que ilegalmente deixou de pagar e deverá passar a remunerar o trabalhador pelos mesmos valores que paga aos restantes. Ficou ainda estipulado o pagamento de uma quantia indemnizatória, a título de danos de natureza não patrimonial. O sindicato considera que esta condenação constitui uma grande e retumbante vitória dos trabalhadores, do sindicato e de todos os que acreditam ser possível enfrentar com coragem os atropelos e intimidações das empresas, comprovando que é compensador lutar e resistir. A discriminação salarial na Leoni (ex-Valeo) foi desde sempre condenada pelo sindicato. Depois de várias tentativas, sem o desejado sucesso, para intimidar os trabalhadores e levá-los a deixar o sindicato, a empresa resolveu exclui-los da actualização salarial que decidiu aplicar. Na altura, com a desvinculação do STIENC de alguns trabalhadores e a «adesão individual» ao contrato da UGT, perderam vários direitos importantes, desde logo o pagamento do trabalho suplementar, que foi reduzido. A empresa decidiu recorrer da decisão do tribunal de primeira instância. O sindicato, por seu turno, está a consultar os seus associados, no sentido de os motivar a também apresentarem queixas, de modo a que a empresa repense a sua atitude e acabe com a injusta e cruel discriminação salarial. O Tribunal de Trabalho de Aveiro condenou a CACIA (Companhia Aveirense Componentes Indústria Automóvel, conhecida como Cacia Renault) a proceder aos aumentos salariais, referentes ao ano de 2007, a três trabalhadores, membros das organizações representativas, que, ilegalmente, tinham sido discriminados, depois de recusarem aderir à «bolsa de horas», em 2006. Conscientes da razão que lhes assistia e com o apoio do Sindicato dos Metalúrgicos, recorreram ao tribunal, que lhes veio a dar total razão. A empresa foi condenada a pagar os aumentos, de 3,85 por cento, relativamente aos salários de 2006, acrescendo juros de mora. Teve ainda que fazer a actualização do «subsídio de compactado» Solidal punida por castigos ilegais Na central de Sines foram feitos avultados investimentos na área do ambiente Petrogal quer esconder más condições em Sines Os graves acidentes ocorridos e o impedimento da entrada de um dirigente sindical chamam a atenção para as condições em que decorre a paragem técnica, na refinaria de Sines da Petrogal. A paragem técnica programada iniciouse a 15 de Setembro, coincidindo com o dia do 30.º aniversário da refinaria. Menos de um mês depois, registavam-se já três acidentes com baixa e uma morte, como referiu, em comunicado, a União Local dos Sindicatos de Sines, Santiago do Cacém, Grândola e Alcácer do Sal. A 25 de Setembro, os trabalhadores da Compelmada Internacional e CMN, a trabalhar nas operações de manutenção, e um dirigente sindical foram impedidos de participar num plenário, por decisão da administração da Petrogal. A justificação para a proibição foi que, face à paragem técnica, estavam na empresa mais de 2500 trabalhadores do exterior. Novembro 2008 Mas o sindicato considerou tal atitude ilegal e acusou a administração de procurar esconder as condições em que laboram aqueles mais de 2500 trabalhadores: trabalham 12 horas todos os dias, incluindo sábados, domingos e feriados, mas os descontos para a Segurança Social são os mínimos; não têm casas-de-banho suficientes, nem água potável, nem um local para tomar banho, lavar as mãos ou tomar a refeição; os exames médicos são de duvidosa eficiência. Repsol No Complexo Petroquímico da Repsol, também em Sines, decorre uma paragem planeada de todas as unidades, entre 24 de Outubro a 7 de Dezembro. No dia 10 de Outubro, trabalhadores com contrato precário reclamaram actualização dos salários, em plenário realizado à porta da empresa. O Tribunal de Trabalho da comarca de Barcelos não reconheceu razão à empresa Solidal, do grupo Quintas & Quintas, nos castigos que esta decidiu impor a dois trabalhadores. A sentença foi confirmada pela Relação do Porto, para onde a administração recorreu. Os trabalhadores foram acusados de não efectuarem em tempo útil ensaios de um produto para exportação, o que teria causado prejuízos avultados à empresa. Elaborado o processo disciplinar, a Solidal decidiu castigar um dos funcionários com 25 dias de suspensão e o outro com 20 dias. A suspensão teve efeitos na perda de vencimento e de antiguidade. Passado pouco tempo, a empresa decidiu aplicar mais 15 dias de castigo a cada um dos trabalhadores, alegando que a resposta à nota de culpa, elaborada pelos advogados do STIENC, continham Até pela resposta à nota de culpa a empresa castigou apreciações «insultuosas» para a Solidal e o grupo. Inconformados com as sucessivas ilegalidades, os trabalhadores recorreram ao tribunal, que decidiu isentar os trabalhadores de qualquer culpa, obrigando a empresa a pagar-lhes os valores não pagos e, além disso, determinando indemnizações de 6.789 euros ao primeiro, e 6.461 euros ao segundo. Tosquiada Neste caso, bem se pode dizer que a Solidal foi buscar lã, mas saiu tosquiada. É que um dos trabalhadores injustamente castigados, satisfeito com todo o apoio que obteve do STIENC, acabou por empenhar-se na acção em defesa dos interesses dos seus camaradas e é hoje dirigente sindical. O seu trabalho teve excelentes resultados no domínio da organização sindical na empresa, contribuindo para o aumento do prestígio e do número de associados do sindicato. 9 EM F As declarações e compromissos dos tempos em que o actual primeiro-ministro se sentava nas bancadas parlamentares da oposição aos governos do PSD e do CDS-PP granjearam, certamente, os votos de muitos trabalhadores, nas eleições de 20 de Fevereiro de 2005. Mas, chegado o PS ao Governo, os interesses do capital sobrepuseram-se à palavra dada e a «vontade de mudança» reconhecida nas urnas acabou por se traduzir no prosseguimento e aprofundamento da política de direita. Ao Jornal da Fiequimetal, Arménio Carlos, da Comissão Executiva da CGTP-IN, falou sobre a acção deste Governo, suportado na Assembleia da República por uma maioria absoluta e empossado há três anos e meio. Num balanço da acção do Governo nestes quase quatro anos, será a revisão do Código do Trabalho o ponto mais negativo a destacar pela CGTP-IN? Arménio Carlos: No nosso entender, o balanço global da acção deste Governo é profundamente negativo. Este Governo, cujo primeiro-ministro dizia que ia ser mais do que mera alternância, acabou por aprofundar as políticas de direita. Não nos lembramos, nos últimos dez ou quinze anos, de ver um Governo tão elogiado pelas confederações patronais. Isto reflecte uma política de classe, um Estado submetido aos interesses dos grandes grupos económicos e financeiros. No que concerne ao Código do Trabalho, esta revisão não é um processo novo, arrasta-se ao longo dos anos e tem tido a oposição dos trabalhadores, que lutaram contra sucessivos pacotes laborais e contra o Código do Trabalho do PSD/CDS e de Bagão Félix. A apresentação desta revisão, por parte do Governo actual, só confirma que essa luta valeu a pena, porque até hoje não foi conseguido o grande objectivo de sempre, quer do patronato, quer dos governos: a destruição da contratação colectiva e dos direitos dos trabalhadores. A luta dos trabalhadores, particularmente nos sectores abrangidos pela Fiequimetal, deu um contributo decisivo para impedir a concretização desses objectivos e contribuiu para haver maior dinâmica reivindicativa nos locais de trabalho e alcançar o aumento dos salários e a manutenção dos direitos. Não foi esta a mudança prometida, quando o PS estava na oposição... AC: O Governo não honrou os compromissos assumidos pelo PS na oposição e no período préeleitoral. Nessa altura, os principais responsáveis assumiram publicamente que, caso o PS viesse a formar Governo, não só revogaria as normas mais gravosas do Código, como iria repor o princípio do tratamento mais 10 CGTP-IN faz as contas à governação de José S Mais que as prom valeram os inter favorável. Não foi nada disso que, afinal, se passou. O Governo avançou com uma proposta de revisão do Código do Trabalho que, no essencial, visou atingir três grandes objectivos: - a caducidade de todas convenções colectivas, que significa a eliminação de todos os direitos contratualmente negociados pelas associações patronais e sindicais; - atribuir às entidades patronais a possibilidade de determinarem o tempo de trabalho, para aumentar os horários e reduzir os salários, não pagando o trabalho suplementar; - facilitar os mecanismos do processo de despedimento. E as propostas para combate à precariedade? AC: Tratam de tentar legalizar o que é ilegal. Basta ler as entrevistas dos presidentes da CIP e da CCP, para perceber que pretendem fazer da precariedade a regra, e não a excepção, à custa da redução dos salários dos trabalhadores, já que querem fazer recair sobre estes o aumento das taxas para a Segurança Social, que deveria ser suportado pelas empresas. Do ponto de vista da CGTP-IN, Portugal e os portugueses precisam, acima de tudo, de um sector produtivo mais dinâmico, mais capaz de dar resposta às necessidades da indústria e da energia, às necessidades do desenvolvimento económico do País, o que só se consegue com mais direitos para os trabalhadores. A alteração de rumo requer uma forte intervenção dos trabalhadores, nos locais de trabalho e nas empresas, por forma a dinamizar toda uma acção reivindicativa para melhorar os salários, para salvaguardar os direitos e para combater a precariedade. Os vínculos precários aumentam a pressão patronal sobre a organização e a capacidade de reivindicação de todos os trabalhadores, incluindo os efectivos. Passar a efectivos os trabalhadores que têm vínculo precário, mas estão a desempenhar funções permanentes, é para nós determinante, seja para elevar os salários e os direitos, seja para dar um contributo inestimável para o reforço da organização de todos os trabalhadores. Houve alguma insistência do Governo na necessidade de alterar a matriz dos salários baixos e trabalho pouco qualificado, de parar o desemprego, de aumentar as qualificações... Como vê a CGTP-IN o resultado das políticas nestas matérias? AC: Conversa tem havido muita. Mas na prática todas as medidas tomadas pelo Governo apontam no sentido do aprofundamento deste modelo. Aliás, se analisarmos o emprego criado, na sua generalidade é precário e muito mal remunerado. Como nos call-centers? AC: Exactamente, mas não só os callcenters. Em Portugal temos hoje quase 24 por cento dos trabalhadores por conta de outrem com vínculos precários. O emprego criado não está a ser qualitativamente melhor, pelo contrário, está a deteriorar-se e uma parte dos trabalhadores efectivos está a ser substituída por trabalhadores precários. Estão a crescer as empresas de trabalho temporário: em 2005 tinham cerca de 15 por cento de mercado e já vão nos 18 por cento. O trabalho temporário e as outras formas de precariedade alastraram a todos os sectores de actividade. Esta é para a CGTP-IN uma política errada, porque não dá resposta aos problemas do País e, neste caso concreto, está a estimular o aumento da exploração dos trabalhadores. Com