Brazilian journal-2001-67.p65 - Brazilian Journal of Food Technology
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Brazilian journal-2001-67.p65 - Brazilian Journal of Food Technology
Cinética de Degradação de Polpas de Morango Kinetics of Fruit Pulp Degradation AUTORES AUTHORS ✉ Silvia Cristina S. Rolim de MOURA Alfredo de Almeida VITALI Maria Eugenia Marques de ALMEIDA Shirley Aparecida G. BERBARI José Maria Monteiro SIGRIST FRUTHOTEC - Centro de Tecnologia de Hortifrutícolas/ ITAL - Instituto de Tecnologia de Alimentos Avenida Brasil, 2880 - 13073-001 Campinas-SP, Brasil Fone: 55(19)3743-1840 Fax 55(19)3743-1843 e-mail: [email protected] RESUMO Polpas de morango com e sem açúcar, embaladas assepticamente em bags de 1kg (Scholle), foram armazenadas a temperaturas de 5 oC (controle), 25oC (ambiente) e 35oC (acelerada), a fim de se avaliar a vida-de-prateleira. A avaliação da vida-de-prateleira foi baseada em leituras objetivas de cor L, a e b Hunter (Minolta Chroma Meter CR-300) e leituras subjetivas de cor (Teste de Diferença do Controle). As análises objetivas foram realizadas a cada 15 dias, durante 142 dias e as análises subjetivas durante 87 dias e 75, para as polpas de morango sem e com açúcar, respectivamente. Os dados obtidos mostram que a reação cinética de degradação da cor para a polpa de morango sem açúcar se ajusta ao modelo cinético de 1ª ordem. A polpa de morango sem açúcar mostrou-se mais sensível a alterações na cor, com relação à temperatura, que a polpa de morango com açúcar. O Modelo de Arrhenius foi aplicado às das velocidades de reação (k), nas diferentes temperaturas, fornecendo uma energia de ativação (Ea) de 8,0 kcal/mol e um valor de Q10 de 1,55, para a polpa de morango sem açúcar. Pode-se observar uma boa correlação entre os resultados objetivos e subjetivos. Os resultados sugerem que, durante seu tempo de vida-de-prateleira, as polpas de morango sem açúcar devem ser estocadas sob refrigeração e as polpas de morango com açúcar podem ser estocadas à temperatura ambiente. SUMMARY Sweetened and unsweetened strawberry pulp, aseptically packed in 1kg bags (Scholle), was stored at 5 (control), 25 (room) and 35 (accelerated) oC, in order to evaluate their shelf lives. The shelf-life evaluation was based on objective L a b Hunter color (Minolta Chroma Meter CR-300) and subjective color (Difference from Control Sensory Discriminative Test) measurements. Objetive color analyses were carried out for 142 days at 15 day intervals, and subjective analyses were carried out for 87 (unsweetened) and 75 (sweetened) days. Experimental data showed that the color degradation followed the model of a first order kinetic reaction. Color changes of the unsweetened pulp showed a higher dependence on temperature than the sweetened pulp. The arrhenius model was applied to the reaction rates (k) at each temperature, obtaining an activation energy (Ea) of 8.5 kcal/mol and a Q 10 of 1.55, for the unsweetened pulp. A good correlation was observed between the subjective and objective results. The results suggest that unsweetened strawberry pulp must be kept under refrigeration and that the sweetened one may be stored at room temperature during the shelf-life time span. PALAVRAS-CHAVE KEY WORDS Cinética de degradação de cor; Polpa de morango; Vida-de-prateleira / Color degradation kinetics; Strawberry pulp; Shelf-life. Braz. J. Food Technol., 4:115-121, 2001 115 Recebido / Received: 11/01/2001. Aprovado / Approved: 20/06/2001. S. C. S. R. MOURA et al. 1. INTRODUÇÃO O