varal 12 - Varal do brasil

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varal 12 - Varal do brasil
®
Literário, sem frescuras!
ISSN 16641664-5243
ISSN 16641664-5243
VARAL DO BRASIL: DOIS ANOS TRAZENDO
PARA VOCÊ A LITERATURA NA SUA
MELHOR FORMA:
CHEIA DE EMOÇÕES E SEM FRESCURAS!
© LianeM - Fotolia.com
FELIZ ANIVERSÃRIO LEITORES!
Ano 2 - NovembroNovembro- 2011 - Edição no. 12
®
ISSN 16641664-5243
LITERÁRIO, SEM FRESCURAS
Genebra, outono de 2011
No. 12
bbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbmmmmm
mmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmhhhhhhhhhhhhhhhh
hhhhhhhhhhuyuyuytuyhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhjkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
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ddddddddddddddddddddmnheepamngnrihssssssssssssssssssnerrrrrrrrrrrrrrekkkkkkkkkkkkkkkkkkkkbbb
bbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbmmmmmmm
mmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmhhhhhhhhhhhhhhhhhhh
hhhhhhhuyuyuytuyhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhjkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrffffffffffffffmanajudyebeneogguaenejuebehaddddddddd
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
EXPEDIENTE
Revista Literária VARAL DO BRASIL®
ISSN 16641664-5243
NO. 12- Genebra - CH
Copyright Vários Autores
O Varal do Brasil é promovido, organizado
e divulgado pelos sites:
A LIVRARIA VARAL DO BRASIL
CONVIDA
www.coracional.com e www.livrariavaral.com
Site do VARAL: www.varaldobrasil.com
Textos: Vários Autores
Coluna de Daniel Ciarlini—No Mundo da Ficção
Cien7fica
Colaboração: Norália de Mello Castro
Ilustrações: Vários Autores
Revisão parcial de cada autor
Revisão geral VARAL DO BRASIL
Você está convidado para uma apresentação de livros em presença dos autores no
dia primeiro de dezembro, quinta-feira.
Os autores Mariana Brasil, Carlos Ventura,
Marcelo Cândido Madeira e Jacqueline Aisenman estarão autografando seus livros.
Será servido coquetel.
Onde: Avenue du Mail, 2 - 7o. Andar
Genebra (Entrada Livre)
Composição e diagramação:
Jacqueline Aisenman
Dúvidas? [email protected]
Editora-Chefe: Jacqueline Aisenman
A distribuição ecológica, por e-mail, é gratuita.
Capa: © LianeM - Fotolia.com
Se você deseja participar do VARAL DO BRASIL NO. 13, de janeiro, envie seus textos até
15 de novembro para:
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
Há dois anos iniciava-se em Genebra o projeto Varal do Brasil com a intenção, mesmo tímida , de integrar e divulgar a nossa língua
Portuguesa, fazendo uma ponte entre o Brasil
e a Suíça.
Dois anos depois, mais de trezentos autores
depois, o Varal estendido hoje não pensa que
seu objetivo esteja cumprido. Pensa sim, que
encontrou o caminho para cumpri-lo, indo
além das fronteiras suíças e brasileiras e estendendo-se pelo mundo.
Dezoito edições, um livro lançado, um segundo livro chegando para 2012. Muitos temas
discutidos e mostrados. Uma livraria situada
bem no coração da Europa nasceu para dar
ainda mais força a todos que escrevem nesta
belíssima língua Portuguesa. E agora o Varal
também é selo editorial: numa parceria vitoriosa com a Design Editora de Santa Catarina, o
Varal agora edita o seu livro com respeito e
qualidade!
O Varal do Brasil tem orgulho de ter tido em
sua páginas estrelas cadentes como Renata
Farias, autora que começou a ter coragem de
mostrar seus escritos aqui no Varal, passou
lindamente, deixou suas belas palavras e partiu desta vida sem a oportunidade de um
adeus. Temos orgulho dos autores que já fizeram seus nomes e vêm conosco escrever, trazendo experiência e talento. Nosso orgulho
são, ainda e sempre, os autores que chegam
todos os dias, confiantes ou tímidos, alegres
de compartilhar as páginas do nosso Varal!
Somos uma família, por que não? Uma família
literária, sem frescuras!
Para este número o tema é inexistente: todos
trouxeram de si, desabrocharam com suas
inspirações e fizeram do Varal um jardim de
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ideias e versos.
Também temos a honra de trazer em nossas
páginas a poeta maior brasileira, Yeda Prates
Bernis. Convidamos Yeda para vir para o Varal através da escritora Norália de Mello Castro. Um convite informal cheio de vontade de
tê-la conosco. Yeda aceitou prontamente, mineiramente simples que é. Falar de nossa
alegria? É pouco... Com a inestimável colaboração de Norália, compusemos as páginas
dedicadas à Yeda. Você vai ver, dentro da espontaneidade de suas palavras escondem-se
as emoções mais belas e profundas. Apaixonante.
Inicia coluna nesta edição Daniel C. B. Ciarlini. Daniel nos traz o mundo da ficção científica em todas as suas dimensões.
Fomos para a internet e encontramos para
você várias receitas com abóbora, combinando com as cores do outono europeu.
Se você está conhecendo o Varal hoje, bemvindo! Fique à vontade para nos conhecer
melhor, escreva-nos, venha você também para o Varal!
Se você já é nosso companheiro de jornada,
bem-vindo! Esperamos que esteja sempre conosco e que o Varal possa ser sempre seu
espaço!
O Varal do Brasil comemora os seus dois
anos da melhor maneira possível: cercado de
escritores, poetas, leitores, amigos!
Parabéns para você que está ao nosso lado
neste momento!
A Equipe do Varal
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
Enviado por Norália de Mello Castro
Yeda Prates Bernis é mineira de Belo Horizonte, onde sempre residiu. Diplomada em Letras Neolatinas cursou também Canto e Piano no Conservatório Mineiro de Música. Tem poesias musicadas por Camargo Guarnieri, sob o título Tríptico de Yeda, além de poemas traduzidos para o italiano, inglês, espanhol, francês e húngaro.
Bibliografia e prêmios:
Enquanto é Noite - Imprensa Oficial – BH, 1974; Palavra Ferida - Editora Veja – BH,
1979; Pêndula - Editora Massao Ohno – SP, 1983 / Editora Itatiaia, 2ª edição, 1986; Grão de
Arroz - Editora Itatiaia - Belo Horizonte, 1986; .Menção especial no Prêmio Jorge de Lima,
1995, da União Brasileira de Escritores, RJ; O Rosto do Silêncio - Editora Cuatiara - BH,
1992/Editora Cuatiara, 2ª edição; .Prêmio Olavo Bilac, da Academia Brasileira de Letras; Prêmio Alejandro José Cabassa - União Brasileira de Escritores do RJ;Personalidade Cultural, da
UBE/R; À Beira do Outono -Editora Phrasis - BH, 1994; .Prêmio Hors-Concours Jorge de Lima – 1995, da UBE do Rio de Janeiro; Anotações sobre Zen e Hai Kai – Ensaio - Editora
RHJ - BH, 1996
Entre o Rosa e o Azul - Editora O Cruzeiro, RJ – 1997; Prêmio Cidade de Belo Horizonte; Encostada na Paisagem -Editora Phrasis - BH, 1998; Prêmio Conjunto de obras da UBE do Rio
de Janeiro, 1999; Medalha Auta de Souza da UBE do Rio de Janeiro, 2001; Cantata – Antologia Poética - Edição da Autora, 2004; Viandante - Edição da Autora, 2006.
“Seu Grão de Arroz é das criações poéticas mais delicadas que já se fizeram entre nós.
Nada lhe falta, em emoção contida e limpidez na forma. Cada uma das pequenas composições cintila como pedra preciosa e ressoa como inefável melodia”. Carlos Drummond de Andrade
“Tenho lido e relido Grão de Arroz com o maior encantamento. É dos tais livros que deixamos à mão para poder abri-los quando vem o desejo de uma experiência poética que redima o correr do dia. Afino muito com sua poesia, cujo convívio é para mim cheio de graça. Este
livro, me parece, alcançou o limite admirável onde a poesia diz o máximo, o maior dos máximos, com o menor e mais perfeito dos mínimos”. Antônio Cândido
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
•
ADRIANA V. AGUIAR
•
J. C. HESSE
•
ALBERTO ARAÚJO
•
JACQUELINE AISENMAN
•
ANDRÉ MARQUES
•
JANICE FRANÇA
•
ANDRÉ VICTTOR
•
JOSÉ CAMBINDA DALA
•
ANNA RIBEIRO
•
JOSÉ FRAJTAG
•
ANTONIO VENDRAMINI NETO
•
JOSÉ WILTON DE M. PORTO
•
CARLOS ALBERTO BARRETO
•
JOSSELENE MARQUES
•
CARLOS ALBERTO OMENA
•
JU PETEK
•
CLAUDETE TEREZINHA DA MATA
•
LENIVAL NUNES DE ANDRADE
•
CRISTIANE STANCOVIK
•
LLONO
•
DANIEL C. B. CIARLINI
•
LOURDES LIMEIRA
•
DENIS LENZI
•
LUIZ ALBERTO MACHADO
•
DIAS CAMPOS
•
LUIZ CARLOS AMORIM
•
EDILSON LEÃO
•
LUIZA FOZ
•
EVELYN CIESZYNSKI
•
M. C. JAHNKEE
•
GILBERTO NOGUEIRA DE OLIVEIRA
•
MADHU MARETIORE
•
GILDO OLIVEIRA
•
MALU F. QUEIROZ
•
GRECYANNE CARVALHO CORDEIRO
•
MARCELLO RIBEIRO
•
HIDERALDO MONTENEGRO
•
MARCELO LINO
•
INA MELO
•
MARCIA DAVID
•
INÊS CARMELITA LOHN
•
MARCIA PEDROSO
•
INFETO
•
MARIA LINDREN
•
IONE JAEGER
•
MARIA SOCORRO
•
IRONI LIRIO
•
MARIA ZULEMA CEBRIÁN
•
ISABEL C. S. VARGAS
•
MARLUCE PORTUGAELS
•
IVANE L. PEROTTI MAC KNIGHT
•
MAURÍCIO DOS SANTOS
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
•
MERARI TAVARES
•
MERLI DINIZ
•
•
NEIDA ROCHA
NORÁLIA DE MELO CASTRO
•
OLIVEIRA CARUSO
•
•
PÚBLIO JOSÉ
RAIMUNDO ANTONIO
•
•
REJANE MACHADO
RITA AMORIM ANDRADE
•
•
•
ROBERTO ARMORIZZI
ROZELENE FUTADO DE LIMA
•
SILVIO PARISE
•
•
RO FURKIM
SONIA NOGUEIRA
VARENKA DE FÁTIMA ARAÚJO
•
•
VÓ FIA
WALNÉLIA CORRÊA PEDERNEIRAS
•
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YARA DARIN
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
O crime do teu corpo
Longe das calçadas sujas de um passado que não
volta
Jogue a pedra de seu coração
Por Adriana V. Aguiar
Esvazia-se das mentiras
Não volte para a casa antes de me contar teus
Você aí...
segredos
Com um anjo chorando no peito...
Não se exima do mal
Posso ouvi-lo no frio de tua alma
Que quebra o teu telhado
Não envelheça sem antes me sentir...
Sem antes apalpar os meus seios...
Pálido... Sagaz... Pode me sentir?
Sem antes entregar-se inteiramente
Pode saber sobre os ponteiros em minha garganta
Longe o tanto que não o fará voltar
Se eu disse que o tempo está se apagando
Não o fará distante do que teus olhos me rasgam
Com a aproximação de teus pés sangrando
Cortam meus impulsos
Na benção de teu sorriso?
Envenena o meu vinho
Sente-me?
Bebendo-te à miúdo
Tocaria meu corpo nu sob a luz de um abajur
Lentamente será meu...
Nascendo em teus olhos?
Sem ninguém para lhe ajudar
Saberia gritar se tua voz se calasse
Sem quebrar as garrafas de teu falso pudor
Se teus lábios pousassem agressivos
Não há garantias...
Arranhando o céu de minha boca?
Não juras, nem promessas em um colar de
Romperia o muro abstrato
pérolas...
Arte do além
Quando o sublime dos desejos
Quase viscerantes ao escutar
Instauram-se no teu “eu”...
A Divina Comédia recitada no rouco lento de minha
Com o insaciável meu “eu”...
voz?
Venha-te depressa...
O tempo na ampulheta se derrete aos poucos
A unidade do perpétuo
Um crime mútuo
Sem redenção...
Não há ninguém aqui, além de nós
Toca-me...
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
Identidade do sol
Por Alberto Araújo
Um ente desponta,
e aponta o que é ser belo,
e da beleza nascem as palavras.
Singrando pela a alma
vão-se as palavras entintadas e solfejadas,
as quais o tempo fez produzi-las.
Certas, se fazem fato central de uma vida.
Por esse motivo nunca as deixarão
adormecidas no cais
aneladas a tristezas e angústias.
Tampouco dá guarida aos proveitos
do que se fizeram.
Apenas o querer que,
as palavras ditas no papel
sejam viajadas através do tempo,
fazendo-se cantigas no coração
de quem ama
assim o tornando um ser meramente feliz.
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
A surdez tumular
Por André Marques
Não tem sido repousante esta nuvem,
Do caminho tem-se perdido alguns passos...
A noite revela-se como albergue de meus pecados
E me tem cegado da paz da sonhada quietude.
Se tudo é momento,... que seja breve, passageiro !
Que haja um atalho neste precipício !
Das quedas tantas, fui aprendiz ferido
Que ao tentar voar, chocou-se ao vento !
Qual o valor dessa proeza insensata,
Já que sobrevivo morrendo...
À reconstruir minha estrutura quebrada ?
Não ! ! ! Sou eu, o responsável por este cúmulo !
Acendi a chama de meu inferno,
Agora, respiro a surdez de meu túmulo !
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Isollyna, a Verdadeira Mulher
Mula sem Cabeça...
sua casa dentro de um saco após esquartejá-las
no meio do mato. Os fazendeiros e sitiantes achavam depois somente as cabeças e os pés daqueles cavalinhos e suas éguas parece que sentiam a
morte deles, pois choravam por alguns dias...
Por André Victtor
Isollyna era uma senhora que aparentava ter aproximadamente setenta anos de idade naquela época.
Em sua casa, ela criava sete gatos pretos. Não deixava de ser uma idosa estranha. Possuia um longo
cabelo loiro, escondido sempre entre vários lenços
coloridos.
Talvez, o nascimento de Isollyna fora um castigo
para Jarbaz, por assassinar vários filhotes de
éguas que ainda nem eram desmamados.
Isollyna cresceu e seus problemas foram minimizados por várias cirurgias custeadas pela comunidade rural onde morava.
Ela foi levada para fazer correções ortopédicas em
são Paulo durante muitos anos.
Em sua testa, ela trazia a marca de uma verruga
enorme. No centro dessa verruga, havia ainda três
pequenos fios de cabelos negros que eram notáveis.
Isollyna fora casada no passado, porém não possuía filhos.
Pelo que me contavam sobre ela, nunca mais eu
esqueci e agora vocês também conhecerão a sua
história...
Isollyna era a sétima filha de um sétimo filho, sendo ainda fruto de um incesto, ou seja, ela na verdade era filha de dois irmãos que por obra do destino
foram separados quando eram crianças, sendo entregues para dois donos de circos que passaram
por minha cidade entre os anos de 1890 a 1891.
Dizem que o casal de irmãos voltou a se conhecerem novamente quinze anos mais tarde, vivendo a
partir dai uma vida conjugal.
Quando Isollyna nasceu, seus braços tinham a curvatura contrária, sendo os cotovelos na frente, ou
melhor, em cima dos antebraços.
Um grosso casco existia na sola dos seus pés e
nas palmas de suas mãos. E como não bastasse
isso, uma pequena crina nascia na parte de cima
de sua cabeça e seguia até o meio de suas costas.
Não se sabia o porque daquilo. Seu parto foi feito
na zona rural sob os cuidados de uma parteira naquela época.
Contam ainda, que o seu pai, o senhor Jarbaz, era
um homem muito esquisito, suspeito de roubar várias crias equinas daquela região, onde levava para
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O tempo passou e seus pais morreram de uma doença desconhecida.
Ela então já moça, resolveu se casar com um tal
de Rovilson, após namorá-lo por poucos meses.
Rovilson era um rapaz simples, trabalhador rural e
meio beberrão (gostava de tomar umas e outras).
Nos finais de semana, ele sempre chegava embriagado em sua casa e Isollyna lhe dava a maior
bronca.
Certo dia, numa Sexta-feira de Quaresma, Rovilson acorda assustado com vários barulhos de trotes em seu quintal.
Parecia que um cavalo furioso rondava a sua casa
e se debatia pelas paredes, tentando até mesmo
entrar pela porta principal.
Rovilson gritou várias vezes pela sua mulher
Isollyna, porém, ela não estava dentro de casa. Havia sumido da cama durante aquela noite. E cada
vez que Rovilson a chamava, lá fora aquele cavalo
relinchava.
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
Rovilson então resolveu sondar por um pequeno
buraco na sua janela.
Após aquele animal rondar os fundos da casa e
passar em frente da janela, Rovilson ficou apavorado.
Era uma enorme égua branca, possuía uma crina
loira com alguns lenços ainda amarrados.
Mas um pavor tomou conta de sua mente quando
ele não conseguiu visualizar uma coisa.
A cabeça daquela égua simplesmente não existia.
Rovilson havia se casado com uma mulher que virava a verdadeira Mula-sem-cabeça.
Rezando todos os tipos de rezas, ele aguardou o
dia clarear e desapareceu da vida de Isollyna para
sempre.
Sobre a Lenda da Mula sem Cabeça...
A mula sem cabeça é um personagem do folclore
brasileiro. Na maioria dos contos, é uma forma de
assombração de uma mulher que foi amaldiçoada
por Deus por seus pecados, muitas vezes é dito
ser uma concubina que fez sexo dentro de uma
igreja com um padre católico e foi condenada a se
transformar em uma criatura descrita como tendo a
forma de um equino sem a cabeça que vomita fogo, galopando pelo campo do entardecer de quinta
-feira ao amanhecer de sexta-feira. O mito tem várias variações sobre o pecado que amaldiçoou a
mulher a se transformar no monstro: necrofagia,
infanticídio, um sacrilégio contra a igreja, fornicação, incesto, etc.
Depois disso, Isollyna nunca mais se casou e seus
sete gatos pretos eram a sua única companhia.
A transformação na Mula-sem-cabeça era o carma
que Isollyna tinha que carregar para sempre, para
assim pagar o pecado cometido pelo seu pai.
Talvez isso fosse uma maldição lançada pelo pensamento coletivo de todas aquelas éguas, que tiveram suas crias assassinadas cruelmente no passado...
SEJA GENTE, PROTEJA
OS ANIMAIS!
Proteja os animais daqueles que
não tem humanidade suficiente no
coração para amar e cuidar dos
* História Verídica, porém com nomes fic5cios
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indefesos.
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Ensaio / A mulher que não Beijou
Por Anna Ribeiro
Em pensamentos íntimos, parecia que seu espirito estava de tocaia.
Despida, vazia, tenta esconder o silencio dentro de si
melhor seria nada dizer?!...
Mas, porque veste este pranto,
Nos varais do tempo, não ficou a alma despida?
Ah, como nas janelas do trem vê correr as anuviadas paisagens
Assim, revê a inocente ilusão... Acampamento cigano com seus coloridos panos
em esvoaçantes magias.
Na palma da mão o retrato do futuro dito decifrado.
Desta distância...
Por alinhavadas linhas vive o poema turvos ensaios no passeio da alma.
... Na boca do tempo, da mulher que não beijou o não sacramentado,
Ficou espelhado no espanto de Lúcifer!
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Yeda Prates Bernis
HAICAIS
O coração da aranha
se desfaz em geometria
de seda e mandala
A jabuticabeira.
Através de líquida cortina
olhos negros espiam.
Imóvel,
o barco.
No entanto, viaja.
Enviado por Norália de Mello Castro
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
Escorre pela folha
a tarde imensa,
pousada em gota d'água.
Noite no jasmineiro.
Sobre o muro,
estrelas perfumadas.
Grão de Arroz
YEDA PRATES BERNIS
Um marcador japonês
no livro de hai-kais
– silencioso conluio.
Lavadeiras de beira-rio.
De Grão de Arroz, Editora Itatiaia
Ltda. (BH, 1986).
nas águas, boiando,
cores e cantos.
Cai da folha
a gota d'água. Lá longe,
o oceano aguarda.
Na poça d'água
o gato lambe
a gota de lua.
De púrpura, seu mergulho
no aquário. No coração,
o mais antigo azul.
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Enviado por Norália de Mello Castro
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
VENEZA E AS QUATRO ESTAÇÕES
Por Antonio Vendramini Neto
É uma cidade Italiana deslumbrante, situada
na bela região do Vêneto, conhecida pela sua
historia, onde os canais majestosos dão um
toque de magia e encantamento. Possui também vários museus e monumentos. Seu nascimento surgiu de um arquipélago no noroeste
do mar Adriático.
Reina absoluta como uma das mais importantes da Europa, com uma trajetória rica e um
império na época, de influencia mundial, comandada pelos seus Doges, uma espécie de
lideres, com poder absoluto, como o de mandar prender e matar as pessoas que atrapalhassem seus interesses, tranca fiando-os na
famosa “Ponte dos Suspiros”, de onde eram
levados ao calabouço, tendo suas cabeças decepadas pelo carrasco, dando ali, o “Ultimo
Suspiro”, por isso, a ponte leva esse nome.
alto, estão postados quatro imensos cavalos
de bronze, que dominam o panorama, parecendo ao longe, estarem sempre trotando,
com as patas ao ar e envoltos por nuvens,
dando a impressão que está presente, em todas as estações do ano.
Foi classificada como Patrimônio Histórico da
Humanidade pela UNESCO.
Dos muitos monumentos e locais turísticos, a
ponte de Rialto é uma atração imperdível, situada sobre o imenso canal, onde por suas
águas percorrem todos os tipos de embarcações.
É muito conhecido nas artes, o Festival de cinema, a grande Bienal, a Regata Histórica e o
Carnaval, com moradores e turistas, vestindo
imponentes fantasias da época. À Noite impera os cassinos, onde os jogadores disputam
fortunas, ao som de pequenas orquestras medievais, e ao lado de belas mulheres, alguns
poucos que conseguem ganhar, deixam para a
Prefeitura pesados impostos.
Os passeios diurnos e noturnos sobre as gôndolas proporcionam aos casais, emoções e
êxtase, que ao som de músicas tradicionais
cantadas pelos gondoleiros, trocam beijos
apaixonados.
Da imensa praça, denominada de São Marco,
vislumbra-se a imensa Basílica, que em seu
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Ali nasceram vários Papas, Arquitetos, Pintores e também o Mestre Antonio Vivaldi, onde
viveu por vários anos, compondo a imortal
“Quatro Estações”.
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
INVERNO...
Mãos trêmulas no gélido ar.
VERÃO...
Sopra forte e cortante o vento norte do leste
europeu.
Recôndito... Esfrego as mãos ao pé da lareira.
Diviso ao longe sobre um vaporetto
a bela Rialto
Ponte de pedra em arco
Lá fora, cai uma neblina fina
Parecendo uma garoa sobre o chão nevado...
Olho essa paisagem sobre uma vidraça
embranquecida
Caminhos de uma época
Rumo à Basílica de São Marco
Na sala atapetada, bate forte o coração
Ouço o som suave e cadenciado de uma
Paisagem delirante e inebriante
Inspiração de pintores e grandes amores
gravação...
É Vivaldi com o tema Inverno das
quatro estações
Por suas águas passam gôndolas
Transportando casais apaixonados
Com suaves suspiros e som
contagiante...
Procissão de gondoleiros
Transportando personagens
Mascaras e trajes do glorioso passado
Ao carnaval e ao festival de cinema
Histórias contadas da cidade dos
Doges...
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
A Rainha da Floresta
De Anna Leão
A Rainha da Floresta é um gostoso convite para o mundo da magia. Nele o leitor encontra a história da princesa Anaís, que se descobre uma bruxa. Por conta disso, a jovem herdeira do Reino das
Joias se vê obrigada a fugir do reino no dia de seu noivado, refugiando-se na Floresta das Sombras, vítima de uma maldição. A partir daí, a princesa parte para uma grande aventura onde vivencia
seu processo de iniciação, autodescobrindo-se e conhecendo a
magia e o seu passado ancestral.
