XV Congresso Brasileiro de Física Médica – Contribuições e
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XV Congresso Brasileiro de Física Médica – Contribuições e
Editorial Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):5-6. XV Congresso Brasileiro de Física Médica – Contribuições e agradecimentos É com muita satisfação que aceitamos o convite do editor da Revista Brasileira de Física Médica (RBFM) para escrever o editorial desta edição que publica uma seleção de trabalhos apresentados durante o XV Congresso Brasileiro de Física Médica (XV CBFM) realizado em Aracaju, no Estado de Sergipe em agosto de 2010, o qual tivemos a honra de presidir. Durante o CBFM os temas mais recentes, nas diversas áreas da Física Médica, são debatidos e apresentados nas sessões técnicas (comunicações orais e painéis). Esses fóruns representam importante subsídio para a atualização de profissionais em avanços científico-tecnológicos e introdução a estudantes de tecnologias e conceitos. A Física Médica é uma área interdisciplinar que vem se desenvolvendo de forma sólida em todo o mundo como área de trabalho e pesquisa. No Brasil, desde o pioneirismo na década de 1960, com a atuação dedicada de poucos, até os dias atuais muito se avançou. Até recentemente os profissionais dessa área atuavam principalmente em serviços de radioterapia; atualmente, tem se observado uma maior inserção de físicos médicos em serviços de medicina nuclear, radiodiagnóstico, empresas que prestam serviços de assessoria a áreas médicas e em instituições de ensino nacionais. Como área de pesquisa, a Física Médica também está em franco crescimento no país. Em pouco mais de uma década vários cursos de graduação com perfil relacionado a esta área foram implantados. Embora não existam programas de pós-graduação específicos, em pelo menos quinze cursos de pós-graduação brasileiros há linhas de pesquisa relacionadas intrinsecamente com Física Médica. As pesquisas desenvolvidas nesses cursos buscam, principalmente, o aperfeiçoamento ou desenvolvimento de metodologias e materiais que possibilitem a criação e aprimoramento de tecnologia nacional aplicável às áreas médicas, comerciais e industriais com as quais a Física Médica se relaciona. O mercado de trabalho para os mestres e doutores formados em Física Médica no país é amplo, desde o ensino ao trabalho técnico especializado, e vários pós-graduados nessa área têm sido requisitados na América Latina, EUA e Europa. O CBFM é o evento nacional que representa a maior reunião no Brasil desses profissionais da Física em Saúde (físicos, médicos, tecnólogos, enfermeiros) e também de pesquisadores e estudantes, membros ou não da Associação Brasileira de Física Médica (ABFM), para discussões, trocas de experiência, informação e formação A regularidade deste congresso, que ocorre anualmente há mais de quinze anos, tem sido um grande incentivo para o desenvolvimento e a ampliação, não apenas da Física Médica, mas de várias áreas correlatas. Assim, o CBFM caracteriza uma oportunidade ímpar para o encontro de profissionais que são personagens imprescindíveis para o estado da arte e o avanço tecnológico da Física Médica do século XXI. O caráter itinerante do CBFM tem contribuído para a disseminação da informação, possibilitando que um número ainda maior de estudantes de graduação e pós-graduação possa ser beneficiado com a realização do evento. Em 2010, a 15ª edição do CBFM, em Aracaju, marcou o retorno deste evento para o Nordeste, possibilitando aos profissionais e estudantes desta região uma oportunidade de atualização e interação com nomes de relevada importância científica nacional e internacional. O evento ocorrido de 18 a 21 de agosto de 2010 contou com 6 mini-cursos, 20 palestras convidadas, 2 mesas-redondas, e 24 trabalhos apresentados em sessões orais e 131 paíneis, além do lançamento de 2 livros sobre temas da área. Do total de 303 inscritos na 15ª edição, 54% eram estudantes de graduação e pós-graduação, com um total de 155 trabalhos aprovados para apresentação (22 em Aplicação de Radiação Não Ionizante em Medicina, 48 em Dosimetria e Proteção Radiológica, 5 em Ensino, 7 em Medicina Nuclear, 42 em Radiodiagnóstico e 31 em Radioterapia), o que comprova a importância do congresso também como fórum de divulgação de pesquisas acadêmicas sobre temas relacionados à Física Médica. Dos demais participantes, 43% eram profissionais da área e 3% técnicos. Colaboraram com o XVCBFM vinte e seis empresas, várias delas expondo materiais e serviços. Dentre essas empresas estavam a Varian, a Siemens e a Elekta, que foram também patrocinadoras, assim como a Eletronuclear. O patrocínio de empresas e o apoio de instituições como a CAPES, o CNPq, a ABFM e as Fundações Estaduais de Pesquisa têm sido essencial para a realização de importantes palestras e mesas-redondas sobre temas como dosimetria, proteção radiológica, radioterapia, medicina nuclear, aplicação das radiações não ionizantes em medicina, novos materiais e ensino em Física Médica, além de possibilitar uma infraestrutura de boa qualidade para o congresso. Gostaríamos de aproveitar a oportunidade para agradecer aos membros da ABFM pela confiança em nós depositada para a condução dos trabalhos do XV CBFM e também aos diversos Patrocinadores e Colaboradores que auxiliaram na realização do evento. A participação efetiva de toda a comunidade de Física Médica foi fundamental para o sucesso alcançado. Associação Brasileira de Física Médica® 5 Souza DN, Lalic SS, Maia AF Em 2011, a 18th International Conference on Medical Physics (ICMP2011) será realizada no Brasil, em Porto Alegre (RS), conjuntamente com o XVI CBFM e o V Simpósio de Instrumentação e Imagens Médicas. O que se espera nestes eventos é consolidar esforços para que a Física Médica continue auxiliando na solução de problemas e no desenvolvimento de tecnologias para as áreas da saúde, alcançando grande sucesso como o que ocorreu no XV CBFM. Divanizia do Nascimento Souza Presidente do XV Congresso Brasileiro de Física Médica – XV CBFM Susana de Souza Lalic Presidente do Comitê Científico do XV CBFM Ana Figueiredo Maia Membro da Comissão Organizadora e do Comitê Científico do XV CBFM 6 Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):5-6. Artigo Original Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):7-10. Análise dosimétrica de perfis de distribuições radias de doses relativas de um aplicador de betaterapia de 90Sr+90Y utilizando o código MCNP-4C e filmes radiocrômicos Dosimetry Analysis of Distribuitions Radiais Dose Profiles of 90Sr+90Y Betatherapy Applicators Using the MCNP-4C Code and Radiochromium Films Talita S. Coelho1, Marco A. R. Fernandes2, Helio Yoriyaz1, Mario J. Q. Louzada3 Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, São Paulo (SP), Brasil Serviço de Radioterapia da Faculdade de Medicina, UNESP, Botucatu (SP), Brasil 3 Curso de Medicina Veterinária – UNESP de Araçatuba, Araçatuba (SP), Brasil 1 2 Resumo Apesar de não serem mais fabricados, os aplicadores de 90Sr+90Y adquiridos nas décadas de 90 ainda estão em uso, por possuírem uma meia-vida de 28,5 anos. Estes aplicadores possuem certificado de calibração dado pelos seus fabricantes, onde poucos foram recalibrados. Desta forma se torna necessário realizar uma meticulosa dosimetria destes aplicadores. Este trabalho aborda uma análise dosimétrica de perfis de distribuições radiais de doses relativas emitido por um aplicador de betaterapia de 90Sr+90Y, utilizando o código MCNP-4C para simular os perfis de distribuições radiais de doses relativas e os filmes radiocrômicos para obtê-los experimentalmente. Os resultados com os valores simulados foram comparados com os resultados das medidas experimentais, onde ambas as curvas apresentaram um comportamento semelhante, podendo validar o uso do MCNP-4C e dos filmes radiocrômicos para este tipo de dosimetria. Palavras-chave: aplicador de 90Sr+90Y , betaterapia, dosimetria, código MCNP-4C, filmes radiocrômicos. Abstract Although they are no longer manufactured, the applicators of 90Sr +90Y acquired in the decades of 1990 are still in use, by having half-life of 28.5 years. These applicators have calibration certificate given by their manufacturers, where few have been recalibrated. Thus it becomes necessary to accomplish thorough dosimetry of these applicators. This paper presents a dosimetric analysis distribution radial dose profiles for emitted by an 90Sr+90Y betatherapy applicator, using the MCNP-4C code to simulate the distribution radial dose profiles and radiochromium films to get them experimentally . The results with the simulated values were compared with the results of experimental measurements, where both curves show similar behavior, which may validate the use of MCNP-4C and radiochromium films for this type of dosimetry. Keywords: 90Sr+90Y applicator, betatherapy, dosimetry, MCNP-4C code, radiochromium films. Introdução A betaterapia é uma modalidade de radioterapia que utiliza fontes emissoras de radiação do tipo beta (β) para prevenção e tratamento de doenças dermatológicas tais como quelóides e algumas lesões bastante superficiais da pele, e doenças oftalmológicas como pterígio1. Os aplicadores de betaterapia mais utilizados no Brasil possuem como elemento emissor de radiação o 90-estrôncio (90Sr), que possui uma meia-vida de 28,5 anos e emite partículas β de energia máxima de 0,546 MeV2. Os aplicadores normalmente são constituídos de placas metálicas nas quais o 90Sr é depositado em uma das superfícies. Estas placas podem ser planas (com dimensões de aproximadamente 10 a 22,57 mm de diâmetro, ou 2 cm x 1 cm ou 2 cm x 2 cm) que são utilizadas em aplicações dermatológicas. Placas côncavas (com diâmetro de 10 a 15 mm de raio de curvatura) são utilizadas para aplicações oftalmológicas. A face da placa colocada em contato com a pele ou com a esclera é coberta por um plástico de polietileno de espessura de aproximadamente de 1,0 mm, no sentido de barrar Correspondência: Talita Salles Coelho, IPEN: Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, Centro de Engenharia Nuclear: CEN, Av. Lineu Prestes, 2242, Cidade Universitária, CEP 05508-000, São Paulo(SP), Brasil – E-mail: [email protected]. Associação Brasileira de Física Médica® 7 Coelho TS, Fernandes MAR, Yoriyaz H, Louzada MJQ os elétrons de baixa energia que são gerados no decaimento do 90Sr 3. A utilização e o manuseio destes aplicadores no serviço de radioterapia são limitados pelos dados que são fornecidos pelos fabricantes internacionais, além disso, a rotina exaustiva dos físicos nos serviços de radioterapia não favorece a execução de procedimentos de dosimetria para confirmação dos parâmetros físicos destas fontes, o que, de certa forma, pode comprometer a qualidade e flexibilidade do tratamento. Não existe concordância internacional sobre os procedimentos de calibração de aplicadores de 90Sr+90Y 4. A dose de radiação na superfície da placa pode variar em até 57% entre laboratórios de dosimetria, o que torna problemática a intercomparação dos resultados5. O método de Monte Carlo consiste em simular um problema matemático de forma estocástica. Sua aplicação se estende a qualquer problema descrito em termo de uma função densidade probabilidade através de um gerador de números aleatórios usados para amostrar diferentes eventos6. Como o processo de geração, transporte e interação da radiação na matéria são descritos em termos de distribuições, muitas derivadas das seções de choque, tal método pode ser aplicado para qualquer geometria mesmo onde as condições de contorno são desconhecias. Isso torna o método de Monte Carlo especialmente útil, embora custoso por ser recursivo, nesta classe de problemas. Um novo tipo de filme tem sido utilizado na dosimetria dos serviços de radioterapia, o filme radiocrômico. Este filme não necessita de sala escura durante o manuseio, é auto revelador, ou seja, não requer nenhum tipo de revelador nem fixador7. Os filmes mais comumente utilizados são da marca GafChromic®, produzidos pela International Specialty Products (ISP), eles são incolores e quando o componente ativo (corante especial) deles são expostos a radiação desenvolvem uma coloração azul. Figura 1. Modelagem da geometria da simulação realizada no código MCNP-4C. 8 Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):7-10. Neste trabalho é apresentado uma análise dosimétrica de perfis de distribuições radias de doses relativas obtidos de um aplicador de betaterapia de 90Sr+90Y utilizando o código MCNP-4C baseado no método de Monte Carlo e filmes radiocrômicos do tipo GafChromic® EBT QD+. Material e Métodos O código MCNP-4C, que é baseado no método de Monte Carlo foi utilizado para verificar os perfis de distribuições radiais de doses emitidos por um aplicador de betaterapia de 90Sr+90Y. Os resultados das simulações foram validados através de medidas experimentais utilizando filmes radiocrômicos do tipo GafChromic® EBT QD+. O aplicador de 90Sr+90Y utilizado na simulação e no experimento com o filme radiocrômico, é de aplicação oftalmológica/dermatológica, possui um diâmetro de 9,0 mm, é plano-circular, com atividade de 40,3 mCi (2009), e taxa de dose de 0,3288 Gy/s. Simulação utilizando o código de Monte Carlo MCNP-4C Foi modelado um objeto simulador de 28,0 x 28,0 x 0,05 mm composto de água, contendo 4 fatias de 0,6 mm de espessura, em cada fatia foram modelados 9 cilindros de água de diâmetro de 1,0 mm, espaçados entre si de 1,1 em 1,1 mm. A fonte foi modelada como uma superfície plano-circular coberta por um cilindro de 1,0 mm de espessura e 9,0 mm de diâmetro composto de polietileno, representado o aplicador de betaterapia de 90Sr+90Y. O objeto simulador foi colocado dentro de um cilindro de ar como mostra a figura 1. O espectro utilizado nas simulações são de 90Sr+90Y. Para calcular a energia depositada em cada cilindro por uma fonte de elétrons, foi utilizado o tally *F8, que fornece a energia depositada por partícula (MeV). A partir deste resultado pode-se obter os perfis de distribuições radiais das doses relativas do aplicador. Medida experimental utilizando filme radiocrômico Para validar o cálculo, a medida experimental foi realizada utilizando o mesmo aplicador da simulação. O detector utilizado foi um filme radiocrômico do tipo GafChromic® EBT QD+. Antes de iniciar as medidas, foi realizada a caracterização do filme, onde o aplicador foi colocado em contato direto com o filme e realizadas várias exposições com tempos variando de 1 a 15 s, isto é, diferentes níveis de doses conhecidas. Após as exposições o filme foi digitalizado em escalas de cinza em um scaner apropriado, obtendo-se a imagem digitalizada do filme, esta foi analisada através do software ImageJ, que tem como função analisar os tons de cinza da imagem. Com os resultados das leituras do filme foi possível a caracterização dele pelo levantamento da relação entre os tons de cinza e a dose, isto é, a curva característica do filme, como apresentado na figura 2. Análise dosimétrica de perfis de distribuições radias de doses relativas de um aplicador de betaterapia de 90Sr+90Y utilizando o código MCNP-4C e filmes radiocrômicos A Figura 2 mostra valores de desvios encontrados entre 0,58 e 8,92% dentro do intervalo de melhor resposta do software ImageJ, entre valores de 1 a 4,6 Gy. Devido à alta taxa de dose de radiação beta (32,9 cGy/s) do aplicador, e como a dose média por aplicação prescrita nestes procedimentos varia entre 1,5 a 2,5 Gy, o tempo de exposição escolhido para o experimento foi de 5 s, equivalente a 1,6 Gy. Esta dose também está situada na parte linear (relação dose-resposta do filme) da curva característica apresentada na Figura 2. Uma vez caracterizado o filme, foram realizadas exposições para verificação dos perfis de distribuições radiais de doses do mesmo aplicador. Os perfis foram medidos nas profundidades de 0,0, 0,6, 1,2 e 1,8 mm, estas foram determinadas por placas atenuadoras de polietileno de espessura de 0,6 mm cada. A densidade média das placas de polietileno é de (1,062 +/- 0,014) g/cm3, portanto próxima da densidade da água utilizada nas simulações computacionais. Este material foi utilizado devido a sua facilidade de aquisição e dimensões apropriadas para as análises com estes aplicadores de radiação beta8, além de já terem apresentados resultados satisfatórios em estudos similares com feixes de elétrons de alta energia9. A primeira exposição foi realizada sem placa, isto é, o aplicador foi colocado em contato com o filme, já nas demais profundidades foram sendo intercalas as placas atenuadoras entre o filme e o aplicador. Em cada profundidade foram realizadas três exposições, por questões de estatísticas dos resultados. Após as exposições os filmes foram digitalizados em escala de cinza, obtendo-se a imagem digitalizada, como mostra a figura 3. A leitura foi feita determinando-se o ponto central da imagem de acordo com o centro do aplicador; após isto se realizou a varredura da imagem de 1,1 em 1,1 mm a partir do ponto central, para o lado direito e esquerdo, tendo-se a leitura radial. filme, a diferença entre o experimental (filme) e o calculado (MCNP) foi na ordem de 0 a 10,17% do centro as extremidades do aplicador. Na distância entre o aplicador e o filme de 1,2 mm, como mostrado na figura 6, as diferenças entre o experimental (filme) e o calculado (MCNP) foram de 0,0 a 8,85% do centro as extremidades do aplicador. As diferenças entre o experimental (filme) e o calculado (MCNP) na distância de 1,8 mm foi de 0 a 8,39 % do centro as extremidades do aplicador (Figura 7). Figura 2. Curva característica do filme GafChromic® EBT QD+. Figura 3. Imagem digitalizada do filme radiocrômico exposto pelo aplicador de 90Sr+90Y em 4 profundidades. Resultados Distribuição radial de dose relativa para 0,0 mm de distância da fonte 110 100 90 80 Dose relativa (%) As distribuições radiais das doses relativas do aplicador n°2 experimentais (filmes) e calculadas (MCNP-4C), são apresentadas nas figuras 4, 5, 6 e 7, para as distâncias de 0,0, 0,6, 1,2 e 1,8 mm entre o filme e o aplicador. As incertezas dadas pela simulação utilizando o código MCNP-4C para um número de histórias de 20 milhões, foram menores do que 0,65 %, enquanto que os desvios padrões das médias das leituras dos filmes variaram de 0,25 a 17,85 % do centro as extremidades do aplicador. Os resultados calculados e experimentais na distância de 0,0 mm entre o aplicador e o filme, apresentaram uma diferença de 0 a 7,69% do centro as extremidades do aplicador, como mostra a figura 4. A figura 5 apresenta o perfil de distribuição radial de dose relativa na distância de 0,6 mm entre o aplicador e o 70 60 50 40 30 MCNP (experimental) 20 Filme (experimental) 10 -4, -3,3 -2,2 -1,1 0 0 1,1 2,2 3,3 4,4 Distribuição radial (mm) Figura 4. Planura MCNP-4C versus Filme –distância de 0,0 mm entre o filme e o aplicador. Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):7-10. 9 Coelho TS, Fernandes MAR, Yoriyaz H, Louzada MJQ As maiores diferenças entre o experimental e o calculado ocorreram na periferia do aplicador, levando em conta que nas medidas experimentais ocorrem uma série Distribuição radial de dose relativa para 0,6 mm de distância da fonte Discussão e Conclusões 110 100 90 Dose relativa(%) 80 70 60 50 40 30 MCNP (experimental) Filme (experimental) 20 10 0 -4,4 -3,3 -2,2 -1,1 0 1,1 2,2 3,3 de erros que nos cálculos não são considerados, como o posicionamento e deslocamento do aplicador durante a exposição. 4,4 Distribuição radial (mm) Figura 5. Planura MCNP-4C versus Filme –distância de 0,6 mm entre o filme e o aplicador. Distribuição radial de dose relativa para 1,2 mm de distância da fonte Os perfis de distribuições radiais das doses obtidos experimentalmente pelos filmes radiocrômicos e calculados obtidos por simulações no código MCNP-4C apresentaram uma boa concordância, validando os dois métodos para este tipo de dosimetria de aplicadores de betaterapia de 90Sr+90Y. Com a melhora no desempenho computacional, o código MCNP-4C baseado no Método de Monte Carlo, tem sido cada vez mais aplicado em modelamentos de fontes radioativas, além de se apresentar como uma ferramenta ágil, simples e poderosa para conferência e confirmação das características dosimétricas destes aplicadores. Os filmes radiocrômicos tem se apresentado como uma ótima opção para cálculos de perfis tendo em vista que eles podem ser utilizados para dosimetrias em regiões com alto gradiente de dose desta forma se torna adequado para dosimetria de aplicadores de betaterapia, onde as partículas beta (β) possuem grande poder de ionização, depositando grandes doses em pequenas distâncias. 110 100 90 Agradecimentos Dose relativa(%) 80 70 60 50 40 30 MCNP (experimental) Filme (experimental) 20 10 0 -4,4 -3,3 -2,2 -1,1 0 1,1 2,2 3,3 4,4 Os autores agradecem a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) pelo suporte financeiro parcial, a empresa Tomodent Imagem Odontológica de Araçatuba-SP pela digitalização dos filmes e a empresa Nucleata Radiometria de Araçatuba-SP pela disponibilização do aplicador de betaterapia. Distribuição radial (mm) Figura 6. Planura MCNP-4C versus Filme –distância de 1,2 mm entre o filme e o aplicador. Distribuição radial de dose relativa para 1,8 mm de distância da fonte 110 100 90 Dose relativa(%) 80 70 60 50 40 30 MCNP (experimental) Filme (experimental) 20 10 0 -4,4 -3,3 -2,2 -1,1 0 1,1 2,2 3,3 4,4 Distribuição radial (mm) Figura 7. Planura MCNP-4C versus Filme –distância de 1,8 mm entre o filme e o aplicador. 10 Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):7-10. Referências 1. Bentel GC. Radiation Therapy Planning. New York: Mc Graw-Hill; 1996 2. Scaff LA. Física da Radioterapia. São Paulo: Sarvier; 1997. 3. International Atomic Energy Agency, Calibration of photons and beta Ray sources used in brachytherapy, TECDOC-1274, Vienna; 2001. 4. Antonio PL. Estudo Comparativo entre Métodos de Calibração de Aplicadores Clínicos de Radiação Beta. 2009. 118f. Dissertação - Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN/CNEN), São Paulo; 2009. 5. Salvajoli JC, Souhami L, Faria SL. Radioterapia em Oncologia. São Paulo: MDSI; 1999. 6. Briesmeister JF, 2000. MCNP: A general Monte Carlo N-particle transport code, version 4C, LA-13709-M, Los Alamos Scientific Laboratory, Los Alamos, New Mexico. 7. Podgorsak EB. Radiation Oncology Physics: A Handbook for Teachers and Students. Viena: IAEA; 2005. 8. Coelho TS, Tada A, Fernandes MAR, Antonio P, Yoriyaz H. Dosimetric Comparision of Electron Beam and 90Sr+90Y Applicator for Keloids Treatment. Anais do Inernation Nuclear Atlantic Confeence (INAC). Rio de Janeiro; 2009. 9. Fernandes MAR, Tada A, Yoriyaz H. Determinação da curva de atenuação da radiação em feixes de alta energía. Universitas. 2009;1(2):145-59. ISSN: 1984-7459 Artigo Original Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):11-4. Estudos de otimização de dose e qualidade de imagem em processos de transição tecnológica em mamografia Studies of dose optimization and image quality in technological transition in mammography Tânia C. Furquim, Denise Y. Nersissian Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil Resumo A introdução de novas tecnologias em mamografia pode levar a melhorias na qualidade de imagens, porém, pode aumentar desnecessariamente as doses caso não se estude processos de otimização. Neste trabalho, analisaram-se as doses de radiação em mamografia em momento de transição de tecnologia convencional para digital. Os dados apresentados foram obtidos no período de 2005-2009, em hospitais e clínicas da cidade de São Paulo, em 4 equipamentos convencionais e 5 digitais. Os resultados mostram que mesmo após a otimização as novas tecnologias podem fornecer doses maiores. Desta forma, os estudos individualizados são de extrema necessidade quando da transição tecnológica, no sentido de se manter a qualidade de imagem sem aumento significativo em doses ao paciente Palavras-chave: mamografia, otimização de dose, qualidade de imagem. Abstract The introduction of new technologies in mammography may improve image quality; however, it may unnecessarily increase doses if optimization processes are not studied. In this work, radiation doses of the moment of transition of conventional to digital mammography have been analyzed. The presented data have been acquired from 2005 to 2009, in hospitals and clinics of Sao Paulo city, to 4 conventional and 5 digital equipments. The results show that even after optimization processes, new technologies still impart higher doses. Thus, individualized studies are needed when technological transitions occur, in order to maintain image quality without significant dose increase. Keywords: mammography, optimization of radiation dose, image quality. Introdução A radiologia diagnóstica passou por grandes alterações tecnológicas nos últimos 30 anos, principalmente devido à introdução de imagens digitais. Muitos departamentos de diagnóstico já trabalham totalmente sem filmes, porém essa fase de transição de uma tecnologia analógica para digital deve ser realizada com cuidados e criteriosamente. Algumas diferenças podem ser descritas entre os dois sistemas, como: • Imagens digitais: apresentam a vantagem da manipulação, visualização, transmissão e armazenamento da imagem, faixa dinâmica dos detetores utilizados cerca de 400 vezes maior que de sistemas convencionais1, e a imagem pode não mostrar claramente doses acima do necessário dadas ao paciente; • Imagens convencionais: apresentam melhor resolução espacial, um controle indireto para altas doses, sistema bem estabelecido em relação a normas e programas de controle de qualidade. Assim, em radiologia digital (Digital Radiology – DR) e computadorizada (Computed Radiology – CR) há a possibilidade de se produzir alta qualidade de imagem com menores doses de radiação. Porém, para que isso ocorra são necessários estudos de otimização nos equipamentos instalados2. Vários estudos têm sido publicados comparando esses sistemas, principalmente em mamografia, na qual a resolução espacial tem uma importância fundamental3-5. O mais importante é pensar que todos devem ser utilizados com processos de otimização entre dose e qualidade de imagem; caso contrário, nada se pode afirmar acerca do melhor desempenho. No Brasil, em 1998 foi publicada uma regulamentação federal, Portaria MS 453/986, cujo principal objetivo foi “estabelecer parâmetros e regulamentar ações para o Correspondência: Tânia Aparecida Correia Furquim – Av. Prof. Luciano Gualberto, 1289 – São Paulo - CEP 05508-010 – São Paulo – Brasil – E-mail: [email protected] Associação Brasileira de Física Médica® 11 Furquim TAC, Nersissian DY controle das exposições médicas, das exposições ocupacionais e das exposições do público, decorrentes das práticas com raios X diagnósticos”. Desta forma, surgiu a obrigatoriedade de implementação de Programas de Garantia de Qualidade (PGQ) em todos os estabelecimentos de saúde com equipamentos emissores de radiação X. O Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (IEE/USP), mesmo antes da regulamentação federal, desenvolveu um Programa de Garantia de Qualidade (PGQ) em Radiologia Diagnóstica próprio, e mais tarde adequou-o tanto à Portaria MS 453/98 quanto às diversas normas internacionais7-9 da área. Passou a implementar tal PGQ em alguns hospitais da cidade de São Paulo. Porém, com a transição para as novas tecnologias digitais muitos estudos têm sido acompanhados no sentido de se controlar a dose dada aos pacientes, principalmente em mamografia, garantindo a qualidade de imagem necessária ao exame solicitado. Desta forma, o objetivo deste trabalho é mostrar resultados destes PGQs desenvolvidos no IEE/USP em mamografia em duas maneiras de se obter imagem médica, com ênfase principal às diferenças identificadas nos processos de transição de tecnologias que empregam filmes para imagens digitais. Para obtenção de dose glandular média (DGM), considera-se a metodologia do American College of Radiology (ACR), apresentada no Guia para controle de qualidade em mamografia7 (equação 1), com a medição realizada com o objeto simulador ao lado da câmara de ionização, como mostra a Figura 1B. Dg= DgN · Xese (1) Onde: Dg - dose glandular média; DgN - dose glandular média normalizada; Xese- exposição de entrada na pele. O Guia apresenta uma tabela onde constam valores de DgN em função da CSR, tensão (kVp), espessura e composição da mama para a combinação anodo-filtro Mo/Mo. Esta publicação apresenta um nível de referência para DGM de 3 mGy para uma mama comprimida de 4,5 cm, em combinação Mo/Mo. Tanto os valores de DEP quanto de DGM foram obtidos para 4 mamógrafos convencionais e em 5 digitais. Material e Métodos Os valores de dose considerados neste trabalho foram obtidas no PGQ implementado para hospitais atendidos pelo IEE/USP, no período de 2005 a 2009. Em mamografia, tanto convencional quanto digital, os valores de kerma no ar na entrada da pele da paciente são obtidos para uma mama de 4,5 cm, em técnica clínica (tensão, produto corrente-tempo) e combinação alvo-filtro de molibdênio-molibdênio. Na medição é utilizada câmara de ionização (6M e monitor 9010, Radcal Corporation) dedicada à energia do feixe de raios X utilizado em mamografia. A Figura 1A mostra o arranjo experimental para obtenção de dose na entrada da pele da mama, conforme a Portaria MS 453/986. Nesta publicação, considera-se a medição realizada sem retro-espalhamento e aplica-se a equação 1, porém os fatores de retro-espalhamento são considerados de acordo com os valores apresentados pelo equipamento de camada semi-redutora (CSR), como mostra a Tabela 1. A B Tabela 1. Fatores de retro-espalhamento para diferentes valores de camada semi-redutora10. CSR 0,25 0,30 0,35 0,40 0,45 0,50 0,55 0,60 0,65 (mmAl) B 12 1,07 1,07 1,08 1,09 1,10 1,11 1,12 1,12 1,13 Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):11-4. Figura 1. Arranjos experimentais para obtenção dos valores de kerma no ar que fornecerão: A. DEPs em mamografia crânio caudal e B. Dose Glandular Média. As fotos mostram o posicionamento da câmara de ionização (posicionada na entrada da pele da paciente) considerando-se uma mama comprimida de 4,5 cm. Estudos de otimização de dose e qualidade de imagem em processos de transição tecnológica em mamografia Discussão e Conclusões A troca de tecnologias é uma ação constante em radiologia diagnóstica. Porém, estes estudos mostram que muitos cuidados devem ser tomados ao se optar por qualquer troca, uma vez que pode acarretar em doses elevadas aos pacientes. Os resultados mostram que o fato de os sistemas que fornecem imagens digitais em mamografia e possuírem faixa dinâmica mais ampla que os convencionais, causam aumento de dose no momento da instalação destes equipamentos. Os físicos devem considerar sempre a necessidade de estudos de otimização, pois existem várias metodologias facilmente aplicáveis para se reduzir as doses aos pacientes. Algumas vezes um parâmetro de imagem, como razão sinal-ruído ou razão contraste-ruído, deve ser acompanhado e aprovado para cada tipo de exame pelo radiologista que irá analisar as imagens. No entanto, as facilidades trazidas pelos sistemas DR não apontam as doses elevadas que muitas vezes acompanham as imagens que atingem qualidades desnecessárias a muitos exames. E, em grande parte das situações a maior qualidade de imagem emprega doses altas. 14 12 10 8 6 4 2 0 0 1 2 GE-DS 4 5 Medições 3 GE 600T 6 GE 700T 7 8 9 Siemens Mammomat Figura 2. Acompanhamento do estudo de otimização de dose na entrada da pele da mama em equipamento digital. As duas linhas retas mais altas mostram as doses médias dos equipamentos convencionais ainda instalados e a mais baixa, do equipamento que foi substituído pelo digital. 6 5 DGM (mGy) Ao se trocar equipamentos com imagens convencionais por digitais, as doses estavam mais altas que os antigos equipamentos que foram substituídos. Em particular, em uma das instituições que possui três mamógrafos, sendo dois convencionais e um digital, os testes mostraram que a transição de imagem convencional para digital (GE Senographe DS) iniciou com dose maior (10,8 mGy) do que a aplicada pelo equipamento que foi desativado (8,13 mGy), GE Senographe 600T. Assim, após estudo de otimização de dose e manutenção da qualidade de imagem, conseguiu-se alcançar valores baixos como 3,8 mGy, porém, sem qualidade de imagem adequada. Continuou-se o processo de avaliação e calibração do equipamento a partir dos valores de dose, tanto DEP quanto DGM. Em medições posteriores alcançou-se valores otimizados de DEP em torno de 5 mGy. A evolução dos valores de dose, comparando-se os três equipamentos instalados atualmente, encontra-se na Figura 2. Percebe-se que após este estudo pode-se afirmar que o equipamento digital apresenta os menores valores de dose e as melhores qualidades de imagem11. As comparações das médias dos valores de DGM nos mamógrafos convencionais digitais estudados estão apresentadas na Figura 3. Percebe-se que alguns equipamentos conseguem a melhor imagem apenas com doses mais altas. A grande evidência é que os mamógrafos digitais apresentaram valores bem inferiores para mamas grandes, com exceção de um que está em processo de otimização. DEP (mGy) Resultados 4 3 2 1 0 pequena médias grandes tamanho de mamas GE 600T Siemens Mammomat-B GE 2000D-B Siemens Mammomat- A GE DS Selenia A GE 700 T GE 2000D-A Selenia B Figura 3. Média dos valores de dose glandular média (DGM) obtidas no período de 2005 a 2009 para os mamógrafos instalados cinco equipamentos digitais estudados. A linha tracejada indica o nível de referência ACR7 para esta medição. Os cilindros em tons de azul representam dados de mamógrafos convencionais e os demais para sistemas digitais. Referências 1. Uffmann M, Schaefer-Prokop C. Digital radiography: the balance between image quality and required radiation dose. European Journal of radiology; 2009 (IN PRESS). 2. Furquim TAC, Costa PR. Garantia de qualidade em radiologia diagnóstica. Rev Bras Fis Med, 2009;3(1):91-9. 3. Monnin P, Gutierrez D, Bulling S, Lepori D, Valley JF, Verdun FR. Performance comparison of an active matrix flat panel imager, computed radiography system, and a screen-film system at four standard radiation qualities. Medical Physics, 2005;32(2):343-50. 4. Fernandez JM, Ordiales JM, Guibelalde E, Prieto C, Vañó E. Physical image quality comparison of four types of digital detector for chest radiology. Radiat Prot Dosimetry. 2008;129(1-3):140-3. 5. Rong JX, Shaw CC, Johnston DA, Lemacks MR, Liu X, Whitman GJ, et al. Microcalcification detectability for four mammographic detectors: flatpanel, CCD, CR, and screen/film. Medical Physics, 2001;29(9):205261. Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):11-4. 13 Furquim TAC, Nersissian DY 6. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria MS 453/98, de 02 de junho de 1998. In: Diário Oficial da União. Diretrizes de proteção radiológica em radiodiagnóstico médico e odontológico do Ministério da Saúde. Brasília, DF: Ministério da Saúde; 1998. 7. American College of Radiology. Mammography quality control manual. ACR - Committee on Quality Assurance in Mammography, 1st ed., 1999. 8. International Electrotechnical Commission. Evaluation and routine testing in medical imaging departments. Part 1: general aspects. IEC 61223-1. 1st ed.; 1993. 14 Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):11-4. 9. Sociedad Española de Física Médica – Sociedad Española de Protección Radiológica. Protocolo Español de Control de Calidad en radiodiagnóstico; 2002. 10. Kramer R., Drexler G., Petoussi-Henss N, Zankl M., Regulla D., Panzer W. Backscatter factors for mammography calculated with Monte Carlo methods. Physics in Medicine and Biology. 2001; 46: 771-781. 