aumento dos custos de energia e o desenvolvimento das embalagens bag-in-box tem levado a indústria de alimentos a se interessar pelo desenvolvimento de processos assépticos. Produtos de frutas tropicais são os grandes candidatos à adoção desta tecnologia, já que seu transporte dos pontos de produção até os pontos de industrialização muitas vezes envolvem deslocamento marítimo e os produtos assépticos não dependem de transporte e estocagem refrigerados. O sistema bag-in-box (BIB) consiste de uma bolsa plástica com bocal e tampa (bag), dentro de uma bandeja rígida (box). As vantagens de se trabalhar com o sistema BIB são: 1) Economia de espaço: no transporte (recebimento de embalagens), no estoque antes do envase; no produto acabado (quiosques); 2) Qualidade do produto: processos assépticos ou não-assépticos, menor desnaturação pelo calor e 3) Praticidade das embalagens: leves, seguras, sem retorno e variabilidade de aplicações (DECIO, 1997). Os efeitos da temperatura de estocagem e do tempo na qualidade de purês de goiaba e mamão, processados assepticamente e embalados em bag-in-box, foram estudados por CHAN, CAVALETTO (1982). O estudo mostra que no caso do purê de goiaba não existe perda significativa no sabor e no conteúdo de ácido ascórbico mas existe perda significativa da cor durante os seis meses do estudo. O purê de mamão apresentou-se estavél em sabor, mas apresentou 56% de perdas no conteúdo inicial de ácido ascórbico. As alterações de cor no purê de mamão foram atribuídas a escurecimento não-enzimático. As espécies de frutas contêm diferentes tipos de pigmentos que podem de alguma forma influenciar na resistência à degradação da cor. O morango possui a antocianina como pigmento e sua estabilidade pode ser influenciada por outros componentes da fruta, como o ácido ascórbico e compontes fenólicos (SKREDE et al., 1992). Esta influência pode levar a variações na estabilidade da cor entre diferentes cultivares e espécies. As condições de processo e o tempo de estocagem também influenciam a deterioração da cor de produtos contendo antocianina (SKREDE et al., 1992). Por exemplo, SKREDE (1982) determinou a perda de mais de 50% de cor em geléias de morango, durante o tempo de estocagem de 3 meses. Para néctares de morango (51oBrix) embalados em potes de vidro, a intensidade da cor vermelha (aHunter) decresce com o tempo de estocagem no escuro, a 20oC, e a adição de ácido ascórbico tende a acentuar esta perda de cor, enquanto a adição de antocianina tende a reter esta degradação (SKREDE et al., 1992). Os parâmentros de cor L, a b Hunter e a diferença total de cor (∆E) têm sido usados na determinação da vida-deprateleira de geléias de morango (HYVÖNEN, TÖRMÄ, 1983), e de frutas em pedaços (KLUTER et al., 1994) e na quantificação de perdas de cor durante o processamento de polpas de frutas, a diferentes temperaturas (LOZANO, IBARZ, 1997). Os parâmetros Hunter de cor têm mostrado que são válidos na descrição visual da deterioração de cor e úteis no controle de qualidade de frutas e produtos de frutas; o estudo cinético Braz. J. Food Technol., 4:115-121, 2001 Cinética de Degradação de Polpas de Morango das mudaças de cor também tem sido aplicado (LOZANO, IBARZ, 1997) nestes produtos e os resultados têm sido muito bons. O sucesso do uso de processos assépticos para envase de produtos é dependente da garantia de retenção de cor, sabor, qualidade do aroma e conteúdo de nutrientes. Este estudo visa esta avaliação de parâmetros objetivos (cinética de degradação) e subjetivos de polpas de morango com e sem açúcar, embaladas assepticamente. 