Experiencia de Quase

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Experiencia de Quase
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EXPERIÊNCIA DE
QUASE-MORTE
PASSAR POR ESTÁGIOS SEMELHANTES AO DESENCARNE PERMITE ÀS PESSOAS
TEREM UMA NOVA PERSPECTIVA DE VIDA, REFORMANDO
INTIMAMENTE MUITOS DE SEUS CONCEITOS
Marco Túlio Michalick
O
[email protected]
que acontece quando morremos? Ao termos
uma Experiência de Quase-Morte (EQM), qual
é o sentimento que vivemos neste instante?
No livro Vida Depois da Vida, o dr. Raymond Moody Jr. descreve as experiências de 150 pessoas que
viveram o fenômeno de quase-morte. Ele tem pesquisado este assunto há vários anos e seus estudos recairam sobre três categorias distintas: a experiência
de pessoas que foram ressuscitadas depois de terem
sido julgadas, consideradas ou declaradas mortas por
seus médicos; a experiência de pessoas que, durante acidentes, doenças ou ferimentos graves, estive-
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ram muito próximas da morte física; a experiência de
pessoas que a contaram para outras que estavam presentes enquanto morriam.
O dr. Moody considera mais dramática a primeira
categoria, na qual realmente ocorreu o desencarne
clínico, já que o paciente teve um contato direto com
a morte. Em suas pesquisas, pôde notar que as pessoas que estiveram “mortas” por um tempo mais longo puderam contar sua experiência com riqueza de
detalhes, além de a terem vivido por completo, ou
seja, passado por vários estágios da EQM.
Nos primeiros passos dessa experiência, muita
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Capa
A EXPERIÊNCIA DE QUASE-MORTE PROVOCOU UMA
MUDANÇA NO COMPORTAMENTO DAS PESSOAS, QUE SE
ACHARAM NO DEVER DE PROMOVER UMA REFORMA
ÍNTIMA, ANALISAREM O QUE TINHAM FEITO DA VIDA
E O QUE PODERIA SER DIFERENTE
gente descreve
sentimentos de paz
muito agradáveis. Outro dado importante é que quem teve
uma EQM não sai falando para todo mundo o que aconteceu. Normalmente, a pessoa
faz um comentário para algum parente ou amigo, porém, ao ser reprimida por seu interlocutor
e com medo de ser vista pela sociedade como uma
desequilibrada, prefere o silêncio, não tocando mais
no assunto. No entanto, essa pessoa jamais esquece cada detalhe do que ocorreu, a experiência fica
viva em sua mente como um filme que assistiu há
poucos minutos.
Túnel e seres de luz
No instante da morte clínica, algumas pessoas ouvem o médico declarar seu falecimento. Contam que,
neste momento, escutam sons de sinos, harpas, uma
música majestosa. Logo após a ocorrência do ruído,
conforme algumas declarações, tem-se a sensação de
que se entrou em um lugar escuro, como se tivesse
sido puxado para aquele local com uma certa velocidade. Tal espaço escuro é descrito de diversas formas:
caverna, buraco, poço, túnel, bueiro, vale, vácuo, vazio, cilindro etc. Após a passagem rápida pelo local
escuro, o dr. Moody explica que “a pessoa que está
morrendo tem, com freqüência, uma surpresa muito
grande, pois, nesse ponto, encontra-se olhando seu
próprio corpo físico de um ponto fora dele, como se
fosse um espectador, uma terceira pessoa no quarto
apreciando as figuras e os eventos”.
Neste momento, a reação de cada um se altera.
Alguns não têm noção ou não ligam para a possibilidade de estarem mortos, sentem-se confusos. Há
aqueles que entram em desespero e querem voltar
imediatamente ao seu corpo, enquanto outros não
sentem medo, mantendo-se calmos e serenos, sabendo que têm de voltar ao corpo, mas sem saber como
fazê-lo. Após tentar contato com os médicos, sem sucesso, a pessoa descobre que não pode ser ouvida ou
vista, ficando surpresa ao descobrir que a matéria não
é obstáculo para aquele corpo espiritual que neces-
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sita de solidez para conseguir tocar as pessoas e pegar qualquer objeto.
