M`Barka

Transcrição

M`Barka
Les Terres
M’Barka
Por trás dos tradicionais muros
ocre e de uma fachada
quase austera, esconde-se
um oásis de bem-estar
e de extremo bom gosto
Tamesloht, Marrocos
texto e fotos de Maria João Pavão Serra
Amizmiz, Takerkoust, Tamesloht, Amizmiz, Takerkoust, Tamesloht , Amizmiz, Takerkoust, Tamesloht
... Vou soletrando estas palavras numa espécie de mantra ao ritmo do balanço do jipe.
Amizmiz, Takerkoust, Tamesloht poderiam ser facilmente palavras mágicas sibiladas por alguma
sacerdotisa, para afastar as brumas do lago e a ilha de Avalon surgir com todo o seu esplendor;
ou, talvez, palavras encantadas proferidas por Arwen, a Estrela Vespertina, a Elfa apaixonada
por Aragorn para proteger o seu amado em alguma demanda bélica no Senhor dos Anéis.
Amizmiz, Takerkoust, Tamesloht… vou repetindo estas palavras com vontade de chegar num
abrir e fechar de olhos, como que por encantamento. Amizmiz, Takerkoust, Tamesloht, continuo a
soletrar este mantra mágico ansiosa por chegar ao meu destino.
Não. Não estou num qualquer campo verde de uma qualquer bucólica paisagem inglesa algures a caminho
de Glastonbury. E as palavras muito menos são celtas. Estou, antes, numa terra de nenhures, numa pista de
cascalho onde o nada e a imensidão são o cenário em tons monótonos de castanho. E as palavras que teimo
em soletrar são berberes, antigas certamente como a noite do tempo.
Marrakech fica apenas a meia hora hora de distância, mas encontro-me numa paisagem lunar, o que não
deixa de ser mágico, atravessando um percurso do deserto de Agafay, onde não existem dunas de areia mas
colinas de pedras, cascalho sem fim.
Amizmiz, Takerkoust, Tamesloht, são apenas nomes de terreolas berberes, parte de um
trajecto que me conduz ao meu destino.
Depois de três semanas intensas de um corre corre por Marrocos, esta é a minha etapa
final onde, finalmente, vou poisar as malas por uns dias e simplesmente não fazer nada.
Ao longe, bem ao longe, como que numa imagem pouco focada, vejo as montanhas do Atlas com os seus
cumes pintados de branco. A neve começa a cair lá nas alturas para embelezar ainda mais este cenário aqui
em baixo.
A pista leva-me a um lugar quase imperceptível, integrado na natureza, inspirado nas construções berberes
e articulado como uma aldeia tradicional. Por trás dos tradicionais muros ocre e de uma fachada quase
austera, esconde-se um oásis de bem-estar e de extremo bom gosto: Les Terres M’Barka!
Dá-me a sensação de ter chegado a um Shangri-la marroquino, a um paraíso escondido no deserto de
Agafay.
À minha espera tinha Souheil Hmittou, Director Geral do hotel. Um marroquino de Casablanca que estudou
em França, trabalhou na Ernst & Young em Paris, viajou muito durante 6 anos pelo mundo e resolveu, depois,
mudar de vida largando tudo e indo trabalhar numa ONG na Índia. Até que, há dois anos, conheceu este
lugar, apaixonou-se perdidamente por ele e por aqui ficou.
A história do ínicio do Les Terres M’Barka também foi um amor à primeira vista, um encantamento que
ainda parece persistir no ar. Tudo começou há 7 anos quando o proprietário, Jerôme de Brouwer, visitou a
propriedade e se apaixonou por ela comprando-a na hora. Foram 15 hectares de impulso. Posteriormente
pensou que nada dela conseguiria fazer, pois por mais engenheiros que trouxesse, nenhum lhe detectava no
solo a abençoada água para que tudo pudesse funcionar. Todos eles davam como veredicto final uma “no
man’s land”.
Dá-me a sensação de ter
chegado a um Shangri-la
marroquino, a um paraíso
escondido no deser to de
Agafay
Mas a sua paixão levou-o a chamar um feiticeiro de uma aldeia próxima que, sem grandes
artefactos, lhe indicou o mapa da mina, o local onde encontraria a água: um rio subterrâneo
que vem de longe das montanhas do Atlas foi descoberto, tal como num dos contos das mil e
uma noites. E, assim, com a descoberta deste rio, tudo aconteceu e a terra pôde florescer e a
propriedade surgiu, assim como o seu nome: Les Terres M’Barka... As Terras Abençoadas!