2. METODOLOGIA As amostras de polpa de morango foram obtidas da variedade de morango Dover, origem: Univ Flórida, EUA, 1979. É uma variedade de alta produtividade, fruto firme e de boa conservação pós-colheita, sendo adequado para mercados distantes das áreas de produção, apresenta boa tolerância a fungos de solo e tornou-se, nos últimos anos, a cultivar mais plantada no Brasil. As amostras de polpa de morango sem e com açúcar, na proporção 3x1 (polpa/açúcar), foram pasteurizadas e embaladas assepticamente em bags de 1kg (Scholle). Para acompanhamento da vida-de-prateleira as amostras foram armazenadas em câmaras de estocagem nas temperaturas de 5oC (temperatura controle), 25oC (temperatura ambiente) e 35oC (temperatura acelerada). 2.1. Caracterização das amostras Para a caracterização das amostras de polpa de morango com e sem açúcar, foram realizadas as seguintes análises: 2.1.1 Vitamina C Foi utilizado o Método de Tillmans que baseia-se na redução do 2,6-diclorofenol indofenol-sódio (DCFI) pelo ácido ascórbico presente na amostra (LEES, 1975). Análise realizada em triplicata. 2.1.2 Acidez total Titulação da acidez do alimento com solução padronizada de álcali, empregando a fenolftaleína como indicador do ponto final da titulação (AOAC, 1980). Análise realizada em triplicata. 2.1.3 Sólidos totais Medida de 3 determinações utilizando pesa-filtros em estufa a vácuo a 70oC por 24 horas, ou até peso constante (INSTITUTO ADOLFO LUTZ, 1985a). 2.1.4 pH Leitura direta em potenciômetro calibrado previamente com soluções-padrão 4,0 e 7,0. Análise realizada em triplicata (INSTITUTO ADOLFO LUTZ, 1985b). 116 S. C. S. R. MOURA et al. 2.1.5 oBrix Leitura direta em refratômetro calibrado. Temperatura utilizada 20oC. Análise realizada em triplicata (LABORATORY TECHNIQUES, 1973). Cinética de Degradação de Polpas de Morango Para a dependência da velocidade da reação com a temperatura, foi utilizado o Modelo de Arrhenius. A inclinação do gráfico de ln (k) versus 1/T(K-1) é conhecida como E a /R. Sendo R=1,987 cal/gmol K, determina-se a energia de ativação (Ea). Para a determinação de Q10 foi utilizada a seguinte equação: 2.1.6 Atividade de água (Aw) Determinada diretamente pelo higrômetro marca Decagon (USA), modelo CX-2, à temperatura de 25 oC. O resultado é a média de 5 leituras em porções diferentes da amostra. Para as determinações, o produto foi homogeneizado e porções foram colocadas em 5 cápsulas de medida. Foi realizada uma leitura de cada cápsula. 2.2 Acompanhamento da vida-de-prateleira das amostras Para acompanhamento da vida-de-prateleira das amostras de polpa de morango com e sem açúcar, foram realizadas as seguintes análises: 2.2.1 pH, acidez total e oBrix Q10 = 10Ea/0,46.T2 (2) Onde T (Kelvin) é a temperatura média na qual foi determinada a energia de ativação. 2.2.3 Cor subjetiva e sabor Para avaliar o comportamento da polpa de morango, com ou sem adição de açúcar, foram realizadas periodicamente análises sensoriais discriminativas denominadas de Teste de Diferença do Controle. Foi avaliada a cor da polpa de morango com e sem adição de açúcar e o sabor da polpa de morango com adição de açúcar. Os resultados obtidos foram avaliados estatisticamente através de análise de variância: Teste F e Teste de Dunnett para verificação das diferenças entre as médias. Mesma metodologia descrita anteriormente. O objetivo foi avaliar alguma alteração com o tempo nestes parâmentros. Para a realização das análises sensoriais, foi utilizada uma equipe de quinze provadores treinados neste tipo de avaliação. 