11. Alcântara MC Sordi GMAA, Caldas LVE, Furquim TAC. Diferencias em La dosis, calidad y tasa de rechazo de imágenes en sistemas de mamografia convencional y digital. Anais do Congreso conjunto SEFM XVII-SEPR XII, Alicante, Espanha; 2009: 113. Artigo Original Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):15-8. Pontos quânticos magneto ativos: uma nova fronteira para a medicina terapêutica e diagnóstica Magnetoactive quantum dots: a new frontier for diagnostic and therapeutic medicine Vinícius F. Castro1, Alvaro A. Queiroz2 Universidade Federal de Itajubá/Laboratório de Biomateriais, Itajubá (MG), Brasil Laboratório de Biomateriais,Instituto de Ciências Exatas/Universidade Federal de Itajubá, Itajubá (MG), Brasil 1 2 Resumo Este trabalho descreve a obtenção e caracterização de nanoesferas orgânicas biocompatíveis baseadas em polímero epoxídico como transportadoras de cerâmicas magnetoativas de Y3Fe5-xAlxO12 (YFeAl) revestidas por pontos quânticos de ZnS. As nanopartículas de YFeAl/ZnS foram obtidas e purificadas utilizando dendrímeros de poliglicerol como microestrutura digitalizadora in-situ, uma técnica adaptada do método de obtenção de ZnS pela técnica do poliol. Após purificação por ultrassom, o nanocompósito YFeAl/ZnS foi revestido com o polímero epoxídico biocompatível diglicidil éter do bisfenol-A (DGEBA) utilizando técnica de polimerização interfacial para formação de nanoesferas. A microestrutura e o tamanho das nanoesferas transportadoras de YFeAl/ZnS foram determinados através da microscopia eletrônica de varredura (MEV) utilizando-se software de análise de imagens. A fluorescência das nanoesferas transportadoras de YFeAl/ZnS foi observada utilizando-se a microscopia de epifluorescência e sua intensidade foi analisada através da espectroscopia de fluorescência. Esse trabalho é uma etapa precedente que envolve o preparo e a caracterização de nanoesferas multifuncionais para a caracterização e a terapia de tecido neoplásico. Palavras-chave: magneto-hipertermia, pontos quânticos, ZnS, cerâmicas ferromagnéticas. Abstract This work describes the preparation and characterization of magnetoactive and fluorescent polymeric nanospheres for therapeutic and diagnostic medicine. Magnetic and fluorescent nanospheres containing magnetoactive and fluorescent ceramics (YFeAl/ZnS) were prepared by inter-facial polymerization of epoxidic polymer based on the ether diglycidic of bisphenol A (DGEBA). The microstructure and size distribution of the nanospheres were determined by scanning electron microscopy (SEM) using image analysis software. The spherical nanoparticles with smooth surfaces and moderately uniform size distributions were obtained. The fluorescence of the nanospheres was observed using the epifluorescence microscopy and its intensity was analyzed by fluorescence spectroscopy. In-vitro experiments of magnetic mobility under external magnetic field and fluorescence spectroscopy results indicated that the magnetic and fluorescent nanospheres obtained in this work can be a highly versatile nanosystem for the therapeutic and cancer diagnosis. Keywords: magnetic-hyperthermy, quantum dots, ZnS, ferromagnetic ceramics. Introdução A nanotecnologia e a nanociência (N&N) representam um novo patamar de conhecimento, proporcionando significativos impactos científicos e tecnológicos em diversas áreas da atividade humana a exemplo da agricultura, energia, preservação ambiental e saúde pública. A nanotecnologia pode ser entendida como o estudo, a manipulação, a construção e os impactos de materiais ou estruturas que estão normalmente na escala abaixo de cem nanômetros e que têm propriedades que são dependentes única e exclusivamente desta escala de tamanho. As aplicações da nanotecnologia na área da saúde proporcionaram o surgimento de uma nova área na medicina denominada nanomedicina. A nanomedicina é um dos ramos mais promissores da medicina contemporânea e tem proporcionado uma série de desenvolvimentos para o diagnóstico e terapias para prevenir e tratar doenças hereditárias entre outras, terapia celular e fármacos inteligentes que se reverte em significativas melhorias da qualidade de vida da população. Correspondência: Vinícius Fortes de Castro, Rua Guilhermina Rennó da Silva, 51, Itajubá (MG) ,CEP 37502024, Brasil – E-mail: [email protected] Associação Brasileira de Física Médica® 15 Castro VF, Queiroz AAA Anunciada como uma nova revolução tecnológica na medicina, nanomateriais denominados de pontos quânticos estão sendo utilizados como marcadores biológicos fluorescentes para o diagnóstico por imagem de células cancerígenas1. Uma grande variedade de pontos quânticos baseados no CdS e ZnS tem sido testados como marcadores fluorescentes para o mapeamento de neoplasias. Atualmente nosso grupo tem se dedicado ao desenvolvimento de processos de obtenção de pontos quânticos de ZnS utilizando polímeros de microestrutura digitalizada e moléculas altamente ramificadas denominadas dendrímeros2. Embora a aplicação de pontos quânticos para a área de imagem médica seja promissora, a biocompatibilidade destes materiais tem despertado a preocupação não somente dos cientistas de biomateriais, mas também da própria comunidade médica. Recentemente, nosso grupo de pesquisa tem desenvolvido técnicas de encapsulamento de nanopartículas magnéticas com polímeros orgânicos hemocompatíveis para utilização em magneto-hipertermia3. O revestimento de partículas magnéticas de YFeAl com pontos quânticos do tipo ZnS surgem como uma ferramenta com elevado potencial para o tratamento do câncer com características duais ao nível terapêutico e de diagnóstico. Neste contexto, o presente trabalho descreve a obtenção e caracterização de nanoesferas orgânicas biocompatíveis como transportadoras de cerâmicas magnetoativas de YFeAl revestidas por pontos quânticos de ZnS encapsulados em polímero epoxídico. O sistema obtido representa um passo importante no desenvolvimento de sistemas de nano-entrega direta ao tumor expandindo significativamente o potencial da medicina terapêutica e diagnóstica no tratamento do câncer. Material e Métodos Partículas magneto-ativas de Y3Fe5-xAlxO12 (YFeAl) foram obtidas utilizando a técnica da decomposição térmica de complexos de Fe(II)3. As nanopartículas de YFeAl obtidas e purificadas foram revestidas por pontos quânticos de ZnS utilizando dendrímeros de poliglicerol como microestrutura digitalizadora in-situ, uma técnica adaptada do método de obtenção de ZnS pela técnica do poliol publicada recentemente por nosso grupo de pesquisa2. Após purificação por ultrassom, o nanocompósito YFeAl/ZnS foi revestido com o polímero epoxídico DGEBA, biocompatível, utilizando técnica de processos de polimerização em suspensão4. A Figura 1 ilustra o princípio da técnica. A forma e o tamanho das partículas de YFeAl/ZnS foram determinados pela microscopia eletrônica de varredura (MEV, Philips XL 30), sendo o tamanho e o desvio padrão estimados a partir da análise de imagens 200 partículas. Para a aquisição de imagens, foi utilizado o sistema computacional Hlimage + + (Western Vision Software Salt Lake City, UT, EUA, 1997). As nanoesferas transportadoras de YFeAl/ZnS foram visualizadas em microscópio de epifluorescência Zeiss Axioplan com lâmpada Osran HPG 50W equipado com conjunto de filtros ópticos UV (BP 365/11 FT 395 LP 397 487901) e filtro HQ:CY3 (HQ 545/30, 610/75, Q570/p). As imagens foram capturadas das lâminas utilizando câmera de vídeo CCD Watec, com sensibilidade luminosa de 3,0. 10-4 lux. Os espectros de fluorescência das nanoesferas transportadoras do nanocompósito YFeAl/ZnS foram obtidos em um espectrofluorímetro da marca Perkin Elmer modelo 204 A. A largura da fenda foi mantida em 10 nm tanto para a obtenção dos espectros de excitação como para a obtenção dos espectros de emissão. Todas as medições foram realizadas a temperatura ambiente (27oC) sob atmosfera normal (105 kPa). Resultados Figura 1. Ilustração do processo de obtenção do nanocompósito YFeAl/ZnS encapsulado com o polímero epoxídico DGEBA [3]. 16 Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):15-8. A morfologia das nanoesferas de polímeros epoxídico transportadoras do nanocompósito de YFeAl/ZnS foi analisada através da microscopia MEV. A Figura 2 mostra micrografias MEV das nanoesferas do polímero epoxídico puro e nanoesferas contendo o nanocompósito Pontos quânticos magneto ativos: uma nova fronteira para a medicina terapêutica e diagnóstica fluorescente YFeAl/ZnS. Através das análises MEV observam-se superfícies lisas e aparentemente sem a presença de poros indicando que o nanocompósito YFeAl/ZnS preenche o volume livre entre as cadeias do polímero epoxídico sem causar a deformação das nanoesferas. Um dos fatores mais importantes para o tratamento de neoplasias através da hipertermia magnética é a distribuição dos tamanhos das partículas. Uma distribuição de tamanhos homogênea favorece a terapia por hipertermia uma vez que proporciona uma distribuição homogênea da temperatura dentro do tecido tumoral. A Figura 3 mostra a distribuição do tamanho das nanoesferas de YFeAl/ZnS encapsuladas com o polímero epoxídico biocompatível. Observa-se uma distribuição média de tamanho de partículas no intervalo entre 50-60 nm para as nanoesferas do polímero epoxídico puro e 25-50 nm para as nanoesferas carregadas com as nanopartículas ativas magnetooticamente. Uma vez que o diâmetro médio dos capilares sanguíneos situa-se entre 4 a 16 μm o diâmetro das nanoesferas de polímero epoxídico transportadoras de YFeAl/ZnS obtidas neste trabalho parece ser conveniente para o diagnóstico e tratamento de processos que envolvam a angiogênese tumoral. A Figura 4 mostra a micrografia de epifluorescência de nanoesferas do polímero epoxídico contendo YFeAl/ ZnS. As micrografias foram obtidas no estado sólido e, em solução tampão fosfato-salina (PBS) pH 7.0 simulando o fluido fisiológico humano. As amostras foram excitadas a 350 nm. Observa-se que as nanoesferas do polímero epoxídico contendo YFeAl/ZnS exibem uma intensa fluorescência (Figura 5). Uma vez que as nanoesferas do polímero epoxídico puro não são fluorescentes, as propriedades fluorescentes observadas correspondem aos pontos quânticos ZnS sobre a superfície da cerâmica ferromagnética YFeAl. Observa-se ainda nas imagens de epifluorescência que não existe extinção significativa na luminescência das nanoesferas carregadas com a cerâmica magneto-oticamente ativa em função da constante dielétrica do meio indicando que as nanoesferas carregadas com YFeAl/ZnS podem ser utilizadas como um biomarcador efetivo para aplicações na medicina diagnóstica. A Figura 5 apresenta a intensidade de luminescência observado à temperatura ambiente (27ºC) das nanoesferas do polímero epoxídico carregadas com YFeAl/ZnS (A) e de nanoesferas do polímero epoxídico puro (B). Observase uma larga banda de emissão a aproximadamente 580 nm (λmax). O pico de emissão observado deve-se a vacâncias de Zn+2 presentes nos pontos quânticos de ZnS que revestem a superfície da cerâmica ferromagnética de YFeAl. Por sua vez, a largura do pico de emissão deve-se A Figura 2. Micrografias MEV dos sistemas: DGEBA/YFeAl (A), DGEBA/ZnS (C), DGEBA (E, F). B Figura 3. Distribuição de tamanhos de partículas (%) das nanoesferas do polímero epoxídico (DGEBA) carregadas com YFeAl/ZnS. Figura 4. Micrografia de epifluorescência de nanoesferas de DGEBA-YFeAl/ZnS no estado sólido (A) e em solução fisiológica PBS (B). As micrografias de epifluorescência foram obtidas com objetivas com aumento de 1000x. As amostras foram excitadas com luz de comprimento de onda de 350 nm. Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):15-8. 17 Castro VF, Queiroz AAA provavelmente à distribuição de tamanho de partículas de YFeAl/ZnS não monomodal. A Figura 6 ilustra o espectro de luminescência das nanoesferas do polímero epoxídico carregado com o nanocompósito YFeAl/ZnS no estado sólido (Fig. 6-A) e em solução fisiológica pH 7.0 (Fig. 6-B). Observa-se um pequeno deslocamento para o vermelho devido possivelmente ao processo de transferência de energia entre os pontos quânticos ZnS na superfície da cerâmica YFeAl associado possivelmente à variação da constante dielétrica do meio. Discussão e Conclusões Figura 5. Espectro de fluorescência de nanoesferas transportadoras de nanopartículas YFeAl/ZnS (A) e nanoesferas do polímero epoxídico puro (B). As nanopartículas magneto-ativas de YFeAl/ZnS podem ser utilizadas como um biomarcador efetivo para aplicações na medicina diagnóstica, sendo que suas propriedades óticas são elementos diferenciáveis na visualização do tecido neoplásico. Através das análises MEV observou-se uma distribuição de tamanhos numa faixa de 25-50 nm, com superfícies lisas e aparentemente sem a presença de poros indicando que o nanocompósito YFeAl/ZnS preenche o volume livre entre as cadeias do polímero epoxídico sem causar a deformação das nanoesferas. As nanoesferas magneto-oticamente ativas preparadas demonstraram, através dos ensaios in-vitro realizados, que a introdução de receptores tumorais em sua superfície possibilitará uma variedade de aplicações na medicina terapêutica e diagnóstica do câncer, relacionando sensoriamento de espécies bioquímicas, transporte de fármacos e localização das neoplasias através das características óticas do ponto quântico ZnS. Agradecimentos Os autores agradecem à Fapemig pelo apoio financeiro concedido a este trabalho (APQ 01164-08). Referências Figura 6. Espectro de fluorescência de nanoesferas transportadoras de nanopartículas YFeAl/ZnS no estado sólido (A) e em solução fisiologia PBS pH 7.0 (B). As medidas foram efetuadas à temperatura ambiente (25ºC). 18 Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):15-8. 1. Yong KT, Qian J, Roy I, Lee HH, Bergey EJ, Tramposch KM, et al. Prasad. Quantum Rod Bioconjugates as Targeted Probes for Confocal and TwoPhoton Fluorescence Imaging of Cancer Cells Nano Lett. 2007;7(3): 761–5. 2. Queiroz AAA, Passos ED, Alves SB, Silva GS, Higa OZ, Vítolo M. Alginate– poly(vinyl alcohol) core–shell microspheres for lipase immobilization. Journal of Applied Polymer Science. 2006;102(2): 1553–60. 3. Castro VF, Celestino J, Queiroz AAA, Garcia FG. Propriedades magnéticas e biocompatíveis de nanocompósitos para utilização em magnetohipertermia. Rev Bras Fis Med. 2010;4(1):79-82. 4. Passos ED. Síntese e Caracterização de Microesferas Ferromagnéticas para Utilização em Hipertermia. [dissertacão];2006. Artigo Original Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):19-22. Identificação de patologias mamárias através do espalhamento elástico de raios X Identification of human breast pathologies by x-ray elastic scattering André L. C. Conceição, Marcelo Antoniassi, Martin E. Poletti Departamento de Física e Matemática da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo (FFCLRP-USP), Ribeirão Preto (SP), Brasil. Resumo Neste trabalho foram determinados os perfis de espalhamento de amostras normais, benignas e malignas de tecido mamário no intervalo de momento transferido 0,07nm-1≤q≤70,55nm-1, resultante da combinação dos dados de WAXS (wide angle x-ray scattering) e SAXS (small angle x-ray scattering). Os resultados obtidos mostram que cada tipo de tecido mamário estudado apresenta seu próprio perfil de espalhamento. Baseado neste fato, alguns parâmetros, que representam características estruturais, foram extraídos dos perfis de espalhamento e submetidos à análise de discriminante. A partir da análise estatística, a razão entre as intensidades dos picos em q=19,8nm-1 e q=13,9nm-1 e a intensidade do pico de espalhamento de 3ª ordem das fibras de colágeno surgiram como dois potenciais classificadores de tecidos mamários e, combinando-os foi possível diferenciar entre normal, benigno e maligno. Palavras-chave: câncer de mama, espalhamento de raios X, WAXS, SAXS, radiologia. Abstract In this paper we determine the scattering profiles of normal, benign and malignant human breast samples in a momentum transfer range of 0.07nm-1≤q≤70.55nm-1, resulted from combining WAXS (wide angle x-ray scattering) and SAXS (small angle x-ray scattering) data. The results showed considerable differences between the scattering profiles of each tissue type. Based on this fact, some parameters, representing structural features, were extracted from these scattering profiles and submitted to a discriminant analysis. From statistical analysis, the ratio between the peak intensities at q=19.8nm-1 and q=13.9nm-1 and the intensity of 3rd order axial collagen peak arose as two potentials breast tissue classifiers and, from combining them it was possible differentiate among normal, benign and malignant lesions. Keywords: breast cancer, x-ray scattering, WAXS, SAXS, radiology. Introduction Breast cancer is the second most frequently incident type of cancer and the most common in women. According to projections of breast cancer incidence in Brazil in 2010 will must arise about 49,240 new cases of this disease1. Nowadays, mammography is the principal technique for early detection of breast cancer, however, due to its inherent limitation, some cases of false diagnoses and inappropriate biopsies have occurred. Then, new spectroscopic2-3 and imaging4,5 techniques have been studied in order to complement the information provided by the mammography. Recent researches have demonstrated that the x-ray coherent scattering techniques appear as a potential alternative to enhance the mammography, since that the coherent scattering distribution (scattering profile) carries information about the tissue structures providing details about possible structural changes due to cancer progression. Usually two techniques are used to measure scattering profiles from human breast tissues: WAXS (wide angle x-ray scattering) and SAXS (small angle x-ray scattering). WAXS technique allows obtaining a spatial distribution of smallest cell structures that compose the tissues, as for example water and fatty acid6, while the SAXS technique allows determining supramolecular system features, for example the collagen fibrils7. In this sense, combining the scattering profiles at WAXS and SAXS regions allows correlate changes at molecular level with those occurred at supramolecular scale and then, could provide a mean of differentiate the human breast tissues8,9. Therefore, in this study, both techniques were applied on each sample (normal and neoplastic breast tissues) in order to determine their total scattering profiles; and to Correspondência: André L. C. Conceição, Departamento de Física / Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo, Av. Bandeirante, 3900 - Monte Alegre, 14040-901, Ribeirão Preto (SP) – Brasil – E-mail: [email protected] Associação Brasileira de Física Médica® 19 Conceição ALC, Antoniassi M, Poletti ME study which parameters can be used to classify the human breast tissues. Material and Methods The breast tissue samples analyzed in this work were obtained from mastectomy and reduction mammoplasty procedures. The samples were histopathologically classified as: normal tissue, benign lesion and malignant lesion. However, due to heterogeneity of the normal tissue, it was subdivided into: adipose and fibroglandular. Subsequently to collection and classification, the samples were stored within suitable cases and fixed in formalin (4% formaldehyde in water). At the moment of the measurements, the samples were cut to 1mm thick to fit into the circular sample holder with 10 mm of diameter and sandwiched between thin mica foils and positioned to carry out the measurements. WAXS and SAXS experiments were carried out at the D12A-XRD1 and D02-SAXS2 beam lines in the National Synchrotron Light Laboratory (LNLS) in Campinas, Brazil. For WAXS experiment the x-ray beam energy was fixed at 11 keV and the irradiation area on the sample was 3.0 mm x 1.0 mm. The sample was assembled on a rotative table inside of the Huber three-circle diffractometer operating in transmission mode. The detector system consists of a graphite monochromator, which was positioned in order to select only photons scattered with 11 keV and exclude other energies, and a fast scintillation detector NaI(Tl). Coherent scattered intensities were scanned covering a momentum transfer range of 0.7 nm-1≤q=4πsen(θ/2)/ λ≤70.5 nm-1 where θ is the scattering angle and λ the wavelength. While for SAXS experiment was used an xray beam of energy of 7.7keV, whose size on the sample was 1.0 x 0.5 mm, and a two-dimensional MarCCD 165 camera detector of 2048 x 2048 pixels, with resolution of 79 μm per pixel. Two sample-detector distances were used (641 mm and 2043 mm), allowing to record the momentum transfer interval of 0.07 nm-1≤q≤4.20 nm-1.Three SAXS images were acquired on different places of the same sample and were summed in order to obtain an average scattering profile for the whole sample. Standard sample of Silver Behenate was used as a calibrant, in order to establish the correct reciprocal space scale of each scattering profile. The differential linear coherent scattering coefficient, µCS, was obtained from WAXS measured intensity, IM(q), by2: CS = [ IM ( q ) − B ( q )T ] A ( q ) − 1P ( q ) − 1 K (1) where B(q) represents the background signal, which correspond to photons originated from every other spurious scattering sources, in this case were from three sources: the layer of air between sample and detector, the mica foils and the bulk sample holder; T is the transmission factor; A(q) is the sample self-attenuation and geometric factor; 20 Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):19-22. P(q) is the polarization factor and K is a normalization constant. A(q) and P(q) both were calculated using standard analytical functions10. The software FIT2D11 was used to process all SAXS images in order to extract the one-dimensional scattering coherent intensity distribution from 2D images by radial averaging. The relative intensity scattered from the sample (IS) is obtained after applying some corrections on the coherent scattered intensity measured (IM). This procedure is summarized in equation 2 5: I S (q) = I M* (q) AM (q) − B* (q) AB (q) (2) where IM*(q) and B*(q) are the total scattering intensity measured (sample+background) and background signal, respectively, normalized by incident intensity; A(q) represent the same factors shown in WAXS experiment, however for SAXS experiment were considered constant for all q range (since cos(θ)≈1). These correction factors were experimental measured during the SAXS experiment. The indexes M and B corresponding to measured and background respectively. Additionally, in order to obtain the total scattering profile, the µcs(q) from each sample at WAXS region was used to normalize the Is(q) from the correspondent sample at SAXS region, in a common interval ranging from 0.7 to 4.20 nm-1 7. Finally, from the total scattering profiles were extracted some parameters that representing structural information and submitted to discriminant analysis in order to verify what these parameters could be statistically significant to differentiate between the groups of breast tissues based on their structural features. Results and Discussion Figure 1 shows the experimental differential linear coherent scattering coefficient (scattering profile), resulting from fusion of the SAXS and WAXS spectra of each breast tissue type analyzed in this work. From figure 1 it is easily seen that the scattering profiles are a typical signature of each breast tissue type, and their behavior show several features strongly dependent on the momentum transfer values. At low region, it is possible observe the influence of the large-scale arrangement, mainly due to collagen fibrils (peaks from 0.25 to 1.20 nm-1) for fibroglandular and pathological samples, as well as triacylglycerides (q=1.38 nm-1) for adipose tissues7. At high region, the scattering profiles reflect effects of molecular interference related to fatty acids (q=13.9 nm-1) for adipose samples and water (q=19.8 nm-1) for fibroglandular and pathological tissues6,9. From the discriminant analysis of the parameters extracted from the scattering profiles only the ratio between the peak intensities at q=19.8 nm-1 and q=13.9 nm-1 and the intensity of 3rd order axial collagen peak were statistically significant (p<0.001) and allows classifying the breast tissues as shown in figure 2. Identificação de patologias mamárias através do espalhamento elástico de raios X Conclusion This work shown that x ray elastic scattering experiments applied in human breast tissues provide a unique signature of each tissues type. Using WAXS technique it is possible to find features at molecular level, fatty acid and water, for example, while changes in a supramolecular level, as collagen fibrils, can be observed employing SAXS technique. Combining both techniques allows correlate changes at molecular and supramolecular levels. Moreover, statistical analysis of the scattering profiles has shown that two parameters, the ratio between the peak intensities at q=19.8 nm-1 and q=13.9 nm-1 and the intensity of the third-order axial collagen peak, can be considered valuable histological classifiers of the human breast tissues. Therefore, combining these two parameters is possible the differentiating among normal adipose, benign and malignant tissues. Figure 1. Scattering profile of each breast tissue group analyzed in this work Acknowledgments The authors would like to acknowledge the support by the Brazilian agencies Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) and Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), as well as the D02A-SAXS2 and the D12A-XRD1 beam lines staffs for the help during the experiments in the National Synchrotron Light Laboratory (LNLS). In addition, we also would like to thank the Department of Pathology of the Clinics Hospital, Faculty of Medicine of Ribeirão Preto, Brazil, for allow to collect the human breast samples. References 1. Instituto Nacional de Câncer (INCA). Estimativa 2010 – Incidência de Câncer no Brasil. Rio de Janeiro: Ministério da Saúde; 2009. 2. Poletti ME, Gonçalves OD, Mazzaro I. X-ray scattering from human breast tissues and breast-equivalent materials. Phys Med Biol. 2002;47: 47-63. 3. Ooi GJ, Fox J, Siu K, Lewis R, Bambery KR, McNaughton D, et al. Fourier transform infrared imaging and small angle x-ray scattering as a combined biomolecular approach to diagnosis of breast cancer. Med Phys. 2008;35:2151- 61. 4. Lewis RA. Medical phase contrast x-ray imaging: current status and future prospects. Phys Med Biol. 2004;49: 3573-63. 5. Warner E, Plewes DB, Shumak RS, Catzavelos GC, Di Prospero LS, Yaffe MJ, et al. Comparison of Breast Magnetic Resonance Imaging, Mammography, and Ultrasound for Surveillance of Women at High Risk for Hereditary Breast Cancer. J Clin Oncol. 2001;19: 3524-31. 6. Oliveira OR, Conceição ALC, Cunha DM, Poletti ME, Pelá CA. Identification of neoplasias of breast tissue using a commercial powder diffractometer. J Radiat Res. 2008;49:527-32. Figure 2. Scatter plot of the ratio of water-like and fatty acid peak intensities versus the third-axial order peak intensity. Ellipses are shown to illustrate the clustering. 7. Conceição ALC, Antoniassi M, Poletti ME. Analysis of breast cancer by small angle x-ray scattering (SAXS). Analyst. 2009;134: 1077-82. 8. Conceição ALC, Antoniassi M, Poletti ME. Preliminary study of human breast tissue using synchrotron radiation combining WAXS and SAXS techniques. Appl Radiat Isot. 2010;68:799-803. 9. Conceição ALC, Antoniassi M, Poletti ME. Assessment of the differential linear coherent scattering coefficient of biological samples. Nucl Instr and Meth. 2010;619:67–70. 10. Poletti ME, Gonçalves OD, Schechter H, Mazzaro I. Precise evaluation of elastic differential scattering cross-sections and their uncertainties in X-ray scattering experiments. Nucl Instr and Meth. B. 2002;187: 437-46. 11. http://www.esrf.eu/computing/scientific/FIT2D/. European Synchrotron Radiation Facility. Acess in 10 sept. 2009. Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):19-22. 21 Artigo Original Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):23-6. Análise do comportamento de um medidor de tensão não invasivo no intervalo de mamografia Behaviour analysis of a non-invasive voltage meter in mammography Eduardo de L. Corrêa, Rodrigo F. de Lucena, Vitor Vivolo, Maria da Penha A. Potiens Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares – IPEN/CNEN - São Paulo (SP), Brasil Resumo Um dos passos apresentados pelo TRS-457, da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), para a implantação de qualidades em um sistema de referência de radiação X é a medição da Tensão de Pico Prático (PPV). A norma IEC 61267 coloca que essa grandeza deve ser medida utilizando um medidor invasivo. Porém, o TRS-457 apresenta a possibilidade de utilizar um medidor não-invasivo para realizar essas medições. Um dos aparelhos mais usados para esse fim é o medidor não-invasivo da PTW, modelo DIAVOLT UNIVERSAL All-in-one QC Meter T43014, que pode ser utilizado para medir qualidades de radiação em radiografia convencional, tomografia computadorizada, fluoroscopia, raios X dental, raios X dental panorâmico e mamografia. No caso de mamografia esse aparelho acaba, dependendo do modelo, comprometendo um pouco a exatidão das medições, uma vez que, em seu menu existem apenas as configurações próprias para aqueles que irão utilizar esse equipamento em sistemas de radiação X cujo anodo (também chamado de “alvo”) do tubo seja de molibdênio. Nesse trabalho será apresentada uma análise da variação entre os valores obtidos de acordo com a opção selecionada no equipamento, para mamografia. A referência usada para se saber qual seria a opção mais adequada foi o valor de kVp máximo obtido, para esse mesmo sistema, por meio da espectrometria, que é considerada um método primário para a obtenção dessa grandeza. Palavras-chave: medidores não-invasivos, tensão de pico, kVp, PPV, mamografia. Abstract One of the steps required by the TRS-457, from the International Atomic Energy Agency (IAEA), for the implementation of qualities in an X-ray reference system is the measurement of the Practical Peak Voltage (PPV). The standard IEC 61267 suggests that this quantity must be measured using an invasive device. However, the TRS-457 presents the possibility of using a non-invasive device to make these measurements. One of the most used apparatus, in this situation, is the PTW non-invasive device, DIAVOLT UNIVERSAL All-in-one QC Meter T43014 model, which can be used to measure radiation qualities in conventional radiology, computed tomography, fluoroscopy, dental X-ray, dental X-ray panoramic and mammography. In the case of mammography this device can, depending on the model, compromise the measurement veracity, since in its menu there are only the specifics configurations for those who will use this device for an X-ray system which the tube anode (target) is of molybdenum. In this study will be presented the analysis of the results obtained for the selected option in this device, for mammography. The reference used to know which option would be better was the value of the kVp maximum obtained, for this same system, by spectrometry, which is considered a primary method to obtain this quantity. Keywords: non-invasive devices, peak voltage, kVp, PPV, mammography. Introdução A grandeza física PPV (do inglês Practical Peak Voltage, ou Tensão de Pico Prático) é relativamente nova, e está mais relacionada com a imagem obtida em exames radiológicos. A sua recomendação surgiu pela primeira vez na norma internacional IEC 612671, em 2005. A partir daí tornou-se necessária sua medição sempre que se for implantar qualidades de radiação X em um sistema usado na calibração de instrumentos dosimétricos. A norma sugere que seja utilizado um equipamento invasivo para se medir o PPV. Porém, o código de prática da AIEA, o TRS4572, apresenta a possibilidade de se utilizar um medidor não-invasivo para realizar essas medições. Nesse caso, um dos aparelhos mais utilizados é o medidor não-invasivo da PTW, modelo Diavolt, pois é pequeno e relativamente Correspondência: Eduardo de Lima Corrêa – Universidade de São Paulo, Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, Centro de Metrologia das Radiações – Avenida Lineu Prestes, 2.242 – Cidade Universitária – CEP 05508-000 – São Paulo (SP), Brasil – E-mail: [email protected] Associação Brasileira de Física Médica® 23 Corrêa EL, Lucena RF, Vivolo V, Potiens MPA fácil de usar. O Laboratório de Calibração de Instrumentos (LCI), do IPEN, possui o modelo DIAVOLT UNIVERSAL Allin-one QC Meter T43014, que apresenta, no menu presente em seu sistema, diferentes opções para se trabalhar em diferentes qualidades (tomografia, mamografia, radiografia convencional etc), com diferentes opções de configuração alvo-filtro do sistema, específicas para cada um dos exames citados. Porém, no caso de mamografia, as únicas opções que esse aparelho oferece, nesse caso, são para sistemas com anodo de molibdênio (Mo/1,5Al, Mo/0,5Al e Mo/30Mo, sendo que o material antes da barra é o material do alvo, e aquele depois da barra, o da filtração), o que não condiz com o sistema presente no LCI, que possui um tubo de raios X com alvo de tungstênio. Pensando nisso é que foi realizado o teste aqui apresentado. As opções de combinação alvo-filtro presentes no equipamento foram variadas, e então analisado qual delas apresenta o valor mais adequado de PPV para o sistema utilizado. Material e Métodos Os testes foram realizados no sistema de radiação X presente no LCI, Pantak/Seifert, mostrado na Figura 1, trabalhando na faixa de tensão de 25 kV a 35 kV, com uma filtração inerente de 0,138 mm de alumínio3 e janela de 0,8 mm de berílio4. O medidor não-invasivo utilizado foi um PTW, modelo Diavolt Universal All-in-one QC Meter T43014, mostrado na Figura 2, que pode ser utilizado em radiologia convencional, tomografia computadorizada, fluoroscopia, raios X dental, raios X dental panorâmico e mamografia. Nesse caso, o foco do estudo foram as qualidades de mamografia. Este instrumento possui rastreabilidade ao laboratório primário alemão PTB (PhysikalischTechnische Bundesanstalt), com uma incerteza de ± 2 % na sua calibração. Na Figura 3 é mostrado o menu do Diavolt onde é feita a seleção da qualidade e da combinação alvo-filtro. O medidor Diavolt foi posicionado a 1 (um) metro do anodo do tubo, pois esta é a distância de calibração em mamografia (Figura 4). Figura 1. Sistema de radiação X Pantak/Seifert, com o tubo ao fundo e o gerador mais à frente. 1 2 Figura 3. Display do Diavolt, mostrando a qualidade (1) e a combinação alvo-filtro (2) selecionada. Figura 2. Medidor não-invasivo PTW, modelo Diavolt Universal All-in-one QC Meter. 24 Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):23-6. Figura 4. Posição do Diavolt onde as medições foram realizadas. Análise do comportamento de um medidor de tensão não invasivo no intervalo de mamografia Primeiramente foi utilizada a configuração Mo/0,5Al, que significa anodo de molibdênio e filtração total de 0,5 mm de alumínio (Figura 5). Foram realizadas cinco medições de kVp máximo, kVp médio e PPV, para cada uma das tensões usadas em mamografia (25 kV, 28 kV, 30 kV e 35 kV). No display do Diavolt, mostrado na figura 5, pode-se ver a qualidade na qual ele está trabalhando (3), a combinação alvo-filtro selecionada (4), o valor de kerma no ar (5), o tempo de exposição (6) e a grandeza elétrica medida (7), que pode ser o kVp médio, o kVp máximo ou o PPV. Esse procedimento foi utilizado também para as outras opções de filtração, Mo/1,5Al (alvo de molibdênio e filtração total de 1,5 mm de alumínio) e Mo/30Mo (alvo de molibdênio e filtração total de 30 µm de molibdênio). As Figuras 6 e 7 mostram o display do Diavolt quando essas seleções são feitas. Foram calculados a média e o desvio padrão das medições realizadas. Após isso foi necessário identificar qual seria o valor correto para esses valores, e assim poder realizar o procedimento de implantação das qualidades de mamografia nesse sistema de radiação X. Para isso foram utilizados como referência os valores de kVp máximo obtidos através da espectrometria do 3 7 4 5 6 Figura 5. Display do Diavolt, mostrando os valores medidos pelo mesmo. feixe, procedimento considerando primário na obtenção dessa grandeza. Como o manual do Diavolt não é muito claro quanto ao método utilizado por ele para obter esses valores, achou-se melhor utilizar na comparação o valor de kVp médio, ao invés de utilizar o kVp máximo. Isso porque, conforme observado nas várias medições realizadas, no caso do kVp médio, o resultado apresentado pelo Diavolt é uma média de todas as tensões medidas por ele. Dessa forma, utilizando essa grandeza, sabe-se que não se está desprezando nenhuma leitura feita por ele, pois se está trabalhando com uma média. Da mesma maneira tem-se, a partir daí, um valor que pode ser mais próximo do valor correto. Resultados Os resultados mostraram que existe uma diferença significativa entre as diferentes configurações do aparelho. As Tabelas 1, 2 e 3 mostram os valores obtidos de acordo com as diferentes opções de filtração inseridas no Diavolt, e a variação observada quando se compara esses valores com os resultados encontrados a partir da espectrometria. Tabela 1. Valores de tensão obtidos para a filtração de Mo/0,5Al. Tensão Nominal (kV) 25 28 30 35 Medidor Diavolt kVp kVp PPV max med (kV) (kV) (kV) 28,45 27,87 27,30 31,71 31,20 30,70 34,01 33,50 33,00 39,62 39,06 38,52 Espectrômetro Tensão Máxima (kV) 26,2 ± 1,4 29,21 ± 0,97 31,20 ± 0,49 36,23 ± 0,72 Variação (%) 5,88 6,37 6,86 7,24 Tabela 2. Valores de tensão obtidos para a filtração de Mo/1,5Al. Figura 6. Display do Diavolt quando é selecionada a opção Mo/1,5Al. Tensão Nominal (kV) 25 28 30 35 Medidor Diavolt kVp kVp PPV max med (kV) (kV) (kV) 26,38 26,10 25,70 29,22 28,90 28,50 31,04 30,80 30,40 35,60 35,20 35,00 Espectrômetro Tensão Máxima (kV) 26,2 ± 1,4 29,21 ± 0,97 31,20 ± 0,49 36,23 ± 0,72 Variação (%) 4,96 1,06 1,28 2,84 Tabela 3. Valores de tensão obtidos para a filtração de Mo/30Mo. Figura 7. Display do Diavolt quando é selecionada a opção Mo/30Mo. Tensão Nominal (kV) 25 28 30 35 Medidor Diavolt kVp kVp PPV max med (kV) (kV) (kV) 31,50 31,00 30,40 34,52 34,10 33,60 36,46 36,10 35,60 xxx xxx xxx Espectrômetro Tensão Máxima (kV) 26,2 ± 1,4 29,21 ± 0,97 31,20 ± 0,49 36,23 ± 0,72 Variação (%) 15,39 14,34 13,57 xxx Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):23-6. 