mais precariedade e menos direitos, diminuem os salários e aumentam os lucros das entidades patronais, mas as empresas não se tornam mais competitivas. Esse quadro poderia favorecer que as multinacionais continuassem por cá, a ganhar como sempre fizeram. Mas houve neste período vários casos de «deslocalizações»... AC: Pois... Isso tem a ver com a estratégia das multinacionais, mas também com a incapacidade demonstrada por vários governos, nomeadamente o actual, que não têm acautelado os interesses nacionais, quando da negociação da instalação dessas multinacionais. A Opel é um exemplo paradigmático: a unidade da Azambuja era das mais lucrativas da General Motors, em termos mundiais, e pura e simplesmente fechou, não por não ser produtiva, não porque os trabalhadores não estivessem disponíveis para corresponder aos níveis de produção desejados, mas por uma estratégia da multinacional, com vista ao encerramento de vários estabelecimentos, nomeadamente na Europa, para investir no Leste, de forma a aproveitar as potencialidades deste mercado e a expandir a venda de viaturas. Há quem faça uma comparação com a Autoeuropa... AC: São situações distintas. Na Opel, houve um objectivo claro de abandono. Na Autoeuropa, a Volkswagen tem os seus interesses, procura retirar dividendos em Portugal e, no quadro da intervenção do sindicato, há que salvaguardar os direitos e interesses dos trabalhadores. Num contexto de ataque aos direitos e aos salários, há vários casos em que os trabalhadores conseguem alcançar melhorias. Que peso têm no balanço geral? AC: Num quadro em que algumas associações patronais bloqueiam e boicotam a negociação da contratação colectiva, a acção reivindicativa nos locais de trabalho assume uma particular importância. O vosso sector tem aqui uma boa experiência, com resultados muitíssimo interessantes ao longo dos anos, através da apresentação de propostas e cadernos reivindicativos. Este é um trabalho determinante, porque envolve os trabalhadores na apresentação das reivindicações e na co-responsabilização para lutar por Novembro 2008 FOCO Sócrates e do PS messas resses Arménio Carlos Palavras sem prática O papel do Estado «Assumimos a esfera pública como espaço fundamental para a afirmação do interesse geral e para a coesão nacional. Uma economia dinâmica e uma sociedade mais justa não dispensam serviços públicos de qualidade, nem podem prescindir de um Estado com políticas activas de crescimento, de emprego, de redução das desigualdades sociais.» José Sócrates na tomada de posse do Governo, a 12 de Março de 2005 elas; e acaba por dar mais força às posições sindicais, nas negociações a nível sectorial. Os resultados muitíssimo positivos, do ponto de vista salarial, que têm sido alcançados nos últimos tempos, surgem muito na base deste confronto no local de trabalho. É por aqui que temos conseguido, em muitos casos, aumentos reais dos salários, que estão acima da inflação e que têm em conta os ganhos de produtividade. Sem aumentos que se situem significativamente acima da inflação verificada, os salários dos portugueses continuarão a afastar-se das médias salariais europeias, como sucede nos últimos anos, ao contrário do que nos foi prometido. Este é um problema central para a melhoria das condições de vida das pessoas, mas também para um aumento da procura interna e do consumo, uma maior dinamização da economia e melhores condições de criação de emprego e de combate ao desemprego - que, a propósito, também subiu, depois de este Governo ter entrado em funções. Que consequências terá a provável aprovação do Código do Trabalho e qual terá que ser a resposta dos trabalhadores e do movimento sindical? AC: O que o Governo deve fazer é retirar, de imediato, a proposta Novembro 2008 que apresentou na Assembleia da República. Por outro lado, para a CGTP-IN, independentemente daquilo que resulte da votação na AR, a luta não vai parar. Continuamos a considerar que os contratos colectivos de trabalho são um instrumento de progresso social e, como tal, a base para qualquer negociação será sempre aquilo que hoje temos, os direitos consagrados nas convenções colectivas, que estão acima do que prevê a lei geral e que devem ser mantidos, respeitados e melhorados. São direitos que, frequentemente, se reflectem com um importante peso na remuneração mensal do trabalhador, como os que têm a ver com o trabalho nocturno ou o trabalho suplementar. Os que apontam como objectivo acabar com os contratos colectivos de trabalho, querem, no fim de contas, reduzir os salários e acabar com direitos conquistados pela luta árdua de várias gerações de trabalhadores. Não podemos permitir isso. O envolvimento dos trabalhadores na apresentação de propostas reivindicativas vai ser um elemento decisivo para a defesa dos seus direitos que estão na contratação colectiva e para confrontar o patronato com a necessidade de assumir a negociação de contratos colectivos de trabalho de acordo com uma visão de progresso social e não de retrocesso. AC: Nunca os grupos económicos e financeiros tiveram tantos lucros como nos últimos três anos e nunca houve uma tão grande acumulação de riqueza por parte de um reduzido número de famílias. Não há mais coesão social. Há é mais desigualdades. O peso dos salários no rendimento nacional caiu para 40,4 por cento. Um terço dos pobres em Portugal são trabalhadores por conta de outrem. Os trabalhadores no activo, quando passarem à reforma, vão ser penalizados no valor das suas pensões. Está a impor-se uma nova concepção de Estado, um Estado securitário, que contempla apenas as componentes ligadas à segurança, e o Governo estimula um conjunto de medidas de privatização de serviços e funções essenciais, enquanto as famílias vêem aumentar os encargos com a Saúde, com a Educação, com a Justiça... O défice «O Programa do Governo prevê a criação de uma Comissão liderada pelo Governador do Banco de Portugal para avaliar a real dimensão do défice orçamental. Sabemos já, todavia, que a situação é grave.» José Sócrates na apresentação do Programa do Governo, a 21 de Março de 2005 AC: O défice público e a competitividade das empresas têm servido de pretexto para desenvolver uma política que tem levado à redução dos salários e a um ataque poderosíssimo aos serviços públicos e às funções sociais do Estado. Este défice resulta de anos e anos de políticas que foram seguidas no País e que tiveram rostos, tiveram responsáveis, tiveram partidos a governar: o PS, o PSD e o CDS. São eles os responsáveis pelo definhamento do sector produtivo, pelo fraco crescimento económico, que continua a situar-se abaixo da média europeia, pelo crescente endividamento externo. Para bem dos trabalhadores e do País, é preciso fazer uma ruptura com esta política. Os trabalhadores têm nas suas mãos a possibilidade de contribuírem para a criação de uma política alternativa, que promova o desenvolvimento económico e social. O tratado e o referendo «Nenhuma razão política séria impede que o referendo sobre o Tratado Constitucional Europeu seja realizado em conjunto com as eleições autárquicas.» José Sócrates na tomada de posse AC: Estamos perante o incumprimento grosseiro de uma promessa eleitoral, que foi várias vezes reafirmada já depois do Governo ter iniciado funções. Este Governo optou por uma posição de submissão aos interesses da União Europeia e do capital que determina a sua condução, numa perspectiva neoliberal, monetarista e federalista. O Tratado de Lisboa é profundamente negativo do ponto de vista político, económico e social. A soberania do País fica muito mais fragilizada, passando para a UE, por exemplo, o controlo da nossa zona marítima. E a denominada Carta dos Direitos Sociais está, claramente, muito abaixo daquilo que a nossa Constituição consagra, como direitos dos trabalhadores, e muito longe daquilo que a própria Carta Social Europeia, que ainda está em vigor, define quanto às relações laborais. Estamos perante um enormíssimo embuste, que apenas visa aprofundar esta linha neoliberal de construção da Europa, e que também mereceu uma concertação de interesses com o Presidente da República. 11 nacional Opção pelo cálculo mais favorável na reforma Governo demorou 17 meses Passados mais de 17 meses da entrada em vigor do Decreto-Lei n.º 187/2007, o Governo acedeu à proposta da CGTP-IN para que quem se reforme possa optar pela fórmula de cálculo mais favorável. Trabalhar sem receber Os mais de 70 trabalhadores da Telca - Telecomunicações e Assistência, vão ser alvo de um despedimento colectivo, em Dezembro, mas terão que continuar a laborar, mesmo sabendo que os salários se vão juntar aos que estão em dívida. A decisão saiu do Tribunal Judicial de Braga, que dia 8 de Outubro aceitou o pedido de insolvência dos credores, salientando o STIENC que o encerramento ocorre num distrito que já conta milhares de desempregados. Quando o tribunal decretou a insolvência, estavam por pagar os salários de Julho a Setembro, o 13.º mês e o subsídio de férias. Mas os trabalhadores vão ter que permanecer ao serviço durante mais dois meses. AC Consulting tem que pagar Dezenas de trabalhadores que, através da empresa de trabalho temporário AC Consulting, fizeram a campanha do tomate para a FIT, na Herdade da Pernada, em Águas de Moura (Palmela), decidiram concentrar-se no dia 3 de Outubro, no Sobralinho, em Alverca. Aqui, junto da sede da AC Consulting, exigiram o pagamento dos salários e outros direitos. Os mínimos do contrato do sector não são aplicados. Esta empresa, que contratou mais de 300 pessoas para a campanha do tomate, enviou cartas de cessação dos contratos, no fim de Setembro, mas nada disse quanto a pagamentos, explicou o Sinquifa. 