Recheada de personagens interessantes, a obra mostra a importância de sermos nós mesmos e encontrarmos nosso lugar no
mundo.
Venda no site da autora:
http://www.annaleao.com.br/modules/mastop_publish/?tac=Livro#2
NA EUROPA: www.livrariavral.com
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
A CASTRO ALVES
Por Carlos Alberto Barreto
Longe da turba, em caçada solitária
Por, companhia, o fiel perdigueiro
No ombro, a espingarda ordinária
Aliada à tuberculose, mal do peito condoreiro.
Soa o tiro, debanda os turdídeos no matagal
Perdizes, tuins, revoada... Logo silêncio inclemente
O calcanhar ferido, túmido, letal
Suspira, arfante por tão estúpido acidente
Dor atroz, latejante e frenética
Não no pé, mas no coração, na alma
Curta e culta juventude poética
O Mal do Século mata, desalma.
Sabe que dirá adeus
Aos amores recônditos, plenos e suaves
Quebrando a magia dos sonhos seus
Dos discursos, à voz, às claves
Magnetizando plateias, exultando multidões
Dirá adeus à boemia, fina e indolente
Aos amigos, aos declames, aos serões
Ao Curralinho, à Natureza, à gente
“Morrer... Quando este mundo é um paraíso
e alma um cisne de douradas plumas!”
verseja, rouquenho, ainda em juízo
a febre, o delírio, o frio, as brumas.
Hoje, imortal que ele o é
Olha, radiante e altaneiro
Mão estendida, mármore no pé
Para o mar, eterno companheiro
Que o seguiu, em poéticos devaneios
Nas procelas, nas espumas flutuantes
Nau negreira, o porão, os arreios
A revolta, o açoite, cenas humilhantes
Olha, sereno, para a Praça, para o Céu
Ela que é do Povo, ele que é do Condor
Profetizou, eloquente, o nosso Cecéu
Poeta dos Escravos, dos Românticos, do Amor.
(do livro Só... Reminiscências Poéticas, editora CEPA, 1998)
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
DE YEDA PRATES BERNIS
Avaliação
Entre o eterno e o efêmero
que distância transcendente?
Entre a verdade e a palavra
quanta sombra e claridade?
Entre o sofrimento e a prece
quanta fugaz esperança?
Entre o amor e o desamor
quantas chagas e soluços?
Entre sonho e realidade
quantos loucos e poetas?
Entre a existência e a morte
quantos inúteis respiros?
Entre o passado e o presente
quantas mil eternidades?
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
NO PALCO DA VIDA
Por Carlos Alberto Omena
No palco da vida
a minha historia atuei.
Vivi muitos personagens,
numa aventura que sequer imaginei.
Entre cegos já tive um olho,
sem com isso ter sido um rei.
Já fui rico, fui pobre e andarilho,
vivendo nessa terra sem lei.
Já fui bobo da corte,
fui sábio e poeta também.
Numa corte sem corte,
sem guardar mágoas de ninguém.
No palco da vida,
minha vida eu vivi.
Foi no palco dessa vida,
que minha historia escrevi.
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
Sabes que teu equilíbrio nos desequilibra e
nos reequilibra?
Sabes o quanto és capaz de nos fazer inclinar,
diante de teu andar?
Andar firme, sincero é o teu jeito de estar.
Por que tanta correria Boneca Menina?
Quais são tuas quimeras que nos estimulam?
Sabemos que as formas raras vindas de ti,
brotam de Seres Fantásticos?
“Seres” expressos no teu olhar,
No teu jeito de sorrir
E no teu caminhar!
Por Claudete Terezinha da Mata
Boneca Menina que carreguei no ventre.
Que ao nascer,
Amamentei com o leite que brotou do meu
Ser.
Boneca que eduquei
Ensinando sempre os caminhos do bem
E todos os outros caminhos também.
Boneca que esperneava quando contrariada.
Gritava alto para o mundo todo ouvir,
Dizendo a todos que um dia essa criança forte
e ao mesmo tempo tão frágil,
Iria alçar voo...
Voar na busca da liberdade.
Que energia é esta, Boneca Menina?
Que nos faz recordar a nossa infância?
Que olhar esse que nos faz sonhar?
Sabes que teu jeito de olhar e sorrir vem colorir o mais belo jardim?
E que o brilho do teu olhar, revela a luz das
estrelas tímidas no ar?
Que revela a timidez da lua, iluminando o mar.
Até o Sol te admira, bela Boneca Menina.
Teu corpo delicado,
Teu jeito raro de gesticular.
Que olhar é esse que nos inebria?
Qual sonho revela teu olhar?
Que par de olhos estão a nos ver?
Que fazes agora Boneca Menina?
Danças num piscar de olhos, para o mundo
todo ver?
Boneca dos sonhos de toda menina.
Menina cobiçada pelos meninos.
O que aconteceu contigo?
Já sei, você cresceu e o tempo passou.
Olha!
O tempo nasce, cresce e passa.
Mas saibas que ficarás para sempre
Gravada em nossas mentes,
Lá dentro do coração!
Coração de boneca, Boneca Menina!
Que rodopia, rodopia, rodopia...
Boneca Menina, o tempo passou e você cresceu.
Ontem eras princesinha, hoje és rainha.
Mesmo que fiques bem velhinha,
Jamais perderás a doçura que te cobre de
candura.
Assim serás para sempre,
Minha Boneca Menina
Que rodopia, rodopia, rodopia...
Que energia é essa, Boneca Menina?
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
A dor do orgulho
Por Cristiane Stancovik
Hoje eu choro...
Choro por não ter chorado
Por não ter falado
Por não ter pecado
... Que pecado não ter falado que teria te amado!
Hoje eu grito
Grito pelo mito
Mito porque acredito que não acredito no que não foi dito
Hoje eu vivo...
Só pensando...
Até quando seguirei pensando?!
Então não penso...
E suspenso fica o amor a quem não mais pertenço
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
NO MUNDO DA FICÇÃO CIENTÍFICA
Por Daniel C. B. Ciarlini
Os dois universos da
Ficção Científica
Parte I
Falar em ficção científica é voltar-se a
modernidade, portanto a assuntos há muito
em voga, bem como especular (ou extrapolar,
como cita Allen e Asimov) a respeito dos progressos e das influências que alguma descoberta fez ou fará à sociedade. A propósito, por
ser um tema contemporâneo e ao mesmo tempo muito antigo – porque a ciência não é estática, desde Copérnico –, sinto-me livre a tecer
comentário de forma ampla e flexível, sem método ou regra, aliando às liberdades algumas
questões de história e cinema, este último porque, hoje, o gênero é um entrelace midiático
de efeitos especiais (a maioria empobrecedora
de roteiros) com enredos jamais envelhecidos,
dos tempos áureos de Julio Verne, H. G.
Wells, Ray Bradbury, Robert A. Heinlein, Arthur C. Clarke, Isaac Asimov e toda a Geração
de Ouro despertada por John W. Campbell,
editor da revista mais popular de F. C. na primeira metade do século XX, a Astounding Science Fiction.
Embora a ficção científica na literatura e
no cinema tenha lá as suas conexões, é válido
deixar claro que no campo da imaginação e da
criação especulativa representam, quase semVaral do Brasil no. 12 — www.varaldobrasil.com
pre, polos opostos no fator que ora denomino
P, ou seja, público e/ou produção.
Numa sociedade desacostumada ao
hábito da leitura e alienadamente televisiva
como a brasileira, é quase irrevogável que um
jovem de 15 anos ao assistir, digamos, a
adaptação clássica Eu, Robô, de Asimov,
queira ler a obra em si, mesmo sabendo, ou
por informação de terceiros ou por sugestão
de seus próprios produtores, que o filme não
represente de forma fiel a narrativa do escritor.
Diferente do público leitor de ficção científica,
os entusiastas do cinema, em sua imensa maioria, são preguiçosos, pouco ou nada ligam
para detalhes como roteiro, criação, direção,
contexto histórico, social e político, bem como
as ideologias dos autores, a crítica embutida,
as intertextualidades implícitas e explícitas que
as megaproduções cinematográficas, irreversivelmente, possam nos levar a refletir a partir
das telas do cinema e da tevê. Daí a antecipação em se afirmar de que do gênero só conheçam a casca, porque contemplam mais o lúdico do que o conteúdo em si – e disso os cineastas, roteiristas e diretores estão fartos em
saber: não faz tanto tempo assim que descobriram esta receita do pão e do circo. A F. C.
das últimas décadas, a começar com o space
opera americano Guerra nas Estrelas (1977,
1980, 1983, 1999, 2002 e 2005), de George
Lucas, tem se restringido nada mais nada menos do que a extrapolação de cenas de destruição e guerras por toda a galáxia, com efeitos especiais desastrosos que beiram o absurdo.
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
A essência da ficção científica não é
isso, diga-se de passagem! Essa absurdidade,
por parte de alguns que alcançam o estrelato
hoje em dia, é que faz do gênero um palco
mambembe e pernóstico. E isso ocorre devido
à tendência natural do ser humano deste e do
século passado, e não seriam diferentes os
entusiastas de cinema, em se maravilhar com
explosões, maremotos, furacões, enfim, destruições em massa. Nos últimos vinte ou trinta
anos temos vivido uma onda apocalíptica no
cinema: a destruição total ou parcial da Terra
parece ser a grande atração, isso explica, por
exemplo, o sucesso que alcançou produções
da ordem de Impacto Profundo (1998), O Dia
Depois de Amanhã (2004), 2012 (2009), Presságio (2009) e, mais recentemente, A Estrada
(2010). Peço licença aos leitores para usar das
palavras de Isaac Asimov (1920-1992) quando, em 1978, resenhou o episódio inicial do
famoso programa norte-americano de ficção
científica Battlestar Galactica (hoje adaptado
para o cinema: 2010), antes mesmo de este vir
a ser transmitido pela ABC: “Não estou bem
certo se compreendo a psicologia das pessoas
que produzem filmes e programas de TV. Sou
um homem de livros”.
A F. C. vive atualmente um momento de
pessimismo que se arrasta desde o tempo das
grandes guerras: não bastassem as especulações de catástrofes naturais, todo e qualquer
avanço científico ou tecnológico está ligado ao
confronto e à destruição gratuita, e o motivo da
febre responde por uma só palavra: capital;
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volta-se àquilo que tem dado audiência e estourado as bilheterias dos cinemas. Até parece
mesmo que não há outro destino aos seres
vivos senão a sua extinção ou sofrimento. Tais
fatores só nos mostram como o mercado profissional de roteiristas está em baixa do basilar
produto que lhes confere originalidade: a imaginação.
Como Hollywood tem mantido, há décadas, uma espécie de monopólio no cinema
mundial, não estranho observar a sua parcela
significativa de culpa em todo o processo. A
fim de corroborar a este pensamento, e se não
for maçante de minha parte, faço questão de
reproduzir mais uma vez as palavras daquele
crítico: “Hollywood é forçada a lidar com o
grande público, e a maioria dos membros desse público é totalmente ignorante do que seja
boa ficção científica. Hollywood é obrigada a
curvar-se ao seu público, ir pelo menos em
parte ao seu encontro”.
Ao contrário da má ficção científica (ou
seria ficção apelativa?), H. G. Wells (18661946) foi um dos escritores que bem trabalhou
o tema das destruições de forma bastante lógica e bela em A Guerra dos Mundos (1898) e A
Máquina do Tempo (1895), neste último, por
exemplo, não pôs fim à humanidade senão
aos costumes fúteis, e mostrou a subdivisão
da espécie humana em duas, Morlocks e Elói,
num ano bem a frente do normal, 8.002.701 d.
C., inimaginável para os homens do presente
que só investem no extermínio – a sua narrativa é tendenciosa e cumpre um objetivo: cricar
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
o sistema capitalista e a exploração da mão-de
-obra por parte da classe burguesa. O resultado foi uma estória que inverteu os papeis e demonstrou a fragilidade dos burgueses/Elói
frente aos Morlocks/proletariados, assustando
deveras a sociedade inglesa de seu tempo. O
conhecimento científico e o avanço tecnológico
em Wells não serviram para que os homens se
destruíssem, na realidade as artificiais diferenças sociais foram o principal combustível da
grande ruptura da raça. É estranho ver que o
desenvolvimento do homem não tenha, hoje, a
mesma significação que teve em um passado
não tão longínquo, cuja tecnologia surgiu para
aliviar-nos da fatiga mental e muscular. Contrariamente parecemos mais fatigados, o caos
da globalização e a necessidade da competição têm nos apartado, odiado e desumanizado
a cada dia. Triste ainda em ver que tal realidade é-nos ofertada duplamente, tanto pela vida
quanto pela ficção, já que esta não nos permite mais fugir daquilo que nos volteia, obrigando
-nos a deixar na gaveta os sonhos.
Recentemente, ao ler a sinopse do filme Avatar (2009), dirigido por James Cameron, antes
mesmo de vir à tona nas telas de cinema, senti
-me um tanto feliz quanto a possibilidade da
nova geração assistir a uma reviravolta na ficção científica soft dos cinemas, afinal de contas, com uma originalidade de roteiro daquele
estilo, idealizado pelo autor e diretor desde
1994, não haveria de se esperar o contrário. O
filme, isso não há dúvidas, é esplêndido, tanto
em nível de gráfico como de efeitos especiais
e aspectos outros triviais de suma importância
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na construção da verossimilhança para convencimento do público, a citar a logicidade tecnológica e científica empregadas e as teorias
tão bem construídas, entretanto, quando tudo
caminhava para o encerramento com chave de
ouro, fui surpreendido com o sensacionalismo
de destruição na cena da hometree, a grande
árvore, lar dos Na’Vi, povo nativo do planeta
Pandora, então explorado pela raça humana –
e mais uma vez a ambição mundana do homem foi demonstrada como tempero que obriga a ordem do capital permanecer acima de
tudo. Por certo, eu estava me iludindo em esperar uma F. C. diferente em Avatar, visto que
é do currículo de Cameron filmes ainda mais
aniquiladores como, só para citar dois, O Exterminador do Futuro (1984) e Rambo (1985).
O leitor pode neste momento ter o seguinte
questionamento: Desde quando Rambo é ficção científica? Senão vejamos...
Rambo, estrelado por Sylvester Stalone, marca um período bem peculiar no cinema norteamericano: o inconformismo das verdades históricas. Tendo sido massacrado pelos vietnamitas na Guerra do Vietnã (1959-1975), até o
uso covarde da arma química Napalm, os Estados Unidos, através de seu Governo, patrocinando o canadense Cameron, deu um jeitinho
de mostrar força contra aquele povo asiático,
pelo menos no campo da ilusão, e eis que surge o guerreiro americano John Rambo, uma
máquina de matar (sem sentimento), capaz de
empunhar lançadores de mísseis, metralhadoras e acioná-las usando apenas os braços,
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
Com tanto sensacionalismo fico a imaginar a
Guerra dos Cem Anos que seria se, por um
acaso, mero acaso, Cameron pusesse Rambo
para digladiar com o ciborgue interpretado por
Arnold Schwarzenegger em O Exterminador
do Futuro – seria o suprassumo da atual ficção
e a destruição total da Terra.
Justiça seja feita, embora Rambo tenha
sido um sucesso no tempo, arrecadando mais
de 150 milhões de dólares só em bilheteria, a
crítica o condenou friamente, afinal de contas,
com uma estória tão absurda, e com uma deturpação histórica de tal envergadura, o título
de pior filme do ano pela Golden Raspberry
Awards marca apenas o início de uma dessacralização do cinema estadunidense.
Assim, percebemos que paira na sétima
arte não um pessimismo de criação guiado pelo fator P, no caso público, mas também, em
acréscimo, o patrocinador, que direciona, pela
ordem do vil metal, investimentos em atrações
deste nível, guiadas por discursos cheios de
interesses políticos – ora, o que dizer de Capitão América, personagem de HQ criado justamente no período da Segunda Guerra Mundial,
hoje na sua quarta adaptação para o cinema.
Esta penetração política põe em crise no cinema o que as pulp magazines fizeram nas décadas de 30 e 40 ao gênero na literatura, onde
quantidade e qualidade eram inversamente
proporcionais.
A atual geração parece desacreditada
de outras opções para a racionalização da vida
senão através do interesse mesquinho ou do
negativo. Os últimos escritores de F. C. com
alma socialista morreram e com eles a originalidade, o questionamento, a reflexão filosófica,
política e social, e se há uma coisa que nos
pode confortar é saber que seus legados, sozinhos, são capazes de manter o gênero e influenciar novos roteiristas e escritores para o porvir, fazendo-me lembrar uma das sábias e assertivas frases de um poeta parnasiano brasileiro, Alberto de Oliveira: “formas literárias desconhecidas, desconhecidos gêneros e ainda
os há muito esquecidos, acharão ambiente
apropriado ao seu aparecimento ou ressurreição”. Não estou aqui tomando partido pela ordem socialista dos fatos, mas explicitando que
o ambiente soft da ficção científica, hoje, está
mais engolido pela hard do que nunca. O desfecho agregador de soft com hard, que torna o
escritor ou o produtor um ficcionista científico
completo – já que funde o lado social com o
tecnológico –, está em extinção. No mais, quero acreditar que tudo não passe de uma fase
se findando, Asimov que o diga!
(Leia a segunda parte na página 73)
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
O CÃO SEM DONO
Por Denis Lenzi
Levantei-me e corri o quanto pude, indo em direção a ele que já estava no meio da rua, pegando a bola no asfalto. O carro se aproximava, e eu consegui chegar a tempo. Saltei, e empurrei o menino para longe, segundos antes, de
o carro passar por cima de mim. Doeu muito,
no entanto...!Salvei o menino da morte.
Putz! Como dói muito! Eu não imaginei que o
impacto de um carro pudesse me causar tamanho estrago em meu corpo, e que iria doer tanto, mas doeu... Caramba! Como dói! Eu não
posso me mover; nem posso me levantar e correr por ai; parece que o meu corpo grudou ao
chão como chiclete esmagado sob a sola de
um sapato. O asfalto queima como se estive
me fritando. É verão agora. e o sol brilha com
tamanha fúria. Odeio isso. Odeio calor. Mas
pouco me importa agora...
Ah, vejo agora o céu. E que céu! Nunca tinha
reparado o céu tão azul e vívido. Certamente,
quando alguém está prestes a morrer, a sua
visão se torna cada vez mais aguçada, deixando todas as coisas ao meu redor mais vivas e
palpáveis. Estou vendo agora os rostos dos
transeuntes. Olham-me com pesar. Nenhum
deles ousou de se aproximar, e me ajudar. Por
que será? Fui atropelado e ninguém quer me
ajudar? Sinto o cheiro de sangue alastrando no
chão do asfalto. Meu sangue. Quente. BorbuNão sei por que tinha que acontecer isso comi- lhado por causa do calor do sol. Que horror!
go; precisei passar por este momento para po- Por quanto tempo vou ficar ali?
der me salvar um menino ruivo. Pouco antes do
Por entre os transeuntes, posso ver um jovem
acontecido, lá estava ele dando uma comida
careca com aquela coisa brilhante na orelha,
para mim, pois se sentiu em pesar; sentado à
sombra de uma árvore, faminto e cansado de- que somente as mulheres usam, veio até mim
com uma grande pedra e o vi ergue-la; seus
pois de percorrer um longo caminho.
olhos fitaram os meus, e parecia querer dizer
algo: Vou poupar a sua dor. Será uma morte
Aquele menino, mesmo sendo tão pequeno,
rápida e indolor. Mas o jovem não o fez, o metem grande coração. Eu e ele temos algo em
comum: somos ruivos. Quando ele se afastou, nino impediu gritando - Não o mate! Não o mae foi correr em direção a outra criança que se- te! Ele me salvou! Por favor! Não o deixe morrer! – a voz do menino parecia um misto de dor
gurava a bola, para brincar, senti-me feliz por
ele, enquanto saboreava o pedaço de pão dor- e revolta. Sinto o cheiro de suas lágrimas. Pura.
Limpa. Um odor agradável ao meu olfato. Lemmido com manteiga, enquanto sentia o vento
soprar em meu rosto. Ah... Como é agradável o bra o cheiro das gotas de orvalho num raiar de
primavera. Fresco. Ah, como é doce este cheiro
cheiro da natureza... Fiquei ali por um tempo
enquanto as pessoas passavam à minha frente, que impregnam o meu olfato.
olhando-me com desprezo. Ah, estou me lixando para essas pessoas, elas não possuem o
grande coração daquele menino.
Estava prestes a cochilar, vi a outra criança lançar a bola de longe, e o menino ruivo correr
atrás da bola, que pulava em direção à rua, fora
então que senti o cheiro de perigo que rondava
por ali. O carro vinha de longe, mas pude ouvir
seu motor... Senti que a morte pairava por sobre aquele menino de grande coração. Estava
prestes a acontecer uma coisa terrível; não poderia permitir... Não com o menino ruivo.
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
Vejo o seu rosto com sardas; cabelos ruivos, e olhos azuis como o céu! Não; acho os olhos
dele mais lindos do que o céu. Tão doce. Tão compadecido de mim. Gosto muito dele. Nenhuma outra criança tem coração igual como este. Valeu a pena salvá-lo. Sacrificar-me-ia várias vezes pelo o mesmo motivo. Pena que não tenho setes vidas, como o gato. Maldito gato
sortudo!
Quero levantar-me agora, poder acolher o meu amigo e dizer - está tudo bem, meu amigo.
Estou bem e vou ficar sempre com você. Mas não posso. Estou imóvel. Mais pessoas começaram a me rodear. Veio a mãe do garoto, que o pegou e levando-o para longe de mim. Por
que ela está fazendo isso? O menino esticou o braço, para poder me tocar, me cuidar, mas a
mãe não permitiu. Ele sumiu de minha vista, mas sinto o seu cheiro de sua lágrima, que impregnou o ar.
Olho para o céu... Tão imenso azul e profundo. Dá-me vontade de mergulha para sentir a
sensação do frescor e da paz.
Ai! A minha vida está indo embora pouco a pouco. Meus olhos começam a ficar pesados e
isso me deixa assustado. Sinto o cheiro da morte. Está vindo... A lembrança do menino continua impregnada em minha mente.
Errr... Acho que já está em minha hora. É melhor assim. Não dá para viver no mundo dos humanos. Bicho homem tão egoísta; materialistas! Machucam; ferem uns aos outros. Não entendo isso. Achei que seriam evoluídos como nós, meros cachorros mortais, enganei-me.
Eles têm muitos a aprender. Ouço um deles falar sem menor cerimônia: - Graça a Deus! Um
vira-lata a menos em nossa rua. Foi melhor assim.
É; eu também acho. Foi melhor para mim, partir deste mundo mesquinho cheio de gente sem
coração, exceto o menino ruivo. Sinto o vento me acolher. Como é agradável o vento, que
aliviar o meu corpo, a minha dor está desaparecendo. Que bom! Foi melhor assim. Fecho os
meus olhos, solto o meu último suspiro e sinto agora a sensação de paz me acolher.
Agora... Sim...
...estou... Em...
...paz.
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NESTE ÁTIMO...
Por Dias Campos
“Click”.
- Tenho exatamente o tempo que medeia entre este
estalido e a secção do pescoço de Hamida Djandoubi para dar o meu testemunho, para dizer a que vim. Sei que
os milionésimos de segundo consumidos para que uma
lâmina oblíqua de cerca de 40 kg percorra na vertical a
distância de 2,3 metros e atinja esse pobre coitado não
parecem ser bastantes a qualquer comunicação... No entanto, se me reservaram o âmbito deste conto é porque
não titubearam quanto à sua suficiência. Além do mais,
falo na velocidade do pensamento.
- Sendo assim, permitam-me que me apresente:
chamo-me Joseph-Ignace Guillotin; era francês e exerci a
medicina no século XVIII. O patronímico? Apreenderam
bem. Mas poucos sabem que foi graças à sátira que o
jornal monarquista Actes des Apôtres fez ao projeto que
apresentei à Assembleia Nacional, e que dispunha sobre
a democratização da pena de morte, que entrei para a
história... – “Esta máquina supliciadora deveria trazer a
doce denominação de... guilhotina!”
