Rick, o nerd detetive

Transcrição

Rick, o nerd detetive
Guia para pais
Rick, o nerd
detetive
Walcyr Carrasco
ilustrações de Jaca
série
todos
juntos
Os colegas acham Rick muito nerd: suas roupas são estranhas, ele usa óculos de aros
grossos e não para de estudar. Resultado: o garoto está sempre ouvindo piadas dos colegas de
escola, nunca é convidado para as festas de aniversário e, nos jogos de futebol, ninguém passa
a bola para ele. Mas, quando a escola vence um importante campeonato, e a taça é roubada,
Rick utiliza suas habilidades para descobrir quem é o culpado, surpreendendo a todos.
Este guia em forma de perguntas e respostas foi elaborado pela professora Teresa Cristina
Rego, doutora em Psicologia da Educação pela USP e pós-doutora na mesma área pela Universidad Autónoma de Madrid. Além de dar aulas nos cursos de graduação e pós-graduação
da Faculdade de Educação da USP, Teresa pesquisa as complexas relações entre família, escola e sociedade e sua influência na formação das crianças. Ela responde perguntas que
vão ajudar os pais a lidar com assuntos delicados como estigma, preconceito e violência no
dia a dia da escola.
O que caracteriza um nerd? Ser assim é prejudicial?
A história de Rick possibilita um exame crítico
do que é ser nerd, termo geralmente associado àquele aluno que só estuda, não faz outra coisa da vida.
O personagem, embora seja chamado de nerd pelos
colegas, é uma criança apaixonada pelo saber, curiosa, interessada, capaz de ter ideias e de defendê-las.
Quando desafiado a produzir algo para ser utilizado
em uma situação real, demonstra ter se apropriado
do conhecimento e estar motivado a investigar, arriscar e estabelecer o máximo de relações possíveis
entre os conteúdos (aprendidos dentro e fora da
escola) e a realidade.
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Assim, não há nada de errado em uma criança
gostar bastante dos estudos e se esmerar para tirar
notas acima da média, desde que isso não se torne
um fator de ansiedade para ela nem prejudique seu
interesse por outras esferas da vida.
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Se meu filho não gosta ou não tem facilidade para
praticar esportes, devo insistir para que ele os pratique mesmo assim?
Ainda é muito cedo para a criança ter opiniões definitivas sobre suas preferências e aptidões. Ao longo da
infância e da puberdade, o ideal é oferecer oportunidades
para que ela conheça diferentes modalidades esportivas.
O exercício físico traz benefícios para a saúde e é
uma importante ferramenta de socialização, já que a
maior parte dos esportes envolve o trabalho em equipe. Sempre que possível, estimule seu filho a participar
desse tipo de prática sem, contudo, obrigá-lo. Fique
atento às manifestações de interesse dele por determinada atividade física, para que possa fazer uma atividade esportiva da qual goste.
Caso a criança reclame, tente escutar suas queixas e oferecer alternativas de esportes nos quais ela
possa se sentir mais à vontade. O importante é que
ela tenha a oportunidade de explorar todo o seu potencial para desenvolver diferentes capacidades no
plano motor.
Lembre-se de que os pais são modelos importantes
nessa fase. Se você adota um estilo de vida sedentário,
seus filhos tenderão a ter a mesma atitude. Se você pratica esportes, é mais provável que seus filhos realizem
esse tipo de atividade com envolvimento e satisfação.
Um dos meus filhos vai muito bem na escola, o
outro tem mais dificuldade. Como lidar com essa
diferença?
Conviver com os distintos ritmos e singularidades
dos filhos é um dos grandes desafios colocados para
quem educa. Evite fazer comparações. Com certeza, se
analisados separadamente, cada um de seus filhos tem
qualidades que merecem ser valorizadas. As eventuais
dificuldades poderão ser superadas se eles puderem
contar com a sua compreensão e o seu apoio, sem se
sentirem julgados por falhas ou fracassos.
