Influencia dos exercicios de estabilizacao central sobre a oscilacao

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Influencia dos exercicios de estabilizacao central sobre a oscilacao
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d e
ISSN 16778510
Br as i l e i r a
Fisiologia
do
de
exercício
F i s i o l o g i a
Brazilian Journal of Exercise Physiology
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
d o
e x e rc í c i o
13 anos
ESPORTE
•
•
•
•
Percentual de carga máxima dinâmica e treinamento de força
Flexibilidade no desenvolvimento da força muscular
Exercício físico e alterações hormonais
Cortisol e exercício
v o lu m e 1 0 - n ú me r o 03 • Ju l/Se t 2 011
NUTRIÇÃO
• Nutrição e suplementação no futebol
• Taxa de sudorese e antropometria de nadadoras
FISIOLOGIA
• Centro de pressão corporal após estabilização central
• Maturação esquelética versus idade cronológica no futebol
• Idade cronológica e idade motora de alunos do ensino
fundamental
CARDIOLOGIA
• Exercício resistido em indivíduos com cardiomiopatia
chagásica
www.atlanticaeditora.com.br
v o l u m e 1 0 - n ú m e r o 03 • Jul/Set 2011
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Fisiologia
do
exercício
Brazilian Journal of Exercise Physiology
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
Índice
volume 10 número 3 - julho/setembro 2011
Editorial
Incentivar a pesquisa em doping, Pedro Paulo da Silva Soares ..................................................................................... 123
ARTIGOS ORIGINAIS
Diferenças entre idade cronológica e idade motora geral para alunos do 1º ano
do ensino fundamental, Leonardo Nobre Ghiggino, Flavio Fernandes Bahiana,
Paulo Cesar Nunes-Junior...................................................................................................................................................124
Influência da flexibilidade no desenvolvimento da força muscular, Thiago Pereira,
Gilmar Weber Senna, Sidney Cavalcante da Silva................................................................................................................132
Influência dos exercícios de estabilização central sobre a oscilação corporal
de indivíduos com lombalgia crônica, Adriana Regina de Andrade, Bruna Karla Grano,
Francieli Wilhelms, Juliana Gaffuri, Marcela Medeiros de Almeida Costa,
Marina Pegoraro Baroni, Alberito Rodrigo de Carvalho, Gladson Ricardo Flor Bertolini....................................................137
Repetição máxima de movimentos resistidos com pesos livres em indivíduos
com cardiomiopatia Chagásica, Luciano Sá Teles de Almeida Santos, Thiêgo Andrade,
Vinicius Afonso Gomes, Thiago Bouças, Jefferson Petto......................................................................................................142
Utilização do percentual da carga máxima dinâmica e velocidade de movimento durante
o treinamento de força, Alexandre Correia Rocha, Dilmar Pinto Guedes Junior................................................................147
Taxa de sudorese e perfil antropométrico de atletas do gênero feminino
de uma equipe de natação, Lidiane Yurie Pereira, Roberta Amancio Ruiz Costa,
Tamara Eugenia Stulbach, Luciana da Silva Garcia..............................................................................................................151
Comportamento da frequência cardíaca em corredores de esteira ergométrica
na presença e na ausência de música, Karina Stela de Sena, Marcus Vinicius Grecco........................................................156
Maturação esquelética versus idade cronológica nas categorias de base do futebol,
Marcos Maurício Serra, Angélica Castilho Alonso, Julio Stancati, Júlia Maria D’Andréia Greve .......................................162
REVISÕES
Nutrição, hidratação e suplementação para jogadores de futebol,
Luiza Antoniazzi Gomes de Gouveia, Adriana Passanha......................................................................................................166
O exercício físico modulando alterações hormonais em vias metabólicas dos tecidos
musculoesquelético, hepático e hipotalâmico relacionado ao metabolismo energético
e consumo alimentar, Fábio Medici Lorenzeti, Waldecir Paula Lima, Ricardo Zanuto,
Luiz Carlos Carnevali Junior, Daniela Fojo Seixas Chaves, Antônio Herbert Lancha Junior................................................172
Cortisol e exercício: efeitos, secreção e metabolismo, Juliano Ribeiro Bueno,
Cibele Marli Cação Paiva Gouvêa........................................................................................................................................178
NORMAS DE PUBLICAÇÃO.............................................................................................................................. 181
EVENTOS................................................................................................................................................................ 183
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
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Editorial
Incentivar a pesquisa em doping
Pedro Paulo da Silva Soares, Editor Associado
O Brasil sediará muito em breve eventos esportivos de
grande relevância e repercussão mundial, sendo os mais
importantes a copa do Mundo de Futebol em 2014 e as
Olimpíadas em 2016. A RBFEx não poderia deixar de aproveitar estas oportunidades para fazer uma provocação a nossos
colaboradores no sentido de incentivá-los a produzirem artigos
científicos com um viés aplicado ao esporte, sem, contudo,
esquecer os estudos mais básicos sobre mecanismos fisiológicos. Identificamos uma enorme janela de oportunidades
para avançar no conhecimento da fisiologia do exercício nas
diversas modalidades esportivas que se apresentam.
Dentre os inúmeros assuntos que são potencialmente instigantes, o doping é um dos que mais atrai nossa curiosidade
seja pelo impacto que causa na mídia seja pela dúvidas levantadas sobre o assunto. Contudo, trabalhos científicos sobre o
assunto ainda são relativamente escassos. Embora os efeitos
nocivos desta prática sejam bem divulgados, a investigação e
experimentação no tema ainda se encontram bastante restritos. A utilização de substâncias proibidas confere uma fraude
ou uma violação das regras do “jogo limpo” e justo entre os
competidores, e este fato já está mais que bem estabelecido.
Entretanto, não conhecemos a fundo as repercussões do uso
prolongado de estimulantes ou de esteroides anabolizantes, por
exemplo. Em parte, porque os usuários e aqueles que os suprem
com substâncias proibidas dificilmente revelam publicamente
seu uso ou divulgam seus dados pessoais que poderiam revelar
as alterações provocadas pelo doping. Entendemos que uma
grande limitação para os estudos nessa área se refere a questões
éticas em pesquisa científica. Alguns estudos com experimentação animal nos permitiram avançar em alguns aspectos, mas
em relação a dados com humanos ainda temos pouco material
para além dos estudos com uma abordagem clínica.
Atualmente não somente atletas façam uso de doping,
mas também não-atletas ou praticantes de atividades físicas
recreativas, principalmente a musculação. Estas pessoas
parecem empregar estas estratégias para obter ganhos de
desempenho, com o objetivo estético através de aumentos
de massa muscular no caso dos esteroides anabolizantes ou
mesmo para ganharem maior motivação em treinar através
dos estimulantes como as anfetaminas.
A RBFEx se manifesta fortemente contrária ao uso de
substâncias dopantes e estimula seus colaboradores e leitores
a comprovarem cientificamente que é possível o aumento de
desempenho através do conhecimento preservando o “jogo
limpo”. Cabe a comunidade da fisiologia do exercício e demais participantes da área da saúde apresentarem elementos
a sociedade que permitam a construção de uma base de
conhecimento sobre o assunto esclarecendo a população e a
comunidade do esporte sobre os efeitos do uso do doping.
O Brasil possui uma larga experiência no controle de
doping que já é realizado em nosso território através das federações e confederações esportivas nacionais e internacionais
que promovem controles de doping tanto em competição
como fora-de-competição há vários anos através de profissionais altamente qualificados. Quase sempre ouvimos de várias
pessoas, atletas, treinadores ou mesmo de leigos, que a ciência
está sempre correndo atrás dos fraudadores que investem
quantias volumosas no desenvolvimento de substâncias não
detectáveis em nossos métodos laboratoriais. Isso em parte
é verdade uma vez que o desenvolvimento de drogas que
podem ser usadas para o doping foram desenvolvidas com
fins terapêuticos e não esportivos. Aqueles que o fazem com
este objetivo já estamparam as páginas policiais num passado recente e os desportistas que se tiveram êxitos esportivos
através da fraude foram desmoralizados e perderam suas
medalhas. Alguns sofreram consequências mais graves com
danos a saúde e risco à vida. Ainda assim as modificações no
tecido muscular, sistema endócrino, nervoso e cardiovascular
causadas pelo uso indevido e mesmo com o uso terapêutico
ainda demandam investimento dos cientistas.
A RBFEx repudia a prática de doping e estimula a comunidade cientifica a apresentar novos trabalhos nesta área,
não com o intuito de incentivar esta prática, mas sim o que
conhecermos os potenciais riscos do doping e as repercussões
sobre a saúde e, apresentar evidências que comprovem que
temos opções na área da fisiologia do exercício para a promoção da saúde e para o desempenho esportivo recreativo e em
alto nível sem a necessidade do uso do doping.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
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Artigo original
Diferenças entre idade cronológica e idade motora
geral para alunos do 1º ano do ensino fundamental
Difference between motor age and chronological age
in 1st grade children
Leonardo Nobre Ghiggino*, Flavio Fernandes Bahiana*, Paulo Cesar Nunes-Junior, Ft. Esp.**
*Professor de Educação Física, **Pós-Graduado em Anatomia Humana e Biomecânica, Especialista em Osteopatia
Resumo
Idade cronológica é o número de dias, meses e anos vividos do
nascimento ao presente momento. Idade motora geral é um procedimento aritmético que objetiva pontuar e avaliar os resultados da
Escala de Desenvolvimento Motor. A idade motora geral relaciona-se
com o nível de desenvolvimento motor do indivíduo. Este desenvolvimento motor classifica-se como um processo de mudanças no
nível de funcionamento do indivíduo, em que a maior capacidade
de controlar movimentos é adquirida ao longo do tempo. A aquisição desta habilidade é individualizada, pois os indivíduos possuem
níveis de maturação diferentes, implicando em diferenciações de
desenvolvimento motor em crianças do mesmo ano letivo escolar.
Este trabalho objetivou investigar a diferença entre a idade motora
geral e a idade cronológica em 19 crianças do 1º ano letivo do
Ensino Fundamental, sendo sete do sexo masculino e 12 do sexo
feminino, visando proporcionar ao professor de Educação Física o
acompanhamento da evolução da maturação dos alunos de forma
individualizada. Este acompanhamento possibilitou a prescrição
de atividades e exercícios adequados ao desenvolvimento motor de
cada aluno. Para a realização da pesquisa, foram feitas uma bateria de
testes que avaliaram o desenvolvimento motor de crianças com idade
cronológica entre dois e onze anos, testando os seguintes parâmetros:
motricidade fina e global, organização espacial e temporal, equilíbrio
e esquema corporal. Chegamos à conclusão que as crianças avaliadas
obtiveram uma idade motora geral inferior à idade cronológica, o
que evidenciou atrasos no desenvolvimento motor.
Abstract
Chronological age is the number of days, months and years
lived from birth to present. General Motor Age is an arithmetic
procedure that aims to score and evaluate the results of Motor
Development Scale. The General Motor Age is related to the level
of Motor Development of the individual. The Motor Development
is classified as a process of change in level of functioning, where
the greater ability to control movements is acquired over time.
The acquisition of this skill is individual, because individuals have
different levels of ripeness, resulting in the differentiation of motor
development in children from the same school year. This study
aimed to investigate the difference between the Motor Age General
and chronological age in 19 children of the 1st grade children, 7
males and 12 females, to provide the physical education teacher to
monitor the evolution of maturation students individually. This
monitoring will allow the prescription of activities and exercises
suitable for the motor development of each student. For the survey,
was made a battery of tests that assessed the motor development of
children with chronological ages between 2 and 11 years, testing
the following parameters: fine motor, global spatial and temporal
organization, balance and body schema. It is concluded that the
children studied had a General Motor Age less than chronological
age, which showed delays in motor development.
Key-words: chronological age, motor age, motor development,
children, 1st grade.
Palavras-chave: idade cronológica, idade motora geral,
desenvolvimento motor, crianças, 1º ano do ensino fundamental.
Recebido em 30 de maio de 2011; aceito em 8 de agosto de 2011.
Endereço para correspondência: Paulo Cesar Nunes Junior, Rua Mearim, 307/301, 20561-070 Rio de Janeiro RJ, Tel: (21) 25784036, E-mail: [email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
Introdução
O processo de envelhecimento é uma realidade biológica
que possui sua própria dinâmica [1]. No entanto existem
fatores que podem ser controlados, tais como alimentação,
exposição a riscos à saúde, fumo ou álcool, e a prática de exercícios físicos. Esses fatores são determinantes para a aptidão
física e desenvolvimento motor.
Idade cronológica é o número de dias, meses e anos vividos desde o momento do nascimento de um indivíduo até
o presente momento de sua vida. É o método mais popular
de se classificar desenvolvimento, mas frequentemente o
menos acurado. A idade cronológica fornece uma estimativa
aproximada do nível de desenvolvimento do indivíduo, que
pode ser mais precisamente determinado por outros meios,
tais como idade óssea, dental, sexual e motora [2].
Idade motora geral está ligada ao nível de desenvolvimento
motor. É o resultado de um procedimento aritmético para
pontuar e avaliar os resultados dos testes propostos por Rosa
Neto na Escala de Desenvolvimento Motor [3].
Desenvolvimento motor é um processo de mudanças
no nível de funcionamento de um indivíduo, em que uma
maior capacidade de controlar movimentos é adquirida ao
longo do tempo [4].
Embora relacionado à idade cronológica, o desenvolvimento motor não está sujeito a esta. A aquisição de habilidades é individualizada devido a características únicas de cada
indivíduo, tais como fatores ambientais, incentivo e instrução
adequada. Desta forma pode-se afirmar que cada aluno do
mesmo ano letivo terá um histórico diferenciado, o que implicará em diferenciações no seu desenvolvimento motor. Na
criança, a motricidade e a inteligência se desenvolvem como
resultado da interação de fatores genéticos, culturais, ambientais e psicossociais. Um dos modos de avaliar o resultado da
ação conjunta desses fatores é determinar o perfil psicomotor
da criança, que indica a qualidade do desenvolvimento psicomotor, especificando as habilidades motoras mais e menos
elaboradas adquiridas até o momento [5].
A idade pré-escolar é uma fase de aquisição e aperfeiçoamento das habilidades motoras, formas de movimento e primeiras combinações de movimento, que possibilitam a criança
dominar seu corpo em diferentes posturas e locomover-se pelo
meio ambiente de variadas formas. A base para habilidades
motoras globais e finas é estabelecida neste período, sendo
que as crianças aumentam consideravelmente seu repertório
motor e adquirem os modelos de coordenação do movimento
essenciais para posteriores performances habilidosas [6-10].
Conhecer os níveis de desenvolvimento motor de crianças
é fundamental para a estruturação de programas motores
que propiciem a elaboração de práticas mais efetivas que
levem crianças à construção de padrões de movimento mais
avançados e que garantam a participação em atividades de
movimento durante toda a vida [11]. Assim é necessário que
professores de Educação Física promovam atividades baseadas
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na capacidade dos alunos, evitando generalizar exercícios para
o mesmo ano letivo.
A Educação Física escolar adquire um papel fundamental
promovendo estímulos que ajudarão a levar ao desenvolvimento motor e a melhora da autoestima [2].
Estudos sobre a motricidade infantil são realizados com
o objetivo de avaliar, analisar e estudar o desenvolvimento
de crianças em diferentes etapas evolutivas. Rosa Neto [3]
desenvolveu a Escala de Desenvolvimento Motor, que consiste
numa bateria de testes que visam mensurar o desenvolvimento
motor de crianças de dois a onze anos de idade cronológica.
Essa bateria de testes tem como resultado a obtenção de uma
idade motora geral. Os parâmetros testados são: motricidade
fina, motricidade global, equilíbrio, esquema corporal, organização espacial, organização temporal e lateralidade.
Motricidade fina é o conjunto de atividades de movimento
de segmentos do corpo humano em sincronia com a visão
a fim de se obter uma resposta precisa para uma tarefa [3].
Motricidade global é o controle de grandes movimentos dinâmicos de caráter tátil, sinestésico, labiríntico, visual, espacial
e temporal [12]. Equilíbrio é base primordial de toda ação
diferenciada dos segmentos corporais [3]. Esquema corporal é
a capacidade de o indivíduo discernir as partes do seu próprio
corpo em associação ao mundo exterior [13]. Organização
espacial trata da nossa habilidade em avaliar a relação do nosso
corpo, como um todo, com o ambiente que nos cerca [14].
A Organização temporal diz respeito à ordem de fenômenos
e ao ritmo com que ocorrem [3].
O presente trabalho objetivou investigar a diferença entre
idade motora geral e idade cronológica em 19 crianças do
1º ano letivo do Ensino Fundamental, sendo sete do sexo
masculino e 12 do sexo feminino. O estudo do crescimento
e desenvolvimento humano, adicionados à avaliação motora
na Educação Física escolar possibilita estabelecer objetivos e
conteúdos coerentes para cada indivíduo, assim o profissional
de Educação Física pode acompanhar a evolução e maturação
individual, prescrevendo atividades e exercícios adequados ao
desenvolvimento motor de cada aluno.
Materiais e métodos
O experimento foi conduzido no dia 07 de maio de 2010
em 19 crianças nascidas entre 01/06/2003 e 31/08/2004,
sendo sete do sexo masculino e 12 do sexo feminino. Foi
necessária autorização dos diretores da escola, consentimento
dos responsáveis pedagógicos e das crianças respectivamente.
As crianças incluídas neste estudo precisavam estar matriculadas no primeiro ano do ensino fundamental e realizar,
no mínimo, uma aula de Educação Física escolar por semana.
Estas crianças permaneceram com suas roupas de aula, tirando
apenas as vestimentas que atrapalhavam o movimento.
A Escala de Desenvolvimento Motor (EDM) avalia motricidade fina, motricidade global, equilíbrio, esquema corporal,
organização espacial, organização temporal e lateralidade [3].
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
Esse último parâmetro não foi avaliado neste estudo, pois
não apresenta relevância para obtenção da Idade Motora
Geral (IMG).
Os testes foram aplicados em uma única sessão de duas
horas e quarenta minutos. Foi feita uma explicação, para
os alunos avaliados, acerca dos testes a serem realizados. As
atividades tiveram um enfoque na ludicidade e os avaliadores
desempenharam um papel motivacional, procurando incentivar a criança na execução dos exercícios.
Foram montadas estações para a aplicação da bateria de
testes. Esta tática foi utilizada para facilitar a organização do
espaço e agilizar o tempo de aplicação das atividades. Com
isso, foi possível desenvolver um circuito em que até três
crianças e avaliadores participavam do processo de coleta.
Cada prova da bateria marca uma nova etapa maturativa,
que vai dos dois anos até os onze anos. Para o presente estudo,
foram realizados os testes a partir da etapa de quatro anos.
Se houvesse uma resposta positiva da criança para a atividade
relativa ao teste de quatro anos, esta criança estaria habilitada
a tentar o teste correspondente à idade de cinco anos, e assim
sucessivamente. No caso de uma resposta negativa ao teste de
quatro anos foi realizado o teste de três anos.
Motricidade fina
Com 12 cubos em desordem, o avaliador tomava três e
formava uma ponte, com dois cubos na base e um no topo.
Pedia-se para a criança fazer algo semelhante. Caso ela não
entendesse o que deveria fazer, podia-se repetir a construção.
Foi considerado acerto se a ponte continuasse montada, ainda
que não bem equilibrada.
O teste inicial, que é relativo à idade motora fina de quatro
anos, é colocar um pedaço de linha de 15 cm, número 60,
por uma agulha de costura (1 cm x 1 mm). Inicialmente a
criança deve estar com as mãos separadas a uma distância
de 10 cm e com a linha passada pelos dedos em 2 cm. Cada
criança teve nove segundos para realizar esta atividade e direito
a duas tentativas.
No teste seguinte, que corresponde à idade de cinco anos,
o avaliador demonstra ao avaliado como fazer um nó simples
em um lápis. Em seguida, a criança tem que realizar o mesmo
nó no dedo do avaliador. Para este teste, utilizou-se um par
de cordões de sapato de 45 cm. Considerou-se qualquer tipo
de nó, contanto que não se desmanchasse.
No teste relativo à idade de seis anos a criança deveria
traçar, com um lápis e com a mão dominante, uma linha
contínua da entrada até a saída de um labirinto, tendo que,
logo em seguida, iniciar outro labirinto. Após trinta segundos
de repouso, a criança teria que realizar a mesma atividade com
a mão não-dominante. Cada criança só poderia ultrapassar
os limites do labirinto mais de duas vezes com a mão dominante e três com a não-dominante. Se houvesse um número
de erros maior do que estes estipulados, considerava-se uma
falha na execução. Também foram considerados erros levan-
tar mais de uma vez o lápis do papel e ultrapassar o tempo
limite para execução da atividade. O tempo de duração para
cada atividade foi de 1 minuto e 20 segundos para a mão
dominante e 1 minuto e 25 segundos para a não-dominante.
Foram realizadas duas tentativas para cada mão. Nenhuma
das crianças conseguiu ultrapassar essa etapa.
Motricidade global
O teste correspondente à idade de quatro anos foi a realização de sete ou oito saltos, sucessivamente, sobre o mesmo
lugar, com as pernas levemente flexionadas. Possíveis erros
cometidos pelos alunos foram movimentos não simultâneos
de ambas as pernas ou cair sobre os calcanhares. Cada criança
teve direito a duas tentativas.
O teste relativo à idade de cinco anos foi saltar, sem tomar
impulso, uma altura de 20 cm, determinada por um elástico
amarrado em dois apoios. Cada criança teve direito a três
tentativas, sendo que duas deveriam ser positivas. Os erros
considerados foram tocar no elástico durante o salto, cair no
chão mesmo que não tivesse encostado no elástico e tocar no
chão com as mãos.
O teste da idade de seis anos foi, com os olhos abertos,
a criança deveria caminhar uma distância de dois metros
sobre uma linha reta, posicionando a ponta de um pé no
calcanhar do outro pé. Foram permitidas três tentativas para
cada criança. Os possíveis erros eram afastar-se da linha,
balançar ou afastar um pé do outro e executar a atividade de
maneira incorreta.
No teste relativo à idade de sete anos a criança deveria,
com os olhos abertos, saltar em um pé só ao longo da uma
linha de cinco metros, com a outra perna flexionada em 90º e
com os braços relaxados ao lado do corpo. Após 30 segundos
de descanso, realizou-se a mesma atividade, mas saltando com
a outra perna. Não foi estipulado um tempo determinado.
Cada criança teve direito a duas tentativas com cada perna. Os
erros considerados foram distanciar-se da linha por mais de
50 cm, tocar no chão com a outra perna e balançar os braços.
No teste correspondente a idade de oito anos a criança deveria saltar uma altura de 40 cm, determinada por um elástico,
sem impulso. Cada criança teve direito a três chances, sendo
que duas deveriam ser positivas. Os erros considerados foram
tocar no elástico durante o salto, cair no chão mesmo que não
tivesse encostado no elástico e tocar no chão com as mãos.
No teste da idade de nove a criança deveria realizar um salto
no ar, flexionando os joelhos para tocar os calcanhares com as
mãos. O único erro era não tocar os calcanhares com as mãos.
No teste correspondente à idade de dez anos a criança
deveria estar com um joelho flexionado em ângulo reto e os
braços relaxados ao longo do corpo. A 25 centímetros do pé
em repouso posicionamos no solo uma caixa de fósforos. A
criança então deveria levá-la impulsionando-a com o pé a um
ponto situado a cinco metros de distância. Os possíveis erros
eram tocar o chão com o outro pé, exagerar o movimento
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dos braços, ultrapassar com a caixa em mais de cinquenta
centímetros o ponto fixado e falhar no deslocamento da caixa.
Foram dadas três tentativas. Nenhuma das crianças conseguiu
passar por esse teste.
Equilíbrio
O teste de equilíbrio correspondente à idade de quatro anos
foi à realização de uma flexão de tronco em ângulo reto durante
o tempo de 10 segundos. Para realizar este exercício, a criança
deveria estar com os olhos abertos, os pés juntos e as mãos
apoiadas nas costas. Foram concedidas duas tentativas. Os erros
considerados foram realizar movimentos com os pés, flexionar
os joelhos e ficar na posição desejada por menos de 10 segundos.
O segundo teste foi relativo à idade de cinco anos. Neste,
a criança deveria manter-se em equilíbrio nas pontas dos pés
durante 10 segundos. Durante este exercício, os olhos deveriam estar abertos, os pés estar juntos e os braços juntos ao
corpo, com as palmas das mãos encostando nas coxas. Cada
criança teve direito a três tentativas.
No teste de equilíbrio para a idade motora de seis anos,
as crianças deveriam manter-se de pé sobre a perna direita
enquanto que o joelho esquerdo estaria flexionado em ângulo
reto, com a coxa paralela à direita e em leve abdução, com os
braços ao longo do corpo. Após um intervalo de 30 segundos, o
exercício foi repetido, mas havendo a troca de pernas. O tempo
mínimo para que cada criança se mantivesse em equilíbrio com
cada perna foi de 10 segundos. Os erros considerados foram
baixar mais de três vezes a perna levantada, saltar ou balançar,
tocar com o outro pé no chão e elevar-se sobre a ponta do pé.
O próximo teste foi para a idade de sete anos. Neste
a criança deveria se posicionar de cócoras, com os braços
estendidos lateralmente, com os olhos fechados e com os
pés e calcanhares unidos. Foram permitidas três tentativas e
o tempo mínimo que uma criança deveria manter-se nesta
posição foi de 10 segundos. Os erros foram cair ou deslizar,
sentar-se sobre os calcanhares, tocar no chão com as mãos e
baixar o braço três vezes.
O último teste de equilíbrio correspondeu à idade de oito
anos. Neste, a criança deveria manter-se em equilíbrio com
o tronco flexionado realizando a flexão plantar. As crianças
deveriam estar com os olhos abertos, as mãos nas costas,
o tronco em ângulo reto e os calcanhares elevados. Foram
concedidas duas tentativas e o equilíbrio deveria ser mantido
por pelo menos 10 segundos. Os erros considerados foram
flexionar as pernas por duas vezes ou mais, sair do lugar e tocar
o chão com os calcanhares. Nenhuma das crianças conseguiu
ultrapassar esse teste.
Esquema corporal
Para avaliar o esquema corporal correspondente as idades
de dois a cinco anos, em relação à capacidade de controle do
próprio corpo, foram feitos dois blocos de testes. As atividades
127
foram feitas a partir de exercícios de imitação de gestos simples.
O primeiro bloco teve dez exercícios de movimentos simples
com as mãos e o segundo teve mais dez atividades de movimento simples com os braços. Nestes testes o avaliador demonstra
um gesto simples e a criança teria que repetir este gesto.
No primeiro bloco foram feitos os seguintes testes:
1.O avaliador mostra as mãos abertas com as palmas voltadas
para frente, de forma que a criança possa vê-las. As mãos
devem estar distantes 40 cm uma da outra e 20 cm do
peito, aproximadamente.
2.Repetir o exercício anterior, mas com as mãos fechadas.
3.Demonstrar a mão esquerda aberta e a mão direita fechada.
4.Posicionar as mãos inversamente ao exercício anterior. Mão
esquerda fechada e mão direita aberta.
5.Mão esquerda na vertical e mão direita na horizontal. A
mão direita deve tocar a mão esquerda em um ângulo reto.
6.Colocar as mãos em posição inversa a do exercício anterior. A mão esquerda deve estar na horizontal fazendo um
ângulo reto com a mão direita que estará na vertical.
7.Mão esquerda em posição plana, com o polegar na altura
do esterno. A mão e o braço direitos devem estar inclinados.
Deve haver uma distância aproximada de 30 cm entre as
mãos. A mão direita deve estar por cima da mão esquerda.
8.Posição inversa das mãos. Mão direita em posição plana,
com o polegar na altura do esterno. Mão e braço esquerdos inclinados. Mão esquerda por cima da mão direita e,
aproximadamente 30 cm de distância entre as mãos.
9.O avaliador posiciona as mãos paralelas. Mão esquerda
diante da mão direita a uma distância de 20 cm. A mão
esquerda deve estar por cima da direita, com um desvio
de 10 cm. Todas as medidas são valores aproximados.
10. Posicionamento das mãos inverso ao da atividade anterior. Mão direita diante da mão esquerda a uma distância
aproximada de 20 cm. Mão esquerda por cima da direita
com um desvio aproximado de 10 cm.
No segundo bloco, correspondente aos testes de movimentos simples dos braços, foram feitas as seguintes atividades:
1.O examinador estende o braço esquerdo, horizontalmente
para a esquerda, com a mão aberta.