- Mutatis mutandis, eu e o meia armador Gérson
cometemos o mesmo pecado: agimos de boa-fé num
mundo em que a má-fé impera. Na realidade, o que me
motivou foi a extrema compaixão aos condenados. Considerava que o enforcamento e a decapitação com o machado poderiam causar grandes e desnecessários sofrimentos. Esta, às vezes não cumprindo o seu papel ao
primeiro golpe; aquele, por vezes acarretando uma agonia que se protraía por horrendos minutos.
- Seja como for, o fato é que volto neste 10 de setembro de 1977, aqui em Marselha, para rejubilar-me com
este átimo que se esvai. Mas, por favor, não mais deturpem o que acabo de dizer... Regozijo-me, sim, com esta
data, não só porque poderei amparar essa alma decaída,
mas, sobretudo, porque será a última vez que a pena de
morte será aplicada na França! Sim, caros leitores, amantes da verdadeira liberdade, a macabra Prece Revolucionária nunca mais será recitada! – “Repleta teu cesto divino com cabeças de tiranos.../Santa Guilhotina, protetora
dos patriotas,/Rogai por nós./Santa Guilhotina, calafrio
dos aristocratas,/Protegei-nos!”
- Vive la vie! Vive la France!
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
DE YEDA PRATES BERNIS
Colheita
No tempo que não existe
revolvi meu chão de ânsia
com mãos de seda e inocência.
Adubei com imprudência
de fé, paixão e constância
a terra desta certeza.
Semeei minha verdade
no futuro da alegria.
Reguei com fresca poesia
o que fruto me daria.
No tempo que não existe
- primavera em calendário
espantalho solitário
sem rumo, sem endereço,
colho a safra da agonia,
recolho a vida ao avesso.
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
ABÓBORA GRATINADA
Do site: http://cybercook.terra.com.br
2 colher(es) (sopa) de manteiga
1 unidade(s) de cebola picada
1 dente(s) de alho amassado(s)
1 kg de abóbora japonesa em cubos médios
200 gr de champignon em conserva fatiado(s)
quanto baste de sal
quanto baste de pimenta-do-reino branca
1 lata(s) de creme de leite
1/2 xícara(s) (chá) de Ricota
quanto baste de noz-moscada
1 colher(es) (sopa) de salsinha picada(s)
2 colher(es) (sopa) de Queijo Ralado
Em uma panela, derreta a manteiga e refogue a cebola e o alho. Junte a abóbora e deixe refogar até que fique cozida, porém, firme. Se necessário, pingue água durante o cozimento.
Acrescente o champignon e cozinhe mais um pouco. Corrija o sal, mexa e reserve.
Bata no liquidificador o creme de leite, a ricota e o sal. Tempere com a noz-moscada e a
salsinha e reserve.
Pegue um refratário e coloque camadas de abóbora refogada e do creme de ricota, terminando com o creme. Polvilhe o queijo ralado e leve ao forno até que esteja gratinado.
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
ECLIPSE LUNAR
Por Edilson Leão
O dia da noite
A noite do dia!
Lua negra
Negritude nas estrelas.
O sol da meia-noite
Da meia-lua!
Que ilumina os paralelepípedos da rua.
A folha de zinco é o espelho aliado
Do aparelho de barbear.
Será que vou me cortar?
O dia já vem raiando!
Transportando raios de sol
Fagulhas e faíscas.
A água está no fogo
O café vou requentar.
E na varanda aguardar
A luminosidade retornar.
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
A bailarina
Por Evelyn Cieszynski
Uma caixinha de música
mostra sua bailarina
com sapatinhos de cetim.
Ela dança,
dança, dança,
e de seus pés saem música.
Não está presa por um ímã.
Ela ganhou vida,
e seus pezinhos delicados dançam.
Dançam sob a lua.
Dançam levando a música aos céus.
Dançam para as estrelas.
Seu vestidinho esvoaça
contra o vento gélido.
Ela não está com frio.
Sua própria música a aquece.
E o calor se espalha pelo céu
criando uma fina aurora boreal.
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
OS ALIENADOS DO CELULAR
Falando em dois celulares.
Fiquei a observar aquela maluquice.
Por Gilberto Nogueira de Oliveira
Um celular em um ouvido
E outro celular no outro ouvido.
Eu estava numa loja
Fiquei pasmo de surpresa
De minha cidade natal.
Ao descobrir que a pessoa
Os transeuntes passavam apressados
Do outro lado da linha
Com o celular no ouvido
Era ele mesmo.
Parecendo extraterrestres,
Acreditem, é verdade.
Sem falar com as pessoas,
Ele ligou para ele mesmo.
Achando que estava falando com o mundo.
Comecei a sorri e lhe perguntei:
Parecem que já nasceram assim
-Está falando com quem?
Com um celular pregado ao ouvido.
E ele respondeu:
Olhei para a rua
-Hã? Ah sim. Comprei o celular agora
E vi pessoas dentro dos carros
e estou testando,
Com celulares nos ouvidos
falando comigo mesmo. É o hábito.
Parecendo alienados.
Aliás, eram alienados do sistema.
Quando atravessei a rua,
Atropelou uma criança
Outro maluco estava gritando com o aparelho
E seguiu em frente
E esmurrando um poste.
Como se nada tivesse acontecido.
Assim não dá!
Um policial apitou
E o fez parar:
-Sabia que é proibido dirigir
com o celular no ouvido?
-Peraí. Tô fechando um negócio.
-O senhor está preso.
-Depois a gente conversa.
-Desligue o carro.
-Não posso. Tô fechando um grande negócio.
-O senhor atropelou uma criança.
-Não. A criança foi quem atropelou
meu carro e meu grande negócio.
Havia outro alienado
Na porta da loja
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
PONTO DE ULTRAPASSAGEM
Sensíveis, que podem ouvi-la na solene
linguagem divina
Por Gildo Oliveira
Do criador perene.
O Sol brilha não apenas no Céu, mas também na
consciência
Em princípio, não esperes...
Procures auxiliar, sempre,
Clara, que leva os pensamentos luminosos ao coração;
À medida que socorres os carentes
Neste o Cristo recebe a luz de Micael; e
Algo adverso se reconcilia contigo mesmo.
Avança sempre em socorro do irmão que
sofre,
Não esperes alguém sinalizar que um
infortunado
juntos, a luminosidade
Da sabedoria celestial de Micael e a calorosidade
do amor puro do Cristo
Abraçam o peregrino e lhe desejam um bom dia;
Bom –dia!
Aguarda auxílio ao longo do teu caminho,
Tudo é aproveitável, tem sentido; cada segundo
nos permite
Estejas sempre de prontidão para tu mesmo identificar
Aprender mais; cada silêncio franqueia ao homem
a ocasião
O desolado, o faminto, o oprimido em
Para preencher-se a si mesmo com uma nova
qualquer situação.
sabedoria de vida;
Clareia os pensamentos, abençoando os que sofrem,
Cada novo ato verdadeiro alcança a
Os que o Destino depositou em teu caminho,
E se torna o farol-guia para nossas novas ações.
Mesmo que suas chagas te custem um
Sorria sempre, pois o sorriso é o grande
desdobramento
instrumental,
De atenção ilimitada e um desgaste
e o ponto de ultrapassagem de cada
imensurável.
limitação para uma
A paz e a bem-aventurança são patrimônios do
coração
nova concepção de vida, de consciência e de ser,
Na razão única e altruísta de serem conquistas
aquiescência do Cristo
compreensão esta centrada doravante no Cristo
Jesus.
No campo social através da doação e do reto
servir.
Olha a Natureza se regozijando com a
evolução humana,
E mesmo sem o dom, da ‘ fala’, ela se
expressa às almas
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
EQUILÍBRIO
Por Grecianny Carvalho Cordeiro
Manter o equilíbrio é a meta. Distante meta. Distante equilíbrio.
Equilíbrio para viver melhor, em harmonia com o mundo, com as pessoas que nos cercam.
O caminho parece estreito e sinuoso e realmente é, como tudo aquilo que desafia a natureza humana. Equilíbrio entre a razão e a emoção, entre o pensar e o sentir, entre aquilo que
aparentamos e aquilo que deixamos guardado nas entrelinhas da alma, nos recantos mais secretos.
Equilíbrio no amor, no carinho, na amizade, no gostar e até mesmo no odiar.
Equilíbrio entre o ser e o ter. Equilíbrio na aparência para quem sabe um dia poder alcançar a essência.
Distante equilíbrio.
Equilíbrio distante.
Livros de filosofia e religião. Conversas e reflexões. Autoanálise. Autoajuda. Psicanálise.
Psicologia. Buda. Krishna. Cristo. Longa busca. Procurar por fora aquilo que sabemos encontrar
somente em nosso mais profundo íntimo. Mas onde encontrar coragem para tanto?
Como vencer os próprios medos? As intempéries que atormentam a nossa alma? Como
enfrentar os fracassos, os dissabores, os conflitos interiores? Os traumas da infância, as impetuosidades da adolescência, os receios que acompanham o avançar dos anos, o medo da morte?
Como conviver com todos ou alguns dos sete pecados capitais? Para renegá-los ou domálos. Para controlá-los ou liquidá-los. Pelos menos alguns deles.
Como enaltecer as virtudes e torná-las as grandes cúmplices na jornada da vida, de modo
a tornar todos os defeitos existentes pequeninos diante de si?
Equilíbrio distante.
Distante caminho. Distante equilíbrio. Grande desafio. Grande busca. Se impossível alcançá-lo em sua plenitude, pelo menos que aprendamos a saboreá-lo nas poucas ocasiões em que
consigamos algum êxito nesse difícil desiderato. Pelo menos assim fica um pouco mais fácil.
Imagem by DrAkMa
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
CRUZEIRO
Por Hideraldo Montenegro
O que está além deste mar?
Outro mar? Minha mente?
A verdade? As minhas imagens?
O que está além de mim mesmo?
Deus? A morte? A vida?
O que está além do meu corpo?
Um morto? Um porto?
O que está além deste oceano?
Um outro homem, numa praia,
fazendo as mesmas perguntas?
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
me por inteiro e, mais uma vez deixei-me
possuir pelo espírito encantado dos deuses.
Quem seria ele? Foram tantos os amores
passados na minha vida. Sempre me dei bem
Por Ina Melo
com os homens, amava e me deixava amar
sem nada pedir, nunca precisei usar a moeda
Quando o avião desceu, nuvens pesa- da troca, nem me fiz necessária a nenhum
das cobriam o céu e um temporal se aproxi- deles. Isto representava para mim a liberdamava. No táxi, conversando com Paulo falei de.
do meu encantamento pela cidade de SalvaDesperta, abri meu arquivo emocional e
dor, mística e encantada. Avisei: Tenha cuifui procurar num passado distante, uma paidado. Você pode ser enfeitiçado. Aqui mulhexão eletrizante que vivi nesta cidade. O inres e deuses estão sempre misturados.
consciente me trouxe depois de tantos anos
Escolhi de propósito o Hotel Méridien, para este mesmo apartamento onde, com alonde há quase duas décadas me hospedei. guém especial, passei uma noite de paixão e
Ao perguntar qual seria o meu apartamento, loucuras. Hoje, ele está perdido num passado
uma morena faceira de trancinhas disse: 707. distante, não sei se vivo ou morto.
Fiquei séria e ela perguntou: É supersticiosa?
Senti fome e telefonei pedindo um filé
Quer trocar por outro número? Respondi:
Não, obrigada. Abrindo a porta senti uma lu- “au poivre”, acompanhado de vinho
fada de ar com cheiro de alfazema. Respirei “bordeaux” tinto. Ao som de Ravel e com a
fundo e entrei. Tudo igual ao passado, ambi- brisa suave cheirando a mar, jantei acompaente acolhedor, tons suaves no carpete, nas nhada dos Orixás que habitam esta mágica e
cortinas e no meio uma cama larga forrada
bela cidade do Senhor do Bonfim.
de cetim.
FEITIÇO DOS ORIXÁS
Afastei as cortinas. Um céu cor de
chumbo abraçava o mar. Trovões ribombavam e raios luminosos atravessavam o oceano. A chuva caía grossa e impiedosa. Sentada na cama, assistia a revolta da natureza.
Seria um ato de boas-vindas ou um protesto?
Só eles, os Orixás poderiam responder.
Levantei vesti a camisola e fui para a
varanda. Naquele momento lágrimas de saudades misturaram-se com a chuva descendo
pelo meu corpo. Loucura ou não, senti uma
presença mágica a me abraçar e uma boca
quente e gostosa procurando os meus lábios,
esmagando-os. Foram momentos de intenso
prazer e gozos sob o forte barulho dos trovões. O espetáculo só a natureza presenciava. Assustei-me quando um raio caiu numa
das árvores do jardim. Voltei, fechei a porta
envidraçada, despi a roupa molhada e jogueime na cama.
Imagem enviada por Ina Melo
Não sei quantas horas dormi. A meianoite acordei com os raios da lua acariciando
o meu corpo nu. A magia do prazer tomava–
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
FLOR AMARELA
Por Inês Carmelita Lohn
Todas as flores são belas
Desde as nobres as singelas
Mas entre todas tem uma
Que tem uma beleza sem fim
Que a flor amarela
Que nasce silenciosa
Fora de um jardim
Ela é a pura beleza
Dentro do capinzal
Enfeita os barrancos
E o aterro do manguezal
O mato quase sufoca
Mas a flor amarela
É forte e evolvente
Sobressai entre verde
Com sua cor atraente
Parece ser tão sensível
Aos nossos olhos grosseiros
Mas ela sobrevive
Ventos e temporais
Fora de um canteiro
O mato quase sufoca
E o capim as espreme
Mas a flor amarela
É forte humilde e singela
Sobrevive e não geme.
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
O CLUBE DO NOVO AUTOR
sequência do que conseguiremos fazer em conjun-
hp://drisph.blogspot.com/
to, sim, juntos! Não cobramos nada para que um
autor se associe a nós, porém, será necessário
que ele seja convidado, e com uma pré-análise de
Como todos sabem, este blog, apoia, incentiva,
promove, divulga e apresenta aos leitores, mercado e eventos literários nacionais, os trabalhos dos
novos autores.
Todo mês realizamos sorteios para difundir que
não somos pequenos autores, e sim, estamos apenas no anonimato, e juntos podemos chegar a algum lugar.
Precisamos nos unir para sermos lidos.
Nenhum escritor ficou famoso e reconhecido da
noite para o dia; com o crescente aumento de livros “sem qualidade literária”, e o número ínfimo
de leitores existentes perto da demanda que lhes é
oferecida, fica difícil ficarmos com nossos livros
parados, esperando por sermos lidos, no meio de
tanta obra publicada sem o condão de nos destacar, ou dizermos – “Ei, eu tenho talento!”
É uma iniciativa privada este nosso trabalho, junta-
sua obra.
Pedimos que siga o blog; forneça todas as fontes
necessárias para a divulgação, e lembre-se, seu
livro estará sendo visado, não somente pelos leitores que aqui você formará, como também, pelas
editoras comerciais (tradicionais), que já nos visitam, e com a grande alegria, já temos vários associados autores que foram convidados para apresentar os seus originais.
Portanto! Mãos a obra; lembrando que o autor não
participativo, a qualquer momento poderá ser retirado da promoção para dar o lugar a outros que
estão chegando e necessitam estar na mídia; isso
significa seguir o blog literalmente; comentar, divulgar também o seu trabalho aos seguidores, visitálos, responder aos emails, bem como respeitar os
prazos das promoções as quais você esteja participando.
mente com o apoio das editoras parceiras; e juntos, fazendo gratuitamente, o trabalho que as editoras fariam para divulgar os nossos livros, portanto, estas promoções somente podem ser dirigidas
Sejam todos bem vindos; leitores, seguidores, editoras, revistas e principalmente, você, novo autor;
estávamos esperando por você!
a quem já tem seu livro publicado, de forma independente, ou não! Não fazemos diferenciação de
novos escritores.
Não aceitamos obras com conteúdo religioso, nem
com incentivo à violência, do mesmo modo, não
aceitamos obras com conteúdo pornográfico.
Não somos agentes literários! Somos seis escritores que se uniram e formaram o clube e atendemos hoje em média de quarenta novos escritores;
portanto, este blog não venderá a sua obra, apenas apresentará o seu trabalho, a venda é a conVaral do Brasil no. 12 — www.varaldobrasil.com
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
A Noite Sem Fim
Por Infeto
Ontem Satanás esteve aqui.
Assustei-me pelo fato de não me assustar!
Ele chegou devagar para eu me acordar e poder se comunicar.
Por algum tempo desacreditei em tudo que viera a crer.
Em minha mente veio um turbilhão de deveres e laços cósmicos.
Por toda a noite trocamos ofensas e experiências.
Preocupei-me com todos que tinha que me preocupar.
Através da forma que se mostrou, decidi no que devia confiar, temer ou respeitar.
Deus me proteja de mim mesmo...
Eu não estava incluso em nenhuma delas.
Continuei a me preocupar.
Mas quem vai se preocupar comigo, até meu compromisso acabar?
Meus amigos são fiéis, mas sofrem de miopia espiritual e energética.
São os melhores idiotas que conheço!
Olhei o quarto de meus pais e de minha irmã, liguei para quem me importava e
quando o primeiro raio de sol invadiu meu quarto, não conseguiu me alcançar.
Minha alma estava... eu estava muito longe, num lugar onde ele não podia penetrar!
Imagem by Miss-Deathwish
Ontem Satanás esteve aqui.
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
ÁTILA, UM SER MUITO SER
Por Ione Jaeger
O cidadão abaixo (cara de folgado), confortavelmente sentado no sofá, é o Átila, fox paulistinha. Um dia, no verão de 2003/2004, apareceu no sítio, cansado, faminto, decidido - ali ficaria.
Veio de mala e cuia, ou seja: simpatia, vontade, doação e carisma. Este moço, já adulto,
trouxe de bagagem: coleira no pescoço, nas patas muito bicho de pé.
Nunca se soube nem de onde veio, nem quem é.
Passava, com certeza, pela estrada e, sem pedir licença, entrou pela porteira, na casa se
alojou.
Não pode ser visto como um sem terra - é educado, dócil, prestativo, trabalhador (ajuda o
caseiro no ofício de vigia e guardador de ovelhas). Era, apenas, alguém à procura de um teto, nunca um invasor.
Se meteu, sem demonstrar medo, há poucos meses, em contenda com outro da vizinhança
(dizem disputa de parceira), se deu mal, o desafeto era maior, bem maior. Saiu com uma
pequena lesão corporal - luxação no quadril esquerdo.
Passou dois meses na cidade fazendo tratamento (fisioterapia) e, também, medicação controlada para curar um problema digestivo.
Curou, ficou bom. mas o que ele mais gostou mesmo aqui na cidade foi passear nas ruas,
nas praças - movimento. Fez muitas amizades.
Átila, no sítio, tem uma vida saudável: come bem, dorme bem, brinca com os companheiros
- 5 cadelas enormes e um gato - nada no riacho, persegue lagartos, visita o mundo canino
feminino da vizinhança...
Átila adotou um lar!
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
DOCE DE ABÓBORA COM COCO
1 kg de abóbora moranga
750 gr de açúcar
1 unidade(s) de coco ralado(s)
quanto baste de cravo-da-índia
quanto baste de canela em pau
Descasque a abóbora e rale na parte grossa. Junte o açúcar, o cravo, a canela e coloque para cozinhar em fogo bem baixo.
A seguir, misture o coco e deixe cozinhar por, pelo menos, mais 5 minutos. Acrescente o cravo-da-índia e a canela em pau. Deixe esfriar e sirva.
Do site: http://cybercook.terra.com.br
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
O GRITO
Por Ironi Lírio
Que os sonhos venham e se tornem reais.
Mesmo que sejam durante o devaneio do sono.
Não me ensine a viver.
Sou aluno rebelde.
Deixe-me voar por cima das montanhas.
E, se eu cair, que seja despedaçada a minha alma sofrida.
Não me ampare.
Tenho asas e posso usá-las.
Deixe-me subir ao céu e alcançar a grandeza do firmamento.
Que os ventos venham e a tempestade.
Procurarei abrigo nas rochas que encontrar.
Deixe-me beber a água da vida e comer o pão da esperança.
E depois, venha a calmaria que anseio em meu peito.
Ouça-me.
Deixe-me gritar o meu canto triste.
Não me cale.
Quero ser livre.
Imagem: www.deshow.net/
Sou pássaro na gaiola.
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
NINHOS
Por Isabel C. S. Vargas
Aposentos especiais, tecidos por seres amorosos para abrigar preciosidades.
Pessoas, sonhos, conquistas, lembranças. Local onde amadurecem esperanças desenvolvemse aprendizados que possibilitam cada habitante, um dia empreender sua jornada pessoal e outro ninho formar em um ciclo interminável.
A princípio é tudo muito ralo. Sem consistência material. O que existe em abundância não
se quantifica por peso nem por valor monetário. O patrimônio é imaterial: o desejo de construção
conjunta. Dois seres frágeis começam a tecer o casulo que abrigará os rebentos que se transformarão em coloridas borboletas, capaz de alegrar por sua simples existência, extasiar pela fragilidade ou pelo encantamento do bater de suas asas.
Tudo é novo e significativo. O ninho se forma com uma infinidade de pequeninas coisas
amalgamadas na vivência que se constituirá em um repositório de ensinamentos capaz de fortalecer cada um dos seres nos momentos de tempestade.
Já vi ninhos de uma fragilidade exterior espantosa, porém aconchegante como útero materno. Entretanto observei outros que a suntuosidade os tornou intocáveis e gélidos. Outros cujas frestas criadas pelas rachaduras da intolerância, do desamor
e da violência possibilitaram a fuga daqueles que se sentiram sufocados onde deveriam se sentir acolhidos.
Ninhos verdadeiros são lugares de alegria, sorriso fácil, leveza, de ajuntamento espontâneo. Lugar de parada e de permanência. Porto seguro nas intempéries emocionais ou físicas.
Eles têm sentido pelo que transmitem sem palavras – ou com elas também- mas muito pelas sensações como toque suave de mão, o prazer de um leito macio, o cheiro de fruta madura,
o alimento preparado com doçura.
Traduzem-se no descanso de um banho quente, em uma música relaxante, no relato dos
momentos vividos.
Para mães, o ninho se completa no barulho da chave na fechadura e no mais sonoro e maravilhoso som que se pode ouvir. “Mãe cheguei”.
Quando estes componentes obrigatórios desaparecem os ninhos deixam de existir e em
vez de serem âncoras que seguram nos vendavais passam a ser lugares onde os que ficaram
viram fantasmas de si mesmo indecisos entre abrir a porta e fugir ou trancar-se, numa vã tentativa de não ver o tempo passar.
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
A MORTE PESA
Por Ivane Laurete Perotti Mac Knight
sem diante dele, sem que qualquer palavra de
mando ou pedido fosse proferido. Dedos hábeis
e olhos que diziam eram o suficiente para manifestar a arte de fazer os bichos “brilharem”.
Cavalos pareciam mais cavalos tanto pelo brilho do pelo escovado quanto pela certeza de
Brenúlio era um homem de gestos largos. Dei- que haviam sido tratados pelas mãos de Brenúxava espaço para aqueles que se alimentavam lio.
do espaço dos outros. Dizia-se bom de conver- Que não se imaginasse esse “embonecador” de
sa, apesar de manter todas as palavras tranca- garanhões com pouca altura e peso. Era um
fiadas para além do muito abaixo de sua garbruto homem de mais de 1 metro e 90 centímeganta.
tros de mistura de ossos, carne e gordura. BarNascera menino franzino e tomara corpo pelas riga de rei, como gostavam de dizer os outros
rezas e mistura das tias envolvidas em xaropa- colocando palavras na boca que não se abria.
das e consertos dos filhos alheios. Parecera
minguado durante alguns anos. Só parecera,
pois seu ânimo fora temperado pelo silêncio
dos que tudo veem e calam enquanto interessa.
Brenúlio não negava convite para comer ou beber. Gostava de estar entre os que conhecia e
entre aqueles a quem o apresentavam. Fazia
amizade fácil e um dos primeiros a ser convidaVivia de fazer um pouco de qualquer coisa que do para os rodeios da região, regados a muita
carne assada e bebida gelada. Para os rodeios,
aparecesse diante dos que não gostavam de
as festas de casamento, de batizado, velórios e
fazer coisa qualquer: limpar, cortar, consertar,
carregar, e dar trato em animais de grande por- até para aquelas festas sem qualquer razão.
te. Era sua especialidade sem ter sido alçado à Chegava na hora e não excedia o tempo de ficar.
categoria de vaqueiro.