12 N a proposta do Orçamento do Estado para 2009, o Governo afirma que está previsto que os beneficiários, inscritos na Segurança Social até ao final de 2001, possam optar pelo resultado mais favorável de duas fórmulas de cálculo da sua pensão: a proporcional, que corresponde à média ponderada entre a antiga fórmula (os melhores dez dos últimos 15 anos) e a nova fórmula (que considera toda a carreira contributiva); ou apenas esta última. Esta medida deve entrar em vigor em 1 de Janeiro de 2009, mas a CGTP-IN, que desde sempre a defendeu, considera que os beneficiários não podem ser penalizados por todos estes meses, e há que repor o valor das pensões a que tinha direito quem se reformou no último ano e meio. Esta opção estava prevista no regime transitório, instituído na legislação anterior, para que pudesse ser respeitada a protecção integral dos direitos em formação, sem prejudicar os beneficiários em causa. Mas não figurou na nova lei sobre o regime de protecção social na invalidez e velhice, que entrou em vigor a 1 de Junho de 2007. Desde então, centenas e centenas de reformados foram duramente penalizados, nomeadamente os que tinham as pensões de valor mais baixo, porque lhes foi imposto o cálculo proporcional. Muitos deles já tinham os cálculos provisórios realizados pelo Centro Nacional de Pensões, e o cálculo mais favorável era o que incidia sobre a carreira completa. Há reformados penalizados, neste período, em mais de 20 por cento do valor da pensão (sendo que se trata de pensões de 400, 500 e 600 euros). Dificuldades em Vila Nova de Cerveira A Estaleiros do Atlântico (Starfisher) está instalada na Zona Industrial de Vila Nova de Cerveira há cerca de 15 anos, onde constrói embarcações de recreio. Ainda no ano passado, contava com cerca de 350 trabalhadores, mas actualmente está com cerca de 150 e, a curto prazo, poderá reduzir mais pessoal, alerta o Sindicato dos Metalúrgicos do Distrito de Viana do Castelo, que receia até que possa acontecer o encerramento. O sindicato tem-se batido para tudo ser feito com o objectivo de que a empresa tenha viabilidade, pela sua grande importância na região de Vila Nova de Cerveira. Nos últimos dez anos, a Starfisher teve uma boa carteira de encomendas, o que permitiu que no concelho o desemprego fosse diminuto. O problema desta empresa deve-se às dificuldades económicas e recessivas em que a Europa capitalista está mergulhada e que têm reflexos também nos estratos que são potenciais compradores de barcos de recreio. Naquela zona industrial, alerta o sindicato, existem outras empresas do mesmo ramo, que podem também a médio prazo sofrer estas consequências, como a Brunswick Marine – EMEA Operations, com cerca de 130 trabalhadores, a qual também se encontra com dificuldades de encomendas, estando a laborar apenas quatro dias por semana. O sindicato acompanha estes processos, procurando alternativas que permitam manter os postos de trabalho e garantir os direitos dos trabalhadores. Se os beneficiários e as suas organizações, incluindo a CGTP-IN e os sindicatos, não tivessem agido com determinação, a injustiça não iria ser corrigida A CGTP-IN rejeitou o Acordo sobre a Reforma da Segurança Social, consensualizado em Concertação Social pelo Governo e outros parceiros, que deu os alicerces ao DL 187/2007, porque tinha a certeza que as alterações introduzidas em matéria de protecção social na invalidez e velhice iriam ter repercussões negativas no valor das pensões e defraudavam de forma abrupta as legítimas expectativas dos beneficiários. O Governo era conhecedor desta situação, há já alguns meses, e para ela lhe chamaram a atenção a CGTP-IN e as suas estruturas sindicais e os próprios beneficiários. Mas houve governantes que, questionados sobre a matéria na Assembleia da República, chegaram a afirmar que os relatos não correspondiam à verdade. O Grupo Parlamentar do PS chumbou projectos que visavam repor a situação. Há alguns meses, a CGTP-IN entregou um dossier dos beneficiários atingidos, ao Provedor de Justiça e à Comissão de Trabalho da Assembleia da República, e lançou um abaixo-assinado nacional (este vai ser entregue em breve no parlamento, dado conter ain- da duas outras matérias importantes: a revogação do factor de sustentabilidade e a alteração ao Indexante de Apoios Sociais, que reduzem o valor das pensões). Ao comentar a medida anunciada pelo Governo, a CGTP-IN salienta que, se não tivesse havido toda esta acção, desenvolvida por parte dos beneficiários e das estruturas sindicais que os representam, não teria sido inscrita a proposta no OE de 2009, o que prova, mais uma vez, que as batalhas pelo que é justo podem ser demoradas, mas acabam por vencer. Reposta na Haworth a pensão complementar No dia 17 de Setembro, o Tribunal da Relação de Lisboa mandou repor o direito ao complemento de reforma, conquistado em 1987 e que a Haworth quis retirar em 1991. Há 21 anos, recorda o Sindicato dos Metalúrgicos, os trabalhadores da Haworth Portugal conseguiram acordar com a administração que, sempre que um funcionário se reformasse através da Segurança Social, a filial portuguesa daquela multinacional americana atribuiria uma pensão complementar, num montante que poderia atingir o equivalente a 15 por cento do salário. Passados quatro anos, contudo, a administração entendeu cessar unilateralmente este direito dos trabalhadores, através de uma mera comunicação interna. O sindicato acabou por levar o problema a tribunal, reclamando a reposição do direito. Após algum tempo, o Tribunal de Trabalho deu razão à empresa, mas o sindicato continuou a entender que os trabalhadores tinham razão e recorreu para a Relação. Esta, no acórdão de 17 de Setembro de 2008, confirmou a posição sindical e condenou a empresa no pagamento do complemento. Novembro 2008 nacional Faleceu Álvaro Rana Aos 75 anos, após prolongada doença, faleceu Álvaro Rana, fundador da CGTP-IN e empenhado sindicalista, que, já reformado e mesmo doente, manteve um activo trabalho na Fiequimetal e, em especial, junto dos profissionais de informação médica. «Os trabalhadores portugueses perdem um inquebrantável defensor dos seus interesses e direitos, mas a vida de dedicação, coerência e determinação de Álvaro Rana constitui um exemplo e um estímulo para continuarmos a luta contra a exploração, pelos direitos e a emancipação dos trabalhadores», afirmou Américo Nunes, que proferiu uma breve intervenção, no funeral, dia 28 de Julho. Na despedida e última homenagem a Álvaro Rana compareceram amigos, familiares e camaradas, entre os quais dirigentes do Sinquifa, da federação e da CGTP-IN, incluindo o secretário-geral, Manuel Carvalho da Silva, o coordenador da Fiequimetal, João Silva, e outros membros da Comissão Executiva da central, bem como o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, e outros dirigentes do partido a que Álvaro Rana se dedicou desde 1967. «Como militante comunista e dirigente sindical, que trabalhou e privou com ele até aos últimos dias, posso garantir-vos que a sua combatividade e coerência durou até ao fim», Vencer com empenho as dificuldades Mais sócios e mais delegados A intervenção no dia-a-dia, demonstrando a força dos trabalhadores unidos e organizados, é fundamental para garantir o sucesso da campanha de sindicalização em curso. disse Américo Nunes, que evocou momentos marcantes da biografia do camarada falecido, «acontecimentos e acções que se cruzam com aspectos essenciais da luta dos trabalhadores nas últimas quatro décadas», desde que fez parte da Comissão Representativa dos Profissionais de Propaganda Médica - a qual, nos anos de 1967 a 1969, conduziu a luta que levou à expulsão da comissão administrativa imposta ao sindicato pelo regime fascista. Rana participou desde a primeira hora no processo de fundação da Intersindical, em 1970, e integrou o seu primeiro Secretariado, eleito em 1973. Interveio no imenso movimento de luta que conduziu ao 25 de Abril, nos dias que se seguiram e na preparação do histórico 1.º de Maio de 1974. Até 1995 continou na direcção da central, com importantes tarefas. A intervenção de Américo Nunes, bem como a nota de pesar divulgada pela Comissão Executiva da CGTP-IN, estão publicadas na íntegra no sítio Internet da federação, em www.fiequimetal.pt. N o primeiro semestre deste ano, 2572 trabalhadores e trabalhadoras inscreveram-se nos sindicatos da Fiequimetal, o que foi considerado muito positivo na reunião que, em Julho, fez o balanço da campanha de sindicalização de 2008. Em relação à meta definida, aquele número era inferior em 17 por cento (representando, em números absolutos, menos 530 associados do que o planeado), o que foi explicado pelas dificuldades detectadas por alguns sindicatos. Mas o total de novos sócios foi considerado muito positivo, ficando a demonstrar que é importante manter e intensificar uma atitude forte na realização da campanha, ligando a sindicalização à luta e à acção reivindicativa. Perante as dificuldades objectivas existentes na generalidade dos sectores, foi realçado que a intervenção dos sindicatos nas empresas, na resolução dos problemas concretos dos trabalhadores, é determinante para alcançar as metas aprovadas. Nessa intervenção permanente, os trabalhadores podem verificar, pela sua própria experiência, a importância de terem um sindicato forte, organizado e activo. No segundo semestre, com as fortes dinâmicas de luta contra a política do Governo e, em especial, contra a revisão para pior do Código de Trabalho, e com o arranque da acção reivindicativa para 2009, haverá condições para aumentar substancialmente a sindicalização - foi a confiança expressa na reunião de balanço. Foi considerado positivo que, nos primeiros seis meses, tenham sido eleitos mais dez delegados sindicais do que estava apontado como objectivo. Na análise deste resultado e no prosseguimento da eleição até ao final do ano, os dirigentes sindicais realçaram Mais mulheres e jovens devem ser eleitos delegados sindicais nas empresas A federação e os trabalhadores na Internet www.fiequimetal.pt O site da Fiequimetal é uma ferramenta valiosa na actividade da federação e dos sindicatos, em defesa dos interesses e direitos das trabalhadoras e dos trabalhadores. => Notícias sobre os problemas, os combates, os resultados => O Jornal da Fiequimetal em edição electrónica => Informação essencial sobre a federação e os sindicatos (congresso, dossiers temáticos, contactos) => A principal contratação colectiva dos sectores abrangidos => Uma galeria de fotos das lutas realizadas => A lista Fiequimetal Informa, cujos subscritores receberão no email os alertas mais importantes Novembro 2008 a importância de assegurar que a maioria dos eleitos são novos delegados (e não apenas substituições ou reeleições) e que entre eles figure uma percentagem importante de jovens e mulheres, de forma a responder à necessidade de alargar e rejuvenescer a estrutura sindical de base. A sindicalização e a eleição de delegadas e delegados sindicais são matérias com um peso importante nos temas a debater no Encontro Nacional de Organização, cuja realização, no primeiro semestre de 2009, foi decidida no Congresso da Fiequimetal, há um ano. Exigida suspensão dos apoios à Tyco Os apoios do Estado português à multinacional norte-americana Tyco Electronics, de Évora, cuja atribuição foi aprovada pelo Conselho de Ministros a 23 de Outubro, devem ser suspensos, exigiu o SIESI, porque o Governo, sem qualquer rigor e sem avaliar ou conhecer a natureza dos projectos, delapida os dinheiros públicos em «doações» à Tyco. Os apoios - refere o sindicato, numa nota à impren- sa que foi ignorada pela generalidade da comunicação social - inserem-se num contrato de investimento de 23,4 milhões de euros, para a alegada produção de três novos modelos de relés, com criação de cinco postos de trabalho e manutenção de 1485. Contudo, não está em curso qualquer investimento em novos produtos na Tyco Electronics e os «três novos modelos de relés» já estão em produção há oito meses, sem que apresentem qualquer inovação tecnológica ou qualquer modificação significativa nos processos de fabrico. Estava o apoio estatal a ser aprovado pelo Governo e, no mesmo dia, a gerência da Tyco começou a pressionar dezenas de trabalhadores permanentes para rescindirem os contratos, pelo que a alegada criação de cinco postos de trabalho é uma farsa. Mais grave, ainda, é o facto de o Governo falar em manter 1485 postos de trabalho, quando, em Junho passado, a Câmara Municipal de Évora contemplou a multinacional com várias isenções fiscais, a pretexto de manter 1537 postos de trabalho e de criar outros dez. Com base na resolução do Conselho de Ministros, a empresa poderia, afinal, reduzir 52 postos de trabalho no seu quadro de pessoal. 