25 Corrêa EL, Lucena RF, Vivolo V, Potiens MPA Pode-se observar que, na tensão de 35 kV, para a opção Mo/30Mo, não são apresentados os valores encontrados. Isso porque, quando utilizamos a opção mamografia no Dialvolt, este passa a operar na faixa de tensão de 22 kV a 40 kV. Qualquer medição realizada fora desse intervalo é dada como “valor fora de escala”. Nessa tensão, e utilizando essa configuração, o Diavolt mediu tensões acima de 40 kV, por isso ele não forneceu os valores medidos. Isso mostra que as medições estariam bem acima do esperado para esta tensão (em torno de 35 kV). Como o Diavolt é um aparelho que possui uma precisão muito alta, os desvios padrão calculados ou deram zero ou muito próximo de zero. Sendo assim, foi estimado que a incerteza expandida das medições é de 4%. Essa incerteza leva em conta os 2% de incerteza na calibração do Diavolt, fornecido pela própria PTW, e também possíveis erros na montagem do sistema. Discussão e Conclusões Os resultados mostram que existe uma variação de aproximadamente 15,4%, na tensão de 25 kV, entre os valores fornecidos pelo Diavolt e aqueles obtidos pela espectrometria, quando é utilizada a opção Mo/30Mo. Quando comparamos as leituras de kVp médio fornecidas nas opções Mo/30Mo e Mo/1,5Al, temos uma variação de até 15,81%. Isso mostra uma dependência muito grande do Diavolt em relação a essa opção. Porém, como o manual fornecido pelo fabricante é insuficiente em relação às informações sobre o princípio de funcionamento do Diavolt, fica difícil entender a razão dessa grande dependência. O importante nesse caso é verificar essa diferença nos valores e procurar qual a melhor opção para se usar. Como foi dito no início, nenhuma das opções de configuração do Diavolt condiz com o sistema presente no LCI. Mas, com esses testes, foi possível identificar qual a melhor opção a ser utilizada nesse caso. 26 Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):23-6. Na configuração Mo/1,5Al os valores de kVp médio medidos pelo Diavolt são próximos dos obtidos por meio da espectrometria (variação máxima de 4,9%). Assim, pode-se dizer que essa configuração é a mais adequada para ser utilizada nesse sistema, pois o valor apresentado pelo aparelho é o mais próximo do valor de referência. Portanto, concluiu-se que os valores de PPV obtidos nessa configuração são os mais próximos daquilo que seria o valor real. De agora em diante, sempre que for necessário realizar a medição de PPV nesse sistema de radiação X, com o Diavolt, a opção alvo-filtração mais adequada é a Mo/1,5Al. Agradecimentos Os autores agradecem ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e ao Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT, Projeto: Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) em Metrologia das Radiações na Medicina), pelo apoio financeiro parcial. Referências 1. International Electrotechnical Commission (IEC). Medical diagnostic X-ray equipment. Radiation conditions for use in the determination of characteristics. IEC 61267. Geneva; 2005. 2. International Atomic Energy Agency (IAEA). Dosimetry in diagnostic radiology: an international code of practice. Technical Report Series No. 457, TRS 457. Viena, Austria; 2007. 3. Franciscatto PC. Caracterização das qualidades de radiação X seguindo as recomendações da norma IEC 61267 no laboratório de calibração do IPEN. [dissertação]. São Paulo: Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares; 2009. 4. Maia AF. Padronização de feixes e metodologia dosimétrica em tomografia computadorizada. [tese]. São Paulo: Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares; 2005. Artigo Original Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):27-30. Desempenho de um sistema tandem para controle de qualidade em radiodiagnóstico A tandem system performance for quality control in radiodiagnostic range Jonas O. Silva, Linda V. E. Caldas Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN-CNEN/SP) - São Paulo (SP), Brasil Resumo Um sistema tandem com câmaras de ionização foi desenvolvido para ser aplicado no intervalo de energia de radiodiagnóstico convencional. Este sistema é formado por duas câmaras de ionização com eletrodos coletores de materiais diferentes: alumínio e grafite. Ambas as câmaras possuem um volume sensível de 6 cm3. Características como saturação, eficiência de coleta de íons, linearidade da resposta da câmara com a taxa de kerma no ar e dependência energética foram determinados. Com os resultados obtidos com a dependência energética foram determinadas as curvas tandem. Os resultados mostram que este sistema pode ser usado em programas de controle de qualidade em radiodiagnóstico. Todas as medidas foram realizadas no Laboratório de Calibração de Instrumentos no IPEN/CNEN. Palavras-chave: câmara de ionização, radiodiagnóstico, sistema tandem, instrumentação. Abstract A tandem ionization chamber system has been developed to be applied for conventional diagnostic radiology energy range dosimetry. This system consists of two ionization chambers with different collecting electrode materials: aluminum and graphite. Both chambers have a sensitive volume of 6 cm3. Characteristics as saturation, ion collection efficiency, linearity of chamber response versus air kerma rate and energy dependence were determined. The results of energy dependence allowed the determination of the tandem curve. It can be used in quality control programs of diagnostic radiology area. All measurements were carried out at the Calibration Laboratory of IPEN. Keywords: ionization chamber, radiodiagnostic, tandem system, instrumentation. Introdução O programa de controle de qualidade de equipamentos de radiodiagnóstico é essencial para aliar o compromisso da qualidade da imagem com a mínima dose necessária ao paciente1. Para isto, alguns testes são realizados nos equipamentos e, entre eles, está o da verificação da camada semi-redutora. Uma medida correta da qualidade do feixe irá assegurar tanto a otimização da imagem quanto a proteção radiológica do paciente2. Geralmente a obtenção dos valores das camadas semi-redutoras pelo método convencional demanda muito tempo e, por isso, não é realizado nas clínicas com a frequência necessária. Um método simples e auxiliar na determinação das camadas semi-redutoras é o sistema tandem que consiste na razão das respostas de detectores com dependências energéticas diferentes3. A partir dos fatores obtidos pode-se confirmar a energia do feixe4. Assim, o propósito deste trabalho foi apresentar o desempenho um sistema dosimétrico constituído por duas câmaras de ionização construídas com material de baixo custo nas qualidades de radiodiagnóstico convencional. A caracterização das câmaras para esta finalidade seguiu recomendações internacionais5,6. Por fim, os fatores tandem foram determinados. Materiais e Métodos Foram utilizadas duas câmaras de ionização de placasparalelas desenvolvidas no IPEN. Elas possuem volume sensível de 6,0 cm3 e eletrodos coletores de materiais diferentes (alumínio e grafite). As leituras das câmaras foram obtidas com o eletrômetro PTW-Freiburg UNIDOS E. Os sistemas de irradiação usados foram: uma fonte de controle de 90Sr+90Y (33 MBq, 1994) da PTW tipo Correspondência: Jonas O. Silva – Universidade de São Paulo, Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, Centro de Metrologia das Radiações – Avenida Lineu Prestes, 2.242 – Cidade Universitária – CEP 05508-000 – São Paulo (SP), Brasil – E-mail: [email protected] Associação Brasileira de Física Médica® 27 Silva JO, Caldas LVE 8921 e um equipamento de raios-X Pantak Seifert Isovolt 160HS com alvo de tungstênio, que opera de 5 a 160 kV (a corrente pode variar de 0,1 a 45 mA). Este equipamento tem uma filtração inerente de 0,8 mmBe. Na Tabela 1 estão apresentadas as qualidades dos feixes de radiodiagnóstico. Como essas câmaras não são seladas, foi necessário fazer as correções nas leituras para as condições normais de temperatura e pressão (20ºC e 101,3 kPa). Resultados As câmaras foram estudadas em relação às suas características operacionais de: saturação da corrente de ionização, eficiência de coleção de íons, efeito de polaridade, tempo de estabilização e estabilidade a curto prazo (repetibilidade). A linearidade e a dependência energética foram testadas calibrando-se as câmaras no intervalo de energias do radiodiagnóstico convencional. As curvas tandem também foram obtidas. Tabela 1. Características das qualidades de radiação usadas segundo a norma IEC 61267 de 20057. a Qualidade da Radiação Tensão no Tubo (kV) RQR 3 RQR 5 RQR 8 RQR 10 RQA 3 RQA 5 RQA 8 RQA 10 50 70 100 150 50 70 100 150 Camada SemiRedutora (mmAl) 1,78 2,58 3,97 6,57 3,8 6,8 10,1 13,3 Filtração Adicionala (mmAl) 2,4 2,8 3,2 4,2 12,4 23,8 37,2 49,2 Taxa de Kerma no Ar (mGy/min) 22,20 38,76 68,47 119,46 3,01 2,88 4,89 11,05 Filtração necessária para obter as mesmas camadas semi-redutoras da norma IEC 61267. Saturação, eficiência de coleção de íons e efeito da polaridade As câmaras de ionização foram irradiadas sequencialmente na qualidade RQR 5 (Tabela 1), tomando-se a janela de entrada como referência à distância de 100 cm. A tensão aplicada às câmaras foram de ±50 V a ±300 V em passos de ±50 V. As curvas de saturação estão apresentadas na Figura 1. As correntes de ionização foram determinadas como os valores médios de cinco medidas para cada valor de tensão. As incertezas nas correntes de ionização foram sempre menores que 0,05% para ambas as câmaras. A diferença entre os comportamentos das câmaras, observada na Figura 1, é devido à mudança do material do eletrodo coletor. A eficiência de coleção de íons, Ks, foi determinada pelo método de duas tensões, utilizando a fonte de 90 Sr+90Y8: Ks= (V1/V2)2 - 1 (V1/V2)2 - (M1/M2) (1) onde M1 e M2 são as medições do eletrômetro corrigidas para a influência da temperatura e pressão, nas tensões V1 e V2 e V1 = 2V27. A tensão V1 é o valor normalmente utilizado para essas câmaras. A eficiência de coleção de íons foi maior que 99,0% para V1 = +300 V, tanto para a câmara com eletrodo coletor de grafite quanto para a câmara com eletrodo coletor de alumínio. Isto quer dizer que as perdas por recombinação foram menores que 1,0%, como recomendado pela IEC7. Na região de saturação, o efeito da polaridade foi menor que 1,0% para ambas as câmaras. Tempo de Estabilização Para avaliar o tempo de estabilização das câmaras, as correntes de ionização foram medidas para a tensão de ±300 V após 15, 60 e 120 min de aplicação da tensão. As câmaras foram irradiadas com a fonte de 90Sr+90Y posicionada a 1,0 mm da janela de entrada das câmaras. Os resultados normalizados para as medições a 60 min 6 estão apresentados nas Tabelas 2a e 2b. As correntes de ionização medidas 15 e 120 min depois da aplicação da tensão diferem menos que 0,5% do valor medido a 60 min, como recomendado pela IEC6. Tabela 2a. Teste de tempo de estabilização para a câmara com eletrodo coletor de Alumínio. Figura 1. Curvas de saturação para as câmaras com eletrodos coletores de Alumínio e Grafite (RQR 5). 28 Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):27-30. Tempo após a aplicação da tensão (min) 15 60 120 Polaridade Positiva Negativa 0,995 ± 0,012 1,002 ± 0,012 1 1 1,000 ± 0,012 0,998 ± 0,012 Desempenho de um sistema tandem para controle de qualidade em radiodiagnóstico Tabela 2b. Teste de tempo de estabilização para a câmara com eletrodo coletor de Grafite. Polaridade Estabilidade da resposta a curto prazo No teste de estabilidade da resposta a curto prazo, as câmaras de ionização foram irradiadas com a fonte de controle de 90Sr+ 90Y. Para garantir a reprodutibilidade da geometria, um suporte de acrílico foi desenvolvido para posicionar a fonte numa distância de 1,0 mm da janela de entrada. Dez medições foram realizadas e, para ambas as câmaras, a variação da resposta foi menor que 0,20%. De acordo com a IEC 61674 6, a variação da resposta para este teste não pode exceder 3,0%. Linearidade da resposta A relação linear entre a corrente de ionização e a taxa de kerma no ar foi determinada pela irradiação das câmaras com a qualidade RQR 5 (Tabela 1). As câmaras foram posicionadas à distância de 100 cm com relação ao ponto focal do equipamento de raios-X. As câmaras foram polarizadas com a tensão de +300 V e a corrente no tubo variou de 1,0 mA a 40,0 mA, para obtenção de diferentes taxas de kerma no ar. Para cada ponto foram feitas cinco medições e os valores apresentados na Figura 2 são os valores médios com as respectivas incertezas. Tanto para a câmara com eletrodo coletor de alumínio quanto para a câmara com eletrodo coletor de grafite as incertezas foram menores que 1,0%. A Figura 2 apresenta o resultado da verificação da linearidade da resposta das câmaras. Ambas as câmaras apresentaram respostas lineares e os coeficientes de correlação foram maiores que 0,99999. Dependência Energética A variação da resposta das câmaras com a mudança da energia efetiva do feixe ao qual são submetidas foi estudada usando as qualidades de radiação X listadas na Tabela 1. Nas Figuras 3 e 4 estão apresentadas as respostas das duas câmaras, em termos dos fatores de correção, normalizados para as qualidades RQR 5 e RQA 5, respectivamente, segundo recomendações internacionais6. Observa-se que a máxima variação na resposta para as qualidades RQR foi de 8,2% para a câmara com eletrodo coletor de grafite e de 4,0% para a câmara com eletrodo coletor de alumínio. Assim, esta última pode ser utilizada para a determinação/confirmação das camadas semi-redutoras para as qualidades de diagnóstico RQR, Corrente de Ionização (pA) Negativa 1,003 ± 0,012 1 1,005 ± 0,012 600 400 200 0 Alumínio Grafite 0 20 40 60 80 100 120 140 160 Taxa de kerma no ar (mGy/min) Figura 2. Linearidade da resposta das câmaras de ionização com eletrodos coletores de Alumínio e Grafite. 1.08 1.06 1.04 Fator de Correção Positiva 1,003 ± 0,012 1 1,000 ± 0,012 800 1.02 1.00 0.98 0.96 0.94 Alumínio Grafite 0.92 2 3 4 5 6 7 Camada Semi-Redutora (mmAl) Figura 3. Dependência energética das câmaras de ionização para as qualidades de radiação RQR. Os fatores de correção foram normalizados para a qualidade RQR5. 1.5 1.4 Fator de Correção Tempo após a aplicação da tensão (min) 15 60 120 1.3 1.2 1.1 1.0 0.9 Alumínio Grafite 4 6 8 10 Camada Semi-Redutora (mmAl) 12 14 Figura 4. Dependência energética das câmaras de ionização para as qualidades de radiação RQA. Os fatores de correção foram normalizados para a qualidade RQA5. Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):27-30. 29 Silva JO, Caldas LVE com uma incerteza de aproximadamente ±3,5% para os feixes das qualidades RQR e de ±4,5% para os feixes das qualidades RQA. 2.45 2.40 Fator Tandem 2.35 Conclusões 2.30 2.25 2.20 2.15 2.10 2.05 2 3 4 5 6 7 Camada Semi-Redutora (mmAl) Figura 5. Curva Tandem das câmaras de ionização para as qualidades de radiação RQR. 2.40 Fator Tandem 2.25 Agradecimentos 2.10 Os autores agradecem aos órgãos: FAPESP, CNPq, CAPES e MCT (INCT para Metrologia das Radiações em Medicina), pelo suporte financeiro parcial. 1.95 1.80 1.65 Referências 4 6 8 10 12 14 Camada Semi-Redutora (mmAl) Figura 6. Curva Tandem das câmaras de ionização para as qualidades de radiação RQA. já que sua variação nesta faixa de energia foi menor que 5,0%, valor recomendado internacionalmente5. Costa e Caldas já verificaram este comportamento anteriormente para uma câmara de ionização tandem de dupla face2. Para as qualidades de radiação RQA ocorre o oposto. A variação máxima da resposta foi de 1,4% para a câmara com eletrodo coletor de grafite e de 30,5% para a câmara com eletrodo coletor de alumínio. Para as determinações/ confirmações das camadas semi-redutoras nas qualidades RQA, a câmara de grafite pode ser usada. As curvas tandem foram obtidas a partir da razão entre as respostas das câmaras em função da camada semi-redutora. Estas curvas estão apresentadas na Figura 5 para as qualidades de radiação RQR e na Figura 6 para as qualidades de radiação RQA. As camadas semi-redutoras podem ser determinadas/confirmadas com seus valores medidos com filtros atenuadores 30 Duas câmaras de ionização de mesmas características geométricas, mas com materiais diferentes do eletrodo coletor (alumínio e grafite) desenvolvidas no IPEN, foram testadas em feixes padronizados de radiodiagnóstico. Elas mostraram um nível satisfatório de desempenho em relação às características operacionais que foram estudadas neste trabalho. Foi verificada a viabilidade da utilização destas câmaras de ionização como um sistema Tandem para confirmação periódica das qualidades de radiação RQR e RQA dos feixes de raios-X, nível diagnóstico, dentro de um sistema de controle de qualidade. Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):27-30. 1. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância Sanitária. Portaria 453. Diretrizes de Proteção Radiológica em Radiodiagnóstico Médico e Odontológico. Ministério da Saúde;1998. 2. Costa AM, Caldas LVE. A special ionization chamber for quality control of diagnostic and mammography X ray equipment. Rad Prot Dos. 2003;104(1):41-5. 3. Caldas LVE. A sequential tandem system of ionization chambers for effective determination of X radiation fields. Rad Prot Dos. 1991;36(1): 47-50. 4. Sartoris CE, Caldas LVE. Aplicação de metodologia dosimétrica de feixes terapêuticos de raios X com sistema tandem. Radiol Bras. 2001;34(6): 337-342. 5. International Electrotechnical Commission. Medical Electrical Equipment. Dosimeters with ionization chambers and/or semi-conductor detectors as used in X-ray diagnostic imaging. IEC 61674. 1997. 6. International Electrotechnical Commission. Medical Electrical Equipment Dosimeters with ionization chambers as used in radiotherapy. IEC 60731. 1997. 7. International Electrotechnical Commission. Medical diagnostic X-ray equipment. Radiation conditions for use in the determination of characteristics. IEC 61267. 2005. 8. International Atomic Energy Agency. Absorbed dose determination in external beam radiotherapy: an international code of practice for dosimetry based on standards of absorbed dose to water. IAEA TRS-398. 2000. Artigo Original Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):31-4. Análise da radiação espalhada do perfil de dose em tomografia computadorizada utilizando detector semicondutor Analysis of scattered radiation of the dose profile in computed tomography using semiconductor detector Cinthia M. S. Magalhães1,2, Marília C. Sobrinho1, Divanízia N. Souza1, Luiz A. P. Santos2 Departamento de Física, Universidade Federal de Sergipe - Aracaju (SE), Brasil Laboratório de Instrumentação Nuclear, Centro Regional de Ciências Nucleares (CRCN/CNEN) - Recife (PE), Brasil 1 2 Resumo A dosimetria em tomografia computadorizada é feita, principalmente, utilizando uma câmara de ionização tipo lápis de 100 mm de extensão. No entanto, tem-se questionado bastante a eficácia desse método na coleta de toda radiação espalhada do perfil de dose e uma nova forma de avaliação dosimétrica tem sido sugerida. Ela envolve a utilização de detectores menores efetuando múltiplas varreduras do feixe de raios X. Neste trabalho, o perfil de dose foi avaliado em um simulador dosimétrico de cabeça utilizando um dispositivo semicondutor, o fototransistor OP520. Os dispositivos foram dispostos em dois arranjos de detectores diferentes -com 2 e 4 fototransistores- e foram submetidos a uma varredura de 170 mm de extensão. Uma câmara lápis submetida às mesmas condições de irradiação foi utilizada para efetuar uma comparação dos dados. Os resultados confirmaram que os 100 mm não são suficientes para coletar toda radiação espalhada do perfil de dose e mostraram que os fototransistores podem ser úteis para dosimetria em tomografia computadorizada. Palavras-chave: tomografia computadorizada, dosimetria, dispositivo semicondutor. Abstract The dosimetry in computed tomography is performed mainly using a 100 mm long ionization chamber. However, it has been questioned the efficacy of this method in collecting all scattered radiation of the dose profile and a new form of dosimetry have been suggested. It involves the use of smaller detectors performing multiple scans of X ray beam. In this study, the dose profile was evaluated in a dosimetric head phantom using a semiconductor device, the OP520 phototransistor. The devices were placed in two different arrangements of detectors -with 2 and 4 phototransistors- and undergoing a 170 mm scan length. A pencil chamber submitted to the same conditions of irradiation was used to make a comparison of data. The results confirmed that the 100 mm is not enough to collect all scattered radiation of the dose profile and they showed that the phototransistors can be useful for dosimetry in tomography. Keywords: computed tomography, dosimetry, semiconductor device. Introdução A tomografia computadorizada (CT) é reconhecida como uma técnica que possui alta capacidade de diagnóstico e que proporciona doses altas em relação a outros exames de radiodiagnóstico. No Reino Unido, os exames de CT representam 7% dos procedimentos radiológicos, no entanto, são responsáveis por 47% da dose coletiva total da prática médica1. Isso reforça a grande importância da avaliação da dose em tomografia. A dosimetria em CT é feita, principalmente, utilizando-se uma câmara de ionização tipo lápis com 100 mm de comprimento, que integra o perfil de dose através de um corte na sua região central. Contudo, muitos trabalhos têm mostrado que essa dimensão não é suficiente para mensurar toda radiação espalhada de um único corte, principalmente após o surgimento dos tomógrafos multicortes que possibilitam a obtenção de cortes mais espessos (com 30 mm de espessura, por exemplo). Ao invés de propor a fabricação de câmaras ainda maiores, uma alternativa proposta para dosimetria em CT foi a utilização de câmaras de ionização menores2-4. Nesse novo método, o único corte na região central é substituído por um número de varreduras suficientemente grande, efetuando múltiplas rotações do tubo de raios X. Correspondência: Cinthia Marques S. de Magalhães – Departamento de Física – CCET da Universidade Federal de Sergipe (UFS) – Cidade Universitária Prof. José Aloísio de Campos – São Cristóvão – CEP 49100-000 – Aracaju (SE), Brasil – E-mail: [email protected] Associação Brasileira de Física Médica® 31 Magalhães CMS, Sobrinho MC, Souza DN, Santos LAP Os dispositivos eletrônicos apresentam características que despertam o interesse para dosimetria das radiações ionizantes. Algumas delas são: a capacidade de leitura em tempo real; as pequenas dimensões e a baixa energia necessária para produção de um par elétron-lacuna. Os fototransistores bipolares, dispositivos semicondutores que têm a propriedade de amplificação de sinal elétrico, têm sido avaliados para utilização como detectores de radiação na faixa de energia de radiodiagnóstico5,6 e para altas energias7. Por esse motivo e devido à tendência de se utilizar detectores menores em tomografia, neste trabalho o fototransistor foi avaliado para dosimetria em CT. Material e Métodos O fototransistor utilizado foi o OP520, fabricado pela OPTEK® Technology (Figura 1a)8. O sistema dosimétrico consiste de um eletrômetro Flip-flop®, desenvolvido no Laboratório de Instrumentação Nuclear do CRCN, um computador com o programa DoseX, que controla o eletrômetro, e o detector (Figura 2b). A avaliação dosimétrica foi realizada no tomógrafo Asteion da Toshiba do Hospital do Universitário da Universidade Federal de Sergipe (HU/UFS), Aracaju. A tensão de tubo, a corrente aplicada e o tempo de exposição foram, respectivamente: 120 kV, 200 mA e 0,75 s. As avaliações dos perfis de dose foram realizadas em um simulador dosimétrico de cabeça de poli (metacrilato de metila) (PMMA) com 15 cm de diâmetro e 16 cm de comprimento (Figura 2). A B A B Figura 3. Arranjo detector com 2 (a) e 4 fototransistores (b). Foram utilizadas duas configurações de arranjo detectores para avaliar o perfil de dose: o primeiro com dois FTs, um oposto ao outro (Figura 3a); e o segundo com 4 dispositivos com ângulos retos entre si (Figura 3b). Os fototransistores foram conectados, com pinos de ouro, em uma placa de circuito impresso e cada arranjo funcionava como um detector. O perfil de dose foi obtido posicionando os detectores nos orifícios periféricos e central do simulador e efetuando uma varredura de 170 mm de extensão. A espessura selecionada foi de 5 mm e o modo de exposição foi o axial. O incremento da mesa foi de 5 mm nas extremidades do perfil e de 1 mm na parte central do perfil para se obter mais detalhes do pico. Os perfis obtidos foram integrados em 170 mm a fim de avaliar a contribuição da radiação espalhada nas extremidades do perfil. Os resultados obtidos foram comparados com os de uma câmara lápis de 100 mm submetida às mesmas condições de irradiação. Resultados A Figura 4 mostra o perfil de dose obtido nos orifícios esquerdo e direito para o arranjo de detector com 2 fototransistores. O espaço entre as barras verticais da figura possui 100 mm de extensão, equivalente ao comprimento de integração da câmara lápis. Figura 1. a) Fototransistor OP520; b) Sistema dosimétrico: detector, eletrômetro e computador. Figura 2. Simulador dosimétrico de cabeça no suporte para cabeça de um tomógrafo com um detector no orifício central. 32 Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):31-4. Figura 4. Perfis de dose nos orifícios esquerdo e direito para o arranjo com 2 fototransistores. Análise da radiação espalhada do perfil de dose em tomografia computadorizada utilizando detector semicondutor A Figura 5 mostra o perfil de dose obtido nos orifícios esquerdo e direito para o arranjo de detector com 4 fototransistores. A Figura 6 mostra o perfil de dose obtido no orifício central para o arranjo de detector com 2 e 4 fototransistores. A Tabela 1 mostra os dados obtidos com a câmara de ionização tipo lápis e a partir da integral dos perfis de dose obtidos com os fototransistores (todos eles foram divididos pela espessura de corte (5mm) e, para os dados da câmara, também multiplicados por 100 mm). Figura 5. Perfis de dose nos orifícios esquerdo e direito para o arranjo com 4 fototransistores. Figura 6. Perfis de dose no orifício central para os arranjos com 2 e 4 fototransistores. Tabela 1. Dados da câmara de ionização tipo lápis e da análise dos perfis de dose obtidos com os FTs. Orifício Esquerdo Direito Central 2 FTs (nC) 1516,1 1554,5 1710,2 4 FTs (nC) 2357,9 2507,3 2688,5 Câmara de ionização (mGy) 31,9 31,9 28,9 Discussão e Conclusões Observando as Figuras 4 e 5, percebe-se que os perfis dos orifícios direito e esquerdo são bastante semelhantes. Isso se deve à simetria desses orifícios no posicionamento do simulador. O valor do pico dos perfis do arranjo com 4 fototransistores é maior, mais de 60%, do que o valor de pico do arranjo com 2 fototransistores. Esse resultado pode ser explicado pelo fato de que o número de dispositivos do arranjo com 4 FTs é o dobro do arranjo com 2 FTs e levando em conta que cada arranjo funciona como um único detector. Analisando a Figura 6, percebe-se que o perfil de dose no orifício central é um pouco mais largo do que o perfil nos orifícios periféricos e que o declínio nas extremidades do perfil central é mais suave. Isso ocorre porque na região central do simulador a radiação é mais atenuada e, conseqüentemente, há maior contribuição da radiação espalhada. Observando a Tabela 1, verifica-se a semelhança entre os valores obtidos nos orifícios periféricos esquerdo e direito para os dois tipos de detectores, exceto para o arranjo com 4 FTs que apresentou certa diferença. No entanto, nota-se que os valores dos orifícios da periferia são inferiores ao valor encontrado no orifício central para os fototransistores e superiores para a câmara de ionização. Isso ocorre porque a câmara só integra o perfil de dose nos 100 mm de sua extensão, que equivale à região entre as barras verticais das Figuras 4, 5 e 6. Como verificado pela análise do gráfico, a contribuição da radiação espalhada além dos 100 mm é mais significativa no orifício central do que nos orifícios periféricos. Logo, uma parte considerável da radiação espalhada não pode ser coletada com a câmara de ionização, diferentemente dos valores obtidos com os fototransistores que tiveram uma integração de 170 mm. Esses resultados confirmam que a extensão de 100 mm da câmara lápis não é suficiente para coletar toda radiação espalhada do perfil de dose. Além disso, mostram que os dois arranjos de detectores com fototransistores são capazes de obter detalhes do perfil de dose e que com um aprofundamento da análise de suas respostas podem ser úteis para dosimetria em tomografia computadorizada. Agradecimentos Os autores agradecem ao CNPq, à Capes e à CNEN, pelo apoio financeiro, e ao Hospital Universitário da UFS, por disponibilizar o tomógrafo para as medições. Referências 1. Hart D, Wall, BF. UK population dose from medical X-ray examinations. European Journal of Radiology. 2004;50:285-91. Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):31-4. 33 Magalhães CMS, Sobrinho MC, Souza DN, Santos LAP 2. Dixon RL. A new look at CT dose measurement: Beyond CTDI. Medical Physics. 2003;30(6):1272-80. 3. Nakonechny KD, Fallone BG, Rathee S. Novel methods of measuring single scan dose profiles and cumulative dose in CT. Medical Physics. 2005;32(1):98-109. 4. Dixon RL, Ballard AC. Experimental validation of a versatile system of CT dosimetry using a conventional ion chamber: Beyond CTDI100. Medical Physics. 2007;34(8):3399-413. 5. Santos LAP, Silva Júnior EF, Vilela E. Filtered x-ray beam dosimetry from 10-3 to 102 Gy dose range by using phototransistor. Radiation Protection 34 Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):31-4. Dosimetry 2002;101(1-4):145-48. 6. Santos LAP, Magalhães CMS, Silva JO, Antonio Filho J, Silva Júnior EF, Santos WM. A feasibility study of a phototransistor for the dosimetry of computerized tomography and stereotactic radiosurgery beams. Radiation Measurements. 2008;43:904-7. 7. Dhole SD, Bhoraskar VN. Use of phototransistor as a radiation monitor. Proceedings of 4th Conference on Radiation Protection and Dosimetry; 1994; Orlando; USA. Tennessee: ORNL; 1994. 8. Optek Technology. Silicon Phototransistor in Miniature SMT Package: OP520, OP521; 2005. Artigo Original Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):35-8. Modelagem Computacional das Túnicas Cardíacas para Processamento e Controle de Qualidade Computational modeling of Cardiac Tunics for Processing and Quality Control Leandro A. Neves1,3, Daniel L. Fiocco2, Moacir F. Godoy3 1 IGCE/Departamento de Estatística, Matemática Aplicada e Computação/Universidade Estadual Paulista (UNESP) Rio Claro (SP), Brasil 2 Faculdade de Tecnologia de São José do Rio Preto (FATEC) - São José do Rio Preto (SP), Brasil 3 NUTECC/Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP) - São José do Rio Preto (SP), Brasil Resumo Este trabalho considera um estudo das características anatômicas do sistema cardíaco e um modelo tridimensional de diferentes túnicas que compõem a parede do coração, para processamento e controle de qualidade de imagens radiológicas. As estruturas são construídas pelo método de sobreposição de camadas, onde uma camada pode ser entendida como uma fatia do objeto tridimensional. O pericárdio, miocárdio e endocárdio foram representados com cilindros e hexágonos. A organização espacial do sistema cardíaco é determinada por uma imagem de fundo, obtida de um modelo real. Os valores para as estruturas são definidos de acordo com a região e pelas características anatômicas dos pacientes. Os resultados são significativos, por considerar detalhes anatômicos de estruturas, como a representação das diferentes espessuras presentes na parede cardíaca. A validação do modelo anatômico foi realizada através de comparações com as dimensões obtidas a partir de um modelo real e permite verificar que o modelo é adequado. O nível de representação permitirá testar as influências de parâmetros radiológicos, particularidades anatômicas e estágios de doenças na qualidade de imagens, bem como o desempenho de sistemas de auxílio ao diagnóstico (SAD). Palavras-chave: radiologia; controle de qualidade; interpretação de imagem assistida por computador; ensino; coração. Abstract This paper considers a study of the anatomical features of the cardiac system and a three-dimensional model of the different tunics that comprise the heart wall, for processing and quality control of radiological images. The structures are built by the layer overlapping method, where a layer can be understood as a slice of the three-dimensional object. The pericardium, myocardium and endocardium were represented with three-dimensional cylinders and hexagons. The spatial arrangement of the cardiac system is determined by an background image of a real model, which values are defined according to the shape of the region and on the anatomical patients characteristics. The results are significant, considering the anatomical structures details, as well as the representation of the thicknesses of the regions of the heart wall. The validation of the anatomical model was accomplished through comparisons with dimensions obtained from a real model and allows verifying that the model is appropriate. The degree of representation will allow the verification of the influence of radiological parameters, morphometric peculiarities and stage of the diseases on the quality of the images, as well as on the performance of the Computer-Aided Diagnosis (CAD). Keywords: radiology; quality control; computer-assisted image interpretation; teaching; heart. Introdução A radiologia evoluiu de maneira notável com as aplicações das técnicas radiográficas no estudo das doenças presentes em diferentes órgãos do corpo humano, em destaque o coração. Para tanto, há técnicas, como a angiografia cardíaca, que permitem a visualização radiográfica das artérias coronárias e estruturas adjacentes, por meio da injeção de um líquido radiopaco nas mesmas. O resultado é um conjunto de imagens bidimensionais que são difíceis de interpretar, mesmo para especialistas. Outra dificuldade imposta é que algumas cardiopatias podem causar problemas técnicos, como os observados e citados na literatura para angioplastia transluminal coronariana. Portanto, a exatidão e a confiabilidade de um diagnóstico são influenciadas pela qualidade da imagem que o sistema produz. Correspondência: Leandro Alves Neves – Departamento de Estatística, Matemática Aplicada e Computação, IGCE, da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP) – Avenida 24 A, 1.515 – Bela Vista – CEP 13506-900 – Rio Claro (SP), Brasil – E-mail: [email protected] Associação Brasileira de Física Médica® 35 Neves LA, Fiocco DL, Godoy MF Para minimizar tais problemas técnicos, há programas de garantia de qualidade de sistemas radiológicos. Entretanto, esses programas não são sistematicamente aplicados no Brasil, apesar de terem sua importância reconhecida. Isto se deve em parte à fiscalização da legislação ainda pouco eficiente neste item e à maneira como são apresentados os resultados da avaliação. Outra característica deste cenário é que os resultados do controle de qualidade deveriam mostrar ao radiologista a imagem do objeto que ele quer radiografar, com a nitidez e o contraste que o seu sistema produz. Isto é possível com representações computacionais de estruturas anatômicas a serem diagnosticadas. No entanto, os simuladores sintéticos que existem no mercado são construídos com materiais (alumínio, lucite e resinas sintéticas) que permitem representar algumas das propriedades das estruturas anatômicas, mas não todas. Isto não acontece com um simulador computacional, que possibilita representar as particularidades das estruturas de interesse, com suas variações anatômicas ou mesmo com suas reais propriedades de absorção dos raios X1. Para minimizar os problemas existentes de interpretação das imagens, os especialistas podem contar com Sistemas de Apoio ao Diagnóstico (SAD). Este tipo de recurso é mais uma ferramenta para apurar técnicas de diagnósticos, planejar cirurgias e apoiar o diagnóstico, principalmente por reduzir a influência provocada pela superposição de estruturas. O problema é que o desempenho de um SAD é altamente dependente das imagens sobre as quais ele é treinado ou aplicado. Uma proposta presente na literatura especializada para treinar e avaliar um SAD é a utilização de um banco de imagens, que pode ser constituído com imagens simuladas. Esta recomendação emitida pelo comitê de Fisiologia e Bioengenharia da União Internacional de Ciências Fisiológicas (IUPS) e presente em2, considera que estruturas anatômicas modeladas devem considerar características suficientes para auxiliar o diagnóstico médico e prover simulações para estudos anatômicos, investigação de doenças e planejamento cirúrgico. Neste sentido, um banco de imagens de estruturas cardíacas simuladas por computador resolveria a maioria dos problemas existentes, principalmente no Tabela 1. Espessura (em milímetros) da parede cardíaca do ventrículos direito e esquerdo. Região Base Intermediária Superior Ventrículo Direito 5 4 2 Ventrículo Esquerdo 11 12 8 Tabela 2. Espessuras médias, em milímetros, e taxas utilizadas para determinar as dimensões de cada túnica cardíaca. Dados Taxa de ampliação Espessura na imagem Espessura calculada 36 Endocárdio 44x 23 0,5 Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):35-8. Miocárdio 44x 193 4,4 Pericárdio 2 que diz respeito à aquisição e digitalização com sistemas diferentes, no caso de imagens reais. A aplicação de modelos computacionais para os fins descritos, considerando estruturas sadias ou não, é uma realidade, que podem ser comprovadas em3-5. Monteiro e col.6 apresentaram um coração que usa