Brenúlio não pegava touros pelas guampas,
mas lustrava as guampas de todos os touros
que pisavam as arenas dos grandes rodeios. E
era bom no embelezar cavalos de raça, o que
lhe valia alguns apelidos jocosos.
Lavava, penteava, escovava, trançava rabos e
crinas como se tivesse nascido com um dom
especial. Mas especial mesmo era a sua capacidade de fazer com que os bichos amansasVaral do Brasil no. 12 — www.varaldobrasil.com
Brenúlio morava na casa herdada da mãe, viúva de um militar reformado. Pequena e bem
conservada, era o lugar certo para quem precisasse de um favor. Retirada da cidade que pouco crescia, tinha uma horta de dar inveja às mulheres quituteiras. Brenúlio plantava com gosto
e esperava orgulhoso pelo resultado sempre
acima da média.
Uma companheira? Ora, verdade que não faltavam às interessadas os movimentos de conquista, de agrado e “aparecência” mas Brenúlio
parecia não ter espaço para ampliar seus interesses nessa direção. Por um bom tempo, tal
comportamento causara estranheza entre os
que não entendiam sua solteirice, mas como
todas as coisas se adaptam e todos os acontecimentos com o tempo caem no esquecimento,
Brenúlio não carecia preocupar-se com tal detalhe. O que não invalidava as investidas das moças sem muito tempo pela frente e imbuídas de
muita, muita vontade. Brenúlio era um bom partido, tanto quanto era bom vizinho, bom parceiro, bom trabalhador na voz dos que elogiavam
a prontidão do rapaz.
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
tudo um pouco e um pouco de tudo, sua principal função era colocar-se à frente das alças dos
caixões funerários. Brenúlio conhecia o voluntário ofício.
As urnas de madeira, molhadas pelas lágrimas
dos que ficavam, seguiam o trajeto natural da
vida e do vilarejo. Passado o tempo daqueles
que se despediam, era costume tombado pelas
crenças antigas e pela repetição começada em
algum momento que o morto deveria percorrer
pela última vez os lugares que em vida mostrara preferência. Bares, casas de amigos, praças,
ruas de conversas soltas, casas de... (bem, essa parte era por demais controversa, mas só
dependia dos amigos deixar o corpo defuntado
aproximar-se um tiquinho que fosse das “casas
das moças”, de modo a não ofender a viúva
pranteadora), até chegar ao pequeno cemitério
encravado no alto da serra da igrejinha de São
Jorge.
continuavam no caminho. Pedras, sempre pedras a figurarem no horizonte da vida humana.
Parecia ser por aí que Brenúlio encaminhava
seus pensamentos. Parecia, pois que nenhum
deles saltava para fora da boca fechada.
Se alguém visse o suor escorrendo por suas
costas nem se dava ao trabalho de comentar.
Brenúlio suava em cascatas silenciosas, daquelas que deixam a água seguir seu curso a
revelia de qualquer impedimento que possa
aparecer. Águas que descem da testa de um
homem carregam a bênção do extravasamento
natural.
Grande e alto, o “embonecador de garanhões”
não se mostrava desconfortável. Era assim.
Brenúlio não reclamava e parecia ter gosto em
acompanhar os amigos à última morada. Mais
até dos que os parentes e afilhados, permanecia longo tempo sentado ao pé do túmulo do
recém-enterrado. Alguns comentavam de sua
misericórdia pela alma do defunto, outros que
Brenúlio gostava de chorar sua perda enquanto
sozinho, sem público para ver. Outros ainda
imaginavam intermináveis conversas entre o
que ficara e o que partira. Dessa última conjectura muito causo se contou, porque em causos
que se contam e aumentam sempre tem alguém para dizer que testemunhou o dito e o
visto.
Mas pelo dito ou não dito, Brenúlio era deixado
em paz no ritual de permanecer longo tempo
sentado ao pé dos túmulos que ajudara a preencher. Se voltava para casa ou para o bar
mais próximo, também não se sabia quando,
pois esse tempo se tornara sagrado e ninguém
ousava perguntar ao bom homem o que fazia
Lá sim o descanso era devido. Mas para que
assim se desse, chamava-se imediatamente os no alto da serra no espaço do pequeno cemitério. Nem mesmo o Padre interrompia esse molongos braços de Brenúlio, amigo de todos os
que partiam. Era de lei a presença do grande e mento ou se interessava em bisbilhotar. O silêncio de Brenúlio merecia respeito. E respeito
silencioso vizinho que não aguardava ordem
não ocupava espaço. Ou melhor, alastrava um
para iniciar o cortejo, liderando as visitas e as
pouco mais a fama de “bom partido” entre as
paradas para outras despedidas.
mães já sem esperança de casar as filhas paradas dentro de casa. Bem, paradas, paradas
Brenúlio caminhava na cadência de quem vai elas não estavam, mas a ideia de que assim
permaneceriam enchia de angústia o peito vivimedindo, contando, avaliando cada pedra do
do das matronas responsáveis. E as falas dericaminho. E metáforas aproximadas pelo conjunto das horas, dos motivos e das dores, o ca- vadas diante da atitude de Brenúlio colocava
certa lenha nas fogueiras com cinzas quase
minho por si só já trazia tantas pedras, mas
apagadas.
tantas pedras, que findava a estrada e elas
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
_ Ele é um homem piedoso! Não entendo porque você não consegue se mostrar para ele,
Alma.
_ Eu acho isso um pouquinho feio!
_ Feio? Feio é uma moça de sua idade estar
ainda dentro de casa empenando as tetas!
_ Eu me mostro, mamãe! Ele não me vê!
_ Mamãe!?
_ Se você não fizer alguma coisa, a filha da do- _ E não tenho razão? Encurte a alça de sua
na Otília vai passar na sua frente.
combinação que logo, logo não vai dar para esconder a idade dos seus...
_ Ora...
_ Mamãe!
_ Vai sim que eu sei das coisas! Pensa que
não reparei em como ela deixou cair a coroa lá _ Ora! Vai falar das costas de um homem bom
no cemitério?
como aquele? Esqueceu que ele levou quase
sozinho o caixão de seu pai, aquele vigarista?
_ E foi?
Devia para cada um uma vela e cadê os ami_ Foi! Deixou cair e ainda juntou do chão com
gos de farra nessa hora? Cadê?
muito custo e demora!
__...
_ Safadinha!...
_ Pois sobrou para os braços do Brenúlio carre_ Esperta, minha filha. Esperta!
gar o caixão daquele desalmado.
_ Mas eu não carreguei nenhuma coroa, ma__...
mãe!
_ É... Brenúlio tem compaixão!
Brenúlio não dera mostras de ver a coroa de
lírios ir ao chão, nem os movimentos gordos de _ Então, trate de mostrar para ele que você
existe! Não vai querer que sua velha mãe lhe
intenções da moça a sua frente. Concentrado
em suar e carregar a alça do caixão tinha olhos ensine como fazer, vai?
baixos.
Brenúlio foi convocado para tratar, ou melhor,
Lembrava-se da mamãezinha que carregara
sozinho, ou do enterro do seu Joaquim da padaria, grande, pesado e cheio de lugares para
revisitar, ninguém sabia. Do conhecimento de
todos era que nem o Brenúlio nem o padre poderiam faltar em ocasião tão derradeira.
“embonecar” os garanhões que se apresentariam em um grande e famoso rodeio. Pelos, patas, chifres, crinas, rabos e orelhas exigiram
dele o melhor que sabia fazer.
Longo o rodeio, deixou Brenúlio mais de uma
semana sobrecarregado de afazeres de seu
gosto. Mas contrariando as outras ocasiões em
Eles não faltavam. E havia quem lembrasse
com clareza da doença que abatera o padre no que tal se assemelhava, estranhavam os conhecidos um quê de silêncio maior, bem maior,
penúltimo funeral e o obrigara a abençoar o
morto sem seguir o cortejo. Mas Brenúlio esta- sombrio no quase vaqueiro maquiador.
va lá e diziam alguns que estivera adoentado
Era tão dedicado o homem que se negava a
também, alguma coisa que fizera as suas cos- dormir longe dos animais que cuidava. Parecia
tas vergarem-se levemente, muito levemente. um exagero, mas se era, havia aqueles que
Coisa pouca deveria ser. Pois os longos braços louvavam a atitude de Brenúlio: dedicação total
alçavam o pesado caixão como de costume,
completava a fama de homem de confiança paem linha rente ao corpo, firme e seguro.
ra todos os serviços. Era um homem dedicado.
Verdade seja dita, as costas de Brenúlio apresentavam uma leve curvatura.
Na volta para o vilarejo onde morava, estranhou-se uma vez mais certo sumiço de Brenúlio. Cogitavam até a presença de uma mulher
_ Prova ainda maior de sua honradez!
na casa do rapaz a tirá-lo de circulação por tan_ Como assim, mamãe?
tos dias. Se assim fosse, ele bem merecia viver
_ Homem que tem as costas empenadas carre- um pouco do que é bom na vida!
ga muita responsabilidade, muito juízo.
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
_ Mas é claro que não! Com tanta moça passando da hora aqui na vila ele iria se entregar logo a
uma desconhecida?
_ Ele é homem...
_ É homem, mas tem as suas obrigações!
As conversas e hipóteses inflamaram a tal ponto as mães das moças que passavam da hora que
se chegou a “ver” a tal que conseguira o coração e o resto de Brenúlio.
_ É ruiva e muito, muito cheia nas ancas.
_ Deve ser boa parideira...
_ E ele vai casar?
_ Brenúlio vai casar? E nem nos participa?
_ A dita deve ter ciúme das moças direitas e está a garantir-se dentro de casa.
Lá pelo quinto dia do sumiço de Brenúlio, uma comissão de senhoras devotas ao bom comportamento enveredou em direção à casa do moço.
Pelo caminho traçaram todo o tipo de comentários que fariam ao bater à porta e serem atendidas pela ruiva assanhada.
_ Deve ser moça da cidade!
_ Deve ser moça da vida!
_ Coitado do Brenúlio... com tantas moças direitas aqui esperando por ele...
Bateram. Bateram outra vez. Bateram muitas outras vezes até a preocupação destituída de egoísmo fazê-las dar a volta na casa e procurar a porta dos fundos.
O quadro que seguiu tal iniciativa deixou a todas sem palavras.
No centro da horta com gordos e polpudos tomates, acelgas, repolhos e outras hortaliças bem
cultivadas, abria-se uma cova profunda e bem feita.
Ao lado da cova, uma pá cuidadosamente colocada em pé amparava um cartaz escrito à mão:
PEÇO AOS AMIGOS E INIMIGOS SE HOUVER QUE ME CUBRAM COM A TERRA SEPARADA
E A PÁ BEM ALINHADA. DEIXO UM BILHETE ENTRE MINHAS MÃOS QUE EU MESMO CRUZEI.
Alguém precisou descer sobre o caixão de madeira colocado singularmente na terra aberta, cuja
tampa estava fora de lugar e resgatar o bilhete das mãos do defunto Brenúlio. Quase entrecruzadas, quase prontas para dizer adeus, as mãos envoltas no terço que fora da mãe enrolava um
pequeno bilhete. Um pedaço de papel foi retirado do caixão sem flores. E para o vilarejo em peso, presente e emudecido o padre leu a frase final:
A MORTE PESA!
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
Doméstica lê para a
patroa que já não
consegue enxergar
Reprodução do artigo de Carlos Herculano
Lopes - Estado de Minas enviado por Norália
de Mello Castro
Publicação: 18/07/2011
Assim como ocorreu com o escritor argentino
Jorge Luís Borges, também a poeta mineira
Yêda Prates Bernis, com o passar dos anos,
para sua tristeza, começou a ter a visão comprometida, no seu caso em decorrência de uma
degeneração macular. A doença a impedia de
continuar fazendo uma das coisas mais adoradas por ela, que era ler os seus livros, centenas
deles, dos mais diversos autores e gêneros literários. Mineira de Belo Horizonte, imortal da
Academia Mineira de Letras, Yêda, desde a
adolescência, teve um contato íntimo com a poesia, que fez dela uma das autoras mais celebradas da sua geração.
Como se deu com Borges, que teve na pessoa
da sua poderosa secretária, a também argentina Maria Kodama, uma fiel leitora – além de
companheira nos últimos anos da vida –, Yêda
Prates Bernis, algum tempo depois do início do
problema, que causa a perda da visão central,
foi apresentada ao jovem Paulo Furtado. Mas o
rapaz, que por três anos foi seu leitor, acabou
passando em um concurso, e se foi, deixando a
poeta privada de um dos seus maiores prazeres, que era ouvir histórias. Já que não podia
mais lê-las.
Alguns dias depois, num desses raros momentos que têm o poder de mudar para sempre o
caminho de uma pessoa, a empregada da casa, Maria do Carmo Ferreira Leite, se aproximou timidamente da patroa, criou coragem e
disse resoluta, pois estava acompanhando de
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perto toda aquela situação: “Dona Yêda, se a
senhora quiser, eu posso ser a sua leitora”. Começava ali uma parceria que, na maior harmonia, já dura três anos, com a vantagem de, a
cada dia, solidificar ainda mais a amizade entre
aquelas duas mulheres.
Como ela não era Maria Kodama, nem tinha
nascido em berço de ouro, mas numa casa humilde na zona rural de Nacip Raydan, no Vale
do Rio Doce, a 361 quilômetros de Belo Horizonte, na qual dividia dois cômodos com nove
irmãos, a princípio Maria do Carmo, que nunca
tinha lido um livro, pois aos 7 anos já trabalhava na roça e andava a pé mais de uma hora
para chegar à escola – às vezes mais interessada na merenda do que em aprender a ler ou
escrever –, confessa que teve dificuldades naquela nova tarefa. Tudo diferente para ela. Mas
hoje, tira o ofício de letra.
A ponto de falar com a maior intimidade – como
se os conhecesse de verdade – de autores como Carlos Drummond de Andrade, André Gide,
Manoel de Barros, Aníbal Machado, cujo romance, João ternura, é um dos seus preferidos.
“Emocionada mesmo, a ponto de chorar, fiquei
quando li para dona Yêda as cartas trocadas
entre Mário de Andrade e Henriqueta Lisboa. O
amor entre os dois era muito puro, bonito”, diz
Maria do Carmo. Outro momento que a levou
às lágrimas ocorreu dia desses, quando leu,
muitas vezes, uma crônica publicada por Frei
Betto no Estado de Minas e na qual ele falava
da sua mãe, dona Stella Libânio, falecida recentemente. “Também o livro Desatinos da rapaziada, de Humberto Werneck, é bom demais.
Diverti-me muito com as trapalhadas feitas por
Carlos Drummond e seus amigos”, diz.
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
A rotina de Maria do Carmo, que chegou a Belo Horizonte aos 18 anos, para trabalhar como
escrava de uma família no Bairro Cachoeirinha,
de onde acabou fugindo por não suportar os
maus-tratos, começa cedo na casa de dona
Yêda – um confortável apartamento no Bairro
Funcionários . Às 6h, faça sol ou chuva, está
de pé. Coa um café caprichado para a patroa,
joga água nas plantas, tira a poeira dos móveis, arranja uma e outra coisa e, às 9h em
ponto começa a sessão de leitura, que vai até
as 11h, quando começa a fazer o almoço, cujo
cardápio foi pensado na noite anterior. À tarde,
das 16h às 18h, mais livros.
convivência com o próximo. “Os livros me levam a outros mundos, me transformam em
uma nova pessoa, que é diferente e mais feliz
do que aquela outra, antes de ter tomado conhecimento com eles “, afirma.
A vida imita a arte
Uma leitora bem particular
(La Lectrice), filme francês de 1988, é uma comédia criativa que narra as aventuras de Constance, interpretada pela atriz Miou-Miou. A personagem decide ganhar a vida como leitora a
domicílio. Indo de casa em casa, Constance
“Normalmente, ela lê para mim uma média de mistura realidade e ficção e se envolve em situquatro horas por dia. Durante esse tempo, co- ações complicadas e divertidas, pois as pessomo uma só pessoa, nós duas nos emocionaas que contratam seus serviços como leitora
mos, às vezes choramos, e também damos bo- também são bastante pitorescas. A direção é
as gargalhadas quando a história é divertida.
de Michel Deville e, além de Miou-Miou, o elenMaria do Carmo, muito mais do que minha lei- co conta com Patrick Chesnais e Maria Casatora, é uma amiga que tenho, uma pessoa com res.
a qual posso contar”, diz Yêda, enquanto mostra os livros escolhidos para as próximas leituras. Entre eles, numa edição antiga, Sinfonia
pastoral, de André Gide, As cabeças trocadas,
de Thomas Mann, O livro de San Michele, de
Axel Munthe, e um outro de contos, da mineira
Maria Lúcia Simões.
Outra pessoa
Tropeços mesmo, pois também seria exigir
muito, só ocorrem de vez em quando, quando
a Maria, que não é Kodama, sem esperar, às
vezes esbarra em algum nome estrangeiro, difícil de pronunciar. Mas nada demais. “O que
mudou na minha vida, depois que passei a ser
a leitora de dona Yêda?” Aí então, essa mulher
de 47 anos, casada e mãe de quatro filhos, se
ajeita na cadeira, apruma o corpo e diz orgulhosa que, sem querer se gabar, se tornou uma
pessoa mais culta. Mais esclarecida, de melhor
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
HAICAIS DE YEDA PRATES BERNIS
Cai da folha
A gota d'água. Lá longe,
O oceano aguarda.
***
No porta retrato
um tempo respira,
morto.
***
O grito do grilo
serra ao meio
a manhã.
***
Na poça d'água
o gato lambe
a gota de lua.
***
O estrume do boi
a seiva do lírio:
alquimia.
***
O coração da aranha
se desfaz em geometria
de seda e mandala.
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
Do barro ao e-book
Por J.C.Hesse
Para chegar até nós, a "condição de transmitir e conservar noções abstratas ou valores
concretos" percorreu um longo caminho de
aperfeiçoamento. Não entendeu muito bem?
Foi proposital, na verdade estou falando do
"livro", isso mesmo, esse amigo que acompanha a história e os sentimentos, registrando e
emocionando. Foi obrigado a se esconder na
antiguidade, por questões políticas e religiosas, mas mesmo assim, sua única amarra é à
vontade de seu dono, o escritor e autor, a
"quem" obedece cegamente.
Sua personalidade, seu perfil e seu gênero
são determinados por seu progenitor, quem
lhe dá caráter de "obra". Mas como todo filho,
é o mundo que vai imortalizar sua existência.
Todo livro nasce para ser esquartejado e dissecado, quanto maior o sucesso, mais será
dissecado. Mas ao contrário do que se possa
imaginar, isso será uma prova do seu sucesso.
Primeiro eram as placas de argila ou de pedra.
Posteriormente o papiro, normalmente acondicionado em pequenos rolos. Nestes rolos o
"texto" estava gravado em forma de colunas,
algo como imaginar várias páginas de um livro
atual, lado a lado. Chegavam a ter por volta de
sete metros de comprimento. A origem do papiro é vegetal, não muito diferente dos atuais
livros. Feito a partir de plantas, que era uma
parte da planta, esta parte era tratada como
"liberada" ou livrada, que no latim era libera ou
livre. Os papiros encontrados até o momento,
apresentam como datas de escritos datados
do século II a.C..
Os Gregos possuíam um grande conjunto de
Leis e acessar esse conteúdo era extremamente trabalhoso, sempre tinham que manipular vários rolos de papiro Além de ser
“complicadamente” frágil a manipulação dos
referidos rolos. Essa necessidade de manter
as Leis escritas em um formato mais fácil de
acessar, leva-os a criar o "códex", assim, o
papiro perde terreno.
O códex é uma compilação de páginas, deixando a tradicional forma de rolo, de lado.
Usar o formato códex (ou códice) associado
ao material pergaminho, que se tornou uma
forma auxiliar e muito prático, pois era
só costurar códices de pergaminho, formando
conjuntos organizados, logo o formato códice
é o elo de ligação que leva os antigos a pensar, rusticamente, na forma característica de
um livro.
O “encadernamento” foi um salto natural, parecia o limiar da evolução, mas assim como a
humanidade, o livro começou a evoluir para
um outro nível, o eletrônico, são os e-books.
Sai de cena o papel e entra o meio eletrônico,
é claro que é uma evolução natural, diante de
toda a tecnologia que o mundo apresenta.
Torçamos então para continuarem a existir os
livros escritos, pois uma "inquisição literária"
hoje, poderia vir a ser muito mais catastrófica
do que já foi no passado. Vivas os apaixonantes livros escritos, mas replantem as árvores
necessárias a eles.
O pergaminho surge como alternativa ao papiro, feito do couro de animais e apresentando
maior durabilidade ao longo do tempo. Sua
origem mais provável é Pérgamo, de onde nome pergaminho pode ter surgido, uma cidade
da Ásia menor.
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
CONTOS DO ONTEM
Por Jacqueline Aisenman
Por hora não penso em coisas que não me tragam boas lembranças.
Evito pensar coisas que me façam entristecer.
Penso na infância, longe já de mim e mais próxima que está das rememorações
quando o momento é de contar fatos que parecem ter acabado de acontecer.
Também a juventude vem com a força dos seus anos e paira plena de vida
sobre as coisas que penso contar.
E é engraçado como se esquece com uma facilidade assim meio afetuosa
onde se colocou o livro ontem ou aquilo que deveria ser feito no dia seguinte.
Pessoas também, como coisas, desfilam e se perdem, se encontram, conversam e se
despedem.
As lá de longe dos anos estão logo aqui, imediatas, urgentes, querendo ser lembradas.
E as de agora, as que estão pelos lados, ficam algumas vezes relegadas ao sentimento
de um presente que se esvai.
Boas lembranças são assim feitas de ontens e hojes e hojes que se tornam ontens e são
linhas não paralelas...
apenas se cruzam.
E eu tento passear pelas linhas colhendo nelas apenas o que me faça bem.
Porque o mal não desejo e nem quero. Nem espero.
Me envolvo nos contos do ontem e sorrio:
eu só quero o que me faça feliz!
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
Abóbora Gratinada
Para mais receitas gostosas visite: http://www.blogdonamelia.com
Ingredientes
· 2 abóboras verdes médias
· 150 g de queijo mussarela ou prato fatiado
· 50 g de queijo ralado
Molho branco
· 800 ml de leite
· 2 colheres (sopa) de maisena
· 50 g de queijo ralado
· 2 cubos de caldo de legumes
Modo de fazer
1. Molho branco
Em uma panela misture o leite e a maisena. Acrescente o queijo e os
cubos de caldo de legumes esfarelados. Depois, leve ao fogo brando,
mexendo sempre até engrossar. Reserve.
2. Lave bem as abóboras, sem descascar. Corte-as em rodelas ou fatias bem finas. Em um refratário grande levemente untado com margarina, intercale camadas de abóbora e molho branco.
3. Distribua a mussarela por cima do molho e polvilhe o queijo ralado.
Asse no forno preaquecido a 20ºC durante 30 minutos ou até a abóbora ficar macia.
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
Conflito
Por Janice França
É incrível a complexidade
Que há entre o chegar, o ficar e o partir.
Aparentemente são diferentes,
Mas podem alternar os sentidos, é a verdade.
Chegar pode ser um partir,
Ou partir pode ser um chegar,
Ou chegar pode ser um partir para ficar.
Pode-se partir para chegar e ficar
E chegar, ficar e partir,
Ou ficar, sem chegar nem partir.
Há um emaranhado de emoções:
Há quem chegue quando se deve partir;
Há quem parta quando se deve ficar;
Querer ficar quando se deve partir para chegar...
Ficar, quando se chega à conclusão
Que se quer partir...
Saber chegar e partir para ficar!
Se chego, posso ficar e partir.
Se fico, posso não partir e não chegar.
Mas, se parto posso chegar e ficar...
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O Homem e a terra
Por José Cambinda Dala
A Deus pertence os céus e a Terra
Certamente são uma grande e poderosa criação
Bendito os seres que neles habitam
Apesar de o Homem estar a se comportar mal
A ponto de destruir aos poucos a própria terra
Mas é essa terra que vai lhe absorver
Uma vez que todos os dias de vida dele
Dificilmente, agora, passa dos Cem anos
Então a terra é que ganha
As águas sempre minguam sobre a face da terra!