13 nacional A fechar O Sinquifa alertou para o facto de empresas do sector continuarem a encerrar e a despedir, empurrando para o desemprego mais umas centenas largas de trabalhadores, sem que o Governo tenha feito alguma coisa para o evitar. Na Delphi, em Ponte de Sor, são mais 400 trabalhadores que em Junho a multinacional pretende atirar para o desemprego, devido à deslocalização de actividades para o estrangeiro. No que respeita aos Laboratórios Delta, em Lisboa, a produção encerra em Novembro e mais 38 trabalhadores vão para o desemprego, devido a um processo de reestruturação da multinacional farmacêutica, cujo objectivo é trazer os medicamentos já feitos do estrangeiro. A Ferro, no Carregado, encerrou mais uma fábrica de produtos químicos, envolvendo 22 trabalhadores. Briel consolida Após várias reuniões com o Sindicato dos Metalúrgicos, a administração da Briel, no concelho da Maia, assumiu o compromisso de, a partir de Setembro, aumentar em 2,8 por cento, em média, os salários entre 426 e mil euros. A partir de Janeiro, será feita a revisão das categorias profissionais, o que representará um acréscimo salarial da ordem dos 80 euros. Para o sindicato, estas actualizações representam um passo muito importante, uma vez que os trabalhadores estavam há mais de dez anos na categoria de terceira, e irão motivar mais o pessoal, contribuindo para a solidificação da empresa. Por dificuldades laborais e económicas, a Briel atravessou uma década em que a postura responsável dos trabalhadores e o seu espírito de sacrifício contribuíram para o sucesso de um processo de recuperação que ainda decorre. Esta atitude dos trabalhadores foi um forte argumento para o sindicato insistir na necessidade de actualizar as categorias e os salários. 14 Viabilização, emprego com direitos e salários justos Futuro para a CNB/Camac O Governo deveria permitir que a CNB/Camac concorresse aos necessários financiamentos, no âmbito do QREN, para garantir o futuro da empresa e de 300 postos de trabalho. O Sinorquifa entende que é absolutamente necessário que o Governo altere as regras do Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN), de modo que a única fábrica nacional de pneus possa candidatar-se, com projectos que promovam o desenvolvimento sustentado, a modernização e a inovação. O sindicato, que representa a maioria dos trabalhadores da empresa (com uma taxa de sindicalização superior a 85 por cento), tem apoiado a mobilização permanente dos trabalhadores em defesa dos seus direitos e dos postos de trabalho. Nestes últimos meses, o Sinorquifa contactou com todos os grupos parlamentares (o PCP formulou uma pergunta ao Governo e foi recebido pela administração); esteve com o presidente da Câmara Municipal de Santo Tirso (que iria expor a situação ao Dr. João Dias, assessor de Economia do primeiro-minis- Os trabalhadores defendem que a empresa tenha acesso ao QREN (foto na manifestação de 5 de Junho, em Lisboa) tro); reuniu-se com o chefe de gabinete do secretário de Estado da Indústria, a quem entregou um abaixo-assinado, subscrito pela esmagadora maioria dos operários, quadros e dirigentes. A 19 de Setembro, num plenário muito concorrido, com a participação do secretário-geral da CGTPIN, os trabalhadores deli- beraram prosseguir a luta pela garantia de futuro para a CNB/Camac e pelo pagamento das retribuições em falta. A 1 de Outubro concentraram-se junto ao Governo Civil do Porto e integraram a manifestação, promovida pela União dos Sindicatos do distrito, no âmbito da acção nacional de luta que a central promoveu nesse dia. Sacrifícios duros A administração, nos contactos com o sindicato, dizia-se apostada em adequar a empresa ao mercado. Para além do saneamento financeiro, foi adquirido equipamento para o relançamento da actividade. Contudo, esta aquisição foi um dos motivos invocados para o congelamento sala- A «bolha» na Fapobol Os trabalhadores da Fapobol entendem que importa, acima de tudo, garantir a recuperação da empresa. Apoiados pelo Sinorquifa, concentram os seus esforços e as sua energias na prossecução desse objectivo, enquanto a administração não cumpre as suas obrigações, atrasa-se sistematicamente no pagamento de salários e subsídios e ensaia manobras intimidatórias. A Fapobol, instalada em Vila do Conde, é uma empresa vocacionada para o fabrico de artefactos de borracha e certa espécies de plásticos, empregando 170 trabalhadores. Uma gestão incompetente conduziu-a à insolvência, com vista à recuperação. Em 5 de Abril, um sábado, vários trabalhadores protestaram, junto à residência do administrador executivo, contra a falta de pagamento dos salários Foi firmemente repudiada a tentativa de despedimento (foto na manifestação de 5 de Junho, em Lisboa) vencidos. Em resposta, nove daqueles trabalhadores receberam notas de culpa, visando o despedimento, o que, a efectivar-se, constituiria uma violação grosseira de disposições constitucionais. Mais de duas dezenas de estruturas da CGTP-IN tomaram posição, junto da administração, avisando que a atitude da empre- sa ofendia a lei e as regras elementares de um Estado de Direito. A sanção, imposta arbitrariamente a seis dos trabalhadores, acabou por ser uma repreensão registada, com divulgação pública na empresa. Afinal, os gestores que imputaram àqueles trabalhadores males quase demoníacos, ficaram-se pela vergonhosa verborreia escrita num papel. Se fosse na Bolsa, diriam que a «bolha» estourou. Este caso acabou por enaltecer os activistas sindicais, que encararam as repreensões como o reconhecimento da acção dos trabalhadores em defesa dos seus postos de trabalho, dos seus direitos e da continuidade da empresa. rial, de 2004 a 2007. A CNB/Camac tem cumprido rigorosamente as suas obrigações para com o Fisco e a Segurança Social, incluindo os que assumiu quando aderiu ao «Plano Mateus», mas tem uma diminuída capacidade de investimentos. Teve que alterar o seu ritmo de produção, com o fecho parcial do turno da noite. Foram despedidos trabalhadores recrutados através de empresas de aluguer de mão-de-obra, bem como contratados a termo e outros de mais avançada idade. Algumas vezes a produção tem sido suspensa, por falta de matéria-prima, e os trabalhadores dispensados de trabalhar. Sem abandonar os modelos clássicos, a CNB/Camac implementou novas gamas de pneus e novos modelos. Segundo a administração, a CNB/Camac depende muito do mercado do Reino Unido e a desvalorização da libra contribuiu substantivamente para agravar a crise financeira, provocando até problemas de tesouraria, com reflexos na dificuldade de aquisição de matériaprima e no não pagamento do subsídio de Natal em 2007. A empresa precisa de obter fundos para investir, designadamente, nas áreas dos recursos humanos, da protecção e preservação ambiental e da qualidade. Mas não pode concorrer a financiamentos no âmbito do QREN, por estar numa situação de não autonomia financeira, resultante da adesão ao «Plano Mateus». Entretanto, a situação agudizou-se. O acordo de pagamento dos retroactivos salariais e do subsídio de férias de 2007, firmado com o Sinorquifa, não foi cumprido pela administração. A produção foi crescentemente interrompida, por falta de matéria-prima, e os salários de Junho, Julho e Agosto e o subsídio de férias de 2008, além dos retroactivos, não foram ainda pagos. O subsídio de Natal de 2007 foi pago em Julho de 2008. Novembro 2008 nacional ACT e tribunais condenam empresas Prémio reposto A empresa Seiser, a laborar no sector das instaladoras eléctricas, em Seia, retirou o prémio de assiduidade a um oficial electricista, sem qualquer justificação. Interpelada pelo STIENC, a administração recusou voltar atrás, pelo que foi pedida a intervenção da Inspecção do Trabalho da Guarda, a qual prontamente veio reconhecer a razão do trabalhador, obrigando a empresa a pagar os valores retirados e os valores já vencidos, por retroacção. Com a coragem e persistência do trabalhador e o apoio do sindicato, foi assim possível contrariar mais este grave atentado. Plenários na hora O direito a realizar plenários no horário normal de trabalho e dentro dos limites definidos na lei (15 horas por ano) foi defendido com sucesso na Renault Telheiras, onde a firmeza dos trabalhadores acabou por impor o cumprimento do contrato colectivo, revelou o Sindicato dos Metalúrgicos. A 18 de Junho, foram eleitos dois delegados sindicais, que constituíram a comissão sindical da empresa. A 21 de Julho a administração impediu a realização de um plenário, o que repetiu quando a marcação foi feita para dia 24. A intervenção da Inspecção do Trabalho, solicitada desde a primeira recusa, acabou por surtir efeito na convocatória seguinte: o primeiro plenário de trabalhadores foi realizado no dia 29 de Julho, no horário normal de laboração. A 23 de Setembro, realizouse novo plenário, com ainda maior participação. Houve um grande número de trabalhadores a sindicalizar-se e estão a ser preparadas as reivindicações para 2009, em conjunto com as estruturas das restantes empresas do grupo Renault. Novembro 2008 Não cumprir sai caro Só a Tyco tem que pagar mais de um milhão de euros a 1300 trabalhadores, refere o SIESI, que divulgou vários casos em que os tribunais e a ACT obrigaram empresas a cumprir o contrato colectivo em vigor. O Tribunal de Trabalho de Évora condenou a Tyco a pagar como trabalho extraordinário seis dias de trabalho anual extra, que a direcção da empresa impunha ao pessoal, com jornadas laborais de 11 horas. Globalmente, o montante a pagar ascende a mais de um milhão de euros, repartidos por cerca de 1300 trabalhadores (num total de 1600). A administração não recorreu da sentença. Os seis dias eram impostos como «compensação», dado o horário semanal dos trabalhadores ser de 38 horas e meia. Já depois deste caso, a Tyco foi condenada pela ACT, por não pagar o trabalho nocturno de acordo com o contrato colectivo de trabalho (CCTV FMEE). A empresa recorreu para o tribunal. A condenação implica uma multa de 20 mil euros e tem a ver com o facto de, relativamente aos associados do SIESI, a empresa pagar o trabalho su- plementar de acordo com o Código do Trabalho e não segundo o contrato colectivo. A ACT considera que o CCTV FMEE está em vigor, uma vez que regula a sua própria vigência. A Visteon, em Palmela, foi autuada pela ACT, por não atribuir o descanso compensatório de um dia, quando o trabalho extraordinário se prolonga por mais de quatro horas, conforme estabelecido no CCTV FMEE. Os montantes em dívida reportam-se a grande parte dos cerca de 1600 trabalhadores e atingem um valor elevado, dado o volume de trabalho suplementar. Por idêntica infracção, a Delphi do Seixal foi já condenada pelo Tribunal de Trabalho de Almada, tendo recorrido para a Relação. Entretanto, em Agosto, a ACT proferiu uma decisão condenatória que obriga a Delphi a actualizar os salários de dez trabalhadores, que se recusaram a subscrever um documento de alegada adesão ao «contrato