2.Faz-se o mesmo movimento de extensão do braço, mas
agora com o direito. A mão deve estar aberta.
3.Levantar o braço esquerdo.
4.Levantar o braço direito.
5.Levantar o braço esquerdo e estender o direito.
6.Realizar movimento inverso. Braço direito levantado e
braço esquerdo estendido.
7.Extensão do braço esquerdo para frente e levantar o direito.
8.Inversão das posições. Braço direito estendido e braço
esquerdo levantado.
9.Os braços devem estar estendidos de forma oblíqua. Com
a mão esquerda no alto e a mão direita abaixo. O tronco
deve estar ereto.
128
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
10. Posicionamento inverso ao teste anterior. Os braços
permanecem estendidos de forma obliqua, com a mão
esquerda abaixo e a direita no alto.
A pontuação foi feita a partir do número de testes que a
criança acertou. Como são vinte testes, a pontuação máxima
possível foi de vinte pontos. A pontuação média para crianças
com idade de três anos foi de 7 a 12 acertos; para crianças de
quatro anos, de 13 a 16 acertos; e para as crianças de cinco
anos, de 17 a 20 acertos.
Caso a criança acertasse todos os movimentos anteriores
ela era submetida ao teste a seguir.
Para avaliar o esquema corporal das crianças com possíveis
idades motoras entre seis e 11 anos, os alunos receberam uma
folha quadriculada, 25 cm x 18 cm, com quadrados de um
centímetro de lado e um lápis número dois. A folha ficou
posicionada em sentido horizontal. As crianças tiveram que
marcar com um risco cada quadrado da folha, o mais rápido
que pudessem durante um minuto. Durante o teste, o avaliador
observava se a criança apresentava dificuldades na coordenação
motora, na instabilidade, na ansiedade e nas sincinesias.
Com relação à pontuação, adotou-se como critério crianças com seis anos, pontuação média entre 57 e 73 traços; sete
anos, de 74 a 90 traços; oito anos, 91 a 99 traços; nove anos,
de 100 a 106 traços; dez anos, entre 107 e 114 traços; e com
11 anos, 115 ou mais traços.
Organização espacial
Para avaliar a capacidade de organização espacial de
crianças com idade de quatro anos pegou-se dois palitos com
tamanhos diferentes, um de 5 cm e outro de 6 cm, e estes
foram posicionados paralelamente em cima de uma mesa,
separados 2,5 cm. A criança deveria adivinhar qual palito
era o maior. Foram três tentativas, em todas houve a troca
de posição dos palitos. Se houvesse falha em uma dessas três
tentativas, eram feitas mais três, sempre trocando o posicionamento dos palitos. O teste era positivo quando a criança
acertava três de três tentativas ou cinco de seis.
O próximo teste foi relativo à idade de cinco anos. Neste
colocou-se um retângulo de 14 cm x 10 cm, feito de cartolina, em sentido longitudinal diante da criança. Um pouco
mais próximo da criança colocou-se duas metades de outro
retângulo, cortados na diagonal, com as hipotenusas voltadas
para o exterior e separados alguns centímetros. A criança
deveria pegar as duas metades e formar algo parecido com o
retângulo que estava à frente dela. O teste teve duração de um
minuto e, durante este tempo, foi concedido três tentativas.
A criança teve direito a repetir a atividade duas vezes, caso
não obtivesse sucesso na primeira.
No teste correspondente a idade de seis anos, a criança
deveria conseguir identificar, nela mesmo, a noção de direita
e esquerda. O avaliador ordenava três comandos, como exemplo “levantar o braço direito”. Apenas o examinado deveria
executar os movimentos. O teste só seria considerado positivo
se os três comandos fossem feitos de forma correta.
O teste para a idade de sete anos tem como objetivo a
execução de movimentos a partir de uma determinada ordem.
A sequência de movimentos foi: 1) mão direita na orelha
esquerda; 2) mão esquerda na orelha direita; 3) Mão direita
no olho esquerdo; 4) mão esquerda no olho direito; 5) mão
direita no olho direito; 6) mão esquerda no olho esquerdo. A
criança obterá êxito no teste se obtiver cinco acertos.
O teste relativo à organização espacial para as crianças de
oito anos tem como objetivo avaliar o reconhecimento de
direita e esquerda da criança em uma pessoa que está de frente
para ela, no caso o avaliador. Na primeira atividade a criança
deveria tocar a mão direita do avaliador, na segunda, tocar
a mão esquerda e na terceira o avaliador segurou, de forma
visível, uma bola em uma das mãos e a criança deveria dizer
em qual mão a bola se encontrava. A criança passaria no teste
se acertasse as três. Nenhuma criança ultrapassou esse teste.
Organização temporal
O teste para idade de quatro anos consistia na repetição
de duas frases. O avaliador dizia à criança: “Você vai repetir”:
a. “Vamos comprar pastéis para mamãe”.
b.“O João gosta de jogar bola”.
Havendo dúvida o avaliador deveria animá-la e deveria
estimular a repetição de outras frases.
O próximo teste relativo à idade de cinco anos consistia
na repetição de frases mais complexas.
a. “João vai fazer um castelo de areia”.
b.“Luís se diverte jogando futebol com seu irmão”.
Foram considerados erros para ambos os testes a falha na
repetição exata das frases.
Para avaliar a organização temporal das crianças com possíveis idades motoras entre 6 e 11 anos, foi feita uma bateria
de quatro blocos de testes.
No primeiro bloco - estruturas temporais, o avaliador e
a criança ficaram sentados frente a frente, com um lápis na
mão de cada um. O examinador descrevia o que ia fazer para
a criança: “Você vai escutar diferentes sons e, com o lápis, irá
repeti-los. Escute com atenção”.
O avaliador prosseguia realizando um tempo curto, de
cerca de um quarto de segundo, representado por 0 0, feito
com o lápis sobre a mesa. Seguido por um tempo longo, de
cerca de um segundo, representado por 0 0 0, feito com um
lápis sobre a mesa.
Nesse momento o avaliador poderia corrigir a criança para
que ficasse claro que havia entendimento da etapa. Feito isso
o examinador prosseguia para a primeira estrutura da prova,
e a criança deveria repeti-lo. O examinador golpeava outras
estruturas e enquanto a criança repetisse corretamente o
avaliador continuava a prova.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
As estruturas são definidas no quadro I.
Organização temporal
Ensaio 01
00
Teste 01
000
Teste 02
00 00
Teste 03
0 00
Teste 04
0 0 0
Teste 05
0000
Teste 06
0 000
Teste 07
00 0 0
Teste 08
00 00 00
Teste 09
00 000
Teste 10
0 0 0 0
– Estruturas temporais
Ensaio 02
0 0
Teste 11
0 0000
Teste 12
00000
Teste 13
00 0 00
Teste 14
0000 00
Teste 15
0 0 0 00
Teste 16
00 000 0
Teste 17
0 0000 00
Teste 18
00 0 0 00
Teste 19
000 0 00 0
Teste 20
0 0 000 00
Os movimentos do lápis, os golpes, não eram vistos pelas
crianças. Posicionavam-se anteparos para bloquear a visão
do que o avaliador realizava. Parava-se em definitivo caso a
criança cometesse três erros consecutivos.
O próximo bloco dizia respeito à simbolização de estruturas espaciais. O avaliador dizia: “Agora você vai desenhar
círculos no papel, o mais rápido que conseguir, de acordo
com as figuras que mostrarei”. Nesse momento dava-se uma
folha em branco para a criança poder desenhar.
As estruturas foram impressas em papel de alta gramatura,
e recortadas para formar cartões. Foram apresentadas às crianças por cinco segundos antes de serem guardadas novamente.
As estruturassão definidas no quadro 2.
Organização temporal 2 – Simbolização
Ensaio 01
00
Ensaio 02
Teste 01
0 00
Teste 06
Teste 02
00 00
Teste 07
Teste 03
000 0
Teste 08
Teste 04
0 000
Teste 09
Teste 05
000 00
Teste 10
de estruturas
0 0
0 0 0
00 0 00
0 00 0
0 0 00
00 00 0
129
A não confirmação da normalidade levou à aplicação do
teste de Wilcoxon para efetividade comparação das variáveis,
a = 0,05 [16], cujo formato foi:
H0: Idade Cronológica = Idade Motora Geral
H1: Idade Cronológica ≠ Idade Motora Geral
Resultado e discussão
Como demonstrado na Tabela I, a média da idade cronológica dos participantes foi de 74,66 meses (s = 4,0 meses).
O coeficiente de variação foi de 5,39%, indicando a concentração dos resultados individuais ao redor do valor médio,
não havendo grande variabilidade no grupo. Em razão disto,
aquela variável não interferiu no desempenho dos avaliados,
portanto possíveis discrepâncias podem ser explicadas, mesmo
que parcialmente, por condicionantes genéticos, cuja influência se deu no domínio fisiológico ou motor.
Tabela I - Média, desvio padrão, mediana e coeficiente de variação
dos parâmetros analisados.
Idade cronológica
Motricidade fina
Motricidade global
Equilíbrio
Esquema corporal
Organização espacial
Organização temporal
Idade motora geral
Média
Desvio
Padrão
Mediana
74,66
42,95
68,84
56,84
58,11
4,0
10,1
16,4
14,9
14,6
75,50
36,00
60,00
48,00
48,00
Coeficiente de
variação
(%)
5,39
23,41
23,85
26,18
25,07
65,05
13,5
60,00
20,68
73,26
9,7
72,00
13,26
60,84
8,4
58,00
13,83
Os valores: média, desvio padrão e mediana estão expressos em
Após a realização dos ensaios o avaliador corrigiu o examinando, certificando-se de que todos os testes foram compreendidos corretamente. Foi considerado erro se a criança
falhasse duas estruturas consecutivas. Nenhuma das crianças
conseguiu prosseguir além desse teste.
O teste de lateralidade não foi executado por não entrar
na média do cálculo da Idade Motora Geral.
O tratamento estatístico se concentrou na caracterização
do grupo, através das estimativas de medidas de localização
(média e mediana) e dispersão (desvio-padrão e coeficiente de
variação), tal como proposto por Costa Neto [15]. A análise
inferencial se deu pela avaliação da normalidade, através do
teste de Shapiro-Wilk, a = 0,05, segundo o desenho [16]:
H0: A variável i não se aproximou da Distribuição Normal
H1: A variável i se aproximou da Distribuição Normal
" i Î I = {Idade Cronológica, Idade Motora Geral}
meses.
Os parâmetros idade cronológica, organização temporal
e idade motora geral apresentaram coeficiente de variação
(%) de 5,39; 13,26 e 13,83 determinando o uso da média e
desvio-padrão para descrição dos resultados.
A mediana no teste de Motricidade Fina dos participantes
foi de 36,00 meses, com coeficiente de variação de 23,41%.
Esse resultado indica grande dispersão nos valores individuais, como visto na Tabela I. As medianas encontradas no
presente estudo foram inferiores aos valores das medianas
para o parâmetro Motricidade Fina encontrados num estudo
realizado por Rosa Neto [3]. Isso demonstrou que as crianças
do presente estudo configuram um grupo que se apresenta
bastante atrasado nesse parâmetro.
A mediana no teste de Motricidade Global dos participantes foi de 60,00 meses, com coeficiente de variação de 23,85%.
Esses resultados fogem dos dados encontrados por Rosa Neto
130
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
[3]. A média foi de 68,84 meses (s=16,4 meses), similar à
encontrada por Silveira et al. [17], média de 71,59 meses (s=
16,95 meses), mas difere dos valores encontrados por Rosa
Neto [3], que obteve média de 85,67 meses (s= 9,47 meses).
A mediana no teste de Equilíbrio dos participantes foi de
48,00 meses, com coeficiente de variação de 26,18%. Esse
resultado difere dos encontrados por Rosa Neto [3], que
obteve mediana de 63,00 meses, e coeficiente de variação de
14,95%. A média no presente estudo foi de 56,84 meses (s =
14,9), valor inferior aos encontrados tanto por Silveira et al.
[17] e Rosa Neto [3], que foram 69,53 (s = 20,42) e 83,20
(s = 9,12) meses respectivamente. Por volta dos 5 e 6 anos de
idade a criança passa por instabilidades no desempenho de
tarefas de equilíbrio [4]. Além disso, podem não ter vivenciado
experiências motoras suficientes que permitissem a realização
das tarefas de equilíbrio com sucesso. As oportunidades que a
criança tem para explorar o ambiente e suas próprias potencialidades geram experiências, que podem afetar a aquisição
e o aprimoramento de habilidades motoras [2].
A mediana no teste de Esquema Corporal dos participantes foi de 48,00 meses, com coeficiente de variação de
25,07%. Esse valor apresenta-se 12 meses inferior ao obtido
por Rosa Neto [3]. A média de 58,11 meses (s = 14,6 meses)
mostrou-se 6 meses inferior aos dados obtidos por Silveira et
al. [17] e 9 meses inferior aos de Rosa Neto [3].
A mediana no teste de Organização Espacial dos participantes foi de 60,00 meses, com coeficiente de variação de
20,68%. Esse valor apresenta-se inferior ao obtido por Rosa
Neto [3] em 24 meses. A média obtida no presente estudo
também se mostrou inferior à obtida por Silveira et al. [17] e
Rosa Neto [3], que foram 71,43 (s=2,85) e 81,33 (s=12,86)
meses respectivamente.
A média no teste de Organização Temporal dos participantes foi de 73,26 meses (s= 9,7 meses). Esse valor é similar ao
encontrado por Rosa Neto [3]: 75,31 meses (s=8,67 meses).
Esses resultados permitem afirmar que o desenvolvimento
da motricidade fina, motricidade global, equilíbrio, esquema
corporal e organização espacial dos participantes se apresentam atrasados em relação à idade cronológica.
A média da idade cronológica foi de 74,66 meses (s = 4,0
meses). A média da idade motora geral foi de 60,84 (s = 8,4
meses). Essa última mostrou-se bastante inferior à obtida por
Rosa Neto [3], 73,81 meses (s = 6,25 meses).
A diferença entre idade cronológica e idade motora geral
foi de 13,81 meses negativos (-13,81 meses), demonstrando
atraso motor generalizado na amostra. Em toda amostra (n
= 19) apenas um indivíduo (5,2%) apresentou-se adiantado,
mas em apenas 1 mês e 15 dias. As variáveis idade cronológica e idade motora geral se apresentaram distantes da
distribuição normal, valor-p = 0,00, portanto a comparação
foi não-paramétrica, através do teste de Wilcoxon, o qual
revelou diferença estatisticamente significativa (p = 0,02). Em
última análise foi possível afirmar que havia distinção entre
as variáveis com 98,00% de certeza.
Crianças com atrasos motores às quais não são dadas
oportunidades de intervenções motoras tendem a evidenciar
atrasos no desenvolvimento mais acentuados com o tempo
[11].
Caetano et al. [4] realizaram estudo com grupo de crianças
em fase pré-escolar com intervalo de 13 meses, e constataram,
em sua primeira avaliação, que o grupo de crianças de 5 anos
e 6 anos não conseguiu realizar a tarefa correspondente à
idade cronológica, obtendo Idades Motoras Gerais (IMG)
inferiores às Idades Cronológicas (IMG = 4 anos e IMG = 5
anos, respectivamente); desta forma, a tarefa correspondente
aos 5 anos só foi solucionada pelas crianças de 6 anos. Já na
segunda avaliação, as crianças de 5 anos realizaram a tarefa
que corresponde a 6 anos, obtendo idade motora superior
à idade cronológica (IMG = 6 anos). Sugerindo que por
volta dos 5 anos de idade, a criança passa por instabilidades
no desempenho de tarefas motoras finas. Estes períodos
de instabilidade do comportamento são característicos do
processo de desenvolvimento, sendo essenciais os momentos
de desorganização para posterior melhora no desempenho
[8,18-20]. Cabe destacar que, nesta idade, as crianças estão
sendo preparadas para a alfabetização com intensas atividades
relacionadas à motricidade fina.
Conclusão
Os resultados obtidos no presente estudo sugerem que o
desenvolvimento da motricidade fina, motricidade global,
equilíbrio, esquema corporal, organização espacial dos indivíduos testados mostram-se abaixo do esperado, consequentemente apresentam um baixo nível de desenvolvimento motor.
Nos anos iniciais da infância ocorrem mudanças substanciais no comportamento motor a cada ano, sendo que
o repertório motor torna-se cada vez mais diversificado à
medida que a idade aumenta. Isto sugere que os testes devem
ser repetidos após um período, para avaliar o desenvolvimento
dos indivíduos estudados. Pois, com o avanço da idade, as
proporções corporais mudam, requerendo reorganização de
todo o sistema, influenciando o desenvolvimento das habilidades motoras e do comportamento motor. Além dos fatores
de crescimento e maturação, a experiência também contribui
no processo de desenvolvimento.
Fatores do ambiente, do indivíduo e da tarefa, mais especificamente, fatores de crescimento e experiências motoras
podem explicar as mudanças no desenvolvimento infantil.
Estas mudanças parecem ser influenciadas pelas diferenças
na estimulação e no encorajamento para explorar seu próprio
corpo e o ambiente, podendo privilegiar mais acentuadamente
um componente da motricidade em detrimento de outro.
A Escala de Desenvolvimento Motor mesmo tendo sido
validada, pode não ser perfeitamente adaptada para crianças
de diferentes culturas e ambientes. Mais especificamente, as
tarefas propostas para cada idade podem não estar refletindo
as mudanças esperadas quanto ao desenvolvimento. Desta
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
forma, sugere-se que as tarefas de cada componente da
motricidade sejam novamente validadas para que se possa
conclusivamente observar a não linearidade do desenvolvimento motor.
Os resultados possibilitam concluir que os componentes
da motricidade apresentam ritmos diferentes de desenvolvimento. A presente avaliação pode favorecer o entendimento
do processo de desenvolvimento motor das crianças, permitindo que os profissionais envolvidos com a educação infantil
consigam avaliar e intervir neste por meio da adequação das
atividades. Assim, sugere-se que novos estudos sejam realizados de forma a avaliar a qualidade das atividades motoras
propostas dentro e fora do ambiente escolar e o seu relacionamento com o desenvolvimento motor.
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
132
Artigo original
Influência da flexibilidade no desenvolvimento
da força muscular
Influence of flexibility in the development of muscular strength
Thiago Pereira*, Gilmar Weber Senna**, Sidney Cavalcante da Silva***
*CEPAC- Universidade Gama Filho (UGF) – RJ, **Escola de Educação Física e Desportos, Universidade Federal do Rio de Janeiro
(EEFD/UFRJ), ***Universidade Católica de Petrópolis (UCP) – RJ, Comitê Olímpico Brasileiro (COB) – RJ
Resumo
Introdução: O objetivo do estudo foi verificar a influência dos
exercícios de alongamento, no desenvolvimento da força quando
realizados antes de exercícios resistidos. Métodos: A amostra foi composta por um grupo de 26 sujeitos do sexo masculino, com idades
entre 17 e 29 anos (21,41 ± 3,09), massa corporal de 73,96 kg (±
8,61 kg) e estatura de 175,10 cm (± 5,65 cm). Foram realizados
teste e reteste de cargas no supino horizontal (SH), para 10RM, em
dias não consecutivos. Depois, em entrada alternada, realizaram-se
dois dias de experimento compostos por uma série de 10RM no SH,
sendo um dia precedido por alongamento (CA) utilizando duas séries
de 30 segundos, com 30 segundos de intervalo entre as mesmas e
o outro não (SA). Resultados: Após a análise estatística por meio do
teste t de Student pareado observamos uma redução significativa (p
< 0,001) no número de repetições máximas na situação CA. Conclusão: Logo, nossos dados nos permitiram concluir que a execução
prévia de duas séries de 30 segundos de um alongamento estático
antes do SH provoca uma redução significativa no desenvolvimento
da força máxima.
Abstract
Introduction: The aim of this study was to verify if exists any
influence of the stretch exercise on strength standard when executed
before strength training. Methods: The sample was composed of a
group of 26 male-subjects, 17 to 29 years old (21.41 ± 3.09), body
mass 73.96 kg (± 8.61 kg) and height 175.10 cm (± 5.65 cm). Tests
and re-tests of load were made on the bench press for 10RM, in
non-consecutive days. After that, in alternative entry, they executed a serie of 10RM on the bench press, a day preceded by stretch
exercises and the other day without. The static stretch exercises
were divided into 2 series of 30 seconds each, with 30 seconds of
interval between them. Results: After statistic analysis through a
t-paired test was observed a significant decrease (p < 0,001) on the
number of repetitions of the bench press, after the static stretch
exercises protocol used on this study. Conclusion: We can conclude
that the static stretch exercises before the strength training on the
bench press cause decrease of the number of maximum repetitions.
Key-words: strength training, flexibility training, bench press.
Palavras-chave: treinamento de força, treinamento de
flexibilidade, supino horizontal.
Recebido em 4 de julho de 2011; aceito em 11 de agosto de 2011.
Endereço para correspondência: Sidney Cavalcante da Silva, Rua Dr. Paulo Herve, 708/201, 25665-132 Petrópolis RJ, E-mail: sidney.
[email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
Introdução
O alongamento estático (AE) é comumente utilizado com
a finalidade de preparar a musculatura para determinado gesto
atlético, assim como forma de aquecimento prévio a realização
de programas de treinamento de força (TF) [1]. O American
College of Sports Medicine [2] recomenda a incorporação de
exercícios de flexibilidade e de TF, dentro de um programa de
treinamento. Contudo, a utilização de exercícios de flexibilidade aliados a uma rotina de TF tem despertado o interesse
da comunidade científica, visto que existem evidências que
apontam uma controvérsia na relação dos exercícios de alongamento quanto à proteção ao músculo, bem como a redução
no risco de lesões [3-6].
Evidências acerca da utilização do AE antecedendo o salto
vertical [7-9] tem demonstrado ocorrer reduções quando
comparados a outros métodos de aquecimento como, por
exemplo, saltos submáximos (aquecimento específico), bem
como a não utilização de aquecimento (grupo controle) [10].
Também foram observados decréscimo da atividade neuromuscular através de eletromiografia [7] mostrando decréscimo
significativo no desenvolvimento do salto vertical quando
precedido pelo AE.
Evetovich et al. [11] não encontraram diferença do sinal
eletromiográfico nas condições pré e pós alongamento, no
entanto, fazendo uso da mecanomiografia, observaram que a
realização AE antes de atividades esportivas gerava uma queda
no desenvolvimento da força devido a uma diminuição na
rigidez músculo tendínea. Provavelmente por este motivo,
também observamos diminuições da performance da força
muscular em estudos com aparelhos isocinéticos e exercícios
de membros inferiores testados a uma repetição máxima
(1RM) [12-14].
Apesar de a literatura ser quase unânime em mostrar uma
relação inversa entre AE e força, o trabalho de Nelson et al.
[15] apresenta uma relação entre a força de endurance e os
exercícios de AE divididos em dois experimentos. Para tanto,
os autores avaliaram a força a 60, 50 e 40% da massa corporal
de cada indivíduo em duas situações diferentes, pré e pósalongamento dos posteriores de coxa, com duração total dos
alongamentos de aproximadamente 15 minutos. Ambos os
experimentos foram realizados por seis dias diferentes, sendo
quatro dias com alongamento. Os resultados obtidos foram de
uma queda de 24% no padrão de força no grupo que realizou
o movimento com 60%, de 28% no grupo que realizou 50%
e 9,8% no grupo que realizou com 40% do peso corporal. A
partir dos dados encontrados os pesquisadores concluíram que
exercícios de AE de alta duração deveriam ser evitados antes
de performances de força de endurance máximas.
Recentemente, Endlich et al. [16] verificaram reduções
significativas do desenvolvimento da força com cargas de
10RM no leg press, quando precedidos por 8 e 16 minutos de
alongamentos. Já para o supino horizontal (SH) esta redução
só foi observada com 16 minutos de alongamentos. Contudo
133
entre a execução dos alongamentos e o teste de 10 RM, os
indivíduos foram submetidos a um aquecimento específico
com carga equivalente a 50% da carga de teste, o que poderia
influenciar positivamente o desenvolvimento da força [17].
Embora a literatura aponte para reduções no desenvolvimento da força muscular, quando precedida por exercícios
de flexibilidade nos membros inferiores, parece haver uma
lacuna quanto à relação destes dois tipos de treinamento
em membros superiores, no que diz respeito ao volume e a
intensidade comumente utilizada em programas de atividades
físicas [18]. Portanto, o presente estudo teve como objetivo
investigar a influência do AE no desenvolvimento da força
muscular no exercício de supino horizontal.
Material e métodos
Sujeitos
Foram estudados 26 sujeitos do sexo masculino com
idades entre 17 e 29 anos (21,41 ± 3,09), massa corporal de
73,96 kg (± 8,61 kg) e estatura de 175,10 cm (± 5,65 cm).
Todos os indivíduos estudados eram fisicamente ativos, e
envolvidos no treinamento de força de membros superiores
por pelo menos 6 meses, treinando três vezes na semana.
Todos foram informados sobre os possíveis desconfortos do
estudo, como, por exemplo, a dor muscular de início tardio,
além dos riscos, não descartados, de lesão na coleta dos dados
do presente estudo, bem como responderam negativamente
aos itens do Questionário PAR-Q [19] e assinaram o Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido, conforme a Resolução
196/96 do Conselho Nacional de Saúde do Brasil.
Teste de 10 Repetições Máximas (10RM)
O teste e o reteste de 10 RM foram realizados em dois dias
não consecutivos. Os testes decorreram no supino horizontal
(SH), que foi executado com pesos livres. A obtenção da carga
de 10RM foi dada a partir de no máximo três tentativas. Para
os indivíduos que ultrapassaram ou ficaram aquém das 10
repetições máximas, foram efetuados os ajustes necessários
de carga para cada sujeito. Visando reduzir a margem de erro
no teste de 10RM, foram adotadas as seguintes estratégias:
a) instruções padronizadas de modo que o avaliado estivesse
ciente de toda a rotina que envolvia a coleta de dados, antes
de sua execução; b) o avaliado foi instruído sobre a técnica de
execução do exercício, para reduzir um efeito do aprendizado
nos escores obtidos; c) o avaliador estava atento quanto à
posição adotada pelo praticante no momento da medida [20].
Após 48 horas da realização dos testes de carga, foram
conduzidos os retestes da carga de 10RM. Uma excelente
reprodutibilidade das cargas foi verificada entre o teste e o
reteste de 10RM, através do coeficiente de correlação intraclasse (r = 0,99). Durante os testes, cada sujeito realizou três
tentativas para o exercício, com cinco minutos de intervalo
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
entre as tentativas. Técnicas padronizadas do exercício foram
demonstradas para cada sujeito antes da execução de cada
teste. Não foram permitidas pausas entre as fases concêntricas e excêntricas nas repetições ou entre as repetições. Para
as repetições serem bem sucedidas, o completo ângulo de
movimento, como é normalmente definido para o exercício,
tiveram de ser completados.
Procedimento experimental
O experimento consistiu em duas visitas realizadas em dias
não consecutivos com entradas alternadas, com intervalo mínimo de quarenta e oito horas entre as mesmas, quando o SH foi
executado em duas condições de pré-exercício, com (CA) e sem
alongamento (SA). Na visita (CA) foi realizado um exercício de
alongamento que consistiu no indivíduo deitado em decúbito
ventral, com os braços e pernas estendidas no prolongamento
do corpo e as palmas das mãos voltadas para o solo. O avaliador
abduz o braço do avaliado segurando-o pela palma das mãos,
buscando a união das mãos até o ponto de desconforto. O
alongamento foi executado de forma estática dividido em duas
séries de 30 segundos, o que, segundo ACSM [3], é o tempo
necessário para o aumento da flexibilidade pelo método estático.
Entre as duas séries foi dado um intervalo de 30 segundos, e após
a realização dos alongamentos foi dado o intervalo de 1 minuto
para execução do SH com a carga de 10RM pré-estipulada. A
visita (SA) foi realizada da seguinte maneira, foram executadas
10RM no SH na condição SA. Os participantes foram instruídos a realizar o número máximo de repetições no SH, assim
como encorajados verbalmente durante o teste. A velocidade de
execução foi controlada pelos próprios indivíduos. O número
de repetições realizadas por cada indivíduo nos diferentes dias
foi anotado com precisão para a análise posterior.