Para atingir um bom desempenho, é importante
que as crianças sintam que podem ter o auxílio da família para realizar as tarefas escolares que devem ser
feitas em casa. Os adultos devem ajudar organizando
um lugar adequado para o estudo, providenciando material para pesquisas, fornecendo pistas e orientações
sempre que a criança sentir necessidade e, principalmente, demonstrando interesse pelos desafios do dia
a dia dela na escola.
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Meu filho fica bastante tempo na internet e adora
jogos eletrônicos. Devo controlar o tempo dele no
computador e no videogame?
Desconfio que meu filho é deixado de lado pelos colegas de escola porque ele é muito estudioso, e ele deixou escapar que foi apelidado de nerd. Isso é normal?
A tecnologia pode ajudar no aprendizado, já que
oferece uma série de ferramentas e caminhos para
acessar informações. É também uma boa fonte de
entretenimento, assim como os jogos eletrônicos. Na
sociedade contemporânea, o universo virtual desempenha um papel crucial na aproximação das pessoas.
Paradoxalmente, esse mesmo universo também
distancia as pessoas, porque a comunicação passa a
ser mediada por instrumentos tecnológicos que oferecem uma espécie de “proteção”. Ou seja: é possível
ter centenas de amigos virtuais, mas não ter ninguém
que venha fazer uma visita em nossa casa ou nos
acompanhar em um passeio.
A informática possibilitou alterações profundas
no nosso comportamento e no modo de nos relacionarmos. A dispersão geográfica de nossos amigos e a
proximidade com estranhos mudaram a maneira de
nos comunicarmos.
Tudo isso é muito interessante, mas a criança
ainda não tem condições de regular sozinha o tempo
que passa nesse universo fascinante. Cabe aos pais
definir esse parâmetro. Não existe uma regra exata para
determinar qual é o tempo ideal, mas você deve prestar
atenção para que essas não sejam as únicas atividades
de seu filho. Ajude-o a reservar tempo para estudar, conviver com a família, praticar atividades físicas e brincar
com outras crianças – no mundo real.
Se essa situação é recorrente, pode ser definida
como bullying. Esse termo em inglês é utilizado para
designar a prática de atos agressivos entre estudantes.
Traduzido ao pé da letra, seria algo como “intimidação”.
Ainda não existe termo equivalente em português, mas
alguns psicólogos e estudiosos do assunto o denominam “violência moral”, “vitimização” ou “maus-tratos
entre pares”, uma vez que se trata de um fenômeno de
grupo em que a agressão acontece entre iguais – no
caso, estudantes.
O aluno que sofre bullying é perseguido, humilhado, difamado e intimidado e, não raro, também sofre
agressões físicas. Essas atitudes são intencionais e repetidas e podem ser praticadas por um ou mais alunos
contra outro. Portanto, não se tratam de brincadeiras
ou desentendimentos passageiros e eventuais.
Recentemente, especialistas identificaram um
novo fenômeno que denominam de cyberbullying ,
agressão praticada com ajuda da tecnologia, por meio
de blogs, redes sociais e mensagens de celular, por
exemplo. É quase uma extensão do que dizem e fazem na escola, mas com o agravante de que a vítima
não está cara a cara com o agressor, o que aumenta a
crueldade dos comentários e das ameaças e também
o sentimento de humilhação, porque a plateia passa
a ser muito maior.
Em qualquer uma de suas formas, o bullying pode
provocar uma série de problemas nas suas vítimas,
como angústia, baixa autoestima, estresse, isolamento,
fobia ou evasão escolar e, em casos extremos, depressão,
atitudes de autoflagelação ou até suicídio.
Por isso, é preciso ficar bastante atento para perceber quando a brincadeira está passando dos limites.
Para ter certeza do que está acontecendo, é fundamental observar o comportamento de seu filho, assim como
acompanhar de perto sua vida escolar.