Outro estágio da Experiência de Quase-Morte é o
encontro com o ser de luz. Vale lembrar que, quando uma pessoa está vivendo este fenômeno, ela pode
seguir os estágios conforme são colocados, mas também pode ter experiências que não seguem este enredo ou apenas parte dele. A experiência é considerada completa quando segue todos os estágios, independentemente da forma que foi executada.
Entre os relatos que estudou, o dr. Moody considera como mais incrível o elemento que tem o efeito mais profundo no indivíduo, que é o encontro com
uma luz brilhante. Muitas pessoas fizeram questão de
frisar que, apesar da luz ser forte e intensa, em momento algum ela ofusca ou faz doer os olhos, não impedindo que elas vejam outras coisas ao redor. Para
o pesquisador, talvez a luz não afete os olhos das pessoas “porque, a essa altura, elas já não têm olhos físicos para serem ofuscados”.
A comunicação entre o ser e a pessoa se dá através do pensamento, com perguntas do tipo “você está
pronto para morrer?”, “o que você fez com sua vida
já é o suficiente?”, entre outras. Estas questões não
são feitas com o intuito de punir ou condenar, mas de
uma forma carinhosa, para que as pessoas reflitam e
façam uma auto-análise de como procederam até
aquele momento e o que poderiam fazer de melhor.
O ser apresenta à pessoa uma recapitulação panorâmica de sua vida. Conforme informações de grande
parte daqueles que passaram pela Experiência de
Quase-Morte, as imagens são vistas em cores vibrantes, tridimensionais e em movimento. Em alguns casos, até as emoções expressas nas imagens podem ser
sentidas novamente naquele instante. São tão marcantes estes momentos que, mesmo depois de muito
tempo da ocorrência do fenômeno, as pessoas se lembram com detalhes do que viram.
Algumas pessoas descreveram ao dr. Moody a presença de uma barreira ou limite, uma espécie de divisória entre o lado espiritual e o físico. Assim, a pessoa que está vivendo a EQM pode chegar apenas naquele ponto específico. A forma dessa barreira varia
de relato para relato, podendo ser uma extensão de
água, uma névoa cinza, uma porta, uma cerca em
volta de um campo ou simplesmente uma linha.
Emmanuel Swedenborg, considerado um dos precursores do Espiritismo, relatou sua experiência fora
do corpo, explicando como passou pelos primeiros
eventos da morte. “Fui levado a um estado de insensibilidade quanto aos sentidos corporais, quase a um
estado de morte. Porém, a vida interior, com o pensamento, permaneceu íntegra e, com isso, percebi e
retive na memória as coisas que ocorreram aos que
são ressuscitados dos mortos. Especialmente me foi
dado perceber que havia um puxar e tirar da mente
ou do meu espírito para fora do corpo”, contou.
Experiências desagradáveis
Sandra Rogers escreveu o livro Ensinamentos da
Luz após ter uma Experiência de Quase-Morte em
1976, quando tentou se suicidar com um tiro no peito. Ela contou que foi levada à presença de uma luz
brilhante, que lhe deu acesso a um conhecimento ilimitado durante o tempo em que permaneceu naquele
local. “Foi-me dito que eu poderia permanecer com
a luz desde que retornasse mais tarde ao mundo físico e vivenciasse tudo o que me levou ao ponto do suicídio junto com o restante da minha vida. Escolhi a
alternativa que era retornar ao meu presente corpo
físico. Foi-me permitido obter somente o conhecimento necessário para me manter, além de me serem
dadas iluminações durante o caminho à medida que
eu continue minha vida”, explicou Sandra.