Análise estatística
Para analisarmos a influência do alongamento sobre a força, foi utilizado o teste t de Student pareado, a fim de comparar
o número máximo de repetições realizadas no exercício supino
horizontal precedido ou não pelo alongamento. O nível de
significância adotado foi p < 0,05, para tal foi utilizado o
software Statistica versão 7.0 (Statsoft, Tulsa, USA). Com o
intuito de verificar a reprodutibilidade da carga assim como
maior acuracia da medida de força, foi realizado o coeficiente
de correlação intraclasse através do software SPSS versão 13.0
(SPSS Inc., Chicago, IL).
Resultados
A Figura 1 demonstra os resultados do número de repetições realizadas no SH nas duas distintas condições, SA (10,11
± 0,58) e CA (6,61 ± 1,35). A condição CA resultou em um
número de repetições significativamente inferior a condição
SA (p = 0,001).
Figura 1 - Teste de 10 repetições máximas nas condições sem
alongamento (SA) e com alongamento (CA). Valores expressos com
média ± desvio padrão (DP). Teste t-student pareado. Diferenças
significativas estabelecidas quando p < 0,001.
13
12
11
10
9
Nº Reps
134
8
*
7
6
5
4
3
SA
CA
Discussão
O estudo analisou a influência do AE sobre o desenvolvimento da força máxima no SH. Para tanto, foi utilizado o
tempo de estímulo recomendado pelo American College of
Sports Medicine [2] para aumento da flexibilidade, (2 séries
de 30 segundos). Com base nos dados apresentados podemos
verificar a influência que o AE exerceu sobre o desenvolvimento da força, na amostra estudada, apresentando uma queda
extremamente acentuada com a utilização do alongamento
antes da execução do SH (figura 1). Contudo, quando vamos
à literatura observamos que a maioria dos trabalhos que abordam o tema utiliza tempos de alongamento demasiadamente
elevados, ultrapassando as recomendações supracitadas, e os
dados apresentados em nosso estudo [1].
Endlich et al. [16], utilizando o SH com 10 RM, observaram uma diminuição no número de repetições quando
precedidas por uma sessão de alongamento de 16 minutos.
No entanto, quando a mesma era realizada após uma sessão
de alongamentos inferior a oito minutos isto não foi possível.
Acreditamos que essa resposta pode estar associada ao aquecimento a 50% da carga que os indivíduos eram submetidos
após os 8 minutos de aquecimento, o que pode ter influenciado de forma positiva o desenvolvimento da força. Sendo
assim, esses escores podem ter sofrido alterações pelo aumento
da potência muscular decorrente de um pré-exercício [17].
Ao compararmos os dados desse estudo com o nosso experimento, verificamos uma diferença bem significativa quanto
aos resultados. Contudo, ao observarmos a metodologia
aplicada, verificamos que os autores não realizaram reteste
de carga. Este fato pode ter contribuído para tornar a carga
máxima utilizada no trabalho, em submáxima, o que poderia
explicar a não observância de uma diferença significativa
para o SH realizado após alongamento, mesmo utilizando
um tempo de estímulo 8 vezes maior do que o utilizado em
nosso estudo. No mesmo estudo trabalhando com 10 RM
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
para o exercício extensão de pernas no leg press, os autores
observaram reduções no número de repetições para o exercício
tanto após 8 como para 16 minutos de alongamento, com
reduções de 4,2% e 14,3% respectivamente. Isto nos leva a
crer que independentemente do tipo de exercício executado,
quanto maior o tempo de alongamento maior a prevalência
de diminuição nos níveis de força de maneira aguda.
Arruda et al. [21] também observaram o efeito
deletério da força quando precedida por exercícios de alongamento no supino reto na máquina para 10RM. Como no
estudo de Rhea e Kenn [17], os autores não realizaram reteste
de carga também, o que pode ter causado mudanças na carga utilizada na coleta. Além disso, utilizaram um tempo de
estímulo para os alongamentos em torno de 5 minutos. Isto
reforça mais ainda a hipótese de que quanto maior o tempo
de alongamento antes da execução de um exercício de força
maior a probabilidade de termos um efeito negativo sobre o
desenvolvimento dessa força, mesmo que essa carga não seja
realmente de 10RM.
Nelson et al. [15] avaliaram a força de endurance de
membros inferiores através de um teste de carga submáxima,
a 40, 50 e 60% do peso corporal de cada indivíduo, demonstrando quedas de 9,8%, 28% e 24% respectivamente, após
uma sessão de 15 minutos de alongamento estático. Os dados
apresentados nos levam a crer que quanto mais baixa a sobrecarga utilizada, menor a queda relativa no desenvolvimento da
força de endurance. Tendo em vista que em nosso experimento
utilizamos a intensidade de 10RM, carga recomendada para
o treinamento da força muscular [19], o estudo de Nelson
et al. [15] vem a corroborar com o nosso estudo, mostrando
que quanto mais próximo do máximo se encontra a sobrecarga aplicada maior é o percentual de influência exercido
pelo exercício de alongamento no desenvolvimento da força
muscular de forma aguda.
Após analisarmos diferentes evidências disponíveis na
literatura, observamos haver um número reduzido de estudos que buscaram verificar a influência do alongamento no
desenvolvimento da força muscular com 10RM, já que, na
maioria dos casos, os dados foram obtidos a partir de testes
de 1RM ou em aparelhos isocinéticos. Adicionalmente a este
fato, observamos que o tempo total de alongamento utilizado
varia muito oscilando entre 5 e 20 minutos [11-14].
Cargas mal estabelecidas associadas a longos períodos de
alongamentos podem ser uma combinação que propicie decréscimo no desenvolvimento da força máxima. Na contramão
da literatura observamos que a utilização de carga máxima
bem estabelecida associada a um reduzido tempo total de
alongamento (± 1 min e 30 seg) também pode promover
reduções significativas na força máxima como observado em
nossos dados.
A literatura não é precisa nem consensuosa, mas apresenta
algumas hipóteses para justificar a redução na força máxima, de maneira aguda, em detrimento de exercícios de AE.
Kubo et al. [22] relatam que os exercícios de AE alteram as
135
propriedades viscoelásticas da unidade músculo tendínea, o
que reduz a tensão passiva e causa rigidez na unidade motora,
diminuindo a capacidade do sistema músculo esquelético
de gerar força e tensão. Evetovich et al. [11], apesar de não
terem encontrado em seu estudo diferença significativa no
sinal eletromiográfico após o AE, acreditam que uma maior
habilidade para gerar torque, sem alongamento prévio, está
mais associada a rigidez na unidade músculo-tendão, do que o
total de unidades motoras ativadas. Wilson et al. [23] relatam
que um sistema músculo tendíneo mais maleável devido ao
alongamento, apresentaria diminuição de seu comprimento,
o que levaria a uma ausência de sobrecarga, até que os componentes elásticos do sistema se ajustassem de maneira adequada
possibilitando a transmissão de força. Nesse momento, o
componente contrátil se encontraria em uma posição menos
favorável em termos de produção de força, isso explicaria a
queda na produção de força.
Conclusão
O presente estudo sugere que os exercícios de alongamento
estático podem inibir a capacidade máxima de desenvolver
força a cargas de 10RM, de maneira aguda. Esses resultados
parecem estar em consonância com os de outros estudos
apresentados na literatura.
Além disso, é importante que sejam realizados estudos que
possam verificar a influência da flexibilidade nos exercícios
com cargas de 10RM em séries subsequentes, assim como
experimentos crônicos sobre as respostas do treinamento de
força aliado a uma rotina prévia de alongamentos, fazendo
uso de diferentes tipos de exercícios.
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
137
Artigo original
Influência dos exercícios de estabilização central
sobre a oscilação corporal de indivíduos
com lombalgia crônica
Influence of core stabilization exercises on the body oscillation
of individuals with chronic low back pain
Adriana Regina de Andrade, Ft.*, Bruna Karla Grano, Ft.*, Francieli Wilhelms, Ft.*, Juliana Gaffuri, Ft.*,
Marcela Medeiros de Almeida Costa, Ft.*, Marina Pegoraro Baroni, M.Sc.**, Alberito Rodrigo de Carvalho***,
Gladson Ricardo Flor Bertolini, D.Sc.****
*Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), Campus de Cascavel PR, **Docente da Faculdade de Ciências da Saúde
do Trairí - FACISA/UFRN, ***Especialista, docente do curso de fisioterapia da Unioeste, ****Docente do curso de fisioterapia da
Unioeste
Resumo
Introdução: A lombalgia é caracterizada por dor, rigidez muscular,
fadiga ou desconforto localizado no terço inferior da coluna vertebral. A estabilização central tem como objetivo proporcionar melhor
suporte à coluna lombar e promover maior estabilidade funcional
da região lombo-pélvica, bem como reduzir a incidência de lesões
e desconfortos nessa região. Objetivo: Verificar a eficácia de um
treinamento baseado em exercícios de estabilização central, aplicados
em uma única intervenção sobre a oscilação do centro de gravidade
corporal. Métodos: A amostra foi constituída de 25 indivíduos divididos em grupo controle (n = 11), grupo placebo (n = 7) e grupo
estabilização central (n = 7). Todos foram submetidos à avaliação
baropodométrica. Somente os grupos placebo e estabilização central
foram submetidos aos protocolos de intervenção e avaliação pósintervenção. Resultados: Em todas as variáveis estabilométricas não
houve diferença significativa, em nenhum momento, ao comparar os
valores intragrupo e intergrupo. Conclusão: Uma única intervenção
de exercícios de estabilização central não foi eficaz sobre a alteração
da oscilação do centro de gravidade corporal.
Abstract
Introduction: Low back pain is characterized by pain, muscle
stiffness, fatigue or discomfort located in the lower third of the
spine. The stabilization center aims to provide better support to
lumbar spine and to promote greater functional stability of the
lumbopelvic region as well as to reduce the incidence of injury and
discomfort in this region. Objective: To verify the effectiveness of
a training exercise based on stabilization center, applied in a single
statement on the oscillation of the body center of gravity. Methods:
The sample consisted of 25 subjects divided into control group (n
= 11), placebo (n = 7) and core stabilization group (n = 7). All underwent baropodometric evaluation. Only the central stabilization
and placebo groups were subjected to the intervention protocols and
post-intervention assessment. Results: In all stabilometric variables
there was no significant difference at any time point, when compared
the values intragroup and intergroup. Conclusion: A single exercise
intervention of central stabilization was not effective on the change
of oscillation of body’s center of gravity.
Key-words: low back pain, postural balance, exercise therapy.
Palavras-chave: lombalgia, equilíbrio postural, terapia por
exercício.
Recebido em 18 de julho de 2011; aceito em 12 de agosto de 2011.
Endereço para correspondência: Gladson Ricardo Flor Bertolini, Rua Universitária, 2069, Jd. Universitário, Colegiado de Fisioterapia
da Unioeste, 85819-110 Cascavel PR, Tel: (45) 3220-3157, E-mail: [email protected]
138
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
Introdução
A dor lombar, ou lombalgia pode ser caracterizada por
um quadro de dor, rigidez muscular, fadiga ou desconforto
localizado no terço inferior da coluna vertebral. Além disso,
pode ter surgimento rápido ou lento, com ou sem irradiação
para os membros inferiores e concomitantes restrições da
mobilidade [1,2]. Esse sintoma possui etiologia multifatorial,
podendo estar relacionado às inflamações, às neoplasias, aos
defeitos congênitos, à debilidade muscular, à predisposição
reumática e aos sinais de degeneração da coluna ou dos discos
intervertebrais [3].
As lombalgias atingem altos índices na população em geral
e são responsáveis por elevados custos para os sistemas de
saúde. Em países industrializados, sua prevalência é estimada
em torno de 70% a 85% da população em idade laboral [4-7].
Uma variedade de intervenções fisioterapêuticas tem sido
utilizada no tratamento das lombalgias. Dentre elas estão os
exercícios aeróbios, exercícios de flexão e extensão da coluna,
de inclinação pélvica, alongamentos e, também, os treinamentos de estabilização central [8]. A estabilização central
tem como objetivo proporcionar melhor suporte à coluna
lombar e promover maior estabilidade funcional da região
lombo-pélvica, bem como reduzir a incidência de lesões e
desconfortos nessa região. O complexo lombo-pélvico é descrito na literatura como “centro”, pois é nessa região que fica
posicionado o centro de gravidade corporal e onde a maioria
dos movimentos é iniciada [9-11].
O programa de treinamento de estabilização central ajuda
o indivíduo a obter ganhos de força, controle neuromuscular,
potência e resistência musculares com o objetivo de facilitar
o funcionamento e equilíbrio de toda a cadeia cinética. Com
isso haveria redução dos sintomas consequentes da lombalgia
mecânica, bem como a melhora da qualidade de vida dos
indivíduos [12,13].
Com o intuito de avaliar a redução ou não da oscilação
do centro de pressão (CP) corporal, há alguns anos, vem
sendo utilizada a Estabilometria ou Posturografia Estática. A
estabilometria é um método de análise do equilíbrio postural
por meio da quantificação das oscilações do corpo utilizando
para isso, o deslocamento do CP durante a fase de apoio.
Permite definir de forma objetiva, a posição média do centro
de gravidade corporal e também as pequenas oscilações que
ocorrem ao redor desse centro. Para esse método, geralmente,
podem ser utilizadas as plataformas de força ou a baropodometria [14,15].
Apesar de diversos estudos demonstrarem os efeitos positivos do uso de exercícios de estabilização central na dor lombar,
há escassez de estudos que relatem se tal técnica apresenta
efeitos benéficos, em uma única intervenção, sobre a oscilação
do CP corporal. Além disso, a utilização da baropodometria na
análise do equilíbrio corporal é uma tecnologia recente, existindo poucas pesquisas relatando seu uso, pois é normalmente
utilizada para fins clínicos, explicando assim a inexistência de
artigos acadêmicos sobre o assunto. No entanto, se mostra
uma nova proposta de metodologia para avaliar o equilíbrio
por meio do deslocamento do centro de pressão [16].
Assim, o objetivo do estudo foi verificar a eficácia de um
treinamento baseado em exercícios de estabilização central,
aplicados em uma única intervenção, sobre a oscilação do
centro de gravidade corporal.
Material e métodos
Caracterização do estudo e amostra
Este estudo caracteriza-se como analítico, intervencional,
cruzado, do tipo ensaio clínico não aleatorizado, com avaliador cego. Realizado no Laboratório de Estudo das Lesões e
Recursos Fisioterapêuticos da Universidade Estadual do Oeste
do Paraná – UNIOESTE, campus Cascavel.
A amostra foi composta por 25 indivíduos de ambos os
sexos divididos em três grupos:
• Grupo estabilização central (GEC): constituído por 7
indivíduos;
• Grupo placebo (GP): constituído por 7 indivíduos;
• Grupo controle (GC): constituído por 11 indivíduos.
Para compor os grupos GEC e GP, foram selecionados
os pacientes com sintomas de lombalgia crônica, de origem
mecânica, atendidos pelo Projeto “Escola de Coluna”. Já os
participantes do GC foram convidados verbalmente a participarem do estudo, de forma aleatória, respeitando a média de
idade dos indivíduos dos grupos GEC e GP e que não apresentassem queixa/sintoma de lombalgia. A todos os sujeitos
que aceitaram participar do estudo foi solicitada a assinatura
de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE),
do projeto aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com
Humanos da Unioeste, sob protocolo no 642/2010.
Os grupos foram homogêneos quanto à idade, peso e
altura. Sendo que o perfil do GC demonstrou média de
idade de 41 ± 8,61 anos, peso de 71,23 ± 13,99 kg e altura
de 168,20 ± 8,99 cm. Já os grupos GP e GEC apresentaram
como médias das mesmas variáveis 53,14 ± 14,10 anos, 76,30
± 14,10 kg e 164,43 ± 5,86 cm, respectivamente.
Protocolo de avaliação
Para a avaliação da atividade postural estática, ou seja,
avaliação da oscilação do centro de pressão corporal (em centímetros) foi utilizado o Baropodômetro Footwork Pro AM
Cube® (AM3), o qual é formado por uma plataforma com 4800
sensores ativos em 120 cm. Além disso, verifica as oscilações
ântero-posteriores e látero-laterais do centro de gravidade que
é o principal foco de avaliação do presente estudo [15,17].
Para análise baropodométrica, o participante ficou imóvel
sobre a plataforma, durante 60 segundos, em apoio bipodal,
pés alinhados ao quadril, afastados dez centímetros, sem
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
Todas as avaliações foram realizadas no mesmo dia da
intervenção, exceto para GC que foi realizada isoladamente
em um dia aleatório.
Os grupos GEC e GP foram avaliados de forma cruzada.
Para isso, metade dos participantes dos referidos grupos foram
submetidos ao protocolo de exercícios de estabilização central
e a outra metade submetida a exercícios de alongamento. Na
semana seguinte, os indivíduos que realizaram o protocolo de
exercícios de estabilização central realizaram os exercícios de
alongamento e vice-versa. Portanto, totalizou-se 7 indivíduos
em cada grupo (GEC e GP).
Protocolo de intervenção
O programa de exercícios de estabilização central compreendeu as seguintes posturas:
• “Mosca morta”: o indivíduo ficou em decúbito dorsal
(DD) e realizou movimento abdominal com elevação dos
membros inferiores.
• Ponte: o indivíduo ficou em DD, com pés apoiados no
solo, joelhos flexionados e realizou a contração dos abdominais, glúteos e posteriores da coxa elevando a pelve.
Associou-se ainda a elevação de um dos membros inferiores
mantendo-o estendido. Posteriormente o membro elevado
foi alternado.
• Flexão lateral: o indivíduo ficou em decúbito lateral (DL)
e com a contração dos músculos abdominais, glúteos e
quadríceps; o sujeito realizou elevação lateral da pelve,
com apoio no pé e cotovelo.
• “Super-homem”: o indivíduo ficou em decúbito ventral
(DV) e manteve a contração dos músculos posteriores da
coxa, glúteos e eretores da coluna, elevando os membros
superiores, inferiores e estabilizando a escápula.
Cada exercício foi realizado 10 vezes, mantendo uma
contração isométrica de 10 segundos.
Para o programa de alongamento, foram realizados os
seguintes exercícios:
• Cervical: o indivíduo em pé realizou uma inclinação da
cabeça para direita e depois para esquerda, aumentando o
arco de movimento com a mão homolateral ao movimento.
• Posteriores de tórax: o indivíduo em pé, abraçou seu próprio corpo, levando as mãos nos ombros opostos.
• Posteriores do braço: o indivíduo em pé, posicionou o
braço nas costas e com a outra mão puxou o cotovelo.
• Posteriores da perna: o indivíduo se posicionou com uma
perna mais a frente, apoiando o pé na parede, e a outra
atrás. Realizou uma inclinação do corpo para frente para
flexionar a perna anterior, dessa forma foi alongada a região
posterior da perna posicionada atrás.
Cada alongamento foi repetido três vezes e sustentado
por 30 segundos.
Análise estatística
Os dados foram analisados quanto à sua normalidade
pelo teste de Kolmogorov-Smirnov, sendo que observada a
normalidade, foi utilizado o teste t de Student para amostras
pareadas na avaliação dentro do grupo, e o teste t não pareado
para avaliação intergrupos e, em todos os casos, o nível de
significância foi de 5%.
Resultados
Quanto aos resultados encontrados neste estudo,
observou-se que a área de oscilação do CP teve médias préintervenção do GC de 3,771 ± 1,584 cm2, GP de 5,199 ±
5,480 cm2 e GEC de 4,772 ± 4,809 cm2. Já no momento
pós-intervenção obteve-se como médias 3,671 ± 2,849 cm2
para GP e 5,098 ± 4,552 cm2 para GEC (Fig. 1). Esses dados
não apresentaram diferença estatisticamente significativa tanto
na avaliação intragrupo quanto intergrupo.
Figura 1 - Valores de oscilação da área, em centímetros quadrados,
para os diferentes grupos analisados.
12
Oscilação da área
10
Valor (cm²)
calçado, com a boca semiaberta, braços ao longo do corpo e
com os olhos abertos. Essa avaliação foi aplicada a todos os
participantes. O protocolo foi repetido três vezes, e foram
selecionados os dados da terceira execução para análise.
As avaliações transcorreram da seguinte forma:
• Grupo estabilização central (GEC): avaliação pré-intervenção + aplicação de sessão de 30 minutos de exercícios de
estabilização central + reavaliação pós-intervenção.
• Grupo placebo (GP): avaliação pré-intervenção + aplicação
de sessão de 30 minutos de exercícios de alongamento +
reavaliação pós-intervenção.
• Grupo controle (GC): avaliação única.
139
8
6
4
2
0
GC (n = 11)
GP (n = 7)
Grupos
ÁREA Pré-interv.
GEC (n = 7)
ÁREA Pós-interv.
Em relação ao deslocamento ântero-posterior, as médias
encontradas foram no momento pré-intervenção 2,281 ±
0,822 cm para GC, 2,198 ± 0,938 cm para GP e 1,964 ±
0,738 cm para GEC. No momento pós-intervenção, obteve-
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
140
se valores de 2,187 ± 1,508 cm no GP e 2,304 ± 1,009 cm
no GEC (Fig. 2). Ao confrontar os dados, não se observou
diferença significativa entre os grupos GC, GP e GEC, bem
como ao analisar os momentos pré e pós-intervenção.
Figura 2 - Valores de oscilação do deslocamento ântero-posterior,
em centímetros, para os diferentes grupos.
Deslocamento ântero-posterior
4
3,5
Valor (cm)
3
2,5
2
1,5
1
0,5
0
GC (n = 11)
GP (n = 7)
Grupos
DESL. ÂNT-POST
Pré-interv.
GEC (n = 7)
DESL. ÂNT-POST
Pós-interv.
Para o deslocamento látero-lateral, foram obtidas como
médias, no momento pré-intervenção, para o GC 2,104 ±
0,508 cm, GP 2,592 ± 1,645 cm e GEC 2,7 ± 1,851 cm.
E posteriormente no momento pós-intervenção, os valores
foram de 2,101 ± 0,574 cm no GP e 2,443 ± 1,256 cm no
GEC (Fig. 3). Em análise estatística os resultados para esta
variável não apresentaram diferenças significativas.
Figura 3 - Valores de oscilação do deslocamento látero-lateral, em
centímetros, para os diferentes grupos.
Deslocamento látero-lateral
5
Valor (cm)
4
3
2
1
0
GC (n = 11)
GP (n = 7)
Grupos
DESL. LÁT-LAT
Pré-interv.
GEC (n = 7)
DESL. LÁT-LAT
Pós-interv.
Discussão
Este estudo demonstrou que uma única intervenção de
exercícios de estabilização central não promoveu diferença
significativa entre os valores de oscilação da área, deslocamento
ântero-posterior e deslocamento látero-lateral.
Tais resultados podem ser atribuídos ao conceito de que o
equilíbrio corporal é mantido pela ativação muscular segundo
desequilíbrios de forças externas. As principais articulações
envolvidas são o tornozelo e o quadril dependendo do grau
de perturbação. Em outras palavras, a postura é reflexo direto
da ação das forças musculares anteriores, posteriores e laterais
[18]. Dessa forma, o tempo de intervenção do estudo pode
não ter sido suficiente para gerar adaptações neuromusculares
e morfológicas. Uma vez que achados da literatura descrevem
que essas adaptações ocorrem após um período mínimo de seis
semanas de treinamento, quando se observam ganhos de coordenação intra e intermuscular, como também hipertrofia [19].
Os resultados obtidos não demonstraram alterar a oscilação
do CP, após uma única intervenção com exercícios de estabilização central. Isso pode indicar que tal constatação não está
relacionada com a mudança no comportamento da dor, considerando que há evidências de que programas de estabilização
central melhoram significativamente níveis de dor e função após
um período de quatro semanas de intervenção [20].
Complementando o exposto acima, foi observado, em
estudo com ciclistas acometidos por lombalgia crônica, que
esses podem precisar de tempo e instrução extra para recrutar
os músculos envolvidos, considerando que apresentam fraqueza, falta de coordenação muscular assim como presença
de padrões compensatórios decorrentes da lombalgia [21].
Poucos foram os estudos que investigaram o controle do
equilíbrio em sujeitos com dor lombar. Em geral, indivíduos com essa sintomatologia têm maior oscilação postural
quando comparados a indivíduos saudáveis [22], sendo mais
evidente no sentido látero-lateral, podendo essa alteração ser
correlacionada com níveis aumentados de incapacidade física
e baixa qualidade de vida [23]. Fato este não observado no
presente estudo, o qual demonstrou que os grupos foram
estatisticamente semelhantes quanto à oscilação do centro
de gravidade. Vale ressaltar que a amostra foi composta por
indivíduos com dor lombar que estavam em tratamento e
foram comparados com indivíduos saudáveis.
Em contrapartida, autores que investigaram a estabilometria
em indivíduos normais observaram frequência duas vezes maior
de oscilações ântero-posteriores, independente do controle visual, sugerindo assim uma maior estabilidade lateral em apoio
bipodálico. No entanto desequilíbrios nesse sentido sugerem
problemas ou distúrbios no Sistema Nervoso Central [24,25].
Na literatura, há escassez de estudos que avaliem, por
meio da estabilometria, o efeito dos exercícios de estabilização
central nas lombalgias. Porém há relatos que essa intervenção
seja mais efetiva nos tratamentos que estratégias tradicionais
de alongamento [26], que pode ser explicado devido ao fato
que exercícios de contrações isométricas sincronizadas, sutis
e específicas, atuarem diretamente no alívio da dor por meio
do aumento da estabilidade do segmento vertebral [27].
Outros estudos justificam os efeitos positivos da estabilização central nas lombalgias devido ao aumento da ativação muscular observada em diferentes graus dos músculos
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
constituintes do complexo lombo-pélvico [28,29]. Ainda,
outros autores relatam que o fortalecimento da musculatura
lombo-pélvica aumenta o desempenho esportivo, reduz a
fadiga muscular, aperfeiçoa movimentos apendiculares e previne lesões musculoesqueléticas, dentre elas a lombalgia [21].
Em contraste com a maioria dos ensaios, May e Johnson
[30], em revisão sistemática, constataram que os exercícios
específicos de estabilização central em pacientes com dor
lombar crônica não se mostraram mais eficazes que outras
modalidades terapêuticas.
Por fim, como limitações do presente estudo pode-se citar
o número reduzido da amostra que não é representativo para
toda a população que apresenta sintomatologia de lombalgia
mecânica e a escassez de estudos que abordem a estabilometria como uma variável, tanto em indivíduos com lombalgia
quanto para indivíduos saudáveis. Isso implicaria no estabelecimento de parâmetros de normalidade no que diz respeito
à oscilação corporal desses indivíduos e assim posteriormente
seria possível avaliar o efeito de tratamentos, com exercícios
de estabilização central e outras modalidades de intervenção.
Conclusão
Conclui-se com o estudo que uma única intervenção de
exercícios de estabilização central não foi eficaz sobre alteração da
oscilação do centro de gravidade corporal tanto na área quanto nos
eixos ântero-posterior e látero-lateral de indivíduos com lombalgia.
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
142
Artigo original
Repetição máxima de movimentos resistidos com pesos
livres em indivíduos com cardiomiopatia chagásica
Maximum repetition of resistance movements with free weights in
patients with Chagas cardiomyopathy
Luciano Sá Teles de Almeida Santos*, Thiêgo Andrade*, Vinicius Afonso Gomes*, Thiago Bouças, Ft.**,
Jefferson Petto, Ms.***
*Acadêmicos do curso de Fisioterapia da Faculdade Social, Salvador/BA, **Faculdade Social, Salvador/BA, ***Professor de Fisiologia
do Exercício e Angiologia da Faculdade Social, Salvador/BA
Resumo
Abstract
O objetivo deste estudo foi avaliar se existe diferença significante
no número de repetições máximas de exercícios resistidos (ER)
realizados com pesos livres em indivíduos com Doença de Chagas
(DC). Participaram 11 indivíduos com cardiomiopatia chagásica,
divididos em dois grupos: sintomático (GS) e assintomáticos (GA).
Todos foram submetidos ao teste de 1RM adaptado para cardiopatas
e o de repetições máximas (RM) com 30% da carga máxima de
quatro movimentos resistidos. Na análise das RM dos movimentos, a
flexão de joelho apresentou diferença estatística significante quando
comparada com a abdução de ombro e a flexão de ombro no GS,
enquanto que no GA houve diferença entre a flexão de ombro e a
flexão coxo femoral e flexão de joelho. Conclui-se que a determinação da RM para indivíduos com DC deve ser individualizada e
determinada para cada movimento do programa de ER.