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
A TURMA
- Mas como é possível? Nenhum deles nunca me
disse nada a respeito. Já nos conhecemos há...
quinze anos não é?
Por José Frajtag
- Eles se preocupam, pois sabem que a tua saúde
é frágil e você poderia não suportar. Como sabem
que sou médico, teu orientador e psicanalista julgam-me a pessoa mais capacitada para te apoiar
neste momento.
- O que está acontecendo? Eles, quem?
- Estou falando dos teus amigos. Eles me pediram para falar com você! Cada um tem seus motivos e assim é a vida! Outras turmas virão e talvez
sejam melhores para você, quero dizer para nós,
pois eu não vou te abandonar.
- Bom ao menos isso, meu bom Dr. Phillip. Mas
quando isso vai ser?
CAPITULO I
- E bebamos a isto! Derek batia o seu caneco de
encontro ao do Dr. Phillip.
Todas as sextas, o arquiteto não faltava
ao encontro da turma. E este era especial, pois
era a última sexta-feira do ano de 2051.
- A mais um ano de sucesso! Dizia Helen, uma
das únicas mulheres a frequentar o Delano's, simpático bar de Boston.
- Sucesso é um pouco de otimismo de sua parte,
mas obrigado Helen. Retrucava Derek, batendo
seu caneco no dela também, pensando se foi realmente bom esse ano 2051 que terminava. Na
realidade teve bem menos projetos executados
que no ano anterior, mas era 2052 que prometia
cumprir os vaticínios de Helen.
- Derek, precisamos conversar. Desta vez era o
Dr. Phillip, seu analista, que chamava Derek para
uma conversa em particular.
- Dr. Phillip, veja bem este não é um bom momento! Estamos celebrando um novo ano! Venha ao
meu escritório na próxima terça-feira. Será o primeiro dia de trabalho do ano e aí conversaremos
sobre tudo!
O Dr. Phillip chegou bem cedo naquela
terça, dia 2 de janeiro ao escritório de Derek e
não perdeu tempo indo direto ao assunto.
- Escute-me Derek! A turma vai se desfazer! Fui
encarregado para te dar esta notícia. Cada um vai
tomar o seu caminho.
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- Não sei ao certo! Pode ser mesmo amanhã ou
pouco mais tarde; nem todos irão ao mesmo tempo. Esteja preparado!
- Está bem, Doutor. Serei forte!
Na 6ª feira seguinte estava tudo aparentemente normal. Todos estavam lá sem exceção
e então Derek foi se dirigindo a um de cada vez
para saber o que estava ocorrendo:
- Helen minha querida, o Dr. Phillip me disse coisas que me deixaram muito deprimido. Que história é essa? Vocês vão embora?
- O que você está dizendo meu bem? Não estou
sabendo de nada! Dr. Phillip deve ter entendido
mal, mas pelo menos de mim é que não ouviu
essa. Pergunte ao Antoine, pois ele é o mais
cheio de novidades daqui.
- Então Antoine? Foi você o autor dessa noticia?
- Você deve estar brincando Derek! De onde saiu
esse papo doido? Não tenho planos para me mudar. Boston para mim é a cidade ideal, onde tenho um bom emprego, boa casa e onde criei
meus dois filhos.
- Explique-me isto Dr. Phillip! Repita de novo para
mim o que você me disse no escritório!
- Tenha calma Derek, pois o pessoal está querendo te poupar, fazendo com que tudo vá bem devagar. Todos temem por tua saúde.
Ao se virar Derek percebeu que Helen
tinha saído.
- Você viu para onde ela foi Dr. Phillip?
63
Varal do Brasil - Novembro de 2011
- Que bom que você perguntou primeiro para mim.
Sou eu o único que pode explicar! Helen não existe, nem nunca existiu. Ela era apenas fruto de sua
imaginação. Eu estou te tratando com um medicamento experimental e você vai ficar ótimo.
- Você está mentindo Dr. Phillip, não sei por que e
isto é um absurdo. Já a conheço há quinze anos,
também como a todos os outros.
- Pergunte a... como é mesmo? Antoine não é?
Sempre esqueço nomes.
- Antoine, você ouviu esse louco dizer essa merda? Conte a verdade! Para onde foi a Helen?
- Quem? Helen? De quem você está falando? Desculpe-me, mas não conheço nenhuma Helen! Ao
menos da turma.
- Isto é um complô! Deve ser uma brincadeira e
posso garantir que é de muito mau gosto.
- Infelizmente não. Porque não perguntas ao Michael? Ele vai dizer com quem está a razão.
Derek se dirigiu ao balcão onde Michael
preparava seus famosos drinques.
- Michael, por favor, pelo amor que tens a teus filhos, diga-me a verdade. Você sabe quem é a Helen, não sabe?
- Claro Derek!- No que Derek deu um suspiro de
alívio. Michael iria acabar com a brincadeira.
- Ela está ali, como sempre bebericando o seu Gim
-tônica, mas nunca soube que você a conhecia.
ção? O “Schiz” ainda não foi aprovado pelo FDA.
Podemos ser processados!
- Foi em desespero, Frank! O que você faria o
mesmo se o seu melhor amigo estivesse se destruindo em meio a uma terrível esquizofrenia. Ele é
um caso raríssimo que é capaz de construir várias
vidas completas.
- Quem é esse seu “paciente”?
- Derek Williams, que na realidade se chama Thomas Foster, vê várias pessoas que nunca existiram
e até criou uma profissão que nunca teve. Na sua
fértil imaginação ele que é um simples arquiteto
Junior, se julga dono da empresa em que trabalha.
Como ele conseguiu esconder o problema de seus
superiores é algo que não sei como explicar. Não
quero interferir, pois ele é capaz de fazer o seu
trabalho com incrível competência para pessoas
no seu estado. Talvez por isso seus patrões o
mantenham em plena atividade, mesmo achando
que ele seja um tanto excêntrico.
- Explique-me como tem conseguido tratá-lo?
- É simples. Toda 6ª feira nos encontramos no Delano's. Você conhece! É aquele bar perto do Quincy's Market. Lá eu ponho algumas gotas do “Schiz”
em sua bebida com ajuda de Michael, o barman.
Comecei há um mês e basta uma vez por semana.
Os efeitos já estão se manifestando. Antes eu o fiz
assinar um documento concordando com tudo.
- Desculpe-me Derek, mas esta é a única que conheço. Nunca vi nenhuma mulher com vocês.
- Está bem, Phillip OK! Terás o meu apoio, mas
mantenha sigilo sobre isso. Eu vou enviar um funcionário altamente capacitado da Biogenesis, ou
um terceirizado competente, para secretamente te
apoiar, pois você o está fazendo de cobaia e as
sequelas ainda não estão bem determinadas. Aliás, você também deve assinar um documento concordando com a supervisão, pois a Biogenesis
não pode correr riscos.
Derek quase cai ao chão no que é amparado por Phillip.
- Concordo e assino embaixo. Fique totalmente
tranquilo Frank. Ninguém saberá de nada, nunca!
- O que está acontecendo comigo Dr. Phillip? Estou enlouquecendo?
De volta ao Delano's no dia 12, Phillip encontra Derek na sua mesa e num estado lamentável.
Bêbado a ponto de quase não reconhecer o bom
doutor.
Quando Derek dirige seu olhar para a direção apontada por Michael, vê uma total desconhecida, apenas vagamente familiar.
- Mas, não é esta a “nossa” Helen.
- Tenha calma Derek. Isto vai ser um longo processo e só ao seu final poderei lhe contar tudo.
CAPITULO II
- Phillip, nunca pensei que você pudesse trair a
minha confiança. Era o Professor Frank Silvester
da Biogenesis. Como você pôde se apossar de
um medicamento ainda em processo de avaliaVaral do Brasil no. 12 — www.varaldobrasil.com
- Derek, sou eu, o Dr. Phillip! Você está sozinho?
Você não deveria beber tanto, pois a medicação
pode ser prejudicada.
- O Antoine foi ao banheiro e volta já. O Mark esteve aqui rapidamente, mas já foi embora. Disse que
tem um encontro com uma nova namorada; vai
ficar um tempo sem vir, por causa disso. Assim, só
nós dois da turma estamos aqui hoje. Melhor que
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
nado o processo, você vai ter outro rumo em sua
vida.
- OK! Dr. Phillip! Se eu não confiar no senhor, em
quem mais?
- Preste atenção! Você deve ter notado que Antoine está demorando no banheiro, não é? Pois acho
que ele não volta mais.
- O que é isso Doutor! Leve-me para casa, pois
acho que vou desmaiar.
- OK! Derek! Está bem! Deixe-me ao menos terminar o uísque. Pegue suas coisas. Não esqueça o
notepad.
nada. Sinto falta da Helen e sentirei a do Mark também.
- Derek, fico muito sentido por esse momento triste, mas você vai superá-lo. Tenha certeza disto.
Agora muita atenção. Nunca mais toque no nome
de Mark para o Antoine, você promete?
- Por que mais essa? Você vai quere me dizer o
quê? O Mark existe porra! Ele até me disse que é
médico como você e que trabalha na sua empresa!
- Não quero que você fique emocionado a toa. Ponha uma pedra sobre o assunto e pronto! Não é
difícil, não é mesmo?
- Tá bom! Tá Bom! Vou agir como se ele nunca
tivesse existido! É isso que você quer? Mas eu
sempre me lembrarei dele!
- Não, Não! Você tem de esquecer o Mark e também da Helen, pois seria péssimo para a continuidade do teu tratamento.
- Dr. Phillip! Pelo amor de Deus, quem mais vai
desaparecer?
- Infelizmente não posso adiantar nada para você,
pois também seria prejudicial.
- Michael, por favor, mais um uísque, pediu o doutor - Desta vez traga duplo, pois a noite vai ser longa.
- Está doido! Nunca o esqueceria. Nele está meu
último projeto. Se o perco, acaba meu emprego.
- Mostre-me! Nunca vi nenhum trabalho seu!
Derek dá alguns clicks e pressiona a sua
digital no notepad. O Aparelho o reconhece e fala:
- Seja bem vindo senhor Foster! Em que posso lhe
ser útil?
- Senhor Foster??? Que merda é essa! Berrou Derek. Trocaram meu notepad?
- Essa é a pior parte, meu caro Derek! Seu nome
não é este e sim Thomas Foster.
Sim você é arquiteto! É uma das únicas verdades
de sua vida.
Derek, digo Foster, estava branco como papel e tombado em uma cadeira. Sua boca abria-se
de um modo que seria cômico se não fosse sério!
O Dr. Phillip pediu ao barman uma toalha gelada e
uma bebida para Foster. Era impressionante que
ele sempre abria o seu notepad, ouvia o seu verdadeiro nome, mas “ouvia” na sua mente conturbada
o nome Derek, que só existia em sua imaginação.
Michael, sempre solícito, providencia a toalha gelada. Foster foi pouco a pouco acordando daquele
torpor e incrivelmente aceitando a situação, mas
pede licença e vai ao banheiro, pois sente que vai
vomitar e Michael corre para ajudá-lo.
- Ele não deve beber mais hoje. Derek concorda a
contragosto. O uísque e o suco, rapidamente como
sempre foram colocados na mesa.
O mais incrível é que mesmo totalmente esquizofrênico como era, Foster era realmente um
arquiteto competente. O Dr. Phillip mesmo não
sendo da profissão, ia abrindo página por página e
admirava-se com a sucessão de plantas perfeitas,
fotos de seus projetos construídos, ou maravilhosas perspectivas dos que ainda não haviam sido
executados.
- Derek, meu bom amigo! As coisas daqui para
frente devem se acelerar e você têm de estar preparado. Mas fique bem tranquilo; depois de termi-
O “Schiz”, parecia mesmo funcionar e o Dr.
Phillip já se sentia feliz em saber que poderia esfregar a vitória no nariz de Silvester, seu sócio.
- Michael, peça um duplo para mim também, disse
Derek.
- Não, Michael!Traga apenas um suco de laranja
para o Derek, avisa o Dr. Phillip.
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
Ficariam ricos com a venda do produto. Nesse momento, chega o Dr. Frank Silvester, de surpresa no
Delano’s.
- Frank, meu amigo! Não morres tão cedo, diz Phillip ao vê-lo entrando. Estava pensando em você ao
examinar os projetos que Foster fez. Inclusive um para a Biogenesis.
- Estranho! Não me recordo desse projeto, e certamente deveria! Quero que você me mostre depois.
Primeiro quero ver finalmente o resultado de tudo. Meu funcionário secreto me informou de tudo. E aí
como vai o teu paciente? Podes me apresentar?
- Infelizmente, não!Ele está no banheiro, mas mesmo quando voltar evite falar com ele, pois Foster ainda está muito frágil e seria arriscado pô-lo em contato com mais pessoas, principalmente você que está
totalmente envolvido. Como eu previa, o “Schiz” foi um sucesso e finalmente Foster está finalmente a
caminho da normalidade. Todos os personagens de sua incrível imaginação se foram. Foi impressionante! Aliás, você nunca conheceu o Foster, não é mesmo?
- Phillip, é claro que não o conhecia! Só ouvia falar dele por você, mas não se preocupe, pois já sei tudo o que precisava sobre esse Foster e o resto da turma. E parabéns, pois é a primeira vez que o
“Schiz” realmente funciona.
Phillip o olha estranhamente e diz:
- Como assim? Foster, turma? Como é que é? O que é Schiz? De quem você está falando?
- É absolutamente fantástico! Cheguei mesmo no momento exato! Eu contratei o Michael, que fez um
excelente serviço. Daqui para frente, por favor, senhor Phillip, não me chame mais de Frank ou de você
e sim de Professor Silvester, pois o senhor está curado!
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MOÇOILA
Por José Wilton Porto
Para sua esposa Eliana Porto
Num balde carcomido pelo tempo,
Encostado da casa, num canto,
Joguei os sacrifícios, o pranto,
E o que havia da vida em contratempo.
Enterrado está casório primeiro.
Cupido rodeia, me olha, namora.
A vida que é vida me enlaça agora.
Pressinto a flecha na mão do arqueiro.
Moçoila que olha embebida em desejo,
Arranca-me suspiros de noite e de dia.
Breve – eu sei – o abraço, o beijo,
A voz soando-me tal qual melodia.
Meu coração saltitando, o cônscio ensejo:
De ser o seu fulcro, o seu Sol, sua poesia.
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
Corações partidos
Por Josselene Marques
Dois seres e um futuro incerto a seguir
Choram seus corações sofridos...
Planos desfeitos, sonhos perdidos
Para eles, é inevitável e urgente o partir.
Viverão separados, cheios de saudade,
Guardando doces e belas lembranças
E de reunir renovando as esperanças
De seus corações partidos cada metade.
Imagem enviada por
Josselene Marques
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
Instante
Por Ju Petek
No instante que te vi brilhei
como uma estrela dancei
no teu olhar me encontrei
e meu mundo inundei.
No teu abraço me encantei
de tonta emoção chorei
e todos males espantei
no teu corpo me esparramei
e por todo chão espalhei
todo esse amor que guardei.
Em todos caminhos que andei
foi por você que procurei
todos brilhos de estrelas agarrei
e a pensar no impossível cheguei
eras um sonho .... sonhei
e todo esse sentimento cantei
criei asas e voei
e a ti me entreguei
a todo esse sonho acariciei
perdidamente me apaixonei
e à linha do céu azul me elevei.
No instante que te vi te amei ...
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Imagem Reuters
Varal do Brasil - Novembro de 2011
A REVOLTA DA NATUREZA
Por Lenival de Andrade
(extraído do livro NORDESTINAMENTE BRASILEIRO)
É triste e até preocupante
A situação do mundo atualmente
E mesmo que a mãe natureza lamente
A devastação das florestas e matas
Isso não se vê nas atas
Enchentes, tempestades, calamidades
Logo verão em qualquer das suas idades
A ira das potestades
Vemos também tufões, ciclones e furacões
E as erupções dos vulcões
Entro e digo com firmeza
Miséria, fome e pobreza
Tudo isso é com certeza
A revolta da natureza
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
Margarida
Por Llono
Eu tive um sonho
Com Margarida
A mais querida
Lá do meu sertão.
A Margarida
Moça mais linda
Sempre sorrindo
Prende os corações.
Sua pele é chama
Sua alma é pura
Sua voz melódica
Me faz sonhar.
De manhazinha
Ao vê-la passar
Peço pra ser minha
Outro também quer.
E a Margarida
Sempre manhosa
Faz charme e prosa
Mas não quer...
Ninguém.
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
A revista VARAL DO BRASIL E A LIVRARIA VARAL DO BRASIL SARL lançam para 2012:
VARAL ANTOLÓGICO VOL II
EM COMEMORAÇÃO AOS DOIS ANOS
DA REVISTA VARAL DO BRASIL
Por que nossa coletânea é diferente e especial?
Porque são apenas quarenta autores selecionados!
... Porque seus textos serão lidos por profissionais que poderão dar, se necessário, dicas para um melhor aproveitamento dos mesmos!
Porque seus textos serão revisados por profissionais mais de uma vez antes da impressão do livro!
Porque o livro será diagramado por profissionais altamente qualificados!
Porque serão apresentadas três opções de capa (selecionadas por profissionais da área gráfica) e que serão apresentadas aos autores para escolha. Será escolhida a mais votada.
Porque o livro terá o selo de qualidade editorial Varal do Brasil e todo profissionalismo da Editora Design.
Mas mais importante de tudo: porque você estará nele!
Peça o regulamento pelo e-mail: [email protected]
Este é o Varal Antológico I com capa
de Maria de Fátima Barreto Michels.
Teve poema de abertura do grande poeta Alcides Buss e prefácio da Professora e Escritora Regina Carvalho.
Foram trinta e oito autores!
Em Florianópolis, no lançamento, vinte
e dois dos autores estavam presentes
para receber os inúmeros convidados
da noite na Livraria Catarinense!
Seja um dos autores do volume II!
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
(con@nuação da página 31)
Parte II
A ficção científica no Brasil nunca teve o
sucesso e o público que possuem as grandes
potências mundiais, e isso se deve, naturalmente, ao atraso da modernidade brasileira,
como apontou em 2005 a maior estudiosa da
manifestação brasileira do gênero, M. Elizabeth Ginway. O País, embora tenha mudado
seu perfil econômico nos últimos anos, ainda
está com a sua indústria cinematográfica em
expansão: somente no final deste ano é que
assistiremos ao resultado de um longametragem nacional de F. C. de grande produção, Era: The Legend of Gilgamesh, da ordem
orçamentária de 10 milhões de reais, apoiada
por marcas de renome internacional como a
produtora japonesa de jogos Nintendo. O enredo do filme, dirigido por Marcelo Sussumo
(diretor estreante, ainda que veterano no cinema), segundo divulgado trabalhará uma perspectiva histórica e futurista, deslocando o público de 4.000 a.C. ao ano de 2029 d.C. Para a
surpresa dos paulistas, Valinhos é um dos lugares escolhidos pela produção para gravação
de algumas de suas cenas. Mas isso é apenas
o início para que o gênero no Brasil, em seu
aspecto cinematográfico, mereça o respeito
devido. Até lá, uma grande revolução no campo da cultura brasileira e da concepção tradicionalista terá de acontecer: os dinossauros do
pretérito deverão dar vez aos visionários do
porvir – o processo é lento, mas inevitável.
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Nos Estados Unidos, país que assistiu ao boom do gênero, a ficção científica, há décadas,
atua como objeto de apreciação por parte de
intelectuais e dos mais disciplinados especialistas, afinal de contas é, talvez, o único suporte literário que consagra a ciência e a sociedade em seus mais complexos impasses de tempo e modo. O fecundo escritor, portanto, não
só entende a alma, a essência do ser (como
dizem os românticos), mas é um pesquisador
nato, um estudioso contínuo dos progressos
da ciência e enxerga com entusiasmo e curiosidade a evolução tecnológica. Infelizmente os
brasileiros estão acostumados a pensar que o
gênero só trata de futurismo, guerras galácticas, cientistas loucos ou invenções esquisitas,
e nem mesmo conhecem os grandes clássicos
da lavra de Verne e Wells – isso vale, inclusive, para os mais gabaritados, ainda presos ao
quê erudito, relutantes ao novo, ao moderno.
Aliás, permitam-me a ironia, para os brasileiros
o pai da ficção científica mundial nunca deixou
de atender pelo nome de Steven Spielberg,
que se afamou com filmes da ordem de O Parque dos Dinossauros (1993), De volta para o
futuro (1985), Indiana Jones (1984), AI Inteligência Artificial (2001), dentre outros tantos
que imortalizaram nomes, roteiros e fizeram
escola.
73
Varal do Brasil - Novembro de 2011
Não estou aqui querendo questionar o grande
cineasta, mesmo sabendo que a genialidade
de Spielberg reside não na ideia em si, que é o
foco principal da ficção científica – já que os
clássicos ecoam em seus filmes, principalmente especulações de figuras como Wells, Heinlein e Asimov –, mas pela forma como dirigiu e
incorporou ao cinema os efeitos especiais mais
caros da história.
Um dos exemplos mais óbvios e explícitos de influência dos clássicos da ficção científica nos filmes de Spielberg está no filme De
volta para o futuro que, em quesito de máquina
(as promessas da mecânica no desenvolvimento da humanidade), é cópia aperfeiçoada
da obra A Máquina do Tempo (1895), do britânico H. G. Wells, a primeira narrativa de antecipação do futuro através da tecnologia.
Em geral, os filmes de ficção científica de hoje
pouco ou nada têm de original, necessitam beber na fonte. Matrix (1999), por exemplo, recorde de público em todo mundo, responsável por
abrir discussões de ordem filosófica a partir
dos mundos paralelos de Platão, não teve, coVaral do Brasil no. 12 — www.varaldobrasil.com
mo muitos pensam, iniciação filosófica, na realidade o que os diretores Wachowski buscaram
atendia pelo nome de A Máquina de Duelar
(1969), de Ben Bova, em que personagens são
ligados a um aparelho capaz de construir um
ambiente mental igual para todos, de onde se
travam os mais brutais duelos em níveis de
imaginação. Se houve alguém que realmente
se inspirou em Platão esse alguém foi Bova, e
não os Wachowski.
O Homem de Ferro (2008) é cópia da cópia, segundo diz a lenda foi criado em 1963 por
Stan Lee, da Marvel Comics, uma revista em
quadrinhos que conquistou boa parte dos países da América, todavia, visto de forma bem
superficial tudo não passa de uma releitura
ampliada do conto O Homem de Metal, de
Jack Williamson (1908-2006), publicado em
dezembro de 1928 na Amazing Stories, a primeira revista especializada de ficção científica
do mundo, cujo editor era o lendário Hugo
Gernsback, hoje nome do maior prêmio do gênero.
Como se pode ver, a ficção científica moderna
não nasceu no cinema, como muitos pensam,
mas na literatura, e com ela mantém, até hoje,
intercâmbio, embora nem sempre afetivo em
sua originalidade ou, ao menos, em sentido. O
cinema, sim, incorporou efeitos que tornaram o
lúdico mais apreciável, todavia começou a decrescer a partir do momento em que deixou
tais ferramentas cinematográficas acima de
quaisquer enredos. Se os efeitos especiais em
um primeiro momento foram criados para auxiliar no encanto do cinema, a citar o clássico
francês Viagem à Lua (1902), primeiro filme de
F. C. e pioneiro nos efeitos especiais, hoje, o
enredo não cumpre papel nuclear, é, antes, um
auxílio, e nada mais.
Daniel C. B. Ciarlini
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
Dia dos Namorados
Por Lourdes Limeira
Não engulo esse modismo
Pra mim, o dia de namorar é todo dia
Por que não se cria o dia do babaca?
Babaca?...Tolo?...Idiota? Dar no mesmo!
Tá de bom tamanho
Por que dia de namorado?! Me poupe!
Zélezinho é então contemplado
Seu prêmio deveria ser um saco de pipoca
De lambuja, e o cetro do boboca!
Quem já viu dia de namorar, homem?
Creio que isso é coisa de ignóbil
Que, com certeza, não sai da toca.
Como dois e dois são quatro
Dia dos Namorados é dia do capitalista
Enriquecer, literalmente, os seus cofres.
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
YEDA PRATES BERNIS:
PLENITUDE POÉTICA.