realidade virtual para permitir a imersão do usuário, favorecendo uma melhor observação das estruturas do corpo humano, tornando-se uma poderosa ferramenta para treinamento médico, porém o modelo não considera um detalhamento microscópico das estruturas que constituem cada tecido. Neste contexto, o presente trabalho considera a representação tridimensional das túnicas cardíacas e suas organizações, uma vez que a investigação in vivo destas é uma tarefa difícil, porém de fundamental importância na compreensão dos processos sadios ou não. Com isso, um modelo virtual cardíaco é proposto com características compatíveis com as das estruturas reais, útil tanto em sistemas de controle de qualidade de imagens radiológicas, quanto como um método alternativo para criar um banco de imagens simuladas do sistema cardíaco sadio ou doente, para processamento (SAD) e controle de qualidade de imagens radiológicas. Material e Métodos Para representar as estruturas cardíacas, definimos um modelo anatômico que consiste nos átrios direito e esquerdo, ventrículos direito e esquerdo, válvula tricúspide, válvula pulmonar, válvula aórtica, válvula mitral e a parede cardíaca composta pelos seus tecidos: pericárdio, miocárdio e endocárdio. As dimensões das estruturas anatômicas foram obtidas com cálculos, tendo como base as espessuras dos ventrículos esquerdo e direito (Tabela 1), de um homem na faixa etária de 30 a 49 anos7. A partir da análise de uma imagem, feita com técnicas microscópicas de um corte da parede cardíaca, com um aumento de 44x, pode-se estimar a média das espessuras dos tecidos presentes na parede cardíaca, endocárdio, miocárdio e pericárdio. Já o valor da medida da espessura do pericárdio, que é aproximadamente 2 mm, foi obtido em8. Os valores definidos e utilizados estão na Tabela 2. Utilizando as medidas das espessuras dos ventrículos direito e esquerdo, bem como os apresentados na Tabela 2, foi possível determinar as espessuras de cada tecido cardíaco e da parede cardíaca, para diferentes regiões e túnicas. O cálculo foi realizado a partir de uma proporção entre os dados (1). EMPBVD = ERBVD x EMPPC ETM (1) onde, EMPBVD = Espessura média do pericárdio na base do ventrículo direito; ERBVD = Espessura real da base do ventrículo direito; EMPPC = Espessura média do pericárdio na parede cardíaca; ETM = Espessura total media. Modelagem Computacional das Túnicas Cardíacas para Processamento e Controle de Qualidade A relação apresentada em (1) permitiu estimar o valor da espessura média do pericárdio, que é de 1,44 mm para a base do ventrículo direito. Os mesmos cálculos foram realizados para as outras regiões do ventrículo direito e esquerdo, bem como para os três tecidos que os constituem. A Tabela 3 apresenta os resultados obtidos através dos cálculos das espessuras das túnicas. Para representação tridimensional do coração, foram selecionadas cinco imagens cardíacas em diferentes ângulos, que foram seccionadas em três regiões, Figura 1, identificando constituições diferentes da parede cardíaca. Cada região foi identificada com as cores azul (base dos ventrículos direito e esquerdo), vermelha (região intermediária dos ventrículos direito e esquerdo) e verde (superior dos ventrículos direito e esquerdo e dos átrios direito e esquerdo). A constituição de cada túnica dos tecidos (pericárdio, miocárdio e endocárdio) foi realizada com a modelagem de fibra muscular, cardiomiócito e epitélio pavimentoso. As formas geométricas geradas são representações aproximadas das que comumente são observadas nos tecidos humanos e vastamente descritas na literatura. Para a representação da fibra que compõe o pericárdio, foi criado um cubo e através dos processos de rotação e escalonamento, chegou-se a forma de um losango tridimensional, identificado pela cor amarela. O cardiomiócito, componente do tecido do miocárdio, foi representado por um cilindro, identificado pela cor vermelha. O endocárdio é formado pelo tecido epitelial pavimentoso simples, que foi representado por um hexágono tridimensional e identificado com a cor azul. Após o desenvolvimento das representações tridimensionais de cada túnica, foi realizada a junção das estruturas, o que permitiu constituir os tecidos, Figura 2. A organização e replicação das túnicas para constituição do coração podem ser constatadas na Figura 3. As estruturas foram modeladas com um software de modelagem, Blender 3D (mantido pela Blender Foundation), um sistema integrado de ferramentas, multiplataforma, licença GPL, capaz de modelar e animar objetos com qualidade considerável, além de permitir exportar e importar objetos em diferentes formatos. A escala utilizada no desenvolvimento do modelo tridimensional está em metros, em que cada unidade de medida no Blender 3D é equivalente a 1 metro. (1 BU = 1,00 m). Os valores utilizados neste projeto estão em milímetros e centímetros, portanto conversões de metros para milímetros foram realizadas em cada BU, permitindo a correta representação das estruturas microscópicas. Tabela 3. Medidas aproximadas, em milímetros, das espessuras dos tecidos cardíacos nas diferentes regiões nos ventrículos direito e esquerdo. Pericárdio Base V.D V.E 1,44 3,18 Intermediária V.D V.E 1,15 3,47 Superior V.D V.E 0,57 2,31 Miocárdio 3,18 7,01 2,55 7,65 1,27 5,10 Endocárdio 0,36 0,79 0,28 0,88 0,14 0,57 Total 4,98 10,98 3,98 11,98 1,98 7,98 Tecidos Figura 1. Imagens utilizadas para modelar o lado esquerdo e região frontal do coração, com as segmentações sugeridas. Figura 2. Exemplo das túnicas, visualizadas em diferentes projeções, que constituem cada tecido. A cor amarela identifica a fibra que compõe o pericárdio, a cor vermelha o cardiomiócito, componente do tecido do miocárdio e a cor azul o epitélio pavimentoso simples, que constitui o endocárdio. Resultados Foi desenvolvido um modelo tridimensional das estruturas cardíacas evidenciando o pericárdio, miocárdio e endocárdio. A Figura 4 permite visualizar o modelo do pericárdio com textura e a presença de todas as estruturas que o Figura 3. Visualização do resultado do processo de replicação do segmento da base do ventrículo esquerdo. Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):35-8. 37 Neves LA, Fiocco DL, Godoy MF A B Figura 4. Estruturas Cardíacas Modeladas. O modelo com a presença de textura pode ser visto em (a) e o Pericárdio em (b), evidenciando as fibras musculares, identificadas na cor amarela. B A Figura 5. Estruturas Cardíacas Modeladas, evidenciando o Miocárdio em (a), constituído por cardiomiócitos, que foi representado por pequenos cilindros. O Endocárdio é visualizado em (b), constituído por tecido epitelial pavimentoso simples, que foi representado com hexágonos tridimensionais. Tabela 4. Dimensões, em centímetros, obtidas com as estruturas cardíacas modeladas. Largura Altura Profundidade Pericárdio 6,02 7,38 6,56 Miocárdio 5,92 7,26 6,45 Endocárdio 5,78 7,01 6,35 constituem. A Figura 5 permite evidenciar os tecidos mais internos, com as respectivas constituições. As dimensões obtidas com o modelo proposto estão na Tabela 4, que são compatíveis com valores reais e inicialmente utilizados como referência7,8. 38 real. No entanto, as estruturas citadas não foram objetos de estudo nesta fase, devendo ser incluídas em uma próxima versão do modelo. Portanto, considerando dimensões reais7,8, em que os vasos não estão presentes, podemos afirmar que os valores obtidos são apropriados para estruturas sadias. É importante considerar que também validamos qualitativamente as estruturas modeladas, com três especialistas, que sugeriram aprimoramentos tanto nas estruturas dos átrios direito e esquerdo, como na região interna do coração, pois estas regiões estão mais dilatadas do realmente são. Estas inconformidades podem limitar as simulações de processos funcionais, principalmente para representar doenças. Apesar dessas constatações, os especialistas consideraram que as representações de cada túnica, bem como suas organizações foram realizadas com êxito. O modelo proposto tem potencial para gerar imagens suficientes para processamento e controle de qualidade de sistemas radiológicos. A principal vantagem fornecida, em comparação com outros modelos disponíveis na literatura1,6,9, é a representação de detalhes das estruturas e controle de parâmetros, o que também não ocorre com os modelos sintéticos, construídos com alumínio, lucite, resinas e outros materiais não representativos das estruturas humanas. O modelo será aprimorado com princípios que quantificam a distribuição de fluido e com as sugestões dos especialistas, tornando-se ainda mais representativo para ser utilizado em SAD, bem como para verificar a influência dos parâmetros radiológicos na eficiência dos sistemas de aquisição das imagens radiográficas. Com isto, o radiologista poderá avaliar a qualidade dos seus equipamentos em função não somente dos parâmetros do sistema radiológico, mas também das estruturas sadias ou doentes que ele pretende visualizar. Referências 1. 2. 3. 4. Discussão e Conclusões 5. Representamos cada túnica cardíaca com alturas entre 7,01 e 7,38 cm, larguras entre 5,78 e 6,02 cm e profundidades entre 6,35 e 6,59 cm, dados estes obtidos com o modelo proposto. Em nosso modelo ainda não consideramos representações das veias e artérias, o que resultou em uma estrutura com dimensões totais (altura, largura e profundidade) menores das existentes em um sistema 6. Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):35-8. 7. 8. 9. Son I-Y, Winslow M, Yazici B, Xu XG. X-ray imaging optimization using virtual phantoms and computerized observer modeling. Phys Med Biol. 2006;51:4289-310. Hunter PJ, Nielsen PMF. A Strategy for Integrative Computational Physiology. Physiology. 2005;20:316-25. Tawhai MH, Burrowes KS, Hoffman EA. Computational models ofstructurefunction relationships in the pulmonary circulation and their validation. Exp Physiol. 2006;91(2):285-93. Burrowes KS, Hunter PJ, Tawhai MH. 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Construção de um objeto simulador antropomórfico de tórax para medidas de controle da qualidade da imagem em radiodiagnóstico Development of an anthropomorphic thorax phantom for image quality control measurements in diagnostic radiology Rafaela A. D. Cerqueira1, Bruno M. Conceição2, Carlos H. C. Teixeira2, Cleber D. Mota2, Tânia M. A. Rodrigues2, Ana F. Maia1 1 Departamento de Física, Universidade Federal de Sergipe, 49100-000, São Cristóvão (SE), Brasil Departamento de Morfologia, Universidade Federal de Sergipe, 49100-000, São Cristóvão (SE), Brasil 3 Programa de Pós-graduação em Física da Universidade Federal de Sergipe 2 Resumo O uso da radiação ionizante traz inúmeros benefícios para o homem, mas associados a eles estão os prejuízos decorrentes da interação da radiação com o corpo. O programa de controle e garantia da qualidade (PCGQ) dos equipamentos de radiodiagnóstico tem como meta a prevalência dos benefícios sobre os prejuízos. Esse programa determina testes que devem ser feitos para garantir a qualidade das imagens médicas, reduzindo ao máximo o custo e as doses absorvidas pelos pacientes e profissionais. No entanto, esses testes não podem ser feitos em pessoas e é nesse momento que entram os objetos simuladores ou phantoms, que podem ser de vários tipos, desde simples caixas até a representação exata da forma humana. Esses últimos são chamados de objetos simuladores antropomórficos. O objetivo deste estudo foi desenvolver um objeto simulador antropomórfico de tórax para ser utilizado em testes de controle de qualidade de imagens médicas em radiodiagnóstico e também no treinamento dos profissionais envolvidos na análise das imagens. Esse simulador foi feito com ossos, coração e pulmões humanos, além de um tórax feito de resina epóxi, simulando tecido mole, e um par de pulmões feito de espuma de poliuretano. Palavras-chave: radiação ionizante, radiodiagnóstico, proteção radiológica, objeto simulador. Abstract The use of the ionizing radiation brought by countless benefits to man. But they are associated to the current damages of radiation interaction with the body. Quality control programs of the diagnostic radiology equipments are based in the prevalence of the benefits above the damages. This program determines that tests should be done to guarantee the quality of the medical images, reducing the patients and workers absorbed doses and the cost. However, those tests cannot be made in people and it is on this moment that phantoms are used. Diagnostic radiology phantoms can be of several types, going from simple boxes to the exact representation in the human body, called anthropomorphic phantom. The aim of this study was to develop an anthropomorphic thorax phantom to be used in tests for image quality control measurements in diagnostic radiology and also for professionals’ training for analysis of radiologic images. This simulator was made with natural human skeleton, heart and lungs, besides the thorax soft tissue were simulated using epoxy-resin tissue and a pair of lungs was made of foamed-polyurethane. Keywords: ionizing radiation, diagnostic radiology, radiation protection, phantom. Introdução A radiação ionizante vem sendo empregada em diversas áreas e assim traz inúmeros benefícios, como a cura de tumores através da terapia e a detecção precoce de doenças através do diagnóstico. No entanto, a interação da radiação com o corpo pode causar danos às células, chegando até a levar a morte. Para garantir a predominância dos benefícios e a proteção radiológica no Brasil, o Ministério da Saúde publicou a Portaria Nº 453/98 para obrigar a implantação do programa de controle e garantia da qualidade (PCGQ) nos serviços de radiodiagnóstico1. Esse PCGQ é composto por testes que possibilitam obter equipamentos estáveis que reproduzem um mesmo padrão de imagem, permitindo visualizar com nitidez as estruturas anatômicas do corpo com alta qualidade1,2. Correspondência: Rafaela Andrade Dantas Cerqueira - Departamento de Física da Universidade Federal de Sergipe - Rod. Marechal Rondon s/n CEP: 49.100-000, São Cristóvão (SE) – Brasil – E-mail:[email protected] Associação Brasileira de Física Médica® 39 Cerqueira RAD, Conceição BM, Teixeira CHC, Mota CD, Rodrigues TMA, Maia AF Porém, esses testes não são feitos diretamente no corpo humano, devido a variações de geometria, da morfologia e da anatomia dos mesmos, o que tornaria a análise dos testes bastante complicada. Além disso, fazer experimentos em seres humanos utilizando radiação ionizante é uma prática inadmissível. Uma alternativa, então, é realizar estes testes utilizando objetos simuladores, também chamados de phantoms. Estes objetos simuladores são objetos físicos ou virtuais utilizados para simular e estudar o comportamento das radiações ionizantes nos tecidos biológicos e gerar estimativas da qualidade de imagens médicas e de dose absorvida no paciente3. São também empregados para calibração de equipamentos de radiodiagnóstico e no treinamento do profissional de saúde nas aplicações clínicas que envolvem o uso de radiação4. Esses simuladores podem ser feitos por um único tecido equivalente (homogêneos) ou por um conjunto de tecidos equivalentes que reproduzem com precisão órgãos específicos (heterogêneos). Quanto à forma, podem ser geométricos: possui uma geometria simples, construídos na forma de cubos ou caixas; ou antropomórficos: forma e composição semelhantes ao corpo humano, sendo assim a forma mais complexa de reproduzir características humanas5. Há diversos materiais usados para a confecção de um objeto simulador antropomórfico, desde materiais de fácil aquisição como alumínio, resinas, acrílico, a órgãos reais, de origem animal ou humana, que passaram previamente por um processo de conservação, obtendo assim um phantom ainda mais realistas6. No entanto, os mais comumente utilizados são bastante simples e grosseiros com relação às pessoas reais, visto que imitam mais a absorção das estruturas anatômicas do que suas formas e representam somente uma determinada estrutura anatômica de interesse. Dessa forma, tendo em vista a importância de um programa de controle da qualidade dos equipamentos empregados em radiodiagnóstico, as limitações dos objetos simuladores mais utilizados e o fato de ainda hoje, mesmo não apresentando desafios tecnológicos significantes, esses objetos serem adquiridos quase que exclusivamente no Figura 1. Comparação de uma peça glicerinada sem e com preenchimento de acrílico, respectivamente. 40 Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):39-42. mercado internacional, o objetivo deste trabalho foi confeccionar um objeto simulador antropomórfico de tórax para radiodiagnóstico que se assemelhasse ao máximo ao tórax humano, respeitando as características dos órgãos e tecidos presentes na região, que possuísse os seguintes tecidos: o pulmão, o coração, os ossos e o tecido mole, de forma a permitir a visualização da anatomia humana real, além de que fosse econômico, portátil, prático, estável, com tecnologia nacional e que representasse a população brasileira. Logo, o objetivo foi confeccionar o phantom com ossos, coração e pulmões reais humanos e um par de pulmões artificiais, para que fosse possível num mesmo objeto simulador antropomórfico, fazer testes, imagens e treinamento de profissionais usando tanto órgãos reais glicerinados como órgãos artificiais, alternando-os. Material e Métodos A construção do protótipo iniciou-se com a escolha da função do objeto simulador antropomórfico de tórax, que foi desenvolvido para servir de instrumento em estudos da qualidade das imagens médicas e para treinamento de profissionais da área. O objeto simulador construído utilizou uma série de materiais artificiais e algumas peças anatômicas. Órgãos reais humanos foram obtidos de um cadáver doado pelo Museu de Anatomia Humana Prof. Dr. Osvaldo da Cruz Leite, selecionado especificamente para atender o objetivo deste estudo, que era simular a população média brasileira. Para tanto, foi selecionado um cadáver de sexo masculino, com idade de aproximadamente 50 anos e pardo. As peças do cadáver utilizadas na construção do phantom foram os ossos da caixa torácica, os pulmões e o coração. Para que fosse possível a utilização destes órgãos, eles passaram por um processo de conservação, uma vez que seriam utilizados por longo tempo, sem haver deterioração. Para a limpeza dos ossos, depois da dissecação, eles foram mergulhados em um tipo de detergente composto por sais, chamado de Solução de Lise. Já o coração e os pulmões passaram por um processo chamado de Glicerinação, que consiste na substituição dos fluidos dos órgãos por glicerina, dando assim um aspecto plastificado a peça. Durante a glicerinação, foi realizado o preenchimento das estruturas internas do coração e dos pulmões, com uma solução de acrílico auto-polimerizante a fim de manter o formato e tamanho reais dos órgãos, uma vez que no processo ocorre a desidratação e caso não fosse feito o preenchimento, as peças perderiam suas características geométricas. Esse fato pode ser facilmente visualizado através da comparação de uma peça glicerinada sem e com preenchimento, mostradas na Figura 1. Além disso, havia a necessidade de simular outros tecidos do corpo humano, como tecido mole, e também era um dos objetivos desenvolver um pulmão artificial. Por isso foi preciso selecionar materiais artificiais para servir Construção de um objeto simulador antropomórfico de tórax para medidas de controle da qualidade da imagem em radiodiagnóstico como tecido equivalente. Amostras dos materiais mais comumente utilizados pela comunidade científica para tais simulações foram coletadas e enviadas ao Departamento de Física e Matemática da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto para determinação do coeficiente de atenuação linear de cada uma das amostras. Comparando as densidades e os coeficientes de atenuação linear da amostras com os dados listados nas publicações da ICRU 44 e ICRU 48 sobre as propriedades dos diversos órgãos e de alguns materiais tecido equivalente, foram escolhidos a resina epóxi, para simular tecido mole, e a espuma de poliuretano, para simular o tecido pulmonar. A tabela 1 mostra as densidades dos materiais simuladores, resina epóxi e poliuretano, em comparação com os tecidos do corpo. Tabela 1. Densidades do tecido mole, da resina epóxi, do pulmão e da espuma de poliuretano. Material simulador Pele Gordura Músculo Resina epóxi Pulmão Espuma de poliuretano Densidade (g/cm3) 1,09 [7] 0,92 [7] 1,00 a 1,04 [7] 1,06 a 1,40 [8] 0,29 [9] 0,30 [7] Resultados Para construção do objeto simulador, foi escolhido um material artificial para simular os tecidos moles, a resina epóxi, e foi feito um pulmão artificial de espuma de poliuretano para permitir a permutação com o pulmão real, possibilitando maior aplicabilidade do phantom. Além desses materiais, ossos, pulmões e coração humanos foram selecionados para construção do phantom. Escolhidos os materiais tecido equivalentes, foi feito um molde de silicone com as formas do tórax humano utilizando um manequim, como mostra a figura 2. Além disso, para que o tórax de resina ficasse oco, para poder fazer um diafragma removível, foi preciso fazer um molde da parte interna da caixa torácica, utilizando silicone. Com os moldes prontos e devidamente posicionados, foi feito o preenchimento com resina epóxi, onde foram usados 11 kg de Araldite e 3,66 kg do endurecedor Aradur, ambos fabricados pela empresa Huntsman. Depois de dois dias, obteve-se o tórax feito de resina epóxi como tecido equivalente. Esse tórax foi então repartido ao meio. Com o tórax repartido e usando resina epóxi e tecido, foi feito o diafragma, para posicionar os órgãos durante a realização dos exames. Com o tórax e o diafragma do phantom prontos, o pulmão artificial foi, então, confeccionado. Para isso, utilizando os moldes de gesso dos pulmões glicerinado foram feitos contramolde de acrílico, que foram posteriormente preenchidos por poliol e isocianato na proporção de 1:1 para obter enfim os pulmões de espuma de poliuretano, como mostra a figura 3. Figura 2. Molde bipartido feito de silicone. Figura 3. Foto dos pulmões artificiais (esquerdo e direito, respectivamente), feitos de espuma de poliuretano. Discussão e Conclusões A figura 4 mostra o objeto simulador antropomórfico em detalhe, onde é possível ver a caixa do tórax de resina epóxi e com os ossos (costelas e vértebras), o diafragma de resina epóxi e tecido de algodão, um par de pulmões de espuma de poliuretano, um coração e um par de pulmões reais glicerinados. Figura 4. Foto do Objeto Simulador Antropomórfico de Tórax bipartido, com diafragma removível, coração real e pulmões artificiais e reais. Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):39-42. 41 Cerqueira RAD, Conceição BM, Teixeira CHC, Mota CD, Rodrigues TMA, Maia AF Por meio da figura 4 é possível afirmar que o simulador foi desenvolvido com semelhante forma, tamanho, heterogeneidade e posicionamento das estruturas do corpo humano. Essa heterogeneidade foi obtida utilizando, na construção desse objeto simulador, materiais diferentes que respondem de forma similar aos tecidos do corpo humano. Além disso, os materiais utilizados foram selecionados por possuírem alta estabilidade, podendo suportar uma longa rotina de testes, permitindo um alto grau de reprodutibilidade de imagens por várias modalidades de radiologia. Dessa forma, o phantom foi feito com tecnologia nacional, com materiais estáveis, como mostram estudos feitos pela comunidade acadêmica5-11. Ele foi confeccionado com a possibilidade de utilizar dois materiais tecido equivalente para simular o tecido pulmonar, que podem ser alternados na realização dos testes de imagens. Um desses materiais foi o pulmão real glicerinado e o outro foi feito de espuma de poliuretano. Os outros materiais tecido equivalentes utilizados para desenvolver o simulador foram a resina epóxi, simulando tecido mole, ossos humanos e o coração também glicerinado. Logo, o objeto simulador antropomórfico de tórax desenvolvido nesse projeto tem propriedades adequadas para uso em rotinas de testes de controle da qualidade das imagens e no ensino e treinamento em capacitação técnica de profissionais habilitados para qualificar estudos de qualidade de imagem. A avaliação de desempenho em diversas técnicas de radiologia será estudada em detalhes em estudos futuros. Agradecimentos Os autores agradecem a UFS, CNPq, INCT em Metodologias das Radiações na Medicina (CNPq/ FAPESP/FINEP) e à FAPITEC/SE pelo apoio financeiro. Ao Departamento de Física e Matemática da Faculdade de 42 Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):39-42. Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto juntamente com o Museu de Anatomia Humana Prof. Dr. Osvaldo da Cruz e o Departamento de Morfologia da UFS, que permitiram à realização deste trabalho. Referências 1. Ministério da Saúde. Diretrizes de Proteção Radiológica Em Radiodiagnóstico Médico e Odontológico. Brasília; 1998 (Portaria 453). 2. Ferreira DFP; Medeiros RB; Moraes R. Comparação de Protocolos Para Controle de Qualidade da Imagem Mamográfica. Anais do XVIII Congresso Brasileiro de Engenharia Biomédica. São José dos Campos: UNIVAP, v. 2/5, 2002. p. 79-82. 3. Silva FHF; Campos TPR. Avanços no Desenvolvimento de Um Fantoma Analítico Computacional Para Órgãos Internos. Anais do 21º Congresso Brasileiro de Engenharia Biomédica, Salvador, v. 1. p. 1-5, 2008. 4. International Commission on Radiation Units and Measurement (ICRU) Report Nº. 44 “Tissue Substitutes in Radiation Dosimetry and Measurement” (ICRU 1989). 5. International Commission on Radiation Units and Measurement (ICRU) Report Nº. 48 “Phantoms and Computational Models in Thaerapy, Diagnosis and Protection” (ICRU 1992). 6. Yoona S; Henry RW; Bouley DM; Bennett NR; Fahrig R. Characterization of a Novel Anthropomorphic Plastinated Lung Phantom. Med. Phys., 2008; 35(12):5934-43. 7. Tomimasu S. Desenvolvimento de Material Simulador de Tecido Humano a Partir do Látex de Borracha Natural Vulcanizado Com Radiação Gama. Tese (Doutorado em Ciências na Área de Tecnologia Nuclear - Aplicações) - IPEN, São Paulo; 2000. 8. Faria PE. De. Estudo sobre a Furação de Compósito de Resina Epóxi Reforçado com Fibras de Vidro. Tese (Doutorado em Engenharia Mecânica) - Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Engenharia. Belo Horizonte; 2007. 9. Jones AK; Hintenlang DE; Bolch WE. Tissue-Equivalent Materials for Construction of Tomographic Dosimetry Phantoms In Pediatric Radiology. Med. Phys. 2003; 30(8):2072-81. 10. White DR. Tissue Substitutes in Experimental Radiation Physics. Med. Phys. 1978; 5(6):467-9. 11. Nisbet A; Thwaites DI. An evaluation of epoxy resin phantom materials for electron dosimetry. Phys. Med. Biol. 1998; 43:1523-8. Artigo Original Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):43-6. Controle da qualidade dos calibradores de radionuclídeos nos serviços de medicina nuclear na região Nordeste do Brasil Quality control of radionuclide calibrators used in nuclear medicine services in the Brazilian northeast region Maria C. F. Fragoso, Antônio M. S. Albuquerque, Mércia L. Oliveira, Ricardo A. Lima, Fabiana F. Lima Divisão de Técnicas Analíticas e Nucleares,Centro Regional de Ciências Nucleares do Nordeste,Comissão Nacional de Energia Nuclear (CRCN-NE), Recife (PE), Brasil Resumo Os calibradores de radionuclídeos são instrumentos essenciais nos serviços de medicina nuclear para a determinação da atividade dos radiofármacos que serão administrados ao paciente. O desempenho inadequado desses equipamentos poderá fornecer subestimações ou superestimações das atividades, comprometendo o sucesso de diagnósticos ou terapias. Para assegurar o desempenho satisfatório dos calibradores de radionuclídeos, testes de controle da qualidade são recomendados por protocolos nacionais e internacionais. O propósito deste trabalho foi avaliar a implantação do programa de controle da qualidade nos calibradores de radionuclídeos dos serviços de medicina nuclear na região Nordeste do Brasil, destacando os testes e suas respectivas periodicidades. Palavras-chave: medicina nuclear, radiofármacos, controle da qualidade. Abstract The radionuclide calibrators are essential instruments in nuclear medicine services in order to activity determination of radiopharmaceuticals which will be administered to the patients. Inappropriate performance of these equipments could provide underestimation or overestimation of the activity, compromising the success of diagnosis or therapeutic procedures. To ensure the satisfactory performance of the radionuclide calibrators, quality control tests are recommended by national and international guides. The aim of this work was evaluate the establishment of the quality control program in the radionuclide calibrators at medicine nuclear services in the Brazilian northeast region, highlighting the tests and their frequencies. Keywords: nuclear medicine, radiopharmaceuticals, quality control. Introdução A medicina nuclear é a especialidade médica que emprega compostos radioativos para avaliar a morfologia e a funcionalidade de órgãos e tecidos, destacando-se das demais técnicas de diagnóstico por imagem. Ao ser empregada no estudo dos fenômenos biológicos, sem neles interferir, proporciona a prevenção, identificação, monitoração e terapias de doenças. Estes procedimentos baseiam-se na administração de um radioisótopo marcado com um fármaco, o qual apresenta afinidade pelo órgão ou tecido que esteja sendo investigado. A esta combinação dá-se o nome de radiofármacos. Antes que o radiofármaco seja administrado ao paciente é necessário que se conheça com exatidão a sua atividade, com o intuito de não apenas cumprir os requisitos de radioproteção, como também garantir o sucesso dos procedimentos a que for submetido. Os calibradores de radionuclídeos possuem a vantagem de realizar as medidas de atividade de maneira rápida e exata. Estes instrumentos consistem essencialmente de uma câmara de ionização do tipo poço, acoplada a um eletrômetro com mostrador digital, fornecendo medidas diretas em unidades de atividade1. O calibrador de radionuclídeo deverá encontrar-se em perfeito funcionamento. Para que isto ocorra, estes equipamentos devem ser testados no momento de sua instalação (testes de aceitação) e posteriormente por meio dos testes de controle da qualidade, assegurando a confiabilidade das medidas de atividades. No Brasil, a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), por meio da Norma CNEN-NN-3.05, recomenda Correspondência: Maria da Conceição de Farias Fragoso, Centro Regional de Ciências Nucleares do Nordeste (CRCN-NE) – Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), Av. Professor Luiz Freire, 200, Cidade Universitária, CEP 50740-540, Recife (PE), Brasil – E-mail: [email protected] Associação Brasileira de Física Médica® 43 Fragoso MCF, Albuquerque AMS, Oliveira ML, Lima RA, Lima FF os testes necessários ao controle da qualidade e suas respectivas periodicidades. Segundo esta norma, todo serviço de medicina nuclear (SMN) deve possuir, no mínimo, um calibrador de radionuclídeos, além de um conjunto de fontes padronizadas, com energias próximas às dos radionuclídeos mais utilizados na rotina desses serviços2. Estes testes correspondem à exatidão, precisão, linearidade e reprodutibilidade. Embora não seja exigido pela CNEN, recomenda-se a realização do teste de geometria na instalação dos calibradores de radionuclídeos3. Além destes testes, o National Physical Laboratory (NPL) e o Laboratoire National Henri Becquerel (LNHB) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) por meio da Resolução RDC nº 38, recomendam a realização de testes operacionais (auto zero, tensão e radiação de fundo) diariamente4,5,6. O teste de exatidão descreve o grau de concordância entre o resultado da medição obtido e o valor verdadeiro da grandeza a qual se quer medir. A precisão indica o grau de concordância entre os resultados obtidos das medições sucessivas, efetuadas sob as mesmas condições, repetidas em um intervalo de tempo. Ambos os testes serão realizados com as fontes de referência de 57Co, 133Ba e 137Cs, possuindo como limites de aceitabilidade de 10% e 5%, respectivamente2,7. O teste de reprodutibilidade verifica o desempenho de todo o sistema de medição (câmara de ionização e eletrômetro), permitindo identificar a presença de possíveis variações na resposta do equipamento ao longo do tempo. Recomenda-se que este teste seja realizado com fontes radioativas que possuam meia-vida longa e ausência de qualquer impureza radioativa, como por exemplo, o 137Cs, possuindo como limite de aceitação ±5% da atividade esperada para esta fonte4. A linearidade verfica a resposta da atividade do calibrador de radionuclídeos durante todo o intervalo de atividade útil de uma fonte radioativa. Dentre os métodos para obter a linearidade da resposta de um calibrador de radionuclídeos, o mais utilizado é o método do decaimento. Trata-se do acompanhamento do decaimento de um radionuclídeo, realizando as medidas em intervalos de tempo regulares, de modo que o tempo total seja suficiente para a fonte decair até a menor atividade utilizada clinicamente. Recomenda-se utilizar uma solução contendo um radionuclídeo de meia-vida curta, com energia gama baixa, como o 99mTc e tendo como limite de aceitação 20%2,8. Os diversos tipos de recipientes, produzidos em diferentes geometrias e materiais, utilizados nos SMN para a medição da atividade dos radionuclídeos que serão administrados aos pacientes, nem sempre são iguais àqueles que foram utilizados pelos fabricantes para a calibração destes equipamentos, podendo afetar a exatidão das medidas, principalmente devido à atenuação da radiação. Segundo Zimmerman e Cessna, é preciso obter experimentalmente os fatores de correção e aplicá-los a medições similares, quando estão sendo realizadas medidas 44 Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):43-6. em diferentes geometrias, especialmente em radionuclídeos de baixa energia. A fonte geralmente utilizada é o 99mTc com uma atividade e volume determinados e os fatores de correção deverão ser aplicados quando o erro relacionado às medições das atividades excederem ±10%8,9. O propósito deste trabalho foi avaliar a implantação do programa de controle da qualidade nos calibradores de radionuclídeos dos SMN na região Nordeste do Brasil, destacando os testes e suas respectivas periodicidades. Material e Métodos Foi realizado o levantamento sobre a quantidade de calibradores de radionuclídeos existentes nos institutos de medicina nuclear na região Nordeste do Brasil, sendo posteriormente enviados convites para participação no levantamento do programa de controle da qualidade dos calibradores de radionuclídeos. A cada SMN participante foi atribuído um código de identificação, sem nenhuma relação com seu nome, para que fosse garantida a confidencialidade dos resultados. Foi elaborado um questionário com perguntas relacionadas aos calibradores de radionuclídeos utilizados nos SMN (data da última calibração, tensão de operação, possibilidade de zerar a radiação de fundo e auto zero) e sobre a realização dos testes de controle da qualidade exigidos pela Autoridade Regulatória Brasileira. Foram realizadas visitas a cada serviço participante, sendo solicitado aos responsáveis pelo programa de garantia da qualidade o preenchimento do questionário. Resultados Foram realizadas visitas a 26 SMN de sete estados do nordeste: Alagoas, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Sergipe e Rio Grande do Norte. Dentre estes serviços, 22 participaram do levantamento do controle da qualidade dos calibradores de radionuclídeos, porém, apenas um serviço não soube informar os dados referentes à realização de alguns testes, presentes no questionário. No que diz respeito aos demais SMN, não houve o preenchimento do questionário pelos responsáveis do serviço. Conforme solicitado pela CNEN, cada serviço possuía no mínimo um calibrador de radionuclídeos, obedecendo desta forma às exigências da norma nacional. Além disso, observou-se que 7 SMN responderam que não possuíam as fontes padrão de referência, realizando os testes de controle da qualidade com fontes emprestadas de outra instituição. A Tabela 1 mostra os diferentes modelos de calibradores de radionuclídeos encontrados neste trabalho e suas respectivas quantidades. Os resultados do levantamento acerca dos testes recomendados pela CNEN (exatidão, precisão, reprodutibilidade e linearidade) nos SMN da região Nordeste do Controle da qualidade dos calibradores de radionuclídeos nos serviços de medicina nuclear na região Nordeste do Brasil Brasil e suas respectivas frequencias, são mostrados na Figura 1. Embora o teste de geometria não seja exigido pela CNEN, os dados sobre a realização deste teste nos SMN avaliados também são mostrados na Figura 1. Para os testes operacionais recomendados pela NPL, LNHB e ANVISA, os resultados obtidos nos SMN participantes e a frequencia com os quais são realizados podem ser vistos na Figura 2. Tabela 1. Calibradores de radionuclídeos dos serviços de medicina nuclear (SMN) da região Nordeste do Brasil. Fabricante ALFANUCLEAR BIODEX CAPINTEC VECCSA VICTOREEN Discussão e Conclusões 20 16 Quantidade 1 2 7 7 3 1 1 1 2 1 Exatidão Precisão Reprodutibilidade Linearidade Geometria Nº de SMN 12 8 4 0 Instalação Diário Semanal Mensal Semestral Anual Nunca Outros Frequência Figura 1. Frequência dos testes de exatidão, precisão, reprodutibilidade, linearidade e geometria nos serviços de medicina nuclear (SMN) da região Nordeste do Brasil. 