The aim of this study was to evaluate whether there is significant
difference in the number of maximum repetitions of resistance
exercises (RE) performed with free weights in individuals with
Chagas Disease (CD). Eleven individuals with Chagas cardiomyopathy participated in this study and were divided into two groups:
symptomatic (GS) and asymptomatic (GA). All were tested for 1RM
adapted for cardiac patients and the repetitions maximum (RM)
with 30% of the maximum load resistance of four movements. In the
analysis of RM of the movements, the knee flexion had a statistically
significant difference when compared with shoulder abduction and
flexion in GS, while in the GA there was difference between shoulder
flexion and coxofemoral flexion and knee flexion. We concluded
that the determination of RM for individuals with CD should be
individualized and determined for each movement of RE program.
Palavras-chave: exercício físico, cardiomiopatia chagásica,
exercício resistido, repetições máximas.
Key-words: exercise, Chagas cardiomyopathy, resistance exercise,
repetitions maximum.
Recebido em 27 de junho de 2011; aceito em 12 de agosto de 2011.
Endereço para correspondência: Luciano Sá Teles de Almeida Santos, Rua Ismael Ribeiro, 62, Torroró 40050-200 Salvador BA, Tel:
(71) 8191-2987, E-mail: [email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
Introdução
A cardiomiopatia chagásica é caracterizada como uma
doença inflamatória originada pelo protozoário Trypanosoma
Cruzi que se apresenta na forma sintomática em cerca de 30%
dos indivíduos infectados [1,2].
Esta afecção é caracterizada por uma larga diversidade
clínica, sendo um dos maiores problemas de saúde pública do
Brasil e das Américas. Somente na América Latina é estimado
que entre 15 e 16 milhões de pessoas estejam infectadas com
Trypanosoma Cruzi, e que 75 a 90 milhões vivam expostas à
infecção [3-5]. No Brasil aproximadamente três milhões de
pessoas são portadoras da Doença de Chagas (DC) [1].
No coração, o Trypanosoma Cruzi tem uma forte afinidade
pelo complexo nervoso cardíaco provocando várias alterações
patológicas no processo de produção e condução do estímulo
nervoso. Como tratamento para atenuação dos sintomas da
doença de Chagas, preconiza-se como terapêutica o uso de
cardiotônicos, antiarrítmicos e implante de marca-passo cardíaco. Atualmente, houve avanços substanciais na terapêutica
medicamentosa específica da DC, mas um grande desafio
atual, além da busca de drogas mais eficazes e eficientes e com
menos efeitos colaterais, é o de preparar mais profissionais de
saúde para que saibam diagnosticar e tratar esta doença e promover alternativas de tratamento não medicamentoso, dentre
elas o exercício físico tanto aeróbico quanto o resistido [6].
O exercício resistido é uma categoria que se distingue por
ser realizado com uma carga externa agindo esta como resistência ao movimento articular, sendo qualquer resistência que
não seja a força gravitacional ou a massa segmentar corpórea
envolvida no movimento [7].
Como dito anteriormente, aproximadamente 30% dos
indivíduos infectados desenvolvem a forma sintomática da
doença, apresentando cardiomiopatia inflamatória crônica,
a chamada cardiomiopatia chagásica crônica. A reabilitação
cardíaca visa minimizar os efeitos da progressão da DC utilizando como recurso terapêutico o exercício físico aeróbico e
resistido [8]. No entanto, muitas dúvidas permeiam a prática
com relação à determinação das variáveis dos exercícios resistidos, como carga, número de repetições e séries de trabalho
as quais não estão bem definidas.
Testes de força máxima, ou mesmo submáxima, são
pouco utilizados na prescrição do exercício resistido, talvez
pela dificuldade de operacionalização e pelo tempo gasto na
realização dos mesmos. O Teste de Carga Máxima (TCM)
realizado com uma repetição máxima é o mais frequentemente
utilizado como medida de força muscular [9].
Esse teste operacionalmente é definido como a maior
carga movida durante a execução de movimento específico
numa única repetição e sem compensações musculares ou
posturais [10]. Normalmente a prescrição do programa de
condicionamento resistido é baseada apenas no percentual do
TCM. No entanto, a não realização de um teste que mensure
a capacidade individualizada de repetições máximas, pode
143
resultar em programas que trabalhem supra ou subestimando
a capacidade funcional dos indivíduos que praticam exercícios
resistidos [9].
Sendo assim, este trabalho tem como objetivo avaliar se
existe diferença significante no número de repetições máximas de exercícios resistidos realizados com pesos livres em
indivíduos com DC que leve a uma supra ou subestimativa
da capacidade de trabalho.
Material e métodos
A seguinte pesquisa se caracteriza como um estudo
comparativo quase experimental, na qual participaram 11
indivíduos, 8 do sexo feminino, todos com cardiomiopatia
chagásica crônica, diagnosticados através do exame sanguíneo
de Machado Guerreiro e Imunuofluorescência, clinicamente
estáveis, com idade entre 35 e 70 anos, sedentários definidos
pelo Questionário Internacional de Atividade Física-Curto
(IPAQ-curto), que são atendidos no Centro de Referências
de Doenças Cardiovasculares de Salvador.
Foram adotados como critérios de exclusão alterações
osteomioarticulares, neurológicas ou cognitivas incompatíveis
com a realização do protocolo proposto no estudo.
Todos os voluntários foram esclarecidos sobre os objetivos,
os riscos e benefícios dos procedimentos em linguagem acessível e assinaram o termo de consentimento livre esclarecido,
que foi elaborado a partir das diretrizes sobre a pesquisa com
seres humanos da Declaração de Helsinque e da Resolução
196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Este projeto foi
submetido e aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da
Faculdade de Tecnologia e Ciência de Salvador – FTC protocolo 0772\2009.
Todos os participantes passaram por um exame físico
constituído por mensurações da frequência cardíaca e pressão
arterial em repouso, massa corporal total, estatura e um ecocardiograma com o objetivo de mensurar a fração de ejeção
de Teicholz.
Os indivíduos foram divididos em dois grupos: um grupo
sintomático (GS), composto por cinco indivíduos, 3 do sexo
feminino, com média de idade e fração de ejeção respectivamente de 58 anos e 42%, e um grupo assintomático (GA),
formado por 6 indivíduos, 5 do sexo feminino, com média de
idade e fração de ejeção respectivamente de 54 anos e 71%.
O TCM foi realizado com o membro dominante, utilizando o protocolo de uma repetição máxima adaptada para
cardiopatas [11], partindo de carga zero com aumento de ½ kg
por série com intervalo de 3 minutos entre uma série e outra.
Em cada série se verificou, durante a execução do movimento,
a FC, o traçado eletrocardiográfico a TA no braço contralateral
a execução do movimento e a intensidade de esforço mensurada pela escala de percepção subjetiva de BORG.
Os movimentos utilizados no teste de carga máxima
foram: flexão coxofemoral em supino, flexão de joelho em
prono, flexão de gleno-umeral e abdução de gleno-umeral
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
144
em ortostase. Todos os movimentos preconizaram a fase
concêntrica da contração.
Foram considerados critérios para determinação da carga
máxima: alterações eletrocardiográficas significativas (arritmias sustentadas, arritmias complexas, infra-desnivelamento ≥
3 mm e supra-desnivelamento ≥ 2 mm de ST), compensações
na execução do movimento ou Escala de Borg entre 17 a 20.
Todo o exame foi realizado em ambiente hospitalar na
presença de um cardiologista e com suporte técnico adequado
de acordo com a II Diretriz de Teste Ergométrico 2002 [12].
Para o Teste de Repetição Máxima (TRM) foram utilizados os mesmos movimentos do teste de carga máxima.
O TRM foi realizado com 30% da carga máxima, sendo o
voluntário instruído a executar cada movimento até a exaustão. Adotaram-se como critérios para interrupção do teste os
mesmos parâmetros do TCM.
Todos os resultados foram armazenados em um banco
de dados no Microsoft Excel 2007 e posteriormente analisados. Antes das análises foi realizado o teste de Shapiro-Wilks
para identificação da normalidade dos dados e testagem dos
pressupostos dos testes. Como as variáveis não apresentaram
distribuição normal e simétrica, os dados foram descritos
utilizando mediana e intervalo interquartil. Para os dados encontrados foram realizadas Análises de Variâncias (ANOVA).
Em todos os testes se utilizou o pacote estatístico SPSS (Sta-
tistical Package for the Social Sciences) versão 13.0, adotando
um nível de significância de 5%.
Resultados
As características gerais da amostra são apresentadas na
Tabela I descritas em médias e desvio padrão.
Os valores referentes ao número de repetições máximas
de cada movimento executado estão descritos na Tabela II.
Dentre os movimentos, o que apresentou o maior número
de repetições, em ambos os grupos, foi à flexão de joelho.
As comparações intergrupos do número mediano de
repetições realizadas estão descritas na Tabela III. Observase que não há diferença estatística significante, no entanto,
vale enfatizar que no movimento de flexão do joelho, o GS
apresentou um número de repetições consideravelmente
maior que o GA.
Os dados referentes à comparação intragrupo do número
de repetições máximas alcançadas nos movimentos propostos são apresentados na Tabela IV. Observa-se que houve
diferença estatística significante na comparação da flexão de
joelho com a flexão de ombro e abdução de ombro no GS.
Já no GA foi verificada diferença estatística na comparação
de flexão de coxo femoral com a flexão de ombro e com a
flexão de joelho.
Tabela I - Caracterização da amostra por grupo (média e desvio padrão).
Grupo
Sintomático
Assintomático
Idade (anos)
60 ± 8,0
58 ± 6,0
Altura (cm)
158 ± 1,0
164 ± 0,1
Massa (kg)
61 ± 5,5
74 ± 8,5
IMC (kg/m2)
24 ± 5,2
27 ± 2,6
FE (%)
42 ± 0,0
71 ± 0,0
Siglas: IMC = Índice de Massa Corpórea; FE = Fração de Ejeção.
Tabela II - Número de repetições máximas por grupo alcançadas nos quatro movimentos propostos.
Grupo
Sintomático (n = 5)
Assintomático (n =6)
Flexão de ombro
Abdução de ombro
Flexão de joelho
Flexão de coxo femoral
Flexão de ombro
Abdução de ombro
Flexão de joelho
Flexão de coxo femoral
Min
20
16
23
10
18
15
12
8
Máx
30
30
85
30
70
40
100
30
Mediana
28
22
50
20
21
20
19
15
Dq*
3,50
5,25
21,50
8,00
14,75
8,00
35,00
8,38
* Dq - Desvio-quartil (percentil 75 - Percentil 25) /2.
Tabela III - Comparações intergrupo das repetições máximas dos quatro movimentos realizados.
Atividade
RM FO
RM AO
RM FJ
RM FCF
Mediana
Sintomático n = 5
Assintomático n = 6
28
21
22
20
50
19
20
15
Diferenças
p-valor*
7
2
31
5
0,5200
0,9270
0,2730
0,5210
* Teste Kruskal-Wallis H (comparação múltipla, para as quatro atividades). Siglas: RM = Repetição Máxima; FO = Flexão de Ombro; AO = Abdução de
Ombro; FJ = Flexão de Joelho; FCF = Flexão Coxo Femoral.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
145
Tabela IV - Comparação intragrupo das repetições máximas dos quatro movimentos propostos.
Medianas
Grupo
Comparações
RM FO
GS
(n=5)
RM AO
RM FJ
RM FO
GA
(n=6)
RM AO
RM FJ
RM AO
RM FJ
RM FCF
RM FJ
RM FCF
RM FCF
RM AO
RM FJ
RM FCF
RM FJ
RM FCF
RM FCF
1
28
22
50
21
20
19
2
22
50
20
50
20
20
20
19
15
19
15
15
Diferenças
p-valor*
6
22
8
28
2
30
1
2
6
1
5
4
0,0656
0,0431
0,1441
0,0431
0,3452
0,0796
0,1756
0,7532
0,0458
0,4004
0,0747
0,0585
p-valor
ANOVA**
0,0378
0,1193
*Teste não paramétrico – Wilcoxon; **ANOVA - refere-se ao teste não paramétrico de Friedman.
Nota: O teste de Shapiro-Wilks rejeitou a hipótese de normalidade das variáveis de estudo. Siglas: RM = Repetições Máximas; FO = Flexão de Ombro;
AO = Abdução de Ombro; FJ = Flexão de Joelho; FCF = Flexão Coxo Femoral.
Discussão
A falta de pesquisas quantificando as variáveis de condicionamento resistido para adultos foi a principal razão
para o American College of Medicine Sports (ACMS) omitir
em sua diretriz de 1978 os exercícios resistidos como parte
integrante do trabalho de condicionamento para indivíduos
cardiopatas. Por volta dos anos 80, as pesquisas nessa área se
intensificaram e em 1990 a ACMS formalmente reconheceu
a importância dos exercícios resistidos para um programa
completo de condicionamento físico [13].
Segundo a Diretriz de Reabilitação Cardíaca, 2005, um programa de exercício físico supervisionado tem se mostrado eficaz
como tratamento não medicamentoso da insuficiência cardíaca
com indicação de exercícios resistidos para estes indivíduos [8].
Graves sugere que o condicionamento com pesos parece ser bem
seguro para essa população, já que desencadeia menos distúrbios
de condução e arritmias além de promover adaptações benéficas
de vários parâmetros hemodinâmicos, embora no caso de alguns
deles de maneira menos marcante comparativamente ao condicionamento com exercícios contínuos [13].
A American Heart Association e a American Association
of Cardiovascular and Pulmonary Rehabilitation, em uma
revisão de 12 estudos sobre o uso do treinamento de força em
programas de reabilitação cardíaca mostrou que em portadores
de doença arterial coronariana estável, já em condicionamento
aeróbico por pelo menos três meses, adicionar o treinamento
de força parece ser bastante seguro, promovendo melhora da
força muscular e da resistência, sem desencadear episódios
de isquemia miocárdica, anormalidades hemodinâmicas,
arritmias ventriculares complexas ou outras complicações
cardiovasculares [8].
Dessa forma, a inclusão de exercícios resistidos na reabilitação cardíaca supervisionada pode preparar melhor os
cardiopatas para retornarem em menor tempo às suas atividades de vida diária. Porém as variáveis de prescrição devem
ser bem determinadas e elucidadas para que sua efetividade
seja garantida.
A determinação do número de repetições máximas é fundamental na elaboração de um protocolo de condicionamento
resistido para indivíduos cardiopatas com ou sem disfunções
ventriculares. O que se encontra na literatura em relação ao
número de repetições são valores fixos para qualquer perfil de
indivíduo. Segundo o ACMS se preconiza inicialmente de 8 a
10 repetições evoluindo para 15 a 20 repetições no máximo.
O supervisor pode optar por aumentar a carga e diminuir
as repetições ou manter a carga e aumentar as repetições e a
velocidade do movimento.
No entanto, de acordo com os resultados do presente estudo, foi verificada diferença significante no valor da repetição
máxima em quatro das doze comparações realizadas entre
os movimentos avaliados, e em outras três foram observadas
diferenças estatísticas próximas da significância, como observado na tabela IV. Acredita-se que se a amostra do estudo
fosse maior todas essas comparações apresentariam um p-valor
significante, o que nos leva a pensar que as repetições deveriam
ser preconizadas de forma individual e não pré-determinadas.
Segundo Fleck e Kreamer, 1999, citado por Forjaz et
al. [14], os exercícios resistidos podem ser executados em
diferentes intensidades. Quando são feitos com intensidade
leve (40% a 60% da carga máxima), várias repetições (20 a
30) podem ser realizadas e o resultado dessa prática será o
aumento da resistência da musculatura envolvida no exercício.
Por outro lado, quando os exercícios são realizados em intensidades maiores (acima de 70% da carga máxima), o número
de repetições não pode ser alto devendo estar entre 8 a 12
repetições [14]. Pollock descreve que com a progressão do
condicionamento deve-se aumentar o número de repetições,
146
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
sendo o teto máximo para os membros superiores e inferiores
de 15 e 20 respectivamente [15].
Embora a carga utilizada nesta pesquisa tenha sido de
30% da carga máxima, os resultados do nosso estudo vão de
encontro a essas recomendações, pois vários indivíduos conseguiram realizar um número abaixo do recomendado pela
literatura e outros bem acima, desta forma estaríamos supra
ou subestimando a capacidade da maioria dos indivíduos
avaliados. Além disso, houve grande discrepância nos valores
das repetições de cada movimento de forma individualizada,
inclusive entre membros superiores e inferiores.
O conhecimento da capacidade individual das repetições
máximas pode servir de base para o terapeuta, direcionando-o
a prescrições mais eficazes e individualizadas, não havendo
desta forma superestimação nem subestimação desta variável,
para que a reabilitação ocorra de forma objetiva e segura.
Conclusão
Os resultados apontam que a determinação da repetição
máxima para portadores de DC deve ser individualizada e
determinada para cada movimento do programa de exercício
resistido. Dessa forma sugerimos que a elaboração de um protocolo mais específico deve ser baseada na carga máxima, bem
como no número de repetições máximas que cada indivíduo
é capaz de realizar.
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
147
Artigo original
Utilização do percentual da carga máxima
dinâmica e velocidade de movimento durante
o treinamento de força
Percentage of the maximum dynamic strength and velocity
of movement during strength training
Alexandre Correia Rocha*, Dilmar Pinto Guedes Junior**
*Mestrando pela Universidade São Judas Tadeu, São Paulo/SP, Coordenador do Centro de Treinamento Personalizado New Life,
Santos/SP, **Acadêmico dos cursos de Educação Física da Faculdade de Educação Física de Santos (FEFIS) e Faculdade de Educação
Física e Esportes (FEFESP), Santos/SP
Resumo
Abstract
Palavras-chave: treinamento de força, intensidade, repetições
máximas, força máxima.
Key-words: strength training, intensity, repetitions maximum,
strength maximum.
O objetivo do estudo foi avaliar a eficiência do controle intencional da Velocidade de Movimento (VM) em cada repetição de
uma série no Treinamento de Força (TF) e verificar a relação entre
a porcentagem da Carga Máxima Dinâmica (CMD) e o número de
repetições para prescrição do TF. Vinte sujeitos, com 21 ± 3 anos,
realizaram o TCMD no supino, agachamento e rosca direta e após
24 e 48h realizaram o máximo de repetições com 80% da CMD
com e sem o controle da VM. Como resultados obteve-se: CMD
(kg) no *¹supino 87,55 ± 27,80, ²agachamento 112,40 ± 30,75 e
rosca direta 68 ± 11,58 (* p = 0,01 vs agachamento; ¹ p = 0,00 vs
rosca direta e ² p = 0,00 vs rosca direta). RSM para o supino 11 ± 3,
* agachamento 11 ± 5 e rosca bíceps 9 ± 2 e RCM para o ¹supino 3
± 1, ¹agachamento 3 ± 1 e ¹rosca bíceps 3 ± 1 (* p = 0,05 vs rosca
direta (RSM); ¹ p = 0,00 vs agachamento, rosca direta e supino
(RSM)). Os resultados demonstram que o controle intencional da
VM, a relação entre porcentagem da CMD e número de repetições
por série de exercícios e a prescrição utilizando essas variáveis devem
ser vistas com cautela.
The aim of this study was to evaluate the efficacy of intentional
control of Velocity of Movement (VM) on each repetition of a set
in the strength training (ST) and the relationship between percentage of Maximum Dynamic Strength (MDS) and the number of
repetitions to prescribe strength training programs. Twenty subjects,
with 21 ± 3 years, performed the Maximum Dynamic Strength
Training in the bench press, squat and curl and after 24 and 48
hours completed the maximum number of reps with 80% of MDS
with and without the control of VM. We got the following results:
MDS (kg) * 87.55 ± 27.80 ¹ bench press, squat ² 112.40 ± 30.75
and curl 68 ± 11.58 (* p = 0.01 vs. squat; ¹ p = 0.00 vs. curl e ² p =
0.00 vs curl). Bench press maximum repetition 11 ± 3, * squat 11
± 5 and biceps 9 ± 2 and SPC for ¹ supine 3 ± 1 ¹ squat 3 ± 1 and
¹ biceps curl 3 ± 1 (* p = 0.05 vs. curl (RSM ) ¹ p = 0.00 vs. squat,
curl and bench press (RSM)). The results show that the intentional
control of the VM, the relationship between percentage of MDS
and number of repetitions per set and exercise prescriptions using
these variables should be studied with caution.
Recebido em 21 de julho de 2011; aceito em 15 de agosto de 2011.
Endereço para correspondência: Alexandre Correia Rocha, Rua Barão de Paranapiacaba, 77/16, Encruzilhada 11050-250 Santos SP,
E-mail: [email protected], Tel: (13) 3234-8629
148
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
Introdução
Nas últimas décadas o treinamento de força (TF), tem
sido objeto de estudo e despertado interesse na comunidade
científica. A musculação é definida como movimentos biomecânicos localizados em segmentos musculares definidos com a
utilização de sobrecarga [1,2]. O TF tem papel fundamental
nos programas de exercício físico relacionados para a estética
e nos últimos anos tem sido recomendado para a profilaxia
e tratamento de diversas patologias [3-6]. O TF promove
alterações funcionais, ou seja, aumento da força e melhora da
capacidade de realizar atividades do cotidiano, assim como
modificações morfológicas, principalmente o aumento da
massa muscular [7,2]. O aumento da massa muscular se dá
principalmente pelo mecanismo de hipertrofia muscular, definida como aumento da área de secção transversa de cada fibra
muscular. Essa condição é favorecida por alterações agudas e
crônicas na fibra muscular, frente ao TF [8].
Durante a montagem dos programas de TF, os componentes de carga devem ser organizados com intuito de promover
intensidade ótima para maximizar o aumento da força e hipertrofia muscular, dentre eles, podemos citar: o exercício, a
frequência semanal, o número de repetições, o peso, as séries,
o intervalo entre séries e a velocidade do movimento [9-11,8].
Diversos autores relatam que uma janela de repetições variando de 8 a 12, com uma carga de 60 a 80% da carga máxima
dinâmica (CMD) e uma velocidade de movimento moderada
(VMM) seriam condições favoráveis para o desenvolvimento
de força e hipertrofia muscular [1,5,10,12,13]. De acordo com
Kraemer e Ratamess [10], a VMM é de um segundo para a
fase concêntrica (1FC) e dois segundos para a fase excêntrica
(2FE). Para esse controle o metrônomo é comumente utilizado, emitindo um sinal sonoro previamente programado.
Alguns autores questionam a utilização de algumas dessas
variáveis para a prescrição do TF [14-17]. Sendo assim, os
objetivos do presente estudo são: 1) Avaliar a eficiência do
controle intencional da VM em cada repetição de uma série
no TF e 2) Verificar a relação entre a porcentagem da CMD
e o número de repetições para prescrição do TF.
Material e métodos
Participaram do estudo 20 voluntários com média de idade
de 21 ± 3 anos, sendo todos praticantes de musculação há no
mínimo seis meses. Todos os sujeitos receberam explicações
verbais sobre os procedimentos do estudo e assinaram o
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido antes do início
dos testes.
A intensidade da carga de treino foi estabelecida em 80%
CMD, para isso todos os voluntários realizaram o teste de
carga máxima dinâmica (TCMD) e as padronizações utilizadas
foram as do ACSM [4]. Os testes foram realizados em um só
dia com intervalo de dez minutos entre os exercícios (supino
reto, rosca direta com a barra W e o agachamento 90º) e a
ordem dos exercícios foi determinada aleatoriamente. Após
24 horas, foi estabelecido 80% da CMD para a realização dos
testes. Para o controle da velocidade do movimento foi utilizado um metrônomo, respeitando 1FC e 2FE, como sugerido
anteriormente. Os testes de repetições máximas (RSM) foram
realizados sem a utilização do metrônomo e com o controle da
velocidade através do metrônomo (RCM), a ordem dos testes
foi aleatória respeitando um intervalo de 48 horas. No teste
RSM os voluntários foram incentivados a realizar o máximo de
repetições corretas. Para a familiarização da VM os voluntários
realizavam um aquecimento de 30 repetições (RP) somente com
a carga da barra, respeitando a velocidade determinada, após
um minuto realizavam 10 reps a 40% da CMD no mesmo
ritmo e após um minuto realizava-se o teste propriamente dito.
Análise estatística
Após verificar a normalidade do grupo, utilizou-se o teste
t Student para amostra dependente para avaliar se existe diferença entre as variáveis estudadas. O nível de significância
foi estabelecido em p < 0,05.
Resultados e discussão
Tabela I - CMD (kg) nos exercícios supino reto, agachamento 90º
et rosca direta na barra.
n
20
Supino
87,55
(27,80)*1
Agachamento
112,040
(30,75)2
Rosca direta
68 (11,58)
Os dados estão apresentados na forma de média e desvio padrão; *p
= 0,01 vs. agachamento; 1 p = 0,00 vs. rosca direta e 2 p = 0,00 vs.
rosca direta.
De acordo com os resultados da tabela I, os exercícios
multiarticulares, que envolvem maior massa muscular e um
número maior de grupos musculares foram capazes de produzir mais força. Portanto, para a amostra estudada a força
muscular é dependente do número de articulações envolvidas
no trabalho, como também da massa muscular dos grupos
musculares envolvidos nos exercícios. Segundo Shimano et
al. [15], exercícios envolvendo grandes massas musculares
tendem a produzir mais força do que exercícios que envolvem
grupos musculares menores.
Tabela II - Número de repetições máximas realizadas com o metrônomo (RCM) e sem o metrônomo (n = 20)
Exercícios
Supino
Agachamento
Rosca direta
80% CMD
70,0 (22,2)
85,5 (31,8)
34,6 (9,3)
RSM
11 (3)
11 (5)*
9 (2)1
RCM
3 (1)1
3 (1)1
3 (1)1
Os dados estão apresentados na forma de média e desvio padrão; *p
= 0,015 vs. rosca direta; 1 p = 0,00 vs. agachamento, rosca direta e
supino (RSM).
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
A Tabela II demonstra que para uma mesma intensidade
da CMD (80%) o número de repetições varia de acordo com
o exercício realizado. Esses resultados corroboram com outros
estudos. Segundo diversos autores, o número de repetições
para uma determinada porcentagem da CMD pode variar
quando considerada a massa muscular envolvida no exercício,
se utilizados membros superiores ou inferiores e ainda o nível
de aptidão do praticante [15,16,18-21]. Pereira e Gomes
[16] investigaram, em um artigo de revisão, a prescrição do
exercício a partir de determinada porcentagem da CMD e
encontraram diferença significativa quando considerado o
exercício escolhido, a velocidade do movimento e a população.
Barros et al. [22] encontraram diferença significativa entre o
teste na puxada pela frente quando realizado em dois dias
consecutivos em adultos ativos. De acordo com Maior et al.,
Simão et al., Shimano et al. [14,23,15], os grupos musculares
maiores suportam um maior número de repetições para uma
mesma porcentagem de carga quando comparados a grupos
musculares menores. Uma hipótese para explicar esse fato é o
padrão de recrutamento das unidades motoras (UM). Durante
os exercícios de intensidade submáxima as UM motoras são
recrutadas de forma não sincronizada, preservando algumas
fibras musculares durante o esforço, podendo assim retardar
a fadiga. Além disso, possivelmente um maior número absoluto de UM é recrutado nos exercícios envolvendo grupos
musculares maiores e essa condição somada ao recrutamento
não sincronizado também pode favorecer o retardo da fadiga
e consequentemente um número maior de repetições pode
ser realizado [15]. Com relação ao número de repetições
realizadas com o controle intencional e não intencional da
velocidade de movimento, observou-se uma redução no
número de repetições quando realizadas com a utilização
do metrônomo. Segundo Fleck e Kraemer [24], o controle
intencional da velocidade acarreta redução da força muscular
em cada repetição. Também vale ressaltar que durante o TF
ocorre uma redução natural da velocidade de movimento
devido à instalação do processo de fadiga impossibilitando
a manutenção de um ritmo de movimento [14]. Portanto,
o controle intencional da VM não permitiu a realização do
número mínimo de repetições sugerido pela literatura para
maximizar os efeitos da hipertrofia muscular.
Conclusão
Para a amostra analisada a CMD é diferente entre os
exercícios. Para uma determinada porcentagem da CMD o
número de repetições mostrou-se diferente entre os exercícios
rosca direta e agachamento, além disso, quando controlada
a VM o número de repetições foi significativamente menor
para uma mesma porcentagem da CMD. Sendo assim, o
controle intencional da VM, a relação entre porcentagem da
CMD e número de repetições por série de exercícios como
também a prescrição utilizando essas variáveis devem ser
vistas com cautela.