colectivo» for- A luta dos trabalhadores e dos sindicatos acaba por impor o cumprimento do CCTV FMEE jado pelos patrões com a cumplicidade de organizações da UGT. A decisão da ACT impõe ainda à Delphi o pagamento de uma multa de 13.350 euros e, como sanção acessória, obriga-a a divulgar publicamente o teor da sua condenação. A decisão da ACT resulta de um auto por contra-ordenação, levantado à Delphi do Seixal, em 2007, por esta multinacional norte-americana, violando Discriminação condenada nos Laboratórios Delta A Relação de Lisboa confirmou em Setembro a sentença do Tribunal de Sintra, que condenara a empresa Laboratórios Delta, instalada em Massamá, pela prática de discriminação salarial contra uma trabalhadora, desde 1988, revelou o Sinquifa. A empresa tinha sido condenada a dar à trabalhadora funções iguais às de outras trabalhadoras, facultandolhe a adequada formação profissional. Deveria ainda pagar salário igual e liquidar as diferenças salariais originadas pela discriminação, desde Janeiro de 1988, além de uma compensação de dez mil euros, a título de danos morais. O Tribunal da Relação de Lisboa veio confirmar a sentença, destacando o sindicato alguns aspectos desta, designadamente: - Não foi só considerada a violação do princípio de «trabalho igual, salário igual», mas também a atitude discriminatória que consistiu em não atribuir à trabalhadora funções idênticas às das restantes camaradas com a mesma categoria; - Constitui «verdadeiramente um uso abusivo dos poderes patronais» a deliberação a empresa, que em Janeiro de 1988 comunicou à trabalhadora que ia passar a pagar-lhe, para todo o sempre, somente o salário mínimo para a categoria; - O empregador não dispõe de um poder discricionário na organização do trabalho e distribuição de funções, assim como não dispõe de total liberdade para remunerar o trabalhador; - Atribuir à trabalhadora apenas uma função de menor complexidade, quando às restantes atribuía três ou quatro funções, foi uma medida claramente discriminatória da empresa; - A trabalhadora tem direito a salário igual ao das restantes e às respectivas diferenças salariais porque só devido a uma conduta intencional e ilícita da empresa é que não desempenha iguais funções. Exemplar Para o Sinquifa, este é um acórdão que se reveste da maior importância, porque versa sobre uma situação que tende a generalizar-se; porque mostra que os patrões, afinal, não têm liberdade nem poderes para tudo, nem mesmo quando invocam razões de gestão; porque esclarece que, mesmo que o patrão pague a um trabalhador o salário da convenção e pague a outro, com a mesma função, um salário mais elevado, está a praticar discriminação; porque confirma que nunca devemos desistir de lutar. o princípio da igualdade retributiva estabelecido na Constituição da República, praticar remunerações inferiores relativamente a trabalhadores, filiados no SIESI, que realizam trabalho da mesma natureza, qualidade e quantidade dos seus colegas. A prática da Delphi, sustentada no argumento de que os trabalhadores não aderiram ao «novo contrato», foi configurada pela ACT como discriminação baseada na filiação sindical, constitucionalmente proibida. Legrand regulariza A multinacional francesa Legrand Eléctrica regularizou, no final de Setembro, a dívida salarial que mantinha relativamente a sete trabalhadores, cujos salários não foram aumentados, desde Abril de 2006, a pretexto de não terem aderido ao contrato do patrão. A decisão foi comunicada pela administração à Comissão Sindical do SIESI, logo após a ACT ter iniciado a inquirição de testemunhas, no âmbito de um auto levantado por discriminação salarial. Temporários 18 anos vão para o quadro A IgloOlá (Unilever Jerónimo Martins) foi condenada a integrar nos seus quadros dois trabalhadores que, desde 1990, vêm trabalhando para a empresa com contratos sucessivamente subscritos por várias empresas de trabalho temporário. A decisão mais recente saiu do Supremo Tribunal de Justiça, que confirmou as sentenças anteriores do Tribunal de Trabalho e do Tribunal da Relação de Lisboa. Os factos provados demonstraram que não havia uma real situação de prestação de serviços, sendo determinante a prova de que os trabalhadores estavam na dependência e sob a direcção efectiva da IgloOlá. A interposição, nas relações de trabalho, das várias empresas a que os traba- lhadores estavam vinculados mais não era do que um artifício, a obstar à celebração directa de um contrato de trabalho. O outsoursing invocado pela IgloOlá não se provou e, pelo contrário, o que se ficou comprovado foi a existência, pela sua parte, dos poderes de autoridade, direcção, fiscalização e conformação do trabalho. O Sinquifa considera que ste é apenas mais um exemplo das muitas vigarices a que as empresas recorrem para manterem, durante anos e anos, os trabalhadores com vínculo precário, de forma ilegal. O caso deve servir de alerta para outros trabalhadores que estejam com contratos temporários, para que não hesitem em contactar o seu sindicato. 15 energia Singelas Cerca de duas dezenas de casos, do processo das singelas, devem entrar em tribunal este mês, informou o SIESI, recordando que a origem reporta aos anos de 1998 e 1999, nas centrais termoeléctricas (condução), com uma luta de mais de sete meses. O trabalho suplementar foi remunerado pela EDP a singelo, mas uma acção em tribunal confirmou a posição sindical. Enquadramento A EDP Distribuição não assumiu qualquer compromisso, quanto aos trabalhadores de piquetes que desempenham tarefas idênticas com enquadramento diferente (como a inexistência de níveis 4 em Lisboa, Sintra, Oeiras, Carenque, Laranjeiro e Barreiro), o que levou o SIESI a enveredar pela via jurídica. Avolumam-se as situações de execução de tarefas mais qualificadas do que as que correspondem ao enquadramento. O sindicato prepara uma acção que abranja todas as áreas. CRH precária Há cerca de dois anos, passaram a efectivos cerca de trezentos trabalhadores da CRH, por irregularidades nos contratos a termo, e foram melhoradas condições de trabalho (ambiente, casas-de-banho, sala de refeições, etc.). Mas o número de contratados a termo voltou a crescer. Um pedido do SIESI levou já a uma intervenção da ACT. Os contratos em análise são muitos, e foram colocadas outras questões, na área da higiene e segurança, e contra o abaixamento de categorias a supervisores(as). Procura-se reforçar a organização dos trabalhadores na empresa, através da realização de plenários e eleição de delegados sindicais. Esta foi a empresa que, como propalou o Governo, iria criar centenas de postos de trabalho, mas acabou por criar empregos precários, apenas para atender consumidores da EDP e executar outras operações em nome desta. 16 Lucros e impostos em meio ano EDP ganha mais e paga menos No primeiro semestre de 2008, os lucros da EDP cresceram abundantemente, face aos primeiros seis meses de 2007, mas os impostos a pagar tiveram uma subida ínfima. O s números foram apresentados num estudo de Eugénio Rosa, economista da CGTP-IN, em Agosto. Os lucros atingiram agora 962,4 milhões de euros, e no primeiro semestre de 2007 tinham sido de 668,2 milhões. Este aumento de 44 por cento dos lucros, antes de impostos, não se reflectiu nos impostos a pagar, que subiram apenas 4 por cento (de 176,7 milhões de euros, para 184,1 milhões), de acordo com as próprias contas da EDP. Como consequência, os lucros líquidos da EDP, depois de deduzidos os impostos, aumentaram 56,6 por cento (passaram de 491,5 para 703 milhões de euros. Mas os lucros a distribuir aos accionistas cresceram 66,6 por cento. Estes lucros impressionantes foram conseguidos também à custa de preços elevados, pagos por mais de quatro milhões de consumidores domésticos, ou seja, por milhões de famílias portuguesas que vivem com dificuldades crescentes. De acordo com dados da Direcção-Geral de Ener- Para dar aos accionistas, o Governo e a EDP tiram aos consumidores e aos trabalhadores gia, o preço que por um kWh paga um consumidor domestico é 191 por cento superior ao preço pago por um consumidor de muita alta tensão; é 174,2 por cento superior ao preço pago por um consumidor de alta tensão; é 116,8 por cento superior ao preço pago em média tensão diagrama rectangular; é 69,8 por cento superior ao preço pago por um consumidor de média tensão no perfil de médio industrial; e 43,1 por cento superior ao preço pago por um consumidor de baixa tensão no perfil de pequeno industrial. Acima da UE Segundo aquela Direcção-Geral, no segundo semestre de 2007 o preço da electricidade em Portugal era superior ao preço médio da União Europeia (15 países), para os Novos recrutados Os trabalhadores dos Despachos da EDP Distribuição, em Setúbal, entre os quais se inclui um grupo significativo dos muito poucos trabalhadores admitidos mais recentemente, foram confrontados com a sua transferência para Lisboa. Alguns vinham já transferidos de outros locais e, quando colocados em Setúbal, quiseram saber qual o futuro dessa situação. Pelas hierarquias, foram dadas garantias de que tudo estava estabilizado, e a maior parte decidiu fixar residência naquela zona. Mas no início do ano foi desencadeado um processo de transferência para Lisboa, incluindo outros trabalhadores daquele serviço há mais tempo. A organização dos trabalhadores obviou a que tudo se processasse de forma quase administrativa, conta o SIESI, que viu atendido um pedido de intervenção da ACT. No entanto, pelas pressões exercidas, chantageando com o desaparecimento do posto de trabalho, as transferências consumaram-se. A EDP teve que compensar os custos resultantes da transferência e não uma verba que quis definir unilateralmente. O sindicato está a analisar o procedimento a ter perante pressões e intimidações para trabalhadores declarassem que a verba da empresa era compensadora. Além dos custos com transportes e tempos de viagem substancialmente acrescidos, há casos de inexistência de transporte a certas horas. Os trabalhadores admitidos nos últimos quatro ou cinco anos, nos contratos que se seguiam aos contratos a termo, depararamse com regras abusivas de mobilidade geográfica e funcional, que a intervenção sindical anulou. Houve ainda uma tentativa de prejudicar os trabalhadores na evolução profissional e, consequentemente na remuneração. Com tarefas de nível 5, a base de remuneração nos contratos a termo correspondia a uma BR inferior à mínima daquele nível. Na entrada para o quadro, a antiguidade foi considerada nas anuidades, mas não para evolução na carreira, problema que o sindicato já colocou em tribunal, depois da empresa rejeitar a regularização. consumidores do tipo DB (consumo médio mensal até 100 kWh), em 19,3 por cento; para os consumidores DC (consumo médio de 292 kWh, um grupo que representa 36 por cento dos consumidores domésticos, e cujo consumo corresponde a 48 por cento dos consumos domésticos), em 22,1 por cento; para os consumidores do tipo DD (consumo médio mensal de 625 kWh), em 16,4 por cento; e para os consumidores do tipo DE, em 18,1 por cento. A excepção foram apenas os consumidores do tipo DA (com consumos médios mensais