2.2.2 Cor objetiva Para os testes de cor, as amostras foram colocadas em placas de Petri sobre fundo branco e apresentadas aos provadores, sendo a amostra armazenada a 5°C, codificada com a letra P, de amostra-padrão, e todas receberam como codificação um número com 3 dígitos. Para os testes de sabor, as amostras foram servidas aos provadores à temperatura ambiente, em copos plásticos codificados de 50ml. Determinada diretamente no colorímetro Minolta Chroma Meter CR-300, sistema Hunter Lab, previamente calibrado. O sistema Lab Hunter é um sistema de coordenadas retangulares que define a cor em termos de luminosidade (L), vermelho versus verde (a) e amarelo versus azul (b). Foi calculada a diferença total de cor (∆E) de acordo com a equação: ∆E = [(∆L)2 + (∆a) 2 + (∆b) 2]1/2 (1) Para a avaliação de cor e sabor, foram utilizadas fichas para teste de diferença de controle com escala de 7 pontos não-estruturada. Onde: ∆ é a diferença entre cada parâmetro de cor da amostra inicial (tempo zero) e amostra armazenada. As análises foram realizadas a cada 15 dias e em triplicata, para as temperaturas de 5°C (controle), 25°C e 35°C, para as polpas de morango com e sem adição de açúcar. Os dados obtidos da alteração total da cor das amostras foram analisados quanto à ordem da reação de degradação e calculadas respectivamente as velocidades de reação (k) nas diferentes temperaturas, as energias de ativação (Ea), além do quociente entre as velocidades de reação a uma determinada temperatura e a uma temperatura 10oC mais baixa (Q10) (TEIXEIRA NETO, VITALI, 1996). Para a determinação da ordem de reação e sua constante de velocidade, foram plotados os valores de diferença total de cor (∆E) versus tempo de armazenamento para cada temperatura, e realizada a regressão linear destes valores. A inclinação obtida na regressão linear, de cada temperatura, corresponde aos valores de k (velocidade de reação). Braz. J. Food Technol., 4:115-121, 2001 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 Resultados da caracterização da amostras A caracterização das amostras de polpa de morango sem e com açúcar encontra-se na Tabela 1. Em ambas as amostras não foi detectada a presença de ácido ascórbico (vitamina C). Com polpas de mamão e goiaba submetidas ao mesmo processo das polpas estudadas (pasteurizadas e embaladas assepticamente (bag-in-box) a concentração de ácido ascórbico pós-processamento pode atingir valores de 200mg/100g de amostra (CHAN, CAVALETTO, 1982). O mesmo estudo mostra que polpas armazenadas por um mês, à temperatura de 38oC, têm uma retenção de vitamina C de 88%. Um estudo realizado com xarope de morango, inicialmente com 100 (mg/100g de amostra) de ácido ascórbico, teve seu conteúdo de vitamina C diminuído em menos de 50%, em 6 meses de estocagem 117 Cinética de Degradação de Polpas de Morango S. C. S. R. MOURA et al. (SKREDE et al., 1992). As polpas analisadas na presente pesquisa, portanto, devem ter sido submetidas a um processamento inadequado, que provocou perda total de vitamina C mesmo antes da armazenagem. A causa provável foi um manuseio excessivo destas polpas, facilitando a incorporação de ar e, conseqüentemente, a oxidação da vitamina C. A oxidação da vitamina C pode ocorrer por via aeróbica principalmente nos processos de extração, despolpamento e tratamento térmico. TABELA 1. Caracterização inicial das polpas de morango sem e com açúcar. Análises Polpa sem açúcar Polpa com açúcar q.n.d. q.n.d. 4,0 ± 0,0 32,5 ± 0,0 Sólidos Totais (g/100g) 5,10 ± 0,02 35,92 ± 0,15 Acidez total (g de ácido cítrico/100g de amostra) 0,67 ± 0,01 0,50 ± 0,006 Vitamina C ºBrix pH 3,71 ± 0,01 3,63 ± 0,01 Aw 0,993 ± 0,000 0,986 ± 0,000 q.n.d: quantidade não-detectável A atividade de água destas polpas é alta (>0.98), porém o pH é baixo (<4,5), o que dificulta a deterioração microbiológica, caso o produto seja pasteurizado e acondicionado corretamente. 