149
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
151
Artigo original
Taxa de sudorese e perfil antropométrico de atletas
do gênero feminino de uma equipe de natação
Sweating rate and anthropometric profile
of a swimming team female athletes
Lidiane Yurie Pereira*, Roberta Amancio Ruiz Costa*, Tamara Eugenia Stulbach, D.Sc.**, Luciana da Silva Garcia***
*Graduandas de Nutrição pelo Centro Universitário São Camilo, **Professora supervisora de estágio de Nutrição Esportiva do curso
de Nutrição do Centro Universitário São Camilo, ***Professora supervisora de estágio de Nutrição Esportiva do Curso de Nutrição
do Centro Universitário São Camilo
Resumo
Objetivo: Verificar o estado de hidratação e perfil antropométrico
de atletas da natação. Material e métodos: Foram avaliadas 12 atletas
do gênero feminino de idade entre 13 e 14 anos. Verificou-se a ingestão hídrica habitual das nadadoras. Na avaliação antropométrica
foram aferidos peso, dobras cutâneas e estatura, antes e após o treino
para determinação da taxa de sudorese e porcentagem de perda
hídrica. Resultados: As atletas em sua maioria (n = 11) apresentaram
peso final maior que o inicial, ou seja, ganho de peso após o treino,
contrapondo-se a outros estudos da mesma modalidade. A taxa de
sudorese encontrada foi baixa. As nadadoras apresentaram-se bem
hidratadas, sem nenhuma ocorrência de desidratação mesmo com
baixa ingestão hídrica. Em relação à avaliação antropométrica,
observou-se maior frequência de eutrofia e percentual de gordura
adequado. Conclusão: Observou-se boa hidratação apesar da reduzida ingestão hídrica, baixa taxa de sudorese e ganho de peso após
o treino provavelmente devido aos diferenciais do esporte. Porém
mais estudos são necessários a fim de identificar as reais causas desta
divergência.
Abstract
Objective: To assess hydration status and anthropometric profile
of swimmers. Material and methods: 12 female athletes 13-14 years
old were evaluated. We checked the habitual water intake of the
swimmers. Height, weight and skin folds were measured before and
after training to determine the sweat rate and percentage of water
loss. Results: The majority of athletes (n = 11) showed higher final
weight than the initial, that is, weight gain after training, in contrast to other studies in the same sport. The sweating rate was low.
The swimmers are well hydrated, without dehydration even with
low water intake. Regarding the anthropometric evaluation it was
observed a higher frequency of eutrophy and body fat percentage
was appropriated. Conclusion: There was good hydration despite the
low water intake, low sweating rate and weight gain after training
probably due to the differentials of the sport. Anyway, more studies
are needed to identify the real causes of this divergence.
Key-words: fluid therapy, nutritional status, aquatic environment,
athletes.
Palavras-chave: hidratação, estado nutricional, ambiente
aquático, atletas.
Recebido em 15 de julho de 2011; aceito em 16 de agosto de 2011.
Endereço para correspondência: Lidiane Yurie Pereira, Rua João Cavinato, 211, Jardim Portugal, São Bernardo do Campo SP, E-mail:
[email protected]
152
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
Introdução
A natação é praticada desde a pré-história e por absoluta
necessidade, já que os homens buscavam seus alimentos
nos rios e mares e em momentos de perigo, refugiavam-se
transpondo curso de água ou talvez permanecendo nele [1].
Por volta do século XX, a restrição de líquidos durante o
exercício físico era associada ao bom desempenho do atleta,
portanto era preconizada a não ingestão de água durante
treinos e competições [2].
Atualmente, reconhece-se a importância da hidratação
antes, durante e após a atividade física, para manutenção
da homeostase e melhora de desempenho do atleta, já que
a ingestão inadequada de líquidos pode causar alteração da
frequência cardíaca, da temperatura corporal além de prejuízo
no rendimento [3,4].
Água e eletrólitos são essenciais na manutenção da atividade física, um desequilíbrio entre estes elementos pode ocasionar alteração na capacidade física. Entretanto, a hiperhidratação também pode trazer prejuízos ao desempenho, devido
ao desconforto gástrico e possível estado de hiponatremia [5].
É necessário o equilíbrio entre a perda e ganho de fluidos,
as vias de perda de água pelo corpo são através do sistema urinário, respiratório e da pele. Esta perda resulta em alterações
dos fluidos intra e extracelulares [6].
Um método simples de avaliar o estado de desidratação do
indivíduo é aferindo o peso corporal antes e após a atividade
física; a partir de então, calcula-se a diferença entre ambos e
o percentual de perda de peso, para posterior classificação do
estado de desidratação [7].
A natação apresenta condições especiais que modificam a
termogênese corporal, já que o contato com a água facilita a perda
de calor, através da condução, processo no qual há a transferência
de calor do corpo para as moléculas mais frias da água [8,9].
Outro diferencial é o contato da água com a boca durante
todo o exercício, o que estimula os receptores nervosos localizados na região orofaríngea, desta forma é como se o atleta
estivesse continuamente se hidratando, fazendo com que o nadador não sinta sede e assim não se hidrate corretamente [9].
Para avaliação do desempenho e acompanhamento
nutricional, uma das determinações mais importantes é o
percentual de gordura. Portanto o objetivo do presente estudo
foi verificar o estado de hidratação em atletas de natação da
cidade de São Caetano do Sul, através do cálculo de taxa de
sudorese e o consumo hídrico dos nadadores [3].
Material e métodos
Estudo transversal, realizado em um clube do estado de
São Paulo. A amostra foi composta por doze atletas do gênero
feminino, de idade entre 13 e 14 anos, com treino de duração
de 90 min.
Todos os participantes, estando de acordo com o estudo,
assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido de
acordo com o Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário São Camilo n° 097/06.
A coleta de dados foi conduzida em um dia de treino no
período da manhã. Foram aferidos os pesos antes (Pi) e após
(Pf ) o treinamento, para isso foi utilizada balança digital da
marca Plenna com pesagem máxima de 150 kg e intervalos
de 100 g. As atletas foram pesadas trajando apenas maiô, sem
touca e/ou óculos.
A estatura foi mensurada com duas fitas métricas inelásticas e inextensíveis, inversas e afixadas verticalmente na
parede lisa sem rodapé. Foi solicitado que a avaliada ficasse
descalça, com os braços estendidos ao longo do corpo e com
os calcanhares juntos e costas retas. A cabeça foi posicionada
eretamente com os olhos fixos para frente na linha do horizonte (Plano de Frankfurt).
Com o peso inicial (Pi) e estatura foi calculado o Índice de
Massa Corpórea (IMC), mediante a fórmula: IMC = P /E².
Foi avaliada a ingestão hídrica habitual das nadadoras,
as quais se solicitou que apresentassem seus squeezes para
análise do volume de água inicial, e as que não possuíam,
orientou-se que solicitassem copos de água quando necessário para que assim houvesse o controle do volume ingerido
individualmente. Ao final do treino, foi medido o volume
restante dos squeezes descontando-se assim do volume inicial
o líquido ingerido.
Taxa de sudorese (TS)
Para calcular a taxa de sudorese foi utilizada a seguinte
fórmula de Fleck e Figueira Junior (1997):
(Pi kg – Pf kg) – ingestão hídrica durante o treino (L)
tempo total de atividade física (min)
Porcentagem de perda hídrica
Para verificar a porcentagem de perda hídrica foi utilizada
a seguinte fórmula:
Pi (Kg) ------------ 100%
Pi (Kg) – Pf (Kg) ----------- X
X= % de perda hídrica
Percentual de gordura
As atletas foram orientadas a não iniciar o treino antes
da avaliação antropométrica, para não haver influência sob
os resultados.
A composição corporal foi avaliada com base nas dobras
cutâneas: triciptal (TR) e subescapular (SE), mensuradas com
a utilização de adipômetro da marca Sanny.
O percentual de gordura das adolescentes foi calculado
por meio da equação de Slaughter et al. [10]:
• %G = 1,33 (TR+SE) - 0,013 (TR+SE)² - 2,5
• %G = 0,546 (TR+SE) + 9,7 quando a soma das dobras
cutâneas (TR e SE) foi maior que 35 mm.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
153
A classificação destes resultados foi feita por pontos de
corte propostos por Deurenberg et al. [10].
6) Você está com vontade de comer?
(X) sim (66,67%) (X) não (33,33%)
Questionário
Resultados
Ao término do treino foi aplicado individualmente um
questionário, utilizado em outro estudo semelhante de Perrella, Noriyuki e Rossi [11], com questões em relação à intensidade do treino, sensações de sede, fome e o que desejavam
ingerir naquele momento.
As atletas apresentaram, em média, idade de 13,5 anos,
peso 49,5 kg, estatura 1,61 m e IMC 19,5 kg/m². Apenas
16,67% (n = 2) das nadadoras foram classificadas como sobrepeso; as 83,33% (n = 10) restantes mostraram-se eutróficas.
O percentual de gordura (%G) médio foi de 20,4%,
classificado como percentual adequado, apenas 1 atleta apresentou alta porcentagem. Esses valores podem ser visualizados
detalhadamente na Tabela I.
Ao término do treino, encontrou-se uma taxa de sudorese
média de 3,6 mL/min. Foi observado aumento de peso em
91,67% da amostra, somente uma atleta apresentou perda
de peso. (Tabela II)
Questionário de hidratação aplicado em atletas de
Natação. São Paulo, 2011.
Nome: 12 nadadoras de um clube de São Paulo
1) Você ingeriu líquidos antes de iniciar o treinamento?
(X) sim (50%) (X) não (50%)
O quê? (X) água (66,67%) ( ) refrigerante (X) suco (33,33%)
( ) isotônico ( ) outros.
2) Como você treinou hoje?
( ) muito leve ( ) leve (X) moderado (8,33%)
(X) quase forte (8,33%) (X) forte (16,67%)
(X) muito forte (58,34%) (X) totalmente forte (8,33%)
3) Você está com sensação de “boca seca”?
(X) sim (33,33%) (X) não (66,67%)
4) Você está com sede?
(X) sim (41,67%) (X) não (58,33%)
5) O que você gostaria de beber agora?
( ) nada (X) água (58,34%) (X) suco (25%)
(X) refrigerante (8,33%) ( ) isotônico (X) outros (vitamina
de abacate) (8,33%)
Discussão
O presente estudo descreveu e comparou os dados antropométricos de nadadoras adolescentes de 13 a 14 anos.
Prestes et al. [12] encontraram em seu estudo, uma média
de estatura de 1,60 m e média de peso de 48,26 kg. Em relação
ao presente estudo, na mesma faixa etária e categoria- infantil
foram encontrados média de estatura de 1,61 m e de peso
48,26 kg, mostrando atletas com altura semelhante, porém
mais leves.
No estudo de Meyer e Schneider, a média de IMC
encontrada foi de 18,3 kg/m², e a observada neste estudo foi
de 19,2 Kg/m², consideradas eutróficas, com somente 2 atletas
na faixa de sobrepeso, as quais apresentaram os maiores valores
de dobras cutâneas triciptal e subescapular [13].
Em relação aos valores de percentual de gordura, a maior
parte da amostra, ou seja, 11 das 12 atletas classificaram-se
Tabela I - Características gerais da amostra de atletas adolescentes do gênero feminino de natação de um clube do estado de São Paulo, 2011.
Atleta
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
Média
Máximo
Mínimo
Idade
14
13
13
14
13
14
13
13
14
13
14
14
13,5
13
14
Peso
49,0
65,4
44,8
54,4
39,3
48,5
52,2
48,3
50,7
47,6
48,2
45,9
49,5
65,4
39,3
Estatura (m)
1,68
1,67
1,63
1,66
1,54
1,66
1,51
1,51
1,67
1,66
1,51
1,60
1,61
1,68
1,51
IMC (Kg/m²)
17,4
23,5
16,9
19,7
16,6
17,6
22,9
21,2
18,2
17,3
21,1
17,9
19,2
23,5
16,6
DCT
13
23
9
13
13
15
14
9
11
14
8
11
12,8
23
8
DCSE
7
21
8
9
7
7
11
7
12
12
9
7
9,8
21
7
% de gordura
18,9
33,7
16,4
20,5
18,9
20,5
22,6
15,5
21,2
23,3
16,4
17,2
20,4
33,7
15,5
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
154
como adequadas segundo Deurenberg et al.[10]. Apenas uma
atleta apresentou percentual alto de gordura corporal, além
de apresentar-se acima da média de peso, estatura e IMC.
Tabela II - Valores de peso inicial, peso final, porcentagem de perda
hídrica, taxa de sudorese e consumo de água de atletas adolescentes
do gênero feminino de natação de um clube do estado de São Paulo,
2011.
Atleta
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
Média
Máximo
Mínimo
Pi (kg) Pf (kg)
49
65,4
44,8
54,4
39,3
48,5
52,2
48,3
50,7
47,6
48,2
45,9
49,5
65,4
39,3
50,2
66
45,4
55
39,7
48,7
52,7
48,4
51,4
47,9
47,9
45,8
49,9
66
39,7
Taxa
Água
% perda
sudorese consumida
hídrica
(mL/min.)
(mL)
2,4
6,1
650
0,9
4,7
180
1,3
6,7
0
1,1
0
600
1
3,1
680
0,4
2,2
0
1
3,3
200
0,2
6,1
450
1,4
3,7
360
0,6
1,7
450
1
4,4
100
0,2
1,1
500
1,0
3,6
347,5
2,4
6,7
650
0,2
0
0
O treino de todas as atletas é semelhante, não havendo
diferença entre fundistas e velocistas, porém nas competições
há a diferenciação, e em relação ao peso e IMC, as velocistas,
atletas de provas de curta duração apresentaram valores menores em relação as fundistas.
No presente estudo, as nadadoras em sua maioria, (n =
11), apresentaram peso final maior que o inicial, ou seja,
houve ganho de peso ao invés de perda, contrapondo-se a
outros estudos da mesma modalidade esportiva. No estudo de
Lanius et al. [8], todos os atletas apresentaram perda de peso,
com média de 0,6%, e a taxa de sudorese foi de 4,3 ml/min,
já no presente estudo a média de ganho de peso foi de 1,0%
e 3,6 mL/min de taxa de sudorese. Esta variação de perda de
peso é provavelmente devido a diferenças na temperatura da
água, variedade e intensidade dos exercícios.
As nadadoras que não ingeriram água não apresentaram
desidratação, provavelmente, durante o treinamento involuntariamente há a ingestão de água da própria piscina.
O suor é um dos principais mecanismos fisiológicos da
termorregulação. A taxa de sudorese se difere em esportes
aquáticos e terrestres, a natação apresenta condições que
alteram a termogênese corporal, já que o contato com a
água facilita a perda de calor, através do processo de condução [8,14].
Em relação ao consumo de água, foi observada uma
ampla variação, de 650 mL a ingestão zero. A justificativa
para a ausência de ingestão hídrica durante todo o treino
por parte das atletas foi pela falta da sensação de sede e o
relato de desconforto quando ingeriam líquidos durante
o exercício.
No questionário de hidratação, as atletas que apresentaram
baixa ingestão de água consideraram o treino muito forte, o
que pode ter relação, já que a percepção subjetiva de esforço
é aumentada em proporção ao déficit de líquidos [14], apesar
de não apresentarem sintomas de desidratação.
Uma das principais manifestações da desidratação é a sede.
No entanto, neste esporte, o nadador pode ter essa percepção
reduzida, já que o contato da água com a boca durante todo o
exercício estimula os receptores nervosos localizadas na região
orofaríngea, assim é como se o atleta estivesse hidratando-se
constantemente [8,15].
Conclusão
No presente estudo, verificou-se atletas bem hidratados,
sem nenhuma ocorrência de desidratação, apesar da reduzida
ingestão de água. A taxa de sudorese encontrada foi baixa.
Estes valores provavelmente são devido aos diferenciais
da modalidade esportiva, ou seja, o contato constante da
boca com a água estimula os receptores nervosos da região
orofaríngea, assim é como se a atleta estivesse se hidratando
continuamente, fazendo com que a nadadora não tenha a
sensação de sede e, portanto não se hidrate adequadamente.
A maior parte das atletas apresentou ganho de peso,
contrapondo-se a outros estudos, nos quais houve perda de
peso pelos nadadores. Fazem-se necessários mais estudos
semelhantes para comparação, a fim de identificar as reais
causas desta divergência.
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
156
Artigo original
Comportamento da frequência cardíaca
em corredores de esteira ergométrica na presença
e na ausência de música
Behavior of heart rate in runners treadmill in the presence
and absence of music
Karina Stela de Sena*, Marcus Vinicius Grecco, M.Sc.**
*Educadora Física especialista em treinamento desportivo pela FMU, **Mestre em Ciências pela Faculdade de Medicina da USP
Resumo
Objetivo: Analisar as mudanças na frequência cardíaca (FC),
durante a corrida em esteira por 20 minutos com velocidade de 8,0
km/h sem música, com música a 120 bpm (música de andamento
lento) e a 140 bpm (música de andamento rápido). Material e métodos: Participaram desta pesquisa doze homens de 21 a 36 anos,
alunos da academia Top Swin, praticantes de musculação e corrida
3 a 4 vezes por semana. A FC era mensurada no décimo minuto, no
décimo quinto minuto e por final no 20’, além de analisarmos, em
todos os participantes, a FCmáx e FCmédia em todas as etapas do
trabalho. Todos responderam questionários sobre estado de humor
e preferência musical antes dos testes. Os dados foram analisados
por média e desvio padrão, comparados pela Anova Two Way e o
nível de significância foi de p < 0,05. Resultados: Nos testes realizados a comparação da corrida sem música e com música a 120 bpm
tiveram diferença significativa na frequência cardíaca do décimo
minuto. Na comparação da corrida sem música e com música a
140 bpm também houve diferença significativa do décimo minuto.
Na comparação da música a 120 bpm com música a 140 bpm não
ocorreu diferença significativa. Conclusão: Não há diferenças significativas no comportamento da FC quando se corre com música
a 120 bpm e a 140 bpm. Teve uma diferença no décimo minuto,
quando comparamos a corrida na presença e na ausência de música.
O bom humor reparado após a corrida independe da música. A
beta-endorfina liberada durante o exercício é a maior responsável
em causar bom humor nos corredores.
Abstract
Objective: To analyze changes in heart rate (HR) during treadmill
running for 20 minutes at a speed of 8.0 km/h without music, with
music at 120 bpm (slow music) and 140 bpm ( fast music). Methods:
The study gathered twelve men 21 to 36 years attending the academy
Top Swin, bodybuilders and running 3-4 times a week. The HR
was measured in the tenth minute after the fifteenth minute and
the final 20’, also analyzed in all participants, and HRmax and HR
average at all stages of work. All completed questionnaires about
mood and musical preferences before testing. Data were analyzed
by mean and standard deviation, compared by Two Way Anova and
the significance level was p < 0.05. Results: In tests comparing the
race without music and song to 120 bpm there was a significant
difference in heart rate in the tenth minute. In comparing the race
without music and with music 140 bpm there was no significant
difference in the tenth minute. In comparing the music to music at
120 bpm with music at 140 bpm there was no significant difference.
Conclusion: No significant differences in HR behavior when running
with music at 120 bpm and 140 bpm. There was a difference in the
tenth minute, when comparing the race in the presence and absence
of music. Good humor repaired after the race is independent of
music. The endorphin released during exercise is largely responsible
for causing mood in the runners.
Key-words: race, heart rate, music.
Palavras-chave: corrida, frequência cardíaca, música.
Recebido em 29 de julho de 2011; aceito em 8 de agosto de 2011.
Endereço para correspondência: Marcus Vinicius Grecco, Rua Coriolano, 846, 05047-000 São Paulo SP, E-mail: [email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
Introdução
A música estimula adultos, crianças e idosos na prática
de exercícios físicos, cada um com o seu estilo de música
preferida. Segundo Miranda e Godelli [1], a atividade física
com música pode criar um contexto positivo e agradável e,
dessa maneira, tornar-se uma intervenção adequada para que
os indivíduos permaneçam em atividade, considerando que
tanto a música quanto a atividade física podem promover
alterações fisiológicas e psicológicas, seja de natureza positiva
ou negativa, dependendo de como são manipuladas as características de cada uma delas.
Segundo Miranda e Souza [2], a música constitui-se
em elemento valioso no contexto da atividade física em se
tratando de idosos. Isso seria devido ao fato da presença da
música levar os indivíduos a afastarem sensações desagradáveis
produzidas pelo exercício prolongado, usando a música como
um fator que pode contribuir para a adesão, diminuindo os
níveis de desistência ao longo do tempo.
Mori e Deustch [3] comentam que, para alunos de ginástica em academias, a música é muito importante dentro da
atividade. Apesar da ginástica já ter seu papel na alteração do
estado de ânimo, a presença da música tem uma influência
extremamente positiva proporcionando alegria, coragem e
vontade de se exercitar, interferindo no aspecto motivacional.
A ausência da música, por outro lado, trouxe um certo peso
à atividade tornando-a cansativa e trazendo a sensação de
inutilidade a sua prática. Não só na ginástica mas também
na hidroginástica, a música oferece o estímulo e o prazer de
executar os movimentos propostos nas aulas. Siqueira et al.
[4] falam que não basta apenas inserir músicas nas aulas de
hidroginástica, é necessário escolher a música certa para o
objetivo da aula e mais precisamente para o movimento proposto, pois, assim, terá a atividade muscular desejada. Neves
et al. [5] comentam que vários exercícios causam mudanças
na frequência cardíaca, melhorando o condicionamento físico.
A hidroginástica e a corrida são algumas opções de atividades
para melhoria do condicionamento físico. Para que os objetivos sejam alcançados com eficácia é importante o controle
da intensidade do exercício durante as aulas. Este é um dos
fatores mais importantes quanto à prescrição de exercícios,
devendo ser constantemente monitorada para garantir que o
trabalho seja realizado na faixa adequada de esforço, a fim de
se obter todos os benefícios da atividade. Uma das maneiras
mais eficazes de monitoramento da intensidade baseia-se no
controle da frequência cardíaca.
A música nas atividades e exercícios físicos é um fator
de estímulo na maioria das vezes, mas pode ser também um
fator desestimulante quando se escuta uma música desagradável aos ouvidos. Segundo Santos [6], a música de ritmo
forte, própria para a prática de exercícios físicos, aumenta a
frequência cardíaca dos participantes. A frequência cardíaca
no exercício físico pode aumentar ou não, dependendo da
música escutada durante o exercício.
157
Monteiro et al. [7] examinaram os efeitos do andamento
da música sobre a frequência cardíaca em praticantes de
ginástica aeróbica do sexo feminino com diferentes níveis de
aptidão (baixa, média e alta) e três diferentes andamentos de
música (lenta, moderada e rápida). Verificaram que os indivíduos iniciantes apresentaram frequência cardíaca maiores que
os intermediários, que, por sua vez, apresentaram frequências
cardíacas maiores que os avançados. Portanto, na ginástica
aeróbica, como programa de treinamento, a intensidade
pode ser controlada por meio do andamento musical, pois o
mesmo impõe uma velocidade de execução do movimento de
forma similar ao metrônomo, desde que se observem os níveis
iniciais de aptidão do praticante para adequação do mesmo.
Tibeau [8] comenta que a música tem uma grande importância no desenvolvimento motor, cognitivo e sócio-afetivo,
sendo de grande valor na educação física escolar. Vivências
práticas que evidenciam atividades rítmicas motriciais prazerosas, com sentido e significado, são necessárias para o desenvolvimento da capacidade de expressão e abrem caminho para
a expansão das conexões nervosas entre o cérebro e o corpo.
Lacerda et al. [9] falam que a música, durante a atividade, traz
muitos benefícios, mas dependendo da maneira utilizada pode
trazer riscos à saúde dos alunos e dos professores. Os níveis
de pressão sonora contida nas músicas em atividades de lazer,
especificamente nas academias de ginástica, é considerada
parte indispensável nas aulas de ginástica e não são raros os
professores da área que acreditam que o som muito intenso
aumenta o rendimento dos alunos, mantendo-os motivados,
existindo, assim, a possibilidade desta exposição oferecer riscos
à audição e a voz dos profissionais expostos por várias horas ao
dia. Na cidade americana de Massachussets foi aprovado um
projeto de lei que adverte que no interior das academias de
ginásticas deverão existir placas informativas de que o ruído
não deverá ultrapassar 90db NPS (níveis de pressão sonora),
objetivando a proteção auditiva dos indivíduos [10]. Deus e
Duarte [11] perceberam que não existia uma preocupação por
parte das academias e dos professores quanto ao nível de risco
que poderiam estar expostos, pois utilizavam níveis sonoros
superiores àqueles que o ouvido humano estaria preparado
para suportar. Desta maneira percebemos que a música traz
muitos benefícios como estímulo e diminuição de sensação
de cansaço, desde que tomemos cuidado com os decibéis.
A música, além de vários benefícios que ela faz durante a
atividade física, também ajuda no cuidado terapêutico. Para
Bergold et al. [12], a música se constitui como expressão artística e cultural, importante e universal, produzindo trilhas
sonoras que embalam o cotidiano da vida social, afetiva e
profissional das pessoas, além de favorecer a manutenção da
saúde mental, a prevenção do estresse e o alívio do cansaço
físico. O interesse da enfermagem pela música como um recurso no cuidado tem aumentado e pode ser constatado nos
estudos que apontam suas diversas contribuições junto ao
cliente, a exemplo de trazer conforto, diminuir a dor, facilitar
a comunicação e a relação cliente-enfermeiro, tornando o
158
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
cuidado mais humanizado. O uso da música na sua prática
do cuidar está preocupado em fazê-lo de forma respeitosa
com conhecimento científico e valorizando a construção de
subjetividades inerentes ao afeto e a criatividade.
Em toda a atividade praticada tem que haver uma preocupação com a música que irá escutar, pois pode influenciar
muito o praticante, deixando-o mais agitado ou mais calmo
dependendo do estilo musical. Segundo Valim et al. [13], as
aulas de alongamento, com o objetivo de se alcançar o relaxamento, podem ser acompanhadas de música. Estas músicas
são suaves, sem o predomínio de ritmo com supremacia da
melodia, e muitas delas são sem acompanhamento vocal, ou
seja, instrumentais, que facilitam o relaxamento corporal.
Tal escolha é feita, muitas vezes, sem levar em consideração
a preferência musical do grupo que praticará o exercício. As
preferências musicais são pessoais e se originam de necessidades biológicas individuais, culturais, de treinamento e de
experiências, as quais podem ou não ser modificadas. A música
é composta por ritmo, melodia e harmonia, cada um destes
aspectos tem sua determinada atuação no ritmo corporal, nos
movimentos, nas emoções e a harmonia no intelecto. Valim
et al. [13] dizem que a música pode afetar a energia muscular,
elevar ou diminuir os batimentos cardíacos e influenciar na
digestão. A função da música é dirigir a atenção do ouvinte
para padrões adequados a um determinado estado de ânimo,
além de afastar o tédio e a ansiedade. A música nas atividades
é utilizada no sentido de motivar a continuidade dos exercícios
físicos ou de distrair o praticante de estímulos não prazerosos
como cansaço, dor e até tensão psicológica. Entretanto, o
estilo musical adequado para determinadas atividades físicas,
principalmente aquelas destinadas à diminuição do estresse,
necessita ser investigado. O estudo de Valim et al. [13] e de
Nakamura et al. [14] citam as relações entre o exercício físico,
a música e os estados de ânimo. O estudo de Nakamura [14]
investigou se há influência da música preferida e não preferida
no estado de ânimo e no desempenho em exercícios realizados em intensidade vigorosa. A hipótese foi que a música de
não preferência piore o estado de ânimo e o desempenho em
exercícios realizados em intensidade vigorosa, enquanto a
música preferida melhora essas variáveis. Os resultados desse
estudo demonstraram uma melhora dos adjetivos positivos
após a realização dos exercícios na intensidade vigorosa. A
melhora nestes adjetivos pode ser atribuída à utilização da
música preferida, pois esta ocasiona um aumento da motivação para exercitar-se, causa uma distração da monotonia
das atividades físicas repetitivas, diminui o desconforto resultante da atividade física e o sujeito avalia o ambiente como
mais agradável. Concluiu-se que as músicas preferidas e não
preferidas influenciam os estados de ânimo, porém não são
capazes de influenciar o desempenho em exercícios realizados
em intensidade vigorosa.
Afonso et al. [15] afirmam que dependendo do estilo
musical ouvido, a frequência cardíaca do indivíduo pode
mudar. Para Andrade e Ávila [16], o ritmo da música pode ser
sincronizado com as taxas de trabalho muscular para ajudar a
regular o movimento e prolongar o desempenho.