até 50 kWh, que pagam por mês apenas 7,75 euros e representam uma percentagem muito reduzida dos consumidores domésticos). Fora este último caso, foi considerado o preço da electricidade sem impostos (porque é aquele que reverte para as empresas e constitui a fonte dos seus lucros). Só devido ao facto dos impostos sobre a electricidade serem em Portugal inferiores à média da UE 15 (entre 77,2 por cento e 82,6 por cento) é que a situação não é ainda mais incomportável para os consumidores domésticos portugueses. Ou seja, acusa o economista, o Orçamento do Estado está também assim a financiar os lucros da EDP. Com preços desta natureza, a EDP tem de ter lucros elevadíssimos. Para Eugénio Rosa, não é preciso ser um grande gestor para conseguir isso, face à passividade do Governo e da entidade reguladora (ERSE), que até teve o descaramento de propor que as dívidas incobráveis da EDP fossem pagas pelos consumidores que pagam pontualmente. Por aqui se vê o tipo de fiscalização que existe actualmente em Portugal, em relação aos grandes grupos económicos. Central do Barreiro Decorre o descomissionamento das centrais térmicas a fuel, iniciado no Carregado (para consumar em 2012), prosseguindo com o Barreiro (2010) e a breve prazo com Setúbal (para 2013). Como noticiámos no anterior número, um resultado positivo foi obtido no Carregado, onde a EDP teve que alterar as suas posições, em função de uma presença massiva em todos os plenários realizados e de uma forte unidade em torno das propostas aprovadas. No Barreiro, onde se iniciaram os contactos individuais com os trabalha- dores, o SIESI entende que estão criadas condições para um desfecho semelhante, pois a esmagadora maioria dos trabalhadores está consciente de que só poderá haver um acordo se reflectir os direitos e interesses dos envolvidos. Há situações ainda indefinidas, como as transferências. Estão referenciados contactos com vista à aceitação de colocação noutras instalações, mas ficando os trabalhadores excluídos do ACT EDP. A orientação é clara: não assinar sem contactar o sindicato. Novembro 2008 INTERNACIONAL CGTP-IN comenta alarme do capital Crise exige ruptura A grave crise financeira internacional exige repensar o modelo de sociedade e proceder a profundas mudanças, afirmou a Comissão Executiva da central, numa tomada de posição divulgada a 13 de Outubro. A actual crise financeira revela uma profunda hipocrisia política, acusa a CGTP-IN, recordando que, nas últimas décadas, os responsáveis políticos: - promoveram o sector financeiro, em detrimento da economia real; - ignoraram as consequências da prevalência de critérios de rentabilidade imediata, em prejuízo do investimento e da criação de emprego e da sua estabilidade; - recusaram regulações eficazes, com o argumento de que o Estado não deveria intervir, e privatizaram a todo o custo; - aceitaram a especulação desenfreada, o enriquecimento fácil, o aumento das desigualdades, em nome do mercado; - impuseram precariedades no trabalho, degradação de salários e de pensões. Agora, usam o Estado para salvar o sistema, e sacodem responsabilidades. Ao apontarem o dedo a gestores, sobretudo os que abandonam as instituições com reformas de ouro, os responsáveis políticos procuram passar junto da opinião pública a mensagem de que são eles os salvadores (com o dinheiro dos contribuintes) da presente situ- dos. Agravaram-se as desigualdades sociais. Chegou-se ao extremo do Conselho Europeu ter aprovado, em Junho deste ano, uma proposta para que os horários de trabalho possam atingir 60 horas por semana, calculadas pela média de um período de três meses, o que significa que nalgumas semanas podem exceder as 60 horas! Estado amigo A actual crise demonstra o fiasco do neoliberalismo e expõe contradições do sistema capitalista ação, da qual pretendem não ter qualquer culpa. Especulação globalizada Para a CGTP-IN, a crise financeira deverá constituir um ponto de viragem sobre o modelo de sociedade em que vivemos. A globalização económica neoliberal foi apresentada aos trabalhadores e aos cidadãos como uma inevitabilidade e um desenvolvimento positivo. Os poderes dominantes adoptaram como normal que as actividades financeiras (e espe- Federação Europeia No presente semestre, a Fiequimetal assume responsabilidades de vice-presidente da Região Sudoeste da Federação Europeia dos Metalúrgicos (FEM), que representa essencialmente os sectores da metalurgia e do material eléctrico. A federação organizou em Lisboa, nos dias 29 e 30 de Setembro, a reunião semestral daquele organismo, na qual foi analisada a situação em cada um dos países e os traços comuns da ofensiva. Destes, sobressaem a precariedade laboral, o desemprego, o encerramento e deslocalização das multinacionais, a quebra do poder de Novembro 2008 compra, a violação dos direitos dos trabalhadores (seja pela ofensiva patronal nas empresas, pelo não cumprimento dos contratos colectivos de trabalho ou pela aprovação de legislação que visa fragilizar ainda mais as relações de trabalho). Reafirmando a necessidade de melhor coordenar e aprofundar a luta contra estes problemas, foi decidido apresentar ao Comité de Direcção da FEM, que iria reunir a 30 de Outubro, propostas concretas e comuns para que seja feita uma análise mais clara e objectiva da situação com que os metalúrgicos europeus se confrontam e como lhe fazer frente culativas) dominassem, face à produção de bens e de serviços. Numa economia de casino e com especulação desenfreada, o enriquecimento fácil de uns poucos custou o endividamento e empobrecimento dos trabalhadores e das famílias. Sem este contexto, nunca a crise actual, nascida de um pequeno segmento do mercado hipotecário nos EUA, se teria convertido numa crise financeira com a presente dimensão. A crise financeira desenrola-se num contexto de forte regressão social. O trabalho foi desvaloriza- do na sociedade, com o argumento de que os direitos (vistos como privilégios, mesmo por partidos socialistas e sociais-democratas) não eram compatíveis com a globalização. O poder de negociação dos sindicatos foi reduzido na generalidade dos países, mas em nenhum país europeu se foi tão longe como em Portugal. A protecção social foi submetida às regras dos mercados financeiros, com o enfraquecimento dos sistemas de segurança social públicos e a promoção dos fundos de pensões priva- Foi atacado o Estado social, com as suas importantes funções em áreas como a educação, a saúde, a segurança social, a justiça, ou a luta contra a pobreza. Mas os mesmos responsáveis políticos reforçaram o papel interventor do Estado a favor dos ricos e dos poderosos. A despesa pública foi apresentada como uma inimiga, ao mesmo tempo que defendiam todas as formas de apoio ao capital. Ao longo de anos, a banca e as instituições financeiras portaram-se como «donas brancas». Por isso, a CGTP-IN considera que não é agora aceitável utilizar os dinheiros públicos para salvar o sector financeiro, sem que se apurem os responsáveis políticos e as decisões que tomaram. Agir em Portugal Defendendo a necessidade de agir, para superar o impacto da crise na economia portuguesa, a CGTP-IN critica o Governo (e também empresários oportunistas e formadores de opinião de serviço), por minimizarem o impacto da crise no País. Ressalvando que faltarão ainda medidas profundas de natureza estrutural, a central apontou várias medidas de resposta à situação social e de apoio às famílias, nomeadamente as que constam na sua proposta de Política Reivindicativa para 2009. Entre outras, refere: - Melhoria dos salários e das pensões; - Baixa das taxas de juros; - Um regime de bonificação do crédito dirigido às famílias de mais baixos rendimentos; - Prolongamento do subsídio social de desemprego; - Eliminação das condições restritivas de acesso ao complemento solidário para idosos; - Reorientação das disponibilidades financeiras, em particular do QREN; - Adequação dos planos nacionais de Reforma e do Emprego 20082010; - Lançar um Plano Nacional de Acção para a Inclusão. Campanha solidária responde aos furacões Vamos ajudar Cuba A campanha «Cuba por todos, Todos por Cuba» foi lançada em meados de Setembro, pela Associação de Amizade Portugal-Cuba e outras organizações, entre as quais a CGTP-IN. «Cuba está sempre por todos, é altura de todos estarmos por Cuba» é o apelo feito, para ajudar o povo cubano a responder aos muito graves prejuízos causados pelos furacões Gustav e Ike, no final de Agosto e início de Setembro. É tempo de os portugueses furarem o criminoso bloqueio a Cuba e se mobilizarem, para enviar, para o país que está sempre na primeira linha da solidariedade internacional a amizade, o apoio e a ajuda de que o povo de Cuba agora necessita. Nos primeiros dias, foram recolhidas e enviadas para Cuba várias toneladas de géneros alimentares. Ultimamente, a campanha está mais apontada para a recolha de fundos, com o objectivo de apoiar a reconstrução, sobretudo, do parque habitacional. Para contribuir, transfira ou deposite o seu donativo para a conta bancária da campanha, identificada com o NIB 003300000058016411697 (banco Millenium BCP). Numa semana e meia, a ilha foi fustigada por dois furacões e uma tempestade tropical. Vento, chuva e inundações provocaram uma destruição sem precedentes. A eficiência dos planos de emergência, para este tipo de situações, evitou um drama humano de maiores proporções, contando-se sete vítimas mortais. Mais de 444 mil habitações ficaram danificadas (destas, mais de 63 mil com derrocada total). Em algumas províncias, foram afectadas 80 por cento das habitações. Importantes infraestruturas, como estradas, rede eléctrica e armazéns de reservas estratégicas, foram severamente lesadas, tal como as culturas agrícolas. 17 nacional Audiência no Parlamento Código contra as mulheres A lei da selva na organização dos horários de trabalho, a generalizada instabilidade de emprego e a maior dificuldade em conhecer e exercer os direitos são aspectos condenados pela CGTP-IN. A HORIZONTAIS: 1 Energia potencial e cinética da água, convertida em electricidade em centrais hidroeléctricas; fenol que se extrai da essência do tomilho e é empregado como antiséptico e anti-helmíntico. 2 - A esposa do tio; pau-ferro; terreno arável. 3 - Melindrar. 4 - Mulher acusada de um crime; aquelas; aquilo que o artífice produz; antiga cidade da Mesopotâmia. 5 - Fruto da videira; passada larga. 6 - Mealheiro; diz-se do terreno situado por cima de um outro que encerra despojos orgânicos. 7 - O espaço aéreo;nome da letra «N»; sexta nota da escala musical. 8 - Tântalo (s.q.); Instituto de Meteorologia (abrev.); leve de rastos, à força. 9 - Escorrer; utensílio com que se junta e recolhe o dinheiro nas mesas de jogo. 10 - Aqui; sufixo nominal, de origem latina, de sentido aumentativo; gume. 11 Dispositivo usado em circuitos eléctricos, constituído por um enrolamento (geralmente cilíndrico) de fio condutor (pl.); exprime a ideia de boca. 12 - Partícula afirmativa do dialecto provençal; almofariz. 13 - Substância que suprime ou suaviza a dor e combate a elevação da temperatura corporal. 14 - Furtar com 18 N.