3.2 Resultados do acompanhamento da vida-deprateleira das amostras 3.2.1 pH, acidez total e oBrix Houve pequena diminuição no pH, porém nãosignficativa: Produtos contendo antocianinas como é o caso da polpa de mornago durante o processamento e estocagem são suceptíveis à deterioração na cor resultante de efeitos combinados da degradação da antocianina e à formação de pigmentos escuros (SKREDE et al., 1992). As alterações na cor durante a estocagem foram mais aceleradas quanto maior a temperatura. Observou-se, também, o aumento dos valores de ∆E (diferença total da cor) com o aumento da temperatura e do tempo de estocagem, representando perdas significativas da cor da amostra original. Para a polpa de morango sem açúcar as alterações de cor (valores de ∆E) foram graduais com o tempo, o que não ocorreu com a polpa de morango com açúcar, onde as alterações de cor foram bastante aceleradas logo nos primeiros 30 dias e permaneceram constantes ao longo do tempo de armazenagem. Com base nos dados obtidos determinou-se a ordem da reação da diferença total de cor (Figuras 1 e 2), para as polpas de morango sem e com açúcar. As reações se ajustam ao modelo cinético de 1ª ordem para ambas amostras. Resultados semelhantes foram encontrados na quantificação de perdas de cor durante o processamento de polpas de frutas, a diferentes temperaturas em LOZANO, IBARZ (1997). A degradação da antocianina de xarope de morango também se ajusta ao modelo cinético de 1ª ordem (SKREDE et al., 1992). Para a polpa de morango sem açúcar (Figura 1) a diferença total de cor aumentou com o tempo e aumentou consideravelmente com o aumento da temperatura. Já para a polpa de morango com açúcar (Figura 2), a diferença total da cor aumentou com o tempo e não aumentou significativamente com o aumento da temperatura, ou seja, praticamente toda alteração de cor que ocorreu a 25oC, ocorreu também a 35oC. - A amostra sem açúcar passou de pH=3,71 para pH=3,56 aos 45 dias de estocagem a T=35oC, mantendo-se estável até 104 dias. 7.00 6.00 - A amostra com açúcar passou de pH=3,63 para pH=3,57 aos 30 dias de estocagem a T=35oC, mantendo-se estável até 99 dias. 4.00 ∆E Com relação à acidez total e oBrix, não houve alteração. O mesmo resultado foi observado para polpas de goiaba e mamão embaladas assepticamente, e armazenadas nas temperaturas ambiente (24-31 o C) e acelerada (38 o C), acompanhadas por 6 meses (CHAN, CAVALETTO, 1982). 5.00 o 5C 25oC 3.00 o 35 C 2.00 1.00 3.2.2 Cor objetiva 0.00 Ambas as polpas de morango tiveram alterações nos parâmetros de cor ao longo do tempo, tornando-se mais escuras (diminuição de L), menos vermelhas (diminuição de a) e menos amarela (diminuição de b), sendo que as alterações na cor vermelha foram as mais regulares. As repetições tiveram desvio-padrão máximo de ± 0,5. Braz. J. Food Technol., 4:115-121, 2001 0 20 40 60 80 100 120 140 160 tempo (dias) FIGURA 1. Modelo cinético da mudança de cor da polpa de morango sem açúcar, com relação à diferença total de cor (∆E). 