D. Yeda na Academia Mineira de Letras
Valdivino Pereira Ferreira Godinho
A recente eleição para a Academia Mineira de Letras, com a significativa votação de 29 sufrágios,
coroa a labuta poética da maior poeta brasileira
hoje viva: Yeda Prates Bernis. Tecendo palavras e
ninando a vida, a autora passou grande parte da
sua biografia construindo uma obra bibliográfica
rica de poética e intensa de conteúdo, esforçandose para compor um painel sentimental de palavras
celebradoras da paz e do amor fraterno. Sua poesia trazia na estréia, em 1967, com o livro “Entre o
rosa e o azul”, uma promessa. Sucesso de critica e
reconhecido no meio, o livro prenunciava produtiva
artesã da palavra que nascia para a poética montanhesa, como o iluminado Guimarães Rosa em
outro campo da palavra escrita, compôs magnificamente o cenário mineiro na arte do romance. Seus
exercícios futuros no campo da poética transcendental confirmaram o vaticínio de celebrados intelectuais, tais como: a grandiosa Henriqueta Lisboa,
o virtuoso Augusto de Lima Jr., Moacyr Andrade, o
jornalista Dídimo Paiva, Martins de Oliveira, o celebrado critico literário Antônio Cândido, José Afrânio Moreira Duarte, João Luiz Lafetá, Ivan Lins,
Francisco Carvalho, Caio Porfírio Carneiro, Cyro
dos Anjos, Fernando Sabino, Carlos Drumond de
Andrade, Abgar Renault, Affonso Romano
Sant’Anna, Alphonsus de Guimarães Filho.
A poesia bernisiana foi feita para a eternidade. Diz
tudo em poucas porque fala pelo coração. Aliás,
Henriqueta Lisboa, sua mestra na mocidade e amiga vida afora, de quem seguiu as pisadas, disse
“que a poesia de Yeda foi feita para habitar corações”. E o que permanece nos corações está fadado a ser eterno.
da terra. É poesia que alimenta a alma e transborda de emoção.
Urge que o Governo do Estado promova a sua
obra nas escolas de primeiro e segundo grau. Não
podemos privar nossa juventude da graça de conhecer a sua obra e de entrar em estado de graça.
A Academia Mineira acolherá em seu seio uma
legitima representante da poética mineira moderna, imortalizando-a na perenização do espírito da
nação montesina e mediterrânea que tanto preza o
belo e o eterno.
Biografia:
VALDIVINO PEREIRA FERREIRA nasceu em 15
de setembro de 1973, na comunidade rural de Bocaina, à margem do rio Jequitinhonha, no município de Turmalina–MG, filho do casal Geraldo Gomes Ferreira [*27.07.1932 – †22.10.1982], poeta
popular, repentista, violeiro, cantador de modas de
viola e de modinhas seresteiras, além de compositor de música sertaneja; e D. Maria Das Dores Pereira Godinho [*08.12.1941, Turmalina-MG –
†22.03.2005, Porto Ferreira-SP], do lar e antigamente fazendeira e criadora de gado e cavalos,
sendo ambos já falecidos. É autor de diversos livros e opúsculos sobre história, genealogia, biografia, poesia, folclore e religião. Tem artigos publicados nos jornais “O Estado de Minas” (Belo Horizonte), “Tribuna Regional” (Itamarandiba), “Estrela
Polar” (Diamantina) e na Revista da Academia Mineira de Letras. Tem artigos publicados nos sites
noticiosos seguintes: 1 www.ternuma.com.br 2
www.diegocasagrande.com.br 3
www.unainet.com.br
A bibliografia bernisiana é concisa mas nem por
isso menos profunda. Composta em 11 livros e
três antologias, o leitor que resolver conhecer a
sua obra navegará pelo céu, passeará por florestas de estrelas e tomará banhos de luar sem sair
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
CRENÇA
Por Luiz Alberto Machado *
É preciso respeitar melhor a vida
no amor que traz a paz que é tão bem vida.
Amar para se ter além do passional
e o coração valer o ser humano universal.
É preciso respeitar as diferenças
e não se equiparar ao que é hostil nas desavenças.
Lutar contra a mantença desigual
que forja o algoz na força do poder irracional.
Se entregar agora, todo dia e a noite inteira,
testemunhar assim as coisas verdadeiras.
Colher a lágrima do olhar mais desolado
para irrigar a sede do carinho devastado.
É preciso ter no olhar a flor da vida,
trazer a luz do sol nas mãos amanhecidas.
E perceber o amor no menor gesto natural
para valer o sonho mais presente mais real.
Se entregar agora, todo dia e a noite inteira,
testemunhar assim as coisas verdadeiras.
Colher a lágrima do olhar mais desolado
para irrigar a sede do carinho devastado.
E afinal poder sorrir
como quem vai feliz viver,
a manter a crença e o seu proceder na paz.
Semear a vida no ideal de colher
o que virá depois
pra ser alegria imensa para um, mais dois, mais!
Viver a vida pelo que foi e será, é e será!
*Letra e música
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
VOCÊ
Por Luiz Carlos Amorim
Você, ah, você,
que invade meu coração,
infiltra-se no meu sangue
e aguça os meus sentidos...
Vem, me afaga, me afoga,
nessa fuga desenfreada
do mundo fora de nós.
Vem e pisemos juntos
este caminho só nosso
para o país do amor.
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
Nove anos
Por Luíza Foz
Outra vez completei nove anos, parabéns.
Um pequeno incidente e eis que emerge o monstro da minha infância.
A mesa bem posta de salgados, doces, bolo, a vela enfeitada, o vestido novo. A expectativa
da campainha, o barulho da chuva. A vontade da mãe, morta seis meses antes. A luta pelo
amor da madrasta, chegada dois meses antes. O acostumar-se à casa nova: mais presunção, menos aconchego.
A campainha poderia ter tocado uma ou duas vezes, mas não tocou nem uma.
A razão contou lá suas histórias: feriadão, muita gente viajando, chuva e frio tipicamente paulistanos, colégio com muitos judeus, não propensos a misturas.
A emoção, essa só teve uma voz: você é diferente, esquisita, não pertence ao grupo.
Doces e salgados tiveram o mesmo gosto: lágrimas. Depois, a fuga envergonhada para o escuro do quarto, fuga que sempre permeou minhas tentativas futuras de relacionamentos individuais e coletivos.
O remendo foi apenas suficiente para tocar a vida com alguma alegria em meio aos que romperam a cerca-viva ao meu redor, mas ainda hoje ouvi a voz, já cansada: você é diferente,
esquisita, não pertence ao grupo.
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
Instantes!
Por M.C.Jachnkee
Os instantes da vida....
Os instantes da vida eram fascinantes. Aqueles pequenos momentos em que se parava e observava.
Via. Ouvia. Sentia.
A milésima fração de segundos que fazia as pessoas sentirem aquela imensa certeza
de que existia uma Força olhando por todos.
Nada era por acaso.
As gotas de chuva não caíam por acaso. As plantas não brotavam por acaso, as pessoas não pensavam por acaso. Tudo fazia parte de um milagre. O milagre da existência, que
acompanhava todos desde o primeiro instante.
Como era importante e bom parar um pouco a louca e agitada vida e observar o movimento das coisas do mundo.
Tudo mudava.
Não apenas a maneira de olhar os fatos que ocorriam ao redor, mas também, (e principalmente também!), a forma de senti-los. De deixá-los penetrar no âmago. De fazer parte.
Se deixar levar pela valsa da vida, por entre as estrelas e cometas. Sentir-se diante
das cataratas, a vida jorrando por todos os lados. Experimentar a sabedoria dos mares, a
paz dos campos verdejantes, a simplicidade das montanhas geladas, a beleza da aurora, a
leveza das nuvens; como rosas vermelhas a tocar a maciez da pele.
A vida exigia tanto! Casa para limpar, contas a pagar, deveres a fazer. Pais, filhos e
os parceiros da vida, sempre querendo a atenção que lhes era devida. Havia muito a fazer e
pouco tempo para parar e observar.
Simplesmente parar e observar. Ver, ouvir, sentir. Olhar para o céu e entoar o cântico
dos sábios. Permitir que a alma fosse banhada pelas gotas de bênçãos dos pequenos instantes da vida.
Woman Seated. Pintura de Pablo Picasso
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
Poema e arte de Madhu Maretiore
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
Os meus sentimentos, hoje
Por Marilu F Queiroz
Pensamentos...
espontânea e singela linguagem.
Flutuam, mergulham,
encontram, desencontram,
significantes significados...
Pensamentos...
desencadeiam sentimentos.
Segredos, chamegos,
mostram demonstram...
Poemas metrificados.
Pensamentos...
palavras que saem de dentro.
Reflexos mentais, sentimentais,
aliterações, assonâncias...
Trocadilho poético.
Pensamento é ritmo...
onomatopeia dos sentidos...
Poema, por si só!
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
Wrap carne seca com purê de abóbora
Ingredientes
. 1 colher (sopa) de cebola picada
. 1 colher (chá) de azeite de oliva
. 4 colher (sopa) de carne-seca refogada
. 2 colher (sopa) de purê de abóbora
. 6 folhas de rúcula
. 1 tortilha vermelha (ou pão sírio fininho)
Purê de abóbora:
. 1/2 abóbora do tipo japonês em cubos e sem a casca
. 2 colher (sopa) de margarina light
. 1 xícara (chá) de leite desnatado
. Sal e noz-moscada ralada a gosto
Modo de preparo
Purê:
Cozinhe a abóbora na água até amolecer. Escorra e passe num
espremedor. Volte para o fogo e misture a margarina e o leite.
Tempere com o sal e a noz-moscada e reserve. Refogue a cebola
no azeite preaquecido e depois refogue a carne.
Monte o wrap:
Coloque o purê, a carne e a rúcula sobre a tortilha. Enrole, corte
ao meio e sirva.
Experimente as receitas saborosas do site:
http://www.blogdonamelia.com/
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
Uma história de um tal Sr. Brasil
Por Marcello Ribeiro
Meio do nada, 4:56 da manhã, num casebrinho
onde rola um forró, um rala-cocha, um nheconheco, um pega pra capar, um esf... enfim. Numa
canto que também serve de encontro pros matuto
que depois da labuta querem toma umas birita, uns
mé, umas cachaça, umas branquinha, umas marvada, umas dan.. enfim pro matuto bebe e se diverti, tava ali um sujeito besta... do tipo mulambento, encostado no canto, barbudo e birrento, que só
fazia olha e resmunga... e o dono do estabelecimento me contou da historia dele quando perguntei:
E esse ai... quem é?
O Sr. Brasil?
Num sei... é esse o nome dele?
Sim. Sr. Brasil... pois bem, quem diria que o
grande Sr. Brasil estaria ali agora, desse
jeito caído... sem força... parecendo velho,
enferrujado...
É daqueles perdido na vida... que nunca teve
nada? Miserável?
Num é bem desse jeito ai que o moço ta dizeno, vamo dize que metade metade. Escuita
só o que o povo proseia por ai... à boca pequena:
Dizem as boca... que o Sr. Brasil, desde menino
gostava de conhecer as coisas, as planta, os bicho
os inseto, as pessoa... nessa época era como se
diz, sua infância, ou como datam os contemporâneos, uns mil e quinhentos anos depois do nascimento de um Nazareno, um tal ai... chamado Jesus. E dizem foi como num lampejo de clarividência que ele se percebeu! Feito um susto!!
Percebeu que naquela época ele, o Sr. Brasil, não
era um único e sim três grupos distintos, ainda fechados e separados por seus costumes e a fazeres: europeus, africanos e ameríndios. Percebeu
que estavam ali, juntos, porém ainda como água,
óleo e margem, separados.
conhecia, como poderia ser tão repartido e tendencioso? O Sr. Brasil para o Sr. Brasil, era um Sr.
Brasil único... um Sr. Brasil justo. Tanto conflito
exauriu as forças do confuso e jovem Sr. Brasil. E
de tão cansado cochilou... um breve cochilo de
meio milênio. E como não podia deixar de ser,
acordou.
O Sr. Brasil acordou!!! Acordou e já bem mais descansado, espreguiçou e olhou para si. Como havia
feito antes, mas agora já não eram mais os três
grupos distintos, algo havia mudado! Durante seu
cochilo talvez? Pode ser. Mas isso não importava.
Uma alegria enorme tomou conta do Sr. Brasil
quando depois de acordar e já um tanto mais maduro!! Agora sim!! Agora todos eram um grupo só!
Euroafricameríndios ou Africameríndioseuropeus
ou Ameríndioeuroafricanos, ou... !! E a emoção de
se perceber encontrado e realmente um ser único
foi tão grande que ele gritou!! Mas não gritou as
margens de rio nenhum (como alguns poderiam
esperar), também não disse frase alguma, apenas
gritou, um grito longo e muito alto, feito um animal.
E depois desse grito que saia de tão fundo de sua
alma parece que como um estalo, um lampejo de
clarividência lhe fez refletir e se perceber novamente...
Não eram um grupo só, eram milhões de pequenos
grupos, talvez indivíduos, cada único ser separado
do outro.
Contam que nessa, quase que o Sr. Brasil teve um
ataque do coração! Quero dizer seu moço que
quase ele bate as botas!!! Entendeu? Passou pro
outro andar... ou por outro lado... se finou.... enfim!
Hoje ta ai... tomando cerveja com pinga e conhaque, e a gente ainda fica escutando essas porcariada toda que velhote costuma falar ai... de tal de
cultura sei lá o que.... blá blá blá.... rhow rhow
rhow.... sxhw sxhw sxhw.... sabe seu moço, a gente nem da mais ouvido.
Enfim... é a vida né seu moço... óia... toma essa
aqui ó... é especiar!!! Direto do meu alambique.
Uns sobrepujando outros, extraindo o que não lhes
pertencia e criando leis para nomeá-los privados;
outros sobrepujados por uns, que eram os mesmos
que tudo extraiam.
E nesse susto de se perceber, o Sr. Brasil acordou!!! Acordou do transe auto hipnótico. Atordoado
e confuso, pois não era assim que o Sr. Brasil se
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
UPP – Um Presente Para... Grego?
Por Marcelo Lino
UPP, quem ficou responsável pelos sinais e
pela grana?
- Seu Carlos, entendo que este não seja um
problema seu. Sugiro que faça sua parte e
continue aproveitando da melhor maneira às
suas regalias.
Ainda era de manhã, quando escutei alguém
chamando pelo meu nome.
Ele não tinha a menor preocupação em ser
agradável. E como bobo não sou, resolvi seguir seus conselhos.
- Seu Carlos!
Não por muito tempo...
Estranhei. Só tenho 29 anos de idade. Sou tão
novo para ser chamado de “Seu”. Tudo bem,
resolvi atender. Deveria ser uma pessoa conhecida. Apesar de não ter reconhecido a voz.
A curiosidade falou mais alto e resolvi segui-lo
de longe. Tinha que saber onde àquilo iria dar.
Quando cheguei ao portão, não identifiquei o
sujeito. Meio desconfiado, perguntei:
- Pois não. Posso ajudar?!
- O Senhor é o Seu Carlos?
- Depende. – Respondi. – se for uma notícia
boa, sou eu mesmo! – Tentei ser amigável.
- Aqui está o valor para o pagamento do Catnet e da Intercat. Volto mais tarde para pegar
o dinheiro!
O rapaz, que parecia ser, mais ou menos, da
minha idade, não deu um só sorriso. Direto,
ele virou às costas e se foi. Surpreso, corri para dentro de casa e passei a novidade, não tão
nova assim, para minha esposa:
- Renata, venha ver isto. As cobranças dos
“servicinhos” continuam, mesmo com a instalação da UPP aqui na nossa comunidade!
- Carlinhos, meu amor, o que você esperava?!
Mesmo com a chegada da polícia, nós continuamos a usar, normalmente, a TV a cabo e a
internet. É natural que a cobrança, também,
continue.
- Pera lá, mulher. Quem está por trás disso
tudo?
Após mais de três horas de andanças pelas
vielas da comunidade, batendo de porta em
porta, para o recolhimento das “mensalidades”,
o homem retornou, enfim, ao seu Quartel General.
Como houvera desconfiado, ele entrou tranquilamente, nas dependências da UPP.
Pela primeira vez, pude notar um esboço de
sorriso em seu rosto.
Quando estava me preparando para retornar a
minha casa e seguir a vida como se nada tivesse acontecido, afinal, estas foram às orientações iniciais passadas, notei a aproximação
de um carro preto, com os vidros, totalmente,
escuros e fechados.
De seu interior, saiu um sujeito bastante conhecido da área. Era o Miltão, chefe do tráfico
na região. Sem se importar em ser visto, ele
subiu os poucos degraus da UPP e sumiu em
seu interior. Ainda pude ouvir algumas gargalhadas.
A partir daquele momento, virei minhas costas
e parti.
O meu já estava garantido, e parecia que o de
todo mundo, também.
Vida que segue...
- Bem, amor, espere o rapaz voltar para recolher o valor e pergunte a ele.
E foi, exatamente, o que fiz...
Assim que o cidadão chegou, fui logo o indagando, com a cara e a coragem:
- Amigo, desculpe! Mas com a instalação da
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
DE MUDANÇA
Por Márcia Costa
Você foi deixando-me ficar,
Fui trazendo minhas coisas devagar,
Colocando meus retratos na estante,
Pendurando meus quadros na parede.
Deixei o abajur no quarto,
Gosto de ler ter sonhos dourados.
As poucas roupas não deram no armário,
Vendi peças do meu vestuário.
Você foi me deixando ficar...
Não tenho mais p' ra onde voltar.
Vou ficando em qualquer lugar,
Na sala, na cozinha... Sei lá...
Só quero ficar ao teu lado.
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
Sempre Há Tempo Para Sonhar!
Por Márcia Pedroso
Faça algo, enquanto há tempo!
Você pode acordar sem chance de ter mais tempo!
A ventania poderá lhe varrer para muito longe da vida terrena;
Então não terá tempo para respirar o verdadeiro sentido da vida que é sonhar!
Salve o tempo que é um aliado, para realizar a utopia da mente que é chamada de sonho!
Quero-te tempo para brincar, e dançar nas tranças da vida!
“ADEUS”; Lá vou eu vislumbrar o horizonte nas asas do tempo!
Chegou a minha hora de num outro plano existencial correr atrás do tempo; pois meus
sonhos nunca irão morrer! F-U-I...
Mas não perco a chance de bem alto gritar que o tempo não pode parar!
Então aproveite para nele navegar!
Vá voar no seu amigo tempo; O globo terrestre contornar, e jamais pare de sonhar!
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
YEDA PRATES BERNIS
Imprescindível
Busco a palavra
imprescindível,
inimitável, mágica, serena.
Que ela venha na magia de um sorriso
ou no brilho de uma lágrima,
vestindo sonhos
ou desnudando verdades
- que ela venha! –
Busco a palavra
que não chega nunca,
vinda de algum perdido tempo,
e apascentará a alma
e adormecerá cansados corações,
e será inimitável, mágica
e serena.
Busco a palavra
misteriosa
profunda
imprescindível
- como a dor
- como a vida
- como a morte.
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
vistosa e poucos homens me olhavam. Se
Um medo de fato
passavam por mim distraídos, como é comum
em cidade grande, além do mais cheia de gaPor Maria Lindren
rotas púberes com jeito de mulher feita, se não
me diziam sequer um gracejo, por fora de mo-
No dia em que o amigo, em seu costumeiro tom de gozação, falou a frase definitiva
“o primeiro pentelho branco ninguém esquece ,
corri para o banheiro, constatei a verdade: os
cinquenta anos haviam
chegado sorrateira-
mente, felinos de passinho pluma e presença
inegável.
da, o estômago encolhia de imediato: o medo
se instalava. A ponto de rezar para que, ao
menos em meio à papelada de processos do
trabalho, alguém se lembrasse de me dirigir
um galanteio. De mulher, não valia. Somos
bastante pródigas em elogios ao físico bem
conservado das outras, ainda que nos roa a
inveja.
Desse dia em diante, o espelho me
mostrava um fio branco escondido entre os cachos do cabelo, uma ruga mais cavada entre
os sobrolhos, um quase-esgar mal percebido
na boca, um início do chamado
“código de
barras” riscados em cima dos lábios, uma coleção maior de celulites nas coxas e no traseiro.
Fala-se muito no medo da morte no ser
humano, claro. O medo da velhice, porém, tem
A indústria cosmética e a medicina esté-
seu lugar de honra entre as angústias femini-
tica não cessam de trabalhar para minimizar o
nas. Não conheço quem escape. Intelectual ou
nosso horror. Oferecem-se a preço de banana,
não, a mulher teme a decadência física talvez
principalmente na internet, mil tratamentos in-
mais que o homem. Ainda que a alma não mu-
dolores ou nem tanto, que nos garantirão a
de tanto assim. Nunca se ouviu um represen-
eternidade da aparência fresca. É claro que
tante do sexo masculino confessar preocupa-
nem tudo dá certo, mas o fato é que , às cus-
ção com sinais corporais de idade avançada, a
tas do medo, conseguimos hoje deixar de lado
não ser com o que mais lhe importa na vida: o
a cadeira de balanço dos setenta anos de nos-
arrefecer sexual – um fantasma de aparição
sas avós, as pregas das barrigas proeminen-
prorrogada por medicamentos modernos.
tes, a queda gradativa dos seios, as rugas
Aos cinquenta, meu medo se alastrava
a cada vez que saía à rua crente que estava
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mais assustadoras... Pelo menos, até os oitenta e tantos.
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
Mas, no minuto em que lançam a moda
verão, a sensação desagradável volta na toda:
braços, pernas e colos expostos, saias ajustadas
e tão curtas que obrigam as moças a tentar puxálas para baixo a cada passo, cabelos enormes e
reluzentes... É passar numa vitrine do Rio de Janeiro e se apavorar de medo de seu próprio reflexo, na constatação da verdade: não somos mais
jovenzinhas.
Por isso, resolvi de vez: não saio de casa
sem óculos bem escuros, de dia, outros meio escuros à noite. E decididamente, não me olho em
espelho em dia de sol ou sob luz elétrica possante: só `a meia-luz. Adeus, medo! Sigo feliz.
Foto de Alan-Nicod
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
Plúmbeo
Por Maria Socorro
Surpreende, enfeitiça tênue coração
Aconchega ao lado do peito, ó emoção
Embriaga o aroma em nítida beleza
Beijo-te! Plúmbeo sem igual sutileza…
Desfrutar a grandeza exuberante
Riso é a arma contagiante, marcante
Ficar sem a macieza, fidelidade
Paralisa a guardiã da saudade
Superação dos desafios da paixão
Gentil plúmbeo sacode coração em pânico
Paixão resiste ao tempo e desconexão
Amo-te, ó plúmbeo! Sem risco atômico
Intacto treme em louca paixão
Extermínio sem visto. Lamenta em cântico.
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
De São Luis a Paris
Por Maria Zulema Cebrian
São Luís tornara-se o cenário ideal para o
estímulo da produção algodoeira em função do aumento da demanda internacional por algodão para
as industrias têxteis inglesas. Os Estados Unidos
haviam reduzido a produção do algodão em razão
da Guerra de Independência no país o que favoreceu o Maranhão. As companhias Southampton &
Maranham Company e Maranham Shipping Company, de transporte marítimo a vapor passaram a
operar no eixo São Luís-Londres. .A economia maranhense internacionalizava-se.
A cultura passa a ter uma enorme significância, nesse período São Luís torna-se conhecida
por “Atenas Brasileira” em virtude da grandiosidade
cultural que reinava e a grande concentração de
escritores locais que, mais tarde teriam relevante
papel na literatura. A arquitetura, também acompanhou estes progressos. Mas é, aproximadamente,
em 1830 que aparece a mais interessante inovação
para tornar-se uma marca registrada da cidade: as
fachadas das casas são revestidas com azulejos.
Em poucos anos, um manto de reflexos coloridos,
cobriu a cidade, e até hoje encanta os visitantes.
São Luís em 1847 tornou-se"la petite ville aux
palais de porcelaine", como a chamara um viajante francês.
Diante desse bulício cultural e financeiro nosso trabalho, também, alterava-se se convertendo
em um negócio ainda mais lucrativo. Os novos clientes surgiam dispostos a pagar, qualquer preço
para saciarem o instinto físico, o desejo pelo prazer
sexual e sua lubricidade os impulsionava a frequentar aquela casa.
Mulheres de vida fácil, assim eram chamadas. Poderia a próspera sociedade de São Luís
imaginar o quanto era difícil viver daquela forma e
quais seriam os motivos que as teriam levado a
isso?