16 Auto Zero Radiação de Fundo Tensão 12 Nº SMN O levantamento acerca dos testes de controle da qualidade que estão sendo realizados nos calibradores de radionuclídeos dos SMN da região Nordeste do Brasil, contou com a participação de 22 serviços, dos quais apenas um não forneceu todas as informações solicitadas no questionário. Os testes de exatidão e precisão foram realizados por mais de 80% dos serviços participantes, no período recomendado pela norma da CNEN (semestral). Os demais SMN os realizam em uma periodicidade diferente. O teste de reprodutibilidade destaca-se pela diversidade da freqüência com a qual é realizado nos SMN avaliados. Apenas 27% dos serviços avaliados o realizam na periodicidade recomendada pela CNEN (anualmente). Segundo o NPL, este teste deve ser realizado diariamente, utilizando-se fontes radioativas de meia-vida longa. No que diz respeito à Resolução RDC nº 38 da ANVISA, este deverá ser realizado semestralmente. O teste de linearidade foi realizado por 86% dos SMN, na periodicidade recomendada pela CNEN (semestralmente) e utilizando como fonte o 99mTc. Apenas um serviço realiza este teste mensalmente e os demais não forneceram dados acerca da realização do teste no seu calibrador de radionuclídeos. Com relação ao teste de geometria, 45% dos serviços nunca realizaram este teste. Apenas 2 SMN o fizeram no momento da instalação do equipamento, enquanto que os demais serviços o executam em freqüências diversificadas ou não preencheram o questionário. Considera-se como um teste de grande importância uma vez que a calibração destes equipamentos ocorre em amostras contidas em recipientes que possuem geometrias diferentes daquelas utilizadas na rotina dos SMN. Para os testes operacionais, foi observado que diariamente, 36% dos SMN verificam o auto zero, 59% a radiação de fundo (background) e 27% a tensão no calibrador de radionuclídeos. Os demais serviços optaram por realizarem estes testes em periodicidades diferentes. Mediante o levantamento realizado, pode-se concluir que a situação com relação ao programa de controle da qualidade adotado nos SMN da região Nordeste do Brasil é insatisfatória. Embora os serviços obedeçam às exigências da CNEN, ainda existem lacunas, sobretudo na periodicidade com a qual os testes estão sendo realizados nos calibradores de radionuclídeos destes serviços. Modelo ACT-15P ATOMLAB 100 CRC-127R CRC-15R CRC-7 CRC-25R Vexcal CAL/RAD MARK V (34-164) CAL/RAD - 34-061 DELUXE ISOTOPE CALIBRATOR II 8 4 0 Instalação Diário Semanal Mensal Semestral Anual Nunca Outros Frequência Figura 2. Frequência dos testes de auto zero, radiação de fundo e tensão nos serviços de medicina nuclear (SMN) da região Nordeste do Brasil. Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):43-6. 45 Fragoso MCF, Albuquerque AMS, Oliveira ML, Lima RA, Lima FF Sugere-se a continuidade do programa de controle da qualidade nos SMN e a substituição da periodicidade da realização dos testes pela recomendada na Norma CNENNN-3.05, com intuito de garantir o bom desempenho do equipamento e, consequentemente, a confiabilidade das medições de atividade de radiofármacos dos SMN da região Nordeste do Brasil. Agradecimentos Os autores agradecem à FACEPE, CAPES, FAPESP, CNPq, MCT (INCT em Metrologia das Radiações na Medicina) e CNEN pelo apoio financeiro ao projeto, e aos serviços de medicina nuclear de Pernambuco. Referências 1. Costa, AM; Caldas, LVE. Intercomparação e calibração de medidores de atividade utilizados em serviços de medicina nuclear. Radiol. Bras., 2003;36(5): 293-7. 46 Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):43-6. 2. CNEN - Comissão Nacional de Energia Nuclear. Requisitos de Radioproteção e Segurança para Serviços de Medicina Nuclear – CNEN-NE- 3.05. Rio de Janeiro; 1996. 3. Iwahara A; Oliveira AE; Tauhata L; Silva CJ; Lopes RT. Intercomparison of 131 I and 99mTc activity measurements in Brazilian Nuclear Medicine Services. Appl. Radiat. Isot. 2001; 54(3): 489-96. 4. National Physical Laboratory. Protocol for Establishing and Maintaining the Calibration of Medical Radionuclide Calibrators and their Quality Control. Measurement Good Practice Guide Nº 93, Londres; 2006. 5. Laboratoire National Henri Becquerel. Guide d’utilisation et de contrôle qualité des activimètres. Societé française de radiopharmacie, França; 2006. 6. ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Instalação e funcionamento de Serviços de Medicina Nuclear «in vivo». Resolução RDC Nº38, Brasília: ANVISA; 2008. 7. Aguado MM; García AD; Navarro AR.; García CS; Fuentes MAM; Lozano SO; Guardia MEB; Elvira JM Control de calidad de actvímetros. Rev. Esp. Nucl., 2004; 23:434-43. 8. SAHA GB. Fundamentals of nuclear pharmacy. 4th. Springer: New York; 1998. 9. Zimmerman BE; Cessna JT Experimental determinations of commercial “dose calibrator” settings for nuclides used in nuclear medicine. Appl. Radia. Isto. 2000; 52:615-9. Artigo de Revisão Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):47-52. Revisão: radioproteção aplicada à Medicina Nuclear Review: radioprotection applied in Nuclear Medicine Marcos A. D. Machado1,2,3, Vinícius O. Menezes1,2,3, Cleiton C. Queiroz1,2,3, Daniel C. da Silva1,2,3, Luiz J. L. Sampaio1, Augusto Almeida2 Monte Tabor – Hospital São Rafael, Salvador (BA), Brasil Santa Casa de Misericórdia da Bahia – Hospital Santa Izabel, Salvador (BA), Brasil 3 Dancosi Nuclear ltda., Salvador (BA), Brasil 1 2 Resumo Este trabalho tem por objetivo avaliar as causas potenciais de exposição à radiação ionizante em um Serviço de Medicina Nuclear, identificar as causas de erros comuns na rotina de medicina nuclear, como evitar tais erros e estudar boas práticas de radioproteção à luz da legislação nacional e documentos internacionais. Palavras-chave: medicina nuclear, radioproteção. Abstract The aim of this paper is to evaluate the potential causes of exposure to ionizing radiation in a nuclear medicine facility, identifying the causes of common errors in the clinical routine, how to avoid these errors and study good radioprotection practices based on the national law and international documents. Keywords: nuclear medicine, radioprotection. Introdução O uso médico de fontes radioativas envolve pacientes, indivíduos ocupacionalmente expostos (IOE) e indivíduos do público. Existe muita informação e consenso geral a cerca dos riscos de exposições a altas doses de radiação. Entretanto, pouco ainda se sabe sobre os efeitos causados por baixas doses (<0,2 Gy) recebidas por trabalhadores e as doses ainda mais baixas recebidas pelo público1. Desde a descoberta dos efeitos danosos da radiação, notou-se no mundo científico uma necessidade de regulação e controle no uso de fontes radioativas, a qual resultou nas leis e regulamentos atuais. No Brasil, a norma CNEN-NN-3.01 estabelece os requisitos básicos de proteção radiológica das pessoas em relação à exposição à radiação ionizante. O propósito primário da proteção radiológica é fornecer um padrão apropriado de proteção sem limitar os benefícios da prática. Para tanto, devem ser atendidos os princípios de radioproteção: justificação, otimização e limitação da dose individual2,3. Embora a limitação de dose individual represente um limite legal de dose individual, ainda é insuficiente para assegurar a proteção desejável e deve ser sempre suprida pelo princípio da otimização, seguindo a filosofia ALARA4. Na medicina nuclear, o gerenciamento da radioproteção envolve um conjunto de medidas que devem estar contidas num plano de radioproteção, que é um documento que deve ser submetido à CNEN contendo informações relevantes à proteção radiológica quando da solicitação para funcionamento de um Serviço de Medicina Nuclear (SMN), onde devem constar as exigências nas normas vigentes, como o objetivo da instalação, projeto das blindagens e da área física, aquisição, uso e armazenamento de fontes radioativas, gerenciamento de rejeitos radioativos, estimativas de doses, sinalizações, identificação e classificação de áreas, qualificação dos profissionais envolvidos, etc. O titular, responsável legal pela instalação, deve designar um Supervisor de Radioproteção para garantir a execução das tarefas relativas às ações de proteção radiológica3,5,6. Instalação Física Um projeto adequado de um serviço de medicina nuclear é essencial para garantir a otimização para a prática. A norma CNEN-NE-3.05 estabelece as dependências mínimas para um serviço de medicina nuclear: Correspondência: Marcos Antônio Dórea Machado – Monte Tabor Hospital São Rafael – Medicina Nuclear, Avenida São Rafael, 2152 – São Marcos – Salvador BA, Brasil. CEP: 41253-900 – E-mail: [email protected] Associação Brasileira de Física Médica® 47 Machado MAD, Menezes VO, Queiroz CC, Silva DC, Sampaio LJL, Almeida A a) b) c) d) sala de espera de pacientes; sanitário exclusivo de pacientes; local para armazenamento de rejeitos radioativos; laboratório de manipulação e armazenamento de fontes em uso; e) sala de administração de radiofármacos; f) sala(s) de exame(s); g) quarto para internação de paciente com dose terapêutica, com sanitário privativo, quando forem aplicadas doses terapêuticas de Iodo131, acima de 1,11 Gbq (30 mCi). A área específica para cada dependência deve ser projetada levando-se em conta as características particulares de cada serviço, como tipo de procedimento, número de pacientes, recursos humanos e financeiros, de modo que o princípio da otimização seja atendido de maneira satisfatória. Os pisos e paredes dos ambientes do SMN devem ser revestidos de material liso, impermeável e de fácil limpeza e desinfecção5,6. O laboratório de manipulação e armazenamento de fontes em uso deve ter pisos e paredes com cantos arredondados, bancada lisa, tanque com no mínimo 40 cm de profundidade e torneiras sem controle manual. Nos casos de fontes voláteis (I-131) ou de serviços que realizem estudos de ventilação pulmonar, é necessário um sistema de extração de ar5. Classificação das Áreas O controle da exposição ocupacional pode ser feito dividindo as áreas em três tipos: Área livre, controlada e supervisionada. Na área livre, o risco de exposição deve ser baixo o suficiente para assegurar que o nível de proteção dessa área seja comparado ao nível de proteção de indivíduos do público. A área controlada está sujeita a regras especiais de proteção e segurança, com a finalidade de controlar as exposições normais, prevenir a disseminação de contaminação radioativa e prevenir ou limitar a amplitude das exposições potenciais. Na área supervisionada as condições de exposição ocupacional são mantidas sob supervisão, mesmo que medidas de proteção e segurança específicas não sejam normalmente necessárias3,6,7. As áreas controladas devem estar sinalizadas com o símbolo internacional de radiação ionizante, acompanhando um texto descrevendo o tipo de material, equipamento ou uso relacionado à radiação ionizante. As áreas supervisionadas devem ser indicadas como tal, em seus acessos3. Equipamentos O SMN deve possuir no local, em plenas condições de funcionamento, no mínimo os seguintes equipamentos e materiais: 48 Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):47-52. a) Um sistema de aquisição de imagem, para serviços que realizem procedimentos diagnósticos; b) Calibrador de dose; c) Monitor de contaminação de superfície; d) Monitor de taxa de exposição; e) Equipamentos e materiais de proteção individual; f) Fontes radioativas de referência para testes periódicos. O Responsável Legal deve garantir o acesso a um monitor de contaminação de superfície e a um de taxa de exposição reservas em plenas condições de funcionamento5,6. Fatores de Radioproteção Existem três fatores básicos que podem ser usados para minimizar a dose de radiação: tempo, blindagem e distância. O tempo de exposição pode ser diminuído trabalhando-se o mais rápido possível próximo a fontes de radiação e na manipulação das mesmas, o que pode ser conseguido com treinamento adequado na manipulação dos radioisótopos, planejando e discutindo a tarefa a ser realizada antes de entrar na área e usando apenas o número de trabalhadores necessários para a tarefa. As blindagens devem ser usadas sempre que possível, devendo sempre manipular material radioativo atrás da blindagem em “L”, usar avental de chumbo, acondicionar os geradores de Mo/Tc dentro de blindagens específicas a fim de blindar as altas energias provenientes do decaimento do Mo-99, usar castelos para eluição dos geradores, e manter os frascos contendo material radioativo sempre blindados. Devem-se usar transportadores de seringa sempre que for feito o transporte de doses e usar o protetor de seringa para injeção do radiofármaco no paciente. A maioria dos aventais plumbíferos comerciais têm espessura de 0,25mm e 0,5mm, oferecendo proteção satisfatória para isótopos de baixas energias (Tc-99m, Tl-201), mas possui eficiência questionável para isótopos de altas energias (I-131, F-18). Ao manipular radionuclídeos emissores de radiação β, é requerido cuidado para não utilizar blindagens com material de alto número atômico, como o chumbo, pois nestes casos pode haver formação de radiação de freamento, o que não ocorre em materiais como plástico e vidro. Por isso, quando um IOE fizer uso de I-131 (emissor β e ϒ), uma primeira blindagem de chumbo ou vidro deve ser usada para blindar a radiação β, e uma segunda blindagem de chumbo é necessária para blindar a radiação ϒ. A distância tem um forte efeito na redução da dose, pois a taxa de dose é inversamente proporcional ao quadrado da distância. Para tanto, é importante o uso de pinças para o manuseio de frascos. O projeto da sala de exames deve permitir o acompanhamento do paciente a distâncias razoáveis (2m)8. Revisão: radioproteção aplicada à Medicina Nuclear Fontes Radioativas e Manipulação Em medicina nuclear, a dose é resultado da exposição de fontes radioativas presentes no serviço. Podemos destacar: Fontes seladas: São as fontes padrão usadas para aferição dos equipamentos (Co-57, Ba-133, Cs-137 e Ge-68). Fontes não seladas: Para uso em pacientes e controle de qualidade (Tc-99m, I-131, Ga-67, In-111, Lu-177, Tl201, F-18, etc). As fontes seladas apresentam apenas o risco de exposição, uma vez que o material radioativo contido no recipiente não pode ser extraído. Devem ser armazenadas em local específico com as blindagens necessárias e quando utilizadas deve-se seguir boas práticas de radioproteção. As fontes não seladas apresentam também o risco de contaminação, visto que podem ser manipuladas pelo trabalhador. Por isso, o local de manipulação de radioisótopos deve ser forrado com material impermeável e com papel absorvente para, em caso de ocorrência de derramamento de material radioativo, sua remoção seja facilitada. O uso de EPI (equipamento de proteção individual) é fundamental para minimizar os riscos de exposição (avental de chumbo, transportador de seringas, protetor de seringas, castelo para eluição dos geradores Mo/Tc, luvas, guarda-pó e pinças). Armazenamento de Rejeitos Qualquer material resultante de atividades com radionuclídeos em quantidades superiores aos limites de isenção e para o qual a reutilização é imprópria ou não prevista, é considerado rejeito radioativo. Os rejeitos devem ser segregados de acordo com suas características físicas, químicas, biológicas e radiológicas, de modo a facilitar a gerência. Após a segregação e acondicionamento em recipientes adequados, os rejeitos devem ser identificados e, após eliminados, devem ser registrados em formulário próprio, como mostra a figura 1 9,10. Controle de Qualidade As boas condições dos equipamentos usados na medicina nuclear garantem não só uma melhor acurácia dos procedimentos, como também são fundamentais para o controle de doses em pacientes, indivíduos ocupacionalmente expostos e indivíduos do público. A legislação nacional já prevê um conjunto de testes periódicos de controle de qualidade nos equipamentos de medicina nuclear5,6, mas ainda carece na inclusão de outros equipamentos de medicina nuclear, na inclusão de testes mais específicos e valores de referência. Para preencher essa lacuna, outros documentos podem ser estudados11-14 e aplicados à realidade de cada serviço. Monitoração Devem ser realizadas monitorações periódicas para assegurar que as rotinas estejam sendo executadas de forma satisfatória. Devem ser realizadas medidas de levantamento radiométrico nas áreas restritas quinzenalmente e medida de contaminação de superfície ao término da jornada de trabalho ou sempre que houver suspeita de contaminação. Qualquer IOE que possa receber uma exposição ocupacional sujeita a controle deve ser submetido à monitoração individual, por meio de dosímetro3,5. Os dosímetros são individuais e não Figura 1. Exemplo de formulário para rejeito radioativo. Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):47-52. 49 Machado MAD, Menezes VO, Queiroz CC, Silva DC, Sampaio LJL, Almeida A podem ser usados por outro trabalhador em qualquer hipótese. Cada trabalhador deve usar o dosímetro apenas dentro do serviço e ao término da jornada de trabalho deve guardar no local apropriado. Sempre que for constatado nível de radiação acima do normal para determinada área (ou dose em trabalhador, quando for o caso), deve ser feita uma investigação para saber o que originou este evento e adotar medidas para evitar que níveis acima do aceito sejam encontrados. O auxílio da tecnologia da informação também tem-se mostrado uma boa ferramenta para o controle de doses e rastreabilidade15. Cuidados Gerais O uso de luvas é obrigatório sempre quando for manipular material radioativo, devendo ser desprezada logo após esta tarefa. Ao transportar o material manipulado, devem-se vestir Figura 2. Decoy contaminado com Tc-99m. luvas novas, evitando que uma possível contaminação seja espalhada por outras áreas do setor. A figura 2 mostra um resultado de controle de qualidade de uniformidade diária, onde o “decoy” (suporte para cobrir o cristal do detector, presente em alguns equipamentos) foi contaminado. Neste exemplo, a mesma luva usada para retirada da fonte de Tc-99m usada no controle de qualidade foi usada para transportar a fonte até a sala de exame e usada também, desnecessariamente, para a colocação do “decoy” no detector, contaminando não apenas o “decoy”, mas também o transportador de seringas. As fontes radioativas devem ser armazenadas nos locais designados para seu armazenamento. Sempre que feito uso de uma fonte, esta deve ser descartada ou guardada em local apropriado. Na figura 3, o controle de qualidade diário acusa a presença de um marcador de Tc-99m usado para localização da tireóide em imagens da região cervical. A presença de fontes na sala de exames pode ser identificada no controle de qualidade de radiação de fundo6. Entretanto, a depender da atividade ou da posição da fonte, este teste mostra-se pouco sensível, sendo mais fácil de visualizar após a aquisição de uma imagem estática. Após identificada a presença de uma fonte, pode-se localizá-la com o auxílio de um monitor de contaminação de superfície. Deve-se sempre conferir o radiofármaco, a atividade prescrita e o nome do paciente. Ao medir a atividade no calibrador de dose, conferir a janela de energia que está sendo usada, a fim de evitar erros na atividade do radionuclídeo administrada ao paciente. É recomendado orientar o paciente sempre antes da injeção do radiofármaco, visto que depois de injetado, o Figura 3. Artefato no controle de qualidade diário. Marcador de tireóide sem blindagem na sala de exames, encontrado em cima da bancada de medicamentos. 50 Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):47-52. Revisão: radioproteção aplicada à Medicina Nuclear paciente fica radioativo e o trabalhador deve evitar contato desnecessário. Na ocorrência de contaminação com material radioativo é necessário: Isolar o local, informar o supervisor de radioproteção e os demais membros e executar o procedimento de descontaminação conforme escrito no Plano de Radioproteção. Todo trabalhador envolvido com o uso de material radioativo deve participar de treinamentos periódicos, realizado pelo supervisor de radioproteção, para assegurar que os procedimentos sejam executados conforme as melhores práticas. Conclusão A dose ocupacional consiste de uma grande variedade de possibilidades. A intenção deste artigo é destacar os possíveis erros e fornecer informações de maneira concisa sobre como evitar tais erros na rotina clínica. O uso apropriado dos fatores de radioproteção e as precauções destacadas são ferramentas poderosas na redução da dose de IOE. Cabe salientar que quando tratamos de radioproteção sempre devemos levar em consideração não apenas os IOE, mas também os pacientes e o meio ambiente. Agradecimentos Ao Monte Tabor – Hospital São Rafael e à Santa Casa de Misericórdia da Bahia – Hospital Santa Izabel. Referências 1. National Council on Radiation Protection and Measurements. NCRP Publication 124: Sources and magnitude of occupational and public exposures from nuclear medicine procedures; 1996. 2. International Commission on Radiological Protection. ICRP Publication 60: 1990 Recommendations of the IRCP. New York, NY: Pergammon;1991. 3. Comissão Nacional de Energia Nuclear. Diretrizes Básicas de Radioproteção. CNEN-NN-3.01; 2005. 4. IAEA Fundamental Safety Standards. Fundamental Safety Principles. 2006 5. Comissão Nacional de Energia Nuclear. Requisitos de Radioproteção e Segurança para Serviços de Medicina Nuclear. CNEN-NE-3.05; 1996. 6. ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC nº 38, 2008. 7. National Council on Radiation Protection and Measurements. NCRP Publication 121: Principles and application of collective dose in radiation protection; 1995 8. Cherry SR, Sorenson JA, Phelps ME. Physics in Nuclear Medicine. Saunders; 2003: 433-436. 9. Comissão Nacional de Energia Nuclear. Licenciamento de instalações Radiativas. CNEN-NE-6.02; 1998 10. Comissão Nacional de Energia Nuclear. Gerência de Rejeitos Radioativos em Instalações Radiativas. CNEN-NE-6.05; 1985. 11. NEMA Standards Publication NU1-2001. Performance Measurements of Scintillation Cameras. Washington, DC: National Electrical Manufactures Association; 2001. 12. Quality control of nuclear medicine instruments. IAEA-TECDOC-6.02; 1991. 13. Murphy PH. Acceptance testing and quality control of gamma cameras, including SPECT. J Nucl Med 1987; 28:1221-1227. 14. Scintillation camera acceptance testing and performance evaluation. AAPM Report No. 6, Chicago: American Institute of Physics; 1980. 15. Menezes VO, Machado MAD, Queiroz CC, Sampaio LJL, Silva DC. Information Technology Applied in Nuclear Medicine. XXII CONGRESO DE ALASBIMN; 2009. Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):47-52. 51 Artigo Original Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):53-6. Método cintilográfico não invasivo para estudo de biodistribuição de radiofármacos Non invasive scintigraph method for biodistribution study of radiopharmaceuticals Érika V. Almeida1, Natanael G. Silva1, Antônio C. Freire1, Elisiane de G. Monteiro1, Stella Benedetti1, Emiko Muramoto1, Neuza T. O. Fukumori1, Margareth M. N. Matsuda1, Marina B. A. Vasconcellos2 Diretoria de Radiofarmácia (DIRF) - IPEN-CNEN/SP, São Paulo (SP), Brasil Centro do Reator de Pesquisa (CRPq) - IPEN-CNEN/SP, São Paulo (SP), Brasil 1 2 Resumo Os estudos de biodistribuição podem ser efetuados por métodos invasivos ou não invasivos. O objetivo deste trabalho foi avaliar a porcentagem de dose retida (DR) nos órgãos de interesse por método não invasivo e invasivo em estudo de biodistribuição de DMSA-99mTc (ácido dimercaptosuccínico), MAA-99mTc (macro agregado de soro albumina humano) e MDP-99mTc (metilenodifosfato de sódio) e comparar com o método invasivo descrito na farmacopéia americana (USP). Reagentes liofilizados (DMSA, MAA e MDP) e pertecnetato de sódio foram obtidos do IPEN-CNEN/SP. A concentração radioativa foi 123 MBq mL-1 (DMSA-99mTc e MAA-99mTc) e 617 MBq mL-1 (MDP-99mTc). DMSA-99mTc e MDP-99mTc foram injetados via veia caudal e MAA-99mTc pela veia peniana de ratos Wistar. As imagens cintilográficas foram obtidas em gama câmara Nucline TH/22 Mediso. Os animais foram sacrificados após a aquisição das imagens. Os órgãos foram retirados e a atividade de cada um dos órgãos de interesse foi medida em câmara de ionização. A captação renal de DMSA-99mTc pelo método não invasivo variou de (47,02 ± 2,87)% a (49,37 ± 3,41)%. Pelo método invasivo foi observada DR de (49,27 ± 1,88)%. A %DR de MAA-99mTc nos pulmões pelo método não invasivo variou de (94,22 ± 0,17)% a (94,67 ± 0,25)%. A cintilografia óssea com MDP-99mTc mostrou captação expressiva no esqueleto. O método cintilográfico não invasivo proposto para estudo de biodistribuição de radiofármacos mostrou-se viável, apresentando resultados comparáveis aos obtidos pelo método invasivo descrito na USP. Palavras-chave: método não invasivo, método invasivo, biodistribuição, radiofármacos. Abstract Biodistribution studies can be done by invasive or noninvasive methods. The aim of this study was to evaluate the percentage of retained dose (RD) in the organs of interest in noninvasive and invasive study of biodistribution of 99mTc-DMSA (dimercaptosuccinic acid), 99mTc-MAA (macro aggregated human serum albumin) and 99mTc-MDP (methylene diphosphonate) and to compare with the invasive method described in the United States Pharmacopoeia (USP). Lyophilized reagents (DMSA, MAA and MDP) and sodium pertechnetate was obtained from IPEN-CNEN/SP. The radioactive concentration was 123 MBq mL-1 (99mTc-DMSA and 99mTc-MAA) and 617 MBq mL-1 (99mTc-MDP). 99mTc-DMSA and 99mTc-MDP were injected via the tail vein and 99mTc-MAA in the penile vein of rats. The scintigraphic images were obtained in a Nucline TH/22 Mediso gamma camera. The animals were sacrificed after the acquisition of images. The organs were removed and the activity of each organ of interest was measured in an ionization chamber. The renal uptake of 99mTc-DMSA by noninvasive method was (47,02 ± 2,87)% up to (49,37 ± 3,41)%. By the invasive method it was observed RD (49.27 ± 1.88)%. The %RD of 99mTc-MAA in the lungs by non-invasive method varied from (94,22 ± 0,17)% to (94,67 ± 0,25)%. Bone scintigraphy with 99mTc-MDP showed significant uptake in the skeleton. The method proposed for noninvasive scintigraphic study biodistribution of radiopharmaceuticals was feasible, with results comparable to those obtained by invasive method described in USP. Keywords: non invasive method, invasive method, biodistribution, radiopharmaceuticals. Introdução Os estudos de biodistribuição são realizados para avaliação do radiofarmáco in vivo previamente à administração em pacientes. A biodistribuição pode ser efetuada por método invasivo, envolvendo o sacrifício de animais e medida da radioatividade nos órgãos e tecidos de interesse ou por métodos não invasivos (realização de imagens)1,2. As Farmacopeias Americana (USP) e Europeia recomendam que os ensaios de controle de qualidade biológicos para radiofármacos sejam realizados por métodos invasivos3,4. Entretanto, esses métodos consomem muito tempo e aumentam a exposição do trabalhador à radiação ionizante1. O método não invasivo pode ser realizado por meio de imagens denominadas cintilografias obtidas em câmaras de cintilação. A presença do radiofármaco observada Correspondência: Érika Vieira de Almeida – Diretoria de Radiofarmácia (DIRF) do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN-CNEN) da Universidade de São Paulo – Avenida Lineu Prestes, 2.242 – Cidade Universitária – CEP 05508-000 – São Paulo (SP), Brasil – E-mail: [email protected] Associação Brasileira de Física Médica® 53 Almeida ÉV, Silva NG, Freire AC, Monteiro EG, Benedetti S, Muramoto E, Fukumori NTO, Matsuda MMN, Vasconcellos MBA através da cintilografia em um determinado órgão reflete sua morfologia e função. Através da imagem cintilográfica é possível delimitar a região de interesse (ROI), que fornece a porcentagem de dose retida (%DR) no órgão específico selecionado1,2. DMSA-99mTc (ácido dimercaptosuccínico) é utilizado para o estudo morfológico do córtex renal e avaliação da função renal individual2,5. MAA-99mTc (macro agregado de soro albumina humano) é um radiofármaco utilizado em cintilografia pulmonar para diagnóstico de diversas doenças, a saber: embolias, enfisema, carcinoma brônquico e avaliação do grau de vascularização do parênquima (trombose)2,5. MDP-99mTc (metilenodifosfato de sódio) é utilizado no diagnóstico e avaliação de diversas patologias osteoarticulares, tais como tumores ósseos primários e secundários, metástases ósseas e outras enfermidades de origem metabólica, traumatismos e fraturas por stress5. O objetivo deste trabalho foi avaliar a porcentagem de dose retida nos órgãos de interesse por método não invasivo e invasivo em estudo de biodistribuição dos radiofármacos DMSA-99mTc, MAA-99mTc e MDP-99mTc e comparar com os resultados obtidos por método invasivo descrito na farmacopéia americana. Material e Métodos Materiais Reagentes liofilizados (DMSA, MAA e MDP) e pertecnetato de sódio (Na99mTcO4) foram obtidos do IPENCNEN/SP (Brasil). A uretana foi obtida da Sigma Aldrich (Estados Unidos). A B Marcação dos Reagentes Liofilizados e Administração dos Radiofarmácos Todos os reagentes liofilizados foram marcados com 3 mL de Na99mTcO4 e a concentração radioativa foi 123 MBq mL-1 para DMSA e MAA e 617 MBq mL-1 para MDP. O tempo de reação para DMSA e MAA foi 30 minutos e para MDP foi de 15 minutos. DMSA e MDP foram injetados via veia caudal e MAA pela veia peniana. Método não invasivo Ratos Wistar (200- 250 g), obtidos do biotério do IPENCNEN/SP, foram anestesiados e as imagens foram adquiridas 60 minutos (DMSA e MDP) e 10 minutos (MAA) após a administração da dose. Aquisição de imagem As imagens cintilográficas foram obtidas em gama câmara (Gamma Câmara Nucline TH/22 Mediso) com colimador paralelo de baixa energia (LEHR- Low Energy Hight Resolution). A orientação e o tempo de aquisição das imagens foram 90o e 180 segundos, respectivamente. O tamanho da matriz foi (256 x 256 x 16) mm. A largura da janela do analisador de altura de pulsos foi 20%. Os ROI’s e as atividades nos órgãos (%DR) foram obtidos utilizando-se software Mediso Interview XP v1.05.014. Método invasivo Os animais foram sacrificados após a aquisição das imagens. Os órgãos foram retirados e a atividade de cada um dos órgãos de interesse foi medida em câmara de ionização Capintec modelo CRC-15R. Os resultados foram expressos como % de dose injetada (%DI) nos diferentes órgãos, calculados conforme a Equação 1. %DIórgão = A(órgão) DI total - A (perdas) x 100 (1) Onde DItotal é a atividade no momento da medição do órgão e A é atividade. %DI foi convertida em %DR utilizando-se a Equação 2. %DR = C %DI (órgão) ¨%DI (órgão) x 100 (2) Os ensaios foram realizados em triplicata (3 animais para cada radiofármaco) e os resultados foram expressos como (média ± desvio padrão). Resultados Figura 1. Imagens cintilográficas de rato Wistar com (A) DMSA-99mTc, (B) MAA-99mTc e (C) MDP-99mTc. 54 Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):53-6. A Figura 1 mostra as imagens cintilográficas em rato Wistar após administração de DMSA-99mTc, MAA-99mTc e MDP-99mTc. Método cintilográfico não invasivo para estudo de biodistribuição de radiofármacos As Tabelas 1 e 2 apresentam os resultados de %DR para os radiofármacos DMSA-99mTc, MAA-99mTc e MDP99m Tc obtidas pelo método não invasivo e invasivo, respectivamente. Tabela 1. Dose retida para DMSA-99mTc, MAA-99mTc e MDP-99mTc pelo método não invasivo. %DR Produto Órgão Ampliação da Imagem Discussão e Conclusões A captação renal de DMSA-99mTc pelo método não invasivo (Figura 1A) variou de (47,02 ± 2,87%) a (49,37 ± 3,41%). A ampliação da imagem cintilográfica para melhor visualização dos órgãos dos ROI’s diminuiu a DR em 2,5% (Tabela 1). Pelo método invasivo (Tabela 2) foi observada dose retida de (49,27 ± 1,88%). Os resultados encontrados para ambos os métodos estão acima do valor mínimo de aceitação descrito na USP (%DR nos rins ≥ 40%)3. A ampliação da imagem cintilográfica em até 4x para obtenção da %DR nos pulmões para MAA-99mTc não apresentou mudança significativa na %DR (0,20%) (Tabela 1). O método invasivo apresentou captação pulmonar de MAA-99mTc (Tabela 2) de até 3,5% maior comparada com o método não invasivo. O limite de aceitação descrito na USP de captação pulmonar é ≥ 80%. A cintilografia óssea com MDP-99mTc (Figura 1C) mostrou captação expressiva no esqueleto e baixa captação no fígado, intestino e rins. A soma das %DR desses órgãos foi inferior a 9% em todas as imagens analisadas (0, 2x e 4x ampliação) (Tabela 1). O fêmur é a ossatura representante do esqueleto e segundo a USP deve apresentar %DR mínima de 1%3. A Tabela 1 mostra que o valor mínimo encontrado pelo método não invasivo foi (1,31 ± 0,08%), atendendo ao limite estabelecido. Os rins são a via principal de eliminação do MDP-99mTc e o limite superior de aceitação é de 5% DR3. Os valores encontrados variaram de 1,26%, para o método invasivo, a 2,60%, para o método não invasivo sem ampliação da imagem para determinação dos ROI’s. O fígado é um órgão cujo limite de aceitação em MDP-99mTc estabelecido pela USP é de no máximo 5%DR. Ambos os métodos mostraram resultados abaixo desse limite. A %DR no fígado obtida pelo método não invasivo foi até 6 vezes superior ao valor de DR obtida pelo método invasivo. Isso pode ser explicado pelo fato do fígado estar protegido na base da caixa torácica e sob o diafragma, que serve de divisor entre essas duas estruturas (torácica e abdominal). Na obtenção das imagens cintilográficas, a projeção refletida da região hepática tende a mostrar-se mais ativa, em virtude da sobreposição desses componentes1,2. Os valores encontrados no método invasivo (Tabela 2) estão abaixo dos limites estabelecidos pela USP3. 0 DMSA-99mTc Rins MAA-99mTc 2x 4x 49,37± 3,41 48,31 ± 2,88 47,02 ± 2,87 Pulmões 94,67± 0,25 94,49 ± 0,27 94,22 ± 0,17 Fêmur 1,32± 1,70 1,53 ± 1,93 1,31 ± 0,08 Fígado 4,66± 0,35 4,25 ± 1,35 4,75 ± 0,06 Intestino 1,35 ± 0,35 1,46 ± 031 1,55 ± 0,12 Rins 2,53 ± 0,55 2,37 ± 0,13 MDP-99mTc 2,60 ± 0,86 Tabela 2. Dose retida para DMSA-99mTc, MAA-99mTc e MDP-99mTc pelo método invasivo. Produto Órgão %DR DMSA-99mTc Rins 49,27 ± 1,88 MAA-99mTc Pulmões 97,69 ± 2,00 Fêmur 2,37 ± 0,19 Fígado 0,82 ± 0,07 Intestino 2,02 ± 0,18 Rins 1,26 ± 0,06 MDP-99mTc O método cintilográfico não invasivo proposto para estudo de biodistribuição de radiofármacos marcados com tecnécio mostrou-se viável, apresentando resultados comparáveis aos obtidos pelo método invasivo descrito na USP. Agradecimentos Ao Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico (CNPq) pelo apoio financeiro concedido à Érika V. Almeida, ao IPEN e à DIRF pela infra-estrutura. Referências 1. Early PJ, Sodee BD. Principles and pratice of nuclear medicine. 2nd ed. London: Mosby Year Book, Inc.; 1995. Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):53-6. 55 Almeida ÉV, Silva NG, Freire AC, Monteiro EG, Benedetti S, Muramoto E, Fukumori NTO, Matsuda MMN, Vasconcellos MBA 2. Owunwanne A, Patel M, Sadek S. The Handbook of Radiopharmaceuticals. London (UK): Chapman and Hall Medical; 1995. 3. United States Pharmacopoeia (USP). 32nd ed. Rockville: United States Pharmacopeial Convention; 2009. 56 Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):53-6. 4. European Directorate for the Quality of Medicines & HealthCare - Council of Europe. European Pharmacopoeia. 5th ed. Strasbourg: Council of Europe; 2008. 5. Saha GB. Fundamentals of Nuclear Pharmacy. 