Pelos relatos que o dr. Raymond Moody Jr. estudou, as pessoas que tentaram o suicídio não tiveram
uma sensação de paz ou harmonia. Elas puderam ver
o local para onde iriam caso a morte fosse concluída, além de sentirem um profundo mal-estar pela
tentativa de fugir dos problemas pelo suicídio. Pensavam que estes terminariam com a morte, mas estavam provocando um problema ainda maior.
A Experiência de Quase-Morte provocou uma mudança no comportamento das pessoas quando estas
regressaram à vida física. Elas passaram a olhar a vida
com outros olhos, pensando mais nos outros. Acharam-se no dever de fazer uma reforma íntima, serem
Lázaro, que não estava morto, mas em um estado de letargia,
experimentou a sensação de quase-morte
menos críticas, analisarem o que tinham feito da vida
até aquele momento e o que poderia ser feito de forma diferente. Outro ponto importante é que ninguém
saiu pregando o que viu, querendo fazer com que os
outros acreditassem no fenômeno ocorrido. Pelo contrário, a experiência foi contada apenas para poucas
pessoas, como explicamos anteriormente.
Tanto para os indivíduos que tinham uma religião
quanto para os que não tinham, a experiência não
teve nenhuma alteração no conteúdo relatado. Alguns
críticos poderiam alegar que a fé religiosa poderia ter
influenciado neste ponto, mas, independentemente
disto, o relato foi similar. Aliás, alguns religiosos que
pregavam que, ao morrer, os homens partiriam para
o céu ou para o inferno viram a dessemelhança entre o que lhes foi ensinado e a realidade. As imagens
são tão marcantes na mente destas pessoas que algumas lembram dos detalhes depois de muitos anos.
Alguns leitores devem estar se indagando quanto
à morte biológica, como o fato do individuo ficar morto por mais de cinco minutos e não ter nenhuma seqüela no corpo, uma lesão cerebral por falta de oxigênio, por exemplo. Para o dr. Moody, a morte é definida como o estado do corpo do qual é impossível
voltar à vida. “É obvio que, por essa definição, nenhum dos meus casos seria incluído, pois todos eles
supõem a ressurreição. Mesmo nos casos em que o coração deixou de bater por longos períodos, os tecidos do corpo, particularmente do cérebro, devem ter
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Capa
Relato de experiência de Quase-Morte
Eu estava deitado na cama de
um hospital do
Exército em Fort
Knox quando minha aorta principal estourou. A
primeira coisa
que me lembro
foi ver esse estonteante arranjo de
cores concisas, inacreditáveis, o que me
encheu de um tremendo senso de serenidade. Eu também me lembro de que
tive a sensação de estar simplesmente a
flutuar no meio de tudo. Então, enquanto eu sorvia toda essa beleza, olhei para
baixo e vi seis pessoas em batas brancas
operando sobre esta figura esticada que
não parava de se dobrar e retorcer sobre
um leito, como se ele houvesse perdido
o controle de si próprio. As pessoas se
movimentavam de maneira muito frenética também, como se estivessem em pâ-
nico. Eu não tinha nenhuma impressão,
naquele momento, de que eles me operavam, de modo que eu simplesmente
redirecionei minha atenção de volta a
toda essa beleza e a essa grande luz calorosa que se irradiava a distância. Essa
luz, oh, meu Deus, como eu quis ir para
essa luz! Eu queria estar com ela.
Mas então olhei para baixo novamente e não posso dizer quando ou por
quanto tempo isso tudo custou para
acontecer, porque eu não tinha nenhum
senso de tempo. Mas eu podia ver que
as figuras de batas brancas moviam-se
lentamente e que o corpo na cama havia ficado parado e quieto. Foi quando
fui tomado pelo fato de que eu era o
corpo sobre a cama. Ou talvez eu devesse dizer que o corpo sobre a cama era
aquilo de onde meu “eu” havia acabado de sair. Eles estavam trazendo um
aparelho de respiração artificial para
reanimar meu coração e eu me recordo
que estava, de alguma forma, tentando
sido, de algum modo, supridos de oxigênio e nutrientes”, explicou.