O clima em São Luís é sempre quente e úmido,
um calor desagradável e desprazeroso. A longa
espera cansava-me e ainda que soubesse que escolhera aquele destino, entretanto uma pergunta
martelava-me o pensamento: Que futuro teria afinal
se embarcasse naquele navio? A despeito de todas
as dúvidas, em meu coração residia a esperança.
Acreditava que deixaria para traz as adversidades
e o acaso infeliz que minha vida fora. Em Paris receberia o quinhão da vida.
Vivíamos a fase de ouro da economia maranhense, São Luís desfrutava de uma efervescência
cultural e financeira, além do grande crescimento
de uma população estrangeira. A cidade se relacionava mais com as capitais europeias que com brasileiras e foi a primeira cidade a receber uma companhia italiana de ópera. Possuía calçamento e iluminação como poucas do país. E semanalmente
recebia as últimas novidades da literatura francesa.
As grandes fortunas algodoeiros locais emergiam
e, convencidos pela prosperidade e cultura dos estrangeiros que ali aportavam deram início a uma
educação, mais aprimorada e enviando seus filhos
para estudar em outras capitais brasileiras e Europa.
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Proibidas de sair à luz do dia, podendo fazêlo, apenas, na calada da noite. Conveniente para a
sociedade, pois era quando tinham início as noites
de luxuria.
Eram proibidas de sair à luz do dia, podendo fazê-lo, apenas, na calada da noite. Fato conveniente para a sociedade, pois era quando tinham
início as noites de luxúria. Quem ousasse sair e
fosse apanhada, acabava presa na Delegacia do
Primeiro Distrito. Acontecera comigo algumas vezes, por infringir as regras. Pedia a Nossa Senhora
da Vitória o que me protegesse. Rebelava-me diante do modo desapiedado com éramos tratadas. A
juventude trás consigo a crença e uma vontade
imensurável de viver. Deus! Eu era tão jovem e
alegre como podiam exigir que vivesse no retraimento, assombrada pelo medo?
Senhores da sociedade maranhense e estrangeiros, homens bem casados, políticos de direita e de esquerda e, qualquer um que tivesse dinheiro, para pagar, frequentava a casa da Rua da
Palma. Homens de conduta, aparentemente, incontestável perdiam-se em seus devaneios lascivos e
tomavam porres homéricos. Cometiam-se crimes.
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
Sofríamos ao ser escolhidas por um deles e
nos tornarmos amantes desiludidas de um Don Juan qualquer, quase sempre, bem casado, com mulher e filhos e da sociedade emergente. Havia mulheres que eram trazidas de outros estados, tinham
a pele clara e cheiravam a alfazema, essas recebiam da “madame” tratamento especial: vesti-as com
lingeries francesas de cores vibrantes e muitos laçarotes. Transformavam-se nas mais requisitadas e
isso lhes deixava a ilusão da superioridade ante as
demais gerando inveja e discórdia entre as outras.
Seus quartos eram decorados e especiais, tinham
lençóis de cetim, quarto de banho com sais, tudo
para receber aos poderosos senhores frequentadores da La Maison ivre de joie. Senhores habitués e
estrangeiros compareciam para desfrutar do requinte de seus salões, muito semelhantes, segundo
ouvira, aos de Paris.
Ao conhecer Antoine Bertrand, não poderia
imaginar que seria uma proposta de vida nova; eu,
uma mulher da Rua da Palma?
Esse fora o motivo que me trouxera, até no
cais e poderia significar o grande passo, transformar-me em uma das mulheres chegadas de outra
terra. Pele morena, cravo e canela, lembrando o
calor tropical e o sabor do pecado. Meu destino parecia ter mudado depois que Antoine chegou...
Era uma tarde quente úmida, como são todas as tardes aqui em São Luís. Conversávamos
animadamente, contando umas às outras sobre a
devassidão vivida na noite anterior. Obviamente,
falávamos sobre frequentadores ocasionais. Jamais mencionávamos os que considerávamos nossos homens. Nossos homens! Quanta tolice!
A sala, de repente foi solapada pelo silêncio. O ar se rarefez, os suspiros unissonantes libertaram-se.
Confesso, faltou-me fôlego diante da imagem daquele homem. Ao relembrar, aquele momento, ainda estremeço, um calor me invade o corpo e chego a sentir o hálito de sua boca perto da
minha.
Suscitava uma miragem provocada pelo calor excessivo do dia, um efeito óptico como o que
se produz às pessoas quando perdidas no deserto.
Um deus num terno de linho branco contrastando
com o bronzeado de sua pele. Uma imagem apolínea, o porte imponente e faceiro contrastava com a
ginga brejeira.
Encantei-me com ele e esse foi o meu pecado. Envolvi-me loucamente com sua beleza e a
voz macia e quente. Seu fascínio, no entanto, estaVaral do Brasil no. 12 — www.varaldobrasil.com
va no jogo da sedução que eu conheceria e, que
ele exercia com mestria. Um doutor. Deixei-me seduzir.
Depois que ele chegou a La Maison ivre de joie, as
noites de lascívia passaram a ter um brilho de romantismo. Dia a dia conquistava confiança e simpatia das meninas da casa.
Quase sempre, cabia à madame escolher
para os cavalheiros a menina que julgava oportuna.. Antoine, no entanto, quis fazer sua própria escolha. Escolheu-me! Não cabia discutir. Estávamos
ali para dar-lhes a felicidade que procuravam e que
parecia inexistir em suas casas. Sempre que aparecia um cliente novo era tomada por uma ansiedade que descompassava meu coração fazendo minhas mãos transpirarem. Desta vez foi diferente, o
coração, quase, parou incendiado pela sensualidade que emanava daquele homem e pelos pensamentos que me invadiram pelos prazeres que imaginei sentiria.
Se deitou em minha cama, me chamava de
querida. Misto de aventura, precedida de abordagens sedutoras (era quando ele se tornava irresistível). Mágico, deixei-me levar.
Antoine era um sedutor, me abraçava e olhava
de maneira insondável, intensa. Suas mãos percorriam
caminhos que levam à sensação agradável que liga a
sasfação ao prazer da exploração detalhada do corpo
antes da entrega. Mãos que andaram entre a distância
do afago, e o exercício harmonioso do prazer, transformando aquele instante em uma necessidade vital.. A
entrega do bilhete para a viagem por meio da libernagem. O intumescimento de meus mamilos revelado fez
com que jogássemos ao chão nossas roupas.
O desejo desloca a grande velocidade os sendos, mas não apressou os carinhos, ao contrário, carícias
prolongadas, suaves, atrevidas, dando-me o desfrute
prolongado que antecede ao prazer. Ele Apolo, eu Afrodite.
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
Uma dança de corpos suados, molhados
ardentes. Sua boca beijou meu corpo e suas mãos
despertaram lembranças há muito adormecidas.
Gritavam as emoções no físico estimulando as sensações da alma. Não havia vencedor nem vencido,
apenas prazer, diante daquele homem que dava
sem pedir e, não pedindo, teve tudo. Durante minha vida de meretriz, esta foi a primeira vez em
que houve uma inversão da situação. Seu prazer
estava em dar, não em cobrar pelo que pagava.
Um tempo sem tempo, norteado pelos pontos de
carícia e emoção. O amor explodiu silencioso...
uma habilidade que alcança os pensamentos,
idéias e sentimentos mais relevantes, uma onda
inundando a alma e o corpo. Tornamo-nos um pair
de deux na perfeita sincronia da dança dos amantes. Uma combustão infinita um fluido imaterial permeando o espaço e que se supunha necessário
para essa identificação, tão intensa e tão forte. Almas que viajaram através da volatilidade dos corpos.
Antoine se deixou ficar. Contrariamente ao
que todos faziam, não se levantou simplesmente,
pagou e saiu. Ficou, para fazermos amor, durante
toda a noite, com a mesma intensidade.
A partir dessa noite, em minha vida, tudo
mudaria definitivamente. A cada dia uma nova esperança se transformava em algo novo que valia a
pena ser vivido. Nada mais era como antes, uma
incógnita — saber com quem nos deitaríamos à
noite.
Aprendi muito com Antoine. Tive a compreensão de que fazer sexo com muitos homens fora
uma atividade sagrada na pré-história. Uma maneira de manter unida a comunidade que valorizava a
figura da mulher. Uma tarefa considerada sagrada.
Mantinham sexo com vários parceiros ao som de
música e em meio a conversas sobre arte. Entretanto, com o passar do tempo, contava-me, os homens começaram a fazer discriminação entre as
esposas e as prostitutas. Depois vieram as leis que
proibiam o casamento com mulheres que se relacionassem com vários homens.
Nascera o tabu.
Criaram-se bordéis e algumas mulheres
passaram a receber um salário para fazer sexo.
Calígula criou um imposto sobre esta atividade,
obrigando-as a obter licença para tanto. Tinham
carteirinha de prostituta com nome, endereço e o
preço pelos serviços prestados. Vênus fora a deusa protetora dessas mulheres.
A religião transformou tudo em pecado.
Através das religiões e em nome delas, muitos absurdos foram praticados, pediu-se a pena de morte
para o adultério e os bordéis em muitos países foram fechados. Como resultado dessa revolução
surgimos nós: as prostitutas de elite.
Mas nem tudo era desgraça, dizia Antoine.
Em Paris, por exemplo, a prostituição ganhou grande impulso a partir do final do século
XVIII. O bordel mais luxuoso era sem dúvida o Avignon Club, à beira do Sena, uma mansão que ocupava um quarteirão inteiro, com mais de vinte aposentos, uma biblioteca, uma bela galeria de arte.
Os quartos eram ricamente decorados com tapetes
persas, quadros de pintores famosos e suas camas
cobertas por lençóis de cetim.
Imaginei-me vivendo naquelas condições,
mais que isso — fui me enchendo de coragem para
dar o grande passo —, aceitar a proposta e morar
em Paris.
Não foi uma decisão repentina, mas baseada
no amor e na confiança que depositei incondicionalmente nele. Antoine oferecera-me o céu e, eu
estava disposta a consegui-lo.
Não pude conter minha ansiedade, estava
tão perto de realizar meu sonho, não podia recuar... Decidi ir embora com Antoine.
O navio apitou. Era hora de partir. Chegara a hora
de embarcar. Despedi-me das meninas que tinham
vindo até o cais.
Minha aflição era imensurável, Antoine,
ainda, não chegara. O que teria acontecido? Nesse
instante alguém se aproximou. Um senhor de idade, que se destacava pela elegância, discrição e
distinção. Amável, aproximou-se e se apresentou:
— Meu nome é Pablo e trago um bilhete de Antoine.
“Não se aflija, nem tema por nada, pedi a
meu amigo, que a acompanhara e lhe faça companhia até seu destino: uma bela mansão, com jardim
biblioteca e galeria de arte. Lá você será uma das
Les Demoiselles D. Avignon”.
Beijos, Antoine
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
Eu vou cantar o meu rio
Por Marluce Portugaels
Eu vou cantar o meu rio
meu rio de muitas voltas
mil meandros tem o meu rio
O meu rio Juruá
Eu vou cantar o meu rio
meu rio de margens largas
como é bonito o meu rio
O meu rio Juruá
Eu vou cantar o meu rio
meu rio de terras caídas
barrancos toldam o meu rio
O meu rio Juruá
Eu vou cantar o meu rio
meu rio de aves ligeiras
garças voam sobre o meu rio
O meu rio Juruá
Eu vou cantar o meu rio
meu rio cheio de estórias
lendas, causos contam o meu rio
O meu rio Juruá
Eu vou cantar o meu rio
meu rio de tantas lembranças
como é bom lembrar o meu rio
O meu rio Juruá
Imagem: hp://www.mochileiro.tur.br/
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
PÉTALAS PRIMAVERIS
Por Maurício dos Santos
Cai a tarde
Em leve sopro
Como a brisa soprando calma
Lentamente invadindo a minha alma
Logo após acariciar meu rosto.
No horizonte
Já os tons abóbora-avermelhado
Parecendo dizer que hoje é ontem
Que tenho um dia a menos de vida
Já faço parte do passado!
Da minha varanda contemplo o céu
As nuvens também estão indo embora
No íntimo minha alma chora
Por alguém que não virá.
O vento veio dizer
Que está mudando a estação
Que logo será verão
Que a rosa
Que um dia foi a razão da festa
Hoje está guardada
Em pétalas
Num cantinho especial
No fundo do meu coração.
* Publicado no livro PÉTALAS PRIMAVERIS em Maio/2010
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
Magia
Por Merli Diniz
Brilham suas mãos
nas minhas
pela magia do toque
na pele fina
a luz lilás
desenha veios de paixão.
Lilases
meus seios
nas suas mãos
cintilam.
A luz na pele fina
revela transparências
de neon.
Minhas nas suas
nossas mãos.
Na sutileza do toque
no confuso desejo dos corpos
desvenda
intensas paixões
a luz.
Lilás.
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
MARIA DÁ PENA!!!
rar, a mulher segue levando a vida.
Muitas abandonam sonhos e se frustram.
Neida Rocha
Maria é o arquétipo da mulher.
Outras tendo a necessidade de se impor,
brigam, tornando a vida do casal um inferno e com
isso, criando mágoas, rancores e ressentimentos,
até mesmo sintomatizando doenças.
Maria da Penha é o símbolo da justiça humana para agressões sofridas por quem diz AMAR
A MULHER.
A exemplo de Maria da Penha Maia, que
após sofrer violência doméstica e familiar, renasceu das cinzas para se transformar e outras mulheres seguiram o mesmo caminho.
A mulher, ao conhecer o príncipe encantado, dedica-se de corpo e alma ao amado e à casa,
cumprindo os papéis de amante, mãe, cúmplice e
às vezes até sócia.
A mulher não julga as atitudes do companheiro, pois confia em sua integridade e o apoia,
às vezes, incondicionalmente e muitas vezes enterrando seus próprios sonhos para seguir os sonhos de seu herói.
A mulher faz o que seu coração manda e o
que, dentro de suas limitações, pensa ser o certo.
A mulher simplesmente AMA e não questiona seu coração.
Algumas mulheres, após dedicarem anos
de vida a um relacionamento que não são flores o
tempo todo, percebem que foram traídas.
Traídas não somente sexualmente, mas
traídas em sua essência de vida.
Outras mais arrojadas buscam o autoconhecimento através da busca espiritual ou até
mesmo intelectual.
Após anos de angústia e sofrimento, vítimas do sofrimento causado por humilhações, menosprezo, agressividade física e emocional, surgem as consequência: mágoa, tristeza, angústia,
sobrepeso e fatalmente a DEPRESSÃO.
As horas felizes ficam esquecidas no arquivo morto do cérebro e há muita dificuldade em localizá-las.
Algumas poucas mulheres sobreviventes
dessa situação resolvem virar a mesa.
Então começa outro tipo de sofrimento: briga por seus direitos.
Vivo essa situação, pois abandonei o casamento de mais de trinta anos, deixando para trás
uma história de vida familiar, social e cultural, trocando de cidade e até mesmo de estado, retornando as minhas raízes.
Em fevereiro 2011, após três anos e meio
de separação, ainda busco na justiça parte da
compensação de anos de companheirismo, dedicação e cumplicidade.
A infidelidade muitas vezes é perdoada,
pois de acordo com a educação machista, o homem é fraco e é normal que ele traia.
A traição de vida é a mais sofrida e deixa
mais cicatrizes do que o fato de seu companheiro
deitar-se na cama de outra mulher.
Busco meus direitos e só encontro por parte do desconhecido com quem construí minha vida,
mentiras, enganações e arranjos para provar que
não temos nada do que foi construído em anos.
Mesmo existindo a Lei Maria da Penha, a
justiça dos homens é falha e o papel aceita tudo.
E a Lei Divina não sou eu que faço.
Portanto, Maria da Penha, ainda DÁ PENA
DAS MULHERES
Na esperança de que as coisas vão melhoVaral do Brasil no. 12 — www.varaldobrasil.com
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
Desiguais
Por Norália de Mello Castro
Incrível luta:
a borboleta pousada no teto,
parada.
A lagartixa espreitando,
se armava.
A borboleta via,
sentia e pressentia.
A lagartixa espreitando,
Preparava.
A borboleta podia voar,
Esperava.
A lagartixa atacou,
A borboleta reagiu,
voou, voltou, tornou
a voar e a voltar.
Parou em frente.
A lagartixa estreitava,
se armava.
A borboleta via,
sentia, pressentia
e não fugia, igual
à mulher apaixonada.
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
Entre as folhas da mangueira
Por Oliveira Caruso
Entre as folhas da mangueira
eu via o sol se achegar.
Parecia ele dar um sopro
nas folhas verdejantes,
p’ra poder nos espiar
sentados no banco da praça
admirados a namorar.
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
VOCÊ OLHA POR DENTRO OU
POR FORA?
Por Públio José É bastante natural no ser humano olhar tudo por
fora. Daí a celebração às beldades da moda, do
teatro, da tv, do cinema, às paisagens esfuziantes
dos pontos turísticos mundo afora, às imagens globalizadas. Essa postura chega a ponto de se eleger um político porque é bonito, ou até se aceitar
um determinado projeto de proporção nacional porque a embalagem é agradável aos olhos. Personalidades são aceitas e reverenciadas como verdadeiros fenômenos simplesmente pela cor dos
olhos, pela tintura do cabelo, pela roupa que as
encobrem e pelo dinheiro que ostentam – este, por
sinal, um atributo com peso bastante considerável,
não é verdade?
Dificilmente o homem se preocupa com o que está
no interior da pessoa ou da imagem que tem diante
de si. O homem, naturalmente, vai na onda do que
vê. E o que ele vê toma conta de seus sentidos,
fazendo-o perder o senso crítico na maioria das
vezes. Em face do que vê, o homem faz uma análise superficial dos fatos, gerando com isso atitudes
imaturas, recheadas de pura impulsividade. Em
razão de ações tomadas simplesmente ao sabor
do que vê, o homem gera ao seu redor situações
de alto grau de constrangimento e desconforto,
levando muitas pessoas a se confrontar com remorsos e prejuízos terríveis.
Esse costume irrefletido gera uma das piores chagas que acompanha a humanidade desde que o
homem existe sobre a face da terra: o preconceito.
O preconceito, por sua vez, nada mais é do que
um conceito, uma imagem, um juízo que você emite antes de conhecer a essência daquilo que tem
diante de si. São muitas as histórias, até pitorescas, de pessoas confundidas por outras ou não
levadas a sério como deveriam, simplesmente pela
impressão exterior que refletiam. Como um senhor
muito rico que chegou numa loja de carros importados e ninguém lhe deu atenção – em razão da roupa que vestia.
preço deste veículo ao senhor, pois eu sei que o
senhor não tem a mínima chance de comprá-lo”.
Aí, bastante incomodado, o potencial consumidor
insistiu mais uma vez pelo preço do carro, pois
pensava seriamente em levá-lo. O vendedor,
olhando para ele como se olha para uma barata,
disse o valor e deu-lhe as costas. Com muita surpresa ele ouviu aquele homem dizer bem alto: “eu
levo o carro à vista”. A razão de existir do preconceito se fundamente na visão do que o homem tem
diante de si.
E cultivar o preconceito esteriliza uma das mais
belas funções que o ser humano foi dotado a exercitar: a capacidade de se interiorizar, de procurar
com afinco, interiormente, uma explicação para o
que está diante dele – e que ele, racionalmente,
não está sabendo decifrar. O homem não gosta de
se esforçar na exploração daquilo que está lhe trazendo dúvida, receio, anseios e indagações. Antes
de buscar no seu cérebro, nesse incrível arquivo
do qual foi dotado, uma resposta para o que não
entende, o homem decreta. Toma atitudes baseado no que a sua visão transmitiu para a sua mente,
sem requerer, sem exigir dela uma solução mais
aprofundada. De onde vem essa indolência cerebral? Esse desejo de simplificar a tomada de decisões, mesmo sabendo que tem à sua disposição,
para lhe fornecer uma gama maior de alternativas,
uma arma poderosíssima – o seu cérebro?
A predominância no decidir em razão do que vê,
ao invés de buscar consolidar atitudes, racionalmente, pelo que não consegue enxergar, tem destruído relacionamentos, projetos, sonhos e ambições. O preconceito tem levado de roldão para o
ralo muitas iniciativas que, frutificando, teriam se
tornado obras interessantes. Está na hora de você
exercitar sua mente para vencer esses desafios.
Quando uma situação ou alguém lhe desagradar
em função do que você está vendo, dê uma parada. Pesquise, observe, analise – e puxe do seu
interior uma resposta mais substancial. Vença o
preconceito pela utilização do desejo de ultrapassar esse desafio. Sua estrutura interior tem soluções que você nem sonha e que se manifestarão
através de sentimentos, até então, totalmente desconhecidos para você. E aí, vamos nos interiorizar?
Sentindo-se rejeitado, visto com preconceito, chamou energicamente um dos vendedores e perguntou pelo preço de um carro. O preconceituoso vendedor respondeu que “nem em sonho eu dou o
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
Por Raimundo Antonio
Quando Romeu conheceu Julieta pensou ter
encontrado a sua alma gêmea. Amou-a, apesar de
todas as limitações e proibições. Viveu, ao seu lado, uma história de amor e, embora soubesse de
todos os riscos que esta relação envolvia, seguiu
em frente. Ela era uma linda, sedutora e inteligente
mulher. Ele estava encantado.
Entretanto, com o passar dos tempos, a relação foi se desgastando. Julieta mostrou-se uma
mulher ciumenta e, aos poucos, começou a nutrir
sonhos que Romeu não podia viver. Ele queria uma
história real. Ela teimava em sonhar e alimentar ilusões. As cobranças foram aumentando. Ele, Romeu, várias vezes, tentou afastar-se, mas ela, Julieta, prometia-lhe mudar e não fazer cobranças. Então, ele cedia.
Mas o encanto se fora. Ele ficou cada vez
mais distante e ela cobrava cada vez mais. O fim foi
inevitável. Vieram, em seguida, as ofensas. Julieta
– a sua doce e amada Julieta - fazia ameaças, destratava-o e depois pedia perdão.
Romeu, por outro lado, tentava não magoála, e continuava, de forma indireta, participando de
sua vida, lendo suas produções literárias, comentando, elogiando-a; afinal, sempre vira nela uma
mulher perspicaz e instruída.
Julieta, no entanto, entendia tudo errado: se
ele era gentil, ela achava que ele estava acenando
com uma possibilidade de retorno; se ele se afastava, ela enviava cartas cobrando a sua presença.
O clima entre eles – como não podia deixar
de ser – ficou insuportável. Ele passou, então, a
evitá-la. Ela, em contrapartida, começou a ligar para o seu castelo e, quando ele atendia, ameaçava
contar tudo para a sua consorte. Sem saber o que
fazer para não magoá-la ainda mais – e também
não magoar sua raiz – ele passou, decididamente,
a ignorá-la.
Diante dessa rejeição, Julieta reagiu de uma
forma que Romeu nunca a imaginou capaz: ela pegou o seu cavalo branco e foi até o castelo de Romeu. Lá, ela se fez anunciar e, ao ser recebida pela
consorte do seu amante, contou-lhe todos os detalhes de sua relação. Foi a gota d’água: a consorte,
em estado de choque, não quis conversar. Romeu
ferido, magoado e arrependido fechou-se em seu
casulo e sofre, até hoje, por ter acreditado numa
relação que acabou por destruir a sua paz.
Hoje ele sabe que está pagando, alto, o preço de seu erro. Porém, o seu maior erro foi amar e
Varal do Brasil no. 12 — www.varaldobrasil.com
acreditar numa pessoa que se mostrou mesquinha
e que, não sabendo perder, passou a envolver outras pessoas numa história que era só deles e que
nunca deveria ter saído do anonimato.
Julieta, por outro lado, sabia, desde o início,
que aquela era uma relação fora dos padrões aceitos socialmente. Ambos sabiam dos riscos que corriam. Ele era comprometido; ela, por outro lado, devia satisfações ao seu universo social que, por sinal, era totalmente diferente da classe social em
que ele costumava frequentar. Portanto, o universo
criado, pelos dois, não permitiria – para os que os
olhassem com olhos de julgamento – juízo de valores favoráveis que os abonasse de seus pecados
sentimentais para com a sociedade e o Deus
que comungavam.
Romeu vaga, presentemente, por entre pensamentos e reflexões, e repete, para si mesmo, como mágoa, é que ele fez de tudo para evitar o sofrimento – tanto de Julieta quanto de sua carametade
e, agora, ambas estão sofrendo e ele não pode fazer nada por nenhuma delas. Errou e está pagando
duramente por seu erro.