Flores et al. [17] lembram que para iniciação da atividade física é indispensável uma avaliação física e alguns testes
como, por exemplo, o da frequência cardíaca que, dentre os
fatores avaliados nos diferentes testes, destaca-se quando se
quer obter o nível de esforço exigido por uma atividade, bem
como VO2máx, por haver uma relação linear entre a frequência cardíaca e o volume de oxigênio absorvido. Por ser uma
prática relevante pode ser aplicado em diversos ambientes,
com mínima estrutura necessária. Entretanto, vários fatores
podem influenciar a frequência cardíaca, como a alimentação,
temperatura, estresse e umidade, o que pode fazer com que
esta linearidade se torne menos exata, influenciando no resultado dos testes e posteriormente na prescrição do exercício.
Todo indivíduo tem suas individualidades, que são caracterizadas pelo nível de aptidão física, condicionamento e
frequência cardíaca, apresentando diferentes respostas para
cada estímulo. Alonso et al. [18] comentam que, para o treinamento aeróbio, utiliza-se como controle de intensidade dos
exercícios físicos percentuais da frequência cardíaca máxima
e/ou do consumo máximo de oxigênio. Em qualquer um dos
casos é preciso obter o máximo que o indivíduo pode chegar,
para só então, aplicar percentuais sobre esses máximos, determinando a intensidade correta para a prática dos exercícios
e analisar os resultados. É possível perceber que as respostas
fisiológicas de uma amostra podem apresentar variações de
um indivíduo para o outro, mesmo sendo um grupo homogêneo sobre o nível de condicionamento. Assim, a utilização
das correlações do controle de intensidade poderá ser feita
desde que seja respeitada a individualidade biológica. Uma
das formas é combinar diferentes parâmetros para a prescrição
dos exercícios, bem como diferentes métodos para o acompanhamento das intensidades no exercício físico.
Lopes et al. [19] confirmam que o aumento da idade
provoca alterações na modulação autonômica exercida sobre o
nodo sinusal retratada por uma diminuição da variabilidade da
frequência cardíaca em indivíduos de meia idade que não foi
modificada de maneira significativa pelo tipo de treinamento
físico estudado. Segundo Yukio et al. [20], a capacidade de
variar a frequência cardíaca em função de estímulos externos
parece representar um importante papel fisiológico na vida
diária mesmo em situações simples de mudanças posturais,
mas principalmente em situações de esforço físico mais
intenso, como atividade esportiva. Além disso, eventos cardiovasculares ou mesmo a evolução natural da idade parecem
colaborar para a perda ou redução da capacidade de variar a
frequência cardíaca.
A análise da frequência cardíaca é muito importante para
observarmos a variação do esforço no exercício e foi utilizada
para analisar se acontecem mudanças durante a corrida com
música e sem música. Segundo Herdy et al. [21], a resposta
da frequência cardíaca, durante teste de esforço, mostra-se
de grande importância na análise prognóstica de um teste
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
funcional. Os mecanismos pelos quais o déficit cronotrópico relaciona-se a um pior prognóstico não estão totalmente
estabelecidos. A recuperação da frequência cardíaca no pósesforço está intimamente ligada à modulação do tônus vagal.
Já está bem estabelecido maior risco de morte quando existe
diminuição na atividade parassimpática. É comum acontecer
a variabilidade da frequência cardíaca em indivíduos de faixas
etárias diferentes. Para Yukio et al. [20] pode-se depreender
que a VFC (variabilidade da frequência cardíaca), aplicada
a dados extraídos de análises comparativas das respostas
cardíacas, nas posições supina e bípede, e também durante
os próprios testes de mudança postural, como a MPA (manobra postural ativa), tem uma evidente colaboração como
ferramenta de investigação do aumento da idade de seres
humanos hígidos, com relação à função autonômica cardíaca.
Houve progressiva diminuição da resposta de FC (frequência
cardíaca) com o avançar da idade, principalmente na adaptação à posição bípede, e esses dados podem servir de alerta
ao desenvolvimento de ações preventivas.
O controle da frequência cardíaca é muito importante
em muitos exercícios para alcançar os objetivos dos mesmos.
Furtado et al.[22], em seu estudo de análise de consumo de
oxigênio, frequência cardíaca e dispêndio energético, durante
as aulas de ginástica em academias, sugerem que as respostas
destas variáveis estejam de acordo com as recomendações da
American College Sports Medicine (ACSM) em relação à
zona ideal de treinamento de um exercício físico 60 a 90%
da frequência cardíaca máxima e 50 a 85% do VO2máx,
proporcionando aumento da resistência cardiorrespiratória,
melhorando a condição aeróbia e contribuindo de forma
efetiva para a manutenção e melhora da aptidão física e qualidade de vida. Segundo Martins e Santos [6,23], a música
de ritmo forte, própria para a prática de exercícios físicos,
aumentam a frequência cardíaca e uma sessão sem música é
a que tem menor aumento da frequência cardíaca. A música,
quando é consonante aos ouvidos, é capaz de aumentar o
rendimento dos indivíduos praticantes de caminhada em
comparação ao mesmo exercício realizado sem música, contudo quando a música é dissonante aos ouvidos, ela vai ser
um fator de rendimento negativo, maior que fazer exercícios
físicos na ausência de música. A relação música e exercício
físico possuem expressividades, tanto nas questões referentes
à motivação, quanto nas questões referentes a rendimento.
O estudo de Martins [23] cita que o objetivo proposto diz
respeito às alterações que a música aliada ao exercício físico
tenderia a interferir na frequência cardíaca, distância percorrida, fadiga, tensão, confusão mental, vigor, depressão e
raiva nas pessoas. Baseando-se nos resultados desse estudo,
conclui-se que a presença da música durante o exercício físico
pode contribuir para a melhoria da performance psicofisiológica do indivíduo em alguns dos itens estudados. A fadiga
foi o único item que as alterações não foram de significado
estatístico, o que nos leva a acreditar numa maior influência
dos sintomas fisiológicos sobre a acomodação psicológica dos
159
sujeitos. Contudo, sempre devemos escolher bem nossa trilha
sonora para ouvirmos durante o exercício físico, pois a música
influência muito o nosso corpo e a nossa mente.
O objetivo desta pesquisa é analisar se há mudanças na
frequência cardíaca, durante a corrida na esteira por 20 minutos com velocidade de 8,0 km/h sem música, com música
de 120 bpm (música de andamento lento) e com música de
140 bpm (música de andamento rápido).
Material e métodos
Amostra
Participaram desta pesquisa 12 participantes do sexo
masculino (21 a 36 anos), alunos da academia Top Swin na
cidade de São Paulo, em novembro de 2010. Todos praticantes
de musculação e corrida 3 a 4 vezes por semana.
Coleta de dados
Mensuramos a frequência cardíaca dos participantes durante 20 minutos de corrida em esteira da marca TRX 380
Total Health a 8 km/h, tendo em vista que os participantes
poderiam não aguentar se o tempo e a velocidade fossem
maiores. No primeiro dia, correram os 20 minutos sem música; no segundo dia, com música a 120 bpm; e no terceiro
dia, com música a 140 bpm, ouvidas por um MP3 (SONY)
contendo 20 minutos de música. Os testes foram feitos com
intervalo de 2 dias entre eles. Foi verificada, em todas as etapas
do trabalho, a FC dos alunos no décimo, décimo quinto e
vigésimo minuto. Analisamos a FCmáx e média de todos os
participantes durante a corrida.
Os participantes responderam um questionário de estado
de humor, antes e depois da corrida e um de preferências
musicais (as músicas ouvidas durante a corrida eram da
preferência dos participantes). Foi utilizado um monitor de
frequência cardíaca F4F da marca Polar, com função de medir
a frequência cardíaca dos participantes. Todos assinaram um
termo de consentimento.
Análise estatística
Os dados foram analisados por média e desvio padrão e
a comparação pela Anova Two Way e o nível de significância
p < 0,05.
Resultados
O objetivo deste estudo foi analisar se ocorre alguma mudança na frequência cardíaca, durante testes de corrida sem
música, com música de 120 bpm e com música de 140 bpm,
considerando 120 bpm um andamento musical lento e 140
bpm um andamento musical rápido, em indivíduos do sexo
masculino praticantes de corrida e musculação.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
160
As 3 tabelas apresentam as médias e desvio padrão da
frequência média, máxima, nos 10 minutos, nos 15 minutos
e nos 20 minutos da corrida.
A escala de motivação respondida pelos participantes
mostrou que no teste sem música 16,6% dos mesmos estavam
com seu estado de espírito feliz para realizar a corrida e depois
do teste ficaram mais felizes, 50% estavam com seu estado
de espírito feliz e continuaram no mesmo estado de humor
e 33,3% estavam com o estado de ânimo triste e depois do
teste ficaram felizes.
No teste com música de 120 bpm mostrou que 25% dos
mesmos estavam com seu estado de espírito feliz e depois do
teste ficaram mais felizes, 58.3% estavam com seu estado de
espírito feliz e depois do teste continuaram com o mesmo
estado de humor e 16,6% estavam com seu estado de ânimo
triste e depois do teste ficaram felizes.
No teste com música de 140 bpm mostrou que 33,3%
dos mesmos estavam com seu estado de espírito feliz e ficaram depois do teste mais felizes, 41,6% estavam com seu
estado de espírito feliz e depois do teste continuaram felizes
da mesma forma e 25% estavam com seu estado de espírito
triste e ficaram felizes depois do teste.
Apresentaremos 3 tabelas sobre o comportamento da FC
com presença e a ausência de música durante a corrida em
esteira:
Tabela I - Mudança da frequência cardíaca durante 2 testes
de corrida de 20 minutos em dias diferentes, primeiro teste sem
música e segundo com música de 120 bpm, em homens praticantes
de corrida e musculação da academia Top Swin.
Sem Música
FC Média
FC Max
FC 10’
FC 15’
FC 20’
135,33 (9,1)
146,91 (12,22)
151,5 (9,2)
140,91 (11,64)
141,75 (10,02)
Música 120
bpm
133,91 (11,35)
149,16 (13,2)
137,5 (13,34)
137,83 (12,73)
140,91 (11,68)
Δ%
-1,05
1,53
-9,25
-2,19
-0,6
*p < 0,05
A Tabela I mostra que no teste houve uma diferença significativa (p < 0,05), na frequência cardíaca no décimo minuto
sem música e com música de 120 bpm.
Tabela II - Mudança da frequência cardíaca durante testes de
corrida de 20 minutos em dias diferentes, testes sem música e com
música de 140 bpm, em homens praticantes de corrida e musculação
da academia Top Swin.
Sem Música
FC Média
FC Max
FC 10’
FC 15’
FC 20’
*p < 0,05
135;33 (9,1)
146,91 (12,22)
151,5 (9,2)
140,91 (11,64)
141,75 (10,02)
Música 140
bpm
135,41 (12,41)
147,41 (16,43)
137,33 (13,68)
139,58 (14,58)
141,75 (14,05)
Δ%
0,05
0,34
-9,36
-0,95
0
A Tabela II apresenta no teste uma mudança significativa
(p < 0,05), na frequência cardíaca no décimo minuto, sem
música e com música de 140 bpm.
Tabela III - Mudança da frequência cardíaca durante testes de
corrida de 20 minutos em dias diferentes, testes com música de 120
bpm e com música de 140 bpm, em homens praticantes de corrida
e musculação da academia Top Swin.
FC Média
FC Max
FC 10’
FC 15’
FC 20’
Música
120bpm
133,91 (9,1)
149,16 (12,22)
137,5 (9,2)
137,83 (11,64)
140,91 (10,02)
Música 140
bpm
135,41 (12,41)
147,41 (16,43)
137,33 (13,68)
139,58 (14,58)
141,75 (14,05)
Δ%
1,12
-1,18
-0,13
1,26
0,59
*p < 0,05
A Tabela III mostra que no teste com música de 120 bpm
com o de 140 bpm não houve diferença significativa (p <
0,05) na mudança da frequência cardíaca em nenhum dos
momentos analisados.
Discussão
As Tabelas I e II mostram que a maior diferença no comportamento da FC ficou na análise do décimo minuto, enquanto
os outros parâmetros não tiveram diferenças significativas.
Alonso et al. [18] demonstram que a queda da variabilidade
da frequência cardíaca ocorre durante a fase do exercício em
que predomina o metabolismo aeróbico como fonte de energia.
Santos [6] mostrou que a música através da teoria da atenção
restrita e do estabelecimento do ritmo da atividade é fator de
motivação, distração e animação dos sujeitos durante sua prática, afetando o fisiológico (FC e rendimento) e o psicológico
(estado de humor) dos indivíduos. A música rápida de 140 bpm
do teste alterou pouco a frequência cardíaca, deixando-a menos
acelerada, possivelmente pelo motivo da música ser um fator
fisiológico menos estressor para a FC, liberando menor estímulo
adrenérgico, e um aspecto motivacional, ajudando o indivíduo
a correr sem perceber o esforço realizado. No grupo sem música a FC ficou mais elevada em alguns momentos, talvez pela
falta de música, que deixa o exercício mais estressante para o
praticante. Mori e Deustsch [5] relatam que a ginástica rítmica
acompanhada de música interfere nos estados de ânimo de seus
participantes de forma positiva, as ginastas se sentiram menos
tristes, com menos medo e mais ativas. A atividade física com
música por ser mais agradável poderia reforçar a sensação de
desligamento da sensação de fadiga. Assim, temos motivos para
utilizar a música na execução da atividade física; porém, alguns
estudos mostram que é importantíssimo oferecer a música que
mais agrada ao praticante de corrida, caso contrário, poderá ter
efeito deletério ao desempenho.
Nakamura et al. [14] observam que a música ocasiona
alterações positivas no desempenho do exercício físico e no
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
estado de ânimo, exercido pelo estilo da música ouvida durante
os exercícios. Está bem estabelecido que a preferência musical
é capaz de influenciar os estados de ânimo positivamente e ou
negativamente. Teoricamente, as músicas preferidas são estímulos prazerosos que provocam uma melhora no estado de humor
e possivelmente no desempenho do exercício. Por outro lado,
a música não preferida é um estimulo não prazeroso, causando
uma piora no estado de ânimo e uma diminuição no desempenho. Neste trabalho, antes dos testes, foi aplicado um questionário de preferência musical, sendo que 60% preferiram rock,
30% foram dance e 10% responderam MPB. Todos ouviram
durante a corrida músicas de sua preferência. Segundo Valim et
al. [13], as preferências musicais são pessoais e se originam de
necessidades biológicas individuais, culturais, de treinamento
e de experiências, podendo ou não ser modificadas. Podemos
apreciar as músicas e classificá-las para diferentes funções, por
exemplo, músicas para dançar, músicas só para ouvir. Muitos
ouvintes acreditam que a música é entretenimento, outros,
verdadeiros consumistas, a utilizam em vários ambientes e
atividades diárias. Consciente ou não da sua presença, as
pessoas escutam músicas, expondo-se a seus efeitos. Miranda
e Godelli [24] comentam que a música nas atividades físicas é
utilizada no sentido de motivar a continuidade dos exercícios
físicos e de distrair o praticante de estímulos não prazerosos
como cansaço, dor ou até tensão psicológica. Entretanto, o
estilo musical adequado para determinada atividade física,
principalmente aquelas destinadas à diminuição de estresse,
necessita ser investigada. O fator humor e estado de ânimo
após atividade física parece não ter influência da música e sim
da liberação do hormônio beta-endorfina durante o esforço
físico. Este hormônio é conhecido pelo seu poder analgésico e
gerador de bem-estar físico [1].
Conclusão
Não há diferenças significativas no comportamento da
FC quando se corre com música a 120 bpm e a 140 bpm.
Houve uma diferença no décimo minuto, quando comparamos a corrida na presença e na ausência de música. O bom
humor reparado após a corrida independe da música. A betaendorfina liberada durante o exercício é a maior responsável
em causar bom humor nos corredores.
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
162
Artigo original
Maturação esquelética versus idade cronológica
nas categorias de base do futebol
Skeletal maturity versus age chronological age
in young Brazilian soccer players
Marcos Maurício Serra, Ft.*, Angélica Castilho Alonso, Ft.**, Julio Stancati*** , Júlia Maria D’Andréia Greve****
*Profissional da Educação Física, Fisioterapeuta, Especialista em Fisiologia do Exercício, **Profissional da Educação Física, doutorando pelo Departamento de Fisiopatologia Experimental – FMUSP e Pesquisadora do Laboratório do Estudo do Movimento
(LEM) do IOT/HCFMUSP, *** Médico especialista em Medicina Esportiva, ****Fisiatra, professora associada da FMUSP, Diretora
do Laboratório do Estudo do Movimento IOT-FMUSP
Resumo
O presente estudo teve como objetivo comparar a idade cronológica versus idade óssea de jogadores de futebol das categorias de
base do futebol brasileiro. Foram avaliados 30 jovens jogadores de
futebol com idade cronológica de 15,0 (± 0,7) anos e idade óssea
(avaliada pela radiografia de punho esquerdo) de 16,5 (± 1,0) anos,
inscritos na Federação Paulista de Futebol. Todos estavam treinando
três e cinco vezes por semana e jogando, de forma competitiva pelo
período mínimo de um ano. Os jogadores de futebol da categoria
de base apresentam idade óssea maior que suas idades cronológicas
(p = 0,001). Sugere-se que os jogadores de futebol das categorias de
base do futebol brasileiro apresentam uma maturação esquelética
significantemente maior que suas idades cronológicas.
Palavras-chave: idade óssea, maturidade esquelética, punho,
desenvolvimento ósseo, futebol.
Abstract
The purpose of this study was to compare the chronological age
versus skeletal maturity of the young Brazilian soccer players. We
evaluated 30 young soccer players with a mean chronological age
of 15.0 (± 0.7) years and mean skeletal maturity of 16.5 (± 1.0)
years (assessed by radiograph of left wrist) enrolled in the Paulista
Soccer Federation. All trained three to five times/week during one
year or more. The results showed that the young soccer players have
a significantly higher skeletal maturity than their chronological age
(p = 0.001). We conclude that the young Brazilian soccer players
of the basic categories have a significantly higher skeletal maturity
than their chronological age.
Key-words: bone age, skeletal maturity, wrist, bone development,
soccer.
Recebido em 28 de julho de 2011; aceito em 26 de agosto de 2011.
Endereço para correspondência: Marcos Maurício Serra, Rua Dr. Ovídio Pires de Campos, 333, 04503-010 São Paulo SP, E-mail:
[email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
163
Introdução
Material e métodos
A formação de atletas de elite inicia-se na infância e há dificuldades para se fazer a adequação das cargas de treinamento
para os jovens atletas, que muitas vezes não levam em consideração as características maturacionais e de desempenho.
O desempenho esportivo excelente só pode ser alcançado quando os seus fundamentos são trabalhados e bem
desenvolvidos na infância, mas é necessário que se respeite
o desenvolvimento dos atletas jovens nos diferentes estágios
de maturação.
Um bom planejamento de treinamento deve considerar
os processos de crescimento e desenvolvimento da constituição corporal e aptidão física dos jovens, pois organismos
em diferentes estágios de maturação apresentam índices de
aptidão física diferentes, em especial no componente força
[1]. A adequação do treinamento e desempenho à maturidade
biológica deve nortear os profissionais que trabalham com
as atividades esportivas. O desempenho esportivo de elite e
as características do crescimento das crianças e adolescentes
estão associados com o estágio de maturação biológica [2].
Respeitar os níveis de maturação esquelética e muscular dos
jovens adolescentes, colocando-os para competir e treinar em
igualdade de condições do desenvolvimento físico maturacional é primordial na prática esportiva.
O futebol, sistematicamente, exclui garotos de maturação
tardia e favorece garotos com maturação precoce, que ajuda na
especialização esportiva. É possível que garotos com maturação tardia abandonem o futebol [3]. Adolescentes fisicamente
imaturos podem sofrer mais lesões quando jogam futebol com
companheiros de mesma idade mais maduros fisicamente [4].
Já Machado et al. afirmam que indivíduos de mesma idade
cronológica, porém mais maturados, podem apresentar vantagens esportivas pela maior força e massa muscular. O estado
de maturidade de uma criança ou de um adolescente pode ser
definido por sua idade cronológica e por sua idade óssea [6].
A criança é fisiologicamente diferente do adulto e deve
ser treinada de maneira diferente do adulto. Os programas de
treinamento devem ser específicos para cada grupo etário com
atenção para os fatores de desenvolvimento ligados à idade.
Em geral a capacidade de desempenho aumenta à medida
que a criança se aproxima da maturidade física. No entanto,
quando os atletas categorias de base atingem a maturidade
física, suas funções fisiológicas atingem um platô [6].
Um dos métodos mais utilizados para determinar a idade
óssea é o de Greulich & Pyle [7] que é a radiografia de mão
e punho esquerdo do indivíduo comparado com padrões radiográficos. É um método eficaz e ajuda os educadores físicos
e profissionais ligados à medicina esportiva na prescrição de
atividades físicas adequadas, que não interferem na maturação
corporal e ajudam na prevenção de lesões.
Este estudo tem como objetivo comparar a idade cronológica versus idade óssea de jogadores de futebol das categorias
de base.
Trata-se de um estudo descritivo transversal, realizado
no departamento Médico de Futebol Amador do S.C. Corinthians Paulista e obteve aprovação do Comitê de Ética e
Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Brasil) nº
1321/03, respeitando as normas internacionais de experimentação com humanos.
O estudo seguiu as diretrizes e normas que regulamentam
a pesquisa com seres humanos (lei 196/96), sendo informado
aos participantes todos os propósitos e métodos utilizados
no estudo e ressaltando o direito dos mesmos, de desistir do
experimento a qualquer momento. Após obtenção de termo
de consentimento livre e esclarecido dos pais ou responsáveis,
os dados foram coletados.
Foram avaliados 30 jovens jogadores de futebol, praticantes há mais de um ano e que disputavam os campeonatos de
futebol organizados pelas Federações Estaduais e Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
Os critérios de inclusão foram: jogadores de futebol; sexo
masculino; idade entre 13 e 16 anos; inscritos na Federação
Paulista de Futebol; ser brasileiros e residentes na cidade de
São Paulo; e estarem treinando (frequência entre três e cinco
vezes por semana) e jogando competitivamente pelo clube
pelo período mínimo de um ano.
A idade cronológica foi calculada com base nas datas de
nascimento e do dia em que as radiografias foram realizadas.
A idade óssea foi avaliada por meio da radiografia de punho
esquerdo, seguindo o protocolo de Greulich e Pyle [7].
Analise estatística
A análise descritiva foi realizada por meio de comparações
de seus percentuais por categoria ou pelo cálculo de suas
médias, medianas e desvio-padrão.
As variáveis foram testadas para distribuição normal por
meio do teste de Komogorov-Smirnov.
A comparação das variáveis idade óssea com idade cronológica foi feita pelo teste t não pareado.
Os testes estatísticos foram considerados significantes para
um erro alfa de 5% (p < 0,05). Os cálculos e gráficos foram
realizados no software Statistica (Versão 5.1 – Statsoft, Inc,
Tulsa, OK) e Microsoft Excel (Versão 2003 SP2, Portland,
OR).
Resultados
Foram avaliados 30 jovens jogadores de futebol com média
de idade cronológica de 15,0 (± 0,7) anos e média de idade
óssea de 16,5 (± 1,0) anos.
Os jogadores de futebol das categorias de base apresentam
uma maturação esquelética significantemente maior que suas
idades cronológicas (p = 0,001) (Figura 1).
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
164
Figura 1 - Comparação da idade cronológica versus idade óssea dos
jogadores de futebol.
17,0
Cronológica vs. Óssea
16,8
16,6
16,4
16,2
16,0
15,8
15,6
15,4
15,2
15,0
14,8
14,6
Cronológica Óssea
Mean
±SE
±1,96*SE
Discussão
Crescimento, desenvolvimento e a maturação são termos
que podem ser utilizados para descrever as alterações que
ocorrem no corpo, que têm início na fase embrionária e
continuam até a idade adulta [1,5]. Os eventos biológicos
causam mudanças nos sistemas endócrino, nervoso, antropométrico e fisiológico [8]. O crescimento e desenvolvimento
das estruturas corporais regem as capacidades fisiológicas e
de desempenho [9].
Crescimento é o aumento do tamanho do corpo ou de
qualquer uma de suas partes. Desenvolvimento refere-se à
diferenciação celular e especialização de funções e reflete
as alterações funcionais que ocorrem com o crescimento.
Maturação é o processo de aquisição da forma e função do
organismo adulto e é definida pelo sistema ou pela função
que estiver sendo considerada [6].
Bloomfield et al. [10] defenderam a necessidade de referenciais de parâmetros de aptidão física e de crescimento dos
jovens atletas para a avaliação do desenvolvimento e elaboração de perfis de acompanhamento destes atletas.
A maturação de um indivíduo implica em mudanças
morfológicas observadas durante o crescimento, acentuadas
na puberdade, envolvendo a maioria dos órgãos e estruturas
corporais; no entanto, tais eventos não têm início na mesma
idade e não tem a mesma duração para completarem seu ciclo
de transformações definitivas [2,3,5].
As respostas individuais do desenvolvimento à atividade
física de treinamento regular são insuficientes para alterar os
processos de crescimento e maturação programados genotipicamente [3,6]. Machado & Barbanti [5] descrevem que os
fatores genéticos têm grande participação na determinação
d estatura, distribuição de massa corporal, comprimento de
membros, estrutura óssea e aspecto facial, mas que o baixo
nível socioeconômico, a alimentação inadequada ou insuficiente, a falta de atividade física e algumas doenças podem
interferir no resultado final. Portanto não se sabe quais as
repercussões do treinamento e prática de futebol organizado
e competitivo na maturação esquelética dos jovens jogadores.
A avaliação da maturidade esquelética pela radiografia de
punho esquerdo é bem aceita como medida da idade óssea
[11,12].
Em nosso estudo os atletas demonstraram uma maturação
óssea precoce quando comparado com a idade cronológica.
Machado et al. [13] correlacionaram o desempenho motor
à idade biológica determinada pelo pico de velocidade do
crescimento e demonstraram que os indivíduos que apresentavam maior idade biológica tinham melhor desempenho
nos testes motores. Demonstraram também que a idade óssea
aumenta de forma mais acelerada que a idade cronológica,
sendo que a maior diferença ocorre nos períodos etários finais
da adolescência.
Pena Reyes et al. [14] analisaram idade óssea de 55 garotos
(6-17 anos) participantes de uma liga de futebol e sugeriram
que garotos com maior maturação óssea têm mais sucesso
no futebol. Tritrakarnet et al. [15] estudaram 50 jogadores
asiáticos com idade entre 15 e 16 anos. Mais de 30% dos
atletas apresentaram idade óssea de 19 anos. Malina et al.[3]
realizaram um estudo com 135 meninos jogadores de futebol
de elite portugueses, com idade entre 10 e 17 anos e sugeriram
que o futebol exclui os jogadores com maturidade tardia e
favorece os jogadores com uma maturidade precoce em relação à idade cronológica. Silva et al. [16] compararam a idade
óssea e biológica em jovens atletas de tênis, natação e futebol.
Não houve diferenças entre os grupos, porém os atletas de
futebol foram os que apresentaram maior maturidade óssea em
relação à cronológica. Os indivíduos com maior maturidade
esquelética com músculos mais fracos são mais susceptíveis à
lesão no futebol comparados com companheiros de mesma
idade cronológica [4,17]. Hansen et al. [18] analisaram 98
jogadores de futebol de 10-12 anos divididos em jogadores
de elite e não elite. A estatura corporal, peso corporal, índice
de massa corporal, dobras cutâneas, maturação, potencial
genético para a altura e peso e estatura no nascimento foram
analisadas. Constataram que os jogadores de elite são mais
altos, apresentam dobras cutâneas mais baixas e o volume
testicular maior.
A defasagem entre idade óssea e cronológica poderia ser
um fator de seleção para a prática de futebol, pois os indivíduos mais aptos fisicamente seriam naturalmente selecionados e teriam melhor desempenho motor. Ainda que haja
melhor aptidão para a prática esportiva, o adolescente é um
organismo em desenvolvimento e crescimento, com necessidades especiais de alimentação e treinamento. Cargas altas de
treinamento para jogadores de futebol jovens é uma prática
comum de muitos treinadores e preparadores físicos, pois
atletas com maturação precoce se sobressaem nestas categorias
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
[18-21]. O excesso de treinamento e atividades inadequadas
podem causar graves lesões e acabar com a carreira de um
atleta, além de alijar potenciais talentos com menor grau de
desenvolvimento ósseo na adolescência.