Entendo que a morte realmente não existiu de
forma definitiva, pois não houve o rompimento dos
laços que ligam o espírito ao corpo por meio de seu
envoltório semimaterial, o perispírito. De alguma forma, a espiritualidade fez com que o corpo recebesse
os cuidados necessários, a fim de não sofrer qualquer
seqüela enquanto a alma mantinha seu contato com
o mundo espiritual. Em O Livro dos Espíritos, Allan
Kardec diz que “fenômenos que escapam das leis da
ciência vulgar se manifestam em toda a parte e revelam, em sua causa, a ação de uma vontade livre e
inteligente”.
Alucinações? Delírios?
Seria a Experiência de Quase-Morte o resultado da
privação momentânea de oxigênio, da tensão psicológica ou da dor? Em alguns casos, é possível que sim,
entretanto, vários pacientes analisados deixaram claro que haviam experimentado um estado de lucidez
acima do normal. Com base na doutrina espírita, poderíamos classificar a Experiência de Quase-Morte
como uma espécie de desdobramento perispirítico
involuntário.
Portanto, devemos acolher com carinho os conhecimentos adquiridos pelas pessoas que passaram pela
EQM, tirando uma lição para nós como se tivéssemos
passado pela mesma situação. Pensar desta forma é
um incentivo à reforma íntima, ao pensamento co-
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lhes comunicar que eles não deveriam
se preocupar, que eu estava bem e que
preferia ficar onde estava. Todo meu
foco naquele momento estava em Deus,
eu apenas queria ficar com Deus.
Meu cirurgião e meu anestesista me
confirmaram, após minha EQM, que foi
exatamente isso o que ocorreu. Havia
seis deles na sala, eles estavam inicialmente num estado de pânico e me trouxeram de volta ao meu corpo com um
coração artificial.
John Wintek, sargento da reserva do
Exército de Kentucky, declarado clinicamente morto depois que sua aorta teve
uma ruptura, em 1981
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A análise deste e de outros relatos podem
ser encontrados no livro Experiências de
Quase-Morte e o dom da vida, de Phillip L.
Berman, Editora Nova Era.
Por não se tratar de um livro espírita, recomendamos ao leitor um estudo criterioso
com base na Codificação.
letivo, a saber olhar o mundo à nossa volta com mais
amor e carinho. O individualismo não leva a lugar algum, pelo contrário. Como vamos dar continuidade
ao nosso processo evolutivo se somos individualistas
e utilitaristas?
A experiência pela qual essas pessoas passaram é
maravilhosa, o sentimento que tiveram não pode ser
expresso na linguagem humana. Algum motivo houve para que isto ocorresse com elas. Não podemos todos ter a mesma experiência, mas podemos tomá-la
como universal, pois uma mensagem enviada ao semelhante também serve para nós. Estamos todos no
mesmo caminho e o aprendizado de um deve ser passado para o outro. Quando idealizamos o bem para
quem amamos, devemos estendê-lo para aqueles por
quem não temos simpatia. Devemos ter a coragem de
reconhecer um erro, de perdoar, de praticar a caridade, de termos fé em um Deus maravilhoso e supremo que nos ama mesmo diante de todos os nossos defeitos. Devemos repassar esse amor para todas as pessoas, sem discriminação de cor ou raça.
As boas leituras engrandecem nosso intelecto e
nosso espírito. O aprendizado se faz neste plano e no
espiritual. Às vezes nos tornamos repetitivos, mas isto
é proposital para o acompanhamento idealista que temos ou que tentamos colocar em prática mesmo nos
momentos em que os obstáculos parecem maiores do
que nossas forças. Mas apenas parecem, pois, dentro de nós, temos uma força maior do que qualquer
problema, temos fé e coragem para seguirmos em
nossa caminhada.

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