Julieta, por outro lado, não soube aceitar
que amores adormecem e relações terminam. Não
consegue entender, por exemplo, que ele, apesar
de tê-la adorado um dia, decidiu-se por sua ascendência, escolheu ficar com a sua genealogia. Infelizmente, ela estragou tudo, inclusive, o respeito
que ele sentia por ela.
Romeu acreditou no amor e foi traído da forma mais vil: foi acusado de coisas terríveis, ofendido em sua dignidade, exposto publicamente. Julieta
mostrou-se uma mulher cauila, egocêntrica, insegura e capaz de tudo para atingir seu alvo. Não pensou em nada além de seus desejos: é como uma
menina mimada que não consegue perder seu brinquedo. Ferida e magoada achou-se no direito de
magoar pessoas que Romeu, a todo custo, tentou
preservar.
É o fim de uma história que poderia ter sido
de amor. Ficou a mágoa e o rancor. Apenas.
Imagem enviada por Raimundo Antonio
UM SONHO TRANSFORMADO
EM HORROR
102
Varal do Brasil - Novembro de 2011
O Cabeça D`Água
las de espermacete. Se o professor não acreditava,
se ficava rindo disso, paciência! Depois não viesse
se queixar...
Por Rejane Machado
- É, Professor, não duvide dessas coisas. Os antigos já sabiam disto...
Riu-se discretamente. O chofer tinha
imaginação. Como é que pode, em pleno século
XXI ter gente que acredita piamente nessas crendices? O povo simples confunde tudo. Uma série de
coincidências, um galho de árvore que balança, um
pássaro noturno que voa, um ruído qualquer de
que não se sabe a procedência, um animal que se
esconde à aproximação de alguém, e o mito está
formado... Se ele pensava assim, que é que podiam fazer? Gente da cidade não compreende as
coisas.
A aula terminara bem mais tarde, hoje. E quando há pouco o informaram do desarranjo
no motor da velha Fiat, só nesse momento é que
começou a se preocupar com a possibilidade nunca imaginada de ter que enfrentar a realidade. Pela
primeira vez teria que caminhar sozinho pela mata
à noitinha. Quase recusara o café com bolinhos de
que tanto gostava, porque um sudoeste soprava já
há algum tempo, ouvira as trovoadas longínquas, e
a caminhada de quase uma hora até à pensão poderia se complicar, caso a chuva descesse forte
como prometiam os prognósticos da meteorologia.
Começou a apertar o passo. Teria que
atravessar uma capoeira fechada até alcançar a
ponte sobre o rio Formoso, uma caminhada de quilômetro e meio, ainda, mais ou menos.
Procurava não pensar nas histórias
que ouvira; preferia muito mais estar em casa, em
segurança. Juventino dizia que aquelas matas não
eram seguras, porque “ uma onça domina um território de cerca de cinco quilômetros,” e ele mesmo
já encontrara vestígios. Mas segundo o caboclo,
pior do que a onça era o “ cabeça d`água”. Este
sim, quando se preparava uma tempestade, gostava de aparecer. Em pequeno já o vira uma vez. E
tivera que cumprir uma série de exorcismos para
não sofrer as penalidades que acontecem com os
que têm a desgraça de atravessar o rio, quando o
Caboclo sai à caça dos incautos. E enquanto relatava, ainda ficava arrepiado, só de se lembrar. O
senhor se ri? Não acredita? Então nem experimente esse encontro. Para desfazer o malefício
era necessário colocar na margem do rio uma cabaça com arroz cru, um lenço vermelho e duas veVaral do Brasil no. 12 — www.varaldobrasil.com
Zombara, na ocasião, mas agora
aprendia que nunca deveria adotar aquela postura
de indiferença. Não custava nada respeitar as
crenças alheias. E depois, existem mais coisas entre o céu e a terra... Mas reagia: em sã consciência, não se deve dar confiança a crendices ignorantes. Tinha muito mais instrução do que qualquer
uma daquelas pessoas da vila perdida nos confins
de um mundo ainda rural; que diriam os conterrâneos, ao voltar, e relatar aquelas tolices que ouvia?
O certo é que se atrasara. O café estava muito bom, o ambiente aconchegante, o sorriso
de Anabela prometendo maiores alegrias, nem percebera que as horas foram escoando. A chuva da
tarde retardara, e com isto o calor opressivo aliviara ; a atmosfera, antes pesada, trazia-lhe agora
uma sensação boa- uma frescura inacreditável.
Não se pode descrever a cor das matas e do céu
ao anoitecer, uma doçura no ar, calma e placidez
na natureza agressiva, mas quem a nomearia selvagem, diante deste crepúsculo rosado? Perfeição
absoluta, nota dez, se não fora tão rápido. E o vento parecia levar a tempestade para outra direçãomenos mal.
Ia pensando, poder-se-ia até escrever
um livro sobre as superstições da gente do interior.
Diante de um temporal eles cobriam os espelhos,
havia exorcismos para raios, para ventos, para escuridão. Em noite de sexta-feira, então, o perigo
era maior, diziam. E se entornavam sal, se uma
estrela corresse, se um certo pássaro aparecesse
ao entardecer, se uma criança pequena pronunciasse sua primeira palavra às seis horas da tarde,
se um morcego voasse ao meio-dia! Era azar, na
certa. Necessário tomar providências urgentes para cortar o mal que chegaria com certeza!
103
Varal do Brasil - Novembro de 2011
Pensar nessas coisas agora era desconfortável. Atravessava a pequena mata fechada que
ia dar no rio, em meio ao ruído impreciso de muitos
animais noturnos; escurecia rapidamente, e as sombras semelhavam duendes dançantes; um princípio
de umidade o fazia estremecer. Começou a andar
mais depressa, tanto quanto a escuridão que se
adensava o permitia, não queria esbarrar em troncos caídos ou galhos que o seguravam, causando
uma impressão penosa, como se o puxassem, não
permitindo a caminhada. Nas pausas entre as folhagens aparecia uma lua mirrada em meio a nuvens
pressagas. Agora prestava atenção aos ruídos desconhecidos da noite, a alguns não podia definir. E já
ouvia o despejar da cachoeira próxima. Como evitála?- o caminho passava ao lado dela, nenhuma outra possibilidade de trajeto. Era ir em frente.
Um raio iluminou grande parte do rio, em
meio à escuridão que se fazia rapidamente densa.
Pareceu-lhe ver, no meio do rio, uma silhueta humana- alguém que se banhava?- notou o porte atlético,
- as pessoas falavam num homem de três metros de
altura- e percebeu o nado turbulento. Um sentimento jamais experimentado antes, - de pavor- tomou
conta dele. Ficou petrificado, os pelos eriçados,
queria correr, gritar por ajuda, mas estava impossibilitado de qualquer reação.
Como lidar com a aparição? As histórias
ouvidas vinham em tropel à memória. Quase todos
os habitantes da serra tinham uma experiência, ele
não possuía nenhuma; nenhum conhecimento para
exorcizar o Cabeça-d`água, pois era ele, estava certo de que era ele: nunca mais debocharia de coisas
que não compreendesse. O tempo parou, a mata
silenciosa, o mistério pairando, enquanto ele ouvia
os passos pesados em sua direção.
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Foi quando ouviu a voz grossa do capataz:
- Espere, professor, vamos juntos! O senhor andou depressa, hem?- o Juventino se aproximava, trazendo-lhe, sem saber- jamais saberia!um alívio intenso. Uma companhia humana, por
mais limitada que fosse era muito bem vinda naquele momento. Recompôs-se, readquiriu sua calma
habitual. Olhou discretamente para o rio, iluminado
por mais um relâmpago. Uma placidez exuberante.
Só se enxergava,- de ordinário tranquilas, as águas,
no momento, agitadas pelo vento.
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104
Varal do Brasil - Novembro de 2011
O MENINO E A CHUVA
solitário,
intumescendo as
mil línguas?
Por Rita de Cássia Amorim Andrade
Olhos assustados
como tição de um fogo
Na calçada, o corpinho nu
se contrai ante a torrente
que do céu desaba.
A água escorre fria
pelo corpo do menino.
Olhos assustados,
como duas pérolas negras
ao abrir da concha,
perdidos, à procura
de um refúgio.
A câmera do tempo
registra a sua nudez.
O que virá de
um homem
se estampa agora.
aceso
à procura de
uma ninfa
que registre
a sua nudez.
O homem já se estampa…
O latejar
pulsa
no corpo magro
e teso.
Um jato de quentura
como se surgido
de uma fornalha
queima nesse instante,
delirante!
É como se o expor-se
garanta o latejar
de alhures.
O que mudou?
em que espaço/tempo o menino
se refugiou para
surgir o homem tentador,
debaixo de um aguaceiro
pela rua,
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105
Varal do Brasil - Novembro de 2011
COTIDIANO
Por Ro Forkim
Um ameaço de torcicolo o acorda. Veste-se enquanto ela prepara o café-da-manhã,
e comem sem a presença de Christian, que
sempre estica o sono até as nove horas por
ficar com os livros até depois da meia-noite.
Arrasta Tânia consigo até o portão. Ela
não o vem acompanhando de manhã nem recebendo ao anoitecer desde o princípio desse
estremecimento da relação. Agarra-a para o
beijo de despedida e o alerta: _ Vai se comportar direito, não vai?
_ Ih! Tá com a pulga atrás da orelha,
né?... _ as unhas roçam as orelhas dele; ela
agarra puxando sua cabeça, dando-lhe um
beijo com mordida, zombeteira _ Vá na paz,
velhinho...!
Ele entra no carro arrepiado de contrariedade, pressagiando: “Essa aí vai ser o meu
fim”. Imagina-a indo ao seu sepultamento num
dos vestidinhos viscosos, a meio das coxas,
colado nos ilíacos, e sobre a sepultura dançando com outro macho, a cantarolar “No nollo
eta per amar te”.
Pensa em Christian, tão especial, pensante, promissor, à mercê dela; dirige rogando: “Oh, pai, proteja o meu filho! Proteja minha
mente!”
ris?... Precisam é de um artista plástico bem
hormonal para salvar as paredes nuas, criar
uma decoração transgressoramente colorida.
Na própria Natureza o verde labuta na produção colorífica, combinando o vermelho e o
amarelo e o azul. Ali a cor possível é a chegada da rua, na pele de sol e na roupa imponderada de certos consumidores. O trânsito de
pessoas é intenso, o atendimento melhor que
o da Saúde Pública _ senão, a quem reclamar
do órgão de reclamação?
Nesse dia a visitação é de baixa densidade. Um dia monocromático. Enquanto lá, em
casa...
Não convinha desalojar o seu rapaz na
manhã de estudo. Privá-lo da biblioteca que
nunca teve e tanto o fascina; entre os romances, os tratados, as enciclopédias, a hemeroteca, a Internet, torna a ser menino, numa fábrica de doces. Às vezes telefona só para dizer isso.
Deu-lhe vales-refeições, para que só
dependa de Tânia para o jantar, quando então
estarão a três. Já escuro é que retorna das aulas da tarde.
Manhã de três horas, portanto.
Já o telefone está incansável, como
sempre, sem trégua, chamada de reclamante
e advogado de reclamado.
Às três horas da tarde ele põe termo ao
sobressaltado dia. Nada se lucra com tal tortura.
Todo dia considera a ideia de convidar
o filho a acompanhá-lo ao trabalho. Abriria
uma exceção, em duas décadas de chefia
nesse órgão público, levaria um estagiário para passar o dia na caixona verde dividida em
cubículos verdes. Cadeiras verdes. Quem escolheu a obsessiva cor? Ah, sim!, Dona Elizabete, que a propósito tem cabelos de um tom
puxado para o verde, estranhamente, e vestuário cáqui! Além da pele esverdeada como a
dos outros atendentes, nessa vida de cubículo,
luz fria, telefone. Por que não trocou ainda a
costela de adão plantada no vaso de cerâmica
à esquerda da única janela da saleta por uma
arácea vermelha, comestível, de escandaloso
pistilo agudo? Ou será antera? Ou será clitóVaral do Brasil no. 12 — www.varaldobrasil.com
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
Por Roberto Armorizzi
... germinar, renascer !
Imagem by MsCrys
ETERNIDADE
Bom dia !
Logo ao despertar,
o amor inicia !
Boa tarde !
O sol, ao esquentar,
brilha ao tempo que arde !
Boa noite !
Vem, o amor, terminar,
dor maior que’um açoite !
Madrugada !
É o descanso da alma,
já vai amanhecer,
germinar, renascer !
Bom dia ! ...
Nota do autor.
"Perceba na estrutura formal destes versos, a eternidade do amor."
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
Blue Lovers
Marc Chagall, 1914
Cântico 421
Por Rozelene Furtado de Lima
Toma-me em teus braços
Desfaça meus laços
Como se eu fosse desconhecida
Desvenda minhas subidas e descidas
Desliza como água na minha veludez
Traze a inocência da minha primeira vez
Não me chames de amor nem de querida
Sussurra palavras soltas às escondidas
Como sol e lua a eclipsar
No infinito azulado faze a nuvem orvalhar
Ignora o quanto que partilhamos do caminho
Por instantes, apaga tantos anos no mesmo ninho.
As marcas amareladas no calendário
Dívidas, dúvidas e brigas do diário.
Fujamos do tempo como novos amantes
Sem ser casal nem par como antes
Passado apagado presente levitando
Quero uivo de lobos ecoando
Ao som de harpas e tambor
No preâmbulo da dança do amor
Lentamente embriaga-me de tanto querer
Só então, como poesia, toma posse do meu ser!
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108
Varal do Brasil - Novembro de 2011
Primavera/Verão: Estação do Amor
Por Silvio Parise
Costumo caminhar por longas horas
para sentir de perto a natureza
pois, sou apaixonado por sua beleza
beldade essa que reflete toda glória.
É uma atração que vem desde criança
quando costumava em minha casa plantar
para depois diariamente observar
as mudanças, pouco-a-pouco, no solo fecundo fincar.
Por isso, pacientemente fico
à espera da primavera chegar
porque, ela nos mostra com estética
o esplendor dessa criação que gera
flores e cores que desabrocham com ternura
para suavemente nos perfumar.
Abrindo-nos a porta em seguida
pro verão, como sempre, chegar
para assim, com os seus raios quentes e coloridos
nos mostrar o sol atrevido
que, frequentemente, gosta de se mostrar.
Clareando de dia todo lugar
fornecendo as substâncias que precisamos
para, nessa perfeição sem enganos
a criação poder se deleitar.
Daí, ser um verdadeiro apaixonado
dessas duas fantásticas estações
que nos ajudam a amar, plantar, crescer e viver
nesse laço de eternas procriações.
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
A Infelicidade
Por Sonia Nogueira
Qual a percentagem de pessoas felizes
ou infelizes neste planeta terra? Impossível,
visto que não há felicidade total, ou infelicidade
constante. Entre uma e outra encontramos momentos, ás vezes maior ou menor, de pessoas
que carregam estes dois sentimentos. Diz a
sabedoria popular, que não existe felicidade
total, e sim, apenas momentos felizes e que a
infelicidade abrange a maior escala na estatística social e familiar.
Quem quer ser feliz? Ora! Ora! Todos,
sem exceção. Mas, mesmo sem conhecer a
intimidade de todos os lares, conclui que a infelicidade é surpreendentemente grande. Com
as pessoas, as quais eu tenho contato direto,
ou pessoas mais distante, no trabalho, nos
grupos que frequento, nos noticiários, no divã
dos analistas, este abstrato ronda diariamente,
sem pedir licença, se aloja, enraíza e dá um
trabalho extraordinário para sair da cabeça.
Sim é a cabeça o alojador de todas as
emoções, mesmo que o sistema nervoso seja
o condutor desta façanha. A cabeça é a chefe,
a administradora, o comandante. Às suas ordens, todas as ações se desencadeiam e todo
o resto, corpo, saúde, desespero, angústia se
instalam tornando as pessoas infelizes.
Os motivos? Há centenas: desemprego
e falta de moradia, alimentação deficiente, casamentos fracassados, escolhas erradas, desvio de conduta, filhos problemáticos, doenças... Chiii... Parei. Parece que as pessoas foram feitas para brigar: Briga pai, mãe, filho,
amigos, vizinhos, grupos sociais, no clube, futebol, igreja, lazer, crianças, patrão, trabalhador, políticos uai se esmurram, bala daqui dacolá, policiais se matam...
Santo Deus! O que falta? Educação familiar, políticas educacionais com profissionais
qualificados para ensinar educação, ética, respeito, obediência, disciplina, valores e caráter,
dignidade humana e amor.
Há, cheguei à cura certa. Falta amor na
humanidade. Falta Deus no coração. Compromisso e respeito a si e aos outros, igualdade
de direitos e deveres em todas as classes soVaral do Brasil no. 12 — www.varaldobrasil.com
ciais. Sim, temos diferenças: profissões diferentes modos de vida diferente, educação diferente. Cada grupo com um espaço diferente,
mas sabemos que ninguém vive sem o outro.
O rico não sobreviveria, nem faria fortuna sem
a mão do trabalhador e este sem o salário para seu sustento.
Nem o corpo sem a cabeça, isto é, a
mente, ou alma, raciocínio, intelecto... E as
guerras? Que coisa mais milenar, ridícula, medíocre, do que gastar fortunas com homens
para mandar matar o irmão, que nem conhece,
por terras, petróleo, religião, poder.
Gastassem fortunas com educação,
moradia alimento, saúde, mente sadia, aí o
mundo seria o paraíso prometido a Adão e
Eva. Adão é a linhagem de todos os homens
rudes e Eva todas as mulheres “fúteis”.
Aliás, a humanidade toda se perde mais
em futilidades que em benefícios para si próprio. O ódio e a vingança superam o amor e o
perdão.
A inveja? Quem puxa o tapete do outro
certamente cairá junto, ou noutro momento...
Quem dá a mão sobe em igualdade, junto ao
outro, com certeza.
Louvo aos que lutam pela paz mundial e
familiar e valores fraternos entre os homens de
boa vontade.
Amém.
110
Imagem by Oprisco
Varal do Brasil - Novembro de 2011
Porque te amo
Por Varenka de Fátima Araújo
Pulsa meu coração forte sem preconceito
Quando de longe sinto o perfume excitante
E meus olhos ávidos, vislumbram teu peito
Se me amas não censure, favor não me afaste
Como poderei viver tão triste sem teu querer
E a minha alma sucumbirá sem teus afagos
Sei do teu amor, vem com todo frescor e poder
Tempo favorece, partilhamos nossos desejos
Abraçarei teu corpo na nudez sem culpa
Com todo ardor, meu corpo desnudo em gozos
Porque na entrega não existe dor desculpa
Apenas o sentir dos corpos belos unidos
Porque te amo, apenas tu sabes do nosso amor
Nada importa, se não existe o nosso amor.
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
ZÉ COTÓ
Por Vó Fia
A Vila de São João era pequena e parada no
tempo; luz não havia, o que resume o desconforto e o pouco lazer porque tudo de bom veio
com a eletricidade; daí as pessoas se divertiam umas com as outras, com suas manias,
suas pirraças e também com sua espertezas e
ocasionais maldades e esperto como o cidadão que vou apresentar agora, só ele mesmo.
José do Patrocínio Silva era muito conhecido,
mas não por esse sonoro nome de batismo e
sim pela alcunha de Zé Cotó, pois o cidadão
era isento de um dos braços, mas em troca
Deus lhe dera uma enorme alegria de viver e o
que mais gostava era contar suas próprias proezas, uma delas ficou famosa e eu conto aqui
e agora: ele adorava pescar e certo dia se dirigiu ao Açude Velho para se divertir.
Como o sol estava muito quente resolveu se
acomodar entre os galhos de uma arvore, bem
na beira do açude; subiu aos trancos e barrancos até alcançar um galho que se estendia sobre a água, formando um confortável assento
bem protegido pelas ramas, e lá ficou Zé Cotó
empoleirado pescando e sonhando; de repente
ele se sentiu observado pela traseira, e quando se virou deu de cara com uma cobra.
Ela era enorme e verde, a bicha se enrolara
pelo rabo no galho, e estava com a boca na
altura da cabeça do Zé que pensou em um segundo: eu pulo, mas o açude era sujo, perigoso e a altura era grande, ai ele mudou rapidamente de ideia, deixou cair a vara de pescar e
com sua única mão deu um tapa na cobra que
perdeu o equilíbrio e caiu na água, enquanto o
Cotó lutava para se equilibrar.
uma inofensiva cobra d'água , mas ele retrucou: se ocê visse uma baita cobra rente no seu
cangote, ia querer saber se era mansa, ou tacava a mão e ia saber depois?
E assim encerrou o assunto e também sua
carreira de pescador.
Sentindo Leveza - A Pureza nos Poemas
Livro de Vanyr Carla
Sentindo Leveza, a pureza nos poemas é um
livro composto por poesias desenvolvidas a partir
de um grau muito profundo dos meus sentimentos.
Eu quero deixar nas próximas folhas, alegrias e
virtudes da alma, palavras que eleve o ser e engrandece os nobres sentimentos, entoando total
sutileza e claridade nos poemas. Alguns podem ser
nostálgicos, mas não buscam a tristeza, porque as
melhores lembranças acontecem o tempo todo.
É pra sentir leveza no Ser por completo, na
Alma e no Corpo! Elevar os pensamentos pra vertentes maiores no Universo... (...)
A autora.
Seguro pelas pernas e gritando por quanto
Santo havia ele deu sorte, pois dois lavradores
estavam passando por perto, e se apressaram
em socorrer o desastrado pescador; quando
se viu em terra firme, contou a seus salvadores o ocorrido, primeiro eles duvidaram e depois aceitaram a potoca do Zé, mas recordaram ao mesmo que aquela cobra verde era
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
...voa, borboleta!
Por Walnélia Corrêa Pederneiras
última etapa de lagarta...
existe uma liberdade intuída,
algo mais profundo, quase
uma sensação de paz universal
pela constatação do Ser impessoal
que vivenciou intensamente o pessoal, emocional
que questionou, viveu, sofreu, sorriu
e que se descobre agora fluido no Real,
presente que se descortina a cada instante
nuances de leveza, desprendimento
ou algo intuído sem expressões verbais...
Liberdade um pouco diferente da descrita
em dicionário ou modo de vida...
sim, é indefinível, indecifrável mas é indelével...
sem planos que confundem a interpretação
de sonhos, de pensamentos fluidos, preciosos...
Ânimo de alma
Plenitude!
mesmo sem dar um passo.
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
Tenho medo, não!
Não escondo os atritos
tantos aflitos , meus conflitos.
não esqueço, meu magnetismo..
Tenho a linha de Oxum,
Yorubá! por onde passo,
Iemanjá
trago beleza e a riqueza
prosperidade , bondade .
by sun
levo Obaluaiê , meu guardião
caçador , lutador ..calor
Salve, Iemanjá. Odô iá !
rainha das águas do mar ,
sereia da magia... oh! glória
trouxe velas, flores e presentes,
rosas brancas e vermelhas,
sidras ,perfumes e pentes
no coração levo, o amor!
Sou terra, sou água ,me vês?
sou filha dos Orixás.
se quiseres agradar, Iemanjá, Oxalá!
traga um pouco da alegria
e do cantar, que está dentro de você!
prá enfeitar o teu altar...
peço a tua proteção,
me abraça com devoção,
me consola, me conforta...
meu inquieto coração...
Sou filha de Nanã
poderosa .. corajosa,
mulher de Oxalá ,
ao lado de Iemanjá!
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Varal do Brasil - Novembro de 2011
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115
Varal do Brasil - Novembro de 2011
•
Até quinze de novembro receberemos textos para a edição de janeiro,
tema livre;
•
Até dez de novembro receberemos textos para a seleção para o livro VARAL ANTOLÓGICO II;
•
Até trinta e um de dezembro receberemos livros em consignação nas
condições especiais para a Livraria Varal do Brasil;
•
Até vinte de janeiro receberemos textos para a edição de março, com o
tema FAÇA AMOR, NÃO FAÇA A GUERRA! Um passeio atual sobre o lema maior dos anos de PAZ E AMOR!
VENHA VOCÊ TAMBÉM PARA O VARAL!
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Todos os textos publicados no Varal do Brasil
receberam a aprovação dos autores.
Tem Varal:
É proibida qualquer reprodução dos mesmos sem
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