4th ed. New York: Springer; 1998. Artigo Original Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):57-62. Influência da postura do paciente na dose absorvida em órgãos e tecidos causada por exames radiológicos The influence of the patient’s posture on organ and tissue absorbed doses caused by radiodiagnostic examinations Vagner F. Cassola, Richard Kramer, Helen J. Khoury, Carlos A. B. O. Lira Departamento de Energia Nuclear/Universidade Federal de Pernambuco, Recife (PE), Brasil Resumo Devido à força gravitacional, as posições dos órgãos e a distribuição de gordura subcutânea se alteram quando uma pessoa que está em pé se deita sobre suas costas, chamada posição supina. Ambas as posturas, em pé e supina, são usadas freqüentemente no radiodiagnóstico, entretanto, os fantomas usados nas simulações dos pacientes para estimativas das doses absorvidas em órgãos e tecidos normalmente representam humanos na posição em pé ou supina. Consequentemente, a geometria de exposição simulada às vezes não coincide com o exame de raios X em relação à postura do paciente. Utilizando versões em pé e supina de fantomas adultos masculinos e femininos, este estudo investiga o “efeito postura” nas doses absorvidas em órgãos e tecidos para radiografias da pélvis e coluna lombar para avaliar se os erros na simulação usando fantomas numa posição incorreta são significativos. Palavras-chave: proteção radiológica, medicina nuclear, radiodiagnóstico, radiologia, instrumentação. Abstract Due to the gravitational force, organ positions and subcutaneous fat distribution change when a standing person lies down on her/his back, which is called “supine posture”. Both postures, standing and supine, are very common in X-ray diagnosis, however, phantoms used for the simulation of patients for organ and tissue absorbed dose assessments normally represent humans either in standing or in supine posture. Consequently, the exposure scenario simulated sometimes does not match the real X-ray examination with respect to the patient’s posture. Using standing and supine versions of mesh-based female and male adult phantoms, this study investigates the “posture-effect” on organ and tissue absorbed doses for radiographs of the pelvis and the lumbar spine in order to find out if the errors from simulating the false posture are significant. Keywords: radiation protection, nuclear medicine, X-ray diagnosis, radiology, instrumentation. Introdução As posições em pé e supina (deitado sobre as costas) são as posturas comuns para pacientes submetidos a exames no radiodiagnóstico. Quando é necessário avaliar as doses absorvidas em órgãos e tecidos, geralmente são utilizados fantomas computacionais humanos conectados a códigos Monte Carlo. Estes fantomas representam indivíduos na posição em pé ou supina, e conseqüentemente, dependendo do protocolo do exame considerado, a simulação da exposição pode ser realizada com o paciente numa posição incorreta. Para avaliar se a postura pode influenciar significativamente nas doses absorvidas em órgãos e tecidos, fantomas com posturas diferentes devem ser desenvolvidos e depois simulações de radiografias devem ser feitas com os mesmos parâmetros de exposição. Este trabalho teve por objetivo desenvolver pares de fantomas representando um homem adulto e uma mulher adulta nas posições em pé e supin. Os fantomas serão utilizados em simulações dos exames radiográficos de pélvis e coluna lombar e os resultados serão comparados para havaliar a influêrncia da postura na distribuição das doses absorvidas. Material e Métodos FASH2_sup (Female Adult meSH) e MASH2_sup (Male Adult meSH) são versões supina dos fantomas em pé Correspondência: Vagner Ferreira Cassola, Departamento de Energia Nuclear/UFPE, Avenida Prof. Luiz Freire, 1000, Bairro Cidade Universitária, CEP 50740-540, Recife, PE – Brasil – E-mail: [email protected] Associação Brasileira de Física Médica® 57 Cassola VF, Kramer R, Khoury HJ, Lira CABO FASH2_sta e MASH2_sta (a denominação “sta” vem do inglês standing). Os quatro fantomas foram desenvolvidos recentemente no Departamento de Energia Nuclear da Universidade Federal de Pernambuco1. FASH2_sta e MASH2_sta são versões atualizadas dos fantomas mesh FASH e MASH 2. As atualizações foram realizadas para fazer a separação do tecido glandular e adiposo nas mamas e a separação da gordura visceral e subcutânea na região do abdômen. Além disto, com base na ICRP89 3, os pulmões dos fantomas foram revisados, de forma que a massa do pulmão direito agora é 15% maior do que a massa do pulmão esquerdo. A cartilagem também foi segmentada em regiões fora do esqueleto, como orelhas, nariz e tireoide. Diferente do trabalho de Sato et al. 4, que publicou fantomas com posturas específicas com base em imagens geradas por Tomografia computadorizada de um voluntário japonês adulto, Cassola et al.1 usou programas de modelagem 3D e dados antropométricos para a construção dos fantomas. FASH2_sta e MASH2_sta são fantomas em pé construídos considerando informações anatômicas de humanos em pé. No entanto, quando uma pessoa em pé muda para a posição supina, a força gravitacional causa os seguintes efeitos anatômicos: • Deslocamento cranial e/ou dorsal dos órgãos; • Compressão dos pulmões nas direções cranial e dorsal devido ao coração e ao deslocamento dos órgãos abdominais; • Redução do diâmetro sagital, especialmente do abdômen, e aumento do diâmetro lateral, especialmente na parte dorsal inferior do abdômen; • Mudança na posição dos ombros e braços na direção dorsal. Tabela 1. Deslocamento do centro de massa dos órgãos quando uma pessoa muda da posição em pé para supina. Não foram encontrados atlas anatômicos com informações sobre alterações dos órgãos nas posições em pé e supina, e gerar imagens por TC de um voluntário nunca foi considerada uma opção. Desta forma, os dados antropométricos necessários para modelar os fantomas na posição supina, com base nos fantomas em pé, foram obtidos em diversas publicações científicas. Como exemplo, a Tabela 1 apresenta os valores de deslocamento cranial e dorsal usados para desenvolver os fantomas da posição supina. A derivação destes e de outros parâmetros aplicados no processo de modelagem podem ser encontrados em Cassola et al.1. As figuras 1 e 2 são representações frontais e laterais dos fantomas FASH2_sta e MASH2_sta juntamente com os fantomas FASH2_sup e MASH2_sup. É possível visualizar as diferenças externas nos fantomas, como a posição dos braços e ombros, a diminuição do diâmetro sagital e a redução dos seios. As diferenças internas serão mostradas junto com a discussão dos resultados. Deslocamento do centro de massa Sta >>>> Sup Glândula Adrenal Rins Fígado Estômago Pâncreas Bexiga Intest. Grosso Intest. Delgado Coração Pulmões Timo Baço Útero Ovários MASH2 cranial (cm) 2,0 3,3 1,7 2,6 1,9 0,9 0,5 2,5 2,0 1,4 2,0 1,8 MASH2 dorsal (cm) 0,8 1,2 0,7 0,5 0,3 0,2 0,3 0,4 0,1 0,5 0,1 0,5 FASH2 cranial (cm) 1,8 3,6 1,6 2,7 1,9 0,9 0,5 2,0 1,9 1,1 2,0 1,4 0,9 1,1 FASH2 dorsal (cm) 0,0 0,5 0,1 0,4 0,5 0,2 1,4 0,9 0,0 0,3 0,3 0,1 1,2 1,1 Figura 1. Fantomas femininos: FASH2_sta e FASH2_sup, respectivamente. 58 Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):57-62. Figura 2. Fantomas masculinos: MASH2_sta e MASH2_sup, respectivamente. Influência da postura do paciente na dose absorvida em órgãos e tecidos causada por exames radiológicos Resultados As Figuras 3 e 4 representam a geometria de exposição para uma radiografia da pélvis simulada com os fantomas FASH2_sta e FASH2_sup. A Tabela 2 apresenta valores de doses absorvidas normalizados por kerma no ar incidente (INAK) em órgãos e tecidos selecionados, os erros estatísticos associados e a razão entre as doses absorvidas nas posições supina e em pé. Se a razão for maior que um a dose absorvida no órgão ou no tecido é maior na posição supina do que na posição em pé. Uma razão menor que um representa o inverso. Os resultados refletem a superposição de dois efeitos: em primeiro lugar, a diminuição do diâmetro sagital do abdômen na posição supina reduz a camada de tecido adiposo em frente aos órgãos desta região, o que leva a maiores doses absorvidas; em segundo lugar, devido aos deslocamentos craniais mencionados na Tabela 1, na posição supina alguns órgãos se deslocaram para o interior do feixe enquanto outros se deslocam para fora. Rins, fígado, pâncreas, baço e estômago são órgãos que recebem doses menores quando se considera a posição supina, pois foram deslocados parcialmente para fora do feixe. As doses absorvidas maiores na posição supina devidas à diminuição da blindagem pela gordura podem ser observadas para a bexiga, intestino grosso, ovários, intestino delgado, útero, para a medula vermelha (RBM, red bone marrow) e para as células da superfície dos ossos (BSC, bone surface cells). Segundo a Tabela 2, as diferenças entre as doses absorvidas nos órgãos e tecidos para a posição em pé e supina podem chegar até 40% para este tipo de exame. A representação do exame de coluna lombar simulado com os fantomas MASH2_sta e MASH2_sup pode ser vista nas Figuras 5 e 6, respectivamente, e os resultados estão apresentados na Tabela 3. As maiores doses absorvidas no exame de coluna lombar ocorrem na bexiga, intestino grosso, pâncreas, intestino delgado, estômago, RBM e BSC. O aumento da dose absorvida está associado à redução do diâmetro sagital nos fantomas MASH2 na posição supina. O deslocamento da bexiga na direção do centro do feixe de raios X na posição supina causa um aumento ainda maior na dose absorvida. Os deslocamentos dos órgãos para fora do feixe e em direção dorsal, como mencionado na Tabela 1, são responsáveis pela diminuição da dose absorvida no caso das glândulas adrenais, rins, fígado e baço. Para o exame da coluna lombar, diferenças nas doses absorvidas de até 50% puderam ser observadas entre as diferentes posturas. Figura 3. Radiografia de Pélvis AP simulada com o fantoma FASH2_sta. O retângulo azul representa as dimensões do campo no receptor plano da imagem, e o retângulo preto corresponde ás dimensões do campo no plano de entrada. Figura 4. Radiografia de Pélvis AP simulada com o fantoma FASH2_sup. O retângulo azul representa as dimensões do campo no receptor plano da imagem, e o retângulo preto corresponde às dimensões do campo no plano de entrada. Tabela 2. Doses absorvidas em órgãos e tecidos normalizadas por INAK para radiografia da pélvis, calculadas com as versões em pé e supina do fantoma FASH2, e a razãp entre elas. DFD = Distância Foco Detector. FASH2 Pélvis AP, 40cm x 35cm 80 kV; 2,5mm Al; DFD = 115 cm Orgão/Tecido Parede da Bexiga Parede do Intestino Grosso Rins Fígado Ovários Pâncreas Parede deo Intestino Delgado Baço Parede do Estômago Ùtero RBM (max.) BSC (max.) Em pé D / INAK Gy/Gy 0,258 0,463 0,110 0,180 0,286 0,356 0,432 0,063 0,358 0,212 0,136 0,198 Em pé Erro % 0,9 0,2 0,5 0,2 1,6 0,4 0,2 1,0 0,4 0,7 0,7 0,8 Supina D / INAK Gy/Gy 0,364 0,506 0,067 0,117 0,311 0,302 0,491 0,037 0,211 0,232 0,151 0,218 Supina Erro % 0,8 0,2 0,7 0,2 1,5 0,5 0,2 1,3 0,5 0,7 0,7 0,8 Sup/Em pé Campo 40 x 35 1,411 1,093 0,609 0,650 1,087 0,848 1,137 0,587 0,589 1,094 1,110 1,101 Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):57-62. 59 Cassola VF, Kramer R, Khoury HJ, Lira CABO Figura 5. Radiografia de coluna lombar AP simulada com o fantoma MASH2_sta. O retângulo azul representa as dimensões do campo no receptor plano da imagem, e o retângulo preto corresponde ás dimensões do campo no plano de entrada. Figura 6. Radiografia de coluna lombar AP simulada com o fantoma MASH2_sup. O retângulo azul representa as dimensões do campo no receptor plano da imagem, e o retângulo preto corresponde ás dimensões do campo no plano de entrada. Tabela 3. Doses absorvidas em órgãos e tecidos normalizadas por INAK para radiografia da coluna Lombar, calculadas com as versões em pé e supina do fantoma MASH2, e a razão entre elas. DFD = Distância Foco Detector. MASH2 Coluna Lombar AP, 20cm x 40cm 80 kV; 2,5 mm Al; DFD = 115 cm Orgão/Tecido Glândula Adrenal Parede da Bexiga Parede Instestino Grosso Rins Fígado Pâncreas Parede dos Intestino Delgado Baço Parede do Esômago RBM (max.) BSC (max.) Em pé D / INAK Gy/Gy 0,089 0,085 0,220 0,090 0,327 0,326 0,310 0,056 0,436 0,045 0,061 Discussão e Conclusões Utilizar fantomas na posição em pé ou supina, dependendo do protocolo do exame radiológico, é mais um passo para tornar as simulações das exposições cada vez mais específicas para o paciente. A aplicação das versões em pé e supina dos fantomas FASH2/MASH2 para exames radiográficos de pélvis e coluna lombar revelou diferenças de até 50% entre as doses absorvidas em órgãos e tecidos para as duas posições. Este é um efeito combinado devido à redução do diâmetro sagital e do deslocamento dos órgãos em relação aos limites dos feixes de raios X. Exposições na posição supina são freqüentes para pacientes em exames radiográficos, bem como em outras modalidades da radiologia, medicina nuclear e radioterapia. Portanto, é necessário ter dois tipos de fantomas, em pé e supina, disponíveis para simulações realísticas de procedimentos em medicina. Na rotina da proteção radiológica para exposições ocupacionais a maior parte do trabalho é realizada considerando apenas a dose efetiva, mas na proteção radiológica na medicina o conhecimento 60 Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):57-62. Em pé Erro % 1,9 1,0 0,2 0,4 0,1 0,3 0,2 0,8 0,3 0,6 1,3 Supina D / INAK Gy/Gy 0,079 0,129 0,266 0,081 0,300 0,388 0,389 0,054 0,444 0,058 0,080 Supina Erro % 2,1 0,8 0,2 0,5 0,1 0,3 0,1 0,8 0,3 0,5 1,2 Sup/Em pé Campo 20 x 40 0,888 1,518 1,209 0,900 0,917 1,190 1,255 0,964 1,018 1,289 1,311 das doses absorvidas em órgãos e tecidos é necessário devido aos níveis de dose encontrados e aos riscos radiológicos resultantes. Neste caso, diferenças de até 50% na dose absorvida para alguns órgãos representam uma margem que não pode ser ignorada. Em virtude da tendência mundial para o aumento da massa corporal entre as populações humanas, a modelagem com fantomas mais gordos se tornou uma necessidade e será o foco dos projetos futuros. FASH2 e MASH2 possuem massas com base na ICRP89 3, enquanto dados estatísticos mundiais mostram que para o 50th percentil a massa corporal para homens e mulheres adultas são aproximadamente 5-6 kg maiores que as massas de referência da ICRP89. Pode-se esperar que para a postura específica, diferenças entre as doses em órgãos e tecidos e consequentemente os riscos radiológicos associados podem aumentar quando o paciente modelado tiver uma massa corporal maior. As diferenças entre os diâmetros sagitais das posições em pé e supina, um parâmetro crucial para as doses absorvidas em órgãos e tecidos, irão certamente aumentar com a massa corporal, por exemplo. Influência da postura do paciente na dose absorvida em órgãos e tecidos causada por exames radiológicos Os fantomas FASH2 e MASH2 modelados em diferentes posturas serão utilizados na próxima atualização do programa CALDose_X 5, que está disponível, juntamente com os fantomas, na página www.grupodoin.com clicando no link “Caldose”. Agradecimentos Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq e à Fundação de Amparo à Ciência do Estado de Pernambuco - FACEPE pelo auxílio financeiro. Referências 1. Cassola V F, Kramer R, Brayner C and Khoury H J Posture-specific phantoms representing female and male adults in Monte Carlo-based simulations for radiological protection Phys Med Biol 2010; 55:4399-4430. 2. Cassola V F, de Melo Lima V J, Kramer R and Khoury H J FASH and MASH: Female and Male Adult human phantoms based on polygon meSH surfaces. Part I: Development of the anatomy Phys Med Biol 2010;55:133-162. 3. International Commission on Radiation Protection. Basic Anatomical and Physiological Data for Use in Radiological Protection: Reference Values ICRP Publication 89 (Oxford: Pergamon). 2003. 4. Sato K, Noguchi H, Endo A, Emoto Y, Kogs S and Saito K Development of a voxel phantom of Japanese adult male in upright position, Rad Prot Dos 2007; 127(1-4):205-208. 5. Kramer R, Khoury H J and Vieira J W 2008 CALDose_X a software tool for the assessment of organ and tissue doses, effective dose and cancer risk in diagnostic radiology Phys. Med. Biol. 2008; 53:6437-59. Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):57-62. 61 Artigo Original Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):63-6. Determinação das propriedades de transmissão de argamassas baritadas Determination of transmission properties of barite concretes Paulo R. Costa, Elisabeth M. Yoshimura Departamento de Física Nuclear do Instituto de Física da Universidade de São Paulo – São Paulo (SP), Brasil Resumo Uma das metodologias adotadas no NCRP 147 baseia-se no modelo publicado por Archer e col. onde, por uma formulação matemática, as características de transmissão à radiação X de diversos materiais atenuadores foram obtidas pelo ajuste de uma equação paramétrica utilizando um método não-linear de mínimos quadrados. No presente trabalho, o modelo adotado pelo NCRP 147 foi aplicado a um conjunto de cinco argamassas baritadas disponíveis no mercado brasileiro. É descrita, ainda, a metodologia experimental utilizada e são apresentadas as curvas de transmissão resultantes. Estas curvas de transmissão podem ser utilizadas diretamente para estimativa das espessuras de argamassa necessárias para a correta proteção de áreas externas a uma sala radiológica. Podem também ser combinadas a diferentes distribuições de cargas de trabalho para a geração de curvas de transmissão ponderadas semelhantes às apresentadas no NCRP 147 para materiais de blindagem utilizados nos Estados Unidos. Palavras-chave: blindagem contra radiação; proteção radiológica; radiologia Abstract One of the methods adopted by the NCRP 147 is based on a model published by Archer et. al. where, using a mathematical formulation, the x-ray transmission characteristics of several attenuation materials were obtained by fitting a parametric equation using a non-linear least-square method. In the present work, the model adopted by the NCRP 147 was applied to a set of five barite concretes available in the Brazilian market. The experimental methodology is described and the resulting transmission curves are presented. These transmission curves can be used for direct estimations of the thickness required for an adequate protection of the external areas of a radiological room. They can also be combined to different workload distributions for generating weighted transmission curves similar to the curves presented on NCRP 147 for the shielding materials used in United States. Keywords: shielding against radiation; radiation protection; radiology. Introdução Durante a década de noventa um grupo de trabalho formado pela American Association of Physicits in Medicine (AAPM) e pelo National Council on Radiation Protection (NCRP), dos Estados Unidos, desenvolveu e aplicou novos métodos de avaliação das propriedades de atenuação dos materiais utilizados em radioproteção, de modo a atualizar os dados publicados anteriormente, em harmonia com a tecnologia moderna em Radiodiagnóstico. A nova versão desta norma1 foi publicada no final do ano de 2004 e será denominada, neste texto, como NCRP 147. Uma das metodologias adotadas no NCRP 147 baseia-se no modelo publicado, em 1983, por Archer e col.2 onde, por uma formulação matemática, as características de transmissão à radiação X de diversos materiais atenuadores foram obtidas pelo ajuste de uma equação paramétrica utilizando um método não- linear de mínimos quadrados. Esta comissão contou, ainda, com dados revisados, publicados em 1994 por Archer juntamente com pesquisadores do Center for Devices and Radiological Health do Food and Drug Administration (CDRH/FDA)3. No presente trabalho, o modelo adotado pelo NCRP 147 foi aplicado a um conjunto de cinco argamassas baritadas disponíveis no mercado brasileiro. O presente trabalho descreve a metodologia experimental utilizada e apresenta as curvas de transmissão resultantes. Material e Métodos O Modelo de Archer O Modelo de Archer propõe a seguinte equação paramétrica para representar a transmissão por uma espessura x de um material submetido a um feixe largo de radiação X: Correspondência: Paulo Roberto Costa – Universidade de São Paulo, Instituto de Física, Departamento de Física Nuclear – Rua do Matão, Travessa R, 187 – Cidade Universitária – CEP 05508-000 – São Paulo (SP), Brasil – E-mail: [email protected] Associação Brasileira de Física Médica® 63 Costa PR, Yoshimura EM (1) Onde K(V,x) é o kerma no ar por unidade de carga (mA. min) por semana a 1 metro da fonte de radiação, transmitido pela espessura x do material m, obtida aplicando-se um potencial V ao tubo; K0(V) é o valor de K(V,x) sem que nenhum material atenuador intercepte o feixe e α(V), β(V) e γ(V) são parâmetros determinados utilizando-se um método não-linear de mínimos quadrados. Esta metodologia mostrou-se de grande utilidade para os cálculos de barreiras e, após diversos estudos para sua validação4-8123, tornou-se a base matemática para o NCRP 147. A aplicação do Modelo de Archer para Cálculos de Barreiras depende fortemente do conhecimento do comportamento, em termos de atenuação à radiação, dos materiais empregados como blindagens estruturais. Archer e col.3 realizaram um estudo detalhado de materiais utilizados para este fim nos Estados Unidos. Trabalhos semelhantes foram realizados anteriormente por um dos autores do presente trabalho, para estudar o comportamento de argamassas baritadas de diferentes fabricantes nacionais9, seguindo o método utilizado por Archer. No presente trabalho, parte do conjunto de medições realizado anteriormente foi revisto, visando à adequação da metodologia experimental e a garantia da obtenção de um conjunto de curvas de transmissão consolidadas. Medições das propriedades de transmissão O processo de medição realizado consistiu na obtenção de curvas e tabelas semelhantes às apresentadas no NCRP 147, porém utilizando-se dados de atenuação Figura 1. Geometria de medição usando a câmara de ionização. 64 Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):63-6. obtidos para os materiais de radioproteção utilizados em nosso país. Para isso, um cuidadoso processo de medição das propriedades de transmissão de materiais utilizados como revestimento de parede em salas de diagnóstico por imagens foi desenvolvido. Os materiais escolhidos são todos disponíveis comercialmente e os fabricantes destes materiais foram orientados a fornecerem amostras idênticas às normalmente utilizadas na prática comercial. Além disso, o processo de determinação experimental das propriedades de atenuação deve ser realizado em condições de feixe largo, o que requer amostras planas de dimensões grandes e diferentes espessuras. Assim, foram estimadas relações entre espessuras e dimensões lineares dos materiais que, ao mesmo tempo, permitissem medições em condições de feixe largo e a auto-sustentação dos materiais, que por sua porosidade, facilmente se rompem em casos de choques mecânicos. As etapas do processo de medição estão descritas a seguir. Foram encaminhadas aos fabricantes de argamassas baritadas caixas de madeira com 75x75 cm2, com tampas removíveis através de parafusos, e pregos que serviram para dar fixação às argamassas, após secagem. As áreas úteis de argamassa internas a estas caixas foram de 70x70 cm2. As tampas foram revestidas com filme plástico para evitar a fixação das argamassas nas tampas e facilitar sua remoção. Isto também evita a deterioração das tampas de madeira devido à umidade das argamassas antes da secagem. As espessuras nominais previstas de argamassa foram de 5, 10, 15, 20, 25, 30 e 50 mm. As caixas contendo as argamassas baritadas secas foram transportadas para o laboratório e posicionadas na frente do feixe de raios X, devidamente alinhado, para medições de transmissão da radiação. Para estas medições foi utilizado um conjunto formado por uma câmara de ionização e um monitor de radiação, ambos devidamente calibrados. A geometria de medição utilizada para as avaliações com a câmara de ionização está apresentada, de forma simplificada, na Figura 1. A Figura 2 apresenta uma foto da montagem experimental utilizada para medição. Figura 2. Posicionamento das argamassas baritadas para medição com a câmara de ionização. Determinação das propriedades de transmissão de argamassas baritadas Resultados 2 Kerma no ar normalizado (mGy/mAmin@1m) 10 0 10 -1 10 -2 10 -3 0 10 20 30 40 50 Espessura (mm de Barita) 2 10 FABRICANTE 2 1 10 0 10 -1 10 -2 10 -3 10 0 10 20 30 40 50 40kV 45kV 50kV 55kV 60kV 65kV 70kV 75kV 80kV 85kV 90kV 95kV 100kV 105kV 110kV 115kV 120kV 125kV 130kV 135kV 140kV 145kV 150kV Espessura (mm de Barita) 2 10 Kerma no ar normalizado (mGy/mAmin @ 1m) As medições de transmissão realizadas segundo descrito no item 2.1 foram ajustadas à equação 1 utilizando o método de mínimos quadrados não-linear. Os resultados desses ajustes geraram conjuntos de parâmetros α, β e γ para cada material avaliado e para cada valor de tensão utilizada durante os experimentos. As curvas de transmissão resultantes da aplicação da equação 1 utilizando-se os parâmetros de Archer obtidos para os cinco materiais estudados estão apresentadas na Figura 3. 40kV 45kV 50kV 55kV 60kV 65kV 70kV 75kV 80kV 85kV 90kV 95kV 100kV 105kV 110kV 115kV 120kV 125kV 130kV 135kV 140kV 145kV 150kV FABRICANTE 1 1 10 10 Kerma no ar normalizado (mGy/mAmin@1m) Cada série de medições foi realizada selecionando-se o monitor de radiação para leituras em modo integrado e foram realizadas 5 medições para cada espessura de material e para cada tensão selecionada. A faixa de tensões utilizadas nas medições com a câmara de ionização variou entre 40 e 150 kV, com intervalos de 5 kV. A corrente anódica selecionada foi de 22,5 mA e o tempo de exposição de 30 s, definindo um produto corrente-tempo de 675 mAs, mantido fixo para todas as medições. A filtração do feixe de radiação foi mantida constante em 2,5 mm Al, equivalendo a um feixe RQR-510, ou seja, apresenta uma camada semi-redutora de 2,58 mmAl com coeficiente de homogeneidade de 0,71 quando o tubo é operado a uma tensão de 70 kV. A temperatura e a umidade relativa do ar também foram controladas durante as medições. Os equipamentos utilizados durante esta etapa de medição estão relacionados Tabela 1. FABRICANTE 3 1 10 0 10 -1 10 -2 10 0 10 20 30 40 50 40kV 45kV 50kV 55kV 60kV 65kV 70kV 75kV 80kV 85kV 90kV 95kV 100kV 105kV 110kV 115kV 120kV 125kV 130kV 135kV 140kV 145kV 150kV Espessura (mm de Barita) Tabela 1. Equipamentos utilizados durante a etapa experimental do presente trabalho para determinação das propriedades de atenuação de materiais estruturais. Equipamento Marca Controle do tubo de raios X Philips Tubo de raios X Philips Câmara de ionização Radcal Monitor da câmara de ionização Radcal Filtros de alumínio 1100 Nuclear associates Modelo MGC 40 MCM 323 10X5-6 9095 1100 10 2 10 1 10 0 FABRICANTE 4 10 -1 10 -2 0 10 20 30 40 50 40kV 45kV 50kV 55kV 60kV 65kV 70kV 75kV 80kV 85kV 90kV 95kV 100kV 105kV 110kV 115kV 120kV 125kV 130kV 135kV 140kV 145kV 150kV Espessura (mm de Barita) Kerma no ar normalizado (mGy/mAmin @1m) Os comportamentos relacionados à transmissão dos feixes de raios X para diferentes faixas de tensão foram estudados utilizando-se uma modelagem semelhante à desenvolvida para a estruturação da norma norte-americana NCRP 147. Para isso, o Modelo de Archer para a transmissão de feixes de raios X transmitidos através de materiais foi aplicado a dados experimentais obtidos em feixe largo com cinco argamassas baritadas disponíveis comercialmente. A aplicação do Modelo de Archer considera a utilização de um método de mínimos quadrados não linear Kerma no ar normalizado (mGy/mAmin @1m) Discussão e Conclusões FABRICANTE 5 1 10 0 10 -1 10 -2 10 0 10 20 30 40 50 40kV 45kV 50kV 55kV 60kV 65kV 70kV 75kV 80kV 85kV 90kV 95kV 100kV 105kV 110kV 115kV 120kV 125kV 130kV 135kV 140kV 145kV 150kV Espessura (mm de Barita) Figura 3. Curvas de transmissão resultantes da aplicação da equação 1 utilizando-se os parâmetros α, β e γ para os cinco fabricantes estudados. Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):63-6. 65 Costa PR, Yoshimura EM para a obtenção de três parâmetros de ajuste à equação proposta no modelo. Estes parâmetros foram obtidos para todos os materiais cujos dados de transmissão foram medidos através de experimentos com espessuras de materiais variando entre 5 e 50 milímetros, utilizando-se diferenças de potencial entre 40 e 150 kV em intervalos de 5 kV. As curvas de transmissão resultantes podem ser utilizadas diretamente para estimativa das espessuras de argamassa necessárias para a correta proteção de uma área externa a uma sala radiológica. Podem, ainda, ser combinadas a diferentes distribuições de cargas de trabalho para a geração de curvas de transmissão ponderadas semelhantes às apresentadas no NCRP 147 para materiais de blindagem utilizados nos Estados Unidos. Agradecimentos Os autores agradecem ao corpo técnico do IEE-USP pelo apoio durante a etapa de medição das curvas de transmissão. Agradecem, em especial, à colega Raquel Brás Brasil pelas contribuições durante as medições com as argamassas baritadas. Agradecem, ainda, o apoio do CNPq, através do convênio 311751/2006-7. 66 Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):63-6. Referências 1. National council on radiation protection and measurements. Structural Shielding Design for Medical X-ray Imaging Facilities. Bethesda, MD: NCRP Publications; 2004 (NCRP Report 147). 2. Archer BR, Thornby JI, Bushong SC. Diagnostic X-ray Shielding Design Based on an Empirical Model of Photon Attenuation. Health Physics. 1983;44(5):507-17. 3. Archer BR, Fewell TR, Conway BJ, Quinn PW. Attenuation properties of diagnostic x-ray shielding materials. Medical Physics. 1994;21(9): 1499-507. 4. Dixon RL, Simpkin DJ. New Concepts for Radiation Shielding of Medical Diagnostic X-ray Facilities. In: Frey D, Spraws P, editors. The expanding role in medical physics in diagnostic imaging. Proceedings of the 1997 AAPM Summer School. Advanced Medical Publishing, Wisconsin, Madison; 1997. 5. Dixon R. On the primary barrier in diagnostic x-ray shielding. Medical Physics. 1994;21(11):1785-93. 6. Dixon RL, Simpkin DJ. Primary shielding barriers for diagnostic x-ray facilities: a new model. Health Physics. 1998;2(74):181-9. 7. Simpkin DJ. Transmission data for shielding diagnostic x-ray facilities. Health Physics. 1995;68:704-9. 8. Simpkin DJ, Dixon RL. Secondary shielding barriers for diagnostic x-ray facilities: scatter and leakage revisited. Health Physics. 1998;74(3): 350-65. 9. De Paula FT, Nersissian DY, Costa PR. Estudo das propriedades de atenuação de argamassas baritadas utilizadas em proteção radiológica. XI Congresso Brasileiro de Física Médica, Ribeirão Preto; 2006. 10. International Electrotechnical Commission. Medical diagnostic X-ray equipment. Radiation conditions for use in the determination of characteristics. IEC standard 61267; 2005. Artigo Original Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):67-70. Development of voxel models from 3D surfaces: optimized methodology Desenvolvimento de modelos voxelizados a partir de superfícies 3D: metodologia otimizada Felix M. Milian, Fermin Garcia, Maria V. Manso Guevara, Ivea K. da Silva Correia, Nelson G. Meira Departamento de Ciências Exatas e Tecnológicas da Universidade Estadual de Santa Cruz - Ilhéus (BA), Brasil. Abstract Anthropomorphic models are widely used in computer simulations to calculate conversion factors for external and internal dosimetry. However, their construction is difficult and delayed due to the CT images segmentation. In last years, CAD (Computer-Aided Design) programs were used to develop new anthropomorphic models in NURBS, MESH and POLYGON surfaces. However, most of the current simulation codes don’t allow entering the objects in CAD format, making it necessary to convert the CAD model into a voxels matrix. In this paper is presented a methodology that allowed to exporting objects created in CAD programs into the form of MCNP input files quickly and reliable. With the process were obtained very good results. The shape and size of the voxel model match up very well with the original mesh. The working time required for the setup the 3D animation, export the model and create MCNP input file was lower than an hour using a common PC. Keywords: dosimetry; computer simulation; anatomic models. Resumo Os Modelos Antropomórficos são amplamente utilizados em simulações computacionais para o calculo de fatores de conversão para dosimetria interna e externa. Porém, sua construção é uma tarefa difícil e demorada devido à necessidade da segmentação de imagens de Tomografia Computadorizada (CT). Por outro lado, nos últimos anos novos programas de Desenho com Auxilio de Computador (CAD, Computer Aided Design) têm sido utilizados para desenvolver novos Modelos Antropomórficos baseados em superfícies NURBS (Non Uniform Rational B-Spline), Malhas (MESH) e Polígonos. Entretanto a maioria dos códigos de simulação de transporte de radiação não permite a entrada de geometrias no formato CAD, fazendo necessária a conversão dos modelos CAD em matrizes de voxels. Neste trabalho apresenta-se uma metodologia rápida e confiável que permite exportar objetos criados em programas CAD ao formato de arquivo de entrada do MCNP. Com este procedimento foram obtidos resultados muito satisfatórios. A forma e tamanho do modelo voxelizado coincidiu perfeitamente com o modelo de Malha original. O tempo de trabalho requerido para a montagem da animação 3D, exportar o modelo, e criar o arquivo de entrada para o MCNP foi inferior à uma hora utilizando um computador Desktop comum. Palavras-chave: dosimetria; simulação por computador; modelos anatômicos. Introduction The Monte Carlo simulation is a powerful tool for the studies and predictions of ionizing radiation effects in humans. However, accuracy and precision of results will depend significantly of the human model used in the simulation. The first models were made using mathematical equations of spheres, cylinders, cubes, cones, etc. These models are called: Mathematical models. Even though they were not very realist, their high calculation speed has become one of the most used1-5. The development of Computer Tomography, Nuclear Magnetic Resonance, and the images processing allowed the creation of more realistic models. These models were called Anthropomorphic or Tomographic6-9. They are composed by a tridimensional matrix of voxels. Those voxels are obtained through the segmentation of different organs in CT or RMI images. The main advantage of these models is the realism, although if it compared with the mathematical models, their complexities delay the calculations and increases the difficulties to make any modification of the geometry. Correspondência: Felix Mas Milian – Colegiado de Ciência da Computação do Departamento de Ciências Exatas e Tecnológicas (DCET), Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) – Campus Soane Nazaré de Andrade – Km 16 Rodovia Ilhéus-Itabuna – CEP 45662-900 – Ilhéus (BA), Brasil – E-mail: [email protected], [email protected] Associação Brasileira de Física Médica® 67 Milian FM, Garcia F, Guevara MVM, Correia IKS, Meira NG In the last years, some papers have presented a new generation of more realistic models made using NURBS, MESH or POLYGON surfaces10-15. This generation we will call in this paper as CAD models (Computer Aided Design). The broad use of these surfaces for the graphic computation was extended in the industry, in the cinema, and in the television, because they allow representing very well any kind of objects. The principal advantage of these CAD models is to allow the easy modification of the object geometry in function of time and space. At this way, the use of this model allow to create new standards (phantoms), which can characterize different population groups, or can allow to perform 4D simulations. Nevertheless, the current simulation codes do not accept yet the output files formats, created with CAD programs (AutoCAD, Rhinoceros, Maya, 3dsMax, Blender, etc). Because of this, it is necessary conversion of the CAD model into a Voxel model, which is well accepted by all the simulation codes. Then, a good conversion process is necessary to obtain a reliable and good quality model. In this work is summarized one methodology developed by our group to make the quickly conversion of a CAD format in a voxel format, followed by the insertion in a MCNPX input file16. Material and methods The CAD Model To apply the methodology is necessary to define what will be the model to export. In our case it is possible to Figure 1. a) 3D visualization of the infant model used. b) Example of an axial cut rendered as BMP image in the top view. 68 Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):67-70. work with objects or anthropomorphic models defined by NURBS, MESH, or POLYSURFACES. Unlike other methods, in our case the model can contain all the organs inside it during the conversion. Basically, the conversion process consists in to undertake a temporary animation to produce something like tomographic cuts that can be easily copied and pasted on all objects that make up the model. At this way is obtained a sequence of images, containing all organs present in the model. In this work was used a MESH of an infant to show the performance of the methodology (see Figure 1a). However, the procedures can be applied in any 3D object. Exporting the Model as BMP Sequence Images In this work was used the program 3dsMax17. This program allows setup animations, defining lights, materials and special effects in 3D objects. In the conversion methodology, first, is necessary to set up an animation and define the number of FRAMES (N) equals to the number of desired cuts, on the Z axis. Then, is selected one of the organs or parts present in the composition. In this organ is applied the modifier: `SLICE´ to obtain a slice in the form of axial cut. The thickness of this cut can be easily modified. After, in the first frame of the animation, we put SLICE modifier is the Z minimum position (Zmin), where the cuts must begin. Then, with the AUTOKEY option enabled, we go to the last frame and put the SLICE modifier in the Z-maximum position (Zmax). This make 3dsMax interpolate new axial cuts between position Zmin and Zmax. Completed this step, the configured SLICE-modifier can copy and paste to all the objects in the scene or composition. This will generate a sequence of axial cuts, all synchronized in Z. After, the material of each object must be configured to be displayed in the output images with a single color. This will be use for subsequent identification in the MCNP input file. Finally, making a RENDER at the Top View is obtained a sequence of N-images similar to a CT scan. With the definition of the size of the images can be change the output resolution pixels/cm to a desired value. In this work the animation was configured with 500 frames, obtaining the same number of axial cuts of the model. The values Zmin, Zmax, and the thick of cuts were: 0 cm, 76 cm and 0.157 cm, respectively. The model body was displayed with in beige (Red=243, Blue=212, Green=164), with average level in 206. The background was left in black (R=B=G=0). The format of output images was 8 bits BMPs, of 320 x 240 pixels and with 0.110 cm/ pixels of spatial resolution, totalizing 3.84x107 voxels. Making the MCNP Input File To introduce the model and generate the MCNP input file, we use the program TOMO_MC18 developed by our group. It can read BMP image sequences, generated by all the CAD programs (Figure 2). The TOMO_MC is a program implemented in Delphi 7.0 on the Windows platform. The construction of the input file within the program is divided Development of voxel models from 3D surfaces: optimized methodology into three parts. The first is the opening of the model and the definition of materials and densities on their organs. In the second part, is selected the three-dimensional region where the simulation will be carried out. Finally, in the third part is defined the geometry of the source (AP, PA, LLAT, RLAT, ROT or ISO), their particles energy and number of stories. Because the program initially was used to make input files for Radiation Safety calculation in MCNP, in all cases the simulated magnitude is the absorbed energy (F8) in all the organs of the model. In this paper, to generate the input file was used the images sequence previously obtained with 3dsMax. Once loaded the files, the work region was defined with 320x240x500 voxels. The Voxel dimension was considered as 0.110x0.110x0.157 cm3. Arbitrarily to the infant body was assigned equivalent materials to soft tissue. To see if a satisfactory model was created, simulations with 1MeV photons were done in AP and PA geometries considering 107 histories. The PTRAC option was enabled to analyze the trajectory and interaction of particles Results and discussions With the presented methodology we convert one infant mesh model into a Voxel model. As a result of this process, was obtained a sequence of 500 images in BMP format of 320x240 pixels (Figure 3). The resolution of images was 8-bit in color scale, which can put more 256 of different objects in a selected palette. This quantity of colors is sufficient to represent any number of materials or tissues in the scene. Nevertheless could be use BMP files with 24-bits that could increase this amount to 16 million. With the output images, and using the TOMO_MC was created an input file for the MCNP. The time taken to complete the whole process was less than one hour using a 4GB RAM and 2.68 GHz Core2Duo PC. Simulations using MCNPX 2.6.0 version were done. The Moritz software was used to make a 3D visualization and to check the presence of errors in the input file for MCNP19. The 3D view was satisfactory; perfectly in agree with the original MESH model (Figure 4). Moreover, the input file didn’t provide any error in its execution. The trajectory of the first 50 particles was displayed to check the position and direction of the source, as well as the physical aspects in the simulation (Figure 4). In all cases, the results agree with those expected. Conclusions In this paper was presented a quickly and optimized methodology, which allows exporting a 3D CAD model as a voxel one, and then introduced it in the MCNP as an input file. In this work, unlike previous methods, all parts of the model are shown in the BMP output image with their col- Figure 2. TOMO_MC software for generation of MCNP input files from Voxels Models [18]. Figure 3. Sample output images in 8bit BMP, showing axial cuts of the model. ors and their respective locations. This fact reduced the time required to export the model. Future works intended to use this methodology, and the program of animation 3dsMax, to perform 4D Monte Carlo simulations, which include spatial changes over time, and the use of animals models for simulations in other research areas (Figure 5). Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):67-70. 69 Milian FM, Garcia F, Guevara MVM, Correia IKS, Meira NG Figure 4. a) 3D visualization of the MCNP Input File geometry. b) Lateral view showing particle tracks resulting from the simulation of fifty 1MeV photons. Figure 5. Samples of 3D animals models which can be used in Monte Carlo simulations. Acknowledgments The Authors acknowledge the support by Brazilian Agencies: CNPq and FAPESB. 9. 10. References 11. 1. International Commission on Radiological Protection, Conversion coefficients for use in radiological protection against external radiation, ICRP Publication 74. Oxford: Pergamon Press; 1996. 2. Fisher HL, Snyder WS. Distribution of dose in the body from a source of gamma rays distributed uniformly in an organ. Proceedings of the First International Congress on Radiation Protection., Oxford: Pergamon; 1968:1473-86. 3. Snyder WS, Ford MR, Warner GG. 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Relatório Final FAPESB, Universidade Estadual de Santa Cruz, Ilhéus, BA; 2008. Van Riper KA. Moritz White Rock Science. http://www.whiterockscience. com/moritz.html Artigo Original Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):71-4. Caracterização de campos de radiação beta utilizando filmes radiocrômicos Characterization of beta radiation fields using radiochromic films Jhonny A. Benavente1, Luiz C. Meira-Belo2, Sibele R. Reynaldo2, Teógenes A. da Silva1,2 Pós-graduação em Ciências e Tecnologia das Radiações, Minerais e Materiais, CDTN/CNEN - Belo Horizonte (MG), Brasil 2 Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear, CDTN/CNEN - Belo Horizonte (MG), Brasil 1 Resumo O objetivo do presente trabalho é estudar as características da resposta de filmes radiocrômicos, em função da dose absorvida, em campos de radiação beta. Foi estudada a confiabilidade do filme radiocrômico modelo EBT da Gafchromic®. Foram utilizados um scanner de transmissão Microtek XL 9800, um densitômetro óptico X-Rite modelo 369 e um espectrofotômetro Shimadzu UV Mini 1240 para estabelecer uma comparação entre as medidas realizadas. Para a calibração dos três sistemas foram irradiadas amostras de filmes radiocrômicos com valores de doses absorvidas de 0,1; 0,3; 0,5; 0,8; 1,0; 1,5; 2,0; 2,5; 3,0; 3,5; 4,5 e 5,0 Gy em feixes de radiação beta, utilizando uma fonte de 90Sr/90Y. Para as calibrações foi necessário estabelecer uma correlação entre valores de doses absorvidas e a resposta radiocrômica correspondente. A análise dos resultados indicou que os valores de dose absorvida encontrados com os três métodos avaliados apresentaram diferenças significativas, obtendo-se erros na faixa de 0,6% a 4,4% para doses absorvidas avaliadas com o scanner Microtek, de 0,3% a 31,8% para as avaliadas com o densitômetro X-Rite, e de 0,2% a 47,3% para as avaliadas com o espectrofotômetro Shimadzu. Devido à facilidade de aquisição e de uso, concluiu-se que as determinações dos valores de doses absorvidas obtidas com o densitômetro e com o espectrofotômetro são técnicas adequadas para avaliar irradiações em campos relativamente homogêneos. No caso de campos não homogêneos ou do mapeamento de campos de radiação, a possibilidade de identificar anisotropias em duas dimensões torna a técnica baseada no uso de scanner a mais indicada. Palavras-chave: filme radiocrômico, dosimetria de radiação beta. Abstrac The objective of this work was to study the response of radiochromic films for beta radiation fields in terms of absorbed dose. The reliability of the EBT model Gafchromic® radiochromic film was studied. A 9800 XL model Microtek, transmission scanner, a 369 model X-Rite optical densitometer and a Mini 1240 Shimadzu UV spectrophotometer were used for measurement comparisons. Calibration of the three systems was done with irradiated samples of radiochromic films with 0.1; 0.3; 0.5; 0.8; 1.0; 1.5; 2.0; 2.5; 3.0; 3.5; 4.5 e 5.0 Gy in beta radiation field from a 90Sr/90Y source. Calibration was performed by establishing a correlation between the absorbed dose values and the corresponding radiochromic responses. Results showed significant differences in the absorbed dose values obtained with the three methods. Absorbed dose values showed errors from 0.6 to 4.4%, 0.3 to 31.8% and 0.2 to 47.3% for the Microtek scanner, the X-Rite Densitometer and the Shimadzu spectrophotometer, respectively. Due to the easy acquisition and use for absorbed dose measurements, the densitometer and the spectrophotometer showed to be suitable techniques to evaluate radiation dose in relatively homogeneous fields. In the case of inhomogeneous fields or for a two dimension mapping of radiation fields to identify anisotropies, the scanner technique is the most recommended. Keywords: radiochromic film, beta radiation dosimetry. Introdução A implantação e caracterização dos campos padrões de radiação beta em laboratórios de dosimetria é a base metrológica para assegurar a confiabilidade nas calibrações de dosímetros. No Laboratório de Calibração de Dosímetros do Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (LCD/CDTN), foram implantados e caracterizados, parcialmente, os campos de radiação beta do sistema padrão secundário BSS2, devido às limitações do sistema dosimétrico utilizado (dosímetros termoluminescentes). Essas limitações levam à procura de um dosímetro de radiação com alta resolução espacial, sem necessidade de um procedimento especial de desenvolvimento, o qual possa estimar valores absolutos de dose absorvida, com uma exatidão e precisão aceitável, além, de apresentar a facilidade de manuseio na análise de dados. Algumas dessas características foram conseguidas com a introdução de dosímetros radiocrômicos1. Correspondência: Jhonny Antonio Benavente Castillo – Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear - Avenida Presidente Antônio Carlos, 6.627 – Pampulha - CEP 31270-901 - Belo Horizonte (MG), Brasil – E-mail: [email protected] Associação Brasileira de Física Médica® 71 Benavente JA, Meira-Belo LC, Reynaldo SR, Da Silva TA A completa caracterização dos campos, que inclui estudos da homogeneidade do campo de radiação e a demonstração da coerência metrológica com outros sistemas padrões, requer o uso de outros sistemas dosímétricos, como por exemplo, filmes radiocrômicos. Este trabalho objetiva estudar as características da resposta de filmes radiocrômicos, em função da dose A B Figura 1. (a) Amostra de filme radiocrômico EBT sob condições de irradiação com o sistema padrão secundário beta do CDTN. (b) Representação dos filmes radiocrômicos irradiados com valores de doses absorvidas de 0,1; 0,3; 0,5; 0,8; 1,0; 1,5; 2,0; 2,5; 3,0; 3,5; 4,5 e 5,0 Gy em feixes de radiação beta em 90Sr/90Y, Figura 2. Scanner Microtek XL 9800. 72 Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):71-4. absorvida, em campos de radiação beta. Nestes estudos, a mudança na absorbância baseia-se em efeitos radiocrômicos, que envolvem a coloração direta de materiais através da absorção de energia da radiação incidente, sem a necessidade de qualquer tratamento químico, óptico térmico ou amplificação1. A metodologia de leitura e avaliação dos filmes também será motivo de investigação. Material e Métodos No presente trabalho foi estudada as características da resposta do sistema dosimétrico filme radiocrômico, para estabelecer a coerência metrológica do sistema padrão secundário beta 2, BSS2, do Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear, CDTN. Utilizou-se o filme radiocrômico modelo EBT, lote número 37137-21 da Gafchromic®, fabricado pela International Speciality Products, New Jersey-USA. O filme Gafchromic EBT foi cortado em 11 pedaços de 5x5 cm2 e irradiados no padrão secundário beta, pertencente ao Laboratório de Calibrações e Dosímetros, LCD, do CDTN, em feixes de radiação beta 90Sr/90Y. Cada amostra foi posicionada individualmente, perpendicularmente ao feixe horizontal e no centro do campo, em frente ao objeto simulador de tronco, ICRU2, de PMMA, polimetilmetracrilato, como é apresentado na Figura 1 (a). As amostras foram irradiadas separadamente com valores de doses absorvidas de 0,1; 0,3; 0,5; 0,8; 1,0; 1,5; 2,0; 2,5; 3,0; 3,5; 4,5 e 5,0 Gy. A irradiação alterou a coloração do filme tornando-se progressivamente mais escuro com o aumento da dose, conforme apresenta a imagem das amostras irradiadas (Figura 1 b). A exposição à luz foi minimizada armazenando os filmes em envelopes opacos antes e após a irradiação. Adicionalmente, eles foram armazenados em uma sala com temperatura controlada de 20ºC, possibilitando a estabilidade química do dosímetro. Após a irradiação, foram efetuadas as digitalizações de todo o conjunto junto a uma amostra não irradiada. Para este estudo utilizou-se, como instrumento de verificação, o scanner Microtek 9800 XL, apresentado na Figura 2, com uma resolução de varredura de 72 dpi, no modo RBG (Red-Green-Blue), e uma resolução do pixel de 16 bits por canal. Os arquivos gerados foram salvos na extensão TIFF (tagged image file format). A análise das imagens foi realizada com o programa Image J, e apenas os valores de transmissão do canal vermelho foram analisados, pois o espectro de absorção tem uma ótima resposta entre os comprimentos de onda de 600 a 700 nm3. Os valores de transmissão foram obtidos em cinco regiões de interesse para todas as amostras de modo a avaliar a variação da resposta do sistema scanner- filme radiocrômico4. O segundo sistema dosimétrico utilizado foi o densitômetro de transmissão X-Rite 369, apresentado na Figura 3. Os valores das densidades ópticas também foram obtidos Caracterização de campos de radiação beta utilizando filmes radiocrômicos Resultados A Figura 5 apresenta os valores médios das componentes de cor RBG e da componente de cor vermelha em função dos valores da dose absorvida, das imagens digitalizadas com o scanner Microtek XL 9800 e analisadas com o software Image J. Na figura 5, percebe-se que os valores de densidade óptica líquida para a componente de cor vermelha são maiores em relação aos valores médios de cor RBG, isto se justifica porque o filme EBT tem o comprimento de absorção máxima a 633 nm3. A Figura 6 representa as curvas dos processos de calibração para os sistemas dosimétricos do scanner, densitômetro e espectrofotômetro com o filme radiocrômico Gafchromic EBT. A curva de calibração do scanner apresenta valores de densidade óptica líquida, obtidos dos valores da componente vermelha das imagens digitalizadas e analisadas o software Image J. No caso da curva de calibração para o densitômetro, os dados das densidades ópticas líquidas foram obtidos subtraindo a cada valor de densidade óptica das amostras irradiadas com a fonte de 90 Sr/90Y, o valor da densidade óptica do filme não irradiado. Para a curva de calibração do espectrofotômetro, os dados das densidades ópticas líquidas foram obtidos subtraindo a cada valor máximo de absorvância, aproximadamente na faixa de 633 nm a 634 nm de comprimento de onda, das amostras irradiadas com a fonte de 90Sr/90Y, o valor máximo da absorvância do filme não irradiado. 1,0 Densidade Óptica Líquida nas mesmas cinco regiões de interesse, feitas na análise do software Image J. O terceiro sistema dosimétrico utilizado foi o espectrofotômetro Shimadzu UV Mini 1240, apresentado na Figura 4. Nesta análise, os valores das densidades ópticas também foram obtidos nas cinco regiões de interesse, feitas nas análises dos dois métodos anteriores. Para as calibrações foi necessário estabelecer uma correlação entre valores de doses absorvidas e a resposta radiocrômica correspondente. 0,8 0,6 0,4 0,2 Média RBG Componente Vermelha 0,0 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 Dose Absorvida(Gy) Figura 5. Densidade óptica líquida dos valores médios das componentes de cor RBG e da componente de cor vermelha, obtidas com o software Image J. 1,0 Densidade Óptica Líquida Figura 3. Densitômetro X-Rite 369. 0,8 0,6 0,4 Scanner Microtek XL 9800 Espectrofotômetro UV Mini 1240 Densitômetro X-Rite 369 Ajuste Scanner Ajuste Espectrofotômetro Ajuste Densitômetro 0,2 0,0 0,0 0,5 Figura 4. Espectrofotômetro Shimadzu UV Mini 1240. 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 Dose Absorvida (Gy) 4,0 4,5 5,0 Figura 6. Curvas de calibração do scanner Microtek XL 9800, do densitômetro X-Rite 369 e do espectrofotômetro Shimadzu UV Mini 1240 com o filme radiocrômico Gafchromic EBT em 90 Sr/90Y. Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):71-4. 73 Benavente JA, Meira-Belo LC, Reynaldo SR, Da Silva TA A curva de calibração utilizada no ajuste dos valores de densidade óptica líquida para os três sistemas, em termos de dose absorvida, é apresentada na seguinte equação: b D a ln c DO (1) onde, D representa os valores das doses absorvidas, DO, os valores das densidades ópticas líquidas, e as constantes a, b e c, os valores numéricos dos ajustes feitos para o scanner, densitômetro e para o espectrofotômetro, como apresentados na Tabela 1. A Tabela 2 indica a análise dos resultados com os três métodos, apresentando os valores estimados das variações em termos de dose absorvida, obtidas com a equação (1). Discussão e Conclusões A análise dos resultados indicou que os valores de dose absorvida encontrados com os três métodos avaliados apresentaram diferenças significativas, obtendo-se variações na faixa de 0,6% a 6,6% para doses absorvidas avaliadas com o scanner Microtek, de 0,3% a 31,8% para as avaliadas com o densitômetro X-Rite e de 0,2% a 47,3% para as avaliadas com o espectrofotômetro Shimadzu UV Tabela 1. Valores das constantes a, b e c, correspondentes aos ajustes do scanner Microtek XL 9800, do densitômetro X-Rite 369 e do espectrofotômetro Shimadzu UV Mini 1240. Constantes a b c Scanner 2,24515 1,07619 1,11403 Densitômetro 6,47227 1,8181 1,82944 Espectrofotômetro 2,4034 1,08201 1,11836 Tabela 2. Variações estimadas das doses absorvidas, obtidas com o scanner Microtek XL 9800, o densitômetro X-Rite 369 e com o espectrofotômetro Shimadzu UV Mini 1240. Dose Absorvida (Gy) 0,1 0,3 0,5 0,8 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,5 5,0 74 Scanner Densitômetro 31,8 3,1 4,3 1,8 2,3 1,3 0,3 0,9 1,9 0,7 1,1 1,6 Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):71-4. Agradecimentos Agradecemos à CNEN pela bolsa de mestrado de Jhonny Antonio Benavente Castillo. Ao projeto “Implantação do Sistema Metrológico Secundário e Primário de Campos de Radiação Beta de Minas Gerais”, apoiado pela FAPEMIG por meio do Edital Tecnologia Industrial Básica 2009-2011. Espectrofotômetro Ajuste (%) 4,4 0,6 5,1 3,7 6,6 4,0 3,4 4,9 3,9 1,0 1,2 0,8 Mini 1240. Na Tabela 2 pode-se observar que as variações apresentam os seus valores máximos de 4,4%, 31,8% e 47,3% para doses absorvidas de 0,1 Gy; embora para doses absorvidas acima de 0,3 Gy, encontram-se na faixa de 0,6% a 6,6% para o scanner, de 0,3% a 4,3% para o densitômetro e de 0,2% a 7,3% para o espectrofotômetro. Os resultados mostram que a utilização com os três sistemas é possível na dosimetria beta. Com base nas comparações entre os três sistemas utilizados para a dosimetria do filme radiocrômico Gafchromic EBT, no intervalo de dose absorvida de 0 a 5,0 Gy, obtem-se com o densitômetro X-Rite 369 e com o espectrofotômetro Shimadzu UV Mini 1240 maior coerência em apresentar os resultados das variações, em relação às obtidas com o scanner Microtek XL 9800. É importante ressaltar que neste trabalho não realizamos os testes de resposta espacial, recomendados antes de fazer as digitalizações com o scanner, além disso, cada sistema dosimetrico deve determinar a melhor função para a curva de calibração de modo a apresentar o melhor ajuste. Finalmente devido à facilidade de aquisição e de uso, se concluiu que a determinação dos valores de doses absorvidas obtidas com o densitômetro e com o espectrofotômetro são técnicas adequadas para irradiações em campos relativamente homogêneos. No caso de campos não homogêneos ou do mapeamento de campos de radiação, a possibilidade de identificar anisotropias em duas dimensões torna a técnica baseada no uso de scanner a mais indicada. 47,3 2,5 7,3 5,8 5,2 1,6 3,0 2,7 3,0 1,8 0,2 6,4 Referências 1. Niromand-Rad A, Blackwell CR, Coursey BM, Gall KP, Mclaughlin WL, Meigooni AS et al. Radiochromic Film Dosimetry: Recommendations of AAPM Radiation Therapy Committee Task Group 55. Med. Phys. 1998;25:2093-2115. 2. International Commission on Radiation Units and Measurements. Dosimetry of External Beta Rays for Radiation Protection (ICRU report 56). Bethesda ;1997. 3. Soares CG. New developments in radiochromic film dosimetry. Gaithersburg, MD. Radiat. Prot. Dosim. 2006;120:100-6. 4. Slobodan D, Seuntjens J, Hegyi G, Podgorsak EB, Soares CG, Kirov AS et al. Dosimetric properties of improved Gafchromic films for seven different digitizers. Med. Phys. 2004;31:2392-2401. Artigo Original Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):75-8. Estudo da calibração indireta de medidores clínicos do produto kerma-área Study of the indirect calibration of clinical air kerma-area meters José N. Almeida Jr.1, Márcia C. Silva2, Ricardo A. Terini3, Silvio B. Herdade4, Marco A. G. Pereira4 Curso de Física Médica /Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo (SP), Brasil 2 Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE), São Paulo (SP), Brasil 3 Departamento de Física, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo (SP), Brasil 4 Seção Técnica de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (STDTS), Instituto de Eletrotécnica e Energia/ Universidade de São Paulo, São Paulo (SP), Brasil 1 Resumo A grandeza produto kerma-área (PKA) independe da distância ao foco do tubo de raios X e pode ser usada na avaliação da dose efetiva em pacientes. Medidores clínicos de PKA são usualmente calibrados no local, através da medição do kerma no ar com câmara de ionização e da avaliação da área irradiada por meio de um filme radiográfico. O presente trabalho faz uma avaliação metrológica preliminar da calibração de um dispositivo comercializado recentemente (PDC, Patient Dose Calibrator, Radcal), projetado para a calibração de medidores clínicos de PKA. São mostrados também resultados obtidos com o PDC aplicado à calibração cruzada (indireta) de um medidor fixo de PKA de um equipamento clínico de radiologia. Os resultados confirmam menor dependência energética do PDC em relação ao medidor clínico testado. Palavras-chave: Produto kerma-área, dosimetria, calibração, radiologia, câmaras de ionização. Abstract Kerma-area product (PKA) is a quantity which is independent of the distance to the X-ray tube focal spot and that can be used to assess the effective dose in patients. Clinical PKA meters are usually calibrated on-site by measuring the air kerma with an ion chamber and evaluating the irradiated area by means of a radiographic image. This work presents a preliminary metrological evaluation of the calibration of a device marketed recently (PDC, Patient Dose Calibrator, Radcal), designed for calibrating clinical PKA meters. Results are also shown of applying the PDC to the cross calibration of a clinical PKA meter from a radiology equipment. Results confirm a lower energy dependence of the PDC relative to the tested clinical meter. Keywords: Air kerma-area product, dosimetry, calibration, radiology, ionization chambers. Introdução A grandeza Produto Kerma-Área (PKA – em Gy.m2) é definida como a integral, sobre uma área A, do produto do kerma no ar (Ka) em uma área elementar (dxdy) de um plano perpendicular ao eixo central do feixe de raios X, pela área do feixe no mesmo plano (Equação 1): PKA = ∫A Ka(x,y)dxdy (1) Sua vantagem principal é que seu valor independe da distância ao foco do tubo de raios X (isso porque, para um dado ângulo sólido, o kerma no ar é proporcional ao inverso do quadrado da distância e a área do feixe varia com o quadrado da distância), se a atenuação do ar for desconsiderada. Assim, o PKA pode ser medido em qualquer plano entre o colimador e o paciente. Usando fatores de conversão apropriados, o valor medido do produto kerma-área pode, então, ser usado para determinar, as grandezas de proteção radiológica dose efetiva (E)1, ou a energia transmitida ao paciente (∈)2, ambas relacionadas ao risco trazido pela radiação. Para a medição clínica do PKA, uma câmara de ionização de transmissão de placas paralelas com área suficiente para abranger todo o feixe de raios X, é colocada à saída do feixe, após o colimador, para monitorar a exposição total do paciente. A câmara é transparente à luz visível e sua resposta é proporcional à quantidade total de energia dirigida ao paciente durante o procedimento radiológico. A área irradiada é delimitada pelo colimador anterior à câmara. Se a intensidade do feixe é integrada sobre a área Correspondência: Ricardo A. Terini, Depto. de Física, Faculdade de Ciências Exatas e Tecnologia, PUC-SP, R. Marquês de Paranaguá, 111, Consolação, CEP 01303-050, S. Paulo, SP, Brasil – E-mail: [email protected] Associação Brasileira de Física Médica® 75 Almeida Jr JN, Silva MC, Terini RA, Herdade SB, Pereira MAG da câmara atravessada pelo feixe de raios X, obtém-se o produto kerma-área. Um medidor de PKA pode ser calibrado tanto em um laboratório de calibração como em ambiente clínico, na própria unidade de raios X onde é usado3. Entretanto, como, em geral, a câmara do medidor de PKA é fixada ao colimador do tubo de raios X, fazendo parte do arranjo mecânico do equipamento radiológico, o sistema câmaraeletrômetro, na maioria das vezes, não pode ser calibrado em um laboratório de calibração, mas apenas in loco. Assim, a calibração do conjunto câmara de ionização de transmissão + eletrômetro é feita, usualmente, no local, com base no valor do PKA obtido a partir das medidas de kerma no ar com uma câmara de ionização de referência, e da área irradiada em um filme exposto à mesma dis tância que a câmara. O produto desses valores é compa rado à leitura do medidor de PKA, e um fator de calibração pode, então, ser calculado4. Uma alternativa recente é o dispositivo PDC – Patient Dose Calibrator (Radcal Co.), equipamento comercial portátil que pode ser calibrado nas grandezas Ka e PKA em laboratório e levado a campo para verificação da calibração de medidores clínicos de PKA. Trabalho recente reporta para o PDC uma dependência em energia menor do que em medidores convencionais de PKA 5. Além disso, a superfície de entrada do equipamento possui marcações que facilitam a delimitação da área de incidência do feixe de radiação, a partir do feixe de luz de colimadores de equipamentos clínicos. No presente trabalho, a resposta desse novo calibrador de PKA foi investigada metrologicamente no IEE-USP para qualidades padrão de feixes diretos de radiação (RQR) 6. Em seguida, o equipamento foi aplicado à calibração indireta e a testes com um medidor clínico de PKA, instalado em um equipamento clínico de um hospital de São Paulo. Material e Métodos a eletrômetros PTW UNIDOS, previamente calibrados. Um colimador de Pb com orifício de 10,8 cm de diâmetro e espessura 4,5 mm foi posicionado a 8,5 cm do ponto de teste dos detectores, como referência de área A a ser irradiada (Figura 1). Os feixes de raios X eram produzidos por um equipamento industrial Philips de potencial constante, com tubo cerâmico modelo MCN 323 de janela de berílio. A calibração do PDC foi feita pelo método de substituição, utilizando feixes padrões diretos RQR, previamente caracterizados no LMRI de acordo com a norma IEC 61267 6. Em tais feixes, o parâmetro de tensão é a grandeza Practical Peak Voltage (PPV), definido na diretriz IEC 61676 7. O medidor PDC e a câmara de referência foram posicionados, alternadamente, a 100 cm do foco do tubo de raios X. Para calibração em termos do kerma no ar, os valores médios de Ka lidos nos dois detectores, depois de corrigidos para densidade normal do ar, foram comparados para cada feixe. Em seguida, para calibração do produto kerma-área, os valores de PKA exibidos pelo PDC foram comparados com o produto dos valores médios de kerma no ar, obtidos com a câmara de referência, pela área A do PDC Câmara de referência A A Tabela 1 mostra algumas características nominais dos medidores do produto kerma-área, utilizados neste trabalho. Calibração do PDC O detector PDC foi calibrado preliminarmente com base nas orientações do documento TRS 457 da IAEA [3], utilizando banco ótico, colimadores de chumbo e feixes Laser do sistema de alinhamento do Laboratório de Metrologia das Radiações Ionizantes (LMRI) do STDTS do IEE-USP. Foi utilizada uma câmara de ionização de referência PTW de 30 cm3 e uma câmara monitora PTW, ambas conectadas Tabela 1. Características nominais dos medidores PDC (Radcal) e Scanditronix-IBA do HIAE para as medições de PKA. Medidor 76 Acurácia (k=2) PDC (Radcal) 10 % Scanditronix-IBA 7% Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):75-8. Resolução 1 μGy.m2/min 0,01 μGy.m2 0,1 μGy.m2 B Figura 1. Geometria utilizada neste trabalho para calibração do medidor PDC (Radcal), em termos de kerma no ar e de PKA, com relação à câmara de ionização de referência. (a) Vista posterior. (b) Vista frontal, mostrando o colimador de referência. Estudo da calibração indireta de medidores clínicos do produto kerma-área colimador de referência, corrigida para a posição da câmara. Determinaram-se, então, fatores de calibração do PDC para as grandezas Ka e PKA. Verificação da Calibração de um Medidor Clínico de PKA Como aplicação do detector PDC calibrado, foi feita uma verificação da calibração de um medidor de PKA Scanditronix-IBA de um equipamento de raios X clínico Philips modelo Omni, do Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE), de São Paulo. O PDC, apoiado na mesa de exames, foi posicionado à distância de 80,5 cm do foco do tubo de raios X. Deve-se lembrar que, embora essa distância não coincida com a de calibração do PDC, o produto PKA, por definição, independe da mesma. Todas as medições foram feitas para tempos de exposição de 200 ms, em modo radiográfico. Valores de PKA foram determinados com ambos os medidores irradiados simultaneamente, em duas séries de medidas: (I) variando a tensão do tubo de 50 a 120 kV, com produto correntetempo fixo de 50 mAs, para três tamanhos de campo de radiação (15x15, 20x20 e 25x25 cm2) e (II) variando o produto corrente-tempo na faixa de 2 até 100 mAs, com tensão no tubo de 81 kV fixa e tamanho de campo 20x20cm2, para verificar a linearidade das medidas. Fatores de calibração com as respectivas incertezas foram determinados para o medidor de PKA clínico, a partir dos dados da calibração do PDC feita em laboratório. não foram corrigidos para a densidade do ar, visto que não foram monitoradas a temperatura e a pressão no local. Para analisar a linearidade de resposta do PDC em relação ao medidor clínico, construiu-se o gráfico de PKA x mAs (Figura 3), ajustando-se uma reta aos dados pelo método Tabela 2. Valores de PKA lidos no medidor clínico do HIAE e determinados com o PDC (após calibração). São apresentados também, para comparação, os fatores de calibração do medidor (fCAL-med) e do PDC (fCAL-PDC, conforme a Figura 2), ambos em relação à câmara de ionização de referência do LMRI do IEE-USP. Série 1 (Campo 25 x 25 cm2 ) 2 (Campo 20 x 20 cm2 ) Resultados A Figura 2 mostra a dependência energética determinada com referência ao padrão desenvolvido no LMRI do IEE-USP, a partir da calibração preliminar feita com o PDC, tanto em termos de kerma no ar, como de produto kerma-área. A Tabela 2 a seguir mostra os resultados obtidos a partir das medições feitas no HIAE. Os valores de PKA mostrados para os dois medidores, obtidos em ambiente clínico, Figura 2. Comparação entre os fatores de calibração do PDC em termos de kerma no ar (fCAL_Kerma) e em termos de PKA (fCAL-PKA), em função do PPV usado em cada feixe padrão. 3 (Campo 15 x 15 cm2 ) Tensão fCAL-PDC (kV) (para PKA) 50 60 70 80 90 100 110 120 50 60 70 80 90 100 110 120 50 60 70 80 90 100 110 120 1,13(8) 1,12(6) 1,13(6) 1,14(6) 1,15(6) 1,15(6) 1,12(6) 1,09(6) 1,13(8) 1,12(6) 1,13(6) 1,14(6) 1,15(6) 1,15(6) 1,12(6) 1,09(6) 1,13(8) 1,12(6) 1,13(6) 1,14(6) 1,15(6) 1,15(6) 1,12(6) 1,09(6) PKA (medidor) (μGy.m2) 48(2) 79(3) 111(4) 145(5) 184(6) 223(8) 263(9) 305(11) 23,3(8) 38(1) 54(2) 71(3) 89(3) 108(4) 128(5) 155(5) 13,1(5) 21,1(7) 30(1) 40(1) 51(2) 61(2) 72(3) 84(3) PKA (PDC) (μGy.m2) 55(5) 81(6) 117(9) 160(12) 207(15) 261(19) 310(23) 361(27) 23(2) 40(3) 57(4) 79(6) 103(8) 128(10) 154(11) 178(13) 14(2) 22(2) 32(3) 45(4) 58(4) 73(6) 87(7) 101(8) fCAL-med (para PKA) 1,15(11) 1,03(8) 1,06(9) 1,10(9) 1,13(9) 1,17(10) 1,18(10) 1,18(10) 0,99(10) 1,07(9) 1,07(9) 1,12(9) 1,15(10) 1,19(10) 1,20(10) 1,15(9) 1,10(13) 1,03(10) 1,08(10) 1,10(9) 1,15(10) 1,19(10) 1,20(10) 1,20(10) Figura 3. Comparação entre as variações de PKA em função de mAs para o PDC e o medidor clínico, para 81 kV e campo de irradiação de 20x20 cm2. Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):75-8. 77 Almeida Jr JN, Silva MC, Terini RA, Herdade SB, Pereira MAG dos mínimos quadrados. As incertezas de todos os resultados são mostradas para fator de abrangência k = 1. Discussão e Conclusões Neste trabalho, são apresentados resultados referentes à calibração em laboratório do dispositivo PDC (Radcal), pelo método de substituição, por comparação com uma câmara de ionização de referência. Além disso, são também apresentados resultados da calibração indireta de um medidor clínico de PKA, utilizando o PDC calibrado. Os valores obtidos do fator de calibração em PKA do dispositivo PDC mostram uma diferença positiva em relação à unidade, sistematicamente maior do que a obtida para o fator de calibração em kerma no ar (Figura 2). Essa diferença pode ser entendida como segue. O PDC é composto de duas câmaras de ionização concêntricas, sendo a menor, de 100 cm2, a responsável pelas leituras de kerma no ar. No método de calibração utilizando a câmara de referência de 30 cm³, os valores de referência de Ka são mais próximos aos valores lidos pelo PDC (já que o fator de calibração ≅ 1), pelo fato da câmara receberá somente a parte central do feixe, como ocorre com o PDC para a medição de Ka. Por outro lado, o PKA apresenta maior diferença, pois enquanto com a câmara de 30 cm³ o PKA = Ka.A, (sendo A a área do colimador de referência) no PDC o PKA é obtido pela leitura conjunta de suas duas câmaras de ionização internas, que detectam todo o feixe que atravessa o colimador, o que introduz diferenças no ângulo sólido do feixe incidente no medidor em relação àquele do feixe que alcança a câmara de 30 cm³. Assim, o fator de calibração em PKA, dado pela razão entre as leituras da câmara de 30 cm³ e do PDC, apresenta valores com maior diferença em relação ao valor unitário. Pelos dados mostrados na Tabela 2, verifica-se, uma dependência energética menor do PDC (9 a 15 %) do que a do medidor clínico de PKA (-1 a 20 %) investigado, já que os fatores de calibração deste último apresentam tendência crescente com a tensão do tubo em todas as áreas de campo avaliadas. O resultado está de acordo com as conclusões de Toroi e Kosunen [5]. A resposta em energia do calibrador PDC-Radcal, muito menos sensível, pode ser atribuida ao fato de que sua superfície opaca é feita de um plástico com baixo número atômico, de modo que sua dependência energética não é tão acentuada como a do medidor Scanditronix, que necessita ser tranparente à luz. Por outro lado, tanto o PDC quanto o medidor clínico de PKA analisado apresentam excelente linearidade dentro da faixa de intensidades investigada (até 700 µGy.m2, com R ≅ 1) (Figura 3). A avaliação da área do feixe incidente, nas medições clínicas com o PDC, embora mais rápida do que através de filmes, não teve a exatidão desejada pela dificuldade 78 Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):75-8. de se definir, na marcação da superfície do dispositivo, o contorno do campo luminoso, nesse caso, de formato hexagonal. As incertezas inerentes à calibração de medidores da grandeza PKA são caracteristicamente elevadas, porém a exatidão do método convencional de calibração pode, de fato, ser melhorada usando um calibrador de medidores de PKA do tipo do PDC como referência clínica, desde que previamente calibrado em laboratório, de modo a poder ser utilizado na calibração cruzada do medidor de PKA. Na Comunidade Européia, o uso de medidores de PKA é compulsório8. No Brasil, não há ainda legislação a respeito e, no momento, são poucas as instituições que possuem esse tipo de equipamento instalado em seus sistemas de raios X e há poucos trabalhos a respeito do assunto. A utilização dos medidores de PKA, no entanto, é uma ótima alternativa para a monitoração das doses nos pacientes em procedimentos clínicos; entretanto, tais medidores devem ser periodicamente calibrados. Um dos objetivos deste trabalho foi estudar a calibração cruzada desse tipo de instrumento, através de um instrumento calibrado em laboratório, com vistas à implantação futura desse tipo de serviço no LMRI do IEE-USP. Agradecimentos Agradecemos ao Hospital Israelita Albert Einstein que tornou possível as medições clínicas; à Nuclear Tech e à Radcal Co. pelo empréstimo do PDC para os testes; à FAPESP e ao CNPq pelo suporte financeiro; e ao LMRISTDTS-STAMH (IEE-USP) pelo auxílio de seu staff e pela utilização de sua infraestrutura. Referências 1. International Commission on Radiological Protection. Recommendations of the international commission on radiological protection, ICRP Publication 103, ICRP, Oxford: Pergamon Press; 2007. 