Estes parâmetros são muito importantes para educadores
físicos, fisioterapeutas e médicos, permitindo a prescrição adequada de exercícios e cargas para os futebolistas, respeitando
a maturação corporal dos jovens.
Conclusão
Os jogadores de futebol da categoria de base analisada
apresentaram uma maturação esquelética significantemente
maior que suas idades cronológicas.
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166
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
Revisão
Nutrição, hidratação e suplementação
para jogadores de futebol
Nutrition, hydration and supplementation for soccer players
Luiza Antoniazzi Gomes de Gouveia*, Adriana Passanha**
*Nutricionista, especialista em Nutrição Hospitalar em Cardiologia pelo Instituto do Coração (InCor) da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo, **Nutricionista com aprimoramento em Nutrição em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública
da Universidade de São Paulo
Resumo
O objetivo desta revisão é relacionar diversos assuntos sobre
futebol e nutrição, como necessidade energética, ingestão de macro
e micronutrientes, hidratação e suplementação, a partir de dados da
literatura científica. Por meio de rastreamento literário sistemático,
foram selecionados artigos publicados nos idiomas português e
inglês, durante o período de 2000 a 2009. O consumo adequado
de nutrientes é essencial para um bom desempenho no esporte;
assim sendo, a dieta de um jogador de elite deve atender seu gasto
energético, fornecer balanço adequado de carboidratos, proteínas e
lipídeos, além de atender às recomendações de vitaminas e minerais.
A hidratação e o balanço eletrolítico devem ser adequados a cada
jogador, contribuindo para o bom desempenho nas partidas. A relevância da ingestão de suplementos no futebol deve ser discutida sob
perspectiva científica, juntamente com preocupações éticas ligadas
à suplementação e à educação esportiva.
Palavras-chave: futebol, necessidades nutricionais, hidratação,
suplementos dietéticos.
Abstract
The objective of this review was to relate various issues about
football and nutrition, such as energy needs, intake of macro and
micronutrients, hydration and supplementation, based on scientific
literature data. Articles published in Portuguese and English, from
2000 to 2009, were selected using systematic screening. Adequate
intake of nutrients is essential for good performance in sports;
therefore, elite player’s diet should match energy expenditure, to
provide adequate balance of carbohydrates, proteins and lipids,
and the recommended intake of vitamins and minerals. Hydration
and electrolyte balance should be tailored to each player, thereby
contributing to the good performance in games. The relevance of
taking supplements in football should be discussed from scientific
perspective, along with ethical concerns related to education and
supplementation in sports.
Key-words: soccer, nutritional requirements, fluid therapy, dietary
supplements.
Recebido em 5 de julho de 2011; aceito em 19 de agosto de 2011.
Endereço para correspondência: Luiza Antoniazzi Gomes de Gouveia, Universidade de São Paulo, Faculdade de Saúde Pública,
Departamento de Nutrição, Avenida Dr. Arnaldo, 715 - 2º andar, Cerqueira Cesar 01246-904 São Paulo SP, Tel: (11) 3061-7701,
E-mail: [email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
Introdução
Recomendações dietéticas
O futebol é o esporte mais popular do mundo, com
aproximadamente 200 milhões de jogadores em 186 países
registrados na International Federation of Football Association (FIFA) [1].
A demanda fisiológica do futebol é muito variada durante
o jogo, sendo atribuída a diversos fatores como aptidão física,
condições climáticas, condições nutricionais, entre outros [2].
O desempenho de jogadores de futebol vem melhorando nas
últimas décadas: a distância média percorrida durante uma
partida aumentou em mais de 50%, comparada com o que
se observava na década de 70. Esta melhora se deu, provavelmente, pelo desenvolvimento e intensificação das cargas
ao longo dos anos [3].
O futebol é uma modalidade de esporte com exercícios
intermitentes de intensidade variável. Uma partida do jogo
envolve mais atividades aeróbias (88%) do que anaeróbias
(12%). A distância percorrida no primeiro tempo é 5% maior
do que a do segundo tempo e a distância varia de acordo com
a posição do jogador em campo [4]. Dependendo da função
tática que o jogador exerce no time, ele tem um nível de solicitação metabólica que exige e gera adaptações diferenciadas
nos processos de produção de energia [5].
Desde a Conferência da FIFA sobre Nutrição no Futebol realizada em 1994, o futebol de elite tem se desenvolvido muito, considerando a performance no jogo e no
treino [6]. Alimentação, treinamento e estado nutricional
são fatores fundamentais para um bom desempenho na
partida. As necessidades energéticas dos jogadores dependem, também, da função tática, da distância percorrida e
do estilo do jogo [7].
O aumento das necessidades de macro e micro nutrientes pode ser suprido adequadamente através de dieta
saudável e balanceada. Apesar disso, a ingestão adequada
de alguns suplementos juntamente com um treinamento
apropriado pode contribuir para melhora significativa de
desempenho [8].
O objetivo desta revisão é relacionar diversos assuntos
sobre futebol e nutrição, incluindo necessidade energética,
ingestão de macro e micronutrientes, hidratação e suplementação, a partir de dados da literatura científica.
Necessidades energéticas
Material e métodos
As informações foram obtidas por meio de rastreamento
literário sistemático, nas bases de dados Lilacs, Medline,
Scielo e Bireme, empregando-se a técnica booleana utilizando
as palavras: and e or e os seguintes descritores: “futebol” or
“soccer” and “nutrição” or “nutrition”, com limites de idioma (português e inglês) e de período (2000 a 2009). Foram
rastreados 72 materiais. Destes, 24 foram selecionados por
atenderem aos objetivos da presente pesquisa.
167
A quantidade e a qualidade dos treinamentos influenciam
o gasto energético diário. Jogadores de futebol treinam em intensidade moderada a alta, e tem suas necessidades energéticas
em torno de 3150 a 4300 calorias diárias. O gasto energético
por jogo pode alcançar 1360 calorias [4,7].
Carboidratos
Uma dieta com quantidades adequadas de carboidrato é
essencial para o desempenho atlético, pois esse nutriente é
estocado no fígado e músculos como glicogênio, tendo como
função prover fonte primária de energia para os músculos em
exercício e para o cérebro, além de metabolizar gordura de
forma mais eficiente [7].
O jogo de futebol demanda tanto as reservas de carboidrato quanto as de líquidos. A ingestão de carboidratos antes
e durante uma partida diminui a utilização de glicogênio
muscular durante o jogo, e aumenta o desempenho na corrida
durante os momentos finais [6,7].
Durante a primeira metade do jogo, o nível de glicogênio
muscular não constitui fator limitante do desempenho. Na
segunda metade, se esse nível estiver reduzido desde o início
do jogo haverá comprometimento do desempenho físico.
Normalmente há depleção de 20 a 90% do glicogênio muscular durante competições de alto nível [4].
A ingestão de 312 g de carboidratos nas 4 horas precedentes ao início do exercício resulta em aumento de 15% no
desempenho físico. Essa ingestão 10 minutos antes do início
de um jogo diminui a utilização de glicogênio muscular em
39%, aumenta a velocidade de corrida e a distância percorrida
na segunda metade da partida em 30%. Os jogadores que
ingerem bebidas contendo carboidratos mantêm intensidade
maior de exercício durante a partida, quando comparados
com os que consomem somente água [4].
É importante o consumo imediato de alimentos ricos
em carboidratos após o exercício por ser o momento em
que a recuperação dos estoques de glicogênio muscular está
mais sensível. Essa recuperação envolve a restauração dos
estoques hepáticos e musculares de glicogênio, reposição
de fluidos e eletrólitos, regeneração e reparos de lesões
causadas pelo exercício e adaptação após o estresse catabólico. Problemas musculares, por trauma ou treinamento
excessivo, podem limitar o potencial de reposição destes
estoques [4,7].
A síntese de glicogênio muscular tem precedência na
restauração do glicogênio hepático e ocorre mesmo sem a
ingestão de carboidratos, após o exercício, em taxas baixas, a
partir dos substratos fornecidos pela neoglicogênese. Porém,
a síntese completa depende da ingestão adequada de carboidratos, de preferência de índice glicêmico de moderado a alto,
168
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
que demonstraram ser mais eficazes na taxa de ressíntese do
que alimentos com índice glicêmico baixo [4].
A recomendação de ingestão de carboidratos para os jogadores de futebol é de 60 a 70% do valor energético diário
total, ou 6 a 10 g/kg/dia [7].
Proteínas
A oxidação de aminoácidos (principalmente os de cadeia
ramificada), as lesões introduzidas pelo exercício nas fibras
musculares, o uso de pequenas quantidades de proteína como
fonte de energia e o ganho de massa magra aumentam as
necessidades proteicas [7].
A proteína contribui para o pool energético durante o
repouso e o exercício, sendo que durante a atividade sua
oxidação contribui com 5 a 10% do fornecimento total de
energia. Assim, os aminoácidos servem como fonte auxiliar de
combustível durante exercícios intensos e de longa duração e,
após sua oxidação, são irreversivelmente perdidos. Caso não
sejam repostos, via alimentação, haverá comprometimento do
processo normal de síntese proteica. Isso pode levar à perda
da força muscular, diminuindo, assim, o desempenho durante
uma partida de futebol [4].
O consumo mais indicado para jogadores de futebol varia
entre 1,4 a 1,7 g/kg/dia. Esta recomendação é facilmente
alcançada pelos jogadores brasileiros com consumo diário de
carnes, e da combinação do arroz com feijão [7].
Em atletas adolescentes do sexo masculino há aumento da
massa muscular, o que pode estimular o metabolismo proteico. A ingestão de proteína deve ser adequada para sustentar
o crescimento e suprir a oxidação aminoacídica que pode
ocorrer durante o treino. Para esta população, a recomendação
de ingestão proteica é de 1,6 g/kg/dia [8,9].
Lipídeos
O objetivo da utilização de gordura durante o exercício é poupar o uso do glicogênio muscular. Este nutriente
também participa do transporte de vitaminas lipossolúveis
pelo organismo e faz parte da composição das membranas
celulares. Assim, o consumo de lipídeos entre jogadores de
futebol deve ser de 30% do valor energético total diário. É
importante não ultrapassar a recomendação de ingestão, para
não tornar difícil o consumo das quantidades preconizadas
de carboidratos e para não causar danos à saúde relacionados
ao excesso de gorduras na dieta [7].
Vitaminas e minerais
Algumas vitaminas e minerais desempenham papel importante no metabolismo energético; por isso, a inadequação de
um ou mais micronutrientes pode comprometer a capacidade
aeróbia e anaeróbia. Atletas submetidos a intenso programa
de treinamento e competições (como é o caso dos jogado-
res de futebol) têm, possivelmente, alguma dificuldade em
manter níveis adequados de vitaminas, pois o exercício pode
causar redistribuição dos minerais entre os compartimentos
corporais [4,7].
A suplementação com vitaminas e minerais é uma prática
bastante comum entre atletas do futebol, visando melhorar
seu desempenho (embora não haja evidências científicas de
que a suplementação tenha algum tipo de efeito ergogênico).
A suplementação vitamínica e de minerais melhora as concentrações bioquímicas desses micronutrientes, mas não altera
a capacidade de captação de oxigênio ou a concentração de
lactato no sangue durante exercícios aeróbios com intensidade
elevada (como é o caso do futebol). Pode-se dizer que essa
suplementação em altas doses, em indivíduos com valores
bioquímicos normais desses nutrientes e que consomem dieta
adequada e balanceada, não melhora o desempenho físico [4].
Necessidades hídricas e eletrolíticas
A hidratação é um fator importante que deve ser considerado antes, durante e depois do exercício. Há evidências de
que a hidratação antes do início do exercício e durante essa
atividade melhore o desempenho, especialmente por meio de
líquidos que contenham carboidrato [10].
Devido ao fato de o futebol ser um esporte com duração
de 90 minutos, geralmente ocorrem problemas associados à
termorregulação e ao balanço hídrico. O treinamento físico
associado ao estresse térmico aumenta o fluxo sanguíneo
cutâneo e a produção de suor. Há grande variedade individual
de perda hídrica devido às diferenças na composição corporal,
taxa metabólica, aclimatação do atleta, temperatura e umidade
ambientes, variedade e intensidade de exercícios realizados
durante o jogo, diferenças no consumo máximo de oxigênio
e diferenças nas funções desempenhadas. Os jogadores de
futebol podem perder até três litros ou mais de suor durante
um jogo em dia quente. O estado crônico de desidratação
e o estresse térmico ao longo da partida podem limitar o
desempenho e ser prejudiciais ao jogador caso a desidratação
exceder 2% da massa corpórea [4,12].
Iniciar o jogo bem hidratado ingerindo 500 ml de líquido
com concentrações de 5 a 8% de polímeros de glicose, meia
hora antes do início do jogo, é conduta amenizadora dos
obstáculos encontrados no mundo do futebol resultantes da
desidratação. Essa concentração de carboidrato na bebida é
importante, visto que propicia ótimo esvaziamento gástrico
e absorção intestinal adequada [5].
Além disso, durante a partida os jogadores devem consumir líquidos em pequenas quantidades e em intervalos
regulares, para não interferir no esvaziamento gástrico e, também, repor toda a água perdida através do suor. Os líquidos
a serem oferecidos devem estar entre uma temperatura de 15
e 22ºC e ter sabor agradável, para assim promover sua ingestão voluntária. A bebida hidroeletrolítica adequada deve ter
as seguintes características: permitir que os fluidos cheguem
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rapidamente aos tecidos, fornecer carboidratos durante o
exercício, fornecer baixos níveis de eletrólitos, ser palatável
e refrescante e não causar distúrbios gastrointestinais. Após
o término do jogo, essas bebidas ajudam na hidratação e na
recuperação do glicogênio muscular [5].
O suor e a urina são as principais rotas de perdas de
eletrólitos no corpo humano e, aparentemente, há variação
na composição do suor dependendo da região do corpo. As
glândulas sudoríparas reabsorvem eletrólitos e essa quantidade reabsorvida é dependente da taxa de sudorese: quanto
menor é essa taxa mais sódio é reabsorvido; sendo assim, a
concentração de sódio secretada pelo suor é menor. A perda de
altas concentrações de sódio é fator importante para câimbras
musculares. A maioria dos jogadores apresenta perda de sódio
em torno de 3 a 4 g nos treinos e partidas, o que não torna
essencial sua reposição durante a atividade [11].
Os principais eletrólitos eliminados pelo suor são o sódio
e o cálcio; porém, a perda de cálcio ocorre em quantidade
significativamente menor. Outros eletrólitos como potássio
e magnésio estão presentes em concentrações vastamente
menores [11].
Suplementações
Para um suplemento ser considerado potencialmente
efetivo no futebol, é necessário que funcione de fato, e não
apenas que cause melhora no desempenho devido à influência
psicológica; ademais, não deve causar nenhum efeito adverso e
não conter nenhuma substância proibida ou que possa resultar
em doping positivo [12].
Alguns suplementos podem produzir efeito ergogênico
pela melhoria direta da performance nas partidas, e outros
por, a longo prazo, apresentarem efeitos benéficos para a saúde
e pela prevenção de lesões [13-16].
É comum a ingestão de quantidades excessivas de vários
suplementos. Tal prática tem custo elevado e não facilita o efeito ergogênico dos suplementos, além de não ser segura, pois
o mecanismo de ação de muitos suplementos ainda não está
completamente elucidado, tornando arriscada a combinação
dessas substâncias. Pelo ponto de vista prático, a ingestão dos
suplementos deve coincidir com o treinamento, ou mesmo
durante o descanso, de 1 a 3 horas após o exercício [12].
A seguir, serão apresentadas as principais características de
alguns dos suplementos comumente utilizados por jogadores
de futebol.
Cafeína
Estimula a utilização de gordura, diminuindo a taxa de
quebra do glicogênio muscular, além de reduzir a percepção
da fadiga, melhorando o controle motor e a reconstituição das
fibras musculares. É rapidamente absorvida pelo organismo e
seus efeitos são mantidos durante toda a partida. Os efeitos
são menores quando ingerida sob a forma de café [17,18].
169
O consumo de bebida esportiva cafeinada proporciona
efeito ergogênico para jogadores de futebol, aumentando
a potência de membros inferiores relacionada com a força
explosiva, frente a uma bebida carboidratada comercial [19].
Pequenas doses de cafeína podem beneficiar o tempo de
reação, o estado de alerta e o processamento de informações
visuais. A ingestão de 1 a 2 mg/kg peso melhora o desempenho
sem causar confusão mental e problemas cardiovasculares e
metabólicos [12].
Creatina
A suplementação de creatina melhora as disparadas, além
de potencializar o aumento de massa magra de 1 a 3 kg (provavelmente por um acúmulo de água intracelular e glicogênio).
Mudanças no acúmulo de proteína muscular podem acontecer
pelo melhor desempenho do indivíduo nos treinamentos de
alta intensidade, como é o caso do futebol [12].
O aumento da creatina muscular facilita as reações da
creatina-quinase por prevenir a degradação de moléculas de
energia durante contrações de alta intensidade. O estímulo
da ressíntese de fosfo-creatina muscular pode contribuir para
a melhora da recuperação entre séries de treinos agudos de
futebol [12].
A dosagem clássica de creatina é de 15 a 20 g/dia na fase
inicial (4-7 dias), e 2 a 5 g/dia na fase de manutenção. Os
efeitos da suplementação podem enfraquecer depois de dois
meses, e provavelmente melhorem após períodos de interrupção (8-10 semanas) [20].
b – Hidróxi β – metilbutirato (HMB)
O HMB é um metabólito que ocorre naturalmente a
partir do aminoácido de cadeia ramificada leucina. Supõe-se
que este componente contribua para o anabolismo muscular
por mediar a ação da leucina em inibir a quebra de proteínas
musculares [21].
A ingestão de HMB, em doses de 1,5-3 g/dia pode resultar em ganhos expressivos de massa magra e força muscular
quando associada a treinamentos de resistência do futebol.
Ingestão de HMB por curtos períodos (1 a 8 semanas) não
introduzem efeitos adversos [12,22].
Antioxidantes
O exercício físico aumenta o consumo de oxigênio e,
consequentemente, aumenta a produção de Espécies Reativas
de Oxigênio (EROs). Esse aumento pode danificar o DNA
celular, prejudicando o metabolismo da célula. Em contrapartida, o organismo possui um sistema antioxidante, e um dos
principais meios desse sistema é o enzimático, onde a atividade
das enzimas é modulada pela concentração de EROs [23].
Para um treinamento eficiente dos jogadores de futebol, são
necessários baixo stress oxidativo e boa defesa antioxidante [3].
170
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
Suplementos nutricionais de antioxidantes previnem
danos no tecido muscular de atletas. Não é cientificamente
comprovado que o aumento do treinamento aumente a necessidade de ingestão de antioxidantes pela dieta, nem que
esta suplementação tenha efeitos ergogênicos [12].
Vitamina C
Treinamentos árduos como os do futebol podem ter efeito
imunossupressivo. A vitamina C é sugerida por participar da
regulação imunológica, reduzindo a incidência de doenças
infecciosas e mantendo os jogadores saudáveis [12].
A suplementação de vitamina C não diminui o risco de
desenvolver um resfriado, mas diminui ligeiramente (~8%)
sua duração. Tal efeito é obtido com doses de 200 mg/dia,
alcançada facilmente em uma dieta balanceada [24].
Glucosamina
Jogadores de futebol apresentam alta incidência de lesões
nas articulações de tornozelo e joelho, mantendo-os afastados
de treinos em competições [12]. Há evidências de que a glucosamina ajuda na integridade estrutural dessas cartilagens,
retarda a progressão de artrites ósseas (especialmente em
indivíduos com idade avançada), tem efeito anestésico e pode
ser uma alternativa para tratamentos com anti-inflamatórios
não esteroidais [25].
A suplementação de glucosamina em doses de 20-25
mg/kg peso corporal é segura, podendo ocorrer diarreia
como efeito adverso. Pode-se utilizar a glucosamina como
uma estratégia de prevenção de dores nos joelhos e artrites
ósseas, embora não haja evidências de tais benefícios em
atletas saudáveis e jovens, considerando que os estudos
envolvem idosos [12].
Efedra
A efedra age como um agonista de receptor β-adrenérgico,
aumentando o gasto energético basal por ativar o sistema
nervoso autônomo simpático. Estudos mostram que sua
ingestão pode facilitar a perda de peso em curtos períodos de
tempo. Efeitos adversos incluem náuseas, vômitos, sintomas
psiquiátricos, hiperatividade e arritmias cardíacas. Efedra e
Efedrina estão na lista de substâncias proibidas, devendo ter
seu uso totalmente desencorajado [26].
Conclusão
O consumo adequado de nutrientes é essencial para o
bom desempenho no esporte. Dessa forma, a dieta de um
jogador de elite deve atender seu gasto energético, fornecer
balanço adequado de macronutrientes antes, durante e após
treinamentos e competições e atender às recomendações de
vitaminas e minerais.
A hidratação e balanço eletrolítico devem ser adequados a
cada jogador, otimizando, assim, o desempenho nas partidas.
A relevância da ingestão dos diversos tipos de suplementos
viáveis de serem utilizados no futebol deve sempre ser discutida sob perspectiva científica, juntamente com preocupações
éticas ligadas à suplementação e educação esportiva.
Agradecimentos
Agradecemos a contribuição de Gabriela Rodrigues,
Nathália Panzenboeck Sab e Vivian Nicastro Mansur pelo
auxílio na coleta de dados, e a professora Luciana Rossi pela
supervisão do grupo de pesquisa.
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
172
Revisão
O exercício físico modulando alterações hormonais
em vias metabólicas dos tecidos musculoesquelético,
hepático e hipotalâmico relacionado ao metabolismo
energético e consumo alimentar
The exercise modulating hormonal changes in metabolic pathways
of skeletal muscle, liver and hypothalamus related to energy
metabolism and food intake
Fábio Medici Lorenzeti*, Waldecir Paula Lima, D.Sc.**, Ricardo Zanuto, D.Sc.***, Luiz Carlos Carnevali Junior, D.Sc.****,
Daniela Fojo Seixas Chaves, D.Sc.*****, Antônio Herbert Lancha Junior*****
*Técnico em Nutrição e Dietética (ETEC – Julio de Mesquita), membro do Laboratório de Nutrição e Metabolismo Aplicado a
Atividade Motora – EEFE/USP, membro do Grupo de Estudos: Nutrição, Fisiologia e Treinamento – FEFISA, **Professor-Doutor
do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo – IFSP, membro do Laboratório de Metabolismo de Lipídios
– ICB/USP, membro do Grupo de Estudos: Nutrição, Fisiologia e Treinamento – FEFISA, ***Laboratório de Sinalização Celular
– ICB/USP, membro do Grupo de Estudos: Nutrição, Fisiologia e Treinamento – FEFISA, ****Membro do Laboratório de Metabolismo de Lipídios – ICB/USP, *****Professor titular da Universidade de São Paulo e coordenador do Laboratório de Nutrição e
Metabolismo Aplicados à Atividade Motora (EEFE-USP)
Resumo
O exercício físico é responsável por gerar diversas adaptações
morfofuncionais, endócrinas, metabólicas e neurais. Dentre estas,
destaca-se a melhora na sensibilidade à ação de hormônios como
a insulina e a leptina, bem como a modulação nas concentrações
plasmáticas dos hormônios GH, IGF-1, testosterona e cortisol,
responsáveis pela homeostase energética. A insulina é um importante
estimulante na secreção de leptina, ambos exercem papel central na
homeostase energética e controle do consumo alimentar no núcleo
arqueado do hipotálamo, controlando a secreção de neuropeptídios responsáveis pelo consumo alimentar, tais como: NPY, AgRP,
CART e POMC. Esta revisão objetiva elucidar algumas ações do
exercício físico relacionadas ao metabolismo e ao consumo alimentar, descrevendo algumas vias metabólicas que ocorrem nos tecidos
musculoesquelético, hepático e, principalmente, hipotalâmico,
ativadas por hormônios.
Abstract
Exercise is responsible for generating various morphofunctional
endocrine, metabolic and neural adaptations. Among them, there
is the improvement in sensitivity to the action of hormones such as
insulin and leptin, as well as modulation of plasma concentrations
of hormones GH, IGF-1, testosterone and cortisol, responsible for
energy homeostasis. Insulin is an important stimulation of leptin
secretion, both have central role in energy homeostasis and control
of food intake in arcuate nucleus of the hypothalamus, controlling
the secretion of neuropeptides responsible for food intake, such as
NPY, AgRP, POMC and CART. This review aimed to elucidate
some of the actions related to exercise metabolism and food intake,
describing some metabolic pathways that occur in skeletal muscle
tissue, liver, and especially hypothalamic, activated by hormones.
Key-words: exercise, hormones, metabolic pathways, food
consumption.
Palavras-chaves: exercício físico, hormônios, vias metabólicas,
consumo alimentar.
Recebido em 24 de junho de 2011; aceito em 19 de agosto de 2011.
Endereço para correspondência: Waldecir Paula Lima, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo,
Coordenação de Educação Física, Rua Pedro Vicente, 625, 01109-010 Canindé SP, Tel: (11) 2763-7536, E-mail: [email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
Introdução
O exercício de média ou alta intensidade é responsável por
gerar um balanço energético negativo [1,2]. Estudos longitudinais mostram indivíduos com perda de massa corporal em resposta à prática regular de um programa de exercícios físicos [3].
Embora os procedimentos metabólicos na geração de
energia durante a prática de exercícios físicos justifiquem a
manutenção da massa corporal, especula-se que esta prática
possa contribuir para um equilíbrio energético e metabólico
alterando a ingestão de nutrientes [1].
Estudos com animais submetidos a diversos protocolos de
treinamento físico apontam para uma melhora na sensibilidade à leptina em relação a animais controle sedentários [4-6].
É importante ressaltar que a leptina é responsável por inibir
a secreção do neuropeptídeo Y (NPY) e estimular a secreção
de POMC (pró-ópiomelanocortina) no núcleo arqueado do
hipotálamo, responsáveis, respectivamente, por aumentar e
inibir o consumo alimentar [7].
Diversos trabalhos apontam, também, que a prática de
exercício físico promove o aumento de algumas citocinas,
destacando-se as classes de interleucinas (ILs): IL-1, IL-6,
IL-1β e IL-10 [1,8]. Destas, especula-se que o aumento de
IL-6 relaciona-se ao aumento da atividade de 5’AMP proteína
cinase ativada (AMPK) nos tecidos, adiposo e musculoesquelético. Contudo, no hipotálamo a IL-6 promove a diminuição
da atividade de AMPK e acetil coenzima A carboxilase (ACC),
além de ativar a via da mTOR (alvo de rapamicina em mamíferos), aumentando a fosforilação das proteínas p70S6K
(proteína ribossomal S6 cinase) e 4EBP1 (proteína de ligação
do fator inicial de tradução eucariótico 4E), sendo responsável
pelo controle da ingestão de nutrientes no hipotálamo [9].
A fosforilação de mTOR é uma importante via do controle
da ingestão alimentar e homeostase energética, pois por meio
da fosforilação da PI-3K (fosfoinositol 3 cinase) e da proteína
cinase B (Akt) há o aumento da fosforilação da mTOR e das
proteínas p70S6K ou 4EBP1; ressalta-se que esta via pode ser
inibida pelas baixas concentrações plasmáticas de nutrientes
como glicose e aminoácidos [1,9].
Exercício de endurance e metabolismo
O exercício físico de endurance é responsável por gerar
diversas alterações no metabolismo dos carboidratos, lipídios e das proteínas. O exercício físico aumenta a lipólise
no tecido adiposo [10], principalmente pelo aumento nas
concentrações plasmáticas de catecolaminas (adrenalina e
noradrenalina) combinadas a diminuição nas concentrações
de insulina, liberando ácidos graxos livres que serão captados
pelo músculo durante o exercício. Sendo assim, o exercício
físico é um importante modulador da secreção hormonal e
da produção e consumo de energia [11].
A lipólise e a mobilização de ácidos graxos livres durante
o exercício são influenciadas pelo estado nutricional, pela
173
intensidade do exercício e pelo nível de condicionamento
físico [10-13]. A contribuição total dos ácidos graxos livres
para a produção energética é dependente do volume do
exercício [10].
O exercício físico de endurance representa importante
estimulo na modulação da expressão gênica dos receptores
relacionados aos proliferadores de peroxissomas alfa, beta
e gama (PPARα, PPARβ e PPARγ) [14-16]. A ativação do
PPARα e PPARβ modula a expressão gênica de proteínas
envolvidas nos processos de oxidação lipídica, tais como,
piruvato desidrogenase cinase 4, malonil-CoA descarboxilase
e carnitina palmitoil transferase-1 [16].