Muitas vezes, as crianças que sofrem provocações na escola não deixam transparecer para os pais
o que está ocorrendo. Por isso, fique atento se seu filho começar a inventar desculpas para não ir à escola
ou apresentar reações como falta de apetite e enjoo,
principalmente se for na hora de ir para aula. Irritação,
isolamento e explosões de raiva também são sinais de
que algo de errado está acontecendo com ele.
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Como posso ajudar meu filho quando ele é vítima
de bullying por tirar boas notas?
Meu filho costuma “pegar no pé” de alguns colegas da escola, inventando apelidos e fazendo gozações. Devo me preocupar?
Primeiramente, é preciso saber se ele, de fato, é
vítima de perseguições sistemáticas na escola. Converse
com seu filho para descobrir o que está acontecendo de
verdade. Incentive-o a descrever em que circunstâncias
ele vem sendo “perseguido” ou agredido pelos colegas,
e se isso está ou não associado ao desempenho escolar.
Se suas suspeitas se confirmarem, procure a escola,
exponha o problema e peça ajuda. É muito importante
que a família e a escola atuem de modo integrado.
Demonstre ao seu filho que você está do lado dele,
mas também tente relativizar o problema, ajudando-o a
entender por que isso está acontecendo. Será que, por ter
boas notas, os professores não o tratam de modo privilegiado? As pessoas que o agridem são aquelas que tiram
notas baixas? Será que, sem querer, ele não está colaborando para esse estado de coisas, fazendo com que
os colegas se sintam inferiorizados pelo seu bom desempenho? Como ele se comporta diante dos colegas
que apresentam dificuldade em entender as matérias
ensinadas na escola? Ele se dispõe a ajudá-los? É importante que ele perceba que suas atitudes também podem
colaborar para incitar reações negativas dos colegas.
Esta é uma boa oportunidade para você refletir sobre suas próprias expectativas em relação ao desempenho escolar de seu filho. Será que o nível de exigência e
cobrança não está alto demais? Será que a supervalorização dos estudos não está gerando uma espécie de comportamento obsessivo pelos estudos por parte dele?
De qualquer forma, mostre que é comum as pessoas
se sentirem intimidadas quando encontram alguém
diferente e, muitas vezes, esse sentimento pode se
transformar em agressão. O que seu filho pode fazer é
encontrar outras crianças que gostem da companhia
dele, como Rick fez na história. As dificuldades são mais
fáceis de superar quando nos cercamos de pessoas com
as quais podemos nos sentir queridos e aceitos por aquilo que somos.
Se, mesmo assim, o problema persistir, considere a
possibilidade de procurar a ajuda especializada de um psicólogo para auxiliar seu filho a enfrentar essa situação.
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A criança sempre deve receber orientação quando
tiver qualquer atitude agressiva. Você precisa mostrar
ao seu filho que não é correto magoar os sentimentos
dos outros nem expor suas fragilidades para se sentir
melhor consigo mesmo. Se essas atitudes ocorrem de
forma sistemática, ele está cometendo bullying e merece atenção especial.
Estudos mostram que os autores dessa prática podem
adotar comportamentos de risco, atitudes delinquentes
ou criminosas e acabar se tornando adultos violentos.
Existem diversas razões que tornam agressora uma
criança: problemas familiares, preconceito, medo do
desconhecido, sentimento de inferioridade, falta de
orientação por parte dos pais ou até, em casos mais graves, ter algum distúrbio emocional ou psiquiátrico que
a impeça de se comover com o sofrimento dos outros.
Converse com seu filho para tentar descobrir os
motivos que o fazem agir dessa maneira. Seja franco e
aberto a ouvir o que ele tem a dizer, deixando claro que
a atitude dele é inadequada.
Procure a ajuda da escola e, se sentir necessidade, de
um psicólogo que possa auxiliá-lo a compreender quais
são as razões desse comportamento e a se desvencilhar
desse tipo de atitude.
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