2. International Commission on Radiation Units and Measurements. Radiation quantities and units, ICRU Report 33; ICRU, Bethesda, MD; 1980. 3. International Atomic Energy Agency. Dosimetry in Radiology: An International Code of Practice, Technical Reports Series n° 457; IAEA, Vienna; 2007. 4. Canevaro LV. Aspectos Físicos e Técnicos da Radiologia Intervencionista. Rev Bras Fis Med 2009; 3(1): 101-15. 5. Toroi P, Kosunen A. The energy dependence of the response of a patient dose calibrator. Phys. Med. Biol. 2009; 54(9): N151-6. 6. International Electrotechnical Commission. Medical Diagnostic X-rays Equipment – Radiation Conditions for Use in the Determination of Characteristics, IEC 61267; IEC, Geneve; 2005. 7. International Electrotechnical Commission. Medical electrical equipment – Dosimetric instruments used for non-invasive measurements of X-ray tube voltage in diagnostic radiology, IEC 61676; IEC, Geneva; 2002. 8. European Commission. Council directive of June 30, 1997 (97/43/Euratom) on health protection of individuals against the dangers of ionizing radiation in relation to medical exposure and repealing Directive 84/466/Euratom.. Official J. Eur. Commun. No. L180/22. Comunicação Técnica Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):79-82. Validação dos algoritmos de cálculo de dose do sistema de planejamento XiO® considerando as correções para heterogeneidade dos tecidos Evaluation of dose calculation algorithms using the treatment planning system XiO® with tissue heterogeneity correction turned on Leandro R. Fairbanks, Gustavo L. Barbi, Wiliam T. Silva, Eduardo G. F. Reis, Leandro F. Borges, Edenyse C. Bertucci, Marina F. Maciel, Leonardo L. Amaral Serviço de Radioterapia, Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo - Ribeirão Preto (SP), Brasil Resumo Uma vez que a seção de choque para diferentes tipos de interação da radiação com a matéria tem dependência com o tipo de material ou tecido, a presença de heterogeneidade nos mesmos influencia a dose total administrada. O objetivo deste trabalho é analisar o cálculo da distribuição de dose dos algoritmos do sistema de planejamento XiO® (Fast FourierTransform, Convolution, Superposition, Fast Superposition e Clarkson) quando se utiliza correção de heterogeneidade entre tecidos de diferentes densidades. Foram utilizados objetos simuladores com placas de alumínio, osso, água sólida e cortiça e uma câmara de ionização tipo Farmer da Iba modelo FC65-G, posicionados sobre as mesmas condições no acelerador linear ONCOR® e no CT Simulador Brilliance, para comparar a dose medida com a dose calculada pelos algoritmos do sistema de planejamento. A diferença percentual entre os valores medidos e calculados pelos algoritmos foram menores que 5%. O método com cálculo mais preciso para materiais de maior densidade foi o Convolution, em que esta diferença percentual foi de aproximadamente 1%. Já para materiais de menor densidade o Superposition foi mais preciso, com diferença percentual de 1,1%. Palavras-chave: radioterapia, tecidos, planejamento da radioterapia assistida por computador, algoritmos. Abstract Since the cross-section for various radiation interactions is dependent upon tissue material, the presence of heterogeneities affects the final dose delivered. This paper aims to analyze how different treatment planning algorithms (Fast Fourier Transform, Convolution, Superposition, Fast Superposition and Clarkson) work when heterogeneity corrections are used. To that end, a farmer-type ionization chamber was positioned reproducibly (during the time of CT as well as irradiation) inside several phantoms made of aluminum, bone, cork and solid water slabs. The percent difference between the dose measured and calculated by the various algorithms was less than 5%.The convolution method shows better results for high density materials (difference ~1 %), whereas the Superposition algorithm is more accurate for low densities (around 1,1%). Keywords: radiotherapy, tissues, computer-assisted radiotherapy planning, algorithms. Introdução O corpo humano apresenta diversas estruturas heterogêneas, com diferentes densidades eletrônicas, tais como ossos, tecido mole e cavidades de ar. Além das heterogeneidades naturais do organismo, materiais como titânio podem ser introduzidos no corpo para a fixação de alguma estrutura1,2. Ao irradiar um corpo com diferentes densidades eletrônicas, a dose no ponto de interesse é afetada devido à perturbação da absorção do feixe primário, dos fótons espalhados e dos elétrons secundários. Para energia de megavoltagem, a interação predominante é o espalhamento Compton, que apresenta uma dependência com a densidade eletrônica do meio, ou seja, a densidade eletrônica Correspondência: Leandro Rodrigues Fairbanks – Serviço de Radioterapia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo – Avenida Bandeirantes, 3.900 – Campus Universitário – CEP 14048-900 – Ribeirão Preto (SP), Brasil – E-mail: [email protected] Associação Brasileira de Física Médica® 79 Fairbanks LR, Barbi GL, Silva WT, Reis EGF, Borges LF, Bertucci EC, Maciel MF, Amaral LL do material influencia na interação do feixe de radiação com o tecido3. Alguns sistemas de planejamento levam em consideração a densidade eletrônica relativa dos tecidos para o cálculo da distribuição de dose. O sistema de planejamento XiO®, utilizado no serviço de radioterapia do Hospital das Clinicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, oferece para o usuário diferentes algoritmos de cálculo: Fast Fourier Transform Convolution, Superposition, Fast Superposition e Clarkson 4, podendo ainda optar pelo uso de correção de heterogeneidade. Os algoritmos Convolution e Superposition são métodos de cálculo mais acurados que o Clarkson, pois eles fazem o cálculo da dose utilizando a convolução da energia total liberada no paciente. A principal diferença entre eles é que o método Convolution utiliza coordenadas cartesianas, enquanto o Superposition é calculada em coordenadas esféricas considerando a variação da densidade eletrônica local4. Este trabalho analisou a correção de todos os algoritmos do sistema de planejamento XiO® na presença de objetos simuladores com diferentes densidades. Material e Métodos Para a realização deste trabalho utilizou-se o sistema de planejamento XiO ® - 4.40, CT simulador Brilliance da Philips, acelerador linear ONCOR ® da Siemens, uma câmara de ionização tipo farmer da Iba modelo FC65-G, com volume sensível de 0,65 cm 3, um eletrômetro Dose 1 da Iba. Para medir a temperatura ambiente e a pressão local, utilizou-se respectivamente, um termômetro da Iba modelo L36048 e um barômetro da Druck modelo DPI 705. A simulação dos tecidos foi realizada utilizando placas de diversos materiais. Na Figura 1, é apresentado o posicionamento dos objetos simuladores utilizados, sendo que em todas as configurações montadas foi analisada a diferença da densidade eletrônica entre a água sólida e os demais materiais. A Figura 2, apresenta os objetos simuladores utilizados no trabalho. As especificações de espessura e de densidade dos materiais utilizados constam na Tabela 1. Para simular o ar foi criado um espaço entre as placas de água sólida com auxílio de suportes de mesmo material. As imagens que alimentam o sistema de planejamento são obtidas pelo CT e através delas é possível simular a dose administrada em um ponto de interesse para cada objeto simulador. As simulações foram feitas a uma distância de 100 cm da fonte, com um campo aberto de 10 x 10 cm2, e 200 unidades monitoras. Para cada objeto simulador, utilizou-se os quatros métodos de cálculo do sistema de planejamento: Fast Fourier Transform Convolution (C), Superposition (S), Fast Superposition (FS) e Clarkson (Cl). No Acelerador Linear os objetos simuladores foram posicionados deixando sempre a câmara de ionização numa distância de 100 cm da fonte, repetindo as condições de simulação feitas no sistema de planejamento XiO®. A dose Tabela 1. Configurações utilizadas nos objetos simuladores. Material Espessura (cm) Densidade (g/cm3) Alumínio 2,8 2,7 Osso 2,7 1,5 Água Sólida 3,6 1 Cortiça 3,5 0,32 Ar 7,8 1,2 x 10-3 Figura 1. Esquema dos objetos simuladores utilizados nas medidas. 80 Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):79-82. Figura 2. Imagens dos objetos simuladores utilizados neste trabalho. Validação dos algoritmos de cálculo de dose do sistema de planejamento XiO® considerando as correções para heterogeneidade dos tecidos foi medida com auxílio do protocolo da IAEA TRS 398 e comparada aos resultados obtidos virtualmente pelo sistema de planejamento. Analisou-se a influência das diferentes densidades eletrônicas para os algoritmos de cálculo do sistema de planejamento XiO®. Resultados A Tabela 2 apresenta os resultados obtidos com os diferentes algoritmos para cada material simulador e os valores medido com câmara de ionização. Para melhor análise dos dados, na Tabela 3, encontra-se a diferença percentual entre os métodos de cálculo utilizados pelo sistema de planejamento e o valor medido. Na Figura 3, são apresentadas as imagens tomográficas dos objetos simuladores, com as curvas de isodoses planejadas pelo sistema de planejamento. Tabela 2. Resultado dos métodos de cálculo utilizado pelo XiO® para os diversos tipos de materiais empregados. Material C (cGy) S (cGy) FS (cGy) Cl (cGy) Medido (cGy) Alumínio 148,5 154,3 154,3 154,7 147,2 Osso 154,9 160,7 161,3 159,7 153,3 Água Sólida 185,0 186,4 186,9 186,6 183,8 Cortiça 184,0 178,1 178,2 180,7 176,2 Ar 172,4 170,9 172,3 172,1 169,1 Tabela 3. Diferença percentual dos métodos de cálculo em relação ao valor medido pela câmara de ionização. Material C (%) S (%) FS (%) Cl (%) Alumínio 0,9 4,6 4,6 4,8 Osso 1,0 4,6 5,0 4,0 Água Sólida 0,6 1,4 1,7 1,5 Discussão e Conclusões Cortiça 4,2 1,1 1,1 2,5 O sucesso de um tratamento radioterápico depende da acurácia da administração da dose no volume alvo. Uma variação superior a 5%, para mais ou para menos, da dose prescrita pode gerar superdosagem dos tecidos sadios ou comprometer o controle tumoral2-4. Nota-se que para todos os métodos de cálculo e materiais utilizados, as diferenças entre os valores medidos e os simulados são sempre mensores que 5%, valor previsto pela literatura5-7. Contudo, para os materiais que apresentam as maiores densidades eletrônicas, o algoritmo mais eficiente foi o Convolution, apresentando uma diferença de 0,9% e 1,0%, para o alumínio e osso, respectivamente. Os outros métodos apresentaram diferenças de 4 a 5% nesses casos. Para água sólida, verificou-se que o melhor método também foi o Convolution. Entretanto, nos demais métodos a diferença não ultrapassou de 2%. Para os materiais de menor densidade, como a cortiça e o ar, o método mais eficiente foi o Superposition, que apresentou uma diferença de 1,1% para ambos os materiais. Ar 1,9 1,1 1,9 1,7 Agradecimentos FAEPA – Fundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Assistência do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo USP. José Luis Vega Ramirez – Departamento de Física e Matemática da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. Figura 3. Imagens tomográficas com as curvas de isodose dos objetos simuladores. Referências 1. Niroomand-Rad A, Razavi R, Thobejane S, Harter KW. Radiation dose perturbation at tissue-titanium dental interfaces in head and neck cancer patients. Int J Radiation Oncology Biol Phys. 1996;34(2):475-80. 2. Keall PJ, Siebers JV, Jeraj R, Mohan R. Radiotherapy dose calculations in the presence of hip prostheses. Medical Dosimetry. 2003;28(2):107-12. Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):79-82. 81 Fairbanks LR, Barbi GL, Silva WT, Reis EGF, Borges LF, Bertucci EC, Maciel MF, Amaral LL 3. Saw CB. Therapeutic Radiological Physics. Omaha: C.B.Saw Publishing in press; 2002. 4. Computerized Medical Systems - ELEKTA CMS Software. Treatment Planning Software XiO® - 4.40. Help: What are Fast Fourier Transform (FFT) Convolution, Superposition and Fast Superposition algorithms; 2007. 5. Salata C, Sibata CH, Ferreira NM, Almeida CE. Simulação computacional de um feixe de fótons de 6 MV em diferentes meios heterogêneos utilizando o código PENELOPE. Radiol Bras. 2009;42(4):249-53. 82 Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):79-82. 6. Kappas C, Rosenwald JC. Quality control of inhomogeneity correction algorithms used in treatment planning systems. Int J Radiation Oncology Biol Phys. 1995;32(3):847-58. 7. Papanikolaou N, Battista JJ, Boyer AL, Kappas C, Klein E, et al. AAPM Report n° 85. Tissue inhomogeneity correction for megavoltagem photon beams. American Association of Physicsts in Medicine by Medical Physics Publishing; 2004. Comunicação Técnica Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):83-6. O uso do sistema de dosimetria Fricke na determinação da dose absorvida de equipamentos de braquiterapia do Nordeste The use of Fricke dosimeter to determine the absorbed dose from brachytherapy equipment in the Northeast Vivianne Lúcia B. Souza, Manuela S. Cunha, Marcela D. C. Figueiredo, Carla D. A. Santos, Kélia R. G. Rodrigues, Gabriela B. S. Lira, Danúbia B. Silva, Roberto T. Melo Comissão Nacional de Energia Nuclear, Centro Regional de Ciências Nucleares - Recife (PE), Brasil Resumo Este trabalho apresenta os resultados práticos de uma avaliação da situação dos serviços de braquiterapia em todo Nordeste. Um sistema de dosimetria Fricke, capaz de averiguar a dose absorvida na água, elaborado por pesquisadores do Centro Regional de Ciências Nucleares foi levado à hospitais públicos do Nordeste. O sistema não só avalia se a dose aplicada (medida) se aproxima da dose calculada (prescrita), mas também é capaz de verificar erros humanos e/ou mecânicos ou de software que possam ocorrer nos serviços de braquiterapia. Os resultados são comparados com o que sugere a Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA) quanto ao percentual aceito da diferença entre a dose prescrita e a dose medida. Palavras-chave: braquiterapia, dosímetro, instrumentação. Abstract This paper describes the practical results of an assessment of the situation of brachytherapy services throughout the Northeast. A Fricke dosimetry system capable of verifying the dose absorbed in water, prepared by researchers from the Regional Center of Nuclear Sciences was brought to public hospitals in the Northeast. The system not only evaluates if the applied (measured) dose is close to the calculated (prescribed) dose, but is also capable of verifying human errors and/or mechanical or the International Atomic Energy Agency (IAEA) standards regarding the percentage of allowed difference between the prescribed dose and dose measurement. Keywords: brachytherapy, dosimeter, instrumentation. Introdução A braquiterapia é a modalidade de radioterapia intracavitária, na qual o radioisótopo entra em contato direto com a lesão; esta vem ganhando maior valorização devido aos benefícios que traz à paciente quando seu uso é recomendado1. Em um tratamento ideal a geometria das fontes tem de prevenir uma subdosagem ao nível uterino, uma dosagem adequada tem de ser dada na região paracervical e deve respeitar a tolerância dos tecidos normais. Embora, na braquiterapia, o campo de incidência da radiação seja reduzido, possibilitando um aumento substancial da dose que é estabelecida com base em modelos matemáticos e efetivada com recursos eletrônicos, o Laboratório de Dosimetria Fricke do Centro Regional de Ciências Nucleares tem encontrado falhas nos serviços de braquiterapia que podem ser evitadas quando o sistema de dosimetria Fricke elaborado por pesquisadores do Centro Regional de Ciências Nucleares (CRCN) é utilizado2. O sistema de dosimetria Fricke elaborado consiste de um recipiente esférico de vidro preenchido com a solução Fricke. Um tubo capilar em forma de bastão, cuja extremidade fica localizado dentro da esfera, possibilita a introdução e o posicionamento da fonte de irídio no centro do volume da esfera contendo a solução Fricke, esferas de diferentes capacidades (545, 310, 57 e 11,3 mL) foram estudadas (simulando a cavidade uterina) até que a esfera de dimensões mais adequadas foi escolhida de forma a possibilitar a melhor resposta do dosímetro Fricke com um menor tempo de permanência ou de exposição da fonte de 192Ir imersa na solução. O objetivo desse trabalho é averiguar o valor da dose absorvida pelo dosímetro Fricke quando irradiado em centros de braquiterapia do Nordeste do Brasil e avaliar em Correspondência: Vivianne Lúcia B. de Souza – Centro Regional de Ciências Nucleares – Comissão Nacional de Ciências Nucleares –Avenida Professor Luiz Freire, 200 – Cidade Universitária – CEP 50740-540 – Recife (PE), Brasil – E-mail: [email protected] Associação Brasileira de Física Médica® 83 Souza VLB, Cunha MS, Figueiredo MDC, Santos CDA, Rodrigues KRG, Lira GBS, Silva DB, Melo RT quanto o valor da dose medida se aproxima do valor da dose prescrita. Material e Métodos A solução Fricke a ser utilizada foi preparada utilizando-se 0,392g de sulfato ferroso amoniacal ((NH4)2Fe(SO4)2.6H2O), 0,060 g de cloreto de sódio (NaCl), 22 mL de ácido sulfúrico (H2SO4) diluídos em água tridestilada para um balão volumétrico de 1.000 mL3. A solução foi, então, transferida para um recipiente esférico de vidro de volume de 11,6 mL contendo um tubo capilar em forma de bastão, cuja extremidade fica localizada no centro da esfera e possibilitando a introdução e o posicionamento da fonte de 192Ir2 (Figura 1). O sistema de medida foi levado para diferentes centros de braquiterapia, irradiou-se as amostras em replicatas. onde: 5,14* 103 é o fator de calibração para o recipiente a ser utilizado; Tι: é a temperatura de medida e fl o fator de correção; Tі: é a temperatura de irradiação e fi é o fator de correção; ∆DO: é a densidade óptica da solução irradiada. Resultados A Tabela 1 demonstra os resultados obtidos nas instituições hospitalares visitadas. Tabela 1. Resultados obtidos nos Estados visitados para a doses de 150 e 300 cGy a 2,5 cm. Item Dose teórica (cGy) Dose prática (cGy) Erro (%) RN 300 382,42 27,00 BA 300 319,97 6,65 PE 300 313,62 4,54 CE 300 315,68 5,00 AL 300 361,00 20,00 RN (2ª. visita) 150 160,82 6,67 PB 300 293,49 2,70 PI 300 290,41 3,19 Discussão e Conclusões Figura 1. Sistema de dosimetria Fricke desenvolvido pelo CRCN para braquiterapia com altas taxas de dose. A medida da densidade óptica das soluções foi realizada em espectrofotômetro UV-VIS (Beckman Couter DU-640). O cálculo da dose radial foi realizado de acordo com a equação: 84 D(r=2,5, θ=90) = (∆DO.5,14.103)/ƒ1ƒ2(cGy) (1) ƒ1 = 1+0,0069 (Tι - 25); (2) ƒ2 = 1+0,0012 (Tі - 25); (3) Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):83-6. Os valores de dose absorvida na água observados nos hospitais dos Estados do Nordeste visitados, de acordo com a Tabela 1, em sua maioria apresentam uma diferença maior que 5% entre a dose prescrita e a dose medida estando em desacordo com as normas da Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA). Apenas os Estados de Pernambuco, Ceará e Paraíba, no momento, estão de acordo com as recomendações das normas internacionais. Outros Estados como Alagoas e Bahia poderão ser novamente visitados para se verificar se há possibilidade de obtenção de doses mais apropriadas bem como averiguar o controle da qualidade nestas e outras Instituições, visto que o sistema de dosimetria Fricke elaborado permite verificar falhas que possam ocorrer tanto na elaboração do planejamento, quanto no comando de envio ou do posicionamento adequado das fontes. O sistema Fricke é prático e se o balão for fabricado em plástico poderia ser enviado via postal para a maioria dos Estados Brasileiros permitindo assim, um maior controle do funcionamento de equipamentos de HDR em todo o país. O uso do sistema de dosimetria Fricke na determinação da dose absorvida de equipamentos de braquiterapia do Nordeste Agradecimentos Referências Os autores agradecem à FACEPE (Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco) pelo apoio financeiro. 1. Cantinha RS. Braquiterapia do colo de útero em Pernambuco: 1998 – 1999, uma amostragem. [trabalho de conclusão de curso]. Pernambuco: Universidade Federal de Pernambuco; 2005. 2. Souza VLB, Austerlitz C, Oliveira A. Dispositivo para o Controle da Qualidade, por Dosimetria Fricke, de Fontes de 192I Utilizadas no Tratamento por Braquiterapia. Anais do IIISITEN; 2007. 3. Olszanski A, Klassen NV, Ross CK, Shortt KR. The IRS Fricke Dosimetry System. Ottawa, Ontario: Ionizing Radiation Standards, Institute for National Measurement Standards, National Research Council, PIRS-0815; 2002. Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):83-6. 85 Comunicação Técnica Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):87-90. Procedimentos para verificação da eficácia do Sistema de Segurança Radiológica de Instalações Cíclotrons Categoria II (AIEA) Procedures for checking the effectiveness of the Security System of Radiological Facilities cyclotrons Category II (IAEA) Heber S. Videira1,2, Rubens Abe1,2, Carlos A. Buchpiguel1,3 Hospital das Clinicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo (SP), Brasil. 2 CinRad -Laboratório de Produção de Radiofármacos,HCFMUSP, São Paulo (SP), Brasil. 3 CMN- Centro de Medicina Nuclear, HCFMUSP, São Paulo (SP), Brasil. 1 Resumo De acordo com a recomendação da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Safety Series nº 107 [1], as instalações de aceleradores de partículas categoria II devem cumprir com alguns requisitos fundamentais, para assegurar o cumprimento dos objetivos da Segurança Radiológica. A recomendação da IAEA é aceita pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) o órgão regulamentador do uso da energia nuclear no Brasil e averiguada em suas auditorias [2]. O objetivo deste trabalho é apresentar procedimentos para averiguar a eficácia dos sistemas de Segurança Radiológica de Instalações Cíclotrons categoria II. Palavras-chave: proteção radiológica, segurança radiológica, cíclotrons, radiofármacos, medicina nuclear. Abstract According to the recommendation of the International Atomic Energy Agency (IAEA) Safety Series No. 107[1], the particle accelerator facilities category II must comply with some key requirements to ensure compliance with the goals of the Radiological Safety. The IAEA’s recommendation is accepted by the National Commission of Nuclear Energy (CNEN) the regulator of the use of nuclear energy in Brazil and investigated in their audits[2]. The aim of this paper is to present procedures to ascertain the effectiveness of the Radiological Safety Facility cyclotrons category II. Keywords: radiological protection, radiation safety, cyclotrons, radiopharmaceuticals, nuclear medicine. Introdução De acordo com a recomendação da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Safety Series nº 1071, um acelerador de partículas é classificado como Categoria II quando este necessita de um recinto blindado cujo acesso em operação não é fisicamente possível devido a um sistema de controle de acesso. As instalações de aceleradores categoria II2 devem ter no mínimo algumas características como, Recinto Blindado, Sistema de Controle de Acesso, Sistemas de intertravamentos, sistema de monitoração radiológica, sistema de alarmes sonoros visuais, seqüência de segurança, sistemas de emergência, etc. Esses requisitos são fundamentais para garantir que os objetivos3 da segurança radiológica sejam cumpridos. O responsável pela instalação deve garantir um programa de controle da eficácia dos dispositivos do sistema de segurança radiológica, a fim de garantir as medidas de proteção radiológica aplicáveis à instalação. A recomendação da IAEA é aceita pela CNEN o órgão regulamentador do uso da energia nuclear no Brasil e averiguada em suas auditorias. O objetivo deste trabalho é apresentar procedimentos para averiguar a eficácia dos sistemas de Segurança Radiológica de Instalações Cíclotrons. Material e Métodos Na execução deste trabalho foi utilizado um sistema de Monitoramento Radiológico da Medismarts composto por sete monitores fixos Geiger-Müller Rotem GM-42 Model BAK-1210, duas câmaras de ionização fixas da Rotem model IC-10-02 e um detector a Cintilação fixo da Rotem Modelo PM-11-M, spray de fumaça para teste do sistema Contato: Heber Simões Videira – Hospital das Clínicas – Centro de Medicina Nuclear – Travessa da rua Dr. Ovídio Pires de Campos s/nº – Cerqueira César – CEP 05403-010 – São Paulo (SP) – E-mail: [email protected] Associação Brasileira de Física Médica® 87 Videira HS, Abe R, Buchpiguel CA de incêndio, fonte padrão de Cs-137 da North American Scientific, Sistema de Segurança Radiológica composto por um painel de controle, sensores indutivos, botões de supervisão e emergência e um computador que gerencia todos estes dispositivos e uma central de automação da exaustão e refrigeração do Cíclotron. Para garantir a segurança radiológica da instalação deve ser realizada a verificação periódica4 de todos os subsistemas que compõem o sistema de proteção radiológica. A Figura 1 e a Tabela 1 mostram, respectivamente, o sistema de Segurança Radiológica e os testes propostos neste trabalho para verificação dos subsistemas que compõem o sistema de Segurança Radiológica e a sua periodicidade: Tabela 1. Periodicidade da verificação dos subsistemas de Segurança Radiológica. Verificação Dispositivos de emergência. Semanal e mensal Sistema de exaustão do Cíclotron. Semanal Sistema de monitoração radiológica. Semanal Sistema de controle do tanque de decaimento radioativo. Semanal Verificação da integridade do bunker. Anual Sensores de incêndio do recinto blindado. Mensal Botão de abertura de porta do lado interno do recinto blindado. Mensal Sensores de abertura e fechamento da porta do bunker. Semanal Figura 1. Sistema de Segurança Radiológica. 88 Periodicidade Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):87-90. 2.1.Verificação semanal dos dispositivos de emergência da instalação: A) Abra a porta do recinto blindado do cíclotron; B) Entre no recinto com o Geiger-Müller com a Chave de operação do cíclotron conectada a ele e arme a zona de exclusão executando a seqüência de retardo de segurança. C) Selecione a chave habilitar no painel de Radioproteção para autorizar a geração de feixe. Esta condição não habilita feixe, pois, isso só pode ser realizado no console do Cíclotron. Ela só autoriza a habilitação do feixe; D) Verifique a indicação Cíclotron habilitado no sistema de segurança radiológica; E) Aperte o botão de emergência do corredor de acesso ao recinto blindado do cíclotron; F) Verifique a indicação correspondente do alarme sonoro-visual no console do sistema de segurança radiológica; G) Verifique se o Cíclotron foi desabilitado automaticamente; H) Repita o procedimento acima para todos os botões de emergência da instalação. 2.2 Verificação mensal dos dispositivos de emergência do interior do recinto blindado: A) Abra a porta do recinto blindado do cíclotron; B) Peça ao auxiliar do teste que entre no recinto; C) Entre no recinto com o Geiger-Müller com a Chave de operação do cíclotron conectada a ele e arme a zona de exclusão executando a sequência de retardo de segurança, ou seja, realizando a vistoria no interior do recinto blindado antes da operação; Procedimentos para verificação da eficácia do Sistema de Segurança Radiológica de Instalações Cíclotrons Categoria II (AIEA) D) Selecione a chave habilitar no painel de Radioproteção para autorizar a geração de feixe; E) Após a habilitação do sistema, peça ao auxiliar que acione o botão de emergência; F) Verifique a indicação correspondente do alarme sonoro-visual no console do sistema de segurança radiológica; G) Após a verificação do sistema, peça ao auxiliar que desative o botão de emergência; H) Repita o procedimento descrito acima para todos os botões de emergência do interior do recinto blindado. 2.3 Verificação semanal dos monitores de radiação da instalação A) Pegue a fonte teste de Cs-137; B) Abra a porta do recinto blindado do cíclotron; C) Peça ao auxiliar do teste que entre no recinto com a fonte teste; D) Entre no recinto com o Geiger-Müller com a Chave de operação do cíclotron conectada a ele e arme a zona de exclusão executando a seqüência de retardo de segurança; E) Selecione a chave habilitar no painel de Radioproteção para autorizar a geração de feixe. Esta condição não habilita feixe, pois, isso só pode ser realizado no console do Cíclotron. Ela só autoriza a habilitação do feixe; F) Peça ao auxiliar que aproxime a fonte teste do monitor de radiação dentro do recinto blindado. Verifique a indicação correspondente no sistema de monitoração e que o sistema não autoriza a abertura da porta do recinto; G) Após a verificação, peça ao auxiliar que retire a fonte do monitor e retorne ela a blindagem; H) Abra a porta e peça ao auxiliar do teste que saia do recinto; I) Na fechadura de acesso selecione a posição fechar porta; J) Entre no recinto com o Geiger-Müller com a Chave de operação do cíclotron conectada a ele e arme a zona de exclusão executando a seqüência de retardo de segurança; K) Selecione a chave habilitar no painel de Radioproteção para autorizar a geração de feixe; L) Aproxime a fonte teste do monitor de radiação gama do lado externo do recinto blindado. Peça ao auxiliar do teste que verifique a indicação correspondente no sistema de monitoração e segurança radiológica; M) Verifique o acionamento do alarme sonoro-visual e se a condição de Cíclotron habilitado foi desativada automaticamente; N) Após o aviso de confirmação de verificação do auxiliar, retire a fonte do monitor e retorne ela a blindagem; O) Repita este procedimento para todos os monitores de radiação da instalação, exceto, a verificação da condição de desabilitação do Cíclotron que não se aplica a estes monitores; P) Dirija-se até a chaminé do sistema de exaustão; Q) Aproxime a fonte teste do detector à cintilação da chaminé e peça ao auxiliar do teste que verifique a indicação correspondente no sistema de monitoração, segurança radiológica cíclotron e o fechamento do dumper na central de controle da exaustão; R) Após a confirmação de verificação do auxiliar, retire a fonte do monitor e retorne ela a blindagem; S) Aproxime a fonte teste do monitor de radiação gama da chaminé e peça ao auxiliar do teste que verifique a indicação correspondente, no sistema de monitoração; e T) Após a confirmação de verificação do auxiliar, retire a fonte do monitor e retorne ela a blindagem. 2.4 Verificação semanal do sistema de exaustão da instalação A) Coloque o cíclotron em operação com uma corrente de 5μA e 1 min de irradiação com H2O16. B) Na tela da central de controle da exaustão, selecione a interface que mostra o dumper da chaminé; C) Simule a condição de fechamento de dumper colocando o limite de 0.001 nCi/m3 de alarme no detector a cintilação. (sistema de monitoração); D) Verifique a indicação correspondente do alarme visual no console do sistema de segurança do Cíclotron; e E) Verificar se o Cíclotron foi desligado automaticamente. 2.5 Verificação semanal do sistema de controle do tanque de decaimento radioativo A) Vá até o tanque de decaimento com medidor de taxa de exposição e levante a tampa; B) Faça a medida da taxa de exposição e anote o valor; C) Simule a condição de tanque cheio; D) Verifique o acionamento do alarme sonoro; e E) Caso esteja abaixo dos limites estabelecidos pela norma da CNEN NE 6.05 5 dispense o rejeito. 2.6 Verificação anual da integridade da blindagem a partir do levantamento radiométrico; A) Coloque o Cíclotron na máxima corrente de operação de rotina; B) Faça o levantamento radiométrico ao redor do recinto blindado com um detector de nêutron portátil. Anote os pontos medidos e os valores encontrados; e C) Armazene o documento comprobatório emitido. 2.7 Verificação mensal dos sensores de incêndio do recinto blindado A) Abra a porta do recinto blindado do cíclotron; B) Peça ao auxiliar do teste que entre no recinto com o spray de fumaça; C) Entre no recinto com o Geiger-Müller com a Chave de operação do cíclotron conectada a ele e arme a zona de exclusão executando a seqüência de retardo de segurança. D) Selecione a chave habilitar no painel de Radioproteção para autorizar a geração de feixe. Esta condição não habilita feixe, pois, isso só pode ser realizado no console do Cíclotron. Ela só autoriza a habilitação do feixe; Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):87-90. 89 Videira HS, Abe R, Buchpiguel CA E) Peça ao auxiliar que acione o spray de fumaça no dispositivo de incêndio; e F) Verifique a indicação correspondente no sistema de controle de incêndio, de segurança radiologica e que o sistema foi desativado; 2.8 Verificação mensal do botão de abertura de porta do lado interno do recinto blindado. A) Pegue a fonte teste de Cs-137; B) Abra a porta do recinto blindado do cíclotron; C) Peça ao auxiliar do teste que entre no recinto com a fonte teste; D) Na fechadura de acesso selecione a posição fechar porta; E) Entre no recinto com o Geiger-Müller com a Chave de operação do cíclotron conectada a ele e arme a zona de exclusão executando a seqüência de retardo de segurança; F) Selecione a chave habilitar no painel de Radioproteção para autorizar a geração de feixe. Esta condição não habilita feixe, pois, isso só pode ser realizado no console do Cíclotron. Ela só autoriza a habilitação do feixe; G) Peça ao auxiliar que aproxime a fonte teste do monitor de radiação dentro do recinto blindado; H) Verifique a indicação correspondente no sistema de monitoração e que o sistema não autoriza a abertura da porta do recinto blindado; e I) Peça ao auxiliar que acione o botão de abertura interno. 2.9 Verificação semanal dos sensores de abertura e fechamento da porta do recinto blindado A) Abra a porta do recinto blindado do cíclotron; B) Entre no recinto com o Geiger-Müller com a Chave de operação do cíclotron conectada a ele e arme a zona de exclusão executando a seqüência de retardo de segurança; C) Verifique a condição de porta totalmente fechada no sistema de segurança radiológica; D) Selecione a chave habilitar no painel de Radioproteção para autorizar a geração de feixe; E) Verifique a indicação Cíclotron habilitado no sistema de segurança radiológica; F) Execute o procedimento de abertura de porta na fechadura de acesso; G) Verifique a indicação correspondente no sistema de segurança radiológica e se o sistema de habilitação de feixe foi desativado automaticamente; H) Verifique a indicação correspondente no sistema de segurança radiológica do acionamento do sensor de abertura total da porta, terminando o ciclo de abertura da mesma. Resultados A tabela 2 mostra as condições obtidas ao submetermos alguns subsistemas do sistema geral de segurança radiológica de nossa instalação a verificação a partir da metodologia proposta: Tabela 2. Verificação do Sistema de Segurança Radiológica. Sistema de Exaustão do Ciclotron Indicação correspondente no sistema. O sistema foi desligado automaticamente Acionamento do alarme sonoro. Teste dos botões de emergência Indicação correspondente no sistema. Alarme sonoro. O sistema foi desligado automaticamente Monitor de radiação interno do recinto. Indicação correspondente no sistema. Acionamento do alarme sonoro. Bloqueio da porta do recinto blindado Detector a Cintilação da Chaminé. Indicação correspondente no sistema. Fechamento do Dumper na central de automação. Tanque de decaimento Valor da taxa de exposição Verificar o alarme sonoro. Volume descartado. Sensores de incêndio do BUNKER Indicação correspondente no sistema. Acionamento do alarme sonoro. O sistema foi desligado automaticamente 90 Revista Brasileira de Física Médica.2011;4(3):87-90. Situação SIM SIM NÃO SIM SIM SIM 200μSv/h SIM SIM SIM 30000cpm SIM SIM 2 μSv/h SIM 900L SIM SIM SIM Discussão e Conclusões A metodologia proposta para a verificação da eficácia de sistemas de segurança radiológica de instalações Cíclotrons de Categoria II auxilia no controle de qualidade dos elementos que compõem o sistema, garantindo assim, o cumprimento dos objetivos da proteção radiológica. Referências 1. International Atomic Energy Agency. Radiation safety of gamma and electron irradiation facilities. Safety Guides Nº 107. Viena: IAEA; 1992. 2. Comissão Nacional de Energia Nuclear. CNEN NE 6.02. Licenciamento de Instalações Radiativas [Citado Ago. 2010]; 1998. Disponível em: http:// www.cnen.gov.br/seguranca/normas/normas.asp. 3. Comissão Nacional de Energia Nuclear. CNEN NN 3.01. Diretrizes básicas de Proteção Radiológica [Citado Ago. 2010]; 2005. Disponível em: http:// www.cnen.gov.br/seguranca/normas/normas.asp. 4. International Atomic Energy Agency. International basic safety standards for protection against ionizing radiation and for the safety of radiation sources. Safety Series Nº 115. Viena: IAEA; 1996. 5. Comissão Nacional de Energia Nuclear. CNEN NE 6.05. Gerência de Rejeitos Radiativos em instalações Radiativas [Citado Ago. 2010]; 1995. Disponível em: http://www.cnen.gov.br/seguranca/normas/normas.asp.