118 S. C. S. R. MOURA et al. A oxidação da vitamina C pode ocorrer também por via anaeróbica, levando também a formação de hidroxi-metilfurfural e furfural respectivamente, os quais por sua vez formam melanoidinas, que causam escurecimento, tal como na reação de Maillard. A fase anaeróbica ocorre durante o armazenamento. Quanto mais alta a temperatura de armazenamento, mais rápida é a reação. 8.000 7.000 6.000 ∆E 5.000 Além do escurecimento não-enzímico (Maillard) ocorre também aparecimento de sabor estranho, off flavor, nos produtos e conseqüente perda na qualidade e vida-deprateleira. Os valores altos de ∆E para a polpa de morango com açúcar, além da presença de ar, mostram que estas reações provavelmente ocorreram nas polpas de morango com açúcar armazenadas nas temperaturas de 25 e 35oC. 4.000 3.000 o 5C o 25 C 2.000 o 35 C 1.000 0.000 -10 Cinética de Degradação de Polpas de Morango 10 30 50 70 90 110 130 150 tempo (dias) FIGURA 2. Modelo cinético da mudança de cor da polpa de morango com açúcar, com relação à diferença total de cor (∆E). A determinação dos parâmetros cinéticos foi realizada apenas para a polpa de morango sem açúcar já que os resultados experimentais obtidos para a polpa de morango com açúcar apresentaram-se bastante dispersos e não-confiáveis. A Tabela 2 mostra os parâmetros cinéticos da diferença total de cor (∆E) para as polpas de morango sem açúcar. Os valores da energia de ativação (Ea) foram calculados para a diferença total de cor tendo seguido o modelo de Arrhenius. Para a polpa de morango sem açúcar a energia de ativação necessária para alteração da cor é E a = 8,0 kcal/mol. Esta polpa de morango sem açúcar é muito mais sensível ao aumento da temperatura que a polpa de morango com açúcar, com relação a alterações na cor. Quanto ao valor de Q10, para a polpa de morango sem açúcar, a cada 10oC de diminuição de temperatura a vida-deprateleira da polpa é multiplicada por 1,55; mostrando assim alteração com a temperatura; requerendo inclusive refrigeração, se possível. Já a polpa de morango com açúcar mostrou uma alteração muito pequena com a temperatura. Portanto, para esta polpa, com relação ao parâmetro cor, tanto faz ser armazenada à temperatura ambiente quanto ser armazenada sob refrigeração. TABELA 2. Parâmetros cinéticos da diferença total de cor (∆E) da polpa de morango sem açúcar. Parâmetros Cinéticos 25 35 ORDEM 1a 1a 1a k (dia 1) 0,00177 0,00629 0,00632 r (%) 95,04 89,16 Ea (kcal/mol) 8,0 2 r (%) 95,37 Q10 1,55 Também é importante destacar que a determinação dos parâmetros cinéticos de cor só foi possível para a polpa de morango sem açúcar. Isto se deve à dificuldade de determinação experimental dos valores de L, a e b na polpa de morango com açúcar, provocado por um brilho na amostra que afeta consideravelmente as leituras. Deve-se levar em conta que as análises foram realizadas em produtos armazenados em embalagens bem menores que as utilizadas rotineiramente na empresa (1 tonelada), portanto mais susceptíveis a alterações químicas e organolépticas, pela maior área de exposição com a embalagem, porém a pequena vida-de-prateleira encontrada para as polpas analisadas é provavelmente devido à má qualidade da matéria-prima ou ao manuseamento e processamento inadequados. O produto processado corretamente, desaerado, embalado assepticamente (bag in box de 1 tonelada) e armazenado na temperatura média de 18oC, tem uma vida-de-prateleira maior, desde que se use de uma matéria-prima de boa qualidade. Segundo CHAN, CAVALETTO (1982) polpas de mamão e goiaba acidificadas, processadas a 93oC por 60s e 26s, respectivamente, embaladas assepticamente em bag-in-box de 1 tonelada e armazenadas na temperatura ambiente de 24 a 31oC, podem atingir uma vida-de-prateleira de 6 meses, desde que no caso da goiaba, a cor não seja o fator principal para o final da vida-de-prateleira. 