Me engana que eu gosto

Transcrição

Me engana que eu gosto
Me engana que eu gosto...
Escrito por Marcos Coimbra :: Correio Braziliense
Seg, 05 de Novembro de 2012 10:58
Será amnésia? Desinformação? Ou apenas nossa velha conhecida, a vontade que a realidade
seja como desejada?
Quem lê a abundante produção de nossos comentaristas políticos a respeito das eleições
municipais recém-concluídas não deve estar entendendo nada. Afinal, tudo que sabíamos
sobre elas estava errado?
Não somos, propriamente, novatos na matéria. Se contarmos as que ocorreram desde a
redemocratização, já são 8, cobrindo um período de quase 30 anos. Domingo passado, não
era a primeira vez que as fazíamos.
Somos, portanto, tarimbados o suficiente para esperar mais discernimento na hora de
interpretá-las.
Se há uma coisa que temos obrigação de saber sobre a relação entre a escolha de prefeitos e
a de presidente da República é que ela inexiste. Só quem tomou bomba na escola primária da
política ignora fato tão básico.
Parece, no entanto, que nossos analistas se esqueceram disso.
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Escrito por Marcos Coimbra :: Correio Braziliense
Seg, 05 de Novembro de 2012 10:58
Tanto que quase tudo que vêm publicando versa sobre as consequências das eleições deste
ano na definição de quem ocupará o Palácio do Planalto a partir de 2015. Reeditam a teoria do
"primeiro capítulo", que assegura que a eleição municipal "antecipa" a presidencial.
O problema dela é ser errada, com ampla evidência a demonstrá-lo.
Nenhuma das eleições presidenciais brasileiras modernas foi "antecipável" pelo ocorrido dois
anos antes, quando o eleitorado, pensando em uma coisa completamente diferente, procurou
identificar os melhores candidatos a prefeito e vereador nas cidades.
Collor não "tinha" mais que meia dúzia de prefeitos — fora em Alagoas — quando se lançou.
Fernando Henrique ganhou e se reelegeu sem precisar de "prefeitama" nenhuma.
Na eleição de Lula, a vastíssima maioria dos prefeitos estava com Serra, que pilotava uma
coligação imensa, congregando todos os partidos mais bem sucedidos na eleição de 2000 —
incluindo os três maiores no número de prefeitos, PSDB, PMDB e PFL.
Na reeleição e com Dilma, a importância do tamanho das "bases municipais" voltou a se
mostrar pequena.
Em que pese o óbvio, a mídia anda cheia de especulações sobre os impactos de 2012 em
2014. Talvez porque nossos comentaristas desejam que existam e modifiquem o cenário mais
provável.
Qual o critério para definir os "grandes vencedores" de 2012? Ter feito mais prefeitos e
vereadores, vencido em mais capitais, tido a maior taxa de crescimento, conquistado as
prefeituras das capitais mais importantes, se desempenhado melhor em cidades médias, tido a
performance mais bem equilibrada nas regiões do país? Ou haver conseguido a melhor
combinação disso tudo?
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Escrito por Marcos Coimbra :: Correio Braziliense
Seg, 05 de Novembro de 2012 10:58
PSD e PSB, entre os partidos médios, fizeram um bom número de prefeitos. O PSDB venceu
em duas capitais do Norte e duas do Nordeste. São do PSB os prefeitos de cinco capitais, do
PMDB os de duas, do PT os de quatro. O PTC venceu em uma.
E daí?
No plano objetivo, nada. Em primeiro lugar, porque, para a imensa maioria dos eleitores, o voto
no prefeito nada tem a ver com o voto na eleição presidencial. Em segundo, porque é ínfima a
proporção que escolhe o candidato a presidente "por influência" do prefeito.
No máximo, a eleição municipal projeta uma imagem de vitória. Como em alguns casos
simbólicos — vencer em São Paulo, por exemplo.
É, talvez, por ter Fernando Haddad vencido na cidade que os analistas da mídia conservadora
andam tão ansiosos à cata de qualquer "vencedor" que não seja o PT.
3/3