Se por um lado gerir uma propriedade deste tamanho era novidade, Jérôme de Brouwer já tinha experiência
no ramo de hotelaria e restauração. Jérôme era e continua a ser o dono do famoso bristô ‘Le Perroquet’, em
Bruxelas e a sua paixão por Marrocos tinha-o levado anos antes a ser um dos primeiros estrangeiros a ter um
riad na medina de Marrakech como hotel.
E, assim, aos poucos, o Les Terres M’Barka foi acontecendo. Primeiro surgiu uma “quinta” e só há pouco mais
de dois anos é que funciona o hotel.
Um pátio central dá acesso à estrutura principal do hotel onde tudo converge, como se de um riad campestre
se tratasse. No meio um pátio de terra, palmeiras e bananeiras sobem em direcção ao céu azul. Ao seu redor
funcionam todas as áereas sociais do hotel.
Deparo-me com uma estátua de Ganesh, um mini altar a este deus hindu. São restos da Índia que
Souheil traz na alma e que o faz realizar diariamente o puja, um simples ritual religioso como forma
de gratidão oferecendo símbolos às divindades, como o simples acender de uma vela ou uma
oferta de incenso, flores ou frutos.
A casa de jantar é em tons quentes de vermelho, e traz-me lembranças – vá-se lá saber porquê – de um
pavilhão chinês de uma China longínqua: talvez pela cor vermelha que inunda a divisão ou pelas imensas
lanternas penduradas que descem do tecto em fios...
A área de refeições estende-se para o exterior num amplo terraço que dá para os jardins da propriedade. Os
meus olhos extasiados enchem-se de verde e de luz.
Voltando para o interior, para lá da casa-de-jantar, um bar, cozy, com lareia acessa e música jazz a tocar
suavemente, que se prolonga para uma sala de estar meio biblioteca.
No outro canto do pátio central encontra-se o Spa, com um hammam tradicional (que fez as minhas delícias
no final da tarde), com as salas de massagens, um jacuzzi exterior e muitos e deliciosos tratamentos à base
de produtos e aromas marroquinos.
Todo o hotel é decorado com alma: vê-se que os objectos têm história, muitos deles vindos de cantos
longínquos.
Os quartos dispersam-se no seguimento do edíficio central, como um pequeno vilarejo berbere. O Les Terres
M’Barka tem 15 suites e tive oportunidade de espreitar algumas.Todas diferentes, todas amplas, deliciosas,
numa verdadeira combinação de simplicidade rural com luxo subtil.
A minha suite é deliciosa e imensa. A cama é protegida por um mosquiteiro e coberta por uma manta de seda
sabra, a lareira está acessa pois, apesar de um dia de céu imaculadamente azul, as temperaturas mal o sol
desapareça descem drasticamente.
A casa de banho tem uma banheira imensa de cimento afagado cinzento antracite e amenities da Nectarome
com um inusitado e delicioso aroma a verbena.
Tem 4 terraços, um deles enorme, com espreguiçadeiras, bancos, uma daybed e, principalmente, uma vista
de tirar o fôlego.
Para lá do restaurante fica o jardim, um jardim imenso, relvado e florido, numa paisagem tão idílica quanto
relaxante.
A piscina, rodeada de oliveiras e roseiras e outras tantas árvores e flores, foi desenhada como uma khetara
(antigos tanques de irrigação). A pool house é uma continuação da piscina, ou vice-versa, e formam um
conjunto delicioso, uma sala aberta para a água, onde o nosso olhar se estende tranquilamente até longe,
às montanhas.
A paisagem respira verde, sob um céu azul, emoldurada ao fundo pelas montanhas do Atlas que se começam
a vestir de branco. O silêncio majestoso das montanhas com os picos nevados contrasta com a alegria das
crianças (este hotel é muito escolhido por famílias).
À tarde vou conhecer a Ferme (a Quinta), num pequeno passeio através da propriedade. O jardim relvado
continua, transformando-se depois num terreno onde limoeiros, romãzeiras, tamareiras, laranjeiras e roseiras
se misturam com um sem fim de oliveiras (duas mil) num verdadeiro jardim do Éden.
Foi aqui, na dita Ferme, que tudo começou. Actualmente a casa
rasteira e comprida transformou-se em três apartamentos que
chamam de lofts. Todos eles deliciosamente acolhedores, com
uma decoração de em nada se colocar um defeito e com vontade
de ficar pelo menos uma noite em cada um, experimentado cada
quarto, dormindo em todas as camas, tomando banhos em todas
as banheiras. Não havia uma história de encantar assim, de uma
Actualmente a casa rasteira
e comprida transformou-se
em três apar tamentos que
chamam de lofts
menina que se perdeu na floresta e foi dar a uma casa de 3 ursinhos? Delírio ou não foi essa a sensação com que
fiquei! Aliás, poderia estender também o desejo para as suites do hotel.