º 3 • Novembro 2008 Propriedade Fiequimetal/CGTP-IN – Federação Intersindical das Indústrias Metalúrgica, Química, Farmacêutica, Eléctrica, Energia e Minas Sede Rua dos Douradores, 160 – 1100-207 LISBOA Telefones: 218818500 e 218818560 • Fax: 218818584 [email protected] • www.fiequimetal.pt Director José Machado Pré-impressão pré&press, Lda Redacção Domingos Mealha Impressão Lisgráfica Grafismo Jorge Caria Depósito legal N.º 266590/07 As alterações pretendidas pelo Governo iriam agravar a discriminação ção dos mecanismos que facilitam os despedimentos; - O prolongamento do horário de trabalho até 12 horas por dia e 60 horas semanais, prejudicando a vida e a saúde das trabalhadoras e dos trabalhadores e afectando a conciliação entre o trabalho e a vida familiar e pessoal; - A substituição dos direitos de maternidade e paternidade, fixados na Constituição como valores eminentes, por um vago conceito de «parentalidade», desnecessário e desadequado, sem qualquer benefício em matéria de direitos de igualdade; - As normas que fragilizam o conhecimento e o exercício dos direitos de igualdade entre mulheres e homens, no local de trabalho. Além de dar a conhecer a sua posição sobre a revisão do Código do Trabalho, a comissão da central para a igualdade de género quis também alertar os deputados para a desactivação da Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego (CITE), a ineficácia da Autoridade para as Condições de Trabalho (ACT), e os prejuízos graves que daí advêm, para a defesa dos direitos da maternidade e da paternidade, e dos direitos de igualdade de oportunidades e de tratamento, no local de trabalho. arteirice (gír.); pequena bigorna de aço, sem hastes. 15 - Almofada de máquina electrostática; extraíram. pinga ou pingo de qualquer líquido. 11 - Red. de maior; casualidade; debruar. 12 - Suf. que exprime a ideia de semelhança ou origem; graúdo; lugar dos sacrifícios; Sociedade Anónima (abrev.). 13 - Mulher que tem cabelo louro; radical alcoólico do tolueno. VERTICAIS: 1 - Mineral que é, quimicamente, o hidróxido de magnésio (Mg OH2) e cristaliza no sistema hexagonal. 2 Italiano (abrev.); eternidade; repugnância; insignificância. 3 - Espaço de 24 horas; membro guarnecido de penas que serve às aves para voar; ter cabimento ou lugar. 4 - Os ramos ou a folhagem das plantas; curso de água natural, mais ou menos caudaloso, que desagua em outro curso de água, num lago ou no mar; actuei. 5 Consideração; espécie de tumor ou carbúnculo que ataca o gado; picam com o bico. 6 - Nome de duas espécies de cotovias; peça que serve para sustentar certos móveis e utensílios; esteiro de rio ou braço de mar, geralmente navegável e que se ramifica pela terra; sobre. 7 - Alcalóide muito venenoso extraído da beladona, com aplicações medicinais; damas (nos jogos de cartas). 8 - Novilho; parte anterior da cabeça. 9 - Resultado falso; ave parecida com a pomba. 10 - Nona letra do alfabeto (pl.); da cor do anil; SOLUÇÃO: HORIZONTAIS: 1 - Hídrica; timol. 2 - Tia; itu; solo. 3 - Amuar. 4 - Ré; as; obra; Ur. 5 - Uva; pernada. 6 - Cós; epizóico. 7 - Ar; ene; lá. 8 - Tá; IM; arraste. 9 - Escoar; rodo. 10 - Cá; olo; az. 11 - Bobinas; ori. 12 - Oc; gral. 13 Paracetamol. 14 - Gamar; tás. 15 - Coxim; sacaram. VERTICAIS: 1 - Brucite. 2 - It; evo; asco; avo. 3 - Dia; asa; caber. 4 - Rama; rio; agi. 5 - Uste; má; nicam. 6 - Cia; pé; ria; em. 7 - Atropina; sotas. 8 Bezerro; cara. 9 - Erro; rola. 10 - Is; anilado; gota. 11 - Mor; acaso; orlar. 12 - Ol; udo; ara; SA. 13 - Loura; benzilo. Comissão da CGTPIN para a Igualdade entre Mulheres e Homens foi recebida na Assembleia da República, e apontou algumas graves consequências que teria, para o agravamento da discriminação e das condições de vida e de trabalho de milhares e milhares de trabalhadoras, a alteração do Código do Trabalho no sentido pretendido pelo Governo. A audiência da CIMH/ CGTP-IN com a Comissão de Trabalho, Segurança Social e Administração Pública teve lugar a 8 de Outubro. A delegação da CIMH/ CGTP-IN expressou apreensões relativas às propostas do Governo, em matéria de igualdade e não discriminação, e parentalidade, salientando: - As consequências da desregulamentação das relações de trabalho e do aumento do trabalho precário, assim como da simplifica- Órgão dos trabalhadores das indústrias metalúrgica, química, farmacêutica, eléctrica, energia e minas Sindicatos filiados na Fiequimetal Sindicato dos Trabalhadores da Metalurgia e Metalomecânica do Distrito de Viana do Castelo - Av. D. Afonso III, 28 - 4900-477 V. CASTELO - Telef. 258 826 411 Fax: 258 826 455 Email: [email protected], [email protected] Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Metalúrgicas e Metalomecânicas do Distrito de Braga – Av. António Macedo, Loja 8 – R/c - 4700-413 BRAGA - Telef.: 253 262 549 Fax: 253612556 Email: metalurgicos.braga@fiequimetal. pt, [email protected] Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Metalúrgicas e Metalomecânicas do Norte - Rua Padre António Vieira, 195 - 4300-031 PORTO - Telef.: 225 198 601 Fax: 225 198 603 Email: [email protected], [email protected]pac.pt Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Metalúrgicas e Metalomecânicas dos Distritos de Aveiro, Viseu, Guarda e Coimbra - Rua Padre Américo, 1, Apartado 406 - 4524-907 RIO MEÃO - Telef.: 256 782 479 Fax: 256 781 135 Email: stimmdavg@fiequimetal.pt, [email protected] Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Metalúrgicas e Metalomecânicas dos Distritos de Lisboa, Leiria, Santarém e Castelo Branco - Rua dos Doura dores, 160 - 1100-207 LISBOA - Telef.: 218 818 556 Fax: 218 818 584 Email: [email protected], [email protected] Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Metalúrgicas e Metalomecânicas do Sul - Rua Garcia Peres, 26 2900-104 SETÚBAL - Telef.: 265 534 391 Fax: 265 634 704 Email: [email protected], [email protected] Site: www.stimmsul.pt Sindicato dos Metalúrgicos e Ofícios Correlativos da Região Autónoma da Madeira - Rua Dr. Fernão de Ornelas, 15-2.º - 9050-021 FUNCHAL - Telef. e Fax: 291 224 860 Email: [email protected] Sindicato dos Trabalhadores da Química, Farmacêutica, Petróleo e Gás do Norte - Rua António Granjo, 171 4349-019 PORTO - Telef.: 225 899 110 Fax: 225 104 672 Email: [email protected], sinor[email protected] Sindicato dos Trabalhadores da Química, Farmacêutica, Petróleo e Gás do Centro, Sul e Ilhas - Rua dos Douradores, 160 - 1100-207 LISBOA - Telef.: 218 818 536/7 Fax: 218 818 584 Email: [email protected], [email protected] Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Eléctricas do Norte e Centro - Rua Padre António Vieira, 195 - 4300031 PORTO - Telef.: 225 198 600 Fax: 225 198 603 Email: [email protected] Site: www.stienc.pt Sindicato das Indústrias Eléctricas do Sul e Ilhas - Av. Almirante Reis, 74G-4.º - 1150-020 LISBOA Telef: 218 161 590 Fax: 218 161 639 Email: [email protected] Site: www.siesi.pt Sindicato do Sector de Produção, Transporte e Distribuição de Energia Eléctrica do Arquipélago da Região Autónoma da Madeira - Av. do Mar, 32 - 9050-029 FUNCHAL – Telef. e Fax: 291 211 454 Email: steem@fiequimetal.pt, [email protected] Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Mineira - Rua dos Douradores, 160 - 1100-027 LISBOA - Telef.: 218818561 Fax: 218 818 555 Email: stim@fiequimetal.pt, [email protected] Novembro 2008 história Um marco na história do movimento sindical português A greve geral de 1918 Em 18 de Novembro de 1918, faz agora 90 anos, rebenta uma das mais importantes greves gerais que houve durante a Primeira República (1910-1926). O objectivo fundamental dessa greve, dirigida pela União Operária Nacional (UON), criada em 1914, era o de protestar contra a carestia e falta de produtos alimentares e contra a política do governo, pois, enquanto o povo passava fome e os soldados morriam nas trincheiras da Flandres (na Primeira Guerra Mundial), os capitalistas e os agrários enriqueciam mais. Ocupava o poder Sidónio Pais, que só se preocupava com os interesses dos grandes capitalistas e dos latifundiários. Apesar de longamente preparada e da combatividade demonstrada pelos grevistas, esta greve geral não atingiu os seus objectivos. Por um lado, devido ao fim da Grande Guerra, como ficou conhecida a Primeira Guerra Mundial, cujo Armistício foi assinada em 11 de Novembro, e que rasgou esperanças numa melhoria da situação a curto prazo, contribuindo, desse modo, para a desmobilização dos sectores mais moderados do operariado organizado. Por outro lado, por causa da violenta repressão, lançada sobre os sindicalistas no período que antecedeu a greve geral, expressa em inúmeras prisões e no encerramento dos seus sindicatos. E, por fim, a pandemia Pneumónica, também conhecida por «gripe espanhola», que assolava o País e que se saldou por mais de cem mil mortos, contribuiu igualmente para o insucesso do movimento, na medida em muitos sindicalistas e trabalhadores foram ceifados por ela. O sidonismo, ditadura de novo tipo Em Portugal, 1917 marca o início do fluxo do movimento sindical. Havia mais de um ano que Portugal participava na guerra e o esforço que esta exigia ao País acarretava consequências internas desastrosas, cujos efeitos recaíam, fundamentalmente, sobre os trabalhadores. Esta crítica situação «empurra» o operariado para a luta - a luta pelas «subsistências», contra a carestia de vida. Basta dizer que, de Junho de 1917 a Março de 1918, se travaram mais de 200 greves, das quais 171 (83 por cento) foram por questões salariais. Este movimento grevista tem o seu ponto alto no «Verão quente» de 1917, sendo o governo de Afonso Costa obrigado a decretar o estado de sítio (greve geral da construção civil), com mortos e feridos à mistura, seguida de greve geral de solidariedade, de 48 horas, decretada pela UON, ou a mobilizar os grevistas (greve geral dos telégrafos-postais, segui- Novembro 2008 da igualmente de greve geral de solidariedade) e a prendê-los, nos barcos de guerra surtos no Tejo ou nos vários fortes militares espalhados pelo País, acusados de traição. Mas a luta contra a a falta de géneros não é travada apenas através de greves. Por todo o País assiste-se a vagas de assaltos das populações. Aliás, os assaltos aos armazéns e lojas de víveres são a resposta do proletariado em geral, e do povo em particular, contra a carência e o açambarcamento dos géneros alimentares. Nesses assaltos participam não só os trabalhadores, mas também camadas da pequena burguesia e do campesinato. O «Verão Quente» de 1917 prenuncia o sidonismo, o qual se inicia com o golpe de Estado militar de Sidónio Pais, levado a efeito em 5 de Dezembro de 1917. Sidónio Pais, que era membro da União Republicana, partido que esteve envolvido no golpe, ensaia em Portugal a primeira ditadura moderna de tipo fascista, que se veio mais tarde a concretizar na Itália com Mussolini, na Alemanha com Hitler, no nosso país com Salazar, na Espanha com Franco, etc.. Passada a primeira fase de expectativa e de «simpatia benévola» para com o sidonismo, depressa os trabalhadores passaram à ofensiva. A UON recusa ocupar o lugar no Senado sidonista e apela à organização operária para se afastar das lutas políticas. Apoiando-se cada vez mais nos monárquicos e na Igreja, Sidónio País levou a cabo uma política ao serviço dos grandes interesses económicos, como Alfredo da Silva (CUF), e dos latifundiários, e de repressão sobre o movimento operário. Os sindicatos da cidade e do campo são encerrados, os dirigentes sindicais são detidos e deportados para África, de onde alguns não regressarão. As cadeias enchem‑se de presos. Desde os mineiros de São Pedro da Cova aos pescadores de Portimão, passando pelos trabalhadores rurais de Alpiarça e Montemor‑o‑Novo, as prisões sucedem‑se por todo o País. Vive‑se um clima de terror, de verdadeira guerra civil. Segundo Bento Gonçalves, quando Sidónio Pais foi morto, em 14 de Dezembro de 1918, tinham passado nelas cadeias sidonistas, em Portugal e em África, cerca de 20 mil presos.