Já o PPARγ é responsável por modular proteínas relacionadas ao processo de lipogênese e lipólise nos adipócitos e
hepatócitos respectivamente. Esta ação é exercida pela ativação
de proteínas como a sintetase de ácidos graxos (tecido adiposo)
e lipase hormônio sensível (fígado) [17,18].
A secreção das IL-1ra; IL-6 e IL-10 durante o exercício de
endurance é responsável por inibir a ação do TNF-α. Além
de atuarem endocrinamente participando da liberação de
ácidos graxos pelo tecido adiposo para posterior oxidação no
músculo esquelético [19]. O músculo esquelético é capaz de captar glicose durante o
exercício de endurance através de mecanismo que não utiliza
a insulina como ativador do Glut-4, mas, sim, o cálcio que
é liberado do retículo sarcoplasmático através da contração
muscular [20].
O exercício físico de endurance é um importante ativador
de 5’AMP proteína cinase ativada (AMPK). A AMPK é uma
proteína heterodimérica ativada pelo estresse celular associado
à depressão do ATP [20,21]. Sendo assim, ela é um importante
sensor da quantidade de energia da célula, refletindo a relação
entre AMP/ATP e creatina/fosfocreatina [20].
Desta forma, a ativação da AMPK no músculo esquelético
é dependente da intensidade do exercício físico. A ativação da
AMPK durante a contração muscular estimula a captação de
glicose através da translocação do GLUT-4 [20,22].
Além disso, o exercício físico é responsável, também, por
aumentar a taxa de difusão da glicose para a célula muscular,
visto que, após a sua captação a glicose é rapidamente fosforilada em glicose-6-fosfato pela ação enzimática da hexocinase
[23-25].
Exercício de endurance e consumo alimentar
Diversas pesquisas procuram mostrar a relação entre o
exercício físico de endurance e o consumo alimentar. Estudos
realizados com ciclistas e maratonistas descrevem uma redução
no consumo alimentar, por um fenômeno descrito como
“anorexia induzida pelo exercício físico” [26-28]. Entretanto, a literatura afirma não haver alterações crônicas geradas
pelo exercício físico de endurance em relação ao aumento do
consumo alimentar [29-31]. Ocorrendo então, apenas uma
ação temporária do exercício sobre o consumo energético [2].
174
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
O efeito do exercício físico de endurance está diretamente
relacionado com a secreção e ação hormonal. Dentre os hormônios envolvidos destacam-se a leptina, a grelina e a insulina
(hormônio secretado pelas células β-pancreáticas). Entretanto,
o exercício físico é capaz de modular a secreção de diversos
hormônios como o cortisol, as catecolaminas (adrenalina e
noradrenalina), GH, hormônios tireoidianos (T3 e T4) e os
hormônios gonadais (testosterona e estrogênio), estes que
por sua vez podem modular a secreção de leptina [31-33].
O exercício físico de endurance de alta intensidade é
responsável por reduzir as concentrações plasmáticas tanto
de insulina, quanto de leptina [33]. Entretanto, o exercício
físico é capaz de modular positivamente a sensibilidade da
ação destes dois hormônios podendo ser este um dos motivos
da anorexia induzida pelo exercício físico [34].
O estresse metabólico gerado pelo exercício físico de
endurance de alta intensidade é responsável por aumentar a
transcrição do gene da POMC pelos neurônios do núcleo
arqueado do hipotálamo e pelos neurônios do trato solitário.
A POMC por sua vez exerce seus efeitos biológicos através da
interação com seu receptores de melanocortina 3 e 4 (MC3R
e MC4R), levando a clivagem deste peptídeo e formação de
outros peptídeos como ACTH e α-MSH [35,36]. Este último
age em neurônios do núcleo do trato solitário inibindo o consumo alimentar [37]. Entretanto, os mecanismos envolvidos
nesta inibição ainda não estão totalmente elucidados [37].
A leptina é um hormônio constituído por 146 aminoácidos e secretado pelo tecido adiposo [32,38]. Atua no hipotálamo por meio do controle do balanço energético, ativando
o sinal anorexígeno [39-41].
A secreção da leptina é oriunda do gene “ob” em resposta
ao consumo alimentar, desencadeando assim um sinal anorexígeno em resposta ao aumento das concentrações plasmáticas
de leptina [42].
Estudos apontam que a administração de leptina em ratos
induz a uma menor expressão de neuropeptídeos ligados ao
aumento do consumo alimentar [43,44]. Em contrapartida,
o jejum diminui as concentrações plasmáticas de leptina,
aumentando o consumo alimentar [42].
A leptina ao se ligar em seu receptor no hipotálamo (ObRb) fosforila a proteína Janus cinase-2 (Jak-2), ativando a proteína STAT3 (em tirosina 705), promovendo a translocação
dessa proteína para o núcleo se ligando ao DNA e ativando o
fator transcricional SOCS3, gerando um feedback negativo na
fosforilação da Jak2. Em função do feedback negativo, ocorre
um cross-talk (refere-se a uma regulação cruzada entre uma
determinada via metabólica sobre outra via metabólica. A
este exemplo a ativação da via de sinalização intracelular da
leptina, ativa paralelamente a via de sinalização da insulina)
em relação às proteínas da cascata de sinalização da insulina
IRS-1 e IRS-2 (substratos do receptor de insulina 1 e 2).
O aumento da ativação da Akt gera sinalização intracelular
inibindo o consumo alimentar e modulação das ERKs, responsáveis pela homeostase energética [45].
A leptina é responsável, também, por reduzir a atividade de
proteínas como AMPK e ativar a proteína alvo de rapamicina
(mTOR) no hipotálamo [1], proteínas essas responsáveis pelo
controle da ingestão alimentar no hipotálamo.
Trabalhos como o de Saladin et al. [46] referem que a
insulina é um importante hormônio estimulante do gene
ob e consequentemente estimulante da secreção de leptina.
Segundo Tups [47], o principal sinalizador da leptina no
hipotálamo é a proteína PI-3k, que ativa Akt / PKB, por meio
de um cross-talk, desencadeando assim o sinal anorexígeno.
A grelina é um hormônio constituído por 28 aminoácidos
cuja secreção é feita pelas células estomacais em condições de
balanço energético negativo, produzindo um sinal orexígeno
- aumento do consumo alimentar - no hipotálamo [48,49].
Desta forma, a ação da grelina no hipotálamo é responsável
por aumentar a secreção de neurotransmissores ligados ao
aumento do consumo alimentar NPY e proteína relacionada
ao agoti (AgPR) e diminuir a secreção de neurotransmissores
ligados a restrição do consumo alimentar POMC e o fator
de transcrito relacionado a cocaína e anfetamina (CART)
[48,49].
Para que a grelina esteja biologicamente ativa, esta deve
ser acetilada no aminoácido serina pela ação da enzima Oaciltransferase (GOAT) [49]. Sendo assim, são encontradas
no plasma a forma acetilada e a forma não acetilada ou desacetilada. Destas, a forma não acetilada encontra-se em maior
concentração em relação à forma acetilada [50,51].
Estudos mostram que o exercício de endurance agudo é
capaz de diminuir as concentrações plasmáticas de grelina
acetilada. Contudo, o estudo de King et al. [52] avaliou a
concentração de grelina total (acetilada e desacetilada) após
doze semanas de treinamento de endurance e não mostrou
diferença estatística na quantidade de grelina acetilada entre
o grupo treinado e o grupo controle.
Exercício de força: metabolismo e consumo alimentar
É bem estabelecido que o treinamento de força pode
aumentar a área da secção transversa da fibra muscular, bem
como trazer ganhos de força e potência [53,54]. Isso decorre
das adaptações neuromusculares promovidas pelo treinamento
de força, especulando-se que com o estimulo mecânico há um
aumento no número de RNAs mensageiros (mRNAs) envolvidos na síntese proteica no músculo esquelético e, também,
na diminuição dos níveis de mRNAs de genes relacionados
com o catabolismo muscular [55].
Trabalhos como o de Zanchi et al. [55] mostram que o
treinamento de força é responsável por diminuir a expressão
de genes como Atrogina-1 e MuRF-1, em relação a ratos
sedentários, causando assim um aumento no ganho de força
e aumento na área da secção transversa da fibra muscular.
Outra relação com o treinamento de força é que ele é
capaz de aumentar a expressão de proteínas como a proteína
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
cinase B / Akt e a mTOR (alvo de rapamicina em mamíferos),
responsáveis pela síntese proteica cursando com o aumento
da massa muscular [56].
O músculo esquelético é responsável, não apenas pelas
funções contráteis, mas, também, metabólicas do organismo
humano, como metabolismo de aminoácidos, carboidratos
e lipídeos, diminuindo a adiposidade e melhorando a sensibilidade a ação da insulina [56].
Os mecanismos de hipertrofia muscular, pelo treinamento
de força, envolvem múltiplos fatores, tais como, estímulo
mecânico, metabólicos, endócrinos e fatores neurais [53].
Estes fatores estão relacionados com a secreção de hormônios
como GH (Hormônio de Crescimento), testosterona e IGF-1
(fator de crescimento semelhante à insulina-1) responsáveis
pela resposta hormonal anabólica [57-61]. Ademais, estes
hormônios modulam a secreção e ação de hormônios como
insulina e leptina que podem atuar no núcleo arqueado do
hipotálamo através dos mecanismos já descritos controlando
o consumo alimentar e a homeostase energética.
É estabelecido que o IGF-1 exerce papel fundamental na
regulação da glicemia e homeostase energética. Os mesmos
autores relatam aumento nas concentrações plasmáticas de
IGF-1 decorrentes do exercício e da alimentação [62].
Diferentemente do exercício físico de endurance, pouco
se sabe a respeito das ações do exercício de força em relação à
homeostase energética e controle do consumo alimentar [63].
Em relação ao exercício físico de força, são bem conhecidos
os mecanismos que envolvem o crescimento muscular por
meio de uma complexa cascata de sinalização intracelular [58].
Conclusão
É bem estabelecido que o exercício físico modula as concentrações plasmáticas de diversos hormônios, dentre eles a
insulina e a leptina. Estes hormônios representam importantes
reguladores do consumo alimentar e da homeostase energética. Contudo, a cascata de sinalização destes hormônios
envolve a ativação de diversas proteínas-chave que podem
modular a sensibilidade e levar aos seus efeitos biológicos
finais. Tal cascata de sinalização é descrita em diversos trabalhos. Entretanto, todos os mecanismos que envolvem esta
cascata ainda não estão totalmente elucidados, bem como o
total efeito do exercício físico sobre o consumo alimentar.
Sendo assim, tornam-se necessários o desenvolvimento de
mais estudos que investiguem a relação do exercício físico em
diferentes intensidades e duração com estes hormônios reguladores da fome e saciedade, assim como os efeitos destes hormônios em relação a sua cascata de sinalização hipotalâmica.
Agradecimentos
Este trabalho foi apoiado por uma agencia brasileira de
financiamento (FAPESP – Fundação de Amparo a Pesquisa
do Estado de São Paulo, nº 2010/08329-3).
175
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
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Revisão
Cortisol e exercício: efeitos, secreção e metabolismo
Cortisol and exercise: effects, secretion and metabolism
Juliano Ribeiro Bueno, Cibele Marli Cação Paiva Gouvêa, D.Sc.
*Universidade Federal de Alfenas - UNIFAL, Alfenas/MG
Resumo
A prática frequente de exercício físico traz inúmeros benefícios. O exercício modula uma série de reações orgânicas, contudo
os efeitos do exercício sobre os níveis e metabolismo do cortisol
ainda não estão totalmente esclarecidos. O objetivo deste estudo
foi realizar uma revisão sobre os efeitos do cortisol no exercício, de
sua secreção e metabolismo. Tem sido demonstrado na literatura
que o cortisol age como um antagonista fisiológico da insulina,
por promover a quebra das moléculas de carboidratos, lipídeos e
proteínas, desta maneira mobilizando as reservas energéticas. Isto
aumenta a glicemia e a produção de glicogênio pelo fígado. Uma vez
que o cortisol estimula a proteólise, seu aumento pode determinar
a atrofia muscular e diminuição da força, com consequente efeito
negativo no rendimento esportivo. A ação muscular do cortisol
é ambígua: contribui para o catabolismo e perda muscular, mas,
simultaneamente, na ausência deste hormônio a contratilidade dos
músculos esquelético e cardíaco é reduzida. O catabolismo e perda
musculares verificam-se na presença de níveis elevados de corticosteróides. Embora o aumento de cortisol possa produzir efeitos
colaterais, o treinamento físico induz o desenvolvimento de diversos
mecanismos para proteger os tecidos de tais efeitos deletérios. Com
isto o organismo torna-se menos responsivo ao estresse.
Abstract
Physical exercise brings several benefits. Exercise modulates
several organic reactions; however the effects of the physical exercise
on the level and metabolism of cortisol are not completely clear.
The aim of this study was to review the effects of cortisol secretion
and metabolism on exercise. It has been shown in literature that
cortisol acts as a physiological antagonist of insulin, and promotes
carbohydrates, lipids and proteins cleavage thus mobilizing energetic
storages. It increases glicemia and liver glycogen production. Since
cortisol stimulates proteolysis, the cortisol increasing could lead
to muscular atrophy and strength decreases, with negative consequences to the sportive performance. The skeletal muscle action of
cortisol is ambiguous: it contributes to carbohydrate and muscle
loss, but simultaneously, without cortisol the skeletal and cardiac
muscle contraction is reduced. The catabolism and muscle loss only
occurs when corticosteroids levels are high. Although the increased
level of cortisol can produce side effects, physical training induces
the development of diverse mechanisms to protect cells and tissues
from the cortisol deleterious effects. So that the organism becomes
less responsive to stress.
Key-words: exercise, cortisol, stress.
Palavras-chave: exercício, cortisol, estresse.
Recebido em 14 de julho de 2011; aceito em 25 de agosto de 2011.
Endereço para correspondência: Juliano Ribeiro Bueno, Praça do Pretório, 209, 37110-000 Elói Mendes MG, Tel: (35) 3264-1372,
E-mail: [email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
Introdução
O exercício físico tem um papel fundamental na melhoria
de vida do ser humano. Assim sendo o exercício físico vem
conquistando cada vez mais o número de adeptos. Mas é importante ressaltar que para a prática eficiente do exercício físico
sejam respeitados alguns princípios como volume, intensidade
e duração, que são variáveis que determinam a qualidade e
os benefícios do exercício físico. Sendo assim sabe-se que o
exercício físico quebra a homeostase alterando os sistemas
fisiológicos causando adaptações metabólicas, hormonais e
neuromusculares. Segundo Wilmore e Costil [1], o exercício
físico pode ser intensificado mediante o aumento da duração
ou da frequência dos períodos de treinamento, de acordo com
os objetivos e a especificidade de cada pessoa ou atleta. No
entanto, muitas vezes a relação inadequada de volume e intensidade pode levar a uma situação de estresse excessivo, que
não é desejável. Assim, neste trabalho será estudada a alteração
do sistema endócrino mediante ao exercício físico intenso.
Segundo Mcardle, Katch e Katch [2], o sistema endócrino
consiste em um órgão hospedeiro (glândula), minúsculas
quantidades de mensageiros químicos (hormônios) e um órgão-alvo ou receptor. Será observado no trabalho a adaptação
e alteração de um mensageiro químico do sistema endócrino
que tem uma função importante durante o exercício físico
intenso e de longa duração, o cortisol.
Os hormônios são as substâncias químicas sintetizadas
por glândulas hospedeiras específicas, secretadas para dentro
do sangue e carreadas por todo o corpo. O hormônio cortisol
é o principal glicocorticoide do córtex suprarrenal que afeta
profundamente o metabolismo da glicose, das proteínas
e dos ácidos graxos livres [2]. Segundo Wilmore e Costil
[1], evidências sugerem que as concentrações de cortisol
também aumentam durante o exercício, assim sendo aumenta o metabolismo proteico, liberando aminoácidos para
serem utilizados pelo fígado no processo da gliconeogênese.
Assim sendo o cortisol tem atividade predominantemente
catabólica, induzindo proteólise e lipólise, com aumento
da gliconeogênese hepática e elevação da glicemia segundo
França et al. [3].
Cortisol
Segundo Mcardle, Katch e Katch [2], o cortisol ou hidrocortisona é o principal glicocorticoide produzido pelo córtex
suprarrenal (10-20 mg diários), que afeta profundamente o
metabolismo da glicose, das proteínas e dos ácidos graxos
livres. Após a síntese, o cortisol passa para a corrente sanguínea onde a maior parte (mais de 60%) encontra-se ligada a
proteínas (SHBG e albumina) e o restante encontra-se livre
no plasma, que é a forma ativa. A concentração sanguínea
de cortisol não permanece constante durante todo o dia e
sua vida média é de 80-100 min, por isso a manutenção da
concentração sérica depende da síntese constante.
179
O ACTH, hormônio adrenocorticotrópico, funciona
como parte do eixo hipotalâmico-hipofisário-suprarrenal
para regular a produção de hormônios secretados pelo córtex suprarrenal. As situações com uma alta carga emocional
ou as demandas estressantes da atividade física estimulam
o hipotálamo a secretar o fator liberador de corticotropina
que induz a hipófise anterior a liberar ACTH. Por sua vez, o
ACTH promove a liberação de glicocorticoides pelo córtex
suprarrenal. Segundo Canali e Kruel [4], o ACTH tem a
função de regular o crescimento e a secreção do córtex adrenal, do qual a principal secreção é o cortisol, além de outros
glucocorticoides e aminas biogênicas [5].
Os efeitos biológicos do cortisol incluem o catabolismo
de proteína em todas as células do organismo, com exceção do fígado e uma vez na circulação, os aminoácidos são
translocados para o fígado para serem transformados em
glicose através da gliconeogênese; facilitam a ação de outros
hormônios, principalmente glucagon e GH, no processo da
gliconeogênese; funcionam como antagonista da insulina,
por inibir a captação e a oxidação da glicose; promovem a
ativação de lipase e a degradação dos triglicerídeos no tecido
adiposo, formando glicerol e ácidos graxos, que são utilizados
nos tecidos ativos, para produção de energia; promovem a
adaptação ao estresse; e a manutenção de níveis de glicose
adequados mesmo em períodos de jejum [4,3]. Segundo
Wilmore e Costil [1], o cortisol também é conhecido por
diminuir a utilização de glicose, poupando-a para o cérebro;
por atuar como um agente anti-inflamatório; por deprimir
as reações imunológicas; e por aumentar a vasoconstrição
causada pela adrenalina.
Os glicocorticoides e, mais especificamente, o cortisol são
hormônios catabólicos no músculo esquelético e seus efeitos
incluem a conversão de aminoácidos em carboidratos, aumento das enzimas proteolíticas, inibição da síntese de proteínas
e aumento da degradação de proteínas [6]. Uma vez que o
cortisol estimula a proteólise, seu aumento pode determinar
a atrofia muscular e diminuição da força, com consequente
efeito negativo no rendimento esportivo [7].
Exercício e cortisol
Durante um período de treinamento podem ocorrer
adaptações fisiológicas em resposta à sobrecarga aplicada, resultando em melhora no desempenho desportivo. No entanto,
muitas vezes uma relação inadequada entre o volume (por
exemplo, distância de corrida) e a intensidade do treinamento
(por exemplo, velocidade de corrida) pode resultar em condições indesejáveis como overtraining. Este está associado a
uma recuperação incompleta entre as sessões de treinamento.
Como sintomas do overtraining destacam-se a fadiga crônica,
perda do apetite, diminuição do desempenho, aumento da
frequência cardíaca de repouso, infecções frequentes, distúrbios do sono, alterações de humor e o desinteresse geral do
atleta pelo treino [8,9]. O hormônio cortisol, cuja produção
180
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
é aumentada em situações de estresse (como o treinamento
intenso e de longa duração), está relacionado com o catabolismo dos tecidos muscular esquelético e adiposo [10].
Dressendorfer et al.[11] demonstraram que corredores
de longa distância não apresentaram aumento da concentração basal de cortisol. Maestu, Jurimae e Jurimae [12],
trabalhando com atletas remadores em período de treinamento, observaram que a concentração de cortisol permaneceu relativamente constante. Entretanto, outros autores
[13,14] mostraram diminuição da concentração basal de
cortisol em corredores, após período de treinamento de
endurance. Fernandez-Garcia et al. [15] também observaram
diminuição da concentração basal de cortisol em ciclistas
durante período de competição intensa. Bonifazi et al. [16]
mostraram que a diminuição da concentração de cortisol
está associada com melhora na performance de nadadores
em treinos. Os mesmos autores [17] mostraram diminuição
na concentração de cortisol de repouso de nadadores ao
final do período com alto volume de treino. Estas alterações
ocorreram no grupo avaliado. Entretanto, essas modalidades
esportivas são de caráter individual. Os valores obtidos nesses
resultados são similares àqueles mostrados por Bauer et al.,
[18]. Estes autores mostraram valores de concentração de
cortisol salivar em torno de 25nmol/L para grupo controle.
Simões et al. [6] estudaram a resposta da razão testosterona/
cortisol durante o treinamento de corredores velocistas e
fundistas e observaram que não houve diferença significante
para os valores médios da razão T/C para ambos os grupos
após o período de treinamento. No entanto, quando se
observa o comportamento individual da razão T/C, nota-se
uma resposta adaptativa adequada para alguns indivíduos e
inadequadas para outros, sendo que a maior incidência de
queda da razão T/C foi observada entre os CF. Os autores
concluíram que a utilização da razão T/C para o controle das
cargas de treinamento deve ser feita individualmente, e que
aparentemente esta variável sofre uma maior influência do
volume do treinamento do que da intensidade do mesmo.
Conclusão
O exercício induz aumento da secreção de cortisol, por
estímulo do eixo HPA. Embora o aumento de cortisol possa
produzir efeitos colaterais, o treinamento físico induz o
desenvolvimento de diversos mecanismos para proteger os
tecidos de tais efeitos deletérios. A modulação dos níveis
séricos de cortisol livre (forma ativa) pela ligação à globulina
ligante de cortisol e ativação da enzima conversora de cortisol em cortisona (forma inativa) parecem ser os principais
mecanismos estimulados pelo exercício físico. Com isto o
organismo torna-se menos responsivo ao estresse o que traz
efeitos benéficos para a saúde física e mental, protegendo-o
contra as consequências do estresse crônico e de doenças
relacionadas ao estresse.
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Normas de publicação Fisiologia do Exercício
A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício é uma publicação com
periodicidade bimestral e está aberta para a publicação e divulgação de
artigos científicos das áreas relacionadas à atividade física.
Os artigos publicados na Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício
poderão também ser publicados na versão eletrônica da revista (Internet)
assim como em outros meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros que
surjam no futuro, sendo que pela publicação na revista os autores já
aceitem estas condições.
A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício assume o “estilo Vancouver”
(Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical journals)
preconizado pelo Comitê Internacional de Diretores de Revistas
Médicas, com as especificações que são detalhadas a seguir. Ver o texto
completo em inglês desses Requisitos Uniformes no site do International
Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), www.icmje.org, na
versão atualizada de outubro de 2007 (o texto completo dos requisitos
está disponivel, em inglês, no site de Atlântica Editora em pdf ).
Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da revista
podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/e-mail) para
nossa redação, sendo que fica entendido que isto não implica na
aceitação do mesmo, que será notificado ao autor.
O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno de
acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos recebidos;
neste último caso não se alterará o conteúdo científico, limitando-se
unicamente ao estilo literário.
PREPARAÇÃO DO ORIGINAL
1. Normas gerais
1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de texto
(Word), em página de formato A4, formatado da seguinte maneira: fonte
Times Roman (English Times) tamanho 12, com todas as formatações
de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc.
1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada tabela
junto à mesma.
1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as
especificações anteriores.
As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e com
resolução de qualidade gráfica (300 dpi). Fotos e desenhos devem estar
digitalizados e nos formatos .tif ou .gif.
1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução,
material e métodos, resultados, discussão, conclusão e bibliografia. O
autor deve ser o responsável pela tradução do resumo para o inglês e
também das palavras-chave (key-words). O envio deve ser efetuado em
arquivo, por meio de disquete, CD-ROM ou e-mail. Para os artigos
enviados por correio em mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma
cópia impressa e identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM o
nome do artigo, data e autor.
2. Página de apresentação
A primeira página do artigo apresentará as seguintes informações:
- Título em português, inglês e espanhol.
- Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e títulos
acadêmicos.
- Local de trabalho dos autores.
- Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o respectivo
endereço, telefone e E-mail.
- Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para
paginação.
- As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, aparelhos, etc.
3. Autoria
Todas as pessoas consignadas como autores devem ter participado do
trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade pública do seu
conteúdo.
O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições essenciais
que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise e interpretação dos
dados; b) a redação do artigo ou a revisão crítica de uma parte importante
de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da versão que será
publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente as condições a), b)
e c). A participação exclusivamente na obtenção de recursos ou na coleta
de dados não justifica a participação como autor. A supervisão geral do
grupo de pesquisa também não é suficiente.
Os Editores podem solicitar justificativa para a inclusão de autores
durante o processo de revisão do manuscrito, especialmente se o total
de autores exceder seis.
4. Resumo e palavras-chave (Abstract, Key-words)
Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo
150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para os
estruturados), seguido da versão em inglês e espanhol.
O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações:
-Objetivos do estudo.
- Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodologia,
análise).
- Descobertas principais do estudo (dados concretos e estatísticos).
- Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior novidade.
Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave para
facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar os termos
utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da
Biblioteca Virtual da Saúde, que se encontra no endereço Internet
seguinte: http://decs.bvs.br. Na medida do possível, é melhor usar os
descritores existentes.
5. Agradecimentos
Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro
e material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios
farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as referências,
em uma secção especial.
6. Referências
As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver definido
nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas devem ser
numeradas por numerais arábicos entre parênteses e relacionadas em
ordem na qual aparecem no texto, seguindo as seguintes normas:
Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de seu
nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se diferente
do capítulo), ponto, título do livro (em grifo - itálico), ponto, local da
edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano da impressão, ponto,
páginas inicial e final, ponto.
Exemplo:
1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor.
Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed. NewYork: Raven press; 1995. p.465-78.
Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es), letras iniciais
de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto. Título do trabalha,
ponto. Título da revista ano de publicação seguido de ponto e vírgula,
número do volume seguido de dois pontos, páginas inicial e final, ponto.
Não utilizar maiúsculas ou itálicos. Os títulos das revistas são abreviados
de acordo com o Index Medicus, na publicação List of Journals Indexed
in Index Medicus ou com a lista das revistas nacionais, disponível no
site da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). Devem ser citados
todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar a abreviação
latina et al.
Exemplo:
Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and localization
of urokinase-type plasminogen activator receptor in human gliomas.
Cancer Res 1994;54:5016-20.
Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para:
Guillermina Arias - E-mail: [email protected]
As normas completas são disponiveis em nosso site: www.atlanticaeditora.
com.br
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 10 Número 3 - julho/setembro 2011
Calendário de eventos
2011
2012
Outubro
Janeiro
5 a 7 de outubro
14 a 18 de janeiro
I Simpósio de Atualização em Fisiologia: Neurofisiologia e
I Mostra de Projetos de Pesquisa em Fisiologia
Uruguaiana, RS
Informações: [email protected]
Congresso Internacional de Educação Física – FIEP
Foz de Iguaçu
Tel: (45) 3523-0039
Março
6 a 8 de outubro
34º Simpósio Internacional de Ciências do Esporte
São Paulo, SP
Informações: www.simposiocelafiscs.org.br
Novembro
19 a 21 de março
The Biomedical Basis of Elite Performance
London, UK
Informações: www.physoc.org/meetings
Abril
9 a 12 de novembro
2 a 5 de abril
VIII Congresso Brasileiro de Atividade Física
Gramado, RS
Informações: www.cbafs.org.br
Dezembro
XIV Congresso de Ciências do Desporto e Educação
Física dos Países de Língua Portuguesa
Belo Horizonte, MG
Informações: www.casaef.org.br/palops
6 a 8 de dezembro
Vascular & Smooth Muscle Physiology Themed Meeting
Edinburgh, UK
Informações: www.physoc.org/vs2011
Junho
26 a 29 de junho
4th International Congress on Cell Membranes and
Oxidative Stress: Focus on Calcium Signaling and TRP
Channels, Isparta, Turkey
Informações: www.cmos.org.tr/2012/
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