Enquanto a arquitectura do edifício do hotel é tipicamente local, como um vilarejo berbere, a Ferme poderia ser
algures no campo francês, talvez pelas janelas azuis rodeadas de bouganvíleas, as cadeiras brancas a convidarem
para o sol, ou apenas delírio de quem está apaixonada pelo local e a viajar na imaginação...
Apesar de quem se hospeda nos loft poder utilizar todos os serviços do hotel, dispõem na parte de trás da casa
de uma piscina, idílica, a condizer com o ambiente. Na parte da frente a vista é para o picadeiro. Para lá ficam
as cavalariças... Aliás, animais não faltam por aqui. Por alguma razão se chama Ferme! ovelhas, cavalos, burros,
ponéis, patos, gansos, cabras, borregos, vacas, bois, codornizes, pavões, gatos. Tudo se encontra por aqui. Um
local que enche as medidas às crianças devido ao contacto tão próximo com tantos animais.
E, além destes, há os cães, que me trazem saudades dos meus. São cinco os cães do Les Terres M’ Barka:
Marius, um labrador com ar de velho centurião, cansado de guerra, ciúmento e cioso das atenções e certamente
da sua posição de 1º na quinta, bonacheirão e gordo que nem um imenso urso de peluche; Chico, de olhar doce,
um boémio, um poeta-vagabundo que sobe aos muros e fica simplesmente a olhar para a paisagem com ar de
quem está pensando na sua amada; Lola e Maggie, as cadelas que passam o dia numa vida santa, suspirando e
espreguiçando-se ao sol; e Radar, a vedeta que não conheci, pois tinha ido com Jerôme até ao deserto. Um cãoactor que teve o seu papel no filme “Príncipe da Pérsia”, rodado aqui em Marrocos. Soube que também uma vaca
actuou noutro filme, em “Alexandre, o Grande”, já que houve cenas rodadas em Tamesloth... mas teve um papel mais
secundário que Radar, segundo brincam por aqui.
E foi também aqui, na Ferme, que conheci a doce Fatiha, a pessoa que mais me cativou no Les Terres
M’Barka, com semblante de uma África mais longínqua, para lá do Sahara, banhada pelas águas azuis do
Índico. Mas não: Fatiha é marrakchia e, indiscutivelmente, o “espírito da quinta”. É ela que cuida da atenção
dos hóspedes. E foi com ela que, num dos finais de tarde, tive uma deliciosa aula de cozinha marroquina e
aprendi como fazer um delicioso Tagine de Poulet au Citron Confit. Divino!
Depois de conhecer toda a propriedade fiquei para redescobri-la melhor, aos poucos,
desfrutando de cada momento, parecendo-me ainda mais paradisíaca, depois
de tanta agitação. Calma, paz, silêncio... só o barulho da natureza misturado de
quando em vez com o ladrar dos cães, o zurrar os burros, o relinchar dos cavalos, o
balir dos borregos e das cabras e, às vezes, se a brisa nos conceder a benesse, o canto
do chamamento dos muezzins para a oração.
O Les Terres M’Barka é sem dúvida um lugar para se estar a dois. Para se fazer passeios a
cavalo ao amanhecer; um picnic numa falésia sob a imensidão do deserto de Agafay; um
banho na piscina ao luar; desfrutar das noites de lareira acessa debaixo de uma cama de
mosquiteiro, onde os lençóis estão decorados com petálas e botões de rosas desenhando
caminhos sensuais; onde apetece fazer uma sesta entre as oliveiras que se misturam
com as tamareiras, as roseiras, as laranjeiras, tudo num doce e inebriante casamento
da natureza; onde se ouvem poemas rumi, com palavras inebriantes e apaixonadas,
transformados por Deepak Chopra em música declamada numa sala de jantar pintada da
cor da paixão; onde apetece descobrir todos os recantos deliciosos, apetecíveis para o
romance; onde as juras de amor estão eternizadas em detalhes como num quadro onde,
ao lado de duas andorinhas, se lê: “je vous aimerai toujours”...
No entanto parecem ser as famílias com crianças que se apoderaram deste Shangri-la
marroquino.
Apaixonados de todo o mundo descubram o Les Terres M’Barka!
Route d’Amizmiz, Kilometre 20 Marrakech · www.lesterresmbarka.com · A TAP tem voos directos Lisboa-Marrakech
O Les Terres M’Barka fica a cerca de 25 minutos do aeroporto. O hotel faz o transfer

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