(1) Greve geral nacional Entretanto a situação dos trabalhadores continuava a degradar‑se. O açambarcamento e a carestia atingiam proporções nunca vistas, a repressão e a censura também, pois, apesar do custo de vida não parar de aumentar, Sidónio Pais reduziu os salários dos trabalhadores do Estado. Perante isto, a UON não podia ficar indiferente. Por um lado, porque muitos trabalhadores defendiam que só a unificação de todas as greves tornaria possível que a luta contra a carestia fosse eficaz, enquanto outros, os mais radicais, consideravam que tinha chegado o momento de se fazer a greve geral expropriadora com carácter revolucionário. Assim, de acordo com a Federação da Indústria, a UON preparou um plano de trabalhos a levar a cabo pelo movimento sindical, que consistia no seguinte: 1.° - Promover em todos os sindicatos do País assembleias onde se discutiriam as reivindicações das classes profissionais; 2.° - Realização de comícios, no mesmo dia e à mesma hora, em Lisboa, Porto e em todos os centros industriais e agrícolas; 3.º - Preparar uma greve geral nacional, se o Governo continuasse a não atender as reclamações operárias. Os comícios foram marcados para o dia 15 de Setembro de 1918, tendo‑se realizado cerca de 40. Muitos foram proibidos pelas autoridades, sendo substituídos por assembleias nas sedes dos sindicatos. Em Alpiarça e Montemor‑o‑Novo foram encerrados os sindicatos e mortos trabalhadores a tiro. Como escreveu Alexandre Vieira, secretário‑geral da UON, «a acção desenvolvida, não apenas em Lisboa mas em todo o País, no sentido de ser levada a efeito a greve geral, que abrangeria todo o território continental, foi considerável, podendo mesmo afirmar‑se que nunca em Portugal, como então, se trabalhou tão intensa e extensamente na preparação de uma greve. (2) Nos meses que antecederam a greve geral, foi lançada uma violenta campanha contra o movimento sindical, que era acusado pelos jornais reaccionários (O Tempo, O Dia, A Situação) de pretender fazer uma revolução bolchevique. A burguesia portuguesa vivia amedrontada com a Revolução Russa, que tivera lugar no ano anterior, e temia que Portugal acordasse um dia sob o poder dos sovietes Apesar desta campanha, no dia 18 de Novembro os trabalhadores lançam‑se corajosamente na greve. Esta é seguida pelos ferroviários do Sul e Sueste, que impedem a circulação dos comboios durante vários dias, apesar do Governo ter mandado ocupar militarmente as estações de caminho-de-ferro; pelos trabalhadores rurais do Alentejo, que se mantêm em greve durante uma semana; pelos trabalhadores da construção civil de Lisboa, Évora e Setúbal e pelos gráficos da capital, que não permitem a publicação de jornais durante oito dias. rancisco f canais rocha Historiador Além disso, a greve foi ainda seguida por uma parte do operariado do Algarve (Portimão, Tavira, Silves e Olhão), do Barreiro e de Setúbal, pelos trabalhadores da Póvoa de Varzim, pelos ferroviários de Vale de Vouga e uma parte dos de Ovar e Gaia. A greve foi esmagada a ferro e fogo. Centenas de trabalhadores foram presos, por todo o País, e dezenas deles, oriundos de Vale de Santiago, no concelho de Odemira, foram deportados para Angola, sem julgamento nem culpa formada. Eram acusados de terem ocupado as terras dos agrários no primeiro dia de greve. Ao mesmo tempo, dezenas de sindicatos, incluindo a UON, eram encerrados. As perseguições aos sindicalistas continuaram até ao fim do reinado de Sidónio Pais. E agravaram‑se quando este foi morto, na estação do Rossio, antes de embarcar para o Porto. A Polícia Preventiva - criada pelo ditador e antecessora da PIDE, a polícia política do fascismo invadia as sedes dos sindicatos e obrigava os sindicalistas a porem as bandeiras a meia‑haste, em sua memória. Os objectivos imediatos da greve geral não foram alcançados. No entanto, nem por isso se pode considerar que a greve foi um fracasso total. Primeiro, porque menos de um mês depois, a 14 de Dezembro, Sidónio Pais era morto e o seu regime derrubado, sendo restauradas, pouco depois, as liberdades democrático‑burguesas. Segundo, e este é o aspecto mais importante, não obstante a repressão, o movimento sindical não foi desfeito. E tanto assim é que, três meses mais tarde, a 23 de Fevereiro de 1918, inicia a publicação do jornal A Batalha que, começando com uma tiragem diária de 7500 exemplares, em breve alcança os 18 mil, sendo na altura o terceiro diário português, logo a seguir ao Diário de Notícias e O Século. Em Maio desse ano conquista a jornada de trabalho de oito horas, velha reivindicação operária, e em Setembro seguinte funda a CGT (Confederação Geral do Trabalho), a primeira confederação dos trabalhadores portugueses. Depois de 1918 mais greves gerais foram desencadeadas no nosso país, algumas das quais já depois da revolução democrática de 25 de Abril de 1974. Mas a greve de 18 de Novembro de 1918 permanece como um marco inapagável na História do movimento sindical português. ______ Notas (1) Bento Gonçalves, Elementos para a História do Movimento Operário Português, policop., 1969, p. 19. (2) Alexandre Vieira, Para a História do Sindicalismo em Portugal, 2.ª ed., Lisboa, Seara Nova, 1974, p. 135. 19 actual Grande protesto no dia 1 de Outubro Mais razões para mudar de política O dia nacional de luta, a 1 de Outubro, convocado pela CGTP-IN, traduziu-se numa das maiores manifestações de protesto e luta dos últimos meses, contra a política do Governo e as posições retrógradas do patronato. P or todo o País, foram muitas as centenas de milhares de trabalhadores dos sectores público e privado que participaram activamente nas greves, paralisações, plenários e concentrações, para exigir melhores salários e emprego sem precariedade e para repudiar a proposta de revisão, para pior, da legislação laboral, apresentada pelo Governo na Assembleia da República. Apesar das manobras habituais do Governo para tentar tapar o sol com a peneira, com a cumplicidade de alguns órgãos de informação, os dados recolhidos pela CGTP-IN nos sectores e nos distritos (e publicados no sítio Internet da central, numa extensa lista) demonstram a grande contestação que se fez sentir no dia 1 de Outubro, coincidindo com o 38.º aniversário da central. Merecem destaque: - os elevados índices de adesão à greve dos trabalhadores da Função Pública (75 por cento), da administração local (75 por cento) e da enfermagem (81 por cento), vem como a forte participação dos professores nos plenários; - a forma significativa como a luta se fez sentir no sector dos transportes e comunicações, em várias empresas O grande plenário geral das empresas do parque industrial da Autoeuropa, em que participou o secretário-geral da CGTP-IN, reuniu cerca de 1500 trabalhadores de transporte de passageiros e nos Correios; - uma forte adesão dos trabalhadores de muitas empresas dos sectores da indústria, como a metalurgia, a energia, a química, a cerâmica, o vidro, a cortiça, os têxteis e calçado; - um conjunto vasto de paralisações, plenários e contactos com os trabalhadores de numerosas empresas o sector dos serviços; - o forte impacto público de que se revestiram as concentrações e manifestações em várias cidades, como as realizadas em Braga, Porto, S. João da Madeira, Santa Maria da Feira, Santa Maria de Lamas, Castelo Branco, Viseu, Coimbra, Marinha Grande, Abrantes, Lisboa (enfermeiros, no dia 1, e trabalhadores dos CTT, a 30 de Setembro), Cacém, Barreiro, Portalegre. Greve e concentração na Tudor No dia 1 de Outubro, os trabalhadores da Tudor concentraram-se durante duas horas junto ao portão da fábrica, pelos objectivos do dia nacional de luta e para reafirmarem à administração a determinação de travarem qualquer intenção de reduzir os níveis de emprego. A concentração teve adesão praticamente total e paralisou a produção. 20 Apesar das intimidações patronais em muitas empresas, da carga policial sobre o piquete de greve dos ferroviários em Penafiel ou da tentativa de impedimento da actividade dos dirigentes sindicais no Jumbo de Setúbal, a CGTPIN salienta que os trabalhadores e trabalhadoras deram, mais uma vez, um exemplo de grande coragem e dignidade na luta contra a política deste Governo e a prepotência patronal. Este é um processo que continua em aberto, num novo ciclo de luta que se abriu, pela defesa da contratação colectiva e pela melhoria das condições de vida e de trabalho. Uma nova etapa foi o plenário nacional de dirigentes, delegados e activistas, a 6 de Novembro, em Lisboa, que voltou a acrescentar razões à luta para que é necessário ganhar cada vez mais trabalhadoras e trabalhadores. Roteiro para Sócrates N o País chamado Portugal, continuam a fechar fábricas, milhares de trabalhadoras e trabalhadores são empurrados para o desemprego, vive-se com salários de miséria e muitos milhares de idosos vivem o drama de nem sequer terem dinheiro para os medicamentos. O primeiro-ministro desdobra-se em acções de propaganda (a inaugurar coisas já inauguradas, a colocar a primeira pedra em tudo quanto é sítio, a anunciar o já anunciado, a distribuir «magalhães» fabricados por uma empresa que foge ao fisco). José Sócrates fala de outro país, uma terra de fazde-conta, onde a crise não existe, o desemprego está a diminuir, milhares de idosos foram tirados da pobreza graças ao complementozinho... Mas cá, onde a vida é real, mais fábricas fecharam ou vão fechar, pela mão de multinacionais, que os governos recebem de braços abertos e com subsídios fartos, mas sem garantirem que elas não acabam por levantar a tenda, para irem sugar noutras paragens. Dos casos referenciados nos nossos sectores, destaca-se, pelos 400 trabalhadores ameaçados de desemprego, a Delphi de Ponte de Sor. Sobre esse País, o primeiro-ministro não diz uma palavra. Nunca ninguém o viu junto de alguma empresa acabada de encerrar ou prestes a isso, ao menos para pedir desculpa aos trabalhadores pelos efeitos da sua política. Talvez seja a altura de começar a exigir a José Sócrates que, onde quer que encerre uma fábrica, ele esteja lá. Mas assim deixaria de ter tempo para as suas operações de propaganda... e arriscava-se a que lhe perguntassem por que decidiu oferecer a essas e outras empresas a facilitação dos despedimentos e outras magníficas prendas, embrulhadas no seu Código do Trabalho. Novembro 2008