3.2.3 Cor subjetiva Temperatura (oC) 5 2 É importante destacar que ambas as polpas, com 15 dias de armazenamento já apresentaram alterações na cor da amostra original, com maiores alterações na polpa de morango com açúcar, independente da temperatura. É provável que a qualidade desta polpa tenha sido afetada pela presença de ar na amostra, causando oxidação. Braz. J. Food Technol., 4:115-121, 2001 Os resultados obtidos nas avaliações de cor e sabor das amostras de polpa de morango, com e sem adição de açúcar, estão apresentados nas Tabelas 3, 4 e 5. Conforme observado na Tabela 3, durante todo o período de oitenta e sete dias de avaliação subjetiva da cor das amostras de polpa de morango sem adição de açúcar armazenadas a 5°C (amostra-padrão), 25°C e 35°C, diferiram significativamente entre si ao nível de 5% de probabilidade. A maior alteração de cor ocorreu nas amostras armazenadas 119 Cinética de Degradação de Polpas de Morango S. C. S. R. MOURA et al. a 35°C. Pode-se observar, também, que a alteração na cor das amostras manteve-se constante durante todo o período de armazenamento para as duas temperaturas avaliadas, tendo ocorrido de forma mais intensa a 35°C. O mesmo comportamento ocorreu na avaliação subjetiva da cor das amostras de polpa de morango com adição de açúcar, armazenadas a 5°C (amostra padrão), 25°C e 35°C, avaliada durante setenta e cinco dias, conforme apresentado pela Tabela 4. TABELA 5. Resultado da avaliação sensorial de sabor das amostras de polpa de morango com adição de açúcar (valores em notas). Tempo de armazenamento (dias) 5°C Padrão 25°C 35°C TABELA 3. Resultado da avaliação sensorial de cor das amostras de polpa de morango sem adição de açúcar (valores em notas). 5 C - Padrão 25oC 35oC 0 4,00 4,00 4,00 22 3,75c 3,25b 2,58a 10,81* 42 c 4,00 b 2,53 a 1,92 46,21* 62 3,61c 2,69b 1,38a 26,77* 74 c b 1,63a 12,48* a a 10,45* 87 Temperatura de armazenamento 3,00 3,81 c 3,90 2,27 2,18 4,00 4,00 4,16 5,16 4,75 2,17n.s. 25 4,18 4,54 4,45 0,45n.s. c b a 17,07* 45 3,90 5,10 6,00 60 4,00b 5,83a 5,83a 19,64* 75 4,20 c 5,30a 6,40a 22,41* A fim de correlacionar os resultados de cor obtidos objetivamente ou resultados instrumentais e os resultados obtidos subjetivamente ou resultados sensoriais, foi construída a Figura 3, para polpa de morango sem açúcar, nas temperaturas de 5 a 35oC. Para a construção da Figura foram correlacionados os parâmetros ∆E (diferença total de cor) com as notas de avaliação sensorial, no mesmo tempo. Obser vando a Figura 3, pode-se ver uma boa correlação entre os resultados instrumentais e sensoriais. y = -3.5643x + 14.781 R 2 = 0.7209 o 5C 5 y = -2.2716x + 9.6137 R 2 = 0.81 o 25 C 0 4,00 4,00 4,00 10 4,30c 3,53b 2,30a 21,33* 25 c 3,41 b 2,50 1,66a 26,25* 45 4,14c 2,50b 1,28a 16,95* 60 3,81c 3,00b 1,63a 51,75* 75 3,81c 2,36b 1,54a 14,95* y = -2.0115x + 8.2003 ∆E F 35°C valores objetivos 4 Temperatura de armazenamento 25°C 4,00 3.2.4 Relação entre cor objetiva e cor subjetiva TABELA 4. Resultado da avaliação sensorial de cor das amostras de polpa de morango com adição de açúcar (valores em notas). 5°C - Padrão 0 10 F * significativo ao nível de 5% de probabilidade a, b, c - letras diferentes valores diferem significativamente - letras iguais valores não diferem significativamente Tempo de armazenamento (dias) F n. s. não significativo * significativo ao nível de 5% de probabilidade Tempo de Armazenamento (dias) o Temperatura de armazenamento R 2 = 0.8695 o 35 C 3 5oC 2 * significativo ao nível de 5% de probabilidade a, b, c - letras diferentes valores diferem significativamente - letras iguais valores não deferem significativamente De acordo com os resultados apresentados na Tabela 5, o sabor das amostras de polpa de morango com adição de açúcar armazenadas a 25°C e 35°C não diferiu significativamente da amostra-padrão, nas duas primeiras datas de avaliação. A partir dos 45 dias de armazenamento a 25°C e 35°C, as amostras diferiram significativamente da amostrapadrão ao nível de 5% de probabilidade e foram consideradas, conforme a escala utilizada, como sendo a amostra armazenada a 25°C ligeiramente pior que a amostra-padrão (valor 5,0) e a amostra armazenada a 35°C, como regularmente pior que a amostra-padrão (valor 6,0). Braz. J. Food Technol., 4:115-121, 2001 o 25 C o 35 C 1 0 0 1 2 3 4 5 valores subjetivos FIGURA 3. Correlação entre (resultados objetivos) de diferença total de cor (∆E) e (resultados subjetivos) da polpa de morango sem açúcar. 4. CONCLUSÕES As polpas fornecidas pela empresa não apresentavam qualidade adequada com relação ao teor de vitamina C já que este parâmetro não pôde ser detectado por nosso método de análise. Um estudo baseado na retenção desta vitamina na polpa, durante a armazenagem, não pôde portanto ser realizado. 120 S. C. S. R. MOURA et al. Cinética de Degradação de Polpas de Morango O armazenamento a temperaturas de 25°C e 35°C influenciou as características sensoriais de cor e sabor das amostras de polpa de morango com e sem adição de açúcar, provocando o escurecimento do produto, a partir de 15 dias de armazenamento. No que diz respeito ao sabor, as alterações foram detectadas apenas a partir dos 45 dias de armazenamento. HYVÖNEN, L., TÖRMÄ, R. Examination of Sugars, Sugar Alcohols, and Artificial Sweeteners as Substitutes for Sucrose in Strawberry Jam. Keeping Quality Tests. Journal of Food Science, 48:186-192, 1983. A polpa de morango sem açúcar é mais sensível à influência da temperatura do que a polpa de morango com açúcar, porém as alterações na polpa de morango com açúcar ocorreram logo nos primeiros 15 dias de armazenagem, permanecendo constantes com o tempo. A presença de ar na polpa de morango com açúcar contribuiu muito para a oxidação e a alteração de cor da mesma polpa. INSTITUTO ADOLFO LUTZ. Normas Analíticas do Instituto Adolfo Lutz. vol. 1. Métodos Químicos e físicos para análises de alimentos. São Paulo, 3ª ed. no. 4.7.2, 1985b. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem à empresa GOLDEN FRUIT S.A., situada no Espírito Santo pela doação das amostras de polpas de frutas. Agradecem, também, ao técnico Daniel Bonadia pela colaboração nos ensaios e avaliação dos resultados. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CHAN, JR., H.T., CAVALETTO, C.G. Aseptically Packaged Papaya and Guava Puree: Changes in Chemical and Sensory Quality During Processing and Storage. Journal of Food Science, 47:1164-1174, 1982. DECIO, P. New Findings of Filling in Aseptic Bag-in-Box. Processing, 2:60-62, 1997. Braz. J. Food Technol., 4:115-121, 2001 INSTITUTO ADOLFO LUTZ. Normas analíticas do Instituto Adolfo Lutz, vol.1. Métodos químicos e físicos para análises de alimentos, no. 4.5, São Paulo, 3ª ed., 1985a. KLUTER, R.A., NATTRESS, D.T., DUNNE, C.P., POPPER, R.D. 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